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Page 1: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR … · criminal - conseqÜente descaracterizaÇÃo da tipicidade penal em seu aspecto material - delito de furto - condenaÇÃo imposta a jovem

ESTADO DE GOIÁS

MINISTÉRIO PÚBLICO___________________________________________________________________________EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR-PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS.

RAZÕES N.087/2010RECURSO ESPECIAL NA APELAÇÃO CRIMINAL Nº 36689-6/213 (200902821886)APELANTE: LUIZ PEREIRA DA SILVAAPELADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁSREDATOR : JUIZ SÉRGIO MENDONÇA DE ARAÚJO (em subtituição)CÂMARA : PRIMEIRA CRIMINALPROCURADOR DE JUSTIÇA: PEDRO TAVARES FILHO

OBSERVAÇÃO QUANTO AO PRAZO: A intimação pessoal do Ministério Público deu-se em 23.03.2010. Assim, o prazo recursal iniciou-se em 24.03.2010 e vencerá em 07.04.2010.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, no exercício das atribuições que lhe são conferidas por lei, nos autos da Apelação Criminal em que é apelante LUIZ PEREIRA DA SILVA, inconformado, data venia, com o V. Acórdão de fls., por contrariar os artigos 155, caput , do Código Penal e 386, inciso III, do Código Processual Penal, vem, perante Vossa Excelência, com base no Artigo 105, inciso III, alínea “a”, da Constituição Federal, na forma dos artigos 255 e seguintes do Regimento Interno do Colendo Superior Tribunal de Justiça, interpor o presente RECURSO ESPECIAL, fazendo-o nos termos das razões anexas.

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MINISTÉRIO PÚBLICO___________________________________________________________________________

Recebido e processado na forma da lei, requer seja o presente Recurso admitido e encaminhado ao Colendo Superior Tribunal de Justiça.

Goiânia, 30 de março de 2010.

PEDRO TAVARES FILHO Procurador de Justiça

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ESTADO DE GOIÁS

MINISTÉRIO PÚBLICO___________________________________________________________________________

RECURSO ESPECIAL - ESTADO DE GOIÁSBASE LEGAL: Art. 105, III, alínea “a”, da Constituição Federal - Contrariedade aos artigos 155, caput, do CP e 386, III, do CPP.RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICORECORRIDO : LUIZ PEREIRA DA SILVA

COLENDO TRIBUNAL,

I - DOS FATOS E DO DIREITO:

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS ofereceu denúncia em face do recorrido pela prática do delito previsto no artigo 155 do Código Penal, em razão de sua prisão, ocorrida em 03 de fevereiro de 2009, por subtrair para si um botijão de gás no valor de R$ 50,00 (cinquenta reais) da empresa Agrovida.

Processada a ação, sobreveio sentença que julgou procedente a denúncia para condenar o ora recorrido à pena de 02 (dois) anos e 06 (seis) meses de reclusão, em regime inicialmente fechado, além de 20 (vinte) dias multa.

Inconformado, o recorrido interpôs recurso de apelação pleiteando absolvição por aplicação do princípio da insignificância e, alternativamente, diminuição da pena para o mínimo legal, com emprego da atenuante do art. 66 do CP, e

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MINISTÉRIO PÚBLICO___________________________________________________________________________consequente substituição da reprimenda por restritiva de direitos, ou, ainda, desclassificação do delito para o do furto privilegiado e fixação do regime inicial fechado.

Parecer da Procuradoria de Justiça pelo conhecimento e desprovimento do apelo.

Processualizado o apelo, o Eg. Tribunal de Justiça desacolheu o parecer ministerial para dar-lhe provimento e absolver o apelante, em acórdão assim ementado:

APELACAO CRIMINAL. FURTO. PEQUENO VALOR DA RES FURTIVA. PRINCIPIO DA INSIGNIFICANCIA. APLICABILIDADE. ABSOLVICAO DECRETADA. IMPÕE-SE A ABSOLVICAO COM FULCRO NO PRINCIPIO DA INSIGNIFICANCIA SE VERIFICADO QUE A CONDUTA DO ACUSADO REPRESENTOU MINIMA LESAO AO BEM JURIDICO TUTELADO, CONSTITUINDO FATO DE IRRELEVANCIA SOCIAL NA ESCALA DE VALOR ATUAL DA NORMA INCRIMINADORA. APELACAO CONHECIDA E PROVIDA. (Grifou-se)

II - DO CABIMENTO DO RECURSO

É cabível o presente Recurso com base na alínea "a" do inciso III do artigo 105, da Constituição Federal:

“Art. 105 - Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

(...)

III - julgar, em recurso especial, as causas decididas,

em única ou última instância, pelos tribunais Regionais

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MINISTÉRIO PÚBLICO___________________________________________________________________________

Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito

Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes

vigência;

Satisfeitos que se encontram os requisitos genéricos da tempestividade, legitimidade, interesse e adequação, e, ainda, os específicos de última instância e do prequestionamento, resta demonstrar a contrariedade à lei federal.

III - DA CONTRARIEDADE À LEI FEDERAL.

Dispõem os artigos indigitados:

CÓDIGO PENAL:Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

CÓDIGO PROCESSUAL PENAL:Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:(...)III - não constituir o fato infração penal;

O V. Acórdão contrariou os artigos indicados ao deixar de aplicar o primeiro e fazer incidir o segundo de forma indevida, ou seja, sem a devida observância dos requisitos para a aplicação do Princípio da Insignificância.

Em razão da relevância do instituto jurídico, que culmina na descaracterização da própria tipicidade

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MINISTÉRIO PÚBLICO___________________________________________________________________________material do delito, o Supremo Tribunal Federal pronunciou-se sobre a matéria e assentou o seguinte posicionamento, pacificamente adotado pela Corte Superior:

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - IDENTIFICAÇÃO DOS

VETORES CUJA PRESENÇA LEGITIMA O

RECONHECIMENTO DESSE POSTULADO DE POLÍTICA

CRIMINAL - CONSEQÜENTE DESCARACTERIZAÇÃO DA

TIPICIDADE PENAL EM SEU ASPECTO MATERIAL - DELITO

DE FURTO - CONDENAÇÃO IMPOSTA A JOVEM

DESEMPREGADO, COM APENAS 19 ANOS DE IDADE - "RES

FURTIVA" NO VALOR DE R$ 25,00 (EQUIVALENTE A 9,61%

DO SALÁRIO MÍNIMO ATUALMENTE EM VIGOR) -

DOUTRINA - CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA

JURISPRUDÊNCIA DO STF - PEDIDO DEFERIDO. O PRINCÍPIO

DA INSIGNIFICÂNCIA QUALIFICA-SE COMO FATOR DE

DESCARACTERIZAÇÃO MATERIAL DA TIPICIDADE PENAL. -

O princípio da insignificância - que deve ser analisado em conexão

com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do

Estado em matéria penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a

própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter

material. Doutrina. Tal postulado - que considera necessária, na

aferição do relevo material da tipicidade penal, a presença de

certos vetores, tais como (a) a mínima ofensividade da conduta do

agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o

reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a

inexpressividade da lesão jurídica provocada - apoiou-se, em seu

processo de formulação teórica, no reconhecimento de que o caráter

subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em função dos próprios

objetivos por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público. O

POSTULADO DA INSIGNIFICÂNCIA E A FUNÇÃO DO DIREITO

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PENAL: "DE MINIMIS, NON CURAT PRAETOR". - O sistema

jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a

privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se

justificam quando estritamente necessárias à própria proteção das

pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam

essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente

tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de

significativa lesividade. O direito penal não se deve ocupar de

condutas que produzam resultado, cujo desvalor - por não importar em

lesão significativa a bens jurídicos relevantes - não represente, por isso

mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado,

seja à integridade da própria ordem social. (HC 84412, Relator(a):

Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 19/10/2004,

DJ 19-11-2004 PP-00037 EMENT VOL-02173-02 PP-00229 RT v.

94, n. 834, 2005, p. 477-481 RTJ VOL-00192-03 PP-00963)

Verifica-se, portanto, que não só a insignificância do valor do objeto do delito autoriza a exclusão da tipicidade penal, mas, antes, sua conjugação com outros quatro elementos, a saber: (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) nenhuma periculosidade social da ação, (c)o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada.

In casu, do próprio voto vencido consta que “é

forçoso reconhecer a reprovabilidade do comportamento do apelante, por tratar-se

de agente contumaz na prática criminosa , em especial nos delitos contra o

patrimônio (certidão fls. 55/59). Destaco que o sentenciado informou que na época

dos fatos ' estava cumprindo pena no regime semi-aberto ' (fls. 91)” .

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Ora, os demais julgadores não poderiam ter ignorado o alerta do relator, pois, com efeito, o fato de o recorrido estar cumprindo pena, quando da prática do furto em comento, evidencia a total reprovabilidade de sua conduta.

A autorização para saída da Colônia Agrícola tem o fim de ressocialização do detento, ou seja, somente é admitido que execute trabalho externo ou frequente cursos (artigo 35, §2º, do CP) como forma de favorecer a capacitação e qualificação para a sua inserção na sociedade após o cumprimento da pena, fornecer ensino escolar, humanizar o cumprimento da pena e gerar renda para a sua manutenção e de sua família.

Sendo assim, o cometimento de crime neste período frusta a finalidade do benefício e o próprio esforço da Administração Pública para com o desenvolvimento humano e social do recorrido.

Atentar contra a tutela administrativa equivale a atentar contra a Administração Pública em si, o que revela a expressividade da lesão jurídica, outro requisito não observado.

O caráter fragmentário do princípio da insignificância visa desconsiderar a tutela sobre bens “desinteressantes ao ordenamento positivo”, característica esta que não se pode atribuir ao poder público. A direção do estabelecimento prisional autorizou o trabalho externo/frequência a cursos baseado no senso de “disciplina e responsabilidade” (art. 37, caput, da LEP) que o ora recorrido

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MINISTÉRIO PÚBLICO___________________________________________________________________________comprometeu-se a observar e este descumprimento não pode receber o título de “irrelevante” em razão da expressividade do bem juridicamente tutelado (a moral administrativa), tampouco a conduta ora verificada pode ser classificada como de reduzido grau de reprovabilidade.

Aliás, a exigência do Superior Tribunal de Justiça é de que o desabono não deve ser apenas reduzido, mas “reduzidíssimo”, o que, in casu, não o é, senão vejamos:

AGRAVO REGIMENTAL. PENAL. ESTELIONATO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. 1. Como observado pelo Ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC nº 84.412-0/SP, para o reconhecimento do princípio da insignificância, deve-se estar diante da mínima ofensividade da conduta do agente, de nenhuma periculosidade social da ação, de reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a da inexpressividade da lesão jurídica provocada. 2. a 4. Omissis. (AgRg no REsp 768471/RS, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), SEXTA TURMA, julgado em 29/09/2009, DJe 19/10/2009)

HABEAS CORPUS. FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. MÍNIMO DESVALOR DA AÇÃO. VALOR ÍNFIMO SUBTRAÍDO. IRRELEVÂNCIA DA CONDUTA NA ESFERA PENAL. CONDIÇÕES PESSOAIS DESFAVORÁVEIS. IRRELEVÂNCIA. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DESTA CORTE. 1. Omissis. 2. Em caso de furto, para se considerar que a conduta do agente não resultou em perigo concreto e relevante, de modo a lesionar ou colocar em perigo bem jurídico jurídico tutelado pela norma, deve-se conjugar a inexistência de dano ao patrimônio da vítima com a periculosidade social da ação e o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento do agente, elementos que estão presentes na espécie. 3. 4. Omissis. (HC 123.981/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 17/03/2009, DJe 13/04/2009)

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. FURTO SIMPLES. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. POSTERIOR REJEIÇÃO. ART. 43, I E III, DO CPP. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. MANUTENÇÃO DA REJEIÇÃO. PRESCRIÇÃO VIRTUAL. IMPOSSIBILIDADE. DEVIDO PROCESSO LEGAL. INSTRUMENTALIDADE. AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO. LEGITIMAÇÃO DA PENA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. a 5. Omissis. 6. A tentativa de subtrair 1 bicicleta avaliada em R$ 80,00 (oitenta reais), embora se amolde à definição jurídica do crime de furto tentado, não ultrapassa o exame da tipicidade material, mostrando-se desproporcional a imposição de pena privativa de liberdade, uma vez que a ofensividade da conduta se mostrou mínima;

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não houve nenhuma periculosidade social da ação; a reprovabilidade do comportamento foi de grau reduzidíssimo e a lesão ao bem jurídico se revelou inexpressiva. 7. Omissis. (REsp 1114157/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 18/02/2010, DJe 15/03/2010)

Especificamente sobre a hipótese de cumprimento de pena no momento do crime ao qual busca-se aplicar o princípio da bagatela, o Colendo STJ já negou a ordem pleiteada:

HABEAS CORPUS. FURTO SIMPLES DE DIVERSAS BARRAS DE CHOCOLATE AVALIADAS EM R$ 45,00. APESAR DE SE TRATAR DE RES FURTIVA QUE PODE SER CONSIDERADA ÍNFIMA, A EXISTÊNCIA DE CONDENAÇÃO POR CRIME DE ROUBO TRANSITADA EM JULGADO, CUJO PACIENTE CUMPRIA PENA, INDICA A INAPLICABILIDADE, IN CASU , DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. O MPF MANIFESTOU-SE PELA DENEGAÇÃO DO WRIT. ORDEM DENEGADA. (…) 4. Ordem denegada, em conformidade com o parecer ministerial, dadas as singularidades deste caso. (HC 137.794/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 29/09/2009, DJe 03/11/2009)

Por conseguinte, verificando-se que a conduta em comento não é de reprovabilidade reduzidíssima, mas, antes, apresenta considerável relevância social, e que a lesão jurídica provocada foi expressiva, cumpre transcrever o posicionamento do Supremo Tribunal Federal a respeito:

AÇÃO PENAL. Sentença condenatória. Crime de furto. Coisa de valor ínfimo. Elevado grau, porém, de reprovabilidade do ato. Invasão do domicílio da vítima. Inaplicabilidade do princípio da insignificância. Fato típico. Condenação mantida. HC denegado. Não quadra aplicação do princípio da insignificância, quando, suposto inexpressiva a lesão jurídica provocada, as condições do delito revelem considerável grau de reprovabilidade do ato. (HC 97036, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 31/03/2009, DJe-094 DIVULG 21-05-2009 PUBLIC 22-05-2009 EMENT VOL-02361-04 PP-00830)

DIREITO PENAL. ATIPICIDADE. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. PARÂMETROS E CRITÉRIOS. INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO JURÍDICA PROVOCADA. AUSÊNCIA. INAPLICABILIDADE. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. A questão de direito tratada neste writ, consoante a tese exposta pelo recorrente na petição inicial, é a suposta atipicidade da conduta

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realizada pelo paciente com base na teoria da insignificância, por falta de lesividade ou ofensividade ao bem jurídico tutelado na norma penal. 2. Registro que não considero apenas e tão somente o valor subtraído (ou pretendido à subtração) como parâmetro para aplicação do princípio da insignificância. Do contrário, por óbvio, deixaria de haver a modalidade tentada de vários crimes, como no próprio exemplo do furto simples, bem como desapareceria do ordenamento jurídico a figura do furto privilegiado (CP, art. 155, § 2°). Como já analisou o Min. Celso de Mello, no precedente acima apontado, o princípio da insignificância tem como vetores "a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada." (HC 84.412/SP). 3. No presente caso, considero que tais vetores não se fazem simultaneamente presentes. Consoante o critério da tipicidade material (e não apenas formal), excluem-se os fatos e comportamentos reconhecidos como de bagatela, nos quais têm perfeita aplicação o princípio da insignificância. O critério da tipicidade material deverá levar em consideração a importância do bem jurídico possivelmente atingido no caso concreto. 4. No caso em tela, a lesão se revelou significante não obstante o bem subtraído ser inferior ao valor do salário mínimo. Vale ressaltar, que há informação nos autos de que o valor "subtraído representava todo o valor encontrado no caixa (fl. 11), sendo fruto do trabalho do lesado que, passada a meia-noite, ainda mantinha o trailer aberto para garantir uma sobrevivência honesta." Portanto, de acordo com a conclusão objetiva do caso concreto, entendo que não houve inexpressividade da lesão jurídica provocada. 5. Ante o exposto, denego a ordem de habeas corpus. (RHC 96813, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 31/03/2009, DJe-075 DIVULG 23-04-2009 PUBLIC 24-04-2009 EMENT VOL-02357-04 PP-00706 LEXSTF v. 31, n. 366, 2009, p. 371-380)

AÇÃO PENAL. Sentença condenatória. Crime de furto. Coisas de valor considerável. Inaplicabilidade do princípio da insignificância. Fato típico. Restituição dos bens. Irrelevância para justificar a aplicação do princípio. Circunstância apenas atenuante. Condenação mantida. HC denegado. Não quadra aplicação do princípio da insignificância, quando, não obstante sua reparação, seja expressiva a lesão jurídica provocada. (HC 93021, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 31/03/2009, DJe-094 DIVULG 21-05-2009 PUBLIC 22-05-2009 EMENT VOL-02361-03 PP-00567)

Não obstante todo o exposto, o voto vencido também evidenciou que o recorrido é criminoso contumaz, reincidente específico nos crimes contra o patrimônio, o que, outrossim, desate o requisito da “nenhuma periculosidade social da ação”.

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Conforme visto, a condenação por crimes anteriores e a concessão de saída no regime semiaberto não foram suficientes para obstar a reiteração criminosa do ora recorrido, o que indica que este não satisfaz a condição exigida pelo STF e desconsiderada pelo Sodalício goiano.

Com razão, a exigência daquele requisito pela orientação da Suprema Corte tem o condão de direcionar a aplicação do aludido princípio somente aos casos em que o agente não ofereça risco à sociedade, pois, do contrário, não haveria interesse público em mantê-lo livre de qualquer condenação.

No presente caso, o furto não foi um fato isolado a merecer a condescendência estatal, ao contrário, o ora recorrido tem se mostrado renitente no cometimento de delitos da mesma natureza, inclusive enquanto expia punição, situação que requer maior rigor, e não premiação com impunidade.

O Colendo STJ vem reiteradamente pronunciando-se no sentido da impossibilidade de aplicação do princípio da insignificância nestes casos, conforme se vê:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. FALTA DE REQUISITOS AUTORIZADORES DA CUSTÓDIA CAUTELAR. CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO. PEDIDO PREJUDICADO.1. Embora atualmente, em razão do alto índice de criminalidade e da conseqüente intranqüilidade social, o Direito Penal brasileiro venha apresentando características mais intervencionistas, persiste o seu caráter fragmentário e subsidiário, dependendo a sua atuação da existência de ofensa a bem jurídico relevante, não defendido de forma eficaz por outros ramos do direito, de maneira que se mostre necessária a imposição de sanção penal.

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2. Em determinadas hipóteses, aplicável o princípio da insignificância, que, como assentado pelo Ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC nº 84.412-0/SP, deve ter em conta a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada.3. Não obstante tratar-se da tentativa de furto de um secador de cabelos avaliado em R$ 40,00 (quarenta reais), não é de falar em mínima ofensifidade da conduta, revelando o comportamento do agente, reincidente na prática de crimes contra o patrimônio, suficiente periculosidade social e significativo grau de reprovabilidade, inaplicável, destarte, o princípio da insignificância.4. Constatado que houve o trânsito em julgado da condenação, fica prejudicado o pedido de concessão de liberdade provisória. 5. Recurso improvido.(RHC 24.326/MG, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado em 17/03/2009, DJe 26/10/2009)

RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME DE DESCAMINHO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO DEADA DA CONDUTA CRIMINOSA. REPROVABILIDADE DO COMPORTAMENTO. INVIÁVEL A APLICAÇÃO DA TESE DA INSIGNIFICÂNCIA.1. A sugerida divergência não foi demonstrada na forma preconizada nos arts. 541, parágrafo único, do Código de Processo Civil e 255, §§ 1.º e 2.º, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça.2. Para a aplicação do princípio da insignificância nos crimes de descaminho, não se pode restringir a análise do caso ao valor do tributo não recolhido, mas também devem ser observados vetores doutrinários e jurisprudenciais, tais como aqueles listados com maestria pelo eminente Ministro Celso de Mello no julgamento do HC n.º 84.412/SP, in verbis: "a) a mínima ofensividade da conduta do agente, b) nenhuma periculosidade social da ação, c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada." 3. A conduta reiterada do crime de descaminho afasta a possibilidade de existir um reduzido grau de reprovabilidade do comportamento, sendo um óbice para a aplicação da tese da insignificância.4. Recurso desprovido. (REsp 1112771/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 23/06/2009, DJe 03/08/2009)

HABEAS CORPUS. FURTO. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. ORDEM DENEGADA.1. Embora atualmente, em razão do alto índice de criminalidade e da conseqüente intranqüilidade social, o Direito Penal brasileiro venha apresentando características mais intervencionistas, persiste o seu caráter fragmentário e subsidiário, dependendo a sua atuação da existência de ofensa a bem jurídico relevante, não defendido de forma eficaz por outros ramos do direito, de maneira que se mostre necessária a imposição de sanção penal.2. Em determinadas hipóteses, aplicável o princípio da insignificância, que, como assentado pelo Ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC nº 84.412-0/SP, deve ter em conta a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo

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grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada.3. Não obstante tratar-se de furto de cinco peças de roupas infantis, avaliadas em R$ 10,95 (dez reais e noventa e cinco centavos), não é de falar em mínima ofensifidade da conduta, revelando o comportamento do agente, que ostenta maus antecedentes na prática de crimes contra o patrimônio, suficiente periculosidade social e significativo grau de reprovabilidade, inaplicável, destarte, o princípio da insignificância.4. Ordem denegada. (HC 70.531/MS, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 10/02/2009, DJe 30/11/2009)

HABEAS CORPUS. FURTO SIMPLES DE DIVERSAS BARRAS DE CHOCOLATE AVALIADAS EM R$ 45,00. APESAR DE SE TRATAR DE RES FURTIVA QUE PODE SER CONSIDERADA ÍNFIMA, A EXISTÊNCIA DE CONDENAÇÃO POR CRIME DE ROUBO TRANSITADA EM JULGADO, CUJO PACIENTE CUMPRIA PENA, INDICA A INAPLICABILIDADE, IN CASU, DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. O MPF MANIFESTOU-SE PELA DENEGAÇÃO DO WRIT. ORDEM DENEGADA.1. O princípio da insignificância, que está diretamente ligado aos postulados da fragmentariedade e intervenção mínima do Estado em matéria penal, tem sido acolhido pelo magistério doutrinário e jurisprudencial tanto desta Corte, quanto do colendo Supremo Tribunal Federal, como causa supra-legal de exclusão de tipicidade. Vale dizer, uma conduta que se subsuma perfeitamente ao modelo abstrato previsto na legislação penal pode vir a ser considerada atípica por força deste postulado.2. Entretanto, é imprescindível que a aplicação do referido princípio se dê de forma prudente e criteriosa, razão pela qual é necessária a presença de certos elementos, tais como (I) a mínima ofensividade da conduta do agente; (II) a ausência total de periculosidade social da ação; (III) o ínfimo grau de reprovabilidade do comportamento e (IV) a inexpressividade da lesão jurídica ocasionada, consoante já assentado pelo colendo Pretório Excelso (HC 84.412/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJU 19.04.04).3. No caso em apreço, apesar do furto de diversas barras de chocolate avaliadas em R$ 45,00 poder ser considerada ínfima, não merece a aplicação do postulado permissivo, eis que, a folha de antecedentes criminais do paciente, que indica a condenação por crime de roubo transitada em julgado, noticia a reiteração ou habitualidade no cometimento da mesma conduta criminosa.4. Ordem denegada, em conformidade com o parecer ministerial, dadas as singularidades deste caso. (HC 137.794/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 29/09/2009, DJe 03/11/2009)

HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. INEXISTÊNCIA. CRIME DE DESCAMINHO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. CONJUGAÇÃO DOS VALORES DO DÉBITO TRIBUTÁRIO COM DEMAIS PARÂMETROS APTOS A AFERIR A EVENTUAL LESÃO À ORDEM JURÍDICA PENAL. ENVOLVIMENTO DO

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PACIENTE EM OUTROS CRIMES DE DESCAMINHO. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO.1. O trancamento da ação penal pela via de habeas corpus é medida de exceção, que só é admissível quando emerge dos autos, sem a necessidade de exame valorativo do conjunto fático ou probatório, a atipicidade do fato, a ausência de indícios a fundamentarem a acusação ou, ainda, a incidência de causa extintiva da punibilidade.2. A denúncia ofertada na espécie, encontra-se em total conformidade com o disposto no art. 41 do Código de Processo Penal, porquanto demonstra, de forma clara e objetiva, embora de forma sucinta sucinta, os fatos supostamente criminosos, com todas as suas circunstâncias, bem como o possível envolvimento do Paciente na entrada de mercadoria estrangeira em território nacional, desacompanhada de documentação fiscal que comprovasse o seu regular ingresso no território nacional, tudo de forma suficiente para a deflagração da ação penal, bem como para o pleno exercício de sua defesa.3. Para a aplicação do princípio da insignificância, não se pode restringir a análise do caso ao valor do tributo não recolhido. Há de se verificar, também, os parâmetros doutrinários e jurisprudenciais para constatação da existência ou não de malferimento à ordem jurídica penal, tais como aqueles listados com maestria pelo eminente Ministro Celso de Mello, "a) a mínima ofensividade da conduta do agente, b) nenhuma periculosidade social da ação, c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada." 4. Na hipótese, o valor do tributo suprimido pelo Réu foi o de R$ 2.218,00, existindo, ainda, notícia nos autos da existência de situação que implica em maior grau de reprovabilidade da conduta, qual seja, a existência de registros anteriores e idênticos envolvendo a mesma prática delitiva, o que se afigura expressiva e capaz de provocar maior necessidade de reprovação penal.5. Ordem denegada. (HC 82.226/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 27/04/2009, DJe 25/05/2009)

HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.1. Embora atualmente, em razão do alto índice de criminalidade e da consequente intranquilidade social, o Direito Penal brasileiro venha apresentando características mais intervencionistas, persiste o seu caráter fragmentário e subsidiário, dependendo a sua atuação da existência de ofensa a bem jurídico relevante, não defendido de forma eficaz por outros ramos do direito, de maneira que se mostre necessária a imposição de sanção penal.2. Em determinadas hipóteses, aplicável o princípio da insignificância, que, como assentado pelo Ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC nº 84.412-0/SP, deve ter em conta a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada.3. No caso, o paciente, juntamente com João Batista Pereira dos Santos, afirmando estar interessado em locar um imóvel, na posse das chaves, de lá subtraiu um aquecedor de banheira de hidromassagem marca Cardal, avaliado em R$ 180,00, uma ducha higiênica de hidromassagem e ferragens de box de banheiro.

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4. Assim, não é de falar em mínima ofensividade da conduta, revelando o comportamento do agente, que a denúncia diz possuir diversas ocorrências policiais pela mesma prática delitiva, razoável periculosidade social e significativo grau de reprovabilidade, inaplicável, destarte, o princípio da insignificância.5. Habeas corpus denegado. (HC 127.791/DF, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado em 16/04/2009, DJe 04/05/2009)

O Supremo Tribunal Federal não apresenta entendimento diferente, conforme se extrai do último pronunciamento sobre a matéria:

“Notícias STF - Segunda-feira, 08 de Março de 2010 - Acusado de furtar roupas no valor de R$ 10,95 não consegue HC

A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie negou liminar no Habeas Corpus (HC) 102080, em que a Defensoria Pública pede que o crime cometido por S.M.V. seja considerado de menor potencial e insignificante. O acusado foi condenado a um ano e seis meses, a ser cumprido em regime semiaberto, por furto de cinco blusas infantis no valor total de R$ 10,95. As peças de roupa foram devolvidas posteriormente à vítima.A defensoria pediu ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ-MS) a suspensão da ação penal e dos efeitos da sentença. O pedido foi negado tanto pelo TJ-MS quanto em grau de recurso pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Para a defesa, a conduta do acusado é “materialmente inexpressiva”.No entanto, a ministra Ellen Gracie indeferiu a liminar transcrevendo argumento do STJ segundo o qual não se pode aplicar o princípio da insignificância ao comportamento que ostenta maus antecedentes na prática de crimes contra o patrimônio.'Com efeito, da leitura do acórdão impugnado na inicial, verifico que o ato se encontra devidamente motivado, apontando as razões de convencimento da Corte para a denegação da ordem', destacou a ministra.Ainda de acordo com a decisão, para se conceder o pedido, seria necessário demonstrar que houve constrangimento ilegal, o que não parece ser o caso desse processo, concluiu a relatora. Por isso, a ministra indeferiu a liminar e, em seguida, encaminhou o processo à Procuradoria Geral da República para opinar sobre o caso”1.

EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. FURTO E TENTATIVA DE FURTO. ALEGAÇÃO DE INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: INVIABILIDADE. NOTÍCIA DA PRÁTICA DE VÁRIOS OUTROS DELITOS PELO PACIENTE. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. Omissis. 2. Para a incidência do princípio

1 Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=121398>. Acesso em 29.03.2010.

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da insignificância, devem ser relevados o valor do objeto do crime e os aspectos objetivos do fato - tais como a mínima ofensividade da conduta do agente, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica causada. 3. O grande número de anotações criminais na folha de antecedentes do Paciente e a notícia de que ele teria praticado novos furtos, após ter-lhe sido concedida liberdade provisória nos autos da imputação ora analisados, evidenciam comportamento reprovável. 4. O criminoso contumaz, mesmo que pratique crimes de pequena monta, não pode ser tratado pelo sistema penal como se tivesse praticado condutas irrelevantes, pois crimes considerados ínfimos, quando analisados isoladamente, mas relevantes quando em conjunto, seriam transformados pelo infrator em verdadeiro meio de vida. 5. O princípio da insignificância não pode ser acolhido para resguardar e legitimar constantes condutas desvirtuadas, mas para impedir que desvios de conduta ínfimos, isolados, sejam sancionados pelo direito penal, fazendo-se justiça no caso concreto. Comportamentos contrários à lei penal, mesmo que insignificantes, quando constantes, devido a sua reprovabilidade, perdem a característica da bagatela e devem se submeter ao direito penal. 6. Ordem denegada. (HC 102088, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 06/04/2010, DJe-091 DIVULG 20-05-2010 PUBLIC 21-05-2010 EMENT VOL-02402-05 PP-01058)

Resumindo, in casu, não obstante o valor ínfimo do objeto furtado e sua restituição à vítima, tais elementos não são suficiente, por si só, para autorizar a aplicação do princípio da insignificância, pois desatendida sua conjugação com os requisitos objetivos da nenhuma periculosidade social da ação, do reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e da inexpressividade da lesão jurídica provocada, motivo pelo qual a desconsideração deste fator pelo Egrégio Tribunal de Justiça de Goiás resulta em ofensa direta ao artigo 386, inciso III, do Código Processual Penal, indevidamente utilizado, e ao artigo 155, caput, do Código Penal, indevidamente afastado.

Finalizando, imprescindível colacionar o alerta da Corte Superior acerca da aplicação indiscriminada do aludido instituto jurídico:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. TENTATIVA DE FURTO . CRIME

IMPOSSÍVEL. ESTABELECIMENTO COM APARATO DE SEGURANÇA.

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ABSOLUTA INEFICÁCIA DO MEIO EMPREGADO. NÃO CONFIGURAÇÃO.

REQUISITOS PARA CONFIGURAÇÃO DO PRINCÍPIO DA

INSIGNIFICÂNCIA: MÍNIMA OFENSIVIDADE DA CONDUTA DO AGENTE E

NENHUMA PERICULOSIDADE SOCIAL DA AÇÃO. INOCORRÊNCIA.

ORDEM DENEGADA. 1. a 4. Omissis. 5. O princípio da insignificância

não pode ter a finalidade de afrontar critérios axiológicos

elementares, pois poderia, erroneamente, ser utilizado como

hipótese supralegal de perdão judicial calcado em exegese

ideologicamente classista ou, então, emocional. 6. Ordem denegada.

(HC 115.555/SP, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA

CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 02/12/2008, DJe

19/12/2008)

V - DAS RAZÕES DO PEDIDO DE REFORMA

As disposições legais restaram contrariadas, conforme efetivamente demonstrado, o que, por si só, viabiliza o apelo pelo permissivo constitucional invocado, a merecer conhecimento pelo Colendo STJ.

V - DO PEDIDO Pelo exposto, requer o Ministério Público

do Estado de Goiás ao Eminente Ministro e à Colenda Turma a que couber o recebimento e o conhecimento do presente Recurso, que o admita, dele conheça e lhe dê provimento para reformar o V. Acórdão recorrido, restabelecendo a R. Sentença condenatória de 1º Grau.

Goiânia, 30 de março de 2010.

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PEDRO TAVARES FILHO Procurador de Justiça

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