evoluÇÃo do estado moderno - paradigmas constitucionais do estado liberal de direito, do estado...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – UFG
FACULDADE DE DIREITO
ALINE MYTHSUÊ H. DO PRADO
ANA TEREZA SOUZA DOMINGOS
BRUNO GEOVANE
CÉSAR DE VASCONCELOS
DÉBORA BARCELOS GOMIDES
GABRIELA DE AZEREDO COUTINHO LOYOLA
KELLY FORTES VIOLADA
MATEUS ROCHA DE LISBÔA
MELISSA DE ALMEIDA CARDOSO
MÉRCIA DOS SANTOS
THALES AMORIM CAVALCANTE
EVOLUÇÃO DO ESTADO MODERNO
PARADIGMAS CONSTITUCIONAIS DO ESTADO LIBERAL DE DIREITO,
DO ESTADO SOCIAL DE DIREITO E DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE
DIREITO
Goiânia, Goiás
Outubro 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – UFG
FACULDADE DE DIREITO
ALINE MYTHSUÊ H. DO PRADO
ANA TEREZA SOUZA DOMINGOS
BRUNO GEOVANE
CÉSAR DE VASCONCELOS
DÉBORA BARCELOS GOMIDES
GABRIELA DE AZEREDO COUTINHO LOYOLA
KELLY FORTES VIOLADA
MATEUS ROCHA DE LISBÔA
MELISSA DE ALMEIDA CARDOSO
MÉRCIA DOS SANTOS
THALES AMORIM CAVALCANTE
EVOLUÇÃO DO ESTADO MODERNO
PARADIGMAS CONSTITUCIONAIS DO ESTADO LIBERAL DE DIREITO,
DO ESTADO SOCIAL DE DIREITO E DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE
DIREITO
Trabalho apresentado como exigência de
avaliação parcial para a disciplina Teoria
da Constituição, junto ao Curso de
Graduação em Direito da Universidade
Federal de Goiás – UFG, sob orientação
do Prof. Herberson Alcântara .
Goiânia, Goiás
Outubro 2014
Evolução Do Estado Moderno
Paradigmas Constitucionais do Estado Liberal de Direito, do Estado Social de
Direito e do Estado Democrático de Direito
1. ESTADO LIBERAL DE DIREITO
(Desenvolvido por Bruno, Débora, Kelly e Thales)
1.1. HISTÓRICO
O Estado Liberal é o primeiro Estado de Direito . Surge nos últimos séculos da Idade Média ,
através da Revolução Francesa, que garantiu o triunfo político da burguesia. Esse Estado e um
produto histórico, concebido por e para um segmento em situação econômica próspera, que
lega preciosas conquistas, como os direitos fundamentais.
O Estado Liberal sucedeu o Estado Absolutista, que foi caracterizado pelo forte centralismo
político, impregnado pelo teocentrismo e teoria do direito divino como fundamento do poder
monárquico. O Absolutismo sufocou a sociedade, através da força e do arbítrio real. Com a
evolução do pensamento humanista, sustentado pelo Iluminismo e o espírito revolucionário da
época, há o aparecimento do Estado Liberal, este sustentado pelos ideais da Era das
Revoluções, marcadas principalmente pela Revolução Gloriosa (1688), Independência Norte
Americana (1776) e, sobretudo pela Revolução Francesa (1789) que, por sua vez, possuía
suas bases nos ideais: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
O ideal racionalista inspirado nas ideias liberais e democráticas de John Locke foi o que
justificou o processo de ruptura institucional. O primeiro Estado de Direito possui forte
vinculação com a burguesia politicamente emergente e seu individualismo racionalista.
Portanto, buscou-se formular uma constituição que poderia corresponder às demandas da
sociedade burguesa e suas respectivas garantias.
O Estado Liberal nasce com a marca da racionalidade, através da despersonalização do
exercício do poder e obediência dos indivíduos, não uns aos outros, mas à lei. Ocorre a
consagração do homem como detentor de direitos e a formalização do poder. Em oposição à
estrutura pluralista da sociedade medieval, o Estado Moderno assume uma estrutura monista,
uma vez que o estado concentra em si todos os poderes, principalmente aquele de criar o
direito.
1.2. PARADIGMAS
O paradigma liberal estabelece um alcance restrito das liberdades públicas, com a não
intervenção do Estado no campo privado, proporcionando a cada indivíduo toda a liberdade
para que possa valer-se das oportunidades de alcançar suas conquistas pessoais.
Surge, então, um conceito ideal de constituição, baseado nas demandas e garantias da
liberdade burguesa. Propõe-se o reconhecimento dos direitos fundamentais, a divisão de
poderes e a participação popular no poder legislativo. Essa divisão de poderes funciona como
garantia contra o abuso de poder do Estado. A constituição é escrita e representa um pacto
político revestido em documento.
A moderna constituição do Estado burguês se firma nos seguintes preceitos: a liberdade de
todos os seres humanos, membros de uma sociedade, enquanto homens; a dependência de
todos a uma legislação comum, como súditos; a igualdade formal de todos, como cidadãos
(KANT, 1989:33).
Da ideia de liberdade burguesa, segundo Shmitt, deduzem-se dois princípios: princípio da
distribuição (que designa que a esfera da liberdade do indivíduo deve ser ilimitada e o poder
do Estado para invadi-la é limitado) e o princípio de organização (que viabiliza o princípio da
distribuição, quando o poder do Estado se divide e se fecha em sistemas de competências
circunscritas).
Existe, no Estado Liberal, um sistema de freios e contrapesos para realizar um controle
recíproco entre os poderes e impedir a hipertrofia de qualquer um dos mesmos. Entretanto,
devido sua função legiferante, existe uma certa supremacia do poder Legislativo sobre os
demais.
Os elementos estruturais dominantes na constituição liberal são: a referência da constituição é
o próprio Estado; o arquétipo é o Estado liberal; a finalidade da constituição liberal é
primordialmente a racionalidade e os limites do poder; a força normativa da constituição
objetiva regular juridicamente o estatuto organizatório das instituições do Estado separado da
sociedade; a estrutura da constituição limita o poder estatal e consagra direitos de defesa do
cidadão perante o Estado, sendo assim considerada basicamente negativa; a verdade da forma
constitucional liberal deve ser procurada no texto (expresso) e no contexto (oculto). A
constituição liberal presume ainda o modelo econômico liberal burguês: autonomia privada,
economia privada e valores básicos do individualismo possessivo.
O Estado de direito é um conceito político. Ele objetiva proporcionar segurança jurídica para
a economia liberal e, por isso, privilegiou a autonomia privada, com os direitos de
propriedade e liberdade dos contratos.
Por uma questão didática, dividem-se os direitos fundamentais em três categorias ou
momentos, denominadas de “gerações”. Surge, no Estado liberal, a primeira geração dos
direitos fundamentais, focados no direito da liberdade, principalmente liberdade individual e
política. Esses direitos têm como titular o indivíduo, são oponíveis ao Estado e têm um traço
característico de subjetividade. São, portanto, direitos de resistência e oposição perante o
Estado. (SALGADO, Os Direitos Fundamentais, 2006, p. 25):
O nascimento dos direitos individuais está, como se vê, ligado ao
avanço das concepções liberais diante da estrutura de poder que rege a
sociedade civil. As teses de Locke e Montesquieu [...] têm em vista
[...] garantir aos indivíduos um espaço de liberdade [...] em que o
Estado não pode penetrar [...] Os direitos individuais do liberalismo
puro não significam democratização do poder, mas limitação do
poder.
Como dito anteriormente, o Estado realiza uma tutela negativa dos direitos fundamentais. Isso
dá a ele uma característica abstencionista e policial, uma vez que abstém-se de ferir as
liberdades e garante que os outros sujeitos também não o façam. O objetivo é intervir o
mínimo possível, para que cada indivíduo possa alcançar livremente seus objetivos.
Com o surgimento do modelo democrático-liberal, o indivíduo tornou-se centro da sociedade,
cabendo ao direito reconhecer e proteger a identidade de cada cidadão. Porém, o Estado
Liberal estava a serviço da burguesia, o que fazia com que o mercado ficasse abandonado aos
economicamente poderosos e, a liberdade e a igualdade, fossem reconhecidas apenas no plano
formal. A liberdade e a igualdade, assim, eram apenas direitos de defesa ante o Estado e não
direitos de participação política da comunidade.
A organização social no Estado Liberal determina a organização política e cultural, pois a
separação existente entre a igualdade política e a desigualdade, operada pelo capitalismo, é
ilusória. Essa igualdade política meramente formal gerou uma sociedade desequilibrada. A
livre concorrência beneficiou o acúmulo de bens pela burguesia em detrimento dos segmentos
proletarizados. A partir daí - sentindo-se incapazes de superar as injustiças sociais - as classes
marginalizadas começaram a questionar o Estado abstencionista.
O Estado de Direito visava a execução do bem geral, associando a lei à ideia de justiça
material. O Estado de Direito, com o liberalismo, seguiu-se colocando em prática um direito
formal, que adquiriu contornos definitivos com o positivismo jurídico-estatal (não
valorizando o caso além do descrito na norma e vetando o poder criativo do juiz, buscando
garantir a preservação da liberdade). O Estado de direito reduziu-se a um sistema apolítico de
defesa, concebendo, assim, o princípio da legalidade da administração (submetendo a
administração à lei e seus atos de controle jurisdicional), fazendo com que até mesmo
soberano se submetesse ao império da lei.
No Estado Liberal de Direito, e de seu legado, transparecem os prenúncios da Era das
Revoluções (HORTA, Estudos de Direito Constitucional, 1995, p. 109).
A Declaração dos Direitos de 1789, pela universalidade de seus
princípios, beleza literária e jurídica de sua construção, transformou-se
no marco culminante do constitucionalismo liberal, no instrumento de
ascensão política e econômica da burguesia, a nova classe que se
apossava do comendo do Estado e da Sociedade e nessa posição
plasmaria novas instituições políticas e jurídicas que iriam assegurar o
seu domínio secular.
1.3. CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
Dentro do processo constitucional brasileiro duas constituições se integram no paradigma do
Estado Liberal, são elas: a constituição do Império de 1824 e a primeira constituição
republicana de 1891.
1.3.1. Constituição do Império de 1824
A ideologia liberal e estimulada no Brasil com a chegada da Corte em 1808. A realidade
econômica estabelecida no sistema escravista de produção e os atrasos culturais marcaram o
liberalismo que se desenvolveu Brasil, criando um modelo ideológico com características
próprias. A realidade local inseriu nos ideais liberais a comparação e a sobreposição entre
liberdade e propriedade, bem como entre autoritarismo e liberdade política. Desse modo,
formou-se o contraditório liberalismo brasileiro.
A primeira constituição brasileira foi outorgada por Dom Pedro I logo após a independência
do Brasil. Apesar da convocação de uma assembleia constituinte em 1823 que apresentou
ideias marcadamente liberais, Dom Pedro acabou dissolvendo-a e, a despeito de toda
influência do liberalismo sobretudo na Europa a constituição surgiu contrária ao Regime
Liberal do ponto de vista político, mas não deixou de apresentar alguns traços desse regime
no sentido econômico, além de se preocupar com os direitos dos cidadãos.
Ressalta-se que esses traços foram fracos. As garantias de direitos ficaram apenas no plano
teórico, em função da constante luta entre conservadores e liberais. A liberdade de expressão
só era garantida quando usada em favor do imperador e seu governo.
A influência das ideias liberais é realmente evidente no plano econômico, pois a constituição
garantia a liberdade dos indivíduos e não dispunha sobre qualquer tipo de intervenção estatal
na ordem econômica, nas relações comerciais e liberdade de contratos.
No plano político - tendo em vista a figura do Poder Moderador - a constituição foi marcada
por um forte centralismo administrativo e político, e também por unitarismo e absolutismo. O
poder Moderador é a chave de toda a organização política, e foi o mecanismo encontrado para
assegurar a estabilidade do trono do imperador.
As liberdades públicas sofreram grande influência da Revolução Americana de 1776 e da
Revolução Francesa de 1789. Ela continha um relevante rol de direitos civis e políticos e
influenciou as declarações de direitos e garantias das constituições brasileiras seguintes.
Em resumo, a Constituição de 1824 não conseguiu garantir todo o corpo de direitos
idealizados pela doutrina liberal, por oposição de ideias entre conservadores e liberais.
Considerando os aspectos do liberalismo presentes na Constituição, pode-se concluir que o
ambiente liberal brasileiro influenciou o processo constituinte e produziu uma Carta liberal,
ainda que de seu próprio modo.
1.3.1. A Constituição Republicana de 1891
Em 1889 declarou-se o fim do Império e a proclamação da República no Brasil. Depois da
Assembleia Constituinte de 1890, a primeira constituição da República do Brasil foi
promulgada em 24 de fevereiro de 1891 e vigorou até 1930. Seu relator foi o senador Rui
Barbosa.
Ela sofreu grande influência da Constituição norte-americana de 1787, e esta por sua vez, foi
fortemente influenciada pelo liberalismo. Consagrou-se o sistema de governo presidencialista,
abandonou-se o unitarismo implementando o federalismo, e substituiu-se a monarquia pelo
governo republicano.
A nova constituição extinguiu privilégios de nascimento, foros de nobreza e ordens
honoríficas. Garantiu a igualdade de todos perante a lei (artigo 72, § 2º), direito de
propriedade, liberdade de associação e expressão, baniu a pena de morte e a de banimento, e
estabeleceu a prevalência de proteção às liberdades privadas, civis e políticas. Além disso,
instituiu-se pela primeira vez a garantia constitucional do habeas corpus.
No campo econômico, manteve-se as ideias do liberalismo. O Estado não intervia no
mercado, nas relações comerciais, industriais, financeiras ou quaisquer relações privadas. Ele
apenas garantia direitos e conferia liberdade às relações.
No que diz respeito à organização dos poderes, o artigo 15 extinguiu o Poder Moderador e
instaurou a estrutura de poder tripartite, estabelecendo: "São órgãos da soberania nacional o
Poder Legislativo, o Executivo e o Judiciário, harmônicos e independentes entre si".
2. ESTADO SOCIAL DE DIREITO
(Desenvolvido por César, Gabriela, Matheus e Mércia)
2.1. OS PARADIGMAS DO ESTADO SOCIAL DE DIREITO
Com a Segunda Revolução Industrial e a decorrente industrialização e urbanização da
sociedade européia e americana, o paradigma do Estado Liberal de Direito entrou em crise. O
Estado Liberal foi teorizado e consolidado em um contexto completamente diverso da
segunda metade do século XIX: a economia era fundamentalmente baseada em manufaturas,
as cidades não passavam por problemas de urbanização e não havia preocupação com a
questão da marginalização decorrente da concentração exacerbada de renda entre burgueses e
proletariados. Desse modo, o Estado Liberal, que era marcado pela ideia de limitação do
poder e garantia de liberdade individual, entra em crise e começa a ser severamente criticado.
Surgem novas propostas e ideias de organização estatal. São as teorias socialistas, mais
voltadas às questões sociais, que se tornam as principais correntes teóricas críticas do
paradigma liberal. Já nos primórdios do século XX, o novo paradigma, cunhado de
constitucional social, se consolida em substituição do Estado Liberal de Direito.
O paradigma do Constitucionalismo Social se caracteriza pela busca de garantir a todos os
cidadãos o acesso a bens e direitos que não poderiam ser alcançados sem a interferência
estatal. Assim, amplia-se a ideia de igualdade e a atuação estatal (intervencionismo). Nessa
linha, o Estado passa a ter deveres não mais apenas negativos (de abstenção), mas também
positivos; em outras palavras, o Estado passa a ter que ser prestador de serviços, produtor e
fomentador. Outro fator do Estado Social de Direito é a maior participação popular no
exercício do poder, já que a base da cidadania nesse novo paradigma é “participar
efetivamente no exercício do poder político, ou da gestão dos negócios da cidade, por meio de
modalidades, procedimentos e técnicas diferentes”. (SOARES, Mário Lúcio Quintão, Teoria
do Estado, 2011, p.200)
Deve se deixar claro que o paradigma do Estado Social de Direito não se opões, nem nega o
paradigma anterior, o Estado Liberal de Direito. O que ocorre é um processo de mudança na
finalidade estatal. Assim, o objetivo do Estado não é mais apenas garantir liberdades
individuais e limitar poderes. Soma-se a isso a preocupação social que o Estado deve ter. Em
outras palavras, as garantias de liberdade individual e a limitação do poder não são negadas
no paradigma social, mas sim reafirmadas e acrescentadas à ideia de busca de igualdade social
(com a participação mais ativa do Estado através de prestação de serviços e garantia à toda
população o acesso a bens e direitos) e participação no poder pela sociedade como um todo.
Ao mesmo tempo em que o Estado Social de Direito se consolidava na Europa (Constituição
de Weimar – 1919) e na América (Constituição mexicana – 1917), a via mais radical das
teorias socializantes também ganhava espaço, especialmente com a Revolução Russa. Trata-
se da alternativa do socialismo marxista-leninista. Se comparada com essa via, a corrente
social-democrata do Estado Social é reformista, já que busca afirmar as reivindicações do
proletariado através do aparato jurídico, isto é, revigora-se o Estado de direito, e não o
substitui por um Estado Social (ditadura do proletariado). Portanto, o paradigma
constitucional social mantém o Estado de direito do período liberal, porém com mudanças
(por isso reformista): o cidadão deverá ter garantido pelo Estado direitos a bens e serviços que
não teria sem o intervencionismo estatal, além de ter maior participação política,
aprofundando o viés democrático. É exatamente nesse ponto que se encontra a diferença
fundamental entre o paradigma social-democrata reformista e o marxista-leninista
revolucionário. Concluindo, o que há no Estado Social de Direito é a constitucionalização da
cláusula social, e não uma revolução que derruba o Estado de direito para implementação do
Estado Social (ditadura do proletariado).
O Estado Social de Direito criou o Welfare State, um Estado intervencionista, administrador,
fomentador e fiscal. Manteve-se a estrutura econômica capitalista, apesar de a intervenção do
Estado na economia crescer, assim como a arrecadação de impostos, porque esta era a
principal fonte econômica do Estado para a prestação de serviços para a sociedade.
Concomitantemente a essa estrutura capitalista, havia as ideias socialistas de busca do bem-
estar social geral. Assim, a função do Estado Social de Direito na economia era crescê-la e
fortalecê-la para se atingir os fins sociais. Além disso, o Estado Social teve que conformar a
realidade de conflito social decorrente de uma nova estrutura urbana que surgiu, devendo ser
integrador ao buscar reduzir as desigualdades geradoras desses conflitos. Por isso, tal
paradigma consolidou um Estado administrador, em que a técnica se sobrepunha à ideologia,
e a administração, à política, pois se fazia necessário a interferência estatal para a diminuição
das desigualdades sociais.
Em resumo, o Welfare State era uma estrutura estatal que preservava o capitalismo como
estrutura política, com a propriedade privada e a livre iniciativa, apesar da intervenção estatal
na economia ser grande se comparada ao estágio liberal e ter crescido o número de empresas
estatais. Já no aspecto ideológico e social, buscava-se diminuir as desigualdades sociais,
geradoras dos conflitos de classes. Para isso, o Estado se colocava como prestador de serviços
e garantidor de direitos sociais. Por fim, pode-se dizer que há uma mudança teleológica: no
paradigma liberal, o fim do Estado era limitar poder e garantir as liberdades individuais; já no
paradigma social, tais fins liberais são mantidos, porém o principal objetivo do Estado passa a
ser o bem estar social.
Todo esse paradigma entrou em crise ao longo do século XX. Isso em decorrência do
agigantamento do Estado Social de Direito, pois era a administração pública quem garantia às
exigências de bem estar da sociedade. Para isso, obviamente, crescia o braço estatal, que
passava a não ser mais viável. Ou seja, uma crise econômica também levou à derrocada do
Welfere State, gerada pelo aumento cada vez maior das dívidas estatais, que eram feitas para
colocar em prática os serviços sociais, e da crescente demanda social, tendo que o Estado
atender a todas elas.
Com a crise dos países socialistas na segunda metade do século XX, as ideias socialistas se
mostraram fadadas à crise. Isto é, tanto a via social democrata, como a via marxista-leninista
não conseguiram ter resultados satisfatórios para a sua manutenção, ainda que os motivos que
levaram à derrocada de cada uma dessas vias socialistas fossem diferentes.
2.1.1. Fundamentos sociológicos
Para o professor Elias Díaz, o Estado social de Direito é uma realidade surgida após a
Primeira Guerra Mundial que se caracteriza pela institucionalização jurídica-política da
democracia social e do capitalismo maduro e permite compatibilizar o neocapitalismo com o
estado intervencionista produtor de bens de uso e serviços. Com essa breve introdução
também é necessário a alusão ao apanhado histórico para se entender este tema.
O progresso da indústria trouxe consigo grandes transformações na organização social. As
massas transferiram-se, gradualmente, do campo para os centros urbanos. Com péssimas
condições de trabalho floresceu a consciência de classe, com a formação de um proletariado
cada vez mais organizado e forte, a ganhar experiência política. Assim, a burguesia viu-se
obrigada a ceder mais um passo, fazer mais uma concessão com o aumento das reivindicações
trabalhistas. Considerando essas afirmações históricas pode-se de fato entender essa ordem
político-social.
Para Antônia Carlos Wolkmer, os principais fatores sociológicos que implicaram na
construção do Estado social de Direito foram as grandes modificações socioeconômicas
ocorridas na Europa no fim do século XIX e início do século XX. Podem-se considerar como
as principais modificações: amplitude dos conflitos sociais e ao conseqüente alargamento da
„questão social‟, isto é, o crescimento de reivindicações das massas urbanas trabalhadoras,
associadas, a contribuição da Igreja Católica na afirmação de uma doutrina de justiça social;
os novos rumos do desenvolvimento do capitalismo industrial e financeiro; os efeitos da
Grande Guerra de 1914-18 e o decisivo impacto ideológico da Revolução Russa de 1917.1
A importância da classe burguesa também deve ser considerada, utilizando o direito como
mediador para iniciar e consolidar uma grande revolução política que se iniciou desde o fim
da Idade Moderna. No primeiro momento, se valeu do direito natural paraderrubar o
absolutismo. No segundo momento, através do direito positivo, consagrou o dito chamado
Estado de Direito, com seus Códigos e Constituições, que estruturam uma nova organização
política dos Estados.
Dessa maneira, tem-se a especificação desse tipo de Estado, que criou-se a partir de
importantes acontecimentos históricos que representaram mudanças na sociedade nos mais
variados aspectos: jurídico, axiológico, social e político.
2.1.2. Fundamentos axiológicos
O Estado social de Direito baseia-se na priorização da garantia de uma real liberdade,
fundamentada na ideia de igualdade.
Torna-se necessário a diferenciação entre igualdade contemporânea e igualdade clássica.
Segundo Joaquim Carlos Salgado desde os tempos antigos existia a ideia de justiça, mas foi a
modernidade que acrescentou a ideia de liberdade. Hegel acrescenta mais um valor a ideia de
justiça, o valor trabalho que é libertador.
O século XIX é marcado pelo o advento de novas concepções quase sempre igualitárias. As
quais já faziam parte de alguma maneira do Estado liberal. Para João Mangabeira a questão
era ir além do Estado liberal e da igualdade formal.
Assim formam-se os ideais socialistas, sustentados em criticas ao Estado liberal. Criticas de
reprovação referente ao lado social do homem e seus problemas, a satisfação de soluções
formais, com liberdades formais e igualdades formais e ao capitalismo e a burguesia.
1WOLKMER, Antônio Carlos. Para um Paradigma do Constitucionalismo Ocidental. Revista
Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, n. 62,
1986, p. 47
O socialismo trouxe uma nova ética fundada na igualdade e na dimensão social dos homens.
Apesar disso o movimento socialista também é plural e multifacetado como o próprio
liberalismo. Depois de Marx e Engels é comum à distinção entre o socialismo cientifico e
dialético do utópico, todos aqueles não marxistas. O marxismo corresponde a diversas
concepções como o materialismo histórico, a luta de classes, a teoria das crises econômicas, a
teoria do valor trabalho.
Através das pressões sociais e ideológicas do marxismo o Estado liberal transformou-se,
dando lugar ao Estado social. Deve-se ao Estado social não apenas os ideais marxistas, mas
também o movimento social-democrata que teve um papel importante na evolução em sentido
social dos direitos fundamentais.
Desse modo o Estado social seria herdeiro do socialismo, mas também do liberalismo e da
democracia. Sendo assim uma conquista politica do socialismo democrático.
O Estado social ainda teve a contribuição das ideias norte-americanas, com a declaração das
quatro liberdades: liberdade de expressão, liberdade de culto, liberdade de viver sem medo e a
liberdade de viver sem passar necessidades, proclamas pelo presidente Roosevelt.
Assim o Estado social representa à emancipação do proletariado, buscando a instauração de
uma democracia real,defendendo a igualdade dos homens e criando condições de liberdade.
2.1.3. Fundamentos jurídicos
O Estado Social pertence à segunda fase do Direito Moderno. Seu tema principal, segundo
Miguel Reale, é a “socialização do Direito”. Dentre as várias características dele pode-se
destacar que: emerge o Estado intervencionista, no qual existe um sentido ético em relação a
essa intervenção; o Estado nega a concentração do poder, então o divide em poderes e se
submete a uma regulamentação escrita e há a hipertrofia do poder executivo.
Surge a “teoria do ordenamento jurídico”, com Santi Romano, na qual estabelece o
fortalecimento estatal. Emerge assim um Estado cada vez mais intervencionista, mas que se
justifica, em parte, por visar proteger o mais fraco frente aos graves males do mercado. A
intervenção, portanto, possui um sentido ético na vida privada. No entanto, nem toda
intervenção estatal pode ter sido considerada ética, devido ao fato de muitas vezes ela
abranger campos que não lhe cabia intervir por não se tratar de proteger o mais fraco.
Mesmo com essa grande intervenção, não se pode confundir Estado Social, com Estado
Socialista ou com Estado autoritário. Isso seria errado, pois mesmo que tenham pontos em
comum, como o fortalecimento das formações estatais e a grande atenção dada ao trabalho e
aos trabalhadores, o Estado Social mantém eleição, partidos e livre opinião.
Além de o primeiro reestruturar o capitalismo com influências do socialismo e não estatizar
os meios de produção, ele não busca que todos vivam no mesmo patamar, mas que todos
vivam com, pelo menos, o mínimo de dignidade humana, coisas nas quais o Estado socialista
faz diferente.
Nesse Estado há a hipertrofia do poder Executivo, o que acarreta na crise do conceito de
separação dos poderes e também na crise da noção de Estado de Direito. Gera uma crise, pois
muitas vezes os poder executivo, nesse Estado, cria leis, ou seja, tira a competência do poder
legislativo e faz com que haja uma crise de legitimidade. Pode-se ver crise de legitimidade no
ramo da economia, no ramo da política e no ramo jurídico.
2.1.4. O constitucionalismo social
O marco inicial do Constitucionalismo social foi a Constituição da República de Weimar, que
aconteceu pós Primeira Guerra Mundial. Ela serve como um divisor de águas, pois as
constituições a partir daí não servem mais somente como declarações formais de direitos e
mecanismos de limitação do poder. Nessa época é inserido nas constituições sociais o
intervencionismo, que fortalece cada vez mais o Estado. Dessa forma, ele é autorizado a
intervir na esfera socioeconômica, ou seja, a Constituição passa a abranger o conjunto da vida
social. Assim, há uma ampliação do seu conteúdo e ela passa a estender as normas jurídicas
não somente a todo mecanismo jurídico, mas também para as relações sociais e econômicas.
Autores de grande renome discutiram sobre o conceito e a abrangência da Constituição. Pode-
se citar Hans Kelsen, que lhe dá um sentido jurídico-formal, Carl Schmitt, que é a favor de
um conceito político de constituição, dentre outros autores.
Esse constitucionalismo social produz um novo campo de enfoque: o da Teoria da
Constituição. Entre muitas divergências no campo da Teoria do Estado, surge um ponto em
comum entre os autores Carl Schmitt, Rudolf Smend e Loewenstein, que são considerados os
fundadores da Teoria da Constituição: todos eles possuem uma posição epistemológica acerca
dos estudos de Teoria da Constituição. Eles possuem fortes inclinações sociológicas sobre o
tema.
No entanto, Hans Kelsen discorda dessa visão sociológica. Para ele, o Estado nada mais é que
o sistema jurídico a ele pertinente e a Constituição, na qual é a norma que regula a produção
de outras normas. Se for constituir uma disciplina (Teoria da Constituição) será meramente
normativa, pura de fatos e valores e não sociológica como pregam outros autores. Mesmo
sendo considerada ultrapassada essa visão atualmente, o ponto de vista de Kelsen contribuiu
na configuração do constitucionalismo social, pois é visto como um divisor de águas.
A principal diferença entre os pontos de vista Schmittiano eKelseniano, é que o primeiro parte
da premissa de que a Constituição é uma decisão conjunta de um povo e é válida quando parte
de um poder constituinte. Já o segundo, determina que tudo é previsível e calculável, pois a
decisão consiste no elemento fundamental da ordem jurídica.
Há uma terceira concepção da definição de constituição, defendida por Hermann Heller, na
qual é bem aceita atualmente. Ele insere os pontos de vista de Kelsen e Schmitt para formar o
seu. Ele considera a constituição como uma realidade social, presente em toda sociedade
política e que possui três dimensões: a constituição não normada, mas que se encontra
normatizada; a constituição normadaextrajuridicamente, que possui normas sociais de
costume, mora, religião e também princípios éticos; e a constituição normada juridicamente.
Ou seja, é o conjunto da normalidade e da normatividade. É um conceito no qual a dualidade
está inserida.
Com essa nova visão, há o estudo dos sentidos formal e material da Constituição, da própria
efetividade constitucional e da meditação em torno da teoria do poder constituinte. Dessa
forma, ocorre a passagem do Constitucionalismo político para o Constitucionalismo social.
As constituições que surgem após a Primeira Guerra Mundial têm novas exigências, ou seja,
não se limitam apenas com a estrutura política do Estado, mas abrangem também o direito e o
dever do Estado em reconhecer e garantir a nova estrutura exigida pela sociedade.
2.1.5. A Segunda Geração de Direitos Fundamentais
Nesse contexto do Constitucionalismo Social, firmou-se a chamada segunda geração de
direitos fundamentais. São os direitos sociais, culturais, econômicos e da coletividade de um
modo geral. Os direitos de segunda geração foram consequência das lutas sociais ao longo do
século XIX, bem como da propagação de ideais antiliberais e da busca constante do princípio
da igualdade.
As críticas aos direitos liberais ou de primeira geração se concentram ao excessivo
formalismo da lei: em busca de segurança jurídica e legalidade, primou-se em demasia à
forma da lei, deixando de lado o conteúdo dela, sua matéria. Além disso, os direitos de
primeira geração garantiam liberdade apenas ao indivíduo isolado, não o considerando como
um partícipe de um meio social. Por fim, a não preocupação com a igualdade entre os
indivíduos nos direitos do Estado Liberal, já que o escopo principal desse período era apenas
limitar o poder e garantir liberdades individuais. Desse modo, os direitos de segunda geração
surgem para acrescentar aos feitos da geração primeira, direitos que visem à igualdade e a
justiça social de modo geral.
Assim, o titular dos direitos de segunda geração são os indivíduos considerados em um meio
social concreto, tendo o direito de se igualar, ao menos em oportunidades, a todos os demais
cidadãos. Em busca de justiça social, valoriza-se o trabalhador através de leis trabalhistas.
Caracterizando ainda esse estágio, os direitos de segunda geração garantem também o acesso
à saúde e à educação a todos os indivíduos. Outras áreas complementares desses direitos são a
previdência social, a cultura, lazer e transporte, sendo que todas elas são garantidas pelo
paradigma do Estado Social de Direito.
Outro fator louvável dos direitos de segunda geração foi a ampliação das liberdades políticas.
Um exemplo básico disso é a extensão de voto às mulheres. Sem dúvidas, com o advento do
constitucionalismo social a participação política popular aumentou de modo geral.
As críticas a essa geração se concentram basicamente ao fato de as liberdades individuais
terem sofrido certa limitação e enfraquecimento, em alguns países que o governo teve um
caráter socializante mais acentuado, apesar de terem tido melhoras consideráveis nas áreas de
saúde, trabalho e educação. Deve se deixar claro, contudo, que o paradigma do Estado Social
de Direito não veio se contrapor ou negar o paradigma anterior do Estado Liberal de Direito.
Na verdade, o constitucionalismo social buscava conciliar as liberdades individuais e a
limitação do poder garantidas no período anterior com ideias de justiça social e igualdade.
Essas críticas feitas à segunda geração de direitos são aos locais que não conseguiram
conciliar as duas gerações, isto é, a países que enfatizaram demasiadamente a questão social,
colocando em cheque as liberdades individuais.
2.2. AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS DE CARÁTER SOCIAL
No Brasil, as Constituições que tiveram caráter social foram duas ao longo de toda sua
história.
A primeira delas foi a Constituição de 1934, inspirada na de Weimar, de 1919. A Carta
brasileira de 1934 tem como elementos sociais a consagração do sufrágio feminino, a criação
da Justiça do Trabalho e a definição dos direitos constitucionais do trabalhador. Consagrou-se
assim um Estado empreendedor e de intervenção econômica através de serviços sociais, tendo
o Estado a missão de assegurar saúde, educação, liberdade, democracia e nacionalização das
fontes da vida econômica e financeira.
A segunda Constituição brasileira de caráter social-democrata foi a de 1946. A cláusula social
foi ampliada nessa nova Carta, aumentando a garantia de direitos fundamentais. As inovações
pontuais dessa Constituição que destacam seu caráter social são o reconhecimento ao direito
de greve, a incorporação da Justiça do Trabalho ao Poder Judiciário e a repressão ao abuso do
poder econômico.
3. ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
(Desenvolvido por Aline Mythsuê, Ana Tereza e Melissa)
3.1. HISTÓRICO
Após a segunda guerra mundial alastra-se no mundo um sentimento de desesperança e medo
resultado das catástrofes que traumatizaram a população. O mundo é movido pelo complexo
industrial-militar, a indústria bélica está em pleno desenvolvimento. Tem-se o fim da 2º
guerra mundial e se dá inicio a Guerra Fria, um conflito ideológico (capitalismo x socialismo)
entre duas potências (EUA e URSS) que refletiu em uma tensão mundial. Em 1989, com a
que do Muro de Berlim, coloca-se fim na bipolaridade que cerca o mundo e os regimes
opressores deixam de encontrar legitimidade para se manterem, o socialismo é dado por
vencido. A partir de então se inicia a era globalizada com a supremacia capitalista. Nascem
empresas multinacionais que consomem os recursos naturais e poluem o ambiente sem limite.
A transnacionalização dos mercados pressionou a política para que ela tomasse uma nova
forma de organização que ultrapassa a ideia de soberania do Estado, o sistema político
também deveria se adaptar a globalização. A presença do Estado na economia é vista com
horror e então se busca diminuir a intervenção dele nas relações comerciais através da
privatização e da desregulamentação, transferindo para o setor privado as atividades que
podem ser controladas pelo mercado. Cada vez mais se mostra necessário fazer uma reforma
política para que o Estado se enquadre na nova realidade econômica e social globalizada e
dinâmica.
A falta de crença na figura do Estado faz com que o Direito e o ordenamento jurídico também
percam a sua credibilidade. Por isso é preciso reformular a estrutura do direito positivado para
que ele seja suscetível a pressões democráticas, fazendo com que as normas jurídicas sejam
mais flexíveis.O novo Estado de Direito possui como valor central a Fraternidade, ou seja, o
reconhecimento do outro como semelhante, o que exige a universalização desse Estado.
Compreende-se que toda a humanidade deve ser permeada pela dignidade, não é possível que
se feche os olhos para à exclusão social ou ao desemprego. A globalização faz com que o
aumente a responsabilidade do Estado, pois eles não podem deixar de salvaguardar o que é
próprio e peculiar a cada Nação. Vê-se então que é necessário fazer uma redefinição dos
conceitos e princípios jurídicos que são pertinentes à soberania estatal, e à consecução das
liberdades de circulação de pessoas, bens, mercadorias e serviços.
Para uma adaptação desse novo modelo de Estado que surge, o Constitucionalismo
Democrático começa a buscar uma estruturação. Os princípios constitucionais são normas
selecionadas como fundamentos para a instituição da norma jurídica e por isso são critérios de
integração do modelo constitucional, e se mostram como a melhor opção de limitação do
poder, respeito aos direitos e promoção do progresso. E dentro do Estado Democrático o
constitucionalismo deverá ter como tema os direitos fundamentais.
Os direitos fundamentais que adentram o Estado de Direito são tidos como direitos de terceira
geração. Com a Declaração de 1948, os direitos passam a ser tidos de forma universal e
positiva, ou seja, os destinatários destes direitos são todos os homens e também os direitos
deverão ser efetivamente protegidos até mesmo contra o próprio Estado que os tenha violado.
Os titulares desses direitos não podem ser determinados de forma clara, eles são grupos
humanos, como a família, coletividades regionais, o povo e a própria humanidade. Esses
novos direitos veem para ampliar o corpus dos direitos humanos já conhecidos, surgindo, por
exemplo, os direitos ambientais, do consumidor e da criança.
Desse modo, o Estado de Democrático de Direito surge em decorrência de transformações na
forma de organização social. E tem como principal marcação a fraternidade que exige a
universalização, ou seja, é preciso abarcar a todos, fazer o outro que é estranho também ser
inserido no grupo social de modo a que todos tenham seus direitos garantidos. Não é possível
ignorar a existência da exclusão social, do desemprego, pois nessa forma de Estado é
necessário que a dignidade humana permeie toda a humanidade. A realização plena do Estado
de Direito e da pessoa humana é então nomeada de Estado Democrático de Direito.
3.2. PARADIGMAS CONSTITUCIONAIS
O Estado democrático de Direito estabelece novos paradigmas constitucionais, que surgem
em meio à degeneração dos paradigmas clássicos, o Estado Liberal e o Estado Social. Aquele
se apresenta como uma fusão do que deu certo nessas estruturas predecessoras, mas inova,
especialmente, no sentido de ampliar o alcance dos direitos fundamentais.
O Estado democrático surge no cenário do segundo pós-guerra, e se consolida como conceito
em meados da década de 60. Dessa forma, os paradigmas que o acompanham refletem a
tentativa de instaurar uma nova ordem formal que intente sanar os desvios e incongruências
observados nas formas anteriores de Estado de Direito, a liberal e a social. Desse modo, pode-
se questionar o por quê da escolha do termo “democrático” para caracterizar esse novo
momento, uma vez que todos os Estado de Direito já são implicitamente entendidos como
democráticos. A explicação surge do estabelecimento do primeiro paradigma desse último
Estado, o princípio da fraternidade.
A fraternidade surge no Estado democrático de Direito como inovação do entendimento de
democracia, como havia sendo exercida. Princípio advindo da Revolução Francesa, que
coincide com a formação do Estado de Direito, e que ainda não havia sido devidamente
desenvolvido nos estágios Liberal e Social – que se ocuparam, primordialmente, da Liberdade
e da Igualdade, respectivamente – a Fraternidade se tornará o núcleo do Estado democrático,
no sentido de conceber uma democracia fraternalmente universalizante. Desse modo, a
democracia que vinha sendo exercida é ressignificada, com o intuito de promover a aceitação
do outro como algo diferente, mas profundamente identificado com a realidade pessoal e
própria de cada um, ou seja, ganham forças as ideias de direitos fundamentais inalienáveis, de
dignidade humana, e de defesa da participação das minorias no cenário político decisório.
Ainda pensando no desenvolvimento dos princípios revolucionários de 1789, percebe-se que,
no Estado democrático de Direito, a liberdade e a igualdade já são considerados princípios
sociais básicos. E ainda, essa nova forma de Estado estabelece a fusão das autonomias
privada e pública, que no momento Liberal e no Social eram tratados com desigualdade de
prioridade. Aqui se faz necessária, uma melhor explicação para se compreender o segundo
paradigma em destaque, o princípio procedimentalista.
No Estado Liberal, a autonomia privada era formalmente garantida, e se estabelecia como
suficiente para impedir as ingerências estatais e para assegurar a isonomia entre os cidadãos;
entretanto, essa centralização na esfera privada de realização de direitos desconsiderava as
desigualdades econômicas e sociais. Para corrigir esse aspecto, o Estado Social se apresenta
com o intuito de garantir a isonomia dos cidadãos por meio da equiparação material deles,
centralizando-se assim a autonomia pública, ou seja, há um aumento do poder político do
Estado com fim de melhor controle das relações de direito; entretanto, esse modelo decorre
em uma democracia formal quase que exclusivamente representativa. Frente a esses reveses
práticos, o Estado democrático discursa por uma união dessas autonomias, de modo que os
cidadãos compreendendo sua autonomia pública possam delimitar o campo de ação de sua
autonomia privada, qualificando-se assim para exercer direitos, como pessoas privadas, no
cenário social. Desse modo, os cidadãos adquirem a capacidade de construírem o Direito por
meio de seu papel de membro da sociedade civil (ente privado) em exercício na esfera
pública. Essa participação ao gerar um sentido de autoorganização política da comunidade (os
próprios sujeitos de direito são capazes de influenciar na legislação e nas decisões) é o
paradigma procedimentalista.
Nessa perspectiva de o próprio cidadão ter capacidade de conhecer seus problemas e criar
soluções pertinentes a eles, outro paradigma se apresenta: o neoconstitucionalismo. Isso
porque, a efetuação da fusão entre as autonomias privada e pública depende essencialmente
do intermédio do Direito, e, mais especificamente, das garantias fundamentais constitucionais.
Dessa forma, a Constituição no Estado democrático de Direito se torna suprema, suas normas
e princípios adquirem força normativa, podendo-se falar inclusive em “norma das normas” e
“primazia dos princípios”. Nesse novo Estado, a Constituição pretende-se irradiadora das
diretrizes ideológicas e práticas de todo o Direito, levando-se à busca da efetividade
constitucional e da unidade garantidora dos direitos fundamentais básicos.
Ainda pensando em Constituição, percebe-se o paradigma do princípio da
constitucionalidade, que se relaciona não só com o neoconstitucionalismo, como também
com a reserva constitucional. Nesse sentido, pode-se pontuar, também, que houve grande
avanço no Estado democrático dos mecanismos de controle constitucional.
Relacionado a essa explicação também, diz-se que há os paradigmas do princípio da
legalidade da administração, do princípio da segurança jurídica, do princípio da proteção
jurídica e das garantias processuais e do princípio de garantia de acesso ao judiciário.
Todos esses paradigmas estão ligados à supremacia da lei e ao Direito como garantidor das
demandas básicas do ser humano em comunidade e como limitador das arbitrariedades de
poder, seja estatal ou privado.
O princípio da legalidade da administração é o cerne da teoria do estado de Direito,
designando a prevalência da lei e a reserva de lei (as condutas proibidas, permitidas e
obrigatórias devem ser matéria de lei, e ninguém está obrigado a fazer algo que não esteja
previamente designado em um texto legal; além disso, há previsões constitucionais de como
as leis formais devem ser feitas, ou seja, há um procedimento específico e obrigatório para a
criação de textos legais, constitucionalmente definido). Já o princípio da segurança jurídica é
uma demanda que surge da necessidade de confiança dos cidadãos, que são levados a crer em
nome desse paradigma que há um processo de racionalização da estrutura estatal-
constitucional, eliminado as possibilidades de arbitrariedades de poder no âmbito político e de
Direito. Ainda, o princípio da proteção jurídica e das garantias processuais refere-se ao
direito ao devido processo legal, além de delimitar a proteção jurídica individual sem lacunas
e de estabelecer garantias de procedimento e processo, como garantias do processo judicial,
de processo penal e de procedimento administrativo, assim como independência de tribunais e
vinculação do juiz à lei. E o princípio de garantia de acesso ao judiciário concatena o pleno
direito de defesa ao cidadão, contribuindo também em complementaridade ao princípio
procedimentalista.
O Estado democrático de Direito tem como paradigma, ademais, o princípio da divisão de
poderes. Nesse sentido, há um esforço para que os poderes sejam bem definidos e para que
exista uma distribuição de competências, entretanto também se percebe hoje uma tendência
para haja uma ordenação controlante-cooperante entre os poderes.
Por fim, apresenta-se o paradigma do sistema de direitos fundamentais, que é considerado o
tema central do Estado democrático de Direito. Os direitos fundamentais estão presentes, de
uma forma ou de outra, nos objetivos ou fundamentações de todos os outros paradigmas desse
Estado. Na verdade, o texto constitucional no Estado democrático tornou-se uma espécie de
catálogo de direitos humanos, e além de regulamentá-los a Constituição também traça e exige
medidas de implementação desses direitos. No Estado democrático surgem os direitos
humanos de terceira geração, que tem como titular não o indivíduo em sua singularidade, mas
sim grupos humanos (família, povo, nação, coletividades regionais e étnicas), ou seja, são
direitos de titularidade coletiva. Dentre esses direitos se destacam o direito ao meio ambiente,
o direito à paz, o direito à autodeterminação dos povos, direito à qualidade de vida, direito do
consumidor, direito ao desenvolvimento, ou seja, direitos difusos, mas que muito promovem
mudanças no horizonte do Direito e do Estado. É por isso, que o Estado democrático de
Direito é celebrizado por aumentar o alcance dos direitos fundamentais, estabelecendo que a
violação desses direitos é causada pelas desigualdades sociais, demandando mudanças de
ordem política, social e econômica, adotando, par isso, uma postura muito mais
procedimentalista, do que liberal ou assistencialista.
Por fim, destaca-se o paradigma do internacionalismo, que decorre de um processo de
constitucionalização do direito internacional e de internacionalização do direito
constitucional. Esse paradigma estabelece a recepção das resoluções de tratados e convenções
internacionais na Constituição e no ordenamento jurídico em geral. Essa característica
corrobora com o princípio da fraternidade de reconhecimento do outro e com o sistema de
direitos humanos, que pretende-se universalizante e inalienável a todos os homens.
3.3. A CONSTITUIÇÃO DEMOCRÁTICA DE 1988
A Constituição Federal de 1988 foi um marco na reformulação do Estado, rumo a
consolidação de um Estado Democrático de Direito. A nova ordem constitucional já consagra
em seu artigo 1º princípios fundamentais como soberania, cidadania, dignidade à pessoa
humana, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Além disso, a
Carta Magna de 1988 mantém como pressuposto fundamental, o respeito aos direitos e
garantias individuais, garantindo, em seu art. 5º, aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, um mister mínimo de direitos assegurados aos que aqui se encontrem.
Como o Estado Democrático de Direito, está calcado nos referidos princípios, em objetivos, e
em direitos e garantias individuais inerentes à pessoa humana, percebe-se que a Constituição
Brasileira foi formulada em prol de consolidar tal Estado Democrático de Direito.
Além disso,a Constituição também garante, a Dignidade Humana, através de uma sociedade
justa e solidária, prevalecendo os Direitos Humanos. Nesse aspecto, percebe-se que o Estado
Democrático de Direito instaurado na Democracia Brasileira com a tal Constituição Federal
de 1988 se consubstancia em Estado de Direito e de Justiça Social e, por conseguinte, as
diretrizes constitucionais permitem aos cidadãos o exercício do direito humano fundamental
de participação política, através dos mecanismos da democracia representativa e participativa,
para que cada cidadão possa atuar, de forma permanente, em fiscalizar e exigir que a atuação
dos Poderes Públicos esteja em consonância com os objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil.
O exercício da cidadania em prol de políticas públicas sociais para consecução de uma
sociedade livre, justa e solidária se funda no fato de que o Estado Democrático de Direito
Brasileiro se vincula ao paradigma contemporâneo de democracia de três vértices (democracia
procedimentalista, democracia substancialista ou material, democracia fraternal), na qual os
conceitos de humanismo e democracia garantem que o cidadão possa requerer a atuação da
Jurisdição Constitucional para impor aos Poderes Públicos a plena observância e o
cumprimento dos ditames do princípio da Justiça Social com a concretização de Políticas
Públicas Sociais que propiciem aos indivíduos o acesso aos direitos humanos sociais que
permitem a materialização das condições mínimas de existência condizentes com a dignidade
da pessoa humana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BATTOCHIO, Mariana. A Constituição Federal, princípios e valores informadores do
estado democrático de direito e dignidade da pessoa humana como parâmetro de
interpretação jurídica. Disponível em:< http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14221>. Acesso em: 18
outubro 2014.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.
HORTA, José Luiz Borges. História do Estado de Direito. São Paulo: Alameda, 2011
MARTINS, Argemiro Cardoso Moreira. A Noção De Paradigma Jurídico e o Paradigma
Do Estado Democrático De Direito. Disponível em:< http://www.univali.br/ensino/pos-
graduacao/mestrado/mestrado-em-gestao-de-politicas-publicas/cadernos-de-
pesquisa/Documents/caderno-pesquisa-13-2.pdf>. Acesso em: 18 outubro 2014.
SANTOS, Lília Teixeira. O Estado Democrático de Direito instaurado na democracia
brasileira com a Constituição Federal de 1988 (CF/88): estado de direito e de justiça
social. Disponível em:< http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,o-estado-democratico-de-
direito-instaurado-na-democracia-brasileira-com-a-constituicao-federal-de-1988-cf88-
es,45045.html> Acesso em: 18 outubro 2014.
SOARES, L. Os estados liberal e social e as constituições brasileiras no tocante à ordem
econômica. Confluências, Niterói, vol. 13, n. 2. P. 110-130, 2012
SOARES, Mário Lúcio Quintão. Teoria do Estado: Novos Paradigmas em face da
Globalização. 4. ed. São Paulo: Altlas, 2011
VAINER, Bruno Zilberman. Breve histórico acerca das constituições do Brasil e do
controle de constitucionalidade brasileiro. Disponível em: <
http://www.esdc.com.br/RBDC/RBDC-16/RBDC-16-161-
Artigo_Bruno_Zilberman_Vainer_(Breve_Historico_acerca_das_Constituicoes_do_Brasil_e_
do_Controle_de_Constitucionalidade_Brasileiro).pdf >. Acesso em: 19 outubro 2014.
VASCONCELOS, D. O Liberalismo na Constituição de 1824. 2008. 85 f. Dissertação
(Mestrado em Direito Constitucional) – Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu,
Universidade de Fortaleza, Fortaleza. 2008.
WOLKMER, Antônio Carlos. Para um Paradigma do Constitucionalismo Ocidental.
Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas
Gerais, n. 62, 1986