eventos extremos de chuva e anÁlise da … · eventos extremos de chuva e anÁlise da ......

275
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO UFPE CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS CFCH DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS DCG PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - PPGEO EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA SUSCETIBILIDADE A MOVIMENTOS DE MASSA NO MUNICÍPIO DO IPOJUCA PE CRISTIANA COUTINHO DUARTE Orientadores: Prof. Dr. Ranyére Silva Nobrega e Prof. Dr. Roberto Quental Coutinho RECIFE 2015

Upload: lebao

Post on 27-Jan-2019

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – CFCH

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS – DCG

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - PPGEO

EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA

SUSCETIBILIDADE A MOVIMENTOS DE MASSA NO

MUNICÍPIO DO IPOJUCA – PE

CRISTIANA COUTINHO DUARTE

Orientadores: Prof. Dr. Ranyére Silva Nobrega e Prof. Dr. Roberto Quental Coutinho

RECIFE

2015

Page 2: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

CRISTIANA COUTINHO DUARTE

EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA

SUSCETIBILIDADE A MOVIMENTOS DE MASSA NO

MUNICÍPIO DO IPOJUCA-PE

Tese de doutorado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Geografia, do

Departamento de Ciências Geográficas da

Universidade Federal de Pernambuco, como

parte dos requisitos para obtenção do título de

Doutora em Geografia, tendo como

orientadores:

Prof. Dr. Ranyére Silva Nóbrega

Prof. Dr. Roberto Quental Coutinho

RECIFE

2015

Page 3: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

Catalogação na fonte

Bibliotecária Maria do Carmo de Paiva, CRB-4 1291

D812e Duarte, Cristiana Coutinho.

Eventos extremos de chuva e análise da suscetibilidade a movimentos

de massa no município do Ipojuca-PE / Cristiana Coutinho Duarte. – Recife:

O autor, 2015.

275 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Prof. Dr. Ranyére Silva Nóbrega.

Orientador: Prof. Dr. Roberto Quental Coutinho.

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco, CFCH.

Programa de Pós-Graduação em Geografia, 2015.

Inclui referências.

1. Geografia. 2. Climatologia. 3. Precipitação (Meteorologia). 4. Chuvas – Ipojuca (PE). 5. Impacto ambiental. I. Nóbrega, Ranyére Silva (Orientador). II. Coutinho, Roberto Quental (Orientador). III. Título.

910 CDD (22.ed.) UFPE (BCFCH2016-05)

Page 4: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS - CFCH

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS - DCG PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - PPGEO

CRISTIANA COUTINHO DUARTE

EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA SUSCETIBILIDADE A

MOVIMENTOS DE MASSA NO MUNICÍPIO DE IPOJUCA-PE

Tese aprovada, em 6/10/2015, pela comissão examinadora:

____________________________________________________________

Prof. Dr. Ranyére Silva Nóbrega

(1.º examinador – orientador – PPGEO/DCG/UFPE)

____________________________________________________________

Prof. Dr. Roberto Quental Coutinho

(2.º examinador – orientador – Engenharia Civil/UFPE)

____________________________________________________________

Prof. Dr. Osvaldo Girão da Silva

(3.º examinador – PPGEO/DCG/UFPE)

____________________________________________________________

Prof. Dr. Marcelo Reis Rodrigues da Silva

(4.º examinador – Geologia/UFPE)

____________________________________________________________

Profa. Dra. Weronica Meira de Souza

(5.º examinador – Geociências/UFRPE-UAG)

____________________________________________________________

Prof. Dr. Juan Antonio Altamirano Flores

(6.º examinador – Geociências/UFSC)

RECIFE 2015

Page 5: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

À minha mãe, Ana Cristina Coutinho Duarte,

reconhecendo e agradecendo todo seu esforço

diante das dificuldades para criar três filhos

com muito amor, saúde, educação e paz; aos

meus irmãos Alexandre Coutinho Duarte e

Paulo José Duarte Neto.

Page 6: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

AGRADECIMENTOS

A Deus, as oportunidades que me foram dadas nesta vida e a força e determinação para vencer

os obstáculos e prosseguir com fé e alegria.

Ao Professor Roberto Quental Coutinho do Departamento de Engenharia Civil da

Universidade Federal de Pernambuco, a orientação e grande oportunidade de fazer parte do

Grupo de Engenharia Geotécnica de Encostas Planícies e Desastres (Gegep), do qual é

coordenador. Agradeço a oportunidade de trabalhar no projeto que deu origem a esta tese e

toda a transferência de conhecimentos.

Ao Professor Ranyére Silva Nóbrega do Departamento de Geografia da Universidade Federal

de Pernambuco, a orientação no decorrer desta jornada, compreendendo as mudanças pelas

quais passei nestes últimos quatro anos, e a oportunidade de fazer parte do Grupo de Estudos

em Climatologia Tropical e Eventos Extremos (Tropoclima), do qual é coordenador.

Aos bolsistas, pesquisadores e professores que fazem parte desta grande família, que é o

Gegep, e aos que trabalharam diretamente no Projeto “Elaboração de cartas geotécnicas de

aptidão à urbanização no município do Ipojuca, localizado na região metropolitana do Recife,

estado do Pernambuco”.

Agradeço àqueles que trabalharam diretamente no desenvolvimento do referido projeto e,

consequentemente, desta tese, Robson Lima, Hugo Henrique, Jéssica Menezes, Drielly

Fonseca, Fernanda Miranda, Cristiane Barbosa, Betânia Queiroz, Saul Guedes, Rafhael Faria,

Diego Marcelino. Aos bolsistas de graduação Sarepta Feitosa, Wesley Belo e, em especial, a

Cláudia Calado, a grande ajuda no decorrer dos trabalhos e na etapa final da tese. A Marlon

Josinaldo, a colaboração da Defesa Civil na organização das planilhas de ocorrências.

A Doris Coutinho, o carinho e a força durante o desenvolvimento do projeto e da tese,

proporcionando-nos acolhimento fraterno e muita alegria.

Ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), a concessão da bolsa durante um período do

doutorado.

Ao Ministério das Cidades, o financiamento do projeto que deu origem à presente tese.

À Pós-Graduação em Geografia, em especial ao secretário Eduardo, agradeço todo o seu

empenho e atenção, sempre disposto a nos ajudar.

Page 7: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

À Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco (Condepe/Fidem), o apoio e

fornecimento de dados.

À Prefeitura de Ipojuca, o suporte necessário à realização dos trabalhos.

À Coordenadoria de Defesa Civil do município do Ipojuca, a parceria, o acompanhamento nos

trabalhos de campo e o fornecimento dos dados de ocorrências, fundamentais no

desenvolvimento desta tese. Em especial ao Major André Ferraz, Mirtys, Gisele, Pedro e

Heryk.

À Coordenadoria de Defesa Civil do estado de Pernambuco, as informações fornecidas, na

figura do Major Marco Felipo.

Ao Professor Antonio Carlos de Barros Correia, a quem serei eternamente grata, pois foi o

maior incentivador para iniciar o doutorado, e as suas orientações no início e durante minha

jornada de graduação e pós-graduação.

Aos amigos da Sudene, que tive a oportunidade de conhecer e trabalhar durante o

desenvolvimento deste trabalho como funcionária pública, em especial aos coordenadores

Frederico e Albertina e às amigas Ludmilla, Joice, Gabriela, Jéssica, Marina e Tássia.

Aos amigos professores da Universidade de Pernambuco (UPE), agradeço compreensão da

ausência nas etapas finais de desenvolvimento da tese, em especial ao Prof. Daniel Dantas,

toda a força que me foi dada como coordenador do Curso de Geografia e amigo desde que

assumi o concurso como professora assistente nesta instituição.

A minha sogra, Clara Bahia, o carinho, acolhimento, proporcionando-me conforto e

tranquilidade para que desse tudo certo no desenvolvimento e finalização deste trabalho.

A meu namorado, Miguel Gaia Bahia, todo o amor, carinho, companheirismo e paciência,

sempre me apoiando nesta jornada.

E a todos que contribuíram direta e indiretamente para a realização deste trabalho.

Page 8: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

“Quando o homem compreende a sua

realidade, pode levantar hipóteses sobre o

desafio dessa realidade e procurar soluções.

Assim, pode transformá-la e o seu trabalho

pode criar um mundo, seu Eu e suas

circunstâncias.”

(Paulo Freire)

Page 9: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

RESUMO

Nos últimos quinze anos ocorreram no Brasil significativas catástrofes desencadeadas por

eventos meteorológicos de alta magnitude, principalmente em consequência de chuvas

intensas em um curto período de tempo, desencadeando processos como alagamentos,

inundações e movimentos de massa. Assim, diante desse contexto, a presente tese objetivou

identificar os eventos extremos de chuva no município do Ipojuca, litoral sul de Pernambuco,

e impactos associados a tais eventos, bem como desenvolver um modelo de análise da

suscetibilidade a movimentos de massa para todo o município do Ipojuca, na escala 1:25.000

e para uma área delimitada que abrange as Zonas Prioritárias de Urbanização (ZPU) e as Zeis

de Rurópolis e Bela Vista, entre os Distritos de Ipojuca Sede e Nossa Senhora do Ó, na escala

1:10.000. Para tanto, os procedimentos metodológicos dividiram-se em duas grandes etapas: a

primeira, relacionada com a análise climatológica do município e dos eventos extremos,

identificando os principais impactos causados por estes no município do Ipojuca. A segunda,

voltada à elaboração da carta de suscetibilidade a movimentos de massa por meio da

abordagem estatística bivariada e posterior aplicação da técnica Analytical Hierarchy Process

(AHP) na determinação do grau de influência de cada fator condicionante nos processos de

movimentos de massa. Com base nos resultados, verificou-se que os extremos de chuva em

Ipojuca concentram-se no período chuvoso de abril a julho com impactos concentrados em

áreas de assentamentos informais sobre as encostas densamente ocupadas. Com a elaboração

do inventário de cicatrizes, verificou-se no município uma elevada quantidade de processos de

erosão linear (ravinas e voçorocas) e de movimentos gravitacionais de massa, como os

deslizamentos planares, deslizamentos rotacionais e elevado potencial de queda de blocos,

concentrados na porção oeste do município sobre o embasamento cristalino, e de sedimentos

da Bacia Pernambuco, representados por relevos de colinas. As ravinas concentraram-se em

áreas utilizadas para o cultivo de cana-de-açúcar, e os deslizamentos foram significativos nas

áreas de assentamentos informais, como Rurópolis, Bela Vista, Antônio Dourado Neto e São

Miguel. O modelo gerado apresentou previsão satisfatória dos movimentos de massa no

município, estes se concentrando nas classes de suscetibilidade alta (60% ravinas e 54%

deslizamentos) e média (36% ravinas e 39% deslizamentos).

Palavras-chave: Chuvas extremas. Estatística bivariada. AHP. Carta de suscetibilidade.

Page 10: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

ABSTRACT

In the last fifteen years, significant disasters occurred in Brazil triggered by extreme weather

events, especially as a result of heavy rain in short periods of time, resulting in overflows,

floods and mass movements. This thesis aims to identify the extreme rainfall events in the

municipality of Ipojuca, south coast of Pernambuco, and the impacts associated with such

events, as well as to develop a model for mass movement susceptibility analysis for all the

Municipality of Ipojuca in 1:25.000 scale, and for a demitaded area of the municipality

covering the Priority Areas of Urbanization (ZPU) and the Social Interest Areas of Rurópolis

and Bela Vista, between Districts of Ipojuca and Nossa Senhora do Ó, in a 1:10.000 scale. To

achieve this goal, the methodological procedures were divided into two main stages: the first,

related to the climatological analysis of the municipality and its extreme events, identifying

key impacts of these in the city of Ipojuca. The second, aimed at elaborating the map of

susceptibility to mass movements through statistical bivariate approach and subsequent

application of the Analytical Hierarchy Process (AHP) technique in determining the degree of

influence of each determinant factor in the process of mass movements. Based on the results,

is was found that the extreme rainfall in Ipojuca are concentrated in the rainy period from

April to July with impacts concentrated in areas of informal settlements on the densely

populated hillsides. Based on the inventory of scars, It was verified a high amount of linear

erosion processes (gullies and ravines) and gravitational mass movements such as palars

slides, rotational slides with high potential for rock falls concentrated in the portion west of

the city over areas of the crystalline basement, and sediments of the Pernambuco´s basin

represented by relief hills. Ravines concentrated on areas used for sugarcane cultivation, and

the slides were significant in areas of informal settlements, as Rurópolis, Bela Vista, Antonio

Dourado Neto and São Miguel. The generated model presents a satisfactory prediction of

mass movements in the city, concentrated on classes of high susceptibility (60% of ravines

and 54% of landslides) and medium susceptibility (36% of ravines and 39% of landslides).

Keywords: Extreme rainfall. Bivariate statistics. AHP. Susceptibility model.

Page 11: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Gráfico da tendência de ocorrências e vítimas de desastres naturais

no mundo de 1990 a 2013...................................................................

40

Figura 2.2 – Gráfico representativo dos dez países com o maior número de

eventos registrados em 2013...............................................................

41

Figura 2.3 – Gráfico da ocorrência de desastres naturais no Brasil de 1990 a

2010.....................................................................................................

41

Figura 2.4 – Gráfico comparativo de ocorrência de desastres naturais no Brasil

entre as décadas de 1990 e 2000.........................................................

42

Figura 2.5 – Perfil esquemático do processo de enchente e inundação................... 48

Figura 2.6 – Exemplos de queda (A) e tombamento (B)......................................... 52

Figura 2.7 – Tipos de escorregamento.................................................................... 53

Figura 2.8 – Exemplo de rastejo e seus indícios................................................... 54

Figura 2.9 – Exemplo de corrida de terra em Camaragibe-PE em 2000................. 55

Figura 2.10 – Combinação das classes de curvatura vertical e horizontal................. 63

Figura 2.11 – Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo

com a forma e os processos operantes.................................................

64

Figura 2.12 – Esquema representando os processos de erosão hídrica..................... 68

Figura 2.13 – Estrutura para gerenciamento de risco de deslizamentos.................... 79

Figura 2.14 – Representação esquemática do processo de gerenciamento de áreas

de risco................................................................................................

80

Figura 2.15 – Proposta de classificação de métodos de avaliação de

suscetibilidade de deslizamentos.........................................................

86

Figura 3.1 – Mapa de localização do município do Ipojuca e da área de expansão

urbana entre os distritos de Ipojuca Sede e Nossa Senhora do Ó no

estado de Pernambuco........................................................................

109

Figura 3.2 – Crescimento anual da população entre 1996 e 2010 no município do

Ipojuca.................................................................................................

110

Figura 3.3 – Distribuição da população rural e urbana conforme os setores

censitários do município do Ipojuca....................................................

111

Figura 3.4 – Número de domicílios particulares permanentes por setor censitário

do Ipojuca...........................................................................................

112

Figura 3.5 – Distribuição do número de moradores em domicílios particulares

permanentes do Ipojuca.....................................................................

112

Figura 3.6 – Mapa de zoneamento do município do Ipojuca.................................. 117

Page 12: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

Figura 3.7 – Caracterização dos ambientes geológicos do município do

Ipojuca................................................................................................

123

Figura 3.8 – Mapa geológico na escala 1:25.000 do município do Ipojuca........... 124

Figura 3.9 – Mapa com a distribuição das Unidades de Solos e os perfis de

reconhecimento de solos realizados pela equipe do projeto...............

137

Figura 3.10 – Distribuição das águas superficiais e bacias hidrográficas do

município do Ipojuca..........................................................................

138

Figura 4.1 – Localização dos pluviômetros que foram utilizados nas análises da

precipitação.........................................................................................

144

Figura 4.2 – Distribuição dos pontos de reconhecimento morfológico de solos na

área piloto de Ipojuca Sede................................................................

163

Figura 5.1 – Distribuição entre as precipitações pluviais mensais média, máxima

e mínima para o município do Ipojuca entre o período 1941-

2013....................................................................................................

172

Figura 5.2 – Representação dos totais anuais e das categorias e probabilidades da

precipitação pluvial anual relacionadas com as ordens quantílicas

identificadas na série de 1941 a 2013 no Ipojuca...............................

174

Figura 5.3 – Número de ocorrências das categorias de precipitação por décadas

(1940 a 2013) para o município do Ipojuca........................................

175

Figura 5.4 – Índice de anomalia de chuva (1941 a 2013) para o município do

Ipojuca.................................................................................................

176

Figura 5.5 – Número de dias que estão entre as categorias Chuva extremamente

Fraca, Chuva muito Fraca, Chuva Fraca, Chuva Moderada, Chuva

Forte, Chuva muito Forte e Chuva extremamente Forte para o

município do Ipojuca..........................................................................

182

Figura 5.6 – Gráfico com a frequência de ocorrência dos intervalos de chuva de

50-60 mm, 60-70 mm, 80-90 mm, 90-100 mm e >100 mm por mês

para a série de 1941 a 2012 no município do Ipojuca.........................

182

Figura 5.7 – Número total de ocorrências (deslizamentos, inundação,

alagamentos e queda de muro de arrimo) no município do Ipojuca

distribuído por meses, para cada ano, de 2007 a 6 de julho de

2015.....................................................................................................

185

Figura 5.8 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação,

alagamentos e queda de muro de arrimo) por localidades no

município do Ipojuca em 2007...........................................................

186

Page 13: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

Figura 5.9 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de

ocorrências de deslizamentos por dia em março e abril de 2008 no

município do Ipojuca..........................................................................

187

Figura 5.10 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de

ocorrências de deslizamentos por dia em maio e junho de 2008 no

município do Ipojuca...........................................................................

188

Figura 5.11 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação,

alagamentos e queda de muro de arrimo) por localidades no

município do Ipojuca em 2008............................................................

188

Figura 5.12 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação,

alagamentos e queda de muro de arrimo) por localidades no

município do Ipojuca em 2009............................................................

189

Figura 5.13 – Marcas da enchente que ocorreu em 2010. Exemplos da Rua

Cristóvão José Pimentel próximo ao rio Ipojuca, localizada no

distrito Sede do município..................................................................

191

Figura 5.14 – Imagens da Rua José Cristóvão Pimentel (Ipojuca Centro)

mostrando as marcas da última enchente em 2010.............................

191

Figura 5.15 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de

ocorrências de deslizamentos por dia em abril e maio de 2011 no

município do Ipojuca..........................................................................

192

Figura 5.16 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação,

alagamentos e queda de muro de arrimo) por localidades no

município do Ipojuca em 2011...........................................................

193

Figura 5.17 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de

ocorrências de deslizamentos por dia em janeiro e fevereiro de 2012

no município do Ipojuca......................................................................

194

Figura 5.18 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de

ocorrências de deslizamentos por dia em junho e julho 2012 no

município do Ipojuca..........................................................................

194

Figura 5.19 – Gráfico do total de ocorrências por localidades no município do

Ipojuca em 2012..................................................................................

195

Figura 5.20 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de

ocorrências de deslizamentos por dia em abril e maio de 2013 no

município do Ipojuca...........................................................................

195

Figura 5.21 – Gráfico do total de ocorrências de deslizamentos por localidades no

município do Ipojuca em 2013............................................................

196

Page 14: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

Figura 5.22 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de

ocorrências de deslizamentos por dia em abril, maio e junho de

2014, no município do Ipojuca............................................................

197

Figura 5.23 – Gráfico do total de ocorrências de deslizamentos e alagamentos por

localidades no município do Ipojuca em 2014...................................

198

Figura 5.24 – Córrego inundado na comunidade de Bela Vista pelas chuvas no dia

22 de abril de 2014.............................................................................

198

Figura 5.25 – Gráfico do total de ocorrências por localidades no município do

Ipojuca 2015.......................................................................................

199

Figura 5.26 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de

ocorrências de deslizamentos por dia em abril, junho e julho de

2015 no município do Ipojuca............................................................

200

Figura 5.27 – Fotografia do riacho do Campo do Avião no município do Ipojuca

em 2015; a: o córrego antes da inundação em 2 jul. 2015; b: o

córrego inundado em 4 jul. 2015........................................................

200

Figura 5.28 – Processos erosivos como ravinas e voçorocas em áreas ocupadas

por rochas cristalinas na porção oeste do município do Ipojuca. (A)

e (B) representam voçorocas...............................................................

202

Figura 5.29 – Processos erosivos como ravinas e voçorocas em áreas ocupadas

por rochas cristalinas na porção oeste do município do Ipojuca. (C)

Ravinas desenvolvidas no caminho da cana; e (D) Sulcos

desenvolvidos nas áreas de encostas côncavas – convergentes..........

203

Figura 5.30 – Exemplo de deslizamento translacional na comunidade de Bela

Vista.....................................................................................................

203

Figura 5.31 – Exemplo de processo de deslizamento circular sobre litologia da

Formação Cabo próximo da PE-60.....................................................

204

Figura 5.32 – Exemplo de processo de rastejamento (creep) sobre litologia da

Formação Cabo localizada na porção nordeste do município do

Ipojuca.................................................................................................

204

Figura 5.33 – Exemplo de blocos isolados (matacões) em áreas ocupadas rochas

cristalinas na porção oeste do município do Ipojuca, áreas com

potencial de queda de blocos..............................................................

205

Page 15: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

Figura 5.34 – Exemplo de áreas ocupadas por complexo de tálus na porção oeste

do município do Ipojuca. A) Afloramentos rochosos identificados

nas porções mais elevadas a oeste do município do Ipojuca; (B)

Complexos de Tálus............................................................................

205

Figura 5.35 – Mapa com a distribuição de processos no município do Ipojuca........ 206

Figura 5.36 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em

cada classe litológica no município do Ipojuca..................................

207

Figura 5.37 – Processos erosivos desenvolvidos na Formação Barreiras. Estrada

entre Porto de Galinhas e Sirinhaém, município do Ipojuca..............

209

Figura 5.38 – Exemplo de processos erosivos e deslizamentos desenvolvidos em

áreas de Formação Barreiras. Estrada que liga Porto de Galinhas a

Sirinhaém sentido sul..........................................................................

209

Figura 5.39 – Exemplo de processos erosivos sobre a Formação Algodoais........... 210

Figura 5.40 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em

cada classe de Unidades Geomorfológicas no município do Ipojuca.

211

Figura 5.41 – Quantidade e percentual de ocorrência dos processos de movimento

de massa em cada classe de Unidades Geomorfológicas da área

piloto de Ipojuca Sede, município do Ipojuca....................................

211

Figura 5.42 – Mapa de declividade do município do Ipojuca na escala 1:25.000.... 212

Figura 5.43 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em

cada classe de declividade no município do Ipojuca........................

213

Figura 5.44 – Quantidade e percentual de ocorrência dos processos de movimento

de massa em cada classe de declividade no município do Ipojuca.....

213

Figura 5.45 – Mapa de curvatura da Área Piloto de Ipojuca Sede, município do

Ipojuca.................................................................................................

214

Figura 5.46 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em

cada classe de curvatura no município do Ipojuca.............................

215

Figura 5.47 – Quantidade e percentual de ocorrência dos processos de movimento

de massa em cada classe de curvatura na área piloto de Ipojuca Sede

no município do Ipojuca.....................................................................

215

Figura 5.48 – Ocupação desordenada em áreas de cabeceira de drenagem no

bairro de Antônio Dourado Neto, Ipojuca Sede, município do

Ipojuca................................................................................................

216

Figura 5.49 – Ocupação desordenada em áreas de cabeceira de drenagem na

localidade de Rurópolis, Ipojuca Sede, município do Ipojuca...........

217

Page 16: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

Figura 5.50 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em

cada classe de unidades de mapeamento de solos no município do

Ipojuca.................................................................................................

218

Figura 5.51 – Perfil 01 representando um Argissolo Amarelo e Vermelho-

Amarelo Plíntico..................................................................................

220

Figura 5.52 – Perfil 02 representando um Argissolo Vermelho-Amarelo................. 220

Figura 5.53 – Perfil 03 representando um Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico

Expiredóxico.......................................................................................

221

Figura 5.54 – Perfil 04 representando um Latossolo Vermelho-Amarelo................ 222

Figura 5.55 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em

cada classe de Unidades de Mapeamento de Solos na área piloto de

Ipojuca Sede, no município do Ipojuca...............................................

223

Figura 5.56 – Mapa de Unidades de Mapeamento de Solos ajustado a escala

1:10.000 para a área piloto de Ipojuca Sede, município do

Ipojuca................................................................................................

224

Figura 5.57 – Cultivo de cana-de-açúcar localizado nas colinas da porção oeste do

município do Ipojuca..........................................................................

226

Figura 5.58 – Mapa de uso e ocupação da terra do município do Ipojuca em 2010. 227

Figura 5.59 – Percentual de ocorrência dos processos identificados no município

do Ipojuca para cada classe de uso e cobertura da terra......................

228

Figura 5.60 – Mapa de uso e ocupação da terra, Escala 1:10.000, da área de

expansão urbana do Distrito Sede e Nossa Senhora do Ó, Ipojuca.....

229

Figura 5.61 – Percentual de ocorrência de deslizamentos na área piloto de Ipojuca

Sede para cada classe de uso e cobertura da terra...............................

230

Figura 5.62 – Total de ocorrências de deslizamentos por localidade para o período

de 2007 a 6 de julho de 2015..............................................................

231

Figura 5.63 – Localização e forma de ocupação desordenada dos bairros de São

Miguel, Antônio Dourado Neto e Centro, do distrito de Ipojuca

Sede.....................................................................................................

232

Figura 5.64 – Localização e forma de ocupação desordenada das comunidades de

Rurópolis e Bela Vista, município do Ipojuca....................................

232

Figura 5.65 – Formas de ocupação desordenada e exemplo de deslizamentos

translacionais nos bairros de São Miguel e de Antônio Dourado

Neto em Ipojuca Sede. São Miguel (A e B) e Antônio Dourado

Neto (C e D)........................................................................................

233

Page 17: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

Figura 5.66 – Formas de ocupação desordenada e exemplos de deslizamentos

translacionais nas localidades de Rurópolis e Bela Vista. Rurópolis

(A e B) e Bela Vista (C e D)...............................................................

234

Figura 5.67 – Formas de ocupação desordenada e exemplos de deslizamento

translacional e queda de blocos no distrito de Camela, município do

Ipojuca. (A) Vista de uma das áreas de risco muito alto do distrito

de Camela. (B) Exemplo de um possível bloco rolado (B)................

235

Figura 5.68 – Deslizamentos translacionais que ocorreram nos taludes localizados

na PE-60 no município do Ipojuca. (A) Deslizamento próximo à

Ipojuca Sede, sentido Recife (2/7/2015); (B) Deslizamento em

frente à comunidade de Bela Vista, sentido Sirinhaém, PE................

235

Figura 5.69 – Normalização das classes do PI Litologia para a escala de 0 a 1........ 238

Figura 5.70 – Normalização das classes do PI Declividade para a escala de 0 a 1... 239

Figura 5.71 – Normalização das classes do PI Curvatura para a escala de 0 a 1....... 240

Figura 5.72 – Normalização das classes do PI Solos para a escala de 0 a 1.............. 240

Figura 5.73 – Normalização das classes do PI Uso e Cobertura da Terra para a

escala de 0 a 1......................................................................................

241

Figura 5.74 – Comparação entre o resultado do mapa de suscetibilidade a

movimentos de massa e os limites das áreas de Risco Alto e Muito

Alto de deslizamentos elaborados para o Plano Municipal de

Redução de Risco do município do Ipojuca........................................

243

Figura 5.75 – Mapa de suscetibilidade a movimentos de massa da área piloto de

Ipojuca Sede, município do Ipojuca...................................................

245

Figura 5.76 – Mapa risco a movimentos de massa da área piloto de Ipojuca Sede,

elaborado por meio da integração do mapa de suscetibilidade e o

total de população por domicílio agregado por setor censitário.........

249

Page 18: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 – Classificação dos desastres naturais segundo o EM-DAT.................... 37

Quadro 2.2 – Visão abreviada da classificação proposta por Cruden e Varnes

(1996).....................................................................................................

51

Quadro 2.3 – Agentes e causas dos escorregamentos.................................................. 57

Quadro 2.4 – Características dos métodos de suscetibilidade propostos na

literatura..................................................................................................

87

Quadro 2.5 – Vantagens e desvantagens dos métodos mais trabalhados na análise e

elaboração de cartas de suscetibilidade a deslizamentos e escalas de

análises apropriadas...............................................................................

94

Quadro 2.6 – Escalas de mapeamento para inventários e zoneamento de

suscetibilidade a deslizamentos em relação aos métodos de

zoneamento, níveis e objetivos..............................................................

103

Quadro 2.7 – Cartas geotécnicas de planejamento, segundo as escalas e os

processos identificáveis..........................................................................

104

Quadro 3.1 – Relação das unidades de mapeamento de solos e os solos

componentes por unidade que ocorrem no município do

Ipojuca.................................

132

Quadro 4.1 – Fases e etapas para a elaboração da carta de suscetibilidade do

município do Ipojuca.............................................................................

152

Quadro 4.2 – Relação das classes de uso da terra para a área piloto de Ipojuca Sede,

Escala 1:10.000......................................................................................

165

Quadro 5.1 – Características predominantes para cada classe de suscetibilidade a

movimentos de massa identificadas na área piloto de Ipojuca Sede,

município do Ipojuca.............................................................................

246

Page 19: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 – Relação dos pluviômetros utilizados para as análises da chuva no

município do Ipojuca..............................................................................

143

Tabela 4.2 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação mensal

relacionada com as ordens quantílicas para o município do Ipojuca......

148

Tabela 4.3 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação diária

(acumulado de 24h) relacionadas com as ordens quantílicas para o

município do Ipojuca..............................................................................

150

Tabela 4.4 – Escala da importância relativa aplicada pela AHP para a comparação

pareada....................................................................................................

168

Tabela 4.5 – Matriz de correlação entre os Planos de Informação trabalhados no

modelo.....................................................................................................

168

Tabela 5.1 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação anual

relacionada com as ordens quantílicas....................................................

173

Tabela 5.2 – Classificação dos anos quanto às categorias de precipitação anual

relacionadas com as ordens quantílicas..................................................

174

Tabela 5.3 – Anos de ocorrência de El Niño............................................................... 177

Tabela 5.4 – Anos de ocorrência de La Niña............................................................... 177

Tabela 5.5 – Anos de ocorrência do Dipolo do Atlântico........................................... 177

Tabela 5.6 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação mensal

relacionada com as ordens quantílicas (0,05), (0,15), (0,25), (0,65),

(0,85) e (0,95).........................................................................................

179

Tabela 5.7 – Relação mensal dos valores de chuva média, máxima, mínima e as

probabilidades p=0,05 (Mês extremamente secos) e p=0,95 (Mês

extremamente chuvoso)..........................................................................

180

Tabela 5.8 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação diária

(acumulado de 24h) relacionadas com as ordens quantílicas p=0,05,

p=0,15, p=0,25, p=0,65, p=0,85, p=0,95 para Ipojuca...........................

181

Tabela 5.9 – Tabela com a representação dos temas trabalhados, as respectivas

classes, o percentual de ocorrência de cada uma das classes, o número

de ocorrências de processos de ravinas e deslizamentos para cada

classe e o peso definido para as classes após a tabulação cruzada para

a área piloto de Ipojuca Sede..................................................................

237

Tabela 5.10 – Comparação entre os resultados da metodologia proposta nesta tese e

a proposta em Coutinho (2014) para a área Piloto de Ipojuca Sede......

242

Page 20: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AHP Analytical Hierarchy Process

ANA Agência Nacional de Águas

APAC Agência Pernambucana de Águas e Clima

AT Atlântico Tropical

ATSM Alterações na Temperatura da Superfície do Mar

AVADAN Avaliação de Danos

CDEC Coordenadorias de Defesas Civis

CEMADEN Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais

CEPED Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres

COBRADE Classificação e Codificação Brasileira de Desastres

CODAR Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos

CONDEPE/

FIDEM

Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco

CONPDEC Conselho Nacional de Proteção de Defesa Civil

CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

CPRM Serviço Geológico do Brasil

CPTEC Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos

CRED Centre for Research on the Epidemiology of Disasters

DOL Distúrbios Ondulatórios de Leste

ECP Estado de Calamidade Pública

EDE Eixo de Dinamização Econômica

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

ENE Leste do Nordeste

ENEB Leste do Nordeste do Brasil

ENOS El Niño-Oscilação Sul

FF Frentes Frias

FIDE Formulário de Informação de Desastres

FUNTEP Fundo de Terras do Estado de Pernambuco

GEGEP Grupo de Engenharia Geotécnica de Encostas Planícies e Desastres

HS Hemisfério Sul

IAC Índice de Anomalia de Chuva

IAEG Associação Internacional de Geologia de Engenharia

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Page 21: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

IED Índice de Eficiência de Drenagem

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INDE Instituto Nacional de Dados Espaciais

IOS Índice de Oscilação Sul

IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change

IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas

ISD Índice de Suscetibilidade a Deslizamentos

ITEP Associação Instituto de Tecnologia de Pernambuco

LI Linhas de Instabilidade

MDE Modelos Digitais de Elevação

MDT Modelo Digital do Terreno

MEUA Macrozona de Equilíbrio Urbano-Ambiental

MGM Movimentos Gravitacionais de Massa

MSR Macrozona de Sustentabilidade Rural

mTa Massa Tropical Atlântica

NOPRED Notificação Preliminar de Desastres

OL Ondas de Leste

PCD Posto de Coleta de Dados

PI Plano de Informação

PMRR Plano Municipal de Redução de Risco

PNGRRDN Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais

PNM Pressão do Nível do Mar

PNPDEC Política Nacional de Proteção e Defesa Civil

POA Perturbações Ondulatórias no Campo dos Ventos dos Alísios

PROBSTAB PROBability of STABility

RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural

S2ID Sistema Integrado de Informações sobre Desastres

SE Situação de Emergência

SEDEC Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil

SF Sistemas Frontais

SHALSTAB Shallow Landsliding Stability

SIG Sistema de Informações Geográficas

SINMAP Stability Index MAPping

SINPDEC Sistema Nacional de Proteção de Defesa Civil

STARWAR Storage and Redistribution of Water on Agricultural and Revegetated Slope

Page 22: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

TIN Triangulated Irregular Network

TPA Terreno Pernambuco Alagoas

TRIGRS Transient Rainfall Infiltration and Grid based Slope Stability

TROPOCLIMA Grupo de Estudos em Climatologia Tropical e Eventos Extremos

TSM Temperatura da Superfície do Mar

UCU Unidades de Condições Únicas

UGEO Unidade de Geoinformação

UMI Unidades Morfodinâmicas de Interesse

UMR-

HIDROMET

Unidade de Monitoramento da Rede Hidrometeorológica

UMT Unidade de Mapeamento do Terreno

UNISDR United Nations Office for Disaster Risk Reduction

USLE Equação Universal de Perda de Solo

UTM Universal Transversa de Mercator

VCAS Vórtices Ciclônicos da Atmosfera Superior

ZAIL Zona de Atividades Industriais e Logísticas

ZAP Zona de Atividade Portuária de Suape

ZAPE Zoneamento Agroecológico do Estado de Pernambuco

ZCEN Zona de Convergência do Leste do Nordeste

ZCIT Zona de Convergência Intertropical

ZEA Zona de Equilíbrio Ambiental

ZEDRS Zona Especial de Desenvolvimento Rural Sustentável

ZEIA Zona Especial de Atividades Industriais e Agroindustriais

ZEII Zona Especial de Interesse Institucional

ZEIS Zona Especial de Interesse Social

ZEMO Zona Especial de Manutenção da Morfologia Original

ZEPI Zona Especial de Proteção Integral

ZIL Zona de Atividade Industrial e Logística

ZIT Zona de Interesse Turístico

ZRU Zona de Requalificação Urbana

ZSO Zona de Sustentabilidade da Orla

ZUP Zona de Urbanização Preferencial

Page 23: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 25

1.1 Objetivos .................................................................................................................................. 28

1.1.1 Objetivo geral ............................................................................................................................ 28

1.1.2 Objetivos específicos................................................................................................................. 28

2 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................................. 29

2.1 Análise dos eventos extremos e impactos associados............................................................ 29

2.1.1 Anomalias na temperatura da superfície do mar e ocorrência de eventos extremos ................. 30

2.1.2 Metodologia de análise dos extremos de chuva e impactos associados .................................... 33

2.1.3 Banco de dados de desastres naturais provocados por eventos extremos ................................. 36

2.2 Processos do meio físico .......................................................................................................... 47

2.2.1 Inundação e alagamento ............................................................................................................ 48

2.2.2 Movimentos gravitacionais de massa ........................................................................................ 49

2.2.2.1 Classificação dos movimentos gravitacionais de massa ........................................................... 50

2.2.2.2 Fatores condicionantes dos movimentos gravitacionais de massa ........................................... 56

2.2.3 Movimentos de transporte de massa (erosão) ........................................................................... 65

2.2.3.1 Tipos de erosão ......................................................................................................................... 66

2.2.3.2 Fatores condicionantes da erosão ............................................................................................ 68

2.3 Análise da suscetibilidade: conceitos básicos ......................................................................... 73

2.4 Avaliação da suscetibilidade a movimentos de massa ........................................................... 80

2.4.1 Cartas de suscetibilidade ............................................................................................................ 81

2.4.1.1 Classificação das metodologias de avaliação da suscetibilidade ............................................. 84

2.4.1.2 As unidades de mapeamento ..................................................................................................... 97

2.4.1.3 Organização do banco de dados ............................................................................................. 101

2.4.1.4 A questão da escala ................................................................................................................. 101

2.4.2 Principais metodologias trabalhadas no Brasil ........................................................................ 104

3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................... 108

3.1 Localização das áreas de estudo ........................................................................................... 108

3.2 Aspectos demográficos e socioeconômicos do município do Ipojuca ................................ 110

3.3 História da ocupação do município do Ipojuca .................................................................. 113

3.4 Zoneamento atual do município do Ipojuca ....................................................................... 116

3.5 Aspectos físicos do município do Ipojuca ............................................................................ 120

3.5.1 Clima ....................................................................................................................................... 121

3.5.2 Geologia .................................................................................................................................. 122

Page 24: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

3.5.3 Geomorfologia ........................................................................................................................ 128

3.5.4 Solos ........................................................................................................................................ 132

3.5.5 Hidrografia (hidrologia e hidrogeologia) ................................................................................ 137

3.5.6 Cobertura vegetal .................................................................................................................... 140

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................................... 141

4.1 Análise climatológica e dos eventos extremos de chuva no município do Ipojuca

..............................................................................................................................................................141

4.1.1 Levantamento dos dados de precipitação pluvial .................................................................... 142

4.1.2 Técnicas aplicadas na análise climatológica ........................................................................... 144

4.1.2.1 Técnica dos quantis ................................................................................................................. 144

4.1.2.2 Índice de anomalia de chuva ................................................................................................... 145

4.1.2.3 Análise de tendência dos dados de chuva ............................................................................... 146

4.1.3 Análise dos dados anuais de chuva .......................................................................................... 147

4.1.4 Análise dos dados mensais de chuva ........................................................................................ 148

4.1.5 Análise dos dados diários de chuva .......................................................................................... 148

4.1.5.1 Aplicação da técnica dos quantis ............................................................................................ 149

4.1.5.2 Identificação de impactos provocados pelos eventos extremos no município do Ipojuca ...... 150

4.2 Metodologia para elaboração da carta de suscetibilidade a movimentos de massa do

município do Ipojuca ........................................................................................................................ 151

4.2.1 Fase de levantamento .............................................................................................................. 152

4.2.1.1 Levantamento bibliográfico .................................................................................................... 152

4.2.1.2 Levantamento de base cartográfica e de base temática .......................................................... 153

4.2.1.3 Levantamento de campo .......................................................................................................... 155

4.2.2 Fase de análise ......................................................................................................................... 155

4.2.2.1 Elaboração da base cartográfica e do Modelo Digital do Terreno ........................................ 156

4.2.2.2 Elaboração do inventário ........................................................................................................ 156

4.2.2.3 Definição dos fatores condicionantes e elaboração dos mapas temáticos ............................. 159

4.2.2.4 Dinâmica da ocupação do município do Ipojuca e elaboração dos mapas de uso e cobertura

da terra ................................................................................................................................................ 164

4.2.2.5 Análise estatística e definição dos pesos ................................................................................. 166

4.2.3 Etapa de síntese ....................................................................................................................... 167

4.2.3.1 Padronização dos planos de informação ................................................................................ 167

4.2.3.2 Aplicação da técnica AHP e definição do grau de influência ................................................. 167

4.2.3.3 Definição dos graus de suscetibilidade ................................................................................... 169

4.2.3.4 Validação do modelo ............................................................................................................... 169

Page 25: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

4.2.3.5 Caracterização das classes de suscetibilidade ....................................................................... 170

4.2.3.6 Definição das áreas críticas do município .............................................................................. 170

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................................... 172

5.1 Análise climatológica e eventos extremos ............................................................................ 172

5.1.1 Variabilidade interanual da precipitação pluvial ..................................................................... 173

5.1.2 Análise dos dados mensais de chuva ....................................................................................... 179

5.1.3 Análise da precipitação diária ................................................................................................. 180

5.1.4 Exemplos de impactos associados aos eventos extremos no município do Ipojuca ............... 183

5.2 Inventário de processos de movimentos de massa e seus condicionantes ......................... 201

5.2.1 Geologia (Litologia) ................................................................................................................ 207

5.2.2 Unidades geomorfológicas e variáveis morfométricas............................................................ 210

5.2.3 Unidades de mapeamento de solos .......................................................................................... 217

5.2.4 Uso e cobertura da terra no município do Ipojuca .................................................................. 224

5.3 Carta de suscetibilidade a movimentos de massa ............................................................... 235

5.3.1 Aplicação do método estatístico bivariado .............................................................................. 236

5.3.2 Padronização dos planos de informação ................................................................................. 237

5.3.3 Aplicação da técnica AHP e definição dos graus de suscetibilidade ...................................... 241

5.3.4 Validação do modelo ............................................................................................................... 242

5.3.5 Mapa de suscetibilidade da área piloto de Ipojuca Sede na escala 1:10.000........................... 244

5.3.6 Definição das áreas críticas do município ............................................................................... 247

5.3.7 Suscetibilidade a movimentos de massa na escala 1:25.000 ................................................... 250

6 CONCLUSÕES ..................................................................................................................... 252

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 256

Page 26: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

25

1 INTRODUÇÃO

A ocorrência de desastres naturais, em todo o mundo, vem sofrendo um aumento

significativo, em razão de fatores relacionados com o aumento populacional, a fragmentação

socioespacial e, não menos importante, o aumento dos eventos extremos, os quais são

frequentemente associados pelos cientistas ao aquecimento global. Nesse sentido, eventos de

temporais, de chuvas intensas, de tornados ou de estiagens severas, entre outros, podem

tornar-se mais frequentes, aumentando a possibilidade de incidência desses desastres.

No caso do Brasil, a situação não é diferente. O aumento da incidência de desastres

naturais é tratado como consequência do processo de urbanização verificado no país nas

últimas décadas, que levou ao crescimento desordenado das cidades e à ocupação de áreas

impróprias, por suas características geológicas e geomorfológicas desfavoráveis. Mesmo

sabendo que no Brasil esse fator é o predominante, o aumento dos eventos extremos de chuva

pode agravar a ocorrência de processos do meio físico, por exemplo, os movimentos de

massa.

Em 2003, com a criação do Ministério das Cidades, o governo federal, instituiu a Ação

de Apoio à Prevenção e Erradicação de Riscos de Assentamentos Precários, no âmbito do

Programa de Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos Precários. Seu

objetivo é articular um conjunto de ações visando “à redução de risco nas áreas urbanas”.

Essas ações, associadas ao Sistema Nacional de Defesa Civil, avançaram no sentido de

incorporar as necessárias atividades municipais de gestão do território urbano, em

concordância com os programas de urbanização e regularização de favelas e loteamentos

precários, áreas particularmente vulneráveis à ocorrência de desastres associados aos

movimentos de massa em encostas (CARVALHO; GALVÃO, 2006).

A partir dessas ações, elaboraram-se os Planos Municipais de Redução de Risco

(PMRR), que é um instrumento de planejamento que contempla o diagnóstico de risco, as

medidas de segurança necessárias, a estimativa de recursos necessários, o estabelecimento de

prioridades e a compatibilização com os programas de urbanização de favelas e regularização

fundiária.

A ocorrência de grandes desastres, por exemplo, o que aconteceu no fim de 2008 em

Santa Catarina, em junho de 2010 em municípios dos estados de Pernambuco e Alagoas e em

janeiro de 2011 em municípios da região serrana do Rio de Janeiro, acelerou a elaboração da

Page 27: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

26

Lei n.º 12.608, de 10 de abril de 2012 (BRASIL, 2012a), que institui a Política Nacional de

Proteção de Defesa Civil (PNPDEC) e dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção de

Defesa Civil (SINPDEC) e o Conselho Nacional de Proteção de Defesa Civil (CONPDEC).

Visa ações de mapeamento e prevenção, bem como sua integração com as demais políticas

setoriais, como as de ordenamento territorial, meio ambiente, entre outras, tendo em vista a

promoção do desenvolvimento sustentável.

De forma diferente das ações iniciadas em 2003, essa lei propõe trabalhar com todos

os municípios brasileiros mapeados previamente, que sofrem ou sofreram algum tipo de

desastre natural ou mortes acarretadas por processos do meio físico, procurando não se

concentrar somente nos assentamentos precários, tendo em vista, por exemplo, que os

desastres que ocorreram em 2008, 2010 e 2011 atingiram extensas áreas das regiões serranas

de Santa Catarina e do Rio de Janeiro ocupadas por residências de alto padrão. Além disso,

verificou-se a necessidade de se planejar a ocupação de novas áreas, evitando, assim,

ocupações espontâneas e até mesmo planejadas, mas que não levam em conta os fatores de

suscetibilidade a processos do meio físico.

Torna-se de fundamental importância a aplicação dessa lei e maior atuação dos

gestores públicos na prevenção de desastres e na gestão de riscos, pois até metade de 2015

vários municípios brasileiros sofreram com as fortes chuvas, com destaque para municípios de

Salvador, onde foram registradas mais de 20 mortes provocadas por deslizamentos em maio

deste ano, municípios do Rio Grande do Sul e Santa Catarina em julho e municípios da

Região Metropolitana do Recife com registros de movimentos de massa, inundações e

alagamentos, causando sérios transtornos à população com dois casos de morte nessa região.

Assim sendo, a referida lei gerou diversas ações iniciadas pelo governo federal a fim

de, pela primeira vez no Brasil, lidar com os desastres naturais na perspectiva da prevenção e

não mais na mitigação e ações pós-desastres. Tais ações estão voltadas à identificação de

áreas suscetíveis aos processos (movimentos de massa e inundações), elaboração de carta

geotécnica para fins de planejamento urbano e fortalecimento da gestão de risco e das defesas

civis nos âmbitos federal, estadual e municipal.

Dentre essas iniciativas do governo federal, em 2013, estabeleceu-se uma parceria

entre o governo federal, por meio do Ministério da Integração Nacional, Ministério das

Cidades e a Universidade Federal de Pernambuco, representada pelo Grupo de Engenharia

Geotécnica de Encostas, Planícies e Desastres (Gegep), sob a coordenação do Professor

Roberto Quental Coutinho.

Page 28: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

27

A parceria voltada à elaboração, por parte dessa Universidade, de uma metodologia

tanto para o mapeamento da vulnerabilidade e risco, ligada ao Ministério da Integração,

quanto para a elaboração da Carta Geotécnica de aptidão à urbanização diante dos desastres

naturais para o município do Ipojuca, ligada ao Ministério das Cidades. Tais projetos

interligam-se e a avaliação da suscetibilidade a processos do meio físico torna-se uma etapa

fundamentalmente importante na elaboração dos referidos mapeamentos.

Desse modo, a presente tese vincula-se aos projetos descritos acima e surge como

parte fundamental para os dois mapeamentos citados. Neste caso, a avaliação da

suscetibilidade a processos naturais é uma etapa anterior aos objetivos principais das

parcerias, mas torna-se o carro-chefe para a indicação das áreas de risco, como também para a

identificação das áreas críticas à ocupação urbana, promovendo subsídios necessários ao

planejamento urbano e organização territorial.

Escolheu-se o município do Ipojuca, inicialmente, por três razões. A primeira delas é

por sua localização geográfica, situando-se no litoral do estado de Pernambuco sob a

influência do clima tropical úmido, apresentando no período chuvoso chuvas intensas e em

anos atípicos, chuvas extremas. Nesse caso, os extremos de precipitação pluvial atuam como

principal agente deflagrador dos processos de movimentos de massa nas encostas e

enchentes/inundações nas planícies, além de alagamentos nas áreas urbanizadas e

impermeáveis.

A segunda razão relaciona-se com o fato de que o município tem atravessado um

período de grandes transformações na paisagem natural, sobretudo pela influência de grandes

obras industriais, como o Porto de Suape e a expansão do Distrito Industrial. Por fim, mas não

menos importante, foi a quantidade de áreas de risco existentes e os problemas

socioambientais e de ocupação urbana apresentados e intensificados diante da intensa

dinâmica de ocupação territorial.

Por conseguinte, a presente tese faz parte do projeto “Elaboração de carta geotécnica

de aptidão à urbanização frente a desastres naturais do município do Ipojuca-PE” financiado

pelo governo federal/Ministério das Cidades e desenvolvido pelo Gegep/UFPE. Assim, as

cartas geotécnicas tiveram de ser elaboradas em duas escalas: uma referente à escala de

planejamento (1:25.000), abrangendo todo o município do Ipojuca, com área de 532,25 km², e

a outra considerada como escala de projeto (1:10.000). Para esta última, definiu-se um

polígono que abrange a área de expansão urbana, delimitada pelo Plano Diretor municipal,

entre os distritos de Ipojuca Sede e Nossa Senhora do Ó, com uma área em torno de 70 km².

Page 29: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

28

Igualmente, foi necessário definir metodologias para elaboração da carta de suscetibilidade a

movimentos de massa para as duas referidas escalas, sendo este um dos objetivos desta tese.

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo geral

O objetivo geral consiste em identificar os eventos extremos de chuva que ocorreram

no município do Ipojuca, litoral sul de Pernambuco, e impactos associados a tais eventos, bem

como desenvolver um modelo de análise da suscetibilidade a movimentos de massa para o

município.

1.1.2 Objetivos específicos

Para atingir esse objetivo geral, foram desenvolvidos os seguintes objetivos

específicos:

Realizar uma análise climatológica e dos eventos extremos.

Identificar os principais impactos provocados por eventos extremos de chuva no

município.

Elaborar um inventário de movimentos de massa, definindo uma tipologia e os

fatores condicionantes e deflagradores de tais processos.

Analisar a dinâmica do uso e ocupação da terra do município, identificando as

formas de uso e os impactos associados.

Elaborar um modelo de análise de suscetibilidade a movimentos de massa,

tomando-se como base as características físicas e socioeconômicas do município do

Ipojuca.

Page 30: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

29

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Análise dos eventos extremos e impactos associados

O aumento da ocorrência de desastres naturais em todo o mundo tem sido

normalmente associado a diversos fatores como o aumento populacional, a fragmentação

socioespacial, levando à ocupação de populações de baixa renda em áreas de risco e,

principalmente, ao aumento de eventos extremos, frequentemente associados pelos cientistas

ao aquecimento global. Nesse sentido, eventos de temporais, de chuvas intensas, de tornados

ou de estiagens severas podem tornar-se mais frequentes quando a atmosfera encontra-se mais

aquecida, aumentando a possibilidade de incidência de desastres.

A dinâmica atmosférica segue um ritmo composto por eventos usuais e eventos

extremos (anômalos ou excepcionais). Os eventos usuais são facilmente absorvidos pela

sociedade, pois ocorrem com maior frequência e não se afastam significativamente das

normais climatológicas (GONÇALVES, 2013). Já os eventos extremos de chuva, por

exemplo, são aqueles em que os totais em certo período – seja anual, sazonal, diário, seja

outro – apresentam desvios de chuva superiores ou inferiores ao comportamento habitual da

área no período analisado. Sarewitz e Pielke Jr. (2000) define-os como uma ocorrência que

apresenta uma incidência rara, distanciando-se da média, variando em sua magnitude.

O Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC, 2012), em seu relatório

especial denominado Managing the risks of extreme events and disasters to advance climate

change adaptation, traz algumas ressalvas sobre os eventos climáticos extremos. Alguns

eventos climáticos e hidrológicos extremos, por exemplo, secas e inundações, podem ser o

resultado de uma acumulação de eventos meteorológicos ou climáticos que, individualmente,

não seriam considerados como extremos, entretanto, o acumulado pode ser. Assim como

eventos meteorológicos ou climáticos, mesmo não sendo estatisticamente extremos, podem

levar a condições ou a impactos extremos, quer seja por atravessar um limiar social, ecológico

ou físico crítico, quer pela ocorrência simultânea de dois eventos. Por outro lado, nem todos

os extremos conduzem necessariamente a um impacto grave, haja vista o local onde ocorreu o

fenômeno, por exemplo, em um ambiente natural onde não há ocupação.

Albala-Bertrand (1993) já considerava a energia como um dos aspectos fundamentais

para a compreensão dos eventos climáticos extremos. A quantidade de energia (magnitude) é

Page 31: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

30

um condicionante para o grau de impacto de um evento. Compreendendo o fluxo da energia

em determinado local, haveria uma grande probabilidade de prever a ocorrência de eventos

climáticos e, dessa forma, a sociedade poderia adotar medidas preventivas. Porém, tal tarefa

não é fácil dada a complexidade dos sistemas atmosféricos e dos arranjos socioespaciais em

constante dinâmica.

Os eventos extremos de chuva são os principais deflagradores de movimentos de massa e

inundações bruscas no Brasil e, consequentemente na Região Metropolitana do Recife. Estudar a

climatologia dos eventos extremos, sua frequência e impactos provocados por estes em

determinadas localidades consideradas como áreas de risco a processos do meio físico é uma

atividade muito importante para a prevenção e mitigação de desastres.

2.1.1 Anomalias na temperatura da superfície do mar e ocorrência de eventos extremos

A ocorrência de um evento extremo pode estar relacionado com alterações na

temperatura da superfície do mar, uma vez que a interação oceano-atmosfera no Pacífico

Equatorial e no Atlântico Tropical são fatores que podem modificar as configurações da

circulação geral da atmosfera e influenciam, substancialmente, na variabilidade interanual da

distribuição das chuvas no NEB tanto na escala espacial como temporal (HASTENRATH;

HELLER, 1977; MOURA et al., 2000; MOLION; BERNARDO, 2002; SILVA et al., 2011;

NÓBREGA; SANTIAGO, 2014).

A maioria dos estudos realizados sobre a variabilidade interanual da chuva no NEB

focaliza maior entendimento do papel que o fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS) exerce

em tais anomalias. O ENOS foi reconhecido como um fenômeno interanual que envolve

interações oceânicas e atmosféricas associadas à circulação de Walker no Pacífico

(PHILANDER, 1990; NEELIN, 1998). A componente atmosférica do ENOS caracteriza-se

por uma diferença de anomalias de Pressão do Nível do Mar (PNM) entre o Pacífico Central

(Taiti) e o Pacífico Oeste (Darwin/Austrália). Já a componente oceânica, representa-se pelo

evento El Niño/La Niña, caracterizados pelo aquecimento/resfriamento anormal das águas do

Oceano Pacífico equatorial, central e leste (RASMUSSON; CARPENTER, 1982).

A diferença entre os desvios (Δp) em relação à média das pressões registradas ao nível

do mar em Taiti e Darwin caracteriza-se pelo Índice de Oscilação Sul (IOS). Valores positivos

(negativos) do IOS indicam as fases positivas (negativas) do ENOS com a ocorrência de La

Page 32: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

31

Niña (El Niño) com redução/aumento de precipitação no Pacífico tropical central e

aumento/redução da precipitação no Pacífico oeste.

Diversos estudos demonstraram que as secas severas/chuvas excessivas no NEB, tem

sido relacionadas com a ocorrência de El Niño/La Niña, entretanto, Kane (1997) identificou

que, dos 46 El Niño (fortes e moderados) do período de 1949-1992, somente 21 (45%)

estiveram associados a secas severas em Fortaleza (ADREOLI; KAYANO, 2007).

Adreoli e Kayano (2007) estudaram a influência que as temperaturas dos Oceanos

Atlântico Tropical e o Pacífico exercem sobre o Nordeste do Brasil. Perceberam que

independentemente dos sinais do ENOS, o Atlântico Tropical (AT) é mais atuante na

variabilidade da precipitação nessa região.

Moura et al. (2009), ao correlacionarem a precipitação do período chuvoso do setor

Leste do Nordeste (Eneb) com as alterações da temperatura da superfície do mar (ATSM) dos

Oceanos Atlântico e Pacífico, identificaram que o Oceano Atlântico tem maior influência

sobre o regime pluviométrico do leste do NEB, indicando que anomalias positivas neste

cooperam em precipitações acima da média, e ATSM negativas inibem a precipitação na

região estudada.

Hastenrath e Heller (1977) e Hastenrath (1978) mostraram que, em anos de seca, as

ATSMs no AT apresentam um padrão com valores positivos (oceano mais aquecido e alta

nebulosidade) ao norte e negativos (oceano menos aquecido e baixa nebulosidade) ao sul.

Para anos mais chuvosos que o normal, esse padrão tem sinais invertidos. Esses autores

sugerem a existência de uma conexão inversa entre a precipitação sobre o NEB e a Guiana,

atribuída ao deslocamento meridional da ZCIT, que, em anos de sinal positivo no AT Sul, os

ventos alísios influenciam na manutenção desta mais ao sul de sua posição climatológica.

Avaliando tal fato, Souza (1997) relacionou essas mesmas ATSMs no AT ao Padrão

do Dipolo do Oceano Atlântico Tropical, o qual se configura como fase positiva e negativa. A

fase positiva do Dipolo relaciona-se com o padrão de TSM com sinal positivo ao norte e

negativo ao sul do AT. A fase negativa do Dipolo, por sua vez, relaciona-se com o padrão de

ATSMs de sinal negativo ao norte e positivo ao sul do Equador sobre o AT.

Assim, a fase positiva do dipolo indica que a temperatura das águas do Atlântico

Tropical Norte estão mais quentes e as águas do Atlântico Tropical Sul estão mais frias,

acarretando em movimentos descendentes transportando o ar frio e seco dos altos níveis da

atmosfera sobre a região setentrional, central e sertão do Nordeste inibindo a formação de

Page 33: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

32

nuvens e diminuindo a precipitação. Já a fase negativa, ocorre o oposto, o que significa um

aumento nos movimentos ascendentes sobre NEB intensificando a formação de nuvens e

aumentando os totais pluviométricos (NÓBREGA; SANTIAGO, 2014).

Na perspectiva da influência das ATSM dos Oceanos Pacífico e Atlântico nos padrões

de precipitação pluvial, destacam-se os trabalhos realizados por Moura (2000, 2009), Silva,

Galvíncio e Nóbrega (2011), Silva et al. (2011), Sanches, Verdum e Fisch (2014) e Nóbrega

e Santiago (2014).

Silva, Galvíncio e Nóbrega (2011) analisaram a influência da variabilidade climática e

das alterações da temperatura da superfície sobre sub-bacias do rio São Francisco.

Verificaram que no Alto São Francisco não é notável uma associação entre as fases do El

Niño Oscilação Sul e a Oscilação Decadal do Pacífico, como se nota em outras regiões do

Nordeste do Brasil. Já para o médio São Francisco, há uma associação das mesmas fases de El

Niño Oscilação Sul e Oscilação Decadal do Pacífico promovendo diminuição das chuvas,

quando estão na fase quente dos dois eventos, e aumento das chuvas quando estão na fase fria

dos dois eventos.

Silva et al. (2011) avaliaram quanto a precipitação no Nordeste do estado de

Pernambuco é devido a anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (ATSM) do Oceano

Atlântico e do Pacífico. Para tanto, fizeram uma análise da correlação entre os totais anuais de

chuva dos anos de 1963 a 1992 e as ATSM extraídas da Comprehensive Ocean-Atmospheric

Data Set (COADS) de 1945 a 1993. Os autores verificaram que a região tem uma forte

correlação positiva com a área de estudo da bacia do Atlântico Sul e uma correlação negativa

com a bacia do Pacífico Equatorial. No entanto, as anomalias de temperatura das águas do

Atlântico Tropical Sul apresentam uma correlação mais forte, e um aquecimento anômalo

nessa área do Atlântico pode causar eventos extremos de chuva na costa leste do Nordeste.

Sanches, Verdum e Fisch (2014) analisaram a variabilidade das precipitações anuais

no período de 1928 a 2009 em Alegrete, RS, utilizando o Índice de Anomalia de Chuva (IAC)

e compararam os resultados com os anos sob ação do fenômeno El Niño Oscilação Sul

(ENOS) e a Oscilação Decadal do Pacífico (ODP). Os autores verificaram maior

correspondência com os anos sob efeito do El Niño (1932, 1940, 1959, 1966, 1973, 1982,

1986, 1997 e 1998) do que sob o efeito La Niña (1964 e 1989). Com base nos resultados, os

autores identificaram que existem modos de variabilidade interdecadais que reproduzem

características de eventos El Niño/La Niña. Sendo assim, a superposição de padrões

Page 34: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

33

semelhantes pode produzir significativa variabilidade intereventos, dependendo do modo

interdecadal envolvido.

Nóbrega e Santiago (2014) verificaram as possíveis tendências nas Temperaturas da

Superfície do Mar (TSM) dos Oceanos Pacífico e Atlântico e influências nas precipitações no

estado de Pernambuco. Para isso, fizeram uso do IAC de várias estações pluviométricas

distribuídas no estado. Os autores verificaram uma predominância de anomalias negativas de

1951 a 1963 com a ocorrência de apenas um El Niño classificado como forte (1957-1959).

Entretanto, os autores destacam o fortalecimento desse evento em razão da ocorrência da fase

positiva do Dipolo ocorrida de 1951 a 1953.

Esses último autores verificaram também que existe predomínio de anomalias negativas,

ou seja, valores de precipitação abaixo do esperado entre 1951 e 1963, e nesse mesmo período

ocorreu apenas um El Niño classificado como forte em 1957-1959. Outros episódios que

ocorreram no mesmo período foram classificados como fracos (1951, 1953 e 1963). No entanto,

eles atuaram em conjunto com a fase positiva do Dipolo do Atlântico ocorrida em 1951 e 1953.

Em 1968, ano de ocorrência de El Nino moderado, observou-se a menor precipitação na cidade do

Recife. Assim, também chegaram a uma conclusão de que a porção leste do Nordeste do

Brasil é mais influenciada pelo Dipolo do Atlântico.

2.1.2 Metodologia de análise dos extremos de chuva e impactos associados

A identificação de eventos extremos de chuva vem sendo bastante trabalhada ao longo

dos últimos anos para todas as escalas temporais (anual, mensal e diária) utilizando-se

diferentes técnicas estatísticas. Podem-se destacar os trabalhos desenvolvidos por Xavier

(2002), Souza (2011) e Farias, Alves e Nóbrega (2012), que utilizaram as técnicas dos

Quantis para análise dos extremos e os que aplicaram outras técnicas estatísticas e analisaram

os impactos provocados pelos extremos de chuva como os trabalhos realizados por Vicente

(2005), Batista e Rodrigues (2010), Blain (2011), Brito e Silva (2012), Souza, Azevedo e

Araújo (2012) e Gonçalves (2013).

O método do quantis para análise dos eventos extremos de precipitação tornou-se mais

conhecido e bastante utilizado após os trabalhos desenvolvidos por Xavier e Xavier (1999) e

Xavier (2002). Os autores apresentam a vantagem da técnica dos quantis em relação ao uso da

normalização pela média e desvio padrão, porque a primeira é imune a uma eventual

“assimetria” na função densidade de probabilidades que descreve o fenômeno aleatório, que,

Page 35: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

34

no caso do presente trabalho, é a chuva (XAVIER, 2002). Sendo essa uma variável aleatória,

significa que não poderá ser prevista com exatidão determinística. Em outras palavras, pode-

se atribuir uma probabilidade para que a altura X fique compreendida entre dois limites

numéricos quaisquer, arbitrariamente escolhidos.

Souza (2011) aplicou essa técnica para o município do Recife-PE, para as escalas

anual, mensal e diária. Já Souza, Azevedo e Araújo (2012), aplicaram somente para a escala

diária e analisaram os extremos diários de precipitação, com o intuito de identificar um dia de

chuva extremamente forte que possa causar transtornos à população. Verificaram, contudo,

que é frequente a ocorrência de escorregamentos e alagamentos decorrentes das chuvas,

associada à falta de infraestrutura, aliado principalmente às condições sociais e econômicas da

população.

Farias, Alves e Nóbrega (2012) realizaram uma climatologia de ocorrência dos

eventos extremos de precipitação na mesorregião do Sertão Pernambucano utilizando índices

climáticos e analisando a tendência e probabilidade de ocorrência desses eventos para uma

série de trinta e dois anos (1979 a 2010). Com relação à análise de tendência da precipitação,

os autores verificaram um aumento da precipitação na área estudada, entretanto em relação à

análise dos extremos, verificaram o predomínio dos eventos extremamente secos em

detrimento dos chuvosos.

Batista e Rodrigues (2010) realizaram uma análise climatológica e dos eventos

extremos da cidade de Viçosa-MG e correlacionaram com o uso e ocupação do solo.

Concluíram que os prejuízos humanos e materiais, fruto de eventos pluviométricos extremos,

tendem a se agravar à medida que o processo de urbanização intensifica-se, não só na cidade

de Viçosa, mas em todo o espaço urbano.

Blain (2011), diferentemente dos demais, descreveu a probabilidade de ocorrência

associada aos totais máximos anuais de precipitação pluvial diária (Preabs) observados na

cidade de Campinas-SP, entre 1890 e 2009, com base na distribuição geral dos valores

extremos (GEV). O autor chegou à conclusão de que a melhor técnica a ser aplicada nessa

análise é a máxima verossimilhança e o maior ganho de energia da série analisada foi após

1990.

A análise dos extremos diários de chuva merece maior destaque, pois essa análise tem

como objetivo a identificação dos montantes de precipitação que podem causar transtornos à

população, acarretando eventos de inundação, enxurradas e movimentos de massa. A pergunta

que pode ser feita para essa análise é a seguinte: a partir de quantos milímetros um evento

Page 36: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

35

chuvoso pode ser considerado como intenso ou definido como um evento extremo, danoso à

sociedade?

A dificuldade em identificar esse valor consiste no fato de que eles variam de acordo

com as características locais, bem como nas estações do ano. Por exemplo: precipitação de 60

mm pode ser excepcional para uma região e normal para outra, pode ser usual no verão e

excepcional no inverno. Outros fatores importantes a serem considerados são a dinâmica e a

estrutura de cada cidade, que pode influenciar um maior ou menor impacto ocasionado por

um episódio de chuva concentrada e, no caso dos movimentos de massa, é a ocorrência de

chuvas antecedentes aos deslizamentos que deixam o solo saturado, podendo não

necessariamente ocorrer uma chuva de grande intensidade para desencadear um deslizamento.

Além disso, os limiares de chuva que podem levar à ocorrência de um deslizamento

são diferentes dos que ocasionam uma inundação em um determinado lugar. Modesto e Nunes

(1996), em estudo de problemas ambientais no município do Guarujá, encontraram uma

marcante variação espacial quanto aos totais pluviais registrados que poderiam estar

relacionados com as diferenças nos atributos físicos nos seus diversos setores potencializando

a chuva mais em alguns lugares do que em outros. Verificaram também que há uma

correlação entre a degradação do ambiente e eventos de deslizamento, pois 25% dos episódios

verificados de 1965 a 1988 ocorrem em meses em que se registraram alturas de chuvas

habituais.

A identificação desses limiares varia em relação às metodologias; uns são

identificados mediante dados observacionais, adotando valores aleatoriamente, outros adotam

técnicas estatísticas na definição desse limiar com a análise de uma série histórica de

precipitação diária.

Gonçalves (2013) estabeleceu valores iguais ou acima de 60 mm/24h como capazes de

gerar danos à população de Salvador, por exemplo, ocorrência de alagamentos. Vicente

(2005), mediante a observação dos dados pluviométricos da Região Metropolitana de

Campinas e os impactos na área, determinou inicialmente o valor de 50 mm/24h como

precipitações potencialmente deflagradoras de impactos.

Souza (2011) e Souza, Azevedo e Araújo (2012), com a aplicação da técnica dos

quantis, identificaram o limiar de 55,3 mm/24h para o município do Recife-PE, determinado

pelo quantil Q (0,95) considerando que, a partir desse limiar, as chuvas são consideradas

chuvas muito fortes e causadoras de impactos na região. A autora mostrou a importância da

Page 37: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

36

determinação desses limiares por métodos estatísticos, haja vista que, na maioria das

bibliografias trabalhadas, os autores adotam limiares aleatoriamente.

Assim sendo, conforme será visto a seguir, é de grande importância não só identificar

os eventos de chuva extrema, mas realizar uma boa coleta de dados relacionados com os

impactos provocados por eles. Para que isso seja possível, torna-se mister armazenar todas as

ocorrências, seja relacionadas com fenômenos naturais de grande magnitude, seja com

fenômenos de pequena magnitude, como os pequenos deslizamentos mais localizados, porém

que podem causar transtornos à população e até mesmo casos de morte.

2.1.3 Banco de dados de desastres naturais provocados por eventos extremos

O United Nations Office for Disaster Risk Reduction (UNISDR) conceitua desastres

como o resultado de eventos adversos, naturais e provocados pelo homem, sobre um cenário

vulnerável, causando grave perturbação ao funcionamento de uma comunidade ou sociedade.

Envolve extensivas perdas e danos humanos, materiais, econômicos ou ambientais, que

excedem a capacidade da sociedade de lidar com o problema usando meios próprios.

A fim de tentar padronizar os diferentes conceitos sobre desastres, tipos e formas de

coleta de informações para elaboração de banco de dados e estudos estatísticos, o Centre for

Research on the Epidemiology of Disasters (CRED) da Universidade de Louvain, criou o

EM-DAT: The International Disaster Database. Esse banco visa à coleta sistemática e análise

de dados sobre desastres, fornecendo informações para governos e agências encarregados de

atividades de socorro e recuperação das áreas afetadas, além de fornecer subsídios às análises

estatísticas e elaboração de relatórios anuais de desastres elaborados pela UNISDR.

Para o EM-DAT, os desastres naturais podem ser divididos em cinco grupos:

geofísicos, meteorológicos hidrológicos, climatológicos e biológicos (Quadro 2.1). Uma

classificação mais detalhada pode-se encontrar em Below, Wirtz e Guha-Sapir (2009).

Page 38: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

37

Quadro 2.1 – Classificação dos desastres naturais segundo o EM-DAT

GRUPO DE DESASTRES DEFINIÇÃO PRINCIPAIS TIPOS

Geofísicos Originados na superfície terrestre Terremotos, vulcanismo,

movimentos de massa (secos)

Meteorológicos

Eventos causados por processos

atmosféricos de pequena a

mesoescala (em um intervalo de

minuto a dias)

Tempestades

Hidrológicos

Eventos causados por desvios no

ciclo normal da água ou excesso nos

corpos d’água

Inundações, movimentos de

massa (úmido)

Climatológicos

Eventos causados por processos

meteorológicos de meso a macro

escala (em uma variabilidade

intrassazonal a multidécadas

Temperaturas extremas, secas e

queimadas

Biológicos

Desastres causados por exposição

de organismos vivos a germes e

substâncias tóxicas

Epidemias, infestação de insetos.

Fonte: Below, Wirtz e Guha-Sapir (2009).

O Ministério da Integração Nacional do Governo Federal do Brasil (2012) adota o

mesmo conceito proposto pela UNISDR e segue a Classificação Brasileira de Desastres

(Cobrade) baseada na classificação utilizada pelo EM-DAT, com adaptações à realidade

brasileira.

Atualmente, existem vários bancos de dados de desastres naturais, tanto em escala

global quanto regional. O banco de dados em escala global mais conhecido é o EM-DAT, que

distingue dois tipos de desastres, os naturais e os tecnológicos. No entanto, serão aqui

expostos apenas os desastres naturais.

Para que os desastres sejam registrados no banco de dados do EM-DAT, um dos

critérios a seguir deve ser atingido: dez ou mais casos de morte; cem ou mais pessoas

afetadas; declaração de estado de emergência e solicitação de assistência internacional.

No Brasil, criou-se o Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID) da

Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec) em 2012, com o objetivo de qualificar

e dar transparência à gestão de riscos e desastres no Brasil. Além desse banco de dados para

consulta na internet, o Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Proteção e

Defesa Civil/Centro Nacional de Gerenciamento de Desastres elaboraram documentos como o

Page 39: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

38

Atlas brasileiro de desastres naturais, também com volumes para todos os estados e o

Anuário brasileiro de desastres naturais (volumes para os anos 2011 e 2012).

Os dados contidos e consolidados da ocorrência de desastres, no banco de dados e

nesses anuários, são oriundos de documentos oficiais como os extintos Formulários de

Avaliação de Danos (Avadan), e de Notificação Preliminar de Desastres (Nopred), e o atual

documento para informar ocorrência de desastres – Formulário de Informação de Desastres

(Fide). Utilizam-se, também, Decretos de Declaração de Estado de Calamidade Pública (ECP)

ou de Situação de Emergência (SE) e Portarias de Reconhecimento Federal, além de

informações coletadas nas Coordenadorias de Defesas Civis (CDEC).

Uma nova Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (Cobrade) foi instituída

por meio da Instrução Normativa n.º 1, de 24 de agosto de 2012, em substituição à

Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos (Codar). A Cobrade foi elaborada com base na

classificação utilizada pelo Banco de Dados Internacional de Desastres (EM-DAT) do Centro

de Pesquisa sobre Epidemiologia e Desastres (CRED) e da Organização Mundial de Saúde

(OMS/ONU).

De acordo com o Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (Ceped)

(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2012), a classificação de desastres

é importante, primeiramente, por motivo de ordem legal, visto que as situações de

anormalidade só podem ser decretadas em função de um desastre. Assim, para que seja

considerado um desastre, no Brasil, determinado evento tem de estar catalogado na Cobrade.

O segundo motivo é a necessidade do registro desses fenômenos no contexto histórico

do País. A codificação permite a formação de um Banco de Dados, que poderá ser utilizado

para uma análise contextualizada da ocorrência de desastres no território nacional,

possibilitando o planejamento de medidas preventivas e preparatórias para o enfrentamento

desses eventos.

A Cobrade classifica os desastres agrupando em Desastres Naturais e Tecnológicos.

Dentre os desastres naturais, são apresentados os Grupos de Desastres Geológicos,

Hidrológicos, Meteorológicos e Climatológicos. A descrição de cada desastre pode ser

visualizada na Cobrade completa disponibilizada no site do Ministério da Integração Nacional

(www.integração.gov.br).

De acordo com o EM-DAT, a frequência e a intensidade dos desastres naturais

aumentou de forma significativa desde a década de 1950. Segundo alguns autores, esse

Page 40: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

39

aumento associa-se diretamente à maior exposição e vulnerabilidade da sociedade

contemporânea (NICHOLLS, 2001; PIELKE JR, 2005; PIELKE JR et al., 2005). Outros,

como Houghton (2003), afirmam que a principal agravante tem sido as mudanças globais,

principalmente com a intensificação das instabilidades atmosféricas e aumento dos chamados

eventos extremos, como furacões, vendavais, tempestades e chuvas intensas, que causam

grandes danos socioeconômicos (MARCELINO; NUNES; KOBIYAMA, 2006).

Pesquisas relacionadas com a ocorrência de desastres naturais no mundo e no Brasil

vêm sendo desenvolvidas nos últimos anos, ajudando, portanto, na identificação das

principais causas do aumento da ocorrência de desastres.

Guha-Sapir, Hoyois e Below (2014) apresentam o Annual Disaster Statistical Review

2013: the Numbers and Trends. De acordo com esse anuário de 2013, os desastres naturais,

mais uma vez, causaram impactos devastadores para a sociedade humana. Foram registrados

no mundo 330 desastres naturais, causando a morte de mais de 21.610 pessoas, fazendo 95,5

milhões de vítimas e registrando danos econômicos de U$ 118,6 bilhões. Um total de 108

países sofreu com esses desastres.

Em relação ao total de ocorrências, em 2013, o número de desastres foi menor do que

a frequência média anual observada entre 2003 e 2012, que foi de 288. Foi o menor valor dos

últimos dezesseis anos. O baixo número de desastres relatados no referido ano, quando

comparado com a média de ocorrência entre 2003 e 2012, foi por um menor número de

desastres hidrológicos (inundações e movimentos de massa) e climatológicos (18% e 45%

menor do que a média de 2003 e 2012 respectivamente). Os desastres hidrológicos (159 no

total) ainda foram, de longe, os que mais ocorreram em 2013 (48,2%), seguidos de desastres

meteorológicos (106;32,1%), desastres climatológicos (33; 10%) e desastres geofísicos (32;

9,7%).

China, Estados Unidos, Indonésia e Filipinas foram os países que mais sofreram com

os desastres naturais em 2013. Dois desastres que ocorreram nesse ano foram mais

significativos, matando mais de mil pessoas, o furacão Haiyan nas Filipinas, em novembro,

onde foram registradas 7.354 mortes, e a grande inundação no mês de junho, na Índia, com

6.054 mortes registradas.

Em 2013, o número de mortes provocadas pelos desastres naturais foi menor (21.610),

se comparado com a média anual entre 2003 e 2012 (106.654), o que pode ser explicado,

principalmente, pela análise da média entre três anos, 2004, 2008 e 2010, com mais de 200

Page 41: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

40

mil casos de morte registrados e dois anos 2003 e 2005 com registro médio em torno de 100

mil mortes, muito desses casos por terremotos (GUHA-SAPIR; HOYOIS; BELOW, 2014). A

Figura 2.1 apresenta a tendência de ocorrência de vítimas no mundo e a Figura 2.2, os dez

países com maior número de eventos registrados em 2013. Percebe-se o Brasil na oitava

colocação do ranking, com maior ocorrência de eventos hidrológicos.

Na teoria, os perigos naturais (Natural Hazards) ameaçam igualmente qualquer

pessoa, mas na prática, proporcionalmente, atingem os mais pobres por meio de um conjunto

de fatores: há um número muito maior de população de baixa renda vivendo em lugares

inapropriados, considerados frágeis, em áreas mais densamente povoadas e em terrenos de

maior suscetibilidade à ocorrência dos eventos naturais.

Figura 2.1 – Gráfico da tendência de ocorrências e vítimas de desastres naturais no mundo de

1990 a 2013

Fonte: Guha-Sapir, Hoyois e Below (2014).

* Soma dos registros de mortes e do total de afetados.

Page 42: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

41

Figura 2.2 – Gráfico representativo dos dez países com o maior número de eventos registrados em

2013

Fonte: Guha-Sapir, Hoyois e Below (2014).

No Brasil, de acordo com o Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2010: volume

Brasil (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2012), contabiliza-se

anualmente um aumento do número de ocorrências de desastres registrados desde a década de

2000 (Figura 2.3). Os dados são comprovados também quando se observam os seguintes

números: total de desastres entre 1990 a 2010 (31.909), década de 1990 (8.671 / 27%) e

década de 2000 (23.238 / 73%).

Figura 2.3 – Gráfico da ocorrência de desastres naturais no Brasil de 1990 a 2010

Fonte: Universidade Federal de Santa Catarina (2012).

Page 43: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

42

Entretanto, é importante chamar a atenção para o fato de que as diferenças entre os

registros também podem estar ligadas à dificuldade histórica da Defesa Civil em manter os

registros atualizados. Como tendência, é possível apenas afirmar que tanto os desastres têm

potencial crescimento como o fortalecimento do sistema, a fidelidade aos números e o

compromisso no registro também crescem com o passar dos anos.

Fazendo uma comparação da diferença de registros entre cada ano por tipo de desastre,

de modo a estabelecer uma relação entre o aumento de ocorrência e o aumento de registros, a

partir da média, observa-se na Figura 2.4 que o desastre que apresentou maior variação entre

as décadas foi o movimento de massa, aumentando 21,7 vezes, visto que a média geral foi de

6 vezes.

Figura 2.4 – Gráfico comparativo de ocorrência de desastres naturais no Brasil entre as décadas de

1990 e 2000

Fonte: Universidade Federal de Santa Catarina (2012).

No total de afetados por tipo de desastres (96.220.879 pessoas), a estiagem/seca é o

desastre que mais afetou a população brasileira, por ser mais recorrente (50,34%), mas as

inundações bruscas, com 29,56% dos afetados brasileiros, causaram o maior número de

mortes (43,19%).

De acordo com o Anuário brasileiro de desastres naturais (BRASIL, 2012c), em

2011, os desastres tiveram impactos significativos na sociedade brasileira. Relatou-se a

ocorrência de 795 desastres naturais, que causaram 1.094 óbitos e afetaram 12.535.401

pessoas. Foram 2.370 municípios afetados, sendo 65,44% deles por eventos hidrológicos. A

região mais afetada nesse ano foi a região Sul (6.855.449 afetados), no entanto, a que sofreu o

maior impacto pelo poder de destruição deles foi a região Sudeste. O número de óbitos

verificados nessa última região foi 7,29 vezes maior do que a verificada nas outras quatro

Page 44: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

43

juntas, isso justificado pelo aconteceu na Região Serrana do Rio de Janeiro, representando

87,95% do total de óbitos em 2011 no Brasil, tendo como maior contribuição para o número

de óbitos, os deslizamentos; todavia, eles contribuíram apenas com 5,40% do total de afetados

por desastre em todo o Brasil.

Já em 2012 (BRASIL, 2013), relatou-se, oficialmente, a ocorrência de 376 desastres

naturais, causando 93 óbitos e afetando 16.977.614 pessoas. Os municípios afetados foram

3.781, um maior número do que em 2011, e 65,06% deles pela seca/estiagem. A região

Nordeste teve o maior percentual de municípios atingidos 47,16%, porém, os desastres que

causaram o maior número de mortes foram os movimentos de massa e enxurradas, ambos

correspondendo a 27,96% dos óbitos. Os movimentos de massa apresentaram maior

predominância nesse ano, foram 92% dos casos registrados.

No caso do Nordeste, em 2011, principalmente, no litoral leste, contabilizaram-se 10

óbitos, 358 desabrigados, 656 desalojados, 1.025 afetados, totais bem inferiores da região

Sudeste. Em relação à erosão dos solos, classificadas pela Cobrade de Erosão

Costeira/Marinha, Erosão da Margem Fluvial e Erosão Continental, quase 82% dos desastres

desse tipo ocorreram nas regiões Centro-Oeste, Norte e Sul. O Nordeste teve uma proporção

de 27,27% das ocorrências totais, com 150 desalojados e um total de 14.722 afetados.

Em 2012, a maioria dos casos de erosão ocorreu no Nordeste e Norte, com 38,46% e

46,15% dos casos respectivamente. Predominando a erosão marinha costeira no Nordeste e

erosão das margens fluviais no Norte.

Os eventos de seca/estiagem são os que afetam o maior número de pessoas, afetando,

em 2011, na região Norte, Sul/Sudeste e semiárido nordestino 1.308.873 pessoas. Em 2012, o

número de pessoas afetadas por seca/estiagem foi de 8.956.853. Na região do semiárido

nordestino, os impactos foram mais perceptíveis. Esse número foi bem acima do observado

em 2011 (1.308.873).

Em relação aos alagamentos, em 2011, as regiões Sudeste e Sul foram as que

apresentaram o maior número de ocorrências com 29.198 e 112.031 afetados,

respectivamente. A região Nordeste, principalmente no estado da Bahia, teve um total de

37.904 afetados. Em 2012, ocorreram 17 desastres provocados por alagamento no Brasil,

prevalecendo na região Sudeste, seguida do Sul e Nordeste. No entanto, na totalidade do

Brasil, observou-se uma menor frequência de alagamentos. Tal fato pode ser explicado pelo

déficit de precipitação desse ano, principalmente na região Nordeste, onde os impactos foram

Page 45: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

44

sentidos inclusive fora do semiárido. Mesmo assim, na região Nordeste contaram-se 10

desabrigados, 255 desalojados e um total de 1.552 afetados.

As enxurradas afetaram 7.043.989 pessoas no Brasil, em 2011, além de 518 óbitos e

mais de 600 feridos. Contudo, danos humanos decorrentes de enxurradas estão relacionados,

na maioria das vezes, às ocupações desordenadas nas margens dos rios ou outras áreas com

alta suscetibilidade a esse tipo de desastre. O maior número de desabrigados por enxurrada foi

na região Nordeste (23.118), mas com apenas 6 casos de óbito enquanto na região Sudeste

foram 492 casos.

Em 2012, o número de ocorrências de enxurradas foi muito reduzido, se comparado

com 2011 (total de 93 ocorrências), sendo a região Sudeste a mais afetada. A região Nordeste,

por sua vez, apresentou somente 4 ocorrências.

As inundações, geralmente ocasionadas por chuvas prolongadas em áreas de planícies

tiveram as maiores ocorrências, em 2011, registradas nas regiões Sul e Sudeste. O Nordeste

também apresentou significativos registros, com uma distribuição esparsa desses ao longo dos

meses, tendo um maior número de inundações em maio, que é um dos meses de maior

precipitação na porção leste do Nordeste, onde foram afetadas 308.928 pessoas.

As macrorregiões Sudeste, Nordeste e Sul do Brasil são aquelas de maior

suscetibilidade às inundações; no entanto, em 2012, alterou significativamente essa

predominância, já que a região Norte foi a que contabilizou a maior parte desses desastres.

Esse fato está associado ao evento extremo ocorrido na região Norte, em que a Bacia

Amazônica, como um todo, registrou cheias recordes neste ano, provavelmente influenciado

por um evento de El Niño, que está relacionado com a diminuição das chuvas no Nordeste do

Brasil e aumento das chuvas na região Norte.

De acordo com o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais: volume Pernambuco

(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2013), esse estado tem 70% do seu

território no Polígono das Secas. Os fenômenos desse tipo passaram a ocorrer com mais

frequência depois de 2001, o que se pode explicar pelo aumento da população ou atividades

em áreas vulneráveis, aumentando a exposição a esse tipo de adversidade. Outro fator

importante a ser levado em consideração é a ação do homem, pois a constante destruição da

vegetação natural por meio de queimadas acarreta a expansão do clima semiárido para as

áreas onde anteriormente não existiam.

Page 46: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

45

Ainda em Pernambuco, as inundações bruscas (enxurradas) e os alagamentos

decorrentes das fortes chuvas ocasionaram 345 registros oficiais de desastres, entre os anos de

1991 a 2010. As regiões mais atingidas foram a Região Metropolitana do Recife (RMR) e a

Zona da Mata. O município de Camaragibe, na RMR, registrou o maior número de desastres

no período, totalizando 7 ocorrências. Houve um aumento nos registros a partir do ano 2000

que pode estar relacionado com o aumento do nível do risco da população às cheias em razão

do crescimento urbano do estado.

O ano de mais ocorrência de enxurradas foi 2004 (95 registros), principalmente nos

municípios da região semiárida. Em 2010, foram registradas 74 ocorrências, em que 65

ocorreram no mês de junho, apresentando um acumulado de 219,01 mm em 111 dias de

chuva. Outro ano significativo foi o mês de junho de 2005, com 37 do total de 41 ocorrências.

Em relação aos movimentos gravitacionais de massa, a RMR é a mais atingida. Esses

desastres ocorrem nas áreas de morro, onde a ocupação se deu de modo desordenado ainda

havendo atributos naturais para a suscetibilidade à instabilização de encostas, como a geologia

da área. Nos municípios de Recife, Olinda e Camaragibe, os principais locais de

deslizamentos estão sobre a Formação Barreiras.

Entre 1990 e 2010, contabilizaram-se 14 registros oficiais de movimentos de massa

em Pernambuco, registrados em 8 municípios na porção leste do Estado. Dentre esses, estão:

Recife, Olinda, Camaragibe e Jaboatão dos Guararapes na RMR; Goiana, Ribeirão e Quipapá

na Zona da Mata e Gravatá no Agreste de Pernambuco.

Nota-se que a magnitude dos movimentos de massa que ocorrem no estado de

Pernambuco não é tão significativa para serem classificados como desastres naturais e

cadastrados nos referidos bancos de dados, mas dados das Coordenadorias de Defesas Civis

do estado e dos municípios trazem informações mais detalhadas e problemas acarretados por

esses processos, como perda de residências e, em casos mais localizados, a existência de

óbitos.

Já o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (2005), contabilizou um total de 1.572 mortes

por deslizamentos no Brasil no período de 1988 a 2005. O que representa um número

aproximado, já que algumas ocorrências conhecidas na RMR não constam entre esses dados.

Bandeira e Coutinho (2015) apresentaram um total de 214 mortes provocadas por

deslizamentos entre 1984 e 2012 nessa região. Em 2011, nove vítimas com morte foram

contabilizadas após as chuvas intensas que ocorreram em julho (120,3 mm/24h). Infelizmente,

Page 47: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

46

aumentando esse total de mortes que ocorreram na RMR. Em 2015, houve um registro de

morte no Recife depois do acumulado apenas de 30 mm/24h no mês de março. Com as fortes

chuvas que ocorreram nos dias 24 e 25 de junho e no dia 28 de junho, houve mais dois óbitos

nesse último dia.

Nesta tese, procurou-se não se deter apenas nas ocorrências que constam nos

documentos expostos, visto que, como afirmam os autores desses documentos, houve

limitações nas pesquisas realizadas nos Atlas de Desastres do Brasil, em Pernambuco, bem

como nos demais estados brasileiros, pelas condições de acesso, ao banco de imagens e

referencial teórico para a caracterização geográfica de cada estado, pelas lacunas de

informações por mau preenchimento, além da armazenagem inadequada dos formulários,

muitos guardados em locais sujeitos a fungos e umidade.

Os autores do Atlas de Desastres do volume de Pernambuco relatam as fragilidades

quanto ao processo de gerenciamento das informações sobre os desastres brasileiros:

- ausência de unidades e campos padronizados para as informações declaradas pelos

documentos;

- ausência de sistema de coleta sistêmica e armazenamento dos dados;

- cuidado quanto ao registro e integridade histórica;

- dificuldades na interpretação do tipo de desastre por responsáveis pela emissão dos

documentos;

- dificuldade de consolidação, transparência e acesso aos dados. (UNIVERSIDADE

FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2013).

Contudo, percebe-se a importância da realização de trabalhos que analisam o histórico

dos principais desastres que ocorrem no Mundo e no Brasil, identificando os tipos de

desastres, sua magnitude e impactos associados, bem como a elaboração dos referidos banco

de dados. Entretanto, as exigências estabelecidas para que a ocorrência de um determinado

fenômeno seja considerado como desastres e cadastrado nos bancos de dados internacionais e

nacional de desastres naturais relacionam-se com eventos de grande magnitude. Os eventos de

movimentos de massa (erosão e deslizamentos), por exemplo, são mais localizados e às vezes

de pequena magnitude, a depender da intensidade das chuvas e dos eventos de chuvas

antecedentes, mas que podem gerar perda de vidas ou danos às construções, estradas, etc.,

porém, não são cadastrados nos bancos de dados citados.

Page 48: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

47

Diante do exposto, torna-se essencial, para um bom planejamento de áreas de risco,

um treinamento das defesas civis para tornar os cadastros de ocorrências mais homogêneos,

não só os que atingem os critérios técnicos estipulados pelo S2ID. Todas as ocorrências

devem ser registradas e armazenadas em um banco de dados, visando tanto a continuidade de

trabalhos do nível desta pesquisa, como a identificação de áreas críticas e melhor

conhecimento da problemática da área para subsidiar as intervenções.

2.2 Processos do meio físico

Os processos que serão discutidos nesta seção fazem parte da dinâmica natural da

superfície terrestre e são agentes modeladores do relevo. O resultado dessa modelagem é a

paisagem, a qual é estudada pela geomorfologia que procura descrevê-la em termos de

estrutura, processo e tempo.

Em geomorfologia, o processo define as ações dinâmicas ou eventos que envolvem a

aplicação de forças sobre certos gradientes. Essas ações são provocadas por agentes como

chuva, vento, ondas, marés, rios, gelo, etc. (INFANTI JÚNIOR; FORNASARI FILHO,

1998). Os processos geomorfológicos, geralmente, são complexos, refletindo tanto as relações

entre as variáveis causais (clima, geologia, morfologia, etc.), como também a sua evolução no

tempo. Portanto, ao se analisar os processos, deve-se sempre ter em conta o espaço em que o

processo ocorre, a sua velocidade e frequência.

No município do Ipojuca, de forma semelhante à Região Metropolitana do Recife, é

frequente a ocorrência de processos como movimentos de massa, sendo este dividido em

movimentos de massa segundo a ação da gravidade (movimentos gravitacionais de massa) e

movimentos de massa causados por processos de transporte (erosão). Encontram-se também

solos expansivos, subsidências, inundações e alagamentos.

Assim, de acordo com os objetivos deste trabalho, para análise dos impactos

provocados pelos eventos extremos de chuva, os processos analisados serão inundações e

movimentos de massa (representados pelos deslizamentos). Para o modelo de suscetibilidade,

serão os processos de movimento de massa. Nesse caso, estes últimos serão discutidos de

forma mais detalhada, com a apresentação dos conceitos, tipos e agentes condicionantes

fundamentais para a compreensão e desenvolvimento da avaliação da suscetibilidade.

Page 49: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

48

2.2.1 Inundação e alagamento

As inundações são fenômenos naturais de caráter hidrometeorológico ou hidrológico,

ligados à quantidade e intensidade da precipitação pluvial (AMARAL; RIBEIRO, 2009). A

inundação é o aumento do nível dos rios além da sua vazão normal, ocorrendo o aumento das

suas águas sobre as áreas próximas a ele. Essas áreas próximas são chamadas de planícies de

inundação. Quando não ocorre o transbordamento, apesar de o rio estar praticamente cheio,

ocorre uma enchente. Assim, o que diferencia a enchente da inundação são os níveis de água

(KOBIYAMA, 2006), conforme a Figura 2.5.

Figura 2.5 – Perfil esquemático do processo de enchente e inundação

Fonte: Amaral e Ribeiro (2009).

A Defesa Civil Nacional classifica as inundações de duas formas: por sua magnitude e

pelo padrão evolutivo. Pela magnitude, podem ser classificadas como inundações

excepcionais, de grande magnitude, normais ou regulares e de pequena magnitude; pelo

padrão evolutivo, são inundações normais, bruscas, alagamentos e inundações litorâneas. A

maior parte das situações de emergência ou estado de calamidade pública é causada pelas

inundações graduais e bruscas (KOBIYAMA, 2006).

As inundações graduais ocorrem quando a água eleva-se de forma lenta e previsível e

mantém-se em situação de cheia durante algum tempo, em seguida, escoam gradualmente. Já

as inundações bruscas ou enxurradas, ocorrem em consequência das chuvas intensas ou

concentradas, principalmente em regiões de relevo acidentado, com elevação súbita do nível

da água e escoamento violento.

Page 50: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

49

O alagamento é um acúmulo momentâneo de águas em determinados locais por

deficiência no sistema de drenagem (AMARAL;RIBEIRO, 2009).

2.2.2 Movimentos gravitacionais de massa

Os movimentos gravitacionais de massa (MGM) são um tipo de processo de vertente e

fazem parte da dinâmica natural da paisagem, atuando como um dos principais processos

geomorfológicos responsáveis pela evolução do relevo, principalmente em áreas de relevo

acidentado e montanhoso. Em conjunto com os processos erosivos, auxiliam no recuo das

encostas e na formação dos depósitos coluviais.

O termo Landslide (deslizamento) descreve uma ampla variedade de movimentos de

massa em uma encosta, incluindo alguns como queda de rochas, tombamentos e fluxo de

detritos que envolvem pouco ou nenhum deslizamento propriamente dito, sendo os

deslizamentos uma das formas mais importantes dentre todas as formas de movimentos

gravitacionais de massa (VARNES, 1984).

O termo deslizamento é comumente usado como sinônimo de movimentos

gravitacionais de massa por sua simplicidade, podendo também aparecer como

escorregamentos, conforme utilizado em Guidicini e Nieble (1984). Sendo assim, os

movimentos gravitacionais de massa, deslizamentos e escorregamentos serão tratados, nesta

tese, como sinônimos.

Os tipos de movimentos gravitacionais de massa variam em função do tipo de material

envolvido no processo e em relação à sua magnitude. Em geral, tipos de movimentos rápidos

são mais propícios a causar perda de vidas do que movimentos lentos, não obstante estes

últimos podem causar dano extensivo às construções e infraestruturas (PETLEY, 2010).

A distribuição de deslizamentos fatais reflete a justaposição de três fatores:

1) ocorrência de processos tectônicos (eventos sísmicos);

2) ocorrência de graus elevados de precipitação, incluindo, usualmente, ambos o alto

grau de precipitação total anual e altas intensidades de chuva em um curto período

de tempo;

3) a presença de uma alta densidade populacional.

Page 51: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

50

Embora, em muitos casos, os deslizamentos sejam influenciados pelas ações

antrópicas, devemos levar em conta o fato de que em muitas paisagens tais feições

representam o resultado de processos naturais importantes no condicionamento e da evolução

do relevo ao longo do tempo (FERNANDES et al., 2001).

Nesse mesmo ponto de vista, Bitar (2014) afirma que a suscetibilidade pode ser

inicialmente analisada por meio dos fatores predisponentes intrínsecos à natureza dos

terrenos. Nesse sentido, mesmo que uma área tenha sido modificada em relação às suas

características, seja pela urbanização, seja por outros tipos de intervenções como o uso

agrícola, que passe a favorecer ou desfavorecer o desenvolvimento de processos do meio

físico, pressupõe-se que os fatores predisponentes podem ainda estar presentes, portanto,

devem ser considerados para fins de planejamento e gestão territorial.

Nos municípios da RMR, diferentemente do que ocorre nas regiões serranas do

Sudeste e Sul do Brasil, as principais causas de escorregamentos (deslizamentos) associam-se

à degradação ambiental, por exemplo, remoção da vegetação natural para o plantio da cana-

de-açúcar, cortes para implantação de rodovias e a intensificação de cortes e aterros para a

ocupação desordenada das áreas de morro. Além disso, a falta de infraestrutura é uma das

principais causas de deslizamentos no Brasil e principalmente na RMR (ALHEIROS, 1998;

CARVALHO; GALVÃO, 2006).

2.2.2.1 Classificação dos movimentos gravitacionais de massa

Existem várias propostas de classificação dos movimentos gravitacionais de massa em

todo o mundo baseados em diversos fatores; e por essa diversidade de fatores, encontra-se na

literatura uma grande variedade de classificações que geram conflitos nas terminologias

adotadas. A classificação proposta por Sharpe (1938 apud VANACÔR, 2006, p. 44) foi

considerada como a primeira classificação de amplo aceite e embasou os diversos trabalhos

que surgiram posteriormente. Todavia, a classificação proposta por Varnes (1978) ainda é a

mais adotada internacionalmente e considerada a classificação oficial da Associação

Internacional de Geologia de Engenharia (IAEG), assim como o trabalho de Cruden e Varnes

(1996), sendo este uma revisão dos trabalhos anteriores de Varnes.

No Brasil, podem-se citar como mais importantes os trabalhos de Freire (1965), que

divide os movimentos em escoamentos, escorregamentos, subsidências e desabamentos, e por

meio de uma adaptação dessa proposta, o trabalho de Guidicini e Nieble (1984), aumentando

Page 52: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

51

o número de subdivisões e adicionando as formas de transição dos movimentos complexos. O

Instituto de Pesquisas Tecnológicas (1991) elaborou uma classificação mais simplificada, e

com base nas anteriores, Infanti Júnior e Fornasari Filho (1998) apresentaram uma revisão

sucinta dos principais tipos de movimentos de massa que ocorrem no Brasil, relativos à

dinâmica de ambientes tropicais. Cruden e Varnes (1996), seguindo o modelo de Varnes

(1978), classificam os movimentos de massa com ênfase no tipo de movimento, no tipo de

material transportado e a atividade do movimento de massa. Os tipos de materiais são solo,

rocha e detritos; e os tipos de movimentos são quedas, tombamentos, escorregamentos,

expansões laterais, escoamentos (rastejo e corridas). O Quadro 2.2 apresenta uma visão

abreviada da classificação proposta por Cruden e Varnes (1996) e na sequência, uma

descrição desses tipos de movimentos.

Quadro 2.2 – Visão abreviada da classificação proposta por Cruden e Varnes (1996)

TIPO DE MOVIMENTO

TIPO DE MATERIAL

ROCHA

SOLOS DE ENGENHARIA

Predomínio de

grossos

Predomínio de

finos

QUEDA

Queda de

blocos

Queda de

detritos

Queda de solo

TOMBAMENTO Tombamento

de rocha

Tombamento de

detritos

Tombamento

de solo

DESLIZAMENTO /

ESCORREGAMENTOS

ROTACIONAL

(CIRCULARES) Deslizamento

de rocha

Deslizamento de

detritos

Deslizamento

de solo TRANSLACIONAL

(PLANARES)

EXPANSÃO LATERAL / ESPALHAMENTO

LATERAL

Expansões

laterais de

rocha

Expansões

laterais de

detritos

Expansões

laterais de solo

ESCOAMENTO / FLUXOS

Movimento

lento

Corrida de

rocha

Movimento

lento

Corrida de

detritos

Movimento

lento

Corrida de

solo

Page 53: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

52

Quedas (Falls) – ocorrem quando o material (rocha ou solo) desprende-se das encostas

pela ação da gravidade. O movimento é do tipo queda livre ou rolamento, com

velocidade muito rápida (m/s) que pode atingir grandes distâncias. Nas encostas

íngremes, o movimento geralmente é em queda livre e nas superfícies inclinadas o

movimento é de rolamento de matacões.

Tombamentos (topless) – o movimento se dá a partir da rotação de um bloco da

encosta em torno de um eixo. Esse movimento condiciona-se à existência de planos de

fraqueza (Figura 2.6).

Figura 2.6 – Exemplos de queda (A) e tombamento (B)

(A)

(B)

Fonte: Infanti Júnior e Fornasari Filho (1998).

Escorregamentos/deslizamentos (slides) – é o movimento que ocorre geralmente por

meio de uma superfície de ruptura. Os primeiros sinais podem ser observados nas

fissuras na superfície do solo. Dividem-se em rotacionais (circulares), translacionais

(planares) e em cunha (INFANTI JÚNIOR; FORNASARI FILHO, 1998).

o Escorregamentos rotacionais ou circulares – têm superfícies de deslizamentos

curvas, sendo comum a ocorrência de uma série de rupturas combinadas e

sucessivas. Associam-se a aterros, pacotes de solos ou depósitos mais espessos

e homogêneos, rochas sedimentares ou cristalinas extremamente fraturadas,

Page 54: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

53

ocorrendo com frequência em encostas compostas por material de alteração

originado de rochas argilosas como argilitos e folhelhos.

o Escorregamentos translacionais ou planares – são processos muito frequentes

nas encostas serranas brasileiras, envolvendo solos superficiais,

frequentemente até o contato com a rocha subjacente, alterada ou não.

Também ocorrem em taludes, mobilizando solo saprolítico, saprolitos e rochas,

sendo condicionados por estruturas planares desfavoráveis à estabilidade,

relacionados com feições geológicas diversas (foliação, xistosidade, fraturas,

falhas, etc.). É nas encostas de urbanização precária envolvendo cortes e

aterros que esse tipo de processo causa o maior número de vítimas no Brasil e

na RMR.

o Escorregamentos em cunha – associam-se aos saprolitos e maciços rochosos,

nos quais a existência de duas estruturas planares, desfavoráveis à estabilidade,

condiciona o deslocamento de um prisma ao longo do eixo de interseção desses

planos (Figura 2.7).

Figura 2.7 – Tipos de escorregamento

Fonte: Adaptado de Cruden e Varnes (1996).

Page 55: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

54

Espalhamentos (spreads) – ocorre em materiais mais rígidos sobrejacentes a camadas

menos resistentes, formando fissuras e fraturas transversais à direção do movimento.

O movimento é repentino e se dá pela perda de resistência da camada subjacente, em

razão da ação da água, como o efeito da liquefação das areias; pode também ocorrer

pelo escoamento plástico como nas argilas sensitivas. O material sobrejacente pode

sofrer movimentos de subsidência, translação, rotação, desintegração ou escoamento.

Escoamento (flow) – são representados por deformações, ou movimentos contínuos,

estando ou não presente em uma superfície definida ao longo do qual a movimentação

ocorra. Guidicini e Nieble (1984) classificam os escoamentos em movimentos lentos

(rastejos) e movimentos rápidos (corridas).

o Rastejos (creep) – consistem no movimento descendente, lento e contínuo da

massa de solo de um talude. Correspondem a uma deformação de caráter

plástico, cuja geometria não é bem definida e que também não apresenta o

desenvolvimento de uma superfície definida de ruptura. Só é perceptível em

observações de longa duração (cm ou mm/ano). Ocorrem geralmente em

encostas retilíneas e convexas em intensidades proporcionais à inclinação

dessas encostas (Figura 2.8).

Figura 2.8 – Exemplo de rastejo e seus indícios

Fonte: Adaptado de Infanti Júnior e Fornasari Filho (1998).

o Corridas (flow) – são formas rápidas de escoamento, nos quais os materiais

se comportam como fluidos altamente viscosos. Caracterizam-se por uma

dinâmica híbrida regida pela mecânica dos solos e dos fluidos, pelo grande

volume de materiais que mobilizam e pelo extenso raio de alcance que têm

Page 56: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

55

(até alguns quilômetros), por isso podem provocar consequências de

magnitudes superiores aos escorregamentos, no entanto, ocorrem com

menor frequência. Recebem diferentes denominações dependendo das

características do material mobilizado tais como corrida de lama (mud

flow) constituindo em um solo com alto teor de água; corrida de terra

(earth flow), cujo material predominante também é solo, mas com teor

menor de água (Figura 2.9); e corrida de detritos (debris flow), cujo

material predominante é grosseiro, envolvendo fragmentos de rocha de

vários tamanhos.

Figura 2.9 – Exemplo de corrida de terra em Camaragibe-PE em 2000

Fonte: Alheiros (2000 apud COUTINHO, 2009, p. 64).

Os movimentos gravitacionais de massa são condicionados por complexas relações

entre fatores geológicos, englobando as características lito/estruturais e tectônicas,

geomorfológicos, climáticos e antrópicos (VANACÔR; ROLIM, 2012). Assim, diversos

autores estudaram métodos objetivos para caracterizar o papel desempenhado e classificar a

importância dos fatores que condicionam esses movimentos, objetivando auxiliar na definição

da influência de cada fator para construir o mapa de suscetibilidade (FERNANDES et al.,

2001; DONATI; TURRINI, 2002).

Gusmão Filho (1997 apud BANDEIRA, 2010) observou, na RMR, que os

deslizamentos em solos, na maioria, não são profundos e a sua superfície de ruptura é

translacional, paralela ao talude. Os mecanismos de instabilização das encostas urbanas

associados a esse tipo de ruptura estão ligados ao aumento da umidade pela infiltração de

águas de chuva e servidas.

Page 57: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

56

A classificação dos fenômenos de movimentos gravitacionais de massa, contudo,

assume especial relevância quando esta tem um caráter genético associado, relacionando a

tipologia dos movimentos com os processos e mecanismos necessários para a deflagração

tornando-se, então, uma importante base teórica para os estudos de previsão e

desenvolvimento de modelos (AUGUSTO FILHO; VIRGILI, 1998).

2.2.2.2 Fatores condicionantes dos movimentos gravitacionais de massa

Segundo Alcántara-Ayala e Goudie (2010), baseados em Cruden e Varnes (1996), os

movimentos gravitacionais de massa (MGM) podem ser deflagrados por um destes três

fatores: precipitação, sismicidade ou ação humana. No entanto, para esses fatores serem

passíveis de induzir o MGM, tem de haver uma série de fatores físicos que levam à ruptura

do talude. Esses fatores são usualmente determinados como “causas”, que podem ser:

geológicas, morfológicas (ou geomorfológicas), físicas e humanas.

a) Causas geológicas – materiais que formam a encosta e as deixam suscetíveis. Tem

as seguintes causas principais:

a.1 materiais fracos, pouco resistentes ou sensíveis;

a.2 presença de falhas com orientações na mesma direção do deslizamento e

combinação de materiais que podem causar variações no lençol freático;

a.3 contraste na permeabilidade ou baixa consistência dos materiais.

b) Causas morfológicas – um parâmetro-chave é o ângulo de inclinação da encosta em

comparação com a força do material; a declividade e a forma da vertente

(concavidade, convexidade) que indicam a concentração de água em localizações

específicas.

c) Causas físicas – ligam-se aos processos físicos, por exemplo, maior suscetibilidade

a deslizamentos quando o nível do lençol freático está elevado em razão da

ocorrência de um evento de precipitação pluvial prolongado. Outro exemplo seria a

perda da cobertura vegetal.

d) Causas humanas – referem-se às atividades antrópicas que podem desestabilizar a

encosta a exemplo de desmatamento de áreas florestadas para cultivos em geral,

pastagens ou para retirada de madeira; corte de encostas para construção de estradas

e residências sem níveis adequados de estabilidade de taludes e manejo da água.

Page 58: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

57

Guidicini e Nieble (1984) utilizam a terminologia de agentes e causas de

instabilização para discutir os condicionantes dos deslizamentos. Entende-se por causa o

modo de atuação de determinado agente, ou seja, um agente pode expressar-se por uma ou

mais causas. Dentre a conceituação de agente, pode-se fazer uma distinção entre agentes

predisponentes e agentes efetivos. Os agentes predisponentes referem-se a um conjunto de

características naturais intrínsecas do terreno, sem a ação do homem, sob qualquer forma, tais

como complexo geológico, morfológico, climático-hidrológico, gravidade, calor solar e tipo

de vegetação original.

Entende-se por agentes efetivos o conjunto de elementos diretamente responsáveis

pelo desencadeamento do movimento de massa; neles está inclusa a ação humana. Em virtude

de sua forma de participação, são divididos em preparatórios e imediatos. Entre os primeiros,

estão a pluviosidade, erosão pela água ou vento, congelamento e degelo, variação de

temperatura, dissolução química, ação de fontes e mananciais, oscilação do nível dos lagos,

marés e do lençol freático, ação humana e dos animais, e desflorestamento.

Entre agentes efetivos imediatos, podem-se citar: chuva intensa, fusão de gelo e neve,

erosão, terremotos, ondas, vento, etc. A ação do homem pode ser considerada tanto como

agente efetivo preparatório como imediato. As causas são definidas como internas, externas e

intermediárias. Mais detalhes sobre os agentes e causas podem ser visualizados no Quadro

2.3.

Quadro 2.3 – Agentes e causas dos escorregamentos

AGENTES CAUSAS

Predisponentes Efetivos

Internas Externas Intermediárias Preparatórios Imediatos

Complexo

geológico;

complexo

morfológico;

complexo

climato-

hidrológico;

gravidade; calor

solar; tipo de

vegetação

Pluviosidade;

erosão pela

água e vento;

congelamento

e degelo;

variação da

temperatura;

dissolução

química; ação

de fontes e

mananciais;

oscilação do

freático; ação

de animais e

antrópica

Chuvas

intensas;

fusão do

gelo e neves;

erosão;

terremoto;

ondas;

vento; ação

do homem

Efeito das

oscilações

térmicas;

redução dos

parâmetros de

resistência por

intemperismo

Mudanças

na geometria

do sistema;

efeitos de

vibrações;

mudanças

naturais na

inclinação

das camadas

Elevação do nível

piezométrico em

massas

“homogêneas”;

elevação da coluna

de água em

descontinuidades;

rebaixamento rápido

do lençol freático;

erosão subterrânea

retrogressiva

(piping); diminuição

do efeito de coesão

aparente.

Fonte: Augusto Filho e Virgili (1998), adaptado de Guidicini e Nieble (1984).

Page 59: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

58

Identificar, portanto, os fatores predisponentes intrínsecos aos movimentos de massa é

fator primordial para análise da suscetibilidade a esses movimentos.

De forma resumida, podem-se citar os seguintes itens como os principais

condicionantes dos escorregamentos e processos correlatos na dinâmica ambiental brasileira

(AUGUSTO FILHO; VIRGILI, 1998):

características climáticas, com destaque para o regime pluviométrico;

características e distribuição dos materiais que compõem o substrato das

encostas/taludes, abrangendo solos, rochas, depósitos e estruturas geológicas

(xistosidade, fraturas, etc.);

características geomorfológicas, com destaque para inclinação, amplitude e forma

do perfil das encostas (retilíneo, convexo e côncavo);

regime das águas de superfície e subsuperfície;

características do uso e ocupação, incluindo cobertura vegetal e as diferentes

formas de intervenção antrópica das encostas, como cortes, aterros, concentração de

água pluvial e servida, etc.

Cortes verticalizados, aterros mal compactados, taludes desprovidos de cobertura

superficial, lançamento de águas servidas, fossas nas bordas de taludes, vazamento de

tubulações e acúmulo de lixo são exemplos de intervenções antrópicas que, por sua vez,

podem ser um agente efetivo preparatório ou imediato. As águas, sejam elas servidas, sejam

provenientes da chuva, representam de modo geral um agente efetivo preparatório ou

imediato de maior influência dos movimentos de massa nas encostas da RMR. A ação da

chuva e forma de ocupação das encostas nessa região são fatores desencadeadores

importantes para a ocorrência dos movimentos de massa, sendo a erosão hídrica pluvial e os

escorregamentos planares, os principais processos de instabilização de encosta na RMR

(COUTINHO; BANDEIRA, 2012).

Os fatores condicionantes utilizados na análise de suscetibilidade variam em muitos

trabalhos. Entretanto, a maioria concorda que os principais condicionantes dos processos de

movimentos de massa estão relacionados com a geologia, geomorfologia (declividade e

formas de vertente), aspectos climáticos e hidrológicos, vegetação e ação antrópica, esta

última relativa às formas de uso e ocupação da terra (VARNES, 1978; GUIDICINI; NIEBLE,

1984; FERNANDES; AMARAL, 2010).

Page 60: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

59

Em estudos realizados em Jaboatão dos Guararapes, Gusmão Filho, Alheiros e Melo

(1993) mostraram que o risco de escorregamentos pode ser considerado segundo dois

enfoques. O primeiro, de caráter inelástico, tem como foco os elementos da suscetibilidade

natural da área, particularmente os condicionantes geológicos e geomorfológicos (litologia,

textura, estrutura, forma da encosta, etc.). O segundo enfoque, de caráter elástico, está voltado

para os elementos ambientais (corte e aterro, drenagem, vegetação), que se mostraram os

principais condicionantes do risco no caso estudado por esse autor.

A seguir, serão discutidos os principais fatores predisponentes e o papel que cada um

exerce nos movimentos gravitacionais de massa. Os fatores considerados são: geologia

(destacando a litologia, estrutura, além dos solos na perspectiva da geotecnia), os aspectos

geomorfológicos (declividade e formas de vertente), a vegetação e o uso da terra.

Geologia

O ambiente tropical e o subtropical apresentam características em função do processo

de intemperismo, com mantos de cobertura superficial de grandes espessuras e formação de

zonas de diferentes resistências, permeabilidade, etc. (AUGUSTO FILHO; VIRGILI, 1998).

A presença de fraturas (tectônicas ou resultantes de alívio de pressão) apresentam importantes

pontos de descontinuidade e menor resistência, constituindo-se em caminhos preferenciais aos

movimentos de massa (WOLLE, 1985). Tais descontinuidades são preservadas nas massas de

solos originadas da alteração dos maciços rochosos.

Assim, os tipos petrográficos presentes, bem como sua mineralogia, coesão, falhas,

fraturas, diáclases e todos os demais planos de fraqueza existentes no maciço são atributos

que influenciam diretamente nos cálculos do fator de segurança dos taludes (quando já

ocupados) ou na suscetibilidade a deslizamentos (quando não ocupados).

Os diferentes tipos litológicos em uma encosta proporciona a esta um tipo de

comportamento específico. Nesse caso, encostas formadas por litologias cristalinas com

mineralogia composta por feldspato e minerais ferromagnesianos tendem a gerar, em muitos

casos, blocos isolados (matacões), solos argilosos ou silto argilosos de considerável espessura

(PFALTZGRAFF, 2007).

Por outro lado, encostas ocupadas por litologias sedimentares terão comportamentos

determinados por sua gênese, além da composição e ângulo de atrito entre os grãos e o grau

Page 61: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

60

de coesão. As litologias sedimentares e os sedimentos inconsolidados (areias e argilas) estão

mais sujeitos aos processos erosivos que os tipos cristalinos. Tais evidências podem ser

visualizadas na Formação Barreiras, composta por arenitos e siltitos (principalmente), são

bastante suscetíveis à erosão já que são muito friáveis e com uma alternância de camadas com

composição granulométrica e mineralógica distintas.

Ainda ligado aos aspectos geológicos, pode-se destacar o material do substrato ou a

caracterização dos mantos de cobertura superficial, verificando as diferentes resistências,

permeabilidades e outras características que estejam diretamente relacionadas com os

mecanismos de escorregamento e processos correlatos. Nesse sentido têm-se os maciços

terrosos e maciços rochosos.

Na análise dos maciços terrosos, uma série de outros parâmetros e propriedade dos

solos influencia, direta ou indiretamente, suas suscetibilidades aos movimentos de massa e ao

tipo de mecanismo de instabilização atuante. Dentre eles, destacam-se: peso específico,

porosidade, índice de vazios; mineralogia; granulometria; plasticidade; atividade,

permeabilidade, compressibilidade e história de tensões (AUGUSTO FILHO; VIRGILI,

1998).

Esses maciços relacionam-se diretamente com os processos morfogenéticos de

formação do relevo, como eluvial, fluvial e pluvial-gravitacional, inferindo características

texturais, estruturais e sedimentológicas específicas. Dentre os processos analisados, os

pluviais gravitacionais são mais importantes, pois são responsáveis pela origem dos depósitos

coluviais (coluviões) e de tálus. Tais depósitos apresentam mecanismos de instabilização

próprios, ditados pela sua origem de materiais mobilizados por movimentos de encostas

(escorregamento, quedas, corridas).

Os coluviões são depósitos de materiais inconsolidados geralmente encontrados

recobrindo encostas íngremes, formados pela ação da água e principalmente da gravidade

(PASTORE; FONTES, 1998). Os coluviões também têm sido considerados como solos que

apresentam textura homogênea, uma composição silto-argilosa ou arenosa, em geral, bastante

porosa. Podem apresentar alguns blocos e/ou fragmentos de rochas imersos em uma matriz de

solo, porém a matriz é sempre predominante em todo o depósito.

Por outro lado, os depósitos de tálus têm composição textural heterogênea, compostos

predominantemente por bloco de rochas de vários tamanhos, em geral arredondados,

envolvidos ou não por uma matriz areno-silto-argilosa, frequentemente saturada, por

Page 62: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

61

ocuparem linhas de drenagem ou base de encostas, sendo sua estabilidade bastante sensível às

alterações no lençol freático. Ao contrário dos coluviões, esses depósitos ocorrem de forma

localizada, com morfologia própria, ocupando os sopés das encostas de relevos acidentados

como serras, escarpas, etc.

Esses depósitos podem apresentar movimentos do tipo rastejo (creep), uma vez que

são materiais de baixa resistência, e por sua grande porosidade e plasticidade, exibem

comportamento visco-plástico; podem também se acelerar em razão de alterações por meio de

execuções de cortes nas bases, bem como agravados por períodos muito chuvosos. Por isso,

são depósitos quase sempre problemáticos e de difícil contenção quando instáveis.

Os maciços rochosos têm taludes mais estáveis que os maciços terrosos, suportando

geometrias mais acentuadas (ângulo e altura). Tal fato decorre dos seus maiores valores

médios de coesão e ângulo de atrito em relação aos respectivos produtos de alteração. A

estabilidade das massas rochosas, portanto, é determinada em grande parte pelas

descontinuidades rochosas (PASTORE; FONTES, 1998).

Geomorfologia

Os condicionantes geomorfológicos são os mais utilizados nos modelos de análise de

suscetibilidade a movimentos de massa, estando eles representados pelas formas das vertentes

(convexa, retilíneas e côncavas) e pelas variáveis morfométricas como declividade, aspecto,

índice de dissecação do relevo, amplitude do relevo, comprimento de rampa, etc.,

representando os processos morfogenéticos atuantes na formação do relevo. Fernandes e

Amaral (2010) acrescentam que a morfologia de uma encosta, em perfil ou em planta, pode

condicionar tanto de forma direta quanto indireta a geração de movimentos de massa.

A declividade é uma das principais variáveis morfométricas utilizadas na análise e

modelagem de instabilidade de encostas, em muitos casos a única, o que pode gerar distorções

na análise dos movimentos de massa. Refere-se à relação entre a amplitude e o comprimento

de rampa, que pode ser expressa em grau ou porcentagem (gradiente topográfico). A

velocidade de deslocamento do material e, portanto, a capacidade de transporte das massas

sólidas e líquidas, é diretamente proporcional à declividade.

A correlação entre a declividade da encosta e a frequência de movimentos condiciona

de forma direta a geração de movimentos de massa e já é conhecida há longo tempo, podendo

Page 63: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

62

ser compreendida pela equação de Coulomb (GUIDICINI; NIEBLE, 1984), a qual descreve

que o aumento do ângulo da encosta implica uma diminuição do fator de segurança

(FERNANDES; AMARAL, 2010).

Exemplos como o de Salter et al. (1981 apud FERNANDES; AMARAL, 2010),

estudando a distribuição dos deslizamentos na Nova Zelândia após chuvas intensas,

observaram que 97% dos deslizamentos ocorreram em encostas com declividades acima de

20°. Entretanto, a maior densidade dos deslizamentos não se deu nas encostas mais íngremes

(> 35°), mas em encostas com declividades entre 21° e 25°.

Outros autores encontraram resultados semelhantes, como Lee et al. (2004 apud

VANACÔR, 2006) que, ao mapear deslizamentos na Coreia após intensas chuvas,

observaram alta probabilidade de ocorrência em declividades entre 22° e 30°. Tal fato pode

ser justificado pela variação na cobertura vegetal e pelo fato de que nas encostas mais

íngremes os solos já teriam sido removidos por movimentos anteriores (FERNANDES;

AMARAL, 2010).

O parâmetro topográfico Perfil da encosta (forma da vertente ou curvatura) está

relacionado com a geração de zonas de divergência e convergência dos fluxos de águas

superficiais e subsuperficiais. Corresponde a menor fração taxonômica do relevo e apresenta

superfícies geneticamente homogêneas.

De acordo com Anjos (2008), as vertentes apresentam uma inclinação em relação ao

plano horizontal e, por isso, tem consequências quanto à velocidade com que as águas das

chuvas escorrem e com o nível de saturação de determinado terreno.

Valeriano (2003) distingue entre curvatura vertical e a curvatura horizontal, em que a

primeira se expressa na direção da declividade e a segunda se expressa ao longo da curva de

nível. As classes de curvatura horizontais (convergente, planar ou divergente) e verticais

(côncavo, retilíneo ou convexo) podem ser combinadas para fornecer a indicação da forma do

terreno (Figura 2.10).

Page 64: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

63

Figura 2.10 – Combinação das classes de curvatura vertical e horizontal

Fonte: Valeriano (2003).

O arranjo espacial dos perfis transversais (curvatura vertical) e longitudinais

(curvatura horizontal) das vertentes pode ser claramente avaliado em cartas topográficas em

escala 1:10.000, permitindo definir quatro tipos básicos de vertentes que se caracterizam pela

atuação de diferentes processos erosivos.

Assim, Bloom (1970 apud CASSETI, 2005), baseado em Troeh (1965), divide os

quatro tipos de encostas em dois grupos (Figura 2.13): a) encostas coletoras de água com

contornos côncavos (quadrantes I e II); b) encostas distribuidoras de água, com contornos

convexos (quadrantes III e IV). Desse modo, analisando-se as combinações, os casos

extremos destas podem ser representados pela forma côncavo-convergente (máxima

concentração e acúmulo de escoamento) e pela forma convexo-divergente – máxima

dispersão do escoamento (Figura 2.11).

Page 65: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

64

Figura 2.11 – Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem

de acordo com a forma e os processos operantes

Fonte: Casseti (2005).

Vegetação

Diversos autores estudaram a importância da vegetação na proteção do solo e das

encostas, verificando que o desmatamento pode promover o surgimento de áreas de risco de

escorregamentos. Guidicini e Nieble (1984) afirmam que existe um consenso generalizado

nesse sentido, confirmado por Augusto Filho (1994) que atribui, como efeitos favoráveis, a

redistribuição da água da chuva e o acréscimo da resistência do solo em razão da presença das

raízes (reforço mecânico e escoramento).

Tabalipa e Fiori (2008) analisando a influência da vegetação na estabilidade de taludes

na bacia do rio Ligeiro (PR) verificaram que a presença da vegetação é um fator positivo para

o aumento do índice de segurança das vertentes, não havendo região instável onde existe

vegetação. Entretanto, é importante destacar que, com relação aos movimentos de massa,

existem algumas divergências sobre o papel da vegetação na estabilidade das encostas.

Page 66: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

65

Gray e Leiser (1982) atribuem, assim, alguns efeitos favoráveis e desfavoráveis da

cobertura vegetal em relação à estabilidade das encostas. Tendo como exemplos de efeitos

favoráveis:

a) redistribuição da água proveniente das chuvas por meio da copa das árvores,

impedindo o impacto direto da chuva na superfície do terreno, evitando o efeito

splash e diminuindo a quantidade efetiva de água que infiltra no solo, além da

retirada da água do solo pela evapotranspiração;

b) acréscimo da resistência do solo pelas raízes, principalmente a vegetação de porte

arbóreo, que podem aumentar a resistência do solo pelo esforço mecânico e pelo

escoamento (raízes pivotantes e profundas).

Dentre os efeitos desfavoráveis, estão:

a) efeito alavanca que consiste na força cisalhante transferida pelo tronco das árvores

ao terreno, quando sua copa é atingida por ventos;

b) efeito cunha provocado pela pressão lateral causada pelas raízes ao penetrar em

fendas, fissuras e canais do solo ou rocha;

c) sobrecarga vertical causada pelo peso das árvores.

Alguns vegetais como as bananeiras também agem de forma negativa na estabilidade

das encostas, pois propiciam o acúmulo de umidade levando o solo a um estado de quase

saturação permanente.

Nesse sentido, após a retirada da vegetação em uma encosta, de imediato, há um

aumento da sua estabilidade, consequência da eliminação da ação dos ventos sobre a

vegetação, diminuindo o efeito “alavanca” e a sobrecarga. Contudo, com o passar do tempo,

ocorre um incremento na instabilidade pela deterioração do sistema radicular e da eliminação

da redistribuição da água da chuva, caindo diretamente no solo (AUGUSTO FILHO;

VIRGILI, 1998; KOZCIAK, 2005).

2.2.3 Movimentos de transporte de massa (erosão)

Além dos movimentos gravitacionais de massa, nesta tese, pretende-se esclarecer de

forma rápida os movimentos de transporte de massa (erosão) e seus condicionantes com

destaque para o município do Ipojuca. Discussões mais detalhadas acerca da temática Erosão

Page 67: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

66

podem ser encontradas nos trabalhos de Guerra (1998; 1999), Coelho Neto (1998), Infanti

Júnior e Fornasari Filho (1998), Coutinho et al. (1999), Gomes (2001), Silva (2004), Girão

(2007); Azambuja (2007) e Meira (2008).

A erosão dos solos na sua forma mais ampla, embora seja um dos fenômenos naturais

mais estudados, ainda é pouco compreendida, principalmente no que se refere à sua previsão,

tanto no espaço como no tempo. Tal dificuldade resulta, dentre outras razões, das complexas

interações dos fatores condicionantes, os vários mecanismos de ruptura do solo, as

características de transporte, além das intervenções antrópicas cada vez mais frequentes. Além

disso, as diferentes feições erosivas observadas na natureza encontram-se associadas a

processos bem específicos, fato que dificulta o desenvolvimento de estudos voltados à

previsão (SELBY, 1993; MORGAN, 1996), necessitando, às vezes, de uma simplificação e

associando-os aos movimentos gravitacionais de massa nos modelos de avaliação da

suscetibilidade (VANACÔR, 2012).

A erosão pode ser definida como o processo de degradação e remoção de partículas do

solo ou de fragmentos e partículas de rochas, pela ação combinada da gravidade com água,

vento, gelo e organismos – plantas e animais (SALOMÃO; IWASA, 1995).

Existem duas formas de abordagem dos processos erosivos: a erosão natural ou

geológica, que se desenvolve em condições de equilíbrio com a formação do solo e a erosão

acelerada ou antrópica, cuja intensidade é superior à da formação do solo, não permitindo a

sua recuperação natural (INFANTI JÚNIOR; FORNASARI FILHO, 1998).

2.2.3.1 Tipos de erosão

Conforme já exposto, a erosão pode ser gerada por diversos agentes, entretanto, a água

ou erosão hídrica, seja pelas chuvas, seja pelas águas servidas, terá maior importância na

avaliação da suscetibilidade nesta pesquisa, haja vista que esse é o principal agente

deflagrador da erosão em regiões de clima tropical.

A ação das chuvas pode ocorrer basicamente por meio dos seguintes mecanismos:

impacto das chuvas que provoca a degradação das partículas; remoção e transporte pelo

escoamento superficial, e deposição dos sedimentos produzidos, formando depósitos de

assoreamento.

Page 68: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

67

Dependendo da forma como se processa o escoamento superficial, a erosão pode ser

classificada de duas formas: erosão laminar (em lençol ou superficial) e erosão linear. A

primeira trata-se do processo de remoção progressiva e uniforme dos horizontes superficiais

do solo, causada pelo escoamento difuso da água das chuvas. A segunda decorre do

escoamento hídrico superficial concentrado, resultando em pequenas incisões na superfície do

terreno, em forma de sulcos, que podem evoluir por aprofundamento para ravinas, e quando

sofre não somente influência das águas superficiais, como também dos fluxos subsuperficiais,

em que se inclui o lençol freático, evoluem para voçoroca ou boçoroca (INFANTI JÚNIOR;

FORNASARI FILHO, 1998).

Ressalte-se que diversas definições que distinguem ravinas de voçorocas são

trabalhadas na literatura nacional e internacional. As distinções de caráter dimensional

surgem, principalmente, no meio acadêmico. Segundo esse critério, ravinas seriam incisões de

até 50 centímetros de largura e profundidade, e acima desses valores seriam denominadas de

voçorocas (GUERRA, 1998).

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo (SALOMÃO,

2007) tem veiculado a definição segundo a qual as ravinas seriam canais criados pela ação do

escoamento superficial; e voçorocas, canais esculpidos pelo afloramento do lençol freático.

Outros autores como Salomão (2007), Infanti Júnior e Fornasari Filho (1998) também trazem

esse mesmo conceito, o qual se apresenta mais prático e útil do ponto de vista técnico,

facilitando o planejamento de eventuais obras de recuperação de incisões erosivas.

Desse modo, enquanto o processo de ravinamento ocorre em função apenas da erosão

superficial, com a linha de água representando grandes declives, canal profundo, estreito e

longo, as boçorocas (voçorocas) formam-se tanto pela erosão superficial como a erosão

subterrânea (atingimento do lençol freático e desenvolvimento de piping), com tendência

tanto para alargar-se como para aprofundar-se, até atingir seu equilíbrio dinâmico

(SALOMÃO, 2007).

O fenômeno de piping interno a uma voçoroca provoca a remoção de partículas do

interior do solo formando canais que evoluem em sentido contrário ao do fluxo de água,

podendo dar origem a colapsos do terreno, com desabamentos que alargam a voçoroca ou

criam outros ramos. De tal modo, a voçoroca é palco de vários fenômenos, tais como erosão

superficial, erosão interna, solapamentos, desabamentos e escorregamentos, que se conjugam

no sentido de dotar essa forma de erosão de elevado poder destrutivo (SALOMÃO, 2007).

Page 69: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

68

Conforme o exposto, considera-se nesta tese o conceito de ravina e voçoroca proposto

pelo IPT e encontrado em Salomão (2007), pois tal concepção torna-se mais aplicável na

modelagem da suscetibilidade a movimentos de massa, uma vez que, no estudo da erosão

linear, além do entendimento dos fatores naturais do solo (propriedades físicas), é

fundamental conhecer o comportamento das águas das chuvas, do lençol freático e do uso e

ocupação da terra.

A Figura 2.12 traz um esquema representativo dos tipos de erosão descritos acima.

Figura 2.12 – Esquema representando os processos de erosão hídrica

Fonte: Teixeira et al. (2003).

2.2.3.2 Fatores condicionantes da erosão

Os processos erosivos são controlados, em geral, por fatores como erosividade da

chuva, propriedades dos solos (erodibilidade do solo), cobertura vegetal e características da

encosta (GUERRA, 1998). De tal modo, as erosões hídricas são, basicamente, comandadas

por dois conjuntos de fatores ou agentes condicionantes principais: os fatores antrópicos, por

meio das formas de uso e ocupação da terra (agricultura, obras civis, urbanização, etc.), que

Page 70: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

69

deflagram o processo erosivo imediatamente ou após certo intervalo de tempo; e os fatores

naturais, que determinam a intensidade dos processos, destacando-se como mais importantes a

chuva, a cobertura vegetal, o relevo, os tipos de solo e o substrato rochoso (INFANTI

JÚNIOR; FORNASARI FILHO, 1998).

A influência dos fatores antrópicos nos processos erosivos será esclarecida na seção

5.2.4 em conjunto com o desencadeamento de movimentos gravitacionais de massa, em que

serão discutidas as formas de degradação dos solos acarretados pela ocupação urbana e rural

no município do Ipojuca, ou seja, os problemas ligados às formas de uso e de ocupação da

terra identificados no município.

O principal agente climático na deflagração dos processos erosivos nos ambientes

tropicais úmidos é a chuva. A forma como ela ocorre, desde a sua intensidade, duração e

frequência, principalmente, a intensidade, pode acelerar os processos erosivos. Ela provoca

erosão pelo impacto das gotas de água sobre a superfície do solo, caindo em quantidade e

energia variáveis, acarretando a desagregação das partículas; remoção e transporte pelo

escoamento superficial e posterior deposição dos sedimentos produzidos (INFANTI JÚNIOR;

FORNASARI FILHO, 1998).

O escoamento superficial, por sua vez, tem papel fundamental no transporte das

partículas do solo que foram desprendidas pelo impacto das gotas de chuva, podendo conter

energia suficiente para a quebra dos agregados naturais do solo e produzir erosão (LOPES,

1980). A intensidade da ação do escoamento tanto na desfragmentação das partículas como no

transporte dependem do tamanho e forma das partículas de solo, da declividade dos terrenos,

condições e tipos de cobertura vegetal. No entanto, o escoamento só ocorre quando a

intensidade da chuva excede a capacidade de infiltração, que também será influenciada pela

declividade do terreno e pela textura do solo.

Eventos de chuvas torrenciais precedidas por período chuvoso encontram o solo já

saturado, intensificando, assim, o escoamento superficial e a sua ação erosiva. É nessas

ocasiões que voçorocas ativas avançam de maneira rápida, criando muitas vezes situações

emergenciais, atingindo áreas urbanas, como foi o caso de voçorocas encontradas no

município de Garanhuns, Pernambuco (AZAMBUJA, 2007).

O índice que expressa a capacidade da chuva de provocar erosão é conhecido como

erosividade, sendo este, um dos importantes parâmetros para a quantificação de perda de solo,

por exemplo, pela aplicação da Equação Universal de Perda de Solo (USLE) de

Page 71: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

70

WISCHMEIER (1959) que, além do fator chuva, relaciona outros fatores, tais como o índice

de erosividade, o comprimento e declividade da encosta, o fator de uso e manejo do solo e o

fator relacionado com a prática de conservação do solo (MEIRA, 2008).

A cobertura vegetal funciona como defesa natural do solo contra a erosão. A

modificação da vegetação, com o desmatamento e as diversas formas de uso da terra, é

apontada como principal causa dos processos erosivos. A retirada da vegetação acarreta o

aumento do escoamento superficial, como também o acréscimo da infiltração, o que aumenta

os gradientes e desencadeiam os pipings.

A influência da cobertura vegetal na distribuição das águas da chuva dá-se pelos

fenômenos de interceptação, escoamento pelos troncos e retenção na serapilheira, sendo esta

última, a cobertura dos restos orgânicos que cobre o solo atenuando o impacto da água sobre a

superfície.

Quanto à influência do relevo, representa-se pela declividade e comprimento de rampa

da encosta, que interferem diretamente na velocidade do escoamento superficial. Assim, os

terrenos com alta declividade e maiores comprimentos de rampa apresentam escoamentos

superficiais de maior velocidade e, consequentemente, maior capacidade erosiva. Contudo,

uma encosta com baixa declividade e maior comprimento de rampa também pode ter elevada

intensidade erosiva, desde que sujeita à grande vazão do escoamento das águas superficiais

(INFANTI JÚNIOR; FORNASARI FILHO, 1998).

Além dos indicadores topográficos descritos acima, a forma da encosta interfere no

processo erosivo, ligada à hidrologia das encostas, ora agindo como dispersoras (encostas

convexas), ora como concentradoras das águas (encostas côncavas), conforme foi apresentado

nos condicionantes dos movimentos gravitacionais de massa.

Torna-se importante a identificação das áreas de maior concentração de águas pluviais

e subsuperficiais quanto à análise das formas de encostas, principalmente quando

identificadas possíveis áreas de cabeceiras de cursos d’água (SALOMÃO, 2007).

A resistência do solo à ação erosiva da água, conhecida como erodibilidade, está

atrelada às características do solo como textura, estrutura e permeabilidade (BERTONI;

LOMBARDI NETO, 1985). Guerra (1998) afirma que, em relação às propriedades do solo,

deve-se levar em conta a textura, densidade aparente, porosidade, teor de matéria orgânica,

teor de estabilidade de agregados e PH do solo.

Page 72: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

71

A textura, ou seja, o tamanho das partículas (granulometria) influi na capacidade de

infiltração e absorção da água da chuva, interferindo no potencial de enxurrada e na maior ou

menor coesão das partículas (INFANTI JÚNIOR; FORNASARI FILHO, 1998). Além de que

algumas frações granulométricas podem ser removidas mais facilmente do que outras.

Brady (1989) afirma que a análise do tamanho das partículas fornece uma ideia geral

das propriedades físicas dos solos, podendo classificá-los como solos arenosos, compostos por

textura grossa; franco arenoso, variando entre texturas moderadamente grossas, média e

moderadamente finas; e solos argilosos compostos basicamente por textura fina.

Desse modo, Salomão (2007) destaca que os solos mais arenosos apresentam-se

geralmente mais porosos permitindo maior infiltração da água e, por terem baixa proporção

de partículas argilosas que atuam como elemento de ligação, apresentam mais facilidade na

remoção delas. Todavia, nos solos argilosos, por apresentar espaços porosos menores, a

infiltração é menor, mas a força de coesão é bem maior, aumentando a resistência à erosão.

Ressalte-se que a textura deve ser levada em consideração em conjunto com outras

propriedades, uma vez que a agregação dessas frações granulométricas é afetada por outros

elementos, por exemplo, o teor de matéria orgânica (GUERRA, 1998).

A fração granulométrica conhecida como silte, em geral, tem certa plasticidade,

coesão e adsorção, não pela sua propriedade aparente, mas pela formação de películas de

argila sobre sua superfície. A detecção de grandes proporções de silte no solo é um primeiro

indicativo de suscetibilidade à erosão (AZAMBUJA, 2007).

A presença marcante de argila assegura uma textura fina ao solo, que nem sempre

representa suscetibilidade à erosão tendo em vista que, em muitos casos, ela pode atuar de

forma estabilizadora de perfil do solo por sua facilidade de manter-se agregada. Por outro

lado, em caso de diferenciação textural entre os horizontes do solo, a camada mais argilosa

pode apresentar mudanças na condutividade hidráulica do perfil.

A estrutura, ou seja, o modo como as partículas do solo se arranjam, influi na

capacidade de infiltração e absorção da água da chuva e na capacidade de arraste das

partículas do solo. A permeabilidade indica a menor ou maior capacidade de infiltração das

águas da chuva e está diretamente ligada à porosidade do solo (SALOMÃO; IWASA, 1995).

A densidade aparente é outra propriedade de suma importância para compreensão do

processo erosivo de um solo, tendo em vista que pode definir a quantidade de água que um

solo é capaz de absorver durante uma tempestade. Pode também ser definida como a relação

Page 73: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

72

entre a massa (volume do solo seco) e poros existentes (BRADY, 1989). Isso significa dizer

que solos com grande quantidade de espaços porosos em relação aos espaços sólidos têm

densidade aparente baixa; enquanto em solos compactados, a densidade aumenta, diminuindo

consequentemente a quantidade de espaços livres.

O tipo de uso da terra pode influenciar significativamente a densidade aparente, por

exemplo, o pisoteio do gado que compacta o solo pode apresentar baixa porosidade,

desencadeando uma série de fatores que podem acarretar processos erosivos durante todo o

ano e não somente nos momentos de tempestade.

A estabilidade do agregado é outra propriedade relevante na análise dos processos

erosivos. O agregado representa um conjunto coerente de partículas primárias do solo com

forma e tamanho definido (CURI et al., 1993 apud AZAMBUJA, 2007). Os agregados atuam

no solo como agentes estruturadores, variando em sua forma, tamanho e grau de

desenvolvimento.

A matéria orgânica incorporada no solo permite maior agregação e coesão entre as

partículas, tornando o solo mais estável em presença de água, mais poroso e com maior poder

de retenção de água (GUERRA, 1998).

A profundidade do solo é outro fator relevante a ser analisado. No caso do município

do Ipojuca, os solos formados pelo embasamento cristalino são profundos, tendo maior

capacidade de infiltração das águas pluviais, não favorecendo o desenvolvimento de

enxurradas, portanto, menos erodíveis. Entretanto, com a incidência de chuvas persistentes e

prolongadas, é possível a saturação de grande parte desse solo, possibilitando em locais de

escoamento concentrado, o desenvolvimento de erosões de grande porte, como as voçorocas.

O substrato rochoso se relaciona com a suscetibilidade do material à erosão por meio

da intensidade do intemperismo, da natureza da alteração da rocha e do grau de fraturamento.

As formações geológicas sedimentares, cujas coberturas pedológicas correspondem a

materiais arenosos (argissolos, latossolos ou depósitos alúvio-coluvionares) favorecem a

ocorrência de voçorocas. Já em áreas de rochas pré-camprianas, modeladas por relevos de

colinas, como no caso da porção oeste do município do Ipojuca, ocorrem voçorocas e ravinas,

geralmente associadas à natureza e constituição dos solos de alteração de rochas xistosas e

graníticas, que, quando apresentam textura siltosa e micácea, são bastante porosos,

permeáveis e friáveis, favorecendo o desenvolvimento de intensos processos erosivos

(INFANTI JÚNIOR; FORNASARI FILHO, 1998).

Page 74: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

73

As incisões erosivas formam-se nas cabeceiras de vale, pois é nessas áreas que ocorre

convergência entre fluxos superficiais e fluxos subterrâneos. Em geral, essas áreas de

cabeceiras de vale, também conhecidas como áreas de contribuição em vales não canalizados,

são os pontos da rede hidrográfica que demonstram maior sensibilidade às oscilações

hidrodinâmicas, pois são aquelas em que diferentes mecanismos tendem a interagir ao longo

do tempo. Assim sendo, essas são áreas bastante suscetíveis à erosão por voçorocas

(OLIVEIRA, 1999).

A delimitação de redes e de bacias de drenagem de diferentes ordens possibilita uma

primeira abordagem para a identificação de áreas suscetíveis à erosão por voçorocas. De

acordo com (OLIVEIRA, 1999), as voçorocas tendem a se estabelecer em cabeceiras de vale

que têm uma rede de eixos de drenagem relativamente densa, em áreas do substrato cristalino.

Oliveira (1999), por fim, conclui que voçorocas conectadas à rede hidrográfica nada mais são

do que canais incisos de primeira ordem que se desenvolvem em função de mecanismos que

tendem a convergir nos mananciais.

2.3 Análise da suscetibilidade: conceitos básicos

Existe uma quantidade significativa de conflitos e dúvidas relacionadas com os

conceitos das principais terminologias discutidas na avaliação da suscetibilidade, perigo e

risco a desastres naturais, tais como suscetibilidade, perigo, vulnerabilidade, resiliência e

risco. Esses conflitos tornam-se ainda maiores quando são analisados trabalhos desenvolvidos

por diferentes disciplinas como a Geologia, Geografia, Engenharia Geotécnica e Geologia de

Engenharia. Diante do exposto, pretende-se nesta seção apresentar os conceitos e as principais

obras da literatura científica que norteiam as pesquisas desenvolvidas pelo Gegep/UFPE e,

consequentemente, que serão tomados como base nesta tese.

Os eventos extremos originam um desastre uma vez que o terreno apresente

suscetibilidade à ocorrência de determinado processo do meio físico, seja inundação,

movimento de massa, seja outro. Ou seja, a suscetibilidade (susceptibility) ocorre quando o

terreno apresenta predisposição ou propensão ao desenvolvimento de um fenômeno natural ou

processo do meio físico, deflagrado por agentes externos ou internos, por exemplo, chuvas

intensas e terremotos respectivamente (FELL et al., 2008; JULIÃO et al., 2009; DINIZ, 2012;

SOBREIRA; SOUZA, 2012; COUTINHO, 2013; BITAR, 2014). É, por conseguinte, uma

Page 75: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

74

característica inerente ao meio, que expressa a probabilidade de ocorrência de eventos ou

acidentes em determinadas condições (ALHEIROS, 1998).

Mais precisamente, Fell et al. (2008) indicam que suscetibilidade a deslizamentos –

tratados aqui como sinônimo de movimentos gravitacionais de massa – é uma avaliação

quantitativa ou qualitativa do tipo, do volume (ou área) e da distribuição espacial de

deslizamentos que existem ou potencialmente podem ocorrer em uma área. A suscetibilidade

também pode incluir uma descrição da velocidade e intensidade do deslizamento potencial ou

existente. Embora seja esperado que os deslizamentos ocorram com mais frequência em áreas

mais suscetíveis, na análise de suscetibilidade, o período de tempo (frequência) não é levado

em conta de forma explícita.

Contudo, a avaliação da suscetibilidade pode ser tratada somente quando se analisa a

probabilidade espacial, ou seja, responde à pergunta: onde um determinado processo do meio

físico pode ocorrer? Entretanto, quando se acrescenta a probabilidade temporal (análise da

frequência), tem-se a avaliação do perigo, que responderá à seguinte pergunta: onde, quando e

em que magnitude o processo ocorrerá? Desse modo, o perigo é expresso como a

probabilidade de ocorrência dentro de um período de referência (VAN WESTEN; VAN

ASCH; SOETERS, 2006). Já os estudos de vulnerabilidade e risco, procuram atender às

questões de “quais seriam suas consequências?”

Assim, o perigo (hazard) pode ser definido como uma condição com o potencial de

causar uma consequência indesejável dentro de certo período de tempo. A descrição de um

perigo de deslizamento, por exemplo, deve incluir o local, volume (ou área), classificação

(tipo) e velocidade dos deslizamentos em potencial e materiais desses resultantes, e,

principalmente, a probabilidade de sua ocorrência em um período de tempo determinado

(FELL et al., 2008).

A probabilidade espacial e temporal da ocorrência dos processos do meio físico pode

manifestar-se de modos semelhantes, mas suas consequências decorrem, sobretudo, de como

as pessoas e bens a eles se expõem e do modo como as características econômicas, sociais e

culturais permitem a sociedade enfrentar, resistir e se recuperar desses processos. Dessa

forma, não basta o estudo da suscetibilidade e perigo dos fenômenos, torna-se essencial

conhecer a vulnerabilidade dos territórios, das comunidades e dos indivíduos para apreender

completamente e poder aplicar, de modo correto, os estudos de riscos (CUNHA; RAMOS,

2013).

Page 76: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

75

A vulnerabilidade, portanto, põe em jogo aspectos físicos, ambientais, técnicos, dados

econômicos, psicológicos, sociais, políticos, que não ocorrem de forma homogênea em todos

os lugares. Desse modo, a vulnerabilidade (vulnerability) é o grau de perda para um dado

elemento ou grupo de elementos em uma área afetada por um deslizamento, por exemplo. É

expressa em uma escala de zero (sem perda) até 1 (perda total). Para as propriedades, a perda

será o valor do dano relativo ao valor da propriedade; para pessoas, será a probabilidade de

uma vida em particular (elementos em risco) ser perdida, dado que a pessoa seja afetada pelo

deslizamento (FELL et al., 2008).

A vulnerabilidade social também é avaliada na determinação do risco, pois traduz a

capacidade de resistência e resiliência das sociedades e territórios potencialmente afetados por

processos naturais perigosos. Assim, de acordo com Cunha e Ramos (2013), a análise da

vulnerabilidade pode ser decomposta pelo menos em três componentes principais: a

população exposta, o valor dos bens potencialmente atingidos e a referida vulnerabilidade

social.

Cunha e Ramos (2013, p. 33) destacam que o conceito de vulnerabilidade social pode

ser decomposto em duas componentes:

A criticidade, que corresponde ao conjunto de características e comportamentos dos

indivíduos que podem contribuir para a ruptura do sistema e dos recursos das

comunidades que lhes permitem responder ou lidar com cenários de desastres ou

catástrofe, e a capacidade de suporte, que diz respeito ao conjunto de infraestruturas

territoriais que permite à comunidade reagir em caso de desastre ou catástrofe.

De tal modo, a primeira diz respeito à resistência das comunidades e a segunda

relaciona-se com a resiliência ou capacidade de recuperação destas ante a ocorrência de um

evento perigoso.

A capacidade de um sistema complexo, por exemplo, uma cidade para se estabelecer e

melhorar sua reatividade após uma catástrofe, é hoje levada em conta na determinação da

vulnerabilidade; é, portanto, o que se denomina de resiliência (termo usado na ecologia) que

define a capacidade de um sistema para se adaptar às mudanças resultantes de uma crise e

melhorar sua capacidade de resposta tendo em vista catástrofes futuras (VEYRET, 2007).

Christofoletti (1999) refere-se à resiliência como a capacidade do sistema em retornar

às suas condições originais depois de ser afetado pela ação de distúrbios externos. Segundo

esse autor, a vulnerabilidade define o nível em que um evento extremo pode prejudicar ou

Page 77: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

76

destruir um sistema. Ela depende tanto da suscetibilidade do sistema como da sua

adaptabilidade no processo de resiliência, a fim de se ajustarem às novas condições reinantes.

Por meio da relação entre a suscetibilidade e a vulnerabilidade, pode-se obter o risco a

um determinado fenômeno do meio físico. Uma das definições de risco (risk) mais utilizadas

é a proposta por Varnes (1984): um número esperado de perda de vidas, pessoas afetadas,

danos às propriedades, rompimento das atividades econômicas, causados por algum fenômeno

prejudicial em uma determinada área e em um referente período. Quando se lida com perdas

físicas, o risco específico pode ser quantificado como o produto da vulnerabilidade, custo ou

quantidade de elementos em risco e a probabilidade de ocorrência de um evento com dada

intensidade ou magnitude.

Varnes (1984), por conseguinte, representa o risco total (Rt) pela seguinte equação:

Em que Rt é o Risco total; H é a suscetibilidade ou a probabilidade da ocorrência de

um fenômeno, em uma determinada área em um período qualquer; Ri é o elemento em risco e

Vi é a vulnerabilidade de cada elemento representado pelo grau do dano (compreendido entre

os valores “0” – sem danos, a “1” – perda total.

Baseado em Varnes (1984), Fell et al. (2008) definem o risco (risk) como uma medida

da probabilidade e severidade de um efeito adverso à saúde, à propriedade e ao meio

ambiente. É frequentemente estimado pelo produto da probabilidade de um fenômeno de uma

dada magnitude, multiplicado por suas consequências. No entanto, uma interpretação mais

ampla de risco envolve uma comparação entre a probabilidade e as consequências sem o

cálculo do produto. Sendo assim, pode-se dizer que o risco está diretamente relacionado com

a suscetibilidade/perigo e a vulnerabilidade.

De acordo com Nogueira (2002), risco é a probabilidade (P) de ocorrência de um

acidente (A) em um local e intervalo de tempo específico e com características determinadas

(localização, dimensões, processos e materiais envolvidos e trajetória), em função da

suscetibilidade dos terrenos, tendo como consequência (C), danos às pessoas, bens e/ou ao

meio ambiente, em função da vulnerabilidade (V) dos elementos expostos (fragilidade e nível

Page 78: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

77

de resiliência), podendo ser modificado pelas ações de gerenciamento (G) existentes ou

passíveis de serem implantadas. O Ministério das Cidades adota esse conceito e o expressa

mediante a seguinte equação para o risco (CARVALHO; GALVÃO, 2006):

R = P(

Confusões acerca das denominações de suscetibilidade, perigo e risco a determinado

processo são mais frequentes quando se trata de zoneamento e mapeamento destes. De acordo

com Alheiros (1998), na década de 1990, os mapas, na maioria, classificados como mapas

regionais de risco de escorregamento, eram, na verdade, mapas de suscetibilidade, visto que a

vulnerabilidade não era considerada na sua elaboração.

Entretanto, nos últimos anos, diversos pesquisadores brasileiros, sozinhos ou sob

orientação do Ministério da Integração e Ministério das Cidades, por meio da utilização de

guias internacionais, como os de Fell et al. (2008), Coutinho (2013) e Macedo e Bressani

(2013), procuram gerar uma padronização ou homogeneização das metodologias e conceitos

de suscetibilidade/perigo, vulnerabilidade e risco, como também suas formas de zoneamento e

escalas apropriadas.

Fell et al. (2008) diferem os zoneamentos de suscetibilidade, perigo e risco para

facilitar a escolha das metodologias a serem aplicadas. Classifica os tipos de zoneamento de

deslizamento como se segue.

O Zoneamento de Suscetibilidade a Deslizamentos envolve o tipo (ou classificação),

área ou volume (magnitude) e distribuição espacial de deslizamentos existentes ou em

potencial na área de estudo. Esse zoneamento, normalmente, envolve a elaboração de um

inventário de deslizamentos já ocorridos no passado em conjunto com uma estimativa de

áreas com potencial de sofrerem deslizamento no futuro, mas sem a análise da frequência

(probabilidade anual) da ocorrência de deslizamentos.

O Zoneamento de Perigo a Deslizamentos considera o resultado do mapeamento da

suscetibilidade de deslizamentos e estabelece uma frequência determinada (probabilidade

anual) para os deslizamentos potenciais.

Por último, o Zoneamento de Risco a Deslizamentos considera os resultados do

mapeamento de perigo e analisa o potencial de danos às pessoas, a propriedades e a fatores do

Page 79: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

78

meio ambiente para os elementos em risco, considerando a probabilidade e a vulnerabilidade

no espaço e no tempo.

Para concluir, de forma independente dos problemas conceituais discutidos acima, a

redução de acidentes naturais passa pelo conhecimento dos níveis de suscetibilidade, perigo e

risco a que uma área está submetida. Esses termos, contudo, são intimamente relacionados.

Enquanto o primeiro refere-se à probabilidade espacial e o segundo à probabilidade temporal

de ocorrência de um desastre, o terceiro expressa, por fim, as consequências em termos de

danos e perda de vidas, propriedades e serviços caso esse desastre venha a ocorrer.

A compreensão desses conceitos é fundamental para se trabalhar no gerenciamento de

risco a movimentos de massa, em que cada conceito pode ser estabelecido como etapas dentro

dessa gestão, conforme estabelecido por Fell et al. (2008) e apresentado na Figura 2.13.

As etapas apresentadas na Figura 2.13 podem ser divididas em cinco fases

apresentadas na Figura 2.14:

1) caracterização do Deslizamento (Landslide Characterization);

2) análise do Perigo (hazard analysis);

3) análise do Risco (risk analysis);

4) avaliação do risco (risk evaluation);

5) mitigação do risco e controle (risk mitigation and control).

Os conceitos e as propostas de Fell et al. (2008) para o zoneamento de

sustentabilidade, perigo e risco, bem como relacionado com Gestão de Risco de

Escorregamentos são os utilizados na presente tese.

Page 80: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

79

Figura 2.13 – Estrutura para gerenciamento de risco de deslizamentos

Fonte: Fell et al. (2008 apud MACEDO; BRESSANI, 2013).

Page 81: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

80

Figura 2.14 – Representação esquemática do processo de gerenciamento de áreas de risco

Fonte: Fell et al. (2005 apud BANDEIRA, 2010, p. 82)

2.4 Avaliação da suscetibilidade a movimentos de massa

Existem dois tipos de suscetibilidade aos deslizamentos: a natural e a induzida. A

primeira deve ser avaliada com base em propriedades geológicas e pedológicas e nas

características geomorfológicas de declividade, altura, extensão e perfil das encostas,

morfometria e distribuição espacial da drenagem das microbacias, por exemplo. Podem-se

acrescentar, também, fatores climáticos como pluviosidade e biológicos, como a cobertura

vegetal (porte, espécies e densidade da vegetação). Esse tipo de suscetibilidade apresenta um

caráter eminentemente preventivo e serve como ferramenta de planejamento para ocupações

de áreas ainda livres da suscetibilidade induzida. Essa última representa, basicamente, a

probabilidade de ocorrência de processos geológicos, conforme o uso antrópico e respectivas

Page 82: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

81

funções socioeconômicas dadas uma determinada área já ocupada ou com uso predefinido

(PFALTZGRAFF, 2007).

Neste mesmo ponto de vista Bitar (2014) afirma que a suscetibilidade pode ser

inicialmente analisada por meio dos fatores predisponentes intrínsecos à natureza dos

terrenos. Neste sentido, mesmo que uma área tenha sido modificada em relação as suas

características, seja pela urbanização ou outros tipos de intervenções como o uso agrícola, que

passe a favorecer ou desfavorecer o desenvolvimento de processos do meio físico, pressupõe-

se que os fatores predisponentes podem ainda estar presentes e, portanto, devem ser

considerados para fins de planejamento e gestão territorial.

Os condicionantes utilizados na análise da suscetibilidade natural podem variar, mas

normalmente estão ligados a fatores geológicos e geomorfológicos (declividade, forma da

vertente), pedológicos e climáticos e de cobertura vegetal (TOMINAGA, 2005;

PFALTZGRAFF, 2007). Dias e Hermann (2002) acrescentaram à análise da suscetibilidade

natural o uso do solo.

Aleotti e Chowdhury (1999) chamam a atenção para o fato de que, no

desenvolvimento do método da avaliação da suscetibilidade/perigo aos deslizamentos, é

fundamentalmente importante identificar as causas da instabilidade potencial dos

deslizamentos. De fato, por meio da determinação dos fatores condicionantes dos

deslizamentos no passado, é possível prever onde e quando outros eventos podem ocorrer. Em

outras palavras, qualquer que seja a metodologia adotada, os dados de entrada para avaliação

da suscetibilidade devem somente ser selecionados depois de considerar cuidadosamente as

causas da instabilidade no passado e as prováveis causas das instabilidades futuras.

2.4.1 Cartas de suscetibilidade

As cartas de suscetibilidade funcionam como subsídio fundamental às seguintes

ferramentas: plano de contingência de proteção e defesa civil; plano de implementação de

obras e serviços; mecanismos de controle e fiscalização, e cartas geotécnicas. São importantes

também, porque contribuem para o planejamento do uso e ocupação do solo, controle da

expansão urbana, avaliação de cenários potenciais de riscos, bem como, no âmbito regional,

na elaboração de zoneamentos ecológico-econômicos. Assim, de acordo com Bitar (2014):

Page 83: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

82

A caracterização do grau de suscetibilidade a determinado processo do meio físico

em uma área específica deve impor as correspondentes medidas de restrição à

ocupação, de modo a evitar a formação de novas áreas de risco, bem como induzir o

desenvolvimento de normas técnicas e práticas que possam assegurar o uso

adequado do solo em áreas não ocupadas e fomentar ações voltadas à redução de

riscos em áreas ocupadas, especialmente nas urbanizadas.

Na elaboração das cartas geotécnicas, é fundamental analisar a suscetibilidade dos

terrenos ao desenvolvimento de processos responsáveis pela geodinâmica. Permite o

zoneamento de perigo, sendo mais utilizada em estágios preliminares de desenvolvimento, na

etapa de planejamento, quando o objetivo pretendido pelo zoneamento tem relação com o

gerenciamento do uso do solo e as políticas estabelecidas pelo Poder Público (COUTINHO,

2013). Por sua vez, vários autores tratam as cartas de suscetibilidade como uma carta

geotécnica específica e não somente como etapa importante para a elaboração de cartas

geotécnicas.

De tal modo, Cerri (1993) classifica as cartas geotécnicas como cartas geotécnicas

clássicas, cartas de suscetibilidade e cartas de risco. Já segundo Diniz (2012), as cartas

geotécnicas podem ser de três tipos: (1) de aptidão à urbanização (voltada ao ordenamento

territorial); (2) cartas de suscetibilidade, perigo e risco (voltada à avaliação dos processos do

meio físico); e (3) cartas geológico-geotécnicas para estudos de viabilidade, projetos básicos e

projetos executivos de implementação de empreendimentos e infraestrutura (voltada aos

estudos de implementação de empreendimentos). Conforme Sobreira e Souza (2012), a carta

geotécnica de suscetibilidade visa identificar a possibilidade de ocorrência de processos

geodinâmicos independentemente da ocupação dessas áreas, buscando avaliações mais gerais

dos terrenos quanto ao seu comportamento diante dos processos envolvidos e representando

os resultados em cartas. De caráter quase sempre qualitativo, as cartas geotécnicas de

suscetibilidade são mais eficazes no planejamento em nível mais macro, buscando indicar

áreas mais propícias para os diversos usos e ocupações.

Souza e Sobreira (2014) enfatizam que a análise integrada, a priori, das

suscetibilidades aos vários processos (na escala 1:25.000) é preponderante na determinação

das áreas com menor ou maior potencial de ocupação urbana, e onde devem ser realizados os

estudos de detalhe, ou seja, a identificação de áreas de interesse nas escalas acima de

1:10.000. Sendo assim, as áreas identificadas como alta suscetibilidade são inicialmente

Page 84: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

83

excluídas ficando as análises de detalhe para as médias e baixas suscetibilidades, método esse

que os autores denominaram mapeamento progressivo.

Ainda, esses mesmos autores afirmam que a análise da suscetibilidade a processos

geológicos e hidrológicos deve ser vista como um elemento de orientação, de diagnóstico

mais geral, servindo de base para o planejamento da ocupação do solo, mas não deve ser de

caráter restritivo ou determinante de uso definitivo; mesmo que toda a área seja considerada

de alta suscetibilidade a processos em análise, cabe à carta geotécnica de aptidão à

urbanização na escala de projeto ( ≥ 1:10.000) exercer tais funções.

O zoneamento caracteriza-se como uma divisão do solo em áreas ou domínios

homogêneos; sua classificação se faz de acordo com graus de suscetibilidade, perigo ou risco

reais ou potenciais, ou ainda de acordo com a aplicabilidade à regulamentação ligada ao

perigo (MACEDO; BRESSANI, 2013). O zoneamento de suscetibilidade retrata o

desenvolvimento de novas ocorrências de deslizamentos na área e, assim, ajuda a reduzir

futuros danos – explícitos ou implícitos –, representando comportamentos do terreno no

futuro (VAN WESTEN; VAN ASCH; SOETERS, 2006).

Segundo Cooke e Doorkamp (1990 apud TOMINAGA, 2007), a carta de

suscetibilidade representa um estágio além do mapa de inventário, ou mesmo do mapa

geomorfológico, a partir dos quais se definem tendências à instabilidade em adição às

encostas que já sofreram escorregamentos.

Autores como Cooke e Doorkamp (1990) e Fernandes e Amaral (2010) consideram

que o mapa de suscetibilidade corresponde também ao de perigo de escorregamento (landslide

hazard), uma vez que apresentam as probabilidades espaciais, as quais podem ser

consideradas também como indicativas das probabilidades temporais.

Lopes (2000 apud PFALTZGRAFF, 2007) afirma que o mapa de suscetibilidade é

definido como um mapa geológico-geomorfológico, onde estão representadas as

características do meio ambiente físico, de relevante importância para o planejamento do uso

e ocupação do solo.

Page 85: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

84

2.4.1.1 Classificação das metodologias de avaliação da suscetibilidade

Os trabalhos voltados à avaliação e zoneamento da suscetibilidade, perigo e risco de

movimentos de massa geralmente se baseiam em quatro pressupostos iniciais (VARNES,

1984; CARRARA et al., 1991; HUTCHINSON; CHANDLER, 1991; HUTCHINSON, 1995;

TURNER; SCHUSTER, 1996; GUZZETTI et al., 1999; ALEOTTI; CHOWDHURY, 1999;

FELL, 2008).

a) os movimentos de massa sempre ocorrerão nas mesmas condições geológicas,

geomorfológicas, hidrológicas e climáticas do passado;

b) as principais condições que causam os movimentos de massa são controladas por

fatores físicos identificáveis;

c) o grau de perigo pode ser avaliado;

d) todos os tipos de ruptura do talude podem ser identificados e classificados.

Idealmente, a avaliação da suscetibilidade a movimentos de massa e seu mapeamento

deve derivar de todos esses pressupostos. O não cumprimento deles vai limitar a

aplicabilidade de qualquer avaliação de suscetibilidade, independentemente da metodologia

utilizada para a investigação (GUZETTI, 2005).

Assim, para a avaliação da suscetibilidade a movimentos de massa, é necessário

responder às seguintes questões:

1. Onde os movimentos de massa ocorrerão?

2. Qual o tipo de ruptura que ocorrerá?

3. Como o movimento de massa ocorrerá?

Para se tornar uma avaliação de perigo, acrescentam-se as seguintes perguntas:

Quando o movimento de massa ocorrerá? E com que frequência ele ocorrerá?

Não obstante, Aleotti e Chowdhury (1999) trazem os seguintes obstáculos a serem

superados nessas avaliações e que dificultam seguir os referidos pressupostos:

a) a natureza descontínua (no espaço e no tempo) das rupturas de talude;

b) a dificuldade de se identificar as causas, os fatores desencadeadores e as relações

de causa e efeito;

c) a falta de dados históricos completos no que diz respeito à frequência desses

processos geomorfológicos.

Page 86: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

85

Infelizmente, com o passar dos anos, ficou claro que a aplicação satisfatória desses

princípios é uma tarefa difícil tanto operacional quanto conceitualmente. Mesmo assim,

metodologias vêm sendo desenvolvidas e/ou melhoradas, bem como a classificação dos

métodos de análise da suscetibilidade, perigo e risco (CARRARA et al., 1995; GUZZETTI et

al., 1999; GUZETTI, 2005).

A análise e o mapeamento da suscetibilidade, perigo e risco realizam-se usando vários

modelos e diferentes métodos por meio da utilização do Sistema de Informações Geográficas

(SIG). Propostas de classificação de métodos de análise da suscetibilidade e do perigo a

deslizamentos podem ser encontradas nos trabalhos de Varnes (1984); Carrara (1988); Van

Westen (1993); Carrara et al. (1991, 1995); Carrara; Cardinali; Guzzeti (1992); Guzetti et al.

(1999); Aleotti e Chowdhury (1999), Fernandes et al. (2001); Guzetti (2005); Van Westen;

Van Asch; Soeters (2006); Tominaga (2007) e S. D. Pardeshi, Autade e S. S. Pardeshi

(2013).

Existe consenso entre esses autores no fato de que as classificações dos métodos de

análise da suscetibilidade podem agrupar-se em quatro diferentes categorias:

1) inventário de deslizamentos baseado em abordagens probabilísticas;

2) abordagem heurística (direta – mapeamento geomorfológico – ou indireta,

combinação de mapas qualitativos);

3) abordagem estatística, podendo ser estatística bivariada ou multivariada incluindo

redes neurais e sistemas especializados;

4) abordagem determinística ou modelos baseados em processos.

Carrara (1982) reconheceu que não há um único método padronizado. Diferentes

métodos podem ser desenvolvidos para se adaptarem à natureza de uma área ou um projeto

particular. Guzetti (2005), por sua vez, afirma que as abordagens se misturam uma com as

outras e os autores nem sempre são claros em descrever os métodos que eles usaram para

determinar a suscetibilidade, incluindo a discussão sobre as semelhanças e diferenças entre

eles. Além disso, muitas classificações são apresentadas para a avaliação de perigo, que são,

na verdade, aplicadas apenas na avaliação de suscetibilidade, entretanto, alguns argumentos

como seleção da unidade de mapeamento, modelagem estatística e validação das técnicas,

servem para ambos, suscetibilidade e perigo.

A avaliação da suscetibilidade vem sendo muito trabalhada nos últimos vinte e cinco

anos, desde o advento e fortalecimento das chamadas geotecnologias, como o SIG e o

Page 87: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

86

Sensoriamento Remoto. Com o passar do tempo e a evolução dessas tecnologias, novas

técnicas surgiram como forma de facilitar a avaliação da suscetibilidade e perigo ao

deslizamento por meio da melhoria da base cartográfica planimétrica e altimétrica e da base

temática, acarretando maior acurácia no mapeamento por meio dos métodos computacionais.

Van Westen (1993) fornece esquemas detalhados para aplicações de alguns métodos de

suscetibilidade em ambiente SIG.

Aleotti e Chowdhury (1999) propuseram uma nova classificação baseada nas

classificações de Carrara (1982), Hansen (1984), Leroi (1996), Soeters e Van Western (1996)

(Figura 2.15). Primeiramente, dividem a análise do perigo em métodos qualitativos e

quantitativos.

Figura 2.15 – Proposta de classificação de métodos de avaliação de suscetibilidade de deslizamentos

Fonte: Adaptado de Aleotti e Chowdhury (1999).

O método ou abordagem qualitativa baseia-se em uma experiência local por

especialistas com a suscetibilidade ou perigo determinado diretamente no campo ou por

contribuição de diferentes mapas de índices ou de parâmetros. Essas metodologias também se

definem como Expert Evaluation Approaches e podem dividir-se em dois tipos:

a) análise geomorfológica;

Page 88: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

87

b) combinação ou sobreposição de mapas de índices ou parâmetros. Nessa abordagem

a definição dos pesos ou classificações quanto a suscetibilidade/perigo é mais

conhecida como Knowledge based (baseada em conhecimento).

O método ou abordagem quantitativa, por sua vez, pode dividir-se em:

a) análises estatísticas (bivariada e multivariada);

b) métodos determinísticos.

Guzzeti (2005), com base na análise de vários autores, chegou à conclusão de que os

métodos para classificar os fatores de instabilidade e associar os diferentes níveis de

suscetibilidade podem ser: a) qualitativos e quantitativos; b) diretos e indiretos.

Segundo esse autor, o método direto consiste no mapeamento (direto) geomorfológico

de suscetibilidade a deslizamento, no campo, por meio de fotografias aéreas (VERSTAPPEN,

1983) ou de imagens de satélite (NOSSIN, 1989). Muito comum, mas não necessária, é a

associação com a produção de mapas de inventário. Métodos indiretos para suscetibilidade a

deslizamento são essencialmente metodologias que ocorrem passo a passo. Eles requerem: i)

o reconhecimento e mapeamento de deslizamento sobre uma região alvo ou áreas de

treinamento, as quais se obtêm mediante a preparação de mapas de inventário; ii) a

identificação e mapeamento de fatores físicos, os quais são direta ou indiretamente

correlacionados com a estabilidade do talude (os fatores de instabilidade, ou variáveis

independentes); iii) uma estimativa da contribuição relativa dos fatores de instabilidade para

gerar a ruptura do talude; iv) a classificação da superfície do terreno dentro de domínios de

diferentes níveis de suscetibilidade; v) avaliação da performance do modelo.

O Quadro 2.4 traz a relação entre as principais abordagens descritas anteriormente e os

métodos apresentados.

Quadro 2.4 – Características dos métodos de suscetibilidade propostos na literatura

Características dos métodos Direto Indireto Qualitativo Quantitativo

Mapeamento geomorfológico

Heurístico (baseado em Índices/

parâmetros)

Análises de inventários

Modelos estatísticos

Baseado em processos (determinísticos)

Fonte: A autora, 2015.

Page 89: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

88

Vários autores em seus trabalhos utilizam a classificação proposta por Aleotti e

Chowdhury (1999), a exemplo de Pfaltzgraff (2007), Tominaga (2007), Kanungo et al.

(2009), Marrapu e Jakka (2014). O que muda entre os autores citados é o acréscimo de novos

métodos dentro dessas classificações.

Todavia, alguns autores trazem a divisão dos métodos de análise da suscetibilidade e

do perigo agrupados em três principais grupos: os puramente empíricos; os probabilísticos

com bases estatísticas e os determinísticos (BARREDO et al., 2000; FERNANDES et al.,

2001; SAVAGE; GODT; BAUM, 2004; TOMINAGA, 2007).

Pardeshi et al. (2013) agrupam os métodos de análise da suscetibilidade e perigo a

escorregamentos em abordagem heurística, abordagem probabilística, abordagem

determinística, análise estatística e análise multicritério de tomada de decisão.

No Brasil, Fernandes et al. (2001) dividem os principais procedimentos utilizados na

previsão de áreas suscetíveis a deslizamentos em quatro grupos: 1) análise por meio da

distribuição dos deslizamentos em campo; 2) análise com base em mapeamentos

geomorfológicos e/ou geotécnicos; 3) modelos com base estatística; 4) modelos

determinísticos.

Seguindo a classificação de Aleotti e Chowdhury (1999), principalmente a

classificação de Guzzetti (2005) e dos demais autores acima citados, serão discutidos os

métodos de avaliação da suscetibilidade e perigo a deslizamentos mais utilizados dentre os

artigos analisados, acrescentando a essa classificação novos métodos utilizados nos últimos

dez anos. Serão acrescentados na classificação Análise Multicritério de Tomada de Decisão,

com ênfase na técnica Analytical Hierarchy Process (AHP) e Abordagens Probabilísticas.

Abordagem Heurística (Direta – Mapeamento Geomorfológico – ou Indireta –

Combinação de Mapas de Índices/Parâmetros)

i) Mapeamento geomorfológico

É o mais simples dos métodos qualitativos. A avaliação e o zoneamento realiza-se

diretamente no campo, baseado em suas experiências em outras situações similares, com

nenhuma indicação clara de regras para avaliação ou zoneamento. No caso dos mapas de

Page 90: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

89

instabilidade, são diretamente envolvidos mediante mapas geomorfológicos de detalhe

(PANIZZA, 1975). As principais desvantagens desse método são:

a) a subjetividade na seleção tanto dos dados como das regras que governam a

estabilidade do talude ou o perigo de instabilidade. Nesse caso torna-se difícil

realizar comparações de mapas produzidos por diferentes pesquisadores em

diferentes locais.

b) utilização de regras implícitas em vez de regras explícitas interfere em uma análise

crítica dos resultados e dificulta uma nova avaliação com a chegada de novos

dados;

c) obrigatoriedade de realização de longos trabalhos de campo.

Essa técnica tornou-se frequente nos anos 1970 e 1980, sendo um dos projetos mais

conhecidos, o procedimento ZERMOS. Não requerem necessariamente o uso de SIG,

podendo usar ferramentas simples de desenho.

É, portanto, um método subjetivo, difícil de formalizar e não totalmente adequado para

avaliações quantitativas de perigo e consequentemente de risco a deslizamentos. Nos últimos

dez anos, um método para determinar a suscetibilidade por mapeamento geomorfológico para

avaliação qualitativa de perigo e risco de deslizamento foi proposto e testado por Cardinali et

al. (2002) e Reichenbach et al. (2005). Em princípio, este último método pôde ser programado

dentro de um sistema especializado, promovendo estimativas quantitativas de suscetibilidade

a deslizamento, perigo e risco (GUZZETI, 2005).

Dentre outros trabalhos, pode-se destacar o mapeamento geomorfológico e

geodinâmico elaborado para o município de Garanhuns-PE por Azambuja (2007).

ii) Sínteses baseadas em sobreposição ou combinação de mapas de índices ou mapas

de parâmetros com peso

Essa abordagem, também classificada como heurística, baseia-se no conhecimento a

priori, ou seja, no pressuposto de que todas as causas e os fatores de instabilidade da encosta

na área sob investigação já são conhecidos. É um método indireto (ou semidireto), sobretudo

qualitativo, cuja confiabilidade depende do bom conhecimento do investigador acerca dos

processos geomorfológicos agindo sobre o terreno (GUZZETTI, 2005). De tal modo, por

meio do especialista, são selecionados mapas (temas) dos fatores que afetam a estabilidade do

talude e, baseado no conhecimento a priori, associam a cada tema um peso que é proporcional

a sua contribuição relativa como agente causador do processo de deslizamento.

Page 91: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

90

As vantagens dessa abordagem metodológica são a redução considerável dos

problemas das regras ocultas, permitindo uma total automação das operações por meio do uso

apropriado de SIG. Além disso, permite a padronização de técnicas de manejo de dados desde

a aquisição até a análise final. Pode ser aplicada em diversas escalas. A subjetividade na

atribuição dos pesos para cada parâmetro aparece como principal problema desse método,

como também a extrapolação de um modelo desenvolvido em uma área particular para outros

lugares (CARRARA, 1983).

Assim, métodos quantitativos, principalmente os estatísticos, surgem para diminuir tal

subjetividade, conforme será exposto a seguir.

Análise do Inventário

A análise do inventário de movimentos de massa tenta prever os padrões futuros de

instabilidade do terreno desde as cicatrizes de movimentos de massa, bem como pelos

depósitos deixados por estes. A partir daí, pode-se construir um mapa de densidade de

movimentos de massa, ou seja, o percentual de áreas cobertas por cicatrizes ou um número de

eventos ao longo de uma região. O método é considerado indireto, e o resultado é

quantitativo. Podem ser associados aos métodos estatísticos e de probabilidade futura de

ocorrência de movimentos de massa, analisando-se a frequência de deslizamentos, conforme

será exposto a seguir.

Obter informações sobre a localização e extensão das cicatrizes dos processos de

movimentos de massa nem sempre é uma tarefa fácil e requer trabalhos de laboratório e de

campo dispendiosos. Entretanto, a qualidade do inventário é um fator de extrema importância

na escolha do modelo de suscetibilidade, principalmente dos de base estatística. Outro fator

bastante discutido na literatura é a melhor forma de representar as cicatrizes; ponto ou

polígono? Para cada uma, existem os benefícios e os problemas, como também podem variar

de acordo com os tipos de movimentos identificados em uma determinada área, se são

movimentos pequenos ou de grandes dimensões. Ardizzone et al. (2002); Bruce et al. (2004);

Guzzetti (2005); Galli et al. (2008); Garcia (2012) e Guzzetti et al. (2012) trazem uma boa

discussão das novas tecnologias, métodos e formas de representação dos movimentos de

massa.

Fell et al. (2008) indicam ainda que a maior fonte de erros em mapas de

suscetibilidade, perigo e risco de deslizamentos advém de limitações encontradas nos

Page 92: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

91

inventários, principalmente relacionados com a metodologia escolhida para a elaboração

destes, por exemplo, o uso de fotografias aéreas e imagens de satélite. Essas ferramentas não

devem ser usadas sozinhas. Existe a necessidade veemente de trabalhos de campo para validar

o que foi identificado na imagem, assim como uma definição prévia de quais são os tipos de

processos e a forma de classificá-los, por meio do uso de fichas de campo. Outro fato a ser

esclarecido é que o inventário que deverá ser dividido em dois grupos; um que será utilizado

no mapeamento e outro na validação.

Abordagem Estatística

A abordagem estatística compara a distribuição espacial dos deslizamentos com os

parâmetros que são considerados como desencadeadores do processo. Nos últimos anos, tem-

se verificado maior aplicação das abordagens estatísticas baseada em dados (data-based) em

detrimento da heurística baseada em conhecimento (knowledge-based), a fim de diminuir a

subjetividade do modelo e produzir mais resultados objetivos e reproduzíveis, podendo ser

associado aos métodos heurísticos com maior facilidade mediante a utilização de SIG

(KANUNGO et al., 2009).

A grande dificuldade dessa abordagem consiste em estabelecer os agentes

desencadeadores do processo de ruptura pelo conhecimento das cicatrizes identificadas, tendo

em vista que a elaboração do inventário de cicatrizes de movimentos de massa necessita ser

de boa qualidade espacial e temporal; no entanto, ainda hoje é difícil se obter um banco de

dados de qualidade especialmente no Brasil. Outro fator limitante é que tal método não leva

em conta as interações dos parâmetros.

Uma vez superados tais problemas, a principal vantagem da abordagem estatística é

que o investigador pode validar a importância de cada fator e decidir os dados de entrada, as

atribuições de peso e gestão dos dados. As análises estatísticas podem ser divididas, então,

em bivariadas e multivariadas.

A análise estatística bivariada compara cada feição (layer/camada) dos fatores

predisponentes com os deslizamentos existentes (inventário). Calcula-se o peso dos fatores

predisponentes com base na densidade de deslizamentos (ALLEOTTI; CHOWDHURY,

1999; KANUNGO et al., 2009; PARDESHI et al., 2013). Essa atividade envolve uma

sobreposição da camada de distribuição de deslizamentos para cada uma das camadas

temáticas e se calculam os respectivos valores de densidade de deslizamentos. Os modelos

Page 93: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

92

mais trabalhados são: a) análise da frequência (frequency analysis); b) valor da informação

(Information Value – InfoVal); c) peso de evidências (weights of evidence – WofE); d)

sobreposição de pesos (weighted overlay); e) razão de frequência (frequency ratio)

(PARDESHI et al., 2013).

A análise estatística multivariada considera a contribuição relativa de cada mapa

temático (camada/layer) para a suscetibilidade total de deslizamento. Tal método calcula o

percentual de deslizamento para cada pixel, e um layer de ausência/presença de deslizamentos

é produzido seguido pela aplicação do método de estatística multivariada para a

reclassificação do perigo/suscetibilidade para cada área. Modelo de regressão logística,

análise discriminante, modelo de regressão múltipla, análise condicionante, redes neurais são

exemplos desses métodos. O procedimento se dá mediante as seguintes etapas:

a) classificação da área de estudo em unidades de terreno (CARRARA et al., 1978;

CARRARA, 1983, 1988; CARRARA et al., 1991; CARRARA; CARDINALI;

GUZZETI, 1992);

b) identificação dos fatores predisponentes e elaboração dos mapas destes;

c) elaboração do mapa de inventário e de um banco de dados de movimentos de

massa;

d) definição do percentual de deslizamento (movimento de massa) para as áreas de

todas as unidades de terreno, classificando-as em instáveis e estáveis;

e) combinação dos mapas de parâmetros com as unidades de terreno e construção da

matriz de ausência/presença;

f) aplicação da análise estatística multivariada análise discriminante ou análise de

regressão múltipla;

g) reclassificação das unidades de terreno baseadas nos resultados encontrados

anteriormente e sua classificação dentro das classes de suscetibilidade.

Guzzetti (2005) divide os métodos estatísticos baseado em uma abordagem filosófica

de classificação, incluindo: (i) métodos estatísticos clássicos (frequentistas ou Fisher); (ii)

métodos estatísticos modernos (subjetivista ou Bayesiano); (iii) Lógica Fuzzy; (iv) redes

neurais; (v) sistemas especialistas.

Page 94: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

93

Mais detalhes da descrição de cada técnica relacionada com as abordagens estatísticas

bivariadas e multivariadas podem ser encontradas em Van Westen (1993); Aleotti e

Chowdhury (1999), Guzzetti (2005); Kanungo et al. (2009) e Pardeshi et al. (2013).

Além dos modelos anteriormente expostos, têm-se os modelos geotécnicos que podem

ser divididos em determinísticos e probabilísticos.

Abordagem Determinística ou Modelos Baseados em Processos

São modelos com bases físicas para avaliação da suscetibilidade a movimentos de

massa. Descreve, então, os processos físicos que desencadeiam o evento de deslizamento e

são baseados em leis mecânicas simples. Eles levam em conta a alternância da água

subterrânea em uma encosta em função da precipitação. Não precisam de dados históricos de

deslizamentos, portanto podem também ser aplicáveis às áreas com estoques de deslizamentos

incompletos (ALEOTTI; CHOWDHURY, 1999; GUZZETI, 2005; PARDESHI et al., 2013).

São modelos indiretos e proporcionam resultados quantitativos, contudo são voltados

para um tipo particular de movimento de massa (deslizamentos rasos, fluxos de detritos e

queda de blocos) para investigar o efeito de um agente deflagrador, como uma chuva intensa

ou um terremoto.

Existem vários modelos determinísticos que vêm sendo apresentados na literatura

como Transient Rainfall Infiltration and Grid-Based Regional Slope-Stability (TRIGRS),

aplicado por Salciarini et al. (2006) para modelar a precipitação como deflagradora dos

deslizamentos na região da Umbria na Itália central. Eles perceberam que um modelo digital

de elevação de alta resolução e informações sobre a distribuição espacial das propriedades

físicas na superfície é uma necessidade para melhorar o desempenho do modelo.

Outros modelos são o Shallow Landsliding Stability (SHALSTAB), Stability Index

MAPping (SINMAP) e Storage and Redistribution of Water on Agricultural and Revegetated

Slope + PROBability of STABility (STARWAR+PROBSTAB), que foram detalhadamente

comparados, acrescentando o TRIGRS, por Kuriakose (2010) no Oeste de Ghats da Kerala,

Índia. O estudo mostrou que o modelo STARWAR+PROBSTAB é o mais adequado para a

avaliação da probabilidade espaço-temporal de escorregamentos rasos.

Page 95: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

94

Modelos Probabilísticos

Os modelos probabilísticos proporcionam a determinação das probabilidades espaciais

e temporais de ocorrência dos movimentos de massa (GUZZETTI, 2005). Levam em

consideração que os fatores que causaram instabilidade no passado causarão no futuro. É a

probabilidade de que uma dada região será afetada por movimentos de massa, dado um grupo

de condições ambientais.

Chung e Fabbri (1999 apud GUZZETTI, 2005) investigaram cinco métodos para

estimar a equação de probabilidade condicional, incluindo: a) estimativa direta; b) estimativa

bayesiana; c) modelo de regressão; d) estimativa bayesiana modificada; e) modelo de

regressão modificada. Tais métodos podem ser encontrados de forma detalhada em Guzzetti

(2005). Nesses modelos simples, a probabilidade de futuros movimentos de massa em uma

região é dada por uma distribuição de movimentos de massa que ocorreram no passado na

mesma região.

Diante do exposto, é importante ter clareza nos objetivos do mapeamento. Os fatores a

serem considerados incluem se o método utilizado deverá ser qualitativo ou quantitativo, se as

bases da avaliação deverão ser determinísticas ou probabilísticas, em que medida se deve

confiar nas séries históricas de registros de deslizamentos, se os métodos observacionais

devem ser parte de uma avaliação contínua e em que extensão a vulnerabilidade dos

elementos em risco e o impacto dos deslizamentos devem ser levados em conta.

O Quadro 2.5 apresenta uma síntese das vantagens e desvantagens dos principais

métodos citados, facilitando a comparação entre eles.

Quadro 2.5 – Vantagens e desvantagens dos métodos mais trabalhados na análise e elaboração

de cartas de suscetibilidade a deslizamentos e escalas de análises apropriadas

Qu

ali

tati

vo

Método Vantagens Desvantagens Uso do SIG

Análise

gomorfológica Rápida avaliação

Totalmente

Subjetivo

Ferramenta de

desenho

Mapa índice ou

parâmetros

Pode ser sistematizado

e padroniza o uso de

dados

Associação

apropriada dos

pesos. Requer

especialistas

Superposição

de mapas

Page 96: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

95

Quadro 2.5 – Vantagens e desvantagens dos métodos mais trabalhados na análise e elaboração

de cartas de suscetibilidade a deslizamentos e escalas de análises apropriadas. Cont. Q

ua

nti

tati

vo

Método Vantagens Desvantagens Uso do SIG

Análise estatística

bivariável e

multivariável

Objetivo /

Procedimento

sistematizado /

Padroniza o uso de

dados

Coleta sistemática

e análise de dados

relativos aos

diferentes fatores

Análise e

superposição

de mapas

Modelos geotécnicos

/ determinístico A menor subjetividade

Apenas escalas

grandes. Depende

da precisão dos

dados geotécnicos

Pouco

trabalhados em

ambiente SIG

Redes neurais

Encontra relações não

identificáveis com

outros métodos

Deve ser avaliado

por especialistas

Análise e

superposição

de mapas

Fonte: Baseado em Soeters e Van Westen (1996); Aleotti e Chowdhury (1999).

Pensando na sequência dos mapeamentos de forma quantitativa do perigo e risco, os

métodos estatísticos e probabilísticos baseados em inventário de deslizamentos são,

geralmente, o melhor método, assumindo que a ocorrência dos movimentos de massa que

ocorreram no passado são bons indicadores da ocorrência desses no futuro. Mesmo assim, a

melhor opção para o mapeamento quantitativo de risco ainda são os métodos determinísticos

combinados com modelos dinâmicos de hidrologia de encostas; entretanto, tais modelos

requerem uma quantidade substancial de dados além de uma simplificação nos tipos de

deslizamentos.

Análise Multicritério

Os mapas de avaliação da suscetibilidade a movimentos de massa envolvem uma

quantidade considerável de variáveis (agentes predisponentes), por isso a determinação da

contribuição relativa de cada parâmetro na ocorrência do processo é uma atividade

importante. Assim, técnicas de Análise Multicritério tornam-se interessantes para exercer tal

tarefa. Pode-se destacar dentre esses métodos o Processo de Análise Hierárquica ou AHP, que

é um processo de tomada de decisão multicritério de comparação pareada e leva em conta

julgamentos de especialistas para derivar escalas de prioridade (SAATY, 1987).

A técnica de AHP opera em quatro níveis, a saber: a) definição do problema; b)

determinação dos objetivos e das alternativas (fatores condicionantes); c) construção da

matriz de comparação pareada; d) determinação dos pesos e obtenção da prioridade total. No

Page 97: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

96

zoneamento da suscetibilidade a deslizamentos, diferentes fatores causativos de deslizamentos

são considerados como alternativas.

Nos últimos anos, várias pesquisas têm sido realizadas com a utilização das técnicas

AHP em ambiente SIG para gerar mapa de suscetibilidade a deslizamentos em várias partes

do mundo, tendo, como exemplo, os seguintes trabalhos: Eslovênia de Komac (2006); Brasil,

Tominaga (2007); Vanacôr e Rolim (2012); Torres (2014); Taiwan de Wu e Chen (2009);

Índia de Mondal e Maiti (2012); Ma et al. (2013); Kavzoglu, Sahin e Colkensen (2013).

Relação chuva X deslizamento / identificação da chuva crítica

Focando a análise na ocorrência de deslizamentos, diversos autores estudaram a

influência da precipitação no desencadeamento deles e procuraram identificar limiares críticos

de chuva que venham a ocasionar deslizamentos.

A relação entre chuva e movimentos de massa (deslizamento) é dita como uma relação

causa-efeito. A análise estatística dos dados de precipitação e de ocorrência de movimentos

permite identificar o limiar desencadeador (usualmente em termos da intensidade e duração

da precipitação pluvial) e calcular o intervalo de recorrência da precipitação crítica, como

uma função das características locais (espessura das camadas superficiais, permeabilidade do

solo, etc.).

Um dos principais questionamentos trazidos por Van Westen (1993) é que os

procedimentos analisados em vários artigos não incorporam a probabilidade de ocorrência de

certo evento em um determinado momento e em certo local. Para isso, torna-se necessária a

obtenção de relações entre o acontecimento dos deslizamentos e a frequência de ocorrência de

certos fatores que deflagram a ruptura, como no caso as chuvas.

Na realidade brasileira, o principal agente deflagrador dos movimentos de massa são

as chuvas intensas, sendo assim, diversos trabalhos buscaram caracterizar relações entre a

precipitação e os deslizamentos, capazes de serem utilizados em modelos de previsão e em

sistemas de alerta, como os trabalhos de Guidicini e Iwasa (1977); Crozier (1986); Vargas

Júnior et al. (1986); Keefer et al. (1987); Tatizana et al. (1987a, 1987b); Capecchi e Focardi

(1988); Almeida e Nakazawa (1991); Pedrosa (1994); D’Órsi et al. (1997); Bandeira (2010);

Marques et al. (2010); Soralump (2010); Liao et al. (2010); Zêzere et al. (2015) e Bandeira e

Coutinho (2015).

Page 98: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

97

2.4.1.2 As unidades de mapeamento

A avaliação da suscetibilidade, perigo ou risco de escorregamento em uma área com

bases nas condições locais do terreno requer a seleção preliminar de uma apropriada Unidade

de Mapeamento do Terreno (UMT). Esse termo refere-se a uma porção da superfície do

terreno que contém um conjunto de condições que diferem das unidades adjacentes a partir de

fronteiras definíveis (HANSEN, 1984; CARRARA; GUZZETTI, 1995; VAN WESTEN et

al., 1997; LUCKMAN; GIBSON; DEROSE, 1999).

Com base no conceito de UMTs distintas e claramente definíveis, vários métodos têm

sido propostos para particionar a paisagem para a avaliação e mapeamento da suscetibilidade

a deslizamentos/escorregamentos (MEIJERINK, 1988; CARRARA et al., 1995; SOETERS;

VAN WESTEN, 1996; GUZZETTI et al., 1999). Todos os métodos se enquadram em um dos

seis seguintes grupos: (i) células da grade, (ii) unidades de terreno, (iii) unidades de condição

única, (iv) unidades de vertente, (v) unidades geo-hidrológicos, (vi) unidades topográficas, e

(vii) política ou unidades administrativas.

A escolha da unidade de mapeamento mais adequada vai depender de uma série de

fatores, incluindo o tipo de deslizamento a ser estudado; a escala de análise; a qualidade,

resolução e disponibilidade das informações temáticas exigidas (CALVELLO; CASCINI;

MASTROIANNI, 2013).

As células de grade dividem o território em células regulares de tamanho predefinido,

as quais se tornam a unidade de mapeamento de referência. São preferidas por usuários de

Raster baseados em ambiente SIG. Por essa razão, muitas células são comumente quadradas,

mas subdivisões retangular, triangular ou hexagonal são possíveis. Para cada célula de grade,

está associado um valor para cada fator levado em consideração (por exemplo, geológicos,

geomorfológicos, uso da terra), proporcionando um empilhamento de camadas raster de cada

fator de instabilidade.

A principal limitação das células de grade se refere às formas de representação, linhas,

polígonos contínuos, pontos, usando células de forma e tamanho predefinidos, podendo

distorcê-las. Entretanto, evoluções nas tecnologias computacionais (tamanho da memória e

velocidade no processamento) têm largamente, mas não completamente, superado essas

limitações, usando células de grade muito pequenas que capturam mais fielmente a forma do

terreno.

Page 99: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

98

As Unidades de Terreno são tradicionalmente favorecidas no campo da

geomorfologia. Elas se baseiam na observação de ambientes naturais, na inter-relação entre os

materiais, forma e processos resultando em limites nos quais refletem diferenças geológicas e

geomorfológicas. As unidades de terreno são a base para o método de classificação de

sistemas de paisagem, os quais têm sido o foco de aplicações em muitas investigações de

recursos terrestres (COOKE; DOORNKAMP, 1974; SPEIGHT, 1977; VERSTAPPEN, 1983;

BURNETT; BRAND; STYLES, 1985; MEIJERINK, 1988; HANSEN et al., 1995, VAN

WESTEN et al., 1997; FANNIN et al., 2005).

O principal limite das unidades de terreno encontra-se na sua subjetividade. É difícil

estabelecer regras claramente definidas para delinear de forma inequívoca os limites entre as

diferentes unidades de terreno e é mais difícil aplicá-las consistentemente. Para estudos de

suscetibilidade, é difícil inferir o grau de propensão à ocorrência de deslizamentos, baseados

unicamente em formas e processos geomorfológicos e derivar dessas informações e divisões

objetivas do território.

As unidades de condições únicas (UCU) implicam a classificação de cada fator

controlador ou condicionantes de instabilidade do talude dentro de algumas classes

significativas, que são armazenadas em um único mapa ou camada. Sequencialmente à

sobreposição de todos os layers, os domínios homogêneos (condições únicas) são

identificados, cujos tamanhos e natureza dependem dos critérios utilizados na classificação

dos dados de entrada (CARRARA et al., 1995 apud GUZETTI, 2005). Essas unidades são

representadas, normalmente, como vetor em ambiente SIG. Por sua implementação simples e

de fácil utilização, problemas conceituais com as UCU incluem o fato de que, para fins

práticos, camadas temáticas contínuas (elevação, declividade, aspecto, espessura do solo)

devem ser classificadas usando um pequeno número de classes. A seleção dessas classes,

raramente baseia-se no conhecimento local dos processos físicos controladores dos

movimentos de massa, e a sobreposição de várias camadas temáticas pode resultar em um

número elevado de unidades de mapeamento, tornando-se difícil analisar os resultados.

As unidades de vertentes (ou encosta) particionam o território em regiões

hidrológicas delimitadas por divisores de água. Elas podem ser delimitadas manualmente por

mapas topográficos precisos. Como alternativa, um software específico foi desenvolvido para

delinear automaticamente unidades de vertente por meio de Modelos Digitais do Terreno de

alta qualidade, eventualmente, auxiliados por versões simplificadas da rede de drenagem.

Parâmetros hidrológicos e morfométricos (e suas estatísticas) podem ser computados para

Page 100: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

99

cada unidade da encosta e usados na análise de suscetibilidade. Significativamente,

parâmetros hidrológicos e morfométricos obtidos para uma unidade de vertente individual não

refletem valores “locais” (tipo grade de células). Em vez disso, eles se referem a toda a

subdivisão do terreno, proporcionando resultados mais confiáveis e geomorfologicamente

significativos. Desde que um deslizamento ocorra em uma encosta e a unidade de vertente

represente uma encosta, esse tipo de subdivisão é – pelo menos em princípio –

particularmente adequado à investigação de suscetibilidade a deslizamento.

Dependendo do tipo de instabilidade a ser investigada (deslizamentos profundos,

deslizamentos rasos ou complexos e fluxo de detritos), a unidade de mapeamento corresponde

tanto à unidade de encosta individual (uma sub-bacia) quanto a uma combinação de duas ou

mais unidades de encostas representando uma microbacia. Limitações das unidades de

encostas incluem: i) a dificuldade na sua preparação, a qual requer recursos, incluindo

softwares especializados; ii) dificuldade para adaptar o tamanho das unidades de encostas

para a distribuição conhecida dos deslizamentos de terra; iii) a falta de representatividade das

unidades de vertentes para pequenos escorregamentos rasos; iv) o fato de os limites

hidrológicos (drenagem e linha de divisores) poderem não corresponder às divisões

geomorfológicas ou de uso da terra importantes para determinar a suscetibilidade a

deslizamentos (CARRARA, 1988; CARRARA et al., 1991; 1995; GUZZETTI et al., 1999

apud GUZZETTI, 2005).

As Unidades Geo-Hidrológicas são obtidas particionando muito mais as unidades de

encostas baseadas nos principais tipos litlógicos aflorantes na região. Considera-se também

importante separar diferentes condições de suscetibilidade em uma mesma encosta

(ARDIZZONE et al., 2002; CARDINALI et al., 2002). São facilmente obtidas no ambiente

SIG pela intersecção de unidades de encostas com um mapa litológico simplificado. Uma

subdivisão geo-hidrológica retém todas as informações típicas da divisão com base em linhas

de drenagem e fatores morfológicos e hidrológicos e soluciona o problema de ter na mesma

unidade de encosta dois ou mais tipos de rocha com diferenças distintas de propensão a

deslizamentos; por exemplo, rochas duras estáveis intercaladas por sedimentos

inconsolidados.

Pode-se imaginar a extensão do conceito de unidades geo-hidrológicas, subdividindo-

as posteriormente, com base nos principais usos da terra (ex. áreas florestadas e não

florestadas). Essa subdivisão pode ser útil onde deslizamentos são praticamente controlados

por um tipo de cobertura da terra.

Page 101: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

100

As Unidades Topográficas são vetores baseados em subdivisões obtidas dividindo a

bacia hidrográfica, ou uma única inclinação, em elementos de linhas de fluxo de tamanho e

forma irregular. O limite inferior e superior de uma linha de fluxo define-se por contornos

adjacentes, e os limites laterais se delineiam por linhas de fluxo ortogonais ao contorno

(O’LOUGHLIN, 1986; MOORE; O'LOUGHLIN; BURCH, 1988; MOORE; GRAYSON,

1991).

Quando há a necessidade de se investigar extensas áreas, ou quando estão voltadas

para fins de planejamento de um município ou área maior, são escolhidas as unidades

políticas ou administrativas, que podem ser municípios, bairros, setores censitários, etc., não

representando limites geológicos, geomorfológicos e hidrológicos, o que é um fator limitador

aos estudos de suscetibilidade a deslizamentos.

A seleção de unidades de mapeamento apropriadas depende de um número de fatores,

incluindo: i) o tipo de fenômeno de deslizamento a ser estudado; ii) a escala de investigação;

iii) os recursos disponíveis; iv) a qualidade, resolução, escala e tipo de informações temáticas

requeridas; v) a disponibilidade de ferramentas de gerenciamento e análise de informações

adequadas.

2.4.1.3 Organização do banco de dados

O gerenciamento, a coleta, armazenamento e seleção dos dados devem seguir duas

regras fundamentais (LEROI, 1996):

a) todas as informações devem ser homogêneas, ou seja, ter a mesma escala,

sistemas geodésico e de projeção cartográfica;

b) o banco de dados deve ser organizado dentro de Layers (camadas) básicas

monotemáticas, dentro das quais estão contidos dados homogêneos.

Adicionalmente, um banco de dados deve incluir a seguinte lista de informações

básicas (CHOWDHURY; FLENTJE, 1997):

a) um inventário de deslizamentos existentes incluindo sua natureza, tamanho,

localização e história;

b) um código local de referência confiável;

c) informações disponíveis de dados anteriores por meio de interpretação de fotografias

aéreas, testes de laboratório, análises de campo;

Page 102: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

101

d) alguma medida preventiva ou remediadora instalada e sua efetividade;

e) dados de alguma instrumentação instalada (inclinômetros, piezômetros).

f) Layers dos mapas temáticos elaborados nas escalas apropriadas.

2.4.1.4 A questão da escala

Tendo em vista que a análise da suscetibilidade e do perigo é uma etapa fundamental

ao mapeamento de risco. Este último pode ser elaborado em diferentes escalas de trabalho

dependendo do seu objetivo ou destinação (ALHEIROS, 1998).

Escala 1:5.000 ou maiores – destina-se, por exemplo, à execução de um projeto de

engenharia visando estabilização de encostas. Nesse caso a área deve ser

minunciosamente descrita, determinadas suas características físicas, condições

topográficas e medidos os principais vetores envolvidos nos processos de

deslizamento.

Escalas entre 1:10.000 e 1:25.000 – geralmente elaboradas para gestão de

problemas causados pela ocupação de morros urbanos, onde a área de interesse

deve ser bem conhecida e os padrões de controle estabelecidos de modo a

contemplar os diferentes aspectos do ambiente (físico-biótico-antrópico).

Escalas 1:25.000 ou menores – escala regional, tendo o principal papel subsidiar o

planejamento urbano e regional.

Aleotti e Chowdhury (1999) propõem que a escala de trabalho deve ser escolhida

baseada em três fatores: 1) proposta do mapeamento; 2) a extensão da área estudada; 3) a

viabilidade dos dados.

No Brasil, o número três ainda é um dos fatores mais limitantes na escolha da escala

de análise, haja vista que atualmente ainda existe uma dificuldade em grande parte do País de

se conseguir uma base cartográfica de qualidade nas escalas acima de 1:100.000 e de forma

mais problemática, dados temáticos como geologia, pedologia e geomorfologia, a começar

pela falta de informações altimétricas e, consequentemente, Modelos Digitais do Terreno

(MDT) para as escalas superiores a 1:50.000. Estes últimos são fundamentais para gerar napas

de declividade, curvatura de vertente ou outras variáveis morfométricas essenciais a análise da

suscetibilidade, risco e cartas geotécnicas.

Page 103: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

102

A escolha da escala de trabalho, consequentemente, afeta a escolha do método a ser

trabalhado. Nesse caso, na abordagem estatística, podem não ser indicados estudos de taludes

individuais ou de pequenas áreas, enquanto a abordagem da engenharia geotécnica, baseado

no cálculo do fator de segurança ou associada à probabilidade do rompimento, pode não ser

indicada para escalas regionais.

De acordo com Fell et al. (2008), o zoneamento de deslizamentos é realizado para o

planejamento regional, local e específico de uma região, podendo ser representado como

inventário de deslizamento, suscetibilidade, mapas de zoneamento de perigo ou de risco e

seus relatórios associados. A escolha do tipo de zoneamento vai depender dos objetivos e da

área a ser mapeada.

Além desses, outros fatores determinantes na escolha da escala e do tipo de

zoneamento são a quantidade e a qualidade da informação disponível. Por exemplo, o

zoneamento quantitativo da suscetibilidade, do perigo e, consequentemente, do risco não

poderá ser realizado onde os dados sobre a frequência de deslizamentos inexistem ou não são

confiáveis. Nesse caso, recomenda-se o zoneamento qualitativo da suscetibilidade.

Esses mesmos autores afirmam que, quando restrições legais de planejamento de uso

do solo forem propostas, mapas em escala grande e com níveis adequados de dados devem ser

utilizados, sendo assim, a maior escala necessária determinará o nível e a escala do

zoneamento do deslizamento.

Calvello, Cascini e Mastroianni (2013), baseando-se em Fell et al. (2008) e Cascini

(2008), fazem uma síntese das relações entre os objetivos, métodos de zoneamento e escalas

de mapeamento para o inventário e zoneamento da suscetibilidade a deslizamentos, conforme

apresentado no Quadro 2.6.

Page 104: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

103

Quadro 2.6 – Escalas de mapeamento para inventários e zoneamento de suscetibilidade a

deslizamentos em relação aos métodos de zoneamento, níveis e objetivos

Objetivos Escala

Nível e Aplicações

dos métodos de

zoneamento

Exemplos

Sugestão de

área de

abrangência

Zoneamento

Regional

(Informativo)

Pequena <1:100.000

Básico (aplicável)

Intermediário (não

aplicável)

Avançado (não

aplicável)

Inventário de

deslizamento e

zoneamento da

suscetibilidade para

informação dos

tomadores de decisão

e o público em geral

>100.000 km²

Zoneamento

Regional

(informativo

e consultivo)

Média 1:100.000

a 1:25.000

Básico (aplicável)

Intermediário (pode

ser aplicável)

Avançado (não

aplicável)

Inventário de

deslizamento e

zoneamento de

suscetibilidade para

desenvolvimento

regional ou para

projetos de

engenharia em

grande escala

1000 a 10.000

km²

Zoneamento

Local

(Informativo,

consultivo e

legal)

Grande 1:25.000 a

1:5.000

Básico (aplicável)

Intermediário

(aplicável)

Avançado

(aplicável)

Inventário de

deslizamento,

zoneamento da

suscetibilidade e

perigo para áreas

locais.

10 a 1000 km²

Fonte: Calvello, Cascini e Mastroianni (2013, baseando-se em Fell et al. (2008).

Observando o referido quadro, verifica-se que Fell et al. (2008) ainda acrescentam que

a grandeza da área abrangida também interfere na escolha da escala para os diferentes tipos de

zoneamento. Logo, para áreas entre 10 a 1.000 km², utilizam-se escalas entre 1:5.000 e

1:25.000; áreas entre 1.000 km² e 10.000 km², escalas entre 1:25.000 e 1:100.000.

Sobreira e Souza (2012) reiteram a importância das cartas de suscetibilidade como

base à elaboração das cartas geotécnicas de aptidão à urbanização e de risco, igualmente

previstas na Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), produzidas em escalas

maiores, 1:10.000 e 1:2.000 respectivamente.

Esses mesmos autores ainda afirmam que, após a definição das escalas, os processos

mapeados têm de estar passíveis de identificação na escala de referência, tomando-se como

base os produtos como cartas de suscetibilidade, cartas de aptidão à urbanização e cartas de

risco.

Desse modo, o Quadro 2.7 apresenta a relação dessas cartas segundo as escalas e os

processos que devem ser identificados em cada uma delas.

Page 105: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

104

Quadro 2.7 – Cartas geotécnicas de planejamento, segundo as escalas e os processos identificáveis

Produto Escalas de

mapeamento

Processos geodinâmicos passíveis de identificação

Cartas de

suscetibilidade 1:25.000 ou maior

Movimentos gravitacionais de massa, inundações/enchentes,

corridas, erosões, assoreamento, processos costeiros, sismos

induzidos

Cartas de aptidão à

urbanização

1:10.000, 1:5.000 ou

maior

Movimentos gravitacionais de massa translacionais,

inundações/enchentes/algamentos, corridas, erosões lineares

de grande porte (ravinas), assoreamento, subsidências e

colapsos, expansão dos terrenos, queda e rolamento de

blocos rochosos, processos costeiros

Cartas de risco

geológico 1:2.000 ou maior

Movimentos gravitacionais de massa translacionais,

rotacionais, em cunha, inundações/enchentes/alagamentos,

corridas de lama e detritos, rastejos, erosões lineares (sulcos,

ravinas e voçorocas), solapamentos de margens de rios,

assoreamento e colapsos, expansão dos terrenos, queda e

rolamento de blocos rochosos, processos costeiros.

Fonte: Sobreira e Souza (2012).

2.4.2 Principais metodologias trabalhadas no Brasil

A análise de instabilidade de taludes vem sendo trabalhada há muitos anos no Brasil.

Em meados dos anos 1990, com o avanço das geotecnologias, os métodos computacionais

predominaram nas análises e na elaboração de cartas de suscetibilidade a movimentos de

massa neste país, acompanhando o que já vinha sendo desenvolvido no mundo.

Fernandes et al. (2001) trabalham com a combinação de mapeamento e monitoramento

de campo, por meio de modelos matemáticos baseados em processos, principalmente com a

utilização do modelo matemático Shalstab para a previsão de áreas suscetíveis.

Tominaga (2007) aplicou uma proposta metodológica de avaliação do risco de

escorregamentos no município de Ubatuba, SP, e apresenta as metodologias relacionadas com

o mapeamento da suscetibilidade, perigo e risco. Na avaliação da suscetibilidade a

deslizamentos, a autora utilizou o método de sobreposição ou combinação de mapas de

índices ou parâmetros, no qual aos fatores que afetam a instabilidade das vertentes, são

atribuídos valores ponderados proporcionais à contribuição relativa em gerar instabilização.

Para a realização desta análise, aplicou-se a técnica AHP, sendo uma ferramenta disponível no

Spring, software utilizado pela autora.

Vanacôr e Rolim (2012) elaboraram um mapa de suscetibilidade a deslizamentos na

região do Rio Grande do Sul; utilizaram o método estatístico bivariado descrito por Soeters e

Page 106: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

105

Van Westen (1996) e aplicaram a técnica AHP para determinar o peso dos fatores e diminuir

a subjetividade no processo de decisão e avaliação da contribuição relativa de cada um deles,

baseada na lógica de comparação pareada.

Coelho Netto et al. (2013) apresenta uma metodologia para elaboração de cartas de

suscetibilidade e riscos diante dos mecanismos de deslizamentos na escala 1:5.000, aplicada à

área central de Angra dos Reis. Com a elaboração de cartas topográficas de referência,

geraram-se uma carta hidrogeomorfológica, geológico-geotécnica, vegetação e uso e

ocupação do solo e com a sobreposição do número de habitantes do censo 2010 do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011), chegou-se ao mapa de risco.

Gusmão Filho e Alheiros (ALHEIROS, 1998; GUSMÃO FILHO; ALHEIROS;

MELO, 1993; ALHEIROS et al., 2003) são os autores que mais trabalharam com a

perspectiva da análise da suscetibilidade e do risco na RMR, definindo metodologias de

análise, bem como definições dos fatores condicionantes e deflagradores característicos dos

deslizamentos nessa região, continuados por trabalhos realizados por Coutinho e Bandeira

(BANDEIRA, 2010; COUTINHO; BANDEIRA, 2012; COUTINHO, 2013), principalmente

os realizados por Coutinho. Podem-se destacar também os trabalhos de Pfaltzgraff (2007),

Coutinho (2014) e Torres (2014).

Pfaltzgraff (2007) elaborou um mapa de suscetibilidade a escorregamentos utilizando

ferramentas de Sensoriamento Remoto e Sistema de Informações Geográficas, bem como

bases cartográficas e temáticas de baixo custo e de alta eficiência, na escala 1:100.000 para

toda a RMR. Utilizou o método de sobreposição de parâmetros ou índices, determinando a

suscetibilidade a deslizamentos por meio de Álgebra de Mapas.

Além do surgimento de grupos de pesquisas e trabalhos de pesquisas por meio de

dissertações e teses de doutorado, bem como a publicação em artigos, vários mapeamentos de

suscetibilidade foram desenvolvidos por Universidades em parceria com o Ministério das

Cidades e da Integração como subsídio à elaboração de cartas geotécnicas de aptidão à

urbanização frente a desastres naturais e para mapeamentos de vulnerabilidade e risco,

conforme será exposto a seguir.

Souza e Sobreira (2014), visando elaborar uma carta geotécnica de aptidão à

urbanização frente a desastres naturais para o município de Ouro Preto, Minas Gerais,

elaboraram uma carta de suscetibilidade na escala 1:25.000. Optou-se pela escolha do método

heurístico, direto (com base em levantamento de campo) e indireto com base na integração de

Page 107: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

106

dados de vários mapas (condicionantes) com atribuição de pesos aos temas e notas às

unidades morfodinâmicas de interesse (UMI). Foram considerados como atributos de análise

a geologia (litologia e estruturas), materiais inconsolidados (solos e depósitos superficiais),

geomorfologia (hipsometria, declividade, amplitude do relevo, perfil das vertentes e atributos

morfométricos), hidrologia (nível freático, áreas de infiltração, concentração de fluxos),

inventário (agentes potencializadores, indícios de movimentação, indícios de atingimento,

histórico de processos geológicos, histórico de processos hidrológicos).

Com o objetivo de atender às solicitações do Ministério das Cidades para elaboração da

carta geotécnica de aptidão à urbanização frente a desastres naturais do município do Ipojuca,

Coutinho (2014), podendo ser encontrada também em Torres (2014) e Coutinho et al. (2015),

desenvolveu uma metodologia para análise da suscetibilidade a movimentos de massa e

erosão na escala de planejamento (1:25.000) abrangendo todo o município. Assim, a presente

tese também contempla o projeto anteriormente exposto, com o desenvolvimento e aplicação

de metodologia de análise da suscetibilidade/perigo para a escala de projeto (1:10.000)

utilizando-se a abordagem quantitativa de análise.

Objetivando estabelecer bases tecnológicas para o desenvolvimento contínuo de um

modelo integrado e atualizável de produção de cartas de suscetibilidade a processos do meio

físico que podem gerar desastres naturais (BITAR, 2014), o Serviço Geológico do Brasil

(CPRM) em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT)

apresentam uma nota explicativa da elaboração de cartas de suscetibilidade a movimentos

gravitacionais de massa e inundações em atenção a diretrizes da PNPDEC, estabelecida pela

Lei Federal 12.608/2012 (BRASIL, 2012a) e está prevista, também, no Plano Nacional de

Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais (PNGRRDN), lançado em agosto de 2012

(BRASIL, 2013).

Os processos do meio físico analisados e apresentados na referida nota compreendem

os principais tipos de movimentos gravitacionais de massa (deslizamentos; rastejos; quedas,

tombamentos, desplacamento e rolamento de rochas, e corridas de massa) e de processos

hidrológicos (inundações e enxurradas), os quais estão frequentemente associados a desastres

naturais ocorridos no País.

Os autores seguiram os princípios gerais apresentados no guia para zoneamento de

suscetibilidade, perigo e risco a deslizamento (FELL et al., 2008). Optaram, assim, pelo

mapeamento da suscetibilidade a deslizamentos baseado em modelagem estatística, visando

menor subjetividade e maior repetitividade no mapeamento das áreas suscetíveis, procurando,

Page 108: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

107

desse modo, desenvolver um modelo passível de aplicação na maior parte dos municípios

sujeitos a desastres naturais no País, com conteúdos e formatos passíveis de comparação,

levando-se em conta também a dificuldade de se obter mapas temáticos e MDEs compatíveis

com a escala de análise (1:25.000). Foram considerados três fatores predisponentes aos

deslizamentos: declividade, curvatura da encosta e densidade de lineamentos estruturais, que

refletem, respectivamente, a influência combinada de aspectos geomorfológicos, hidrológico-

pedológicos e geológicos.

Os autores fizeram uso da relação dos fatores predisponentes com a densidade de

deslizamentos para cada classe por meio do cálculo do Índice de Suscetibilidade a

Deslizamentos (ISD). Nesse caso, os fatores predisponentes considerados são classificados de

acordo com os respectivos valores de ISD; e para estarem de acordo com a escala trabalhada,

os autores aplicaram também o uso das Unidades de Mapeamento do Terreno (UMT) com a

generalização do ISD por meio do cálculo da média de cada UMT. Trabalharam, então, com

a UMT, unidades de encostas.

Page 109: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

108

3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

3.1 Localização das áreas de estudo

O município do Ipojuca localiza-se na Região Metropolitana do Recife (RMR), mais

precisamente na microrregião de Suape, distante 60 km da capital, Recife. Ocupa uma área de

532,25 km², que corresponde a aproximadamente 0,5% do território total do Estado, sendo

envolvido por uma extensão perimetral em torno de 111,79 km.

O limite leste do Ipojuca se dá com o Oceano Atlântico, enquanto o limite norte se dá

com o município do Cabo de Santo Agostinho, o limite sul com o município de Sirinhaém e

oeste com o município de Escada. A sede municipal localiza-se na latitude 08°24`00” e

longitude 35°03`45”, pode ser acessada pela rodovia federal BR-101 e posteriormente pela

PE-060.

O município é formado por três distritos, o Distrito Sede, o Distrito de Nossa Senhora

do Ó e o Distrito de Camela e pelos povoados das praias de Porto de Galinhas, Muro Alto,

Cupe, Maracaípe, Serrambi, Toquinho e seus engenhos (Figura 3.1).

As metodologias de análise da suscetibilidade foram desenvolvidas para duas escalas:

uma referente à escala de planejamento (1:25.000), abrangendo todo o município do Ipojuca,

com área de 532,25 km², e a outra considerada como escala de projeto (1:10.000). Para esta

última foi definido um polígono que abrange a área de expansão urbana, delimitada pelo

Plano Diretor municipal, entre os distritos de Ipojuca Sede e Nossa Senhora do Ó, com uma

área em torno de 70 km² (Figura 3.1).

Optou-se por escolher essa área de expansão urbana pelo fato de estar mais próxima

do complexo Industrial e Portuário de Suape e, por causa disso, intensificar ainda mais o

crescimento urbano. Além disso, as áreas atualmente ocupadas apresentam elevados riscos de

deslizamento e inundação, principalmente no distrito de Ipojuca Sede e nas Zonas Especiais

de Interesse Social (Zeis) desse distrito como Antônio Dourado Neto e São Miguel e as Zeis

Rurópolis e Bela Vista também situadas no mapa. As áreas consideradas como Zeis pelo

Plano Diretor Municipal (2008) correspondem às partes do território que apresentam uma

situação de urbanização precária resultante de processos informas de ocupação do solo e de

escassez de recursos para investimentos públicos, com as seguintes características: ocupação

Page 110: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

109

por população de baixa renda; áreas passíveis de regularização urbanística; áreas livres

restrições ambientais e legais para a regularização jurídico-fundiária.

Figura 3.1 – Mapa de localização do município do Ipojuca e da área de expansão urbana entre os

distritos de Ipojuca Sede e Nossa Senhora do Ó no estado de Pernambuco

Fonte: A autora.

Page 111: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

110

3.2 Aspectos demográficos e socioeconômicos do município do Ipojuca

Em 2010, a população do município do Ipojuca foi de 80.637 habitantes, segundo o censo

do IBGE, com uma densidade demográfica de 151,39 hab/km², dividida em 59.719 habitantes

ocupando as áreas urbanas e 20.918 nas áreas rurais, com uma taxa de urbanização de 74,06%. O

município apresentou, de 1991 a 2010, uma das maiores taxas de crescimento demográfico

(3,12% a.a), devido ao fluxo migratório, principalmente nos últimos dez anos, relacionado com

fatores atrativos como o crescimento do Complexo Industrial e Portuário de Suape. A Figura 3.2

mostra o crescimento no número de habitantes entre 1991 e 2013.

Figura 3.2 – Crescimento anual da população entre 1996 e 2010 no município

do Ipojuca

Fonte: IBGE/ Cidades (2013). * Valor estimado para 2013.

Ipojuca apresenta a maior população rural ou de área periurbana da Região

Metropolitana do Recife. Grande parte dessa população concentra-se em vilarejos, uma

herança dos antigos engenhos de cana-de-açúcar, produto que significou, por séculos, o

projeto econômico do município (POBREZA..., 2014).

A Figura 3.3 representa a divisão do município em população rural e urbana. Nota-se a

concentração da população urbana em pequenas áreas.

Page 112: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

111

Figura 3.3 – Distribuição da população rural e urbana conforme os setores censitários do

município do Ipojuca

Fonte: A autora, elaborado com base no censo 2010 do IBGE (2011).

Já o número de domicílios permanentes aumentou em 64% entre 2000 e 2010,

saltando de 13.414 para 22.016, o que infere uma forte pressão imobiliária no município.

Como pode ser visualizado na Figura 3.4, há maior concentração de domicílios nas áreas

urbanas, obviamente, mas nota-se maior concentração destes nas Zeis de Rurópolis e Bela

Vista. A Figura 3.5 representa a distribuição do número de moradores por domicílios no

município do Ipojuca de acordo com o censo demográfico de 2010 (IBGE, 2011). Assim

como o mapa da Figura 3.5, a população desse município se concentra em pequenas trechos,

mais precisamente em alguns setores da comunidade de Rurópolis, Ipojuca Centro, Nossa

Senhora do Ó e Camela.

Ipojuca, em 2010, passou a ser o 2.° maior PIB do estado de Pernambuco, atrás apenas

de Recife, e estava na 63.ª posição nacional. Em 2009, apresentava um PIB na ordem de R$

6,8 bilhões, já em 2011, passou para o PIB de R$ 9,5 bilhões. De um PIB per capita de R$

91.171 em 2007 para R$ 116.198 bem acima do PIB nacional, que é de R$ 21.535 (2011).

Tendo uma participação no PIB estadual de 9,16%.

Page 113: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

112

Figura 3.4 – Número de domicílios particulares permanentes por setor censitário do Ipojuca

Fonte: A autora, elaborado com base no censo demográfico 2010 (IBGE, 2011).

Figura 3.5 – Distribuição do número de moradores em domicílios particulares permanentes do

Ipojuca

Fonte: A autora, elaborado com base no censo demográfico 2010 (IBGE, 2011).

Page 114: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

113

Mesmo apontando uma posição privilegiada referente ao PIB no estado de

Pernambuco, em relação aos aspectos sociais, os dados do censo demográfico de 2010,

mostram uma deficiência em infraestrutura. O fornecimento de energia elétrica é para 100%

dos domicílios, a coleta de lixo atinge 84,1%, enquanto a cobertura da rede de abastecimento

d’água é dada para 64,2% dos domicílios particulares permanentes e apenas 51,3% das

residências dispunham de esgotamento sanitário (CONSEA, 2013).

Em relação aos níveis de pobreza, em termos proporcionais, encontra-se em extrema

pobreza 13,2% da população, com intensidade maior na área rural (19,1% da população na

extrema pobreza localiza-se na área rural contra 11,1% na área urbana).

Esses dados mostram que Ipojuca protagoniza a cena econômica estadual e é um dos

mais importantes municípios no crescimento econômico do Nordeste. Isso porque abriga em

seu território um dos maiores complexos industriais e portuários do País, o Complexo

Industrial e Portuário Eraldo Gueiros Leite – Suape. O complexo vem passando por

transformações significativas, entretanto, existe uma disparidade de renda significativa nesse

município e a maioria da população sofre com a falta de infraestrutura e muitos vivem em

moradia com situação precária e situada em área de risco a movimentos de massa e

inundação.

3.3 História da ocupação do município do Ipojuca

O processo de ocupação da RMR iniciada pelo núcleo Recife-Olinda teve,

historicamente, como principal condicionante a economia canavieira (BITOUN; MIRANDA;

SOUZA, 2006).

De acordo com relatos e a tradição, a cidade do Ipojuca surgiu no século XVI (em

torno de 1530) quando os portugueses registraram a ocupação desse município. Em 1560,

após a expulsão dos índios Caetés e outras tribos do litoral de Pernambuco, os colonos

puderam migrar para as terras férteis e ricas em massapê de Ipojuca, terras essas bastante

propícias para o cultivo da cana-de-açúcar, o que causou um rápido surgimento de diversos

engenhos na região, que durante muito tempo prosperaram.

Em 1608, foi construído o Convento de Santo Antônio de Ipojuca da Ordem

Franciscana em terras do antigo Engenho Trapiche, onde já havia o povoado de Ipojuca. Os

holandeses invadiram Pernambuco em 14 de fevereiro de 1630, e em 1639, Ipojuca foi

conquistada pelos holandeses; fixaram-se no convento e expulsaram os franciscanos que se

Page 115: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

114

deslocaram para Recife sendo confinados depois em Itamaracá e de lá deportados para as

Índias.

Ipojuca participou da resistência aos holandeses sob a liderança do capitão-mor

Amador de Araújo em uma luta iniciada em 17 de julho de 1645 culminando com a derrota

dos holandeses em 23 de julho de 1645.

Dessa forma, Ipojuca consolidou-se como uma das mais importantes regiões do

sistema colonial. Com dois portos – Suape e Porto de Galinhas, além da maior várzea de

massapê do Nordeste. Tornou-se, portanto, uma área economicamente dinâmica por ser,

também, rota de entrada e comércio clandestino de escravos (MIRANDA, 2012).

Entre 1550 e 1650, já havia registro de mais de 30 engenhos, entre os quais Tabatinga,

Salgado, Trapiche, Boacica, Guerra, Mercês, Maranhão, Genipapo, Pindoba, Pindorama, São

Francisco e Caetés. Assim, o município de Ipojuca desenvolveu-se como um importante

centro açucareiro (RIMA, 2011).

Em toda a Região Metropolitana do Recife, a área florestada, que durante todo o

período histórico esteve à mercê de desmatamento acelerado e devastador, primeiramente

sofreu a retirada de madeiras nobres para o comércio de exportação; em seguida foi

desmatada para a implantação das áreas de plantio da cana-de-açúcar que exigia, além do

desmatamento de grandes áreas para a prática agrícola, o desbaste da mata para a obtenção de

lenha para alimentar os fornos dos engenhos e como combustível doméstico.

Pelo Decreto n.º 2, de 19 de novembro de 1685, criou-se o distrito denominado de

Nossa Senhora do Ó de Ipojuca e elevado à categoria de Vila. Posteriormente, a sede foi

transferida para a povoação de São Miguel do Ipojuca. Pelo Decreto-Lei n.º 23, de 4 de

outubro de 1890, a sede do município volta a ser a povoação de Nossa Senhora do Ó. Foi

elevada à condição de cidade com o mesmo nome de Ipojuca pela Lei Estadual n.º 173 de 6

de junho de 1896.

Em divisão administrativa referente a 1911, o município é constituído de três distritos:

Ipojuca, Nossa Senhora do Ó de Ipojuca e São Miguel de Ipojuca. Em 1914, criou-se o

distrito de Santo Antônio de Camela, que posteriormente foi denominado somente de Camela,

e anexado ao município do Ipojuca.

Em 1933, o município constituía-se de três distritos: Ipojuca, Nossa Senhora do Ó e

Camela, permanecendo assim até os dias atuais. Desde então, sua base econômica residia na

produção de cana-de-açúcar e na indústria sucroalcooleira. Após o advento do fenômeno de

Page 116: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

115

segunda residência pelas classes sociais abastadas, o lazer e o turismo despontaram como

novas opções econômicas para a área, incrementando o forte crescimento populacional,

sobretudo, nos anos 1980 (MIRANDA, 2012).

Na década de 1970, começou o processo de urbanização da orla com os loteamentos

de veraneio. Nesse processo, surgiram diversos problemas que acarretaram a degradação

ambiental, tais como aterro de mangue, destruição de dunas e privatização de praias como

Enseada de Serrambi, Pontal de Serrambi e Merepe.

Fato que repercutiu, por sua vez, na urbanização da zona costeira e das relações de

trabalho com o advento da diversificação das formas de ocupação e emprego, formais e

informais, suscitando o fenômeno da urbanização turística.

Em meados do século XIX, a implantação dos eixos ferroviários estabeleceu a

principal estrutura de comunicação dos engenhos com o centro comercial e portuário do

Recife.

O padrão oligárquico e patrimonialista, em que se funda a sociedade

metropolitana, bem como as relações de poder nelas estabelecidas, deixaram

marcas na gestão das políticas públicas, ao longo do tempo, dificultando o

controle mais amplo sobre tais políticas, em face das dificuldades de

separação entre o ‘público’ e o ‘privado’ por parte dos grupos econômicos

dominantes. (BITOUN; MIRANDA; SOUZA, 2006, p. 14).

Em 1978, pela Lei Estadual n.º 7.763, criou-se o Complexo Industrial e Portuário

Eraldo Gueiros Leite, a Empresa Suape, com a finalidade de administrar a implementação do

distrito industrial, o desenvolvimento das obras e a exploração das atividades portuárias. Em

1991, o cais de múltiplos usos começa a operar e o Porto de Suape foi incluído na lista dos 11

portos prioritários do Brasil, para os quais se deveriam direcionar os recursos públicos

federais de investimentos em infraestrutura portuária.

Em 2007, iniciaram-se os investimentos para a construção da Refinaria General José

Ignácio Abreu e Lima. Em 2009, o Complexo contribuiu decisivamente para o crescimento do

PIB do estado de Pernambuco, que aumentou 3,4% e gerou mais de 46,7 mil novos empregos.

Com mais de 100 empresas instaladas e outras 35 em fase de instalação, o local transformou-

se em um imenso canteiro de obras que gerou milhares de empregos em uma onda de

desenvolvimento e transformação social (HISTÓRICO... 2011).

Page 117: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

116

Grandes investimentos recentes, a exemplo da Refinaria Abreu e Lima, o cluster

naval, o Polo de Poliéster e o Polo Petroquímico já estão provocando uma dinâmica

econômica de grande impacto na área existente, afetando seu território e alterando a realidade

sociocultural. Com a dinâmica representada pela ampliação e consolidação desse contexto,

fortalecido pelos recentes investimentos, a indústria de transformação assumirá certamente

um maior peso na estrutura econômica do território.

O município atualmente passa por transformações espaciais bastante expressivas,

baseadas em três frentes: a) obras de infraestrutura patrocinadas pelos governos estadual e

municipal; b) novas plantas industriais; c) implantação de áreas habitacionais. Fica evidente,

também, que o município passa por uma transformação em sua funcionalidade econômica e

territorial, deixando de ser um município, fundamentalmente com base econômica agrária,

tornando-se uma região com forte característica urbano-industrial.

É, portanto, com base nesses eixos estruturadores de desenvolvimento, que o

município do Ipojuca está planejando seu crescimento.

3.4 Zoneamento atual do município do Ipojuca

De acordo com o Plano Diretor do município do Ipojuca e o respectivo zoneamento

(Lei n.º 1.490/08), o território municipal divide-se em duas macrozonas (Figura 3.6):

a) Macrozona de Sustentabilidade Rural (MSR) – composta pela Zona Especial de

Desenvolvimento Rural Sustentável (ZEDRS) e pelo Eixo de Dinamização

Econômica (EDE).

b) Macrozona de Equilíbrio Urbano-Ambiental (MEUA) – Composta pela Zona de

Requalificação Urbana (ZRU), Zona de Urbanização Preferencial 1, 2 e 3 (ZUP, 1,

2 e 3), pela Zona de Equilíbrio Ambiental (ZEA), Zona de Sustentabilidade da Orla

(ZSO), Zona de Interesse Turístico (ZIT), Zona de Atividade Industrial e Logística

(ZIL), Zona de Atividade Portuária de Suape (ZAP). Além destas zonas existem a

Zona Especial de Manutenção da Morfologia Original (Zemo), a Zona Especial de

Interesse Institucional (ZEII), a Zona Especial de Interesse Social (Zeis) e a Zona

Especial de Proteção Integral (Zepi).

Page 118: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

117

Figura 3.6 – Mapa de zoneamento do município do Ipojuca

Fonte: Adaptado do Plano Diretor do Município (2008, a partir de Coutinho, 2014).

A Macrozona de Sustentabilidade Rural (MSR) compreende a porção oeste do

território municipal. É formada por uma extensa área de cultivo da cana-de-açúcar, permeada

por estruturas naturais que garantem o equilíbrio ambiental do território e apresenta ampla

rede de estradas vicinais, que permitem a conectividade entre os núcleos urbanos dando

mobilidade e acessibilidade no território municipal.

A Zona Especial de Desenvolvimento Rural Sustentável (ZEDRS) corresponde às

áreas de: a) assentamentos rurais de reforma agrária, legalmente definidos pelo Instituto

Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), PE; b) assentamentos organizados pelo

Fundo de Terras do Estado de Pernambuco (Funtep).

Essa zona destina-se ao fomento de atividades econômicas, agropecuárias,

agroindustriais em especial; ao estímulo e apoio à agricultura diversificada e à produção

socialmente estruturada de cana-de-açúcar e seus derivados.

Page 119: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

118

A Zona Especial de Atividades Industriais e Agroindustriais (Zeia) corresponde à

porção do território destinada à instalação controlada de: a) atividades industriais,

agroindustriais e demais atividades econômicas estruturadoras; b) equipamentos especiais de

referência regional.

A Macrozona de Equilíbrio Urbano-Ambiental (MEUA) compreende a porção leste do

município, caracterizada por elementos físicos e naturais que induzem e condicionam o

processo de apropriação espacial.

Zona de Requalificação Urbana (ZRU) compreende áreas de urbanização consolidada

dos núcleos urbanos de Ipojuca Sede e dos distritos de Nossa Senhora do Ó e Camela

apresentando as seguintes características:

I. limitações ao processo de expansão física em razão da forte atividade de cultivo

de cana-de-açúcar nas áreas circundantes aos núcleos urbanos;

II. lugares centrais conservando a morfologia original da formação urbana, com o

traçado orgânico e ocupação diferenciada;

III. elevado nível de adensamento construtivo, sobretudo nas áreas periféricas, que se

encontram ocupadas por assentamentos espontâneos de urbanização precária e

caracterizadas pela existência de:

a) situações de risco de alagamentos, declividade do solo e deslizamentos;

b) falta de sistemas de saneamento básico.

A Zona Urbanização Preferencial 1 (ZUP-1) corresponde às áreas adjacentes aos

núcleos urbanizados de Ipojuca Sede e dos distritos de Nossa Senhora do Ó e Camela.

Cumpre um papel estratégico de indução do processo de expansão urbana dos núcleos

urbanos consolidados do município. Essa zona tem como um dos principais objetivos atender

à demanda reprimida por moradia, que compõe o déficit habitacional do município e a

demanda decorrente dos grandes investimentos previstos para o Complexo Industrial

Portuário de Suape.

A Zona de Urbanização Preferencial 2 (ZUP-2) compreende áreas próximas aos

núcleos urbanos dos Distritos Sede e de Nossa Senhora do Ó. Cumpre papel estratégico no

processo de expansão urbana dos núcleos urbanos consolidados do Ipojuca Sede e Nossa

Senhora do Ó, com caráter secundário, em relação à ZUP-1.

Page 120: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

119

A Zona de Urbanização Preferencial 3 (ZUP-3) corresponde à porção do território do

município, atualmente utilizada para o cultivo de cana-de-açúcar, com um perfil fundiário

configurado por propriedades de grande porte.

A Zona de Equilíbrio Ambiental (ZEA) corresponde à porção oeste do território

municipal, sob influência do ambiente estuarino, tendo como principais características:

I. extensa malha hídrica, em especial, os cursos d’água dos rios Ipojuca, Merepe,

Maracaípe e Sirinhaém;

II. várzeas, manguezais e áreas remanescentes de mata atlântica;

III. áreas de proteção ambiental legalmente instituídas:

a) APA de Sirinhaém;

b) Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de Nossa Senhora do Outeiro

de Maracaípe.

A Zona de Sustentabilidade da Orla (ZSO) corresponde à porção do território definida

pela faixa litorânea, caracterizado pela existência de:

I. núcleos urbanizados;

II. ecossistema estuarino;

III. elevada potencialidade turística.

A Zona de Interesse Turístico (ZIT) corresponde à faixa de terra localizada à beira-

mar.

A Zona de Atividades Industriais e Logísticas (Zail) corresponde às porções do

território localizadas próximas dos distritos industriais existentes e projetados.

A Zona de Atividade Portuária (ZAP) de Suape corresponde ao território legal do

Complexo Industrial Portuário de Suape.

As Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis) correspondem às partes do território que

apresentam uma situação de urbanização precária resultante de processos informais de

ocupação do solo e da escassez de recursos para investimentos públicos. As áreas

classificadas como Zeis no município do Ipojuca são: 1. Zeis Núcleo Urbano de Ipojuca Sede

(Campo do Avião/Antônio Dourado Neto, Vila de São Miguel e Capim Verde); 2. Zeis do

Núcleo Urbano do Distrito de Nossa Senhora do Ó (Sítio do Nestor); Zeis do Núcleo Urbano

do Distrito de Camela (Alto da Caixa d’Água/Alto da Palmeira), Alto do Cemitério, Alto da

Page 121: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

120

Compesa, Socó, Salinas, Pantanal, Maracaípe e Serrambi); 3. Zeis fora dos núcleos urbanos

(Rurópolis, Bela Vista e Califórnia).

3.5 Aspectos físicos do município do Ipojuca

3.5.1 Clima

O município do Ipojuca, de acordo com Kayano e Andreoli (2009), inclui-se na região

de clima litorâneo úmido (que se estende do litoral da Bahia ao do Rio Grande do Norte), com

chuvas ocorrendo em torno de 50% de maio a julho (STRANG, 1972).

A localização latitudinal do município, mais precisamente na zona intertropical, na

faixa de maior incidência solar do planeta, confere-lhe temperaturas estáveis ao longo do ano

com amplitude térmica anual de, no máximo, 5°C, ou seja, as temperaturas são praticamente

constantes entre o verão e o inverno (GIRÃO et al., 2013). A temperatura média anual é de

26° C; com temperaturas mínimas e máximas podendo chegar a 18°C e 32°C

respectivamente.

Os mecanismos dinâmicos que influenciam as chuvas no leste do Nordeste (ENE) são

classificados em mecanismos de grande escala, responsáveis, em geral, pela maior parte da

precipitação observada, e mecanismos de meso e microescala que completam os totais

precipitados (MOLION; BERNARDO, 2002).

São considerados mecanismos de grande escala: os Sistemas Frontais (SF) e a Zona de

Convergência Intertropical (ZCIT). De mesoescala: as Perturbações Ondulatórias no Campo

dos Ventos dos Alísios (POA) – também conhecidos como Distúrbios Ondulatórios de Leste

(DOL) –, Complexos Convectivos e Brisas Marítimas e Terrestres. Já os de microescala,

relacionam-se com as circulações orográficas e pequenas células convectivas.

A costa oriental do Nordeste do Brasil, ao longo da maior parte do ano, constitui-se

em uma região sob influência da Massa Tropical Atlântica (mTa), caracterizada como uma

massa tropical quente e úmida por conta de sua área de origem, sobre o Atlântico Sul,

derivada da célula de alta pressão subtropical (o anticiclone semifixo do Atlântico Sul)

(GIRÃO et al., 2013).

Ao longo do ano, a influência da mTa sobre a costa pernambucana sofre perturbações

derivadas da circulação atmosférica secundária. Tais perturbações atmosféricas, na borda

oriental do Nordeste do Brasil, alteram as condições de tempo dominante e estão associadas

Page 122: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

121

aos deslocamentos da ZCIT, Frentes Frias (FF), Ondas de Leste ou DOL, Linhas de

Instabilidade (LI), Brisas Terrestres e Marítimas, Vórtices Ciclônicos da Atmosfera Superior

(VCAS) e os ventos vale-montanha (GIRÃO et al., 2013; SOUZA, 2011).

Vários estudos tentaram explicar a concentração das chuvas entre o período de abril a

julho no Leste do Nordeste do Brasil (Eneb), como Kousky (1979), que associou o máximo de

chuvas à maior atividade de circulação de brisa que advecta bandas de nebulosidade para o

continente à ação das frentes frias, ou seus remanescentes, que se propagam ao longo da

costa. Cohen (1989) e Ferranti et al. (1990) associaram a quadra chuvosa à ação dos

Distúrbios Ondulatórios, e Molion e Bernardo (2002) identificaram que 60 a 70% das chuvas

que caem no período mais úmido (AMJJ) é pelo deslocamento da Zona de Convergência do

Leste do Nordeste (ZCEN), alimentada pela convergência de umidade dos alísios; e que

perturbações ondulatórias nos ventos alísios, tanto do hemisfério sul quanto do hemisfério

norte, brisas marinha e terrestre e convecção local, associada à topografia e à convergência de

umidade, completariam o quadro de fenômenos de escala menor, responsáveis por 30% a 40%

do total pluvial (MOLION; BERNARDO, 2002).

Desse modo, o principal mecanismo atuante no leste do Nordeste do Brasil e no

município do Ipojuca são os Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL) ouOndas de Leste – OL,

os quais são sistemas de escala sinótica, que ocorrem na baixa troposfera tropical, e quando se

formam na região do Oceano Atlântico Sul apresentam deslocamentos para oeste

intensificando-se à medida que se aproximam da costa leste da região Nordeste do Brasil

(CHOU, 1990; SILVA, 2010). Esses sistemas oscilam com periodicidade variando entre três e

nove dias, e velocidade de propagação entre 10 a 15 m/s (MEKONNEN; TRORNCROFT;

AIYYER, 2006; ALVES; MARQUES; OYAMA, 2008; MACHADO et al., 2012).

Os meses de junho e julho representam os meses de maior precipitação no litoral de

Pernambuco, consequentemente no município do Ipojuca, tendo como causas os eventuais

avanços das Frentes Frias e, principalmente, instabilidades provocadas por cavados

barométricos gerados sobre o Atlântico, que avançam rumo a oeste, fenômeno conhecido

como Ondas de Leste (GIRÃO et al., 2013).

Causam muita precipitação, principalmente, nos meses de abril a agosto. A intensidade

e frequência das ondas de leste (OL) dependem da temperatura da superfície do mar (TSM),

do cisalhamento meridional do vento, e da circulação troposférica no Atlântico Tropical

(ARAGÃO, 2004). Mesmo de pequena amplitude, as OL podem trazer chuvas intensas e

inundações.

Page 123: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

122

Outro sistema importante são as brisas, as quais são a parte superficial de uma

circulação térmica causada pelo aquecimento diferencial dos oceanos e a superfície sólida da

terra. A brisa é chamada de terrestre quando o vento superficial sopra da superfície terrestre

para o mar (à noite) e marítima quando ocorre do mar para a terra (durante o dia). Os ventos

alísios que sopram, principalmente do quadrante nordeste-sudeste, são fatores importantes na

modulação das brisas na região tropical. Os sistemas de brisa são observados com maior

definição nos meses de outono e inverno (abril a julho), especialmente quando da atuação de

sistemas meteorológicos que ocorrem nessa época do ano (ARAGÃO, 2006). Em geral,

produzem chuvas de intensidade fraca a moderada.

As áreas entre a costa e até 300 km têm um máximo diurno de precipitação associado

à brisa marítima. A brisa marítima é máxima quando existe um contraste maior entre a TSM e

a temperatura da terra. Isso ocorre no fim do outono e no início do inverno (maio, junho e

julho). A parte leste do NEB, incluindo Ipojuca, sofre a influência dos sistemas de brisa em

praticamente todo o ano (SOUZA, 2011).

3.5.2 Geologia

As informações dos aspectos geológicos que serão apresentados para o município do

Ipojuca foram retiradas do mapeamento geológico feito para o município na escala 1:25.000

pelo Grupo de Engenharia Geotécnica de Encostas, Planícies e Desastres, o Gegep

(COUTINHO, 2014; GONÇALVES, 2014), além de informações encontradas em Pfaltzgraff

(1998), CPRM (2001) e Girão (2007).

O município do Ipojuca está inserido no Domínio Geológico-estrutural denominado

Província Borborema, o qual é limitado ao sul pelo Cráton do São Francisco, a oeste pela

Bacia do Parnaíba e a norte e leste pelas Bacias Marginais Costeiras (ALMEIDA et al. 1977).

De acordo com Santos et al. (1995), podem-se encontrar dentro dessa Província o Terreno

Pernambuco Alagoas (TPA), o Segmento Leste do TPA e a Bacia Pernambuco.

O arcabouço geológico e estrutural da Zona da Mata de Pernambuco é organizado

pelos lineamentos Paraíba, ao norte, e Pernambuco ao sul, os dois na direção E-W. O setor

compreendido entre os dois lineamentos se estende entre os paralelos 7.° e 8.° de latitude sul.

Assim, os elementos estruturais da Zona da Mata Pernambucana são marcados por meio do

seu limite sul, o Lineamento Pernambuco, a divisão entre a Zona da Mata Norte e a Zona da

Mata Sul.

Page 124: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

123

Desse modo, o município do Ipojuca está inserido em dois contextos geológicos

distintos: 1) embasamento cristalino, representado pelo terreno Pernambuco-Alagoas de idade

paleoproterozóica; 2) a Bacia Pernambuco, com idade variando do Cretáceo Inferior ao

Neógeno (Figura 3.7).

Figura 3.7 – Caracterização dos ambientes geológicos do município do Ipojuca

Fonte: Coutinho (2014); Gonçalves (2014).

Lima Filho (1998) sugeriu uma nova litoestratigrafia para a Bacia Pernambuco, sendo,

esta, composta pelas Formações Cabo, Estiva e Algodoais. Há cerca de cem milhões de anos,

a bacia foi palco de um intenso magmatismo, conhecido como Suíte Ipojuca. Sobrepondo-se

às unidades mencionadas, ocorrem ainda a Formação Barreiras (Paleógeno), terraços

pleistocênicos, holocênicos e sedimentos (Neógeno).

Tomando-se como base a divisão em ambientes geológicos acima exposta, Gonçalves

(2014) identificou no município do Ipojuca as seguintes unidades geológicas (Figura 3.8) que

serão descritas a seguir, destacando, também, características geotécnicas e potencialidades a

ocorrência de processos do meio físico.

Page 125: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

124

Figura 3.8 – Mapa geológico na escala 1:25.000 do município do Ipojuca

Fonte: Coutinho (2014)

a) Embasamento cristalino

Nas áreas formadas por rochas cristalinas e pelos materiais oriundos da decomposição

destas, a declividade é bastante acentuada. Apresentam-se bastante intemperizadas e cobertas

por espessa camada de solo argiloso de cor avermelhada. Nessas áreas a cobertura de solo

pode atingir espessuras em torno dos 5 m nos tipos formados por plútons, e mais de 15 m nos

tipos oriundos de gnaisses e migmatitos. A granulometria dos solos gerados por meio das

litologias graníticas é mais silto-argilosa, ao passo que nos solos originados de gnaisses e

migmatitos é basicamente argilosa. É comum a existência de blocos de rocha com dimensões

métricas envoltos nas camadas do solo residual, principalmente nos solos originados de

rochas gnáissicas e migmatíticas.

Page 126: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

125

Por apresentar tais características, são consideradas áreas com alta suscetibilidade a

deslizamentos e ocorrência de processos erosivos (ravinas e voçorocas). Nas áreas onde

apresentam blocos rochosos envolvidos nos solos residuais e, quando aflorados em uma crista

de talude, são suscetíveis a processos de queda de blocos (PFALTZGRAFF, 1998;

COUTINHO, 2014).

Complexo Gnáissico-Migmatítico – Unidade Px

Ocupa 50% do embasamento cristalino, constituindo-se na unidade mais abrangente

do município. Na região ao sul da área urbana do município de Escada encontram-se

ortognaisses e milonitos de composição granodiorítica. Na zona mais central do município, os

ortognaisses assumem uma composição mais granítica, foliação mais horizontalizada e pouco

visível na rocha. Nessa região também se encontram migmatitos com leucossomas (partes

claras-litologias de natureza ácida) com textura pegmatóide e dobras pitgmáticas.

Biotita-Granito – Unidade Ny3

A Unidade Px ocupa a maior parte do embasamento cristalino. Está distribuída em

dois corpos: um ao sul de Escada e outro se estendendo dos Distritos de Ipojuca e Camela.

Compõe rochas com textura fenerítica com cristais predominantemente anédricos e

equigranulares, coloração variando de cinza a creme. Constantemente cortada por veios de

textura pegmatóide exibindo biotitas em placas e algumas granadas centimétricas, possível

indício de um granito tipo S, especificamente no afloramento do riacho na entrada da cidade

de Camela.

Biotita-Granito Porfirítico – Unidade Ny2

Essa unidade encontra-se na porção oeste do município do Ipojuca, nas áreas com

cotas mais elevadas, geralmente, sob capeamento de 2 a 3 metros, na forma de blocos e

pequenos matacões dentro do perfil de intemperismo. Às vezes, com marcante esfoliação

esferoidal.

Page 127: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

126

Quartzo Sienito – Unidade Ny5

Unidade que aparece restrita a um pequeno corpo na área central do município. São

rochas de textura fanerítica, granulação média, inequigranular e coloração cinza claro. É

cortada por veios pegmatíticos com notável presença de lamelas de biotita com até 3 cm de

comprimento e raras granadas milimétricas.

b) Bacia Pernambuco

Formação Cabo (Kc)

De acordo com Gonçalves (apud COUTINHO, 2014), essa formação localiza-se na

porção leste do município. Na fácies proximal (notadamente suportada pelos blocos, mais

blocos do que matriz) é um conglomerado polimítico (blocos de diferentes tipos de rocha)

com blocos de granitoides, gnaisses e migmatitos oriundos do embasamento cristalino e

matriz arcoseana (arenito com mais de 25% de feldspatos) avermelhada. Os blocos são

semiarredondados a arredondados (indicando transporte em longo trajeto), variando de 10 cm

a 2 m de diâmetro. Na fácies medial (suportada pela matriz, mais matriz do que blocos),

torna-se um conglomerado de matriz arcoseana com blocos menores, não passando dos 40 cm

de diâmetro.

A Formação Cabo (Kc), por ser suportada por blocos, tem baixa coesão e alta

permeabilidade, facilitando a percolação da água, posterior, levando à desestabilização da

rocha e consequentemente maior suscetibilidade ao deslizamento. Concomitante a esses

fatores está o problema dos cortes desordenados nos morros, pertencentes a essa formação,

que geram maior desestabilidade (GONÇALVES apud COUTINHO, 2014).

Formação Ipojuca – Vulcanismo Bimodal

1) Basaltos – Kibs. Rocha afanítica de coloração marrom/roxa/preto, encontrada na

forma de derrames basálticos (em forma de soleiras), em geral bastante alterados, com

esfoliação basáltica bem visível e com poucas vesículas. Apresenta-se também na forma de

Page 128: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

127

soleiras de espessura bem variável, depositadas entre e sobre as rochas da Formação Cabo e

necks vulcânicos de riolitos/traquitos.

2) Traquitos/Riolitos – Kitq/Kirl. Afloram em necks vulcânicos próximos ao Engenho

Ipojuca e afloramento de grande porte na região próxima ao Porto de Suape. Apresentam

disjunções colunares verticais e horizontais por vezes com as fraturas preenchidas por

material silicoso formando uma distinta estrutura que lembra um stockwork, e também na

forma de diques e soleiras, bastante alterados, cortando os conglomerados da Formação Cabo.

3) Ignimbrito – Kiig. São rochas piroclásticas de coloração cinza, com vesículas

marcantes, resultante da deposição de materiais provenientes de um fluxo piroclástico e

fragmentos de rochas do embasamento, cimentados por magma de natureza riolítica. Aflora

em um único corpo ao sul da cidade de Ipojuca, particularmente próximo à estrada de acesso a

Porto de Galinhas, atualmente uma pedreira explorada pelo grupo empresarial João Santos.

Formação Estiva – Ke

É uma rocha carbonática de composição dolomítica coloração variando de creme a

cinza e com presença de fósseis. Encontra-se em pequenos corpos na área do Engenho

Gameleira, próximo a Porto de Galinhas.

Formação Algodoais – Ka

Constituída por um conglomerado polimítico (blocos oriundos de diferentes tipos de

rochas vulcânicas) sustentado por uma matriz arcoseana amarelada, granulação média e com

seixos subangulosos a subarredondados, variando de 5-25 cm de diâmetro, constituídos por

rochas vulcânicas oriundas da Formação Ipojuca. O pacote de conglomerado encontra-se

também interestratificado com soleiras de basalto e/ou vulcânicas ácidas (traquitos/riolitos).

Formação Barreiras – Nqb

Aflora na região Sudeste do município na forma de sedimentos argiloarenosos, com

granulação variando de fina a média, localmente conglomerática, com níveis argilosos ou

ricos em óxidos e hidróxidos de ferro. Localmente, esses níveis apresentam raras

estratificações cruzadas.

Page 129: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

128

c) Coberturas recentes

Na porção leste do município, as unidades anteriormente citadas, principalmente as da

Bacia Pernambuco, estão recobertas por sedimentos recentes, em relevo plano e formadas por

sedimentos inconsolidados.

De acordo com Pfaltzgraff (1998), essa área está sujeita a processos de inundação,

além da presença de camadas sedimentares de baixa capacidade de carga (argilas orgânicas e

turfas) e erosão marinha.

Terraços Marinhos (Qtp) – são pequenas plataformas acima do nível do mar, formadas

por areias quartzosas de granulação fina a média.

Terraços Marinhos Holocênicos (Qth) – semelhantes aos pleistocênicos em

geomorfologia e composição, diferenciando-se pela presença de restos de conchas.

Sedimentos de Praia (Qp) – depósitos recentes constituídos por areias quartzosas com

fragmentos de conchas.

Sedimentos Silico-Argilosos de Mangue (Qm) – formado por argilas, siltes, areias

finas, carapaças de diatomáceas (algas), espículas de espongiários, restos orgânicos e conchas.

Sedimentos fluviolacustres (Qdfl) – são constituídos por areias finas, siltes, argilas,

vasas diatomáceas e sedimentos turfosos.

Depósitos Aluviais (Qal) – são depósitos formados por materiais arenosos e

arenoargilosos. Distribuem-se nas planícies de inundação dos grandes rios da região.

3.5.3 Geomorfologia

Girão et al. (2013) traz uma excelente caracterização do arcabouço geomorfológico da

Zona da Mata de Pernambuco, mais precisamente, para as áreas que estão dentro das bacias

hidrográficas do Una e Sirinhaém, podendo ser extrapolada para o município do Ipojuca.

Andrade e Lins (apud GIRÃO et al., 2013) propôs uma divisão regional baseada na

interação sinérgica entre famílias de formas, processos e estruturas superficiais da paisagem,

enfatizando as particularidades morfoclimáticas desse setor. Sendo assim, destaca que a

sucessão de formas dessa faixa subcosteira reflete a destruição erosiva dos divisores, sob

condições iniciais de maior umidade e rebaixamento do nível de base, resultando em um

padrão de drenagem dendrítico ou subdendrídico, que permeia um relevo de colinas convexas,

Page 130: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

129

entremeadas em planícies em bolsão, bem como a dissecação vertical dos diversos litótipos

pré-cambrianos em níveis que variam de 50 m a 200 m.

A sintonia fina do controle estrutural – expressa por meio de linhas de

fraturas e diaclases – reflete na formação das cabeceiras de drenagem em

avéolos, que por sua vez, aprofundam-se a ponto de dissecar e repartir os

divisores ou estabelecer notáveis colos topográficos. (GIRÃO et al., 2013, p.

134).

Uma das principais influências das características citadas acima é dada pelo papel do

regolito – e de suas descontinuidades texturais internas –, que é crucial na hierarquização

processual, pois, como é destacado em Girão et al. (2013), o limite inferior da frente de

intemperismo pode encontrar-se a dezenas de metros abaixo da superfície, oferecendo

material sem coesão e altamente permeável à ação dos agentes modeladores da superfície;

seja pela ação dos fluxos lineares – em superfície –, seja movimentos de massa que se

estabelecem quando – diante da umidificação – depara ou com planos de cisalhamento do

próprio material intemperizado ou com a própria rocha mãe, ainda sã.

A ação dos processos geomorfológicos, nessa área, em tempos históricos está bastante

influenciada pela expansão da monocultura canavieira, desde o início do período colonial e as

diversas fases de crescimento das áreas cultivadas e mecanização do processo produtivo.

Em trabalho desenvolvido por Coutinho (2014), identificaram-se para o município do

Ipojuca 17 Unidades Geomorfológicas, na escala 1:25.000 em que levam em consideração os

5 níveis taxonômicos enfatizando padrões de relevo (4.° táxon) e algumas formas de relevo

(5.° táxon) de acordo com a metodologia proposta por Ross (1992).

As Unidades Geomorfológicas foram agrupadas em Modelados Denudacionais e de

Acumulação. Os modelados denudacionais referem-se às colinas que se caracterizam pelo

relevo suavemente ondulado, a ondulado, isolados entre si, ocorrendo em todo o município,

exceto nas áreas de planície. Têm pequenas a médias elevações e são circundados por

sedimentos de origem fluvial, fluviomarinha, fluviolagunar e colúvios, interdigitando-se com

eles. Como as diversas colinas apresentam características geomorfológicas distintas, foram

agrupadas em quatro subunidades gerais: colinas com topos aguçados e vales encaixados

(Dgv); as colinas com topos arredondados e vales encaixados (Drv) e as colinas com topos

arredondados e vales côncavos (Dru); colinas com topos arredondados e vales abertos (Dra).

Page 131: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

130

Os modelados de acumulação agrupam os seguintes modelados: Acumulação

Coluvial; Planície Fluvial/Fundo de Vales; Plaino Aluvial; Acumulação Fluviolagunar;

Terraços Marinhos Superiores; Terraços Marinhos Inferiores; Acumulação Fluviomarinha;

Acumulação Marinha.

Acumulação Coluvial – varia entre 20 e 153 metros e refere-se aos locais onde ocorre

acúmulo/deposição dos sedimentos de origem coluvial e de tálus, que são originados das

diversas colinas do município. Predominantemente tem vertentes convexas, levemente

retilinizadas nas porções mais baixas, apresentando declividade média à baixa. A deposição

do material sedimentar forma rampas suaves que recobrem o sopé das colinas e se

interdigitam com as planícies fluviais.

Planície Fluvial/Fundo de Vale – têm altitudes que variam de 5 a 10 metros.

Formam-se por aluviões indiferenciados na porção mais central (areias, argilas, siltes e

cascalhos) e por depósitos fluviais interconectados com os depósitos coluviais em áreas mais

afastadas do leito do rio. Caracterizam-se por formas planas e/ou côncavas com declividades

muito baixas, sempre inferiores a 5% e sujeitas a inundações ao longo da rede de drenagem.

Dentro da unidade de acumulação fluvial, encontram-se planícies isoladas ou fundos de vales.

Caracterizam-se por serem áreas de deposição de sedimentos fluviais em altitude variantes

entre 100 a 200 metros. Em alguns pontos mais elevados do município, ocorre o estreitamento

abrupto dos vales fluviais, que são observados pelo leito rochoso dos rios.

Plaino Aluvial – desenvolve-se simetricamente em relação ao canal e lateralmente ao

canal com a ocorrência de diques marginais contínuos, com até 5 metros acima do nível do

curso do rio. O contato na parte proximal, com os depósitos coluviais, é bem marcado por

uma superfície erosiva. A declividade da superfície é muito baixa, com o ângulo de mergulho

em direção ao rio. O plaino é dominantemente formado por areia fina maciça de coloração

mais clara do que a cobertura superficial em razão da perda de argila e óxidos de ferro.

Acumulação Fluviolagunar – tem uma ligação direta com os depósitos lagunares,

originados da ação fluvial em depressões, constituídos de sedimentos arenossiltosos,

frequentemente ricos em matéria orgânica e são influenciados pela ação direta das marés.

Situam-se nas depressões da planície costeira em função das oscilações positivas e negativas

do nível médio do mar e são caracterizadas por áreas de baixios alagados.

Terraços Marinhos Superiores – caracterizam-se por terrenos planos com

distribuição descontínua ao longo do litoral, levemente inclinados, apresentando ruptura de

Page 132: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

131

declive em comparação com as áreas com influência direta das marés. Encontram-se em uma

altitude média de 5 metros e têm origem relacionada com o penúltimo evento transgressivo

que ocorreu há cerca de 120.000 anos A.P., alcançando um máximo de 8 a 10 metros acima

do nível médio atual.

Terraços Marinhos Inferiores – esse compartimento se constitui de uma barreira

arenosa situada ao longo da orla marítima, em contato direto com a praia. Sua origem

relaciona-se com a última transgressão marinha ocorrida há 5.100 anos A.P., no Holoceno, em

que o mar subiu cerca de cinco metros acima do nível do mar atual, sendo uma unidade mais

rebaixada do que a unidade anterior, com altitude máxima de 3 metros e depósitos submetidos

à erosão marinha.

Acumulação Fluviomarinha – localizada nas áreas de baixo curso dos principais rios

que drenam o município. É uma unidade correspondente a uma combinação de processos

deposicionais de origem fluvial e de origem marinha, controlados pela dinâmica das marés

que avançam por boa parte do baixo curso dos rios. Os depósitos de origem fluviomarinha

possibilitam a ocorrência de espécies típicas de manguezal, e correspondem à atual planície

de marés.

Acumulação Marinha – esses depósitos também podem ser classificados como

depósitos de praias. São acumulações de origem marinha, com características arenosas.

Localizam-se ao longo do litoral, apresentando formas de cordões litorâneos, que, em razão

dos movimentos transgressivos do nível relativo do mar ocorridos durante o Holoceno, podem

ser individualizadas em cordão interno e externo; desenvolvem-se em área de fundo oceânico

e têm declividade muito baixa.

Mapeamento semelhante também foi realizado por Coutinho (2014) para a área piloto

de Ipojuca Sede na escala 1:10.000. Nesse mapeamento, foram acrescidas as formas de

processos geomorfológicos atuais, análogo ao 6.º táxon proposto por Ross (1992) e

individualização das formas de terreno de acordo com cada setor da encosta (côncavas,

retilíneas e convexas).

As unidades também se dividiram em modelados de denudação e modelados de

acumulação. Dentre os modelados de denudação, estão: as Colinas com Topos Arredondados

e Vales Côncavos e as Colinas com Topos Arredondados e Vales Abertos. Entre os

modelados de acumulação, encontram-se: Rampas de Colúvio; Vales Colmatados; Planície

Fluviomarinha; Depósitos de Planície (Planície Fluvial, Planície de Inundação e Planície

Page 133: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

132

Distal); e Depósitos de Calha Fluvial (Ilhas Fluviais, Barra de Pontal, Barras de Atalho e

Meandros Abandonados).

3.5.4 Solos

A caracterização pedológica do município do Ipojuca baseia-se em Silva et al. (2001),

o qual traz no Zoneamento Agroecológico do Estado de Pernambuco (Zape) as Unidades de

Mapeamento de Solos para o estado na escala 1:100.000. Cada Unidade de Mapeamento de

Solo apresenta associações de mais de uma classe de solo conforme o apresentado no Quadro

3.1, representando as unidades de mapeamento presentes nesse município.

Quadro 3.1 – Relação das unidades de mapeamento de solos e os solos componentes por unidade que

ocorrem no município do Ipojuca

Unidades de

Mapeamento Solos Componentes

AM Areias quartzosas marinhas (70%) + Espodossolo (30%)

AQ1 Areias Quartzosas

G1 Gleissolo (25%) + Cambissolo (25%) + Solos Aluviais (25%) + Argissolos Amarelos e

Acinzentados (25%)

G2 Gleissolo (40%) + Cambissolo (30%) + Solos Aluviais (30%)

G5 Gleissolo (50%) + Espodossolo (50%)

Hp1 Espodossolo

LA8 Latossolo Amarelo (65%) + Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo (35%)

LA9 Latossolo Amarelo (40%) + Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo (40%) + Gleissolo

e Cambissolo (20%)

PA3 Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo (40%) + Latossolo Amarelo (25%) + Argissolo

Acinzentado (20%) + Afloramentos rochosos (15%)

PA4 Argissolo Amarelo e Vermelho Amarelo (60%) + Argissolo Vermelho-Amarelo (40%)

PA6 Argissolo Amarelo (40%) + Argissolo Acinzentado (30%) + Gleissolo (30%)

PA7 Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo (35%) + Argissolo Amarelo e Vermelho-

Amarelo (25%) + Latossolo Amarelo (25%) + Gleissolo e Cambissolo (15%)

PV2 Argissolo Vermelho-Amarelo (50%) + Argissolo Vermelho-Amarelo (30%) +

Cambissolo (20%)

PV3 Argissolo Vermelho-Amarelo (50%) + Cambissolo ( 25%) + Solo Litólicos ( 25%)

PV6 Argissolo Vermelho-Amarelo ( 50%) + Argissolo Amarelo ( 30%) + Argissolo

Vermelho-Escuro (20%)

SM Solos de Mangue

TR Nitossolo

Fonte: Silva et al. (2001).

Page 134: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

133

Por conseguinte, em ordem de ocorrência as principais Unidades de Solos presentes no

município do Ipojuca são: LA9 (26%), SM (12%), PV3(11%), PA’4(10%), G2 (9%), G1

(6%), AM (4%) PV2 (4%) PA7 (3%), G5 (2%), PV6, HP1 e AQ1 com 1% de ocorrência na

área do município e TR, PA6, LA8 e PA3 com menos de 1%. Sendo assim, o município do

Ipojuca é composto, predominantemente, pela classe Argissolo, seguida por Latossolo,

gerados pela alteração das rochas do embasamento cristalino na porção oeste do município, os

Gleissolos que são encontrados nos aluviões e os Nitossolos, encontrados em uma pequena

área na porção nordeste do município.

Pela faixa litorânea, podem-se encontrar, como resultado da alteração dos sedimentos

mais recentes, os Solos Indiscriminados de Mangue, os Neossolos Quartzarênicos e nas

proximidades do Complexo Industrial e Portuário podem ser observados os Espodossolos.

As características pedológicas e geotécnicas dos solos serão descritas a seguir:

Argissolos

É uma classe composta por grande variedade de solos minerais, não hidromórficos,

com uma significativa diferença de estrutura entre o horizonte superficial A (textura mais

arenosa) e o de subsuperfície B textural (Bt), que geralmente ocorre bem diferenciado no

perfil do solo. O horizonte B é concentrado em argilas e, em geral, apresenta cerosidade, isto

é, película coloidal com aspecto brilhante quando úmido.

O horizonte Bt é bem heterogêneo com suborizontes facilmente delimitáveis e

estrutura, geralmente, em forma de blocos ou prismática.

Tratando-se das características geotécnicas, os Argissolos apresentam horizonte A

relativamente espesso, em geral, essencialmente arenoso; textura do horizonte B, em geral,

argilosa, e do horizonte C, variável em função da composição textural e mineral da rocha

subjacente; o horizonte B apresenta moderada a baixa permeabilidade, baixa

compressibilidade, expansividade nula a moderada, fácil a moderada escavabilidade,

moderada a alta erodibilidade, moderada resistência ao desmoronamento, dependendo da

quantidade e disposição de fendas abertas.

Esses solos apresentam alta suscetibilidade à erosão por ravinas e voçorocas por meio

de pequenas concentrações de águas pluviais e/ou servidas.

As classes de Argissolos encontrados no município são os Argissolos Amarelo,

Vermelho-Amarelo e os Acizentados.

Page 135: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

134

Latossolos

São solos minerais não hidromórficos, em avançado estágio de intemperização,

apresentando sequência de horizontes A-B-C com pouca diferenciação textural entre os

horizontes A e B. O horizonte B é geralmente muito espesso, nunca inferior a 50 cm, com

estrutura, em geral, microagregada ou maciço-porosa. Raramente o horizonte C é observado

dentro de uma profundidade de 2 metros.

A fração argila, com alto grau de floculação, é constituída, predominantemente por

óxidos de ferro (hematita, goetita), óxidos de alumínio (gibsita) e argilominerais do grupo 1:1

(caolinita). O horizonte C é em geral espesso, refletindo as características texturais e

mineralógicas do material de origem.

No município em estudo, ocorrem os Latossolos Amarelos, que têm horizonte B

latossólico de coloração amarelada, fração argila, essencialmente caulinítica e, na grande

maioria dos casos, baixos teores de óxidos de ferro.

Esses solos apresentam baixa erodibilidade. Entretanto, quando submetidos à

concentração d’água proveniente da ocupação antrópica, podem desenvolver ravinas

profundas, e quando interceptado o lençol freático, voçorocas. Fato que pode ser verificado

em Ipojuca, já que a maior parte das áreas onde existe esse tipo de solo está ocupada pelo

cultivo da cana-de-açúcar.

Gleissolos

São solos minerais hidromórficos com horizonte glei iniciando dentro de 50 cm da

superfície do solo ou entre 50 e 125 cm desde que precedido por horizontes com presença de

mosqueados abundantes com cores de redução. Compreendem solos mal e muito mal

drenados, formados em terrenos baixos, e têm características que resultam da influência do

excesso de umidade permanente ou temporária em consequência do lençol freático elevado ou

mesmo à superfície durante um determinado período do ano.

A fração argila é de baixo grau de floculação, podendo apresentar, entre seus

constituintes, ilita, esmectita e camadas mistas, responsáveis por fenômenos de expansividade

e contração.

Page 136: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

135

Nitossolos

Solos profundos, predominantemente cauliníticos, geralmente bem drenados, que são

constituídos por um material mineral com horizonte B nítico, textura argilosa ou muito

argilosa, não hidromórficos, com estrutura em blocos subangulares ou angulares, ou

prismática, de grau moderado ou forte, com cerosidade expressiva nas superfícies dos

agregados e baixa permeabilidade.

Solos Indiscriminados de Mangue (SM)

Ocorrem no litoral do município do Ipojuca. São solos alomórficos muito pouco

desenvolvidos, escuros e lamacentos, com alto conteúdo de sais provenientes da água do mar,

formados em ambientes de mangues a partir de sedimentos recentes de natureza e

granulometria variada, referidos ao Holoceno, em mistura com detritos orgânicos.

Apresentam lençol freático praticamente aflorante, alta compressibilidade e baixa

resistência e são impróprios para a instalação de fossas e infiltração (SALOMÃO;

ANTUNES, 1998). Os fatores de formação desses solos (relevo, clima e dinâmica das marés)

influenciam diretamente no estabelecimento da vegetação de mangue (manguezais). É um

ambiente de alta relevância para a preservação da fauna e flora, e é indispensável sua

preservação para manutenção do equilíbrio ecológico desse ecossistema.

Neossolos Quartzarênicos

Anteriormente denominados de Areias Quartzosas, os Neossolos Quartzarênicos,

podem ser encontrados no município do Ipojuca; na sua porção costeira, os Neossolos

Quartzarênicos Marinhos (AM) e próximo ao Distrito de Nossa Senhora do Ó, os Neossolos

Quartzarênicos (AQ1). São solos minerais, essencialmente arenoquartzosos, não

hidromórficos ou hidromórficos sem contato lítico dentro de 50 cm de profundidade da

superfície. Normalmente, são solos profundos a muito profundos, com textura areia ou areia

franca ao longo de pelo menos uma profundidade de 150 cm da superfície ou até o contato

lítico. São excessivamente drenados, desprovidos ou com baixo percentual (menos de 4%) de

minerais primários facilmente intemperizáveis e de baixa capacidade de retenção de umidade.

Page 137: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

136

Ocorrem em áreas de topografia suave, como planícies marinhas, fluviomarinhas e

aluviais, como produto da pedogênese de sedimentos e em colinas, e morrotes como produto

de alteração de rochas predominantemente quartzosas.

Como características geotécnicas importantes, esses solos apresentam lençol freático

profundo, abaixo do horizonte C; textura arenosa tanto no horizonte A como no C; são

impróprios para aterros compactados, a não ser quando misturados com material argiloso;

horizontes A e C apresentam alta permeabilidade, baixa compressibilidade, expansividade

nula, boa capacidade de carga e suporte, e baixa escavabilidade.

Apresentam uma variável suscetibilidade à erosão, em função da declividade, baixa

em planícies e alta em colinas e morrotes; sendo assim, pequenas concentrações de águas

pluviais e/ou servidas podem provocar ravinas e, quando interceptado pelo lençol freático,

voçorocas.

Espodossolos

Solos constituídos por material mineral com horizonte B espódico subjacente a

horizonte eluvial E, ou subjacente a horizonte A. São originados dos sedimentos arenosos de

origem marinha que formam os cordões litorâneos. Apresentam, usualmente, sequência de

horizontes A, E, B espódico, C, com nítida diferenciação de horizontes. São solos

transportados, de alta permeabilidade, muito suscetíveis a erosão, com granulometria

predominantemente arenosa.

Como características geotécnicas importantes, tem-se que são solos com lençol

freático próximo à superfície, com aspecto ferruginoso e/ou contaminado por compostos

orgânicos; horizontes A e E essencialmente arenosos; horizonte Bs fortemente cimentado por

compostos de ferro, constituindo uma camada mais resistente do que os compostos

suprajacentes e subjacentes, interferindo na drenagem desses solos; tornam-se impróprios para

a instalação de fossas de infiltração, quando ocorrem em áreas onde o lençol localiza-se

próximo à superfície do terreno.

A distribuição espacial das Unidades de Mapeamento de Solos no município do

Ipojuca pode ser visualizada na Figura 3.9.

Page 138: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

137

Figura 3.9 – Mapa com a distribuição das Unidades de Solos e os perfis de reconhecimento

de solos realizados pela equipe do projeto

Fonte: Adaptado de Silva et al. (2001).

3.5.5 Hidrografia (hidrologia e hidrogeologia)

A hidrografia do município do Ipojuca é influenciada por quatro bacias hidrográficas

(Figura 3.10) como as partes orientais das bacias do rio Ipojuca e Sirinhaém, que ocupam

respectivamente 4,47% e 8,26% de suas áreas dentro do município; a bacia litorânea GL3

(rios Merepe e Maracaípe) localiza-se completamente dentro do município. Além dessas, tem-

se, na porção norte, uma pequena área de drenagem pertencente à bacia GL2 – rio Pirapama e

Massangana (ARRAES, 1998).

A Bacia Hidrográfica do rio Massangana tem como principais afluentes os rios

Tabatinga e Tatuoca, que também cortam o município na direção oeste-leste, porém

deságuam ao norte do Complexo Portuário de Suape.

Page 139: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

138

Figura 3.10 – Distribuição das águas superficiais e bacias hidrográficas do município do Ipojuca

Fonte: Coutinho (2014).

Na Bacia Hidrográfica do rio Sirinhaém, seu principal afluente é o rio Sibiró, que corta

no sentido norte-sul na parte oeste do município.

Há ainda uma série de canais, naturais ou não, que cortam as áreas planas, muitas

vezes inundadas, situadas junto do litoral do município.

O rio Ipojuca é o maior do município e torna-se mais importante por influenciar

diretamente os distritos Sede, Nossa Senhora do Ó e as respectivas áreas de expansão urbana,

área objeto de estudo desta pesquisa, desaguando próximo ao Complexo Industrial de Suape.

Na planície costeira, ele apresenta um padrão predominantemente meandrante onde fica mais

plano e o rio perde sua energia. Já na porção oeste, mostra-se encaixado em um relevo de

colinas, com altitudes médias ao nível do canal principal do rio, variando entre 100 m e 50 m.

Page 140: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

139

De acordo com Arraes (1998), as drenagens de primeira ordem mostraram-se

permanentes no período de dezembro (1996), considerado um período de déficit hídrico. Tal

fato deve-se à contribuição, especialmente, das águas subterrâneas e à pluviosidade desse

período. O autor encontrou uma deficiência hídrica nos meses de outubro, novembro,

dezembro e janeiro e um significativo excesso na quadra abril-maio-junho-julho.

Para o rio Ipojuca, nos meses de outubro a dezembro, as descargas líquidas são

constituídas, essencialmente, pelo escoamento básico pela pouca precipitação sobre a bacia.

Arraes (1998) identificou ainda áreas Inundadas e Áreas Inundáveis. As áreas

inundadas são consideradas aquelas que se encontram cobertas por uma lâmina de água

durante todo o ano hidrológico. Enquanto as áreas inundáveis são aquelas onde existe a

probabilidade ou risco de inundação tanto maior quanto menor for a cota do terreno. As

primeiras podem ser classificadas como áreas inundadas com efeito da maré e áreas inundadas

sem o efeito da maré.

A amplitude máxima de maré prevista para o município é de 2,4 m (maré

astronômica). No mês de agosto, podem ser observadas amplitudes maiores, decorrentes de

fortes ventos que sopram do oceano para o continente, nesse período, caracterizando a maré

meteorológica. Na conjunção da maré astronômica com a componente meteorológica, tem-se

a previsão da “maré forte” que maximiza o efeito da maré na planície de inundação dos rios.

As áreas inundadas com efeitos de maré estão agrupadas em quatro tipos, a saber:

1) áreas inundadas do complexo estuarino do rio Ipojuca: compreendem os

manguezais adjacentes ao baixo Ipojuca e ao “rio” Tatuoca; acredita-se, que este

último pode ter sido um antigo estuário do rio Ipojuca;

2) áreas inundadas da bacia litorânea Merepe-Maracaípe (GL-3): são constituídas

pelos manguezais que margeiam o rio Merepe, pelo “riacho” do Viveiro, pela

planície inundada ao sul do coqueiral drenado da Fazenda Gameleira e pela planície

de maré do rio Maracaípe;

3) áreas inundadas da bacia do rio Sirinhaém: são constituídas pelos manguezais

próximos à desembocadura do rio Sirinhaém até a estrada que une o povoado de

Feiteira à praia do Toco;

4) áreas inundadas do rio Massangana (GL -2): são aquelas situadas próximas à

desembocadura do rio Massangana, as quais estão inseridas na bacia litorânea GL-

2.

Page 141: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

140

Próximas à PE-60 e ao acesso da Usina Salgado, que atravessa o canal Draga, existem

duas áreas inundadas que margeiam o rio Ipojuca.

Os aspectos hidrogeológicos do município de Ipojuca estão relativamente bem

retratados na escala de trabalho 1:100.000 pelo do Projeto Singre (CPRM, 1999 apud

COUTINHO, 2014). De acordo com o dito Projeto, identificam-se no município de Ipojuca,

em linhas gerais, dois sistemas aquíferos: os fraturados, encontrados em rochas do

embasamento precambriano na suíte vulcânica da Formação Ipojuca e em rochas calcárias

da Formação Estiva; esses sistemas podem acumular água na trama de fraturas. Nas rochas

sedimentares da Bacia Cabo, encontram-se os sistemas aquíferos intergranulares, ocorrendo

nos sedimentos rudáceos das Formações Cabo e Algodoais, sedimentos argiloarenosos da

Formação Barreiras, além dos sedimentos inconsolidados do Neógeno e Quaternário.

A individualização dos sistemas aquíferos, segundo o Projeto Singre, foi realizada

seguindo os critérios de sua estrutura, da permeabilidade e das características existentes em

superfície, que podem influenciar no comportamento das águas subterrâneas. Essa

individualização também foi guiada pela análise dos dados hidrogeológicos contidos em um

cadastramento de poços artesianos, cacimbas e surgências naturais. Grande parte desse

material encontra-se hoje em um banco de dados sobre águas subterrâneas mantido pela

CPRM, o principal alimentador do banco de dados da Agência Nacional de Águas (ANA).

Além dessas informações, existe o banco de dados da Agência Pernambucana de Águas e

Clima (APAC) com disponibilidade momentaneamente limitada.

3.5.6 Cobertura vegetal

O município do Ipojuca encontra-se inserido no bioma de Florestas, que são

representados pelos ecossistemas das Florestas Tropicais ou Florestas Costeiras, também

conhecidas por mata atlântica e seus associados, Complexo de Restingas e Floresta Paludosa

Costeira ou Manguezal (RIMA, 2011).

Atualmente, as florestas podem ser encontradas apenas em alguns pequenos trechos

em consequência do intenso desmatamento desde o Brasil Colônia, quando, primeiramente,

foram retiradas para extração de madeira e posteriormente para o cultivo de cana-de-açúcar.

Poucos resquícios podem ser encontrados nos topos das colinas ou em alguns vales, ainda

preservados, já em seu segundo estágio de regeneração. Melhor visualização da cobertura

vegetal que existe atualmente no município pode ser verificada na seção 5.2.4.

Page 142: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

141

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os procedimentos metodológicos da tese dividem-se, primeiramente, em duas grandes

etapas. A primeira consiste na análise climatológica do município e dos eventos extremos,

sendo esta, dividida em quatro fases: 1) levantamento dos dados pluviométricos; 2) técnicas

aplicadas à análise climatológica e dos eventos extremos; 3) análise dos dados anuais,

mensais e diários; 4) identificação de impactos associados aos eventos extremos no município

do Ipojuca. A segunda etapa relaciona-se com a elaboração da carta de suscetibilidade a

movimentos de massa da área piloto de Ipojuca Sede, a qual se divide em três fases:1) fase de

levantamento, em que foi levantada a bibliografia especializada na temática da tese, foram

também compilados dados cartográficos e temáticos secundários, bem como trabalhos de

campo; 2) fase de análise, em que se analisaram as informações compiladas e elaboraram-se

os mapas temáticos intermediários voltados à modelagem da suscetibilidade; 3) fase de

síntese, em que se integraram as informações compiladas, elaboradas ou obtidas em campo

por meio de técnicas de geoprocessamento e elaboração das cartas finais de suscetibilidade a

movimentos de massa. Assim, as seções seguintes apresentarão os procedimentos realizados

para cada uma dessas etapas.

4.1 Análise climatológica e dos eventos extremos de chuva no município do Ipojuca

Existe uma estreita relação entre os movimentos de massa e a chuva como já se

discutiu anteriormente. De tal modo, compreender a dinâmica atmosférica, os fatores que

levam à variabilidade interanual, mensal e diária da precipitação, bem como a identificação de

eventos normais ou extremos de chuva, analisando o seu ritmo, ciclicidade ou eventualidade

das ocorrências, torna-se imprescindível para o monitoramento dos processos de movimentos

de massa. Esse tipo de análise é de fundamental importância para subsidiar as tomadas de

decisões das Defesas Civis, nacionais, estaduais e municipais e outras instituições ligadas à

gestão de risco a processos naturais.

Dentro da realidade encontrada nesta tese, serão mostrados os dados pluviométricos

disponíveis para o município do Ipojuca e posteriormente os procedimentos metodológicos de

análise dos dados.

Page 143: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

142

4.1.1 Levantamento dos dados de precipitação pluvial

A fim de realizar uma análise do comportamento pluviométrico do município do

Ipojuca em escala anual, mensal e diária, com o intuito de fugir das médias e padrões que

acabam mascarando os eventos extremos de precipitação e os principais problemas

acarretados por estes, identificaram-se e compilaram-se os pluviômetros que estão localizados

no território desse município.

Ipojuca tem em sua região duas importantes usinas de cana-de-açúcar, Usina Ipojuca e

Usina Salgado, as quais gerenciam diversos engenhos distribuídos pelo município. Essas

usinas cederam gentilmente os dados para a realização desta pesquisa, o que foi essencial para

as análises do comportamento da chuva no município.

As Usinas Ipojuca e Salgado cederam os dados de chuvas, tanto mensais quanto

diários e dos respectivos engenhos. Vale ressaltar que os dados mensais e anuais cedidos

pela usina Ipojuca com série histórica de 1941 a 2013 em meio digital não contemplavam os

dados diários, esses ainda se encontravam em meio analógico. Os dados diários em meio

digital fornecidos por esta usina referem-se a série histórica de 2002 a 2013 (11 anos), assim

como os dados fornecidos pela Usina Salgado.

Coletaram-se também dados dos pluviômetros de Ipojuca no site da Apac

(<http://www.apac.pe.gov.br/sighpe/>.) por meio do Sistema de Geoinformação

Hidrometeorológico de Pernambuco com uma série histórica de 2006 a 2014. Os dados dos

pluviômetros de Ipojuca (Porto de Galinhas) e Ipojuca Sede com dados anteriores a 2007,

com série histórica de 1957 a 1978 /1991 a 2005, foram cedidos pela Unidade de

Monitoramento da Rede Hidrometeorológica (UMR-Hidromet) e Unidade de

Geoinformação (Ugeo) do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep).

Analisaram-se também os pluviômetros automáticos instalados pelo Cemaden em

agosto de 2014, em locais próximos às áreas de risco, visando à análise da intensidade da

chuva nas localidades de Camela, Ipojuca Centro, Porto de Galinhas e Rurópolis. Todos os

municípios da RMR que têm áreas de riscos mapeadas estão sendo monitorados. Tais dados

podem ser encontrados em <http://www.cemaden.gov.br/mapainterativo/#>.

Além dos pluviômetros, o Cemaden dispõe de radares meteorológicos, produzindo

informações necessárias para a elaboração de alerta sobre possíveis desastres associados à

precipitação.

Page 144: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

143

A Tabela 4.1 apresenta a relação dos pluviômetros compilados e trabalhados nesta

tese, com a relação do período trabalhado, a escala temporal (diário, mensal ou anual), a

agência responsável e o código (ID) de identificação no mapa (Figura 4.1).

Tabela 4.1 – Relação dos pluviômetros utilizados para as análises da chuva no município

do Ipojuca

SÉRIE POSTOS

PLUVIOMÉTRICOS

ID

(MAPA) PERÍODO RESPONSÁVEL

MENSAL /

ANUAL Usina Ipojuca P01 1941-2013 Usina Ipojuca

DIÁRIA /

MENSAL E

ANUAL

Ipojuca – Porto de

Galinhas – IPA / Ipojuca

Sede

P02

1957 a 1978

/1991 a 2005 /

2006 a 2014

IPA/Hidromet/

Ugeo/Itep

Rurópolis P03 Janeiro a julho de

2015 Cemaden

Centro /Ipojuca P04 Janeiro a julho de

2015 Cemaden

Camela P05 Janeiro a julho de

2015 Cemaden

Usina Salgado P 06 2002 a 2013 Usina Salgado

Usina Ipojuca P01 2002 a 2013 Usina Ipojuca

Após a coleta, análise da qualidade dos dados e da disponibilidade de séries diárias,

mensais e anuais, selecionaram-se os postos para cada tipo de análise. Contudo, nas seções a

seguir, apresentam-se as técnicas utilizadas para as análises dos dados de chuva anual, mensal

e diária e os postos pluviométricos utilizados para cada análise.

Page 145: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

144

Figura 4.1 – Localização dos pluviômetros que foram utilizados nas análises de precipitação

Fonte: Base de dados: Coutinho (2014)

4.1.2 Técnicas aplicadas na análise climatológica

4.1.2.1 Técnica dos quantis

A técnica dos quantis é um método bastante simples e eficiente. Por definição, o Qp é

um limite do intervalo do quantil para uma determinada variável aleatória X, sendo p a

probabilidade de ocorrência, tal que X seja menor que Qp. Assim, a escolha do intervalo

associado a um quantil deve satisfazer à seguinte relação:

Prob (X ≤ Qp), em que (p<1)

Page 146: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

145

De forma mais simples, conforme explicado por Xavier (2002), para o Quantil Qp

pode-se considerar o seguinte, se supusermos a probabilidade p expressa em termos

percentuais:

Espera-se que em p (%) a altura da chuva X não deve ultrapassar o valor desse Quantil

Qp, em milímetros, enquanto para (100-p) % dos anos tal valor será excedido;

portanto, exemplificando o que foi exposto, para um p= 0,25 (ou 25%), se o quantil

respectivo com respeito à chuva anual em uma dada localidade for Q0.25=345 mm, isso

significa que para 25% dos anos de chuva total anual será menor ou igual a 345 mm.

Enquanto para os 75% de anos restantes, será superado esse limiar de 345 mm.

Vários autores aplicaram essa técnica para o estudo da climatologia da ocorrência de

eventos extremos de um determinado lugar como Xavier e Xavier, (1999), Souza (2011) e

Farias, Alves e Nóbrega (2012). Xavier (2002) traz uma descrição dos conceitos e aplicações

dessa técnica nos estudos de Meteorologia, Climatologia e Hidrologia.

Aplicou-se a técnica dos quantis para as três escalas temporais, anual, mensal e diária,

com a utilização do software Excel.

4.1.2.2 Índice de anomalia de chuva

O Índice de Anomalia de Chuva (IAC) também procura definir os anos que estiveram

acima ou abaixo da média da série histórica em análise.

O método IAC foi utilizado por Silva et al. (2011) que consiste na seguinte equação:

Em que a equação (a) refere-se às anomalias positivas e a equação (b) às anomalias

negativas e N compreende a precipitação anual atual (mm), a precipitação média anual da

(a)

(b)

Page 147: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

146

série histórica (mm), representa a média das 10 maiores precipitações da série histórica

(mm); a média das 10 menores precipitações da série histórica (mm).

Assim as anomalias positivas representam os valores de chuva acima da média e as

anomalias negativas os valores de chuva abaixo da média.

4.1.2.3 Análise de tendência dos dados de chuva

Com o objetivo de identificar se existe uma tendência de aumento da precipitação

pluvial para o município do Ipojuca, aplicaram-se técnicas de análise de tendência para os

totais anuais de chuva, para a quadra chuvosa do município (abril, maio, junho e julho) e para

as estações do ano, verão (dezembro, janeiro e fevereiro), outono (março, abril e maio),

inverno (junho, julho e agosto) e primavera (setembro, outubro e novembro). Para isso,

aplicou-se o teste não paramétrico de Mann-Kendall (SNEYERS, 1975) e baseado em

Pinheiro, Graciano e Severo (2013) pode-se descrever rapidamente o teste de Mann Kandall

da seguinte forma: considerando uma dada série temporal de N termos (i=1,...,N), calcula-

se a soma dada pela equação:

Onde é o número de termos da série, relativo ao valor , cujos termos anteriores são

inferiores a ele. Para um valor N grande, sob a hipótese nula de de ausência de tendência,

apresentará uma distribuição norma com média E( ) e variância Var( ), dados pelas

seguintes equações:

e

A hipótese nula pode ser rejeitada testando a significância estatística de utilizando

um teste bilateral obtido através da seguinte relação:

Page 148: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

147

O sinal de indica se a tendência é positiva ou negativa

.

Trabalho semelhante também foi desenvolvido por Lopes e Silva (2013) que

analisaram as tendências e variações nas séries pluviométricas do Total Anual, Média Anual,

Total do Período Seco e Total do período Chuvoso de oito microrregiões do estado do Ceará.

4.1.3 Análise dos dados anuais de chuva

A análise dos dados de precipitação anual teve como objetivo identificar a

variabilidade interanual da precipitação pluvial, identificando-se os anos considerados

anômalos em relação à média da série em análise, como os anos secos a extremamente secos e

os anos chuvosos a extremamente chuvosos, bem como identificar a influência das alterações

das temperaturas da superfície do mar. Para tanto, utilizou-se a série histórica dos dados

fornecidos pela Usina Ipojuca de 1941 a 2013 e aplicaram-se a técnica dos quantis e Índice de

Anomalia de Chuva com o objetivo de avaliar a variabilidade da precipitação pluvial e Mann

Kendall para análise de tendência da precipitação.

Xavier e Xavier (1999) e Xavier (2002), baseados em Pinkayan (1966), utilizaram as

ordens quantílicas p=0,15; 0,35; 0,65 e 0,85, com a finalidade de definir níveis ou faixas

Muito Seco, Seco, Normal, Chuvoso e Muito Chuvoso. Tendo em vista que o objetivo da

presente tese é a identificação de eventos extremos de precipitação, acrescentaram-se mais

duas categorias referentes aos extremos, uma na ordem quantílica de p=0,05 (Extremamente

Seco) e a outra na ordem quantílica p=0,95 (Extremamente Chuvoso).

Aplicaram-se, então, para a análise anual, as probabilidades referentes a (0,05), (0,15),

(0,25), (0,65), (0,85) e (0,95), classificando os anos em Extremamente Seco, Muito Seco,

Seco, Normal, Chuvoso, Muito Chuvoso e Extremamente Chuvoso. De acordo com a Tabela

4.2.

Os anos identificados para cada categoria descrita na Tabela 4.2 serão comparados

com os eventos de Alterações na Temperatura da Superfície do Mar no Pacífico (ATSM)

Page 149: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

148

como os fenômenos de El Niño/Oscilação Sul (ENOS) – conforme o Centro de Previsão de

Tempo e Estudos Climáticos e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE) –

bem como com a Variabilidade da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) no Oceano

Atlântico tropical (AT) caracterizados por Souza (1997) e Adreoli e Kayano (2007).

Tabela 4.2 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação mensal

relacionada com as ordens quantílicas para o município do Ipojuca

CATEGORIAS PROBABILIDADES

Extremamente Seco (E.SECO) X ≤ Q0,05

Muito Seco (MS) Q0,05 < X ≤ Q0,15

Seco (S) Q0,15< X ≤ Q0,35

Normal (N) Q0,35 < X < Q0,65

Chuvoso (C) Q0,65 ≤ X < Q0,85

Muito Chuvoso (MC) Q0,85 ≤ X < Q0,95

Extremamente Chuvoso (E. CHUVOSO) X ≥ Q0,95

Fonte: Baseado em Xavier e Xavier (1999).

4.1.4 Análise dos dados mensais de chuva

Para análise da chuva mensal, fez-se uso dos dados fornecidos pela Usina Ipojuca com

uma série histórica de 1941 a 2013. Aplicou-se a técnica dos quantis aos dados mensais com o

objetivo de identificar se a precipitação de cada mês está acima ou abaixo da média histórica,

por meio das probabilidades referentes a (0,05), (0,15), (0,25), (0,65), (0,85) e (0,95),

considerando as mesmas categorias, extremamente seco, muito seco, seco, normal, chuvoso,

muito chuvoso e extremante chuvoso.

4.1.5 Análise dos dados diários de chuva

Por meio da análise dos dados diários de chuva, procurar-se-á analisar os eventos

extremos de chuva diária e o limiar de chuva que pode causar transtorno à população do

município do Ipojuca, acarretando em eventos de movimentos de massa e inundação. As

técnicas aplicadas a cada uma dessas análises serão descritas a seguir.

Page 150: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

149

4.1.5.1 Aplicação da técnica dos quantis

Para a aplicação da técnica dos quantis, fez-se uso dos dados do Pluviômetro fornecido

pela Apac, com série histórica de 1957 a 1978 e 1991 a 2013. Aplicou-se, também, essa

mesma análise para os dados diários fornecidos pela Usina Salgado (2002 a 2013) a fim de

identificar os limiares de precipitação e a distribuição espacial da precipitação acumulada em

24h, tendo em vista que tais pluviômetros localizam-se em áreas espaçadas no município do

Ipojuca, portanto, apresentam diferenças nos montantes diários de precipitação.

Na aplicação dessa técnica, tiveram de ser considerados apenas os dias com chuva. A

definição do que se constitui um dia com chuva não é uniforme na comunidade científica.

Vários países têm fixado em 1,2 ou 5 mm. Duarte (2009) considerou dias sem chuva os

montantes de precipitação abaixo ou igual a 5 mm, pelo fato de que para haver escoamento

superficial a precipitação tem que apresentar intensidade acima desse valor. Quando da

análise de ocorrência de veranicos, a literatura normalmente adota como dias sem chuva

valores inferiores a 2 mm / 24h para localidades isoladas (SOUZA, 2011). Menezes (2008)

verificou que o valor de 4 mm / 24h mostrou-se ser mais consistente que o valor anterior,

valor este considerado, normalmente, para grandes áreas.

Monteiro e Zanella (2014), por sua vez, tendo como objetivo a identificação dos

valores extremos diários presentes na cauda superior quantílica, descartaram os valores abaixo

de 10 mm na análise por se tratarem de chuvas de intensidade baixa.

No caso da presente pesquisa, optou-se por considerar dias sem chuva os valores

inferiores ou iguais a 2 mm/24h.

Após o descarte dos valores inferiores a 2 mm/24h da série analisada, os valores

diários de precipitação pluvial foram distribuídos em sete classes quantílicas a saber: Chuva

extremamente Fraca, Chuva muito Fraca, Chuva Fraca, Chuva Moderada, Chuva Forte,

Chuva muito Forte e Chuva extremamente Forte, aplicando-se as mesmas probabilidades

trabalhadas nas escalas anual e mensal; são elas: p=0,05, p=0,15, p=0,25, p=0,65, p=0,85,

p=0,95 (Tabela 4.3).

Page 151: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

150

Tabela 4.3 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação diária

(acumulado de 24h) relacionadas com as ordens quantílicas para o município do Ipojuca

CATEGORIAS PROBABILIDADES

Chuva extremamente Fraca (E. FRACA) X ≤ Q0,05

Chuva muito Fraca (C. M. FRACA) Q0,05 < X ≤ Q0,15

Chuva Fraca (C. FORTE) Q0,15< X ≤ Q0,35

Chuva Moderada (C. MODERADA) Q0,35 < X < Q0,65

Chuva Forte (C. FORTE) Q0,65 ≤ X < Q0,85

Chuva Muito Forte (C. M. FORTE) Q0,85 ≤ X < Q0,95

Chuva extremamente Forte (E. FORTE) X ≥ Q0,95

Fonte: Dados da pesquisa.

Após a identificação dos resultados, analisaram-se as frequências de ocorrência de

cada uma das categorias durante o ano, bem como os anos que apresentaram maior ocorrência

de chuvas muito fortes e extremamente fortes. Após a identificação da precipitação

acumulada em 24h considerada extremamente forte, analisaram-se as chuvas nos intervalos

igual e acima do limiar encontrado. Assim, os intervalos analisados foram de 50 a 60 mm, 60

a 70 mm, 70 a 80 mm, 80 a 90 mm e > 100 mm.

4.1.5.2 Identificação de impactos provocados pelos eventos extremos no município do Ipojuca

Após a aplicação dos métodos anteriormente expostos para as análises dos extremos

nas escalas anuais, mensais e diárias, os resultados finais foram comparados com os dados de

ocorrências de movimentos de massa e inundação fornecidos pela defesa civil do município

do Ipojuca de 2007 a 2013 e pelo eventos registrados no Sistema Integrado de Informações

sobre Desastres (S2ID) da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec); e

tomando-se como base os principais eventos, serão verificadas fotografias, reportagens em

TV e jornais, bem como relatos da população sobre os principais impactos causados por esses

eventos no município do Ipojuca.

Page 152: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

151

4.2 Metodologia para elaboração da carta de suscetibilidade a movimentos de massa do

município do Ipojuca

Conforme visto na revisão de literatura, a elaboração do mapa de suscetibilidade pode

ser realizada de acordo com diversas abordagens. Um modelo qualitativo, indireto, baseado na

sobreposição de mapas de índices e parâmetros e no conhecimento prévio acerca do

comportamento do terreno diante da ocorrência de processos de movimentos de massa por

especialistas (Knowledge Based) para o município do Ipojuca na escala 1:25.000, já foi

realizado por Coutinho (2014), podendo também ser encontrado em Torres (2014) e Coutinho

et al. (2015). Sendo assim, nesta tese aplicou-se um método quantitativo, estatístico baseado

em dados (Data Based), de análise bivariada, e posterior aplicação da técnica AHP.

Realizou-se uma comparação dos resultados identificados nesta tese e pelos autores

acima mencionados na escala 1:10.000, visando a uma definição do melhor método a ser

utilizado e replicado aos demais municípios da Região Metropolitana do Recife. Ambos

tiveram como unidades de mapeamento a célula da grade.

A elaboração das cartas de suscetibilidade está baseada, principalmente, em duas

premissas, de acordo com a metodologia proposta pelo JTC -1: 1) o passado é um guia para o

futuro, de modo que existe a probabilidade de ocorrer escorregamentos no futuro em áreas

que passaram por escorregamentos no passado; 2) em áreas com topografia, geologia ou

geomorfologia similares as áreas onde ocorreram escorregamentos no passado também existe

a probabilidade de voltar a ocorrer. De acordo com essas premissas, uma análise dos fatores

condicionantes a processos erosivos e de movimentos gravitacionais de massa foi realizado

por meio de técnicas de geoprocessamento.

A principal diferença entre o método trabalhado por Coutinho (2014), Coutinho et al.

(2015) e Torres (2014) e o apresentado na presente tese, consiste em um melhor detalhamento

do Inventário de cicatrizes e a utilização deste para a determinação dos pesos das classes dos

fatores condicionantes sem a participação de especialistas, para posterior aplicação da AHP.

O método estatístico bivariado baseia-se na densidade de processos de movimentos de

massa para a determinação dos pesos das classes dos parâmetros analisados. Buscou-se,

portanto, esse método estatístico visando diminuir a subjetividade e visando melhor

repetitividade nos mapeamentos em outras áreas suscetíveis. Assim, a metodologia para

elaboração da carta de suscetibilidade do município do Ipojuca foi desenvolvida em três fases

principais: levantamento, análise e síntese.

Page 153: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

152

O Quadro 4.1 apresenta as etapas para cada uma das fases descritas.

Quadro 4.1 – Fases e etapas para a elaboração da carta de suscetibilidade do município do Ipojuca

FASES ETAPAS

LEVANTAMENTO

a) Levantamento bibliográfico

b) Levantamento da base cartográfica e da base temática

c) Levantamento de dados provenientes do campo

ANÁLISE

a) Elaboração da base cartográfica e do Modelo Digital do Terreno

b) Elaboração do inventário de cicatrizes

c) Definição dos fatores condicionantes e elaboração dos mapas temáticos (Planos

de Informação – PI) de cada fator condicionante e definição de suas classes

d) Análise estatística e definição dos pesos de cada classe dos PIs

SÍNTESE

a) Padronização dos planos de informação

b) Aplicação da técnica AHP, definição do grau de importância e integração dos

Planos de Informação (PI)

d) Definição dos graus de suscetibilidade

e) Validação do modelo

f) Caracterização das classes de suscetibilidade identificadas.

Fonte: A autora.

4.2.1 Fase de levantamento

4.2.1.1 Levantamento bibliográfico

O levantamento bibliográfico procurou atender aos temas-chave desta pesquisa, com a

compilação de bibliografias de referência que clareassem a compreensão de conceitos como

desastres naturais, eventos extremos, suscetibilidade, perigo, vulnerabilidade, resiliência e

risco; sobre os estudos relacionados com os eventos extremos de chuva e impactos causados

por estes.

Realizou-se uma compilação de fontes que subsidiassem a caracterização do

município do Ipojuca e o histórico de ocupação deste. O que facilitou a identificação a priori

dos principais problemas identificados no município, bem como na análise dos fatores

condicionantes dos movimentos de massa.

Por último, fez-se um levantamento de bibliografia voltada aos estudos que discutam

as diversas técnicas de modelagem de suscetibilidade/perigo a movimentos de massa, em

ambiente de Sistema de Informações Geográficas (SIG).

Page 154: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

153

4.2.1.2 Levantamento de base cartográfica e de base temática

A maioria dos dados espaciais (base cartográfica e temática) utilizados foi fornecida

pelo Grupo de Engenharia Geotécnica, Planícies e Desastres da Universidade Federal de

Pernambuco.

Ressalte-se que a inexistência de bases cartográficas do município nas escalas

1:25.000 e 1:10.000, necessitando a elaboração destas. Assim, o Gegep propôs-se a elaborar

essa base, executando a seguinte metodologia.

1) Base cartográfica:

a) Base planimétrica

Hidrografia (cursos d’água e corpos d’água), sistema viário, vegetação, na escala

1:10.000, foi gerada pela Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco

(Condepe/Fidem) por meo da Imagem pancromática Worldview2 de 2010, que se encontrava

em CAD, a qual foi adaptada e transferida para um banco de dados em SIG no formato

vetorial, como arquivos shapegfile, pela equipe de cartografia do Gegep. Essa mesma base foi

utilizada para a carta na escala 1:25.000 passando pelo processo de generalização

cartográfica.

a) Base altimétrica

i) Escala 1:25.000 – elaborada por meio da vetorização das curvas de nível das cartas

topográficas da Sudene produzidas em 1970-1972 e fornecidas pela Condepe/Fidem (Santo

Agostinho – SC-25-V-A-III-3-NO; Ponta da Gambôa – SC-25-V-A-III-3-SO; Cabo – SC-25-

V-A-II-4-NE e Ipojuca – SC-25-V-A-II-4- 1970 – 1972), com equidistância de 10 metros. As

curvas foram convertidas do formato Raster para o Vetorial e armazenada e um banco de

dados geoespacial, o qual foi estruturado com padrão da Estrutura Nacional de Dados

Espaciais (INDE), seguindo as especificações técnicas ET-ADGV.

ii) Escala 1:10.000 - Curvas de nível e pontos cotados – gerados mediante a

vetorização das Ortofotocartas na escala 1:10.000 de 1970/80 com equidistância de 5 metros,

cedidos em arquivos CAD pela Condepe/Fidem, sendo posteriormente corrigidas e adaptadas

a um banco de dados geoespacial pela equipe de cartografia do Gegep.

Todos os produtos cartográficos nas duas escalas e os mosaicos das imagens de

satélite foram georreferenciados usando as coordenadas dos 22 pontos medidos em campo

com GNSS Hiper Lite + (L1 e L2). Esse processo tem a função de padronizar os produtos

Page 155: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

154

cartográficos na mesma rede de pontos de controle e no mesmo referencial geodésico

SIRGAS 2000. O georreferenciamento foi realizado usando o ArcGIS 10.1.

2) Base temática e imagens

Para a elaboração das cartas de suscetibilidade e dos impactos causados pelos eventos

extremos, foram compiladas as seguintes bases temáticas:

a) Mapa Geológico na escala 1:25.000 (todo o município do Ipojuca), elaborada e

fornecida pelo Gegep (COUTINHO, 2014; GONÇALVES, 2014).

b) Mapas Geomorfológicos na escala 1:25.000 (todo o município) e 1:10.000 (Área

piloto de Ipojuca Sede) elaborados e fornecidos pelo Gegep (COUTINHO, 2014).

c) Mapa Geomorfológico do município do Ipojuca, escala 1:25.000 (CPRM).

d) Mapa de Unidades de Mapeamento de Solos, na escala 1:100.000 (Zoneamento

Agroecológico de Pernambuco - ZAPE).

Os mapas geológicos e geomorfológicos tiveram suas metodologias específicas para

elaboração e podem ser encontradas em Coutinho (2014) e Gonçalves (2014). O mapa

geológico na escala 1:10.000 foi mais detalhado mediante análises de campo pela mesma

equipe com base no mapa na escala 1:25.000 existente. Tal atividade foi necessária para

atender à elaboração da carta de suscetibilidade na escala 1:10.000 da área piloto de Ipojuca

Sede.

Além dos mapas temáticos compilados descritos acima, foram utilizadas também as

seguintes imagens:

a) Imagem Worldview2 pancromática de 2010 e Imagem Quickbird 2005/2006 na

escala 1:10.000, fornecidas pela Condepe/Fidem ao Gegep.

No desenvolvimento das metodologias para elaboração dos mapas temáticos que serão

descritas posteriormente, fez-se uso dos seguintes softwares ArcGIS 10.1 e Google Earth Pro,

com licenças obtidas pelo Laboratório de Redução de Risco de Desastres (Labrid) vinculado

ao Gegep e com parceria do Ministério da Integração Nacional.

Toda a base cartográfica e temática obtida ou elaborada pelo Gegep encontra-se no

Datum Geodésico SIRGAS 2000 e no Sistema Universal Transversa de Mercator (UTM),

Fuso 25 / Sul, que será a referência utilizada no mapeamento da suscetibilidade.

Page 156: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

155

4.2.1.3 Levantamento de campo

Realizaram-se trabalhos de campo com o objetivo de atender às etapas de inventário

de cicatrizes, para a obtenção de pontos de controle visando subsidiar a elaboração do mapa

de uso e cobertura da terra e para análise morfológica dos solos. Para isso, mapearam-se todos

os procedimentos e se caracterizaram por meio da obtenção de pontos com GPS

(Garmin/GPSMAP® 62sc) e fotografias e posterior organização de um banco de dados

georreferenciado.

O procedimento detalhado de cada uma dessas etapas será descrito mais adiante.

Assim foram realizadas as seguintes idas a campo:

a) 26/2/2013 e 19/4/2013 – campo para reconhecimento dos principais problemas do

município, com o acompanhamento de representantes da Prefeitura do Ipojuca e da

Defesa Civil;

b) 27/3/2014, 28/3/2014 e 14/7/2014 – os trabalhos de campo foram voltados ao

reconhecimento de solos, com a abertura de alguns perfis em pontos estratégicos

escolhidos a priori. Esses campos também tiveram como objetivo a validação do

mapa de inventário elaborado preliminarmente em laboratório com a interpretação

de imagens de satélite QuickBird e Google Earth;

c) 21/11/2014 e 2/7/2015 – realizaram-se campos para validação de modelo.

Os campos acima apresentados realizaram-se em conjunto com a equipe do Gegep,

visando também à elaboração da Carta Geotécnica de Aptidão à Urbanização do município do

Ipojuca e Mapeamento da Vulnerabilidade e Risco desse município.

4.2.2 Fase de análise

Conforme visto no Quadro 4.1, a fase de análise consiste na elaboração da base

cartográfica e do modelo digital do terreno, do inventário de cicatrizes, da definição dos

condicionantes ao movimento de massa em análise (por exemplo, deslizamento translacional

e ravinas) e a elaboração dos mapas representativos destes e, por fim da aplicação da análise

estatística bivariada entre os PI do Inventário e os PI das classes dos condicionantes

analisados.

Page 157: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

156

Assim, nas seções a seguir serão descritas as metodologias ligadas a cada uma das

etapas da fase de análise.

4.2.2.1 Elaboração da base cartográfica e do Modelo Digital do Terreno

A elaboração da base cartográfica planialtimétrica nas escalas 1:25.000 e 1:10.000, e

principalmente da extração das informações altimétricas (curvas de nível e pontos cotados)

que foram usados para elaboração do Modelo Digital do Terreno (MDT), foi apresentada na

seção 4.2.1.2.

O Modelo Digital do Terreno (MDT) foi elaborado paras as escalas 1:25.000 e

1:10.000, a partir das curvas de nível com equidistância de 10 metros e 5 metros

respectivamente, e pontos cotados. Elaborou-se um Triangulated Irregular Network (TIN) e,

este, posteriormente, foi transformado em Raster para gerar uma representação em Grade

Regular que melhor se aplica à extração das variáveis morfométricas, tomando-se cuidado na

determinação da resolução da imagem do MDT gerado, com resolução de 5 metros para a

escala 1:25.000 e de 2 metros para a escala 1:10.000. Todo o procedimento foi realizado no

software ArcGIS 10.1.

O cuidado de inserir pontos cotados evitou que as arestas dos triângulos apresentassem

o mesmo valor de cota, o que torna a declividade nula nessas áreas (LOPES, 2006), podendo

afetar o modelo de suscetibilidade a movimentos de massa.

4.2.2.2 Elaboração do inventário

A realização do inventário voltou-se para dois objetivos. O primeiro, relacionado com

a identificação dos principais processos que ocorrem no município do Ipojuca, principalmente

aqueles deflagrados por eventos extremos de chuva, procurando identificar os dias, meses e

anos, bem como os lugares mais impactados por esses eventos, analisando-se a frequência de

ocorrência e a magnitude dos eventos. O segundo, ligado ao mapeamento de cicatrizes de

movimentos de massa a fim de ser utilizado tanto na definição dos pesos dos fatores

condicionantes utilizados na modelagem da suscetibilidade como na validação do modelo, o

que requer maior precisão na localização das cicatrizes dos movimentos de massa.

Page 158: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

157

Por meio de uma análise preliminar dos movimentos de massa que ocorrem no

município do Ipojuca, verificou-se a predominância de movimentos de pequena dimensão,

sobressaindo os processos de erosão linear (ravinas e voçorocas), deslizamentos planares

superficiais pequenos (mais localizados nas áreas urbanas e ao longo de estradas) e áreas com

afloramentos rochosos. Estas últimas consideradas áreas com potencial de rolamento de

blocos. Sendo assim, optou-se por representar tais cicatrizes como pontos, diante das escalas

de análise (1:25.000 e 1:10.000).

Na elaboração e análise do inventário, procurou-se seguir as propostas do Guidelines

for landslide susceptibility, hazard and risk zoning for land use planning proposto por Fell et

al. (2008), que apresentam propostas e observações para o zoneamento de deslizamentos

voltados ao planejamento de uso do solo.

A análise e determinação da tipologia de processos e a elaboração do mapa de

inventário voltado aos dois objetivos apresentados foram realizadas para todo o município do

Ipojuca. Entretanto, uma análise mais detalhada foi feita apenas para a área piloto de

expansão urbana entre os distritos de Ipojuca Sede e Nossa Senhora do Ó. A elaboração do

inventário foi feita em duas etapas: 1) compilação de dados e análise em gabinete; 2)

investigação e mapeamento em campo.

Compilação de Dados e Análise em Gabinete

Primeiramente, para a identificação, determinação e mapeamento das feições erosivas

canalizadas (sulcos, ravinas e voçorocas), movimentos gravitacionais de massa e de áreas de

retenção de depósitos quaternários (colúvios) tomou-se como unidade de reconhecimento as

microbacias de drenagem. De tal modo, para a identificação dessas feições, utilizaram-se

imagens de satélite Quickbird Multiespectral (2005/2006) e Pancromática (2010) e imagem

do Google Earth (2013, 2014 e 2015).

Além da utilização das imagens acima descritas, um levantamento de informações

históricas sobre eventos de deslizamentos realizou-se mediante pesquisas em jornais e

internet, que relataram os eventos de grande magnitude que ocorreram no município do

Ipojuca.

Coletaram-se também informações na Defesa Civil municipal. Por ter sido estruturada

em 2013, seu acervo digitalizado de ocorrências de processos que causaram danos à

Page 159: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

158

população do município só se iniciou em 2013; contudo, a defesa civil tinha um acervo em

papel, que então foi digitalizado, e elaborou-se um banco de dados com as ocorrências de

2007 a 2013. Esse banco de dados não pôde ser georreferenciado, pois além dessas

ocorrências não terem coordenadas, eram localizadas somente por endereços de difícil

compreensão, assim foram apenas localizadas por bairros e analisadas suas frequências de

ocorrências.

Ressalte-se que foram digitalizadas todos os tipos de ocorrências, entretanto somente

as ocorrências de movimentos de massa foram utilizadas na análise do inventário.

Também se avaliaram os documentos relacionados com os mapeamentos de risco

existentes como o Plano Municipal de Redução de Risco do Ipojuca (PMRR-Ipojuca),

desenvolvido em 2007 na escala 1:2.000, bem como o mapeamento de Vulnerabilidade e

Risco realizado pelo Gegep também na escala 1:2.000, finalizado em abril de 2015, que tem

um banco de dados com alguns pontos onde ocorreram deslizamentos.

Reunidas as informações que puderam ser devidamente localizadas, elaborou-se uma

planilha para compor o mapa de inventário de movimentos de massa, com as seguintes

colunas: identificador, coordenadas, tipo de evento, data da ocorrência, área afetada

(localidade), causa do desastre (agente deflagrador – chuva, água servida, outros), danos

causados (materiais e humanos), fonte do documento pesquisado e colunas contendo o

ambiente em que foi formado o processo (litologia, declividade, forma da vertente, altitude,

solos e uso e cobertura da terra).

A análise dos dados e finalização do mapeamento realizou-se no ambiente SIG com o

uso do Software ArcGIS 10.1, associando as informações espaciais e alfanuméricas geradas

ao banco de dados geoespacial elaborado para o projeto.

Investigação e Mapeamento em Campo

Esta etapa inicia-se com levantamentos expeditos realizados nos dias 27/3/2014,

28/3/2014 e 14/7/2014, voltado para o reconhecimento dos materiais geológicos presentes,

para a checagem das informações derivadas no levantamento de dados em laboratório por

meio de imagens de satélites e outras fontes, contato com os moradores por meio de entrevista

e identificação de feições erosivas e cicatrizes de deslizamento em campo.

Page 160: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

159

Na área Piloto de Ipojuca Sede (escala 1:10.000) realizou-se um procedimento mais

detalhado, em conjunto com o mapa de inventário, na identificação e determinação de

tipologias de feições erosivas e movimentos gravitacionais de massa baseado na forma

geométrica, nas relações com os canais fluviais e com os padrões evolutivos de cabeceiras de

drenagem em anfiteatro de acordo com a metodologia proposta por Castro, Mello e Peixoto

(2002).

Buscou-se também seguir as orientações de Santos (2014), que por sua vez seguiu as

orientações do JTC 1 (FELL et al., 2008), identificando as feições fisiográficas críticas, ou

seja, feições historicamente associadas a problemas de desestabilização já observadas ou

potenciais, tais como as cabeceiras de drenagem, anteriormente comentadas, rupturas de

declives positivas e negativas, talvegues encaixados e suas vertentes de acentuada

declividade, encostas com declividade superior a 30°, feições geológicas de maior

instabilidade, presença de matacões e blocos de rochas, áreas de possível atingimento do

material proveniente de deslizamentos e fluxos de lama e detritos, áreas ocupadas por lixões

áreas a montante e a jusante das áreas de intervenções antrópicas (cortes e aterros em

encostas).

4.2.2.3 Definição dos fatores condicionantes e elaboração dos mapas temáticos

Conforme visto na seção 2.2 – Processos do meio físico –, são vários os fatores

condicionantes dos movimentos de massa, ou seja, estes são condicionados por complexas

relações entre os fatores geológicos, geomorfológicos, climáticos e antrópicos.

Com os estudos de campo e da análise das características morfológicas dos solos, bem

como por meio da avaliação do mapa de inventário, determinaram-se como fatores a serem

integrados no modelo: geologia (unidades litológicas), parâmetros topográficos (declividade e

curvatura da encosta), solos (unidades de mapeamento de solos) e uso e cobertura da terra.

Optou-se por acrescentar este último ao modelo, uma vez que os processos identificados no

município, na maioria, desencadeiam-se por intervenções antrópicas, tanto pelo uso agrícola,

por meio do cultivo da cana-de-açúcar e suas práticas de escoamento, quanto por meio da

ocupação desordenada das colinas do município pela população de baixa renda, com a

realização de corte na encosta e aterros para a construção de residências.

Page 161: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

160

Outro parâmetro que deveria ser acrescentado ao modelo seria a densidade de

lineamentos, tendo em vista a influência do controle estrutural na instabilidade dos taludes.

Entretanto, no município do Ipojuca, tal característica não se mostrou tão relevante. As

metodologias para elaboração dos mapas temáticos utilizados na escala 1:25.000 e 1:10.000

serão apresentadas a seguir.

Unidades Litológicas

A equipe do Gegep elaborou o mapa de Unidades Litológicas na escala 1:25.000 tendo

em vista que os mapas existentes para a área estavam na escala 1:100.000. Elaborou-se,

portanto, por meio do levantamento de mapas geológicos existentes, fotointerpretação para a

identificação de lineamentos, trabalhos de campo e laboratório. Mais detalhes da metodologia

podem-se verificar em Coutinho (2014).

Para a escala 1:10.000, acrescentaram-se alguns pontos de campo, e as unidades foram

mais bem detalhadas a partir das curvas de nível com equidistância de 5 metros. Deu-se

ênfase especial às estruturas geológicas (litologias, falhas, dobras, corpos intrusivos, etc.) que,

porventura, representaram suscetibilidade a processos erosivos e de movimentos

gravitacionais de massa, bem como locais propícios a acumulação de água em caso de

inundações.

Geomorfologia e Variáveis Morfométricas

Para a avaliação da carta de suscetibilidade, não se utilizaram as unidades

geomorfológicas diretamente no modelo, mas estas serviram de base na análise. As unidades

denudacionais propensas aos processos erosivos e de movimentos de massa e as unidades

deposicionais (rampas de colúvio, complexo de tálus, planícies de inundação, etc.), como

zonas potenciais de atingimento ou, como no caso dos colúvios, áreas instáveis, foram

mapeadas. Assim, além da análise qualitativa das unidades já elaboradas pela equipe do

Gegep, utilizaram-se diretamente no modelo as variáveis morfométricas, tais como

declividade e curvatura da vertente.

A declividade se define como um plano tangente à superfície, que corresponde à

inclinação do terreno em relação à horizontal, expresso como mudança de elevação sobre

certa distância (BURROUGH, 1991); extraiu-se por meio da ferramenta slope no ArcGIS

10.1, com intervalos relacionados com a inclinação da encosta em graus (°).

Page 162: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

161

Existem várias classificações de declividade voltadas para um determinado fim, e,

principalmente, utilizadas por instrumentos legais como Brasil (1979), Brasil (1965) e Brasil

(2012b).

Entretanto, utilizando o método natural breaks, “quebra natural” que melhor

representará as declividades existentes na área de estudo, os intervalos de declividade

dividiram-se em seis classes: 0-7°, 7°-11°, 11°-17°, 17°-27°, 27°-45°, >45°. Destacam-se as

áreas com declividades de 17° como limite das áreas urbanizáveis sem restrições (BRASIL,

1979), de 27° como limite às áreas com restrições à ocupação (BRASIL, 1965) e acima de 45°

como áreas destinadas à preservação permanente (BRASIL, 2012b). As áreas com

declividade inferior a 11° foram assumidas como áreas favoráveis a deposição, mas quando

associadas com depósitos coluviais foram consideradas instáveis, áreas estas favoráveis ao

movimento lento de rastejo, como sugerido por Lacerda (1997).

O parâmetro topográfico perfil da encosta (ou curvatura da encosta/vertente) é um dos

parâmetros mais utilizados na análise da suscetibilidade tanto a processos de erosão linear

como de movimentos gravitacionais de massa. Torna-se uma variável indireta do modo como

os fluxos de água se distribuirão ao longo da encosta. De modo simplificado, analisando-se o

comportamento do escoamento superficial, o perfil longitudinal (expressa ao longo da

declividade) controla a velocidade, enquanto o perfil transversal (expressa ao longo das

curvas de nível) controla a sua concentração ou dispersão.

A utilização de um ou de outro parâmetro nos modelos de suscetibilidade varia muito,

dependendo dos objetivos da pesquisa. Para definir o perfil a ser utilizado nesta metodologia,

fez-se uso da ferramenta Curvature do ArcGIS 10.1 para extração das curvaturas que utilizam

como base as metodologias propostas por Moore, Grayson e Ladson (1991), e Zeverbergen e

Thorne (1987). Essa ferramenta dá a opção de três raster de saída: profile curvature, plan

curvature e curvature, e são gerados por meio do MDT.

O perfil longitudinal (profile curvature) expressa a forma da vertente na direção da sua

maior inclinação indicando o modo como o declive se comporta de montante para jusante na

vertente. O perfil transversal (plan curvature) indica a forma da vertente em termos laterais,

por exemplo, a forma da vertente em uma orientação perpendicular à do perfil longitudinal,

expressando as alterações da exposição da vertente. A curvatura (tangencial curvature), cujo

resultado é a combinação das duas anteriores.

Page 163: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

162

Optou-se por trabalhar com o raster curvatura, pois foi o que melhor respondeu à

densidade de processos. Outra questão a ser definida foi quanto ao número de classes.

Realizaram-se dois testes, um dividindo a curvatura em 9 classes de acordo com a

metodologia proposta por Valeriano (2003) e representada na Figura 2.9 da seção 2.2.2.2 -

Fatores condicionantes dos movimentos gravitacionais de massa - o outro dividindo apenas

em 3 classes.

Assim, optou-se pela divisão da curvatura em três classes apenas

(côncava/convergente; retilínea/planar e convexa/divergente), pois essa foi a forma que

melhor representou as áreas de cabeceira de drenagem em anfiteatro, muito comuns no

município do Ipojuca. Os valores negativos indicam que a forma é côncava/convergente, os

valores positivos que a forma é convexa/divergente e o valor zero indica que a superfície é

plana.

Quando se elabora um MDT (Raster) por meio de um TIN surge um problema quanto

às faces de triangulação efetuadas para se obter o modelo. Quanto maior for a resolução, mais

visíveis são essas faces, tornando-se complexa a caracterização do perfil da encosta. À medida

que diminui a resolução, embora os pixels se tornassem mais grosseiros, a homogeneidade do

modelo vai sendo cada vez maior. Em razão disso, fizeram-se alguns testes com resolução do

MDT de 5 m, 10 m, 20 m e 50 m.

Para a escala 1:10.000, usou-se um MDT na escala de 10 m, tendo o cuidado de não

extrapolar as áreas de encostas; para escala 1:25.000, usou-se o MDT de 20 m.

Posteriormente, as imagens de curvatura geradas foram interpoladas pelo método Spline para

as resoluções de 2 m e 5 m respectivamente, que são as áreas dos pixels referente às escalas

dos mapeamentos.

Solos

Normalmente em modelos de suscetibilidade, o mapeamento do tipo e espessura da

cobertura superficial é necessário na escala de análise. Quando não se obtém essa informação,

utiliza-se o mapeamento de solos ou unidades de mapeamento de solos, procurando ajustar as

escalas. A elaboração do mapa de solos para as duas escalas de análise ocorreu com base nos

dados extraídos do Zape da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa Solos,

em que se delimitaram as Unidades de Mapeamento de Solos na escala 1:100.000, que

consiste em associações de solos, já apresentadas na seção 3.5.4.

Page 164: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

163

Não se realizaram ajustes nas unidades acima citadas para adaptar a escala 1:25.000,

cobrindo todo o município, permanecendo o mapa utilizado no modelo na escala 1:100.000.

Contudo, visando à adaptação do mapa de unidades de mapeamento de solos para a área

piloto de Ipojuca Sede na escala 1:10.000, realizou-se o reconhecimento morfológico dos

solos em campo, seguindo-se os parâmetros recomendados pelo Manual de descrição e coleta

de solos no campo de Santos et al. (2013). Além desses dados, identificaram-se alguns dados

de Sondagens já realizados na área que complementaram as informações, bem como trabalhos

realizados anteriormente na área de estudo.

Ressalte-se que o objetivo desta atividade não foi a elaboração de um mapa de solos

propriamente dito na escala 1:10.000, pois seria necessário maior distribuição de pontos para

a análise morfológica do perfil, bem como análises químicas em laboratório. Fez-se, neste

caso, um ajuste do mapa às curvas de nível de equidistância de 5 metros, visando melhor

desempenho do modelo de suscetibilidade (Figura 4.2).

Figura 4.2 – Distribuição dos pontos de reconhecimento morfológico de solos na área piloto de

Ipojuca Sede

Fonte: Coutinho (2014)

Page 165: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

164

4.2.2.4 Dinâmica da ocupação do município do Ipojuca e elaboração dos mapas de uso e

cobertura da terra

O histórico da ocupação da área a ser zoneada, ou seja, a evolução em termos de uso

da terra tem de ser cuidadosamente considerada, pois as atividades humanas podem alterar o

ambiente de instabilidade da encosta e modificar a suscetibilidade e a probabilidade de

ocorrência dos processos de encosta, tanto os intensificando ou diminuindo a frequência

(FELL et al., 2008).

A dinâmica da ocupação no município do Ipojuca foi avaliada com uma análise

histórica por meio de pesquisa bibliográfica e a utilização de imagens de satélite de alta

resolução, procurando identificar os tipos de uso e as formas de ocupação do município

influenciado ora pela monocultura da cana-de-açúcar, ora pela expansão do Complexo

Industrial e Portuário de Suape.

Procurou-se analisar também o Plano Diretor do município do Ipojuca e outras leis

ligadas ao ordenamento territorial e que contemplem em seus conteúdos sugestões para

minimizar o risco a processos do meio físico. O uso e a cobertura da terra influenciam direta

ou indiretamente no desencadeamento ou prevenção de processos erosivos e de movimentos

gravitacionais de massa, sendo aquela uma variável importante a ser utilizada na análise da

suscetibilidade a tais processos. Por isso, elaboraram-se mapas de uso e cobertura da terra

para o município do Ipojuca nas escalas 1:25.000 e para a área piloto de Ipojuca Sede na

escala 1:10.000 com o objetivo de verificar quanto as formas de uso da terra agravam os

processos morfodinâmicos na área estudada.

O termo “uso da terra” refere-se ao modo como a terra é usada pelos seres humanos e

a “cobertura da terra” refere-se aos materiais biofísicos encontrados sobre a superfície

terrestre (JENSEN, 2009). Levando-se em conta esse entendimento, para a produção do mapa

procedeu-se à interpretação e vetorização das imagens WorldView (2010) e QuickBird

(2006), transportando-as para o software ArcGis 10.1, e à aplicação da classificação das

unidades do Manual técnico de uso da terra do IBGE (2013).

Posteriormente, a realização de campo permitiu melhor averiguação e definição entre

os limites das classes encontradas, que para a escala 1:25.000 as menores feições mapeadas

foram de 5 metros. Determinaram-se, então, dez classes de uso para o município do Ipojuca, a

saber: Áreas Industriais Comerciais ou Transporte, Áreas Urbanizadas, Corpos d’Água,

Page 166: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

165

Culturas Permanentes, Culturas Temporárias (cana-de-açúcar), Espaços abertos com pouca ou

nenhuma cobertura, Florestas, Mineração e Terras Úmidas Interiores (mangue).

Os procedimentos metodológicos para a elaboração do mapa de uso da terra na escala

1:10.000 foram de modo semelhante à escala de planejamento exposta anteriormente.

Entretanto, as classes de uso e cobertura foram mais detalhadas, seguindo, ainda a

metodologia do IBGE (2013), procurando atender ao quarto nível das classes de uso. Todavia,

para melhorar a compreensão da área, foi necessário modificar algumas classes para a

realidade do município e para atender aos objetivos do trabalho, propondo, assim, uma nova

classificação.

O Quadro 4.2 apresenta as classes de uso trabalhadas na escala 1:10.000 referente ao

nível IV e sua relação com os demais níveis de uso.

Quadro 4.2 – Relação das classes de uso da terra para a área piloto de Ipojuca Sede, Escala 1:10.000

Nível I Nível II Nível III Nível IV

1. Áreas

antrópicas não

agrícolas

(IBGE)

11. Áreas

urbanizadas

111. Área urbana contínua

1111. Centros urbanos

112. Área urbana

descontínua

1121. Habitações unifamiliares

1122. Assentamentos informais

12. Áreas industriais,

comerciais ou

transporte

121. Unidades industriais e

comerciais

1211. Complexo industrial

1212. Área comercial

1213. Usina de cana-de-açúcar

1214. Estabelecimentos de

ensino e pesquisa

122. Redes viárias

ferroviárias e espaços

associados

1221. Estradas

13. Mineração 132. Área de extração

mineral 1321. Extração a “céu aberto”

14. Espaços abertos

com pouca ou

nenhuma cobertura

141. Solo exposto

1411. Solo exposto para

construção

1412. Solo exposto por erosão

1413. Praia

2. Áreas

antrópicas

agrícolas

21. Culturas

temporárias

211. Cultivo de cana-de-

açúcar 2111. Cana-de-açúcar

212. Cultivo de horticultura 2121. Cultivos de horticultura

22. Culturas

permanentes 221. Cultivo de frutas 2211. Coqueiral

23. Cultivos

diversificados 231 Cultivos diversificados 2311. Cultivos diversificados

3. Áreas de

vegetação

natural

31. Florestas 312. Formações florestais

3111. Mata

3112. Mata ciliar

3113. Restinga

4. Água 41. Corpos d’água

continental 412. Corpos d’água 4121. Corpos d’água

5. Terras

úmidas

51. Terras úmidas

interiores e costeiras

511. Arbóreo 5111. Mangue

Fonte: Dados da pesquisa.

Page 167: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

166

4.2.2.5 Análise estatística e definição dos pesos

A análise estatística para definição dos pesos das classes dos fatores analisados foi

baseada no método de estatística bivariada conhecido como índice estatístico (Statistic Index -

Wi) definido por Van Westen (1997) e apresentada por Yalcin et al. (2011). Vancôr e Rolim

(2012) fizeram uma adaptação dessa metodologia com a posterior aplicação da técnica AHP

para a definição dos pesos de cada parâmetro, gerando um grau de influência entre eles.

Assim, nesta tese fez-se uma readaptação da metodologia aplicada por Vancôr e Rolim (2012)

para o município do Ipojuca.

O método índice estatístico (Wi) é baseado na correlação estatística do mapa de

inventário (representado em pontos) com as classes de cada parâmetro analisado. O

cruzamento dos mapas resulta em uma tabulação cruzada, a qual pode ser usada para calcular

a densidade de deslizamentos para cada classe dos parâmetros.

Após a elaboração de todos os mapas temáticos, que nesta modelagem da

suscetibilidade também são considerados Planos de Informação (camadas) no ambiente SIG,

tais como unidades litológicas, declividade, curvatura, solos e uso e cobertura da terra,

realizou-se uma tabulação cruzada entre os referidos PIs e o PI de inventário. Para que isso

fosse possível, todos os planos de informação foram transformados para o formato Raster no

mesmo sistema geodésico e de coordenadas e com a mesma resolução espacial (tamanho dos

pixels). Desse modo, o peso das variáveis foi definido pela relação entre a densidade dos

deslizamentos ocorridos dentro da área de cada variável pelo número total da ocorrência de

deslizamentos, sendo o somatório das variáveis de cada fator igual a 1, sendo representada

pela seguinte equação:

Onde:

Wvi = Peso da variável i

Lvi = Número de ocorrências envolvendo a variável i

L = Número total de ocorrência de deslizamentos na área

Npixclass(Si) = Número de pixels contendo deslizamentos dentro da classe da variável i

Npicarea(Ni) = Número total de pixels dos deslizamentos em toda a área

Page 168: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

167

A tabulação cruzada realizou-se para os processos de ravinas e deslizamentos,

processos esses mais identificados no município. Foram, então, gerados os pesos para cada

uma, e posteriormente extraiu-se uma média, que foi considerada como peso final da classe.

Realizou-se uma tabulação cruzada tanto para os dados de entrada voltados ao

mapeamento na escala 1:25.000 quanto para a área piloto de Ipojuca Sede. Destaque-se que,

para este último, houve ajustes nos limites de Unidades Litológicas e de Mapeamento de solos

para a adaptação do modelo.

4.2.3 Etapa de síntese

A etapa síntese refere-se à integração dos dados e à obtenção do resultado final do

mapeamento de suscetibilidade a movimentos de massa. Para isso, tiveram de ser realizadas

as atividades descritas nas seções a seguir.

4.2.3.1 Padronização dos planos de informação

Após a identificação dos pesos para as classes dos fatores condicionantes (Planos de

Informação), foi necessária a padronização desses PIs para torná-los comparáveis entre si.

Todos foram reduzidos a uma escala padrão variando entre 0 a 1, tendo os resultados

estatísticos obtidos na tabulação cruzada. Utilizou-se, portanto, o conceito probabilístico

Fuzzy ou membros fuzzy (Fuzzy Membership), uma ferramenta do Spatial Analyst do ArcGIS

10.1, com a aplicação da função linear entre os valores máximos e mínimos dos pesos

apontados por meio da tabulação cruzada, permitindo a permanência das características de

dados contínuos, onde 0 representa o valor menos suscetível a movimentos de massa e 1 valor

mais suscetível.

4.2.3.2 Aplicação da técnica AHP e definição do grau de influência

A determinação do grau de influência de cada fator condicionante do processo de

movimento de massa foi determinada pela aplicação da técnica AHP (Analytical Hierarchy

Process) , desenvolvida por Thomas Saaty (1987), a qual é uma ferramenta de auxílio à

tomada de decisão baseada na lógica de comparação pareada e permite estimar a contribuição

relativa de cada um dos fatores. Os diferentes fatores condicionantes que serão usados como

Page 169: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

168

dados de entrada no modelo foram comparados dois a dois; e um critério de importância

relativa referente à suscetibilidade a movimentos de massa foi atribuído ao relacionamento

entre esses fatores, conforme uma escala predefinida por Saaty (1987) apresentada na Tabela

4.4.

Tabela 4.4 – Escala da importância relativa aplicada pela AHP para a comparação pareada

Intensidade e

Importância

Definição Explicação

1 Mesma importância Os dois fatores contribuem igualmente para o

objetivo

3 Importância pequena de um sobre o

outro

Um fator é ligeiramente mais importante do que o

outro

5 Importância grande ou essencial Um fator é claramente mais importante do que o

outro

7 Importância muito grande ou

demonstrada

Um fator é fortemente favorecido e sua maior

relevância foi demonstrada na prática

9 Importância absoluta A evidência que diferencia os fatores é da maior

ordem possível

2, 4, 6, 8 Valores intermediários entre os

julgamentos

Possibilidade de compromissos adicionais

Fonte: Adaptado de Saaty (1987).

A definição da importância relativa baseou-se no conhecimento prévio de especialistas

(geólogos, geomorfólogos, engenheiros geotécnicos e geólogos de engenharia) da área em

estudo, com a ajuda dos resultados estatísticos após a tabulação cruzada.

As comparações entre os PIs são registradas em matrizes na forma de frações 1/9 e 9.

Cada matriz é avaliada pelo seu autovalor para verificar a consistência dos julgamentos. Esse

julgamento gera uma razão de consistência (Consistency Ratio – CR) que deve ser menor que

0,10, ou seja, quando o valor encontrado for inferior a 0,10, significa que os resultados

obtidos são adequados e pode-se dar continuidade ao desenvolvimento do modelo, caso

contrário, quando o valor é superior a 0,10 sugere-se uma revisão dos julgamentos.

A Tabela 4.5 mostra a importância relativa atribuída a cada fator utilizado no modelo e

o peso obtido por meio do autovetor principal da matriz de comparação pareada.

Tabela 4.5 – Matriz de correlação entre os Planos de Informação trabalhados no modelo

Critérios Uso Geologia Solos Declividade Curvatura Peso

Uso 1 0,25 0,25 0,17 0,17 0,04

Geologia 4 1 1 0,17 0,17 0,09

Solos 4 1 1 0,17 0,17 0,09

Declividade 6 6 6 1 1 0,39

Curvatura 6 6 6 1 1 0,39

Fonte: Dados da pesquisa.

Page 170: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

169

O valor da razão de consistência obtido para a matriz acima apresentada foi de 0,0,

indicando que o processo de julgamento do grau de importância dos fatores foi consistente e

pôde-se dar continuidade ao mapeamento.

A aplicação da técnica AHP realizou-se por meio de uma extensão desenvolvida para

o ArcGIS 10.1, que, além da comparação pareada entre os PIs, realizada a integração das

imagens já padronizadas. O aplicativo pode ser encontrado no site

<http://www.arcgis.com/home/item.html?id=bb3521d775c94b28b69a10cd184b7c1f>.

4.2.3.3 Definição dos graus de suscetibilidade

A imagem de saída após a aplicação da técnica AHP apresenta valores de 0 a 1, em

que o valor 0 refere-se à baixa suscetibilidade e o valor 1, à alta suscetibilidade. Foram, então,

divididas em três classes de suscetibilidade a movimentos de massa (baixa, média e alta) por

meio do método quebra natural (Natural Breaks).

4.2.3.4 Validação do modelo

Para a elaboração de um zoneamento da suscetibilidade a movimentos de massa

utilizando abordagens quantitativas, com métodos estatísticos, faz-se necessária a delimitação

de uma área (área de treinamento), que não tenha entrado no modelo de suscetibilidade para

validação dos resultados, visando melhor previsão.

Infelizmente para a área piloto de Ipojuca Sede, isso não foi possível em vista da

pequena extensão da área contendo cicatrizes. Assim sendo, a validação da acurácia do

modelo foi feita em campo, onde se escolheram aleatoriamente áreas determinadas como alta

suscetibilidade para a verificação das características em campo e se aquela área foi

considerada corretamente como de alta suscetibilidade.

Também foram sobrepostos o zoneamento de risco alto e muito alto contidos no Plano

Municipal de Redução de Risco elaborado para o município do Ipojuca.

Realizou-se, ainda, uma comparação entre os resultados das classes de suscetibilidade

alta, média e baixa das duas metodologias (COUTINHO, 2014) e a proposta nesta tese, com o

inventário de cicatrizes.

Page 171: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

170

4.2.3.5 Caracterização das classes de suscetibilidade

Após a elaboração do modelo, realizou-se uma nova tabulação cruzada entre o Plano

de Informação (PI) de suscetibilidade com as classes alta, média e baixa e os Planos de

Informação relacionados com os fatores condicionantes, verificando quais classes desses

fatores são mais frequentes em cada uma das classes de suscetibilidade.

4.2.3.6 Definição das áreas críticas do município

Como a elaboração de um mapeamento de risco não faz parte do escopo deste

trabalho, procurou-se realizar a integração simples dos resultados identificados no mapa de

suscetibilidade com a quantidade de população por domicílio, agregado por setor censitário,

para mostrar as áreas mais críticas do município do Ipojuca, utilizando-se apenas duas

variáveis da equação do risco, suscetibilidade a movimentos de massa e elementos em risco,

representados pela população por domicílio. No caso de Ipojuca, esse elemento em algumas

localidades, principalmente nos assentamentos informais, ou seja, nas Zeis definidas no Plano

Diretor do Município, é o principal indutor de deslizamentos no município.

Para a realização da integração das duas referidas variáveis, fez-se a padronização dos

dados de população por domicílio, em que foram reduzidos a uma escala padrão variando

entre 0 a 1, utilizando-se a mesma metodologia apresentada na seção 4.2.3.1. Posteriormente,

realizou-se uma Álgebra de Mapas em que foram multiplicados os PIs de suscetibilidade e de

população por domicílio.

Os resultados identificados foram classificados em 4 classes de risco por meio da

quebra natural (baixa, média, alta e muito alta), com o intuito de ficar mais próximo das

classificações utilizadas nos mapeamentos de risco no Brasil, como nos Planos Municipais de

Redução de Risco. Em seguida, foram comparados com a frequência de ocorrência de

movimentos de massa por localidade com base no cadastro de ocorrências da defesa civil,

bem como das áreas de risco delimitadas no mapeamento municipal de redução de risco,

validando as áreas mais problemáticas do município quanto aos impactos acarretados pelos

movimentos de massa.

O mapa final foi denominado de Mapa de risco a movimentos de massa – Área Piloto

de Ipojuca Sede, município do Ipojuca, Pernambuco – Brasil. Utilizou-se esse nome, portanto,

Page 172: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

171

por ser mais conveniente. No entanto, ressalta-se que não se trata de um mapa de perigo por

não ter sido representadas as informações de probabilidade temporal a partir da análise das

frequências dos deslizamentos diretamente nas equações do modelo utilizado no mapeamento,

nem de risco propriamente dito, por não agregar na análise todas as variáveis relacionadas a

vulnerabilidade e aos danos causados.

Tal atividade é um indicativo da continuidade para se chegar ao mapeamento do

perigo e do risco propriamente dito utilizando-se técnicas de abordagem quantitativa, pela

equipe do Gegep.

Page 173: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

172

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Análise climatológica e eventos extremos

No município do Ipojuca, o período chuvoso situa-se entre os meses de março a agosto

(outono-inverno), sendo os meses mais úmidos os que vão de abril a julho, configurando-se a

quadra chuvosa. As médias mensais oscilam entre 50,5 mm no mês de novembro a 360 mm

em julho, com total médio de 2.333 mm. As precipitações máximas, mínimas e médias no

município do Ipojuca, apresentam considerável variabilidade sazonal e interanual da

precipitação pluvial, tendo, como exemplo, chuvas máximas em julho de 1050,4 mm (1986) e

mínimas de 84,3 mm (1980), seguindo a principal característica climática do Nordeste do

Brasil, a variabilidade espaço temporal (MOLION; BERNARDO, 2002).

A Figura 5.1 apresenta a distribuição média mensal dos valores de chuva máxima,

média e mínima para os anos de 1941 a 2013 do pluviômetro da Usina Ipojuca.

Figura 5.1 – Distribuição entre as precipitações pluviais mensais média, máxima e mínima para o

município do Ipojuca entre o período 1941-2013

Fonte: Pluviômetro localizado na Usina Ipojuca.

Esse padrão da precipitação anual é influenciado por mecanismos de grande escala

(seção 3.5.1), responsáveis pela maior parte da precipitação observada, e os mecanismos de

meso e microescala que completam os totais precipitados (MOLION; BERNARDO, 2002).

Page 174: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

173

Além desses mecanismos, as mudanças nas configurações de circulação atmosféricas

de grande escala a partir da interação oceano-atmosfera no Pacífico e no Atlântico são fatores

que influenciam, substancialmente, na variabilidade interanual da distribuição das chuvas no

Nordeste do Brasil (NEB) tanto nas escalas espacial como temporal (MOLION;

BERNARDO, 2002).

É, portanto, com a compreensão dos mecanismos de grande, meso e microescala e a

interação destes com as alterações na temperatura da superfície do mar (ATSM) do Pacífico e

Atlântico Equatorial que serão apresentados os resultados da análise da variabilidade

interanual da precipitação pluvial, da análise de tendência, bem como da ocorrência de

eventos extremos no município do Ipojuca.

5.1.1 Variabilidade interanual da precipitação pluvial

A Tabela 5.1 apresenta os valores identificados na análise da precipitação pluvial

anual contendo a série histórica de 1941 a 2013 do pluviômetro da Usina Ipojuca para as

probabilidades referentes a (0,05), (0,15), (0,25), (0,65), (0,85) e (0,95), classificando os anos

em Extremamente Seco, Muito Seco, Seco, Normal, Chuvoso, Muito Chuvoso e

Extremamente Chuvoso.

Tabela 5.1 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação anual

relacionada com as ordens quantílicas CATEGORIAS PROBABILIDADES

Extremamente Seco (E. SECO) X ≤ 1561,96

Muito Seco (MS) 1561,96 < X ≤ 1845,44

Seco (S) 1845,44 < X ≤ 2100,32

Normal (N) 2100,32 < X < 2472,44

Chuvoso (C) 2740,06 ≤ X < 2740,06

Muito Chuvoso (MC) 3513,44 ≤ X < 3513,44

Extremamente Chuvoso (E. CHUVOSO) X ≥ 3513,44

Fonte: Dados da pesquisa.

Com base na série climatológica, os anos foram classificados como Extremamente

Seco, Muito Seco, Seco, Normal, Chuvoso, Muito Chuvoso e Extremamente Chuvoso e estão

Page 175: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

174

apresentados na Tabela 5.2 e na Figura 5.2 apresenta-se a variabilidade anual da precipitação

no município do Ipojuca.

Tabela 5.2 – Classificação dos anos quanto às categorias de precipitação anual relacionadas com as

ordens quantílicas CATEGORIAS ANOS

Extremamente Seco (E. SECO) 1993, 1998, 2006 e 2012

Muito Seco (MS) 1941, 1946, 1948, 1952, 1981, 1983, 1999

Seco (S) 1943, 1947, 1953, 1954, 1956, 1976, 1979, 1987,

1990, 1991, 1995, 1996, 1997, 2005

Normal (N)

1944, 1945, 1949, 1950, 1951, 1957, 1958, 1959,

1960, 1962, 1963, 1969, 1971, 1988, 1992, 2001,

2007, 2008, 2009, 2010, 2013

Chuvoso (C) 1955, 1961, 1967, 1968, 1970, 1975, 1977, 1978,

1980, 1982, 1985, 1989, 1994, 2002, 2003

Muito Chuvoso (MC) 1965, 1966, 1972, 1973, 1974, 1984, 2011

Extremamente Chuvoso (E. CHUVOSO) 1964, 1986, 2000, 2004

Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 5.2 – Representação dos totais anuais e das categorias e probabilidades da precipitação pluvial

anual relacionadas com as ordens quantílicas identificadas na série de 1941 a 2013 no Ipojuca

Fonte: Elaborado com base nos dados do pluviômetro localizado na Usina Ipojuca.

Percebe-se uma variabilidade interanual significativa ao se analisar a Tabela 5.1 e a

Figura 5.2, principalmente em décadas, conforme demonstrado na figura 5.3. As décadas de

1940 e 1950 foram consideradas as mais secas. Na década de 1940, foram três anos

Page 176: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

175

considerados muito secos, três anos considerados secos e três anos considerados normais. A

década de 1950, apresentou um ano muito seco, três anos secos, cinco anos normais e um ano

muito chuvoso. A década de 1960 foi considerada uma década muito chuvosa, estando os

anos classificados em normais (4), chuvosos (3), muito chuvosos (2) e um ano extremamente

chuvoso que foi o ano de 1964. A década de 1970 apresentou dois anos considerados secos,

um ano normal, quatro anos chuvosos e três anos muito chuvosos.

Os anos 1980 apresentaram uma variabilidade anual da precipitação pluvial

significativa, uma vez que dois anos foram considerados muito secos, um ano seco, um ano

normal, quatro anos chuvosos, um ano muito chuvoso e com destaque para o ano de 1986 que

foi considerado extremamente chuvoso. A década de 1990 também apresentou uma

variabilidade significativa da precipitação ao longo do ano, com dois anos extremamente

secos (1993 e 1998), um ano muito seco, cinco anos secos, um ano chuvoso e um ano muito

chuvoso. Por fim, identificou-se na década de 2000 um ano extremamente seco (2006), um

ano seco, quatro anos chuvosos, dois anos muito chuvosos e dois anos extremamente

chuvosos (2000 e 2004). Os anos de 2010, 2011, 2012 e 2013 foram considerados

respectivamente normal, muito chuvoso, extremamente seco e normal.

Figura 5.3 – Número de ocorrências das categorias de precipitação por décadas (1941 a 2013) para o

município do Ipojuca

Fonte: Elaborado com base nos dados do pluviômetro localizado na Usina Ipojuca.

A Figura 5.4 apresenta o Índice de Anomalia de Chuva para a série de 1941 a 2013

para o pluviômetro da Usina Ipojuca. Os resultados mostraram predomínio de anomalias

Page 177: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

176

negativas, ou seja, valores de precipitação abaixo do esperado para a série estudada.

Identificaram-se 44 anos de anomalias negativas dentre os 73 anos analisados, ou seja, 60%.

Em concordância com o exposto na análise da técnica dos quantis, as décadas de 1940

e 1950, bem como a década de 1990 apresentaram maior frequência de anomalias negativas,

9, 8 e 8 anos respectivamente. O que não ocorreu entre as décadas de 1960, 1970 e 1980 que

apresentaram 7, 7 e 6 anos de anomalias positivas. Destacam-se como anos que apresentaram

maior anomalia positiva, portanto, os anos de 1964, 1986, 2000 e 2004, anos considerados

extremamente chuvosos na análise por meio da técnica dos quantis.

Assim, diante do exposto, percebe-se que essas duas técnicas representam bem a

variabilidade interanual da precipitação no município do Ipojuca.

Figura 5.4 – Índice de anomalia de chuva (1941 a 2013) para o município do Ipojuca

Fonte: Elaborado com base nos dados do pluviômetro localizado na Usina Ipojuca.

Relacionando os dois gráficos (Figuras 5.2 e 5.4) com os anos de ocorrência de El

Niño (Tabela 5.3) e La Niña (Tabela 5.4) e do Dipolo do Atlântico (fases positiva e negativa,

Tabela 5.5), pôde-se verificar que ocorreram fenômenos de El Niño nos anos de 1939-1941

(Forte), 1946 a 1947 (Moderado), 1951 e 1953 (Fraco) e 1957-1959 (Forte), o que pode ter

influenciado na predominância do período de 1941 a 1960 como anos secos ou anos normais e

de anomalias negativas de chuva.

Page 178: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

177

Tal fato pode ter sido agravado pela ocorrência da fase positiva do Dipolo do

Atlântico. A fase positiva consiste em um maior aquecimento do Oceano Atlântico Norte

(menor pressão) que ajuda a manter a ZCIT mais ao norte da sua posição climatológica

(NÓBREGA; SANTIAGO, 2014).

Tabela 5.3 – Anos de ocorrência de El Niño

Ocorrências de El Niño

Forte Moderado Fraco

1939-1941; 1957-1959

1972-1973; 1982-1983

1990-1993; 1997-1998

1946-1947; 1968-1970; 1986-1988

1994-1995; 2002-2003

1951, 1953, 1963, 1976-1977; 1977-1978

1979-1980; 2004-2005; 2006-2007

2009-2010.

Fonte: CPTEC/INPE.

Tabela 5.4 – Anos de ocorrência de La Niña

Ocorrências de La Niña

Forte Moderado Fraco

1949-1951; 1954-1956; 1973-1976

1988-1989; 2007-2008.

1964-1965; 1970-1971

1998-2001

1983-1984; 1984-1985

1995-1996.

Fonte: CPTEC / INPE.

Tabela 5.5 – Anos de ocorrência do Dipolo do Atlântico

Fase positiva Fase negativa

1951, 1953, 1954, 1958, 1966, 1969, 1970,

1978, 1979, 1980, 1981, 1983, 1992, 1997

1949, 1964, 1965, 1971, 1972, 1973,

1974, 1977, 1984, 1985, 1986, 1989

Fonte: Souza (1997); Adreoli e Kayano (2007).

De 1962 a 1975, houve maior ocorrência de anos chuvosos a extremamente chuvosos,

como também maior frequência de anos com anomalias de chuva positivas. Fato esse que

coincide com a ocorrência de eventos de La Niña fortes e fracos nos anos de 1964-1965,

1970-1971 (moderado), 1973-1976 (forte), intensificado pela fase negativa do Dipolo do

Atlântico. Essa fase consiste em um maior aquecimento das águas do Atlântico Sul (menor

pressão), fazendo com que a ZCIT se mantenha mais ao sul da sua posição climatológica.

Além disso, quando o Atlântico Sul encontra-se mais aquecido, provoca mais evaporação da

Page 179: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

178

área adjacente à costa do NEB, em razão do maior fluxo de calor latente na área tropical, que

leva umidade aos altos níveis e, essa massa, quando chega ao continente, condensa-se e forma

a precipitação, além da intensificação da atuação das Ondas de Leste e brisas na região.

A década de 1980 também foi marcada por maior ocorrência de anos chuvosos a

extremamente chuvosos. Entretanto, os anos de 1981 e 1983 foram considerados muito secos;

tal fato pode ter sido influenciado pela conjunção dos fenômenos de El Niño forte e da

ocorrência da fase positiva do Dipolo do Atlântico nesses anos. De 1984 a 1986, foi dominado

por um período de ocorrência de La Niña e da fase negativa do Dipolo do Atlântico,

destacando-se 1986 como um ano Extremamente Chuvoso.

A década de 1990 foi marcada pela predominância de anos secos, provocado pela

preponderância de eventos de El Niño concomitante com a fase positiva do Dipolo do

Atlântico. Nas décadas de 2000 e 2010, destacam-se os anos de 2000, 2004 e 2011 como anos

muito chuvosos a extremamente chuvosos. Dentre esses anos, somente 2000 estava sob a

influência de um evento de La Niña; os demais anos estavam sob a influência de El Niño

fraco.

Após o estudo da variabilidade anual da precipitação do município do Ipojuca,

realizou-se uma análise da tendência da série pluviométrica, visando identificar se ocorre

manutenção, aumento ou diminuição dos valores de precipitação pluvial. Essa tendência é

entendida como uma alteração no clima, aumento ou diminuição lenta dos valores médios da

série de dados analisados no período de registro.

Resultados semelhantes foram identificados por Moura (2009), Silva et al. (2011) e

Nobrega e Santiago (2014).

Com base nos resultados da aplicação do teste de Mann Kendall, a série histórica de

1941 a 2013 apresentou uma leve tendência de aumento da precipitação ( =0,94), assim

como os trimestres relacionados com o verão (DJF), =8,74, e inverno (JJA) =6,78;

já os períodos de outono (MAM) e primavera (SON), apresentaram uma tendência negativa

de precipitação ( =-14,3 e =-4,51). Quando analisada a quadra chuvosa (AMJJ),

verifica-se uma leve tendência positiva ( =0,03), fato esse determinado pela diminuição

das chuvas no período de outono, nesse caso, representado pelos meses de abril e maio.

Page 180: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

179

5.1.2 Análise dos dados mensais de chuva

A análise mensal da série histórica de precipitação de 1941 a 2013 serviu para

identificar os meses que estiveram abaixo ou acima da sua normalidade e demonstrar que os

eventos extremos também podem ocorrer fora do período chuvoso do município (MAMJJA).

Com base nessa análise, pôde-se identificar os limiares relacionados com as probabilidades

(0,05), (0,15), (0,25), (0,65), (0,85) e (0,95), apresentados na Tabela 5.6.

Analisando os extremos mensais considerando todos os meses do ano, os meses de

abril, maio, junho e julho concentraram o número de anos com chuvas mensais extremas (X ≥

527,02 mm/30 dias) com 6, 11, 14 e 11 anos respectivamente. O ano de 2004 teve o mês de

janeiro com chuvas extremas, e 1964 apresentou o mês de agosto com chuvas extremas.

Quase todo o período chuvoso desse último ano (abril, maio, junho e agosto) foi considerado

extremante chuvosos.

Tabela 5.6 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação mensal

relacionada com as ordens quantílicas (0,05), (0,15), (0,25), (0,65), (0,85) e (0,95) CATEGORIAS PROBABILIDADES

Extremamente Seco (E. SECO) X ≤ 17,02

Muito Seco (MS) 17,02 < X ≤ 39,70

Seco (S) 39,70 < X ≤ 92,35

Normal (N) 92,35 < X < 220,3

Chuvoso (C) 220,3 ≤ X < 360,15

Muito Chuvoso (MC) 360,15 ≤ X < 527,02

Extremamente Chuvoso (E. CHUVOSO) X ≥ 527,02

Fonte: Dados da pesquisa, baseados no pluviômetro da Usina Ipojuca.

Com a aplicação dos quantis extremos relacionados com as probabilidades p=0,05 e

p=0,95 para cada mês (Tabela 5.7), identificaram-se os valores máximos de cada mês nos

seguintes anos: janeiro 2004 (616,7 mm/30 dias); fevereiro 1980 (501,7 mm/28 dias); março

1967 (517,9mm/30 dias); abril 1973 (963,8mm / 30 dias); maio 1958 (753,1 mm/30 dias);

junho 1951 (851,8mm/30 dias); julho 1986 (1050,4mm/30 dias); agosto 1964 (622,7 mm/30

dias); setembro 2000 (450,2 mm/30 dias); outubro 1971 (279,4 mm/30 dias); novembro 1986

(228,4 mm/30 dias); dezembro 1975 (253,6 mm/30 dias).

Page 181: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

180

Tabela 5.7 – Relação mensal dos valores de chuva média, máxima, mínima e as probabilidades p=0,05

(Mês extremamente secos) e p=0,95 (Mês extremamente chuvoso)

CHUVA MÊS

Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

Média 116,2 130 214,1 294,1 344,3 390,3 343,1 208 114,2 63,7 49,6 64,9

Máxima 616,7 501,7 517,9 963,8 753,1 851,8 1050,4 622,7 450,2 279,4 228,4 253,6

Mínima 9,3 8,2 8,9 48,4 72,4 95,3 84,3 72,7 2,3 9 2,1 0,2

Q 0,05 26,6 21,24 76,34 97,28 131,32 186,8 163,56 95,54 25,04 12,28 8,86 6,74

Q 0,95 267,12 344,87 446,36 609,36 652,09 795,54 748 387,09 235,8 167,9 126,42 149,1

Fonte: Dados da pesquisa, baseados no pluviômetro da Usina Ipojuca.

Com base nos extremos apresentados na Tabela 5.7, analisou-se o total de ocorrência

de anos que apresentaram meses extremos por década. As que apresentaram um maior

número de meses considerados extremamente secos foram as décadas de 1990, 1980 e 2000.

Já as décadas que apresentaram um maior número de meses extremamente chuvosos foram

1970, 1960 e 1990. Essa análise significa que nos anos de 1941 a 1963 os totais precipitados

estiveram dentro da normalidade; já nos anos de 1964 a 1986, as chuvas foram mais extremas,

predominando as anomalias positivas. Entre os anos 1987 e 1999, predominaram as anomalias

negativas e a partir do ano 2001, foram anos com uma variabilidade mais significativa,

conforme a análise da Figura 5.4.

5.1.3 Análise da precipitação diária

A análise dos valores diários de precipitação tem como objetivo a identificação dos

limiares significativos (valores extremos) que possam causar danos à sociedade, acarretando

movimentos de massa e inundação. Existe dificuldade na identificação desse valor, pois eles

variam de acordo com as características locais, bem como com as estações do ano. Por

exemplo: precipitação acumulada de 60 mm em 24h pode ser excepcional para uma região e

normal para outra. Pode ser usual no verão e excepcional no inverno (VICENTE, 2005).

Diante do que foi exposto, objetivando identificar o limiar pelo qual um acumulado de

chuva de 24h seja considerado como um evento de chuva extrema (dia com chuva

extremamente forte), aplicou-se a técnica dos quantis para os dados diários do pluviômetro de

Ipojuca fornecido pela Apac com uma série de 1957 a 1978/1991 a julho de 2015. Ressalte-se

que os anos de 1979 a 1990 não tinham dados, por isso não entraram na análise estatística.

Page 182: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

181

Conforme visto na seção 5.1.1, a década de 1980 foi considerada uma década chuvosa tendo

1986 como um ano extremamente chuvoso.

Para o município do Ipojuca, os valores diários de precipitação pluvial foram

distribuídos em sete classes quantílicas, a saber: Chuva extremamente Fraca, Chuva muito

Fraca, Chuva Fraca, Chuva Moderada, Chuva Forte, Chuva muito Forte e Chuva

extremamente Forte, aplicando-se as mesmas probabilidades trabalhadas nas escalas anual e

mensal. São elas: p=0,05, p=0,15, p=0,25, p=0,65, p=0,85, p=0,95 (Tabela 5.8). O limiar de

chuva que foi identificada como extrema (p=0,95) se precipitado em 24h foi de 53 mm, muito

próximo do identificado por Souza, Azevedo e Araújo (2012) para o município do Recife,

Pernambuco, que foi de 55,3 mm/24h.

Tabela 5.8 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação diária (acumulado de

24h) relacionadas com as ordens quantílicas p=0,05, p=0,15, p=0,25, p=0,65, p=0,85, p=0,95 para

Ipojuca

CATEGORIAS PROBABILIDADES

Chuva extremamente Fraca (E. FRACA) X ≤ 2,2

Chuva muito Fraca (C. M. FRACA) 2,2 < X ≤ 3

Chuva Fraca (C. FRACA) 3 < X ≤ 5,2

Chuva Moderada (C. MODERADA) 5.2 < X < 12,6

Chuva Forte (C. FORTE) 12,6 ≤ X < 27,8

Chuva muito Forte (C. M. FORTE) 27,8 ≤ X < 53

Chuva extremamente Forte (E. FORTE) X ≥ 53

Fonte: Com base nos dados do pluviômetro de Ipojuca fornecido pela Apac com uma série de 1957 a

1978/1991 a julho de 2015.

Com base nos resultados encontrados, verificou-se um maior número de ocorrências

de chuvas moderadas em todos os anos analisados (Figura 5.5), superado apenas no mês de

abril por dias de chuva forte. Os dias de chuva extremamente fortes são mais frequentes de

abril a junho, mas chuvas acima do limiar de 53 mm identificaram-se em todos os meses.

Dezembro foi o mês que apresentou a menor ocorrência, e em junho, seguido por maio e abril,

houve as maiores ocorrências. Em agosto, identificaram-se somente dez episódios.

Page 183: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

182

Figura 5.5 – Número de dias que estão entre as categorias Chuva extremamente Fraca, Chuva muito

Fraca, Chuva Fraca, Chuva Moderada, Chuva Forte, Chuva muito Forte e Chuva extremamente Forte

para o município do Ipojuca

Fonte: Com base nos dados do pluviômetro de Ipojuca fornecido pela Apac com uma série de 1957 a 1978/1991

a julho de 2015.

Após a identificação do limiar de chuva acumulada em 24h considerada extrema,

identificaram-se as frequências de ocorrência dos intervalos de chuva de 50-60 mm, 60-70

mm, 80-90 mm, 90-100 mm e >100 mm para cada mês do ano para a série histórica de 1957 a

1978/1991 a julho de 2015 (Figura 5.6). O intervalo com chuvas de 50-60 mm ocorre com

maior frequência do que os demais, principalmente em abril, maio, junho e julho, tendo maior

ocorrência em abril e junho, com 21 e 25 episódios nesses anos.

Figura 5.6 – Gráfico com a frequência de ocorrência dos intervalos de chuva de 50-60 mm, 60-70 mm,

80-90 mm, 90-100 mm e >100 mm por mês para a série de 1941 a 2012 no município do Ipojuca

Fonte: Com base nos dados do pluviômetro de Ipojuca fornecido pela Apac com uma série de 1957 a 1978/1991

a julho de 2015.

Page 184: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

183

Por ser o mês mais chuvoso, junho é o que apresenta o maior número de dias com

chuvas acima de 50 mm, principalmente de chuvas acima de 100 mm, seguido dos meses de

maio e abril. Agosto apresentou maior número de dias com chuvas acima de 100 mm do que

dos demais intervalos. Esse fato mostra o mês de agosto com um mês de ocorrências de

extremos significativos de precipitação.

Os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro quase não apresentaram chuvas

acima de 50 mm, porém, o único dia com chuva acima de 50 mm ocorreu no dia 5 de

dezembro de 2005, que apresentou um acumulado de 138 mm/24h, em 72h choveu 180 mm,

um evento considerado extremo para o mês de dezembro.

Na seção 5.1.4, apresentam-se os impactos provocados pelas chuvas extremas no

município do Ipojuca e destacam-se os eventos mais significativos.

5.1.4 Exemplos de impactos associados aos eventos extremos no município do Ipojuca

Na seção 5.1.3, por meio da análise dos totais anuais, mensais e diários de chuva,

identificaram-se os anos, meses e dias que estiveram dentro da normalidade e os que

estiveram bem abaixo ou bem acima da normalidade; por exemplo, os anos e meses

extremamente chuvosos e os dias com chuvas extremamente fortes, considerados como

eventos raros, que fogem da normalidade, ou seja, eventos considerados extremos ou de alta

magnitude.

No município foram identificados eventos de caráter hidrometeorológicos (chuvas

intensas) acarretando movimentos de massa (deslizamentos, quedas de muro de arrimo, etc.),

inundações e alagamentos.

Visando avaliar os impactos provocados pelos eventos de chuva extrema, analisaram-

se as ocorrências de episódios de inundação, alagamentos, movimentos de massa

(deslizamentos) e queda de muro de arrimo, que foram cadastradas e fornecidas pela Defesa

Civil do município do Ipojuca, dando ênfase às ocorrências de deslizamentos. Assim, nesse

cadastro municipal, consideram-se todas as ocorrências registradas pela Defesa Civil, quer de

grande impacto, quer não, pois a Defesa Civil municipal não classifica os deslizamentos, nem

por tipo nem por dimensão (pequeno, médio e grande porte). Entretanto, a partir da análise do

inventário, verificou-se que os deslizamentos do município são de pequeno port. Sendo assim,

os deslizamentos fornecidos pela Defesa Civil também foram considerados de pequeno porte.

Page 185: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

184

Também se coletaram as informações de eventos mais significativos nos arquivos

digitais do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID), sistema esse ligado à

Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional

(<http://s2id.mi.gov.br/>).

De acordo com o S2ID, registraram-se eventos de Inundação e Enxurradas bruscas em

2000, 2005 e 2010. Os movimentos de massa no município do Ipojuca não entraram nos

cadastros do referido banco devido à baixa magnitude dos deslizamentos; entretanto, nos anos

em que houve enxurradas bruscas, ou de chuvas intensas, muitas ocorrências de

deslizamentos foram cadastradas pela defesa civil municipal.

O ano de 2000 foi considerado extremamente chuvoso estando sob a influência do

fenômeno La Niña, fenômeno esse responsável por uma tendência de aumento de precipitação

na porção leste do Nordeste. Em 2000, consideraram-se chuvosos, muito chuvosos e

extremamente chuvosos 60% dos meses, o que mostra uma boa distribuição das chuvas

durante todo o ano. Podem-se destacar junho e julho, considerados meses extremamente

chuvosos, com totais mensais de 944,4 mm e 1.029,5 mm respectivamente. Mais

precisamente pelas chuvas ocorridas nos dias 31 de julho e 1.º de agosto de 2000, com chuva

acumulada em 24h de 208,2 mm e 270,20 mm, respectivamente, classificadas como chuvas

extremamente forte. Nesses dias o município do Ipojuca decretou Situação de Emergência,

sendo atingidos os bairros de Ipojuca Sede, distrito de Camela, Vila de Porto de Galinhas,

Vila de Rurópolis, Bairro de São Miguel, Vila de Serrambi, Loteamento Canoas, e cerca de

10.000 pessoas foram afetadas.

O ano de 2005 foi considerado seco. Os meses, na maioria, foram classificados como

secos, todavia, as chuvas se concentraram no trimestre JJA (50%), sendo este classificado

como Chuvoso. No dia 1.º e 2 de junho, as chuvas atingiram um montante de 146,3 mm em

48h (Pluviômetro da Usina Salgado) levando à ocorrência de vários pontos de inundação e

alagamentos, por exemplo: Rurópolis (Vila Europa), os bairros de Ipojuca Centro,

Loteamento Antônio Dourado Neto (Campo do Avião), São Miguel, o distrito de Camela e os

Engenhos Gaipó e Caetés, com um total de 2.000 pessoas afetadas, de acordo com o relatório

de Avadan. Todas as áreas de risco foram atingidas levando a uma série de deslizamentos e

alguns induzindo a perda total de residências. Além desses problemas, as chuvas também

causaram vários prejuízos sociais como rompimento de distribuição elétrica e coleta de lixo,

bem como surtos de doença provocados pelo contato da população com as águas poluídas

pelos esgotos.

Page 186: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

185

De 2007 até julho de 2015, os impactos foram identificados utilizando os dados de

ocorrências fornecidos pela Defesa Civil do município do Ipojuca e idas a campo. É

pertinente lembrar que os dados de 2007 a 2013 estavam guardados em papel e durante esta

pesquisa foram transferidos para um banco de dados digital, por isso, podem estar faltando

dados de ocorrências nesses anos. Somente em 2013, a defesa civil do município passou a

registrar diretamente as ocorrências em banco de dados digitais, sendo estes mais confiáveis.

Assim, para alguns anos, não foi possível relacionar os montantes precipitados em 24 horas

com a ocorrência de deslizamentos.

Iniciando-se com o somatório das ocorrências de inundação, alagamentos,

deslizamentos e queda de muros de arrimo, de todos os anos, separados por meses,

analisaram-se as frequências dessas ocorrências para cada mês. Constatou-se, assim, maior

concentração das ocorrências no período chuvoso, como era de se esperar para os meses de

abril, maio, junho e julho (Figura 5.7). Entretanto, janeiro, fevereiro e março também

apresentaram um número significativo de ocorrências, respectivamente 110, 96 e 116. Os

menores quantitativos de ocorrência estão em novembro e dezembro, os quais são

considerados meses secos.

Figura 5.7 – Número total de ocorrências (deslizamentos, inundação, alagamentos e queda de muro de

arrimo) no município do Ipojuca distribuído por meses, para cada ano, de 2007 a 6 de julho de 2015

Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.

Não obstante, esses deslizamentos também podem ser deflagrados por influências

antrópicas como lançamento de águas servidas e esgoto, presença de fossas sépticas, dentre

Page 187: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

186

outros que não precisam, necessariamente, da atuação da chuva no desencadeamento desses

processos.

O ano de 2007 foi considerado um ano com totais anuais dentro da normalidade sob a

influência de um El Niño fraco. Não apresentou nenhum dia com chuvas acima de 100 mm/

24h com precipitações máximas na faixa de 88 mm/24h.

Somente os meses de fevereiro e agosto foram considerados Chuvoso e Muito

Chuvoso. Esse ano apresentou um número de ocorrências bem distribuídas, com destaque

para o mês de janeiro, que esteve um pouco acima da média e com as chuvas concentradas do

dia 1.º a 10 de janeiro, o que levou às quantidades significativas de ocorrências nesse mês.

Os meses que apresentaram maior número de ocorrências de deslizamentos foram os

meses de março (49), abril (45) e maio (34). As ocorrências foram expressivas nos bairros de

São Miguel, Antônio Dourado Neto e centro do distrito de Ipojuca Sede, nas localidades de

Rurópolis e Bela Vista e no distrito de Camela (Figura 5.8).

Figura 5.8 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação, alagamentos e queda de muro

de arrimo) por localidades no município do Ipojuca em 2007

Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.

¹ Bairro Antônio Dourado Neto.

O ano de 2008 apresentou totais anuais dentro da normalidade, mesmo se encontrando

sob a influência de um evento de La Niña forte. Registraram-se nesse ano 162 ocorrências,

com maior número nos meses de maio, abril e março com 30, 20 e 15 ocorrências

respectivamente. Nesse ano identificaram-se 11 dias com chuvas acima de 53 mm/24h.

Somente em março, foram três dias com chuvas acima de 100 mm/24h, os dias 18, 20 e 22

com 105 mm/24h, 108,8 mm/24h e 189 mm/24h respectivamente. Foi um mês considerado

Page 188: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

187

extremamente chuvoso se comparado com as médias de março. Logo, em consequência

dessas fortes chuvas, as ocorrências foram distribuídas do dia 18 a 26. Das 15 ocorrências

identificadas nesse período, foram 14 de deslizamentos e 1 de enchente/inundação, esta última

na localidade de Bela Vista.

Em abril de 2008, as ocorrências se concentraram no início do mês pelo acumulado de

593 mm do dia 18 a 31 de março (Figura 5.9). O total precipitado em abril foi abaixo da

média, porém, as chuvas que ocorreram no mês anterior foram suficientes para deixar o solo

saturado e levar a um maior número de deslizamentos sem a necessidade de ocorrer grande

montante de chuva no dia exato em que ocorreu o deslizamento.

Figura 5.9 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de deslizamentos

por dia em março e abril de 2008 no município do Ipojuca

Fonte: Dados de ocorrência de deslizamentos: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos:

Posto Pluviométrico de Ipojuca (Apac).

Em 28 de abril de 2008, choveu o acumulado de 132,6 mm/24h e em 7 de maio,

choveu mais 60,6 mm/24h. A partir de então, as chuvas foram bastante significativas,

distribuídas em quase todo o mês de maio. Este, por sua vez, foi considerado um mês chuvoso

tendo uma concentração de chuva dos dias 7 a 18 (Figura 5.10). As ocorrências, todas elas de

deslizamentos, foram bem distribuídas durante esse mês.

Page 189: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

188

Figura 5.10 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de

deslizamentos por dia em maio e junho de 2008 no município do Ipojuca

Fonte: Dados de ocorrência: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos: Posto Pluviométrico

de Ipojuca (Apac).

Em 2008, as localidades mais atingidas foram o distrito de Camela, Rurópolis, Bela

Vista e os bairros Ipojuca Centro, Antônio Dourado Neto e São Miguel, localizados no

distrito de Ipojuca Sede (Figura 5.11).

Figura 5.11 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação, alagamentos e queda de muro

de arrimo) por localidades no município do Ipojuca em 2008

Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.

¹ Bairro Antônio Dourado Neto; ² Nossa Senhora do Ó.

Em 2009, cadastraram-se 87 ocorrências em Ipojuca. Esse ano apresentou um total

anual dentro da normalidade, com uma anomalia negativa de precipitação, sob a influência de

um El Niño fraco. Identificaram-se somente 11 dias com chuvas acima de 53 mm / 24h e 2

dias com chuvas acima de 100 mm/24h; esses últimos foram os dias 12 de junho (114,5

mm/24h) e 25 de agosto (120,2 mm/24h).

Page 190: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

189

Os meses que apresentaram maior número de ocorrências foram junho, abril e

fevereiro. Em 30 e 31 de janeiro e 1.º de fevereiro, choveu o acumulado de 141,4 mm/72h, o

que levou a uma sequência de deslizamentos em 30 de janeiro, 2, 4 e 5 de fevereiro. Os meses

de janeiro e fevereiro foram considerados Chuvoso e muito Chuvoso, e o trimestre DJF foi

considerado muito Chuvoso, o único trimestre acima da média de 2009.

No início de março, identificaram-se algumas ocorrências de deslizamentos pelo

acumulado de precipitação no fim de fevereiro e início de março. Abril foi considerado um

mês chuvoso em relação à média, apresentou 20 ocorrências de deslizamentos e 60% delas

ocorreram no dia 22 e uma enchente no dia 24 na localidade de Rurópolis em consequência

do acumulado de precipitação 445,20 mm do início do mês até esse dia.

No mês de junho, das 27 ocorrências, foram 20 no dia 12 de junho (74% das

ocorrências) pelas chuvas intensas (114,5 mm/24h) que precipitaram nesse dia. Em 6 de

julho, choveu o acumulado de 112,4 mm/72h, o que levou à ocorrência de dois deslizamentos

na localidade de Bela Vista. Em agosto, nos dias 25 e 26, choveu o acumulado de 161,2

mm/48h, porém só foi cadastrada uma única ocorrência de deslizamento.

As localidades que mais sofreram impactos em 2009 foram os bairros de São Miguel,

Antônio Dourado Neto e Centro, no distrito de Ipojuca Sede e as comunidades de Rurópolis e

Bela Vista (Figura 5.12).

Figura 5.12 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação, alagamentos e queda de muro

de arrimo) por localidades no município do Ipojuca em 2009

Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.

¹ Bairro Antônio Dourado Neto.

Page 191: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

190

O ano de 2010 apresentou totais anuais de chuva normal, com anomalias negativas de

precipitação em relação à média. Grande parte do ano esteve sob a influência de um El Niño

fraco. Todavia, as temperaturas do Oceano Atlântico Tropical Sul apresentavam-se elevadas,

configurando-se uma fase Negativa do Dipolo do Atlântico. Por isso, mesmo que não se

considerasse um ano chuvoso, apresentou chuvas intensas concentradas em junho, o que

levou a prefeitura do Ipojuca a decretar situação de emergência.

As chuvas mais significativas ocorreram nos dias 5 (109 mm), 16, 17 e 18 de junho,

com um acumulado de precipitação nesses três últimos dias de 299,2 mm/72h, equivalente a

52% do total precipitado em todo mês, acarretando eventos de inundações e enxurradas

bruscas no município do Ipojuca e em vários municípios da Região Metropolitana do Recife e

da Zona da Mata Pernambucana.

De acordo com Girão et al. (2013), nesse evento havia uma confluência de dois

sistemas atmosféricos em atuação, acoplados à ocorrência de duas anomalias sobre os

oceanos, gerando condições favoráveis à instabilidade atmosférica, por exemplo, a atuação de

um Distúrbio Ondulatório de Leste (DOL) sobre a costa leste do Nordeste. Os DOLs

caracterizam-se por chuvas acima de 80 mm/24h, que, para o município do Ipojuca e demais

municípios da RMR, já podem causar sérios transtornos à população.

Esses distúrbios são um sistema meteorológico de mesoescala que ocorrem

normalmente no período de outono/inverno no litoral nordestino, porém o fenômeno que

ocorreu nos três dias especificados atingiu proporções significativas adentrando para oeste do

estado de Pernambuco até o Agreste e atingindo as cabeceiras das Bacias Hidrográficas

localizadas nessa região, como as Bacias do Sirinhaém e Ipojuca. Ainda de acordo com Girão

et al. (2013), esse sistema adquiriu maior energia por meio da circulação de brisa marítima

que se apresentava mais intensa por causa das altas temperaturas do mar na costa leste do

NEB.

Todo o município do Ipojuca sofreu impactos nesse período. A ponte localizada na

PE-60 teve de ser interditada, igualmente trechos da PE-38 que liga a PE-60 a Porto de

Galinhas também teve vários trechos inundados, deixando os moradores de Camela e as

pessoas que queriam regressar ao Recife isoladas. De acordo com a Defesa Civil do

município, contabilizaram-se 1.500 desalojados e 102 desabrigados, com um total de 7.250

pessoas atingidas. Além desses impactos, identificaram-se prejuízos sociais como a ausência

de distribuição de energia elétrica e água, coleta de lixo e cancelamento das aulas por dois

dias segundo o Relatório de Avaliação de Danos/ S2ID.

Page 192: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

191

As Figuras 5.13 e 5.14 trazem a localização do bairro de Ipojuca Centro, uma das

áreas afetadas pela inundação de 2010 e manchas da inundação ainda visualizadas em 2013.

Figura 5.13 – Marcas da enchente que ocorreu em 2010. Exemplos da Rua Cristóvão

José Pimentel próximo ao rio Ipojuca, localizada no distrito Sede do município

Fonte: Google Earth, 2015.

Figura 5.14 – Imagens da Rua José Cristóvão Pimentel (Ipojuca Centro) mostrando as marcas da

última enchente em 2010

Fonte: Coutinho, 26 fev. 2013.

Page 193: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

192

Devido à inexistência de dados de ocorrências da Defesa Civil para este ano, não

foram gerados gráficos de ocorrências mensais e relação dos montantes de chuva e

deslizamentos.

Em 2011, registraram-se 213 ocorrências, concentradas no mês de maio (76) e abril

(58), ou seja, 62% das ocorrências. Foi um ano classificado como Muito Chuvoso e maio e

abril foram meses Extremamente Chuvoso e Muito Chuvoso respectivamente. Neste ano

foram vários desastres que ocorreram em quase todo o Brasil. Contabilizaram-se 12 dias com

chuvas acima de 53 mm/24h concentrados em abril, maio e julho. Em maio, foram 5 dias com

chuvas acima de 53 mm/24h e o único dia com chuva acima de 100 mm / 24h ocorreu no dia

5 desse mês, levando à ocorrência de 14 deslizamentos nesse dia.

A relação entre as ocorrências de deslizamentos e o total diário precipitado pode ser

visualizada na Figura 5.15 para os meses de abril e maio. Nesse período os dados

apresentaram melhor correlação. Abril apresentou maior frequência de ocorrências de

deslizamentos nos dias 11 e 12 e do dia 1.° ao dia 12 teve um acumulado de 162,5 mm de

chuva.

Figura 5.15 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de

deslizamentos por dia em abril e maio de 2011 no município do Ipojuca

Fonte: Dados de ocorrência: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos: Posto Pluviométrico

de Ipojuca (Apac).

Em maio, as chuvas concentraram-se no início e no fim do mês, com destaque para o

acumulado de 102 mm/24h no dia 5. As ocorrências de deslizamentos foram mais

significativas no início do mês, também influenciado pelas fortes chuvas no fim de abril; em 8

dias (29 de abril a 6 de maio), choveu o acumulado de 399 mm. Nos dias 5, 9, 11 e 13 de

Page 194: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

193

maio também foram cadastradas ocorrências de enchentes nas localidades de Rurópolis, Bela

Vista e o bairro de Ipojuca Centro.

O gráfico na Figura 5.16 apresenta as localidades afetadas pelas chuvas. As principais

foram as localidades de Bela Vista e Rurópolis, seguidas dos bairros de Antônio Dourado

Neto, Ipojuca Centro e São Miguel no distrito de Ipojuca Sede, e na Zona Rural, vários

engenhos também foram afetados.

Figura 5.16 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação, alagamentos e queda de

muro de arrimo) por localidades no município do Ipojuca em 2011

Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.

Em 2012, cadastraram-se 101 ocorrências, 100 de deslizamentos e somente uma de

enchente, no dia 10 de abril em Ipojuca Centro, mesmo sendo considerado um ano

Extremamente Seco. O maior número de ocorrências de deslizamentos ocorreu em fevereiro

(23), julho (20), janeiro (19) e junho (15). Quase todos os meses (83%) foram secos a

extremamente secos; somente janeiro e outubro, apresentaram chuvas acima da média.

Identificaram-se apenas 3 dias com chuvas acima de 53 mm/24h e nenhum dia com chuvas

acima de 100 mm/24h. A máxima anual ocorreu no dia 2 de julho com 88,2 mm / 24h. As

chuvas concentraram-se no fim de janeiro, e o montante acumulado nos dias 22, 23 e 24 de

93,4 mm/72h levaram à ocorrência de 13 deslizamentos entre esses dias (Figura 5.17).

As chuvas que ocorreram nos dias 22 a 24 de janeiro de 2012 também provocaram

interrupção da moagem da cana pela Usina Ipojuca, afetando a produção.

Page 195: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

194

Figura 5.17 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de

deslizamentos por dia em janeiro e fevereiro de 2012 no município do Ipojuca

Fonte: Dados de ocorrência: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos: Posto Pluviométrico

de Ipojuca (Apac).

Em junho de 2012, nos dias 19 e 20, choveu o acumulado de 71,40 mm/48h, levando à

ocorrência de deslizamentos nos dias 22 (quatro) e 23 (três). Com as chuvas intensas de 55

mm/24h no dia 28 de junho e 88,20 mm/24h em 2 de julho, ocorreram deslizamentos nos dias

3 (seis), 4 (cinco) e 5 (quatro) conforme a Figura 5.18. Mesmo não sendo considerado um ano

chuvoso e a quadra chuvosa ter sido considerada Extremamente Seca, os eventos de chuvas

concentrados levaram à ocorrência de deslizamentos em 2012.

Figura 5.18 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de

deslizamentos por dia em junho e julho 2012 no município do Ipojuca

Fonte: Dados de ocorrência: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos: Posto Pluviométrico

de Ipojuca (Apac).

Em 2012, mais uma vez as localidades de Rurópolis e Bela Vista, bem como os

bairros de Antônio Dourado Neto, São Miguel e Centro do distrito de Ipojuca Sede foram os

mais afetados (Figura 5.19).

Page 196: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

195

Figura 5.19 – Gráfico do total de ocorrências por localidades no município do Ipojuca em 2012

Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.

O ano de 2013 foi considerado normal, mas com anomalia negativa em relação à

média histórica, ainda sob a influência de um El Niño. Somente quatro dias apresentaram

chuvas acima de 53 mm/24h e a precipitação máxima anual foi de 87 mm/24h, que ocorreu

em 20 de abril. Houve 88 ocorrências de deslizamentos, sendo mais significativas em maio

(24), abril (20) e junho (12). Do dia 20 ao dia 30 (onze dias) de abril, choveu o acumulado de

231,50 mm, levando à ocorrência de dois deslizamentos no dia 29 e quinze deslizamentos em

30 de abril, tendo também ocorrências nos dias 2 e 3 de maio de acordo com a Figura 5.20.

Tais ocorrências concentraram-se na Localidade de Rurópolis e no Centro de Ipojuca Sede.

Figura 5.20 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de

deslizamentos por dia em abril e maio de 2013 no município do Ipojuca

Fonte: Dados de ocorrência: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos: Posto Pluviométrico

de Ipojuca (Apac).

Page 197: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

196

Convém destacar que em 2013 a Defesa Civil agregou as ocorrências do bairro de

Antônio Dourado Neto e Campo do Avião, denominando somente de Campo do Avião

(Figura 5.21).

Figura 5.21 – Gráfico do total de ocorrências de deslizamentos por localidades no município do

Ipojuca em 2013

Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.

O ano de 2014 apresentou os totais anuais de precipitação pluvial dentro da

normalidade. Em abril desse ano, as Anomalias de Temperatura da Superfície do Mar no

Pacífico passaram a ser negativas, evidenciando um El Niño. Os acumulados de chuva

significativos ocorreram em fevereiro, abril, junho, setembro e outubro. Os três primeiros

meses classificaram-se como chuvoso, setembro como muito chuvoso e outubro como

extremamente chuvoso de acordo com as médias estipuladas para esses meses. No ano,

identificaram-se seis dias com chuvas acima de 53 mm/24h e dois dias com chuvas acima de

100 mm/24h, dias 22 de abril (155,7 mm/24h) e 27 de junho (167 mm/24h).

Registrou-se um total de 228 ocorrências sendo 14 de alagamentos e 214 de

deslizamentos no município do Ipojuca em 2014. Todos os meses apresentaram registros,

exceto novembro. Em abril, contabilizou-se o maior número de ocorrências (63), seguido dos

meses de maio (38) e junho (38). Janeiro e outubro também apresentaram um quantitativo de

ocorrências significativas, respectivamente 16 e 15.

A Figura 5.22 relaciona a precipitação acumulada em 24h e as ocorrências diárias de

deslizamentos para abril, maio e junho de 2014. Em abril, as chuvas mais significativas

ocorreram nos dias 21 e 22 com um acumulado de 155,7mm/48h, apresentando somente oito

ocorrências no dia 22 e cinco no dia 23. Entretanto, no dia 30, registrou-se um maior número

Page 198: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

197

de ocorrências, pois além das chuvas intensas nos dias 22 e 23, nos dias 29 e 30 choveu o

acumulado de 119,2 mm/48h, influenciando nas ocorrências também no início de maio.

Em junho, o maior número de ocorrências foi no dia 26, que apresentou somente 22,4

mm/24h e no dia 27 quando atingiu o acumulado de 167 mm/24h. Como a coleta dos dados

dos Pluviômetros da Apac realiza-se pela manhã, às 7h, o montante para o dia 26 foi

realmente baixo, uma vez que as chuvas se tornaram mais intensas a partir das 7h da manhã,

perdendo a intensidade no fim da tarde.

Sendo assim, esse acumulado de chuva só foi registrado no dia 27. Do dia 26 a 28,

choveu o acumulado de 200 mm/72h, conforme apresentado na Figura 5.22. Em outubro, nos

dias 6, 7 e 8, choveu 155,4 mm em 72h, 69% do total precipitado em todo o mês,

desencadeando três deslizamentos no dia 6 e cinco deslizamentos no dia 7.

Figura 5.22 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de

deslizamentos por dia em abril, maio e junho de 2014, no município do Ipojuca

Fonte: Dados de ocorrência: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos: Posto Pluviométrico

de Ipojuca (Apac).

A localidade mais afetada por causa das chuvas intensas em 2014 foi a comunidade de

Rurópolis com 154 ocorrências. Dessas três foram de alagamentos nos dias 30 de abril e 26 de

junho e o restante de deslizamentos, o maior quantitativo em relação aos demais anos (Figura

5.23).

Page 199: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

198

Figura 5.23 – Gráfico do total de ocorrências de deslizamentos e alagamentos por localidades no

município do Ipojuca em 2014

Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.

A partir da Figura 5.24, pode-se visualizar a comunidade de Bela Vista com o córrego

já transbordando no início da chuva que ocorreu em 22 de abril de 2014.

Figura 5.24 – Córrego inundado na comunidade de Bela Vista pelas chuvas no dia

22 de abril de 2014

Fonte: Gegep, 2 abr. 2014.

Em 2015, do início do ano até o dia 6 de julho, choveu 55% em relação à média

pluviométrica total esperada para o município, tendo seis dias com chuvas acima de 53

mm/24h. Este ano encontra-se sob a influência do fenômeno El Niño, que, em junho, chegou

a uma anomalia negativa de -0.6 na região do Niño 3. O Dipolo do Atlântico encontra-se em

Page 200: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

199

sua fase negativa, com as temperaturas do Atlântico Tropical Sul muito mais aquecidas do

que a média, levando a zonas de instabilidade na costa leste do Nordeste.

Contabilizaram-se 213 ocorrências de deslizamentos (185), inundações (10), com

destaque para o dia 04/07, alagamentos (16), dias 25/06 e 05 e 06/07, e queda de muro de

arrimo (2), concentradas nos meses de junho (78), julho (55) e março 18 ocorrências (Figura

5.25). Neste ano as chuvas demoraram a acorrer, tendo chuvas concentradas em março nos

dias 6 a 12 com um acumulado de chuva de 158,6 mm localizadas nos dias 6 (54,9 mm e três

ocorrências) e dia 9 (90 mm com duas ocorrências nesse dia e cinco no dia 10).

Figura 5.25 – Gráfico do total de ocorrências por localidades no município do Ipojuca 2015

Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.

Esse ano foi o que apresentou melhor correlação entre os montantes precipitados e a

ocorrência de deslizamentos conforme a Figura 5.26. Os meses de junho e julho foram os que

apresentaram um número de ocorrências bastante expressivo. Junho foi considerado um mês

chuvoso, em que 63% dos dias apresentaram chuvas acima de 5 mm, sendo mais intensas nos

dias 24, 25 e 26 com um acumulado de 217,2 mm/72h, acarretando 33 deslizamentos no dia

25, 18 no dia 26 e 3 no dia 27, além de pontos de inundação como em Bela Vista e Campo do

Avião.

Nos dias 3, 4 e 5 de julho, choveu o acumulado de 200 mm/72h, o que levou o

município a decretar estado de alerta. Os estragos foram maiores no dia 4 de julho, não só

pela forte intensidade da chuva, mas também porque o solo já se encontrava saturado com as

chuvas que ocorreram nos dias anteriores. Nesse dia Ipojuca foi o município que apresentou o

maior acumulado de precipitação pluvial no estado de Pernambuco. Até as 19h do dia 4, a

Defesa Civil registrou 18 casos de deslizamentos, 13 áreas inundadas e 5 famílias

Page 201: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

200

desabrigadas. Os alagamentos em vários pontos do município foram causados pelo

transbordamento de alguns córregos, por exemplo, o localizado no Campo do Avião. A Figura

5.27 (a e b) representa essa mesma localidade em dias diferentes (2 de fevereiro de 2015 e 4

de julho de 2015).

As localidades mais afetadas pelos eventos extremos de chuva em 2015 até o dia 6 de

julho foram a comunidade de Rurópolis e o bairro de Ipojuca Centro. Esse último

principalmente pela ocorrência de inundações e alagamentos.

Figura 5.26 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de

deslizamentos por dia em abril, junho e julho de 2015 no município do Ipojuca

Fonte: Dados de ocorrência: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos: Posto Pluviométrico

de Ipojuca (Apac).

Figura 5.27 – Fotografia do riacho do Campo do Avião no município do Ipojuca em 2015; a: o córrego

antes da inundação em 2 jul. 2015; b: o córrego inundado em 4 jul. 2015.

Fonte: Gegep, 2015.

De acordo com a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), o evento do dia 4

de julho foi provocado por instabilidades geradas pelo padrão de circulação dos ventos na

b a

Page 202: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

201

baixa troposfera, que favorecem ao maior transporte de umidade do oceano para o continente

e maior instabilidade em todas as camadas da atmosfera pela conjunção de eventos de El Niño

e da fase Negativa do Dipolo do Atlântico.

Souza, Azevedo e Araújo (2012) em trabalho semelhante realizado para a cidade do

Recife-PE também destacam a ocorrência de dias consecutivos de chuvas antecedente a um

dia de Chuva Fraca ou Moderada, com um acumulado superior de 30 mm; podem ocorrer

escorregamentos, além do mais, em dias consecutivos de chuvas anteriores à ocorrência de

Chuvas Fortes ou Muito Fortes os estragos podem ser ainda maiores. Estando de acordo com

o que foi visto no município do Ipojuca, esses autores ainda destacam que os danos causados

à sociedade estão associados às condições sociais, econômicas, além da ocupação

desordenada, sendo essa última verificada no município do Ipojuca como o principal agente

efetivo imediato ou preparatório que desencadeia os movimentos de massa.

A análise dos dados da relação entre os acumulados de chuva e a ocorrência de

deslizamentos mostraram que a análise da chuva antecedente ao evento, seja ela em 48h, 72h,

seja mais, são extremamente relevantes para se identificar um limiar de precipitação que

poderá deflagrar um deslizamento. Assim, a análise da precipitação acumulada é fundamental

para identificar a chuva crítica, conforme foi identificado no trabalho desenvolvido por

Bandeira e Coutinho (2015) que analisaram a chuva crítica em três municípios da RMR

(Camaragibe, Jaboatão dos Guararapes e Recife). No entanto, vale a pena destacar que a

identificação da chuva crítica não foi objetivo deste trabalho, mas que, com base nos dados

existentes para o município do Ipojuca, serão desenvolvidos futuros trabalhos nessa temática.

Na seção 5.2, discutem-se especialmente os processos de movimentos de massa que

ocorrem no município do Ipojuca, apresentando os fatores condicionantes e a localização de

tais processos, originando o mapa de inventário.

5.2 Inventário de processos de movimentos de massa e seus condicionantes

Os condicionantes dos movimentos de massa podem ter origem natural, ligado aos

aspectos do clima, vegetação, geologia e geomorfologia ou origem antrópica, associados às

intervenções que o homem realiza sobre o meio natural. É, portanto, visando à identificação

dos diversos condicionantes desses processos que esta seção volta-se para a apresentação de

uma tipologia dos processos identificados no município do Ipojuca, associando-os aos

aspectos ambientais (geologia/litologia, unidades geomorfológicas e variáveis morfométricas,

Page 203: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

202

unidades de solos e uso e cobertura da terra), visando maior compreensão da dinâmica dos

processos de movimentos de massa no município.

Os primeiros resultados a serem apresentados basearam-se na identificação dos

processos por imagens de satélite e a obtenção das coordenadas em campo, bem como dos

pontos identificados no mapeamento de vulnerabilidade e risco realizado pelo Gegep. Os

dados fornecidos por este último relacionam-se com os deslizamentos identificados nas áreas

urbanas.

Identificaram-se feições referentes aos processos de erosão linear (sulcos, ravinas e

voçorocas) representadas nas Figuras 5.28 e 5.29, predominantemente nas áreas a oeste do

município sobre o embasamento cristalino e ocupadas pela cultura de cana-de-açúcar; do tipo

movimentos gravitacionais de massa, como os deslizamentos translacionais, mais recorrentes

nas áreas de ocupação desordenada (Figura 5.30), e circulares localizado sobre a Formação

Cabo, conforme apresentado na Figura 5.31, movimentos do tipo rastejo (Figura 5.32)

localizados nas áreas de taludes artificiais também sobre a Formação Cabo; por fim, áreas

com afloramento rochoso, representados na Figura 5.33 (essas áreas são consideradas com

potencial de queda de blocos. Nessa classificação também foram agregados os complexos de

tálus, representados na Figura 5.34). Essas últimas áreas são predominantes na porção oeste

do município sobre áreas do embasamento cristalino.

Figura 5.28 – Processos erosivos como ravinas e voçorocas em áreas ocupadas por rochas cristalinas

na porção oeste do município do Ipojuca.

Fonte: Coutinho (2014).

(A) e (B) representam voçorocas.

A B

Page 204: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

203

Figura 5.29 – Processos erosivos como ravinas e voçorocas em áreas ocupadas por rochas cristalinas

na porção oeste do município do Ipojuca.

(C) Ravinas desenvolvidas no caminho da cana; (D) Sulcos desenvolvidos nas áreas de encostas côncavas –

convergentes

Figura 5.30 – Exemplo de deslizamento translacional na comunidade de Bela Vista

Fonte: Gegep/UFPE, 2 de jun. 2015.

C

A

D

Page 205: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

204

Figura 5.31 – Exemplo de processo de deslizamento circular sobre litologia da Formação Cabo

próximo da PE-60

Fonte: Gegep/UFPE, 2014.

Figura 5.32 – Exemplo de processo de rastejamento (creep) sobre litologia da Formação Cabo

localizada na porção nordeste do município do Ipojuca

Fonte: Gegep/UFPE, 14 jan. 2014.

Page 206: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

205

Figura 5.33 – Exemplo de blocos isolados (matacões) em áreas ocupadas rochas cristalinas

na porção oeste do município do Ipojuca, áreas com potencial de queda de blocos

Fonte: Gegep/UFPE, 19 abr. 2013.

Figura 5.34 – Exemplo de áreas ocupadas por complexo de tálus na porção oeste do município

do Ipojuca.

Fonte: Gegep/UFPE, 19 abr. 2013.

A) Afloramentos rochosos identificados nas porções mais elevadas a oeste do município do Ipojuca; (B)

Complexos de Tálus.

Assim, foram identificados um total de 838 feições no município, sendo os

ravinamentos, os predominantes, um total de 629, representando 75% dos processos, seguidos

pelos deslizamentos translacionais com 125, representando 15%, os afloramentos rochosos

A B

Page 207: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

206

contabilizados em 69,9% e os voçorocamentos, com apenas 15 cicatrizes, representando 2%

dos processos. Desses processos, localizam-se 119 na área piloto de Ipojuca Sede (18% do

total), sendo 77 ravinas, 41 deslizamentos e 1 voçoroca. Muitos dos deslizamentos localizam-

se nas áreas de Ipojuca Sede, Rurópolis e Bela Vista, associados às formas de ocupação

dessas localidades. A distribuição desses processos podem ser verificados na Figura 5.35.

Figura 5.35 – Mapa com a distribuição de processos no município do Ipojuca

Fonte: Coutinho (2014)

Na relação dos processos com os fatores condicionantes, as áreas de afloramento

também entraram na análise de inventário de movimentos de massa, como áreas com

potencial de queda de blocos. Sendo assim, para facilitar a análise, foram classificadas

somente como afloramento.

Page 208: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

207

5.2.1 Geologia (Litologia)

Na seção 3.5.2, já foi feita uma descrição das unidades Litológicas identificadas no

município do Ipojuca e o mapa geológico está representado na Figura 3.9. Analisando-se

somente a área piloto de Ipojuca Sede, 48% da área é ocupada por Sedimentos Fluviolacustres

(Qdfl), 18% por Biotita-granito (Ny3) e 9% pela Formação Cabo (Kc). Essas são as unidades

mais expressivas na área. Verifica-se também 7% da área ocupada por Depósitos Aluviais,

praticamente os da Planície Aluvial do rio Ipojuca e 4% pelo Complexo Gnáissico-

Migmatítico; essa última sob a comunidade de Rurópolis. Essa localidade, contudo, encontra-

se na transição de três litologias, Qal, Px e Ny3, o que pode acarretar maior suscetibilidade e

frequência de deslizamentos, conforme será visto mais adiante.

A Figura 5.36 apresenta o percentual de ocorrência de cada processo em cada classe

litológica. Por ter maior quantidade e distribuição espacial, identificaram-se os processos de

ravinamento em várias litologias, estando 49% delas (305) sobre Biotita granito, 24% (152)

sobre o Complexo Gnáissico e 10% (62) sobre a Formação Cabo. Identificaram-se também 5

processos de ravinamento na Formação Algodoais e 4 na Formação Barreiras.

Figura 5.36 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada classe

litológica no município do Ipojuca

Legenda: ka – Formação Algodoais; kc – Formação Cabo; Kiig – Formação Ipojuca (Ignibrito); Kirl – Formação

Ipojuca (Traquitos/Riolitos); Nqb – Formação Barreiras; Ny2 – Biotita Granito Porfirítico; Ny3 – Biotita

Granito; Ny5 – Quartzo Sienito; Px – Complexo gnáissico-migmatítico.

Page 209: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

208

Em relação aos afloramentos, concentram-se na porção oeste do município sobre o

embasamento cristalino, onde 54% (37) foram identificados nas áreas de Biotita granito-

porfirítico, 36% (25) em áreas de Biotita granito e 10% nas áreas ocupadas pelo Complexo

gnáissico-migmatítico.

Os deslizamentos foram identificados 43% (53) nas áreas de Biotita Granito Porfirítico

e 33% (40) em áreas formadas pelo Complexo Gnáissico-Migmatítico. Também se destacam

as áreas ocupadas pela Formação Cabo com 8 deslizamentos, a Formação Barreiras com 7 e a

Formação Algodoais com 3.

Identificaram-se voçorocas nas áreas do embasamento cristalino (Biotita Granito e

Biotita Granito Porfirítico) e em trechos sobre Formação Barreiras.

Percebe-se maior densidade de todos os processos na porção oeste do município

ocupada pelas litologias do embasamento cristalino. Essa litologia por si só não apresenta

elevada suscetibilidade a movimentos de massa, porém, em consequência dos processos de

intemperismo químico vigente no município, apresentam espessos mantos de cobertura

superficial, com zonas de diferentes resistências e permeabilidades. Tal fato poderá ser

verificado nos tipos de solo gerados nessa região.

As litologias da Bacia Pernambuco como a Formação Cabo, Formação Barreiras e

Formação Algodoais também merecem destaque. Ocorrendo em significativos pontos do

município do Ipojuca a Formação Cabo (Kc) por ser suportada por blocos, tem baixa coesão e

alta permeabilidade, facilitando a percolação da água, posterior, levando à desestabilização da

rocha e consequentemente maior suscetibilidade ao deslizamento. Além disso, a existência de

cortes desordenados dos morros dessa formação aumenta a sua instabilidade.

A Formação Barreiras, por sua vez, é composta por arenitos e siltitos (principalmente),

os quais são bastante suscetíveis a erosão e deslizamentos já que são bastante friáveis e com

alternância de camadas com composição granulométrica e mineralógica distintas (Figura 5.37

e 5.38).

A Formação Algodoais, encontrada na porção leste do município na divisão entre o

embasamento cristalino e a Bacia Pernambuco, em pequenos trechos de norte ao sul, também

apresentam solos arenoargilosos suscetíveis à erosão (Figura 5.39).

Page 210: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

209

Figura 5.37 – Processos erosivos desenvolvidos na Formação Barreiras. Estrada entre

Porto de Galinhas e Sirinhaém, município do Ipojuca

Fonte: Gegep/UFPE, 15 jan. 2014.

Figura 5.38 – Exemplo de processos erosivos e deslizamentos desenvolvidos em áreas

de Formação Barreiras. Estrada que liga Porto de Galinhas a Sirinhaém sentido sul

Fonte: Gegep/UFPE, 15 jan. 2014.

Erosão

Erosão e pequenos

deslizamentos

Page 211: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

210

Figura 5.39 – Exemplo de processos erosivos sobre a Formação Algodoais

Fonte: Gegep/UFPE, 15 jan. 2014.

Gonçalves (2014) ressalta que, embora presentes, as estruturas geológicas,

aparentemente não apresentam nenhum tipo de influência nos deslizamentos, deslocamentos

de massa que ocorrem no município do Ipojuca.

5.2.2 Unidades geomorfológicas e variáveis morfométricas

As unidades geomorfológicas, assim como as variáveis morfométricas, foram

elaboradas para as duas escalas de análise, para todo o município do Ipojuca (1:25.000) e para

a área piloto de Ipojuca Sede na escala 1:10.000. Serão comparados, portanto, a frequência

dos processos para as classes de unidades geomorfológicas, declividade, formas de vertente e

aspecto nas duas escalas.

Essas unidades geomorfológicas presentes no município do Ipojuca na escala 1:25.000

e na área piloto de Ipojuca Sede, na escala 1:10.000, já foram descritas na seção 3.5.3. Devido

à escala (1:10.000), as unidades geomorfológicas identificadas na área piloto de Ipojuca Sede

foram mais detalhadas e pôde-se visualizar um maior número de rampas de colúvio e vales

colmatados, sendo essas rampas consideradas áreas de deposição críticas, uma vez que os

colúvios são sedimentos não consolidados e instáveis mesmo apresentando baixas

declividade. Já os vales colmatados, são consideradas áreas de atingimento tanto por

deslizamentos ou por possíveis fluxos de detritos.

Para o município do Ipojuca, os processos de movimentos de massa predominam nas

áreas de colinas, que são as áreas de relevo mais acidentadas no município, principalmente

nas áreas de colinas com topos arredondados e vales abertos, colinas com topos arredondados

e vale côncavos e colinas com topos arredondados e vales encaixados. Ravinas, Afloramentos

Page 212: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

211

e Voçorocas também foram expressivos nas áreas de colinas com topos aguçados e vales

encaixados, principalmente os afloramentos (Figura 5.40).

Figura 5.40 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada classe de

Unidades Geomorfológicas no município do Ipojuca

Fonte: Dados da pesquisa.

Legenda: Ac – Colúvio; Afm – Acumulação Fluviomarinha; Afv – Fundo de Vale; Apf – Planície Fluvial; Dgv –

Colinas com topos aguçados e vales encaixados; Dra – Colinas com topos arredondados e vales abertos; Dru –

Colinas com topos arredondados e vales côncavos; Drv – Colinas com topos arredondados e vales encaixados.

As áreas de colinas com topo arredondado e vales abertos (Dra) apresentaram o maior

número de ravinas e deslizamentos, respectivamente 95% e 61%. Os deslizamentos também

foram expressivos nas áreas de colinas com topos arredondados e vales côncavos (29%), que

são áreas com maiores declividades (Figura 5.41).

Figura 5.41 – Quantidade e percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada

classe de Unidades Geomorfológicas da área piloto de Ipojuca Sede, município do Ipojuca

Fonte: Dados da pesquisa.

Ravinas Deslizamentos

Page 213: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

212

Em Ipojuca 55,5% da área do município é ocupada por relevo plano de 0° a 7°,

16,83% por relevo suave-ondulado (11° a 17°), 14,85% de relevo ondulado (17° a 27°), 10%

por declividades entre 7° a 11° e 2% com relevo forte-ondulado (27° a 45°). Declividades

acima de 45° foram raras (Figura 5.42). Já na área piloto de Ipojuca, predomina o relevo

plano (79%), seguido das classes de 11 a 17° e 17° a 27° ambas com 7%. Poucas áreas de

relevo forte-ondulado (2%) e quase não têm representatividade as áreas com declividades

maiores do que 45°.

Figura 5.42 – Mapa de declividade do município do Ipojuca na escala 1:25.000

Fonte: Coutinho (2014)

A Figura 5.43 apresenta o percentual de ocorrência dos processos em relação às

classes de declividade. Percebe-se que há maior concentração das ravinas nas classes 11° a

17° e 17° a 27° principalmente nessa última classe. Identificaram-se processos nas áreas com

declividades entre 0° e 7°, provavelmente, por serem áreas limites de uma classe maior e em

função da escala.

Page 214: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

213

Muitos dos deslizamentos se identificaram em áreas urbanas que apresentam uma

baixa declividade se analisados somente pelas curvas de nível, mas que passaram por

processos de corte/aterro de encostas para a construção de moradias. Também se

identificaram pequenos deslizamentos em caminhos feitos para o escoamento da cana e em

taludes nas rodovias.

Figura 5.43 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada classe de

declividade no município do Ipojuca

Fonte: Dados da pesquisa.

De acordo com o que foi exposto para todo o município e na área piloto de Ipojuca

Sede, os processos de ravinamentos e deslizamentos predominam nas declividades de 17° a

27° (46% e 44%) e 27° a 45° (27% e 22%), seguidos das declividades de 11° a 17° (14% e

12%), como pode ser visualizado na Figura 5.44. Os processos identificados nas baixas

declividades localizam-se, na maioria, nas áreas urbanas onde houve modificações no relevo

com corte de barreiras para a construção de moradias ou outro tipo de intervenção antrópica.

Figura 5.44 – Quantidade e percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada

classe de declividade no município do Ipojuca

Fonte: Dados da pesquisa.

Ravinas Deslizamentos

s

Page 215: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

214

A junção da curvatura vertical e da curvatura horizontal deu origem às três classes de

curvatura, a saber: côncava/convergente, retilínea/planar, convexa/divergente. Predominam

para as duas escalas a classe retilínea/planar, respectivamente 41% e 71% (Figura 5.45). Na

área piloto de Ipojuca Sede, as vertentes retilíneas/planares predominam, corroborando as

formas de relevo de acumulação, como os depósitos de planícies. As colinas, portanto,

localizam-se na porção oeste da área, sendo nessa unidade onde se concentram as ocupações

urbanas e cultura de cana-de-açúcar. As encostas côncavas/convergente são mais suscetíveis

aos processos e ocupam 28% e 14% da área do município e da área de Ipojuca Sede

respectivamente.

As encostas convexas/divergentes são mais expressivas para as duas escalas do que as

anteriores, característico do tipo de relevo de colinas dessa região, ocupando 31% da área do

município e 16% da área de Ipojuca Sede.

Figura 5.45 – Mapa de curvatura da Área Piloto de Ipojuca Sede, município do Ipojuca

Fonte: Gegep/UFPE (2015)

Page 216: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

215

As Figuras 5.46 e 5.47 apresentam o percentual de ocorrência dos processos para cada

classe de curvatura para o município do Ipojuca e a área piloto de Ipojuca Sede. Os processos

predominaram nas encostas côncavas/convergentes e, em seguida, nas encostas

convexas/divergentes, com diferenças pouco expressivas entre elas. O que revela que as

encostas convexas/divergentes, representando espessos mantos de alteração das rochas do

embasamento cristalino associadas às mudanças de uso e cobertura da terra, como a retirada

da vegetação para o cultivo de cana-de-açúcar, vêm agravando e levando à ocorrência de

ravinas, deslizamentos e voçorocas nessas encostas, principalmente próximos aos caminhos

para o escoamento da cana-de-açúcar, em razão de uma mudança de nível e, por conseguinte,

mudança na direção do fluxo da água. Vários caminhos entre o cultivo de cana-de-açúcar

tornam-se verdadeiros rios quando da ocorrência de uma chuva moderada.

Figura 5.46 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada classe de

curvatura no município do Ipojuca

Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 5.47 – Quantidade e percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada

classe de curvatura na área piloto de Ipojuca Sede no município do Ipojuca

Fonte: Dados da pesquisa.

Ravinas Deslizamentos

Page 217: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

216

Um ponto significativo a ser considerado em relação à geomorfologia e às formas da

encosta é a elevada densidade de cabeceiras de drenagem (côncavas) no município do

Ipojuca. Mais importantes são as ocupações desordenadas nessas áreas. Por exemplo, as

ocupações na localidade do Campo do Avião (Figura 5.48), no bairro de Antônio Dourado

Neto e na comunidade de Rurópolis (Figura 5.49). Além dos outros fatores predisponentes

comentados anteriormente (geologia e declividade), a elevada densidade de ocupação nessas

áreas acarreta maior frequência de ocorrência de movimentos de massa nessas duas

localidades.

Figura 5.48 – Ocupação desordenada em áreas de cabeceira de drenagem no bairro de Antônio

Dourado Neto, Ipojuca Sede, município do Ipojuca

Fonte: Google Earth, 2015.

Legenda: A linha vermelha corresponde à área de cabeceira de drenagem.

Page 218: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

217

Figura 5.49 – Ocupação desordenada em áreas de cabeceira de drenagem na localidade de Rurópolis,

Ipojuca Sede, município do Ipojuca

Fonte: Google Earth, 2015.

Legenda: A linha vermelha corresponde a área de cabeceira de drenagem

5.2.3 Unidades de mapeamento de solos

Uma descrição mais detalhada das principais classes contidas nas Unidades de

Mapeamento de Solos (UMS) identificadas no município do Ipojuca foi realizada na seção

3.5.4 e são importantes para a fundamentação dos resultados aqui apresentados.

Com a análise do percentual de ocorrência dos processos e as classes de UMS (Figura

5.50) para o município do Ipojuca, a maior concentração de todos os processos foi na Unidade

LA9, que ocupa o maior percentual de área no município e apresenta grandes proporções de

Latossolo e Argissolo, seguidas das unidades PA’4, PA’7, PV2, PV3 e PV6 com maiores

percentuais de Argissolo, de acordo com o exposto no Quadro 3.1, seção 3.5.4.

Um percentual de ocorrência significativo de Ravinas em Áreas de Gleissolo (G2) é

devido à escala do mapa de unidades de mapeamento de solo (1:100.000) uma vez que muitas

ravinas se configuram uma ligação no sistema encosta/canal. Chama-se a atenção para o fato

Page 219: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

218

de que nenhum ajuste para escala 1:25.000 foi realizado para diminuir essas incongruências

quanto à escala.

Figura 5.50 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada classe unidade

de mapeamento de solos no município do Ipojuca

Fonte: Dados da pesquisa.

Em números, as ravinas representam 38% (240) das áreas ocupadas por LA9, 23%

(144) das áreas ocupadas por PA’4, 12% por PA’7 e 10% em G2. Os afloramentos, por sua

vez, concentram-se (67%) nas áreas compostas pela Unidade LA9 (Latossolo). Os

deslizamentos também se apresentam mais numerosos nas áreas de LA9, seguidos de PA’7

(16%) e PV2 (14%) e as voçorocas com 40% na unidade LA9, 27% na PA’7 e 13% na

unidade PA4.

A unidade LA9 apresenta 40% do seu limite ocupado por Latossolo Amarelo com

textura argilosa a muito argilosa; 40% por Argissolo Amarelo e Vermelho Amarelo laterítico

e não laterítico, de textura média e argilosa e muito argilosa, ambos Álicos e Distróficos; e

20% das áreas ocupadas por Gleissolo e Cambissolo.

Os primeiros são solos estáveis e uniformes no conjunto de suas propriedades e com

boa permeabilidade tornando-os com baixa suscetibilidade a erosão, ocupam as áreas do topo,

com relevo suave a ondulado. Os Argissolos apresentam significativa diferença textural entre

os horizontes, que os tornam suscetíveis aos processos erosivos durante as chuvas, ocupam as

áreas de encosta; e os Gleissolos as áreas de várzea.

Page 220: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

219

A unidade PA’7 é composta de 35% de Argissolo Amarelo e Vermelho Amarelo

Laterítico e não Laterítico de textura média a argilosa; 25% de Argissolo Amarelo e

Vermelho Amarelo Plíntico e não Plíntico de textura arenosa a média e argilosa; 25% de

Latossolo Amarelo Álico e Distrófico; e Gleissolo e Cambissolo (15%). Os Argissolos

presentes nessa unidade apresentam elevada suscetibilidade à erosão.

A unidade PA’4 constitui-se por 60% de Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo

Álico e Distrófico, Plíntico e não Plíntico de textura arenosa a média e argilosa e 40% de

Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico de textura média a argilosa. Ambos apresentam alta

suscetibilidade à erosão. A Unidade PV2 é composta de 50% Argissolo Vermelho-Amarelo

Tb Distrófico de textura média e argilosa; 30% de Argissolo Vermelho-Amarelo Tb e Ta

Álico e Distrófico de textura média a argilosa; e 20% de Cambissolo.

Os Argissolos presentes apresentam elevado teor de argila de atividade alta, tornando-

os extremamente suscetíveis à erosão.

De tal modo, juntando todas as classes, as colinas da área piloto de Ipojuca Sede

compõem-se, predominantemente, por Argissolo seguida de Latossolo. Os processos ocorrem

predominantemente em áreas compostas por Argissolos, os quais se apresentam suscetíveis

aos processos de movimentos de massa, principalmente pela concentração de águas pluviais

ou servidas. Os resultados do reconhecimento morfológico dos solos em campo validaram o

que foi exposto anteriormente.

Todos os perfis analisados eram compostos predominantemente por Argissolo, com

diferenças texturais significativas (horizonte superficial A arenoargiloso e B argiloso) nas

áreas de encosta e Latossolo Amarelo de textura mais homogênea nas áreas de topo.

Apresentam-se alguns exemplos de perfis analisados, que ajudaram nessa validação e

no ajuste dos limites do mapa de unidades de mapeamento de solos.

O Perfil 01, localizado em um corte na estrada próxima à localidade de Bela Vista com

litologia de origem Biotita-granito, está de acordo com as características indicadas de um

Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo Plíntico. Representa um solo bem drenado,

moderadamente pedregoso e ligeiramente rochoso, com diferenças texturais entre os

horizontes, com horizonte superficial A arenoargiloso B argiloso (Figura 5.51).

O Perfil 02 localiza-se próximo da Rodovia PE-38 na entrada para Nossa Senhora do

Ó, por trás da comunidade de Rurópolis, sobre o Complexo Gnáissico-Migmatítico.

Representa a UMS LA9 – Latossolo Amarelo + Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo.

Page 221: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

220

Localizado na meia encosta apresenta características dos Argissolos com o horizonte A

arenoargiloso e o horizonte Bt argiloso, o que acarreta alta suscetibilidade a movimentos de

massa, predominando no local erosão do tipo linear e laminar (Figura 5.52).

Figura 5.51 – Perfil 01 representando um

Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo

Plíntico

Fonte: Coutinho (2014)

Figura 5.52 – Perfil 02 representando um

Argissolo Vermelho-Amarelo

Fonte: Coutinho (2014).

Page 222: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

221

O Perfil 03 localiza-se na porção norte da Área, próximo à Refinaria Abreu e Lima.

Representa a UMS PV2 – Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico Alítico Epiredóxico de

textura muito argilosa, sobre litologia da Formação Cabo (Figura 5.53).

Figura 5.53 – Perfil 03 representando um

Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico

Expiredóxico

Fonte: Coutinho (2014).

O Perfil 04 localiza-se na Rodovia PE-42 sentido Ipojuca-Recife. Representa a UMS

G2 – Gleissolo + Cambissolo. O perfil analisado localizava-se na porção superior da encosta,

apresentando as características de um Latossolo Vermelho-Amarelo com horizonte superficial

Ap com textura argiloarenosa, um horizonte B latossólico argiloso e um BC argiloarenosa

(Figura 5.54), sobre litologia de origem biotita-granito.

Page 223: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

222

Figura 5.54 – Perfil 04 representando um

Latossolo Vermelho-Amarelo

Fonte: Coutinho (2014)

O perfil 05 localiza-se na comunidade de Rurópolis com litologia composta pelo

Complexo Gnáissico-Migmatítico. Localiza-se na porção superior da encosta e está

representada no mapa de UMS pelo G2 – Gleissolo + Cambissolo –, todavia as características

identificadas se aproximam de um Latossolo Vermelho-Amarelo com textura argilosa, bem

drenado com erosão laminar moderada a forte. Há presença de rocha alterada na profundidade

de 115 cm a 260 cm (proporcionalmente ainda se caracteriza como horizonte de solo pela

pouca quantidade de rocha).

Os perfis 06 a 08 localizam-se na comunidade de Rurópolis sobre a Litologia do

Complexo Gnáissico-Migmatítico e sobre a UMS LA 9 – Latossolo Amarelo + Argissolo

Amarelo e Vermelho-Amarelo. Nessa localidade abriram-se perfis na alta, média e baixa

encosta. As características identificadas no perfil localizado no topo da encosta indica uma

variação textural com horizontes argiloarenosos a argiloso e os horizontes subjacentes muito

argilosos, predominando a erosão laminar moderada.

Na média encosta, as diferenças texturais apresentaram-se mais significativas ao longo

do perfil com horizontes superficiais AP e Ab franco-arenoso e os horizontes BT muito

argilosos e com presença de material siltoso a partir do sexto horizonte, o que acarreta maior

Page 224: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

223

suscetibilidade à erosão. Já na porção inferior da encosta, o perfil apresentou uma textura

predominantemente argilosa, com variação entre o primeiro muito argiloso, o segundo franco-

arenoso e os subjacentes muito argilosos.

Com base na análise morfológica dos solos em campo, pôde-se fazer o ajuste

necessário no mapa de unidades de mapeamento de solos a ser usado no modelo de

suscetibilidade para a área piloto de Ipojuca Sede na escala 1:10.000.

Após esse ajuste, os processos de ravinamentos concentraram-se nas UMS PV2

(39%), seguidas da LA9 (25%). Já os deslizamentos, concentraram-se na UMS LA9 (21%) e

PV2 (19%) (Figura 5.55).

Figura 5.55 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada classe de

Unidades de Mapeamento de Solos na área piloto de Ipojuca Sede, no município do Ipojuca

Fonte: Dados da pesquisa.

O mapa de unidades de mapeamento de solos atualizado pode ser visualizado na

Figura 5.56.

Os tipos de solos formam-se em função da litologia, do relevo e do clima local. Assim,

as litologias representadas pelo embasamento cristalino são responsáveis pela formação dos

Latossolos e Argissolos, com elevados teores de argila. A declividade e as formas da encosta

influenciam na velocidade do escoamento superficial e na direção do fluxo podendo

agravar/diminuir os processos de movimento de massa. No entanto, tais agentes considerados

predisponentes intrínsecos ao meio podem ser modificados devido às ações antrópicas.

Page 225: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

224

Figura 5.56 – Mapa de Unidades de Mapeamento de Solos ajustado a escala 1:10.000 para a área

piloto de Ipojuca Sede, município do Ipojuca

Fonte: Gegep/UFPE (2015)

Desse modo, além da suscetibilidade natural à ocorrência de erosão do tipo linear –

sulcos, ravinas e voçorocas –, deslizamentos e potencial de queda de blocos (presença de

afloramentos rochosos), muitas ocorrências estão bastante correlacionadas com o tipo de uso

da terra, que será mais bem discutido na seção 5.2.4.

5.2.4 Uso e cobertura da terra no município do Ipojuca

Na seção 3.2, apresentaram-se os aspectos socioeconômicos e a história de ocupação

do município do Ipojuca, o que deixou claro como uso preponderante durante muitos anos o

cultivo da cana-de-açúcar, extremamente relacionado com a importância desse município no

setor sucroalcooleiro. Esse fato seguiu os padrões de ocupação das colinas do litoral e Zona

da Mata de Pernambuco, bem como dos municípios da Região Metropolitana do Recife.

Page 226: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

225

Até os dias atuais, o município do Ipojuca é dominado pelo cultivo da cana-de-açúcar,

que ocupa 60,2 % da área total do município, onde se encontram instaladas duas importantes

usinas, a Usina Ipojuca, localizada próximo ao distrito Sede e a Usina Salgado, localizada

próximo do distrito de Nossa Senhora do Ó, que, com a Usina Trapiche localizada no

município de Sirinhaém, têm seus engenhos distribuídos por todo o município do Ipojuca.

Essa conjuntura provocou uma concentração da população nos núcleos urbanos dos

três principais distritos: Ipojuca Sede, Nossa Senhora do Ó e Camela. As Zeis de Rurópolis e

Bela Vista surgiram ao longo da PE-60, próximo ao distrito de Ipojuca Sede e à entrada para a

PE-38, respectivamente como áreas de ocupação desordenada (assentamentos precários). No

entanto, a expansão do Distrito Industrial e Portuário de Suape vem modificando esse quadro,

e grandes mudanças já estão sendo verificadas no eixo de conectividade de produção

industrial.

Por meio do mapeamento do uso e cobertura da terra no ano de 2010, identificaram-se

10 classes de uso para o município do Ipojuca na escala 1:25.000, a saber: Áreas Industriais

Comerciais ou Transporte, Áreas Urbanizadas, Corpos d’Água, Culturas Permanentes,

Culturas Temporárias (cana-de-açúcar), Espaços abertos com pouca ou nenhuma cobertura,

Florestas, Mineração e Terras Úmidas Interiores (Mangue).

Áreas Industriais comerciais ou transporte, que incluem as unidades industriais e

comerciais, as redes viárias, ferrovias e espaços associados, concentram-se no extremo

nordeste do município e ocupam 17 km2, correspondente a 3% da região. Estão vinculadas às

usinas de cana-de-açúcar, estabelecimento de ensino e pesquisa e, principalmente, com

relação ao Complexo Portuário de Suape.

As Áreas Urbanizadas, considerando a área urbana contínua (centros urbanos) e

descontínua (habitações unifamiliares e assentamentos informais) ocupam 13 km2 (2%). Os

centros urbanos representam-se por espaços compostos pelos núcleos urbanos dos distritos de

Ipojuca Sede, Nossa Senhora do Ó e Camela, pelas áreas urbanizadas das praias de Porto de

Galinhas, Serrambi e Toquinho e por loteamentos na orla entre essas praias. Os assentamentos

informais representam-se pelas Zeis de Rurópolis e Bela Vista e por pequenas áreas ao longo

das rodovias. As habitações unifamiliares representam alguns pequenos vilarejos próximos

aos engenhos de cana-de-açúcar.

Page 227: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

226

Os Corpos d’Água, concentrados principalmente no litoral, representam 16 km2 (3%)

da área, e neles estão inclusos os reservatórios, como as represas, diques e barragens, além

dos rios, lagos e lagoas.

As Culturas Permanentes incluem o cultivo de frutas, que pode ser representado pelos

coqueirais, representam 16 km2 (3%), com maior concentração no litoral e extremo norte do

município. As Culturas Temporárias estão representadas pela cana-de-açúcar, que

correspondem a 316 km2 (60%) do município (Figura 5.57).

Figura 5.57 – Cultivo de cana-de-açúcar localizado nas colinas da porção oeste

do município do Ipojuca

Fonte: Coutinho (2014).

As áreas ocupadas por espaços abertos, com pouca ou nenhuma cobertura, englobam

as áreas de solo exposto (solo exposto para construção, solo exposto por erosão e praias),

ocupam 5 km2 (1%) do município. Apresentam-se espalhadas por todo o município, mas há

uma predominância na porção norte das áreas de solo exposto para construção nas

proximidades do Complexo Industrial de Suape e na porção sudeste nas áreas ocupadas pelas

formações Algodoais e Barreiras.

As áreas de Florestas compostas pelas Formações Florestais (Mata, Mata Ciliar e

Restinga) ocupam 68 km², 13% da área do município. As matas (resquícios de mata atlântica)

e matas ciliares encontram-se espalhadas pelo município em pequenas porções entre as áreas

de cana-de-açúcar.

São pouco expressivas as áreas ocupadas por mineração (1 km²), mas no município do

Ipojuca existem dois pontos importantes de extração a “céu aberto”. Uma área considerada

Page 228: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

227

como área de empréstimo de argila, formada pela Formação Barreiras e uma mina de

Ignibrito, a qual é propriedade do Grupo João Santos.

As Terras Úmidas (Mangues) ainda ocupam uma área expressiva (73 km²/14%) na

porção leste do município, áreas consideradas de preservação permanente, principalmente a

porção sul do município formada pela Zona Especial de Proteção Integral (Zepi) composta

pela APA de Sirinhaém e Maracaípe e a RPPN de Nossa Senhora do Oiteiro. Outra área

expressiva localiza-se na porção norte onde se situa o Complexo Industrial de Suape.

A Figura 5.58 refere-se ao mapa de uso e cobertura da terra elaborado para todo o

município na escala 1:25.000.

Figura 5.58 – Mapa de uso e ocupação da terra do município do Ipojuca em 2010

Fonte: Coutinho (2014)

A Figura 5.59 refere-se ao percentual de ocorrência dos processos identificados em

cada classe de uso e cobertura da terra para todo o município do Ipojuca, na escala 1:25.000.

Diante da dimensão da área ocupada pela cana-de-açúcar, principalmente nas colinas da

porção oeste do município, todos os processos ocorrem em maior quantidade nessas áreas.

Percebe-se também um percentual significativo dos deslizamentos nas áreas urbanizadas. Essa

Page 229: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

228

elevada ocorrência de deslizamentos nas áreas urbanizadas do município do Ipojuca serão

mais bem discutidas na análise do mapa de uso e cobertura da terra elaborado para a área

piloto de Ipojuca Sede, em conjunto com a frequência de ocorrência por localidades baseado

nos dados fornecidos pela Defesa Civil municipal.

Figura 5.59 – Percentual de ocorrência dos processos identificados no município do Ipojuca para cada

classe de uso e cobertura da terra

Fonte: Dados da pesquisa.

Para a área piloto de Ipojuca Sede, identificaram-se as seguintes classes, por ordem de

ocorrência: Cana-de-açúcar, ocupando 61% da área total; Mangue (11%); Vegetação herbácea

(7%); Cultivos diversificados (4%); Centros urbanos (3%); Corpos d’água (2%); Complexo

Industrial (2%); Mata (2%); Vegetação arbustiva; Solo exposto para construção e Coqueiral

com 1%, e Mata Ciliar, Áreas alagadas, Assentamentos precários, Usina de cana-de-açúcar,

Estradas, Habitações unifamiliares, Área comercial, Cultivo de horticultura, Solo exposto por

erosão, Estabelecimentos de pesquisa e desenvolvimento e Extração a céu aberto ocupando

menos de 1% da área mapeada (Figura 5.60).

Page 230: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

229

Figura 5.60 – Mapa de uso e ocupação da terra, Escala 1:10.000, da área de expansão urbana do

Distrito Sede e Nossa Senhora do Ó, Ipojuca

Fonte: Coutinho (2014)

Em relação ao percentual de ocorrência de cada processo nas classes de uso e

cobertura da terra da área piloto de Ipojuca Sede, as ravinas localizam-se 100% nas áreas de

cana-de-açúcar. Já os deslizamentos, ocupam 37% dos assentamentos informais, 32% das

áreas de cana-de-açúcar, 24% das áreas referentes aos Centros Urbanos. Nesse caso

localizam-se totalmente no Distrito de Ipojuca Sede e 7% nas áreas de cultivos diversificados

(Figura 5.61).

Acrescentando aos dados de inventário anteriormente expostos a planilha de

ocorrências registradas de 2007 a 6 de julho de 2015, que já foi comentada detalhadamente na

seção 5.1.4, verifica-se que Rurópolis foi a localidade que apresentou o maior número de

ocorrências de movimentos de massa (deslizamentos) de 2007 a 2015. Foram 395 (32%)

ocorrências (Figura 5.62), seguida dos bairros de Ipojuca Centro (244/20%), São Miguel

Page 231: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

230

(154/13%) e Antônio Dourado Neto (141/11%) pertencentes ao Distrito de Ipojuca Sede e a

comunidade de Bela Vista (149/12%) e o distrito de Camela (117/10%).

Figura 5.61 – Percentual de ocorrência de deslizamentos na área piloto

de Ipojuca Sede para cada classe de uso e cobertura da terra

Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 5.62 – Total de ocorrências de deslizamentos por localidade para o

período de 2007 a 6 de julho de 2015

Fonte: Defesa Civil do Município do Ipojuca.

Tomando-se como base a Figura 3.5 da seção 3.2 a localidade de Rurópolis apresenta

uma grande quantidade de domicílios e de moradores por domicílios, ou seja, é considerada

uma das áreas mais críticas devido ao seu grande adensamento populacional, sem o advento

Page 232: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

231

necessário de infraestrutura como saneamento básico, água encanada e pavimentação das vias

de acesso. O Distrito de Ipojuca Sede, mesmo tendo a sede da prefeitura e demais secretarias

também passou por processo de ocupação desordenada e urbanização tardia, sem receber os

investimentos necessários de infraestrutura, apresentando Zeis com características de

ocupação espontânea, com a execução de cortes nas encostas para a construção das casas,

como por exemplo nos bairros de Antônio Dourado Neto e São Miguel.

Nos bairros do distrito de Ipojuca Sede foram identificados deslizamentos do tipo

planar. As casas estão próximas, em sua maioria, a taludes/aterros sem cobertura vegetal,

muitas vezes os moradores utilizam o próprio talude como muro das casas (representadas nas

Figuras 5.65a e 5.65b). Foram identificados muitos entulhos próximos às bordas dos taludes.

Os agravantes a instabilidade dos taludes dessa área é a concentração das águas da chuva, sem

obras de microdrenagem, presença de bananeiras nos taludes, lançamento de águas servidas e

esgoto no solo, além de árvores de grande porte na Crista dos Taludes. Mesmo sendo o

principal distrito, a situação das ocupações é bastante precária, com um grande adensamento

populacional nesta área, o que acarreta o aumento voluntário dos pisos das residências para

conseguir absorver todos de uma mesma família. Tal processo é comum nas encostas

íngremes desse distrito.

Nas comunidades de Rurópolis e Bela Vista predominam os deslizamentos planares

em solo residual. A situação torna-se ainda mais precária, pois surge a cada dia novas

ocupações nas bordas dos taludes e existem poucas áreas asfaltadas e com obras de contenção

de encostas (Figura 5.66). Os agravantes são os mesmos identificados para o distrito sede.

O núcleo urbano do distrito de Nossa Senhora do Ó, localiza-se na planície

fluviomarinha do município do Ipojuca, com relevo plano, o que não leva a ocorrência de

movimentos de massa, mas constantemente sofre com problemas de alagamentos. Devido a

isso, não serão tecidos comentários sobre este distrito.

As Figuras 5.63 e 5.64 referem-se à localização e à forma de ocupação desordenada

dos bairros do Distrito de Ipojuca Sede e das Localidades de Rurópolis e Bela Vista,

respectivamente, seguida das figuras 5.65 e 5.66 com exemplos de ocupação e de processos

que ocorrem nessas localidades.

Page 233: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

232

Figura 5.63 – Localização e forma de ocupação desordenada dos bairros de São Miguel, Antônio

Dourado Neto e Centro, do distrito de Ipojuca Sede

Fonte: Google Earth. 2014. Limite dos bairros: Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR) de Ipojuca

(2007).

Figura 5.64 – Localização e forma de ocupação desordenada das comunidades de Rurópolis e

Bela Vista, município do Ipojuca

Fonte: Google Earth, 2014.

Page 234: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

233

Figura 5.65 – Formas de ocupação desordenada e exemplo de deslizamentos translacionais nos bairros

de São Miguel e de Antônio Dourado Neto em Ipojuca Sede

Fonte: Gegep/UFPE.

São Miguel (A e B) e Antônio Dourado Neto (C e D).

A B

C D

Page 235: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

234

Figura 5.66 – Formas de ocupação desordenada e exemplos de deslizamentos translacionais nas

localidades de Rurópolis e Bela Vista

Fonte: Gegep/UFPE.

Rurópolis (A e B) e Bela Vista (C e D).

O distrito de Camela apresenta os mesmos problemas identificados nas localidades

anteriormente citadas. Porém, apresenta uma agravante, a potencialidade da ocorrência de

queda de blocos, em razão dos aspectos geológicos e geomorfológicos nos quais se encontra

essa localidade, na porção oeste do município.

A Figura 5.67 apresenta as formas de ocupação desordenada do distrito de Camela e

os processos identificados.

A B

C D

Page 236: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

235

Figura 5.67 – Formas de ocupação desordenada e exemplos de deslizamento translacional e queda de

blocos no distrito de Camela, município do Ipojuca

Fonte: Gegep/UFPE. 4 abr. 2014.

Vista de uma das áreas de risco muito alto do distrito de Camela (A); exemplo de um possível bloco rolado (B)

Além dos deslizamentos nas áreas ocupada, identificaram-se deslizamentos

translacionais ao longo da PE-60 após as chuvas intensas que ocorreram em abril de 2014 e

junho e julho de 2015 (Figura 5.68).

Figura 5.68 – Deslizamentos translacionais que ocorreram nos taludes localizados na PE-60 no

município do Ipojuca

Fonte: Gegep/UFPE. . 16 mai. 2014.

(A) Deslizamento próximo à Ipojuca Sede, sentido Recife (2/7/2015); (B) Deslizamento em frente à

comunidade de Bela Vista, sentido Sirinhaém-PE.

5.3 Carta de suscetibilidade a movimentos de massa

Nesta seção apresentam-se os resultados encontrados na elaboração do modelo de

suscetibilidade a movimentos de massa na escala 1:10.000, abrangendo a área piloto de

A B

A

B

Page 237: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

236

Ipojuca Sede, com a utilização do método estatístico bivariado. Após a apresentação dos

resultados, serão comparados com os resultados encontrados com a utilização da metodologia

aplicada por Coutinho (2014), podendo também ser encontrada em Torres (2014) e Coutinho

et al. (2015).

Os resultados referentes às etapas – alíneas a e b – da fase de análise (Quadro 4.1 da

seção 4.2) já foram apresentados na seção 5.2, como os resultados das variáveis

morfométricas (declividade e curvatura da vertente) extraídas do Modelo Digital do Terreno e

a elaboração do inventário, em conjunto com a definição dos fatores condicionantes e a

elaboração dos mapas temáticos (Plano de Informação – PI) de cada fator condicionante e

suas classes.

Assim, seguindo a sequência das fases expostas no Quadro 4.1, serão apresentados os

resultados encontrados na etapa “Análise estatística e definição dos pesos de cada classe dos

PIs” (alínea d) e todas as etapas da fase de síntese.

5.3.1 Aplicação do método estatístico bivariado

A metodologia proposta nesta tese foi elaborada para ser testada nas duas escalas de

análise. No entanto, para a escala 1:25.000 abrangendo todo o município, não foi possível

realizar os ajustes necessários nos mapas de unidades de mapeamento de solos e outras

incoerências quanto à escala identificadas nos demais temas, o que não gerou resultados

satisfatórios, conforme apresentado na seção 5.3.5. Sendo assim, para a escala 1:10.000, tanto

o inventário como as delimitações das classes dos PIs foram mais bem ajustadas à escala de

trabalho.

Com base na tabulação cruzada entre os PIs referente aos mapas temáticos e o PI

Inventário, pôde-se definir os pesos das variáveis, representados na Tabela 5.9. Essa tabela

resume o percentual de área ocupada por classe, número de ocorrência de ravinas e de

deslizamentos e o peso relacionado com o número de processos que ocorrem em uma variável

dividido pelo número total de ocorrência de deslizamentos na área. O peso utilizado, por

conseguinte, foi a média dos pesos encontrados para a quantidade de ravinas e o peso

encontrado para a quantidade de deslizamentos.

Page 238: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

237

Tabela 5.9 – Tabela com a representação dos temas trabalhados, as respectivas classes, o

percentual de ocorrência de cada uma das classes, o número de ocorrências de processos de

ravinas e deslizamentos para cada classe e o peso definido para as classes após a tabulação

cruzada para a área piloto de Ipojuca Sede

Plano de

informação Classes

Percentual

(área)

N.º ocorrências

(ravina)

N.º

ocorrências

(desliz.)

Peso

(ravinas)

Peso

(desliz.)

Peso

(média)

Litologia

Ka 1 1 1 0,010 0,013 0,011

Kc 11 6 1 0,110 0,078 0,094

Kiig 0 0 0 0,000 0,000 0,000

Kirl 1 0 0 0,010 0,000 0,005

Kitg 2 0 0 0,020 0,000 0,010

Ny3 17 45 33 0,170 0,584 0,377

Ny5 0 0 0 0,000 0,000 0,000

Px 4 25 6 0,040 0,325 0,182

Qal 7 0 0 0,070 0,000 0,035

Qdfl 47 0 0 0,470 0,000 0,235

Qm 7 0 0 0,070 0,000 0,035

Qp 0 0 0 0,000 0,000 0,000

Qth 1 0 0 0,010 0,000 0,005

Qtp 2 0 0 0,020 0,000 0,010

Declividade

0 a 7° 79 6 5 0,078 0,122 0,100

7° a 11° 5 4 3 0,052 0,073 0,063

11° a 17° 7 11 5 0,143 0,122 0,133

17° a 27° 7 35 18 0,455 0,439 0,447

27° a 45° 2 21 9 0,273 0,220 0,247

> 45° 0 0 1 0,000 0,024 0,012

Curvatura

CÔNCAVA /

CONVERGENTE 14 49 19 0,636 0,463 0,550

RETILÍNEA /

PLANAR 71 4 3 0,052 0,073 0,063

CONVEXA /

DIVERGENTE 16 24 19 0,312 0,463 0,388

Solos

AQ1 8 0 0 0 0 0

G1 2 0 0 0 0 0

G2 17 0 0 0 0 0

G5 7 0 0 0 0 0

LA9 7 25 21 0,329 0,512 0,421

PA4 11 11 1 0,145 0,024 0,085

HP1 10 0 0 0 0 0

PV2 16 39 19 0,513 0,463 0,488

AM 2 0 0 0 0 0

PV3 1 1 0 0,013 0,000 0,007

SM 18 0 0 0 0 0

Uso e

Cobertura

Da Terra

Assentamentos

Informais 0 0 15 0 0,366 0,366

Centros Urbanos 0 0 10 0 0,244 0,244

Cultivos

Diversificados 0 0 3 0 0,073 0,073

Cana-de-açúcar 0 100 13 1 0,317 0,6585

Fonte: Dados da pesquisa.

5.3.2 Padronização dos planos de informação

Após a tabulação cruzada entre os PIs dos temas trabalhados e o PI do inventário,

realizou-se uma padronização dos PIs dos temas para torná-los compatíveis entre si. As

Figuras 5.69 a 5.73 apresentam os mapas padronizados em uma escala de 0 a 1, em que 0

Page 239: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

238

refere-se aos valores menos suscetíveis a movimentos de massa e 1 aos valores mais

suscetíveis.

A imagem gerada para o PI Litologia foi dividida em 3 classes por meio do método

quebra natural. Sendo assim, as unidades Px e Ny3 foram classificadas como alta

suscetibilidade, a Formação Cabo como média e as demais classes (ka, Qal, Kitg, Qm e Qtp)

como baixa (Figura 5.69).

Figura 5.69 – Normalização das classes do PI Litologia para a escala de 0 a 1

Fonte: A autora, elaborado conforme dados da pesquisa.

Os intervalos de declividade de 17° a 27° classificaram-se como alta suscetibilidade, o

intervalo de 27° a 45° como média e os demais intervalos (0° a 7°, 7° a 11°, 11° a 17° e

>45°), como baixa suscetibilidade (Figura 5.70). Por conseguinte, a ordem de suscetibilidade

dos intervalos de declividade, por meio da tabulação cruzada foi da menor para a maior: >

45°, 7° a 11°, 0° a 7°, 11° a 17°, 27° a 45° e 17° a 27° de acordo com o que foi apresentado na

seção 5.2.2 em função do percentual de ocorrência dos processos para cada classe.

Page 240: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

239

Figura 5.70 – Normalização das classes do PI Declividade para a escala de 0 a 1

Fonte: Elaborado conforme dados da pesquisa.

As classes de curvatura consideradas como alta suscetibilidade foram as encostas

côncavas/convergentes, como média suscetibilidade as encostas convexas/divergentes e de

baixa suscetibilidade as encostas retilínea/planar (Figura 5.71). O que evidencia as áreas

convexas convergentes como áreas problemáticas para ocupação.

As classes do Plano de Informação (PI) Solos classificadas como alta suscetibilidade

foram as unidades de mapeamento de solos LA9, PV2 e PA’4. Como média suscetibilidade,

foram as classes PV3 e AQ1 e como baixa, as classes G1, G2, G5, HP1, SM e AM (Figura

5.72).

Page 241: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

240

Figura 5.71 – Normalização das classes do PI Curvatura para a escala de 0 a 1

Fonte: Elaborado conforme dados da pesquisa.

Figura 5.72 – Normalização das classes do PI Solos para a escala de 0 a 1

Page 242: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

241

As classes de Uso e Cobertura da Terra classificadas como de alta suscetibilidade

foram cana-de-açúcar, Assentamentos Informais (Figura 5.73); de média suscetibilidade,

foram os centros urbanos e as áreas de solo exposto para construção e como de baixa

suscetibilidade, as demais classes de uso e cobertura da terra, conforme apresentado na seção

5.2.4.

Figura 5.73 – Normalização das classes do PI Uso e Cobertura da Terra para a

escala de 0 a 1

5.3.3 Aplicação da técnica AHP e definição dos graus de suscetibilidade

A determinação do grau de influência de cada um dos fatores condicionantes (PIs) que

serão usados no modelo foi possível pela aplicação da Técnica AHP, conforme metodologia

apresentada na seção 4.2.3.2.

Por meio da análise do inventário e das relações dos fatores condicionantes e a

instabilidade das encostas, a declividade e formas de vertentes assumiram maior importância

no desenvolvimento dos processos e a menor importância foi dada ao uso e à cobertura da

terra, visto que esta primeira análise está voltada para a modelagem da suscetibilidade natural.

O resultado da comparação chegou aos seguintes pesos, para os Planos de Informação

(PI) Uso, Litologia, Solos, Declividade e Suscetibilidade, a saber: 0,04, 0,09, 0,09, 0,39 e 0,39

Page 243: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

242

respectivamente. A matriz de comparação gerou uma razão de consistência de 0,0, indicando,

assim, que o processo de julgamento do grau de importância foi consistente, podendo dar

continuidade ao mapeamento.

Desse modo, multiplicaram-se os Planos de Informação pelos respectivos pesos e

somados, originando o mapa de suscetibilidade a movimentos de massa da área piloto de

Ipojuca Sede. A imagem gerada também se representa em uma escala de 0 a 1, em que 0

indica uma baixa suscetibilidade e 1 uma alta suscetibilidade.

Pelo método quebra natural, definiram-se 3 classes de suscetibilidade, Baixa (0 a

0,255), Média (0,256 a 0,616) e Alta (0,617 a 1).

5.3.4 Validação do modelo

Na etapa de validação do modelo, compararam-se os resultados da metodologia

proposta nesta tese e na metodologia proposta por Torres (2014) e Coutinho et al. (2015) para

a mesma área (Tabela 5.10).

Percebe-se que os dois modelos apresentaram resultados muito próximos, com

exceção para os deslizamentos em que o modelo elaborado por aqueles autores apresentou um

maior percentual de deslizamentos nas áreas classificadas como média suscetibilidade (51%)

e 41% nas áreas de alta suscetibilidade.

O modelo elaborado nesta tese pela abordagem estatística bivariada apresentou bons

resultados em que mais de 50% dos processos de movimentos de massa localizam-se nas

áreas de alta suscetibilidade.

Tabela 5.10 – Comparação entre os resultados da metodologia proposta nesta tese e a proposta

em Coutinho (2014) para a área Piloto de Ipojuca Sede

PROCESSO

CLASSES DE SUSCETIBILIDADE

ALTA MÉDIA BAIXA

Tese

Coutinho

et al.

(2015)

Tese

Coutinho

et al.

(2015))

Tese

Coutinho

et al.

(2015)

RAVINA 60 % 62 % 36 % 35 % 4 % 3 %

DESLIZAMENTO 54 % 41 % 39 % 51 % 7 % 7 %

Fonte: A autora com base em Coutinho (2014).

Page 244: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

243

Utilizando-se os dados do zoneamento de risco Alto e Muito Alto, elaborados para o

Plano Municipal de Redução de Risco do município do Ipojuca, verificou-se que os resultados

encontrados na elaboração do modelo de suscetibilidade para a área piloto de Ipojuca Sede

estão de acordo com as áreas de risco alto e muito alto, conforme se representa na Figura

5.74, tendo como exemplo, o Distrito de Ipojuca Sede do município do Ipojuca.

A validação do modelo em campo, também mostrou uma boa representatividade do

modelo, pois nas áreas urbanizadas identificaram-se mais cicatrizes de Ravinas e

Deslizamentos que não foram anteriormente mapeadas e estavam localizadas nas áreas de alta

suscetibilidade.

Figura 5.74 – Comparação entre o resultado do mapa de suscetibilidade a movimentos de

massa e os limites das áreas de Risco Alto e Muito Alto de deslizamentos elaborados para

o Plano Municipal de Redução de Risco do município do Ipojuca

Fonte: Dados da pesquisa; limite das áreas de risco alto e muito alto: PMRR.

Page 245: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

244

5.3.5 Mapa de suscetibilidade da área piloto de Ipojuca Sede na escala 1:10.000

Com base no mapeamento final da suscetibilidade a movimentos de massa para a área

piloto de Ipojuca Sede, classificaram-se 77% da área como suscetibilidade Baixa, 15% como

Média e 8% como Alta, conforme o mapa de suscetibilidade apresentada na Figura 5.75.

Os resultados encontrados evidenciam que, para as áreas destinadas à expansão urbana

do município do Ipojuca entre os distritos de Ipojuca Sede e Nossa Senhora do Ó, somente a

porção próxima à comunidade de Rurópolis apresenta suscetibilidades altas e médias, visto

que as demais áreas são ocupadas pela planície de inundação do rio Ipojuca e de encontro

com as planícies flúviomarinha, áreas essas sujeitas a outros tipos de processos do meio

físico, como as inundações e alagamentos, quando da ocorrência de um evento extremo de

chuva. As áreas ocupadas, seja de forma ordenada, seja de forma desordenada no Distrito de

Ipojuca Sede e nas comunidades de Rurópolis e Bela Vista são consideradas naturalmente

áreas de maior suscetibilidade a movimento de massa.

Contudo, sintetizando o Quadro 5.1 referente às características físicas predominantes

das classes de suscetibilidade, as áreas consideradas como de Baixa suscetibilidade

apresentam predominantemente áreas cobertas por sedimentos recentes, formando os

depósitos de planícies com declividades baixas (< 11°) e formas de vertente retilínea/planar.

Os solos são condizentes com as características descritas, sendo eles: Gleissolos, Areias

Quartzosas Marinhas e os Solos Indiscriminados de Mangue. Essas áreas sofrem com

problemas de inundação e alagamentos quando da ocorrência de eventos extremos de chuva,

como é o caso da porção do Distrito de Ipojuca Sede ocupada próximo ao rio Ipojuca e outras

áreas talhadas por rios e córregos.

As áreas consideradas de Média suscetibilidade localizam-se, predominantemente,

sobre áreas de sedimentos da Formação Cabo e da Formação Barreiras, na porção oeste do

município do Ipojuca e sobre as áreas do embasamento cristalino na porção oeste deste, áreas

essas que originam relevos de colinas com topos arredondados e com declividade de 11° a 27°

e amplitude de 20 a 40 metros. As formas de vertente dessas áreas são as convexas

divergentes que, pelas intervenções antrópicas, podem elevar a suscetibilidade a movimentos

de massas. São compostas predominantemente por Argissolos amarelo e vermelho-amarelo de

textura médio argilosa a argilosa. Os processos de movimentos de massa encontrados nessas

áreas são as ravinas, voçorocas e deslizamentos.

Page 246: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

245

Por fim, as áreas ocupadas por Alta suscetibilidade ocorrem predominantemente sobre

as áreas do embasamento cristalino, principalmente nas áreas ocupadas por Biotita Granito e

pelo Complexo Gnáissico Migmatítico, formando relevos com topos arredondados e

aguçados. Para essa classe, destacam-se as áreas ocupadas por colúvios e as áreas de vales

côncavos, denominadas de vales colmatados, como áreas passíveis de atingimento do

material. Predominam as declividades de 17° a 27° e 27° a 45°, formas de vertentes

côncavas/convergentes e Argissolos. Todos os processos de movimentos de massa foram

identificados nessa classe, o que mostrou boa acurácia do modelo.

Figura 5.75 – Mapa de suscetibilidade a movimentos de massa da área piloto de Ipojuca Sede,

município do Ipojuca

Fonte: A autora, elaborado com base nos dados da pesquisa.

Page 247: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

246

Quadro 5.1 - Características predominantes para cada classe de suscetibilidade a movimentos de massa identificadas na área piloto de Ipojuca Sede,

município do Ipojuca

Classe de suscetibilidade

Foto ilustrativa Características predominantes

Área (Município)

Áreas Edificadas

Km² % Km² %

BAIXA

Geologia: Áreas recobertas por sedimentos recentes como os Terraços Marinhos, Sedimentos de Praia, Sedimentos Sílico Argilosos de Mangue, Sedimentos Flúvio-Lacustres e Depósitos Aluviais.

Relevo: Depósitos de planícies;

Declividade: 0° a 7°, 7° a 11°;

Amplitude: < 5 metros;

Formas de vertente: retilínea / planar;

Solos: Gleissolos, Cambissolos, Areias Quartzosas Marinhas e Solos Indiscriminados de Mangue;

Processos: inundações e alagamentos;

O uso do solo: predomínio da cana de açúcar nas partes baixas, cultivos diversificados, áreas ocupadas por Matas e cultivos diversificados.

51 77 1,9 68

MÉDIA

Geologia: Pode ocorrer sobre sedimentos da Formação Cabo e argiloarenosos da Formação Barreiras (Nqb) na porção sudeste do município bem como sobre litologias graníticas, gnáissicas e migmatíticas, na porção oeste;

Relevo: Colinas com topos arredondados;

Declividade: 11° a 27°;

Amplitude: 20 a 40 metros;

Formas de vertente: convexa / divergente;

Solos: Argissolos Amarelos e Vermelho-amarelo de textura média argilosa a argilosa;

Processos: Ravinamentos, deslizamentos e voçorocas;

Uso do solo: predomina a cana de açúcar e áreas ocupadas por Centros Urbanos, principalmente no Distrito de Ipojuca Sede. Os Processos podem ser agravados por cortes desordenados de encosta nestas áreas;

10 15 0,57 20

ALTA

Geologia: Ocorrem predominantemente sobre as áreas do embasamento cristalino, principalmente em áreas de Biotita – Granito e do Complexo Gnaissico Migmatítico, os quais originam solos espessos argilosos e silto-argilosos. Pode ocorrer também sobre áreas de Formação Cabo (Kc) (conglomerados, seixos e blocos);

Relevo: Colinas com topos arredondados com vales encaixados e vales abertos. Destaque para as áreas de colúvios - formados por sedimentos transportados e depositados pela gravidade, constituindo em depósitos relativamente fofo, pouco consolidado e permeável e ficam facilmente saturados em períodos de precipitação forte. Chama-se atenção às áreas de ocupadas por vales côncavos, denominados de vales colmatados, como áreas possíveis de atingimento do material.

Declividade: 17° a 27° e 27° a 45°

Amplitude: 20 a 180 metros.

Formas de vertente: côncova/convergente.

Solos: Argissolos Amarelos e Vermelho-Amarelo de textura média argilosa a muito argilosa

Processos: Ravinamentos, deslizamentos e voçorocas

Uso do solo: predomina a cana de açúcar e assentamentos informais. Os Processos podem ser agravados por cortes desordenados de encosta nestas áreas e por lançamento de águas servidas.

5 8 0,34 12

Fonte: A autora com base nos dados da pesquisa.

Page 248: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

247

5.3.6 Definição das áreas críticas do município

Após a integração dos resultados identificados no mapa de suscetibilidade e a

população total por domicílio agregado por setor censitário, identificaram-se as áreas críticas

da área piloto de Ipojuca Sede, tanto em relação às áreas de alta suscetibilidade como também

em relação às áreas com uma grande quantidade de população por domicílio.

O mapa final criado pode-se denominar como de risco, porém, conforme descrito na

metodologia, só foram utilizadas duas variáveis da equação de risco: suscetibilidade e

elementos em risco. Esta última representada pela quantidade de população por domicílio. A

vulnerabilidade social, por exemplo, não foi levada em conta.

Uma área densamente ocupada não significa necessariamente que se trata de uma área

de risco alto ou muito alto, visto que a área já pode estar urbanizada e com infraestrutura

necessária. Entretanto, quando o processo de ocupação é espontâneo, informal, sem a

implantação de infraestrutura, como distribuição de água e saneamento básico, pavimentação

de ruas e um bom sistema de drenagem, esse adensamento populacional pode agravar os

processos erosivos e de movimentos gravitacionais de massa.

Assim, o mapa final que foi denominado de Mapa de risco a movimentos de massa –

Área Piloto de Ipojuca Sede, município do Ipojuca, Pernambuco – Brasil, confirma o fato de

que as áreas consideradas de maior suscetibilidade, que, por conseguinte, também são áreas

densamente ocupadas, são as que apresentam maior frequência de movimentos de massa,

conforme o cadastro de ocorrências fornecido pela Defesa Civil municipal. As áreas mais

críticas, portanto, são os bairros de Ipojuca Centro, São Miguel e Antônio Dourado Neto,

localizados no núcleo urbano do Distrito de Ipojuca Sede, e as comunidades de Bela Vista e

Rurópolis (Figura 5.76). Esta última pode ser considerada a mais problemática, pois é a que

apresenta a maior frequência de ocorrências, conforme já foi exposto nos resultados

apresentados nas seções 5.1.4 e 5.2.4.

Nesse caso, intervenções do poder público nesse processo irregular de ocupação

devem ocorrer na mesma intensidade que a população tende a expandir-se para novas áreas.

Desse modo, por meio dos instrumentos desenvolvidos e apresentados nesta tese, tais como

análise da frequência de ocorrência de deslizamentos, análise dos extremos de chuva capazes

de gerar transtorno à população, bem como a identificação das áreas suscetíveis a movimentos

de massa e, consequentemente, de risco, os tomadores de decisão do município do Ipojuca

detêm subsídios importantes para o planejamento de novas ocupações.

Page 249: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

248

As áreas consideradas como Zona Especial de Interesse Social (Zeis) pelo Plano

Diretor municipal de 2008 correspondem às partes do território que apresentam uma situação

de urbanização precária resultante de processos informais de ocupação do solo e de escassez

de recursos para investimentos públicos, com as seguintes características: ocupação por

população de baixa renda; áreas passíveis de regularização urbanística; áreas livres de

restrições ambientais e legais para a regularização jurídico-fundiária.

Dentre os objetivos na gestão das Zeis estabelecidas no Plano Diretor estão: promover

a redução da situação de risco, nas áreas vulneráveis a escorregamentos e alagamentos,

priorizando: a) investimentos em obras de contenção; b) transferência de famílias, quando a

situação de risco não puder ser mitigada para as áreas próximas às localidades de origem (art.

192; inciso IV); a delimitação dos espaços passíveis de serem ocupados de forma segura,

restringindo as ocupações em áreas onde o risco não puder ser mitigado, interditando-as ou

utilizando-as, preferencialmente, como áreas de uso comum segundo o artigo 193, inciso V

(IPOJUCA, 2008).

Nota-se, por conseguinte, que já há um interesse do poder público municipal em

conjunto com o governo federal em realizar projetos de urbanização de assentamentos

precários e gerenciamento de áreas de riscos com o intuito de prevenir o surgimento de novas

áreas de risco a deslizamentos. Entretanto, os dados fornecidos pela defesa civil mostraram

que, independentemente da magnitude dos eventos pluviométricos, as áreas classificadas

como Zeis sofrem frequentemente com esses processos no período chuvoso e verificou-se

também um aumento nessa frequência, principalmente na localidade de Rurópolis. O mapa

de risco, portanto, confirma a precariedade dessas áreas e o potencial de ocorrer mais

deslizamentos se nenhuma medida preventiva for tomada.

Portanto, analisando-se os fatos descritos acima, as ações estabelecidas pelos

tomadores de decisão municipais ainda não foram suficientes para diminuir o grau de risco

dessas localidades e a frequência da ocorrência de processos como deslizamentos e

inundações, ficando a população local à mercê de tais processos quando da ocorrência de

eventos pluviométricos de elevada magnitude como os que ocorreram em 2000, 2005, 2008,

2010, 2014 e 2015.

Page 250: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

249

Figura 5.76 – Mapa risco a movimentos de massa da área piloto de Ipojuca Sede, elaborado por meio da

integração do mapa de suscetibilidade e o total de população por domicílio agregado por setor censitário

Fonte: A autora com base nos dados da pesquisa.

Page 251: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

250

5.3.7 Suscetibilidade a movimentos de massa na escala 1:25.000

Conforme foi apresentado, os procedimentos metodológicos para elaboração do mapa

de suscetibilidade a movimentos de massa para todo o município do Ipojuca na escala

1:25.000 foram os mesmos dos realizados para a escala 1:10.000. No entanto, os ajustes que

precisavam ser realizados no mapa geológico e no de unidades de mapeamento de solos não

foram possíveis em razão do tempo necessário para a finalização desta pesquisa.

Mesmo assim, realizou-se uma tabulação cruzada entre o PI do Inventário e os PIs dos

condicionantes trabalhados. Após essa tabulação cruzada e pela não realização dos ajustes

necessários, verificou-se que algumas classes que deveriam representar uma suscetibilidade

baixa foram classificadas como média ou alta, e outras que deveriam ter sido classificadas

como alta, acabaram tendo seus graus de suscetibilidade diminuídos.

Transferir os resultados da análise da densidade dos deslizamentos para cada classe

identificados na escala 1:10.000 para o mapeamento na escala 1:25.000 não foi realizado, pois

se trata de diferentes escalas, principalmente, em relação às variáveis morfométricas extraídas

por meio do MDT.

Se fosse feito o exposto, as áreas mais a oeste do município não seriam bem

modeladas, uma vez que a área piloto de Ipojuca Sede não representa todas as características

físicas dessa área, como unidades litológicas, altitudes e declividades.

Portanto, para que o mapa de suscetibilidade a movimentos de massa na escala de

1:25.000 atingisse bons resultados utilizando-se qualquer método da abordagem quantitativa,

os ajustes dos mapas geológico e de unidades de mapeamento de solos deveriam ser

realizados, bem como um MDT de melhor qualidade. Neste caso, o modelo qualitativo,

indireto por meio de sobreposição de mapas de índices e parâmetros, baseado em

conhecimento para a determinação dos pesos de suscetibilidade em relação às classes é a

melhor opção, como pode ser verificado em Coutinho (2014), Torres (2014) e Coutinho et al.

(2015).

Os resultados do mapeamento de suscetibilidade a movimentos de massa elaborado

nesta pesquisa nas duas escalas devem ser utilizados para fins de planejamento de uso e

ocupação do solo; para subsidiar o mapeamento de risco e áreas que necessitam de estudos

geológico-geotécnicos mais precisos para as áreas classificadas como de alta suscetibilidade,

se for prevista a ocupação dessas áreas, ou para elaboração de projetos de contenção de áreas

de suscetibilidade alta já ocupadas.

Page 252: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

251

Ao município do Ipojuca, não foi possível elaborar um MDT hidrologicamente correto

para as duas escalas de análise; sendo assim, a escolha de alguns índices que representam

condicionantes de deslizamentos não puderam ser utilizados no modelo, a exemplo do Índice

de Eficiência de Drenagem (IED). A existência de um MDT de qualidade e, principalmente,

hidrologicamente correto, é fundamental para o desenvolvimento do modelo de

suscetibilidade, seja utilizando técnicas qualitativas, seja quantitativas. Quase todas as

variáveis que representam os condicionantes a deslizamentos são derivadas dos MDT, tais

como declividade, curvatura da vertente, densidade de lineamentos, aspecto, IED e até mesmo

os mapas de unidades litológicas, de solos; e a espessura do perfil superficial é derivada e/ou

ajustada de acordo com o MDT utilizado.

Diante desse contexto, a elaboração de cartas de suscetibilidade a movimentos de

massa na escala 1:10.000 esbarra na falta de informações altimétricas e, consequentemente,

MDT de qualidade em quase todo o Brasil, o que causou muita dificuldade para a realização

dos mapeamentos no município do Ipojuca.

O modelo elaborado por Coutinho et al. (2015), por meio da abordagem qualitativa de

sobreposição de mapas de índices e parâmetros e a partir do conhecimento prévio de

especialistas em relação aos condicionantes dos movimentos de massa, também atingiu

resultados semelhantes aos apresentados nesta tese. Porém, a subjetividade na atribuição dos

pesos para cada parâmetro é o principal problema desse método, bem como a extrapolação

desse modelo para outras áreas.

O uso do modelo quantitativo com base na análise estatística bivariada tentou diminuir

a subjetividade do modelo anterior. Todavia, a aplicação da técnica AHP e definição dos

graus de influência dos condicionantes no processo de movimentos de massa teve a ajuda de

especialistas para determinação desse grau, mesmo com o subsídio dos resultados da

tabulação cruzada. Por isso, essa etapa também foi dotada de subjetividade.

Enfim, a escolha do melhor procedimento vai depender da existência e qualidade dos

dados necessários para as análises, do tempo demandado e dos custos envolvidos.

Com a melhoria dos dados coletados, pretende-se dar continuidade ao

aperfeiçoamento das técnicas de mapeamento quantitativo de suscetibilidade, perigo e risco

para o município do Ipojuca e demais municípios da Região Metropolitana.

Page 253: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

252

6 CONCLUSÕES

Os resultados da análise da precipitação anual do município do Ipojuca mostraram que

a predominância de anos secos entre as décadas de 1940 e 1960 pode ter sido influenciada

pela ocorrência de fenômenos de El Niño, agravados pela ocorrência de uma fase positiva do

Dipolo do Atlântico, diminuindo as chuvas na porção leste do Nordeste do Brasil. De 1962 a

1975, houve maior ocorrência de anos chuvosos a extremamente chuvosos, que coincide com

a ocorrência de eventos de La Niña forte e fracos, intensificados pela fase negativa do Dipolo

do Atlântico, o que leva ao aumento das chuvas na porção leste do Nordeste.

Em anos de conjunção dos eventos de El Niño e da fase negativa do Dipolo do

Atlântico, as chuvas mostraram-se mais concentradas, e se verificaram eventos extremos pelo

fato de as águas do Oceano Atlântico Tropical Sul encontrarem-se mais aquecidas,

intensificando os sistemas meteorológicos atuantes, principalmente no período chuvoso.

Verificou-se também na análise dos dados anuais e mensais tendências positivas de

aumento da precipitação pluvial nos trimestres de verão (DJF) e inverno (JJA), enquanto os

períodos de outono (MAM) e Primavera (SON) apresentaram tendências negativas de

precipitação.

Por meio da análise dos extremos mensais, pôde-se verificar que os meses que

concentraram chuvas extremas foram abril, maio, junho e julho, meses esses considerados

como período chuvoso no município do Ipojuca.

Com a análise dos dados diários de chuva e aplicação da técnica dos quantis, foi

possível identificar os limiares de chuva que podem causar transtornos à população. O

montante considerado como chuva extremamente forte se ocorrer em 24h no município do

Ipojuca foi de 53 mm. Assim, os meses que apresentaram maior concentração dos dias com

chuva acima desse limiar são de abril a junho, sendo mais representativo o mês de junho. No

entanto, eventos de chuva acima desse limiar identificaram-se em todos os meses do ano, com

pouca significância para o período de setembro a dezembro.

As análises dos extremos, anual, mensal e diária, mostraram que, para haver um

evento extremo de chuva que cause transtorno à população, não precisa ser necessariamente

um ano considerado chuvoso a extremamente chuvoso, pois as chuvas podem concentrar-se

em um mês específico, e dentro do mês podem estar concentradas em poucos dias. Como

Page 254: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

253

exemplo, os anos de 2005 e 2010 foram considerados respectivamente ano seco e normal, mas

apresentaram chuvas extremas em junho, levando à ocorrência de inundações e enxurradas,

como também várias ocorrências de deslizamentos.

Com base nas análises de ocorrências de episódios de inundação, alagamentos,

movimentos de massa (deslizamentos), queda de muro de arrimo, dentre outras que foram

cadastradas e fornecidas pela Defesa Civil do município do Ipojuca (de 2007 a 6 de julho de

2015), e informações de eventos mais significativos nos arquivos digitais do Sistema

Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID) dos anos 2000, 2005 e 2010, pôde-se

verificar maior frequência dos eventos em abril, maio, junho e julho; o que está de acordo

com o período chuvoso em que mais ocorrem eventos extremos de chuva, com maior

destaque para abril, maio e junho. Entretanto, os meses de janeiro, fevereiro e março também

apresentaram um número significativo de ocorrências.

Mesmo sendo de pouca expressividade, as ocorrências de deslizamentos nos meses

considerados secos como de setembro a dezembro, podem também ser deflagrados por

influências antrópicas como lançamento de águas servidas e esgoto, presença de fossas

sépticas, dentre outros que não precisam, necessariamente, da atuação da chuva no

desencadeamento desses processos.

A análise do cadastro de ocorrências da Defesa Civil municipal para os anos de 2007 a

julho de 2015 mostrou maior frequência de ocorrências de deslizamentos nas Zeis de

Rurópolis e Bela Vista, nos bairros de São Miguel, Antônio Dourado Neto e Ipojuca Centro

do distrito de Ipojuca Sede e no distrito de Camela. Em todos os anos, essas localidades

apresentaram ocorrências principalmente no período chuvoso, seja deflagrado por uma chuva

maior ou igual a 53 mm/24h, seja pela ocorrência de chuvas acumuladas em 48h, 72h ou 96h.

Concluiu-se que, predominantemente, os deslizamentos ocorrem por um evento de

chuvas maior ou igual a 53 mm/24h, e são mais graves quando há uma chuva antecedente à

ocorrência dos deslizamentos, suficientes para deixar o solo saturado e levar a um maior

número de deslizamentos sem a necessidade de ocorrer grandes montantes de chuva no dia

exato dos deslizamentos.

Com a análise dos eventos extremos que ocorreram no Mundo, Brasil e em

Pernambuco por meio dos relatórios sobre desastres e dos bancos de dados internacionais

(EM-DAT) e nacionais (S2ID), foi possível notar que no município do Ipojuca os desastres

provocados por movimentos de massa são de pequena magnitude e localizados, mas ocorrem

de forma recorrente a cada período chuvoso e intensificados quando há evento de chuva igual

ou superior a 53 mm/24h.

Page 255: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

254

A ocorrência dos processos de inundação e movimentos de massa e dos impactos

provocados por estes tem sido significativamente frequente no município do Ipojuca,

conforme foi comentado. Esse fato associa-se diretamente também ao crescimento

populacional e à expansão das ocupações no município, com maior exposição e

vulnerabilidade da população a tais processos.

Em relação aos resultados identificados na análise do inventário de movimentos de

massa e seus condicionantes no município do Ipojuca, identificaram-se processos do tipo

erosão linear (sulcos, ravinas e voçorocas), de movimentos gravitacionais de massa, como os

deslizamentos (translacionais e circulares), movimentos do tipo rastejo, bem como áreas com

afloramento rochoso – nessa última classificação também foram agregados os complexos de

tálus, que são consideradas áreas com potencial de rolamento de blocos.

Verificou-se que as ravinas ocorrem em maior quantidade, seguidas dos

deslizamentos. Os processos concentram-se mais nas colinas da porção oeste do município,

sobre áreas do embasamento cristalino e em áreas ocupadas predominantemente por cana-de-

açúcar e formas da encosta côncavas/convergentes, com declividades predominantemente

entre 27° e 45° formadas por Argissolos, que apresentam mudanças texturais significativas ao

longo do perfil. Chama-se a atenção também para as áreas ocupadas pela Formação Cabo e

Formação Barreiras, que apresentam maior suscetibilidade a movimentos de massa sem,

necessariamente, apresentar uma elevada declividade.

Os deslizamentos são significativos nas áreas de ocupação espontânea ou

assentamentos informais, principalmente nas Zeis do núcleo urbano de Ipojuca Sede (São

Miguel e Antônio Dourado Neto) e fora dos Núcleos Urbanos como Rurópolis e Bela Vista.

Nessas Zeis, as áreas mais críticas são as ocupações em áreas de cabeceira de drenagem, onde

há uma confluência dos escoamentos superficial e subsuperficial, levando a maior

suscetibilidade a esses movimentos de massa.

O município do Ipojuca passou, e ainda vem passando, por um processo peculiar de

ocupação. Mais de 70% do município é considerado rural, ainda ocupado pela cultura da

cana-de-açúcar, a maioria da população concentrada em pequenas porções do município e em

condições precárias de vida. As comunidades de Rurópolis e Bela Vista, por exemplo,

apresentam números elevados de população por domicílio e ainda são consideradas como

áreas rurais. O avanço populacional nas colinas do município está ocorrendo de forma

acelerada e sem conhecimento básico de engenharia para a construção das moradias, tal fato,

juntamente com a recorrência de eventos extremos de chuva intensificam a ocorrência de

deslizamentos nesse município.

Page 256: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

255

Com a utilização do SIG, pôde-se desenvolver o modelo quantitativo de análise da

suscetibilidade a movimentos de massa por meio do método de análise estatística bivariada.

Mesmo diante das dificuldades encontradas, como a falta de uma base temática e cartográfica

planimétrica e altimétrica de qualidade para a escala 1:10.000 e em relação à elaboração do

inventário, fatores esses fundamentais para a utilização desse tipo de modelo, os resultados

foram satisfatórios. Entretanto, ajustes nos mapas de unidades de mapeamento de solos e

geológico foram fundamentais para melhorar a qualidade do modelo.

Destaque-se que, nesta tese, não foram separadas diretamente a suscetibilidade natural

da induzida, uma vez que na primeira utilizou-se o mapa de uso e cobertura da terra

diretamente no modelo, porém com menor grau de influência na ocorrência dos processos.

Com a integração dos resultados desse mapa com a quantidade de população por domicílio

agregado por setor censitário, foi possível analisar as áreas críticas do município, onde há

maior densidade populacional e, consequentemente, maior indução aos movimentos de massa,

coincidindo com as Zeis, que são áreas de ocupação espontâneas e não apresentam

infraestrutura suficiente.

O modelo quantitativo apresentado tanto para gerar o mapa de suscetibilidade a

movimentos de massa quanto para gerar o mapa de risco, apresentou-se como uma

ferramenta fundamental à análise e gestão de risco, otimizando os processos de mapeamento e

definição dessas áreas em detrimento dos métodos qualitativos atualmente existentes e

aplicados no Brasil. Com esse procedimento, os mapas podem ser periodicamente atualizados

em razão da rapidez das modificações sofridas nos territórios. Com o rápido desenvolvimento

tecnológico na área das geotecnologias e com a localidade dotada de boa base cartográfica,

serão necessários menos recursos financeiros e tempo para a execução do mapeamento.

Page 257: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

256

REFERÊNCIAS

ADREOLI, R. V.; KAYANO, M. T. A importância relativa do Atlântico Tropical Sul e o

Pacífico Leste na variabilidade de precipitação do Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de

Meteorologia, v. 22, n. 1, p. 63-74, 2007.

ALBALA-BERTRAND, J. M. Political economy of large natural disasters: with a special

reference to developing countries. New York: Oxford University Press, 1993. 259 p.

ALCÁNTARA-AYALA, I.; GOUDIE, A. S. (Ed.). Geomorphological hazards and disaster

prevention. Cambridge: Cambridge University Press, 2010. 304 p.

ALEOTTI, P.; CHOWDHURY, R. Landslide hazard assessment: summary review and new

perspectives. Bulletin of Engineering Geology and the Environment, v. 58, p. 21-44, 1999.

ALEXANDER, D. E. A survey of the field of natural hazards and disaster studies. In:

CARRARA, A.; GUZZETTI, F. (Ed.) Geographical information systems in assessing natural

hasards. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 1995. cap. 1, p. 1-19.

ALHEIROS, M. M. et al. Manual de ocupação dos morros da região metropolitana do

Recife. Recife: Fidem, 2003. 384 p.

______. Riscos de escorregamentos na região metropolitana de Recife. Recife. 1998. 120 p.

Tese (Doutorado em Geociências, Área de Concentração em Geologia Sedimentar) – Instituto

de Geociências, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1998.

ALMEIDA, F. F. M. et al. Províncias estruturais brasileiras. In: SIMPOSIO DE GEOLOGIA

DO NORDESTE, 8., 1977, Campina Grande. Resumo das comunicações. Campina Grande,

PB: SBG, 1977. p. 12-13. (Boletim Especial SBG, Núcleo Nordeste, 6).

ALMEIDA, M. C. J.; NAKAZAWA, A. Análise de correlação entre chuvas e

escorregamentos no município de Petrópolis, RJ. CONGRESSO BRASILEIRO DE

GEOLOGIA DE ENGENHARIA, 7., 1991, São Paulo. Anais… São Paulo: ABGE, 1991. p.

129-137.

ALVES, M. A. S.; MARQUES, R. F. C.; OYAMA, M. D. Detecção de DOL a partir de filtros

temporais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA, 15., 2008, São Paulo.

Anais... São Paulo: CBMET, 2008.

AMARAL, R.; RIBEIRO, R. R. Inundações e enchentes. In: TOMINAGA, L. K.;

SANTORO, J.; AMARAL, R. (Org.). Desastres naturais: conhecer para prevenir. São Paulo:

Instituto Geológico, 2009.

ANJOS, D. S. Classificação da curvature de vertentes em perfil via thin plate spline e

inferência fuzzy. 2008. 97 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Cartográficas) – Faculdade

de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2008.

Page 258: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

257

ARAGÃO, J. O. R. A influência dos Oceanos Pacífico e Atlântico na dinâmica do tempo e do

clima do Nordeste do Brasil. In: ESKINAZI-LEÇA, Enide; NEUMANN-LEITÃO, Sigrid;

COSTA, Mônica Ferreira da (Org.). Oceanografia: um cenário tropical. Recife: Universidade

Federal de Pernambuco, 2004. p. 131-184.

______. Clima e condições meteorológicas em Suape- PE: diagnóstico ambiental. Recife,

2006. 16 p.

ARDIZZONE, F. et al. Uncertainty and errors in landslide mapping and landslide hazard

assessment. Natural Hazards and Earth System Sciences, v. 2, n. 1-2, p. 3-14, 2002.

ARRAES, C. E. S. Hidrologia do município de Ipojuca / Pernambuco. Recife: CPRM/Fidem,

1998. 22 p.

AUGUSTO FILHO, O. Cartas de risco de escorregamento: uma proposta metodológica e sua

aplicação no município de Ilhabela, SP. São Paulo, 1994. 172 f. Dissertação (Mestrado em

Engenharia) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1994.

______; VIRGILI, J. C. Estabilidade de taludes. In: OLIVEIRA, A. M. S.; BRITO, N. A.

Geologia de engenharia. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia, 1998.

cap. 15, p. 15-38.

AZAMBUJA, R. N. Análise geomorfológica em áreas de expansão urbana no município de

Garanhuns, PE. 2007. 155 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Centro de Filosofia e

Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2007.

BANDEIRA, A. P. N. Parâmetros técnicos para o gerenciamento de áreas de

escorregamentos de encostas na região metropolitana do Recife. 2010. 369 f. Tese

(Doutorado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Centro

de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010.

______; COUTINHO, R. Q. Critical rainfall parameters: proposed landslide warning system

for the metropolitan region of Recife, PE, Brazil. Soils and Rocks, São Paulo, v. 38, n. 1, p.

27-48, Jan./Apr. 2015.

BARREDO, J. J. et al. Comparing heuristic landslide hazard assessment techiniques using

GIS in Tirajana basin, Gran Canária Island, Spain. ITC Journal, v. 2 n. 1, p. 9-23, 2000.

BATISTA, M.S;. RODRIGUES, R. A. Análise climática de Viçosa associada à ocorrência de

eventos extremos pluviométricos extremos. Caminhos da Geografia, v. 11, n. 36. p.52-67,

2010.

BELOW, R.; WIRTZ, A.; GUHA-SAPIR, D. Disaster category classification and peril

terminology for operational purposes. Louvain-la-Neuve: Centre for Research on the

Epidemiology of Disasters (CRED), 2009.

BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. Piracicaba: Livroceres, 1985.

392 p.

Page 259: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

258

BITAR, O. Y. (Org.). Cartas de suscetibilidade a movimentos gravitacionais de massa e

inundações: 1:25.000 (livro eletrônico): nota técnica explicativa. São Paulo: Instituto de

Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo; Brasília, DF: CPRM – Serviço Geológico do

Brasil, 2014.

BITOUN, J.; MIRANDA, L.; SOUZA, M. A. Como anda a região metropolitana do Recife.

Recife: Observatório PE; UFPE; FASE, 2006. Disponível em: <

http://www.observatoriodasmetropoles.ufrj.br/como_anda/como_anda_RM_recife.pdf >.

Acesso em: 15 dez. 2014.

BRADY, N. C. Natureza e propriedades dos solos. 9. ed. Londres: Macmillan, 1989. p.

BRASIL. Lei n.º 4.771, de 15 de setembro de 1965. Institui o Novo Código Florestal. Diário

Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 16 set. 1965. 18

p.

______. Lei n.º 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o Parcelamento do Solo

Urbano e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder

Executivo, Brasília, DF, 20 dez. 1979. 11 p.

______. Lei n.º 12.608, de 10 de abril de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção e

Defesa Civil - PNPDEC; dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil -

SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC; autoriza a criação

de sistema de informações e monitoramento de desastres... Diário Oficial da República

Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 11 abr. 2012a, Seção 1.

______. Lei n.º 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa e

dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo,

Brasília, DF, 28 maio 2012b.

______. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil.

Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres. Anuário brasileiro de desastres

naturais 2011. Brasília: Cenad, 2012c. Disponível em: <http://www.mi.gov.br/c/

document_library/get_file?uuid=e3cab906-c3fb-49fa-945d-49626acf790&groupId=185960>.

Acesso em: 17 maio 2014.

______. Anuário brasileiro de desastres naturais 2012. 2. ed. Brasília: Cenad, 2013.

Disponível em: <http://www.defesacivil.mg.gov.br/conteudo/arquivos/

AnuariodeDesastresNaturais_2013.pdf>. Acesso em: 17 maio 2014.

BRUCE, D. et al. Landslide inventories and their statistical properties. Earth Surface

Processes and Landforms, v. 29, n. 6, p. 687-711, 2004.

BURNET, A.D.; BRAND, E.W.; STYLES, K.A. Terrain classification mapping for a

landslide inventory in Honk Kong. INTERNATIONAL CONFERENCE AND FIELD

WORKSHOP ON LANDSLIDES, 4., 1985, Tokyo. Proceedings… Tokyo, 1985. p. 63-68.

BURROUGH, P. A. Principles of geographical information systems for land resources

assessment. Oxford: Clarendon Press, 1991. 333 p.

Page 260: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

259

CALVELLO, M.; CASCINI, L.; MASTROIANNI, S. Landslide zoning over large areas from

a sample inventory by means of scale-dependent terrain units. Geomorphology. n. 182, p. 33-

48, 2013.

CAPECCHI, F.; FOCARDI, P. Rainfall and landslides: research into a critical precipitation

coefficient in an area of Italy. INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON LANDSLIDES, 5.,

1988, Lausanne. Proceedings... Lausanne: Balkema, 1988. p. 1131-1136.

CARDINALI, M. et al. A geomorphological approach to estimate landslide hazard and risk in

urban and rural areas in Umbria, central Italy. Natural Hazards and Earth System Sciences, v.

2, n. 1-2, p. 57-72, 2002.

CARRARA, A. Cartografia tematica, stoccaggio ed elaborazione dati. In: CONVEGNO

CONCLUSIVO PROGETTO FINALIZZATO CONSERVAZIONE DEL SUOLO: Relazione

Generale, 9-10 giugno 1982, Rome. Atti... Rome: Sottoprogetto Fenomeni Franosi, 1982. p.

265-281.

______. Multivariate methods for landslide hazard evaluation. Mathematical Geology, v. 15,

n. 3, p. 403-426, Jun. 1983.

______. Landslide hazard mapping by statistical methods: a black box model approach. In:

PROC of the Workshop on Natural Disaster in European Mediterranean Countries. Perugia,

Italy: Consiglio Nazionale delle Ricerche, 1988. 205-224 p.

______; CARDINALI, M.; GUZZETI, F. Uncertainty in assessing landslide hazard and risk.

ITC Journal, Enschede, The Netherlands, n. 2, p. 172-183, 1992.

______; GUZZETI, F. (Ed.). Geographical Information Systems in assessing natural hazard.

Dordrecht/Boston/London: Kluver Academic Publisher, 1995. 354 p. (Advances in Natural

Technological Hazard Research Series, v. 5).

CARRARA, A. et al. Digital terrain analysis for land evaluation. Geologia Applicata e

Idrogeologia, n. 13, p. 69-127, 1978.

______ . GIS thecniques and statistical models in evaluating landslide hazard. Earth Surface

Processes and Landforms. v. 16, p. 427-445, 1991.

______ . GIS technology in mapping landslide hazard. In: CARRARA, A.; GUZZETTI, F.

(Ed.) Geographycal information systems in assessing natural hazards. Dordrecht, The

Netherlands: Kluwer Academic Publisher, 1995. p. 135-175.

CARVALHO, C. S.; GALVÃO, T. (Org.). Prevenção de risco de deslizamentos em encostas:

guia para elaboração de políticas municipais. Brasília: Ministério das Cidades; Cities

Alliance, 2006. 111 p.

CASCINI, L. Applicability of landslide susceptibility and hazard zoning at different scales.

Engineering Geology, v. 102, p. 164-177, 2008.

Page 261: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

260

CASTRO, C. M.; MELLO, E. V.; PEIXOTO, M. N. O. Tipologia de processos erosivos

canalizados e escorregamentos: proposta para avaliação de riscos geomorfológicos urbanos

em Barra Mansa (RJ). Anuário do Instituto de Geociências, UFRJ, v. 25, p. 11-24, 2002.

CERRI, L. E. S. Riscos geológicos associados a escorregamentos: uma proposta para a

prevenção de acidentes. Rio Claro: Unesp, 1993. 197 f. il. Tese (Doutorado em Geociências e

Meio Ambiente) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista,

Rio Claro, 1993.

CHOU, S. C. Análise de distúrbios ondulatórios de leste sobre o Oceano Atlântico Equatorial

Sul. 1990. 153 f. Dissertação (Mestrado em Meteorologia) – Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais, São José dos Campos, SP, 1990. Disponível em: <http://urlib.net/sid.inpe.br/MTC-

m12@80/200>. Acesso em: 26 jun. 2011.

CHOWDHURY, R. N.; FLENTJE, P. N. Relevance of mapping for slope stability in the

Greater Wollongong area, New South Wales, Australia. In: INTERNATIONAL

SYMPOSIUM ENGINEERING GEOLOGY AND ENVIRONMENT, Athens (Greece), 1.,

1997, Athens (Greece). Proceedings… Athens (Greece), 1997. p. 569-574.

CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de sistemas ambientais. São Paulo: E. Blucher. 1999.

236 p.

COELHO NETTO, A. L. et al. Metodologia para elaboração de cartas de suscetibilidade e

risco a movimentos de massa (escala 1:5.000): aplicação na área central de Angra dos

Reis/RJ. In: CONFERÊNCIA BRASILEIRA DE ENCOSTAS, 6., 2013, Angra dos Reis, RJ.

Anais... São Paulo: ABMS ABGE, 2013. v. 1, p. 203-210.

COHEN, J. C. P. Um estudo observacional de linhas de instabilidade na Amazônia. 1989.

153 f. Dissertação (Mestrado em Meteorologia) – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais,

São José dos Campos, SP, 1989.

CONSEA. Panorama municipal: município do Ipojuca. 2013. In: <http://consea.com.br/pe/

wp-content/uploads/2013/11/2607208-Ipojuca.pdf>. Acesso em: 15 de dez 2014.

COOKE, R. U.; DOORNKAMP, J. C. Geomorphology in environmental management: a new

introduction. 2. ed. New York: Claredon Press, 1990. 410 p.

COUTINHO, R. Q. Processos gravitacionais de massa e processos erosivos: módulo 5. In:

BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria de Programas Urbanos. Gestão e mapeamento de

riscos socioambientais: curso de capacitação. Brasília, [2009]. p. 58-88. Disponível em:

<http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNPU/Biblioteca/PrevencaoErradicacao/

Curso_Gestao_Mapeamento_Riscos_Socioambientais.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2014.

______ (Org.). Parâmetros para a cartografia geotécnica e diretrizes para medidas de

intervenção de áreas sujeitas a desastres naturais. Recife: Ministério das Cidades;

Universidade Federal de Pernambuco; Gegep; DECivil, 2013. 376 p. (Documento Técnico).

______ (Coord.). Carta geotécnica de aptidão à urbanização frente a desastres naturais do

município do Ipojuca, Pernambuco: relatório técnico. Termo de Cooperação Ministério das

Cidades e Universidade Federal de Pernambuco. Recife: Gegep; UFPE, 2014.

Page 262: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

261

COUTINHO, R. Q.; BANDEIRA, A. P. N. Processos de instabilização de encostas e

avaliação do grau de risco: estudo de caso nas cidades de Recife e Camaragibe. In:

LACERDA, W. A. et al. (Org.). Desastres naturais: suscetibilidade e riscos, mitigação e

prevenção, gestão e ações emergenciais. Rio de Janeiro: Coppe/UFRJ, 2012. 211 p.

COUTINHO, R. Q. et al. Estudo da erosão da encosta do Horto de Dois Irmãos, PE.

CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA, 9., 1999, São Paulo, SP.

1 CD-ROM.

COUTINHO, R. Q. et al. Mapeamento da suscetibilidade a movimentos gravitacionais de

massa como subsídio à elaboração de carta geotécnica de aptidão à urbanização no município

do Ipojuca, PE. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA E

GEOAMBIENTAL, 9.,2005., Cuiabá, MT. Anais... Cuiabá, MT: UFMT, 2015.

CPRM. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. Geologia e recursos minerais do

Estado de Pernambuco. Recife: AD/Diper, 2001. 215 p.

CROZIER, M. J. Landslides: causes, consequences and environment. London: Croom Helm,

1986. 304 p.

CRUDEN, D. M.; VARNES, D. J. Landslide types and processes. In: TURNER, A. K.;

SCHUSTER, R. L. (Ed.). Landslides: investigation and mitigation. Transportation Research

Board Special Report, n. 247. Washington, D. C., National Research Council, 1996. p. 36-75.

DIAS, F. P.; HERMANN, M. L. P. Suscetibilidade a deslizamentos: estudo de caso no bairro

de Saco Grande, Florianópolis-SC. Caminhos de Geografia, v. 3, n. 6, p. 57-73, 2002.

DINIZ, N. C. Cartografia geotécnica por classificação de unidades de terreno e avaliação de

suscetibilidade e aptidão. Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental, v. 2, n.

1, p. 29-77, 2012.

DONATI, L.; TURRINI, M. C. An objective method to rank the importance of the factors

predisposing to landslides whith the gis methodology: application to an area of the Apennines,

Valnerina; Perugia, Italy. Engineering Geology, v. 63, p. 77-28, 2002.

D’ORSI, R. N. et al. Rio-Watch: the Rio de Janeiro landslide watch system. PAN-

AMERICAN SYMPOSIUM ON LANDSLIDES, 2., 1997, Rio de Janeiro. Proceedings…

Rio de Janeiro, 1997. v. 1, p. 21-30.

DUARTE, C. C. Análise dos impactos das mudanças climáticas no escoamento superficial da

bacia hidrográfica do rio Tapacurá-PE, a partir da utilização de um modelo de balanço

hídrico mensal semi-distribuído. 2009. 125 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) –

Departamento de Ciências Geográficas, Universidade Federal de Pernambuco, 2009.

FANNIN, R. J. et al. Landslide risk management in forest practices. In: HUNGR, O. et

al.(Ed.). Landslide Risk Management. Balkema: A.A. Balkema Publishers, 2005. p. 299-320.

FARIAS, R. F. L; ALVES, K. M. A. S.; NÓBREGA, R. S. Climatologia da ocorrência de

eventos extremos de precipitação na mesorregião do Sertão Pernambucano. Revista

Geonordeste, Edição Especial 2, v. 1, n. 5, p. 930-941, 2012.

Page 263: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

262

FELL, R. et al. Guidelines for landslide susceptibility, hazard and risk zoning for land-use

planning. Engineering Geology, v. 102, p. 83-111, 2008.

FERNANDES, N. F.; AMARAL, C. P. Movimentos de massa uma abordagem geológico-

geomorfológica. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Ed.) Geomorfologia e meio

ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. cap. 3, p.123-194.

FERNANDES, N. F. et al. Condicionantes geomorfológicos dos deslizamentos nas encostas:

avaliação de metodologias e aplicação de modelo de previsão de áreas susceptíveis. Revista

Brasileira de Geomorfologia, v. 2, n. 1, p. 51-71, 2001.

FERRANTI, L. et al. Tropical-extratropical interaction associated with the 30-60 day

oscillation and its impact on medium and extended range prediction. Journal of the

Atmospheric Sciences, v. 47, p. 2177-2199, 1990.

FREIRE, E. S. M. Movimentos coletivos de solos e rochas e sua moderna sistemática. Revista

Construção, n. 95, p. 10-18, 1965.

GALLI, M. et al. Comparing landslide inventory maps. Geomorphology, v. 94, n. 3-4, p. 268-

289, 2008.

GARCIA, R. A. C. Metodologias de avaliação da perigosidade e risco associado a

movimentos de vertente: aplicação na bacia do rio Alenquer. 2012. 469 f. Tese (Doutorado em

Geografia Física) – Universidade de Lisboa, Lisboa, 2012.

GIRÃO, O. Análise de processos erosivos em encostas na zona sudoeste da cidade do Recife,

Pernambuco. 2007. 305 f. Tese (Doutorado em Geografia) – CCMM, Universidade Federal

do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

______ et al. O papel do clima nos estudos de prevenção e diagnósticos de riscos

geomorfológicos em bacias hidrográficas na Zona da Mata Sul de Pernambuco. In: GUERRA,

A. J. T.; JORGE, M. C. O. Processos erosivos e recuperação de áreas degradadas. São

Paulo: Oficina de Textos, 2013. p. 126-158.

GOMES, F. S. Estudo da erodibilidade e parâmetros geotécnicos de um solo em processo

erosivo. 2001. 209 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Centro de Tecnologia e

Geociências, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2001.

GONÇALVES, F. S. Mapeamento geológico do município de Ipojuca-PE. 2014. 81 f.

Trabalho de Conclusão (Graduação em Geologia) – Curso de Geologia, Centro de Tecnologia

e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2014.

GONÇALVES, N. M. S. Impactos pluviais e desorganização do espaço urbano em Salvador.

In: MENDONÇA, F.; MONTEIRO, C. A. F. (Org.). Clima urbano. 2. ed. São Paulo:

Contexto, 2013. p. 69-92.

GRAY, G. L.; LEISER, A. J. Biotechnical slope protection and erosion control. In: ______.

Role of vegetation in stability and protection of slopes. New York: Van Nortrand Reinhol,

1982. cap. 3, p. 37-65.

Page 264: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

263

GUERRA, A. J. T. Processos erosivos nas encostas. ______; CUNHA, S. B. Geomorfologia:

uma atualização de bases e conceitos. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. cap. 4, p.

149-209.

______. O início do processo erosivo. In: ______; SILVA A. S., BOTELHO R.G.M. Erosão

e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

p. 17-55.

GUHA-SAPIR, D.; HOYOIS, P.; BELOW, R. Annual disaster statistical review 2013: the

number and trends. Brussels, Belgium: Université Catholique de Louvain, 2014. Disponível

em: <http://www.emdat.be/publications>. Acesso em: 8 out. 2014.

GUIDICINI, G.; IWASA, O. Y. Tentative correlation between rainfall and landslide in a

humid tropical environment. Bulletin of the International Association of Engineering

Geology, v. 16, n, 1, p. 13-20, Dec. 1977.

GUIDICINI, G.; NIEBLE, C. M. Estabilidade de taludes naturais e de escavação. São Paulo:

E. Blücher, 1984. 194 p.

GUSMÃO FILHO, J. A.; ALHEIROS, M. M.; MELO, L. V. Treatment for rehabilitation of

urban hills as related to risk potential. In: INTERNATIONAL CONFERENCE: THE

ENVIRONMENT AND GEOTECHNICS: from decontamination to protection of the sub-

soil, Paris, 1993. Proceedings…Paris: SIMSTF/ASCE, 1993. p. 541-548.

GUZZETTI, F. Landslide hazard and risk assessment. Dissertation (Doctorate) – University

of Bonn, Bonn, 2005. Disponível em: <http://hss.ulb.uni- bonn.de/ 2006/0817/0817.pdf>.

Acesso em: 17 fev. 2015.

______ et al. Landslide hazard evaluation: a review of current techniques and their

application in a multi-scale study, Central Italy. Geomorphology, v. 31, p. 181-216, 1999.

______ et al. Landslide inventory maps: new tools for an old problem. Earth-Science

Reviews, v. 112, n. 1-2, p. 42-66, 2012.

HANSEN, A. Landslide hazard analysis. In: BRUNDSEN, D.; PRIOR, D. B. (Ed.). Slope

instability. New York: Wiley, 1984. p. 523-602.

______ et al. Application of GIS to hazard assessment, with particular reference to landslides

in Hong Kong. In: CARRARA, A.; GUZZETTI, F. (Ed.) Geographical Information Systems

in Assessing Natural Hazards. Dordrecht, The Netherlands: Kluwer Academic Publisher,

1995. p. 135-175.

HASTENRATH, S. On modes of tropical circulation and climate anomalies. Journal

Atmospheric Sciences, v. 35, n. 12, p. 2222-2231, Dec. 1978.

HASTENRATH, S.; HELLER L. Dynamics of climatic hazards in Northeast Brazil.

Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society, v. 103, n. 435, p. 77-92, Jan. 1977.

Page 265: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

264

HISTÓRICO de Suape: Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros.

Suape em Destaque, 2 dez. 2011. Disponível em: <http://suapeemdestaqueblogspot.com.br/

2011/12/historico-de-suape-complexo-industrial.html>. Acesso em: 25 ago. 2014.

HOUGHTON, J. Global warming: the complete briefing. Cambridge: Cambridge University

Press, 2003. 251 p.

HUTCHINSON, J. N. Landslide hazard assessment. In: BELL, D. H. (Ed.). Landslides. In:

INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON LANDSLIDES, 6., Proceedings… New Zealand:

A.A. Balkema, Christchurch, 1995. v. 3, p. 1.805-1.841.

HUTCHINSON, J. N.; CHANDLER, M. P. A preliminary landslide hazard zonation of the

Undercliff of the Isle of Wight. In: CHANDLER, R. J. Slope stability engineering:

development and applications. London: Thomas Telford, 1991. p. 197- 205.

IBGE. Censo demográfico 2010: características da população e dos domicílios: resultados do

universo. Rio de Janeiro, 2011. Não paginado.

______. Manual técnico de uso da terra. 3. ed. Rio de Janeiro, 2013. 171 p. (Manuais

Técnicos em Geociências, n. 7).

INFANTI JÚNIOR, N.; FORNASARI FILHO, N. Processos de dinâmica superficial. In:

OLIVEIRA, A. M. S.; BRITO, S. N. A. Geologia de engenharia. São Paulo: Associação

Brasileira de Geologia de Engenharia, 1998. cap. 9, p.131-152.

INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS (São Paulo, SP) Ocupação de encostas:

manual. Coordenação de M. A. Cunha. São Paulo, 1991. 216 p. (IPT. Manual, n.1.831).

______. Mortes por escorregamento no Brasil 1998-2005. São Paulo, 2005. 1 CD-ROM.

IPCC. Managing the risks of extreme events and disasters to advance climate change

adaptation: a special report of Working Groups I and II of the Intergovernmental Panel on

Climate Change. Cambridge, UK; New York, NY: Cambridge University Press, 2012. 582 p.

IPOJUCA. Prefeitura. Lei n.º 1.490 de 30 de junho de 2008. Aprova o Plano Diretor

Participativo do Município e dispõe sobre as condições de sua implementação no território

municipal. Ipojuca: A Prefeitura, 2008. Não paginado.

JENSEN. J. R. Sensoriamento remoto do ambiente: uma perspectiva em recursos terrestres.

São José dos Campos, SP: Parântese, 2009. 598 p.

JULIÃO, R. P. et al. Guia metodológico para a produção de cartografia municipal de risco e

para a criação de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) de base municipal. Lisboa:

Autoridade Nacional de Protecção Civil, 2009. 93 p. Disponível em:

<http://www.proteccaocivil.pt/Documents/guia_metodologico_SIG.pdf >. Acesso em: 17 fev.

2015.

KANE, R. P. Prediction of droughts in north-east Brazil: role of ENSO and use of

periodicities. International Journal of Climatology, v.17, p. 655-665, 1997.

Page 266: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

265

KANUNGO, D. P. et al. Landslide susceptibility zonation (LSZ) mapping. Journal of South

Asia Disaster Studies, v. 2, 2009.

KAVZOGLU, T.; SAHIN, E. K; COLKENSEN, I. Landslide susceptibility mapping using

GIS-based multi-criteria decision analysis, support vector machines, and logistic regression.

Landslides, v. 11, n. 3, Feb. 2013.

KAYANO, M. T.; ANDREOLI, R. V. Clima da região Nordeste do Brasil. In:

CAVALCANTI, I. F. A. et al. Tempo e clima no Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2009.

KEEFER, D. K. et al. Real time landslide warning during the heavy rainfall. Science, New

Series, v. 238, n. 4829, p. 921-925, Nov. 1987.

KOMAC, M. A landslide susceptibility model using the Analytical Hierarchy Process method

and multivariate statistics in perialpine Slovenia. Geomorphology, v. 74, p. 17-28, 2006.

KOBIYAMA , M. (Org.) Prevenção de desastres naturais: conceitos básicos. Florianópolis:

Organic Trading, 2006.

KOMAC, M. A landslide susceptibility model using the Analytical Hierarchy Process method

and multivariate statistics in perialpine Slovenia. Geomorphology, v. 74, p. 17-28, 2006.

KOUSKY, V. E. Frontal influences on northeast Brazil. Monthly Weather Review, v. 107, n.

9, p. 1140-1153, 1979.

KOZCIAK, S. Análise da estabilidade de vertentes na bacia do rio Marumbi-Serrra do Mar-

Paraná. 2005. 141 f. Tese (Doutorado em Geologia Ambiental) – Setor de Ciências da Terra,

Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.

KURIAKOSE, S. L. Physically-based dynamic modeling of the effect of land use changes on

shallow landslide initiation in the Western Ghats of Kerala, India. Enschede, The

Netherlands: University of Twente, 2010. 276 p.

LACERDA, W. A. Stability of natural slopes along the tropical coast of Brazil. YMPOSIUM

ON RECENT DEVELOPMENTS IN SOIL AND PAVEMENT MECHANICS, 1997, Rio de

Janeiro. Proceedings… Rio de Janeiro: Coppe-UFRJ, 1997. p. 17-40.

LEROI, E. Landslide hazard: risk maps at different scales: objectives, tools and

developments. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON LANDSLIDES, 7., 1996,

Trondheim, Norway. Proceedings… Trondheim, Norway, 1996. p. 35-52.

LIAO, Z. et al. Prototyping an experimental early warning system for rainfall-induced

landslides in Indonesia using satellite remote sensing and geoespatial datasets. Landslides, v.

7, n. 3, p. 317-324, Sept. 2010.

LIMA FILHO, M. F. Análise estratigráfica e estrutural da bacia Pernambuco. São Paulo,

1998. 139 f. Tese (Doutorado em Geociências) – Instituto de Geociências, Universidade de

São Paulo, São Paulo,1998.

LLOPIS TRILLO, G. Control de la erosión y obras de desagüe. In: LOPEZ JIMENO, Carlos

et al. Manual de estabilización y revegetación de taludes. Madri: Entorno Grafico, 1999.

Page 267: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

266

LOPES, E. S. S. Modelagem especial e dinâmica em Sistema de Informação Geográfica: uma

aplicação ao estudo de movimentos de massa em uma região da Serra do Mar paulista. 2006.

314 f. Tese (Doutorado em Geociências e Meio Ambiente) – Instituto de Geociências e

Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2006.

LOPES, J. R. F.; SILVA, D. F. Aplicação do teste de Mann-Kendall para análise de tendência

pluviométrica no estado do Ceará. Revista de Geografia, UFPE, v. 30, n. 3, 2013.

LOPES, V. L. Um estudo da erosão e produção de sedimentos pelas chuvas. Mossoró: Escola

Superior de Agricultura de Mossoró, 1980. 71 p.

LUCKMAN, P.G.; GIBSON, R. D.; DEROSE, R. C. Landslide erosion risk to New Zealand

pastoral steeplands productivity. Land Degradation & Development, v. 10, n. 1, p. 49-65,

1999.

MA, F. et al. Application of analytical hierarchy process and least square method for landslide

susceptibility assessment along the Zhong-Wu natural gas pipelines, China. Landslides, v. 10,

n. 4, p. 481-492, 2013.

MACEDO, E. S.; BRESSANI, L. A. (Org.). Diretrizes para o zoneamento da suscetibilidade,

perigo e risco de deslizamento para o planejamento do uso do solo. São Paulo: ABGE;

ABMS, 2013. 88 p.

MACHADO, C. C. C. et al. Distúrbios ondulatórios de leste como condicionante a eventos

extremos de precipitação em Pernambuco. Revista Brasileira de Climatologia, v. 11, p. 146-

188 jul./dez. 2012.

MARCELINO, E. V.; NUNES, L. H.; KOBIYAMA, M. Banco de dados de desastres

naturais: análise de dados globais e regionais. Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 6, n.

19, p. 130-149, out. 2006.

MARQUES, R. et al. Desenvolvimento de um sistema empírico de alerta para movimentos de

vertente (ELEWS‐Pov) através da aplicação da distribuição generalizada dos valores

extremos (dGVE) na determinação de limiares de precipitação no concelho da Povoação

(ilha de S. Miguel, Açores). In: CONGRESSO NACIONAL DE GEOMORFOLOGIA, 5.,

2010, Porto. Actas, Proceedings... Porto, 2010. p. 327-332.

MARRAPU, B. M.; JAKKA, R. S. Landslide hazard zonation methods: a critical review.

International Journal of Civil Engineering Research, v. 5, n. 3, p. 215-220, 2014.

MEIJERINK, A. M. J. Data acquisition and data capture through terrain mapping units. ITC

Journal Special, n. 1, p. 23-44, 1988.

MEIRA, F. F. D. A. Estudo do processo erosivo em encostas ocupadas.2008. xl, 474 f. Tese

(Doutorado em Engenharia Civil) – Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade

Federal de Pernambuco, Recife, 2008.

MEKONNEN, A.; TRORNCROFT, C. D.; AIYYER, A. R. Analysis of Convection and Its

Association white African Easterly Waves. Journal of Climate, v. 19, p. 5405-5421, 2006.

Page 268: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

267

MENEZES, H. E. A. et al. A relação entre a temperatura da superfície dos oceanos tropicais e

a duração dos veranicos no estado da Paraíba. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 23, n. 2,

p. 152-161, jun. 2008.

MIRANDA, G. K. Urbanização turística e dinâmica socioespacial do trabalho em Porto de

Galinhas, PE. 2012. 168 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Centro de Filosofia e

Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2012.

MODESTO, R. P; NUNES, L. H. Pluviometria e problemas ambientais no município do

Guarujá. Revista do Departamento de Geografia, n. 10, p. 59-71, 1996.

MOLION, L. C. B.; BERNARDO, S. O. Uma revisão da dinâmica das chuvas no Nordeste do

Brasileiro. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 17, n. 1, 1-10, 2002.

MONDAL, S.; MAITI, R. Landslide susceptibility analysis of Shiv-Khola Watershed,

Darjiling: a remote sensing and GIS based analytic hierarchy process. Journal of the Indian

Society Remote Sensing, v. 40, n. 3, p. 483-496, 2012.

MONTEIRO, C. A. de F. Clima e excepcionalismo: conjecturas sobre o desempenho da

atmosfera como fenômeno geográfico. Florianópolis, SC: Ed. da UFSC, 1991. 241 p.

MONTEIRO, J. B. ; ZANELLA, M. E. Eventos pluviométricos extremos e impactos

associados em Fortaleza: CE: uma análise a partir da técnica de quantis. In: SILVA, C. A.;

FIALHO, E. S.; STEINKE, E. T. (Org.). Eventos pluviométricos extremos e impactos

associados em Fortaleza, CE: uma análise a partir da técnica de quantis. Dourados: UFGD,

2014. v. 1, p. 165-186.

MOORE, I. D.; GRAYSON, R. B. Terrain-based catchment partitioning and runoff prediction

using vector elevation data. Water Resources Research, v. 27, n. 6, p. 1.171-1.191, 1991.

______; GRAYSON, R. B.; LADSON, A. R. Digital terrain modelling: a review of

hydrological, geomorphological, and biological applications. Hidrological Process, v. 5, p. 3-

30, 1991.

______; O'LOUGHLIN, E. M.; BURCH, G. J. A contour-based topographic model and its

hydrologic and ecological applications. Earth Surface Processes and Landforms, v. 13, n. 4,

p. 305-320, Jun. 1988.

MORGAN, R .P. C. Soil erosion and conservation. 2. ed. Boston: Addison-Wesley, 1996.

Não paginado.

MOURA, G. B. A. et al. Relação entre a precipitação no setor leste do Nordeste do Brasil e a

temperatura da superfície dos oceanos Atlântico e Pacífico. Revista Brasileira de Engenharia

Agrícola e Ambiental, v. 4, n. 2, p. 247-251, 2000.

MOURA, G. B. A. et al. Relação entre a precipitação do leste do Nordeste do Brasil e a

temperatura dos oceanos. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 13, p.

462-469, 2009.

Page 269: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

268

NEELIN, J. D. et al. ENSO theory. Journal Geophysical Research, v. 103, n. C7, p.

14260-14290, Jun. 1998.

NICHOLLS, N. Atmospheric and climatic hazards: improved monitoring and prediction for

disaster mitigation. Natural Hazards, v. 23, n. 2-3, p. 137-155, Mar. 2001.

NÓBREGA, R. S.; SANTIAGO, G. A. C. Tendência de temperatura na superfície do mar nos

oceanos Atlânticos e Pacífico e variabilidade de precipitação em Pernambuco. Mercator, v.

13, n.1, p. 107-118, jan./abr. 2014.

NOGUEIRA, F. R. Políticas públicas municipais para gerenciamento de riscos ambientais

associados a escorregamentos em áreas de ocupação subnormal. 2002. 256 p. Tese

(Doutorado em Geociências e Meio Ambiente) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas,

Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2002.

NOSSIN, J. J. Aerospace survey of natural hazards. ITC Journal, n. 3-4, p. 183-188, 1989.

OLIVEIRA, M. A. T. Processos erosivos e preservação de áreas de risco de erosão por

voçorocas. In: GUERRA, A. J. T.; SILVA, A. S.; BOTELHO, R. G. M. (Org.). Erosão e

conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

p. 57-100.

O’LOUGHLIN, E. M. Prediction of surface saturation zones in natural catchments by

topographic analysis. Water Resources Research, v. 22, n. 5, p. 794-804, 1986.

PANIZZA, M. Ricerche di geomorfologia applicata alla pianificazione territoriale. Memorie

della Società Geologica Italiana, n. 14, p. 109-112, 1975.

PARDESHI, S. D.; AUTADE; PARDESHI, S. S. Landslide hazard assessment: recente trends

and techiques. SpringerPlus, v. 2, n. 1, Oct. 2013. Disponível em: <http://www.springplus.

com/content/2/1/523>. Acesso em: 16 nov. 2014.

PASTORE, E. L.; FONTES, R. M. Caracterização e classificação dos solos. In: OLIVEIRA,

A. M. S.; BRITO, S. N. A. (Org.) Geologia de engenharia. São Paulo: Associação Brasileira

de Geologia de Engenharia, 1998. p. 197-210.

PEDROSA, M. G. Análise de correlações entre pluviometria e escorregamentos de taludes.

1994. 343 p. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Coppe, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Rio de Janeiro, 1994.

PETLEY, D. Landslide hazard. In: ALCÁNTARA-AYALA, I.; GOUDIE, A. S.

Geomorphological hazard and disaster prevention. Cambridge: Cambridge University Press,

2010. p. 63-73.

PFALTZGRAFF, P. A. S. Carta geotécnica e de suscetibilidade a processos geológicos do

município de Ipojuca, Pernambuco. Recife: CPRM/Fidem, 1998. 18 p.

PFALTZGRAFF, P. A. S. Mapa de suscetibilidade a deslizamentos na região metropolitana

do Recife. 2007. 153 p. Tese (Doutorado em Geociências) – Centro de Tecnologia e

Geociências, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2007.

Page 270: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

269

PHILANDER, S. G. El Niño, La Niña and the southern oscillation. San Diego, CA:

Academic Press, 1990. 293 p.

PIELKE, JR., R. A. Making sense of trends in disaster losses. The OST's Publication on

Science & Technology Policy, v. 7, 2005. [on line] <http://sciencepolicy.colorado.edu/

admin/publication_files/resource-1771-2005.38.pdf>. Acesso em: 3 nov. 2014.

______ et al. Clarifying the attribution of recent disaster losses: a response to Epstein and

McCarthy (2004). Bulletin of the American Meteorological Society, v. 86, n. 10, p. 1481-

1483, 2005.

PINHEIRO, A.; GRACIANO, R. L. G.; SEVERO, D. L. Tendências das séries temporais de

precipitação da região Sul do Brasil. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 28, n. 3, 281-290,

2013.

PINKAYAN, S. Conditional probabilities of occurence of wet and dry years over a large

continental area. Colorado: State University, Boulder-Co, 1966. (Hydrology Papers, n. 12).

POBREZA em Ipojuca contrasta com desenvolvimento econômico de Suape. Diario de

Pernambuco, Recife, 7 mar. 2014. Disponível em: <http://www.diariodepernambuco.

com.br/app/noticia/vida-urbana/2014/03/17/interna_vidaurbana,494487/pobreza-em-ipojuca-

contrasta-com-desenvolvimento-economico-de-suape.shtml>. Acesso em: 6 fev. 2015.

RASMUSSON, E. M.; CARPENTER, T. H. Variations in tropical sea-surface temperature

and surface wind fields associated with the Southern Oscillation El Niño. Monthly Weather

Review, v. 110, n. 5, p. 354-384, May 1982.

REICHENBACH P. et al. (2005) Geomorphologic mapping to assess landslide risk: concepts,

methods and applications in the Umbria Region of central Italy. In: GLADE, T.;

ANDERSON, M. G.; CROZIER, M. J. (Ed.). Landslide risk assessment. New Jersey: John

Wiley, 2005. p. 429-468.

RIMA. Relatório de impacto ambiental: barragem do rio Ipojuca, Engenho Maranhão. 2011.

In: <http://www.cprh.pe.gov.br/downloads/Rima_ das_barragens_do_rio_Ipojuca_Tudo.pdf>.

Acesso em: 20 nov. 2014.

ROSS, J. L. S. O registro cartográfico dos fatos geomórficos e a questão da taxonomia do

relevo. Revista do Departamento de Geografia da USP, n. 6, p. 17-29, 1992.

SAATY, R. W. The analytic hierarchy process: what it is and how it is used. Mathematical

Modeling, v. 9, n. 3-5, p. 161-176, 1987.

SALCIARINI, D. et al. Modeling regional initiation of rainfall-induced shallow landslide in

the eastern Umbria Region of central Italy. Landslides, v. 3, p. 181-194, 2006.

SALOMÃO, F. X. T. Controle e prevenção dos processos erosivos. In: GUERRA, A. J. T.;

SILVA, A. S.; BOTELHO, R. G. M. (Org.). Erosão e conservação dos solos: conceitos,

temas e aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. p. 229-267.

Page 271: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

270

SALOMÃO, F. X. T.; ANTUNES, F. S. Solos em pedologia. In: OLIVEIRA, A. M. S.;

BRITO, S. N. A. Geologia de engenharia. São Paulo: ABGE, 1998. p. 87-99.

______; IWASA, O. Y. Erosão e a ocupação rural e urbana. In: BITAR, O. (Coord.). Curso

de geologia aplicado ao meio ambiente. São Paulo: ABGE; IPT. 1995. p. 31-57.

SANCHES, F. O.; VERDUM, R.; FISCH, G. O índice de anomalia de chuva (IAC) na

avaliação das precipitações anuais em Alegrete / RS (1928-2009). Caminhos da Geografia.

Uberlândia, v. 15, n. 51, p. 73-84, set. 2014.

SANTOS, A. R. Manual básico para elaboração e uso da carta geotécnica. São Paulo:

Rudder, 2014. 105 p.

SANTOS, E. J. O complexo granítico Lagoa das Pedras: acresção e colisão na região de

Floresta (Pernambuco), Província Borborema. 1995. 219 f. Tese (Doutorado em Geociências)

– Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1995.

______; BRITO NEVES, B. B.;VAN SCHMUS, W. R. O complexo granítico Lagoa das

Pedras: acreção e colisão na região de Floresta (Pernambuco), Província Borborema. In:

SIMPOSIO DE GEOLOGIA DO NORDESTE, 16, 1995, Recife. Atas... Recife: SBG, 1995.

v. 2, p. 401-406. (Boletim do Núcleo Nordeste da SBG, 14).

SANTOS, R. D. et al. Manual de descrição e coleta de solo no campo. 6. ed. Viçosa, MG:

Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2013. 100 p.

SAREWITZ, D.; PIELKE JR., R., 2000, Extreme Events: developing a research agenda for

the 21st Century: unpublished workshop report. 2000. Disponível em:

<http://www.esig.ucar.edu/extremes/>. Acesso em: 6 fev. 2015.

SAVAGE, W. Z. GODT, J. W.; BAUM, R. L. Modeling time-dependent areal slope stability.

In: LACERDA, E.; FONTOURA; SAYÃO, A. S. F. (Ed.). Landslide: evaluation and

stabilization. INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON LANDSLIDES, 9., 2004, Rio de

Janeiro. Proceedings… Balkewa: A. A. Balkema, 2004. v. 1, p. 23-36.

SELBY, M. J. Hillslope materials and process. New York: Oxford University Press, 1993.

451 p.

SILVA, A. P. N. et al. Correlação entre as temperaturas da superfície do mar e a quantidade

da precipitação na estação chuvosa no Nordeste do estado de Pernambuco. Revista Brasileira

de Meteorologia, v. 26, n. 1, p. 149-156, 2011.

SILVA, D. F.; GALVÍNCIO, J. D.; NÓBREGA, R. S. Influência da variabilidade climática e

da associação de fenômenos climáticos sobre sub-bacias do rio São Francisco. Revista

Brasileira de Ciências Ambientais, n. 19, mar. 2011.

SILVA, E. P. Caracterização geo-ambiental e estudo da variabilidade espaço-temporal de

processo erosivo no parque metropolitano Armando de Holanda Cavalcanti, Cabo de Santo

Agostinho, PE, Brasil. 2004. 152 f. Dissertação (Mestrado em Geociências) – Centro de

Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004.

Page 272: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

271

SILVA, F. B. R. et al. Zoneamento agroecológico do estado de Pernambuco. Recife:

Embrapa Solos, 2001. 1 CD-ROM. (Embrapa Solos. Documentos, n. 35).

SILVA, V. P. Distúrbios ondulatórios de leste: estudo de casos que afetaram a costa leste do

NEB. 2010. 77 f. Dissertação (Mestrado em Meteorologia) – Centro de Tecnologia e

Recursos Naturais Unidade Acadêmica de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de

Campina Grande, Campina Grande, JP, 2010.

SNEYERS, R. Sur l’analyse statistique des series d’observations. Genève: Organisation

Metéorologique Mondial, 1975. 192 p.

SOBREIRA, F. G.; SOUZA, L. A. Cartografia geotécnica aplicada ao planejamento urbano.

Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental, v. 2, n. 1, p. 79-97, 2012.

SOETERS, R.; VAN WESTEN, C. J. Slope instability recognition, analysis, and zonation. In:

TURNER, A. K.; SCHUSTER, R. L. Landslides investigation and mitigation. Washington

D.C: Transportation Research Board, National Research Council, 1996, p.129-177. (Special

Report, 247).

SORALUMP, S. Rainfall-triggered landslide: from research to mitigation practice in

Thailand. Geotechnical Engineering Journal of the SEAGS&AGSSEA, v. 41, n. 1, p. 1-6, Mar.

2010.

SOUZA, E. B. de. Um estudo observacional sobre o padrão de dipolo de anomalias de

temperatura da superfície do mar no Oceano Atlântico Tropical. 1997. 141 f. Dissertação

(Mestrado em Meteorologia) – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos

Campos, SP, 1997.

SOUZA, L. A.; SOBREIRA, F. G. Guia para elaboração de cartas geotécnicas de aptidão à

urbanização frente aos desastres naturais: estudo de caso de Ouro Preto 2013. Brasília, 2014.

Disponível em: <http://www.abge.org.br/uploads/imgfck/file/

GUIA_APTIDAO_A_URBANIZACAO_SOUZA_E_SOBREIRA_2014.pdf>. 15 fev. 2015.

SOUZA, W. M. Impactos socioeconômicos e ambientais dos desastres associados às chuvas

na cidade do Recife-PE. 2011. 121 f. Tese (Doutorado em Recursos Naturais). Programa de

Pós-Graduação em Recursos Naturais, Universidade Federal de Campina Grande, Campina

Grande, PB, 2011.

______; AZEVEDO, P. V.; ARAÚJO, L. E. Classificação da precipitação diária e impactos

decorrentes dos desastres associados às chuvas na cidade do Recife , PE. Revista Brasileira de

Geografia Física, v. 2, p. 250-268, 2012.

SPEIGHT, J. G. Landform pattern description from aerial photographs. Photogrammetry, v.

32, p. 161-182, 1977.

STRANG, D. M. G. D. Análise climatológica das normais pluviométricas do Nordeste

brasileiro. São José dos Campos: CTA/IAE, 1972. 29 p.

TABALIPA, N. L.; FIORI, A. P. Influência da vegetação na estabilidade de taludes na bacia

do rio Ligeiro (PR). Geociências, São Paulo, v. 27, n. 3, p. 387-399, 2008.

Page 273: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

272

TATIZANA, C. et al. Análise de correlação entre chuvas e escorregamentos, Serra do Mar,

município de Cubatão. CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA,

5., 1987, São Paulo. Anais... São Paulo: ABGE, 1987a. v. 2, p. 225-236.

______. Modelamento numérico da análise de correlação entre chuvas e escorregamentos

aplicado às encostas da Serra do Mar, município de Cubatão. Congresso Brasileiro de

Geologia de Engenharia, 5., 1987, São Paulo. Anais... São Paulo: ABGE, 1987b. v. 2, p. 237-

248.

TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2003. 558 p.

TOMINAGA, L. K. Cartas de perigo de escorregamentos e de risco a pessoas e bens do litoral

norte de São Paulo: conceitos e técnicas. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CARTOGRAFIA

GEOTÉCNICA E GEOAMBIENTAL, 5., 2004, São Carlos, (SP). [CD-ROM] Anais... São

Paulo: ABGE, 2005. 1 CD-ROM. p. 205-216.

______. Avaliação de metodologia de análise de risco a escorregamentos: aplicação de um

ensaio em Ubatuba, SP. 2007. 240 f. Tese (Doutorado em Ciências, Geografia Física) –

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo,

2007.

TORRES, F. S. de M. Carta de suscetibilidade a movimentos de massa e erosão do município

do Ipojuca-PE. 2014. 106 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade

Federal de Pernambuco, Recife, 2014.

TROEH, F. R. Landform equations fitted to contour maps. American Journal of Sciences, n.

263, p. 616-627, 1965.

TURNER, A. K.; SCHUSTER, R. L. (Ed.). Landslides: investigation and mitigation.

Transportation Research Board Special Report, n. 247. Washington, D. C., National Research

Council, 1996. 673 p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Centro Universitário de Estudos e

Pesquisas sobre Desastres. Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2010: volume Brasil.

Florianópolis: Ceped, UFSC, 2012. 94 p.

______. Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2012: volume Pernambuco. 2. ed.

Florianópolis: Ceped, UFSC, 2013. 130 p. Disponível em: <http://150.162.127.14:8080/

atlas/Atlas%20Pernambuco%202.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2015.

VALERIANO, M. M. Curvatura vertical de vertentes em microbacias pela análise de modelos

digitais de elevação. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.7, n.3, p. 539-

546, 2003.

VAN WESTEN, C. J. Application of geographic information system to landslide hazard

zonation. ITC Publications, Enschede, The Netherlands, n. 15, p. 245-260, 1993.

Page 274: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

273

VAN WESTEN, C. J.; VAN ASCH, T.W.J; SOETERS, R. Landslide hazard and risk

zonation: why is still so difficult? Bulletin of Engineering Geology and the Environment, v.

65, n. 2, p. 167-184, 2006.

______ et al. Prediction of the occurrence of slope instability phenomenal through GIS-based

hazard zonation. Geologische Rundschau, n. 86, p. 404-414, 1997.

VANACÔR, R. N. Sensoriamento remoto e geoprocessamento aplicados ao mapeamento das

áreas suscetíveis a movimentos de massa na região Nordeste do estado do Rio Grande do Sul.

2006. 132 f. Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto) – Centro Estadual de

Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia, Universidade Federal do Rio Grande do

Sul, Porto Alegre, 2006.

______; ROLIM, S. B. Mapeamento da suscetibilidade a deslizamentos usando técnicas de

estatística bivariada e sistemas de informações geográficas na região Nordeste do Rio Grande

do Sul. Revista Brasileira de Geomorfologia, v. 13, n. 1, p. 15-28, jan./mar. 2012.

VARGAS JÚNIOR, E. et al. A study of the relationship between the stability of slopes in

residual soils and rain intensity. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON

ENVIRONMENTAL GEOTECHNOLOGY, 1986. Proceedings… Leigh, USA: Envo

Publishing, 1986. p. 491-500.

VARNES, D. J. Slope movement and types and process. In: SCHUSTER, R. L.; KRIZEK,

R.J. (Ed.) Landslides: analysis and control: transportation research board special report 176.

Washington DC: National Academy of Sciences, 1978. p. 11-33.

______. Landslide hazard zonation: a review of principles and practice. Paris: United Nations

International, 1984.

VERSTAPPEN, H. T. Applied geomorphology: geomorphological survey for environmental

development. Amsterdam: Elsevier Scientific Publishing, 1983.

VEYRET. Y (Org.). Os riscos: o homem como agressor e vítima do meio ambiente. São

Paulo: Contexto, 2007. 319 p.

VICENTE, A. K. Eventos extremos de precipitação na região metropolitana de Campinas.

2004. 133 p. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de Geociências, Universidade

Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2005.

WISCHMEIER, W.H. A rainfall index for a universal soil loss equation. Proceedings of Soil

Science Society of America, v. 23, n. 3, p. 246-249, 1959.

WOLLE, C. M. (Coord). Slope stability. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON

TROPICAL LATERITIC AND SAPROLITIC SOILS, 1., 1985, Brasília. Progress Report...

Brasília: ABMS, 1985. t. 3.2, 51 p.

WU, C.-H.; CHEN, S.-C. Determining landslide susceptibility in Central Taiwan from rainfall

and six site factors using the analytical hierarchy process method. Geomorphology, v. 112, n.

3-4, p. 190-204, 2009.

Page 275: EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA … · EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA ... Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo com a forma e os processos

274

XAVIER, T. M. B. S. A técnica dos quantis e suas aplicações em meteorologia, climatologia

e hidrologia, com ênfase para as regiões brasileiras. Brasília: Thesaurus, 2002. 140 p.

______; XAVIER, A. F. S. Caracterização de períodos secos ou excessivamente chuvosos no

estado do Ceará através da técnica dos Quantis: 1964-1998. Revista Brasileira de

Meteorologia, v. 14, n. 2, p. 63-78, dez. 1999.

YALCIN, A. et al. A GIS- based comparative study of frequency ratio, analytical hierarchy

process, bivariate statistics and logistics regression methods for landslide susceptibility

mapping in Trabzon, NE Turkey. Catena, n. 85, p. 274-287, 2011.

ZEVENBERGEN, L. W.; THORNE, C. R. Quantitative analysis of land surface topography.

Earth Surface Process and Landforms, v. 12, p. 47-56, 1987.

ZÊZERE, J. L. et al. Rainfall thresholds for landslide activity in Portugal: a state of the art.

Environmental Earth Sciences, v. 73, n. 6, p. 2917-2936, Mar. 2015.