excelentÍssimo senhor juiz de direito da … · projeto não foi aprovado pela secretaria de...
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS4ª Promotoria de Justiça de Aparecida de Goiânia
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DAS FAZENDAS
PÚBLICAS DA COMARCA DE APARECIDA DE GOIÂNIA-GO
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por sua
representante legal, com fundamento nos artigos 129, inciso III da Constituição Federal, 81
e 82, incisos I e III, 91 e 92, da Lei n.º 8.078/90 (código de Defesa do Consumidor), e 1º,
inciso IV, da Lei n.º 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), vem respeitosamente à presença
de Vossa Excelência propor
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
pelo procedimento ordinário, em face de
1. APARECIDA DE GOIÂNIA/GOIÁS, pessoa jurídica de direito
público, com sede na rua João Batista de Toledo, n.º 16, Centro,
Aparecida de Goiânia-GO,
2. LINO E SILVA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA.,
pessoa jurídica de direito privado, inscrita sob o CNPJ n., registrada no Avenida das Nações, quadra 10, lote 04, St. Vera Cruz – CEP 74.908-970
Fone: 283 1163 – Fax: 283 1695 – e-mail: [email protected]
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3º Tabelionato de Notas de Goiânia-GO, em 25/05/2004, com sede na
Alameda dos Buritis, n. 408, Edifício Buriti Center, Sala 102, Centro,
Goiânia-GO;
3. SERRA DAS BRISAS EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS
LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita sob o CNPJ n.,
registrada no Cartório Souza, nesse município, em 20/06/2006, com
sede na Avenida Circular, quadra 26, lotes 6 a 9, esquina com rua 1000,
sala 32, Setor Pedro Ludovico, Goiânia-GO, CEP 74.823-020;
4. NELI APARECIDA MIRANDA LINO E SILVA, brasileira, viúva de
José Agenor Lino e Silva, corretora de imóveis, CPF n. 159.581.751-49,
CRECI n. 6910, residente e domiciliada na Avenida Portugal, n. 97,
quadra J-6, lote 50, apartamento 1302, Setor Oeste, Goiânia-GO, CEP
74.140-970;
5. JOSÉ ANTÔNIO ALVES LINO E SILVA, brasileiro, casado com
Ana Maria Rosa Lino e Silva, comerciante, CPF n. 166.957.041-04,
CIRG 250.829, SSP-GO, residente e domiciliado na Rua Herculina
Marques de Abreu, Espaço Society, Residencial Sonho Dourado,
Goiânia-GO, CEP 74.781-0001,
6. MARIA EDMÉA LINO E SILVA CUNHA, brasileira, casada com
Ronaldo Cunha, empresária, CPF n. 134.992.031-20, C.I. n. 433.678,
SSP-GO, residente e domiciliada na Avenida Portugal, esquina com rua
12, quadra K-8, lotes 8/33, apartamento 402, Setor Oeste, Goiânia-GO,
CEP 74140-020;
7. MARIA ADÉLIA LINO E SILVA RESENDE, brasileira, casada com
Cleomar Pereira Resende, empresária, CPF n. 002.654.891-72, C.I. n.
433.676, SSP-GO, residente e domiciliada na rua 15, n. 87, quadra
H-06, lotes 8/10,apartamento 1601, Setor Oeste, Goiânia-GO, CEP
74.140-090;
Avenida das Nações, quadra 10, lote 04, St. Vera Cruz – CEP 74.908-970Fone: 283 1163 – Fax: 283 1695 – e-mail: [email protected]
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8. JOSÉ AGENOR LINO E SILVA JÚNIOR, brasileiro, solteiro,
nascido em 08/05/1959, empresário, CPF n. 217.054.291-49, C.I. n.
827,342, SSP-GO, redisente e domiciliado na Rua Pireneus, n. 56, Setor
Central, Pirenópolis-GO, CEP 72.980-970;
9. LUIZ ANTÔNIO ALVES LINO E SILVA, brasileiro, solteiro,
nascido em 11/01/1962, empresário, CPF n. 306.762.071-20, C.I. n.
817.908, SSP-GO, residente na Rua Fortaleza, quadra 30, lote 1/4, apto
201-D, Jardim Esmeralda, Aparecida de Goiânia-GO, CEP 74.830-060;
10. ANDRÉ LUIZ ALVES LINO E SILVA, brasileiro, casado com Soraia
Faria Oliveira Lino e Silva, empresário, CPF n. 260.773.611-00, C.I. n.
1.136.552, SSP-GO, residente e domiciliado na Avenida C-107, esquina
com rua C-06, quadra 51, lote 12, Jardim América, Goiânia-GO, CEP
74.255-060;
11. JOSÉ LINO DE MENEZES NETO, brasileiro, solteiro, nascido em
02/04/1983, empresário, CPF n. 999.744.521-04, C.I. n. 4.087.503, SSP-
GO, residente e domiciliado na Avenida Portugal n. 07, lote 50,
apartamento 1302, Setor Oeste, Goiânia-GO, CEP 74.140-020;
12. ESPÓLIO DE JOSÉ AGENOR LINO E SILVA,
pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:
1. DOS FATOS
1.1. INTRODUÇÃO
Foram instaurados procedimentos administrativos, na 4ª Promotoria de
Aparecida de Goiânia, que tem atribuição na defesa da ordem urbanística, para apurar
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loteamentos clandestino e irregulares em Aparecida de Goiânia, dentre eles, o Setor Serra
das Brisas (irregular), Residencial Araguaia (irregular) e Belo Horizonte (clandestino).
Uma ação civil pública já foi proposta, estando na fase de conclusão para sentença, para a
regularização dos Setores Norte Sul e Pôr do Sol.
Oficiada a Secretaria de Planejamento do Município, essa informou que o
Setor Belo Horizonte e Serra das Brisas eram clandestinos (fls. 7). O Residencial Araguaia
não teria cumprido parte da legislação municipal de parcelamento da época de sua
aprovação, no tocante à infra-estrutura.
Na doutrina há uma diferenciação a cerca do que vem a ser loteamento
clandestino e irregular. O loteamento clandestino é aquele em que nenhum ato foi
praticado junto ao Município tendente à regularização, esse é constituído, portanto, ao
arrepio completo da lei. Já o irregular, é realizado em desacordo com o ato de licença, ou
ainda, sem execução de obras de infra-estrutura.
O ponto comum entre os loteamentos expostos na presente ação, Serra das
Brisas, Belo Horizonte e Residencial Araguaia é que esses estão situados em imóveis
contíguos e de propriedade dos réus enumerados nos itens 04/12, da exordial. No entanto
essa dominialidade dos réus retro mencionados, foi obtida recentemente, em virtude de
demandas judiciais. Por ocasião do início da ocupação desses loteamentos, terceiros eram
proprietários dos imóveis, onde surgiram esses foram surgindo, motivo pelo qual convém
fazer um breve histórico sobre o desenrolar de cada um deles. Atualmente, tratam-se de
loteamentos bastante povoados (foto de satélite abaixo), sendo que os seus moradores
possuem justo título e pagam seus impostos para o Município.
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Fonte: Programa Google Earth, imagens de satélite de 2006.
1.2. HISTÓRICO DOS LOTEAMENTOS
1.2.1. SERRA DAS BRISAS
A sua ocupação iniciou-se no ano de 1992, tendo sido o empreendedor a
Construtora Gutemberg Ltda. A venda dos lotes realizou-se através da Norte-Sul.
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Apesar da informação desse loteamento ser clandestino, o loteamento
enquadraria na denominação de irregular, pois a Construtora Gutemberg Ltda., mesmo não
sendo a proprietária da área, iniciou alguns atos tendentes à regularização, apresentando,
no ano de 1990, um projeto na Secretaria de Planejamento Municipal, em duas etapas. Esse
projeto não foi aprovado pela Secretaria de Planejamento, mas houve a edição de um
Decreto n. 66, de 22 de janeiro de 1991, aprovando o loteamento.
A Construtora, ao seu alvedrio, desistiu desse projeto e deu entrada a um
novo projeto na Secretaria de Planejamento, desta feita, em etapa única e novamente esse
órgão público não se manifestou a cerca da aprovação, mas novamente, o Executivo, de
forma ditatorial editou o Decreto n. 159, de 24 de agosto de 1992, aprovando o loteamento
e revogando o decreto anterior.
Desde então nesse processo houve manifestação da EMCIDEC – Empresa
Estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico Social. Diretoria de
Articulação do Desenvolvimento Municipal – DADM, em 1º de outubro de 1992, dando
anuência ao loteamento e foi expedida uma licença de instalação do loteamento pela
FEMAGO (antiga Agência Ambiental do Estado de Goiás). Houve ainda a expedição de
um alvará de licença à Construtora, pelo Município, para venda do loteamento Serra das
Brisas em 12 de fevereiro de 1993. Esse alvará só vem a confirmar a situação irregular do
loteamento, uma vez que é procedimento totalmente estranho na aprovação de loteamentos
urbanos.
Isso tudo aconteceu, sem o documento de aprovação da Secretaria de
Planejamento Municipal, órgão competente para tal.
Como não houve aprovação, nem registro no Cartório Imobiliário, o
Executivo, pela terceira vez, de forma ditatorial expediu o Decreto n. 324, de 21 de maio
de 1998. Dessa vez, não se pode dizer que agiu sozinho, pois o Legislativo Municipal
expediu uma lei de n. 1744, de 18 de maio de 1998, que autorizava o Executivo a aprovar o
Setor Serra das Brisas. Essa lei pretendeu suprimir o processo de aprovação da Secretaria
Municipal de Planejamento.
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Em que pese todos esses “desarranjos” ou “arranjos”, no âmbito do
Executivo e Legislativo Municipal, para a aprovação do Loteamento Serra das Brisas,
problema maior estava por vir, pois a questão da dominialidade do imóvel, que estava
sendo ocupado, estava sendo discutido nas vias judiciais.
O Sr. José Agenor Lino e Silva, falecido em 1990, e seus filhos, ao
proporem Ação de Nulidade de compra e venda cumulada com transcrição de registro
imobiliário, em 30 de dezembro de 1981, na Comarca de Hidrolândia, relatam que eram
proprietário de duas glebas de terras limítrofes, havidas em herança, pelo falecimento da
primeira esposa, do Sr. José Agenor, Sra. Adélia Alves Lino e Silva.
As glebas de propriedade estavam assim discriminadas:
1ª) Registrada no Cartório de Registro de Imóveis, de Aparecida de Goiânia,
sob o número de matrícula 5351, situada na Fazenda Santo Antônio, contendo duas áreas:
a) 13 alqueires e oito litros;
b) 13 alqueires e 16 litros (matrícula 535).
2ª) Registrada também no Cartório de Registro de Imóveis, de Aparecida de
Goiânia, sob o número de matrícula 5362, situada na Fazenda Dourados ou Saco Feio dos
Dourados, com área aproximada de 12 alqueires – Fazenda Dourados ou Saco Feio dos
Dourados.
No entanto, o IDAGO – Instituto de Desenvolvimento Agrário de Goiás, réu
nessa ação, teria arrecadado-as, como se fosse de domínio do Estado, com a denominação
fictícia de Fazenda Olho d’Água, com área de 109,5099 hectares, sob a matrícula única de
n. 69.690, para em seguida expedir título de domínio em favor, dos demais réus, Srs.
Édison Vieira Lopes, José Miguel dos Santos, Maria Vanda Ferreira de Sousa, Percival
Ferreira Macedo, Hélio Lopes Vieira, Durval José Silva, Sebastião Lopes Vieira e Lincoln
de Araújo.
1 Passou a ter número de matrícula n. 127.276, depois da ação de divisão da comarca de Hidrolândia, processo n. 36/91.2 Passou a ter número de matrícula n. 127.277, depois da ação de divisão da comarca de Hidrolândia, processo n. 36/91.
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Tal equívoco adveio, pois a região era constituída de terras devolutas
anteriormente.
Para solucionar esse problema o Juiz de Direito de Hidrolândia determinou
uma perícia, que confirmou que o autor era sem dúvida proprietário das áreas em litígio.
A referida ação foi julgada procedente e confirmada pelo Tribunal de
Justiça em acórdão de 1º de abril de 1997.
Durante essa disputa judicial, que durou de 1981 a 1997, conforme dito
anteriormente, três loteamentos foram formados por sobre esses imóveis: SERRA DAS
BRISAS (irregular), BELO HORIZONTE (clandestino) e RESIDENCIAL ARAGUAIA
(irregular).
Diante da confirmação do Tribunal de Justiça de Goiás, da dominialidade da
área, onde se implantou o Loteamento SERRA DAS BRISAS, além de outras áreas no
município, os sucessores do Sr. José Agenor Lino propuseram Ação de Reintegração de
Posse – autos de n. 200201400833, na data de 3/9/2002, nessa Comarca, em desfavor da
Construtora Gutemberg Ltda., cujo título de domínio se originava na matrícula n.
69.690, do IDAGO, declarado nulo.
Não foram incluídos no pólo passivo dessa ação, os ocupantes da área. Não se
considerou que havia um fato social consumado nessas terras, onde inúmeras pessoas
tinham adquiridos seus “lotes” e ali estavam morando de boa-fé e justo título, inclusive
pagando IPTU, para o Município.
A área que se pretendeu a reitegração de posse, cingiu-se das duas glebas
limítrofes, objeto da Ação de Nulidade, movida em Hidrolândia, retro mencionada.
Concomitantemente, houve também o ajuizamento de Ação Cautelar de
Seqüestro, pelos mesmos autores da ação de Reintegração, em desfavor da Construtora
Gutemberg, pois essa teria adquirido as glebas 81.252 (área de 26 hectares e 62 ares),
121.265 (área de 5,62 hectares), 121.353 (área de 2,4 hectares) e 122.189 (área de 9,68
hectares), no total de 44, 34 hectares, originárias da gleba maior de matrícula n. 69.690,
pertencente ao IDAGO.
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O Juiz de Aparecida de Goiânia – 1ª Vara Cível deu provimento a ambas as
ações (conexão), que foi confirmada pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.
Incontinenti, os sucessores do Sr. José Agenor Lino, réus na presente ação,
propusaram Execução de Carta de Sentença, com decisão judicial proferida em 03 de
abril de 2006, determinando a desocupação de todas as pessoas que moram no SERRA
DAS BRISAS, embora não figurem no pólo passivo da ação de Reintegração de Posse.
No intuito de finalizar esse histórico, não se pode deixar de mencionar outra
ação proposta na Comarca de Hidrolândia envolvendo terras do Sr. José Agenor de Lino e
Silva. Trata-se de uma Ação de Divisão da Fazenda Santo Antônio, proposta em
07/08/86, situada em Aparecida de Goiânia, com área total 51 alqueires e 46 litros. A parte
autora era Maria Espíndola Pereira e outros, sendo réus o Sr. José Agenor Lino e Silva e
outros. Os autores foram vencedores em primeira e segunda instância. Em 29 de abril de
1991, foi feita a divisão pelos agrimensores, ficando dispostos os quinhões da seguinte
maneira:
1) quinhão 01 – Maria Espíndola Pereira – 35 hectares, 99 ares e 75 centiares;
2) quinhão 02 – Antônio Espíndola Cardoso e outros – 03 hectares, 27 ares e
25 centiares;
3) quinhão 03 – Luiz Antônio Alves Lino e Silva e outros – 91 hectares, 96
ares (duas glebas), sob a matrícula n. 127.276 (matrícula anterior n. 535);
4) quinhão 04 – espólio de José Agenor Lino e Silva (falecido em 25 de julho
de 1990) – 86 hectares, 52 ares e 50 centiares, sob a matrícula n. 127.277 (matrícula
anterior n. 536).
1.2.2. SETOR BELO HORIZONTE
Aproveitando o histórico anterior em que foram mencionadas as diversas
demandas judiciais envolvendo o terreno onde se instalou o Setor Belo Horizonte,
inclusive, valendo-me da foto de satélite reproduzida acima, constata-se que esse
loteamento surgiu por sobre imóvel de domínio dos réus enumerados nos itens 3 a 9. Em
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caráter informativo, sem avaliação de perícia técnica, pode haver trechos do loteamento
Belo Horizonte que estejam sobre imóvel da Família Espíndola.
Nunca houve nenhum ato tendente à regularização desse loteamento. As
vendas dos lotes clandestinos foram feitas por NARCISO PEIXOTO
EMPREENDIMENTOS, tendo a ocupação iniciado em 1990. A demarcação e abertura de
ruas ocorreram entre 1988 e 1989. Todos os lotes já foram vendidos e quitados.
Não há nenhuma ação de Reitegração de Posse, nem de Seqüestro, por parte
dos Sucessores do Sr. José Agenor de Lino e Silva em relação aos ocupantes do Setor Belo
Horizonte.
1.2.3. RESIDENCIAL ARAGUAIA
Novamente, aproveitando o histórico dos loteamentos anteriores, e do que a
seguir será exposto, constata-se que o Residencial Araguaia está por sobre imóvel de
domínio dos réus enumerados nos itens 3 a 9, da inicial.
O loteador desse parcelamento – DIAGONAL CONSTRUÇÕES CIVIS
LTDA. tinha o título aquisitivo registrado sob o n. 159.996, do Cartório de Registro de
Imóveis dessa comarca, oriundo da matrícula n. 69.690, do IDAGO, declarado nulo.
Em 5 de agosto de 2002, os réus enumerados nos itens 3 a 9, da inicial e
espólio de José Agenor Lino e Silva propuseram ação de Reintegração de Posse em
desfavor da Diagonal Construções Civis Ltda. e outros, nessa Comarca – autos n.
20021401350.
Esse processo judicial findou-se pela composição havida entre os autores e a
Diagonal, apesar da insurgência de alguns réus. O Juiz de Direito, Dr. José Carlos da Silva,
entendeu que o litisconsórcio passivo não era unitário e o processo extinguiu-se, com
sentença homologatória prolatada em 06 de abril de 2004, confirmada pelo Tribunal de
Justiça em 28 de dezembro de 2004.
No curso de processo de Reitegração de Posse, a Diagonal Construções
Civis Ltda. foi substituída pela Poligonal.
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Os imóveis do Residencial Araguaia – 475 lotes, na sua grande maioria,
estavam financiados e os contratos tinham sido celebrados com a Diagonal e Poligonal. Em
virtude do acordo judicial, ficou acertado que os contratos seriam respeitados e a ré Lino e
Silva Empreendimentos Ltda. passou a receber as prestações dos proprietários de lotes, no
Residencial Araguaia. Várias discussões surgiram em razão do aumento do valor das
parcelas e também em razão da retirada do contrato de infra-estrutura básica a que estava
obrigado a fazer o primeiro loteador.
Não convém desta feita, no bojo dos presentes autos, tratar a respeito das
eventuais lesões a direitos dos consumidores, porém a respeito da infra-estrutura básica a
que o loteador primeiro estava sujeito e tendo sido sucedido, esse novo, que já está
auferindo lucros com o loteamento, também deve suceder nas obrigações.
O Residencial Araguaia foi aprovado pelo Decreto n. 564, de 15 de abril de
1999 e Registrado no Cartório de Registro de Imóveis, nessa Comarca. Na época da
aprovação do loteamento vigoram a Lei de Parcelamentos Federal n. 6.766, de 1979, e a lei
de Parcelamento Municipal n. , de 1997, que devem se aplicar ao loteador sucessor.
A lei de parcelamento federal fala no seu artigo 2º, § 5º, que consideram-se
infra-estrutura básica os equipamentos urbanos de escoamento das águas pluviais,
iluminação pública, redes de esgoto sanitário e abastecimento de água potável, e de
energia elétrica pública e domiciliar e as vias de circulação pavimentadas ou não.
No Residencial Araguaia existem apenas iluminação pública, abastecimento
de água potável, energia elétrica pública e domiciliar e vias de circulação abertas. Não
existem equipamentos urbanos de escoamento das águas pluviais, rede de esgoto sanitário,
de responsabilidade do loteador.
No contrato da Diagonal e Poligonal celebrado com os moradores existiam
também a aplicação de uma das exigências da Lei Municipal de Parcelamento, ou seja, a
construção de uma escola no bairro.
Tais obrigações não cumpridas pelo loteador primeiro, devem ser cumpridas
pelo loteador sucessor.
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Desta feita, esse loteamento também enquadra-se na condição de irregular,
pois não está cumprindo a lei de parcelamento tanto municipal, quanto federal.
1.3. OMISSÃO DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL
As ocupações dos loteamentos em comento aconteceram ao arrepio da lei,
lesando direitos de inúmeros cidadãos e o Poder Público Municipal assistiu a tudo, como
se estivesse na platéia. Não tomou atitudes repressivas, fiscalizadoras ou de controle, para
evitar as ocupações clandestinas e nem obrigou o loteador a regularizar os loteamentos
irregulares. Houve uma tolerância criminosa e contrária ao disposto na Constituição
Federal, na sua obrigação de ordenar os espaços urbanos.
Tudo foi feito à luz do dia e de modo ostensivo. Os loteadores e grileiros
transmitiram aos compradores – pessoas pobres, de escassa instrução e carentes de moradia
– uma aparência de licitude, levando-os a crer que a ocupação do solo, em franco
desenvolvimento, era permitida. A OMISSÃO do Município propiciou a implantação dos
loteamentos clandestinos e irregulares em Aparecida de Goiânia.
Mesmo depois de ocupados esses loteamentos, o ente público municipal não
tomou atitudes para a regularização do loteamento ou para a contenção da ocupação.
Deixou a situação, como ela permanece atualmente, inteiramente à margem da lei. Nem
mesmo a notificação do loteador foi procedida. Era preciso velar para que a ordem
administrativa tivesse efetivo cumprimento, o que, na espécie, não aconteceu. Daí a
necessidade da tutela jurisdicional em relação aos pedidos que em face da municipalidade
serão formulados.
2. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
As transformações e o crescimento das cidades, quer pela atuação do Poder
Público (quando realiza obras públicas, concede licenças para construir, confere o uso
privativo de bem público a particular, permite a instalação de indústrias etc.), quer pelas
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ações de particulares (quando parcelam o solo, constroem edifícios, instalam comércio
etc.), podem afetar diretamente a ordem urbanística (padrões e regras urbanos definidos em
leis e atos regulamentares que visam o uso e ocupação do solo de maneira planejada e
ordenada, para garantia de qualidade de vida sustentável nas cidades), com a conseqüente
deterioração do meio ambiente urbano.
Entre as funções institucionais do Ministério Público ditadas pela
Constituição Federal se destaca, justamente, a defesa da ordem urbanística (art. 129, inciso
III, da Constituição Federal e art. 1º, inciso III, da Lei n. 7347/85, Lei da Ação Civil
Pública).
A ordem urbanística é atingida por ações que podem prejudicar o direito à
terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e
aos serviços públicos, ao trabalho, à circulação e ao lazer, ou, ainda, quando o Poder
Público Municipal deixa de regular as transformações do meio ambiente urbano.
A existência de loteamentos clandestinos e irregulares violam a ordem
urbanística em Aparecida de Goiânia, motivo pelo qual o Ministério Público no uso de
suas atribuições, propõe a presente ação.
2.1. INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DE ORIGEM
COMUM - DEVER DE INDENIZAÇÃO DOS PREJUÍZOS SOFRIDOS PELOS
CONSUMIDORES
Os moradores do Setor Serra das Brisas e Belo Horizonte são já pagaram
pelos seus “lotes”. A grande maioria dos ocupantes desses setores tratam-se de pessoas de
baixa renda. Não seria admissível, do ponto de vista da Justiça e do Direito, em razão da
omissão do Município, tais cidadãos a parte mais fraca dessa relação vir a ter prejuízos, em
detrimento dos atuais proprietários do imóvel, onde os loteamentos ocupam.
Os réus proprietários de tais imóveis deverão propor ações de indenização
contra a empresa Construtora Gutemberg (loteadora do Serra das Brisas), em desfavor da
Avenida das Nações, quadra 10, lote 04, St. Vera Cruz – CEP 74.908-970Fone: 283 1163 – Fax: 283 1695 – e-mail: [email protected]
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empresa Poligonal Imóveis (loteadora do Setor Residencial Araguaia) e em desfavor do
Município (em relação ao loteamento clandestino Belo Horizonte).
Os ocupantes desses bairros são os últimos a terem que “pagar essa conta”.
2.1.1. Relação de Consumo
O parcelamento do solo é uma atividade complexa, da qual derivam
múltiplos efeitos. Um deles está na transformação que opera na fisionomia física e jurídica
da gleba. De fato, com o registro especial, previsto no artigo 18, da Lei n.º 6.766/79, o
imóvel primitivo se extingue, ou, pelo menos, se altera, resultando de sua fragmentação
outros imóveis, com características próprias. As unidades, assim constituídas, por serem
objeto de interesse em relação de consumo e estarem destinadas a satisfazer as
necessidades de moradia ou lazer dos adquirentes, são produtos, na definição do artigo 3º,
§ 1º, da Lei n.º 8.078/90. Consequentemente, é fornecedor quem, desenvolvendo atividade
mercantil ou civil, os oferece ao mercado (lei citada artigo 3º caput e § 1º) e consumidor
toda pessoa que os adquire ou utiliza, como destinatário final (idem, artigo 2º caput).
Na espécie, houve comercialização dos lotes e, por isso, entre o parcelador e
os adquirentes formou-se uma típica relação de consumo, como tal regida pelo Código de
Defesa do Consumidor.
Dentre os direitos básicos do consumidor figuram a proteção contra práticas
abusivas e a efetiva reparação de seus prejuízos decorrentes das relações de consumo
(artigo 6º, incisos IV e VI, do C.D.C).
Analisando o conceito de prática abusiva, que considera, por natureza,
“fluido e flexível”, Antônio Herman de Vasconcelos e Benjamin assim o interpreta:
“As práticas abusivas não estão regradas apenas pelo art. 6º.
Diversamente, espalha-se por todo o Código. Desse modo, são práticas
abusivas a colocação no mercado de produto e serviço com alto grau de
nocividade ou periculosidade (art. 10), a comercialização de produtos e
serviços impróprios (arts. 18, § 6º e 20, § 2º)...” ... “Tampouco limitam-se
ao Código de Defesa do Consumidor. Como decorrência da norma do art.
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7º, caput, são também práticas abusivas outros comportamentos
empresariais que afetem o consumidor diretamente, mesmo que previstos
em legislação diversa do Código”3.
Compreendida nessa acepção ampla, que o Código de Defesa do
Consumidor consagrou, é, sem dúvida, abusiva a prática de colocar no mercado de
consumo produtos juridicamente inexistentes e inadequados aos fins a que se destinam. E
esses vícios, no caso em análise, são nítidos:
- os lotes só se constituem através do registro do loteamento, reputam-se
inexistentes sem essa formalidade4, configurando crime sua colocação no
mercado de consumo antes de cumprido aquele requisito (Lei n.º 6.766/79,
artigos 37 e 50, inciso I e parágrafo único, inciso I);
- a restrição registrária que recai sobre a gleba dividenda (falta de título de
domínio) impede a fruição dos lotes segundo as faculdades próprias dos
direitos reais (usar, gozar, dispor: artigo 524, Código Civil, artigo 674 do
Código Civil), frustrando, notadamente, a possibilidade de edificação de
moradia pelos consumidores, o que, em última análise, os inutiliza.
Para sanear o mercado e propiciar um equilíbrio de forças, o Código de
Defesa do Consumidor instituiu alguns princípios de ordem pública, que devem nortear as
relações de consumo. Um deles é o “princípio da proteção e da confiança”, em que se
inspira a garantia legal de adequação do produto às legítimas expectativas que o seu
fornecimento incute nos consumidores (cf. artigos 18, 24, 25 e 51, inciso I).
Trata-se de garantia imperativa e de resultado, inerente ao produto, que
impõe ao fornecedor a obrigação de entregá-lo ao consumo livre de defeitos e apto ao
funcionamento segundo os fins que dele razoavelmente se esperam.5
Por força dessa garantia, os fornecedores de produtos respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ou inadequados ao 3 Antônio Herman de Vasconcelos e Benjamin - Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos Autores do Anteprojeto; 1992, Forense Universitária, p. 218.4 Darcy Bessone - ob. cit e loc. cit5 Claudia Lima Marques - Contratos no código do consumidor: o novo regime das relações contratuais; 1992, RT, p. 199/202.
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consumo a que se destinam, reputando-se nula de pleno direito qualquer estipulação
contratual que impossibilite, exonere ou atenue essa responsabilidade legal (cf. artigos 24,
25 e 51, inciso I).
Em excelente monografia, Claudia Lima Marques explica o critério adotado,
a respeito, pelo código:
No sistema do CDC, da tradicional responsabilidade assente na culpa
passa-se à presunção legal desta e conclui-se com a imposição de uma
responsabilidade legal. O novo regime de vícios no CDC caracteriza-se
como um regime de responsabilidade legal do fornecedor, tanto daquele
que possui um vínculo contratual com o consumidor, quanto aquele cujo
vínculo contratual é apenas com a cadeia de fornecedores. (...)
Isto significa que ao fornecedor, no mercado de consumo, a lei impõe um
dever de qualidade dos produtos e serviços que presta. Descumprido
este dever surgirão efeitos contratuais (inadimplemento contratual ou
ônus de suportar os efeitos da garantia por vício) e extracontratuais
(obrigação de substituir o bem viciado, mesmo que não haja vínculo
contratual, de reparar os danos causados pelo produto ou serviço
defeituoso). (...)
Realmente, a responsabilidade do fornecedor em seus aspectos
contratuais e extracontratuais, presente na norma do CDC (arts. 12 a 27),
está objetivada, isto é, concentrada no produto ou no serviço prestado,
concentrada na existência de um defeito (falha na segurança) ou
existência de um vício (falha na adequação, na prestabilidade).
Observando a evolução do direito comparado há toda uma evidência de
que o legislador brasileiro inspirou-se na idéia de garantia de adequação
para o seu uso e, até mesmo, uma garantia referente à segurança que
deles se espera. Há efetivamente um novo dever de qualidade instituído
pelo sistema do CDC, um novo dever anexo à atividade dos
fornecedores.
Trata-se, como afirmamos anteriormente, de uma responsabilidade legal.
O dever anexo de qualidade, qualidade adequação, e seu reflexo, o vício Avenida das Nações, quadra 10, lote 04, St. Vera Cruz – CEP 74.908-970
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por inadequação do produto ou do serviço, substituem no sistema do
CDC, em largas melhoras, a noção de vício redibitório. (...)
Evitar tal vício na qualidade do produto é dever legal de rodos os
fornecedores da cadeia de produção, responsáveis pela introdução do
produto no mercado de consumo. A responsabilidade nasce com a
simples violação do dever legal, não sendo seu pressuposto a culpa do
fornecedor ou de seu preposto (negligência, imperícia, imprudência), não
importando, por isso, a ciência, o conhecimento ou não do vício pelo
fornecedor responsabilizando (art.23 do CDC).”6
Considerando que, no caso, não é possível sanar o vício que macula o
produto, nem se justifica o mero abatimento do preço, a reparação dos danos pode realizar-
se por dois modos alternativos. Em primeiro lugar, pela substituição do bem por outro de
mesma espécie, em perfeitas condições de uso. Por fim, pela restituição imediata da
quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo das perdas e danos individualmente
sofridos pelos consumidores (C.D.C., artigo 18, § 1º, incisos I e II).
De qualquer modo, ainda que seu comportamento ilícito não se enquadrasse
no largo conceito de “prática abusiva”, nem por isso os réus estariam isentos do dever de
reparação dos prejuízos a que deram causa.
Realmente, como a própria Lei n.º 8.078/90 cuidou de enfatizar, ela não é a
única fonte dos direitos do consumidor. Além dos que o Código prevê, muitos outros
existem, decorrentes da legislação ordinária, da analogia, dos costumes, da equidade e dos
princípios gerais do sistema normativo (artigo 7º).
Um desses direitos assenta-se no instituto da responsabilidade civil, segundo
o qual “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano” (Código Civil, artigo
159).
6 ob. cit., p. 182/191.Avenida das Nações, quadra 10, lote 04, St. Vera Cruz – CEP 74.908-970
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Por terem objeto ilícito - alienação de lotes sem prévio registro do
loteamento - os contratos que os réus celebraram com os consumidores são nulos (Código
Civil, artigo 82, c.c. o artigo 145, inciso II).
Aliás, não se trata, no caso, de um ilícito qualquer, pois, por esse modo
reprovável e atingindo o patrimônio de terceiros de boa fé, praticaram os réus um delito
(Lei n.º 6.766/79, artigo 50, inciso I e parágrafo único, inciso I).
Bem se vê que, não bastassem, para o mesmo efeito, os mesmos
fundamentos, de que já se cuidou, há, ainda, uma causa específica, da qual deriva a
responsabilidade solidária de todos eles pela reparação dos prejuízos que provocaram, em
concurso, aos consumidores (Código Civil, artigo 159, c.c. o artigo 1.518, caput e
parágrafo único).
Posta a questão sob o prisma da tipicidade penal, é claro que todos os
agentes desses delitos estão pessoalmente obrigados à composição dos danos que deles
advieram, precisamente porque os praticaram. Além disso, fica evidente também a
responsabilidade dos réus (2 a 9), uma vez que sucederam a Construtora Gutemberg, bem
como e principalmente, da omissão do Município, que permitiu, por negligência, a
implantação do loteamento.
Nem seria razoável dispensar os fornecedores da reparação dos danos,
quando é certo que, embora tenham auferido parcelas do preço, estão impedidos de
cumprir a contraprestação a que se obrigaram. Houve, em verdade, típico enriquecimento
sem causa, a justificar correta indenização.
2.2. DA RESPONSABILIDADE DOS PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL
Ainda que os réus, proprietários do imóvel onde se situam os loteamentos
em cometo não terem sido os agentes loteadores, nem os loteadores, é inquestionável a
responsabilidade dos mesmos para a promoção da regularização dos loteamentos. Há
instalada uma situação de fato, que não pode ser apagada, pois somente agora, tais pessoas
readquiriram a dominialidade do imóvel. Não é possível querer auferir somente lucro de
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uma herança que veio cheia de sérios problemas a serem resolvidos. Não se pode pretender
que oito pessoas, herdeiras de imóveis, com boas condições financeiras, venham a
desalojar cerca de 1000 famílias ou dessas receber indenizações, por ação de terceiros
(Município, loteadores e agentes loteadores), que lhes prejudicaram.
Somente os proprietários do imóvel podem promover a regularização dos
loteamentos. Se o município o fizer, o meio a ser usado será a desapropriação, para fins
urbanísticos.
“O direito de propriedade, como todo e qualquer outro, é um direito relativo e
condicionado, sofrendo restrições ou limitações quer por motivos de interesse
público, quer em atenção a interesses privados, quer em relação aos direitos de
vizinhança, indispensáveis umas e outras à realização do bem comum.
Se conferisse ao proprietário, ao titular do domínio, um poder desmedido e
tirânico, de avassalador absolutismo, o próprio direito acabaria por parecer,
destruído, devorado por suas exorbitâncias” (Martinho Garcez Neto – Prática de
Responsabilidade Civil, 4ª ed. Saraiva, parágrafo 154).
A Carta Magna de 1988 transformou substancialmente o conceito de
propriedade privada, abstraindo-o de seu antiquado sentido individualista. Ensina o mestre
José Afonso da Silva que “a função social se manifesta na própria configuração
estrutural do direito de propriedade, pondo-se concretamente como elemento qualificante
na predeterminação dos modos de aquisição, gozo e utilização dos bens” (José Afonso da
Silva – Curso de Direito Constitucional Positivo, 6ª ed. RT, p. 251).
O direito de propriedade sequer pode ser tido atualmente como direito
individual, tendo sua natureza modificada e consistindo, na nova sistemática, em instituto
de direito econômico (José Afonso da Silva – ob. e loc. cit).
A respeito da responsabilidade civil do proprietário, pontifica Carvalho
Santos: “a pessoa responsável não poderá alegar, com pouco proveito, que o vício não lhe
é imputável, nem que o ignorava, nem tampouco que não houve imprudência de sua parte,
nem muito menos que estava de boa fé, tendo adquirido o imóvel há muitos anos, nem
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afinal, que a vítima não ignorava o estado das coisas. Somente ficará exonerada da
responsabilidade, em suma, se provar um caso de força maior, como um terremoto, uma
inundação, etc.” ... “o proprietário da coisa, animada ou inanimada, em matéria de
responsabilidade civil, responde pelos prejuízos causados pela mesma coisa, quer haja
culpa, quer não, e essa obrigação só tem o limite da força maior e do caso fortuito (citado
em Martinho Garcez neto – Prática de Responsabilidade Civil, 4ª ed. Saraiva, pag. 152).
Conforme os ensinamentos de Maria Helena Diniz, há uma
responsabilidade presumida do guarda da coisa inanimada por prejuízo causado a
terceiros, com reversão do ônus da prova” ... “guarda da coisa inanimada é, em regra, o
seu proprietário; assim haverá contra ele uma presunção de responsabilidade pelos danos
que a coisa causar a terceiros, só podendo exonerar-se dessa responsabilidade se
demonstrar culpa exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior, pois desaparecerá o
nexo da causalidade entre o fato da coisa e o dano causado” (Maria Helena Diniz – Curso
de Direito Civil Brasileiro, v. 7, 6ª ed. 1992, Saraiva, pág. 378).
Não se deve descurar da culpa de pessoas responsáveis pelos loteamentos
clandestinos, quando seus executores diretos, principalmente em se tratando do
proprietário do terreno em que aqueles foram implantados. Os atuais proprietários do
imóvel – réus na presente ação devem procurar os seus interesses patrimoniais, contra
quem de direito e não em relação aos ocupantes dos bairros em discussão.
Ainda nas lições das autora acima citada, a respeito do fundamento e
importância da observância da responsabilidade civil e reparação de danos causados,
“grande é a importância da responsabilidade civil, nos tempos atuais, por se dirigir à
restauração de um equilíbrio moral e patrimonial desfeito e à redistribuição da riqueza de
conformidade com os ditames da justiça, tutelando a pertinência de um bem, com todas as
suas utilidades, presentes e futuras, a um sujeito determinado, pois como pondera José
Antônio Nogueira, o problema da responsabilidade é o próprio problema do direito, visto
que todo o direito assenta na idéia de ação, seguida da reação, de restabelecimento de
uma harmonia quebrada”. O interesse em restabelecer o equilíbrio violado pelo dano é
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fonte geradora da responsabilidade civil” (Maria Helena Diniz – Curso de Direito
Brasileiro, v. 7, 6ª ed., 1992, Saraiva, pág. 5).
2.3. DA RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO
O controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano constitui
encargo, por excelência, do MUNICÍPIO (Constituição Federal, art. 30, VIII).
Por outro lado, constata-se que em matéria urbanística e, particularmente,
quanto a habitações, a Municipalidade dispõe de amplíssimos poderes para controle e
fiscalização, inclusive o de aplicar direta e imediatamente as sanções adequadas, sem
necessidade de mandado judicial, o que lhe permite prevenir comportamentos lesivos de
particulares ou, quando menos, atenuar os seus efeitos (Cf. HELY LOPES MEIRELLES,
Direito Administrativo Brasileiro, 17ª ed., Malheiros Editores, São Paulo, 1992, pp. 123,
129, 144-145).
O poder-dever de regularizar desmembramentos clandestinos e irregulares
mostra-se mais evidente ao se cotejar a legislação acima com o texto da Lei Federal
6.766/79, que disciplina o parcelamento do solo urbano, especialmente seu art. 40, o qual,
embora possa sugerir uma faculdade ao Município, encerra numa interpretação finalístico-
sistemática -- determinação urbanística e preocupação social, pois a Lei Lehmann
pretendeu abolir as urbanizações irregulares, para proteger os legítimos interesses, não
só da coletividade urbana, mas também dos adquirentes de lotes.
O dever de reparação do Estado (lato sensu), pelos danos que provoca,
funda-se na responsabilidade objetiva (Constituição Federal art. 37, § 6º), segundo a qual é
bastante a constatação da atividade do ente político (omissiva ou comissiva), do dano
provocado ao particular e do nexo de causalidade para configurar a obrigação
indenizatória.
Ainda que se adote a responsabilidade subjetiva, a culpa da Administração
no exercício de suas funções apresenta-se nos casos em que o serviço público, por falha na
sua organização, não funciona, funciona mal ou funciona tardiamente (MARTINHO
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GARCEZ NETO, Prática da Responsabilidade Civil, Ed. Jurídica e Universitária Ltda.,
Rio de Janeiro, 1970, p. 157; CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, Ato
administrativo e direito dos administrados, Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 1981,
pp. 133 e 144-145).
Ocorrendo qualquer dessas modalidades, há um descumprimento da lei, por
culpa presumida do Poder Público, que fica sujeito a ressarcir os danos conseqüentes dessa
falta (OSWALDO ARANHA BANDEIRA DE MELLO, Princípios gerais de direito
administrativo, Forense, vol. II, pp. 482-483; RUI STOCO, Responsabilidade civil do
Estado por obras que realiza, em RT 689/116-118).
A responsabilidade do Estado se evidencia quando, existindo, em tese, seu
dever de atuar, ocorre, no caso concreto, uma falha, ainda que presumida, na execução das
atividades normais, que impediriam a produção do dano ou diminuiriam seus efeitos. Se a
Administração podia e devia atuar, mas permaneceu inerte e o resultado se verificou,
animado ou auxiliado pela indiferença ou ineficiência da máquina administrativa, entende-
se que esse procedimento do Poder Público foi a causa do dano (YUSSEF SAID CAHALI,
Responsabilidade Civil do Estado, Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 1982, pp.
161-171).
No caso concreto, o MUNICÍPIO descumpriu dever legal, claramente
imposto, de controle do uso, ocupação e parcelamento do solo, não adotando as medidas
aptas a prevenir ou atenuar suas repercussões danosas, especialmente as relativas à defesa
da saúde, do meio ambiente e posturas urba nísticas (interesses di fusos) e dos legítimos
interesses dos adquirentes de lotes. Dele era exigível uma conduta diversa, mais eficiente,
que estava habilitado a prestar. Exatamente por isso, deve reparar os danos resultantes de
seu comportamento, seja este encarado sob o prisma da responsabilidade ob jetiva ou, mais
restritamente, nos limites demarcados para a falta impessoal do ser viço .
Embora o exame da culpa seja dispensável, não há dúvida de que, na
espécie, o evento danoso se deve à negligência da Administração Pública. Houve desídia
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na fiscalização do uso do solo e a omissão de qualquer providência oportuna que impedisse
a implantação dos parcelamentos do solo clandestinos.
3. DA NECESSIDADE DA LIMINAR
Além do poder geral cautelar que a lei processual lhe confere (Código de
Processo Civil, arts. 798 e 799), agora o Código de Defesa do Consumidor, dispensando
pedido do autor e excepcionando assim, o princípio dispositivo, autoriza o Magistrado a
antecipar o provimento final, liminarmente, e a determinar de imediato medidas
satisfativas ou que assegurem o resultado prático da obrigação a ser cumprida (artigo 84).
Essa regra é aplicável a qualquer ação civil pública que tenha por objeto a
defesa de interesse difuso, coletivo ou individual homogêneo (artigo 21, da Lei de Ação
Civil Pública, com redação dada pelo artigo 117, do Código de Defesa do Consumidor).
No presente caso, é imperiosa a concessão de medida liminar com esse
conteúdo inovador, para se evitar que a ordem urbanística seja restaurada, bem como a
ordem pública, pois as ameaças de desocupação do Loteamento Serra das Brisas e Belo
Horizonte, feitas pelos réus – atuais proprietários do imóvel onde esses loteamentos estão
assentados, está causando um grande prejuízo, para todos, constituindo-se um problema
social de grandes proporções. Não se pode coadunar com a conduta dos referidos réus, em
agir, como se nada tivessem a haver com o problema e simplesmente pretender exercer, de
forma tranqüila o pleno exercício do direito de propriedade, como se cerca de 1000
famílias não estivessem no local, com títulos quitados nas mãos e de boa-fé, em razão
legalidade a eles conferida, pela omissão de duas décadas do poder público municipal.
Os ânimos começam a se exaltar no SERRA DAS BRISAS e NOVO
HORIZONTE onde tivemos notícia de uma pessoa ter sido baleada no local em razão das
ameaças que os réus tem feito aos moradores desses bairros para desocupação. As pessoas
estão extremamente nervosas e preocupadas em perder suas moradias e seu patrimônio.
Elas pagaram pelos seus lotes e agora não entendem como é possível perderem o que de
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boa-fé e bastante esforço adquiriram ao longo dos anos de trabalho. É preciso ações
urgentes, para se evitar que a situação não chegue ao desespero e problemas maiores
possam advir.
Tais moradores não podem ficar à mercê de ameaças de desocupação,
mesmo porque não são réus em ações de reitegração de posse.
A ação de reintegração de posse tem por objeto a
Estão perfeitamente caracterizados os seus pressupostos, consistentes no
fumus boni iuris e periculum in mora.
A plausibilidade do direito, caracterizando a presença do primeiro requisito,
assenta-se no expresso texto legal, contrário à execução de loteamentos sem autorização
dos órgãos públicos e à realização de alienações, promessas de venda ou reservas de lotes
antes de seu registro.
Por outro lado, não é razoável exigir-se que a comunidade e os adquirentes
dos lotes fiquem expostos, até o provimento jurisdicional definitivo, aos efeitos deletérios
já mencionados, dos quais decorrem sérios riscos quanto aos resultados úteis da presente
demanda.
Com efeito, se prosseguirem os atos de fragmentação do solo, com abertura
de vias de circulação, e outros (como serviços de terraplanagem, demarcação, etc.), e se
não houver ampla divulgação da ilegalidade do loteamento, a recomposição do estado
primitivo da gleba e a indenização dos danos urbanísticos serão cada vez mais de difícil
reparação, com previsível comprometimento do padrão de desenvolvimento urbano.
Ademais, tendo havido diversas promessas de venda, já se sabe que
inúmeros promitentes-compradores, não avisados sobre a impossibilidade de fazê-lo,
edificaram nas unidades integrantes dos loteamentos clandestinos, criando uma situação
social praticamente irreversível, causada pela desordenada ocupação, por centenas de
famílias, a qual tende a se agravar progressivamente, se o comércio ilegal de lotes pelos
agentes loteadores não for contido.
De resto, os adquirentes dos lotes, pessoas humildes, pobres e incautas,
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certamente não terão recursos para discutirem, individualmente, a validade de seus
contratos, bem como para pleitearem a reparação dos danos que os réus causaram.
Cumpre relembrar também os estragos ambientais que a indevida ocupação
da área, patrocinada pelos loteadores, vem provocando com a invasão de áreas verdes, de
preservação, a supressão de vegetação primitiva, bem como a presença de esgotos a céu
aberto e lixo depositado nas proximidades das residências.
Diante do exposto, sem prejuízo das penas do crime de desobediência
(artigo 330, do Código Penal) e sob cominação de multa, sujeita a correção monetária e
estimada, nesta data, em R$ 2.000,00 (dois mil reais) e devida por qualquer ato praticado
em desacordo à ordem judicial, REQUER-SE a concessão de MEDIDA LIMINAR,
inaudita altera pars e sem justificação prévia, para determinar, que seja permitido aos
moradores do Setor Serra das Brisas permanecer em seus imóveis, até que haja a sentença
de mérito da presente ação civil pública.
Requer-se ainda, seja determinado:
•Aos réus enumerados nos itens 2 a 9, sucessores da loteadora
Construtora Gutemberg Ltda.:
1. obrigação de fazer , consistente em
• colocar aviso (por placa ou faixa, com medidas mínimas de 2x2 m), no
prazo de 15 (quinze) dias, na entrada do imóvel parcelado e de modo
bem visível aos transeuntes, informando que o Loteamento SERRA
DAS BRISAS é clandestino, estando judicialmente proibida a compra e
venda de lotes;
2. obrigação de não fazer , por se tratar de loteamento sem a devida
regularização junto aos órgãos competentes, consistentes em se abster
de:
• realizar vendas, promessas de vendas, transferências, reservas ou
quaisquer outros negócios jurídicos que manifestem intenção de vender
ou renegociar lotes do SETOR SERRA DAS BRISAS, sob pena de
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pagamento de multa diária de R$ 2.000,00 por contrato ou negócio
jurídico efetivado;
• receber prestações, vencidas e vincendas, previstas nos contratos
celebrados relativos aos lotes do SERRA DAS BRISAS ou renegociar o
preço dos imóveis nesse loteamento, sob pena de pagamento de multa de
R$ 2.000,00 por negócio realizado.
IV – DOS PEDIDOS
Por estas razões, pede-se a PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS para
CONDENAR
a) os réus enumerados nos itens 2 a 9 da exordial:
•na obrigação de fazer consistente em providenciar as medidas legais
para a regularização do LOTEAMENTO SERRA DAS BRISAS, junto ao
poder público municipal e demais órgãos públicos, até o final registro do
Cartório Imobiliário, no prazo fixado de 180 (cento e oitenta) dias;
3. na obrigação de não fazer consistente em se abster de:
• receber prestações, vencidas e vincendas, previstas nos contratos
celebrados relativos aos lotes do SERRA DAS BRISAS ou renegociar o
preço dos imóveis nesse loteamento, sob pena de pagamento de multa de
R$ 2.000,00 por negócio realizado;
•consistente em não executar judicialmente nenhum proprietário de imóvel
no Setor SERRA DAS BRISAS, que esteja nessa condição até à propositura
da presente ação,
• Ao pagamento de multa diária de R$ 2.000,00, devida somente se, ao
término do prazo fixado na sentença, houver o descumprimento da
obrigação de fazer pretendida, quantia sujeita a correção monetária,
pelos índices oficiais, desde a distribuição da petição inicial até o efetivo
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adimplemento, destinada a recolhimento ao Fundo Municipal de Meio
Ambiente (Prefeitura Municipal de Aparecida de Goiânia –
CODEMAP).
b) ao réu Município
• Na obrigação de fazer, consistente em:
1. cadastrar os cidadãos e as famílias que tiverem adquirido “lotes” nas áreas públicas,
do loteamento SERRA DAS BRISAS, que serão definidas no memorial descritivo e
planta, após feito o registro Imobiliário desse parcelamento urbano, no prazo de 60
(sessenta) dias;
2. adquirir outros imóveis (equivalentes em dimensões e valor de mercado) no
município, regulares e em perfeitas condições de uso urbano, e fazer a doação aos
cidadãos e famílias cadastradas, ou, restituir as quantias pagas , com atualização
monetária, e indenizar as perdas e danos sofridos pelos consumidores. O prazo, para
cumprimento dessa obrigação deverá ser de dois anos, pois os gastos, para realização
da mesma, deverão constar, previamente, da Lei de Diretrizes Orçamentárias, uma vez
que envolve despesas para os cofres públicos;
3. restaurar o estado primitivo da área , retirando do local todos os vestígios do
parcelamento, notadamente de quadras, lotes e vias de circulação, reparando o dano
ambiental causado. O prazo, para cumprimento dessa obrigação deverá ser de dois
anos, pois os gastos, para realização da mesma, deverão constar, previamente, da Lei
de Diretrizes Orçamentárias, uma vez que envolve despesas para os cofres públicos;
4. implantar os equipamentos públicos, conforme a destinação de uso comum dada a
cada área pública. O prazo, para cumprimento dessa obrigação deverá ser de dois anos,
pois os gastos, para realização da mesma, deverão constar, previamente, da Lei de
Diretrizes Orçamentárias, uma vez que envolve despesas para os cofres públicos;
• condenar, ainda, ao pagamento de multa diária de R$ 2.000,00 devida
somente, se ao término do prazo fixado na sentença, houver o
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descumprimento das obrigações de fazer pretendidas, quantia sujeita à
correção monetária, pelos índices oficiais, desde a distribuição da
petição inicial até o efetivo adimplemento, destinada a recolhimento ao
Fundo Municipal do Meio Ambiente;
Requer-se ainda:
- a concessão initio litis, inaudita altera pars, da medida liminar, na forma
pleiteada;
- a citação dos réus, com a faculdade do artigo 172, § 2º, do Código de
Processo Civil, para resposta no prazo legal, advertindo-os de que, não contestada a ação,
ficarão sujeitos aos efeitos da revelia;
- a publicação do edital de que trata o artigo 94 do Código de Defesa do
Consumidor, a fim de que tenham os adquirentes de lotes conhecimento desta ação, para
que, se quiserem, participem do processo;
- a produção de todas as provas admitidas em direito, notadamente
documentos, oitiva de testemunhas, realização de perícias e inspeções judiciais;
- a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, desde
logo, à vista do disposto no artigo 18 da Lei n.º 7.347/85 e no artigo 87, do Código de
Defesa do Consumidor;
- a realização de suas intimações dos atos e termos processuais, na forma do
artigo 236, § 2º, do Código de Processo Civil;
Embora seja, a rigor, inestimável, dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00
(dez mil reais), em atenção ao disposto no artigo 258 do C.P.C.
Aparecida de Goiânia, 05 de julho de 2006.
Miryam Belle Moraes da Silva
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