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Rua Batataes, 460 8º andar Jardim Paulista 01423 010 São Paulo SP Fone 55 11 3050 5050 / Fax 55 11 3050 5051 [email protected] 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO RELATOR GUILHERME AUGUSTO CAPUTO BASTOS, DA SUBSEÇÃO II DA SEÇÃO ESPECIALIZADA EM DISSÍDIOS INDIVIDUAIS DO COLENDO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO Processo nº 0003981-95.2012.5.00.0000 SÃO PAULO FUTEBOL CLUBE (“SPFC” ou “Agravante”), entidade de prática desportiva com sede na Praça Roberto Gomes Pedrosa, nº 01, São Paulo/SP, CEP 05653-070, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 60.517.984/0001-04, por seus advogados (doc. 01 anexo), nos autos do Habeas Corpus impetrado por VICTOR RUSSOMANO JÚNIOR + 2 (“Impetrantes” ou “Agravados”) contra decisão da 16ª TURMA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO (“Autoridade Coatora”), no qual é paciente OSCAR DOS SANTOS E. JÚNIOR (“Paciente” ou “Atleta”), vem, respeitosamente, à presença de V. Exa., com fundamento no artigo 235, IX, do Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho, opor tempestivamente o presente AGRAVO REGIMENTAL em face da r. decisão liminar constante do documento eletrônico n.º 03 dos autos digitais, pelos fundamentos de fato e de direito a seguir expostos.

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO RELATOR GUILHERME

AUGUSTO CAPUTO BASTOS, DA SUBSEÇÃO II DA SEÇÃO ESPECIALIZADA EM

DISSÍDIOS INDIVIDUAIS DO COLENDO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

Processo nº 0003981-95.2012.5.00.0000

SÃO PAULO FUTEBOL CLUBE (“SPFC” ou “Agravante”),

entidade de prática desportiva com sede na Praça Roberto Gomes Pedrosa, nº 01, São Paulo/SP,

CEP 05653-070, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 60.517.984/0001-04, por seus advogados (doc. 01

anexo), nos autos do Habeas Corpus impetrado por VICTOR RUSSOMANO JÚNIOR + 2

(“Impetrantes” ou “Agravados”) contra decisão da 16ª TURMA DO TRIBUNAL

REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO (“Autoridade Coatora”), no qual é paciente

OSCAR DOS SANTOS E. JÚNIOR (“Paciente” ou “Atleta”), vem, respeitosamente, à

presença de V. Exa., com fundamento no artigo 235, IX, do Regimento Interno do Tribunal

Superior do Trabalho, opor tempestivamente o presente AGRAVO REGIMENTAL em face da r.

decisão liminar constante do documento eletrônico n.º 03 dos autos digitais, pelos fundamentos de

fato e de direito a seguir expostos.

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I. DA LEGITIMIDADE DO AGRAVANTE PARA

ATUAR NO PROCESSO

Em primeiro lugar, cabe dizer que o Agravante, ainda que não conste

como parte formal no processo, está tendo sua esfera de direitos prejudicada em razão da r. decisão

agravada, a qual está inviabilizando que o SPFC exerça os direitos decorrentes de um contrato de

trabalho considerado válido pela C. 16ª Turma do E. TRT da 2ª Região, em acórdão prolatado nos

autos do processo nº 0277000-78.2009.5.02.0040, conforme fato reconhecido nos autos.

A dita Autoridade Coatora proferiu acórdão na reclamação

trabalhista ajuizada pelo Paciente em face do Agravante, onde declarou a inexistência de motivo que

ensejasse a rescisão indireta do contrato de trabalho entre Atleta e SPFC. Após a oposição de

embargos de declaração por ambas as partes do processo, a Autoridade Coatora esclareceu os efeitos

da decisão e determinou envio de ofício que expressamente restabeleceu o liame empregatício entre

Atleta e SPFC, junto às entidades competentes.

O ato apontado pelos Impetrantes como coator, a determinação do

restabelecimento do vínculo desportivo entre Agravante e Paciente, gerou – ou melhor, devolveu –

ao SPFC a faculdade de exigir do Atleta o cumprimento de suas obrigações contratuais, sob a pena

da lei. Porém, a r. decisão agravada, que autorizou o Atleta firmar contrato de trabalho com qualquer

outro empregador, ao arrepio do acórdão do E. Regional, na prática inviabiliza o uso daquela

faculdade pelo SPFC, restringindo gravemente sua esfera de direitos.

A doutrina é clara ao admitir a intervenção de terceiros no processo

do trabalho, desde que haja interesse jurídico daquele que não é parte na ação, nas hipóteses legais.

O interesse jurídico é definido pela doutrina como a possibilidade de o processo no qual o terceiro

pretende atuar, ao final, afetar a esfera de direitos e obrigações desse terceiro. Diz Carlos Henrique

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Bezerra Leite: “Dá-se o interesse jurídico quando há uma relação jurídica material entre o terceiro e a(s) parte(s)

que figura(m) no processo” 1.

Nestes autos, é evidente o interesse jurídico do Agravante, o qual tem

uma relação jurídica com o Paciente – contrato de trabalho declarado judicialmente como válido e

eficaz –, cujos direitos e obrigações, em especial aqueles decorrentes do vínculo desportivo, não

podem ser exercidos ou exigidos, pois a r. decisão agravada permitiu que o Atleta ignorasse essa

relação e passasse a entregar sua força de trabalho a outro empregador, sem se submeter às

conseqüências legais e contratuais livremente pactuadas. Há relação jurídica material entre o

Agravante-terceiro e uma das partes do processo, o Paciente, que já está sendo afetada, em razão da

r. decisão agravada.

Além do interesse jurídico, há previsão legal para que o SPFC atue no

processo, pois se configura claramente seu interesse jurídico de que o ato da autoridade dita coatora

seja mantido, pois respeita todas as disposições legais pertinentes ao contrato de trabalho entre

Agravante e Paciente, além de resguardar um direito legítimo do SPFC. O Agravante quer que o

pedido dos Agravados em favor do paciente seja indeferido, ou seja, que o habeas corpus seja

denegado, e apresentará nesta peça os argumentos pelos quais a decisão da 16ª Turma do TRT da 2ª

Região não fere o direito de ir e vir do Atleta e, por isso, deverá ser mantida integralmente enquanto

se aguarda o regular processamento dos Embargos de Declaração pendentes de julgamento naquelas

autos.

Portanto, estando presentes os requisitos legais, o Agravante deve ser

admitido como assistente litisconsorcial (art. 54 do CPC), sendo-lhe garantidas todas as faculdades

processuais dadas às partes do processo pelas normas aplicáveis, como, por exemplo, este agravo

regimental.

II. DO CABIMENTO DO AGRAVO REGIMENTAL

1 Carlos Henrique Bezerra LEITE, Curso de Direito Processual do Trabalho, 8ª ed., São Paulo, Saraiva, 2010, p. 421.

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Conforme exposto acima, sendo assistente litisconsorcial da

Autoridade Coatora, o SPFC assume a condição de parte do processo. Logo, tem legitimidade para

interpor o presente agravo contra a r. decisão agravada (documento eletrônico n.º 03 dos autos

digitais), pois ocorreu a hipótese prevista no inciso IX do art. 235, do Regimento Interno do TST,

abaixo transcrito:

Art. 235. Cabe agravo regimental, no prazo de oito dias, para o Órgão

Especial, Seções Especializadas e Turmas, observada a competência dos

respectivos órgãos, nas seguintes hipóteses:

(...)

IX - do despacho ou da decisão do Presidente do Tribunal, de Presidente

de Turma, do Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho ou Relator que

causar prejuízo ao direito da parte, ressalvados aqueles contra os quais

haja recursos próprios previstos na legislação ou neste Regimento. (g. n.)

A r. decisão agravada foi prolatada pelo Ministro Relator do caso, em

sede de liminar. É uma decisão interlocutória, contra a qual, no Processo do Trabalho, não cabe

qualquer recurso próprio previsto em lei ou no RITST, e que prejudica direito de terceiro que atua

no processo como assistente litisconsorcial. Trata-se de situação de fato que se subsume

inteiramente à hipótese do supracitado art. 235, IX, sendo, por isso, perfeitamente cabível o agravo

regimental ora interposto.

III. DO PREENCHIMENTO DOS PRESSUPOSTOS DE

CABIMENTO

Cumpre ressaltar que os pressupostos de cabimento do presente

agravo estão presentes. O Agravante está regularmente representado, conforme procuração anexa.

O agravo é tempestivo, pois a r. decisão agravada foi proferida e já começou a gerar efeitos no dia

26.04.2012, quinta-feira, iniciando-se a contagem do prazo para agravar de 08 (oito) dias (art. 235 do

RITST) em 27.04.2012, sexta-feira, e encerrando-se em 04.05.2012, também sexta-feira. Por fim,

desnecessário o preparo, por não haver qualquer determinação ou previsão legal nesse sentido.

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IV. DA NECESSIDADE DE INDEFERIMENTO DA

PETIÇÃO INICIAL POR DEFICIÊNCIA NA

FORMAÇÃO DO PROCESSO

Os Impetrantes juntaram à petição inicial mais de 300 (trezentas)

folhas com documentos a partir da extração de cópias dos autos da ação principal em trâmite

perante a 16ª Turma do TRT da 2ª Região e de medidas incidentais aqueles autos (documento

eletrônico n.º 01 – págs. 49/217, 225/262 e 283/335).

Da análise dos autos, percebe-se que todas as cópias de peças

processuais juntadas pelo Requerente foram retiradas somente do anverso (parte da frente), ou seja,

não há cópia de nenhum verso das folhas dos autos trazidos para instruir o habeas corpus.

No entanto, algumas das peças processuais essenciais para a análise do remédio, em especial, os v.

acórdãos recorridos que julgaram o Recurso Ordinário do Agravante e os Embargos de Declaração

de ambas as partes apresentava conteúdo tanto na frente como verso, pelo que se conclui que houve

juntada de forma incompleta na petição inicial, ou seja, O ATO DITO COATOR NÃO ESTÁ

NOS AUTOS!!

O equívoco dos Impetrantes é notório, dada a incongruência entre o

fim da folha 765 do acórdão juntado e a folha 766 seguinte (documento eletrônico n.º 01 – pág.

319/321):

“E em não se reconhecendo o ato culposo por parte do empregador, não

há que se tratar da alegada falta de imediatidade, a qual estaria adstrita

àquele ato. Rejeito.

EMBARGOS DO RECLAMANTE

(fim da página 319)

(...)

(página 320, em branco)

(..)

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(início da página 321)

“Isto posto, ACORDAM os Magistrados da 16ª Turma do Tribunal

Regional do Trabalho da 2ª Região em conhecer e acolher parcialmente

os dois embargos opostos para, sanando a omissão apontada, declarar o

restabelecimento do vínculo desportivo entre o autor e o reclamado

(SPFC) (...)”

Percebe-se que a cópia do acórdão regional juntada pelo Requerente

está incompleta, pois quando se iniciaria a análise dos embargos de declaração opostos pelo Atleta,

no fim de uma folha, na seguinte já se passou ao dispositivo da decisão – o qual faz referência aos

dois embargos opostos –, sendo evidente a falta do verso da folha do acórdão, que foi juntado em

branco mas cujo conteúdo certamente é importante para o deslinde da demanda. Vê-se que os

Impetrantes sonegaram a este Juízo, não se sabe por quê, o verso do acórdão recorrido, que

constituiria material imprescindível para o julgamento da ação.

Diga-se, de passagem, que o mesmo equívoco ocorreu com relação à

juntada do primeiro acórdão regional, que julgou o Recurso Ordinário do Requerido, constante do

documento eletrônico n.º 03, págs. 193/195, conforme seguinte trecho:

“Sustenta o Reclamado em suas razões de recurso, a validade do distrato

e do novo contrato celebrado, a ausência de prejuízos ao

(fim da página 193)

(...)

(página 194, em branco)

(..)

(início da página 195)

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“anos, de setembro de 2007 a setembro de 2010, com salários de R$

7.500,00 no primeiro ano, R$ 8.500,00 no segundo, e R$ 9.500,00 no

terceiro.”

A incongruência seqüencial dos documentos juntados pelos

Impetrantes é gritante e impossibilita a devida apreciação do conteúdo dos autos principais,

impedindo sequer o conhecimento da ação.

Ora, como poderá esta Subseção julgar um ato dito coator

quando o mesmo não está nos autos? Sem cópia do ato, é impossível até mesmo delimitar a

competência do TST para julgar o habeas corpus ou ainda o próprio cabimento desse

remédio, pois não se pode ter a real dimensão da suposta coação sofrida pelo Paciente.

Nesse sentido, com todo o respeito que merece este Tribunal, causa

enorme espécie que tenha sido concedida a liminar pleiteada pelos Impetrantes quando a decisão

que supostamente tolheu o direito de liberdade de trabalho e de ir e vir do Paciente NÃO

CONSTA DOS AUTOS! Não se pode aceitar que a decisão liminar, bastante profunda nas

questões do cabimento e que faz referência expressa às decisões impugnadas e aos seus efeitos, seja

concedida sem cópia das mesmas decisões. Trata-se de questão absolutamente incompreensível

para o Agravante, que espera se digne esta Subseção Especializada a corrigir para evitar graves danos

à legislação processual vigente.

A juntada dos documentos essenciais à propositura da ação é

obrigação dos Impetrantes, de acordo com o art. 283 do CPC. No caso, os acórdãos que

julgaram o recurso ordinário e os embargos de declaração constituem documentos essenciais para

apreciar o habeas corpus, pois só pode ser atacado o ato dito coator caso este Juízo tenha pleno

conhecimento do que foi decidido pelo Tribunal a quo e possa avaliar a real existência de ameaça ao

direito de ir e vir do Paciente, o que é impossível com os documentos incompletos que os

Impetrantes apresentaram.

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A petição inicial não cumpre o requisito primário previsto no artigo

283 do CPC, abaixo transcrito:

Art. 283. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à

propositura da ação.

Por esse descumprimento, em vez da concessão a liminar, deveria ter

sido aplicada a sanção prevista na lei, qual seja, o indeferimento da petição inicial, nos termos do

parágrafo único do art. 284 do CPC, e também do art. 295, VI, do CPC.

Portanto, considerando que o Requerente não juntou corretamente

documento essencial para a propositura da ação quando da sua distribuição, deve ser indeferida a

petição inicial, conforme art. 284, § único, e 295, VI, ambos do CPC, sendo conseqüentemente

extinto o processo sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, I, também do CPC, motivos

pelos quais a r. decisão agravada não subsiste e deverá ser reformada.

V. DA NULIDADE DOS ATOS PRATICADOS APÓS A

CONCESSÃO DA LIMINAR

Como se não bastasse o defeito na formação do processo, o

Agravante teve notícia que estão sendo praticados, FORA DOS AUTOS, atos em favor do

paciente, o que constitui gravíssima inconstitucionalidade, um enorme desrespeito às normas que

garantem a democracia deste país – e as provas são inequívocas.

Conforme já sabido, foi proferida decisão concedendo liminarmente

o habeas corpus em favor do Paciente (documento eletrônico n.º 03). Imediatamente, entre as 23h30

do dia 26.04.2012 e as 11h12 do dia 27.04.2012, foram enviados diversos ofícios encaminhando a

referida decisão: ao Presidente do TRT da 2ª Região, à 16ª Turma do mesmo Tribunal, à

Confederação Brasileira de Futebol (CBF), à Federação Paulista de Futebol (FPF), à Federação

Gaúcha de Futebol (FGF) e ao Paciente (documentos eletrônicos n.º 04 a 09 e 11) – seja para

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meramente dar ciência da decisão, seja para pedir informações, ou para que fossem praticados atos

decorrentes da decisão.

O que não é sabido por nenhum cidadão que acesse os autos,

eletronicamente públicos, é o que ocorreu depois. Muito embora, até a presente data, após o envio

daqueles ofícios, constarem dos autos apenas atos ordinatórios e duas petições dos Impetrantes,

vários outros atos foram praticados pelo Exmo. Ministro Relator, aos quais não foi dada a mínima

publicidade. E isso o Agravante somente soube após ter sido notificado pela Confederação Brasileira

de Futebol por via de ofício (doc. 02 anexo), enviado através da Federação Paulista de Futebol em

02.05.2012, cujo objetivo é “dar ciência ao São Paulo Futebol Clube, do anexo Ofício nº 274/2012, de 2 do

corrente mês, dirigido ao Excelentíssimo Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos, relativamente ao Processo nº

TST-hc – 3981-95.2012.2.5.00.000, envolvendo o atleta Oscar dos Santos Emboaba Júnior”.

Como a CBF havia sido oficiada da decisão liminar proferida nestes

autos, até esse momento não havia nada de anormal, porém o citado Ofício n.º 274/2012, enviado a

este C. TST, fez referências a atos praticados à socapa, que jamais foram colocados nos autos.

Transcrevemos os principais trechos que demonstram isso:

“Damos em nosso poder o Ofício n.º 203/SESDI2, datado do dia 26 de

abril último, pelo qual é encaminhada a esta Entidade cópia da r.

decisão proferida por Vossa Excelência, no processo nº TST-HC-3981-

95.2012.2.5.00.000 (...)

Essa r. decisão foi complementada pelos esclarecimentos enviados à

CBF por Vossa Excelência, via e-mail, no dia 27 de abril, nos quais

Vossa Excelência reconhece a liberdade do atleta Oscar dos Santos

Emboaba Junior contratar com o empregador de sua escolha e faz

referência à manifestação do citado atleta no sentido de pretender o

reconhecimento do seu vínculo desportivo com o S.C. Internacional”

(g. n.)

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Pergunta-se: que e-mail é esse enviado à CBF pelo Ministro Relator

no dia 27 de abril, prestando esclarecimentos para complementar a decisão liminar enviada

via ofício? Que esclarecimentos são esses que não foram requeridos no processo? Ora, é

evidente que este D. Juízo somente poderia prestar esclarecimentos sobre a decisão liminar, enviada

regularmente por meio de ofícios, caso houvesse, nos autos, pedido expresso nesse sentido, o qual

deveria ser respondido também nos autos – ainda que posteriormente enviados por e-mail, pois

trata-se de meio que, ainda que informal, vem sendo utilizado pelo Poder Judiciário para dar

efetividade às decisões.

Não se pode admitir, porém, que totalmente à revelia do devido

processo legal e da garantia constitucional da publicidade dos atos judiciais, a Justiça se comunique

com as partes ou com terceiros sem que haja essa informação nos autos. E isso ficou provado após

os Impetrantes peticionarem (documento eletrônico n.º 19), juntando o que provavelmente é o e-

mail citado pela CBF em seu ofício. Trata-se de correio eletrônico oriundo do endereço

[email protected], enviado em 27.04.2012, às 18h50 por alguém chamada Ana, porém do qual

constam supostos esclarecimentos sobre a decisão liminar conferida neste processo, abaixo dos

quais consta o nome do Exmo. Ministro Relator, sem qualquer assinatura ou outro elemento que

comprove terem efetivamente partido do Ministro, mas que demonstram que há documentos

partindo de seu e-mail institucional e que não estão sendo juntados aos autos.

E a ilegalidade, aparentemente, se repetiu, pois, àquele Ofício

encaminhado pela CBF a esta Subseção (cit. doc. 02) o Exmo. Ministro Relator já respondeu, e mais

uma vez sem que essa resposta fosse juntada aos autos. Notícia do portal da internet “Terra” (doc.

03 anexo) 2, de 03.05.2012, dá conta que foi enviado novo ofício à CBF, com novos esclarecimentos

(doc. 04 anexo), desta vez assinado à mão. Esse novo ofício também não foi juntado aos autos.

Por último, na tarde deste dia 04.05.2012 o Exmo. Ministro Relator,

mais uma vez, em reiterado descumprimento à Constituição, praticou atos não públicos, pois

2 Disponível no site http://esportes.terra.com.br/internacional/noticias/0,,OI5753070-EI19378,00-Ministro+do+TST+envia+esclarecimentos+a+CBF+pelo+caso+Oscar.html

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enviou novo ofício à CBF (doc. 17 anexo), determinando a prática de atos sob pena de crime de

desobediência, mais uma vez sem assinatura, o que mais uma vez põe em dúvida sua veracidade e

procedência. Ora, conforme se vê, está provado à exaustão que têm sido levados a cabo

procedimentos cobertos pela nuvem da falta de publicidade, o que macula gravemente o processo.

Aliás, causa estranheza a conduta do Exmo. Ministro Relator, que,

além do quanto referido acima, tem se portado fora dos autos de maneira a demonstrar clara

inclinação aos interesses do Paciente. Isso porque, dias antes de ser sorteado por livre distribuição

como Relator deste habeas corpus, concedeu entrevista3 à imprensa gaúcha (reduto dos torcedores do

SC Internacional) expondo seu ponto de vista sobre a relação processual entre SPFC e Atleta – pois

estava em trâmite perante a 2ª Turma do TST, da qual o Ministro Relator faz parte, ação cautelar

movida pelo Paciente –, e manifestando que dava razão ao Atleta em seu pleito (doc. 05 anexo).

Nessa entrevista, o Ministro Relator – à época já integrante da Turma

sorteada para julgar ação cautelar e, por prevenção, também a principal entre Agravante e Paciente,

quando do recurso de revista –, manifestou-se fora dos autos exprimindo sua opinião sobre o caso, e

demonstrando parcialidade com relação à posição do Atleta, pois afirmou que está “muito mais

[sensível à questão] do trabalhador”, o qual não poderia se “desestimular” nem se “desvalorizar”, o

que, nas palavras do magistrado, exigia “resposta urgente, muito rápida da nossa [do TST]

parte”. Tais afirmações vão muito além do que seria condizente com uma postura equânime com

relação às partes.

Ora, a conduta do Ministro Relator demonstra desde início uma

inclinação em favor de uma das partes, sem que o processo envolvendo as partes jamais tivesse

chegado às suas mãos, mas com o qual já estava diretamente envolvido, pois deveria atuar como

revisor no julgamento da cautelar e, futuramente, do recurso de revista do Paciente. Tal ato não se

mostra compatível com o princípio constitucional que permite às partes um tratamento igualitário de

parte do Poder Judiciário, direito fundamental que é base do Estado democrático de direito, e

também fere disposição da Lei Orgânica da Magistratura (art. 36, III).

3 Disponível no site http://wp.clicrbs.com.br/duplaexplosiva/2012/04/24/caso-oscar-precisa-uma-resposta-urgente-diz-ministro-do-tst/?topo=13,1,1,,10,2 , de livre acesso ao público.

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Aliás, naquela mesma entrevista à imprensa gaúcha (cit. doc. 05), o

Ministro Relator demonstrou ter entrado em contato com todas as partes interessadas – o SC

Internacional inclusive – e ainda exarou seu entendimento acerca do que as partes deveriam fazer

para resolver a pendência, afirmando que deveria se chegar a um acordo, caso contrário a questão se

resolveria “pelo pagamento da cláusula penal”

Vemos, Eméritos Julgadores, que o Ministro Relator foi muito além

do que seria recomendável, pois praticou atos não tornados públicos e assumiu uma postura de

aconselhar as partes e dar opiniões públicas sobre um caso que sequer lhe havia chegado às mãos

ainda. O Ministro desrespeitou o devido processo legal, praticou atos nulos e antecipou seu

julgamento sobre um processo que nem havia sido ajuizado e muito menos chegado às suas mãos,

mas que, coincidentemente, dias depois lhe foi por sorteio, já com a certeza do juízo que lhe seria

feito.

Dado esse quadro de atos praticados fora dos autos surge enorme

insegurança jurídica para toda a comunidade, que não tem certeza de que tudo que o Poder

Judiciário faz está presente nos processos, o que põe em xeque a própria efetividade dos

provimentos jurisdicionais. Ora, o princípio da publicidade dos atos é outra garantia do Estado

democrático de direito em favor dos cidadãos, expressa na Constituição Federal, no art. 5º, LX, bem

como no art. 93, IX, o qual, inclusive, determina que todos os atos judiciais são públicos, sob pena

de nulidade:

Art. 93 (...)

IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e

fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença,

em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos

quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse

público à informação; (g. n.)

Portanto, todos os atos praticados pelo Exmo. Ministro Relator,

especialmente aqueles tratados nos documentos anexos (cit. docs. 02/04 e documento

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eletrônico n.º 19, págs. 19/21) são nulos, pois não foram praticados nos autos e não tiveram a

necessária publicidade, que é exigência constitucional. Cabe apontar que os esclarecimentos e

determinações feitos fora dos autos foram essenciais para que a CBF efetuasse o indevido e irregular

cancelamento do registro do contrato do atleta com o SPFC, vez que ainda em pleno vigor o

acórdão regional que assim o determinou.

Por isso, deve ser declarada a nulidade dos ofícios enviados à CBF,

seja por e-mail (documento eletrônico 19, págs. 19/21), seja por documento assinado pelo Ministro

Relator (cit. doc. 04), e que não foram trazidos aos autos. Ademais, para evitar tumultos processuais

ou a prática de atos inválidos, requer seja expedido novo ofício à CBF, para declarar a invalidade

daqueles anteriormente enviados, determinando que aquela entidade se abstenha de praticar

qualquer ato decorrente de ordem constante dos ofícios declarados nulos, pois encaminhados sem

respeito à publicidade e ao devido processo legal.

E mesmo que sejam superadas todas essas preliminares, o que se

admite apenas por respeito ao princípio da eventualidade, ainda assim, descabe a concessão da

liminar, por todos os motivos que se passará a demonstrar.

VI. BREVE HISTÓRICO DA RELAÇÃO ENTRE O

AGRAVANTE E O PACIENTE

Em Reclamação Trabalhista (processo n.º 0277000-

78.2009.5.02.0040) (documento eletrônico n.º 01 – págs. 49/87) ajuizada pelo atleta OSCAR DOS

SANTOS EMBOABA JÚNIOR (Paciente), em face da ora Agravante, se pretendeu a rescisão

indireta do contrato de trabalho, cuja decisão de primeiro grau julgou parcialmente procedente a

reclamação (documento eletrônico n.º 01 – págs. 167/189)..

Em sede de Recurso Ordinário interposto pelo Agravante, a C. 16ª

Turma do E. TRT da 2ª Região houve por bem em dar provimento ao apelo, julgando improcedente

a ação (documento eletrônico n.º 01 – págs. 191/197). Contra aquela decisão Regional as partes

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opuseram embargos de declaração, sendo ambos acolhidos parcialmente, para prestar

esclarecimentos complementares ao v. acórdão(documento eletrônico n.º 01 – págs. 319/321).

Inconformado com a r. decisão, o Paciente Oscar ingressou com

novos embargos declaratórios e, concomitantemente, com Recurso de Revista, os quais ainda

estão pendentes de análise pelo órgão judicante (docs. 06, 07 e 08 anexos).

De pronto, ainda foi proposta Medida Cautelar perante o C. TST,

objetivando a concessão de efeito suspensivo da r. decisão regional, com pedido de liminar (doc. 09

anexo). Tal pedido restou indeferido, sob fundamento de que não se encontravam esgotadas as

matérias nas instâncias ordinárias, conforme decisão do Exmo. Ministro Renato de Lacerda Paiva:

"(...) não vislumbro (...) a aparência do bom direito e, consequentemente, a possibilidade de concessão da medida

urgente buscada pelo requerente. Isso diante da constatação de que a competência do juízo para conferir aludida tutela

acautelatória pertence à colenda 16ª Turma do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da Segunda Região - São

Paulo, pois ainda se encontra pendente de julgamento os segundos embargos de declaração então opostos pelo autor nos

autos do processo principal, consoante consulta feita ao sistema informatizado de acompanhamento processual daquela

Corte Regional, os quais, aliás, o foram simultaneamente à interposição do recurso de revista em questão, conforme

admite a própria parte interessada na petição de encaminhamento do mesmo, acostada eletronicamente ao feito." (doc.

10 anexo).

Entretanto, ainda insatisfeito com a proficiente decisão, que o

remeteu ao cumprimento do devido processo legal, vale dizer, aguardar o esgotamento da prestação

jurisdicional pelo Egrégio Regional (apreciação de novos embargos declaratórios e do eventual

processamento do Recurso de Revista), ousaram os patronos do Paciente em manejar o Instituto do

Habeas Corpus para se eximir de cumprir decisão judicial em vigor, ao arrepio das normas processuais

vigentes.

VII. SÍNTESE DO HABEAS CORPUS

No writ, os Impetrantes alegam que o paciente, atleta profissional de

futebol, estaria sofrendo “gravíssima restrição à suas liberdades fundamentais e inalienáveis de

exercício profissional e locomoção” por força de acórdão prolatado pela autoridade dita coatora nos

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autos do processo n.º 0277000-78.2009.5.02.0040. Sustentam a aplicação do habeas corpus à hipótese

de restrição de locomoção no sentido amplo, para o que citou decisão do STF que reconheceu

direito de filhos e enteados visitarem o pai preso.

Afirmam que o acórdão regional, que declarou válido contrato de

trabalho firmado pelo paciente estaria obrigando-o a trabalhar a único e exclusivo empregador,

impedindo-o de escolher a localidade onde trabalhará, com alegada ofensa à liberdade de ir e vir.

Informam que o paciente formalizou contrato com novo empregador e que a decisão da autoridade

coatora teria retirado a liberdade de o paciente escolher onde treinar e jogar.

Sustentam que o paciente discute a existência ou não de rescisão

indireta de seu contrato, mas que, pela ausência de reconvenção, a improcedência do pedido não

poderia declarar o contrato válido e restabelecido, mas apenas o pagamento de multa, quando

houvesse transito em julgado. Argumentam que a determinação do acórdão regional implica

necessariamente alteração de domicílio do atleta e seus familiares, com restrição ao direito de ir e vir,

ou sua presença em São Paulo na hora do jogo, afirmando-se tratar-se de hipótese de trabalho

forçado.

Sustentam os Impetrantes que o paciente teria direito ao trabalho e

poderia pagar a cláusula indenizatória, transcrevendo o art. 28 da Lei nº 9.615/98, embora em sua

nova e inaplicável redação ao caso. Por isso, requereram a concessão da ordem para “autorizar o

paciente a livremente exercer a sua profissão, participando de jogos e treinamentos, em qualquer localidade e para

qualquer empregador” com pedido de expedição de ofícios às órgãos competentes “anulando os efeitos da

determinação judicial de labor forçado ao São Paulo Futebol Clube, retomando o atleta ao status quo ante da aludida

decisão do eg. TRT (restabelecimento do vínculo desportivo do atleta com o Sport Club Internacional)”.

Por fim, embora sem apresentar argumentos de periculum in mora,

requererem a concessão de liminar, no que foram acolhidos, pois, em decisão prolatada no mesmo

dia, o Exmo. Ministro Relator declarou cabível o writ ao caso dos autos e, no mérito, autorizou o

atleta a firmar contrato com qualquer empregador. Foram remetidos ofícios às entidades desportivas

e, posteriormente, o paciente manifestou interesse em reativar o contrato firmado em 2011.

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Ocorre que a pretensão dos Impetrantes não encontra fundamento

legal e por isso não merece ser acolhida por esta Justiça do Trabalho, exigindo-se a cassação da

liminar deferida, tudo conforme se passará a demonstrar.

VIII. DAS RAZÕES PARA A REFORMA DA DECISÃO

AGRAVADA

Demonstrada a tempestividade e o cabimento do presente agravo,

passaremos a tratar dos motivos de fato e de direito pelos quais deverá ser reformada a r. decisão

Agravada.

8.1. DO NÃO CABIMENTO DO HABEAS CORPUS

A r. decisão agravada, após fazer um relato histórico do surgimento

do instituto do habeas corpus no direito nacional e de sua apreciação pela Justiça Especializada, a

decisão liminar agravada a ampliação das hipóteses de cabimento do writ, além da violação ao direito

de locomoção, em trecho merecedor de transcrição:

“Assim, a interpretação a ser conferida à Constituição Federal não pode ser

literal ou gramatical, no sentido de se entender cabível o habeas corpus

apenas quando violado o direito à locomoção em seu sentido físico de ir, vir

ou ficar. Ao contrário, deve-se ampliar tal entendimento para assegurar a

utilização de tal ação constitucional com vistas à proteção da autonomia da

vontade contra ilegalidade ou abuso de poder perpetrado, seja pela autoridade

judiciária, seja pelas partes da relação de trabalho. Há que se assegurar o

livre exercício do trabalho, direito fundamental resguardado pelos artigos 1º,

IV, 5º, XIII, 6º e 7º da Constituição Federal, bem como a dignidade da pessoa

humana.”

Em que pese o entendimento expressado pelo D. Ministro Relator,

não há como se conceber a utilização do habeas corpus no caso dos autos, quando se pretende declarar

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a liberdade de se escolher o local de trabalho, mesmo à revelia de contratos firmados. A

Constituição Federal, em seu art. 5º, LXVIII, é expressa ao limitar o cabimento desse writ aos casos

em que há efetiva ameaça ou violência contra o direito de ir e vir da pessoa, ou seja, quando o

paciente esta com a locomoção cerceada.

A jurisprudência deste Colendo Tribunal Superior do Trabalho é

inequívoca ao permitir habeas corpus sempre que existir paciente preso4, pois é sabido que apresenta

um fim específico de livrar a pessoa de prisão ou ameaça de prisão ilegal.

Porém, o D. Ministro Relator decidiu ampliar a norma transcrita

acima aos seus extremos limites, até ultrapassá-los, de forma a conceber que o habeas corpus pode ser

manobrado para garantir todo e qualquer direito fundamental previsto na Carta Magna, em especial,

a liberdade de escolher o local onde pretende trabalhar, mesmo ao arrepio de contratos firmados

e/ou declarados válidos pelo Judiciário, em decisão pacifica e colegiada.

Ocorre que, conforme relata a própria r. decisão agravada, tal

entendimento remonta à Doutrina Brasileira do Habeas Corpus, concebida por Ruy Barbosa no final

do século XIX e início do século XX, à luz da Constituição de 1891. Essa doutrina afirmava ser

cabível o habeas corpus em caso de restrição ilegal a qualquer direito fundamental, e não só à liberdade

de locomoção. Todavia, é notório que essa tese caiu com o advento do Mandado de Segurança,

trazido pela Constituição de 1934 – posteriormente suprimida pela Constituição do Estado-Novo

de 1937, mas retomada pela Carta de 1946, e mantida até hoje –, sendo absolutamente impensável

que, em 2012, uma autoridade judiciária volte mais de um século para tentar encontrar tese que dê

guarida à sua inclinação por conceder uma medida liminar.

4 Processo: RO - 1112500-98.2009.5.02.0000 Data de Julgamento: 30/11/2010, Relator Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 03/12/2010; Processo: RO - 25-25.2010.5.15.0000 Data de Julgamento: 11/05/2010, Relator Ministro: Antônio José de Barros Levenhagen, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 21/05/2010; Processo: RR - 1494400-58.2007.5.09.0015 Data de Julgamento: 03/03/2010, Relatora Ministra: Rosa Maria Weber, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 19/03/2010; Processo: RR - 152400-77.2003.5.17.0007 Data de Julgamento: 30/09/2009, Relator Ministro: João Batista Brito Pereira, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 09/10/2009.

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Sendo assim, não é possível manejar habeas corpus para combater

suposta ameaça ou lesão ao direito à liberdade de trabalho do Paciente, o qual em nada se assemelha

ao direito de ir e vir protegido pelo art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal de 1988.

Ademais, na decisão agravada o ilustre Relator buscou parte do

fundamento para o cabimento do writ em acórdão prolatado pelo STF no longínquo ano de 1968,

quando até o regime constitucional e suas garantias eram distintas, pois o Brasil se encontrava nos

primeiros anos da ditadura militar e batia às portas do AI-5. A parte do voto transcrita na decisão

liminar pode até fazer parecer que o Supremo Tribunal Federal teria precedentes aceitando o habeas

corpus como meio idôneo para anular despacho que, aplicando medida administrativa, afastaria o

direito de exercer profissão ou emprego.

No entanto, basta uma leitura mais atenta do citado precedente, da

lavra do Ministro Themístocles Cavalcanti, para se constatar que em momento algum o decisum

ampliou o cabimento do habeas corpus para casos envolvendo liberdade de trabalho, como parece

sugerir a liminar agravada. Na verdade, os Ministros do Supremo apenas analisarem e declararam a

inconstitucionalidade do art. 48 do Decreto Lei 324/67 (Lei de Segurança Nacional) que, no auge do

regime militar, punia cidadãos presos em flagrantes ou denunciados, com a suspensão do exercício

da profissão, até sentença de absolvição 5.

Nota-se, portanto, que o fundamento do citado habeas corpus também

tinha origem em ordem de prisão em flagrante ou recebimento de denúncia, elementos típicos da

idéia de restrição à locomoção do corpo. Assim, as passagens do fundamento do acórdão que

afastavam a pena de suspensão do trabalho, em plena decisão de habeas corpus, decorrem da

inconstitucionalidade da punição que a prisão trazia, mas jamais constituiu precedente de cabimento

de habeas corpus para declarar liberdade de trabalho.

5 Art. 48 do DL 314/67. A prisão em flagrante delito ou o recebimento da denúncia, em qualquer dos casos previstos nesse decreto-lei importará, simultaneamente, na suspensão do exercício da profissão, emprego ou entidade privada, assim como de cargo ou função na administração publica, autarquia, em empresa publica ou sociedade de economia mista, até sentença absolutória.

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Ao contrário, são inúmeras e recentes as decisões do Supremo Tribunal

Federal que restringem o cabimento do habeas corpus, como se verifica de recente julgamento da

lavra do Ministro Ricardo Lewandowski, no qual foi afastado o cabimento desse remédio para atos

praticados no curso do Processo do Trabalho, que não resultou em prisão ou sua ordem.

“Com efeito, o habeas corpus, tal como está no art. 5º, LXVIII da Constituição

Federal, é instrumento que se destina a garantir o direito à liberdade de

locomoção do indivíduo, sempre que este sofrer ou se achar ameaçado de

sofrer violência ou coação em tal direito, por ilegalidade ou abuso de poder.

Daí porque o referido remédio constitucional visa a resguardar a liberdade de

ir e vir do ser humano, quando efetivamente houver constrangimento

decorrente de ilegalidade ou abuso de poder.

É dizer, o habeas corpus é instrumento nobre, de uso excepcional, razão pela

qual não pode ter seus contornos deformados a ponto de banalizá-lo.

Com efeito, não há, nos autos, qualquer indicação de que a paciente esteja

na iminência de sofrer restrição ao seu direito de ir e vir. Em outras

palavras, não existe qualquer ordem de prisão expedida contra a paciente, o

que inviabiliza o manejo de habeas corpus”. (STF. 1ª Turma. Habeas Corpus

nº 106.633 AgR/DF. Rel. Ministro Ricardo Lewandowski. DJE 21.03.2011) 6

Portanto, ao contrário do afirmado pelo Ministro Relator, a citada

jurisprudência do STF busca delimitar o uso do writ, justamente porque “constitui instrumento

nobre, de uso excepcional”, que “não pode ter seus contornos deformados a ponto de banalizá-

lo”.

6 Há outras jurisprudências em idêntico sentido: HC 97.119-AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello; HC 82.880-AgR/SP, Rel. Min. Carlos Velloso; HC 76.605/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence; HC 79.791/GO, Rel. Min. Néri da Silveira.

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No mesmo sentido, são as decisões do C. TST, que somente

admitem o processamento do habeas corpus quando existir restrição ou direito de locomoção, por ato

de prisão:

“O art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal dispõe que “conceder-se-á

‘habeas corpus’ sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer

violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso

de poder”.

“In casu”, verifica-se que a Parte dispunha de recurso cabível para atacar o

despacho (...) mas não o “habeas corpus”, destinado exclusivamente a coibir

ameaça ou efetiva violência ou coação à liberdade de locomoção, o que não é

o caso.

Oportuno assinalar que o acórdão do STF referido na inicial e que

supostamente daria ensejo ao cabimento do “habeas corpus”, na presente

hipótese, não se presta ao fim colimado, sendo de todo impertinente “in casu”,

por versar sobre ação penal, e não ação trabalhista (cível).

Nesse sentido, revela-se inepta a petição inicial, porquanto o tipo de

procedimento escolhido pelo autor não corresponde à natureza da causa, não

podendo ser adaptada ao tipo de procedimento legal (cabível “in casu”), além

do pedido ser juridicamente impossível, o que enseja o indeferimento da

petição inicial com a consequente extinção do processo sem resolução do

mérito, a teor do art. 267, I, c/c o art. 295, I, V, e parágrafo único, III, ambos

do CPC.” (g. n.) (TST. SBDI-2. Proc. nº TST-HC-66601-17.2010.5.00.0000.

Rel. Maria Doralice Novaes. DEJT 16.12.2010)

Pelas razões acima e considerando que o Paciente não se encontra

preso nem impedido de se locomover, estando apenas insatisfeito com decisão de acórdão da

autoridade coatora que julgou improcedente seu pedido de rescisão indireta e declarou válido seu

contrato com antigo empregado, mostra-se evidente que existem outros remédios juridicamente

válidos para buscar a satisfação do interesse do paciente, que não o habeas corpus.

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Aliás, conforme manifestação do Exmo. Ministro Renato de Lacerda

Paiva, da C. 2ª Turma do TST, em ação cautelar proposta pelo Paciente também atacando o suposto

ato coator, a matéria ventilada nestes autos sequer pode ser apreciada pelo TST. Isso porque

qualquer medida visando a impugnar a decisão da 16ª Turma do TRT da 2ª Região depende de

julgamento final do processo pelo E. Regional, com exaurimento da jurisdição daquela instância, o

que ainda não ocorreu, pois o próprio Paciente opôs novos embargos de declaração, que aguardam

julgamento (cit. doc. 06). É esse, aliás, o entendimento exposto pela Orientação Jurisprudencial n.º

156, da SDI-2 do TST, inafastável no presente caso.

Com efeito, fato é que os próprios Impetrantes, em conjunto com o

Paciente, têm plena consciência de que o habeas corpus não tem o menor cabimento e será fatalmente

denegado. Isso se verifica porque, concomitantemente ao presente processo, o Paciente propôs

outras QUATRO AÇÕES com o fim único de atacar o v. acórdão da 16ª Turma do TRT da

2ª Região, ora apontada como autoridade coatora:

(i) ação cautelar proposta na 66ª Vara do Trabalho de São Paulo/SP, processo n.º 0000644-

40.2012.5.02.0066 (doc. 11 anexo): ação ajuizada em 21.03.2012, na qual foi indeferida a

liminar pleiteada para suspender os efeitos do acórdão dito coator (doc. 12 anexo), o

Agravante foi citado e apresentou contestação, e o processo aguarda julgamento (doc. 13

anexo);

(ii) ação cautelar proposta na 2ª Turma deste C. TST, processo n.º 3063-91.2012.5.00.0000

(cit. doc. 09): ação ajuizada em 03.04.2012, cuja petição inicial foi indeferida, pois o

Exmo. Ministro Renato de Lacerda Paiva, relator da ação, muito bem verificou a

incompetência do TST, pois o processo principal ainda pendia de julgamento de

embargos de declaração opostos pelo Paciente (cit. doc. 10);

(iii) ação cautelar proposta na 16ª Turma do TRT da 2ª Região, processo n.º 0003423-

69.2012.5.02.0000 (doc. 14 anexo): ação ajuizada em 23.04.2012, na qual também foi

indeferida a liminar pleiteada para suspender os efeitos do acórdão dito coator (doc. 15

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anexo), sendo que o Agravante recebeu a citação pessoal na data de ontem, 03.05.2012;

e, por fim,

(iv) Reclamação Correicional dirigida ao Exmo. Ministro Corregedor-Geral da Justiça do

Trabalho, processo n.º 4161-14.2012.5.00.0000 (doc. 16 anexo): ação ajuizada ontem,

03.05.2012, também com o mesmo objetivo (suspender o acórdão do TRT da 2ª Região),

mais uma vez com pedido de liminar, ainda não apreciado.

Ora, não há dúvidas de que o Paciente, apesar de alegar estar “preso”

e já ter logrado êxito em obter decisão liminar de habeas corpus, continua praticando atos e ajuizando

inúmeras ações, em várias frentes – a maioria incompetentes –, tudo para atacar a decisão dita

coatora e pleitear a suspensão de seus efeitos. Tudo isso, com o evidente intuito (nada louvável) de

não cumprir decisão judicial, ainda em vigor. Seu desespero demonstra a falta de confiança na

manutenção da r. decisão agravada, a qual, os operadores do direito devem saber, é precária e deverá

ser derrubada.

Sendo assim, não se tratando de hipótese de cabimento de habeas

corpus, ausente uma das condições da ação, o interesse de agir (caracterizado pelo binômio necessidade

e adequação), pois a medida não é adequada. Por esse motivo, impossível seu conhecimento, devendo

o processo ser extinto sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, IV, do CPC.

8.2. DA INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO À

LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO QUE ENSEJE A

CONCESSÃO DE HABEAS CORPUS

Além de ser incabível o habeas corpus, no mérito a medida não deve ser

concedida, pois o alegado cerceamento ao direito de ir e vir e ao trabalho do Paciente não está

presente.

O fato de o Paciente ter tido seu vínculo desportivo com o

Agravante reativado pelo acórdão dito coator não implica qualquer violação a nenhuma liberdade do

Atleta, em especial a liberdade de trabalho (art. 5º, XIII, da Constituição). Afinal, o direito à

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liberdade de trabalho permite que os cidadãos escolham e exerçam livremente sua profissão, desde

que devidamente habilitados, mas não confere a prerrogativa de descumprir contratos e

compromissos livremente assumidos, e que, conforme decisão judicial de cognição exauriente,

sejam declarados válidos.

Na legislação especial que regula a atividade do atleta profissional, a

Lei n.º 9.615/98 (“Lei Pelé”), a rescisão do contrato antes do termo final exige o pagamento do

valor previsto em cláusula penal, como requisito para que se extinga o vínculo desportivo e o atleta

possa se vincular a outra entidade de prática desportiva. Isto é, o legislador já sopesou os direitos

fundamentais envolvidos e estatuiu que, no caso do atleta profissional que firmou livremente seu

contrato de trabalho, somente há extinção do vínculo desportivo após o pagamento eficaz e

correto da cláusula penal.

É de vital importância observar que o Agravante não pretende

impedir que o Paciente trabalhe. Ao contrário, o SPFC pretende que o Atleta lhe preste

serviços e cumpra seu contrato declarado válido. No caso, é o Paciente que não deseja trabalhar

e cumprir o que outrora assinou. Nesse caso, não se pode falar em ofensa ao direito de trabalhar,

mas sim na impossibilidade de o Paciente descumprir contrato vigente, o que somente poderia ser

feito mediante formal e incondicionado pedido de demissão, fato que jamais foi declarado nos autos

principal, acompanhado do necessário e legal pagamento da cláusula penal contratual.

O Atleta não pode ignorar o contrato que assinou em 2007 e que se

encontra absolutamente válido e regular, como declarou acórdão do TRT recém-julgado e

publicado. Não há qualquer lesão ao art. 5º, XIII, da CF/88 a ser protegida por meio de habeas corpos,

pois em momento algum há impossibilidade de o atleta trabalhar junto ao empregador com quem

firmou livremente seu contrato. O Agravante é associação desportiva tradicional, com enorme

visibilidade e que deseja contar com o trabalho do Paciente. Por isso, não há como sustentar ofensa

da decisão regional, que apenas declarou válido contrato de trabalho, ao direito de o empregado

trabalhar.

Na verdade, o Atleta pretende que o SPFC não possa exigir a

prestação do trabalho acordado em contrato válido e ainda vigente, sem a necessidade de efetuar o

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pagamento da multa rescisória ali estabelecida. Portanto, o Paciente está se utilizando de

interpretação inversa do art. 5º, XIII, da CF/88 para não cumprir seu contrato de trabalho vigente

com o Agravante, sem o ônus de indenizá-lo pela rescisão antecipada, imotivada e unilateral, tudo na

forma estabelecida na Lei nº 9.615/98.

Ressalte-se, por oportuno, que não impressiona a argumentação dos

Impetrantes, de que o Paciente, além da liberdade ao trabalho, estaria tendo seu direito de ir e vir

cerceado por decisão da autoridade coatora – 16ª Turma do TRT da 2ª Região –, pois estaria sendo

“forçado e obrigado a trabalhar a um único e exclusivo empregador, em uma única e exclusiva

localidade”, ou que “o paciente se encontra, igualmente, impossibilitado de trabalhar – e até de

treinar e residir – na localidade e com o empregador de sua escolha, implicando explícita restrição

aos seus direitos constitucionais de ir e vir e ao trabalho”.

Afinal, o que se discute no processo principal, do qual vem a decisão

dita coatora, é a ocorrência de falta grave do empregador (SPFC) em face do empregado (Atleta),

alegação utilizada por este último para pedir a rescisão indireta. A autoridade dita coatora afirmou

que não havia causa para a rescisão e restabeleceu o contrato entre as partes daquele processo em

todos os seus efeitos, inclusive o vínculo desportivo, o qual, por lei (art. 28, § 5º, da Lei n.º

9.615/98), só se extingue após o pagamento da cláusula penal. Em momento algum se discute o

direito de ir e vir do Paciente, nem se demonstra que a autoridade coatora lhe está negando acesso a

algum espaço físico ou restringindo sua locomoção.

Ora, os Impetrantes se esquecem que o Paciente agiu no perfeito

gozo de sua liberdade de trabalho quando firmou contrato de trabalho com o SPFC, elegendo esse

clube como seu empregador por um prazo determinado, se obrigando a prestar-lhe serviços de atleta

profissional nesse prazo.

Se referido contrato não foi considerado rescindido pelo E. TRT da

2ª Região, pois ausente qualquer falta grave do empregador que ensejasse a rescisão indireta, é seu

dever contratual apresentar-se ao trabalho no local determinado no próprio contrato, sob pena de

descumprimento e necessidade de pagamento da cláusula penal. A obrigação de trabalhar para o

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empregador reconhecido no local da contratação não pode ser considerada violadora do direito de

locomoção amparado por habeas corpus.

Também nada contribui a afirmação de que “é inequívoca a

limitação/restrição do direito de ir e vir do atleta” pelo fato de que “a determinação do acórdão

regional implica necessariamente a alteração de domicílio do atleta e seus familiares para a localidade

de São Paulo, na qual obrigatoriamente deverão permanecer para que se naturalmente cumpra o

contrato com o São Paulo Futebol Clube”.

É condição intrínseca à atividade de atleta profissional a necessidade

de viajar por diversos estados brasileiros em espaço de poucos dias, para a disputa de diversos

campeonatos. Em muitos casos, os atletas se radicam em determinada cidade – não necessariamente

da sede do clube empregador –, na qual sua família reside, porém viajam semanalmente para

trabalhar, ficando muitas vezes dias e até meses sem ver a família, tudo em prol da sua profissão, a

qual lhes garante o sustento necessário para uma vida inteira, ainda que permaneçam na carreira por

apenas 15 ou 20 anos. E jamais se teve notícia de um atleta que impetrou habeas corpus para poder

trabalhar na cidade onde quer ou onde sua família reside, pois os atletas firmam contratos livremente

com clubes e a eles prestam seus serviços, independentemente do local.

Por fim, mas não menos importante, não se olvida que a própria

CLT, reconhecidamente bastante protetora dos trabalhadores, admite em seu art. 469 as hipóteses e

condições em que é lícito ao empregador transferir o empregado de local de trabalho, sendo que não

existe notícia da impetração de habeas corpus contra qualquer ato praticado de acordo com referido

art. 469. Os Impetrantes, no desespero de impedir que o Paciente seja submetido às condições

contratuais que ele próprio assumiu e foram declaradas judicialmente como válidas e eficazes,

ignoram todo o sistema jurídico atualmente vigente.

Portanto, não havendo qualquer cerceio aos direitos fundamentais do

Paciente, deve ser negado o habeas corpus.

.

IX. CONCLUSÃO

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Diante de todos os fatos e fundamentos aqui expostos, o Agravante

pede seja recebido o presente Agravo Regimental pelo Exmo. Ministro Relator do habeas corpus, para

que, nos termos do art. 236 do RITST, reconsidere a decisão liminar concedida ao Paciente. Caso

não seja esse o entendimento, requer sejam encaminhados os autos para julgamento pela Subseção

II da Seção Especializada em Dissídios Individuais do TST, órgão competente para julgar o agravo.

Requer seja reformada a r. decisão agravada, seja em razão das

preliminares argüidas, o que resultará na extinção do processo sem resolução do mérito e a

declaração da nulidade dos atos praticados sem publicidade, bem como em razão do não cabimento

do habeas corpus ou da ausência de motivos para sua concessão, o que deverá ser determinado ao

final.

O advogado subscritor da presente declara, sob sua responsabilidade

pessoal, na forma do art. 830 da CLT, que todas as cópias juntadas ao presente agravo conferem

com o original. Requer, por fim, sejam as intimações e notificações referentes a esta demanda

publicadas em nome do advogado CARLOS EDUARDO AMBIEL, OAB/SP n.º 156.645 e

encaminhadas via postal à Rua Batataes, 460, 8º andar, Jardim Paulista, São Paulo/SP, CEP 01423-

010.

Nestes termos,

Pede deferimento.

São Paulo, 04 de maio de 2012.

CARLOS EDUARDO AMBIEL

OAB/SP n.º 156.645

ALOÍSIO COSTA JUNIOR

OAB/SP n.º 300.935

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Este documento foi assinado digitalmente através do Sistema EDOC da

Justiça do Trabalho, com as seguintes informações:

Nome: CARLOS EDUARDO AMBIEL

CPF: 25245854848

Número de protocolo: 5771396

Número do processo: 00039819520125000000

Esta tarja não vale como recibo.