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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO JÁ É REALIDADE KATIA MARIA MANDU DRABER Orientador: Profº Drº Luís Fernando Figueiredo Faria Lorena Novembro de 2013

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO JÁ É

REALIDADE

KATIA MARIA MANDU DRABER

Orientador: Profº Drº Luís Fernando Figueiredo

Faria

Lorena

Novembro de 2013

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO JÁ É

REALIDADE

Autora:

Katia Maria Mandu Draber

Orientador:

Profº Drº Luís Fernando Figueiredo Faria

Monografia apresentada como requisito

parcial para a conclusão de Graduação do

Curso de Engenharia Bioquímica - Escola de

Engenharia de Lorena da Universidade de

São Paulo.

Lorena

Novembro de 2013

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA

FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

Serviço de Biblioteca

Escola de Engenharia de Lorena

Draber, Katia Maria Mandu

Etanol de segunda geração já é realidade/ Katia Maria Mandu

Draber ; Orientador Luís Fernando Figueiredo Faria.—Lorena,

2013.

54f.

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão de Graduação

do Curso de Engenharia Bioquímica - Escola de Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo.

1. Etanol de segunda geração. 2. Bagaço de cana-de-açúcar. 3. Energias

renováveis. I.Título. II Faria, Luís Fernando Figueiredo, Orient.

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Dedicatória

A Deus, a minha família e aos meus

pais, Ana Maria e Peter.

Amo vocês, sou grata por tudo!

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Agradecimentos

A Deus por me proporcionar saúde, energia e sabedoria para vencer esta

etapa de minha vida e alcançar a realização de um sonho.

Aos meus pais, Ana Maria e Peter, por todo apoio e carinho, compreensão,

princípios e valores ensinados e pelas palavras de entusiasmo despendidas, me

fazendo sempre acreditar nos meus sonhos.

Ao meu amado Thiago Henrique Franco Souza, que me apoia e me auxilia

desde o primeiro dia da nossa vida. Obrigada por todo amor e dedicação.

Ao professor e amigo Dr. Luís Fernando Figueiredo Faria pelos trabalhos

realizados em conjunto, as orientações nesse Trabalho de Conclusão de Curso, na

Iniciação Científica e no Projeto de Cultura e Extensão, além dos inúmeros

conselhos que levarei para a vida.

A toda a minha família, em especial as minhas irmãs, pelo auxílio, apoio e

interesse, pelas palavras de incentivo e as visitas entusiasmadas. Espero servir de

exemplo para que acreditem na importância da educação e confiem em sua força de

vontade.

A todos os amigos que participaram direta ou indiretamente da minha

formação e desta etapa da minha vida, alguns geograficamente perto e outros muito

longe, mas que de alguma forma me acompanharam, me fizeram acreditar e

compartilham comigo agora a alegria por ter chegado ao fim, os meus sinceros

agradecimentos.

"Não sabendo que era impossível, ela foi lá e fez."

Jean Cocteau

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Resumo

Há um grande descompasso no cenário de biocombustíveis, tanto brasileiro

quanto internacional, entre o aumento da demanda que o crescente mercado de

carros flex necessita e o potencial de oferta de etanol. O aumento da produtividade

do biocombustível com o domínio da tecnologia de produção do etanol celulósico

passa a ser primordial para que a demanda por fontes renováveis de energia, que

sejam viáveis do ponto de vista ambiental, econômico e social, seja suprida. O

grande desafio para a produção do etanol de segunda geração é conseguir

disponibilizar os açúcares fermentescíveis obtidos a partir da hidrólise do bagaço em

termos de custo global do processo, rendimento e fermentabilidade do hidrolisado. A

grande questão é definir qual o melhor pré-tratamento a ser utilizado em escala

industrial para a hidrólise do bagaço, que deve ser de baixo custo e ao mesmo

tempo deve evitar a formação de compostos inibidores da fermentação alcoólica

posterior. Esta pesquisa bibliográfica procurou investigar os principais processos e

tecnologias de pré-tratamentos desta biomassa seguida de uma hidrólise ácida e

enzimática.

Palavras chave: etanol de segunda geração; bagaço de cana-de-açúcar; energias

renováveis.

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Abstract

There is a large gap in the scenario of biofuels, both Brazilian and

international, from the increased demand that the growing market for hybrid cars

need and potential supply of ethanol. Increased productivity of biofuel production with

the field technology of cellulosic ethanol becomes crucial for the demand for

renewable energy sources , which are feasible in terms of environmental, economic

and social. The great challenge for the production of second generation ethanol is to

provide the fermentable sugars obtained from the hydrolysis of bagasse in terms of

overall cost of the process, yield and fermentability of the hydrolyzate. The big

question is to establish the best pre - treatment to be used on an industrial scale for

the hydrolysis of bagasse, which should be low cost and at the same time preventing

the formation of inhibitory compounds of alcoholic fermentation later. This literature

review aimed to investigate the main processes and technologies of this biomass

pretreatments followed by acid and enzymatic hydrolysis.

Keywords: second generation ethanol; sugar cane bagasse; renewable

energies.

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Sumário

1. Introdução ................................................................................................ 8

1.1 Objetivos Gerais ............................................................................... 9

1.2 Objetivos Específicos ....................................................................... 9

2. Revisão Bibliográfica ............................................................................. 10

2.1 Matriz Energética Brasileira ........................................................... 10

2.2 O Mercado Consumidor ................................................................. 12

2.3 A Cana de Açúcar .......................................................................... 14

2.4 Bagaço de Cana-de-Açúcar ........................................................... 17

2.4.1 Composição ...................................................................... 18

2.5 Processos para Produção de Etanol a partir da Biomassa (Etanol

de Segunda Geração)..................................................................................... 23

2.5.1 Produção de Enzimas ....................................................... 24

2.5.2 Hidrólise da Biomassa ...................................................... 25

2.5.2.1 Hidrólise Ácida ......................................................... 26

2.5.2.1.1 Pré-Tratamento ................................................28

2.5.2.1.2 Formação de Inibidores ...................................33

2.5.2.2 Hidrólise Enzimática ................................................ 33

2.5.3 Processos Combinados .................................................... 35

2.6 Usinas de Etanol Celulósico, uma Realidade ................................. 38

2.6.1 Projetos em Andamento ................................................... 39

Conclusão ....................................................................................................... 46

Referências Bibliográficas .............................................................................. 48

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1. Introdução

Um tema cada vez mais explorado na agenda global é o desenvolvimento das

fontes renováveis de energia. O melhoramento da qualidade de vida e o crescimento

populacional exige uma solução para os problemas que enfrentamos hoje e que

poderão se agravar no futuro, como a poluição ambiental, a carência de alimentos e

a de energia. Com a escassez das reservas de petróleo e a iminência das mudanças

climáticas, as energias renováveis surgem como uma importante alternativa ao

futuro do planeta para suprir as necessidades energéticas da nossa e das futuras

gerações. O aproveitamento de resíduos lignocelulósicos tem sido apresentado

como uma solução alternativa para tais problemas.

Os materiais lignocelulósicos como, por exemplo, o bagaço de cana-de-

açúcar, a palha de arroz, a palha de trigo, o sabugo de milho, a casca de aveia e as

aparas de eucalipto, são oriundos de resíduos da agroindústria e de atividades da

exploração florestal, e são também os recursos orgânicos renováveis mais

abundantes da terra, representando a maior porção do carbono total fixado por

fotossíntese (ARISTIDOU e PENTTILÄ, 2000). Além disso, possuem imenso

potencial de uso como matérias-primas em processos industriais para produção de

alimentos, biocombustíveis, insumos químicos, enzimas, biofertilizantes e bens de

consumo diversos (WINKELHAUSEN e KUSMANOVA, 1998; KRISHNA et al., 2001;

LATIF e RAJOCA, 2001; TENGERDY e SZAKACS, 2003).

Estes materiais são os compostos orgânicos de maior abundância na

biosfera, representando mais de 60% da biomassa total, sendo estimada a

produtividade de biomassa seca em 155 bilhões de toneladas ao ano (SINGH e

MISHRA, 1995). Segundo Pimentel (2001), ao redor de 40,5 bilhões de toneladas de

biomassa são produzidos no ecossistema terrestre e somente 50% é usada para a

alimentação, construção civil ou como combustível, causando sérios problemas na

biodiversidade.

O potencial de aproveitamento da biomassa lignocelulósica baseia-se em sua

composição química; pois, independente de sua origem, os materiais

lignocelulósicos contêm celulose, hemicelulose e lignina como principais

componentes, em proporções que variam de 40 a 50%, 25 a 35% e 15 a 25%,

respectivamente (FENGEL e WOOD, 1984).

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Diversos processos têm sido explorados nos últimos anos, com o objetivo de

hidrolisar os polissacarídeos celulose e hemicelulose em glicose e xilose

respectivamente. A maioria dos métodos utilizados tende ao uso de enzimas

microbianas ou ácido minerais em concentrações variadas (BALAT et al., 2008).

Contudo, antes do material ser hidrolisado, o mesmo deve ser submetido a uma

etapa de pré-tratamento. O alvo da tecnologia de pré-tratamento é remover barreiras

estruturais e composicionais dos materiais lignocelulósicos, promovendo uma

melhora na percentagem de hidrólise e aumento dos rendimentos de açúcares

fermentescíveis a partir da celulose e hemicelulose (MOSIER et al., 2005).

1.1 Objetivos Gerais

Investigar a utilização do bagaço de cana-de- açúcar para a produção de

etanol, através de revisão bibliográfica sobre o tema.

1.2 Objetivos Específicos

Discutir os principais problemas encontrados na produção do etanol

celulósico;

Apresentar tecnologias que estão se destacando para esta produção, através

do desempenho de alguns pré-tratamentos para reduzir contaminantes e otimizar os

rendimentos;

Mostrar a importância de se desenvolver um processo tecnológico que

integre a produção eficiente de açúcar, etanol e eletricidade a partir da biomassa da

cana no Brasil;

Abordar experiências e parcerias pioneiras e apresentar usinas em

construção e em funcionamento.

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2. Revisão Bibliográfica

2.1 Matriz Energética Brasileira

Em comparação a outros países, o Brasil possui uma Matriz Energética

bastante limpa. A participação das energias renováveis no total da energia primária

ofertada internamente em 2012 manteve-se entre uma das mais elevadas do mundo

(Figura 1), mesmo sofrendo uma pequena redução devido a menor oferta de energia

hidráulica e etanol, enquanto nos demais países essa participação corresponde, em

média, a cerca de 13%. A produção do biocombustível mostra a importância do país

no reaproveitamento de matérias-primas disponíveis no campo.

Figura 1 – Participação das Energias Renováveis na Matriz Energética.

Fonte: (EPE; Agência Internacional de Energia, 2013)

Em grande parte, o componente renovável da matriz brasileira se deve à

geração hidroelétrica de energia, mas os derivados da cana-de-açúcar também se

destacam, representando 14% da energia primária. Isso sem falar da concomitante

produção de açúcar, onde o Brasil é o principal produtor e exportador mundial.

A participação da cana-de-açúcar leva em consideração não apenas o álcool

consumido pelos veículos automotores, mas também a utilização do bagaço nas

usinas. O bagaço é o resíduo sólido restante da produção de açúcar e álcool,

destinado basicamente à geração de energia, nas formas térmica, mecânica e

elétrica. Essa energia é capaz de suprir toda a demanda das usinas produtoras e

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ainda gerar excedentes que são exportáveis à rede elétrica. Devido ao aumento da

demanda de etanol no mercado mundial, observa-se a necessidade de se viabilizar

a produção deste combustível a partir de outras matérias-primas, como o bagaço de

cana-de-açúcar. O uso desta matéria-prima poderá elevar em 30%, no mínimo, a

produção de álcool combustível no Brasil, sem a necessidade da expansão da área

de plantio (REVISTA FAPESP, 2004).

Ao se avaliar o meio ambiente, o que torna o etanol brasileiro ainda mais

atrativo é que a principal diferença do biocombustível de origem vegetal para os

demais fósseis é relacionada com o problema de efeito estufa. O dióxido de carbono

(CO2) que é lançado na atmosfera pelos dois tipos de combustíveis é praticamente

da mesma grandeza. No entanto, o etanol é renovável, pois durante o crescimento

da planta, ela sequestra carbono da atmosfera, através da fotossíntese. Por este

motivo, a condição de CO2 é regenerada. Em termos de combustíveis fósseis, se

retira carbono enterrado e o libera novamente na atmosfera, aumentando essa

quantidade. Assim o ciclo do plantio da cana-de-açúcar, a matéria prima do etanol

brasileiro, praticamente neutraliza as emissões de CO2 para a atmosfera. Além disso

o etanol é leve. Após a sua combustão, as partículas do álcool se transformam em

CO2 ou não sofrem reação, ou seja, não liberam toxinas no ambiente. O total de

emissão é da mesma ordem de grandeza do que a dos motores a gasolina, só que

os hidrocarbonetos oriundos do álcool são, em geral, menos tóxicos do que os da

gasolina (ÚNICA, 2013).

Atualmente, o etanol disponível nos postos de gasolina é obtido por meio da

fermentação do açúcar contido na cana, extraído por moendas, chamado de etanol

de primeira geração (EG1). O bagaço da planta é usado por algumas usinas para

gerar energia elétrica, e parte da palha fica na lavoura, como fertilizante para a

própria terra. Este etanol G1 é produzido praticamente a partir de matérias-primas

sacarinas ou amiláceas, cana-de-açúcar e milho, respectivamente. Entretanto, há

um grande esforço da comunidade científica e empresas privadas para o

desenvolvimento de novos processos economicamente viáveis para o

aproveitamento da componente lignocelulósica da biomassa, a fim de aumentar a

produtividade do etanol, e uma das rotas encontradas é exatamente a utilização dos

resíduos agrícolas (palha e bagaço de cana-de-açúcar, palha de trigo e

resíduos de milho) e resíduos florestais (pó e restos de madeira), assim como o

capim elefante para produção de etanol combustível, conhecido como etanol de

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segunda geração (EG2). Deste modo, incrementando a produtividade, o preço de

mercado do etanol não ficaria tão dependente do açúcar, e o excedente da

biomassa gerada pelas usinas sucroalcooleiras pode ser utilizado em

bioconversões, tanto do etanol como de outros produtos importantes como

butanodiol, proteína microbiana e xilitol.

2.2 O Mercado Consumidor

Em 2003 foi lançado o primeiro carro com motor flex no Brasil, que permitiu a

utilização de qualquer mistura etanol hidratado/gasolina entre 20% e 100%. O

consumidor aceitou de prontidão a ideia e até 2009 construiu-se no País um sistema

inovador, que começava no setor automotivo. Entre 2003 e 2005, o motor flex foi

bastante aprimorado (ESTADÃO, 2012). Além disso, desde 2005 a Empresa

Brasileira Embraer produz o avião pulverizador de defensivos agrícolas Ipanema,

movido a etanol. Segundo a empresa (UOL, 2012), trata-se do primeiro avião

produzido em série no mundo a sair de fábrica certificado para voar com etanol, o

mesmo combustível usado nos automóveis, e hoje representa aproximadamente

25% da frota em operação.

De acordo com o Jornal Estadão (2012) o etanol hidratado tinha

competitividade com a gasolina porque o custo de produção da cana-de-açúcar era,

na ocasião, o menor do mundo. Além disso, o preço da gasolina subiu entre 2002

até meados de 2006, quando foi mantido praticamente constante desde então.

As vendas de carros flex subiram de forma acentuada, atingindo rapidamente

a faixa de 80% ou mais do total de carros produzidos no País. Estima-se que em

2009 a frota destes veículos era da ordem de 9,5 milhões de unidades. O consumo

de etanol hidratado, em consequência, se elevou rapidamente de 5 bilhões para um

patamar de mais de 20 bilhões de litros (ESTADÃO, 2012).

Outras inovações significativas também aconteceram no período de 2003 a

2009: a expansão de projetos de cogeração de energia com a queima de bagaço e o

início do desenvolvimento de combustíveis de segunda geração em escala pré-

industrial. O sucesso do plástico verde da Braskem que utiliza como matéria prima a

cana-de-açúcar também levou muitas empresas da área química a se dispor a

investir em novos polos industriais ao lado das usinas.

Porém um fator que brecou este intenso crescimento e fez com que a maior

parte dos projetos de ampliação de capacidade fosse cancelada foi a crise financeira

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de 2008. Quatro anos de baixos investimentos e clima adverso reduziram a

quantidade da cana. Também concorreu para isso a curva de aprendizado no plantio

de novas áreas, onde ainda não existiam variedades mais bem adaptadas. Ainda de

acordo com o Jornal, hoje o Brasil não é mais o produtor de menor custo, mas o

quarto ou quinto da fila.

Com a escassez da cana houve o privilégio na produção de açúcar, que tem

mais facilidade para gerar liquidez e rentabilidade para o produtor, e de álcool

anidro, que tem mercado garantido, dada a obrigatoriedade da mistura com a

gasolina por parte do governo.

Outro ponto que atrapalhou a avanço do etanol foi a ausência de

investimentos na melhoria do motor que utiliza esse biocombustível, que manteve

inalterada sua menor eficiência com relação ao motor a gasolina, algo em torno de

30%. Só agora, alguns novos projetos de pesquisa visando a melhora do

desempenho dos motores flex estão começando por parte de montadoras de

veículos. O novo regime automotivo, recém-divulgado, incorpora pela primeira vez

exigências quanto à redução no consumo de combustíveis. Segundo técnicos do

setor automotivo consultados pelo Estadão (2012),, as melhorias de eficiência no

motor flex poderiam ter sido de 15 a 20% em uma primeira fase, caso esses projetos

tivessem sido iniciados a partir de 2007. A história do etanol teria sido outra se isso

tivesse ocorrido.

Apesar deste histórico e desenvolvimento fracos, o consumo de etanol está

em alta. Para a safra atual, a 2013/2014, a previsão é que o Brasil produza 26,6

bilhões de litros do biocombustível tradicional, 13,67% a mais que o ciclo passado,

conforme a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA, 2013). Segundo a

entidade, a procura por etanol está mais forte neste ano principalmente porque o

governo federal ampliou de 20% para 25% a mistura do biocombustível à gasolina.

Além disso, um relatório divulgado no Reino Unido mostra que a China irá

ultrapassar os EUA como maior importador de petróleo no mundo. Com a venda

expressiva de carros novos e o consumo crescente de petróleo pela frota de

caminhões em expansão, espera-se que, em 2020, 70% da demanda chinesa de

petróleo seja atendida com importações, o que representa cerca de US$ 500

bilhões. O número de carros em circulação deve saltar dos 20 milhões existentes em

2005 para 160 milhões em 2020 (NEVES, 2013).

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A preocupação com problemas ambientais, aquecimento global e a

instabilidade dos preços do petróleo levou um número cada vez maior de países a

incluir o etanol na matriz de combustíveis. O que se espera desse movimento é que

ele continue a criar mercados para a mistura de etanol por todo o mundo, colocando

o Brasil na vanguarda desse fornecimento. A Índia, por exemplo, de acordo com

Neves (2013) está aprovando uma mistura de 5% de etanol na gasolina. Espera-se

que o país adote uma política de etanol mais agressiva para substituir importações

de petróleo.

Voltando os olhos para o mercado nacional, Neves (2013) afirma que é

esperado a frota brasileira atingir a marca de 50 milhões de carros em 2021, sendo

40 milhões com motor flex. Se 50% desses veículos usarem etanol hidratado,

poderemos ter um mercado interno de 33,6 bilhões de litros em 2021. O volume de

etanol anidro misturado na gasolina à proporção de 25% poderá chegar a 13,6

bilhões de litros, contra 8,4 bilhões de litros em 2013. Além disso, estudos apontam

que o futuro do mercado mundial de bioetanol pode ser promissor. Existem

estimativas de que o mercado poderá crescer dos 92 bilhões de litros consumidos

em 2012 para 165 bilhões de litros em 2020, a serem consumidos majoritariamente

na América Latina e do Norte. Tais dados estimulam as pesquisas e os

investimentos para tornar o etanol celulósico viável em um curto prazo,

desbancando as matérias-primas utilizadas atualmente para a produção de etanol

(principalmente a cana, o milho e a beterraba) e colocando nosso país na vanguarda

dessa produção.

2.3 A Cana de Açúcar

A Saccharum officinarum, ou cana-de-açúcar, é uma gramínea que foi

introduzida no Brasil pelos portugueses no início do século XVI, originada do

sudeste asiático e sendo hoje muito cultivada em regiões tropicais e subtropicais

(ROSILLO-CALLE et al., 2005). Desde as suas origens ela vem sofrendo

modificações, que resultaram em diversas espécies diferentes entre si

principalmente em relação ao conteúdo de fibras e açúcares. Hoje, a maior parte da

cana-de-açúcar cultivada é um híbrido multiespecífico, que recebe a denominação

de Saccharum spp. (JOAQUIM, 1997).

Os fatores fundamentais para a alternativa da cana-de-açúcar como matéria

prima para a produção de bicombustíveis se deve ao rendimento energético e a

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proximidade da realidade brasileira, já que o Brasil é o líder de comércio e de

tecnologia nesse tipo de cultura. O país é o maior produtor de cana-de-açúcar para a

indústria de açúcar e etanol. Após a moagem para a extração do caldo, o bagaço

que sobra é em parte queimado para a produção de energia elétrica e térmica para

os processos industriais (HASSUANI et al., 2005). A Tabela 1 mostra a composição

básica da cana-de-açúcar.

Tabela 1 – Composição básica da cana-de-açúcar

Componentes Teor (% massa)

Sólidos totais 24 a 27

Sólidos solúveis 10 a 16

Fibras (base seca) 11 a 16

Água 73 a 76

Fonte: (MANTELATOO, 2005)

O rendimento energético obtido através do processamento da cana-de-

açúcar é um dos maiores, isso pode ser ressaltado em diversos estudos de balanço

de energia. A Tabela 2 comprova a relação de energias que são geradas e

consumidas durante o processo de produção dos biocombustíveis relativo à sua

matéria prima (milho e cana-de-açúcar). Além disso, produzir etanol a partir do

amido de milho, que é um alimento, faz com que os norte-americanos precisem

subsidiar sua produção para tornar o preço do etanol do milho equivalente ao preço

do etanol da cana de açúcar.

Tabela 2 – Fluxo comparativo de energia na produção de etanol – GJ/ha.ano

Processo Milho Cana-de-açúcar

Consumo de energia na produção 18,9 13,9

Energia da Biomassa 149,5 297,1

Relação energética agrícola 7,9 21,3

Consumo de energia na produção de etanol 477,9 3,4

Energia contida no etanol 67,1 132,5

Relação de energia total 1,21 8,32

Fonte: (SILVA, 2010)

Segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB,

2013) para a temporada 2013/14, a cultura da cana-de-açúcar continua em

expansão. A previsão é que o Brasil tenha um acréscimo na área de cerca de 314

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mil hectares, equivalendo a 3,7% em relação à safra 2012/13. O acréscimo é reflexo

do aumento de área da Região Centro-Sul. São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato

Grosso do Sul deverão ser os estados com maior acréscimo de áreas. Este

crescimento se deve à expansão de novas áreas de plantio das usinas já em

funcionamento.

A área cultivada com cana-de-açúcar que será colhida e destinada à atividade

sucroalcooleira na safra 2013/14 está estimada em 8.799.150 mil hectares,

distribuídas em todos estados produtores conforme suas características. O estado

de São Paulo permanece como o maior produtor com 51,31% (4.515.360 hectares)

da área plantada, seguido por Minas Gerais com 8,0% (781.920 hectares), Goiás

com 9,3% (818.390 hectares), Paraná com 7,04% (620.330 hectares), Mato Grosso

do Sul com 7,09% (624.110 hectares), Alagoas com 5,02% (442.590 hectares) e

Pernambuco com 3,25% (286.030 hectares). Nos demais estados produtores as

áreas são menores, com representações abaixo de 3,0%.

Apesar da instabilidade climática em algumas regiões produtoras no primeiro

trimestre de 2013, como é o caso do Nordeste, a perspectiva mostrada no Relatório

é de crescimento de 6,8% no rendimento da cultura. Neste primeiro levantamento, a

produtividade média brasileira está estimada em 74.100 kg/ha, maior que a safra

2012/13, que foi de 69.407 kg/há. A previsão é feita para a produtividade média da

safra e não para um determinado momento, portanto, o comportamento climático é

que irá determinar o comportamento da produtividade até o período final de colheita.

A previsão total da cana que será moída na safra 2013/14 é de 652,02

milhões de toneladas, um aumento de 10,70% em relação à safra 2012/13, que foi

de 588,92 milhões de toneladas, significando que a quantidade que será moída deve

ser 64,89 milhões de toneladas a mais que na safra anterior.

Desta forma, a produção de etanol total que fechou em 23,64 bilhões de litros

na safra 2012/13 é estimada em 27,17 bilhões de litros para 2013/14, um incremento

de 3,53 bilhões de litros, alta de 14,94%. Deste total, 12,02 bilhões de litros deverão

ser de etanol anidro, e 15,16 bilhões de litros serão de etanol hidratado. Assim, o

etanol anidro deverá ter um acréscimo de 21,96% na produção, e o etanol hidratado

terá aumento de 9,93%, quando comparados com a produção de etanol da safra

anterior.

A produção de etanol a partir da cana-de-açúcar iniciou no Brasil em 1970

com a introdução do PROALCOOL. Em 1990 os produtores deste setor precisaram

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se reorganizar em virtude de dificuldade com a demanda de álcool no país. O

acréscimo da adição de álcool anidro na gasolina trouxe novas oportunidades de

negócio para os produtores rurais e industriais, e junto com as novas oportunidades

também a necessidade do aumento da produção para atender a demanda.

2.4 Bagaço de Cana-de-Açúcar

A grande vocação do Brasil para a agricultura sucroalcooleira, aliada às suas

dimensões continentais, faz dele o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo.

Embora transpareça progresso e divisas para o país, tais cifras trazem como

consequência um grande problema, que é a geração de 128 milhões de toneladas

de bagaço ao ano, que, apesar da sua maior parte ser aproveitado pela própria

indústria, ainda gera um excedente (UNICA, 2013). O bagaço (Figura 2) abastece as

caldeiras das usinas na geração direta de energia por combustão ou gaseificação, e

muito se tem investido em tecnologias para o aproveitamento total da cana-de-

açúcar, para também utilizar o bagaço na produção de combustível. A utilização

deste bagaço excedente poderia suprir o abastecimento da usina sucroalcooleira,

proporcionando vantagens socioambientais e elevação do rendimento econômico do

processo (GÁMES, et al., 2006).

Figura 2 – Bagaço de cana-de-açúcar.

Fonte: (UNICA, 2012)

De acordo com Rabelo (2010) o uso de processos e rotas mais eficientes está

levando o setor a tornar-se um gerador de excedentes de energia elétrica,

possibilitando assim a hidrólise do material lignocelulósico restante para produção

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de açúcares fermentescíveis (rota química e biológica) ou a gaseificação deste

material seguida pela síntese de combustíveis líquidos (rota térmica).

Devido a esse excesso de bagaço e a legislação que restringe gradualmente

a queima da palha no campo, estima-se que as usinas de açúcar e álcool podem

liberar de 30 a 50% do bagaço produzido para usos alternativos (MACEDO, 2001).

Com estes altos índices é esperado que nos próximos anos sua utilização para

energia, com a competição entre energia elétrica e a produção de etanol de segunda

geração, seja implementada em larga escala.

Como já explicitado, grande parte do bagaço produzido é utilizado pelas

próprias usinas no aquecimento de caldeiras e geração de energia elétrica. Hoje, o

bagaço de cana tem sido alvo de vários estudos visando seu potencial energético no

que diz respeito à produção de biocombustível, porém, seu uso não está restrito a

esse fim. Devido à grande quantidade produzida e a suas características físicas e

químicas, esse material encontra um vasto campo de utilização, dentre eles, na

produção de ração animal, na indústria química, na fabricação de papel, papelão e

aglomerados, como material alternativo na construção civil, na produção de

biomassa microbiana e mais recentemente, na produção de álcool via bagaço e

palha de cana. O bagaço é um subproduto obtido em grandes quantidades após

moagem da cana para a extração do caldo, em um processo que ocorre nos ternos

das moendas das empresas produtoras de açúcar e etanol. A utilização deste

subproduto na produção de etanol celulósico proporcionará um aumento significativo

na produção nacional de biocombustíveis (RODRIGUES e CAMARGO, 2008).

2.4.1 Composição

A constituição química do bagaço depende de diversos fatores entre eles: o

tipo de solo utilizado no plantio, o tipo de cana, as técnicas de colheita e o manuseio

empregado (RODRIGUES e CAMARGO, 2008). A Figura 3 mostra o arranjo típico

da parede celular do vegetal. O bagaço é um material ligninocelulósico que consiste

de feixes de fibras e outras estruturas elementares como, vasos parênquima e

células epiteliais (HAMELINK et al., 2005; PANDEY et al., 2000).

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Figura 3 – Arranjo típico da parede celular vegetal.

Fonte: (MURPHI e MCCARTHY, 2009)

A Tabela 3 mostra a composição média característica do bagaço de cana em

que a fibra é a matéria insolúvel em água contida na cana-de-açúcar e o Brix o teor

de sólidos solúveis em água.

Tabela 3 – Composição média do bagaço de cana-de-açúcar

Composição Química Elementar

Carbono 39,7 - 49%

Oxigênio 40 – 46%

Hidrogênio 5,5 – 7,4%

Nitrogênio e cinzas 0 – 0,3%

Propriedades Físico-Químicas

Umidade 50%

Fibra 46%

Brix 2%

Impurezas minerais 2%

Composição média da fibra do bagaço

Celulose 26,6% - 54,3%

Hemicelulose 14,3 – 24,4%

Lignina 22,7 – 29,7%

Fonte: (ROSA e GARCIA, 2009).

2.4.1.1 Celulose

A celulose é um homopolissacarídeo linear que consiste em unidades de

glicose unidas por ligações glicosídicas do tipo β (1→4) cujo tamanho é determinado

pelo grau de polimerização (DP) que varia de 100 a 2000 DP. A Figura 4 representa

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a cadeia linear da celulose, formada de várias unidades consecutivas de celobiose.

As cadeias de celulose formam as fibrilas elementares, caracterizadas por duas

regiões distintas, a cristalina, de configuração mais ordenada formada por cadeias

de celulose unidas por ligações de hidrogênio e força de Van der Waal´s, e a

amorfa, menos ordenada e mais susceptível a hidrólise (GOMEZ, 1985).

Figura 4 – Representação da cadeia linear da celulose, formada de várias unidades consecutivas de celobiose.

Fonte: (TIMAR-BALÁZSY, 1998)

As longas cadeias de glicose, combinadas a formar microfibrilas com diâmetro

entre 4-10 nm em eletromicrofibrilas tornam a celulose resistente. O conjunto de

microfibrilas, aos quais são organizadas em lamelas para formar a estrutura fibrosa

das várias camadas da parede celular vegetal. As microfibrilas de celulose são

revestidas com hemicelulose e embebidas em lignina, formando os materiais

lignocelulósicos (CARLILE et al., 2002).

2.4.1.2 Hemicelulose

A hemicelulose tem como principal elemento a xilose é um heteropolissarídeo

formado por pentoses (xilose, ramnose e pentose), hexoses (glicose, manose e

galactose) e ácidos urônicos (acidos-4-O-metil-glucurônico e galacturônico) (Figura

5). A xilose constitui o maior componente da hemicelulose, fazendo parte de um

complexo de carboidratos poliméricos incluindo xilana (principal componente da

hemicelulose, cuja estrutura corresponde a um polímero de D-xilose unidas por

ligações β-1,4) (BALAT et al., 2008).

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Figura 5 – Monossacarídeos constituintes das hemiceluloses. D-glicose (1), D-galactose (2), L-arabinose (3), D-xilose (4), D-manose (5), 4-O-metil-D-glucurônico (6), L-ramnose (7).

Fonte: (MARTINS, 2005).

Este tipo de xilana também oferece acetilações ao longo da molécula. A

arabinoxilana é ligada a estrutura da xilana via ligação α-1,2 ou α-1,3, ambas como

resíduos simples ou cadeias laterais curtas. Estas cadeias laterais também podem

conter xilose ligadas por ligações β-1,2 a arabinose e galactose, que podem ser

unidas por ligações β-1,5 a arabinose ou β-1,4 a xilose. Os resíduos acetil são

conectados a O-2 ou O-3 na xilose da estrutura de xilana, mas o grau de acetilação

difere grandemente entre as xilanas de diferentes origens. O ácido glucurônico e o

4-O-metil-éter são conectados a estrutura da xilana via ligação α-1,2, enquanto os

resíduos aromáticos (ferruloil e p-coumaril) foram descritos como sendo conectados

somente a O-5 de resíduos arabinose terminais. O ácido ferrúlico também pode

estar ligado às frações de hemicelulose e pectina e estes polissacarídeos são

capazes de fazer ligações-cruzadas uns com outros, assim como, com compostos

aromáticos poliméricos da lignina. A Figura 6 é uma representação esquemática da

hemicelulose. Esta estrutura de ligações-cruzadas resulta em um aumento na rigidez

da parede celular (VRIES e VISSER, 2001).

Figura 6 – Representação esquemática de uma xilana de gramínea. (1) 1,4-D-xilopiranose; (2) L-

arabinose; (3) ácido 4-O-D-metil-α-D-glucurônico; (4) grupo acetil

Fonte: (PITARELO, 2007).

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2.4.1.3 Lignina

A lignina, um dos principais componentes presente no bagaço de cana-de-

açúcar é um polímero derivado de grupos fenilpropanóides, repetidos de forma

irregular, que têm sua origem na polimerização desidrogenada do álcool coniferílico.

Os polímeros fenilpropanóides que constituem a lignina são altamente condensados

e muito resistentes à degradação. A lignina é o mais importante componente não-

carboidratado da biomassa lignocelulósica. Ela é depositada na rede de carboidratos

da parede celular secundária das plantas, durante o seu crescimento. As ligninas

são formadas a partir de três precursores básicos, que são os álcoois p-cumarílico,

coniferílico e sinapílico. Este heteropolímero amorfo é constituído de unidades de

fenilpropano (ácido coniferílico ou ferrúlico, ácido sinapílico e ácido p-cumarílico)

conectadas por diferentes ligações (HENDRIKS e ZEEMAN, 2009). A Figura 7

representa a estrutura molecular da lignina.

Figura 7 – Representação estrutural da lignina

Fonte: (ROSA e GARCIA, 2009)

A lignina ocorre na parede celular de plantas superiores em diferentes

composições: madeiras duras de 25 a 35%, madeiras macias de 18 a 25% e

gramíneas de 10 a 30% sendo neste último caso responsável, em parte, pela

resistência mecânica do bagaço, bem como no suporte para dispersão dos

metabólicos exercidos pelas células. O bagaço é fortemente recalcitrante, devido à

forte ligação existente entre a celulose hemicelulose e lignina. Para utilizá-lo na

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produção de etanol, é necessário submeter o material a várias etapas de

processamento: pré-tratamento, hidrólise, fermentação e destilação. Os processos

de pré-tratamento de materiais lignocelulósico podem ser térmicos, químicos, físicos,

biológicos ou uma combinação de todos esses, o que dependerá do grau de

separação requerido e do fim proposto. A presente pesquisa investigou os pré-

tratamentos e a hidrólise ácida e enzimática, pois nas etapas de fermentação e

destilação o subproduto (bagaço de cana- de-açúcar) seguiria os mesmos processos

na produção de etanol convencional. A Figura 8 representa um corte transversal da

fibra de material lignocelulósico. (FERRAZ et al., 1994; CARRASCO, 1992).

Figura 8– Representação esquemática de um corte transversal da fibra de material lignocelulósico Fonte: (ROSA e GARCIA, 2009).

2.5 Processos para Produção de Etanol a partir da Biomassa (Etanol de

Segunda Geração)

O processo de obtenção de etanol de segunda geração, produzido através da

hidrólise enzimática de materiais lignocelulósicos, consiste basicamente de quatro

etapas, com distintas possibilidades de combinação (SUN e CHENG, 2002):

produção de enzimas, pré-tratamento, hidrólise enzimática e fermentação.

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2.5.1 Produção de Enzimas

As enzimas são responsáveis pela degradação o do material lignocelulósico,

e são produzidas em sua maioria por microrganismos como fungos filamentosos e

bactérias. As espécies de fungos mais estudadas para a produção das celulases

(enzimas que degradam a celulose) são o Trichoderma reesei, Penicillium

pinophilum, Humicola insolens, Trichoderma koningii, Peniccilium funiculosum,

Fusarium solani, Myrothecium verrucaria, Sporotrichum pulverulentum e Aspergilo

niger. Tais fungos excretam uma celulase de alta atividade no meio de cultura

(CANEVASCINI e GATTEN, 1981; DUFF e MURRAY, 1996; FAN et al., 1987;

LARIOS et al., 1984; LEE e FAN, 1980; PATHAK e GHOSE, 1973, STERNBERG,

1976). Entre as bactérias produtores de celulase tem-se a Cellulomonas fini e

Clostridium thermocellum (BISARIA, 1991).

A fase de obtenção de enzimas a partir de microrganismos celulolíticos

apresenta, em termos econômicos, a etapa mais cara do processo de obtenção dos

açúcares mediante hidrólise enzimática, respondendo por cerca de 50% dos custos

globais (WYMAN, 2001). Apesar da expressiva diminuição dos custos das enzimas

nos últimos 20 anos, elas ainda representam um importante papel sobre o preço

final do etanol lignocelulósico.

Além dos altos custos dos preparados enzimáticos, estes apresentam baixa

atividade específica, da ordem de 10 a 1000 vezes menores que a atividade das

amilases empregadas na obtenção do etanol a partir de biomassa amilácea

(HOWARD et al., 2003), porque requerem grandes quantidades para obter bons

rendimentos de açúcares.

Para melhorar estes aspectos, existem diversos estudos sendo realizados:

busca de mutantes hiperprodutores e novos microrganismos produtores mediante

metagenômica (JACOBSEN et al., 2005; KUZNETSOVA et al., 2005), estudos de

engenharia genética (DALBOGE, 1997) e otimização dos meios e das condições de

produção. Em relação aos meios de produção, existem estudos propondo o

emprego dos próprios materiais lignocelulósicos como matéria-prima na produção

enzimática (JORGENSEN e OLSSON, 2006; JUHÁSZ et al., 2005).

Além do baixo custo da matéria prima, a fermentação em substratos sólidos

oferece uma série de vantagens (TENGERDY e SZAKACS, 2003), como o escasso

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requerimento tecnológico, não necessidade de condições estéreis durante processo

e, ao mesmo tempo, a mistura enzimática sintetizada é específica do substrato.

De acordo com Rabelo (2010) algumas destas tecnologias já são utilizadas

em escala industrial enquanto outras são produzidas especificamente para alguns

processos em que são utilizadas. Existem também alguns estudos sobre novas

configurações de processo de obtenção de etanol que integre as etapas de

produção enzimática, sacarificação e fermentação, mediante o emprego de

microrganismos celulolíticos e outros etanologênicos, ou mediantes um único

microrganismo com ambas propriedades.

Com este foco, um estudo realizado nos Estados Unidos indica que enzimas

de algumas bactérias termófilas, que vivem em ambientes com temperatura elevada,

poderiam digerir a biomassa das plantas. O estudo mostrou que bactérias do gênero

Paenibacillus e do filo Gemmatimonadetes produzem enzimas importantes para a

desconstrução do switchgrass, uma gramínea de porte alto comum na América do

Norte e candidata a produzir etanol (REVISTA FAPESP, 2013). Os pesquisadores

analisaram genes e proteínas de comunidades compostas por diferentes espécies

de bactérias. Uma das vantagens das proteínas naturalmente sintetizadas por

bactérias termófilas é que elas, em princípio, poderiam trabalhar a temperaturas de

até 80°C, como as encontradas nas condições de produção de biorrefinarias. No

consórcio de bactérias estudado por eles, que reuniu também linhagens dos gêneros

Thermus e Rhodothermus, entre outros, foram encontrados mais de 3 mil

fragmentos de proteínas. Estas ‗superenzimas‘ podem desempenhar um papel

importante na quebra da lignocelulose encontrada na biomassa das plantas

candidatas à produção de biocombustíveis, e ser uma alternativa viável à essa nova

tecnologia em grande escala.

2.5.2 Hidrólise da Biomassa

Desde o século XIX vem sendo estudado a produção de etanol pela hidrólise

e fermentação de materiais lignocelulósicos. Mas num período compreendido de 20

anos tem se procurado utilizar esta tecnologia para a produção de combustíveis.

Com o êxito desta tecnologia, o etanol celulósico poderá ser reproduzido em quase

todas as regiões do mundo, podendo aproveitar grande quantidade de resíduos

orgânicos de diversas fontes (BNDES; CGEE, 2008), (Banco Nacional do

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Desenvolvimento Econômico e Social; Centro de Gestão e Estudos Estratégicos).

Os processos para a produção de combustível com a utilização de resíduos

lignocelulósicos envolvem a hidrólise dos polissacarídeos e fermentação para a

produção do bioetanol. Para realizar esse processo de hidrólise são necessárias

tecnologias complexas e multifásicas, com a utilização de rotas ácidas ou

enzimáticas para a separação dos açúcares e remoção da lignina. Uma

configuração genérica é apresentada na Figura 9 (BNDES; CGEE, 2008).

Figura 9 – Esquema do processo de produção de etanol por meio da hidrólise da biomassa

Fonte: adaptado de Hamelinck et al., (2005).

2.5.2.1 Hidrólise Ácida

Existem basicamente três técnicas para a obtenção de açúcares

fermentescíveis provenientes de materiais lignocelulósicos: hidrólise com ácido

concentrado, hidrólise com ácidos diluídos e hidrólise enzimática.

Na hidrólise com ácido concentrado, a hemicelulose e celulose presentes na

biomassa são quebradas usando soluções aquosas de ácidos minerais fortes, como

ácido sulfúrico, clorídrico ou fosfórico, em baixas temperaturas (<100ºC). A principal

desvantagem desta técnica é que requer equipamentos altamente resistentes à

corrosao, aumentando assim o custo do produto final. Tipicamente, a fração de

hemicelulose é hidrolisada mais rapidamente que a fração de celulose, e os

monossacarídeos liberados de hemicelulose são expostos no meio reacional por

muito tempo, o que leva à degradação e perda desses açúcares. A recuperação do

ácido usado no processo é essencial por razões econômicas e devido a problemas

ambientais (SZENGYEL, 2000).

No processo com ácido diluído, parte da hemicelulose e da celulose são

hidrolisadas separadamente. A hemicelulose hidrolisada pode ser removida após o

primeiro passo da hidrólise. Desta forma, as condições de hidrólise tanto para a

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hemicelulose quanto para a celulose são otimizadas. Porém, devido às altas

temperaturas aplicadas no segundo passo (aproximadamente 200ºC), uma

quantidade considerável de açúcares e lignina solúvel é degradada, levando a uma

inibição durante o processo de fermentação (CLARK e MACKEI, 1984; LARSSON et

al., 1998; WYMAN, 1994).

A hidrólise ácida, portanto, além de formar compostos inibidores para

subseqüente fermentação, também apresenta outros problemas, tais como,

condições de manuseio severas (pH e temperatura), e o alto custo de manutenção

devido os problemas de corrosão (MARTIN et al., 2007).

2.5.2.1.1 Pré – Tratamentos

O processo de produção de etanol a partir do bagaço demanda a

transformação da celulose em monômeros de glicose e subsequente conversão dos

mesmos, por fermentação, em etanol. Entretanto, a celulose nativa encontra-se

muito protegida pela matriz lignina-carboidrato, de modo que a celulose torna-se

muito recalcitrante à ação hidrolítica, resultando em processos lentos de conversão.

Portanto, alguns pesquisadores acreditam num melhor aproveitamento deste

resíduo quando este material é fracionado nos seus componentes principais

(celulose, hemicelulose, lignina). Para isso é proposto submeter o bagaço a um pré-

tratamento de modo a aumentar a exposição das fibras de celulose, tornando-a mais

acessível aos agentes hidrolíticos enzimáticos ou ácidos. Os principais objetivos do

pré-tratamento são: reduzir o grau de cristalinidade da celulose, dissociar o

complexo lignina-celulose, aumentar a área superficial da biomassa, preservar as

pentoses maximizando os rendimentos e evitar minimizar a fermentação devido a

formação de compostos inibitórios (HSU, 1996).

Assim, o pré-tratamento desorganiza a estrutura da biomassa celulósica,

beneficiando o trabalho das enzimas e ácidos que atuam na conversão de

carboidratos em açúcares.

Esta fase de pré-tratamento é uma das etapas operacionais mais relevantes

em termos de custos diretos, além de influenciar consideravelmente os custos das

etapas anteriores e subsequentes do processo. Basicamente, o pré-tratamento

relaciona-se às operações de preparação da matéria-prima, bem como a hidrólise da

celulose, geração de produtos inibidores à hidrólise enzimática e fermentação

alcoólica, concentrações sacarídicas dos hidrolisados produzidos, purificação de

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produtos intermediários, tratamento de resíduos, agitação mecânica e geração de

energia (LEE et al., 1994; LYND et al., 1996; MOSIER et al., 2003 a, b). Neste

contexto, deve-se buscar uma perfeita interação entre as diversas operações.

De modo geral, o pré-tratamento deve ser muito eficiente em termos de

rendimento, seletividade, funcionalidade (garantindo acessibilidade da celulose aos

agentes hidrolíticos), simplicidade operacional, segurança, higiene industrial e

atributos ambientais, enquanto consiste em reduzido consumo de insumos químicos,

energia e utilidades (BAUDEL, 2006).

A Figura 10 apresenta um esquema da transformação da biomassa durante a

etapa de pré-tratamento onde se observa a alteração da estrutura e aumento da

área superficial da celulose (CHANG et al., 1998).

Figura 10 – Pré-tratamento nos materiais lignocelulósicos

Fonte: adaptado por (HSU et al,. 1980).

A Figura 11 apresenta um esquema das etapas de pré-tratamento. A

transformação entre celulose cristalina e amorfa (representadas por C e C*,

respectivamente) é reversível. Ambas formas rendem oligossacrídeos, que são

hidrolisados a glicose. A degradação da glicose pode então originar inibidores da

fermentação (WEIL, 1992).

Figura 11 – Esquema representativo dos passos do pré-tratamento.

Fonte: (RABELO, 2010)

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Tipos de Pré-Tratamento

Vários métodos de pré-tratamento de biomassa lignocelulósica têm sido

sugeridos ao longo das últimas duas de´cadas. Em relação a sua natureza, estes

podem se classificar basicamente em três grupos principais: físicos, químicos e

biológicos, além de uma possível combinação entre eles (MOSIER et al., 2005, SUN

e CHENG, 2002). A evolução da eficiência dos pré-tratamentos tem sido baseada no

rendimento de hidrólise após esta etapa, em função da qual se determina

experimentalmente a condição ótima de operação em cada caso.

Embora muitos métodos de pré-tratamento tenham sido experimentados ao

longo dos últimos anos, constata-se a crescente necessidade de desenvolver

alternativas tecnológicas eficientes em termos de custo global e competitividade

econômica. Basicamente, extrações seletivas de componentes não-celulósicos

(lignina e hemiceluloses) utilizando-se álcalis ou ácidos têm sido obtidas a custos

relativamente razoáveis (BAUDEL, 2006).

Pré-Tratamento mecânico

De forma geral, a primeira etapa do processo consiste no pré-tratamento

mecânico da matéria-prima, que visa à limpeza e à desorganização do material, a

fim de causar a destruição da sua estrutura celular e torná-la mais acessíveis aos

posteriores tratamentos químicos, físicos ou biológicos. Neste processo a cana é

lavada, picada, desfibrada e moída. A lavagem da cana visa à retirada de terra, areia

e outros materiais estranhos. Após a lavagem a cana passa pelo picador, as facas

do picador tem a função de cortar a cana em pequenos pedaços, facilitando o

trabalho do esmagamento. No desfibramento se rompe a maior quantidade possível

de células da cana e a moagem divide o colmo da cana em duas frações: o caldo

(rico em açúcares) e o bagaço (rico em fibras) (ROSA e GARCIA, 2009).

Pré-Tratamento físico

Explosão a vapor

A explosão a vapor é um dos principais pré-tratamentos utilizados para

hidrólises de materiais lignocelulósicos. Nesse processo, a biomassa preparada é

triturada submetida a vapor de alta pressão e alta temperatura de 160 a 240ºC por

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até 20 minutos. Em seguida a pressão é retirada, ocasionando uma mudança brusca

na temperatura com finalidade de causar a ruptura nas ligações da lignina

hemicelulose e celulose. Pode-se adicionar SO2 para aumentar o efeito do

tratamento com recuperação de hemicelulose (TENGBORD et al., 2001).

Termo-Hidrólise

Este processo é similar ao processo de explosão a vapor, a diferença é que, o

processo de explosão é realizado com vapor, enquanto que no termo-hidrolse utiliza-

se água quente pressurizada. Com uma maior injeção de água, a solubilização é

maior que a explosão a vapor, A desvantagem deste processo esta relacionado com

o grande consumo de água, que produzem hidrolisados (BERNARDO NETO, 2009).

Pré-tratamento químico

Tratamento com ácidos concentrados ou diluidos

O pré-tratamento químico visa à solubilidade da hemicelulose e lignina em

ordem para expor a celulose à conversão por componentes ácidos ou alcalinos. No

Brasil, os reagentes ácidos mais utilizados são ácidos sulfúricos (H2SO4), clorídricos

(HCl) e nítricos (concentrados ou diluídos). O pré-tratamento com ácido sulfúrico

pode alcançar elevadas taxas de reação e, com isso atingir o objetivo de melhorar a

hidrólise da celulose (SUN e CHENG, 2002). Esses processos podem ser

diferenciados de acordo com as temperaturas aplicadas. As temperaturas superiores

a 160ºC são consideradas altas temperaturas, e quando se usam temperaturas

menores, são classificados como, baixas temperaturas. Neste tratamento faz-se

necessário a correção do pH antes do processo de hidrólise e fermentação e o custo

é maior que o sistema de explosão a vapor (HAMELINCK et al., 2005).

Pré-tratamento organosolvente

Consiste na mistura aquosa de solvente orgânico com catalisador ácido (HCl

ou H2SO4), essa mistura tem a função de quebrar a estrutura da lignina e

hemicelulose. Os solventes orgânicos mais usados são: metanol, etanol, acetona,

etileno, glicerol, entre outros. Para reduzir os custos esses solventes devem ser

drenados do reator, evaporados, condensados e reciclados. Essa remoção se faz

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necessária, pois os mesmos podem ser inibitórios ao crescimento dos

microorganismos na posterior fermentação (HAMELINCK et al., 2005).

Pré-tratamentos combinados

Afex (Amônia Fiber, Freezer Explosion)

A característica deste processo é a realização com reator a altas

temperaturas (160º a 180ºC) e pressão, neste reator há introdução da biomassa e

do reagente, (solução de amônia 5º a 15ºC). Transcorrido o tempo de reação

(alguns minutos), ocorre o resfriamento e a descompressão rápida da solução. Se a

realização deste processo for com biomassa com alto teor de lignina, o processo

não terá bom desempenho (BERNARDO NETO, 2009). Os pontos negativos deste

processo estão relacionados com o custo da amônia e a degradação dos açúcares.

O custo da amônia determinará o custo do processo, assim a viabilidade econômica

do processo estará ligada diretamente na recuperação da amônia. A degradação

dos açúcares reduz a eficiência das etapas posteriores (MOISER et al., 2005).

Explosão de CO2

O processo com CO2 é parecido com o AFEX, à diferença é o fluido usado na

reação. Neste processo usa-se CO2 ocorrendo à formação de ácidos, ocasionando a

hidrólise da hemicelulose. A vantagem deste processo é o custo inferior ao AFEX,

mas o rendimento é inferior a explosão a vapor (HENDRIKS; ZEEMAN, 2009). A

Tabela 4 destaca os principais processos para pré-tratamento da biomassa para

hidrólise.

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Tabela 4 – Processos de pré-tratamento da biomassa para hidrólise.

Processo Descrição Tempo de

Reação Rendimento de xilose*

Físicos

Explosão de Vapor

A biomassa triturada é tratada com vapor (saturado 160º - 260ºC) seguido de uma rápida descompressão

1 – 10 min 45% – 65%

Termo-hidrólise

Utiliza água quente a alta pressão (pressões acima do ponto de saturação) para hidrolisar a hemicelulose

30 min 88% – 98%

Químicos

Hidrólise Ácida Por meio do uso de ácidos minerais concentrados ou diluídos

2 – 10 min 75% – 90%

Organosolv

Uma mistura de um solvente orgânico com um catalisdor ácido é usada para quebrar as ligações internas da lignina e da hemicelulose

40 – 60 min 70% – 80%

Combinados

Afex (ammonia fiber explosion)

Exposição à amônia líquida a alta temperatura e pressão por certo período de tempo, seguida de uma rápida descompressão

50% – 90%

Explosão de CO2

Similar a explosão de vapor 75%

Fonte: Elaborado com base em (HAMELINCK et al., 2005)

2.5.2.1.2 Formação de Inibidores

Componentes inibitórios podem ser classificados em dois grupos: inibidores

originalmente presentes na biomassa e inibidores produzidos por condições severas

na etapa do pré-tratamento.

Os inibidores presentes na biomassa lignocelulósica são facilmente liberados

durante a etapa de pré-tratamento. Em contrapartida, os pré-tratamentos que

trabalham em condições drásticas, ou seja, presença de reagentes ácidos

combinados com altas temperaturas são fortemente passíveis à formação de

produtos inibitórios devido à degradação dos açúcares e da lignina, levando assim à

produção de ácidos orgânicos. A Figura 12 mostra a procedência de cada um dos

inibidores proveniente de diferentes constituintes da biomassa.

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Figura 12 – Formação dos componentes inibitórios.

Fonte: Adaptado de (PALMQVIST e HAHN-HAGERDAL, 2000).

Da degradação das pentoses resulta o furfural e da degradação das hexoses,

o inibidor produzido é o 5-hidroximetilfurfural (HMF), os quais são bastante

problemáticos para a etapa da fermentação (MUSSATO e ROBERTO, 2004).

Quando é promovida a degradação destes inibidores, o ácido fórmico e levulínico

são formados. Compostos fenólicos como o ácido 4-hidroxibenzóico, vanilina,

catecol e siringaldeído podem ser formados pela decomposição química parcial da

lignina (PALMQVST e HAHN-HAGERDAL, 2000). Uma variedade de métodos

biológicos, físicos e químicos pode ser aplicada a fim de reduzir a concentração de

inibidores antes de realizar a etapa de hidrólise enzimática e fermentação.

2.5.2.2 Hidrólise Enzimática

No processo enzimático, por sua vez, a biomassa lignocelulósica é

primeiramente pré-tratada para aumentar a acessibilidade ao ataque enzimático,

pois a celulose é protegida por outros materiais resistentes ao ataque químico como

a lignina e a hemicelulose. A quebra desses polímeros são as dificuldades maiores

no processo da hidrólise (ROSA e GARCIA, 2009). Durante o pré-tratamento, a

hemicelulose é hidrolisada em um processo similar ao primeiro passo com ácido

diluído. No segundo passo, a hidrólise propriamente dita, a celulose é quebrada pela

ação das enzimas celulases. Devido a condições mais suaves aplicadas durante o

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processo (pH 4,8 e temperatura entre 45° e 50° C), uma menor quantidade de

subprodutos é liberada, resultando em um alto rendimento de açúcares

fermentescíveis. Porém, para atingir uma alta conversão da celulose é necessário

altas concetrações de enzimas, o que aumenta o custo de produção (EKLUND et al.,

1990).

Outro desafio que se impõe à obtenção do etanol a partir da celulose é o da

fermentação de pentoses. De fato, enquanto a fermentação das hexoses processa-

se rotineiramente, ainda não esta dominada a tecnologia de fermentação das

pentoses em escala industrial. As hemiceluloses são ricas em pentoses como

xiloses e arabinoses. O Saccharomyces cereviseae, microrganismo usualmente

empregado na produção de álcool a partir da sacarose, é muito pouco eficiente na

conversão de pentoses. A presença de pentoses de fato inibe a fermentação das

hexoses. Uma perspectiva é a utilização de outras espécies de fungos, melhor

adaptados às pentoses (HINMAN et al. 1989).

Os fatores positivos do processo enzimático são sua condução em condições

brandas, um custo utilidade relativamente baixo (SUN e CHENG, 2002), além de,

permitir maiores rendimentos, possibilitar a fermentação simultânea à sacarificação

(processo SSF – simultâneos saccharification and fermentation) e apresentar baixo

custo de manutenção (não há problema de corrosão). A hidrólise enzimática é uma

reação heterogênea catalisada pelas celulases, sendo distinguida por um substrato

insolúvel (celulose) e um catalisador solúvel (enzimas). A completa hidrólise da

celulose requer a ação combinada de múltiplas enzimas (celulases) com diferentes

especificidades ao substrato (KOVÁCS et al., 2009).

As condições de cada processo e os seus desempenhos aproximados são

mostrados na Tabela 5.

Tabela 5 – Comparação das condições e desempenho dos três processos de hidrólise

Fonte (HAMELINCK et al., 2005).

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Em princípio, as rotas enzimáticas apresentam vantagens importantes sobre

as rotas químicas, no contexto da produção de etanol a partir do bagaço de cana. As

conversões enzimáticas aparecem como promissoras, em termos de custo global,

em virtude da possibilidade de atingir rendimentos glicosídicos próximos ao teórico,

além do fato de se poder contar com as técnicas modernas de microbiologia e

engenharia genética, com vistas à otimização das etapas do processo integrado. Um

grande desafio consiste em tornar o processo enzimático viável, de modo que a

produção de etanol a partir da biomassa lignocelulósica possa tornar-se competitiva

com as demais rotas de produção de biocombustíveis em larga escala.

2.5.3 Processos Combinados

Nos processos combinados a hidrólise enzimática é integrada a diferentes

rotas. Nesses processos o pré-tratamento da biomassa também se faz necessário

para tornar a celulose mais acessível às enzimas, para posterior hidrólise da

hemicelulose. A seguir as principais combinações em desenvolvimento dos

processos de hidrólise (HAMELINCK, et al.,2005).

SHF – Hidrólise e Fermentação Separados

A hidrólise da celulose e hemicelulose e a subseqüente fermentação da

glicose e pentoses, respectivamente, são realizadas em reatores diferentes. Nesse

processo as etapas de hidrólise e fermentação são conduzidas em suas condições

ótimas, porém, apresenta a desvantagem do acúmulo de açúcares intermediários da

hidrólise, causando inibição às enzimas, e redução na conversão final de glicose,

devido à adsorção de parte do açúcar no sólido residual da hidrólise (Figura 13)

(CASTRO e PEREIRA, 2010).

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Figura 13 – Esquema simplificado do SHF.

Fonte: (HAMELINCK, et al.,2005).

SSF – Sacarificação e Fermentação Simultânea

Como o nome indica, a hidrólise da celulose e a fermentação da glicose são

realizadas no mesmo reator, no entanto, a fermentação das pentoses continua se

processando em reator separado. O processo SSF contribui com menor custo de

investimento a planta (projeto), visto que nele são agrupadas duas etapas em um

mesmo recipiente reacional. Nessa forma de condução, as enzimas são menos

passíveis de inibição pelos produtos de hidrólise, pois a glicose liberada é

concomitantemente fermentada. A manutenção de uma baixa concentração de

glicose no meio também favorece o equilíbrio das demais reações de hidrólise, no

sentido de formação de mais produto, além de reduzir riscos de contaminação no

sistema (Figura 14) (CASTRO e PEREIRA, 2010).

Figura 14 – Esquema simplificado do SSF.

Fonte: (HAMELINCK, et al.,2005).

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SSCF – Sacarificação e Cofermentação Simultânea

Representa um aumento da integração em relação à SSF, já que a

fermentação das pentoses e da glicose ocorre no mesmo reator. Este processo

consolida a hidrólise da celulose e xilana, produzindo glicose e xilose,

respectivamente, com a fermentação direta. Isto reduz o número de reatores

envolvido e evita problemas de inibição do produto associado com as enzimas: a

presença de glicose e xilose inibem a hidrólise, Figura 15 (HAMELINCK et al., 2005).

Figura 15 – Esquema simplificado do SSCF.

Fonte: (HAMELINCK, et al.,2005).

CBP – Bio Processamento Consolidado

O máximo de integração é atingido com essa rota, na qual todas as

operações de caráter biológico, inclusive a produção de enzimas são realizados

simultaneamente. No bio processamento consolidado todas as enzimas requeridas

são produzidas por um único reator. A aplicação do CBP não implica nenhum capital

ou custo operando na produção de enzimas, Figura 16 (HAMELINK et al., 2005).

Figura 16 – Esquema simplificado do CBP.

Fonte: (HAMELINCK, et al.,2005).

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2.6 Usinas de Etanol Celulósico, uma Realidade

A evolução das pesquisas em biocombustíveis de segunda geração citados

até agora começa a produzir grandes projetos globais, que atendem às

especificidades e potencialidades locais e gradativamente transformam em realidade

os avanços esperados das novas tecnologias depois de anos de árduas pesquisas.

Depois de muitos investimentos em novas tecnologias, rotas e processos, estudos e

a implantação de novas usinas nos mostram que o etanol de segunda geração está

realmente próximo. Um Relatório da Bloomberg New Energy Finance realizado

através da coleta de dados e previsões de custos de produção junto a onze grupos

empresariais que estão tomando a frente em pesquisa e desenvolvimento de EG2

no mundo indica que o etanol celulósico pode se tornar competitivo em menos de

cinco anos, podendo deixar de ser uma perspectiva e se tornar em breve uma

tecnologia disponível a preço competitivo (BARBOSA, 2013).

Pelo estudo, o preço do álcool produzido a partir de resíduos agrícolas, como

o bagaço, palhas e outros tipos de biomassa, tem chances de se tornar mais

competitivo em relação às fontes convencionais de bicombustível já a partir de 2016.

Segundo a análise, em 2012, o custo da produção de EG2 foi de US$0,94 (R$ 1,84)

por cada litro, cerca de 40% a mais que os US$ 0,67 (R$1,31) gastos na produção

da mesma quantidade de etanol de milho, fonte que domina o mercado de

biocombustível nos Estados Unidos, competindo diretamente com a gasolina.

Os maiores elementos de custo para os produtores de etanol celulósico, em

2012, ainda de acordo com o estudo, foram despesas com matéria-prima e enzimas.

Todas as empresas que estão à frente no desenvolvimento usam uma mesma

técnica, chamada de hidrólise enzimática, para quebrar e converter a celulose da

matéria residual, e também a etapa de fermentação que dá origem ao etanol.

Em contrapartida, os custos operacionais do processo caíram

significativamente desde 2008, devido aos avanços da tecnologia. Para se ter uma

ideia, o custo da enzima para produzir um litro de EG2 caiu 72% entre 2008 e 2012.

De acordo com o estudo, existem 14 projetos-piloto de hidrólise enzimática

em curso no mundo; nove empresas em estágio de demonstração, e 10 plantas de

escala semi-comercial em implantação ou previstas para breve, cinco delas estão

localizadas nos EUA.

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Devido à economia de escala e redução do preço de instalação das plantas

nos próximos anos, ainda de acordo com a Bloomberg, a expectativa é que o

investimento inicial por litro instalado deverá cair dos atuais US$ 3 para US$ 2 em

2016. Uma mudança com poder de acelerar a revolução do etanol de segunda

geração (BARBOSA, 2013).

2.6.1 Projetos em Andamento

Vários governos e entidades privadas estão financiando novas usinas para

produção de etanol de segunda geração, integrado ao processo de produção de

etanol de primeira geração ou não, ou renovando plantas já existentes preparando-

as para essa nova tecnologia visando a otimização da produtividade (CTBE, 2012).

Hoje esse é o caso da Itália, que antecipando a demanda mundial e utilizando

tecnologia de ponta, agora é a sede da maior usina de etanol celulósico do mundo.

Uma iniciativa da empresa Beta Renewables, líder global em biocombustíveis de

segunda geração e parte do Grupo Mossi & Ghisolfi, e da maior produtora mundial

de enzimas industriais, a dinamarquesa Novozymes, que com a parceria busca

ajudar a reduzir a emissão de Gases do Efeito Estufa (GEEs), além de estimular a

economia e garantir segurança energética (PETRONOTICIAS, 2013). De acordo

com o Jornal Cana (2013) a usina foi inaugurada oficialmente em outubro perto da

cidade de Crescentino (Figura 17), no norte do país, e conta com uma estrutura com

capacidade para produzir 75 milhões de litros de etanol celulósico por ano, utilizando

como matéria-prima a palha de trigo, palha de arroz e uma espécie de cana gigante

conhecida como cana-do-reino. A usina contou com um investimento de mais de

US$ 200 milhões no projeto desde 2011, especialmente para desenvolver a

tecnologia utilizada para tornar possível a produção de etanol celulósico (UOL,

2013). Em entrevista o CEO da Novozymes, Peder Holk Nielsen, afirma que ―Nessa

planta, com nossa tecnologia enzimática embarcada, nós transformaremos resíduos

agrícolas em milhões de litros de combustível verde de baixa emissão de gases,

provando que o etanol celulósico não é mais um sonho. Ele está aqui, está

acontecendo e está pronto para venda‖ (NOVOZYMES, 2013).

De acordo com o site da Novozymes (2013), a indústria italiana terá uma

produção elétrica de 13 MW, produzida totalmente a partir da lignina, tornando-se

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auto suficiente em consumo de energia, contará também com 100% de reutilização

de água e 90% de redução nas emissões de gases de efeito estufa.

Figura 17 – Foto aérea da maior Usina de etanol celulósico do mundo, na cidade de Crescentino, Itália.

Fonte: (UOL, 2013)

A mesma tecnologia em uso na usina italiana será utilizada na primeira usina

brasileira de etanol celulósico de porte comercial, no estado de Alagoas (UNICA,

2012). A estrutura, que está sendo construída pela empresa brasileira GraalBio, tem

sua inauguração programada para a primeira metade de 2014 e vai produzir etanol

celulósico a partir de palha de cana-de-açúcar, adquirida de usinas de

processamento de cana da região. Este projeto representa um grande avanço para o

Brasil porque o coloca entre os países pioneiros que já tem planos concretos de

utilização dessa tecnologia.

A usina brasileira já iniciará suas atividades com uma produção equivalente a

unidades de primeira geração, cerca de 82 milhões de litros/ano, o que estimulará

outras empresas de grande porte do setor a seguir caminhos similares. Este é o

primeiro passo para a integração da segunda geração na cadeia produtiva do País.

O projeto brasileiro, assim como o italiano, contou com altos valores de

financiamentos para acelerar o desenvolvimento em escala comercial do etanol de

segunda geração, do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES) que vai investir ao todo R$ 600 milhões na usina pioneira da GraalBio

(Folha de S. Paulo, 2013). Além disso, o Banco abriu uma linha de crédito em 2012,

que vem sendo utilizada por diversas empresas ativas no desenvolvimento de

tecnologias para a produção de biocombustíveis de segunda geração.

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De acordo com a Energia Hoje (2013), o BNDES também financiará primeira

unidade integrada de etanol de segunda geração do mundo. A Usina que será

instalada em Piracicaba (SP) A receberá financiamento de R$ 207,7 milhões para a

construção de uma unidade de produção de etanol de 2ª geração (2G) a partir da

biomassa da cana-de-açúcar. Será o primeiro projeto no mundo que utilizará

tecnologias para conversão do bagaço e da palha da cana em escala industrial

totalmente integradas ao processo de etanol convencional, obtido a partir do caldo

da cana-de-açúcar (1G). O empreendimento será realizado em um prazo de dois

anos a partir do segundo semestre de 2013 e os recursos serão desembolsados por

meio do BNDES PSI Projetos Transformadores e da linha Investimentos Sociais. Os

empreendimentos apoiáveis pelo programa são aqueles com elevada capacidade

tecnológica e produtiva em setores de alta intensidade de conhecimento e

engenharia, e que induzam encadeamentos e ganhos de produtividade e qualidade.

Ainda de acordo com a notícia, a nova unidade industrial será construída na

Usina Costa Pinto, em Piracicaba (SP), e terá capacidade anual de produção de

etanol 2G de 40 milhões de litros. O empreendimento é de propriedade da Raízen

Energia, uma associação entre a Cosan, grupo brasileiro de energia e infraestrutura,

e a Shell. Na nova usina, o processo produtivo de etanol 2G será integrado ao

processo de produção de etanol 1G e englobará as seguintes etapas: (1) pré-

tratamento; (2) hidrólise enzimática; (3) fermentação; e (4) purificação. As duas

últimas tecnologias já são utilizadas em escala comercial na produção do etanol de

primeira geração, enquanto as duas primeiras serão desenvolvidas com base nos

testes realizados por parceiros tecnológicos no Brasil e no exterior.

Além destas operações, o BNDES já aprovou financiamento a outros quatro

projetos destinados ao desenvolvimento de Etanol 2G, no valor total de R$ 991

milhões, todos eles no âmbito do Plano Conjunto BNDES-Finep de Apoio à Inovação

Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico – PAISS

(ENERGIA HOJE, 2013).

No dia 23 de Janeiro, um acordo entre a CTC ­ Centro de Tecnologia

Canavieira, de Piracicaba (SP), e a Usina São Manoel, em São Manoel – SP firmou

a parceria para construção de uma planta em escala de demonstração para

produção de etanol celulósico, a qual terá capacidade instalada de produzir 3

milhões de litros de etanol, antes de se avançar para a etapa industrial (ÚNICA,

2013). Em 2008, o processo desenvolvido pelo CTC para se obter etanol celulósico

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da cana foi patenteado, por representar uma diferença estratégica em relação aos

métodos adotados por outras empresas que estão na corrida da pesquisa com

etanol de segunda geração no país. O processo de hidrólise enzimática da celulose

presente no bagaço e na palha será completamente integrado à estrutura existente

da usina. Para tanto foi necessário conduzir negociações com as principais

empresas internacionais fornecedoras das enzimas, imprescindíveis para este

processo. Além de reduzir custos, essa integração se torna uma alternativa para

solucionar o problema da capacidade ociosa da fermentação e da destilaria, dois

setores da usina que geralmente se encontram em nível próximo de 30% de

paralisação devido à flexibilidade das usinas para direcionarem a produção ora para

o açúcar, ora para o etanol. Assim, com o etanol de segunda geração agregado

numa usina, consegue-se utilizar o potencial da área de fermentação e destilaria

para obter um combustível mais barato. O projeto, que vem sendo desenvolvido pelo

CTC com recursos próprios desde 2007, contará com parte dos R$ 350 milhões,

provindos do já citado Projeto PAISS, com financiamento do BNDES e da FINEP. A

planta deverá estar pronta para operação em meados de 2014, com a meta de que a

unidade permaneça em fase de demonstração durante 12 a 18 meses. O projeto do

CTC tem dois grandes diferenciais: ter sido desenvolvido especificamente para a

biomassa (bagaço e palha) da cana-de-açúcar e ser totalmente integrado com a

produção de etanol primeira geração já existente na usina. Dessa forma, o

investimento necessário é bem menor, assim como o custo de produção do etanol

de segunda geração. Segundo o CTC, a Usina São Manoel foi escolhida por seu

histórico de inovação e excelência, assim como sua adequação técnica às

necessidades do projeto (Revista Dinheiro Rural, 2013). O CTC, Centro e

Tecnologia Canavieira, atua há mais de 40 anos no desenvolvimento de tecnologias

inovadoras para o setor canavieiro. As pesquisas abrangem os elos da cadeia

produtiva de cana-de-açúcar, álcool, açúcar e bioenergia, permitindo agregar valor

às diversas etapas do processo e contribuindo com a evolução equilibrada do setor.

Espera-se que em 2015 seja a vez da tecnologia do etanol de segunda

geração da Petrobras chegar aos postos de combustíveis. A empresa brasileira de

capital aberto fundada por Getúlio Vargas e cujo acionista majoritário é o Governo

do Brasil, optou pelo desenvolvimento próprio da tecnologia por considerar

estratégico liderar e ter o domínio do processo de produção e a busca de parcerias

em algumas etapas. O etanol celulósico produzido pela Petrobras em caráter

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experimental foi utilizado pela primeira vez no Brasil em junho de 2012, em uma

frota com 40 minivans que transportou oito mil conferencistas durante a Rio+20 -

Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. De forma

pioneira, a Petrobras produziu em parceria com a KL Energy 80 mil litros de etanol

de segunda geração em planta de demonstração para atender a conferência,

atingindo o patamar de 300 litros de etanol por tonelada de bagaço de cana (UNICA,

2013). A empresa cuja parceria bem sucedida foi firmada, a KL Energy Corp.

(KLEG.PK), é uma líder no desenvolvimento e comercialização de produtos

energéticos de segunda geração à base de celulose, entre os quais o etanol, a bio-

lignina e produtos químicos intermediários. A instalação de demonstração comercial

da KLE em Upton, estado de Wyoming (EUA) é uma das primeiras instalações de

demonstração de seu tipo a produzir etanol de celulose e produtos de bio-lignina a

partir de resíduos de madeira. Ela utiliza um processo proprietário de pré-tratamento

termo-mecânico e hidrólise enzimática cuja tecnologia pode ser adaptada para

utilizar diversas matérias-primas (KL Energy, 2010).

Ainda no setor de novas tecnologias, a empresa metalúrgica brasileira Dedini,

uma tradicional fabricante de equipamentos sucroalcooleiros (atualmente o maior do

mundo em equipamentos para açúcar e álcool), desenvolveu um promissor processo

de hidrólise com utilização de ácido e solvente. Um dos motivos é que a aplicação

da hidrólise ao bagaço de cana excedente possibilitaria ampliar de forma substancial

a produção de álcool, interesse de todos os produtores sucroalcooleiros e, por

conseguinte, as vendas de equipamentos da companhia (DHR, 2009). O processo

desenvolvido pela empresa recebeu o nome DHR: Dedini Hidrólise Rápida. O

mesmo visa à obtenção de álcool a partir do bagaço de cana, apresentando

características diferentes dos processos primordiais, pois no processo utilizado pela

empresa brasileira utiliza-se solvente orgânico e não ácido (DHR, 2009). A

metalúrgica iniciou e comprovou a viabilidade do projeto utilizando um piloto com a

capacidade de gerar 100 litros de álcool/dia, posteriormente esta planta foi instalada

no Centro de Tecnologia Coopersucar (CTC). Com a viabilidade do projeto, um novo

acordo foi assinado e em 2002 foi aprovado um projeto em conjunto Dedini-

Copersucar-Fapesp (Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado de São Paulo), para

implantar uma unidade Industrial de 5000 litros de álcool/dia, para executar a etapa

de hidrólise. Esta planta esta hoje instalada e integrada na Usina de São Luis,

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Pirassununga, SP, do grupo Dedini, a qual utiliza as etapas de fermentação e

destilação existentes (Figura 18).

Figura 18 – Planta instalada na Usina de São Luís, Pirassununga, SP.

Fonte: (DHR, 2009)

O processo DHR alimenta um reator com bagaço pela parte superior,

recebendo pela parte de baixo uma mistura aquecida de água, ácido sulfúrico e um

solvente de lignina, o etanol. Os fluxos se encontram na parte média do reator, de

onde é retirada e imediatamente resfriada (flash) com uma solução levemente ácida

com alto teor de açúcares. Essa solução é, na sequência, neutralizada com cal.

Essa pressão dissolve a lignina e permite recuperar os açúcares em mais ou menos

15 minutos, antes de se iniciar a degradação, com alto rendimento. O rendimento de

sacarificação chega a 88%, mas, segundo dados da literatura poderão elevar-se a

92%. O etanol com a lignina é retirado, sendo este último, retido em filtro prensa,

com possível uso como combustível nas caldeiras da usina (Figura 19).

Figura 19 – Amostras de bagaço ―in natura‖(1), hidrolisado do reator (2), hidrolisado da coluna de recuperação do solvente (3) e bioetanol DHR (4).

Fonte: (DHR, 2009)

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Em termos econômicos (considerando o uso do bagaço e a palha da cana-de-

açúcar), o resultado é bastante significativo, pois, no sistema atual de obtenção de

etanol, cada hectare cultivado oferece, em média, 80 toneladas de cana limpa para o

processo. Cada tonelada permite a obtenção de 80 litros de etanol hidratado.

Portanto, são obtidos 6,4 mil litros por hectare. De acordo com a empresa, com o

uso intensivo do DHR, aproveitando bagaço e palha, é possível obter mais 5,6 mil

litros de álcool por hectare cultivado, que gera 96 toneladas de cana integral. Sendo

assim, as usinas poderão praticamente dobrar a produção sem ampliar sequer um

metro quadrado de área plantada. Além disso, será possível direcionar mais caldo

de cana para a fabricação de açúcar, sem reduzir a oferta de álcool (DHR, 2009). A

Figura 20 mostra um diagrama de blocos do processo DHR. Após a implantação e a

completa viabilidade do processo DHR e sua integração nas usinas, as empresas

associadas Dedini, Coopersucar e FAPESP, estarão disponibilizando ao mercado

toda a tecnologia empregada (DHR, 2009).

Figura 20 – Diagrama de Blocos do processo DHR

Fonte: (Adaptado de DHR, 2009)

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Conclusão

O aumento da população mundial, aliada a problemas advindos da poluição,

exigem esforços a fim de encontrar alternativas renováveis de energia para suprir

essa demanda sem piorar a situação climática. Uma forma neste contexto dos

governos apresentarem propostas sustentáveis é através da implantação de

mecanismos de desenvolvimento limpo, possibilitando a redução dos gases

causadores do efeito estufa, uma vez que as maiores cidades do planeta já sofrem

por problemas causados pela poluição nos dias atuais.

O etanol brasileiro se encaixa perfeitamente neste cenário, já que o

biocombustível oriundo da cana-de-açúcar é renovável, pois há o sequestro de

carbono da atmosfera durante o desenvolvimento da planta, neutralizando as

emissões. Isso torna imprescindível o avanço de tecnologias e processos que

possibilitem o incremento da produção de etanol, pois há a expectativa de que,

influenciados pelo exemplo do Brasil, outros países com grandes perspectivas de

crescimento venham a adotar políticas de adição obrigatória de etanol à gasolina,

assim como incentivar à venda de carros flex, fazendo com que seja necessário

aumentar a produção do biocombustível sem aumentar a área plantada, evitando

concorrer com áreas utilizadas para a produção de alimentos, a fim de tornar o país

um exportador de energias renováveis e suprir um mercado consumidor potencial.

Países emergentes como China, cuja maior parte das grandes cidades já enfrenta

um grave problema de poluição, e a Índia, que já aprovou a adição de 5% de etanol

à gasolina no país, podem representar um gigante mercado promissor de

exportações de energias renováveis, além de servirem de exemplo para os outros

membros do BRIC‘s. Além disso, o próprio mercado consumidor brasileiro está em

alta, demandando o aumento de produção de etanol para suprir suas necessidades.

O bagaço da cana-de-açúcar é um resíduo abundante da produção

sucroalcoleira, pois possui alta concentração de carboidratos e está disponível em

grande quantidade, além de ser de baixo custo. Porém o grande dilema da produção

de etanol de segunda geração em larga escala, como foi mostrado no trabalho

apresentado, é a decisão quanto às possíveis etapas de pré-tratamento, assim como

a etapa de hidrólise, e a escolha do microrganismo e sua inserção na etapa de

fermentação. Com o avanço de tecnologias promissoras e empregadas em larga

escala, que permitem a quebra da ligação entre suas partes constituintes (celulose,

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hemicelulose e lignina), esta biomassa se apresenta como uma fonte viável para

aumentar a produção de etanol, suprindo a demanda dos mercados nacionais e

internacionais, sem ser dependente da produção de alimentos para sua

industrialização e nem da expansão da área plantada com cana-de-açúcar. Métodos

como o DHR (Dedini Hidrólise Rápida) já são realidade, e permitem dobrar a

produção de etanol sem sequer precisar de um metro quadrado a mais de área

plantada. Porém o passo crucial para o desenvolvimento do etanol celulósico é a

descoberta de microrganismos capazes de hidrolisar tanto a celulose quanto a

pentose, que possuam alta atividade enzimática mesmo em baixas concentrações

de proteínas, e que, além disso, possibilitem a integração das etapas de produção

enzimática, sacarificação e fermentação, mediante o emprego de microrganismos

celulolíticos e outros etanologênicos, ou mediantes um único microrganismo com

ambas as propriedades. As enzimas de bactérias termófilas parecem ser eficazes

para este fim, pois podem suportar temperaturas de até 80ºC, similares às existentes

em biorrefinarias, sem perder a atividade. A indústria de enzimas e centros de

pesquisas estão na busca por microrganismos mais resistentes, novas linhagens e

coquetéis específicos, a fim de baratear os custos desta etapa, que hoje é a mais

cara e crítica do processo. Tal descoberta possui antecipará a revolução do etanol

de segunda geração.

Com todas essas considerações e no estudo realizado para compor este

trabalho, pode-se concluir que o aproveitamento de materiais lignocelulósicos

permite direcionar mais caldo de cana para a fabricação de açúcar, sem reduzir a

oferta de álcool combustível, além de promover a utilização da lignina isolada da

biomassa para queima direta nas caldeiras, gerando energia elétrica e vapor. Assim

é possível conduzir um processo tecnológico mais competitivo, que integre uma

produção eficiente de açúcar, etanol e eletricidade a partir do caldo, do bagaço e da

palha da cana, suprindo a demanda do mercado interno e promovendo o

abastecimento do provável mercado externo dos biocombustíveis. Para alcançar

este cenário, é imprescindível manter parcerias entre entidades e grupos de

pesquisas com grandes empresas privadas, a fim de perpetuar as usinas e projetos

já existentes, e aperfeiçoar tanto os pré-tratamentos quanto os microrganismos e a

hidrólise, para que a produção de etanol a partir do bagaço de cana tenha um custo

competitivo e um rendimento favorável em relação ao etanol produzido a partir do

caldo, tornando o etanol de segunda geração uma realidade.

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