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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MOSSORÓ
CAOP-PP – MUTIRÃO 2017
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARASDA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE MOSSORÓ/RN
“A expressão popular ‘o Brasil éassim mesmo’ deveria sensibilizartodos os operadores do Direito sobrea urgência na reparação do danomoral coletivo”1.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
NORTE, pela Promotora de Justiça signatária, no uso de suas atribuições legais e
constitucionais, com fundamento no art. 129, inciso II, da Constituição da
República, no art. 25, inciso IV, alínea b, da Lei n. 8.625/93; nos arts. 1º, caput,
incisos IV e VIII, 3º c/c 5°, inciso I, da Lei n. 7.347/85; no art. 17 da Lei nº
8.429/92, no Inquérito Civil 06.2011.00002092-72, vem, perante Vossa
Excelência, ajuizar a presente
1RAMOS, André de Carvalho. Ação Civil Pública e o Dano Moral Coletivo. Revista de Direito doConsumidor, nº 25, São Paulo: RT, jan-mar. 1998, p. 80-98 APUD :VIEIRA, Vinícius Marçal;MENDONÇA, Jales Guedes Coelho. Danos morais coletivos em matéria ambiental. Revista JusNavigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 13, n. 1694, 20 fev. 2008. Disponívelem: <https://jus.com.br/artigos/10962>. Acesso em: 14 ago. 2017 2 Quatro volumes e três anexos (numerados até a fl. 1036); Anexo I ( fls. 02/52); Anexo II; Anexo III ( fls. 148)
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AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADEADMINISTRATIVA C/C PEDIDO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO
FAZER, INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO EANTECIPAÇÃO PARCIAL DOS EFEITOS IN LIMINE
em desfavor de JOSIVAN BIBIANO DE AZEVEDO, Prefeito de Serra do Mel,
inscrito no CPF/MF sob o n. 91346827400, residente na Vila Guanabara, 10 ou 45,
Serra do Mel/RN; ou na Rua Genesio Xavier Rebouças, 220, Alto de São Manoel,
Mossoró/RN, e do MUNICÍPIO DE SERRA DO MEL, pessoa jurídica de
direito público interno, inscrita no CNPJ sob n. 12.765.971/0001-20, representado
pelo primeiro demandado, Exmo. Prefeito Municipal, com sede na Rua Aristeu
Costa, 13, Vila Brasília, Serra do Mel/RN, pelos seguintes motivos:
1 – DOS FATOS
Em 23 de fevereiro de 2011, por meio da Portaria n. 10/2011, a 11ª
Promotoria de Justiça de Mossoró instaurou o Inquérito Civil n. 06.2011.00002092
-7 com o fim de averiguar possíveis irregularidades na contratação de servidores
temporários durante a gestão de Josivan Bibiano de Azevedo no município de Serra
do Mel, fl. 02.
Juntou-se, aos autos do citado Inquérito Civil, Termo de
Representação sobre a contratação de pessoas para função de vigia apesar da
existência de candidatos aprovados em concurso público, fl. 14; bem como acerca
de contratos temporários para professor em 2007, fls. 20/21.
Coligiu-se, em seguida, cópia de contratos temporários efetivados em
2007, pelo então Prefeito Josivan Bibiano de Azevedo, fls. 22/23.
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Consta, na fl. 24, Termo de Representação sobre a existência de
candidatos aprovados, não nomeados, apesar de dentro do número das vagas
ofertadas em concurso público realizado em 2007.
O Sindicato dos Servidores Público de Serra do Mel apresentou
relação dos candidatos aprovados dentro do número de vagas ofertadas pelo Edital,
fls. 27.
Juntou-se cópia do Projeto de Lei n. 02/2008 e respectivas emendas,
fls. 28/33.
Celebrou-se Termo de Ajustamento de Conduta entre o
Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Estadual e Município de
Serra do Mel, por meio do qual este último se comprometeu a rescindir todos os
contratos dos servidores admitidos, após 05/10/1988, sem concurso público, até 31
de dezembro de 2009, ressalvadas as hipóteses das nomeações para cargos
comissionados e contratos regularmente temporários em situações de excepcional
interesse público (Cláusula Segunda), fls. 46/48.
Aprovada em concurso público para o cargo de ASG noticiou o
vencimento do prazo de validade do concurso e ausência de nomeação dos
aprovados dentro do número das vagas ofertadas, fl. 49.
Coligiu-se Manual do Candidato e respectivo Edital de 08 de
setembro de 2006, da gestão do ex Prefeito Francisco Bezerra Lins Filho, fls.
50/53.
Realizou-se audiência em que o então Prefeito Josivan Bibiano de
Azevedo se comprometeu, em 30 de março de 2010, a encaminhar relação de todos
os servidores contratados temporariamente e dados dos respectivos contratos, fls.
71/72.
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Em atendimento à requisição ministerial, o município de Serra do
Mel apresentou os documentos de fls. 87/235, dentre os quais a Lei n. 312/2009,
atinente às contratações temporárias.
Realizou-se nova audiência em que foi requisitada, ao então Prefeito
Josivan Bibiano de Azevedo, em 08 de julho de 2010, relação de todos os
servidores contratados temporariamente e dados dos respectivos contratos,
incluindo a legislação correspondente, fls. 238/239.
A resposta apresentada pelo Município foi autuada como Anexo
consoante certidão de fl. 241.
Juntaram-se diversos projetos de lei e leis atinentes ao funcionalismo
público de Serra do Mel, mas não ao objeto do presente, fls. 242/477.
O município de Serra do Mel apresentou a relação dos contratados
temporariamente em 2010 bem como a respectiva legislação, fls. 480/494.
Realizou-se nova audiência em que foi requisitado ao então Prefeito
Josivan Bibiano de Azevedo, em 07 de abril de 2011, relação atualizada dos
servidores contratados temporariamente, dados dos respectivos contratos bem como
informações sobre a justificativa da contratação e escolha dos contratados, fls.
542/543.
Em atendimento à requisição ministerial, coligiram-se cópias das leis
referentes à contratação temporária no município de Serra do Mel de 2005 a 2008,
dentre outras leis que não dizem, diretamente, com o objeto do presente fls.
549/639.
Coligiu-se relação de contratados temporariamente, fl. 644.
Reiterou-se a requisição ministerial devido à parcialidade da relação
de fl. 644, fls. 650/651.
Juntou-se cópia da Lei n. 445/2011 de 5 de Julho de 2012(sic),
atinente às contratações temporárias sem processo seletivo, fls. 652/653.
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Em complementação à pendência de que trata o expediente de fl. 651,
o município informou que as contratações temporárias listadas no documento de fl.
644 referem-se aos programas Sociais PETI, CRAS e PROJOVEM e que a seleção
se deu por meio do Processo Seletivo Simplificado de Edital n. 01/2011, fl. 655.
Apresentou, ainda, cópia dos documentos dos contratados, fls. 656/711.
Requisitou-se, por meio do expediente de fl. 712, informação acerca
da forma de contratação com base na Lei n. 445, de 05 de julho de 2012. O Chefe
do Poder Executivo respondeu que as contratações se basearam no art. 73, V, alínea
d da Lei n. 9.504/973 e na Resolução n. 23.341-TSE, fls. 713/714.
Realizou-se audiência com os Poderes Executivo e Legislativo a fim
de lhes esclarecer que poderia ser elaborada uma única lei para autorização das
contratações temporárias com previsão de todos seus requisitos em vez de ser
aprovada uma lei para cada necessidade de contratação temporária, fls. 716/717.
O prazo para conclusão do feito foi prorrogado, em 29 de novembro
de 2012, por um ano4, devido à pendência de resposta, fls. 720/721.
O município de Serra do Mel encaminhou o Projeto de Lei n.
021/2012 sobre as contratações temporárias, fl. 724.
Solicitada perícia, juntou-se o Parecer Técnico Contábil n. 14/2013,
segundo o qual existiam irregularidades nas contratações temporárias e a
3Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes aafetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:
(…)V – nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa, suprimir ou
readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e, ainda, exofficio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito, nos três mesesque o antecedem e até a posse dos eleitos, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados:
(…)d) a nomeação ou contratação necessária à instalação ou ao funcionamento inadiável de
serviços públicos essenciais, com prévia e expressa autorização do Chefe do Poder Executivo;4Até, portanto, 23 de fevereiro de 2013.
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necessidade de documentos para análise de outros questionamentos deste órgão
ministerial, fls. 734/738.
Notificado, o então Prefeito Josivan Bibiano se manifestou sobre o
Parecer Técnico referido, fls. 743/752, e apresentou novos documentos, fls.
753/769.
O prazo para conclusão do feito foi prorrogado, em 26 de agosto de
2014, por mais um ano5,oportunidade em que foram determinadas novas
diligências, fls. 720/721.
Juntou-se Edital do Concurso Público de 26 de junho de 2009, fls.
772/779.
Em resposta à requisição ministerial, o município de Serra do Mel
apresentou os documentos autuados como Anexo III, conforme certidão de fl. 786.
Determinou-se a requisição de informações sobre os Processos
Seletivos de 2010 a 2012, fls. 787/788.
Este órgão ministerial formalizou a prorrogação do prazo para
conclusão do feito de 23 de fevereiro de 2014 a 23 de fevereiro de 2015; de 23 de
fevereiro de 2015 a 23 de fevereiro de 2016; e, efetivamente, prorrogou tal prazo,
pela quinta vez, até, portanto, 23 de fevereiro de 2017, consoante despacho de fls.
838/941.
Por meio do citado despacho, novas diligências foram determinadas
para instrução do feito, cumpridas consoante expedientes de fls.942/946 e
documentos de fls. 957/990.
Em resposta à requisição ministerial, a Câmara Municipal de Serra do
Mel, a Câmara Municipal remeteu os projetos de Leis n. 02/2008 e n. 21/2012 com
os expedientes das respectivas aprovações, fls. 947/955.
5Até, portanto, 23 de fevereiro de 2014.
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A Secretaria Municipal da Casa Civil solicitou dilação de prazo para
atendimento da requisição ministerial, fl. 956.
Deferiu-se o pleito consoante despacho de fl. 956-v.
Certificou-se a ciência pessoal do Prefeito sobre o deferimento do
pleito da dilação e término do prazo em 20 de fevereiro de 2017, fl. 990.
Certificou-se a ausência de resposta à requisição ministerial, apesar
da dilação do prazo referida, fl. 992.
Com esteio no art. 29 da Resolução n. 02/2008-CPJ/RN c/c Assento
n. 22/2016, a 11ª Promotoria de Justiça de Mossoró prorrogou, pela sexta vez, o
prazo para conclusão do Inquérito Civil em referência, até, portanto, 23 de
fevereiro de 2018, quando, então, determinou, dentre outras diligências a remessa
de cópia dos documentos de fls. 944, 956, 990-v, 991 e 992 ao Exmo. Procurador-
Geral de Justiça diante da suposta prática do crime previsto no art. 10 da Lei n.
7.347/85 pelo Exmo. Prefeito de Serra do Mel. Sr. Josivan Bibiano de Azevedo, fls.
993/995.
Cumprida a determinação ministerial, conforme expedientes de fls.
996/1000, a Câmara Municipal encaminhou as Leis n. 295/2008 (fls. 1003/1006),
n. 469/2013 (fls. 1007/1010); e termos de posse do então e atual Prefeito de Serra
do Mel, ora demandado, fls. 1012/1019.
A documentação coligida demonstra que o demandado contratou
profissionais temporariamente para cargos de natureza efetiva; ou seja, cuja
necessidade do serviço prestado era e é perene e não excepcional.
Burlou, portanto, princípio constitucional do concurso público, pois
as contratações temporárias foram realizadas para o exercício de atribuições
permanentes, sem que houvesse os requisitos da necessidade temporária de
excepcional interesse público.
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Ademais, os demonstrativos da receita de alienação de ativos e
aplicação de recursos da Prefeitura de Serra do Mel relativos ao período de 2009 a
2012; bem como Termo de Alerta n. 76/2012-TCE, coligidos nas fls. 1010/1028,
revelam que, no período da sua gestão, o réu Josivan Bibiano descumpriu, de forma
sistemática, o limite máximo (art. 20, III, “b”, LRF6) e o limite prudencial (art. 22,
parágrafo único, LRF7) previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal. Eis:
DEMONSTRATIVO DA DESPESA COM PESSOAL – Prefeitura de Serra doMel8
Ano Limite Prudencial(%)
Limite Máximo (%) Despesa total com pessoal(%)
3/2009 51,30% 54% 38,41%
6/2009 51,30% 54% 40,12%
3/2010 51,30% 54% 44,93%
6/2010 51,30% 54% 57,61%
3/2011 51,30% 54% 55,14%
6/2011 51,30% 54% 50,22%
3/2012 51,30% 54% 53,38%
6/2012 51,30% 54% 53,85%
Apesar de se encontrar, reiteradamente, acima do limite prudencial
desde 2010, Josivan Bibiano, à frente da Prefeitura de Serra do Mel no período de
2009 a 2012, não buscou se reorganizar financeiramente. Não adotou, portanto, as
6Art. 20. A repartição dos limites globais do art. 19 não poderá exceder os seguintes percentuais:III - na esfera municipal:b) 54% (cinqüenta e quatro por cento) para o Executivo.
7Art. 22. A verificação do cumprimento dos limites estabelecidos nos arts. 19 e 20 será realizadaao final de cada quadrimestre.
Parágrafo único. Se a despesa total com pessoal exceder a 95% (noventa e cinco porcento) do limite, são vedados ao Poder ou órgão referido no art. 20 que houver incorrido noexcesso:8Vide Demonstrativos fornecidos pelo TCE/RN em anexo.
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medidas previstas no art. 169, §§3º e 4º da CF/88. Muito pelo contrário,
Excelência.
Não bastasse, os documentos de fls. 944, 956, 990-v, 991 e 992
comprovam a omissão do gestor aqui demandado e violação do poder requisitório
do Ministério Público previsto
Os atos praticados pelos réus serão, minuciosamente, tratados nos
tópicos a seguir e se enquadram na prática de ato de improbidade administrativa
nos termos do art. 11, caput, I e V da Lei 8.429/92, razão pela qual se torna
necessária a tutela jurisdicional para a aplicação das penalidades previstas no art.
12, III, do referido diploma legal.
2. DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA
2.1 DA BURLA AO CONCURSO PÚBLICO – CONTRATAÇÃOTEMPORÁRIA “PERMANENTE”
Como é cediço, o art. 399 da Constituição federal estabelece o regime
jurídico único na administração pública, logo somente será possível a adoção do
regime celetista em contratações temporárias.
Os incisos II e IX, do art. 37, da Constituição Federal, por seu turno,
preconizam que, no âmbito da Administração Pública, “a investidura em cargo ou
emprego público depende de APROVAÇÃO PRÉVIA EM CONCURSO
PÚBLICO de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
9Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de suacompetência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administraçãopública direta, das autarquias e das fundações públicas.
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exoneração” e que “a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público”.
Assim, o ingresso nos quadros da Administração Pública deve se dar
por meio de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e
títulos.
Em relação ao inciso IX do art. 37 da Carta Magna, o ente federativo
(estados e municípios) deve estabelecer, por meio de lei, os casos de contratação
por tempo determinado, almejando atender a necessidade temporária de
excepcional interesse público.
Sobre a definição de “necessidade temporária de excepcional
interesse público”, prevista no art. 37, IX, CF/88, ensina Celso Antônio Bandeira
de Melo10 que “trata-se, aí, de ensejar suprimento de pessoal perante
contingências que desgarrem da normalidade das situações e presumam
admissões apenas provisórias, demandadas em circunstâncias incomuns, cujo
atendimento reclama satisfação imediata e temporária (incompatível, portanto,
com o regime normal de concursos”.
Em tais situações, haja vista o caráter transitório, a Administração
Pública não tem interesse em manter e custear profissionais por tempo
indeterminado.
No caso em análise, todos os cargos previstos na Lei n. 295/2008 (fls.
1003/1006) referem-se a atividades que o Município deve executar de forma
permanente, quais sejam: professor, médico, agente comunitário de saúde, agente
de combate às endemias, auxiliar de consultório dentário e digitador.
10 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 21. ed. rev. e atual. SãoPaulo: Malheiros, 2006, p.270.
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A saúde, a educação e a assistência Social, por exemplo, consistem
em atividades ínsitas à Administração Pública.
A lei municipal, ao dispor sobre a contratação por tempo
determinado, aduz, no art. 2º que se considera “necessidade temporária de
natureza excepcional interesse público”: i) contratação de professor temporário,
exclusivamente para suprir a falta de docentes; ii) contratação de médicos,
exclusivamente para suprir a carência de profissionais qualificados para
desenvolver as atividades afins; iii) contratação de agente comunitário,
exclusivamente para suprir a carência de profissionais qualificados para
desenvolver as atividades afins; iv) contratação de agentes de endemias,
exclusivamente para suprir a carência de profissionais qualificados para
desenvolver as atividades afins; v) contratação de ACD – Auxiliar de Consultório
Dentário, exclusivamente para suprir a carência de profissionais qualificados para
desenvolver as atividades afins; vi) contratação de digitadores temporários,
exclusivamente para suprir a carência de profissionais qualificados para
desenvolver as atividades afins.
Nos contratos administrativos de prestação de serviço firmado
entre o Prefeito de Serra do Mel, Sr. JOSIVAN BIBIANO e os servidores
contratados temporariamente, não foi apresentado motivo/fundamentação que
justificasse a “necessidade temporária de natureza excepcional interesse
público”.
Alie-se ao exposto a constatação de que o gasto com pessoal
aumentou na gestão de JOSIVAN BIBIANO de tal forma que o município de Serra
do Mel ultrapassou os limites prudencial (53,30%) e máximo (54%) de gastos
com pessoal de 2010 a 2012. Nesse período, sequer havia crise econômica no
país.
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Ressalte-se que a conduta de JOSIVAN BIBIANO é, a um só tempo,
inconstitucional e ilegal.
A inconstitucionalidade da conduta do gestor demandado decorre da
ausência de autorização, pela Constituição da República, para as reiteradas
contratações temporárias, pois, conforme a Carta Magna, a admissão de pessoas no
serviço público deve seguir as regras do artigo 37, cujo inciso II determina o
provimento de cargos públicos de natureza efetiva por meio de concurso público.
A contratação temporária está reservada apenas às hipóteses do artigo
37, inciso IX, da Constituição da República.
Efetivamente, a falta de postos de trabalho (se existe), no município
em testilha, deve ser suprida por meio do envio, pelo Chefe do Executivo, de
projeto de lei para a criação de cargos públicos efetivos, à Câmara Municipal, e não
por meio de contratação emergencial de forma reiterada.
A ilegalidade, por sua vez, advém da ausência de autêntica situação
de premência temporária, pois as contratações decorreram de necessidade criada
pela omissão no dever de prover as vagas segundo a ordem constitucional.
Sobre o tema, o Supremo Federal com repercussão geral:
Recurso extraordinário. Repercussão geral reconhecida. Ação
direta de inconstitucionalidade de lei municipal em face de
trecho da Constituição do Estado de Minas Gerais que repete
texto da Constituição Federal. Recurso processado pela Corte
Suprema, que dele conheceu. Contratação temporária por
tempo determinado para atendimento a necessidade
temporária de excepcional interesse público. Previsão em
lei municipal de atividades ordinárias e regulares.
Definição dos conteúdos jurídicos do art. 37, incisos II e
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IX, da Constituição Federal. Descumprimento dos
requisitos constitucionais. Recurso provido. Declarada a
inconstitucionalidade da norma municipal. Modulação dos
efeitos. 1. O assunto corresponde ao Tema nº 612 da Gestão
por Temas da Repercussão Geral do portal do STF na internet
e trata, “à luz dos incisos II e IX do art. 37 da Constituição
Federal, [d]a constitucionalidade de lei municipal que dispõe
sobre as hipóteses de contratação temporária de servidores
públicos”. 2. Prevalência da regra da obrigatoriedade do
concurso público (art. 37, inciso II, CF). As regras que
restringem o cumprimento desse dispositivo estão
previstas na Constituição Federal e devem ser
interpretadas restritivamente. 3. O conteúdo jurídico do art.
37, inciso IX, da Constituição Federal pode ser resumido,
ratificando-se, dessa forma, o entendimento da Corte
Suprema de que, para que se considere válida a
contratação temporária, é preciso que: a) os casos
excepcionais estejam previstos em lei; b) o prazo de
contratação seja predeterminado; c) a necessidade seja
temporária; d) o interesse público seja excepcional; e) a
necessidade de contratação seja indispensável, sendo
vedada a contratação para os serviços ordinários
permanentes do Estado, e que devam estar sob o espectro
das contingências normais da Administração. 4. É
inconstitucional a lei municipal em comento, eis que a norma
não respeitou a Constituição Federal. A imposição
constitucional da obrigatoriedade do concurso público é
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peremptória e tem como objetivo resguardar o cumprimento
de princípios constitucionais, dentre eles, os da
impessoalidade, da igualdade e da eficiência. Deve-se, como
em outras hipóteses de reconhecimento da existência do vício
da inconstitucionalidade, proceder à correção da norma, a fim
de atender ao que dispõe a Constituição Federal. 5. Há que se
garantir a instituição do que os franceses denominam de la
culture de gestion, a cultura de gestão (terminologia
atualmente ampliada para ‘cultura de gestão estratégica’) que
consiste na interiorização de um vetor do progresso, com uma
apreensão clara do que é normal, ordinário, e na concepção de
que os atos de administração devem ter a pretensão de ampliar
as potencialidades administrativas, visando à eficácia e à
transformação positiva. 6. Dá-se provimento ao recurso
extraordinário para o fim de julgar procedente a ação e
declarar a inconstitucionalidade do art. 192, inciso III, da Lei
nº 509/1999 do Município de Bertópolis/MG, aplicando-se à
espécie o efeito ex nunc, a fim de garantir o cumprimento do
princípio da segurança jurídica e o atendimento do
excepcional interesse social.
O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, deu
provimento ao recurso para julgar procedente a ação e
declarar a inconstitucionalidade do inciso III, do art. 192, da
Lei nº 509/1999, do Município de Bertópolis/MG, vencido o
Ministro Roberto Barroso, que dava parcial provimento para
dar interpretação conforme. Por maioria, o Tribunal, nos
termos do voto do Relator, modulou os efeitos da declaração
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de inconstitucionalidade para preservar os contratos já
firmados até a data deste julgamento, não podendo os
referidos contratos excederem a 12 (doze) meses de duração,
vencido o Ministro Marco Aurélio que não modulava a
decisão. Votou o Presidente, Ministro Joaquim Barbosa. Falou
pelo Ministério Público Federal o Dr. Rodrigo Janot Monteiro
de Barros, Procurador-Geral da República. Plenário,
09.04.2014.RE 658026 / MG - MINAS GERAIS
O Superior Tribunal de Justiça, inclusive, tem entendimento
sedimentado no tocante à configuração de ato de improbidade administrativa,
quando a contratação temporária se dá de modo irregular. Eis:
PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO SEM
CONCURSO PÚBLICO. OFENSA AOS PRINCÍPIOS
DA LEGALIDADE E DA MORALIDADE.
CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS AO PATRIMÔNIO PÚBLICO.
FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ.
OFENSA AO ART. 535 NÃO INDICADA NAS RAZÕES
DO RECURSO ESPECIAL. REEXAME DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA
7/STJ. DESNECESSIDADE DE DANO MATERIAL AO
ERÁRIO. OFENSA A LEI MUNICIPAL. SÚMULA
280/STF. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO.
SÚMULA 284/STF. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.
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ALÍNEA "C". NÃO DEMONSTRAÇÃO DA
DIVERGÊNCIA. JULGAMENTO EXTRA PETITA NÃO
CONFIGURADO.
(...)
5. Depreende-se da leitura do acórdão combatido que o
Tribunal de origem: a) afirmou que os insurgentes incorreram
em improbidade administrativa ao efetivarem contratação de
pessoal em situação que não era de excepcional interesse
público sem a necessária habilitação para o exercício da
função; e b) feriu os princípios da moralidade e da legalidade,
essenciais à atividade administrativa.
Assim, para modificar o entendimento firmado no acórdão
recorrido, é necessário exceder as razões colacionadas no
acórdão vergastado, o que demanda incursão no contexto
fático-probatório dos autos, vedada em Recurso Especial,
conforme Súmula 7/STJ. Nesse sentido: AgRg no AREsp
481.858/BA, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, DJe 2.5.2014; AgRg no REsp 1.419.268/SP, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 14.4.2014;
REsp 1.186.435/DF, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda
Turma, DJe 29.4.2014.
6. A jurisprudência do STJ, relativamente ao resultado do ato,
firmou-se no sentido de que configura ato de improbidade a
lesão a princípios administrativos, o que, como regra geral,
independe da ocorrência de dano ou lesão ao Erário.
Precedente: REsp 1.320.315/DF, Rel. Ministra Eliana
Calmon, Segunda Turma, DJe 20.11.2013.
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(…)
REsp 798679 / RJ T2 - SEGUNDA TURMA DJe 20/06/2017
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO
ADMINISTRATIVO Nº 3/STJ. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO IRREGULAR DE
SERVIDORES PÚBLICOS SEM CONCURSO. ACÓRDÃO
BASEADA EM PREMISSAS FÁTICAS.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO NA VIA RECURSAL
ELEITA. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO INTERNO NÃO
PROVIDO.
1. O acórdão recorrido concluiu, com base no conjunto
fático e probatório constante dos autos, que a
contratação temporária irregular de diversas pessoas
para ocupar funções na administração municipal é
conduta que se subsumiu ao art. 11, I , II e V, todos da Lei
nº 8.429/92. A revisão de tais fundamentos, na via
recursal eleita, é inviável, tendo em vista a incidência da
Súmula 7/STJ.
2. Agravo interno não provido.
AgInt no AREsp 892582 / SE T2 - SEGUNDA TURMA DJe
14/12/2016
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA SEM CONCURSO.
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ART. 535 DO CPC. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO.
CERCEAMENTO DE DEFESA. SÚMULA 7/STJ.
AGENTES POLÍTICOS. SUBMISSÃO À LEI DE
IMPROBIDADE. DOLO GENÉRICO CARACTERIZADO.
SANÇÕES BEM APLICADAS.
(...)
5. O elemento subjetivo que justifica a condenação por
improbidade é o dolo genérico, caracterizado pela
manifesta vontade dos réus em realizar conduta contrária
aos deveres de honestidade e demais princípios
constitucionais que regem a Administração Pública.
Precedentes do STJ.
6. O acórdão traz as seguintes considerações fáticas,
relevantes
para o deslinde da controvérsia: "Aferindo-se o farto
acervo documental trazido aos autos e cotejando com os
preceitos da norma distrital em referência, é possível extrair
a conclusão de que as requeridas, no caso, acabaram por
desvirtuar o instituto da contratação temporária de
professores, passando a adotar como regra procedimento
nitidamente previsto para ser utilizado em hipóteses
específicas e excepcionais, vinculadas ao parâmetro da
emergência em substituir professores afastados por
razões diversas ou em fazer face à crescente demanda
educacional pela população do Distrito Federal (fl. 3.119).
(...) Não se pode considerar justificável que por cinco
anos consecutivos não tenha havido o mínimo juízo de
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planejamento e previsibilidade quanto à premência de
ser reorganizado o quadro de professores do Distrito
Federal para fazer frente às sucessivas falhas
operacionais do sistema, tais como o elevado número de
afastamentos dos regentes de classe por razões de licença
médica ou para tratar de interesses particulares, à guisa
de exemplo, e, ao revés, utilizar a forma excepcional de
contratação como se ordinária fosse. (...) Consigna-se de
forma expressa que o fundamento para a postulação de
contratação de professores temporários não é a alegação de
afastamentos dos professores, em face de atestados, mas
sim a carência de profissionais, ante ao número de alunos,
diga-se, turmas, conforme deflui da leitura do memorando nº
573/98 que deu suporte a expedição das portarias nº 21, de
26.02.1999 e nº 31, de 12.04.1999. Já no memorando nº
515/99 que fundamentou a abertura do processo
administrativo nº 030-004675/2000 (doc. de fl. 636), alega-
se o elevado número de atestados médicos e a
inexistência de profissionais habilitados em concurso para
suprir a necessidade de contratação, para fins de atendimento
da necessidade do ano de 2000".
7. O acórdão recorrido reconhece a existência da lei municipal
e se esmera na demonstração da conduta ímproba por meio
de outros elementos, valendo-se de provas dos autos cuja
revisão agora é inviável, nos termos da Súmula 7/STJ.
8. Está presente de forma inequívoca o dolo, conforme
longa e detalhadamente relatado e analisado pelo
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acórdão recorrido.
As secretárias deliberadamente promoveram a
contratação, por cinco anos, de mais de 16.000
funcionários sem concurso público, valendo-se de
desvirtuamento da contratação temporária (ausente
hipótese específica, excepcional ou emergencial),
amparando-se em escusas não comprovadas que maquiaram
injustificável falta de planejamento na organização do
Quadro de Professores do Distrito Federal. 9. Ao subsumir o
fato à norma, o acórdão utiliza de interpretação superada do
STJ sobre o elemento subjetivo (dispensa do dolo ou culpa na
imputação prevista no art. 11 da LIA). Contudo, é preciso em
apontar o dolo na conduta dos acusados. Dessa forma: a) os
fatos narrados permitem que a conduta seja caracterizada
como ímproba, nos termos da interpretação atual do
art. 11 da LIA, que demanda demonstração do dolo
genérico (exaustivamente comprovado nos autos); b) o
pedido de reforma é inócuo. Os autos retornariam ao Tribunal
de origem, que, à luz daqueles mesmos fatos, aplicaria a
jurisprudência atual desta Corte e manteria a condenação por
improbidade diante da demonstração farta do dolo genérico,
tudo em detrimento da celeridade na prestação
jurisdicional. c) é de se questionar o próprio interesse recursal
do recorrente, dado que o provimento do recurso não afastaria
o elemento subjetivo e tampouco a conduta ímproba descrita.
A condenação, fixada pelo dispositivo, permanece intacta,
mas aclarada em sua motivação pelos fundamentos do
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presente voto.
10. As sanções não merecem reforma. De um lado, o acórdão
recorrido abordou a imputação de forma suficiente ao
considerar como ato ímprobo a manutenção das
contratações sem justificativa. De outro, não é imperativa
a fixação cumulada das sanções do art. 12 da LIA
(precedentes). Ademais, a condenação está apoiada nas
peculiaridades fáticas do caso concreto, não havendo
desproporcionalidade flagrante que evidencie desrespeito ao
art. 12 da LIA, razão pela qual seu reexame atrai a incidência
da Súmula 7/STJ (precedentes). Por fim, o acórdão recorrido
expõe valoração diversa e atribuída especificamente às
recorrentes.
11. Recursos Especiais de Eurides Brito da Silva e Maristela
de Melo Neves parcialmente conhecidos e, nessa parte, não
providos. Recurso Especial do Ministério Público não
provido.
REsp 1259906 / DF – T2 – SEGUNDA TURMA DJe
06/02/2017
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. ACÓRDÃO RECORRIDO QUE
CONCLUI PELA CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA
IRREGULAR, COM VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO
CONCURSO PÚBLICO. SUBMISSÃO DOS AGENTES
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POLÍTICOS À LEI N. 8.429/1992.
PROPORCIONALIDADE DAS PENAS. VIOLAÇÃO DO
ART. 535 DO CPC NÃO CARACTERIZADA. 1. Recurso
especial no qual se discute a proporcionalidade das penas de
suspensão dos direitos políticos por três anos e multa civil de
3 vezes o subsídio de prefeito, em razão da prática de ato
ímprobo do art. 11 da Lei n. 8.429/1992, consistente na
contratação temporária irregular de pessoal. 2. Os agentes
políticos se submetem às disposições da Lei n. 8.429/1992.
Nesse sentido, dentre outros: AgRg na Rcl 12.514/MT, Rel.
Ministro Ari Pargendler, Corte Especial, DJe 26/09/2013;
EREsp 1171335/AL, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia
Filho, Primeira Seção, DJe 23/09/2013; Rcl 2790/SC, Rel.
Ministro Teori Albino Zavascki, Corte Especial, DJe
04/03/2010. 3. As sanções impostas não se mostram
desproporcionais, notadamente porque a conduta do réu
importou em violação do princípio constitucional do concurso
público. 4. Constatado que a Corte de origem empregou
fundamentação adequada e suficiente para dirimir a
controvérsia, é de se afastar a alegada violação do art. 535 do
CPC. 5. Recurso especial não provido. (STJ - REsp: 1403361
RN 2013/0304549-2, Relator: Ministro BENEDITO
GONÇALVES, Data de Julgamento: 03/12/2013, T1 -
PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 26/05/2014)
(Grifos acrescidos)
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Ainda acerca da caracterização do ato ímprobo, o egrégio Tribunal deJustiça do Rio Grande do Sul:
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. SERVIÇOS DE
SAÚDE. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. CARTA-
CONTRATO. DOLO. PREFEITO. DESERÇÃO. 1. Sem a
prova do preparo por ocasião da interposição do recurso de
apelação, é de ser decretada a deserção. Art. 511 do CPC. A
alegação de que as guias foram entregues e extraviadas sem
certidão comprobatória de tal fato não afasta a deserção.
Hipótese em que, em meio ao julgamento pelo Tribunal, o
apelante juntou as guias da parte que comprovam o preparo
no dia da interposição. 2. Na vigência da CR de 1988, a
regra geral para a admissão de pessoal na Administração
Pública é a de provimento de cargos efetivos, após
aprovação em concurso público. A contratação por tempo
determinado restringe-se à hipótese de necessidade
temporária de excepcional interesse público. Art. 37,
incisos II e IX. A Lei Municipal 7.770/1996 – que autoriza
a contratação temporária por 120 dias de pessoal para
apenas atender a casos de emergência ou de calamidade
pública, combater epidemias ou satisfazer atividades
especiais e sazonais – não confere legalidade e
legitimidade às centenas de contratações temporárias
para atendimento de atividades permanentes. Esse
diploma legal não contém (e nem poderia ter) autorização em
aberto para a contratação temporária para a execução de
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atividades permanentes que devem ser desempenhadas por
servidores públicos concursados. 3. O Prefeito não detém
discricionariedade para escolher os instrumentos
jurídicos para suprir a necessidade de pessoal na
prestação do serviço público permanente de saúde.
Cumpre-lhe apenas adotar as providências indispensáveis
para ordenar os serviços permanentes de saúde.
Configura, portanto, ato de improbidade administrativa
valer-se o Prefeito da contratação temporária para a
execução dos serviços permanentes de saúde por ter
deixado de adotar as medidas adequadas para a admissão
de pessoal, segundo a ordem constitucional e legal vigente,
cuja regra primeira é a do concurso público, ainda mais
que, há muito, pareceres jurídicos da própria
Administração Pública e auditorias do Tribunal de
Contas já tinham alertado para a necessidade de por fim
à irregular contratação temporária de centenas de pessoas
para as atividades permanentes da Administração
Pública. É que a insuficiência de pessoal decorreu do
descumprimento pelo Prefeito do mandamento
constitucional que rege o exercício da Chefia da
Administração Pública, porquanto deixou de praticar
atos de sua competência privativa, tendentes a criar,
legalmente, postos de trabalho e a prover os cargos por
concurso público. Ora, desvirtuar a contratação
temporária pela criação de falsa necessidade premente de
pessoal, na área de saúde, pela falta de organização dos
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serviços permanentes revela desprezo à Constituição da
República a caracterizar o dolo em violar os princípios
constitucionais que devem presidir a atuação da
Administração Pública. É reprovável, ainda, tal conduta,
porque a atividade permanente viola os direitos sociais
dos trabalhadores garantidos no art. 7º da CR,
justamente pelo Poder Público, que tem a missão
constitucional de concretizar os direitos fundamentais da
pessoa humana. 4. O Secretário da Saúde não responde pelas
decisões que se incluem na competência privativa do Prefeito.
Não se lhe pode imputar, portanto, a responsabilidade pelo
ato de improbidade praticado pelo Prefeito no exercício da
função de Chefia do Executivo. 5. Dado que a CR admite a
contratação por prazo determinado para atender a necessidade
de excepcional interesse público definido na Lei 7.770/1996,
o Poder Judiciário não pode proibir genericamente a
contratação temporária. Eventual ilegalidade nesta
contratação há de ser apreciada concretamente. Recurso de
RAUL JORGE ANGLADA PONTE E JOÃO ACIR VERLE
não conhecido. Preliminar de nulidade da sentença rejeitada,
por maioria. Recursos de HENRIQUE FONTANA JUNIOR,
LUCIO BORGES BARCELOS, JOAQUIM DAHNE
KLIEMANN e do MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE
providos. Recurso de TARSO FERNANDO HERZ GENRO
desprovido, por maioria. (TJ/RS. Apelação e Reexame
Necessário Nº 70060707460, Vigésima Segunda Câmara
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Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Maria Isabel de
Azevedo Souza, Julgado em 26/03/2015)
(Grifou-se)
Diante desse panorama, não resta dúvida sobre a prática dos atos
ímprobos, no período de 2009 a 2012, pelo então Prefeito de Serra do Mel (e atual)
Sr. JOSIVAN BIBIANO, em virtude burla à regra do concurso público, pois se
utilizou, de modo ilícito e inconstitucional, da contratação temporária prevista
nas leis municipais.
De acordo com o Inquérito Civil em referência, a regra, na gestão do
réu JOSIVAN BIBIANO, era a contratação temporária e não realização de
concurso público.
O próprio município apresentou a relação de fls. 87/88 em que consta
a identificação de contratados temporariamente, ao longo de 2009, para funções
permanentes da administração pública municipal, quais sejam: médico, agente de
combate de endemias, agente comunitário de saúde, médico PSF, professor,
digitador, auxiliar de consultório dentário, técnica de enfermagem, nutricionista,
dentista e médico cardiologista.
Tais contratos se fundamentaram nas Leis n. 295/2008 (fls.
1003/1006), e n. 312/2009 (fls. 89/92), contudo elas sequer previam a contratação
temporária de dentista e técnica de enfermagem. Desse modo, ainda que a
necessidade temporária estivesse caracterizada, existiriam três contratos
irregulares em afronta ao art. 37, II e IX Carta Magna.
Não é tudo. Em que pese a previsão de seleção pública no citado
diploma legal, a necessidade temporária e excepcional de interesse público não foi
definida nas leis municipais citadas.
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Pior. A Lei n. 312/2009 autorizava a contratação temporária, sem a
excepcionalidade necessária, e a Lei n. 329/2009 (fls. 93) autorizou a prorrogação
dos prazos contratuais e, por conseguinte, afastou a própria temporariedade
previamente determinada dos contratos.
Se houvesse, ainda que hipoteticamente, a excepcionalidade exigida,
o prazo previsto na Lei n. 312/2009 seria mais que suficiente para regularizar a
situação, com execução das tarefas emergenciais e contratação, por concurso, dos
servidores necessários à continuidade do serviço público, portanto a Lei n.
329/2009 evidencia o uso da contratação temporária em confronto com o art.
37, IX, CR/88.
Reforça o exposto o fato de que, nos contratos temporários,
também não houve previsão da excepcionalidade temporária de serviço
público, fls. 94/197 (Vol. I); 202/235 (Vol. II).
Aliás, dentre os contratos temporários citados, alguns foram
celebrados com base não na Lei n. 312/2009, mas sim na Lei n. 295/2008, de
conteúdo semelhante ao daquela, fls. 1003/1006, conforme anteriormente
transcrito.
Não bastasse, muitas das contratações temporárias foram
celebradas com a previsão de um prazo de doze meses, diferente da previsão
de ambos os diplomas legais do próprio município.
Ratifica o exposto o Parecer Contábil n. 014/2013 (fls. 734/747),
por meio do qual se verificou, dentre outras irregularidades, a contratação
temporária, em 2009, com prazo superior ao previsto na própria legislação
municipal (tabelas, fls. 738/740).
Os contratos de fls. 94/197 (Vol. I); 202/235 (Vol. II) revelam, pois, a
completa burla não apenas ao incisos II e IX da Carta Magna, mas à própria Lei n.
8.745/93 e, inclusive, à legislação municipal.
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A história se repetiu em 2010, durante a gestão do réu, conforme
relação de contratos temporários encaminhada pelo próprio município, fls. 479/480,
que contempla, além dos profissionais já citados, pedagogo, merendeira, assistente
social, psicólogo e monitores de esportes, de reforço escolar e de artes.
A Lei n. 316/2009, por sua vez, autorizou a contratação temporária,
para atender excepcional interesse público, de monitor e assistente social, sem,
novamente, definir a excepcionalidade, fls. 481/483; de igual modo, a Lei n.
366/2010, fls. 485/488, para contratação de pedagogos; e a Lei Complementar n.
359/2010, para contratação de médicos psiquiatra, cardiologista e terapeuta
ocupacional, fls. 489/494.
Os documentos de fls. 510/540 (Volume III); fls. 643/646 (Volume
IV) e os de fls. 06/104 do Anexo III corroboram que as contratações temporárias,
sem excepcional interesse público, eram a regra no município de Serra do Mel
também ao longo de 2010 e 2011.
Tal como mencionado anteriormente, muitos desses contratos
supostamente temporários já eram celebrados sem a característica da
transitoriedade, pois neles previsto prazo prorrogável de nove meses por
exemplo.
Além disso, conforme expedientes de fls. 944; 1030/1036, verifica-se
que o município sequer comprovou a regularidade dos processos seletivos previstos
e até sua realização, pois não apresentou resposta à requisição atinente às seleções
supostamente ocorridas entre 2007 e 2012
Outrossim, verifica-se que a Lei n. 445 de 05 de julho de 2012
autorizou contratações temporárias para substituições de servidores afastados em
virtude de licenças e auxílio-doença sem prévio processo seletivo, fato que, por si,
já indica a má gestão do réu, pois denota a falta de organização da Administração
Pública Municipal.
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A má gestão é agravada pela permissão de contratação sem processo
seletivo simplificado e pela informação objeto do expediente de fl. 655, segundo a
qual já existia uma elevada demanda no município, a qual foi atendida por meio de
contratações temporárias. De novo!
Significa que o município de Serra do Mel, por intermédio dos
atos de gestão do sr. Josivan Bibiano, precisava de servidores públicos
continuamente e optou por realizar sucessivas contratações temporárias.
Argumentou o ente público que as contratações de 2012 se basearam
no art. 75, V, alínea d, Lei n. 9.504/97 conforme expediente de fls. 713/714,
contudo tal argumento apenas reforça a má gestão em relação às situações de
afastamentos decorrentes de licenças (exceto as por motivo de saúde, normalmente,
imprevistas), já que pressupõem, para a continuidade do serviço público,
programação e organização da Administração Pública Municipal.
Nesse contexto, vale destacar a Lei Federal n. 8.745/93, a qual deve
ser utilizada como parâmetro, tendo em conta o princípio da simetria.
Esse diploma disciplina, no âmbito federal, a matéria de contratação
temporária na forma da previsão constitucional e, em seu artigo 2º define
"necessidade temporária de excepcional interesse público", como sendo: I –
assistência a situações de calamidade pública; II – combate a surtos endêmicos;
III – realização de recenseamento; IV – admissão de professor substituto e
professor visitante; V – admissão de professor e pesquisador visitante
estrangeiro; VI – atividades especiais nas organizações das Forças Armadas
para atender a área industrial ou a encargos temporários de obras e serviços de
engenharia.
Também a legislação em referência exige recrutamento por processo
seletivo simplificado, sujeito à ampla divulgação, inclusive pelo diário oficial,
salvo no caso de calamidade pública (art. 3°).
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Estão previstos prazos determinados e improrrogáveis (art. 4°),
entre 6 e 12 meses, com previsão excepcional de 4 anos somente para os casos dos
incisos V e VI do art. 2° (professor e pesquisador visitante estrangeiro e atividades
especiais nas Forças Armadas).
Ainda está prevista na Lei Federal a proibição de "ser novamente
contratado, com fundamento nesta lei", implicando na declaração de
insubsistência e prevendo-se a responsabilidade administrativa das autoridades
envolvidas na transgressão (art. 9° e parágrafo único).
As situações postas no município de Serra do Mel não se
enquadram nesses parâmetros, pois, como dito, as contratações não levaram
em conta necessidade temporária e excepcional, mas sim permanente, tanto
que as contratações se deram por longos períodos, prorrogáveis por outros
tantos, ano a ano, ao longo de toda a gestão do réu (2009/2012).
Na verdade, a legislação municipal inserta nas fls. 545/573 (Volume
III) dos autos do Inquérito Civil demonstra que, ao longo do período de 2005 a
2008, o município de Serra do Mel sempre se utilizou do artifício da contratação
temporária sem a caracterização do excepcional interesse público.
Foram tantas e reiteradas as contratações temporárias que se
torna fácil concluir que a carência de profissionais referida nos diplomas
legais acima citados não era excepcional, mas sim a regra, de modo que se
tornava imprescindível a realização de concurso público.
Importante destacar, outrossim, que, no que tange às contratações
para execução de Programas ou Convênios mantidos com a União, por envolverem
atribuições solidárias do município com outros entes, tais como Saúde, Educação e
Assistência Social, não há que se falar em natureza temporária da contratação.
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Ainda que o Programa ou o Convênio Federal chegue ao fim, não se
extinguirá a obrigação do município em prover a Saúde, Educação e Assistência
Social, nos moldes previstos pela Constituição Federal.
E esse é o entendimento pacífico da jurisprudência pátria:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
MUNICÍPIO. SAÚDE. CONTRATAÇÕES
EMERGENCIAIS. 1. Reexame necessário. Conhecimento ex
officio tendo em conta inexistir excludente (CPC, art. 475, §§
2º e 3º). 2. Contratações emergenciais. 2.1 - Para que seja
possível a contratação emergencial é imprescindível: (a) que
a necessidade seja temporária; (b) por conseguinte, a
contratação deve ser temporária; e (c) que a necessidade seja
de excepcional interesse público. Exegese do art. 37, IX, da
CF. 2.2 – Considerando que o serviço público de saúde é
essencial, portanto, caracteriza necessidade permanente,
não é possível em relação a ele fazer contratações
emergenciais. Precedente do Pleno do STF. 2.3 – O
Município que, há quase dez anos, vem, mediante
sucessivas leis, fazendo contratações temporárias diretas
para programa de saúde, denominado Estratégia de
Saúde da Família – ESF, abrangendo médico, enfermeiro
e auxiliar de enfermagem, odontólogo e auxiliar de
consultório dentário, nutricionista e agente comunitário
de saúde. Inadmissibilidade. Proceder que caracteriza
burla ao princípio do concurso público (CF, art. 37, II).
2.4 – Em tais circunstâncias, considerando que se trata de
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prestação de serviço público essencial, não é vedado ao
Judiciário determinar a criação de cargos e abertura de
concurso público para fins de provimento. 3. Agentes
comunitários de saúde. 3.1 – Exclui-se, porém, quanto aos
agentes comunitários de saúde, pois, relativamente a estes, a
Constituição não obriga, mas faculta aos Estados, DF e
Municípios a contratação; logo, descabe o Judiciário emitir
ordem no sentido de que seja aberto concurso para tal fim. 3.2
– O art. 14 da Lei 11.350/06, que vem a ser a lei referida no §
5º do art. 198 da CF, não contraria o art. 37, II, da CF, pois
está conforme o § 4º do art. 198, significando isso dizer que,
uma vez feita a opção pela criação de cargos de agentes
comunitários de saúde, ao provimento basta o processo
seletivo público , isto é, constitui exceção à regra do concurso
público de provas ou de provas e títulos. 4. Dispositivo.
Apelação provida em parte, e no mais sentença confirmada
em reexame necessário conhecido de ofício. (TJ-RS Apelação
Cível : AC 70041973314 RS, Relator: Irineu Mariani, Data
de Julgamento: 25/04/2012, Primeira Câmara Cível)
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PRELIMINAR. EMENDA
INDEVIDA À INICIAL. NULIDADE DA SENTENÇA.
REJEITADA. MÉRITO. CONTRATAÇÕES
TEMPORÁRIAS. PROFISSIONAIS CONTRATADOS
PARA O PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA.
ATIVIDADES ROTINEIRAS DO INTERESSE DA
MUNICIPALIDADE. NECESSIDADE PERMANENTE
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DA ADMINISTRAÇÃO. DESCARACTERIZAÇÃO DA
NECESSIDADE TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL
INTERESSE PÚBLICO. LEI ESPECÍFICA VIOLAÇÃO
DO ARTIGO 37, INCISOS II E IX, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. INCONSTITUCIONALIDADE. (…) A
possibilidade de contratação temporária não é regra, mas sim,
exceção, devendo ser desta forma interpretada pelos
Legisladores Municipais sob pena de incorrer em ofensa ao
disposto no artigo 37, inciso II, da Constituição Federal
Demonstrado que lei municipal, que regulamenta a
contratação temporária, prevista no artigo 37, IX da
Constituição Federal, a tem como regra e não atende ao
excepcional interesse público ou ao requisito da
temporariedade, impõe-se a declaração incidental de sua
inconstitucionalidade, uma vez que as leis municipais devem
observar os princípios estabelecidos na própria Constituição,
e também na Constituição do Estado a que pertencer. (TJ-MG
Apelação Cível/Reexame Necessário nº 1.0317.07.077474-
8/002 – 1ª Câmara Cível TJ/MG. Rel. Desembargador
Armando Freire. Julgado em 09/12/2008, DJe 30/01/2009).
(Grifou-se)
No caso em análise, como dito anteriormente, o demandado
JOSIVAN BIBIANO contratou temporariamente profissionais sem apresentar as
razões para existência de necessidade temporária de excepcional interesse público.
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Tais contratações, apesar de denominadas “por prazo
determinado”, possuem nítida natureza permanente. Trata-se, não há dúvida,
de efetiva burla à regra do concurso público, tendo como intuito provável o
favorecimento dos apaniguados do réu e uso eleitoreiro dos cargos públicos.
Desse modo, verifica-se, sem sombra de dúvidas, o descumprimento
do art. 37, inciso II e IX da Carta Magna de 1998, da legislação federal (Lei
n.8745/93) e dos princípios da impessoalidade, eficiência e moralidade
administrativa previsto no caput do já citado art. 37.
Amoldam-se as condutas reiteradas do gestor, consubstanciadas nos
contratos acima referidos, aos atos ímprobos previstos no art. 11, caput, incisos I, II
e V da Lei n. 8.429/92, inclusive porque, neste último caso, “o ato de frustrar
concurso público comporta várias acepções, seja quando não realiza tal
modalidade de contratação na forma correta, seja quando adotadas regras que
violem os princípios da igualdade jurídica ou da Imparcialidade da Administração
Pública”11
Assim, em virtude da violação aos princípios constitucionais
supramencionados, especialmente pelo descumprimento da regra do concurso
público e, ainda, a admissão de servidores, por meio de contrato temporário, sem a
presença do requisito da necessidade excepcional de interesse público (art. 37, IX,
CF/88), impõe-se a condenação do réu JOSIVAN BIBIANO, em virtude da
prática, reiterada, ao longo do período de 2009 a 2012, dos atos de
improbidade administrativa previstos no art. 11, caput, incisos I, II e V da Lei
8.429/1993, cujas sanções encontram-se previstas no art. 12, III, do referido
diploma legal.
11 GOMES JUNIOR, Luiz Manoel; FAVRETO, Rogerio. In: GAJARDONI, Fernando da Fonseca[et. al.]. Comentários à lei de improbidade administrativa : Lei 8.429, de 2 de junho de 1992. SãoPaulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 169.
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2.2 DA OFENSA AOS LIMITES PRUDENCIAL E MÁXIMO EM GASTOS
COM PESSOAL
O Estado tem o dever de controlar e regular suas despesas e receitas,
sob pena de desequilíbrio orçamentário e, consequentemente, endividamento, o que
desencadearia total insegurança em todas as instituições que o compõem.
A Carta Magna estabeleceu três espécies de leis, cada uma com sua
especificidade, para aquele fim, são elas: a) Plano Plurianual (PPA); b) Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO); e c) a Lei Orçamentária Anual (LOA).
A primeira (PPA) estabelece, de forma regionalizada, as diretrizes,
objetivos e metas da administração pública para as despesas de capital e outras dela
decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. Trata-se de
um planejamento financeiro de longa duração (quatro anos).
A segunda (LDO) compreende as metas e prioridades da
administração pública, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro
subsequente; orienta a elaboração da Lei Orçamentária Anual; dispõe sobre as
alterações na legislação tributária e estabelece a política de aplicação das agências
financeiras oficiais de fomento. É uma lei voltada ao planejamento estratégico do
governo de curto prazo.
Já a terceira (LOA) alberga parte dos projetos contidos no PPA bem
como metas e prioridades previstas na LDO.
Nesse sentido, a LDO traz, em seu corpo, a previsão de recursos e
fixa as despesas.
A Carta Cidadã exige, portanto, que os gestores, sejam eles chefes da
União, dos Estados, ou dos Municípios, atuem de forma planejada na consecução
de seus mandatos, priorizando o equilíbrio das contas em prol do fornecimento
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adequado dos serviços públicos e, por consectário lógico, o pagamento regular e
efetivo de seus servidores.
Em seu art. 169, a Constituição Federal estabelece que "a despesa
com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar".
A Lei Complementar em questão, n. 101 de 04 de maio de 2000,
estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão
fiscal.
Em seu art. 18, a referida lei descreve que despesa com pessoal é “o
somatório dos gastos do ente da Federação com os ativos, os inativos e os
pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis,
militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais
como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da
aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas
extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e
contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência”.
Por outro lado, segundo o art. 18, §1º do diploma legal em comento,
“os valores dos contratos de terceirização de mão de obra que se referem à
substituição de servidores e empregados públicos serão contabilizados como
Outras Despesas de Pessoal”.
Enfim, o art. 19 da LRF estabelece que, para os fins do disposto no
art. 169 da CF, a despesa total com pessoal, do Executivo Municipal, não pode
exceder o percentual de 54% (cinquenta e quatro por cento) da receita corrente
líquida.
Para a realização do cálculo dos limites sobreditos, é importante
destacar que não são computadas despesas: a) de indenização por demissão de
servidores ou empregados; b) relativas a incentivos à demissão voluntária; c)
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derivadas da aplicação do disposto no inciso II do § 6o do art. 57 da Constituição;
d) decorrentes de decisão judicial e da competência de período anterior ao da
apuração a que se refere o § 2o do art. 18; e) com inativos, ainda que por
intermédio de fundo específico, custeadas por recursos provenientes: i) da
arrecadação de contribuições dos segurados; ii) da compensação financeira de que
trata o § 9o do art. 201 da Constituição; iii) das demais receitas diretamente
arrecadadas por fundo vinculado a tal finalidade, inclusive o produto da alienação
de bens, direitos e ativos, bem como seu superávit financeiro.
Nos termos do art. 22, a verificação do cumprimento dos limites do
art. 19 deve ser realizado ao final de cada quadrimestre, isto é, em abril, agosto e
dezembro.
Caso a despesa total com pessoal exceda noventa e cinco por cento
do limite (ou seja, 51,30% do total), é vedado ao Chefe do Executivo: a) conceder
vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração a qualquer título, salvo
os derivados de sentença judicial ou de determinação legal ou contratual,
ressalvada a revisão prevista no inciso X do art. 37 da Constituição; b) criar cargo,
emprego ou função; c) alterar estrutura de carreira que implique aumento de
despesa; d) prover cargo público, admitir ou contratar pessoal a qualquer título,
ressalvada a reposição decorrente de aposentadoria ou falecimento de servidores
das áreas de educação, saúde e segurança; e) contratar hora extra, salvo no caso do
disposto no inciso II do § 6o do art. 57 da Constituição e as situações previstas na
lei de diretrizes orçamentárias.
O art. 23, por seu turno, estabelece que, caso a despesa total com
pessoal ultrapasse os limites definidos pela legislação, sem prejuízo das medidas
postas acima, terá o ente federativo que eliminar " nos dois quadrimestres
seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro ", adotando-se, entre outras, as
providências previstas nos §§ 3º e 4o do art. 169 da Constituição, quais sejam: (i)
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reduzir em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em comissão e
funções de confiança (inclusive pela extinção de cargos e funções a eles
atribuídos); (ii) exoneração dos servidores não estáveis.
Se essas medidas não bastarem, preceitua o §4º do mesmo art. 169 da
Carta Magna: Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior não forem
suficientes para assegurar o cumprimento da determinação da lei complementar
referida neste artigo, o servidor estável poderá perder o cargo, desde que ato
normativo motivado de cada um dos Poderes especifique a atividade funcional, o
órgão ou unidade administrativa objeto da redução de pessoal.
A sanção que o gestor sofrerá, caso não alcance a redução no prazo
sobredito, nos termos do parágrafo 3º do art. 23 será de: a) não receber
transferências voluntárias; b) não obter garantia, direta ou indireta, de outro ente; c)
não contratar operações de crédito, ressalvadas as destinadas ao refinanciamento da
dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.
No caso em testilha, a Prefeitura de Serra do Mel, por meio do
demandado JOSIVAN BIBIANO, descumpriu, sistematicamente, os limites
máximo (art. 20, III, “b”, LRF12) e prudencial (art. 22, parágrafo único, LRF13)
previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme tabela e gráfico abaixo:
DEMONSTRATIVO DA DESPESA COM PESSOAL – Prefeitura de Serra doMel14
Mês/Ano Limite Prudencial Limite Máximo (%) Despesa total com pessoal
12Art. 20. A repartição dos limites globais do art. 19 não poderá exceder os seguintes percentuais:III - na esfera municipal:b) 54% (cinqüenta e quatro por cento) para o Executivo.
13Art. 22. A verificação do cumprimento dos limites estabelecidos nos arts. 19 e 20 será realizadaao final de cada quadrimestre.
Parágrafo único. Se a despesa total com pessoal exceder a 95% (noventa e cinco porcento) do limite, são vedados ao Poder ou órgão referido no art. 20 que houver incorrido noexcesso:14Demonstrativos fornecidos pelo TCE/RN, fls.1010/1028
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(%) (%)
3/2009 51,30% 54% 38,41%
6/2009 51,30% 54% 40,12%
3/2010 51,30% 54% 44,93%
6/2010 51,30% 54% 57,61%
3/2011 51,30% 54% 55,14%
6/2011 51,30% 54% 50,22%
3/2012 51,30% 54% 53,38%
6/2012 51,30% 54% 53,85%
Nota-se, ainda, que, apesar de estar acima do limite máximo de
gastos com pessoal, a Prefeitura de Serra do Mel, por intermédio do réu,
aumentou, cada vez mais, a importância dispendida com pessoal temporário.
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Tais números revelam que, muito embora estivesse acima do limite
máximo de gastos com pessoal, o demandado continuou contratando profissionais
de modo temporário.
Não há dúvida, portanto, que a situação calamitosa do orçamento foi
gerada pela gestão do demandado Josivan Bibiano com a finalidade de não realizar
concurso público e, noutro aspecto, para se utilizar, indevidamente, do instituto da
contratação temporária conforme exposto no tópico anterior.
Diante dessa outra ilegalidade – a desobediência aos limites de gastos
com pessoal –, importante destacar que o Tribunal de Contas do Estado do Rio
Grande do Norte ALERTOU o município de Serra do Mel consoante Termo de
Alerta de fl.1028.
Em casos similares ao presente, de aumento de gastos com pessoal
enquanto perdurava a situação de vedação da Lei de Responsabilidade Fiscal em
virtude do atingimento do limite prudencial, os Tribunais de Justiça pátrios
entenderam pela configuração de ato de improbidade administrativa. Eis:
APELAÇÃO AÇÃO CIVIL PÚBLICA MUNICÍPIO DE
CAJAMAR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
INSTALAÇÃO DE SINDICÂNCIA PARA APURAÇÃO
DE ILEGALIDADES APONTADAS PELO TRIBUNAL DE
CONTAS AUSÊNCIA DE NULIDADE CONTRATAÇÃO
DE PESSOAL DURANTE SITUAÇÃO DE VEDAÇÃO
DE ACORDO COM A LEI DE RESPONSABILIDADE
FISCAL CONTRATAÇÃO SEM CONCURSO PÚBLICO,
SITUAÇÃO DE EXCEPCIONALIDADE OU PROCESSO
SELETIVO AUSÊNCIA DE OBSERVÂNCIA DE
QUAISQUER REGRAS A RESPEITO DA
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CONTRATAÇÃO DE SERVIDORES PÚBLICOS
IMORALIDADE CONFIGURADA – MÁ-FÉ E DOLO
CARACTERIZADOS PROPORCIONALIDADE DAS
SANÇÕES À GRAVIDADE DO FATO SENTENÇA DE
PARCIAL PROCEDÊNCIA MANTIDA. RECURSO NÃO
PROVIDO. 1. Sindicância para apuração de ilegalidades
apontadas pelo Tribunal de Contas, meramente preparatória e
que não aplica punição, não requer intimação para
apresentação de defesa nem viola o devido processo legal. 2.
Contratação de pessoal enquanto perdura situação de
vedação na Lei de Responsabilidade Fiscal, pelo
atingimento do limite prudencial previsto em lei, implica
em ato de improbidade administrativa. 3. Contratação de
pessoal para o quadro permanente da Administração, sem
concurso público, sem situação de excepcionalidade, sem
processo seletivo, e sem a observância de qualquer regra
referente à admissão para o serviço público, implica em
ato de improbidade administrativa. (TJ-SP – APL:
00034654320078260108 SP 0003465-43.2007.8.26.0108,
Relator: Vicente de Abreu Amadei, Data de Julgamento:
14/04/2015, 1ª Câmara de Direito Público, Data de
Publicação: 17/04/2015)
APELAÇÃO CÍVEL. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. VIOLAÇÃO DA LEI DE
RESPONSABILIDADE FISCAL PELO PREFEITO DE
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COMENDADOR LEVY GASPARIAN. DESPESAS
COM PESSOAL ACIMA DO LIMITE LEGAL
DURANTE PARTE DOS EXERCÍCIOS FINANCEIROS
DE 2005 E 2006. 1) A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê
um limite prudencial de gastos com pessoal (95% do limite
legal), justamente com o objetivo de alertar o gestor para a
necessidade de adoção de medidas de controle de despesas
quando esta estiver se aproximando do limite legal. 2) No
caso, ao deixar de adotar medidas preventivas a fim de
evitar que os gastos com pessoal extrapolassem o patamar
legal, muito embora tendo ciência de que estes já haviam
atingido o limite de alerta da LRF, agiu o apelante em
desacordo com princípios regentes da probidade, em
especial, os da legalidade e eficiência, estando incurso no
art. 11 da Lei nº. 8.429/1992. 3) Tendo em vista não ter o
recorrente adotado quaisquer medidas preventivas a fim de
evitar a extrapolação do limite de gastos, tampouco ter
apresentado qualquer justificativa plausível para tanto, não
pode ser outra a conclusão senão a de que atuou de forma
livre e consciente no sentido de violar a Lei de
Responsabilidade Fiscal, ofendendo princípios que regem a
administração pública, restando caracterizado o dolo, ainda
que genérico, na sua atuação. 4) Não obstante, em tese, a
conduta também se amolde ao art. 10 da Lei nº.
8.429/1992, por consubstanciar assunção de gastos
públicos em desconformidade com a lei, fato é que, no
caso específico, as despesas foram realizadas em
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contrapartida ao trabalho de servidores, não havendo
qualquer discussão quanto à efetiva prestação do serviço.
5) Desse modo, não se reconhece a existência de prejuízo, ao
menos de cunho material, aos cofres públicos, sendo certo
que o ressarcimento das quantias pagas pelo Município
acarretaria enriquecimento ilícito do ente público.
Precedentes do Superior Tribunal de Justiça no mesmo
sentido. 6) Na aplicação das sanções da Lei nº 8.429/92, deve
o magistrado realizar um juízo de razoabilidade e a
proporcionalidade em relação à gravidade do ato ímprobo e à
cominação das penalidades, as quais podem ocorrer de
maneira cumulativa ou não. 7) Na hipótese, entendo que o
fato de o recorrente ter logrado eliminar o percentual
excedente nos dois quadrimestres seguintes, em
conformidade com o que determina o art. 23 da LRF , deve
ser levado em consideração para atenuar sua condenação. 8)
Diante deste contexto, as sanções de multa civil, suspensão
dos direitos políticos e proibição de contratar com o Poder
Público ou dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios devem ser substancialmente reduzidas, a primeira
para valor correspondente a três vezes valor do subsídio do
Prefeito na época em que o recorrente ocupava o referido
cargo e, as últimas, para o mínimo legal previsto na lei para a
hipótese, isto é, três anos, conforme art. 12, inciso III. 9)
Impõe-se, ainda, o afastamento da condenação ao pagamento
de honorários advocatícios de sucumbência, pois o STJ e este
Tribunal de Justiça têm entendimento consolidado no sentido
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de tal condenação não ser cabível em se tratando de ação civil
pública, devendo ser aplicada regra do art. 18 da Lei nº
7.347/85, por critério de simetria. 10) Recurso ao qual se dá
parcial provimento. (TJ/RJ. APL 00160777520098190063.
Órgão Julgador: QUINTA CÂMARA CÍVEL. Julgamento:
17 de Novembro de 2015. Relator: HELENO RIBEIRO
PEREIRA NUNES)
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO.
APELAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. EX-PREFEITO.
DISPENSA INDEVIDA DE LICITAÇÃO. USO DE NOTA
FISCAL INIDÔNEA E SUPERAÇÃO DO LIMITE PARA
DESPESAS COM PESSOAL. VÍCIOS INSANÁVEIS.
PREJUÍZO AO ERÁRIO. PROVA DO DOLO.
SUSPENSÃO DE DIREITO POLÍTICOS. PERDA DO
MANDATO. MULTA CIVIL. RECEBIMENTO NO
EFEITO DEVOLUTIVO E SUSPENSIVO. ART. 20 DA
LEI Nº 8429/99. 1. O artigo 20 da Lei nº 8429/92, que tem
natureza especial em relação às demais leis e ao próprio CPC,
sem deixar margem para interpretações discrepantes, posto
que em perfeita harmonia com um dos princípios
fundamentais da Constituição Federal, que é o princípio
democrático, estabelece que a perda da função e a suspensão
dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em
julgado da sentença condenatória, de modo que o apelo deve
ser recebido no efeito devolutivo e suspensivo. 2. Havendo
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nos autos prova robusta da prática de atos de improbidade
administrativa pela apelante, consubstanciados em condutas
conscientes, voluntárias e injustificadas (dolo), relacionadas à
dispensa indevida de licitação, uso de nota fiscal inidônea e
superação do limite para despesas com pessoal
(irregularidades insanáveis), correto foi o julgamento
antecipado da lide e a conseqüente condenação da
apelante pela prática de atos de improbidade
administrativa. 3 - Apelação conhecida e parcialmente
provida. (TJ-MA - Apelação : APL 0218772014 MA
0000146-79.2012.8.10.0062. Orgão Julgador: TERCEIRA
CÂMARA CÍVEL. Julgamento: 11 de Setembro de 2014.
Relator: JAMIL DE MIRANDA GEDEON NETO)
(Grifos acrescidos)
Dessa forma, em virtude do descumprimento dos limites prudencial e
legal previstos na Lei Complementar n. 101/2000, inclusive por não ter tomado as
providências cabíveis para a solução do problema, consoante disposto no art. 169,
§§ 3º e 4º da CF/88, de 2010 a 2012, incorreu o réu JOSIVAN BIBIANO (Prefeito
de Serra do Mel na gestão 2009-2012), no ato ímprobo descrito no art. 11, caput,
inciso II da lei n. 8.429/92 – pois se trata de mais outra ofensa ao princípio da
legalidade e omissão de dever de ofício -, cujas sanções encontram-se previstas
no art. 12, III, do referido diploma legal.
2.3 – DO DESATENDIMENTO DA REQUISIÇÃO MINISTERIAL
No bojo do Inquérito Civil que sustenta a presente ação civil pública,
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este órgão ministerial requisitou, conforme ofício n. 0005/2017 -11ªPmJM, fl. 944,
à autoridade coatora, no prazo de vinte dias:
“I - cópia das edições dos diários oficiais em que foram
publicados os editais de todos os processos seletivos
simplificados ocorridos entre 2007 e 2012, a respectiva
homologação e eventual prorrogação;
II – cópia das edições dos diários oficiais em que foram
publicados os editais dos concursos públicos de 2006 e 2009,
respectiva homologação e prorrogação;
III – cópia das edições dos diários oficiais em que foram
publicadas as relações dos aprovados nos processos seletivos
simplificados e concursos públicos acima referidos;
IV – cópia dos atos administrativos que justificaram a
ausência de prorrogação do concurso público de 2006, apesar
da existência de candidatos aprovados dentro do número de
vagas ofertadas consoante reclamações de fls. 24 e 27 (cuja
cópia deve seguir anexa ao expediente);
V – cópia das Leis que criaram os cargos referentes ao
Programas Sociais do Governo Federal, tais como PETI,
PROJOVEM, PSF e PSB (o qual incluiu o CRAS),
justificativa para sua inexistência, se for o caso, e para o não
provimento dos cargos públicos em questão por meio de
concurso público;
VI – número de profissionais – e respectivas atribuições-
necessários ao bom desempenho dos Programas Sociais
acima mencionados haja vista a elevada demanda afirmada
por este Poder Executivo consoante expediente de fl. 655
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(cuja cópia deve seguir anexa);
VII – cópia da Lei n. 312/2009;
VIII – cópia dos contratos temporários vigentes em 2007 e
2008;
IX – cópia dos contratos e/ou portarias de nomeação, vigentes
em 2007, das seguintes pessoas: Sebastião Cosme da Silva,
Jonas Francisco da Silva, Francisco Leocádio, Luiz
Laranjeira e Paulo Andrade”;
O ofício requisitório foi recebido em 20 de janeiro de 2017 e, em 06
de fevereiro de 2017, a Secretaria Municipal da Casa Civil, por meio do ofício n.
15/2017, solicitou ampliação do prazo para resposta de vinte para trinta dias ( fl.
956)
Deferido o pleito, a autoridade coatora tomou ciência pessoal, fls.
990-v e 991, porém não apresentou resposta, fls. 992.
Dessa forma, o demandado, Prefeito de Serra do Mel /RN infringiu o
o art. 129, da Constituição Federal, que, em seus incisos III e VI, prevê serem
atribuições do Ministério Público, dentre outras:
“III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente
e de outros interesses difusos coletivos”; (...)
“VI – expedir notificações nos procedimentos administrativos
de sua competência, requisitando informações e
documentos para instruí-los, na forma da lei complementar
respectiva(...)”; (grifou-se)
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A Lei Complementar Estadual n. 141 prevê, em seu art. 49, VI, a
atribuição do Promotor de Justiça para requisitar documentos e informações, logo
restou violado esse preceito legal.
Violou, ainda, o gestor público o artigo 26 da Lei Federal n. 8.625, de
1993.15
Apesar do ajuizamento da presente ação civil pública no tocante ao
objeto do Inquérito Civil em referência, deve-se frisar que a omissão do gestor
tornou impossível a inclusão, na presente inicial, dos fatos relacionados à preterição
dos direitos de todos concursados, com exceção da reclamação de fl. 14, 24 e 49; e,
ainda, no tocante aos contratos temporários vigentes em 2007 e 2008.
Desse modo, além da imputação do ato ímprobo nos termos acima
citados, este órgão ministerial impetrou mandado de segurança contra o gestor
público (autoridade coatora), conforme documentos de fls. 1030/1036 e também
comunicou a suposta prática do crime descrito no art. 10 da lei n. 7.347/85 de
acordo com o expediente de 998.
Assim, dúvida não existe quanto à violação da lei e da Constituição e,
pois, acerca da prática do ato ímprobo descrito no art. 11, caput, II da Lei n.
8.429/92, pois deixou de praticar ato (resposta à requisição ministerial) a que estava
obrigado nos termos dos preceitos legais e constitucionais acima referidos
15“Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá:
I – instaurar inquéritos civis e outras medidas e procedimentos administrativos pertinentes e, para
instruí-los:
(...)
b)requisitar informações, exames periciais e documentos de autoridades federais, estaduais e
municipais, bem como dos órgãos e entidades da administração direta, indireta ou fundacional, de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”.
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2.4 – DO DOLO CARACTERIZADOR DOS ATOS ÍMPROBOS
Conforme jurisprudência já colacionada, o dolo exigido para a
caracterização dos atos ímprobos previstos no art. 11, Lei n. 8.429/92 é o genérico.
As condutas descritas no dispositivo legal em apreço têm caráter
subsidiário e se configuram, portanto, se o ato ímprobo não importar
enriquecimento ilícito do agente público ou acarretar lesão ao erário, como no caso
sub examine e nos termos expostos nos tópicos anteriores, já que não existem
elementos indicativos de efetivo dano patrimonial ao erário.
Do exame dos autos, embora se possa intuir que as contratações
temporárias resultaram dos apadrinhamentos típicos das gestões dos municípios
deste estado, não há elementos probatórios nesse sentido.
De toda forma, evidente é o dolo genérico, sem uma finalidade
específica, diante da reiteração das contratações temporárias ao longo dos anos e
apesar das diversas audiências realizadas com o Ministério Público.
Não bastasse, o Município de Serra do Mel, por intermédio do réu,
celebrou Termo de Ajustamento de Conduta com o Ministério Público do
Trabalho e Ministério Público Estadual, por meio do qual se comprometeu a
rescindir todos os contratos dos servidores admitidos, após 05/10/1988, sem
concurso público, até 31 de dezembro de 2009, ressalvadas as hipóteses das
nomeações para cargos comissionados e contratos regularmente temporários
em situações de excepcional interesse público (Cláusula Segunda), fls. 46/48.
Ora, as sucessivas contratações temporárias, em detrimento, inclusive,
dos aprovados em concurso público, fizeram letra morta do pacto e, pois, do art. 37,
II e IX da Constituição, tornando escancarada a própria má-fé do agente, aqui
demandado.
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Ratifica todo o exposto os Termos de Representação de fls. 14, 24 e
49 indicativos de que, apesar da possibilidade de nomear aprovados no concurso
público, o então Prefeito de Serra do Mel, atual prefeito e demandado, optou por
realizar sucessivas contratações temporárias.
No mesmo sentido, o edital do concurso público 01/2009 (fls.
772/779), no qual estão previstas diversas vagas para as quais pessoas foram
contratadas em detrimentos dos supostamente aprovados.
Supostamente, diz-se, porque não houve resposta à requisição objeto
do ofício n. 05/2017-11ªPmJM, fl. 944, especialmente tocante à homologação do
concurso, vigência, prorrogação e nomeação dos aprovados.
Frise-se, mais uma vez, a reclamação da aprovada em concurso
público para o cargo de ASG, a qual noticiou o vencimento do prazo de validade do
concurso e ausência de nomeação dos aprovados dentro do número das vagas
ofertadas, fl. 49; e ainda a relação, apresentada pelo Sindicato dos Servidores
Público de Serra do Mel, dos candidatos aprovados dentro do número de vagas
ofertadas pelo Edital, fls. 27.
Tais concursos poderiam ter seu prazo de validade prorrogado.
Mais que isso. A jurisprudência é pacífica no sentido de que o
candidato aprovado dentro do número de vagas possui direito subjetivo à
nomeação.
No que tange aos candidatos aprovados fora do número de vagas, o
Supremo Tribunal Federal, em sede de Recurso Extraordinário, fixou a tese de que
também há direito subjetivo à nomeação nos casos em que: i) houver preterição na
nomeação por não observância da ordem de classificação (RE nº 837.311/PI); ii)
surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do certame
anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por
parte da administração nos termos acima (RE n. 837.311/PI); iii) quando a
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Administração está utilizando servidores requisitados de outros órgãos para
desempenharem as funções dos candidatos aprovados (RE nº 581.113/SC).
O Superior Tribunal de Justiça, ademais, entende que também há
direito subjetivo a nomeação de candidatos aprovados fora do número de vagas
quando: i) há contratação de pessoal, de forma precária, para o preenchimento de
vagas existentes, com preterição dos aprovados (STJ RMS 34.319-MA); ii) logo
após (seis meses) o término de validade do concurso, a Administração realiza novo
certame para os mesmos cargos dos aprovados que não foram chamados, sendo que
havia vagas abertas mesmo antes do concurso expirar (STJ RMS 27.389-PB).
Vê-se, portanto, que a situação em análise, de existência de vagas e
contratação de pessoal de forma precária, no entendimento do STJ e STF, confere
aos candidatos aprovados fora do número de vagas, no montante de profissionais
contratados de forma temporária, direito subjetivo à nomeação.
Assim, embora não seja possível a revalidação de concurso público
com validade expirada, nos termos do art. 37, III, CF/88), sob pena de vício
insanável de inconstitucionalidade, os candidatos aprovados em concurso dentro
das vagas, mesmo após o fim da validade do concurso público, permanecem tendo
direito subjetivo à nomeação, mormente porque, no caso sub examine, no período
de validade dos concursos, o ente público contratou temporariamente pessoas para
desempenharem as funções dos candidatos aprovados.
Por todas essas razões, sob a ótica deste órgão ministerial, está
caracterizado o dolo do gestor ora demandado e a irresponsabilidade administrativa
na administração pública.
Sobre o tema, outros julgados:
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“DIREITO ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMI-
NISTRATIVA. APLICABILIDADE A VEREADORES.
DOLO GENÉRICO. SUSPENSÃO DE DIREITOS POLÍTI-
COS. ABRANDAMENTO (…) O dolo que se exige para a
configuração de improbidade administrativa reflete-se na
simples vontade consciente de aderir à conduta descrita
no tipo, produzindo os resultados vedados pela norma ju-
rídica – ou, ainda, a simples anuência aos resultados con-
trários ao Direito quando o agente público ou privado de-
veria saber que a conduta praticada a eles levaria –, sendo
despiciendo perquirir acerca de finalidades específicas.
Precedentes. 4.Tem-se claro, diante da análise do acórdão
recorrido, que houve bem descrita a conduta típica, cuja
realização do tipo exige ex professo a culpabilidade. Dito
de outro modo, violar princípios é agir ilicitamente. Como
bem expresso pela Corte estadual, a culpabilidade é ínsita
à própria conduta ímproba. 5. In casu, a má-fé do admi-
nistrador público é patente, sobretudo quando se constata
que, na condição de Presidente da Câmara Municipal,
nem sequer formalizou os procedimentos de dispensa de
licitação. 6 .Ressalvou, o Tribunal a quo, entretanto, que de-
veriam ser impostas "penalidades mínimas, de modo razoável
ao contexto e proporcional à extensão da improbidade consta-
tada". Desse modo, mostra-se um contrassenso arredar a pe-
nalidade de perda de função pública, e, ao mesmo tempo,
manter a suspensão de direitos políticos – também extrema-
mente gravosa. 7. Deve-se, portanto, excluir a penalidade de
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suspensão de direitos políticos, mantendo-se as demais. Agra-
vo regimental parcialmente provido.” (AgRg no REsp n.
1.214.254/MG, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJ de
22.02.2011 –
“ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚ-
BLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATI-
VA. FRAUDE NO RESSARCIMENTO DE GASTOS POR
PARLAMENTAR. ART. 9º DA LEI N. 8.429/92. SUFI-
CIÊNCIA DE DOLO GENÉRICO NA CONDUTA GERA-
DORA DO ENRIQUECIMENTO OU CONTRA AS NOR-
MAS. TRIBUNAL DE ORIGEM QUE CONSIGNA DOLO
E ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. PENAS APLICADAS
EM ATENÇÃO À PROPORCIONALIDADE. REVISÃO.
IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA SÚMULA N.
7/STJ TAMBÉM AO RECURSO PELA ALÍNEA "C" DO
DISSÍDIO CONSTITUCIONAL. 1. Hipótese na qual se dis-
cute ato de improbidade administrativa decorrente do uso de
documentos falsos por parlamentar, por trinta e quatro vezes,
com o fim de ressarcimento de gastos. (…) 4. O caso em exa-
me, relativo à improbidade administrativa decorrente de enri-
quecimento ilícito, amolda-se aos atos de improbidade censu-
rados pelo art. 9º da Lei 8.429/1992. Nesse passo, o elemen-
to subjetivo necessário à configuração de improbidade ad-
ministrativa é o dolo eventual ou genérico de realizar con-
duta que gere o indevido enriquecimento ou que atente
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contra os princípios da Administração Pública, não se exi-
gindo a presença de intenção específica, pois a atuação de-
liberada em desrespeito ao patrimônio público e às nor-
mas legais, cujo desconhecimento é inescusável, evidencia
a presença do dolo. 5. Ainda que o dano ao erário possa não
ser de grande monta, o acórdão recorrido não consigna tal in-
formação, as penas foram fixadas com proporcionalidade e
razoabilidade tendo em vista a contumácia da conduta, utili-
zando-se o réu dezenas de vezes do mesmo expediente, uso
de documentos falsos. 6. O óbice da Súmula 7 do STJ é apli-
cável, também, ao recurso especial interposto com fundamen-
to na alínea "c" do inciso III do artigo 105 da Constituição da
República. 8. Agravo regimental não provido.” (AgRg no
REsp 20.747/SP, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES,
Primeira Turma, DJ de 23.11.2011
(Grifos acrescidos)
2.5 – DO DANO MORAL COLETIVO
O dano moral coletivo enquadra-se no conceito de prejuízo de ordem
moral manifestado no âmbito de um grupo de pessoas determinadas, ligadas entre
si por uma relação jurídica base ou fato comum, ou transindividual indeterminável.
Segundo o Doutrinador Carlos Alberto Bittar Filho, em seu artigo
intitulado “ Do dano moral coletivo no atual contexto jurídico brasileiro”:
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“Vem a teoria da responsabilidade civil dando passos decisi-
vos rumo a uma coerente e indispensável coletivização. Subs-
tituindo, em seu centro, o conceito de ato ilícito pelo de dano
injusto, tem ampliado seu raio de incidência, conquistando
novos e importantes campos, dentro de um contexto de reno-
vação global por que passa toda a ciência do Direito, cansada
de vetustas concepções e teorias. É nesse processo de amplia-
ção de seus horizontes que a responsabilidade civil encampa o
dano moral coletivo, aumentando as perspectivas de criação e
consolidação da uma ordem jurídica mais justa e eficaz.”.
Traduzindo posição semelhante, os dizeres de José Rubens Morato
Leite:
“O dano extrapatrimonial coletivo não tem mais como emba-
samento a dor sofrida pela pessoa física, mas sim valores que
afetam negativamente a coletividade, como é o caso da lesão
imaterial ambiental. Assim, evidenciou-se, neste trabalho,
que a dor, em sua acepção coletiva, é um valor equiparado ao
sentido moral individual, posto que ligado a um bem ambien-
tal, indivisível de interesse comum, solidário e ligado a um
direito fundamental de toda coletividade. Revele-se que não é
qualquer dano que pode ser caracterizado como dano extra-
patrimonial, e sim o dano significativo, que ultrapassa o limi-
te de tolerabilidade e que deverá ser examinado, em cada
caso concreto. As dificuldades de avaliação do quantum de-
beatur do dano extrapatrimonial são imensas; contudo, este
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há de ser indenizado sob pena de falta de eficácia do sistema
normativo. Portanto, compete ao Poder Judiciário importante
tarefa de transplantar, para a prática, a satisfação do dano ex-
trapatrimonial ambiental. Abrindo-se espaço para o ressarci-
mento ao dano extrapatrimonial, amplia-se a possibilidade de
imputação ao degradador ambiental.”
De igual modo, o art. 1º , caput da Lei da Ação Civil Pública (Lei n.
7.347/85) dispõe que suas determinações têm como finalidade a reparação aos da-
nos morais e patrimoniais.
Cabe enfatizar que o ordenamento jurídico brasileiro protege os direi-
tos difusos, os direitos que são titulados por um número indeterminável de pessoas
e possuem como característica a transindividualidade. Prova disso é que o art. 129
da Constituição da República proclama que são funções do Ministério Público pro-
mover o Inquérito Civil e a Ação Civil Pública para a proteção do patrimônio pú-
blico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.
Carlos Alberto Bittar Filho defende que os valores coletivos são dife-
rentes dos valores individuais, mas merecedores do mesmo nível de proteção:
“Assim como cada indivíduo tem sua carga de valores,
também a comunidade, por ser um conjunto de indivíduos,
tem uma dimensão ética. Mas é essencial que se assevere que
a citada amplificação desatrela os valores coletivos das
pessoas integrantes da comunidade quando individualmente
consideradas. Os valores coletivos, pois, dizem respeito à
comunidade como um todo, independentemente de suas
partes. Trata-se, destarte, de valores do corpo, valores esses
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que se não confundem com os de cada pessoa, de cada célula,
de cada elemento da coletividade. Tais valores, como se vê,
têm um caráter nitidamente indivisível [...]”
“Quando se fala em dano moral coletivo, está-se fazendo
menção ao fato de que o patrimônio valorativo de uma certa
comunidade (maior ou menor), idealmente considerado, foi
agredido de maneira absolutamente injustificável do ponto de
vista jurídico: quer isso dizer, em última instância, que se
feriu a própria cultura, em seu aspecto imaterial. Tal como se
dá na seara do dano moral individual, aqui também não há
que se cogitar de prova da culpa, devendo-se
responsabilizar o agente pelo simples fato da violação.”
Grifos para destaque
No caso dos autos, as reiteradas condutas praticadas pelo gestor
causaram flagrante agressão à comunidade de Serra do Mel em razão da violação
abusiva da regra do concurso público e, inclusive, dos princípios da
impessoalidade, eficiência e moralidade administrativa de forma a colocar em
descrédito a probidade da condução da coisa pública realizada pelo Sr. Josivan.
Agrava o fato a existência de vários aprovados em concursos públicos
(2006 e 2009) preteridos pelo município em prol dos contratados temporariamente.
Ora, o dano moral coletivo, dada a sua transindividualidade, resta
devidamente comprovado em razão da violação moral coletiva promovida pelo
gestor municipal ao tratar a administração pública de Serra do Mel como se
empresa privada fosse ao longo de, pelo menos, quatro anos.
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Os atos de improbidade apontados nesta inicial, especialmente os
relacionados ao descumprimento da regra do concurso público e aos limites
prudencial e máximo, ferem de forma grave os princípios da administração pública
previsto no art. 37, caput, CR/88. Causaram não apenas mal estar e comoção
coletiva nesta cidade, mas ensejaram que a população fosse enganada.
A sensação de indignação sentida pela sociedade, decorrente da
situação apresentada, já se alastra há muito tempo, eis que a comunidade se vê
desprestigiada pelo mau emprego dos recursos públicos diante das sucessivas
contratações temporárias em detrimento dos aprovados em concurso público e da
regra do concurso público.
No mesmo diapasão, é o interessante estudo realizado por André de
Carvalho Ramos, a respeito do dano moral coletivo, citando Carlos Alberto Bittar
Filho:
"Tal intranqüilidade e sentimento de desapreço gerado pelos
danos coletivos, justamente por serem indivisíveis, acarreta
lesão moral que também deve ser reparada coletivamente. Ou
será que alguém duvida que o cidadão brasileiro, a cada
notícia de lesão a seus direitos, não se vê desprestigiado e
ofendido no seu sentimento de pertencer a uma
comunidade séria, onde as leis não são cumpridas? A
expressão popular o Brasil é assim mesmo deveria
sensibilizar todos os operadores do Direito sobre a
urgência na reparação do dano moral coletivo.
(...)Com isso, vê-se que a coletividade é passível de ser
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indenizada pelo abalo moral, o qual, por sua vez, não
necessita ser a dor subjetiva ou estado anímico negativo,
que caracterizariam o dano moral na pessoa física,
podendo ser o desprestígio do serviço público, do nome
social, a boa-imagem de nossas leis, ou mesmo o
desconforto da moral pública, que existe no meio social.
Assim, o sentimento de angústia e intranqüilidade de toda
uma coletividade deve ser reparado. Não podemos tutelar
coletivamente, então, a reparação material de violações de
interesse materiais e deixar para a tutela individual a
reparação do dano moral coletivo. Tal situação é um contra-
senso, já que não podemos confundir o dano moral individual
com o dano moral coletivo. Como salienta Severiano Aragão,
não pode o dano moral ser limitado, qual atributo da
personalidade individual, como a associá-lo, apenas, à dor e
ao sofrimento anímico individual. Tal enfoque é casuístico e
inaceitável, bastando lembrar os casos de valor de afeição ou
estimação de coisas (Código Civil), ou de afetação coletiva,
como preconizado pelas leis especiais mencionadas
(Imprensa, Consumidor,Ecologia). Portanto, a ofensa ao
patrimônio moral deste Brasil, consubstanciado na imagem,
no sentimento de apreço a nossa cidadania, deve ser
reparada" (Ob cit.).
E ainda, a lição de Xisto Tiago de Medeiros Neto16:
16 Dano Moral Coletivo, LTR, p. 135.
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“A coletividade, portanto, revelando atributos jurídicos, vem
a significar a expressão-síntese de uma das maneiras de ser
das pessoas no plano social: a de partícipes de um vasto
elenco de interesses comuns dotados de contornos peculiares(
transindividuias), que, compartilhados, são-lhes essenciais à
vida, integrando, assim, a esfera da dignidade de cada um dos
respectivos membros e gozando de plena proteção jurídica.
(...). É o que se verifica, por exemplo, conforme antes
externado( capítulo VIII) em relação ao direito à preservação
do meio ambiente sadio(...). Inegavelmente esses interesses,
de acordo com a manifestação concreta, reitere-se, inserem-se
na órbita dos valores extrapatrimoniais reconhecidos a uma
coletividade. E, sendo assim, qualquer lesão injusta por ela
suportada deve ensejar a reação do ordenamento jurídico,
no desiderato de reparar, da melhor forma, o direito
violado.(...) Resta evidente, com efeito, que, toda vez em
que se vislumbrar o ferimento a interesse
moral( extrapatrimonial) de uma coletividade,
configurar-se-á dano passível de reparação, tendo em
vista o abalo, a repulsa, a indignação ou mesmo a
diminuição da estima, infligidos e apreendidos em
dimensão coletiva( por todos os membros), entre outros
efeitos lesivos. Nesse passo, é imperioso que se apresente o
dano como injusto e de real significância, usurpando a esfera
jurídica de proteção à coletividade, em detrimento dos
valores( interesses) fundamentais do seu acervo”. Grifos para
destaque
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Não há como o demandado se imiscuir da obrigação de reparar o
dano moral coletivo decorrente da sua promoção pessoal.
2.5 – DA TUTELA MANDAMENTAL
O Ministério Público pretende, outrossim, garantir que, com
efeito, não ocorra mais NENHUM ILÍCITO no tocante aos gastos públicos,
contratação temporária irregular e ofensa ao poder requisitório ministerial
Pretende, pois, evitar o dano ao patrimônio público, à moralidade
administrativa e os próprios atos ímprobos.
Nesse sentido, a lição dos eminentes Luiz Guilherme Marinoni e
Sérgio Cruz Arenhart17:
“Com efeito, quando se pensa em tutela preventiva, imagina-
se uma tutela que tem por fim impedir a prática, a
continuação ou a repetição do ilícito(...). Note-se que o
problema da tutela preventiva é o da prevenção da
prática, da continuação ou da repetição do ilícito(...).
(...)Tradicionalmente, pensa-se o processo apenas como
algo voltado ao passado, dirigido à recomposição do
direito violado. Não se recorda, todavia, que também o
processo pode ter orientação dirigida ao futuro, tendente
a impedir a prática de uma violação ao direito”
17 Manual do Processo de Conhecimento, 3ª edição. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo,2004, p.343/344
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(Grifos para destaque)
Dentro desse contexto e no caso concreto, diante das reiteradas
contratações temporárias, apesar do Termo de Ajustamento de Conduta Celebrado;
dos sucessivos Termos de Alerta emitidos pelo Tribunal de Contas do Estado e da
omissão referente à requisição ministerial, a despeito do pedido de dilação de prazo
para tanto há mais de seis meses (fl. 956), resta a tutela jurisdicional como único
meio eficaz de inibir os ilícitos.
A inibição do ilícito, mediante tutela de natureza preponderante
mandamental, fundamenta-se constitucionalmente no artigo 5º, inciso XXXV, da
Carta Magna, que impõe, de modo cogente: “a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Infraconstitucionalmente, o instrumento processual colocado a
serviço da indigitada tutela jurisdicional inserta-se no artigo 11, da Lei Federal nº
7.347/1985, segundo o qual “Na ação que tenha por objeto o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da
atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução
específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível,
independentemente de requerimento do autor”.
Então, superando essa breve digressão, tem-se que a pretensão de
mérito da tutela inibitória em questão é prevenir ofensa à lei, à Constituição e
eventual dano ao erário e à moral coletiva.
Nesse sentido, dispõe o art. 497 do Código de Processo Civil vigente.
Eis:
Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer
ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a
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tutela específica ou determinará providências que assegurem
a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.
Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica
destinada a inibir a prática, a reiteração ou a continuação de
um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da
ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo.
Ademais, por se cingir a questio deste tópico à aplicação do direito
ao caso concreto, dispensa dilação probatória, logo enseja o julgamento
antecipado e parcial do mérito conforme arts. 355, I e 355, I do Código de
Processo Civil vigente, in verbis:
Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido,
proferindo sentença com resolução de mérito, quando:
I - não houver necessidade de produção de outras provas;
II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e nãohouver requerimento de prova, na forma do art. 349.
Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando umou mais dos pedidos formulados ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termosdo art. 355.
(...)
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Corrobora o exposto a atual situação do município de Serra do Mel,
que, consoante Documento n. 701661/2017 do Tribunal de Conta do Estado,
continua acima do limite máxima permitido pela LRF (54%), pois alcançou o
percentual de 54,40% ( anexo).
Tal situação exige não apenas a prevenção do ilícito, mas as condutas
que ensejam sua remoção conforme previsto no art. 169 da Constituição
anteriormente transcrito.
Assim, para a prevenção/remoção dos ilícitos e danos correlatos, deve
ser concedida a tutela inibitória consistente na determinação de que o município: a)
não contrate fora das hipóteses discriminadas no art. 37, IX CF/88 c/c Lei Federal
n. 8.745/83; b) enquanto estiver sob Termo de Alerta do Tribunal de Contas: b.1)
reduza, em pelo menos vinte por cento, as despesas com cargos em comissão e
funções de confiança (inclusive pela extinção de cargos e funções a eles
atribuídos); b.2) exonere servidores não estáveis; b.3) não conceda vantagem,
aumento, reajuste ou adequação de remuneração a qualquer título, salvo os
derivados de sentença judicial ou de determinação legal ou contratual, ressalvada a
revisão prevista no inciso X do art. 37 da Constituição; b.4) não crie cargo,
emprego ou função; b.3) não altere a estrutura de carreira que implique aumento de
despesa; b.5) não dê provimento a cargo público, nem admita ou contrate pessoal a
qualquer título, ressalvada a reposição decorrente de aposentadoria ou falecimento
de servidores das áreas de educação, saúde e segurança; b.6) não contrate hora
extra, salvo no caso do disposto no inciso II do § 6o do art. 57 da Constituição e as
situações previstas na lei de diretrizes orçamentárias.
2.6 – Da Tutela Provisória de Urgência e Evidência
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De acordo com o art. 294 do Código de Processo Civil vigente, a
tutela provisória pode ser de urgência ou de evidência.
A tutela provisória de urgência, conforme art. 300, do citado Codex, é
cabível quando evidenciada a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco
útil do processo.
No caso sub examine, a tutela mandamental referida no item anterior
se caracteriza pela urgência, pois evidente a ofensa ao art. 169 da Carta Magna e à
Lei de Responsabilidade Fiscal consoante repisado linhas atrás. Está, pois,
cabalmente, demonstrado o direito e a necessidade de sua aplicação ao caso
concreto no sentido de ser obrigado o município a cumprir o ordenamento jurídico
pátrio (LRF e art. 169, CR/88)
O perigo de dano, por sua vez, decorre da elevada despesa pública em
questão, tanto que emitidos vários termos de alerta pelo Tribunal de Contas do
Estado. Esse perigo aumenta com o decurso do processo e, pois, caracteriza o risco
da demanda.
A situação é grave e impõe que, imediatamente, sejam tomadas as
providências destacadas no item anterior a fim de serem reduzidas as despesas com
pessoal nos termos impostos pela LRF e art. 169 da Constituição.
Nesse sentido, a tutela mandamental se caracteriza também pela
evidência. Explica-se. A evidência decorre da comprovação das alegações de fato,
relativas às reiteradas contratações temporárias, omissão da resposta à requisição
ministerial e omissão quanto às providências determinadas pela LRF e art. 169 da
CR/88 diante da extrapolação dos limites máximo e prudencial.
Trata-se, na verdade, de saber se é evidente ou não a necessidade de
proibir contratações temporárias reiteradas (já o são de toda forma devido aos
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limites prudencial e máximo); de ajustar as despesas públicas e, ainda, de respeitar
o poder requisitório do Ministério Público bem como a regra do concurso público.
Assim, dúvida não subsiste quanto ao cabimento da tutela provisória
de urgência e de evidência e, pois, da sua antecipação nos termos dos arts. 303 e
seguintes do Código de Processo Civil.
Cabe registrar, contudo, que, diante dos limites máximo e prudencial,
a presente ação não abrangerá nomeação dos candidatos aprovados nos concurso
públicos acima referidos.
3 - DOS PEDIDOS
Por todo o exposto, o Ministério Público requer:
3.1) a AUTUAÇÃO da presente Ação Civil Pública por Ato de
Improbidade Administrativa c/c Pedido de Obrigação de Fazer e Não Fazer ,
Indenização por Dano Moral Coletivo e Antecipação Pacial dos Efeitos in
Limine;
3.2) nos termos do § 2º do art. 12 da Lei nº 7.347/85 c/c arts. 303 e
seguintes do Código de Processo Civil, a antecipação parcial dos efeitos da tutela,
liminarmente e inaudita altera pars, a fim de determinar, sob pena de multa diária
a ser aplicada em caráter pessoal18 ao Prefeito de Serra do Mel, Exmo. Sr. Josivan
18 Sobre multa pessoal aos Gestores Públicos, a doutrina do mestre HUGO DE BRITOMACHADO (Descumprimento de Decisão Judicial e Responsabilidade Pessoal do Agente Publicoin Revista Dialética de Direito Tributário n. 86, p. 50 usque 59, Oliveira Rocha, São Paulo, 2002),defende que quando seja parte no processo a Fazenda Pública, ou uma outra pessoa jurídica, amulta prevista no parágrafo único do art. 14, do Código de Processo Civil, deve ser aplicadaàquele que a corporifica, ao agente público, ao dirigente ou representante da pessoa jurídica aoqual caiba a conduta a ser adotada em cumprimento da decisão judicial. “Não é razoável”, diz omestre, “sustentar-se, que, sendo o Estado responsável pela prestação jurisdicional, cuja prestezalhe cabe preservar, tutelando e defendendo o interesse público primário, possa ele próprio,cometer um ato atentatório a dignidade da jurisdição. Quem comete esse ato na verdade é o
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Bibiano de Azevedo, no valor mínimo de R$10.000,00 (dez mil reais) por conduta
comissiva ou omissiva (contrato temporário irregular; omissão de resposta à requi-
sição ministerial; ato ofensivo aos limites prudencial e máximo), que o Município
de Serra do Mel:
3.2.1) abstenha-se de contratar fora das hipóteses discriminadas no
art. 37, IX CF/88 c/c Lei Federal n. 8.745/83;
3.2. 2) enquanto estiver sob Termo de Alerta do Tribunal de Contas:
3.2.2.1) reduza, em pelo menos vinte por cento, as despesas com
cargos em comissão e funções de confiança (inclusive pela extinção de cargos e
funções a eles atribuídos);
3.2.2.2) exonere servidores não estáveis;
3.2.2.3) abstenha-se de conceder vantagem, aumento, reajuste ou
adequação de remuneração a qualquer título, salvo os derivados de sentença
judicial ou de determinação legal ou contratual, ressalvada a revisão prevista no
inciso X do art. 37 da Constituição;
3.2.2.4) abstenha-se de criar cargo, emprego ou função;
3.2.2.5) abstenha-se de alterar a estrutura de carreira que implique
aumento de despesa;
3.2.2.6) abstenha-se de dar provimento a cargos públicos, de admitir
ou contratar pessoal a qualquer título, ressalvada a reposição decorrente de
aposentadoria ou falecimento de servidores das áreas de educação, saúde e
segurança;
3.2.2.7) abstenha-se de contratar hora extra, salvo no caso do disposto
no inciso II do § 6o do art. 57 da Constituição e as situações previstas na lei de
diretrizes orçamentárias;
servidor público que não está realmente preparado para o desempenho de suas atribuições em umEstado de Direito. A esse, portanto, cabe suportar a sanção correspondente.”
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3.2.3) atenda as requisições ministeriais nos prazos nela consignados
ou justifique quando assim não o puder fazer;
3.3 – a notificação do réu para, no prazo de quinze dias, oferecer
manifestação por escrito, que poderá ser instruída com documentos e justificações,
nos termos do disposto no art. 17, §7º, da Lei n. 8.429/92;
3.4 – o RECEBIMENTO da ação e conseguinte CITAÇÃO dos
demandados para, querendo, responderem a ação, sob pena de revelia e confissão
ficta quanto à matéria fática;
3.5 – a TOTAL PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS a fim de:
3.5.1) tornar definitiva a tutela antecipada contra o Município de
Serra do Mel nos termo do item 3.2 supra;
3.5.2) condenar o demandado JOSIVAN BIBIANO DE
AZEVEDO: 3.5.2.1) pela prática dos atos de improbidade previstos no artigo 11,
caput, incisos I, II e V da Lei n. 8.429/92, conforme itens 2.1, 2.2 e 2.3 supra bem
como, pois, às sanções previstas no art. 12, III do citado diploma legal; 3.5.2.2) ao
pagamento de indenização pelo dano moral coletivo decorrente das suas condutas
ímprobas em valor a ser estabelecido por este douto juízo; 3.5.2.2) ao pagamento
de custas e demais despesas processuais;
3.6) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros
encargos, à vista do disposto artigo 18 da Lei n. 7.347/85, além da intimação
pessoal deste órgão ministerial nos termos da Lei Complementar n. 141/96 e Lei n.
8.625/93;
3.7) a destinação das multas de que tratam os itens anteriores, em
caso de procedência dos respectivos pedidos, atendendo à prioridade estatuída pelo
art. 227, caput, da CF/88 às crianças e adolescentes, ao Fundo da Infância e
Adolescência do Município de Serra do Mel;
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3.8) diante da omissão do município em atender à requisição do
Ministério Público, que seja determinado que apresente, nestes autos, os seguintes
documentos: I - cópia das edições dos diários oficiais em que foram publicados os
editais de todos os processos seletivos simplificados ocorridos entre 2007 e 2012, a
respectiva homologação e eventual prorrogação; II – cópia das edições dos diários
oficiais em que foram publicados os editais dos concursos públicos de 2006 e 2009,
respectiva homologação e prorrogação; III – cópia das edições dos diários oficiais
em que foram publicadas as relações dos aprovados nos processos seletivos
simplificados e concursos públicos acima referidos; IV – cópia dos atos
administrativos que justificaram a ausência de prorrogação do concurso público de
2006, apesar da existência de candidatos aprovados dentro do número de vagas
ofertadas consoante reclamações de fls. 24 e 27 (cuja cópia deve seguir anexa ao
expediente); V – cópia das Leis que criaram os cargos referentes ao Programas
Sociais do Governo Federal, tais como PETI, PROJOVEM, PSF e PSB (o qual
incluiu o CRAS), justificativa para sua inexistência, se for o caso, e para o não
provimento dos cargos públicos em questão por meio de concurso público; VI –
número de profissionais – e respectivas atribuições- necessários ao bom
desempenho dos Programas Sociais acima mencionados haja vista a elevada
demanda afirmada por este Poder Executivo consoante expediente de fl. 655 (cuja
cópia deve seguir anexa); VII – cópia da Lei n. 312/2009; VIII – cópia dos
contratos temporários vigentes em 2007 e 2008; IX – cópia dos contratos e/ou
portarias de nomeação, vigentes em 2007, das seguintes pessoas: Sebastião Cosme
da Silva, Jonas Francisco da Silva, Francisco Leocádio, Luiz Laranjeira e Paulo
Andrade; X – Contracheque ou qualquer outro meio idôneo que revele a
remuneração do referido gestor no período em que geriu a Prefeitura de Serra do
Mel; XI – os Termos de Alerta de Responsabilidade Fiscal enviados ao gestor
JOSIVAN BIBIANO, Prefeito de Serra do Mel, no período compreendido entre
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2009 a 2012; XII – planilha contábil com o valor total gasto com contratos
temporários, nos anos de 2009, 2010, 2011 e 2012;
Protesta provar o alegado pelos meios admitidos em direito,notadamente os documentais.
Nesses termos, confia deferimento.
Dá-se à causa, para os fins legais, o valor de R$ 100.000,00 (cem mil
reais) para fins legais.
Micaele Fortes Caddah
Promotora de Justiça
Liv Ferreira Augusto Severo Queiroz
Promotora de Justiça
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