Ética na administração pública

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  • NOES DE TICA

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    NOES DE TICA &

    TICA NO SERVIO PBLICO

  • NOES DE TICA

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    NOES DE TICA

    TICA: Conjunto de normas e princpios que norteiam a boa conduta do ser humano.

    MORAL: Conjunto de regras de conduta ou hbitos julgados vlidos, quer de modo absoluto ,quer para grupo ou pessoa determinada.

    Segundo Valls tica pode ser o estudo das aes ou dos costumes, e pode ser a prpria realizao de um tipo de conhecimento1. Neste esprito necessitamos compreender estas duas dimenses do conceito.

    A tica a inteno da vida boa para si e para o outro, em instituies justas, conforme conceito descrito por Paul Ricoeur2. Estes so os trs elementos bsicos da inteno tica. Ou seja, a inteno de uma vida realizada sob o signo das aes estimadas boas; o cuidado consigo e com o outro para que possamos viver bem.

    Este conceito de viver bem consigo e com o outro, conforme Ricoeur3, evoca, ainda, a idia de estima e solicitude que contribuem para estabelecer a igualdade entre as pessoas. Esta inteno do bem-viver deve envolver de algum modo o sentido da justia, isso exigido pela prpria noo do outro. Para isso preciso entender por instituio, nesse primeiro nvel de investigao, como sendo todas as estruturas do viver-em-comum de uma comunidade, com suas relaes interpessoais e especficas. E a justia consiste, precisamente, em atribuir a cada um a sua parte.

    ticai vem do grego ethos, que significa analogamente modo de ser ou carter e costume, assentam-se num modo de comportamento que no

    1 VALLS, lvaro. tica.Editora Brasiliense:So Paulo,1994,p07. 2 RICOEUR, Paul. Em Torno ao Poltico. Trad. Marcelo Perine. Edies Loyola: So Paulo, 1995, p 162. 3 RICOEUR, Paul. Em Torno ao Poltico. Trad. Marcelo Perine. Edies Loyola: So Paulo, 1995, p 164.

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    corresponde a uma disposio natural, mas que adquirido ou conquistado por hbito4

    De acordo com Vsquez5, a tica a teoria ou cincia do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, ela estuda uma forma de comportamento que os homens julgam valioso e, alm disto, obrigatrio e inescapvel para a convivncia. A tica no cria a moral. Conquanto seja certo que toda moral supe determinados princpios, normas ou regras de comportamento, no a tica que os estabelece numa determinada comunidade.

    As questes ticas esto cada vez mais visveis na cena pblica brasileira dada a multiplicao de casos de corrupo e, sobretudo, a reao da sociedade frente a um tal grau de desmoralizao das relaes sociais e polticas6. Com os escndalos e as denuncias de corrupo expostas pela mdia, refletir sobre essas questes traz tona os conceitos ticos que envolvem a busca por melhores aes tanto na vida pessoal como na vida pblica.

    A tica pautada na conduta responsvel das pessoas. E a importncia da escolha de um poltico com esse carter a fim de diminuir o mau uso da mquina pblica e evitar que ele venha auferir ganhos e vantagens pessoais.

    As normas morais apenas fornecem orientaes cabendo, apenas ao poltico determinar quais so as exigncias e limitaes e decidir-se entre a melhor alternativa de ao. Essa preocupao relaciona-se com a responsabilidade que eles tm em atender as demandas, com integridade e eficincia, no papel de representante democrtico.

    E esse ato de pensar moralmente que introduz o senso tico das nossas aes, ela deve ser entendida como esta reflexo crtica sobre a dimenso humana - o compromisso diante da vida - que contribui para o estabelecimento

    4 VASQUEZ, Adolfo Snchez. tica. Trad. De Joo Dell Anna. 19 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1999, p 24 5 VSQUEZ, Adolfo Snchez. tica. Trad. De Joo Dell Anna. 19 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1999, p 22 6 ROSENFIELD, Denis. A tica na Poltica: Venturas e desventuras brasileiras. 1 ed. So Paulo: Brasiliense, 1992, p 43-44.

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    das relaes do ser humano com o outro, numa convivncia pacfica a fim de evitar as vantagens desleais e as prticas que prejudiquem a sociedade em geral.

    Diante destes conceitos, sobre a necessidade da adoo de um comportamento correto do homem e levando-se em conta a proximidade das eleies, verificamos a necessidade de uma investigao sobre a opinio das pessoas com relao tica.

    Partindo do conceito de tica, que implicar em conhecer porque certas coisas nos convm e outras no, ou de saber distinguir entre o bom e o mau7 que pretendemos verificar qual a viso que os eleitores tm da tica na poltica, tentar descobrir o que eles entendem por tica e ainda, o que eles esperam de um poltico tico.

    "A tica daquelas coisas que todo mundo sabe o que so, mas que no so fceis de explicar, quando algum pergunta.(VALLS, lvaro L.M. O que tica. 7a edio Ed.Brasiliense, 1993, p.7)

    Segundo o Dicionrio Aurlio Buarque de Holanda, TICA "o estudo dos juzos de apreciao que se referem conduta humana susceptvel de qualificao do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente determinada sociedade, seja de modo absoluto.

    Alguns diferenciam tica e moral de vrios modos:

    tica princpio, moral so aspectos de condutas especficas; tica permanente, moral temporal; tica universal, moral cultural; tica regra, moral conduta da regra; tica teoria, moral prtica.

    7 SAVATER, Fernando. tica Para Meu Filho. So Paulo: Martins Fontes.

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    Vrios pensadores em diferentes pocas abordaram especificamente assuntos sobre a TICA: Os pr-socrticos, Aristteles, os Esticos, os pensadores Cristos (Patrsticos, escolsticos e nominalistas), Kant, Espinoza, Nietzsche, Paul Tillich etc.

    Passo a considerar a questo da tica a partir de uma viso pessoal atravs do seguinte quadro comparativo:

    tica Normativa tica Teleolgica tica Situacional

    tica Moral tica Imoral tica Amoral Baseia-se em princpios e

    regras morais fixas

    Baseia-se na tica dos fins: Os fins justificam os meios.

    Baseia-se nas circunstncias. Tudo relativo e temporal.

    tica Profissional e tica Religiosa: As regras devem ser

    obedecidas.

    tica Econmica: O que importa o capital.

    tica Poltica: Tudo possvel, pois em poltica tudo vale.

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    tica empresarial A tica empresarial pode ser entendida como um valor da organizao que

    assegura sua sobrevivncia, sua reputao e, conseqentemente, seus bons resultados. Para Moreira, a tica empresarial "o comportamento da empresa - entidade lucrativa - quando ela age de conformidade com os princpios morais e as regras do bem proceder aceitas pela coletividade (regras ticas)."

    IMPORTANCIA

    Aplicar a tica nas profisses e organizaes, considerado um fator importantssimo para a sobrevivncia das mesmas, inclusive de pequenas e grandes empresas. Estas vm percebendo a necessidade de utilizar a tica, para que o pblico tenha uma melhor visualizao do seu slogan, que permitir, ou no, um crescimento da relao entre funcionrios e clientes.

    Desse modo, relevante ter conscincia de que toda a sociedade vai se beneficiar atravs da tica aplicada dentro da empresa, bem como os clientes, os fornecedores, os scios, os funcionrios, o governo... Se a empresa agir dentro dos padres ticos, ela s tende a crescer, desde a sua estrutura em si, como aqueles que a compem.

    OBSERVAES IMPORTANTES

    Quando a empresa tira vantagem de clientes, abusando do uso dos anncios publicitrios, por exemplo, de incio ela pode ter um lucro em curto prazo, mas a confiana ser perdida, forando o cliente a consumir produtos da concorrncia. Alm disso, recuperar a imagem da empresa no vai ser fcil como da primeira vez;

    A tica na empresa visa garantir que os funcionrios saibam lidar com determinadas situaes e que a convivncia no ambiente de trabalho seja agradvel.

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    A TICA DO LUCRO

    O lucro a parte sensvel de uma organizao, por isso exige cuidado no momento do planejamento para a obteno do mesmo. Isto significa que ser antitico, enganando seus clientes, no uma boa idia para a empresa que almeja desenvolver-se e crescer perante concorrncia.

    Assim, pode-se deduzir que a obteno do lucro um dos fatores advindos as satisfao dos clientes, pois o lucro objetivo dos negcios, que as empresas desenvolvem para cumprir sua meta, tendo como retorno o resultado dos servios prestados. [3]

    VALORES TICOS

    So um conjunto de aes ticas que auxiliam gerentes e funcionrios a tomar decises de acordo com os princpios da organizao. Quando bem implementado, os valores ticos tendem a especificar a maneira como a empresa administrar os negcios e consolidar relaes com fornecedores, clientes e outras pessoas envolvidas. [4]

    CDIGO DE TICA

    um instrumento criado para orientar o desempenho de empresas em suas aes e na interao com seu diversificado pblico. Para a concretizao deste relacionamento, necessrio que a empresa desenvolva o contedo do seu cdigo de tica com clareza e objetividade, facilitando a compreenso dos seus funcionrios.

    Se cada empresa elaborasse seu prprio cdigo, especificando sua estrutura organizacional, a atuao dos seus profissionais e colaboradores poderia orientar-se atravs do mesmo. O sucesso da empresa depende das pessoas que a compe, pois so elas que transformam os objetivos, metas, projetos e at mesmo a tica em realidade. Por isso importante o comprometimento do indivduo com o cdigo de tica. [5]

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    Ou seja, o conceito de tica empresarial ou organizacional (ou ainda de tica nos negcios) tem a ver com este processo de insero. A empresa ou entidade deve estar presente de forma transparente e buscando sempre contribuir para o desenvolvimento comunitrio, praticando a cidadania e a responsabilidade social. Atentam-se contra a cidadania, ferem a tica empresarial. A tica social se pratica internamente, recrutando e formando profissionais e executivos que compartilham desta filosofia, privilegiando a diversidade e o pluralismo, relacionando-se de maneira democrtica com os diversos pblicos, adotando o consumo responsvel, respeitando as diferenas, cultivando a liberdade de expresso e a lisura nas relaes comerciais.

    Ainda que se possa, filosfica, doutrinaria e ideologicamente, conceber conceitos distintos para a tica social, h algo que no se pode ser contrariado jamais: a tica social um atributo indispensvel para as organizaes que querem manter-se vivas no mercado e a sociedade est cada vez mais alerta para os desvios de conduta das organizaes.

    Valer-se do abuso econmico, constranger adversrios que exprimem idias distintas, desrespeitar os funcionrios, impondo-lhes condies adversas de trabalho, agredir o meio ambiente, no priorizar a qualidade na fabricao de produtos ou na prestao de servios e usar procedimentos escusos para obter vantagens a todo custo (corrupo, manipulao de balanos, formao de cartis etc) so alguns destes desvios que afastam a empresa de sua verdadeira funo social.

    " A tica no um valor acrescentado, mas intrnseco da atividade econmica e empresarial, pois esta atrai para si uma grande quantidade de fatores humanos e os seres humanos conferem ao que realizam, inevitavelmente, uma dimenso tica. A empresa, enquanto instituio capaz de tomar decises e como conjunto de relaes humanas com uma finalidade determinada, j tem, desde seu incio uma dimenso tica. Uma tica empresarial no consiste somente no conhecimento da tica,

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    mas na sua prtica. E este praticar concretiza-se no campo comum da atuao diria e no apenas em ocasies principais ou excepcionais geradoras de conflitos de conscincia. Ser tico no significa conduzir-se eticamente quando for conveniente, mas o tempo todo".

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    TICA NO SERVIO PLICO Discorrer sobre o Cdigo de tica Profissional do Servidor Pblico Civil

    do Poder Executivo Federal o objetivo do presente artigo.

    O Decreto n 1.171, de 22 de junho de 1994, aprovou esse cdigo.

    Vamos iniciar a nossa exposio tcnico-informativa falando sobre alguns aspectos do Cdigo de tica Profissional do Servidor Pblico Civil Federal. As Regras Deontolgicas, presentes no Captulo I, desse ordenamento cita que a dignidade, o decoro, o zelo, a eficcia e a conscincia dos princpios morais so primados maiores que devem nortear o servidor pblico federal. O inciso II traz a seguinte regra: O servidor pblico no poder jamais desprezar o elemento tico de sua conduta. Assim, no ter que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, caput, e 4, da Constituio Federal.

    A moralidade da Administrao Pblica clareada, no inciso III do Cdigo tica Funcional, quando relata que aquela no deve se limitar somente com a distino ente o bem e o mal. O fim almejado deve ser sempre o bem comum. O agente pblico tem o dever de buscar o equilbrio entre a legalidade e a finalidade na tentativa de proporcionar a consolidao da moralidade do ato administrativo praticado.

    Entre os deveres do servidor pblico federal (inciso XIV, c) tem-se que o mesmo deve ser probo, reto, leal e justo.

    O inciso XIV, d, menciona que o agente deve ter a conscincia que seu trabalho regido por princpios ticos que se materializam na adequada prestao dos servios pblicos.

    Outro dever fundamental do servidor pblico resistir a todas as presses de superiores hierrquicos, de contratantes, interessados e outros

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    que visem obter quaisquer favores, benesses ou vantagens indevidas em decorrncia de aes imorais, ilegais ou aticas e denunci-las.

    Esse cdigo estabelece, tambm, algumas vedaes, presentes na Seo III, inciso XV, que devem ser observadas pelos servidores pblicos federais. Destacamos algumas condutas proibidas, quais sejam:

    a) o uso do cargo ou funo, facilidades, amizades, tempo, posio e influncias, para obter qualquer favorecimento, para si ou para outrem;

    d) usar de artifcios para procrastinar ou dificultar o exerccio regular de direito por qualquer pessoa, causando-lhe dano moral ou material;

    g) pleitear, solicitar, provocar, sugerir ou receber qualquer tipo de ajuda financeira, gratificao, prmio, comisso, doao ou vantagem de qualquer espcie, para si, familiares ou qualquer pessoa, para o cumprimento da sua misso ou para influenciar outro servidor para o mesmo fim;

    j) desviar servidor pblico para atendimento a interesse particular;

    m) fazer uso de informaes privilegiadas obtidas no mbito interno de seu servio, em beneficio prprio, de parentes, de amigos ou de terceiros;

    p) exercer atividade profissional atica ou ligar o seu nome a empreendimentos de cunho duvidoso.

    No Captulo II est prevista a criao de uma Comisso de tica, encarregada de orientar e aconselhar sobre a tica profissional do servidor pblico, no tratamento com as pessoas e com o patrimnio pblico, competindo-lhe conhecer concretamente de imputao ou de procedimento susceptvel de censura.

    O cdigo serve para estimular o comportamento tico do servidor pblico, j que o mesmo de livre adeso.

    de bom alvitre se mencionar que esse cdigo no foi institudo por lei em sentido estrito. Assim o descumprimento desse cdigo no acarreta

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    nenhuma responsabilidade administrativa do agente pblico que violar os seus preceitos. A penalidade prevista nele a de censura. Por outro lado, o cdigo serve para estimular o comportamento tico do servidor pblico, j que o mesmo de livre adeso. Urge que se divulgue, amplamente, os deveres e as vedaes previstas atravs de um trabalho de cunho educativo com os agentes pblicos federais.

    Alis, como membro de rgo correcional, sempre defendi e continuarei defendendo com energia e entusiasmo a tese da preveno antes da punio disciplinar. Acredito na orientao pedaggica como ferramenta indispensvel para estabelecer normas que impeam a proliferao de procedimentos disciplinares. Porm, mesmo sabendo que a abertura de um processo administrativo disciplinar, que recepciona os princpios constitucionais do contraditrio, da ampla defesa e do devido processo legal (due process of law), deve trazer o sucesso da apurao efetiva dos faltosos, no vejo com bons olhos a defesa de que o trabalho de apagar incndio possibilita a presena, a um s tempo, da ao correicional repressiva para os acusados e preventiva para os demais servidores pblicos.

    Por outro lado, mesmo tendo cincia de que os servidores federais, em sua esmagadora maioria, foram recrutados atravs de concurso de elevado nvel, perfeitamente conscientes, pois, das normas disciplinares estatudas nos artigos 116 e 117, da Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990, ratifico o pensamento da reciclagem constante de todos na rea disciplinar.

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    INSATISFAO COM A CONDUTA TICA NO SERVIO PBLICO

    A insatisfao com a conduta tica no servio pblico um fato que vem sendo constantemente criticado pela sociedade brasileira. De modo geral, o pas enfrenta o descrdito da opinio pblica a respeito do comportamento dos administradores pblicos e da classe poltica em todas as suas esferas: municipal, estadual e federal. A partir desse cenrio, natural que a expectativa da sociedade seja mais exigente com a conduta daqueles que desempenham atividades no servio e na gesto de bens pblicos.

    Para discorrer sobre o tema, importante conceituar moral, moralidade e tica. A moral pode ser entendida como o conjunto de regras consideradas vlidas, de modo absoluto, para qualquer tempo ou lugar, grupo ou pessoa determinada, ou, ainda, como a cincia dos costumes, a qual difere de pas para pas, sendo que, em nenhum lugar, permanece a mesma por muito tempo. Portanto, observa-se que a moral mutvel, variando de acordo com o desenvolvimento de cada sociedade. Em conseqncia, deste conceito, surgiria outro: o da moralidade, como a qualidade do que moral. A tica, no entanto, representaria uma abordagem sobre as constantes morais, aquele conjunto de valores e costumes mais ou menos permanente no tempo e uniforme no espao. A tica a cincia da moral ou aquela que estuda o comportamento dos homens na sociedade.

    A falta de tica, to criticada pela sociedade, na conduo do servio pblico por administradores e polticos, generaliza a todos, colocando-os no mesmo patamar, alm de constituir-se em uma viso imediatista.

    certo que a crtica que a sociedade tem feito ao servio pblico, seja ela por causa das longas filas ou da morosidade no andamento de processos, muitas vezes tem fundamento. Tambm, com referncia ao gerenciamento dos recursos financeiros, tm-se notcia, em todas as esferas de governo, de denncias sobre desvio de verbas pblicas, envolvendo administradores pblicos e polticos em geral.

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    A questo deveria ser conduzida com muita seriedade, porque desfazer a imagem negativa do padro tico do servio pblico brasileiro tarefa das mais difceis.

    Refletindo sobre a questo, acredita-se que um alternativa, para o governo, poderia ser a oferta sociedade de aes educativas de boa qualidade, nas quais os indivduos pudessem ter, desde o incio da sua formao, valores arraigados e trilhados na moralidade. Dessa forma, seriam garantidos aos mesmos, comportamentos mais duradouros e interiorizao de princpios ticos.

    Outros caminhos seriam a repreenso e a represso, e nesse ponto h de se levar em considerao as leis punitivas e os diversos cdigos de tica de categorias profissionais e de servidores pblicos, os quais trazem severas penalidades aos maus administradores.

    As leis, alm de normatizarem determinado assunto, trazem, em seu contedo, penalidades de advertncia, suspenso e recluso do servidor pblico que infringir dispositivos previstos na legislao vigente. Uma das mais comentadas na atualidade a Lei de Responsabilidade Fiscal, que estabelece normas de finanas pblicas voltadas para a responsabilidade na gesto fiscal.

    J os cdigos de tica trazem, em seu contedo, o conjunto de normas a serem seguidas e as penalidades aplicveis no caso do no cumprimento das mesmas. Normalmente, os cdigos lembram aos funcionrios que estes devem agir com dignidade, decoro, zelo e eficcia, para preservar a honra do servio pblico. Enfatizam que dever do servidor ser corts, atencioso, respeitoso com os usurios do servio pblico. Tambm, dever do servidor ser rpido, assduo, leal, correto e justo, escolhendo sempre aquela opo que beneficie o maior nmero de pessoas. Os cdigos discorrem, ainda, sobre as obrigaes, regras, cuidados e cautelas que devem ser observadas para cumprimento do objetivo maior que o bem comum, prestando servio pblico de qualidade populao. Afinal, esta ltima quem alimenta a mquina governamental dos recursos financeiros necessrios prestao dos servios pblicos, atravs do pagamento dos tributos previstos na legislao brasileira ressalta-se, aqui, a

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    grande carga tributria imposta aos contribuintes brasileiros. Tambm, destaca-se nos cdigos que a funo do servidor deve ser exercida com transparncia, competncia, seriedade e compromisso com o bem estar da coletividade.

    Os cdigos no deixam dvidas quanto s questes que envolvem interesses particulares, as quais, jamais, devem ser priorizadas em detrimento daquelas de interesses pblicos, ainda mais se forem caracterizadas como situaes ilcitas. Dentre as proibies elencadas, tem-se o uso do cargo para obter favores, receber presentes, prejudicar algum atravs de perseguies por qualquer que seja o motivo, a utilizao de informaes sigilosas em proveito prprio e a rasura e alterao de documentos e processos. Todas elas evocam os princpios fundamentais da administrao pblica: legalidade, impessoalidade, publicidade e moralidade este ltimo princpio intimamente ligado tica no servio pblico. Alm desses, tambm se podem destacar os princpios da igualdade e da probidade.

    Criada pelo Presidente da Repblica em maio de 2000, a Comisso de tica Pblica entende que o aperfeioamento da conduta tica decorreria da explicitao de regras claras de comportamento e do desenvolvimento de uma estratgia especfica para a sua implementao. Na formulao dessa estratgia, a Comisso considera que imprescindvel levar em conta, como pressuposto, que a base do funcionalismo estruturalmente slida, pois deriva de valores tradicionais da classe mdia, onde ele recrutado. Portanto, qualquer iniciativa que parta do diagnstico de que se est diante de um problema endmico de corrupo generalizada ser inevitavelmente equivocada, injusta e contraproducente, pois alienaria o funcionalismo do esforo de aperfeioamento que a sociedade est a exigir. Afinal, no se poderia responsabilizar nem cobrar algo de algum que sequer teve a oportunidade de conhec-lo.

    Do ponto de vista da Comisso de tica Pblica, a represso, na prtica, quase sempre ineficaz. O ideal seria a preveno, atravs de identificao e de tratamento especfico, das reas da administrao pblica em que ocorressem, com maior freqncia, condutas incompatveis com o padro tico almejado para o servio pblico. Essa uma tarefa complicada, que deveria

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    ser iniciada pelo nvel mais alto da administrao, aqueles que detm poder decisrio.

    A Comisso defende que o administrador pblico deva ter Cdigo de Conduta de linguagem simples e acessvel, evitando termos jurdicos excessivamente tcnicos, que norteie o seu comportamento enquanto permanecer no cargo e o proteja de acusaes infundadas. E vai mais longe ao defender que, na ausncia de regras claras e prticas de conduta, corre-se o risco de inibir o cidado honesto de aceitar cargo pblico de relevo. Alm disso, afirma ser necessria a criao de mecanismo gil de formulao dessas regras, assim como de sua difuso e fiscalizao. Deveria existir uma instncia qual os administradores pblicos pudessem recorrer em caso de dvida e de apurao de transgresses, que seria, no caso, a Comisso de tica Pblica, como rgo de consulta da Presidncia da Repblica.

    Diante dessas reflexes, a tica deveria ser considerada como um caminho no qual os indivduos tivessem condies de escolha livre e, nesse particular, de grande importncia a formao e as informaes recebidas por cada cidado ao longo da vida.

    A moralidade administrativa constitui-se, atualmente, num pressuposto de validade de todo ato da administrao pblica. A moral administrativa imposta ao agente pblico para sua conduta interna, segundo as exigncias da instituio a que serve, e a finalidade de sua ao: o bem comum. O administrador pblico, ao atuar, no poderia desprezar o elemento tico de sua conduta.

    A tica tem sido um dos mais trabalhados temas da atualidade, porque se vem exigindo valores morais em todas as instncias da sociedade, sejam elas polticas, cientficas ou econmicas.

    a preocupao da sociedade em delimitar legal e ilegal, moral e imoral, justo e injusto. Desse conflito que se ergue a tica, to discutida pelos filsofos de toda a histria mundial.

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    TICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL

    A prtica da tica nas organizaes vem se caracterizando por

    manifestaes concretas, dentre as quais destacamos:

    Filosofia Empresarial - clara conceituao de misso, princpios e orientaes. Comit de tica - grupo definidor e de controle de polticas e estratgias. Credos - divulgao das crenas institucionais para funcionrios e clientes. Cdigos - coletnea de preceitos sobre comportamentos. Ombudsman - ouvidores ao alcance dos clientes para atenderem aos seus reclamos . Auditorias ticas - avaliaes peridicas sobre condutas empresariais. Linhas Diretas - circuito aberto crticas, reclamaes e sugestes. Programas Educacionais - aproximao da empresa com seus pblicos atravs de iniciativas que eduquem. Balano Social - divulgao dos investimentos da empresa em benefcio do pblico interno e da comunidade.

    Para que essas prticas tenham um sentido verdadeiramente tico e co-responsabilizador vital que se apiem na atitude dos dirigentes. Se as lideranas no confirmarem a lgica da atitude, a lgica formal no garante a necessria credibilidade.

    Ser tico, como atitude na gesto, significa, em essncia: reconhecer necessidades, reconhecer o desempenho funcional, propiciar participao nos resultados, estimular o compromisso social e favorecer a educao continuada.

    Ser tico no comportamento de gestor significa: dar a informao relevante, avaliar e fornecer feedback, abrir espao contribuio criativa, institucionalizar canais de comunicao, delegar, delegar e delegar (pois alm de instrumento eficaz de gesto, implica dignificao do homem, pelo poder decisrio), comemorar o sucesso e recompensar.

    Tais prticas iro transformar a ambincia de trabalho numa cultura tica, na qual se realiza a comunidade vivencial de aprendizagem, em que todos realizam funo educativa, num intercmbio enriquecedor em que a solidariedade torna-se valor espontneo. A h equipe, pois exercita-se a liderana integrada.

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    Os desafios da era tecnolgica exigem essa postura de liderana: todos so potencialmente lderes, a serem motivados ao aprendizado contnuo.

    S assim a empresa responder com eficcia aos mltiplos compromissos que fazem de cada empregado um agente vivo da organizao. Qualquer empregado, ao decidir, est comprometendo a empresa como um todo. Caso no tenha conscincia tica, est agravando o conceito empresarial. E pondo a perder conquistas importantes.

    A tica na era tecnolgica a estratgia para tolher males que vm minando as organizaes, como:

    Robotizao social - a tecnologia condicionando o comportamento humano.

    Sociedade estressada - pela velocidade acachapante, exigido esforo redobrado para acompanhar as exigncias de rapidez nas decises.

    Desemprego e violncia - o ganho obsessivo como meta sacrifica valores humanos e gera o comportamento violento.

    Empresa infeliz - o ambiente de insegurana e injustias induz competio predatria e cultura egocntrica.

    Infelicidade social - o caos reinante, quando falta a conscincia tica, enfraquece o esprito.

    Tais indicadores negativos mostram a importncia vital das empresas investirem em seu conceito pblico, atravs de manifestaes concretas de responsabilidade social.

    Responsabilidade Social/ Voluntariado

    A Responsabilidade Social uma exigncia bsica atitude e ao comportamento tico, atravs de prticas que demonstrem que a empresa possui uma alma, cuja preservao implica solidariedade e compromisso social.

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    A imagem institucional um bem que significa para a empresa a aceitao pblica de sua atuao e propostas. So seus ativos intangveis, a fora que garante sua perpetuidade.

    Uma das linhas de ao empresariais mais significativas, nesse sentido, vem sendo o Voluntariado, ou seja, a disposio dos empregados em se disponibilizarem aces solidrias de assistncia.

    Vem crescendo o apoio efetivo das empresas ao engajamento de suas equipes em projetos e obras sociais. Isso excelente, mas requer organizao para que no se percam esforos e motivaes.

    Recomendamos, para tanto, a formao de Clubes de Cidadania nas Empresas.

    O Clube de Cidadania consiste em criar uma espcie de " ong interna"- grupo que se organiza para o esforo integrado e coordenador das aes sociais. O Clube do Cidado, preservado em sua autonomia, deve ser estimulado e apoiado pela empresa.

    Cabe ao Clube de Cidadania: Estabelecer estratgias e programaes sociais na empresa Promover Campanhas Motivacionais ao Voluntariado Cadastrar as adeses, planejar aes e as escalas de atendimento Selecionar as obras sociais Debater idias, buscar solues criativas Avaliar resultados Treinar voluntrios

    O Clube de Cidadania um esforo concentrado e uma inteligente estratgia de criao do esprito solidrio na empresa, que certamente influenciar concretamente no trabalho empresarial, em reforo ao sentido de equipe e a produtividade.

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    CONFLITOS DE INTERESSES

    Existe quando intensidade do interesse de uma pessoa por determinado bem se ope a intensidade do interesse de outra pessoa pelo mesmo bem, donde a atitude de uma tendente excluso da outra quanto a este.

    Tambm podemos dizer que o conflito de interesse existe sempre que dois ou mais indivduos compartilham recursos escassos; ou quando h divergncia no mundo das idias, devido s diferentes formaes morais de cada um. Existncia de interesses dirigidas ao mesmo objeto, sem que os sujeitos chegam a um consenso sobre eles.

    O conflito de interesses pode ocorrer entre um profissional e uma instituio com a qual se relaciona ou entre um profissional e outra pessoa. Em diversas reas, rea da sade por exemplo, os interesses de um profissional ou de seu paciente podem no ser coincidentes, assim como entre um professor e seu aluno, ou ainda, entre um pesquisador e o sujeito da pesquisa. Quanto melhor for o vnculo entre os indivduos que esto se relacionando, maior o conhecimento de suas expectativas e valores. Esta interao pode reduzir a possibilidade de ocorrncia de um conflito de interesses.

    Inmeros exemplos de conflito de interesse podem ser citados nas reas de ensino, assistncia e pesquisa. Uma situao bastante simples, que pode servir de exemplo para a identificao destas possibilidades, a internao de pacientes em um hospital universitrio. O interesse primrio do paciente ser adequadamente atendido. Os profissionais responsveis pelo seu atendimento, desempenham um duplo papel: assistencial e educativo. O interesse primrio dos profissionais atender adequadamente estes pacientes. Nesta situao ocorre uma plena convergncia dos interesses dos profissionais e pacientes. O conflito pode surgir quando o interesse secundrio dos professores e alunos, que o aprendizado que esta situao pode possibilitar, assume o carter prioritrio. Uma possibilidade a de manter o paciente internado em uma unidade de internao, mesmo quando j tenha condies de ter alta, com a

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    finalidade de expor o caso para um maior nmero de alunos. Esta situao, tambm configura um conflito de interesse entre o profissional e a instituio hospitalar, devido o aumento de custos decorrente desta prtica.

    VOCABULOS

    tica: (ethos) disciplina filosfica que estuda o valor das condutas humanas, seus motivos e finalidades. Reflexo sobre os valores e justificativas morais, aquilo que se considera o bem. Anlise da capacidade humana de escolher, ser livre e responsvel por sua conduta entre os demais. Para alguns autores, o mesmo que moral. Antitico: contra uma tica estabelecida ou contra a idia (da tica) de estabelecer o que devemos fazer ou quem queremos ser levando os outros em considerao. Muitas vezes, o antitico tem idias ticas prprias. Atico: sem tica, mas no contra uma ou outra tica. Moral: (mores) conjunto dos costumes, hbitos, valores (fins) e procedimentos(meios) que regem as relaes humanas, considerados vlidos e apreciados, individual e coletivamente. Embora possam variar entre grupos e ao longo da histria, tendem a ser considerados absolutos. Podem ser justificados pelo costume, pela natureza, pela educao, pela sociedade, pela religio. Pode ser considerado o mesmo que tica, com a diferena de que a tica acrescenta a reflexo e o estudo continuado sobre aquilo que se faz ou o que se deveria fazer, pensa sobre o bem e o mal, a felicidade, o prazer, a compaixo, a solidariedade e outros valores. Imoral: contra uma moral ou a idia moral vigente. Muitas vezes, o indivduo que questiona uma tica dominante tem idias morais prprias ou diferentes. Amoral: sem moral (aqum ou alm dela), mas no contra uma ou outra moral. Deontologia: estudo dos cdigos de condutas considerados vlidos entre grupos e classes (profissionais) de pessoas. Legal: aquilo que est conforme a lei civil de um estado nacional. Ilegal: aquilo que contraria a lei civil de um estado nacional. Autonomia: auto (prprio ) nomos (lei humana ). Literalmente, do grego, fazer a prpria lei, seguir a lei feita por si mesmo. Na antiga Grcia, esta era a prerrogativa dos homens livres, cidados, que faziam as leis da cidade onde viviam e conviviam entre outros iguais. Autonomia um princpio de liberdade civil, mas tambm significava, como hoje em dia, aquela capacidade de responder por si mesmo, prover-se economicamente e ser emancipado. Heteronomia: hetero (outro) nomos (lei humana) O contrrio de autonomia, o termo significava na Antigidade grega aquele que segue a lei feita por outro, o que se aplicava aos homens que no eram livres, como os escravos, os prisioneiros de

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    guerra, as crianas menores de idade. Alm de indicar um princpio de excluso ou submisso civil arbitrria, tambm se refere a uma excluso ou submisso econmica e moral, a incapacidade de prover-se e de responder por si mesmo. No emancipado. Cidadania: (polis, civitas, cidade) A cidadania se refere s relaes entre os cidados, aqueles que pertencem a uma cidade, por meio dos procedimentos e leis acordados entre eles. Da nossa herana grega e latina, traz o sentido de pertencimento uma comunidade organizada igualitariamente, regida pelo direito, baseada na liberdade, participao e valorizao individual de cada um em um em uma esfera pblica (no privada, como a famlia), mas este um sentido que sofreu mutaes histricas. Um dos sentidos atuais da cidadania de massa, em Estados que congregam muitas diversidades culturais o esforo por participar e usufruir dos direitos pensados pelos representantes de um Estado para seus virtuais cidados; vir a ser, de fato, e no apenas de direito, um cidado. Os valores da cidadania so polticos: igualdade, eqidade, justia., bem comum. Trabalho: (ergon, tripalium, lavoro, labor, servio) Atividade que produz riqueza econmica e articulao social entre as pessoas, embora possa no ser remunerado (voluntrio ou escravo). Remunerado, pode no corresponder ao esforo empreendido; assalariado, gera mais-valia para quem detm os meios de produo. No confundir trabalho com emprego, que o trabalho remunerado e reconhecido socialmente. Trabalhar significa aprender a fazer e saber fazer alguma coisa que transforma a realidade e a prpria pessoa que trabalha. Do mais simples ao mais complexo trabalho, pelo corpo humano (mos, braos, voz, olhos, ouvidos, crebro...) criamos o mundo nossa volta e participamos, conscientes ou no, de um movimento social que tanto conserva e regenera quanto muda a realidade. Ainda que no se compreenda bem o que se faz, o trabalho pode revelar o que somos capazes de fazer, para o bem ou para o mal. Os valores do trabalho so instrumentais, tcnicos: competncia, eficincia, eficcia.

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    LEGISLAO TICA DOS SERVIDORES PUBLICOS EM GERAL

    VII cdigo de tica (DECRETO N 1.171, DE 22 DE JUNHO DE 1994)

    Aprova o Cdigo de tica Profissional do Servidor Pblico Civil do Poder Executivo Federal.

    0 PRESIDENTE DA REPBLICA, no uso das atribuies que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, e ainda tendo em vista o disposto no art. 37 da Constituio, bem como nos arts. 116 e 117 da Lei n 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e nos arts. 10, 11 e 12 da Lei n 8.429, de 2 de junho de 1992,

    DECRETA:

    Art. 1 Fica aprovado o Cdigo de tica Profissional do Servidor Pblico Civil do Poder Executivo Federal, que com este baixa.

    Art. 2 Os rgos e entidades da Administrao Pblica Federal direta e indireta implementaro, em sessenta dias, as providncias necessrias plena vigncia do Cdigo de tica, inclusive mediante a Constituio da respectiva Comisso de tica, integrada por trs servidores ou empregados titulares de cargo efetivo ou emprego permanente.

    Pargrafo nico. A constituio da Comisso de tica ser comunicada Secretaria da Administrao Federal da Presidncia da Repblica, com a indicao dos respectivos membros titulares e suplentes.

    Art. 3 Este decreto entra em vigor na data de sua publicao.

    Braslia, 22 de junho de 1994, 173 da Independncia e 106 da Repblica.

    ITAMAR FRANCO

    Romildo Canhim

    ANEXO

    Cdigo de tica Profissional do Servidor Pblico Civil do Poder Executivo Federal

    CAPTULO I

    Seo I Das Regras Deontolgicas

    I A dignidade, o decoro, o zelo, a eficcia e a conscincia dos princpios morais so primados maiores que devem nortear o servidor pblico, seja no exerccio do cargo ou funo, ou fora dele, j que refletir o exerccio da vocao

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    do prprio poder estatal. Seus atos, comportamentos e atitudes sero direcionados para a preservao da honra e da tradio dos servios pblicos.

    II O servidor pblico no poder jamais desprezar o elemento tico de sua conduta. Assim, no ter que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, caput. E 4, da Constituio Federal.

    III A moralidade da Administrao Pblica no se limita distino entre o bem e o mal, devendo ser acrescida da idia de que o fim sempre o bem comum. O equilbrio entre a legalidade e a finalidade, na conduta do servidor pblico, que poder consolidar a moralidade do ato administrativo.

    IV- A remunerao do servidor pblico custeada pelos tributos pagos direta ou indiretamente por todos, at por ele prprio, e por isso se exige, como contrapartida, que a moralidade administrativa se integre no Direito, como elemento indissocivel de sua aplicao e de sua finalidade, erigindo-se, como conseqncia, em fator de legalidade.

    V O trabalho desenvolvido pelo servidor pblico perante a comunidade deve ser entendido como acrscimo ao seu prprio bem-estar, j que, como cidado, integrante da sociedade, o xito desse trabalho pode ser considerado como seu maior patrimnio.

    VI A funo pblica deve ser tida como exerccio profissional e, portanto, se integra na vida particular de cada servidor pblico. Assim, os fatos e atos verificados na conduta do dia-a-dia em sua vida privada podero acrescer ou diminuir o seu bom conceito na vida funcional.

    VII Salvo os casos de segurana nacional, investigaes policiais ou interesse superior do Estado e da Administrao Pblica, a serem preservados em processo previamente declarado sigiloso, nos termos da lei, a publicidade de qualquer ato administrativo constitui requisito de eficcia e moralidade, ensejando sua omisso comprometimento tico contra o bem comum, imputvel a quem a negar.

    VIII Toda pessoa tem direito verdade. O servidor no pode omiti-la ou false-la, ainda que contrria aos interesses da prpria pessoa interessada ou da Administrao Pblica. Nenhum Estado pode crescer ou estabilizar-se sobre o poder corruptivo do hbito do erro, da opresso ou da mentira, que sempre aniquilam at mesmo a dignidade humana quanto mais a de uma Nao.

    IX A cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao servio pblico caracterizam o esforo pela disciplina. Tratar mal uma pessoa que paga seus tributos direta ou indiretamente significa causar-lhe dano moral. Da mesma forma, causar dano a qualquer bem pertencente ao patrimnio pblico, deteriorando-o, por descuido ou m vontade, no constitui apenas uma ofensa ao equipamento e s instalaes ou ao Estado, mas a todos os homens de boa vontade que dedicaram sua inteligncia, seu tempo, suas esperanas e seus esforos para constru-los.

    X Deixar o servidor pblico qualquer pessoa espera de soluo que compete ao setor em que exera suas funes, permitindo a formao de longas filas, ou qualquer outra espcie de atraso na prestao do servio, no caracteriza

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    apenas atitude contra a tica ou ato de desumanidade, mas principalmente grave dano moral aos usurios dos servios pblicos.

    XI 0 servidor deve prestar toda a sua ateno s ordens legais de seus superiores, velando atentamente por seu cumprimento, e, assim, evitando a conduta negligente. Os repetidos erros, o descaso e o acmulo de desvios tornam-se, s vezes, difceis de corrigir e caracterizam at mesmo imprudncia no desempenho da funo pblica.

    XII Toda ausncia injustificada do servidor de seu local de trabalho fator de desmoralizao do servio pblico, o que quase sempre conduz desordem nas relaes humanas.

    XIII 0 servidor que trabalha em harmonia com a estrutura organizacional, respeitando seus colegas e cada concidado, colabora e de todos pode receber colaborao, pois sua atividade pblica a grande oportunidade para o crescimento e o engrandecimento da Nao.

    Seo II Dos Principais Deveres do Servidor Pblico

    XIV So deveres fundamentais do servidor pblico:

    a) desempenhar, a tempo, as atribuies do cargo, funo ou emprego pblico de que seja titular;

    b) exercer suas atribuies com rapidez, perfeio e rendimento, pondo fim ou procurando prioritariamente resolver situaes procrastinatrias, principalmente diante de filas ou de qualquer outra espcie de atraso na prestao dos servios pelo setor em que exera suas atribuies, com o fim de evitar dano moral ao usurio;

    c) ser probo, reto, leal e justo, demonstrando toda a integridade do seu carter, escolhendo sempre, quando estiver diante de duas opes, a melhor e a mais vantajosa para o bem comum;

    d) jamais retardar qualquer prestao de contas, condio essencial da gesto dos bens, direitos e servios da coletividade a seu cargo;

    e) tratar cuidadosamente os usurios dos servios aperfeioando o processo de comunicao e contato com o pblico;

    f) ter conscincia de que seu trabalho regido por princpios ticos que se materializam na adequada prestao dos servios pblicos;

    g) ser corts, ter urbanidade, disponibilidade e ateno, respeitando a capacidade e as limitaes individuais de todos os usurios do servio pblico, sem qualquer espcie de preconceito ou distino de raa, sexo, nacionalidade, cor, idade, religio, cunho poltico e posio social, abstendo-se, dessa forma, de causar-lhes dano moral;

    h) ter respeito hierarquia, porm sem nenhum temor de representar contra qualquer comprometimento indevido da estrutura em que se funda o Poder Estatal;

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    i) resistir a todas as presses de superiores hierrquicos, de contratantes, interessados e outros que visem obter quaisquer favores, benesses ou vantagens indevidas em decorrncia de aes imorais, ilegais ou aticas e denunci-las;

    j) zelar, no exerccio do direito de greve, pelas exigncias especficas da defesa da vida e da segurana coletiva;

    l) ser assduo e freqente ao servio, na certeza de que sua ausncia provoca danos ao trabalho ordenado, refletindo negativamente em todo o sistema;

    m) comunicar imediatamente a seus superiores todo e qualquer ato ou fato contrrio ao interesse pblico, exigindo as providncias cabveis;

    n) manter limpo e em perfeita ordem o local de trabalho, seguindo os mtodos mais adequados sua organizao e distribuio;

    o) participar dos movimentos e estudos que se relacionem com a melhoria do exerccio de suas funes, tendo por escopo a realizao do bem comum;

    p) apresentar-se ao trabalho com vestimentas adequadas ao exerccio da funo;

    q) manter-se atualizado com as instrues, as normas de servio e a legislao pertinentes ao rgo onde exerce suas funes;

    r) cumprir, de acordo com as normas do servio e as instrues superiores, as tarefas de seu cargo ou funo, tanto quanto possvel, com critrio, segurana e rapidez, mantendo tudo sempre em boa ordem.

    s) facilitar a fiscalizao de todos atos ou servios por quem de direito;

    t) exercer com estrita moderao as prerrogativas funcionais que lhe sejam atribudas, abstendo-se de faz-lo contrariamente aos legtimos interesses dos usurios do servio pblico e dos jurisdicionados administrativos;

    u) abster-se, de forma absoluta, de exercer sua funo, poder ou autoridade com finalidade estranha ao interesse pblico, mesmo que observando as formalidades legais e no cometendo qualquer violao expressa lei;

    v) divulgar e informar a todos os integrantes da sua classe sobre a existncia deste Cdigo de tica, estimulando o seu integral cumprimento.

    Seo III Das Vedaes ao Servidor Pblico

    XV E vedado ao servidor pblico;

    a) o uso do cargo ou funo, facilidades, amizades, tempo, posio e influncias, para obter qualquer favorecimento, para si ou para outrem;

    b) prejudicar deliberadamente a reputao de outros servidores ou de cidados que deles dependam;

    c) ser, em funo de seu esprito de solidariedade, conivente com erro ou infrao a este Cdigo de tica ou ao Cdigo de tica de sua profisso;

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    d) usar de artifcios para procrastinar ou dificultar o exerccio regular de direito por qualquer pessoa, causando-lhe dano moral ou material;

    e) deixar de utilizar os avanos tcnicos e cientficos ao seu alcance ou do seu conhecimento para atendimento do seu mister;

    f) permitir que perseguies, simpatias, antipatias, caprichos, paixes ou interesses de ordem pessoal interfiram no trato com o pblico, com os jurisdicionados administrativos ou com colegas hierarquicamente superiores ou inferiores;

    g) pleitear, solicitar, provocar, sugerir ou receber qualquer tipo de ajuda financeira, gratificao, prmio, comisso, doao ou vantagem de qualquer espcie, para si, familiares ou qualquer pessoa, para o cumprimento da sua misso ou para influenciar outro servidor para o mesmo fim;

    h) alterar ou deturpar o teor de documentos que deva encaminhar para providncias;

    i) iludir ou tentar iludir qualquer pessoa que necessite do atendimento em servios pblicos;

    j) desviar servidor pblico para atendimento a interesse particular;

    l) retirar da repartio pblica, sem estar legalmente autorizado, qualquer documento, livro ou bem pertencente ao patrimnio pblico;

    m) fazer uso de informaes privilegiadas obtidas no mbito interno de seu servio, em benefcio prprio, de parentes, de amigos ou de terceiros;

    n) apresentar-se embriagado no servio ou fora dele habitualmente;

    o) dar o seu concurso a qualquer instituio que atente contra a moral, a honestidade ou a dignidade da pessoa humana;

    p) exercer atividade profissional atica ou ligar o seu nome a empreendimentos de cunho duvidoso.

    CAPTULO II DAS COMISSES DE TICA

    XVI Em todos os rgos e entidades da Administrao Pblica Federal direta, indireta autrquica e fundacional, ou em qualquer rgo ou entidade que exera atribuies delegadas pelo poder pblico, dever ser criada uma Comisso de tica, encarregada de orientar e aconselhar sobre a tica profissional do servidor, no tratamento com as pessoas e com o patrimnio pblico, competindo-lhe conhecer concretamente de imputao ou de procedimento susceptvel de censura.

    XVII Cada Comisso de tica, integrada por trs servidores pblicos e respectivos suplentes, poder instaurar, de ofcio, processo sobre ato, fato ou conduta que considerar passvel de infringncia a princpio ou norma tico-profissional, podendo ainda conhecer de consultas, denncias ou representaes formuladas contra o servidor pblico, a repartio ou o setor em que haja ocorrido a falta, cuja anlise e deliberao forem recomendveis para atender ou resguardar

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    o exerccio do cargo ou funo pblica, desde que formuladas por autoridade, servidor, jurisdicionados administrativos, qualquer cidado que se identifique ou quaisquer entidades associativas regularmente constitudas.

    XVIII Comisso de tica incumbe fornecer, aos organismos encarregados da execuo do quadro de carreira dos servidores, os registros sobre sua conduta tica, para o efeito de instruir e fundamentar promoes e para todos os demais procedimentos prprios da carreira do servidor pblico.

    XIX Os procedimentos a serem adotados pela Comisso de tica, para a apurao de fato ou ato que, em princpio, se apresente contrrio tica, em conformidade com este Cdigo, tero o rito sumrio, ouvidos apenas o queixoso e o servidor, ou apenas este, se a apurao decorrer de conhecimento de ofcio, cabendo sempre recurso ao respectivo Ministro de Estado.

    XX Dada a eventual gravidade da conduta do servidor ou sua reincidncia, poder a Comisso de tica encaminhar a sua deciso e respectivo expediente para a Comisso Permanente de Processo Disciplinar do respectivo rgo, se houver, e, cumulativamente, se for o caso, entidade em que, por exerccio profissional, o servidor pblico esteja inscrito, para as providncias disciplinares cabveis. O retardamento dos procedimentos aqui prescritos implicar comprometimento tico da prpria Comisso, cabendo Comisso de tica do rgo hierarquicamente superior o seu conhecimento e providncias.

    XXI As decises da Comisso de tica, na anlise de qualquer fato ou ato submetido sua apreciao ou por ela levantado, sero resumidas em ementa e, com a omisso dos nomes dos interessados, divulgadas no prprio rgo, bem como remetidas s demais Comisses de tica, criadas com o fito de formao da conscincia tica na prestao de servios pblicos. Uma cpia completa de todo o expediente dever ser remetida Secretaria da Administrao Federal da Presidncia da Repblica.

    XXII A pena aplicvel ao servidor pblico pela Comisso de tica a de censura e sua fundamentao constar do respectivo parecer, assinado por todos os seus integrantes, com cincia do faltoso.

    XXIII A Comisso de tica no poder se eximir de fundamentar o julgamento da falta de tica do servidor pblico ou do prestador de servios contratado, alegando a falta de previso neste Cdigo, cabendo-lhe recorrer analogia, aos costumes e aos princpios ticos e morais conhecidos em outras profisses;

    XXIV Para fins de apurao do comprometimento tico, entende-se por servidor pblico todo aquele que, por fora de lei, contrato ou de qualquer ato jurdico, preste servios de natureza permanente, temporria ou excepcional, ainda que sem retribuio financeira, desde que ligado direta ou indiretamente a qualquer rgo do poder estatal, como as autarquias, as fundaes pblicas, as entidades paraestatais, as empresas pblicas e as sociedades de economia mista, ou em qualquer setor onde prevalea o interesse do Estado.

    XXV Em cada rgo do Poder Executivo Federal em que qualquer cidado houver de tomar posse ou ser investido em funo pblica, dever ser prestado, perante a respectiva Comisso de tica, um compromisso solene de acatamento e observncia das regras estabelecidas por este Cdigo de tica e de todos os princpios ticos e morais estabelecidos pela tradio e pelos bons costumes.

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    VIII PERGUNTAS INTERESSANTES SOBRE O CDIGO DE TICA Nota: Perguntas elaboradas pelos professores Ana Mriam Wuensch, Carla Bordignon, Ubirajara C. Carvalho e Wilton Barroso Filho para o Programa Permanente de Capacitao e Atualizao de Pessoal da UnB CESPE SRH. Pergunta 1: Que relaes entre cidadania, servio pblico, moralidade (tica) e legalidade podemos verificar no texto do Cdigo de tica do Servidor Pblico? R.: Cap. I, Seo I, itens IV, V, VI, XIII. Pergunta 2: Que contedos da tica (moral) so destacados como os mais importantes no texto? Em que medida nele a tica (moral) se relaciona com o trabalho do servidor pblico, a cidadania e o direito? Cap. I, Seo I, itens I, II, III, IX, X; Seo II, itens c, f, g. Pergunta 3: Como se relaciona o princpio hierrquico do trabalho do servidor pblico com a tica (moralidade)? possvel cumprir ordens, respeitar hierarquias e ser tico, ou seja, responsvel e autnomo? Cap. I, Seo I, item XI; Seo II, itens h, i, m, t, u.

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    IX LEI N 8.112, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1990 (ARTS. 116-117)

    Dispe sobre o regime jurdico dos servidores pblicos civis da Unio, das autarquias e das fundaes pblicas federais.

    PUBLICAO CONSOLIDADA DA LEI N 8.112, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1990, DETERMINADA PELO ART. 13 DA LEI N 9.527, DE 10 DE DEZEMBRO

    DE 1997.

    O PRESIDENTE DA REPBLICA Fao saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

    (...) Ttulo IV

    Do Regime Disciplinar Captulo I Dos Deveres

    Art. 116. So deveres do servidor: I - exercer com zelo e dedicao as atribuies do cargo; II - ser leal s instituies a que servir; III - observar as normas legais e regulamentares; IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais; V - atender com presteza: a) ao pblico em geral, prestando as informaes requeridas, ressalvadas as protegidas por sigilo; b) expedio de certides requeridas para defesa de direito ou esclarecimento de situaes de interesse pessoal; c) s requisies para a defesa da Fazenda Pblica. VI - levar ao conhecimento da autoridade superior as irregularidades de que tiver cincia em razo do cargo; VII - zelar pela economia do material e a conservao do patrimnio pblico; VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartio; IX - manter conduta compatvel com a moralidade administrativa; X - ser assduo e pontual ao servio; XI - tratar com urbanidade as pessoas; XII - representar contra ilegalidade, omisso ou abuso de poder. Pargrafo nico. A representao de que trata o inciso XII ser encaminhada pela via hierrquica e apreciada pela autoridade superior quela contra a qual formulada, assegurando-se ao representando ampla defesa.

    Captulo II

    Das Proibies

    Art. 117. Ao servidor proibido: (Vide Medida Provisria n 2.225-45, de 4.9.2001) I - ausentar-se do servio durante o expediente, sem prvia autorizao do chefe imediato; II - retirar, sem prvia anuncia da autoridade competente, qualquer documento ou objeto da repartio; III - recusar f a documentos pblicos;

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    IV - opor resistncia injustificada ao andamento de documento e processo ou execuo de servio; V - promover manifestao de apreo ou desapreo no recinto da repartio; VI - cometer a pessoa estranha repartio, fora dos casos previstos em lei, o desempenho de atribuio que seja de sua responsabilidade ou de seu subordinado; VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a associao profissional ou sindical, ou a partido poltico; VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo ou funo de confiana, cnjuge, companheiro ou parente at o segundo grau civil; IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da funo pblica; X - participar de gerncia ou administrao de sociedade privada, personificada ou no personificada, salvo a participao nos conselhos de administrao e fiscal de empresas ou entidades em que a Unio detenha, direta ou indiretamente, participao no capital social ou em sociedade cooperativa constituda para prestar servios a seus membros, e exercer o comrcio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditrio; (Redao dada pela Lei n 11.094, de 2005) XI - atuar, como procurador ou intermedirio, junto a reparties pblicas, salvo quando se tratar de benefcios previdencirios ou assistenciais de parentes at o segundo grau, e de cnjuge ou companheiro; XII - receber propina, comisso, presente ou vantagem de qualquer espcie, em razo de suas atribuies; XIII - aceitar comisso, emprego ou penso de estado estrangeiro; XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas; XV - proceder de forma desidiosa; XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da repartio em servios ou atividades particulares; XVII - cometer a outro servidor atribuies estranhas ao cargo que ocupa, exceto em situaes de emergncia e transitrias; XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incompatveis com o exerccio do cargo ou funo e com o horrio de trabalho; XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicitado. (Includo pela Lei n 9.527, de 10.12.97)

    (...) Senado Federal, 18 de abril de 1991. 170 da Independncia e 103 da Repblica. MAURO BENEVIDES

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    X LEI N 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992. (ARTS. 10-12).

    Dispe sobre as sanes aplicveis aos agentes pblicos nos casos de enriquecimento ilcito no exerccio de mandato, cargo, emprego ou funo na administrao pblica direta, indireta ou fundacional e d outras providncias.

    O PRESIDENTE DA REPBLICA, Fao saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

    (...)

    Seo II Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam Prejuzo ao Errio

    Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa leso ao errio qualquer ao ou omisso, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriao, malbaratamento ou dilapidao dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1 desta lei, e notadamente:

    I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporao ao patrimnio particular, de pessoa fsica ou jurdica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1 desta lei;

    II - permitir ou concorrer para que pessoa fsica ou jurdica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1 desta lei, sem a observncia das formalidades legais ou regulamentares aplicveis espcie;

    III - doar pessoa fsica ou jurdica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistncias, bens, rendas, verbas ou valores do patrimnio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1 desta lei, sem observncia das formalidades legais e regulamentares aplicveis espcie;

    IV - permitir ou facilitar a alienao, permuta ou locao de bem integrante do patrimnio de qualquer das entidades referidas no art. 1 desta lei, ou ainda a prestao de servio por parte delas, por preo inferior ao de mercado;

    V - permitir ou facilitar a aquisio, permuta ou locao de bem ou servio por preo superior ao de mercado;

    VI - realizar operao financeira sem observncia das normas legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidnea;

    VII - conceder benefcio administrativo ou fiscal sem a observncia das formalidades legais ou regulamentares aplicveis espcie;

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    VIII - frustrar a licitude de processo licitatrio ou dispens-lo indevidamente;

    IX - ordenar ou permitir a realizao de despesas no autorizadas em lei ou regulamento;

    X - agir negligentemente na arrecadao de tributo ou renda, bem como no que diz respeito conservao do patrimnio pblico;

    XI - liberar verba pblica sem a estrita observncia das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicao irregular;

    XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriquea ilicitamente;

    XIII - permitir que se utilize, em obra ou servio particular, veculos, mquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou disposio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1 desta lei, bem como o trabalho de servidor pblico, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.

    XIV celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestao de servios pblicos por meio da gesto associada sem observar as formalidades previstas na lei; (Includo pela Lei n 11.107, de 2005)

    XV celebrar contrato de rateio de consrcio pblico sem suficiente e prvia dotao oramentria, ou sem observar as formalidades previstas na lei. (Includo pela Lei n 11.107, de 2005)

    Seo III Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam Contra os Princpios da

    Administrao Pblica

    Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princpios da administrao pblica qualquer ao ou omisso que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade s instituies, e notadamente:

    I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competncia;

    II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofcio;

    III - revelar fato ou circunstncia de que tem cincia em razo das atribuies e que deva permanecer em segredo;

    IV - negar publicidade aos atos oficiais;

    V - frustrar a licitude de concurso pblico;

    VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a faz-lo;

    VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgao oficial, teor de medida poltica ou econmica capaz de afetar o preo de mercadoria, bem ou servio.

  • NOES DE TICA

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    CAPTULO III Das Penas

    Art. 12. Independentemente das sanes penais, civis e administrativas, previstas na legislao especfica, est o responsvel pelo ato de improbidade sujeito s seguintes cominaes:

    I - na hiptese do art. 9, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimnio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da funo pblica, suspenso dos direitos polticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de at trs vezes o valor do acrscimo patrimonial e proibio de contratar com o Poder Pblico ou receber benefcios ou incentivos fiscais ou creditcios, direta ou indiretamente, ainda que por intermdio de pessoa jurdica da qual seja scio majoritrio, pelo prazo de dez anos;

    II - na hiptese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimnio, se concorrer esta circunstncia, perda da funo pblica, suspenso dos direitos polticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de at duas vezes o valor do dano e proibio de contratar com o Poder Pblico ou receber benefcios ou incentivos fiscais ou creditcios, direta ou indiretamente, ainda que por intermdio de pessoa jurdica da qual seja scio majoritrio, pelo prazo de cinco anos;

    III - na hiptese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da funo pblica, suspenso dos direitos polticos de trs a cinco anos, pagamento de multa civil de at cem vezes o valor da remunerao percebida pelo agente e proibio de contratar com o Poder Pblico ou receber benefcios ou incentivos fiscais ou creditcios, direta ou indiretamente, ainda que por intermdio de pessoa jurdica da qual seja scio majoritrio, pelo prazo de trs anos.

    Pargrafo nico. Na fixao das penas previstas nesta lei o juiz levar em conta a extenso do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

    (...)

    CAPTULO VIII Das Disposies Finais

    Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicao.

    Art. 25. Ficam revogadas as Leis ns 3.164, de 1 de junho de 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais disposies em contrrio.

    Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171 da Independncia e 104 da Repblica.

    FERNANDO COLLOR Clio Borja