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N EMUEL K ESSLER

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NEMUEL KESSLER

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ÉTICA

PASTORAL

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NEMUEL KESSLER

ÉTICA

PASTORAL

O comportamento

do pastor diante de Deus

e da sociedade

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Todos os Direitos Reservados. Copyright © 1989 para a língua port- guesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus.

241.641 Kessler, Nemuel, 1940- KESe Ética pastoral. Rio de Janeiro, CPAD, 1988 1. Ética pastoral. 2. Teologia pastoral - Ética. 3. Lide rança. 4. Moral e cívica. I. Título.

Casa Publicadora das Assembléias de Deus Caixa Postal 331 20001, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 15a Edição 2010

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índiceíndiceíndiceíndice apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 Porque Escrevi este Livro....................................................................................13 I. QUALIFICAÇÕES DO PASTOR 1. Vocação Divina.........................................................................................17 2. Conduta Pessoal........................................................................................19 3. Desafios Modernos....................................................................................21 4. Recursos do Pastor....................................................................................22 II. O PASTOR E SUA VIDA PARTICULAR l.AVida Espiritual.........................................................................................25 a) Santidade..................................................................................................25

• Deus é Santo.............................................................................25 • Somos templo do EspíritoSanto...............................................26 • Deus exige santidade................................................................27

b) Pecados da Língua...................................................................................29 • Conversação torpe....................................................................29 • Crítica.......................................................................................31

• Cólera/ira/ódio..........................................................................33 • Irreverência ou profanação.......................................................37 • Leviandade...............................................................................39 • Mentira.....................................................................................40

• Murmuração.............................................................................42 c) Tentações do Pastor................................................................................44 d) Perigos que Rondam a Vida do Pastor...................................................46

• Dinheiro...................................................................................46 • Egoísmo...................................................................................48

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• Falsidade..................................................................................50 • Imoralidade...............................................................................51 • •Inveja.......................................................................................52 • Orgulho…………………….………………….……………...56 • Preguiça………………………..……………………………..61

1. Outros perigos………………………….……...…..…….63 2. Alegria resultante do seu sucesso....................................63 3. Rotina natural...…………………………………...……64 4. Zelo e esforço próprio......................................................64 5. Comodismo issional…….……………………..…….….65

2. A Vida Pessoal...................................................................................................65 a. O Corpo.................................................................................................. 66

• Cuidados com o corpo..............................................................67 • Exercício físico………..……………………………….,,,,......67 • O descanso………..…………………………………………..68 • O sono ……………..…………………………………………68

b. A Alimentação.....................................................................................70 c. A Vida Emocional...............................................................................72

• I. Emoções primárias................................................................73 • II. Emoções ligadas à estimulação sensorial………..…….......75 • III. Emoções ligadas à auto-estima……….……………….….76 • IV. Emoções ligadas a outras pessoas……….………...….….76 • V. Reação às emoções………………………….…………….77

1. Ansiedade.........................................................................77 2. Estresse.............................................................................77 3. Fadiga...............................................................................80

d. Meditação.............................................................................................82 e. Velhice…………..…………………………………..………………..84

• Evitando a solidão....................................................................85 • Frutos da velhice......................................................................86 • Prevenção para a velhice..........................................................88

3. A Vida Familiar.......................................................................................89 a. O lar.................................................................................................89 b. Aesposa...……………………………………..…………………...91 c. Os filhos..................……….……………………..………………101

III. O PASTOR E SEUS ESTUDOS 1. Remindo o Tempo.........................................................................................111 2. Abiblioteca…………………………………………………………………114

IVO PASTOR E O REBANHO 1. No Púlpito.........................................................................................................118

• Apostura no púlpito...................................................................................119 • A direção do culto……………………………………………………….120

2. Como Conselheiro……………………………………………………………122 3. Com a Mocidade……………………………………………………………...123

• A mocidade no contexto da Igreja………………………………………123 • pastor no contexto da mocidade…………………………………………124

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• A mocidade no contexto pastoral.............................................................126

4. Ética Pastoral..................................................................................................128 • deveres pessoais........................................................................................129 • deveres horizontais....................................................................................133 • deveres verticais........................................................................................136

5. Clínica Pastoral .............................................................................................137 V. O PASTOR COMO ADMINISTRADOR

1. M udança de Pastorado...............................................................................147 2. Ininada de Decisões...................................................................................149 3. Administrando o Tempo..............................................................................150

VI. O PASTOR COMO LÍDER 1. O que é Liderança.........................................................................................155 2. Conceitos Bíblicos Sobre a Liderança da Igreja..........................................156 3. Estilos de Liderança.....................................................................................157 4. Diretrizes Para uma Excelente Liderança....................................................159 5. O Preço da Liderança...................................................................................161 6. As Qualificações Necessárias de um Líder..................................................164 7. Aperfeiçoando o Líder..................................................................................165

V11. CÓDIGO DE ÉTICA PASTORAL 1. Princípios Básicos.....................................................................................169 2. A ÉticadaVidadoPastor............................................................................170

2.1.Pessoal.................................................................................................170 2.2.Familiar................................................................................................171

3.AÉtica nas Relações Eclesiásticas..............................................................171 3.1. Em Relação à Denominação...............................................................171 3.2. Em Relação à Convenção...................................................................172 3.3. Em Relação à Igreja............................................................................175 3.4. Em Relação ao seu Trabalho...............................................................176 4. A Ética nas Atividades Ministeriais...........................................................177 4.1. Em Relação ao Antecessor..................................................................177 4.2. Em Relação ao Sucessor......................................................................177 4.3. Em Relação aos Colegas.....................................................................178 Bibliografia...........................................................................................................181

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ÍNDICE DAS ABREVIATURAS USADAS NESTE LIVRO

VELHO TESTAMENTO

Gn – Gênesis Ex – Êxodo Lv – Levítico Nm – Números Dt – Deuteronômio Js – Josué Jz – Juízes Rt – Rute 1 sm – 1 Samuel 2 sm – 2 Samuel 1 rs – 1 Reis 2 rs – 2 Reis 1 cr – Crônicas 2 cr – 2 crônicas Ed – Esdras Ne – Neemias Et – Ester Jó – Jó Sl – Salmos

Pv – Provérbios Ec – Eclesiastes Ct – Cantares Is – Isaías Jr – Jeremias Lm – Lamentações de Jeremias Ez – Ezequiel Dn – Daniel Os – Oseias Jl – Joel Am – Amós Ob – Obadias Jn – Jonas Mq – Miquéias Na – Naum Hc – Habacuque Ag – Ageu Zc – Zacarias Ml – Malaquias

NOVO TESTAMENTO. Mt – Mateus Mc – Marcos Lc – Lucas Jo – João At – Atos Rm – Romanos 1 Co – 1 Coríntios 2 Co – 2 Coríntios Gl – Gálatas Ef – Efésios Fp – Filipenses Cl – Colossenses 1 Ts – 1 Tessalonicenses 2 Ts – 2 Tessalonicenses

1 Tm – 1 Timóteo 2 Tm – 2Timóteo Tt – Tito Fm – Filemon Hb – Hebreus Tg – Tiago 1 Pe – 1 Pedro 2 Pe – 2 Pedro 1 Jo – 1 João 2 Jo – 2 João 3 Jo – 3 João Ju – Judas Ap – Apocalipse

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Apresentação

Sinto-me honrado pela solicitação do ilustre pastor Nemuel Kessler no sentido de escrever algumas palavras, à guisa de apresentação, a fim de serem inseridas neste novo exemplar de sua lavra, intitulado Ética Pastoral.

Tive a oportunidade de compulsar os originais, capí-tulo por capítulo, e a conclusão que tenho chegado é a de que se trata de uma obra realmente atualizada e profundamente carente em nossa bibliografia pentecostal, tornándose, por conseguinte, muitíssima oportuna.

A sucessão de conceitos emitidos, de uma forma lógica e até didática, nos leva a afirmar que esta obra preencherá um vácuo altamente existente no que tange a livros deste jaez.

Muitos dos livros editados sobre este tema não mais são encontrados em nossas livrarias, de sorte que este já se faz altamente necessário.

Muitas normas de procedimento ético são completa-mente ignoradas ou esquecidas, de modo que, não raro, o relacionamento Pastor-Rebanho tende a ser deficiente por ausência de parâmetros claros, bíblicos e atuais.

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A leitura deste livro certamente ajudará a muitos obreiros a alcançarem uma visão mais profunda da dignidade do ministério e principalmente dos deveres que cada um tem para com Deus e para com o rebanho que lhes foi confiado. Quem sabe se o versículo vinte, do capítulo treze, do livro de Jeremias, não significa que chegará o dia quando o Senhor exigirá de cada pastor a prestar estrita conta do rebanho que lhe foi entregue? Parece concordar com a recomendação do apóstolo Pedro na sua primeira carta, versículo dois a quatro, do capítulo cinco.

O pastor Nemuel com muita segurança faz citações de bons livros, revistas e valorosos escritores, qualidade de um escritor absolutamente afastado de qualquer sentimento egocêntrico, não deixando de ser o seu livro bem original. Portanto, nos sentimos honrados em o apresentar aos leitores em geral e mui especialmente aos obreiros evangélicos e suas esposas; os seminaristas o devem ler com esmero, mormente aqueles que sentem a chamada vocação divina para o ministério da santa Palavra de Deus.

A leitura de bons livros não é apenas "recreio". E au-mento de conhecimentos e progresso de inteligência. Com a leitura da Bíblia e de livros sadios, alimentamos a nossa alma e desenvolvemos o nosso intelecto.

Pastos Francisco Assis Gomes

Jubilado pela Assembléia de Deus Na Ilha do Governador,Rio de Janeiro, RJ.

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Porque Escrevi este Livro

Foi um esforço quase sobre-humano concluir este livro não porque o assunto não fosse interessante, de forma alguma, mas por causa dos tempos difíceis e trabalhosos de que falou o apóstolo Paulo a Timóteo, mormente quando encurtam o longo percurso da vida ministerial.

Foi esse caminho, cheio de oportunidades aos que desejam firmar-se como úteis Âquele que nos chamou, que, tornou possível discorrer sobre as etapas concluídas deste grande, porém condensado, assunto. Creio que seria indispensável, neste livro, muitas das observações pastorais, se a ascendência ministerial se se processasse de forma bíblica, e se espelhasse nos ditames de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas não tem sido assim, pois, de forma patenteada, esta nefasta regressão, procrastinada por alguns, vem eliminando grande parte do entusias-

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mo dos que desejam haurir das experiências daqueles cujo caminho deveria ser exemplo.

A vivência do ministério, desde cedo na minha chamada, fez-me compreender que cada passo dado nunca seria em linha reta, se quisesse chegar ao fim. Nas próprias imperfeições, pude descortinar que o mais excelente seria procurar apresentar-me a Deus "aprovado", ser sóbrio em tudo, combater o bom combate, acabar a carreira e guardar a fé.

Assim, escrevi este livro porque, na linha do tempo, os espaços que ainda ocupo para Deus revelaram que nem toda pedra pode ser lapidada completamente, e que as barreiras da natureza humana podem contribuir incisivamente para o insucesso de muitos ministros da Palavra.

Escrevi este livro porque as ricas fontes das epístolas paulinas podem reunir para os egressos de institutos bíblicos, ou para os que neles estão, as mais sérias advertências contra o despreparo ministerial, ou mesmo para os que, longe dos grandes centros, se escudam nos princípios expostos nesta obra.

Escrevi este livro também embasado nas experiências de renomados homens de Deus, porque a chamada transcende a forma paradoxal que se vê no crescente número de neófitos ministeriais.

Finalmente, escrevi para que seja este livro uma vívida lembrança do nosso compromisso com Deus, com a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a nossa família e conosco mesmo.

N E M U E L K E S S L E R 14

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I

Qualidades do Pastor A recomendação de Jesus aos discípulos foi de que

orassem ao senhor da seara para que enviasse obreiros (mt 9.38), e de modo algum a escolha do ministério por parte daquele que o almeja, jamais deve resultar do desejo de um ganho pessoal, ou de uma disponibilidade maior de tempo para gozo pessoal, ou mesmo a vaidade de exercer um maior controle sobre as pessoas.

O pastor deve ser convicto de que foi chamado por deus, como Paulo, por exemplo, que declarou que a sua escolha não fora resultado de motivação humana, "mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos" (Gl 1.1). Veja At 9.15. “o testemunho das escrituras e a recomendação dos líderes cristãos, através dos séculos concordam em que, a menos que aquele que aspira ao ministério sinta que é um “enviado de Deus”, ele não deve procurar o cargo.”(1)

Deus, quando chama o homem para cumprir o seu propósito universal, lhe confere qualidades de dons e ta- (1) Loyd M. Perry

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lentos que serão úteis ao seu ministério, a fim de produzir a unidade, a maturidade e a perfeição da Igreja. O próprio Senhor Jesus Cristo determina providencialmente lugares de serviço na igreja desses homens 'dotados' (At 11.22-26), ou mesmo através do Espírito Santo (At 13.1,2 e 16.6,7).

Nada escapou ao cuidado de Deus para que a união de Cristo com a sua igreja fosse consumada:

1º Cristo foi dado primeiramente à Igreja para ser a sua cabeça (Ef 1.22,23);

2º depois, deu o Espírito Santo para que residisse na Igreja, para executar a missão de Cristo (Ef 2.21,22; 2 Co 3.18; At 2.4);

3º através do Espírito Santo, Deus concede dons aos homens (Rm 12; 1 Co 12-14);

4º finalmente, o Espírito Santo dá homens dotados à igreja com o fim de vê-la crescer espiritualmente e atingir a plenitude de Cristo (Ef 1.23).

Assim, o ministro é qualificado para exercer sua função espiritual, como vem acontecendo desde o passado:

• a sabedoria de Moisés foi insuficiente para libertar Israel da escravidão, e se tornou em fracasso e fuga (Êx 2.11-14; At 7.22-29);

• após a morte do rei do Egito, teve Moisés um encontro com Deus no Monte Horebe (Ex 3.1-6), e recebeu do alto poder e autoridade para fazer maravilhas com a vara que trazia em sua mão (Ex 4.2);

• e Deus, com mão forte tirou o povo de Israel da terra do Egito (Êx 12.37; 13.8; 14.8; 15.6);

• Elias, Eliseu, Davi e tantos outros foram usados de maneira poderosa e cheios do Espírito;

• o próprio Senhor Jesus Cristo foi ungido para libertar os homens (Lc 3.22; At 10.38) porque Deus era com Ele. Essa é a razão por que os milagres e maravilhas acompanharam o seu ministério (Mt 4.23-25; 11.4-6; Jo 5.36; 10.25,38; 14.10,11).

Tanto os discípulos quanto aqueles que são chamados para o ministério são exortados a buscar o poder do Espírito Santo (Lc 24.49; At 1.4,5,8), e os acompanharão grandes sinais (Mc 16.17,18). 16

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Neste nosso estudo vamos listar algumas características exigidas do ministro e inerentes ao seu ministério, a fim de que possa enfrentar os desafios que se apresentam diante dele como representante do Evangelho de Jesus Cristo: I. VOCAÇÃO DIVINA

"E ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado por Deus, como Arão" (Hb 5.4).

"Ser ministro cristão é uma honra que Deus dá a um ser humano e requer, por isto mesmo, da parte do candidato, VOCAÇÃO e CHAMADA, ambas dependentes de Deus e manifesta pelo Espírito Santo". (2) Assim, ser servo de Jesus, é estar a serviço dos seus servos.

E necessário ao vocacionado que tenha a disposição de servir, caso contrário lhe sobrevirá um sentimento de recalque oposto à sua própria ocupação, e, no momento em que julgar oportuno, levantar-se-á contra o seu Senhor, lançando de si o jugo da servidão, deixando de cumprir com os seus deveres e de ser útil à causa do Mestre.

"Se materialmente assim ocorre, espiritualmente não se pode fugir à mesma regra: para que alguém se torne servo e seja reconhecido, e assim se faça participante dessa honra que Deus confere a seus servos, é indispensável que antecipadamente se haja provado vocacionado e por Deus chamado a seu serviço. Do contrário, jamais será um verdadeiro e eficiente ministro de Cristo".(3)

Os homens que exercem com dignidade o ministério são desprendidos de sentimentos gananciosos; são sóbrios, temperantes, sinceros, e acerca deles diz Paulo: "Que os homens nos considerem como ministros de Deus" (1 Co 4.1).

O ministro vocacionado pelo Senhor coloca o ministério acima de tudo e cuida ser a obra mais importante na face da terra (At 13.2; Rm 1.1). Deve ter uma experiência pessoal de sua própria redenção, pois é uma testemunha do poder e da graça de Deus, e não pode se escusar de falar

(2) OB, p. 41 (3) Alcebíades P. Vasconcelos

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das coisas que tem ouvido e que lhe tocam o coração. O pastor, além de lembrar-se frequentemente de sua redenção pessoal, deve esforçar-se também para enriquecer a sua vida cristã de novas experiências da graça de Deus por todos os meios ao seu alcance. (4)

O apóstolo Paulo, mesmo na certeza de sua chamada, não tomou por humilhação o ser escolhido para levar esmolas aos irmãos pobres da Judéia, na liderança de Barnabé (At 11.29,30; 12.25).

O começo de nossos líderes de campos de extensões apostólicas foi "vendo, ouvindo e obedecendo".

Jesus Cristo, sendo Filho de Deus, demonstrou o seu amor para as diversas classes sociais: "O Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos" (Mt 20.28; Fp 2.7,8). Este amor para com a humanidade, para com as pessoas, deve ser característico da chamada divina. E o pastor se forma amando e ganhando as almas para Deus, descobrindo o seu valor (calculado em lágrimas, sangue e suor) e, assim como o céu deu tudo em troca de uma alma, deve o ministro, se necessário for, oferecer a sua própria vida para levá-la a Deus.

Não é muito fácil para o ministro manter acesa esta compaixão, mesmo sendo o amor à humanidade o seu motivo primordial, pois a tendência de sua auto-preservação pode transformá-lo num ser frio e desconfiado, chegando a perder a simpatia dos colegas e a compaixão pelos perdidos. Se o próprio Jesus Cristo lutava persistentemente para afastar dos seus discípulos o espírito de ambição, inveja e o desejo de ser servido, quanto mais o Espírito Santo luta conosco no mesmo sentido.

A vocação divina inclui o profundo desejo de obedecer à voz do Bom Pastor na sua consciência, com a exigência, muitas vezes, de sacrifícios e sofrimentos. O apóstolo Paulo declara que "se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação" (1 Co 9.16). "Os verdadeiros pastores são o dom de Cristo." É Ele

(4)A.R.Crabtree,61 18

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Quem lhes dá o coração de pastor, a "entranhável afeição de Jesus Cristo Cristo"(Fp 1.8).

2. CONDUTA PESSOAL O maior pastor que a Bíblia nos apresenta é Jesus

Cristo. Ele é o modelo por excelência. E é dele que devemos tirar as características para o perfeito desempenho ministerial. Características do Pastor

1. Ter cuidado de si mesmo e da doutrina (1 Tm 4.16), porque assim fazendo, salvará tanto a si mesmo quanto aos que o ouvem. Se negligenciarmos este princípio, sofreremos as terríveis conseqüências, "pois a lei da semeadura é inexorável". Paulo é explícito em sua exortação: "Se alguém ensina alguma doutrina, e não se conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas. Contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho, aparta-te dos tais" (1 Tm 6.3-5). (Cf 2 Tm 3.10; 4.2; Tt 1.9).

2. Ser irrepreensível, vigilante, sóbrio, honesto, hospi-taleiro, apto para ensinar, não cobiçoso, de torpe ga-nância, não avarento (1 Tm 3.2,3).

3. Obediente, humilde e sábio, como Epafrodito, com-panheiro de Paulo (Fl 2.25), homem com três quali-dades essenciais para o bom ministro: fraternidade, espírito de cooperação e de companheirismo.

4. Que governe bem a sua própria casa, e tenha os seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (1 Tm 3.4).

5. Que tenha bom testemunho dos que estão de fora. Onésimo era "um irmão fiel" (Cl 4.9) e Epafras, "grande cooperador de Paulo" de quem diz: "Saúda-vos Epafras, que é dos vossos,... Pois eu lhe dou testemunho de quem tem grande zelo por vós, e pelos que estão em Laodicéia, e pelos que estão em Hierá-

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polis" (Cl 4.12,13). (Cf Cl 1.7; Fl 23; 2 Tm 4.12; Tt 3.12; Ef 6.21).

6. Ter uma grande capacidade de perdoar. O pastor co-nhece as fraquezas de suas ovelhas e sabe perdoá-las (Jo 4 e Jo 8). O perdão não se mede e nem é barato: custa um preço - custou uma crucificação. "Ao Senhor, nosso Deus, pertence a misericórdia e o perdão; pois nos rebelamos contra ele" (Dn 9.9). Há dois tipos de perdão: o vertical (Lc 18.10-12) e o horizontal (Mt 5.44-48; 6.14,15; 1 Jo 4.20).

7. Ter uma grande capacidade de autodomínio. No exercício do seu ministério, deve o pastor dominar-se a si mesmo para merecer grande confiança e ilimitado respeito na comunidade. "Todos podem se apressar em falar, menos o pastor. Sabe perguntar, sabe identificar o centro de uma questão, sabe julgar com discernimento."

8. Ter uma grande capacidade de formar obreiros. (5) O evangelista funda igrejas. O mestre edifica vidas através do ensino. O pastor forma obreiros. Não apenas isto, mas também isto. Jesus preparou 12, depois preparou mais 70, depois continuou preparando. Ta-refa do pastor. Não a descuidemos. O pastor deve preparar os seus auxiliares, os seus cooperadores, o seu substituto. O pastor deve olhar para os jovens com amor e visão espiritual (At 16.3a).

9. O bom ministro :(6) a. ama (2 Co 11.11) b. trabalha (1 Co 9.16; 2 Tm 4.2) c. dá a sua vida pela obra (2 Tm 4.6-8) d. é cheio do Espírito Santo (At 4.31) e. fala o que convém à sã doutrina (Tt 2.1) f. ama a evangelização (Rm 1.16) g. é sofredor (2 Tm 2.3; 3.11; At 14.19) h. visita o rebanho

10. Ter capacidade para dirigir sabiamente a igreja (1 Co 14.40), com equilíbrio, graça e sabedoria e exerci-

(5) G. Gomes (6) Lázaro B.Alves 20

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tar o dom recebido de Deus e desenvolvê-lo (Rm 12.6-8).

11. Deve, ainda, o ministro, possuir as seguintes carac-terísticas: 1. ser tolerante 2. intrépido 3. de conduta ilibada 4. humilde 5. ter boa apresentação e agradável 6. ser estudioso 7. ser sincero e bondoso 8. ter boas relações com Deus 9. entusiasta 10. intensamente humano 11. ser de oração

Enfim, como disse Donald Gee, "nem todo o brilhante pregador ou mestre é bom pastor; e também nem todo o Evangelista poderá tornar-se pastor. Há diversidade de dons. Não é o caso de se menosprezar um ministério por causa de outro, e sim o de se perceber que cada ministério requer o seu próprio dom, que só Deus pode conceder. Felizes são as igrejas que têm pastores fiéis a velar por suas aluías, ainda que lhes falte notável brilho dos dons de retórica".

3. DESAFIOS MODERNOS

1. Extrema Corrupção nos Últimos Dias "Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons,..." (2 Tm 3.1-4).

Estes são alguns dos inimigos e obstáculos que o pre-gador do Evangelho tem que enfrentar nos últimos dias. Temos a certeza de que se agora as coisas estão ruins com as heresias que se enfrentam, elas não se tornarão mais fáceis para os pastores segundo a lembrança de Paulo no texto acima.

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"Os assaltos contra o Cristianismo neste século talvez sejam os mais poderosos e os mais sutis de todas as épocas a historia cristã. Enquanto não haja tanta perseguição mio em outros tempos; e em muitos lugares os pastores sejam honrados e prestigiados, ao mesmo tempo os adversários se multiplicam e operam poderosamente."(7)

O materialismo vem destruindo tudo o que de verdadeiro possui a religião Cristã e a fé em Cristo Jesus. Paralelamente ao materialismo, agiganta-se o secularismo, influenciando inconscientemente pastores descuidados da sutileza do inimigo. "O pastor informado bem sabe que a civilização não é o cristianismo, mas o cristianismo é o sal que preserva os melhores elementos da civilização. "(8)

4. RECURSOS DO PASTOR

O pregador moderno dispõe das verdades do Evangelho para proclamar as insondáveis riquezas de Cristo, dominado pelo poder do Espírito Santo para ser testemunha tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra (At 1.8). O pregador tem o mesmo Evangelho dos apóstolos, mas, "paradoxalmente, só tem as riquezas deste Evangelho à medida que as possui no seu espírito, à medida que as apropria pela fé, amando o Senhor de todo o seu coração, de toda a sua alma, com todas as suas forças, e com todo o seu entendimento".(9)

Em avançada idade, Paulo escreve a Timóteo (1 Tm 13): "Persiste em ler, exortar e ensinar."

1. Persistir em Ler

A expressão correspondente a "persistir em", no original grego, pode também ser traduzida por "preocupa-te com, "aplica-te a", ou "dedica-te a". Qualquer destes sentidos demonstra que é dever do pastor dedicar-se ou plicar-se à leitura. (APV).

A Bíblia é o grande recurso do pastor; ela não somente deve estar à sua mão como, também, em seu coração; deve ter diligência ao estudá-la (2 Tm 2.15), trazendo à memó- (8) A. R. Crabtree, AD.B. do Ministério, 64 A.R. Crabtree

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ria as coisas estudadas, como para gozar de novo a sua, pois isto enriquece a compreensão das lições (1 Tm 4.13,15). A Bíblia é o manual do pastor; ela descreve tudo quando lhe é indispensável para servir bem a Deus, como também é de vital importância ao rebanho sobre o qual Deus o constituiu bispo (At 20.28).

Secundariamente, os livros que versem sobre a Bíblia n igreja ajudarão o pastor a se fundamentar ainda mais seus próprios conhecimentos de doutrina cristã, e, através da comparação com outros sistemas doutrinários, defender o rebanho das falsas seitas, e convencer os condizentes" (Tt 1.9).

O pastor que não se atualiza de forma alguma poderá Tender o seu rebanho contra os perniciosos ensinamentos heréticos que surgem a todo momento. Quando, estudando pesquisando, seus conhecimentos teológicos irão se firmando cada vez mais e lhe darão segurança em suas afirmações. 2. Persistir em Exortar

"O verbo exortar, na língua grega, deriva-se do substantivo Paracleto, que é o título atribuído por Jesus ao Espírito Santo, e significa, principalmente, o Consolador. Talvez este sentido pareça estranho àqueles que consideram a exortação como compreensão ou correção com palavras duras. Todavia, nada mais é do que persuadir com a verdade, avisar quanto ao perigo iminente, e admoestar com a sã doutrina."

3. Aplicar-se ao Ensino.

Como se pode ensinar sem que se haja aprendido? (Jo 14.26). O ensino da doutrina é uma das responsabilidades mais importantes do pastor, "pois ela é o alimento de que se nutrem as ovelhas" (SI 23.2,5).

Ensina-nos o pr. Alcebíades P. Vasconcelos que o mestre que se preza é aquele que estuda minuciosamente a lição antes de aplicá-la à sua classe, demonstrando amplo domínio sobre o assunto, como se conhecesse o autor do livro texto. Tal aspecto, diz-nos, é evidente no livro de Atos,

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quando os mestres de Israel prenderam os apóstolos Pedro e João, e após ouvirem sua defesa, ficaram maravilhados, pois, sendo indoutos, revelaram haver estado com Jesus e aprendido dEle.

"O pastor deve receber a mensagem diretamente de Deus, amassando o pão nos próprios joelhos e serví-lo quente à igreja", dizia Samuel Nystrón, demonstrando que o ministro, ao preparar-se para pregar ou doutrinar, deve estudar à base de pesquisa cuidadosa e de oração perseverante (Mt 13.52). Outra verdade que expressa é que muitos pastores privam-se deste benefício, pois atribuem ao Espírito Santo a missão de alimentar a preguiça pastoral, baseando-se na promessa de Mateus 10.19,20, e aguardam a mensagem na hora exata em que vão pregar, sem o devido preparo. Ao ensinar, deve o pastor preocupar-se em falar o que Cristo falaria se estivesse em seu lugar. Esta verdade está expressa em Atos 20.26,27: "Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos, porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus."

Para enfrentar os desafios modernos, o pastor precisa continuar voltado para o estudo profundo das Escrituras Sagradas, possuir uma cultura adequada para "entender com simpatia a mentalidade do povo, e apresentar os ensinos da Bíblia como orientação segura de vida".(10) O povo não se satisfaz mais com superficialidades; ele tem fome e profundas necessidades espirituais e sede das verdades bíblicas, e cabe ao pastor alimentá-los com as grandes verdades da revelação divina apresentadas na exposição das Sagradas Escrituras. (10)A.R.Crabtree 24

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I I O Pastor

e sua Vida Particular

1. A VIDA ESPIRITUAL

Um famoso pregador disse em certa conferência que '”Posso pregar um evangelho poderoso, fundamental e produtivo, mas se a minha vida não estiver cheia do Espírito Santo, se não viver em santidade, a mão de Deus se afastara de mim. O mesmo poderá acontecer com você: cairá e naufragará."

Assim como nenhum crente deixa de ser alvo das tentações do Diabo, o pastor muito mais não está isento da destruição do Inimigo, pois ele sabe que, se derrubar o obreiro de Deus, terá, com isso, manchado a sua obra.

Em sua vida, o pastor precisa conservar-se santificado para o desempenho de seu papel aqui no mundo. Analisemos duas partes importantes de sua vida:

a) Santidade

• Deus é Santo

Quando Deus relacionava a Moisés os animais puros e os imundos, asseverou-lhe: "Porque eu sou o Senhor vosso

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Deus; portanto vós vos santificareis, e sereis santos, porque eu sou santo." (Lv 11.44; 19.2; 20.7; 1 Pe 1.16). Na visão de João no Apocalipse, "os quatro animais tinham, cada um de per si, seis asas, e ao redor, e dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo poderoso, que era, e que é, e que há de vir." (Ap 4.8). Essa é a declaração incessante do céu a Deus, o nosso Deus.

E porque Ele é Santo, exige de seus seguidores a santidade, como diz o apóstolo Pedro: "Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver." (1 Pe 1.15).

• Somos templo do Espírito Santo

Qualquer crente em que permanece o Espírito Santo de Deus torna-se sua habitação (1 Co 3.16; Rm 8.9).

"O vocábulo grego por detrás desta tradução é 'naos', o recinto sagrado, o lugar santíssimo, em contraste com o 'hieron', o restante do templo em seus diversos compartimentos. Entretanto, essas duas palavras, no original grego, podiam ser usadas como sinônimos. Por semelhante modo, o crente é o lugar santíssimo onde habita o Espírito Santo de Deus.” (‘)

Desta forma, o pastor é chamado para uma santa vocação (2 Tm 1.9), isto é, ele é separado com um propósito santo. Deve ser santo, vivendo em paz com os seus irmãos na fé (Hb 12.14).

"Porque sagrado é o santuário de Deus, que sois vós" (1 Co 3.17). Os crentes de Corinto agiam como se não soubessem dessa verdade, mas Paulo lembra-lhes da posição elevada que ocupavam aos olhos de Deus. Assim, o pastor deve ser puro e limpo, tanto no coração quanto no seu comportamento exterior, repugnando tudo o que venha a contaminar o templo de Deus e macular o que lhe deve ser mantido sagrado, porque "se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá." (1 Co 3.17).

(1) O NTIW, v.4 p.51

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• Deus exige santidade

Exigiu Deus, no princípio, de Abraão, mesmo com a idade de noventa e nove anos (Gn 17.1); de Israel, quando fez o povo subir da terra do Egito; foi uma exigência de Jesus Cristo (Mt 5.48); e o apóstolo Pedro afirmou essa eximiria (lPe 1.15,16). E, por estar a palavra "santificação" ligada às palavras "pureza",

"sem mancha", "irrepreensível", "sem ruga” é que o pastor precisa de uma santificação geral: 1. Do corpo, da alma e do espírito (1 Ts 5.23). 2. Do coração (Mt 5.8; SI 24.4). 3. Do pensamento (Fl 4.8; Cl 3.1,2). 4. Dos lábios (Cl 3.8,9; SI 141.3; Ef 5.4). 5. Dos olhos (1 Jo 2.15-17; Mt 5.28). 6. Das mãos (SI 24.4; Hb 12.12; 1 Tm 2.8). 7. Dos pés (Ef6.15;Ec5.1). 8. Dos ouvidos (Dt 28.62; Pv 21.13; Is 50.4,5). 9. Outras referências SI 93.5; 2 Co 7.1; Ef 1.4; 4.24; 1 Ts 3.13; 4.3,4; 1 Tm 2.5; Hb 12.14; 2 Ts 2.13; 1 Pe 1.15.

Sendo santificado, o pastor produzirá aqueles aspectos

transcendentais do fruto espiritual, nascido por atuação do princípio divino, isto é, o fruto do Espírito: amor, , gozo, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança, humildade, misericórdia, fidelidade, paciência, etc.

"Para que o homem de Deus seja perfeito..." (2 Tm .1 17). Para servir no Evangelho com pureza espiritual, como os sacerdotes da antiga aliança, o pastor não pode apresentar nenhuma nenhuma deformidade como descrita em Levítico 21.18-20.

Estas imperfeições são caracterizadas espiritualmente: (2)

1ª) Cego

A cegueira diz respeito à falta de visão, e os que não podem ver aquilo que é divino, não podem servir à obra (Ap3.18).

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(2) João de Oliveira, Sê tu uma bênção

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2ª) Coxo

São os que não possuem andar firme e que por isso mesmo não oferecem nenhuma firmeza, não se podendo confiar em tais pessoas (Hb 12.12).

3 ª) Nariz chato

Defeito dos mais visíveis, e certamente se refere aos que entram em questões alheias (1 Pe 4.15).

4ª) Membros demasiadamente compridos

Dando-se sentido espiritual aos que possuem essa deformidade física, refere-se aos que crescem inconvenientemente fora da graça e adquirem todas as deformidades (Tt 1.11; 2 Tm 4.14).

5ª) Pé quebrado

Assim como aquele que tem o pé quebrado e está im-possibilitado de andar, espiritualmente refere-se aos que não andam dignamente na presença de Deus (Ef 4.1).

6ª) Mão quebrada

Significa a inatividade de servir, de trabalhar. Espiritualmente, é desolador ter as mãos quebradas para o serviço do Senhor e, em especial, no servir a Deus com o dízimo (Ml 3.10).

7 ª) Corcunda

Os que sofrem desse defeito não têm condições de olhar para cima, mas somente para baixo, e no sentido espiritual são os que não buscam as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus (Cl 3.1), mas somente o que é desta vida (1 Tm 6.9,10; Lc 12.17-21). O ministério está cheio de corcundas!

8ª) Anão

São os que não crescem, e no campo espiritual simbolizam os que não crescem convenientemente no conhecimento de Cristo (2 Pe 3.18; Hb 5.13,14).

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9a) Belida no olho

A belida no olho é uma névoa ou mancha esbranquiçada na córnea do olho, e que pouco a pouco vai enfraquecendo a visão. Os que têm visão curta somente vêem as coisas Que estão de perto. Assim é com os que só enxergam o que está ao seu redor, isto é, têm visão curta da obra de Deus, e pastorado de sua igreja é um fracasso (2 Pe 1.4-9; Ap ; 18).

10a) Sarna

A sarna é uma afecção cutânea contagiosa, parasitária e que fala naturalmente dos que contaminam os outros (Tt. 1 0 ,15; Jd 17,19; Is 59.3).

11a) Impigens

As impigens são um mal estático, imóvel, e represetam a impureza de mente e de coração (Tt 1.15; Lc 11.39-41; SI 24.3,4; Ef 5.3,5).

12a) Quebradura

Fala dos defeitos ocultos na vida da criatura, são roturas e quebraduras internas. Em tais pessoas não se pode Confiar, visto que são prejudicadas da graça (Fp 3.17-19; Rm 16.17,18).

b) Pecados da Língua

Tiago, irmão de Jesus Cristo, dedicou quase que um Capítulo inteiro de sua epístola (cap. 3) ao domínio da língua. Reconhece a verdade de que “todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo” (Tg 3.2).

Vejamos alguns tropeços que o pastor pode incorrer ao longo de seu ministério, utilizando-se da língua: • Conversação torpe

É da abundância do coração que a boca fala (Lc 6.45; Ml, 15.18).

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A fala é a faculdade que distingue os homens dos animais; é o sinal de sua personalidade. O pensamento é impossível sem palavras. "O pensamento antecede à ação, como o relâmpago antecede ao trovão." Já dizia Heine, e o caráter de uma pessoa é revelado pela própria maneira de falar e se expressar. Por isso é que Paulo, ao usar o termo "...despojai-vos também de tudo:... das palavras torpes da vossa boca" (Cl 3.8), estava se referindo à linguagem obscena do falar, do "abuso de boca suja", pois o termo grego "aischros" significa "feio", "vergonhoso", "vil", "aviltante", e retém a idéia tanto de profanação como a de obscenidade, juntamente com a idéia de abuso. Ele ainda condena veementemente essa prática, que é oposta à santidade cristã, dizendo que, a não ser a que for boa para promover a edificação, nenhuma palavra deve sair de nossa boca; nem a prostituição (profanação, aviltamento); impureza ou avareza (mesquinhez, esganação); nem torpezas (procedimento ignóbil; impudicícia); nem parvoíces (tolices); nem chocarrices (gracejo atrevido) mas antes ações de graça (Ef 4.29 e 5.3,4). Isto quer dizer que deve o pastor fazer uso da fala com ações de graças, apropriando-se dessa fa-culdade, e bendizer e louvar a Deus, visando o real proveito em suas conversas com o próximo, beneficiando-o com palavras dignas e edificadoras, em contraste com a linguagem dos incrédulos.

Ao ministro não convém reunir-se com seus amigos e incorrer no Salmo 1.1, estando certos de "que de toda a palavra ociosa que os homens disserem, hão de dar contas no dia do juízo" (Mt 12.36); e o uso freqüente da palavra torpe, que também significa "podre", "decadente", usada para indicar peixe, carne ou vida vegetal estragados, ou seja, "mau", "corrupto", "imoral", acostumará o ministro a não dar ouvidos a Deus "tal como os ímpios temem fazê-lo".

Esse procedimento inadequado tem levado muitos ao descrédito e ao arrefecimento espiritual, tornando suas palavras como o sino que tine, e levadas pelo vento.

Assim "cada encontro de um homem com seu próximo lhe apresenta uma ocasião de transmitir graça para aqueles que ouvem" (Wedel). Essa deve ser a atitude do pastor sempre que entrar no campo da conversação. 30 30

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• Crítica

"Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós" (Mt I 1,2).

As palavras do Senhor Jesus não se traduzem em tolerância para o mal, mas que é nosso dever sondar sempre os erros de nossa própria vida.

A crítica tem duas facetas: 1. faculdade de julgar com conhecimento; e 2. condenação ou censura desfavorável. Biblicamente, isto é

traduzido pelo apóstolo Paulo como "pecado da malícia" (1 Pe 2.1), e que denominamos suavemente "crítica". Existe a crítica construtiva e a destrutiva, que esboçam grandes

diferenças entre si. Pastores há que usam a vara" para ajudar a ovelha, sem machucá-la, sendo isto prova de cuidado, assim como o pai, que com amor critica seu filho, sem que cesse sua afeição por ele. Outros, porém, são tão críticos que deixam marcas profundas de desgosto em suas ovelhas, e os pais em seus filhos, matando a afeição que sentem.

"A falta de amor para com um irmão é a raiz de toda crítica destrutiva e das divisões nas igrejas cristãs. Não criticamos as pessoas que nos são caras, incluindo a nós mesmos, e não permitimos que sejam criticadas. Criticamos os que significam menos para nós. E, procedendo desta forma, demonstramos a nossa falência no amor de Cristo” (3) Quando o ministro deixa o espírito de crítica apossar-se de si, é porque oculta-se em seu interior a "podridão dos ossos", proverbialmente traduzida por "inveja" (Pv 14.30).

Segundo Finneu, essa raiz amarga do espírito de crítica há de ser totalmente desarraigada se quisermos preparar o caminho do Senhor. Deus sabe antecipadamente que nossa capacidade para essa prática é infinitamente fra (5)J.E. Orr

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ca, falível e cega, e que não é trabalho apropriado ao nosso coração vaidoso (Rm 14.4 - "Quem és tu que julgas o servo alheio?"). E a crítica tem nutrido muitas outras coisas contrárias ao amor do Evangelho de Jesus, e muitos pastores estão tão habituados com esse espírito que não sabem como livrar-se dele. Acostumaram-se a falar de quase tudo que vêem errado nos outros nos termos mais ásperos e terríveis. E comum dizerem das opiniões, conduta ou con-selho dos outros, ou da sua frieza, seu silêncio, sua cautela, moderação, prudência e muitas outras qualidades que manifestam, que são do diabo ou do inferno; que tais pessoas estão servindo ao diabo, de modo que os termos diabo e inferno estão quase continuamente em seus lábios. E semelhante linguagem empregam não só referindo-se a homens maus, mas também àqueles que eles mesmos admitem ser verdadeiros filhos de Deus e mesmo a ministros do Evangelho. E consideram virtude e grande vantagem assim portar-se.

Porém, o cristão verdadeiro é humilde, revestido de submissão, brandura, mansidão, docilidade de espírito e de procedimento. Não enche a sua boca de linguagem imunda contra os filhos de Deus "sob a capa de santidade", mas tem modo e comportamento terno e afável, como recomenda Paulo: "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade" (Cl 3.12).

Carlos R. Padilha(4) apresenta vinte princípios importantes que, se aplicados adequadamente, ajudarão o pastor a controlar o seu ímpeto crítico, tornando saudável suas observações:

1. Críticas negativas, mas positivas:

a. orar b. ser direto (Mt 18.15) c. fazê-lo em particular (Mt 18.15,16) d. verificar os motivos

(4) L. Cristão, dez/85

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e. ser honesto f. falar a verdade em amor g. ganhar o direito de ser escutado h. ser objetivo e específico i. sugerir alternativas j. orientar-se por perguntas positivas

2. Princípios para receber crítica negativa

a. orar b. não ficar na defensiva c. permitir que o outro complete sua crítica d. pedir a evidência sobre qual se baseia a crítica e. perguntar a si mesmo f. decidir se o crítico está expressando alguma necessidade

pessoal através de sua crítica g. decidir porque o crítico expressou sua crítica h. decidir qual é o verdadeiro problema i. decidir cuidadosamente como responder j. falar acerca disso

• Cólera/ira/ódio

A cólera pode ser extravasada em toda sorte de palavras ofensivas, e tem variedade de sentidos:

• indignação • irritação • impaciência • vexação • amargura • exasperação • ressentimento • paixão • mau gênio • ira • ódio • raiva • fúria

Quando Paulo diz "Irai-vos e não pequeis" (Ef 4.26), não está nos autorizando a que nós nos iremos, e também não quis dizer que, se nos irarmos, "de modo algum come-

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teremos pecado, contanto que abafemos nossa ira antes do cair da noite."

A Bíblia está cheia de advertência contra a ira, e muitos pastores têm atribuído o seu mau gênio aos nervos, transformando com isso uma falta grave em simples enfermidade.

"E muito melhor admitir a falta, arrepender-se e confessá-la, abandonando-a e pedindo humildemente perdão por ela. Deus pode conceder-nos vitórias ao longo das linhas das nossas maiores derrotas. Podemos transformar, pelo domínio próprio, o mau gênio; torná-lo gênio bom não importa na ausência de têmpera. Uma pessoa que saiba dominar o seu temperamento pode alcançar muito mais do que um indivíduo sem qualquer reserva de espírito" (J. E. Orr). Vejamos como a Bíblia nos fala a esse respeito:

Pv 15.1 - "A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita ira."

SI 37.8 - "Deixa a ira, e abandona o furor; não te indignes para fazer o mal."

Pv 19.11 - "O entendimento do homem retém a sua ira, e sua glória é passar sobre a transgressão." Pv 19.19a - "Homem de grande ira tem de sofrer o dano."

Pv 21.19 - "Melhor é morar numa terra deserta do que com a mulher rixosa e iracunda."

Pv 22.24 - "Não acompanhes com o iracundo, nem andes com o homem colérico."

Pv 27.4 - "Cruel é o furor e a ira é impetuosa."

Outras referências: Lv 19.17,18; Pv 11.4; 14.17,29; 29.22; Mt 5.22; Gl 5.20; Ef 2.3; 4.26,31; 6.4; Cl 3.8; 1 Tm 2.8; Tg 1.19,20.

E muitos são os provérbios sobre a ira: "O homem encolerizado sempre crê poder fazer mais do

que em realidade pode" (Alberto de Brescia).

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• "A ira é uma loucura de curta duração" (Horácio). • "Em qualquer parte a ira encontra armas. Para mão ávida de sangue, qualquer serve de lança" (Claudiano).

• "Tende cuidado, vossa violência vos tira o poder de defesa" (Samuel Richardson).

• "A ira perturba a mente, mas deixa transparente o coração" (Nicolau Tommaseo).

• "Cada golpe desferido pela ira virá cair, certamente sobre nós mesmos" (William Penn).

Segundo o profeta Amos, ele foi inspirado a ordenar ao povo de Israel a "Odiar o que é mau e amar o que é bom" (Am 5.15). Então, amor e ódio são qualidades opostas e que podem agradar a Deus, apenas quando Ele nos separar da transgressão, como por exemplo quando a esposa do senhor de José do Egito tentou, suplicou e até mesmo agarrando-o para fins imorais, ele não precisou parar para refletir o que devia fazer: simplesmente correu (Gn 39.12). O seu ódio ao que era mau (SI 97.10; 139.22) protegeu sua consciência perante Deus.

"O ódio piedoso nunca tem por alvo nossos irmãos cristãos, não importa quão imperfeitos sejam; ele é intolerante para com o que é mau, e caracteriza-se ainda mais pelo sentimento de desprezo para com coisas tais como a mentira, o furto e a imoralidade."(5)

Se amarmos as coisas que Deus ama e odiarmos, sim, as coisas que Deus odeia, isto nos protegerá contra as práticas iníquas deste mundo. E há seis coisas que aborrecem o Senhor, e a sétima a sua alma abomina (Lv 21.18-24):

I. O que aborrece ao Senhor 1ª) olhos altivos; 2ª) língua mentirosa; 3ª) mãos que derramam sangue inocente; 4ª) coração que maquina pensamentos viciosos; 5ª) pés que se apressam a correr para o mal; 6ª) testemunha falsa que profere mentiras; e

II. O que abomina ao Senhor 7ª) o que semeia contendas entre irmãos.

(5 )A Seara jan/75

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Existem muitas maneiras diferentes de expressarmos verbalmente a nossa ira como, por exemplo: (6)

a) pelo movimento das mãos; b) levando o polegar à ponta do nariz do agredido; c) gestos sexuais insultuosos; d) jogar a cabeça para trás; e) dar um piparote debaixo do queixo; f) bater com o polegar nos dentes superiores; g) as expressões faciais; etc.

"A medida que tomamos mais consciência de nossa própria linguagem corporal e a da dos outros, começamos a ver mais claramente nossa própria ira."

O quadro a seguir mostra como os médicos vêem o que acontece ao corpo quando a pessoa fica irada:

O Remédio para a Fraqueza de Temperamento

"Deus tem um plano emocionante para vencer todas as fraquezas de temperamento - até mesmo a ira."

(6) Tim Lahaye e Bob Phillips

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Em Ef 5.18, Deus designa esse plano como sendo continuamente cheios do Espírito. A plenitude do Espírito Santo produz três grandes características emocionais:

1ª um cântico no coração (Ef 5.19); 2ª uma atitude mental de ação de graças (Ef 5.20); 3ª um espírito submisso (Ef 5.21).

"E impossível ficar com raiva quando estas três emoções estão presentes. A plenitude do espírito é, portanto, o remédio óbvio para a emoção da ira."

0 remédio para o ódio é apropriar-se das qualidades do amor, delineadas pormenorizadamente pelo apóstolo sob a inspiração de Deus, em 1 Co 13.4-8:

1. o amor é sofredor e benigno; 2. o amor não é invejoso; 3. o amor não trata com leviandade (julgamento precipitado); 4. o amor não se ensoberbece; 5. o amor não se porta com indecência; 6. o amor não busca os seus interesses; 7. o amor não se irrita; 8. o amor não suspeita mal; 9. o amor não folga com a injustiça; 10. o amor folga com a verdade;

11. o amor tudo sofre; 12. o amor tudo crê; 13. o amor tudo espera; 14. o amor tudo suporta; 15. o amor nunca falha.

• Irreverência ou profanação Profanação é tudo aquilo que vem desvirtuar as coisas de Deus,

isto é, dar má aplicação às coisas de Deus, tratar com irreverência o que é de Deus, e violar a sua santidade, quer seja através de palavras, quer seja através de ações.

Aquele que é profano não demonstra o mínimo de santidade e nem os que apóiam a profanação.

Malaquias mostra como o altar do Senhor fora profanado, e alguém contribuiu para isso, dizendo: "Não faz mal” (M1 1.8). Em Lv 22.20-22, Deus avisa acerca das coisas sagradas não serem profanadas.

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A igreja de nossos dias tem saído da rotina, e alguém vem contribuindo para isso: são os responsáveis pelo sono do comodismo e da indolência (negligência, apatia). "A conivência e o destemor fazem com que os líderes sejam bondosos para com os irmãos e, assim, aquilo que é santo é profanado. "(7) Certas músicas e modas em todos os sentidos vêm entrando na igreja com a anuência de líderes que já perderam a autoridade de Deus para impedir tais abusos entre o povo de Deus, e continuam usando a frase: "Não faz mal."

- Profanação do falar

Em Êxodo 20.7, o Senhor Deus adverte: "Não tomaras o nome do Senhor teu Deus em vão..."

O homem espiritual, aquele que nasceu de novo, pode perfeitamente eliminar de seu coração a linguagem pesada e profana, evitando, assim, a aparência do mal. "Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e, sim, unicamente a que for boa para edificação, para que dê graça aos que a ouvem", Efésios 4.29, é a generalização de Paulo para os santos do Senhor.

O pastor que se dá à vulgaridade, ao sacrilégio, à blasfêmia ou ao juramento enganoso (Mt 5.34-37) estará revelando mau caráter, e contaminando a atmosfera em que vive, causando desgosto profundo às pessoas de bons sentimentos e ofendendo a Deus.

"Fere-nos os ouvidos ouvir cristãos professos (incluindo os próprios líderes) usarem palavras que têm origem escusa, na vulgaridade e na luxúria. Ouvem-se mesmo senhoras idosas e de distinção usarem expressões que, em sua forma original, lhes roubariam a voz, de estarrecimento"(J.E.Orr).

Quando o ministro não consegue dominar a sua própria língua (Tg 3.8,10; 1.26), não conseguirá também dominar toda a sua personalidade, e ela o fará imiscuir-se às rodas do escárnio, das piadas blasfemas, do vocabulário tolo, dos trocadilhos dúbios ou ambíguos. Isto lhe fará cair na linha do descrédito perante a igreja, que colocará em (7) M.F. Almeida 38

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dúvida sua própria chamada.

Profanação da doutrina

A recomendação de Paulo a Timóteo para ter cuidado de si mesmo e da doutrina (1 Tm 4.6) incluía, entre outras coisas, condenar as coisas do mundo que estavam entrando na igreja, bem como exercer autoridade e zelar pela doutrina, para que a sua má aplicação não viesse a se tornar uma profanação ao Senhor. Eis aí a razão porque disse Tiago: "Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo" (Tg 3.1).

Muitos obreiros querem ensinar hoje em dia sem se preocuparem em estudar sistematicamente a Palavra de Deus, quer seja como autodidata ou em instituições de ensino teológico. O desastre se faz sentir logo adiante: erros crassos de interpretação doutrinária e que conduzem profanação da doutrina.

O que ensina, que exerça com dedicação e fidelidade esse ministério (Rm 12.8).

Em uma de suas matérias, o pr. M. F. Almeida nos deixa: "O obreiro precisa observar com muito cuidado o Que está ensinando, e em se tratando de doutrina, com mais veracidade, veja o que diz Paulo: "Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo?" (Rm 2.21a).

Por falta de consonância na aplicação da doutrina é que têm acontecido tantas divisões no evangelismo mundial. Professores ou ensinadores são muitos, mas os observadores da palavra são poucos. E muito mais fácil ensinar do que praticar, e, se ensinamos e não praticamos aquilo que ensinamos, nos tornamos hipócritas e, consequentemente, estamos profanando a doutrina.

Devemos, os ensinadores, tomar muito cuidado com o 'deus" deste mundo, que sorrateiramente grassa a sua falsa ciência e doutrina na igreja para profanar as coisas sagradas, levando incautos ao erro e, consequentemente, ao inferno (1 Tm 4.1-5).

• Leviandade

O leviano procede sem seriedade, irrefletidamente, com precipitação e com imprudência.

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Paulo traduz nas palavras de Ef 5.4 a conversação torpe, as chocarrices e palavras vãs como leviandade. O gracejo ou a chocarrice sempre são inconvenientes, pois consistem numa troça à custa de outrem. Nada disto constrói, mas avilta e desabona o leviano, que deve repudiar esse procedimento em todas as circunstâncias.

Não poucos têm caído neste pecado condenado pela Palavra de Deus e, ao contrário do bom humor que "pode exercer uma influência benéfica numa reunião cristã", a tolice põe uma reunião em debandada.

• Mentira

Jesus caracterizou o Diabo como mentiroso, porque "Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8.44). A queda do homem foi conseqüência de uma mentira bem formulada pela serpente.

Deus ordenou a Moisés e aos filhos de Israel direta-mente: "Não mentireis nem usareis de falsidade cada um com o seu próximo" (Lv 19.11). Paulo, em Colossenses 3.9, reafirma este ensinamento: "Não mintais uns aos outros..." e, "pelo que, deixai a mentira, e falai cada um a verdade com o seu próximo" (Ef 4.25).

"O hábito da mentira pode contrair-se aos poucos; no princípio, só se fala de um aspecto da questão; depois só do aspecto que nos favorece; a seguir, tratamos de exagerá-lo; e terminamos não sabendo quando estamos ou não falando a verdade" (E. P. Ellis) (Pv 20.17).

A mentira, pois, é um pecado muito sério e reprovada nos Salmos e nos Provérbios; os profetas e os apóstolos fizeram sérias advertências contra esse pecado (SI 5.6; Pv 15.5,9; 13.5; 1 Jo 2.21; 1 Tm 4.2; Ap 21.27).

Charles Finney dá o seu parecer a respeito da mentira no livro "Finney Ainda Vive", pág. 140: "Compreenda agora o que é a mentira (é qualquer espécie de engano propositado). Se o engano não é intencional, não é mentira. Mas se há o propósito de dar impressão contrária à verdade nua e crua, você está mentindo. Faça uma relação de todos os fatos dos quais possa recordar-se e não lhes dê no- 40

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mes agradáveis Deus lhes chama mentiras, e culpa a você de estar mentindo; será melhor você culpar-se corretamente”

A faculdade de mentir descaradamente é própria dos filhos das trevas, que não se condenam e nem se envergonham de suas ofensas.

Muitas vezes o pastor é tentado, em situações embaraçosas, a mentir para sair de uma dificuldade, considerando isto ser o menor mal do que as conseqüências da admissão da verdade. Luís Palau, considerando o dinheiro na área da alma, em um

artigo sobre santidade, diz: "O irmão é honesto e lacero quanto ao dinheiro? Talvez ninguém saiba, mas o Senhor sabe. O irmão retém dinheiro que não é seu? Aumenta os vales de despesa?

"Todos necessitamos de dinheiro para a obra. "Precisamos de dinheiro para cuidar de nossas esposas, de

nossos filhos, e isto é justo. Mas a tentação de falsificar relatórios tem destruído muitos pregadores que hoje deveriam estar servindo ao Senhor." Outros há que, enganosamente, forjam fotografias com o fim de subtraírem mais verbas para o seu ministério. A supressão de partes pertinentes à verdade pode redundar em mentira, e lábios que proferem mentiras são abominação ao Senhor, e a pior forma de mentira é a que envolve as coisas espirituais ." Talvez tenha chegado o momento de você confessar: Senhor,

tenho manipulado meus relatórios"! Infeliz também é o pastor que se apropria de testemunhos de

curas ou experiências cristãs falsos para enriquecer sua pregação e arrebatar aplausos para si, especialmente quando isto possa lhe render algum dinheiro a mais para seus cofres.

Quando o ministro se entrega à mentira, é prenúncio de que parte de sua vida já pertence a Satanás, e torna-se seu aliado, não sendo digno de crédito (Jo 8.44), e inimigo de Deus, porque Deus é verdade, e n'Ele não há mentira (1 Í0 2.21). (v.Ap 22.15).

"A mentira nos torna semelhantes ao diabo, o pai da mentira, sendo uma das características principais da ima-

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gem do diabo em nossas almas" (Matthew Henry). Eis algumas referências à mentira que podem ajudar a

repugná-las:(8) 1. A mentira é proibida (Lv 19.11; Cl 3.9); 2. E abominável a Deus e contra Deus (Pv 6.16-19; 12.22); 3. É um obstáculo à oração (Is 59.2,3); 4. E originada pelo diabo (Jo 8.44); 5. Os santos devem repelir a mentira (SI 119.29); 6. Devem evitar essa maldade (Is 63.8); 7. Devem orar para serem preservados da mentira (SI 119.29);

8. Os hipócritas são dados à mentira (Os 11.12); 9. Os hipócritas causam a mentira (Is 57.4); 10. Os ímpios mantêm desde a infância (SI 58.3); 11. Os ímpios amam a mentira (SI 52.3); 12. Os ímpios buscam a mentira (SI 4.2); 13. A mentira é uma das características dos apóstatas (2 Ts

2.9; 1 Tm 4.2); 14. A mentira é um vício que exclui dos céus o indivíduo (Ap

21.27; 22.15); 15. O diabo exemplifica a mentira (Gn 3.4).

• Murmuração

É um outro pecado da língua, e se constitui um hábito que trai uma condição espiritual. Aos filipenses, Paulo exortou: "Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas" (Fp 2.14), e Pedro, em sua primeira epístola, aconselha-nos a deixar toda a malícia, e todo o engano, e fingimentos, e invejas, e todas as murmurações (1 Pe 2.1).

Moisés, quando conduziu o povo de Israel através do deserto, sofreu muito por causa desse problema: "Tenho ouvido as murmurações dos filhos de Israel", disse o Senhor (Nm 14.27).

A murmuração é falar mal de alguém ou alguma coisa: são as queixas de pessoas descontentes, e, portanto, é pecado, e muitos obreiros têm perdido a graça de Deus porque constantemente ocupam o tempo precioso que dis-

(8)ONTIW,V.5 P.139 42

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Põem para falar mal dos ungidos do Senhor (Tg 4.11), às vozes retendo pessoas ao telefone com palestras infindáveis, escrevendo para outras de muita ocupação, exigindo respostas, "ou fazendo perguntas indiscretas que forçam confidências", em vez de se ocuparem em cuidar do rebanho, como disse o sábio Salomão: "Procura conhecer o estado das tuas ovelhas; põe o teu coração sobre o gado" (Pv 17.23).

A recomendação é que devemos orar por aqueles de quem falamos mal, pois são pessoas iguais às demais, e sujeitas às mesmas ou piores tentações pelas quais passamos. Não toqueis nos meus ungidos" (SI 105.15), diz o Senhor, e quando murmuramos contra eles, fazemos a vontade do diabo; as conversas de ouvido em ouvido, as histórias que serão contadas baixinho, não poucas vezes são mentiras, boatos, difamações, calúnias, astúcias diabólicas para promover dissensões e roubar a paz dos que estão na igreja e em paz com Deus (v. Pv 21.23).

"Andar murmurando não conserta nada, antes põe muito acerto a perder" (Lv 19.16).

Há casas que são verdadeiros centros distribuidores de perversidades. Visitadas constantemente por pessoas do pouca ou nenhuma ocupação, é que aí são bem-vindas, justamente pelo novo material que trazem; não cessam a diabólica indústria contra a honra alheia. Tais casas não conhecem a paz nem prosperidade, por causa do ambiente envenenado que seus habitantes suportam (9)

Se o hábito dos murmuradores, em vez de carrear o mal, quer seja em palavras ou na preocupação de desferir al a quês, quer no papel, na tribuna convencional, no púlpito no rádio ou contra o colega (seu próximo - Lv 19.18) fosse aplicado em recomendações e admoestações, muitos livros teríamos para a edificação da igreja de Cristo enquanto milita na terra. Mas contas de telefones vão au-mentando cada vez mais, as visitas para se levar "notícias" como "sabe da última"?..., e deságua inflamação procedentes do inferno, de uma língua "cheia de peçonha mortal" (Tg 3.8), grassando o mal que sabe, o que viu e o

(9) E.P. Ellis 43

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que não viu; o seu tempo para cuidar do rebanho fica mais curto, e o seu círculo de amizades fica cada vez menor por se tornar indesejável: "Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis do todo o irmão que andar desordenadamente...", e "...se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe" (2 Ts 3.6,14). Este é o remédio do apóstolo Paulo para com os que assim procedem, e o Senhor Deus abomina (detesta, odeia, aborrece) o que semeia contendas entre irmãos (Pv 6.19b).

O pastor que vive murmurando dos membros de sua própria igreja e de seus colegas está em rebelião contra Deus, e precisa alcançar a cura através da oração e do louvor para que seu coração se encha de amor, regozijo e paz.

c) Tentações do Pastor

Poderia ter Jesus caído em tentação? Ele poderia pecar? Isto é uma velha questão que sempre aparece, e temos que pensar que Jesus também foi homem, e devemos nos lembrar de que, se a sua tentação foi verdadeira, a sua vitória também a foi.

A ocasião da tentação de Jesus (Mt 4.1-10; Lc 4.1-12) precisa ser bastante observada pelo caráter de seriedade que se reveste: não foi simplesmente uma solicitação de Satanás para induzi-lo ao erro, mas "as três tentações, juntamente, tinham por finalidade oferecer a Jesus o cumprimento de sua missão messiânica, de forma imediata, mas sob condições ditadas por ele, Satanás."(1)

O que é tentação?

Existem três conceitos que não são propriamente sinônimos(11) 1º) Prova 2º) Sedução 3º) Tentação A prova tem mais sentido positivo, e está ligada à ideia de

purificação:

(10) J.E. Orr (11) Pr. Jairo Gonçalves, Teses Pastorais, 1967

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a) Deus prova o homem: SI 66.10; SI 7.9; Pv 17.3; Gn 22.1 (tentou Deus a Abraão no sentido de provar); Êx 16.4; Dt 4.34 (com provas); 1 Pd 1.7 (prova da fé), Hb 11.17 (provado).

b) O homem prova a Deus: Ml 3.10; Ex 17.2; SI 95.8; Rm 12.2 (Experimenteis); At 15.10.

c) O homem prova o homem: Gn 42.15; 1 Jo 10.1; 4.1; 1 Co 13.5 (examinai-vos).

A sedução tem sentido negativo e traz a idéia de ser i ai içada por um inimigo e de arrastamento para o mal:

a) O Diabo seduz o homem. Gn 3.13 (enganou); Ap 2.10 (tentados); Ap 12.9 (engana).

b) O Diabo tentou seduzir Jesus: (Mt 4.3) c) O homem seduz o homem: Êx 22.16 (enganar); 2 Jo 7. d) O homem tenta seduzir a Deus: At 15.10.

A tentação representa a tensão espiritual provoca- da em todo ser humano pelas provas e seduções, enquanto ole viver.

"Dois chamados contrários ressoam simultaneamente ni alma do tentado e compelem-no a uma decisão num Hentido ou noutro."

Exemplo: a) Eva e Adão entre o mandamento de Deus (Gn 2.16) e a

sedução do diabo (Gn 3.5); b) Abraão entre a aliança (Gn 21.12) e a ordem divina para

o sacrifício de Isaque (Gn 22.1-11); c) O cristão entre Deus e o maligno (Mt 6.13); d) Jó entre o seu Deus (Jó 2.10) e Satanás, dissimulado na

sua mulher (Jó 2.9). "Disso tudo concluímos que a tentação pode provir de Deus e de

Satanás, mas com intenções completamente opostas: Deus tenta, prova, e seduz, tendo em vista o nosso bom ou um fim benéfico e positivo. O diabo só tenta e seduz (mas nunca prova), visando ao nosso mal ou a um fim maléfico e negativo."(2)

(12). T . Pastorais, VTI.47

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d) Perigos que Rondam a Vida do Pastor • Dinheiro O pastor deve ser um ganhador de almas por excelência (Mt

4.19), mas, lidando com aquilo que é material, deve fazê-lo com muita prudência.

A Palavra de Deus diz que as riquezas vêm de Deus (1 Cr 29.12), e a Ele pertence o ouro e a prata e tudo quanto existe na terra (Ag 2.8). Se o pastor é o mordomo do tesouro da casa do Senhor, ele precisa saber manobrar com esses valores e não deixar-se enredar por ele. "O servo do Senhor que lida com finanças deve ser o senhor do dinheiro, e não escravo dele." (Ver 1 Tm 6.9,10 )

Se a vida do obreiro não for equilibrada, se não cuidar das suas obrigações financeiras, sentir-se-á tentado a lançar mão de algo que não lhe pertence. Cedo ou tarde a igreja tomará conhecimento através de seus próprios atos. E alguns têm sido enlaçados pelo diabo com tentações, como:

• canalizar os recursos para construção de suntuosas propriedades particulares, enquanto a própria igreja necessita de reparos ou mesmo uma nova construção, de novas congregações, e equipamentos;

• aquisição de carros do ano com o dinheiro do suor das ovelhas, para sua comodidade e de sua família, enquanto os obreiros do campo não dispõem de nenhuma bicicleta para atender à obra do Senhor;

• aplicar o dinheiro da igreja e subtrair para si os dividendos que renderam durante o tempo da aplicação, enquanto as ovelhas passam fome e ficam sem a assistência que lhes garanta sobrevivência;

• emprestar dinheiro a juros (condenado pela Bíblia) dos polpudos dízimos dos mais abastados, a ponto de ser conhecido na cidade como "agiota", enquanto os cofres da igreja permanecem vazios para atender suas mínimas necessidades materiais;

• desviar dinheiro da igreja para suas necessidades pessoais e de sua família;

• levantar fundos, em grandes campanhas, para a compra de terreno para a construção de uma sede, e

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desviar os recursos para pagamentos outros que não o fim proposto e sem o devido esclarecimento à igreja; • endividar a igreja na aquisição de materiais de cons-trução ou equipamentos a ponto de estrangular as suas finanças, obrigando-a a ônus de juros insuportáveis e, consequentemente, ao sacrifício de seus membros. Por esse erro, muitos vêem suas obras paradas, tendo que negociar o imóvel para saldar os compromissos assumidos e não liquidados. Jesus ensinou sobre a construção e quando e como se deve colocar as bases para construir (Lc 14.28-30).

Infelizmente, muitos destes estão como os israelitas nos dias de Ageu, "Habitando em casas entaboladas, montando usinas, engenhos, situando fazendas, amontoando prata e ouro, enquanto a Casa do Senhor fica deserta" e “multidões perecem sem uma centelha da luz que projeta raios da colina do Gólgota" (A. T. Galvão). A mensagem do Senhor a Ageu é preciso ser lembrada: "Aplicai os vossos corações aos vossos caminhos. Semeais muito e recolheis pouco; comeis, porém não vos fartais; bebeis, porém não vos saciais; vestis-vos, porém não esquentais; e o que recebe salário o põe num saco furado. Olhastes para o muitos mas alcançastes pouco, e, quando o trouxestes à casa, eu assoprei: Por que causa? Por causa da minha casa, que está deserta, e cada um de vós corre à sua própria casa." Ac 1.5,9) e das palavras de Jesus: "Louco, nesta noite exigirão a tua alma; e o que ajuntaste para quem ficará?" (Lc 12. 20).

Uma das condições indispensáveis para se ser ministro é aborrecer a avareza (1 Tm 3.3; Tt 1.7), e o avarento é colocado em pé de igualdade com o idolatra, o roubador (1Co 6. 10). Ora, sendo semelhante à feitiçaria, claramente se Infere que não há distinção entre o avarento, o idolatra e o feiticeiro, e sua parte será no "lago que arde com fogo e enxofre" (Ap21.8).

Mas a tentação do metal precioso tem levado outros a viverem além de seus recursos materiais e a descuidarem das obrigações financeiras, causando, com isso, grande prejuízo para sua administração pastoral. "Que o pastor

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faça um orçamento de seu salário, aja com prudência e equilibre seus gastos. Não lhe cairia bem ficar sob suspei¬ta ante o rebanho."( 13) Deve ter boa reputação para com os que estão de fora e uma vida ilibada.

"Além de tudo isso, o maior inconveniente de o pastor negociar é que o comércio, via de regra, envolve a mentira e os negócios ilícitos e, com isso, vêm os escândalos: 'Nada vale, nada vale, dirá o comprador, mas, indo-se, então se gabará.' (Pv 20.14). Creio que pastores assim estão no mi¬nistério como peças colocadas fora do devido lugar. Melhor seria que renunciassem ao ministério e se dedicassem à vida comercial, já que para isso se sentem atraídos. Assim, talvez, sejam mais úteis à obra de Deus, contribuindo com os dízimos e prestando outros serviços que não os do pastorado."(14)

Paulo, em suas exortações e conselhos a Timóteo, diz: "Mas os que querem ser ricos caem em tentação e em laço, em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão" (1 Tm 6.9,11).

• Egoísmo O egoísmo é uma das doenças ligadas ao ego. É uma inclinação

humana que se tem feito sentir em todas as coisas e que domina o palco das atividades hodiernas.

"Refere-se ao apego excessivo a si mesmo e ao que se faz em detrimento dos interesses dos outros"(15) e nos incomoda quando a posição que ocupamos é ameaçada pelo soerguimento de alguém que procura ombrear-se conosco.

O perigo do egoísmo pode florescer bem cedo no coração do pastor, pois, na luta pela sobrevivência e pelo desenvolvimento, sempre são galardoados os mais esforçados e os mais capazes. Nessa autêntica competição, entram em jogo a nossa inteligência, a nossa aptidão para o trabalho, a nossa constância, o nosso espírito de realização.

(13) C.C. Andrade (14) Elysy Queiroz (15) Ultimato nov 76 48

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É comum o desejo de sucesso, o que não deixa de ser uma espécie de egoísmo que se avulta. Por incrível que pareça, chega-se ao ponto em que os interesses se chocam quando a ação de outro perturba a nossa. "Passamos, então, a encarar egoisticamente o egoísmo alheio." Justamente nesse ponto é que a nossa atividade deve ser limitada de maneira a não entrar em choque com o interesse coletivo.

Se olharmos exclusivamente para o nosso interesse, sem contudo procurarmos harmonizá-lo aos dos outros, criaremos por certo um malestar geral, um clima de discórdia e de contenda, e uma completa anarquia.

Quando alguma coisa aparece para obrigar-nos a esta-belecer um freio em nosso desejo de expansão, que sempre é cada vez maior, estamos sujeitos a deixar surgir então o tipo de egoísmo reprovável, essa maligna inclinação, que, se não for evitada, trará à tona a inveja e o ciúme, os quais, à semelhança dos mariscos, que aderem aos cascos dos navios, servem somente para retardar o bom andamento das realizações.

A solução para o pastor que se vê diante desse proble-nia é o desenvolvimento do espírito de compreensão e solidariedade.

O certo seria verificar se o nosso bem-estar e o nosso êxito estão construídos em detrimento de outros. Se isto está acontecendo, devemos estabelecer um limite nas nossas atividades e explorar outro setor de trabalho de maneira que não prejudique o nosso semelhante. ( 16)

Talvez alguns, pelos anos de ministério que têm, esesqueceram-se de que a humildade é um qualificativo daquele que conseguiu galgar as escadas do sucesso, e hoje, infelizmente, estão doentes com enfermidades ligadas ao ego, como:

a) Egocentrismo É a tendência de fazer de si mesmo o centro da vida.

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b) Egotismo É a tendência a monopolizar a atenção para a sua própria personalidade, desprezando as opiniões alheias. Só ele está certo.

c) Egolatria E a adoração ao próprio eu, o culto do eu. E o clímax de todas as doenças. E o caso do homem do pecado (2 Ts 2.4). O grande remédio para essas enfermidades é o sangue de Jesus Cristo, e estar crucificado com Ele, para que Ele viva em nós (Gl 2.19,20).

• Falsidade "Abomino e aborreço a falsidade; mas amo a tua lei" (SI 119.163). O coração do homem falso, diz o pastor Menezes, é um

altar onde é imolado constantemente o sacrifício da mentira; ele se levanta contra o inocente, defende-se com astúcia e disfarça com um riso, fechando o olho para alguém: abraça o amigo, pisca com os olhos e lá fora diz aos amigos de arte: "Ele me prejudica, vamos jogá-lo daqui". Deus exortou o povo de Israel, dizendo: "De palavras de

falsidade te afastarás,..." (Ex 23.7), porque quem usa de falsidade patrocina a injustiça, e nunca será justificado, porque Deus o considera ímpio. Vez em quando alguém sussurra em algum ouvido: "Fulano é uma boa pessoa, até gosto dele". Mas, cuidado, porque ele é o verdadeiro tipo do hipócrita, já está planejando ir à casa de outro, para aumentar a corrente de traição contra você. Não creias que todos quantos te rodeiam e te abraçam

sejam amigos leais como se aparentam. Absalão parecia ser um bom filho pela aparência do seu rosto, mas traiu seu pai e pagou caro tributo por esse ato de falsidade (2 Sm 15-18). Não te assentes, pastor, à mesa com o homem falso,

porque, se ele "maquina o mal na sua cama" (SI 36.4) e "maquina o mal contra o justo" (SI 37.12), facilmente "encherá o teu prato com hortaliça, a sobremesa com doces, encherá a tua boca com saliva de elogios, mas, quando

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Chegares em casa, as tuas orelhas estarão quentes", porque a língua falsa é forte e rápida como o deslizar de uma cachoeira para derramar ódio contra o próximo, difamando-o ocultamente.

Em nosso percorrer ministerial, temos observado que alguns obreiros intitulam-se de "bons servos", mas o tempo faz com que revelem suas máscaras, e deixem suas carteiras de identidade transparecerem: ...HIPÓCRITAS. E a falsidade, ainda que seja descoberta, é como "uma árvore que, cortada, torna a brotar; demora um pouco, mas, do aparece, tem mais varas e folhas, por onde oculta insetos destruidores".

• Imoralidade

Deve o pastor resguardar-se de cair na imoralidade, cujas conseqüências são a vergonha para a sua família e a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo.

O seu "modus vivendi" irá definir o sucesso de seu ministério, e assim como Cristo a si mesmo se entregou pela Igreja (Ef 5.25), o despenseiro deverá achar-se fiel ao Senhor e à sua companheira, e com ela conviver em harmonia, providenciando o seu bem-estar e dignificando-a. A promessa de Deus ao homem que teme ao Senhor é ser abençoado (SI 128), pois "comerá do trabalho de suas mãos, feliz será e lhe irá bem".

Mas como os demais crentes, o pastor precisa lembrar-se de que tem suas próprias tentações e não estará livre delas a não ser quando passar para a eternidade, salvo.

Amais poderosa arma do inimigo é destruir, escandalizar e envergonhar a autoridade dos filhos de Deus. E muitos obreiros estão caindo no pecado da prostituição, seja ela mental (Mt 5.28), carnal (Ex 20.14) ou espiritual (Tg 4.4), desonrando o nome de Jesus.

O serviço de visitas, por exemplo, é uma das partes do ministério cristão que requer a graça de Deus, em virtude do perigo a que se expõe. Satanás emprega todo o esforço para que o obreiro se dedique nesse mister, de corpo e alma, e assim estará o homem de Deus enfrentando o mais árduo de seus problemas (Pv 6.27), e não poucos têm sido

(17) J. Gonçalves 51

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levados à infelicidade e desgraça. A recomendação é que as visitas devem ser feitas com muita devoção e temor de Deus, sempre pedindo ajuda ao Senhor para não cairmos nas teias do maligno. Paulo recomenda não imitar certos obreiros que andavam de casa em casa (2 Tm 3.5-7). Somos testemunha de casos de dirigentes que, imprudentemente, conversam e oram, com esposas de maridos não-crentes, exatamente no horário em que estes estão trabalhando. Isto gera ameaças de morte aos neófitos por parte dos mais enciumados.

Não devemos usar de liberdade, porque somos ministros de Deus; mas devemos ter cuidado especialmente ao conversar com as irmãs.

Deve o ministro, diz Crabtree, ter muito cuidado no modo de cumprimentar senhoras bonitas e atraentes, e especialmente no modo de responder aos seus cumprimentos! Deve revelar nas suas palavras, nos seus gestos, a pureza dos seus motivos no seu serviço pastoral.

Os casos confidenciais de família, as confissões íntimas e mesmo no modo de ensinar, devemos ter cuidado para não colocarmos chamas inflamadas em nosso seio. Muitos filhos de Deus têm virado ao avesso e perdido o seu santo ministério nas horas em que conversam intimamente com alguém do sexo oposto. O espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26.41), disse Jesus. O convívio íntimo com a mulher é como o jogo de damas: em uma hora se perde tudo o que ganhou!

• Inveja

"O coração com saúde é a vida da carne, mas a inveja é a podridão dos ossos" (Pv 14.30).

Em uma alegoria, Edmundo Spencer pinta a figura montada num lobo, na procissão dos pecados. Masca um sapo do qual escorrem venenosos líquidos pela face abaixo. Usa desbotado manto cheio de olhos. Enrosca-se-lhe ao peito uma serpente.

A descrição não é exagerada, quando pensamos na destruidora obra da inveja. Quantos lares, casamentos e vidas destruídas por ela!

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A pessoa invejosa não sabe amar. Sabe apenas dominar, possuir.

A inveja fez com que "o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele" lançassem os apóstolos na prisão (At B 17). Também, "os patriarcas, movidos de inveja, venderam a José para o Egito". Caim assassinou seu irmão movido de inveja profunda, descaindo-lhe o semblante (Gn 4.6).

"O coração alegre serve de remédio..." (Pv 17.22a), mas inveja, pela depressão moral que determina, acarreta uma lenta deterioração física.

Quando alguém se encoleriza, o sangue fica envenenado por princípios tóxicos decorrentes de certos hormônios que se liberam. Ao contrário, a alegria purifica o sangue e prolonga a vida. Amando, a pessoa se dá sem forçar nem dominar. Amor verdadeiro é companheirismo, nunca domínio (Vide 1 Co 13.4-8).

A inveja oculta-se, por vezes, atrás de uma tela de boa Vontade. Reveste-se de palavras, como: "Sim, ele fez bem, mas..." e a chama irrompe. "Não gosto de dizer isto dele, mas..." e nova chama irada surge.

"A inveja é própria de imaturidade."(3) E maligna, diabólica e destruidora. Procede do próprio Satanás, que no princípio foi chamado de "Lúcifer" (filho da manhã). Ele é o nosso adversário, o enganador, e devemos nos precaver contra as investidas que faz, tentando corromper nossa moral e nosso caráter.

O ministro que deixa aninhar-se no coração a inveja, o ciúme, o ódio, está cavando a própria sepultura. O sucesso ministerial do colega pode levá-lo ao profundo da inveja, e está às acirradas críticas destrutivas por sua própria incapacidade de se igualar ao irmão.

A falta de visão e a incompetência doem mais no invejoso do que a própria dor física, quando o êxito dos outros pastores é patente a todos. E corrói... e irrompe em crítica impiedosa.

Outros há que ocupam seu ministério em rebuscar pormenores, por inveja, na vida de colegas com o fim de (17)J.Gonçalves 53

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derrubá-los de seus postos, ou para ocupar o lugar de algum ou dar a um terceiro de sua proteção.

Também a tristeza causada pela inveja, quando prolongada, cria no organismo elementos destrutivos, e Salomão, ao dizer que a "inveja é a podridão dos ossos", não estava usando uma hipérbole, mas confirmando um fato biológico.

O pecado se torna maior ainda quando a inveja é dos ímpios, porque implica em falta de horror ao pecado que lhes proporciona haveres, posições ou importância.

'Muitos daqueles que se julgam humildes - procuram simpatizar com os ignorantes e deseducados, "gostam de misturar-se com eles, não por simplicidade do coração ou amor ao próximo, mas porque, nesse meio inferior, evitam o contraste com as criaturas elevadas. Detestam, por inveja, os que ocupam alta posição social. Não podendo suportar a autoridade moral ou intelectual alheia, atacam-na pelo ridículo".(4)'

A inveja é a mãe do diabo, e ninguém está livre de ser ferido por suas terríveis garras. "A diferença entre ciúme e inveja é que o primeiro nos faz ter medo de perder aquilo que possuímos, enquanto que a inveja nos provoca tristeza pelo fato de os outros possuírem aquilo que não temos."(5)

A inveja dos ímpios:

SI 37.1,2 - "Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que obram a iniquidade. Por que cedo serão ceifados como a erva, e murcharão como a verdura.

" Pv 3.31,32 - "Não tenhas inveja do homem violento nem escolhas nenhum de seus caminhos. Porque o perverso é abominação para o Senhor, mas com os sinceros está o seu segredo.

" Pv 23.17,18 - "Não tenha o teu coração inveja dos pecadores; antes sê no temor do Se

(18) E.P. ELLIS (19) Ultimato, 3/78 54

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nhor todo o dia. Porque deveras há um fim bom; não será malograda a tua esperança."

Pv 24.1,2 - "Não tenhas inveja dos homens malignos, nem desejes estar com eles; porque o seu coração medita a rapina, os seus lábios falam maliciosamente."

Pv 24.19,20 - "Não te aflijas por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos ímpios; porque o maligno não terá galardão algum, e a lâmpada dos ímpios se apagará."

O Salmista Asafe estava enquadrado dentro destes salmos, pois ele mesmo declarou: "Pois eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios" (SI 73.3).

Mais adiante ele compreendeu, depois de muita perturbação, o resultado do sucesso dos ímpios: "Até que entrei no santuário de Deus; então entendi eu o fim deles. Certamente Tu o puseste em lugares escorregadios, Tu os lanças em destruição." (SI 73.17,18).

A inveja religiosa:

Gn 4.3-5 - "E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura, e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o seu semblante."

SI 106.16 - "E tiveram inveja de Moisés no acampamento, e de Arão, o Santo do Senhor. (Ver Nm 16.1-50).

Mc 15.10 - "Porque ele bem sabia que por inveja os principais dos sacerdotes o tinham entregado."

At 5.17,18 - "E levantando-se o sumo sacerdote, e todos os que estavam com ele, enche-

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ram-se de inveja, e lançaram mão dos apóstolos, e os puseram na prisão pública."

At 13.45 - "Então os judeus, vendo a multidão, encheram-se de inveja; e, blasfeman¬do, contradiziam o que Paulo dizia.

" At 17.5 - "Mas os judeus desobedientes, movidos de inveja, tomaram consigo alguns homens perversos, dentre os vadios e, ajuntando o povo, alvoroçaram a cidade, e, assaltando a casa de Jason, procuraram tirá-los para junto do povo." "Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia mas outros de boa mente."

Que cada pastor procure imitar a Cristo, "deixando, pois, toda a malícia, e todo o engano, e fingimentos, e invejas, e todas as murmurações" (1 Pe 2.1), e assim nunca será atingido por esse verme da inveja, e sua vida será um espelho para o rebanho do Senhor.

• Orgulho "A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a

queda " (Pv 16.18). O orgulho pode se manifestar na vida do obreiro de várias

formas, e, por ser "uma condenável exaltação do ego, o qual se delicia com o pensamento de ser superior a todos os seus semelhantes (20) torna-se "abominação ao Senhor" (Pv 16.5).

As formas de orgulho são: a) o espiritual; b) o intelectual; c) o material; d) o social; Todas essas formas de pecado têm procedência mundana, e

não do Pai (1 Jo 2.16). A soberba ou orgulho busca apenas a glorificação própria, o

culto ao próprio "eu", que emana do coração onde (20) O NTIVV, V.6P.243

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Se fixa uma desvairada paixão egoísta de viver superior aos outros, com lazer e conforto excessivos, como ostentar melhores vestimentas, olhar altivo, vida social regalada ou "a vida de vangloria - de presunção, de desejo pelo louvor e pela deferência, pelo deleite de ser considerado importante, de exercer autoridade sobre outros, de estar em primeiro plano; todas as vaidades vazias da moda e dos costume, dos títulos e ofícios; de uniformes e posição, das pequenas imposturas esnobes nas quais coisas os homens caem ... Não lhes importa que... perante Deus, nada disso tenha qualquer valor".(6) Infeliz é o homem chamado por Deus, vocacionado, à (Venle de um rebanho, e que se entrega ao:

- Orgulho espiritual

Foi por esse pecado que Lúcifer recebeu a sentença de Deus: "E contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo abismo" (Is 14.15), e "Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; em grande espanto te tornaste, e nunca mais serás para sempre" (Ez 28.19).

A sua soberba, a primeira espiritual do universo, teve Início na sua "perfeição em formosura", estava "estabelecido" e "Perfeito era nos seus caminhos desde o dia em que foi criado", "até que se achou iniqüidade nele" (Ez 28.12-16) Foi o "eu" que o levou a confiar mais em suas virtudes do que no próprio Criador que o estabeleceu (1 Co 7.20,24), como dizia em seu coração:

• "eu" subirei ao céu (Is 14.13); • exaltarei o "meu" trono (Is 14.13); • da congregação "me" assentarei (Is 14.13); • "subirei" acima (Is 14.14); •e "serei" semelhante ao Altíssimo (Is 14.14).

Nós, como este que se tornou o "Diabo", quando começamos a nos sentir auto-suficientes, é hora de acordarmos e nos lembrarmos de que o terreno que estamos pisando é movediço, e poderá nos tragar.

A sua ambição não lhe levou a ocupar a posição almejada, antes caiu na profundeza do mundo subterrâneo, foi (21) O NTIVV, V6P.243

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envergonhado e desonrado em sua morte. E muitos têm entrado por esse mesmo caminho.

O orgulho pastoral tem levado muitos a entrarem em negociatas, gastando o precioso tempo em reuniões de "conchavos" para estabelecerem suas posições, e da história da humanidade extraímos que não há nada que corrompa mais o homem que o poder sobre o seu semelhante. Daí, advém as resoluções carnais, como: "E, eu poderia ter resolvido diferente, mas já falei, e tem de ser assim mesmo". E muitas almas estão excluídas, fora da igreja, e não poucas no abismo por causa das resoluções carnais.

O orgulho leva o homem a desprezar o seu próximo, e ser desprezível aos olhos deste. Ele diz, fazendo coro com o antigo e repulsivo fariseu: "Graças te dou, ó Deus, porque não sou como os demais homens..." (Lc 18.11). Só ele tem razão, e todas as suas medidas são justas, e têm de ser aplicadas, ainda, que custem a perdição eterna do seu "algoz". Só as suas orações são ouvidas, e os seus conselhos têm de ser acatados. Mas Deus abomina esse tipo de orgulho espiritual "pelo fato de pensar ele ser bom e justo a seus próprios olhos. E o caso daquele que está vestido de trapos imundos a pensar que é o homem mais bem vestido deste mundo " (B. Graham). (Ver Tg 4.6 )

Muitos daqueles que se intitulam líderes, "ao invés de serem os pacificadores entre os irmãos, são geralmente os capitães dos partidos que se entrechocam". Perguntamos, então, como pode o Espírito de Deus operar diante dessa situação? Evidentemente que o Senhor Jesus Cristo não compactua com desgraça como essa. "E qual é o resultado dessas lutas fratricidas? A igreja local é debilitada e entra em opróbrio, ficando, algumas vezes, completamente destroçada. E depois, quem chora? Nenhum dos culpados, pois a auto-exaltação lhes parece muito mais importante do que o progresso da igreja de Cristo, de acordo com as suas mentes carnais."(22)

- Orgulho intelectual "Ser sábio aos próprios olhos" (Rm 12.16) é a qualida-de de

orgulho que se manifesta em forma de arrogância pe-

(22) O NTIVV, V3P.821 58

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rante as pessoas menos iletradas e dos oprimidos. Não foi assim com Jesus Cristo, "que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus" (Fp 2.6). Que sentimento! Antes, "aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens " (v.7). Aquele que estava com o Arquiteto do universo, quando te era projetado (Pv 8.22-31), não se jactava de seus feitos na presença dos oprimidos (Mt 8.4), porque a soberba é inimiga do Evangelho. Sua confiança estava em Deus (Jo 11.41).

O sábio intelectual estriba-se no seu próprio entendimento (Pv 3.5b), e o pastor que é "sábio aos seus próprios Olhos" esquece-se de que sua capacidade de entendimento e saber vêm de Deus (1 Rs 3.12; Tg 1.5).

Quão difícil foi para Festo (At 26.28) sentir o toque do Espírito Santo em seu coração para tornar-se um cristão e ter que disfarçar o seu orgulho, por ser rei. Jamais aceitaria Um Evangelho que foi dado aos "pobres de espírito". Sua soberba lhe custou uma eternidade sem Deus... Era muito sábio... E o que dizer de Naamã? (2 Rs 5.1-14). O preço da sua humilhação foi a cura da lepra do seu corpo, quiçá de seu espírito. Através da humildade e da mansidão, podemos ser "exaltados soberanamente" (Fp 2.9).

O apóstolo Paulo é o exemplo de sabedoria, e não se gloriava nela (1 Co 1.17-19), "porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens" (v.25). Antes, gloriava-se no Senhor (v.13).

Foi, sem dúvida alguma, das figuras de maior proenência da história do cristianismo, não só pelo seu talento de erudição como também pela sua eloqüência verdadeiramente surpreendente. Surgiu no cenário quando nenhum dos primitivos apóstolos poderia desempenhar bem o encargo de levar o Evangelho a outros mundos, pois o cristianismo já tomava caráter universal.

A capacidade intelectual estava nesse homem, filho de pais fariseus, grupo mais legalista e puritano da religião; rabino aplicado à Lei. E Deus necessitava de um homem cujo desembaraço, ilustração e entranhada dedicação ao bem geral o tornasse apto para levar a esses lugares a mensagem do Evangelho - "um homem que não somente 59

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fosse um judeu para os judeus, mas um grego para os gregos, um romano para os romanos, um bárbaro para os bárbaros, um homem que pudesse discutir com os rabinos nas sinagogas, com os magistrados nos tribunais e com os filósofos nos seus templos da ciência".(23 )

Entretanto, não se ufanou por isso, qualificando-se, antes, a si mesmo, como "miserável homem que sou" (Rm 7.24).

- Orgulho material A soberba proveniente dos bens materiais pode levar o homem

a esquecer-se de Deus, à ruína e à perdição, como disse Paulo a Timóteo: "Os que querem tornar-se ricos, caem em tentação e em laço, e em muitos desejos insensatos e nocivos, os quais arrastam os homens à ruína e à perdição "(lTm6.9).( )

Mas o perigo não está em ser rico neste mundo: Abraão, Jó, Salomão e muitos outros o foram, mas em colocar o coração na riqueza (Mt 6.21; Lc 12.20).

O verdadeiro sentimento de ser rico é "possuindo tudo, como nada tendo", "como pobres, mas enriquecendo a muitos" (2 Co 6.10), porque "na soberba trazida por bens materiais, entroniza-se o ego em vez de Deus. As coisas secundárias são exaltadas a um lugar de primeira importância, e a vida se desequilibra. Então, concentra-se naquilo que tem e não naquilo que é, aos olhos de Deus.

"A soberba material tende a levar o homem para a cobiça. "(25) Feliz é o pastor que, tendo acumulado riquezas neste mundo,

não esquece do seu dízimo integral (Ml 3.10); dos mais necessitados: "Quem pois tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as entranhas, como estará nele o amor de Deus?" (1 Jo 3.17; At 4.34,35); das construções dos templos; das viúvas e dos órfãos; dos missionários e dos grandes projetos que edificam o reino de Deus. (23) James Stalker (24) Trad. Brasileira (25) Billy Grahan 60

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• Preguiça “Nada fazer é o caminho certo para não ser ninguém”. A recomendação do apóstolo Paulo ao jovem Timóteo foi para

que ele procurasse apresentar-se a Deus como "obreiro aprovado" (2 Tm 2.15) e aos romanos, que apresentassem seus corpos "em sacrifício vivo" (Rm 12.1), pois a felicidade do ministério, em grande parte, é determinada pelo que o pastor faz com o seu corpo e o seu intelecto.

Mas, sendo o próprio pastor quem determina a sua cota diária de trabalho, estará fadado a entregar-se de corpo e alma às atividades pastorais com sucesso, ou a uma prestação de serviço superficial, negligenciando seus hábitos diários. A formiga tem uma vida exemplar pura a indolência: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, Olha para os seus caminhos, e sê sábio; a qual, não tendo superior ou juiz, nem oficial, nem dominador, prepara no verão o seu pão, na sega ajunta o seu mantimento. Oh! preguiçoso, até quando ficarás deitado? quando te levantarás do teu sono? Um pouco de sono, um pouco tosquenejando, um pouco encruzando as mãos, para estar deitado;assim te sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade como um homem armado” (Pv 6.6-11).

A preguiça, como um dos pecados capitais, destrói a oportunidade e mata a alma, pois significa "aversão ao trabalho, indolência, vadiagem, negligência, ociosidade, descuido".

No campo espiritual, "traz consigo não só a idéia de vagarosidade ou desinclinarão para as coisas espirituais, mas, também, de apatia e inatividade na prática do cristianismo". (7) Ela é o parâmetro entre aquilo que se é hoje o que se poderia ser amanhã.

A Bíblia nos revela as atividades materiais e espirituais incessantes de homens que tiveram seus ânimos redobrados (Jr 20.9; Js 1.2,6,7,9; Hb 11.32-38; Is 40.29-31), e do próprio Jesus Cristo, ainda que as Escrituras não esclareçam sua atividade material, é fácil deduzir que (26) B.Grahan

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sua gloriosa missão tríplice de pregar, curar e ensinar (Ml. 4.23), ele era um homem ocupado no trabalho (Is 53.3; Ml. 13.55; Jo 5.17), e, se ele trabalhou, foi para deixar o exemplo e não permitir a indolência no caminho cristão. "Se alguém não quer trabalhar, também não coma" (2 Ts 3.10).

Quando o pastor entrega-se à indolência, negligencia a leitura da Bíblia, torna-se um preguiçoso mental e, consequentemente, suas mensagens passam a não convencer; ele perde a visão, as convicções, a energia e o poder, e, com isso, o seu trabalho não rende, não podendo recolher os frutos de sua atividade precária.

Muito embora sendo "digno de seu salário" (1 Tm 5.18), passa a entrar para a galeria dos necessitados e a sofrer os efeitos da fome, visto que a pouca quantidade de membros de sua igreja não lhe pode oferecer o suficiente para a sua sobrevivência. Com isso, arvora o pretexto de estar passando "provação" de Deus.

E preciso que se note que há diferença entre a preguiça e a situação de necessitado, porque "a preguiça faz cair em sono profundo, e o ocioso vem a padecer fome" (Pv 19.15), e o necessitado, que não tem de onde tirar, precisa ser ajudado (1 Jo 3.17). Não estamos querendo dizer que Deus não possa provar o homem, pois, em muitos casos, a necessidade tem origem numa prova que Deus impõe, pois, do contrário, iríamos atribuir preguiça a todos os casos de provações vindas do céu.

Conseqüências da preguiça • O servo inútil deixou de negociar o talento recebido: "foi e

cavou na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor" (Mt 25.18). O seu pecado de nada fazer custou-lhe a sentença: "Mau e negligente servo... Tirai-lhe pois o talento... Lançai o servo inútil nas trevas exteriores" (Mt 25.26a, 28a, 30a).

• “Em verdade vos digo que vos não conheço” (Mt 25.12), foi a sentença para as cinco virgens loucas que não levaram azeite consigo, descuidaram de se preparar para esperar o noivo. (Ver Ef 5.14)

• Uma vida fria, sem alegria, sem entusiasmo, especialmente quando se negligencia a oração (1 Ts

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5.17). "Pelo fato de sermos preguiçosos e indolentes, negligenciamos a oração, e, assim, secam-se os nossos mananciais espirituais " (B.G.).

• O constante "deixar para amanhã" vai acumulando seus afazeres, chegando a um ponto tal, crítico, incapaz de ser levado adiante. Diz Billy Graham( ) que "a palavra de ânimo que devíamos levar a um amigo desencorajado, a ação ajudadora que tornaria mais leve e mais suportável o fardo de alguém, um pouco de dinheiro colocado amorosamente na mão do necessitado - eis aí ações negligenciadas que nos trazem remorso e privam outros da ajuda tão necessitada."

Não é só isso: muitos pastores negligenciam também (Rm 12.11): • no seu modo de conversar; • no modo de vestir; • no pagar seus dízimos e ofertas (Ml 3.10); • nos seus próprios hábitos; • no asseio e na limpeza pessoal; • no amor para com o próximo; • no exame das Escrituras Sagradas (SI 1.2); • na oração. • Outros perigos Além das tentações e dos perigos em que o pastor está sujeito a cair, outros rondam a sua vida, e o irmão Emílio Conde expõe alguns que podem servir de alerta aos que "não amaram as suas vidas" (Ap 12.11): 1. Alegria resultante do seu sucesso na Obra do Senhor É comum ver alguém se regozijar numa vitória espiritual, mas

necessitamos medir o grau do nosso regozijo, porque às vezes a nossa alegria não é do Senhor, mas carnal, e, sendo assim, estamos em perigo de sermos presos nas teias de Satanás. Saul alegrou-se nas vitórias que o Senhor lhe havia dado, mas o Senhor não se alegrou com a sua (de Saul) alegria (1 Sm 15.13-26). (27) Sete Pecados Mortais, p.66

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O apóstolo Paulo, certa vez se regozijou de seu trabalho, mas voltou atrás, dizendo: "Não eu, mas a graça de Deus que está comigo" (1 Co 15.10).

E bom que se diga de muitos ministros que têm tropeçado nessa pedra, levando uma vida de satisfação própria; gozo em si pelos trabalhos realizados; têm a satisfação de ver sua própria voz gravada, seja no vídeo ou na TV; fazem questão que o coro e a banda de "sua" igreja recebam o primeiro prémio e os principais elogios, e daí por diante, as coisas passam para o plano, não de sacrifícios da obra do Senhor, mas de exibicionismos.

Pelos nossos sucessos espirituais, seremos tentados a ser arrebatados, como desejavam fazer com Jesus, para o fazerem rei (Jo 6.15).Como Ele, nossa atitude é de nos retirar, entrar num lugar a sós, para estar com Ele e nos livrar de toda tentação.

2. Rotina natural: pregar, orar e visitar A vida do pastor é de constante sacrifício no altar,

especialmente no seu escritório. Onde ele estiver, deve ali ser um santuário com a presença do Senhor.

Conta-se que certa feita D.L. Moody estava num barbeiro fazendo a barba, todos conversavam. Chegando a sua vez, pôs-se a falar do Senhor Jesus. Quando saiu, alguém perguntou quem era aquele homem. Foi dito que era o Sr. Moody. Ah! disse o interlocutor: "Por isso é que aqui parecia um santuário."

De fato, o obreiro do Senhor deve levar consigo o santuário celestial, com a unção dos céus.

Então, todo o seu trabalho não é uma coisa simplesmente rotineira, mas o estar na presença do Senhor.

3. Zelo e esforço próprio com o fim de alcançar um certo objetivo, mas perder o primeiro amor

Esse foi o terrível erro dos que serviam em Éfeso. Havia muitas obras, trabalhos, perseverança e até zelo para não suportar os maus; havia amor pelo nome do Senhor com sofrimento, etc. Porém, tudo isso junto, pesando na balança, não dava o peso certo do primeiro amor. 64

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primeiro amor se resume nisso: "Eu sou todo dEle e Ele é todo meu". Mas, quando falta o primeiro amor, passa a ser "Ele é todo meu, mas eu não sou todo dEle". Então ficamos pertencendo a mais alguém...

Aqui está o grande perigo: dividirmos o nosso amor, a nossa dedicação e o nosso prazer com mais alguém, e até a nossa devoção. O esforço para ganhar nome e posição no trabalho do Senhor é muito perigoso, e isso já havia nos dias de Paulo (Fp 1.15-19).

3. Comodismo profissional

pastor realmente não é empregado da igreja e não tem um

cartão ou relógio de ponto para marcar seu horá; também não há ninguém atrás dele para lhe expedir ordens de trabalho.

Quer isto dizer que pode ir aonde quiser e fazer o que ?

Obviamente que não, pois o pastor deve sempre ter no Senhor Jesus a sua direção; mesmo quando temos a opurtunidade de estar à beira de um rio, numa chácara ou numa estação balneária.

Por não ter hora de trabalho, muitas vezes às madrugadas é

chamado para atender a um aflito, o que deve ser feito com alegria e temor no coração. Contudo, deve e precisa ter suas horas para o descanso (Mc 6.31).

2. A VIDA PESSOAL "E difícil exagerar o valor da saúde para o ministro do

Evangelho. Devemos nos lembrar, todavia, de que alguns pastores de corpo fraco ou de saúde abalada tiveram recursos intelectuais e espirituais para triunfar sobre as suas fraquezas físicas e exercer o seu ministério com eficiência, prestígio e poder. Não devemos enganar a nós mesmos quanto aos meios de conservar a saúde ou as forças que ameaçam destruí-la. Alimentando adequadamente o corpo,e observando períodos de recreação e descanso, bem como as horas regulares de comer e dormir, o pastor pode trabalhar arduamente, ficar interessado nos problemas e

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responsabilidades pastorais, sem prejuízo para a saú-de(1) a. O Corpo "O corpo são é o agasalho da alma; o enfermo, sua pri-são(2) O homem é constituído de uma trilogia, isto é, corpo, alma e

espírito. A ética nos ensina que o homem, para cumprir a sua missão aqui na terra, precisa reconhecer os seus deveres tanto para com o corpo como para com o espírito. Jamais atingirá o seu alvo, o seu desiderato, se desprezar os deveres relativos ao corpo; condenar-se-á ao mais completo fracasso na vida se também desprezar os deveres relacionados com o espírito. Desta forma, se constitui de corpo espírito, logo tem o compromisso de conservar tanto os dons corporais como os espirituais, a fim de cumprir com a gloriosa missão moral dada por Deus.

Diferentemente do animal, cuja existência justifica-se pela lei da preservação, o homem não apenas come e bebe para satisfazer o seu apetite ou saciar a sua sede, mas come, bebe e vive para o cumprimento de sua missão neste mundo.

E necessário, ainda, que o pastor tome o devido cuidado do corpo, a fim de que tenha boas condições de saúde e, consequentemente, a disposição espiritual no desempenho de sua missão.

E mister que se diga que, por mais árduo que seja o trabalho do pastor, não lhe é direito o sobrecarregar-se demasiadamente sem medir bem as suas capacidades; isto lhe diminuiria o vigor do corpo em detrimento de um melhor desempenho.

Temos, então, o corpo como o lar, a morada do espírito, e qualquer coisa que venha lhe prejudicar a saúde, causando-lhe distúrbios no organismo, é proibida pela ética. Desta forma, cumpre ao homem resistir a tudo aquilo que tende a enfraquecer e a inutilizar o corpo.

"O homem perfeito é aquele cujo corpo é são, e cuja (1)ARCrabtree (2) Francis Bacon 66

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alma é pura". Ele merece o maior cuidado na sua preservação, devendo ser mantido nas melhores condições possíveis para o desempenho de sua missão, mesmo porque ele “é o templo do Espírito Santo”, que habita em nós, proveniente de Deus (1 Co 6.19).

• Cuidados com o corpo O ar A função do ar é queimar os resíduos que não podem ler

aproveitados pelo corpo, fornecendo-lhe a renovação do calor. Assim como o corpo necessita de uma boa alimentação, também os pulmões necessitam de ar, ar puro, e deve o liomem fornecê-lo ao seu organismo. Ar impuro muitas vezes tem sido a causa de moléstias.

A limpeza A pele exerce função de alta importância no corpo. O banho

diário é imprescindível, pois os poros precisam ficar ilrsimpedidos e em bom funcionamento. A negligência a asse princípio, isto é, a falta de higiene, pode acarretar o surgimento de algumas moléstias, e, por isto mesmo, “insiste a ética no banho diário, essencial à limpeza e ao bom funcionamento do corpo".

• Exercício físico Sem o exercício físico, o corpo pode perder o calor e a

abundância de vida tão necessária ao homem no cumprimento do seu dever.

"O corpo é uma máquina que se enferruja quando não v usada. Enfraquecido por falta de exercício, ele se torna cada dia mais susceptível de doenças e muitas vezes morre não tanto pela própria moléstia, mas pela sua condição físca."

A impossibilidade do pastor na prática de exercícios diários, face à sua condição física, ambiental ou mesmo funcional, deve levá-lo a evitar a vida sedentária, e esforçar-se em caminhar o máximo possível, a fim de manter a forma e o equilíbrio orgânico, para que possa cumprir sua missão.

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• O descanso O corpo tem certos limites que precisam ser respeitados. O

trabalho esgota-lhe as energias, e o repouso é o que faz com que os danos causados pelas horas de trabalho sejam reparados. Um automóvel nunca pode ser consertado quando em movimento: é preciso que esteja parado. Os reparos no corpo são feitos quando este está parado.

As férias são necessárias para o ministro, que, após um ano de constante agitação, deve gozá-las.

O pastor que não se afasta da igreja com receio de que seus auxiliares venham a ocupar o seu lugar não deve estar muito seguro de que a posição que ocupa tem a aprovação divina. Feliz é o obreiro que sabe preparar o seu substituto e desfruta da confiança de toda a igreja. Esta reconhecerá o seu merecido descanso.

• O sono O sono insuficiente é um dos fatores de perturbação da saúde.

As consequências da falta de sono nem sempre se fazem sentir imediatamente, mas é certo que se sofrerá mais cedo ou mais tarde.

Uns têm necessidade de mais horas de sono que outros, e, geralmente, oito horas são suficientes para os adultos.

Para se ter um bom sono, as condições ambientais devem ser bem agradáveis, como uma cama asseada e confortável, e ser indispensável que o ar circule livremente, isto é, deve haver entrada para o ar fresco e escoamento para o ar viciado. Uma fresta de janela em cada um dos extremos do quarto é o quanto basta.

As constantes e exaustivas viagens empreendidas pelo pastor no exercício do ministério, e as noites de vigílias, seja com o grupo de oração ou na tentativa de sair incólume dos grandes problemas, que lhe subtraem as horas de sono exigidas pelo seu corpo, devem ser compensadas, a fim de que isto não contribua para o seu desequilíbrio emocional com consequências para o rebanho que cuida. 68

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- A Insônia As principais causas de ausência de sono são a instabiIidade, a

insegurança, a tensão e a ansiedade no homem moderno. Essas vítimas travam, durante a noite, verdadeira batalha na hora de dormir.

"Existe a insônia ocasional, que ataca em épocas particularmente difíceis, de excepcional tensão, como a preocupação com dívidas a pagar, aborrecimentos e problemas ou dificuldades sérias, viagens ou outras situações”(3) Isto é apenas um acontecimento extra na vida da lossoa e, cessando o motivo de suas preocupações, cessa a insônia, e ela volta a ter seu sono tranquilo.

Já a insônia crônica, a que ataca sistematicamente o Indivíduo, pode derivar-se de um grave problema emocionais ou mesmo pode ter origem física (disfunção do sistema nervoso), tornando-se um constante incômodo na vida da pessoa. O uso de soníferos não deve ocorrer, de forma alguma, sem receita médica.

Tipos de insônia

Segundo o Dr. D. Freind, há quatro:

1. de tensão

O sujeito vira e revira antes de cair no sono pro¬fundo;

2. de fadiga

O indivíduo adormece logo após a refeição, para acordar

pouco depois e passar o resto da noite em claro;

3. de aflição física

O sujeito não dorme devido a dores de cansaço;

4. flutuante

O sujeito dorme e acorda, flutuando entre os dois estados.

(3) T. Marius de Moraes

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b. A Alimentação "Os médicos trabalham sem cessar para conservar I nossa

saúde, e os cozinheiros para destruí-la; os segundos estão certos do seu êxito." (Diderotf)

Comprovadamente, os pastores são o tipo de grupo que não fuma, não bebe e não joga, e a variedade do seu serviço o expõe menos às lutas mentais e físicas do que as pessoas de outras profissões, e o coloca, ainda, em condi¬ções superiores frente às doenças e perturbações e tristezas pela fé genuína em Cristo Jesus. E se todos eles tivessem conhecimento das leis sanitárias, não violariam as leis da saúde e lhes seria prolongada em muito a sua vida.

Ordinariamente, aceita-se que as doenças resultam de transgressões às leis físicas, e aqueles que as transgredirem por certo hão de sofrer as consequências. "Grandes prejuí¬zos e verdadeiros fracassos têm causado a falta de saúde naquilo que o homem devia realizar".(4)

Grandes homens de Deus, apesar do ardor que inundara suas almas para a conquista de pecadores, encurtaram seus próprios dias de vida tal fora a aplicação em jejum e oração noite e dia. Um desses homens, por exemplo, Davi Brained, andava, às vezes, perdido à noite no ermo, apanhando chuva e atravessando montanhas e pântanos. Franzino de corpo, cansava-se nas viagens. Tinha que suportar o calor de verão e o intenso frio do inverno. Dias a fio passava-os com fome. Contudo, reconhecia que não podia viver, por causa da sua doença, mais que um ou dois anos, e resolveu, então, "arder até o fim". Aos vinte e nove anos findou sua carreira aqui no mundo, após viagens árduas no ermo, de aflições incontáveis, com dores incessantes no corpo e tuberculoso. Mas, apesar de toda a sua fraqueza física, fez mais do que a maior parte dos homens faz em setenta anos. Esta verdade final foi patente na vida de Jesus, declarada pelo apóstolo do amor: "Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem" (Jo 21.25). (4) Langstron 70

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Poucos hoje, entretanto, podem legar este exemplo a uma nova geração que surge. Os mais fortes, que conseguiram vencer etapas como essas, têm o justo e merecido desuso e as regalias do conforto e bem-estar de fim de carreira.

Embora o trabalho ministerial seja fatigante, não deve o ministro deixar-se dominar pelo seu apetite, e tem que considerar a fome como um meio e não como um fim.

"A falta de restrição do apetite produz dois vícios inteiramente opostos:a) leva o homem a apetecer somente iguarias finas, muito especiais;

b) leva-o a comer demais e de tudo. "Um vício leva a pessoa a comer demais; o outro, a ser muito

exigente."(5) Muitos pastores, também, correm contra o tempo para dividirem-

se em grandes banquetes, não observando as restrições dietéticas, muito menos as recomendações éticas. As facilidades que têm de receber convites para tais, sejam de membros da igreja ou de organizações, põem-no em contato desregrado com guloseimas.

Mas uma das regras mais importantes para manter-se em forma é não sobrecarregar o organismo, antes, deve-se comer com moderação, regularmente, de modo que se antenha o peso normal, que deverá ser controlado. Eis o peso ideal para a medida de cada homem:

(5) Langstron 71

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O conselho mais importante que hoje se pode dar esposas desgostosas por seus maridos estarem perdendo o vigor e a energia da juventude é:

- evitar dar-lhes refeições demasiadas copiosas; - vigiar para que o peso nunca exceda em mais de 1 ou 2 quilos

o peso normal controlado. Cada quilo acima do normal significa um ano de vida a menos em relação à idade que o ser humano pode atingir.

Não devemos esquecer que comer mal, comer pouco ou demais são igualmente nocivos. Antes de mais nada, a refeição deve representar sempre uma base de tranquilidade, porém é necessária a opinião e a obra do médico para que as regras de comer bem se transformem em normas individuais.

A bebida também influi sobre a saúde. O nosso corpo é constituído de 60% de água, e, por isso, a água é por demais necessária ao seu funcionamento.

c. A Vida Emocional A Psicologia define a emoção como um estado psíquico cuja

principal característica é o grau muito forte de sentimento a uma atividade motora quase sempre intensa, e se constitui como uma das experiências mais fundamentais do ser humano.

Apesar da Bíblia Sagrada não registrar especificamente esta palavra, nós temos condições de observar expressões inteiramente idênticas, que evidenciam o aparecimento de reações emocionais. Os Evangelhos relatam experiências do Mestre que denotam fortes emoções, como quando fala da sua partida deste mundo para a pátria de onde veio, o Céu:"Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis" (Jo 14.19). Nosso Senhor vive a "antevisão de sua partida, determinada em razão da sua paixão/compaixão. Na compaixão, a emoção é profunda demais, pois envolve o doar-se pelos outros. Sair de si é uma emoção ativa e altruísta, no sentido de aliviar a dor e a tristeza dos outros. Jesus, no

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seu caso, doa a libertação do pecado e, consequentemente, a redenção da alma".(6)

A emoção é um caminho longo e de difícil acesso, que precisa ser percorrido pelos que abraçaram o ministério, e iniciado já. Mesmo o próprio psicólogo-mor, Jesus Cristo, não foi poupado dessa percepção, quando expressou-se: "A minha alma está cheia de tristeza até à morte" (Mt 26.38; Mc 14.34; Jo 12.37). (v. Lc 22.15; Jo 17.13, etc.)

O Dr. Crabtree recomenda O cuidado especial que o pastor deve ter quanto à sua vida emocional, considerando ler uma tarefa difícil para aqueles que se criaram em lares afetados por desentendimento entre seus pais, bem como para os que herdaram geneticamente fraquezas físicas que resultam certas doenças. Contudo, isto não deve servir de motivo para desestímulo, antes, deve ser capaz de estudar as fraquezas de sua própria natureza, e exercer um esforço para se controlar.

O melhor remédio para o ministro que vive uma vida de intensas emoções é identificar em que situações seus descontroles emocionais ocorrem e, a partir desse ponto, executar um trabalho preventivo e de reeducação de suas emoções. Esses fatores "psicológicos, orgânicos e sociais" Que o envolvem é que precisam ser detectados, e não tem sido tarefa fácil para a Psicologia classificar as emoções, Que, à vista disso, as tem separado em grupos:

I. Emoções primárias São as ligadas a atividades provocadas e dirigidas para um

objetivo, como: a) o medo E uma emoção de afastamento, e envolve uma fuga do perigo. Ele

pode estar relacionado à nossa imaginação (duvidas, suspeitas, fantasias, etc), ou resultar de desvios de educação moral e espiritual.

Quando os espias israelitas foram enviados a espiar terra de Canaã, manifestaram medo no excesso da imaginação (transformaram homens comuns em gigantes) Nm

(6) Juventude 3T/85

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13.16-33. Os discípulos de Jesus, assustaram-se quando O viram caminhando sobre o mar (Mt 14.22-36; Mc 6.45,46; Jo 6.15-21), e gritaram com medo: "E um fantasma". Isto foi um excesso da imaginação, que gerou falta de fé, e a incredulidade transforma a coragem em covardia e medo. "O medo é como areia na engrenagem. A fé é como o óleo. As coisas andam melhor se forem movidas à base da fé."

Os desvios de educação muitas vezes iniciam no lar e na infância com formas disciplinares inadequadas. E várias são as associações do medo com relação à prática condenada sob todo ponto de vista moral, que reflete no desvio espiritual. Mira y Lopes apresenta algumas máscaras do medo, que por muitas vezes nos ludibriam:

• acanhamento e timidez (educação defeituosa. Crisálida). • escrupulosidade (inquietação de consciência, remorso). Em excesso, torna-se sintomático.

• pessimismo (excelente capa do medo). • ceticismo (que duvida de tudo, descrença) tem fé na falta de fé; constitui o cético a glorificação da anulação, o culto ao nada.

• mentira (mentir para deixar de ter medo e sentir medo por haver mentido).

O medo deve ser evitado, pois traz o fracasso e perturbações à personalidade do indivíduo.

Além do mais, o pastor inseguro está transmitindo o medo e a insegurança ao rebanho do Senhor, contrariamente ao que a Bíblia ensina através do próprio Cristo, seus apóstolos e tantos outros mártires cheios de fé e confiança, que não amaram as suas vidas, antes as "crucificaram com Cristo" (Gl 2.20).

O medo causa preocupação. A preocupação nos torna tensos e nervosos, afetando o estômago e causando, verdadeiramente, modificações nas secreções gástricas, que passam a ser anormais e conduzem, muitas vezes, a úlceras de estômago "devido não ao que comemos", mas "devido ao que nos está comendo". Platão disse que o "maior erro que os médicos cometem é procurar curar o corpo sem tentar curar o espírito; no entanto, a mente e o corpo são unos, e não devem ser tratados separadamente".

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Por que acomodar o medo às nossas reservas, quando nosso coração pode ser cheio de ideais nobres, de justiça, quando "na caridade não há temor, antes a perfeita caridade lança fora o temor, porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em caridade?" (1 Jo 4.18).

Esse é o espírito que deve ser passado às ovelhas, e como escreveu P. E. Holdcraft, o pastor deve ter as seguintes qualificações: "a força de um touro, a tenacidade de um buldog, a audácia de um leão, a paciência de um jumento, a operacidade de um castor, a versatilidade de um camaleão, a visão de uma águia, a brandura de um cordeiro, a pele de um rinoceronte, a disposição de um anjo, a resignação de um doente incurável, a lealdade de um apóstolo, o heroísmo de um mártir, a fidelidade de um profeta, ternura de um pastor de ovelhas, o fervor de um evangelista e a devoção de uma mãe"."

b) a cólera "Acontece quando surgem barreiras que se opõem à iralização

de objetivos, especialmente se essa realização lei continuamente frustrada." Pode ter início num leve eutimento de irritação.

c) a tristeza

Esta está ligada à perda de valores ou pessoas. d) a alegria

Na alegria, o ponto convergente é a busca e a obtenção de um

objetivo, e o nível de tensão criado determina a intensidade da emoção. "Quanto mais importante for o objetivo, maior será a tensão, e muito maior será a alegria, quando esse objetivo é alcançado."

II. Emoções ligadas à estimulação sensorial O sentimento emocional que resulta de uma estimula-ção

sensorial (sensação), tende a ser dirigido para o objetivo positivo ou negativo.

a. a dor física b. repugnância

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c. a desprazeres d. prazeres

III. Emoções ligadas a auto-estima

Estão ligadas à percepção que a pessoa tem do seu comportamento com relação a vários padrões de comportamento, como:

a) êxito b) fracasso c) orgulho e vergonha d) culpa e remorso

IV. Emoções ligadas a outras pessoas

a) amor (desde uma suave emoção até um sentimento mais profundo)

b) ciúme (às vezes de intensidade desproporcional à situação) c) inveja (emoção negativa do eu; ver na posse de outro, o que achamos que devia ser nosso)

d) ódio (o núcleo essencial da emoção de ódio é o desejo de destruir o objeto odiado).

Paulo, na sua antevisão, deixou registrado o que sobreviria nos últimos dias, isto é, tempos trabalhosos, homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus (2 Tm 3.1-4). Aliado a isso tudo, temos a crise econômica, a instabilidade política, a mudança dos padrões de vida, a confusão do quadro institucional instável, a descrença no futuro, a apostasia, preocupações, ansiedade, frustração, infelicidade e temor, que são formas comuns de distúrbios emocionais despertados pelas dificuldades da vida moderna. Esse quadro corrobora com o que disse Jesus em Mateus 24, mas enfatiza:"... olhai não vos assusteis..., mas ainda não é o fim " (v 6).

E o pastor que se apercebe desse famigerado espetáculo e não exerce um esforço sobre-humano para se controlar, certamente amargará suas tensões nervosas, que culminarão com o estresse.

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V. Reação às emoções Uma vida saudável e alicerçada na Palavra de Deus fará com

que o ministro saiba superar tempos em que se defronte com situações semelhantes em sua igreja. Saiba, portanto, portar-se emocionalmente diante de:

1. Ansiedade É um estado que desterra a alegria de viver e implanta tristeza

e a depressão, que consequentemente pode gerar Ira, o medo e a revolta. E qualquer que se permitir viver a angústia ou na aflição logo admitirá que isso é a vontade de Deus para a sua vida.

Não há problema tão grave que não mereça a complacência do Senhor. O salmista exortou "Descansa no Senhor, e espera nele" (SI 37.7) e, se temos um advogado para com o Pai, as nossas causas passam a ser dele; porém, quando nos expectamos pela falta de fé e assumimos a defesa, retirando o "processo" de suas mãos, sentimos a angústia habitual saturando a alma, o que passa para o físico, produzindo estados emocionais desagradáveis. A ansiedade no corpo produz dor de cabeça, dores abdominais e lamaçais, úlceras, erupções na pele, alergia, males do coração, asma, vômitos, diarréia, prisão de ventre, dispnéia, etc, o que pode deixar o angustiante paralisado. E isto é tânico e não provém de Deus.

Também "gememos", como disse Paulo (Rm 8.23), fios de preocupações e dificuldades. Mas será que a ansiedade constante em nossa vida resolverá os nossos problemas? Claro que não! "Há pastores que sofrem de angústia crônica, magoando diariamente o coração com um problema que no momento não tem solução." O remédio é confiar no Senhor (SI 40.4).

O grande sábio Salomão disse: "O coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz secar os ossos" 17.22). O Senhor tem cuidado de nós (1 Pe 5.7).

2.Estresse

Este tipo de tensão "indica sempre uma angústia e ansiedade

diante de uma ameaça. Fisicamente, essa situação provoca uma liberação acima do normal de substância, como a adrenalina. Elas aumentam os batimentos 77

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cardíacos e a transpiração, preparando o corpo para en frentar um perigo. Emocionalmente, a situação de ameaçi vem acompanhada de irritação e um estado de desconloi tu intenso. A manutenção deste estado de alerta por muitfl tempo leva ao "apagamento do doente".(7)

Assim, o estresse é tensão mental, física e emocional que, perdurando, pode chegar ao esgotamento. E não são poucos os pastores que evidenciam marcas de estresse em seu corpo, sem se aperceberem disso. Alguns sinais, se sentidos, podem revelar que a "máquina" precisa ser "reparada", ou seja: depressão; dor persistente; fadiga; falta de habilidade para dizer "não" às pessoas mesmo sabendo que cumprir o prometido é quase impossível; perda das opções, isto é, não há alternativas para soluções de problemas.

Algumas desvantagens do trabalho pastoral foram anotadas pelo Dr. Willian Bil Viser(8), e, se a tempo obser vadas, evitarão ao máximo as frustrações de se sentirem inadequados pelo trabalho que realizam.

a) O casamento deve ser modelo de perfeição. b) Pressões de tempo e horários, devido ao trabalho excessivo. c) Falta de privacidade (não há segredos). d) Estresse financeiro, necessidade de a esposa trabalhar fora. e) Cobrança aos filhos de atividades ou atitudes que correspondam às expectativas da igreja. i) Falta de relacionamento íntimo com os outros casais da igreja.

g) O marido, ao servir aos outros, negligencia sua própria família.

h) As expectativas da igreja não levam em conta o lado humano do pastor e de sua esposa.

i) A igreja dita à esposa do pastor seus deveres e a- titudes, de modo a produzir nela um sentido de exploração. j) Estresse emocional, causada por situação de crise.

(7) Fanny Sygbrand (8) Visão Missionária 4T/87

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1)Crítica injusta por parte dos membros da igreja, m)Confusão sobre posição e papel da esposa do pas-tor. n) Pastor à disposição dos outros 24 horas por dia. o) A família pertence à igreja, p) O pastor trabalha quando outros folgam, q) Pressão dos colegas, quanto à conformação e à competição, r) Ninguém ministra à família do pastor.

Para que esse mal seja sanado, apresentamos alguns conselhos que ajudarão o pastor a evitar tensões desnecessariamente, para o bom desempenho de seu ministério:

a) não faça tudo no último minuto, evitando se apressar. O planejamento com antecedência é um ótimo remédio contra a tensão;

b) não leve para a mesa de refeições os seus múlti-plos problemas; atenha-se a saborear o alimento que ingere;

c) planeje suas férias regularmente e imponha o seu próprio tempo, repousando o suficiente física e mentalmente;

d) não faça tudo ao mesmo tempo e estabeleça prio-ridades, concentrando-se no que faz no momento;

e) estabeleça uma rede de apoio e não se impaciente demais e verifique se o objetivo pelo qual está lu-tando é realmente compensador;

f) preencha mais o seu tempo no lar com a família, distraindo-se mais com seus filhos, e acrescente coisas novas ao seu trabalho: jardim, selos, sítio, limpeza, fotografias, etc. Se possível, afaste-se da cidade.

g) "Aceite a realidade. Mude o que você pode mudar e aceite o que você não pode mudar."

h) O riso É uma faculdade humana que processa no or-

ganismo uma espécie de massagem muscular que queima ou descarrega humores. O riso estabelece uma harmonia entre o ser que vive e o mundo que

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lhe fica ao redor; propicia uma atmosfera de bem-estar para o seu corpo e para o seu espírito. Desenvolva seu senso de humor.

Salvo quando estamos doentes, rir atenua o peso das preocupações, adoça o sabor das responsabilidades e propicia harmonia funcional do or ganismo.

i) não dispense, de forma alguma, os cuidados rnj dicos e psicológicos necessários à sua saúde.

Dessa forma, se o estresse é um processo cumulativo, o que se deve fazer é "manter baixo o nível através de alguma providência cabível e frequente, como descansar com freqüência, manter uma atitude positiva acerca de nós mesmos e de outras pessoas, enfim, mantermo-nos física e mentalmente sadios, através de uma alimentação e um estilo de vida adequados ".(9)

O único que pode baixar o seu próprio potencial de estresse é você mesmo, pastor.

4. Fadiga

Segundo o Dr. H. J. Hoxie, não é o trabalho que causa a fadiga

de que sofrem muitas pessoas, mas a atitude mental para com os problemas da vida. O sentimento de insegurança, inferioridade, frustração, ansiedade e descontentamento é que tornam enfadonho o trabalho. Uma atitude de indecisão, a sensação de monotonia, ou o conflito entre o sentimento do dever e o desejo de fazer algo diferente, produzem aversão ou aborrecimento. Perde-se o espírito de iniciativa e diminui a eficiência no trabalho quando se nutrem sentimentos de amargura, inveja, preocupação, ansiedade, egoísmo, ira ou ressentimento.

O estado de fadiga tem uma consequência comum, ou seja, uma diminuição da capacidade funcional. O ritmo humano, a pressão subjetiva, a perseguição, a irritação, a pressa, o ruído, as aglomerações e os hábitos sedentários da vida humana coadjuvam com a aparição da fadiga, e esgotam a reserva de energia nervosa. (9) L. Cristã out/83 80

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A fadiga funcional torna-se crónica porque se baseia em atitudes mentais de constante ansiedade. Esta destrói o interesse e o entusiasmo, sem os quais existe pouca inclinação não para o trabalho. E os "distúrbios de caráter também comum, isto é, a monotonia, são bons indicadores da fadigo e, às vezes, são acompanhados de distúrbios de memória e de atenção".

A irritabilidade, a agressividade, as crises nervosas e a depressão nervosa geram a hipersensibilidade e a intolerância aos ruídos.

Em definitivo, assim como a fadiga pode atingir na na sociedade moderna o simples trabalhador e o executivo, muito mais o que está operando o rebanho do Senhor Jesus Cristo.

Modelo teórico da acão do estresse sobre a fadiga e sobre o acidente de trabalho. Representa as

estruturas nervosas superiores que determinam esta ação.

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Ninguém pode ter abundante energia sem o refrigério e o amparo da força espiritual. Davi desejava ardentemente um "refrigério para a sua alma" (SI 23.2), e o profeta Isaías assegura que Deus "dá esforço ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor..." porque "os que esperam no Senhor renovarão as suas forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão " (Is 40.29,31).

O descanso é muito importante em nossa vida (Mc 6.31), e a fé na misericórdia de Deus, e a certeza de que nossos pensamentos, palavras e ações estão em harmonia com a sua vontade proporcionam-nos descanso mental, porque o Senhor assume todas as nossas tensões (Mt 20).

d. Meditação Se a vida do pastor é cheia de emoções, culminando muitas

vezes com um desgaste físico, estresse e até mesmo doenças, isto significa uma forte razão para que, em sua vida ministerial, reserve um tempo para a meditação profunda.

O pastor que, na sua agitação, não encontra reservas para estar a sós com Deus, acabará por certo sendo dirigido pela razão e por suas próprias conclusões, uma vez que o diálogo entre ele e Deus deixará de existir.

Descansar, orar, meditar e também cultivar a presen¬ça de Deus são maneiras poderosas do ministro conservar-se forte para o desempenho de sua missão.

Jesus compreendia a grandeza de sua responsabilidade perante o mundo - um povo contra Ele e um mundo esperando por Ele - e, mesmo no curto espaço de tempo de execução de seu ministério na terra, sempre encontrou razões sobejas para estar a sós com Deus, orando (Lc 9.18), mesmo em agonia (Lc 22.44), ou meditando (Mt 14.23; Mc 6.46;v.Dn6.10,ll).

Mesmo que o ambiente esteja tenso ao nosso redor, Jesus é o Príncipe da Paz que nos faz repousar em águas tranquilas, como o fundo do mar que não se apercebe de nenhum indício de tempestade nas ondas violentas de um furacão do oceano, na superfície, de ondas revoltas e espu- 82

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ejantes. Isso pode significar ter paz com Deus - porque to é algo que reside bem no fundo de nosso coração, e esmo a maior perturbação ao nosso redor não pode destrí-la.

Feliz é o pastor que tem um recanto onde pode absorver de Deus o máximo para a sua vida de observação, quer avando a terra, plantando, cultivando ou na contemplação da natureza. Nesses momentos, muitas respostas vêm os céus ao inquieto coração ávido de resoluções na obra de eus.

Os discípulos observaram dia a dia o Mestre levantar-cedo de manhã, muito antes da aurora romper, e dirigir-a um solitário lugar para orar. Não era somente nos mo-entos de perigo que se limitava à oração, exemplo que evemos seguir.

Muitas vezes fazemos da oração uma obrigação; oramos por um senso de dever e bocejamos sonolentos (Mt 26.40-43), mesmo quando a dor nos prende em suas garras. Mas a oração não é um simples dever e, sim, um privilégio c oportunidade ímpar de cultivarmos a amizade com Deus.

A meditação deve ser acompanhada do espírito de contrição e reconhecimento da soberana vontade de Deus para a nossa vida e nunca no transe de "nossos" sucessos espirituais, do que "fizemos" ou do que "somos".

Muitos pastores preferem viver do passado, olhar para trás a olhar para a frente, pelo simples fato de se lembrarem de onde já estiveram, em vez de imaginarem o lugar onde Deus os deseja colocar à frente.

Devemos nos lembrar de que o estar com Deus em oração ou meditando favorece uma atmosfera apropriada para o contato com o Céu, mesmo que seja no trabalho diário ou no burburinho de uma rua movimentada; isto erguer-nos-á ao trono de Deus e será a respiração de nossa alma.

O pastor também, vez por outra, poderá ser levado a transformar suas meditações em amarga lástima ao Criador. Se puder se lembrar nessas horas de que as pessoas diferem umas das outras e que Deus "de um só fez todas as raças" (At 17.26), que as flores também diferem uma das

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outras, que o canto dos pássaros também é diferente, mas que fazem parte da criação de Deus, estará certo de que também ele é diferente das demais pessoas e que Deus o ama como é realmente.

Mas se os pensamentos humanos continuam a afadigar-nos por causa de pequenos problemas ou complexos, isto não faz, na verdade, diferença "à luz da eternidade". A nossa vida é como um caminho: tem esquinas, montes, descidas, horizontes - lugares para além dos quais só podemos ver pela fé. Isto quer dizer que não adianta querer virar a esquina antes de nela chegar, ou subir a um monte antes de o atingir.

Se em suas meditações, pastor, o senhor vier a sentir desânimo ou desencantamento, deve lembrar-se de que Deus está sempre mais perto quando estamos angustiados ou aflitos; de que a "lua não pode brilhar tanto quanto o sol, mas tem trazido alegria a incontáveis almas solitárias. O lugar a que você aspira na vida não tem exigências tão grandes que você não possa cumprir, se porfiar com bastante ardor". Portanto, deve se esforçar no lugar em que se acha a ser a melhor criatura possível.

e. Velhice A velhice é um processo fisiológico lento. Estudos têm

comprovado que o funcionamento ótimo dos órgãos do corpo é alcançado entre os 20 e os 25 anos de idade sendo possível se estabilizar nesse nível por longo tempo. Com o passar dos anos, esse funcionamento começa a apresentar um acentuado declínio. Em alguns casos, pessoas com 70 anos de idade ainda podem estar de posse de suas faculdades e ter os órgãos funcionando como aos 30 anos, enquanto outros requerem cuidados especiais constantes devido às doenças que atacam as pessoas idosas. Em muitos casos, um regime alimentar inadequado e a falta de exercícios são causas que fornecem as doenças associadas à velhice.

Certo é que a velhice sadia e tranquila começa a ser preparada nos primeiros meses de vida, e já é lugar comum afirmar-se que "os anos não representam sempre velhice".

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• Evitando a solidão Os seres humanos têm a tendência de tornarem-se irritadiços

com o decorrer dos anos. Essa irritação os torna ranzinzas mal-humorados - a tal ponto que ninguém gosta de se aproximar deles. E como a história do leão e do chimpanzé, que podem ser, na juventude, bons amigos do homem. No entanto, ao envelhecerem, ficam maus e selvagens, e mesmo tão perigosos que têm que ser colocados numa jaula. Nem mesmo o seu domador se atreve mais a se aproximar deles.

Por isso, à medida em que vamos ganhando idade, devemos nos conservar sociáveis, bondosos e bem-humorados, a fim de que não seja criada uma verdadeira barreira entre nós e os nossos parentes, nossas ovelhas, e mesmo nossos amigos, especialmente os jovens. Devemos permanecer bondosos e atenciosos para com os nossos semelhantes.

O pastor, mesmo no exercício do seu ministério, será bem sucedido se conseguir controlar seus nervos e conseqüentemente, manterá sua calma na maioria dos casos. E como diz J. W. Storerr (1) "A nossa velhice deve ter a relação com a vida que o sol poente tem ao firmamento. Somos peregrinos neste mundo, e todas as noites estamos arrumando a tenda mais perto do nosso Eterno Lar", e é verdade o dito: "Logo que começamos a viver, começamos também a morrer".

Portanto, é mister que uma das coisas que devemos aprender é dar atenção ao que dizem as outras pessoas. Há pastores que não têm mais a paciência para ouvir os casos que lhe são trazidos pelos membros de suas igrejas, e os dispensam ou designam sempre outras pessoas para atenderem. Por outro lado, outros velhos se tornam paulificantes e se isolam porque costumam falar sempre, e não querem ouvir nunca o que os outros têm a dizer. E a história que têm para contar é sempre a mesma, só se preocupando com o passado.

Mas aquele pastor que planejou sabiamente a sua velhice será muito mais feliz no outono da vida, e a sua vida (1)A Dout. Bíblica do Ministério, p. 78

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intelectual e espiritual será mais rica e preciosa, especialmente quando estiver examinando a sua Bíblia ou outros livros, o que em tempos anteriores não pôde fazer.

• Frutos na velhice A função principal da vara da videira é dar fruto, e não produzir

madeira. Jesus deixou bem claro isto: que ele é a videira verdadeira e nós, as varas (Jo 15.5). Florescemos como a palmeira e crescemos como cedro do Líbano.

A palmeira é a concretização da graciocidade ereta; o cedro, da força e da majestade. Floresce o justo, não como o ímpio, que "brota como a erva para ser destruído para sempre" (SI 92.7); mas para ocupar um lugar de honra, estabilidade e dignidade nos "átrios do nosso Deus".

O dar fruto na velhice, ser viçoso e florescente, está na promessa de Isaías 40.31: "Os que esperam no Senhor renovarão as suas forças...", pois é através da vitalidade que se deve cantar louvores a Deus (SI 92.2) com os lábios, e, também, no fim da vida, "ser para louvor da sua glória" (Efl.12).

De Moisés se disse: "Não se lhe escureceram os olhos, nem se lhe abateu o vigor" (Dt 34.7). "Sua sabedoria era madura, e sua memória, rica além de todo o cálculo."

Muitas vezes as doenças físicas e mentais podem limitar severamente este quadro, mas, no caso de Moisés, oferece um padrão de perseverança espiritual para o nosso encorajamento. Morreu com a idade de 120 anos, e "nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera cara a cara; nem semelhante em todos os sinais e maravilhas, que o Senhor o enviou para fazer na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos, e a toda a sua terra; e em toda a mão forte, e em todo o espanto grande, que obrou Moisés aos olhos de todo o Israel" (Dt 34.10-12).

Mas, em se tratando do crente como ramo da videira, vamos encontrar umas varas mais "novas", outras mais "velhas"; umas mais "fracas", outras mais "fortes". Excluindo a metáfora, Paulo se achava no contexto dos que precisavam de ajuda: era o "velho" (Fm 9), era vara mais "fraca". 86 86

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"No passado, os antigos tinham em grande conta e respeito as pessoas idosas, como que possuíssem sabedoria especial, o que exigia, de certa forma, respeito dos outros. Ao interceder por Onésimo a Filemom, Paulo talvez quizesse dizer: "Agora sou velho (ainda que não fosse considerado um ancião), tenho servido a Cristo através desses anos e perdi minha juventude e saúde em todos os meus sofrimentos (2 Co 11.23-29), porém não quero usar de minha autoridade senão apelar para que Onésimo me assista em minhas aflições, como um filho que possa trabalhar em linha companhia, favor esse que bem podes, ó Filemom, outorgar-me!" '

Foi nesse espírito de amor, e não através de uma ordem, que compeliu a Filemom não só a lhe enviar Onésimo, como também o conduziu no caminho do bem. Toda ação cristã deveria ser motivada por esse espírito de amor de que era possuidor Paulo, cujos rigores de sua vida não rrancaram de seu coração a bondade no tratamento com as almas preciosas.

As suas epístolas, de modo especial as pastorais, revelam profundo entendimento acerca da ética em todos os seus níveis. Com singular sabedoria pôde exortar, condenar, aconselhar, historiar, comparar e convencer. Mesmo aos velhos, sabia exortar.

Escrevendo a Tito, diz: "Os velhos que sejam sóbrios, graves, prudentes, sãos na fé, na caridade, e na paciência" ti 2.2). Embora Paulo não estivesse especificamente se irigindo aos governantes eclesiásticos, mas a vários grupos de idosos que naturalmente eram considerados líderes naturais dos mais jovens, alertava-os sobre a insensatez na velhice, que era considerada como alguma coisa vergonhosa e fora de propósito.

Além disso, "a idade deveria aumentar a piedade, infámente com a autoridade e o prestígio: e aquelas tentações que tão facilmente atraem e derrotam os jovens - deveriam ter sido conquistadas desde há muito pelos homens idosos. Todo homem de idade avançada deveria ser dono de uma sabedoria sazonada, de dignidade e de com-

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postura espiritual que os jovens geralmente não possuem".(2) Portanto, aos velhos, especialmente aos investidos de

autoridade ministerial, requer-se o ser bem equilibrado; respeitoso; nobre; digno; prudente; moderado; sadio com a doutrina (1 Tm 1.10; 2 Tm 4.3; Tt 1.9), com a mente (2 Tm 1.7), com palavras (2 Tm 1.13), com a linguagem (Tt 2.8); sadio na mais elevada de todas as virtudes - o amor (Gl 5.22) e também constante.

• Prevenção para a velhice No estado atual dos nossos conhecimentos, a prevenção é o

único meio de retardar o envelhecimento biológico e as doenças relacionadas com a terceira idade, e de assegurar uma velhice ativa e produtiva. As possibilidades de ação preventiva são as seguintes :(3)

a) diagnóstico precoce de doenças frequentes entre os idosos e tratamento eficaz e oportuno. Deste modo, chega-se à velhice em boas condições físicas e intelectuais;

b) preparação para a aposentadoria: visa a preservar o bem-estar físico e intelectual e atenuar o choque psicológico causado por essa retirada da vida ativa. Esta preparação deveria começar por volta dos 50 anos, idade em que a personalidade é ainda flexível e adaptável;

c) quanto às pessoas idosas, é importante um modo de vida saudável, exercícios físicos, alimentação equilibrada e um ritmo de vida diário. Nas atividades cotidianas, deverá dedicar um tempo razoável ao descanso adequado. E necessário atentar para o fato de que os idosos não tenham um desgaste físico excessivo, favorecendo as atividades que não lhes causem fadiga.

Devemos, assim, estar preparados para a velhice, como também ser bastante realistas quanto ao fatídico inesperado, sabendo que a qualquer momento o dono de (2) ONTIW,v.5p. 426 (3) Edit Beregi 88

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nossas vidas pode nos tomar para si, como Enoque, que andou com Deus, e "não se viu mais porquanto Deus para Si o tomou" (Gn 5.24). E também, "se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um idifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus" (2 Co I D.

Quando Deus confia a homens a mordomia de Seus bens, Ele não questiona a idade de cada um (Gn 21.2), mas |ue se ache fiel (1 Co 4.2), que faça tudo "conforme as suas forças, porque na sepultura não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma" (Ec 9.10).

Acabando a carreira, não há vanglória no dever cumprido, mas a satisfação de perder a vida por amor a Cristo, Porque a nossa carne é "como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor" (1 Pe 1.24). E o que é a nossa vida? E como uma córrente d'água; como o sono (SI 90.5); como um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece (Tg 4.14); é como nada diante do Senhor (SI 39.5); é como a nuvem que se desfaz e passa (Jó 7.9); é como a sombra, que foge e nao permanece (Jó 14.2); é mais veloz que um correio (Jó 9.25); é mais veloz que a lançadeira do tecelão (Jó 7.6); é como o navio veleiro que passa e como a águia que se lança à comida (Jó 9.26), enfim, o "homem, nascido de mulher, é de bem poucos dias - e cheio de inquietação" (Jó 14.1).

3. A VIDA FAMILIAR a. O Lar O lar foi instituído por Deus: "Portanto deixará o homem o seu

pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma só carne " (Gn 2.24). Desta forma, o casamento remonta ao Eden, e Deus o instituiu como guardião do amor. É o casamento que protege o amor, e não o imor que protege o casamento, dizia Bonhoeffer, porque: esfriando o amor, o casal permanece casado, e a injunção de Deus é que "reaprendam a amar".

Ao levar Eva a Adão, Deus mesmo lhe ensinou a significação do casamento. Assim, o casamento vem a ser um ompromisso definido de amar a pessoa com quem casa-

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mos. Esse primeiro casamento foi contraído por um casal perfeito. Adão não tinha cometido pecado quando Deus lhe deu uma esposa.

"Na economia divina do casamento", um é pouco, "não é bom que o homem esteja só...", dois é demais, "por isso serão os dois uma só carne". No casamento não temos duas metades que fazem um todo, mas um mais um que se tornam UM. No casamento, dois seres diferentes e diferenciados se adaptam, se amoldam, se integram, se unificam. Há o desenvolvimento dos indivíduos como indivíduos que colimam ser pessoas integrais e integradas ao seu cônjuge, complementando-se mutuamente". (1)

Assim, essa dependência um do outro, "não é bom que o homem esteja só..." (Gn 2.18), indicava o cimento que haveria de unir todos aqueles que constituíssem lares depois disso.

O Éden foi, então, um lar recém-saído das mãos de Deus. E o centro de todo o tempo e "o símbolo da eternidade". Ele surgiu com o próprio homem. "Tem o lar prioridade sobre o Estado, a escola, a Igreja ou qualquer outra instituição. O lar tem tido, naturalmente, os seus dias sombrios, os seus 'avessos'. Os séculos revelam mudanças em suas atitudes e relação, mas tem sempre existido esta unidade-família, este agrupamento fundamental para proteção, economia, procriação, desenvolvimento e amor. E o plano de Deus para aqueles que Ele criou. Participar na ereção de um lar cristão é estar em sociedade com Deus, e ter uma oportunidade de colaboração com as forças do seu universo. "(2)

É interessante frisar que a posse de uma casa não significa absolutamente a existência de um lar. Muitos lares funcionam satisfatoriamente sem o privilégio de uma casa estabelecida.

"Algumas famílias há que só estão reunidas quando em viagem. Não lhes é possível ter um lugar fixo de residência. A família pioneira, caminhando com toda a sua bagagem no dorso de um cavalo nem por isso deixava de se constituir um lar. Outras causas têm conservado a família

(1) Segisfredo S. Wanderley (2) Martha B. Leavell 90

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sempre em mudanças: os negócios do pai, a saúde da progenitora, vantagens para as crianças, e muitas outras circunstâncias exigiram vida nómade. Em tais agrupamentos, os seus respectivos membros, ligados por afeições e mútuo esforço, podem apenas dizer uns aos outros: "Quando estou convosco, estou no lar."(3)

O próprio Jesus deixou o seu lar nos céus para regressar algum tempo depois, e aqui, não tinha onde reclinar a abeça (Mt 8.20). "Havendo, pois, os elementos amor (ágape, amor puro, sentimento recíproco) + dedicação (que a maior expressão do verbo servir) + compreensão (que é entir o sentimento um do outro) + paz haverá, conseqüentemente, um LAR; caso contrário, haverá apenas uma casa, um ajuntamento de duas vidas."(4)

"De todas as influências que ajudem ou que prejudiquem a vida profissional do pastor, talvez a do seu lar seja mais poderosa. Certamente a influência da família é inseparável do seu serviço pastoral. Se fracassar como marido ou como pai, é impossível que seja eficiente como pastor, embora tenha os dons naturais e o melhor treinamento para a sua profissão."(5)

b. A Esposa Convém lembrar que, quando Deus criou o homem, Ele se

preocupou com a sua solidão no Jardim do Eden e go providenciou-lhe uma companheira, criando-a com as uas próprias mãos divinas. "Não é bom que o homem estejam só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante de-"(Gn2.18).

Para o homem que Deus criou, não havia entre todos animais um que lhe servisse de companhia. Por meio de processo que a ciência chamaria "anestesia", e que a íblia chama "sono", pôde tirar uma costela do homem e formar Eva.

É bom notar que "o ato de Adão dar nome à sua mulher implica na sua autoridade sobre ela". Esse é um ponto (3)Martha B. Leavell (4) Gustavo Kessler (5) A.R. Crabtree

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de vista essencialmente bíblico: "o marido é a cabeça da mulher" (Ef 5.23). O varão é a cabeça da mulher. Em 1 Coríntios 11.3, existe certa ordem decrescente de autoridade; cada ser tem o seu "cabeça". O cabeça, como diretor do corpo, representa autoridade. Assim, de todas as famílias do Céu e da Terra, Deus é a cabeça. O Filho estabeleceu o exemplo: Ele declarou que o Pai é maior do que Ele mesmo (Jo 14.28), e foi em obediência ao Pai que Ele cumpriu e está cumprindo a sua missão. Embora haja igualdade entre as pessoas da Trindade, o Filho dá honra ao Pai. Assim, apesar de serem o homem e a mulher seres iguais deve a mulher obedecer ao marido, deve dar-lhe honra, aceitando-o como cabeça nos moldes da Palavra de Deus. O homem não é independente, porquanto nem ao menos é o Senhor de seu próprio destino. A mulher não é espiritualmente inferior ao homem, mas está subordinada a ele nesta esfera terrena.

Portanto, Paulo apelou para a ordem natural divina das coisas, a fim de enfatizar a necessidade de submissão da mulher ao seu marido. Muitas pessoas modernas consideram intolerável tal ensino, porque, alegam, contradiz a chamada "Igualdade dos sexos". Porém, na maravilhosa ordem da criação, cada parte tem seu próprio lugar e função. Aspirar a "igualdade" com todos foi, segundo a Bíblia, o "pecado de Adão", consubstanciado no orgulho. Nesta época em que cada qual ambiciona a "igualdade", e ninguém está disposto a tomar forma de servo, o ensino bíblico forçosamente tem que ser ofensivo; mas devemos insistir em que não é de Deus o falso sentimento de igualdade dos sexos. Isso não exalta a mulher, senão que a desonra, e cria a anarquia (falta de governo) que conduz ao descontentamento e à discórdia. A mulher tem a sua própria excelência, uma excelência distinta da do homem.

As ideias exageradas de subordinação feminina levaram os judeus a não permitirem que suas mulheres participassem das formalidades religiosas de sua fé. "Melhor é queimar os livros da lei do que permitir que uma mulher aprenda a lei", era o que pensavam os extremados.

Os antigos criam na superioridade intelectual essencial dos homens sobre as mulheres (o que está provado ser 92

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Um mito), e ensinavam que os companheiros constantes da mulher nas sociedades eram os escravos e as crianças, e nao os homens livres. Além disso, muitas culturas antigas tinham a mulher em pouca conta, sobretudo a cultura judaica.

Alguns rabinos chegavam mesmo a duvidar de que as mulheres tivessem alma. Não era bom costume social um homem conversar em público com uma mulher, a fim de nao cair sob suspeita de intenções adúlteras. Por isso, alguns judeus negavam-se a falar em público com suas próprias esposas, para que outras pessoas que não sabiam ser a esposa viessem a suspeitar deles.

É interessante que Jesus não aderiu à severidade judaica com referência à subordinação da mulher. Seus discípulos ficaram surpresos de que Ele "...estivesse falando com uma mulher..." (Jo 4.27), o que nos revela que eles compartilhavam do pensamento judaico. Jesus, sabendo que a samaritana estava sem instruções religiosas, começou a examiná-la. A tradição rabínica degradava a posição da mulher e nenhum rabino se teria rebaixado, como Jesus supostamente o fazia, instruindo uma mulher sobre assuntos religiosos. Considerava-se impossível que uma mulher absorvesse qualquer verdade mais profunda e, assim seria, como diziam, preferível queimar a lei a tentar instruir uma mulher. Outras crenças não eram nem são muito diferentes disso. Maomé nada fez para melhorar as condições da mulher, que é, evidentemente, rebaixada, na religião que deixou, como uma criatura inferior. Algumas mulheres ob-tiveram proeminência no mundo antigo, mas isso foi mais uma questão individual do que direito de uma classe.

Com o advento do cristianismo, o casamento alcançou santidade e significação tais como nunca se ouvira falar nos tempos antigos. A dignidade da mulher, de há muito esquecida, foi como que redescoberta, e seu valor reconhecido.

A mulher deve muito a Cristo e ao cristianismo. Mas, quanto à mulher ser esposa do pastor, o Dr. Marion H.

Nelson diz que isto se "constitui uma das coisas mais problemáticas e perigosas para qualquer mulher". A

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esposa do pastor pode ser a causa da sua vitória ou de sua derrota como ministro do evangelho.

0 grande sábio Salomão disse que " o que acha uma mulher acha uma coisa boa e alcançou a benevolência do Senhor". (Pv 18.22). Lutero, referindo-se à esposa que Deus lhe deu, disse: "Eu jamais trocaria a minha pobreza com ela por toda a riqueza de Creso sem ela". Referindo ao matrimónio, declarou: "O benefício maior que Deus pode conceder a um homem é dar-lhe uma boa esposa, piedosa, com quem possa ele viver em paz e tranquilidade, a quem ele possa confiar todos os seus bens, mesmo a sua vida e o seu bem-estar."

Aqueles que têm esposas que são verdadeiras bênçãos nas mãos de Deus, e às quais devem grande parte do seu sucesso pastoral, devem agradecer aos céus por as possuírem. Revendo, entretanto, a história, encontramos desastres conjugais nas vidas de certos heróis da fé, como Carey, cuja esposa era francamente inimiga da obra do seu esposo e nada queria sobre ela. E também do famoso Wesley, cuja esposa não era digna de atenção. "Ninguém, melhor do que Deus, conhece as amarguras e as aflições que esses gigantes da fé padeceram e quantas vezes se recordaram de Jó. Nós sabemos, porém, pelo que se tem escrito, como eles as suportaram, com heroísmo e paciência."

"Feliz é o pastor que encontra no seu lar um abrigo de paz, força e alegria. Feliz é a igreja cujo pastor tem o apoio, a simpatia e a plena cooperação de uma boa companhei-ra."(6)

Mesmo cabendo ao marido a responsabilidade de direção do lar, há, entretanto, uma igualdade entre os dois perante Deus, como vemos a seguir.

1. Responsabilidades conjugais • Submissão A mulher foi dada ao homem por ajudadora. Ela só era inferior

a Adão em ser derivada dele; em tudo mais era-lhe igual. A mulher nunca deve procurar ser a mentora do (6)A.R.Crabtree 94

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homem. A verdadeira mulher não é a que governa o marido, mas a que o ajuda. O verdadeiro marido não é o que tem uma esposa só para a cozinha, mas para ser associada dele em todos os seus negócios, prazeres, tristezas, vitórias derrotas.

Um velho pastor, já falecido, dizia: "A natureza vez mulheres, a eleição vos fez esposas, mas só a graça vos rá submissas." "A sujeição pura e simples de uma mulher a um homem não implica em submissão bíblica. Algumas vezes, tal situação é um aviltamento da mulher, outras é uma forma de barganha. A submissão que a Bíblia preconiza é o engajamento da mulher na missão do marido, é a aceitação da liderança dele como cabeça do casal, obediência a Deus, na certeza de que o Senhor sabe o que faz e de que, quando atendemos à sua direção, Ele assume a responsabilidade integral pelas consequências" (7) f5.22-25; lPe 3.1,5,6).

A Bíblia exige da mulher o respeito ao marido (Ef 5.33) e do marido o amor à esposa, talvez por ser mais vital para a felicidade de um homem do que ser amado. Maneiras de submissão.

• não ensinando o marido (1 Tm 2.12a) • não tendo autoridade sobre o marido (1 Tm 2.12b) • aprendendo em silêncio (1 Tm 2.12c) • obedecendo a seu marido (Ef 5.22,24; 1 Pe 3.1) • não se separando do marido (1 Co 7.10,11,13) • respeitando o marido (Ef 5.33) • esperando em Deus (1 Pe 3.5) • aprendendo (Tt 2.3-5)(8). • Amor Os laços de amor que unem o marido e a esposa são bolos da

união entre Cristo e a Igreja. Ao marido cabe amar, como Cristo, "quer sua mulher a submissa ou não, e o melhor que ele pode fazer para seduzí-la à submissão é amá-la intensamente. A mulher deve submeter-se ao marido mesmo que ele não a ame (7)A Seara; S.S. Wanderley (8)T. Gama Leite Filho

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como Cristo ordena, ainda que ele seja caprichoso e inconsequente. Faça cada um o que Deus manda, somente; nao tente levar o outro, por meios diretos, a fazer a parte dele Confie em Deus. O Senhor honrará a sua fé! Que se díalo gue ao máximo: ouvir o outro é a mais constante exigência do amor. Todavia, não se exacerbe nunca, deixando a co municação pela imposição de idéias; convertendo o inter esse de compreensão do outro em empenho verbal deliberado de desmoralizar seu ponto de vista".(9)

• Perdão A amargura é uma das barreiras para a comunicação entre

um casal. E mister que, como pessoas, o pastor e sua esposa tenham divergências em sua vida. Os génios de aio bos podem levá-los à agressividade e consequentemente ao caos matrimonial.

Por temperamento, certos pastores não conseguem dominar-se quando ficam irritados. Qualquer pequena coi sa os irrita, e despejam sua ira com impropérios na esposa e filhos. A mulher sábia, com brandura aguardará que a "tempestade passe", pois, se reagir, o desrespeito vai se acentuando e as duras palavras proferidas deixarão pro fundas cicatrizes no coração de ambos, que não se apagarão no futuro.

Em outros casos há esposas de pastores muito briguentas, e, mesmo que se esforcem, não conseguem disfarçar a zanga, que é "uma fraqueza de caráter, é má lapidação do temperamento, é falta de maturidade espiritual, carnalidade e falta do controle do Espírito Santo".

A mágoa também se apodera do marido quando a esposa não confia em suas decisões; não o encoraja em suas falhas, quando torna à lembrança os fracassos do passado; não atende às prioridades estabelecidas; quando não o respeita na frente dos filhos ou intervém na disciplina que lhes aplica ou o repreende publicamente.

Por outro lado, a esposa também magoa-se com o marido quando este falha na disciplina dos filhos, quando lhe aponta defeitos, comparando-a com outras pessoas; quan- (9) A Seara, S.S. Wanderley 96

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nao a ajuda em casa e negligencia a liderança do lar; quando lhe lembra coisas do passado e não reconhece os as próprios erros; quando não dá o marido importância suas opiniões ou quando ele dedica maior tempo a outras atividades ou a outras pessoas. Isto tudo gera ressentimento, e os dois precisam de coragem para perdoarem-se o muamente, a fim de que se restaure a confiança, a lealdade e a fidelidade do matrimónio.

"Perdoar significa que podemos ter o mesmo relacionamento com a pessoa, mesmo depois que ela nos ofendeu. Quando a pessoa ofendida perdoa o ofensor, não querendo desforrar-lhe e retribuir a ofensa, a dor diminuirá à medida que a sua sensibilidade para com o ofensor aumenta. A cura se dá quando a pessoa reconhece aquela situação como uma experiência que Deus permitiu em sua vida para crescer espiritualmente, vencendo alguma dificuldade íntima que possuía que pode ter sido o orgulho, a falta sensibilidade para com os outros ou o julgamento precipitado” (10)

Se, porém, a "esposa não estiver em perfeita harmonia com o marido no ministério, e não tiver disposição de trabalhar com ele; se ficar aborrecida com a sua posição social na igreja; se tiver ciúme das mulheres da igreja que tenham prazer em cooperar com os planos do pastor, ela o pode deixar de revelar a sua insatisfação perante os membros que lhe pagarão em dupla, mostrando profunda cdecepção, para com ela. Ficando assim desambientada, não pode deixar de culpar o marido, perturbar o seu espírito e prejudicar a felicidade conjugal".(11)

Enfim, se se perdoarem mutuamente, essas crises serão superadas e o respeito mútuo voltará a reinar no lar, e o amor cristão fluirá em todas as relações sociais do casal.

2. Infidelidade conjugal A infidelidade pode ser desastrosa para o futuro de alquer

casamento. Inevitavelmente ela causa sofrimento ao outro cônjuge. A suspeita da existência de uma ter- (10)Tácito G. Filho (11)A.R.Crabtree

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ceira pessoa tornará infeliz um dos cônjuges. A infidelidade encobre o verdadeiro problema e tende a destruir a per sonalidade, pois o cônjuge infiel pensa que, mantendo seu casos secretos, estará protegendo o outro e salvaguardando seu casamento. Ilude-se a si mesmo.

O mentiroso pode ter ciência do preço que paga por mentir aos outros. Há sentimentos de culpa atormentando sua consciência, além do receio de ser desmascarado e hu milhado. Ainda há um preço biológico exigido pela auto sugestão. Quando sentimos que temos que mentir a al guém que confia em nós e de quem gostamos, ficamos presos naquilo que os psicólogos chamam de "dilema duplo" O mentiroso é presa de uma perturbação aguda, não só por se sentir separado da pessoa que ama, mas também por so sentir separado de si mesmo. Tendo mentido, não pode falar do fundo do seu coração. Em vez disso, tem de censurar todos os seus pensamentos antes de exprimí-los, com receio de que um lapso de memória o desmascare.

"É difícil respeitar um marido infiel", disse Judith Kemp, e Provérbios nos diz que "o que adultera com uma mulher é falto de entendimento... Achará açoites e infâmia, e o seu opróbrio nunca se apagará" (Pv 6.32,33). O capítulo sete nos dá uma severa advertência contra a mulher má e sem coração. São um aviso para todos aqueles que se deixam levar pelo espírito de adultério.

O declínio dos padrões morais ao nosso redor tem uni núcleo maligno, e ele reside em nossa obsessão pelo sexo e no seu uso errado. Todos os qualificativos de malignidade estão descritos pelo apóstolo Paulo. Sua visão dava-lhe condições de aconselhar aos coríntios: "Mas por causa dl prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada um tenha o seu próprio marido" (1 Co 7.2). Apureza do ca samento deve ser conservada "enquanto ambos viverem", e o "leito sem mácula". Porém "aos que se dão à prostitui ção e aos adúlteros, Deus os julgará" (Hb 13.4).

A Palavra de Deus nos exorta: "Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós" (Tg 4.7). Esta palavra tanto é para o pastor e sua esposa como para qualquer outra pessoa e, como diz 98

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J.C. de Ferriere "você deve começar a resistir quando o iabo começa a tentação. Não fique a princípio namorando o pecado - você só descobrirá muito tarde que a sua reputação e o seu caráter imaculado já desapareceram. O pecado é uma serpente que morde quando a gente menos espera! Se, portanto, você, em qualquer momento sentir que Istá sendo atraído ilicitamente por alguém, leve imediatamente tais sentimentos ao Senhor Jesus em oração, e não detenha até ter a certeza de que está perfeitamente li-herto da cilada do diabo".

Mas a astúcia satânica cada vez se aprimora mais, e o cuidado dos casais precisa ser redobrado, pois há alguns teólogos que alegam que, "em determinadas situações, o adultério pode ser justificado e até mesmo louvável". Se, por exemplo, o ato refletir uma preocupação sincera e afetuosa pelas necessidades de outra pessoa, então, dizem, a nfidelidade será coisa "certa e boa". Ilustres pregadores lem caído nessa armadilha.

O Salmo 51 registra um dos casos mais graves de súplica de perdão pelo pecado de adultério - o do rei Davi, Bue mandou matar Urias para ficar com sua esposa, Batseba(2Sm 11.1-27).

O reino de Deus é vedado aos adúlteros (1 Co 6.10; Tg 4.4)., É hora de se conservar solidamente a família, pois o

matrimônio é o mais precioso bem e a mais compensadora do todas as relações! E hora de reerguer o nosso altar destruído e honrar o casamento quando os laços do mal vierem a nos induzir a cometer o pecado que pode desgraçar a nossa vida conjugal. Lembremo-nos de que o poder de restauração estará nas mãos de quem venceu a morte e o inferno (Ap l.l8).

E bom lembrar que as paredes do lar não se erguem Com tijolos, organogramas e madeiramento, mas com amor e fidelidade.

5. Críticas à esposa do pastor

Certo artigo, de autor desconhecido, enumera algumas das

dificuldades pelas quais passa a esposa do pastor, alvo constante do crivo de observação dos membros da

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igreja, e que, justiça seja feita, se ela ama a Deus de todo o seu coração, procurando ser inteiramente dedicada ao sen serviço, na medida do possível, e sendo sinceramente dese josa de fazer sua vontade, mesmo que não seja capaz do agradar a todos que a conhecem como esposa do pastor, ela um dia ouvirá de seu Senhor o seguinte: "Bem estás boa e fiel serva, entra no gozo do teu Senhor!"

• Se ela é uma mulher asseada e procura mostrar-se bem apresentável, é ostentadora de vaidades.

• Se dá pouca atenção à sua aparência pessoal, é considerada um prejuízo ao ministério de seu marido por não saber apresentar-se.

• Se ela se veste bem e usa roupas bonitas, é extravagante, vaidosa e dissipadora do dinheiro que Deus dá ao marido para a subsistência familiar.

• Se assiste ao seu marido no ministério da pregação, é uma usurpadora da sua autoridade e usa de um direito que não possui.

• Se ela se escusa de cooperar na pregação, está eximindo-se da chamada de Deus e falhando em sua responsabilidade de tornar mais leve a carga de seu marido.

• Se toca piano ou órgão, ou canta solos nos cultos públicos, está roubando a chance de outros membros da igreja que desejam cooperar com seus talentos musicais.

• Se não procura usar seus talentos musicais ou ensinar na Escola Dominical, está falhando muito em não cooperar eficientemente como esposa do pastor.

• Se ela tem prazer em seu lar e é uma meticulosa dona de casa, é acusada de idolatrar a família e de não dar lugar, em primeiro plano, ao trabalho do Senhor em seu coração.

• Se gasta muito tempo em várias atividades da igreja, é uma dona de casa relapsa, que vive só para o trabalho espiritual, esquecida dos deveres domésticos.

• Se visita os membros da igreja em companhia do marido, é ciumenta e não confia em seu caráter.

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• Se não visita com o marido, é anti-social e indiferente aos deveres que lhe impõem as atividades eclesiásticas.

• Se é assídua aos cultos e não dispõe de uma ajudante para ocupar-se dos filhinhos menores e os leva à igreja, assentando-se nos últimos bancos do templo para que perturbem menos a assistência, ela é acusada de prejudicar as crianças e os crentes. Para tais pessoas seria melhor que a esposa do pastor ficasse em casa com a prole.

• Se permanece em casa parte do tempo, não é uma mulher espiritual, mas fria na fé.

• Se ela saúda os visitantes, aconselha os que têm problemas e ora pelos enfermos e fracos, é, obviamente, indiferente aos deveres maternos e intrometida em assuntos que não lhe dizem respeito.

• Se trabalha fora do lar, a fim de suplementar, com o salário que recebe o pequeno "pro-labore" ganho pelo marido, que não lhes é bastante à plena manutenção do lar, e, por isto, não pode estar em todas as reuniões do Círculo de Oração, é uma mulher gananciosa, incrédula, indiferente às coisas de Deus e não sente gozo espiritual.

c. Os Filhos Certa vez ouvi dos lábios trémulos de emoção e de olhos

marejados de água de meu filho mais velho, com vinte anos de idade, uma expressão que deixou marcas indeléveis no meu coração. Num tenro abraço, sussurrava em meu ombro: "Papai, eu gosta tanto de você! Os meus colegas não têm um pai como o meu! Você é tão compreensivo... Eu gosto tanto de você..."

Estas expressões foram repetidas mais de uma vez. Mas, por que meu filho me ama, se nunca lhe tirei a mão de correção? Provérbios nos ensina: "Castiga a teu filho enquanto há esperança..." (Pv 19.18) e "o que retém a sua vara aborrece a seu filho, mas o que o ama a seu tempo o castiga" (Pv 13.24).

A Palavra de Deus, então, continua verdadeira porque a vara que castiga, ao mesmo tempo ama. "Porque o Se-

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“O justo anda na sua sinceridade; bem-aventurados serão seus filhos depois dele” (Pv 20.7)

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nhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho" (Hb 12.6). Foi a correção com a vara que gerou um nmor de filho, refletido no caminho dos que lhe trouxeram à vida.

Assim como os filhos insensatos desprezam seus pais (IV 15.20) e representam "grande miséria" para eles (Pv 19.13), muitos pais podem vir a tornar-se os responsáveis pela insensatez dos filhos! Um bom exemplo disso vemos na história do rapaz que foi condenado por um juiz por crime de falsificação e roubo, filho de um seu grande amigo, famoso jurisconsulto e autor do livro sobre “A Lei dos dos Trusts”.

- Como você pôde descer a um nível tão baixo, indagou-lhe o juiz!

Após uma pequena pausa, aquele homem ouviu a seguinte resposta:

- Pois o culpado é meu pai mesmo. Sempre que eu queria estar junto dele, conversando, perguntando as coitas, ele me mandava embora, dizendo: Vá embora, menino, estou muito ocupado. Não posso perder tempo, preciso terminar este livro. Eu não tinha companhia; procurei-a. E a que achei foi tão boa que me trouxe até este tribunal!

Muitos ministros do Evangelho, ocupados demasiadamente com seus negócios, com viagens, com a igreja e o complexo eclesiástico, insensivelmente vão permitindo que seus filhos vão ao cinema, a bailes, fumem e se enturniem com grupos jovens ou mesmo mantenham um namorado impudico sem lhes cobrar horário deixando-os entregues a tudo.

Que encontram esses filhos de seus pais para que o lar se torne atrativo e lhes retenham em vínculo de amor?

Não raras vezes os filhos vão procurar na rua, entre amigos ímpios, a conversa ou a distração que a casa paterna não lhes proporciona. Não são poucos os casos de filhos expulsos de casa, mesmo em lares crentes e de homens de ministério que, estribados no excessivo zelo da obra, esqueceram-se de que "a glória dos filhos são seus pais" (Pv 17.6). O preço a pagar no futuro é muito alto!

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Os conselhos de "Provérbios" são de grande ajuda "quer para o filho que não se julga feliz com seus pais, quoi para os pais que arruinaram a vida dos filhos".

Não são as pancadas violentas de um pai, na repreesão a um filho, que lhe farão obediente ou respeitoso. Se os pais não sabem ter domínio próprio, como ensinarão aos filhos o temor do Senhor? Aqueles que ralham continuamente com seus filhos, acabarão por certo sentindo que lhes escapa a eficácia da autoridade, pois eles acostumar-se-ão com as repetições e as considerarão um hábito muito desagradável. A repreensão é um ponto que requer observação: corrigir com brandura, porém com austeridade.

Voltando à Bíblia, encontramos um péssimo exemplo de pai. Ló era o nome desse homem, e não se importou em associar-se a outros lascivos e de vidas corruptas que até desejavam estuprar os visitantes santos, mensageiros do Céu. Sua identificação com o pecado não fez a diferença chamá-los de "irmãos". "Rogo-vos meus irmãos, que não façais" (Gn 19.7). Ele perdeu a grande oportunidade de ganhá-los; sacrificou sua família e perdeu tudo aquilo que tinha, porque se comprometeu com o pecado.

Nenhum pai tomou decisão mais vergonhosa que a de Ló, quando ofereceu suas filhas para acalmar e manter a amizade com os ímpios. Muitos, como Ló, vão vivendo em Sodoma, e "desejam a aprovação dos sodomitas, vivendo em comunhão com eles".

Outros há que exageram a sujeição dos filhos, cobrando-lhes "exigências descabidas, acima das suas possibilidades, que expressam a sua autoridade sobre os filhos".

O apóstolo Paulo aborda um assunto de grande rele¬vância, ao citar: "Vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor" (Ef6.4).

No grego existe uma única palavra, "parargidzo", que significa "provocar a ira". Dentro desta palavra existe a raiz "orge", que se traduz por "sentimento", "temperamento", que envolve um tipo violento e iracundo. Não é de se estranhar que as pequenas criaturas, as crianças, também sejam dotadas desse "sentimento", e podemos levá-las a "alienação no lar". Neste caso, o "amor bate asas, 104

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como também o respeito dos filhos pelos pais desaparece", a não ser aquele gerado somente por razão do medo.

Em um de seus estudos, Tácito Filho apresenta algumas maneiras de provocar os filhos à ira:

1. o uso impróprio da autoridade; 2. disciplina sem amor; 3. disciplina ou castigo no momento da ira ou de raiva; 4. disciplina ou castigo sem boa comunicação (deve o pai identificar previamente as ordens que dá; ter certeza de ter comunicado o que deseja; explicar, no caso de desobediência, que o castigo é devido àquela desobediência); 5. incoerência na disciplina (castiga-se a criança, hoje, por algo que cometeu, e amanhã não); 6. insistência na palavra e no ato; 7. prometer sem cumprir. Assim, vemos que os filhos devem ser criados na disciplina do

Senhor, na admoestação diária segundo a Palavra do Deus. Essa "disciplina" ou "educação" é do "Senhor, ou seja, tem natureza espiritual, pois sua finalidade é beneficiar uma alma eterna". O texto de Efésios 6.4 ultrapassa em muito as "ações severíssimas de certos pais para com filhos! Ira e restrição, como também ameaças e castigos corporais por motivos banais não são ações apropriadas progenitores. Pois há um elevadíssimo alvo que precisa ser obtido através de meios espirituais " (R. N. Champlin).

Outro exemplo bíblico bastante notável é o relacionamento pessoal de Abraão com Deus. Mesmo sendo o "pai da fé", cometeu inúmeros erros em sua vida; mas isto não apagou na vida de Isaque a prova que seu pai dera a Deus ao obedecer a sua voz em sacrificá-lo. A obediência de Isaque foi dupla, obedecendo a Deus e ao seu pai. "O filho sábio alegra a seu pai, mas o filho louco é a tristeza de sua mãe" (Pv10.1). Isaque soube honrar o nome do Senhor, amando Rebeca e, ao contrário de seu pai Abraão, só teve filhos com sua esposa, não aceitando, como Abraão, o mau conselho de Sara para ter filhos com sua serva.

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“Instrui ao menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele” (Pv. 22.6)

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Feliz é o pastor que pode contar irrestritamente com a ajuda da esposa na educação de seus filhos! "Toda mulher libia edifica a sua casa..." (Pv 14.1). "Mas a tola derruba com as suas mãos", e Salomão acrescenta que " grande séria é para o pai o filho insensato e num gotejar contí-uo as contenções da mulher" (Pv 19.13).

Aquela que é sábia, na ausência do esposo ocupado com a obra de Deus, saberá suprir a educação disciplinar dos filhos que, "com paciência e jeito, cria em casa um ambiente que favorece o bem e desanima todo mal. A primeira condição para criá-lo é ser leal ao marido e dedicada aos lhos".

Entretanto, a responsabilidade principal da educação os filhos cabe ao pai de família, e Deus não terá por inocente o homem que despreza a liderança do lar. Aquele que e queixa do seu próprio filho está confessando a própria culpa. "Desprezar a mulher, não proceder em casa como homem, isto é, como pessoa correta e digna, agrava a sua responsabilidade. A tirania paterna tem como resultado o afastamento ou da mulher ou dos filhos, quase sempre ambos" (E.P.Ellis).

Na administração do lar, o ministro deve procurar um erfeito relacionamento com a esposa, pois o amor do casal roporcionará a segurança de que tanto os filhos precisam. Além disso, deve dedicar um tempo em companhia da família, demonstrar a confiança que tem nos filhos, interessando-se por suas realizações, após lhe darem tarefas em casa ou mesmo em seu próprio trabalho e igreja. A conversa franca e a expressão livre do filho para com o pai tleve se constituir em clima de amizade, descobrindo os intos positivos e cultivando-os, encarando com sobriedade os pontos negativos. Enfim, prepará-los para o futuro, rando e agradecendo o tesouro que o casal tem em casa.

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III O Pastor

e seus Estudos "Falar é a única habilidade do homem para a comunicação

porque as palavras expressam o pensamento." O pastor como líder, mais do que ninguém, necessita aprender a se comunicar, não só com os que estão ao seu redor, mas à igreja e às massas.

O sábio Salomão disse que "as palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos bem fixados pelos mestres das congregações, que nos foram dados pelo único Pastor" (Ec 12.12). Ele considerava a sabedoria acima de qualquer outra coisa, como "pregos bem fixados".

A ferramenta do pastor é a Bíblia Sagrada, instrumento que precisa ser bem manuseado. Mas muitos pastores têm fraquejado no ministério da pregação bíblica por negligenciarem o estudo sistemático da Palavra de Deus, estribando-se na falsa idéia de que a sua inspiração os levará suficientemente à orientação do rebanho.

Triste engano! As profundas verdades incursas na Bíblia são descobertas e entendidas quando os nossos conhecimentos abrangem geografia, psicologia, história, sociologia, outras línguas e mesmo os nossos anseios espiri- 109

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tuais. Ademais, o Espírito Santo de Deus nos "faria lembrar...", princípio que depreende de uma aprendiza gem anterior.

Observando-se que a capacidade humana pode representar em conhecimento de todas as áreas, vemos que as bibliotecas não mais comportam os volumes da "sabedoria das mentes". A maior biblioteca do mundo, por exemplo, tem mais de 20 milhões de livros, hoje. Em 1517, na Euro pa, ela tinha apenas mil livros. Na atualidade, milhares de livros são impressos diariamente, e a forma total de conhecimentos triplica a cada década. A velocidade de mudança está acelerada, cem vezes maior que a precedente. E o que temos feito para acompanhar essa aceleração? Quais são os nossos conhecimentos do mundo atual? Nossas pregações são superficiais como um rio em época de seca ou são cheias de riquezas como as águas profundas dos mares? E o que dizer de muitos de nossos pastores que estagnaram no tempo e no espaço?... Contentam-se apenas com a simples leitura, sem reflexão, de alguns versículos bíblicos (quando o tempo lhes permite), para extrair algum alimento para o rebanho do Senhor!

Além das Escrituras Sagradas, nossa única regra de fé, sem dúvida alguma outros livros deveriam ser lidos por mês. Ao final do ano, nossa gama de conhecimentos seria recompensada com os resultados de nossos ensinamentos.

Os chineses dizem que eles são "aqueles que conhecem a frente das outras pessoas". A instrução nos torna sábios. E o sábio sabe daquilo que o povo comum não sabe. Samuel tornou-se um profeta, e profeta é aquele que sabe o que vai acontecer no futuro. O pastor está à frente das outras pessoas e deve manter-se num processo rigoroso de absorver conhecimento, aliado à oração e à meditação.

Reconhecemos, entretanto, que homens espirituais e iletrados, porém consagrados e cheios do Espírito Santo, admiravelmente têm sucesso na pregação do Evangelho de Jesus Cristo. O auxílio destes vem quando há uma perfeita comunhão com Deus, e homens simples fizeram parte do quadro de apóstolos de Jesus Cristo. Mas a incapacidade intelectual destes não significa autoridade sobre o nosso despreparo voluntário. 110

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"O pastor que tem o seu diploma do seminário certa mente está mais bem preparado para continuar os seus estudos bíblicos e teológicos. Se pensar que não precisa estudar mais, vai-se esquecendo muito do que já aprendeu, perdendo gradativamente uma parte do cabedal de sua cultura, enquanto o pastor que não teve a vantagem de todos estes cursos vai comprando bons livros e estudando assiduamente, tornando-se finalmente mais eficiente no ministério do que o colega diplomado." (1)

1. Remindo o Tempo Em considerações anteriores abordamos sobre o uso do

tempo de que dispõe o pastor para ministrar a sua mordomia. A falta de disciplina própria induz muitos pastores ao pecado de omissão, isto é, deixar de "fazer", "dizer" ou "escrever". Essa indisciplina é manifestada na alegação da falta de tempo, argumento que tem justificado o insucesso de inúmeros deles.

O termo remir significa "pechinchar", ou "aproveitar as oportunidades". Isto nos mostra que o tempo é muito precioso e valioso e que não pode ser desperdiçado como alguma coisa sem valor. Por ser o tempo irreversível, se o perdermos, o perdemos.

A "parousia" (volta de Jesus) era encarnada nos cristãos primitivos como se ela pudesse ocorrer a qualquer momento, e isso anulava a esperança de uma prolongada dispensação da graça. Motivados por isso, cada momento lhes era precioso e precisava ser apropriadamente empregado, ou seja, muito tinha a ser feito no desenvolvimento espiritual do povo para aguardar o segundo advento de Jesus Cristo. Os dias eram maus e, por isso, era preciso "remir" o tempo.

Se há dois mil anos essa esperança ardia nos corações dos cristãos primitivos, como em Jerusalém, cujos crentes "perseveravam unânimes todos os dias no templo,..." (At 2.46), muito mais as oportunidades do presente deveriam ser utilizadas de tal maneira que todo o nosso tempo em prol da obra fosse preenchido.

()A.R.Crabtree 111

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É bem verdade que a indolência espiritual tem caracterizado muitos pastores no cumprimento de seu ministério, deixando-se levar pela preguiça e sonolência espiritual. Este é o sono de que fala Paulo aos romanos: "E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono;..."(Rm 13.11). Isto nos dá a entender um estado de esturpor ou de indiferença para com as realidades espirituais, "atitudes erróneas essas que caracterizam até mesmo muitos crentes". Provérbios já nos adverte: "Um pouco de sono, adormecendo um pouco, encruzando as mãos outro pouco, para estar deitado;..." (Pv 24.33). Este é um perfeito processo de indolência, lento e seguro, mas que traz como consequência a pobreza.

"Se reconhecermos que o nosso tempo, com tudo o que temos, pertence ao Senhor, compreenderemos que lhe furtamos as horas desperdiçadas" em coisas fúteis e não nas que permanecem eternamente.

Devemos compreender que o "tempo" é a nossa principal mercadoria, e é exatamente com ela que devemos negociar, comprá-la toda e usar cada porção adequadamente. "O tempo é aquilo que depende da eternidade; dentro do tempo é que nos convém obter preparação para o reino de Deus. Se não obtivermos tal preparação em tempo, a nossa ruína será inevitável." (Adam Clarke).

Reenfatizamos o que Paulo disse, que devemos conhecer o "tempo". São as unidades que medem o tempo, isto é, os segundo, os minutos, as horas, os dias, etc, e a essência do próprio tempo é a divisão que Paulo nos quer ensinar, e vem a se tornar muito importante. Na nossa vida, o tempo é representado pela duração de um evento a outro, e como seres humanos estamos limitados ao tempo: nascemos, vivemos e morremos dentro do tempo. Não nascemos no Século XVIII e não viveremos no Século XXII ou XXIII. Se estivermos num estado de sono, o tempo não existe. Se não tivermos mente, não teremos tempo. Por outro lado, se estivermos acordados, estaremos despertados.

E quanto ao passado, aquilo que deixamos de fazer? Agostinho disse que eleja se foi e apenas se encontra em nossa memória, em nossa lembrança. Se tivermos amnésia, o passado será apagado, não haverá lembrança dele. 112

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como o passado, disse Agostinho, o "futuro também não iste", porque se não veio, como existe? ele é o tempo que ainda não chegou e existe somente na nossa esperança e no nosso desejo.

Para existir o futuro, temos que ter um planejamento, planejamento está no presente, isto é, nos acontecimentos que estão se passando; devemos conhecer a importância do tempo físico e sentir a urgência da hora e do planejamento de nossa vida, usando "cada porção" adequadamente.

Nosso Senhor Jesus Cristo, em três anos de tempo, fez a vida mais produtiva de todos os tempos. Na declaração de João, o apóstolo do amor, vê-se essa verdade expressa: "...e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem m nda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem" (Jo 21.25). E se nos conscientizarmos que a nossa vida é finita, certamente produziremos muito mais.

Mas que tipo de planos nós temos ou quais têm sido nossos objetivos nos dias de hoje? passamos o nosso tempo a nos lembrar do que fizemos no passado e nos esquecemos que ainda por um pouco de tempo temos que planejar para o futuro? Segundo Paulo devemos estar despertados para o (empo e fazer alguma coisa. Desperta, então, tu que dormes, do sono da negligência do teu próprio preparo intelectual e espiritual, e acorda porque o tempo, que já não é mais, passou!

Nós passamos, o tempo passa e torna a nos chegar. Mas há alguma coisa no mundo que jamais envelhece: a Palavra de Deus. Nenhuma concepção humana jamais tornará velha a Bíblia para aqueles que estão interessados na cura das almas, porque Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb 13.8).

A Palavra de Deus nos serve de estímulo diariamente, se a conhecermos, porque aquele que através dela opera faz-se presente sempre, e a expectação "breve" de sua volta nos leva a um sentimento de permanecer puros (1 Jo 3.2,3), de remir o tempo (Ef 5.16), de instar a tempo e fora de tempo (2 Tm 4.2) e olhar para Jesus, autor e consumador da nossa fé (Hb 12.2).

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Todo ministro devia dizer como George Matheson: "Jesus Cristo, sempre que duvido da vida penso em ti... Para mim, tu nunca envelheces. O século passado é velho, o ano passado é velho, a passada estação tem um aspecto obsoleto; porém, tu não és obsoleto. Estás emparelhado com todos os séculos, ou antes, vais adiante deles, como a estrela. Eu nunca te alcancei, por moderno que seja".

Sendo, então, viva e eficaz, a Palavra de Deus (Hb 4.12) é nova cada manhã (Lm 3.23). Ela só poderia tornar-se velha se as "experiências espirituais e as necessidades do género humano mudassem tanto, que não mais se encontrassem refletidas no Livro Sagrado, e nem fossem satisfeitas pelo Evangelho. E esse dia está a muitas milhas de distância" (H. E. Fosdick).

Se a Bíblia é a nossa ferramenta; se é ela que deve ser bem manejada (2 Tm 2.15b; 4.2); se devemos conhecer o tempo (Rm 13.11) e se os nossos tempos estão nas mãos de Deus (SI 31.15), sentiremos, certamente, a urgência da hora e do planejamento de nossa vida.

Já a nossa era é uma era de expectação, e as pessoas não estão olhando introspectivamente, mas sempre ao redor, buscando receber dos outros. Mas o pastor, que é líder, precisa ser dirigido para dentro de si mesmo e produzir, dentro de si, algo novo. Só as Escrituras Sagradas podem produzir esses padrões de "novidade de vida". Conhecendo a Palavra de Deus, ele será um bom ministro e um grande líder (Mc 10.43,44) não para dominar as pessoas, mas para serví-las, e apontar ao povo a direção de Deus. E é o pastor quem pode ensinar, redarguir, instruir as outras pessoas em toda a boa obra.

2. A Biblioteca É muito natural àquele que se dedica ao ministério ser amante

de livros. Aquele que soube, desde a sua chamada, formar uma biblioteca, hoje, como a quem cabe a responsabilidade de dar substância sólida ao rebanho do Senhor, estará em vantagem infinitamente maior ao que negligenciou, ou voluntariamente ou por falta de condições, a formação de material de estudo. 114

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A biblioteca é uma bênção na vida do pastor, pois ela reflete a personalidade daquele que a cria. "Uma biblioteca em desordem e sem uso não tem valor. Uma biblioteca lesorganizada, quanto maior, menos serviço prestará. Deve ser o local de ordem, pois, ali o pastor e seus familiares e outras pessoas autorizadas passarão parte do seu tempo em meditação e estudo. Se se trata de uma biblioteca de predominância evangélica, então é também lugar de meditação e comunhão com Deus e Sua Palavra, e com os santos de todos os tempos que escreveram as obras que lá estão” (2)

Sempre tenho aconselhado aos meus alunos de seminários evangélicos a iniciarem imediatamente a formação de sua biblioteca, adquirindo obras que melhor possam atender ao seu próprio trabalho na igreja. Muitos, de recursos limitados, esforçam-se em economias para empregá-las, cuidadosamente, no custeio de obras que lhe ajudem nas disciplinas do Seminário.

Por ser a Bíblia a Palavra de Deus dada aos homens de maneira impressa é que as suas várias versões não podem faltar na mesa de estudo do pastor. Além destas, deverá contar com dicionários bíblicos, enciclopédias, concordância da Bíblia, comentários teológicos ou dos livros da Bíblia, livros devocionais, didáticos e outros seculares.

Desde a minha conversão tive o cuidado de comprar e comprar livros, fazer assinaturas diversas de periódicos, mesmo que isso significasse a frustração de não lê-los integralmente. O hábito de certificar-me de seu conteúdo, ainda que ligeiramente, durante mais de vinte anos, foi fundamental para que esta e outras obras fossem escritas ou estão em preparação para o prelo.

Mas uma biblioteca não se compõe unicamente de livros. Os jornais e revistas evangélicas e seculares, mapas diversos, recortes, artigos religiosos, científicos e seculares, discursos, filmes, slides, fitas, estudos, sermões, desenhos, etc, também a enriquecem.

A classificação desse material, por assunto, e a sua disposição em fichários e arquivos facilitará o pastor nas (2) A. Gilberto

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consultas imediatas para suas pregações ou seus estudos. O local da biblioteca que deverá ser um ambiente mais

agradável, silencioso e confortável possível, precin estar também devidamente equipado com todo o material de escritório à mão, o que lhe facilitará um maior desempenho.

Muitos livros ensinam como organizar uma biblioteca, assunto que não precisa ser discorrido neste capítulo, o que o pastor poderá adquirir e executar a montagem de sua biblioteca como melhor lhe convier.

O livro Administração Eclesiástica, de nossa autoria, contém um capítulo sobre o assunto.

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IV

O Pastor

e o Rebanho

Os pastores orientais andavam sempre armados com um

cajado chamado "Nabbutch" e com ele defendiam as ovelhas de quaisquer ataques, quer fossem de animais ferozes ou de salteadores; ou a si próprios (SI 23.4).

No Antigo Testamento, o cuidar das ovelhas era considerado uma ocupação muito servil, e, hoje, ser pastor é o ofício do ministério cristão mais conhecido entre nós. O pastor é o guardador de ovelhas, é o apascentador, o guia, o protetor (Is 40.11).

Quando Jesus, o Sumo Pastor, disse a Pedro: "Apascenta as minhas ovelhas" (Jo 21.17), estava querendo lhe dizer que o Seu rebanho deveria ser doutrinado e levado ao bom caminho através de um bom "pasto", isto é, encontrar a erva verdejante e a água nos tempos de seca.

Em seu ofício pastoral, muitas são as atribuições do pastor, especialmente a de lidar com almas e, dentre elas, tem que se apresentar como um homem que governa bem a Igreja de Deus. Aqueles que guardavam o rebanho nos campos, como Amos (cuidava de gado quando Deus o chamou, Am 7.14,15); como Moisés (era pastor de ovelhas, Êx

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3.1); como Davi (bem jovem, cuidava das ovelhas de SEU pai, 1 Sm 16.11-13) aprenderam grandes lições de sua vida diária, que lhes serviram para o desempenho de seus ministérios, quer seja de profeta, rei ou líder.

No estudo deste capítulo, veremos apenas o pastor ai desempenho de algumas funções.

1. No Púlpito No passado, quando Deus queria falar ao povo, usava os profetas

em algum lugar, e nem sempre isso era feito dentro do templo. Não havia um púlpito, pois o serviço da Palavra não era incluído no culto oficial.

Mais tarde, com a Reforma Protestante, encontramos o culto "visivo" ser substituído pelo "auditivo", com o desaparecimento dos altares, dando lugar ao púlpito de sentido atual, no lugar central, onde os pastores cumprem o seu dever com dedicação e esforço.

E interessante notar que Jesus não teve um púlpito para pregar suas mensagens de ensino, exortação e salvação. No seu primeiro sermão, na sinagoga de Nazaré, "segundo o seu costume, levantou-se para ler" (Lc 4.16), e "...assentou-se", depois de cerrar o livro (v. 20). Não há menção da existência de um púlpito. O que se lê a respeito de suas andanças é que usava um barco, assentado; aproveitava o cume de um monte ou certos pontos estratégicos para atingir o público com sua mensagem. Seu último púlpito aqui na terra foi a cruz do Calvário.

Mas o certo é que o púlpito não faz o bom pastor, por mais artisticamente ornamentado que seja. Nem tampouco os majestosos paramentos clássicos ou mesmo sua arte de retórica. "Há púlpitos que consistem, nada mais, nada menos, em uma vulgar mesinha de tábuas de pinho, dentro de um pequeno templo, modesto, oculto numa rua lateral da cidade, onde o pastor em seu traje comum está pregando com toda a simplicidade e sinceridade, mas com a autoridade divina, o evangelho da salvação para a remissão dos pecadores, e assim contribuindo para a edificação do reino de Deus e expansão de sua glória (1) 0) Otto Grellart 118

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• A postura no pulpito O pastor não deve, de modo algum, abusar do púlpito, esteja ele

na igreja, num estúdio de rádio ou televisão; não é o púlpito lugar para censurar os defeitos de terceiros, defender-se de seus adversários, ou mesmo contra-atacar Dom indiretas aqueles com quem mantém diferença.

"Agraciar seus amigos ou salientar certos benfeitores seus ou da igreja do púlpito, para incentivar outros, pode ler perigoso e até contra producente. O púlpito também não é lugar para queixas contra a carestia geral e contra a insuficiência de remuneração particular. Se os membros da igreja - o que lastimavelmente ocorre com frequência se dividirem em dois ou mais grupos ou partidos, o púlpito nunca deverá ser usado para favorecer um e combater o nutro, mas só para uní-los a todos.

"Em épocas de eleições, quando os ânimos do povo, e lambem dos irmãos, estão bastante exaltados, o pastor deve ter todo o cuidado para não manifestar no púlpito, proposital ou impensadamente, sua cor partidária. Poderia perder a simpatia e a confiança de muitos irmãos inútil mente.(2)

Além destas coisas, o pastor deve cultivar elegantemente a sua postura no púlpito de uma igreja. Paulo recomendou a Timóteo: "Para que saibas como convém andar na Casa de Deus" (1 Tm 3.15), e não se pode "oferecer sobre o altar pão imundo" (Ml 6.7), como muitos fazem ao proferir gracejos, anedotas e um vocabulário vulgar, procurando distrair as pessoas em lugar de proclamar a verdadeira mensagem do Evangelho de Jesus Cristo.

Cada vez que o ministro sobe ao púlpito, os olhares que se lhe voltam passam em revista, não só as suas palavras, mas a sua voz, e sua expressão, a sua movimentação, não ficando indiferente todo o seu modo de vestir.

Sendo o pregador o próprio sermão, ele pode tornar ineficiente a mensagem nele contida, se não observar algumas regras e atitudes próprias que a ética nos ensina na conduta do mensageiro no púlpito, como:

(2) Adm. Ecles. V.7 N3/15

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a) pregar gritando o tempo todo, sem se apercehn que está diante de um microfone;

b) bater o pé no chão com força repetidamente e dar murros no púlpito com estardalhaço.

c) gesticular demasiadamente, insinuando às vezes gírias ou imoralidade, e às vezes pular, sem se dai conta disso; o corpo deve ser naturalmente dosado por gestos conforme a dinâmica do sermão;

d) falar de olhos fechados ou arregalados, bem como olhar de modo fixo para cima ou para o piso como se tivesse perdido algo, e com medo de encarar o auditório. O certo é que os olhos devem acompanhar o que se fala, pois às vezes falam mais claro que as palavras, e ajudam o pregador a sentir o efeito da mensagem;

e) molhar o dedo na língua para virar as páginas da Bíblia, ou soprá-las com a mesma finalidade;

í) coçar-se de modo inconveniente e limpar as narl nas, quando no púlpito, ou mesmo fazer cacoetes ou tiques mímicos;

g) fazer a leitura bíblica que anunciou e não mais voltar a ela; h) não conversar no púlpito, senão o estritamente necessário, e não despachar o expediente no lio rário do culto;

i) o pastor deve chegar cedo à casa do Senhor Deus, porque, assim fazendo, dará bom exemplo ao rebanho e não contemplará o semblante do povo com sinais de impaciência e cansaço.

• A direção do culto A primeira coisa a ser feita, ao se iniciar o culto a Deus, é uma

breve oração, numa demonstração de que a direção deve ser do Senhor sobre as vidas daqueles que compareceram à igreja. O cântico de hinos congregacionais antecedem a leitura da Palavra de Deus. Devem ser selecionados e nunca de improvisação, não sendo aconselhável pedir-se à congregação que escolha os hinos.

Alguns pastores, quando não há convidados para pregar, costumam fazer dessa leitura inicial da Palavra de 120

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Deus o texto de sua mensagem, isto variando de igreja ara igreja. A Bíblia de púlpito não deveria ser desprezada nesse ato

inicial, pois ela "é mais dona do púlpito do que o próprio pastor; porém há aqueles que já se acostumaram com as anotações e o manuseio constante de sua Bíblia, que se tornam inseparáveis dela". A leitura bíblica deve ser bem nspirada, baseando-se principalmente nos Salmos ou nos vangelhos.

Se não há pequena exposição sobre o texto lido, segue-e a oração intercessória, com assuntos bem definidos, orno pela igreja, os problemas de seus membros, pela direção do culto, pela mensagem, e demais necessidades.

As apresentações dos visitantes, bem como os anúncios é natural que se façam neste início de culto, seguindo-se o levantamento das ofertas e dízimos, enquanto a congregação canta um hino. E comum em nossas igrejas dar-se a palavra para uma saudação a um dos visitantes, e o tempo restante ser ocupado com a mensagem da Palavra e Deus. Essa mensagem não é propriamente sua, mas de Deus. Falará daquilo que recebeu da parte do Senhor e não externará a sua opinião sobre a Palavra, mas "demonstrará a verdade certa de um texto certo para uma situação certa de uma pessoa certa".

Após o apelo, sem que se oprima o pecador para aceitar a Cristo como Salvador de sua alma, o pastor impetrará a bênção apostólica para o encerramento do culto. Convém deixar registrado que muitos companheiros ordenados ao Santo Ministério desconhecem essa boa praxe de despedir o povo com uma bênção divina.

A bênção que dava o sacerdote, de mãos estendidas, vinha de Deus, e o mesmo se dá hoje em dia: é o Senhor quem abençoa, quem guarda, quem tem misericórdia e quem dá paz (Nm 6.24-26). A primeira bênção, araônica, foi ordenada por Deus, no Antigo Testamento e, a segunda, no Novo Testamento, é usada ao final de alguns escritos: "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém" (2 Co 13.13).

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2. Como Conselheiro 0 aconselhamento pastoral está entre as tarefas mais sensíveis

do ministro de Deus. Desenvolve seu trabalho essencialmente com os membros da igreja, especialmente em se tratando de problemas conjugais. As tensões interpessoais, aliadas aos problemas sexuais dos jovens e casais da igreja, desemprego, finanças, pobreza, educação e tantos outros são também parte de sua vida de conselheiro e que dificilmente lhe será impossível evitar. Indubitavelmenlte o seu serviço será ajudar as pessoas a crescerem para realizarem suas possibilidades, levando-as a "diminuírem as barreiras íntimas que as impedem de se relacionar com os outros".

Deve o pastor respeitar a integridade dos membros do sua igreja, que em sua simplicidade buscam o socorro de seu orientador. Nem todos, certamente, precisarão de aconselhamento pastoral numa igreja, mas os que buscam, deverão ser animados e fortalecidos em sua fé em Cristo Jesus.

A maturidade espiritual do pastor far-lhe-á escutar com grande sensibilidade dos problemas dos aflitos, porque o seu papel é o de ouvir, orientar, informar e transmitir ânimo ao aconselhado. Deve dar condições para que a pessoa possa se expressar pois, deste modo, perceberá o aconselhado que o ministro está interessado em lhe ajudar "Ouvir mais e falar pouco não significa ficar impassível. Deve-se, de vez em quando, fazer alguma pergunta, ou mesmo oferecer alguma resposta que dê ao aconselhado a confiança do seu conselheiro, o pastor."(3) A oração é essencial no aconselhamento.

O pastor espiritual aplicará sempre a Palavra de Deus em seus diálogos, e se utilizará de outros recursos, com os quais deverá estar afinado, a fim de poder ajudar aqueles que o procuram.

"Precisa-se entender a mentalidade das pessoas que carecem de conselho. Se o pastor não puder determinar a causa e a natureza do nervosismo, ele não pode dar a me

(3) E. Cabral 122

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Ihor orientação. Entendimento é essencial em todas as as relações pastorais, especialmente em relações próximas com pessoas aflitas e perturbadas. Conhecendo a sua Bíblia, pastor deve saber que nem todas as pessoas são igualmente culpadas pelas suas fraquezas e faltas. Muitas fraquezas pessoais têm a sua origem nas influências do ambiente e da família e da sociedade que contribuem para a formação da mentalidade. A graça de Deus pode operar uma grande transformação na personalidade, e o ambiente da igreja pode contribuir para o desenvolvimento do caráter cristão. Muitos cristãos, porém, não se podem ambientar na vida da igreja sem o auxílio do pastor. Até crentes fortes e bem ambientados, vitimados por circunstâncias, podem fracassar se não receberem o socorro oportuno."(4)

3. Com a Mocidade A mocidade compõe-se de uma faixa de idade no seio da igreja

que deve merecer a atenção pastoral. Algumas importantes atividades da igreja alcançam vários grupos existentes no seio da comunidade. Temos a Escola Dominical, trabalhos infantis, corais e conjuntos musicais, Círculo de Oração e tantos outros. Também as atividades juvenis que contribuem eficazmente para o crescimento da igreja. Portanto uma organização de jovens na igreja local não é nenhum corpo estranho, nem uma sociedade separada da vida da casa do Senhor.

• A mocidade no contexto da igreja A mocidade é a igreja viva, expressa no corpo de Cristo. O

corpo é um, mas tem muitos membros. Cada membro tem a sua função distinta no corpo, e nem por isso se separa do corpo. E, portanto, perfeitamente concebível um trabalho de jovens no seio da igreja, desde que devidamente orientado pelo pastor. Não há nenhuma justificativa teológica que condene uma organização de mocidade, mas esta organização terá que obedecer aos princípios administrativos da igreja, sob a liderança do pastor.

(4)A.R.Crabtree

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A mocidade é uma força vital, e a Bíblia confirma esse fato nas palavras do apóstolo João: "Jovens, sois fortes" (I Jo 2.14). Essa força vital deve ser aproveitada e canalizada para o crescimento da igreja na obra da evangelização Lembremo-nos de que, na guerra, são os jovens que vau para o "front" e se expõem aos perigos. Os mais velhos ficam na retaguarda dirigindo, orientando e treinando os mais jovens.

• O pastor no contexto da mocidade A mocidade, já dissemos, é uma força poderosa na igreja, se

não for aproveitada, perder-se-á. O pastor devo ter ampla visão dos valores, das necessidades e problemas da mocidade. As várias faixas de idade têm suas características e problemas próprios. Entendemos que o Evangelho é o mesmo para toda a igreja, porém, a sua apresentação deve ser feita de acordo com a necessidade e a capacidade de assimilação de cada grupo existente na igreja. Portanto, o pastor local tem grande responsabilidade com cada grupo. Algumas características essenciais devem nortear as atividades pastorais de um ministro no seu relacionamento com os vários grupos, especialmente a mocidade.

a. Conhecimento Não se trata de um conhecimento teórico, mas pessoal dos

membros da igreja. Jesus dá o exemplo pastoral quando diz: "Eu conheço as minhas ovelhas, e delas sou conhecido" (Jo 10.14). Significa que Ele conhece individualmente suas ovelhas. Esse conhecimento implica comunicação e cuidado individual de cada ovelha. Há um perfeito relacionamento entre ambos. Há um conhecimento mútuo entre o pastor e as ovelhas. Esse conhecimento significa uma perfeita afinidade espiritual entre os dois. O pastor deve se interessar e procurar conhecer, mui especialmente, as ovelhas jovens que gostam de ver o mundo fora do aprisco. Os jovens precisam da amizade, da compreensão e da orientação do seu pastor. Eles precisam do cajado (a Palavra de Deus) e da vara (correção) do pastor 124

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b. Simpatia Envolve um estado de espírito da parte do pastor para com os

problemas que os jovens enfrentam. Lamentavelmente, muitos jovens se perdem e se afastam da igreja por falta de ajuda, de amor, de perdão. Ter simpatia significa aqui demonstrar um profundo amor para com os necessitados. As decepções, os traumas, as angústias interiores provocam uma grande carência nos jovens. O pastor é o homem certo para atender-lhes espiritualmente, demonstrando simpatia para com seus problemas.

c. Simplicidade O pastor é um conselheiro e, como tal, ele deve ter uma atitude

modesta no seu relacionamento com as pessoas. O fato de ser um pastor não lhe dá o direito de colocar-se numa posição de soberba e ares de superioridade. A simplicidade, como virtude do pastor, significa a sua dependência na unção e na direção do Espírito Santo para ajudar qualquer pessoa. Simplicidade não deve ser confundida com a perda da dignidade de sua posição pastoral, nem com o ter excessiva familiaridade com a vida particular das pessoas que o procuram. Ser simples significa ser capaz de ouvir, de orientar espiritualmente a pessoa necessitada. Em outras palavras, o pastor deve ajudar o jovem confiando na ajuda do Espírito Santo. Ele carece de uma palavra amiga que lhe direcione o caminho a seguir.

c. Tato Cada pessoa tem o seu modo de ser. Cada qual o seu problema. O

pastor precisa usar de toda a habilidade no tratamento com os jovens. O tato diz respeito à maneira hábil de fazer ou dizer o que é certo, sem ofender a pessoa com quem está tratando. E aquela apreciação intuitiva que se tem quanto ao que é viável no momento certo. Às vezes, a falta de tato produz maiores danos à pessoa necessitada. O jovem é uma planta nova, e por isso, sensível. E preciso cuidado no trato com ela.

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e. Discrição O relacionamento entre o pastor e um jovem deve ser de inteira

confiança. O pastor deve inspirar confiança aos jovens. Eles devem sentir-se seguros quanto aos que confessam e segredam ao pastor. Portanto, a discrição é uma atitude de importância vital nas relações pessoais entre o pastor e o jovem que o procura para aconselhamento.

e. Imparcialidade

Paulo advertiu a Timóteo contra a parcialidade (1 Tm 5.21). A

igreja, como já disse, é uma comunidade de pessoas com os mais diferentes problemas e os mais diferentes tipos. E um grupo realmente heterogéneo que tem pessoas ricas, pobres, cultas, analfabetas, delicadas, rudes, deprimentes, entusiastas, afáveis, descorteses, etc. Portanto, o pastor tem que estar preparado para relacionar-se com todos esses tipos. Normalmente muito sensível, o jovem não aceita a idéia de favoritismo ou de desdém para com alguma pessoa.

• A mocidade no contexto pastoral É imprescindível que o pastor local tenha um conhecimento

mínimo acerca do jovem, a começar pelo adolescente, a fim de que possa ajudá-lo positivamente. E nesse período da vida do jovem adolescente que a insegurança, a grande sensibilidade, o idealismo, e a vontade de vencer o expõem a perigos. A vontade de ser, de fazer e de vencer colocam-no diante de um mundo complicado, que desafia sua capacidade de enfrentá-lo. Dada a grande sensibilidade que se desenvolve dentro dele, sua mente se torna um campo aberto para a experiência espiritual. E o período ideal para conduzir o jovem ao encontro com Cristo. Os problemas de ordem moral afetam sua consciência, porque despertam no adolescente sua energia sexual. A falta de orientação nessa fase pode ser o caminho aberto para o aconselhamento pastoral.

Passada a fase mais contundente da vida do jovem na adolescência, os desafios passam a ser outros. O futuro desponta à sua frente, e o seu idealismo o faz lutar. O futu-

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ro o desafia com interrogações sem fim: Que profissão escolherei? Com quem me casarei? E nessa fase que o jovem se conscientiza de que sua vida futura depende de profundas e responsáveis decisões. Como tomá-las implicam, às vezes, em conflitos sérios dentro de si. Entretanto, o jovem crente pode ter a ajuda pastoral. O relacionamento entre o pastor e o jovem deve se revestir de características especiais que consolidem vidas para o cumprimento dos propósitos divinos neste mundo. Assim.

a. O pastor precisa ter uma visão positiva da mocidade

Muitos descarregam seus sermões em cima da mocidade,

porque vêem apenas os aspectos negativos, sem avaliarem as causas. Precisamos muito mais ver na mocidade o seu potencial. Não pode haver bom relacionamento entre a mocidade e a igreja quando se permite apenas acusá-la. Sempre houve choques de gerações, porém, quando a igreja é conscientizada dos valores dos jovens, das suas necessidades, esse choque é abrandado pela compreensão e amor. Essa conscientização tem de partir do pastor. Ele precisa entender, conhecer e ajudar os jovens que pastoreia. E preciso ver a mocidade numa perspectiva positiva, ao invés de olhar apenas para os seus defeitos. Quando o pastor tem uma visão positiva do potencial da mocidade, sem dúvida ela será uma alavanca de força para o crescimento da igreja.

b. O pastor deve racionalizar suas atitudes para com a mocidade

Para que haja perfeita harmonia nas relações da mocidade

com o pastor e com a igreja, é preciso uma boa dose de paciência. As vezes, os jovens têm atitudes que irritam os adultos. São atitudes causadas por problemas íntimos que extravasam negativamente. A reação contra essas atitudes dos jovens, quando não é racionalizada, surge na forma de humilhações com reprovações sarcásticas e atos irôni-

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cos. Ao invés de corrigir positivamente, fará aumentar, ainda mais, o conflito interior no jovem. Portanto, a razão deve prevalecer sobre as imposições.

Lamentavelmente não tem havido racionalidade nas atitudes pastorais de muitos de nossos ministros. O pastor deve primar pela compreensão, sem precisar comprometer o zelo e o cuidado pela doutrina da Bíblia. Não é possível admitir-se que, por caprichos próprios e sem apoio bíblico, um pastor abuse da autoridade pastoral, impondo regras próprias que satisfazem apenas o seu "ego". As atitudes devem ser racionalizadas dentro das recomendações bíblicas. As imposições provocam dissabores e rebeldia. Os conselhos sadios e os atos disciplinares feitos com amor e respeito promovem o temor de Deus no coração do jovem.

c. O pastor deve ser um orientador para as grandes decisões dos jovens

O jovem deve ver no pastor a imagem de um pai, amigo e

conselheiro. Um bom relacionamento entre o pastor e a mocidade no seio da igreja dá ao pastor o respeito devido a um líder espiritual, e inspira nos jovens a confiança para procurá-lo nas grandes decisões da vida.

6. Ética Pastoral

Entendemos por ética, em sentido cristão, com aplicação à

vida e atividades pastorais, a ciência que nos ensina a descobrir, classificar, explicar e aplicar as regras da pura moralidade cristã à vida humana no presente; e, por este motivo, ela nos põe diretamente em contato com os deveres e a missão do homem como pastor de almas vivas, racionais, espirituais, cristãs.

Referindo-se ao sacerdócio da antiga aliança, seus deveres e privilégios, a Epístola aos Hebreus 5.4, diz-nos: "Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão"; e, referindo-se ao ministério cristão, o apóstolo Paulo escre- 128

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reu a Timóteo: "Participa comigo dos sofrimentos do Evangelho, segundo o poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com santa vocação" (2 Tm 1.8,9).

Com base nestes ensinos apostólicos, sabemos e cremos que o homem salvo, chamado e vocacionado por Deus ao exercício do ministério cristão tem sobre si um conjunto de deveres expressos em ordens PESSOAL, HORIZONTAL E VERTICAL a que se deve dedicar com o máximo cuidado, porque do seu eficiente desempenho advirá frutos preciosos a Deus, ao próximo e a si mesmo, no jresente e no futuro.

Ao nos referirmos à ética pastoral, não é a um manual jualquer escrito a seu respeito que nos devemos arrimar a fim de conhecer as suas regras, e sim, diretamente, à Palavra de Deus, que é viva e eficaz e permanece para sempre. Tela, a saber, nos vultos inconfundíveis cujos feitos estão nela descritos, é que devemos buscar os modelos que, por nós imitados, nos farão também modelos a serem imitados por outros.

• Deveres pessoais Entre os muito encontrados na Bíblia, tomemos como exemplo

a imitar aquele que nos repta veementemente, dizendo-nos: "Sede meus imitadores como eu sou de Cristo" (1 Co 11.1). Como padrão de ética pastoral, Paulo, na prática e no ensino, sobrepõe-se, de fato, como modelo a nós jastores nos dias de hoje.

No cuidado pessoal, como indivíduo, quanto ao ensino e à prática, o apóstolo nos diz, escrevendo a Timóteo: porém, tens seguido de perto o meu ensino, procedimento, propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança, as minhas perseguições e os meus sofrimentos, quais me iconteceram em Antioquia, Iônio e Listra, - que variadas perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me livrou o Senhor. Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos" (2 Tm 3.10-12).

Observe-se que Paulo se apresenta a seu discípulo como modelo a ser imitado. Com sinceridade que ressalta . vista, ele enumera num crescente admirável nada menos

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do que oito características de sua personalidade marcante de pastor, para findar acrescentando: "Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sa bendo de quem o aprendeste" (2 Tm 3.14).

No cuidado do rebanho sobre o qual o Espirito Santo o constituíra bispo, ele se dirige aos coríntios, dizendo-lhes: "Quisera eu me suportásseis um pouco mais na minha loucura. Suportai-me, pois, porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só marido, que é Cristo. Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva, com a sua astúcia, assim também sejam corrompidas as vossas mentes, e se apartem da simplicidade e purezas devidas a Cristo. Se, na verdade, vindo alguém pregar outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esses de boa mente o tolerais. Porque suponho em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos. E, embora seja faltoso no falar, não o sou no conhecimento; mas em tudo e por todos os modos vos tenho feito conhecer isto" (2 Co 11.1-6).

O zelo por ele evidenciado para com a igreja era tão extremado que o levou a exclamar: "Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas. Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu também não me inflame? (2 Co 11.28,29).

Resumindo seu trato pessoal como pastor, ele atinge a extremos só ultrapassados por Cristo: "Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para com os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim 130

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de me tornar cooperador com ele. Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos na verdade correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis" (1 Co 9.19-24).

Sinceramente, convenhamos, Paulo, ao assim proceder, atingia as raias do sobrenatural, isto é, chegava ao sublime, só possível àqueles que se consagram a Cristo sem reservas! Que me diz a consciência quanto a isto? Temos, como pastor que somos, seguido sem vacilação os passos firmes do apóstolo?

Quando lemos sua enfática declaração: "Todo atleta em tudo se domina; aqueles para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado" (1 Co 9.25-27); quase sempre estremecemos, porque, às vezes, o nosso eu, a nossa conveniência pessoal, está se sobrepondo aos interesses do evangelho; e, "ai de mim se não pregar o evangelho", como algo que está acima de toda humana excogitação, (imaginação) de modo a poder agradar àquele que me qualificou! (2 Tm 2.1-7)

No cuidado com a igreja, Paulo era, de fato, o pastor ideal que dela cuidava e alimentava com desvelo: "De Mileto mandou chamar os presbíteros da Igreja." E, quando se encontraram com ele, disse-lhes: "Vós bem sabeis como foi que me conduzi entre vós em todo tempo desde o pri¬meiro dia em que entrei na Ásia, servindo ao Senhor com toda a humildade, lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram; jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa, e de vô-la ensinar publicamente e também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. E agora, constrangido em meu espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações. Porém, em nada tenho a minha vida por preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o

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evangelho da graça de Deus. Agora eu sei que todos vós, em cujo meio passei pregando o reino, não vereis mais o meu rosto. Portanto eu vos protesto no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos" (At 20.17-27). Assim procedendo, ele podia afirmar sem receio de ser contraditado: "Expondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido" (1 Tm 4.6), e concluir exortando-o: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres, porque, fazendo assim, sal varas tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes" (1 Tm 4.16).

No trato com os colegas de ministério, ele foi o maior exemplo para nós, tanto para com seus auxiliares diretos, imediatos, aos quais, às vezes, chamava de filhos, como para com todos com quem privou no exercício do ministério pastoral. "Tu pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. E o que de minha parte ouviste, através de muitas testemunhas, isso transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros. Participa dos meus sofrimentos como bom soldado de Cristo Jesus" (2 Tm 2.1-3). Com este sentimento, ele chegava às vezes a se impacientar, a se perturbar com a ausência de alguns deles: "Ora, quando cheguei à Trôade para pregar o evangelho de Cristo, e uma porta se me abriu no Senhor, não tive contudo tranquilidade no meu espírito, porque não encontrei o meu irmão Tito; por isso, despedindo-me deles, parti para a Macedônia" (2 Co 2.12,13). Como andam as minhas relações fraternais com meus auxiliares? Como anda o meu trato para com eles? Estou guiando-me pelo exemplo de Paulo?

Às vezes, temos auxiliares remotos, algo indireto. Paulo os tinha também, e no trato com eles, igualmente nos serve de exemplo: "Encaminha com diligência a Zenas, o intérprete da lei, e a Apoio, a fim de que não lhes falte coisa alguma" (Tt 3.13).

Há, porém, aqueles que nos são iguais em encargos administrativos: à nossa semelhança, eles são pastores de igrejas administrativamente autônomas, o que ocorreu também com Paulo; e, portanto, dele podemos receber ensinamento precioso no trato com os nossos iguais: "Catorze 132

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anos depois, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também a Tito. Subi em obediência a uma revelação; e lhes expus o evangelho que prego entre os gentios, mas em particular aos que pareciam de maior influência, para de algum modo não correr, ou ter corrido em vão... e, quando conheceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados colunas, me estenderam, a mim e a Barnabé, a destra da comunhão, a fim de que nós fôssemos para os gentios e eles para a circuncisão; recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer" (Gl 2.1,2,9,10). Sim, ele não era um autonomista discriminativo, ao contrário, nem mesmo era um "primus inter pares", e sim era um igual, conforme previa a profecia messiânica: "Mas és tu, homem meu igual, meu companheiro, e meu íntimo amigo" (SI 55.13). Não admira que de homem assim proviesse vitória tão acentuada quanto aquela da igreja primitiva!

• Deveres horizontais a. Com a sociedade Na ética pastoral, queiramos ou não, há a parte social a que o

pastor deve dar a devida e cuidadosa atenção, a fim de evitar claudicâncias que poderão ser-lhe fatais. Reconhecemos que o pastor, embora seja um indivíduo, é, ao mesmo tempo, um ser associativo e portador de um ministério de caráter social.

Deste modo, ele tem o dever de tratar, em seu pastorado, com as autoridades do lugar em que está sediada a igreja a que serve. Paulo ensina-nos o modo ideal para esse trato, quando diz: "Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores, porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por Ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magistrados não são para temor quando se faz o bem, e, sim, quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres mal, teme; porque não

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é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência, por este motivo também pagais tributos: porque são ministros de Deus, atendendo constantemente a este serviço. Pagai a todos os que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra" (Rm 13.1-7). Procedendo deste modo, cada um de nós será sempre e sempre honrado pelas autoridades.

c. Com os idosos Outra classe social que o pastor terá pela frente é a velhice dentro

e fora da igreja. Como tratá-la? Paulo o diz claramente ao recomendar-nos: "Não repreendas ao homem idoso, antes exorta-o como a pai; aos moços como a irmãos; às mulheres idosas como a mães; às moças como a irmãs, COM TODA A PUREZA" (1 Tm 5.1,2). A pessoa idosa, em qualquer lugar, merece um tratamento honroso. Sabemos que a Bíblia recomenda isto tanto no Novo quanto no Antigo Testamento.

d. Com os jovens Por outro lado, tem o pastor diante de si a juventude, que requer

muita compreensão, trato e oportunidade para poder ser útil na própria esfera do seu labor diuturno! O jovem é uma rosa em botão, não pode ser forçado a desabrochar antes do devido tempo, porque se o for, perecerá! Neste caso, devemos compreendê-lo como jovem, imaturo, às vezes impetuoso e barulhento em demasia. Porém, devidamente encaminhado o seu potencial exuberante, ele poderá tornar-se um valor maravilhoso à igreja, como o foram Timóteo e Tito. Diz-nos Paulo com respeito ao nosso trato com o jovem: "Ninguém despreze a tua mocidade: pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza" (1 Tm 4.12). Como poderá o jovem exibir tais virtudes quando é tratado como um objeto mais do que como um ser humano? Como poderá ele exibir estas virtudes, repetimos, quando não se lhe

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dá oportunidades para provar de quanto é capaz? Daí ser necessário ao pastor compreendê-lo como jovem, e dar-lhe as oportunidades frequentes, a fim de que possa provar que aquilo que a igreja lhe confiou será realizado segundo a vontade de Deus.

e. Com o sexo oposto Nenhum pastor pode evitar, na vida cotidiana, o convívio com

as pessoas do sexo oposto, e, convenhamos, ele foi, é, e será sempre em todos os lugares uma prova de fogo para o pastor.

No trato com o sexo oposto, Paulo nos diz algumas coisas verdadeiramente úteis quanto às viúvas: "Honra as viúvas verdadeiramente viúvas. Mas se alguma viúva tem filhos ou netos, aprendam, primeiro a exercer piedade para com a sua própria casa, e a recompensar a seus progenitores; pois isto é aceitável diante de Deus. Aquela, porém, que é verdadeiramente viúva e não tem amparo, espera em Deus e persevera em súplicas e orações, noite e dia" (1 Tm 5.3-7). As viúvas constituem classe tão importante na igreja que Tiago as relaciona diretamente com a prática da verdadeira religião, dizendo: "A religião pura e sem mácula para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo" (Tg 1.27).

No seu trabalho, nas suas viagens ou em seu gabinete deve manter integridade moral, observando sempre que os deslizes morais são protagonistas da desgraça de muitos lares, do escândalo para o Evangelho de Jesus Cristo, cuja pregação passa pelo caminho do descrédito e a própria igreja, que se vê privada de seu crescimento quantitativo, e, consequentemente, privada do atendimento social quando o desenvolve.

Reconhecemos que todo cuidado é pouco da parte do pastor no trato com o sexo oposto, porque desde os primórdios da criação, sempre o sexo foi uma atração natural ao homem e em muitas oportunidades foi a sua desgraça!

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• Deveres verticais O terceiro aspecto da ética pastoral diz respeito aos deveres

verticais, à sua consagração a Deus e à sua comunhão com Ele; convenhamos que, para o pastor como cristão, este é o aspecto absolutamente indispensável da ética pastoral; porque ele poderá perder o céu como pastor, porque podemos distinguir entre ser pastor e ser filho de Deus.

E ainda neste terreno que Paulo nos serve de importante exemplo: ele era um homem definido e decidido, com uma linha de conduta irrepreensível a toda prova.

No que respeita ao seu compromisso espiritual para com Cristo, ele nos afirma, interrogando: "Porventura procuro eu agora o favor dos homens, ou de Deus? ou procuro agradar a homem? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo" (Gl 1.10). Nisto não vai qualquer exaltarão pessoal nem orgulho humano divisionista, e sim um comprometimento iniludível e firme, para consigo mesmo e para com Deus, porque para ele o viver era viver para Cristo (Fp 1.21), e, portanto, o "ser achado nele" (Fp 3.9) ira seu único objetivo pessoal; porque, por Cristo, ele havia deixado tudo na vida presente (Fp 3.7,8), fazendo, por iste motivo, do trabalho de Cristo, a sua única razão de existir no mundo: "E agora, constrangido em meu espírito, rou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações. Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto me complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus" (At 20.22-24).

Para Paulo, tudo o que interessava acima de todas as coisas era manter a comunhão com Deus em Cristo meliante uma obediência sem reservas à sua vontade. O caminho a seguir para atingir este alvo era completamente ndiferente para ele; isto ele deixava inteiramente com o Senhor Jesus, a quem queria satisfazer a todo custo!

Podemos afirmar sem reservas que a consagração de Paulo a Deus era a razão de sua existência! Sem Cristo na ida, ele era simplesmente nada! Reconhecemos, sem difi 136

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culdades, haver sido Cristo a razão de seu grande êxito na ida espiritual e no exercício do ministério pastoral.

Que diremos nós a nosso próprio respeito? Como anda erticalmente a nossa ética pastoral? E Cristo a razão de ser de nossa existência como pastores? Estaremos entregando-lhe sempre e sem reservas espírito, alma e corpo? Cstamos nos deixando consumir de zelo santo por Cristo? -"por que somos pastores? Por que estamos exercendo o pastorado de uma igreja cristã? Oxalá possamos responder a cada uma destas perguntas e a muitas outras que poderíamo os acrescentar a esta lista de um modo convicto, positivo; o que será a nossa completa felicidade e vitória.

Reconhecemos para concluir, que seguindo o sistema de ética pastoral exemplificada por Paulo nenhum pastor falhará em seu ministério pastoral, ao contrário, cada um laqueies que isto fizer, será mais do que vencedor por iquele que o amou, vocacionou e chamou ao seu serviço.

7. Clínica Pastoral

Clínica pastoral é um termo moderno, porém sua aplicação é tão

antiga quanto o próprio cristianismo, sendo Jesus o modelo por excelência àqueles que queiram usá-la na prática com proveito positivo.

Jesus foi um pregador (Mc 1.14), um Mestre (Mt 4.23) 3 um Terapeuta (Lc 4.18,19) e, para dar continuidade ao seu ministério aqui na terra, chamou e vocacionou homens a quem deu o nome de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (Ef 4.11; Jo 17.18; 20.21; Lc 9.1,2).

Não será diferente para o pastor hoje estar às voltas com as três facetas do ministério de Jesus: pregar, ensinar e curar (Mt 4.23). Porém, muitos ministros modernos seguem o estilo dos oradores retóricos dentre os filósofos dos tempos passados, que se localizam na maioria dos casos num lugar, entre quatro paredes, tendo um púlpito por local de suas atividades e um discurso engatilhado para proferir a um auditório comodamente sentado para ouvi-lo.

Jesus não era deste tipo de pregadores, ao contrário, era o tipo do arauto, que corresponde melhor ao "kerigma" do Novo Testamento, isto é daqueles que não tinham púl-

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pitos nem templos que saíam proclamando as boas-novas a tempo e fora de tempo pelas ruas, pelas praças, pelos mercados, à beira-mar, onde quer que estivessem os ouvintes...

E, deste modo fazendo, eles tinham apenas um alvo: pregar a Palavra, pregar o evangelho, pregar a Cristo, o Salvador, apresentar o Mestre, o Médico por excelência aos seus ouvintes. Esquecidos de si mesmos, eles só se preocupam com o ministério recebido de Cristo, de dar testemunho de Cristo: "De testemunhar o evangelho da graça de Deus". Não é para admirar o êxito por eles obtido em seu tempo, quando, em apenas seis meses de atividades, já haviam enchido Jerusalém de sua doutrina! quando a Igreja crescia cotidianamente, e mesmo através de perseguições cruéis, em apenas trinta anos conforme o testemunho da Epístola aos Colossenses, eles já haviam evangelizado todo o mundo então conhecido. E não era para menos, porque eles não eram pregadores que ficavam esperando as portas se abrirem, ao contrário, eles forçavam as portas, considerando que elas foram abertas por Cristo e ninguém tinha força para fechá-las!

Quão diferentes deles somos nós da atualidade que, ao invés de pregarmos a Palavra, com exclusividade, usamos pregar a nós mesmos, as nossas vitórias, nossas virtudes, nossos feitos notáveis, e dum modo muito enfático, a nossa vida passada de completa desgraça espiritual, como exemplo ap modo miraculoso como fomos salvos...

As vezes, estes relatos humanos são vazados em eloquência que arrancam lágrimas àqueles que têm vocação para carpidores; mas, jamais trazem almas e consciências cativas aos pés de Cristo para salvação!...

Talvez o pastor pense que pregar não é exercer a clínica pastoral! Sim, e é no verdadeiro estilo cristão! Quantos ébrios inveterados têm sido libertados da embriaguez! quantos toxicómanos têm sido transformados e plenamente libertados pelo poder da pregação do evangelho! quantos corruptos, desajustados socialmente e mesmo enfermos, sofrendo de doenças infecto-contagiosas têm sido curados pelo simples contacto com o Salvador mediante a pregação de sua palavra, que é espírito e vida! 138

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Além de pregar, Jesus também ensinava como parte de sua clínica pastoral. Quantas vezes um toxicômano se chega a nós carente apenas de instrução diferente daquela a que têm estado afeito, e, depois de conduzido a Cristo mediante o ensino verdadeiro de sua Palavra, ele se une a Jesus, liberto completamente de suas mazelas físicas e morais, e torna-se um ser sadio física, moral e socialmente!

O pastor nunca deve se esquecer de que na clínica pastoral existe o valor poderoso da Palavra de Deus e da oração. Nunca esquecer de que é a verdade que liberta a pobre alma humana das garras aduncas do mais que mentiroso!

Nessa prática, fatalmente encontraremos toda sorte de enfermos, vítimas às vezes inconscientes da verdadeira chaga satânica, na maioria dos casos, vítimas diretas do próprio Diabo!

Nem sempre a enfermidade física é o resultado de obsessão satânica; isto cremos e ensinamos. Mas, se o pastor receber de Deus o dom de discernir os espíritos, definitivamente, vai encontrar mais frequentemente do que espera, a operação direta do Diabo em muitas enfermidades aparentemente físicas.

Quando falta discernimento no pastor, pode dar-se uma distorção tão perigosa nos seus conhecimentos dos casos, que ele passa" a ver em cada enfermidade um demônio operando, quando isto é absolutamente falso! Haja vista, por exemplo, o paralítico de Cafarnaum, curado por Jesus, conforme narrado nos evangelhos sinóticos: antes de curá-lo da paralisia, Jesus perdoou os seus pecados. Por quê? Logicamente a origem de sua enfermidade não estava no demônio e sim em sua natureza pecaminosa, o que às vezes acontece em nosso ministério.

Cremos que a maioria das enfermidades sofridas pela humanidade tem esta origem e não outra! Daí, a carência do discernimento em cada pastor, e da ausência de julgamento precipitado das origens das enfermidades, a fim de evitarmos escândalos e até descrédito ao pastor e ao evangelho, e, o pior: impropério ao nome de Cristo!

Na clínica pastoral, pode ocorrer com regularidade a aparição das vítimas sociais, religiosas e até trabalhistas e não apenas exclusivamente espirituais. E então, por não

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sermos assistentes sociais ou profissionais diretamente afeitos a tais problemas, vamos encaminhar aqueles que nos procuram aos ímpios especializados nesses conhecimentos? Não! Absolutamente não!!! E nosso dever lidar com eles do mesmo modo como lidaríamos com problemas de ordem espiritual puramente dito. Do contrário, como ficará a nossa consciência diante de Deus se enviarmos aqueles que nos procuram de sua parte, porque somos pastores, àqueles que os vão submeter a processos diferentes dos processos de Deus? Não fujamos à nossa responsabilidade! Saibamos que Aquele que encaminhou a nós casos como esses está conosco, e interessado na solução dos problemas, do mesmo modo como na vigência da lei, o leproso não era encaminhado ao médico e, sim, ao sacerdote.

Que diríamos de Jesus, se Ele houvesse mandado Zaqueu aos fariseus e aos escribas judeus com os seus problemas? Teriam eles resolvido o problema sócio-religioso-político do rico publicano de Jericó? Ao contrário, eles o teriam agravado ainda mais! eles o teriam repelido e o sepultado no ostracismo mediante o excesso de extremismo farisaico de que viviam complexados!

Jesus convidou Zaqueu a descer do sicómoro, prontificou-se a pousar em sua casa, e dignou-se a ouvir o rico publicano, e tudo isso somado resultou em salvação daquele filho de Abraão.

Na clínica pastoral, jamais um pastor deverá rejeitar os casos que lhe pareçam insolúveis: ao contrário, cada um de nós deve sempre lembrar que não há impossíveis para Deus! As vezes nos surge um complexo de suficiência religiosa, semelhante àquele que foi levado a Jesus pelo "moço rico", que noutro evangelho é denominado de "príncipe". Aquele homem, com o propósito de justificar-se a si mesmo, apresentou-se a Jesus declarando-se um homem irrepreensível desde a sua mocidade, visto que sempre havia observado todos os mandamentos e tudo o que lhe interessava era o que lhe faltava para se constituir herdeiro da vida eterna. Porém, ao ser-lhe dito por Jesus a única coisa que lhe faltava fazer, ele se retirou triste porque não se sentia disposto a fazer por si mesmo aquela coisa que ninguém poderia fazer por ele. 140

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Observe-se que este é o único caso em que a clínica pastoral de Jesus aparentemente falhou porque aquele homem retirou-se triste de sua presença. Mas nunca devemos esquecer a lei que afirma "ninguém pode ajudar a quem não quer ajudar-se a si mesmo". Foi o que aconteceu. Mas isto não significa haver falhado a clínica pastoral de Jesus, ao contrário, aquele incidente deu-lhe a oportunidade de ministrar profunda lição aos seus apóstolos, que ainda instrui a nós na atualidade.

Ao contrário do caso daquele príncipe judeu, é aquele ocorrido com os apóstolos de Jesus, que eram vítimas do falso ensino farisaico, de que todas as enfermidades são congénitas, a saber, são herdadas dos pais, em razão de seus pecados, ou como ensinavam, são consequências de hipotéticos pecados praticados pelos seres humanos antes de nascerem. Eivados deste falso ensino, perguntaram os apóstolos a Jesus sobre o cego de nascença: "Senhor quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?" ao que Jesus lhes disse em resposta curativa: "Nem este pecou nem seus pais, mas isto é para que se manifeste nele as obras de Deus." Com este ensino verdadeiro e positivo, eles ficaram curados da distorção farisaica causada pelo meio ambiente em que viviam e de que estavam inteirados.

A clínica pastoral é para ser aplicada na prática onde quer que esteja o pastor e surja um caso de consulta a ele. Mas, de certo modo mais positivo, é interessante que se estabeleçam locais específicos a seu exercício.

O gabinete pastoral, por exemplo, é o lugar ideal à sua ação. E ali, à parte com o Senhor, num ambiente a sós, que o cliente e o pastor se podem colocar nas mãos de Deus Todo-poderoso, e buscarem juntos a solução para qualquer problema. Melhor será se o gabinete for localizado longe da igreja a que serve o pastor, porque ali outras pessoas, que não sendo membros da igreja, poderão desfrutar dos conselhos pastorais e ter a sua oportunidade de encontrar, sem complexos eclesiásticos, a ajuda de Deus na solução dos problemas que as afligem e, quiçá, serem levadas a Cristo.

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“Procura conhecer o estado das tuas ovelha; pôe o teu coraçãosobre o gado” (Pv 27.23)

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Mas o templo da igreja local é outro lugar oportuno ao exercício da clínica pastoral, mormente destinado aos membros de sua ou de outra igreja que careçam da ajuda do pastor na solução de seus problemas (At 3.1-6).

Também em suas próprias casas, os membros da igreja ou, outros necessitados poderão recorrer aos serviços pastorais a qualquer hora do dia, visto que o pastor é obreiro de tempo integral.

Seguindo o exemplo de Jesus no exercício da clínica pastoral, nenhum de nós pastores, novos ou velhos, jamais teremos por que recear fracasso! Jesus, nosso modelo, jamais fracassou, e jamais fracassarão aqueles que o imitarem de boa fé no exercício do ministério.

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V

O Pastor Como Administrador

Às vezes perguntamos por que certas igrejas têm tantos

problemas inesperados e não poucas surpresas desagradáveis? Como pastores que somos, por que nos apanham desprevenidos com tanta frequência? Não seria muito difícil responder a estas perguntas quando reconhecemos que isto acontece porque em nossa avidez para iniciar um programa de trabalho na igreja, não preparamos adequadamente as pessoas que nos ajudam para executarem as tarefas.

A experiência nos adverte que não basta ao pastor ser um excelente pregador ou ensinador da Palavra, mas que seja apto para administrar o rebanho do Senhor, porque aquele que não sabe conduzir convenientemente o seu próprio lar (1 Tm 3.4,5) por conseguinte não terá sucesso à frente da família espiritual da igreja.

O pastor como administrador deve lembrar-se de que as tarefas de uma igreja não podem ser executadas unicamente por ele. As pessoas constituem-se no maior trunfo daquele que administra, e o seu sucesso será medido segundo sua habilidade em dirigir, motivar e criar um meio

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ambiente estimulante para os membros da igreja. E quando a igreja estiver operando mal, o problema quase sempre pode ser atribuído à má orientação dos que administram.

A habilidade do pastor em administrar implica em estabelecer uma atmosfera na qual os membros da igreja serão entusiásticos e atuarão com boa vontade no desenvolvimento da obra do Senhor. Para que esse espírito os domine, é necessário que os membros confiem na habilidade do pastor, reconheçam e se convençam da sinceridade de seus objetivos, e que é do interesse deles executar a obra.

Administrar, portanto, não é executar um sem-fim de coisas, não é realizar todas as tarefas, mas fazer com que todos participem do trabalho. Nosso Senhor Jesus Cristo sempre se utilizou de princípios fundamentais da administração, como podemos observar nos exemplos vistos nos Evangelhos, quer seja na escolha dos doze apóstolos para o ajudarem (Mt 10.1-4), ou no envio dos setenta (Lc 10.1), ou mesmo quando alimentou as cinco mil pessoas (Jo 6.1-14).

O pastor bem preparado observará algumas regras práticas de administração, determinando os alvos a serem estabelecidos. Para isso é preciso que planeje, estipulando os objetivos e as prioridades. O planejamento o levará ao roteiro das atividades do seu agitado dia. Além disso, deve:

1. desenvolver suas qualidades de liderança, conhecendo o seu próprio trabalho e o daqueles que trabalham com ele;

2. tomar decisões rápidas, demonstrando integridade e justiça; 3. demonstrar entusiasmo e perseverança para observar os horários, manter o orçamento e alcançar outros objetivos;

4. através do planejamento, demonstrar que sabe aonde está indo e que alcançará o alvo;

5. manter uma atitude agradável e deixar que os irmãos participem do planejamento e da tomada de decisões, envolvendo-os;

6. delegar responsabilidades e dividir a responsabilidade pelos erros. Ao desenvolver sua equipe, o pas

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tor deve explicar com toda a clareza o trabalho a ser feito, treinar o pessoal e supervisionar o trabalho. Na delegação, deve ter consciência de que o irmão pode fazer melhor o trabalho a executar, em menor tempo, com menos gasto e que se constituirá em seu próprio desenvolvimento espiritual;

7. fazer uma ação corretiva quando o planejamento se descontrolar, reconhecendo, porém, as façanhas publicamente dos que trabalham com ele, criticando-os construtivamente em particular.

8. impor disciplina e ao mesmo tempo mostrar um interesse ativo pelos que o ajudam a alcançar os objetivos estabelecidos;

9. coordenar as atividades para poder obter bons resultados, deixando que as pessoas saibam das mudanças ou desenvolvimentos que as afetará, antes que aconteçam;

10. ser um bom ouvinte, aceitando de bom grado as sugestões para melhorias, avaliando honestamente cada sugestão;

11. receber as reclamações tratando-as de maneira positiva, verificando se a reclamação é ou não um sintoma geral.

12. colocar pessoas capazes à sua volta, ajudando-as a evoluir, e nunca se interpor no caminho daqueles que procuram progredir em sua vida espiritual.

1. Mudança de Pastorado Aqueles que assumem o pastorado de uma igreja devem

lembrar-se de que uma mudança brusca nos planos e na organização da igreja pode se tornar uma experiência traumática para os membros conservadores. Aqueles que já se acostumaram com os hábitos e costumes do antecessor levantarão dúvidas a respeito das mudanças repentinas, suscitando discussões com o grupo, e fatalmente resistirão às modificações "que consideram desnecessárias e prejudiciais" para os melhores interesses da igreja.

"Se o pastor ficar sentido, pensando que estes membros não querem cooperar com a igreja, e insistir na

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necessidade imperiosa dos seus planos por causa das fraquezas da igreja, as discussões podem resultar no desenvolvimento de um plano que visa o afastamento do pastor. (1)

Diz-nos Crabtree que um sábio pastor, de muitos anos de experiência, deu o seguinte conselho a um jovem pastor que acabara de aceitar o pastorado de uma boa igreja: "Não faça mudanças nos planos e na organização da igreja no primeiro ano do seu serviço pastoral. Dedique-se à pregação e às atividades pastorais. Depois de inflamar o espírito do seu povo com o fervor das suas exposições das Escrituras, e quando a igreja chegar a conhecê-lo e confiar na sua orientação, pode sugerir novos planos como meios de aumentar a eficiência e o serviço da igreja." Completa, dizendo que embora seja um bom princípio, não é aconselhável praticá-lo em todos os casos, pois existem igrejas "instáveis e perturbadas que carecem de estudo e modificação sem demora, para preservar e manter a sua integridade e melhorar o seu serviço".

Outros jovens pastores mais afoitos, egressos de um seminário, ainda com a impetuosidade própria da juventude e daqueles que desejam pôr em prática tudo o que aprenderam nos bancos do seminário, ensaiam imediatamente uma demonstração de suas qualificações superiores, e iniciam mudanças imediatas como se a igreja tivesse sido mal orientada pelo seu antecessor.

A impaciência o torna ríspido e desagradável, e não faz questão de ser simpático exalando ar de pedantismo espiritual. Os seus pastores colegas o têm em grande conta com a sua linguagem eivada de termos bem empregados. Cheios de normas, raramente pede a opinião de quem quer que seja para elaborá-las. Por se considerar o dono da verdade, a sua palavra sempre é a última e a única capaz de salvar a igreja de sua derrocada final. Engana-se, porque isto significa falta de segurança gerada pela pouca vivência dos problemas de administração, especialmente no trato com valores espirituais.

Antes de operar qualquer modificação, deve estudar com extremo cuidado as características e peculiaridades (l)A.R. Crabtree 148

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da igreja, considerando os hábitos e costumes tradicionais, descobrindo as potencialidades dos membros da igreja, aplicando um processo corretivo cauteloso, e difundindo o espírito de harmonia e o amor fraternal no seio da congregação. Deve, ainda, integrar-se aos movimentos internos e conhecer a formação histórica da igreja para melhor orientar o rebanho em novos empreendimentos.

2. Tomada de Decisões Este é um ponto alto das tarefas do pastor na administração,

da igreja. Cabe a ele decidir o que deve ou não ser feito. E exatamente em função das decisões tomadas que o pastor costuma ser julgado, e são elas que irão influir, de modo marcante, em toda a sua vida ministerial.

Embora a arte de tomar decisões seja quase sempre um "dom natural", deve-se levar em conta que existe uma série de fatores que devem e podem ser aprendidos.

Também, aquele que administra os bens do seu Senhor não pode conviver com a indecisão. Saber agir com precisão e rapidez é, sem dúvida, muito importante no desempenho de seu trabalho; mas muitos erros podem ser cometidos porque a pessoa não meditou profundamente sobre o assunto, deixando-se influenciar pelo impacto do momento.

"A lentidão em tomar decisões é muitas vezes uma qualidade oculta, pois permite meditar bem sobre cada fator, o que proporciona maior margem de segurança quanto ao sucesso da medida tomada."

Afim de não ser traído na decisão que tomar, estribado unicamente no conhecimento dos fatos de uma questão, para ajudar o pastor, apresentamos uma sequência lógica nos seguintes passos:(2)

1º defina claramente a situação que requer a decisão; 2º enuncie os objetivos; 3º reúna todos os dados que forem pertinentes; 4º estude todos os cursos possíveis para a ação; 5º considere todas as consequências negativas e positivas que

possam advir de sua decisão; (2) Autor desconhecido

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6º escolha o caminho onde esteja envolvido o menor número de consequências negativas e que tenha condições de levar mais perto da realização do objetivo;

7º tome a decisão e cuide para que seja executada. Mas quando a ação se torna necessária, uma ausência de

decisão poderá se constituir numa jfrave omissão, pois "o tempo não irá resolver a situação. E preferível uma decisão errada do que nenhuma", porque já desencadeou um processo, o qual poderá ser corrigido mais adiante.

Muitas decisões ainda são tomadas fora da ordem, pois não são inteiramente independentes, exigindo que outras sub-decisões as acompanhem. Dificilmente se oferecem de uma vez todos os elementos necessários para se tomar uma decisão, e as informações adicionais são muito valiosas na maioria das vezes.

Por outro lado, uma tomada de decisões, um descuido com relação a alguns fatores, poderá resultar numa decisão pouco firme. As vezes, é melhor extinguir um cargo na igreja, com a demissão de seu ocupante, do que preenchê-lo com outra pessoa. Deve o líder, também, pedir a opinião de várias pessoas, numa tentativa de dividir a responsabilidade das decisões, especialmente em reuniões, seja com o seu pessoal ou colegas de ministério.

Assim, tomar uma decisão não significa terminar o trabalho, mas desejar que se produzam os resultados esperados. E a comunicação das decisões aos seus subordinados é muito importante, para que não surjam malentendidos e se crie um ambiente desagradável no próprio seio da igreja.

3. Administrando o Tempo O homem é um ser que se comunica com seus semelhantes,

mais do que qualquer outro animal: ele fala, lê, conversa, escreve, gesticula e transmite ideias e, segundo especialistas mais de oitenta por cento das atividades humanas são formas de comunicação. E o que abraça o ministério deverá saber conciliar essas formas com seu próprio tempo. 150

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O tempo do pastor nas atividades da igreja é precioso e será mais ampliado se souber administrá-lo. Moisés, no deserto, estava desfalecendo (Ex 18.14) pela sobrecarga de trabalho sem delegação de poderes e a falta de administração de seu próprio tempo.

Com a ajuda de boa organização o rendimento do trabalho do pastor será melhor. O segredo é dispender de seu expediente, um mínimo de esforço, adotando algumas medidas como:(3)

1º atender as pessoas cujos problemas transcendam a competência dos pastores auxiliares;

2º estabelecer horários de atendimento pastoral e não permitir que ninguém entre na sala sem ser anunciado;

3º contar com os auxiliares no encaminhamento das pessoas às áreas competentes, evitando que o pastor atue como elemento de triagem;

4º não permitir ser interrompido na sala constantemente nos atendimentos às pessoas;

5º nos atendimentos telefónicos, dispor de um ramal restrito para seu uso exclusivo e um irrestrito na mesa dos assistentes. O ramal restrito deve ser para aquelas pessoas que não podem ser enquadradas nos horários estabelecidos;

6º evitar tratar, concomitantemente, mais de um assunto; 7º programar reuniões periódicas, com agenda divulgada aos participantes, verificando se os assuntos a serem discutidos realmente devem ser objeto de discussão em grupo;

8º não permitir interrupções nas reuniões por chamadas telefónicas, solicitando aos assistentes o uso do bilhete, para que o pastor decida sobre o atendimento;

9º adotar o uso de agenda que facilita o estabelecimento de prioridades e o planejamento e controle dos trabalhos;

(3)Adaptado

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10° instalar um intercomunicador para contatar seus auxiliares, evitando deslocamentos desnecessários;

11° planejar a distribuição de seu tempo diário a seu arbítrio; 12°liberar-se para funções mais nobres, delegando as que o

sobrecarregam.

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VI O Pastor como

Líder 1. O que é Liderança? Segundo os mais renomados dicionários, "Liderança" é a forma

de denominação baseada no prestígio pessoal do líder e aceita pelos liderados. Vem a ser a ascendência e autoridade de um indivíduo sobre o grupo.

O surgimento de um líder é um fato natural, pois as pessoas têm necessidade de ter alguém que as represente, e comumente ele é apresentado como aquele que "conhece o caminho" "mostra o caminho" ou "segue o caminho".

Liderança é, pois, um comportamento, e nunca um fato isolado. Os líderes são aqueles que maximizam suas recônditas potencialidades. William James diz que "o indivíduo comum não desenvolve nem 10% do seu potencial inato. Se puder um homem maximizar o potencial de sua memória, poderá dominar quarenta línguas diferentes".

O líder cristão é aquele que aceita suas responsabilidades, mesmo que signifique um fardo demasiadamente pesado, mas está disposto a servir à causa, sabendo que sua autoconfiança se origina de uma fé profunda em Deus,

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que o chamou para cumprir seu desígnio em sua igreja aqui na terra.

2. Conceitos Básicos Sobre a Liderança da Igreja Desde o princípio, foi impossível a um homem só carregar a

carga de todo o rebanho e alimentá-lo adequadamente (At 6.1), e hoje, muito menos, poderá fazê-lo, pois ficará altamente "desprotegido quanto aos ataques da soberba, da inflexibilidade do coração e dos extremismos que perseguem o rebanho".

O pr. Renato Cobra, em um de seus trabalhos, descreve alguns conceitos básicos sobre a liderança da igreja, excluindo as conveniências e tradições religiosas, atendo-se unicamente à Bíblia Sagrada, nossa única regra de fé.

2.1 A Pluralidade da Liderança a. É ensinada em Êxodo 18.13-26, quando Jetro instruiu seu genro, Moisés; num dos exemplos mais notáveis do Antigo Testamento. Em At 11.30; 15.4 e 20.17 vemos um ministério colegiado.

b. Sendo a Igreja de Jesus Cristo, Ele exerce, como cabeça, o governo através de homens que Ele mesmo capacita e que são reconhecidos pela igreja como líderes espirituais e cheios do Espírito Santo (At 20.28; 1 Pe 5.1-4).

c. A pluralidade é irrefutável no Novo Testamento. No Novo Testamento encontramos vários exemplos de pluralidade na liderança da igreja, pois ela é o princípio fundamental para sustentar o equilíbrio, a harmonia e o crescimento da igreja local:

a.Antioquia (At 13.1,2; 14.21,23) b. Creta (Tt 1.5) c. Derbe (At 14.21,23) d. Diáspora (1 Pe 1.1; 5.1) e. Éfeso(Ef4.11) f. Filipos(Fpl.l)

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g. Hebreus (Hb 13.7,17) h. Icônio (At 14.21,23) i. Jerusalém (At 11.30; 15.4,6,22) j. Listra (At 14.21,23)

2.2 A Unanimidade da Liderança Assim como a multiplicidade de membros de nosso corpo forma

uma unidade, o mesmo sucede com o corpo de Cristo: não há acepção de pessoas. O Espírito Santo encaixou-se todos juntos num só corpo (1 Co 12.12-27). E como um corpo, embora de muitos membros, não podemos agir com base em divisões entre maiorias e minorias.

O Novo Testamento descreve a Igreja como a "Assembléia de Deus", convocada por Jesus Cristo, para cumprir seu propósito aqui na terra e comprometida com um procedimento caracterizado pela:

a. unidade do Espírito (Ef 4.3); b. mutualidade no serviço (um membro servir a outro usando os dons do Espírito Santo (1 Co 12.24-27; lPe4.10);

c. unanimidade em: • coração e alma (At 4.32) • oração (At 1.14; 4.24) • reuniões (At 2.46) • sentir (Rm 15.5,6; 12.26) • pensar (Fp 2.2; 4.2; 3.15; 1 Pe 4.1) • falar (1 Co 1.10) • decidir (At 1.26; Tt 1.5; At 13.1-3) 3. Estilos de Liderança O termo liderança tornou-se tão desgastado e confuso que vem

sendo usado como qualquer tipo de influência de um indivíduo sobre outro, podendo ir desde a persuasão lógica até a mais brutal dominação física.

Atualmente, surge uma nova interpretação de liderança. Vários autores procuram evidenciar o problema através de seus conceitos.

"Talvez, ansiosos por encontrarem uma definição para liderança, os teóricos da administração tentem visualizá-la em termos de estilo. Ao usarem uma expressão tão

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ampla, com certeza buscam descrever a maneira como a pessoa opera, e não o que ela é (1)

Não tem cabimento, então, falar-se de líder "nato" ou "qualidade de líder", uma vez que tão somente a circunstância dirá que membro de grupo, naquela ocasião, é o mais indicado para assumir a liderança. Estilo, assim, vem a ser o "somatório do tipo de ação desenvolvida pelo líder no cumprimento de sua liderança, e a maneira como o percebem os que ele procura liderar, ou os que podem estar observando de fora".

Dentro da organização, podemos ter os seguintes estilos desenvolvidos pelo líder:

a. Autocrático Esse estilo desestimula inovações, pois o autocrático vê-se a si próprio

como indispensável e deixa que o grupo vá debilitando através de debates sobre questões sem importância. Porém, as decisões importantes são tomadas por ele.

b. Burocrático Esse estilo pressupõe que qualquer dificuldade pode ser afastada

quando todos acatam os regulamentos, e o líder é uma espécie de negociador entre as partes e a tomada de decisão resulta de um critério parlamentar.

c. Democrático Nesse tipo de ambiente o líder pede e leva em consideração as opiniões

do grupo antes de tomar decisões; a responsabilidade é compartida pelo grupo. O líder dá explicações e aceita críticas. Os membros do grupo têm liberdade para o trabalho e a escolha dos subgrupos e coordenadores respectivos.

d. Laissez-faire Não chega este a se constituir propriamente um estilo, pois a função

do líder restringe-se apenas na tarefa de ma-

(1)Liderança Cristã, abril/82

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nutenção. Por exemplo, um pastor estará sujeito a exercer uma autoridade apenas nominal à medida que a liderança mostrar-se interessada somente em sua negação, enquanto que os pormenores de que depende a organização são deixados para outros executarem.

e. Paternalista Nesse estilo, o líder é cordial e amável. É muito adota-do nas

igrejas e, por isso mesmo, produz indivíduos imaturos depois de certo tempo porque desenvolve o crescimento apenas dos líderes e não dos elementos do grupo.

e. Participativo Na estrutura participativa há um grau elevado de relações

interpessoais saudáveis, e os membros demonstram grande identificação com o grupo. Há mais amizade, maior conhecimento dos antecedentes, habilidades e interesses dos demais membros, motivação mais intensa pelo trabalho e os subgrupos espontâneos são em maior número. Aqui o problema é a demora da ação em tempos de crise.

3. Diretrizes Para uma Excelente Liderança Se o líder não tem confiança em si mesmo, ninguém mais lhe

dedicará confiança. "A confiança tem de permear o grupo e tem de partir primeiro dos líderes. Em todas as fases tem que haver uma segurança bem sólida, uma convicção de competência baseada na preparação e numa acumulação gradual de experiência e talento." E se o líder não se sente pessoalmente capaz de superar um trabalho superior ao seu, não conseguirá convencer os outros de sua habilidade.

Em sua vida ministerial, o pastor lidará exclusivamente com problemas e pessoas, e, por isso mesmo, afio poderá deixar rastros confusos ou enganadores, pois será interpretado em suas ações e caráter. No caso, os membros da igreja sentir-se-ão seguros, quando o pastor revelar coerência de motivos e apresentar caráter íntegro e impareis lidade nos julgamentos.

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4.1 Tratando das Causas Pessoais a. O pastor deve ser acessível e estar sempre disponível para

atender os membros da igreja. b. Mesmo que não esteja de acordo com o que ouve, mostre-se

simpático com a pessoa ouvida. c. Não atue de modo precipitado enquanto não estiver de posse

de todos os fatos, para fazer um julgamento correto. d. Deixe transparecer interesse e amor cristão, orando com as

pessoas com quem trabalha. e. Esteja preparado para agir de maneira corajosa. f. O verdadeiro problema nem sempre está na primeira queixa, sendo prudente isolar o problema, ao ouvi-lo.

g. Peça à pessoa interessada para lhe dizer o que ela pensa que seja a resposta ou solução do problema.

h. Porque o nosso falar deve ser sim, sim; não, não, devemos cumprir com a nossa palavra na solução de um problema de um membro da igreja.

4.2 Tratando das Causas Coletivas a. Mantenha sua igreja informada, para não o criticarem após saberem do fato depois de consumado.

b. Deixe que o pessoal com quem trabalha perceba que você sabe que haverá problemas - assim não se surpreenderão quando surgirem.

c. Pesquise formas de antecipar e interceptar o curso dos problemas.

d. Permita que as pessoas apresentem as suas ideias e enfrentem coletivamente as áreas do problema.

Além disso, deve o pastor aprender a tirar vantagem dos próprios erros; isto evitará que cometa o erro por duas vezes. Entre outras coisas, deve o pastor:

a. ser humilde para admitir que está errado, e corri-gir-se; 160

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b. falar bem das outras pessoas; c. ficar calado quando não se pode dizer nada de bom de outrem; d. não passar adiante os boatos, para não incriminar o inocente; e. fazer uma apreciação honesta e sincera, dando o devido crédito a quem merece;

f. respeitar sempre o direito dos outros - o que sentem, o que pensam e expressam;

g. ser um bom ouvinte; h. procurar compreender e sentir o que a outra pessoa sente no momento, e aceitá-la plenamente;

i. nunca forçar uma relação, pois a condição de líder pode deixar as pessoas pouco à vontade. 5. O Preço da Liderança Toda liderança tem o seu preço, pois quanto maior for a conquista,

maior será o preço a pagar. Belo exemplo vemos na história de Moisés, que, revoltado com a

brutalidade dos egípcios e a triste sorte de seu povo, compreendeu que algum dia seria obrigado a defender a justiça a despeito de quaisquer sacrifícios pessoais que isso envolvesse. Preferiu liderar um povo pelo deserto do que ser chamado filho da filha de Faraó, porque tinha em vista a recompensa (Hb 11.24-26).

Vejamos alguns aspectos considerados de custo elevado para os que

ostentam uma liderança, especialmente os que se dispõem ao exercício do ministério:

a. Abuso do poder

Em qualquer organização, inclusive nos grupos cristãos,

quando uma pessoa recebe autoridade, é colocada numa posição legítima para exercer controle e eficiência. Para muitas pessoas, entretanto, isso é uma exaltação do ego e leva à autocracia.

O pastor, na sua condição de líder, é um condutor de almas, e não "dono" delas. Herodes, o Grande, subiu ao trono e o conservou por meio de crímei brutais; matou a esposa e dois filhos para não lhe

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sucederem. Matou também os meninos de Belém. Muitos, em posição de mando, estão a tratar as pessoas como

objetos que podem ser manipulados de um para outro lado, a fim de satisfazer seus instintos de supremacia. Isto é um perigo, e há de se pagar o preço para se evitar cair nessa insidiosa tentação.

b. Crítica Se alguém não pode suportar a crítica, ainda está emocionalmente imaturo. Esse defeito virá à tona mais cedo ou mais tarde, e impedirá o progresso do líder e do grupo em direção ao alvo comum.

O líder amadurecido é capaz de aceitar a crítica e fazer as necessárias correções.

c. Competição Há um preço a pagar quando o líder sofre de uma "ansiedade de competição", que assume a forma de fracasso ou medo do êxito.

d. Fadiga O cuidado adequado com a saúde, o descanso e o equilíbrio ajudarão o líder a manter a sua capacidade de resistência. Deve o líder buscar o equilíbrio a fim de reduzir o estresse em sua vida, tão prejudicial à continuação de seu desígnio.

e. Identificação Deve permanecer à frente do grupo e, ao mesmo tempo, caminhar com o povo que lidera. A linha divisória e ténue. Deve haver alguma distância entre o líder e seus seguidores. Isso significa que ele deve desejar ser humano, aberto e honesto, e não ser visto como um autómato, com receio de que o seu verdadeiro ego apareça.

Precisa identificar-se com o povo, gastar tempo em conhecê-lo, compartilhar suas emoções, vitórias e defeitos.

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f. Orgulho e inveja Estes são irmãos gêmeos. A popularidade pode afetar o desempenho da liderança. Sentimento de infalibilidade pode corroer sua eficiência. O orgulho se torna egoísmo quando enaltecemos a nós mesmos. O líder orgulhoso aceita facilmente a racionalização de que está menos sujeito a cometer erros do que os outros.

g. Rejeição É preciso ter uma forte personalidade para o líder ser capaz de enfrentar a rejeição. Sempre há forte possibilidade de alguém ser caluniado por sua fé. Também às vezes o pastor precisa ser capaz de resistir ao louvor. As pessoas normais e ajustadas querem ser amadas. Pode tornar-se um caminho difícil para palmilhar se o pastor sente a indiferença dos membros de sua igreja ou a falta de afeição. Muitas pessoas rejeitadas só têm o reconhecimento de sua força depois que tenham deixado o cargo ou morrido (Lc 4.16-29).

h. Solidão O pastor deve ser capaz de aceitar amizades, mas deve ser suficientemente amadurecido e ter bastante força interior para estar só, mesmo em face a grande oposição (Mt 27.46).

i. Tempo para pensar

Muitos estão tão ocupados (Lc 10.41) que não têm tempo para pensar. Um tempo deve ser dedicado à meditação e ao pensamento criativo.

j. Tomar decisões desagradáveis O líder cristão muitas vezes tem problemas nessa questão, porque são naturalmente relutantes em ferir as pessoas. Todos os líderes devem estar bem dispostos a pa-

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gar este preço para o bem da igreja; mesmo frente ao procedimento de disciplina do membro.

1. Utilização do tempo

Há preço a ser pago no uso de nosso tempo, porque parece que nós, seres humanos, nascemos com preguiça congênita. Administrar o nosso tempo significa administrarmo-nos a nós mesmos. Deve incluir um tempo para estar a sós com Deus, para orar, estudar a Palavra de Deus, examinar-se a si mesmo, tomar decisões e reanimar-se.

6. As Qualificações Necessárias de um Líder 1. Fé (aceita os desafios do momento) 2. Coragem (não cede aos derrotistas) 3. Amor (deve ser imparcial para produzir confiança mútua em

seus seguidores) 4. Determinação (toma decisões quando outros vaci¬lam) 5. Humildade (admite seus erros. "E uma virtude que resulta do

sentimento de nossa submissão") 6. Paciência (Lc 21.19; 2 Co 6.4; Hb 10.36) 7. Entusiasmo (inclui o otimismo e a esperança) 8. Benignidade (aplicação do amor fraternal) 9. Competência (exige de si elevados padrões de desempenho

pessoal) 10. Confiança (SI 40.4) 11. Disciplina (é capaz de dirigir outros porque disciplinou-se a si

mesmo) 12. Integridade (transparente em suas atitudes e relações) 13. Espírito de servo e capacidade administrativa 14. Persistência 15. Objetividade (não se interessa somente por atividades, mas

procura atingir os objetivos) 16. Treinamento (a Igreja de Jesus Cristo precisa de líderes sadios,

sábios e objetivos) 17. Persuasão (persuade seus liderados a se dedicarem)

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18. Tolerância (o líder deve ter como meta mudar o quanto puder, e tolerar os demais) 19. Lealdade (pode destruir a igreja) 20. Humor 21. Disciplina própria (Pv 16.32) 22. Prudência (evita os perigos) 23. Temperança (moderação, sobriedade, economia) 24. Justiça (dar a cada um o que lhe corresponde) 25. Reconhecimento (méritos de terceiros) 26. Controle emocional (não extravasa) 7Aperfeiçoando o Líder

Apresentamos alguns itens que devem ser desenvolvidos na vida do líder, para tornar-se padrão de boas obras (Tt 2.7) e cumprir de forma irrepreensível o seu ministério.

1. A vida e palavras do líder (o propósito deve ser servir, e não ser servido).

2. Deve procurar sempre a glória de Deus e nunca a sua própria (Jo 5.44).

3. Ter como base de relacionamento o amor. 4. Conhecer as maneiras de motivar o grupo, a fim de que este possa desempenhar o seu papel no plano de Deus aqui na terra.

5. Cortesia, cuja finalidade é respeitar os direitos, opiniões e sentimentos das outras pessoas.

6. Sinceridade (nada de oportunismo). 7. Apresentar um bom senso de humor, sorrir quando necessário e expressar amor, confiança e compreensão no tom da voz e na expressão facial.

8. Tratar os irmãos com candura, diplomacia e tato, não perdendo o controle da voz ou falar fora de turno.

9. Ter controle emocional, revelado no fruto do espírito: não pode transmitir medo, ódio, inveja, avareza, desconfiança, ira, etc.

10. Expressar-se afetivamente em público. 11. Ser hábil em incentivar e inspirar outros a executarem o seu trabalho.

12. Tomar interesse sincero nos detalhes da vida de seus superiores, pares e cooperadores.

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VII Código de Etica Pastoral

A Ética nos ensina que, "sendo a veracidade a base de todo o

bom intercurso entre os homens, a lei de conservação social exige de todo homem obediência estrita a esta lei em todas as relações com os seus semelhantes (1) O colega de ministério é nosso irmão e nosso próximo também (Lv 19.18; Lc 10.29) e, como tal, devemos-lhe respeito e dever de conservação de seu caráter e reputação, para uma pura e tranquila consciência com Deus (Rm 13.7).

No trato com os colegas de ministério, as epístolas pastorais nos dariam um verdadeiro código de ética, justapondo-se Êxodo 20.1-17 e Mateus 5.7.

E como o pastor é um vocacionado por Deus, ele recebe dons espirituais a fim de produzir a unidade, a maturidade e a perfeição da igreja. O pastor é um presente de Deus à igreja, e a Sua vontade é o "aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo" (Ef 4.12).

Dessa forma, como aquele que é dotado de conhecimentos, com a faculdade de consolação e entendido em governar, movido pelo sentimento de compartir as alegrias

(1)Langston

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ou tristezas de outrem e outras qualidades imanentes à sua chamada, o pastor deve ficar no firme propósito de que tudo o que fizer deve ser voltado para que a igreja possa crescer espiritualmente, executando a missão de Jesus Cristo (Ef 2.21,22), pois Deus a Ele constituiu, sobre todas as coisas, como cabeça da Igreja (Ef 1.17-23).

A glória e a honra do sucesso ministerial são só do Senhor Jesus, porque todas as coisas procedem dele (Rm 12.4-8; 11.35; Gl 2.6; 6.3; 2 Tm 6.17b), e "a Ele seja a glória e o poderio para todo o sempre" (1 Pe 5.11; Ap 1.6), porque há de aniquilar a morte, o nosso último inimigo, e se há de sujeitar Aquele que a Ele, sujeitou todas as coisas (1 Co 15.26-28).

Sendo o ministro homem separado para cumprir o propósito de Deus na Igreja, porém sujeito às paixões da carne (Rm 7.15-23), deverá vigilantemente observar alguns princípios de ética, condensados neste pequeno código, que lhe farão exemplo dos fiéis.

1. Princípios Básicos a. O pastor deve estar consciente de que seu ministério é uma vocação divina, e que o alcançou não por seus próprios méritos, mas através da convicção de sua chamada por Deus (Ef 3.7; Hb 5.4; 2 Co 3.5,6; Gl 1.15,16; Mt 4.21; 1 Tm 1.12).

b. O pastor, apesar da posição elevada que exerce, deve sempre lembrar-se de que está na condição de servo do Senhor Jesus Cristo (Tt 1.1; Fp 1.1; 2.7; Ap 22.3; At 9.15,16).

c. O pastor, como mordomo de seu tempo, deve administrá-lo exercendo pleno domínio sobre o seu uso, e com denodada sabedoria (Gn 24.2; 39.4-6; Lc 12.42-44; Ef 5.15,17).

d. Como o único que pode manchar o seu próprio caráter, deve o pastor "garantir, por sua conduta, a melhor reputação possível do ministério pastoral" (Jo 1.47; 2 Pe 3.14; 1 Tm 3.2,7; Cl 1.22; Fp 2.15).

e. Por ser a atividade pastoral estritamente de cunho espiritual, a sua mensuração deve ser quali-

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tativa e serviçal, e nunca voltada para o lucro fi¬nanceiro (Jo 4.34; 6.27; At 5.3,4; 8.20).

2. A Ética da Vida do Pastor

2.1 Pessoal

a. O pastor deve conservar-se fisicamente saudável e viver no equilíbrio do sentimento, porque o corpo é o templo do Espírito Santo para que possa cumprir a gloriosa missão que lhe foi confiada por Deus nesta vida (1 Co 6.19; 2 Cr 20.32; 2 Tm 4.7; Rml2.1).

b. O pastor deve cultivar seu crescimento espiritual diário, orando, estudando, meditando e possuindo um coração cheio do fruto e dons do Espírito Santo de Deus e consagrar toda a sua vida ao trabalho do Evangelho (Jo 21.15-17; 2 Co 5.7; Hb 12.14; 1 Ts 5.14; Gl 5.22; 1 Co 12.1-11,30,31; 13.1-9).

c. O pastor deve abster-se dos costumes rudimentares adquiridos que prejudicam a eficácia de seu ministério ou na sua influência pessoal (Hb 5.12; 6.1; Gl 4.9).

d. O pastor deve esforçar-se para viver dentro dos limites de seu orçamento e com honestidade saldar integralmente seus compromissos financeiros (2 Co 8.20,21; 12.14; Mt 22.21; Rm 13.8).

e. O pastor deve ter o coração cheio de confiança na providência paterna de Deus, em todas as circunstâncias, sabendo que esta é a vontade dEle para sua vida (1 Co 1.8-10; Dn 3.17,18; Mt 6.30; 1 Ts5.18).

f. O pastor tem o dever fundamental de certificar-se de que suas relações familiares são justas e que se constituem exemplo de viver piedoso para toda a comunidade (1 Tm 3.4-7; Lc 1.6; Ef 5.28).

g. O pastor deve considerar a Bíblia como a Palavra de Deus, a única regra de fé e prática e usá-la como a substância de seu ministério docente e

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profético, bem como zelar pelo Ministério da Palavra (2 Tm 2.15; 4.1-5; Rm 11.13; 1 Co 4.1).

2.2 Familiar a. O pastor deve buscar no matrimônio uma esposa apta para auxiliá-lo no ministério, considerando a ação permanente de Deus na vida do lar (1 Tm 3.1,2; Gn 24.1-4; Ef 5.23-28; 1 Tm 3.11).

b. O pastor deve agir honesta e corretamente com sua família, dando-lhe o sustento adequado, o vestuário, a educação, a assistência médica e espiritual, bem assim como o tempo que esta merece (1 Tm 3.4,5; Tt 1.6,7; Lc 11.11-13; 1 Pe 3.7; Cl 3.19).

c. O pastor deve abster-se de tratar dos problemas eclesiásticos diante dos filhos, mormente os de menor idade e nunca citar nomes de pessoas envolvidas (1 Tm 3.4; 1 Pe 5.7,8).

d. O pastor sempre deve usar uma linguagem sã para com os seus, nunca xingar seus filhos ou discutir com a esposa perante eles, principalmente no que diz respeito à sua disciplina (1 Tm 3.4; 2.11-15; 1 Pe 3.10; Tg 3.3; Ef 6.4b).

3. A Ética nas Relações Eclesiásticas 3.1 Em Relação à Denominação

a. Uma vez que tenha abraçado a denominação a que pertence, deve o pastor manter-se leal a ela ou cortar relações se em boa consciência nela não poder permanecer (Rm 14.22).

b. O pastor jamais deve criticar publicamente a sua denominação, e, se assim desejar fazê-lo, use a tribuna convencional e nunca ir a juízo contra qualquer irmão (1 Co 6.1-9).

c. O pastor deve esforçar-se por promover o desenvolvimento de sua denominação, honrando-a com o seu próprio testemunho e auxiliando-a nas grandes realizações (At 2.41-47).

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d. O pastor deve conhecer a História de sua denominação, não só no Brasil como suas origens no exterior, manter-se informado como funciona e extrair lições dos que fizeram a história.

3.2 Em Relação à Convenção a. O pastor deve ser filiado à Convenção do Estado onde reside, de sua preferência, sujeitando-se às normas regimentais estabelecidas, bem assim como conhecer a origem e a história de sua Convenção.

b. O pastor deve estender as "tendas" de sua congregação, no campo que trabalha, sem que isto signifique contenda entre irmãos, mas dentro do espírito de entendimento cristão (Rm 15.20,21; Gn 13.6-12; 1 Pe 5.22,23).

c. O pastor deve, ao participar de assembleias convencionais, usar a linguagem cristã ao referir-se aos demais companheiros, respeitando sempre seus pontos de vista, embora, aos seus olhos, limitados (Rm 15.1,2; Ef 4.2; Cl 3.13).

d. O pastor deve confiar na soberana vontade de Deus na indicação de seu nome para exercer uma função de comando na Convenção, sem que isto represente manobras políticas e sectaristas para obter posição ou manter-se no cargo denomina-cionaldCo 10.23; 8.9).

e. Deve o pastor, ao apresentar um ou mais candidatos à Convenção para serem ordenados ao Santo Ministério, considerar os seguintes aspectos relevantes na escolha dos futuros ministros:

1. que o candidato tenha tido conversão inequívoca e não seja neófito (At 9.15-22; Jo 3.3,6; 1 Tm 3.6);

2. que o candidato seja batizado com o Espírito Santo (At 2.4; 4.8-13; Mt 3.11; 1 Co 14.2);

3. que o candidato seja, preferentemente, casado, governe bem a sua casa e tenha os filhos em sujeição, e tenha uma vida irrepreensível no tra-

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balho e na sociedade (1 Tm 3.2,4,7; Cl 4.5; 1 Ts 4.12); 4. que o candidato seja vocacionado para a obra do ministério,

porque a "função não habilita o homem, mas o homem é quem deve ser habilitado para a função" (At 9.15; 2 Tm 2.9; 3.10,11,14);

5. que o candidato não pertença a nenhuma sociedade secreta;

6. que o candidato, se necessário, esteja disposto a viver do Evangelho (1 Co 9.13,14);

7. que não considere o ministério como algo hereditário, por conveniência econômica, política ou oligárquica, muito embora muitos filhos tenham condições de dar continuidade ao ministério iniciado por seus pais (1 Rs 2.10-12);

8. nunca deve o pastor apresentar um candidato para ordenação como recompensa, ou sob o aspecto protecionista, ou pela aparência, ou pela riqueza, sem que seja vocacionado para o exercício da função;

9. não deve, também, o pastor considerar que o ministério se dá aos que galgaram uma escala hierárquica, iniciada como diácono e terminada como pastor;

10. o pastor não deve, ainda tratar o ministério como uma profissão, anulando os conceitos bíblicos da vocação e indicar indivíduos apenas pelas mordomias que à igreja possam oferecer, em detrimento dos realmente vocacionados;

11. não deve o pastor indicar elementos imaturos, desequilibrados mentais, aposentados, deficientes ou reformados das Forças Armadas por motivos de insanidade mental, o que seria antecipar sérios problemas para dentro da igreja;

12. em resumo, deve o ordenado, tendo consciência da vocação divina, na Convenção a que pertence, assinar, com a ajuda de Deus, o seguinte:

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TERMO DE COMPROMISSO 1º Honrar em tudo, na minha vida pessoal, sob a direção do

Espírito Santo os sagrados compromissos do MINISTÉRIO que me foi concedido, tendo sempre presente as minhas responsabilidades perante a Igreja e perante o mundo.

2º Promover a paz e o desenvolvimento espiritual, moral e patrimonial da Igreja a que sirvo, sendo o exemplo da doutrina, fortalecendo o espírito e a prática da fraternidade e cooperação das instituições, obreiros e membros que estiverem sob minha direção, a boa ordem dos serviços eclesiásticos e comunhão espiritual do povo de Deus.

3º Ser fiel no zelo e nas atribuições a mim conferidas pela Igreja ou por delegação pastoral.

4º Ter em elevada conta o espírito e a prática da comunhão e lealdade em relação aos meus companheiros de Ministério, orando em seu favor, amando-os com o amor de Cristo, aconselhando-os e sendo aconselhado, e zelando de todos os modos, pela pureza do Ministério perante o mundo e a Igreja.

5º Obedecer aos Estatutos e Regimento Interno, da Igreja e da Convenção, bem como acatar com humildade as observações e as restrições disciplinares da Igreja, do Ministério Geral a que estou sujeito, e das Convenções filiadas (Estadual e Geral).

6º Em caso de objeções de consciência, de divergências doutrinárias ou por qualquer outro motivo que leve a desligar-me ou ser desligado da Igreja, processar normal e pacificamente esse desligamento, não provocando, sob qualquer pretexto, perturbações, cismas no seio da igreja e da entidade que esteja jurisdicionado ou dirigindo, não levantar questões jurídicas contra a Igreja ou Convenção, em qualquer circunstância, e

7º Honrar, com soluções honestas, os compromissos assumidos para com a Igreja, a Convenção, a Sociedade e o indivíduo.

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3.3 Em Relação à Igreja a. Sendo a igreja o corpo de Cristo, do qual é a cabeça, e o

pastor um membro em particular e portador de um dom especial, deve tratá-la com grande estima (Ef 5.23; 1 Co 12.27; 1 Pe 5.2; Ef 4.8-11).

b. O pastor deve dedicar tempo integral à igreja, se por ela for sustentado, e ter o seu consentimento se desejar aplicar-se à outra atividade material (1 Co 9.14; 1 Tm 5.17,18; 6.9-11).

c. O pastor deve, por princípio, ser absolutamente imparcial no seu trabalho pastoral, não se deixando levar por indivíduos ou facções, bem como não pretender levar a igreja a fazer tão-somente a sua vontade (1 Pe 5.1-3).

d. O pastor deve ter prudência ao desejar acumular, a convite, o pastorado de outra, a fim de que não venha descumprir compromissos com a própria igreja e venham a lhe exigir esforço além de seus limites; antes deve buscar a direção de Deus (At 13.2).

e. E de bom alvitre ao pastor reconhecer o momento certo de se afastar da igreja quando perceber que seu ministério está findo e não insistir em permanecer retardando o processo de crescimento da igreja. Deve, antes, solicitar a sua honrosa jubila-ção (2 Tm 4.7).

f. "O pastor não deve fazer ou aprovar qualquer manobra política para manter-se em seu cargo ou para obter qualquer posição denominacional; deve, antes, colocar-se exclusivamente nas mãos de Deus para fazer o que a Ele aprouver" (1 Co 10.23,31).

g. O pastor deve ser o primeiro a acatar as deliberações da igreja, procurando sempre esclarecer ao rebanho do Senhor as tomadas de decisões acertadas (1 Pe 5.2,3).

h. O pastor deve ser cuidadoso no modo de cumprimentar e no relacionamento com as pessoas do

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sexo feminino, e revelar nos seus gestos a pureza do seu serviço ministerial (Ec 9.8; 1 Tm 4.12; 2 Co6.6;Ef5.3;Tg4.5).

i. O pastor deve manter o respeito para com os membros de sua igreja, e reservado quanto às confidencias dos que se aconselham em aflições ou problemas pessoais (Tg 3.2,8).

j. O pastor deve ter o cuidado em suprir gastos de viagem de seus pregadores convidados, da forma a mais discreta possível (1 Co 9.14).

1. O pastor não deve assumir compromissos financeiros de monta considerável sem o prévio consentimento da igreja, nem usurpar o dinheiro da igreja para fins pessoais, mas, antes, prestar-lhe contas de todos os seus gastos (Lc 16.10; 19.17; Mt 25.21).

3.4 Em Relação ao seu Trabalho a. O pastor, ao citar frases ou material de fonte alheia, em seus sermões ou em obras literárias, deverá citar a origem e nunca plagiar (Fp 4.8; Rm 12.17; 2 Co 8.21; Rm 13.7).

b. O pastor deve ser fiel a Deus em tudo e em todo o seu trabalho, pois esta é a condição exigida do ministro, porque a sublimidade do reino não comporta duas escolhas (Ap 2.11; 1 Co 4.2; Lc 19.17; Mt 6.24; 1 Jo 5.20; 1 Rs 18.21).

c. O pastor deve evitar, o quanto possível, entendimentos frequentes com membros da igreja em seus locais de trabalho, a fim de não trazer-lhes constrangimento junto aos seus superiores (Ec 3.1)

d. O pastor, no ministério da visitação, deve portar-se com discrição absoluta e dignidade cristã para com as pessoas do lar visitado e nunca ficar a sós com o cônjuge cujo esposo esteja ausente (1 Tm 5.1-15).

e. O pastor, em sua discrição, não deve comentar com familiares e nem mesmo com a sua esposa,

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assuntos confidenciais cuja divulgação seja maléfica para a obra do Senhor (1 Tm 3.1-5).

f. O pastor deve zelar pelo decoro do púlpito e por seu próprio preparo e fidelidade na comunicação da mensagem divina ao rebanho do Senhor (2 Tm 2.15).

g. A humildade deve ser uma das características que acompanha o pastor como líder, e estar pronto a acatar de terceiros orientações e projetos para o bem da obra de Deus (Tg 4.6).

4. A Ética nas Atividades Ministeriais 4.1 Em Relação ao Antecessor a. O pastor que deixa o pastorado da igreja, por motivos cristãos, deve ser alvo de honra e crédito de seu sucessor.

b. O pastor que assume o pastorado de uma igreja deve ser prudente nas mudanças de estilo deixado pelo seu antecessor.

c. Sempre que possível, o sucessor de um pastorado da igreja deve dar continuidade aos projetos iniciados pelo seu antecessor.

d. O pastor que assume o pastorado da igreja não deve desprezar o seu antecessor, nem tampouco a sua família, mormente se recebeu da igreja a sua jubilação.

e. O pastor que assume o pastorado da igreja jamais fará comentários desairosos a respeito de seu antecessor e do seu trabalho executado durante o período em que serviu a igreja.

f. O sucessor no pastorado de uma igreja deverá amparar a viúva de seu antecessor quando este, nenhum recurso legou à sua companheira (At 6.1; 1 Tm 5.3,5,16).

4.2 Em Relação ao Sucessor a. O pastor deve cuidar para que a passagem do pastorado da igreja, a seu sucessor, seja com inteira lisura e a mais transparente possível.

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b. O pastor que deixa o pastorado deve entregar todos os bens da igreja, através de relatório completo, ao seu sucessor, bem como dar-lhe ciência do que existe em andamento (Mt 25.14,15).

c. O pastor que deixa o pastorado evidenciará sua humildade em Cristo assistindo ao,culto de posse de seu sucessor, ocasião em que receberá as justas homenagens. Excetuam-se os casos em que o afastamento deveu-se por pecado.

d. O sucessor no pastorado de uma igreja jamais deverá se portar enciumado com as visitas, espontâneas ou a convite de seu antecessor.

4.3 Em Relação aos Colegas a. Zelar pela reputação dos seus colegas quando ela se baseia

num caráter bom, por ser uma das coisas mais preciosas que se possui, e não permitir comentários desabonadores a seu respeito (Jo 15.17; lTs 4.9).

b. Falar a verdade com respeito ao caráter mau de um colega que tem granjeado boa reputação junto à sociedade sem calúnias, pois possui algo a que não tem direito (Mt 18.15-17).

c. Zelar pela natureza, pela moral, pela dignidade e pela espiritualidade do Ministério Evangélico, tomando, para isso, as providências que a ética cristã lhe indicar (1 Tm 5.19-21).

d. Na conversação, não suscitar dúvidas no coração de seus colegas sobre conceito de coisas sérias e de importância que delas fazem outros colegas (Ef 4.31; SI 10.7).

e. Ser o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade no espírito, na fé, na pureza, porque o mau exemplo enfraquece o poder de resistência de nosso colega (1 Tm 4.12).

f. Ficar à parte das questões que surjam nas igrejas de seus colegas, e não aproveitar-se da ocasião para arrebanhar os descontentes, salvo quando for convidado por aquele ou pela Convenção a que estiver filiado (Pv 26.17; Mt 7.12).

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g. Só aceitar convite para pregar em outra igreja quando formulado pelo pastor ou seu substituto legal, respeitando os princípios éticos e bíblicos.

h. Cultivar junto aos colegas o hábito da franqueza, da bondade, da lealdade e da cooperação (Rm 12.9,17; 1 Co3.9; lTs4.12).

i. Não desmerecer o trabalho realizado por um colega, mui especialmente quando o tenha sucedido no pastorado da igreja (1 Ts 1.3).

j. Não interferir nos assuntos da igreja de um colega ou exercer o proselitismo entre seus membros e muito menos abrir trabalhos nas áreas imediatas à sua igreja, lembrando-se de que o campo é o mundo e não as igrejas dos outros (Rm 15.20).

1. Não aceitar membros disciplinados biblicamente por outras igrejas, salvo na impossibilidade de prévia reabilitação pelo desaparecimento da sua igreja de origem, ou quando reconciliado pela igreja que o disciplinou,

m. Não aceitar convites para realizar casamento ou outra cerimônia na igreja do colega, ou de membros de sua igreja, sem seu prévio assentimento, ressalvados os casos especiais.

n. Em nenhuma hipótese subestimar seus colegas avocando preconceito racial, porque Deus não faz acepção de pessoas (At 10.34).

o. Ter um alto sentimento de consideração, honra, estima e respeito pelos colegas mais idosos ou jubilados, especialmente para com os que fizeram e fazem a história da denominação (Rm 12.10; 13.7; Fp 2.29; 1 Co 12.23; Fm 9).

p. Não prestar falso testemunho contra o companheiro, o que é uma abominação ao Senhor e uma flagrante violação do dever de conservação social (Pv 6.19; 19.5,9; 2 Co 11.26; Gl 2.4).

q. Ao deixar o pastorado de uma igreja, deve evitar, tanto quanto possível, participar dos seus trabalhos, a fim de não constranger o seu substituto e não impedi-lo de tomar as providências indispensáveis ao desenvolvimento da obra (1 Co 3.6,7).

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r. Não se prestar ao uso de expressões ambíguas, em Assembleias ou em particular, com o fim de, no seu equívoco intencional, enganar e iludir os companheiros, antes, sua linguagem deve ser clara e inteligível.

s. Não ter inveja do colega que é reconhecidamente melhor do que nós e de seu sucesso ministerial, antes, dedicar-se a auxiliá-lo em oração para que cumpra até o fim com fidelidade sua missão (Pv 14.30; Mc 15.10; At 5.17,18; 1 Ts 5.12,13).

t. O ministro não deve aceitar convites de interessados ou se oferecer como candidato à vacância do pastorado de uma igreja, por falecimento ou exclusão de seu titular, mas esperar o convite de quem de direito (1 Co 7.20; 2 Pe 1.10; 1 Co 1.26).

u. Quando criticar, voltar-se sempre para a ação do colega criticado, sem ira, não em público, sem precipitação e quando tiver pleno conhecimento da situação, que geralmente tem duas facetas.

v. Restituir, quando prejudicar o colega não somente os bens materiais mas também os morais e os espirituais como o bom nome que desfruta na sociedade e na sua boa reputação no seio da igreja.

x. Perdoar ao colega ofensor, mesmo que lhe seja de direito exigir justificação daquele que o ofende, eliminando o ressentimento resultante da ofensa e reatando as relações fraternais que existiam antes do ato ofensivo (Mt 6.12; Ef 4.32; Mc 11.25,26; Cl 2.13; 3.13; Pv 18.19).

z. Não entrar em juízo contra um colega de ministério nem contender com ele em Convenção, induzindo outros a uma acirrada represália, quando o sentimento da própria dignidade foi atingido ou desejar evidenciar o prazer da supremacia (1 Co 6.1-5).

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