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70ª, 12ª, 88ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR e CAO CONSUMIDOR
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DA
FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA, GOIÁS.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS,
por seus promotores de justiça que esta subscrevem, com arrimo nos artigos 127, caput, e
129, II e III, da Constituição da República, no artigo 25, IV, letra “a”, da Lei nº 8.625/93,
art. 46, VI, letra “a”, da Lei Complementar Estadual nº 25/98, nas disposições contidas nas
Leis 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) e 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor),
vem, a presença de Vossa Excelência, propor:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA com requerimento liminar
em face do INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA DOS SERVIDORES
DO ESTADO DE GOIÁS – IPASGO, pessoa jurídica de direito público interno,
constituída sob a forma de autarquia estadual, representada pelo seu presidente Dr. Geraldo
Lemos Scarulles, sito na Av. 1ª Radial, nº 586, Setor Pedro Ludovico, Goiânia, Goiás,
CEP: 74.820-300, pelos motivos de fato e de direito doravante narrados.
Rua 23, esquina com Avenida Fued José Sebba, qd. A-6, lts. 01/24, fone/fax: 3243 8038, 8039 e 8040 Jardim Goiás, CEP 74215-050, Goiânia – Goiás. E-mail: [email protected]
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70ª, 12ª, 88ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR e CAO CONSUMIDOR
I - DOS FUNDAMENTOS FÁTICOS
No decorrer dos meses de Julho, Agosto, Setembro e Outubro
de 2008, o Ministério Público de Goiás recebeu inúmeras reclamações acerca do reajuste de
42 %, incidente sobre as mensalidades dos segurados do IPASGO SAÚDE que contribuem
com base na tabela fixada por cálculo atuarial.
O ato impugnado atingiu aproximadamente a metade dos
segurados daquele plano de saúde. Isto corresponde a um universo superior a 300.000
(trezentas mil) pessoas. Como será demonstrado nas linhas seguintes, este aumento é
abusivo e, por conseqüência, deve ser declarada sua nulidade de conformidade com a
sistemática do Código de Defesa do Consumidor. Entretanto, antes de aprofundarmos no
mérito da demanda, discorremos brevemente sobre a autarquia estadual gestora do plano
de saúde, ora Ré.
Em obediência ao comando constitucional, EC 20/1998,
houve a cisão da gestão financeira e administrativa do IPASGO PREVIDÊNCIA e do
IPASGO SAÚDE. A Lei Estadual n° 14.081/2002 (alterada pelas Leis 14.258/2002, 14.448/2003 e
15.981/2007), regulamentada pelo Decreto n° 5.592/2002, tratou da adequação a esta
exigência constitucional (doc. 01).
O Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do
Estado de Goiás – IPASGO, segundo dispõe a lei acima, possui o encargo de administrar
e gerir o “Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores do Estado de Goiás” – IPASGO
SAÚDE. Constitui, portanto, um plano de saúde, de autogestão, sem fins lucrativos,
oferecido pela autarquia estadual aos servidores públicos do Estado de Goiás e seus
dependentes.
Assim, co-existem na mesma sede física, igual CNPJ,
IPASGO PREVIDÊNCIA e IPASGO SAÚDE. O mesmo gestor do IPASGO
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PREVIDÊNCIA administra o IPASGO SAÚDE. Porém, a orçamentação e contabilidade
realiza-se de forma distinta. Em síntese. Cuida, portanto, o IPASGO PREVIDÊNCIA das
aposentadorias por tempo de contribuição, doenças incapacitantes, idade máxima de
permanência na ativa ou dos afastamentos para tratamento de saúde dos servidores públicos
efetivos do Estado de Goiás (executivo, legislativo, judiciário, TCE e TCM). Por
conseqüência, a filiação/contribuição é compulsória.
Já o IPASGO SAÚDE, oferece àqueles que voluntariamente
aderiram ao plano – filiação facultativa – um “plano de assistência à saúde”, para
atendimento na rede conveniada ou credenciada, mediante co-participação. Podem filiar-se
ao plano de saúde servidores ocupantes de cargos efetivos, comissionados, temporários,
ex-servidores estaduais do executivo, legislativo, ministério público, judiciário, TCE, TCM,
servidores municipais, câmaras municipais e seus dependentes,
Mensalmente, o segurado do IPASGO SAÚDE paga, via
boleto bancário, débito automático realizado na conta corrente, ou desconto em
contracheque, uma contribuição mensal. Esta contribuição pode ser prestada de duas
formas, quais sejam:
I - Contribuição percentual: Nesta hipótese, a contribuição
se dá através de um desconto de 6,81 %, a incidir sobre a remuneração ou provento do
servidor ativo ou inativo, para o plano básico, que garante, nas internações, acomodação
em enfermaria; ou através de um desconto de 12,48 %, sobre a remuneração ou provento
do servidor ou inativo, para o plano especial, que permite, nas internações, acomodação
em apartamento hospitalar.
Este tipo de contribuição percentual possui limite mínimo e
máximo de desconto. Beneficia o segurado e todo o seu “grupo familiar”, qual seja,
seu cônjuge, companheira(o), filhos solteiros menores de 18 anos, filhos solteiros de até 23
anos que estejam cursando ensino superior e maiores incapazes. Com o pagamento deste
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percentual, todas estas pessoas do grupo familiar estão cobertas pelo plano de saúde. Esta
contribuição por percentual não foi objeto do reajuste de 42%.
II - Contribuição com base na tabela fixada por cálculo
atuarial: Nestas situações, a contribuição ocorre com o pagamento de um valor mensal
previamente estipulado, preferencialmente com autorização de débito automático na conta
na data do vencimento da mensalidade ou via boleto bancário, a ser creditado diretamente
na conta do IPASGO Saúde. Existe uma tabela pré-estabelecida com variações conforme a
idade do segurado, opção de tratamento com internação em ambiente hospitalar classificado
como enfermaria (plano básico) ou em apartamento (plano especial).
Eventual atraso no pagamento da mensalidade, impossibilita
a utilização do serviço de assistência à saúde. Para qualquer atendimento: ambulatorial,
exames ou guia de procedimento/internação, o segurado titular ou dependentes necessitarão
previamente de uma autorização denominada “guia”, emitida pelo IPASGO SAÚDE,
quando checam de imediato o adimplemento mensal. Mesmo adimplente, terá que
concorrer com outro percentual – co-participação - também recolhido pelo sistema
bancário, registrado na “guia”.
A contribuição mensal com base na tabela fixada por cálculo
atuarial é definida por um “cálculo atuarial”, realizado por profissional chamado atuário,
onde, considerando os números atuais, faz-se uma projeção sobre as despesas e receitas do
exercício seguinte. Segue, em anexo, a atual tabela de contribuições, extraída do site do
IPASGO (www.ipasgo.go.gov.br) (doc. 02).
Integram o rol daqueles que contribuem de acordo com a
tabela fixada em cálculo atuarial, por exemplo, os seguintes dependentes: pais; cônjuge
desquitado, separado judicialmente ou divorciado; filhos maiores de 18 anos ou
emancipados ou que vivem sob união estável; qualquer parente em linha reta;
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parentes em linha colateral até o 4° grau; parentes por afinidade; ex-servidores; ex-
comissionados; ex-temporários entre muitos outros.
Desta forma, existem os segurados que contribuem com base
no percentual de 6,81% ou 12,48%, a incidir sobre sua remuneração ou proventos. Esta
contribuição percentual, mais a co-participação na guia emitida para cada consulta ou
exame, aproveita apenas o próprio segurado e a seu grupo familiar. E existem, também, os
segurados indicados no parágrafo anterior, que correspondem a mais de 300.000 pessoas,
que pagam o valor fixado na tabela fixada com base em cálculo atuarial, e a correspondente
co-participação. São estes últimos, os segurados que foram fortemente alcançados pelo
reajuste de 42%.
Assalta-nos de pronto a indagação: Porque os descontos
incidentes sobre a remuneração do titular em percentual de 6,81% ou 12,48%, e os valores
estabelecidos per capita daqueles que contribuem pela tabela atuarial, não ocorrem todos
diretamente na folha servidor titular do plano de saúde?
A resposta é simples. A maioria dos segurados que incluem
dependentes que contribuem de acordo com a tabela fixada com base em cálculos atuariais,
não possuem renda suficiente a suportar os descontos diretamente no contracheque. Como a
maioria dos segurados possuem baixa remuneração, os somatório dos descontos resultaria
em saldo devedor ou credito irrisório/bagatela na conta bancaria de recebimento da
remuneração, prática vedada pelo sistema de endividamento da AGANP. Hoje está
estabelecido endividamento máximo de 30% da remuneração ou provento.
Agravando ainda mais a situação dos seus segurados, no
dia 24/06/2008, o Conselho Deliberativo do IPASGO editou a Resolução n° 16/2008
(docs. 03/04), onde reajustou os valores das contribuições fixadas na tabela elaborada
com base em cálculos atuariais em 42%, atingindo, portanto, os segurados que
contribuem na forma relacionada no item II (pág. 04).
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Segundo a citada Resolução, este aumento ocorrerá
progressivamente, em três parcelas, sendo de 20% em Julho, 11% em Agosto e mais
11% em Setembro de 2008. Este percentual de reajuste incide sobre os valores
constantes na tabela então vigente.
Eis o teor do art 1° da citada Resolução:
“Art. 1°. Fica aprovado reajuste nos valores da tabela aplicável
aos segurados e dependentes que contribuem com base em cálculo atuarial, no percentual de 42 % (quarenta e dois por
cento), descontados em três vezes, sendo 20% (vinte por cento)
em julho, 11% em agosto e mais 11 %, sobre os valores atuais das
contribuições constantes na referida tabela, que será fixado na
nova tabela a ser expedida por ato do Presidente do Ipasgo” (grifo
nosso).
Assim, por exemplo, a contribuição mensal para o plano
especial de uma pessoa de 59 anos ou mais, antes do reajuste, era de R$ 162,61 (cento e
sessenta e dois reais, sessenta e um centavos). Após o reajuste, esta mesma pessoa passou a pagar
R$ 230,90 (duzentos e trinta reais e noventa centavos). A pessoa de 59 ou mais que contribuía
para o plano básico, antes do reajuste, pagava R$ 88,71. Agora, com o reajuste, passará a
pagar R$ 125,96 (tabela em anexo, doc. 02).
Cumpre lembrar que até 2003, o IPASGO SAÚDE não
admitia a inclusão dos segurados que contribuem de acordo com a tabela fixada com base
em cálculos atuariais, relacionados do item II (pág. 04, desta inicial). Os únicos segurados do
plano de saúde eram o servidor do Estado de Goiás, e seus dependentes integrantes do
grupo familiar direto.
Ao permitir o ingresso destes novos segurados, que
contribuem de acordo com a tabela, o IPASGO SAÚDE exigiu a obediência a um prazo de
carência. Agora, ultrapassado este prazo, por via transversa, a autarquia exclui ou tenta
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fazer com que estes novos segurados abandonem o plano, majorando abusivamente a
mensalidade em 42%.
Ademais, estes novos segurados, que pagam de acordo com a
tabela, são os que efetivamente contribuem com a receita do IPASGO SAÚDE, já que os
descontos em folha dos segurados que contribuem com base em um percentual não são
repassados automaticamente pela SEFAZ ao IPASGO. A propósito, para viabilizar este
repasse, o Ministério Público de Goiás, através de sua promotora de justiça Dra. Marilda
Helena, ajuizou Ação Civil Pública. Esta ação encontra-se na fase de instrução (cópia da
inicial e decisão liminar em anexo, docs. 05/06 ).
Como será demonstrado adiante, este gigantesco reajuste de
42% afronta diversas normas constitucionais e legais. É para cessar com esta abusividade
que o Ministério do Estado de Goiás provoca o Poder Judiciário, visando restabelecer a
ordem jurídica violada pelo maior Plano de Saúde Goiano – IPASGO SAÚDE - o qual
brada aos quatro ventos não visar lucro, tratar-se de autarquia estadual, para não permitir
uma auditagem pela Agência Nacional de Saúde, quando certamente sofrerias diversas
sanções, intervenções administrativas ou impedida de prosseguir na venda de “ilusões”,
como faz hoje ao negar cobertura aos procedimentos previsto na resolução 167 da ANS ou
contingenciá-los. Porém, utiliza-se de dados atuariais próprios dos prestadores de serviço à
saúde suplementar privada para reajustar a mensalidade de parte dos seus dependentes.
II - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
PRELIMINARMENTE
DO CABIMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA
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Nos termos do CDC (art. 81, parágrafo único, inciso II),
interesses coletivos em sentido estrito são aqueles transindividuais, indivisíveis, cuja
titularidade pertence a um grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a
parte contrária por uma relação jurídica base.
São interesses que transbordam a esfera subjetiva de um
indivíduo (transindividuais), e que devem ser solucionados de modo uniforme (indivisíveis)
para todo o grupo, categoria ou classe que lhe detenha a titularidade.
Hugo Nigro Mazzilli leciona que, ao contrário do que se
costuma pensar, em todos os direitos coletivos lato sensu (difusos, coletivos e individuais
homogêneos) haverá sempre uma relação jurídica unindo as partes e haverá sempre uma
situação de fato. O ponto que irá distinguir os direitos coletivos em sentido estrito, dos
direito difusos e individuais homogêneos é que, nos direitos coletivos em sentido estrito,
a solução do problema deve ser uniforme para todo o grupo, categoria ou classe. Já
nos direitos difusos, a solução da lide também será uniforme, porém abrangerá um número
indeterminável de pessoas (e não só o grupo, categoria ou classe). Nos direitos individuais
homogêneos, a solução da celeuma trará proveitos variáveis para cada pessoa, daí o seu
caráter divisível (A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo, 21ª edição, editora Saraiva).
Sem dúvida, os direitos e interesses discutidos na presente
demanda são coletivos em sentido estrito, senão vejamos.
Tratam-se de direitos transindividuais, pois ultrapassam a
esfera de interesses de uma só pessoa (mais de 300 mil pessoas foram afetadas pelo abusivo
reajuste). São indivisíveis e pertencentes a um grupo de pessoas, pois a solução beneficiará
de modo uniforme (indivisibilidade) todos os segurados do IPASGO SAÚDE que
contribuem de acordo com a tabela fixada em cálculo atuarial (grupo de pessoas), afinal,
não há como o reajuste ser abusivo para uns, e para outros não. Por fim, todos os
segurados possuem com o IPASGO SAÚDE a mesma relação jurídica base.
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Identificada, pois, a natureza coletiva (em sentido estrito) dos
direitos aqui afirmados, forçoso concluir pelo cabimento da presente Ação Civil Pública. É
o que dispõe a Lei 7.347/1985:
“Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da
ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e
patrimoniais causados:
(...)
II – ao consumidor. IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.”
Não bastasse, o cabimento da presente demanda sustenta-se
também pelo inciso II, do art. 1°, da Lei da Ação Civil Pública (transcrito acima). Isto
porque, como será posteriormente demonstrado, a relação entre os segurados e o IPASGO
SAÚDE configura-se como relação de consumo (artigos 2º e 3º, da Lei 8.078/90).
DA LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Reiterando as precisas lições de Hugo Nigro Mazzilli, o MP
sempre detém legitimidade ativa para a tutela dos interesses coletivos lato sensu quando a
questão debatida envolver relevante interesse social (A Defesa dos Interesses Difusos em
Juízo, 21ª edição, editora Saraiva).
O Presidente do IPASGO, em entrevista concedida ao jornal
“O Popular”, publicada em 19/08/2008 (doc. 07), afirmou que o IPASGO SAÚDE conta
atualmente com quase 700 mil segurados, o que representa aproximadamente 10% da
população de Goiás. Deste total, 300 mil contribuem com base na tabela fixada em
cálculo atuarial (atente-se que esta é a tabela objeto do reajuste). No mesmo sentido, o
jornal “Diário da Manha” publicou no dia 25/06/2008 (doc. 08), notícia onde afirmou que
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os segurados que contribuem com base nesta tabela, em Maio de 08, somavam 304.737
indivíduos.
Neste espectro, dada quantidade de pessoas atingidas pelo
abusivo reajuste, mais de 300 mil pessoas, é flagrante a relevância social do tema aqui
debatido, o que deflagra, por si só, a legitimidade ativa ad causam do Ministério Público.
Não fosse suficiente, a jurisprudência do STF e do STJ já
consolidou o entendimento de que o Ministério Público possui legitimidade para a defender
em juízo os direitos coletivos em sentido estrito, sobretudo no interesse do consumidor. É o
que se extraí da leitura do acórdão do STF, onde também se discutiu reajustes abusivos:
EMENTA: MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. LEGITIMIDADE PARA PROMOVER AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM DEFESA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS. MENSALIDADES ESCOLARES. ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS DE REAJUSTE FIXADAS PELO CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO. ART. 129, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.O Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária do dia 26 de fevereiro de 1997, no julgamento do RE 163.231-3, de que foi Relator o eminente Ministro Maurício Corrêa, concluiu pela legitimidade ativa do Ministério Público para promover ação civil pública com vistas à defesa dos interesses coletivos.Recurso extraordinário conhecido e provido.RE 190976 / SP - SÃO PAULO. RECURSO EXTRAORDINÁRIORelator(a): Min. ILMAR GALVÃO. Julgamento: 31/10/1997. Órgão Julgador: Primeira Turma
No mesmo trilhar, segue a jurisprudência do STJ:
“PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282/STF E 211/STJ. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS. DESPROVIMENTO DO RECURSO ESPECIAL.1. A ausência de prequestionamento dos dispositivos legais tidos como violados torna inadmissível o recurso especial. Incidência das Súmulas 282/STF e 211/STJ.2. A deficiência da fundamentação do recurso especial atrai, por analogia, o contido na Súmula 284/STF.
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3. O "Ministério Público está legitimado a promover ação civil pública ou coletiva, não apenas em defesa de direitos difusos ou coletivos de consumidores, mas também de seus direitos individuais homogêneos, nomeadamente de serviços públicos, quando a lesão deles, visualizada em sua dimensão coletiva, pode comprometer interesses sociais relevantes. Aplicação dos arts. 127 e 129, III, da Constituição Federal, e 81 e 82, I, do Código de Defesa do Consumidor" (excerto da ementa do REsp 417.804/PR, 1ª Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 16.5.2005, p. 230).4. Recurso especial desprovido.(REsp 610.235/DF, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 20/03/2007, DJ 23/04/2007 p. 231).
Em mais um caso onde se discutia reajustes abusivos, o STJ
decidiu pela representatividade adequada do MP:
AÇÃO CIVIL PUBLICA. INTERESSES COLETIVOS. LEGITIMIDADE ATIVA. MINISTERIO PUBLICO. ANUIDADE ESCOLAR.O MINISTERIO PÚBLICO TEM LEGITIMIDADE PARA PROMOVER AÇÃO CIVIL PUBLICA, NA DEFESA DE INTERESSES COLETIVOS DA COMUNIDADE DE PAIS E ALUNOS DE ESTABELECIMENTO ESCOLAR, VISANDO A FIXAÇÃO DA ANUIDADE ESCOLAR.RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.(REsp 38.176/MG, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 13/02/1995, DJ 18/09/1995 p. 29967).
Mutatis mutantis, mas ainda sobre a legitimidade do
parquet nas questões referentes a reajuste abusivos, o STF editou a súmula 643:
“Súmula 643. O Ministério Público tem legitimidade para promover Ação
Civil Pública cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de
mensalidades escolares.”
A citada súmula é perfeitamente aplicável à situação aqui
debatida. Propõe-se, inclusive, a realização de uma analogia juris, substituindo a expressão
“mensalidades escolares”, pela expressão “planos de saúde de servidores público”, afinal,
a questão debatida é a mesma. Vejamos a nossa leitura da sumula 643: O Ministério
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Público tem legitimidade para promover Ação Civil Pública cujo fundamento seja a
ilegalidade de reajuste de planos de saúde de servidores público.
DO MÉRITO
DA RELAÇÃO DE CONSUMO
Relação de consumo é aquela existente entre um consumidor
e um fornecedor, que tem por objeto a aquisição de um produto ou a prestação de um
serviço.
Para a correta identificação de uma relação de consumo,
mister que se estabeleça o conceito de seus três principais elementos, quais sejam: (I)
Consumidor; (II) Fornecedor; e (III) Produto ou Serviço. Analisemos tais conceitos.
(I) Consumidor: O Código de Defesa do Consumidor, Lei
8.078, de 11 de setembro de 1990 (vigência a partir de 11 de março de 1991), em seu art.
2°, define “consumidor em sentido estrito” da seguinte maneira:
“Art. 2°. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire
ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.”
Os artigos 17 e 29, da lei consumerista, trazem os conceitos
de “consumidor por equiparação”:
“Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos
consumidores todas as vítimas do evento.
“Art. 29. Para os fins deste capítulo e dos seguintes, equiparam-
se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não,
expostas às praticas nele previstas.”
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O capítulo a que se refere o dispositivo transcrito trata, entre
outros temas, das práticas abusivas, donde se infere que, todas as pessoas lesadas por
práticas abusivas (v.g, reajustes abusivos), ainda que indetermináveis, enquadram-se no
conceito de consumidor.
(II) Fornecedor: O conceito de fornecedor vem definido no
art. 3°, do CDC:
“Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Em síntese, fornecedor é qualquer pessoa física ou jurídica
(ou um ente despersonalizado), que coloca com habitualidade um produto ou serviço no
mercado de consumo. A leitura pura e simples do dispositivo legal é capaz de dar um
panorama da amplitude do conceito de fornecedor. A intenção do legislador foi de não
excluir nenhum tipo de pessoa jurídica. Frise-se que a lei incluiu até mesmo as pessoas
jurídicas de direito público, como as autarquias estaduais (por ex., IPASGO SAÚDE).
(III) Produto ou Serviço: Os conceitos de produto e serviço
se encontram, respectivamente, nos parágrafos 1° e 2°, do art. 3°:
“§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista (grifo nosso).”
Mais uma vez percebe-se que a intenção da lei é a de não
excluir nenhum tipo de serviço, sendo que o rol trazido é meramente exemplificativo
(atente-se para as palavras “qualquer” e “inclusive”).
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70ª, 12ª, 88ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR e CAO CONSUMIDOR
E é aqui que enfrentamos o ponto capital deste tópico: a
relação jurídica existente entre o IPASGO SAÚDE e seus segurados, deve ser
considerada como uma relação de consumo? Certamente que sim. Conheçamos os
motivos.
Os segurados enquadram-se perfeitamente no conceito de
consumidor previsto no art. 2° do CDC, uma vez que são pessoas físicas que adquirem, em
proveito próprio ou de sua família, um serviço de plano de saúde colocado à sua disposição
no mercado de consumo. Pagam às duras penas mensalidade, sob o risco permanente de
rescisão contratual e negativa da cobertura no atendimento ao serviço de saúde por ela
credenciada.
O IPASGO SAÚDE também se encaixa no conceito de
fornecedor. Isso porque é uma pessoa jurídica de direito público, que habitualmente presta
um serviço de plano de saúde, mediante contribuição mensal dos segurados facultativos.
Por fim, o serviço de plano de saúde oferecido pelo IPASGO
SAÚDE também sujeita-se ao regramento do CDC. É uma atividade fornecida no
mercado mediante remuneração. Registra-se que a própria lei traz os serviços
securitários, o que inclui seguros de vida, de propriedade e seguros de saúde, pois não há
qualquer razão para diferenciá-los, como um dos exemplos de serviços que se submetem ao
CDC.
De acordo com o entendimento unânime da doutrina, a
remuneração a que se refere o parágrafo 2°, do art. 3°, pode ser direta ou indireta, isto é,
abrange aquela situação onde há um efetivo repasse de valores (direta), e também aquela
onde não há esse repasse, porém, seu custo está embutido em outros produtos ou serviços,
pagos pelo próprio ou até outros consumidores (indireta). Na relação entre IPASGO
SAÚDE e segurados, há uma remuneração direta, vale dizer, mensalmente os
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consumidores pagam àquela autarquia uma quantia percentual ou determinada, fixada na
tabela.
E que não nos venham dizer que por ser uma autarquia de
auto gestão, sem finalidade lucrativa, o IPASGO SAÚDE não presta um serviço
remunerado, portanto, não incluído no rol exemplificativo do artigo 3º do CDC. Ora, há
muito a jurisprudência admite como fornecedores entidades da administração indireta. São
inúmeros os julgados que colocam a CELG, a SANEAGO, o Banco do Brasil (sociedades
de economia mista), a Caixa Econômica Federal, a Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos (empresas públicas) como fornecedores perante o CDC. Estas, no que pese
tratar-se de pessoas jurídicas de direito privado, são empresas estatais, também integrantes
da Administração Indireta. Não possuem o chamado “animus distribuendi”
Note-se, ainda, que o próprio Código de Defesa do
Consumidor submete os serviços públicos à sua disciplina. Vejamos:
“Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,
concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços
adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais,
contínuos.”
Neste palmilhar, o que caracteriza uma pessoa jurídica
como fornecedor, é o serviço prestado (que pode ser público ou privado), e não a sua
natureza jurídica (de direito privado ou público). Neste ponto, valiosa a lição de
Rizzatto Nunes:
“Diz a Norma: ‘órgãos públicos, por si ou por suas empresas,
concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de
empreendimento’, vale dizer, toda e qualquer empresa pública ou
privada que por via de contratação com a Administração pública
forneça serviços públicos, assim como, também, as autarquias,
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fundações e sociedades de economia mista. O que caracteriza a pessoa jurídica responsável na relação jurídica de consumo estabelecida é o serviço público que ela está oferecendo e/ou prestando”(Curso de Direito do Consumidor, 2ª edição, ed.
Saraiva).
Vejamos, ainda, outros elementos que corroboram para a
aplicação do CDC na relação entre IPASGO SAÚDE e seus segurados facultativos.
Como visto, a adesão ao IPASGO PREVIDÊNCIA é
compulsória. Esta contribuição tem natureza jurídica de tributo. Logo, submete-se ao
regramento do Código Tributário Nacional e outras leis específicas. Noutro giro, a adesão
ao IPASGO SAÚDE é facultativa. É o segurado quem escolhe se pretende ou não filiar-se
ao plano. Esta facultatividade na contratação é uma das características da relação de
consumo. Mesmo não sendo possível negociar as cláusulas contratuais, não está subtraída a
autonomia de vontade do consumidor, que conhece a cobertura oferecida na lei de criação
do IPASGO SAÚDE, aderindo a este contrato. Ademais, a própria existência de um
contrato de adesão também é uma peculiaridade do contrato de consumo.
Outro atributo típico dos contratos de consumo que se mostra
presente na relação aqui discutida é a vulnerabilidade (art. 4°, inc. I, lei 8.078/90). O
segurado/consumidor é, sem dúvida, a parte fraca da relação. Esta vulnerabilidade é de
ordem técnica. Está delineada no fato de que é o IPASGO SAÚDE quem determina quais
os procedimentos cobertos, quais os serviços prestados e quais os profissionais
credenciados. A vulnerabilidade de ordem econômica funda-se na capacidade econômica
do IPASGO SAÚDE, em não permitir aos consumidores discutirem o reajuste aplicado,
como in casu. Temos, por fim, a vulnerabilidade de ordem científica, pois o IPASGO
SAÚDE conta com profissionais capacitados em todas as áreas do conhecimento para o
atendimento de seus próprios interesses, ao passo que o consumidor, regra geral, é
totalmente desamparado.
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70ª, 12ª, 88ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR e CAO CONSUMIDOR
O IPASGO SAÚDE presta seus serviços com
profissionalismo e habitualidade, mais um elemento da relação de consumo.
Finalmente, o IPASGO SAÚDE disputa mercado com a
concorrência. Em razão do caráter facultativo do IPASGO SAÚDE, o futuro
segurado/consumidor sempre irá comparar os preços praticados pelo IPASGO SAÚDE,
com os preços prestados pelos planos de saúde privado. A concorrência de mercado é
mais uma característica da relação de consumo.
A jurisprudência a seguir transcrita refere-se ao IPSEMG -
Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais. Esta é a autarquia do
Estado de Minas Gerais responsável pelo plano de saúde oferecido aos servidores daquele
Estado. Serve, portanto, de paradigma ao IPASGO SAÚDE, que oferece a mesma espécie
de planos de saúde. Na espécie, o TJMG reconheceu a relação de consumo entre o
IPSEMG e o segurado, vejamos:
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO MANEJADA CONTRA O IPSEMG E MÉDICO DA AUTARQUIA ESTADUAL - RELAÇÃO DE CONSUMO CONFIGURADA - APLICAÇÃO DO ART. 101, INCISO I, DO CDC - RECURSO DESPROVIDO. Presentes a figura do consumidor e do fornecedor de serviços, bem como a contraprestação exigida do servidor para que este e seus dependentes possam usufruir dos serviços de saúde prestados pelo IPSEMG, é indiscutível a incidência do Código de Defesa do Consumidor. - Nos lindes do art. 101, inciso I, do CDC, a ação que verse sobre responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços pode ser ajuizada no foro do domicílio do consumidor. - Recurso ao qual se nega provimento. TJMG. Ag nº 1.0223.06.206570-9/001(1) – Relator: DÍDIMO INOCÊNCIO DE PAULA. Data julgamento: 25/10/2007. Publicação: 08.11.2007.
Nesta esteira, o nosso Tribunal Goiano também compartilha o
mesmo entendimento, ao ser instado a manifestar, prolatando decisão na demanda travada
entre o IPASGO SAÚDE e o segurado, concluindo pela configuração da relação de
consumo:
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70ª, 12ª, 88ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR e CAO CONSUMIDOR
"DUPLO GRAU DE JURISDICAO. APELACAO CIVEL VOLUNTARIA. MANDADO DE SEGURANCA. MATERIA DE DIREITO. COMPROVACAO DO ATO ABUSIVO. PROVA PRE-CONSTITUIDA. RELACAO DE CONSUMO. EXTINCAO. INTERVENCAO ABUSIVA DO PROCON. I - TRATANDO-SE DE MATERIA UNICAMENTE DE DIREITO, NAO HA QUE SE FALAR EM AUSENCIA DE PROVA PRE-CONSTITUIDA SE A PARTE IMPETRANTE COLECIONA AOS AUTOS DOCUMENTOS APTOS A COMPROVAR O ATO ATACADO. II - EXTINTO O CONVENIO, DO QUAL ADVINHA RESPONSABILIDADE AO IPASGODE FORNECER AOS SERVIDORES MUNICIPAIS DE ANAPOLIS A PRESTACAO DE SEUS SERVICOS, EXTINGUINDO-SE A RELACAO JURIDICA DE CONSUMOENTRE ESTE, O QUE DESLEGITIMA A ATUACAO DO PROCON. III - VIOLA DIREITO LIQUIDO E CERTO DO IMPETRANTE A INTERVENCAO DO PROCON, QUANDO NAO MAIS EXISTE A RELACAO DE CONSUMOENTRE AS PARTES. APELO E REMESSA CONHECIDOS E IMPROVIDOS." Apelação em MS 200600389213. Apelante Ipasgo. Apelado: Coordenador Executivo do Procon Municipal de Anápolis. Relator: Atila Naves Amaral .Comarca de Anápolis.
Por derradeiro, não custa mencionar que na página inicial do
IPASGO na internet (www.ipasgo.go.gov.br), há um link denominado “clientes” (doc. 09). É
nele que os segurados devem clicar para obter informações sobre procedimentos cobertos,
retirada de guias, entre outros. Ora, ao chamar seus segurados de “clientes”, o próprio
IPASGO reconhece a existência da relação de consumo.
DO REAJUSTE
Conforme já mencionado em tópico anterior, no dia
24/06/2008, o Conselho Deliberativo do IPASGO editou a Resolução n° 16/2008, onde
reajustou os valores das contribuições fixadas na tabela elaborada com base em cálculos
atuariais em 42 % (docs. 03/04).
O referido aumento revela uma verdadeira manobra da
autarquia estadual para escapar dos limites impostos pela lei ao reajuste das mensalidades
do seu plano de saúde. Explica-se.
Relembramos que a contribuição para o plano de saúde
oferecido pelo IPASGO pode se dar de duas maneiras: através da (I) Contribuição sobre
um percentual ou pela (II) contribuição com base na tabela fixada por cálculo atuarial.
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70ª, 12ª, 88ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR e CAO CONSUMIDOR
A (I) contribuição percentual (de 6,81 ou 12,48%) é fixada
atualmente pela lei estadual 15.981/2007, que alterou a lei 14.081/2002 (esta criou o
IPASGO SAÚDE). Assim, a alteração do percentual cobrado só pode se dar por meio
de outra lei.
Como foi dito, esta (I) contribuição percentual encontra
limites mínimos e máximos. Estes limites só podem ser reajustados anualmente e de
acordo com o INPC. É o que determina o art. 19, parágrafo 1°, da lei 14.081 (alterado pela
lei 15.981/2007):
“Art. 19 - A contribuição mensal dos segurados do IPASGO SAÚDE será:
I – de 6,81% (seis inteiros e oitenta e um centésimos por cento) para o IPASGO SAÚDE básico dos servidores estaduais ativos, inativos abrangidos pelos efeitos da Emenda Constitucional nº 16/97 aplicado sobre a base de cálculo de contribuição relativa à sua remuneração, provento ou pensão, calculada na forma do art. 18 desta Lei, cujo pagamento beneficia o grupo familiar;
(...)
§ 1o A menor contribuição percentual para custeio do Plano Ipasgo Saúde Básico será aquela resultante da aplicação do índice de reajustamento estabelecido pelo art. 5º da Lei no
14.488/03, sobre o valor mínimo arrecadado em abril de 2006, e a maior será de 5,67 (cinco inteiros e sessenta e sete centésimos) de vezes o valor desta, anualmente corrigidas, exceto para os beneficiários que contribuem mediante cálculo atuarial (Redação dada pela Lei nº 15.981, de 07-02-2007).”
O art. 5°, da Lei 14.488/03, a que se refere o citado
dispositivo, dispõe que:
“Art. 5o Os valores expressos em Real (R$) na Lei no 14.081, de 26 de fevereiro de 2002, serão anualmente atualizados com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC – apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – no período.”
O IPASGO SAÚDE precisava aumentar sua arrecadação para
reequilibrar o sistema. Porém, esbarrava em limites previsto na lei 14.488/03, para
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aumentar sua receita decorrente das contribuições sobre um percentual. Isso porque, para
aumentar o percentual cobrado (de 6,81 ou 12,48 %), precisaria de uma nova lei, o que era
inviável. Por outro lado, os limites mínimos e máximos das contribuições sobre um
percentual deveriam obedecer ao índice de reajuste do INPC, como visto.
A saída encontrada pelo IPASGO SAÚDE para reequilibrar
as finanças do sistema foi reajustar, abusivamente, a contribuição daqueles que contribuem
com base na tabela fixada por cálculo atuarial. Isso porque a lei não fixa limite para o
reajuste dessas contribuições.
Absurdamente, para o reajuste das contribuições com base na
tabela fixada por calculo atuarial, a lei 14.081, alterada pela lei 15.981/2007, exige apenas
(a) a confecção de cálculos atuariais que indiquem os valores do reajuste e (b) a publicação
de uma Resolução, pelo Conselho Deliberativo do Instituto, dando publicidade aos novos
índices de reajuste. Não há qualquer limite expresso na lei para esse reajuste. Vejamos o
teor do dispositivo mencionado:
“Art. 19. (...)
§4°. O reajustamento anual da tabela de contribuição individual e
por faixa etária será efetivado após a publicação de Resolução do Conselho Deliberativo, à vista de cálculos atuariais que indiquem os índices a serem aplicados” (grifo nosso).
Pretendendo dar aparência de legalidade ao reajuste das
mensalidades, o IPASGO SAÚDE contratou uma empresa privada, chamada Vesting, para
elaboração dos cálculos atuariais. Esta contratada elaborou um relatório, onde sugeriu o
índice de reajuste de 42% para aqueles que contribuem com base na tabela (doc. 10). Este
cálculo foi elaborado com dados oferecidos pelo próprio IPASGO.
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Em síntese, para driblar os limites aos reajuste impostos pela
lei, o IPASGO atribuiu àqueles que contribuem com base na tabela, o pesado fardo de,
sozinhos, reequilibrarem o sistema.
DA ABUSIVIDADE DO REAJUSTE
Por sorte, nosso ordenamento jurídico não é composto
apenas por leis. Ao lado das leis, existem os princípios, que exercem um fundamental papel
de integração de lacunas, bem como limitam a autuação da Administração e do próprio
legislador.
Além do mais, conforme ensina Canotilho, o Direito
Constitucional atual confere amplo caráter normativo aos princípios, vale dizer, para
doutrina constitucional atual, que por sinal é acompanhada pelo STF, as normas são o
gênero, do qual são espécies as leis e os princípios. Neste espectro, os princípios são
espécies de normas, possuindo a mesma força cogente das leis.
No caso presente, apesar da lei não ter fixado limites para o
reajuste da tabela fixada com base em calculo atuarial, os princípios se encarregam de
preencher esta lacuna e de limitar a atuação da Administração. E, por terem força
normativa, sua aplicação é medida que se impõe.
Partindo de tais premissas, vejamos as normas (gênero)
violadas pelo reajuste de 42 %.
O princípio da boa-fé-objetiva, cláusula geral do direito,
traduz uma verdadeira regra de conduta. No CDC, ele nasce do princípio da Harmonia,
que habita seu art. 4°, inc. III. Ele impõe as partes o dever de agir com base em certos
parâmetros de honestidade e lealdade, a fim de se estabelecer um equilíbrio das relações
jurídicas.
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Nas precisas lições de Rizzatto Nunes, quando se fala em
boa-fé-objetiva:
“pensa-se em um comportamento fiel, leal, na atuação de cada
uma das partes contratantes a fim de garantir respeito à outra”.
Prossegue o autor dizendo que:
“é um princípio que visa garantir a ação sem abuso, sem
obstrução, sem causar lesão a ninguém, cooperando sempre para
atingir o fim colimado no contrato, realizando os interesses das
partes” (Curso de Direito do Consumidor, pag. 128, 2ª edição, 2006, ed.
Saraiva).
Para desviar das amarras impostas aos reajustes, o IPASGO,
astuciosamente, sobrecarregou os consumidores que contribuem com base na tabela. Tal
conduta violou o dever de lealdade entre os contratantes, quebrando toda a confiança que
aqueles segurados depositavam na instituição.
Com efeito, para ter uma conduta leal, era preciso que o
IPASGO tratasse todos os seus consumidores com paridade e se preocupasse em não onera-
los excessivamente. Todavia, não foi isso que ocorreu. Sem se incomodar com a situação
financeira de seus segurados, e com o propósito de salvar o sistema a qualquer custo,
“bombardeou” os consumidores com este gigantesco reajuste.
O bom funcionamento do sistema de saúde do IPASGO
depende da profissional gestão, transparência, equilíbrio econômico entre receita e
despesa. Mas, esta saúde financeira não pode ser alcançado a qualquer custo,
sobretudo em prejuízo de uma só classe de segurados. E mais, o equilíbrio do sistema
não depende apenas das contribuições dos servidores. Antes disso, depende de uma boa
gestão e de uma estrutura eficiente, que aliás, são mandamentos constitucionais (art. 37,
caput, CF).
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Admitir que se transfira aos consumidores do plano de saúde
as mazelas da má-gestão administrativa, é, na expressão popular, uma “bola de neve”. Isso
porque, a cada novo déficit no sistema, será um novo reajuste para os servidores, mormente
para aqueles que contribuem de acordo com a tabela fixada com base em cálculo atuarial,
que não encontra limite para reajuste previsto na lei.
Outrossim, não se pode olvidar que, assim como os demais
fornecedores, o IPASGO se submete a Teoria do Risco do Negócio, ou seja, quando
ingressou nesta atividade securitária, assumiu a responsabilidade pela saúde do sistema.
Caso o sistema não consiga se manter, o IPASGO é quem deve arcar com este fato, seja
através de uma reestruturação administrativa ou de qualquer outro meio recomendado por
técnicos no assunto, desde que não transfira aos consumidores os efeitos desta
desgovernança administrativa.
Só com a intervenção do Ministério Público e do Poder
Judiciário, fixando limites aos reajustes que o IPASGO SAÚDE sairá da cômoda situação
de inércia e passará a se ocupar com uma fundamental reestruturação administrativa e
financeira, sem contingenciar cobertura.
Prosseguindo, dentre os direitos básicos dos consumidores, o
CDC, em seu art. 6°, inc. II, traz a garantia de igualdade nas contratações. Trata-se de um
corolário do princípio constitucional da isonomia e que veda qualquer tratamento
diferenciado entre consumidores. A conduta do IPASGO SAÚDE em atribuir apenas aos
que contribuem com base na tabela a responsabilidade de “carregar nas costas” o equilíbrio
do sistema, viola esta garantia da igualdade nas contratações.
Ademais, os planos de saúde, públicos ou privados, são
regidos pelo principio da solidariedade. Isso impõe que todos devem financiar o sistema,
e não só apenas uma classe de segurados, como o IPASGO pretende fazer valer.
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Outro direito básico do consumidor é a proteção contra
práticas abusivas (art. 6°, inc, IV, CDC). Trata-se de um corolário da teoria do abuso de
direito que, segundo Rizzatto Nunes, “se caracteriza pelo uso irregular e desviante do
direito em seu exercício, por parte do titular”. O CDC nos presenteou com um rol
exemplificativo de práticas abusivas no seu art. 39. Analisemos algumas.
Dispõe o art. 39, inc. IV:
“Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras
práticas abusivas:
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em
vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-
lhe seus produtos ou serviços;”
O dispositivo transcrito trata do que a doutrina convencionou
chamar de “Excepcional Vulnerabilidade”. Aplica-se às situações onde o fornecedor se
depara com um consumidor especialmente frágil e se aproveita desta fragilidade de algum
modo. Não obstante as hipóteses ventiladas pela norma serem exemplificativas, sua
subsunção é perfeita ao caso em comento.
Com efeito, o consumidor é, naturalmente, a ponta mais fraca
da relação de consumo, mas essa fragilidade se acentua quando se trata de planos de saúde.
É sabido que a adesão aos planos de saúde, como regra, exige
um prazo de carência, que pode ser de vários anos. A exigência desta carência
potencializa a vulnerabilidade do consumidor. É porque se o consumidor estiver
descontente com seu atual plano de saúde, ele não pode simplesmente resilir seu contrato e
aderir a outro, fornecido por outra operadora. O usuário sabe que caso resolva desfiliar-se
de seu atual plano, terá que observar o prazo de carência do novo plano de saúde que
porventura venha a aderir. Neste novo período de carência, ficará totalmente desprotegido.
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O IPASGO SAÚDE sabe desta situação. E o pior, aproveita-
se dela. É de conhecimento da autarquia que, caso reajuste seus preços, dificilmente seus
segurados se desfiliarão. Isso porque não estão dispostos a cumprir um novo prazo de
carência. Assim, o consumidor não tem outra saída que não seja a de aceitar o reajuste, sob
pena de se submeter a um novo período de carência.
Foi pensando nesta excepcional fragilidade do consumidor,
já que a portabilidade é de difícil implementação neste setor (com a portabilidade, ao mudar de
plano de saúde, o segurado aproveitaria o tempo cumprido na outra operadora sem submeter-se a um novo
período de carência), que a ANS, desde 2001, fixa anualmente um índice, que é utilizado como
teto de reajuste dos planos de saúde privados individuais. O valor deste índice é obtido
através de uma média dos reajustes dos planos de saúde privados coletivos.
É assim porque nos planos coletivos (formados por mais de
50 pessoas), o grupo de segurados pode mudar de plano sem obedecer a um novo prazo de
carência (nestes casos a portabilidade não enfrenta dificuldades, pois trata-se de uma
carteira de segurados). Então, a ANS usa a média de reajuste dos planos coletivos, onde o
segurado tem poder de negociação, como teto para o reajuste dos planos individuais.
Infelizmente, como se verá adiante, o IPASGO SAÚDE não se submete ao controle da
ANS.
Neste contexto, o reajuste de 42% só ocorreu porque o
IPASGO quis aproveitar da excepcional vulnerabilidade dos usuários de seu plano de
saúde. Como visto, tal prática deve ser reconhecida como abusiva.
Para a lei consumerista, também é prática abusiva o
fornecedor exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva:
“Art. 39. (...)
V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;”
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O significado de “vantagem manifestamente excessiva” vem
previsto no próprio CDC:
“Art. 51. (...)
§1º. Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;
II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.”
Ora, não há dúvida de que exigir um reajuste de 42% é exigir
uma vantagem manifestamente excessiva. Como já foi demonstrado até aqui, este aumento
ofende vários princípios do ordenamento jurídico (inciso I), ameaça o equilíbrio do contrato
entre IPASGO e segurado (inciso II), além de ser excessivamente oneroso ao consumidor,
mormente quando se verifica que o teto estabelecido pela ANS para o reajuste dos planos
privados de saúde no período de 2008/2009, foi de 5,48% (inciso III).
Prossegue o CDC, determinado que também constitui prática
abusiva: “Art. 39. (...)
X – elevar sem justa causa o preço de produtos e serviços.”
A expressão “justa causa”, prevista no dispositivo, deve ser
interpretada da forma mais restrita possível, de modo sempre favorável ao consumidor.
Logo, um mero relatório com cálculos atuariais, realizado por uma entidade não-oficial,
sugerindo um reajuste de 42%, não pode sustentar a “justa causa” que exige o dispositivo.
Ademais, o diploma consumerista (Lei 8.078/90) veda variações unilaterais de preço:
“Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
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70ª, 12ª, 88ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR e CAO CONSUMIDOR
(...)
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral;”
Mas não é só. O reajuste de 42% viola também o principio da
equivalência material do contrato. Este mandamento determina que as prestações de cada
uma das partes contratantes devem guardar correspondência entre si. Vale dizer, deve haver
um equilíbrio entre as obrigações de todas as partes. Com o aumento, as obrigações
daqueles que contribuem com base na tabela fixada em cálculo atuarial são manifestamente
superiores às prestações dos demais segurados.
Viola também o princípio da segurança jurídica e da
proporcionalidade, pois não é seguro admitir que o IPASGO tenha liberdade total para
reajustar as mensalidades fixadas na tabela. Também não é razoável e isonômico aceitar
que uns são protegidos pelos limites de reajuste fixados pela lei, enquanto outros são
desprovidos de qualquer proteção.
O aumento abusivo viola também o principio da moralidade
administrativa (art. 37, caput, CF), afinal, como visto, ele deriva de uma capciosa manobra
da autarquia para esquivar-se dos limites aos reajustes impostos pela lei.
Por tudo o que foi até aqui exposto, a declaração de
abusividade/nulidade do reajuste é medida que se impõe.
SOBRE AS INFORMAÇÕES REQUISITADAS PELO MP-GO
Diante da “enxurrada” de reclamações dirigidas ao Ministério
Público solicitando providências, provocadas pelo reajuste de 42%, requisitamos do
presidente do IPASGO esclarecimentos sobre o problema em debate, bem como a planilha
de cálculos atuariais que fundamentou o reajuste no percentual acima (doc. 11).
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Na sua resposta (doc. 12), a autarquia justificou o aumento
das contribuições ao fato de que, supostamente, desde o ano de 2002, vinha praticando um
indexador atuarial bem inferior ao reajuste dos planos de saúde privados. Juntou documento
onde compara os valores cobrados por faixa etária pelo IPASGO SAÚDE e por outras
operadoras de saúde (doc. 13). Apresentou, ainda, planilha comparando os reajustes
praticados pelo IPASGO SAÚDE no período de 2004 a 2008, e os índices aplicados pela
ANS (doc. 14). Com a devida venia, estes argumentos não merecem prosperar.
A tabela que compara os preços praticados pelo IPASGO
SAÚDE com os preços de outras operadoras (doc. 13), considera o preço do IPASGO antes
do reajuste. Se considerarmos os preços atuais, a diferença é bastante menor. De outra
banda, os preços apresentados como sendo de outras operadoras, referem-se a planos
individuais, os mais caros, e já considera os reajustes de 2008.
De acordo com a segunda tabela (doc. 14), que compara os
reajustes do IPASGO SAÚDE e da ANS, acumulados no período de 2004 a 2008, os
reajustes do plano de saúde do IPASGO teriam sido 25,24 %. Com o devido respeito, esta
informação não é verdadeira.
Isso porque há um erro de cálculo na tabela. Apesar dos
índices mencionados estarem corretos, a soma dos reajustes aplicados pela ANS no
período de 2004 a 2008 corresponde a 43,57 %, e não a 51,61 %, como indica a tabela. E
mais. A tabela não considera o reajuste de 42% do IPASGO em 2008, porém, considera o
reajuste de 5,48 % da ANS em 2008. Ora, se aplicarmos a esta tabela o reajuste de 2008 do
IPASGO SAÚDE (de 42%), a soma dos reajustes da autarquia, naquele período, suplantam
os da ANS em 24,80 %.
Neste ponto, cumpre lembrar que o IPASGO é um instituto
“sem fins lucrativos”. Por esse motivo, seu reajuste não pode ser equiparado ao dos planos
privados de saúde, que visam lucro. Em outras palavras, quando as operadoras de planos
privados de saúde estipulam seus reajustes, consideram o propósito de lucro. Porém,
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quando o IPASGO pretende utilizar este reajuste, termina por imiscuir-se neste mesmo
propósito de lucro, o que é vedado para uma autarquia.
Prossegue a entidade, na resposta a requisição de informações
(doc. 12), afirmando que o cálculo atuarial elaborado pela empresa Vesting (doc. 10),
refere-se ao período de janeiro de 2005 à dezembro de 2006. O reajuste sugerido pelo
relatório era para ser aplicado no período de junho de 2007 à maio de 2008. Entretanto, só
foi aplicado em julho de 2008. Concluem afirmando que se o cálculo fosse realizado hoje, o
percentual seria ainda maior. Esta é mais uma informação que não merece crédito.
Em primeiro lugar, porque o IPASGO pretende, mais uma
vez, desenvolver o raciocínio de operadoras de planos privados de saúde para justificar o
reajuste, trazendo embutido o “lucro”, vedado por sua própria natureza de autarquia.
Em segundo lugar, porque, como já foi visto, em Fevereiro de
2007 (posteriormente a confecção dos cálculos), a lei estadual 15.981/2007, aumentou a
contribuição por percentual para o plano básico em 0,81 %, e, para o plano especial, este
reajuste foi de 0,67 %. Logo, a arrecadação do IPASGO desde Fevereiro de 2007, é bem
superior àquela de quando o cálculo foi elaborado.
Por fim, o IPASGO informa que, “nos termos da Lei n°
14.081/2002 (doc. 01), as fontes de custeio que integram o sistema são proporcionadas
exclusivamente pelas contribuições dos segurados, não contando o IPASGO, portanto, com
recursos do Tesouro Estadual”. É mais um dado que não confere com a realidade.
A uma porque o art. 16, da Lei 14.081/2002, determina que:
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“Art. 16. A receita do IPASGO SAÚDE é constituída pelos seguintes recursos:
(...)
III – contribuição mensal do Estado, prevista em lei;”
A duas porque, recentemente, o MPGO enviou ao Governo
Estadual recomendação, para que cesse qualquer transferência de verba destinada ao
financiamento do SUS, para o custeio do IPASGO. De acordo com a recomendação, que
baseou-se em auditoria realizada pelo TCE, houve um repasse de R$ 250.000.000,00
(duzentos e cinqüenta milhões de reais) ao IPASGO SAÚDE no exercício de 2005. Estes
valores eram destinado ao financiamento do sistema único de saúde pública no Estado-
SUS.
DO REAJUSTE A SER APLICADO
Uma vez configurada a abusividade do reajuste de 42%,
surge uma difícil indagação: Qual reajuste aplicar?
Não é razoável que o Poder Judiciário declare, hoje, a
abusividade do reajuste de 42% e, amanhã, o IPASGO edite uma nova resolução decidindo
por um reajuste de 40 ou 38 %. Por outro lado, não se pode simplesmente vedar qualquer
reajuste.
Assim, entendemos que a melhor solução é permitir que o
IPASGO SAÚDE reajuste os valores da tabela fixada com base em cálculo atuarial,
porém, obedeça a certos limites, fixados provisoriamente pelo Poder Judiciário.
Mas qual seria este limite de reajuste? Com efeito, a lei
não fixa qualquer limite para o reajuste dos valores da tabela. Para estas situações
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lacônicas, o art. 4°, da Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-Lei 4.657/42),
determina que “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes, e os princípios gerais do direito”, nesta ordem. Devemos, portanto, nos
valer da analogia para fixarmos este limite.
De chofre, surgem dois índices que podem ser usados por
analogia: (I) o índice editado anualmente pela ANS; e o (II) INPC. Analisemos
rapidamente cada um deles.
(I) O primeiro índice limitador de reajuste que poderia ser
utilizado por analogia é o índice fixado anualmente pela ANS (Agência Nacional de
Saúde Suplementar). Este índice serve como um teto de reajuste para os planos de saúde
privados individuais.
Como dito, a metodologia empregada pela agência reguladora
para elaboração deste índice é baseada na estatística dos reajustes dos planos coletivos.
Dessa forma, os usuários de planos individuais também se beneficiam da capacidade de
negociação dos planos contratados entre duas pessoas jurídicas. Afinal, quando uma pessoa
jurídica tem a opção de buscar na concorrência uma operadora que ofereça melhores
preços, sem o ônus da carência, as condições de negociação entre as partes, quanto a um
reajuste contratual, se tornam mais simétricas. Pela legislação federal vigente, este índice só
é aplicável aos planos de saúde privados individuais (e não aos públicos, como o IPASGO
SAÚDE).
Vale anotar que este índice é destinado a operadoras de saúde
que tem finalidade lucrativa. Portanto, sua utilização como teto-limite para o reajuste do
IPASGO SAÚDE atende os interesses da autarquia. A sua incidência implicaria num
superavit de arrecadação, que necessariamente deve ser investido na melhoria do plano de
saúde.
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No período de 2007/2008, o índice editado pela ANS foi de
5,76 %, e no período de 2008/2009, de 5.48%.
(II) O segundo índice limitador de reajuste que pode ser
utilizado por analogia é o INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor, divulgado
pelo IBGE.
Este é o índice utilizado pela lei 14.081/02, que criou o
IPASGO SAÚDE, como limitador do reajuste dos valores mínimos e máximos pagos
por aqueles segurados que contribuem com base em um percentual (6,81% e 12,48%) sobre
a remuneração (art. 19, parágrafo 1°, lei 14.081/02). Também foi o índice utilizado pela
referida lei para o reajuste das contribuições com base em um percentual (art. 19, parágrafo
3°, lei 14.081/02) (doc. 01).
Logo, não há dúvidas de que o INPC foi o índice escolhido
pelo legislador estadual para os reajuste do IPASGO SAÚDE.
Considerando que a utilização da analogia como método
de integração do Direito visa aplicar às situações não reguladas pela lei, o mesmo
direito que regula situações semelhantes (para a mesma razão, o mesmo direito),
reduzindo ao mínimo a interferência do Poder Judiciário numa atividade que seria
típica do Poder Legislativo, o Ministério Público de Goiás entende que o reajuste dos
valores daqueles que contribuem de acordo com a tabela fixada por cálculo atuarial
deve ter como teto-limite o INPC.
Por cautela, caso Vossa Excelência entenda que o índice a
ser utilizado por analogia não deve ser o INPC, requer-se, como pedido subsidiário,
que o índice publicado anualmente pela ANS seja utilizado como teto-limite para o
reajuste da tabela de contribuições fixada com base em cálculo atuarial.
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Concluindo, o reajuste de 42% deve ser declarado nulo (pois
abusivo), porém, deve-se permitir ao IPASGO SAÚDE reajustar a tabela fixada com base
em cálculos atuariais. Este reajuste, por sua vez, deve ter como limite máximo o INPC, ou
subsidiariamente, o índice publicado anualmente pela ANS.
Frise-se que este índice limitador fixado por analogia deve
perdurar até que a Assembléia Legislativa fixe, por lei, este ou outro teto-limite.
DAS PLANILHAS DE CÁLCULOS
A Assessoria Técnico-Pericial Contábil do Ministério Público
de Goiás elaborou planilhas de cálculos, projetando a incidência do INPC aos valores
cobrados pelo IPASGO SAÚDE antes do reajuste de 42% (docs. 15/17).
Considerando que o último reajuste do IPASGO SAÚDE
ocorreu em Dezembro de 2006, e que o reajuste abusivo passou a incidir a partir de Julho
de 2008, a perícia contábil aplicou o índice no período de Janeiro de 2007 à Junho de 2008.
O laudo emitido informa que o INPC/IBGE acumulou variação de 10,46 % neste período, e
que a diferença percentual entre o reajuste definido pelo IPASGO e a correção dada
pelo INPC é da ordem de 31,54 % (doc. 15).
Na mesma planilha, a Assessoria Técnico-Pericial Contábil
deste MPGO, projetou a incidência do índice publicado anualmente pela ANS aos
valores cobrados pelo IPASGO antes do reajuste abusivo.
O índice publicado pela ANS, referente ao período de
01/05/07 à 30/04/2008, foi de 5,76 % (RN 156/07 – ANS). No período de 01/05/2008 à
30/04/2009, este índice foi de 5,48 % (RN 171/08 – ANS). Segundo o laudo técnico, a
diferença percentual entre o reajuste de 42% definido pelo IPASGO e o reajuste
definido pela ANS foi de 30,44 % (doc. 15).
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Seguem, em anexo, o laudo do nosso expert contábil (doc.
15) e as planilhas (docs. 16/17), comparando os diferentes reajustes sobre a tabela de
contribuições fixada com base em cálculo atuarial. Registra-se que os cálculos consideram
todas as espécies e categorias de segurados que contribuem com base na tabela fixada por
cálculo atuarial, observando, inclusive, as variações de faixa etária.
Por fim, consta em anexo a tabela de contribuição fixada
com base em cálculos atuariais, emitida diretamente do site do IPASGO
(www.ipasgo.go.gov.br). Nesta tabela constam os valores atualmente cobrados pelo IPASGO
SAÚDE dos segurados. Nela, os valores anteriores ao reajuste de 42%, são identificados
como valores cobrados “até junho/2008” (doc. 02).
DA MEDIDA LIMINAR
Como visto, a Resolução 16/2008, do CDI-IPASGO,
determinou que o reajuste da tabela de preços ocorreria progressivamente, em três parcelas:
20% em Julho, 11% em Agosto e mais 11% em Setembro de 2008. Todos os aumentos já
foram implementados (doc. 03).
Este abusivo aumento nas mensalidade do IPASGO
SAÚDE não pode perdurar durante toda a tramitação desta Ação Civil Pública. É
imprescindível a antecipação dos efeitos da tutela pretendida para declarar, desde já,
a abusividade deste aumento e impor, como limite de reajuste, o INPC ou,
subsidiariamente, o índice publicado anualmente pela ANS. Para tanto, passemos a
análise dos requisitos autorizadores da tutela antecipada.
A priori, ressalta-se que a concessão de tutelas de urgência
nas ações coletivas é expressamente admitida pelo ordenamento jurídico. Dispõe a Lei de
Ação Civil Pública nº 7.347/85:
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“Art. 4o Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei,
objetivando, inclusive, evitar o dano ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem urbanística ou aos bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
(......)
Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem
justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.”
Na mesma esteira, preconiza o CDC – Lei 8.078/90:
“Art. 84. (...)
§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.
§ 4° O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.”
No escólio de Fredie Didier Jr, Rafael Oliveira e Paula Sarno
Braga, a concessão da tutela antecipada exige o preenchimento de duas espécies de
pressupostos: os (I) pressupostos obrigatórios e os (II) pressupostos alternativos (Curso
de Direito Processual Civil, 1ª edição, Volume II, ed. Jus podivm).
Os (I) pressupostos obrigatórios são três: (a) prova
Inequívoca; (b) verossimilhança do direito afirmado; (c) Reversibilidade do provimento
antecipado.
(a) A prova inequívoca do reajuste é a Resolução n° 16/2008,
do Conselho deliberativo do IPASGO (docs. 03), bem como a tabela impressa diretamente
do site do IPASGO (www.ipasgo.go.gov.br), onde constam os preços praticados antes e
depois do reajuste (doc. 02).
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(b) A verossimilhança do direito afirmado se revela em toda a
fundamentação desta petição inicial, onde se debateu à exaustão, que a relação entre
IPASGO SAÚDE e segurado configura uma relação de consumo, e que o reajuste de 42%
viola vários princípios e regras do ordenamento jurídico. Neste ponto, remetemos o nobre
julgador aos fundamentos jurídicos transcritos nas linhas acima.
(c) A reversibilidade do provimento antecipado consiste na
possibilidade de se reverter as conseqüências provocadas pela medida liminar, caso
revogada. Esta exigência deve ser lida cum granus salis, isto é, com temperamentos, pois,
se levada às últimas conseqüências, pode conduzir a inutilização da antecipação de tutela.
Isso porque, em muitos casos, mesmo sendo irreversível a medida antecipatória, o seu
deferimento é essencial para que se evite um “mal maior”. Assim, se o seu deferimento é
fadado à produção de efeitos irreversíveis para o requerido, o seu indeferimento também
implica conseqüências irreversíveis para o requerente. Neste contexto, existe, pois, o
perigo da irreversibilidade decorrente da não-concessão da medida. É exatamente o que
ocorre na espécie.
Caso deferida a tutela antecipada, certamente será impossível
que o IPASGO recupere os valores que deixou de arrecadar. Todavia, devemos lembrar que
a medida liminar que se pretende apenas limitará o reajuste do plano de saúde segundo o
INPC ou índice publicado pela ANS. Assim, o IPASGO não ficará totalmente deficitário, já
que poderá aplicar um reajuste, mais precisamente o reajuste que consta da planilha de
cálculos elaborada pela Assessoria Técnico-Pericial Contábil do MPGO (docs. 15/17).
De outra banda, caso a medida liminar não seja deferida,
inúmeras pessoas serão obrigadas a se desvincular do plano. Algumas irão se filiar a
diferentes planos de saúde, onde serão obrigadas a obedecer novo prazo de carência (o que
representa uma situação irreversível). Outras, não terão capacidade financeira de aderir a
um novo plano de saúde e nem de permanecer no IPASGO, e deverão se socorrer ao SUS,
perdendo com isso o prazo de carência que já cumpriram (fato que também é irreversível).
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Por fim, há aquelas que, desencorajadas a enfrentar uma nova carência, e desacreditadas do
SUS, permanecerão no IPASGO SAÚDE. Estas últimas, certamente não receberão de volta
a quantia que pagaram indevidamente caso a sentença final reconheça a abusividade do
reajuste (mais uma nota da irreversibilidade da não-concessão da tutela antecipada).
Utilizando o princípio da proporcionalidade, é fácil perceber
que os benefícios da concessão da tutela antecipada são superiores aos benefícios de sua
não-concessão ou, em outras palavras, os prejuízos da concessão são menores do que os
prejuízos da não-concessão.
Prosseguindo, existem ainda os (II) pressupostos
alternativos, que são: (a) receio de dano irreparável ou de difícil reparação; e (b)
abuso de direito de defesa ou manifesto propósito protelatório do réu. Exige-se que
apenas um destes seja preenchido.
Apenas o pressuposto (a) nos interessa. O “receio do dano
irreparável ou de difícil reparação” ocorre quando a demora do processo puder causar a
parte grave dano. Traduz-se no famoso periculum in mora. Os danos que os 300 mil
usuários do IPASGO “nocauteados” com o reajuste podem sofrer com sua manutenção são
inúmeros: necessidade de obedecer a um novo prazo de carência em outro plano de saúde;
necessidade de se socorrer ao SUS; não reembolso dos valores que indevidamente estão
sendo cobrados, entre outros.
Enfim, por tudo isso, requer-se que Vossa Excelência se
digne a antecipar os efeitos da tutela pretendida para limitar o reajuste daqueles que
contribuem com base na tabela fixada em cálculos atuariais ao INPC, ou subsidiariamente,
ao índice publicado anualmente pela ANS.
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Não custa lembrar que os valores que a tabela fixada com
base em cálculo atuariais deve obedecer após a concessão da medida liminar estão descritos
na planilha em anexo (docs. 15/17) (vide tópico “Das Planilhas de Cálculos”).
DAS RESTRIÇÕES À CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA CONTRA A
FAZENDA PÚBLICA
É sabido que a legislação brasileira, sobretudo a lei
9.494/1997, traz algumas restrições à concessão da tutela antecipada contra a Fazenda
Pública. Entretanto, tais restrições não se aplicam a espécie. Explicamos.
Conforme explicam Fredie Didier Jr, Rafael Oliveira e Paula
Sarno Braga, constitui erro comum se imaginar que estas limitações à tutela
antecipada contra a Fazenda Pública se aplicam a todo e qualquer tipo de ação. Pelo
contrário. Estas restrições só se aplicam nas ações que tenham por objeto uma
obrigação de pagar quantia (de dar dinheiro). Isso porque, para cumprir as obrigações
de pagar quantia, a Fazenda Pública precisa obedecer ao regime de precatórios (que, como
regra, só pode ser inscrito após o transito em julgado da sentença) e de previsão
orçamentária (Curso de Direito Processual Civil, 1ª edição, Volume II, ed. Jus podivm).
Para todos os demais tipos de demanda, vale dizer, para
as que tenham por objeto uma obrigação de fazer, não fazer, de dar coisa distinta de
dinheiro, bem como para as ações declaratórias e constitutivas, não se aplicam as
restrições à tutela antecipada.
A presente demanda é, ao mesmo tempo, declaratória e
constitutiva. Declaratória, pois pretende a declaração da abusividade (nulidade) do reajuste
de 42% realizado pelo IPASGO e, constitutiva, porque tem por fim constituir um teto-
limite aos reajustes aplicados pela autarquia.
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Dessa forma, no caso dos autos, não há que se falar em
restrições à concessão da tutela antecipada.
Por cautela, porém, registramos que mesmo que se entenda
que as vedações à concessão de tutela antecipada contra Fazenda Pública se apliquem no
caso destes autos, o STF, no julgamento da ADI 223-6/DF, firmou entendimento no sentido
de que, no que pese serem abstratamente constitucionais as normas que limitam a
concessão de liminares contra o poder público, o juiz, no caso concreto, pela via do
controle difuso de constitucionalidade, pode afastar a incidência destas normas, caso elas
representem um óbice ao livre acesso à “ordem jurídica justa”.
Este é, outrossim, o entendimento esposado por Cássio
Scarpinella Bueno, quando diz:
“... e o juiz poderá, quando entender ser o caso, deferir tutela
antecipada contra a Fazenda Pública, mesmo naquelas hipóteses
em que outros diplomas legislativos, não mencionados pelo art. 1°,
da lei 9494/97 vedam tal iniciativa. Isto porque, mesmo com a lei
restritiva, é dado ao juiz do caso concreto, no exercício do controle
difuso de constitucionalidade, afastar a sua incidência por
entendê-la agressiva ao cânones do art. 5°, XXXV, CF”.
Assim, por cautela, na remota hipótese de Vossa Excelência
entender aplicável ao caso dos autos as restrições à tutela antecipada contra o Poder
Público, requer-se que, em sede de controle difuso de constitucionalidade, invocando o
princípio do acesso a justiça e da proporcionalidade, bem como as condições peculiares do
caso concreto, seja afastada a incidência de qualquer norma restritiva.
Rua 23, esquina com Avenida Fued José Sebba, qd. A-6, lts. 01/24, fone/fax: 3243 8038, 8039 e 8040 Jardim Goiás, CEP 74215-050, Goiânia – Goiás. E-mail: [email protected]
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III - DOS REQUERIMENTOS E PEDIDOS
Ante o exposto, o Ministério Público do Estado de Goiás:
1) requer, antes da concessão da medida liminar, nos termos
do art. 2°, da lei 8.437/92, a notificação do representante judicial do IPASGO para que,
caso queira, se pronuncie no prazo de 72 horas;
2) requer que, após o transcurso do prazo para a oitiva do
representante judicial da autarquia, Vossa Excelência se digne a antecipar os efeitos da
tutela pretendida para declarar, em cognição sumária, abusivo o reajuste de 42% (quarenta
e dois por cento) levado a efeito na tabela fixada com base em cálculo atuarial e, ao mesmo
tempo, fixar como teto-limite para este reajuste o Índice Nacional de Preços ao Consumidor
– INPC. Os novos valores, calculados com base no INPC, se encontram na planilha em
anexo, elaborada pela Assessoria Técnico-Pericial Contábil do MPGO (docs. 15/17);
3) requer, subsidiariamente, caso Vossa Excelência entenda
que o INPC não deve ser aplicado, que, em antecipação aos afeitos da tutela pretendida,
seja fixado com teto-limite para o reajuste da tabela de contribuições fixada com base em
cálculo atuarial o índice publicado anualmente pela ANS. Os novos valores, calculados
com base no índice fixado anualmente pela ANS, se encontram na planilha em anexo,
elaborada pela Assessoria Técnico-Pericial Contábil do MPGO (docs. 15/17);
4) requer a citação da ré, na pessoa de seu presidente Dr.
Geraldo Lemos Scarulles e de seu procurador judicial, nos termos do art. 1°, parágrafo 4°,
da lei 8.437/92.
5) pede, ao final, a procedência total dos pedidos, para
declarar abusivo o reajuste de 42% (quarenta e dois por cento) levado a efeito na tabela de
contribuições fixada com base em calculo atuarial, bem como para fixar como teto-limite
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para este reajuste, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC, tudo nos termos da
fundamentação. Os novos valores, calculados com base no INPC, se encontram na planilha
em anexo, elaborada pela Assessoria Técnico-Pericial Contábil do MPGO (docs. 15/17);
6) pede, subsidiariamente, caso Vossa Excelência entenda
que o INPC não deve ser aplicado, que, ao final, seja fixado com teto-limite para o reajuste
da tabela de contribuições fixada com base em cálculo atuarial o índice publicado
anualmente pela ANS, que serve como limitador dos reajuste dos planos de saúde privados
individuais. Os novos valores, calculados com base no índice fixado anualmente pela ANS,
se encontram na planilha em anexo, elaborada pela Assessoria Técnico-Pericial Contábil do
MPGO (docs. 15/17);
7) requer a imposição de multa de R$ 50.000,00 (cinqüenta
mil reais) por dia de atraso no descumprimento de qualquer ordem judicial proferida nesta
ação, a ser recolhida ao Fundo Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor — FEDC,
criado pela Lei Estadual nº 12.207, de 20 de dezembro de 1993, sem prejuízo da
responsabilidade civil, criminal e administrativa.
8) requer a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e
outros encargos, ex vi do disposto no artigo 18 da Lei nº 7.347/85 e no artigo 87 do Código
de Defesa do Consumidor;
9) requer, ainda, a inversão do ônus da prova, conforme
previsto no artigo 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, pleiteando, todavia, no
que for pertinente, o uso de todos os meios de prova em direito admitidos, desde já os
requerendo, principalmente a juntada de documentos, depoimento pessoal, oitiva de
testemunhas, perícias e outros elementos que se fizerem necessários.
Dá-se à causa, para os fins de mister, o valor de R$ 50.000,00
(cinqüenta mil reais).
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Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Goiânia, 23 de outubro de 2008.
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Goiamilton Antônio Machado Ivana Farina Navarrete Pena70ª Promotor de Justiça 88ª Promotora de Justiça
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Murilo de Morais e Miranda Robertson Alves de Mesquita 12º Promotor de Justiça Coordenador do CAOC
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