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INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS ESCOLA DE ARTES, ENGENHARIA E AERONÁUTICA
José Firmino da Costa
Evacuação de edifícios recebendo público
Uma metodologia para o cálculo do tempo de evacuação
pedestre
Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos necessários à
obtenção do grau de Licenciado em Engenharia da Proteção Civil
Junho de 2014
Orientador
Professor Especialista Paulo Gil Martins
INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS ESCOLA DE ARTES, ENGENHARIA E AERONÁUTICA
José Firmino da Costa
Evacuação de edifícios recebendo público
Uma metodologia para o cálculo do tempo de evacuação
pedestre
Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos necessários à
obtenção do grau de Licenciado em Engenharia da Proteção Civil
Junho de 2014
Orientador
Professor Especialista Paulo Gil Martins
Às florzinhas,
pela inspiração
i
AGRADECIMENTOS
Uma dissertação é, pela sua finalidade académica, um trabalho individual. No entanto há
contributos que não podem e nem devem deixar de ser realçados. Por essa razão, desejo
expressar os meus sinceros agradecimentos:
A Ana Florinda Ramôa, António Leal e toda a equipa do projeto Sizing-Sudoe do CI-
TEVE que me facultaram dados insubstituíveis.
Ao Professor Paulo Gil Martins, meu orientador, pela disponibilidade e generosidade re-
veladas ao longo deste trabalho, assim como, pelas críticas e sugestões relevantes feitas
durante a orientação.
À Professora Isabel Abreu dos Santos, pela competência científica e pelo inestimável
apoio na procura e recolha de fontes bibliográficas, pela disponibilidade sempre manifes-
tada e pela amizade.
À Emília, que sempre me estimula a crescer científica e pessoalmente, pelas inúmeras
trocas de impressões, correções e comentários, sem os quais este trabalho estaria noutro
patamar.
Especialmente ao João, pela crítica rigorosa e pelos comentários esclarecidos cuja inte-
gração levou este trabalho à sua organização final.
À Olívia, por haver.
iii
RESUMO
O cálculo do tempo de evacuação é uma ferramenta indispensável ao planeamento da
segurança das pessoas nas edificações recebendo público, no entanto, o único método
existente em Portugal, elaborado pela Companhia de Bombeiros Sapadores de Coimbra,
é insuficiente.
Este artigo propõe um método simplificado para o cálculo do tempo necessário para uma
evacuação segura, que possa ser utilizado por técnicos dos serviços de segurança de or-
ganizações privadas ou dos serviços de segurança públicos.
Foram estudados os principais métodos publicados para o cálculo do movimento pedestre,
as condicionantes regulamentares à operação de evacuação e os dados disponíveis em
estudos científicos. Com estas informações foi construído um processo que calcula o mo-
vimento pedestre na evacuação e aplicado ao estudo de casos concretos.
A análise feita detetou insuficiências no quadro regulamentar da evacuação.
Concluiu-se sobre a aplicabilidade do método proposto e são apresentadas recomenda-
ções sobre aspetos a desenvolver.
Palavras-chave: RSET, movimento pedestre, fluxo, velocidade, densidade, tempo de pré
movimento.
iv
ABSTRACT
Egress time calculation is a necessary tool for planning the safety of the people in the
buildings, however, the only existing method in Portugal, prepared by “Companhia de
Bombeiros Sapadores de Coimbra”, is insufficient.
This paper proposes a simplified method for calculating the required safe egress time,
which can be used by technicians of private organizations, security services or public
safety services.
Main published methods for the calculation of pedestrian movement, regulatory con-
straints on egress operation and data available in scientific databases were studied. A
process that computes the egress pedestrian movement in the evacuation was built and
applied to the study of concrete cases.
The analysis on the regulatory framework of the egress operation detected insufficiencies.
It was concluded on the applicability of the proposed method and recommendations on
aspects to be developed are presented.
Keywords: RSET, pedestrian movement, flow, speed, density, pre-movement time.
v
ÍNDICE
Agradecimentos .............................................................................................. i
Resumo ......................................................................................................... iii
Abstract ........................................................................................................ iv
Índice ............................................................................................................. v
Índice de Figuras ......................................................................................... vii
Índice de Tabelas .......................................................................................... ix
Siglas e Abreviaturas .................................................................................... xi
Variáveis das equações de movimento pedestre ......................................... xii
Introdução ...................................................................................................... 1
Parte I. Enquadramento Teórico ................................................................ 3
1. O tempo na evacuação ................................................................................... 5
2. O espaço na evacuação .................................................................................. 9
2.1. Vias de evacuação ................................................................................... 10
2.2. Cálculo do efetivo ................................................................................... 12
2.3. Número e localização das saídas ............................................................. 12
2.4. Largura das saídas e dos caminhos de evacuação ................................... 13
2.5. Distâncias máximas a percorrer. ............................................................. 13
2.6. Instalações técnicas. ................................................................................ 14
2.7. Medidas de autoproteção. ....................................................................... 14
2.8. O quadro regulamentar anterior. ............................................................. 15
3. A relação tempo-espaço ............................................................................... 17
3.1. Cálculo do efetivo ................................................................................... 17
3.2. Largura mínima dos elementos das vias de evacuação ........................... 18
3.3. Distâncias a percorrer ............................................................................. 23
3.4. Número de saídas .................................................................................... 23
3.5. ASET - Tempo disponível para uma evacuação segura ......................... 24
3.6. RSET - Tempo necessário para uma evacuação segura.......................... 24
4. A dinâmica pedestre..................................................................................... 25
4.1. O método determinístico cinemático. ..................................................... 26
vi
4.2. O método do nível de serviço. ................................................................ 29
4.3. O método hidráulico ............................................................................... 32
4.4. O método do fluxo pedestre. ................................................................... 34
4.5. O modelo de forças físicas e sociais ....................................................... 37
4.6. O modelo heurístico ................................................................................ 40
4.7. Avaliação ................................................................................................ 42
Parte II. Metodologia .............................................................................. 49
5. Uma metodologia para o cálculo de RSET .................................................. 51
5.1. Δtdet – Tempo de deteção ......................................................................... 51
5.2. Δta – Tempo de alarme ............................................................................ 52
5.3. Δtpre – Tempo de pré movimento ............................................................ 52
5.4. Δttra – Tempo do movimento ................................................................... 53
5.5. Ficha de processo para o cálculo do tempo de evacuação RSET. .......... 56
6. Estudo de Caso ............................................................................................. 57
6.1. Caso 1 – Loja Alimentar (Loja de Rua) .................................................. 57
6.2. Caso 2 – Edifício Público com dois pisos ............................................... 60
6.3. Caso 3 – Espaço Comercial de grande dimensão ................................... 67
Parte III. Resultados e discussão ............................................................. 71
7. Conclusões e recomendações ...................................................................... 73
7.1. Sobre o método proposto ........................................................................ 73
7.2. Sobre o enquadramento regulamentar .................................................... 73
7.3. Sobre dados experimentais para estudos futuros. ................................... 75
Obras Citadas .............................................................................................. 77
Anexos ......................................................................................................... 81
Índice de Anexos ......................................................................................... 83
vii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 Diagrama temporal da Evacuação. Adaptado de CFPA-E ....................................... 5
Figura 2 Altura de homens e de mulheres dos 20 aos 49 anos. ............................................. 22
Figura 3 Área da projeção horizontal do corpo humano segundo P&M ............................... 27
Figura 4 Variação da velocidade e do fluxo com a densidade segundo P&M ...................... 28
Figura 5 As “zonas de amortecimento corporal” encontradas nos ensaios clínicos de Horowitz
(esquerda), são individualizadas por Fruin como círculos (direita). ....................... 29
Figura 6 Variação da velocidade e fluxo com a densidade. J. J. Fruin ................................. 31
Figura 7 Variação da velocidade e fluxo com a densidade. Nelson e MacLennan ............... 33
Figura 8 Variação da velocidade e fluxo com a densidade. Kholshevnikov e Samoshin ..... 35
Figura 9 O comportamento de rebanho causado por pânico numa evacuação...................... 38
Figura 10 Como se processa a decisão de trajeto segundo Moussaïd et al. ............................ 41
Figura 11 Elipse corporal pedestre e espaço necessário para o caminhar ............................... 42
Figura 12 Gráfico comparativo dos resultados de velocidade e fluxo pedestres dos estudos
analisados. ............................................................................................................... 44
Figura 13 Velocidades e fluxo em percursos horizontais, a descer e a subir em função da
densidade pedestre. Kholshevnikov e Samoshin .................................................... 46
Figura 14 Planta da Loja Alimentar ........................................................................................ 57
Figura 15 Diagrama de evacuação da Loja alimentar ............................................................. 58
Figura 16 Planta do Piso 0 do edifício público. ...................................................................... 60
Figura 17 Planta do piso 1 do edifício público ....................................................................... 61
Figura 18 Diagrama de evacuação do edifício público ........................................................... 62
Figura 19 Planta do piso térreo do Espaço Comercial. ........................................................... 67
Figura 20 Planta do piso térreo do Espaço Comercial, com mobiliário visível. ..................... 68
ix
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 Utilizações-tipo definidas no SCIE e sua inclusão no estudo ................................. 10
Tabela 2 Isolamento e proteção de vias de evacuação verticais enclausuradas servindo pisos
acima do plano de referência. ................................................................................. 11
Tabela 3 Isolamento e proteção de vias de evacuação horizontais interiores protegidas
servindo pisos acima do plano de referência. ......................................................... 12
Tabela 4 Número mínimo de saídas dos locais de risco em espaços cobertos ...................... 12
Tabela 5 Número mínimo de Unidades de Passagem em espaços cobertos .......................... 13
Tabela 6 Medidas de autoproteção exigíveis de acordo com a Utilização-Tipo e a categoria de
risco ........................................................................................................................ 14
Tabela 7 Densidades de ocupação de locais em regulamentos de segurança contra incêndio
em diversos países .................................................................................................. 18
Tabela 8 Comparação de sistemas e larguras de elementos dos caminhos de evacuação ..... 19
Tabela 9 Velocidades de movimento em escadas. Extraído de Peacock et al. [49] .............. 20
Tabela 10 Larguras e capacidades para elementos de via de evacuação de 1 a 6 U.P. ........... 21
Tabela 11 Dados antropométricos médios de amostra da população portuguesa fornecidos pelo
CITEVE. A média total e o valor de Ph são calculados pelo autor. ........................ 22
Tabela 12 Comparação de distâncias máximas a percorrer na evacuação horizontal. ............ 23
Tabela 13 Comparação de disposições sobre o número de saídas. .......................................... 24
Tabela 14 Valores de A, B e Ph segundo Predtechenskii e Milinskii ..................................... 27
Tabela 15 Zonas de densidade do movimento do tráfego pedestre segundo P&M em pes/m2 28
Tabela 16 Características das zonas de amortecimento de JJ Fruin ........................................ 29
Tabela 17 Definição para Níveis de Serviço em percurso horizontal...................................... 30
Tabela 18 Valores relevantes das tabelas de Nelson e MacLennan ........................................ 32
Tabela 19 Valores de aj e D0 para cada tipo de via .................................................................. 35
Tabela 20 Categorias de movimento, níveis emocionais e velocidades em fluxo livre .......... 35
Tabela 21 As variáveis de agente na simulação de Lakoba et al. ............................................ 39
Tabela 22 Comparação entre os Níveis de Serviço de Fruin e as zonas de densidade do
movimento de Predtechenskii e Milinskii .............................................................. 43
x
Tabela 23 Valores comparados de velocidade e densidade para P&M, N&M e K&S ............ 44
Tabela 24 Parâmetros do Movimento para grupos com mobilidade condicionada e crianças até
aos 6 anos. Kholshevnikov e Samoshin .................................................................. 47
Tabela 25 Tempos adotados para Δtdet ..................................................................................... 51
Tabela 26 Tempos adotados para Δta ....................................................................................... 52
Tabela 27 Tempos adotados para Δtpre .................................................................................... 53
Tabela 28 Entidades do diagrama de evacuação ..................................................................... 55
xi
SIGLAS E ABREVIATURAS
ANPC Autoridade Nacional de Proteção Civil
APED Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição
ASET Available Safe Egress Time (Tempo disponível para uma evacuação segura)
CFAST Consolidated Model of Fire and Smoke Transport
CFPA-E Confederation of Fire Protection Associations Europe (CFPA-Europe)
CITEVE Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal
DART Deep-Ocean Assessment and Reporting of Tsunamis
DCS Distributed Control System
FDS+EVAC Fire Dynamics Simulator with Evacuation
JJF J. J. Fruin
JOUE Jornal Oficial da União Europeia
K&S Kholshevnikov e Samoshin
LNE Laboratoire national de métrologie et d’essais
LNEC Laboratório Nacional de Engenharia Civil
LOS Level of Service (Nível de Serviço)
NASA National Aeronautics and Space Administration
NFPA National Fire Protection Association
NIST National Institute of Standards and Technology
P&M Predtechenskii e Milinskii
PID Piping and Instrument Diagram
RGEU Regulamento Geral das Edificações Urbanas (Decreto-Lei 38:382 de 7 de Agosto de
1951)
RSET Required safe egress time (Tempo necessário para uma evacuação segura)
RTSCIE Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em Edifícios (Portaria n.º
1532/2008 de 29 de Dezembro
SADI Sistema automático de deteção de incêndio
SCIE Regime jurídico da segurança contra incêndios em edifícios. (Decreto-Lei n.º 220/2008
de 12 de Novembro
SFPE Society of Fire Protection Engineers
SGE Serviço de Gestão da Emergência
SI Sistema Internacional de Unidades
TS Equação Tempo Espaço
UE União Europeia
UP Unidade de Passagem
VTT VTT Technical Research Centre of Finland
xii
VARIÁVEIS DAS EQUAÇÕES DE MOVIMENTO PEDESTRE
Símbolos Dimensão Unidade Designação Notas
pes Pessoa - Pedestre
P Quantidade Efetivo – Número de pedestres
A Comprimento m Largura corporal máxima
B Comprimento m Profundidade corporal máxima
Ph Área m2/pes Projeção horizontal do corpo
humano
AL Área m2 Área do local em análise
D “Densidade” pes/m2 Densidade pedestre
m2/m2 Ph x pes/m2 Utilizado por Predtechenskii e Milinskii
D0 “Densidade” pes/m2 Densidade no limiar do fluxo li-
vre
DL “Densidade” pes/m2 Densidade no limite do fluxo pe-
destre
DC “Densidade crí-
tica” pes/m2 Densidade no fluxo máximo
ă Área específica m2/pes Área disponível para cada pes-
soa (1/D) Utilizado por J. J. Fruin
v Velocidade m/s Velocidade do fluxo pedestre
v0 Velocidade m/s Velocidade em fluxo livre
q Fluxo pedestre pes/s.m Pedestres por segundo por me-
tro de largura de via.
qM Fluxo máximo pes/s.m
Q Escoamento pe-destre
pes/s Pedestres por segundo
w Comprimento m Largura da via de evacuação
l Comprimento m Comprimento da via de evacua-ção
j - - Fator relativo ao tipo de via
1
INTRODUÇÃO
Evacuação.
Movimento de ocupantes de um edifício para uma zona de segurança, em
caso de incêndio ou de outros acidentes, que deve ser disciplinado, atem-
pado e seguro. [1]
Operação que consiste em fazer sair ou retirar uma ou mais pessoas de um
local, geralmente por razões de segurança. [2]
A operação de evacuação ocorre no tempo. A ameaça que origina esta operação também
ocorre no tempo.
Como expresso por Belyæv, a evacuação segura de edifícios é um processo dependente
do tempo “safe building evacuation is time dependent” apud [3].
Não podemos agir sobre o tempo em que decorre a ameaça, mas podemos agir sobre o
tempo em que se desenvolve a evacuação.
Nesta, o tempo, depende de dois fatores, o espaço e o movimento. O espaço, o edificado,
é condicionado pelos regulamentos, e o movimento resulta das caraterísticas psicofisio-
lógicas dos ocupantes.
Neste trabalho iremos abordar estas três vertentes da operação de evacuação. O fator
tempo, em que é apreciado o método globalmente aceite de subdivisão e caraterização do
tempo na evacuação. O enquadramento regulamentar que regula os parâmetros que con-
dicionam as edificações em que a evacuação pedestre tem lugar. E o estudo do movimento
pedestre, em que são abordadas várias das principais investigações sobre o tema.
Esses estudos e abordagens, em geral, procuram caraterizar a multiplicidade de movi-
mentos pedestres que ocorrem na partilha de um espaço, movimentos no mesmo sentido,
em sentido oposto, noutras direções, com cruzamento e em ambientes mais ou menos
densos, num determinado tempo.
São também estudadas situações em que o movimento pedestre se faz exclusivamente no
mesmo sentido e com início quase simultâneo, como no final de um espetáculo, na saída
de veículo de transporte coletivo ou numa evacuação.
2
No caso de uma evacuação, a população abrangida desenvolve um movimento com um
mesmo objetivo, ao longo de percursos comuns, no mesmo espaço temporal, com níveis
similares de tensão emocional e com urgência idêntica em atingir o destino. É um caso
particular do movimento pedestre, com caraterísticas cinemáticas, espaciais e temporais
específicas.
No presente estudo a operação de evacuação ocorre em edificações, perante a eclosão de
um incêndio. Isto porque a operação de evacuação só é considerada na regulamentação
nacional de segurança contra incêndio em edifícios.
Só são consideradas as situações em edificações que recebem público, porque o público
ignora as vias e estratégias de evacuação e portanto a operação de evacuação é mais crí-
tica. Não são consideradas as situações nas quais os utilizadores são em percentagem
significativa portadores de deficiência, doentes acamados ou crianças de idade inferior a
seis anos, porque estes cidadãos exigem métodos, sistemas e dispositivos muito específi-
cos que extravasam os objetivos deste trabalho.
Este trabalho começa por estabelecer o enquadramento teórico e regulamentar da opera-
ção de evacuação nas suas vertentes temporal, espacial e cinemática, apresentando o es-
tado do conhecimento. Na continuação é feita a análise dos componentes examinados e
são elaborados juízos sobre a sua adequação aos objetivos propostos.
Seguidamente é proposto um método para o cálculo do tempo de evacuação. Este método
é criado com o objetivo de facultar aos técnicos de proteção civil e aos técnicos de segu-
rança nas empresas, uma ferramenta simples, utilizando métodos avançados para o cál-
culo do tempo de evacuação.
Esse método é posteriormente aplicado e ensaiado no estudo de três casos e dos resultados
são extraídas lições e conclusões e caraterizadas as insuficiências.
Este trabalho é realizado no âmbito de uma unidade curricular no 6º semestre de uma
licenciatura. É portanto um trabalho com fortes limitações de tempo e orçamento. Neste
âmbito a investigação experimental é impossível pelo que as conclusões só podem resul-
tar de dados já processados pelas fontes utilizadas. Apesar desta temática já ter alguma
expressão na investigação científica nacional, não se encontrou qualquer referência a in-
vestigação fundamental sobre o movimento pedestre efetuada sobre populações portu-
guesas. Cruzou-se a informação de suporte utilizada no trabalho com dados nacionais
obtidos noutros âmbitos, quando disponíveis, com as limitações daí resultantes.
PARTE I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
5
1. O tempo na evacuação
No âmbito de evacuação a variável tempo pode ser estruturada segundo a metodologia
definida pelo Guia Europeu [4] CFPA-E N.º 9:2009 “Fire safety engineering concerning
evacuation from buildings”. Apesar desta metodologia ter sido desenvolvida unicamente
para incêndios em edifícios pode aplicar-se a outras situações.
Existem 6 momentos (t0 a t5) que definem 5 intervalos ∆t (Figura 1).
t0 Evento iniciador, pode ser um abalo sísmico, uma precipitação anormal, a
colocação de um engenho explosivo, a rotura de uma tubuladura, uma igni-
ção.
t1 Momento em que se dá a deteção, pode ser um SADI, um sismógrafo, uma
boia DART, um DCS, etc.
t2 Momento em que o alarme geral é difundido no espaço aos ocupantes.
t3 Momento em que o primeiro ocupante do espaço começa a mover-se.
t4 Momento em que o último ocupante do espaço alcança um lugar seguro.
t5 Quando o processo iniciado em t0 atinge os ocupantes e se dá o sinistro.
∆tdet Intervalo de tempo entre o evento iniciador e a deteção.
∆𝑡𝑑𝑒𝑡 = 𝑡1 − 𝑡0 (1)
∆tdet é variável, dependendo do sistema de deteção, do tipo de evento e da
configuração da edificação. Métodos de cálculo para sistemas de deteção de
Figura 1 Diagrama temporal da Evacuação. Adaptado de CFPA-E
6
incêndio recomendados pela NFPA 72 podem ser encontrados no estudo de
Li Qiang, “Estimation of Fire Detection Time” [5].
∆ta Intervalo de tempo entre a deteção e a difusão do alarme geral.
∆𝑡𝑎 = 𝑡2 − 𝑡1 (2)
Podem considerar-se 3 situações;
A1 A difusão do alarme é automática, desencadeada por qualquer deteção. ∆ta é
virtualmente zero.
A2 A difusão do alarme é semiautomática, desencadeada por uma deteção redun-
dante, um temporizador de atraso ou por confirmação de um elemento da se-
gurança. ∆ta poderá variar entre 2 e 5 minutos.
A3 A difusão de alarme é uma operação manual efetuada por um operador do
sistema num dispositivo perto do local em sinistro. ∆ta é variável, dependendo
da edificação e do interveniente humano. Não pode ser feita qualquer estima-
tiva.
∆tpre Intervalo de tempo entre a difusão do alarme geral e o início do movimento
pelos ocupantes.
∆𝑡𝑝𝑟𝑒 = 𝑡3 − 𝑡2 (3)
∆tpre é variável e depende tanto da edificação como dos seus ocupantes. São
fatores da edificação, a sua dimensão, o arranjo arquitetónico, a localização
das saídas e a complexidade dos percursos de evacuação, a iluminação, a si-
nalética e o sistema de difusão de alarme. Para os ocupantes podem conside-
rar-se entre outros fatores a sua localização inicial, o género, a idade, a con-
dição física e mental, as relações familiares ou de grupo, a sua atividade na
altura da difusão do alarme, a função do ocupante e o seu treino.
Divide-se em 2 períodos;
P1 Período da perceção. De facto é composto por 2 processos distintos deteção
do estímulo e identificação do seu conteúdo. A sua duração ou mesmo a sua
existência é função da atenção.
P2 Período da atuação, o período em que a pessoa desenvolve ações preparatórias
para o movimento, vestir-se, pegar em bens essenciais, etc.
As tabelas do anexo 2 indicam exemplos de valores de pré movimento regis-
tados em eventos reais e em simulacros.
∆ttra Intervalo de tempo em que se dá o movimento dos ocupantes.
∆𝑡𝑡𝑟𝑎 = 𝑡4 − 𝑡3 (4)
Divide-se em 2 períodos;
F1 Deslocação individual. Tempo utilizado pelos ocupantes do local para indivi-
dualmente se deslocarem até uma saída. Pode expressar-se como uma distri-
buição de movimentos individuais, como uma média ou como o tempo ne-
cessário para que o último ocupante alcance a saída. Varia com as dimensões
7
do espaço, distribuição dos ocupantes e a sua condição física e psicofisioló-
gica.
F2 Movimento de grupo (fluxo). Tempo que o conjunto dos ocupantes demora a
percorrer as vias de evacuação e alcançar a saída.
∆tseg Tempo disponível não utilizado na evacuação. Margem de segurança.
∆𝑡𝑠𝑒𝑔 = 𝑡5 − 𝑡4 (5)
RSET Tempo necessário para uma Evacuação Segura. (Required Safe Egress Time)
𝑅𝑆𝐸𝑇 = ∆𝑡𝑑𝑒𝑡 + ∆𝑡𝑎 + ∆𝑡𝑝𝑟𝑒 + ∆𝑡𝑡𝑟𝑎 (6)
ASET Tempo disponível para uma Evacuação Segura. (Available Safe Egress Time)
𝐴𝑆𝐸𝑇 = ∆𝑡𝑑𝑒𝑡 + ∆𝑡𝑎 + ∆𝑡𝑝𝑟𝑒 + ∆𝑡𝑡𝑟𝑎 + ∆𝑡𝑠𝑒𝑔 = 𝑡5 − 𝑡0 (7)
Para o guia europeu [4], seguindo o especificado no documento BSI PD 7974-6:2004.
Os intervalos ∆tdet + ∆ta + ∆tpre estão definidos numa matriz de acordo com o tipo de
deteção (A1-A3), o tipo de utilização/edificação (B1-B3), o sistema de gestão da segu-
rança (C1-C3) e a condição do efetivo (familiar, não familiar, acordado, a dormir).
Para ∆ttra o guia apresenta uma metodologia de cálculo que é igual à de Nelson & Ma-
cLennan apresentada mais à frente no capítulo 4.3.
9
2. O espaço na evacuação
O espaço na evacuação é o espaço edificado, que obedece a regulamentos. A operação de
evacuação é unicamente tratada na regulamentação nacional relativa a segurança contra
incêndios em edifícios. Não existindo qualquer definição regulamentar para outras situa-
ções perigosas, a definição para situação de incêndio irá prevalecer.
A regulamentação atual de segurança contra incêndios, em Portugal, é constituída por três
diplomas legais;
O Decreto-Lei n.º 220/2008 de 12 de Novembro, que estabelece o regime jurídico de
segurança contra incêndios em edifícios (SCIE),
A Portaria n.º 1532/2008 de 29 de Dezembro, que aprova o regulamento técnico de segu-
rança contra incêndio em edifícios (RTSCIE),
O Despacho 2074/2009 do Presidente da ANPC, que estabelece os critérios técnicos para
determinação da densidade de carga de incêndio modificada.
Consiste ainda no regulamento (UE) n.º 305/2011 do Parlamento Europeu e do Conselho,
de 9 de Março de 2011, e das Normas Harmonizadas cujas referências tenham sido ou
venham a ser publicadas no Jornal Oficial da União Europeia (JOUE).
O regulamento (UE) n.º 305/20111 é uma lei de nível superior à regulamentação nacional
de SCIE, pelo que prevalecerá em caso de conflito de definição ou especificação.
A atual regulamentação nacional é essencialmente uma regulamentação prescritiva. As
abordagens prescritivas, resultantes quer do saber empírico quer do desenvolvimento téc-
nico e científico, consistem numa coletânea de boas práticas que melhoram o desempenho
das edificações.
A regulamentação nacional classifica as edificações ou suas frações autónomas em 12
tipos de acordo com a sua utilização (Tabela 1). Classifica os espaços interiores dessas
utilizações em 6 (7) classes (Local de Risco A a F) de acordo com critérios quantitativos,
qualitativos e funcionais (efetivo total ou público, qualidade dos materiais ou processos,
funcionalidade D, E ou F). E classifica as utilizações tipo em 4 categorias de risco (1ª a
4ª Categoria de Risco) de acordo com vários fatores quantitativos, funcionais ou mistos
1 O R(EU) 305/2011 refere apenas que em situação de incêndio “os ocupantes possam abandonar a obra
de construção ou ser salvos por outros meios”.
10
(altura, número de pisos enterrados, área, efetivo, densidade de carga de incêndio modi-
ficada, efetivo em espaços D ou E, saída direta ao exterior).
Tabela 1 Utilizações-tipo definidas no SCIE e sua inclusão no estudo
Utilização Tipo
Designação É considerado
no trabalho Notas
UT I Habitação Não Não recebe público
UT II Estacionamentos Não Não tem efetivo
UT III Administrativos Sim Estudo de Caso 2
UT IV Escolares Não -
UT V Hospitalares e Lares Não Operação de evacuação muito específica
UT VI Espetáculos Não -
UT VII Hoteleiros e Restauração Não -
UT VIII Comerciais Sim Estudos de caso 1 e 3. Não se consideram gares
de transporte.
UT IX Desportivos e Lazer Não -
UT X Museus e Galerias Não -
UT XI Bibliotecas e Arquivos Não -
UT XII Industriais e Armazéns Não -
Adaptado de: RTSCIE
Relativamente ao processo de evacuação esta regulamentação prescreve o isolamento e
proteção das vias de evacuação RTSCIE (Artigos 25º e 26º), calcula o número de ocupan-
tes (efetivo) RTSCIE (Artigo 51º), especifica o número de saídas e a sua localização, a
largura das saídas e dos caminhos de evacuação e as distâncias máximas a percorrer
RTSCIE (Artigos 54º, 55º, 56º e 57º). Não considera princípios que podem ser expressos
em termos de tempo e movimento e associados ao comportamento humano nem define
objetivos temporais e qualitativos ou métodos e sistemas para alcançar esses objetivos.
2.1. Vias de evacuação
Segundo o RTSCIE um caminho de evacuação é o percurso entre qualquer ponto suscetí-
vel de ocupação num edifício e uma zona de segurança exterior.
11
O caminho de evacuação é composto por um trajeto no local de risco e outro em vias de
evacuação.
Uma via de evacuação RTSCIE (Anexo I Artigo 4.º) é uma comunicação horizontal ou
vertical de um edifício que apresenta condições de segurança para a evacuação dos seus
ocupantes.
As vias de evacuação designam-se por protegidas RTSCIE (Artigos 25º e 26º) quando são
dotadas de meios que conferem aos seus utentes proteção contra os gases, o fumo e o
fogo, durante o período necessário à evacuação.
Exige-se proteção para todas as vias verticais de evacuação2 com resistência3 ao fogo da
envolvente de acordo com os valores definidos (Tabela4 2).
Tabela 2 Isolamento e proteção de vias de evacuação verticais enclausuradas servindo pisos acima do plano de re-
ferência.
Categoria de Risco 1ª 2ª 3ª 4ª
Envolvente da via R/REI3 30 R/REI 60 R/REI 90 R/REI 120
Altura da Utilização-Tipo ≤ 9 m ≤ 28 m ≤ 50 m > 50 m
Portas no piso de saída
Direta ao exterior - - - -
Átrio sem ligação a locais de risco - - E 30 C E 30 C
Átrio com ligação a locais de risco E 30 C E 30 C EI 60 C EI 60 C
Portas noutros pisos E 30 C E 30 C CCF CCF
Fonte: RTSCIE
Exige-se proteção para todas as vias horizontais de evacuação em edificações da 3ª e 4ª
categorias de risco, e em vias horizontais de evacuação de qualquer categoria de risco
quando o seu comprimento exceda 30 m, ou exceda 10m em pisos a uma altura superior
a 28m, ou se em impasse com um comprimento superior a 10m5 com resistência ao fogo
mínima da envolvente de acordo com o Quadro XV do RTSCIE (Tabela 3).
2 Existem 3 exceções a esta regra que no entanto não se aplicam aos casos em estudo. Art.RTSCIE artigo
26º. 3 R- capacidade de suporte de carga. E- estanquidade a chamas e gases quentes. I- isolamento térmico.
Unidade-minutos. 4 Omitem-se os valores relativos a proteção dos acessos (portas) para vias ao ar livre e pisos abaixo do
plano de referência. 5 Existem outras situações no RTSCIE que não são importantes para este trabalho.
12
Também se exige proteção a vias horizontais incluídas em caminhos de evacuação de
locais de risco B que não disponham de saídas alternativas.
Tabela 3 Isolamento e proteção de vias de evacuação horizontais interiores protegidas servindo pisos acima do
plano de referência.
Altura da Utilização-Tipo ≤ 9 m ≤ 28 m ≤ 50 m > 50 m
Envolvente da via EI/REI 30 EI/REI 60 EI/REI 60 EI/REI 90
Portas E 15 C E 30 C E 30 C E 45 C
Fonte: RTSCIE
2.2. Cálculo do efetivo
Na regulamentação, o efetivo RTSCIE (Artigo 51º), é definido como o número máximo
estimado de pessoas que pode ocupar em simultâneo um edifício. O efetivo parcial é cal-
culado para cada local ou espaço de um edifício suscetível de ocupação e do seu somató-
rio resulta o efetivo total. O cálculo é efetuado utilizando as instruções do RTSCIE (Ar-
tigo 51º).
2.3. Número e localização das saídas
A regulamentação nacional só define o número mínimo de saídas para locais de risco
RTSCIE (Artigos 54º e 55º). A definição de número de saídas da edificação resulta dire-
tamente das distâncias máximas a percorrer e da configuração arquitetónica dos pisos,
mas para edifícios de grande altura (mais de 28m) é definida a obrigatoriedade de existi-
rem pelo menos duas vias verticais de evacuação. Para os locais de risco o número mí-
nimo de saídas resulta diretamente do efetivo calculado (Tabela 4).
Tabela 4 Número mínimo de saídas dos locais de risco em espaços cobertos
Efetivo Número mínimo de saídas
1≤Ef≤50 Uma 1
51≤Ef≤1500 Uma por cada 500 pessoas ou fração, mais uma 2 a 4
1501≤Ef≤3000 Uma por cada 500 pessoas ou fração 4 a 6
3001≤Ef Condicionado pelas distâncias a percorrer, mínimo 6 ≥6
Fonte: RTSCIE
13
A localização das saídas é dependente da geometria e dimensão do local devendo a sua
posição minimizar a possibilidade de impasses ou o seu bloqueio simultâneo.
2.4. Largura das saídas e dos caminhos de evacuação
A largura das saídas e dos caminhos de evacuação RTSCIE (Artigo 56º) é diretamente
dependente do efetivo (Tabela 5). A unidade de medida para esta largura é a unidade de
passagem (UP).
A unidade de passagem é uma “unidade teórica” utilizada para dimensionar as vias de
evacuação e as portas de saída perante riscos de incêndio ou pânico, correspondendo ao
número de pessoas que poderão passar simultaneamente de frente. Corresponde a uma
sequência de valores definida em centímetros pelos valores iniciais UP (1) = 90, UP (2)
= 140 e a relação UP (n> 2) = n x 60.
Tabela 5 Número mínimo de Unidades de Passagem em espaços cobertos
Efetivo Número mínimo de UP
1≤Ef≤50 Uma
51≤Ef≤500 Uma por cada 100 pessoas ou fração, mais uma
501≤Ef Uma por cada 100 pessoas ou fração
Fonte: RTSCIE
2.5. Distâncias máximas a percorrer.
As distâncias máximas a percorrer RTSCIE (Artigos 56º e 61º) em caminhos de evacua-
ção só são definidas para os percursos horizontais.
As vias verticais protegidas são consideradas equivalentes a uma zona de segurança e
nestas a regulamentação não considera a necessidade de definir distâncias máximas a
percorrer.
O percurso horizontal divide-se em duas partes, o percurso no local de risco e o percurso
na via horizontal de evacuação.
As distâncias máximas a percorrer em qualquer destas partes são de 15 m em impasse e
de 30 m quando existam saídas alternativas. Quando os locais de risco sejam espaços
amplos cobertos, os valores indicados podem aumentar em 50%.
14
O regulamento não diferencia a este respeito vias horizontais de evacuação de vias hori-
zontais protegidas de evacuação.
2.6. Instalações técnicas.
As edificações devem ser equipadas com sinalética de emergência com recurso a sinali-
zação fotoluminescente, iluminação de emergência e sistema automático de deteção de
incêndio RTSCIE (Artigos 108º a 125º).
Estas instalações são importantes para a definição do tempo necessário para uma evacu-
ação segura “RSET” pelo que interferem diretamente no processo de evacuação.
2.7. Medidas de autoproteção.
As medidas de autoproteção (Tabela 6) são um conjunto de documentos e procedimentos
que os responsáveis pelas edificações devem elaborar com o objetivo de melhorar e ga-
rantir a segurança contra incêndio. Devem existir tanto para edificações novas como para
já existentes. Para a 2ª, 3ª e 4ª categorias de risco incluem a existência de procedimentos
ou planos de evacuação.
Fonte: RTSCIE
Tabela 6 Medidas de autoproteção exigíveis de acordo com a Utilização-Tipo e a categoria de risco
15
2.8. O quadro regulamentar anterior.
O quadro regulamentar anterior ao SCIE pode dividir-se em dois períodos. O Decreto-
Lei nº 38:382 de 7 de Agosto de 1951 que publica o Regulamento Geral das Edificações
Urbanas (RGEU), e um conjunto de nove Decretos publicados entre 1990 e 1999, co-
brindo a quase totalidade das Utilizações-tipo atualmente definidas.
O RGEU foi um instrumento legal marcante quanto à edificação, legislando a obrigação
da existência de saídas para o exterior em número adequado à rápida evacuação em segu-
rança dos ocupantes, escadas construídas em materiais resistentes ao fogo encerradas em
caixas de paredes igualmente resistentes ao fogo providas de dispositivos de ventilação
na parte superior, separação resistente ao fogo entre utilizações diferentes no mesmo edi-
fício, entre outras.
Os regulamentos da década de 90 introduzem de uma forma dispersa e por vezes contra-
ditória os princípios sistematizados na regulamentação vigente, como as classes tempo-
rais de resistência ao fogo, as distâncias máximas a percorrer, as portas resistentes ao
fogo, as instalações técnicas de segurança e outros.
17
3. A relação tempo-espaço
Um processo de evacuação é uma relação tempo-espaço. O espaço resulta de determina-
ções regulamentares.
As leis são um instrumento social útil e necessário, mas as leis de índole técnico além de
respeitadas têm de ser tecnicamente suportadas. Infelizmente, por vezes, o legislador não
esclarece a origem das suas determinações e omite os saberes e experiências a elas sub-
jacentes. Tentaremos clarificar este tema quanto às definições regulamentares com im-
pacto no processo de evacuação, estas são fundamentalmente o cálculo do efetivo, o cál-
culo das larguras de saída e a definição das distâncias máximas a percorrer. Adicional-
mente também o número de saídas e o isolamento e proteção das vias de evacuação.
3.1. Cálculo do efetivo
O cálculo do efetivo é feito com base numa tabela de densidades de ocupação. A cons-
trução de tabelas de densidade de ocupação ou taxa de ocupação ou índice de ocupação
pressupõe uma investigação cuidada e o tratamento estatístico dos dados apurados, uma
vez que a realidade edificada nunca está exatamente de acordo com as classes de classi-
ficação definidas. Não se conseguiu encontrar estes dados pelo que se optou por estabe-
lecer uma comparação com tabelas similares utilizadas nos regulamentos de outros países
(Tabela 7). Escolheram-se regulamentos disponíveis a público em língua acessível e a
escolha feita incluiu para Portugal o Quadro XXVII da Portaria 1532/2008, para Espanha
o “Documento Básico de Seguridad en caso de Incendio (DB-SI)” de Fevereiro de 2010,
para França o “Arrêté du 25 juin 1980” e suas atualizações, para o Reino Unido os “The
Building Regulations 2000 – Volume 2”, para a Irlanda os “Building Regulations 2006,
Fire Safety Technical Guidance Document B”, para os Estados Unidos as normas “NFPA
1:2000 –Fire safety code” e “International Building Code 2009”, e para a Austrália a
“National Construction Code 2012 – Volume 1”. Destes códigos extraiu-se a tabela se-
guinte. Note-se que nem todos os códigos contemplam o mesmo grau de detalhe na clas-
sificação dos espaços e no caso francês, o código consultado diz apenas respeito aos es-
paços dos edifícios a que o público tem acesso.
Vai notar-se que a ordem de grandeza dos vários códigos é similar com duas exceções, a
densidade nas várias ocupações de edifícios administrativos é muito alta no Reino Unido
18
e muito baixa em França. Em França isto deve resultar de só estar considerada a área
acessível ao público, se imaginarmos uma conservatória ou um serviço de finanças será
o espaço desde a porta até ao balcão ou mesas de atendimento. Para o Reino Unido não
se encontrou explicação para a diferença.
Tabela 7 Densidades de ocupação de locais em regulamentos de segurança contra incêndio em diversos países
Espaços
P USA USA UK IRL AUS F E
Prt 1532
NFPA 1:2000
IBC 2009
Ap Doc B
V2
BR 2006
NCC2012 RSI ERP
DBSI
Espaços comuns de estabelecimentos co-merciais 0.20 1.43 0.33 0.20 0.20 0.33
Locais de venda de baixa ocupação 0.20 0.14 0.20
Locais de venda no piso 0 <300m2 0.50 0.36 0.50 0.17 0.50
Locais de venda no piso 0 0.60 0.36 0.36 0.50 0.33 0.676 0.50
Locais de venda dos pisos -1 ou 1 0.35 0.36 0.36 0.50 0.33 0.33 0.50
Locais de venda dos pisos ≥2 0.20 0.18 0.18 0.50 0.20 0.07 0.33
Salas de convívio, restauração,… 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 0.67
Bares (em pé) 2.00 3.33 2.00 2.00 2.00 2.00
Gabinetes escritório 0.10 0.11 0.11 0.17 0.14 0.10 0.01 0.10
Salas de escritório 0.20 0.11 0.11 0.17 0.20 0.20 0.01 0.10
Salas de reunião,… 0.50 0.11 0.11 1.00 0.14 0.01 0.10
Salas de formação 0.60 0.53 0.54 0.50 0.67
Conclui-se portanto que os padrões de ocupação dos tipos de utilizações comparados são
similares e correspondem a valores internacionalmente aceites.
3.2. Largura mínima dos elementos das vias de evacuação
A largura é um assunto que envolve duas vertentes, a dimensão física humana e a capa-
cidade de escoamento do componente (porta, corredor, escada, etc.) da via.
Na regulamentação portuguesa a capacidade de escoamento é dimensionada em unidades
de passagem (UP). Como já indicado uma unidade de passagem corresponde a uma lar-
gura de via de 60 cm, sendo que para uma e para duas unidades de passagem esta dimen-
são básica sofre uma majoração.
Sendo a evacuação uma relação espaço-tempo, a definição de um espaço, a largura da
via, deverá corresponder a um tempo. Mas o regulamento nada adianta a este respeito.
6 De facto o regulamento francês especifica 2 pess/m2 em 1/3 do espaço disponível para o público. Para
espaços de trabalho inacessíveis ao público o regulamento francês dispõe regras totalmente diferentes.
19
A utilização da terminologia unidade de passagem e os critérios seguidos dão a entender
que o regulamento português replica neste aspeto o regulamento francês. Neste também
não se encontrou qualquer referência à dimensão tempo.
A metodologia de dimensionamento de saídas por unidades de passagem pode encontrar-
se em regulamentos norte-americanos da 1ª metade do século XX.
Segundo Kendik [6], que cita trabalhos anteriores de Stahl, Archea e Pauls, um docu-
mento inicial da NFPA (1927 Building Exits Code) recomendava como guia para unidade
de saída, um fluxo específico de 45 pessoas/minuto/22” (55,88cm). Esse método de saídas
em módulos de 22” conjugado com um certo valor de distância a percorrer e vias verticais
enclausuradas (seguras) ter-se-á mantido até à data do artigo de Kendik, embora a com-
ponente tempo tenha deixado de ser referida em edições posteriores da documentação da
NFPA.
Bukowski [7], indica que o conceito de unidade de saída foi abandonado sendo substitu-
ído por uma metodologia prescritiva baseada no movimento linear (método hidráulico,
capítulo 4.3) especificando índices de 7,6 mm por ocupante em escadas e 5 mm por ocu-
pante em qualquer outra situação, com as largura mínimas a aumentarem para 3 pés em
portas (91,4 cm) e 4 pés em escadas (1,22 m). Este método define uma largura total de
saída em função do efetivo. Por exemplo, para 345 pessoas seria necessário uma largura
total de saída de 345×5=1725 mm, isto é, 1,725 m e uma largura total de escada de
345×0,0076=2,62 m.
Tabela 8 Comparação de sistemas e larguras de elementos dos caminhos de evacuação
Larguras de saídas
P USA UK IRL AUS F E7
Prt 1532
NFPA 101B 2002
Ap Doc B
V2
BR 2006
NCC2012 RSI ERP
DBSI
Largura mínima das portas (m) 0,90 0,92 0,85 0,85 1,00 0,90 0.80
Largura mínima das escadas (m) 0,90 1,12 0,85 0,85 1,00 0.90 -
Sistema Modular ou Proporcional M P P8 P8 P M P
Dimensão base do módulo (m) 0,60 - - - - 0.60 -
Fator de capacidade horizontal (mm/pes) 69 5 5 5 - 69 5
Fator de capacidade escada (mm/pes) 8,69 7,6 5 5 - 69 6,3
7 Inclui um conjunto de especificidades não consideradas, a largura das escadas é calculada em função do
efetivo por 2 equações consoante a escada seja ou não protegida. 8 A constante de proporcionalidade indicada só é válida a partir de 151 pessoas, abaixo disso existem esca-
lões. Até 50 (15mm), até 100 (8,5mm) e até 150 (6,3mm) por pessoa. 9 O regulamento não faz esta definição, é obtida por cálculo.
20
Nesta metodologia o tempo é determinável com base no método hidráulico apresentado
no capítulo 4.3 utilizando a equação (24). No exemplo anterior, considerando a densidade
pedestre máxima, teríamos como tempo de atravessamento das portas;
𝑡 =345
(1 − 0,266 × 2) × 1,4 × 2 × 1,725= 153 𝑠 (8)
Atualmente a maioria dos regulamentos nacionais consultados utiliza sistemas proporci-
onais e não de unidade de passagem (Tabela 8).
Se aplicarmos a equação de tempo do método hidráulico (Capítulo 4.3) ao regulamento
nacional obtemos para 100 pessoas e 0,6 m de largura;
𝑡 =100
(1 − 0,266 × 2) × 1,4 × 2 × 0,6= 127 𝑠
(9)
O regulamento norte-americano e o espanhol incluem disposições das quais resulta uma
largura de escadas superior à dos elementos horizontais das vias de evacuação, nos res-
tantes isso não acontece (Tabela 8).
Tabela 9 Velocidades de movimento em escadas. Extraído de Peacock et al. [49]
21
Como a velocidade pedestre é menor nas escadas (Tabela 9), a manutenção da mesma
dimensão irá gerar um congestionamento. O regulamento nacional altera para vias verti-
cais a definição de unidade de passagem, que passa assim a ser um conceito incoerente,
como se pode constatar na compilação efetuada (Tabela 10).
Tabela 10 Larguras e capacidades para elementos de via de evacuação de 1 a 6 U.P.
U.P. Largura Unitária
Largura útil Capacidade má-
xima Capacidade unitá-
ria Largura por pes-
soa
m m pessoas pessoas/U.P. mm/pessoa
1 0,9 0,9 50 50,0 18
2 0,7 1,4 100 50,0 14
140 70,0 10
3 0,6 1,8 200 66,7 9
210 70,0 8,6
4 0,6 2,4 300 75,0 8
280 70,0 8,6
5 0,6 3 400 80,0 7,5
350 70,0 8,6
6 0,6 3,6
500 83,3 7,2
600 100,0 6
420 70 8,6
Elaborado com elementos extraídos do RTSCIE. As linhas a cinzento referem-se a vias verticais.
A dimensão física humana é a componente estática na definição da largura das vias. Este
aspeto será abordado posteriormente, nomeadamente ao abordar os trabalhos de Predte-
chenskii e Milinskii (Capítulo 4.1) e de Fruin (Capítulo 4.2), e existe abundante informa-
ção antropométrica disponível sobre várias populações em diferentes períodos históricos,
veja-se Still [8], Pheasant [9], Panero [10] ou a base de dados da NASA.
Destas fontes ressalta que a dimensão física humana é altamente variável e as médias em
diferentes nações são diferentes.
Collier [11], faz notar que “Os valores antropométricos variaram significativamente
desde 1960 – a massa corporal humana e a dimensão aumentaram. Nos EUA as taxas de
obesidade duplicaram neste intervalo de tempo”, o que resulta do trabalho de análise à
evacuação das torres gémeas do WTC [12] e é também revelado pelo valor de 2001 [13]
da tabela 9.
Relativamente a Portugal não se encontraram valores antropométricos publicados, mas
existe informação comparativa de altura média entre os países membro da OCDE e in-
cluída no relatório de indicadores sociais de 2009 [14]. Portugal aparece nos cinco países
com menor altura média (Figura 2).
22
O CITEVE - Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal, está a
desenvolver o programa “SIZING-SUDOE” 10, cujo objetivo é medir uma amostra de
1.000 homens e 1.000 mulheres, entre os 18 e os 65 anos, distribuídos de forma represen-
tativa pelos diferentes escalões etários e em diferentes zonas do país, utilizando a mais
recente tecnologia portátil de “body scanning” por sensores de infravermelhos.
Este trabalho está ainda em curso mas, dados provisórios cedidos (Tabela 11), sobre uma
amostra de 1550 pessoas em roupa interior, confirmam a informação da OCDE e infor-
mam valores médios para as largura e profundidade corporal máximas concordantes com
os dados de Predtechenskii e Milinskii (Capítulo 4.1) e com os quais se calcula um valor
para a projeção horizontal do corpo humano idêntico.
Tabela 11 Dados antropométricos médios de amostra da população portuguesa fornecidos pelo CITEVE. A média
total e o valor de Ph são calculados pelo autor.
CITEVE ESPESSURA
TRONCO LARGURA OMBROS (TRONCO + AN-
TEBRAÇO) AL-
TURA VO-
LUME
(mm) (mm) (mm) (mm3)
Mulheres 900 246.61 478.47 1602.97 59.75
Homens 650 255.93 515.56 1726.3 72.01
TOTAL 1550 250.52 494.02 Ph (m2) 0.10
Conclui-se que o módulo base da largura de uma unidade de passagem é adequado à
evacuação de pessoas considerando os dados antropométricos internacionais existentes e
pode ainda contemplar um crescimento da dimensão média da população nacional.
10 Ver Anexo 1
Figura 2 Altura de homens e de mulheres dos 20 aos 49 anos.
23
A dimensão de 0,90 m para largura de uma unidade de passagem é adaptada à evacuação
de pessoas em cadeira de rodas quando aplicada a vãos. Esta dimensão é inferior ao es-
pecificado no Decreto-Lei n.º 163/2006 de 8 de Agosto, que publica as normas técnicas
para melhoria da acessibilidade das pessoas com mobilidade condicionada, como dimen-
são mínima de corredores (1,20 m) e zonas de manobra e portanto na conceção deverá
prevalecer a maior especificação.
3.3. Distâncias a percorrer
As distâncias máximas a percorrer nos locais e em vias horizontais de evacuação defini-
das na regulamentação são respetivamente de quinze metros em impasse e trinta metros
entre duas saídas alternativas. Assim a distância máxima possível até que o evacuado
atinja uma zona de segurança não poderá ser superior a sessenta metros. Sendo as vias
verticais zonas de segurança não estão previstas limitações à sua dimensão.
Tabela 12 Comparação de distâncias máximas a percorrer na evacuação horizontal.
Distâncias máximas a percorrer P USA UK IRL AUS F E
Prt 1532 NFPA 101B
2002 Ap Doc B V2 BR 2006 NCC2012 RSI ERP DBSI
UT
III
sem
sp
rin
kle
rs Em impasse (m) 15 23 18 18 20 30 25
Com saídas distintas (m) 30 60 45 45 40 50 50
Com saídas diretas ao exterior e área> 800m2 (m)
45 - - - 60 - 50
com
sp
rin
kle
rs Em impasse (m) 15 30 18 18 20 30 25
Com saídas distintas (m) 30 91 45 45 40 50 50
Com saídas diretas ao exterior e área> 800m2 (m)
45 - - - 60 - 50
UT
VII
I sem
sp
rin
kle
rs Em impasse (m) 15 23 18 18 20 30 25
Com saídas distintas (m) 30 30 45 45 40 50 50
Com saídas diretas ao exterior e área> 800m2 (m)
45 - - 60 - 50
com
sp
rin
kle
rs Em impasse (m) 15 30 18 18 20 30 25
Com saídas distintas (m) 30 120 45 45 40 50 50
Com saídas diretas ao exterior e área > 800m2 (m)
45 - - 60 - 50
Verifica-se que o regulamento português é o mais conservador.
3.4. Número de saídas
No regulamento português o número de saídas é condicionado em primeiro lugar pelo
efetivo e em segundo lugar pela distância a percorrer, como indicado na tabela 13. Nos
24
restantes regulamentos a abordagem é totalmente diferente, podemos considerar que a
regra geral é “de acordo com as distâncias a percorrer”.
Tabela 13 Comparação de disposições sobre o número de saídas.
Número de saídas
P USA UK IRL AUS F E
Prt 1532
NFPA 101B 2002
Ap Doc B V2
BR 2006 NCC2012 RSI ERP
DBSI
Uma saída possível até x ocupantes 50 - - - Não 19 100
Uma saída possível com outro critério Não - Nota10 - Sim 5011 -
Número mínimo de saídas/critério - - Nota12 2/500 1 - 2/>100
Número necessário de saídas/critério 𝐸𝑓
500+ 113 - - 3/>500 2
𝐸𝑓
500+ 1 2/>100
3.5. ASET - Tempo disponível para uma evacuação segura
Não está no âmbito deste trabalho estudar métodos para o cálculo de ASET, no entanto é
necessário defini-lo para poder concluir se o processo de evacuação irá ser bem-sucedido.
Essa definição poderá ser feita com recurso a um modelo informático, por exemplo
CFAST ou FDS, poderá ser utilizado um dos fogos-tipo da base de dados do “Laboratoire
national de métrologie et d'essais” (LNE) [15], poderá ser estimada utilizando a correla-
ção proposta por Karlsson e Quintiere [16] [17], ou poderá ser especificada a partir da
experiência do utilizador.
3.6. RSET - Tempo necessário para uma evacuação segura
Uma metodologia simplificada para o cálculo de RSET é proposta no capítulo 5 deste
trabalho.
11 Uma saída padrão mais uma acessória. A saída acessória não respeita as larguras em U.P. Uma única
saída só é possível até 19 ocupantes. 12 De acordo com o necessário. 13 Até 1500 pessoas, de 1501 a 3000 desaparece o +1, a partir de 3001 mínimo de 6.
25
4. A dinâmica pedestre.
O movimento pedestre é um assunto alvo de intensa investigação ao longo do século XX
e continuado pela atualidade. Arquitetos, engenheiros e sociólogos estudaram o tema para
finalidades que vão da organização de casamentos reais, a desfiles de escolas de samba,
à movimentação de pessoas em terminais de transportes ou a circulação em edifícios.
Este trabalho não tem capacidade nem âmbito para abordar o imenso número de estudos
desenvolvidos sobre esta temática. Além disso, já Leça Coelho na sua dissertação de Dou-
toramento [18] (1997) abordou os trabalhos mais importantes elaborados até essa data.
Desses importa realçar três pelo impacto que tiveram no meio científico, a obra de V.M.
Predtechenskii e A.I. Milinskii (1969) [19], os estudos de J.J. Fruin (1971) [20] e o artigo
de H.E.Nelson e H.A. MacLennam (1988) [21].
Irão ser tratados neste trabalho, bem como os estudos e desenvolvimentos posteriores de
Kholshevnikov [22] e as formulações de Dirk Helbing [23] [24] .
Os trabalhos abordados têm várias origens geográficas e temporais e falam portanto de
pessoas distintas. Embora de forma diferente, todos eles tomam como unidade pedestre
uma dimensão corporal resultante das diferentes análises estatísticas. Essa unidade não é
uniforme, o que é expectável, pelo que a confrontação de resultados deverá ser feita com
os necessários cuidados.
Em Portugal o único método disponível para o cálculo do movimento pedestre na evacu-
ação é o divulgado pela Companhia de Bombeiros Sapadores de Coimbra e que pode ser
encontrado no site desta corporação.
Baseia-se em 3 valores, velocidade de circulação horizontal de 0,6 m/s, velocidade a des-
cer escada de 0,3 m/s e coeficiente de evacuação de 1,8 pessoas/m/s.
No LNEC esteve ativo um grupo de trabalho dirigido pelo investigador Leça Coelho que
desenvolveu um estudo sobre esta temática mas não resultou desse trabalho qualquer me-
todologia que esteja disponível. Leça Coelho refere em [25] o desenvolvimento efetuado.
26
4.1. O método determinístico cinemático.
V.M. Predtechenskii e A.I. Milinskii publicaram em 1978 uma obra [19] relevante que
partindo da relação anteriormente definida pela pesquisa soviética,
𝑣 = 𝑓(𝐷) (10)
e com a análise de 30 anos de registo de dados reais e experimentais, propõe o polinómio
(11) que estabelece uma relação entre a velocidade pedestre v (m/min)e a densidade do
fluxo pedestre D expressa em m2/m2 (equação 12) em que,
𝑣 = (112𝐷4 − 380𝐷3 + 434𝐷2 − 217𝐷 + 57) × 𝑗 (11)
j é um fator relativo ao tipo de via. Numa via horizontal tem o valor 1.
D é a densidade do fluxo pedestre. É um valor adimensional dado pela equação,
𝐷 =∑ 𝑃ℎ
𝑛𝑖=1
𝐴𝐿 𝑚2/𝑚2 (12)
AL é a área do local expressa em m2,
Ph corresponde à projeção horizontal do corpo humano e é calculada como uma elipse
cujos eixos são as dimensões antropométricas “largura corporal máxima” e “profundidade
corporal máxima” (Figura 3).
Esta regressão será válida para valores de D entre 0,025 e 0,92 m2/m2.
O resultado é definido como representando a marcha pedestre “Normal”. Para marcha em
emergência é afetado de um coeficiente μe.= (1.49-0.36D). A equação da velocidade em
emergência será,
𝑣 = (112𝐷4 − 380𝐷3 + 434𝐷2 − 217𝐷 + 57) ∙ (1.49 − 0.36𝐷) ∙ 𝑗 (13)
De posse dos valores para D e v os autores calculam o fluxo q e a capacidade de escoa-
mento Q.
𝑞 = 𝐷𝑣 𝑚/𝑚𝑖𝑛 (14)
𝑄 = 𝐷𝑣𝑤 𝑚2/𝑚𝑖𝑛 (15)
27
em que w corresponde à largura da via em metros.
Resolvendo as equações para vários valores de D po-
demos constatar que a velocidade em fluxo livre v0, é
de 1,3 m/s em marcha de emergência correspondendo
à densidade no limiar do fluxo livre D0 de 0,2 pes/m2
ou 0,025 m2/m2, que o fluxo máximo qM de 1,65
pes/s·m se dá à densidade crítica DC de aproximada-
mente 6 pes/m2 ou 0,75 m2/m2 e que o movimento vir-
tualmente desaparece na densidade limite DL igual a
7,36 pes/m2ou 0,92 m2/m2.
Este trabalho também calcula as velocidades para travessia de portas e movimentos de
descida e de subida de escadas, a partir dos fatores j abaixo, segundo a equação geral (11),
𝑣𝑖 = 𝑣𝑗𝑖 (16)
Travessia de portas 𝑗𝑖𝑃= 1,17 + 0,13𝑠𝑒𝑛(6,03𝐷 − 0,12) (17)
Descer escada 𝑗𝑖↓= 0,775 + 0,44𝑒−0,35𝐷𝑠𝑒𝑛(5,61𝐷 − 0,224) (18)
Subir escada D < 0,6 𝑗𝑖↑= 0,785 + 0,09𝑒3,45𝐷𝑠𝑒𝑛15,7𝐷 (19)
Subir escada D > 0,6 𝑗𝑖↑= 0,785 − 0,10𝑠𝑒𝑛(7,85𝐷 + 1,57) (20)
Nestas equações o valor do seno está em radianos.
Predtechenskii e Milinskii definem três grandes classes para o fluxo pedestre de acordo
com a densidade, que se subdividem num total de sete zonas.
Grupo etário e vestuário A (m) B (m) Ph (m2)
Adulto com roupa de verão 0,46 0,28 0,100
Adulto com roupa primavera 0,48 0,30 0,113
Adulto com roupa de in-verno
0,50 0,32 0,125
Jovem 0,38-0,43 0,22-0,27 0,07-0,09
Criança 0,30-0,34 0,17-0,21 0,04-0,056
Figura 3 Área da projeção horizontal
do corpo humano segundo P&M
Tabela 14 Valores de A, B e Ph segundo Predtechenskii e Milinskii
28
Tabela 15 Zonas de densidade do movimento do tráfego pedestre segundo P&M em pes/m2
Circulação Livre Circulação movimentada Mudança de forma
Totalmente li-vre
Livre em filas Sem contato Com contato Compacta Compressão Interação
fraca
D < 0,4 0,4<D<1,2 1,2<D<3,2 3,2<D<DC DC<D<7,2 7,2<D<8,4 8,4<D<9,2
Os autores ainda apresentam um conjunto de métodos para o cálculo de transformações
na secção das vias, cruzamento ou divisão de fluxos, etc.
Este processo é utilizado pelo designado método LNEC [25] na determinação de veloci-
dade e fluxo.
As curvas representando a variação da velocidade e do fluxo com a densidade estão re-
presentadas na figura 4.
Figura 4 Variação da velocidade e do fluxo com a densidade segundo P&M
29
4.2. O método do nível de serviço.
A tese de doutoramento [20] de J. J. Fruin com o título “Designing for Pedestrians”,
depois publicada com o título “Pedestrian Planning and Design”, trata o movimento pe-
destre numa outra perspetiva.
A partir de uma dimensão corporal para um adulto completamente vestido de 57,9 por 33
cm (PH=0,15 m2), Fruin desenvolve sobre os trabalhos de Hall [26] da existência de “zo-
nas de distância” e de Horowitz [27] sobre a “zona de amortecimento corporal” e propõe
quatro zonas circulares de amortecimento (Figura 5), cada uma correspondendo a um
nível de conforto pedestre [28] [10], seguidamente define seis níveis de serviço (LOS)
(Tabela 17), correspondendo a uma escala de conforto, para o tráfego em passadeiras, em
escadas, etc., seguindo o sistema definido para tráfego rodoviário.
Tabela 16 Características das zonas de amortecimento de JJ Fruin
Designação Descrição Raio, cm Área, cm2
A – Zona de Toque Dentro desta área ocorre contato frequente e inevitá-vel. Movimento restrito dos pés quase sem sair do lu-
gar. Ocupação semelhante a um elevador repleto. 30,5 0,28
B – Zona de ausência de Toque O contato pessoal pode ser evitado desde que a movi-mentação na área não seja necessária. Movimentação
de grupo possível. 45,7 0,65
C – Zona Pessoal As pessoas em pé estão afastadas por uma largura corporal. Circulação limitada possível entre as pes-
soas se efetuada de lado. 53,3 0,95
D – Zona de Circulação Circulação possível dentro de filas sem perturbar ou-tras pessoas. 61,0 1,40
Com base nessas definições estabelece o que designa por equação fundamental para o
fluxo de tráfego pedestre em passadeiras e escadas e que é expressa em pedestre/m-min,
𝑞 = 𝑣/ă (21)
Figura 5 As “zonas de amortecimento corporal” encontradas nos ensaios clínicos de Horowitz (esquerda), são
individualizadas por Fruin como círculos (direita).
30
em que q = número de pedestres passando por metro de largura da via num minuto,
v = velocidade média pedestre em m/min,
ă = área média por pedestre dentro do fluxo de tráfego em m2/pessoa.
Tabela 17 Definição para Níveis de Serviço em percurso horizontal
LOS q v ă
Descrição pes/min.m m/s m2/pes
A ≤ 23 ≥ 1.3 ≥ 3.24 Limiar do movimento pedestre livre. Conflitos evitáveis circula-ção adequada.
B 23 - 33 1.27 2.32-3.24 Pequenos conflitos, restrições à velocidade e passagem.
C 33 - 49 1.22 1.39-2.32 Circulação densa mas fluida. Restrições à passagem, cruzamen-tos e circulação nos dois sentidos difíceis.
D 49 - 66 1.14 0.93-1.39 Número significativo de conflitos, restrições à passagem e à ve-locidade, circulação arrastada intermitente.
E 66 - 82 0.76 0.46-0.93 Inversão de marcha, passagem e cruzamento de fluxos muito di-fícil. Paragens intermitentes.
F variável ≤ 0.76 ≤ 0.46 Densidade crítica, circulação esporádica, paragens frequentes, contactos físicos entre pedestres.
O dimensionamento é feito com uma análise tempo-espaço (TS) numa razão oferta/pro-
cura, em que a procura é dada pelo número de pedestres que pretendem efetuar um dado
trajeto num determinado tempo e a oferta é dada pelo espaço em análise e o tempo de
análise. Esta análise é descrita pela equação,
ă =𝑇𝑆 𝑜𝑓𝑒𝑟𝑡𝑎
𝑇𝑆 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑢𝑟𝑎=
𝑇𝐴𝐿
𝑃𝑡 (22)
em que ă = área média por pedestre (m2/pes) no espaço tempo em análise,
T = Tempo da análise, AL = é a área em análise (m2), P = número de pedestres ocupando
o espaço e t = o tempo previsto para os pedestres ocuparem o espaço.
Esta relação pode ser utilizada para calcular a largura de corredores para um dado LOS e
efetivo, sabendo-se o comprimento e o tempo de ocupação pretendido.
𝑤 =�̆�𝑃𝑡
𝑇𝑙 (23)
onde w = largura do corredor e l = comprimento do corredor.
Também pode ser feita uma análise volume/capacidade dividindo o volume de tráfego
pedonal pela capacidade máxima da via.
31
O trabalho de Fruin não contempla o movimento de evacuação, Fruin preocupa-se com o
movimento pedestre urbano e em espaços públicos com grandes fluxos pedestres. O mé-
todo desenvolvido tem como objetivo o conforto pedestre e a facilidade da circulação.
Fruin afirma “Temos encontrado velocidades normais para o caminhar desimpedido a
variar entre 0,76 e 1,76 m/s, com um valor médio de aproximadamente 1, 37 m/s. (…)O
tráfego pedestre a densidade elevada tem como resultado uma diminuição de velocidade
para todas as pessoas. (…) Estudos de circulação pedestre em caminhos mostraram que
uma área de ocupação individual de cerca de 3 m2/pes (0,33 pes/m2) é necessária para
que se atinjam velocidades pedestres normais. O fluxo pedestre máximo atinge-se, não
quando as pessoas caminham mais rápido, mas quando a densidade é de aproximada-
mente 2 pes/m. Com espaços individuais inferiores a 0,185 m2/pes (5,37 pes/m2), aproxi-
mando-se da área da projeção do corpo humano, virtualmente todo o movimento ter-
mina.” [28]
Fruin não se preocupa em determinar uma equação relacionando a velocidade com a den-
sidade, mas em [20] apresenta um gráfico que adaptado às unidades utilizadas neste tra-
balho resulta no gráfico abaixo (Figura 6).
Figura 6 Variação da velocidade e fluxo com a densidade. J. J. Fruin
32
4.3. O método hidráulico
O artigo [21] de Nelson e MacLennan trata apenas do movimento pedestre em emergên-
cia. Este trabalho de engenharia estabelece valores e métodos utilizados para estimar ta-
xas e tempos para a evacuação de emergência.
Esses valores e métodos consistem em 5 tabelas e 11 equações. A equação fundamental
é uma equação de fator k.
Cada elemento de uma via de evacuação tem o seu fator k, a velocidade é calculada por,
𝑣 = 𝑘 − 0,266𝑘𝐷 (24)
k tem os valores indicados na tabela 18.
Tabela 18 Valores relevantes das tabelas de Nelson e MacLennan
Elemento da via de evacuação k max. v max. q
m/s pes/s.m
Corredores, Rampas, Portas 1,40 1,20 1,3
Escada S1 (191x254) 1,00 0,85 0,94
Escada S2 (178x279) 1,08 0,95 1,01
Escada S3 (165x305) 1,16 1,00 1,09
Escada S4 (165x330) 1,23 1,05 1,16
Considera-se que para densidades ≤ 0,54 pes/m2 o fluxo é livre, pelo que a velocidade
máxima calculada é de (1,4-0,266·1,4·0,54) 1,198 m/s.
O fluxo q é o fluxo num ponto do caminho por unidade de tempo e de largura.
𝑞 = 𝑣𝐷 (25)
Pode ser reescrito combinando as equações (24) e (25).
𝑞 = (1 − 0,266𝐷)𝑘𝐷 (26)
A capacidade de escoamento Q é dada pela equação.
𝑄 = 𝑞𝑤 (27)
Pode ser reescrito combinando as equações (26) e (27).
𝑄 = (1 − 0,266𝐷)𝑘𝐷𝑤 (28)
O tempo de passagem t por um ponto da via de evacuação pelo efetivo P é.
33
𝑡 =𝑃
𝑄 (29)
Pode ser reescrito combinando as equações (28) e (29).
𝑡 =𝑃
(1 − 0,266𝐷)𝑘𝐷𝑤 (30)
As restantes equações dizem respeito a transformações, ou seja mudança de largura da
via ou combinações de fluxos.
𝑞𝑠𝑎í𝑑𝑎 =𝑞𝑒𝑛𝑡𝑤𝑒𝑛𝑡
𝑤𝑠𝑎í𝑑𝑎 (31)
𝑞𝑠𝑎í𝑑𝑎 =[(𝑞1𝑤1) + (𝑞2𝑤2)]
𝑤𝑠𝑎í𝑑𝑎 (32)
Nelson e MacLennan definem que a velocidade v0 para situação de movimento livre é de
1,2 m/s correspondendo a densidades até D0 de 0,2 pes/m2, que o fluxo máximo de 1,31
pes/s·m se dá à densidade crítica DC de 2 pes/m2 e que o movimento virtualmente desa-
parece com densidade DL igual ou superior a 3,6 pes/m2. A figura 7 apresenta os gráficos
que justificam estas conclusões.
A atualização deste trabalho publicada em 2002 [29] serve de base à metodologia do Guia
Europeu [16] e da norma britânica PD 7974-6:2004.
Figura 7 Variação da velocidade e fluxo com a densidade. Nelson e MacLennan
34
4.4. O método do fluxo pedestre.
Com a continuação da pesquisa experimental e a utilização de técnicas melhoradas para
o registo do movimento pedestre, a investigação russa constatou que as equações propos-
tas por Predtechenskii e Milinskii não modelavam com exatidão o fluxo pedestre que
apresentava uma não-homogeneidade estatística.
Com os novos dados Kholshevnikov [3] [22] e Samoshin [30] desenvolveram um con-
ceito envolvendo o potencial de impacto dos estados emocionais na velocidade pedestre
e introduziram uma teoria do movimento pedestre relacionando a velocidade do movi-
mento com a densidade do fluxo, a natureza do caminho e o estado emocional. Afirmam;
“a atividade motora de um indivíduo é governada por processos que dependem dos estí-
mulos psicológicos experimentados por si em termos temporais e espaciais” [3].
A teoria parte da constatação de que numa via de tipo j existe um limiar de densidade D0,j
acima do qual a densidade influi na velocidade. A essa densidade ou inferior, a velocidade
média é Ve0,j de acordo com os dados experimentais utilizados.
Logo, é possível considerar que existe uma relação entre a velocidade média Ve0,j e a
velocidade à densidade D traduzida pela equação,
𝑅𝐷,𝑗𝑇 =
(𝑉0,𝑗𝑒 − 𝑉𝐷,𝑗
𝑒 )
𝑉0,𝑗𝑒 (33)
Da análise da relação empírica RTD,j = f(D), foi elaborada a hipótese de que o parâmetro
D (densidade) é o resultado da síntese das experiências psicofisiológicas dos pedestres,
e após estudo, foi considerado que podia ser convenientemente descrito pela Lei de We-
ber-Fechner [3], dando assim origem à equação teórica,
𝑅𝐷,𝑗𝑇 = 𝑎𝑗𝑙𝑛 (
𝐷𝑖
𝐷0,𝑗) (34)
pelo que combinando as equações (33) e (34) se obtém,
𝑣𝐷,𝑗𝑒 = 𝑣0,𝑗
𝑒 [1 − 𝑎𝑗𝑙𝑛 (𝐷𝑖
𝐷0,𝑗)] (35)
“Este tratamento da velocidade de deslocamento e da densidade é compatível com os
valores estocásticos observados do fenômeno” [3].
Os parâmetros empíricos considerados para tipos de via e de estado emocional são dados
pelas tabelas seguintes (Tabelas19 e 20).
35
Tabela 19 Valores de aj e D0 para cada tipo de via
Tipo de via aj D0
pes/m2
Horizontal exterior 0,407 0,69
Horizontal interior 0,295 0,51
Abertura de porta 0,295 0,65
Escada a descer 0,400 0,89
Escada a subir 0,305 0,67
Tabela 20 Categorias de movimento, níveis emocionais e velocidades em fluxo livre
Categoria de movimento Nível emocional
Velocidade em fluxo livre. V0, m/s
Via horizontal, porta, escada a des-
cer Escada a subir
Confortável 0,00 < 0,82 < 0,45
Passeio 0,45 0,82-1,10 0,45-0,63
Ativo 0,68 1,11-1,50 0,64-0,92
Atividade aumentada 0,70 1,51-2,00 0,93-1,25
Kholshevnikov e Samoshin determinam que a velocidade v0 para situação de movimento
rápido é de 1,3 m/s correspondendo a densidades até D0 de 0,2 pes/m2, que o fluxo má-
ximo de 2,14 pes/s·m se dá à densidade crítica DC de 5,6 pes/m2 e que o movimento vir-
tualmente desaparece com densidade DL igual ou superior a 7,6 pes/m2 (Figura 8).
É relevante o aspeto relativo à redução de secção das vias. K&S consideram que o esco-
amento pedestre dentro de certos limites é um escoamento estacionário, isto é,
Figura 8 Variação da velocidade e fluxo com a densidade. Kholshevnikov e Samoshin
36
se qi>qM então existe redução de escoamento.
Kholshevnikov e Samoshin complementam este método com várias equações apresenta-
das em seguida tratando aspetos específicos e particulares do cálculo do movimento pe-
destre, nomeadamente quanto ao cálculo do tempo de atravessamento de vãos (37), de
tempo de efetivação de um percurso (38), fluxo pedestre (39), escoamento pedestre (40),
fluxo pedestre com variação de secção das vias (41), união de fluxos de pedestres (42).
𝑡 =𝑃
(𝑚)𝐷𝑣𝑤 (37)
𝑡 =𝑙
𝑣 (38)
𝑞 = 𝐷𝑣 (39)
𝑄 = 𝑞𝑤 (40)
𝑞2 =𝑞1𝑤1
𝑤2 (41)
𝑞𝑛 =∑ 𝑞𝑖𝑤𝑖
𝑤𝑛 (42)
𝑄0 = 𝑄𝑖 → 𝑞0𝑤0 = 𝑞𝑖𝑤𝑖 𝑠𝑒 𝑞𝑖 ≤ 𝑞𝑀 (36)
37
4.5. O modelo de forças físicas e sociais
Helbing, Molnár, Farkas e Vicsek [23] [24], propuseram em 2000 um modelo de movi-
mento de multidões que considera cada pedestre como uma partícula newtoniana14 sujeita
a forças físicas e sociais. Subsequentes simulações realizadas pelos autores mostraram
que o modelo apresenta um comportamento realista.
Após uma investigação de vários anos e a avaliação de um elevado número de filmagens
concluíram que “Apesar da, por vezes mais ou menos 'caótica', aparência do comporta-
mento individual dos pedestres, podemos encontrar regularidades, algumas das quais se
tornam mais visíveis nos filmes de lapso de tempo” [31].
Essas regularidades podem ser descritas da seguinte maneira:
1. “Os pedestres manifestam uma forte aversão para se desviarem ou moverem em
sentido diferente da direção desejada, mesmo que o caminho direto esteja ocu-
pado. No entanto, há também algumas evidências de que os pedestres escolhem
normalmente o caminho mais rápido para o seu destino seguinte, mas não o mais
curto. Em geral, os peões consideram quer desvios quer o conforto da caminhada,
minimizando assim o esforço para chegar ao destino. Os caminhos seguidos são
aproximadamente poligonais”. [23] [31]
2. “Os pedestres preferem caminhar a uma velocidade individualmente desejada, o
que corresponde à mais confortável velocidade de andamento (ou seja, com me-
nor consumo de energia), enquanto não for necessário caminhar mais rápido
para alcançar a tempo o destino. As velocidades preferidas por populações pe-
destres apresentam uma distribuição normal com o valor médio de cerca de 1,34
m/s e um desvio padrão de cerca de 0,26 m/s. No entanto, a velocidade média
depende da situação, sexo e idade, a hora do dia, o propósito da deslocação, a
envolvente, etc”. [23] [31]
3. “Os pedestres mantêm uma certa distância entre si e com limites físicos (paredes,
obstáculos, (…)). Essa distância é tanto menor quanto maior for a pressa do pe-
destre, e diminui com o aumento da densidade de pedestres. Pessoas em descanso
(à espera numa estação ferroviária, ou deitadas numa praia) distribuem-se uni-
formemente pela área disponível caso não se conheçam. A densidade de pedestres
14 O termo newtoniano é utilizado segundo o conceito de fluido newtoniano, forma especial das equações
de Navier-Stokes.
38
aumenta (ou seja, o espaço interpessoal diminui) na vizinhança de lugares parti-
cularmente atraentes. (…) Pessoas conhecidas podem formar grupos, entidades
que se comportam de forma semelhante a um único pedestre”. [23] [31]
Em situações de pânico os autores consideram as seguintes atuações típicas. [23]
1. “Em situações de pânico de fuga, as pessoas ficam nervosas. Tendem a evidenciar
atuação cega”.
2. “As pessoas tentam avançar consideravelmente mais rápido que o normal”.
3. “As pessoas começam a empurrar, as interações tornam-se de natureza física”.
4. “O movimento, em particular, passar um estrangulamento, torna-se frequente-
mente descoordenado”.
5. “Nas saídas formam-se congestionamentos. Por vezes desenvolvem-se arcos e en-
tupimentos”.
6. “As interações físicas em multidões congestionadas acumulam-se e podem causar
pressões perigosas até 4.500 Newtons metro, suficientes para dobrar o aço de
barreiras ou derrubar paredes de tijolo”.
7. “A fuga é retardada por pessoas caídas ou feridas que se transformam em obstá-
culos”.
8. “As pessoas tendem a apresentar o comportamento de rebanho, ou seja, para co-
piar o que outras fazem” (Figura 9) [32].
9. “As saídas alternativas são muitas vezes negligenciadas ou utilizadas ineficiente-
mente”.
Figura 9 O comportamento de rebanho causado por pânico numa evacuação.
39
Como refere Low [32] “esta abordagem reconhece que a multidão é composta por indi-
víduos que possuem a capacidade de pensar e reagir aos acontecimentos à sua volta”.
Como já dito, o modelo de movimento das multidões pedestres considera que cada pe-
destre é uma partícula newtoniana sujeita tanto a forças físicas como sociais. Computaci-
onalmente cada pedestre é representado por um agente associado a um conjunto de equa-
ções. O modelo considera que o deslocamento temporal do pedestre i obedece às equações
do movimento, pelo que do produto da massa do pedestre mi pela segunda derivada do
deslocamento resultará uma força.
𝑚𝑖
𝜕2𝑥𝑖(𝑡)
𝜕𝑡2= 𝑓𝑖(𝑡) + 𝜉𝑖(𝑡) (43)
Essa força é a soma das duas componentes. A componente fi é o somatório das forças de
atração e repulsão que atuam sobre o agente, nomeadamente a repulsão das paredes, a
repulsão de outros agentes, a repulsão ao perigo, a atração à porta de saída, entre outras.
A componente ξi representa flutuações individuais resultantes de variações comporta-
mentais assistemáticas [9].
A tabela 21, em baixo, exemplifica o tipo de parâmetros utilizados na caraterização do
agente na simulação de Lakoba et al. [33]
Tabela 21 As variáveis de agente na simulação de Lakoba et al.
40
4.6. O modelo heurístico
Moussaïd, Helbing e Theraulaz [34] apontam que os modelos Newtonianos de forças so-
ciais ainda não são completamente consistentes com as observações empíricas e são por
vezes difíceis de calibrar.
Propõem uma abordagem de ciência cognitiva baseada em heurística comportamental.
“Heurísticas são procedimentos cognitivos rápidos e simples que muitas vezes são usados
quando as decisões têm de ser feitas sob pressão de tempo ou informação esmagadora”.
Os modelos cognitivos heurísticos focam-se em situações em que “as pessoas precisam
de agir rapidamente, as probabilidades ou instrumentos são desconhecidos, e a existên-
cia de vários objetivos e de problemas mal definidos impedem a lógica ou o cálculo de
probabilidade de encontrar a solução ideal”. [35]
A elaboração de um modelo cognitivo do comportamento pedestre requer a resposta a
duas perguntas. “Que informação é utilizada pelo pedestre? Como é essa informação
processada para adaptar o comportamento pedestre?” [34] Os autores indicam que a
principal fonte de informação para o movimento pedestre é a informação visual e pro-
põem duas heurísticas, baseadas na visão, que permitem determinar a direção do percurso
αdes pretendida e a velocidade pedestre vdes desejada. Finalmente assumem que o pedestre
está continuamente a adaptar o seu caminhar considerando como tempo de paragem τ de
0,5 s.
A primeira heurística é relativa ao ângulo da direção [36] de percurso escolhida αdes com-
parativamente com a linha de vista para o destino (objetivo) Oi. Esta heurística pode ser
definida como “ Um pedestre escolhe a direção αdes que permite o percurso mais direto
para o ponto de destino Oi, tendo em conta a presença de obstáculos. [34]“ A direção
αdes(t) escolhida é calculada através de uma equação de minimização da distância d(α) ao
destino Oi, considerando α0 como a direção do objetivo e f(α) a distância à 1ª colisão.
𝑑(𝛼) = 𝑑𝑚𝑎𝑥2 + 𝑓(𝛼)2 − 2𝑑𝑚𝑎𝑥𝑓(𝛼)cos (𝛼0 − 𝛼) (44)
A segunda heurística determina a velocidade desejada vdes(t). Devido ao tempo τ neces-
sário para parar o movimento os pedestres devem manter uma distância de segurança. A
segunda heurística é formulada da seguinte maneira. “O pedestre mantém uma distância
ao 1º obstáculo na direção escolhida que assegure um tempo de paragem antes da colisão
de pelo menos τ.” Daqui resulta para vdes
41
𝑣𝑑𝑒𝑠(𝑡) = min (𝑣𝑖0,
𝑑ℎ𝜏⁄ ) (45)
em que dh é a distância entre o pedestre i e o primeiro obstáculo na direção desejada αdes
no tempo t.
A figura 10 ilustra o modelo, o pedestre p1 enfrenta três outros pedestres enquanto tenta
alcançar o ponto de destino O1, marcado a vermelho. A linha tracejada de cor azul cor-
responde à linha de vista.
Figura 10 Como se processa a decisão de trajeto segundo Moussaïd et al.
42
4.7. Avaliação
Como afirma Guylène Proulx, [37] a “pesquisa sobre o movimento pedestre em emergên-
cia divide-se em duas escolas: a escola de capacidade de escoamento que examina ca-
pacidade do fluxo de saída e a escola de fatores humanos que afirma que a capacidade
de saída pode ser uma condição necessária para a saída segura, mas não é uma condição
suficiente. No primeiro caso, o fim "seguro" da rota de saída é enfatizado como o ponto-
chave onde a evacuação está a ser avaliada. A escola de resposta humana olha para o
que acontece na outra ponta do percurso, o início ameaçado do caminho de evacuação.”
As metodologias abordadas anteriormente (capítulos 4.1 a 4.6) representam as duas esco-
las, e apresentam, portanto, abordagens diferentes de que resultam diferentes conclusões.
Fruin preocupa-se com o conforto do
movimento pedestre, na sua abordagem
os pedestres são entidades “auto moto-
ras” e o objetivo é o de definir as condi-
ções para que o movimento se processe
sem interferências, conflitos ou coli-
sões. O modelo proposto é inspirado nos
modelos de análise de tráfego rodoviário
e constitui a base do método utilizado no
HCM200015. Na sua análise, Fruin
chama a atenção para os aspetos físicos
dinâmicos do movimento pedestre e da
sua relação com a elipse corporal (Fi-
gura 11).
O conceito de nível de serviço (LOS) utilizado por Fruin é na sua aplicação similar ao de
zona de densidade utilizado por Predtechenskii e Milinskii, no entanto, os valores de den-
sidade definidos por cada um dos trabalhos para os níveis (Tabela 22) é completamente
diferente, mesmo ponderando a diferente dimensão corporal média utilizada pelos auto-
res, o que ilustra a diferente finalidade dos estudos e dos seus objetivos. Predtechenskii e
Milinskii (P&M) estudam o movimento também em situações de congestionamento e
15 O Highway Capacity Manual (HCM) é publicado pelo Transportation Research Board (TRB) uma divi-
são do National Research Council (NRC), uma instituição científica privada não lucrativa.
Figura 11 Elipse corporal pedestre e espaço necessário para
o caminhar
43
Fruin pretende dimensionar para as evitar. Na tabela abaixo os valores em m2/m2 são cal-
culados com valores de PH de 0,125 m2/pes e 0,236 m2/pes respetivamente para P&M e
para Fruin.
Tabela 22 Comparação entre os Níveis de Serviço de Fruin e as zonas de densidade do movimento de Predtechens-
kii e Milinskii
Descrição LOS FRUIN P&M
m2/pes m2/m2 pes/m2 m2/m2
Movimento pedestre livre 0,2 0,025
A 3,24 0,05
Pequenos conflitos, restrições à velocidade e passagem. B 2,32 0,06
Circulação densa mas fluida. Restrições à passagem, cruzamentos e circulação nos dois sentidos difícil
C 1,39 0,11
Formação de filas nos dois sentidos 1,2 0,15
Número significativo de conflitos, restrições à passagem e à velo-cidade, circulação arrastada intermitente.
D 0,93 0,16
Inversão de marcha, passagem e cruzamento de fluxos muito difí-cil. Paragens intermitentes.
E 0,46 0,33
Movimento sem contato, condicionado 3,2 0,40
Movimento com contato, muito condicionado F 0,20 0,75 6,0 0,75
Movimento compacto, muito lento 7,2 0,90
O estudo de Fruin e as suas propostas de caraterização de níveis de serviço não são ade-
quados ao tratamento do movimento pedestre em emergência.
Os trabalhos de Predtechenskii e Milinskii (P&M), de Nelson e MacLennan (N&M) e de
Kholshevnikov e Samoshin (K&S) estudam o movimento pedestre utilizando os mesmos
princípios;
Há uma relação entre a velocidade e a densidade pedestres.
Esta relação só se manifesta a partir de um limiar inferior de densidade pedestre.
O movimento desaparece a partir de um limiar superior de densidade pedestre.
Para a mesma densidade a velocidade é diferente em diferentes tipos de vias.
A relação entre a velocidade e a densidade pedestres (Figura 12) é descrita pelas equações
(11), (24) e (35) em cada um destes trabalhos (Capítulos 4.1, 4.3 e 4.4). Para os outros
pontos a tabela 23 indica os valores dos parâmetros de cálculo considerando um movi-
mento em emergência, “ativo”.
Pode constatar-se que nesta tabela as colunas relativas aos trabalhos de P&M e K&S
apresentam alguns valores iguais, o que é natural já que os dados utilizados por P&M
foram também utilizados por K&S.
44
Autor P&M N&M K&S
v0 Velocidade em fluxo livre. (m/s) 1,30 1,20 1,30
D0 Densidade máxima em fluxo livre. (pes/m2) 0,20 0,54 0,40
DC Densidade crítica. (pes/m2) 6,00 2,00 6,00
DL Densidade a que o fluxo se interrompe. (pes/m2) 7,36 3,60 7,60
qM Fluxo máximo. (pes/s.m) 1,65 1,31 2,14
O método hidráulico (Capítulo 4.3) é endossado pelas prestigiadas NFPA e SFPE e é
utilizado por normas internacionais. No entanto a sua interpretação da variação da velo-
cidade pedestre com a densidade como uma dependência linear é demasiado simplificada.
𝑣 = 𝑘 − 0,266𝑘𝐷 (24)
Esta simplificação, útil em ambientes de inexistência de cálculo automático, conduz a
conclusões invalidadas pela experimentação. Still [8] [38] demonstra experimentalmente
que o movimento a uma densidade de 6 pes/m2 é possível e indica diversas situações
registadas onde foi observado e registado movimento a densidades superiores.
Embora muito reputado e recomendado o método hidráulico não reproduz a realidade.
O método determinístico cinemático e o método do fluxo pedestre conduzem a resultados
similares, calculando o método do fluxo pedestre (Capítulo 4.4) velocidades e fluxos su-
periores. Estes estão suportados em dados experimentais abundantes. O método determi-
Tabela 23 Valores comparados de velocidade e densidade para P&M, N&M e K&S
Figura 12 Gráfico comparativo dos resultados de velocidade e fluxo pedestres dos estudos analisados.
45
nístico cinemático (Capítulo 4.1) foi adotado pelo LNEC, mas o método do fluxo pedes-
tre, posterior, tem a grande virtude de incorporar uma variável que trata os diferentes
estados emocionais dos pedestres, pelo que foi escolhido para a metodologia que se pro-
põe neste trabalho.
A utilização de qualquer destes métodos não deve esquecer os seguintes pontos:
1. Aplica-se unicamente ao período Δttra da evacuação.
2. A equação calcula a velocidade média, e na documentação consultada não são
indicados o desvio padrão nem a distribuição, pelo que não será adequado uti-
lizá-la aplicando-a a entidades singulares.
3. O cálculo baseia-se numa dimensão física humana de uma população diferente
da portuguesa do século XXI. Os valores definidos, para os limiares de densi-
dade pedestre, podem não se aplicar em Portugal.
Os dois trabalhos de grupos de investigação de Helbing, quer com a utilização da partícula
newtoniana, quer o mais recente modelo heurístico, são unicamente adequados a simula-
ções em programa informático. Os modelos propostos extremamente apelativos possibi-
litam o tratamento autónomo dos pedestres, caraterizando-os individualmente de acordo
com distribuições de probabilidade das várias variáveis. Têm portanto a capacidade de
tratar tanto Δttra como Δtpre, o que os torna adequados a análises prévias em situação de
dimensionamento e conceção dos edifícios complexos16.
Até este momento só se aprofundou o movimento de pedestres “normais” em percurso
horizontal. É necessário para o estudo do movimento pedestre considerar também o mo-
vimento não horizontal (escadas, rampas) e os pedestres não “normais” (crianças, idosos,
portadores de deficiência).
O movimento em escadas e rampas é abordado nos trabalhos analisados com a abordagem
similar à utilizada no movimento horizontal.
O método hidráulico (Capítulo 4.3) define valores de k (Tabela 18) para 4 tipos de degrau,
mas reconhece não dispor de dados suficientes para afirmar ser a solução generalizável
[7]. Não considera qualquer diferença entre o movimento ascendente e descendente.
16 Existe uma aplicação informática das equações de pânico de Helbing à evacuação pedestre, desenvolvida
pelo Technical Research Centre of Finland (VTT) em colaboração com o National Institute of Standards
and Technology (NIST) e que integra a versão atual da aplicação de simulação Fire Dynamics Simulator
(FDS+EVAC).
46
O método determinístico (Capítulo 4.1) estuda o movimento pedestre não horizontal e
apresenta fatores diferentes para subida e descida de escadas dependentes da densidade
pedestre. Estão referidos nas equações (18), (19) e (20). Não considera qualquer diferença
para diferentes dimensões de degrau e considera que uma escada apresenta um ângulo de
aproximadamente 30º-33º.
O método do fluxo pedestre debruça-se também sobre o movimento pedestre não hori-
zontal (Figura 13), especificando para este os fatores indicados nas tabelas 19 e 20, não
indica dimensões para os degraus, e considera que uma escada apresenta um ângulo de
30º a 33º.
O processo de evacuação deve também considerar as pessoas que não têm uma mobili-
dade normal, mas estão presentes frequentemente nos espaços que recebem público.
Existem diversos estudos e classificações propostas, mas no conjunto de estudos que este
trabalho trata, só o método do fluxo pedestre considera o movimento de pessoas com
mobilidade condicionada e define uma metodologia para o cálculo do seu movimento.
A metodologia deste método para o tratamento destes casos considera a existência de
quatro grupos de mobilidade especial M2 a M5 [39], sendo M1 o grupo dos pedestres
comuns, para cada grupo de mobilidade especial são definidos os parâmetros V0, aj e D0
(Tabela 24). Resultados de outros estudos são apresentados no Anexo 4.
Figura 13 Velocidades e fluxo em percursos horizontais, a descer e a subir em função da densi-
dade pedestre. Kholshevnikov e Samoshin
47
Tabela 24 Parâmetros do Movimento para grupos com mobilidade condicionada e crianças até aos 6 anos.
Kholshevnikov e Samoshin
Grupo de Mobilidade Parâmetros Valor de acordo com o tipo de via
Horizontal Descer Subir
M2 Idosos, pessoas com deficiência com prótese de mem-
bro inferior, pessoas com visão muito reduzida, pessoas com problemas mentais
V0 m/s 0,50 0,50 0,33
aj - 0,335 0,346 0,348
D0 Pes/m2 0,675 0,695 0,63
M3 Pessoas com deficiência com ajudas à mobilidade, cana-
dianas, andas, andarilhos, etc.
V0 m/s 1,17 0,33 0,42
aj - 0,350 0,454 0,347
D0 Pes/m2 0,34 0,693 0,40
M4 Pessoas em cadeiras de rodas manuais
V0 m/s 1,00 - -
aj - 0,399 - -
D0 Pes/m2 0,14 - -
M5 Crianças de idade inferior a 6 anos
V0 m/s 1,00 0,78 0,78
aj - 0,275 0,19 0,275
D0 Pes/m2 0,78 0,64 0,76
49
PARTE II. METODOLOGIA
51
5. Uma metodologia para o cálculo de RSET
Neste capítulo é proposta uma metodologia simples para o cálculo de RSET. Pretende-se
que seja uma metodologia passível de aplicação utilizando ferramentas comuns, no caso
limite um papel e uma caneta. Com esta ferramenta os profissionais de segurança e pro-
teção civil poderão facilmente estimar as características temporais de uma evacuação e
concluir sobre a sua segurança e efetividade. Esta metodologia é seguidamente aplicada
ao estudo de vários casos em que se irá validar a sua aplicabilidade, detetar carências e
formular conclusões.
RSET é um total que engloba quatro divisões. Serão tratadas de forma independente e o
seu somatório produzirá o resultado final.
5.1. Δtdet – Tempo de deteção
A deteção de um incêndio depende de vários parâmetros, o incêndio em si, as dimensões
do compartimento em que ocorre (altura, volume) e o sistema de deteção instalado.
Fogos em brasa são mais difíceis de detetar e os fogos com chama podem ter maior ou
menor libertação de fumo e calor. As dimensões do compartimento condicionam a rapi-
dez da deteção automática mas o fator primordial é o tipo de sistema de deteção instalado.
A existência de meios de deteção de incêndios em todos os locais de trabalho é obrigatória
desde a entrada em vigor da portaria 987/93 de 6 de outubro. A portaria 1532/2008 de 29
de dezembro prescreve as características dos sistemas de deteção de acordo com a cate-
goria de risco.
Assim é possível considerar dois tipos de sistemas a operar durante o período de ocupação
dos espaços. Fora deste período a deteção não é relevante para RSET. Os tempos indica-
dos são definidos a partir da literatura consultada. [5] [40] [41] [42] [43]
Tabela 25 Tempos adotados para Δtdet
Tipo de Sistema Deteção humana17 Deteção automática
Tempo de deteção (s) 0-600 25-55
Tempo adotado (s) 300 60
17 Este sistema é considerado pelo guia europeu [16] em conjunto com a difusão do alarme como indicado
no capítulo 2. Para esta metodologia preferiu-se considerar todo o tempo como afeto à deteção e considerar
o tempo de alarme como 0.
52
5.2. Δta – Tempo de alarme
Para a difusão do alarme só se põem duas alternativas, ou é desencadeada automatica-
mente pela deteção ou é diferida e sujeita a uma verificação e confirmação humana.
Mesmo neste caso a decisão deve acontecer num intervalo máximo definido pela progra-
mação do sistema e normalmente não excederá cinco minutos.
Tabela 26 Tempos adotados para Δta
Tipo de Sistema Alarme automático Alarme diferido
Tempo de alarme (s) 0 30-300 [45]
Tempo adotado (s) 0 120
5.3. Δtpre – Tempo de pré movimento
O tempo de pré movimento [44] é a componente de RSET de maior dificuldade de cál-
culo. O seu valor é completamente dependente das características do efetivo, do seu co-
nhecimento dos locais, da simplicidade e clareza dos percursos de evacuação, do tipo de
utilização do espaço, da qualidade da sinalização e iluminação dos percursos, das carac-
terísticas do evento perigoso.
Como este trabalho só trata edificações recebendo público, sabemos que o efetivo é com-
posto por pessoas familiarizadas com o espaço e sua organização, os trabalhadores do
espaço, e pessoas não familiarizadas com o espaço, o público. A proporção entre estas
duas componentes é variável mas sabemos que o público está desperto para o risco e para
a existência de dispositivos e meios. A este respeito pode verificar-se o resultado do es-
tudo sobre segurança nos locais de compra realizado pela consultora GfK para a APED,
no qual 32% dos inquiridos consideram a existência de saídas de emergência como o
aspeto mais importante relacionado com a segurança e 61% como um dos três aspetos
mais relevantes [45].
Sabemos também que o comportamento dos trabalhadores façam ou não parte da equipe
de gestão da emergência é fundamental para o sucesso da evacuação e que o seu desem-
penho resulta do treino e da formação. O estudo efetuado no Reino Unido em cinco esta-
belecimentos Marks & Spencer revelou que 60% dos trabalhadores em funções de serviço
direto ao cliente não reagiram de acordo com os procedimentos definidos em situações
de simulacro não anunciado.
53
“Detailed analysis of the five evacuations of retail stores also indicated that the response
of staff to the alarm varied significantly with setting. This is fully consistent with the the-
ory of “occupancy” i.e., different settings exert different influences on the occupants
which change with time and events.” [46]
A forma e o tempo que as pessoas levam a escolher a porta a utilizar condiciona o pré
movimento. Frantzich e Benthorm [47] apontam fatores como a familiaridade, a distância,
portas abertas ou fechadas.
O guia europeu [4] sugere um conjunto de tempos de pré movimento18 com base em três
fatores. Tipo de Serviço de Gestão da Emergência (SGE), complexidade do edifício e
características do sistema automático de deteção de incêndio (SADI). Esta metodologia
inclui nos tempos sugeridos os valores de Δta caraterizados anteriormente.
Na prática, na regulamentação portuguesa as características do SGE são diretamente as-
sociáveis à categoria de risco.
O tipo de SADI é também diretamente associado à categoria de risco para as utilizações
tipo tratadas.
A complexidade do edifício não tem uma relação direta com a categoria de risco, mas os
casos em que não tem uma relação com a categoria de risco são limitados.
Assim é possível simplificar o sugerido pelo guia europeu e construir a coluna 2 da se-
guinte tabela na qual não se incluem os tempos para Δta.
Tabela 27 Tempos adotados para Δtpre
Categoria de risco Guia Europeu Adotado
4ª Categoria de risco (s) 30-120 90
3ª Categoria de risco (s) 60-180 150
2ª Categoria de risco (s) 60-180 150
5.4. Δttra – Tempo do movimento
O cálculo do tempo de movimento será feito utilizando as equações e fatores de
Kholshevnikov e Samoshin. Este método utiliza valores médios para o movimento pe-
destre em função da densidade, do tipo de via e do estado emocional, o que obriga a
algumas restrições na análise. Assim assumem-se os seguintes pressupostos;
18 Ver anexo 3.
54
1. Δtpre é uniforme para todas as pessoas.
2. A escolha da saída é definida por funcionários sob direção do SGE.
3. Após o início do movimento os elementos do público não executam qualquer outra
atividade e só interrompem o seu movimento ao alcançarem uma zona de segurança.
4. O movimento de ocupantes com mobilidade condicionada é calculado em separado.
Para desenvolver uma análise do processo de evacuação é conveniente, embora não obri-
gatório, elaborar um diagrama do processo sem o qual pontos críticos ou incongruências
poderão não ser detetados. Em substituição da convencional rede de nós e arcos, adota-
se um diagrama derivado do modelo “piping and instrumentation diagram”, PID.
Para isso são criadas sete tipos de entidades com atributos que permitem a execução de
cálculos. Estas entidades são;
Local de Risco, com os atributos “Área útil, Efetivo e Área do local”. Os dois pri-
meiros atributos correspondem à definição dada pelo RTSCIE. Área do local corres-
ponde à parte da área útil efetivamente disponível e é utilizada para o cálculo da
densidade de ocupação. Na ausência de dados específicos poderá ser considerada
como 2/3 da área útil.
Secção, a parte de um local de risco que “alimenta” uma saída. Qualquer local de
risco dispõe pelo menos de uma secção e cada secção tem necessariamente associada
uma saída. Tem os atributos “Efetivo e Distância máxima” que correspondem à parte
do efetivo do local de risco tratado pela secção e pela distância máxima a percorrer
na evacuação desse efetivo. Permite o cálculo do tempo de evacuação máximo da
secção dividindo a distância máxima pela velocidade pedestre. O valor do efetivo da
secção pode ser especificado ou obtido por ponderação do efetivo do local de risco e
da largura total de todas as saídas deste.
Saída, designação atribuída a uma porta utilizada para evacuação. Tem os atributos
“Efetivo e largura útil”. O valor do efetivo é obtido a partir da entidade anterior no
diagrama. Permite o cálculo do tempo de atravessamento dividindo o efetivo pelo
escoamento pedestre.
Corredor, segmento de via horizontal de evacuação em que o efetivo e a largura são
constantes. Tem os atributos comprimento e largura.
55
Escada, segmento de via vertical de evacuação em que o efetivo e a largura são
constantes. Tem os atributos comprimento, largura e sentido.
Ponto de encontro, que tem como único atributo o efetivo.
Refúgio, que tem como único atributo o efetivo.
Estas entidades são representadas nos diagramas de evacuação com os ícones definidos
na tabela 28.
Tabela 28 Entidades do diagrama de evacuação
Entidade Ícone Atributos
Local de Risco
Área útil m2
Efetivo pes
Área do local m2
Secção
Efetivo pes
Distância máxima m
Saída
Efetivo pes
Largura útil m
Corredor
Comprimento m
Largura m
Escada
Comprimento m
Largura m
Sentido ↑↓
Ponto de encontro
Efetivo pes
Refúgio
Efetivo pes
A ficha do processo de cálculo é apresentada em seguida.
56
5.5. Ficha de processo para o cálculo do tempo de evacuação RSET.
1. Determinação
de Δtdet
2. Determinação
de Δta
3. Determinação
de Δtpre
4. Cálculo de Δttra
𝑣 = 𝑣0 [1 − 𝑎𝑗𝑙𝑛 (𝐷𝐷0
⁄ )] (A)
𝐷 =𝑃
𝐴𝐿 (B)
𝑄 = 𝑞𝑤 = 𝐷𝑣𝑤 (C)
𝑄𝑖 = 𝑄0 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝐷𝑖 ≤ 𝐷𝐿 (D)
𝑡𝑉𝐼𝐴 =𝑙
𝑣 (E)
𝑡𝑃𝑂𝑅𝑇𝐴 =𝑃
𝑄 (F)
Tipo de Sistema Deteção humana Deteção automática
Δtdet (s) 300 60
Tipo de Sistema Alarme automático Alarme diferido
Δta (s) 0 120
Categoria de risco 2ª Cat. 3ª Cat. 4ª Cat.
Δtpre (s) 150 150 90
Parâmetros empíricos do movimento pedestre
Grupo de Mobilidade Parâmetros Horizontal Descer Subir
M1
qM 2,14 pes/s·m V0 m/s 1,30 1,30 1,28
DC 5,6 pes/m2 aj - 0,295 0,400 0,305
DL 7,6 pes/m2 D0 Pes/m2 0,51 0,89 0,67
M2
V0 m/s 0,50 0,50 0,33
aj - 0,335 0,346 0,348
D0 Pes/m2 0,675 0,695 0,63
M3
V0 m/s 1,17 0,33 0,42
aj - 0,350 0,454 0,347
D0 Pes/m2 0,34 0,693 0,40
M4
V0 m/s 1,00 - -
aj - 0,399 - -
D0 Pes/m2 0,14 - -
M5
V0 m/s 1,00 0,78 0,78
aj - 0,275 0,190 0,275
D0 Pes/m2 0,78 0,64 0,76
57
6. Estudo de Caso
6.1. Caso 1 – Loja Alimentar (Loja de Rua)
Este caso trata uma loja alimentar urbana, do tipo designado por “Loja de Rua”. É um
estabelecimento instalado no piso térreo de um edifício de utilização mista com espaços
comerciais no piso 0 e habitação e/ou serviços nos pisos superiores. A edificação tem
ainda pisos enterrados de estacionamento privativo das frações.
Embora a edificação e o estabelecimento sejam anteriores ao SCIE vamos verificar como
se enquadraria neste regulamento. Dado ser uma UT VIII, não ter uma altura superior a 9
metros e não existirem pisos da UT abaixo do plano de referência, a categoria de risco
resultará do efetivo.
A área do local de venda é de 748 m2 pelo que o efetivo público é o resultante da aplicação
do índice de ocupação regulamentar de 0,6 pessoas/m2, ou seja de 449 pessoas. Existe um
Figura 14 Planta da Loja Alimentar
58
segundo local de risco com 20 m2 e índice de 0,2 pessoas/m2 o que eleva o efetivo total
para 453.
O efetivo é critério para a definição do número e largura das saídas. Aplicando as regras
de dimensionamento constantes do RTSCIE o estabelecimento deveria dispor de 2 saídas
com um total de 6 U.P. Existem 2 saídas, com um total de 9 UP.
A área ocupada por mobiliário é de 269 m2. Assim a área útil de estabelecimento é de 479
m2, o que para um efetivo de 449 pessoas corresponde a uma densidade de ocupação de
≈ 1 pes/m2, que será utilizada no cálculo do movimento.
Os vãos de porta são pré-regulamentares e não têm dimensões modulares. A largura total
das saídas é de 7,40 m. Os maiores percursos no interior do espaço têm comprimentos de
30 m.
O cálculo de RSET é executado do seguinte modo;
Para a determinação de Δtdet utiliza-se a tabela 1 da ficha e obtém-se 60 s.
Para a determinação de Δta utiliza-se a tabela 2 da ficha e obtém-se 0 s.
Para a determinação de Δtpre utiliza-se a tabela 3 da ficha e obtém-se 150 s.
Para o cálculo de Δttra procede-se do seguinte modo;
1. Calcula-se v no local de venda utilizando a equação [A] e os parâmetros do grupo
de mobilidade M1. Obtém-se 1,08 m/s.
2. Calcula-se v no local escritório. Como D ≤ D0 obtém-se 1,35 m/s.
Figura 15 Diagrama de evacuação da Loja alimentar
59
3. Calcula-se o tempo de percurso na loja no lado esquerdo até à saída S01, utili-
zando equação [E]. Obtém-se 28 s.
4. Verifica-se se a obstrução causada por S01 torna qi> qM utilizando as equações
[C] e [D]. Acontece, 2,69> 2,14. Há redução de escoamento.
5. Calcula-se o tempo de escoamento da saída S01 utilizando qM e a equação [F]. O
tempo de escoamento de S01 é de 45 s.
6. Calcula-se o tempo de percurso na loja no lado direito até à porta P01, utilizando
equação [E]. Obtém-se 26 s.
7. Verifica-se se a obstrução causada por P01 torna qi> qM utilizando as equações
[C] e [D]. Acontece, 3,51> 2,14. Há redução de escoamento.
8. Calcula-se o tempo de escoamento da porta P01 utilizando qM e a equação [F]. O
tempo de escoamento de P01 é de 39 s.
9. Calcula-se o tempo de percurso na via do lado direito até à saída S02, utilizando
equação [E]. Obtém-se 2,5 s.
10. Os valores de Δttra calculados são 45 s e 39+2,5=41,5 s. Utiliza-se 45s que é o
mais desfavorável.
O valor calculado para RSET é portanto 60+0+150+45=255 s ou seja 4 minutos e 15
segundos.
Este cálculo é informativo e não permite qualquer conclusão sem o cálculo de ASET, no
entanto identifica que neste espaço a maior componente temporal é Δtpre e é esse o aspeto
principal a melhorar na segurança do local.
60
6.2. Caso 2 – Edifício Público com dois pisos
Neste caso estuda-se a evacuação de um edifício público pré regulamentar, com 2 pisos
e âmbito distrital. No piso térreo, com área de 798 m2, situa-se a área de atendimento ao
público, uma sala de reuniões, o arquivo documental principal, a sala de pessoal/refeitó-
rio, instalações sanitárias e diversos gabinetes e salas de trabalho. No primeiro piso, com
área de 720 m2, localizam-se gabinetes, salas de trabalho e instalações sanitárias. O pú-
blico acede livremente à área de atendimento e de forma controlada aos restantes espaços.
O primeiro piso dispõe de 2 saídas, uma utilizando as escadas interiores de circulação
normal e outra para emergência utilizando uma escada exterior. O piso térreo dispõe ape-
nas de uma saída. O edifício está equipado com um SADI cuja central está instalada na
portaria/receção/segurança.
Figura 16 Planta do Piso 0 do edifício público.
61
De acordo com a regulamentação atualmente vigente é uma utilização tipo III da 2ª cate-
goria de risco, um local de risco B e um único compartimento corta fogo. O efetivo má-
ximo teórico calculado é de 194 pessoas, sendo o efetivo público de 45 pessoas. Deveria
existir uma segunda saída no piso 0 e a sua ausência origina percursos de evacuação com
comprimentos excessivos.
Verifica-se, analisando o projeto, que o efetivo real é de 102 pessoas, ou seja 53% do
efetivo máximo teórico.
O diagrama de evacuação para esta edificação é apresentado na figura 18. O percurso de
evacuação mais longo mede 53,70 m. A densidade regulamentar é de 0,2 o que corres-
ponde à densidade útil inferior a 0,5 pelo que a velocidade de deslocamento pedestre é
1,3 m/s. Logo, caso não existam congestionamentos, Δttra máximo será de 41,5 s.
Na edificação existem 3 percursos de evacuação distintos.
Figura 17 Planta do piso 1 do edifício público
62
O primeiro a considerar diz respeito ao efetivo existente em 4 locais de risco no piso 1
referenciados como 1.01, 1.02, 1.10 e 1.11. O efetivo destes locais será evacuado pela
saída S02 existindo um percurso em via horizontal de 5,80 m, a adicionar aos percursos
no interior dos locais de risco. O mobiliário ocupa em média 1/3 da área total dos locais
de risco pelo que a densidade aumenta para 0,28 pes/m2. No entanto 0,28 pes/m2 é muito
Figura 18 Diagrama de evacuação do edifício público
63
inferior a D0 pelo que o movimento se fará em fluxo livre à velocidade V0. Como o per-
curso maior neste conjunto de espaços mede 22,00m o tempo de evacuação dos locais
será 17s, o tempo de percurso do corredor será de 6s e portanto o tempo total de evacuação
desta parte da edificação é de 23s.
O segundo percurso a considerar diz respeito ao espaço de atendimento onde se encontra
o efetivo público e o processo de evacuação deste espaço utiliza a saída S01P02.O maior
comprimento de percurso de evacuação é de 16,50m, a densidade é 0,2 pes/m2, a veloci-
dade pedestre é portanto V0 e o tempo de evacuação é 12,70s.
O terceiro percurso é ramificado, com várias origens nos dois pisos e a análise é não
linear. Utilizou-se uma matriz tempo/espaço de 2 s por 2,50 m que é apresentada nas
páginas 65 e 66.
Nesta matriz cada linha representa um intervalo de tempo de 2 segundos e cada coluna
representa um segmento do percurso de evacuação com 2,5 metros de comprimento. Esta
escolha é arbitrária e considerou-se como adequada à análise do caso concreto. Pode op-
tar-se por qualquer outra segmentação do tempo e do espaço sendo desaconselhável uti-
lizar segmentos de dimensão inferior à unidade.
Cada coluna está dividida em 3 secções.
A secção direita (in) representa o número de pedestres que entram na via, vindos dos
locais, no intervalo de tempo de cada linha. O valor é calculado utilizando a maior das
duas alternativas de cálculo dadas pelas equações (E) e (F). A equação (E) calcula o tempo
de percurso até à saída do local a partir do ponto mais remoto considerando que a veloci-
dade é V0. A equação (F) calcula o tempo que o efetivo demora a transpor a saída do local
considerando a densidade crítica DC. O tempo maior calculado é selecionado e o efetivo
do local distribuído ao longo desse tempo.
A secção central (on) representa o número de pedestres que ocupam o segmento no inter-
valo de tempo. É calculado da seguinte forma. Ao número de pedestres no segmento, no
intervalo de tempo anterior, adiciona-se o número de pedestres que entram no segmento
vindos de um local, o número de pedestres que entram no segmento saídos do segmento
anterior e subtrai-se o número de pedestres que abandonam o segmento.
A secção esquerda (out) calcula o número de pedestres que abandona o segmento no in-
tervalo de tempo. Calcula-se Q utilizando as equações (C) e (A) e multiplica-se por 2
segundos.
64
A matriz foi realizada em Excel sem restrição ao número de algarismos significativos e
formatada para apresentar apenas números inteiros, por uma consideração estética. Daí
resulta que na matriz existam alguns valores aparentemente anómalos.
O cálculo de RSET apresenta o seguinte resultado;
Para a determinação de Δtdet utiliza-se a tabela 1 da ficha19 e obtém-se 60 s.
Para a determinação de Δta utiliza-se a tabela 2 da ficha19 e obtém-se 0 s.
Para a determinação de Δtpre utiliza-se a tabela 3 da ficha19 e obtém-se 150 s.
Para o cálculo de Δttra utiliza-se a matriz tempo/espaço 2×2,5 e obtém-se 44 s.
O valor calculado para RSET é portanto 60+0+150+44=254 s ou seja 4 minutos e 14
segundos.
19 Ficha de processo de cálculo do tempo de evacuação RSET, p. 56.
65
LOC
AL
DE
RIS
CO
1.04
1.05
-1.0
61.
071.
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35
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24
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11
44
44
51
34
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122
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14
44
44
45
34
46
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42
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142
11
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44
44
44
54
54
65
64
32
0
161
44
44
44
44
44
54
65
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53
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184
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44
44
44
44
54
65
64
10
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204
44
44
44
44
44
64
64
21
00
0
224
44
44
44
44
44
64
42
00
00
244
44
44
44
44
44
53
00
00
0
264
44
44
44
44
44
10
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00
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284
44
44
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44
11
00
00
00
304
44
44
44
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00
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00
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44
11
00
00
00
00
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44
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00
00
00
00
0
364
11
00
00
00
00
00
381
00
00
00
00
00
0
40
27.5
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5.0
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12.5
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17.5
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0.09
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33
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00
00
0
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00
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00
00
00
287
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174
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10
00
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00
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67
6.3. Caso 3 – Espaço Comercial de grande dimensão
Este caso trata um Espaço comercial de uma única entidade, numa edificação indepen-
dente e isolada. É um espaço comercial de acesso público do tipo “Cash and Carry”.
A edificação tem um piso térreo amplo e um piso elevado em mezanino. O piso térreo
tem área total de 8.170 m2. A placa de vendas de acesso público tem de área 6.422m2.
Esta área é a única considerada no estudo de caso. Os armazéns, os cais, os escritórios e
os espaços sociais são ignorados na análise.
A edificação é pré regulamentar, no entanto, ao verificar a sua conformidade calculamos
o efetivo máximo teórico, multiplicando a área de acesso público, 6.422 m2, pelo índice
regulamentar, 0,6. Obtemos o efetivo de 3.854 pessoas.
Este cálculo permite definir a edificação como utilização tipo VIII da 3ª categoria de risco.
O efetivo calculado requer a existência de 9 saídas com 39 unidades de passagem, exis-
tindo na edificação 14 saídas com 42 unidades de passagem.
Figura 19 Planta do piso térreo do Espaço Comercial.
68
A distância máxima a percorrer no local de risco até uma saída para o exterior deveria ser
de 45 m e no caso presente, na figura 19, traçando círculos com raio de 45 m, pode veri-
ficar-se a existência de uma pequena zona central com 9,2 m2, correspondendo a uma
ocupação de 6 pessoas, a partir da qual essa distância é excedida.
As distâncias a percorrer não devem ser medidas em espaços amplos, vazios, porque o
mobiliário irá criar obstáculos e alterar os percursos. Se considerarmos as estantes e outro
mobiliário fixo, como se vê na figura 20, o percurso direto à saída deixa de ser possível e
as distâncias a percorrer aumentam. O espaço em que as distâncias máximas a percorrer
até uma saída, (indicado a lilás) aumenta para 351 m2, corresponde a uma ocupação de
211 pessoas. A distância máxima a percorrer é nesta situação de 57 m.
O cálculo do movimento requer informação sobre a densidade de ocupação. O índice de
ocupação regulamentar, 0,6 pes/m2 aplica-se ao espaço vazio. Mas, a densidade média
real é de 0.9 pes/m2 porque o mobiliário de venda ocupa 2072 m2, o que reduz a área útil
para 4.350 m2. Será essa a densidade utilizada no cálculo.
O cálculo de RSET é executado do seguinte modo;
Figura 20 Planta do piso térreo do Espaço Comercial, com mobiliário visível.
69
Para a determinação de Δtdet utiliza-se a tabela 1 da ficha20 e obtém-se 60 s.
Para a determinação de Δta utiliza-se a tabela 2 da ficha20 e obtém-se 0 s.
Para a determinação de Δtpre utiliza-se a tabela 3 da ficha20 e obtém-se 150 s.
Para o cálculo de Δttra procede-se do seguinte modo;
1. Calcula-se v no local de venda utilizando a equação [A] e os parâmetros do grupo
de mobilidade M1 e D = 0,9 pes/m2. Obtém-se 1,08 m/s.
2. Calcula-se o tempo de percurso na loja para a distância máxima a percorrer utili-
zando equação [E]. Obtém-se 62 s.
3. Calcula-se o tempo de escoamento das saídas, considerando uma distribuição uni-
forme do efetivo pelas saídas, utilizando qM e a equação [F]. O tempo de escoa-
mento nas saídas é de 72 s.
4. Adota-se para valor de Δttra 72 s que é o mais desfavorável.
5. O valor calculado para RSET é portanto 60+0+150+72=282 s ou seja 4 minutos
e 42 segundos.
20 Ficha de processo de cálculo do tempo de evacuação RSET, p. 56
PARTE III. RESULTADOS E DISCUSSÃO
73
7. Conclusões e recomendações
7.1. Sobre o método proposto
O trabalho efetuado e os casos estudados comprovam a aplicabilidade do método pro-
posto na determinação do tempo de evacuação RSET em edifícios. O método proposto
permite efetuar os cálculos e determinar resultados. A este nível o trabalho está validado.
O método proposto baseia-se em equações desenvolvidas segundo processos científicos
validados pelos pares e em indicações resultantes de dados reais e experimentais, cons-
tantes de normas internacionais.
Os desenvolvimentos científicos utilizados baseiam-se em dados antropométricos, dinâ-
micos e psicológicos de populações que não são a população portuguesa atual, pelo que
a sua aplicação requer validação. Em relação aos dados antropométricos foi possível va-
lidar a sua aplicabilidade à população portuguesa no tempo presente. Em relação aos da-
dos dinâmicos, observações casuais da realidade portuguesa atual proporcionam um grau
de confiança elevado. No entanto quanto aos aspetos culturais e sociais nada foi encon-
trado, pelo que este aspeto não pode ser considerado validado e requer investigação es-
pecífica.
Pôde concluir-se que em edificações de pequena altura, dadas as limitações regulamenta-
res, a componente determinante de RSET é tPRE, o tempo de pré movimento. Não existe
método analítico conhecido para determinar o valor desta componente.
Os cálculos de RSET efetuados por este processo têm uma utilidade intrínseca, mas só
caraterizarão a segurança de uma edificação quando comparados com valores de ASET.
É, portanto, importante elaborar métodos práticos e rápidos para o cálculo de ASET, as-
sunto que este trabalho não tratou.
7.2. Sobre o enquadramento regulamentar
Com a ratificação da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
pela Assembleia da República e pelo Presidente da República, em Julho de 2009, Portugal
passou a considerar a Acessibilidade um Direito Humano com um enquadramento legal
ao nível da Constituição da República. Toda a legislação nacional terá que estar de acordo
com o preconizado naquele documento.
74
Do ponto de vista da arquitetura, urbanismo e edificação estes direitos estão garantidos
pelo Decreto-Lei n.º 163/2006 de 8 de Agosto. No entanto esta obrigação não está asse-
gurada ao nível da evacuação das pessoas no SCIE.
De facto uma pessoa em cadeira de rodas poderá aceder a qualquer edificação recebendo
público que respeite a regulamentação nacional. Mas não a poderá abandonar, em caso
de evacuação. Os ascensores, que lhe permitiram aceder a andares elevados estarão des-
ligados, as escadas são um obstáculo intransponível e zonas de refúgio em segurança não
foram previstas.
É necessário que as autoridades com competência sobre esta área disponham sobre a ne-
cessidade da existência de zonas de segurança para pessoas em cadeira de rodas, junto ou
no interior das vias verticais de evacuação e que estas disponham de cadeiras de resgate
na quantidade adequada.
Deficientes auditivos não receberão o “sinal emitido que deve ser inconfundível com qual-
quer outro e audível em todos os locais do edifício” [25], e apesar de o regulamento indi-
car que “a informação contida na sinalização de emergência deve ser disponibilizada a
todas as pessoas a quem essa informação seja essencial numa situação de perigo ou de
prevenção relativamente a um perigo”. Para os cidadãos invisuais essa obrigação não foi
contemplada.
Também esta carência regulamentar deve ser corrigida.
Em relação às distâncias máximas a percorrer, a relação entre distâncias máximas a per-
correr e áreas máximas de compartimento, em utilizações tipo VIII, pode originar, com
facilidade, situações de conflito entre as duas prescrições, como exemplificado no 3º es-
tudo de caso. Parece razoável nas situações referidas no artigo 264º alíneas a) e b) do
RTSCIE aumentar as distâncias máximas a percorrer, tanto mais que esses espaços bene-
ficiam de sistemas fixos de extinção e sistemas de controlo de fumos.
Em relação à largura das vias de evacuação não se encontra vantagem na utilização do
método de unidade de passagem. A necessidade de prescrever uma largura de via vertical
superior à largura de uma via horizontal para o mesmo efetivo, cria um conflito na defi-
nição de unidade de passagem que deixa de ter sentido. Isto é, a definição dada no nº 13
do artigo 4.º do Anexo I do RTSCIE entra em conflito com o nº 11 do artigo 64.º.
Sugere-se a adoção de um sistema proporcional de 6 mm por pessoa em via horizontal e
de 8,6 mm por pessoa em via vertical, (para manter as capacidades atualmente requeridas)
75
com uma largura mínima de via de 1,20 m. Os vãos de porta em vias de evacuação hori-
zontais ou na saída dos locais de risco, servindo um máximo de 50 pessoas poderão ter a
largura útil de 0,90 m.
7.3. Sobre dados experimentais para estudos futuros.
De acordo com o artigo 207.º do RTSCIE todos os estabelecimentos recebendo público
das 2ª, 3ª e 4ª categorias de risco devem realizar simulacros anual ou bienalmente.
Parte desses simulacros incluirão simulacros de evacuação. Isto pode produzir um con-
junto muito significativo de dados sobre aspetos da operação de evacuação para os quais
só existe informação não nacional, e mesmo esta, pouco estruturada.
Recomenda-se a criação de um relatório anual ou bienal, segundo o ciclo de simulacros,
de apresentação obrigatória, sob a forma de um formulário de preenchimento em linha,
onde ficarão registados os resultados das ações desenvolvidas.
77
OBRAS CITADAS
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78
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Standards and Technology, Quincy, 1998.
[42] L. D. J. P. J. R. Qualey III, “Response-Time Comparisons of Ionization and Photoelectric/Heat Detectors,” em
Proceedings, Gaithersburg, 2001.
[43] C. Kasperczyk, “Smoke Alarms: Comparing the Differences in Response Times,” University of Cincinnati,
Cincinnati.
[44] B. Standards, TPD 7974-6:2004, British Standards, 2004.
[45] Gfk, 2007. [Online]. Available: http://www.aped.pt/Media/content/186_1_G.pdf.
79
[46] D. Samochin, K. Boyce e J. Shields, “An Investigation into Staff Behaviour in Unannounced Evacuations of
Retail Stores – Implications for Training and Fire Safety Engineering,” em Fire safety science–proceedings of
the eighth international symposium, 2005.
[47] L. Benthorn e H. Frantzich, “Fire alarm in a public building: How do people evaluate information and choose
evacuation exit?,” Lund Institute of Technology, Lund, 1996.
[48] MAI, Regulamento técnico de segurança contra incêndio em edifícios, 2008.
[49] R. D. Peacock, J. D. Averill e E. D. Kuligowski, “Stairwell Evacuation from Buildings: What We Know We
Don’t Know,” National Institute of Standards and Technology, Gaithersburg, 2009.
ANEXOS
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo 1 – CITEVE – SIZING SUDOE ......................................................................................... I
Anexo 2 - Tempos de pré movimento de eventos reais e exercícios de evacuação [17] ............. III
Anexo 3 - Extrato da tabela do guia europeu [16] com sugestões para o valor de Δtpre ............... V
Anexo 4 - Estudos de movimento de pessoas com mobilidade reduzida [26] ............................ VI
Anexo 5 – Ligações para sites de modelos informáticos. .......................................................... VII
I
Anexo 1 – CITEVE – SIZING SUDOE
III
Anexo 2 - Tempos de pré movimento de eventos reais e exercícios de evacuação [17]
1 - Tempo em minutos
Utilização N.pes. min q1 Mediana q3 Max Média Local
High-rise hotel 536 0 3.3 60 131 290 n/a MGM Grand Hotel fire, NA, Q; [1]
High-rise hotel 47 0 2 5 17.5 120 n/a Westchase Hilton Hotel fire, no alarm in early stages, Q [1]
High-rise office building
85 0 2 5 10 245 11.3 WTC explosion and fire, NA (building closer to explosion) [1]
High-rise office building
46 0 4.5 10 31.5 185 28.4 WTC explosion and fire, NA (building further from blast) [1]
High-rise office building
107 1 1 1 1 ~6.0 n/a Fire incident, no alarms, data from interviews with occupants of four floors of building (11 interviewees were trapped) [1]
High-rise office building
12 0.5 n/a 1 n/a 2.3 1.2 UD on 3 floors; data for first person to reach each of four stairwell doors to wait for VC in-struction; TS; V; [1]
High-rise office building
12 0.5 n/a 1 n/a 2.3 1.2 UD on 3 floors; data for the first person to reach each of four stairwell doors to wait for VC instruction; TS; V; [1]
Mid-rise office bui-lding
92 0 0.4 0.6 0.8 <4 0.6 UD, NG; fire wardens; warm day [1]
Mid-rise office bui-lding
161 0 0.5 0.9 1.4 <5 1.1 UD, NG; fire wardens; cool day [1]
One-story depart-ment store
95 1 0.2 0.3 0.5 0.9 0.4 UD; TS; data here derived from grouped data for 95 participants [1]
Three-story de-partment store
122 0.1 n/a n/a n/a n/a 0.6 UD; TS; V [1]
One-story depart-ment store
122 0.1 n/a n/a n/a 1.7 0.5 UD; TS; V [1]
One-story depart-ment store
71 0 n/a n/a n/a 1 0.4 UD;TS; V [1]
High-rise apart-ment bldg
n/a 0 n/a n/a n/a n/a 10.5 Forest Laneway fire; for occupants who at-tempted to evacuate in the first hour, Q [1]
219 0 n/a 187.8 n/a 720 191 Forest Laneway fire, for all occupants[1]
High-rise apart-ment bldg
33 0.3 0.8 1.3 4.4 10 2.8 UD; NG [1]
High-rise apart-ment bldg
93 0.4 1.5 3.6 6.9 19 5.3 UD; NG; heavy snow during drill [1]
High-rise apart-ment bldg
27 1 2 8 14 >20 n/a Fire incident in early morning, alarm func-tioned, fewer than half the occupants evacu-ated [1]
Mid-rise apartment bldg
42 0.6 1 1.4 3 >14 2.5 UD; NG [1]
Mid-rise apartment bldg
55 >0.5 1.6 4.4 13.5 >21 8.4 UD; PA [1]
Mid-rise apartment bldg
77 >0.3 1.9 7.7 19.1 >24 9.7 UD; PA [1]
Mid-rise apartment bldg
80 >0.3 1.2 2.5 3.7 >12 3.1 UD; PA [1]
Mid-rise apartment bldg
77 >0.3 1.9 7.7 19.1 >24 9.7 UD; PA [1]
Training facility 566 <0.2 0.7 1.1 1.5 >5 n/a Testing sleeping subjects at a training facility [1]
IV
2 - Tempo em segundos
Utilização N.pes. min q1 Mediana q3 Max Média Local
Boarding school for chil-dren with hear-ing difficulties 43 44 84 190 96
V; UD; TS. Evacuation at night time and dressing children in blanket; Ru
Police depart-ment 47 39 124 257 125 V;AD; PTS;VC; Ru
Musical college 1 113 6 45 243 57 V; AD;TS;VC+S; Ru
Musical college 2 145 11 125 274 124 V; UD; TS;VC+S; Ru
Kinder garden 61 2 8 68 11
V; AD; O(Speech signal from the teacher); Ru
Kinder garden. Dressing in winter clothes 77 56 193 435 227
V; AD; O(Speech signal from the teacher and dressing children in winter clothes ); Ru
Boarding school for chil-dren oli-gophrenic 1 53 3 16 51 19
V; AD; TS; Evacuation at night time and dressing children in blanket; Ru
Boarding school for chil-dren oli-gophrenic 2 65 5 27 120 35
V; UD; TS; Evacuation at night time and dressing children in blanket; Ru
Secondary School 1 57 14 46 72 47 V; UD; TS; EX; Ru
Secondary School 2 102 4 27 134 33 V; AD; TS; Ru
Legenda
Meios de recolha de dados V Vídeo Q Questionário O Outros
Procedimento UD Simulacro sem aviso AD Simulacro com aviso E Experimental O Observação
Tipo de Alarme VC Mensagem de Voz S Sirene NG Sem alarme sonoro PA Alarme de baixo desempenho
Formação do pessoal TS Treinado PTS Pouco treinado NTS Não treinado
Condições emocionais P Pânico EX Excitação C Calma
País Ru Russia
V
Anexo 3 - Extrato da tabela do guia europeu [16] com sugestões para o valor de Δtpre
3 - Tempo em minutos
VI
Anexo 4 - Estudos de movimento de pessoas com mobilidade reduzida [26]
VII
fds-smv http://code.google.com/p/fds-smv/
Blender 2.70 http://www.blender.org/download/
BlenderFDS http://code.google.com/p/blenderfds/
Anexo 5 – Ligações para sites de modelos informáticos.