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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GOIÁS
NÚCLEO DE COMBATE À CORRUPÇÃO
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 11ª VARA DA
SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE GOIÁS
Petição Criminal nº 27119-14.2018.4.01.3500(Ref. ao Inquérito Policial nº 27118-29.2018.4.01.3500 – 0842/2018/SR/PF/GO)
SIGILOSO
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo
Procurador da República signatário, no bojo dos autos em epígrafe, vem
respeitosamente à presença de Vossa Excelência manifestar e requerer o que se
segue.
Após a abertura de vista ao Ministério Público
Federal para manifestação acerca da representação de fls. 04/28, requereu-se a
notificação da Autoridade Policial para que esclarecesse os seguintes pontos
(fls. 30/40):
a) se os crimes investigados no Inquérito Policial n.
0842/2018 são relativos somente à contratação da empresa ESSA
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ENGENHARIA para construção de um parque ecológico no Município de
Inhumas/GO (Convênio n. 797918 firmado entre o Ministério do Turismo e o
Município de Inhuma/GO) ou se abrangem outras licitações e contratos
identificados nos RAMAs GO 10/2016, GO 34/2016, GO 166/2017 e GO
1014/2018, indicando, neste último caso, as licitações e obras específicas;
b) indicação específica de quais os materiais, dentre
documentos, mídias, bens, etc, que se busca obter após a realização de busca e
apreensão na Prefeitura de Inhumas/GO;
d) se JOSÉ VICENTE DA SILVA JÚNIOR e ELVIS
PRESLEY MENDANHA ainda exercem suas funções junto à comissão
permanente de licitação da SANEAGO.
Após, o Delegado de Polícia presidente do feito
acrescentou o seguinte:
a) o objeto do IPL 842/2018 abrange todos os processos
licitatórios listados às fls. 39/41 e 42/55 do apuratório, totalizando 8 (oito)
procedimentos de Carta Convite e 83 (oitenta e três) possíveis dispensas de
licitação que, caso localizados, serão submetidos a análise de perícia contábil;
b) as buscas na SANEAGO terão como objetivo a
localização dos processos licitatórios sobreditos;
c) as buscas na Prefeitura de Inhumas/GO terão como
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objetivo a localização de documentos relativos ao Convênio n. 797918 para a
construção de parque ecológico em Inhumas/GO, cujo material encontrado será
autuado em novo inquérito policial destinado especificamente a investigar tal
objeto. As buscas, por sua vez, serão realizadas na CPL ou “onde quer que se
encontre o referido processo de licitação e mídias utilizadas (…) para
consecução dos atos referentes a tal licitação”;
d) quanto à permanência de ELVIS PRESLEY e JOSÉ
VICENTE na SANEAGO, verificou-se que o primeiro continua atuando junto à
CPL como pregoeiro e o segundo mantém-se na estatal, porém na qualidade de
engenheiro lotado na Superintendência de Apoio Técnico.
A Autoridade Policial mencionou, ainda, que foram
concluídos e a juntados ao IPL 842/2018 o RAMA 1008/2018 (fls. 227/240),
resultado da análise de mídia apreendida na sala da CPL da SANEAGO e
Coordenações Subordinadas da SANEAGO, e a Informação policial n.
1853/2018 (fls. 242/260), sobre análise dos dados bancários e fiscais de JOSÉ
VICENTE.
Consoante se extrai do RAMA acima referenciado, foi
identificada planilha com a relação de 68 (sessenta e oito) pagamentos suspeitos
realizados por ao menos 26 (vinte e seis empresas) a JOSÉ VICENTE JÚNIOR
de 18/01/2012 a 02/08/2016, totalizando o valor de R$237.300,00 (duzentos e
trinta e sete mil e trezentos reais).
Tais pagamentos foram registrados sob denominações
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diversas ainda não esclarecidas, quais sejam, “consultoria”, “documentação”,
“recurso” e outras (fls. 233/234).
D e n t r e r e f e r i d a s e m p r e s a s , c o n s t a a R E D
CONSTRUTORA E SERVIÇOS, cujo proprietário EDUARDO HENRIQUE
DE DEUS é investigado no IPL 0842/2018 por fraude a licitação e pagamento
de propina. Segundo informações da planilha, a empresa teria pago a JOSE
VICENTE a importância de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) no ano de 2013.
No entanto, os diálogos telefônicos interceptados durante
a Operação Decantação sugerem que houve outros pagamentos a JOSE
VICENTE DA SILVA JUNIOR realizados por EDUARDO HENRIQUE DE
DEUS, conforme pode ser extraído, a título de exemplo, dos índices de n.
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117245221, 118987092 e 117219673.
Ademais, o RAMA GO 166/2017 contém foto localizada
no celular de JOSÉ VICENTE de três cheques da RED CONSTRUTORA, dois
de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais) e um de R$ 3.000,00 (três mil reais)
(fl. 115). Por sua vez, o RAMA GO 10/2016, referente à análise do material
apreendido na residência de JOSÉ VICENTE DA SILVA JÚNIOR quando da
1 Data: 03/07/2015: “LOVERBOY: Lovergirl!VICENTE (LOVERGIRL): Fala Lover.LOVERBOY: Problemas.VICENTE (LOVERGIRL): Hã.LOVERBOY: Problemas. Que que acontece, o trem caiu lá. Até olhei, só que o trem devedor, cobriu, só que eu vou te
dar um cheque pra quarta-feira. Tem problema?VICENTE (LOVERGIRL): Puta, bicho. Eu tava precisando desse dinheiro urgente pra pagar meu cartão de crédito.
Mas manda aí, depois me dá o cheque e aí eu vejo oque que eu faço.LOVERBOY: Tá. Não, mas eu queria que você descontasse um pouco a mais.VICENTE (LOVERGIRL): Hã?LOVERBOY: (Incompreensível) nada.VICENTE (LOVERGIRL): Não entendi nada.LOVERBOY: Você não consegue descontar um pouquinho a mais não? Tipo eu te dou um cheque. Vê se você
consegue arrumar até quarta no máximo, segunda ou terça-feira eu recebo, sabe? Mas tô pedindo até quarta que às vezes (interrompido)
VICENTE (LOVERGIRL): Então. Faz um cheque de quarta-feira, aí quarta-feira eu desconto ele. Aí dou um jeito de (interropido)
LOVERBOY: Eu sei, mas eu queria que arrumasse um pouco a mais. Você não consegue não?VICENTE (LOVERGIRL): Vixi. Consigo não Doutor. Eu que vou ter de, eu tô sem nada.LOVERBOY: Até quarta. (Incompreensível)VICENTE (LOVERGIRL): Vixi. Não conheço não.LOVERBOY: Aí já passava procê e arrumava mais um pouco.VICENTE (LOVERGIRL): Não, não sei não Dudu (?). É complicado.LOVERBOY: Deixa eu vê que que eu ajeito aqui. Vou ver se já ajeito e corro pro senhor, e já te passo.VICENTE (LOVERGIRL): Então tá bom então.LOVERBOY: Então falou. Tchau.VICENTE (LOVERGIRL): tchau.”
2Data: 21/09/2015: “Transcrição :VICENTE: oi.EDUARDO: Lovergirl...VICENTE: fala lover...EDUARDO: pra que dia ficou aquele cheque seu lá de Inhumas?VICENTE: o meu parece que foi pra Setembro.EDUARDO: setembro é agora, tá no fim.VICENTE: pois é, mas não pode descontar. Tem que ligar lá.EDUARDO: o meu ainda é novembro.VICENTE: pois é, mas ele falou pra não descontar.EDUARDO: chegou o dia não deu, mete ele no banco se ele falar não não era, fala... você tem o telefone dele?VICENTE: eu tenho anotado no celular o telefone da empresa, pede pra... pega o telefone da empresa dele no google. EDUARDO: então não... depois nós... porque o meu é em novembro, se o seu não lencar o meu também não lenca,
entendeu.VICENTE: eu não vou lançar no banco não, primeiro eu vou falar com ele senão depois aí o cara fala não vou pagar
porque...EDUARDO: daí perde né.VICENTE: justamente, daí pede pra Regina caçar o telefone dele aí pra ligar na empresa dele lá, a secretária dele já é
por dentro desses negócios, fala não é um negócio que nós fizemos da licitação da prefeitura aí e tal.
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deflagração da “Operação Decantação”, localizou os respectivos cheques
fisicamente, datados de 20/10/2016, 20/11/2016 e 20/12/2016 (fl. 161).
Conforme será adiante relatado, a Informação Policial n.
1853/2018 identificou, ainda, depósitos da empresa RED CONSTRUTORA no
valor de R$ 23.538,00 (vinte e três mil quinhentos e trinta e oito reais) em favor
EDUARDO: ah... tá... vê o dia que vence o seu certinho. Pra nós ligarmos tem que ser no dia não adianta nem antes e nem depois né.
VICENTE: não, mas eu já liguei antes pra ver. Mês passado, aquele dia que eu te falei lembra???EDUARDO: lembro.VICENTE: faz mais de mês.EDUARDO: lembro.VICENTE: liguei lá. Ela falou, não é porque tinha paralisado a obra e tal, mas ela falou dia tal parece que eles iam
entrar com medição, dia 15 de setembro, alguma coisa assim.EDUARDO: ah... tá... não beleza. Porque você falando assim, que o seu é agora. Aí o meu é...VICENTE: não, eu não lembro a data não. Tem que ver a data la.EDUARDO: eu acho que o seu é em outubro.VICENTE: é uma coisa assim.EDUARDO: é porque é um mês antes do meu.VICENTE: então deve ser.EDUARDO: o meu é dia 04 de novembro e o seu é dia 04 de outubro. Certeza.VICENTE: deve ser isso mesmo.EDUARDO: mas eu vou dar uma olhada lá, qualquer coisa nós liga mais no fim do mês.(despedem-se)”
3Data: 08/07/2015: “LOVERBOY: nossa senhora, deixa eu te falar
VICENTE: hamLOVERBOY: aquela, aquela elétrica de amanhã nos vamos participar dela, que aquela é boa o Bel(?) falou... boa pra
nós que já temos o material está lá no pátio da RED entendeu?VICENTE: certoLOVERBOY: ai nós vamos participar dela nove horas da manhã, acho que não vai dar ninguém não né?VICENTE: amanhã nove horas da manhã?LOVERBOY: éVICENTE: vixe maria, vou ter que sair de madrugada da roça.LOVERBOY: então... não vai dar ninguém, você acha que vai dar alguém?VICENTE: uai o pessoal da Múltipla fez questionamento né?LOVERBOY: ah é?VICENTE: éLOVERBOY: você acha que, acho que não (...). Vamos ver né...VICENTE: inclusive eu não respondi o questionamento deles, era pra ter respondido esse trem moçoLOVERBOY: o que que é o... que é?VICENTE: caralho velho esqueci desse trem, eles estão perguntando negócio sobre projetoLOVERBOY: ah, uai foda-se eles fala que não teve expedienteVICENTE: ah, doutor Emanuel vai querer adiar essa licitação por causa dissoLOVERBOY: será?VICENTE: eu acredito que sim... LOVERBOY: mas...VICENTE: vou chegar amanhã cedinhoLOVERBOY: mas...VICENTE: vou chegar amanhã cedinhoLOVERBOY: (Incompreensível)VICENTE: Hã? Não, não é porque não respondeu o questionamento, né?LOVERBOY: hum
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de JOSÉ VICENTE JUNIOR nos anos de 2013 a 2016.
Assim, há fundadas suspeitas de que a RED
CONSTRUTORA tenha pago outras vantagens indevidas a JOSÉ VICENTE
além daquelas indicadas na planilha de fls. 233/234.
Acrescenta-se que os carimbos com CNPJ das empresas
CONSTRUTORA RIO BRAVO e TECNOBOMBAS, duas das empresas
relacionadas na planilha de fls. 233/234, foram encontrados na sede da empresa
RED CONSTRUTORA aparentemente para montagem de licitações, o que
corrobora a hipótese de que JOSÉ VICENTE e a empresa RED
CONSTRUTORA atuaram em conjunto para fraudar licitações.
Ainda de acordo com a análise do RAMA 1008/2018, o
cruzamento dos dados bancários obtidos após o afastamento do sigilo de JOSÉ
VICENTE no âmbito da Operação Decantação reforçam a hipótese de o
VICENTE: eu respondi pra ele por telefone, mas o duro é convencer ele a tirar o questionamento do... entendeu, eu vouver com o doutor Emanuel mas é....
LOVERBOY: eu conheço ele, qualquer coisa se você quiser que eu faloVICENTE: oi?LOVERBOY: eu conheço o povo da Múltipla, qualquer coisa se você quiser que falaVICENTE: não mas se falar é pior porque ai...LOVERBOY: é né?VICENTE: porque ai eles tem argumento na mão, tipo assim se eles perderem a licitação, ai eles sabem que tem uma
argumentação...LOVERBOY: é, vou falar para fazer dois envelopes um daquele jeito e outro menorVICENTE: beleza entãoLOVERBOY: então táVICENTE: ou transfere o negócio pra minha conta láLOVERBOY: então manda ai... do banco do... ele mandou no Banco do Brasil?VICENTE: não sei uai ele falou que mandou na conta que você passou para eleLOVERBOY: ah então foi Banco do Brasil, você tem banco do Brasil, tem não né?VICENTE: tem não só Itaú.LOVERBOY: eu estou trocando as pastilhas do carro aqui no Branquinho, assim que eu sair daqui eu já passo lá, ai eu
já transfiro direitinho e te ligoVICENTE: você tem minha conta do Itaú né?LOVERBOY: do Itaú eu tenho.VICENTE: então táLOVERBOY: do Itaú eu tenho[Despedem-se]
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investigado efetivamente recebeu os valores declarados nas planilhas em
espécie e os depositou logo em seguida.
De fato, em três ocasiões foram identificados depósitos
em espécie na conta de JOSE VICENTE que correspondem ao período e aos
valores indicados nas planilhas como recebidos das empresas CENTRAL,
HOLLUS e ESSA, nas quantias respectivas de R$ 16.500,00 (dezesseis mil e
quinhentos reais), R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e R$ 10.000,00 (dez mil reais).
No caso do depósito relativo à empresa CENTRAL, o
depositante foi o próprio JOSÉ VICENTE. Nos demais casos, não houve
identificação da origem.
Por sua vez, o RAMA GO 166/2017 contém três fotos
extraídas do celular de JOSE VICENTE com maços de dinheiro. Uma delas,
datada de 27/11/2015, coincide com a data registrada para pagamento de R$
20.000,00 (vinte mil reais) pela empresa HOLLUS.
As conversas travadas no aplicativo whatsapp por JOSE
VICENTE JUNIOR identificadas no mesmo RAMA indicam, ainda, que a
empresa ESSA ofereceu vantagens indevidas tanto para JOSÉ VICENTE quanto
para EDUARDO HENRIQUE DE DEUS referentes a licitação para construção
do parque ecológico de Inhumas. Foram identificados, nesse sentido, fotos de
cheques da empresa ESSA em posse de JOSÉ VICENTE e uma foto de cheque
da empresa ESSA nominal à RED CONSTRUTORA (fls. 129 e 238).
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Os cheques, diálogos telefônicos interceptados e
conversas travadas pelo aplicativo Whatsapp, dentre as quais entre JOSÉ
VICENTE e EDUARDO HENRIQUE DE DEUS e entre JOSÉ VICENTE e
ROGERIO ESSADO sobre cobrança de valores suspeitos devidos pela empresa
ESSA ENGENHARIA, indicam que houve acordo prévio entre JOSÉ
VICENTE, EDUARDO HENRIQUE DE DEUS e ROGÉRIO ESSADO.
Conforme será aprofundado abaixo, os diálogos
demonstram que ROGERIO ESSADO prometeu realizar pagamentos a
EDUARDO HENRIQUE DE DEUS e JOSÉ VICENTE DA SILVA JÚNIOR em
decorrência da vitória na licitação realizada pelo Município de Inhumas para
construção de um Parque Ecológico no ano de 2015, dando cheques em
garantia.
Outros depósitos sem identificação estão indicados no
RAMA 1008/2018. Embora não correspondam exatamente aos valores e às
datas da planilha, corroboram a hipótese de que o investigado recebia valores
em espécie e realizava depósitos logo em seguida, de forma semelhante ao
identificado em relação às empresas CENTRAL, HOLLUS e ESSA.
No entanto, as imagens retiradas do RAMA GO 166/2017,
consistentes em ao menos quatro fotos de maços de dinheiro, sugerem que
JOSE VICENTE não realizava depósitos em todos os casos e mantinha parte
dos valores recebidos das empresas em sua posse (fls. 140/142).
A Informação Policial n. 1853/2018 examinou mais
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detidamente os depósitos bancários recebidos e realizados por JOSE VICENTE
JUNIOR, bem como tratou de analisar a documentação fiscal do investigado.
Entre os anos de 2012 a 2015, JOSÉ VICENTE declarou
ter auferido R$ 641.022,43 (seiscentos e quarenta e um mil e vinte e dois reais e
quarenta e três centavos) de renda. Contudo, o total dos créditos identificados no
período é de R$ 2.692.241,52 (dois milhões, seiscentos e noventa e dois mil e
duzentos e quarenta e um reais e cinquenta e dois centavos) e dos débitos, de R$
2.484,705,70 (dois milhões, quatrocentos e oitenta e quatro mil, setecentos e
cinto reais e setenta centavos).
No total, a diferença entre a renda auferida e os
créditos efetivamente recebidos é de R$ R$ 2.051.219,09 (dois milhões,
cinquenta e um mil, duzentos e dezenove reais e nove centavos). Em média,
o investigado movimentou, em cada ano, valores 4 (quatro) vezes acima de sua
renda declarada.
A evolução patrimonial declarada de JOSE VICENTE
JUNIOR em 2011 a 2015 também mostra-se incompatível, tendo declarado
patrimônio R$ 70.474,93 (setenta mil quatrocentos e setenta e quatro reais e
noventa e três centavos) a mais que a renda recebida da SANEAGO, sem
justificativa.
Acrescenta-se que no período de 2009 a 2016 nove contas
do investigado receberam depósitos que somam R$ 3.121.913,02 (três milhões,
cento e vinte e um mil, novecentos e treze reais e dois centavos) e retiradas
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d e R$ 2.984.611,43 (dois milhões, novecentos e oitenta e quatro mil,
seiscentos e onze reais e quarenta e três centavos). Dentre os depósitos, R$
404.828,03 (quatrocentos e quatro mil, oitocentos e vinte e oito reais e três
centavos) foram realizados pelo próprio JOSÉ VICENTE JÚNIOR,
corroborando a hipótese de que recebia valores em espécie e logo após os
depositava.
No mesmo período, o investigado recebeu depósito de
R$23.538,00 (vinte e três mil, quinhentos e trinta e oito reais) da RED
CONSTRUÇÕES fracionados em 9 (nove) valores menores, bem como das
empresas L BARBOSA CALC LTDA ME (R$100.000,00), EXIMIA
CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS (R$33.675,57), ALFA SEGURADORA
(R$25.296,84), JGM CONSTRUTORA (R$10.000,00) e de LUIZ CARLOS
BARBOSA, sócio-proprietário da L BARBOSA CALC LTDA (R$480.000,00),
neste último caso divididos em 6 (seis) depósitos em cheques no ano de 2013.
Também foram identificados depósitos da mãe de JOSE
VICENTE, no valor de R$183.010,71 (cento e oitenta e três mil e dez reais e
setenta e um centavos), e de seu pai, JOSE VICENTE DA SILVA, no valor de
R$20.186,06 (vinte mil, cento e oitenta e seis reais e seis centavos).
Além disso, R$170.800,00 (cento e setenta mil reais)
foram depositados por pessoa com o CPF 999.999.999-99, não identificada. Ao
todo, R$551.892,81 (quinhentos mil, oitocentos e noventa e dois reais e
oitenta e um centavos) constituem depósitos sem identificação,
possivelmente originados dos pagamentos realizados pelas empresas listadas na
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planilha de fls. 233/234, reforçando, mais uma vez, o modus operandi
consistente no recebimento de valores em cash e posterior depósito.
Vale frisar que a importância correspondente ao salário de
JOSE VICENTE no período de 2010 a 2016 é de R$ 481.403,85 (quatrocentos e
oitenta e um mil e quatrocentos reais e oitenta e cinco centavos), muito abaixo
do valor das movimentações realizadas.
Ademais, em relação às possíveis fraudes perpetradas por
EDUARDO HENRIQUE DE DEUS, acrescenta-se que RANGEL SANTIAGO
DE DEUS também administra a empresa RED CONSTRUTORA com seu
irmão.
Em depoimento à Polícia Federal nos autos do IPL
142/2014 (“Operação Decantação”, anexo), EDUARDO HENRIQUE DE
DEUS confirmou que a empresa HBS é de propriedade de sua mãe, que a
empresa DDC pertence a seu primo, DIEGO CLÉSIO DE DEUS, e que seu
irmão, RANGEL SANTIAGO DE DEUS, gerencia a empresa RED
CONSTRUTORA juntamente com o investigado.
O nome de RANGEL consta, de fato, no quadro societário
da empresa, com 50% de participação societária.
Por sua vez, os diálogos interceptados durante a Operação
Decantação confirmam que RANGEL participava ativamente da administração
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da empresa, a exemplo do índice n. 117849714, no qual EDUARDO
HENRIQUE DE DEUS, em conversa com JOSÉ VICENTE JÚNIOR, diz a este
que é para “se virar” com o acerto com o “Déo”. Em seu depoimento à Polícia
Federal, EDUARDO HENRIQUE confirmou que “Déo” é o apelido dado a
RANGEL.
O índice n. 116725555 também reforça a participação
4LOVERBOY: você lembra que eu te falei que o menino ia passar uma lá, sabe? O Manuel(?)
VICENTE: simLOVERBOY: então ele passou uma já, é uma lá de Silvania, Silvania não... lá de Silvania mesmo, acho que é Silvania
mesmo uma reforminha lá de 50 conta certoVICENTE: certo, carta convite?LOVERBOY: é carta convite mas já passou pra mim, tem essa e tem uma aqui de 50 mil ali no negrão de lima, na
Saneago lá, essa foi o Mauro Henrique que me passouVICENTE: certoLOVERBOY: então por na BDC(?), já pus no nome da BDC láVICENTE: ah eu (...) estava atualizando o cadastro aqui esses diasLOVERBOY: você se vira, você se vira, com acerto(?) voce e o Déo(?) porque já tamo no nome dela, porque é
pequenininha, igual nos combinou quando é pequenininha põe no nome da BDS(?) entendeu, então você ja vira pro Déo você resolve, essa semana tem que topar de qualquer jeito pra arrumar esse trem porque já ta lá...
VICENTE: eu já falei pra ele tirar as ARTs passei por WhatsApp pra ele os detalhesLOVERBOY: não mas voce tem que ir lá voce conhece a peça, vai e resolve e mete o pau nesse trem porque lá essa de
Silvania (...) nós vamos ter que reformar rapidão e trem filezinho, pintar caixa de agua trocar piso e umas portas só VICENTE: certoLOVERBOY: 50 conto, já é pra nos ganhar já tem 100 mil, essa aqui de Goiânia e essa de SilvaniaVICENTE: certo LOVERBOY: Beleza[Despedem-se]
5Transcrição :EDUARDO: Eu preciso de um documento seu, para ir lá no cartório para reconhecer assinatura.
VICENTE: você precisa de um documento meu?EDUARDO: é uai...VICENTE: não. A assinatura que reconhece é só a sua.EDUARDO: uai, e a sua?VICENTE: a minha não precisa não. É porque você... porque que precisa de firma reconhecida na sua assinatura, é para
ver que você que é da empresa e tá credenciando eu, entendeu? O documento meu eu tenho que apresentar na hora da licitação lá.EDUARDO: Ah... então é só o meu, que eu tenho que autenticar lá no cartório.VICENTE: exatamenteo. Agora se você quiser tirar cópia autenticada de algum documento meu é melhor.EDUARDO: então explica pro Déo.VICENTE: hein Déo... o seguinte... na verdade precisa de reconhecer firma na assinatura dele, porque ele tá me
credenciando.DEO: ah... tá.. então é só na dele.VICENTE: isso. Se ele quiser tirar alguma cópia autenticada de algum documento meu, que ele não autenticou, aí eu to
chegando na saneago em dez minutos.DEO: daí você vai ta com a original lá, então não precisa.VICENTE: pois é, acho que não precisa não.DEO: Precisa não. Entendi então. Então é só aquele então.VICENTE: aquele que é para mostrar que é a assinatura dele mesmo que está me credenciando.DEO: entendi. Fechou. Sarou?VICENTE: sempre sarado.DEO: o cara que cai três vezes sem tá bêbado... tinha um fantasminha te derrubando.(despedem-se)
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ativa de RANGEL na administração da empresa RED CONSTRUTORA e em
licitações junto à SANEAGO.
Ademais, o RAMA 1014/2018, que analisou o HD
apreendido na sede da empresa RED COMERCIO, indica que grande parte dos
documentos de empresas diversas possivelmente utilizados para fraudar
licitações foi encontrada em pasta registrada com o nome “RANGEL”.
Apresentadas as informações acima, os autos foram em
seguida remetidos ao Ministério Público Federal.
É o relatório.
Às fls. 30/40, o Ministério Público Federal relatou os
indícios de materialidade e autoria delitivas dos crimes sob investigação,
oportunidade em que buscou delimitar os fatos investigados e os agentes
envolvidos.
Posteriormente, a Autoridade Policial encaminhou
esclarecimentos e juntou informações que corroboram a prática dos crimes
investigados.
Conforme demonstrado, os relatórios de análise de
material apreendido que deram ensejo à instauração da presente investigação
levantaram fortes indícios de que EDUARDO HENRIQUE DE DEUS utiliza
dezenas empresas – dentre elas a de sua propriedade, RED CONSTRUTORA –
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para montar e fraudar diversas licitações em municípios goianos (procedimentos
relacionados às fls. 39/55 do IPL 0842/2018).
Por sua vez, há indícios também da participação de JOSÉ
VICENTE DA SILVA JÚNIOR, ELVIS PRESLEY MENDANHA e ROGERIO
ESSADO em corrupção e fraude relativa à construção de um parque ecológico
na cidade de Inhumas/GO (Convênio 797918), conforme se extrai dos RAMAs
supracitados e dos diálogos telefônicos colhidos durante a “Operação
Decantação”, transcritos no bojo da representação de fls. 04/28.
Ademais, os novos documentos juntados pela Autoridade
Policial às fls. 227/240 e 242/260 ratificam que JOSÉ VICENTE DA SILVA
JÚNIOR, à época dos fatos membro da CPL da SANEAGO, recebia
pagamentos de propina para fraudar licitações, inclusive em favor de
EDUARDO HENRIQUE DE DEUS e da empresa RED CONSTRUTORA.
Ademais, há indícios da prática lavagem de capitais.
Vale acrescentar que, após realização de buscas no sistema
de dados acessíveis ao Ministério Público Federal, verificou-se que as seguintes
empresas, cujos documentos e carimbos foram encontrados na sede da empresa
RED CONSTRUTORA para montagem de licitação, bem como a própria
empresa RED, mantêm/mantiveram contratos recentes com a SANEAGO, isto
é, mesmo após a deflagração da Operação Decantação (documentos anexo):
a) KV SERVIÇOS ELETRICOS foi contratada, mediante
dispensa de licitação, para: implantação de extensão de rede urbana 13,8KV
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compacta e subestação aérea para atender poço tubular profundo na cidade de
Nerópolis/GO (abertura em 14/09/2018); obras de tratamento de esgoto em
Cezarina-GO (abertura em 02/08/2018); e obras em rede de distribuição
(abertura em 17/04/2018);
b) FDA construtora foi contratada, mediante dispensa de
licitação, para construção de cerca na área da estação de tratamento de esgoto
de Goianésia-GO (abertura em 09/11/2018);
c) a empresa DIM BELL, entre 2012 e 2018, venceu 19
(dezenove) processos licitatórios realizados pela SANEAGO, quais sejam: 1 –
adequação e montagem de conjunto de motor-bomba da estação elevatória de
água e São João da Aliança-GO (Carta Convite n. 21/2012, abertura em
28/03/2012); 2 – aquisição de conjuntos motobombas para a SANEAGO
(Pregões Eletrônicos n. 78/2013, 79/2013 e 93/2013, abertura em 20/08/2013,
21/08/2013 e 17/09/2013, respectivamente); 3 – aquisição de bomba centrífuga
para os distritos de Nerópolis e Pirenópolis-GO (Pregão Eletrônico n. 64/2013,
abertura em 02/08/2013); 4 – aquisição de conjuntos de motobombas para
Campos Belos-GO (Pregão Eletrônico n. 49/2013, abertura em 24/06/2013); 5 –
obras no sistema de abastecimento de água em Formosa-GO (Concorrência n.
15/2013, abertura em 28/10/2013); 6 – instalações elétricas no sistema de
esgotamento sanitário de Ceres-GO (Convite n. 18/2013, abertura em
27/09/2013); 7 – aquisição de motor-bomba para SANEAGO (Pregão
Eletrônico n. 57/2014, abertura em 03/09/2014); 8 – aquisição de centrífugas
para os distritos de Anápolis, Itapuranga, Novo Gama, Crixás, Carmo do Rio
Verde, Cidade Ocidental, Inhumas, Formosa, Valparaíso de Goiás, Itaberaí,
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Ouro Verde de Goiás e Posse (Pregão Eletrônico n. 01/014, abertura em
21/01/2014); 9 – aquisição de equipamentos para o sistema de abastecimento de
água do distrito de Jataí-GO (Pregão Eletrônico n. 7/2014, abertura em
17/02/2014); 10 – aquisição de conjuntos motor bomba para os distritos
operados pela SANEAGO (Pregões Eletrônicos n. 58/2015 e 60/2015, abertura
em 08/12/2015 e 16/12/2015); 11 – contratação de serviços para execução de
extensão de redes em Nova Grécia-GO (Convite n. 14/2015, abertura em
11/12/2015); 12 – aquisição de reservatórios metálicos para a SANEAGO
(Pregão Eletrônico n. 121/2017, abertura em 14/11/2017); 13 – aquisição de sal
granulado industrial para diversas unidades da SANEAGO (Pregão Eletrônico
n. 83/2017, abertura em 28/09/2017); 14 – aquisição de materiais elétricos
destinados a diversas unidades da SANEAGO (Pregão Eletrônico n. 46/2017,
abertura em 22/12/2017); 15 – aquisição de bombas para cidade de Terezópolis-
GO (Pregão Eletrônico n. 140/2017, abertura em 16/01/2018); 16 – aquisição de
conjuntos motobombas para a SANEAGO (Pregão Eletrônico n. 12/2018,
abertura em 23/02/2018);
d) a empresa RED CONSTRUTORA venceu, entre os
anos de 2008 e 2018, 24 (vinte e quatro) licitações realizadas pela SANEAGO,
a saber: 1 – Implantação de certa na SANEAGO (Convite n. 86/2008, abertura
em 31/08/2008); 2 – extensão de rede rural para atender o sistema de
abastecimento de Goiás (Convite n. 95/2009, abertura em 19/11/2009); 3 –
reforma e ampliação de escritório, construção de banheiros e salas na cidade de
Acreúna-GO (Convite n. 83/2009, abertura em 14/12/2009); 4 – urbanização do
sistema de esgoto sanitário da cidade de Lagoa Santa-GO (Convite n. 48/2009,
abertura em 04/06/2009); 5 – implantação de rede coletora de esgoto em
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Silvânia-GO (Convite n. 130/2010, abertura em 26/11/2016); 6 – reforma e
instalações elétricas na ETA de Varjão-GO (Convite n. 27/2010, abertura em
01/06/2010); 6 – reforma da estação de tratamento de água na cidade de
Cesarina-GO (Convite n. 80/2010, abertura em 04/08/2010); 7 – reforma da
estação de tratamento de água na cidade de Edealina-GO (Convite n. 34/2010,
abertura em 24/06/2010); 8 – recuperação de rede coletora de esgoto em
Inhumas-GO (Convite n. 41/2010, abertura em 24/06/2010); 9 – reforma das
instalações de gerência na sede da SANEAGO (Convite n. 122/2010, abertura
em 19/11/2010); 10 – construção de casa de controle, urbanização e extravasor
na ETE de Padre Bernardo-GO (Convite n. 48/2010, abertura em 24/08/2010);
11 – reforma e pintura na ETA de Rianápolis-GO (Convite n. 75/2011, abertura
em 19/12/2011); 12 – padronização de 500 ligações de água no distrito de
Valparaíso-GO (Convite n. 63/2011, abertura em 18/11/2011); 13 – recuperação
de muro de contenção na estação elevatória de Trindade-GO (Convite n.
43/2010, abertura em 29/06/2012); 14 – melhorias nas instalações da gerência
de negócios nortep-GNN/SUMEN, em Goiânia-GO (Convite n. 68/2012,
abertura em 12/11/2012); 15 – reforma da ETA de Sanclerlândia-GO (Convite n.
23/2012, abertura em 09/04/2012); 16 – serviços de conservação, limpeza e
pequenas melhorias nas ETEs e Estações Elevatórias em várias cidades
(Concorrência n. 17/2012, abertura em 22/01/2013); 17 – implantação de
extensão de rede de alta-tensão em Novo Gama-GO (Convite n. 2/2013,
abertura em 23/01/2013); 18 – reforma na ETA de Turvânia-GO (Convite n.
79/2012, abertura em 11/01/2013); 19 – extensão de RDU AT compacta e Águas
Lindas-GO (Convite n. 39/2014, abertura em 16/09/2014); 20 – reforma do
escritório de atendimento e unidades de abastecimento em Avelinópolis-GO
(Convite n. 3/2014, abertura em 04/02/2014); 21 – serviços para melhorias e
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ampliação do sistema e abastecimento de água em Bela Vista-GO (Convite n.
8/2013, abertura em 27/08/2014); 22 – execução de serviços de conservação,
limpeza e pequenas melhorias para manutenção das ETEs e EEEs em diversas
cidades (Concorrência n. 17/2014, abertura em 06/04/2015); 23 – fornecimento
e instalação de Guarda-Corpo em Ceres-GO (Dispensa de Licitação n. 92/2018,
abertura em 26/10/2018); 24 – melhorias nas áreas de poços, na agência de
atendimento e no centro de reserva em Vila Propício (Dispensa de Licitação n.
21/2018, abertura em 17/05/2018).
Repise-se que, após diligências realizadas pela Polícia
Federal, constatou-se que no endereço cadastrado para a empresa FDA
CONSTRUTORA LTDA funciona a empresa BRAVA INDUSTRIA
COMERCIO E SERVIÇOS, e o telefone cadastrado para a empresa FDA é o
mesmo cadastrado para a RED CONSTRUTORA, DDC ENGENHARIA E
CONSTRUÇÃO e HBS CONSTRUTORA LTDA.
Ademais, no endereço cadastrado para a empresa DIM
BEL ENGENHARIA não havia indicação de que ela funcionava no local. No
entanto, a empresa TECNOBOMBAS, cujo proprietário foi denunciado no bojo
da Operação Decantação, funciona próximo ao endereço indicado para a DIM
BEL. JOÃO PEDRO RUELA CICATELLI DE OLIVEIRA, sócio-proprietário
da DIM BEL EGNEHARIA, é filho de SILVANA CICATELLI, sócia-
proprietária da TECNOBOMBAS.
Os recentes processos licitatórios vencidos pelas empresas
acima indicam, assim, que a organização criminosa encontra-se em pleno
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funcionamento e percutindo contratos com a Administração Pública atualmente,
conforme será aprofundado mais adiante, denotando atualidade.
Delimitadas as condutas e os fatos criminosos sob
investigação, passa-se à análise do cabimento das medidas representadas pela
Autoridade Policial.
I - DA BUSCA E APREENSÃO
Face às fundadas razões de que os investigados
continuaram a praticar os crimes de corrupção passiva e passiva, fraude a
licitação e possível lavagem de dinheiro, outra forma não há para resguardar a
boa e regular instrução do inquérito policial e do processo penal que não a
medida de busca e apreensão nos das empresas envolvidas.
De fato, os locais indicados pela Autoridade Policial às
fls. 25/26 podem conter documentos, mídias e outros objetos que carreguem
informações relevantes para a elucidação dos fatos, considerando a existência de
patente vínculo fático entre eles e os crimes sob investigação.
Nesse sentido, requer-se realização de buscas nos
endereços das empresas possivelmente utilizadas por EDUARDO HENRIQUE
DE DEUS para fraudar licitações, especificamente aquelas cujos carimbos e
propostas foram encontrados após realizada busca e apreensão na sede da RED
CONSTRUTORA e em relação às quais as diligências realizadas pela
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Autoridade Policial demonstraram que ainda se encontram nos endereços
cadastrados: a) HBS CONSTRUTORA LTDA-ME; b) DDC ENGENHARIA E
CONSTRUÇÃO LTDA; c) DIM BEL ENGENHARIA LTDA.; d) EUROENGE
ENGENHARIA CIVIL E ELETRICA LTDA; e) FDA CONSTRUTORA LTDA;
f) LONA CONSTRUTORA LTDA.; e g) MULTIPLA ENGENHARIA LTDA.
Ademais, requer-se também autorização para buscas no
endereço da empresa ESSA ENGENHARIA LTDA, supostamente contratada
mediante fraude e pagamento de propina para construção de um parque
ecológico em Inhumas/GO (Convênio n. 797918).
Considerando a alta probabilidade de que os investigados
mantenham armazenados documentos, materiais e mídias relativos aos fatos ora
investigados na sede das empresas acima referenciadas, a realização das buscas
permitirá a obtenção de elementos de prova relevantes para as apurações.
Por sua vez, o pedido de busca e apreensão na SANEAGO
mostra-se desnecessário, visto que têm como única finalidade a localização dos
processos licitatórios que teriam sido fraudados pelo grupo criminoso, indicados
nas planilhas de fls. 39/55.
Nesse caso, considerando que a autoridade policial não
apontou elementos que indiquem a possibilidade de extravio ou sonegação de
tais documentos, basta o encaminhamento de requisição à estatal para que
encaminhe a documentação pleiteada, sendo desnecessária a medida pleiteada.
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Da mesma forma, não há necessidade de decretação de
busca e apreensão na Prefeitura de Inhumas/GO.
Conforme será adiante aprofundado, os elementos de
prova até o momento colhidos demonstram que houve fraude à Concorrência n.
002/2015 realizada pelo Município de Inhumas para construção de um Parque
Ecológico, vencida pela empresa ESSA ENGENHARIA.
Dos diálogos telefônicos interceptados e das conversas
travados pelo aplicativo whatsapp, é possível constatar que a empresa ESSA
ENGENHARIA apresentou balanço financeiro vencido, o que deveria ter sido
razão para a sua inabilitação no certame.
No entanto, ao final do julgamento das propostas, somente
a empresa ESSA ENGENHARIA foi habilitada e julgada vencedora (ata anexa).
O fato de a empresa ESSA ENGENHARIA ter sido
declarada vencedora, mesmo sem apresentar a documentação necessária para
habilitação no certame, constitui forte indício de que também a comissão
permanente de licitação do Município de Inhumas tenha participado da fraude.
Contudo, a licitação ocorreu no ano de 2015, há quase 4
(quatro) anos. A Comissão Permanente de Licitação, à época dos fatos, era
composta por SARA NAZARIO DE LIMA, THIAGO MACHADO SANTANA
e RODOLFO DE MORAES DUARTE NETO (ata de realização do certame
anexa). Em pesquisa realizada pelo Ministério Público Federal, verificou-se que
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o atual presidente da CPL é GUILHERME BARRETO MOTA, pessoa distinta
das investigadas nestes autos, o que sugere que a comissão não é mais composta
das mesmas pessoas de antes.
A representação da Autoridade Policial não indica,
ademais, possível envolvimento dos atuais membros da CPL do município na
fraude perpetrada ou em outras fraudes que pudesse prejudicar as investigações
caso fossem de conhecimento dos servidores.
Assim, não há justificativa de decretação de busca e
apreensão para a obtenção dos documentos pleiteados.
No caso, a documentação poderá ser obtida após o
encaminhamento de ofício à Prefeitura de Inhumas/GO pela própria Polícia
Federal, sem necessidade de autorização judicial para tanto.
Pelas razões acima, também o pedido de apreensão dos
celulares dos membros da CPL do Município de Inhumas/GO mostra-se
desarrazoado, haja vista que não há, nos autos, elementos que indiquem
participação dos atuais membros da CPL na fraude.
Ademais, o fato de ROGERIO ESSADO ser filho de
JOSÉ ESSADO, ex-Prefeito de Inhumas-GO por dois mandatos e ex-deputado
estadual, não indica, ao menos a princípio, que poderia haver obstáculos ao en-
vio da documentação a ser requisitada pela Autoridade Policial.
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Por outro lado, RANGEL SANTIAGO DE DEUS,
conforme demonstrado linhas atrás, participa da administração da empresa RED
e atua/atuava em licitações. A análise dos elementos de prova colacionados aos
autos sugere que RANGEL esteja envolvido ativamente na prática das fraudes
ora investigadas, mormente pelo fato de ter sido localizada pasta no
computador da RED CONSTRUTORA em seu nome, contendo dezenas de
arquivos de empresas diversas referentes a procedimentos licitatórios e que
sugerem fortemente que eram utilizados para montagem de licitações.
O endereço da residência ROGÉRIO ESSADO, proprietá-
rio da empresa ESSA ENGENHARIA, também não consta indicado na repre-
sentação da Autoridade Policial como alvo de busca e apreensão. A realização
de buscas no local poderá fornecer importantes elementos para o deslinde das
investigações.
Não há, do mesmo modo, menção à empresa KV SERVI-
ÇOS ELÉTRICOS, que foi agraciada com três contratos mediante dispensa de
licitação da SANEAGO neste ano de 2018.
Assim, necessário incluir também os endereços
residências de RANGEL SANTIAGO, ROGÉRIO ESSADO e da empresa KV
SERVIÇOS ELÉTRICOS na medida ora pleiteada.
Finalmente, frisa-se que os respectivos mandados de
busca e apreensão que ora se solicitam terão por objeto a coleta de prova
relativa à prática dos crimes acima descritos, especialmente:
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a) documentos, bens de valor, pastas, cadernetas, cader-
nos, papéis diversos, notas fiscais, documentos bancários, registros de telefones,
livros contábeis, formais ou informais, recibos, agendas, todos relacionados a
contratos de obras e serviços estabelecidos com órgãos públicos, da administra-
ção direta ou indireta, da União, do Estado de Goiás ou municípios (consideran-
do a ampla atividade delinquencial dos investigados), bem assim ordens de pa-
gamento e documentos relacionamentos a manutenção e movimentação de con-
tas no Brasil e no exterior, em nome próprio ou de terceiros;
b) hds, laptops, pen drives, smartphones, arquivos ele-
trônicos, de qualquer espécie, agendas manuscritas ou eletrônicas, dos investiga-
dos ou de suas empresas, quando houver suspeita que contenham material pro-
batório relevante, como o acima especificado;
c) valores em espécie em moeda estrangeira ou em reais
de valor igual ou superior a R$ 10.000,00 ou USD10.000,00 e desde que não
seja apresentada prova documental cabal de sua origem lícita.
Para completa análise do material mencionado no item
“b”, será necessária a autorização desse juízo para que as autoridades policiais
possam acessar dados armazenados em eventuais computadores, smartphones e
arquivos eletrônicos de qualquer natureza que forem localizados, inclusive para
impressão do que for encontrado e, se for necessário, para apreensão, nos ter-
mos acima, de dispositivos de bancos de dados, disquetes, CDs, DVDs ou dis-
cos rígidos.
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Por igual, requer seja autorizado, desde logo, o acesso pe-
las autoridades policiais ao conteúdo dos computadores no local das buscas e de
arquivos eletrônicos apreendidos, mesmo relativo a comunicações eventualmen-
te registradas e, igualmente, o arrombamento de cofres caso não sejam volunta-
riamente abertos.
II – DAS PRISÕES PREVENTIVAS
a) JOSÉ VICENTE DA SILVA JÚNIOR e EDUARDO HENRIQUE DE
DEUS
Para decretação de prisão preventiva, o Código de Proces-
so Penal exige, em seu art. 312 do CPP, além de prova da existência do crime e
indícios suficientes de autoria o preenchimento de ao menos um dos requisitos
seguintes: garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal ou
para assegurar a aplicação da lei penal.
No presente caso, verifica-se que JOSÉ VICENTE não
exerce mais função junto à Comissão de Licitação da estatal de saneamento. No
entanto, ainda mantém vínculo empregatício com a SANEAGO, na qualidade de
engenheiro lotado na Superintendência de Apoio Técnico.
O investigado foi denunciado na Operação Decantação pe-
los crimes de fraude a licitação, peculato e corrupção ativa e passiva, com fun-
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damento nos robustos elementos de prova colhidos durante as investigações do
IPL 0142/2014 e em especial nos diálogos telefônicos interceptados, que de-
monstram claramente sua ingerência pessoal na condução dos trabalhos da co-
missão de licitação para favorecimento suspeito de empresas.
A despeito da denúncia oferecida contra o investigado e da
enorme repercussão pública que a Operação Decantação mereceu, a SANEAGO
tratou somente de afastá-lo da Comissão Permanente de Licitação, sem, contu-
do, desligá-lo de seu quadro de pessoal, apesar dos fortes elementos que indi-
cam que JOSÉ VICENTE JÚNIOR praticava atos ilícitos no âmbito da estatal
de saneamento.
No ponto, vale ressaltar que os funcionários da SANEA-
GO, sociedade de economia mista do Estado de Goiás, ostentam a qualidade de
empregados públicos, de modo que mantêm vínculo empregatício com a entida-
de, não possuindo estabilidade no emprego e podem ser demitidos com ou sem
justa causa.
O fato de JOSÉ VICENTE ter permanecido com vínculo
empregatício com a estatal indica que existe uma rede de proteção atual den-
tro da SANEAGO que permitiu a manutenção de seu emprego público mesmo
diante das robustas provas de sua participação nos crimes cometidos pela orga-
nização criminosa que se apossou da estatal.
Não bastasse tal fato, por si só, é fundamento suficiente
para a decretação da prisão preventiva de JOSÉ VICENTE JÚNIOR, as infor-
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mações do RAMA 1008/2018 e a Informação Policial n. 1853/2018 demonstram
que o investigado pratica atualmente lavagem de capitais.
Com efeito, JOSÉ VICENTE, ao receber os valores em
espécie possivelmente provenientes de pagamentos de propinas pelas empresas,
buscava não deixar nenhum traço dos responsáveis pelos pagamentos.
Na sequência, realizava o depósito das vantagens ilícitas
nas suas contas bancárias em seu nome ou sem identificação, como forma de
desvencilhá-los de sua real origem.
Referido modus operandi tinha por objetivo ocultar a ori-
gem ilícita dos pagamentos realizados pelas empresas, amoldando-se à conduta
típica prevista no art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/98.
Ressalta-se que, nesse caso, o crime previsto no art. 1º da
Lei n. 9.613/1998 é de natureza permanente. Vale dizer, a consumação se alonga
no tempo, continuamente lesionando o bem jurídico tutelado pela norma.
Corroborando tal entendimento, o Supremo Tribunal Fe-
deral, na Ação Penal n. 863, recentemente definiu o crime de lavagem de dinhei-
ro na modalidade ocultação recentemente como um delito permanente, nos ter-
mos da ementa abaixo colacionada:
“PENAL E PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA.EX-PREFEITO MUNICIPAL. ATUAL DEPUTADO FEDERAL.DENÚNCIA. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DO LAUDO PERICI -
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AL. IMPROCEDÊNCIA. NATUREZA DA PROVA DA MATERIA-LIDADE DOCUMENTAL E NÃO PERICIAL. AUSÊNCIA DEOPINIÃO TÉCNICA ESPECIALIZADA. PARCIAL EXTINÇÃODA PUNIBILIDADE PELA PRESCRIÇÃO. CRIME DE LAVA-GEM DE DINHEIRO. MODALIDADE OCULTAR. NATURE-ZA PERMANENTE DO CRIME RECONHECIDA . PRESCRI-ÇÃO QUE NÃO TERIA OCORRIDO AINDA QUE O CRIMEFOSSE INSTANTÂNEO DE EFEITOS PERMANENTES. IMPRO-CEDÊNCIA DA ALEGAÇÃO DE RETROATIVIDADE “IN MA-LAM PARTEM” DA LEI PENAL. ATOS DE LAVAGEM PRATI-CADOS QUANDO JÁ ESTAVA EM VIGOR A LEI 9.613/98 ADESPEITO DE O CRIME ANTECEDENTE TER SIDO PRATICA-DO ANTERIORMENTE. MATERIALIDADE, AUTORIA, TIPICI-DADE OBJETIVA E SUBJETIVA PROVADAS. CONDENAÇÃODECRETADA. 1. Materialidade delitiva provada pelos documentos juntados aos au-tos, os quais são compilados, descritos e organizados em outro docu-mento que não ostenta a característica de prova pericial, por não con-ter opinião técnica especializada. Preliminar de nulidade da pretensaprova pericial improcedente.2. Extinção da punibilidade pela incidência da prescrição da preten-são punitiva quanto ao primeiro, segundo, terceiro e quinto fatos des-critos na denúncia, tendo em vista a conjugação das regras previstasnos arts. 107, inciso IV, 109, inciso I e II e 115, todos do Código Pe-nal, em razão de o acusado ter mais de 70 (setenta) anos de idade.3. O crime de lavagem de bens, direitos ou valores, quando prati-cado na modalidade típica de “ocultar”, é permanente, pro-traindo-se sua execução até que os objetos materiais do branque-amento se tornem conhecidos, razão pela qual o início da conta-gem do prazo prescricional tem por termo inicial o dia da cessa-ção da permanência, nos termos do art. 111, III, do Código Pe-nal.4. No caso concreto, quanto ao quarto fato descrito na denúncia, adespeito da natureza permanente do crime, foram detectadas movi-mentações financeiras relativas aos valores ocultados até 03 de maiode 2006, o que afasta a alegação de prescrição ainda que a naturezado crime fosse instantânea de efeitos permanentes.5. Embora não estivesse em vigor a Lei 9.613/98 quando o crime an-tecedente (corrupção passiva) foi praticado, os atos de lavagem ocor-reram durante sua vigência, razão pela qual não há falar em retroati-vidade da lei penal em desfavor do réu. A Lei 9.613/98 aplica-se aosatos de lavagem praticados durante sua vigência, ainda que o crimeantecedente tenha ocorrido antes de sua entrada em vigor.6. Demonstrada a materialidade do crime antecedente de corrupçãopassiva, bem como a procedência dos valores lavados, além da mate-rialidade, a autoria, a tipicidade objetiva e subjetiva do crime de la-
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vagem de dinheiro, não havendo causas de exclusão da ilicitude eculpabilidade, a condenação é medida que se impõe.(AP 863, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Primeira Turma, julga-do em 23/05/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-191 DIVULG28-08-2017 PUBLIC 29-08-2017) – grifamos.
Partindo das premissas acima, a prescrição somente passa-
ria a correr no momento em que cessasse a prática do crime, com a comunica-
ção da autoridade persecutória, gerando, inclusive, estado de flagrância.
Assim, para o STF, o agente que busca retirar de seu nome
bens e valores com o fim de ocultar o produto de crime e os mantém encobertos
prolonga a consumação delitiva até que reste conhecida a existência do patrimô-
nio camuflado.
Sobre o tema, confiram-se ainda os seguintes acórdãos do
pretório excelso, que ratificam o entendimento proferido na Ação Penal n. 863 e
preveem, inclusive, a possibilidade de decretação de prisão em razão da prática
do crime de lavagem de dinheiro:
“PROCESSO PENAL. NULIDADE DA ORDEM DE BUSCA EAPREENSÃO. DENÚNCIA ANÔNIMA. EXAME DA ASSERTIVAQ U A N D O D O R E C E B I M E N T O D A D E N Ú N C I A .PREJUDICIALIDADE. DECISÃO EXARADA PELA PRIMEIRAINSTÂNCIA. AUSÊNCIA DE USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIADA SUPREMA CORTE. CIRCUNSTÂNCIAS QUE NÃOINDICAVAM O ENVOLVIMENTO CONCRETO DE DETENTORDE FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. EVENTUALINCOMPETÊNCIA QUE, ADEMAIS, NÃO MACULA ODECRETO PRISIONAL, RATIFICADO NA SEQUÊNCIA NOÂMBITO DESTE SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.FUNDAMENTOS DA SEGREGAÇÃO PREVENTIVA. CENÁRIODIVERSO DAQUELE ENFRENTADO PELA CORTE
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REGIONAL. PRESSUPOSTOS DO ART. 312 DO CÓDIGO DEPROCESSO PENAL. REITERAÇÃO DELITIVA QUECOEXISTIU À CUSTÓDIA DOMICILIAR. MANUTENÇÃODE VULTOSA QUANTIA EM DINHEIRO ACONDICIONADAEM MALAS DEPOSITADAS EM IMÓVEL. INDÍCIOCONCRETO DA PRÁTICA DO DELITO DE LAVAGEM DEDINHEIRO, NA MODALIDADE DE OCULTAÇÃO (ART. 1ºDA LEI 9.613/1998). CRIME DE NATUREZA PERMANENTE.GRAVIDADE CONCRETA DA CONDUTA. NECESSIDADEDE GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. RECOLHIMENTODOMICILIAR ANTERIOR QUE NÃO ESTANCOU AATIVIDADE ILÍCITA. PROPORCIONALIDADE DA MEDIDAMAIS GRAVOSA DE PRISÃO. EXCESSO DE PRAZO DAS E G R E G A Ç Ã O N Ã O C O N F I G U R A D O . A G R AV OREGIMENTAL DESPROVIDO.(Pet 7346, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Segunda Turma,julgado em 08/05/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-122DIVULG 19-06-2018 PUBLIC 20-06-2018) – grifamos.
“R E C U R S O O R D I N Á R I O E M H A B E A S C O R P U S .SUPERVENIÊNCIA DE DECISÃO DE MÉRITO. PREJUÍZO.INOCORRÊNCIA. GRAVIDADE CONCRETO. ABALO ÀORDEM PÚBLICA. DELITOS COMETIDOS MEDIANTEFRAUDE SOFISTICADA. LAVAGEM DE DINHEIRO.MODALIDADE OCULTAÇÃO. CRIME PERMANENTE.RISCO FUNDADO E ATUAL DE NOVAS DISSIMULAÇÕES.REGISTROS CRIMINAIS. TRÂNSITO EM JULGADO.DESNECESSIDADE. JUÍZO CAUTELAR. MANDATO ELETIVO.CONDIÇÃO DESNECESSÁRIA AO COMETIMENTO DENOVOS CRIMES. EXCESSO DE PRAZO. INOCORRÊNCIA.RECURSO DESPROVIDO. 1. A Segunda Turma desta Corte firmou posição no sentido de que asuperveniência de decisão de mérito em que, pelos mesmosfundamentos, resta mantida a tutela cautelar, não acarreta, por si só, aprejudicialidade da impetração formalizada no âmbito do STF.2. A prisão preventiva poderá ser decretada quando se verificar,cumulativamente, prova da existência do crime, indícios suficientesde autoria e alguma das hipóteses previstas no art. 312 do Código deProcesso Penal.3. A gravidade concreta, revelada pelas peculiaridades do modode execução ou pela intensa reprovabilidade dos fatos que lhe sãoatribuídos, por denotar a periculosidade do agente, podeevidenciar, validamente, fundado receio de reiteração delituosa e,nessa perspectiva, configurar risco à ordem pública. Casoconcreto em que evidenciada a habilidade do paciente quanto à
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sofisticada dissimulação de recursos supostamente obtidosmediante prática de infração penal antecedente.4. O crime de lavagem de bens, direitos ou valores, quandopraticado na modalidade típica de ‘ocultar’, é permanente,protraindo-se sua execução até que os objetos materiais dobranqueamento se tornem conhecidos. A persistência daocultação confere plausibilidade ao receio de novos atos delavagem, bem como afasta a alegação de ausência de atualidadeentre a conduta tida como ilícita e o implemento da medidacautelar gravosa.5. Para fins cautelares, o registro de anotações penais em desfavor dopaciente, ainda que despidos de trânsito em julgado, pode, em tese,demonstrar a periculosidade do agente e o risco de reiteraçãodelituosa. Ademais, o acautelamento da ordem pública tem contornosextraprocessuais, de modo que delitos diversos ou desconexospodem, em tese, se repercutirem no juízo de periculosidade doagente, afetar a caracterização da aludida hipótese legal de imposiçãoda prisão preventiva.6. A cessação do mandato eletivo não configura causa suficiente deneutralização do risco de cometimento de novos delitos, notadamentena hipótese em que se noticia a realização e continuidade deinfrações que não pressupõem a condição parlamentar, como é o casodo delito de lavagem de dinheiro.7. As particularidades do caso concreto não permitem oreconhecimento de excesso de prazo na formação da culpa.8. Recurso desprovido.(RHC 144295, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Segunda Turma,julgado em 28/11/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-039DIVULG 28-02-2018 PUBLIC 01-03-2018)
Ressalta-se que o investigado cometeu o tipo penal na mo-
dalidade “ocultar”, visto que as operações realizadas destinam-se a acobertar a
origem ilícita dos valores recebidos.
Por sua vez, a prática de lavagem de capitais nessa moda-
lidade, por ser crime permanente, autoriza a decretação da prisão preventiva de
JOSÉ VICENTE DA SILVA JÚNIOR para garantia da ordem pública, consi-
derando-se, principalmente, que se encontram em plena atividade delitiva.
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Quanto à prisão de EDUARDO HENRIQUE DE DEUS,
necessário esclarecer o seguinte:
O empresário foi denunciado na Operação Decantação
pela prática dos crimes de organização criminosa, peculato, corrupção ativa e
fraude a licitação com base nos robustos elementos probatórios que indicavam
sua participação na organização criminosa que se apossou da SANEAGO.
A despeito da denúncia oferecida, as informações obtidas
pelo Ministério Público Federal acima mencionadas demonstram que, mesmo
após a deflagração da Operação Decantação em agosto de 2016, as empresas
utilizadas por EDUARDO HENRIQUE DE DEUS para fraudar licitações, duas
delas com histórico de êxito em diversos procedimentos licitatórios durante os
últimos anos (DIM BELL e RED CONSTRUTORA), continuaram a ser
contratadas pela estatal normalmente.
Mais grave, a RED CONSTRUTORA foi contratada duas
vezes no ano de 2018 mediante dispensa de licitação.
Tal fato indica que, de forma semelhante ao caso de JOSÉ
VICENTE, existe uma rede de proteção que opera no interior da estatal de
saneamento que permitiu que a empresa RED CONSTRUTORA continuasse a
ser contratada pela SANEAGO, demonstrando, mais uma vez, que a
organização criminosa encontra-se em plena atividade.
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Por outro lado, a empresa DIM BELL venceu cinco
certames licitatórios realizados pela SANEAGO nos últimos dois anos; a KV
SERVIÇOS ELÉTRICOS foi contratada, mediante dispensa de licitação, para
realização de três obras em 2018; e a FDA CONSTRUTORA foi contratada pela
SANEAGO, também mediante dispensa de licitação, neste ano de 2018.
Embora referidas empresas não tenham sido citadas na
denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal no âmbito da Operação
Decantação, tais fatos demonstram que a associação/organização criminosa
encontra-se em funcionamento, considerando que as empresas utilizadas por
EDUARDO HENRIQUE DE DEUS para montar licitações mantêm contratos
recentes com a SANEAGO, um deles de outubro de 2018.
As contratações acima, além de indicarem a prática de
crime e fraude a licitação, também constituem indícios de possível
dispensa indevida de licitação, além de provável pagamento de propina
aos demais membros da organização criminosa/associação criminosa.
Acrescenta-se que há fundadas suspeitas de que
EDUARDO HENRIQUE DE DEUS tenha pago vantagem indevida a
JOSÉ VICENTE em troca de benefícios e favores junto à SANEAGO,
consoante já ressaltado acima.
Os diálogos telefônicos de índice n. 11683069
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11796938, 11817646 e 118264396 interceptados durante a operação
decantação, reforçam que EDUARDO HENRIQUE DE DEUS tinha
acesso a informações privilegiadas sobre licitações da SANEAGO através
de JOSÉ VICENTE JÚNIOR, à época dos fatos membro da CPL da
estatal, possivelmente como contrapartida aos valores pagos pelo
empresário.
6
Índice : 11683069Operação : DECANTAÇÃONome do Alvo : JOSE VICENTE DA SILVA JUNIORFone do Alvo : 6291745190Localização do Alvo : Fone de Contato : Localização do Contato : Data : 10/06/2015Horário : 18:32:00Observações : @VICENTE X HNI
Transcrição :Interlocutor diz que o negócio lá deu certo, que ''ele" falou para ir amanhâ 8:30 h para trocar uma ideia.Vicente pergunta se o interlocutor começou o assunto e "ele" pediu pra vc ir lá?? O interlocutor confirma e afirma que "ele" sentiuinteresse. Vicente diz que aí tem que falar com o Firmino para tirar o oficio de lá. O interlocutor diz que não vai falar nada, "meteesse trem pra frente... daí é com você que nois faz daquele jeito que eu te falei". Vicente confirma. O interlocutor diz que o da ETEfoi embora também. Vicente diz que foi, que o 7505 a Cristiane mandou tudo pra frente já, eu ia te avisar mas esqueci de te falar...ela ligou avisando que já tá na secretaria geral... só ligar para você para assinar. O interlocutor diz que o dele ficou para pagarsexta-feira, mas o do Vicente ele vai dar o cheque, pergunta se aguenta até sexta??? Vicente diz que pode ser, mas é melhortransferir, porque vai que o cheque dá problema, ele diz que tem que pegar ainda o cheque "daquele outro lá". Ele reafirma quesexta o interlocutor faz a transferência.
HNI: Piou viu?VICENTE: O que?HNI: O que nóis conversou.VICENTE: Aquilo lá deu certo?HNI: Uai, ele falou, não, vai lá amanhã 08:30 da manhã pra gente trocar uma ideia.VICENTE: Ah, você começou o assunto e ele pediu pra você ir lá 08:30?HNI: É, assim mas eu senti interesse sabe?VICENTE: Ah! Certeza. Eu te falei ué.HNI: Aí nóis já mexe o trem e já pronto, entendeu?VICENTE: Tão tá. E aí tem que falar pro (Incompreensível) retirar aquele ofício seu lá.HNI: Não, precisa falar nada não. Meto esse trem pra frente.VICENTE: Então táHNI: Aí é com ocê, que nós faz daquele jeito que eu te falei.VICENTE: Beleza então.HNI: Ou, o da Ed foi embora também uai. Já ta no sistema.VICENTE: Foi, aquele de 7505 a Cristiane mandou tudo pra frente já uai.HNI: Graças a Deus.VICENTE: Eu ia te avisar. Esqueci de te falar. Ela ligou lá me avisando, ó já tá na Secretaria Geral lá. Eu ia ligar procê
pra.HNI: Ah, outra coisa, o seu, que que acontece, o meu ficou pra sexta-feira pra pagar. Mas eu já vou te entregar o
cheque, tem problema? Você guenta até sexta?VICENTE: Guento. Não, Sexta você transfere.HNI: Tõ com o cheque.
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É certo que, estando a organização criminosa em
operação, além da prisão de JOSÉ VICENTE, é necessária também da
decretação da prisão preventiva de EDUARDO HENRIQUE DE DEUS como
garantia da ordem pública para cessar a atividade delituosa.
Finalmente, necessário explicitar que JOSÉ VICENTE
VICENTE: Não, você transfere. É melhor. Vai que esse cheque dá problema. Tem que pegar o cheque ainda, tem quepegar lá, tem que pegar amanhã o cheque daquele outro lá.
HNI: É. Tá. Mas você guenta até sexta né? VICENTE: Então, sexta você faz a transferência.HNI: É? Então guenta até sexta que, Nossa Senhora, pelo amor de Deus, que eu pago até um Whisky procê na rua.
RisosVICENTE: Então tá.Despedem-se.obs.: o interlocutor é EDUARDO HENRIQUE DE DEUS.
Índice : 11796938Operação : DECANTAÇÃONome do Alvo : JOSE VICENTE DA SILVA JUNIORFone do Alvo : 6291745190Localização do Alvo : Fone de Contato : Localização do Contato : Data : 03/08/2015Horário : 14:01:59Observações : @VICENTE X EDUARDO - PROJETO E CONTRATOSTranscrição :EDUARDO - Lovergirl bão.VICENTE - Bão.EDUARDO - Ta na SANEAGO?VICENTE - To.EDUARDO - Lovergirl sabe aquele ... que amanhã... aquele contrato meu ficou pronto pro... para as casas de química,
cê lembra? Aparecida e aquele lá de... Campos verdes, campos belos... Monte Alegre.VICENTE - Eu sei que é dois lotes, mas não lembro qual que é... EDUARDO - Isso. Só que eu precisava do projeto de Aparecida e do outro também porque eu vou começar lá amanhã
e não tem projeto. Ai eu liguei pra gestora e ela falou "vê se você consegue o projeto".VICENTE - Qual que é o número da tomada de preço?EDUARDO - A meu amigo. Ai é que ta ein? Eu to até com o contrato lá na RED to so esperando o...VICENTE - Uai vocês não baixaram o edital não? No edital tem o projeto.EDUARDO - Não, não ta não.VICENTE - Ta uai. Ta junto com o arquivo anexo uai.EDUARDO - Ele fica dentro do arquivo anexo?VICENTE - Fica uai.EDUARDO - Uai mas não tem jeito de imprimir ai pela SANEAGO não?VICENTE - Não porque é um formato grande ne. Ne formato A4 não.EDUARDO - A meu Deus. Então lá tem ne no no...VICENTE - Tem tem tudo lá.EDUARDO - Então vo mandar imprimir ali então. Fechou garoto. E o que deu aquela de... Barro Alto lá?VICENTE - Uai ta la com (palavra não identificada) até hoje, não respondeu nada, não mandou a resposta pra ca ainda.EDUARDO - É de vagar de mais. Puta merda. E aquelas casinhas daquele 7 lotes? Deve ta quais saindo ne?VICENTE - Aquele lá já deve ta quais saindo o contrato.EDUARDO - A não beleza então. Eu vô ai mais tarde. VICENTE - Então ta bom então.
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JÚNIOR e EDUARDO HENRIQUE DE DEUS tiveram suas prisões decretadas
quando da deflagração da Operação Decantação, em agosto de 2016.
Na época, o juízo dessa 11ª Vara Federal entendeu haver
indícios suficientes para decretação da prisão preventiva de ambos os
investigados.
EDUARDO - Falou garoto abraço tchau.
Índice : 11817646Operação : DECANTAÇÃONome do Alvo : JOSE VICENTE DA SILVA JUNIORFone do Alvo : 6291745190Localização do Alvo : Fone de Contato : 6284166833Localização do Contato : Data : 18/08/2015Horário : 15:07:32Observações : @VICENTE X EDUARDOTranscrição :EDUARDO - Garotim sumido. VICENTE - Fala loverboy. EDUARDO - Uai ta vivo ainda?VICENTE - Sempre.EDUARDO - E ai ta aonde?VICENTE - To aqui no serviço.EDUARDO - A ta. Dexa eu te fazer uma pergunta. Aqueles trem lá foi embora?VICENTE - Não, ta aqui ainda.EDUARDO - Por quê?VICENTE - Uai não sei, não sai de lá uai. (Incompreensível)EDUARDO - Falei falei que ia pegar.VICENTE - Então, não passou nada não.EDUARDO - Cê não que pegar lá não ou cê quê que eu pegue ai?VICENTE - Uai não tem assinatura dele. Ta faltando a assinatura dele só.EDUARDO - Só isso?VICENTE - É.EDUARDO - To aqui embaixo aqui, vô da uma subida então.VICENTE - Pois é. Ate hoje não passo nada.EDUARDO - Já falo ai já. To subindo.VICENTE - Falou tchau.Cadastro contato: EDUARDO HENRIQUE DE DEUS; CPF: 003.435.401-85
Índice : 11826439Operação : DECANTAÇÃONome do Alvo : JOSE VICENTE DA SILVA JUNIORFone do Alvo : 6291745190Localização do Alvo : Fone de Contato : 6284166833Localização do Contato : Data : 21/08/2015Horário : 15:29:14Observações : @VICENTE X EDUARDO - COBRA EMAIL COM ATATranscrição :VICENTE - LoverboyEDUARDO - Lovergirl cê esqueceu de mim uai de manda o negócio uai.
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Posteriormente, ambos tiveram as prisões revogadas pelo
juízo dessa 11ª Vara em razão do afastamento dos diretores e membros da CPL
da SANEAGO envolvidos nos crimes, o que teria, supostamente, dissolvido a
organização criminosa.
Quando do pedido de prisão encaminhado pelo Ministério
Público Federal, ainda não haviam sido finalizados os relatórios de análise de
material apreendido e informações policiais referenciados nesta manifestação,
que demonstram, além do recebimento de valores suspeitos por JOSE
VICENTE JÚNIOR, possível prática de lavagem de capitais.
Ademais, foram realizados, no bojo do IPL 842/2018,
levantamentos in loco pela Autoridade Policial para confirmar o funcionamento
das empresas utilizadas por EDUARDO HENRIQUE DE DEUS para fraudar
licitações, identificando que algumas de fato são empresas de fachada.
VICENTE - O e-mail ne?EDUARDO - É. VICENTE - Pode ser a de proposta de preço final né.EDUARDO - Isso. É aquela que tem o CNPJ e o nome dos integrantes.VICENTE - Não, não. Nela não aparece CNPJ não.EDUARDO - Não, mas qual...VICENTE - Não, aparece só o nome das empresas.EDUARDO - O nome das empresas e tipo "EDUARDO", ne?VICENTE - É. Cê quer que aparece o nome do representante? Porque as vezes aquilo não é o sócio da empresa. Ele é
só quem ele credenciou.EDUARDO - Certo, certo, ...VICENTE - Agora se você quiser eu vou pedir pra MARIA elaborar o texto ali, com o nome das empresas que
participou, cê precisa de CNPJ?EDUARDO - Era bão porque ai eu colocava certinho entendeu.VICENTE - Tão ta. Ce quer o nome da empresa, CNPJ e o nome do representante legal, seria isso?EDUARDO - Isso. Justamente.VICENTE - Tão ta. Vou pedir pra MARIA elabora esse documento e passar pro seu e-mail.EDUARDO - Fechou garoto.VICENTE - Porque ela vai puxar no cadastro e peço pra ela fazer pro cê.EDUARDO - Fecho então garoto. Brigado, tchau.
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Acrescenta-se, finalmente, que os dados obtidos pelo
Ministério Público Federal após realização de buscas nos sistemas de dados
disponíveis indicou que quatro das empresas utilizadas por EDUARDO
HENRIQUE DE DEUS para montagem de licitações venceram certames
licitatórios no ano de 2018, dentre elas a própria RED CONSTRUTORA.
A s s i m , há muitos fatos novos que reforçam a
participação dos investigados em crimes de peculato, corrupção ativa e passiva,
associação criminosa, organização criminosa e lavagem de dinheiro, em plena
atualidade criminosa, que autorizam a decretação de prisão preventiva.
Ademais, a revogação da prisão preventiva de JOSÉ
VICENTE JÚNIOR e EDUARDO HENRIQUE DE DEUS deu-se em razão da
suposta dissolução da organização criminosa. Contudo, os elementos trazidos
nesta oportunidade, conforme exaustivamente narrado em linhas anteriores,
indicam que a Ocrim ainda se encontra em atividade.
b) ROGERIO ESSADO
Quanto ao pedido de prisão de ROGERIO ESSADO, ne-
cessário repisar que os elementos de prova até então colacionados aos autos in-
dicam que a empresa ESSADO ofereceu vantagens indevidas tanto para JOSÉ
VICENTE quanto para EDUARDO HENRIQUE DE DEUS referentes a licita-
ção para construção do parque ecológico de Inhumas.
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Os cheques, diálogos telefônicos interceptados e
conversas travadas pelo aplicativo Whatsapp, dentre as quais entre JOSÉ
VICENTE e EDUARDO HENRIQUE DE DEUS e entre JOSÉ VICENTE e
ROGERIO ESSADO sobre cobrança de valores suspeitos devidos pela empresa
ESSA ENGENHARIA, indicam que houve acordo prévio entre JOSÉ
VICENTE, EDUARDO HENRIQUE DE DEUS e ROGÉRIO ESSADO.
A seu turno, ROGERIO ESSADO teria prometido realizar
pagamentos a EDUARDO HENRIQUE DE DEUS e a JOSÉ VICENTE DA
SILVA JÚNIOR em decorrência da vitória na licitação realizada pelo Município
de Inhumas para construção de um Parque Ecológico no ano de 2015, dando
cheques em garantia.
A análise detida dos diálogos corrobora tal hipótese, senão
vejamos:
Em diálogo telefônico interceptado no decorrer da
Operação Decantação (índice n. 11898709, fls. 133/134 do IPL 0842/2018), de
21/09/2015, JOSÉ VICENTE JÚNIOR e EDUARDO HENRIQUE DE DEUS
conversam sobre dois cheques emitidos em nome da empresa ESSA
ENGENHARIA destinados aos dois investigados.
Na conversa, ambos reclamam sobre o pagamento
referente a um dos cheques datados para o mês de setembro, que não teria sido
lançado. JOSÉ VICENTE sugere a EDUARDO entrar em contato com a
empresa ESSA para tratar do assunto, mencionado que “a secretária dele já é
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por dentro desses negócios, fala 'não é um negócio que nós fizemos da licitação
da prefeitura aí e tal'”.
Ainda na mesma ligação, JOSÉ VICENTE JÚNIOR
afirma que já teria entrado em contato com ROGERIO ESSADO anteriormente,
há mais de um mês, oportunidade em que o empresário declarou que a obra
inicialmente havia sido paralisada, mas que seriam realizadas as medições.
Posteriormente, em 27/10/2015, JOSÉ VICENTE
JÚNIOR entra em contato com ROGEIRO ESSADO para falar sobre os
pagamentos (índice 11937814, fls. 134/135 do IPL 0842/2018). No diálogo,
JOSÉ VICENTE se identifica como representante da empresa HBS,
relembrando a ESSADO que se encontraram na “licitação em Inhumas”
referente à construção do parque.
JOSÉ VICENTE então questiona que dia poderiam se
encontrar “pra fazer a troca daquele documento”. ROGERIO ESSADO informa
que nenhuma medição havia saído ainda, embora já tivesse realizado um terço
da obra. Diante dessa informação, JOSÉ VICENTE pontua que “o cheque...o
negócio lá...o documento tá vencendo, mas eu não vou nem depositar, vou
esperar...”.
No índice n. 11947509 (fls. 135/136 do IPL 0842/2018),
de 05/11/2015, EDUARDO HENRIQUE DE DEUS e JOSÉ VICENTE
JÚNIOR voltam a reclamar sobre a não realização dos pagamentos referentes
aos cheques, dessa vez em relação àquele em posse de EDUARDO, já vencido.
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Momentos após, no mesmo dia, EDUARDO volta a ligar
para JOSÉ VICENTE alegando ter falado com ESSADO, oportunidade em que
foi informado de que ainda não havia sido realizada nenhuma medição.
EDUARDO narra ao interlocutor que alertou a ESSADO acerca da necessidade
de “trocar o cheque”, que vencia no dia seguinte, ao que ESSADO respondeu
que daria outro. EDUARDO indicou a ESSADO que o cheque seria o “da HBS”
(índice n. 11947521, fls. 136/137).
No dia 04/12/2015 (índice n. 11977290, fls. 137/138 do
IPL 0842/2018), EDUARDO e JOSÉ VICENTE voltam a reclamar sobre os
cheques. EDUARDO menciona ter entrado em contato com ESSADO, que
desconversou sobre os valores devidos aos investigados. No diálogo,
EDUARDO sugere que “o cara está sacaneando”, considerando que a obra
realizada pela empresa ESSA ENGENHARIA foi custeada com recursos
provenientes do PAC e, assim, os pagamentos destinados à empresa pela
construção do parque possivelmente já teriam sido realizados.
JOSÉ VICENTE sustenta, nesse contexto, que terão que
“cobrar o cara pessoalmente”. Nesse ponto, EDUARDO ressalta que “tem erro
lá no edital, você sabe né. O dele tava travado”. JOSÉ VICENTE responde: “eu
sei. O balanço”, ao que EDUARDO retruca: “tem que por uma pressãozinha
nele. 'Então nós vamos lá cancelar esse trem lá' […] 'moço vamos resolver.
Pelo menos aí da um pouco pra nós. Senão nós vamos lá na prefeitura e vamos
tentar resolver'”.
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Os diálogos acima demonstram que ROGERIO ESSADO
prometeu realizar pagamentos a EDUARDO HENRIQUE DE DEUS e a JOSÉ
VICENTE DA SILVA JÚNIOR em decorrência da vitória na licitação realizada
pelo Município de Inhumas para construção de um Parque Ecológico no ano de
2015, dando cheques em garantia.
Ao que tudo indica, o acordo seria referente ao silêncio da
empresa RED CONSTRUTORA, também participante do certame, quanto à
apresentação de balanço financeiro vencido pela empresa ESSA
ENGENHARIA, o que acarretaria sua inabilitação.
A ata de realização da Concorrência n. 002/2015 (em
anexo) indica que, ao final, apenas a empresa ESSA ENGENHARIA foi
habilitada e teve a proposta apreciada pela comissão de licitação.
Corrobora tal hipótese o fato de que, diante do não
cumprimento do acordo, EDUARDO e JOSÉ VICENTE cogitam ir à Prefeitura
para alertar que a empresa ESSA ENGENHARIA teria apresentado balanço
financeiro vencido e, por essa razão, não poderia ter sido habilitada no certame.
Os valores prometidos por ROGERIO ESSADA seriam
entregues após as respectivas medições da obra, conforme se extrai das razões
invocadas pelo empresário para justificar a ausência de pagamento a
EDUARDO HENRIQUE e a JOSÉ VICENTE.
Ao que tudo indica, os valores prometidos por ROGERIO
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ESSADO foram entregues somente no ano de 2016.
De fato, para além dos áudios telefônicos interceptados,
também foram identificados diálogos telefônicos travados em 2016 pelo
aplicativo whatsapp sobre pagamentos de outros cheques, mas provenientes
também da ESSA ENGENHARIA, cujas fotos encontram-se à fl. 238 do IPL
0482/2018.
Das conversas, é possível perceber que os cheques
referem-se aos mesmos valores prometidos pela ESSA ENGENHARIA aos
investigados pela vitória na licitação para construção do parque em Inhumas
aina em 2015, que não teriam sido totalmente pagos.
Os três cheques, datados de 28 de março de 2016, somam
o valor de R$10.000,00 (dez mil reais), possivelmente mesmo valor individual
dos cheques da empresa ESSA ENGENHARIA destinados a EDUARDO
HENRIQUE DE DEUS e JOSÉ VICENTE JÚNIOR no ano de 2015 (fl. 117 do
IPL 0842/2018)7.
7Infere-se o que valor total prometido por ROGERIO ESSADO a EDUARDO e JOSÉ VICENTE sejade R$20.000,00 (vinte mil reais), pelo seguinte:
a) no diálogo de índice n. 11977290 (fl. 137), JOSÉ VICENTE diz a EDUARDO que os doistêm que resolver a questão da falta de pagamento com ROGERIO ESSADO, ao que EDUARDOconcorda, ressaltando: “então, é 20 conto”;
b) ambos discutem, durante os diálogos telefônicos mencionados nesta petição, sobrepagamentos referentes a dois cheques, um para EDUARDO e outro para JOSÉ VICENTE, por exemplo:
Índice 11898709 (fls. 133/134): “[…]EDUARDO: ah...tá...não beleza. Porque você falando assim, que o seu é agora. Aí o meu....VICENTE: não, eu não lembro a data não. Tem que ver a data lá.EDUARDO: eu acho que o seu é em outubro.VICENTE: uma coisa assim.EDUARDO: é porque é um mês antes do meu.VICENTE: então deve ser.EDUARDO: o meu é dia 04 de novembro e o seu dia 04 de outubro. Certeza.
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Às fls. 118/132 do IPL 0842/2018, no período de
23/03/2016 a 26/07/2016, EDUARDO e JOSÉ VICENTE continuam a reclamar
sobre o não cumprimento do acordo por ROGERIO ESSADO.
No dia 23/05/2016, diante da ausência de pagamento,
JOSÉ VICENTE menciona a EDUARDO que iria “protocolar cópia do
processo licitatório de Inhumas no TCM com ressalvas sobre o balanço
apresentado naquele procedimento (vencido)”, corroborando, mais uma vez, a
hipótese de que a fraude envolvia o silêncio das demais licitantes quanto à
irregularidade da documentação apresentada pela ESSA ENGENHARIA (fl.
120).
Em 25/07/2016 (fl. 121) JOSÉ VICENTE pergunta a
EDUARDO se o problema (falta de pagamento) já havia sido resolvido, uma
vez que ROGERIO ESSADO teria lhe dito que já estava tudo acertado.
No dia seguinte, em 26/07/2016, EDUARDO e JOSÉ
VICENTE se desentendem. JOSÉ VICENTE afirma que, em contato com
ROGERIO, teria recebido a confirmação de pagamento a EDUARDO ainda no
mês de abril de 2016. EDUARDO, no entanto, objeta que só havia depositado o
cheque no mesmo dia 26/07/2016. JOSÉ VICENTE, contrariado, diz que não
iria mais “correr atrás disso”, e que se EDUARDO quisesse pagá-lo, que o
[...]”;c) a foto de fl. 134, relativa ao cheque destinado a EDUARDO, com vencimento no dia
04/11/2015, indica que o valor do documento é de R$10.000,00 (dez mil reais). Assim, presume-se queo outro cheque para JOSÉ VICENTE tenha também o mesmo valor de R$10.000,00 (dez mil reais),totalizando os R$20.000,00 (vinte mil reais) mencionados por EDUARDO HENRIQUE DE DEUS.
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fizesse.
Do diálogo, infere-se que EDUARDO comprometeu-se a
repassar parte do valor que receberia da empresa ESSA ENGENHARIA a JOSÉ
VICENTE.
Extrai-se, ainda, que os pagamentos destinados a JOSÉ
VICENTE foram efetivamente realizados8.
De todo exposto, é possível depreender o seguinte:
JOSÉ VICENTE JÚNIOR e EDUARDO HENRIQUE DE
DEUS, na qualidade de representantes da empresa RED CONSTRUTORA, e
ROGERIO ESSADO, representante da empresa ESSA ENGENHARIA,
fraudaram, mediante ajuste, a Concorrência n. 002/2015 realizada pelo
Município de Inhumas/GO para construção de um parque ecológico, da qual
ambas as empresas participaram.
Participaram do certame, ainda, as empresas M CUTRIM
ENGENHARIA, JMC CONSTRUTORA, SOUSA CONSTRUÇÕES, GM
ENGENHARIA CONSTRUÇÕES E COMERCIO e CASTELO
CONSTRUÇÕES E ADMINISTRAÇÕES DE OBRAS (doc. anexo).
Da ata de realização do certame, verifica-se que as
8 ROGERIO ESSA INHUMAS (para JOSÉ VICENTE): “Acertei com ele [EDUARDO HENRIQUE DE DEUS] na mesma época sua. Foi dia 5 de abril que acertei com ele” (fl. 123).
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empresas JMC CONSTRUTORA e a M CUTRIM ENGENHARIA não
compareceram e não protocolaram documentos; as empresas RED
CONSTRUTORA e ESSA ENGENHARIA impugnaram a documentação das
empresas GM ENGENHARIA e SOUSA CONSTRUÇÕES por estar em
desacordo como edital. A comissão de licitação, por sua vez, inabilitou as
empresas RED CONSTRUTORA, CASTRO CONSTRUÇÕES E
ADMINISTRAÇÃO DE OBRAS, GM ENGENHARIA e SOUSA
CONSTRUÇÕES em razão de não cumprirem com os requisitos do edital.
Vale ressaltar que as empresas SOUSA CONSTRUÇÕES
e RED ENGENHARIA foram inabilitadas por apresentar documentação fora do
prazo. Embora a empresa ESSA ENGENHARIA também tenha apresentado
balanço financeiro vencido, nada foi suscitado.
O acordo consistiria, assim, na inabilitação proposital das
empresas licitantes e no silêncio quanto à irregularidade da documentação
apresentada pela ESSA ENGEHARIA, especificamente em relação ao balanço
financeiro, que estava vencido, para que a empresa fosse a única habilitada no
certame e se sagrasse vencedora.
Ao que parece, também podem ter participado da fraude
tanto os representantes das demais empresas licitantes e como os membros da
comissão de licitação, considerando que não houve recurso ou impugnação à
habilitação da empresa ESSA ENGENHARIA, cuja documentação encontrava-
se vencida e claramente irregular, embora tenha havido impugnação e
inabilitação de outras empresas por motivo semelhante.
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Em troca do silêncio e da proposital inabilitação,
EDUARDO HENRIQUE DE DEUS e JOSÉ VICENTE JÚNIOR receberiam,
ao que tudo indica, o valor de R$20.000,00 (vinte mil reais). Para garantir o
acordo, aceitaram dois cheques em garantia, um deles indicado à fl. 129,
nominal à RED CONSTRUTORA no valor de R$10.000,00 (dez mil reais).
Os valores seriam entregues aos investigados após a
realização de medições da obra e respectivos pagamentos do Município de
Inhumas/GO à empresa ESSA ENGENHARIA, consoante se extrai dos diálogos
nos quais EDUARDO HENRIQUE, JOSÉ VICENTE JÚNIOR e ROGERIO
ESSADO dialogam a respeito do não cumprimento do pactuado, oportunidades
em que este último pontua que ainda não houve medições da obra e/ou
pagamento insuficiente.
Os valores prometidos por ROGERIO ESSADO seriam
divididos entre JOSÉ VICENTE JÚNIOR e EDUARDO HENRIQUE DE
DEUS, consoante se extrai do diálogo em que JOSÉ VICENTE, que aguardava
a entrega dos valores a EDUARDO para obter sua cota, se irrita por achar que
EDUARDO está mentindo sobre ainda não ter sido pago.
Vale ressaltar que ROGÉRIO ESSADO é filho de JOSÉ
ESSADO, ex-Prefeito de Inhumas-GO por dois mandatos e ex-deputado
estadual. À época dos fatos, em 2015, embora não exercesse mandato político, é
de se considerar a possível influência política da família ESSADO no executivo
municipal.
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Nada obstante, os fatos acima descritos não justificam a
realização de busca e apreensão na Prefeitura de Inhumas/GO, porquanto o que
se pretende localizar e apreender (processo de licitação) pode ser obtido por
simples requisição, não havendo razões para se acreditar que outras provas do
crime podem ser obtidas por esse meio, já que a licitação transcorreu há quase 4
anos e os funcionários que integram a comissão de licitação já não são mais os
mesmos da época dos fatos.
Não obstante os fortes indícios de participação de
ROGERIO ESSADO em crime de fraude a licitação, em associação criminosa
com JOSÉ VICENTE, EDUARDO HENRIQUE DE DEUS e outros possíveis
empresários e membros da comissão de licitação, vale ressaltar que o crime
previsto no art. 90 da Lei n. 8.666/93 tem pena prevista de detenção de 2 (dois)
a 4 (quatro) anos e o crime de associação criminosa de 1 (um) a 3 (três) anos, o
que afasta a possibilidade de decretação de prisão preventiva9.
Não há indícios suficientes, ademais, de que ROGERIO
ESSADO integre a organização criminosa que se apossou da SANEAGO inves-
9“Código de Processo Penal: Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretaçãoda prisão preventiva:
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4(quatro) anos; II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado,
ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940- Código Penal; III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivasde urgência; IV – (revogado).
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre aidentidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendoo preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipóteserecomendar a manutenção da medida”.
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tigada na Operação Decantação. Ao que tudo indica, trata-se de fato sem cone-
xão com os crimes apurados naquela operação. De fato, JOSÉ VICENTE, na
fraude da Concorrência n. 002/2015, atuou como empresário, e não como funci-
onário público vinculado à estatal de saneamento de Goiás.
Também falta atualidade em relação a conduta criminosa
atribuída a ESSADO, que teria fraudado licitação em 2015, não havendo evi-
dências de reiteração ou permanência criminosa.
c) ELVIS PRESLEY
Quanto a ELVIS PRESLEY, que ainda se mantém como
pregoeiro junto à SANEAGO, também há elementos suficientes que justifiquem
a decretação de sua prisão preventiva.
Os indícios levantados pela Autoridade Policial de partici-
pação nos crimes, como o diálogo telefônico interceptado no decorrer da Opera-
ção Decantação (índice n. 12230495) no qual, em conversa com EDUARDO
HENRIQUE DE DEUS, ELVIS pede ao empresário que leve à SANEAGO “o
carimbinho” de CNPJ (fl. 37 do IPL 0842/2018), indicam, de fato, que o investi-
gado participava da associação criminosa/organização criminosa voltada a frau-
des a licitação na SANEAGO.
Embora tenha sido indicado somente um diálogo telefôni-
co que poderia corroborar o envolvimento de ELVIS PRESLEY nos crimes, é
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preciso lembrar que o funcionário é investigado também no IPL 1043/2017 em
razão de movimentações financeiras suspeitas, possivelmente para ocultar des-
vio de recursos públicos e recebimento de valores indevidos.
Em depoimento à Polícia Federal naquele IPL, o
investigado, ao tentar justificar as transações bancárias identificadas, alegou
serem operações/fatos diversos, tais como recebimento de pagamentos por meio
da conta de sua esposa, recebimento de indenização, dentre outros. No entanto,
tais justificativas não foram corroboradas, inexistindo comprovação da origem
lícita de tais valores.
Ademais, encontra-se juntado ao IPL 1043/2017 o RAMA
n. 169/2017, que trata da análise do smartphone apreendido com ELVIS
PRESLEY durante a deflagração da Operação Decantação, cuja cópia segue
anexa a esta petição.
No relatório referenciado, foram identificados diálogos
suspeitos travados pelo aplicativo whatsapp entre ELVIS PRESLEY e NAGIB
DAHER NETO, proprietário da empresa CONSTRUTORA E INCORPORADA
RIO BRAVO, e entre ELVIS PRESLEY e ROGERIO, vinculado à empresa
ELETROMUK.
No dia 29/01/2015, NAGIB informa a ELVIS que o
“chefe disse q se quiser fazer o processo do convite com desistência de outra
empresa é mais fácil. Aí é você que sabe, pois o professor é tu”, ao que ELVIS
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responde que vai precisar de outro processo, porque o “do Alexandre não
serve”.
Em 02/02/2015, NAGIB volta a falar com ELVIS. Na
conversa, o empresário pede a ELVIS que lembre “de nós em Nazário”. Poucos
dias depois, em 05/02/2015, NAGIB pede notícias de Terezópolis e pergunta se
ELVIS “consegue fazer Nazário”. Na mesma oportunidade, o empresário diz
que quer encontrar ELVIS pessoalmente para “ apresentar algo”.
Em 20/02/2015, NAGIB pergunta a ELVIS se ele
consegue descobrir quem está participando da licitação do dia 23 em Padre
Bernardo. ELVIS tenta encontrar a licitação mas não consegue identificá-la.
Responde, então, que se a licitação é realizada pela Prefeitura não é possível
descobrir.
Outros diálogos no whatsapp com NAGIB corroboram
que o empresário buscava ELVIS constantemente para obter informações
privilegiadas sobre processos licitatórios, a exemplo da conversa travada no dia
08/09/2015, no qual conversam sobre informações de licitação, aparentemente
da FUNASA, e sobre contratos.
Destaca-se, ainda, a conversa do dia 27/04/2015, em que
NAGIB pergunta novamente sobre Terezópolis e ELVIS responde que “Foi jo-
vem. Daquele jeito....”. ELVIS reclama, então, que NAGIB o teria abandonado.
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Ouvido nos autos do IPL 1043/2017, ELVIS PRESLEY
não soube justificar o teor das expressões “foi daquele jeito” e “me abandonou”
do diálogo acima indicado (depoimento em anexo).
Ainda em seu depoimento, o investigado afirmou manter
apenas relação profissional com NAGIB, fato esse facilmente rechaçado com
uma simples leitura dos diálogos, que demonstra proximidade entre os dois.
Mais grave, um dos carimbos encontrados na sede da
empresa RED CONSTRUTORA para aparente montagem de licitações era
pertencente à CONSTRUTORA E INCORPORADO RIO BRAVO, empre-
sa da qual NAGIB DAHER é proprietário. Arquivos da RIO BRAVO, tais
quais modelos de propostas, também foram encontrados no computador da
RED CONSTRUTORA.
Ademais, com o objetivo de melhor instruir as investiga-
ções, o Delegado de Polícia Federal presidente do IPL 0842/2018 realizou o le-
vantamento de informações para apurar se as empresas cujos carimbos foram lo-
calizados na sede da RED COMERCIO foram utilizadas como laranjas ou se
efetivamente exercem suas atividades (fls. 204/222).
Verificou-se, após a realização das diligências, que a
empresa CONSTRUTORA E INCORPORADO RIO BRAVO não funciona
nos endereços cadastrados. Em um deles, funciona a imobiliária AGIL.
Não bastasse, a CONSTRUTORA RIO BRAVO consta
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na planilha de fls. 233/234, que contém a relação de 68 (sessenta e oito)
pagamentos suspeitos realizados por ao menos 26 (vinte e seis empresas) a
JOSÉ VICENTE JÚNIOR de 18/01/2012 a 02/08/2016. Especificamente, a
empresa RIO BRAVO realizou pagamentos a JOSÉ VICENTE JÚNIOR no
valor de R$2.000,00 (dois mil reais) no ano de 2013.
Soma-se a isso o diálogo telefônico interceptado no decor-
rer da Operação Decantação (índice n. 12230495), no qual ELVIS pede EDU-
ARDO HENRIQUE DE DEUS que leve à SANEAGO “o carimbinho” de CNPJ
(fl. 37 do IPL 0842/2018), demonstrando que ELVIS PRESLEY age junto de
EDUARDO e JOSÉ VICENTE para fraudar licitações no âmbito da SANEA-
GO.
Por sua vez, há indícios de que o empregado recebia pro-
pina em troca das informações privilegiadas que oferecia aos empresários e do
auxílio nas fraudes. De fato, em um dos diálogos acima mencionados, NAGIB
manifesta seu desejo de encontrar ELVIS pessoalmente para “apresentar algo”.
Tal hipótese é reforçada pelas conversas travadas por EL-
VIS PRESLEY e ROGERIO (empresa ELETROMUK), também por whatsapp
(RAMA n,. 169/2017). Em um dos diálogos, em 23/08/2016, ELVIS diz ao em-
presário que recebeu um arquivo no e-mail e que iria “acelerar”.
Ainda no mesmo dia, ELVIS informa a ROGERIO:
“quanto ao pregão novo, eu vou fechar o processo pra homologação e em se-
guida elaborar contrato. Quanto ao aditivo está finalizando. Hoje termina
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tudo...”. Em seguida, ELVIS diz o seguinte: “tenho q acerto (sic) com o pesso-
al....Me cobraram...”. ROGERIO responde que precisa de ajuda nisso também,
e que estava aguardando chegar o dinheiro. ELVIS responde, então, que ajudaria
até o final o “colega”.
A conversa acima referenciada sugere que ELVIS auxilia-
va ROGERIO no andamento de processos dentro da SANEAGO. Ao afirmar
que foi cobrado e teria que acertar com outras pessoas, depreende-se que ELVIS
estava cobrando indiretamente a contrapartida de ROGERIO pelo “auxílio” ofe-
recido. ROGÉRIO informa que estava aguardando receber (possivelmente pela
execução do contrato com o qual foi agraciado) para, então, entregar os valores
a ELVIS, o que corrobora tal suposição.
Acrescenta-se que os diálogos telefônicos interceptados
durante a Operação Decantação (autos. n. 1233-52.2014.4.01.3500) indicam que
o empregado acima de fato favorecia empresários licitantes e empresas
contratadas pela SANEAGO10.
10 Índice 11958086:“[...]
CHARLES [empresa TECNOBOMBAS]: eu to aqui na SANEAGO né.RAFAEL [empresa TECNOBOMBAS]: ah tá.CHARLES: que dia que vai ser esse negócio, que dia vai ser...RAFAEL: eu fui aí e peguei esse processo, esse processo está com o JR (JOSÉ RAIMUNDO) e vai passar pro ELVIS.
E o Elvis vai publicar. Mas eu falei pro Elvis segurar, não publicar ainda, pra segurar um pouco, (ininteligível).CHARLES: ele não chegou aqui ainda.RAFAEL: ele está na CPL aí com o JR...CHARLES: eu sei, mas o Elvis não chegou, eu estou aqui na CPL.RAFAEL: ah entendi. O Elvis sabe desse processo aí. A gente precisava conversar com o doutro EMMANUEL pra ver
se ele só pede aí um documento de que o cara forneceu tal produto, pra não ficar assim aberto demais sabe.CHARLES: hum...RAFAEL: igual os documentos da (ininteligível) e da FLYGTH eles pediram a documentação comprobatória né.CHARLES: humhum...RAFAEL: então assim, eu acho que...CHARLES: e lá não tem nada né?RAFAEL: não tem nada, o cara não pede nada, nada nada...CHARLES: se o Zé das Estrelas quiser entrar ele pode entrar...[...]”
Índice : 11981573: “RAFAEL [empresa TECNOBOMBAS]: fala doutor Elvis...ELVIS: bom dia.
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Assim, a proximidade de ELVIS PRESLEY com EDUAR-
DO HENRIQUE DE DEUS, a função que exerce atualmente junto à Comissão
de Licitação e as suspeitas de que efetivamente participe dos crimes de corrup-
ção e fraude a licitação, especialmente pela relação suspeita com NAGIB, pro-
prietário de umas das empresas utilizadas por EDUARDO HENRIQUE DE
DEUS para montar licitações, autorizam a decretação de prisão preventiva do
investigado.
RAFAEL: bom dia tudo bem.ELVIS: esteve uma correria ontem e você não passou aqui né?RAFAEL: cara não deu pra ir aí ontem, mas eu estou terminando um pregão eletrônico aqui da SANEAGO e vou ter
que levar agora de manhã aí a documentação.ELVIS: fechou.RAFAEL: acho que daqui uns 30 minutos já finaliza, aí já estou com a documentação pronta e já vou levar aí.ELVIS: tá bom meu amigo.(despedem-se)”
Índice n. 11984480: “GILBERTO [empresa TECNOBOMBAS]- Furamo ne.RIVADAVIA [empregado da SANEAGO] - Você que furou uai. Eu cheguei uma e meia.GILBERTO - Eu sei, não adianta. O VICENTE da SANEAGO tinha que ver um negócio aqui pra gente num processo,
ai depois passou o ELVIS, ai depois chegou aquele espanhol o OSCAR. Ai danou. Come que ta seu final de tarde?RIVADAVIA - Uai GILBERTO eu to tentando [Incompreensível] que eu fui conversar com o MAURO HENRIQUE.
Deixar pra... porque amanhã cedo 8h eu tenho um negócio aqui.[...]” Índice 11674932:
“[...] NAVARRETE [empresa NAENG]: eu não sei o numero exato do que nos temos pra receber, ele está registrado la no sistema nosso e não sei se é 8 ou 9 mil reais, é alguma coisa assim que você vai ficar sabendo exatamente com o Bruno, que é daí você da pra passar o número específico pro Godard quando você for conversar com ele.
MOACIR [empresa NAENG]: então beleza. Então tá, já vou assumir isso aqui. Então esses processos aqui eu guardo ele e quando a gente responder eu posso pedir juntada de tudo e responder né, em vez de... ou você acha que esse processo aqui eu mando falando que já passou que já foi após o prazo também depois encaminha só o projeto.
NAVARRETE: não ah... esse... essa do projeto eu acho que a gente pode responder que os trabalhos de correção eles etão em andamento mas precisava conversar com o Pedro pra mais ou menos pra fazer uma previsão, falar olha as correções estão em curso, estão em andamento e já talvez colocar um prazo... certo... mais dilatado do que aquele que o Pedro falar pra nós, porque além de você conversar com o Pedro você tem que o Elvis,
MOACIR: tá [...]” Índice 11981573:
“ RAFAEL [empresa TECNOBOMBAS]: fala doutor Elvis...ELVIS: bom dia.RAFAEL: bom dia tudo bem.ELVIS: esteve uma correria ontem e você não passou aqui né?RAFAEL: cara não deu pra ir aí ontem, mas eu estou terminando um pregão eletrônico aqui da SANEAGO e vou ter
que levar agora de manhã aí a documentação.ELVIS: fechou.RAFAEL: acho que daqui uns 30 minutos já finaliza, aí já estou com a documentação pronta e já vou levar aí.ELVIS: tá bom meu amigo.(despedem-se)”
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III) DA PRISÃO TEMPORÁRIA
Caso esse juízo entenda não ser cabível a prisão preventi-
va, o Ministério Público Federal requer subsidiariamente a decretação da prisão
temporária dos investigados EDUARDO HENRIQUE DE DEUS, JOSÉ VI-
CENTE DA SILVA JÚNIOR e ELVIS PRESLEY MENDANHA.
O art. 1º da Lei 7.960/1989 dispõe que caberá prisão tem-
porária quando imprescindível para as investigações do inquérito policial ou
quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessá-
rios ao esclarecimento de sua identidade quando da investigação de determina-
dos crimes, dentre eles de associação criminosa (art. 1º, incisos I e III, alínea
“I”).
Compulsando os autos, é possível verificar dois fatos dis-
tintos que envolvem os seguintes investigados:
a) JOSÉ VICENTE DA SILVA JÚNIOR, EDUARDO
HENRIQUE DE DEUS e ELVIS PRESLEY MENDANHA, nos termos já ex-
postos acima, associaram-se com o fim de cometer crimes contra a Adminis-
tração Pública, consistentes em fraude a licitações diversas na SANEAGO
(montagem, conluio e fornecimento de informações privilegiadas). JOSÉ VI-
CENTE JÚNIOR e EDUARDO HENRIQUE DE DEUS, ademais, atuavam em
conjunto, na qualidade de empresários, também para fraudar licitações em di-
versos municípios goianos;
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b) JOSÉ VICENTE DA SILVA JÚNIOR, EDUARDO
HENRIQUE DE DEUS e ROGERIO ESSADO associam-se com o fim de
fraudar a Concorrência n. 002/2015 realizada pelo Município de
Inhumas/GO, com provável participação de agentes públicos municipais.
Os elementos de prova indicam, mormente pela perma-
nência e contemporaneidade do crime previsto no art. 1º da Lei n. 9.613/1998,
das recentes contratações das empresas DIM BELL, FDA, KV SERVIÇOS
ELETRICOS e RED CONSTRUTORA e pela permanência de JOSÉ VICEN-
TE e ELVIS PRESLEY junto à SANEAGO (este último atuando como prego-
eiro), que a associação/organização criminosa encontra-se em plena ativida-
de.
A contemporaneidade da associação criminosa, da qual fa-
zem parte todos os representados, justifica a decretação da prisão temporária. A
medida é imprescindível para as investigações do inquérito policial, assim en-
tendida pela existência de entraves ao esclarecimento dos fatos criminosos caso
os investigados se mantenham em liberdade, em especial pela possibilidade de
destruição de provas e documentos que comprovem a lavagem de capitais e
a prática dos crimes antecedentes.
IV – DO AFASTAMENTO CAUTELAR
Representa a Autoridade, ainda, pelo afastamento cautelar
de JOSÉ VICENTE DA SILVA JÚNIOR e ELVIS PRESLEY MENDANHA e
proibição de acesso às dependências da SANEAGO.
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A medida é necessária, tendo em vista as evidências acima
mostradas, de que ambos contam com uma rede de proteção que os mantém vin-
culados à estatal, mesmo diante das evidências que pesam contra eles.
V – DOS PEDIDOS
Diante do exposto, o Ministério Público Federal requer:
a) o deferimento do pedido de busca e apreensão nos
seguintes endereços, indeferindo-se a representação policial quanto aos demais,
em especial da SANEAGO e da Prefeitura de Inhumas/GO (por desnecessária):
a1 ) HBS CONSTRUTORA LTDA - ME: Avenida do
Come´rcio, 122, QD-C, LT-03, Sala 01, Vila São João, Goiânia/GO, CEP
74.815-390, rua 3, 362, Qd. C, lote 03, Vila São João-GO, CEP 74.815-430
(endereço de esquina);
a2) DDC ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO LTDA -
ME: Avenida do Comércio, 122, Qd-C, lote 03, Sala 01, Vila São João, Goiânia,
CEP 74.815-390;
a 3 ) DIM BELL ENGENHARIA LTDA - ME: Av.
Anhanguera, 3853, Qd. 55, Lt. 02, Setor Leste Universitário, Goiânia, CEP
74.610-000 (entre as lojas da TECNOBOMBAS);
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a4) E U R O E N G E E N G E N H A R I A V I V I L E
ELÉTRICA LTDA: Rua C 179, n. 148, Qd. 444, Lote 20, Casa 02, Jardim
América, Goiânia-GO, CEP 74.275-180;
a 5 ) FDA CONSTRUTORA LTDA ou BRAVA
INDUSTRIA, COMERCIO E SERVIÇOS: Rua P-5, n. 93, QD-06, lote 20,
residencial Portinari, Goiânia-GO, CEP 774.492-125;
a6) LONA CONSTRUTORA LTDA: rua L9, s/n, Qd.
10, Lote 20, Papillon Park, Aparecida de Goiânia-GO, CEP 74.950-110;
a7) MULTIPLA ENGENHARIA LTDA – ME: Rua 2, n.
726, Qd. A 20, Lote 03, Jardim Goiás, Goiânia-GO, CEP 74.805-180, sala 01;
a8 ) ESSA ENGENHARIA LTDA: rua Silvio Pinheiro
Bailão, s/n, Qd. 04, Lt. 15, Bairro Vale das Goiabeiras, Inhumas/GO;
a9) residência de RANGEL SANTIAGO DE DEUS
(endereço a ser indicado pela Autoridade Policial);
a10) residência de ROGÉRIO ESSADO (endereço a ser
indicado pela Autoridade Policial);
a11) sede da empresa KV SERVIÇOS ELÉTRICOS
LTDA, CNPJ 04.555.414/0001-38 (endereço a ser indicado pela Autoridade
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Policial);
b) a autorização judicial, com adoção das medidas
pertinentes, para acesso total e irrestrito ao conteúdo de mídias e computadores
alvos da presente busca e apreensão, inclusive, dados armazenados em “nuvem”
e “chats” de aplicativos existentes em smartphones, para fins de análise e, se for
o caso, realização de perícia;
c) a autorização para acesso pelas autoridades policiais ao
conteúdo dos computadores no local das buscas e de arquivos eletrônicos
apreendidos, mesmo relativo a comunicações eventualmente registradas, bem
que seja autorizado igualmente o arrombamento de cofres caso não sejam
voluntariamente abertos;
d) a autorização para o compartilhamento das provas
sigilosas produzidas, a fim de que possam também instruir o Inquérito Civil
Público já instaurado e subsequente ação de improbidade administrativa a ser
instaurada pelos mesmos fatos, na forma autorizada pela jurisprudência do STF
(STF, Pet. n° 3683 QO/MG, Tribunal Pleno, Rel. Min. Cent Peluso, julgamento:
13/08/2008, Dje-035,publicado em 20/02/2009) e do TRF/1ª Região (Terceira
Turma, AG 2006.01.00.021294-1/MT, agravo de instrumento, Rel. Des. Federal
Cândido Ribeiro: e-DJF1, p. 221 de 25/04/2008);
e) a autorização para compartilhamento de provas com o
TCU, a CGU e o CADE para fins de apoio, não apenas em procedimentos de
análises de material apreendido, mas também na execução de buscas quando o
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Ministério Público Federal entender pertinente.
f) a decretação da prisão preventiva de EDUARDO
HENRIQUE DE DEUS, JOSÉ VICENTE DA SILVA JÚNIOR e ELVIS
PRESLEY MENDANHA;
g) subsidiariamente, a decretação da prisão
temporária de EDUARDO HENRIQUE DE DEUS, JOSÉ VICENTE DA
SILVA JÚNIOR e ELVIS PRESLEY MENDANHA;
h) o afastamento cautelar e proibição de ingresso nas
dependências da SANEAGO em desfavor de ELVIS PRESLEY
MENDANHA e de JOSÉ VICENTE DA SILVA JÚNIOR;
i) indeferimento da prisão cautelar de ROGÉRIO
ESSADO.
Goiânia, 17 de janeiro de 2019.
HELIO TELHO CORRÊA FILHOProcurador da República
(em substituição)
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