eu não sei português!
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Qual é a melhor maneira de ensinar a língua portuguesa nas escolas? Unir linguística e gramática?TRANSCRIPT
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EU NÃO SEI PORTUGUÊS!
Por Isabelle Ribeiro e Patrícia Ruzene
A maioria das pessoas já
deve ter ouvido, ou até mesmo
pronunciado a frase acima. Seja
de alunos que estão cursando o
ensino fundamental, médio, ou
até mesmo dos que já estão na
faculdade, mas que ainda assim,
não acreditam dominar a Língua
Portuguesa. Mas por que será
que isso é tão freqüente em
nosso país?
O fato é que escrevemos
Português, mas falamos
“brasileiro”. São
estruturas muito
diferentes e que
devem ser
consideradas
praticamente
como duas línguas. “Porém, nem
sempre é o que acontece com o
ensino dessa disciplina nas
escolas. Muitas vezes esse ensino
é confundido exclusivamente
com o aprendizado da
gramática”, constata a professora
da rede pública Selma Penha.
Nesse caso estimular os alunos a
aprenderem sobre uma língua
que eles convivem supostamente
desde crianças torna-se uma
tarefa muito complicada.
Para os alunos a impressão
é de que existe um sistema
fechado e único com uma lógica
própria, e muitos deles criam até
mesmo um bloqueio por não
entenderem essa
lógica. O que
proporciona essa
situação é que a
gramática adotada
é a aplicação de
estruturas existentes no latim.
“Assim, muitas palavras só fazem
sentido no latim, que, por sua vez
não é mais ensinado nas escolas”,
O fato é que escrevemos Português, mas falamos “brasileiro”. São
estruturas muito diferentes e que devem ser consideradas
praticamente como duas línguas.
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afirma a professora universitária
Paula Senatore.
Para muitas pessoas, e até
mesmo para alguns professores
saber português significa saber
regras de concordância, regência,
predicado verbo-nominal e assim
por diante. Situação que dificulta
a mudança do padrão de ensino
adotado pelas escolas brasileiras,
que não conseguem transmitir
outra idéia para os alunos, estes
dizem detestar Português sem
saber que estão se referindo, na
maioria das vezes, apenas aos
aspectos metalinguísticos.
A união do ensino da
gramática normativa com a
lingüística é uma alternativa para
que os alunos percebam como a
língua se comporta na prática,
tendo contato ativo com todas as
possibilidades de uso e com todos
os gêneros textuais falados e
escritos em que ela se manifesta
concretamente, como charadas,
slogans e piadas. Com esse
objetivo, desde 2008 o governo
do Estado de São Paulo, junto ao
MEC, elabora apostilas bimestrais
para alunos e professores com
alguns diferenciais. No caso
específico da disciplina de Língua
Portuguesa, os exercícios tentam
unir o português do dia-a-dia com
a gramática normativa.
Segundo a consultora do
MEC na região, Maria Inês, essa já
tem sido uma prática adotada há
mais tempo por algumas
instituições, “a própria divisão
dos estudos de Português em
redação, literatura e gramática já
é uma forma de tornar o ensino
mais dinâmico”.
O linguista Sírio Possenti
explica que a situação do ensino
só pode melhorar com uma
grande mudança nas aulas de
Português, e propõe dois
aspectos fundamentais que
deveriam ser focados pelos
docentes: as práticas de leituras
de textos variados e o
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aprendizado da escrita correta. O
ensino da gramática deveria ser
deixado para um segundo
momento, quando os alunos já
tiverem uma formação mais
questionadora e reflexiva.
“Distinguir as sílabas tônicas de
uma palavra é para
fonoaudiólogo, o aluno precisa
aprender a ler
sofisticadamente.
Não adianta tentar
ensinar a um aluno
o que é uma oração
subordinada
substantiva objetiva direta
reduzida de infinitivo se ele não
sabe sequer escrever duas linhas
com coesão e coerência nem ler
um texto de dificuldade mínima”,
defende.
Mas, para o gramático
Francisco Moura é exatamente o
estudo da gramática o
fundamental para ser utilizado
como estratégia de leitura dos
textos, já que ela determina um
padrão. Quando este é dominado
a capacidade de compreensão,
até mesmo sob aquilo que rompe
com o que é convencional, é bem
maior. “É possível até mesmo que
textos escritos em épocas
anteriores sejam mais facilmente
compreendidos, e isso acontece
principalmente porque existe
uma base
gramatical”,
complementa.
Estamos
então diante de
duas teorias sobre
a mesma língua, porém que não
são consideradas opostas e
distintas, mas sim
complementares.
Os linguistas tentam fazer
descrições objetivas de cada um
dos processos que envolvem a
língua, sem que se remeta a
criação de regras. Para eles é
necessário o domínio da chamada
língua de cultura, ou seja, que
caracteriza a região a qual ela
“a própria divisão dos estudos de Português em
redação, literatura e gramática já é uma forma de
tornar o ensino mais dinâmico”
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pertence e que vai além do
português falado e utilizado nos
jornais. Os gramáticos se dedicam
fundamentalmente em mostrar
para a sociedade como é a língua
de um país e como ela é usada na
literatura. Seguem uma doutrina
tradicional e designam o que é
correto ou não a partir do
português culto.
De forma verbal ou escrita
é fundamental ser entendido e
através do domínio da língua
pertencer à sociedade, sendo
capaz de fazer suas próprias
escolhas como cidadãos. A união
de duas teorias sobre um
aprendizado da língua não passa
de uma tentativa de melhorar um
quadro que reflete a
desigualdade do país. E seja qual
for a vertente adotada o fato é
que a comunicação correta é
necessária e quem se beneficia
com a discussão é, acima de tudo,
o aluno.
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da linguística e gramática, em frases
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