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UNIVERSIDADE ANHANGUERA - UNIDERP AGUINALDO ROCHA GOMES EVIDENCIAÇÃO DO VALOR CONTÁBIL DAS RECEITAS DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS NAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS CAMPO GRANDE MS 2017

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA - UNIDERP

AGUINALDO ROCHA GOMES

EVIDENCIAÇÃO DO VALOR CONTÁBIL DAS RECEITAS DE SERVIÇOS

ECOSSISTÊMICOS NAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS

CAMPO GRANDE – MS

2017

AGUINALDO ROCHA GOMES

EVIDENCIAÇÃO DO VALOR CONTÁBIL DAS RECEITAS DE SERVIÇOS

ECOSSISTÊMICOS NAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS

Tese apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional da

Universidade Anhanguera-Uniderp, como

parte dos requisitos para a obtenção do

título de Doutor em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional.

Orientação:

Profa. Dra. Lídia Maria Lopes Rodrigues

Ribas

CAMPO GRANDE

2017

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Anhanguera-Uniderp

Gomes, Aguinaldo Rocha. G612e Evidenciação do valor contábil das receitas de serviços

ecossistêmicos nas atividades agropecuárias. / Aguinaldo Rocha Gomes. -- Campo Grande, 2017.

107f. : il. color.

Tese (doutorado) – Universidade Anhanguera-Uniderp, 2017. “Orientação: Profa. Dra. Lídia Maria Lopes Rodrigues Ribas.”

1. Desenvolvimento regional. 2. Contabilidade ambiental. 3.

Ecossistemas. 4. Bacia Hidrográfica – Rio São Lourenço, MT. 5. Ativo biológico. 6. Receita ecossistêmica. I. Título.

CDD 21.ed. 338.9

657.4

AGRADECIMENTOS

Desejo expressar o meu agradecimento a todos aqueles que tornaram

possível a concretização deste trabalho. A Deus, por permitir a realização desses

acontecimentos.

pObrigado Profa. Dra. Lídia Maria Lopes Rodrigues Ribas pelo

crescimento científico e intelectual que me proporcionou, o qual irá acompanhar

por toda a vida, pela forma como sabiamente orientou a execução desta tese,

pela sua disponibilidade, incentivo, compreensão e confiança que me transmitiu

ao longo de toda a pesquisa.

Obrigado Prof. Dr. Gilberto Luiz Alves e Prof. Dr. Sandino Hoff pela

receptividade e pela constante disponibilidade de ensinar. Muito obrigado à

Profa. Dra. Rosemary Matias e ao Prof. Dr. Celso Correia de Souza, pelo

aprendizado imprescindível para conclusão deste trabalho. Obrigado aos

membros da banca de qualificação pelas valiosas contribuições.

Obrigado aos colegas de turma pelo convívio prazeroso, pelas disciplinas

compartilhadas e pelas contribuições direta e indireta para a realização deste

curso de doutorado e especialmente pela amizade.

Obrigado a toda a minha família, em especial à minha esposa Rosimeire

Mariano Sanquite Gomes pela paciência e compreensão, aos meus Filhos

Juliano e Gustavo, pois sem vosso apoio e carinho tudo seria certamente mais

difícil.

Obrigado a todas as pessoas que contribuíram para esta realização

pessoal e profissional que infelizmente não foram mencionadas.

SUMÁRIO

1. Resumo Geral................................................................................ 06

2. General Summary.......................................................................... 07

3. Introdução Geral............................................................................ 08

4. Revisão da literatura...................................................................... 13

5. Referencias Bibliográficas............................................................. 35

6. Artigos

Artigo I............................................................................................ 41

Internalização contábil dos serviços ecossistêmicos nas atividades

agropecuárias................................................................................. 41

Resumo.......................................................................................... 41

Abstract.......................................................................................... 42

Introdução...................................................................................... 42

Material e Método.......................................................................... 46

Resultados e Discussão................................................................ 48

Conclusão...................................................................................... 66

Referencias bibliográficas.............................................................. 67

Artigo II........................................................................................... 72

Contabilidade de serviços ecossistêmicos nas atividades

agropecuárias: validação modelo contábil na bacia do Rio São

Lourenço......................................................................................... 72

Resumo.......................................................................................... 72

Abstract.......................................................................................... 73

Introdução...................................................................................... 73

Material e Método.......................................................................... 75

Resultados e Discussão................................................................ 78

Conclusão..................................................................................... 102

Referências bibliográficas............................................................. 103

7. Conclusão Geral........................................................................... 106

6

1. Resumo Geral

As atividades agropecuárias sempre dependeram dos ecossistemas e da

provisão dos seus serviços para desenvolvimento biológico de vegetais, de

animais e para manutenção da capacidade produtiva do solo. Embora os

serviços providos sejam absorvidos pelas atividades produtivas, o seu valor

econômico não é ainda levado em conta na apuração dos resultados contábeis

das entidades que auferiram tais benefícios. Isso ocorre mesmo sendo

imprescindível a evidenciação desses bens e serviços no resultado das

entidades que exploram as atividades agropecuárias. Diante dessas

considerações, esta pesquisa objetivou o desenvolvimento de linhas

orientadoras e procedimentos para implementação da contabilização dos

serviços ecossistêmicos por parte das entidades agropecuárias. O tema de

estudo enquadra-se na linha de pesquisa: Sociedade, Ambiente e

Desenvolvimento Regional Sustentável. Para atingir os objetivos, analisaram-se

as demonstrações contábeis das entidades agropecuárias constituídas na forma

de sociedade anônima que exercem atividades na bacia hidrográfica do rio São

Lourenço em Mato Grosso. Tal análise se deu na perspectiva de identificar as

práticas contábeis adotadas e o usufruto dos serviços ecossistêmicos. Na

sequência, foram analisados os conceitos, classificações e os métodos de

avaliação desses serviços e apresentaram-se proposições a respeito da

classificação contábil das receitas ecossistêmicas. Logo após, procurou-se

demonstrar a forma de contabilização dos serviços ecossistêmicos. Nesse

sentido, o estudo permitiu concluir positivamente sobre a possibilidade de

internalização dos serviços ecossistêmicos, de modo a classificá-los como:

receitas ecossistêmicas de produção de bens e receitas ecossistêmicas de

provisão de serviços. A aplicação do método do valor justo para valoração

econômica dos serviços ecossistêmicos providos na bacia hidrográfica do rio

São Lourenço permitiu sua internalização contábil com receitas pelas entidades

agropecuárias mesmo quando seus preços não são observáveis. Constatou-se

que as receitas ecossistêmicas, quando evidenciadas contabilmente, constituem

uma medida de eficácia da entidade agropecuária e expressam as contribuições

dos ecossistemas para a formação do resultado da entidade.

Palavras-chave: Contabilidade ambiental, Ecossistema, Bacia hidrográfica.

7

2. General Summary

Agricultural and livestock activities have always depended on ecosystems and

the provision of their services for the biological development of plants and animals

and for maintaining the productive capacity of the soil. Although the services

provided are absorbed by the productive activities, their economic value is not

yet taken into consideration in the calculation of the accounting results of the

entities that receive such benefits, in spite of the fact that it is essential that these

goods and services be displayed in the result of the entities that exploit the

agricultural and livestock activities. In view of these considerations, this research

aims the development of guidelines and procedures for the implementation of the

accounting of ecosystem services by agricultural entities. The theme of the study

fits in line with the research: Society, Environment and Sustainable Regional

Development. In order to reach the objectives, there were analyzed the financial

statements of agricultural entities established as public limited company and that

execute their activities in the São Lourenço river basin in Mato Grosso with the

purpose to identify the accounting practices adopted and the usufruct of the

ecosystem services. Subsequently, the concepts, classifications and methods of

evaluation of these services were analyzed and proposals regarding the

accounting classification of the ecosystem revenues were presented. Shortly

after, endeavors were made in order to demonstrate the form of the accounting

of the ecosystem services by the agricultural entities. The study enabled to

conclude positively on the possibility of the internalization of the ecosystem

services, by classifying them as: ecosystem revenues from the production of

goods and ecosystem revenues from provision of services by the agricultural

entities. The application of the fair value method for economic valuation of the

ecosystem services provided by the São Lourenço river basin allowed its

internalization with revenues by the agricultural entities even when their prices

are not apparent. It was verified that the ecosystem revenues, when evidenced

in the accounting, constitute a measure of effectiveness of the agricultural entity

and express the contributions of the ecosystems to the formation of the entity's

result.

Keywords: Environmental accounting, Ecosystem, Hydrographic basin.

8

3. Introdução Geral

Os produtos agropecuários destinados ao consumo, ao beneficiamento

ou à industrialização, dentre os quais se destacam cereais, fibras, madeiras,

carne, leite, ovos, entre outros que satisfazem as demandas da população

humana são ofertados. IASB (2003, p.5), conceitua a atividade agrícola como “a

gestão por uma entidade da transformação biológica e colheita de ativos

biológicos para venda ou para conversão em produtos agrícolas ou em ativos

biológicos adicionais”. O processo biológico do qual está submetido a produção

agropecuária é constituído de variáveis não controlável totalmente pelos seres

humanos, consequentemente, deve-se atuar sobre as variáveis controláveis

para alcançar melhores resultados.

BRESCIANI (2003, p. 43) afirma que produção agropecuária “consiste em

produzir bens econômicos a partir da combinação dos esforços do homem e da

natureza, para favorecer a atividade biológica de plantas e animais incluindo

produção, o melhoramento e o crescimento”. De modo geral, o homem

transforma a potencialidade da natureza com a finalidade de produzir de bens

econômicos. A atividade agropecuária usufrui de bens e serviços da natureza.

Dentre os serviços que os ecossistemas oferecem, uma serie deles é

essencial para o desenvolvimento das atividades agropecuárias, concretizados

na forma de bens e serviços e usufruídos pelas entidades no cultivo das plantas

e na criação de animais. As atividades produtivas geralmente usufruem de

serviços ecossistêmicos, porém, não suportam os sacrifícios necessários para

sua provisão. O usufruto dos serviços ecossistêmicos não gera obrigação

financeira para a entidade, não ocorrendo, pelo menos nesta visão, os sacrifícios

pelos benefícios obtidos.

Consequentemente, por não suportarem os sacrifícios necessários para

oferta de tais serviços, as entidades agropecuárias geralmente desconsideram

o valor correspondente aos serviços ecossistêmicos na apuração dos resultados

de suas atividades. Além disso, o desconhecimento dos custos e das receitas

providas pelos ecossistemas contribui para aumentar as incertezas com relação

à capacidade da provisão dos serviços ecossistêmicos.

TURNER et al. (2003) afirmam que o uso monetário como critério de

mensuração dos benefícios oferecidos pelo ecossistema estabelece uma

relação transparente com outros usos de seus ativos e atributos, já que o

9

mercado e a economia são difundidos em bases monetárias.

Semelhantemente, a quantificação monetária dos bens e serviços

providos pelos ecossistemas, e o seu reconhecimento como receitas das

entidades que usufruíram destes para a formação dos resultados globais das

suas atividades agropecuárias, permite subsidiar os processos de tomadas de

decisões com informações uteis e relevantes.

Entende-se que a produção agropecuária é afetada pelo crescimento e

pelo desenvolvimento vegetativo dos seres vivos, ou seja, as características

biológicas do processo produtivo e a dependência das demais condicionantes

dos ecossistemas proporcionam mudanças quantitativas e qualitativas nos

ativos das entidades. Embora, o CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE

- CFC (2011) prescreva o reconhecimento das variações biológicas como

receitas das atividades agropecuárias, a grande maioria dos serviços providos

pelos ecossistemas não têm sido devidamente valorados e nem contabilizados.

Em outras palavras a contabilidade não tem consciência ou percepção

dos serviços ecossistêmicos, embora, os serviços ecossistêmicos sejam

consumidos na produção de bens da agropecuária, os seus respectivos custos

não são computados na apuração dos resultados das atividades desenvolvidas.

Normalmente, apenas os grãos, frutos madeiras e fibras são avaliados e

reconhecidos contabilmente como receita de produção, mas não os efeitos

econômicos resultantes da produção da biomassa total e de grãos na atividade

agropecuária.

Em linhas gerais, os serviços ecossistêmicos quando desfrutados

contribuem com a entidade agropecuária para o desempenho de suas atividades

econômicas. Nesse cenário, a contabilidade, por meio das funções de registro,

controle e evidenciação, possui um importante papel no processo de aprimorar

o processo contábil, uma vez que as informações disponibilizadas podem

subsidiar os tomadores de decisão, com dados sobre as contribuições providas

pelos ecossistemas para desempenho dessa atividade.

Segundo GENELLETI (2011), a questão ambiental com foco nos serviços

ecossistêmicos vem sendo discutida na literatura internacional, como uma

ferramenta potencial para comunicar e integrar a questão ambiental em diversos

setores e políticas. No setor agropecuário, a contabilidade constitui uma

ferramenta com potencial para contribuir com a gestão dos ecossistemas e,

10

consequentemente, com a capacidade deste de prover bens e serviços. Nesse

sentido, é imprescindível a contabilização dos custos e das receitas

ecossistêmicas, bem como sua evidenciação nas demonstrações contábeis.

Contemplar informações sobre os serviços ecossistêmicos por meio do

sua internalização contábil como receitas das entidades agropecuárias pode

permitir ampliar as análises das demonstrações contábeis. Segundo o estudo

TEEB (2010), isso se dá com os objetivos de prover informações que possam

solucionar conflitos entre os usuários dos serviços provenientes dos

ecossistemas, poupar custos futuros, melhorar a qualidade de vida e garantir

meios de subsistência.

Para contabilizar serviços ecossistêmicos como receitas, propôs-se sua

classificação em: receitas de produção ecossistêmica e receitas de serviços

ecossistêmicos. Entende-se que os serviços ecossistêmicos apresentam as

características de serem intangíveis, simultaneamente providos e consumidos e,

ainda, serem perecíveis, ou seja, quando não consumidos, podem ser perdidos.

Por outro lado, os produtos ecossistêmicos possuem características tais como

serem tangíveis e terem a produção desvinculada do consumo e poderem ser

estocados. Alguns bens e serviços ecossistêmicos ainda apresentam a

característica comum de não serem comercializados, ou seja, seus preços são

não conhecidos.

Nesse sentido, a presente pesquisa pretendeu responder ao seguinte

questionamento: de que modo o valor dos serviços ecossistêmicos pode ser

levado em conta na apuração contábil dos resultados das atividades

agropecuárias? Esse questionamento indica que o valor de tais serviços não é

levado em conta na apuração do resultado, desse modo não contabiliza-se essa

receita e, consequentemente, subavalia-se os custos dos produtos

agropecuários.

Neste estudo assumiu-se as hipóteses: é imprescindível que os serviços

ecossistêmicos sejam contabilizados como receitas ecossistêmicas, o que

possibilita a evidenciação, com fidedignidade, do resultado das entidades

agropecuárias, de modo a contribuir para que o produtor rural e a sociedade

tenham conhecimento das contribuições dos ecossistemas para concretização

das atividades econômicas desenvolvidas.

11

Os bens e serviços ecossistêmicos usufruídos pelas entidades

agropecuárias podem ser identificados em função de uma série de

consequências observadas no processo produtivo, dentre as quais se destacam:

o menor consumo de insumos de produção por reciclagem de nutrientes;

menores incidências de pragas e doenças pelo usufruto de serviços de controle

biológico; redução de custos de controle de erosão, de inundações, de secagem

e armazenagem, entre outros, o que possibilita sua quantificação, registro e

evidenciação pelo sistema contábil.

No intuito de destacar as metas propostas por este trabalho, apresentam-

se os seus objetivos. Em âmbito geral, teve como objetivo o desenvolvimento de

diretrizes e procedimentos para implementação da contabilização e

evidenciação das receitas de serviços ecossistêmicos, a fim de subsidiar os

produtores rurais com informação úteis para a gestão de suas atividades

econômicas e dos ecossistemas. Esse objetivo geral se subdivide em três

específicos:

Identificar, mediante modelos conceituais, os serviços ecossistêmicos

providos em de bacia hidrográfica e auferidos por entidades que se dedicam à

agropecuária;

Analisar modelos contábeis conceituais e as ferramentas para valoração

e precificação dos serviços ecossistêmicos e;

Propor, a partir das práticas contábeis adotadas pelas entidades

investigadas e dos resultados de estudos científicos, um modelo contábil a fim

de reconhecer as receitas de serviços ecossistêmicos por parte das entidades

agropecuárias.

Este estudo foi estruturado em quatro seções: introdução geral, que

contextualiza e problematiza a necessidade de contabilização dos serviços

ecossistêmicos por parte das atividades agropecuárias; os objetivos da pesquisa

e a fundamentação teórica compõem a primeira seção. Na seção seguinte (artigo

1), discutiu-se a multiplicidade de percepções sobre serviço ecossistêmico, as

formas de classificação, a qualificação, quantificação e valoração econômica dos

serviços ecossistêmicos.

Além disso, discutiu-se a relação da estrutura contábil para captar,

mensurar, registrar e evidenciar as receitas ecossistêmicas de produção

agropecuária, de provisão de serviços ecossistêmicos, bem como analisou-se as

12

demonstrações contábeis das entidades agropecuárias investigadas. Em

seguida, refletiu-se sobre as práticas contábeis adotadas por parte das entidades

agropecuárias constituídas sob a forma de sociedade anônima na bacia

hidrográfica do rio São Lourenço, no estado de Mato Grosso. Por fim,

apresentou-se a proposição de um modelo contábil com objetivo de internalizar

as receitas ecossistêmicas.

A terceira seção (artigo 2) descreve uma proposta de modelo contábil de

reconhecimento dos serviços ecossistêmicos. Analisou-se as demonstrações

contábeis das entidades agropecuárias e a partir dos dados divulgados nas

demonstrações contábeis de forma reversa identificou-se os serviços providos

pelos ecossistemas e auferidas pelas entidades investigadas. Por último, ilustra

a aplicação desse modelo contábil na bacia hidrográfica do rio São Lourenço. A

conclusão geral da pesquisa é apresentada na quarta seção.

13

4. Revisão de Literatura

Esta parte do trabalho é dedicada a identificar conceitos, classificação e

métricas de valoração dos serviços ecossistêmicos. Assim, procurou-se dialogar

com as teorias contábeis relacionadas ao reconhecimento dos serviços

ecossistêmicos com ênfase na atividade agropecuária. Além disso, buscou-se

demonstrar a necessidade da evidenciação pelo sistema contábil das receitas

de produção e provisão de serviços ecossistêmicos por parte da atividade

agropecuária.

Alguns estudos sobre biodiversidade e os serviços ecossistêmicos que

contribuíram para construção deste referencial teórico, devido a sua abrangência

espacial e temporal, merecem destaque, tais como: MILLENNIUM ECOSYSTEM

ASSESSMENT - MEA (2003); THE ECONOMICS OF ECOSYSTEMS AND

BIODIVERSITY - TEEB (2010). Estudos realizados por MAY et al. (1999); por

CAMPHORA e MAY (2006); e por ROMA et al. (2013).

Os referidos estudos demonstram a importância do entendimento sobre

valor econômico da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, o que visa a

levá-los em consideração nos processos de tomada de decisão. Apresentam os

resultados de revisões bibliográficas e estudos de caso que valoraram ou

evidenciaram a importância dos serviços ecossistêmicos e da biodiversidade,

além dos métodos utilizados nos exercícios de valoração.

4.1 Conceitos de Serviços Ecossistêmicos

Os serviços ecossistêmicos, inicialmente, foram definidos por EHRLICH e

MOONEY (1983). Em seguida, DAILY (1997) conceituou-os como as condições

e processos através dos quais os ecossistemas sustentam e satisfazem a vida

humana. COSTANZA et al. (1997) definiram como os benefícios que as

populações humanas obtêm direta e indiretamente das funções ecossistêmicas.

No início deste milênio um estudo denominado MILLENNIUM ECOSYSTEM

ASSESSMENT - MEA (2003), conceituou os serviços ecossistêmicos como os

benefícios que provêm dos ecossistemas aos seres humanos e contribui para

tornar a vida possível e também digna. Mais recentemente, outro estudo

denominado TEEB (2010), definiu os serviços dos ecossistemas como as

contribuições diretas e indiretas dos ecossistemas para o bem-estar humano.

Isso, basicamente, segue a mesma definição MEA, exceto por reconhecer que

14

os serviços possam beneficiar as pessoas por meio de múltiplas formas, ou seja,

direta e indireta.

Embora ainda não encontre na literatura uma definição única para os

serviços ecossistêmicos, ao longo das décadas foram obtidos avanços

significativos em conhecimentos que permitem identificá-los, classificá-los e,

inclusive, valorá-los. A classificação dos serviços ecossistêmicos contribui para

a compreensão de suas definições. NAHLIK et al. (2012) apresenta um resumo

das definições de serviços ecossistêmicos em ordem cronológica mais

difundidas na literatura, como pode ser observado no (quadro 1).

Quadro 1. Definições de serviços ecossistêmicos encontrados na literatura

Definições de serviços ecossistêmicos Fonte

Benefícios para população humana decorrentes, direta

ou indiretamente, das funções ecossistêmicas.

COSTANZA et al.

(1997)

A capacidade dos processos naturais e seus

componentes de fornecer produtos e serviços que

satisfaçam as necessidades humanas, direta ou

indiretamente.

GROOT et al.

(2002)

Os componentes da natureza diretamente aproveitados,

consumidos ou utilizados em função do bem-estar

humano.

BOYD e

BANZHAF(2007)

Benefícios que os homens reconhecem como obtidos a

partir dos ecossistemas, que suportam, direta ou

indiretamente, sua sobrevivência e qualidade de vida.

HARRINGTON et

al. (2010)

Fonte: Adaptado de NAHLIK et al. (2012).

Nenhuma das definições dos serviços ecossistêmicos apresentadas no

quadro 1 é utilizada como padrão. Essa diversidade de definições dos serviços

ecossistêmicos está relacionada aos diversos estudos que englobam esse tema

de pesquisa, tais como: estudos de avaliação de impactos ambiental, de gestão

da paisagem, de pagamento por serviços ambientais entre outros. A definição

adotada depende da abordagem dos serviços ecossistêmicos, porém, essas

definições têm, em comum, o objetivo de tornar mais compreensíveis as

contribuições providas pelos ecossistemas e usufruídas pelos seres humanos.

15

De forma similar à pluralidade de definições, são encontrados diversos

modos de classificação dos serviços ecossistêmicos na literatura. As

classificações propostas por COSTANZA et al. (1997), FERNANDEZ (1997),

GROOT et al. (2002) foram elaboradas com base nas funções ecossistêmicas.

Segundo COSTANZA et al. (1997), as funções são classificadas de modo geral

em: funções de regulação, de produção, de suporte e de informação.

FERNANDEZ (1997, p. 32) classifica as funções ecossistêmicas da seguinte

forma:

“Produção: natural (biomassa, mineral, água, luz, calor ...) e

agraria (produtos agrícolas, florestais, pecuários ...);

Acolhidas de: atividades agrárias, atividades urbanas,

atividades minerais, atividades recreativas, atividades de

educação, cultura, ciências e investigação. Monumentos e

demais patrimônio artístico, infraestruturas de comunicação,

transporte energético, transporte água;

Recepção: natural (restos de biomassa, água, calor, cinzas

vulcânicas...) e antropogênica (emissões da atmosfera,

vertidos aquáticos e ao solo, resíduos…);

Regulação: atmosférica (térmica, acústica, ionizante...),

hidrosférica (evaporação, absorção...), edafológica (gênesis,

morfológica, erosão, sedimentação...), biótica (biosanitária,

praguicida...) e descontaminante (purificação, filtração,

absorção...)”

A classificação proposta por FERNANDEZ (1997) distingue a função de

produção natural e produção agrária e a função de recepção natural e recepção

antropocêntrica. GROOT et al. (2002) entendem que as funções ecossistêmicas

podem ser agrupadas também em quatro categorias, quais sejam: funções de

produção, funções de regulação, funções de informação e funções de habitat.

Para COSTANZA (2008), as classificações não devem apontar para um

único modelo, mas sim para um pluralismo de tipologias úteis a propósitos

variados. Embora haja divergência quanto à classificação das funções

ecossistêmicas, existe consenso de que elas se traduzem em benefícios para a

16

manutenção da diversidade biológica, para a preservação dos processos

evolucionários e para o bem-estar humano. De igual forma, há divergências

quanto à classificação dos serviços ecossistêmicos. Os estudos divergem

quanto a forma de categorizar as contribuições ecossistêmicas denominando

genericamente de serviços ecossistêmicos conforme demonstrado a seguir.

MEA (2003) divide os serviços em quatro grupos: (i) Provisão: os bens e

produtos extraídos dos ecossistemas tais como os alimentos, a água doce, a

madeira, produtos químicos, etc.; (ii) Regulação: os que controlam os processos

naturais e mantêm o planeta habitável, tais como o clima, a doença, a erosão,

os caudais da água, a polinização bem como a proteção contra riscos naturais;

(iii) Serviços culturais: os benefícios intangíveis que contribuem para o bem-estar

dos seres humanos, como a recreação, os valores espirituais e a satisfação

estética; (iv) Suporte: os processos naturais, tais como os ciclos da energia, de

nutrientes e a produção primária que mantém os outros serviços.

A classificação dos serviços ecossistêmicos adotada pela MEA (2003),

apesar de ser amplamente empregada em uma série de estudos, principalmente

por serem os serviços classificados em categorias compreensíveis, permite

difundir conhecimentos sobre os bens e serviços providos pelos ecossistemas.

Ainda assim, para fins de contabilização, essa classificação não é a mais

apropriada.

Devido à emergente necessidade de internalização dos serviços

ecossistêmicos nos sistemas contábeis, HAINES YOUNG e POTSCHIN (2013)

propõem uma classificação denominada Common International Classification of

Ecosystem Services - (CICES). Tal proposta classifica os serviços

ecossistêmicos em três categorias: serviços de provisionamento; regulação e

manutenção; e serviços culturais.

A classificação CICES é, atualmente, usada no sistema de contabilidade

econômico ambiental da Organização das Nações Unidas. Esta classificação

apresenta cinco níveis de detalhamento (seção, divisão, grupo, classe e tipo de

classe). As seções, que correspondem às categorias descritas, compreendem

três grupos distintos: serviços de provisão; serviços de regulação e manutenção;

e serviços culturais. Essa classificação é um refinamento da descrita pela MEA

(2005) e TEEB (2010). A proposta de classificação CICES considera que os

17

serviços de suporte MEA (2005) e os serviços de habitats TEEB (2010) são uma

subclasse dos serviços de regulação e manutenção.

A diversidade de classificações e definições dos serviços ecossistêmicos,

embora sejam mais complementares que excludentes, está relacionada aos

diversos propósitos e contexto dos estudos realizados. COSTANZA (2008)

afirma que a complexidade natural dos ecossistemas não comportaria tal

singularidade. Na mesma linha de raciocínio, FISHER et al. (2009) afirmam que

a definição e classificação escolhidas devem estar relacionadas ao contexto.

Para FISHER et al. (2009), as distintas definições e classificações reflete

o processo científico para tornar operativo um marco conceitual a ser aplicado

em distintos contextos de tomada de decisões e com distintos propósitos. Alguns

autores, como BOVD e BANZHAF (2007) e WALLACE (2007), advertem sobre

a ambiguidade dessas classificações, que se resultam pouco operativas para o

desenvolvimento do exercício da contabilidade. Entende-se que classificação

dos serviços ecossistêmicos, para a sua internalização pela contabilidade,

dentre outros fatores, deve-se segregar os serviços ecossistêmicos em:

produção de bens e provisão de serviços. Essa segregação se fundamenta no

conceito de serviços, apresentado de LYRA (2003, p. 21):

“Serviço é um conjunto de ações e interações que, sem

necessariamente assumir a forma de um bem tangível, deve

satisfazer as necessidades do cliente. O cliente é visto como

o elemento principal desta relação, pois são as suas

necessidades que devem ser satisfeitas”.

De igual forma, SILVA et al. (2007, p. 3) afirmam que:

“Serviço pode ser entendido como sendo qualquer ação ou

desempenho que uma parte possa oferecer a outra e que

seja, essencialmente intangível e não resulte na posse de

algo. Sua prestação pode ou não estar vinculada a um

produto físico”.

Os serviços ecossistêmicos são entendidos como benefícios, segundo

18

MEA (2005), ou como contribuições, conforme TEEB (2010), proporcionados

pelos ecossistemas que satisfaçam direta e indiretamente as necessidades

humanas como, por exemplo, os alimentos, o ar que respiramos, o equilíbrio

climático, o controle de doenças, entre outros. Da mesma forma, uma série de

serviços ecossistêmicos também contribui com desempenho da atividade

agropecuária, por favorecer a produtividade biológica das plantas e dos animais

transformados em cultivos agrícolas e/ou criações.

Neste trabalho de tese, propõe-se classificar os serviços ecossistêmicos,

para fins do seu reconhecimento contábil, em produção bens e provisão de

serviços. Tal classificação considera que os bens produzidos pelos

ecossistemas (produção natural, produção agropecuária, produção aquícola)

podem ser armazenados e, consequentemente, podem ser usufruídos em locais

diferentes daquele onde ocorreu a sua produção. Por sua vez, os serviços

ecossistêmicos (serviços de regulação, serviços de suporte, serviços culturais)

não podem ser nem armazenados e nem estocados, uma vez que são

consumidos no momento da provisão e/ou desperdiçados. Além disso, mostram-

se imprescindíveis para existência produção bens ecossistêmicos. Nesse

sentido, apresenta-se a seguinte classificação:

Receita de produção ecossistêmica: produção natural, (frutos silvestres,

biomassa); produção agropecuária total, (produtos agropecuários, restos

culturais, dejetos), etc.

Receita de serviço ecossistêmico: serviços de suporte (capacidade de

acolhida); serviços de regulação; serviços de informação e amenidade.

A proposta de classificação objetiva somente contribuir para valoração e

contabilização das receitas ecossistêmicas por entidades agropecuárias que

usufruem dos serviços ecossistêmicos para atingir seus objetivos.

4.2 Contextualização das Atividades Agropecuárias

A atividade agropecuária apresenta como principal característica a

vulnerabilidade a eventos de diversas naturezas, tais como fenômenos

econômicos, naturais e financeiros. Os fenômenos naturais são abióticos e

bióticos e condicionam o crescimento e o rendimento, de modo a determinar

quais são as variedades biológicas e seus manejos que permitem alcançar

maiores produtividades dos bens e serviços providos pelos ecossistemas. É

19

necessário o conhecimento do ambiente e da oferta de serviços ecossistêmicos

mediante os quais nutrem, desenvolvem e reproduzem plantas e animais. Tal

conhecimento torna-se imprescindível para alcançar um nível adequado de

gestão do resultado da atividade agropecuária.

Nesse sentido, reconhece-se que o resultado da atividade agropecuária

está vinculado à integridade dos ecossistemas e na provisão adequada dos

serviços de regulação e de suporte, como controle biológico, polinização,

ciclagem de nutrientes e formação do solo. Segundo NICODEMO et al. (2008, p.

8):

“As ações do homem, que é parte dos ecossistemas, podem

contribuir para manter a integridade desses ecossistemas ou

podem ocasionar desequilíbrios irremediáveis. A

conservação da biodiversidade é necessária para a

manutenção dos serviços ambientais, exigidos para a

produção de alimentos, para a produção de bens de uso

humano e animal e para a conservação da qualidade e das

condições de vida.”

Em uma perspectiva da absorção de serviços pelas atividades

agropecuárias, identificam-se os esforços humanos e os esforços da natureza.

No primeiro caso, os esforços humanos correspondem aos sacrifícios

desempenhados pelos seres humanos, consumidos na produção. No segundo

caso, os esforços da natureza compreendem os benefícios proporcionados pelos

ecossistemas e desfrutados pelas entidades agropecuárias para

desenvolvimento de plantas e animais.

Segundo MEA (2005, p. 17), “o bem-estar humano está intrinsecamente

relacionado com a disponibilidade, em quantidade e qualidade, dos serviços

ecossistêmicos, os quais, na ordem de 60%, encontram-se degradados”. Afirma,

ainda, que a destruição dos ecossistemas e o uso insustentável dos serviços

providos acarretam não apenas problemas ambientais graves, mas a

intensificação das desigualdades sociais e da pobreza em todo o mundo, o que

afeta, em particular, as populações tradicionais.

O acesso a esses bens e serviços ecossistêmicos pelas atividades

20

agropecuárias necessitam de uma conscientização sobre as limitações de uso

dos recursos naturais. MAY (1995) considera que, ao contrário de se praticar a

exploração de recursos naturais até seu esgotamento físico ou econômico, deve

haver investimentos dos rendimentos derivados da extração desses recursos em

capital natural, de modo que a mudança líquida seja maior ou igual a zero.

Dado o exposto, por MAY (1995), acrescenta-se que a contabilidade

permite controlar a evolução do patrimônio de uma entidade. Por meio dela é

possível valorar e registrar as receitas ecossistêmicas auferidas em certo

período, de modo a produzir informações que podem ser usadas para fornecer

aos seus usuários (internos e externos) informações úteis e relevantes para

análise da situação econômica e patrimonial da entidade e das condições dos

ecossistemas que suportam as respectivas atividades. O reconhecimento

contábil dos serviços ecossistêmicos pode ainda auxiliar na conscientização da

existência de dependência entre as atividades agropecuárias e a provisão de

serviços ecossistêmicos, o que contribui para a preservação dos ecossistemas.

4.3 Contabilidade e os Serviços Ecossistêmicos na Agropecuária

A contabilidade, segundo IUDÍCIBUS et al. (2005), possui a capacidade

de capturar, primeiro, a ocorrência dos eventos econômicos que impactam um

determinado estado de riqueza, depois a de precificá-lo e, por último, de

comunicar seus efeitos. Entende-se que a contabilidade deve registrar os

fenômenos que afetam as situações patrimoniais, inclusive os serviços

ecossistêmicos que são usufruídos para a concretização dos objetivos das

entidades.

Quando aplicada a uma atividade econômica específica, a contabilidade

classifica-se conforme o campo de atuação ou atividade desempenhada e, na

agropecuária, a contabilidade é definida por MARION (2012, p. 33) como:

“A contabilidade de ativos biológicos abrange tudo aquilo

que nasce, cresce e morre, desde as culturas temporárias

e permanentes até os animais, rebanhos de reprodução e

corte. [...] Dessa forma, Ativos Biológicos estão em

constantes mudanças, merecendo contínuas avaliações.

Essas avaliações, normalmente positivas, além de

21

aumentar o ativo, produzem ganho econômico para a

entidade, devendo ser reconhecido como receita na

demonstração de resultado enquanto o produto não for

vendido”.

Para o autor, as transformações nos ativos biológicos das entidades

relacionadas com as características biológica do processo produtivo devem ser

reconhecidas como receitas. Contudo, acresce que as transformações nos

ativos biológicos são dependentes da provisão de serviços ecossistêmicos. Na

contabilidade, a relação entre os ecossistemas e os seres humanos é

reconhecida pelo IASB (2003, p. 5) através da norma internacional de

contabilidade 41, quando conceitua a atividade agrícola como a “gestão por uma

entidade da transformação biológica e colheita de ativos biológicos para venda

ou para conversão em produtos agrícolas ou em ativos biológicos adicionais”.

BRESCIANI (2003, p.43), afirma que a produção agropecuária “consiste

em produzir bens econômicos a partir da combinação do esforço do homem e

da natureza, para favorecer a atividade biológica de plantas e animais incluindo

sua produção, desenvolvimento e/ou crescimento”. Os esforços humanos e dos

ecossistêmicos devem ser considerados como custo absorvido pelas entidades

agropecuárias para a concretização da produção, o que torna imprescindível sua

valoração e contabilização.

As técnicas de valoração econômica disponíveis, embora possuam muitas

limitações, têm o potencial de valorar os benefícios econômicos provenientes do

usufruto dos bens e serviços dos ecossistemas para o desempenho das

atividades econômicas e para a manutenção do patrimônio da entidade.

O patrimônio em contabilidade é o conjunto de elementos materiais e

imateriais de uma entidade contábil que permite, por meio do usufruto, se

alcançar a finalidade para o qual foi constituído. Os elementos heterogêneos que

formam o patrimônio e as operações da entidade agropecuária devem ser

homogeneizados pelo denominador comum, normalmente o denominador

monetário. A expressão monetária do patrimônio deve atender a critérios

acomodáveis à legislação e ao avanço técnico científico não exclusivo da

contabilidade.

Apesar de essas técnicas de valoração dos bens e serviços

22

ecossistêmicos estarem se popularizando, seu uso ainda é pouco frequente por

parte do sistema contábil. Neste sentido, o IASB (2003) por meio da norma

internacional de contabilidade 41 apresenta como aspectos substanciais o

reconhecimento do resultado por produção, definido como o incremento de valor

por mudanças quantitativas e qualitativas (volume físico e/ou qualidade) nos

bens com crescimento vegetativo, em consequência de seus processos

biológicos. Ademais, prescreve uma hierarquia de valoração destinada mensurar

os ativos biológicos e os bens produzidos na agropecuária.

Segundo o IASB (2003), a receita de produção consiste na variação

patrimonial não vinculada diretamente aos custos incorridos. A inversão dos

custos desencadeia um acréscimo que, no curso normal das atividades, é

irreversível, não sendo, por tanto, o custo incorrido representativo do valor do

bem. Ao se reconhecer que o custo incorrido não é representativo dos ativos

sujeitos ao crescimento vegetativo, a norma prescreve que ao mensurar os

ativos biológicos é necessário qualificar e quantificar o processo de

desenvolvimento biológico.

No Brasil o COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (2009, p.

3), através do CPC 29, em convergência com a norma internacional de

contabilidade 41, afirma que o processo de transformação biológica resulta dos

seguintes eventos:

“Procriação: aumento com o nascimento de novos animais

ou plantas; Crescimento: aumento da quantidade ou

melhora da qualidade de um animal planta, como aumento

do peso ou crescimento de uma plantação; e Degeneração:

diminuição na quantidade ou deterioração na qualidade de

um animal ou planta”.

A norma contábil brasileira reconhece o conceito de desenvolvimento

biológico ou produção de novos ativos biológicos da atividade agropecuária

como o motivo principal da geração de ingressos (receitas) do setor. Entretanto,

apenas uma parte dos bens produzidos (produtos agropecuários) é reconhecido

como receita. A biomassa, proveniente principalmente dos restos culturais, e os

dejetos das criações, normalmente, não são reconhecidos como receitas.

23

Semelhantemente, os serviços ecossistêmicos necessários para a

transformação biológica de animais e plantas também não são reconhecidos.

Pelo exposto, conclui-se que a contabilidade, apesar de significativos

avanços, não tem contemplado todas as receitas obtidas nas atividades

agropecuárias. Dessa maneira, a contabilidade precisa desenvolver meios

próprios para reconhecer os impactos, proporcionados pela incidência das

receitas ecossistêmicas na formação do resultado da atividade agropecuária, por

meio de suas funções típicas de registro, controle e divulgação.

4.4 Receitas Ecossistêmicas

O IASB (2003), por meio da NIC 41 determina o tratamento contábil para

as entidades que atuam na agropecuária, prescreve a obrigatoriedade da

avaliação e a divulgação dos ativos biológicos ao valor justo. Valor justo é

conceituado com o valor pelo qual um ativo pode ser negociado, ou um passivo

liquidado, entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e independentes

entre si, com a ausência de fatores que pressionem para a liquidação da

transação ou que caracterizem uma transação compulsória.

De acordo com CPC 29 (2009, p. 4), o valor justo para reconhecer uma

receita deve ser utilizado quando forem satisfeitas a seguintes condições:

“A entidade: (a) controla o ativo como resultado de eventos

passados; (b) for provável que benefícios econômicos

futuros associados com o ativo fluirão para a entidade; e (c)

o valor justo ou custo do ativo puder ser mensurado

confiavelmente”.

Ressalta-se que o acréscimo nos ativos proporcionados por sua valoração

a valor justo corresponde a uma receita. Receitas são definidas, pelo CPC 30

(2012, p. 2), como:

“Aumentos nos benefícios econômicos durante o período

contábil sob a forma de entrada de recursos ou aumento de

ativos ou diminuição de passivos, que resultem em aumento

do patrimônio líquido e que não sejam provenientes de

24

aporte dos proprietários da entidade”.

A norma contábil brasileira destinada ao setor agropecuário propõe o

reconhecimento do resultado por produzir como um fato independente do

momento das transações comerciais. Neste sentido, propõe que o usufruto dos

serviços providos pelos ecossistemas corresponda às receitas de serviços

ecossistêmicas propriamente ditas. Já as transformações quantitativas e

qualitativas de seres biológicos, tais como: gestação, nascimento,

desenvolvimento, engorda, germinação, frutificação, produção de biomassa,

entre outras, corresponde às receitas de produção ecossistêmicas.

A receita derivada da utilização dos serviços ecossistêmicos não gera a

obrigação de pagamento, ou compromisso de pagamento, não ocorrendo, dessa

forma, pelo menos nessa visão, os sacrifícios pelos benefícios obtidos. No

entanto, quando tais serviços não são providos pelos ecossistemas, as

entidades devem arcar com os sacrifícios necessários para sua realização. Caso

os serviços ecossistêmicos não sejam providos e não possuam substitutos, a

entidade não terá condições operacionais para cumprir sua missão.

Por esse entendimento, constata-se que, apesar das dificuldades de

valoração monetária dos serviços ecossistêmicos, é necessário o

reconhecimento contábil, especialmente quando o objetivo é determinar o custo

e a receita dos produtos agropecuários, bem como, a correta apuração do

resultado das atividades desenvolvidas.

4.5 Custos de produção das atividades agropecuárias

As entidades devem ter ciência dos seus custos de produção, inclusive, e

principalmente, o custo dos serviços ecossistêmicos, pois essa informação

viabilizará a melhor tomada de decisão em questões que se relacionam com a

biodiversidade e o lucro do negócio. A partir daí, poderão influenciar atitudes que

resultem em benefícios para a geração atual e futura REINOSA (2009, p. 229),

afirma:

“Dentro das áreas mais importantes da contabilidade

ambiental encontra se os custos ambientais, entendidos

como a estimação do custo global que supõe a mitigação

25

dos danos ambientais que se hajam causado a partir de um

produto, atividade o processo. O problema é que a maioria

das empresas não estão preparadas para gerar esse tipo de

informação, posto que os sistemas tradicionais de

contabilidade ocultam os custos ambientais nas contas de

gastos gerais. Na medida que a empresa identifique estes

custos por separado, terão a possibilidade de analisar as

vantagens financeiras de aplicar práticas de conservação

ambiental”.

Os custos ambientais derivam do relacionamento das atividades e das

entidades com o meio ambiente. De acordo CARVALHO et al. (2000, p. 15): “os

custos ambientais correspondem a todos aqueles gastos relacionados direta ou

indiretamente com a proteção do meio ambiente, e que serão ativados em função

de sua vida útil”. Alguns exemplos são citados pelos autores, tais como:

amortização, exaustão e depreciação; aquisição de insumos para controlar,

reduzir ou eliminar poluentes; tratamento de resíduos derivados da produção;

disposição dos resíduos poluentes; recuperação e restauração de áreas

contaminadas; mão-de-obra utilizada nas atividades de controle, preservação e

recuperação do meio ambiente.

Entende-se que os custos ambientais compreendem a soma de todos os

recursos utilizados pela atividade desenvolvida com o propósito de controle,

preservação e recuperação ambiental. Nessa mesma linha de raciocínio,

RIBEIRO et al. (2010) expõem que os custos ambientais são resultantes da

aplicação de recursos no sistema de gerenciamento ambiental tanto no processo

produtivo como em atividades ecológicas.

Neste trabalho de tese, propõe-se incluir como custos ambientais os bens

e serviços ecossistêmicos absorvidos pelas atividades produtivas das entidades

agropecuárias, como por exemplo: o custo do controle biológico, do controle de

erosão, da formação de solo, da reciclagem de nutrientes, além de outros bens

e serviços. Sua internalização pela contabilidade como receitas de serviços

ecossistêmicos permite diagnosticar o desempenho desses ecossistemas.

Os custos das receitas ecossistêmicas são aqueles gastos incorridos na

produção bens ou na provisão serviços ecossistêmicos. Esses custos

26

apresentam diversas classificações; para REINOSA (2009), os custos

ambientais classificam-se em: custos de prevenção, custos de controle e custos

de mitigação de fracassos.

Na visão de KRAEMER (2002), é possível considerar custos ambientais

sob dois aspectos: aspecto do bem comum e aspecto social.

Aspecto do bem comum: trata-se dos recursos naturais utilizados no

processo produtivo que não tem proprietário, por exemplo: a água de um lago

ou rio que é utilizada no processo de irrigação do cultivo agrícola e não

agrega, ao custo final da safra, essa água utilizada, por considerá-la um bem

público;

Aspecto custo social: considera custos decorrentes de externalidades como

o aspecto anterior, mas, nesse caso, paga pelo custo monetário em si e é

prejudicada em decorrência de resíduos expelidos no processo produtivo.

Nesse caso, deve-se arcar também com esse custo, que não será

incorporado por quem o produziu; como por exemplo: a contaminação dos

lençóis freáticos, a contaminação do ar devido ao uso intensivo de

agrotóxicos na agricultura, etc.

SPALLAROSSA (2000), na mesma linha de interpretação, explica que os

custos ambientais são os custos internos e também os custos externos

(externalidades). Para o autor, custos internos são aqueles que derivam das

atividades da empresa em sua interação com o ambiente e é o resultado da

harmonização do processo produtivo com ambiente, o que impacta somente no

resultado contábil da entidade. Já os custos externos surgem do impacto

ambiental (contaminação do solo e água, o desmatamento, a erosão de tipo

eólica e mecânica) e, como consequência, têm ação dos agentes contaminantes

que afetam os indivíduos, a sociedade, e o ambiente externo à entidade.

CARVALHO (2011) sugere que os custos de degradação ambiental,

relacionados com a atividade produtiva, devem ser internalizados pela entidade,

ser classificados e imputados aos bens e serviços produzidos, de forma que, no

valor desses bens e serviços, conste também o valor da natureza degradada ou

o valor de sua preservação.

SANCHES (1997) afirma que uma externalidade surge sempre que a

produção ou consumo de um bem acarreta efeitos paralelos sobre terceiros

(produtores, consumidores, etc.), e que esses efeitos não estão refletidos nos

27

preços de mercado. Nesse sentido, buscando neutralizar as externalidades,

podem-se procurar medidas para valorar os danos causados ao meio ambiente,

e acrescê-los aos produtos, o que representaria a internalização dos custos

ambientais.

Para ARCE (2015), a apuração contábil dos custos ambientais e dos

custos em geral no setor agropecuário, considerando as características do

desenvolvimento vegetativo dos seres vivos que corresponde ao ciclo da

natureza, exige a compatibilização dos ciclos econômicos ao ciclo da natureza.

Em termos genéricos, ARCE (2015) afirma que na atividade agropecuária, o ciclo

da natureza apresenta uma ordem cronológica produtiva comum: preparação,

implante; crescimento e ou desenvolvimento; e frutificação. Em algumas

circunstâncias, pode-se acrescentar armazenamento, conservação,

acondicionamento e comercialização,

Na visão de RIBEIRO (1998), os custos ambientais de preservação e

controle ambiental podem ser identificados e mensurados ao se empregar o

sistema de custeio por atividades. Por suas características, o sistema de custeio

por atividades, segundo a autora, presta-se melhor para identificar e mensurar

os custos ambientais, dado que o seu objeto são as atividades relevantes,

desenvolvidas com fins específicos.

4.6 Abordagem Contábil da Valoração dos Serviços Ecossistêmicos

Para D'ÁURIA (1959, p.397), genericamente, "valor é a medida mental da

utilidade ou eficiência das coisas (...)" e continua "(...) e são fatores positivos ou

negativos do valor dos componentes: o uso, o tempo, a moeda, as leis

econômicas e as condições da sociedade."

Em contabilidade, não é suficiente apenas a valoração qualitativa do

patrimônio, pois, é igualmente necessária a valoração quantitativa. O patrimônio

de uma entidade agropecuária compõe-se de uma heterogeneidade de

elementos na data de confecção das demonstrações contábeis que podem

apresentar diversos níveis de desenvolvimentos, desde matérias primas, cultivos

e animais em desenvolvimento até produtos agropecuários acabados. Para a

necessária homogeneização do conjunto de elementos que compõem o

patrimônio a contabilidade adota o valor monetário como instrumento que

conduz a homogeneidade.

28

De acordo com COSTANZA et al. (1997), o objetivo da valoração

monetária do meio ambiente e trazer a uma mesma base os serviços

ecossistêmicos, de modo a capacitar os indivíduos a tomarem decisões

economicamente comparáveis.

CHAVES et al. (2005) classificam os critérios de mensuração dos

elementos componentes do patrimônio da seguinte forma:

Valores de entrada: custos históricos, custos históricos corrigidos, custos

correntes e custos correntes corrigidos.

Valores de saída: preços correntes de saída ou valor realizável líquido, valor

de liquidação, equivalentes correntes de caixa e valores descontados de

entradas de caixa futuro.

Conforme CHAVES et al. (2005), os métodos de mensuração de valores

de entrada adotam valores históricos do passado. Por outro lado, os métodos de

mensuração de valores de saída adotam valores praticados no tempo presente.

Em virtude das diversas alternativas disponíveis para avaliar os

componentes patrimoniais das entidades agropecuárias, JUNG (2006, p. 36)

apresenta definição de avaliação contábil de ativos ecológicos e conclui que:

“Avaliar significa determinar o valor de forma objetiva ou,

ainda proceder a uma estimativa baseada em dados e

critérios objetivo que possa dar a ideia do valor mais

aproximado possível para determinado bem, direito ou

obrigação que se pretende quantificar. Portanto para que

qualquer ativo possa ser registrado nas operações das

organizações é requisito básico que possa ser avaliado com

base em algum critério técnico.”

Ainda segundo o autor, a forma de avaliação de ativos ecológicos utiliza-

se dos seguintes critérios: valor original ou histórico, valor original corrigido pelo

poder aquisitivo da moeda, valor de mercado, equivalência patrimonial, fluxo de

caixa descontado a valor presente e valor econômico total.

Nesse sentido, FERNANDEZ (1997, p. 39) afirma que, para o estudo e o

manejo dos ecossistemas, “em primeiro lugar deve-se ter em conta o seu valor

e em segundo, para preserva-lo de maneira indefinida, o comportamento ante

29

as diferentes formas possíveis de utilização pelo homem”.

Já na concepção de FERNANDES (1997), as formas de valoração dos

ecossistemas se classificam em quatro aspectos principais: valor ecológico,

valor produtivo, valor paisagístico e valor cultural. Os critérios técnicos de valorar

os ativos ecológicos, dentre estes os bens e serviços ecossistêmicos usufruídos

por uma entidade, podem variar em função de aspectos científicos, tributários e

legais vigentes.

A definição do método de avaliação deve levar em conta as características

dos elementos patrimoniais. Para as receitas de produção (cereais, fibra,

madeira, etc.), medir os valores econômicos é relativamente direto, uma vez que

esses bens são amplamente comercializados no mercado.

Deve-se utilizar estimativa, em alguns casos específicos, como por

exemplo quando o processo de produção biológica não atingiu o seu

desenvolvimento vegetativo e ainda não é possível identificar preços de mercado

para a produção em desenvolvimento. O preço de mercado dos produtos

agropecuários fornece uma base tangível para a valoração econômica, muito

embora possa estar significativamente distorcida, devido às externalidades ou

intervenções do governo e, por isso, talvez, requeira alguns ajustes.

4.7 Abordagem Econômica de Valoração dos Serviços Ecossistêmicos

O valor de um serviço ecossistêmico está relacionado com o seu uso

efetivo ou potencial, enquanto o ecossistema, além de possuir o seu valor

relacionado com o seu uso, apresenta um valor de existência. No mesmo

sentido, FERNANDEZ (1997) aponta que os ecossistemas produzem bens e

serviços, em maior ou menor medida, na forma de recursos acessíveis ou de

recursos potenciais, em que a produtividade de um ecossistema possui um valor

por si mesma.

A avaliação econômica dos serviços ecossistêmicos, segundo

COSTANZA et al. (1997), constitui em instrumento que permite aos gestores

considerar a importância dos ecossistemas e dos bens e serviços que provém o

bem-estar das sociedades. Apenas uma pequena parte dos serviços é

atualmente valorada em termos monetários embora as habilidades para avaliar

os serviços ecossistêmicos sejam limitadas, quer pela falta de informação

relacionada as interações existentes em vários níveis nos ecossistemas ou por

30

esses serviços não serem comercializáveis.

Para alguns serviços como o de regulação e o de suporte, que

normalmente geram benefícios monetários pelo seu usufruto por parte das

entidades, por não serem comercializáveis, a sua valoração econômica torna-se

ainda mais complexa. Entretanto, um conjunto de técnicas vêm sendo

desenvolvidas para estimar o valor dos bens e serviços ecossistêmicos que não

possuem valores observáveis no mercado.

Na produção agropecuária são usufruídos serviços de regulação e

suportes que passam despercebidos pelos sistemas contábeis. A valoração

desses serviços ecossistêmicos pode permitir a sua contabilização de modo a

incluí-los na tomada de decisão. Segundo PEARCE e MORAN (1994) e MOTTA

(2011), o valor monetário dos serviços ecossistêmicos (VSE) pode ser expresso

pelo montante dos seus valores de uso e de opção, conforme a seguinte

equação:

VSE = (VUD + VUI + VO) + VE

onde: VSE - valor dos serviços ecossistêmicos; VUD - valor de uso direto; VUI -

valor de uso indireto; VO - valor de opção; VE - valor de existência.

Assim, o valor dos serviços ecossistêmicos consiste no seu valor de uso,

acrescido do valor de não uso. Para determinar o valor dos serviços

ecossistêmicos auferidos na atividade agropecuária utilizando a expressão

matemática vista acima, é possível entender que:

Valor dos serviços ecossistêmicos (VSE) corresponde ao valor monetário

dos benefícios diretos e indiretos providos pelos ecossistemas;

Valor de uso direto (VUD): é representado pelo valor que produtores rurais

atribuem a um serviço ecossistêmico utilizado de forma direta, como por

exemplo, a tração animal, o nascimento e/ou crescimento biológico de plantas e

animais;

Valor de uso indireto (VUI) – compreende o valor que os produtores rurais

atribuem a um serviço ecossistêmico absorvido de forma indireta, como por

exemplo, o controle biológico de pragas e doenças que contribuem para

desenvolvimento das explorações agropecuárias;

Valor de opção (VO) – valor que mede o benefício que o produtor pode

obter no futuro em usos diretos e indiretos de recursos, cuja preservação pode

ser ameaçada em futuro próximo. Por exemplo, o benefício obtido por meio de

31

fármacos desenvolvidos com base em propriedades medicinais, que ainda não

foram descobertas de plantas de florestas tropicais;

Valor de existência (VE) – deriva de uma posição adotada por produtores

em relação aos direitos de existência de outras espécies que não a humana.

O valor de opção e o valor de existência, não são apropriados na

valoração de serviços ecossistêmicos, pois tais serviços apresentam a

característica de simultaneidade. MEIRELLES (2006, p 133) define a natureza

da intangibilidade e simultaneidade dos serviços da seguinte forma:

“(...) a natureza intangível dos serviços está associada à sua

natureza de processo e não ao produto resultante, sendo

processo é a priori intangível. Por ser um processo de

trabalho, a prestação de serviço tende a acontecer pari

passu ao consumo, ou seja, a produção é simultânea ao

consumo. A produção só acontece a partir do momento em

que o serviço é demandado e se encerra assim que a

demanda é atendida. Esta simultaneidade entre o ato de

produzir e consumir torna, por sua vez, o serviço inestocável,

pois o seu fornecimento se dá de forma contínua no tempo

e no espaço e ele se extingue tão logo se encerra o processo

de trabalho”.

Enfatiza-se que os serviços ecossistêmicos são caracterizados pela

simultaneidade entre a provisão e consumo, o que impossibilita constituir

reservas e/ou estoques de serviços ecossistêmicos. Não usufruir desses

serviços ecossistêmicos, providos atualmente, torna impossível auferir desses

mesmos serviços no futuro, embora seja possível que, futuramente, o

ecossistema mantenha a sua capacidade de provê-los, o que permite a sua

utilização.

É inegável a necessidade de se valorar os bens e serviços ecossistêmicos

devido à sua importância quando gerados pelos ecossistemas para o

desenvolvimento econômico e bem-estar humano e para o suporte da vida no

planeta. Os métodos de valoração ambiental dimensionam os valores dos

serviços ecossistêmicos, internalizando-os à economia. A utilização desse

32

método permite a evidenciação do valor dos serviços ecossistêmicos pelo

sistema de informação contábil, de modo a prover um instrumento de gestão

ambiental útil para as tomadas de decisão.

Os métodos de valoração dos serviços ecossistêmicos fundamentam-se

na teoria econômica, que atribui valor quantitativo e monetário aos serviços

providos pelo ecossistema, independentemente de possuir ou não preços

observáveis no mercado. Consiste fundamentalmente na estimação da

disposição a pagar ou da disposição para aceitá-los. Segundo MOTTA (2011, p.

183):

“Os métodos de valoração ambiental são classifica em:

métodos da função de produção e métodos da função de

demanda. Ainda segundo este autor o método da função de

produção são: métodos da produtividade marginal e de

mercados de bens substitutos (reposição, gastos defensivos

ou custos evitados e custos de controle). Métodos da função

de demanda: métodos de mercado de bens complementares

(preços hedônicos e do custo de viagem) e método da

valoração contingente.”

São vários os métodos de valoração ambiental, cada um com suas

especificidades. Considerando os objetivos deste estudo, enfatiza-se o método

do custo de oportunidade. Segundo MOTTA (2011), o método de custo

oportunidade estima o custo de preservar um ecossistema pela não realização

de uma atividade. Portanto, o método do custo de oportunidade não valora

diretamente o recurso em questão. Em outras palavras, o método avalia o custo

de oportunidade da renda sacrificada em virtude do não aproveitamento dos

ecossistemas em outras atividades econômicas.

4.8 Aspectos Conceituais de Modelos Contábeis

Os propósitos dos modelos contábeis podem variar entre o

desenvolvimento de simples modelos conceituais, os quais fornecem um

entendimento geral do comportamento do sistema modelado, a modelos de

aplicações realistas. O presente estudo também propõe desenvolver um modelo

33

de aplicação realista, cujo objetivo é a representação das interações entre os

ecossistemas (serviços ecossistêmicos) e a atividade humana (agropecuária).

Modelo é conceituado por CHAVES et al. (1997, p. 107) como:

“Modelo é o esquema teórico, geralmente em forma

matemática, de um sistema o de uma realidade complexa

(por exemplo, a evolução econômica de uma região), que se

elabora para facilitar sua compreensão e o estudo de seu

comportamento”.

Nesse sentido, o modelo contábil é um instrumento de representação da

realidade, a fim de explicar a situação patrimonial, financeira e econômica da

entidade, assim como a sua evolução ao longo do tempo por meio de

demonstrativos. Portanto, os critérios utilizados para elaboração desses

demonstrativos constituem o modelo contábil. CHAVES et al. (1997, p. 108)

afirmam:

“Não existe, por hora, um único conjunto de critérios

irrefutáveis e unanimemente aceitos para elaborar os

demonstrativos contábeis. Pelo contrário, se sustenta

distintas posturas, tanto com respeito a temas essenciais

como em relação com questões especificas”.

Os critérios que intervêm na determinação dos diferentes modelos

contábeis, segundo CHAVES et al. (2005, p.43), são: “unidade de medida, o

capital a manter, o critério de avaliação aplicado ao patrimônio, o valor limite dos

ativos”. Além dos critérios acima mencionados, também existem posturas

contrapostas, que podem derivar em diferentes modelos contábeis, tais como o

sistema de custos adotado, o método de custeio, o critério de avaliação e mais

especificamente o tema de estudo desta tese o reconhecimento contábil das

receitas de serviços ecossistêmicos.

Dessa maneira, pode-se concluir que o modelo de evidenciação do valor

contábil das receitas de serviços ecossistêmicas refere-se aos procedimentos

específicos de atribuir valores, registrar em contas especificas e comunicar

através das demonstrações contábeis as contribuições providas pelos

34

ecossistemas, com o objetivo de prover informação aos tomadores de decisões.

Para CHAVES et al. (2005), em contabilidade, assim como em outras disciplinas,

os modelos cumprem uma finalidade muito importante: contribuir para o

aprofundamento da teoria, com o intuito de a obter uma descrição e uma

explicação da realidade.

35

5. Referências Bibliográficas

A ECONOMIA DOS ECOSSISTEMAS E DA BIODIVERSIDADE - TEEB.

Relatório para o setor de negócios - sumário executivo. Brasília:

Confederação Nacional da Indústria, 2010. 28p.

ARCE, H. S. Presupuestos, Costos y Decisiones de Empresas

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41

6. Artigos

Artigo I

Internalização contábil dos serviços ecossistêmicos na agropecuária

Aguinaldo Rocha Gomes

Resumo

Diversos bens e serviços são espontaneamente disponibilizados pelo

ecossistema para o desenvolvimento das atividades humanas e, mais

especificamente, as atividades agropecuárias, apesar dessa fonte de recursos

ainda não ser incluída na apuração do resultado das entidades que exercem

essa atividade. Devido a isso, é imprescindível o controle e contabilização dos

bens e serviços providos pelo ecossistema com o objetivo de ampliar a

efetividade na utilização das demonstrações contábeis no processo de tomada

de decisões. A internalização, por parte da contabilidade, do serviço

ecossistêmico subsidia os produtores rurais com informações do montante

desses bens e serviços, de modo a contribuir com os processos de gestão. O

presente artigo objetivou propor um modelo contábil de evidenciação das

receitas ecossistêmicas referentes aos benefícios provenientes dos

ecossistemas destinados, a subsidiar as entidades agropecuárias com

informações úteis para as tomadas de decisão. O estudo de contabilização de

serviços ecossistêmicos na atividade agropecuária foi desenvolvido na bacia

hidrográfica do rio São Lourenço, estado de Mato Grosso, em entidades

agropecuárias constituídas como Sociedades Anônimas, que publicaram suas

demonstrações contábeis no ano de 2015. As análises das demonstrações das

entidades investigadas permitiram identificar as práticas contábeis adotadas

para os registros dos ativos biológicos e a possibilidade da internalização dos

bens e serviços por parte dos sistemas contábeis. Os resultados encontrados

demonstraram a exequibilidade da internalização contábil dos serviços

ecossistêmicos. Demonstrou-se, também, a forma de internalização da receita

ecossistêmica, que visa não somente constatar o usufruto dos serviços

ecossistêmicos, mas também, e principalmente, gerar informações capazes de

subsidiar o produtor rural para uma adequada gestão dos ecossistemas.

Palavras-chave: Receita ecossistêmica, Bacia do São Lourenço, Contabilidade

ambiental.

42

Accounting internalization of ecosystem services in agricultural

Abstract

There are various spontaneously available goods and services provided by the

ecosystem for the development of human activities, and more specifically the

agricultural activities, although this source of resources is not yet included in the

calculation of the results by the entities that execute this activity. Therefore, it is

essential to control and account for the goods and services provided by the

ecosystem in order to improve the effectiveness of the financial statements in the

decision making process. The internalization of the accounting of the ecosystem

service subsidizes the rural producers with information about the amount of

goods and services being absorbed by the agricultural activities hence

contributing to the management processes. The present article's aim is to

propose an accounting model that puts in evidence the ecosystem revenues

related to the benefits derived from the functional and structural aspects of the

ecosystems destined to subsidize the agricultural entities with useful informations

for the decision making process. The study of accounting of the ecosystem

services in the agricultural and livestock sector fits in line with the research line:

Society, Environment and Sustainable Regional Development and it was

developed in the São Lourenço river basin in the State of Mato Grosso, including

agricultural entities constituted as public limited company based on their financial

statements in the year 2015. The analysis of the publications of the enquired

entities permitted to identify the accounting practices adopted for the registration

of biological assets and the possibility of internalization of goods and services by

the accounting systems. The results demonstrate the feasibility of accounting

internalization of the ecosystems services as well as the form of internalization of

the ecosystem revenue that aims not only to verify the usufruct of ecosystem

services, but also and mainly, to generate information capable of subsidizing the

rural producer for an adequate environmental management.

Keywords: Ecosystem revenue, São Lourenço basin, Evironmental accounting.

Introdução

A agropecuária é uma das principais atividades econômicas do Brasil,

pois, ela fornece à população os alimentos, vestuários, combustíveis, energia,

43

medicamentos, cosméticos, entre outros além da geração de empregos,

rendas e impostos. As maiores produções dos agropecuaristas brasileiros são:

milho, soja, cana-de-açúcar, arroz, algodão, trigo, café, laranja, bovinos,

suínos e aves.

Nesse contexto, entende-se que a atividade agropecuária para

concretização de seus objetivos combina os esforços dos ecossistemas com as

ações humanas, para favorecer o desenvolvimento de atividades agrícola,

pecuária, aquícola, entre outras. Como, TEEB (2010) mostra, os ecossistemas

disponibilizam bens e serviços, genericamente denominados serviços

ecossistêmicos, que inclui principalmente: a capacidade de desenvolvimento

biológico de plantas e animais; a manutenção da fertilidade dos solos; a ciclagem

de nutrientes; o controle biológico de pragas; a regulação do clima; a polinização,

entre outros.

Apesar de uma série de estudos, entre outros, os realizados por EHRLICH

e MOONEY (1983), DAILY (1997), COSTANZA et al. (1997) e, GROOT et al.

(2002), definiram os serviços ecossistêmicos, ainda não existe, até o momento,

consenso quanto à sua definição e, principalmente, quanto à sua classificação.

Geralmente, os conceitos e classificações de serviços ecossistêmicos deixa

explícita uma utilidade direta e indireta dos bens e serviços por parte dos seres

humanos. Ou seja, as sociedades humanas usufruem dos serviços

ecossistêmicos para a satisfação de suas necessidades ou para o

desenvolvimento das atividades econômicas.

HARRINGTON et al. (2010) afirmam que os serviços ecossistêmicos são

benefícios que os homens reconhecem como obtidos a partir dos ecossistemas,

que suportam, direta ou indiretamente, sua sobrevivência e qualidade de vida.

Pelo consumo de produtos agropecuários, os seres humanos usufruem

diretamente dos bens produzidos pelos ecossistemas, bem como usufruem de

forma indireta de uma série de serviços providos pelos ecossistemas

necessários para desenvolvimento biológico das plantas e animais, utilizados

como fonte de alimentos.

Embora os serviços ecossistêmicos sejam essenciais para produção

agropecuária, geralmente, não são contabilizados pelas entidades que deles

usufruíram. Diversamente disso, há necessidade do reconhecimento,

mensuração e divulgação dos ativos, passivos e custos, além das receitas

44

resultantes de transações e acontecimentos relacionados com o ecossistema.

Em outras palavras, devem-se internalizar, contabilmente, as receitas

ecossistêmicas usufruídas pelas entidades dedicadas às atividades

agropecuárias. Dentre outras vantagens, o reconhecimento das receitas de

serviços ecossistêmicas pode contribuir para o uso adequado dos bens e

serviços e também com a gestão dos ecossistemas.

Além disso, acresce que os serviços ecossistêmicos são suscetíveis de

afetar o patrimônio das entidades de modo negativo e positivo. Para prover

informações contábeis sobre as diversas variações patrimoniais, as entidades,

por meio do sistema contábil, devem conhecer detalhadamente o meio

envolvente em que se inserem e, principalmente, expressar em termos de valor,

as contribuições dos ecossistemas em prol das atividades econômicas

desenvolvidas.

Segundo MERICO (2002), é necessário reconhecer que os recursos

naturais, representados pelos bens e serviços deles advindos, têm funções

econômicas e valores econômicos positivos. Assim, tratá-los como preços zero

configura em um descuido que poderá levar ao seu mau uso ou a sua exaustão.

Reconhece-se que, atualmente, existem preocupações da sociedade

quanto aos eventos relacionados ao meio ambiente e de sua internalização pelo

sistema de contabilidade.

O IASB, por meio de publicação de diversas normas internacionais de

contabilidade, estabeleceu disposições e princípios contabilísticos aplicáveis ao

tratamento das matérias ambientais. No Brasil, o Comitê de Pronunciamento

Contábil (CPC) para harmonizar as normas contábeis brasileiras às normas

internacionais de contabilidade relacionadas às atividades agropecuárias, emitiu

o CPC 29. O referido pronunciamento técnico estabeleceu o tratamento contábil

a ser adotado aos ativos biológicos e aos produtos agropecuários, de modo a

determinar a avaliação dos ativos biológico pelo método de valor justo.

Embora as práticas contábeis adotadas no Brasil, com ênfase ao CPC 29,

reconheçam as mudanças quantitativas e qualitativas dos ativos biológicos, tais

como, procriação, desenvolvimento e/ou crescimento, e terminação,

semelhantemente, não reconhecem a biomassa proveniente dos restos culturais

e os dejetos das criações como receitas de produção não estabelecem ainda

quaisquer práticas quanto ao reconhecimento dos serviços ecossistêmicos. Isso

45

acontece mesmo que tais benefícios sejam auferidos pela entidade no

desempenho de suas atividades.

Todavia, a internalização contábil dos serviços ecossistemas deve levar

em consideração que eles fazem parte de um processo produtivo, seja por meio

do aproveitamento das propriedades de algum bem indispensável na produção

ou pelo usufruto das funções desempenhada pelos seus componentes físicos ou

biológicos que afetam o desempenho das atividades agropecuárias.

Apesar dos esforços científicos e técnicos no sentindo do reconhecimento

por parte dos sistemas contábeis dos serviços ecossistêmicos, esses são,

normalmente, tratados de forma superficial nos relatórios das entidades e são,

raramente, percebidos como materiais financeiros ou como relevantes para sua

internalização nas demonstrações contábeis. Isso resulta em decisões que,

progressiva e cumulativamente, podem degradar o ecossistema, de modo a

implicar sérios custos ecológicos, sociais e econômicos.

As entidades investigadas neste estudo não reconhecem contabilmente

as receitas de serviços ecossistêmicas e não relatam o valor desse benefício

usufruído para desenvolvimento de suas atividades em seus demonstrativos

contábeis. Consequentemente, informam um valor de custo de produção

realizado inferior ao efetivamente absorvido para concretização do nível de

atividades executadas.

Nesse sentido, questionou-se: os bens e serviços provenientes dos

ecossistemas, apropriados pelas entidades agropecuárias, cujos preços não

podem ser visualizados no mercado, são passíveis de lhes atribuir valores

econômicos, visando a sua internalização pelo sistema contábil?

Assim, entende-se que o sistema contábil deveria contemplar os custos e

as receitas de serviços ecossistêmicos. Para tanto, ferramentas e metodologias

que se propõem a valorar os bens e serviços ecossistêmicos em termos

monetários foram, e têm sido frequentemente desenvolvidas. Embora ainda não

exista consenso sobre a aplicação desses métodos e ferramentas de valoração,

é imprescindível a internalização desses custos e receitas.

A valoração monetária dos serviços ecossistêmicos torna-se necessária

por ser o primeiro passo do processo que conduzirá ao reconhecimento e à

evidenciação contábil.

46

Historicamente, a contabilidade enfrenta um dilema relacionado às

diversas formas de precificar os bens, os serviços e as obrigações. O usufruto

dos serviços ecossistêmicos por parte das entidades dedicadas às atividades

agropecuárias contribui para formação do resultado dessas entidades. Nesse

sentido, o objetivo do presente trabalho consiste no desenvolvimento de

diretrizes e procedimentos para internalizar e evidenciar contabilmente os

serviços ecossistêmicos por parte das entidades que exploram as atividades

agropecuárias.

Dessa forma, nos objetivos específicos deste trabalho, identificou-se o

conceito de serviços ecossistêmicos e suas classificações; analisaram-se as

demonstrações contábeis publicadas por entidades agropecuárias situadas na

bacia hidrográfica do Rio São Lourenço-MT, a fim de identificar metodologias

contábeis de mensuração e evidenciação, com foco nos ativos biológicos e;

propôs-se esse modelo contábil, para inclusão dos serviços ecossistêmicos

providos em bacia hidrográfica na apuração do resultado das atividades

agropecuárias, de modo a refletir sobre as possibilidades de aplicações futuras.

Material e Métodos

Para atingir os objetivos propostos, valeu-se, inicialmente, de revisão

bibliográfica acerca dos serviços ecossistêmicos, os métodos de valoração

deste, os aspectos contábeis relativos à mensuração e ao registro dos custos e

das receitas. Em seguida, analisaram-se as demonstrações contábeis das

entidades agropecuárias constituídas na forma de sociedades anônimas que

exercem suas atividades na bacia hidrográfica do rio São Lourenço em Mato

Grosso. Finalmente, com base na teoria contábil e nas práticas contábeis

adotadas por parte das entidades agropecuárias, propôs-se um modelo contábil

para a internalização e evidenciação das receitas ecossistêmicas.

A delimitação da área de abrangência deste estudo consistiu nas áreas

exploradas pelas entidades agropecuárias constituídas juridicamente como

sociedades anônimas, que se dedicam às atividades agropecuárias na bacia

hidrográfica do rio São Lourenço. Esta se encontra localizada no sudeste mato-

grossense, em uma área de transição entre o planalto dos Guimarães e a

planície do Pantanal mato-grossense, que abrange a área de 26.623 km² de

47

extensão e ocupa, aproximadamente, 15,05% da área de 176.800 km² da bacia

do rio Paraguai, da qual é sub-bacia.

A bacia do rio São Lourenço-MT está inserida no bioma do cerrado e

acolhe uma diversidade biológica tanto da fauna como da flora. Engloba total ou

parcialmente os municípios mato-grossenses de Santo Antônio do Leverger,

Campo Verde, Dom Aquino, Alto Garça, Itiquira, Jaciara, Juscimeira, Pedra

Preta, Rondonópolis, Guiratinga, Poxoréo e São José Povo. A figura 1 ilustra a

área de estudo.

Figura 1. Mapa de localização e uso e ocupação do solo da bacia hidrográfica

do rio São Lourenço – MT. Fonte: adaptado CAMARGO (2011).

Segundo CORRADINE (2011, p. 4), o megaleque do São Lourenço está

localizado na porção centro-norte do Pantanal Mato-Grossense (MT), entre as

coordenadas 16º12’ S e 54º32’ W e 17º24’ S e 56º43’ W. Com bacia de

drenagem nos planaltos dos Guimarães e do Taquari-Itiquira, o rio São Lourenço

é o principal tributário da margem esquerda do rio Cuiabá, o qual integra a

hidrografia do alto do rio Paraguai.

Na bacia hidrográfica investigada foram identificadas as entidades

agropecuárias constituídas sob a forma de sociedade anônima, identificação

48

essa que se deu por meio do cadastro nacional de empresas do Brasil, e

posteriormente, por consulta pública ao cadastro do Estado de Mato Grosso,

junto à Secretaria de Estado de Fazenda. Foi identificado um total de 10

entidades. Desse universo de entidades, quatro foram descartadas da amostra:

uma entidade por encontrar-se em recuperação judicial e, três entidades por não

terem publicado suas demonstrações contábeis no ano de 2015.

As demais publicaram suas demonstrações nos seguintes instrumentos:

Diário Oficial de Mato Grosso, nº 26559, 26514, 26581, 26611; Diário Oficial de

Mato Grosso do Sul nº 8970; Diário empresarial de São Paulo em 01/05/2015,

pg. 6 e 7. A leitura e a análise das demonstrações contábeis publicadas

objetivaram identificar: os custos e as receitas das atividades desenvolvidas, as

práticas adotadas na avaliação dos ativos biológicos, os tipos de produtos

agropecuários produzidos, entre outros dados.

Das seis entidades que publicaram suas demonstrações contábeis no ano

de 2015 uma entidade foi descarta da amostra, tendo em vista que as suas

demonstrações foram publicadas apenas de forma consolidada por sua

controladora.

Com base nas atuais práticas contábeis adotadas pelas entidades

agropecuárias, na área de abrangência deste estudo e na literatura contábil,

mais especificamente, na contabilização dos serviços ecossistêmicos e sua

apropriação pelas atividades agropecuárias, foi proposto um modelo para

contabilização dos bens e serviços providos pelos ecossistemas, integrado e

coordenado pelo sistema contábil adotado pelas entidades agropecuárias.

Resultados e Discussão

Bases Conceituais para a Proposta de Modelo: Valoração e Serviços

Ecossistêmicos na Atividade Agropecuária

Na contextualização dos serviços ecossistêmicos foi possível observar a

coexistência de uma série de conceitos e classificações. As diferentes

classificações são adotadas conforme a finalidade e o contexto dos estudos e

pesquisas. Destacam-se, principalmente, avaliações de impacto ambiental,

pagamento de serviços ambientais, gestão de uso da ocupação do solo,

preservação ambiental e reconhecimento contábil. As diversas classificações

dos serviços ecossistêmicos existentes contribuem para a identificação dos

49

serviços ecossistêmicos no processo de internalização contábil.

As mudanças quantitativas e qualitativas derivadas de transformações

biológicas de plantas e animais e o usufruto dos serviços providos pelos

ecossistemas produzem acréscimos no ativo e no patrimônio das entidades

agropecuárias. KANAGARETNAM et al. (2009) afirma que há uma visão de que

o resultado do período deve medir todas as mudanças no valor econômico de

uma entidade, resultantes de todas as atividades e circunstâncias. Esses

acréscimos nos ativos biológicos resultantes do usufruto dos serviços

ecossistêmicos pelas entidades representam receitas. IUDICIBUS (2000, p. 155)

define que:

“Receita é a expressão monetária, validada pelo mercado,

do agregado de bens e serviços da entidade, em sentido

amplo (em determinado período de tempo), e que provoca

um acréscimo concomitante no ativo e no patrimônio

líquido.”

A partir do conceito genérico de receita, entende-se que os serviços

ecossistêmicos absorvidos nas atividades agropecuárias provocam variações

qualitativas e quantitativas no ativo, entre a quais destacam-se: a geração de

novos ativos por germinação e/ou nascimento, acréscimos nos ativos biológico

existentes por crescimento e/ou desenvolvimento vegetativo. Portanto, pode-se

afirmar que os serviços ecossistêmicos usufruídos pelas entidades,

contabilmente, constituem receitas para a entidade que usufrui desses serviços.

A etapa inicial para o reconhecimento dos acréscimos nos ativos

biológicos e das receitas de serviços ecossistêmicos é a valoração monetária, a

qual se mostra imprescindível por ser o primeiro passo do processo que

conduzirá ao reconhecimento e à evidenciação deste pela contabilidade. De

acordo com COSTANZA et al. (1997), o objetivo da valoração monetária do meio

ambiente é trazer a uma mesma base os serviços ecossistêmicos, de modo a

capacitar os indivíduos a tomarem decisões economicamente comparáveis.

Para MELO et al. (2017), a percepção e a valoração ambiental constituem

um canal de contribuição para a educação ambiental com o poder de produzir

efeitos positivos quanto à sensibilização a respeito das diversas questões

50

ambientais.

As valorações dos serviços ecossistêmicos são positivas, pois, além de

aumentarem o ativo, produzem ganho econômico para a entidade agropecuária.

Por essa razão, devem ser reconhecidas como receita no momento que a

entidade usufrui das contribuições providas pelos ecossistemas. O IASB (2003)

determina o tratamento contábil para as entidades que atuam na agropecuária,

o que contribui para a divulgação de informações úteis aos vários usuários, além

de trazer a obrigatoriedade da avaliação e a divulgação dos ativos biológicos ao

valor justo.

No Brasil, a mensuração contábil dos ativos biológicos deve ser elaborada

em conformidade com o CPC 29 (2009). O referido pronunciamento reflete o

processo de harmonização das práticas contábeis brasileiras e das normas

internacionais contábeis. O marco legal do processo de harmonização das

normas brasileiras de contabilidade com as Normas Internacionais de

Contabilidade, emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB),

ocorreu a partir da promulgação da Lei 11.638/07.

O conceito de valor justo, em conformidade com o CPC 29, é o valor pelo

qual um ativo pode ser negociado ou um passivo liquidado entre partes

interessadas, conhecedoras do negócio e independentes entre si, com a

ausência de fatores que pressionem para a liquidação da transação ou que

caracterizem uma transação compulsória. O método de valor justo é

caracterizado por determinar diferentes formas de valoração de um bem ou

serviço. Os seguintes níveis de hierarquia que devem ser utilizados na

mensuração de bens e serviços pelo método de valor justo, segundo o Comitê

de Pronunciamento Contábil CPC 46 (2012) são:

Nível 1 de inputs, utilização de preços cotados no mercado para ativos e

passivos idênticos;

Nível 2 de inputs, ativos e passivos não-observáveis no mercado utilizam-se

a cotação de itens similares e;

Nível 3 de inputs, utilização de técnicas de avaliação.

Essa norma contábil reconhece que os preços cotados no mercado

provêm a mais fiel evidência da mensuração a valor justo. Por isso, recebem alta

prioridade no nível de mensuração. Dados não observáveis podem ser apurados

segundo três abordagens: mercado, lucro e custo.

51

Na abordagem de mercado, a entidade deve obter dados de transações

similares e/ou utilizar técnicas de valoração econômica para precificação dos

bens e serviços ecossistêmicos. A abordagem do lucro se baseia na utilização

de técnicas matemáticas para converter valores futuros (fluxos de caixa ou

receitas e despesas) em valores presentes. Já a abordagem do custo refere-se

à quantia que seria despendida para repor a capacidade de serviço do ativo, ou

seja, utiliza-se o conceito de custo corrente de reposição.

PARTIDÁRIO e GOMES (2013) desenvolveram uma metodologia para

incorporar os serviços ecossistêmicos no processo de avaliação de impactos

ambientais. A metodologia propõe a identificação e mapeamento dos serviços

ecossistêmicos e dos atores sociais; a priorização dos serviços ecossistêmicos;

e valoração qualitativas e quantitativas dos serviços ecossistêmicos.

O presente estudo utilizou a metodologia proposta por PARTIDÁRIO e

GOMES (2013) para a identificação dos serviços ecossistêmicos usufruídos

pelas entidades agropecuárias. Neste sentido, considerou-se que os diversos

serviços ecossistêmicos são providos em diferentes escalas que podem ser

muito mais ampla do que as áreas de produção de uma entidade agropecuária

que se apropria de tais serviços. Consequentemente, a capacidade para prover

determinados serviços pode variar significativamente devido, principalmente, às

diversas formas de uso e ocupação do solo da bacia hidrográfica onde a entidade

investigada exerce suas atividades.

Variados estudos realizados, dentre os quais se destacam os de FÜRST

et al. (2010), assumem o uso e ocupação do solo como indicador da provisão de

serviços ecossistêmicos. Considerando que o uso e ocupação do solo são

indicativos da oferta desses serviços, propõe-se identificar os serviços

ecossistêmicos nas áreas produtivas das propriedades investigadas, bem como

nas áreas naturais da bacia hidrográfica na qual a propriedade da entidade está

inserida, a partir da classificação de uso e ocupação do solo dessas áreas.

Propõe-se, ainda, identificar os serviços ecossistêmicos providos nos

ecossistemas contidos na bacia hidrográfica, a partir de sua absorção no

processo produtivo desenvolvido em cada entidade investigada. Segundo

BURKHARD et al. (2012), a capacidade individual do ecossistema para prover

serviços está fortemente ligada às condições naturais, isso porque as mudanças

nos ecossistemas indicam queda na provisão de determinados bens e serviços.

52

Segundo FAVERO et al. (2012) quanto maior nível de consolidação de

uma área natural maior oferta de recursos, tendo como consequência uma maior

abundancia, diversidade, riqueza, similaridade e equitabilidade.

De igual forma, RAPPORT et al. (1998), afirmam que a saúde do

ecossistema é vital para que este possa suprir os bens e serviços necessários à

nossa sobrevivência. Os autores elencam três indicadores de saúde do

ecossistema. O primeiro é o vigor, mensurado pela atividade de metabolismo ou

a produção primária do sistema. O segundo é a organização, que pode ser

avaliada com a biodiversidade e o número de interações entre os componentes

do sistema. Já o terceiro, pela resiliência, é a capacidade apresentada pelo

sistema que lhe permite recuperar o equilíbrio depois de ter sofrido uma

perturbação. Segundo ALHO (2012, p. 157)

“A conservação da biodiversidade e a proteção dos

ecossistemas naturais não implicam necessariamente

confrontar o progresso do homem e o retorno da sociedade

ao convívio primitivo com a natureza. As novas técnicas de

produção da agropecuária, com o avanço da biotecnologia,

têm permitido produtividade de alimentos e novos

medicamentos para a humanidade. O progresso social,

científico e tecnológico da humanidade tem que ser

celebrado.”

Embora, as atividades agropecuárias, ao alterar o padrão de uso e

ocupação do solo e, consequentemente, alterar as funções ecológicas locais,

reduziu progressivamente a oferta de múltiplos serviços ecossistêmicos,

diferentemente disso, pode atuar como conservadora deles.

Isso acontece quando são adotadas técnicas compatíveis com a

preservação dos ecossistemas, tais como conservação do solo, manejo

integrado de pragas e doenças, manutenção de áreas de preservação, dentre

muitas outras. A utilização dessas práticas de produção contribui para que a

agropecuária possa produzir, além de produtos, uma série de serviços

ecossistêmicos.

53

Bases Empíricas para Elaboração do Modelo: Práticas Contábeis Adotadas

nas Entidades Agropecuárias na Bacia do Rio São Lourenço

Os dados apresentados a seguir foram extraídos das demonstrações

contábeis das entidades agropecuárias constituídas juridicamente sob a forma

de sociedade anônima, exercendo as suas atividades na bacia hidrográfica do

rio São Lourenço - MT. As fontes de informações utilizadas para realização das

análises consistiram nas demonstrações contábeis dessas entidades referentes

às safras 2014/2015, publicadas no Diário Oficial de Mato Grosso e no Diário

Oficial de Mato Grosso do Sul, no ano de 2015.

Analisando o grupo das demonstrações contábeis de cada entidade,

pode-se identificar o montante e os tipos de receitas reconhecidas no período.

Percebe-se que as entidades não reconhecem os serviços ecossistêmicos como

receita. Isso ocorre mesmo que as entidades utilizem o critério de mensuração

dos ativos biológicos pelo valor justo e reconheçam parte da produção

agropecuária (produtos agropecuários) como receita de produção, na

demonstração do resultado do exercício publicada.

É importante salientar que uma entidade publicou no relatório da

administração que “atenta ao cumprimento da legislação ambiental e às

alternativas para o desenvolvimento sustentável e dando continuidade à sua

política, a empresa expande suas atividades com absoluto respeito ao meio

ambiente”.

O método utilizado pelas entidades agropecuárias investigadas para

mensuração dos estoques foi o de custo histórico e o de valor justo. No método

de avaliação de custo histórico, o custo será sempre utilizado, exceto na hipótese

de que o valor de mercado seja inferior ao custo. Para FAVERO et al. (1997),

esse critério de avaliação de estoques é norteado pelo Princípio Contábil

Geralmente Aceito do Custo Original como Base de Valor. Nesse sentido,

FAVERO et al. (1997, p. 38) continua esclarecendo que:

“A premissa básica desse princípio define que os ativos

serão incorporados pelo preço pago para adquiri-los ou

fabricá-los acrescido de todos os gastos necessários para

colocá-los em condições de gerar benefícios para a

empresa, quer por sua venda ou por sua imobilização”.

54

Por outro lado, no método de valor justo os estoques são valorados pelo

valor de saída. Conforme o CFC (2011, p. 608), “valor justo é o preço que seria

recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um

passivo em uma transação ordenada entre participantes do mercado na data de

mensuração”. No método de avaliação valor justo, os ativos biológicos são

classificados em duas categorias distintas: ativos biológicos com preços

observáveis no mercado e ativos biológicos sem preços observáveis, como por

exemplo os cultivos em desenvolvimento, rebanho em formação, raízes de

cultivos permanente (soqueira de cana).

Os ativos biológicos das entidades investigadas na safra 2014/15 eram

compostos por: rebanho bovinos, rebanho suínos, cultivos agrícolas de soja,

milho e cultivo de cana de açúcar e os produtos obtidos desses respectivos

ativos biológicos das entidades. Tais ativos, de maneira geral, estão sujeitos a

mudanças quantitativas e qualitativas e, consequentemente, provocam

alterações nos valores desses ativos. Essa circunstância intrínseca aos ativos

biológicos torna a decisão de escolha do método de avaliação de grande

relevância para que seja refletido o real valor dos ativos.

O CPC 29 (2009) prescreve o valor justo com método de avaliação dos

ativos biológicos e produtos agrícolas. Salienta-se que as normas emitidas pelo

Comitê de Pronunciamento Contábil CPC não possuem poder coercitivo. Nesse

sentido, algumas entidades ainda utilizavam o custo de formação para registro

dos seus estoques de ativos biológicos e produtos agropecuários.

Os estoques constituem um ativo importante para as entidades

agropecuárias, são geralmente constituídos de insumos de produção, cultivos e

rebanhos em desenvolvimentos, e os respectivos produtos agropecuários. Os

reflexos da escolha do método de valoração dos estoques de ativos biológicos

provocam alterações no resultado do exercício apurado pela entidade. Os

métodos de valoração adotados pelas entidades investigadas foram: custo

histórico e valor justo. No método de custo histórico, os ativos biológicos foram

mensurados pelo montante dos gastos efetivos para obtê-lo, o que corresponde

ao preço combinado entre o comprador e o vendedor na data de aquisição. As

práticas contábeis adotadas pelas entidades agropecuárias na mensuração dos

ativos biológicos, na safra 2014/2015, são descritas no (quadro 1).

55

Quadro 1. Práticas contábeis de mensuração dos estoques adotadas pelas

entidades agropecuárias nas bacias do São Lourenço

Critérios adotados no registro dos ativos

biológico

Método de

avaliação

Entidade A Os estoques estão avaliados de acordo com

o critério de custo ou mercado dos dois o

menor valor.

Custo histórico

Entidade B Mensurado pelo preço de mercado de

bovinos na data base do balanço. Valor justo

Entidade C Os estoques são mensurados pelo valor justo

dos ativos biológicos na data da colheita. As

soqueiras e a cana de açúcar em pé durante

o período de crescimento são mensurados ao

valor justo, pelo método de fluxo de caixa

descontado.

Valor justo

Entidade D Os estoques de commodities mensurados

pelo seus valores justos Valor justo

Entidade E Os produtos em estoques estão registrados

pelo custo de produção. Custo histórico

Conforme demonstrado no Quadro 1, 40% do total das entidades

investigadas utilizam o método de custo histórico, pelo qual somente as

variações negativas nos estoques são reconhecidas (custo ou mercado, dos dois

o menor). As demais entidades, ou seja 60%, utilizam o método de valor justo.

No método de valor justo, são reconhecidas as variações nos estoques,

independentemente de serem positivas ou negativas. O valor justo é o critério de

mensuração que permite incorporar as novas condições do mercado em cada

momento, de modo a proporcionar informações relevantes e de maior utilidade

para as tomadas de decisão econômicas. Destaca-se que um dos grandes

obstáculos da mensuração dos bens e serviços ecossistêmicos está relacionado

à ausência de um mercado desses bens e serviços.

56

No método de valor justo, os ativos biológicos das entidades investigadas

foram mensurados pelos valores de mercado na data das demonstrações

contábeis na inexistência de um mercado para determinado ativo, buscou-se

evidenciar um provável mercado. O critério adotado pelas entidades para

avaliação dos ativos biológicos está em conformidade com CF (2011, p. 595),

que assim prescreve.

“Em algumas circunstâncias, o preço ou valor determinado

pelo mercado pode não estar disponível para um ativo

biológico nas condições atuais. Nessas circunstâncias, a

entidade deve utilizar o valor presente do fluxo de caixa

líquido esperado do ativo, descontado à taxa corrente do

mercado, para definição do valor justo”.

Enfatiza-se, ainda, que o uso do justo valor para mensurar os bens e

serviços ecossistêmicos tem como ponto forte a relevância que confere à

informação. Segundo o CPC 00 (2011, p, 15) “informação contábil-financeira

relevante é aquela capaz de fazer diferença nas decisões que possam ser

tomadas pelos usuários”. Na valoração dos bens e serviços ecossistêmicos por

seu valor justo pressupõe o reconhecimento de ganhos e perdas

independentemente da comercialização, além de permitir, também, atribuir

valores atuais de mercado aos bens e serviços na data das demonstrações

contábeis.

Consequentemente, as informações do montante de receitas

ecossistêmicas usufruídas pelas entidades são capaz de habilitar os usuários a

predizer a vulnerabilidade dos ecossistemas e sua capacidade de prover

serviços, bem como, possibilita planejar o desenvolvimento da atividade

agropecuária.

Modelo Contábil de Evidenciação dos Serviços Ecossistêmicos

Os estudos realizados por DAILY (1997) GROOT et al. (2002) e MEA

(2005) apontam que os bens obtidos pelas atividades agropecuárias são

beneficiados graças às crescentes ações humanas sobre uma série de serviços

oferecidos pelos ecossistemas. Tais serviços necessitam ser valorados para

57

serem internalizados contabilmente por parte das entidades que os absorveram

no desenvolvimento de suas atividades.

O reconhecimento contábil dos serviços ecossistêmicos deve ser

integrado com o restante da escrituração de cada entidade. O modelo para ser

integrado com o restante da escrituração contábil da entidade utilizará método

contábil propriamente dito, que compreende o conjunto de elementos

constitutivos da teoria contábil: princípios, regras, critérios, postulados, normas,

pronunciamentos, procedimentos, métodos, técnicas, instrumentos e

terminologia.

O conjunto de parâmetros adotados no reconhecimento das receitas

ecossistêmicas de produção e de serviços no modelo contábil é apresentado a

seguir:

O modelo é caracterizado pelo reconhecimento dos serviços ecossistêmicos

providos na abrangência de determinada bacia hidrográfica;

As receitas ecossistêmicas devem ser contabilizadas pelas entidades, em

consonância com as normas, técnicas e princípios fundamentais de

contabilidade no momento do fato gerador;

O reconhecimento das receitas de serviços ecossistêmicos deve ser

realizado de forma proporcional aos serviços efetivamente usufruídos;

Os valores justos das receitas de serviços ecossistêmicos são acumulados

no exercício social e encerrados na apuração do resultado do período;

Na apuração da produção ecossistêmica, deve-se considerar o volume total

produzido, não somente os grãos, os frutos e as fibras da produção agrícola,

mas também o volume de galhos, folhas, e raízes e;

Na valoração das receitas de serviços ecossistêmicos providos em bacia

hidrográfica, utiliza-se o método de custo de oportunidade. As áreas

classificadas como naturais existentes na bacia hidrográfica são

remuneradas pela média das margens de contribuições, o que pode ser

auferido pelas atividades agropecuárias desenvolvidas no período analisado.

Para a entidade internalizar as receitas ecossistêmicas contabilmente,

propõem-se quatro ações a serem desenvolvidas:

Identificar os serviços ecossistêmicos;

Estabelecer critérios de medidas e valoração;

Inserir contas específicas no plano de contas para a respectiva

58

contabilização;

Reconhecer e divulgar as receitas ecossistêmicas nas demonstrações

contábeis.

A seguir detalha-se as ações que se propõe a desenvolver no modelo

contábil.

Identificação dos Serviços Ecossistêmicos

A identificação dos serviços ecossistêmicos deve ser realizada em duas

dimensões: a interna e a externa. Na dimensão interna, ou seja, na propriedade

rural da entidade agropecuária, diz respeito aos serviços ecossistêmicos

providos e absorvidos na própria entidade e se referem à geração de novos

ativos ou variações em ativos existentes, por exemplo, manutenção da fertilidade

do solo, desenvolvimento de cultivos e rebanhos, etc. Propõe-se a implantação

e/ou ampliação de controle interno que permite visualizar a produção total da

agropecuária, bem como os respectivos custos de produção, dentre outros

serviços ecossistêmicos.

No que tange à dimensão externa, sua delimitação estende-se além do

perímetro da propriedade da entidade. Propõe-se a delimitação da dimensão

externa a área total da bacia hidrográfica onde está inserida a propriedade rural

da entidade. Inclui os diversos ecossistemas pertencentes à bacia hidrográfica.

Já os usos e ocupação do solo na área de abrangência da bacia hidrográfica

expressam a capacidade de oferta, por outro lado, os usufrutos dos serviços

ofertados pelos ecossistemas são identificados de forma reversa, a partir dos

produtos agropecuários de cada entidade identifica-se quais os respectivos

serviços ecossistêmicos foram necessários para concretização do processo

produtivo.

Nesse sentido, devem-se analisar mapas da classificação do uso e

ocupação do solo da área (bacia hidrográfica), de modo a identificar tipos de uso

e ocupação do solo e sua capacidade de oferta dos serviços ecossistêmicos.

Conjuntamente com a classificação de uso e ocupação do solo deverá classificar

as receitas de serviços ecossistêmicas. A classificação das receitas de serviços

ecossistêmicos tem por objetivo auxiliar a entidade a identificar o usufruto dos

bens e serviços ecossistêmicos na concretização da produção.

59

No que concerne à classificação das receitas de serviços ecossistêmicos

destaca-se a proposta de MURALHA (2002, p. 45), na qual as receitas são

denominada proveitos ambientais sendo classificadas em: “diminuição de

custos, melhor gestão de resíduos, redução de indemnizações, poupança em

custos operativos, aumento das vendas por melhoria da imagem pública e

recebimentos efetivos”.

Dada a importância da identificação das receitas de serviços

ecossistêmicas, propõe-se, a seguir, as prováveis consequências provocadas

pelos usufrutos dos serviços ecossistêmicos correspondente a perspectiva de

classificação proposta por MURALHA (2002), por parte das entidades

agropecuárias:

Economia de recursos: em tratos culturais, em adubação do solo, em controle

de doenças, pragas e similares dos cultivos e rebanhos;

Redução de custos: na conservação do solo, no consumo de matéria prima;

na reciclagem e reutilização de matéria orgânica, principalmente, os dejetos

e restos culturais;

Acréscimos na produtividade: maiores produtividades ocasionadas por

condições ecossistêmicas favoráveis;

Geração de novos ativos: por nascimentos e por desenvolvimentos

vegetativos.

Critérios de Medidas e Valoração

Vários são os métodos de valorar os serviços ecossistêmicos possíveis

de serem utilizados. No entanto, o método de custo oportunidade apresenta-se

como uma ferramenta útil para valorar o conjunto de serviços ofertados em bacia

hidrográfica e absorvidos pelas atividades agropecuárias. Ele possibilita, assim,

estimar o valor da remuneração dos serviços ecossistêmicos, com base no valor

do benefício renunciado para manutenção da capacidade dos ecossistemas em

provê-los.

Ressalta-se que a valoração das receitas ecossistêmicas visa a atribuir

valor apenas aos bens e serviços desfrutados. Logo, excluem-se dessa

valoração os valores dos próprios ecossistemas que proveram tais bens e

serviços. Entende-se que o desfrute dos bens e serviços ecossistêmicos pelas

entidades permite reduzir os custos de produção agropecuária, o que reflete

60

diretamente na margem de contribuição das atividades desenvolvidas.

A aplicação do método do valor justo, na valoração das receitas

ecossistêmicas, objeto deste trabalho, justifica-se pelo fato de tal método prever

critérios que possibilitam valorar serviços ecossistêmicos mesmo quando os

bens e serviços a serem valorados não são comercializáveis e

consequentemente seus preços não são visualizados no mercado. Ou seja, em

alguns casos, os bens e ou serviços ecossistêmicos não podem ser vendidos e

nem comprados em mercado algum. Quando os valores de um bem ou serviço

ecossistêmico não podem ser observados no mercado, os métodos de valoração

econômica existentes são passíveis de serem aplicados para estimar o valor

justo do bem ou serviço a ser valorado.

Contas Especificas de Receitas de Serviços Ecossistêmicas

A internalização das receitas de serviços ecossistêmicos deve ser

integrada ao restante da escrituração, de modo a manter uma visão integral da

entidade. Para atingir esse objetivo, são necessárias contas que possam retratar

o aproveitamento dos bens e serviços providos pelos ecossistemas.

Segundo SÁ (2000, p. 12), as contas em contabilidade “visam a registrar

fatos da mesma natureza, de forma organizada, envolvendo a identificação, a

cronologia, o valor e a correlação de acontecimentos, ensejando conhecer a

dinâmica dos acontecimentos e a expressão estática dos mesmos”.

Portanto, contabilmente, é necessário que o plano de contas contemple

grupos de contas especificas para o reconhecimento das receitas

ecossistêmicas, bem como, os respectivos controles internos que possam fazer

gerar dados gerenciais relativos ao usufruto dos serviços ecossistêmicos.

Neste trabalho propõe-se pela criação de um grupo específico

denominado receitas ecossistêmicas, com as seguintes contas receita de

produção ecossistêmica e receita de serviço ecossistêmico. A receita de

produção ecossistêmica compreende aos produtos agropecuários estocáveis e

tangíveis. A receita de serviços ecossistêmicos, por outro lado, são considerados

atividades meio. Esses serviços são intangíveis, não podem ser estocados, são

providos e consumidos e/ou perdidos simultaneamente. Podem, ainda, estar

vinculados a um ou mais bens, como por exemplo, a produção de biomassa

61

vinculada com a regulação climática, a reciclagem de nutriente e o controle de

erosão.

Enfatiza-se que a classificação adotada no reconhecimento desses

serviços pelo sistema contábil deve, primordialmente, evitar a duplicidade de

contagem dos serviços ecossistêmicos. A receita de produção ecossistêmica

compreende todas as variações quantitativas e/ou qualitativas nos ativos

biológicos da entidade. Na agropecuária, o processo produtivo é de origem

biológica, ou seja, a reprodução, o crescimento e o desenvolvimento vegetativo

dos seres vivos produzem variações nos ativos da entidade e, quando positiva,

corresponde a uma receita de produção.

O modelo contábil proposto reconhece como receita ecossistêmica a

produção agropecuária total, nos cultivos agrícolas: grãos, folhas, galhos e

raízes, ou seja, as matérias orgânicas provenientes de resíduos vegetais dos

cultivos agrícolas, de plantas invasoras e de plantas utilizadas como cobertura

do solo. Na atividade pecuária, variações quantitativas e qualitativas derivadas

das características biológicas nos rebanhos e os seus dejetos. Os restos

culturais e os dejetos geralmente não são comercializados, porém contribuem

para o sistema de produção, por meio da reciclagem de nutriente. Os resultados

dos estudos de AITA e GIACOMINI (2003) demonstraram que as características

qualitativas dos resíduos vegetais alteram a velocidade de decomposição dos

resíduos orgânicos, o que reflete sobre a disponibilidade de nutrientes ao solo.

Nesse sentido, classificam-se como receitas de produção ecossistêmica:

produtos agrícolas, pecuários, florestais e aquícolas, independentemente de sua

destinação final: comercialização, consumo ou fator de produção. Incluem

também os produtos conjuntos, como biomassa vegetal e dejetos das criações.

As receitas de serviços ecossistêmicos são os proveitos usufruídos pelas

entidades agropecuárias no desenvolvimento de cultivos e/ou criação,

representam os serviços ecossistêmicos propriamente ditos, que contribuem

para a existência da receita de produção ecossistêmica. Entende-se que

usufruto dos serviços ecossistêmicos agrega valores econômicos e financeiros

à entidade, o que provoca mudanças na situação patrimonial. Normalmente, os

serviços ecossistêmicos são providos independentemente do seu consumo

pelas atividades agropecuárias. Quando usufruídos para o desenvolvimento das

atividades produtivas, representam concomitantemente uma receita e um custo

62

de produção.

As receitas de serviços ecossistêmicos podem ser compostas por

subdivisões mais pormenorizadas, realizadas por diversas perspectivas, a que

correspondem classificações expostas por diferentes autores. Apresentam-se

duas classificações que podem ser úteis:

MEA (2003) divide os serviços em quatro grupos: Provisão; Regulação;

Cultural e Suporte. HAINES YOUNG e POTSCHIN (2013) propõem uma

classificação denominada classificação internacional comum para os serviços de

ecossistema (CICES – Common International Classification of Ecosystem

Services). Essa proposta apresentada pelos autores classifica os serviços

ecossistêmicos em 3 categorias: serviços de provisionamento; regulação e

manutenção; e serviços culturais.

Reconhecimento e Divulgação das Receitas de Serviços Ecossistêmicos

Na contabilização e evidenciação das receitas de serviços

ecossistêmicos, reconhece-se uma receita (valor dos serviços ecossistêmicos)

e, no mesmo valor, reconhece-se também um custo de produção. Tal

procedimento não produz nenhum efeito no resultado final da entidade porque,

concomitantemente, registra-se uma conta de custo e uma conta receita de igual

valor. Porém, com esse procedimento, as contribuições usufruídas pelas

entidades obtidas pelos usufrutos dos serviços ecossistêmicos são evidenciadas

como receitas, além de serem também reconhecidos como custos os bens e

serviços absorvidos no processo produtivo inclusive os providos pelos

ecossistemas.

A contabilização da receita ecossistêmica, em uma entidade

agropecuária, implica o registro de duas contas de resultado. As contas objeto

de registro seriam: a conta de “receita de serviços ecossistêmica” e a conta de

“custos de produção”. O lançamento contábil da receita de serviços

ecossistêmicos está demonstrado no exemplo a seguir: Supondo que um cultivo

agrícola foi acometido de determinada enfermidade (pragas), entretanto, a

enfermidade foi controlada biologicamente de forma voluntária por predadores

naturais existentes no ecossistema onde é desenvolvido o cultivo agrícola. Na

hipótese de inexistência de predadores naturais, a entidade teria de arcar com

os custos necessários para o seu controle.

63

O valor dos serviços ecossistêmicos de controle biológico desfrutados

pela entidade foi medido pela economia de recursos financeiros para o efetivo

controle da enfermidade. Por um lado, relata o real custo de produção do cultivo

e, por outro lado, evidencia como receita ecossistêmica a economia obtida com

contribuições providas pelos ecossistemas. Os seguintes registros contábeis são

necessários para o reconhecimento da receita de serviço ecossistêmico: débito

de custo de produção e crédito de receitas (tabela 1).

Tabela 1. Exemplo de registro das receitas de serviços ecossistêmicas

Contas Débito Credito

Custos das Atividades Agrícolas

Manejo Fitossanitário $ 0,00

Receitas de Serviços Ecossistêmicos

Controle Biológico $ 0,00

O custo das atividades executadas em uma entidade é a soma da mão de

obra, gastos gerais e matéria-prima empregada. O custo informado não traduz o

verdadeiro resultado apurado pela entidade quando o serviço é exercida por

seres humanos remunerados e pela biodiversidade existente no ecossistema de

forma gratuita para concretização das atividades desenvolvidas, e a respectiva

entidade não contabiliza os serviços ecossistêmicos.

A divulgação dos impactos do reconhecimento das receitas de serviços

ecossistêmicos deve ser realizada no balanço patrimonial, na demonstração dos

resultados do exercício e nas notas explicativas. Os valores reconhecidos com

custos de serviços ecossistêmicos que impactaram os estoques devem ser

evidenciados separadamente no balanço patrimonial.

O valor real do custo dos serviços consumidos nas atividades executadas

por uma entidade que desfrutou de serviços ecossistêmicos é a soma da

remuneração efetivamente desembolsadas e suas respectivos provisões com

economia de recursos obtida pelo usufruto dos serviços providos pelos

ecossistemas.

A entidade agropecuária que internalizou os serviços ecossistêmicos

usufruídos gratuitamente que impactaram os custos de suas atividades e

64

concomitantemente as receitas do exercício, semelhantemente ao procedimento

dispensado no balanço patrimonial na demonstração do resultado do exercício,

devem apresentar as receitas ecossistêmicas de forma resumida e separadas

das demais receitas da entidade. Para ilustrar a internalização dos serviços

ecossistêmicos, apresenta-se, a título de exemplo, um caso prático.

Considerando o resultado apurado por uma das entidades investigada,

neste estudo, que publicou suas demonstrações contábeis em 22/05/2015 no

Diário Oficial de Mato Grosso número 26559. Observou-se que a entidade não

contabilizou as receitas de serviços ecossistêmica e, em razão disso, apurou o

lucro na safra 2014/2015 no montante de R$ 971.000,00. As receitas liquidas

dessa entidade totalizam R$1.958.000,00, embora, no desenvolvimento de suas

atividades a entidade tenha usufruído de uma série de serviços providos pelos

ecossistemas, como se viu, não foram computados como receitas do período. O

montante dos custos de produção no valor de R$ 987.000,00 é composto por

matérias primas consumidas, mão de obra absorvida na produção e os custos

indiretos de produção.

Para contabilizar a receita de serviços ecossistêmicos usufruída pela

respectiva entidade para concretização de suas atividades, primeiramente, é

necessário atribuir um valor monetário a essa contribuição de serviços

recebidos. No caso presente, os valores de bens e serviços providos pelos

ecossistemas e apropriados pela entidade, apurados pelo método do valor justo,

totalizam $ 490.000,00.

O reconhecimento das receitas de serviços ecossistêmicos, evidenciou

que 50,46% do lucro de $ 971.000,00 apurado pela entidade investigada ou seja

$ 490.000,00 é formado pela contribuição dos ecossistemas na forma de bens e

serviços. O resultado apurado, em conformidade com o modelo contábil

proposto, evidenciou que o resultado final de R$ 971.000,00.

Este montante coincide com o valor evidenciado nas demonstrações

contábeis publicadas, ou seja, não sofreu alterações após a internalização das

receitas ecossistêmicas que totalizaram R$ 490.000,00. Pode-se inferir que as

receitas ecossistêmicas internalizada no modelo proposto para a entidade

investigada, são contribuições dos ecossistemas para concretização das

atividades agrícolas desenvolvidas.

Acresce que, na contabilização das receitas ecossistêmicas, alteram-se

65

os custos de produção e, consequentemente, o valor dos produtos

agropecuários em estoque, na medida em que os produtos agropecuários são

comercializados à mesma proporção de receitas ecossistêmicas são realizadas,

pela transferência dos valores registrados como custos de serviços

ecossistêmicos para o custo dos produtos vendidos, conforme mostra (Tabela

2).

Tabela 2. Mensuração das receitas ecossistêmicas evidenciada na apuração

do resultado (safra 2014/2015 em milhares de reais)

Demonstração do Resultado do Exercício – DRE

Serviços ecossistêmicos não

evidenciados

Evidenciação dos serviços

ecossistêmicos

Receita atividades agrícolas 1.958 1.958 00 1.958

Custo Ecossistêmico de produção 00 (490) (490)

Custos dos produtos vendidos (987) (987) 00 (987)

Receita ecossistêmica 490 490

Lucro bruto 971 481 490 971

Dessa forma, conclui-se que, no estoque final de produtos agropecuários,

pode estar contido um percentual proporcional de receitas serviços

ecossistêmicos, contabilizada como custo de produção a ser realizada.

Cabe destacar que mensuração dos serviços ecossistêmicos evidencia

como é formado o resultado total da entidade, de modo a demonstrar a clara

dependência das atividades agropecuárias com os ecossistemas e sua

capacidade de prover bens e serviços. Em outras palavras, este valor representa

o nível de contribuição dos ecossistemas para formação do resultado da

entidade.

Observa-se que a atividade agropecuária desenvolvida pela entidade

consegue gerar resultados superiores aos serviços ecossistêmicos R$

481.000,00. Entende-se que o resultado apurado nas atividades desenvolvidas

971.000,00 é suficiente para remunerar os serviços ecossistêmicos absorvidos.

Em uma situação inversa, quando o montante dos resultados gerado pela

entidade for inferior aos valores serviços ecossistêmicos desfrutados para

66

concretização do processo produtivo e consequentemente fosse necessário à

entidade efetivamente adquirir esses serviços no mercado, o resultado apurado

seria deficitário.

Algumas Considerações Acerca do Modelo contábil proposto

No modelo contábil proposto, entende-se que as contribuições providas

pelos ecossistemas (bens e serviços) para as atividades agropecuárias

representam uma economia de recursos que a entidade obtém para execução

de suas atividades. Na contabilização das contribuições ecossistêmicas,

somente é possível reconhecer aquelas que cumprem as seguintes condições:

Os bens e serviços ecossistêmicos contribuem para atender aos objetivos da

entidade e, por conseguinte, podem aumentar o valor dos ativos ou reduzir o

valor dos passivos e concomitantemente aumentar as receitas do período.

Quando não providos pelos ecossistemas, a entidade necessita adquirir

esses bens e serviços ou outros equivalentes e substitutos junto a outras

fontes;

A entidade possui bases adequadas para medir o valor dos bens e serviços

ecossistêmicos que necessita registrar.

Assim como outros serviços, os ecossistêmicos têm custos para serem

providos, embora esses estejam relacionados com a integridade dos

ecossistemas. Normalmente, não são suportados pelos beneficiários desses

serviços, que, no caso, deveriam pagar por eles.

Embora no desenvolvimento da atividade agropecuária possam ser

suportados os custos que, de alguma forma, contribuam para provisão de

serviços ecossistêmicos, dentre outros, destacam-se: gastos realizados na

construção de curvas de nível e terraços, no autocontrole da erosão, na

prevenção de poluição e de incêndios, além da adoção de práticas

agropecuárias tais como: rotação de culturas, manutenção de áreas de

preservação, entre outros, que reduzem a produção e/ou produtividade. Estes

devem ser confrontados com as receitas ecossistêmicas objetivando apurar o

resultado relacionado com o meio ambiente.

Conclusão

Pela proposta apresentada, os serviços ecossistêmicos devem ser

67

contabilizados como receitas ecossistêmicas, por serem gratuidades auferidas e

simultaneamente como custos das atividades agropecuárias, haja vista que as

entidades usufruem dos ecossistemas na consecução dos seus objetivos. A

contabilização da receita de serviço ecossistêmico torna público quanto seria o

valor que a entidade deveria desembolsar para arcar totalmente com os custos

de produção.

Ao reconhecer as receitas de serviços ecossistêmicos, a contabilidade

potencializa o nível de informações disponibilizadas, pois facilita aos usuários

das demonstrações contábeis identificarem os níveis de contribuições

decorrentes dos ecossistemas para a formação do resultado total operacional da

entidade. Assim, a proposta representa uma alternativa para atender, por meio

da contabilidade, às necessidades informativas e adicionais dos diversos

usuários das áreas contábeis, principalmente, os produtores rurais.

Pelo exposto, conclui-se pela exequibilidade e pertinência da

internalização, pelo sistema contábil das receitas de serviços ecossistêmicos

provenientes dos usufrutos de bens e serviços auferidos pelas entidades

agropecuárias, mesmo quando seus valores não são visualizados no mercado.

A partir disso, entende-se que ainda são necessários novos estudos que

possam ampliar o conhecimento dos serviços ecossistêmicos, a fim de validar

ou não o modelo contábil proposto, no sentido de contribuir para maior

valorização da contabilidade como ferramenta indispensável na gestão dos

ecossistemas.

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72

Artigo ll

Contabilidade de serviços ecossistêmicos nas atividades agropecuárias:

validação modelo contábil na bacia do Rio São Lourenço

Aguinaldo Rocha Gomes

Resumo

Neste trabalho, demonstra-se a aplicação do modelo contábil de reconhecimento

dos serviços ecossistêmicos por parte das entidades agropecuárias que

exercem suas atividades na bacia hidrográfica do Rio São Lourenço, localizada

no estado de Mato Grosso. O modelo aplicado tem como objetivo internalizar as

receitas de serviços ecossistêmicos e evidenciar contabilmente o nível de

contribuição dos ecossistemas para formação de riqueza nas entidades

agropecuárias. No modelo contábil proposto, as transformações biológicas

decorrentes da reprodução e desenvolvimento dos ativos biológicos da entidade,

bem como o usufruto dos serviços ecossistêmicos pelas entidades

agropecuárias constituem receitas ecossistêmicas. As receitas ecossistêmicas

são identificadas em duas dimensões: interna, nas áreas utilizadas na produção

de cada entidade, e externa, constituída pelos ecossistemas naturais existentes

na bacia hidrográfica investigada e apropriado pela entidade para o

desenvolvimento de suas atividade econômicas. O estudo, de forma geral,

demonstrou o processo de internalização contábil das receitas de serviços

ecossistêmicos utilizando os métodos valoração econômicas, dentre outros, o

custo de oportunidade. O modelo foi aplicado em entidades agropecuárias

constituídas como Sociedades Anônimas a partir de suas demonstrações

contábeis publicadas no ano de 2015 e 2016. Os resultados mostraram a

contabilização dos restos culturais, dos dejetos de origens biológica e dos

serviços ecossistêmicos prestados na dimensão da bacia hidrográfica como

receitas ecossistêmica de serviços e de produção. A análise permitiu demonstrar

que as receitas ecossistêmicas constituíram uma parcela significativa na

formação do lucro bruto de cada entidade investigada.

Palavras-Chave: Ativo biológico, Receita ecossistêmica, Custo de oportunidade.

73

Accounting for ecosystems services in agriculture activities: validation of

the accounting model in the São Lourenço river basin.

Abstract

This study demonstrates the application of the accounting model of recognition

of the ecosystem services in the São Lourenço river basin located in the State of

Mato Grosso by the agriculture and livestock entities. The applied model has the

objective of internalizing the revenues from ecosystem services and to establish

the extent of the ecosystems' contribution to the creation of wealth in the

agriculture entities. In the proposed accounting model, the biological

transformations of plantations due to birth, growth, degeneration and procreation

in the biological assets of the entity, as well as, the use of ecosystem services by

the agricultural and livestock entities constitute ecosystem revenues. The

ecosystem revenues are identified in two dimensions: internal, in areas used in

each entities' production and external: consisting of services provided by the

natural ecosystem of the river basin and appropriated by the entity for the

development of its economic activities. The study demonstrated the

internalization accounting process for the ecosystem services revenue using the

economic valuation methods, among others, the opportunity cost. The model was

applied in agricultural entities constituted as public limited company based on

their financial statements published in the years 2015 and 2016. The results show

the accounting of the cultural remains, the biological waste and the ecosystem

services provided by the hydrographic basin as ecosystem revenues of services

and production. The analysis enabled to demonstrate that the ecosystem

revenues were a significant share of the gross profit formation of each entity.

Keywords: Biological assets, Ecosystem revenue, Opportunity cost.

Introdução

Embora existam na literatura várias propostas para definir os serviços

ecossistêmicos, não há ainda uma definição comumente aceita, tampouco um

único critério para sua classificação. A definição mais difundida na literatura

consultada foi a proposta pelo MEA (2005), que o define como os benefícios que

o homem obtém dos ecossistemas. Nesse sentido, entende-se que os seres

humanos desfrutam dos ecossistemas, prioritariamente para satisfação de suas

74

necessidades biológicas, bem como, para o desenvolvimento de atividades

científicas, recreativas e produtivas como: agropecuária, produção de energia,

extrativismo mineral e vegetal, entre outras.

Como demonstrado no estudo TEEB (2010) os benefícios providos pelos

ecossistemas para as entidades agropecuárias assumem a forma de bens ou de

serviços que, direta ou indiretamente, contribuem para o desempenho das

atividades realizadas. A internalização desses bens e serviços pela contabilidade

é particularmente importante para as entidades agropecuárias que dependem

dos ecossistemas. Isso evidencia o nível de contribuição dos ecossistemas para

a formação dos resultados das atividades desenvolvidas, consequentemente,

mostra também o processo de formação de riqueza por parte das entidades.

As contribuições ofertadas pelos ecossistemas de forma gratuita

constituem uma fonte de recursos para as entidades agropecuárias que

usufruíram desses bens e serviços e representam uma economia financeira, já

que a entidade não paga pelos serviços recebidos. Entretanto, teoricamente

seria obrigada a pagar na hipótese de os serviços não serem ofertados e deseja-

se realizar as mesmas atividades, embora muitos serviços ecossistêmicos sejam

insubstituíveis e, consequentemente, sem suas provisões muitas das atividades

desenvolvidas na agropecuária não poderiam ser realizadas.

Os custos das atividades executadas em uma entidade agropecuária,

corresponde à soma dos sacrifícios consumidos da mão de obra, dos custos de

estrutura, das matérias primas e dos bens e serviços ecossistêmicos,

independentemente de serem desembolsáveis ou não. Quando a entidade não

contabiliza um desses custos de produção, acaba por não traduzir o verdadeiro

resultado das suas atividades.

Para EUGÉNIO (2004), se esse sacrifício diz respeito aos recursos

naturais e à qualidade de vida, se está perante custos ecossistêmicos. O grande

desafio para a contabilidade consiste em apurar o resultado das atividades

agropecuárias o mais correto possível, e tornar-se necessário que os custos

totais incluam os custos ecossistêmicos.

O presente trabalho objetivou, demonstrar a operacionalização do modelo

contábil de internalização dos serviços providos pelos ecossistemas, de modo a

contribuir para apuração do resultado das entidades agropecuárias. Os objetivos

específicos identificou-se na dimensão interna de cada entidade investigada e

75

em sua dimensão externa os serviços ecossistêmicos dos quais dependeram as

entidades agropecuária investigadas para concretização de seus objetivos.

Demonstrou-se a forma de contabilizar as receitas de serviços ecossistêmicos

e, analisou-se o resultado da aplicação do modelo contábil de evidenciação das

receitas de serviços ecossistêmicas em entidades que exploram as atividades

agropecuárias.

Este trabalho está dividido em três seções. A primeira revisa brevemente

as principais interações entre ecossistemas e as atividades produtivas, na qual

especial ênfase é dada ao papel crucial dos serviços ecossistêmicos para a

concretização dos objetivos das atividades agropecuárias. A segunda seção

argumenta sobre os aspectos relacionados à operacionalização do modelo

contábil de reconhecimento dos serviços ecossistêmicos. Adicionalmente,

apresentam-se os dados das demonstrações contábeis das entidades

agropecuárias localizadas na área de estudo. Finalmente, demonstra-se a

operacionalização do modelo contábil nas entidades investigadas por meio dos

dados publicados em suas demonstrações contábeis referentes à safra 2014/15

e 2015/16.

Material e Método

O estudo foi desenvolvido na bacia do Rio São Lourenço – MT,

estendendo-se por uma área de aproximadamente 26.623 km2, que alberga,

segundo o IBGE (2013), aproximadamente 367.369 habitantes, que impactam

os ecossistemas existentes na bacia. A região serve como fonte de produção

agropecuária, geração de energia elétrica, atividades turísticas e recebe dejetos

de uma série de atividades, entre elas a agropecuária. Essa bacia pertence ao

bioma do cerrado, reconhecido por sua biodiversidade.

Segundo a ANA (2003), o rio São Lourenço compõe a bacia do Alto

Paraguai, de grande importância nacional e internacional, por abrigar o Pantanal,

uma das maiores extensões úmidas do planeta. Dentre as atividades

econômicas desenvolvidas ao longo da área de drenagem do rio São Lourenço,

a agricultura e a pecuária têm papel de destaque, pois representam a base

econômica da região, principalmente no cultivo da soja, do algodão, do milho e

na criação de bovinos.

Para alcançar os objetivos da pesquisa, buscou-se o número específico

76

de entidades agropecuárias constituídas juridicamente como sociedade anônima

que exercem suas atividades na bacia hidrográfica do Rio São Lourenço – MT e

que se dedicam às atividades agropecuárias. Foi identificado um total de 10

entidades. Desse universo de entidades, cinco foram descartadas da amostra:

uma entidade por encontrar-se em recuperação judicial, três entidades por não

terem publicado suas demonstrações contábeis no ano de 2015 e 2016, uma

entidade devido ao fato de suas demonstrações contábeis terem sido divulgadas

apenas de forma consolidada por sua controladora o que tornou impossível

identificar os resultados auferidos na área de estudo.

Os dados utilizados neste estudo foram as demonstrações contábeis das

entidades investigadas coletadas no endereço eletrônico do Diário Oficial de

Mato Grosso nº 26559/2015, 26513/2015, 26581/2015, 26611/2015,

26785/2016, 26846/2016, 26853/2016, do Diário Oficial de Mato Grosso do Sul

nº 8970/2015, 9215/2016

As demonstrações contábeis e as notas explicativas dessas entidades

foram interpretadas com o objetivo de: analisar as práticas contábeis adotadas

pela entidade, identificar os custos dos produtos agropecuários vendidos, o tipo

e montante das receitas reconhecidas no período, os estoques iniciais e finais.

Após a interpretação e análise dos dados, apurou-se o valor do custo de

produtos vendidos de cada entidade investigada no período contábil. Para

cálculo do custo de produção, foi utilizada a seguinte equação:

CPV = EI + C – EF

onde: CPV - custos dos produtos vendidos;

EI - estoque inicial;

C – custo de produção, e

EF - estoque final.

Os estoques inicial e final correspondem aos valores dos ativos biológicos

evidenciados no balanço patrimonial de cada entidade investigada. Os custos

dos produtos vendidos foram evidenciados na demonstração do resultado do

exercício publicado por cada entidade investigada. O montante do custo de

produção representa a soma dos custos absorvidos no período contábil para o

desenvolvimento dos ativos biológicos das entidades investigadas e

compreendem: a mão de obra, a matéria prima, os custos indiretos de produção.

77

Neste estudo, propôs-se adicionar aos custos de produção o valor dos custos de

bens e serviços ecossistêmicos absorvidos pelas atividades desenvolvidas e,

concomitantemente, reconhecer as receitas ecossistêmicas.

As informações divulgadas nas demonstrações contábeis de cada

entidade investigadas foram complementadas com os dados da situação da

bacia hidrográfica do São Lourenço, em função das questões ambientais, sociais

e econômicas. Para tal, foram utilizadas as informações disponíveis em fontes

oficiais, censos e trabalhos científicos. Foram utilizados dados secundários

referentes à produtividade média, custo de produção e margem de contribuição

para a área de abrangência do estudo, divulgados pela Secretaria de Estado de

Fazenda de Mato Grosso, pelo Instituto Mato-grossense de Economia

Agropecuária (IMEA) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para contabilizar a receita de serviços ecossistêmicos e a receita de

produção ecossistêmica, primeiramente, atribuiu-se um valor monetário aos

serviços ecossistêmicos absorvidos por cada entidade investigada, o valor

aplicado neste estudo foi o valor justo. Para aplicação do método de valor justo,

os bens e serviços ecossistêmicos foram classificados em duas categorias: bens

e serviços com preços cotados em mercado e bens e serviços sem preços

cotados em mercado. Esta classificação permitiu valorar os bens e serviços

ecossistêmicos em conformidade com CPC 46 (2012), de modo a respeitar a

seguinte hierarquia:

Nível 1: avaliação baseada em preços cotados em mercado de itens (ativos

e passivos) idênticos;

Nível 2: valor justo determinado a partir de observações de preço cotado de

itens similares em mercado ou de outras informações extraídas de mercados

relacionados;

Nível 3: avaliação gerada por estimativa baseados em informações próprias

das entidades e observações de mercado.

A identificação dos bens e serviços ecossistêmicos usufruídos pelas

entidades foi realizada em duas dimensões: interna e externa. Na dimensão

interna, área do imóvel rural utilizada na produção agropecuária de cada

entidade investigada. Nesta etapa analisou-se o processo produtivo

agropecuário desenvolvido, estimou-se a produção agropecuária total (grãos e

biomassa), bem como, os serviços ecossistêmicos necessários para a

78

concretização dessa produção.

Na dimensão externa, na área da bacia hidrográfica apoiou-se no estudo

de GENELETTI (2014), que propõe a identificação dos serviços ecossistêmicos

de forma reversa, ou seja, identificam-se os elementos chaves para

desenvolvimento do processo produtivo e/ou bem-estar da população local e

analisam-se quais seriam aqueles relacionados aos serviços ecossistêmicos.

Esses, por sua vez, devem ser detectados e, de uma forma reversa, os

ecossistemas que os proveu. Nesse sentido, na dimensão externa, o conjunto

de bens e serviços ecossistêmicos foi identificado a partir do usufruto dos

serviços ecossistêmicos absorvidos pelo processo produtivo desenvolvido pelas

entidades agropecuárias, e provido pelos ecossistemas existentes na bacia

hidrográfica do rio São Lourenço.

Inicialmente, os diversos ecossistemas da bacia hidrográfica foram

identificados utilizando-se mapas indicando a classificação vegetal da região, e

uso e ocupação do solo. Em seguida, foi calculada a área referente a duas

classes: uso antrópico e natural. Posteriormente, foi calculada a margem de

contribuição das atividades agropecuárias desenvolvidas na área de uso

antrópico, para identificar o custo de oportunidade das áreas naturais que

confere os bens e serviços ecossistêmicos apropriados pelas entidades

agropecuárias para concretização de seus objetivos.

Na projeção do custo de oportunidade, considerou-se a expansão da

configuração produtiva atual da agropecuária desenvolvida nas áreas antrópicas

sobre as áreas naturais da bacia do São Lourenço. O montante possível de ser

auferido com essa expansão das atividades agropecuárias em tais áreas foi

reconhecido como sendo o valor dos serviços providos pelos respectivos

ecossistemas contidos nessas áreas. O custo de oportunidade total de expansão

das atividades agropecuárias sobre as áreas naturais da bacia hidrográfica

analisada foi alocado a cada entidade, de modo a considerar a quantidade das

áreas ocupadas com a produção.

Resultados e Discussão

Serviços Ecossistêmicos Produzidos na Bacia Hidrográfica do Rio São

Lourenço

Os ecossistemas contidos em uma bacia hidrográfica são responsáveis

79

por prover uma série de bens e serviços ecossistêmicos. PLOSTEL e

THOMPSON JR. (2005) afirmam que uma bacia hidrográfica, em boas

condições, é capaz de prover os seguintes bens e serviços: fornecimento de

água; filtração/purificação de água; regulação das vazões; controle de

enchentes; controle da erosão e sedimentação; pesca; madeiras e outros

produtos florestais; recreação/turismo; habitat para a preservação da

biodiversidade; beleza cênica; estabilização do clima; e valores culturais.

A vegetação natural predominante na área de estudo é o Cerrado. KLINK

e MACHADO (2005) afirmam que o Cerrado possui a mais rica flora dentre as

savanas do mundo, com alto nível de endemismo. A riqueza de espécies de

aves, peixes, répteis, anfíbios e insetos é igualmente grande, embora a riqueza

de mamíferos seja relativamente pequena.

O clima na bacia do rio São Lourenço-MT é quente e úmido, com duas

estações características: uma seca e outra chuvosa. A época mais seca do ano

é entre maio e setembro e, nos meses de julho e agosto, são registrados os

menores índices pluviométricos. Já entre dezembro e fevereiro ocorrem as

maiores precipitações. A biodiversidade faunística e florística, as condições

climáticas, o relevo dentre outras características da bacia do São Lourenço

contribuem para o desenvolvimento das atividades agropecuárias, o que torna

possíveis dois cultivos agrícolas em uma única área na mesma safra e,

adicionalmente, possibilita a criação de bovinos em áreas agrícolas na

entressafra.

Serviços Ecossistêmicos Absorvidos na Atividade Agropecuária

Os serviços ecossistêmicos, segundo MEA (2005), são os benefícios que

os seres humanos obtêm dos ecossistemas. Neste estudo, analisam-se os

serviços absorvidos nas atividades agropecuárias, definidos como os benefícios

que prestam os ecossistemas para desenvolvimento das atividades

agropecuárias.

Algumas atividades agropecuárias com forte presença na bacia

hidrográfica rio São Lourenço, como o cultivo de soja, milho, algodão, cana de

açúcar e a criação de suínos e bovinos, possuem grande importância econômica.

Constituem uma atividade potencialmente favorecida pela provisão dos serviços

ecossistêmicos, mas, ao mesmo tempo, consideradas críticas quanto aos seus

80

impactos sobre os ecossistemas e a provisões de seus serviços.

A atividade agropecuária depende de certos fatores dificilmente

controlados pelos homens. ANDRADE (2000) enumera as seguintes

características peculiares da agropecuária: dependência das condições

biológicas do processo produtivo, dependência do clima, terra como fator de

produção, entre outros e, na atividade agropecuária, consequentemente a

dependência dos ecossistemas por parte das atividades agropecuárias

assumem maiores proporções em comparação com outras atividades

econômicas.

A atividade agropecuária é um sistema de produção que compreende o

cultivo do solo e a criação de animais, realizada pelos seres humanos para

produção de produtos agropecuários destinados à subsistência ou ao mercado.

A vulnerabilidade relacionada ao desenvolvimento biológico da produção, bem

como, da dependência de fatores climáticos e dos demais serviços

ecossistêmicos, concomitantemente, representa riscos e oportunidades para o

desenvolvimento das atividades agropecuárias. Em outras palavras, o

ecossistema produz voluntária e gratuitamente diversos bens e provém uma

série de serviços que beneficiam o desenvolvimento biológico da produção

agropecuária.

Entende-se que os seres vivos necessitam de habitats adequados, que

os permitam nascer, crescer e reproduzir, porém, um habitat adequado para um

ser vivo pode não ser para outro. Os elementos que influenciam a

adequabilidade de habitat, dentre outros, são: o solo, a água, o ar e o relevo,

além das diversas interações entre estes elementos e os próprios seres vivos.

O solo apto, o clima adequado, água suficiente e o relevo favorável à

mecanização são componentes dos ecossistemas que representam vantagens

comparativas para o êxito das atividades agropecuárias. Tais componentes,

concomitantemente com a fauna e a flora, são responsáveis pela provisão dos

bens e serviços ecossistêmicos usufruídos pelos produtores rurais no

desenvolvimento de suas atividades agropecuárias.

Aplicação do Modelo Contábil de Evidenciação das Receitas

Ecossistêmicas

O modelo contábil proposto foi aplicado em cinco entidades agropecuárias

81

que exercem suas atividades na bacia do rio São Lourenço MT. As entidades

que foram objetos deste estudo não reconheceram, em suas demonstrações

contábeis publicadas no ano de 2015 e 2016, os serviços ecossistêmicos

providos e absorvidos no desenvolvimento de suas atividades produtivas. As

receitas reconhecidas nas demonstrações contábeis publicadas correspondem,

principalmente, à venda de produtos agropecuários, prestação de serviços,

recebimentos de contribuições. A seguir evidencia-se o montante das receitas

divulgadas de cada entidade investigada (tabela 1).

Tabela 1. Valor da receita e do lucro bruto de cada entidade agropecuária

investigada na bacia do rio São Lourenço (MT)

Número e data do Diário Oficial Receita Lucro Bruto

26514 de 13/04/2015 22.327.000,00 4.737.000,00

26559 de 22/06/2015 1.963.959,90 971.209,00

26581 de 22/07/2015 9.082.181,00 2.983.059,00

26611 de 02/09/2015 33.580.000,00 23.879.000,00

8970 de 27/07/2015 137.990.000,00 32.215.000,00

26785 de 25/05/2016 3.840.472,84 2.729.867,61

26846 de 23/08/2016 18.324.952,00 2.963.288,00

26853 de 01/09/2016 14.360.000,00 1.930.000,00

9215 de 28/07/2016 137.184.000,00 39.708.000,00

Os valores da tabela 1 correspondem à comercialização de produtos

agropecuários como soja, milho, cana de açúcar, suínos e bovinos. Conforme

afirmado anteriormente, em nenhuma das demonstrações contábeis das

entidades investigadas foram registradas receitas de serviços ecossistêmicos,

embora sejam reconhecidos como receita de produção as variações nos ativos

biológicos por desenvolvimento vegetativo em conformidade com CPC 29

(2009).

Na etapa de análise das receitas de cada entidade agropecuária, uma

delas foi excluída da amostra tendo em vista que suas receitas foram

constituídas, conforme suas notas explicativas publicadas no Diário Oficial de

MT 26611, de: Receitas de comercialização de sementes licenciadas (as

82

variedades TMG – RR), frutos de parcerias técnicas; royalties; e verbas de

incentivos à pesquisa.

Embora a entidade descartada da amostra usufrua dos serviços

ecossistêmicos, principalmente dos serviços culturais absorvidos nas atividades

de pesquisa genética e desenvolvimento de variedades de soja e algodão, os

dados disponíveis nas demonstrações contábeis publicadas são insuficientes

para realização de seu reconhecimento. Para manter o anonimato das entidades

investigadas, esta são identificadas apenas pelos produtos agropecuários

produzidos, ou seja, soja e milho, cana de açúcar, criação de suínos e de

bovinos. Após a identificação das receitas das entidades foram identificados os

valores dos custos dos produtos vendidos, os estoques iniciais, e os estoques

finais que subsidiaram a elaboração da (tabela 2).

Tabela 2. Valor do estoque e do custo dos produtos vendidos de cada entidade

agropecuária investigada da bacia do rio São Lourenço referente ao ano de 2015

e 2016

Produto

biológico

Custo dos

Produtos

Vendido

Estoque

Inicial

Custo de

Produção

Estoque

Final

Cultivo de cana 105.775.000 99.916.000 107.497.000 101.638.000

Cultivo de soja 987.219,58 572.219,77 956.857,40 541.857,59

Suinocultura 5.633.584 1.655.050 8.612.000 5.233.486

Bovinocultura 17.590.000 4.662.000 16.865.000 3.937.000

Cultivo de cana 97.476.000 101.638.000 120.058.000 124.220.000

Cultivo de soja 1.076.395,08 541.857,59 1.277.650,46 743.112,97

Suinocultura 14.062.525 5.233.486 15.710.544 6.881.505

Bovinocultura 12.430.000 3.937.000 14.069.000 5.576.000

Na tabela 2, identificam-se os produtos agropecuários produzidos o valor

dos estoques, os custos dos produtos vendidos e os custos de produção

evidenciado nas demonstrações contábeis publicados por cada entidade. Para

identificar as áreas produtivas de cada entidade investigada foram consultados

informações disponíveis no cadastro público da Secretaria de Estado de

83

Fazenda de Mato Grosso, nos endereços eletrônico das próprias entidades

investigadas, ou com base no montante de receitas divulgadas nas

demonstrações contábeis foram realizadas estimativas da área necessária para

a concretização do volume produzido e vendido. O resultado apurado do custo

de produção dividido pela área produtiva de cada entidade ou pelo número de

unidades produzidas, obtém-se os custos unitários de produção, conforme

apresentado a seguir na (tabela 3).

Tabela 3. Apuração dos custos unitários de produção dos produtos

agropecuários produzidos por cada entidade investigada referente ao ano de

2015 e 2016

Produto

biológico

Custos de

produção

Área/Volume

produzido

Custos unitários de

produção

Cultivo de Cana 107.497.000,00 23.000 ha 4.673,78

Cultivo de Soja 956.857,40 550 ha 1.739,74

Suinocultura 8.612.000,00 24.095 un 357,41

Bovinocultura 16.865.000,00 8.569 un 1.968,14

Cultivo de Cana 120.058.000,00 23.000 ha 5.219,91

Cultivo de Soja 1.277.650,46 550 ha 2.323,00

Suinocultura 15.710.544,00 49.127 un 319,79

Bovinocultura 14.069.000,00 7.500 un 1.875,86

Nas entidades investigadas, concomitantemente com diversos produtos

agrícolas e pecuários, são produzidos uma série de bens e são providos diversos

serviços ecossistêmicos. Nesse sentido, a atividade agropecuária desempenha

um papel dúplice, isto é, pelo usufruto dos serviços ecossistêmicos no processo

produtivos é consumidora e, por outro lado, quando se incumbe de produzir e

prover bens e serviços ecossistêmicos, é provedora (produtora).

Entretanto, contabilmente na produção agrícola, via de regra, apenas os

grãos, frutos e fibras são considerados como receita de produção, embora,

nesse processo produtivo, ocorra a produção de folhas, galhos, troncos e raízes.

A produção conjunta de produtos agropecuários e biomassa têm um impacto

significativo sobre o desempenho das atividades agrícolas. Assim, a apuração

84

dos volumes produzidos de grãos e de biomassa são imprescindíveis para

procedimentos de controle e contabilização.

As entidades investigadas, embora adotem práticas agropecuárias que

valorizem a produção de biomassa (plantio direto, fértil irrigação), não empregam

procedimentos para medir sua produção e, consequentemente, sua valoração.

Neste estudo, para preencher a inexistência de dados referentes aos volumes e

composição dos restos culturais e dos dejetos da atividade de pecuária

(bovinocultura e suinocultura) da produção de cada propriedade, utilizaram-se

os dados disponíveis na literatura científica.

Em razão disso, os valores atribuídos às receitas ecossistêmicas foram

calculada utilizando os dados disponíveis nas demonstrações contábeis de cada

entidade e complementada com resultados oriundos de alguns estudos

localizados e não devem ser extrapolados para fins gerenciais.

No cultivo de soja, estimou-se o volume produzido de biomassa a partir

dos estudos realizados por ROSSI et al. (2013), que avaliaram as taxas de

decomposição e a dinâmica da liberação de N, P e K de resíduos culturais na

entressafra da soja cultivada sob plantio direto. Eles concluíram que a produção

média de biomassa seca de braquiária + soja foi de 6,1 toneladas por hectare.

Tendo em vista que no cultivo de soja na entidade agropecuária situada

na bacia hidrográfica do São Lourenço/MT na safra 2014/15 e 2015/16, as

práticas agropecuárias adotadas apresentaram algumas semelhanças com as

adotadas no estudo de ROSSI et al. (2013). Considerou-se o volume de

produção de biomassa apurado pelos autores como o volume aproximado ao

produzido na área de estudo, embora recomenda-se dispor dos volumes reais

de produção de grãos e biomassa.

A biomassa remanescente do cultivo de soja após a colheita não é

comercializada pela entidade investigada, portanto, entende-se o fato de seus

preços não serem observáveis no mercado. Para valorar a contribuição da

biomassa remanescente do cultivo agrícola através da reciclagem de nutriente,

apoiou-se nos dados de LACERDA (2014), que aferiu os níveis de NPK no cultivo

de soja – milho e observou uma redução de 13% na aplicação formulada NPK

10-32-10 com relação ás quantidades normalmente aplicadas nesses cultivos.

Deve-se considerar que parte da necessidade dos nutrientes necessários

para o cultivo (13%) é suprida pela reciclagem da biomassa. É preciso considerar

85

ainda dados divulgados pelo SENAR-MT, IMEA e EMBRAPA (2015), referentes

aos valores de custos unitários por hectare em Mato Grosso com fertilizantes no

cultivo de soja na safra 2014/15, no valor de R$ 690,84 com macronutrientes e

os custos de fertilizantes da cultura de milho de R$ 534,16 com macronutrientes,

o que totaliza um custo com fertilizantes de R$ 1.225,00 e, na safra 2015/16,

respectivamente, os custos foram: soja 807,04 e milho 613,86, de modo a

totalizar R$ 1.520,80.

Para determinar o valor da receita da produção da biomassa, assumiu a

hipótese de que os custos de fertilizantes apurados pelo IMEA (2015), de R$

1.225,00 e IMEA (2016) de R$ 1.520,80 por hectare, correspondentes apenas a

87% das necessidades de fertilização das culturas. O restante das necessidades

nutricionais do cultivo é provido pelos restos culturais (biomassa), no valor de R$

183,04 para o ano de 2015 e, de R$ 227,24 para o ano de 2016, estes valores

correspondem a 13% das necessidades nutricionais do cultivo.

Os valores de R$ 183,04 e R$ 227,24 representam o valor estimado por

hectare da receita de produção de biomassa para o sistema de cultivo soja/milho,

multiplicando pela quantidade de hectares cultivados. Considerando a área

produtiva da entidade de 550 hectares, encontra-se o valor total de receita

ecossistêmica de produção: R$ 100.672,00 na safra de 2014/15 e R$ 124.982,00

na safra de 2015/16.

No cultivo de cana de açúcar, a produção de biomassa foi estimada

considerando os dados de estudo realizados por PAULA et al. (2012), que

objetivou organizar informações da produção de cana de açúcar. Os autores

realizaram pesquisa sobre o cultivo de cana de açúcar e ressaltaram a

importância da reciclagem de nutrientes da palhada da cana-de-açúcar.

Além da reciclagem de nutriente, os autores apontam diversas vantagens:

o sequestro de carbono, a conservação do solo, a manutenção da unidade, a

redução de plantas daninhas e de erosão, entre outros. Ainda, demonstraram o

volume de matéria seca e de carbono contido na biomassa de cana açúcar por

hectare segundo alguns estudos analisado, dados esses mostrados na (quadro

1).

86

Quadro 1. Matéria seca (MS) e de carbono (C) contido na biomassa de cana de

açúcar

Cana de açúcar Biomassa MS há <% de C na MS t C há

Colmos 21,48 42,86 9,21

Palhada 10,47 42,86 4,49

Raízes 1,98 42,86 0,85

Total 33,88 t MS ha 42,86 14,55

Fonte: PAULA et al. (2012, p. 107).

O volume evidenciado de 33,88 tonelada por hectare de matéria seca é

bem próximo ao apurado por OLIVEIRA et al. (2014), que quantificaram a

produção de biomassa aérea e radicular do cultivo de cana em 32,42 toneladas

por hectare de matéria seca e de FRANCO (2008), que identificou o aporte da

palhada da parte aérea e da rebrota do sistema radicular em 28,9 toneladas por

hectare.

Quanto ao reconhecimento contábil das contribuições da produção de

biomassa dos cultivos agrícola, salienta-se que o sequestro de carbono na

biomassa somente poderá ser reconhecido como receita ecossistêmica quando

a entidade negociar os respectivos créditos. Embora o sequestro de carbono

seja um serviço ecossistêmico, ele não pode ser considerado um custo da

atividade agropecuária.

Na avaliação monetária da reciclagem dos nutrientes NPK, na biomassa

remanescentes após a colheita no cultivo de cana de açúcar, utilizaram-se os

resultados do estudo de LOMBARD et al. (2012). Os autores valoraram os

nutrientes presentes na biomassa da cana, transformam os nutrientes em

equivalente de fertilizante comercial e concluíram que a reciclagem de nutrientes

contidos na palhada da cana contribui com R$ 14,76 por tonelada/ano.

Os estudos analisados apontam que a produção e manutenção dos restos

culturais no solo podem contribuir para redução da erosão. Na valoração dos

serviços ecossistêmicos de controle de erosão, relacionados com produção e

manutenção da biomassa no cultivo de cana açúcar, consideraram-se os

resultados de estudo desenvolvido por ANDRADE et al. (2011). Eles avaliaram

as perdas de solo e consequentes os nutrientes em dois sistemas de produção:

cana queimada e cana crua. Concluíram que o custo de reposição de nutrientes,

87

em média, na cana queimada foi de R$ 33,92 por hectare/ano, e no de cana

crua, R$ 21,12 por hectare/ano.

Os autores argumentam que acúmulo da biomassa remanescente da

colheita mecanizada no sistema de cana crua contribui no controle da erosão.

Como se observa a diferença dos custos de reposição de nutrientes entre os

dois sistemas de produção de cana de açúcar no valor de R$ 12,80 corresponde

à perda evitada pelo acúmulo da biomassa no solo.

No cálculo da receita de serviços ecossistêmica nas safras 2014/15 e

2015/16, a partir da utilização dos dados apurados por LOMBARD et al. (2012)

e ANDRADE et al. (2011), que demonstraram um benefício de R$ 14,76 de

reciclagem de nutrientes e R$ 12,80 de controle de erosão por hectare/ano

proporcionado pela biomassa acumulada no solo. Para os 23.000 hectares

cultivados com cana de açúcar pela entidade investigada, tem-se estimativa de

receita de serviços ecossistêmicos de R$ 633.880,00 por ano.

A reciclagem de nutrientes na atividade de bovinocultura, considerou-se

que os dejetos de bovinos criados a pasto apresentam em seu conteúdo

quantidades consideráveis de nutrientes. A caracterização e a estimativa de

produção dos dejetos de bovinos apoiou-se nos dados apurados por SANTOS e

NOGUEIRA (2012). Eles estimaram, por meio de pesquisas bibliográficas, a

média de peso do rebanho bovino brasileiro a ser utilizado como parâmetro para

os cálculos da produtividade diária de dejetos, assim, o peso médio de bovino

foi estimado em 300 Kg e a produção diária de esterco em 21 kg.

A disponibilidade do nutriente NPK presente nos dejetos de bovino

apoiou-se nos dados de estudo realizado por SANTOS (2012). Para a autora, a

composição química dos dejetos de bovino é variável, sendo influenciada por

fatores como a espécie animal, a raça, a idade, a alimentação, o tratamento dado

ao dejetos, etc.

O nível de NPK de uma mistura ou formula comercial de fertilizante é

expresso em percentuais de nitrogênio, fosforo e potássio respectivamente. A

quantidade de nutrientes presentes nos dejetos de bovino, segundo alguns

autores organizados por SANTOS (2012), é demonstrada no (quadro 2).

88

Quadro 2. Quantidade de nutrientes em % presente nos dejetos de bovinos

Autores Nitrogênio N Fósforo P Potássio K

NOGUEIRA (1983) 0,34 0,13 0,4

KIEHL (1985) 1.67 0,86 1,37

AMORIM (2002) 2,05 1,44 1,49

PRESTES (2007) 0,3 0,17 0,1

Fonte: SANTOS (2012, p 42).

A disponibilidade média de N, P, K estimada por SANTOS (2012, p. 47)

em “N 0,11, P 0,04 e K 0,09 Kg por animal/dia” respectivamente, foi utilizada

para valoração monetária da reciclagem de nutriente dos dejetos de bovinos na

entidade investiga. Inicialmente converteu-se a quantidade de nutrientes para

uma fórmula comercial de NPK.

Segundo RIBEIRO et al. (1999) para encontrar as relações dos nutrientes

0,11Kg de nitrogênio; 0,04Kg fosforo e 0,09Kg potássio, basta dividir esses

quilogramas pelo menor deles (0,04), tem-se uma relação de NPK. 0,11/0,04 =

2,75; 0,04/0,04 = 1; 0,09/0,04 = 2,25.

O resultado apurado 2,75 – 1,0 – 2,25 multiplicado por x, considera-se x

os números naturais {1, 2, 3, 4, ..., n}, convertem-se os nutrientes para diversas

fórmulas comerciais de NPK compatíveis. Para x = 8, obtém-se a seguinte

fórmula: Nitrogênio 22% - Fosforo 8%-Potássio 18%, entretanto, a fórmula

comercial de fertilizantes equivalente é expressa apenas por números inteiros,

ou seja, 23-8-13.

Para atingir as respectivas quantidades de nutrientes, são necessários 0,5

Kg da fórmula de NPK 23-8-18, ou seja; 23% de 0,5Kg equivalem a 0,115Kg de

nitrogênio, 8% de 0,5 equivalem a 0,04Kg fosforo e 13% de 0,5 equivalem a

0,065kg de potássio.

O valor da receita ecossistêmica proveniente da reciclagem dos dejetos

de bovino foi calculado considerando a disponibilidade média de (N, P, K)

presentes nos dejetos, o número de animais da entidade estudada e os preços

dos fertilizantes NPK, com a formulação 23-8-13 na data do balanço. O volume

equivalente de NPK diários foram convertidos para volume anual, multiplicando-

o por 365 dias e, em seguida, pelo número de animais da entidade agropecuária

investigada.

89

O quantitativo do rebanho bovino da entidade agropecuária investigada

foi estimada para o ano de 2014 em 8.569 e para o ano de 2015 em 7.500

animais de acordo com o estoque evidenciado nas demonstrações contábeis

publicada. A receita de serviço ecossistêmico anual com a reciclagem de

macronutrientes NPK, presentes no dejeto de bovino foi calculada de acordo com

a seguinte equação:

Rser = qen*qrb*pçm*n

onde:

Rser – Receita de serviço ecossistêmico de reciclagem

qen – quantidade equivalente de nutriente

qrb – quantidade do rebanho bovino da entidade

pç – preço de mercado da formula equivalente de NPK

n – número de dias no ano (365)

Os preços praticados no mercado na bacia do São Lourenço – MT foram

R$ 1.573,00 e R$ 1.615,00 por tonelada respectivamente. O valor da receita

ecossistêmica de reciclagem de nutrientes N-P-K contidos nos dejetos de

bovinos da entidade investigada calculada foram em 2014 de R$ 2.459.924,25,

e em 2015 de R$ 2.210.531,25.

A produção de dejetos e a reciclagem de nutriente na suinocultura foi

estimada de acordo proposta de PEDOMO et al. (1999), os autores propõem a

utilização dos seguintes volumes (quadro 3).

Quadro 3. Volume de dejetos de acordo com o tipo de granja e nível de diluição

Tipo de granja Nível de diluição

Baixa Media Alta

Ciclo completo (litro/matriz/dia) 100 150 200

Unidade produção leitões (litro/matriz/dia) 60 90 120

Unidade de terminação (litro/animal/dia) 7,5 11,2 15

Fonte: PEDOMO et al. (1999).

A estimativa diária de dejetos do rebanho de suínos da entidade

investigada foi calculada multiplicando-se o número de matrizes da entidade

investigada pelo volume de dejetos considerando que entidade explora o ciclo

90

completo com o nível de diluição de 150 (litros/matriz/dia) informado na tabela 3.

A reciclagem da nutriente presentes nos dejetos de suínos foi calculada

considerando a disponibilidade de (N, P, K). Para o cálculo utilizou-se a

composição físico – química dos dejetos sugerida por PEDOMO et al. (1999)

esta apresentada no (quadro 4).

Quadro 4. Concentração de elementos nos dejetos suínos de acordo com o nível

de diluição

Tipo de nutriente Nível de diluição

Baixa Média Alta

Matéria seca MS (%) 5,70 3,80 2,90

Nitrogênio N (kg/m3) 2,70 1,80 1,40

Fósforo P (kg/m3) 0,94 0.62 0,47

Potássio K (kg/m3) 1,51 1,00 0,75

Fonte: PEDOMO et al. (1999).

A entidade investigada desenvolve as seguintes fases cria, recria e

terminação de suínos. O volume diário médio de dejetos produzidos por este

sistema de criação de suínos foi estimado por PEDOMO et al. (1999) em 150

(litro/matriz/dia). A entidade investigada possui no plantel de suínos 856 matrizes

que produz, aproximadamente, 128,4m3 de dejetos ao dia. Os resíduos são

manejados na forma líquida e conduzidos para o sistema de manejo e

tratamento, que é constituído por um conjunto de quatro lagoas e,

posteriormente, transferido para as atividades agrícolas.

Consideraram-se as concentrações de nutrientes NPK, nos dejetos dos

suínos estimadas por PEDEMO et al. (1999) em N de 1,8 Kg/m3; P de 0,62 Kg/m3

e K de 1,0 Kg/m3. Inicialmente, conforme propõe RIBEIRO et al. (1999),

converte-se a quantidade de nutrientes para uma fórmula comercial de NPK,

dividindo N 1,8Kg, P 0,62Kg e K 1,0Kg, pelo menor deles (0,62), tem-se uma

relação de NPK, conforme observa-se: 1,8/0,62 = 2,9; 0,62/0,62 = 1,0; 1,0/0,62

= 1,61. Os valores 2,9 – 1,0 – 1,61 multiplicados por x, considera-se x os

números naturais {1, 2,3, ..., n}, tem-se diversas fórmulas comerciais de NPK.

Para x = 8, por exemplo, obtém-se a seguinte fórmula comercial: Nitrogênio 23%

91

- fósforo 8%- Potássio 12,88%, entretanto, a fórmula comercial equivalente é

expressas apenas por números inteiros, ou seja 23-8-13.

Para atingir as respectivas quantidades de nutrientes, são necessários

7,82 Kg da fórmula de NPK 23-8-13, ou seja; 23% de 7,82Kg equivalem a 1,80Kg

de nitrogênio, 8% de 7,82 equivalem a 0,62Kg de fosforo e 13% de 7,82

equivalem a 1,0kg de potássio.

O valor da receita ecossistêmica proveniente da reciclagem dos dejetos

de suíno foi calculado considerando a disponibilidade média de (N, P, K)

presentes nos dejetos, o número de animais da entidade investigada e os valores

dos fertilizantes NPK, com a formulação 23-8-13 na data do balanço. A produção

anual dos dejetos foi estimada em 46.866 m3. O volume equivalente de NPK

7,82 kg diários por metro cúbico. A receita de serviço ecossistêmico anual com

a reciclagem de macronutrientes NPK, presentes no dejeto de suínos foi

calculada de acordo com a seguinte equação:

Rser = qen*pad*pçm*n

onde:

Rser – Receita de serviço ecossistêmico de reciclagem

qen – quantidade equivalente de nutriente

pad – produção anual de dejetos

pç – preço de mercado da formula equivalente de NPK

Para o ano de 2014, tem-se: 7,82 kg/m3 e a produção anual de dejetos

46.866 m3. Os preços praticados no mercado na bacia do São Lourenço – MT

na data das demonstrações contábeis foram R$ 1.573,00 e R$ 1.615,00

respectivamente. O valor da receita ecossistêmica de reciclagem de nutrientes

foi em 2014 de R$ 576.488,77, e em 2015 de R$ 591.881,35.

A contabilização da receita ecossistêmica de produção auferidas por cada

entidade investigada, identificada de forma reversa a partir da área utilizada na

produção e dos respectivos produtos agropecuários desenvolvidos na safra

2014/2015 (soja/milho; cana de açúcar; bovino e suíno) foi demonstrado a seguir

(tabela 4).

92

Tabela 4. Registro da receita de produção ecossistêmica

Cultivo de soja/milho, bacia do rio São Lourenço em 2014

D - Custos das Atividades Agrícolas

Fertilizantes $ 100.672,00

C - Receitas de Produção Ecossistêmica

Produção Biomassa $ 100.672,00

Cultivo de cana de açúcar, bacia do rio São Lourenço em 2014

D - Custos das atividades agrícola

Tratos culturais – fertilizantes $ 633.880,00

C - Receitas de Produção Ecossistêmica

Produção Biomassa $ 633.880,00

Atividade de bovinocultura, bacia do rio São Lourenço em 2014

D - Custos das atividades pecuárias

Tratos culturais de pastagens $ 2.459.924,25

C - Receitas de Produção Ecossistêmica

Produção Biomassa $ 2.459.824,25

Atividade de suinocultura, bacia do rio São Lourenço em 2014

D - Transferências internas

Biofertilizantes $ 576.488,77

C - Receitas de Produção Ecossistêmica

Produção Biomassa $ 576.488,77

Na entidade investigada que explora a atividade de suinocultura, os

dejetos dos suínos são utilizados na fertilização de cultivos agrícolas do grupo

de acionistas da entidade investigada, o intercâmbio dos dejetos representa uma

fonte de receitas para a suinocultura. Em outras palavras, a transferência dos

nutrientes para atividade agrícola representa uma venda interna para a atividade

de suinocultura. Nas demais entidades, as contribuições ecossistêmicas são

usufruídas pelas próprias atividades desenvolvidas.

A receita de serviços ecossistêmicos na dimensão externa, neste estudo,

compreende as contribuições ecossistêmicas usufruídas no desenvolvimento

das atividades agropecuárias providas nas áreas naturais da bacia hidrográfica

do São Lourenço. Segundo ANDRADE et al. (2012, p. 56)

93

“Entre os serviços ecossistêmicos prestados pelas bacias

hidrográficas, especial atenção deve ser dada aos serviços

hidrológicos, constituídos pelos serviços de purificação e

filtragem da água, regulação dos fluxos estacionais, controle

da erosão e dos sedimentos e preservação de hábitats

naturais. Bacias hidrográficas com alta proporção de áreas

florestadas possuem uma maior capacidade de moderação

de escoamento superficial, bem como de purificação de

recursos hídricos”.

Em face das características biológicas da produção agropecuária, os

serviços ecossistêmicos necessários para o desenvolvimento dos cultivos e

criações são absorvidos continuamente. As interrupções nas provisões destes

comprometem a continuidade e ou produtividade e a substituição pode ser

altamente custosa ou mesmo impossível. Neste sentido, o conjunto de serviços

ecossistêmicos absorvido por cada entidade agropecuária, para a concretização

dos seus processos produtivos providos pelos ecossistemas contidos na bacia

do São Lourenço, foram valorados pelo custo de oportunidade.

Os benefícios possíveis de serem auferidos com a expansão das

atividades agropecuárias foram calculados utilizando as margens de

contribuição das atividades agropecuárias desenvolvidas nas safras 2014/15 e

2015/16 e a quantidade de área classificada como natural da bacia hidrográfica.

Nesse contexto, pressupôs-se que a integridade dos ecossistemas é um fator

positivo para potencializar sua capacidade de prover bens e serviços. Dentre as

áreas naturais, destacam-se as unidades de conservação existentes na bacia do

Rio São Lourenço:

Parque Ecológico João Basso, área 3.624 ha;

Parque Estadual Dom Osório Stoffel, área 6.422 ha;

Terra Indígena Tadarimana, área 9.785 ha;

Terra Indígena Tereza Cristina, área 34.149 ha;

Área remanescente de reserva legal.

Segundo PAESE et al. (2012), a área de reserva legal remanescente da

bacia hidrográfica do Rio São Lourenço é composta por apenas 253.815

94

hectares. Os autores constataram, ainda, um déficit para adequação das

propriedades às obrigações ambientais vigentes de 127.012 hectares em

apenas sete municípios que compõem a bacia hidrográfica do São Lourenço -

MT. As áreas de reserva legal adicionadas a outras unidades de conservação

existentes na bacia hidrográfica são responsáveis pela provisão de grande parte

dos serviços ecossistêmicos absorvidos pelas atividades agropecuárias.

A alteração do uso do solo reflete nos ecossistemas bem como na

provisão de bens e serviços ecossistêmicos. Neste estudo considerou-se que o

mapa de uso do solo permite uma visão integrada da ocupação da bacia

hidrográfica. O mapa de uso e cobertura do solo na bacia do São Lourenço –

MT utilizado foi elaborado CAMARGO (2011), a classificação foi simplificada

para apenas 2 classes de uso e cobertura do solo, conforme é mostrado no

(quadro 5).

Quadro 5. Classe de uso e cobertura do solo na bacia São Lourenço-MT, em

2011

Classes Área (ha) % da Bacia

Uso antrópico 1.719.758,0 64,80 %

Natural 933.972,2 35,20 %

Total 2.653.730,2 100,00 %

Fonte: CAMARGO (2011).

O cálculo das áreas referentes a cada classe de uso e cobertura foi

organizada pelo Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento –

DEGEO/ICHS/CUR/UFMT. O uso e cobertura do solo foi classificado em uso

antrópico e natural, área de cada classe e a respectiva distribuição percentual

na bacia.

Constatou-se a absorção dos serviços ecossistêmicos por parte de cada

entidade agropecuária de forma reversa, ou seja, os produtos agropecuários

desenvolvidos têm suas origens em processos biológicos, são dependentes de

condições climáticas favoráveis, de nutrientes em qualidade e quantidade

satisfatória, do controle de pragas e de doenças para o desenvolvimento

vegetativo dos cultivos e criações.

95

Na bacia hidrográfica do São Lourenço, situada sobre o bioma cerrado, o

sistema de produção adotado é determinado, principalmente, pelos

ecossistemas existentes na bacia hidrográfica, e a capacidade destes de prover

bens e serviços, concomitantemente com as condições climáticas, as

características físicas e química do solo e o relevo.

São desenvolvidas diversas atividades agropecuárias na bacia

investigada, tais como cultivos de soja, milho, algodão, cana de açúcar,

suinocultura e bovinocultura. Os principais produtos agropecuários

desenvolvidos e as respectivas áreas ocupadas na bacia hidrográfica

investigada, segundo o IBGE (2014) na safra 2014/15 classificadas por

municípios, são evidenciado no (quadro 6).

Quadro 6. Área utilizada na produção agropecuária, classificada por municípios

da bacia São Lourenço – MT em 2014

Município Área destinada ao cultivo em ha Bovinocultura

Soja Cana Milho Algodão Bovino Área há

Campo Verde 209.000 15 95.760 69.200 81.682 20.420

Alto Garça 97.169 15 30.485 7517 70.973 17.743

São J. Povo 30 100 76.144 19.036

Dom Aquino 36.900 0 14.310 18.600 95.713 23.928

Poxoréo 58.000 20 29.190 11.550 330.917 82.729

Jaciara 39.500 16.000 13.424 5.570 86.902 21.725

Juscimeira 33.300 150 12.500 5.500 173.320 43.330

Rondonópolis 85.072 50 30.000 6.015 328.397 82.099

Pedra Preta 53.910 100 22.556 16.113 322.508 80.627

Itiquira 177.325 5.000 92.355 12.932 292.461 73.115

Guiratinga 69.142 7 25.500 10.000 155.732 38.933

Total 859.318 21.387 366.180 162.997 503.685

% da área 44,90 1,12 19,14 8,52 26,32

Fonte: IBGE (2014).

O uso do solo para produção agropecuária gera benefícios econômicos,

o fato de renunciar a esses benefícios em detrimento da conservação dos

96

ecossistemas traduz-se em custo de oportunidade. Tal custo está relacionado

ao fato de as entidades agropecuárias renunciarem produzir em determinadas

áreas, em outras palavras, representa os valores que poderiam ser auferidos

com a conversão dessas áreas em atividades produtivas desenvolvidas por tais

entidades.

Os principais produtos agropecuários desenvolvidos e as respectivas

áreas ocupadas na bacia hidrográfica analisada, segundo o IBGE (2015) na safra

2015/16, são classificadas por municípios e demonstrados a seguir no (quadro

7).

Quadro 7. Área utilizada nas atividades agropecuárias, classificada por

municípios da bacia São Lourenço – MT em 2015

Município Área destinada ao cultivo em ha Bovinocultura

Soja Cana Milho Algodão Bovino Área (ha)

Campo verde 210.100 25 88.760 81.996 102.047 25.511

Alto Garça 97.015 15 34.677 4.524 75.192 18.798

São J. Povo 30 100 79.951 19.987

Dom Aquino 36.900 0 17.320 20.700 103.981 25.995

Poxoréo 58.000 20 28.090 28.784 350.695 87.673

Jaciara 39.500 14.817 14.710 7.822 92.049 23.012

Juscimeira 33.000 150 12.500 3.614 182.918 45.729

Rondonópolis 83.764 50 35.505 5.240 355.349 88.837

Pedra Preta 57.046 100 24.660 14.025 344.422 86.105

Itiquira 180.000 5.000 100.000 11.700 324.984 81.246

Guiratinga 63.008 4 31.587 5.810 167.821 41.955

Total 858.333 20.211 387.909 184.215 544.848

% da área 43,01 1.02 19,43 9,23 27,31

Fonte: IBGE.

A atividade de suinocultura é desenvolvida na área investigada,

entretanto, os suínos são confinados ocupando um percentual discreto da área

total da bacia hidrográfica. Por ocupar uma quantidade de área pequena na bacia

hidrográfica, não foi possível identificar o percentual da área da bacia do São

97

Lourenço-MT ocupado pela atividade. Acresce que os suínos são alojados em

instalações de alvenaria que permitem o controle da ventilação, da temperatura

e da umidade. A alimentação fornecida aos animais é balanceada por categoria

do plantel, os grãos (soja e milho) são ingredientes utilizados na produção de

ração de suínos.

Considerando que os serviços ecossistêmicos usufruídos pela entidade

investigada não foram computados na produção de soja e milho, os custos totais

de produtos agropecuários foram subestimados e, consequentemente, na

formação dos preços destes produtos não são considerados os custos totais de

produção. Consequentemente, a atividade de suinocultura quando consume

esses produtos agropecuários recebe uma subvenção no valor dos respectivos

serviços ecossistêmicos que não foram devidamente apurados e contabilizados.

As margens de contribuição dos principais produtos agropecuários

produzidos na bacia do São Lourenço, para fins de aplicação do presente estudo,

foram calculadas utilizando os valores apurados pelo SENAR, IMEA e

EMBRAPA (2015).

A quantificação da receita de serviços ecossistêmicos usufruída pelas

entidades agropecuárias foi calculada sobre as margens de contribuições,

possíveis de serem obtidas por meio de conversão das áreas naturais existentes

na bacia do São Lourenço para o desenvolvimento de atividades agropecuárias.

Embora esse procedimento não valore aos serviços ecossistêmicos, demonstra

o montante renunciado para manter a integridade dos ecossistemas e a oferta

destes serviços.

A partir das receitas e custos dos produtos agropecuários apurados pelo

SENAR, IMEA e EMBRAPA (2015), calculou-se a margem de contribuição dos

produtos soja, milho, cana de açúcar e bovino.

Salienta-se que a conversão das áreas naturais da bacia hidrográfica do

São Lourenço em áreas agropecuárias, consiste em alternativa inviável ou

proibitiva. Dentre outros motivos, pelo papel que desempenham na preservação

da biodiversidade, bem como pela sua contribuição para provisão de habitat,

para a regulação climática, para o controle da erosão, entre outros serviços. A

proposição do uso alternativo dessas áreas, no presente estudo, visa tão

somente mostrar a exequibilidade da valoração e contabilização das receitas de

serviços ecossistêmicos.

98

As margens de contribuição dos produtos agropecuários de cada entidade

são demonstradas no (quadro 8).

Quadro 8. Margem de contribuição unitária por tipo de cultura/criações das

entidades investigadas safra 2014/15 e 2015/16

Contas Soja Milho Bovino Cana

Safra 2014/2015

Preço de venda R$ 49,65 15,00 114,75@

Produtividade por ha 51,9 sc 128 sc 17@

Receita – R$/ha 2.484,95 1,895,50 1.343,80 3.846,78

Custos variáveis 1.671,74 1.258,11 991,72 3.254,93

Margem contribuição 813,21 637,39 352,08 591.85

Safra 2015/2016

Preço de venda R$/Sc 56,13 16,67

Produtividade por ha 53,13 sc 128 sc 17@

Receita – R$/ha 2.884,53 2.089,30 1.383,35 3.846,78

Custos variáveis 1.977,04 1.465,86 1.012,71 3.254,93

Margem contribuição 907,49 623,44 370,64 591.85

Fonte: SENAR, IMEA e EMBRAPA (2015).

A área natural da bacia do rio São Lourenço segundo CAMARGO (2011)

corresponde a 933.972,2 hectares. O valor do custo de oportunidade total, da

expansão das atividades agropecuária sobre as áreas naturais da bacia do rio

São Lourenço foi calculado de acordo com a seguinte equação:

Cot = mcu*%ac*qan

Onde:

Cot – custo de oportunidade total

mcu – margem de contribuição unitário por tipo de cultura/criação

%ac – percentual da área por tipo de cultura/criação

qan – quantidade de área natural da bacia do São Lourenço

99

O custo de oportunidade unitário foi calculado dividindo o custo de

oportunidade total pela área da bacia do São Lourenço ocupada por tipo de

produtos agropecuários produzidos, conforme mostrado no quadro 6 para safra

2014/15 e no quadro 7 para a safra 2015/16 (tabela 5).

Tabela 5. Custo de oportunidade na bacia do Rio São Lourenço safra 2014/15

Produtos MCU

R$/ha

% de

uso

Área

Natural

Custo oportunidade

Total Unitário

Soja 813,21 44,90 419.353 341.022.053,10 396,85

Milho 637,39 19,14 178.762 113.941.111,20 311,16

Cana de açúcar 591,85 1,12 1.046 619.075,10 28,94

Bovinocultura 352,08 26,32 245.821 86.548.657,68 143,36

Outros 8,52 88.990,2

O valor do custo de oportunidade unitário, corresponde ao valor monetário

por hectare dos benefícios disponibilizados pelos ecossistemas para o

desenvolvimento do processo produtivo das entidades agropecuárias.

A margem de contribuição da atividade agropecuária é sacrificada para

existência de áreas naturais e, os respectivos ecossistemas na bacia do São

Lourenço, correspondem ao valor possível de ser auferido pelas mudanças de

uso nas áreas preservadas, conforme mostra (tabela 6).

Tabela 6. Custo de oportunidade na bacia do Rio São Lourenço safra 2015/16

Produtos MCU % de

uso

Natural

933.972,2

Custo oportunidade

Total Unitário

Soja 907,49 43,10 402.542 365.302.839,60 425,59

Milho 623,44 19,43 181.470 113.135.656,80 291,65

Cana de açúcar 591,85 1,02 952 563.441.20 27,87

Bovinocultura 370,64 27,31 255.067 94.538.032,88 173,53

Outros 9,14 93.941,2

O valor das receitas de serviços ecossistêmicos é calculado multiplicando

custo de oportunidade unitário por hectare pela área de produção de cada

100

entidade. As receitas de serviços ecossistêmicos na dimensão externa (área

natural da bacia do São Lourenço das entidades investigadas são: soja/milho

safra 2014/15 área de 550 ha, e R$ 389.405,50; cana açúcar área de 23.000 ha,

e R$ 665.620,00, Bovino área de 2.000 ha, e R$ 286.720,00.

A atividade de suinocultura é desenvolvida pela entidade investigada é

realizada de forma intensiva, em uma pequena área composta de infraestrutura e

que gera grande concentração de matéria orgânica e nutrientes provenientes dos

dejetos suínos. Embora, no manejo e tratamento dos dejetos sejam necessários

serviços ecossistêmicos. Os dados disponíveis não permitiram sua mensuração.

Na safra 2014/15, o reconhecimento e a evidenciação das receitas

ecossistêmicas por parte das entidades agropecuárias investigadas demonstram

que, no cultivo de cana de açúcar, ocorreu menor impacto no resultado da

entidade. Por outro lado, na atividade bovinocultura após o registro das receitas

ecossistêmicas, ficou evidenciado que o resultado apurado foi insuficiente para

remunerar os serviços ecossistêmicos. Os impactos nos resultados das entidades

no ano de 2014, após a contabilização das receitas ecossistêmicas são

demonstrados a seguir (tabela 7).

Tabela 7. Reconhecimento dos custos e das receitas ecossistêmicas na

apuração do resultado das entidades investigas (safra 2014/15 em milhares de

reais)

CONTAS Soja Cana Bovino Suíno

Receita das atividades 1963 130.845 22.327 9.082

Deduções (5) (466)

Custos dos Produtos Vendidos (987) (95.630) (17.590) (5.633)

Custos ecossistêmicos (490) (1.299) (2.746) (576)

Lucro Antes Rec. Ser. Ecos. 481 30.916 1.991 2.407

Receita ecossistêmica 490 1.299 2.746 576

Lucro após Rec. Ser Ecos. 971 32.215 4.737 2.983

A contabilização das receitas ecossistêmicas demonstra o nível de

participação dessas receitas no resultado apurado por cada entidade. Evidencia-

se o valor monetário dos serviços ecossistêmicos apropriados pela entidade no

101

período contábil, em outras palavras, demonstra a dependência da provisão dos

serviços ecossistêmicos para concretização dos objetivos dessas entidades.

As receitas de serviços ecossistêmicos apuradas no modelo contábil

utilizou a margem de contribuição das atividades agropecuárias renunciadas por

não converter as áreas naturais da bacia do São Lourenço em áreas destinadas

ao desenvolvimento de atividade agrícola e atividade de pecuária. Dessa forma,

foi computado pelo método de custo de oportunidade o valor da renda sacrificada

em prol da preservação ecossistemas contidos nas áreas naturais da referida

bacia hidrográfica e, consequentemente, a capacidade destes de prover bens e

serviços.

Cabe destacar que tal modelo evidenciou a contribuição dos

ecossistemas para a formação do resultado das entidades agropecuárias. Todas

as entidades investigadas apresentavam lucro bruto antes do reconhecimento

contábil dos bens e serviços ecossistêmicos. Com a contabilização desses bens

e serviços, constatou-se que esse lucro bruto é constituído, em grande parte,

pela contribuição dos ecossistemas.

Os impactos nos resultados das entidades no ano de 2015, após a

contabilização das receitas ecossistêmicas são demonstrados a seguir (tabela 8).

Tabela 8. Reconhecimentos dos custos e das receitas ecossistêmicas na

apuração do resultado das entidades investigadas (safra 2015/16 em milhares

de reais)

Contas Soja Cana Bovino Suíno

Receita das Atividades 3.840 124.540 14.360 18.324

Deduções (34) (1.233)

Custos dos Produtos Vendidos (1.077) (84.832) (12.430) (14.128)

Custos ecossistêmicos (495) (1.274) (2.557) (591)

Lucro antes Rec. Ser, Ecos 2.234 38.434 (627) 2.372

Receita Ecossistêmica 495 1.274 2.557 591

Lucro após Rec. Ser. Ecos. 2.729 39.708 1.930 2.963

Na atividade agropecuária verificou-se a existência de diversas receitas

de produção ecossistêmicas: produtos agrícolas, biomassa, produtos pecuários,

102

dejetos, bem como, a provisão de diversas receitas de serviços ecossistêmicos,

como manutenção da biodiversidade, das paisagens rurais e provisão de hábitat

para espécies selvagens.

Verificou-se, ainda, que as contribuições dos ecossistemas para a

formação do lucro bruto das entidades investigadas nas safras 2014/15 e

2015/16 foram, respectivamente: cultivo de soja 54,4% e 18%; cultivo de cana

4,03% e 3,20%; bovinocultura 57,97% e 132,48%; suinocultura 19,8% e 19,9%.

Conclusão

As entidades investigadas neste estudo, além da produção de produtos

agropecuários, provêm uma série de bens e serviços. Alguns desses bens e

serviços são passíveis de serem absorvidos nos cultivos subsequentes da

entidade. Outros possuem um enorme potencial para promover o bem-estar

humano, como por exemplo, a regulação atmosférica por meio do sequestro de

carbono nos restos culturais.

Os resultados da contabilização das receitas de serviços ecossistêmicos

demonstram que as atividades agropecuárias estabelecem relações com os

ecossistemas que impactam os custos e o desempenho das entidades. O

reconhecimento e a comunicação do valor dos serviços ecossistêmicos

propiciam aos usuários das demonstrações contábeis condições de conhecer e

analisar a economia obtida com o usufruto dos ecossistemas e o real custo das

atividades executadas.

O modelo contábil aplicado se mostrou operacional, adequado aos

propósitos de sua utilização e de promissora aplicabilidade. Foi observado que

a internalização contábil dos serviços ecossistêmicos introduz novos dados na

apuração do resultado das entidades. Os novos dados enriquecem a análise das

demonstrações contábeis no sentido de capacitar os produtores rurais e os

demais usuários para a tomada de decisão.

Os limites principais desta pesquisa relacionam-se com a disponibilidade

de informações referentes às bacias hidrográficas. A maioria dos dados

disponíveis foram apurados por delimitações políticas e administrativas. Outro

limite diz respeito à inexistência de controle interno por parte das entidades do

consumo de bens e serviços providos pelos ecossistemas, dos volumes

produzidos de biomassa e dejetos das atividades desenvolvidas.

103

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7. Conclusão Geral

Este estudo propôs e aplicou um modelo contábil de reconhecimento das

receitas de serviços ecossistêmicos por parte das entidades agropecuárias na

bacia do São Lourenço – MT. Observou-se uma série de conceitos e

classificações dos serviços ecossistêmicos. As diferentes classificações são

adotadas conforme a finalidade e o contexto dos estudos e pesquisas. Para fins

de contabilização, propôs-se uma classificação que segregou os bens e os

serviços em duas categorias distintas.

O resultado obtido no estudo mostra a relevância dos serviços

ecossistêmicos para o desenvolvimento das atividades agropecuárias. Detectou-

se também uma duplicidade de funções exercidas pelas atividades

agropecuárias relacionadas ao seu processo produtivo. O resultado da pesquisa

apontou, ainda, que as entidades agropecuárias investigadas usufruem de uma

série de serviços ecossistêmicos providos nas dimensões internas e externas da

entidade.

A aplicação do modelo produziu informações relacionadas à economia

107

obtida pelas entidades agropecuárias com usufruto dos ecossistemas e

concomitantemente proporciona a apuração de custo das atividades executadas

no período mais aproximada da realidade. Demonstrou a aplicabilidade do

método de valor justo para precificação dos bens e serviços ecossistêmicos, bem

como, a contabilização e evidenciação das receitas ecossistêmicas.

Por fim, concluiu-se pela exequibilidade e pertinência da internalização,

pelo sistema contábil dos bens e serviços provenientes dos ecossistemas

auferidos pelas entidades agropecuárias.