excelentÍssimo senhor ministro do supremo … · plantão judiciário ordinário (art. 1.127, i,...
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL LUIZ FUX
DD. Relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5240
Reqte: Associação dos Delegados de Polícia do Brasil – ADEPOL/BRASIL
Intdos: Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
Corregedor-Geral do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
FEDERAÇÃO NACIONAL DOS POLICAIS
FEDERAIS - FENAPEF, devidamente inscrita no CNPJ nº
26988.360/0001-37, com endereço na SEPS 712/912, Bloco 01, salas
101/105, Conjunto Pasteur, Brasília/DF, CEP 70390-125, vem,
respeitosamente, por seus advogados (anexo 01), à presença de Vossa
Excelência, requerer sua admissão no feito na condição de
AMICUS CURIAE
com fundamento no artigo 7ª, § 2º da Lei nº 9.868/1999, pelas razões de
fato e de direito a seguir aduzidas 1.
1 Lei nº 9.898/99. Art. 7º [...]§ 2
o O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade
dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo
anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades.
Assinado por ALANA ABILIO DINIZ VILA NOVA em 20/04/2015 14:05:27.418 -0300
Signature Not Verified
I. Do objeto da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5240
A Associação dos Delegados de Polícia do Brasil –
ADEPOL/BRASIL, na data de 12/02/2015, propôs Ação Direta de
Inconstitucionalidade com Pedido de Liminar, para questionar o interior
teor do Provimento Conjunto nº 03/2015, da Presidência do Tribunal de
Justiça e Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de São Paulo, que dispõe
apresentação de pessoa detida em flagrante delito, até 24 horas após a sua
prisão, para participar de audiência de custódia.
O texto do Provimento Conjunto nº 03/2015, em referência,
encontra-se assim consolidado:
PRESIDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA E
CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA
OS DESEMBARGADORES JOSÉ RENATO NALINI,
PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DE SÃO PAULO, E HAMILTON ELLIOT AKEL,
CORREGEDOR GERAL DA JUSTIÇA, no uso de suas
atribuições legais;
CONSIDERANDO que o Poder Judiciário, em parceria com o
Poder Executivo, vem adotando inúmeras providências na busca
pelo equacionamento dos problemas sob os quais opera o
sistema penitenciário do Estado;
CONSIDERANDO que os reflexos dessas providências não
alcançam, de maneira a causar impacto determinante no
funcionamento do sistema penitenciário, aqueles cuja
permanência no cárcere se dá por força de prisão cautelar, e que
representam parcela significativa do contingente dos
estabelecimentos penais;
CONSIDERANDO, assim, a necessidade de implantar, em
absoluta sinergia com recentes medidas do Conselho Nacional
de Justiça e do Ministério da Justiça, uma ferramenta para
controle judicial mais eficaz da necessidade de manutenção da
custódia cautelar;
CONSIDERANDO que o Brasil, no ano de 1992, ratificou a
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (pacto de San
Jose da Costa Rica) que, em seu artigo 7º, item 5, dispõe: ―toda
pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à
presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a
exercer funções judiciais‖;
CONSIDERANDO o Projeto de Lei nº 554/2001 do Senado
Federal que altera o artigo 306, parágrafo 1º do Código de
Processo Penal, para incorporar, na nossa legislação ordinária, a
obrigatoriedade da apresentação da pessoa presa, no prazo de 24
horas, ao juiz que, em audiência de custódia, decidirá por manter
a prisão em flagrante, convertendo-a em prisão preventiva,
relaxá-la ou substituí-la por uma medida cautelar;
CONSIDERANDO, finalmente, o decidido nos autos do
processo nº 2014/00153634 – DICOGE 2.1;
RESOLVEM:
Art. 1º Determinar, em cumprimento ao disposto no artigo 7º,
item 5, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(pacto de San Jose da Costa Rica), a apresentação de pessoa
detida em flagrante delito, até 24 horas após a sua prisão, para
participar de audiência de custódia.
Art. 2º A implantação da audiência de custódia no Estado de São
Paulo será gradativa e obedecerá ao cronograma de afetação dos
distritos policiais aos juízos competentes.
Parágrafo único. A Corregedoria Geral da Justiça disciplinará
por provimento a implantação da audiência de custódia no
Estado de São Paulo e o cronograma de afetação dos distritos
policiais aos juízos competentes.
Art. 3º A autoridade policial providenciará a apresentação da
pessoa detida, até 24 horas após a sua prisão, ao juiz
competente, para participar da audiência de custódia.
§ 1º O auto de prisão em flagrante será encaminhado na forma
do artigo 306, parágrafo 1º, do Código de Processo Penal,
juntamente com a pessoa detida.
§ 2º Fica dispensada a apresentação do preso, na forma do
parágrafo 1º, quando circunstâncias pessoais, descritas pela
autoridade policial no auto de prisão em flagrante, assim
justificarem.
Art. 4º Incumbe à unidade vinculada ao juiz competente
preparar o auto de prisão em flagrante para a audiência de
custódia, realizando os atos de praxe previstos nas Normas de
Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, e juntar a folha de
antecedentes da pessoa presa.
Art. 5º O autuado, antes da audiência de custódia, terá contato
prévio e por tempo razoável com seu advogado ou com
Defensor Público.
Art. 6º Na audiência de custódia, o juiz competente informará o
autuado da sua possibilidade de não responder perguntas que lhe
forem feitas, e o entrevistará sobre sua qualificação, condições
pessoais, tais como estado civil, grau de alfabetização, meios de
vida ou profissão, local da residência, lugar onde exerce sua
atividade, e, ainda, sobre as circunstâncias objetivas da sua
prisão.
§ 1º Não serão feitas ou admitidas perguntas que antecipem
instrução própria de eventual processo de conhecimento.
§ 2º Após a entrevista do autuado, o juiz ouvirá o Ministério
Público que poderá se manifestar pelo relaxamento da prisão em
flagrante, sua conversão em prisão preventiva, pela concessão
de liberdade provisória com imposição, se for o caso, das
medidas cautelares previstas no artigo 319 do Código de
Processo Penal.
§ 3º A seguir, o juiz dará a palavra ao advogado ou ao Defensor
Público para manifestação, e decidirá, na audiência,
fundamentadamente, nos termos do artigo 310 do Código de
Processo Penal, podendo, quando comprovada uma das
hipóteses do artigo 318 do mesmo Diploma, substituir a prisão
preventiva pela domiciliar.
§ 4º A audiência será gravada em mídia adequada, lavrando-se
termo ou ata suscintos e que conterá o inteiro teor da decisão
proferida pelo juiz, salvo se ele determinar a integral redução
por escrito de todos os atos praticados.
§ 5º A gravação original será depositada na unidade judicial e
uma cópia instruirá o auto de prisão em flagrante.
§ 6º As partes, dentro de 48 (quarenta e oito) horas, contadas do
término da audiência, poderão requerer a reprodução dos atos
gravados, desde que instruam a petição com mídia capaz de
suportá-la.
Art. 7º O juiz competente, diante das informações colhidas na
audiência de custódia, requisitará o exame clínico e de corpo de
delito do autuado, quando concluir que a perícia é necessária
para a adoção de medidas, tais como:
I - apurar possível abuso cometido durante a prisão em flagrante,
ou a lavratura do auto;
II - determinar o encaminhamento assistencial, que repute
devido.
Art. 8º O mandado de prisão, se convertido o flagrante em
preventiva, e o alvará de soltura, na hipótese de relaxamento da
prisão em flagrante ou concessão da liberdade provisória, serão
expedidos com observância das Normas de Serviço da
Corregedoria Geral da Justiça, aplicando-se, ainda, e no que
couber, o procedimento disciplinado no artigo 417 e seus
parágrafos do mesmo Diploma.
Art. 9º Será elaborado pela unidade vinculada ao juízo
competente relatório mensal, que deverá conter:
I - o número de audiências de custódia realizadas;
II – o tipo penal imputado, nos autos de prisão em flagrante, à
pessoa detida e que participou de audiência de custódia;
III – o número e o tipo das decisões proferidas (relaxamento da
prisão em flagrante, sua conversão em prisão preventiva,
concessão de liberdade provisória com imposição, se for o caso,
das medidas cautelares previstas no artigo 319 do Código de
Processo Penal, conversão da prisão preventiva em domiciliar,
nos termos do artigo 318 do mesmo Diploma) pelo juiz
competente;
IV – o número e espécie de encaminhamentos assistenciais
determinados pelo juiz competente.
Art. 10. Não será realizada a audiência de custódia durante o
plantão judiciário ordinário (art. 1.127, I, NSCGJ) e os finais de
semana do plantão judiciário especial (art. 1.127, II, NSCGJ).
Parágrafo único. A regra do caput aplica-se até a efetiva
implantação de rotina para transferência, aos finais de semana e
feriados, de presos das unidades da Secretaria de Estado da
Segurança Pública para os estabelecimentos da Secretaria de
Estado da Administração Penitenciária .
Art. 11. Este Provimento entra em vigor na data de sua
publicação.
Segundo alega a ADEPOL em sua peça exordial, os
dispositivos questionados padecem de inconstitucionalidade formal, por
ofender, em tese, a competência privativa da União para legislar sobre
direito processual, prevista no artigo 22, inciso I, da Constituição Federal 2,
bem como, o princípio da legalidade, previsto no artigo 5º, inciso II, do
mesmo diploma orgânico 3.
2 CF. Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
trabalho; 3 CF. Art. 5º Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
Nesse sentido, tendo em vista que os autos da Ação Direta
de Inconstitucionalidade ainda não foram incluídos em pauta de julgamento
do Tribunal Pleno deste Egrégio Supremo Tribunal Federal 4, a FENAPEF,
pleiteia seu ingresso na ADI nº 5240 na qualidade Amicus Curiae, em
conformidade com as fundamentações jurídicas formais e materiais
esposadas nesta peça.
4 (Intervenção de ―Amicus Curiae‖: Limitação e Data da Remessa dos Autos à Mesa para Julgamento. A
possibilidade de intervenção do amicus curiae está limitada à data da remessa dos autos à mesa para
julgamento. Ao firmar essa orientação, o Tribunal, por maioria, desproveu agravo regimental interposto
contra decisão que negara seguimento a ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Partido da
Social Democracia Brasileira - PSDB contra o art. 56 da Lei 9.430/96, o qual determina que as sociedades
civis de prestação de serviços de profissão legalmente regulamentada passam a contribuir para a
seguridade social com base na receita bruta da prestação de serviços, observadas as normas da Lei
Complementar 70/91. Preliminarmente, o Tribunal, também por maioria, rejeitou o pedido de intervenção
dos amici curiae, porque apresentado após a liberação do processo para a pauta de julgamento.
Considerou-se que o relator, ao encaminhar o processo para a pauta, já teria firmado sua convicção, razão
pela qual os fundamentos trazidos pelos amici curiae pouco seriam aproveitados, e dificilmente mudariam
sua conclusão. Além disso, entendeu-se que permitir a intervenção de terceiros, que já é excepcional, às
vésperas do julgamento poderia causar problemas relativamente à quantidade de intervenções, bem como
à capacidade de absorver argumentos apresentados e desconhecidos pelo relator. Por fim, ressaltou-se que
a regra processual teria de ter uma limitação, sob pena de se transformar o amicus curiae em regente do
processo. Vencidos, na preliminar, os Ministros Cármen Lúcia, Carlos Britto, Celso de Mello e Gilmar
Mendes, Presidente, que admitiam a intervenção, no estado em que se encontra o processo, inclusive para
o efeito de sustentação oral. Ao registrar que, a partir do julgamento da ADI 2777 QO/SP (j. em
27.11.2003), o Tribunal passou a admitir a sustentação oral do amicus curiae — editando norma
regimental para regulamentar a matéria —, salientavam que essa intervenção, sob uma perspectiva
pluralística, conferiria legitimidade às decisões do STF no exercício da jurisdição constitucional.
Observavam, entretanto, que seria necessário racionalizar o procedimento, haja vista que o concurso de
muitos amici curiae implicaria a fragmentação do tempo disponível, com a brevidade das sustentações
orais. Ressaltavam, ainda, que, tendo em vista o caráter aberto da causa petendi, a intervenção do amicus
curiae, muitas vezes, mesmo já incluído o feito em pauta, poderia invocar novos fundamentos, mas isso
não impediria que o relator, julgando necessário, retirasse o feito da pauta para apreciá-los. No mais,
manteve-se a decisão agravada no sentido do indeferimento da petição inicial, com base no disposto no
art. 4º da Lei 9.868/99, ante a manifesta improcedência da demanda, haja vista que a norma impugnada
tivera sua constitucionalidade expressamente declarada pelo Plenário da Corte no julgamento do RE
377457/PR (DJE de 19.12.2008) e do RE 381964/MG (DJE de 26.9.2008). Vencidos, no mérito, os
Ministros Marco Aurélio, Carlos Britto e Eros Grau, que proviam o recurso, ao fundamento de que
precedentes versados a partir de julgamentos de recursos extraordinários não obstaculizariam uma ação
cuja causa de pedir é aberta, em que o pronunciamento do Tribunal poderia levar em conta outros artigos
da Constituição Federal, os quais não examinados nos processos subjetivos em que prolatadas as decisões
a consubstanciarem os precedentes. ADI 4071 AgR/DF, rel. Min. Menezes Direito,22.4.2009.(ADI-
4071).Disponível em: <http://www.stf.jus.br//arquivo/informativo/documento/informativo543.htm.>
Acesso em: 03/12/2011).
II. Da admissão da FENAPEF como Amicus Curiae
Como se sabe, a Lei nº 9.868/1999 trouxe a possibilidade de
o Relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade admitir a manifestação
de entidade, observada a relevância da matéria e a representatividade dos
postulantes. Transcreve-se, por oportuno, o dispositivo legal:
Art. 7º Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de
ação direta de inconstitucionalidade.
[...]
§ 2º O relator, considerando a relevância da matéria e a
representatividade dos postulantes, poderá, por despacho
irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo
anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades.
Surge, portanto, a figura do Amicus Curiae (Amigo da
Corte), um terceiro que mesmo não figurando como polo da ação de
inconstitucionalidade, vê-se interessado em seu julgamento, uma vez que
refletirá na esfera de seus direitos, conforme sustentam Nelson Nery e Rosa
Nery 5:
―Amicus curiae. O relator, por decisão irrecorrível, pode admitir
a manifestação de pessoa física, professor de direito, associação
civil, cientista, órgão ou entidade, desde que tenha
respeitabilidade, reconhecimento científico ou
representatividade para opinar sobre a matéria objeto da ação
direta. Trata-se da figura do amicus curiae, originário do direito
anglo-saxão. No direito norte-americano, há a intervenção por
consenso das partes ou por permissão da Corte. O sistema
brasileiro adotou a segunda solução, de modo que a intervenção
do amicus curiae na ação direta de inconstitucionalidade dar-se-
á de acordo com a decisão positiva do relator. O amicus curiae
poderá apresentar razões, manifestação por escrito, documentos,
sustentação oral, memoriais etc. Mesmo que não tenha havido a
intervenção do amicus curiae, na forma da norma ora
5 NERY JR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado e legislação
extravagante. 7ª edição, revista e ampliada. São Paulo: RT, 2003.
comentada, o relator poderá pedir seu auxílio na fase de
diligências complementares, segundo a LADin 9º, § 1º‖.
Inclusive, o Novo Código de Processo Civil (Lei nº
13.105/2015), traz previsão expressa do Amicus Curiae para o ordenamento
jurídico pátrio:
Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da
matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a
repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão
irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem
pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de
pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com
representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de
sua intimação.
§ 1o A intervenção de que trata o caput não implica alteração de
competência nem autoriza a interposição de recursos,
ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese
do § 3o.
§ 2o Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou
admitir a intervenção, definir os poderes do amicus curiae.
§ 3o O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o
incidente de resolução de demandas repetitivas.
Na matéria versada nos presentes autos, a relevância se
evidencia na medida em que os dispositivos legais questionados na
presente Ação Direta de Inconstitucionalidade – Provimento Conjunto nº
03/2015, da Presidência do Tribunal de Justiça e Corregedoria-Geral da
Justiça do Estado de São Paulo – que dispõe apresentação de pessoa detida
em flagrante delito, até 24 horas após a sua prisão, para participar de
audiência de custódia.
E, nesse contexto, muito embora, até o presente momento, a
norma esteja sendo aplicada somente no âmbito do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo, deve-se ressaltar que já existe projeto, apresentado
pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ, para que a audiência de
custódia seja efetivamente implementada em todo judiciário brasileiro,
incluindo o âmbito federal, sede de atuação da Policia Federal.
Com efeito, eventual declaração de inconstitucionalidade da
Lei, atingirá a totalidade dos membros da Carreira Policial Federal, que
são, essencialmente, agentes de segurança pública com atuação em todo
território nacional, conforme disposição expressa da Carta Magna , que
disciplinou as atribuições básicas da Polícia Federal em seu artigo 144, §1º:
Art. 144 - A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
[...]
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente,
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira,
destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou
em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de
suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como
outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser
em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação
fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de
competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de
fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia
judiciária da União.
- grifo nosso
Portanto, a Polícia Federal, é o único órgão no âmbito
nacional, com as duas funções de polícia de segurança, porquanto
desenvolve as funções de polícia judiciária (inc. IV, § 1º do art. 144, CF)
e de polícia administrativa (inc. II e III, idem) da União.
É o modelo de unificação das funções policiais de
prevenção (ou ostensiva) e de repressão ao crime já praticado (repressiva)
em um só órgão policial.
Nesse contexto, a legislação processual penal estabelece
que “a polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no
território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das
infrações penais e da sua autoria” (art. 4º, do CPP).
De outro lado, as atividades de polícia administrativa da
União, tais como o policiamento marítimo e de fronteiras; o
policiamento das entradas e saídas aeroportuárias; a prevenção ao
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins; a prevenção ao
contrabando e descaminho, têm por finalidade a proteção do interesse
público.
No que diz respeito, especificamente, aos cargos de Agente
e Escrivão, a Portaria nº 523/1989, expedida pelo Ministério do
Planejamento, prevê suas atribuições:
AGENTE DE POLÍCIA FEDERAL CLASSE ESPECIAL
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DA CLASSE ESPECIAL :
Dirigir equipes de agentes incumbidos de tarefas de segurança
e investigações;
Instruir e orientar os policiais sob sua responsabilidade
funcional, visando ao desenvolvimento técnico de operações
policiais;
Assistir a autoridade policial ou dirigente a quem esteja
diretamente subordinado;
Cumprir as medidas de segurança orgânica que lhe competirem
e fiscalizar diretamente o cumprimento das mesmas;
Relatar situações e evidências envolvendo infrações que
competem ao Órgão coibir, e oferecer linhas de ação;
Acionar os setores competentes para atender problemas
emergenciais da área operacional ou ofensivos à segurança
orgânica;
Auxiliar na reunião de dados e na instrução de procedimentos
relacionados com assuntos da área policial e com a gerência
dos seus meios e recursos;
Colaborar na produção de conhecimentos de informações;
Exercer outras atividades que lhe forem determinadas, de
natureza estritamente policial ou de natureza complementar ao
desempenho do órgão na consecução dos seus fins;
Participar de procedimentos disciplinares, como presidente ou
membro;
Executar as atividades necessárias a apoiar o desencadeamento
de programas de formação, treinamento e especialização
policial ou afins;
Executar, sempre que necessário, a critério de autoridade
superior, as tarefas atribuídas ao Agente de Polícia Federal de
Primeira e Segunda Classes;
Executar outras tarefas que lhe forem atribuídas.
PRIMEIRA CLASSE
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DA PRIMEIRA CLASSE :
Executar a segurança de autoridades nacionais e estrangeiras;
Executar operações especiais impostas pela natureza da
investigação;
Executar demais atividades necessárias à prevenção e
repressão de infrações penais da competência do DPF, sem
prejuízo de regra processual penal que estabeleça,
genericamente, conduta policial;
Auxiliar a autoridade policial em todos os atos de investigação;
Dirigir veículos automotores em missões policiais e em função
do desempenho dos diversos setores do DPF;
Conduzir embarcações fluviais e marítimas, e pilotar aeronaves,
em razão de missões policiais, observada a devida habilitação;
Operar equipamentos de comunicações e zelar pela segurança e
manutenção de todo o processo correspondente;
Executar todas as atividades pertinentes ao desempenho do
Estabelecimento do Ensino Policial e auxiliares na gerência e
Administração dos meios e recursos do DPF;
Canalizar dados para os setores de produção de conhecimentos
de informações auxiliar na produção de conhecimentos
pertinentes;
Executar todas as tarefas necessárias à identificação, ao
arquivamento, à recuperação, à produção e, ao preparo de
documentos de informações;
Participar de procedimentos disciplinares, como presidente ou
membro;
Executar as medidas de segurança orgânica;
Promover, quando determinado por autoridade competente, a
coleta de dados e impressões digitais para fins de identificação
civil e criminal;
Executar, sempre que necessário, a critério de autoridade
superior, as tarefas atribuídas ao Agente de Polícia Federal,
Segunda Classe;
Executar outras tarefas que lhe forem atribuídas.
SEGUNDA CLASSE
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DA SEGUNDA CLASSE :
Investigar atos ou fatos que caracterizem ou possam
caracterizar infrações penais, observada a competência do
DPF;
Executar todas as atividades necessárias à prevenção e
repressão de infrações penais da competência do
Departamento de Polícia Federal, sem prejuízo de regra
processual penal que estabeleça, genericamente, conduta
policial;
Proceder à busca de dados necessários ao plano de informações
do Departamento de Polícia Federal;
Executar todas as tarefas necessárias à identificação, ao
arquivamento, à recuperação, à produção e ao preparo de
documentos de informações;
Executar atividades necessárias ao desempenho do
estabelecimento de ensino policial e auxiliares na gerência e
administração dos meios e recursos do DPF;
Participar de procedimentos disciplinares;
Executar as medidas de segurança orgânica;
Dirigir veículos automotores em missões policiais e em função
do desempenho dos diversos setores do Departamento de
Polícia Federal;
Conduzir embarcações fluviais ou marítimas e pilotar
aeronaves, em razão de missões policiais, observada a devida
habilitação;
Operar equipamentos de comunicações e zelar pela segurança e
manutenção de todo o processo correspondente;
Promover, quando determinado por autoridade competente, a
coleta de dados e impressões digitais, para fins de identificação
civil e criminal;
Executar outras tarefas que lhe forem atribuídas.
ESCRIVÃO DE POLÍCIA FEDERALCLASSE ESPECIAL
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DA CLASSE ESPECIAL :
Supervisionar, orientar e fiscalizar os trabalhos cartorários;
Distribuir os procedimentos policiais de investigações aos
demais escrivães;
Prestar todas as informações necessárias quando solicitadas
pelas autoridades policiais competentes;
Atuar nos procedimentos policiais de investigações;
Participar de procedimentos disciplinares, como presidente ou
membro;
Executar as atividades necessárias a apoiar o desempenho do
estabelecimento de ensino policial;
Colaborar no desenvolvimento das atividades de informações;
Cumprir as medidas de segurança orgânica e auxiliar na
fiscalização do seu cumprimento;
Prestar assistência às autoridades superiores, colaborando nas
atividades de natureza complementar ao desempenho do Órgão;
Executar, sempre que necessário, a critério de autoridade
superior, as tarefas atribuídas ao Escrivão de Polícia Federal,
Primeira e Segunda Classes;
Executar outras tarefas que lhe forem atribuídas.
PRIMEIRA CLASSE
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DA PRIMEIRA CLASSE :
Prestar assistência na fiscalização dos trabalhos cartorários;
Executar a escrituração dos livros cartorários;
Atuar nos procedimentos policiais de investigação;
Prestar todas as informações necessárias à chefia do cartório e
às autoridades policiais competentes, e colaborar no controle
e guarda do material apreendido ou sob a responsabilidade do
setor;
Participar de procedimentos disciplinares, como presidente ou
membro;
Dirigir veículos policiais;
Cumprir as medidas de segurança orgânica e auxiliar na
fiscalização de seu cumprimento;
Executar tarefas necessárias ao Desempenho do
Estabelecimento de Ensino Policial, bem como às atividades de
informações;
Executar tarefas de natureza complementar ao desempenho do
Órgão;
Executar, sempre que necessário, a critério de autoridade
superior, as tarefas atribuídas ao Escrivão de Polícia Federal,
Segunda Classe;
Executar outras tarefas que lhe forem atribuídas.
SEGUNDA CLASSE
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DA SEGUNDA CLASSE :
Dar cumprimento às formalidades processuais, lavrar termos,
autos e mandados, observando os prazos necessários ao
preparo, ultimação e remessa de procedimentos policiais de
investigação;
Fornecer certidões, preparar expedientes e estatísticas atinentes
às atividades cartorárias;
Acompanhar a autoridade policial, sempre que determinado, em
diligências policiais;
Promover a escrituração de livros referentes às atividades
cartorárias;
Prestar constas à chefia imediata do valor das fianças recebidas
e do que constitua objeto de apreensão;
Auxiliar a chefia do Cartório no controle e guarda do material
apreendido;
Executar outras atividades cartorárias que foram determinadas
pela Chefia ou por autoridades superiores;
Dirigir veículos policiais;
Executar, quando determinado pela autoridade competente,
coleta de dados e de impressões digitais para finas de
identificação civil e criminal;
Participar de procedimentos disciplinares;
Cumprir medidas de segurança orgânica;
Executar tarefas necessárias ao desempenho do
Estabelecimento de Ensino Policial e às atividades de
informações;
Executar tarefas de natureza complementar ao desempenho do
Órgão;
Executar outras tarefas que lhe forem atribuídas.
Pelo que pode se depreender da leitura da Portaria nº
523/1989, as atividades de serviço de apresentação de pessoa detida em
flagrante delito, até 24 horas após a sua prisão, para participar de
audiência de custódia no âmbito da Justiça Federal, será feita,
exclusivamente, pela Polícia Federal.
Não restando dúvidas quanto ao papel fundamental exercido
pelos policiais diante da proteção da sociedade, logo, fica evidente a
significância da aceitação do Amicus Curiae para trazer à discussão
aspectos informativos valorosos.
De igual forma, afigura-se, grande pertinência temática
entre a matéria ventilada na presente ação e a finalidade precípua da
entidade ora requerente.
A FENAPEF é uma entidade sindical de grau superior, sem
fins lucrativos, com caráter federativo, base territorial e foro de âmbito
nacional, constituída por prazo indeterminado, para fins de defesa,
organização, coordenação, proteção dos direitos e interesses coletivos e
individuais e representação profissional dos servidores da Polícia
Federal e de seus sindicatos filiados.
Ressalta-se, portanto, a representatividade do postulante,
elencada nos artigos 1º, 2º e 3º, inciso I, do Estatuto Social da Federação
postulante (anexo 02), em conformidade com o exigido pela Lei nº
9.868/1999, nos seguintes termos:
Art. 1º A FEDERAÇÃO NACIONAL DOS POLICIAIS
FEDERAIS - FENAPEF, sociedade civil de direito privado, é
uma entidade sindical de grau superior, sem fins lucrativos,
fundada em 25 de agosto de 1990, com caráter federativo, base
territorial e foro de âmbito nacional e sede administrativa na
SEPS 712/912, bloco 01, salas 101/105, Conjunto Pasteur,
Brasília, Distrito Federal, constituída por prazo indeterminado,
para fins de defesa, organização, coordenação, proteção dos
direitos e interesses coletivos e individuais e representação
profissional dos servidores da Polícia Federal e de seus
sindicatos filiados.
Art. 2º A FENAPEF é uma entidade democrática, sem caráter
político-partidário ou religioso, independente e autônoma em
relação ao Estado.
Art. 3º São objetivos da FENAPEF:
I – representar judicial e extrajudicialmente os interesses
individuais e coletivos dos servidores da Polícia Federal e
dos sindicatos filiados;
– grifos nossos
Nesse sentido, evidente a representatividade da FENAPEF,
haja vista, a entidade atue em defesa dos interesses difusos e coletivos de
seus associados, representando a categoria funcional dos servidores da
Polícia Federal e dos sindicatos filiados.
Assim, todos os representados pela entidade serão
diretamente atingidos pela interpretação dada por essa Egrégia Corte
na presente Ação Direta de Inconstitucionalidade.
Por todo o exposto, atendidos os requisitos do § 2º do
art. 7º da Lei nº 9.868/1999, quais sejam: 1) relevância da matéria e 2)
representatividade do postulante; requer-se que Vossa Excelência se
digne a admitir o ingresso da FENAPEF na presente Ação Direta de
Inconstitucionalidade na condição de Amicus Curiae, franqueando-se a
sua ampla manifestação, a fim de fornecer informações necessárias para
demonstrar a constitucionalidade da Portaria Conjunta nº 03/2015,
para cumprimento das normas estabelecidas na Convenção Americana
de Direitos Humanos (pacto de San José da Costa Rica), ratificado pelo
Brasil.
Afinal, a intervenção de Amicus Curiae, destina-se,
primordialmente, a pluralizar e a legitimar social e democraticamente o
debate constitucional, com argumentos e pontos de vista diferenciados,
bem como informações fáticas e dados técnicos relevantes à solução da
controvérsia jurídica.
III. Do Pedido
Diante do exposto, a Federação Nacional dos Policiais
Federais - FENAPEF, pugna pelo recebimento da presente peça, e seus
respectivos anexos e requer sua admissão na presente Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 5240 na condição de Amicus Curiae
franqueando-se a sua ampla manifestação nos autos, consignando,
desde já, a pretensão de manifestação em sustentação oral, quando do
encaminhamento à pauta de julgamento.
Requer, ainda, que as intimações sejam feitas
exclusivamente no nome dos advogados CEZAR BRITTO, OAB/DF
32.147 e RODRIGO CAMARGO BARBOSA, OAB/DF 34.718.
Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Brasília/DF, 16 de abril de 2015.
CEZAR BRITTO
OAB/DF 32.147
RODRIGO CAMARGO BARBOSA
OAB/DF 34.718
ALANA ABÍLIO DINIZ VILA-NOVA
OAB/DF 35.470