europ bsin a m ly oxford jornal a saúde nas suas mãos … · ano 9 - nº 84 jornal julho/setembro...

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Doenças renais em Angola Dois mil novos casos por ano A doença renal crónica em An- gola está a aumentar rapida- mente, de acordo com o chefe dos serviços de hemodiálise da Clínica Multiperfil, Simão Can- ga, em entrevista ao JS, à mar- gem do 1º Simpósio de Nefrolo- gia realizado por esta unidade de saúde, no âmbito da come- moração do dia mundial do rim. Todos os anos, o país regista mais de dois mil casos na ver- tente das doenças renais, mui- tos dos quais em estado avan- çado, que obrigam ao trata- mento por via de hemodiálise, tornando a vida do paciente de- pendente de máquinas. A dia- betes e a hipertensão arterial constituem, até ao momento, as principais causas. |Pag.6 a 8 Diabetes Acesso aos medicamentos é difícil. Isenção de imposto aduaneiro pode facilitar Mais de 265 médicos reunidos no 1º Congresso da Sociedade Angolana de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo consi- deram que a dificuldade de acesso dos doentes aos antidia- béticos orais, insulina e dispo- sitivos, devido aos altos preços praticados e escassez no mer- cado, contribui para o surgi- mento de complicações cróni- cas. Ministra da Saúde anuncia que isenção do imposto adua- neiro vai contribuir para a re- dução dos preços dos medica- mentos. ANIFA defende maior fiscalização e combate à con- trafacção. Saiba tudo. |Pag.4 e 5 Hepatite B: rastreio tem financiamento. |Pag.14 Neuroepidemiologia: onde estão os doentes com distúrbios neurológicos? |Pag.18 Estão abertas as candidatu- ras à 2ª edição do “Prémio CEDUMED de Educação Mé- dica”, acolhendo trabalhos de educação médica em Angola que tenham sido realizados nos anos 2017 e 2018 e sejam submetidos até 20 de Dezem- bro de 2018. O Prémio inclui duas catego- rias – “investigação científi- ca”, destinada à pesquisa so- bre a educação médica, e “formação” destinada à ofer- ta de acções de formação e à produção de material didác- tico – permitindo, em cada uma, a atribuição de primei- ro, segundo e terceiro lugares que recebem um diploma, uma medalha e um valor pe- cuniário. Esta edição designa-se “Pré- mio CEDUMED de Educação Médica 2019 Clínica Multi- perfil”, nos termos do Art.º 6º do Regulamento do Prémio. Para mais informações, con- sulte o Regulamento do Pré- mio, publicado no Diário da República II série n.º 80 de 30 de Abril de 2015 e, em caso de dúvidas ou questionamen- tos, contacte o CEDUMED ([email protected] o ou 923636805). O CEDUMED é o Centro de Estudos Avançados em Edu- cação e Formação Médica da Universidade Agostinho Neto. O Caminho do Bem European Society for Quality Research Lausanne EUROPE BUSINESS ASSEMBLY OXFORD jornal Ano 9 - Nº 84 Julho/Setembro 2018 Mensal Gratuito Director Editorial: Rui Moreira de Sá MINISTÉRIO DA SAÚDE GOVERNO DA REPÚBLICA DE ANGOLA aude a saúde nas suas mãos A N G O L A da A prevalência da infertilidade é mais elevada em África do que nos países do Norte, sendo as infec- ções responsáveis por estas situações em cerca de 80% de casos. Em Angola é possível que haja mais de meio milhão de casais afectados. A procriação medicamente assistida aumenta a autonomia e opções parentais relativas à possibi- lidade de descendência desejada, ao ampliar os limites da fecundidade masculina e feminina. As técnicas são várias: desde a inseminação artifi- cial – quando o sémen utilizado é de um dador – à fertilização in vitro e à transferência de embriões, entre outros métodos. Saiba ainda quais os bene- ficiários, os riscos e os limites clínicos. Um artigo do bastonário da Ordem dos Médicos de Angola, Carlos Alberto Pinto de Sousa. |Págs. 9 a 12 Prémio CEDUMED de educação médica: candidaturas estão abertas A infertilidade em África e em Angola A procriação medicamente assistida pode ser a solução

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Page 1: EUROP BSIN A M LY OXFORD jornal a saúde nas suas mãos … · Ano 9 - Nº 84 jornal Julho/Setembro 2018 ... 2 oPINIão J l/Se 2018 JSA ... Parasitologia e Microbiologia. DOUTORAMENTO

Doenças renais em AngolaDois mil novoscasos por ano

A doença renal crónica em An-gola está a aumentar rapida-mente, de acordo com o chefedos serviços de hemodiálise daClínica Multiperfil, Simão Can-ga, em entrevista ao JS, à mar-gem do 1º Simpósio de Nefrolo-gia realizado por esta unidadede saúde, no âmbito da come-moração do dia mundial dorim.Todos os anos, o país registamais de dois mil casos na ver-tente das doenças renais, mui-tos dos quais em estado avan-çado, que obrigam ao trata-mento por via de hemodiálise,tornando a vida do paciente de-pendente de máquinas. A dia-betes e a hipertensão arterialconstituem, até ao momento, asprincipais causas. |Pag.6 a 8

Diabetes Acesso aosmedicamentosé difícil. Isenção de imposto aduaneiro pode facilitar

Mais de 265 médicos reunidosno 1º Congresso da SociedadeAngolana de Endocrinologia,Diabetes e Metabolismo consi-deram que a dificuldade deacesso dos doentes aos antidia-béticos orais, insulina e dispo-sitivos, devido aos altos preçospraticados e escassez no mer-cado, contribui para o surgi-mento de complicações cróni-cas. Ministra da Saúde anunciaque isenção do imposto adua-neiro vai contribuir para a re-dução dos preços dos medica-mentos. ANIFA defende maiorfiscalização e combate à con-trafacção. Saiba tudo.|Pag.4 e 5

Hepatite B: rastreio tem financiamento. |Pag.14

Neuroepidemiologia: onde estão os doentescom distúrbios neurológicos? |Pag.18

Estão abertas as candidatu-ras à 2ª edição do “PrémioCEDUMED de Educação Mé-dica”, acolhendo trabalhos deeducação médica em Angolaque tenham sido realizadosnos anos 2017 e 2018 e sejamsubmetidos até 20 de Dezem-bro de 2018.O Prémio inclui duas catego-rias – “investigação científi-ca”, destinada à pesquisa so-bre a educação médica, e“formação” destinada à ofer-ta de acções de formação e àprodução de material didác-tico – permitindo, em cadauma, a atribuição de primei-ro, segundo e terceiro lugaresque recebem um diploma,uma medalha e um valor pe-cuniário.Esta edição designa-se “Pré-mio CEDUMED de EducaçãoMédica 2019 Clínica Multi-perfil”, nos termos do Art.º 6ºdo Regulamento do Prémio.Para mais informações, con-sulte o Regulamento do Pré-mio, publicado no Diário daRepública II série n.º 80 de 30de Abril de 2015 e, em caso dedúvidas ou questionamen-tos, contacte o CEDUMED([email protected] ou 923636805). O CEDUMED é o Centro deEstudos Avançados em Edu-cação e Formação Médica daUniversidade Agostinho Neto.

O Caminho do BemEuropean Society for

Quality ResearchLausanne

EUROPE BUSINESS ASSEMBLY

OXFORD

jornalAno 9 - Nº 84Julho/Setembro2018Mensal Gratuito Director Editorial: Rui Moreira de Sá

MINISTÉRIO DA SAÚDEGOVERNO DA REPÚBLICA DE ANGOLA aude

a saúde nas suas mãosA N G O L A

da

A prevalência da infertilidade é mais elevada emÁfrica do que nos países do Norte, sendo as infec-ções responsáveis por estas situações em cerca de80% de casos. Em Angola é possível que haja maisde meio milhão de casais afectados. A procriação medicamente assistida aumenta aautonomia e opções parentais relativas à possibi-lidade de descendência desejada, ao ampliar os

limites da fecundidade masculina e feminina. Astécnicas são várias: desde a inseminação artifi-cial – quando o sémen utilizado é de um dador – àfertilização in vitro e à transferência de embriões,entre outros métodos. Saiba ainda quais os bene-ficiários, os riscos e os limites clínicos. Um artigodo bastonário da Ordem dos Médicos de Angola,Carlos Alberto Pinto de Sousa. |Págs. 9 a 12

Prémio CEDUMED de educaçãomédica: candidaturasestão abertas

A infertilidade em África e em Angola

A procriaçãomedicamente assistidapode ser a solução

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2 oPINIão Jul/Set 2018 JSA

Uma campanha de sensibilização contra a cólera arrancou no iní-cio de Agosto, na comuna da Funda, município do Cacuaco, coma participação de mais de cem agentes comunitários, que vão pas-sar de casa em casa, para explicar às famílias as melhores práticasde prevenção da doença, que ressurgiu no mês passado e já ma-tou cinco pessoas. Saudamos esta iniciativa, entre outras, que resultou da reuniãomultissectorial para reforçar as medidas de combate à doença,promovida pelo Governo Provincial de Luanda, no âmbito dasorientações da Comissão Interministerial de Combate à Cólerae à Malária, encabeçada pela ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta.

Tratando-se de uma enfermidade com grande potencial depropagação e olhando para as condições à volta das grandes ci-dades e das suas periferias, não podia ser de outro modo. É pre-ciso dar resposta célere e eficaz aos desafios provocados pela có-lera, cujo surto se deve muito às condições nas comunidades enas casas.

Investir na sensibilização e educação sanitária das populaçõesdeve ser uma aposta inadiável das instituições públicas e privadas,das populações e pessoas individualmente. Se cada parte desem-penhar correctamente o seu papel, apesar da conjuntura parti-cularmente difícil que vivemos, não temos dúvidas do sucesso doplano de resposta para o controlo da doença, sobretudo ali ondeela já se encontra.

Educar as famílias para a tomada de medidas higiénicas ele-mentares, como o tratamento de água, manipulação adequadados alimentos e a limpeza permanente do “habitat” familiar comouma obrigação de todos. A ida rápida às unidades sanitárias ouhospitalares, tão-logo sejam detectados sinais de enfermidade,deve ser uma iniciativa familiar e pessoal de cumprimento obri-gatório para bem da saúde.

As instituições do Estado, comprometidas que estão com osurto da cólera, tudo fazem para que inicialmente tenhamos oimpacto da doença totalmente sob controlo ali onde ela já se en-contra. Apenas assim seremos capazes de impedir que o surtoirrompa noutras localidades do país e provoque mais óbitos nascomunidades. Acreditamos que o envolvimento das populaçõesé fundamental, a começar pela informação que deve ser prestada,porque quanto mais informada estiverem as famílias menos ex-postas ficam a determinadas enfermidades.

Deve ser cada um de nós a dar os primeiros passos porque,como notamos com facilidade e sem alarmismo, a ameaça da có-lera é real ali onde ela já se encontra, bem como noutras partespotencialmente vulneráveis do surto. Essa é a mensagem que de-ve ser passada a cada angolana e angolano para que, independen-temente das nossas dificuldades, sejamos capazes de, naquilo quedepender de nós, evitar a cólera.

Sem perder de vista a necessidade de um forte e contínuo in-vestimento nas infraestruturas do saneamento básico – que éprecário e põe em causa a saúde da população. A prevenção en-volve a melhoria das condições de saneamento e do acesso àágua potável.

Até ao dia 29 de Julho, a província de Luanda tinha 12 casos decólera notificados pelo Instituto Nacional de Investigação da Saú-de, sendo dois na Samba, um no Sambizanga, um na Ingombota,dois em Viana e seis em Cacuaco.

Não é o peixe que está contaminado, mas sim a água

Se o peixe estiver bem confeccionado, pode ser con-sumido sem nenhum problema.

Prevenir a cólera

Rui MoReiRa de Sá

Director [email protected]

IHMT NOVA

com candidaturas abertas para mestrados e doutoramentosn O Instituto de Higiene e MedicinaTropical da Universidade NOVA deLisboa (IHMT NOVA) oferece progra-mas de mestrado e de doutoramentocom especificidades únicas em Por-tugal e no espaço lusófono e apostafortemente na formação à distância,usando tecnologias da informação.Encontram-se abertas as candidatu-ras aos mestrados e doutoramentosdo IHMT NOVA. O Instituto é reco-nhecido, a nível internacional, pelasua história, mas também pela quali-dade científica do ensino pós-gra-duado, investigação e contributo nacooperação para o desenvolvimentoda saúde nos Países Africanos de Lín-gua Oficial Portuguesa e Timor-Leste. Fique a conhecer a oferta formativado IHMT NOVA:

MESTRADO EM CIÊNCIAS BIOMÉDICAS Principais benefícios:

+Permite desenvolver competên-cias na área da prevenção e diag-nóstico de doenças globais com oauxílio de novas abordagens bio-médicas;+Contribui para uma visão inte-grada da ligação funcional entre olaboratório de diagnóstico micro-biológico, a prática clínica e deci-são terapêutica.

MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA EDESENVOLVIMENTOPrincipais benefícios:

+Capacita para a gestão eficientede instituições e de projetos emsaúde;+Habilita à implementação de so-luções adequadas que visam me-dir, vigiar, avaliar e corrigir o estadode saúde das populações;+Desenvolver competências deinvestigação epidemiológica e/ouqualitativa em saúde pública.

MESTRADO EM SAÚDE TROPICALPrincipais benefícios:

+Permite o conhecimento teóricoe prático das patologias e grandesquestões da Saúde e MedicinaTropicais;+Permite a aprendizagem de mé-todos de investigação epidemioló-gicos e laboratoriais.

DOUTORAMENTO EM CIÊNCIASBIOMÉDICAS Principais benefícios:

+Capacita para a formulação, im-plementação e análise crítica deprojetos de investigação a nível in-ternacional;+Possibilita a especialização e odesenvolvimento de competên-cias de investigação nas áreas deParasitologia e Microbiologia.

DOUTORAMENTO EM DOENÇASTROPICAIS E SAÚDE GLOBALPrincipais benefícios:

+Consolida as competências nasdiferentes componentes dasDoenças Tropicais e Saúde Global,com padrões internacionais dequalidade;+Possibilita a mobilidade e o tra-balho em rede;+Consolida as competências deinvestigação autónoma na área dasaúde global.

Em colaboração com Fundação Os-waldo Cruz, no Brasil.

DOUTORAMENTO EM SAÚDE INTERNACIONALPrincipais benefícios:

+Cria oportunidades para traba-lhar com organizações internacio-nais e de saúde pública;+Consolida as competências deinvestigação autónoma na área dasaúde internacional.

Para mais informações:www.ihmt.unl.pt [email protected] +351 213 652 600

Direcção editorial: Rui Moreira de SáConselho editorial: Prof. Dr. Miguel Bet-tencourt Mateus, Dra. Adelaide Carval-ho, Prof. Dra. Arlete Borges, Enf. Lic.Conceição Martins, Dra. Filomena Wil-son, Dra. Helga Freitas, Dra. Isabel Mas-socolo, Dra. Isilda Neves, Dr. JoaquimVan-Dúnem, Dra. Joseth de Sousa, Prof.Dr. Josinando Teófilo, Prof. Dra. MariaManuela de Jesus Mendes, Dr. MiguelGaspar, Dr. Paulo Campos.Director Editorial: Rui Moreira de Sá [email protected]; Redacção: Francisco Cosme dos Santos;Cláudia Pinto. Correspondentes provin-ciais: Elsa Inakulo (Huambo); Diniz Si-

mão (Cuanza Norte); Casimiro José(Cuanza Sul); Victor Mayala (Zaire) Marketing e Publicidade Nuno Rocha Tel.:940 560 672 E-mail:[email protected]: Francisco Cosme. Editor: Marketing For You, Lda - Rua Dr.Alves da Cunha, nº 3, 1º andar - Ingom-bota, Luanda, Angola,+(244) 940 560 672 / 938 210 800, [email protected]ória Registo Comercial deLuanda nº 872-10/100505, NIF5417089028, Registo no Ministério daComunicação Social nº 141/A/2011, Folha nº 143.

Delegação em Portugal:Beloura Office Park, Edif.4 - 1.2 - 2710-693 Sintra - Portugal, Tel.: + (351) 219247 670 Fax: + (351) 219 247 679

Periodicidade: mensal

Design e maquetagem:Fernando Almeida;

Impressão e acabamento:Damer Gráficas, SA

Tiragem: 20 000 exemplares. Audiência estimada: 80 mil leitores.

FICHA TÉCNICA

Parceria:

www.jornaldasaude.org

Jornal da saúde de Angola

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n O Instituto de Higiene eMedicina Tropical da Uni-versidade Nova de Lisboa,em 23 de Julho, foi anfitriã daprimeira reunião de balançodo curso de Doutoramentoem Ciência Biomédicas,coordenada pelo Directordo CEDUMED da UAN, Má-rio Fresta, e pelo Director doIHMT-UNL, Paulo Ferrinho.Contou igualmente com apresença de Filomeno For-tes (UAN) e Miguel Viveiros(IHMT), para além de outrosmembros da ComissãoCientífica do DCB e dos re-gentes dos módulos. A reu-nião apreciou criticamenteo desempenho organizati-vo e o aproveitamento aca-démico positivo dos noveprimeiros módulos, reafir-mando a estrutura de im-plementação dos seis mó-

dulos restantes. Em se-quência, foi analisado oprograma científico preli-minar do 2º ano baseado nalista temática indicativa dos

projectos de tese a seremdesenvolvidos, incluindo aindicação de eventuaisorientadores e co-orienta-dores. O encontro teve

igualmente como objectivoa identificação de poten-ciais parceiros para a imple-mentação das referidas te-ses.

Primeira ediçãoEm resposta ao Plano de De-senvolvimento Institucionalda Universidade AgostinhoNeto, em consonância como Plano Nacional de Forma-ção de Quadros de Angola(PNFQ), e como contributoao Plano Nacional de De-senvolvimento Sanitário(2012-2025), o Decreto Exe-cutivo nº14/17 criou o 1ºCurso de Doutoramento emCiências Biomédicas na Fa-culdade de Medicina daUniversidade AgostinhoNeto. Este Decreto confere ograu de Doutor e aprova orespectivo plano de estudo.A primeira edição do Douto-ramento em Ciências Bio-médicas da UniversidadeAgostinho Neto (UAN),abreviadamente DCB, éuma pós-graduação da Fa-

culdade de Medicina daUAN (FMUAN) implemen-tada pelo Centro da EstudosAvançados em Educação eFormação Médica da UAN(CEDUMED), com o alto pa-trocínio do Gabinete deQuadros do Presidente daRepública e do Ministério doEnsino Superior, Ciência,Tecnologia e Inovação(MESCTI), a parceria do Mi-nistério da Saúde da Repú-blica de Angola e o patrocí-nio do Banco MillenniumAtlântico. Este doutoramen-to conta com a parceria in-ternacional do Instituto deHigiene e Medicina Tropicalda Universidade Nova deLisboa (IHMT-NOVA), nostermos do acordo e memo-rando institucional bilateral. A sessão de abertura teve

lugar a 9 de Março.

3ACTuAlIdAdeJul/Set 2018 JSA

Doutoramento em ciências biomédicas

Os 24 estudantes, com aproveitamento académico positivo, já apresentaram os projectos das teses

Os 24 doutorandos acompanhados pelo coordenador, Filomeno Fortes. Previsto para quatro

anos, o doutoramento tem um primeiro ano curricular reservando-se os restantes para a elabo-

ração, implementação e defesa de uma tese científica.

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4 ENDOCRINOLOGIA Jul/Set 2018 JSA

Dificuldade de acesso aos medicamentos origina complicaçõesgraves nos doentes

nEsta é uma das conclusõesdo 1º Congresso da Socieda-de Angolana de Endocrino-logia, Diabetes e Metabolis-mo que reuniu, em Maio, emLuanda, 266 médicos e ou-tros profissionais de saúde.Os congressistas conclui-

ram ainda que as mesmasdificuldades se aplicamigualmente no acesso aosdispositivos para autocon-trolo da diabetes mellitus(glucómetros e tiras teste deglicemia), assim como de se-ringas e agulhas.Constataram também a

ausência de dados epide-miológicos quantitativos dasprincipais doenças crónicas,nas quais se circunscrevemdoenças como a diabetesmellitus, bócio endémico,obesidade e o seu real im-pacto na morbimortalidadegeral e na vida socioeconó-mico e familiar no nossopaís. Desta realidade resul-ta a impossibilidade técnicade criação de programas

nacionais estruturados e ro-bustos, assim como normasuniformizadoras de procedi-mentos para a prevenção,controlo e combate destasverdadeiras epidemias.Os médicos expressaram

ainda as dificuldade de diag-nóstico etiológico em váriaspatologias endócrinas porinexistência de apoio labora-torial e o deficiente nível deformação e correcta infor-mação dos cidadãos em re-lação a estas doenças, resul-tando em agravamento damorbilidade e mortalidadedas mesmas, que seria evitá-vel.Discussões acaloradasDada a natureza multi e in-terdisciplinar da maior partedos temas de endocrinolo-gia, estiveram presentes aocongresso médicos de váriasespecialidades, enfermeiros,nutricionistas, psicólogos,professores de instituiçõesuniversitárias e estudantes.Das especialidades mé-

dicas, tiveram intervenção,a endocrinologia, pediatria,medicina interna, ginecolo-gia-obstetrícia, cardiologia,cirurgia geral, nefrologia, of-talmologia, neurologia, me-dicina nuclear, patologia clí-nica, clinica geral, urologia,ortopedia e cirurgia vascular,medicina do exercício.

Houve participação dinâ-mica de todos os interve-nientes. Verificou-se umaceitável nível científico dascomunicações apresenta-das.A diabetes mellitus, uma

doença com evolução epidé-mica em todo o mundo, en-formando um grande pro-

blema de saúde pública comimportantes implicações so-ciais, económicas, culturaise familiares, constituiu o te-ma mais debatido e com amais ampla participação.Teve merecida preocu-

pação a abordagem das pa-tologias da tiróide, algumascom carácter epidémico emvárias áreas do nosso país,como o bócio endémico.Outro tema de grande in-

teresse foi a problemática daobesidade / excesso de pesoque está no centro da síndro-me metabólica com forte re-percussão no aumento dorisco de morbilidade e mor-talidade cardiovasculares.Alguns temas registaram

acaloradas discussões, no-meadamente a endocrinolo-gia da gravidez e a problemá-tica do crescimento e desen-volvimento da criança.

Momento difícilO bastonário da Ordem dosMédicos de Angola, Carlos

Alberto Pinto de Sousa, afir-mou que “em termos dasdoenças endocrinológicas,Angola vive um momentodifícil – o que aliás constituiuma grande preocupaçãopara todos profissionais desaúde”. Carlos Pinto de Sousa de-

fendeu a “necessidade daimplementação de estraté-gias para a redução dasdoenças crónicas não-trans-missíveis, e de outros males,para termos uma melhoriana saúde das nossas popula-ções”.Para este responsável

“nos serviços de saúde de-vem criar-se grupos de tra-balho que integrem entida-des e indivíduos de outrossectores para sensibilizarema sociedade, no sentido de sepromoverem hábitos saudá-veis”.Considerou também que

os programas apresentadossão uma boa base de partidapara assuntos sérios, de im-pacto para alteração de com-portamentos, abordagemclínicas melhoradas, agir-secom eficácia, eficiência e oalcance do sucesso nos trata-mentos. “Os médicos têm de en-

frentar com coragem e res-ponsabilidade no momentoem que são chamados, parase primar cada vez mais napromoção, prevenção e tra-tamento das doenças”, de-fendeu.

População sem dinheiropara comprar medicamentosO Presidente da SociedadeAngolana de Endocrinolo-gia, Diabetes e Metabolismo(SAEDM), Domingos LiraPaulo, defendeu uma com-participação financeira doEstado e das organizaçõesnão governamentais (ONG)para combater a diabetes eas doenças endocrinológicas

Diabetes

Sociedade recomenda estudo da prevalência da doença, comparticipação na aquisiçãodos fármacos e acções de formação

Francisco cosme dos santos

com rui moreira de sá

A dificuldade, ou quase inca-

pacidade, de acesso aos medi-

camentos (antidiabéticos

orais, insulina e outros) por

parte dos doentes, tanto de-

vido aos altos preços prati-

cados, como pela sua escas-

sez no mercado, tem contri-

buído para o surgimento

rápido de complicações cró-

nicas graves e fatais na diabe-

tes tipo2 e a morte precoce

em doentes com diabetes ti-

po 1.

Durante o discurso a Senhora Ministra reafirmou aorientação feita e que estará em vigor de isenção deimpostos aduaneiros de medicamentos para doençascrónicas, com diabetes incluída. A nossa preocupaçãoé saber quando é que tal medida administrativa se irárefletir no preço do consumidor final, isto é, na pes-soa com diabetes que paga uma factura enorme. Ditoisto, a nossa preocupação só será considerada res-pondida quando estiverem materializadas essas in-tenções legislativas/administrativas. Temos consciên-cia que a situação leva algum tempo, mas esperamosque não demore demasiado tempo. Presidente do Colégio de Endocrinologia, Anselmo Castela

Isenção de imposto aduaneiro: quando se vai reflectir no preço do medicamento para o doente?

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5ENDOCRINOLOGIAJSA Jul/Set 2018

RecomendaçõesNo final dos trabalhos, os

congressistas apontaram

as seguintes recomenda-

ções:

1. Criação pelo Gover-

no (incidência Ministério

da Saúde) de condições

para a realização, a breve

trecho, do estudo da pre-

valência da Diabetes

Mellitus em Angola, en-

volvendo organismos do

governo, Ordem dos

Médicos, sociedades

científicas e associações

relacionadas com o te-

ma.

2. Solicitar às entidades

competentes do gover-

no (Ministério de Saúde,

Finanças e Segurança So-

cial) que sejam criadas

condições de comparti-

cipação significativa na

aquisição de insulina, an-

tidiabéticos oral, disposi-

tivos de autocontrolo

(glucómetros e tiras),

agulhas e seringas para

os doentes com diagnós-

tico de diabetes mellitus.

3. A SAEDM e o Colé-

gio de Endocrinologia

deverão fazer diligências,

junto do Ministério da

Saúde no sentido de se

promover dentro do país

a realização centralizada

de estudos laboratoriais

mais complexos no ter-

reno da endocrinologia.

4. Promover acções de

formação e de educação

da comunidade sobre a

diabetes e suas complica-

ções.

5. Fazer programas de

formação de profissio-

nais com cobertura a ní-

vel nacional.

6. Elaborar e publicitar

um manual de manuseio

da diabetes pelos profis-

sionais.

O presidente da Asso-ciação Nacional da in-dústria Farmacêuticade Angola (ANiFA),Nuno cardoso, consi-dera que “a isenção deimpostos aduaneiros éuma primeira medidavisando a diminuiçãodo preço dos medica-mentos”. De acordocom este responsável,a quem o JS pediu umcomentário sobre oassunto, “será, porém,necessário que as au-toridades fiscalizem,tanto importadores,como retalhistas, nosentido do preço serrevisto em baixa”. ParaNuno cardoso, é ainda“necessária a criaçãode uma série de medi-das legislativas/admi-nistrativas que visem aregulação adequada dopreço dos medicamen-tos, bem como o regis-to desses mesmo me-dicamentos, para quehaja um efectivo con-trolo do mesmo e, poroutro lado, se consigacombater a contrafac-ção de medicamentosno nosso país”. Segun-do o presidente da As-sociação que repre-senta a indústria farma-cêutica em Angola “aANiFA vê com agradoas intenções do Execu-tivo em melhorar osector da saúde e de-vemos todos juntosunir esforços para quea descida do preço dosmedicamentos sejauma realidade.”

Presidente da ANIFA, Nuno Cardoso

"São neces-sárias maismedidas emaior com-bate à con-trafacção"

em geral, de forma a ajudaros doentes que têm tidomuitas dificuldades paracomprarem os medicamen-tos e suportes básicos para oseu tratamento.O endocrinologista disse

também que “a falta de re-cursos financeiros paraaquisição dos medicamen-tos tem sido um grande fac-tor da fraca aderência dospacientes no tratamento dasdiabetes”.Acrescentou que a diabe-

tes é responsável por inúme-ras mortes em Angola. “Mui-tos doentes, por vergonha,nas consultas, não dizem aosmédicos que não estão a fa-zer a medicação por falta de

dinheiro”, revelou. O responsável alegou

ainda que a isenção, ou onão pagamento dos direitosalfandegários pelos impor-tadores, decretado pelo Es-tado, não basta. “É precisoque se faça um maior con-trolo e se estabeleçam nasvendas as margens de lucropara os grossistas, retalhistase farmácias”.Segundo este responsá-

vel, “tem de haver umamaior regulamentação e fis-calização para serem res-ponsabilizados os comer-ciantes de má fé que têmvindo aproveitar-se da fragi-lidade do mercado paraaplicarem preços especula-tivos nos medicamentos nosseus estabelecimentos.”Domingos Paulo referiu

que é urgente que se crie olaboratório nacional de aná-lises especiais da diabetes edoenças endocrinológicasem geral porque têm apare-cido nos hospitais muitoscasos de doenças crónicasnão-transmissíveis rarasque devem ser diagnostica-dos com exames de primei-ra linha, que são bastantecaros para as populações, oque só pode ser possívelcom a intervenção do Esta-do.

Cursos pré-congressoA anteceder o Congresso fo-ram realizados três cursospré-congresso: Diabetes ti-po 2 (Como tratar?), Pé dia-bético (a catástrofe), Nutri-ção para pessoa com diabe-tes. Participaram nestasacçõs de formação 114 pro-fissionais.A sessão de abertura do

congresso foi presidida peloBastonário da Ordem dosMédicos de Angola, CarlosAlberto Pinto de Sousa,acompanhado do Presiden-te da SAEDM, Domingos Li-ra Bravo Paulo e do Presi-dente do Colégio de Endo-crinologia, Anselmo deOliveira Castela.No Congresso foram

realizadas cinco conferên-cias, três mesas redondas,sete painéis, dois Simpósiose uma sessão de posters. Ostemas em destaque foram:Diabetes Mellitus, Patolo-gias da Tiróide, Endocrino-logia da Gravidez, Endocri-nologia Pediátrica e Obesi-dade.A sessão de encerramen-

to foi presidida pela ministrada Saúde, Sílvia ValentimLutucuta.

Sílvia Lutucuta na sessão de encerramento do Congresso

“A isenção do imposto adua-neiro facilita o acesso dos pacientes aos medicamentos e é um grande passo para amelhoria das doenças crónicasnão-transmissíveis”

Francisco cosme dos santos

No acto de encerramento docongresso, a ministra da Saú-de, Sílvia Lutucuta, afirmouque “o acesso aos medica-mentos por parte dos pacien-tes das doenças endócrinaspela via da redução de preçosdos medicamentos, atravésda isenção do pagamento deimposto aduaneiros pelosimportadores, é um grandepasso dado pelo país para amelhoria das doenças cróni-cas não-transmissíveis”.Por isso, “devemos todos tra-balhar nas novas modalida-des que permitem a subven-ção dos medicamentos paraa diabetes”, advogou.A ministra esclareceu que

as doenças endócrinas, co-mo a diabetes mellitus cons-tituem um grande problemade saúde pública no mundoe no nosso país. “Apesar denão dispormos de dados so-bre o aumento do número decasos das diabetes, sabe-seque as suas complicaçõessão a causa de vários interna-mentos nos nossos hospi-tais”, afirmou.Referiu que vários grupos

técnicos têm apoiado o pro-grama das doenças crónicas,com a elaboração de fluxo-gramas, manuais e outrosprocedimentos que visam amelhoria da qualidade doatendimento dos doentes.Sílvia Lutucuta alertou no

sentido da necessidade deserem desenvolvidos maio-res esforços na elaboração eimplementação de progra-mas de prevenção e controlodas doenças crónicas não-transmissíveis, com objecti-vo de reduzir o impacto ne-gativo destas doenças naspopulações.“Todas as acções devem

ser dirigidas para a promo-

ção de estilos de vida saudá-veis, prática de exercício físi-co e alimentação saudável –que deve começar da primei-ra infância e estender-se à fa-se adulta”, recomendou. A responsável alegou que

falar de diabetes, e outrasdoenças endocrinológicas,deve ser uma prática diárianos hospitais para se poderdiagnosticar precocemente econtrolar adequadamente adoença. Acresceu que uma das

responsabilidades dos pro-fissionais de saúde é, e deveser, o compromisso da notifi-cação das doenças endócri-nas, “porque é sabido que osistema de informação a ní-vel da saúde ainda não é dosmelhores, por isso, necessitado envolvimento de todos”.Segundo a ministra, “só

conhecendo os casos e o nú-mero de complicações dasdoenças do foro endocrino-lógico, é que se pode melho-rar a disponibilidade de me-dicamentos e de outrosmeios indispensáveis para oatendimento integral daque-les que precisam dos cuida-dos médicos”, defendeu. A prevenção e o controlo

das doenças endocrinológi-cas não é uma preocupaçãoapenas do ministério da Saú-de, mas também de outrosactores sociais e da popula-ção em geral. Por esse facto,“considera-se de extrema im-portância os temas debatidosno congresso que serviramcomo primeira abordagem edeveremos estender nos pró-ximos certames para todosprofissionais do nosso siste-ma de saúde”.

SílviA luTucuTA Acções devem ser dirigidas para a promoção

de estilos de vida saudáveis, prática de exercícios físicos e ali-

mentação saudável – que deve começar da primeira infância e

estender-se até à fase adulta

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6 NEFROLOGIA JUL/SET 2018 JSA

Doenças renais em Angola: são dois mil novos casos por ano

nTodos os anos, o país regis-ta mais de dois mil casos navertente das doenças renais,muitos dos quais em estadoavançado, que obrigam aotratamento por via de hemo-diálise, tornando a vida dopaciente dependente demáquinas. Segundo SimãoCanga, a diabetes e a hiper-tensão arterial constituem,até ao momento, as princi-pais causas de doenças re-nais.As pessoas com 30 a 50

anos são as principais víti-mas deste mal. Muitosdoentes só chegam ao esta-do crónico devido à desco-berta tardia da doença que,normalmente, se manifestade forma lenta.Apesar do recurso à he-

modiálise, que, por regra, éfeita três vezes por semana,e o avanço da medicina, a ta-xa de mortalidade de pa-cientes com insuficiência re-nal é bastante elevada. “Estataxa constitui uma grandepreocupação”.O problema “prende-se

com o acesso ao tratamentoque ainda é bastante caro elimitado”, acrescentou o mé-dico. Em síntese, para este es-

pecialista, “os grandes pro-blemas que os pacientes en-frentam actualmente são,em primeiro lugar, os diag-nósticos tardios – por falta deprofissionais, e difícil acessoaos serviços –, em segundolugar, os aspectos culturaisque têm impedido que os

doentes aceitem as transfor-mações que permitam pre-cocemente diagnosticar adoença e, finalmente, a difi-culdade de seguimento apóso diagnóstico”. Por falta decondições financeiras “nãoconseguem continuar ostratamentos, seguir a mu-dança da dieta, fazer a medi-cação obrigatória para hi-pertensão, anemia e os os-sos”.Um dos pontos discutidos

no simpósio foi o incentivoao diagnóstico, “que deveser precoce, e o alargamentodas fontes de informaçãopara garantir uma dissemi-nação mais imediata de in-formação sobre a doença”,segundo Simão Canga.“Se as pessoas tiverem

mais conhecimento dadoença, melhor será a pre-venção. E, assim, estaríamosa reduzir as taxas de morta-lidade, que são assustado-ras. Precisamos evitar quemais pessoas vão à hemo-diálise. E, para isso, é neces-sário o engajamento de to-dos, da família, sociedade eentidades governamentais”,defende.

Grupos de riscoO médico realçou que os in-divíduos que fazem partedos grupos de risco de pa-cientes renais são, em pri-meiro lugar, os hipertensos –principalmente os que pa-decem há mais tempo e osque não têm a doença con-trolada –, seguidos dos dia-béticos que têm mais tempode diagnóstico e que não sãocontrolados, os pacientesque têm doenças própriasou específicas dos rins (emalguns casos apresentam in-chaço nos pés, ou no rosto, esangue ou espuma na uri-na), a presença de váriosquistos nos rins, denomina-dos poliquísticos, indivíduosque contraem infecção uri-nária várias vezes, que têmpedra nos rins, e os indiví-duos que têm defeitos nosistema urinário que impe-de a saída da urina.

O serviço é gratuito, mas faltam vagas…Independentemente de ocentro de hemodiálise estar,

ou não, integrado numa uni-dade hospitalar privada, oserviço é público e todos osdoentes com insuficiênciarenal crónica são tratados acusto zero (na perspectivado doente), quer seja naMultiperfil, quer nos hospi-tais Maria Pia e AméricoBoavida, ou na Clínica Gi-rassol, por exemplo. Deacordo com o chefe do servi-ço de hemodiálise da ClínicaMultiperfil, Simão Canga,neste momento esta unida-de está sem vagas para estesdoentes. Os serviços têm umlimite de vagas, e a maiorparte das unidades que re-cebem este tipo de pacientesestá completa. A taxa de mortalidade em

várias unidades de hemo-diálise, a nível nacional, temsido alta, segundo os espe-cialistas, devido à actualconjuntura económica dopaís. Não há condições parasatisfazer a procura. A Socie-dade Angolana de Nefrolo-gistas (SAN) tem trabalhadocom várias associações dedoentes com insuficiênciarenal crónica e procuramque se aprove a lei do trans-plante, como forma de dimi-

nuir os custos com os pa-cientes em hemodiálise,mas “isto nos ultrapassa”, re-conheceu Simão Canga. De-pende das “instâncias supe-riores”. Sobre este assunto, opresidente da SociedadeAngolana de Nefrologistas,Matadi Daniel, disse que es-peram a resposta do projec-to enviado à Assembleia Na-cional, há cerca de 15 anos.Uma aprovação que podemudar a vida dos doentescom insuficiência renal cró-nica, embora o transplantenão seja a cura total. “É umtratamento de eleição querepõe todas as funções que orim perdeu, porque podehaver rejeição e o doentevoltar a fazer hemodiálise. Otransplante não impede arejeição e um doente trans-plantado vive acima de dezanos. Tudo o que nos resta éesperar pela aprovação doprojecto lei”, reforçou.Por outro lado, a equipa

capacitada a fazer o diag-nóstico desta doença é ain-da pequena. Haverá apenas20 nefrologista inscritos naSAN. Por isso, os casos sãodiagnosticados de forma tar-dia.

Francisco cosme dos santos

comrui moreira de sá

A doença renal crónica em

Angola está a aumentar rapi-

damente, de acordo com o

chefe dos serviços de hemo-

diálise da Clínica Multiperfil,

Simão Canga, em entrevista

ao JS, à margem do 1º Simpó-

sio de Nefrologia realizado

pela Clínica Multiperfil, no

âmbito da comemoração do

dia mundial do rim, em Mar-

ço.

O Simpósio de Nefrolo-gia da Multiperfil, que de-correu sob o lema “He-modiálise Clínica, Con-quistas, Desafios eEstratégias”, apresentouum vasto programa cien-tífico de excelência. Apósa abertura efectuada peloPCA da clínica, Dias dosSantos, o presidente daSociedade Angolana deNefrologia, Matadi Da-niel, fez o ponto de situa-ção da doença renal cró-nica em Angola. De segui-da, o chefe do serviço deHemodiálise da ClínicaMultiperfil, Simão Canga,entrevistado neste nú-mero, acompanhado pelacoordenadora de enfer-magem, Patrícia Maia,apresentou o tema He-modiálise da Clínica Mul-tiperfil: Como estamos?A nefrologista da ClínicaGirassol, Susana Costapresidiu à sessão seguin-te que incluiu um painelsobre doença renal nagravidez, coordenado pe-la médica gineco-obste-tra, Ana Maria Van-Dú-nem.Acesso vascular: desafiose estratégias para melho-rar a eficiência da terapiarenal substitutiva foi o te-ma apresentado por Ma-nuel Rocha, cirurgião vas-cular, director clínico daMultiperfil e que contoutambém com a interven-ção de Fabiana Assis, en-fermeira da hemodiálise.O programa da tarde foicompletado com estu-dos de casos, controlo deinfecção hospitalar e he-modiálise, a evolução nu-tricional de pacientes su-plementados em hemo-diálise no centro deterapia dialítica e imple-mentação da sistematiza-ção da assistência de en-fermagem no centro deterapia dialítica da ClínicaMultiperfil, entre outros.

Programacientífico

de excelência

“O diagnóstico

deve ser precoce”

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7JSA JUL/SET 2018

nCom uma experiência demuitos anos no mercado e,em especial, no sector dasaúde, a Acail, com cerca de200 colaboradores, contri-bui diariamente para a me-lhoria de qualidade doscuidados de saúde e de vi-da dos doentes, através deinvestimentos na produçãonacional na área da saúde,nomeadamente nos gasesmedicinais hospitalares ena área da hemodiálise.A Acail estabeleceu umaparceira para a hemodiáli-se com a B.Braun – um dosprincipais fornecedoresmundiais na área da saúde– trabalhando continua-mente para melhorar pro-cessos que possibilitemdiálises cada vez mais efe-tivas.Em decorrência dos con-tactos estreitos e intercâm-bio activo com médicos,enfermeiros e pacientesque necessitam destes tra-tamentos numa base regu-lar, é-lhes possível otimizare coordenar equipamen-tos, terapias e serviços,adaptando-os às necessi-dades dos doentes em diá-lise e aférese. O seu bem-estar orienta a forma comoa empresa pensa e age.Com o objetivo de forne-cer aos pacientes os cuida-dos mais seguros e do maisalto padrão, a Acail /B.Braun disponibiliza:• Serviços de consulto-ria;• Projeta e constrói: cen-tros de hemodiálise chavena mão; • Fornece todo o equipa-mento de diálise e trata-mento de água; • Formação de recursoshumanos, através de cur-sos de treino teórico / prá-ticos em terapias renais;•Modernos sistemas detratamento – Tratamentoscompletos (consumíveisdialíticos, medicação, aná-lises clínicas e apoio nutri-cional);•Assistência técnica per-manente.

Orientado para o bem-estar dos doentes

Acail / B.Braun na liderança da hemodiálise

Para alcançar a maiorqualidade possível nos cui-dados renais e os melhoresresultados para os doentes,os responsáveis da empre-sa acreditam que é absolu-tamente essencial umaabordagem integrada e ho-lística que englobe todo oprocesso de cuidado. Essaabordagem permite aostécnicos da Acail monitori-

zar, analisar e aperfeiçoarcontinuamente cada aspe-to necessário para o suces-so do tratamento em todasas suas vertentes. O conhe-cimento adquirido possibi-lita ao seu pessoal saber co-mo podem trabalhar commaior eficácia, em conjun-to com diferentes parceirosde saúde, para melhorar oscuidados renais. Em har-

monia com os seus princí-pios fundamentais, os res-ponsáveis da Acail garan-tem que se orientam estri-tamente pelos maiselevados padrões actuais eapoiam a partilha de co-nhecimento contínuo, coo-perando com sistemas desaúde e comunidades mé-dicas em países de todo omundo.

“Podemos comprar otempo de um homem,material, instalações,porém não se podecomprar o desejo dese fazer uma coisabem feita. Temos queconquistá-lo.”

Pierre Wel

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8 NEFROLOGIA JUL/SET 2018 JSA

Quais são os sintomas dadoença renal crónica?

EXPLICADOR

O que é a doença renal crónica?Em cada rim existe cerca de um milhão de pequenas unidades chamadas nefrónios. Os nefrónios sãoas partes do rim responsáveis pela filtração do sangue. Cada nefrónio é composto por um pequeno fil-tro chamado glomérulo. Quando o sangue passa pelo nefrónio, este elimina a água e os resíduos tóxi-

cos acumulados. A maior parte da água regressa ao sangue, mas os resíduos tóxicos são enviados pa-ra a bexiga e, posteriormente, expelidos sob a forma de urina. A maioria das doenças renais afeta os ne-

frónios.Por vezes, a insuficiência renal pode acontecer de forma rápida como, por exemplo, devido a uma per-da súbita de uma grande quantidade de sangue ou devido a um acidente. Uma diminuição súbita dafunção renal designa-se por insuficiência renal aguda e, geralmente, é de curta duração, mas, por ve-

zes, pode causar lesões renais permanentes.Mais frequente, é a função renal ir piorando ao longo dos anos. Se a doença renal é detetada precoce-

mente, a medicação e as mudanças na alimentação e no estilo de vida podem prolongar a vida dosseus rins e permitir que continue a sentir-se bem por mais tempo.

Por vezes, a doença renal conduz a uma insuficiência renal avançada, a qual exige o tratamento atravésda diálise ou a realização de um transplante renal para garantir a sua sobrevivência.

A doença renal é uma “doença silenciosa”, pois éfrequente não existirem sinais de alerta. Há pes-soas que só começam a ter sintomas quandoperdem cerca de 90% da função renal. Os pri-meiros sintomas podem ser de ordem geral e in-cluem:

•Tensão arterial elevada•Alterações no volume e no número de vezes que se urina, por exemplo à noite•Alterações no aspeto da urina• Sangue na urina• Inchaço, por exemplo nas pernas e tornozelos• Dor na região lombar (dos rins)• Cansaço• Falta de apetite•Alterações no sono• Dor de cabeça• Dificuldades de concentração• Comichão• Falta de ar• Náuseas e vómitos• Mau hálito e sabor metálico na boca

Tem um maior risco de desenvol-ver doença renal crónica se:•Tiver tensão arterial elevada•Tiver diabetes•Tiver problemas cardíacos (insufi-ciência cardíaca ou passado de ata-que cardíaco) e/ou se já tiver tidouma trombose cerebral•Tiver história familiar de insufi-ciência renal•Tiver obesidade (índice de massacorporal ≥30)• For fumador•Tiver 60 anos ou mais•Tiver tido um episódio de doençarenal aguda

O que significam os resultados das análises aos rins?

As seguintes análises são correntemente efetuadas

para avaliar a função renal.

A Taxa de Filtração Glomerular (TFG)é a melhor me-dida da função renal e permite identificar qual o estádio dadoença renal. Este valor reflete a forma como os rins purifi-cam o sangue. Geralmente, a TFG é estimada (TFGe) a partirdo resultado da creatinina no sangue. A TFGe é expressadaem mililitros por minuto por 1,73m2 de área de superfíciecorporal (ml/min/1,73m2). A TFGe também pode ser utiliza-da para determinar a percentagem de função renal restante. Éuma estimativa do nível a que os dois rins se encontram a fun-cionar. Por exemplo, uma TFGe de 100 ml/min/1,73m2 estána faixa normal e, por isso, costuma-se dizer que 100ml/min/1,73m2 corresponde aproximadamente a “100% defunção renal”. Por outro lado, uma TFGe de 50ml/min/1,73m2 corresponde aproximadamente a “50% defunção renal” e uma TFGe de 30 ml/min/1,73m2 correspon-de aproximadamente a “30% de função renal”.A Albuminúriapode significar que existe uma lesão renalque faz com que a albumina, que é um tipo de proteína quecircula no sangue, passa para a urina. Uma quantidade peque-na ou “micro” de albumina na urina é designada por microal-buminúria. Uma quantidade maior ou “macro” designa-se pormacroalbuminúria. A albuminúria é frequentemente um sinalprecoce de uma doença renal, mas também pode surgir poroutros motivos. A albuminúria pode ser detetada por umaanálise especial da urina chamada rácio albumina/creatinina(RAC). Esta análise é realizada através de uma única colheitade urina.A Hematúria ou sangue na urina acontece quando osglóbulos vermelhos do sangue passam para a urina. Esta situa-ção pode alterar a cor da urina para vermelho ou cor de co-ca-cola. Por vezes, o sangue na urina não é visível a olho nu,mas pode ser encontrado em uma análise de urina. Esta situa-ção designa-se por hematúria microscópica. O sangue na uri-na é um sintoma comum de infeções urinárias, mas tambémpode ser um dos primeiros sinais de um problema nos rinsou na bexiga.A Creatinina é um resíduo tóxico produzido pelos múscu-los. Geralmente, é eliminada do sangue pelos rins, passandopara a urina. Quando os rins não funcionam bem, a creatininaacumula-se no sangue. Uma análise ao sangue permite deter-minar a rapidez de eliminação da creatinina do sangue. A crea-tinina é uma boa medida da função renal porque não se alteracom a alimentação. No entanto, varia com a idade, o género(masculino ou feminino) e o peso e, por isso, não é uma formacompletamente fiável de avaliar a função renal global.A Ureiaé um outro resíduo tóxico produzido pelo organis-mo, à medida que este utiliza as proteínas a partir daquilo quecomemos. Quando se começa a perder a função renal, os rinsnão são capazes de eliminar toda a ureia do sangue e estatambém se acumula.O Potássioé um mineral presente em muitos alimentos. Seos rins funcionam bem, conseguem remover o potássio emexcesso do sangue. Se os rins tiverem algum tipo de lesão, onível de potássio pode subir e afetar o funcionamento do co-ração. Um nível elevado ou baixo de potássio pode causar ba-timentos cardíacos irregulares (arritmia cardíaca).

Se existem suspeitas de doença renal, omédico poderá pedir alguns examespara avaliar a função renal e começar aplanear o tratamento. Estes exames in-cluem:

•Pesquisa de albumina (um tipo deproteína) e/ou de sangue na urina.

•Análises ao sangue para medir o ní-vel de certas toxinas no sangue e calcu-lar a taxa de filtração glomerular (vermais informação na secção seguinte).

•Medição da tensão arterial, umavez que a doença renal causa hiperten-são arterial, a qual pode danificar os pe-quenos vasos sanguíneos dos rins. Atensão arterial elevada também podecausar doença renal.

• Ecografia ou Tomografia AxialComputorizada (TAC) para obter ima-gens dos rins e do sistema urinário. Es-tes exames mostram o tamanho dosrins, identificam a presença de pedrasnos rins ou tumores e permitem deter-minar eventuais problemas na estrutu-ra dos rins e do sistema urinário.

Poderá ser necessária uma consultacom um especialista, um médico nefro-logista, para gerir o tratamento e deci-dir se é necessária uma biopsia renal.Na biopsia renal é retirado um poucodo tecido renal, o qual é observado nomicroscópio para determinar qual o ti-po de doença renal e verificar a exten-são das lesões nos rins.

Como se faz o diagnósticoda doença renal?

Quem tem umrisco acrescidode desenvolverdoença renalcrónica?

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9SAúde dA MulherJSA Jul/Set 2018

Prof. Doutor Carlos alberto Pinto De sousa

Professor titular na faculdade de Medicina da uan

bastonário da ordem dos Médicos de angola

A infertilidadeno continenteafricano e em Angola

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10 SAúde dA Mulher Jul/Set 2018 JSA

1. IntroduçãoO tema da infertilidade emÁfrica tem sido abordadoabundantemente. Em Áfri-ca, pensa-se seriamenteneste problema, como o de-monstra a realização de di-versos encontros para dis-cussão, quer em eventos emalguns países, quer em ini-ciativas de grande alcance,agrupando países para abor-dar esta matéria. Refira-se,como exemplo de grandeenvergadura, a realização decongressos em Douala (Ca-

marões) em 2010, em Coto-nou (Benin) em 2011, e emDakar, no Senegal, por dili-gência do Grupo AfricanoInter Estudo, Pesquisa eAplicação em Fertilidade(GIERAF).Deve afirmar-se com cla-

reza que, não obstante a vi-ragem de século, a globaliza-ção tecnológica e cultural1,permanecem vivas algumasidiossincrasias sociais e cul-turais.É o que se passa com as

mulheres em muitas partes

de África que são socialmen-te sujeitas a ultraje dramáti-co, uma ostracização e mes-mo uma auto-culpabiliza-ção pelo facto de nãopoderem procriar – um dossupremos bens que os deu-ses lhes conferem. Daqui re-sultam problemas psicológi-cos e sociais graves com in-cidência ética por severificar o incumprimentodos direitos humanos. Não diferem muito as

causas de infertilidade e deesterilidade entre o Sul e

Norte. De toda a maneira, noCongresso de Dakar ficouregistado que a prevalênciada infertilidade é mais eleva-da em África do que nos paí-ses do Norte, sendo as infec-ções responsáveis por estasituações em cerca de 80%de casos. É mister reter o quesobre a infecção como causade infertilidade foi divulga-do2:«Le congrès de Dakar

s’est plus spécifiquementpenché sur l’infection qui re-présente la première cause

d’infertilité en Afrique et unemenace à certaines procé-dures de traitement de l’in-fertilité. A côté de ce thèmeprincipal, le congrès s'estaussi penché sur l’apportdes nouvelles technologiesdans la prise en charge del’infertilité. Ce sous-thème apermis aux spécialistes afri-cains de mettre à jour leursconnaissances et de s’ap-proprier ces nouvelles tech-nologies en les adaptant à lapratique en milieu africain.»

É referido ainda que :«Le taux d’infertilité en Afri-que subsaharienne seraitmême un des plus élevés aumonde. 15 à 30% des cou-ples seraient touchés par ceproblème contre 5 à 10% descouples des pays dévelop-pés. Expliquant les causesde l’infertilité, le Pr. Cissénote qu’en Afrique 80 à 90 %des cas sont dus à des sé-quelles d’infections, que ce-la soit chez l’homme ou lafemme. Il s’agit des infec-tions contractées dans lejeune âge et qui n’ont pasété diagnostiquées ou quin’ont pas été traitées correc-tement.»As mulheres no mundo

em desenvolvimento, parti-cularmente na África, detêmas altas taxas de infertilidadesecundária. No designado"cinturão de infertilidade"da África Subsaariana, opercentual de casais com in-fertilidade secundária exce-de 30% em alguns países.Em África a maioria dasdoenças sexualmente trans-missíveis que podem causara infertilidade pode ser pre-venida ou curada, mas nãosão, porque os serviços desaúde não são adequados,acessíveis, ou a preços aces-síveis3.Como se repara, há, por

um lado, causas agravantesao surgimento da infertili-dade e da esterilidade, e quesão detectadas muito tardia-mente e, por outro, circuns-tâncias que relevam da difi-culdade de intervir no âmbi-to da PMA4.Decerto que a saúde das

mulheres (e das crianças edos nascituros) está naagenda das políticas de saú-de quer da OMS quer dospaíses africanos. É oportunorecordar o valor atribuído àmulher africana nos areópa-gos realizados em África, re-tendo, pela sua evidentemarca internacional, o pen-samento de Presidente daRepública da Libéria que es-

tá contido no Relatório En-frentar o Desafio da Saúdeda Mulher em África (2012): «Apelo por este meio a to-

dos os governos para que re-forcem o seu empenho eeducação, acelerando a re-dução da mortalidade ma-terna e neonatal, como umdireito fundamental à vida eao desenvolvimento. Deve-mos também lembrar-nosde envolver activamente asmulheres em todas as deci-sões relacionadas com a suasaúde e bem-estar.»

E em Angola?Parece oportuno transcre-ver algumas das ideias abor-dadas por Pedro de Almei-da5, ginecologista obstetra,especialista em medicinareprodutiva e técnicas de re-produção assistida, ao Jor-nal de Angola em que refereo seguinte:«Em Angola não existem

dados oficiais sobre a popu-lação afectada pela infertili-dade, mas tendo em contaas estimativas da Organiza-ção Mundial da Saúde(OMS) para a região africa-na, é possível que, no país,tenhamos cifras na ordemde mais de meio milhão decasais afectados de umamaneira ou de outra. Con-trariamente ao que se pen-sava, o problema de inferti-lidade atinge de modo igualmulheres e homens.»E acrescentava:«Num dos últimos estu-

dos preliminares que reali-zámos em Luanda com 424mulheres de diferentes es-tratos da sociedade, comhistória de dificuldade emengravidar, registámos que53 por cento delas apresen-tavam problemas relacio-nados com afectação dastrompas. Isso leva-nos a re-flectir que, provavelmente,as infecções de transmissãosexual não tratadas ou in-correctamente tratadas po-dem estar na base das le-sões apresentadas poraquelas mulheres, nastrompas, que constituemórgãos de suma importân-cia para a reprodução hu-mana natural. As mulheressem afectação tubária, pro-vavelmente não engravida-ram por problemas hormo-nais ou ligados ao aparelhoreprodutor dos seus com-panheiros, nomeadamentea deficiente produção de es-permatozoides (oligosper-mia) ou a ausência total deespermatozoides (azoos-permia).»

«Em Angola não existem dados oficiais sobre a população afectadapela infertilidade, mas tendo em conta as estimativas da OMS, é possível que, no país, tenhamos cifras na ordem de mais de meio milhão de casais afectados de uma maneira ou de outra”

“Contrariamente ao que se pensava, o problema de infertilidade atinge de modo igual mulheres e homens”

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11SAúde dA MulherJSA NJul/Set 2018

2. A procriação medicamente assistida2.1 Conceito e finalidadeA Procriação Medicamente Assis-tida (PMA) é uma intervenção mé-dica para apoio à reprodução hu-mana através de técnicas de natu-reza clínica, realizada em centrosespecializados, e cuja finalidade éaumentar a autonomia e opçõesparentais relativas à possibilidadede descendência desejada. A PMAamplia grandemente os limites dafecundidade masculina e femini-na. Para tanto, os médicos especia-lizados utilizam diversas técnicas,consoante a natureza e especifici-dade das situações.

2.2 Técnicas usadas em PMA –enunciado geralA procriação medicamente assisti-da (PMA) surge então para contor-nar este problema. É longa a listade autores de diversas latitudesque se debruçam sobre as técnicasou métodos6. Dado que esta matéria deve ser

abordada pelos peritos, apenasapresentamos o ensinamento queconsta do Questões ético-jurídicasno âmbito da Lei da ProcriaçãoMedicamente Assistida (PortugalLei 32/2006, de 26 de Julho.), deFalcão e Trigo (2013):

De modo sucinto, a insemina-ção artificial designada tambémpor inseminação intrauterina, é adeposição mecânica do sémen noaparelho genital da mulher. Estatécnica não se faz por meio de rela-ções sexuais entre o casal. No casode o homem sofrer de infertilida-de/esterilidade o sémen utilizadoserá de dador.A fertilização in vitro, consiste

na colocação, em ambiente labora-torial, de um número significativode espermatozoides ao redor decada ovócito, procurando obterpré-embriões de boa qualidade,que serão transferidos, posterior-mente, para a cavidade uterina damulher.A injecção intracitoplasmática de

espermatozoides é uma microma-nipulação em que um único esper-matozoide é injectado no interior doóvulo para possibilitar a fertilizaçãosempre que haja contagens de es-permatozoides muito baixas ou es-permatozoides pouco móveis. Pos-teriormente, o embrião é transferidopara o útero.A transferência de embriões, gâ-

metas ou zigotos é a introdução deembriões, gâmetas (espermatozoi-des) ou zigotos (óvulos fertilizados)nas Trompas de Falópio.No que toca à inseminação artifi-

cial, esta, pode ser homóloga ou he-teróloga. Na primeira, o material ge-nético pertence ao casal interessado,pressupondo que a mulher seja ca-sada ou mantenha uma união está-vel com o dador; é utilizada em si-tuações em que o casal é fértil masnão é capaz da fecundação por meiode acto sexual. Na segunda, o esper-ma é doado por um terceiro.

2.3 Riscos associados à PMAOs principais riscos que podemocorrer na PMA são os seguintes:a) Erro humano; b)Gestações múltiplas;c)Malformações congénitas;d) Complicações resultantes dotratamento (iatrogenia);e) Ineficácia dos tratamentos.

2.4 Beneficiários da PMA – nadoutrina e na legislaçãoQuem devem ser os beneficiáriosda PMA é uma questão muito con-trovertida, quer no direito quer nodomínio da ética. É exactamenteneste domínio que se colocam asprincipais dúvidas aos juristas ebioeticistas. Há posições mais tradicionalis-

tas vertidas em legislações de di-versos países. Neste caso estão al-guns países que conferem um di-reito mais limitado, o que pode

gerar conflitos legais e éticos. É oque se passa com a legislação por-tuguesa7que refere que só os côn-juges (que não se encontrem sepa-rados) bem como os casais hete-rossexuais que vivam emcondições análogas às dos cônju-ges há mais de dois anos, sejampotenciais beneficiários das técni-cas de PMA. Também refere que aidade mínima é de 18 anos, nãoexistindo, por outro lado, interdi-ção ou inabilidade por anomaliapsíquica8. A legislação espanholamanifesta uma maior abertura, aoconferir às mulheres a possibilida-de de serem beneficiárias da PMAse forem maiores de idade e te-nham plena capacidade de exercí-cio. A legislação francesa, à seme-lhança da portuguesa, exige que osbeneficiários sejam um casal hete-rossexual9,10 . Quanto aos casais homosse-

xuais, os pontos de vista são diver-sos. Vale a pena recordar o que es-

creve Kaczor11:«Dada a importância de ter fi-

lhos para os indivíduos, não há ba-se sólida para negar às pessoas sol-teiras e gays e lésbicas o mesmo di-reito à reprodução que os outrostêm. Uma vez que o estado não cri-minaliza a monoparentalidade ou

«Num dos últimos estudos preliminares que realizámos em Luanda com 424 mulheres de diferentes estratos da sociedade, com história de dificuldade em engravidar, registámos que 53 por cento delas apresentavam problemas relacionadoscom afectação das trompas. Isso leva-nos a reflectir que, provavelmente, as infecções de transmissão sexual não tratadas ou incorrectamente tratadas podem estar na base das lesões apresentadas por aquelas mulheres, nas trompas…”

“A Procriação Medicamente Assistida(PMA) é uma intervenção médica para apoio à reprodução humana através de técnicas de natureza clínica, realizada em centros especializados, e cuja finalidade é aumentar a autonomia e opções parentais relativas à possibilidade de descendência desejada”

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12 SAúde dA Mulher Jul/Set 2018 JSA

proíbe constitucionalmentea reprodução assistida porhomossexuais ou os não-casados, a condenação mo-ral da homossexualidade oumonoparentalidade não épor si só uma base aceitávelpara limitar a criação dos fi-lhos ou a reprodução.» Mas enfatiza também, por

outro lado, que se deve ter ematenção os direitos dos nasci-turos, das crianças (assuntoque já atrás foi aflorado):«Não existem, no entan-

to, "direitos de reprodução."Isto representaria o direitode ter um filho, mas ascrianças – como outros se-res humanos – não são pro-priedade sobre a qual outraspessoas podem ter direitos.A ausência de tal "direito"aplica-se de igual modo anão casados e casados, apessoas hetero, gay, e lésbi-cas. As pessoas de facto têm"direito de pais", não direitoa ter filhos.»Trata-se, de facto, de uma

discussão interessante doponto de vista bioético. Poroutro lado, a Sociedade

Americana de Medicina Re-produtiva (ASRM) interro-ga-se se os casais do mesmosexo podem proporcionaros mesmos benefícios aosfilhos do que os casais deheterossexuais. Não há con-

clusões absolutas, mas nãopode considerar-se simples-mente que as crianças sedão melhor quando sãocriadas por pais casados desexo oposto. Mais refere quehá diferenças inatas, genéti-

cas, biológicas significativasentre os homens e as mu-lheres e por isso entre asmães e os pais. No entanto,adverte que em todos os ca-sos, as crianças criadas porcasais do mesmo sexo sãosempre privadas do seu pró-prio pai ou da sua própriamãe (Kaczor, 2013). Em alguns países, o inte-

resse da criança é colocadoacima de tudo, como refereMachado12, pois as legisla-ções prevêem expressa-mente que o interesse dacriança a nascer seja tidoem consideração na decisãosobre o acesso à PMA: Chi-pre, Irlanda, Holanda e Rei-no Unido, Estados Unidos;na Austrália, a lei de 1988 es-tipula que esse interesse de-ve ser considerado como damaior importância. No Rei-no Unido, o “Human Fertili-sation and Embryology Act”,de 1990, determina que sejatida em conta não só acriança que pode vir a nas-cer mas também «any otherchild who may be affectedby the birth».

1É consabido que há os defensores e os opositores à globalização. Ela traz consigo enormes vanta-gens, mas arrasta, igualmente, creio bem, uma espécie de conformidade, adaptação e fragmentaçãoque pode causar desequilíbrios e cortes sociais e culturais. 24e Congrès international du Gieraf sur la fertilité : Du bon usage de la procréation médicalementassiste. Disponível em htpp://www.leral.net/4e-Congres-international-du-Gieraf-sur-la-fertilite.3 Cf. Bosco Ebere Amakwe, in The Human Life Review, 2013.4 No entanto, a África Subsariana tem a taxa de fertilidade mais alta de todo o mundo, estimada em5,2 %.5Entrevista ao Jornal de Angola, 16 de Maio de 2011. 6É vastíssima a literatura, de que salientamos: (i) Relatório PMA, de Santos et al, membros do Con-selho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Julho, 2004 (obra já citada, desnível emwww.cnevc.gov.pt. Este Relatório é muito esclarecedor sobre esta matéria em particular, e colocaquestões éticas actuais muito importantes, dos pontos de vista da mulher, do marido ou companhei-ro, do nascituro e seus direitos, do doador…que posteriormente vieram a ser aprofundadas em váriostextos (por exemplo a contribuição importante publicada em 2009 pelo Comité de Ética da Sociedade

Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), intitulada "Acesso a tratamentos de fertilidade porgays, lésbicas, e pessoas não-casadas.” – Cf. a obra já citada “A Defense of Dignity – Creating Life, andProtecting the Rights of Conscience”); (ii) Questões ético-jurídicas no âmbito da Lei da ProcriaçãoMedicamente Assistida (Portugal Lei 32/2006, de 26 de Julho.), de Falcão e Trigo (Disponível emwww.jus.com.br/artigos/17007/questoes-etico-juridicas-no-ambito-da-lei-da-procriacao-medicamente-assistida-portugal).7Lei n.º 32/2006, de 26 de Julho.8Curiosamente, com a publicação do diploma que permite o casamento entre homossexuais, surgeum conflito entre dois diplomas.9No entanto, são relatadas várias situações de recurso às técnicas de PMA de forma clandestina (so-bre este assunto, cf. a obra Lei da Procriação Medicamente Assistida Anotada – Lei n.º 32/2006, de 26de Julho, já citada).10No Direito Comparado encontramos soluções mais abertas do que aquela que consta da lei por-tuguesa, admitindo-se o acesso a mulheres solteiras, bem como a casais de mulheres casadas ou uni-das de facto em relações do mesmo sexo em Espanha, na Holanda, na Noruega, na Suécia (desde2005), na Bélgica (desde 2007) e na Dinamarca (desde 2006), para referir apenas alguns casos. Esta

realidade, aliás, conforme referido, tem contribuído para que muitas mulheres portuguesas, perantea impossibilidade de encontrarem uma solução conforme à lei no território nacional, se desloquema estabelecimentos de saúde no pais vizinho ou em países terceiros, em busca da realização de umdireito à sua realização individual no campo da maternidade.11 Kaczor; cf. obra já citada (nota 3).12Relatório sobre o Projecto de Proposta de Lei Relativa à Procriação Medicamente Assistida, 1997.13Há fortes opositores à ideia, plasmada nas diversas legislações, do “tratamento”, com o argumentode que a procriação heteróloga não é tratamento, afirmando que aí não se supera uma situação dedoença dum potencial genitor, substitui-se.14Los equipos biomédicos y la dirección de los centros o servicios en que trabajan incurrirán en lasresponsabilidades que legalmente correspondan si violan el secreto de la identidad de los donantes,si realizan mala práctica con las técnicas de reproducción asistida o los materiales biológicos corres-pondientes o si, por omitir la información o los estudios establecidos, se lesionan los intereses de do-nantes o usuarios o se transmiten a los descendientes enfermedades congénitas o hereditarias, evi-tables con aquella información y estudio previos.

Para além do respeito pelas normas do Código Deontológico,

os médicos e outros profissionais que estejam envolvidos na

PMA deverão estar preparados técnica e cientificamente de

modo a dar resposta aos pedidos dos casais interessados na

procriação. As diversas legislações põem o acento tónico na ob-

rigatoriedade de não instrumentalização do ser humano, afir-

mando claramente a dignidade humana.

Assim, considerando que as práticas de PMA são actos médi-

cos, as equipas médicas devem tomar em atenção:

a) O primado do ser humano enquanto sede de valores e sujei-

to de direitos (naturalmente com obrigações ou deveres);

b)Usar do seu conhecimento para actuar com certeza e segu-

rança que a leges artis confere;

c)Necessidade de intervenção mediante diagnóstico de inferti-

lidade ou ainda para tratamento de doença grave ou do risco de

transmissão de doenças graves de origem genética, infecciosa

ou outras13.

As equipas médicas deverão respeitar os seguintes aspectos, li-

mitando a sua intervenção a valores científicos e éticos, designa-

damente:

a)Utilização de técnicas com evidência científica claramente

demonstrada;

b)Acesso em condições de equidade, aos casais a quem tenha

sido efectuado o diagnóstico de infertilidade;

c) Promoção da privacidade individual, que deve ser garantido a

todas as pessoas envolvidas no processo de procriação assisti-

da.

d)Garantia da confidencialidade dos dados pessoais e de saúde

e o escrupuloso cumprimento do segredo profissional por par-

te de todos os agentes envolvidos nas técnicas de PMA;

e)Garantia de anonimato do dador de gâmetas, excepto por

razões de ordem médica devidamente fundamentadas;

f)Não comercialização e não-patenteamento de produtos bio-

lógicos humanos.

Por outro lado, nos vários países é obrigatória a regulamenta-

ção de entidades que sejam idóneas para a utilização de PMA.

Em especial, defende-se a criação de centros onde se reúnam os

meios humanos, materiais e organizativos, bem como a respon-

sabilização individualizada a um director / chefe / coordenador

que garanta o cumprimento das condições e critérios de admis-

sibilidade à prática das distintas técnicas de PMA14.

Serrão (2008) chama a atenção particular para os cuidados

que deve haver nos centros de fertilização em vários domínios,

designadamente quanto a: (i) factores que influenciam o sucesso

de uma fertilização in vitro (a idade da mulher, as causas de infer-

tilidade…); (ii) taxas de sucesso, na medida em que se podem

sobrevalorizar números que não serão de todo científicos, pois

tais centros podem seduzir a clientela com melhores indicado-

res de fertilização.

Acrescenta-se que a utilização das técnicas de PMA em esta-

belecimentos de saúde dotados das condições necessárias para

o efeito, devendo estes ser objecto de processos de certificação

e acreditação de qualidade por parte de entidades credíveis.

Refira-se ainda a possibilidade de os médicos e outros profissio-

nais de saúde envolvidos poderem usar o direito inalienável à

objecção de consciência.

Foram enumerados alguns aspectos que merecem uma profun-

da reflexão no âmbito da Bioética e do Biodireito. Fica o desafio.

2.5 O questionamento daProcriação MedicamenteAssistida: aspectos e limites clínicos

“…as mulheres em muitas partes de África são socialmente sujeitas a ultraje dramático, uma ostracização e mesmo uma auto-culpabilização pelo facto de não poderem procriar – um dos supremos bens que os deuses lhes conferem”

“Em África a maioria das doenças sexualmente transmissíveis que podem causar a infertilidade pode ser prevenidaou curada, mas não são, porque os serviços de saúde não são adequados, acessíveis, ou a preços acessíveis”

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13PRODUTOSJSA Jul/Set 2018

CEVITE: vitamina C com múltiplos benefícios para a saúde

n Vitaminas são uma classede nutrientes essenciais pa-ra variados processos bio-químicos e fisiológicos donosso organismo.1

Cevite contém Vitamina C(ou ácido ascórbico) que éuma vitamina hidrossolúvele também um nutriente es-sencial para uma variedadede funções biológicas.2 Aocontrário de outros animais oser humano não conseguesintetizar vitamina C e por es-se motivo a necessidade dasua ingestão através da ali-mentação ou de suplementosalimentares.1A vitamina C funciona co-

mo um mediador em muitosprocessos metabólicos e é umpotente antioxidante. Tam-bém funciona com estabiliza-dor da vitamina E e ácido fóli-co e facilita a absorção de fer-ro. Neutraliza radicais livres etoxinas e também reduz a res-posta inflamatória.3,4

A carência em vitamina Cno organismo está normal-

mente associada a um consu-mo diminuído ao nível ali-mentar ou a um aumento dasua utilização ou perda. A vi-tamina C apresenta uma sériede benefícios e desempenhaum papel crucial na preven-ção e tratamento de muitasdas situações abaixo descri-tas:

•Deficiência imunológica:Foram encontradas evidên-cias de que a suplementaçãocom vitamina C estimula osistema imunitário em situa-ções tais como a atividade an-timicrobiana.5

•Escorbuto:Carência em vi-tamina C está associado à an-tiga doença de sangramento

das gengivas (Escorbuto) e oseu consumo em quantida-des adequadas previne o apa-recimento da doença.6

•Cicatrização de feridas: Avitamina C está envolvida noprocesso de cicatrização e naformação de colagénio.7

•Saúde da pele:A ação anti-oxidante da vitamina C é um

excelente aliado contra enve-lhecimento da pele.8

• Protetor cardíaco: Suple-mentos com vitamina C po-dem contribuir para uma re-dução significativa da con-centração sérica de colesterolLDL e triglicerídeos. Paraalém disso também prote-gem as células endoteliais dostress oxidativo.9

• Prevenção da anemia: Éamplamente conhecido queo ácido ascórbico facilita a ab-sorção do ferro de origem ali-mentar ao nível do intestino.10

Tendo em conta o seu ele-vado potencial para contra-riar a inflamação e o subse-quente dano oxidativo, a vita-mina C desempenha umpapel importante como po-tencial ferramenta para a pre-venção precoce do apareci-mento e evolução de muitasdoenças crónicas e agudas.

Referências:1- Iqbal K, Khan A, Khattak MMAK. AsianNetwork for Scientific Information 2004 5

Biological Significance of Ascorbic Acid

(Vitamin C) in Human Health – A Review.

Pakistan Journal of Nutrition 2004:3(1):5-

13.

2- Grosso G, Bei R, Mistretta A, et al. Effectsof Vitamin C on health: a review of eviden-

ce. Front Biosci. 2013 Jun 1;18:1017-29.

3- Wallingo KM. Role of Vitamin C (Ascor-bic acid) on human health – A review. Afr J

Food Agri Nutri Develop. 2005;5(1):1-13.

4- Muhammad Abdullah; Fibi N. Attia. Vi-tamin, C (Ascorbic Acid). StatPearls [Inter-

net]. Treasure Island (FL): StatPearls Pu-

blishing; 2018 May 21.

5- Wintergerst ES, Maggini S, Hornig DH.Immune-enhancing role of vitamin C and

zinc and effect on clinical conditions. Ann

Nutr Metab. 2006;50(2):85-94. Epub 2005

Dec 21.

6- Chambial S, Dwivedi S, Shukla K, et al.Vitamin C in Disease Prevention and Cure:

An Overview. Indian J Clin Biochem. 2013

Oct; 28(4): 314–328.

7- Moores J. Vitamin C: a wound healingperspective. Br J Community Nurs. 2013

Dec;Suppl:S6, S8-11.

8 - Pullar JM, Carr AC, Vissers MCM. TheRoles of Vitamin C in Skin Health. Nu-

trients. 2017 Aug; 9(8): 866.

9 - McRae MP. Vitamin C supplementationlowers serum low-density lipoprotein cho-

lesterol and triglycerides: a meta-analysis

of 13 randomized controlled trials. J Chi-

ropr Med. 2008 Jun;7(2):48-58.

10- Lane DJ, Richardson DR. The active ro-le of vitamin C in mammalian iron meta-

bolism: much more than just enhanced

iron absorption! Free Radic Biol Med. 2014

Oct;75:69-83.

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nA garantia foi dada ao JS pe-lo responsável da Roche paraÁfrica Subsaariana, Orientale dos Países de Língua OficialPortuguesa, João Paulo Ma-galhães, à margem da confe-rência sobre a Hepatite B quedecorreu no final de Maio, nacapital, sob o lema "Uma no-va luz sobre uma velha doen-ça".

Disse ainda que todos pa-cientes que forem detectadoscom Hepatite B farão o trata-mento durante um ano, apreços subsidiados. Os indi-víduos sem a doença recebe-rão uma vacina de oferta.

A Roche dispõe da soluçãoinjectável Pegasys indicadano tratamento da hepatite Bcrónica (HBC), positiva ounegativa para o antigénio doenvelope da hepatite B (AgH-Be), em doentes adultos comdoença hepática compensa-da e evidência de replicaçãoviral.

Para além desta iniciativa,João Paulo Magalhães reve-lou também que a Roche pre-tende reatar o acordo assina-do em Dezembro de 2016,com o Instituto Angolano doCâncer (IAC), que será apoia-do financeiramente de formaa permitir descontos nos me-dicamentos para o tratamen-to do cancro da mama, insta-lação dos equipamentos paradiagnóstico das doenças can-cerígenas e formação dos téc-nicos do instituto.

Referiu que o cancro damama, do útero, hepatite B, eanemia renal são as áreas te-rapêuticas de maior envolvi-mento da Roche em Angola.

A farmacêutica pretendeexpandir a empresa para ou-tras províncias em Angola,“sobretudo onde estão locali-

zadas as clínicas de hemodiá-lise, como é o caso de Ben-guela, Huambo e Cabinda”,adiantou. A estratégia passapor identificar parceiros cre-díveis.

Prevalência em Angola é de 14 por centoAngola apresenta uma preva-lência de 14 por cento de He-patite B, uma taxa considera-da das mais altas a nível daÁfrica Subsaariana, de acordocom o professor e médicogastrenterologista, Rui Mari-nho, que caracterizou a doen-ça como sendo um problemade saúde pública.

O gastrenterologista asse-gurou que a vacina é a melhorforma de prevenção em be-bés e mulheres em idade fér-til.

"Existe a possibilidade detransmissão de mãe para fi-lho, no momento do nasci-mento, uma forma de contá-gio grave, dada à tendência dese tornar crónica, muito co-mum em zonas híper endé-micas em países em desen-volvimento, onde a maiorparte dos infectados contrai ovírus durante a infância".

Rui Marinho que falavadurante a conferência so-bre a Hepatite B, salientouque, a nível de África, atransmissão ocorre mais naprimeira infância, acres-centando que é uma situa-ção que não podia existir,

porque existem vacinas. Antónia Constantino, mé-

dica gastrenterologista, afir-mou que Angola adquiriu avacina contra a Hepatite B 16anos mais tarde, em relação aoutros países africanos, o queagravou a situação.

Antónia Constantino, sa-lientou que sendo a HepatiteB uma doença transmitidapelo vírus VHB, que afecta ofígado, pode causar infecçãoaguda ou crónica. Na fase ini-cial, as pessoas não sabemque são portadoras do vírus,porque a mesma não mani-festa sintomas.

Para mudança do quadro,Antónia Constantino disseque é necessário trabalharmais na prevenção junto dacomunidade, fornecer maisinformação sobre sexualida-de e da saúde reprodutiva damulher.

Por sua vez, a médica gas-trenterologia, Giza Carlos ga-rantiu que as mães portado-ras do vírus da hepatite B po-dem amamentar sem riscosde transmissão da doençaaos filhos, até aos seis mesesde vida. Segundo a especialis-ta, muitas mães têm receio deamamentar devido a trans-missão do vírus, e por falta deinformação sobre os cuida-dos da doença. De acordocom a fonte, a amamentaçãodeve ser feita mesmo que obebé ainda não tenha recebi-do a vacina da hepatite B.Apesar do vírus ser encontra-do no leite materno da mu-lher infectada, a quantidadenão é suficiente para causar ainfecção na criança.

Giza Carlos afirmou queapesar de ser uma patologiaassintomática, os adultos ecrianças com idade superiora 5 anos são mais propensos ater sintomas.

Realçou que os sintomasda hepatite B aguda podemincluir febre, fadiga, náuseas,perda de apetite, vómitos, do-res abdominais e nas articu-lações, dentre outros sinto-mas.

Considerou ser importan-te que a informação sobre aprevenção da doença e trata-mento sejam comunicadascom frequência de maneiratransversal, por todos os ór-gãos institucionais e não só,por se tratar no momento deuma questão de saúde públi-ca.

Finalmente, advertiu quea Hepatite B é uma doençaque não afecta apenas o sec-tor da saúde, mas tem impac-to em todo o sector socioeco-nómico do país.

14 CONFERÊNCIAS Jul/Set 2018 JSA

Roche financia rastreio da Hepatite BFrancisco cosme dos santos

comrui moreira de sá

A farmacêutica Roche pers-

pectiva o lançamento de um

projecto para o rastreio da

Hepatite B junto a trabalha-

dores de empresas, e popula-

ção em geral, nas zonas urba-

nas e não urbanas. Para o efei-

to, irá financiar as campanhas

e baixar o preço dos medica-

mentos para as instituições

aderentes.

gonçalo Marques A Roche está comprometida com a melhoria da qualidade da saúde em An-

gola e vai expandir as suas actividades

João Paulo Magalhães Centramos a nossa ac-

tividade numa perspectiva multissectorial, desde

a sensibilização da população, o diagnóstico pre-

coce, a formação dos profissionais de saúde, o

apoio às instituições públicas e privadas do sec-

tor, ao acesso às terapêuticas inovadoras Roche

e respectivos tratamentos

Para além das generalidades sobre a patologia e a sua epidemio-

logia, os palestrantes da conferência abordaram as guidelines te-

rapêuticas mais actuais, as opções terapêuticas disponíveis em

Angola e o projecto Roche para a Hepatite B no país

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15 cólerA Jul/Set 2018 JSA

Como prevenir a cólera1) Usar sempre a latrina ou casa de banho pa-ra necessidades maiores e menores. Se nãotem a latrina, enterrar sempre as fezes.

2)Lavar sempre bem as mãos com água lim-pa e sabão ou cinza antes de tratar a comida.

3)Lavar muito bem os alimentos antes de oscomer, e depois de ter utilizado a casa de ba-nho ou ter trocado a fralda do bebé.

4)Beber sempre água tratada de uma das se-guintes maneiras:• Ferve a água durante 10-15 minutos. Dei-xa a água arrefecer com a panela tapada.• Coloca duas tampinhas de cerveja ou ga-sosa cheias de lixívia num bidon de 20 ou25 litros de água. Tapa o bidon e espera 30minutos antes de beber.• Coloca un comprimido de purificação deágua no bidon com 20 ou 25 litros de água.Tapa o bidon e espera 30 minutos antes debeber.

5) Cortar as unhas para que o bichinho quecausa a cólera não se esconda debaixo delas;

6)Tomar banho com água limpa e sabão, sepossível.

Lembra-te, se a água que usas em casa vemde um poço, ou lago, não se deve fazer xixi oucocó perto do poço ou lago. O poço deve sermuito bem tapado quando não estiver a serusado. Os baldes usados para tirar água de-vem estar limpos – evita poisá-lo no chão an-tes de o meteres dentro do poço. Se houverágua parada à volta do poço, podes tapá-la

com terra, para evitar doenças. Toda a águaque a tua família usa para beber e cozinhardeve ser guardada num balde ou outro reci-piente limpo e deve ser tapada.Não brinques em lugares com lixo ou queoutras pessoas usam para fazer xixi ou cocó,nem tomes banho em valas de drenagem ououtro tipo de água suja. Toma banho comágua limpa e sabão, se possível. Lembra-te delavar bem todas as partes do corpo.Fala com a tua família sobre isto.

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16 congreSSo JUL/SET 2018 JSA

Médicos empenhados na criação de um ambiente favorável para a saúde

nOs resultados do evento –que contou com o patrocíniodo Ministério da Saúde – su-peraram as expectativas maisoptimistas. Os 45 cursos pré-congresso – cuja afluência ba-teu todos os recordes, comcerca de 1.600 participantes –incidiram sobre temas damaior relevância, entre osquais, a actualização em me-dicina intensiva, biossegu-rança, vigilância epidemioló-gica, sistemas de informaçãoem saúde, gestão hospitalar,AVC e edema na criança. Assessões do congresso incluí-ram 24 conferências, 15 pai-néis e mesas redondas, 18 te-mas livres e 15 pósteres. Fo-ram apresentados edebatidos inúmeros temas,desde as práticas de gestãoem saúde em Angola – e o quedeve ser melhorado –, até a te-máticas especializadas – dacirurgia plástica ao tratamen-to da diabetes – passando porassuntos como a saúde damulher e da criança, humani-zação, qualidade e segurança,a luta contra as doenças en-démicas no país, marcadorescardíacos e ensino médico.No inquérito final, cerca de

89% dos congressistas consi-deraram os temas “interes-santes” e “muito interessan-tes”. Na feira especializadaMédica Hospitalar, que de-correu em simultâneo, osparticipantes puderam co-nhecer de perto as mais re-centes novidades em tecno-logias médicas, medicamen-tos e serviços exibidos por 30expositores.

Ministra da Saúde apresenta três ideias chaveA ministra da Saúde, SílviaLutucuta, que presidiu à ses-são de abertura, estruturou asua comunicação em trêsideias chave. A primeira con-sistiu na necessidade deconstruir um verdadeiro con-trato social, um compromisso

social que envolva os profis-sionais, os agentes económi-cos, as instituições de ensinoe de investigação em saúde.De acordo com a respon-

sável, “estes actores têm umpapel importante para a go-vernação da saúde pela acu-mulação de conhecimentosrelacionados com a prestaçãode cuidados”, a que chamou“autonomia com responsabi-lização”, que se “exercita, de-senvolve e se refere não ape-nas às grandes questões so-ciais, mas também àspequenas actividades execu-tivas do dia-a-dia”.

A segunda ideia chave foireferente à governação dasaúde que “deve estar centra-da em políticas públicas eadaptativas, através de solu-ções de gestão suficientemen-te sofisticadas, tendo em con-sideração o mundo global emque nos encontramos, empermanente mudança, paranão dizer em ebulição, pre-tendendo-se ajudar as pes-soas e as comunidades envol-vendo-as no processo, cola-borando mais nos desafios dauniversalidade, acessibilida-de e da sustentabilidade doSistema Nacional de Saúde”.A terceira noção foi respei-

tante a um dos factores do su-cesso do Serviço Nacional deSaúde que consiste na quali-ficação e desenvolvimentotécnico-científico dos seusprofissionais, designadamen-te os médicos, pelo que, infor-mou, o Executivo está a pre-parar um conjunto de medi-das que estimulam o

percurso de diferenciaçãoprofissional nas diferentesáreas de especialização, mar-cadas por etapas exigentes,com avaliação interpares e re-conhecimento institucional. Finalmente, lembrou que

o grande desafio é continuara centrar na promoção dasaúde e na prevenção dadoença, mais concretamenteno desenvolvimento da me-dicina geral e familiar, da saú-de pública, da medicina dotrabalho, da investigação embiomedicina, do ensino nasfaculdades de medicina enoutras escolas e institutos. “Asaúde não é uma despesa. Éum investimento”, advogou.

Garantir o pleno funcionamento dos hospitais e centros de saúdeA vice-governadora da pro-víncia de Luanda para o sec-tor político e social, Ana PaulaCorrêa Victor, na sessão deabertura, garantiu que a pro-víncia está atenta e a trabalharpara reverter o quadro de so-frimento da população. Lem-brou que Luanda tem hojeaproximadamente sete mi-lhões de habitantes, 560 mé-dicos e 165 unidades sanitá-rias, números aquém das ne-cessidades. Pediu aosmédicos para não esmorece-rem e parafraseou o Presi-dente da República, JoãoLourenço, apelando para setrabalhar no sentido de ga-rantir o pleno funcionamentodos hospitais e centros desaúde, com o objectivo, entreoutros, de reduzir as taxas demortalidade materna e infan-til e reforçar o programa deeducação para a saúde.

Humanismo no atendimento aos doentesO bastonário da Ordem dosMédicos de Angola, Carlos Al-berto Pinto de Sousa, na ses-

são de abertura, recordou odia do médico, realçou o em-penho, a magnitude e o seuhumanismo no atendimentodos doentes, formulando vo-tos de que seja sempre prosse-guida com nobreza de carác-ter e grande entrega a esta pro-fissão. Sublinhou que aactualização do saber é impe-rativa. E defendeu que “a legi-timação da profissão vai paraalém do respeitoso cumpri-mento do juramento que fize-mos e depende muito mais daforma como defendemos osvalores da pessoa humana nasua plenitude, como utiliza-mos o conhecimento e as pla-

taformas tecnológicas, comoencaramos o compromissosocial centrado nas pessoas,nas comunidades”.Finalmente, perante uma

plateia atenta, declarou acre-ditar serem os médicos, co-mo agentes privilegiados daprática da medicina, capazesde contribuir para o desen-volvimento humano, social eeconómico do País.

As principais conclusõesEntre as principais conclu-sões do XII Congresso, des-taca-se o apelo no sentido deaumentar progressivamenteos recursos afectos ao sector

XII Congresso da ORMED reúne 1500 profissionais e convidados

Os 45 cursos pré-congresso registaram o dobrode participantes face à edição anterior

Cerca de mil e qui-

nhentos participantes

lotaram por comple-

to as instalações do

Centro de Conven-

ções de Talatona, a 25

e 26 de Janeiro, para

debaterem, desde te-

mas clínicos e de saú-

de pública, à organiza-

ção e gestão dos servi-

ços de saúde, numa

autêntica convivência

de diversos saberes,

interacção de gera-

ções e exercício da

autocrítica, com o

objectivo de reuni-

rem consensos e

cumprirem o lema

que a Ordem dos Mé-

dicos de Angola pro-

pôs, com clarividên-

cia, para o XII Con-

gresso: a criação de

um ambiente favorá-

vel para a saúde.

“A nova dinâmica político-administrativa do país exige um aprofundamento do debate sobre o financiamento e a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde”

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da saúde até, pelo menos,15% do orçamento nacionale o aprofundamento do de-bate sobre o financiamentoe a sustentabilidade do Ser-viço Nacional de Saúde, porforma a adequar o modelo ànova dinâmica político-ad-ministrativa do país, em par-ticular a necessidade de sereformular a lei de bases doSistema Nacional de Saúde.O documento final tam-

bém recomendou aos gesto-res das unidades sanitárias aaplicação das medidas degestão de recursos humanosprevistas nos estatutos e re-gulamentos, a monitoriza-

ção da sua implementação,a melhoria da gestão finan-ceira, a promoção da trocade informações de rotina en-tre as unidades de saúde dosdiferentes níveis de presta-ção de cuidados e a extensãodos gabinetes do utente. Foiigualmente concluído sernecessário promover a cria-ção de áreas de emergênciasmédicas nas unidades sani-tárias receptoras de casos,particularmente nas unida-des sanitárias próximas dasestradas nacionais, e subli-nhado a protecção da mu-lher, dos jovens e das crian-ças, através de intervenções

incisivas, multissectoriais einterdisciplinares. Entre asdemais conclusões, desta-cam-se ainda a recomenda-ção no sentido de garantir autilização racional e eminen-temente técnica dos medica-mentos e de consumíveis,

acções de aprofundamentoem literacia em saúde juntoàs populações, a necessida-de de investimento em pes-quisas operacionais para adefinição de políticas e refor-mulação de estratégias, a in-tegração vertical por níveisde atenção e a prestação deserviços horizontal, em rede,de forma a que o ServiçosNacional de Saúde propor-cione cuidados integrais econtínuos. Os participantes concluí-

ram ainda ser necessário re-forçar as medidas de políticae prioridades para 2018 deforma a garantir a continui-

dade e sustentabilidade naaquisição de vacinas, medi-camentos, equipamentos emeios essenciais, bem comoo funcionamento das unida-des sanitárias do primeironível de atenção e das equi-pas móveis que permitem aoferta universal, a reduçãodos custos operacionais edos desperdícios para au-mentar a eficiência dos pro-gramas, para além da pro-moção de acções de fiscali-zação e monitorização dosprogramas e das despesas,fortalecendo o sistema deinformação a todos os ní-veis, ao mesmo tempo quese melhora a qualidade dosorçamentos das acções prio-ritárias, a identificação dasvárias fontes de financia-mento disponíveis (níveiscentral, locais e parceiros) ea revisão dos critérios de alo-cação dos fundos para oscuidados primários de saú-de, promovendo a equidadee qualidade nas despesas,tendo em consideração oscritérios demográficos e oscritérios de utilização e con-trole dos fundos.

Mecanismos de formaçãoFinalmente, as conclusõesapontaram para a criação demecanismos de formação per-manente com oferta variada eflexível que enriqueça a quali-ficação dos médicos que traba-lham nas diversas unidades desaúde, dotando-os de compe-tências práticas diferenciadasde acordo com as necessida-des objectivamente identifica-das e destacaram a importân-cia da componente de gestãohospitalar e da economia dasaúde como meio de raciona-lizar os custos sem prejuízo dagarantia de acesso a todos doscuidados de saúde (com-preensividade) a todos os cida-dãos (universalidade) sembarreiras económicas (gratui-tidade no ponto de consumo).Os participantes realçaram

que o contributo do sector dasaúde na consolidação social éfundamental para prosseguiro acesso dos cidadãos a servi-ços de promoção, prevenção,tratamento e reabilitação comqualidade, de forma a respon-der às expectativas e necessi-dades das populações.

17JSA JUL/SET 2018

“A saúde não é umadespesa. É um investimento”Sílvia Lutucuta

“A actualização do saber é imperativa”Carlos Pinto de Sousa

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nO pretexto desta abordagemsimplificada é sobretudo parafazer um levantamento dosgrupos nosológicos neuroló-gicos com maior prevalência,disponíveis na literatura sobrepaíses em vias de desenvolvi-mento.

Doenças vasculares cerebraisAs doenças cerebrovascularesconstituem um grupo hetero-géneo de patologias com dé-fice neurológico provocadopor uma lesão encefálica se-cundária e perturbação na cir-culação cerebral. Incluem acidente isqué-

mico transitório e acidentevascular cerebral (AVC) e res-pectivos subtipos patológicos(isquémico, hemorragia in-tracerebral ou subaracnoí-dea) e etiológicos.O AVC mantém-se – ape-

sar de inúmeros esforços, so-bretudo para prevenção – co-mo a segunda causa de mortea nível mundial. Por ano, re-gistam-se cinco milhões demortes e 15 milhões de AVC´snão fatais, com 50 milhões desobreviventes.Segundo a American

Heart Association 1999, o sub-

tipo isquémico tem maior fre-quência, (75 a 85% dos casos),comparativamente à hemor-ragia intracerebral (15-20%) eà hemorragia subaracnoídea(6%). Os subtipos hemorrági-cos são frequentemente maisfatais. Conforme os dados publi-

cados pelo Global Barden ofDisease (GBD) constata-seque não existe nenhum paísno mundo – incluindo por-tanto os países em desenvol-vimento – onde a carga deAVC, em termos de númeroabsoluto de pessoas afetadas(morbi-mortalidade), tenhadiminuído nas últimas duasdécadas. Este indicador enfa-tiza a necessidade urgente denovas e mais eficazes estraté-gias de prevenção primária.

Cefaleia: o distúrbio neurológico mais comum no mundoDe acordo com a Internacio-nal Headache Society a cefa-leia é a sensação de descon-forto ou dor localizada na ex-tremidade cefálica, incluindotodas as algias cranianas fa-ciais ou craniofaciais. A mes-ma pode ser sintoma dedoenças neurológicas estru-turais (meningites, tumores,tromboses venosas), de sín-dromes sistémicos não neu-rológicos (tóxicos, metabóli-cos e infeciosos), ou doençasneurológicas funcionais (en-xaqueca, cefaleias em salva,cefaleia de tensão).

Dados internacionais reve-lam que a cefaleia mantém-secomo o distúrbio neurológicomais comum no mundo, va-riando de um incómodo tri-vial a uma perturbação grave,incapacitante, agudo ou cró-nico, que pode impor umónus substancial aos portado-res (repercussão nas ativida-des diárias, afetando negati-vamente a qualidade de vida)e à sociedade (efeito nos cus-tos da saúde, apartação labo-ral e redução da efectividade). Segundo a Organização

Mundial da Saúde (OMS),cerca de 1,7 a 4% da popula-ção mundial adulta tem doresde cabeça em 15 ou mais diaspor mês, com taxas de preva-

lência altas para cefaleias pri-márias (cefaleia do tipo ten-sional e enxaqueca) e maiorprevalência feminina, devidoà influência dos estrogénios eprogesterona, após a menarcae a maior propensão para asmulheres procurarem atendi-mento médico para dores decabeça.Há dados limitados sobre a

prevalência de cefaleias emÁfrica. Todavia, sabe-se que osafricanos têm um limiar maiselevado para a dor e podemnão se apresentar à clínicaapenas por causa de uma "dorde cabeça normal".Algumas razões apresen-

tadas para a baixa procura decuidados médicos para cefa-

leias, principalmente nos paí-ses em desenvolvimento, in-cluem subdiagnósticos oudiagnósticos incorrectos, de-vido à falta de conhecimentoadequado dos profissionaisde saúde; outras razões in-cluem instalações de saúdeprecárias, baixo poder econó-mico, discriminação de géne-ro / criança e indisponibilida-de de medicação efectiva.

Epilepsia: estigma, discriminação e mortalidade prematuraA epilepsia foi definida pelaInternacional League AgainstEpilepsy (ILAE), em 1993, co-mo uma condição caracteri-zada por crises recorrentes,pelo menos duas não provo-cadas, ocorrendo em um pe-ríodo superior a 24 horas. A epilepsia é um relevante

problema de saúde pública epode acarretar sérias conse-quências físicas e psicológi-cas, incluindo morte prema-tura, lesão traumática e trans-tornos mentais. Estima-se que a sua preva-

lência seja maior nos paísesem desenvolvimento. Quantoaos factores de risco, acredita-se que os infecciosos-evitáveisjogam um papel preponde-rante. Associadamente presu-me-se que cuidados perina-tais ineficazes têm um papelno aparecimento da epilepsiaem África, mas ainda estãomuito pouco estudados. Segundo o GBD, o ónus re-

sultante da epilepsia é muitoelevado. Sem tratamento, aspessoas com epilepsia en-frentam consequências so-ciais devastadoras, incluindoo estigma e discriminação(pois ainda há quem presumaser contagioso, o associe a fei-tiçaria e aos maus espíritos) emortalidade prematura. Drogas antiepiléticas efica-

zes estão disponíveis no mer-cado. Com o tratamento ade-quado, mais de 70% dos epilé-ticos apresenta respostafavorável com controlo dascrises, ou a sua remissão com-pleta, após dois a cinco anosde tratamento. Todavia, evi-dencia-se uma lacuna subs-tancial no tratamento dosdoentes nos países em desen-volvimento, devido à limita-ção de recursos humanos e fi-nanceiros para diagnóstico eterapêutica.

Os caminhos que a investi-gação apontaNas últimas décadas, a inves-tigação dedicada às doençasneurológicas conduziu a umanova realidade, principal-mente nos países desenvolvi-dos, onde se acredita que pre-valeçam duas entidades asso-ciadas à idade: as doençasneurodegenerativas (demên-cias, doença de Alzheimer) ecerebrovasculares.

Outras patologias identifica-das foram:- Doenças do movimento(tremo essencial; doença deParkinson; distonias);- Esclerose múltipla;- Neuropatias periféricas (mo-noneuropatias simples oumúltiplas; polineuropatias si-métricas e radiculopatias agu-das ou crónicas).Ainda sobre estas entida-

des nosológicas foram identi-ficados agentes etiológicos,factores de risco e mecanis-mos fisiopatológicos, possibi-litando desta forma o desen-volvimento de novas terapêu-ticas, mais específicas eeficazes. Destarte, acerca das mes-

mas a informação em paísesafricanos é limitada por inú-meros factores, salientando-se a escassez de estudos epi-demiológicos.

18 NeuroepidemiologiA Jul/Set 2018 JSA

Neuroepidemiologia: qual seráo particular de Angola?

ConclusãoNeuroepidemiologia é crucial para determinar a magnitude e o padrão

dos distúrbios neurológicos, planear e priorizar os cuidados de saúde

Os países em desenvolvimento, presentemente, estão a passar

por uma fase de transição epidemiológica com o aumento da

carga de doenças não transmissíveis. Neste cenário, é crucial

determinar, por meio da abordagem neuroepidemiológica, a

magnitude e o padrão dos distúrbios neurológicos para facili-

tar o planeamento e priorizar as necessidades de saúde nos ní-

veis local, regional e nacional do sistema de prestação de cuida-

dos de saúde, com recursos humanos necessários e desenvol-

vimento de infraestruturas para efetivação deste objetivo.

Segundo a literatura internacional, os doentes com perturba-

ções neurológicas principalmente crónicos, apresentam-se

muito tarde aos médicos e às vezes nunca o fazem, demons-

trando a necessidade de maior e contínua conscientização so-

bre problemas de saúde de modo geral e de neurologia, em

particular.

Adilson MArcolino

Médico

A neuroepidemiologia abor-

da a distribuição das doenças

neurológicas na população. O

seu reconhecimento a nível

mundial e local justifica-se pa-

ra o planeamento de estraté-

gias de intervenção e preven-

ção adequadas.

“Não existe nenhum país no mundo onde carga de AVC, em termos de número absoluto de pessoas afetadas (morbi-mortalidade), tenha diminuído nas últimas duas décadas. Este dado enfatiza a necessidade urgente de novas e mais eficazes estratégias de prevenção primária”

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19NEUROPEDIATRIAJSA Jul/Set 2018

Leite Cruzeiro

“Angola tem muitos casos de epilepsiae paralisia cerebral em crianças”

Francisco cosme dos santos

n No encerramento do 1ºSimpósio dos Principais Pro-blemas em Neuropediatria, omédico Leite Cruzeiro afir-mou que “existem muitos ca-sos de doenças de neurope-diatria em Angola, como pa-ralisias cerebrais e epilepsias,causadas por doenças infec-ciosas como as meningites,encefalites e malária cerebral”.Segundo o neuropediatra queexerce no Hospital PediátricoDavid Bernardino “são neces-sários mais quatro pediatras eclínicos gerais para tratar ospacientes”.O especialista alegou que

actualmente observam-se,nas zonas urbanas e não ur-banas do país, muitos casosde epilepsia em crianças quesão assistidas nos centros demedicina tradicional semcondições apropriadas, emvez de serem tratadas nos

hospitais. “Estes procedimen-tos têm feito com que muitosdoentes cheguem tardiamen-te aos serviços de saúde, o quedificulta o tratamento”.

Programa de excelênciaSala cheia de profissionais desaúde muito interessadosneste 1º Simpósio, promovi-do pela Sociedade Angolanade Pediatria, que decorreu nacapital, em Maio. O pales-trante principal foi Sérgio Ro-senberg, membro da direc-ção executiva da Child Neu-

rology Association (ICNA).Entre os temas debatidos,destaca-se a nova classifica-ção das epilepsias na infân-cia, as encefalopatias cróni-cas não evolutivas, autismo,síndromes epiléticas, even-tos paroxísticos não epiléti-cos, anemia falciforme, dis-túrbios do movimento, neo-plasias do SNC, maurendimento escolar e malfor-mações cerebrais. O secretariado executivo

esteve a cargo da HE Farma-cêutica.

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