8/8/2019 Eu Nasci Para Coser

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Ano Lectivo2008/09,Semestre: 2Unidade Curricular: Laboratrio de Gneros Jornalsticos

Docente: Maria Jos MataDiscente: Ana Catarina Ferreira

N 5033, Turma C

EU NASCI PARA COSERAos 79 anos, Jacinta Ferreira fala com orgulho da sua carreira de costureiraprofissional de alfaiate. Desde pequena que o talento para a costura se fez notar nestamulher que foi a nica menina da sua escola a fazer o exame da quarta classe. Ementrevista, Jacinta confessa-se realizada com o caminho que escolheu e deixa umlema: se para fazer, para fazer bem feito.

Jacinta Ferreira o retrato de uma mulher bem sucedida.

com um sorriso no rosto que recorda os tempos de criana passados na aldeia deValhascos, em Abrantes, onde nasceu.Ainda Jacinta tinha os seus sete ou oito anos e j aproveitava os tecidos que umarapariga da terra deitava fora para fazer roupinhas para as bonecas. Aprendeu acoser mquina por conta prpria, s escondidas da me, e foi, alis, por voltadessa idade, que esta a incentivou a comear a coser, mandando-a para umacostureira a quem pagava dez escudos por ms.Devido vida de ciganos, como lhe chama entre gargalhadas, levada pelos pais,acabou por vir para Lisboa com apenas 15 anos e foi na capital portuguesa queconstruiu o seu sucesso profissional. No entanto, Jacinta Ferreira no deixa delamentar no ter prosseguido os estudos alm da quarta classe, cujo exame passoucom distino no meio de rapazes, muitos deles j mais velhos, com uns dezoitoanos.A convite de uma conhecida foi parar a uma alfaiataria lisboeta que precisava de umaaprendiz de costureira: eu nem sabia que havia raparigas a trabalhar em alfaiataria,mas fui e acabei por gostar daquilo, conta, entusiasmada. Foi assim que, durante doisanos, Jacinta desenvolveu as suas competncias naturais, merecendo at elogios porparte do patro: um dia, ele disse-me que, apesar de no ser muito desembaraada,eu havia de dar uma bela costureira! Fiquei muito contente.

Por sentir que j ganhava pouco para aquilo que trabalhava, a jovem Jacinta decidiumudar de ares e concorrer a um anncio no jornal para uma alfaiataria sita na Avenidada Liberdade. Alm de lhe abrir as portas para um futuro brilhante, esta escolha valeu-

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Docente: Maria Jos MataDiscente: Ana Catarina Ferreira

N 5033, Turma C

lhe ainda um casamento feliz: fui aceite e foi a que conheci o parvo do meu maridoque alfaiate [risos], por volta de 1947, relembra, com um olhar nostlgico.

Jacinta assume, porm, que, ao incio, o

marido [ esquerda] no despertou em siqualquer simpatia e que achava que eletinha ar de mando. Apesar disso, edepois de um ano e meio de namoro,acabaram por casar e abrir o seu prprionegcio.Uma primeira experincia com a comprade uma pequena alfaiataria na Rua doPoo dos Negros no correu bem devidoa um scio mal intencionado mas,desfeita a sociedade, o casal comprouuma loja maior, a Alfaiataria Ferreira.Mantivemos o nosso espao durantequinze anos. Tivemos muitos funcionrios,muitos clientes famosos e muito trabalho,

mas foi um sucesso, enaltece Jacinta, sem deixar de reconhecer que, mesmo com oesforo que exigiram, estes foram anos muito bons. Para si, esta foi uma apostaganha e que sem dvida valeu a pena. Quando se viu forada, pela doena domarido, a fechar a loja, Jacinta confessa ter sentido muita tristeza mas no escondea felicidade que foi ter feito obras tolindas, como as classifica.Do casamento de Jacinta e Joonasceram dois filhos e, ao contrrio do

que se possa pensar, no foi a filha arevelar queda para a costura: a minhafilha no sabe coser. Curiosamente, omeu filho que sabia, gostava e tinhamuito jeito!, reala orgulhosa,relembrando que foi o filho, com apenascinco anos, que ensinou uma dasfuncionriasda alfaiataria a coser mquina, numamquina delas industriais, enormes. Noentanto, ambos vieram a optar porcaminhos diferentes dos escolhidos

pelos pais.Mesmo tendo em conta todas as dificuldades, Jacinta no hesita em declarar que aprofisso a fez sentir realizada porque nasceu para coser e admite que gostaria deter experimentado como profissional outras vertentes, entre elas a decorao.Apesar de se revelar pouco criativa, j fez um bocadinho de tudo: bordados, arteaplicada e at os cortinados da filha quando esta casou, aproveitando a grandesensibilidade para fazer coisas minuciosas.Quanto a outros hobbies, esta costureira elege a leitura como principal: gosto de lerlivros, mas apenas aqueles com os quais aprenda alguma coisa, sustenta.A finalizar, Jacinta assume no gostar de cozinhar mas defende que se para fazer, para fazer bem feito, ideia que seguiu risca ao longo de toda a vida.

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O marido e alfaiate Joo Ferreiraacompanhou Jacinta ao longo da suacaminhada pessoal e profissional.

Jacinta guarda, ainda hoje, muitosinstrumentos ligados profisso, como estepesado ferro de engomar.