evoluÇÃo da taxonomia vegetal

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Princípios e Práticas em Identificação Botânica e Técnicas de Herbário APOSTILA 2 EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA VEGETAL: PERSPECTIVA HISTÓRICA Profa. Dra. Suzana Bissacot Barbosa 2012 Herbário “Irina Delanova de Gemtchújnicov - BOTU” Departamento de Botânica Instituto de Biociências de Botucatu UNESP

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Page 1: EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA VEGETAL

Princípios e Práticas em Identificação Botânica e

Técnicas de Herbário

APOSTILA 2

EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA VEGETAL: PERSPECTIVA HISTÓRICA

Profa. Dra. Suzana Bissacot Barbosa

2012

Herbário “Irina Delanova de Gemtchújnicov - BOTU”

Departamento de Botânica

Instituto de Biociências de Botucatu

UNESP

Page 2: EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA VEGETAL

1ª FASE - AS CLASSIFICAÇÕES CLÁSSICAS

• Homem sempre utilizou sistemas de classificação de plantas para

atribuir nomes às plantas e descrever as suas qualidades,

• importância alimentar, medicinal ou outros.

Teofrasto (c. 370-285 AC) - discípulo de Platão e Aristóteles,

considerado como o "pai da botânica”

descreveu cerca de 500 taxa

caracteres morfológicos óbvios (hábito),

posição do ovário,

fusão do perianto, etc

Muitos dos nomes por ele criados foram posteriormente adotados por

Lineu e ainda hoje são usados.

Dioscórides (séc. I AC) - médico do exército romano e interessado nas

propriedades medicinais das plantas

descreveu cerca de 600 espécies de plantas

indicando as propriedades e forma de utilização

obra não tão bem organizada como a de Teofrasto

foi considerada e tida como obra de referência durante dezesseis

séculos, tendo estado em voga até ao séc. XVI

Page 3: EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA VEGETAL

2ª FASE – HERBALISTAS

Durante a Idade Média foram raras as publicações originais sobre

botânica e as que foram escritas baseavam-se quase sempre nos

clássicos gregos.

Foi durante o Renascimento (séc. XVI), momento em que a originalidade

passou a ser uma "virtude", que se começaram a escrever novos

trabalhos de classificação, divulgados rapidamente graças à invenção da

Imprensa na Europa.

Os trabalhos apresentavam descrições pormenorizadas e originais das

espécies apresentadas, assim como desenhos das mesmas.

Algumas destas obras chegavam a apresentar classificações, ainda que

rudimentares, mas na maioria delas a única classificação existente era a

alfabética.

O. Brunfels (1530), L. Fuchs (1542), M. de L'Obel (1570) e C.

L'Ecluse (1601):

A maioria dos trabalhos incorporavam muito de mito e de superstição

época em que se pensava que as plantas tinham sido oferecidas pelo

Criador ao Homem, para que este aproveitasse as suas virtudes

3ª FASE - OS PRIMEIROS TAXONOMISTAS

Page 4: EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA VEGETAL

A caminho do séc. XVII as plantas começaram a ser objeto de estudo, por

parte de muitos autores, mais pelo seu valor intrínseco do que pelo seu

valor nutritivo ou medicinal.

A. Caesalpino (1509-1603) - "primeiro taxonomista" : "De Plantis"

(1583)

classificou cerca de 1500 espécies

hábito e caracteres do fruto e semente

caracteres florais

J. Bauhin (1541-1631) e G. Bauhin (1560-1624): "Pinax Theatri

Botanici" (1623)

6000 espécies e os sinônimos conhecidos

colocaram alguma ordem na confusão nomenclatural.

G. Bauhin ficou conhecido pelo seu reconhecimento da categoria

genérica e, sobretudo, pela introdução da nomenclatura binomial.

J. P. de Tournefort (1656-1708): , francês, levou ainda mais longe o

conceito de género de Bauhin.

"Institutiones Rei Herbariae" (1700)

ainda hoje muitas das suas designações genéricas são utilizadas

classificou cerca de 9000 espécies, agrupadas em 698 gêneros e 22

classes

J. Ray (1627-1705): "Methodus Plantarum Nova" (1682, 2ª ed. em

1703), "Historia Plantarum" (3 vols., 1686, 1688, 1704) e "Synopsis

Methodica Stirpium Britannicarum" (1690, 2ª ed. em 1696, 3ª ed. em

1724)

Descreveu cerca de 18000 espécies

complexo esquema de classificação

Page 5: EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA VEGETAL

caracteres variados que iam desde os da flor (reprodutivos) até aos

vegetativos

Acreditava que todos os tipos de caracteres deveriam ser utilizados

Este autor usava um critério de espécie mais estreito do que o utilizado

por Lineu mas o seu sistema de classificação era pouco prático, em

virtude de não utilizar a nomenclatura binomial.

4ª FASE - LINEU E SEUS DISCÍPULOS

Lineu é considerado como o fundador da taxonomia moderna, botânica e

zoológica, e o sistema de nomenclatura que hoje se utiliza é, na essência,

o que ele descreveu.

Sua maior contribuição foi colocar ordem na confusão de sistemas de

classificação então existentes e ordenar o conhecimento produzido pelos

incontáveis autores anteriores a ele.

"Genera Plantarum" (1737 e subsequentes edições) e "Species

Plantarum" (1753 e posteriores edições)

classificou as plantas de acordo com o seu artificial "Sistema Sexual”

atribuía um grande significado à reprodução sexual das plantas,

estabeleceu espantosas relações paralelas entre a sexualidade das

plantas e a sexualidade humana.

5ª FASE - SISTEMAS NATURAIS PÓS-LINEANOS

No final do séc. XVIII, a maioria dos botânicos já tinha percebido que

existiam "afinidades naturais" entre as plantas.

Page 6: EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA VEGETAL

Período de oposição às "doutrinas" lineanas, já que o sistema de Lineu

situava, muitas vezes, plantas diferentes no mesmo nível hierárquico (por

exemplo, cactos e rosáceas).

Abandonou-se (1) o uso de um único caráter para classificar plantas e (2)

a seleção (escolha) de caracteres baseada em teorias, em favor da prática

e da experimentação.

As classificações passaram a tentar refletir relações naturais e que,

simultaneamente, pudessem ser usadas na identificação

O sistema natural tentava refletir e expressar o "plano de criação de

Deus" e não linhagens evolutivas

Michel Adanson (1727-1806):

um dos primeiros botânicos a aceitar que um sistema de classificação

deveria ser baseado no maior número possível de caracteres,

tentou determinar qual o número mínimo de caracteres a serem

usados

e se os caracteres deveriam ser pesados

Descreveu grupos semelhantes às atuais ordens e 58 famílias (nível

hierárquico sugerido por Ray), no seu "Familles des plantes" (1763).

A família Jussieu: constituída por 3 irmãos, Antoine (1688-1758),

Bernard (1699-1777), Antoine-Laurent (1748-1836),

tentaram agrupar as plantas do Jardim de Versailles de acordo com o

sistema de Lineu

"Genera plantarum secundum ordines naturales disposita”

100 ordens de plantas (hoje Famílias)

dividem o reino vegetal em três grupos: Acotyledones (criptógamas e

algumas monocotiledôneas não corretamente atribuídas),

Page 7: EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA VEGETAL

Monocotyledones (Monocotiledôneas) e Dicotyledones (Dicotiledôneas e

Gimnospermas).

J.B.P. de Lamarck (1744-1829): mais conhecido pelas suas tentativas

para explicar a idéia de evolução, deu uma importante contribuição à

botânica.

"Flore Française" (1778) - explica uma série de regras que devem ser

consideradas para criar classificações naturais e desenvolve um método

analítico de identificação muito semelhante ao utilizado nas chaves

modernas.

de Candolle: Pyramus de Candolle (1778-1841) "Théorie élémentaire

de la botanique”

divide as plantas em dois grupos principais, as "Acellulaires"

(Avasculares) e as "Vasculaires" (Vasculares), e que se prova ser um

sistema natural de classificação.

6ª FASE - SISTEMAS FILOGENÉTICOS PÓS-DARWINIANOS

Século XIX foi uma época fascinante para os botânicos.

Robert Brown: estudou a morfologia floral, reconheceu os óvulos nus

como uma característica fundamental para distinguir entre

Gimnospermas e Angiospermas e observou o núcleo celular.

Wilhelm Hofmeister: descreveu, em meados do século, os ciclos de

vida das Criptógamas e formulou o conceito de alternância de gerações.

Page 8: EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA VEGETAL

No final do século, Edward Strasburger : demonstrou a fusão nuclear

nos óvulos de Angiospermas e Gimnospermas e lançou as bases da

citologia vegetal. No entanto, não observou a dupla fecundação que

ocorre nas plantas com flor, a qual foi descrita, em 1958, pelo botânico

Russo S. G. Navashin.

"The Origin of Species" de Charles Darwin

A teoria evolutiva teve um enorme impacto e os taxonomistas começam

a integrar conceitos evolutivos nas classificações.

Tentativas de se arranjar as plantas em grupos naturais, numa

seqüência evolutiva, que parte do mais simples para o mais complexo.

problemas das estruturas que, parecendo simples, resultam da

redução ou da fusão de características ancestrais

Os sistemas de classificação, assim construídos, passam a designar-se

Filogenéticos.

Desde o início se compreende que o desenvolvimento e construção

de tais sistemas de classificação sofre de graves problemas

dificuldades na hora de definir que grupos são monofiléticos e que taxa

são os mais e os menos especializados.

August Wilhelm Eichler (1839-1887):

Page 9: EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA VEGETAL

Desenvolveu um novo sistema de classificação,

Dividiu o reino vegetal em plantas sem semente (Cryptogamae) e com

semente (Phanerogamae),

nas Criptógamas incluiu as algas, os fungos, as briófitas e os fetos

dividiu as plantas com semente em Gimnospermas e Angiospermas,

sendo estas subdivididas em Monocotiledôneas e Dicotiledôneas.

Dicotiledôneas são divididas em Choripetalae (plantas com flores que

apresentam pétalas livres) e Sympetalae (aquelas com pétalas fundidas).

Eichler não aceitou a idéia de redução secundária ( passagem de um

caráter complexo a simples, o que afetou a colocação de determinados

grupos no seu sistema)

7ª FASE - SISTEMAS FILOGENÉTICOS

inicio do séc. XX

teorias de Darwin

genética

riqueza em informação

conhecimento da identidade de uma planta implicava no conhecimento

das suas afinidades e relações evolutivas

Charles E. Bessey (1845-1915) e John Hutchinson (1868-1932).

8ª FASE - SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO CONTEMPORÂNEOS

Na atualidade, os sistemas de classificação do Reino Vegetal são

continuamente modificados à medida que surgem novas informações

Page 10: EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA VEGETAL

Nos últimos anos, as classificações de plantas têm evoluído ao se

beneficiarem da inclusão de dados de áreas recentes como a

paleobotânica, a ultraestrutura ou a bioquímica, a genética, etc.

A incorporação e combinação de dados tão diferentes com os dados do

tipo tradicional (morfologia, anatomia comparada, etc.), tem permitido

refinar as classificações.

Em 1968, Robert F. Thorne (1920 - )

publicou um sistema filogenético de classificação, "A Synopsis of a

Putatively Phylogenetic System of Classification of Flowering Plants".

dados provenientes da fitoquímica, das relações parasita-hospedeiro,

morfologia de pólen e sementes, anatomia comparativa, micro-estrutura,

embriologia, biogeografia, paleobotânica e citologia, entre outros.

Armen Takhtajan (1910 -): propôs em 1959, um sistema filogenético

"Die Evolution Der Angiospermen" detalhado na obra "System and

Phylogeny of Flowering Plants" (1966) e continuado nas obras

subseqüentes "Flowering Plants: Origin and Dispersal" (1969) e "Outline

of the Classification of Flowering Plants (Magnoliophyta)" (1980).

67 princípios filéticos e em dados provenientes de todas as áreas

disciplinares,

classifica as Angiospermas como Divisão Magnoliophyta

A divisão compreende duas classes: Magnoliopsida (Dicotiledôneas) e

Liliopsida (Monocotiledôneas)

A classificação é depois continuada em 10 Subclasses (3 mono e 7

dicotiledôneas), 92 Ordens e 418 Famílias.

De acordo com este autor, as monocotiledôneas tiveram origem a partir

de dicotiledôneas primitivas semelhantes às atuais Nympheales.

Page 11: EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA VEGETAL

Arthur Cronquist (1919-1991): taxonomista americano do New York

Botanical garden, sistema de classificação filogenético no seu trabalho

"Evolution and Classification of Flowering Plants" em 1963. Uma versão

posterior, intitulada "An Integrated System of Classification of Flowering

Plants" foi publicada em 1981.

Trata as Angiospemas como Divisão: Magnoliophyta

duas classes: Magnoliopsida (Dicotiledôneas) e Liliopsida

(Monocotiledôneas)

Considerou nas Angiospermas 83 Ordens e 383 Famílias

Cronquist sugere as Pteridospermas (fetos com sementes) como o

provável ancestral das Angiospermas

Nympheales seriam os prováveis ancestrais das monocotiledôneas.

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SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DE CRONQUIST ANGIOSPERMAS (ANTHOPHYTA)

Divisão MAGNOLIOPHYTA (Angiospermas)

Classe MAGNOLIOPSIDA (Dicotyledoneae)

Subclasse MAGNOLIIDAE Subclasse HAMAMELIDAE Subclasse CARYOPHYLLIDAE Subclasse DILLENIIDAE Subclasse ROSIDAE Subclasse ASTERIDAE

Classe LILIOPSIDA (Monocotyledoneae) Subclasse ALISMATIDAE Subclasse ARECIDAE Subclasse COMMELINIDAE Subclasse ZINGIBERIDAE Subclasse LILIIDAE

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Modernas técnicas moleculares

Cladística ou Sistemática Filogenética

Genoma dos cloroplastos e segmentos do genoma nuclear avanço no

entendimento da filogenia das plantas

Os dois grupos tradicionais (Dicotiledôneas e Monocotiledôneas) não

fazem mais sentido taxonômico

CLASSIFICAÇÃO ATUAL DAS ANGIOSPERMAS SOB ENFOQUE FILOGENÉTICO – APG III

Angiospermas Pólen uniaperturado

Pólen triaperturado

Page 16: EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA VEGETAL

a. Pólen monoaperturado (1 poro – Monocolpadas): Magnoliidae +

Monocotiledôneas

b. Pólen tricoplado (3 poros ou sulcos – Triaperuradas): Hamamelidae,

Caryophyllidae, Dillenidae, Rosidae, Asteridae

A subclasse Magnoliidae segundo (Cronquist 1988) é parafilética

Esta linhagem é irmã de todas as outras dicotiledôneas com pólen

triaperturado EUDICOTILEDÔNEAS ou TRICOLPADAS

“PALEOERVAS” (PIPERALES, ARISTOLOCHIALES,

NYMPHAEALES E AS MONOCOTILEDÔNEAS)

MAGNOLIALES LAURALES ILLICIALES +

Formam uma linhagem monofilética: pólen monocolpado

Paleoervas: monocotiledôneas + Magnoliidae herbáceas