excelentÍssima senhora ministra presidente do …dico... · de desenvolvimento econômico e social...

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1 EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ALESSANDRO LUCCIOLA MOLON, brasileiro, casado, Deputado Federal, portador da Cédula de Identidade nº 075.754.143 IFP/RJ e do CPF nº 014.165.767-70, com endereço profissional na Câmara dos Deputados, Anexo IV, Gabinete 652, Brasília DF, CEP: 70160-900, ALIEL MACHADO BARK, brasileiro, casado, Deputado Federal, portador da Cédula de Identidade 10329199-2, e do CPF 069.080.529-23, com endereço profissional na Câmara dos Deputados, Anexo III, Gabinete 480, Brasília DF, CEP: 70160-900, HENRIQUE FONTANA JÚNIOR, brasileiro, casado, Deputado Federal, portador da Cédula de Identidade 7012558495 SJS/DI RS e do CPF nº 334105180-53, com endereço profissional na Câmara dos Deputados, Anexo IV, Gabinete 256, Brasília DF, CEP: 70160-900, JÚLIO CÉSAR DELGADO, brasileiro, casado, Deputado Federal, portador da Cédula de Identidade 756823 SSP/DF e do CPF nº 819.933.586-68, com endereço profissional na Câmara dos Deputados, Anexo IV, Gabinete 323, Brasília DF, CEP: 70160-900, vêm respeitosamente, por seu advogado infra assinado (Doc. 1), com fulcro nos artigo 5º, LXIX e XXXIV, a, e artigo 49, inciso X, ambos da Constituição Federal, bem como na Lei 12.016, de 7 de agosto de 2009, na Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, e no Regimento Interno da Câmara dos Deputados - Resolução nº 17, de 21 de setembro de 1989, impetrar MANDADO DE SEGURANÇA (com pedido liminar)

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Page 1: EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA PRESIDENTE DO …dico... · de Desenvolvimento Econômico e Social para pressionar as empresas dos delatores (Docs. 5 e 6) 10. O Presidente também

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EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA PRESIDENTE DO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ALESSANDRO LUCCIOLA MOLON, brasileiro, casado,

Deputado Federal, portador da Cédula de Identidade nº 075.754.143 IFP/RJ

e do CPF nº 014.165.767-70, com endereço profissional na Câmara dos

Deputados, Anexo IV, Gabinete 652, Brasília – DF, CEP: 70160-900,

ALIEL MACHADO BARK, brasileiro, casado, Deputado Federal,

portador da Cédula de Identidade 10329199-2, e do CPF 069.080.529-23,

com endereço profissional na Câmara dos Deputados, Anexo III, Gabinete

480, Brasília – DF, CEP: 70160-900, HENRIQUE FONTANA JÚNIOR,

brasileiro, casado, Deputado Federal, portador da Cédula de Identidade

7012558495 SJS/DI RS e do CPF nº 334105180-53, com endereço

profissional na Câmara dos Deputados, Anexo IV, Gabinete 256, Brasília –

DF, CEP: 70160-900, JÚLIO CÉSAR DELGADO, brasileiro, casado,

Deputado Federal, portador da Cédula de Identidade 756823 SSP/DF e do

CPF nº 819.933.586-68, com endereço profissional na Câmara dos

Deputados, Anexo IV, Gabinete 323, Brasília – DF, CEP: 70160-900, vêm

respeitosamente, por seu advogado infra assinado (Doc. 1), com fulcro nos

artigo 5º, LXIX e XXXIV, a, e artigo 49, inciso X, ambos da Constituição

Federal, bem como na Lei 12.016, de 7 de agosto de 2009, na Lei nº 1.079,

de 10 de abril de 1950, e no Regimento Interno da Câmara dos Deputados -

Resolução nº 17, de 21 de setembro de 1989, impetrar

MANDADO DE SEGURANÇA

(com pedido liminar)

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contra ato OMISSIVO ILEGAL E ABUSIVO, praticado pelo

Presidente da Câmara dos Deputados, Sr. RODRIGO FELINTO IBARRA

EPITÁCIO MAIA, autoridade localizada nesta Capital da República, na

Esplanada dos Ministérios, Praça dos Três Poderes, Câmara dos Deputados,

que fere direito líquido e certo dos ora impetrantes, pelas razões de fato e de

direito que passa a aduzir:

I – DOS FATOS

02. Desde o dia 17 de maio do presente ano, o impetrado já recebeu 21

(vinte e uma) Denúncias por Crime de Responsabilidade (Doc. 2) em face

do Sr. MICHEL MIGUEL ELIAS TEMER LULIA, atual

PRESIDENTE DA REPÚBLICA, duas delas no próprio dia 17 (Doc. 3 e

Doc. 4).

03. As Denúncias tiveram como base fatos extremamente graves

amplamente divulgados pela mídia e objeto de investigação junto ao

Supremo Tribunal Federal. Os fatos vieram à tona por meio de publicação

de matéria jornalística que noticiou a existência de delação premiada com

gravação de conversas, entre o Presidente da República e o empresário

Joesley Batista, em que foram tramados diversos crimes, especialmente o de

obstrução da justiça com o objetivo de barrar as investigações da operação

Lava Jato.

04. Desde a apresentação das Denúncias de Crime de Responsabilidade,

os fatos contidos na matéria jornalística vêm se mostrando ainda mais graves

do que se imaginava inicialmente. Nos áudios apontados pela matéria, o

Presidente recebe um empresário em sua residência oficial, fora da agenda,

na calada da noite, para articular a compra do silêncio de um dos presos na

operação Lava Jato, o Ex-Deputado Eduardo Cunha. As gravações também

mostram a mais alta autoridade da República consentindo com a

possibilidade de corrupção de um juiz e de um promotor para influenciar na

referida operação.

05. Os áudios também flagraram o Presidente da República indicando seu

então assessor, o Ex-Deputado Federal, atualmente preso, Rodrigo da Rocha

Loures, como seu representante para encaminhar as demandas espúrias do

empresário e de suas empresas junto ao Governo.

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06. Nas conversas, Rodrigo da Rocha Loures também foi flagrado falando

em nome do Presidente e utilizando sua influência para tentar conseguir

facilidades para as empresas de Joesley Batista junto ao governo, em troca

de propina.

07. Não bastassem essas gravações, a Polícia Federal filmou o assessor

indicado pelo Presidente da República correndo pelas ruas de São Paulo com

uma mala com R$500.000,00 (quinhentos mil reais) resultante de propina,

recém recebida de um representante das empresas do Sr. Joesley Batista,

imagens resultantes de ação controlada realizada pela Polícia Federal.

08. Todo esse intenso conteúdo probatório resultou na instauração do

inquérito nº 4483, em que o Presidente da República é investigado pelos

crimes de organização criminosa, obstrução da justiça e corrupção passiva.

09. Durante a tramitação do inquérito, o Presidente da República

questionou a autenticidade das gravações e adotou uma série de medidas para

influenciar nos rumos do processo, como a substituição do Ministro da

Justiça e o uso de agências públicas, como o Instituto Nacional da

Seguridade Social, a Comissão de Valores Mobiliários e o Banco Nacional

de Desenvolvimento Econômico e Social para pressionar as empresas dos

delatores (Docs. 5 e 6)

10. O Presidente também lançou mão da reedição de Medida Provisória,

prática vedada pela Constituição, por meio da MP 782, para evitar que um

de seus auxiliares mais próximos e também citado na delação perdesse a

prerrogativa de foro (Doc. 7), influenciando, assim, nos rumos dos diversos

processos em que este auxiliar também é acusado.

11. Até mesmo a Agência Brasileira de Inteligência teria sido acionada

para investigar informalmente o Ministro Edson Fachin, relator do processo,

situação que foi negada pelo Presidente, mas cuja possibilidade foi aventada

por um dos líderes da base aliada (Doc. 8)

12. Com o decorrer das investigações, perícia da Polícia Federal (Doc. 9)

confirmou a autenticidade dos áudios, afastando eventual edição ou

adulteração das provas. A Polícia Federal também emitiu relatório em que

apontou a existência de fortes indícios da prática dos crimes apontados no

inquérito nº 4483 por parte do Presidente da República.

13. Concluída a perícia dos áudios, o Procurador-Geral da República

apresentou a primeira denúncia contra o Presidente da República, acusando-

o da prática dos crimes de corrupção passiva.

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14. Além disso, determinou o aprofundamento das investigações sobre os

outros crimes imputados ao Presidente da República e a instauração de novos

inquéritos para apurar novas condutas suspeitas praticadas por ele e seu

grupo político.

15. Não há dúvidas de que vivemos um momento extremamente grave

para a democracia brasileira. O país passa por uma situação na qual o

Presidente da República e seus principais auxiliares são alvos de inúmeras

denúncias de prática de crimes de corrupção, organização criminosa e

obstrução da justiça, situação que se agrava cada vez mais, conforme

avançam as investigações.

16. Apesar de todas as evidências e da gravidade das provas e mesmo

diante do agravamento da crise, impulsionada pelo surgimento de fatos

novos a cada dia, a autoridade impetrada não deu nenhum andamento às

Denúncias de Crime de Responsabilidade que lhe foram apresentadas

(Doc.10), mesmo transcorridos mais de 40 dias, conforme a certidão anexada

(Doc. 2).

17. Essa omissão afronta as prerrogativas parlamentares dos impetrantes

e seu direito de petição, o que torna imprescindível a intervenção do Poder

Judiciário para conceder a segurança, ora pleiteada, conforme passaremos a

expor.

II – DO DIREITO

18. De acordo com a Constituição, em seu art. 49, inciso X, é da

competência exclusiva do Congresso Nacional fiscalizar e controlar,

diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo,

incluídos os da administração indireta.

19. São inúmeras as prerrogativas e instrumentos que decorrem desse

dispositivo, tanto em âmbito Constitucional, como infraconstitucional, entre

eles, poderíamos destacar a instauração de Comissões Parlamentares de

Inquérito, a edição de Decretos Legislativos, a convocação de Ministros de

Estado, o controle externo com o auxílio do Tribunal de Contas da União e

também o julgamento de crimes de responsabilidade do Presidente da

República ou de Ministros de Estado, caso em que a Câmara dos Deputados

funciona como órgão de admissibilidade.

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20. A prerrogativa de fiscalizar atribuída pela Constituição ao Poder

Legislativo, de forma geral, é atribuída a órgãos colegiados de cada uma das

casas, de maneira a assegurar a legitimidade e representatividade

imprescindíveis para o exercício de competência tão relevante e fundamental

para o equilíbrio entre os poderes.

21. Nesse sentido, dispôs esta Corte no Acórdão proferido no âmbito da

Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3046:

Sem embargo de diversidade de modelos concretos, o princípio

da divisão dos poderes, no Estado de Direito, tem sido sempre

concebido como instrumento da recíproca limitação deles em

favor das liberdades clássicas: daí constituir em traço

marcante de todas as suas formulações positivas os “pesos e

contrapesos” adotados.

A fiscalização legislativa da ação administrativa do Poder

Executivo é um dos contrapesos da Constituição Federal à

separação e independência dos Poderes: cuida-se, porém, de

interferência que só a Constituição da República pode

legitimar.

Do relevo, primacial dos “pesos e contrapesos” no paradigma

de divisão dos poderes, segue-se que à norma

infraconstitucional – aí incluída, em relação à Federal, a

constituição dos Estados-membros -, não é dado criar novas

interferências de um Poder na órbita de outro que não derive

explícita ou implicitamente de regra ou princípio da Lei

Fundamental da República.

O poder de fiscalização legislativa da ação administrativa do

Poder Executivo é outorgado aos órgãos coletivos de cada

Câmara do Congresso Nacional, no plano federal, e da

Assembleia Legislativa, no dos Estados, nunca, aos seus

membros individualmente, salvo é claro, quando atuem em

representação (ou apresentação) de sua Casa ou Comissão.

22. Dessa forma, o Constituinte ao dispor sobre os mecanismos de freios

e contrapesos, essencial para o equilíbrio entre os poderes, cuidou para que

a competência para a fiscalização de um poder sobre o outro não ficasse

concentrada em uma única pessoa, de maneira a assegurar que esta

prerrogativa fosse exercida com o mínimo de representatividade e

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legitimidade, evitando-se tanto seu exercício abusivo, como eventual captura

de quem detém esta prerrogativa por aquele que deveria ser fiscalizado.

23. Nesse sentido, em outro Acórdão, proferido nos autos do Mandado de

Segurança 24831, esta Corte reconheceu que a maioria parlamentar não pode

suprimir as prerrogativas da minoria para o exercício do dever constitucional

de fiscalização das atividades do Poder Executivo. De acordo com a referida

decisão:

O Parlamento recebeu dos cidadãos, não só o poder de

representação política e a competência para legislar, mas,

também, o mandato para fiscalizar os órgãos e agentes do

Estado, respeitados, nesse processo de fiscalização, os limites

materiais e as exigências formais estabelecidas pela

Constituição Federal. - O direito de investigar - que a

Constituição da República atribuiu ao Congresso Nacional e às

Casas que o compõem (art. 58, § 3º) - tem, no inquérito

parlamentar, o instrumento mais expressivo de concretização

desse relevantíssimo encargo constitucional, que traduz

atribuição inerente à própria essência da instituição

parlamentar. - A instauração do inquérito parlamentar, para

viabilizar-se no âmbito das Casas legislativas, está vinculada,

unicamente, à satisfação de três (03) exigências definidas, de

modo taxativo, no texto da Carta Política: (1) subscrição do

requerimento de constituição da CPI por, no mínimo, 1/3 dos

membros da Casa legislativa, (2) indicação de fato determinado

a ser objeto de apuração e (3) temporariedade da comissão

parlamentar de inquérito. - Preenchidos os requisitos

constitucionais (CF, art. 58, § 3º), impõe-se a criação da

Comissão Parlamentar de Inquérito, que não depende, por

isso mesmo, da vontade aquiescente da maioria legislativa.

Atendidas tais exigências (CF, art. 58, § 3º), cumpre, ao

Presidente da Casa legislativa, adotar os procedimentos

subseqüentes e necessários à efetiva instalação da CPI, não

lhe cabendo qualquer apreciação de mérito sobre o objeto da

investigação parlamentar, que se revela possível, dado o seu

caráter autônomo (RTJ 177/229 - RTJ 180/191-193), ainda que

já instaurados, em torno dos mesmos fatos, inquéritos policiais

ou processos judiciais.

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24. Como bem decidiu esta Corte e em consonância com os princípios

basilares da administração pública, a prerrogativa de fiscalizar e de

investigar não deve ser obstada. Nesse sentido, prossegue o Acórdão

mencionado:

A prerrogativa institucional de investigar, deferida ao

Parlamento (especialmente aos grupos minoritários que atuam

no âmbito dos corpos legislativos), não pode ser comprometida

pelo bloco majoritário existente no Congresso Nacional e que,

por efeito de sua intencional recusa em indicar membros para

determinada comissão de inquérito parlamentar (ainda que

fundada em razões de estrita conveniência político-

partidária), culmine por frustrar e nulificar, de modo

inaceitável e arbitrário, o exercício, pelo Legislativo (e pelas

minorias que o integram), do poder constitucional de

fiscalização e de investigação do comportamento dos órgãos,

agentes e instituições do Estado, notadamente daqueles que se

estruturam na esfera orgânica do Poder Executivo.

25. Dessa forma, o exercício de prerrogativa destinada à fiscalização do

Poder Executivo de autoria de parlamentar, desde que preenchidos os

requisitos formais não poderia ser obstada pelo bloco majoritário da Casa

Legislativa, tampouco por qualquer parlamentar agindo individualmente.

26. Infelizmente, esse entendimento não tem sido observado pelo

Presidente da Câmara dos Deputados, ora impetrado. Embora os impetrantes

tenham protocolizado a DENÚNCIA DE CRIME DE

RESPONSABILIDADE em 17/05/2017 (Doc. 4), não houve qualquer

despacho por parte da autoridade impetrada, situação que impede o exercício

da atividade de fiscalização por parte do Legislativo sobre fatos

extremamente graves praticados pelo Presidente da República.

27. O comportamento do impetrado fere a Constituição ao impedir

ilegalmente que o Legislativo exerça seu dever de fiscalizar os atos do Poder

Executivo.

28. De acordo com o art. 14 da Lei nº 1.079, de 1950, norma que define

os crimes de responsabilidade e regula o respectivo processo de julgamento,

qualquer cidadão pode denunciar o Presidente da República por crime de

responsabilidade perante a Câmara dos Deputados. A mesma regra também

está prevista no art. 218 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados.

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29. Os diplomas citados também preveem que recebida a denúncia, será

lida no expediente da sessão seguinte e despachada a uma comissão especial

eleita, da qual participem, observada a respectiva proporção,

representantes de todos os partidos para opinar sobre a mesma.

30. Em sintonia com o que dispõe a Constituição e com a jurisprudência

desta Corte, os diplomas mencionados não conferem ao Presidente da

Câmara dos Deputados poderes para sobrestar a tramitação das Denúncias

de Crimes de Responsabilidade.

31. A adoção de medida nesse sentido viola direito líquido e certo dos

demais parlamentares, uma vez que impede o exercício de prerrogativa

essencial conferida ao Congresso Nacional pela Constituição. A autoridade

impetrada possui papel central na tramitação do processo de impeachment,

porém não possui poderes para obstar a tramitação de maneira infundada a

tramitação de Denúncias de Crime de Responsabilidade.

32. Conforme entendimento mais recente em liminar conferida no

Mandado de Segurança 34087, pelo Ministro Marco Aurélio Melo:

Tendo em vista a disciplina dos artigos 14, 15 e 19 a 22 da Lei

nº 1.079/1950, cabe ao Presidente a análise formal da

denúncia-requerimento. A ele não incumbe, substituindo-se ao

Colegiado, o exame de fundo. Entender-se em sentido

contrário implica validar nefasta concentração de poder, em

prejuízo do papel do colegiado, formado por agremiações

políticas diversas. Como fiz ver ao votar na ação de

descumprimento de preceito fundamental nº 378/DF, não se

pode desconsiderar a ênfase dada pela Constituição Federal

aos partidos políticos, a refletir na composição da Comissão

Especial referida no citado diploma legislativo e no § 2º do

artigo 218 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados.

33. Dessa forma, a omissão da autoridade impetrada não encontra abrigo

no ordenamento e possui o mesmo efeito prático que a tomada de decisão

abusiva mencionada no acórdão acima transcrito, uma vez que retira do

colegiado a possibilidade de exercer a prerrogativa de fiscalizar os atos do

Poder Executivo, em evidente violação ao texto constitucional.

34. Diante do entendimento desta Corte de que compete ao Presidente da

Câmara a análise dos requisitos formais das Denúncias de Crimes de

Responsabilidade e restando evidente a justa causa das diversas denúncias,

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a demora da autoridade impetrada mostra-se absolutamente desarrazoada,

sobretudo diante do agravamento da crise que, cada vez mais, compromete

a credibilidade das instituições do país, especialmente da Presidência da

República.

36. A decisão a ser tomada pelo Presidente da Câmara aproxima-se muito

dos despachos proferidos nas matérias apresentadas à Mesa, casos em que o

art. 139 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, prevê o prazo de

duas sessões, o equivalente a 2 (dois) dias, para que o Presidente da Câmara

despache a matéria às Comissões. Mesmo nas hipóteses em que o Regimento

Interno prevê prazo mais amplo para despacho do Presidente, este prazo não

ultrapassa 5 (cinco) sessões, conforme o prazo previsto no seu art. 115. Há

Denúncias de Crimes de Responsabilidade aguardando despacho da

autoridade impetrada há mais de 40 (quarenta) dias, omissão que demonstra

o claro interesse da autoridade impetrada em obstruir o exercício da

prerrogativa do Legislativo de fiscalizar os atos Poder Executivo, o que é

extremamente grave, sobretudo diante de uma das maiores crises de nossa

história.

37. Mesmo diante do apelo dos parlamentares, a autoridade impetrada

vem se mostrando irredutível, contrariando a Constituição e obstruindo o

exercício de prerrogativas inerentes ao mandato popular.

38. Importante destacar ainda o grave risco do precedente criado ao se

admitir a omissão de autoridade possa frustrar o funcionamento dos

mecanismos de fiscalização e controle previstos na Constituição. Com a

omissão, o cidadão vê reduzidas suas possibilidades de recorrer às instâncias

competentes para reformar a posição da autoridade, uma vez que não há

decisão formal a ser questionada.

39. Admitir-se a omissão como resposta de autoridades às petições que

lhe são imputadas, seria o mesmo que inviabilizar o exercício do direito de

petição perante o poder público, daí a imprescindibilidade da concessão da

segurança pleiteada, como única saída para o restabelecimento das

prerrogativas pleiteadas.

40. Dessa forma, resta evidenciado que a omissão da autoridade impetrada

viola não apenas o direito líquido e certo dos impetrantes de ver as denúncias

apreciadas, mas também o de exercer as prerrogativas que lhe foram

conferidas quando investidos de mandato popular, especialmente aquelas

relacionadas à fiscalização dos atos do Poder Executivo.

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41. Para o reestabelecimento da efetividade do sistema de freios e

contrapesos previstos na Constituição, a intervenção do Poder Judiciário é

fundamental no presente caso, sobretudo diante da postura da autoridade

impetrada de evitar que a Câmara dos Deputados investigue os graves crimes

imputados ao Presidente da República. Nesse sentido, decidiu esta Corte nos

autos do Mandado de Segurança 24831:

O Poder Judiciário, quando intervém para assegurar as

franquias constitucionais e para garantir a integridade e a

supremacia da Constituição, desempenha, de maneira

plenamente legítima, as atribuições que lhe conferiu a própria

Carta da República, ainda que essa atuação institucional se

projete na esfera orgânica do Poder Legislativo. - Não obstante

o caráter político dos atos parlamentares, revela-se legítima a

intervenção jurisdicional, sempre que os corpos legislativos

ultrapassem os limites delineados pela Constituição ou

exerçam as suas atribuições institucionais com ofensa a

direitos públicos subjetivos impregnados de qualificação

constitucional e titularizados, ou não, por membros do

Congresso Nacional. Questões políticas. Doutrina.

Precedentes. - A ocorrência de desvios jurídico-constitucionais

nos quais incida uma Comissão Parlamentar de Inquérito

justifica, plenamente, o exercício, pelo Judiciário, da atividade

de controle jurisdicional sobre eventuais abusos legislativos

(RTJ 173/805-810, 806), sem que isso caracterize situação de

ilegítima interferência na esfera orgânica de outro Poder da

República.

42. Dessa forma, a intervenção do Poder Judiciário no presente caso

possui fundamento fático e jurídico e mostra-se fundamental para assegurar

o pleno funcionamento do sistema de freios e contrapesos previstos na

Constituição, sobretudo num momento de tamanha gravidade, situação em

que, mais do que nunca, é essencial demonstrar a solidez e o pleno

funcionamento das instituições consolidadas na Carta de 1988.

III – DO PEDIDO DE LIMINAR

43. Diante da clara violação do direito líquido e certo de petição e de

exercício da prerrogativa parlamentar de fiscalização dos atos do Poder

Executivo, resultante da omissão da autoridade impetrada, resta

demonstrado o fumus boni iuris, conforme relatado anteriormente.

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44. Também configura presente o periculum in mora, tendo em vista o

avanço da crise e a proliferação de fatos de extrema gravidade envolvendo o

Presidente da República, sem que os parlamentares da Câmara dos

Deputados possam exercer plenamente sua prerrogativa de fiscalizar os atos

do Poder Executivo, a partir da análise das Denúncias de Crime de

Responsabilidade, sobrestadas ilegalmente pela autoridade impetrada.

45. A inércia do Congresso Nacional impede que o país supere a mais

grave crise política, econômica e moral de sua história. Nunca antes na

história tivemos um Presidente da República no exercício do mandato

denunciado por crime de corrupção e prestes a ser denunciado pela prática

de diversos outros crimes.

46. A omissão da autoridade impetrada penaliza gravemente a

credibilidade do país e reduz a crença da sociedade nas instituições e no

sistema de freios e contrapesos previstos na Constituição.

47. Mais do que isso, a inércia da autoridade impetrada cria uma salvo

conduto para a continuidade dos crimes de responsabilidade praticados pelo

Presidente da República, uma vez que transmite a impressão de que haveria

uma verdadeira blindagem no Poder Legislativo que impede a investigação

e fiscalização dos atos do Poder Executivo.

48. Dessa forma, é urgente a concessão da segurança pleiteada para que

as Denúncias de Crime de Responsabilidade protocolizadas e destinadas à

autoridade impetrada sejam apreciadas e tenham seu trâmite retomado

conforme manda a legislação.

IV - DO PEDIDO

49. Pelo exposto, requer-se:

a) a concessão de medida liminar determinando que a autoridade

impetrada analise as diversas Denúncias de Crime de Responsabilidade

protocolizadas desde o dia 17 de maio do presente ano e determine a

instalação das respectivas Comissões Especiais para analisar o mérito

daquelas que tiverem preenchido os requisitos formais previstos em lei;

b) a notificação da autoridade impetrada para prestar informações no

prazo legal;

c) a oitiva do representante do Ministério Público;

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d) no mérito, a confirmação da segurança pleiteada em sede liminar

para determinar que a autoridade impetrada analise as diversas Denúncias de

Crime de Responsabilidade protocolizadas desde o dia 17 de maio do

presente ano e determine a instalação das respectivas Comissões Especiais

para analisar o mérito daquelas que tiverem preenchido os requisitos formais

previstos em lei.

Dá-se à causa o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) para efeitos

fiscais.

Termos em que pede deferimento,

Brasília, 28 de junho de 2017.

ANGELO LONGO FERRARO

OAB/SP 261.268

OAB/DF 37.922