excelentíssimo senhor doutor juiz de direito da vara cível da … · excelentíssimo senhor...
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7ª Promotoria de Justiça
de Guarapuava
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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara Cível da Comarca
de Guarapuava ao qual for distribuída a presente.
Contra-fé
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ,
por seu promotor de justiça adiante assinado, com arrimo nos artigos
127, caput, 129, inciso III e 37, todos da Constituição Federal, na Lei nº
7.347/85, no art. 25, IV, “b” da Lei nº 8.625/93, e ainda no art. 68,
inciso VI, números 2 e 4 da Lei Complementar paranaense nº 85/1999,
tendo em vista os elementos de convicção colhidos no bojo do
Procedimento Preparatório nº 005/2010, da 7ª Promotoria de Justiça
de Guarapuava, vem propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
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em face da FUNDAÇÃO DE PROTEÇÃO ESPECIAL DA
JUVENTUDE E INFÂNCIA - FUNDAÇÃO PROTEGER, fundação
instituída e mantida pelo Poder Público Municipal, por força da Lei
Municipal nº 035/1985, com a redação que lhe deu a Lei Municipal nº
001/1986, inicialmente sob o nome de Fundação do Bem Estar do
Menor – FUNDAÇÃO PROTEGER1, com o seu estatuto registrada no
1º Ofício de Títulos e Documentos de Guarapuava, sob o protocolo nº
32.027 (fl. 35vº), inscrita no CNPJ/MF sob o nº 79.262.341/0001-95,
tendo sede na Rua Barão do Rio Branco nº 1393, Guarapuava – PR,
representada por sua presidente MARIA DO CARMO RIBAS DE ABREU,
R.G. nº 3.764.552-4, CPF nº 486.103.309-82, brasileira, casada,
contadora, natural de Pinhão – PR, onde nasceu no dia 29 de dezembro
de 1963, filha de Lauro Ribas e de Celina Sampietro, domiciliada e
residente na Rua Belmiro de Miranda, 357, Trianon – Guarapuava – PR;
tendo em vista as razões de fato e de direito que passa a expor,
nos seguintes termos:
I. PREFACIALMENTE
1 A Lei municipal nº 1838, de 14 de outubro de 2009 alterou a denominação da Fundação Bem Estar do Menor
– FUBEM para Fundação de Proteção Especial da Juventude e Infância – FUNDAÇÃO PROTEGER
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Busca-se por via da presente ação, diante da constatação da
ilicitude da investidura de todo o pessoal que integra o quadro de
servidores da Fundação de Proteção Especial da Juventude e Infância,
doravante referida apenas como FUNDAÇÃO PROTEGER, por falta
do requisito de investidura consistente na prévia aprovação em concurso
público, a sua condenação a:
• afastar definitivamente todos os seus servidores
de seus postos de trabalho, com prejuízo das
respectivas remunerações;
• não realizar a contratação de qualquer servidor,
qualquer que seja o seu regime jurídico, sem a
prévia aprovação em concurso público;
Registra-se, desde logo, que não se busca com a presente ação o
reconhecimento de que tais contratações implicam na prática de ato de
improbidade administrativa por porte dos agentes públicos contratantes,
e, de conseqüência, a condenação às respectivas sanções.
É que para tanto, nuances outras que não são objeto da presente
ação deverão ser aprofundadas no Procedimento Preliminar nº
005/2010, da 7ª Promotoria de Justiça de Guarapuava, que terá
continuidade, para aprofundamento do aspecto da improbidade
administrativa.
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Há entre a Administração Pública e toda a sociedade uma relação
jurídica de natureza difusa, pelo qual a primeira obriga-se a se
desincumbir de seus fins, valendo-se dos meios legítimos, ou seja, dos
meios permitidos ou exigidos pelo ordenamento jurídico. Visto por
outro ângulo, tem a sociedade, nessa mesma relação jurídica, o direito
subjetivo de exigir a adequação da Administração a esses meios.
Trata-se um direito ou interesse de toda a sociedade, por isso,
difuso, daí exsurgindo a legitimidade ativa do Ministério Público para,
em nome próprio, promover em juízo a defesa do interesse de toda a
sociedade.
Ao contrário do que se possa imaginar a uma primeira vista, não
devem os servidores contratados pela FUNDAÇÃO PROTEGER
integrarem o pólo passivo em decorrência de que reflexamente a eventual
procedência da presente ação afetará o vínculo jurídico que os une à
referida fundação municipal.
No entanto é forçoso destacar que os vínculos jurídicos que os
servidores mantêm com a FUNDAÇÃO PROTEGER distinguem-se do
vínculo jurídico que toda a sociedade com ela mantém. Apenas a relação
jurídica determinada por esse último vínculo jurídico é objeto da
presente ação, embora desenganadamente possa afetar os vínculos
jurídicos que os servidores mantêm com a FUNDAÇÃO PROTEGER.
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Ocorre que nessa condição os servidores da FUNDAÇÃO
PROTEGER não estão na posição que os legitimaria passivamente, mas
naquela que os legitima a vir ao processo, tão somente se assim quiserem
e de forma espontânea, na condição de assistente simples, a teor do
disposto no art. 50 do Código de Processo Civil.
Essa distinção não passou despercebida em recente julgado do
Superior Tribunal de Justiça, verbis:
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA DO TRABALHO E JUSTIÇA COMUM. AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO EMANADO DO TRIBUNAL DE CONTAS ESTADUAL. DETERMINAÇÃO DE AFASTAMENTO DOS AUTORES DO SERVIÇO PÚBLICO. ALEGAÇÕES DE ÍNDOLE PROCESSUAL. AÇÃO DE NATUREZA EMINENTEMENTE ADMINISTRATIVA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. PRECEDENTES. 1. A teor do art. 114, I da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional 45, de 31.12.2004, para fins de definição de competência da Justiça do Trabalho é indispensável que a controvérsia seja oriunda de relação de trabalho ou emprego, ou seja, que tenha como causa de pedir vínculo celetista. 2. A presente causa não está fundada na relação de emprego firmada entre o ente público (CAGEPA) e os autores, nem o pedido abrange qualquer tipo de efeito ou consequência deste vínculo; na verdade, o pleito adstringe-se à anulação de ato administrativo emanado de órgão público e tem como causa de pedir a inobservância de postulados constitucionais, consectários do devido processo legal, de sorte que a decisão judicial de mérito recairá sobre esta pretensão processual, sem adentrar na relação de trabalho. 3. O pedido de pagamento dos valores referentes ao período em que os autores estiveram afastados do serviço público figura como mera consequência de eventual declaração de nulidade do ato administrativo, de modo que não atrai a competência da Justiça Laboral para conhecer da causa. 4. Conflito de Competência conhecido para declarar competente para processar e julgar a presente causa o Juízo da 6ª Vara da Fazenda Pública de João Pessoa, o suscitado. (CC 99.197/PB, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/05/2009, DJe 09/06/2009)
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Com isso, justifica-se a postulação feita exclusivamente em face da
única requerida.
II. DOS FATOS
A FUNDAÇÃO PROTEGER se trata de uma fundação
instituída e mantida pelo Poder Público Municipal, por força da Lei
Municipal nº 035/1985, com a redação que lhe deu a Lei Municipal nº
001/1986, com o seu estatuto registrado no 1º Ofício de Títulos e
Documentos de Guarapuava, integrando assim a Administração Indireta
do Poder Executivo do Município de Guarapuava, tanto assim que
destinada a se desincumbir de competências materiais do Poder
Executivo Municipal.
Ao contrário do que se dá com as fundações propriamente
privadas, a FUNDAÇÃO PROTEGER não foi instituída pela “reserva
de um patrimônio”. Foi instituída, como se disse, “por lei”.
Ao longo de sua existência, cuja data de nascimento corresponde
ao dia 6 de junho de 1986, data do protocolo de seu estatuto no ofício
de registro, muitas pessoas foram contratadas e demitidas, todas sem a
investidura por concurso público, como constitucionalmente exigido.
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Tudo isso se acha afirmado categoricamente pela presidente da
FUNDAÇÃO PROTEGER, Maria do Carmo Ribas Abreu, que em seu
depoimento prestado nos autos do referido Procedimento Preliminar nº
005/2010, da 7ª Promotoria de Justiça de Guarapuava (fls. 102-103),
declarou o seguinte: “[...] a FUBEM2 nunca realizou concurso,
portanto todos os seus empregados foram contratados sem
concurso [...]”.
Atenta-se ainda ao fato de que por ter sido instituída em 1986,
quando do advento da Constituição de 1988, não havia em seus quadros
qualquer servidor que já contasse com vínculo de mais de cinco anos, a
fim de que pudesse se abrigar na estabilidade instituída pelo art. 19 do
ADCT.
Em resumo, todos os servidores da FUNDAÇÃO PROTEGER,
contratados sob o regime jurídico da CLT, encontram-se contratados e
mantidos em seus postos de trabalho na administração indireta, em
frontal violação da exigência constitucional do art. 37, II da Constituição
Federal.
III. DO DIREITO
2 Nome anterior à Lei municipal nº 1838, de 14 de outubro de 2009, que alterou a denominação da Fundação
Bem Estar do Menor – FUBEM para Fundação de Proteção Especial da Juventude e Infância – FUNDAÇÃO PROTEGER
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Calha trazer, de início, um breve escorço acerca da evolução do
tratamento dado a fundação pública pelo ordenamento jurídico
brasileiro. Para tanto, socorre-se das lições de ODETE MADUAR:
Talvez uma das primeiras referências legais à possibilidade da adoção da fundação para abrigar entidade estatal tenha sido a da antiga Lei de Diretrizes e Bases, Lei 4.024, de 20.12.1961, na redação primitiva do seu art. 81, que rezava o seguinte: “As universidades oficiais serão constituídas sob forma de autarquias ou fundações...”. Em 1968 foi editada a Lei 5.540, que deu nova redação ao título IX da antiga Lei de Diretrizes e Bases, relativo ao
ensino superior, estabelecendo o seguinte: “As universidades e os estabelecimentos isolados constituir-se-ão, quando oficiais, em autarquias de regime especial ou em fundações de direito público...”.
O Dec.-lei 200/67, na redação originária do § 2º do art. 4º, equiparou às empresas públicas, para os efeitos da mesma lei, as fundações instituídas em virtude de lei federal e de cujos recursos participasse a União, quaisquer que fossem suas finalidades. Portanto, equiparadas à empresas públicas, as referidas fundações integravam a Administração indireta.
O Dec.-lei 900/69 revogou essa norma e previu o seguinte (art. 3º): “Não constituem entidades da administração indireta as fundações instituídas na lei federal, aplicando-se-lhes, entretanto, quando recebam subvenções ou transferências à conta do orçamento da União, a supervisão ministerial”. A partir daí, essas fundações deixaram de integrar a Administração indireta,
permanecendo sem inserção organizacional.
O Dec.-lei 2.299, de 21.11.1986, reitegrou-as à Administração indireta. A Lei 7.569, de 10.04.1987, modificou o Dec.-lei 200/67, para promover o reingresso completo da fundação
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na Administração indireta, conferindo-se a denominação de fundação pública e fixando-lhe a noção.
A constituição de 1988 menciona várias vezes tais entes, com diversas expressões, como já se disse; fundações mantidas pelo poder público (art. 37, XVII); fundações instituídas e mantidas pelo poder público (arts. 22, XXVII; 71, II e III; 150, § 2º; 165, § 5º, I e II; 169, parágrafo único; e art. 64 do ADCT); fudação pública (arts.
37, XIX; 39; e 19 ADCT).3
Não afasta a natureza pública da fundação instituída e mantida
pelo poder público, a sua personalidade jurídica privada.
De acordo com o art. 5º, IV, do Dec.-lei 200/67, com a sua
vigente redação, fundação pública é “a entidade dotada de
personalidade jurídica de direito privado4, sem fins lucrativos, criada em
virtude de autorização legislativa, para ao desenvolvimento de atividades
que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público,
com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos
respectivos órgãos de direção e funcionamento custeado por recursos da
União e outras fontes”.
Ou seja, a fundação pública, que integra a administração indireta,
tem personalidade jurídica de direito privado. Essa aparente contradição
se dissipa quando se compara com a situação das empresas públicas, que
embora também integrem a administração indireta, e tenham natureza
pública, adotam a personalidade jurídica de direito privado.
3 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2. Ed. São Paulo: RT, pp. 87-88 4 Os grifos não constam do original
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Dessa maneira pode-se concluir que a adoção da personalidade
jurídica de direito privado não retira da fundação, instituída pelo poder
público através de autorização legislativa e mantida, ao menos em parte,
com recursos públicos, a sua natureza pública, de ente integrante da
administração indireta.5
ODETE MADUAR destaca que “o funcionamento custeado,
sobretudo, por recursos vindos da entidade matriz revela o
distanciamento da fundação pública do modelo fundacional delineado
pelo Código Civil, que exige patrimônio de certa monta para a instituição
da entidade”6.
A denominação fundação pública, apesar da sua personalidade
jurídica de direito privado, está a indicar justamente que se sujeita a um
regime jurídico público.
Nesse diapasão, conforme ODETE MADUAR:
Mesmo dotadas, em expressiva maioria, da natureza de pessoas jurídicas de direito privado, o § 3º do art. 5º do Dec.-lei 200/67, na parte final, exclui as fundações públicas da incidência dos preceitos do Código Civil concernente às fundações. Embora outras normas de direito privado possam aplicar-se às fundações públicas, ante a sua natureza jurídica, seu regime jurídico pauta-se pelas normas constitucionais e ordinárias aplicáveis a todas as fundações públicas,
pelas normas previstas nas leis que as criam e nos seus estatutos. Desse modo, sua atuação é regida precipuamente pelo direito
5 MEDAUAR, Odete. Opus cit., pp. 85-87 6 MEDAUAR, Odete. Opus cit., p. 89
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público, devendo observar os princípios arrolados no caput do art. 37 da Constituição Federal e os preceitos contidos nos inc.s desse artigo.7
Nesse ponto CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO, dado o
rigor publicístico do regime jurídico imposto à chamada fundação
pública, nega-lhe o próprio caráter fundacional, o que faz com a seguinte
assertiva: “Em rigor, as chamadas fundações públicas são pura e simplesmente
autarquias”8.
A FUNDAÇÃO PROTEGER, por tudo o examinado, é uma
fundação pública, que integra a administração indireta do Poder
Executivo do Município de Guarapuava9, sujeitando-se por isso aos
ditames do art. 37 da Constituição Federal.
Interessa de forma especial aos propósitos do objeto da presente
ação a exigência contida no seu inciso II: a investidura de seus
servidores, quer sob regime estatutário, quer sob regime celetista, a
investidura por via de concurso público.
Toma-se a liberdade de trazer à evidência, para ilustração, o
mencionado dispositivo constitucional, verbis:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
7 MEDAUAR, Odete. Opus cit. 2. Ed. São Paulo: RT, p. 89 8 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 1999,
p. 111 9 Tanto assim que o próprio poder Executivo Municipal em seu sítio na internet aponta-a como integrante da
Administração Indireta do Município de Guarapuava
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princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte10:
[...]
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;11
Aliás, sobre a investidura do pessoal das fundações públicas,
ensina ODETE MADUAR o seguinte:
O ingresso no quadro de pessoal das fundações públicas depende de aprovação prévia em concurso público, segundo exige o inc. II do art. 37 da Constituição Federal, qualquer que seja o regime jurídico vigente para o pessoal.12
É pacífico o entendimento de que a falta de prévia aprovação em
concurso público para o servidor contratado quer na administração
direta, quer na administração indireta, acarreta a nulidade do vínculo
funcional, para o caso de regime estatutário, e do contrato de trabalho,
para o caso de regime celetista.
A propósito:
CONTRATO DE EMPREGO FIRMADO COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. AUSÊNCIA DE PRÉVIA
10 Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19/98. Assim dispunha o caput alterado: "Art. 37. A
administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e, também, ao seguinte:"
11 Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19/98. Assim dispunha o caput alterado: "II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;"
12 MEDAUAR, Odete. Opus cit. 2. Ed. São Paulo: RT, p. 91
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APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO. NULIDADE. É nulo o contrato de trabalho firmado com a Administração Pública sem prévia aprovação em concurso público de provas e títulos. A realização de teste seletivo não supre o requisito imposto pelo artigo 37, inc. II, da CF, implicando na nulidade do contrato em razão do §2º do mesmo artigo.
(TRT-PR-01306-2007-325-09-00-0-ACO-02069-2009 - 3A. TURMA - Relator: CÁSSIO COLOMBO FILHO - Publicado no DJPR em 27-01-2009)
IV. DA LIMINAR
Busca-se a antecipação parcial da tutela apenas e tão somente para
impedir que novas contratações ilícitas venham ocorrer no curso do
processo.
A presente pretensão de tutela antecipada encontra fundamento
na idéia de fundado receio de dano, que segundo o magistério de LUIZ
GUILHERME MARINONI e SÉRGIO CRUZ ARENHART, “requer dois
pressupostos básicos: i) alegação verossímil; e ii) fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação”13.
No caso dos autos a afirmação de que todo o pessoal que integra
o quadro de servidores da FUNDAÇÃO PROTEGER ingressou e foi
mantido em seus postos de trabalho sem a prévia aprovação em
concurso público é verossímil, na medida em que se funda na afirmativa
de sua própria presidente, Maria do Carmo Ribas Abreu, que em seu
13 ARENHART, Sergio Cruz; MARINONI, Luiz Guilherme. Manual do processo de conhecimento. 3. ed. São
Paulo: RT, 2004, p. 248
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depoimento prestado nos autos do referido Procedimento Preliminar nº
005/2010, da 7ª Promotoria de Justiça de Guarapuava (fls. 102-103),
declarou o seguinte: “[...] a FUBEM14 nunca realizou concurso,
portanto todos os seus empregados foram contratados sem
concurso [...]”.
De outro giro, o fundado receio de dano irreparável encontra-
se assentado na possibilidade de novas contratações ilícitas, ampliando o
quadro de ilicitudes instalado na contratação de pessoal da
FUNDAÇÃO PROTEGER.
É fundado o receio de novas contratações ilícitas na medida em que
inclusive na gestão da atual presidente da FUNDAÇÃO PROTEGER
ocorreram contratações de servidores sem prévia aprovação em
concurso público.
Nesse sentido, sua presidente, Maria do Carmo Ribas Abreu, em
depoimento prestado nos autos do referido Procedimento Preliminar nº
005/2010, da 7ª Promotoria de Justiça de Guarapuava (fls. 102-103),
declarou o seguinte:
[...] Quando eu assumi a presidência da Fundação do Bem Estar do Menor de
Guarapuava, em 1º de janeiro de 2005, por nomeação prefeito que naquele mesmo
dia assumia o Poder Executivo local, eu fui conversar com ele sobre a necessidade da
contratação de um servidor para a coordenação das atividades administrativas da
14 Nome anterior à Lei municipal nº 1838, de 14 de outubro de 2009, que alterou a denominação da Fundação
Bem Estar do Menor – FUBEM para Fundação de Proteção Especial da Juventude e Infância – FUNDAÇÃO PROTEGER
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fundação; O prefeito manifestava-se contra qualquer contratação no âmbito da
FUBEM; A preocupação dele era em relação a regularidade da forma como vinha
sendo realizadas as contratações no âmbito da FUBEM, já que todos eram
contratados sem concursos públicos; Convenci o prefeito, contudo, que a contratação de
Adriana Panizzon para o cargo de Diretora Administrativa, e de Terezinha Nair
Vieira, como Assistente Administrativo, se fazia indispensável para que houvesse
normalidade das atividades, com o que ele acabou anuindo, de certa forma a contra-
gosto; No caso de Adriana sua contratação foi realizada por mim, na condição de
presidente, depois que seu nome foi aprovado pelo Conselho de Curadores da fundação;
No caso de Terezinha, seu cargo não previa essa apreciação pelo Conselho de
Curadores, razão pela qual eu realizei diretamente a sua contratação; Todos os
demais servidores que se acham no quadro de pessoal da fundação já estavam
contratados quando eu assumi a presidência; Ainda na minha gestão, ou seja, depois
que assumi a presidência da fundação, uma auxiliar de serviços gerais foi contratada e
depois demitida, é conhecida por “Neura”, mas seu nome exato eu não de memória
[...] a FUBEM nunca realizou concurso, portanto todos os seus empregados foram
contratados sem concurso [...]
O dano, no caso em exame, reside na própria contratação ilícita.
Trata-se de um dano imaterial, de um dano a qualidade e licitude da
Administração Pública. Esse dano é irreversível na medida em que uma vez
realizada nova contratação ilícita o dano terá se concretizado e não é
passível de desfazimento, seus efeitos poderão ser interrompidos a certa
altura, mas jamais se poderá afastar o que já se tiver concretizado.
Tem lugar, pois, no caso concreto em exame, a antecipação da
tutela nos limites pretendidos.
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III. DO PEDIDO
Posto isso,
o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO
PARANÁ, por seu promotor de justiça adiante
assinado, requer:
1. A citação da ré FUNDAÇÃO DE PROTEÇÃO ESPECIAL
DA JUVENTUDE E INFÂNCIA – FUNDAÇÃO
PROTEGER na pessoa de sua presidente acima
nominada e qualificada, para, querendo, responder no
prazo legal a presente ação;
2. A notificação da FUNDAÇÃO PROTEGER para que
em 72 horas se manifeste acerca do pedido de
antecipação de tutela feita pelo Ministério Público,
conforme redação do art. 1º da Lei 9.494/97 que
remete, para apreciação da antecipação da tutela, o
regimento previsto na Lei nº 8.437/92;
3. Após a notificação, com ou sem a manifestação do
notificado, a concessão de antecipação de tutela para o
fim de impor à requerida a obrigação de não
contratar nenhum novo servidor, por qualquer regime
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jurídico, sem a sua prévia aprovação em concurso
público, impondo-se multa – astraints – na pessoa de
sua presidente MARIA DO CARMO RIBAS ABREU em
quantia suficiente para dissuadí-la da prática15, já que a
vedação constitucional, por si só, não se mostrou
suficientemente apta para tanto;
4. A procedência da presente ação para o fim de
condenar a ré FUNDAÇÃO DE PROTEÇÃO ESPECIAL
DA JUVENTUDE E INFÂNCIA – FUNDAÇÃO
PROTEGER, a:
4.1. afastar definitivamente todos os seus servidores de
seus postos de trabalho, com prejuízo das respectivas
remunerações, ante a nulidade do referido contrato de
trabalho, pela falta da investidura válida, por meio de
concurso público;
4.2. não realizar a contratação de qualquer novo servidor,
qualquer que seja o seu regime jurídico, sem a sua
prévia aprovação em concurso público, ressalvadas as
hipóteses de que tratam o art. 37, II, parte final e 37,
IX, da Constituição Federal, impondo-se multa –
astraints – na pessoa de seu presidente em quantia
suficiente para dissuadí-lo da prática.
15 Sugere-se a quantia correspondente ao dobro da remuneração anual estabelecida para quem for contratado,
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IV. DA PROVA E DO VALOR DA CAUSA
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito
admitido, sem prejuízo de nenhum, mas especialmente pelo depoimento
pessoal dos réus, oitiva de testemunhas, cujo rol será oportuna e
tempestivamente depositado, produção de novos documentos e perícia.
Para esse fim, desde logo, com fundamento no art. 355 e ss. do
Código de Processo Civil, requer a notificação da ré, FUNDAÇÃO
PROTEGER, na pessoa de sua presidente, para o fim de exibir
cópias das fichas de empregados de todas as pessoas que se acham
contratadas pela FUNDAÇÃO PROTEGER, certidão dando conta de
que a contratação de todas essas pessoas foram contratadas sem
concurso público, ou na hipótese contrária, comprovação da prévia
aprovação em concurso público.
O pedido justifica-se em razão da obrigação legal de que a
requerida mantenha em seus arquivos tais documento.
Essa petição inicial segue instruída com cópia integral dos autos
do Procedimento Preliminar nº 005/2010, da 7ª Promotoria de Justiça de
Guarapuava, no estado em que se encontra nesta data, com 115 folhas, já
para cada contratação.
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que deverá ter o procedimento continuidade para aprofundamento das
questões atinentes a improbidade administrativa.
Observado, quanto às despesas processuais, o que dispõe o art. 18
da Lei nº 7.347/85, dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00, já que de valor
inestimável.
Termos em que,
Pede deferimento.
Guarapuava, 23 de maio de 2010.
William Gil Pinheiro Pinto Promotor de Justiça I:\FUBEM ACP I.doc