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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – CFCH
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS – DCG
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - PPGEO
EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA
SUSCETIBILIDADE A MOVIMENTOS DE MASSA NO
MUNICÍPIO DO IPOJUCA – PE
CRISTIANA COUTINHO DUARTE
Orientadores: Prof. Dr. Ranyére Silva Nobrega e Prof. Dr. Roberto Quental Coutinho
RECIFE
2015
CRISTIANA COUTINHO DUARTE
EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA
SUSCETIBILIDADE A MOVIMENTOS DE MASSA NO
MUNICÍPIO DO IPOJUCA-PE
Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Geografia, do
Departamento de Ciências Geográficas da
Universidade Federal de Pernambuco, como
parte dos requisitos para obtenção do título de
Doutora em Geografia, tendo como
orientadores:
Prof. Dr. Ranyére Silva Nóbrega
Prof. Dr. Roberto Quental Coutinho
RECIFE
2015
Catalogação na fonte
Bibliotecária Maria do Carmo de Paiva, CRB-4 1291
D812e Duarte, Cristiana Coutinho.
Eventos extremos de chuva e análise da suscetibilidade a movimentos
de massa no município do Ipojuca-PE / Cristiana Coutinho Duarte. – Recife:
O autor, 2015.
275 f. : il. ; 30 cm.
Orientador: Prof. Dr. Ranyére Silva Nóbrega.
Orientador: Prof. Dr. Roberto Quental Coutinho.
Tese (doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco, CFCH.
Programa de Pós-Graduação em Geografia, 2015.
Inclui referências.
1. Geografia. 2. Climatologia. 3. Precipitação (Meteorologia). 4. Chuvas – Ipojuca (PE). 5. Impacto ambiental. I. Nóbrega, Ranyére Silva (Orientador). II. Coutinho, Roberto Quental (Orientador). III. Título.
910 CDD (22.ed.) UFPE (BCFCH2016-05)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS - CFCH
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS - DCG PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - PPGEO
CRISTIANA COUTINHO DUARTE
EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA E ANÁLISE DA SUSCETIBILIDADE A
MOVIMENTOS DE MASSA NO MUNICÍPIO DE IPOJUCA-PE
Tese aprovada, em 6/10/2015, pela comissão examinadora:
____________________________________________________________
Prof. Dr. Ranyére Silva Nóbrega
(1.º examinador – orientador – PPGEO/DCG/UFPE)
____________________________________________________________
Prof. Dr. Roberto Quental Coutinho
(2.º examinador – orientador – Engenharia Civil/UFPE)
____________________________________________________________
Prof. Dr. Osvaldo Girão da Silva
(3.º examinador – PPGEO/DCG/UFPE)
____________________________________________________________
Prof. Dr. Marcelo Reis Rodrigues da Silva
(4.º examinador – Geologia/UFPE)
____________________________________________________________
Profa. Dra. Weronica Meira de Souza
(5.º examinador – Geociências/UFRPE-UAG)
____________________________________________________________
Prof. Dr. Juan Antonio Altamirano Flores
(6.º examinador – Geociências/UFSC)
RECIFE 2015
À minha mãe, Ana Cristina Coutinho Duarte,
reconhecendo e agradecendo todo seu esforço
diante das dificuldades para criar três filhos
com muito amor, saúde, educação e paz; aos
meus irmãos Alexandre Coutinho Duarte e
Paulo José Duarte Neto.
AGRADECIMENTOS
A Deus, as oportunidades que me foram dadas nesta vida e a força e determinação para vencer
os obstáculos e prosseguir com fé e alegria.
Ao Professor Roberto Quental Coutinho do Departamento de Engenharia Civil da
Universidade Federal de Pernambuco, a orientação e grande oportunidade de fazer parte do
Grupo de Engenharia Geotécnica de Encostas Planícies e Desastres (Gegep), do qual é
coordenador. Agradeço a oportunidade de trabalhar no projeto que deu origem a esta tese e
toda a transferência de conhecimentos.
Ao Professor Ranyére Silva Nóbrega do Departamento de Geografia da Universidade Federal
de Pernambuco, a orientação no decorrer desta jornada, compreendendo as mudanças pelas
quais passei nestes últimos quatro anos, e a oportunidade de fazer parte do Grupo de Estudos
em Climatologia Tropical e Eventos Extremos (Tropoclima), do qual é coordenador.
Aos bolsistas, pesquisadores e professores que fazem parte desta grande família, que é o
Gegep, e aos que trabalharam diretamente no Projeto “Elaboração de cartas geotécnicas de
aptidão à urbanização no município do Ipojuca, localizado na região metropolitana do Recife,
estado do Pernambuco”.
Agradeço àqueles que trabalharam diretamente no desenvolvimento do referido projeto e,
consequentemente, desta tese, Robson Lima, Hugo Henrique, Jéssica Menezes, Drielly
Fonseca, Fernanda Miranda, Cristiane Barbosa, Betânia Queiroz, Saul Guedes, Rafhael Faria,
Diego Marcelino. Aos bolsistas de graduação Sarepta Feitosa, Wesley Belo e, em especial, a
Cláudia Calado, a grande ajuda no decorrer dos trabalhos e na etapa final da tese. A Marlon
Josinaldo, a colaboração da Defesa Civil na organização das planilhas de ocorrências.
A Doris Coutinho, o carinho e a força durante o desenvolvimento do projeto e da tese,
proporcionando-nos acolhimento fraterno e muita alegria.
Ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), a concessão da bolsa durante um período do
doutorado.
Ao Ministério das Cidades, o financiamento do projeto que deu origem à presente tese.
À Pós-Graduação em Geografia, em especial ao secretário Eduardo, agradeço todo o seu
empenho e atenção, sempre disposto a nos ajudar.
À Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco (Condepe/Fidem), o apoio e
fornecimento de dados.
À Prefeitura de Ipojuca, o suporte necessário à realização dos trabalhos.
À Coordenadoria de Defesa Civil do município do Ipojuca, a parceria, o acompanhamento nos
trabalhos de campo e o fornecimento dos dados de ocorrências, fundamentais no
desenvolvimento desta tese. Em especial ao Major André Ferraz, Mirtys, Gisele, Pedro e
Heryk.
À Coordenadoria de Defesa Civil do estado de Pernambuco, as informações fornecidas, na
figura do Major Marco Felipo.
Ao Professor Antonio Carlos de Barros Correia, a quem serei eternamente grata, pois foi o
maior incentivador para iniciar o doutorado, e as suas orientações no início e durante minha
jornada de graduação e pós-graduação.
Aos amigos da Sudene, que tive a oportunidade de conhecer e trabalhar durante o
desenvolvimento deste trabalho como funcionária pública, em especial aos coordenadores
Frederico e Albertina e às amigas Ludmilla, Joice, Gabriela, Jéssica, Marina e Tássia.
Aos amigos professores da Universidade de Pernambuco (UPE), agradeço compreensão da
ausência nas etapas finais de desenvolvimento da tese, em especial ao Prof. Daniel Dantas,
toda a força que me foi dada como coordenador do Curso de Geografia e amigo desde que
assumi o concurso como professora assistente nesta instituição.
A minha sogra, Clara Bahia, o carinho, acolhimento, proporcionando-me conforto e
tranquilidade para que desse tudo certo no desenvolvimento e finalização deste trabalho.
A meu namorado, Miguel Gaia Bahia, todo o amor, carinho, companheirismo e paciência,
sempre me apoiando nesta jornada.
E a todos que contribuíram direta e indiretamente para a realização deste trabalho.
“Quando o homem compreende a sua
realidade, pode levantar hipóteses sobre o
desafio dessa realidade e procurar soluções.
Assim, pode transformá-la e o seu trabalho
pode criar um mundo, seu Eu e suas
circunstâncias.”
(Paulo Freire)
RESUMO
Nos últimos quinze anos ocorreram no Brasil significativas catástrofes desencadeadas por
eventos meteorológicos de alta magnitude, principalmente em consequência de chuvas
intensas em um curto período de tempo, desencadeando processos como alagamentos,
inundações e movimentos de massa. Assim, diante desse contexto, a presente tese objetivou
identificar os eventos extremos de chuva no município do Ipojuca, litoral sul de Pernambuco,
e impactos associados a tais eventos, bem como desenvolver um modelo de análise da
suscetibilidade a movimentos de massa para todo o município do Ipojuca, na escala 1:25.000
e para uma área delimitada que abrange as Zonas Prioritárias de Urbanização (ZPU) e as Zeis
de Rurópolis e Bela Vista, entre os Distritos de Ipojuca Sede e Nossa Senhora do Ó, na escala
1:10.000. Para tanto, os procedimentos metodológicos dividiram-se em duas grandes etapas: a
primeira, relacionada com a análise climatológica do município e dos eventos extremos,
identificando os principais impactos causados por estes no município do Ipojuca. A segunda,
voltada à elaboração da carta de suscetibilidade a movimentos de massa por meio da
abordagem estatística bivariada e posterior aplicação da técnica Analytical Hierarchy Process
(AHP) na determinação do grau de influência de cada fator condicionante nos processos de
movimentos de massa. Com base nos resultados, verificou-se que os extremos de chuva em
Ipojuca concentram-se no período chuvoso de abril a julho com impactos concentrados em
áreas de assentamentos informais sobre as encostas densamente ocupadas. Com a elaboração
do inventário de cicatrizes, verificou-se no município uma elevada quantidade de processos de
erosão linear (ravinas e voçorocas) e de movimentos gravitacionais de massa, como os
deslizamentos planares, deslizamentos rotacionais e elevado potencial de queda de blocos,
concentrados na porção oeste do município sobre o embasamento cristalino, e de sedimentos
da Bacia Pernambuco, representados por relevos de colinas. As ravinas concentraram-se em
áreas utilizadas para o cultivo de cana-de-açúcar, e os deslizamentos foram significativos nas
áreas de assentamentos informais, como Rurópolis, Bela Vista, Antônio Dourado Neto e São
Miguel. O modelo gerado apresentou previsão satisfatória dos movimentos de massa no
município, estes se concentrando nas classes de suscetibilidade alta (60% ravinas e 54%
deslizamentos) e média (36% ravinas e 39% deslizamentos).
Palavras-chave: Chuvas extremas. Estatística bivariada. AHP. Carta de suscetibilidade.
ABSTRACT
In the last fifteen years, significant disasters occurred in Brazil triggered by extreme weather
events, especially as a result of heavy rain in short periods of time, resulting in overflows,
floods and mass movements. This thesis aims to identify the extreme rainfall events in the
municipality of Ipojuca, south coast of Pernambuco, and the impacts associated with such
events, as well as to develop a model for mass movement susceptibility analysis for all the
Municipality of Ipojuca in 1:25.000 scale, and for a demitaded area of the municipality
covering the Priority Areas of Urbanization (ZPU) and the Social Interest Areas of Rurópolis
and Bela Vista, between Districts of Ipojuca and Nossa Senhora do Ó, in a 1:10.000 scale. To
achieve this goal, the methodological procedures were divided into two main stages: the first,
related to the climatological analysis of the municipality and its extreme events, identifying
key impacts of these in the city of Ipojuca. The second, aimed at elaborating the map of
susceptibility to mass movements through statistical bivariate approach and subsequent
application of the Analytical Hierarchy Process (AHP) technique in determining the degree of
influence of each determinant factor in the process of mass movements. Based on the results,
is was found that the extreme rainfall in Ipojuca are concentrated in the rainy period from
April to July with impacts concentrated in areas of informal settlements on the densely
populated hillsides. Based on the inventory of scars, It was verified a high amount of linear
erosion processes (gullies and ravines) and gravitational mass movements such as palars
slides, rotational slides with high potential for rock falls concentrated in the portion west of
the city over areas of the crystalline basement, and sediments of the Pernambuco´s basin
represented by relief hills. Ravines concentrated on areas used for sugarcane cultivation, and
the slides were significant in areas of informal settlements, as Rurópolis, Bela Vista, Antonio
Dourado Neto and São Miguel. The generated model presents a satisfactory prediction of
mass movements in the city, concentrated on classes of high susceptibility (60% of ravines
and 54% of landslides) and medium susceptibility (36% of ravines and 39% of landslides).
Keywords: Extreme rainfall. Bivariate statistics. AHP. Susceptibility model.
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Gráfico da tendência de ocorrências e vítimas de desastres naturais
no mundo de 1990 a 2013...................................................................
40
Figura 2.2 – Gráfico representativo dos dez países com o maior número de
eventos registrados em 2013...............................................................
41
Figura 2.3 – Gráfico da ocorrência de desastres naturais no Brasil de 1990 a
2010.....................................................................................................
41
Figura 2.4 – Gráfico comparativo de ocorrência de desastres naturais no Brasil
entre as décadas de 1990 e 2000.........................................................
42
Figura 2.5 – Perfil esquemático do processo de enchente e inundação................... 48
Figura 2.6 – Exemplos de queda (A) e tombamento (B)......................................... 52
Figura 2.7 – Tipos de escorregamento.................................................................... 53
Figura 2.8 – Exemplo de rastejo e seus indícios................................................... 54
Figura 2.9 – Exemplo de corrida de terra em Camaragibe-PE em 2000................. 55
Figura 2.10 – Combinação das classes de curvatura vertical e horizontal................. 63
Figura 2.11 – Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem de acordo
com a forma e os processos operantes.................................................
64
Figura 2.12 – Esquema representando os processos de erosão hídrica..................... 68
Figura 2.13 – Estrutura para gerenciamento de risco de deslizamentos.................... 79
Figura 2.14 – Representação esquemática do processo de gerenciamento de áreas
de risco................................................................................................
80
Figura 2.15 – Proposta de classificação de métodos de avaliação de
suscetibilidade de deslizamentos.........................................................
86
Figura 3.1 – Mapa de localização do município do Ipojuca e da área de expansão
urbana entre os distritos de Ipojuca Sede e Nossa Senhora do Ó no
estado de Pernambuco........................................................................
109
Figura 3.2 – Crescimento anual da população entre 1996 e 2010 no município do
Ipojuca.................................................................................................
110
Figura 3.3 – Distribuição da população rural e urbana conforme os setores
censitários do município do Ipojuca....................................................
111
Figura 3.4 – Número de domicílios particulares permanentes por setor censitário
do Ipojuca...........................................................................................
112
Figura 3.5 – Distribuição do número de moradores em domicílios particulares
permanentes do Ipojuca.....................................................................
112
Figura 3.6 – Mapa de zoneamento do município do Ipojuca.................................. 117
Figura 3.7 – Caracterização dos ambientes geológicos do município do
Ipojuca................................................................................................
123
Figura 3.8 – Mapa geológico na escala 1:25.000 do município do Ipojuca........... 124
Figura 3.9 – Mapa com a distribuição das Unidades de Solos e os perfis de
reconhecimento de solos realizados pela equipe do projeto...............
137
Figura 3.10 – Distribuição das águas superficiais e bacias hidrográficas do
município do Ipojuca..........................................................................
138
Figura 4.1 – Localização dos pluviômetros que foram utilizados nas análises da
precipitação.........................................................................................
144
Figura 4.2 – Distribuição dos pontos de reconhecimento morfológico de solos na
área piloto de Ipojuca Sede................................................................
163
Figura 5.1 – Distribuição entre as precipitações pluviais mensais média, máxima
e mínima para o município do Ipojuca entre o período 1941-
2013....................................................................................................
172
Figura 5.2 – Representação dos totais anuais e das categorias e probabilidades da
precipitação pluvial anual relacionadas com as ordens quantílicas
identificadas na série de 1941 a 2013 no Ipojuca...............................
174
Figura 5.3 – Número de ocorrências das categorias de precipitação por décadas
(1940 a 2013) para o município do Ipojuca........................................
175
Figura 5.4 – Índice de anomalia de chuva (1941 a 2013) para o município do
Ipojuca.................................................................................................
176
Figura 5.5 – Número de dias que estão entre as categorias Chuva extremamente
Fraca, Chuva muito Fraca, Chuva Fraca, Chuva Moderada, Chuva
Forte, Chuva muito Forte e Chuva extremamente Forte para o
município do Ipojuca..........................................................................
182
Figura 5.6 – Gráfico com a frequência de ocorrência dos intervalos de chuva de
50-60 mm, 60-70 mm, 80-90 mm, 90-100 mm e >100 mm por mês
para a série de 1941 a 2012 no município do Ipojuca.........................
182
Figura 5.7 – Número total de ocorrências (deslizamentos, inundação,
alagamentos e queda de muro de arrimo) no município do Ipojuca
distribuído por meses, para cada ano, de 2007 a 6 de julho de
2015.....................................................................................................
185
Figura 5.8 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação,
alagamentos e queda de muro de arrimo) por localidades no
município do Ipojuca em 2007...........................................................
186
Figura 5.9 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de
ocorrências de deslizamentos por dia em março e abril de 2008 no
município do Ipojuca..........................................................................
187
Figura 5.10 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de
ocorrências de deslizamentos por dia em maio e junho de 2008 no
município do Ipojuca...........................................................................
188
Figura 5.11 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação,
alagamentos e queda de muro de arrimo) por localidades no
município do Ipojuca em 2008............................................................
188
Figura 5.12 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação,
alagamentos e queda de muro de arrimo) por localidades no
município do Ipojuca em 2009............................................................
189
Figura 5.13 – Marcas da enchente que ocorreu em 2010. Exemplos da Rua
Cristóvão José Pimentel próximo ao rio Ipojuca, localizada no
distrito Sede do município..................................................................
191
Figura 5.14 – Imagens da Rua José Cristóvão Pimentel (Ipojuca Centro)
mostrando as marcas da última enchente em 2010.............................
191
Figura 5.15 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de
ocorrências de deslizamentos por dia em abril e maio de 2011 no
município do Ipojuca..........................................................................
192
Figura 5.16 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação,
alagamentos e queda de muro de arrimo) por localidades no
município do Ipojuca em 2011...........................................................
193
Figura 5.17 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de
ocorrências de deslizamentos por dia em janeiro e fevereiro de 2012
no município do Ipojuca......................................................................
194
Figura 5.18 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de
ocorrências de deslizamentos por dia em junho e julho 2012 no
município do Ipojuca..........................................................................
194
Figura 5.19 – Gráfico do total de ocorrências por localidades no município do
Ipojuca em 2012..................................................................................
195
Figura 5.20 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de
ocorrências de deslizamentos por dia em abril e maio de 2013 no
município do Ipojuca...........................................................................
195
Figura 5.21 – Gráfico do total de ocorrências de deslizamentos por localidades no
município do Ipojuca em 2013............................................................
196
Figura 5.22 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de
ocorrências de deslizamentos por dia em abril, maio e junho de
2014, no município do Ipojuca............................................................
197
Figura 5.23 – Gráfico do total de ocorrências de deslizamentos e alagamentos por
localidades no município do Ipojuca em 2014...................................
198
Figura 5.24 – Córrego inundado na comunidade de Bela Vista pelas chuvas no dia
22 de abril de 2014.............................................................................
198
Figura 5.25 – Gráfico do total de ocorrências por localidades no município do
Ipojuca 2015.......................................................................................
199
Figura 5.26 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de
ocorrências de deslizamentos por dia em abril, junho e julho de
2015 no município do Ipojuca............................................................
200
Figura 5.27 – Fotografia do riacho do Campo do Avião no município do Ipojuca
em 2015; a: o córrego antes da inundação em 2 jul. 2015; b: o
córrego inundado em 4 jul. 2015........................................................
200
Figura 5.28 – Processos erosivos como ravinas e voçorocas em áreas ocupadas
por rochas cristalinas na porção oeste do município do Ipojuca. (A)
e (B) representam voçorocas...............................................................
202
Figura 5.29 – Processos erosivos como ravinas e voçorocas em áreas ocupadas
por rochas cristalinas na porção oeste do município do Ipojuca. (C)
Ravinas desenvolvidas no caminho da cana; e (D) Sulcos
desenvolvidos nas áreas de encostas côncavas – convergentes..........
203
Figura 5.30 – Exemplo de deslizamento translacional na comunidade de Bela
Vista.....................................................................................................
203
Figura 5.31 – Exemplo de processo de deslizamento circular sobre litologia da
Formação Cabo próximo da PE-60.....................................................
204
Figura 5.32 – Exemplo de processo de rastejamento (creep) sobre litologia da
Formação Cabo localizada na porção nordeste do município do
Ipojuca.................................................................................................
204
Figura 5.33 – Exemplo de blocos isolados (matacões) em áreas ocupadas rochas
cristalinas na porção oeste do município do Ipojuca, áreas com
potencial de queda de blocos..............................................................
205
Figura 5.34 – Exemplo de áreas ocupadas por complexo de tálus na porção oeste
do município do Ipojuca. A) Afloramentos rochosos identificados
nas porções mais elevadas a oeste do município do Ipojuca; (B)
Complexos de Tálus............................................................................
205
Figura 5.35 – Mapa com a distribuição de processos no município do Ipojuca........ 206
Figura 5.36 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em
cada classe litológica no município do Ipojuca..................................
207
Figura 5.37 – Processos erosivos desenvolvidos na Formação Barreiras. Estrada
entre Porto de Galinhas e Sirinhaém, município do Ipojuca..............
209
Figura 5.38 – Exemplo de processos erosivos e deslizamentos desenvolvidos em
áreas de Formação Barreiras. Estrada que liga Porto de Galinhas a
Sirinhaém sentido sul..........................................................................
209
Figura 5.39 – Exemplo de processos erosivos sobre a Formação Algodoais........... 210
Figura 5.40 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em
cada classe de Unidades Geomorfológicas no município do Ipojuca.
211
Figura 5.41 – Quantidade e percentual de ocorrência dos processos de movimento
de massa em cada classe de Unidades Geomorfológicas da área
piloto de Ipojuca Sede, município do Ipojuca....................................
211
Figura 5.42 – Mapa de declividade do município do Ipojuca na escala 1:25.000.... 212
Figura 5.43 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em
cada classe de declividade no município do Ipojuca........................
213
Figura 5.44 – Quantidade e percentual de ocorrência dos processos de movimento
de massa em cada classe de declividade no município do Ipojuca.....
213
Figura 5.45 – Mapa de curvatura da Área Piloto de Ipojuca Sede, município do
Ipojuca.................................................................................................
214
Figura 5.46 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em
cada classe de curvatura no município do Ipojuca.............................
215
Figura 5.47 – Quantidade e percentual de ocorrência dos processos de movimento
de massa em cada classe de curvatura na área piloto de Ipojuca Sede
no município do Ipojuca.....................................................................
215
Figura 5.48 – Ocupação desordenada em áreas de cabeceira de drenagem no
bairro de Antônio Dourado Neto, Ipojuca Sede, município do
Ipojuca................................................................................................
216
Figura 5.49 – Ocupação desordenada em áreas de cabeceira de drenagem na
localidade de Rurópolis, Ipojuca Sede, município do Ipojuca...........
217
Figura 5.50 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em
cada classe de unidades de mapeamento de solos no município do
Ipojuca.................................................................................................
218
Figura 5.51 – Perfil 01 representando um Argissolo Amarelo e Vermelho-
Amarelo Plíntico..................................................................................
220
Figura 5.52 – Perfil 02 representando um Argissolo Vermelho-Amarelo................. 220
Figura 5.53 – Perfil 03 representando um Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico
Expiredóxico.......................................................................................
221
Figura 5.54 – Perfil 04 representando um Latossolo Vermelho-Amarelo................ 222
Figura 5.55 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em
cada classe de Unidades de Mapeamento de Solos na área piloto de
Ipojuca Sede, no município do Ipojuca...............................................
223
Figura 5.56 – Mapa de Unidades de Mapeamento de Solos ajustado a escala
1:10.000 para a área piloto de Ipojuca Sede, município do
Ipojuca................................................................................................
224
Figura 5.57 – Cultivo de cana-de-açúcar localizado nas colinas da porção oeste do
município do Ipojuca..........................................................................
226
Figura 5.58 – Mapa de uso e ocupação da terra do município do Ipojuca em 2010. 227
Figura 5.59 – Percentual de ocorrência dos processos identificados no município
do Ipojuca para cada classe de uso e cobertura da terra......................
228
Figura 5.60 – Mapa de uso e ocupação da terra, Escala 1:10.000, da área de
expansão urbana do Distrito Sede e Nossa Senhora do Ó, Ipojuca.....
229
Figura 5.61 – Percentual de ocorrência de deslizamentos na área piloto de Ipojuca
Sede para cada classe de uso e cobertura da terra...............................
230
Figura 5.62 – Total de ocorrências de deslizamentos por localidade para o período
de 2007 a 6 de julho de 2015..............................................................
231
Figura 5.63 – Localização e forma de ocupação desordenada dos bairros de São
Miguel, Antônio Dourado Neto e Centro, do distrito de Ipojuca
Sede.....................................................................................................
232
Figura 5.64 – Localização e forma de ocupação desordenada das comunidades de
Rurópolis e Bela Vista, município do Ipojuca....................................
232
Figura 5.65 – Formas de ocupação desordenada e exemplo de deslizamentos
translacionais nos bairros de São Miguel e de Antônio Dourado
Neto em Ipojuca Sede. São Miguel (A e B) e Antônio Dourado
Neto (C e D)........................................................................................
233
Figura 5.66 – Formas de ocupação desordenada e exemplos de deslizamentos
translacionais nas localidades de Rurópolis e Bela Vista. Rurópolis
(A e B) e Bela Vista (C e D)...............................................................
234
Figura 5.67 – Formas de ocupação desordenada e exemplos de deslizamento
translacional e queda de blocos no distrito de Camela, município do
Ipojuca. (A) Vista de uma das áreas de risco muito alto do distrito
de Camela. (B) Exemplo de um possível bloco rolado (B)................
235
Figura 5.68 – Deslizamentos translacionais que ocorreram nos taludes localizados
na PE-60 no município do Ipojuca. (A) Deslizamento próximo à
Ipojuca Sede, sentido Recife (2/7/2015); (B) Deslizamento em
frente à comunidade de Bela Vista, sentido Sirinhaém, PE................
235
Figura 5.69 – Normalização das classes do PI Litologia para a escala de 0 a 1........ 238
Figura 5.70 – Normalização das classes do PI Declividade para a escala de 0 a 1... 239
Figura 5.71 – Normalização das classes do PI Curvatura para a escala de 0 a 1....... 240
Figura 5.72 – Normalização das classes do PI Solos para a escala de 0 a 1.............. 240
Figura 5.73 – Normalização das classes do PI Uso e Cobertura da Terra para a
escala de 0 a 1......................................................................................
241
Figura 5.74 – Comparação entre o resultado do mapa de suscetibilidade a
movimentos de massa e os limites das áreas de Risco Alto e Muito
Alto de deslizamentos elaborados para o Plano Municipal de
Redução de Risco do município do Ipojuca........................................
243
Figura 5.75 – Mapa de suscetibilidade a movimentos de massa da área piloto de
Ipojuca Sede, município do Ipojuca...................................................
245
Figura 5.76 – Mapa risco a movimentos de massa da área piloto de Ipojuca Sede,
elaborado por meio da integração do mapa de suscetibilidade e o
total de população por domicílio agregado por setor censitário.........
249
LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1 – Classificação dos desastres naturais segundo o EM-DAT.................... 37
Quadro 2.2 – Visão abreviada da classificação proposta por Cruden e Varnes
(1996).....................................................................................................
51
Quadro 2.3 – Agentes e causas dos escorregamentos.................................................. 57
Quadro 2.4 – Características dos métodos de suscetibilidade propostos na
literatura..................................................................................................
87
Quadro 2.5 – Vantagens e desvantagens dos métodos mais trabalhados na análise e
elaboração de cartas de suscetibilidade a deslizamentos e escalas de
análises apropriadas...............................................................................
94
Quadro 2.6 – Escalas de mapeamento para inventários e zoneamento de
suscetibilidade a deslizamentos em relação aos métodos de
zoneamento, níveis e objetivos..............................................................
103
Quadro 2.7 – Cartas geotécnicas de planejamento, segundo as escalas e os
processos identificáveis..........................................................................
104
Quadro 3.1 – Relação das unidades de mapeamento de solos e os solos
componentes por unidade que ocorrem no município do
Ipojuca.................................
132
Quadro 4.1 – Fases e etapas para a elaboração da carta de suscetibilidade do
município do Ipojuca.............................................................................
152
Quadro 4.2 – Relação das classes de uso da terra para a área piloto de Ipojuca Sede,
Escala 1:10.000......................................................................................
165
Quadro 5.1 – Características predominantes para cada classe de suscetibilidade a
movimentos de massa identificadas na área piloto de Ipojuca Sede,
município do Ipojuca.............................................................................
246
LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1 – Relação dos pluviômetros utilizados para as análises da chuva no
município do Ipojuca..............................................................................
143
Tabela 4.2 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação mensal
relacionada com as ordens quantílicas para o município do Ipojuca......
148
Tabela 4.3 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação diária
(acumulado de 24h) relacionadas com as ordens quantílicas para o
município do Ipojuca..............................................................................
150
Tabela 4.4 – Escala da importância relativa aplicada pela AHP para a comparação
pareada....................................................................................................
168
Tabela 4.5 – Matriz de correlação entre os Planos de Informação trabalhados no
modelo.....................................................................................................
168
Tabela 5.1 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação anual
relacionada com as ordens quantílicas....................................................
173
Tabela 5.2 – Classificação dos anos quanto às categorias de precipitação anual
relacionadas com as ordens quantílicas..................................................
174
Tabela 5.3 – Anos de ocorrência de El Niño............................................................... 177
Tabela 5.4 – Anos de ocorrência de La Niña............................................................... 177
Tabela 5.5 – Anos de ocorrência do Dipolo do Atlântico........................................... 177
Tabela 5.6 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação mensal
relacionada com as ordens quantílicas (0,05), (0,15), (0,25), (0,65),
(0,85) e (0,95).........................................................................................
179
Tabela 5.7 – Relação mensal dos valores de chuva média, máxima, mínima e as
probabilidades p=0,05 (Mês extremamente secos) e p=0,95 (Mês
extremamente chuvoso)..........................................................................
180
Tabela 5.8 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação diária
(acumulado de 24h) relacionadas com as ordens quantílicas p=0,05,
p=0,15, p=0,25, p=0,65, p=0,85, p=0,95 para Ipojuca...........................
181
Tabela 5.9 – Tabela com a representação dos temas trabalhados, as respectivas
classes, o percentual de ocorrência de cada uma das classes, o número
de ocorrências de processos de ravinas e deslizamentos para cada
classe e o peso definido para as classes após a tabulação cruzada para
a área piloto de Ipojuca Sede..................................................................
237
Tabela 5.10 – Comparação entre os resultados da metodologia proposta nesta tese e
a proposta em Coutinho (2014) para a área Piloto de Ipojuca Sede......
242
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AHP Analytical Hierarchy Process
ANA Agência Nacional de Águas
APAC Agência Pernambucana de Águas e Clima
AT Atlântico Tropical
ATSM Alterações na Temperatura da Superfície do Mar
AVADAN Avaliação de Danos
CDEC Coordenadorias de Defesas Civis
CEMADEN Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais
CEPED Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres
COBRADE Classificação e Codificação Brasileira de Desastres
CODAR Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos
CONDEPE/
FIDEM
Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco
CONPDEC Conselho Nacional de Proteção de Defesa Civil
CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
CPRM Serviço Geológico do Brasil
CPTEC Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos
CRED Centre for Research on the Epidemiology of Disasters
DOL Distúrbios Ondulatórios de Leste
ECP Estado de Calamidade Pública
EDE Eixo de Dinamização Econômica
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ENE Leste do Nordeste
ENEB Leste do Nordeste do Brasil
ENOS El Niño-Oscilação Sul
FF Frentes Frias
FIDE Formulário de Informação de Desastres
FUNTEP Fundo de Terras do Estado de Pernambuco
GEGEP Grupo de Engenharia Geotécnica de Encostas Planícies e Desastres
HS Hemisfério Sul
IAC Índice de Anomalia de Chuva
IAEG Associação Internacional de Geologia de Engenharia
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IED Índice de Eficiência de Drenagem
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INDE Instituto Nacional de Dados Espaciais
IOS Índice de Oscilação Sul
IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change
IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas
ISD Índice de Suscetibilidade a Deslizamentos
ITEP Associação Instituto de Tecnologia de Pernambuco
LI Linhas de Instabilidade
MDE Modelos Digitais de Elevação
MDT Modelo Digital do Terreno
MEUA Macrozona de Equilíbrio Urbano-Ambiental
MGM Movimentos Gravitacionais de Massa
MSR Macrozona de Sustentabilidade Rural
mTa Massa Tropical Atlântica
NOPRED Notificação Preliminar de Desastres
OL Ondas de Leste
PCD Posto de Coleta de Dados
PI Plano de Informação
PMRR Plano Municipal de Redução de Risco
PNGRRDN Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais
PNM Pressão do Nível do Mar
PNPDEC Política Nacional de Proteção e Defesa Civil
POA Perturbações Ondulatórias no Campo dos Ventos dos Alísios
PROBSTAB PROBability of STABility
RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural
S2ID Sistema Integrado de Informações sobre Desastres
SE Situação de Emergência
SEDEC Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil
SF Sistemas Frontais
SHALSTAB Shallow Landsliding Stability
SIG Sistema de Informações Geográficas
SINMAP Stability Index MAPping
SINPDEC Sistema Nacional de Proteção de Defesa Civil
STARWAR Storage and Redistribution of Water on Agricultural and Revegetated Slope
TIN Triangulated Irregular Network
TPA Terreno Pernambuco Alagoas
TRIGRS Transient Rainfall Infiltration and Grid based Slope Stability
TROPOCLIMA Grupo de Estudos em Climatologia Tropical e Eventos Extremos
TSM Temperatura da Superfície do Mar
UCU Unidades de Condições Únicas
UGEO Unidade de Geoinformação
UMI Unidades Morfodinâmicas de Interesse
UMR-
HIDROMET
Unidade de Monitoramento da Rede Hidrometeorológica
UMT Unidade de Mapeamento do Terreno
UNISDR United Nations Office for Disaster Risk Reduction
USLE Equação Universal de Perda de Solo
UTM Universal Transversa de Mercator
VCAS Vórtices Ciclônicos da Atmosfera Superior
ZAIL Zona de Atividades Industriais e Logísticas
ZAP Zona de Atividade Portuária de Suape
ZAPE Zoneamento Agroecológico do Estado de Pernambuco
ZCEN Zona de Convergência do Leste do Nordeste
ZCIT Zona de Convergência Intertropical
ZEA Zona de Equilíbrio Ambiental
ZEDRS Zona Especial de Desenvolvimento Rural Sustentável
ZEIA Zona Especial de Atividades Industriais e Agroindustriais
ZEII Zona Especial de Interesse Institucional
ZEIS Zona Especial de Interesse Social
ZEMO Zona Especial de Manutenção da Morfologia Original
ZEPI Zona Especial de Proteção Integral
ZIL Zona de Atividade Industrial e Logística
ZIT Zona de Interesse Turístico
ZRU Zona de Requalificação Urbana
ZSO Zona de Sustentabilidade da Orla
ZUP Zona de Urbanização Preferencial
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 25
1.1 Objetivos .................................................................................................................................. 28
1.1.1 Objetivo geral ............................................................................................................................ 28
1.1.2 Objetivos específicos................................................................................................................. 28
2 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................................. 29
2.1 Análise dos eventos extremos e impactos associados............................................................ 29
2.1.1 Anomalias na temperatura da superfície do mar e ocorrência de eventos extremos ................. 30
2.1.2 Metodologia de análise dos extremos de chuva e impactos associados .................................... 33
2.1.3 Banco de dados de desastres naturais provocados por eventos extremos ................................. 36
2.2 Processos do meio físico .......................................................................................................... 47
2.2.1 Inundação e alagamento ............................................................................................................ 48
2.2.2 Movimentos gravitacionais de massa ........................................................................................ 49
2.2.2.1 Classificação dos movimentos gravitacionais de massa ........................................................... 50
2.2.2.2 Fatores condicionantes dos movimentos gravitacionais de massa ........................................... 56
2.2.3 Movimentos de transporte de massa (erosão) ........................................................................... 65
2.2.3.1 Tipos de erosão ......................................................................................................................... 66
2.2.3.2 Fatores condicionantes da erosão ............................................................................................ 68
2.3 Análise da suscetibilidade: conceitos básicos ......................................................................... 73
2.4 Avaliação da suscetibilidade a movimentos de massa ........................................................... 80
2.4.1 Cartas de suscetibilidade ............................................................................................................ 81
2.4.1.1 Classificação das metodologias de avaliação da suscetibilidade ............................................. 84
2.4.1.2 As unidades de mapeamento ..................................................................................................... 97
2.4.1.3 Organização do banco de dados ............................................................................................. 101
2.4.1.4 A questão da escala ................................................................................................................. 101
2.4.2 Principais metodologias trabalhadas no Brasil ........................................................................ 104
3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................... 108
3.1 Localização das áreas de estudo ........................................................................................... 108
3.2 Aspectos demográficos e socioeconômicos do município do Ipojuca ................................ 110
3.3 História da ocupação do município do Ipojuca .................................................................. 113
3.4 Zoneamento atual do município do Ipojuca ....................................................................... 116
3.5 Aspectos físicos do município do Ipojuca ............................................................................ 120
3.5.1 Clima ....................................................................................................................................... 121
3.5.2 Geologia .................................................................................................................................. 122
3.5.3 Geomorfologia ........................................................................................................................ 128
3.5.4 Solos ........................................................................................................................................ 132
3.5.5 Hidrografia (hidrologia e hidrogeologia) ................................................................................ 137
3.5.6 Cobertura vegetal .................................................................................................................... 140
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................................... 141
4.1 Análise climatológica e dos eventos extremos de chuva no município do Ipojuca
..............................................................................................................................................................141
4.1.1 Levantamento dos dados de precipitação pluvial .................................................................... 142
4.1.2 Técnicas aplicadas na análise climatológica ........................................................................... 144
4.1.2.1 Técnica dos quantis ................................................................................................................. 144
4.1.2.2 Índice de anomalia de chuva ................................................................................................... 145
4.1.2.3 Análise de tendência dos dados de chuva ............................................................................... 146
4.1.3 Análise dos dados anuais de chuva .......................................................................................... 147
4.1.4 Análise dos dados mensais de chuva ........................................................................................ 148
4.1.5 Análise dos dados diários de chuva .......................................................................................... 148
4.1.5.1 Aplicação da técnica dos quantis ............................................................................................ 149
4.1.5.2 Identificação de impactos provocados pelos eventos extremos no município do Ipojuca ...... 150
4.2 Metodologia para elaboração da carta de suscetibilidade a movimentos de massa do
município do Ipojuca ........................................................................................................................ 151
4.2.1 Fase de levantamento .............................................................................................................. 152
4.2.1.1 Levantamento bibliográfico .................................................................................................... 152
4.2.1.2 Levantamento de base cartográfica e de base temática .......................................................... 153
4.2.1.3 Levantamento de campo .......................................................................................................... 155
4.2.2 Fase de análise ......................................................................................................................... 155
4.2.2.1 Elaboração da base cartográfica e do Modelo Digital do Terreno ........................................ 156
4.2.2.2 Elaboração do inventário ........................................................................................................ 156
4.2.2.3 Definição dos fatores condicionantes e elaboração dos mapas temáticos ............................. 159
4.2.2.4 Dinâmica da ocupação do município do Ipojuca e elaboração dos mapas de uso e cobertura
da terra ................................................................................................................................................ 164
4.2.2.5 Análise estatística e definição dos pesos ................................................................................. 166
4.2.3 Etapa de síntese ....................................................................................................................... 167
4.2.3.1 Padronização dos planos de informação ................................................................................ 167
4.2.3.2 Aplicação da técnica AHP e definição do grau de influência ................................................. 167
4.2.3.3 Definição dos graus de suscetibilidade ................................................................................... 169
4.2.3.4 Validação do modelo ............................................................................................................... 169
4.2.3.5 Caracterização das classes de suscetibilidade ....................................................................... 170
4.2.3.6 Definição das áreas críticas do município .............................................................................. 170
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................................... 172
5.1 Análise climatológica e eventos extremos ............................................................................ 172
5.1.1 Variabilidade interanual da precipitação pluvial ..................................................................... 173
5.1.2 Análise dos dados mensais de chuva ....................................................................................... 179
5.1.3 Análise da precipitação diária ................................................................................................. 180
5.1.4 Exemplos de impactos associados aos eventos extremos no município do Ipojuca ............... 183
5.2 Inventário de processos de movimentos de massa e seus condicionantes ......................... 201
5.2.1 Geologia (Litologia) ................................................................................................................ 207
5.2.2 Unidades geomorfológicas e variáveis morfométricas............................................................ 210
5.2.3 Unidades de mapeamento de solos .......................................................................................... 217
5.2.4 Uso e cobertura da terra no município do Ipojuca .................................................................. 224
5.3 Carta de suscetibilidade a movimentos de massa ............................................................... 235
5.3.1 Aplicação do método estatístico bivariado .............................................................................. 236
5.3.2 Padronização dos planos de informação ................................................................................. 237
5.3.3 Aplicação da técnica AHP e definição dos graus de suscetibilidade ...................................... 241
5.3.4 Validação do modelo ............................................................................................................... 242
5.3.5 Mapa de suscetibilidade da área piloto de Ipojuca Sede na escala 1:10.000........................... 244
5.3.6 Definição das áreas críticas do município ............................................................................... 247
5.3.7 Suscetibilidade a movimentos de massa na escala 1:25.000 ................................................... 250
6 CONCLUSÕES ..................................................................................................................... 252
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 256
25
1 INTRODUÇÃO
A ocorrência de desastres naturais, em todo o mundo, vem sofrendo um aumento
significativo, em razão de fatores relacionados com o aumento populacional, a fragmentação
socioespacial e, não menos importante, o aumento dos eventos extremos, os quais são
frequentemente associados pelos cientistas ao aquecimento global. Nesse sentido, eventos de
temporais, de chuvas intensas, de tornados ou de estiagens severas, entre outros, podem
tornar-se mais frequentes, aumentando a possibilidade de incidência desses desastres.
No caso do Brasil, a situação não é diferente. O aumento da incidência de desastres
naturais é tratado como consequência do processo de urbanização verificado no país nas
últimas décadas, que levou ao crescimento desordenado das cidades e à ocupação de áreas
impróprias, por suas características geológicas e geomorfológicas desfavoráveis. Mesmo
sabendo que no Brasil esse fator é o predominante, o aumento dos eventos extremos de chuva
pode agravar a ocorrência de processos do meio físico, por exemplo, os movimentos de
massa.
Em 2003, com a criação do Ministério das Cidades, o governo federal, instituiu a Ação
de Apoio à Prevenção e Erradicação de Riscos de Assentamentos Precários, no âmbito do
Programa de Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos Precários. Seu
objetivo é articular um conjunto de ações visando “à redução de risco nas áreas urbanas”.
Essas ações, associadas ao Sistema Nacional de Defesa Civil, avançaram no sentido de
incorporar as necessárias atividades municipais de gestão do território urbano, em
concordância com os programas de urbanização e regularização de favelas e loteamentos
precários, áreas particularmente vulneráveis à ocorrência de desastres associados aos
movimentos de massa em encostas (CARVALHO; GALVÃO, 2006).
A partir dessas ações, elaboraram-se os Planos Municipais de Redução de Risco
(PMRR), que é um instrumento de planejamento que contempla o diagnóstico de risco, as
medidas de segurança necessárias, a estimativa de recursos necessários, o estabelecimento de
prioridades e a compatibilização com os programas de urbanização de favelas e regularização
fundiária.
A ocorrência de grandes desastres, por exemplo, o que aconteceu no fim de 2008 em
Santa Catarina, em junho de 2010 em municípios dos estados de Pernambuco e Alagoas e em
janeiro de 2011 em municípios da região serrana do Rio de Janeiro, acelerou a elaboração da
26
Lei n.º 12.608, de 10 de abril de 2012 (BRASIL, 2012a), que institui a Política Nacional de
Proteção de Defesa Civil (PNPDEC) e dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção de
Defesa Civil (SINPDEC) e o Conselho Nacional de Proteção de Defesa Civil (CONPDEC).
Visa ações de mapeamento e prevenção, bem como sua integração com as demais políticas
setoriais, como as de ordenamento territorial, meio ambiente, entre outras, tendo em vista a
promoção do desenvolvimento sustentável.
De forma diferente das ações iniciadas em 2003, essa lei propõe trabalhar com todos
os municípios brasileiros mapeados previamente, que sofrem ou sofreram algum tipo de
desastre natural ou mortes acarretadas por processos do meio físico, procurando não se
concentrar somente nos assentamentos precários, tendo em vista, por exemplo, que os
desastres que ocorreram em 2008, 2010 e 2011 atingiram extensas áreas das regiões serranas
de Santa Catarina e do Rio de Janeiro ocupadas por residências de alto padrão. Além disso,
verificou-se a necessidade de se planejar a ocupação de novas áreas, evitando, assim,
ocupações espontâneas e até mesmo planejadas, mas que não levam em conta os fatores de
suscetibilidade a processos do meio físico.
Torna-se de fundamental importância a aplicação dessa lei e maior atuação dos
gestores públicos na prevenção de desastres e na gestão de riscos, pois até metade de 2015
vários municípios brasileiros sofreram com as fortes chuvas, com destaque para municípios de
Salvador, onde foram registradas mais de 20 mortes provocadas por deslizamentos em maio
deste ano, municípios do Rio Grande do Sul e Santa Catarina em julho e municípios da
Região Metropolitana do Recife com registros de movimentos de massa, inundações e
alagamentos, causando sérios transtornos à população com dois casos de morte nessa região.
Assim sendo, a referida lei gerou diversas ações iniciadas pelo governo federal a fim
de, pela primeira vez no Brasil, lidar com os desastres naturais na perspectiva da prevenção e
não mais na mitigação e ações pós-desastres. Tais ações estão voltadas à identificação de
áreas suscetíveis aos processos (movimentos de massa e inundações), elaboração de carta
geotécnica para fins de planejamento urbano e fortalecimento da gestão de risco e das defesas
civis nos âmbitos federal, estadual e municipal.
Dentre essas iniciativas do governo federal, em 2013, estabeleceu-se uma parceria
entre o governo federal, por meio do Ministério da Integração Nacional, Ministério das
Cidades e a Universidade Federal de Pernambuco, representada pelo Grupo de Engenharia
Geotécnica de Encostas, Planícies e Desastres (Gegep), sob a coordenação do Professor
Roberto Quental Coutinho.
27
A parceria voltada à elaboração, por parte dessa Universidade, de uma metodologia
tanto para o mapeamento da vulnerabilidade e risco, ligada ao Ministério da Integração,
quanto para a elaboração da Carta Geotécnica de aptidão à urbanização diante dos desastres
naturais para o município do Ipojuca, ligada ao Ministério das Cidades. Tais projetos
interligam-se e a avaliação da suscetibilidade a processos do meio físico torna-se uma etapa
fundamentalmente importante na elaboração dos referidos mapeamentos.
Desse modo, a presente tese vincula-se aos projetos descritos acima e surge como
parte fundamental para os dois mapeamentos citados. Neste caso, a avaliação da
suscetibilidade a processos naturais é uma etapa anterior aos objetivos principais das
parcerias, mas torna-se o carro-chefe para a indicação das áreas de risco, como também para a
identificação das áreas críticas à ocupação urbana, promovendo subsídios necessários ao
planejamento urbano e organização territorial.
Escolheu-se o município do Ipojuca, inicialmente, por três razões. A primeira delas é
por sua localização geográfica, situando-se no litoral do estado de Pernambuco sob a
influência do clima tropical úmido, apresentando no período chuvoso chuvas intensas e em
anos atípicos, chuvas extremas. Nesse caso, os extremos de precipitação pluvial atuam como
principal agente deflagrador dos processos de movimentos de massa nas encostas e
enchentes/inundações nas planícies, além de alagamentos nas áreas urbanizadas e
impermeáveis.
A segunda razão relaciona-se com o fato de que o município tem atravessado um
período de grandes transformações na paisagem natural, sobretudo pela influência de grandes
obras industriais, como o Porto de Suape e a expansão do Distrito Industrial. Por fim, mas não
menos importante, foi a quantidade de áreas de risco existentes e os problemas
socioambientais e de ocupação urbana apresentados e intensificados diante da intensa
dinâmica de ocupação territorial.
Por conseguinte, a presente tese faz parte do projeto “Elaboração de carta geotécnica
de aptidão à urbanização frente a desastres naturais do município do Ipojuca-PE” financiado
pelo governo federal/Ministério das Cidades e desenvolvido pelo Gegep/UFPE. Assim, as
cartas geotécnicas tiveram de ser elaboradas em duas escalas: uma referente à escala de
planejamento (1:25.000), abrangendo todo o município do Ipojuca, com área de 532,25 km², e
a outra considerada como escala de projeto (1:10.000). Para esta última, definiu-se um
polígono que abrange a área de expansão urbana, delimitada pelo Plano Diretor municipal,
entre os distritos de Ipojuca Sede e Nossa Senhora do Ó, com uma área em torno de 70 km².
28
Igualmente, foi necessário definir metodologias para elaboração da carta de suscetibilidade a
movimentos de massa para as duas referidas escalas, sendo este um dos objetivos desta tese.
1.1 Objetivos
1.1.1 Objetivo geral
O objetivo geral consiste em identificar os eventos extremos de chuva que ocorreram
no município do Ipojuca, litoral sul de Pernambuco, e impactos associados a tais eventos, bem
como desenvolver um modelo de análise da suscetibilidade a movimentos de massa para o
município.
1.1.2 Objetivos específicos
Para atingir esse objetivo geral, foram desenvolvidos os seguintes objetivos
específicos:
Realizar uma análise climatológica e dos eventos extremos.
Identificar os principais impactos provocados por eventos extremos de chuva no
município.
Elaborar um inventário de movimentos de massa, definindo uma tipologia e os
fatores condicionantes e deflagradores de tais processos.
Analisar a dinâmica do uso e ocupação da terra do município, identificando as
formas de uso e os impactos associados.
Elaborar um modelo de análise de suscetibilidade a movimentos de massa,
tomando-se como base as características físicas e socioeconômicas do município do
Ipojuca.
29
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Análise dos eventos extremos e impactos associados
O aumento da ocorrência de desastres naturais em todo o mundo tem sido
normalmente associado a diversos fatores como o aumento populacional, a fragmentação
socioespacial, levando à ocupação de populações de baixa renda em áreas de risco e,
principalmente, ao aumento de eventos extremos, frequentemente associados pelos cientistas
ao aquecimento global. Nesse sentido, eventos de temporais, de chuvas intensas, de tornados
ou de estiagens severas podem tornar-se mais frequentes quando a atmosfera encontra-se mais
aquecida, aumentando a possibilidade de incidência de desastres.
A dinâmica atmosférica segue um ritmo composto por eventos usuais e eventos
extremos (anômalos ou excepcionais). Os eventos usuais são facilmente absorvidos pela
sociedade, pois ocorrem com maior frequência e não se afastam significativamente das
normais climatológicas (GONÇALVES, 2013). Já os eventos extremos de chuva, por
exemplo, são aqueles em que os totais em certo período – seja anual, sazonal, diário, seja
outro – apresentam desvios de chuva superiores ou inferiores ao comportamento habitual da
área no período analisado. Sarewitz e Pielke Jr. (2000) define-os como uma ocorrência que
apresenta uma incidência rara, distanciando-se da média, variando em sua magnitude.
O Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC, 2012), em seu relatório
especial denominado Managing the risks of extreme events and disasters to advance climate
change adaptation, traz algumas ressalvas sobre os eventos climáticos extremos. Alguns
eventos climáticos e hidrológicos extremos, por exemplo, secas e inundações, podem ser o
resultado de uma acumulação de eventos meteorológicos ou climáticos que, individualmente,
não seriam considerados como extremos, entretanto, o acumulado pode ser. Assim como
eventos meteorológicos ou climáticos, mesmo não sendo estatisticamente extremos, podem
levar a condições ou a impactos extremos, quer seja por atravessar um limiar social, ecológico
ou físico crítico, quer pela ocorrência simultânea de dois eventos. Por outro lado, nem todos
os extremos conduzem necessariamente a um impacto grave, haja vista o local onde ocorreu o
fenômeno, por exemplo, em um ambiente natural onde não há ocupação.
Albala-Bertrand (1993) já considerava a energia como um dos aspectos fundamentais
para a compreensão dos eventos climáticos extremos. A quantidade de energia (magnitude) é
30
um condicionante para o grau de impacto de um evento. Compreendendo o fluxo da energia
em determinado local, haveria uma grande probabilidade de prever a ocorrência de eventos
climáticos e, dessa forma, a sociedade poderia adotar medidas preventivas. Porém, tal tarefa
não é fácil dada a complexidade dos sistemas atmosféricos e dos arranjos socioespaciais em
constante dinâmica.
Os eventos extremos de chuva são os principais deflagradores de movimentos de massa e
inundações bruscas no Brasil e, consequentemente na Região Metropolitana do Recife. Estudar a
climatologia dos eventos extremos, sua frequência e impactos provocados por estes em
determinadas localidades consideradas como áreas de risco a processos do meio físico é uma
atividade muito importante para a prevenção e mitigação de desastres.
2.1.1 Anomalias na temperatura da superfície do mar e ocorrência de eventos extremos
A ocorrência de um evento extremo pode estar relacionado com alterações na
temperatura da superfície do mar, uma vez que a interação oceano-atmosfera no Pacífico
Equatorial e no Atlântico Tropical são fatores que podem modificar as configurações da
circulação geral da atmosfera e influenciam, substancialmente, na variabilidade interanual da
distribuição das chuvas no NEB tanto na escala espacial como temporal (HASTENRATH;
HELLER, 1977; MOURA et al., 2000; MOLION; BERNARDO, 2002; SILVA et al., 2011;
NÓBREGA; SANTIAGO, 2014).
A maioria dos estudos realizados sobre a variabilidade interanual da chuva no NEB
focaliza maior entendimento do papel que o fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS) exerce
em tais anomalias. O ENOS foi reconhecido como um fenômeno interanual que envolve
interações oceânicas e atmosféricas associadas à circulação de Walker no Pacífico
(PHILANDER, 1990; NEELIN, 1998). A componente atmosférica do ENOS caracteriza-se
por uma diferença de anomalias de Pressão do Nível do Mar (PNM) entre o Pacífico Central
(Taiti) e o Pacífico Oeste (Darwin/Austrália). Já a componente oceânica, representa-se pelo
evento El Niño/La Niña, caracterizados pelo aquecimento/resfriamento anormal das águas do
Oceano Pacífico equatorial, central e leste (RASMUSSON; CARPENTER, 1982).
A diferença entre os desvios (Δp) em relação à média das pressões registradas ao nível
do mar em Taiti e Darwin caracteriza-se pelo Índice de Oscilação Sul (IOS). Valores positivos
(negativos) do IOS indicam as fases positivas (negativas) do ENOS com a ocorrência de La
31
Niña (El Niño) com redução/aumento de precipitação no Pacífico tropical central e
aumento/redução da precipitação no Pacífico oeste.
Diversos estudos demonstraram que as secas severas/chuvas excessivas no NEB, tem
sido relacionadas com a ocorrência de El Niño/La Niña, entretanto, Kane (1997) identificou
que, dos 46 El Niño (fortes e moderados) do período de 1949-1992, somente 21 (45%)
estiveram associados a secas severas em Fortaleza (ADREOLI; KAYANO, 2007).
Adreoli e Kayano (2007) estudaram a influência que as temperaturas dos Oceanos
Atlântico Tropical e o Pacífico exercem sobre o Nordeste do Brasil. Perceberam que
independentemente dos sinais do ENOS, o Atlântico Tropical (AT) é mais atuante na
variabilidade da precipitação nessa região.
Moura et al. (2009), ao correlacionarem a precipitação do período chuvoso do setor
Leste do Nordeste (Eneb) com as alterações da temperatura da superfície do mar (ATSM) dos
Oceanos Atlântico e Pacífico, identificaram que o Oceano Atlântico tem maior influência
sobre o regime pluviométrico do leste do NEB, indicando que anomalias positivas neste
cooperam em precipitações acima da média, e ATSM negativas inibem a precipitação na
região estudada.
Hastenrath e Heller (1977) e Hastenrath (1978) mostraram que, em anos de seca, as
ATSMs no AT apresentam um padrão com valores positivos (oceano mais aquecido e alta
nebulosidade) ao norte e negativos (oceano menos aquecido e baixa nebulosidade) ao sul.
Para anos mais chuvosos que o normal, esse padrão tem sinais invertidos. Esses autores
sugerem a existência de uma conexão inversa entre a precipitação sobre o NEB e a Guiana,
atribuída ao deslocamento meridional da ZCIT, que, em anos de sinal positivo no AT Sul, os
ventos alísios influenciam na manutenção desta mais ao sul de sua posição climatológica.
Avaliando tal fato, Souza (1997) relacionou essas mesmas ATSMs no AT ao Padrão
do Dipolo do Oceano Atlântico Tropical, o qual se configura como fase positiva e negativa. A
fase positiva do Dipolo relaciona-se com o padrão de TSM com sinal positivo ao norte e
negativo ao sul do AT. A fase negativa do Dipolo, por sua vez, relaciona-se com o padrão de
ATSMs de sinal negativo ao norte e positivo ao sul do Equador sobre o AT.
Assim, a fase positiva do dipolo indica que a temperatura das águas do Atlântico
Tropical Norte estão mais quentes e as águas do Atlântico Tropical Sul estão mais frias,
acarretando em movimentos descendentes transportando o ar frio e seco dos altos níveis da
atmosfera sobre a região setentrional, central e sertão do Nordeste inibindo a formação de
32
nuvens e diminuindo a precipitação. Já a fase negativa, ocorre o oposto, o que significa um
aumento nos movimentos ascendentes sobre NEB intensificando a formação de nuvens e
aumentando os totais pluviométricos (NÓBREGA; SANTIAGO, 2014).
Na perspectiva da influência das ATSM dos Oceanos Pacífico e Atlântico nos padrões
de precipitação pluvial, destacam-se os trabalhos realizados por Moura (2000, 2009), Silva,
Galvíncio e Nóbrega (2011), Silva et al. (2011), Sanches, Verdum e Fisch (2014) e Nóbrega
e Santiago (2014).
Silva, Galvíncio e Nóbrega (2011) analisaram a influência da variabilidade climática e
das alterações da temperatura da superfície sobre sub-bacias do rio São Francisco.
Verificaram que no Alto São Francisco não é notável uma associação entre as fases do El
Niño Oscilação Sul e a Oscilação Decadal do Pacífico, como se nota em outras regiões do
Nordeste do Brasil. Já para o médio São Francisco, há uma associação das mesmas fases de El
Niño Oscilação Sul e Oscilação Decadal do Pacífico promovendo diminuição das chuvas,
quando estão na fase quente dos dois eventos, e aumento das chuvas quando estão na fase fria
dos dois eventos.
Silva et al. (2011) avaliaram quanto a precipitação no Nordeste do estado de
Pernambuco é devido a anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (ATSM) do Oceano
Atlântico e do Pacífico. Para tanto, fizeram uma análise da correlação entre os totais anuais de
chuva dos anos de 1963 a 1992 e as ATSM extraídas da Comprehensive Ocean-Atmospheric
Data Set (COADS) de 1945 a 1993. Os autores verificaram que a região tem uma forte
correlação positiva com a área de estudo da bacia do Atlântico Sul e uma correlação negativa
com a bacia do Pacífico Equatorial. No entanto, as anomalias de temperatura das águas do
Atlântico Tropical Sul apresentam uma correlação mais forte, e um aquecimento anômalo
nessa área do Atlântico pode causar eventos extremos de chuva na costa leste do Nordeste.
Sanches, Verdum e Fisch (2014) analisaram a variabilidade das precipitações anuais
no período de 1928 a 2009 em Alegrete, RS, utilizando o Índice de Anomalia de Chuva (IAC)
e compararam os resultados com os anos sob ação do fenômeno El Niño Oscilação Sul
(ENOS) e a Oscilação Decadal do Pacífico (ODP). Os autores verificaram maior
correspondência com os anos sob efeito do El Niño (1932, 1940, 1959, 1966, 1973, 1982,
1986, 1997 e 1998) do que sob o efeito La Niña (1964 e 1989). Com base nos resultados, os
autores identificaram que existem modos de variabilidade interdecadais que reproduzem
características de eventos El Niño/La Niña. Sendo assim, a superposição de padrões
33
semelhantes pode produzir significativa variabilidade intereventos, dependendo do modo
interdecadal envolvido.
Nóbrega e Santiago (2014) verificaram as possíveis tendências nas Temperaturas da
Superfície do Mar (TSM) dos Oceanos Pacífico e Atlântico e influências nas precipitações no
estado de Pernambuco. Para isso, fizeram uso do IAC de várias estações pluviométricas
distribuídas no estado. Os autores verificaram uma predominância de anomalias negativas de
1951 a 1963 com a ocorrência de apenas um El Niño classificado como forte (1957-1959).
Entretanto, os autores destacam o fortalecimento desse evento em razão da ocorrência da fase
positiva do Dipolo ocorrida de 1951 a 1953.
Esses último autores verificaram também que existe predomínio de anomalias negativas,
ou seja, valores de precipitação abaixo do esperado entre 1951 e 1963, e nesse mesmo período
ocorreu apenas um El Niño classificado como forte em 1957-1959. Outros episódios que
ocorreram no mesmo período foram classificados como fracos (1951, 1953 e 1963). No entanto,
eles atuaram em conjunto com a fase positiva do Dipolo do Atlântico ocorrida em 1951 e 1953.
Em 1968, ano de ocorrência de El Nino moderado, observou-se a menor precipitação na cidade do
Recife. Assim, também chegaram a uma conclusão de que a porção leste do Nordeste do
Brasil é mais influenciada pelo Dipolo do Atlântico.
2.1.2 Metodologia de análise dos extremos de chuva e impactos associados
A identificação de eventos extremos de chuva vem sendo bastante trabalhada ao longo
dos últimos anos para todas as escalas temporais (anual, mensal e diária) utilizando-se
diferentes técnicas estatísticas. Podem-se destacar os trabalhos desenvolvidos por Xavier
(2002), Souza (2011) e Farias, Alves e Nóbrega (2012), que utilizaram as técnicas dos
Quantis para análise dos extremos e os que aplicaram outras técnicas estatísticas e analisaram
os impactos provocados pelos extremos de chuva como os trabalhos realizados por Vicente
(2005), Batista e Rodrigues (2010), Blain (2011), Brito e Silva (2012), Souza, Azevedo e
Araújo (2012) e Gonçalves (2013).
O método do quantis para análise dos eventos extremos de precipitação tornou-se mais
conhecido e bastante utilizado após os trabalhos desenvolvidos por Xavier e Xavier (1999) e
Xavier (2002). Os autores apresentam a vantagem da técnica dos quantis em relação ao uso da
normalização pela média e desvio padrão, porque a primeira é imune a uma eventual
“assimetria” na função densidade de probabilidades que descreve o fenômeno aleatório, que,
34
no caso do presente trabalho, é a chuva (XAVIER, 2002). Sendo essa uma variável aleatória,
significa que não poderá ser prevista com exatidão determinística. Em outras palavras, pode-
se atribuir uma probabilidade para que a altura X fique compreendida entre dois limites
numéricos quaisquer, arbitrariamente escolhidos.
Souza (2011) aplicou essa técnica para o município do Recife-PE, para as escalas
anual, mensal e diária. Já Souza, Azevedo e Araújo (2012), aplicaram somente para a escala
diária e analisaram os extremos diários de precipitação, com o intuito de identificar um dia de
chuva extremamente forte que possa causar transtornos à população. Verificaram, contudo,
que é frequente a ocorrência de escorregamentos e alagamentos decorrentes das chuvas,
associada à falta de infraestrutura, aliado principalmente às condições sociais e econômicas da
população.
Farias, Alves e Nóbrega (2012) realizaram uma climatologia de ocorrência dos
eventos extremos de precipitação na mesorregião do Sertão Pernambucano utilizando índices
climáticos e analisando a tendência e probabilidade de ocorrência desses eventos para uma
série de trinta e dois anos (1979 a 2010). Com relação à análise de tendência da precipitação,
os autores verificaram um aumento da precipitação na área estudada, entretanto em relação à
análise dos extremos, verificaram o predomínio dos eventos extremamente secos em
detrimento dos chuvosos.
Batista e Rodrigues (2010) realizaram uma análise climatológica e dos eventos
extremos da cidade de Viçosa-MG e correlacionaram com o uso e ocupação do solo.
Concluíram que os prejuízos humanos e materiais, fruto de eventos pluviométricos extremos,
tendem a se agravar à medida que o processo de urbanização intensifica-se, não só na cidade
de Viçosa, mas em todo o espaço urbano.
Blain (2011), diferentemente dos demais, descreveu a probabilidade de ocorrência
associada aos totais máximos anuais de precipitação pluvial diária (Preabs) observados na
cidade de Campinas-SP, entre 1890 e 2009, com base na distribuição geral dos valores
extremos (GEV). O autor chegou à conclusão de que a melhor técnica a ser aplicada nessa
análise é a máxima verossimilhança e o maior ganho de energia da série analisada foi após
1990.
A análise dos extremos diários de chuva merece maior destaque, pois essa análise tem
como objetivo a identificação dos montantes de precipitação que podem causar transtornos à
população, acarretando eventos de inundação, enxurradas e movimentos de massa. A pergunta
que pode ser feita para essa análise é a seguinte: a partir de quantos milímetros um evento
35
chuvoso pode ser considerado como intenso ou definido como um evento extremo, danoso à
sociedade?
A dificuldade em identificar esse valor consiste no fato de que eles variam de acordo
com as características locais, bem como nas estações do ano. Por exemplo: precipitação de 60
mm pode ser excepcional para uma região e normal para outra, pode ser usual no verão e
excepcional no inverno. Outros fatores importantes a serem considerados são a dinâmica e a
estrutura de cada cidade, que pode influenciar um maior ou menor impacto ocasionado por
um episódio de chuva concentrada e, no caso dos movimentos de massa, é a ocorrência de
chuvas antecedentes aos deslizamentos que deixam o solo saturado, podendo não
necessariamente ocorrer uma chuva de grande intensidade para desencadear um deslizamento.
Além disso, os limiares de chuva que podem levar à ocorrência de um deslizamento
são diferentes dos que ocasionam uma inundação em um determinado lugar. Modesto e Nunes
(1996), em estudo de problemas ambientais no município do Guarujá, encontraram uma
marcante variação espacial quanto aos totais pluviais registrados que poderiam estar
relacionados com as diferenças nos atributos físicos nos seus diversos setores potencializando
a chuva mais em alguns lugares do que em outros. Verificaram também que há uma
correlação entre a degradação do ambiente e eventos de deslizamento, pois 25% dos episódios
verificados de 1965 a 1988 ocorrem em meses em que se registraram alturas de chuvas
habituais.
A identificação desses limiares varia em relação às metodologias; uns são
identificados mediante dados observacionais, adotando valores aleatoriamente, outros adotam
técnicas estatísticas na definição desse limiar com a análise de uma série histórica de
precipitação diária.
Gonçalves (2013) estabeleceu valores iguais ou acima de 60 mm/24h como capazes de
gerar danos à população de Salvador, por exemplo, ocorrência de alagamentos. Vicente
(2005), mediante a observação dos dados pluviométricos da Região Metropolitana de
Campinas e os impactos na área, determinou inicialmente o valor de 50 mm/24h como
precipitações potencialmente deflagradoras de impactos.
Souza (2011) e Souza, Azevedo e Araújo (2012), com a aplicação da técnica dos
quantis, identificaram o limiar de 55,3 mm/24h para o município do Recife-PE, determinado
pelo quantil Q (0,95) considerando que, a partir desse limiar, as chuvas são consideradas
chuvas muito fortes e causadoras de impactos na região. A autora mostrou a importância da
36
determinação desses limiares por métodos estatísticos, haja vista que, na maioria das
bibliografias trabalhadas, os autores adotam limiares aleatoriamente.
Assim sendo, conforme será visto a seguir, é de grande importância não só identificar
os eventos de chuva extrema, mas realizar uma boa coleta de dados relacionados com os
impactos provocados por eles. Para que isso seja possível, torna-se mister armazenar todas as
ocorrências, seja relacionadas com fenômenos naturais de grande magnitude, seja com
fenômenos de pequena magnitude, como os pequenos deslizamentos mais localizados, porém
que podem causar transtornos à população e até mesmo casos de morte.
2.1.3 Banco de dados de desastres naturais provocados por eventos extremos
O United Nations Office for Disaster Risk Reduction (UNISDR) conceitua desastres
como o resultado de eventos adversos, naturais e provocados pelo homem, sobre um cenário
vulnerável, causando grave perturbação ao funcionamento de uma comunidade ou sociedade.
Envolve extensivas perdas e danos humanos, materiais, econômicos ou ambientais, que
excedem a capacidade da sociedade de lidar com o problema usando meios próprios.
A fim de tentar padronizar os diferentes conceitos sobre desastres, tipos e formas de
coleta de informações para elaboração de banco de dados e estudos estatísticos, o Centre for
Research on the Epidemiology of Disasters (CRED) da Universidade de Louvain, criou o
EM-DAT: The International Disaster Database. Esse banco visa à coleta sistemática e análise
de dados sobre desastres, fornecendo informações para governos e agências encarregados de
atividades de socorro e recuperação das áreas afetadas, além de fornecer subsídios às análises
estatísticas e elaboração de relatórios anuais de desastres elaborados pela UNISDR.
Para o EM-DAT, os desastres naturais podem ser divididos em cinco grupos:
geofísicos, meteorológicos hidrológicos, climatológicos e biológicos (Quadro 2.1). Uma
classificação mais detalhada pode-se encontrar em Below, Wirtz e Guha-Sapir (2009).
37
Quadro 2.1 – Classificação dos desastres naturais segundo o EM-DAT
GRUPO DE DESASTRES DEFINIÇÃO PRINCIPAIS TIPOS
Geofísicos Originados na superfície terrestre Terremotos, vulcanismo,
movimentos de massa (secos)
Meteorológicos
Eventos causados por processos
atmosféricos de pequena a
mesoescala (em um intervalo de
minuto a dias)
Tempestades
Hidrológicos
Eventos causados por desvios no
ciclo normal da água ou excesso nos
corpos d’água
Inundações, movimentos de
massa (úmido)
Climatológicos
Eventos causados por processos
meteorológicos de meso a macro
escala (em uma variabilidade
intrassazonal a multidécadas
Temperaturas extremas, secas e
queimadas
Biológicos
Desastres causados por exposição
de organismos vivos a germes e
substâncias tóxicas
Epidemias, infestação de insetos.
Fonte: Below, Wirtz e Guha-Sapir (2009).
O Ministério da Integração Nacional do Governo Federal do Brasil (2012) adota o
mesmo conceito proposto pela UNISDR e segue a Classificação Brasileira de Desastres
(Cobrade) baseada na classificação utilizada pelo EM-DAT, com adaptações à realidade
brasileira.
Atualmente, existem vários bancos de dados de desastres naturais, tanto em escala
global quanto regional. O banco de dados em escala global mais conhecido é o EM-DAT, que
distingue dois tipos de desastres, os naturais e os tecnológicos. No entanto, serão aqui
expostos apenas os desastres naturais.
Para que os desastres sejam registrados no banco de dados do EM-DAT, um dos
critérios a seguir deve ser atingido: dez ou mais casos de morte; cem ou mais pessoas
afetadas; declaração de estado de emergência e solicitação de assistência internacional.
No Brasil, criou-se o Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID) da
Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec) em 2012, com o objetivo de qualificar
e dar transparência à gestão de riscos e desastres no Brasil. Além desse banco de dados para
consulta na internet, o Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Proteção e
Defesa Civil/Centro Nacional de Gerenciamento de Desastres elaboraram documentos como o
38
Atlas brasileiro de desastres naturais, também com volumes para todos os estados e o
Anuário brasileiro de desastres naturais (volumes para os anos 2011 e 2012).
Os dados contidos e consolidados da ocorrência de desastres, no banco de dados e
nesses anuários, são oriundos de documentos oficiais como os extintos Formulários de
Avaliação de Danos (Avadan), e de Notificação Preliminar de Desastres (Nopred), e o atual
documento para informar ocorrência de desastres – Formulário de Informação de Desastres
(Fide). Utilizam-se, também, Decretos de Declaração de Estado de Calamidade Pública (ECP)
ou de Situação de Emergência (SE) e Portarias de Reconhecimento Federal, além de
informações coletadas nas Coordenadorias de Defesas Civis (CDEC).
Uma nova Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (Cobrade) foi instituída
por meio da Instrução Normativa n.º 1, de 24 de agosto de 2012, em substituição à
Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos (Codar). A Cobrade foi elaborada com base na
classificação utilizada pelo Banco de Dados Internacional de Desastres (EM-DAT) do Centro
de Pesquisa sobre Epidemiologia e Desastres (CRED) e da Organização Mundial de Saúde
(OMS/ONU).
De acordo com o Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (Ceped)
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2012), a classificação de desastres
é importante, primeiramente, por motivo de ordem legal, visto que as situações de
anormalidade só podem ser decretadas em função de um desastre. Assim, para que seja
considerado um desastre, no Brasil, determinado evento tem de estar catalogado na Cobrade.
O segundo motivo é a necessidade do registro desses fenômenos no contexto histórico
do País. A codificação permite a formação de um Banco de Dados, que poderá ser utilizado
para uma análise contextualizada da ocorrência de desastres no território nacional,
possibilitando o planejamento de medidas preventivas e preparatórias para o enfrentamento
desses eventos.
A Cobrade classifica os desastres agrupando em Desastres Naturais e Tecnológicos.
Dentre os desastres naturais, são apresentados os Grupos de Desastres Geológicos,
Hidrológicos, Meteorológicos e Climatológicos. A descrição de cada desastre pode ser
visualizada na Cobrade completa disponibilizada no site do Ministério da Integração Nacional
(www.integração.gov.br).
De acordo com o EM-DAT, a frequência e a intensidade dos desastres naturais
aumentou de forma significativa desde a década de 1950. Segundo alguns autores, esse
39
aumento associa-se diretamente à maior exposição e vulnerabilidade da sociedade
contemporânea (NICHOLLS, 2001; PIELKE JR, 2005; PIELKE JR et al., 2005). Outros,
como Houghton (2003), afirmam que a principal agravante tem sido as mudanças globais,
principalmente com a intensificação das instabilidades atmosféricas e aumento dos chamados
eventos extremos, como furacões, vendavais, tempestades e chuvas intensas, que causam
grandes danos socioeconômicos (MARCELINO; NUNES; KOBIYAMA, 2006).
Pesquisas relacionadas com a ocorrência de desastres naturais no mundo e no Brasil
vêm sendo desenvolvidas nos últimos anos, ajudando, portanto, na identificação das
principais causas do aumento da ocorrência de desastres.
Guha-Sapir, Hoyois e Below (2014) apresentam o Annual Disaster Statistical Review
2013: the Numbers and Trends. De acordo com esse anuário de 2013, os desastres naturais,
mais uma vez, causaram impactos devastadores para a sociedade humana. Foram registrados
no mundo 330 desastres naturais, causando a morte de mais de 21.610 pessoas, fazendo 95,5
milhões de vítimas e registrando danos econômicos de U$ 118,6 bilhões. Um total de 108
países sofreu com esses desastres.
Em relação ao total de ocorrências, em 2013, o número de desastres foi menor do que
a frequência média anual observada entre 2003 e 2012, que foi de 288. Foi o menor valor dos
últimos dezesseis anos. O baixo número de desastres relatados no referido ano, quando
comparado com a média de ocorrência entre 2003 e 2012, foi por um menor número de
desastres hidrológicos (inundações e movimentos de massa) e climatológicos (18% e 45%
menor do que a média de 2003 e 2012 respectivamente). Os desastres hidrológicos (159 no
total) ainda foram, de longe, os que mais ocorreram em 2013 (48,2%), seguidos de desastres
meteorológicos (106;32,1%), desastres climatológicos (33; 10%) e desastres geofísicos (32;
9,7%).
China, Estados Unidos, Indonésia e Filipinas foram os países que mais sofreram com
os desastres naturais em 2013. Dois desastres que ocorreram nesse ano foram mais
significativos, matando mais de mil pessoas, o furacão Haiyan nas Filipinas, em novembro,
onde foram registradas 7.354 mortes, e a grande inundação no mês de junho, na Índia, com
6.054 mortes registradas.
Em 2013, o número de mortes provocadas pelos desastres naturais foi menor (21.610),
se comparado com a média anual entre 2003 e 2012 (106.654), o que pode ser explicado,
principalmente, pela análise da média entre três anos, 2004, 2008 e 2010, com mais de 200
40
mil casos de morte registrados e dois anos 2003 e 2005 com registro médio em torno de 100
mil mortes, muito desses casos por terremotos (GUHA-SAPIR; HOYOIS; BELOW, 2014). A
Figura 2.1 apresenta a tendência de ocorrência de vítimas no mundo e a Figura 2.2, os dez
países com maior número de eventos registrados em 2013. Percebe-se o Brasil na oitava
colocação do ranking, com maior ocorrência de eventos hidrológicos.
Na teoria, os perigos naturais (Natural Hazards) ameaçam igualmente qualquer
pessoa, mas na prática, proporcionalmente, atingem os mais pobres por meio de um conjunto
de fatores: há um número muito maior de população de baixa renda vivendo em lugares
inapropriados, considerados frágeis, em áreas mais densamente povoadas e em terrenos de
maior suscetibilidade à ocorrência dos eventos naturais.
Figura 2.1 – Gráfico da tendência de ocorrências e vítimas de desastres naturais no mundo de
1990 a 2013
Fonte: Guha-Sapir, Hoyois e Below (2014).
* Soma dos registros de mortes e do total de afetados.
41
Figura 2.2 – Gráfico representativo dos dez países com o maior número de eventos registrados em
2013
Fonte: Guha-Sapir, Hoyois e Below (2014).
No Brasil, de acordo com o Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2010: volume
Brasil (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2012), contabiliza-se
anualmente um aumento do número de ocorrências de desastres registrados desde a década de
2000 (Figura 2.3). Os dados são comprovados também quando se observam os seguintes
números: total de desastres entre 1990 a 2010 (31.909), década de 1990 (8.671 / 27%) e
década de 2000 (23.238 / 73%).
Figura 2.3 – Gráfico da ocorrência de desastres naturais no Brasil de 1990 a 2010
Fonte: Universidade Federal de Santa Catarina (2012).
42
Entretanto, é importante chamar a atenção para o fato de que as diferenças entre os
registros também podem estar ligadas à dificuldade histórica da Defesa Civil em manter os
registros atualizados. Como tendência, é possível apenas afirmar que tanto os desastres têm
potencial crescimento como o fortalecimento do sistema, a fidelidade aos números e o
compromisso no registro também crescem com o passar dos anos.
Fazendo uma comparação da diferença de registros entre cada ano por tipo de desastre,
de modo a estabelecer uma relação entre o aumento de ocorrência e o aumento de registros, a
partir da média, observa-se na Figura 2.4 que o desastre que apresentou maior variação entre
as décadas foi o movimento de massa, aumentando 21,7 vezes, visto que a média geral foi de
6 vezes.
Figura 2.4 – Gráfico comparativo de ocorrência de desastres naturais no Brasil entre as décadas de
1990 e 2000
Fonte: Universidade Federal de Santa Catarina (2012).
No total de afetados por tipo de desastres (96.220.879 pessoas), a estiagem/seca é o
desastre que mais afetou a população brasileira, por ser mais recorrente (50,34%), mas as
inundações bruscas, com 29,56% dos afetados brasileiros, causaram o maior número de
mortes (43,19%).
De acordo com o Anuário brasileiro de desastres naturais (BRASIL, 2012c), em
2011, os desastres tiveram impactos significativos na sociedade brasileira. Relatou-se a
ocorrência de 795 desastres naturais, que causaram 1.094 óbitos e afetaram 12.535.401
pessoas. Foram 2.370 municípios afetados, sendo 65,44% deles por eventos hidrológicos. A
região mais afetada nesse ano foi a região Sul (6.855.449 afetados), no entanto, a que sofreu o
maior impacto pelo poder de destruição deles foi a região Sudeste. O número de óbitos
verificados nessa última região foi 7,29 vezes maior do que a verificada nas outras quatro
43
juntas, isso justificado pelo aconteceu na Região Serrana do Rio de Janeiro, representando
87,95% do total de óbitos em 2011 no Brasil, tendo como maior contribuição para o número
de óbitos, os deslizamentos; todavia, eles contribuíram apenas com 5,40% do total de afetados
por desastre em todo o Brasil.
Já em 2012 (BRASIL, 2013), relatou-se, oficialmente, a ocorrência de 376 desastres
naturais, causando 93 óbitos e afetando 16.977.614 pessoas. Os municípios afetados foram
3.781, um maior número do que em 2011, e 65,06% deles pela seca/estiagem. A região
Nordeste teve o maior percentual de municípios atingidos 47,16%, porém, os desastres que
causaram o maior número de mortes foram os movimentos de massa e enxurradas, ambos
correspondendo a 27,96% dos óbitos. Os movimentos de massa apresentaram maior
predominância nesse ano, foram 92% dos casos registrados.
No caso do Nordeste, em 2011, principalmente, no litoral leste, contabilizaram-se 10
óbitos, 358 desabrigados, 656 desalojados, 1.025 afetados, totais bem inferiores da região
Sudeste. Em relação à erosão dos solos, classificadas pela Cobrade de Erosão
Costeira/Marinha, Erosão da Margem Fluvial e Erosão Continental, quase 82% dos desastres
desse tipo ocorreram nas regiões Centro-Oeste, Norte e Sul. O Nordeste teve uma proporção
de 27,27% das ocorrências totais, com 150 desalojados e um total de 14.722 afetados.
Em 2012, a maioria dos casos de erosão ocorreu no Nordeste e Norte, com 38,46% e
46,15% dos casos respectivamente. Predominando a erosão marinha costeira no Nordeste e
erosão das margens fluviais no Norte.
Os eventos de seca/estiagem são os que afetam o maior número de pessoas, afetando,
em 2011, na região Norte, Sul/Sudeste e semiárido nordestino 1.308.873 pessoas. Em 2012, o
número de pessoas afetadas por seca/estiagem foi de 8.956.853. Na região do semiárido
nordestino, os impactos foram mais perceptíveis. Esse número foi bem acima do observado
em 2011 (1.308.873).
Em relação aos alagamentos, em 2011, as regiões Sudeste e Sul foram as que
apresentaram o maior número de ocorrências com 29.198 e 112.031 afetados,
respectivamente. A região Nordeste, principalmente no estado da Bahia, teve um total de
37.904 afetados. Em 2012, ocorreram 17 desastres provocados por alagamento no Brasil,
prevalecendo na região Sudeste, seguida do Sul e Nordeste. No entanto, na totalidade do
Brasil, observou-se uma menor frequência de alagamentos. Tal fato pode ser explicado pelo
déficit de precipitação desse ano, principalmente na região Nordeste, onde os impactos foram
44
sentidos inclusive fora do semiárido. Mesmo assim, na região Nordeste contaram-se 10
desabrigados, 255 desalojados e um total de 1.552 afetados.
As enxurradas afetaram 7.043.989 pessoas no Brasil, em 2011, além de 518 óbitos e
mais de 600 feridos. Contudo, danos humanos decorrentes de enxurradas estão relacionados,
na maioria das vezes, às ocupações desordenadas nas margens dos rios ou outras áreas com
alta suscetibilidade a esse tipo de desastre. O maior número de desabrigados por enxurrada foi
na região Nordeste (23.118), mas com apenas 6 casos de óbito enquanto na região Sudeste
foram 492 casos.
Em 2012, o número de ocorrências de enxurradas foi muito reduzido, se comparado
com 2011 (total de 93 ocorrências), sendo a região Sudeste a mais afetada. A região Nordeste,
por sua vez, apresentou somente 4 ocorrências.
As inundações, geralmente ocasionadas por chuvas prolongadas em áreas de planícies
tiveram as maiores ocorrências, em 2011, registradas nas regiões Sul e Sudeste. O Nordeste
também apresentou significativos registros, com uma distribuição esparsa desses ao longo dos
meses, tendo um maior número de inundações em maio, que é um dos meses de maior
precipitação na porção leste do Nordeste, onde foram afetadas 308.928 pessoas.
As macrorregiões Sudeste, Nordeste e Sul do Brasil são aquelas de maior
suscetibilidade às inundações; no entanto, em 2012, alterou significativamente essa
predominância, já que a região Norte foi a que contabilizou a maior parte desses desastres.
Esse fato está associado ao evento extremo ocorrido na região Norte, em que a Bacia
Amazônica, como um todo, registrou cheias recordes neste ano, provavelmente influenciado
por um evento de El Niño, que está relacionado com a diminuição das chuvas no Nordeste do
Brasil e aumento das chuvas na região Norte.
De acordo com o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais: volume Pernambuco
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2013), esse estado tem 70% do seu
território no Polígono das Secas. Os fenômenos desse tipo passaram a ocorrer com mais
frequência depois de 2001, o que se pode explicar pelo aumento da população ou atividades
em áreas vulneráveis, aumentando a exposição a esse tipo de adversidade. Outro fator
importante a ser levado em consideração é a ação do homem, pois a constante destruição da
vegetação natural por meio de queimadas acarreta a expansão do clima semiárido para as
áreas onde anteriormente não existiam.
45
Ainda em Pernambuco, as inundações bruscas (enxurradas) e os alagamentos
decorrentes das fortes chuvas ocasionaram 345 registros oficiais de desastres, entre os anos de
1991 a 2010. As regiões mais atingidas foram a Região Metropolitana do Recife (RMR) e a
Zona da Mata. O município de Camaragibe, na RMR, registrou o maior número de desastres
no período, totalizando 7 ocorrências. Houve um aumento nos registros a partir do ano 2000
que pode estar relacionado com o aumento do nível do risco da população às cheias em razão
do crescimento urbano do estado.
O ano de mais ocorrência de enxurradas foi 2004 (95 registros), principalmente nos
municípios da região semiárida. Em 2010, foram registradas 74 ocorrências, em que 65
ocorreram no mês de junho, apresentando um acumulado de 219,01 mm em 111 dias de
chuva. Outro ano significativo foi o mês de junho de 2005, com 37 do total de 41 ocorrências.
Em relação aos movimentos gravitacionais de massa, a RMR é a mais atingida. Esses
desastres ocorrem nas áreas de morro, onde a ocupação se deu de modo desordenado ainda
havendo atributos naturais para a suscetibilidade à instabilização de encostas, como a geologia
da área. Nos municípios de Recife, Olinda e Camaragibe, os principais locais de
deslizamentos estão sobre a Formação Barreiras.
Entre 1990 e 2010, contabilizaram-se 14 registros oficiais de movimentos de massa
em Pernambuco, registrados em 8 municípios na porção leste do Estado. Dentre esses, estão:
Recife, Olinda, Camaragibe e Jaboatão dos Guararapes na RMR; Goiana, Ribeirão e Quipapá
na Zona da Mata e Gravatá no Agreste de Pernambuco.
Nota-se que a magnitude dos movimentos de massa que ocorrem no estado de
Pernambuco não é tão significativa para serem classificados como desastres naturais e
cadastrados nos referidos bancos de dados, mas dados das Coordenadorias de Defesas Civis
do estado e dos municípios trazem informações mais detalhadas e problemas acarretados por
esses processos, como perda de residências e, em casos mais localizados, a existência de
óbitos.
Já o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (2005), contabilizou um total de 1.572 mortes
por deslizamentos no Brasil no período de 1988 a 2005. O que representa um número
aproximado, já que algumas ocorrências conhecidas na RMR não constam entre esses dados.
Bandeira e Coutinho (2015) apresentaram um total de 214 mortes provocadas por
deslizamentos entre 1984 e 2012 nessa região. Em 2011, nove vítimas com morte foram
contabilizadas após as chuvas intensas que ocorreram em julho (120,3 mm/24h). Infelizmente,
46
aumentando esse total de mortes que ocorreram na RMR. Em 2015, houve um registro de
morte no Recife depois do acumulado apenas de 30 mm/24h no mês de março. Com as fortes
chuvas que ocorreram nos dias 24 e 25 de junho e no dia 28 de junho, houve mais dois óbitos
nesse último dia.
Nesta tese, procurou-se não se deter apenas nas ocorrências que constam nos
documentos expostos, visto que, como afirmam os autores desses documentos, houve
limitações nas pesquisas realizadas nos Atlas de Desastres do Brasil, em Pernambuco, bem
como nos demais estados brasileiros, pelas condições de acesso, ao banco de imagens e
referencial teórico para a caracterização geográfica de cada estado, pelas lacunas de
informações por mau preenchimento, além da armazenagem inadequada dos formulários,
muitos guardados em locais sujeitos a fungos e umidade.
Os autores do Atlas de Desastres do volume de Pernambuco relatam as fragilidades
quanto ao processo de gerenciamento das informações sobre os desastres brasileiros:
- ausência de unidades e campos padronizados para as informações declaradas pelos
documentos;
- ausência de sistema de coleta sistêmica e armazenamento dos dados;
- cuidado quanto ao registro e integridade histórica;
- dificuldades na interpretação do tipo de desastre por responsáveis pela emissão dos
documentos;
- dificuldade de consolidação, transparência e acesso aos dados. (UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2013).
Contudo, percebe-se a importância da realização de trabalhos que analisam o histórico
dos principais desastres que ocorrem no Mundo e no Brasil, identificando os tipos de
desastres, sua magnitude e impactos associados, bem como a elaboração dos referidos banco
de dados. Entretanto, as exigências estabelecidas para que a ocorrência de um determinado
fenômeno seja considerado como desastres e cadastrado nos bancos de dados internacionais e
nacional de desastres naturais relacionam-se com eventos de grande magnitude. Os eventos de
movimentos de massa (erosão e deslizamentos), por exemplo, são mais localizados e às vezes
de pequena magnitude, a depender da intensidade das chuvas e dos eventos de chuvas
antecedentes, mas que podem gerar perda de vidas ou danos às construções, estradas, etc.,
porém, não são cadastrados nos bancos de dados citados.
47
Diante do exposto, torna-se essencial, para um bom planejamento de áreas de risco,
um treinamento das defesas civis para tornar os cadastros de ocorrências mais homogêneos,
não só os que atingem os critérios técnicos estipulados pelo S2ID. Todas as ocorrências
devem ser registradas e armazenadas em um banco de dados, visando tanto a continuidade de
trabalhos do nível desta pesquisa, como a identificação de áreas críticas e melhor
conhecimento da problemática da área para subsidiar as intervenções.
2.2 Processos do meio físico
Os processos que serão discutidos nesta seção fazem parte da dinâmica natural da
superfície terrestre e são agentes modeladores do relevo. O resultado dessa modelagem é a
paisagem, a qual é estudada pela geomorfologia que procura descrevê-la em termos de
estrutura, processo e tempo.
Em geomorfologia, o processo define as ações dinâmicas ou eventos que envolvem a
aplicação de forças sobre certos gradientes. Essas ações são provocadas por agentes como
chuva, vento, ondas, marés, rios, gelo, etc. (INFANTI JÚNIOR; FORNASARI FILHO,
1998). Os processos geomorfológicos, geralmente, são complexos, refletindo tanto as relações
entre as variáveis causais (clima, geologia, morfologia, etc.), como também a sua evolução no
tempo. Portanto, ao se analisar os processos, deve-se sempre ter em conta o espaço em que o
processo ocorre, a sua velocidade e frequência.
No município do Ipojuca, de forma semelhante à Região Metropolitana do Recife, é
frequente a ocorrência de processos como movimentos de massa, sendo este dividido em
movimentos de massa segundo a ação da gravidade (movimentos gravitacionais de massa) e
movimentos de massa causados por processos de transporte (erosão). Encontram-se também
solos expansivos, subsidências, inundações e alagamentos.
Assim, de acordo com os objetivos deste trabalho, para análise dos impactos
provocados pelos eventos extremos de chuva, os processos analisados serão inundações e
movimentos de massa (representados pelos deslizamentos). Para o modelo de suscetibilidade,
serão os processos de movimento de massa. Nesse caso, estes últimos serão discutidos de
forma mais detalhada, com a apresentação dos conceitos, tipos e agentes condicionantes
fundamentais para a compreensão e desenvolvimento da avaliação da suscetibilidade.
48
2.2.1 Inundação e alagamento
As inundações são fenômenos naturais de caráter hidrometeorológico ou hidrológico,
ligados à quantidade e intensidade da precipitação pluvial (AMARAL; RIBEIRO, 2009). A
inundação é o aumento do nível dos rios além da sua vazão normal, ocorrendo o aumento das
suas águas sobre as áreas próximas a ele. Essas áreas próximas são chamadas de planícies de
inundação. Quando não ocorre o transbordamento, apesar de o rio estar praticamente cheio,
ocorre uma enchente. Assim, o que diferencia a enchente da inundação são os níveis de água
(KOBIYAMA, 2006), conforme a Figura 2.5.
Figura 2.5 – Perfil esquemático do processo de enchente e inundação
Fonte: Amaral e Ribeiro (2009).
A Defesa Civil Nacional classifica as inundações de duas formas: por sua magnitude e
pelo padrão evolutivo. Pela magnitude, podem ser classificadas como inundações
excepcionais, de grande magnitude, normais ou regulares e de pequena magnitude; pelo
padrão evolutivo, são inundações normais, bruscas, alagamentos e inundações litorâneas. A
maior parte das situações de emergência ou estado de calamidade pública é causada pelas
inundações graduais e bruscas (KOBIYAMA, 2006).
As inundações graduais ocorrem quando a água eleva-se de forma lenta e previsível e
mantém-se em situação de cheia durante algum tempo, em seguida, escoam gradualmente. Já
as inundações bruscas ou enxurradas, ocorrem em consequência das chuvas intensas ou
concentradas, principalmente em regiões de relevo acidentado, com elevação súbita do nível
da água e escoamento violento.
49
O alagamento é um acúmulo momentâneo de águas em determinados locais por
deficiência no sistema de drenagem (AMARAL;RIBEIRO, 2009).
2.2.2 Movimentos gravitacionais de massa
Os movimentos gravitacionais de massa (MGM) são um tipo de processo de vertente e
fazem parte da dinâmica natural da paisagem, atuando como um dos principais processos
geomorfológicos responsáveis pela evolução do relevo, principalmente em áreas de relevo
acidentado e montanhoso. Em conjunto com os processos erosivos, auxiliam no recuo das
encostas e na formação dos depósitos coluviais.
O termo Landslide (deslizamento) descreve uma ampla variedade de movimentos de
massa em uma encosta, incluindo alguns como queda de rochas, tombamentos e fluxo de
detritos que envolvem pouco ou nenhum deslizamento propriamente dito, sendo os
deslizamentos uma das formas mais importantes dentre todas as formas de movimentos
gravitacionais de massa (VARNES, 1984).
O termo deslizamento é comumente usado como sinônimo de movimentos
gravitacionais de massa por sua simplicidade, podendo também aparecer como
escorregamentos, conforme utilizado em Guidicini e Nieble (1984). Sendo assim, os
movimentos gravitacionais de massa, deslizamentos e escorregamentos serão tratados, nesta
tese, como sinônimos.
Os tipos de movimentos gravitacionais de massa variam em função do tipo de material
envolvido no processo e em relação à sua magnitude. Em geral, tipos de movimentos rápidos
são mais propícios a causar perda de vidas do que movimentos lentos, não obstante estes
últimos podem causar dano extensivo às construções e infraestruturas (PETLEY, 2010).
A distribuição de deslizamentos fatais reflete a justaposição de três fatores:
1) ocorrência de processos tectônicos (eventos sísmicos);
2) ocorrência de graus elevados de precipitação, incluindo, usualmente, ambos o alto
grau de precipitação total anual e altas intensidades de chuva em um curto período
de tempo;
3) a presença de uma alta densidade populacional.
50
Embora, em muitos casos, os deslizamentos sejam influenciados pelas ações
antrópicas, devemos levar em conta o fato de que em muitas paisagens tais feições
representam o resultado de processos naturais importantes no condicionamento e da evolução
do relevo ao longo do tempo (FERNANDES et al., 2001).
Nesse mesmo ponto de vista, Bitar (2014) afirma que a suscetibilidade pode ser
inicialmente analisada por meio dos fatores predisponentes intrínsecos à natureza dos
terrenos. Nesse sentido, mesmo que uma área tenha sido modificada em relação às suas
características, seja pela urbanização, seja por outros tipos de intervenções como o uso
agrícola, que passe a favorecer ou desfavorecer o desenvolvimento de processos do meio
físico, pressupõe-se que os fatores predisponentes podem ainda estar presentes, portanto,
devem ser considerados para fins de planejamento e gestão territorial.
Nos municípios da RMR, diferentemente do que ocorre nas regiões serranas do
Sudeste e Sul do Brasil, as principais causas de escorregamentos (deslizamentos) associam-se
à degradação ambiental, por exemplo, remoção da vegetação natural para o plantio da cana-
de-açúcar, cortes para implantação de rodovias e a intensificação de cortes e aterros para a
ocupação desordenada das áreas de morro. Além disso, a falta de infraestrutura é uma das
principais causas de deslizamentos no Brasil e principalmente na RMR (ALHEIROS, 1998;
CARVALHO; GALVÃO, 2006).
2.2.2.1 Classificação dos movimentos gravitacionais de massa
Existem várias propostas de classificação dos movimentos gravitacionais de massa em
todo o mundo baseados em diversos fatores; e por essa diversidade de fatores, encontra-se na
literatura uma grande variedade de classificações que geram conflitos nas terminologias
adotadas. A classificação proposta por Sharpe (1938 apud VANACÔR, 2006, p. 44) foi
considerada como a primeira classificação de amplo aceite e embasou os diversos trabalhos
que surgiram posteriormente. Todavia, a classificação proposta por Varnes (1978) ainda é a
mais adotada internacionalmente e considerada a classificação oficial da Associação
Internacional de Geologia de Engenharia (IAEG), assim como o trabalho de Cruden e Varnes
(1996), sendo este uma revisão dos trabalhos anteriores de Varnes.
No Brasil, podem-se citar como mais importantes os trabalhos de Freire (1965), que
divide os movimentos em escoamentos, escorregamentos, subsidências e desabamentos, e por
meio de uma adaptação dessa proposta, o trabalho de Guidicini e Nieble (1984), aumentando
51
o número de subdivisões e adicionando as formas de transição dos movimentos complexos. O
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (1991) elaborou uma classificação mais simplificada, e
com base nas anteriores, Infanti Júnior e Fornasari Filho (1998) apresentaram uma revisão
sucinta dos principais tipos de movimentos de massa que ocorrem no Brasil, relativos à
dinâmica de ambientes tropicais. Cruden e Varnes (1996), seguindo o modelo de Varnes
(1978), classificam os movimentos de massa com ênfase no tipo de movimento, no tipo de
material transportado e a atividade do movimento de massa. Os tipos de materiais são solo,
rocha e detritos; e os tipos de movimentos são quedas, tombamentos, escorregamentos,
expansões laterais, escoamentos (rastejo e corridas). O Quadro 2.2 apresenta uma visão
abreviada da classificação proposta por Cruden e Varnes (1996) e na sequência, uma
descrição desses tipos de movimentos.
Quadro 2.2 – Visão abreviada da classificação proposta por Cruden e Varnes (1996)
TIPO DE MOVIMENTO
TIPO DE MATERIAL
ROCHA
SOLOS DE ENGENHARIA
Predomínio de
grossos
Predomínio de
finos
QUEDA
Queda de
blocos
Queda de
detritos
Queda de solo
TOMBAMENTO Tombamento
de rocha
Tombamento de
detritos
Tombamento
de solo
DESLIZAMENTO /
ESCORREGAMENTOS
ROTACIONAL
(CIRCULARES) Deslizamento
de rocha
Deslizamento de
detritos
Deslizamento
de solo TRANSLACIONAL
(PLANARES)
EXPANSÃO LATERAL / ESPALHAMENTO
LATERAL
Expansões
laterais de
rocha
Expansões
laterais de
detritos
Expansões
laterais de solo
ESCOAMENTO / FLUXOS
Movimento
lento
Corrida de
rocha
Movimento
lento
Corrida de
detritos
Movimento
lento
Corrida de
solo
52
Quedas (Falls) – ocorrem quando o material (rocha ou solo) desprende-se das encostas
pela ação da gravidade. O movimento é do tipo queda livre ou rolamento, com
velocidade muito rápida (m/s) que pode atingir grandes distâncias. Nas encostas
íngremes, o movimento geralmente é em queda livre e nas superfícies inclinadas o
movimento é de rolamento de matacões.
Tombamentos (topless) – o movimento se dá a partir da rotação de um bloco da
encosta em torno de um eixo. Esse movimento condiciona-se à existência de planos de
fraqueza (Figura 2.6).
Figura 2.6 – Exemplos de queda (A) e tombamento (B)
(A)
(B)
Fonte: Infanti Júnior e Fornasari Filho (1998).
Escorregamentos/deslizamentos (slides) – é o movimento que ocorre geralmente por
meio de uma superfície de ruptura. Os primeiros sinais podem ser observados nas
fissuras na superfície do solo. Dividem-se em rotacionais (circulares), translacionais
(planares) e em cunha (INFANTI JÚNIOR; FORNASARI FILHO, 1998).
o Escorregamentos rotacionais ou circulares – têm superfícies de deslizamentos
curvas, sendo comum a ocorrência de uma série de rupturas combinadas e
sucessivas. Associam-se a aterros, pacotes de solos ou depósitos mais espessos
e homogêneos, rochas sedimentares ou cristalinas extremamente fraturadas,
53
ocorrendo com frequência em encostas compostas por material de alteração
originado de rochas argilosas como argilitos e folhelhos.
o Escorregamentos translacionais ou planares – são processos muito frequentes
nas encostas serranas brasileiras, envolvendo solos superficiais,
frequentemente até o contato com a rocha subjacente, alterada ou não.
Também ocorrem em taludes, mobilizando solo saprolítico, saprolitos e rochas,
sendo condicionados por estruturas planares desfavoráveis à estabilidade,
relacionados com feições geológicas diversas (foliação, xistosidade, fraturas,
falhas, etc.). É nas encostas de urbanização precária envolvendo cortes e
aterros que esse tipo de processo causa o maior número de vítimas no Brasil e
na RMR.
o Escorregamentos em cunha – associam-se aos saprolitos e maciços rochosos,
nos quais a existência de duas estruturas planares, desfavoráveis à estabilidade,
condiciona o deslocamento de um prisma ao longo do eixo de interseção desses
planos (Figura 2.7).
Figura 2.7 – Tipos de escorregamento
Fonte: Adaptado de Cruden e Varnes (1996).
54
Espalhamentos (spreads) – ocorre em materiais mais rígidos sobrejacentes a camadas
menos resistentes, formando fissuras e fraturas transversais à direção do movimento.
O movimento é repentino e se dá pela perda de resistência da camada subjacente, em
razão da ação da água, como o efeito da liquefação das areias; pode também ocorrer
pelo escoamento plástico como nas argilas sensitivas. O material sobrejacente pode
sofrer movimentos de subsidência, translação, rotação, desintegração ou escoamento.
Escoamento (flow) – são representados por deformações, ou movimentos contínuos,
estando ou não presente em uma superfície definida ao longo do qual a movimentação
ocorra. Guidicini e Nieble (1984) classificam os escoamentos em movimentos lentos
(rastejos) e movimentos rápidos (corridas).
o Rastejos (creep) – consistem no movimento descendente, lento e contínuo da
massa de solo de um talude. Correspondem a uma deformação de caráter
plástico, cuja geometria não é bem definida e que também não apresenta o
desenvolvimento de uma superfície definida de ruptura. Só é perceptível em
observações de longa duração (cm ou mm/ano). Ocorrem geralmente em
encostas retilíneas e convexas em intensidades proporcionais à inclinação
dessas encostas (Figura 2.8).
Figura 2.8 – Exemplo de rastejo e seus indícios
Fonte: Adaptado de Infanti Júnior e Fornasari Filho (1998).
o Corridas (flow) – são formas rápidas de escoamento, nos quais os materiais
se comportam como fluidos altamente viscosos. Caracterizam-se por uma
dinâmica híbrida regida pela mecânica dos solos e dos fluidos, pelo grande
volume de materiais que mobilizam e pelo extenso raio de alcance que têm
55
(até alguns quilômetros), por isso podem provocar consequências de
magnitudes superiores aos escorregamentos, no entanto, ocorrem com
menor frequência. Recebem diferentes denominações dependendo das
características do material mobilizado tais como corrida de lama (mud
flow) constituindo em um solo com alto teor de água; corrida de terra
(earth flow), cujo material predominante também é solo, mas com teor
menor de água (Figura 2.9); e corrida de detritos (debris flow), cujo
material predominante é grosseiro, envolvendo fragmentos de rocha de
vários tamanhos.
Figura 2.9 – Exemplo de corrida de terra em Camaragibe-PE em 2000
Fonte: Alheiros (2000 apud COUTINHO, 2009, p. 64).
Os movimentos gravitacionais de massa são condicionados por complexas relações
entre fatores geológicos, englobando as características lito/estruturais e tectônicas,
geomorfológicos, climáticos e antrópicos (VANACÔR; ROLIM, 2012). Assim, diversos
autores estudaram métodos objetivos para caracterizar o papel desempenhado e classificar a
importância dos fatores que condicionam esses movimentos, objetivando auxiliar na definição
da influência de cada fator para construir o mapa de suscetibilidade (FERNANDES et al.,
2001; DONATI; TURRINI, 2002).
Gusmão Filho (1997 apud BANDEIRA, 2010) observou, na RMR, que os
deslizamentos em solos, na maioria, não são profundos e a sua superfície de ruptura é
translacional, paralela ao talude. Os mecanismos de instabilização das encostas urbanas
associados a esse tipo de ruptura estão ligados ao aumento da umidade pela infiltração de
águas de chuva e servidas.
56
A classificação dos fenômenos de movimentos gravitacionais de massa, contudo,
assume especial relevância quando esta tem um caráter genético associado, relacionando a
tipologia dos movimentos com os processos e mecanismos necessários para a deflagração
tornando-se, então, uma importante base teórica para os estudos de previsão e
desenvolvimento de modelos (AUGUSTO FILHO; VIRGILI, 1998).
2.2.2.2 Fatores condicionantes dos movimentos gravitacionais de massa
Segundo Alcántara-Ayala e Goudie (2010), baseados em Cruden e Varnes (1996), os
movimentos gravitacionais de massa (MGM) podem ser deflagrados por um destes três
fatores: precipitação, sismicidade ou ação humana. No entanto, para esses fatores serem
passíveis de induzir o MGM, tem de haver uma série de fatores físicos que levam à ruptura
do talude. Esses fatores são usualmente determinados como “causas”, que podem ser:
geológicas, morfológicas (ou geomorfológicas), físicas e humanas.
a) Causas geológicas – materiais que formam a encosta e as deixam suscetíveis. Tem
as seguintes causas principais:
a.1 materiais fracos, pouco resistentes ou sensíveis;
a.2 presença de falhas com orientações na mesma direção do deslizamento e
combinação de materiais que podem causar variações no lençol freático;
a.3 contraste na permeabilidade ou baixa consistência dos materiais.
b) Causas morfológicas – um parâmetro-chave é o ângulo de inclinação da encosta em
comparação com a força do material; a declividade e a forma da vertente
(concavidade, convexidade) que indicam a concentração de água em localizações
específicas.
c) Causas físicas – ligam-se aos processos físicos, por exemplo, maior suscetibilidade
a deslizamentos quando o nível do lençol freático está elevado em razão da
ocorrência de um evento de precipitação pluvial prolongado. Outro exemplo seria a
perda da cobertura vegetal.
d) Causas humanas – referem-se às atividades antrópicas que podem desestabilizar a
encosta a exemplo de desmatamento de áreas florestadas para cultivos em geral,
pastagens ou para retirada de madeira; corte de encostas para construção de estradas
e residências sem níveis adequados de estabilidade de taludes e manejo da água.
57
Guidicini e Nieble (1984) utilizam a terminologia de agentes e causas de
instabilização para discutir os condicionantes dos deslizamentos. Entende-se por causa o
modo de atuação de determinado agente, ou seja, um agente pode expressar-se por uma ou
mais causas. Dentre a conceituação de agente, pode-se fazer uma distinção entre agentes
predisponentes e agentes efetivos. Os agentes predisponentes referem-se a um conjunto de
características naturais intrínsecas do terreno, sem a ação do homem, sob qualquer forma, tais
como complexo geológico, morfológico, climático-hidrológico, gravidade, calor solar e tipo
de vegetação original.
Entende-se por agentes efetivos o conjunto de elementos diretamente responsáveis
pelo desencadeamento do movimento de massa; neles está inclusa a ação humana. Em virtude
de sua forma de participação, são divididos em preparatórios e imediatos. Entre os primeiros,
estão a pluviosidade, erosão pela água ou vento, congelamento e degelo, variação de
temperatura, dissolução química, ação de fontes e mananciais, oscilação do nível dos lagos,
marés e do lençol freático, ação humana e dos animais, e desflorestamento.
Entre agentes efetivos imediatos, podem-se citar: chuva intensa, fusão de gelo e neve,
erosão, terremotos, ondas, vento, etc. A ação do homem pode ser considerada tanto como
agente efetivo preparatório como imediato. As causas são definidas como internas, externas e
intermediárias. Mais detalhes sobre os agentes e causas podem ser visualizados no Quadro
2.3.
Quadro 2.3 – Agentes e causas dos escorregamentos
AGENTES CAUSAS
Predisponentes Efetivos
Internas Externas Intermediárias Preparatórios Imediatos
Complexo
geológico;
complexo
morfológico;
complexo
climato-
hidrológico;
gravidade; calor
solar; tipo de
vegetação
Pluviosidade;
erosão pela
água e vento;
congelamento
e degelo;
variação da
temperatura;
dissolução
química; ação
de fontes e
mananciais;
oscilação do
freático; ação
de animais e
antrópica
Chuvas
intensas;
fusão do
gelo e neves;
erosão;
terremoto;
ondas;
vento; ação
do homem
Efeito das
oscilações
térmicas;
redução dos
parâmetros de
resistência por
intemperismo
Mudanças
na geometria
do sistema;
efeitos de
vibrações;
mudanças
naturais na
inclinação
das camadas
Elevação do nível
piezométrico em
massas
“homogêneas”;
elevação da coluna
de água em
descontinuidades;
rebaixamento rápido
do lençol freático;
erosão subterrânea
retrogressiva
(piping); diminuição
do efeito de coesão
aparente.
Fonte: Augusto Filho e Virgili (1998), adaptado de Guidicini e Nieble (1984).
58
Identificar, portanto, os fatores predisponentes intrínsecos aos movimentos de massa é
fator primordial para análise da suscetibilidade a esses movimentos.
De forma resumida, podem-se citar os seguintes itens como os principais
condicionantes dos escorregamentos e processos correlatos na dinâmica ambiental brasileira
(AUGUSTO FILHO; VIRGILI, 1998):
características climáticas, com destaque para o regime pluviométrico;
características e distribuição dos materiais que compõem o substrato das
encostas/taludes, abrangendo solos, rochas, depósitos e estruturas geológicas
(xistosidade, fraturas, etc.);
características geomorfológicas, com destaque para inclinação, amplitude e forma
do perfil das encostas (retilíneo, convexo e côncavo);
regime das águas de superfície e subsuperfície;
características do uso e ocupação, incluindo cobertura vegetal e as diferentes
formas de intervenção antrópica das encostas, como cortes, aterros, concentração de
água pluvial e servida, etc.
Cortes verticalizados, aterros mal compactados, taludes desprovidos de cobertura
superficial, lançamento de águas servidas, fossas nas bordas de taludes, vazamento de
tubulações e acúmulo de lixo são exemplos de intervenções antrópicas que, por sua vez,
podem ser um agente efetivo preparatório ou imediato. As águas, sejam elas servidas, sejam
provenientes da chuva, representam de modo geral um agente efetivo preparatório ou
imediato de maior influência dos movimentos de massa nas encostas da RMR. A ação da
chuva e forma de ocupação das encostas nessa região são fatores desencadeadores
importantes para a ocorrência dos movimentos de massa, sendo a erosão hídrica pluvial e os
escorregamentos planares, os principais processos de instabilização de encosta na RMR
(COUTINHO; BANDEIRA, 2012).
Os fatores condicionantes utilizados na análise de suscetibilidade variam em muitos
trabalhos. Entretanto, a maioria concorda que os principais condicionantes dos processos de
movimentos de massa estão relacionados com a geologia, geomorfologia (declividade e
formas de vertente), aspectos climáticos e hidrológicos, vegetação e ação antrópica, esta
última relativa às formas de uso e ocupação da terra (VARNES, 1978; GUIDICINI; NIEBLE,
1984; FERNANDES; AMARAL, 2010).
59
Em estudos realizados em Jaboatão dos Guararapes, Gusmão Filho, Alheiros e Melo
(1993) mostraram que o risco de escorregamentos pode ser considerado segundo dois
enfoques. O primeiro, de caráter inelástico, tem como foco os elementos da suscetibilidade
natural da área, particularmente os condicionantes geológicos e geomorfológicos (litologia,
textura, estrutura, forma da encosta, etc.). O segundo enfoque, de caráter elástico, está voltado
para os elementos ambientais (corte e aterro, drenagem, vegetação), que se mostraram os
principais condicionantes do risco no caso estudado por esse autor.
A seguir, serão discutidos os principais fatores predisponentes e o papel que cada um
exerce nos movimentos gravitacionais de massa. Os fatores considerados são: geologia
(destacando a litologia, estrutura, além dos solos na perspectiva da geotecnia), os aspectos
geomorfológicos (declividade e formas de vertente), a vegetação e o uso da terra.
Geologia
O ambiente tropical e o subtropical apresentam características em função do processo
de intemperismo, com mantos de cobertura superficial de grandes espessuras e formação de
zonas de diferentes resistências, permeabilidade, etc. (AUGUSTO FILHO; VIRGILI, 1998).
A presença de fraturas (tectônicas ou resultantes de alívio de pressão) apresentam importantes
pontos de descontinuidade e menor resistência, constituindo-se em caminhos preferenciais aos
movimentos de massa (WOLLE, 1985). Tais descontinuidades são preservadas nas massas de
solos originadas da alteração dos maciços rochosos.
Assim, os tipos petrográficos presentes, bem como sua mineralogia, coesão, falhas,
fraturas, diáclases e todos os demais planos de fraqueza existentes no maciço são atributos
que influenciam diretamente nos cálculos do fator de segurança dos taludes (quando já
ocupados) ou na suscetibilidade a deslizamentos (quando não ocupados).
Os diferentes tipos litológicos em uma encosta proporciona a esta um tipo de
comportamento específico. Nesse caso, encostas formadas por litologias cristalinas com
mineralogia composta por feldspato e minerais ferromagnesianos tendem a gerar, em muitos
casos, blocos isolados (matacões), solos argilosos ou silto argilosos de considerável espessura
(PFALTZGRAFF, 2007).
Por outro lado, encostas ocupadas por litologias sedimentares terão comportamentos
determinados por sua gênese, além da composição e ângulo de atrito entre os grãos e o grau
60
de coesão. As litologias sedimentares e os sedimentos inconsolidados (areias e argilas) estão
mais sujeitos aos processos erosivos que os tipos cristalinos. Tais evidências podem ser
visualizadas na Formação Barreiras, composta por arenitos e siltitos (principalmente), são
bastante suscetíveis à erosão já que são muito friáveis e com uma alternância de camadas com
composição granulométrica e mineralógica distintas.
Ainda ligado aos aspectos geológicos, pode-se destacar o material do substrato ou a
caracterização dos mantos de cobertura superficial, verificando as diferentes resistências,
permeabilidades e outras características que estejam diretamente relacionadas com os
mecanismos de escorregamento e processos correlatos. Nesse sentido têm-se os maciços
terrosos e maciços rochosos.
Na análise dos maciços terrosos, uma série de outros parâmetros e propriedade dos
solos influencia, direta ou indiretamente, suas suscetibilidades aos movimentos de massa e ao
tipo de mecanismo de instabilização atuante. Dentre eles, destacam-se: peso específico,
porosidade, índice de vazios; mineralogia; granulometria; plasticidade; atividade,
permeabilidade, compressibilidade e história de tensões (AUGUSTO FILHO; VIRGILI,
1998).
Esses maciços relacionam-se diretamente com os processos morfogenéticos de
formação do relevo, como eluvial, fluvial e pluvial-gravitacional, inferindo características
texturais, estruturais e sedimentológicas específicas. Dentre os processos analisados, os
pluviais gravitacionais são mais importantes, pois são responsáveis pela origem dos depósitos
coluviais (coluviões) e de tálus. Tais depósitos apresentam mecanismos de instabilização
próprios, ditados pela sua origem de materiais mobilizados por movimentos de encostas
(escorregamento, quedas, corridas).
Os coluviões são depósitos de materiais inconsolidados geralmente encontrados
recobrindo encostas íngremes, formados pela ação da água e principalmente da gravidade
(PASTORE; FONTES, 1998). Os coluviões também têm sido considerados como solos que
apresentam textura homogênea, uma composição silto-argilosa ou arenosa, em geral, bastante
porosa. Podem apresentar alguns blocos e/ou fragmentos de rochas imersos em uma matriz de
solo, porém a matriz é sempre predominante em todo o depósito.
Por outro lado, os depósitos de tálus têm composição textural heterogênea, compostos
predominantemente por bloco de rochas de vários tamanhos, em geral arredondados,
envolvidos ou não por uma matriz areno-silto-argilosa, frequentemente saturada, por
61
ocuparem linhas de drenagem ou base de encostas, sendo sua estabilidade bastante sensível às
alterações no lençol freático. Ao contrário dos coluviões, esses depósitos ocorrem de forma
localizada, com morfologia própria, ocupando os sopés das encostas de relevos acidentados
como serras, escarpas, etc.
Esses depósitos podem apresentar movimentos do tipo rastejo (creep), uma vez que
são materiais de baixa resistência, e por sua grande porosidade e plasticidade, exibem
comportamento visco-plástico; podem também se acelerar em razão de alterações por meio de
execuções de cortes nas bases, bem como agravados por períodos muito chuvosos. Por isso,
são depósitos quase sempre problemáticos e de difícil contenção quando instáveis.
Os maciços rochosos têm taludes mais estáveis que os maciços terrosos, suportando
geometrias mais acentuadas (ângulo e altura). Tal fato decorre dos seus maiores valores
médios de coesão e ângulo de atrito em relação aos respectivos produtos de alteração. A
estabilidade das massas rochosas, portanto, é determinada em grande parte pelas
descontinuidades rochosas (PASTORE; FONTES, 1998).
Geomorfologia
Os condicionantes geomorfológicos são os mais utilizados nos modelos de análise de
suscetibilidade a movimentos de massa, estando eles representados pelas formas das vertentes
(convexa, retilíneas e côncavas) e pelas variáveis morfométricas como declividade, aspecto,
índice de dissecação do relevo, amplitude do relevo, comprimento de rampa, etc.,
representando os processos morfogenéticos atuantes na formação do relevo. Fernandes e
Amaral (2010) acrescentam que a morfologia de uma encosta, em perfil ou em planta, pode
condicionar tanto de forma direta quanto indireta a geração de movimentos de massa.
A declividade é uma das principais variáveis morfométricas utilizadas na análise e
modelagem de instabilidade de encostas, em muitos casos a única, o que pode gerar distorções
na análise dos movimentos de massa. Refere-se à relação entre a amplitude e o comprimento
de rampa, que pode ser expressa em grau ou porcentagem (gradiente topográfico). A
velocidade de deslocamento do material e, portanto, a capacidade de transporte das massas
sólidas e líquidas, é diretamente proporcional à declividade.
A correlação entre a declividade da encosta e a frequência de movimentos condiciona
de forma direta a geração de movimentos de massa e já é conhecida há longo tempo, podendo
62
ser compreendida pela equação de Coulomb (GUIDICINI; NIEBLE, 1984), a qual descreve
que o aumento do ângulo da encosta implica uma diminuição do fator de segurança
(FERNANDES; AMARAL, 2010).
Exemplos como o de Salter et al. (1981 apud FERNANDES; AMARAL, 2010),
estudando a distribuição dos deslizamentos na Nova Zelândia após chuvas intensas,
observaram que 97% dos deslizamentos ocorreram em encostas com declividades acima de
20°. Entretanto, a maior densidade dos deslizamentos não se deu nas encostas mais íngremes
(> 35°), mas em encostas com declividades entre 21° e 25°.
Outros autores encontraram resultados semelhantes, como Lee et al. (2004 apud
VANACÔR, 2006) que, ao mapear deslizamentos na Coreia após intensas chuvas,
observaram alta probabilidade de ocorrência em declividades entre 22° e 30°. Tal fato pode
ser justificado pela variação na cobertura vegetal e pelo fato de que nas encostas mais
íngremes os solos já teriam sido removidos por movimentos anteriores (FERNANDES;
AMARAL, 2010).
O parâmetro topográfico Perfil da encosta (forma da vertente ou curvatura) está
relacionado com a geração de zonas de divergência e convergência dos fluxos de águas
superficiais e subsuperficiais. Corresponde a menor fração taxonômica do relevo e apresenta
superfícies geneticamente homogêneas.
De acordo com Anjos (2008), as vertentes apresentam uma inclinação em relação ao
plano horizontal e, por isso, tem consequências quanto à velocidade com que as águas das
chuvas escorrem e com o nível de saturação de determinado terreno.
Valeriano (2003) distingue entre curvatura vertical e a curvatura horizontal, em que a
primeira se expressa na direção da declividade e a segunda se expressa ao longo da curva de
nível. As classes de curvatura horizontais (convergente, planar ou divergente) e verticais
(côncavo, retilíneo ou convexo) podem ser combinadas para fornecer a indicação da forma do
terreno (Figura 2.10).
63
Figura 2.10 – Combinação das classes de curvatura vertical e horizontal
Fonte: Valeriano (2003).
O arranjo espacial dos perfis transversais (curvatura vertical) e longitudinais
(curvatura horizontal) das vertentes pode ser claramente avaliado em cartas topográficas em
escala 1:10.000, permitindo definir quatro tipos básicos de vertentes que se caracterizam pela
atuação de diferentes processos erosivos.
Assim, Bloom (1970 apud CASSETI, 2005), baseado em Troeh (1965), divide os
quatro tipos de encostas em dois grupos (Figura 2.13): a) encostas coletoras de água com
contornos côncavos (quadrantes I e II); b) encostas distribuidoras de água, com contornos
convexos (quadrantes III e IV). Desse modo, analisando-se as combinações, os casos
extremos destas podem ser representados pela forma côncavo-convergente (máxima
concentração e acúmulo de escoamento) e pela forma convexo-divergente – máxima
dispersão do escoamento (Figura 2.11).
64
Figura 2.11 – Classificação dos elementos de encosta de uma paisagem
de acordo com a forma e os processos operantes
Fonte: Casseti (2005).
Vegetação
Diversos autores estudaram a importância da vegetação na proteção do solo e das
encostas, verificando que o desmatamento pode promover o surgimento de áreas de risco de
escorregamentos. Guidicini e Nieble (1984) afirmam que existe um consenso generalizado
nesse sentido, confirmado por Augusto Filho (1994) que atribui, como efeitos favoráveis, a
redistribuição da água da chuva e o acréscimo da resistência do solo em razão da presença das
raízes (reforço mecânico e escoramento).
Tabalipa e Fiori (2008) analisando a influência da vegetação na estabilidade de taludes
na bacia do rio Ligeiro (PR) verificaram que a presença da vegetação é um fator positivo para
o aumento do índice de segurança das vertentes, não havendo região instável onde existe
vegetação. Entretanto, é importante destacar que, com relação aos movimentos de massa,
existem algumas divergências sobre o papel da vegetação na estabilidade das encostas.
65
Gray e Leiser (1982) atribuem, assim, alguns efeitos favoráveis e desfavoráveis da
cobertura vegetal em relação à estabilidade das encostas. Tendo como exemplos de efeitos
favoráveis:
a) redistribuição da água proveniente das chuvas por meio da copa das árvores,
impedindo o impacto direto da chuva na superfície do terreno, evitando o efeito
splash e diminuindo a quantidade efetiva de água que infiltra no solo, além da
retirada da água do solo pela evapotranspiração;
b) acréscimo da resistência do solo pelas raízes, principalmente a vegetação de porte
arbóreo, que podem aumentar a resistência do solo pelo esforço mecânico e pelo
escoamento (raízes pivotantes e profundas).
Dentre os efeitos desfavoráveis, estão:
a) efeito alavanca que consiste na força cisalhante transferida pelo tronco das árvores
ao terreno, quando sua copa é atingida por ventos;
b) efeito cunha provocado pela pressão lateral causada pelas raízes ao penetrar em
fendas, fissuras e canais do solo ou rocha;
c) sobrecarga vertical causada pelo peso das árvores.
Alguns vegetais como as bananeiras também agem de forma negativa na estabilidade
das encostas, pois propiciam o acúmulo de umidade levando o solo a um estado de quase
saturação permanente.
Nesse sentido, após a retirada da vegetação em uma encosta, de imediato, há um
aumento da sua estabilidade, consequência da eliminação da ação dos ventos sobre a
vegetação, diminuindo o efeito “alavanca” e a sobrecarga. Contudo, com o passar do tempo,
ocorre um incremento na instabilidade pela deterioração do sistema radicular e da eliminação
da redistribuição da água da chuva, caindo diretamente no solo (AUGUSTO FILHO;
VIRGILI, 1998; KOZCIAK, 2005).
2.2.3 Movimentos de transporte de massa (erosão)
Além dos movimentos gravitacionais de massa, nesta tese, pretende-se esclarecer de
forma rápida os movimentos de transporte de massa (erosão) e seus condicionantes com
destaque para o município do Ipojuca. Discussões mais detalhadas acerca da temática Erosão
66
podem ser encontradas nos trabalhos de Guerra (1998; 1999), Coelho Neto (1998), Infanti
Júnior e Fornasari Filho (1998), Coutinho et al. (1999), Gomes (2001), Silva (2004), Girão
(2007); Azambuja (2007) e Meira (2008).
A erosão dos solos na sua forma mais ampla, embora seja um dos fenômenos naturais
mais estudados, ainda é pouco compreendida, principalmente no que se refere à sua previsão,
tanto no espaço como no tempo. Tal dificuldade resulta, dentre outras razões, das complexas
interações dos fatores condicionantes, os vários mecanismos de ruptura do solo, as
características de transporte, além das intervenções antrópicas cada vez mais frequentes. Além
disso, as diferentes feições erosivas observadas na natureza encontram-se associadas a
processos bem específicos, fato que dificulta o desenvolvimento de estudos voltados à
previsão (SELBY, 1993; MORGAN, 1996), necessitando, às vezes, de uma simplificação e
associando-os aos movimentos gravitacionais de massa nos modelos de avaliação da
suscetibilidade (VANACÔR, 2012).
A erosão pode ser definida como o processo de degradação e remoção de partículas do
solo ou de fragmentos e partículas de rochas, pela ação combinada da gravidade com água,
vento, gelo e organismos – plantas e animais (SALOMÃO; IWASA, 1995).
Existem duas formas de abordagem dos processos erosivos: a erosão natural ou
geológica, que se desenvolve em condições de equilíbrio com a formação do solo e a erosão
acelerada ou antrópica, cuja intensidade é superior à da formação do solo, não permitindo a
sua recuperação natural (INFANTI JÚNIOR; FORNASARI FILHO, 1998).
2.2.3.1 Tipos de erosão
Conforme já exposto, a erosão pode ser gerada por diversos agentes, entretanto, a água
ou erosão hídrica, seja pelas chuvas, seja pelas águas servidas, terá maior importância na
avaliação da suscetibilidade nesta pesquisa, haja vista que esse é o principal agente
deflagrador da erosão em regiões de clima tropical.
A ação das chuvas pode ocorrer basicamente por meio dos seguintes mecanismos:
impacto das chuvas que provoca a degradação das partículas; remoção e transporte pelo
escoamento superficial, e deposição dos sedimentos produzidos, formando depósitos de
assoreamento.
67
Dependendo da forma como se processa o escoamento superficial, a erosão pode ser
classificada de duas formas: erosão laminar (em lençol ou superficial) e erosão linear. A
primeira trata-se do processo de remoção progressiva e uniforme dos horizontes superficiais
do solo, causada pelo escoamento difuso da água das chuvas. A segunda decorre do
escoamento hídrico superficial concentrado, resultando em pequenas incisões na superfície do
terreno, em forma de sulcos, que podem evoluir por aprofundamento para ravinas, e quando
sofre não somente influência das águas superficiais, como também dos fluxos subsuperficiais,
em que se inclui o lençol freático, evoluem para voçoroca ou boçoroca (INFANTI JÚNIOR;
FORNASARI FILHO, 1998).
Ressalte-se que diversas definições que distinguem ravinas de voçorocas são
trabalhadas na literatura nacional e internacional. As distinções de caráter dimensional
surgem, principalmente, no meio acadêmico. Segundo esse critério, ravinas seriam incisões de
até 50 centímetros de largura e profundidade, e acima desses valores seriam denominadas de
voçorocas (GUERRA, 1998).
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo (SALOMÃO,
2007) tem veiculado a definição segundo a qual as ravinas seriam canais criados pela ação do
escoamento superficial; e voçorocas, canais esculpidos pelo afloramento do lençol freático.
Outros autores como Salomão (2007), Infanti Júnior e Fornasari Filho (1998) também trazem
esse mesmo conceito, o qual se apresenta mais prático e útil do ponto de vista técnico,
facilitando o planejamento de eventuais obras de recuperação de incisões erosivas.
Desse modo, enquanto o processo de ravinamento ocorre em função apenas da erosão
superficial, com a linha de água representando grandes declives, canal profundo, estreito e
longo, as boçorocas (voçorocas) formam-se tanto pela erosão superficial como a erosão
subterrânea (atingimento do lençol freático e desenvolvimento de piping), com tendência
tanto para alargar-se como para aprofundar-se, até atingir seu equilíbrio dinâmico
(SALOMÃO, 2007).
O fenômeno de piping interno a uma voçoroca provoca a remoção de partículas do
interior do solo formando canais que evoluem em sentido contrário ao do fluxo de água,
podendo dar origem a colapsos do terreno, com desabamentos que alargam a voçoroca ou
criam outros ramos. De tal modo, a voçoroca é palco de vários fenômenos, tais como erosão
superficial, erosão interna, solapamentos, desabamentos e escorregamentos, que se conjugam
no sentido de dotar essa forma de erosão de elevado poder destrutivo (SALOMÃO, 2007).
68
Conforme o exposto, considera-se nesta tese o conceito de ravina e voçoroca proposto
pelo IPT e encontrado em Salomão (2007), pois tal concepção torna-se mais aplicável na
modelagem da suscetibilidade a movimentos de massa, uma vez que, no estudo da erosão
linear, além do entendimento dos fatores naturais do solo (propriedades físicas), é
fundamental conhecer o comportamento das águas das chuvas, do lençol freático e do uso e
ocupação da terra.
A Figura 2.12 traz um esquema representativo dos tipos de erosão descritos acima.
Figura 2.12 – Esquema representando os processos de erosão hídrica
Fonte: Teixeira et al. (2003).
2.2.3.2 Fatores condicionantes da erosão
Os processos erosivos são controlados, em geral, por fatores como erosividade da
chuva, propriedades dos solos (erodibilidade do solo), cobertura vegetal e características da
encosta (GUERRA, 1998). De tal modo, as erosões hídricas são, basicamente, comandadas
por dois conjuntos de fatores ou agentes condicionantes principais: os fatores antrópicos, por
meio das formas de uso e ocupação da terra (agricultura, obras civis, urbanização, etc.), que
69
deflagram o processo erosivo imediatamente ou após certo intervalo de tempo; e os fatores
naturais, que determinam a intensidade dos processos, destacando-se como mais importantes a
chuva, a cobertura vegetal, o relevo, os tipos de solo e o substrato rochoso (INFANTI
JÚNIOR; FORNASARI FILHO, 1998).
A influência dos fatores antrópicos nos processos erosivos será esclarecida na seção
5.2.4 em conjunto com o desencadeamento de movimentos gravitacionais de massa, em que
serão discutidas as formas de degradação dos solos acarretados pela ocupação urbana e rural
no município do Ipojuca, ou seja, os problemas ligados às formas de uso e de ocupação da
terra identificados no município.
O principal agente climático na deflagração dos processos erosivos nos ambientes
tropicais úmidos é a chuva. A forma como ela ocorre, desde a sua intensidade, duração e
frequência, principalmente, a intensidade, pode acelerar os processos erosivos. Ela provoca
erosão pelo impacto das gotas de água sobre a superfície do solo, caindo em quantidade e
energia variáveis, acarretando a desagregação das partículas; remoção e transporte pelo
escoamento superficial e posterior deposição dos sedimentos produzidos (INFANTI JÚNIOR;
FORNASARI FILHO, 1998).
O escoamento superficial, por sua vez, tem papel fundamental no transporte das
partículas do solo que foram desprendidas pelo impacto das gotas de chuva, podendo conter
energia suficiente para a quebra dos agregados naturais do solo e produzir erosão (LOPES,
1980). A intensidade da ação do escoamento tanto na desfragmentação das partículas como no
transporte dependem do tamanho e forma das partículas de solo, da declividade dos terrenos,
condições e tipos de cobertura vegetal. No entanto, o escoamento só ocorre quando a
intensidade da chuva excede a capacidade de infiltração, que também será influenciada pela
declividade do terreno e pela textura do solo.
Eventos de chuvas torrenciais precedidas por período chuvoso encontram o solo já
saturado, intensificando, assim, o escoamento superficial e a sua ação erosiva. É nessas
ocasiões que voçorocas ativas avançam de maneira rápida, criando muitas vezes situações
emergenciais, atingindo áreas urbanas, como foi o caso de voçorocas encontradas no
município de Garanhuns, Pernambuco (AZAMBUJA, 2007).
O índice que expressa a capacidade da chuva de provocar erosão é conhecido como
erosividade, sendo este, um dos importantes parâmetros para a quantificação de perda de solo,
por exemplo, pela aplicação da Equação Universal de Perda de Solo (USLE) de
70
WISCHMEIER (1959) que, além do fator chuva, relaciona outros fatores, tais como o índice
de erosividade, o comprimento e declividade da encosta, o fator de uso e manejo do solo e o
fator relacionado com a prática de conservação do solo (MEIRA, 2008).
A cobertura vegetal funciona como defesa natural do solo contra a erosão. A
modificação da vegetação, com o desmatamento e as diversas formas de uso da terra, é
apontada como principal causa dos processos erosivos. A retirada da vegetação acarreta o
aumento do escoamento superficial, como também o acréscimo da infiltração, o que aumenta
os gradientes e desencadeiam os pipings.
A influência da cobertura vegetal na distribuição das águas da chuva dá-se pelos
fenômenos de interceptação, escoamento pelos troncos e retenção na serapilheira, sendo esta
última, a cobertura dos restos orgânicos que cobre o solo atenuando o impacto da água sobre a
superfície.
Quanto à influência do relevo, representa-se pela declividade e comprimento de rampa
da encosta, que interferem diretamente na velocidade do escoamento superficial. Assim, os
terrenos com alta declividade e maiores comprimentos de rampa apresentam escoamentos
superficiais de maior velocidade e, consequentemente, maior capacidade erosiva. Contudo,
uma encosta com baixa declividade e maior comprimento de rampa também pode ter elevada
intensidade erosiva, desde que sujeita à grande vazão do escoamento das águas superficiais
(INFANTI JÚNIOR; FORNASARI FILHO, 1998).
Além dos indicadores topográficos descritos acima, a forma da encosta interfere no
processo erosivo, ligada à hidrologia das encostas, ora agindo como dispersoras (encostas
convexas), ora como concentradoras das águas (encostas côncavas), conforme foi apresentado
nos condicionantes dos movimentos gravitacionais de massa.
Torna-se importante a identificação das áreas de maior concentração de águas pluviais
e subsuperficiais quanto à análise das formas de encostas, principalmente quando
identificadas possíveis áreas de cabeceiras de cursos d’água (SALOMÃO, 2007).
A resistência do solo à ação erosiva da água, conhecida como erodibilidade, está
atrelada às características do solo como textura, estrutura e permeabilidade (BERTONI;
LOMBARDI NETO, 1985). Guerra (1998) afirma que, em relação às propriedades do solo,
deve-se levar em conta a textura, densidade aparente, porosidade, teor de matéria orgânica,
teor de estabilidade de agregados e PH do solo.
71
A textura, ou seja, o tamanho das partículas (granulometria) influi na capacidade de
infiltração e absorção da água da chuva, interferindo no potencial de enxurrada e na maior ou
menor coesão das partículas (INFANTI JÚNIOR; FORNASARI FILHO, 1998). Além de que
algumas frações granulométricas podem ser removidas mais facilmente do que outras.
Brady (1989) afirma que a análise do tamanho das partículas fornece uma ideia geral
das propriedades físicas dos solos, podendo classificá-los como solos arenosos, compostos por
textura grossa; franco arenoso, variando entre texturas moderadamente grossas, média e
moderadamente finas; e solos argilosos compostos basicamente por textura fina.
Desse modo, Salomão (2007) destaca que os solos mais arenosos apresentam-se
geralmente mais porosos permitindo maior infiltração da água e, por terem baixa proporção
de partículas argilosas que atuam como elemento de ligação, apresentam mais facilidade na
remoção delas. Todavia, nos solos argilosos, por apresentar espaços porosos menores, a
infiltração é menor, mas a força de coesão é bem maior, aumentando a resistência à erosão.
Ressalte-se que a textura deve ser levada em consideração em conjunto com outras
propriedades, uma vez que a agregação dessas frações granulométricas é afetada por outros
elementos, por exemplo, o teor de matéria orgânica (GUERRA, 1998).
A fração granulométrica conhecida como silte, em geral, tem certa plasticidade,
coesão e adsorção, não pela sua propriedade aparente, mas pela formação de películas de
argila sobre sua superfície. A detecção de grandes proporções de silte no solo é um primeiro
indicativo de suscetibilidade à erosão (AZAMBUJA, 2007).
A presença marcante de argila assegura uma textura fina ao solo, que nem sempre
representa suscetibilidade à erosão tendo em vista que, em muitos casos, ela pode atuar de
forma estabilizadora de perfil do solo por sua facilidade de manter-se agregada. Por outro
lado, em caso de diferenciação textural entre os horizontes do solo, a camada mais argilosa
pode apresentar mudanças na condutividade hidráulica do perfil.
A estrutura, ou seja, o modo como as partículas do solo se arranjam, influi na
capacidade de infiltração e absorção da água da chuva e na capacidade de arraste das
partículas do solo. A permeabilidade indica a menor ou maior capacidade de infiltração das
águas da chuva e está diretamente ligada à porosidade do solo (SALOMÃO; IWASA, 1995).
A densidade aparente é outra propriedade de suma importância para compreensão do
processo erosivo de um solo, tendo em vista que pode definir a quantidade de água que um
solo é capaz de absorver durante uma tempestade. Pode também ser definida como a relação
72
entre a massa (volume do solo seco) e poros existentes (BRADY, 1989). Isso significa dizer
que solos com grande quantidade de espaços porosos em relação aos espaços sólidos têm
densidade aparente baixa; enquanto em solos compactados, a densidade aumenta, diminuindo
consequentemente a quantidade de espaços livres.
O tipo de uso da terra pode influenciar significativamente a densidade aparente, por
exemplo, o pisoteio do gado que compacta o solo pode apresentar baixa porosidade,
desencadeando uma série de fatores que podem acarretar processos erosivos durante todo o
ano e não somente nos momentos de tempestade.
A estabilidade do agregado é outra propriedade relevante na análise dos processos
erosivos. O agregado representa um conjunto coerente de partículas primárias do solo com
forma e tamanho definido (CURI et al., 1993 apud AZAMBUJA, 2007). Os agregados atuam
no solo como agentes estruturadores, variando em sua forma, tamanho e grau de
desenvolvimento.
A matéria orgânica incorporada no solo permite maior agregação e coesão entre as
partículas, tornando o solo mais estável em presença de água, mais poroso e com maior poder
de retenção de água (GUERRA, 1998).
A profundidade do solo é outro fator relevante a ser analisado. No caso do município
do Ipojuca, os solos formados pelo embasamento cristalino são profundos, tendo maior
capacidade de infiltração das águas pluviais, não favorecendo o desenvolvimento de
enxurradas, portanto, menos erodíveis. Entretanto, com a incidência de chuvas persistentes e
prolongadas, é possível a saturação de grande parte desse solo, possibilitando em locais de
escoamento concentrado, o desenvolvimento de erosões de grande porte, como as voçorocas.
O substrato rochoso se relaciona com a suscetibilidade do material à erosão por meio
da intensidade do intemperismo, da natureza da alteração da rocha e do grau de fraturamento.
As formações geológicas sedimentares, cujas coberturas pedológicas correspondem a
materiais arenosos (argissolos, latossolos ou depósitos alúvio-coluvionares) favorecem a
ocorrência de voçorocas. Já em áreas de rochas pré-camprianas, modeladas por relevos de
colinas, como no caso da porção oeste do município do Ipojuca, ocorrem voçorocas e ravinas,
geralmente associadas à natureza e constituição dos solos de alteração de rochas xistosas e
graníticas, que, quando apresentam textura siltosa e micácea, são bastante porosos,
permeáveis e friáveis, favorecendo o desenvolvimento de intensos processos erosivos
(INFANTI JÚNIOR; FORNASARI FILHO, 1998).
73
As incisões erosivas formam-se nas cabeceiras de vale, pois é nessas áreas que ocorre
convergência entre fluxos superficiais e fluxos subterrâneos. Em geral, essas áreas de
cabeceiras de vale, também conhecidas como áreas de contribuição em vales não canalizados,
são os pontos da rede hidrográfica que demonstram maior sensibilidade às oscilações
hidrodinâmicas, pois são aquelas em que diferentes mecanismos tendem a interagir ao longo
do tempo. Assim sendo, essas são áreas bastante suscetíveis à erosão por voçorocas
(OLIVEIRA, 1999).
A delimitação de redes e de bacias de drenagem de diferentes ordens possibilita uma
primeira abordagem para a identificação de áreas suscetíveis à erosão por voçorocas. De
acordo com (OLIVEIRA, 1999), as voçorocas tendem a se estabelecer em cabeceiras de vale
que têm uma rede de eixos de drenagem relativamente densa, em áreas do substrato cristalino.
Oliveira (1999), por fim, conclui que voçorocas conectadas à rede hidrográfica nada mais são
do que canais incisos de primeira ordem que se desenvolvem em função de mecanismos que
tendem a convergir nos mananciais.
2.3 Análise da suscetibilidade: conceitos básicos
Existe uma quantidade significativa de conflitos e dúvidas relacionadas com os
conceitos das principais terminologias discutidas na avaliação da suscetibilidade, perigo e
risco a desastres naturais, tais como suscetibilidade, perigo, vulnerabilidade, resiliência e
risco. Esses conflitos tornam-se ainda maiores quando são analisados trabalhos desenvolvidos
por diferentes disciplinas como a Geologia, Geografia, Engenharia Geotécnica e Geologia de
Engenharia. Diante do exposto, pretende-se nesta seção apresentar os conceitos e as principais
obras da literatura científica que norteiam as pesquisas desenvolvidas pelo Gegep/UFPE e,
consequentemente, que serão tomados como base nesta tese.
Os eventos extremos originam um desastre uma vez que o terreno apresente
suscetibilidade à ocorrência de determinado processo do meio físico, seja inundação,
movimento de massa, seja outro. Ou seja, a suscetibilidade (susceptibility) ocorre quando o
terreno apresenta predisposição ou propensão ao desenvolvimento de um fenômeno natural ou
processo do meio físico, deflagrado por agentes externos ou internos, por exemplo, chuvas
intensas e terremotos respectivamente (FELL et al., 2008; JULIÃO et al., 2009; DINIZ, 2012;
SOBREIRA; SOUZA, 2012; COUTINHO, 2013; BITAR, 2014). É, por conseguinte, uma
74
característica inerente ao meio, que expressa a probabilidade de ocorrência de eventos ou
acidentes em determinadas condições (ALHEIROS, 1998).
Mais precisamente, Fell et al. (2008) indicam que suscetibilidade a deslizamentos –
tratados aqui como sinônimo de movimentos gravitacionais de massa – é uma avaliação
quantitativa ou qualitativa do tipo, do volume (ou área) e da distribuição espacial de
deslizamentos que existem ou potencialmente podem ocorrer em uma área. A suscetibilidade
também pode incluir uma descrição da velocidade e intensidade do deslizamento potencial ou
existente. Embora seja esperado que os deslizamentos ocorram com mais frequência em áreas
mais suscetíveis, na análise de suscetibilidade, o período de tempo (frequência) não é levado
em conta de forma explícita.
Contudo, a avaliação da suscetibilidade pode ser tratada somente quando se analisa a
probabilidade espacial, ou seja, responde à pergunta: onde um determinado processo do meio
físico pode ocorrer? Entretanto, quando se acrescenta a probabilidade temporal (análise da
frequência), tem-se a avaliação do perigo, que responderá à seguinte pergunta: onde, quando e
em que magnitude o processo ocorrerá? Desse modo, o perigo é expresso como a
probabilidade de ocorrência dentro de um período de referência (VAN WESTEN; VAN
ASCH; SOETERS, 2006). Já os estudos de vulnerabilidade e risco, procuram atender às
questões de “quais seriam suas consequências?”
Assim, o perigo (hazard) pode ser definido como uma condição com o potencial de
causar uma consequência indesejável dentro de certo período de tempo. A descrição de um
perigo de deslizamento, por exemplo, deve incluir o local, volume (ou área), classificação
(tipo) e velocidade dos deslizamentos em potencial e materiais desses resultantes, e,
principalmente, a probabilidade de sua ocorrência em um período de tempo determinado
(FELL et al., 2008).
A probabilidade espacial e temporal da ocorrência dos processos do meio físico pode
manifestar-se de modos semelhantes, mas suas consequências decorrem, sobretudo, de como
as pessoas e bens a eles se expõem e do modo como as características econômicas, sociais e
culturais permitem a sociedade enfrentar, resistir e se recuperar desses processos. Dessa
forma, não basta o estudo da suscetibilidade e perigo dos fenômenos, torna-se essencial
conhecer a vulnerabilidade dos territórios, das comunidades e dos indivíduos para apreender
completamente e poder aplicar, de modo correto, os estudos de riscos (CUNHA; RAMOS,
2013).
75
A vulnerabilidade, portanto, põe em jogo aspectos físicos, ambientais, técnicos, dados
econômicos, psicológicos, sociais, políticos, que não ocorrem de forma homogênea em todos
os lugares. Desse modo, a vulnerabilidade (vulnerability) é o grau de perda para um dado
elemento ou grupo de elementos em uma área afetada por um deslizamento, por exemplo. É
expressa em uma escala de zero (sem perda) até 1 (perda total). Para as propriedades, a perda
será o valor do dano relativo ao valor da propriedade; para pessoas, será a probabilidade de
uma vida em particular (elementos em risco) ser perdida, dado que a pessoa seja afetada pelo
deslizamento (FELL et al., 2008).
A vulnerabilidade social também é avaliada na determinação do risco, pois traduz a
capacidade de resistência e resiliência das sociedades e territórios potencialmente afetados por
processos naturais perigosos. Assim, de acordo com Cunha e Ramos (2013), a análise da
vulnerabilidade pode ser decomposta pelo menos em três componentes principais: a
população exposta, o valor dos bens potencialmente atingidos e a referida vulnerabilidade
social.
Cunha e Ramos (2013, p. 33) destacam que o conceito de vulnerabilidade social pode
ser decomposto em duas componentes:
A criticidade, que corresponde ao conjunto de características e comportamentos dos
indivíduos que podem contribuir para a ruptura do sistema e dos recursos das
comunidades que lhes permitem responder ou lidar com cenários de desastres ou
catástrofe, e a capacidade de suporte, que diz respeito ao conjunto de infraestruturas
territoriais que permite à comunidade reagir em caso de desastre ou catástrofe.
De tal modo, a primeira diz respeito à resistência das comunidades e a segunda
relaciona-se com a resiliência ou capacidade de recuperação destas ante a ocorrência de um
evento perigoso.
A capacidade de um sistema complexo, por exemplo, uma cidade para se estabelecer e
melhorar sua reatividade após uma catástrofe, é hoje levada em conta na determinação da
vulnerabilidade; é, portanto, o que se denomina de resiliência (termo usado na ecologia) que
define a capacidade de um sistema para se adaptar às mudanças resultantes de uma crise e
melhorar sua capacidade de resposta tendo em vista catástrofes futuras (VEYRET, 2007).
Christofoletti (1999) refere-se à resiliência como a capacidade do sistema em retornar
às suas condições originais depois de ser afetado pela ação de distúrbios externos. Segundo
esse autor, a vulnerabilidade define o nível em que um evento extremo pode prejudicar ou
76
destruir um sistema. Ela depende tanto da suscetibilidade do sistema como da sua
adaptabilidade no processo de resiliência, a fim de se ajustarem às novas condições reinantes.
Por meio da relação entre a suscetibilidade e a vulnerabilidade, pode-se obter o risco a
um determinado fenômeno do meio físico. Uma das definições de risco (risk) mais utilizadas
é a proposta por Varnes (1984): um número esperado de perda de vidas, pessoas afetadas,
danos às propriedades, rompimento das atividades econômicas, causados por algum fenômeno
prejudicial em uma determinada área e em um referente período. Quando se lida com perdas
físicas, o risco específico pode ser quantificado como o produto da vulnerabilidade, custo ou
quantidade de elementos em risco e a probabilidade de ocorrência de um evento com dada
intensidade ou magnitude.
Varnes (1984), por conseguinte, representa o risco total (Rt) pela seguinte equação:
Em que Rt é o Risco total; H é a suscetibilidade ou a probabilidade da ocorrência de
um fenômeno, em uma determinada área em um período qualquer; Ri é o elemento em risco e
Vi é a vulnerabilidade de cada elemento representado pelo grau do dano (compreendido entre
os valores “0” – sem danos, a “1” – perda total.
Baseado em Varnes (1984), Fell et al. (2008) definem o risco (risk) como uma medida
da probabilidade e severidade de um efeito adverso à saúde, à propriedade e ao meio
ambiente. É frequentemente estimado pelo produto da probabilidade de um fenômeno de uma
dada magnitude, multiplicado por suas consequências. No entanto, uma interpretação mais
ampla de risco envolve uma comparação entre a probabilidade e as consequências sem o
cálculo do produto. Sendo assim, pode-se dizer que o risco está diretamente relacionado com
a suscetibilidade/perigo e a vulnerabilidade.
De acordo com Nogueira (2002), risco é a probabilidade (P) de ocorrência de um
acidente (A) em um local e intervalo de tempo específico e com características determinadas
(localização, dimensões, processos e materiais envolvidos e trajetória), em função da
suscetibilidade dos terrenos, tendo como consequência (C), danos às pessoas, bens e/ou ao
meio ambiente, em função da vulnerabilidade (V) dos elementos expostos (fragilidade e nível
77
de resiliência), podendo ser modificado pelas ações de gerenciamento (G) existentes ou
passíveis de serem implantadas. O Ministério das Cidades adota esse conceito e o expressa
mediante a seguinte equação para o risco (CARVALHO; GALVÃO, 2006):
R = P(
Confusões acerca das denominações de suscetibilidade, perigo e risco a determinado
processo são mais frequentes quando se trata de zoneamento e mapeamento destes. De acordo
com Alheiros (1998), na década de 1990, os mapas, na maioria, classificados como mapas
regionais de risco de escorregamento, eram, na verdade, mapas de suscetibilidade, visto que a
vulnerabilidade não era considerada na sua elaboração.
Entretanto, nos últimos anos, diversos pesquisadores brasileiros, sozinhos ou sob
orientação do Ministério da Integração e Ministério das Cidades, por meio da utilização de
guias internacionais, como os de Fell et al. (2008), Coutinho (2013) e Macedo e Bressani
(2013), procuram gerar uma padronização ou homogeneização das metodologias e conceitos
de suscetibilidade/perigo, vulnerabilidade e risco, como também suas formas de zoneamento e
escalas apropriadas.
Fell et al. (2008) diferem os zoneamentos de suscetibilidade, perigo e risco para
facilitar a escolha das metodologias a serem aplicadas. Classifica os tipos de zoneamento de
deslizamento como se segue.
O Zoneamento de Suscetibilidade a Deslizamentos envolve o tipo (ou classificação),
área ou volume (magnitude) e distribuição espacial de deslizamentos existentes ou em
potencial na área de estudo. Esse zoneamento, normalmente, envolve a elaboração de um
inventário de deslizamentos já ocorridos no passado em conjunto com uma estimativa de
áreas com potencial de sofrerem deslizamento no futuro, mas sem a análise da frequência
(probabilidade anual) da ocorrência de deslizamentos.
O Zoneamento de Perigo a Deslizamentos considera o resultado do mapeamento da
suscetibilidade de deslizamentos e estabelece uma frequência determinada (probabilidade
anual) para os deslizamentos potenciais.
Por último, o Zoneamento de Risco a Deslizamentos considera os resultados do
mapeamento de perigo e analisa o potencial de danos às pessoas, a propriedades e a fatores do
78
meio ambiente para os elementos em risco, considerando a probabilidade e a vulnerabilidade
no espaço e no tempo.
Para concluir, de forma independente dos problemas conceituais discutidos acima, a
redução de acidentes naturais passa pelo conhecimento dos níveis de suscetibilidade, perigo e
risco a que uma área está submetida. Esses termos, contudo, são intimamente relacionados.
Enquanto o primeiro refere-se à probabilidade espacial e o segundo à probabilidade temporal
de ocorrência de um desastre, o terceiro expressa, por fim, as consequências em termos de
danos e perda de vidas, propriedades e serviços caso esse desastre venha a ocorrer.
A compreensão desses conceitos é fundamental para se trabalhar no gerenciamento de
risco a movimentos de massa, em que cada conceito pode ser estabelecido como etapas dentro
dessa gestão, conforme estabelecido por Fell et al. (2008) e apresentado na Figura 2.13.
As etapas apresentadas na Figura 2.13 podem ser divididas em cinco fases
apresentadas na Figura 2.14:
1) caracterização do Deslizamento (Landslide Characterization);
2) análise do Perigo (hazard analysis);
3) análise do Risco (risk analysis);
4) avaliação do risco (risk evaluation);
5) mitigação do risco e controle (risk mitigation and control).
Os conceitos e as propostas de Fell et al. (2008) para o zoneamento de
sustentabilidade, perigo e risco, bem como relacionado com Gestão de Risco de
Escorregamentos são os utilizados na presente tese.
79
Figura 2.13 – Estrutura para gerenciamento de risco de deslizamentos
Fonte: Fell et al. (2008 apud MACEDO; BRESSANI, 2013).
80
Figura 2.14 – Representação esquemática do processo de gerenciamento de áreas de risco
Fonte: Fell et al. (2005 apud BANDEIRA, 2010, p. 82)
2.4 Avaliação da suscetibilidade a movimentos de massa
Existem dois tipos de suscetibilidade aos deslizamentos: a natural e a induzida. A
primeira deve ser avaliada com base em propriedades geológicas e pedológicas e nas
características geomorfológicas de declividade, altura, extensão e perfil das encostas,
morfometria e distribuição espacial da drenagem das microbacias, por exemplo. Podem-se
acrescentar, também, fatores climáticos como pluviosidade e biológicos, como a cobertura
vegetal (porte, espécies e densidade da vegetação). Esse tipo de suscetibilidade apresenta um
caráter eminentemente preventivo e serve como ferramenta de planejamento para ocupações
de áreas ainda livres da suscetibilidade induzida. Essa última representa, basicamente, a
probabilidade de ocorrência de processos geológicos, conforme o uso antrópico e respectivas
81
funções socioeconômicas dadas uma determinada área já ocupada ou com uso predefinido
(PFALTZGRAFF, 2007).
Neste mesmo ponto de vista Bitar (2014) afirma que a suscetibilidade pode ser
inicialmente analisada por meio dos fatores predisponentes intrínsecos à natureza dos
terrenos. Neste sentido, mesmo que uma área tenha sido modificada em relação as suas
características, seja pela urbanização ou outros tipos de intervenções como o uso agrícola, que
passe a favorecer ou desfavorecer o desenvolvimento de processos do meio físico, pressupõe-
se que os fatores predisponentes podem ainda estar presentes e, portanto, devem ser
considerados para fins de planejamento e gestão territorial.
Os condicionantes utilizados na análise da suscetibilidade natural podem variar, mas
normalmente estão ligados a fatores geológicos e geomorfológicos (declividade, forma da
vertente), pedológicos e climáticos e de cobertura vegetal (TOMINAGA, 2005;
PFALTZGRAFF, 2007). Dias e Hermann (2002) acrescentaram à análise da suscetibilidade
natural o uso do solo.
Aleotti e Chowdhury (1999) chamam a atenção para o fato de que, no
desenvolvimento do método da avaliação da suscetibilidade/perigo aos deslizamentos, é
fundamentalmente importante identificar as causas da instabilidade potencial dos
deslizamentos. De fato, por meio da determinação dos fatores condicionantes dos
deslizamentos no passado, é possível prever onde e quando outros eventos podem ocorrer. Em
outras palavras, qualquer que seja a metodologia adotada, os dados de entrada para avaliação
da suscetibilidade devem somente ser selecionados depois de considerar cuidadosamente as
causas da instabilidade no passado e as prováveis causas das instabilidades futuras.
2.4.1 Cartas de suscetibilidade
As cartas de suscetibilidade funcionam como subsídio fundamental às seguintes
ferramentas: plano de contingência de proteção e defesa civil; plano de implementação de
obras e serviços; mecanismos de controle e fiscalização, e cartas geotécnicas. São importantes
também, porque contribuem para o planejamento do uso e ocupação do solo, controle da
expansão urbana, avaliação de cenários potenciais de riscos, bem como, no âmbito regional,
na elaboração de zoneamentos ecológico-econômicos. Assim, de acordo com Bitar (2014):
82
A caracterização do grau de suscetibilidade a determinado processo do meio físico
em uma área específica deve impor as correspondentes medidas de restrição à
ocupação, de modo a evitar a formação de novas áreas de risco, bem como induzir o
desenvolvimento de normas técnicas e práticas que possam assegurar o uso
adequado do solo em áreas não ocupadas e fomentar ações voltadas à redução de
riscos em áreas ocupadas, especialmente nas urbanizadas.
Na elaboração das cartas geotécnicas, é fundamental analisar a suscetibilidade dos
terrenos ao desenvolvimento de processos responsáveis pela geodinâmica. Permite o
zoneamento de perigo, sendo mais utilizada em estágios preliminares de desenvolvimento, na
etapa de planejamento, quando o objetivo pretendido pelo zoneamento tem relação com o
gerenciamento do uso do solo e as políticas estabelecidas pelo Poder Público (COUTINHO,
2013). Por sua vez, vários autores tratam as cartas de suscetibilidade como uma carta
geotécnica específica e não somente como etapa importante para a elaboração de cartas
geotécnicas.
De tal modo, Cerri (1993) classifica as cartas geotécnicas como cartas geotécnicas
clássicas, cartas de suscetibilidade e cartas de risco. Já segundo Diniz (2012), as cartas
geotécnicas podem ser de três tipos: (1) de aptidão à urbanização (voltada ao ordenamento
territorial); (2) cartas de suscetibilidade, perigo e risco (voltada à avaliação dos processos do
meio físico); e (3) cartas geológico-geotécnicas para estudos de viabilidade, projetos básicos e
projetos executivos de implementação de empreendimentos e infraestrutura (voltada aos
estudos de implementação de empreendimentos). Conforme Sobreira e Souza (2012), a carta
geotécnica de suscetibilidade visa identificar a possibilidade de ocorrência de processos
geodinâmicos independentemente da ocupação dessas áreas, buscando avaliações mais gerais
dos terrenos quanto ao seu comportamento diante dos processos envolvidos e representando
os resultados em cartas. De caráter quase sempre qualitativo, as cartas geotécnicas de
suscetibilidade são mais eficazes no planejamento em nível mais macro, buscando indicar
áreas mais propícias para os diversos usos e ocupações.
Souza e Sobreira (2014) enfatizam que a análise integrada, a priori, das
suscetibilidades aos vários processos (na escala 1:25.000) é preponderante na determinação
das áreas com menor ou maior potencial de ocupação urbana, e onde devem ser realizados os
estudos de detalhe, ou seja, a identificação de áreas de interesse nas escalas acima de
1:10.000. Sendo assim, as áreas identificadas como alta suscetibilidade são inicialmente
83
excluídas ficando as análises de detalhe para as médias e baixas suscetibilidades, método esse
que os autores denominaram mapeamento progressivo.
Ainda, esses mesmos autores afirmam que a análise da suscetibilidade a processos
geológicos e hidrológicos deve ser vista como um elemento de orientação, de diagnóstico
mais geral, servindo de base para o planejamento da ocupação do solo, mas não deve ser de
caráter restritivo ou determinante de uso definitivo; mesmo que toda a área seja considerada
de alta suscetibilidade a processos em análise, cabe à carta geotécnica de aptidão à
urbanização na escala de projeto ( ≥ 1:10.000) exercer tais funções.
O zoneamento caracteriza-se como uma divisão do solo em áreas ou domínios
homogêneos; sua classificação se faz de acordo com graus de suscetibilidade, perigo ou risco
reais ou potenciais, ou ainda de acordo com a aplicabilidade à regulamentação ligada ao
perigo (MACEDO; BRESSANI, 2013). O zoneamento de suscetibilidade retrata o
desenvolvimento de novas ocorrências de deslizamentos na área e, assim, ajuda a reduzir
futuros danos – explícitos ou implícitos –, representando comportamentos do terreno no
futuro (VAN WESTEN; VAN ASCH; SOETERS, 2006).
Segundo Cooke e Doorkamp (1990 apud TOMINAGA, 2007), a carta de
suscetibilidade representa um estágio além do mapa de inventário, ou mesmo do mapa
geomorfológico, a partir dos quais se definem tendências à instabilidade em adição às
encostas que já sofreram escorregamentos.
Autores como Cooke e Doorkamp (1990) e Fernandes e Amaral (2010) consideram
que o mapa de suscetibilidade corresponde também ao de perigo de escorregamento (landslide
hazard), uma vez que apresentam as probabilidades espaciais, as quais podem ser
consideradas também como indicativas das probabilidades temporais.
Lopes (2000 apud PFALTZGRAFF, 2007) afirma que o mapa de suscetibilidade é
definido como um mapa geológico-geomorfológico, onde estão representadas as
características do meio ambiente físico, de relevante importância para o planejamento do uso
e ocupação do solo.
84
2.4.1.1 Classificação das metodologias de avaliação da suscetibilidade
Os trabalhos voltados à avaliação e zoneamento da suscetibilidade, perigo e risco de
movimentos de massa geralmente se baseiam em quatro pressupostos iniciais (VARNES,
1984; CARRARA et al., 1991; HUTCHINSON; CHANDLER, 1991; HUTCHINSON, 1995;
TURNER; SCHUSTER, 1996; GUZZETTI et al., 1999; ALEOTTI; CHOWDHURY, 1999;
FELL, 2008).
a) os movimentos de massa sempre ocorrerão nas mesmas condições geológicas,
geomorfológicas, hidrológicas e climáticas do passado;
b) as principais condições que causam os movimentos de massa são controladas por
fatores físicos identificáveis;
c) o grau de perigo pode ser avaliado;
d) todos os tipos de ruptura do talude podem ser identificados e classificados.
Idealmente, a avaliação da suscetibilidade a movimentos de massa e seu mapeamento
deve derivar de todos esses pressupostos. O não cumprimento deles vai limitar a
aplicabilidade de qualquer avaliação de suscetibilidade, independentemente da metodologia
utilizada para a investigação (GUZETTI, 2005).
Assim, para a avaliação da suscetibilidade a movimentos de massa, é necessário
responder às seguintes questões:
1. Onde os movimentos de massa ocorrerão?
2. Qual o tipo de ruptura que ocorrerá?
3. Como o movimento de massa ocorrerá?
Para se tornar uma avaliação de perigo, acrescentam-se as seguintes perguntas:
Quando o movimento de massa ocorrerá? E com que frequência ele ocorrerá?
Não obstante, Aleotti e Chowdhury (1999) trazem os seguintes obstáculos a serem
superados nessas avaliações e que dificultam seguir os referidos pressupostos:
a) a natureza descontínua (no espaço e no tempo) das rupturas de talude;
b) a dificuldade de se identificar as causas, os fatores desencadeadores e as relações
de causa e efeito;
c) a falta de dados históricos completos no que diz respeito à frequência desses
processos geomorfológicos.
85
Infelizmente, com o passar dos anos, ficou claro que a aplicação satisfatória desses
princípios é uma tarefa difícil tanto operacional quanto conceitualmente. Mesmo assim,
metodologias vêm sendo desenvolvidas e/ou melhoradas, bem como a classificação dos
métodos de análise da suscetibilidade, perigo e risco (CARRARA et al., 1995; GUZZETTI et
al., 1999; GUZETTI, 2005).
A análise e o mapeamento da suscetibilidade, perigo e risco realizam-se usando vários
modelos e diferentes métodos por meio da utilização do Sistema de Informações Geográficas
(SIG). Propostas de classificação de métodos de análise da suscetibilidade e do perigo a
deslizamentos podem ser encontradas nos trabalhos de Varnes (1984); Carrara (1988); Van
Westen (1993); Carrara et al. (1991, 1995); Carrara; Cardinali; Guzzeti (1992); Guzetti et al.
(1999); Aleotti e Chowdhury (1999), Fernandes et al. (2001); Guzetti (2005); Van Westen;
Van Asch; Soeters (2006); Tominaga (2007) e S. D. Pardeshi, Autade e S. S. Pardeshi
(2013).
Existe consenso entre esses autores no fato de que as classificações dos métodos de
análise da suscetibilidade podem agrupar-se em quatro diferentes categorias:
1) inventário de deslizamentos baseado em abordagens probabilísticas;
2) abordagem heurística (direta – mapeamento geomorfológico – ou indireta,
combinação de mapas qualitativos);
3) abordagem estatística, podendo ser estatística bivariada ou multivariada incluindo
redes neurais e sistemas especializados;
4) abordagem determinística ou modelos baseados em processos.
Carrara (1982) reconheceu que não há um único método padronizado. Diferentes
métodos podem ser desenvolvidos para se adaptarem à natureza de uma área ou um projeto
particular. Guzetti (2005), por sua vez, afirma que as abordagens se misturam uma com as
outras e os autores nem sempre são claros em descrever os métodos que eles usaram para
determinar a suscetibilidade, incluindo a discussão sobre as semelhanças e diferenças entre
eles. Além disso, muitas classificações são apresentadas para a avaliação de perigo, que são,
na verdade, aplicadas apenas na avaliação de suscetibilidade, entretanto, alguns argumentos
como seleção da unidade de mapeamento, modelagem estatística e validação das técnicas,
servem para ambos, suscetibilidade e perigo.
A avaliação da suscetibilidade vem sendo muito trabalhada nos últimos vinte e cinco
anos, desde o advento e fortalecimento das chamadas geotecnologias, como o SIG e o
86
Sensoriamento Remoto. Com o passar do tempo e a evolução dessas tecnologias, novas
técnicas surgiram como forma de facilitar a avaliação da suscetibilidade e perigo ao
deslizamento por meio da melhoria da base cartográfica planimétrica e altimétrica e da base
temática, acarretando maior acurácia no mapeamento por meio dos métodos computacionais.
Van Westen (1993) fornece esquemas detalhados para aplicações de alguns métodos de
suscetibilidade em ambiente SIG.
Aleotti e Chowdhury (1999) propuseram uma nova classificação baseada nas
classificações de Carrara (1982), Hansen (1984), Leroi (1996), Soeters e Van Western (1996)
(Figura 2.15). Primeiramente, dividem a análise do perigo em métodos qualitativos e
quantitativos.
Figura 2.15 – Proposta de classificação de métodos de avaliação de suscetibilidade de deslizamentos
Fonte: Adaptado de Aleotti e Chowdhury (1999).
O método ou abordagem qualitativa baseia-se em uma experiência local por
especialistas com a suscetibilidade ou perigo determinado diretamente no campo ou por
contribuição de diferentes mapas de índices ou de parâmetros. Essas metodologias também se
definem como Expert Evaluation Approaches e podem dividir-se em dois tipos:
a) análise geomorfológica;
87
b) combinação ou sobreposição de mapas de índices ou parâmetros. Nessa abordagem
a definição dos pesos ou classificações quanto a suscetibilidade/perigo é mais
conhecida como Knowledge based (baseada em conhecimento).
O método ou abordagem quantitativa, por sua vez, pode dividir-se em:
a) análises estatísticas (bivariada e multivariada);
b) métodos determinísticos.
Guzzeti (2005), com base na análise de vários autores, chegou à conclusão de que os
métodos para classificar os fatores de instabilidade e associar os diferentes níveis de
suscetibilidade podem ser: a) qualitativos e quantitativos; b) diretos e indiretos.
Segundo esse autor, o método direto consiste no mapeamento (direto) geomorfológico
de suscetibilidade a deslizamento, no campo, por meio de fotografias aéreas (VERSTAPPEN,
1983) ou de imagens de satélite (NOSSIN, 1989). Muito comum, mas não necessária, é a
associação com a produção de mapas de inventário. Métodos indiretos para suscetibilidade a
deslizamento são essencialmente metodologias que ocorrem passo a passo. Eles requerem: i)
o reconhecimento e mapeamento de deslizamento sobre uma região alvo ou áreas de
treinamento, as quais se obtêm mediante a preparação de mapas de inventário; ii) a
identificação e mapeamento de fatores físicos, os quais são direta ou indiretamente
correlacionados com a estabilidade do talude (os fatores de instabilidade, ou variáveis
independentes); iii) uma estimativa da contribuição relativa dos fatores de instabilidade para
gerar a ruptura do talude; iv) a classificação da superfície do terreno dentro de domínios de
diferentes níveis de suscetibilidade; v) avaliação da performance do modelo.
O Quadro 2.4 traz a relação entre as principais abordagens descritas anteriormente e os
métodos apresentados.
Quadro 2.4 – Características dos métodos de suscetibilidade propostos na literatura
Características dos métodos Direto Indireto Qualitativo Quantitativo
Mapeamento geomorfológico
Heurístico (baseado em Índices/
parâmetros)
Análises de inventários
Modelos estatísticos
Baseado em processos (determinísticos)
Fonte: A autora, 2015.
88
Vários autores em seus trabalhos utilizam a classificação proposta por Aleotti e
Chowdhury (1999), a exemplo de Pfaltzgraff (2007), Tominaga (2007), Kanungo et al.
(2009), Marrapu e Jakka (2014). O que muda entre os autores citados é o acréscimo de novos
métodos dentro dessas classificações.
Todavia, alguns autores trazem a divisão dos métodos de análise da suscetibilidade e
do perigo agrupados em três principais grupos: os puramente empíricos; os probabilísticos
com bases estatísticas e os determinísticos (BARREDO et al., 2000; FERNANDES et al.,
2001; SAVAGE; GODT; BAUM, 2004; TOMINAGA, 2007).
Pardeshi et al. (2013) agrupam os métodos de análise da suscetibilidade e perigo a
escorregamentos em abordagem heurística, abordagem probabilística, abordagem
determinística, análise estatística e análise multicritério de tomada de decisão.
No Brasil, Fernandes et al. (2001) dividem os principais procedimentos utilizados na
previsão de áreas suscetíveis a deslizamentos em quatro grupos: 1) análise por meio da
distribuição dos deslizamentos em campo; 2) análise com base em mapeamentos
geomorfológicos e/ou geotécnicos; 3) modelos com base estatística; 4) modelos
determinísticos.
Seguindo a classificação de Aleotti e Chowdhury (1999), principalmente a
classificação de Guzzetti (2005) e dos demais autores acima citados, serão discutidos os
métodos de avaliação da suscetibilidade e perigo a deslizamentos mais utilizados dentre os
artigos analisados, acrescentando a essa classificação novos métodos utilizados nos últimos
dez anos. Serão acrescentados na classificação Análise Multicritério de Tomada de Decisão,
com ênfase na técnica Analytical Hierarchy Process (AHP) e Abordagens Probabilísticas.
Abordagem Heurística (Direta – Mapeamento Geomorfológico – ou Indireta –
Combinação de Mapas de Índices/Parâmetros)
i) Mapeamento geomorfológico
É o mais simples dos métodos qualitativos. A avaliação e o zoneamento realiza-se
diretamente no campo, baseado em suas experiências em outras situações similares, com
nenhuma indicação clara de regras para avaliação ou zoneamento. No caso dos mapas de
89
instabilidade, são diretamente envolvidos mediante mapas geomorfológicos de detalhe
(PANIZZA, 1975). As principais desvantagens desse método são:
a) a subjetividade na seleção tanto dos dados como das regras que governam a
estabilidade do talude ou o perigo de instabilidade. Nesse caso torna-se difícil
realizar comparações de mapas produzidos por diferentes pesquisadores em
diferentes locais.
b) utilização de regras implícitas em vez de regras explícitas interfere em uma análise
crítica dos resultados e dificulta uma nova avaliação com a chegada de novos
dados;
c) obrigatoriedade de realização de longos trabalhos de campo.
Essa técnica tornou-se frequente nos anos 1970 e 1980, sendo um dos projetos mais
conhecidos, o procedimento ZERMOS. Não requerem necessariamente o uso de SIG,
podendo usar ferramentas simples de desenho.
É, portanto, um método subjetivo, difícil de formalizar e não totalmente adequado para
avaliações quantitativas de perigo e consequentemente de risco a deslizamentos. Nos últimos
dez anos, um método para determinar a suscetibilidade por mapeamento geomorfológico para
avaliação qualitativa de perigo e risco de deslizamento foi proposto e testado por Cardinali et
al. (2002) e Reichenbach et al. (2005). Em princípio, este último método pôde ser programado
dentro de um sistema especializado, promovendo estimativas quantitativas de suscetibilidade
a deslizamento, perigo e risco (GUZZETI, 2005).
Dentre outros trabalhos, pode-se destacar o mapeamento geomorfológico e
geodinâmico elaborado para o município de Garanhuns-PE por Azambuja (2007).
ii) Sínteses baseadas em sobreposição ou combinação de mapas de índices ou mapas
de parâmetros com peso
Essa abordagem, também classificada como heurística, baseia-se no conhecimento a
priori, ou seja, no pressuposto de que todas as causas e os fatores de instabilidade da encosta
na área sob investigação já são conhecidos. É um método indireto (ou semidireto), sobretudo
qualitativo, cuja confiabilidade depende do bom conhecimento do investigador acerca dos
processos geomorfológicos agindo sobre o terreno (GUZZETTI, 2005). De tal modo, por
meio do especialista, são selecionados mapas (temas) dos fatores que afetam a estabilidade do
talude e, baseado no conhecimento a priori, associam a cada tema um peso que é proporcional
a sua contribuição relativa como agente causador do processo de deslizamento.
90
As vantagens dessa abordagem metodológica são a redução considerável dos
problemas das regras ocultas, permitindo uma total automação das operações por meio do uso
apropriado de SIG. Além disso, permite a padronização de técnicas de manejo de dados desde
a aquisição até a análise final. Pode ser aplicada em diversas escalas. A subjetividade na
atribuição dos pesos para cada parâmetro aparece como principal problema desse método,
como também a extrapolação de um modelo desenvolvido em uma área particular para outros
lugares (CARRARA, 1983).
Assim, métodos quantitativos, principalmente os estatísticos, surgem para diminuir tal
subjetividade, conforme será exposto a seguir.
Análise do Inventário
A análise do inventário de movimentos de massa tenta prever os padrões futuros de
instabilidade do terreno desde as cicatrizes de movimentos de massa, bem como pelos
depósitos deixados por estes. A partir daí, pode-se construir um mapa de densidade de
movimentos de massa, ou seja, o percentual de áreas cobertas por cicatrizes ou um número de
eventos ao longo de uma região. O método é considerado indireto, e o resultado é
quantitativo. Podem ser associados aos métodos estatísticos e de probabilidade futura de
ocorrência de movimentos de massa, analisando-se a frequência de deslizamentos, conforme
será exposto a seguir.
Obter informações sobre a localização e extensão das cicatrizes dos processos de
movimentos de massa nem sempre é uma tarefa fácil e requer trabalhos de laboratório e de
campo dispendiosos. Entretanto, a qualidade do inventário é um fator de extrema importância
na escolha do modelo de suscetibilidade, principalmente dos de base estatística. Outro fator
bastante discutido na literatura é a melhor forma de representar as cicatrizes; ponto ou
polígono? Para cada uma, existem os benefícios e os problemas, como também podem variar
de acordo com os tipos de movimentos identificados em uma determinada área, se são
movimentos pequenos ou de grandes dimensões. Ardizzone et al. (2002); Bruce et al. (2004);
Guzzetti (2005); Galli et al. (2008); Garcia (2012) e Guzzetti et al. (2012) trazem uma boa
discussão das novas tecnologias, métodos e formas de representação dos movimentos de
massa.
Fell et al. (2008) indicam ainda que a maior fonte de erros em mapas de
suscetibilidade, perigo e risco de deslizamentos advém de limitações encontradas nos
91
inventários, principalmente relacionados com a metodologia escolhida para a elaboração
destes, por exemplo, o uso de fotografias aéreas e imagens de satélite. Essas ferramentas não
devem ser usadas sozinhas. Existe a necessidade veemente de trabalhos de campo para validar
o que foi identificado na imagem, assim como uma definição prévia de quais são os tipos de
processos e a forma de classificá-los, por meio do uso de fichas de campo. Outro fato a ser
esclarecido é que o inventário que deverá ser dividido em dois grupos; um que será utilizado
no mapeamento e outro na validação.
Abordagem Estatística
A abordagem estatística compara a distribuição espacial dos deslizamentos com os
parâmetros que são considerados como desencadeadores do processo. Nos últimos anos, tem-
se verificado maior aplicação das abordagens estatísticas baseada em dados (data-based) em
detrimento da heurística baseada em conhecimento (knowledge-based), a fim de diminuir a
subjetividade do modelo e produzir mais resultados objetivos e reproduzíveis, podendo ser
associado aos métodos heurísticos com maior facilidade mediante a utilização de SIG
(KANUNGO et al., 2009).
A grande dificuldade dessa abordagem consiste em estabelecer os agentes
desencadeadores do processo de ruptura pelo conhecimento das cicatrizes identificadas, tendo
em vista que a elaboração do inventário de cicatrizes de movimentos de massa necessita ser
de boa qualidade espacial e temporal; no entanto, ainda hoje é difícil se obter um banco de
dados de qualidade especialmente no Brasil. Outro fator limitante é que tal método não leva
em conta as interações dos parâmetros.
Uma vez superados tais problemas, a principal vantagem da abordagem estatística é
que o investigador pode validar a importância de cada fator e decidir os dados de entrada, as
atribuições de peso e gestão dos dados. As análises estatísticas podem ser divididas, então,
em bivariadas e multivariadas.
A análise estatística bivariada compara cada feição (layer/camada) dos fatores
predisponentes com os deslizamentos existentes (inventário). Calcula-se o peso dos fatores
predisponentes com base na densidade de deslizamentos (ALLEOTTI; CHOWDHURY,
1999; KANUNGO et al., 2009; PARDESHI et al., 2013). Essa atividade envolve uma
sobreposição da camada de distribuição de deslizamentos para cada uma das camadas
temáticas e se calculam os respectivos valores de densidade de deslizamentos. Os modelos
92
mais trabalhados são: a) análise da frequência (frequency analysis); b) valor da informação
(Information Value – InfoVal); c) peso de evidências (weights of evidence – WofE); d)
sobreposição de pesos (weighted overlay); e) razão de frequência (frequency ratio)
(PARDESHI et al., 2013).
A análise estatística multivariada considera a contribuição relativa de cada mapa
temático (camada/layer) para a suscetibilidade total de deslizamento. Tal método calcula o
percentual de deslizamento para cada pixel, e um layer de ausência/presença de deslizamentos
é produzido seguido pela aplicação do método de estatística multivariada para a
reclassificação do perigo/suscetibilidade para cada área. Modelo de regressão logística,
análise discriminante, modelo de regressão múltipla, análise condicionante, redes neurais são
exemplos desses métodos. O procedimento se dá mediante as seguintes etapas:
a) classificação da área de estudo em unidades de terreno (CARRARA et al., 1978;
CARRARA, 1983, 1988; CARRARA et al., 1991; CARRARA; CARDINALI;
GUZZETI, 1992);
b) identificação dos fatores predisponentes e elaboração dos mapas destes;
c) elaboração do mapa de inventário e de um banco de dados de movimentos de
massa;
d) definição do percentual de deslizamento (movimento de massa) para as áreas de
todas as unidades de terreno, classificando-as em instáveis e estáveis;
e) combinação dos mapas de parâmetros com as unidades de terreno e construção da
matriz de ausência/presença;
f) aplicação da análise estatística multivariada análise discriminante ou análise de
regressão múltipla;
g) reclassificação das unidades de terreno baseadas nos resultados encontrados
anteriormente e sua classificação dentro das classes de suscetibilidade.
Guzzetti (2005) divide os métodos estatísticos baseado em uma abordagem filosófica
de classificação, incluindo: (i) métodos estatísticos clássicos (frequentistas ou Fisher); (ii)
métodos estatísticos modernos (subjetivista ou Bayesiano); (iii) Lógica Fuzzy; (iv) redes
neurais; (v) sistemas especialistas.
93
Mais detalhes da descrição de cada técnica relacionada com as abordagens estatísticas
bivariadas e multivariadas podem ser encontradas em Van Westen (1993); Aleotti e
Chowdhury (1999), Guzzetti (2005); Kanungo et al. (2009) e Pardeshi et al. (2013).
Além dos modelos anteriormente expostos, têm-se os modelos geotécnicos que podem
ser divididos em determinísticos e probabilísticos.
Abordagem Determinística ou Modelos Baseados em Processos
São modelos com bases físicas para avaliação da suscetibilidade a movimentos de
massa. Descreve, então, os processos físicos que desencadeiam o evento de deslizamento e
são baseados em leis mecânicas simples. Eles levam em conta a alternância da água
subterrânea em uma encosta em função da precipitação. Não precisam de dados históricos de
deslizamentos, portanto podem também ser aplicáveis às áreas com estoques de deslizamentos
incompletos (ALEOTTI; CHOWDHURY, 1999; GUZZETI, 2005; PARDESHI et al., 2013).
São modelos indiretos e proporcionam resultados quantitativos, contudo são voltados
para um tipo particular de movimento de massa (deslizamentos rasos, fluxos de detritos e
queda de blocos) para investigar o efeito de um agente deflagrador, como uma chuva intensa
ou um terremoto.
Existem vários modelos determinísticos que vêm sendo apresentados na literatura
como Transient Rainfall Infiltration and Grid-Based Regional Slope-Stability (TRIGRS),
aplicado por Salciarini et al. (2006) para modelar a precipitação como deflagradora dos
deslizamentos na região da Umbria na Itália central. Eles perceberam que um modelo digital
de elevação de alta resolução e informações sobre a distribuição espacial das propriedades
físicas na superfície é uma necessidade para melhorar o desempenho do modelo.
Outros modelos são o Shallow Landsliding Stability (SHALSTAB), Stability Index
MAPping (SINMAP) e Storage and Redistribution of Water on Agricultural and Revegetated
Slope + PROBability of STABility (STARWAR+PROBSTAB), que foram detalhadamente
comparados, acrescentando o TRIGRS, por Kuriakose (2010) no Oeste de Ghats da Kerala,
Índia. O estudo mostrou que o modelo STARWAR+PROBSTAB é o mais adequado para a
avaliação da probabilidade espaço-temporal de escorregamentos rasos.
94
Modelos Probabilísticos
Os modelos probabilísticos proporcionam a determinação das probabilidades espaciais
e temporais de ocorrência dos movimentos de massa (GUZZETTI, 2005). Levam em
consideração que os fatores que causaram instabilidade no passado causarão no futuro. É a
probabilidade de que uma dada região será afetada por movimentos de massa, dado um grupo
de condições ambientais.
Chung e Fabbri (1999 apud GUZZETTI, 2005) investigaram cinco métodos para
estimar a equação de probabilidade condicional, incluindo: a) estimativa direta; b) estimativa
bayesiana; c) modelo de regressão; d) estimativa bayesiana modificada; e) modelo de
regressão modificada. Tais métodos podem ser encontrados de forma detalhada em Guzzetti
(2005). Nesses modelos simples, a probabilidade de futuros movimentos de massa em uma
região é dada por uma distribuição de movimentos de massa que ocorreram no passado na
mesma região.
Diante do exposto, é importante ter clareza nos objetivos do mapeamento. Os fatores a
serem considerados incluem se o método utilizado deverá ser qualitativo ou quantitativo, se as
bases da avaliação deverão ser determinísticas ou probabilísticas, em que medida se deve
confiar nas séries históricas de registros de deslizamentos, se os métodos observacionais
devem ser parte de uma avaliação contínua e em que extensão a vulnerabilidade dos
elementos em risco e o impacto dos deslizamentos devem ser levados em conta.
O Quadro 2.5 apresenta uma síntese das vantagens e desvantagens dos principais
métodos citados, facilitando a comparação entre eles.
Quadro 2.5 – Vantagens e desvantagens dos métodos mais trabalhados na análise e elaboração
de cartas de suscetibilidade a deslizamentos e escalas de análises apropriadas
Qu
ali
tati
vo
Método Vantagens Desvantagens Uso do SIG
Análise
gomorfológica Rápida avaliação
Totalmente
Subjetivo
Ferramenta de
desenho
Mapa índice ou
parâmetros
Pode ser sistematizado
e padroniza o uso de
dados
Associação
apropriada dos
pesos. Requer
especialistas
Superposição
de mapas
95
Quadro 2.5 – Vantagens e desvantagens dos métodos mais trabalhados na análise e elaboração
de cartas de suscetibilidade a deslizamentos e escalas de análises apropriadas. Cont. Q
ua
nti
tati
vo
Método Vantagens Desvantagens Uso do SIG
Análise estatística
bivariável e
multivariável
Objetivo /
Procedimento
sistematizado /
Padroniza o uso de
dados
Coleta sistemática
e análise de dados
relativos aos
diferentes fatores
Análise e
superposição
de mapas
Modelos geotécnicos
/ determinístico A menor subjetividade
Apenas escalas
grandes. Depende
da precisão dos
dados geotécnicos
Pouco
trabalhados em
ambiente SIG
Redes neurais
Encontra relações não
identificáveis com
outros métodos
Deve ser avaliado
por especialistas
Análise e
superposição
de mapas
Fonte: Baseado em Soeters e Van Westen (1996); Aleotti e Chowdhury (1999).
Pensando na sequência dos mapeamentos de forma quantitativa do perigo e risco, os
métodos estatísticos e probabilísticos baseados em inventário de deslizamentos são,
geralmente, o melhor método, assumindo que a ocorrência dos movimentos de massa que
ocorreram no passado são bons indicadores da ocorrência desses no futuro. Mesmo assim, a
melhor opção para o mapeamento quantitativo de risco ainda são os métodos determinísticos
combinados com modelos dinâmicos de hidrologia de encostas; entretanto, tais modelos
requerem uma quantidade substancial de dados além de uma simplificação nos tipos de
deslizamentos.
Análise Multicritério
Os mapas de avaliação da suscetibilidade a movimentos de massa envolvem uma
quantidade considerável de variáveis (agentes predisponentes), por isso a determinação da
contribuição relativa de cada parâmetro na ocorrência do processo é uma atividade
importante. Assim, técnicas de Análise Multicritério tornam-se interessantes para exercer tal
tarefa. Pode-se destacar dentre esses métodos o Processo de Análise Hierárquica ou AHP, que
é um processo de tomada de decisão multicritério de comparação pareada e leva em conta
julgamentos de especialistas para derivar escalas de prioridade (SAATY, 1987).
A técnica de AHP opera em quatro níveis, a saber: a) definição do problema; b)
determinação dos objetivos e das alternativas (fatores condicionantes); c) construção da
matriz de comparação pareada; d) determinação dos pesos e obtenção da prioridade total. No
96
zoneamento da suscetibilidade a deslizamentos, diferentes fatores causativos de deslizamentos
são considerados como alternativas.
Nos últimos anos, várias pesquisas têm sido realizadas com a utilização das técnicas
AHP em ambiente SIG para gerar mapa de suscetibilidade a deslizamentos em várias partes
do mundo, tendo, como exemplo, os seguintes trabalhos: Eslovênia de Komac (2006); Brasil,
Tominaga (2007); Vanacôr e Rolim (2012); Torres (2014); Taiwan de Wu e Chen (2009);
Índia de Mondal e Maiti (2012); Ma et al. (2013); Kavzoglu, Sahin e Colkensen (2013).
Relação chuva X deslizamento / identificação da chuva crítica
Focando a análise na ocorrência de deslizamentos, diversos autores estudaram a
influência da precipitação no desencadeamento deles e procuraram identificar limiares críticos
de chuva que venham a ocasionar deslizamentos.
A relação entre chuva e movimentos de massa (deslizamento) é dita como uma relação
causa-efeito. A análise estatística dos dados de precipitação e de ocorrência de movimentos
permite identificar o limiar desencadeador (usualmente em termos da intensidade e duração
da precipitação pluvial) e calcular o intervalo de recorrência da precipitação crítica, como
uma função das características locais (espessura das camadas superficiais, permeabilidade do
solo, etc.).
Um dos principais questionamentos trazidos por Van Westen (1993) é que os
procedimentos analisados em vários artigos não incorporam a probabilidade de ocorrência de
certo evento em um determinado momento e em certo local. Para isso, torna-se necessária a
obtenção de relações entre o acontecimento dos deslizamentos e a frequência de ocorrência de
certos fatores que deflagram a ruptura, como no caso as chuvas.
Na realidade brasileira, o principal agente deflagrador dos movimentos de massa são
as chuvas intensas, sendo assim, diversos trabalhos buscaram caracterizar relações entre a
precipitação e os deslizamentos, capazes de serem utilizados em modelos de previsão e em
sistemas de alerta, como os trabalhos de Guidicini e Iwasa (1977); Crozier (1986); Vargas
Júnior et al. (1986); Keefer et al. (1987); Tatizana et al. (1987a, 1987b); Capecchi e Focardi
(1988); Almeida e Nakazawa (1991); Pedrosa (1994); D’Órsi et al. (1997); Bandeira (2010);
Marques et al. (2010); Soralump (2010); Liao et al. (2010); Zêzere et al. (2015) e Bandeira e
Coutinho (2015).
97
2.4.1.2 As unidades de mapeamento
A avaliação da suscetibilidade, perigo ou risco de escorregamento em uma área com
bases nas condições locais do terreno requer a seleção preliminar de uma apropriada Unidade
de Mapeamento do Terreno (UMT). Esse termo refere-se a uma porção da superfície do
terreno que contém um conjunto de condições que diferem das unidades adjacentes a partir de
fronteiras definíveis (HANSEN, 1984; CARRARA; GUZZETTI, 1995; VAN WESTEN et
al., 1997; LUCKMAN; GIBSON; DEROSE, 1999).
Com base no conceito de UMTs distintas e claramente definíveis, vários métodos têm
sido propostos para particionar a paisagem para a avaliação e mapeamento da suscetibilidade
a deslizamentos/escorregamentos (MEIJERINK, 1988; CARRARA et al., 1995; SOETERS;
VAN WESTEN, 1996; GUZZETTI et al., 1999). Todos os métodos se enquadram em um dos
seis seguintes grupos: (i) células da grade, (ii) unidades de terreno, (iii) unidades de condição
única, (iv) unidades de vertente, (v) unidades geo-hidrológicos, (vi) unidades topográficas, e
(vii) política ou unidades administrativas.
A escolha da unidade de mapeamento mais adequada vai depender de uma série de
fatores, incluindo o tipo de deslizamento a ser estudado; a escala de análise; a qualidade,
resolução e disponibilidade das informações temáticas exigidas (CALVELLO; CASCINI;
MASTROIANNI, 2013).
As células de grade dividem o território em células regulares de tamanho predefinido,
as quais se tornam a unidade de mapeamento de referência. São preferidas por usuários de
Raster baseados em ambiente SIG. Por essa razão, muitas células são comumente quadradas,
mas subdivisões retangular, triangular ou hexagonal são possíveis. Para cada célula de grade,
está associado um valor para cada fator levado em consideração (por exemplo, geológicos,
geomorfológicos, uso da terra), proporcionando um empilhamento de camadas raster de cada
fator de instabilidade.
A principal limitação das células de grade se refere às formas de representação, linhas,
polígonos contínuos, pontos, usando células de forma e tamanho predefinidos, podendo
distorcê-las. Entretanto, evoluções nas tecnologias computacionais (tamanho da memória e
velocidade no processamento) têm largamente, mas não completamente, superado essas
limitações, usando células de grade muito pequenas que capturam mais fielmente a forma do
terreno.
98
As Unidades de Terreno são tradicionalmente favorecidas no campo da
geomorfologia. Elas se baseiam na observação de ambientes naturais, na inter-relação entre os
materiais, forma e processos resultando em limites nos quais refletem diferenças geológicas e
geomorfológicas. As unidades de terreno são a base para o método de classificação de
sistemas de paisagem, os quais têm sido o foco de aplicações em muitas investigações de
recursos terrestres (COOKE; DOORNKAMP, 1974; SPEIGHT, 1977; VERSTAPPEN, 1983;
BURNETT; BRAND; STYLES, 1985; MEIJERINK, 1988; HANSEN et al., 1995, VAN
WESTEN et al., 1997; FANNIN et al., 2005).
O principal limite das unidades de terreno encontra-se na sua subjetividade. É difícil
estabelecer regras claramente definidas para delinear de forma inequívoca os limites entre as
diferentes unidades de terreno e é mais difícil aplicá-las consistentemente. Para estudos de
suscetibilidade, é difícil inferir o grau de propensão à ocorrência de deslizamentos, baseados
unicamente em formas e processos geomorfológicos e derivar dessas informações e divisões
objetivas do território.
As unidades de condições únicas (UCU) implicam a classificação de cada fator
controlador ou condicionantes de instabilidade do talude dentro de algumas classes
significativas, que são armazenadas em um único mapa ou camada. Sequencialmente à
sobreposição de todos os layers, os domínios homogêneos (condições únicas) são
identificados, cujos tamanhos e natureza dependem dos critérios utilizados na classificação
dos dados de entrada (CARRARA et al., 1995 apud GUZETTI, 2005). Essas unidades são
representadas, normalmente, como vetor em ambiente SIG. Por sua implementação simples e
de fácil utilização, problemas conceituais com as UCU incluem o fato de que, para fins
práticos, camadas temáticas contínuas (elevação, declividade, aspecto, espessura do solo)
devem ser classificadas usando um pequeno número de classes. A seleção dessas classes,
raramente baseia-se no conhecimento local dos processos físicos controladores dos
movimentos de massa, e a sobreposição de várias camadas temáticas pode resultar em um
número elevado de unidades de mapeamento, tornando-se difícil analisar os resultados.
As unidades de vertentes (ou encosta) particionam o território em regiões
hidrológicas delimitadas por divisores de água. Elas podem ser delimitadas manualmente por
mapas topográficos precisos. Como alternativa, um software específico foi desenvolvido para
delinear automaticamente unidades de vertente por meio de Modelos Digitais do Terreno de
alta qualidade, eventualmente, auxiliados por versões simplificadas da rede de drenagem.
Parâmetros hidrológicos e morfométricos (e suas estatísticas) podem ser computados para
99
cada unidade da encosta e usados na análise de suscetibilidade. Significativamente,
parâmetros hidrológicos e morfométricos obtidos para uma unidade de vertente individual não
refletem valores “locais” (tipo grade de células). Em vez disso, eles se referem a toda a
subdivisão do terreno, proporcionando resultados mais confiáveis e geomorfologicamente
significativos. Desde que um deslizamento ocorra em uma encosta e a unidade de vertente
represente uma encosta, esse tipo de subdivisão é – pelo menos em princípio –
particularmente adequado à investigação de suscetibilidade a deslizamento.
Dependendo do tipo de instabilidade a ser investigada (deslizamentos profundos,
deslizamentos rasos ou complexos e fluxo de detritos), a unidade de mapeamento corresponde
tanto à unidade de encosta individual (uma sub-bacia) quanto a uma combinação de duas ou
mais unidades de encostas representando uma microbacia. Limitações das unidades de
encostas incluem: i) a dificuldade na sua preparação, a qual requer recursos, incluindo
softwares especializados; ii) dificuldade para adaptar o tamanho das unidades de encostas
para a distribuição conhecida dos deslizamentos de terra; iii) a falta de representatividade das
unidades de vertentes para pequenos escorregamentos rasos; iv) o fato de os limites
hidrológicos (drenagem e linha de divisores) poderem não corresponder às divisões
geomorfológicas ou de uso da terra importantes para determinar a suscetibilidade a
deslizamentos (CARRARA, 1988; CARRARA et al., 1991; 1995; GUZZETTI et al., 1999
apud GUZZETTI, 2005).
As Unidades Geo-Hidrológicas são obtidas particionando muito mais as unidades de
encostas baseadas nos principais tipos litlógicos aflorantes na região. Considera-se também
importante separar diferentes condições de suscetibilidade em uma mesma encosta
(ARDIZZONE et al., 2002; CARDINALI et al., 2002). São facilmente obtidas no ambiente
SIG pela intersecção de unidades de encostas com um mapa litológico simplificado. Uma
subdivisão geo-hidrológica retém todas as informações típicas da divisão com base em linhas
de drenagem e fatores morfológicos e hidrológicos e soluciona o problema de ter na mesma
unidade de encosta dois ou mais tipos de rocha com diferenças distintas de propensão a
deslizamentos; por exemplo, rochas duras estáveis intercaladas por sedimentos
inconsolidados.
Pode-se imaginar a extensão do conceito de unidades geo-hidrológicas, subdividindo-
as posteriormente, com base nos principais usos da terra (ex. áreas florestadas e não
florestadas). Essa subdivisão pode ser útil onde deslizamentos são praticamente controlados
por um tipo de cobertura da terra.
100
As Unidades Topográficas são vetores baseados em subdivisões obtidas dividindo a
bacia hidrográfica, ou uma única inclinação, em elementos de linhas de fluxo de tamanho e
forma irregular. O limite inferior e superior de uma linha de fluxo define-se por contornos
adjacentes, e os limites laterais se delineiam por linhas de fluxo ortogonais ao contorno
(O’LOUGHLIN, 1986; MOORE; O'LOUGHLIN; BURCH, 1988; MOORE; GRAYSON,
1991).
Quando há a necessidade de se investigar extensas áreas, ou quando estão voltadas
para fins de planejamento de um município ou área maior, são escolhidas as unidades
políticas ou administrativas, que podem ser municípios, bairros, setores censitários, etc., não
representando limites geológicos, geomorfológicos e hidrológicos, o que é um fator limitador
aos estudos de suscetibilidade a deslizamentos.
A seleção de unidades de mapeamento apropriadas depende de um número de fatores,
incluindo: i) o tipo de fenômeno de deslizamento a ser estudado; ii) a escala de investigação;
iii) os recursos disponíveis; iv) a qualidade, resolução, escala e tipo de informações temáticas
requeridas; v) a disponibilidade de ferramentas de gerenciamento e análise de informações
adequadas.
2.4.1.3 Organização do banco de dados
O gerenciamento, a coleta, armazenamento e seleção dos dados devem seguir duas
regras fundamentais (LEROI, 1996):
a) todas as informações devem ser homogêneas, ou seja, ter a mesma escala,
sistemas geodésico e de projeção cartográfica;
b) o banco de dados deve ser organizado dentro de Layers (camadas) básicas
monotemáticas, dentro das quais estão contidos dados homogêneos.
Adicionalmente, um banco de dados deve incluir a seguinte lista de informações
básicas (CHOWDHURY; FLENTJE, 1997):
a) um inventário de deslizamentos existentes incluindo sua natureza, tamanho,
localização e história;
b) um código local de referência confiável;
c) informações disponíveis de dados anteriores por meio de interpretação de fotografias
aéreas, testes de laboratório, análises de campo;
101
d) alguma medida preventiva ou remediadora instalada e sua efetividade;
e) dados de alguma instrumentação instalada (inclinômetros, piezômetros).
f) Layers dos mapas temáticos elaborados nas escalas apropriadas.
2.4.1.4 A questão da escala
Tendo em vista que a análise da suscetibilidade e do perigo é uma etapa fundamental
ao mapeamento de risco. Este último pode ser elaborado em diferentes escalas de trabalho
dependendo do seu objetivo ou destinação (ALHEIROS, 1998).
Escala 1:5.000 ou maiores – destina-se, por exemplo, à execução de um projeto de
engenharia visando estabilização de encostas. Nesse caso a área deve ser
minunciosamente descrita, determinadas suas características físicas, condições
topográficas e medidos os principais vetores envolvidos nos processos de
deslizamento.
Escalas entre 1:10.000 e 1:25.000 – geralmente elaboradas para gestão de
problemas causados pela ocupação de morros urbanos, onde a área de interesse
deve ser bem conhecida e os padrões de controle estabelecidos de modo a
contemplar os diferentes aspectos do ambiente (físico-biótico-antrópico).
Escalas 1:25.000 ou menores – escala regional, tendo o principal papel subsidiar o
planejamento urbano e regional.
Aleotti e Chowdhury (1999) propõem que a escala de trabalho deve ser escolhida
baseada em três fatores: 1) proposta do mapeamento; 2) a extensão da área estudada; 3) a
viabilidade dos dados.
No Brasil, o número três ainda é um dos fatores mais limitantes na escolha da escala
de análise, haja vista que atualmente ainda existe uma dificuldade em grande parte do País de
se conseguir uma base cartográfica de qualidade nas escalas acima de 1:100.000 e de forma
mais problemática, dados temáticos como geologia, pedologia e geomorfologia, a começar
pela falta de informações altimétricas e, consequentemente, Modelos Digitais do Terreno
(MDT) para as escalas superiores a 1:50.000. Estes últimos são fundamentais para gerar napas
de declividade, curvatura de vertente ou outras variáveis morfométricas essenciais a análise da
suscetibilidade, risco e cartas geotécnicas.
102
A escolha da escala de trabalho, consequentemente, afeta a escolha do método a ser
trabalhado. Nesse caso, na abordagem estatística, podem não ser indicados estudos de taludes
individuais ou de pequenas áreas, enquanto a abordagem da engenharia geotécnica, baseado
no cálculo do fator de segurança ou associada à probabilidade do rompimento, pode não ser
indicada para escalas regionais.
De acordo com Fell et al. (2008), o zoneamento de deslizamentos é realizado para o
planejamento regional, local e específico de uma região, podendo ser representado como
inventário de deslizamento, suscetibilidade, mapas de zoneamento de perigo ou de risco e
seus relatórios associados. A escolha do tipo de zoneamento vai depender dos objetivos e da
área a ser mapeada.
Além desses, outros fatores determinantes na escolha da escala e do tipo de
zoneamento são a quantidade e a qualidade da informação disponível. Por exemplo, o
zoneamento quantitativo da suscetibilidade, do perigo e, consequentemente, do risco não
poderá ser realizado onde os dados sobre a frequência de deslizamentos inexistem ou não são
confiáveis. Nesse caso, recomenda-se o zoneamento qualitativo da suscetibilidade.
Esses mesmos autores afirmam que, quando restrições legais de planejamento de uso
do solo forem propostas, mapas em escala grande e com níveis adequados de dados devem ser
utilizados, sendo assim, a maior escala necessária determinará o nível e a escala do
zoneamento do deslizamento.
Calvello, Cascini e Mastroianni (2013), baseando-se em Fell et al. (2008) e Cascini
(2008), fazem uma síntese das relações entre os objetivos, métodos de zoneamento e escalas
de mapeamento para o inventário e zoneamento da suscetibilidade a deslizamentos, conforme
apresentado no Quadro 2.6.
103
Quadro 2.6 – Escalas de mapeamento para inventários e zoneamento de suscetibilidade a
deslizamentos em relação aos métodos de zoneamento, níveis e objetivos
Objetivos Escala
Nível e Aplicações
dos métodos de
zoneamento
Exemplos
Sugestão de
área de
abrangência
Zoneamento
Regional
(Informativo)
Pequena <1:100.000
Básico (aplicável)
Intermediário (não
aplicável)
Avançado (não
aplicável)
Inventário de
deslizamento e
zoneamento da
suscetibilidade para
informação dos
tomadores de decisão
e o público em geral
>100.000 km²
Zoneamento
Regional
(informativo
e consultivo)
Média 1:100.000
a 1:25.000
Básico (aplicável)
Intermediário (pode
ser aplicável)
Avançado (não
aplicável)
Inventário de
deslizamento e
zoneamento de
suscetibilidade para
desenvolvimento
regional ou para
projetos de
engenharia em
grande escala
1000 a 10.000
km²
Zoneamento
Local
(Informativo,
consultivo e
legal)
Grande 1:25.000 a
1:5.000
Básico (aplicável)
Intermediário
(aplicável)
Avançado
(aplicável)
Inventário de
deslizamento,
zoneamento da
suscetibilidade e
perigo para áreas
locais.
10 a 1000 km²
Fonte: Calvello, Cascini e Mastroianni (2013, baseando-se em Fell et al. (2008).
Observando o referido quadro, verifica-se que Fell et al. (2008) ainda acrescentam que
a grandeza da área abrangida também interfere na escolha da escala para os diferentes tipos de
zoneamento. Logo, para áreas entre 10 a 1.000 km², utilizam-se escalas entre 1:5.000 e
1:25.000; áreas entre 1.000 km² e 10.000 km², escalas entre 1:25.000 e 1:100.000.
Sobreira e Souza (2012) reiteram a importância das cartas de suscetibilidade como
base à elaboração das cartas geotécnicas de aptidão à urbanização e de risco, igualmente
previstas na Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), produzidas em escalas
maiores, 1:10.000 e 1:2.000 respectivamente.
Esses mesmos autores ainda afirmam que, após a definição das escalas, os processos
mapeados têm de estar passíveis de identificação na escala de referência, tomando-se como
base os produtos como cartas de suscetibilidade, cartas de aptidão à urbanização e cartas de
risco.
Desse modo, o Quadro 2.7 apresenta a relação dessas cartas segundo as escalas e os
processos que devem ser identificados em cada uma delas.
104
Quadro 2.7 – Cartas geotécnicas de planejamento, segundo as escalas e os processos identificáveis
Produto Escalas de
mapeamento
Processos geodinâmicos passíveis de identificação
Cartas de
suscetibilidade 1:25.000 ou maior
Movimentos gravitacionais de massa, inundações/enchentes,
corridas, erosões, assoreamento, processos costeiros, sismos
induzidos
Cartas de aptidão à
urbanização
1:10.000, 1:5.000 ou
maior
Movimentos gravitacionais de massa translacionais,
inundações/enchentes/algamentos, corridas, erosões lineares
de grande porte (ravinas), assoreamento, subsidências e
colapsos, expansão dos terrenos, queda e rolamento de
blocos rochosos, processos costeiros
Cartas de risco
geológico 1:2.000 ou maior
Movimentos gravitacionais de massa translacionais,
rotacionais, em cunha, inundações/enchentes/alagamentos,
corridas de lama e detritos, rastejos, erosões lineares (sulcos,
ravinas e voçorocas), solapamentos de margens de rios,
assoreamento e colapsos, expansão dos terrenos, queda e
rolamento de blocos rochosos, processos costeiros.
Fonte: Sobreira e Souza (2012).
2.4.2 Principais metodologias trabalhadas no Brasil
A análise de instabilidade de taludes vem sendo trabalhada há muitos anos no Brasil.
Em meados dos anos 1990, com o avanço das geotecnologias, os métodos computacionais
predominaram nas análises e na elaboração de cartas de suscetibilidade a movimentos de
massa neste país, acompanhando o que já vinha sendo desenvolvido no mundo.
Fernandes et al. (2001) trabalham com a combinação de mapeamento e monitoramento
de campo, por meio de modelos matemáticos baseados em processos, principalmente com a
utilização do modelo matemático Shalstab para a previsão de áreas suscetíveis.
Tominaga (2007) aplicou uma proposta metodológica de avaliação do risco de
escorregamentos no município de Ubatuba, SP, e apresenta as metodologias relacionadas com
o mapeamento da suscetibilidade, perigo e risco. Na avaliação da suscetibilidade a
deslizamentos, a autora utilizou o método de sobreposição ou combinação de mapas de
índices ou parâmetros, no qual aos fatores que afetam a instabilidade das vertentes, são
atribuídos valores ponderados proporcionais à contribuição relativa em gerar instabilização.
Para a realização desta análise, aplicou-se a técnica AHP, sendo uma ferramenta disponível no
Spring, software utilizado pela autora.
Vanacôr e Rolim (2012) elaboraram um mapa de suscetibilidade a deslizamentos na
região do Rio Grande do Sul; utilizaram o método estatístico bivariado descrito por Soeters e
105
Van Westen (1996) e aplicaram a técnica AHP para determinar o peso dos fatores e diminuir
a subjetividade no processo de decisão e avaliação da contribuição relativa de cada um deles,
baseada na lógica de comparação pareada.
Coelho Netto et al. (2013) apresenta uma metodologia para elaboração de cartas de
suscetibilidade e riscos diante dos mecanismos de deslizamentos na escala 1:5.000, aplicada à
área central de Angra dos Reis. Com a elaboração de cartas topográficas de referência,
geraram-se uma carta hidrogeomorfológica, geológico-geotécnica, vegetação e uso e
ocupação do solo e com a sobreposição do número de habitantes do censo 2010 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011), chegou-se ao mapa de risco.
Gusmão Filho e Alheiros (ALHEIROS, 1998; GUSMÃO FILHO; ALHEIROS;
MELO, 1993; ALHEIROS et al., 2003) são os autores que mais trabalharam com a
perspectiva da análise da suscetibilidade e do risco na RMR, definindo metodologias de
análise, bem como definições dos fatores condicionantes e deflagradores característicos dos
deslizamentos nessa região, continuados por trabalhos realizados por Coutinho e Bandeira
(BANDEIRA, 2010; COUTINHO; BANDEIRA, 2012; COUTINHO, 2013), principalmente
os realizados por Coutinho. Podem-se destacar também os trabalhos de Pfaltzgraff (2007),
Coutinho (2014) e Torres (2014).
Pfaltzgraff (2007) elaborou um mapa de suscetibilidade a escorregamentos utilizando
ferramentas de Sensoriamento Remoto e Sistema de Informações Geográficas, bem como
bases cartográficas e temáticas de baixo custo e de alta eficiência, na escala 1:100.000 para
toda a RMR. Utilizou o método de sobreposição de parâmetros ou índices, determinando a
suscetibilidade a deslizamentos por meio de Álgebra de Mapas.
Além do surgimento de grupos de pesquisas e trabalhos de pesquisas por meio de
dissertações e teses de doutorado, bem como a publicação em artigos, vários mapeamentos de
suscetibilidade foram desenvolvidos por Universidades em parceria com o Ministério das
Cidades e da Integração como subsídio à elaboração de cartas geotécnicas de aptidão à
urbanização frente a desastres naturais e para mapeamentos de vulnerabilidade e risco,
conforme será exposto a seguir.
Souza e Sobreira (2014), visando elaborar uma carta geotécnica de aptidão à
urbanização frente a desastres naturais para o município de Ouro Preto, Minas Gerais,
elaboraram uma carta de suscetibilidade na escala 1:25.000. Optou-se pela escolha do método
heurístico, direto (com base em levantamento de campo) e indireto com base na integração de
106
dados de vários mapas (condicionantes) com atribuição de pesos aos temas e notas às
unidades morfodinâmicas de interesse (UMI). Foram considerados como atributos de análise
a geologia (litologia e estruturas), materiais inconsolidados (solos e depósitos superficiais),
geomorfologia (hipsometria, declividade, amplitude do relevo, perfil das vertentes e atributos
morfométricos), hidrologia (nível freático, áreas de infiltração, concentração de fluxos),
inventário (agentes potencializadores, indícios de movimentação, indícios de atingimento,
histórico de processos geológicos, histórico de processos hidrológicos).
Com o objetivo de atender às solicitações do Ministério das Cidades para elaboração da
carta geotécnica de aptidão à urbanização frente a desastres naturais do município do Ipojuca,
Coutinho (2014), podendo ser encontrada também em Torres (2014) e Coutinho et al. (2015),
desenvolveu uma metodologia para análise da suscetibilidade a movimentos de massa e
erosão na escala de planejamento (1:25.000) abrangendo todo o município. Assim, a presente
tese também contempla o projeto anteriormente exposto, com o desenvolvimento e aplicação
de metodologia de análise da suscetibilidade/perigo para a escala de projeto (1:10.000)
utilizando-se a abordagem quantitativa de análise.
Objetivando estabelecer bases tecnológicas para o desenvolvimento contínuo de um
modelo integrado e atualizável de produção de cartas de suscetibilidade a processos do meio
físico que podem gerar desastres naturais (BITAR, 2014), o Serviço Geológico do Brasil
(CPRM) em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT)
apresentam uma nota explicativa da elaboração de cartas de suscetibilidade a movimentos
gravitacionais de massa e inundações em atenção a diretrizes da PNPDEC, estabelecida pela
Lei Federal 12.608/2012 (BRASIL, 2012a) e está prevista, também, no Plano Nacional de
Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais (PNGRRDN), lançado em agosto de 2012
(BRASIL, 2013).
Os processos do meio físico analisados e apresentados na referida nota compreendem
os principais tipos de movimentos gravitacionais de massa (deslizamentos; rastejos; quedas,
tombamentos, desplacamento e rolamento de rochas, e corridas de massa) e de processos
hidrológicos (inundações e enxurradas), os quais estão frequentemente associados a desastres
naturais ocorridos no País.
Os autores seguiram os princípios gerais apresentados no guia para zoneamento de
suscetibilidade, perigo e risco a deslizamento (FELL et al., 2008). Optaram, assim, pelo
mapeamento da suscetibilidade a deslizamentos baseado em modelagem estatística, visando
menor subjetividade e maior repetitividade no mapeamento das áreas suscetíveis, procurando,
107
desse modo, desenvolver um modelo passível de aplicação na maior parte dos municípios
sujeitos a desastres naturais no País, com conteúdos e formatos passíveis de comparação,
levando-se em conta também a dificuldade de se obter mapas temáticos e MDEs compatíveis
com a escala de análise (1:25.000). Foram considerados três fatores predisponentes aos
deslizamentos: declividade, curvatura da encosta e densidade de lineamentos estruturais, que
refletem, respectivamente, a influência combinada de aspectos geomorfológicos, hidrológico-
pedológicos e geológicos.
Os autores fizeram uso da relação dos fatores predisponentes com a densidade de
deslizamentos para cada classe por meio do cálculo do Índice de Suscetibilidade a
Deslizamentos (ISD). Nesse caso, os fatores predisponentes considerados são classificados de
acordo com os respectivos valores de ISD; e para estarem de acordo com a escala trabalhada,
os autores aplicaram também o uso das Unidades de Mapeamento do Terreno (UMT) com a
generalização do ISD por meio do cálculo da média de cada UMT. Trabalharam, então, com
a UMT, unidades de encostas.
108
3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
3.1 Localização das áreas de estudo
O município do Ipojuca localiza-se na Região Metropolitana do Recife (RMR), mais
precisamente na microrregião de Suape, distante 60 km da capital, Recife. Ocupa uma área de
532,25 km², que corresponde a aproximadamente 0,5% do território total do Estado, sendo
envolvido por uma extensão perimetral em torno de 111,79 km.
O limite leste do Ipojuca se dá com o Oceano Atlântico, enquanto o limite norte se dá
com o município do Cabo de Santo Agostinho, o limite sul com o município de Sirinhaém e
oeste com o município de Escada. A sede municipal localiza-se na latitude 08°24`00” e
longitude 35°03`45”, pode ser acessada pela rodovia federal BR-101 e posteriormente pela
PE-060.
O município é formado por três distritos, o Distrito Sede, o Distrito de Nossa Senhora
do Ó e o Distrito de Camela e pelos povoados das praias de Porto de Galinhas, Muro Alto,
Cupe, Maracaípe, Serrambi, Toquinho e seus engenhos (Figura 3.1).
As metodologias de análise da suscetibilidade foram desenvolvidas para duas escalas:
uma referente à escala de planejamento (1:25.000), abrangendo todo o município do Ipojuca,
com área de 532,25 km², e a outra considerada como escala de projeto (1:10.000). Para esta
última foi definido um polígono que abrange a área de expansão urbana, delimitada pelo
Plano Diretor municipal, entre os distritos de Ipojuca Sede e Nossa Senhora do Ó, com uma
área em torno de 70 km² (Figura 3.1).
Optou-se por escolher essa área de expansão urbana pelo fato de estar mais próxima
do complexo Industrial e Portuário de Suape e, por causa disso, intensificar ainda mais o
crescimento urbano. Além disso, as áreas atualmente ocupadas apresentam elevados riscos de
deslizamento e inundação, principalmente no distrito de Ipojuca Sede e nas Zonas Especiais
de Interesse Social (Zeis) desse distrito como Antônio Dourado Neto e São Miguel e as Zeis
Rurópolis e Bela Vista também situadas no mapa. As áreas consideradas como Zeis pelo
Plano Diretor Municipal (2008) correspondem às partes do território que apresentam uma
situação de urbanização precária resultante de processos informas de ocupação do solo e de
escassez de recursos para investimentos públicos, com as seguintes características: ocupação
109
por população de baixa renda; áreas passíveis de regularização urbanística; áreas livres
restrições ambientais e legais para a regularização jurídico-fundiária.
Figura 3.1 – Mapa de localização do município do Ipojuca e da área de expansão urbana entre os
distritos de Ipojuca Sede e Nossa Senhora do Ó no estado de Pernambuco
Fonte: A autora.
110
3.2 Aspectos demográficos e socioeconômicos do município do Ipojuca
Em 2010, a população do município do Ipojuca foi de 80.637 habitantes, segundo o censo
do IBGE, com uma densidade demográfica de 151,39 hab/km², dividida em 59.719 habitantes
ocupando as áreas urbanas e 20.918 nas áreas rurais, com uma taxa de urbanização de 74,06%. O
município apresentou, de 1991 a 2010, uma das maiores taxas de crescimento demográfico
(3,12% a.a), devido ao fluxo migratório, principalmente nos últimos dez anos, relacionado com
fatores atrativos como o crescimento do Complexo Industrial e Portuário de Suape. A Figura 3.2
mostra o crescimento no número de habitantes entre 1991 e 2013.
Figura 3.2 – Crescimento anual da população entre 1996 e 2010 no município
do Ipojuca
Fonte: IBGE/ Cidades (2013). * Valor estimado para 2013.
Ipojuca apresenta a maior população rural ou de área periurbana da Região
Metropolitana do Recife. Grande parte dessa população concentra-se em vilarejos, uma
herança dos antigos engenhos de cana-de-açúcar, produto que significou, por séculos, o
projeto econômico do município (POBREZA..., 2014).
A Figura 3.3 representa a divisão do município em população rural e urbana. Nota-se a
concentração da população urbana em pequenas áreas.
111
Figura 3.3 – Distribuição da população rural e urbana conforme os setores censitários do
município do Ipojuca
Fonte: A autora, elaborado com base no censo 2010 do IBGE (2011).
Já o número de domicílios permanentes aumentou em 64% entre 2000 e 2010,
saltando de 13.414 para 22.016, o que infere uma forte pressão imobiliária no município.
Como pode ser visualizado na Figura 3.4, há maior concentração de domicílios nas áreas
urbanas, obviamente, mas nota-se maior concentração destes nas Zeis de Rurópolis e Bela
Vista. A Figura 3.5 representa a distribuição do número de moradores por domicílios no
município do Ipojuca de acordo com o censo demográfico de 2010 (IBGE, 2011). Assim
como o mapa da Figura 3.5, a população desse município se concentra em pequenas trechos,
mais precisamente em alguns setores da comunidade de Rurópolis, Ipojuca Centro, Nossa
Senhora do Ó e Camela.
Ipojuca, em 2010, passou a ser o 2.° maior PIB do estado de Pernambuco, atrás apenas
de Recife, e estava na 63.ª posição nacional. Em 2009, apresentava um PIB na ordem de R$
6,8 bilhões, já em 2011, passou para o PIB de R$ 9,5 bilhões. De um PIB per capita de R$
91.171 em 2007 para R$ 116.198 bem acima do PIB nacional, que é de R$ 21.535 (2011).
Tendo uma participação no PIB estadual de 9,16%.
112
Figura 3.4 – Número de domicílios particulares permanentes por setor censitário do Ipojuca
Fonte: A autora, elaborado com base no censo demográfico 2010 (IBGE, 2011).
Figura 3.5 – Distribuição do número de moradores em domicílios particulares permanentes do
Ipojuca
Fonte: A autora, elaborado com base no censo demográfico 2010 (IBGE, 2011).
113
Mesmo apontando uma posição privilegiada referente ao PIB no estado de
Pernambuco, em relação aos aspectos sociais, os dados do censo demográfico de 2010,
mostram uma deficiência em infraestrutura. O fornecimento de energia elétrica é para 100%
dos domicílios, a coleta de lixo atinge 84,1%, enquanto a cobertura da rede de abastecimento
d’água é dada para 64,2% dos domicílios particulares permanentes e apenas 51,3% das
residências dispunham de esgotamento sanitário (CONSEA, 2013).
Em relação aos níveis de pobreza, em termos proporcionais, encontra-se em extrema
pobreza 13,2% da população, com intensidade maior na área rural (19,1% da população na
extrema pobreza localiza-se na área rural contra 11,1% na área urbana).
Esses dados mostram que Ipojuca protagoniza a cena econômica estadual e é um dos
mais importantes municípios no crescimento econômico do Nordeste. Isso porque abriga em
seu território um dos maiores complexos industriais e portuários do País, o Complexo
Industrial e Portuário Eraldo Gueiros Leite – Suape. O complexo vem passando por
transformações significativas, entretanto, existe uma disparidade de renda significativa nesse
município e a maioria da população sofre com a falta de infraestrutura e muitos vivem em
moradia com situação precária e situada em área de risco a movimentos de massa e
inundação.
3.3 História da ocupação do município do Ipojuca
O processo de ocupação da RMR iniciada pelo núcleo Recife-Olinda teve,
historicamente, como principal condicionante a economia canavieira (BITOUN; MIRANDA;
SOUZA, 2006).
De acordo com relatos e a tradição, a cidade do Ipojuca surgiu no século XVI (em
torno de 1530) quando os portugueses registraram a ocupação desse município. Em 1560,
após a expulsão dos índios Caetés e outras tribos do litoral de Pernambuco, os colonos
puderam migrar para as terras férteis e ricas em massapê de Ipojuca, terras essas bastante
propícias para o cultivo da cana-de-açúcar, o que causou um rápido surgimento de diversos
engenhos na região, que durante muito tempo prosperaram.
Em 1608, foi construído o Convento de Santo Antônio de Ipojuca da Ordem
Franciscana em terras do antigo Engenho Trapiche, onde já havia o povoado de Ipojuca. Os
holandeses invadiram Pernambuco em 14 de fevereiro de 1630, e em 1639, Ipojuca foi
conquistada pelos holandeses; fixaram-se no convento e expulsaram os franciscanos que se
114
deslocaram para Recife sendo confinados depois em Itamaracá e de lá deportados para as
Índias.
Ipojuca participou da resistência aos holandeses sob a liderança do capitão-mor
Amador de Araújo em uma luta iniciada em 17 de julho de 1645 culminando com a derrota
dos holandeses em 23 de julho de 1645.
Dessa forma, Ipojuca consolidou-se como uma das mais importantes regiões do
sistema colonial. Com dois portos – Suape e Porto de Galinhas, além da maior várzea de
massapê do Nordeste. Tornou-se, portanto, uma área economicamente dinâmica por ser,
também, rota de entrada e comércio clandestino de escravos (MIRANDA, 2012).
Entre 1550 e 1650, já havia registro de mais de 30 engenhos, entre os quais Tabatinga,
Salgado, Trapiche, Boacica, Guerra, Mercês, Maranhão, Genipapo, Pindoba, Pindorama, São
Francisco e Caetés. Assim, o município de Ipojuca desenvolveu-se como um importante
centro açucareiro (RIMA, 2011).
Em toda a Região Metropolitana do Recife, a área florestada, que durante todo o
período histórico esteve à mercê de desmatamento acelerado e devastador, primeiramente
sofreu a retirada de madeiras nobres para o comércio de exportação; em seguida foi
desmatada para a implantação das áreas de plantio da cana-de-açúcar que exigia, além do
desmatamento de grandes áreas para a prática agrícola, o desbaste da mata para a obtenção de
lenha para alimentar os fornos dos engenhos e como combustível doméstico.
Pelo Decreto n.º 2, de 19 de novembro de 1685, criou-se o distrito denominado de
Nossa Senhora do Ó de Ipojuca e elevado à categoria de Vila. Posteriormente, a sede foi
transferida para a povoação de São Miguel do Ipojuca. Pelo Decreto-Lei n.º 23, de 4 de
outubro de 1890, a sede do município volta a ser a povoação de Nossa Senhora do Ó. Foi
elevada à condição de cidade com o mesmo nome de Ipojuca pela Lei Estadual n.º 173 de 6
de junho de 1896.
Em divisão administrativa referente a 1911, o município é constituído de três distritos:
Ipojuca, Nossa Senhora do Ó de Ipojuca e São Miguel de Ipojuca. Em 1914, criou-se o
distrito de Santo Antônio de Camela, que posteriormente foi denominado somente de Camela,
e anexado ao município do Ipojuca.
Em 1933, o município constituía-se de três distritos: Ipojuca, Nossa Senhora do Ó e
Camela, permanecendo assim até os dias atuais. Desde então, sua base econômica residia na
produção de cana-de-açúcar e na indústria sucroalcooleira. Após o advento do fenômeno de
115
segunda residência pelas classes sociais abastadas, o lazer e o turismo despontaram como
novas opções econômicas para a área, incrementando o forte crescimento populacional,
sobretudo, nos anos 1980 (MIRANDA, 2012).
Na década de 1970, começou o processo de urbanização da orla com os loteamentos
de veraneio. Nesse processo, surgiram diversos problemas que acarretaram a degradação
ambiental, tais como aterro de mangue, destruição de dunas e privatização de praias como
Enseada de Serrambi, Pontal de Serrambi e Merepe.
Fato que repercutiu, por sua vez, na urbanização da zona costeira e das relações de
trabalho com o advento da diversificação das formas de ocupação e emprego, formais e
informais, suscitando o fenômeno da urbanização turística.
Em meados do século XIX, a implantação dos eixos ferroviários estabeleceu a
principal estrutura de comunicação dos engenhos com o centro comercial e portuário do
Recife.
O padrão oligárquico e patrimonialista, em que se funda a sociedade
metropolitana, bem como as relações de poder nelas estabelecidas, deixaram
marcas na gestão das políticas públicas, ao longo do tempo, dificultando o
controle mais amplo sobre tais políticas, em face das dificuldades de
separação entre o ‘público’ e o ‘privado’ por parte dos grupos econômicos
dominantes. (BITOUN; MIRANDA; SOUZA, 2006, p. 14).
Em 1978, pela Lei Estadual n.º 7.763, criou-se o Complexo Industrial e Portuário
Eraldo Gueiros Leite, a Empresa Suape, com a finalidade de administrar a implementação do
distrito industrial, o desenvolvimento das obras e a exploração das atividades portuárias. Em
1991, o cais de múltiplos usos começa a operar e o Porto de Suape foi incluído na lista dos 11
portos prioritários do Brasil, para os quais se deveriam direcionar os recursos públicos
federais de investimentos em infraestrutura portuária.
Em 2007, iniciaram-se os investimentos para a construção da Refinaria General José
Ignácio Abreu e Lima. Em 2009, o Complexo contribuiu decisivamente para o crescimento do
PIB do estado de Pernambuco, que aumentou 3,4% e gerou mais de 46,7 mil novos empregos.
Com mais de 100 empresas instaladas e outras 35 em fase de instalação, o local transformou-
se em um imenso canteiro de obras que gerou milhares de empregos em uma onda de
desenvolvimento e transformação social (HISTÓRICO... 2011).
116
Grandes investimentos recentes, a exemplo da Refinaria Abreu e Lima, o cluster
naval, o Polo de Poliéster e o Polo Petroquímico já estão provocando uma dinâmica
econômica de grande impacto na área existente, afetando seu território e alterando a realidade
sociocultural. Com a dinâmica representada pela ampliação e consolidação desse contexto,
fortalecido pelos recentes investimentos, a indústria de transformação assumirá certamente
um maior peso na estrutura econômica do território.
O município atualmente passa por transformações espaciais bastante expressivas,
baseadas em três frentes: a) obras de infraestrutura patrocinadas pelos governos estadual e
municipal; b) novas plantas industriais; c) implantação de áreas habitacionais. Fica evidente,
também, que o município passa por uma transformação em sua funcionalidade econômica e
territorial, deixando de ser um município, fundamentalmente com base econômica agrária,
tornando-se uma região com forte característica urbano-industrial.
É, portanto, com base nesses eixos estruturadores de desenvolvimento, que o
município do Ipojuca está planejando seu crescimento.
3.4 Zoneamento atual do município do Ipojuca
De acordo com o Plano Diretor do município do Ipojuca e o respectivo zoneamento
(Lei n.º 1.490/08), o território municipal divide-se em duas macrozonas (Figura 3.6):
a) Macrozona de Sustentabilidade Rural (MSR) – composta pela Zona Especial de
Desenvolvimento Rural Sustentável (ZEDRS) e pelo Eixo de Dinamização
Econômica (EDE).
b) Macrozona de Equilíbrio Urbano-Ambiental (MEUA) – Composta pela Zona de
Requalificação Urbana (ZRU), Zona de Urbanização Preferencial 1, 2 e 3 (ZUP, 1,
2 e 3), pela Zona de Equilíbrio Ambiental (ZEA), Zona de Sustentabilidade da Orla
(ZSO), Zona de Interesse Turístico (ZIT), Zona de Atividade Industrial e Logística
(ZIL), Zona de Atividade Portuária de Suape (ZAP). Além destas zonas existem a
Zona Especial de Manutenção da Morfologia Original (Zemo), a Zona Especial de
Interesse Institucional (ZEII), a Zona Especial de Interesse Social (Zeis) e a Zona
Especial de Proteção Integral (Zepi).
117
Figura 3.6 – Mapa de zoneamento do município do Ipojuca
Fonte: Adaptado do Plano Diretor do Município (2008, a partir de Coutinho, 2014).
A Macrozona de Sustentabilidade Rural (MSR) compreende a porção oeste do
território municipal. É formada por uma extensa área de cultivo da cana-de-açúcar, permeada
por estruturas naturais que garantem o equilíbrio ambiental do território e apresenta ampla
rede de estradas vicinais, que permitem a conectividade entre os núcleos urbanos dando
mobilidade e acessibilidade no território municipal.
A Zona Especial de Desenvolvimento Rural Sustentável (ZEDRS) corresponde às
áreas de: a) assentamentos rurais de reforma agrária, legalmente definidos pelo Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), PE; b) assentamentos organizados pelo
Fundo de Terras do Estado de Pernambuco (Funtep).
Essa zona destina-se ao fomento de atividades econômicas, agropecuárias,
agroindustriais em especial; ao estímulo e apoio à agricultura diversificada e à produção
socialmente estruturada de cana-de-açúcar e seus derivados.
118
A Zona Especial de Atividades Industriais e Agroindustriais (Zeia) corresponde à
porção do território destinada à instalação controlada de: a) atividades industriais,
agroindustriais e demais atividades econômicas estruturadoras; b) equipamentos especiais de
referência regional.
A Macrozona de Equilíbrio Urbano-Ambiental (MEUA) compreende a porção leste do
município, caracterizada por elementos físicos e naturais que induzem e condicionam o
processo de apropriação espacial.
Zona de Requalificação Urbana (ZRU) compreende áreas de urbanização consolidada
dos núcleos urbanos de Ipojuca Sede e dos distritos de Nossa Senhora do Ó e Camela
apresentando as seguintes características:
I. limitações ao processo de expansão física em razão da forte atividade de cultivo
de cana-de-açúcar nas áreas circundantes aos núcleos urbanos;
II. lugares centrais conservando a morfologia original da formação urbana, com o
traçado orgânico e ocupação diferenciada;
III. elevado nível de adensamento construtivo, sobretudo nas áreas periféricas, que se
encontram ocupadas por assentamentos espontâneos de urbanização precária e
caracterizadas pela existência de:
a) situações de risco de alagamentos, declividade do solo e deslizamentos;
b) falta de sistemas de saneamento básico.
A Zona Urbanização Preferencial 1 (ZUP-1) corresponde às áreas adjacentes aos
núcleos urbanizados de Ipojuca Sede e dos distritos de Nossa Senhora do Ó e Camela.
Cumpre um papel estratégico de indução do processo de expansão urbana dos núcleos
urbanos consolidados do município. Essa zona tem como um dos principais objetivos atender
à demanda reprimida por moradia, que compõe o déficit habitacional do município e a
demanda decorrente dos grandes investimentos previstos para o Complexo Industrial
Portuário de Suape.
A Zona de Urbanização Preferencial 2 (ZUP-2) compreende áreas próximas aos
núcleos urbanos dos Distritos Sede e de Nossa Senhora do Ó. Cumpre papel estratégico no
processo de expansão urbana dos núcleos urbanos consolidados do Ipojuca Sede e Nossa
Senhora do Ó, com caráter secundário, em relação à ZUP-1.
119
A Zona de Urbanização Preferencial 3 (ZUP-3) corresponde à porção do território do
município, atualmente utilizada para o cultivo de cana-de-açúcar, com um perfil fundiário
configurado por propriedades de grande porte.
A Zona de Equilíbrio Ambiental (ZEA) corresponde à porção oeste do território
municipal, sob influência do ambiente estuarino, tendo como principais características:
I. extensa malha hídrica, em especial, os cursos d’água dos rios Ipojuca, Merepe,
Maracaípe e Sirinhaém;
II. várzeas, manguezais e áreas remanescentes de mata atlântica;
III. áreas de proteção ambiental legalmente instituídas:
a) APA de Sirinhaém;
b) Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de Nossa Senhora do Outeiro
de Maracaípe.
A Zona de Sustentabilidade da Orla (ZSO) corresponde à porção do território definida
pela faixa litorânea, caracterizado pela existência de:
I. núcleos urbanizados;
II. ecossistema estuarino;
III. elevada potencialidade turística.
A Zona de Interesse Turístico (ZIT) corresponde à faixa de terra localizada à beira-
mar.
A Zona de Atividades Industriais e Logísticas (Zail) corresponde às porções do
território localizadas próximas dos distritos industriais existentes e projetados.
A Zona de Atividade Portuária (ZAP) de Suape corresponde ao território legal do
Complexo Industrial Portuário de Suape.
As Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis) correspondem às partes do território que
apresentam uma situação de urbanização precária resultante de processos informais de
ocupação do solo e da escassez de recursos para investimentos públicos. As áreas
classificadas como Zeis no município do Ipojuca são: 1. Zeis Núcleo Urbano de Ipojuca Sede
(Campo do Avião/Antônio Dourado Neto, Vila de São Miguel e Capim Verde); 2. Zeis do
Núcleo Urbano do Distrito de Nossa Senhora do Ó (Sítio do Nestor); Zeis do Núcleo Urbano
do Distrito de Camela (Alto da Caixa d’Água/Alto da Palmeira), Alto do Cemitério, Alto da
120
Compesa, Socó, Salinas, Pantanal, Maracaípe e Serrambi); 3. Zeis fora dos núcleos urbanos
(Rurópolis, Bela Vista e Califórnia).
3.5 Aspectos físicos do município do Ipojuca
3.5.1 Clima
O município do Ipojuca, de acordo com Kayano e Andreoli (2009), inclui-se na região
de clima litorâneo úmido (que se estende do litoral da Bahia ao do Rio Grande do Norte), com
chuvas ocorrendo em torno de 50% de maio a julho (STRANG, 1972).
A localização latitudinal do município, mais precisamente na zona intertropical, na
faixa de maior incidência solar do planeta, confere-lhe temperaturas estáveis ao longo do ano
com amplitude térmica anual de, no máximo, 5°C, ou seja, as temperaturas são praticamente
constantes entre o verão e o inverno (GIRÃO et al., 2013). A temperatura média anual é de
26° C; com temperaturas mínimas e máximas podendo chegar a 18°C e 32°C
respectivamente.
Os mecanismos dinâmicos que influenciam as chuvas no leste do Nordeste (ENE) são
classificados em mecanismos de grande escala, responsáveis, em geral, pela maior parte da
precipitação observada, e mecanismos de meso e microescala que completam os totais
precipitados (MOLION; BERNARDO, 2002).
São considerados mecanismos de grande escala: os Sistemas Frontais (SF) e a Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT). De mesoescala: as Perturbações Ondulatórias no Campo
dos Ventos dos Alísios (POA) – também conhecidos como Distúrbios Ondulatórios de Leste
(DOL) –, Complexos Convectivos e Brisas Marítimas e Terrestres. Já os de microescala,
relacionam-se com as circulações orográficas e pequenas células convectivas.
A costa oriental do Nordeste do Brasil, ao longo da maior parte do ano, constitui-se
em uma região sob influência da Massa Tropical Atlântica (mTa), caracterizada como uma
massa tropical quente e úmida por conta de sua área de origem, sobre o Atlântico Sul,
derivada da célula de alta pressão subtropical (o anticiclone semifixo do Atlântico Sul)
(GIRÃO et al., 2013).
Ao longo do ano, a influência da mTa sobre a costa pernambucana sofre perturbações
derivadas da circulação atmosférica secundária. Tais perturbações atmosféricas, na borda
oriental do Nordeste do Brasil, alteram as condições de tempo dominante e estão associadas
121
aos deslocamentos da ZCIT, Frentes Frias (FF), Ondas de Leste ou DOL, Linhas de
Instabilidade (LI), Brisas Terrestres e Marítimas, Vórtices Ciclônicos da Atmosfera Superior
(VCAS) e os ventos vale-montanha (GIRÃO et al., 2013; SOUZA, 2011).
Vários estudos tentaram explicar a concentração das chuvas entre o período de abril a
julho no Leste do Nordeste do Brasil (Eneb), como Kousky (1979), que associou o máximo de
chuvas à maior atividade de circulação de brisa que advecta bandas de nebulosidade para o
continente à ação das frentes frias, ou seus remanescentes, que se propagam ao longo da
costa. Cohen (1989) e Ferranti et al. (1990) associaram a quadra chuvosa à ação dos
Distúrbios Ondulatórios, e Molion e Bernardo (2002) identificaram que 60 a 70% das chuvas
que caem no período mais úmido (AMJJ) é pelo deslocamento da Zona de Convergência do
Leste do Nordeste (ZCEN), alimentada pela convergência de umidade dos alísios; e que
perturbações ondulatórias nos ventos alísios, tanto do hemisfério sul quanto do hemisfério
norte, brisas marinha e terrestre e convecção local, associada à topografia e à convergência de
umidade, completariam o quadro de fenômenos de escala menor, responsáveis por 30% a 40%
do total pluvial (MOLION; BERNARDO, 2002).
Desse modo, o principal mecanismo atuante no leste do Nordeste do Brasil e no
município do Ipojuca são os Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL) ouOndas de Leste – OL,
os quais são sistemas de escala sinótica, que ocorrem na baixa troposfera tropical, e quando se
formam na região do Oceano Atlântico Sul apresentam deslocamentos para oeste
intensificando-se à medida que se aproximam da costa leste da região Nordeste do Brasil
(CHOU, 1990; SILVA, 2010). Esses sistemas oscilam com periodicidade variando entre três e
nove dias, e velocidade de propagação entre 10 a 15 m/s (MEKONNEN; TRORNCROFT;
AIYYER, 2006; ALVES; MARQUES; OYAMA, 2008; MACHADO et al., 2012).
Os meses de junho e julho representam os meses de maior precipitação no litoral de
Pernambuco, consequentemente no município do Ipojuca, tendo como causas os eventuais
avanços das Frentes Frias e, principalmente, instabilidades provocadas por cavados
barométricos gerados sobre o Atlântico, que avançam rumo a oeste, fenômeno conhecido
como Ondas de Leste (GIRÃO et al., 2013).
Causam muita precipitação, principalmente, nos meses de abril a agosto. A intensidade
e frequência das ondas de leste (OL) dependem da temperatura da superfície do mar (TSM),
do cisalhamento meridional do vento, e da circulação troposférica no Atlântico Tropical
(ARAGÃO, 2004). Mesmo de pequena amplitude, as OL podem trazer chuvas intensas e
inundações.
122
Outro sistema importante são as brisas, as quais são a parte superficial de uma
circulação térmica causada pelo aquecimento diferencial dos oceanos e a superfície sólida da
terra. A brisa é chamada de terrestre quando o vento superficial sopra da superfície terrestre
para o mar (à noite) e marítima quando ocorre do mar para a terra (durante o dia). Os ventos
alísios que sopram, principalmente do quadrante nordeste-sudeste, são fatores importantes na
modulação das brisas na região tropical. Os sistemas de brisa são observados com maior
definição nos meses de outono e inverno (abril a julho), especialmente quando da atuação de
sistemas meteorológicos que ocorrem nessa época do ano (ARAGÃO, 2006). Em geral,
produzem chuvas de intensidade fraca a moderada.
As áreas entre a costa e até 300 km têm um máximo diurno de precipitação associado
à brisa marítima. A brisa marítima é máxima quando existe um contraste maior entre a TSM e
a temperatura da terra. Isso ocorre no fim do outono e no início do inverno (maio, junho e
julho). A parte leste do NEB, incluindo Ipojuca, sofre a influência dos sistemas de brisa em
praticamente todo o ano (SOUZA, 2011).
3.5.2 Geologia
As informações dos aspectos geológicos que serão apresentados para o município do
Ipojuca foram retiradas do mapeamento geológico feito para o município na escala 1:25.000
pelo Grupo de Engenharia Geotécnica de Encostas, Planícies e Desastres, o Gegep
(COUTINHO, 2014; GONÇALVES, 2014), além de informações encontradas em Pfaltzgraff
(1998), CPRM (2001) e Girão (2007).
O município do Ipojuca está inserido no Domínio Geológico-estrutural denominado
Província Borborema, o qual é limitado ao sul pelo Cráton do São Francisco, a oeste pela
Bacia do Parnaíba e a norte e leste pelas Bacias Marginais Costeiras (ALMEIDA et al. 1977).
De acordo com Santos et al. (1995), podem-se encontrar dentro dessa Província o Terreno
Pernambuco Alagoas (TPA), o Segmento Leste do TPA e a Bacia Pernambuco.
O arcabouço geológico e estrutural da Zona da Mata de Pernambuco é organizado
pelos lineamentos Paraíba, ao norte, e Pernambuco ao sul, os dois na direção E-W. O setor
compreendido entre os dois lineamentos se estende entre os paralelos 7.° e 8.° de latitude sul.
Assim, os elementos estruturais da Zona da Mata Pernambucana são marcados por meio do
seu limite sul, o Lineamento Pernambuco, a divisão entre a Zona da Mata Norte e a Zona da
Mata Sul.
123
Desse modo, o município do Ipojuca está inserido em dois contextos geológicos
distintos: 1) embasamento cristalino, representado pelo terreno Pernambuco-Alagoas de idade
paleoproterozóica; 2) a Bacia Pernambuco, com idade variando do Cretáceo Inferior ao
Neógeno (Figura 3.7).
Figura 3.7 – Caracterização dos ambientes geológicos do município do Ipojuca
Fonte: Coutinho (2014); Gonçalves (2014).
Lima Filho (1998) sugeriu uma nova litoestratigrafia para a Bacia Pernambuco, sendo,
esta, composta pelas Formações Cabo, Estiva e Algodoais. Há cerca de cem milhões de anos,
a bacia foi palco de um intenso magmatismo, conhecido como Suíte Ipojuca. Sobrepondo-se
às unidades mencionadas, ocorrem ainda a Formação Barreiras (Paleógeno), terraços
pleistocênicos, holocênicos e sedimentos (Neógeno).
Tomando-se como base a divisão em ambientes geológicos acima exposta, Gonçalves
(2014) identificou no município do Ipojuca as seguintes unidades geológicas (Figura 3.8) que
serão descritas a seguir, destacando, também, características geotécnicas e potencialidades a
ocorrência de processos do meio físico.
124
Figura 3.8 – Mapa geológico na escala 1:25.000 do município do Ipojuca
Fonte: Coutinho (2014)
a) Embasamento cristalino
Nas áreas formadas por rochas cristalinas e pelos materiais oriundos da decomposição
destas, a declividade é bastante acentuada. Apresentam-se bastante intemperizadas e cobertas
por espessa camada de solo argiloso de cor avermelhada. Nessas áreas a cobertura de solo
pode atingir espessuras em torno dos 5 m nos tipos formados por plútons, e mais de 15 m nos
tipos oriundos de gnaisses e migmatitos. A granulometria dos solos gerados por meio das
litologias graníticas é mais silto-argilosa, ao passo que nos solos originados de gnaisses e
migmatitos é basicamente argilosa. É comum a existência de blocos de rocha com dimensões
métricas envoltos nas camadas do solo residual, principalmente nos solos originados de
rochas gnáissicas e migmatíticas.
125
Por apresentar tais características, são consideradas áreas com alta suscetibilidade a
deslizamentos e ocorrência de processos erosivos (ravinas e voçorocas). Nas áreas onde
apresentam blocos rochosos envolvidos nos solos residuais e, quando aflorados em uma crista
de talude, são suscetíveis a processos de queda de blocos (PFALTZGRAFF, 1998;
COUTINHO, 2014).
Complexo Gnáissico-Migmatítico – Unidade Px
Ocupa 50% do embasamento cristalino, constituindo-se na unidade mais abrangente
do município. Na região ao sul da área urbana do município de Escada encontram-se
ortognaisses e milonitos de composição granodiorítica. Na zona mais central do município, os
ortognaisses assumem uma composição mais granítica, foliação mais horizontalizada e pouco
visível na rocha. Nessa região também se encontram migmatitos com leucossomas (partes
claras-litologias de natureza ácida) com textura pegmatóide e dobras pitgmáticas.
Biotita-Granito – Unidade Ny3
A Unidade Px ocupa a maior parte do embasamento cristalino. Está distribuída em
dois corpos: um ao sul de Escada e outro se estendendo dos Distritos de Ipojuca e Camela.
Compõe rochas com textura fenerítica com cristais predominantemente anédricos e
equigranulares, coloração variando de cinza a creme. Constantemente cortada por veios de
textura pegmatóide exibindo biotitas em placas e algumas granadas centimétricas, possível
indício de um granito tipo S, especificamente no afloramento do riacho na entrada da cidade
de Camela.
Biotita-Granito Porfirítico – Unidade Ny2
Essa unidade encontra-se na porção oeste do município do Ipojuca, nas áreas com
cotas mais elevadas, geralmente, sob capeamento de 2 a 3 metros, na forma de blocos e
pequenos matacões dentro do perfil de intemperismo. Às vezes, com marcante esfoliação
esferoidal.
126
Quartzo Sienito – Unidade Ny5
Unidade que aparece restrita a um pequeno corpo na área central do município. São
rochas de textura fanerítica, granulação média, inequigranular e coloração cinza claro. É
cortada por veios pegmatíticos com notável presença de lamelas de biotita com até 3 cm de
comprimento e raras granadas milimétricas.
b) Bacia Pernambuco
Formação Cabo (Kc)
De acordo com Gonçalves (apud COUTINHO, 2014), essa formação localiza-se na
porção leste do município. Na fácies proximal (notadamente suportada pelos blocos, mais
blocos do que matriz) é um conglomerado polimítico (blocos de diferentes tipos de rocha)
com blocos de granitoides, gnaisses e migmatitos oriundos do embasamento cristalino e
matriz arcoseana (arenito com mais de 25% de feldspatos) avermelhada. Os blocos são
semiarredondados a arredondados (indicando transporte em longo trajeto), variando de 10 cm
a 2 m de diâmetro. Na fácies medial (suportada pela matriz, mais matriz do que blocos),
torna-se um conglomerado de matriz arcoseana com blocos menores, não passando dos 40 cm
de diâmetro.
A Formação Cabo (Kc), por ser suportada por blocos, tem baixa coesão e alta
permeabilidade, facilitando a percolação da água, posterior, levando à desestabilização da
rocha e consequentemente maior suscetibilidade ao deslizamento. Concomitante a esses
fatores está o problema dos cortes desordenados nos morros, pertencentes a essa formação,
que geram maior desestabilidade (GONÇALVES apud COUTINHO, 2014).
Formação Ipojuca – Vulcanismo Bimodal
1) Basaltos – Kibs. Rocha afanítica de coloração marrom/roxa/preto, encontrada na
forma de derrames basálticos (em forma de soleiras), em geral bastante alterados, com
esfoliação basáltica bem visível e com poucas vesículas. Apresenta-se também na forma de
127
soleiras de espessura bem variável, depositadas entre e sobre as rochas da Formação Cabo e
necks vulcânicos de riolitos/traquitos.
2) Traquitos/Riolitos – Kitq/Kirl. Afloram em necks vulcânicos próximos ao Engenho
Ipojuca e afloramento de grande porte na região próxima ao Porto de Suape. Apresentam
disjunções colunares verticais e horizontais por vezes com as fraturas preenchidas por
material silicoso formando uma distinta estrutura que lembra um stockwork, e também na
forma de diques e soleiras, bastante alterados, cortando os conglomerados da Formação Cabo.
3) Ignimbrito – Kiig. São rochas piroclásticas de coloração cinza, com vesículas
marcantes, resultante da deposição de materiais provenientes de um fluxo piroclástico e
fragmentos de rochas do embasamento, cimentados por magma de natureza riolítica. Aflora
em um único corpo ao sul da cidade de Ipojuca, particularmente próximo à estrada de acesso a
Porto de Galinhas, atualmente uma pedreira explorada pelo grupo empresarial João Santos.
Formação Estiva – Ke
É uma rocha carbonática de composição dolomítica coloração variando de creme a
cinza e com presença de fósseis. Encontra-se em pequenos corpos na área do Engenho
Gameleira, próximo a Porto de Galinhas.
Formação Algodoais – Ka
Constituída por um conglomerado polimítico (blocos oriundos de diferentes tipos de
rochas vulcânicas) sustentado por uma matriz arcoseana amarelada, granulação média e com
seixos subangulosos a subarredondados, variando de 5-25 cm de diâmetro, constituídos por
rochas vulcânicas oriundas da Formação Ipojuca. O pacote de conglomerado encontra-se
também interestratificado com soleiras de basalto e/ou vulcânicas ácidas (traquitos/riolitos).
Formação Barreiras – Nqb
Aflora na região Sudeste do município na forma de sedimentos argiloarenosos, com
granulação variando de fina a média, localmente conglomerática, com níveis argilosos ou
ricos em óxidos e hidróxidos de ferro. Localmente, esses níveis apresentam raras
estratificações cruzadas.
128
c) Coberturas recentes
Na porção leste do município, as unidades anteriormente citadas, principalmente as da
Bacia Pernambuco, estão recobertas por sedimentos recentes, em relevo plano e formadas por
sedimentos inconsolidados.
De acordo com Pfaltzgraff (1998), essa área está sujeita a processos de inundação,
além da presença de camadas sedimentares de baixa capacidade de carga (argilas orgânicas e
turfas) e erosão marinha.
Terraços Marinhos (Qtp) – são pequenas plataformas acima do nível do mar, formadas
por areias quartzosas de granulação fina a média.
Terraços Marinhos Holocênicos (Qth) – semelhantes aos pleistocênicos em
geomorfologia e composição, diferenciando-se pela presença de restos de conchas.
Sedimentos de Praia (Qp) – depósitos recentes constituídos por areias quartzosas com
fragmentos de conchas.
Sedimentos Silico-Argilosos de Mangue (Qm) – formado por argilas, siltes, areias
finas, carapaças de diatomáceas (algas), espículas de espongiários, restos orgânicos e conchas.
Sedimentos fluviolacustres (Qdfl) – são constituídos por areias finas, siltes, argilas,
vasas diatomáceas e sedimentos turfosos.
Depósitos Aluviais (Qal) – são depósitos formados por materiais arenosos e
arenoargilosos. Distribuem-se nas planícies de inundação dos grandes rios da região.
3.5.3 Geomorfologia
Girão et al. (2013) traz uma excelente caracterização do arcabouço geomorfológico da
Zona da Mata de Pernambuco, mais precisamente, para as áreas que estão dentro das bacias
hidrográficas do Una e Sirinhaém, podendo ser extrapolada para o município do Ipojuca.
Andrade e Lins (apud GIRÃO et al., 2013) propôs uma divisão regional baseada na
interação sinérgica entre famílias de formas, processos e estruturas superficiais da paisagem,
enfatizando as particularidades morfoclimáticas desse setor. Sendo assim, destaca que a
sucessão de formas dessa faixa subcosteira reflete a destruição erosiva dos divisores, sob
condições iniciais de maior umidade e rebaixamento do nível de base, resultando em um
padrão de drenagem dendrítico ou subdendrídico, que permeia um relevo de colinas convexas,
129
entremeadas em planícies em bolsão, bem como a dissecação vertical dos diversos litótipos
pré-cambrianos em níveis que variam de 50 m a 200 m.
A sintonia fina do controle estrutural – expressa por meio de linhas de
fraturas e diaclases – reflete na formação das cabeceiras de drenagem em
avéolos, que por sua vez, aprofundam-se a ponto de dissecar e repartir os
divisores ou estabelecer notáveis colos topográficos. (GIRÃO et al., 2013, p.
134).
Uma das principais influências das características citadas acima é dada pelo papel do
regolito – e de suas descontinuidades texturais internas –, que é crucial na hierarquização
processual, pois, como é destacado em Girão et al. (2013), o limite inferior da frente de
intemperismo pode encontrar-se a dezenas de metros abaixo da superfície, oferecendo
material sem coesão e altamente permeável à ação dos agentes modeladores da superfície;
seja pela ação dos fluxos lineares – em superfície –, seja movimentos de massa que se
estabelecem quando – diante da umidificação – depara ou com planos de cisalhamento do
próprio material intemperizado ou com a própria rocha mãe, ainda sã.
A ação dos processos geomorfológicos, nessa área, em tempos históricos está bastante
influenciada pela expansão da monocultura canavieira, desde o início do período colonial e as
diversas fases de crescimento das áreas cultivadas e mecanização do processo produtivo.
Em trabalho desenvolvido por Coutinho (2014), identificaram-se para o município do
Ipojuca 17 Unidades Geomorfológicas, na escala 1:25.000 em que levam em consideração os
5 níveis taxonômicos enfatizando padrões de relevo (4.° táxon) e algumas formas de relevo
(5.° táxon) de acordo com a metodologia proposta por Ross (1992).
As Unidades Geomorfológicas foram agrupadas em Modelados Denudacionais e de
Acumulação. Os modelados denudacionais referem-se às colinas que se caracterizam pelo
relevo suavemente ondulado, a ondulado, isolados entre si, ocorrendo em todo o município,
exceto nas áreas de planície. Têm pequenas a médias elevações e são circundados por
sedimentos de origem fluvial, fluviomarinha, fluviolagunar e colúvios, interdigitando-se com
eles. Como as diversas colinas apresentam características geomorfológicas distintas, foram
agrupadas em quatro subunidades gerais: colinas com topos aguçados e vales encaixados
(Dgv); as colinas com topos arredondados e vales encaixados (Drv) e as colinas com topos
arredondados e vales côncavos (Dru); colinas com topos arredondados e vales abertos (Dra).
130
Os modelados de acumulação agrupam os seguintes modelados: Acumulação
Coluvial; Planície Fluvial/Fundo de Vales; Plaino Aluvial; Acumulação Fluviolagunar;
Terraços Marinhos Superiores; Terraços Marinhos Inferiores; Acumulação Fluviomarinha;
Acumulação Marinha.
Acumulação Coluvial – varia entre 20 e 153 metros e refere-se aos locais onde ocorre
acúmulo/deposição dos sedimentos de origem coluvial e de tálus, que são originados das
diversas colinas do município. Predominantemente tem vertentes convexas, levemente
retilinizadas nas porções mais baixas, apresentando declividade média à baixa. A deposição
do material sedimentar forma rampas suaves que recobrem o sopé das colinas e se
interdigitam com as planícies fluviais.
Planície Fluvial/Fundo de Vale – têm altitudes que variam de 5 a 10 metros.
Formam-se por aluviões indiferenciados na porção mais central (areias, argilas, siltes e
cascalhos) e por depósitos fluviais interconectados com os depósitos coluviais em áreas mais
afastadas do leito do rio. Caracterizam-se por formas planas e/ou côncavas com declividades
muito baixas, sempre inferiores a 5% e sujeitas a inundações ao longo da rede de drenagem.
Dentro da unidade de acumulação fluvial, encontram-se planícies isoladas ou fundos de vales.
Caracterizam-se por serem áreas de deposição de sedimentos fluviais em altitude variantes
entre 100 a 200 metros. Em alguns pontos mais elevados do município, ocorre o estreitamento
abrupto dos vales fluviais, que são observados pelo leito rochoso dos rios.
Plaino Aluvial – desenvolve-se simetricamente em relação ao canal e lateralmente ao
canal com a ocorrência de diques marginais contínuos, com até 5 metros acima do nível do
curso do rio. O contato na parte proximal, com os depósitos coluviais, é bem marcado por
uma superfície erosiva. A declividade da superfície é muito baixa, com o ângulo de mergulho
em direção ao rio. O plaino é dominantemente formado por areia fina maciça de coloração
mais clara do que a cobertura superficial em razão da perda de argila e óxidos de ferro.
Acumulação Fluviolagunar – tem uma ligação direta com os depósitos lagunares,
originados da ação fluvial em depressões, constituídos de sedimentos arenossiltosos,
frequentemente ricos em matéria orgânica e são influenciados pela ação direta das marés.
Situam-se nas depressões da planície costeira em função das oscilações positivas e negativas
do nível médio do mar e são caracterizadas por áreas de baixios alagados.
Terraços Marinhos Superiores – caracterizam-se por terrenos planos com
distribuição descontínua ao longo do litoral, levemente inclinados, apresentando ruptura de
131
declive em comparação com as áreas com influência direta das marés. Encontram-se em uma
altitude média de 5 metros e têm origem relacionada com o penúltimo evento transgressivo
que ocorreu há cerca de 120.000 anos A.P., alcançando um máximo de 8 a 10 metros acima
do nível médio atual.
Terraços Marinhos Inferiores – esse compartimento se constitui de uma barreira
arenosa situada ao longo da orla marítima, em contato direto com a praia. Sua origem
relaciona-se com a última transgressão marinha ocorrida há 5.100 anos A.P., no Holoceno, em
que o mar subiu cerca de cinco metros acima do nível do mar atual, sendo uma unidade mais
rebaixada do que a unidade anterior, com altitude máxima de 3 metros e depósitos submetidos
à erosão marinha.
Acumulação Fluviomarinha – localizada nas áreas de baixo curso dos principais rios
que drenam o município. É uma unidade correspondente a uma combinação de processos
deposicionais de origem fluvial e de origem marinha, controlados pela dinâmica das marés
que avançam por boa parte do baixo curso dos rios. Os depósitos de origem fluviomarinha
possibilitam a ocorrência de espécies típicas de manguezal, e correspondem à atual planície
de marés.
Acumulação Marinha – esses depósitos também podem ser classificados como
depósitos de praias. São acumulações de origem marinha, com características arenosas.
Localizam-se ao longo do litoral, apresentando formas de cordões litorâneos, que, em razão
dos movimentos transgressivos do nível relativo do mar ocorridos durante o Holoceno, podem
ser individualizadas em cordão interno e externo; desenvolvem-se em área de fundo oceânico
e têm declividade muito baixa.
Mapeamento semelhante também foi realizado por Coutinho (2014) para a área piloto
de Ipojuca Sede na escala 1:10.000. Nesse mapeamento, foram acrescidas as formas de
processos geomorfológicos atuais, análogo ao 6.º táxon proposto por Ross (1992) e
individualização das formas de terreno de acordo com cada setor da encosta (côncavas,
retilíneas e convexas).
As unidades também se dividiram em modelados de denudação e modelados de
acumulação. Dentre os modelados de denudação, estão: as Colinas com Topos Arredondados
e Vales Côncavos e as Colinas com Topos Arredondados e Vales Abertos. Entre os
modelados de acumulação, encontram-se: Rampas de Colúvio; Vales Colmatados; Planície
Fluviomarinha; Depósitos de Planície (Planície Fluvial, Planície de Inundação e Planície
132
Distal); e Depósitos de Calha Fluvial (Ilhas Fluviais, Barra de Pontal, Barras de Atalho e
Meandros Abandonados).
3.5.4 Solos
A caracterização pedológica do município do Ipojuca baseia-se em Silva et al. (2001),
o qual traz no Zoneamento Agroecológico do Estado de Pernambuco (Zape) as Unidades de
Mapeamento de Solos para o estado na escala 1:100.000. Cada Unidade de Mapeamento de
Solo apresenta associações de mais de uma classe de solo conforme o apresentado no Quadro
3.1, representando as unidades de mapeamento presentes nesse município.
Quadro 3.1 – Relação das unidades de mapeamento de solos e os solos componentes por unidade que
ocorrem no município do Ipojuca
Unidades de
Mapeamento Solos Componentes
AM Areias quartzosas marinhas (70%) + Espodossolo (30%)
AQ1 Areias Quartzosas
G1 Gleissolo (25%) + Cambissolo (25%) + Solos Aluviais (25%) + Argissolos Amarelos e
Acinzentados (25%)
G2 Gleissolo (40%) + Cambissolo (30%) + Solos Aluviais (30%)
G5 Gleissolo (50%) + Espodossolo (50%)
Hp1 Espodossolo
LA8 Latossolo Amarelo (65%) + Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo (35%)
LA9 Latossolo Amarelo (40%) + Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo (40%) + Gleissolo
e Cambissolo (20%)
PA3 Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo (40%) + Latossolo Amarelo (25%) + Argissolo
Acinzentado (20%) + Afloramentos rochosos (15%)
PA4 Argissolo Amarelo e Vermelho Amarelo (60%) + Argissolo Vermelho-Amarelo (40%)
PA6 Argissolo Amarelo (40%) + Argissolo Acinzentado (30%) + Gleissolo (30%)
PA7 Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo (35%) + Argissolo Amarelo e Vermelho-
Amarelo (25%) + Latossolo Amarelo (25%) + Gleissolo e Cambissolo (15%)
PV2 Argissolo Vermelho-Amarelo (50%) + Argissolo Vermelho-Amarelo (30%) +
Cambissolo (20%)
PV3 Argissolo Vermelho-Amarelo (50%) + Cambissolo ( 25%) + Solo Litólicos ( 25%)
PV6 Argissolo Vermelho-Amarelo ( 50%) + Argissolo Amarelo ( 30%) + Argissolo
Vermelho-Escuro (20%)
SM Solos de Mangue
TR Nitossolo
Fonte: Silva et al. (2001).
133
Por conseguinte, em ordem de ocorrência as principais Unidades de Solos presentes no
município do Ipojuca são: LA9 (26%), SM (12%), PV3(11%), PA’4(10%), G2 (9%), G1
(6%), AM (4%) PV2 (4%) PA7 (3%), G5 (2%), PV6, HP1 e AQ1 com 1% de ocorrência na
área do município e TR, PA6, LA8 e PA3 com menos de 1%. Sendo assim, o município do
Ipojuca é composto, predominantemente, pela classe Argissolo, seguida por Latossolo,
gerados pela alteração das rochas do embasamento cristalino na porção oeste do município, os
Gleissolos que são encontrados nos aluviões e os Nitossolos, encontrados em uma pequena
área na porção nordeste do município.
Pela faixa litorânea, podem-se encontrar, como resultado da alteração dos sedimentos
mais recentes, os Solos Indiscriminados de Mangue, os Neossolos Quartzarênicos e nas
proximidades do Complexo Industrial e Portuário podem ser observados os Espodossolos.
As características pedológicas e geotécnicas dos solos serão descritas a seguir:
Argissolos
É uma classe composta por grande variedade de solos minerais, não hidromórficos,
com uma significativa diferença de estrutura entre o horizonte superficial A (textura mais
arenosa) e o de subsuperfície B textural (Bt), que geralmente ocorre bem diferenciado no
perfil do solo. O horizonte B é concentrado em argilas e, em geral, apresenta cerosidade, isto
é, película coloidal com aspecto brilhante quando úmido.
O horizonte Bt é bem heterogêneo com suborizontes facilmente delimitáveis e
estrutura, geralmente, em forma de blocos ou prismática.
Tratando-se das características geotécnicas, os Argissolos apresentam horizonte A
relativamente espesso, em geral, essencialmente arenoso; textura do horizonte B, em geral,
argilosa, e do horizonte C, variável em função da composição textural e mineral da rocha
subjacente; o horizonte B apresenta moderada a baixa permeabilidade, baixa
compressibilidade, expansividade nula a moderada, fácil a moderada escavabilidade,
moderada a alta erodibilidade, moderada resistência ao desmoronamento, dependendo da
quantidade e disposição de fendas abertas.
Esses solos apresentam alta suscetibilidade à erosão por ravinas e voçorocas por meio
de pequenas concentrações de águas pluviais e/ou servidas.
As classes de Argissolos encontrados no município são os Argissolos Amarelo,
Vermelho-Amarelo e os Acizentados.
134
Latossolos
São solos minerais não hidromórficos, em avançado estágio de intemperização,
apresentando sequência de horizontes A-B-C com pouca diferenciação textural entre os
horizontes A e B. O horizonte B é geralmente muito espesso, nunca inferior a 50 cm, com
estrutura, em geral, microagregada ou maciço-porosa. Raramente o horizonte C é observado
dentro de uma profundidade de 2 metros.
A fração argila, com alto grau de floculação, é constituída, predominantemente por
óxidos de ferro (hematita, goetita), óxidos de alumínio (gibsita) e argilominerais do grupo 1:1
(caolinita). O horizonte C é em geral espesso, refletindo as características texturais e
mineralógicas do material de origem.
No município em estudo, ocorrem os Latossolos Amarelos, que têm horizonte B
latossólico de coloração amarelada, fração argila, essencialmente caulinítica e, na grande
maioria dos casos, baixos teores de óxidos de ferro.
Esses solos apresentam baixa erodibilidade. Entretanto, quando submetidos à
concentração d’água proveniente da ocupação antrópica, podem desenvolver ravinas
profundas, e quando interceptado o lençol freático, voçorocas. Fato que pode ser verificado
em Ipojuca, já que a maior parte das áreas onde existe esse tipo de solo está ocupada pelo
cultivo da cana-de-açúcar.
Gleissolos
São solos minerais hidromórficos com horizonte glei iniciando dentro de 50 cm da
superfície do solo ou entre 50 e 125 cm desde que precedido por horizontes com presença de
mosqueados abundantes com cores de redução. Compreendem solos mal e muito mal
drenados, formados em terrenos baixos, e têm características que resultam da influência do
excesso de umidade permanente ou temporária em consequência do lençol freático elevado ou
mesmo à superfície durante um determinado período do ano.
A fração argila é de baixo grau de floculação, podendo apresentar, entre seus
constituintes, ilita, esmectita e camadas mistas, responsáveis por fenômenos de expansividade
e contração.
135
Nitossolos
Solos profundos, predominantemente cauliníticos, geralmente bem drenados, que são
constituídos por um material mineral com horizonte B nítico, textura argilosa ou muito
argilosa, não hidromórficos, com estrutura em blocos subangulares ou angulares, ou
prismática, de grau moderado ou forte, com cerosidade expressiva nas superfícies dos
agregados e baixa permeabilidade.
Solos Indiscriminados de Mangue (SM)
Ocorrem no litoral do município do Ipojuca. São solos alomórficos muito pouco
desenvolvidos, escuros e lamacentos, com alto conteúdo de sais provenientes da água do mar,
formados em ambientes de mangues a partir de sedimentos recentes de natureza e
granulometria variada, referidos ao Holoceno, em mistura com detritos orgânicos.
Apresentam lençol freático praticamente aflorante, alta compressibilidade e baixa
resistência e são impróprios para a instalação de fossas e infiltração (SALOMÃO;
ANTUNES, 1998). Os fatores de formação desses solos (relevo, clima e dinâmica das marés)
influenciam diretamente no estabelecimento da vegetação de mangue (manguezais). É um
ambiente de alta relevância para a preservação da fauna e flora, e é indispensável sua
preservação para manutenção do equilíbrio ecológico desse ecossistema.
Neossolos Quartzarênicos
Anteriormente denominados de Areias Quartzosas, os Neossolos Quartzarênicos,
podem ser encontrados no município do Ipojuca; na sua porção costeira, os Neossolos
Quartzarênicos Marinhos (AM) e próximo ao Distrito de Nossa Senhora do Ó, os Neossolos
Quartzarênicos (AQ1). São solos minerais, essencialmente arenoquartzosos, não
hidromórficos ou hidromórficos sem contato lítico dentro de 50 cm de profundidade da
superfície. Normalmente, são solos profundos a muito profundos, com textura areia ou areia
franca ao longo de pelo menos uma profundidade de 150 cm da superfície ou até o contato
lítico. São excessivamente drenados, desprovidos ou com baixo percentual (menos de 4%) de
minerais primários facilmente intemperizáveis e de baixa capacidade de retenção de umidade.
136
Ocorrem em áreas de topografia suave, como planícies marinhas, fluviomarinhas e
aluviais, como produto da pedogênese de sedimentos e em colinas, e morrotes como produto
de alteração de rochas predominantemente quartzosas.
Como características geotécnicas importantes, esses solos apresentam lençol freático
profundo, abaixo do horizonte C; textura arenosa tanto no horizonte A como no C; são
impróprios para aterros compactados, a não ser quando misturados com material argiloso;
horizontes A e C apresentam alta permeabilidade, baixa compressibilidade, expansividade
nula, boa capacidade de carga e suporte, e baixa escavabilidade.
Apresentam uma variável suscetibilidade à erosão, em função da declividade, baixa
em planícies e alta em colinas e morrotes; sendo assim, pequenas concentrações de águas
pluviais e/ou servidas podem provocar ravinas e, quando interceptado pelo lençol freático,
voçorocas.
Espodossolos
Solos constituídos por material mineral com horizonte B espódico subjacente a
horizonte eluvial E, ou subjacente a horizonte A. São originados dos sedimentos arenosos de
origem marinha que formam os cordões litorâneos. Apresentam, usualmente, sequência de
horizontes A, E, B espódico, C, com nítida diferenciação de horizontes. São solos
transportados, de alta permeabilidade, muito suscetíveis a erosão, com granulometria
predominantemente arenosa.
Como características geotécnicas importantes, tem-se que são solos com lençol
freático próximo à superfície, com aspecto ferruginoso e/ou contaminado por compostos
orgânicos; horizontes A e E essencialmente arenosos; horizonte Bs fortemente cimentado por
compostos de ferro, constituindo uma camada mais resistente do que os compostos
suprajacentes e subjacentes, interferindo na drenagem desses solos; tornam-se impróprios para
a instalação de fossas de infiltração, quando ocorrem em áreas onde o lençol localiza-se
próximo à superfície do terreno.
A distribuição espacial das Unidades de Mapeamento de Solos no município do
Ipojuca pode ser visualizada na Figura 3.9.
137
Figura 3.9 – Mapa com a distribuição das Unidades de Solos e os perfis de reconhecimento
de solos realizados pela equipe do projeto
Fonte: Adaptado de Silva et al. (2001).
3.5.5 Hidrografia (hidrologia e hidrogeologia)
A hidrografia do município do Ipojuca é influenciada por quatro bacias hidrográficas
(Figura 3.10) como as partes orientais das bacias do rio Ipojuca e Sirinhaém, que ocupam
respectivamente 4,47% e 8,26% de suas áreas dentro do município; a bacia litorânea GL3
(rios Merepe e Maracaípe) localiza-se completamente dentro do município. Além dessas, tem-
se, na porção norte, uma pequena área de drenagem pertencente à bacia GL2 – rio Pirapama e
Massangana (ARRAES, 1998).
A Bacia Hidrográfica do rio Massangana tem como principais afluentes os rios
Tabatinga e Tatuoca, que também cortam o município na direção oeste-leste, porém
deságuam ao norte do Complexo Portuário de Suape.
138
Figura 3.10 – Distribuição das águas superficiais e bacias hidrográficas do município do Ipojuca
Fonte: Coutinho (2014).
Na Bacia Hidrográfica do rio Sirinhaém, seu principal afluente é o rio Sibiró, que corta
no sentido norte-sul na parte oeste do município.
Há ainda uma série de canais, naturais ou não, que cortam as áreas planas, muitas
vezes inundadas, situadas junto do litoral do município.
O rio Ipojuca é o maior do município e torna-se mais importante por influenciar
diretamente os distritos Sede, Nossa Senhora do Ó e as respectivas áreas de expansão urbana,
área objeto de estudo desta pesquisa, desaguando próximo ao Complexo Industrial de Suape.
Na planície costeira, ele apresenta um padrão predominantemente meandrante onde fica mais
plano e o rio perde sua energia. Já na porção oeste, mostra-se encaixado em um relevo de
colinas, com altitudes médias ao nível do canal principal do rio, variando entre 100 m e 50 m.
139
De acordo com Arraes (1998), as drenagens de primeira ordem mostraram-se
permanentes no período de dezembro (1996), considerado um período de déficit hídrico. Tal
fato deve-se à contribuição, especialmente, das águas subterrâneas e à pluviosidade desse
período. O autor encontrou uma deficiência hídrica nos meses de outubro, novembro,
dezembro e janeiro e um significativo excesso na quadra abril-maio-junho-julho.
Para o rio Ipojuca, nos meses de outubro a dezembro, as descargas líquidas são
constituídas, essencialmente, pelo escoamento básico pela pouca precipitação sobre a bacia.
Arraes (1998) identificou ainda áreas Inundadas e Áreas Inundáveis. As áreas
inundadas são consideradas aquelas que se encontram cobertas por uma lâmina de água
durante todo o ano hidrológico. Enquanto as áreas inundáveis são aquelas onde existe a
probabilidade ou risco de inundação tanto maior quanto menor for a cota do terreno. As
primeiras podem ser classificadas como áreas inundadas com efeito da maré e áreas inundadas
sem o efeito da maré.
A amplitude máxima de maré prevista para o município é de 2,4 m (maré
astronômica). No mês de agosto, podem ser observadas amplitudes maiores, decorrentes de
fortes ventos que sopram do oceano para o continente, nesse período, caracterizando a maré
meteorológica. Na conjunção da maré astronômica com a componente meteorológica, tem-se
a previsão da “maré forte” que maximiza o efeito da maré na planície de inundação dos rios.
As áreas inundadas com efeitos de maré estão agrupadas em quatro tipos, a saber:
1) áreas inundadas do complexo estuarino do rio Ipojuca: compreendem os
manguezais adjacentes ao baixo Ipojuca e ao “rio” Tatuoca; acredita-se, que este
último pode ter sido um antigo estuário do rio Ipojuca;
2) áreas inundadas da bacia litorânea Merepe-Maracaípe (GL-3): são constituídas
pelos manguezais que margeiam o rio Merepe, pelo “riacho” do Viveiro, pela
planície inundada ao sul do coqueiral drenado da Fazenda Gameleira e pela planície
de maré do rio Maracaípe;
3) áreas inundadas da bacia do rio Sirinhaém: são constituídas pelos manguezais
próximos à desembocadura do rio Sirinhaém até a estrada que une o povoado de
Feiteira à praia do Toco;
4) áreas inundadas do rio Massangana (GL -2): são aquelas situadas próximas à
desembocadura do rio Massangana, as quais estão inseridas na bacia litorânea GL-
2.
140
Próximas à PE-60 e ao acesso da Usina Salgado, que atravessa o canal Draga, existem
duas áreas inundadas que margeiam o rio Ipojuca.
Os aspectos hidrogeológicos do município de Ipojuca estão relativamente bem
retratados na escala de trabalho 1:100.000 pelo do Projeto Singre (CPRM, 1999 apud
COUTINHO, 2014). De acordo com o dito Projeto, identificam-se no município de Ipojuca,
em linhas gerais, dois sistemas aquíferos: os fraturados, encontrados em rochas do
embasamento precambriano na suíte vulcânica da Formação Ipojuca e em rochas calcárias
da Formação Estiva; esses sistemas podem acumular água na trama de fraturas. Nas rochas
sedimentares da Bacia Cabo, encontram-se os sistemas aquíferos intergranulares, ocorrendo
nos sedimentos rudáceos das Formações Cabo e Algodoais, sedimentos argiloarenosos da
Formação Barreiras, além dos sedimentos inconsolidados do Neógeno e Quaternário.
A individualização dos sistemas aquíferos, segundo o Projeto Singre, foi realizada
seguindo os critérios de sua estrutura, da permeabilidade e das características existentes em
superfície, que podem influenciar no comportamento das águas subterrâneas. Essa
individualização também foi guiada pela análise dos dados hidrogeológicos contidos em um
cadastramento de poços artesianos, cacimbas e surgências naturais. Grande parte desse
material encontra-se hoje em um banco de dados sobre águas subterrâneas mantido pela
CPRM, o principal alimentador do banco de dados da Agência Nacional de Águas (ANA).
Além dessas informações, existe o banco de dados da Agência Pernambucana de Águas e
Clima (APAC) com disponibilidade momentaneamente limitada.
3.5.6 Cobertura vegetal
O município do Ipojuca encontra-se inserido no bioma de Florestas, que são
representados pelos ecossistemas das Florestas Tropicais ou Florestas Costeiras, também
conhecidas por mata atlântica e seus associados, Complexo de Restingas e Floresta Paludosa
Costeira ou Manguezal (RIMA, 2011).
Atualmente, as florestas podem ser encontradas apenas em alguns pequenos trechos
em consequência do intenso desmatamento desde o Brasil Colônia, quando, primeiramente,
foram retiradas para extração de madeira e posteriormente para o cultivo de cana-de-açúcar.
Poucos resquícios podem ser encontrados nos topos das colinas ou em alguns vales, ainda
preservados, já em seu segundo estágio de regeneração. Melhor visualização da cobertura
vegetal que existe atualmente no município pode ser verificada na seção 5.2.4.
141
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os procedimentos metodológicos da tese dividem-se, primeiramente, em duas grandes
etapas. A primeira consiste na análise climatológica do município e dos eventos extremos,
sendo esta, dividida em quatro fases: 1) levantamento dos dados pluviométricos; 2) técnicas
aplicadas à análise climatológica e dos eventos extremos; 3) análise dos dados anuais,
mensais e diários; 4) identificação de impactos associados aos eventos extremos no município
do Ipojuca. A segunda etapa relaciona-se com a elaboração da carta de suscetibilidade a
movimentos de massa da área piloto de Ipojuca Sede, a qual se divide em três fases:1) fase de
levantamento, em que foi levantada a bibliografia especializada na temática da tese, foram
também compilados dados cartográficos e temáticos secundários, bem como trabalhos de
campo; 2) fase de análise, em que se analisaram as informações compiladas e elaboraram-se
os mapas temáticos intermediários voltados à modelagem da suscetibilidade; 3) fase de
síntese, em que se integraram as informações compiladas, elaboradas ou obtidas em campo
por meio de técnicas de geoprocessamento e elaboração das cartas finais de suscetibilidade a
movimentos de massa. Assim, as seções seguintes apresentarão os procedimentos realizados
para cada uma dessas etapas.
4.1 Análise climatológica e dos eventos extremos de chuva no município do Ipojuca
Existe uma estreita relação entre os movimentos de massa e a chuva como já se
discutiu anteriormente. De tal modo, compreender a dinâmica atmosférica, os fatores que
levam à variabilidade interanual, mensal e diária da precipitação, bem como a identificação de
eventos normais ou extremos de chuva, analisando o seu ritmo, ciclicidade ou eventualidade
das ocorrências, torna-se imprescindível para o monitoramento dos processos de movimentos
de massa. Esse tipo de análise é de fundamental importância para subsidiar as tomadas de
decisões das Defesas Civis, nacionais, estaduais e municipais e outras instituições ligadas à
gestão de risco a processos naturais.
Dentro da realidade encontrada nesta tese, serão mostrados os dados pluviométricos
disponíveis para o município do Ipojuca e posteriormente os procedimentos metodológicos de
análise dos dados.
142
4.1.1 Levantamento dos dados de precipitação pluvial
A fim de realizar uma análise do comportamento pluviométrico do município do
Ipojuca em escala anual, mensal e diária, com o intuito de fugir das médias e padrões que
acabam mascarando os eventos extremos de precipitação e os principais problemas
acarretados por estes, identificaram-se e compilaram-se os pluviômetros que estão localizados
no território desse município.
Ipojuca tem em sua região duas importantes usinas de cana-de-açúcar, Usina Ipojuca e
Usina Salgado, as quais gerenciam diversos engenhos distribuídos pelo município. Essas
usinas cederam gentilmente os dados para a realização desta pesquisa, o que foi essencial para
as análises do comportamento da chuva no município.
As Usinas Ipojuca e Salgado cederam os dados de chuvas, tanto mensais quanto
diários e dos respectivos engenhos. Vale ressaltar que os dados mensais e anuais cedidos
pela usina Ipojuca com série histórica de 1941 a 2013 em meio digital não contemplavam os
dados diários, esses ainda se encontravam em meio analógico. Os dados diários em meio
digital fornecidos por esta usina referem-se a série histórica de 2002 a 2013 (11 anos), assim
como os dados fornecidos pela Usina Salgado.
Coletaram-se também dados dos pluviômetros de Ipojuca no site da Apac
(<http://www.apac.pe.gov.br/sighpe/>.) por meio do Sistema de Geoinformação
Hidrometeorológico de Pernambuco com uma série histórica de 2006 a 2014. Os dados dos
pluviômetros de Ipojuca (Porto de Galinhas) e Ipojuca Sede com dados anteriores a 2007,
com série histórica de 1957 a 1978 /1991 a 2005, foram cedidos pela Unidade de
Monitoramento da Rede Hidrometeorológica (UMR-Hidromet) e Unidade de
Geoinformação (Ugeo) do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep).
Analisaram-se também os pluviômetros automáticos instalados pelo Cemaden em
agosto de 2014, em locais próximos às áreas de risco, visando à análise da intensidade da
chuva nas localidades de Camela, Ipojuca Centro, Porto de Galinhas e Rurópolis. Todos os
municípios da RMR que têm áreas de riscos mapeadas estão sendo monitorados. Tais dados
podem ser encontrados em <http://www.cemaden.gov.br/mapainterativo/#>.
Além dos pluviômetros, o Cemaden dispõe de radares meteorológicos, produzindo
informações necessárias para a elaboração de alerta sobre possíveis desastres associados à
precipitação.
143
A Tabela 4.1 apresenta a relação dos pluviômetros compilados e trabalhados nesta
tese, com a relação do período trabalhado, a escala temporal (diário, mensal ou anual), a
agência responsável e o código (ID) de identificação no mapa (Figura 4.1).
Tabela 4.1 – Relação dos pluviômetros utilizados para as análises da chuva no município
do Ipojuca
SÉRIE POSTOS
PLUVIOMÉTRICOS
ID
(MAPA) PERÍODO RESPONSÁVEL
MENSAL /
ANUAL Usina Ipojuca P01 1941-2013 Usina Ipojuca
DIÁRIA /
MENSAL E
ANUAL
Ipojuca – Porto de
Galinhas – IPA / Ipojuca
Sede
P02
1957 a 1978
/1991 a 2005 /
2006 a 2014
IPA/Hidromet/
Ugeo/Itep
Rurópolis P03 Janeiro a julho de
2015 Cemaden
Centro /Ipojuca P04 Janeiro a julho de
2015 Cemaden
Camela P05 Janeiro a julho de
2015 Cemaden
Usina Salgado P 06 2002 a 2013 Usina Salgado
Usina Ipojuca P01 2002 a 2013 Usina Ipojuca
Após a coleta, análise da qualidade dos dados e da disponibilidade de séries diárias,
mensais e anuais, selecionaram-se os postos para cada tipo de análise. Contudo, nas seções a
seguir, apresentam-se as técnicas utilizadas para as análises dos dados de chuva anual, mensal
e diária e os postos pluviométricos utilizados para cada análise.
144
Figura 4.1 – Localização dos pluviômetros que foram utilizados nas análises de precipitação
Fonte: Base de dados: Coutinho (2014)
4.1.2 Técnicas aplicadas na análise climatológica
4.1.2.1 Técnica dos quantis
A técnica dos quantis é um método bastante simples e eficiente. Por definição, o Qp é
um limite do intervalo do quantil para uma determinada variável aleatória X, sendo p a
probabilidade de ocorrência, tal que X seja menor que Qp. Assim, a escolha do intervalo
associado a um quantil deve satisfazer à seguinte relação:
Prob (X ≤ Qp), em que (p<1)
145
De forma mais simples, conforme explicado por Xavier (2002), para o Quantil Qp
pode-se considerar o seguinte, se supusermos a probabilidade p expressa em termos
percentuais:
Espera-se que em p (%) a altura da chuva X não deve ultrapassar o valor desse Quantil
Qp, em milímetros, enquanto para (100-p) % dos anos tal valor será excedido;
portanto, exemplificando o que foi exposto, para um p= 0,25 (ou 25%), se o quantil
respectivo com respeito à chuva anual em uma dada localidade for Q0.25=345 mm, isso
significa que para 25% dos anos de chuva total anual será menor ou igual a 345 mm.
Enquanto para os 75% de anos restantes, será superado esse limiar de 345 mm.
Vários autores aplicaram essa técnica para o estudo da climatologia da ocorrência de
eventos extremos de um determinado lugar como Xavier e Xavier, (1999), Souza (2011) e
Farias, Alves e Nóbrega (2012). Xavier (2002) traz uma descrição dos conceitos e aplicações
dessa técnica nos estudos de Meteorologia, Climatologia e Hidrologia.
Aplicou-se a técnica dos quantis para as três escalas temporais, anual, mensal e diária,
com a utilização do software Excel.
4.1.2.2 Índice de anomalia de chuva
O Índice de Anomalia de Chuva (IAC) também procura definir os anos que estiveram
acima ou abaixo da média da série histórica em análise.
O método IAC foi utilizado por Silva et al. (2011) que consiste na seguinte equação:
Em que a equação (a) refere-se às anomalias positivas e a equação (b) às anomalias
negativas e N compreende a precipitação anual atual (mm), a precipitação média anual da
(a)
(b)
146
série histórica (mm), representa a média das 10 maiores precipitações da série histórica
(mm); a média das 10 menores precipitações da série histórica (mm).
Assim as anomalias positivas representam os valores de chuva acima da média e as
anomalias negativas os valores de chuva abaixo da média.
4.1.2.3 Análise de tendência dos dados de chuva
Com o objetivo de identificar se existe uma tendência de aumento da precipitação
pluvial para o município do Ipojuca, aplicaram-se técnicas de análise de tendência para os
totais anuais de chuva, para a quadra chuvosa do município (abril, maio, junho e julho) e para
as estações do ano, verão (dezembro, janeiro e fevereiro), outono (março, abril e maio),
inverno (junho, julho e agosto) e primavera (setembro, outubro e novembro). Para isso,
aplicou-se o teste não paramétrico de Mann-Kendall (SNEYERS, 1975) e baseado em
Pinheiro, Graciano e Severo (2013) pode-se descrever rapidamente o teste de Mann Kandall
da seguinte forma: considerando uma dada série temporal de N termos (i=1,...,N), calcula-
se a soma dada pela equação:
Onde é o número de termos da série, relativo ao valor , cujos termos anteriores são
inferiores a ele. Para um valor N grande, sob a hipótese nula de de ausência de tendência,
apresentará uma distribuição norma com média E( ) e variância Var( ), dados pelas
seguintes equações:
e
A hipótese nula pode ser rejeitada testando a significância estatística de utilizando
um teste bilateral obtido através da seguinte relação:
147
O sinal de indica se a tendência é positiva ou negativa
.
Trabalho semelhante também foi desenvolvido por Lopes e Silva (2013) que
analisaram as tendências e variações nas séries pluviométricas do Total Anual, Média Anual,
Total do Período Seco e Total do período Chuvoso de oito microrregiões do estado do Ceará.
4.1.3 Análise dos dados anuais de chuva
A análise dos dados de precipitação anual teve como objetivo identificar a
variabilidade interanual da precipitação pluvial, identificando-se os anos considerados
anômalos em relação à média da série em análise, como os anos secos a extremamente secos e
os anos chuvosos a extremamente chuvosos, bem como identificar a influência das alterações
das temperaturas da superfície do mar. Para tanto, utilizou-se a série histórica dos dados
fornecidos pela Usina Ipojuca de 1941 a 2013 e aplicaram-se a técnica dos quantis e Índice de
Anomalia de Chuva com o objetivo de avaliar a variabilidade da precipitação pluvial e Mann
Kendall para análise de tendência da precipitação.
Xavier e Xavier (1999) e Xavier (2002), baseados em Pinkayan (1966), utilizaram as
ordens quantílicas p=0,15; 0,35; 0,65 e 0,85, com a finalidade de definir níveis ou faixas
Muito Seco, Seco, Normal, Chuvoso e Muito Chuvoso. Tendo em vista que o objetivo da
presente tese é a identificação de eventos extremos de precipitação, acrescentaram-se mais
duas categorias referentes aos extremos, uma na ordem quantílica de p=0,05 (Extremamente
Seco) e a outra na ordem quantílica p=0,95 (Extremamente Chuvoso).
Aplicaram-se, então, para a análise anual, as probabilidades referentes a (0,05), (0,15),
(0,25), (0,65), (0,85) e (0,95), classificando os anos em Extremamente Seco, Muito Seco,
Seco, Normal, Chuvoso, Muito Chuvoso e Extremamente Chuvoso. De acordo com a Tabela
4.2.
Os anos identificados para cada categoria descrita na Tabela 4.2 serão comparados
com os eventos de Alterações na Temperatura da Superfície do Mar no Pacífico (ATSM)
148
como os fenômenos de El Niño/Oscilação Sul (ENOS) – conforme o Centro de Previsão de
Tempo e Estudos Climáticos e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE) –
bem como com a Variabilidade da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) no Oceano
Atlântico tropical (AT) caracterizados por Souza (1997) e Adreoli e Kayano (2007).
Tabela 4.2 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação mensal
relacionada com as ordens quantílicas para o município do Ipojuca
CATEGORIAS PROBABILIDADES
Extremamente Seco (E.SECO) X ≤ Q0,05
Muito Seco (MS) Q0,05 < X ≤ Q0,15
Seco (S) Q0,15< X ≤ Q0,35
Normal (N) Q0,35 < X < Q0,65
Chuvoso (C) Q0,65 ≤ X < Q0,85
Muito Chuvoso (MC) Q0,85 ≤ X < Q0,95
Extremamente Chuvoso (E. CHUVOSO) X ≥ Q0,95
Fonte: Baseado em Xavier e Xavier (1999).
4.1.4 Análise dos dados mensais de chuva
Para análise da chuva mensal, fez-se uso dos dados fornecidos pela Usina Ipojuca com
uma série histórica de 1941 a 2013. Aplicou-se a técnica dos quantis aos dados mensais com o
objetivo de identificar se a precipitação de cada mês está acima ou abaixo da média histórica,
por meio das probabilidades referentes a (0,05), (0,15), (0,25), (0,65), (0,85) e (0,95),
considerando as mesmas categorias, extremamente seco, muito seco, seco, normal, chuvoso,
muito chuvoso e extremante chuvoso.
4.1.5 Análise dos dados diários de chuva
Por meio da análise dos dados diários de chuva, procurar-se-á analisar os eventos
extremos de chuva diária e o limiar de chuva que pode causar transtorno à população do
município do Ipojuca, acarretando em eventos de movimentos de massa e inundação. As
técnicas aplicadas a cada uma dessas análises serão descritas a seguir.
149
4.1.5.1 Aplicação da técnica dos quantis
Para a aplicação da técnica dos quantis, fez-se uso dos dados do Pluviômetro fornecido
pela Apac, com série histórica de 1957 a 1978 e 1991 a 2013. Aplicou-se, também, essa
mesma análise para os dados diários fornecidos pela Usina Salgado (2002 a 2013) a fim de
identificar os limiares de precipitação e a distribuição espacial da precipitação acumulada em
24h, tendo em vista que tais pluviômetros localizam-se em áreas espaçadas no município do
Ipojuca, portanto, apresentam diferenças nos montantes diários de precipitação.
Na aplicação dessa técnica, tiveram de ser considerados apenas os dias com chuva. A
definição do que se constitui um dia com chuva não é uniforme na comunidade científica.
Vários países têm fixado em 1,2 ou 5 mm. Duarte (2009) considerou dias sem chuva os
montantes de precipitação abaixo ou igual a 5 mm, pelo fato de que para haver escoamento
superficial a precipitação tem que apresentar intensidade acima desse valor. Quando da
análise de ocorrência de veranicos, a literatura normalmente adota como dias sem chuva
valores inferiores a 2 mm / 24h para localidades isoladas (SOUZA, 2011). Menezes (2008)
verificou que o valor de 4 mm / 24h mostrou-se ser mais consistente que o valor anterior,
valor este considerado, normalmente, para grandes áreas.
Monteiro e Zanella (2014), por sua vez, tendo como objetivo a identificação dos
valores extremos diários presentes na cauda superior quantílica, descartaram os valores abaixo
de 10 mm na análise por se tratarem de chuvas de intensidade baixa.
No caso da presente pesquisa, optou-se por considerar dias sem chuva os valores
inferiores ou iguais a 2 mm/24h.
Após o descarte dos valores inferiores a 2 mm/24h da série analisada, os valores
diários de precipitação pluvial foram distribuídos em sete classes quantílicas a saber: Chuva
extremamente Fraca, Chuva muito Fraca, Chuva Fraca, Chuva Moderada, Chuva Forte,
Chuva muito Forte e Chuva extremamente Forte, aplicando-se as mesmas probabilidades
trabalhadas nas escalas anual e mensal; são elas: p=0,05, p=0,15, p=0,25, p=0,65, p=0,85,
p=0,95 (Tabela 4.3).
150
Tabela 4.3 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação diária
(acumulado de 24h) relacionadas com as ordens quantílicas para o município do Ipojuca
CATEGORIAS PROBABILIDADES
Chuva extremamente Fraca (E. FRACA) X ≤ Q0,05
Chuva muito Fraca (C. M. FRACA) Q0,05 < X ≤ Q0,15
Chuva Fraca (C. FORTE) Q0,15< X ≤ Q0,35
Chuva Moderada (C. MODERADA) Q0,35 < X < Q0,65
Chuva Forte (C. FORTE) Q0,65 ≤ X < Q0,85
Chuva Muito Forte (C. M. FORTE) Q0,85 ≤ X < Q0,95
Chuva extremamente Forte (E. FORTE) X ≥ Q0,95
Fonte: Dados da pesquisa.
Após a identificação dos resultados, analisaram-se as frequências de ocorrência de
cada uma das categorias durante o ano, bem como os anos que apresentaram maior ocorrência
de chuvas muito fortes e extremamente fortes. Após a identificação da precipitação
acumulada em 24h considerada extremamente forte, analisaram-se as chuvas nos intervalos
igual e acima do limiar encontrado. Assim, os intervalos analisados foram de 50 a 60 mm, 60
a 70 mm, 70 a 80 mm, 80 a 90 mm e > 100 mm.
4.1.5.2 Identificação de impactos provocados pelos eventos extremos no município do Ipojuca
Após a aplicação dos métodos anteriormente expostos para as análises dos extremos
nas escalas anuais, mensais e diárias, os resultados finais foram comparados com os dados de
ocorrências de movimentos de massa e inundação fornecidos pela defesa civil do município
do Ipojuca de 2007 a 2013 e pelo eventos registrados no Sistema Integrado de Informações
sobre Desastres (S2ID) da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec); e
tomando-se como base os principais eventos, serão verificadas fotografias, reportagens em
TV e jornais, bem como relatos da população sobre os principais impactos causados por esses
eventos no município do Ipojuca.
151
4.2 Metodologia para elaboração da carta de suscetibilidade a movimentos de massa do
município do Ipojuca
Conforme visto na revisão de literatura, a elaboração do mapa de suscetibilidade pode
ser realizada de acordo com diversas abordagens. Um modelo qualitativo, indireto, baseado na
sobreposição de mapas de índices e parâmetros e no conhecimento prévio acerca do
comportamento do terreno diante da ocorrência de processos de movimentos de massa por
especialistas (Knowledge Based) para o município do Ipojuca na escala 1:25.000, já foi
realizado por Coutinho (2014), podendo também ser encontrado em Torres (2014) e Coutinho
et al. (2015). Sendo assim, nesta tese aplicou-se um método quantitativo, estatístico baseado
em dados (Data Based), de análise bivariada, e posterior aplicação da técnica AHP.
Realizou-se uma comparação dos resultados identificados nesta tese e pelos autores
acima mencionados na escala 1:10.000, visando a uma definição do melhor método a ser
utilizado e replicado aos demais municípios da Região Metropolitana do Recife. Ambos
tiveram como unidades de mapeamento a célula da grade.
A elaboração das cartas de suscetibilidade está baseada, principalmente, em duas
premissas, de acordo com a metodologia proposta pelo JTC -1: 1) o passado é um guia para o
futuro, de modo que existe a probabilidade de ocorrer escorregamentos no futuro em áreas
que passaram por escorregamentos no passado; 2) em áreas com topografia, geologia ou
geomorfologia similares as áreas onde ocorreram escorregamentos no passado também existe
a probabilidade de voltar a ocorrer. De acordo com essas premissas, uma análise dos fatores
condicionantes a processos erosivos e de movimentos gravitacionais de massa foi realizado
por meio de técnicas de geoprocessamento.
A principal diferença entre o método trabalhado por Coutinho (2014), Coutinho et al.
(2015) e Torres (2014) e o apresentado na presente tese, consiste em um melhor detalhamento
do Inventário de cicatrizes e a utilização deste para a determinação dos pesos das classes dos
fatores condicionantes sem a participação de especialistas, para posterior aplicação da AHP.
O método estatístico bivariado baseia-se na densidade de processos de movimentos de
massa para a determinação dos pesos das classes dos parâmetros analisados. Buscou-se,
portanto, esse método estatístico visando diminuir a subjetividade e visando melhor
repetitividade nos mapeamentos em outras áreas suscetíveis. Assim, a metodologia para
elaboração da carta de suscetibilidade do município do Ipojuca foi desenvolvida em três fases
principais: levantamento, análise e síntese.
152
O Quadro 4.1 apresenta as etapas para cada uma das fases descritas.
Quadro 4.1 – Fases e etapas para a elaboração da carta de suscetibilidade do município do Ipojuca
FASES ETAPAS
LEVANTAMENTO
a) Levantamento bibliográfico
b) Levantamento da base cartográfica e da base temática
c) Levantamento de dados provenientes do campo
ANÁLISE
a) Elaboração da base cartográfica e do Modelo Digital do Terreno
b) Elaboração do inventário de cicatrizes
c) Definição dos fatores condicionantes e elaboração dos mapas temáticos (Planos
de Informação – PI) de cada fator condicionante e definição de suas classes
d) Análise estatística e definição dos pesos de cada classe dos PIs
SÍNTESE
a) Padronização dos planos de informação
b) Aplicação da técnica AHP, definição do grau de importância e integração dos
Planos de Informação (PI)
d) Definição dos graus de suscetibilidade
e) Validação do modelo
f) Caracterização das classes de suscetibilidade identificadas.
Fonte: A autora.
4.2.1 Fase de levantamento
4.2.1.1 Levantamento bibliográfico
O levantamento bibliográfico procurou atender aos temas-chave desta pesquisa, com a
compilação de bibliografias de referência que clareassem a compreensão de conceitos como
desastres naturais, eventos extremos, suscetibilidade, perigo, vulnerabilidade, resiliência e
risco; sobre os estudos relacionados com os eventos extremos de chuva e impactos causados
por estes.
Realizou-se uma compilação de fontes que subsidiassem a caracterização do
município do Ipojuca e o histórico de ocupação deste. O que facilitou a identificação a priori
dos principais problemas identificados no município, bem como na análise dos fatores
condicionantes dos movimentos de massa.
Por último, fez-se um levantamento de bibliografia voltada aos estudos que discutam
as diversas técnicas de modelagem de suscetibilidade/perigo a movimentos de massa, em
ambiente de Sistema de Informações Geográficas (SIG).
153
4.2.1.2 Levantamento de base cartográfica e de base temática
A maioria dos dados espaciais (base cartográfica e temática) utilizados foi fornecida
pelo Grupo de Engenharia Geotécnica, Planícies e Desastres da Universidade Federal de
Pernambuco.
Ressalte-se que a inexistência de bases cartográficas do município nas escalas
1:25.000 e 1:10.000, necessitando a elaboração destas. Assim, o Gegep propôs-se a elaborar
essa base, executando a seguinte metodologia.
1) Base cartográfica:
a) Base planimétrica
Hidrografia (cursos d’água e corpos d’água), sistema viário, vegetação, na escala
1:10.000, foi gerada pela Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco
(Condepe/Fidem) por meo da Imagem pancromática Worldview2 de 2010, que se encontrava
em CAD, a qual foi adaptada e transferida para um banco de dados em SIG no formato
vetorial, como arquivos shapegfile, pela equipe de cartografia do Gegep. Essa mesma base foi
utilizada para a carta na escala 1:25.000 passando pelo processo de generalização
cartográfica.
a) Base altimétrica
i) Escala 1:25.000 – elaborada por meio da vetorização das curvas de nível das cartas
topográficas da Sudene produzidas em 1970-1972 e fornecidas pela Condepe/Fidem (Santo
Agostinho – SC-25-V-A-III-3-NO; Ponta da Gambôa – SC-25-V-A-III-3-SO; Cabo – SC-25-
V-A-II-4-NE e Ipojuca – SC-25-V-A-II-4- 1970 – 1972), com equidistância de 10 metros. As
curvas foram convertidas do formato Raster para o Vetorial e armazenada e um banco de
dados geoespacial, o qual foi estruturado com padrão da Estrutura Nacional de Dados
Espaciais (INDE), seguindo as especificações técnicas ET-ADGV.
ii) Escala 1:10.000 - Curvas de nível e pontos cotados – gerados mediante a
vetorização das Ortofotocartas na escala 1:10.000 de 1970/80 com equidistância de 5 metros,
cedidos em arquivos CAD pela Condepe/Fidem, sendo posteriormente corrigidas e adaptadas
a um banco de dados geoespacial pela equipe de cartografia do Gegep.
Todos os produtos cartográficos nas duas escalas e os mosaicos das imagens de
satélite foram georreferenciados usando as coordenadas dos 22 pontos medidos em campo
com GNSS Hiper Lite + (L1 e L2). Esse processo tem a função de padronizar os produtos
154
cartográficos na mesma rede de pontos de controle e no mesmo referencial geodésico
SIRGAS 2000. O georreferenciamento foi realizado usando o ArcGIS 10.1.
2) Base temática e imagens
Para a elaboração das cartas de suscetibilidade e dos impactos causados pelos eventos
extremos, foram compiladas as seguintes bases temáticas:
a) Mapa Geológico na escala 1:25.000 (todo o município do Ipojuca), elaborada e
fornecida pelo Gegep (COUTINHO, 2014; GONÇALVES, 2014).
b) Mapas Geomorfológicos na escala 1:25.000 (todo o município) e 1:10.000 (Área
piloto de Ipojuca Sede) elaborados e fornecidos pelo Gegep (COUTINHO, 2014).
c) Mapa Geomorfológico do município do Ipojuca, escala 1:25.000 (CPRM).
d) Mapa de Unidades de Mapeamento de Solos, na escala 1:100.000 (Zoneamento
Agroecológico de Pernambuco - ZAPE).
Os mapas geológicos e geomorfológicos tiveram suas metodologias específicas para
elaboração e podem ser encontradas em Coutinho (2014) e Gonçalves (2014). O mapa
geológico na escala 1:10.000 foi mais detalhado mediante análises de campo pela mesma
equipe com base no mapa na escala 1:25.000 existente. Tal atividade foi necessária para
atender à elaboração da carta de suscetibilidade na escala 1:10.000 da área piloto de Ipojuca
Sede.
Além dos mapas temáticos compilados descritos acima, foram utilizadas também as
seguintes imagens:
a) Imagem Worldview2 pancromática de 2010 e Imagem Quickbird 2005/2006 na
escala 1:10.000, fornecidas pela Condepe/Fidem ao Gegep.
No desenvolvimento das metodologias para elaboração dos mapas temáticos que serão
descritas posteriormente, fez-se uso dos seguintes softwares ArcGIS 10.1 e Google Earth Pro,
com licenças obtidas pelo Laboratório de Redução de Risco de Desastres (Labrid) vinculado
ao Gegep e com parceria do Ministério da Integração Nacional.
Toda a base cartográfica e temática obtida ou elaborada pelo Gegep encontra-se no
Datum Geodésico SIRGAS 2000 e no Sistema Universal Transversa de Mercator (UTM),
Fuso 25 / Sul, que será a referência utilizada no mapeamento da suscetibilidade.
155
4.2.1.3 Levantamento de campo
Realizaram-se trabalhos de campo com o objetivo de atender às etapas de inventário
de cicatrizes, para a obtenção de pontos de controle visando subsidiar a elaboração do mapa
de uso e cobertura da terra e para análise morfológica dos solos. Para isso, mapearam-se todos
os procedimentos e se caracterizaram por meio da obtenção de pontos com GPS
(Garmin/GPSMAP® 62sc) e fotografias e posterior organização de um banco de dados
georreferenciado.
O procedimento detalhado de cada uma dessas etapas será descrito mais adiante.
Assim foram realizadas as seguintes idas a campo:
a) 26/2/2013 e 19/4/2013 – campo para reconhecimento dos principais problemas do
município, com o acompanhamento de representantes da Prefeitura do Ipojuca e da
Defesa Civil;
b) 27/3/2014, 28/3/2014 e 14/7/2014 – os trabalhos de campo foram voltados ao
reconhecimento de solos, com a abertura de alguns perfis em pontos estratégicos
escolhidos a priori. Esses campos também tiveram como objetivo a validação do
mapa de inventário elaborado preliminarmente em laboratório com a interpretação
de imagens de satélite QuickBird e Google Earth;
c) 21/11/2014 e 2/7/2015 – realizaram-se campos para validação de modelo.
Os campos acima apresentados realizaram-se em conjunto com a equipe do Gegep,
visando também à elaboração da Carta Geotécnica de Aptidão à Urbanização do município do
Ipojuca e Mapeamento da Vulnerabilidade e Risco desse município.
4.2.2 Fase de análise
Conforme visto no Quadro 4.1, a fase de análise consiste na elaboração da base
cartográfica e do modelo digital do terreno, do inventário de cicatrizes, da definição dos
condicionantes ao movimento de massa em análise (por exemplo, deslizamento translacional
e ravinas) e a elaboração dos mapas representativos destes e, por fim da aplicação da análise
estatística bivariada entre os PI do Inventário e os PI das classes dos condicionantes
analisados.
156
Assim, nas seções a seguir serão descritas as metodologias ligadas a cada uma das
etapas da fase de análise.
4.2.2.1 Elaboração da base cartográfica e do Modelo Digital do Terreno
A elaboração da base cartográfica planialtimétrica nas escalas 1:25.000 e 1:10.000, e
principalmente da extração das informações altimétricas (curvas de nível e pontos cotados)
que foram usados para elaboração do Modelo Digital do Terreno (MDT), foi apresentada na
seção 4.2.1.2.
O Modelo Digital do Terreno (MDT) foi elaborado paras as escalas 1:25.000 e
1:10.000, a partir das curvas de nível com equidistância de 10 metros e 5 metros
respectivamente, e pontos cotados. Elaborou-se um Triangulated Irregular Network (TIN) e,
este, posteriormente, foi transformado em Raster para gerar uma representação em Grade
Regular que melhor se aplica à extração das variáveis morfométricas, tomando-se cuidado na
determinação da resolução da imagem do MDT gerado, com resolução de 5 metros para a
escala 1:25.000 e de 2 metros para a escala 1:10.000. Todo o procedimento foi realizado no
software ArcGIS 10.1.
O cuidado de inserir pontos cotados evitou que as arestas dos triângulos apresentassem
o mesmo valor de cota, o que torna a declividade nula nessas áreas (LOPES, 2006), podendo
afetar o modelo de suscetibilidade a movimentos de massa.
4.2.2.2 Elaboração do inventário
A realização do inventário voltou-se para dois objetivos. O primeiro, relacionado com
a identificação dos principais processos que ocorrem no município do Ipojuca, principalmente
aqueles deflagrados por eventos extremos de chuva, procurando identificar os dias, meses e
anos, bem como os lugares mais impactados por esses eventos, analisando-se a frequência de
ocorrência e a magnitude dos eventos. O segundo, ligado ao mapeamento de cicatrizes de
movimentos de massa a fim de ser utilizado tanto na definição dos pesos dos fatores
condicionantes utilizados na modelagem da suscetibilidade como na validação do modelo, o
que requer maior precisão na localização das cicatrizes dos movimentos de massa.
157
Por meio de uma análise preliminar dos movimentos de massa que ocorrem no
município do Ipojuca, verificou-se a predominância de movimentos de pequena dimensão,
sobressaindo os processos de erosão linear (ravinas e voçorocas), deslizamentos planares
superficiais pequenos (mais localizados nas áreas urbanas e ao longo de estradas) e áreas com
afloramentos rochosos. Estas últimas consideradas áreas com potencial de rolamento de
blocos. Sendo assim, optou-se por representar tais cicatrizes como pontos, diante das escalas
de análise (1:25.000 e 1:10.000).
Na elaboração e análise do inventário, procurou-se seguir as propostas do Guidelines
for landslide susceptibility, hazard and risk zoning for land use planning proposto por Fell et
al. (2008), que apresentam propostas e observações para o zoneamento de deslizamentos
voltados ao planejamento de uso do solo.
A análise e determinação da tipologia de processos e a elaboração do mapa de
inventário voltado aos dois objetivos apresentados foram realizadas para todo o município do
Ipojuca. Entretanto, uma análise mais detalhada foi feita apenas para a área piloto de
expansão urbana entre os distritos de Ipojuca Sede e Nossa Senhora do Ó. A elaboração do
inventário foi feita em duas etapas: 1) compilação de dados e análise em gabinete; 2)
investigação e mapeamento em campo.
Compilação de Dados e Análise em Gabinete
Primeiramente, para a identificação, determinação e mapeamento das feições erosivas
canalizadas (sulcos, ravinas e voçorocas), movimentos gravitacionais de massa e de áreas de
retenção de depósitos quaternários (colúvios) tomou-se como unidade de reconhecimento as
microbacias de drenagem. De tal modo, para a identificação dessas feições, utilizaram-se
imagens de satélite Quickbird Multiespectral (2005/2006) e Pancromática (2010) e imagem
do Google Earth (2013, 2014 e 2015).
Além da utilização das imagens acima descritas, um levantamento de informações
históricas sobre eventos de deslizamentos realizou-se mediante pesquisas em jornais e
internet, que relataram os eventos de grande magnitude que ocorreram no município do
Ipojuca.
Coletaram-se também informações na Defesa Civil municipal. Por ter sido estruturada
em 2013, seu acervo digitalizado de ocorrências de processos que causaram danos à
158
população do município só se iniciou em 2013; contudo, a defesa civil tinha um acervo em
papel, que então foi digitalizado, e elaborou-se um banco de dados com as ocorrências de
2007 a 2013. Esse banco de dados não pôde ser georreferenciado, pois além dessas
ocorrências não terem coordenadas, eram localizadas somente por endereços de difícil
compreensão, assim foram apenas localizadas por bairros e analisadas suas frequências de
ocorrências.
Ressalte-se que foram digitalizadas todos os tipos de ocorrências, entretanto somente
as ocorrências de movimentos de massa foram utilizadas na análise do inventário.
Também se avaliaram os documentos relacionados com os mapeamentos de risco
existentes como o Plano Municipal de Redução de Risco do Ipojuca (PMRR-Ipojuca),
desenvolvido em 2007 na escala 1:2.000, bem como o mapeamento de Vulnerabilidade e
Risco realizado pelo Gegep também na escala 1:2.000, finalizado em abril de 2015, que tem
um banco de dados com alguns pontos onde ocorreram deslizamentos.
Reunidas as informações que puderam ser devidamente localizadas, elaborou-se uma
planilha para compor o mapa de inventário de movimentos de massa, com as seguintes
colunas: identificador, coordenadas, tipo de evento, data da ocorrência, área afetada
(localidade), causa do desastre (agente deflagrador – chuva, água servida, outros), danos
causados (materiais e humanos), fonte do documento pesquisado e colunas contendo o
ambiente em que foi formado o processo (litologia, declividade, forma da vertente, altitude,
solos e uso e cobertura da terra).
A análise dos dados e finalização do mapeamento realizou-se no ambiente SIG com o
uso do Software ArcGIS 10.1, associando as informações espaciais e alfanuméricas geradas
ao banco de dados geoespacial elaborado para o projeto.
Investigação e Mapeamento em Campo
Esta etapa inicia-se com levantamentos expeditos realizados nos dias 27/3/2014,
28/3/2014 e 14/7/2014, voltado para o reconhecimento dos materiais geológicos presentes,
para a checagem das informações derivadas no levantamento de dados em laboratório por
meio de imagens de satélites e outras fontes, contato com os moradores por meio de entrevista
e identificação de feições erosivas e cicatrizes de deslizamento em campo.
159
Na área Piloto de Ipojuca Sede (escala 1:10.000) realizou-se um procedimento mais
detalhado, em conjunto com o mapa de inventário, na identificação e determinação de
tipologias de feições erosivas e movimentos gravitacionais de massa baseado na forma
geométrica, nas relações com os canais fluviais e com os padrões evolutivos de cabeceiras de
drenagem em anfiteatro de acordo com a metodologia proposta por Castro, Mello e Peixoto
(2002).
Buscou-se também seguir as orientações de Santos (2014), que por sua vez seguiu as
orientações do JTC 1 (FELL et al., 2008), identificando as feições fisiográficas críticas, ou
seja, feições historicamente associadas a problemas de desestabilização já observadas ou
potenciais, tais como as cabeceiras de drenagem, anteriormente comentadas, rupturas de
declives positivas e negativas, talvegues encaixados e suas vertentes de acentuada
declividade, encostas com declividade superior a 30°, feições geológicas de maior
instabilidade, presença de matacões e blocos de rochas, áreas de possível atingimento do
material proveniente de deslizamentos e fluxos de lama e detritos, áreas ocupadas por lixões
áreas a montante e a jusante das áreas de intervenções antrópicas (cortes e aterros em
encostas).
4.2.2.3 Definição dos fatores condicionantes e elaboração dos mapas temáticos
Conforme visto na seção 2.2 – Processos do meio físico –, são vários os fatores
condicionantes dos movimentos de massa, ou seja, estes são condicionados por complexas
relações entre os fatores geológicos, geomorfológicos, climáticos e antrópicos.
Com os estudos de campo e da análise das características morfológicas dos solos, bem
como por meio da avaliação do mapa de inventário, determinaram-se como fatores a serem
integrados no modelo: geologia (unidades litológicas), parâmetros topográficos (declividade e
curvatura da encosta), solos (unidades de mapeamento de solos) e uso e cobertura da terra.
Optou-se por acrescentar este último ao modelo, uma vez que os processos identificados no
município, na maioria, desencadeiam-se por intervenções antrópicas, tanto pelo uso agrícola,
por meio do cultivo da cana-de-açúcar e suas práticas de escoamento, quanto por meio da
ocupação desordenada das colinas do município pela população de baixa renda, com a
realização de corte na encosta e aterros para a construção de residências.
160
Outro parâmetro que deveria ser acrescentado ao modelo seria a densidade de
lineamentos, tendo em vista a influência do controle estrutural na instabilidade dos taludes.
Entretanto, no município do Ipojuca, tal característica não se mostrou tão relevante. As
metodologias para elaboração dos mapas temáticos utilizados na escala 1:25.000 e 1:10.000
serão apresentadas a seguir.
Unidades Litológicas
A equipe do Gegep elaborou o mapa de Unidades Litológicas na escala 1:25.000 tendo
em vista que os mapas existentes para a área estavam na escala 1:100.000. Elaborou-se,
portanto, por meio do levantamento de mapas geológicos existentes, fotointerpretação para a
identificação de lineamentos, trabalhos de campo e laboratório. Mais detalhes da metodologia
podem-se verificar em Coutinho (2014).
Para a escala 1:10.000, acrescentaram-se alguns pontos de campo, e as unidades foram
mais bem detalhadas a partir das curvas de nível com equidistância de 5 metros. Deu-se
ênfase especial às estruturas geológicas (litologias, falhas, dobras, corpos intrusivos, etc.) que,
porventura, representaram suscetibilidade a processos erosivos e de movimentos
gravitacionais de massa, bem como locais propícios a acumulação de água em caso de
inundações.
Geomorfologia e Variáveis Morfométricas
Para a avaliação da carta de suscetibilidade, não se utilizaram as unidades
geomorfológicas diretamente no modelo, mas estas serviram de base na análise. As unidades
denudacionais propensas aos processos erosivos e de movimentos de massa e as unidades
deposicionais (rampas de colúvio, complexo de tálus, planícies de inundação, etc.), como
zonas potenciais de atingimento ou, como no caso dos colúvios, áreas instáveis, foram
mapeadas. Assim, além da análise qualitativa das unidades já elaboradas pela equipe do
Gegep, utilizaram-se diretamente no modelo as variáveis morfométricas, tais como
declividade e curvatura da vertente.
A declividade se define como um plano tangente à superfície, que corresponde à
inclinação do terreno em relação à horizontal, expresso como mudança de elevação sobre
certa distância (BURROUGH, 1991); extraiu-se por meio da ferramenta slope no ArcGIS
10.1, com intervalos relacionados com a inclinação da encosta em graus (°).
161
Existem várias classificações de declividade voltadas para um determinado fim, e,
principalmente, utilizadas por instrumentos legais como Brasil (1979), Brasil (1965) e Brasil
(2012b).
Entretanto, utilizando o método natural breaks, “quebra natural” que melhor
representará as declividades existentes na área de estudo, os intervalos de declividade
dividiram-se em seis classes: 0-7°, 7°-11°, 11°-17°, 17°-27°, 27°-45°, >45°. Destacam-se as
áreas com declividades de 17° como limite das áreas urbanizáveis sem restrições (BRASIL,
1979), de 27° como limite às áreas com restrições à ocupação (BRASIL, 1965) e acima de 45°
como áreas destinadas à preservação permanente (BRASIL, 2012b). As áreas com
declividade inferior a 11° foram assumidas como áreas favoráveis a deposição, mas quando
associadas com depósitos coluviais foram consideradas instáveis, áreas estas favoráveis ao
movimento lento de rastejo, como sugerido por Lacerda (1997).
O parâmetro topográfico perfil da encosta (ou curvatura da encosta/vertente) é um dos
parâmetros mais utilizados na análise da suscetibilidade tanto a processos de erosão linear
como de movimentos gravitacionais de massa. Torna-se uma variável indireta do modo como
os fluxos de água se distribuirão ao longo da encosta. De modo simplificado, analisando-se o
comportamento do escoamento superficial, o perfil longitudinal (expressa ao longo da
declividade) controla a velocidade, enquanto o perfil transversal (expressa ao longo das
curvas de nível) controla a sua concentração ou dispersão.
A utilização de um ou de outro parâmetro nos modelos de suscetibilidade varia muito,
dependendo dos objetivos da pesquisa. Para definir o perfil a ser utilizado nesta metodologia,
fez-se uso da ferramenta Curvature do ArcGIS 10.1 para extração das curvaturas que utilizam
como base as metodologias propostas por Moore, Grayson e Ladson (1991), e Zeverbergen e
Thorne (1987). Essa ferramenta dá a opção de três raster de saída: profile curvature, plan
curvature e curvature, e são gerados por meio do MDT.
O perfil longitudinal (profile curvature) expressa a forma da vertente na direção da sua
maior inclinação indicando o modo como o declive se comporta de montante para jusante na
vertente. O perfil transversal (plan curvature) indica a forma da vertente em termos laterais,
por exemplo, a forma da vertente em uma orientação perpendicular à do perfil longitudinal,
expressando as alterações da exposição da vertente. A curvatura (tangencial curvature), cujo
resultado é a combinação das duas anteriores.
162
Optou-se por trabalhar com o raster curvatura, pois foi o que melhor respondeu à
densidade de processos. Outra questão a ser definida foi quanto ao número de classes.
Realizaram-se dois testes, um dividindo a curvatura em 9 classes de acordo com a
metodologia proposta por Valeriano (2003) e representada na Figura 2.9 da seção 2.2.2.2 -
Fatores condicionantes dos movimentos gravitacionais de massa - o outro dividindo apenas
em 3 classes.
Assim, optou-se pela divisão da curvatura em três classes apenas
(côncava/convergente; retilínea/planar e convexa/divergente), pois essa foi a forma que
melhor representou as áreas de cabeceira de drenagem em anfiteatro, muito comuns no
município do Ipojuca. Os valores negativos indicam que a forma é côncava/convergente, os
valores positivos que a forma é convexa/divergente e o valor zero indica que a superfície é
plana.
Quando se elabora um MDT (Raster) por meio de um TIN surge um problema quanto
às faces de triangulação efetuadas para se obter o modelo. Quanto maior for a resolução, mais
visíveis são essas faces, tornando-se complexa a caracterização do perfil da encosta. À medida
que diminui a resolução, embora os pixels se tornassem mais grosseiros, a homogeneidade do
modelo vai sendo cada vez maior. Em razão disso, fizeram-se alguns testes com resolução do
MDT de 5 m, 10 m, 20 m e 50 m.
Para a escala 1:10.000, usou-se um MDT na escala de 10 m, tendo o cuidado de não
extrapolar as áreas de encostas; para escala 1:25.000, usou-se o MDT de 20 m.
Posteriormente, as imagens de curvatura geradas foram interpoladas pelo método Spline para
as resoluções de 2 m e 5 m respectivamente, que são as áreas dos pixels referente às escalas
dos mapeamentos.
Solos
Normalmente em modelos de suscetibilidade, o mapeamento do tipo e espessura da
cobertura superficial é necessário na escala de análise. Quando não se obtém essa informação,
utiliza-se o mapeamento de solos ou unidades de mapeamento de solos, procurando ajustar as
escalas. A elaboração do mapa de solos para as duas escalas de análise ocorreu com base nos
dados extraídos do Zape da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa Solos,
em que se delimitaram as Unidades de Mapeamento de Solos na escala 1:100.000, que
consiste em associações de solos, já apresentadas na seção 3.5.4.
163
Não se realizaram ajustes nas unidades acima citadas para adaptar a escala 1:25.000,
cobrindo todo o município, permanecendo o mapa utilizado no modelo na escala 1:100.000.
Contudo, visando à adaptação do mapa de unidades de mapeamento de solos para a área
piloto de Ipojuca Sede na escala 1:10.000, realizou-se o reconhecimento morfológico dos
solos em campo, seguindo-se os parâmetros recomendados pelo Manual de descrição e coleta
de solos no campo de Santos et al. (2013). Além desses dados, identificaram-se alguns dados
de Sondagens já realizados na área que complementaram as informações, bem como trabalhos
realizados anteriormente na área de estudo.
Ressalte-se que o objetivo desta atividade não foi a elaboração de um mapa de solos
propriamente dito na escala 1:10.000, pois seria necessário maior distribuição de pontos para
a análise morfológica do perfil, bem como análises químicas em laboratório. Fez-se, neste
caso, um ajuste do mapa às curvas de nível de equidistância de 5 metros, visando melhor
desempenho do modelo de suscetibilidade (Figura 4.2).
Figura 4.2 – Distribuição dos pontos de reconhecimento morfológico de solos na área piloto de
Ipojuca Sede
Fonte: Coutinho (2014)
164
4.2.2.4 Dinâmica da ocupação do município do Ipojuca e elaboração dos mapas de uso e
cobertura da terra
O histórico da ocupação da área a ser zoneada, ou seja, a evolução em termos de uso
da terra tem de ser cuidadosamente considerada, pois as atividades humanas podem alterar o
ambiente de instabilidade da encosta e modificar a suscetibilidade e a probabilidade de
ocorrência dos processos de encosta, tanto os intensificando ou diminuindo a frequência
(FELL et al., 2008).
A dinâmica da ocupação no município do Ipojuca foi avaliada com uma análise
histórica por meio de pesquisa bibliográfica e a utilização de imagens de satélite de alta
resolução, procurando identificar os tipos de uso e as formas de ocupação do município
influenciado ora pela monocultura da cana-de-açúcar, ora pela expansão do Complexo
Industrial e Portuário de Suape.
Procurou-se analisar também o Plano Diretor do município do Ipojuca e outras leis
ligadas ao ordenamento territorial e que contemplem em seus conteúdos sugestões para
minimizar o risco a processos do meio físico. O uso e a cobertura da terra influenciam direta
ou indiretamente no desencadeamento ou prevenção de processos erosivos e de movimentos
gravitacionais de massa, sendo aquela uma variável importante a ser utilizada na análise da
suscetibilidade a tais processos. Por isso, elaboraram-se mapas de uso e cobertura da terra
para o município do Ipojuca nas escalas 1:25.000 e para a área piloto de Ipojuca Sede na
escala 1:10.000 com o objetivo de verificar quanto as formas de uso da terra agravam os
processos morfodinâmicos na área estudada.
O termo “uso da terra” refere-se ao modo como a terra é usada pelos seres humanos e
a “cobertura da terra” refere-se aos materiais biofísicos encontrados sobre a superfície
terrestre (JENSEN, 2009). Levando-se em conta esse entendimento, para a produção do mapa
procedeu-se à interpretação e vetorização das imagens WorldView (2010) e QuickBird
(2006), transportando-as para o software ArcGis 10.1, e à aplicação da classificação das
unidades do Manual técnico de uso da terra do IBGE (2013).
Posteriormente, a realização de campo permitiu melhor averiguação e definição entre
os limites das classes encontradas, que para a escala 1:25.000 as menores feições mapeadas
foram de 5 metros. Determinaram-se, então, dez classes de uso para o município do Ipojuca, a
saber: Áreas Industriais Comerciais ou Transporte, Áreas Urbanizadas, Corpos d’Água,
165
Culturas Permanentes, Culturas Temporárias (cana-de-açúcar), Espaços abertos com pouca ou
nenhuma cobertura, Florestas, Mineração e Terras Úmidas Interiores (mangue).
Os procedimentos metodológicos para a elaboração do mapa de uso da terra na escala
1:10.000 foram de modo semelhante à escala de planejamento exposta anteriormente.
Entretanto, as classes de uso e cobertura foram mais detalhadas, seguindo, ainda a
metodologia do IBGE (2013), procurando atender ao quarto nível das classes de uso. Todavia,
para melhorar a compreensão da área, foi necessário modificar algumas classes para a
realidade do município e para atender aos objetivos do trabalho, propondo, assim, uma nova
classificação.
O Quadro 4.2 apresenta as classes de uso trabalhadas na escala 1:10.000 referente ao
nível IV e sua relação com os demais níveis de uso.
Quadro 4.2 – Relação das classes de uso da terra para a área piloto de Ipojuca Sede, Escala 1:10.000
Nível I Nível II Nível III Nível IV
1. Áreas
antrópicas não
agrícolas
(IBGE)
11. Áreas
urbanizadas
111. Área urbana contínua
1111. Centros urbanos
112. Área urbana
descontínua
1121. Habitações unifamiliares
1122. Assentamentos informais
12. Áreas industriais,
comerciais ou
transporte
121. Unidades industriais e
comerciais
1211. Complexo industrial
1212. Área comercial
1213. Usina de cana-de-açúcar
1214. Estabelecimentos de
ensino e pesquisa
122. Redes viárias
ferroviárias e espaços
associados
1221. Estradas
13. Mineração 132. Área de extração
mineral 1321. Extração a “céu aberto”
14. Espaços abertos
com pouca ou
nenhuma cobertura
141. Solo exposto
1411. Solo exposto para
construção
1412. Solo exposto por erosão
1413. Praia
2. Áreas
antrópicas
agrícolas
21. Culturas
temporárias
211. Cultivo de cana-de-
açúcar 2111. Cana-de-açúcar
212. Cultivo de horticultura 2121. Cultivos de horticultura
22. Culturas
permanentes 221. Cultivo de frutas 2211. Coqueiral
23. Cultivos
diversificados 231 Cultivos diversificados 2311. Cultivos diversificados
3. Áreas de
vegetação
natural
31. Florestas 312. Formações florestais
3111. Mata
3112. Mata ciliar
3113. Restinga
4. Água 41. Corpos d’água
continental 412. Corpos d’água 4121. Corpos d’água
5. Terras
úmidas
51. Terras úmidas
interiores e costeiras
511. Arbóreo 5111. Mangue
Fonte: Dados da pesquisa.
166
4.2.2.5 Análise estatística e definição dos pesos
A análise estatística para definição dos pesos das classes dos fatores analisados foi
baseada no método de estatística bivariada conhecido como índice estatístico (Statistic Index -
Wi) definido por Van Westen (1997) e apresentada por Yalcin et al. (2011). Vancôr e Rolim
(2012) fizeram uma adaptação dessa metodologia com a posterior aplicação da técnica AHP
para a definição dos pesos de cada parâmetro, gerando um grau de influência entre eles.
Assim, nesta tese fez-se uma readaptação da metodologia aplicada por Vancôr e Rolim (2012)
para o município do Ipojuca.
O método índice estatístico (Wi) é baseado na correlação estatística do mapa de
inventário (representado em pontos) com as classes de cada parâmetro analisado. O
cruzamento dos mapas resulta em uma tabulação cruzada, a qual pode ser usada para calcular
a densidade de deslizamentos para cada classe dos parâmetros.
Após a elaboração de todos os mapas temáticos, que nesta modelagem da
suscetibilidade também são considerados Planos de Informação (camadas) no ambiente SIG,
tais como unidades litológicas, declividade, curvatura, solos e uso e cobertura da terra,
realizou-se uma tabulação cruzada entre os referidos PIs e o PI de inventário. Para que isso
fosse possível, todos os planos de informação foram transformados para o formato Raster no
mesmo sistema geodésico e de coordenadas e com a mesma resolução espacial (tamanho dos
pixels). Desse modo, o peso das variáveis foi definido pela relação entre a densidade dos
deslizamentos ocorridos dentro da área de cada variável pelo número total da ocorrência de
deslizamentos, sendo o somatório das variáveis de cada fator igual a 1, sendo representada
pela seguinte equação:
Onde:
Wvi = Peso da variável i
Lvi = Número de ocorrências envolvendo a variável i
L = Número total de ocorrência de deslizamentos na área
Npixclass(Si) = Número de pixels contendo deslizamentos dentro da classe da variável i
Npicarea(Ni) = Número total de pixels dos deslizamentos em toda a área
167
A tabulação cruzada realizou-se para os processos de ravinas e deslizamentos,
processos esses mais identificados no município. Foram, então, gerados os pesos para cada
uma, e posteriormente extraiu-se uma média, que foi considerada como peso final da classe.
Realizou-se uma tabulação cruzada tanto para os dados de entrada voltados ao
mapeamento na escala 1:25.000 quanto para a área piloto de Ipojuca Sede. Destaque-se que,
para este último, houve ajustes nos limites de Unidades Litológicas e de Mapeamento de solos
para a adaptação do modelo.
4.2.3 Etapa de síntese
A etapa síntese refere-se à integração dos dados e à obtenção do resultado final do
mapeamento de suscetibilidade a movimentos de massa. Para isso, tiveram de ser realizadas
as atividades descritas nas seções a seguir.
4.2.3.1 Padronização dos planos de informação
Após a identificação dos pesos para as classes dos fatores condicionantes (Planos de
Informação), foi necessária a padronização desses PIs para torná-los comparáveis entre si.
Todos foram reduzidos a uma escala padrão variando entre 0 a 1, tendo os resultados
estatísticos obtidos na tabulação cruzada. Utilizou-se, portanto, o conceito probabilístico
Fuzzy ou membros fuzzy (Fuzzy Membership), uma ferramenta do Spatial Analyst do ArcGIS
10.1, com a aplicação da função linear entre os valores máximos e mínimos dos pesos
apontados por meio da tabulação cruzada, permitindo a permanência das características de
dados contínuos, onde 0 representa o valor menos suscetível a movimentos de massa e 1 valor
mais suscetível.
4.2.3.2 Aplicação da técnica AHP e definição do grau de influência
A determinação do grau de influência de cada fator condicionante do processo de
movimento de massa foi determinada pela aplicação da técnica AHP (Analytical Hierarchy
Process) , desenvolvida por Thomas Saaty (1987), a qual é uma ferramenta de auxílio à
tomada de decisão baseada na lógica de comparação pareada e permite estimar a contribuição
relativa de cada um dos fatores. Os diferentes fatores condicionantes que serão usados como
168
dados de entrada no modelo foram comparados dois a dois; e um critério de importância
relativa referente à suscetibilidade a movimentos de massa foi atribuído ao relacionamento
entre esses fatores, conforme uma escala predefinida por Saaty (1987) apresentada na Tabela
4.4.
Tabela 4.4 – Escala da importância relativa aplicada pela AHP para a comparação pareada
Intensidade e
Importância
Definição Explicação
1 Mesma importância Os dois fatores contribuem igualmente para o
objetivo
3 Importância pequena de um sobre o
outro
Um fator é ligeiramente mais importante do que o
outro
5 Importância grande ou essencial Um fator é claramente mais importante do que o
outro
7 Importância muito grande ou
demonstrada
Um fator é fortemente favorecido e sua maior
relevância foi demonstrada na prática
9 Importância absoluta A evidência que diferencia os fatores é da maior
ordem possível
2, 4, 6, 8 Valores intermediários entre os
julgamentos
Possibilidade de compromissos adicionais
Fonte: Adaptado de Saaty (1987).
A definição da importância relativa baseou-se no conhecimento prévio de especialistas
(geólogos, geomorfólogos, engenheiros geotécnicos e geólogos de engenharia) da área em
estudo, com a ajuda dos resultados estatísticos após a tabulação cruzada.
As comparações entre os PIs são registradas em matrizes na forma de frações 1/9 e 9.
Cada matriz é avaliada pelo seu autovalor para verificar a consistência dos julgamentos. Esse
julgamento gera uma razão de consistência (Consistency Ratio – CR) que deve ser menor que
0,10, ou seja, quando o valor encontrado for inferior a 0,10, significa que os resultados
obtidos são adequados e pode-se dar continuidade ao desenvolvimento do modelo, caso
contrário, quando o valor é superior a 0,10 sugere-se uma revisão dos julgamentos.
A Tabela 4.5 mostra a importância relativa atribuída a cada fator utilizado no modelo e
o peso obtido por meio do autovetor principal da matriz de comparação pareada.
Tabela 4.5 – Matriz de correlação entre os Planos de Informação trabalhados no modelo
Critérios Uso Geologia Solos Declividade Curvatura Peso
Uso 1 0,25 0,25 0,17 0,17 0,04
Geologia 4 1 1 0,17 0,17 0,09
Solos 4 1 1 0,17 0,17 0,09
Declividade 6 6 6 1 1 0,39
Curvatura 6 6 6 1 1 0,39
Fonte: Dados da pesquisa.
169
O valor da razão de consistência obtido para a matriz acima apresentada foi de 0,0,
indicando que o processo de julgamento do grau de importância dos fatores foi consistente e
pôde-se dar continuidade ao mapeamento.
A aplicação da técnica AHP realizou-se por meio de uma extensão desenvolvida para
o ArcGIS 10.1, que, além da comparação pareada entre os PIs, realizada a integração das
imagens já padronizadas. O aplicativo pode ser encontrado no site
<http://www.arcgis.com/home/item.html?id=bb3521d775c94b28b69a10cd184b7c1f>.
4.2.3.3 Definição dos graus de suscetibilidade
A imagem de saída após a aplicação da técnica AHP apresenta valores de 0 a 1, em
que o valor 0 refere-se à baixa suscetibilidade e o valor 1, à alta suscetibilidade. Foram, então,
divididas em três classes de suscetibilidade a movimentos de massa (baixa, média e alta) por
meio do método quebra natural (Natural Breaks).
4.2.3.4 Validação do modelo
Para a elaboração de um zoneamento da suscetibilidade a movimentos de massa
utilizando abordagens quantitativas, com métodos estatísticos, faz-se necessária a delimitação
de uma área (área de treinamento), que não tenha entrado no modelo de suscetibilidade para
validação dos resultados, visando melhor previsão.
Infelizmente para a área piloto de Ipojuca Sede, isso não foi possível em vista da
pequena extensão da área contendo cicatrizes. Assim sendo, a validação da acurácia do
modelo foi feita em campo, onde se escolheram aleatoriamente áreas determinadas como alta
suscetibilidade para a verificação das características em campo e se aquela área foi
considerada corretamente como de alta suscetibilidade.
Também foram sobrepostos o zoneamento de risco alto e muito alto contidos no Plano
Municipal de Redução de Risco elaborado para o município do Ipojuca.
Realizou-se, ainda, uma comparação entre os resultados das classes de suscetibilidade
alta, média e baixa das duas metodologias (COUTINHO, 2014) e a proposta nesta tese, com o
inventário de cicatrizes.
170
4.2.3.5 Caracterização das classes de suscetibilidade
Após a elaboração do modelo, realizou-se uma nova tabulação cruzada entre o Plano
de Informação (PI) de suscetibilidade com as classes alta, média e baixa e os Planos de
Informação relacionados com os fatores condicionantes, verificando quais classes desses
fatores são mais frequentes em cada uma das classes de suscetibilidade.
4.2.3.6 Definição das áreas críticas do município
Como a elaboração de um mapeamento de risco não faz parte do escopo deste
trabalho, procurou-se realizar a integração simples dos resultados identificados no mapa de
suscetibilidade com a quantidade de população por domicílio, agregado por setor censitário,
para mostrar as áreas mais críticas do município do Ipojuca, utilizando-se apenas duas
variáveis da equação do risco, suscetibilidade a movimentos de massa e elementos em risco,
representados pela população por domicílio. No caso de Ipojuca, esse elemento em algumas
localidades, principalmente nos assentamentos informais, ou seja, nas Zeis definidas no Plano
Diretor do Município, é o principal indutor de deslizamentos no município.
Para a realização da integração das duas referidas variáveis, fez-se a padronização dos
dados de população por domicílio, em que foram reduzidos a uma escala padrão variando
entre 0 a 1, utilizando-se a mesma metodologia apresentada na seção 4.2.3.1. Posteriormente,
realizou-se uma Álgebra de Mapas em que foram multiplicados os PIs de suscetibilidade e de
população por domicílio.
Os resultados identificados foram classificados em 4 classes de risco por meio da
quebra natural (baixa, média, alta e muito alta), com o intuito de ficar mais próximo das
classificações utilizadas nos mapeamentos de risco no Brasil, como nos Planos Municipais de
Redução de Risco. Em seguida, foram comparados com a frequência de ocorrência de
movimentos de massa por localidade com base no cadastro de ocorrências da defesa civil,
bem como das áreas de risco delimitadas no mapeamento municipal de redução de risco,
validando as áreas mais problemáticas do município quanto aos impactos acarretados pelos
movimentos de massa.
O mapa final foi denominado de Mapa de risco a movimentos de massa – Área Piloto
de Ipojuca Sede, município do Ipojuca, Pernambuco – Brasil. Utilizou-se esse nome, portanto,
171
por ser mais conveniente. No entanto, ressalta-se que não se trata de um mapa de perigo por
não ter sido representadas as informações de probabilidade temporal a partir da análise das
frequências dos deslizamentos diretamente nas equações do modelo utilizado no mapeamento,
nem de risco propriamente dito, por não agregar na análise todas as variáveis relacionadas a
vulnerabilidade e aos danos causados.
Tal atividade é um indicativo da continuidade para se chegar ao mapeamento do
perigo e do risco propriamente dito utilizando-se técnicas de abordagem quantitativa, pela
equipe do Gegep.
172
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Análise climatológica e eventos extremos
No município do Ipojuca, o período chuvoso situa-se entre os meses de março a agosto
(outono-inverno), sendo os meses mais úmidos os que vão de abril a julho, configurando-se a
quadra chuvosa. As médias mensais oscilam entre 50,5 mm no mês de novembro a 360 mm
em julho, com total médio de 2.333 mm. As precipitações máximas, mínimas e médias no
município do Ipojuca, apresentam considerável variabilidade sazonal e interanual da
precipitação pluvial, tendo, como exemplo, chuvas máximas em julho de 1050,4 mm (1986) e
mínimas de 84,3 mm (1980), seguindo a principal característica climática do Nordeste do
Brasil, a variabilidade espaço temporal (MOLION; BERNARDO, 2002).
A Figura 5.1 apresenta a distribuição média mensal dos valores de chuva máxima,
média e mínima para os anos de 1941 a 2013 do pluviômetro da Usina Ipojuca.
Figura 5.1 – Distribuição entre as precipitações pluviais mensais média, máxima e mínima para o
município do Ipojuca entre o período 1941-2013
Fonte: Pluviômetro localizado na Usina Ipojuca.
Esse padrão da precipitação anual é influenciado por mecanismos de grande escala
(seção 3.5.1), responsáveis pela maior parte da precipitação observada, e os mecanismos de
meso e microescala que completam os totais precipitados (MOLION; BERNARDO, 2002).
173
Além desses mecanismos, as mudanças nas configurações de circulação atmosféricas
de grande escala a partir da interação oceano-atmosfera no Pacífico e no Atlântico são fatores
que influenciam, substancialmente, na variabilidade interanual da distribuição das chuvas no
Nordeste do Brasil (NEB) tanto nas escalas espacial como temporal (MOLION;
BERNARDO, 2002).
É, portanto, com a compreensão dos mecanismos de grande, meso e microescala e a
interação destes com as alterações na temperatura da superfície do mar (ATSM) do Pacífico e
Atlântico Equatorial que serão apresentados os resultados da análise da variabilidade
interanual da precipitação pluvial, da análise de tendência, bem como da ocorrência de
eventos extremos no município do Ipojuca.
5.1.1 Variabilidade interanual da precipitação pluvial
A Tabela 5.1 apresenta os valores identificados na análise da precipitação pluvial
anual contendo a série histórica de 1941 a 2013 do pluviômetro da Usina Ipojuca para as
probabilidades referentes a (0,05), (0,15), (0,25), (0,65), (0,85) e (0,95), classificando os anos
em Extremamente Seco, Muito Seco, Seco, Normal, Chuvoso, Muito Chuvoso e
Extremamente Chuvoso.
Tabela 5.1 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação anual
relacionada com as ordens quantílicas CATEGORIAS PROBABILIDADES
Extremamente Seco (E. SECO) X ≤ 1561,96
Muito Seco (MS) 1561,96 < X ≤ 1845,44
Seco (S) 1845,44 < X ≤ 2100,32
Normal (N) 2100,32 < X < 2472,44
Chuvoso (C) 2740,06 ≤ X < 2740,06
Muito Chuvoso (MC) 3513,44 ≤ X < 3513,44
Extremamente Chuvoso (E. CHUVOSO) X ≥ 3513,44
Fonte: Dados da pesquisa.
Com base na série climatológica, os anos foram classificados como Extremamente
Seco, Muito Seco, Seco, Normal, Chuvoso, Muito Chuvoso e Extremamente Chuvoso e estão
174
apresentados na Tabela 5.2 e na Figura 5.2 apresenta-se a variabilidade anual da precipitação
no município do Ipojuca.
Tabela 5.2 – Classificação dos anos quanto às categorias de precipitação anual relacionadas com as
ordens quantílicas CATEGORIAS ANOS
Extremamente Seco (E. SECO) 1993, 1998, 2006 e 2012
Muito Seco (MS) 1941, 1946, 1948, 1952, 1981, 1983, 1999
Seco (S) 1943, 1947, 1953, 1954, 1956, 1976, 1979, 1987,
1990, 1991, 1995, 1996, 1997, 2005
Normal (N)
1944, 1945, 1949, 1950, 1951, 1957, 1958, 1959,
1960, 1962, 1963, 1969, 1971, 1988, 1992, 2001,
2007, 2008, 2009, 2010, 2013
Chuvoso (C) 1955, 1961, 1967, 1968, 1970, 1975, 1977, 1978,
1980, 1982, 1985, 1989, 1994, 2002, 2003
Muito Chuvoso (MC) 1965, 1966, 1972, 1973, 1974, 1984, 2011
Extremamente Chuvoso (E. CHUVOSO) 1964, 1986, 2000, 2004
Fonte: Dados da pesquisa.
Figura 5.2 – Representação dos totais anuais e das categorias e probabilidades da precipitação pluvial
anual relacionadas com as ordens quantílicas identificadas na série de 1941 a 2013 no Ipojuca
Fonte: Elaborado com base nos dados do pluviômetro localizado na Usina Ipojuca.
Percebe-se uma variabilidade interanual significativa ao se analisar a Tabela 5.1 e a
Figura 5.2, principalmente em décadas, conforme demonstrado na figura 5.3. As décadas de
1940 e 1950 foram consideradas as mais secas. Na década de 1940, foram três anos
175
considerados muito secos, três anos considerados secos e três anos considerados normais. A
década de 1950, apresentou um ano muito seco, três anos secos, cinco anos normais e um ano
muito chuvoso. A década de 1960 foi considerada uma década muito chuvosa, estando os
anos classificados em normais (4), chuvosos (3), muito chuvosos (2) e um ano extremamente
chuvoso que foi o ano de 1964. A década de 1970 apresentou dois anos considerados secos,
um ano normal, quatro anos chuvosos e três anos muito chuvosos.
Os anos 1980 apresentaram uma variabilidade anual da precipitação pluvial
significativa, uma vez que dois anos foram considerados muito secos, um ano seco, um ano
normal, quatro anos chuvosos, um ano muito chuvoso e com destaque para o ano de 1986 que
foi considerado extremamente chuvoso. A década de 1990 também apresentou uma
variabilidade significativa da precipitação ao longo do ano, com dois anos extremamente
secos (1993 e 1998), um ano muito seco, cinco anos secos, um ano chuvoso e um ano muito
chuvoso. Por fim, identificou-se na década de 2000 um ano extremamente seco (2006), um
ano seco, quatro anos chuvosos, dois anos muito chuvosos e dois anos extremamente
chuvosos (2000 e 2004). Os anos de 2010, 2011, 2012 e 2013 foram considerados
respectivamente normal, muito chuvoso, extremamente seco e normal.
Figura 5.3 – Número de ocorrências das categorias de precipitação por décadas (1941 a 2013) para o
município do Ipojuca
Fonte: Elaborado com base nos dados do pluviômetro localizado na Usina Ipojuca.
A Figura 5.4 apresenta o Índice de Anomalia de Chuva para a série de 1941 a 2013
para o pluviômetro da Usina Ipojuca. Os resultados mostraram predomínio de anomalias
176
negativas, ou seja, valores de precipitação abaixo do esperado para a série estudada.
Identificaram-se 44 anos de anomalias negativas dentre os 73 anos analisados, ou seja, 60%.
Em concordância com o exposto na análise da técnica dos quantis, as décadas de 1940
e 1950, bem como a década de 1990 apresentaram maior frequência de anomalias negativas,
9, 8 e 8 anos respectivamente. O que não ocorreu entre as décadas de 1960, 1970 e 1980 que
apresentaram 7, 7 e 6 anos de anomalias positivas. Destacam-se como anos que apresentaram
maior anomalia positiva, portanto, os anos de 1964, 1986, 2000 e 2004, anos considerados
extremamente chuvosos na análise por meio da técnica dos quantis.
Assim, diante do exposto, percebe-se que essas duas técnicas representam bem a
variabilidade interanual da precipitação no município do Ipojuca.
Figura 5.4 – Índice de anomalia de chuva (1941 a 2013) para o município do Ipojuca
Fonte: Elaborado com base nos dados do pluviômetro localizado na Usina Ipojuca.
Relacionando os dois gráficos (Figuras 5.2 e 5.4) com os anos de ocorrência de El
Niño (Tabela 5.3) e La Niña (Tabela 5.4) e do Dipolo do Atlântico (fases positiva e negativa,
Tabela 5.5), pôde-se verificar que ocorreram fenômenos de El Niño nos anos de 1939-1941
(Forte), 1946 a 1947 (Moderado), 1951 e 1953 (Fraco) e 1957-1959 (Forte), o que pode ter
influenciado na predominância do período de 1941 a 1960 como anos secos ou anos normais e
de anomalias negativas de chuva.
177
Tal fato pode ter sido agravado pela ocorrência da fase positiva do Dipolo do
Atlântico. A fase positiva consiste em um maior aquecimento do Oceano Atlântico Norte
(menor pressão) que ajuda a manter a ZCIT mais ao norte da sua posição climatológica
(NÓBREGA; SANTIAGO, 2014).
Tabela 5.3 – Anos de ocorrência de El Niño
Ocorrências de El Niño
Forte Moderado Fraco
1939-1941; 1957-1959
1972-1973; 1982-1983
1990-1993; 1997-1998
1946-1947; 1968-1970; 1986-1988
1994-1995; 2002-2003
1951, 1953, 1963, 1976-1977; 1977-1978
1979-1980; 2004-2005; 2006-2007
2009-2010.
Fonte: CPTEC/INPE.
Tabela 5.4 – Anos de ocorrência de La Niña
Ocorrências de La Niña
Forte Moderado Fraco
1949-1951; 1954-1956; 1973-1976
1988-1989; 2007-2008.
1964-1965; 1970-1971
1998-2001
1983-1984; 1984-1985
1995-1996.
Fonte: CPTEC / INPE.
Tabela 5.5 – Anos de ocorrência do Dipolo do Atlântico
Fase positiva Fase negativa
1951, 1953, 1954, 1958, 1966, 1969, 1970,
1978, 1979, 1980, 1981, 1983, 1992, 1997
1949, 1964, 1965, 1971, 1972, 1973,
1974, 1977, 1984, 1985, 1986, 1989
Fonte: Souza (1997); Adreoli e Kayano (2007).
De 1962 a 1975, houve maior ocorrência de anos chuvosos a extremamente chuvosos,
como também maior frequência de anos com anomalias de chuva positivas. Fato esse que
coincide com a ocorrência de eventos de La Niña fortes e fracos nos anos de 1964-1965,
1970-1971 (moderado), 1973-1976 (forte), intensificado pela fase negativa do Dipolo do
Atlântico. Essa fase consiste em um maior aquecimento das águas do Atlântico Sul (menor
pressão), fazendo com que a ZCIT se mantenha mais ao sul da sua posição climatológica.
Além disso, quando o Atlântico Sul encontra-se mais aquecido, provoca mais evaporação da
178
área adjacente à costa do NEB, em razão do maior fluxo de calor latente na área tropical, que
leva umidade aos altos níveis e, essa massa, quando chega ao continente, condensa-se e forma
a precipitação, além da intensificação da atuação das Ondas de Leste e brisas na região.
A década de 1980 também foi marcada por maior ocorrência de anos chuvosos a
extremamente chuvosos. Entretanto, os anos de 1981 e 1983 foram considerados muito secos;
tal fato pode ter sido influenciado pela conjunção dos fenômenos de El Niño forte e da
ocorrência da fase positiva do Dipolo do Atlântico nesses anos. De 1984 a 1986, foi dominado
por um período de ocorrência de La Niña e da fase negativa do Dipolo do Atlântico,
destacando-se 1986 como um ano Extremamente Chuvoso.
A década de 1990 foi marcada pela predominância de anos secos, provocado pela
preponderância de eventos de El Niño concomitante com a fase positiva do Dipolo do
Atlântico. Nas décadas de 2000 e 2010, destacam-se os anos de 2000, 2004 e 2011 como anos
muito chuvosos a extremamente chuvosos. Dentre esses anos, somente 2000 estava sob a
influência de um evento de La Niña; os demais anos estavam sob a influência de El Niño
fraco.
Após o estudo da variabilidade anual da precipitação do município do Ipojuca,
realizou-se uma análise da tendência da série pluviométrica, visando identificar se ocorre
manutenção, aumento ou diminuição dos valores de precipitação pluvial. Essa tendência é
entendida como uma alteração no clima, aumento ou diminuição lenta dos valores médios da
série de dados analisados no período de registro.
Resultados semelhantes foram identificados por Moura (2009), Silva et al. (2011) e
Nobrega e Santiago (2014).
Com base nos resultados da aplicação do teste de Mann Kendall, a série histórica de
1941 a 2013 apresentou uma leve tendência de aumento da precipitação ( =0,94), assim
como os trimestres relacionados com o verão (DJF), =8,74, e inverno (JJA) =6,78;
já os períodos de outono (MAM) e primavera (SON), apresentaram uma tendência negativa
de precipitação ( =-14,3 e =-4,51). Quando analisada a quadra chuvosa (AMJJ),
verifica-se uma leve tendência positiva ( =0,03), fato esse determinado pela diminuição
das chuvas no período de outono, nesse caso, representado pelos meses de abril e maio.
179
5.1.2 Análise dos dados mensais de chuva
A análise mensal da série histórica de precipitação de 1941 a 2013 serviu para
identificar os meses que estiveram abaixo ou acima da sua normalidade e demonstrar que os
eventos extremos também podem ocorrer fora do período chuvoso do município (MAMJJA).
Com base nessa análise, pôde-se identificar os limiares relacionados com as probabilidades
(0,05), (0,15), (0,25), (0,65), (0,85) e (0,95), apresentados na Tabela 5.6.
Analisando os extremos mensais considerando todos os meses do ano, os meses de
abril, maio, junho e julho concentraram o número de anos com chuvas mensais extremas (X ≥
527,02 mm/30 dias) com 6, 11, 14 e 11 anos respectivamente. O ano de 2004 teve o mês de
janeiro com chuvas extremas, e 1964 apresentou o mês de agosto com chuvas extremas.
Quase todo o período chuvoso desse último ano (abril, maio, junho e agosto) foi considerado
extremante chuvosos.
Tabela 5.6 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação mensal
relacionada com as ordens quantílicas (0,05), (0,15), (0,25), (0,65), (0,85) e (0,95) CATEGORIAS PROBABILIDADES
Extremamente Seco (E. SECO) X ≤ 17,02
Muito Seco (MS) 17,02 < X ≤ 39,70
Seco (S) 39,70 < X ≤ 92,35
Normal (N) 92,35 < X < 220,3
Chuvoso (C) 220,3 ≤ X < 360,15
Muito Chuvoso (MC) 360,15 ≤ X < 527,02
Extremamente Chuvoso (E. CHUVOSO) X ≥ 527,02
Fonte: Dados da pesquisa, baseados no pluviômetro da Usina Ipojuca.
Com a aplicação dos quantis extremos relacionados com as probabilidades p=0,05 e
p=0,95 para cada mês (Tabela 5.7), identificaram-se os valores máximos de cada mês nos
seguintes anos: janeiro 2004 (616,7 mm/30 dias); fevereiro 1980 (501,7 mm/28 dias); março
1967 (517,9mm/30 dias); abril 1973 (963,8mm / 30 dias); maio 1958 (753,1 mm/30 dias);
junho 1951 (851,8mm/30 dias); julho 1986 (1050,4mm/30 dias); agosto 1964 (622,7 mm/30
dias); setembro 2000 (450,2 mm/30 dias); outubro 1971 (279,4 mm/30 dias); novembro 1986
(228,4 mm/30 dias); dezembro 1975 (253,6 mm/30 dias).
180
Tabela 5.7 – Relação mensal dos valores de chuva média, máxima, mínima e as probabilidades p=0,05
(Mês extremamente secos) e p=0,95 (Mês extremamente chuvoso)
CHUVA MÊS
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Média 116,2 130 214,1 294,1 344,3 390,3 343,1 208 114,2 63,7 49,6 64,9
Máxima 616,7 501,7 517,9 963,8 753,1 851,8 1050,4 622,7 450,2 279,4 228,4 253,6
Mínima 9,3 8,2 8,9 48,4 72,4 95,3 84,3 72,7 2,3 9 2,1 0,2
Q 0,05 26,6 21,24 76,34 97,28 131,32 186,8 163,56 95,54 25,04 12,28 8,86 6,74
Q 0,95 267,12 344,87 446,36 609,36 652,09 795,54 748 387,09 235,8 167,9 126,42 149,1
Fonte: Dados da pesquisa, baseados no pluviômetro da Usina Ipojuca.
Com base nos extremos apresentados na Tabela 5.7, analisou-se o total de ocorrência
de anos que apresentaram meses extremos por década. As que apresentaram um maior
número de meses considerados extremamente secos foram as décadas de 1990, 1980 e 2000.
Já as décadas que apresentaram um maior número de meses extremamente chuvosos foram
1970, 1960 e 1990. Essa análise significa que nos anos de 1941 a 1963 os totais precipitados
estiveram dentro da normalidade; já nos anos de 1964 a 1986, as chuvas foram mais extremas,
predominando as anomalias positivas. Entre os anos 1987 e 1999, predominaram as anomalias
negativas e a partir do ano 2001, foram anos com uma variabilidade mais significativa,
conforme a análise da Figura 5.4.
5.1.3 Análise da precipitação diária
A análise dos valores diários de precipitação tem como objetivo a identificação dos
limiares significativos (valores extremos) que possam causar danos à sociedade, acarretando
movimentos de massa e inundação. Existe dificuldade na identificação desse valor, pois eles
variam de acordo com as características locais, bem como com as estações do ano. Por
exemplo: precipitação acumulada de 60 mm em 24h pode ser excepcional para uma região e
normal para outra. Pode ser usual no verão e excepcional no inverno (VICENTE, 2005).
Diante do que foi exposto, objetivando identificar o limiar pelo qual um acumulado de
chuva de 24h seja considerado como um evento de chuva extrema (dia com chuva
extremamente forte), aplicou-se a técnica dos quantis para os dados diários do pluviômetro de
Ipojuca fornecido pela Apac com uma série de 1957 a 1978/1991 a julho de 2015. Ressalte-se
que os anos de 1979 a 1990 não tinham dados, por isso não entraram na análise estatística.
181
Conforme visto na seção 5.1.1, a década de 1980 foi considerada uma década chuvosa tendo
1986 como um ano extremamente chuvoso.
Para o município do Ipojuca, os valores diários de precipitação pluvial foram
distribuídos em sete classes quantílicas, a saber: Chuva extremamente Fraca, Chuva muito
Fraca, Chuva Fraca, Chuva Moderada, Chuva Forte, Chuva muito Forte e Chuva
extremamente Forte, aplicando-se as mesmas probabilidades trabalhadas nas escalas anual e
mensal. São elas: p=0,05, p=0,15, p=0,25, p=0,65, p=0,85, p=0,95 (Tabela 5.8). O limiar de
chuva que foi identificada como extrema (p=0,95) se precipitado em 24h foi de 53 mm, muito
próximo do identificado por Souza, Azevedo e Araújo (2012) para o município do Recife,
Pernambuco, que foi de 55,3 mm/24h.
Tabela 5.8 – Determinação das categorias e probabilidades da precipitação diária (acumulado de
24h) relacionadas com as ordens quantílicas p=0,05, p=0,15, p=0,25, p=0,65, p=0,85, p=0,95 para
Ipojuca
CATEGORIAS PROBABILIDADES
Chuva extremamente Fraca (E. FRACA) X ≤ 2,2
Chuva muito Fraca (C. M. FRACA) 2,2 < X ≤ 3
Chuva Fraca (C. FRACA) 3 < X ≤ 5,2
Chuva Moderada (C. MODERADA) 5.2 < X < 12,6
Chuva Forte (C. FORTE) 12,6 ≤ X < 27,8
Chuva muito Forte (C. M. FORTE) 27,8 ≤ X < 53
Chuva extremamente Forte (E. FORTE) X ≥ 53
Fonte: Com base nos dados do pluviômetro de Ipojuca fornecido pela Apac com uma série de 1957 a
1978/1991 a julho de 2015.
Com base nos resultados encontrados, verificou-se um maior número de ocorrências
de chuvas moderadas em todos os anos analisados (Figura 5.5), superado apenas no mês de
abril por dias de chuva forte. Os dias de chuva extremamente fortes são mais frequentes de
abril a junho, mas chuvas acima do limiar de 53 mm identificaram-se em todos os meses.
Dezembro foi o mês que apresentou a menor ocorrência, e em junho, seguido por maio e abril,
houve as maiores ocorrências. Em agosto, identificaram-se somente dez episódios.
182
Figura 5.5 – Número de dias que estão entre as categorias Chuva extremamente Fraca, Chuva muito
Fraca, Chuva Fraca, Chuva Moderada, Chuva Forte, Chuva muito Forte e Chuva extremamente Forte
para o município do Ipojuca
Fonte: Com base nos dados do pluviômetro de Ipojuca fornecido pela Apac com uma série de 1957 a 1978/1991
a julho de 2015.
Após a identificação do limiar de chuva acumulada em 24h considerada extrema,
identificaram-se as frequências de ocorrência dos intervalos de chuva de 50-60 mm, 60-70
mm, 80-90 mm, 90-100 mm e >100 mm para cada mês do ano para a série histórica de 1957 a
1978/1991 a julho de 2015 (Figura 5.6). O intervalo com chuvas de 50-60 mm ocorre com
maior frequência do que os demais, principalmente em abril, maio, junho e julho, tendo maior
ocorrência em abril e junho, com 21 e 25 episódios nesses anos.
Figura 5.6 – Gráfico com a frequência de ocorrência dos intervalos de chuva de 50-60 mm, 60-70 mm,
80-90 mm, 90-100 mm e >100 mm por mês para a série de 1941 a 2012 no município do Ipojuca
Fonte: Com base nos dados do pluviômetro de Ipojuca fornecido pela Apac com uma série de 1957 a 1978/1991
a julho de 2015.
183
Por ser o mês mais chuvoso, junho é o que apresenta o maior número de dias com
chuvas acima de 50 mm, principalmente de chuvas acima de 100 mm, seguido dos meses de
maio e abril. Agosto apresentou maior número de dias com chuvas acima de 100 mm do que
dos demais intervalos. Esse fato mostra o mês de agosto com um mês de ocorrências de
extremos significativos de precipitação.
Os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro quase não apresentaram chuvas
acima de 50 mm, porém, o único dia com chuva acima de 50 mm ocorreu no dia 5 de
dezembro de 2005, que apresentou um acumulado de 138 mm/24h, em 72h choveu 180 mm,
um evento considerado extremo para o mês de dezembro.
Na seção 5.1.4, apresentam-se os impactos provocados pelas chuvas extremas no
município do Ipojuca e destacam-se os eventos mais significativos.
5.1.4 Exemplos de impactos associados aos eventos extremos no município do Ipojuca
Na seção 5.1.3, por meio da análise dos totais anuais, mensais e diários de chuva,
identificaram-se os anos, meses e dias que estiveram dentro da normalidade e os que
estiveram bem abaixo ou bem acima da normalidade; por exemplo, os anos e meses
extremamente chuvosos e os dias com chuvas extremamente fortes, considerados como
eventos raros, que fogem da normalidade, ou seja, eventos considerados extremos ou de alta
magnitude.
No município foram identificados eventos de caráter hidrometeorológicos (chuvas
intensas) acarretando movimentos de massa (deslizamentos, quedas de muro de arrimo, etc.),
inundações e alagamentos.
Visando avaliar os impactos provocados pelos eventos de chuva extrema, analisaram-
se as ocorrências de episódios de inundação, alagamentos, movimentos de massa
(deslizamentos) e queda de muro de arrimo, que foram cadastradas e fornecidas pela Defesa
Civil do município do Ipojuca, dando ênfase às ocorrências de deslizamentos. Assim, nesse
cadastro municipal, consideram-se todas as ocorrências registradas pela Defesa Civil, quer de
grande impacto, quer não, pois a Defesa Civil municipal não classifica os deslizamentos, nem
por tipo nem por dimensão (pequeno, médio e grande porte). Entretanto, a partir da análise do
inventário, verificou-se que os deslizamentos do município são de pequeno port. Sendo assim,
os deslizamentos fornecidos pela Defesa Civil também foram considerados de pequeno porte.
184
Também se coletaram as informações de eventos mais significativos nos arquivos
digitais do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID), sistema esse ligado à
Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional
(<http://s2id.mi.gov.br/>).
De acordo com o S2ID, registraram-se eventos de Inundação e Enxurradas bruscas em
2000, 2005 e 2010. Os movimentos de massa no município do Ipojuca não entraram nos
cadastros do referido banco devido à baixa magnitude dos deslizamentos; entretanto, nos anos
em que houve enxurradas bruscas, ou de chuvas intensas, muitas ocorrências de
deslizamentos foram cadastradas pela defesa civil municipal.
O ano de 2000 foi considerado extremamente chuvoso estando sob a influência do
fenômeno La Niña, fenômeno esse responsável por uma tendência de aumento de precipitação
na porção leste do Nordeste. Em 2000, consideraram-se chuvosos, muito chuvosos e
extremamente chuvosos 60% dos meses, o que mostra uma boa distribuição das chuvas
durante todo o ano. Podem-se destacar junho e julho, considerados meses extremamente
chuvosos, com totais mensais de 944,4 mm e 1.029,5 mm respectivamente. Mais
precisamente pelas chuvas ocorridas nos dias 31 de julho e 1.º de agosto de 2000, com chuva
acumulada em 24h de 208,2 mm e 270,20 mm, respectivamente, classificadas como chuvas
extremamente forte. Nesses dias o município do Ipojuca decretou Situação de Emergência,
sendo atingidos os bairros de Ipojuca Sede, distrito de Camela, Vila de Porto de Galinhas,
Vila de Rurópolis, Bairro de São Miguel, Vila de Serrambi, Loteamento Canoas, e cerca de
10.000 pessoas foram afetadas.
O ano de 2005 foi considerado seco. Os meses, na maioria, foram classificados como
secos, todavia, as chuvas se concentraram no trimestre JJA (50%), sendo este classificado
como Chuvoso. No dia 1.º e 2 de junho, as chuvas atingiram um montante de 146,3 mm em
48h (Pluviômetro da Usina Salgado) levando à ocorrência de vários pontos de inundação e
alagamentos, por exemplo: Rurópolis (Vila Europa), os bairros de Ipojuca Centro,
Loteamento Antônio Dourado Neto (Campo do Avião), São Miguel, o distrito de Camela e os
Engenhos Gaipó e Caetés, com um total de 2.000 pessoas afetadas, de acordo com o relatório
de Avadan. Todas as áreas de risco foram atingidas levando a uma série de deslizamentos e
alguns induzindo a perda total de residências. Além desses problemas, as chuvas também
causaram vários prejuízos sociais como rompimento de distribuição elétrica e coleta de lixo,
bem como surtos de doença provocados pelo contato da população com as águas poluídas
pelos esgotos.
185
De 2007 até julho de 2015, os impactos foram identificados utilizando os dados de
ocorrências fornecidos pela Defesa Civil do município do Ipojuca e idas a campo. É
pertinente lembrar que os dados de 2007 a 2013 estavam guardados em papel e durante esta
pesquisa foram transferidos para um banco de dados digital, por isso, podem estar faltando
dados de ocorrências nesses anos. Somente em 2013, a defesa civil do município passou a
registrar diretamente as ocorrências em banco de dados digitais, sendo estes mais confiáveis.
Assim, para alguns anos, não foi possível relacionar os montantes precipitados em 24 horas
com a ocorrência de deslizamentos.
Iniciando-se com o somatório das ocorrências de inundação, alagamentos,
deslizamentos e queda de muros de arrimo, de todos os anos, separados por meses,
analisaram-se as frequências dessas ocorrências para cada mês. Constatou-se, assim, maior
concentração das ocorrências no período chuvoso, como era de se esperar para os meses de
abril, maio, junho e julho (Figura 5.7). Entretanto, janeiro, fevereiro e março também
apresentaram um número significativo de ocorrências, respectivamente 110, 96 e 116. Os
menores quantitativos de ocorrência estão em novembro e dezembro, os quais são
considerados meses secos.
Figura 5.7 – Número total de ocorrências (deslizamentos, inundação, alagamentos e queda de muro de
arrimo) no município do Ipojuca distribuído por meses, para cada ano, de 2007 a 6 de julho de 2015
Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.
Não obstante, esses deslizamentos também podem ser deflagrados por influências
antrópicas como lançamento de águas servidas e esgoto, presença de fossas sépticas, dentre
186
outros que não precisam, necessariamente, da atuação da chuva no desencadeamento desses
processos.
O ano de 2007 foi considerado um ano com totais anuais dentro da normalidade sob a
influência de um El Niño fraco. Não apresentou nenhum dia com chuvas acima de 100 mm/
24h com precipitações máximas na faixa de 88 mm/24h.
Somente os meses de fevereiro e agosto foram considerados Chuvoso e Muito
Chuvoso. Esse ano apresentou um número de ocorrências bem distribuídas, com destaque
para o mês de janeiro, que esteve um pouco acima da média e com as chuvas concentradas do
dia 1.º a 10 de janeiro, o que levou às quantidades significativas de ocorrências nesse mês.
Os meses que apresentaram maior número de ocorrências de deslizamentos foram os
meses de março (49), abril (45) e maio (34). As ocorrências foram expressivas nos bairros de
São Miguel, Antônio Dourado Neto e centro do distrito de Ipojuca Sede, nas localidades de
Rurópolis e Bela Vista e no distrito de Camela (Figura 5.8).
Figura 5.8 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação, alagamentos e queda de muro
de arrimo) por localidades no município do Ipojuca em 2007
Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.
¹ Bairro Antônio Dourado Neto.
O ano de 2008 apresentou totais anuais dentro da normalidade, mesmo se encontrando
sob a influência de um evento de La Niña forte. Registraram-se nesse ano 162 ocorrências,
com maior número nos meses de maio, abril e março com 30, 20 e 15 ocorrências
respectivamente. Nesse ano identificaram-se 11 dias com chuvas acima de 53 mm/24h.
Somente em março, foram três dias com chuvas acima de 100 mm/24h, os dias 18, 20 e 22
com 105 mm/24h, 108,8 mm/24h e 189 mm/24h respectivamente. Foi um mês considerado
187
extremamente chuvoso se comparado com as médias de março. Logo, em consequência
dessas fortes chuvas, as ocorrências foram distribuídas do dia 18 a 26. Das 15 ocorrências
identificadas nesse período, foram 14 de deslizamentos e 1 de enchente/inundação, esta última
na localidade de Bela Vista.
Em abril de 2008, as ocorrências se concentraram no início do mês pelo acumulado de
593 mm do dia 18 a 31 de março (Figura 5.9). O total precipitado em abril foi abaixo da
média, porém, as chuvas que ocorreram no mês anterior foram suficientes para deixar o solo
saturado e levar a um maior número de deslizamentos sem a necessidade de ocorrer grande
montante de chuva no dia exato em que ocorreu o deslizamento.
Figura 5.9 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de deslizamentos
por dia em março e abril de 2008 no município do Ipojuca
Fonte: Dados de ocorrência de deslizamentos: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos:
Posto Pluviométrico de Ipojuca (Apac).
Em 28 de abril de 2008, choveu o acumulado de 132,6 mm/24h e em 7 de maio,
choveu mais 60,6 mm/24h. A partir de então, as chuvas foram bastante significativas,
distribuídas em quase todo o mês de maio. Este, por sua vez, foi considerado um mês chuvoso
tendo uma concentração de chuva dos dias 7 a 18 (Figura 5.10). As ocorrências, todas elas de
deslizamentos, foram bem distribuídas durante esse mês.
188
Figura 5.10 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de
deslizamentos por dia em maio e junho de 2008 no município do Ipojuca
Fonte: Dados de ocorrência: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos: Posto Pluviométrico
de Ipojuca (Apac).
Em 2008, as localidades mais atingidas foram o distrito de Camela, Rurópolis, Bela
Vista e os bairros Ipojuca Centro, Antônio Dourado Neto e São Miguel, localizados no
distrito de Ipojuca Sede (Figura 5.11).
Figura 5.11 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação, alagamentos e queda de muro
de arrimo) por localidades no município do Ipojuca em 2008
Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.
¹ Bairro Antônio Dourado Neto; ² Nossa Senhora do Ó.
Em 2009, cadastraram-se 87 ocorrências em Ipojuca. Esse ano apresentou um total
anual dentro da normalidade, com uma anomalia negativa de precipitação, sob a influência de
um El Niño fraco. Identificaram-se somente 11 dias com chuvas acima de 53 mm / 24h e 2
dias com chuvas acima de 100 mm/24h; esses últimos foram os dias 12 de junho (114,5
mm/24h) e 25 de agosto (120,2 mm/24h).
189
Os meses que apresentaram maior número de ocorrências foram junho, abril e
fevereiro. Em 30 e 31 de janeiro e 1.º de fevereiro, choveu o acumulado de 141,4 mm/72h, o
que levou a uma sequência de deslizamentos em 30 de janeiro, 2, 4 e 5 de fevereiro. Os meses
de janeiro e fevereiro foram considerados Chuvoso e muito Chuvoso, e o trimestre DJF foi
considerado muito Chuvoso, o único trimestre acima da média de 2009.
No início de março, identificaram-se algumas ocorrências de deslizamentos pelo
acumulado de precipitação no fim de fevereiro e início de março. Abril foi considerado um
mês chuvoso em relação à média, apresentou 20 ocorrências de deslizamentos e 60% delas
ocorreram no dia 22 e uma enchente no dia 24 na localidade de Rurópolis em consequência
do acumulado de precipitação 445,20 mm do início do mês até esse dia.
No mês de junho, das 27 ocorrências, foram 20 no dia 12 de junho (74% das
ocorrências) pelas chuvas intensas (114,5 mm/24h) que precipitaram nesse dia. Em 6 de
julho, choveu o acumulado de 112,4 mm/72h, o que levou à ocorrência de dois deslizamentos
na localidade de Bela Vista. Em agosto, nos dias 25 e 26, choveu o acumulado de 161,2
mm/48h, porém só foi cadastrada uma única ocorrência de deslizamento.
As localidades que mais sofreram impactos em 2009 foram os bairros de São Miguel,
Antônio Dourado Neto e Centro, no distrito de Ipojuca Sede e as comunidades de Rurópolis e
Bela Vista (Figura 5.12).
Figura 5.12 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação, alagamentos e queda de muro
de arrimo) por localidades no município do Ipojuca em 2009
Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.
¹ Bairro Antônio Dourado Neto.
190
O ano de 2010 apresentou totais anuais de chuva normal, com anomalias negativas de
precipitação em relação à média. Grande parte do ano esteve sob a influência de um El Niño
fraco. Todavia, as temperaturas do Oceano Atlântico Tropical Sul apresentavam-se elevadas,
configurando-se uma fase Negativa do Dipolo do Atlântico. Por isso, mesmo que não se
considerasse um ano chuvoso, apresentou chuvas intensas concentradas em junho, o que
levou a prefeitura do Ipojuca a decretar situação de emergência.
As chuvas mais significativas ocorreram nos dias 5 (109 mm), 16, 17 e 18 de junho,
com um acumulado de precipitação nesses três últimos dias de 299,2 mm/72h, equivalente a
52% do total precipitado em todo mês, acarretando eventos de inundações e enxurradas
bruscas no município do Ipojuca e em vários municípios da Região Metropolitana do Recife e
da Zona da Mata Pernambucana.
De acordo com Girão et al. (2013), nesse evento havia uma confluência de dois
sistemas atmosféricos em atuação, acoplados à ocorrência de duas anomalias sobre os
oceanos, gerando condições favoráveis à instabilidade atmosférica, por exemplo, a atuação de
um Distúrbio Ondulatório de Leste (DOL) sobre a costa leste do Nordeste. Os DOLs
caracterizam-se por chuvas acima de 80 mm/24h, que, para o município do Ipojuca e demais
municípios da RMR, já podem causar sérios transtornos à população.
Esses distúrbios são um sistema meteorológico de mesoescala que ocorrem
normalmente no período de outono/inverno no litoral nordestino, porém o fenômeno que
ocorreu nos três dias especificados atingiu proporções significativas adentrando para oeste do
estado de Pernambuco até o Agreste e atingindo as cabeceiras das Bacias Hidrográficas
localizadas nessa região, como as Bacias do Sirinhaém e Ipojuca. Ainda de acordo com Girão
et al. (2013), esse sistema adquiriu maior energia por meio da circulação de brisa marítima
que se apresentava mais intensa por causa das altas temperaturas do mar na costa leste do
NEB.
Todo o município do Ipojuca sofreu impactos nesse período. A ponte localizada na
PE-60 teve de ser interditada, igualmente trechos da PE-38 que liga a PE-60 a Porto de
Galinhas também teve vários trechos inundados, deixando os moradores de Camela e as
pessoas que queriam regressar ao Recife isoladas. De acordo com a Defesa Civil do
município, contabilizaram-se 1.500 desalojados e 102 desabrigados, com um total de 7.250
pessoas atingidas. Além desses impactos, identificaram-se prejuízos sociais como a ausência
de distribuição de energia elétrica e água, coleta de lixo e cancelamento das aulas por dois
dias segundo o Relatório de Avaliação de Danos/ S2ID.
191
As Figuras 5.13 e 5.14 trazem a localização do bairro de Ipojuca Centro, uma das
áreas afetadas pela inundação de 2010 e manchas da inundação ainda visualizadas em 2013.
Figura 5.13 – Marcas da enchente que ocorreu em 2010. Exemplos da Rua Cristóvão
José Pimentel próximo ao rio Ipojuca, localizada no distrito Sede do município
Fonte: Google Earth, 2015.
Figura 5.14 – Imagens da Rua José Cristóvão Pimentel (Ipojuca Centro) mostrando as marcas da
última enchente em 2010
Fonte: Coutinho, 26 fev. 2013.
192
Devido à inexistência de dados de ocorrências da Defesa Civil para este ano, não
foram gerados gráficos de ocorrências mensais e relação dos montantes de chuva e
deslizamentos.
Em 2011, registraram-se 213 ocorrências, concentradas no mês de maio (76) e abril
(58), ou seja, 62% das ocorrências. Foi um ano classificado como Muito Chuvoso e maio e
abril foram meses Extremamente Chuvoso e Muito Chuvoso respectivamente. Neste ano
foram vários desastres que ocorreram em quase todo o Brasil. Contabilizaram-se 12 dias com
chuvas acima de 53 mm/24h concentrados em abril, maio e julho. Em maio, foram 5 dias com
chuvas acima de 53 mm/24h e o único dia com chuva acima de 100 mm / 24h ocorreu no dia
5 desse mês, levando à ocorrência de 14 deslizamentos nesse dia.
A relação entre as ocorrências de deslizamentos e o total diário precipitado pode ser
visualizada na Figura 5.15 para os meses de abril e maio. Nesse período os dados
apresentaram melhor correlação. Abril apresentou maior frequência de ocorrências de
deslizamentos nos dias 11 e 12 e do dia 1.° ao dia 12 teve um acumulado de 162,5 mm de
chuva.
Figura 5.15 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de
deslizamentos por dia em abril e maio de 2011 no município do Ipojuca
Fonte: Dados de ocorrência: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos: Posto Pluviométrico
de Ipojuca (Apac).
Em maio, as chuvas concentraram-se no início e no fim do mês, com destaque para o
acumulado de 102 mm/24h no dia 5. As ocorrências de deslizamentos foram mais
significativas no início do mês, também influenciado pelas fortes chuvas no fim de abril; em 8
dias (29 de abril a 6 de maio), choveu o acumulado de 399 mm. Nos dias 5, 9, 11 e 13 de
193
maio também foram cadastradas ocorrências de enchentes nas localidades de Rurópolis, Bela
Vista e o bairro de Ipojuca Centro.
O gráfico na Figura 5.16 apresenta as localidades afetadas pelas chuvas. As principais
foram as localidades de Bela Vista e Rurópolis, seguidas dos bairros de Antônio Dourado
Neto, Ipojuca Centro e São Miguel no distrito de Ipojuca Sede, e na Zona Rural, vários
engenhos também foram afetados.
Figura 5.16 – Gráfico do total de ocorrências (deslizamentos, inundação, alagamentos e queda de
muro de arrimo) por localidades no município do Ipojuca em 2011
Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.
Em 2012, cadastraram-se 101 ocorrências, 100 de deslizamentos e somente uma de
enchente, no dia 10 de abril em Ipojuca Centro, mesmo sendo considerado um ano
Extremamente Seco. O maior número de ocorrências de deslizamentos ocorreu em fevereiro
(23), julho (20), janeiro (19) e junho (15). Quase todos os meses (83%) foram secos a
extremamente secos; somente janeiro e outubro, apresentaram chuvas acima da média.
Identificaram-se apenas 3 dias com chuvas acima de 53 mm/24h e nenhum dia com chuvas
acima de 100 mm/24h. A máxima anual ocorreu no dia 2 de julho com 88,2 mm / 24h. As
chuvas concentraram-se no fim de janeiro, e o montante acumulado nos dias 22, 23 e 24 de
93,4 mm/72h levaram à ocorrência de 13 deslizamentos entre esses dias (Figura 5.17).
As chuvas que ocorreram nos dias 22 a 24 de janeiro de 2012 também provocaram
interrupção da moagem da cana pela Usina Ipojuca, afetando a produção.
194
Figura 5.17 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de
deslizamentos por dia em janeiro e fevereiro de 2012 no município do Ipojuca
Fonte: Dados de ocorrência: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos: Posto Pluviométrico
de Ipojuca (Apac).
Em junho de 2012, nos dias 19 e 20, choveu o acumulado de 71,40 mm/48h, levando à
ocorrência de deslizamentos nos dias 22 (quatro) e 23 (três). Com as chuvas intensas de 55
mm/24h no dia 28 de junho e 88,20 mm/24h em 2 de julho, ocorreram deslizamentos nos dias
3 (seis), 4 (cinco) e 5 (quatro) conforme a Figura 5.18. Mesmo não sendo considerado um ano
chuvoso e a quadra chuvosa ter sido considerada Extremamente Seca, os eventos de chuvas
concentrados levaram à ocorrência de deslizamentos em 2012.
Figura 5.18 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de
deslizamentos por dia em junho e julho 2012 no município do Ipojuca
Fonte: Dados de ocorrência: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos: Posto Pluviométrico
de Ipojuca (Apac).
Em 2012, mais uma vez as localidades de Rurópolis e Bela Vista, bem como os
bairros de Antônio Dourado Neto, São Miguel e Centro do distrito de Ipojuca Sede foram os
mais afetados (Figura 5.19).
195
Figura 5.19 – Gráfico do total de ocorrências por localidades no município do Ipojuca em 2012
Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.
O ano de 2013 foi considerado normal, mas com anomalia negativa em relação à
média histórica, ainda sob a influência de um El Niño. Somente quatro dias apresentaram
chuvas acima de 53 mm/24h e a precipitação máxima anual foi de 87 mm/24h, que ocorreu
em 20 de abril. Houve 88 ocorrências de deslizamentos, sendo mais significativas em maio
(24), abril (20) e junho (12). Do dia 20 ao dia 30 (onze dias) de abril, choveu o acumulado de
231,50 mm, levando à ocorrência de dois deslizamentos no dia 29 e quinze deslizamentos em
30 de abril, tendo também ocorrências nos dias 2 e 3 de maio de acordo com a Figura 5.20.
Tais ocorrências concentraram-se na Localidade de Rurópolis e no Centro de Ipojuca Sede.
Figura 5.20 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de
deslizamentos por dia em abril e maio de 2013 no município do Ipojuca
Fonte: Dados de ocorrência: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos: Posto Pluviométrico
de Ipojuca (Apac).
196
Convém destacar que em 2013 a Defesa Civil agregou as ocorrências do bairro de
Antônio Dourado Neto e Campo do Avião, denominando somente de Campo do Avião
(Figura 5.21).
Figura 5.21 – Gráfico do total de ocorrências de deslizamentos por localidades no município do
Ipojuca em 2013
Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.
O ano de 2014 apresentou os totais anuais de precipitação pluvial dentro da
normalidade. Em abril desse ano, as Anomalias de Temperatura da Superfície do Mar no
Pacífico passaram a ser negativas, evidenciando um El Niño. Os acumulados de chuva
significativos ocorreram em fevereiro, abril, junho, setembro e outubro. Os três primeiros
meses classificaram-se como chuvoso, setembro como muito chuvoso e outubro como
extremamente chuvoso de acordo com as médias estipuladas para esses meses. No ano,
identificaram-se seis dias com chuvas acima de 53 mm/24h e dois dias com chuvas acima de
100 mm/24h, dias 22 de abril (155,7 mm/24h) e 27 de junho (167 mm/24h).
Registrou-se um total de 228 ocorrências sendo 14 de alagamentos e 214 de
deslizamentos no município do Ipojuca em 2014. Todos os meses apresentaram registros,
exceto novembro. Em abril, contabilizou-se o maior número de ocorrências (63), seguido dos
meses de maio (38) e junho (38). Janeiro e outubro também apresentaram um quantitativo de
ocorrências significativas, respectivamente 16 e 15.
A Figura 5.22 relaciona a precipitação acumulada em 24h e as ocorrências diárias de
deslizamentos para abril, maio e junho de 2014. Em abril, as chuvas mais significativas
ocorreram nos dias 21 e 22 com um acumulado de 155,7mm/48h, apresentando somente oito
ocorrências no dia 22 e cinco no dia 23. Entretanto, no dia 30, registrou-se um maior número
197
de ocorrências, pois além das chuvas intensas nos dias 22 e 23, nos dias 29 e 30 choveu o
acumulado de 119,2 mm/48h, influenciando nas ocorrências também no início de maio.
Em junho, o maior número de ocorrências foi no dia 26, que apresentou somente 22,4
mm/24h e no dia 27 quando atingiu o acumulado de 167 mm/24h. Como a coleta dos dados
dos Pluviômetros da Apac realiza-se pela manhã, às 7h, o montante para o dia 26 foi
realmente baixo, uma vez que as chuvas se tornaram mais intensas a partir das 7h da manhã,
perdendo a intensidade no fim da tarde.
Sendo assim, esse acumulado de chuva só foi registrado no dia 27. Do dia 26 a 28,
choveu o acumulado de 200 mm/72h, conforme apresentado na Figura 5.22. Em outubro, nos
dias 6, 7 e 8, choveu 155,4 mm em 72h, 69% do total precipitado em todo o mês,
desencadeando três deslizamentos no dia 6 e cinco deslizamentos no dia 7.
Figura 5.22 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de
deslizamentos por dia em abril, maio e junho de 2014, no município do Ipojuca
Fonte: Dados de ocorrência: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos: Posto Pluviométrico
de Ipojuca (Apac).
A localidade mais afetada por causa das chuvas intensas em 2014 foi a comunidade de
Rurópolis com 154 ocorrências. Dessas três foram de alagamentos nos dias 30 de abril e 26 de
junho e o restante de deslizamentos, o maior quantitativo em relação aos demais anos (Figura
5.23).
198
Figura 5.23 – Gráfico do total de ocorrências de deslizamentos e alagamentos por localidades no
município do Ipojuca em 2014
Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.
A partir da Figura 5.24, pode-se visualizar a comunidade de Bela Vista com o córrego
já transbordando no início da chuva que ocorreu em 22 de abril de 2014.
Figura 5.24 – Córrego inundado na comunidade de Bela Vista pelas chuvas no dia
22 de abril de 2014
Fonte: Gegep, 2 abr. 2014.
Em 2015, do início do ano até o dia 6 de julho, choveu 55% em relação à média
pluviométrica total esperada para o município, tendo seis dias com chuvas acima de 53
mm/24h. Este ano encontra-se sob a influência do fenômeno El Niño, que, em junho, chegou
a uma anomalia negativa de -0.6 na região do Niño 3. O Dipolo do Atlântico encontra-se em
199
sua fase negativa, com as temperaturas do Atlântico Tropical Sul muito mais aquecidas do
que a média, levando a zonas de instabilidade na costa leste do Nordeste.
Contabilizaram-se 213 ocorrências de deslizamentos (185), inundações (10), com
destaque para o dia 04/07, alagamentos (16), dias 25/06 e 05 e 06/07, e queda de muro de
arrimo (2), concentradas nos meses de junho (78), julho (55) e março 18 ocorrências (Figura
5.25). Neste ano as chuvas demoraram a acorrer, tendo chuvas concentradas em março nos
dias 6 a 12 com um acumulado de chuva de 158,6 mm localizadas nos dias 6 (54,9 mm e três
ocorrências) e dia 9 (90 mm com duas ocorrências nesse dia e cinco no dia 10).
Figura 5.25 – Gráfico do total de ocorrências por localidades no município do Ipojuca 2015
Fonte: Defesa Civil do município do Ipojuca.
Esse ano foi o que apresentou melhor correlação entre os montantes precipitados e a
ocorrência de deslizamentos conforme a Figura 5.26. Os meses de junho e julho foram os que
apresentaram um número de ocorrências bastante expressivo. Junho foi considerado um mês
chuvoso, em que 63% dos dias apresentaram chuvas acima de 5 mm, sendo mais intensas nos
dias 24, 25 e 26 com um acumulado de 217,2 mm/72h, acarretando 33 deslizamentos no dia
25, 18 no dia 26 e 3 no dia 27, além de pontos de inundação como em Bela Vista e Campo do
Avião.
Nos dias 3, 4 e 5 de julho, choveu o acumulado de 200 mm/72h, o que levou o
município a decretar estado de alerta. Os estragos foram maiores no dia 4 de julho, não só
pela forte intensidade da chuva, mas também porque o solo já se encontrava saturado com as
chuvas que ocorreram nos dias anteriores. Nesse dia Ipojuca foi o município que apresentou o
maior acumulado de precipitação pluvial no estado de Pernambuco. Até as 19h do dia 4, a
Defesa Civil registrou 18 casos de deslizamentos, 13 áreas inundadas e 5 famílias
200
desabrigadas. Os alagamentos em vários pontos do município foram causados pelo
transbordamento de alguns córregos, por exemplo, o localizado no Campo do Avião. A Figura
5.27 (a e b) representa essa mesma localidade em dias diferentes (2 de fevereiro de 2015 e 4
de julho de 2015).
As localidades mais afetadas pelos eventos extremos de chuva em 2015 até o dia 6 de
julho foram a comunidade de Rurópolis e o bairro de Ipojuca Centro. Esse último
principalmente pela ocorrência de inundações e alagamentos.
Figura 5.26 – Relação entre o acumulado de chuva em 24h e o número de ocorrências de
deslizamentos por dia em abril, junho e julho de 2015 no município do Ipojuca
Fonte: Dados de ocorrência: Defesa Civil do município do Ipojuca. Dados pluviométricos: Posto Pluviométrico
de Ipojuca (Apac).
Figura 5.27 – Fotografia do riacho do Campo do Avião no município do Ipojuca em 2015; a: o córrego
antes da inundação em 2 jul. 2015; b: o córrego inundado em 4 jul. 2015.
Fonte: Gegep, 2015.
De acordo com a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), o evento do dia 4
de julho foi provocado por instabilidades geradas pelo padrão de circulação dos ventos na
b a
201
baixa troposfera, que favorecem ao maior transporte de umidade do oceano para o continente
e maior instabilidade em todas as camadas da atmosfera pela conjunção de eventos de El Niño
e da fase Negativa do Dipolo do Atlântico.
Souza, Azevedo e Araújo (2012) em trabalho semelhante realizado para a cidade do
Recife-PE também destacam a ocorrência de dias consecutivos de chuvas antecedente a um
dia de Chuva Fraca ou Moderada, com um acumulado superior de 30 mm; podem ocorrer
escorregamentos, além do mais, em dias consecutivos de chuvas anteriores à ocorrência de
Chuvas Fortes ou Muito Fortes os estragos podem ser ainda maiores. Estando de acordo com
o que foi visto no município do Ipojuca, esses autores ainda destacam que os danos causados
à sociedade estão associados às condições sociais, econômicas, além da ocupação
desordenada, sendo essa última verificada no município do Ipojuca como o principal agente
efetivo imediato ou preparatório que desencadeia os movimentos de massa.
A análise dos dados da relação entre os acumulados de chuva e a ocorrência de
deslizamentos mostraram que a análise da chuva antecedente ao evento, seja ela em 48h, 72h,
seja mais, são extremamente relevantes para se identificar um limiar de precipitação que
poderá deflagrar um deslizamento. Assim, a análise da precipitação acumulada é fundamental
para identificar a chuva crítica, conforme foi identificado no trabalho desenvolvido por
Bandeira e Coutinho (2015) que analisaram a chuva crítica em três municípios da RMR
(Camaragibe, Jaboatão dos Guararapes e Recife). No entanto, vale a pena destacar que a
identificação da chuva crítica não foi objetivo deste trabalho, mas que, com base nos dados
existentes para o município do Ipojuca, serão desenvolvidos futuros trabalhos nessa temática.
Na seção 5.2, discutem-se especialmente os processos de movimentos de massa que
ocorrem no município do Ipojuca, apresentando os fatores condicionantes e a localização de
tais processos, originando o mapa de inventário.
5.2 Inventário de processos de movimentos de massa e seus condicionantes
Os condicionantes dos movimentos de massa podem ter origem natural, ligado aos
aspectos do clima, vegetação, geologia e geomorfologia ou origem antrópica, associados às
intervenções que o homem realiza sobre o meio natural. É, portanto, visando à identificação
dos diversos condicionantes desses processos que esta seção volta-se para a apresentação de
uma tipologia dos processos identificados no município do Ipojuca, associando-os aos
aspectos ambientais (geologia/litologia, unidades geomorfológicas e variáveis morfométricas,
202
unidades de solos e uso e cobertura da terra), visando maior compreensão da dinâmica dos
processos de movimentos de massa no município.
Os primeiros resultados a serem apresentados basearam-se na identificação dos
processos por imagens de satélite e a obtenção das coordenadas em campo, bem como dos
pontos identificados no mapeamento de vulnerabilidade e risco realizado pelo Gegep. Os
dados fornecidos por este último relacionam-se com os deslizamentos identificados nas áreas
urbanas.
Identificaram-se feições referentes aos processos de erosão linear (sulcos, ravinas e
voçorocas) representadas nas Figuras 5.28 e 5.29, predominantemente nas áreas a oeste do
município sobre o embasamento cristalino e ocupadas pela cultura de cana-de-açúcar; do tipo
movimentos gravitacionais de massa, como os deslizamentos translacionais, mais recorrentes
nas áreas de ocupação desordenada (Figura 5.30), e circulares localizado sobre a Formação
Cabo, conforme apresentado na Figura 5.31, movimentos do tipo rastejo (Figura 5.32)
localizados nas áreas de taludes artificiais também sobre a Formação Cabo; por fim, áreas
com afloramento rochoso, representados na Figura 5.33 (essas áreas são consideradas com
potencial de queda de blocos. Nessa classificação também foram agregados os complexos de
tálus, representados na Figura 5.34). Essas últimas áreas são predominantes na porção oeste
do município sobre áreas do embasamento cristalino.
Figura 5.28 – Processos erosivos como ravinas e voçorocas em áreas ocupadas por rochas cristalinas
na porção oeste do município do Ipojuca.
Fonte: Coutinho (2014).
(A) e (B) representam voçorocas.
A B
203
Figura 5.29 – Processos erosivos como ravinas e voçorocas em áreas ocupadas por rochas cristalinas
na porção oeste do município do Ipojuca.
(C) Ravinas desenvolvidas no caminho da cana; (D) Sulcos desenvolvidos nas áreas de encostas côncavas –
convergentes
Figura 5.30 – Exemplo de deslizamento translacional na comunidade de Bela Vista
Fonte: Gegep/UFPE, 2 de jun. 2015.
C
A
D
204
Figura 5.31 – Exemplo de processo de deslizamento circular sobre litologia da Formação Cabo
próximo da PE-60
Fonte: Gegep/UFPE, 2014.
Figura 5.32 – Exemplo de processo de rastejamento (creep) sobre litologia da Formação Cabo
localizada na porção nordeste do município do Ipojuca
Fonte: Gegep/UFPE, 14 jan. 2014.
205
Figura 5.33 – Exemplo de blocos isolados (matacões) em áreas ocupadas rochas cristalinas
na porção oeste do município do Ipojuca, áreas com potencial de queda de blocos
Fonte: Gegep/UFPE, 19 abr. 2013.
Figura 5.34 – Exemplo de áreas ocupadas por complexo de tálus na porção oeste do município
do Ipojuca.
Fonte: Gegep/UFPE, 19 abr. 2013.
A) Afloramentos rochosos identificados nas porções mais elevadas a oeste do município do Ipojuca; (B)
Complexos de Tálus.
Assim, foram identificados um total de 838 feições no município, sendo os
ravinamentos, os predominantes, um total de 629, representando 75% dos processos, seguidos
pelos deslizamentos translacionais com 125, representando 15%, os afloramentos rochosos
A B
206
contabilizados em 69,9% e os voçorocamentos, com apenas 15 cicatrizes, representando 2%
dos processos. Desses processos, localizam-se 119 na área piloto de Ipojuca Sede (18% do
total), sendo 77 ravinas, 41 deslizamentos e 1 voçoroca. Muitos dos deslizamentos localizam-
se nas áreas de Ipojuca Sede, Rurópolis e Bela Vista, associados às formas de ocupação
dessas localidades. A distribuição desses processos podem ser verificados na Figura 5.35.
Figura 5.35 – Mapa com a distribuição de processos no município do Ipojuca
Fonte: Coutinho (2014)
Na relação dos processos com os fatores condicionantes, as áreas de afloramento
também entraram na análise de inventário de movimentos de massa, como áreas com
potencial de queda de blocos. Sendo assim, para facilitar a análise, foram classificadas
somente como afloramento.
207
5.2.1 Geologia (Litologia)
Na seção 3.5.2, já foi feita uma descrição das unidades Litológicas identificadas no
município do Ipojuca e o mapa geológico está representado na Figura 3.9. Analisando-se
somente a área piloto de Ipojuca Sede, 48% da área é ocupada por Sedimentos Fluviolacustres
(Qdfl), 18% por Biotita-granito (Ny3) e 9% pela Formação Cabo (Kc). Essas são as unidades
mais expressivas na área. Verifica-se também 7% da área ocupada por Depósitos Aluviais,
praticamente os da Planície Aluvial do rio Ipojuca e 4% pelo Complexo Gnáissico-
Migmatítico; essa última sob a comunidade de Rurópolis. Essa localidade, contudo, encontra-
se na transição de três litologias, Qal, Px e Ny3, o que pode acarretar maior suscetibilidade e
frequência de deslizamentos, conforme será visto mais adiante.
A Figura 5.36 apresenta o percentual de ocorrência de cada processo em cada classe
litológica. Por ter maior quantidade e distribuição espacial, identificaram-se os processos de
ravinamento em várias litologias, estando 49% delas (305) sobre Biotita granito, 24% (152)
sobre o Complexo Gnáissico e 10% (62) sobre a Formação Cabo. Identificaram-se também 5
processos de ravinamento na Formação Algodoais e 4 na Formação Barreiras.
Figura 5.36 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada classe
litológica no município do Ipojuca
Legenda: ka – Formação Algodoais; kc – Formação Cabo; Kiig – Formação Ipojuca (Ignibrito); Kirl – Formação
Ipojuca (Traquitos/Riolitos); Nqb – Formação Barreiras; Ny2 – Biotita Granito Porfirítico; Ny3 – Biotita
Granito; Ny5 – Quartzo Sienito; Px – Complexo gnáissico-migmatítico.
208
Em relação aos afloramentos, concentram-se na porção oeste do município sobre o
embasamento cristalino, onde 54% (37) foram identificados nas áreas de Biotita granito-
porfirítico, 36% (25) em áreas de Biotita granito e 10% nas áreas ocupadas pelo Complexo
gnáissico-migmatítico.
Os deslizamentos foram identificados 43% (53) nas áreas de Biotita Granito Porfirítico
e 33% (40) em áreas formadas pelo Complexo Gnáissico-Migmatítico. Também se destacam
as áreas ocupadas pela Formação Cabo com 8 deslizamentos, a Formação Barreiras com 7 e a
Formação Algodoais com 3.
Identificaram-se voçorocas nas áreas do embasamento cristalino (Biotita Granito e
Biotita Granito Porfirítico) e em trechos sobre Formação Barreiras.
Percebe-se maior densidade de todos os processos na porção oeste do município
ocupada pelas litologias do embasamento cristalino. Essa litologia por si só não apresenta
elevada suscetibilidade a movimentos de massa, porém, em consequência dos processos de
intemperismo químico vigente no município, apresentam espessos mantos de cobertura
superficial, com zonas de diferentes resistências e permeabilidades. Tal fato poderá ser
verificado nos tipos de solo gerados nessa região.
As litologias da Bacia Pernambuco como a Formação Cabo, Formação Barreiras e
Formação Algodoais também merecem destaque. Ocorrendo em significativos pontos do
município do Ipojuca a Formação Cabo (Kc) por ser suportada por blocos, tem baixa coesão e
alta permeabilidade, facilitando a percolação da água, posterior, levando à desestabilização da
rocha e consequentemente maior suscetibilidade ao deslizamento. Além disso, a existência de
cortes desordenados dos morros dessa formação aumenta a sua instabilidade.
A Formação Barreiras, por sua vez, é composta por arenitos e siltitos (principalmente),
os quais são bastante suscetíveis a erosão e deslizamentos já que são bastante friáveis e com
alternância de camadas com composição granulométrica e mineralógica distintas (Figura 5.37
e 5.38).
A Formação Algodoais, encontrada na porção leste do município na divisão entre o
embasamento cristalino e a Bacia Pernambuco, em pequenos trechos de norte ao sul, também
apresentam solos arenoargilosos suscetíveis à erosão (Figura 5.39).
209
Figura 5.37 – Processos erosivos desenvolvidos na Formação Barreiras. Estrada entre
Porto de Galinhas e Sirinhaém, município do Ipojuca
Fonte: Gegep/UFPE, 15 jan. 2014.
Figura 5.38 – Exemplo de processos erosivos e deslizamentos desenvolvidos em áreas
de Formação Barreiras. Estrada que liga Porto de Galinhas a Sirinhaém sentido sul
Fonte: Gegep/UFPE, 15 jan. 2014.
Erosão
Erosão e pequenos
deslizamentos
210
Figura 5.39 – Exemplo de processos erosivos sobre a Formação Algodoais
Fonte: Gegep/UFPE, 15 jan. 2014.
Gonçalves (2014) ressalta que, embora presentes, as estruturas geológicas,
aparentemente não apresentam nenhum tipo de influência nos deslizamentos, deslocamentos
de massa que ocorrem no município do Ipojuca.
5.2.2 Unidades geomorfológicas e variáveis morfométricas
As unidades geomorfológicas, assim como as variáveis morfométricas, foram
elaboradas para as duas escalas de análise, para todo o município do Ipojuca (1:25.000) e para
a área piloto de Ipojuca Sede na escala 1:10.000. Serão comparados, portanto, a frequência
dos processos para as classes de unidades geomorfológicas, declividade, formas de vertente e
aspecto nas duas escalas.
Essas unidades geomorfológicas presentes no município do Ipojuca na escala 1:25.000
e na área piloto de Ipojuca Sede, na escala 1:10.000, já foram descritas na seção 3.5.3. Devido
à escala (1:10.000), as unidades geomorfológicas identificadas na área piloto de Ipojuca Sede
foram mais detalhadas e pôde-se visualizar um maior número de rampas de colúvio e vales
colmatados, sendo essas rampas consideradas áreas de deposição críticas, uma vez que os
colúvios são sedimentos não consolidados e instáveis mesmo apresentando baixas
declividade. Já os vales colmatados, são consideradas áreas de atingimento tanto por
deslizamentos ou por possíveis fluxos de detritos.
Para o município do Ipojuca, os processos de movimentos de massa predominam nas
áreas de colinas, que são as áreas de relevo mais acidentadas no município, principalmente
nas áreas de colinas com topos arredondados e vales abertos, colinas com topos arredondados
e vale côncavos e colinas com topos arredondados e vales encaixados. Ravinas, Afloramentos
211
e Voçorocas também foram expressivos nas áreas de colinas com topos aguçados e vales
encaixados, principalmente os afloramentos (Figura 5.40).
Figura 5.40 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada classe de
Unidades Geomorfológicas no município do Ipojuca
Fonte: Dados da pesquisa.
Legenda: Ac – Colúvio; Afm – Acumulação Fluviomarinha; Afv – Fundo de Vale; Apf – Planície Fluvial; Dgv –
Colinas com topos aguçados e vales encaixados; Dra – Colinas com topos arredondados e vales abertos; Dru –
Colinas com topos arredondados e vales côncavos; Drv – Colinas com topos arredondados e vales encaixados.
As áreas de colinas com topo arredondado e vales abertos (Dra) apresentaram o maior
número de ravinas e deslizamentos, respectivamente 95% e 61%. Os deslizamentos também
foram expressivos nas áreas de colinas com topos arredondados e vales côncavos (29%), que
são áreas com maiores declividades (Figura 5.41).
Figura 5.41 – Quantidade e percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada
classe de Unidades Geomorfológicas da área piloto de Ipojuca Sede, município do Ipojuca
Fonte: Dados da pesquisa.
Ravinas Deslizamentos
212
Em Ipojuca 55,5% da área do município é ocupada por relevo plano de 0° a 7°,
16,83% por relevo suave-ondulado (11° a 17°), 14,85% de relevo ondulado (17° a 27°), 10%
por declividades entre 7° a 11° e 2% com relevo forte-ondulado (27° a 45°). Declividades
acima de 45° foram raras (Figura 5.42). Já na área piloto de Ipojuca, predomina o relevo
plano (79%), seguido das classes de 11 a 17° e 17° a 27° ambas com 7%. Poucas áreas de
relevo forte-ondulado (2%) e quase não têm representatividade as áreas com declividades
maiores do que 45°.
Figura 5.42 – Mapa de declividade do município do Ipojuca na escala 1:25.000
Fonte: Coutinho (2014)
A Figura 5.43 apresenta o percentual de ocorrência dos processos em relação às
classes de declividade. Percebe-se que há maior concentração das ravinas nas classes 11° a
17° e 17° a 27° principalmente nessa última classe. Identificaram-se processos nas áreas com
declividades entre 0° e 7°, provavelmente, por serem áreas limites de uma classe maior e em
função da escala.
213
Muitos dos deslizamentos se identificaram em áreas urbanas que apresentam uma
baixa declividade se analisados somente pelas curvas de nível, mas que passaram por
processos de corte/aterro de encostas para a construção de moradias. Também se
identificaram pequenos deslizamentos em caminhos feitos para o escoamento da cana e em
taludes nas rodovias.
Figura 5.43 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada classe de
declividade no município do Ipojuca
Fonte: Dados da pesquisa.
De acordo com o que foi exposto para todo o município e na área piloto de Ipojuca
Sede, os processos de ravinamentos e deslizamentos predominam nas declividades de 17° a
27° (46% e 44%) e 27° a 45° (27% e 22%), seguidos das declividades de 11° a 17° (14% e
12%), como pode ser visualizado na Figura 5.44. Os processos identificados nas baixas
declividades localizam-se, na maioria, nas áreas urbanas onde houve modificações no relevo
com corte de barreiras para a construção de moradias ou outro tipo de intervenção antrópica.
Figura 5.44 – Quantidade e percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada
classe de declividade no município do Ipojuca
Fonte: Dados da pesquisa.
Ravinas Deslizamentos
s
214
A junção da curvatura vertical e da curvatura horizontal deu origem às três classes de
curvatura, a saber: côncava/convergente, retilínea/planar, convexa/divergente. Predominam
para as duas escalas a classe retilínea/planar, respectivamente 41% e 71% (Figura 5.45). Na
área piloto de Ipojuca Sede, as vertentes retilíneas/planares predominam, corroborando as
formas de relevo de acumulação, como os depósitos de planícies. As colinas, portanto,
localizam-se na porção oeste da área, sendo nessa unidade onde se concentram as ocupações
urbanas e cultura de cana-de-açúcar. As encostas côncavas/convergente são mais suscetíveis
aos processos e ocupam 28% e 14% da área do município e da área de Ipojuca Sede
respectivamente.
As encostas convexas/divergentes são mais expressivas para as duas escalas do que as
anteriores, característico do tipo de relevo de colinas dessa região, ocupando 31% da área do
município e 16% da área de Ipojuca Sede.
Figura 5.45 – Mapa de curvatura da Área Piloto de Ipojuca Sede, município do Ipojuca
Fonte: Gegep/UFPE (2015)
215
As Figuras 5.46 e 5.47 apresentam o percentual de ocorrência dos processos para cada
classe de curvatura para o município do Ipojuca e a área piloto de Ipojuca Sede. Os processos
predominaram nas encostas côncavas/convergentes e, em seguida, nas encostas
convexas/divergentes, com diferenças pouco expressivas entre elas. O que revela que as
encostas convexas/divergentes, representando espessos mantos de alteração das rochas do
embasamento cristalino associadas às mudanças de uso e cobertura da terra, como a retirada
da vegetação para o cultivo de cana-de-açúcar, vêm agravando e levando à ocorrência de
ravinas, deslizamentos e voçorocas nessas encostas, principalmente próximos aos caminhos
para o escoamento da cana-de-açúcar, em razão de uma mudança de nível e, por conseguinte,
mudança na direção do fluxo da água. Vários caminhos entre o cultivo de cana-de-açúcar
tornam-se verdadeiros rios quando da ocorrência de uma chuva moderada.
Figura 5.46 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada classe de
curvatura no município do Ipojuca
Fonte: Dados da pesquisa.
Figura 5.47 – Quantidade e percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada
classe de curvatura na área piloto de Ipojuca Sede no município do Ipojuca
Fonte: Dados da pesquisa.
Ravinas Deslizamentos
216
Um ponto significativo a ser considerado em relação à geomorfologia e às formas da
encosta é a elevada densidade de cabeceiras de drenagem (côncavas) no município do
Ipojuca. Mais importantes são as ocupações desordenadas nessas áreas. Por exemplo, as
ocupações na localidade do Campo do Avião (Figura 5.48), no bairro de Antônio Dourado
Neto e na comunidade de Rurópolis (Figura 5.49). Além dos outros fatores predisponentes
comentados anteriormente (geologia e declividade), a elevada densidade de ocupação nessas
áreas acarreta maior frequência de ocorrência de movimentos de massa nessas duas
localidades.
Figura 5.48 – Ocupação desordenada em áreas de cabeceira de drenagem no bairro de Antônio
Dourado Neto, Ipojuca Sede, município do Ipojuca
Fonte: Google Earth, 2015.
Legenda: A linha vermelha corresponde à área de cabeceira de drenagem.
217
Figura 5.49 – Ocupação desordenada em áreas de cabeceira de drenagem na localidade de Rurópolis,
Ipojuca Sede, município do Ipojuca
Fonte: Google Earth, 2015.
Legenda: A linha vermelha corresponde a área de cabeceira de drenagem
5.2.3 Unidades de mapeamento de solos
Uma descrição mais detalhada das principais classes contidas nas Unidades de
Mapeamento de Solos (UMS) identificadas no município do Ipojuca foi realizada na seção
3.5.4 e são importantes para a fundamentação dos resultados aqui apresentados.
Com a análise do percentual de ocorrência dos processos e as classes de UMS (Figura
5.50) para o município do Ipojuca, a maior concentração de todos os processos foi na Unidade
LA9, que ocupa o maior percentual de área no município e apresenta grandes proporções de
Latossolo e Argissolo, seguidas das unidades PA’4, PA’7, PV2, PV3 e PV6 com maiores
percentuais de Argissolo, de acordo com o exposto no Quadro 3.1, seção 3.5.4.
Um percentual de ocorrência significativo de Ravinas em Áreas de Gleissolo (G2) é
devido à escala do mapa de unidades de mapeamento de solo (1:100.000) uma vez que muitas
ravinas se configuram uma ligação no sistema encosta/canal. Chama-se a atenção para o fato
218
de que nenhum ajuste para escala 1:25.000 foi realizado para diminuir essas incongruências
quanto à escala.
Figura 5.50 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada classe unidade
de mapeamento de solos no município do Ipojuca
Fonte: Dados da pesquisa.
Em números, as ravinas representam 38% (240) das áreas ocupadas por LA9, 23%
(144) das áreas ocupadas por PA’4, 12% por PA’7 e 10% em G2. Os afloramentos, por sua
vez, concentram-se (67%) nas áreas compostas pela Unidade LA9 (Latossolo). Os
deslizamentos também se apresentam mais numerosos nas áreas de LA9, seguidos de PA’7
(16%) e PV2 (14%) e as voçorocas com 40% na unidade LA9, 27% na PA’7 e 13% na
unidade PA4.
A unidade LA9 apresenta 40% do seu limite ocupado por Latossolo Amarelo com
textura argilosa a muito argilosa; 40% por Argissolo Amarelo e Vermelho Amarelo laterítico
e não laterítico, de textura média e argilosa e muito argilosa, ambos Álicos e Distróficos; e
20% das áreas ocupadas por Gleissolo e Cambissolo.
Os primeiros são solos estáveis e uniformes no conjunto de suas propriedades e com
boa permeabilidade tornando-os com baixa suscetibilidade a erosão, ocupam as áreas do topo,
com relevo suave a ondulado. Os Argissolos apresentam significativa diferença textural entre
os horizontes, que os tornam suscetíveis aos processos erosivos durante as chuvas, ocupam as
áreas de encosta; e os Gleissolos as áreas de várzea.
219
A unidade PA’7 é composta de 35% de Argissolo Amarelo e Vermelho Amarelo
Laterítico e não Laterítico de textura média a argilosa; 25% de Argissolo Amarelo e
Vermelho Amarelo Plíntico e não Plíntico de textura arenosa a média e argilosa; 25% de
Latossolo Amarelo Álico e Distrófico; e Gleissolo e Cambissolo (15%). Os Argissolos
presentes nessa unidade apresentam elevada suscetibilidade à erosão.
A unidade PA’4 constitui-se por 60% de Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo
Álico e Distrófico, Plíntico e não Plíntico de textura arenosa a média e argilosa e 40% de
Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico de textura média a argilosa. Ambos apresentam alta
suscetibilidade à erosão. A Unidade PV2 é composta de 50% Argissolo Vermelho-Amarelo
Tb Distrófico de textura média e argilosa; 30% de Argissolo Vermelho-Amarelo Tb e Ta
Álico e Distrófico de textura média a argilosa; e 20% de Cambissolo.
Os Argissolos presentes apresentam elevado teor de argila de atividade alta, tornando-
os extremamente suscetíveis à erosão.
De tal modo, juntando todas as classes, as colinas da área piloto de Ipojuca Sede
compõem-se, predominantemente, por Argissolo seguida de Latossolo. Os processos ocorrem
predominantemente em áreas compostas por Argissolos, os quais se apresentam suscetíveis
aos processos de movimentos de massa, principalmente pela concentração de águas pluviais
ou servidas. Os resultados do reconhecimento morfológico dos solos em campo validaram o
que foi exposto anteriormente.
Todos os perfis analisados eram compostos predominantemente por Argissolo, com
diferenças texturais significativas (horizonte superficial A arenoargiloso e B argiloso) nas
áreas de encosta e Latossolo Amarelo de textura mais homogênea nas áreas de topo.
Apresentam-se alguns exemplos de perfis analisados, que ajudaram nessa validação e
no ajuste dos limites do mapa de unidades de mapeamento de solos.
O Perfil 01, localizado em um corte na estrada próxima à localidade de Bela Vista com
litologia de origem Biotita-granito, está de acordo com as características indicadas de um
Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo Plíntico. Representa um solo bem drenado,
moderadamente pedregoso e ligeiramente rochoso, com diferenças texturais entre os
horizontes, com horizonte superficial A arenoargiloso B argiloso (Figura 5.51).
O Perfil 02 localiza-se próximo da Rodovia PE-38 na entrada para Nossa Senhora do
Ó, por trás da comunidade de Rurópolis, sobre o Complexo Gnáissico-Migmatítico.
Representa a UMS LA9 – Latossolo Amarelo + Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo.
220
Localizado na meia encosta apresenta características dos Argissolos com o horizonte A
arenoargiloso e o horizonte Bt argiloso, o que acarreta alta suscetibilidade a movimentos de
massa, predominando no local erosão do tipo linear e laminar (Figura 5.52).
Figura 5.51 – Perfil 01 representando um
Argissolo Amarelo e Vermelho-Amarelo
Plíntico
Fonte: Coutinho (2014)
Figura 5.52 – Perfil 02 representando um
Argissolo Vermelho-Amarelo
Fonte: Coutinho (2014).
221
O Perfil 03 localiza-se na porção norte da Área, próximo à Refinaria Abreu e Lima.
Representa a UMS PV2 – Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico Alítico Epiredóxico de
textura muito argilosa, sobre litologia da Formação Cabo (Figura 5.53).
Figura 5.53 – Perfil 03 representando um
Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico
Expiredóxico
Fonte: Coutinho (2014).
O Perfil 04 localiza-se na Rodovia PE-42 sentido Ipojuca-Recife. Representa a UMS
G2 – Gleissolo + Cambissolo. O perfil analisado localizava-se na porção superior da encosta,
apresentando as características de um Latossolo Vermelho-Amarelo com horizonte superficial
Ap com textura argiloarenosa, um horizonte B latossólico argiloso e um BC argiloarenosa
(Figura 5.54), sobre litologia de origem biotita-granito.
222
Figura 5.54 – Perfil 04 representando um
Latossolo Vermelho-Amarelo
Fonte: Coutinho (2014)
O perfil 05 localiza-se na comunidade de Rurópolis com litologia composta pelo
Complexo Gnáissico-Migmatítico. Localiza-se na porção superior da encosta e está
representada no mapa de UMS pelo G2 – Gleissolo + Cambissolo –, todavia as características
identificadas se aproximam de um Latossolo Vermelho-Amarelo com textura argilosa, bem
drenado com erosão laminar moderada a forte. Há presença de rocha alterada na profundidade
de 115 cm a 260 cm (proporcionalmente ainda se caracteriza como horizonte de solo pela
pouca quantidade de rocha).
Os perfis 06 a 08 localizam-se na comunidade de Rurópolis sobre a Litologia do
Complexo Gnáissico-Migmatítico e sobre a UMS LA 9 – Latossolo Amarelo + Argissolo
Amarelo e Vermelho-Amarelo. Nessa localidade abriram-se perfis na alta, média e baixa
encosta. As características identificadas no perfil localizado no topo da encosta indica uma
variação textural com horizontes argiloarenosos a argiloso e os horizontes subjacentes muito
argilosos, predominando a erosão laminar moderada.
Na média encosta, as diferenças texturais apresentaram-se mais significativas ao longo
do perfil com horizontes superficiais AP e Ab franco-arenoso e os horizontes BT muito
argilosos e com presença de material siltoso a partir do sexto horizonte, o que acarreta maior
223
suscetibilidade à erosão. Já na porção inferior da encosta, o perfil apresentou uma textura
predominantemente argilosa, com variação entre o primeiro muito argiloso, o segundo franco-
arenoso e os subjacentes muito argilosos.
Com base na análise morfológica dos solos em campo, pôde-se fazer o ajuste
necessário no mapa de unidades de mapeamento de solos a ser usado no modelo de
suscetibilidade para a área piloto de Ipojuca Sede na escala 1:10.000.
Após esse ajuste, os processos de ravinamentos concentraram-se nas UMS PV2
(39%), seguidas da LA9 (25%). Já os deslizamentos, concentraram-se na UMS LA9 (21%) e
PV2 (19%) (Figura 5.55).
Figura 5.55 – Percentual de ocorrência dos processos de movimento de massa em cada classe de
Unidades de Mapeamento de Solos na área piloto de Ipojuca Sede, no município do Ipojuca
Fonte: Dados da pesquisa.
O mapa de unidades de mapeamento de solos atualizado pode ser visualizado na
Figura 5.56.
Os tipos de solos formam-se em função da litologia, do relevo e do clima local. Assim,
as litologias representadas pelo embasamento cristalino são responsáveis pela formação dos
Latossolos e Argissolos, com elevados teores de argila. A declividade e as formas da encosta
influenciam na velocidade do escoamento superficial e na direção do fluxo podendo
agravar/diminuir os processos de movimento de massa. No entanto, tais agentes considerados
predisponentes intrínsecos ao meio podem ser modificados devido às ações antrópicas.
224
Figura 5.56 – Mapa de Unidades de Mapeamento de Solos ajustado a escala 1:10.000 para a área
piloto de Ipojuca Sede, município do Ipojuca
Fonte: Gegep/UFPE (2015)
Desse modo, além da suscetibilidade natural à ocorrência de erosão do tipo linear –
sulcos, ravinas e voçorocas –, deslizamentos e potencial de queda de blocos (presença de
afloramentos rochosos), muitas ocorrências estão bastante correlacionadas com o tipo de uso
da terra, que será mais bem discutido na seção 5.2.4.
5.2.4 Uso e cobertura da terra no município do Ipojuca
Na seção 3.2, apresentaram-se os aspectos socioeconômicos e a história de ocupação
do município do Ipojuca, o que deixou claro como uso preponderante durante muitos anos o
cultivo da cana-de-açúcar, extremamente relacionado com a importância desse município no
setor sucroalcooleiro. Esse fato seguiu os padrões de ocupação das colinas do litoral e Zona
da Mata de Pernambuco, bem como dos municípios da Região Metropolitana do Recife.
225
Até os dias atuais, o município do Ipojuca é dominado pelo cultivo da cana-de-açúcar,
que ocupa 60,2 % da área total do município, onde se encontram instaladas duas importantes
usinas, a Usina Ipojuca, localizada próximo ao distrito Sede e a Usina Salgado, localizada
próximo do distrito de Nossa Senhora do Ó, que, com a Usina Trapiche localizada no
município de Sirinhaém, têm seus engenhos distribuídos por todo o município do Ipojuca.
Essa conjuntura provocou uma concentração da população nos núcleos urbanos dos
três principais distritos: Ipojuca Sede, Nossa Senhora do Ó e Camela. As Zeis de Rurópolis e
Bela Vista surgiram ao longo da PE-60, próximo ao distrito de Ipojuca Sede e à entrada para a
PE-38, respectivamente como áreas de ocupação desordenada (assentamentos precários). No
entanto, a expansão do Distrito Industrial e Portuário de Suape vem modificando esse quadro,
e grandes mudanças já estão sendo verificadas no eixo de conectividade de produção
industrial.
Por meio do mapeamento do uso e cobertura da terra no ano de 2010, identificaram-se
10 classes de uso para o município do Ipojuca na escala 1:25.000, a saber: Áreas Industriais
Comerciais ou Transporte, Áreas Urbanizadas, Corpos d’Água, Culturas Permanentes,
Culturas Temporárias (cana-de-açúcar), Espaços abertos com pouca ou nenhuma cobertura,
Florestas, Mineração e Terras Úmidas Interiores (Mangue).
Áreas Industriais comerciais ou transporte, que incluem as unidades industriais e
comerciais, as redes viárias, ferrovias e espaços associados, concentram-se no extremo
nordeste do município e ocupam 17 km2, correspondente a 3% da região. Estão vinculadas às
usinas de cana-de-açúcar, estabelecimento de ensino e pesquisa e, principalmente, com
relação ao Complexo Portuário de Suape.
As Áreas Urbanizadas, considerando a área urbana contínua (centros urbanos) e
descontínua (habitações unifamiliares e assentamentos informais) ocupam 13 km2 (2%). Os
centros urbanos representam-se por espaços compostos pelos núcleos urbanos dos distritos de
Ipojuca Sede, Nossa Senhora do Ó e Camela, pelas áreas urbanizadas das praias de Porto de
Galinhas, Serrambi e Toquinho e por loteamentos na orla entre essas praias. Os assentamentos
informais representam-se pelas Zeis de Rurópolis e Bela Vista e por pequenas áreas ao longo
das rodovias. As habitações unifamiliares representam alguns pequenos vilarejos próximos
aos engenhos de cana-de-açúcar.
226
Os Corpos d’Água, concentrados principalmente no litoral, representam 16 km2 (3%)
da área, e neles estão inclusos os reservatórios, como as represas, diques e barragens, além
dos rios, lagos e lagoas.
As Culturas Permanentes incluem o cultivo de frutas, que pode ser representado pelos
coqueirais, representam 16 km2 (3%), com maior concentração no litoral e extremo norte do
município. As Culturas Temporárias estão representadas pela cana-de-açúcar, que
correspondem a 316 km2 (60%) do município (Figura 5.57).
Figura 5.57 – Cultivo de cana-de-açúcar localizado nas colinas da porção oeste
do município do Ipojuca
Fonte: Coutinho (2014).
As áreas ocupadas por espaços abertos, com pouca ou nenhuma cobertura, englobam
as áreas de solo exposto (solo exposto para construção, solo exposto por erosão e praias),
ocupam 5 km2 (1%) do município. Apresentam-se espalhadas por todo o município, mas há
uma predominância na porção norte das áreas de solo exposto para construção nas
proximidades do Complexo Industrial de Suape e na porção sudeste nas áreas ocupadas pelas
formações Algodoais e Barreiras.
As áreas de Florestas compostas pelas Formações Florestais (Mata, Mata Ciliar e
Restinga) ocupam 68 km², 13% da área do município. As matas (resquícios de mata atlântica)
e matas ciliares encontram-se espalhadas pelo município em pequenas porções entre as áreas
de cana-de-açúcar.
São pouco expressivas as áreas ocupadas por mineração (1 km²), mas no município do
Ipojuca existem dois pontos importantes de extração a “céu aberto”. Uma área considerada
227
como área de empréstimo de argila, formada pela Formação Barreiras e uma mina de
Ignibrito, a qual é propriedade do Grupo João Santos.
As Terras Úmidas (Mangues) ainda ocupam uma área expressiva (73 km²/14%) na
porção leste do município, áreas consideradas de preservação permanente, principalmente a
porção sul do município formada pela Zona Especial de Proteção Integral (Zepi) composta
pela APA de Sirinhaém e Maracaípe e a RPPN de Nossa Senhora do Oiteiro. Outra área
expressiva localiza-se na porção norte onde se situa o Complexo Industrial de Suape.
A Figura 5.58 refere-se ao mapa de uso e cobertura da terra elaborado para todo o
município na escala 1:25.000.
Figura 5.58 – Mapa de uso e ocupação da terra do município do Ipojuca em 2010
Fonte: Coutinho (2014)
A Figura 5.59 refere-se ao percentual de ocorrência dos processos identificados em
cada classe de uso e cobertura da terra para todo o município do Ipojuca, na escala 1:25.000.
Diante da dimensão da área ocupada pela cana-de-açúcar, principalmente nas colinas da
porção oeste do município, todos os processos ocorrem em maior quantidade nessas áreas.
Percebe-se também um percentual significativo dos deslizamentos nas áreas urbanizadas. Essa
228
elevada ocorrência de deslizamentos nas áreas urbanizadas do município do Ipojuca serão
mais bem discutidas na análise do mapa de uso e cobertura da terra elaborado para a área
piloto de Ipojuca Sede, em conjunto com a frequência de ocorrência por localidades baseado
nos dados fornecidos pela Defesa Civil municipal.
Figura 5.59 – Percentual de ocorrência dos processos identificados no município do Ipojuca para cada
classe de uso e cobertura da terra
Fonte: Dados da pesquisa.
Para a área piloto de Ipojuca Sede, identificaram-se as seguintes classes, por ordem de
ocorrência: Cana-de-açúcar, ocupando 61% da área total; Mangue (11%); Vegetação herbácea
(7%); Cultivos diversificados (4%); Centros urbanos (3%); Corpos d’água (2%); Complexo
Industrial (2%); Mata (2%); Vegetação arbustiva; Solo exposto para construção e Coqueiral
com 1%, e Mata Ciliar, Áreas alagadas, Assentamentos precários, Usina de cana-de-açúcar,
Estradas, Habitações unifamiliares, Área comercial, Cultivo de horticultura, Solo exposto por
erosão, Estabelecimentos de pesquisa e desenvolvimento e Extração a céu aberto ocupando
menos de 1% da área mapeada (Figura 5.60).
229
Figura 5.60 – Mapa de uso e ocupação da terra, Escala 1:10.000, da área de expansão urbana do
Distrito Sede e Nossa Senhora do Ó, Ipojuca
Fonte: Coutinho (2014)
Em relação ao percentual de ocorrência de cada processo nas classes de uso e
cobertura da terra da área piloto de Ipojuca Sede, as ravinas localizam-se 100% nas áreas de
cana-de-açúcar. Já os deslizamentos, ocupam 37% dos assentamentos informais, 32% das
áreas de cana-de-açúcar, 24% das áreas referentes aos Centros Urbanos. Nesse caso
localizam-se totalmente no Distrito de Ipojuca Sede e 7% nas áreas de cultivos diversificados
(Figura 5.61).
Acrescentando aos dados de inventário anteriormente expostos a planilha de
ocorrências registradas de 2007 a 6 de julho de 2015, que já foi comentada detalhadamente na
seção 5.1.4, verifica-se que Rurópolis foi a localidade que apresentou o maior número de
ocorrências de movimentos de massa (deslizamentos) de 2007 a 2015. Foram 395 (32%)
ocorrências (Figura 5.62), seguida dos bairros de Ipojuca Centro (244/20%), São Miguel
230
(154/13%) e Antônio Dourado Neto (141/11%) pertencentes ao Distrito de Ipojuca Sede e a
comunidade de Bela Vista (149/12%) e o distrito de Camela (117/10%).
Figura 5.61 – Percentual de ocorrência de deslizamentos na área piloto
de Ipojuca Sede para cada classe de uso e cobertura da terra
Fonte: Dados da pesquisa.
Figura 5.62 – Total de ocorrências de deslizamentos por localidade para o
período de 2007 a 6 de julho de 2015
Fonte: Defesa Civil do Município do Ipojuca.
Tomando-se como base a Figura 3.5 da seção 3.2 a localidade de Rurópolis apresenta
uma grande quantidade de domicílios e de moradores por domicílios, ou seja, é considerada
uma das áreas mais críticas devido ao seu grande adensamento populacional, sem o advento
231
necessário de infraestrutura como saneamento básico, água encanada e pavimentação das vias
de acesso. O Distrito de Ipojuca Sede, mesmo tendo a sede da prefeitura e demais secretarias
também passou por processo de ocupação desordenada e urbanização tardia, sem receber os
investimentos necessários de infraestrutura, apresentando Zeis com características de
ocupação espontânea, com a execução de cortes nas encostas para a construção das casas,
como por exemplo nos bairros de Antônio Dourado Neto e São Miguel.
Nos bairros do distrito de Ipojuca Sede foram identificados deslizamentos do tipo
planar. As casas estão próximas, em sua maioria, a taludes/aterros sem cobertura vegetal,
muitas vezes os moradores utilizam o próprio talude como muro das casas (representadas nas
Figuras 5.65a e 5.65b). Foram identificados muitos entulhos próximos às bordas dos taludes.
Os agravantes a instabilidade dos taludes dessa área é a concentração das águas da chuva, sem
obras de microdrenagem, presença de bananeiras nos taludes, lançamento de águas servidas e
esgoto no solo, além de árvores de grande porte na Crista dos Taludes. Mesmo sendo o
principal distrito, a situação das ocupações é bastante precária, com um grande adensamento
populacional nesta área, o que acarreta o aumento voluntário dos pisos das residências para
conseguir absorver todos de uma mesma família. Tal processo é comum nas encostas
íngremes desse distrito.
Nas comunidades de Rurópolis e Bela Vista predominam os deslizamentos planares
em solo residual. A situação torna-se ainda mais precária, pois surge a cada dia novas
ocupações nas bordas dos taludes e existem poucas áreas asfaltadas e com obras de contenção
de encostas (Figura 5.66). Os agravantes são os mesmos identificados para o distrito sede.
O núcleo urbano do distrito de Nossa Senhora do Ó, localiza-se na planície
fluviomarinha do município do Ipojuca, com relevo plano, o que não leva a ocorrência de
movimentos de massa, mas constantemente sofre com problemas de alagamentos. Devido a
isso, não serão tecidos comentários sobre este distrito.
As Figuras 5.63 e 5.64 referem-se à localização e à forma de ocupação desordenada
dos bairros do Distrito de Ipojuca Sede e das Localidades de Rurópolis e Bela Vista,
respectivamente, seguida das figuras 5.65 e 5.66 com exemplos de ocupação e de processos
que ocorrem nessas localidades.
232
Figura 5.63 – Localização e forma de ocupação desordenada dos bairros de São Miguel, Antônio
Dourado Neto e Centro, do distrito de Ipojuca Sede
Fonte: Google Earth. 2014. Limite dos bairros: Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR) de Ipojuca
(2007).
Figura 5.64 – Localização e forma de ocupação desordenada das comunidades de Rurópolis e
Bela Vista, município do Ipojuca
Fonte: Google Earth, 2014.
233
Figura 5.65 – Formas de ocupação desordenada e exemplo de deslizamentos translacionais nos bairros
de São Miguel e de Antônio Dourado Neto em Ipojuca Sede
Fonte: Gegep/UFPE.
São Miguel (A e B) e Antônio Dourado Neto (C e D).
A B
C D
234
Figura 5.66 – Formas de ocupação desordenada e exemplos de deslizamentos translacionais nas
localidades de Rurópolis e Bela Vista
Fonte: Gegep/UFPE.
Rurópolis (A e B) e Bela Vista (C e D).
O distrito de Camela apresenta os mesmos problemas identificados nas localidades
anteriormente citadas. Porém, apresenta uma agravante, a potencialidade da ocorrência de
queda de blocos, em razão dos aspectos geológicos e geomorfológicos nos quais se encontra
essa localidade, na porção oeste do município.
A Figura 5.67 apresenta as formas de ocupação desordenada do distrito de Camela e
os processos identificados.
A B
C D
235
Figura 5.67 – Formas de ocupação desordenada e exemplos de deslizamento translacional e queda de
blocos no distrito de Camela, município do Ipojuca
Fonte: Gegep/UFPE. 4 abr. 2014.
Vista de uma das áreas de risco muito alto do distrito de Camela (A); exemplo de um possível bloco rolado (B)
Além dos deslizamentos nas áreas ocupada, identificaram-se deslizamentos
translacionais ao longo da PE-60 após as chuvas intensas que ocorreram em abril de 2014 e
junho e julho de 2015 (Figura 5.68).
Figura 5.68 – Deslizamentos translacionais que ocorreram nos taludes localizados na PE-60 no
município do Ipojuca
Fonte: Gegep/UFPE. . 16 mai. 2014.
(A) Deslizamento próximo à Ipojuca Sede, sentido Recife (2/7/2015); (B) Deslizamento em frente à
comunidade de Bela Vista, sentido Sirinhaém-PE.
5.3 Carta de suscetibilidade a movimentos de massa
Nesta seção apresentam-se os resultados encontrados na elaboração do modelo de
suscetibilidade a movimentos de massa na escala 1:10.000, abrangendo a área piloto de
A B
A
B
236
Ipojuca Sede, com a utilização do método estatístico bivariado. Após a apresentação dos
resultados, serão comparados com os resultados encontrados com a utilização da metodologia
aplicada por Coutinho (2014), podendo também ser encontrada em Torres (2014) e Coutinho
et al. (2015).
Os resultados referentes às etapas – alíneas a e b – da fase de análise (Quadro 4.1 da
seção 4.2) já foram apresentados na seção 5.2, como os resultados das variáveis
morfométricas (declividade e curvatura da vertente) extraídas do Modelo Digital do Terreno e
a elaboração do inventário, em conjunto com a definição dos fatores condicionantes e a
elaboração dos mapas temáticos (Plano de Informação – PI) de cada fator condicionante e
suas classes.
Assim, seguindo a sequência das fases expostas no Quadro 4.1, serão apresentados os
resultados encontrados na etapa “Análise estatística e definição dos pesos de cada classe dos
PIs” (alínea d) e todas as etapas da fase de síntese.
5.3.1 Aplicação do método estatístico bivariado
A metodologia proposta nesta tese foi elaborada para ser testada nas duas escalas de
análise. No entanto, para a escala 1:25.000 abrangendo todo o município, não foi possível
realizar os ajustes necessários nos mapas de unidades de mapeamento de solos e outras
incoerências quanto à escala identificadas nos demais temas, o que não gerou resultados
satisfatórios, conforme apresentado na seção 5.3.5. Sendo assim, para a escala 1:10.000, tanto
o inventário como as delimitações das classes dos PIs foram mais bem ajustadas à escala de
trabalho.
Com base na tabulação cruzada entre os PIs referente aos mapas temáticos e o PI
Inventário, pôde-se definir os pesos das variáveis, representados na Tabela 5.9. Essa tabela
resume o percentual de área ocupada por classe, número de ocorrência de ravinas e de
deslizamentos e o peso relacionado com o número de processos que ocorrem em uma variável
dividido pelo número total de ocorrência de deslizamentos na área. O peso utilizado, por
conseguinte, foi a média dos pesos encontrados para a quantidade de ravinas e o peso
encontrado para a quantidade de deslizamentos.
237
Tabela 5.9 – Tabela com a representação dos temas trabalhados, as respectivas classes, o
percentual de ocorrência de cada uma das classes, o número de ocorrências de processos de
ravinas e deslizamentos para cada classe e o peso definido para as classes após a tabulação
cruzada para a área piloto de Ipojuca Sede
Plano de
informação Classes
Percentual
(área)
N.º ocorrências
(ravina)
N.º
ocorrências
(desliz.)
Peso
(ravinas)
Peso
(desliz.)
Peso
(média)
Litologia
Ka 1 1 1 0,010 0,013 0,011
Kc 11 6 1 0,110 0,078 0,094
Kiig 0 0 0 0,000 0,000 0,000
Kirl 1 0 0 0,010 0,000 0,005
Kitg 2 0 0 0,020 0,000 0,010
Ny3 17 45 33 0,170 0,584 0,377
Ny5 0 0 0 0,000 0,000 0,000
Px 4 25 6 0,040 0,325 0,182
Qal 7 0 0 0,070 0,000 0,035
Qdfl 47 0 0 0,470 0,000 0,235
Qm 7 0 0 0,070 0,000 0,035
Qp 0 0 0 0,000 0,000 0,000
Qth 1 0 0 0,010 0,000 0,005
Qtp 2 0 0 0,020 0,000 0,010
Declividade
0 a 7° 79 6 5 0,078 0,122 0,100
7° a 11° 5 4 3 0,052 0,073 0,063
11° a 17° 7 11 5 0,143 0,122 0,133
17° a 27° 7 35 18 0,455 0,439 0,447
27° a 45° 2 21 9 0,273 0,220 0,247
> 45° 0 0 1 0,000 0,024 0,012
Curvatura
CÔNCAVA /
CONVERGENTE 14 49 19 0,636 0,463 0,550
RETILÍNEA /
PLANAR 71 4 3 0,052 0,073 0,063
CONVEXA /
DIVERGENTE 16 24 19 0,312 0,463 0,388
Solos
AQ1 8 0 0 0 0 0
G1 2 0 0 0 0 0
G2 17 0 0 0 0 0
G5 7 0 0 0 0 0
LA9 7 25 21 0,329 0,512 0,421
PA4 11 11 1 0,145 0,024 0,085
HP1 10 0 0 0 0 0
PV2 16 39 19 0,513 0,463 0,488
AM 2 0 0 0 0 0
PV3 1 1 0 0,013 0,000 0,007
SM 18 0 0 0 0 0
Uso e
Cobertura
Da Terra
Assentamentos
Informais 0 0 15 0 0,366 0,366
Centros Urbanos 0 0 10 0 0,244 0,244
Cultivos
Diversificados 0 0 3 0 0,073 0,073
Cana-de-açúcar 0 100 13 1 0,317 0,6585
Fonte: Dados da pesquisa.
5.3.2 Padronização dos planos de informação
Após a tabulação cruzada entre os PIs dos temas trabalhados e o PI do inventário,
realizou-se uma padronização dos PIs dos temas para torná-los compatíveis entre si. As
Figuras 5.69 a 5.73 apresentam os mapas padronizados em uma escala de 0 a 1, em que 0
238
refere-se aos valores menos suscetíveis a movimentos de massa e 1 aos valores mais
suscetíveis.
A imagem gerada para o PI Litologia foi dividida em 3 classes por meio do método
quebra natural. Sendo assim, as unidades Px e Ny3 foram classificadas como alta
suscetibilidade, a Formação Cabo como média e as demais classes (ka, Qal, Kitg, Qm e Qtp)
como baixa (Figura 5.69).
Figura 5.69 – Normalização das classes do PI Litologia para a escala de 0 a 1
Fonte: A autora, elaborado conforme dados da pesquisa.
Os intervalos de declividade de 17° a 27° classificaram-se como alta suscetibilidade, o
intervalo de 27° a 45° como média e os demais intervalos (0° a 7°, 7° a 11°, 11° a 17° e
>45°), como baixa suscetibilidade (Figura 5.70). Por conseguinte, a ordem de suscetibilidade
dos intervalos de declividade, por meio da tabulação cruzada foi da menor para a maior: >
45°, 7° a 11°, 0° a 7°, 11° a 17°, 27° a 45° e 17° a 27° de acordo com o que foi apresentado na
seção 5.2.2 em função do percentual de ocorrência dos processos para cada classe.
239
Figura 5.70 – Normalização das classes do PI Declividade para a escala de 0 a 1
Fonte: Elaborado conforme dados da pesquisa.
As classes de curvatura consideradas como alta suscetibilidade foram as encostas
côncavas/convergentes, como média suscetibilidade as encostas convexas/divergentes e de
baixa suscetibilidade as encostas retilínea/planar (Figura 5.71). O que evidencia as áreas
convexas convergentes como áreas problemáticas para ocupação.
As classes do Plano de Informação (PI) Solos classificadas como alta suscetibilidade
foram as unidades de mapeamento de solos LA9, PV2 e PA’4. Como média suscetibilidade,
foram as classes PV3 e AQ1 e como baixa, as classes G1, G2, G5, HP1, SM e AM (Figura
5.72).
240
Figura 5.71 – Normalização das classes do PI Curvatura para a escala de 0 a 1
Fonte: Elaborado conforme dados da pesquisa.
Figura 5.72 – Normalização das classes do PI Solos para a escala de 0 a 1
241
As classes de Uso e Cobertura da Terra classificadas como de alta suscetibilidade
foram cana-de-açúcar, Assentamentos Informais (Figura 5.73); de média suscetibilidade,
foram os centros urbanos e as áreas de solo exposto para construção e como de baixa
suscetibilidade, as demais classes de uso e cobertura da terra, conforme apresentado na seção
5.2.4.
Figura 5.73 – Normalização das classes do PI Uso e Cobertura da Terra para a
escala de 0 a 1
5.3.3 Aplicação da técnica AHP e definição dos graus de suscetibilidade
A determinação do grau de influência de cada um dos fatores condicionantes (PIs) que
serão usados no modelo foi possível pela aplicação da Técnica AHP, conforme metodologia
apresentada na seção 4.2.3.2.
Por meio da análise do inventário e das relações dos fatores condicionantes e a
instabilidade das encostas, a declividade e formas de vertentes assumiram maior importância
no desenvolvimento dos processos e a menor importância foi dada ao uso e à cobertura da
terra, visto que esta primeira análise está voltada para a modelagem da suscetibilidade natural.
O resultado da comparação chegou aos seguintes pesos, para os Planos de Informação
(PI) Uso, Litologia, Solos, Declividade e Suscetibilidade, a saber: 0,04, 0,09, 0,09, 0,39 e 0,39
242
respectivamente. A matriz de comparação gerou uma razão de consistência de 0,0, indicando,
assim, que o processo de julgamento do grau de importância foi consistente, podendo dar
continuidade ao mapeamento.
Desse modo, multiplicaram-se os Planos de Informação pelos respectivos pesos e
somados, originando o mapa de suscetibilidade a movimentos de massa da área piloto de
Ipojuca Sede. A imagem gerada também se representa em uma escala de 0 a 1, em que 0
indica uma baixa suscetibilidade e 1 uma alta suscetibilidade.
Pelo método quebra natural, definiram-se 3 classes de suscetibilidade, Baixa (0 a
0,255), Média (0,256 a 0,616) e Alta (0,617 a 1).
5.3.4 Validação do modelo
Na etapa de validação do modelo, compararam-se os resultados da metodologia
proposta nesta tese e na metodologia proposta por Torres (2014) e Coutinho et al. (2015) para
a mesma área (Tabela 5.10).
Percebe-se que os dois modelos apresentaram resultados muito próximos, com
exceção para os deslizamentos em que o modelo elaborado por aqueles autores apresentou um
maior percentual de deslizamentos nas áreas classificadas como média suscetibilidade (51%)
e 41% nas áreas de alta suscetibilidade.
O modelo elaborado nesta tese pela abordagem estatística bivariada apresentou bons
resultados em que mais de 50% dos processos de movimentos de massa localizam-se nas
áreas de alta suscetibilidade.
Tabela 5.10 – Comparação entre os resultados da metodologia proposta nesta tese e a proposta
em Coutinho (2014) para a área Piloto de Ipojuca Sede
PROCESSO
CLASSES DE SUSCETIBILIDADE
ALTA MÉDIA BAIXA
Tese
Coutinho
et al.
(2015)
Tese
Coutinho
et al.
(2015))
Tese
Coutinho
et al.
(2015)
RAVINA 60 % 62 % 36 % 35 % 4 % 3 %
DESLIZAMENTO 54 % 41 % 39 % 51 % 7 % 7 %
Fonte: A autora com base em Coutinho (2014).
243
Utilizando-se os dados do zoneamento de risco Alto e Muito Alto, elaborados para o
Plano Municipal de Redução de Risco do município do Ipojuca, verificou-se que os resultados
encontrados na elaboração do modelo de suscetibilidade para a área piloto de Ipojuca Sede
estão de acordo com as áreas de risco alto e muito alto, conforme se representa na Figura
5.74, tendo como exemplo, o Distrito de Ipojuca Sede do município do Ipojuca.
A validação do modelo em campo, também mostrou uma boa representatividade do
modelo, pois nas áreas urbanizadas identificaram-se mais cicatrizes de Ravinas e
Deslizamentos que não foram anteriormente mapeadas e estavam localizadas nas áreas de alta
suscetibilidade.
Figura 5.74 – Comparação entre o resultado do mapa de suscetibilidade a movimentos de
massa e os limites das áreas de Risco Alto e Muito Alto de deslizamentos elaborados para
o Plano Municipal de Redução de Risco do município do Ipojuca
Fonte: Dados da pesquisa; limite das áreas de risco alto e muito alto: PMRR.
244
5.3.5 Mapa de suscetibilidade da área piloto de Ipojuca Sede na escala 1:10.000
Com base no mapeamento final da suscetibilidade a movimentos de massa para a área
piloto de Ipojuca Sede, classificaram-se 77% da área como suscetibilidade Baixa, 15% como
Média e 8% como Alta, conforme o mapa de suscetibilidade apresentada na Figura 5.75.
Os resultados encontrados evidenciam que, para as áreas destinadas à expansão urbana
do município do Ipojuca entre os distritos de Ipojuca Sede e Nossa Senhora do Ó, somente a
porção próxima à comunidade de Rurópolis apresenta suscetibilidades altas e médias, visto
que as demais áreas são ocupadas pela planície de inundação do rio Ipojuca e de encontro
com as planícies flúviomarinha, áreas essas sujeitas a outros tipos de processos do meio
físico, como as inundações e alagamentos, quando da ocorrência de um evento extremo de
chuva. As áreas ocupadas, seja de forma ordenada, seja de forma desordenada no Distrito de
Ipojuca Sede e nas comunidades de Rurópolis e Bela Vista são consideradas naturalmente
áreas de maior suscetibilidade a movimento de massa.
Contudo, sintetizando o Quadro 5.1 referente às características físicas predominantes
das classes de suscetibilidade, as áreas consideradas como de Baixa suscetibilidade
apresentam predominantemente áreas cobertas por sedimentos recentes, formando os
depósitos de planícies com declividades baixas (< 11°) e formas de vertente retilínea/planar.
Os solos são condizentes com as características descritas, sendo eles: Gleissolos, Areias
Quartzosas Marinhas e os Solos Indiscriminados de Mangue. Essas áreas sofrem com
problemas de inundação e alagamentos quando da ocorrência de eventos extremos de chuva,
como é o caso da porção do Distrito de Ipojuca Sede ocupada próximo ao rio Ipojuca e outras
áreas talhadas por rios e córregos.
As áreas consideradas de Média suscetibilidade localizam-se, predominantemente,
sobre áreas de sedimentos da Formação Cabo e da Formação Barreiras, na porção oeste do
município do Ipojuca e sobre as áreas do embasamento cristalino na porção oeste deste, áreas
essas que originam relevos de colinas com topos arredondados e com declividade de 11° a 27°
e amplitude de 20 a 40 metros. As formas de vertente dessas áreas são as convexas
divergentes que, pelas intervenções antrópicas, podem elevar a suscetibilidade a movimentos
de massas. São compostas predominantemente por Argissolos amarelo e vermelho-amarelo de
textura médio argilosa a argilosa. Os processos de movimentos de massa encontrados nessas
áreas são as ravinas, voçorocas e deslizamentos.
245
Por fim, as áreas ocupadas por Alta suscetibilidade ocorrem predominantemente sobre
as áreas do embasamento cristalino, principalmente nas áreas ocupadas por Biotita Granito e
pelo Complexo Gnáissico Migmatítico, formando relevos com topos arredondados e
aguçados. Para essa classe, destacam-se as áreas ocupadas por colúvios e as áreas de vales
côncavos, denominadas de vales colmatados, como áreas passíveis de atingimento do
material. Predominam as declividades de 17° a 27° e 27° a 45°, formas de vertentes
côncavas/convergentes e Argissolos. Todos os processos de movimentos de massa foram
identificados nessa classe, o que mostrou boa acurácia do modelo.
Figura 5.75 – Mapa de suscetibilidade a movimentos de massa da área piloto de Ipojuca Sede,
município do Ipojuca
Fonte: A autora, elaborado com base nos dados da pesquisa.
246
Quadro 5.1 - Características predominantes para cada classe de suscetibilidade a movimentos de massa identificadas na área piloto de Ipojuca Sede,
município do Ipojuca
Classe de suscetibilidade
Foto ilustrativa Características predominantes
Área (Município)
Áreas Edificadas
Km² % Km² %
BAIXA
Geologia: Áreas recobertas por sedimentos recentes como os Terraços Marinhos, Sedimentos de Praia, Sedimentos Sílico Argilosos de Mangue, Sedimentos Flúvio-Lacustres e Depósitos Aluviais.
Relevo: Depósitos de planícies;
Declividade: 0° a 7°, 7° a 11°;
Amplitude: < 5 metros;
Formas de vertente: retilínea / planar;
Solos: Gleissolos, Cambissolos, Areias Quartzosas Marinhas e Solos Indiscriminados de Mangue;
Processos: inundações e alagamentos;
O uso do solo: predomínio da cana de açúcar nas partes baixas, cultivos diversificados, áreas ocupadas por Matas e cultivos diversificados.
51 77 1,9 68
MÉDIA
Geologia: Pode ocorrer sobre sedimentos da Formação Cabo e argiloarenosos da Formação Barreiras (Nqb) na porção sudeste do município bem como sobre litologias graníticas, gnáissicas e migmatíticas, na porção oeste;
Relevo: Colinas com topos arredondados;
Declividade: 11° a 27°;
Amplitude: 20 a 40 metros;
Formas de vertente: convexa / divergente;
Solos: Argissolos Amarelos e Vermelho-amarelo de textura média argilosa a argilosa;
Processos: Ravinamentos, deslizamentos e voçorocas;
Uso do solo: predomina a cana de açúcar e áreas ocupadas por Centros Urbanos, principalmente no Distrito de Ipojuca Sede. Os Processos podem ser agravados por cortes desordenados de encosta nestas áreas;
10 15 0,57 20
ALTA
Geologia: Ocorrem predominantemente sobre as áreas do embasamento cristalino, principalmente em áreas de Biotita – Granito e do Complexo Gnaissico Migmatítico, os quais originam solos espessos argilosos e silto-argilosos. Pode ocorrer também sobre áreas de Formação Cabo (Kc) (conglomerados, seixos e blocos);
Relevo: Colinas com topos arredondados com vales encaixados e vales abertos. Destaque para as áreas de colúvios - formados por sedimentos transportados e depositados pela gravidade, constituindo em depósitos relativamente fofo, pouco consolidado e permeável e ficam facilmente saturados em períodos de precipitação forte. Chama-se atenção às áreas de ocupadas por vales côncavos, denominados de vales colmatados, como áreas possíveis de atingimento do material.
Declividade: 17° a 27° e 27° a 45°
Amplitude: 20 a 180 metros.
Formas de vertente: côncova/convergente.
Solos: Argissolos Amarelos e Vermelho-Amarelo de textura média argilosa a muito argilosa
Processos: Ravinamentos, deslizamentos e voçorocas
Uso do solo: predomina a cana de açúcar e assentamentos informais. Os Processos podem ser agravados por cortes desordenados de encosta nestas áreas e por lançamento de águas servidas.
5 8 0,34 12
Fonte: A autora com base nos dados da pesquisa.
247
5.3.6 Definição das áreas críticas do município
Após a integração dos resultados identificados no mapa de suscetibilidade e a
população total por domicílio agregado por setor censitário, identificaram-se as áreas críticas
da área piloto de Ipojuca Sede, tanto em relação às áreas de alta suscetibilidade como também
em relação às áreas com uma grande quantidade de população por domicílio.
O mapa final criado pode-se denominar como de risco, porém, conforme descrito na
metodologia, só foram utilizadas duas variáveis da equação de risco: suscetibilidade e
elementos em risco. Esta última representada pela quantidade de população por domicílio. A
vulnerabilidade social, por exemplo, não foi levada em conta.
Uma área densamente ocupada não significa necessariamente que se trata de uma área
de risco alto ou muito alto, visto que a área já pode estar urbanizada e com infraestrutura
necessária. Entretanto, quando o processo de ocupação é espontâneo, informal, sem a
implantação de infraestrutura, como distribuição de água e saneamento básico, pavimentação
de ruas e um bom sistema de drenagem, esse adensamento populacional pode agravar os
processos erosivos e de movimentos gravitacionais de massa.
Assim, o mapa final que foi denominado de Mapa de risco a movimentos de massa –
Área Piloto de Ipojuca Sede, município do Ipojuca, Pernambuco – Brasil, confirma o fato de
que as áreas consideradas de maior suscetibilidade, que, por conseguinte, também são áreas
densamente ocupadas, são as que apresentam maior frequência de movimentos de massa,
conforme o cadastro de ocorrências fornecido pela Defesa Civil municipal. As áreas mais
críticas, portanto, são os bairros de Ipojuca Centro, São Miguel e Antônio Dourado Neto,
localizados no núcleo urbano do Distrito de Ipojuca Sede, e as comunidades de Bela Vista e
Rurópolis (Figura 5.76). Esta última pode ser considerada a mais problemática, pois é a que
apresenta a maior frequência de ocorrências, conforme já foi exposto nos resultados
apresentados nas seções 5.1.4 e 5.2.4.
Nesse caso, intervenções do poder público nesse processo irregular de ocupação
devem ocorrer na mesma intensidade que a população tende a expandir-se para novas áreas.
Desse modo, por meio dos instrumentos desenvolvidos e apresentados nesta tese, tais como
análise da frequência de ocorrência de deslizamentos, análise dos extremos de chuva capazes
de gerar transtorno à população, bem como a identificação das áreas suscetíveis a movimentos
de massa e, consequentemente, de risco, os tomadores de decisão do município do Ipojuca
detêm subsídios importantes para o planejamento de novas ocupações.
248
As áreas consideradas como Zona Especial de Interesse Social (Zeis) pelo Plano
Diretor municipal de 2008 correspondem às partes do território que apresentam uma situação
de urbanização precária resultante de processos informais de ocupação do solo e de escassez
de recursos para investimentos públicos, com as seguintes características: ocupação por
população de baixa renda; áreas passíveis de regularização urbanística; áreas livres de
restrições ambientais e legais para a regularização jurídico-fundiária.
Dentre os objetivos na gestão das Zeis estabelecidas no Plano Diretor estão: promover
a redução da situação de risco, nas áreas vulneráveis a escorregamentos e alagamentos,
priorizando: a) investimentos em obras de contenção; b) transferência de famílias, quando a
situação de risco não puder ser mitigada para as áreas próximas às localidades de origem (art.
192; inciso IV); a delimitação dos espaços passíveis de serem ocupados de forma segura,
restringindo as ocupações em áreas onde o risco não puder ser mitigado, interditando-as ou
utilizando-as, preferencialmente, como áreas de uso comum segundo o artigo 193, inciso V
(IPOJUCA, 2008).
Nota-se, por conseguinte, que já há um interesse do poder público municipal em
conjunto com o governo federal em realizar projetos de urbanização de assentamentos
precários e gerenciamento de áreas de riscos com o intuito de prevenir o surgimento de novas
áreas de risco a deslizamentos. Entretanto, os dados fornecidos pela defesa civil mostraram
que, independentemente da magnitude dos eventos pluviométricos, as áreas classificadas
como Zeis sofrem frequentemente com esses processos no período chuvoso e verificou-se
também um aumento nessa frequência, principalmente na localidade de Rurópolis. O mapa
de risco, portanto, confirma a precariedade dessas áreas e o potencial de ocorrer mais
deslizamentos se nenhuma medida preventiva for tomada.
Portanto, analisando-se os fatos descritos acima, as ações estabelecidas pelos
tomadores de decisão municipais ainda não foram suficientes para diminuir o grau de risco
dessas localidades e a frequência da ocorrência de processos como deslizamentos e
inundações, ficando a população local à mercê de tais processos quando da ocorrência de
eventos pluviométricos de elevada magnitude como os que ocorreram em 2000, 2005, 2008,
2010, 2014 e 2015.
249
Figura 5.76 – Mapa risco a movimentos de massa da área piloto de Ipojuca Sede, elaborado por meio da
integração do mapa de suscetibilidade e o total de população por domicílio agregado por setor censitário
Fonte: A autora com base nos dados da pesquisa.
250
5.3.7 Suscetibilidade a movimentos de massa na escala 1:25.000
Conforme foi apresentado, os procedimentos metodológicos para elaboração do mapa
de suscetibilidade a movimentos de massa para todo o município do Ipojuca na escala
1:25.000 foram os mesmos dos realizados para a escala 1:10.000. No entanto, os ajustes que
precisavam ser realizados no mapa geológico e no de unidades de mapeamento de solos não
foram possíveis em razão do tempo necessário para a finalização desta pesquisa.
Mesmo assim, realizou-se uma tabulação cruzada entre o PI do Inventário e os PIs dos
condicionantes trabalhados. Após essa tabulação cruzada e pela não realização dos ajustes
necessários, verificou-se que algumas classes que deveriam representar uma suscetibilidade
baixa foram classificadas como média ou alta, e outras que deveriam ter sido classificadas
como alta, acabaram tendo seus graus de suscetibilidade diminuídos.
Transferir os resultados da análise da densidade dos deslizamentos para cada classe
identificados na escala 1:10.000 para o mapeamento na escala 1:25.000 não foi realizado, pois
se trata de diferentes escalas, principalmente, em relação às variáveis morfométricas extraídas
por meio do MDT.
Se fosse feito o exposto, as áreas mais a oeste do município não seriam bem
modeladas, uma vez que a área piloto de Ipojuca Sede não representa todas as características
físicas dessa área, como unidades litológicas, altitudes e declividades.
Portanto, para que o mapa de suscetibilidade a movimentos de massa na escala de
1:25.000 atingisse bons resultados utilizando-se qualquer método da abordagem quantitativa,
os ajustes dos mapas geológico e de unidades de mapeamento de solos deveriam ser
realizados, bem como um MDT de melhor qualidade. Neste caso, o modelo qualitativo,
indireto por meio de sobreposição de mapas de índices e parâmetros, baseado em
conhecimento para a determinação dos pesos de suscetibilidade em relação às classes é a
melhor opção, como pode ser verificado em Coutinho (2014), Torres (2014) e Coutinho et al.
(2015).
Os resultados do mapeamento de suscetibilidade a movimentos de massa elaborado
nesta pesquisa nas duas escalas devem ser utilizados para fins de planejamento de uso e
ocupação do solo; para subsidiar o mapeamento de risco e áreas que necessitam de estudos
geológico-geotécnicos mais precisos para as áreas classificadas como de alta suscetibilidade,
se for prevista a ocupação dessas áreas, ou para elaboração de projetos de contenção de áreas
de suscetibilidade alta já ocupadas.
251
Ao município do Ipojuca, não foi possível elaborar um MDT hidrologicamente correto
para as duas escalas de análise; sendo assim, a escolha de alguns índices que representam
condicionantes de deslizamentos não puderam ser utilizados no modelo, a exemplo do Índice
de Eficiência de Drenagem (IED). A existência de um MDT de qualidade e, principalmente,
hidrologicamente correto, é fundamental para o desenvolvimento do modelo de
suscetibilidade, seja utilizando técnicas qualitativas, seja quantitativas. Quase todas as
variáveis que representam os condicionantes a deslizamentos são derivadas dos MDT, tais
como declividade, curvatura da vertente, densidade de lineamentos, aspecto, IED e até mesmo
os mapas de unidades litológicas, de solos; e a espessura do perfil superficial é derivada e/ou
ajustada de acordo com o MDT utilizado.
Diante desse contexto, a elaboração de cartas de suscetibilidade a movimentos de
massa na escala 1:10.000 esbarra na falta de informações altimétricas e, consequentemente,
MDT de qualidade em quase todo o Brasil, o que causou muita dificuldade para a realização
dos mapeamentos no município do Ipojuca.
O modelo elaborado por Coutinho et al. (2015), por meio da abordagem qualitativa de
sobreposição de mapas de índices e parâmetros e a partir do conhecimento prévio de
especialistas em relação aos condicionantes dos movimentos de massa, também atingiu
resultados semelhantes aos apresentados nesta tese. Porém, a subjetividade na atribuição dos
pesos para cada parâmetro é o principal problema desse método, bem como a extrapolação
desse modelo para outras áreas.
O uso do modelo quantitativo com base na análise estatística bivariada tentou diminuir
a subjetividade do modelo anterior. Todavia, a aplicação da técnica AHP e definição dos
graus de influência dos condicionantes no processo de movimentos de massa teve a ajuda de
especialistas para determinação desse grau, mesmo com o subsídio dos resultados da
tabulação cruzada. Por isso, essa etapa também foi dotada de subjetividade.
Enfim, a escolha do melhor procedimento vai depender da existência e qualidade dos
dados necessários para as análises, do tempo demandado e dos custos envolvidos.
Com a melhoria dos dados coletados, pretende-se dar continuidade ao
aperfeiçoamento das técnicas de mapeamento quantitativo de suscetibilidade, perigo e risco
para o município do Ipojuca e demais municípios da Região Metropolitana.
252
6 CONCLUSÕES
Os resultados da análise da precipitação anual do município do Ipojuca mostraram que
a predominância de anos secos entre as décadas de 1940 e 1960 pode ter sido influenciada
pela ocorrência de fenômenos de El Niño, agravados pela ocorrência de uma fase positiva do
Dipolo do Atlântico, diminuindo as chuvas na porção leste do Nordeste do Brasil. De 1962 a
1975, houve maior ocorrência de anos chuvosos a extremamente chuvosos, que coincide com
a ocorrência de eventos de La Niña forte e fracos, intensificados pela fase negativa do Dipolo
do Atlântico, o que leva ao aumento das chuvas na porção leste do Nordeste.
Em anos de conjunção dos eventos de El Niño e da fase negativa do Dipolo do
Atlântico, as chuvas mostraram-se mais concentradas, e se verificaram eventos extremos pelo
fato de as águas do Oceano Atlântico Tropical Sul encontrarem-se mais aquecidas,
intensificando os sistemas meteorológicos atuantes, principalmente no período chuvoso.
Verificou-se também na análise dos dados anuais e mensais tendências positivas de
aumento da precipitação pluvial nos trimestres de verão (DJF) e inverno (JJA), enquanto os
períodos de outono (MAM) e Primavera (SON) apresentaram tendências negativas de
precipitação.
Por meio da análise dos extremos mensais, pôde-se verificar que os meses que
concentraram chuvas extremas foram abril, maio, junho e julho, meses esses considerados
como período chuvoso no município do Ipojuca.
Com a análise dos dados diários de chuva e aplicação da técnica dos quantis, foi
possível identificar os limiares de chuva que podem causar transtornos à população. O
montante considerado como chuva extremamente forte se ocorrer em 24h no município do
Ipojuca foi de 53 mm. Assim, os meses que apresentaram maior concentração dos dias com
chuva acima desse limiar são de abril a junho, sendo mais representativo o mês de junho. No
entanto, eventos de chuva acima desse limiar identificaram-se em todos os meses do ano, com
pouca significância para o período de setembro a dezembro.
As análises dos extremos, anual, mensal e diária, mostraram que, para haver um
evento extremo de chuva que cause transtorno à população, não precisa ser necessariamente
um ano considerado chuvoso a extremamente chuvoso, pois as chuvas podem concentrar-se
em um mês específico, e dentro do mês podem estar concentradas em poucos dias. Como
253
exemplo, os anos de 2005 e 2010 foram considerados respectivamente ano seco e normal, mas
apresentaram chuvas extremas em junho, levando à ocorrência de inundações e enxurradas,
como também várias ocorrências de deslizamentos.
Com base nas análises de ocorrências de episódios de inundação, alagamentos,
movimentos de massa (deslizamentos), queda de muro de arrimo, dentre outras que foram
cadastradas e fornecidas pela Defesa Civil do município do Ipojuca (de 2007 a 6 de julho de
2015), e informações de eventos mais significativos nos arquivos digitais do Sistema
Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID) dos anos 2000, 2005 e 2010, pôde-se
verificar maior frequência dos eventos em abril, maio, junho e julho; o que está de acordo
com o período chuvoso em que mais ocorrem eventos extremos de chuva, com maior
destaque para abril, maio e junho. Entretanto, os meses de janeiro, fevereiro e março também
apresentaram um número significativo de ocorrências.
Mesmo sendo de pouca expressividade, as ocorrências de deslizamentos nos meses
considerados secos como de setembro a dezembro, podem também ser deflagrados por
influências antrópicas como lançamento de águas servidas e esgoto, presença de fossas
sépticas, dentre outros que não precisam, necessariamente, da atuação da chuva no
desencadeamento desses processos.
A análise do cadastro de ocorrências da Defesa Civil municipal para os anos de 2007 a
julho de 2015 mostrou maior frequência de ocorrências de deslizamentos nas Zeis de
Rurópolis e Bela Vista, nos bairros de São Miguel, Antônio Dourado Neto e Ipojuca Centro
do distrito de Ipojuca Sede e no distrito de Camela. Em todos os anos, essas localidades
apresentaram ocorrências principalmente no período chuvoso, seja deflagrado por uma chuva
maior ou igual a 53 mm/24h, seja pela ocorrência de chuvas acumuladas em 48h, 72h ou 96h.
Concluiu-se que, predominantemente, os deslizamentos ocorrem por um evento de
chuvas maior ou igual a 53 mm/24h, e são mais graves quando há uma chuva antecedente à
ocorrência dos deslizamentos, suficientes para deixar o solo saturado e levar a um maior
número de deslizamentos sem a necessidade de ocorrer grandes montantes de chuva no dia
exato dos deslizamentos.
Com a análise dos eventos extremos que ocorreram no Mundo, Brasil e em
Pernambuco por meio dos relatórios sobre desastres e dos bancos de dados internacionais
(EM-DAT) e nacionais (S2ID), foi possível notar que no município do Ipojuca os desastres
provocados por movimentos de massa são de pequena magnitude e localizados, mas ocorrem
de forma recorrente a cada período chuvoso e intensificados quando há evento de chuva igual
ou superior a 53 mm/24h.
254
A ocorrência dos processos de inundação e movimentos de massa e dos impactos
provocados por estes tem sido significativamente frequente no município do Ipojuca,
conforme foi comentado. Esse fato associa-se diretamente também ao crescimento
populacional e à expansão das ocupações no município, com maior exposição e
vulnerabilidade da população a tais processos.
Em relação aos resultados identificados na análise do inventário de movimentos de
massa e seus condicionantes no município do Ipojuca, identificaram-se processos do tipo
erosão linear (sulcos, ravinas e voçorocas), de movimentos gravitacionais de massa, como os
deslizamentos (translacionais e circulares), movimentos do tipo rastejo, bem como áreas com
afloramento rochoso – nessa última classificação também foram agregados os complexos de
tálus, que são consideradas áreas com potencial de rolamento de blocos.
Verificou-se que as ravinas ocorrem em maior quantidade, seguidas dos
deslizamentos. Os processos concentram-se mais nas colinas da porção oeste do município,
sobre áreas do embasamento cristalino e em áreas ocupadas predominantemente por cana-de-
açúcar e formas da encosta côncavas/convergentes, com declividades predominantemente
entre 27° e 45° formadas por Argissolos, que apresentam mudanças texturais significativas ao
longo do perfil. Chama-se a atenção também para as áreas ocupadas pela Formação Cabo e
Formação Barreiras, que apresentam maior suscetibilidade a movimentos de massa sem,
necessariamente, apresentar uma elevada declividade.
Os deslizamentos são significativos nas áreas de ocupação espontânea ou
assentamentos informais, principalmente nas Zeis do núcleo urbano de Ipojuca Sede (São
Miguel e Antônio Dourado Neto) e fora dos Núcleos Urbanos como Rurópolis e Bela Vista.
Nessas Zeis, as áreas mais críticas são as ocupações em áreas de cabeceira de drenagem, onde
há uma confluência dos escoamentos superficial e subsuperficial, levando a maior
suscetibilidade a esses movimentos de massa.
O município do Ipojuca passou, e ainda vem passando, por um processo peculiar de
ocupação. Mais de 70% do município é considerado rural, ainda ocupado pela cultura da
cana-de-açúcar, a maioria da população concentrada em pequenas porções do município e em
condições precárias de vida. As comunidades de Rurópolis e Bela Vista, por exemplo,
apresentam números elevados de população por domicílio e ainda são consideradas como
áreas rurais. O avanço populacional nas colinas do município está ocorrendo de forma
acelerada e sem conhecimento básico de engenharia para a construção das moradias, tal fato,
juntamente com a recorrência de eventos extremos de chuva intensificam a ocorrência de
deslizamentos nesse município.
255
Com a utilização do SIG, pôde-se desenvolver o modelo quantitativo de análise da
suscetibilidade a movimentos de massa por meio do método de análise estatística bivariada.
Mesmo diante das dificuldades encontradas, como a falta de uma base temática e cartográfica
planimétrica e altimétrica de qualidade para a escala 1:10.000 e em relação à elaboração do
inventário, fatores esses fundamentais para a utilização desse tipo de modelo, os resultados
foram satisfatórios. Entretanto, ajustes nos mapas de unidades de mapeamento de solos e
geológico foram fundamentais para melhorar a qualidade do modelo.
Destaque-se que, nesta tese, não foram separadas diretamente a suscetibilidade natural
da induzida, uma vez que na primeira utilizou-se o mapa de uso e cobertura da terra
diretamente no modelo, porém com menor grau de influência na ocorrência dos processos.
Com a integração dos resultados desse mapa com a quantidade de população por domicílio
agregado por setor censitário, foi possível analisar as áreas críticas do município, onde há
maior densidade populacional e, consequentemente, maior indução aos movimentos de massa,
coincidindo com as Zeis, que são áreas de ocupação espontâneas e não apresentam
infraestrutura suficiente.
O modelo quantitativo apresentado tanto para gerar o mapa de suscetibilidade a
movimentos de massa quanto para gerar o mapa de risco, apresentou-se como uma
ferramenta fundamental à análise e gestão de risco, otimizando os processos de mapeamento e
definição dessas áreas em detrimento dos métodos qualitativos atualmente existentes e
aplicados no Brasil. Com esse procedimento, os mapas podem ser periodicamente atualizados
em razão da rapidez das modificações sofridas nos territórios. Com o rápido desenvolvimento
tecnológico na área das geotecnologias e com a localidade dotada de boa base cartográfica,
serão necessários menos recursos financeiros e tempo para a execução do mapeamento.
256
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