et-018 enos feitosa de araujo
TRANSCRIPT
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
1/15
AS POLTICAS PBLICAS E O TURISMO LITORNEO NA REGIOMETROPOLITANA DE FORTALEZA - CEAR
Enos Feitosa de AraujoMestrando em Geografia UFC
Universidade Federal do Cear
Eustgio Wanderley Correia Dantas
Professor Associado I
Universidade Federal do [email protected]
RESUMO
Este trabalho resulta de estudos realizados no Laboratrio de Planejamento Urbano
e Regional no Departamento de Geografia, inserido no Ncleo Fortaleza do projetonacional: Observatrio das Metrpoles: Territrio, Coeso Social e Governana. Alinha de pesquisa que este trabalho se insere o estudo comparativo sobre o papeldas atividades imobilirio-tursticas na transformao do espao social dasmetrpoles nordestinas que objetiva as anlises tursticas na produo dos espaoslitorneos metropolitanos do Nordeste brasileiro pelo vis do mercado imobilirio,investimentos pblicos e privados e polticas pblicas direcionadas ao planejamentoturstico. A Regio Metropolitana de Fortaleza uma destas metrpoles que sedestacam no contexto nordestino quanto s atividades tursticas. A RMF compostapor 15 municpios, dos quais 5 so litorneos e os fluxos tursticos metropolitanosconcentram-se principalmente nos municpios litorneos de Fortaleza, Aquiraz e
Caucaia, e os outros municpios litorneos de So Gonalo do Amarante e Cascavelpossuem menores fluxos que os primeiros, mas possuem relevncia no contextoturstico. Desta forma, a partir das anlises das polticas pblicas, os agentesimobilirios, os fluxos tursticos e as tipologias dos empreendimentos hoteleiros etursticos buscam-se a compreenso das relaes socioespaciais das atividadestursticas nos espaos litorneos metropolitanos de Fortaleza.
Palavras-Chave: Polticas pblicas. Regio Metropolitana. Turismo.
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
2/15
1. INTRODUO
O turismo uma das atividades mais importantes no contexto econmico do
Nordeste brasileiro. De tal forma, que segundo o Ministrio do Turismo (MTUR) a
Regio Nordeste teve receitas tursticas na ordem de R$ 14,0 bilhes no ano de
2010 e o estado do Cear destaca-se como um dos Estados com o montante de R$
3,9 bilhes (32% do total do NE). Este crescimento do fluxo turstico vincula-se aos
investimentos estatais, uma das foras motrizes do turismo no Nordeste brasileiro.
As polticas pblicas tursticas investem cerca de R$ 3 bilhes em todo o
Nordeste brasileiro, objetivando reduzir o dficit de infra-estrutura em quase em
todos os lugares tursticos geralmente litorneos devido concentrao dosequipamentos urbanos nas principais cidades como capitais estaduais e outras
cidades tradicionais vinculado ao comrcio, atividade porturia, entre outros.
Os principal programa o Programa de Desenvolvimento do Turismo na
Regio Nordeste (PRODETUR/NE) que se constitui em 2 fases, intitulado
PRODETUR I e PRODETUR II. O PRODETUR NACIONAL, que seria a terceira fase
do projeto, tem outros objetivos e ampliou sua abrangncia para mbito nacional,
com nfase do planejamento municipal, no mais com a lgica estadual.Esta nova conjuntura poltica privilegia os municpios litorneos
metropolitanos, j que a Regies Metropolitanas so plos econmicos
concentradores de investimentos pblicos e privados e assim, refora-se o papel da
metrpole na dinmica turstica, e por isto, a termologia de metropolizao
turstica. Vrios setores econmicos tradicionais vinculam-se a esta lgica, como o
setor hoteleiro, fundirio, imobilirio, servios, entre outros. Desta forma, o turismo
vincula-se a produo do espao metropolitano.
Neste trabalho, buscamos compreender a produo do espao litorneo
metropolitano e sua vinculao s atividades tursticas. Em primeiro plano,
discutiremos o planejamento turstico e as polticas pblicas com os respectivos
programas tursticos e a configurao territorial resultante destas aes e em
segundo plano, ampliaremos para a discusso das polticas pblicas atuais e
previstas e os investimentos privados para a compreenso dos agentes produtores
do espao litorneo metropolitano e em terceiro e ultimo plano, buscaremos
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
3/15
compreender os nveis intrametropolitanos tursticos de interao socioespacial dos
municpios litorneos metropolitanos.
2. PLANEJAMENTO TURSTICO: AS POLTICAS PBLICAS TURSTICAS NA
RMF
O planejamento turstico no Cear configurou-se como um importante vetor
estratgico para o desenvolvimento da atividade. Os anos 1980-1990 so marcados
por mudanas significativas no planejamento econmico estadual, e a priorizao do
turismo como uma das atividades econmicas a terem grandes volumes de
investimentos. Os principais programas tursticos constitudos so o Programa de
Desenvolvimento do Turismo no Litoral do Cear (PRODETURIS) e o Programa de
Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR).
Mas em que aspectos, o planejamento turstico e as polticas pblicas
conseguiram ter seus resultados? Os espaos litorneos tornaram-se prioritrios de
investimentos pelo Estado, em uma lgica mais ampla do que a esfera econmica,
mas cultural. Dantas (2002) acrescenta o imaginrio social formado a partir do sol
elemento negativo do perodo anterior que tem como principal elemento positivo
na atualidade, tanto que Fortaleza intitula-se como a cidade do sol.
Becker (2001) questiona o modelo de Cancun para o Nordeste brasileiro,j
que este tinha como principal caracterstica a menor participao estatal, e pelo que
iremos detalhar no prximo tpico, o Estado o principal agente que se
responsabiliza pela maior parte dos investimentos tursticos. Ento, temos um
turismo influenciado pelas polticas pblicas? Antes de detalharmos as polticas
pblicas, precisamos compreender a distino entre o planejamento turstico e as
polticas pblicas.
Desta forma, o planejamento promove um plano econmico e enquanto as
polticas pblicas promovem as estruturas fsicas em si. Ambas tm por finalidade,
o desenvolvimento econmico, cabendo ltima ter uma preocupao com a
insero da sociedade civil nos benefcios econmicos, sociais e ambientais da
atividade priorizada pelo planejamento.
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
4/15
No caso cearense, o planejamento turstico inicia-se no Governo das
Mudanas, com o pretexto de que esta atividade poderia inserir vrios municpios de
uma forma sustentvel e justa. O litoral o principal espao a ser relacionado com o
turismo, j que o sol e praia o principal slogan do turismo internacional. O Cear
com quase 600 km de litoral, seria facilmente inserido na lgica deste turismo.
As polticas pblicas (PRODETURIS, PRODETUR) iniciam em 1989, como
resultantes deste planejamento, porm, somente em 1997 que as obras do
PRODETUR iniciam-se. Mas com a conjuntura turstica j formada, os municpios
litorneos j participavam de uma rede de fluxos tursticos, com crescente demanda
internacional. Com esta distino entre o planejamento turstico e as obras das
polticas pblicas, como podemos mensurar a influncia dos investimentos na
construo dos espaos tursticos?
Desta forma, no prximo tpico detalharemos as polticas pblicas
direcionadas ao turismo como o PRODETURIS e o PRODETUR, e analisaremos as
influencias resultantes destes, na dinmica turstica cearense, e prioritamente, a
metropolitana.
2.1. AS POLTICAS PBLICAS TURSTICAS: PRODETURIS E PRODETUR
No Cear, existem basicamente dois programas tursticos: o PRODETURIS
de origem estadual, o PRODETUR em 2 fases: PRODETUR I e II e atualmente, o
PRODETUR NACIONAL. Mas qual a principal diferena entre os dois programas?
O primeiro baseava em relatrios analticos de planejamento, e enquanto o ultimo,
efetiva as aes de infra-estrutura.
O PRODETURIS um programa de escala estadual iniciado em 1989 que
zoneou o litoral cearense em zonas prioritrias de investimentos tursticos. Por falta
de recursos, o programa no conseguiu suas finalidades, porm, com o advento do
PRODETUR em 1991 de escala federal com aporte de US$ 800 milhes, os estudos
realizados pelo programa anterior so utilizados pelo PRODETUR.
Mas os recursos financeiros do PRODETUR so destinados metrpole de
Fortaleza e os municpios do Litoral Oeste cearense. Segundo Benevides (1998) aconcentrao de investimentos no oeste cearense se deveu: a) um considervel
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
5/15
contingente populacional; b) o maior nmero de localidades litorneas; c) a estrutura
fundiria formada de mdias e pequenas propriedades; d) a ocupao dispersa, e
por isto, as reas entre o litoral e a BR-222 poderiam ser utilizadas para reas
ambientais e expanso econmica.
Os recursos financeiros oriundos do PRODETUR foram basicamente de infra-
estrutura bsica (construo e ampliao de aeroportos, construo e/ou ampliao
de vias rodovirias, recuperao de patrimnio ambiental e histrico, a implantao
de Planos Diretores Municipais, entre outros eixos) e fortalecimento institucional
(planos e planejamentos municipais e estaduais). Mas em que nvel, as polticas
pblicas tursticas intervm no fluxo turstico?
Mas como as polticas pblicas tursticas influenciam o fluxo turstico na RMF
e na metrpole Fortaleza? No prximo subtpico, iremos detalhar as polticas
pblicas direcionadas ao turismo no Estado do Cear e a relao das novas
dinmicas resultantes, priorizando as anlises na Regio Metropolitana de Fortaleza.
2.1.1. PRODETUR I
O PRODETUR I criado em 29 de novembro de 1991, pela portaria conjunta
1, pela SUDENE e EMBRATUR , sendo resultados dos esforos dos governos
nordestinos para a prioridade do turismo como principal vetor econmico da regio.
No caso cearense, o PRODETUR baseia-se nos relatrios e concluses do
PRODETURIS, um programa de iniciativa estadual criado em 1989. Por isto, a
primeira etapa do PRODETUR prioriza os investimentos em infra-estrutura, e
principalmente na cidade de Fortaleza e nos municpios do litoral oeste cearense, ou
intitulado de Costa de Sol Poente. A concentrao nesta zona deve-se falta de
infra-estrutura em relao ao turismo, j que o litoral leste por conjugar uma rea de
expanso urbana de Fortaleza, recebe mais investimentos tanto de origem pblica
estadual e privada.
O mapa a seguir mostra os investimentos por municpio do Cear, para
facilitarmos a compreenso da distribuio.
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
6/15
Mapa 1 Investimentos do PRODETUR I no Cear
O PRODETUR I investe cerca de R$ 340 milhes no estado do Cear, sendo
que somente em Fortaleza, este volume de quase R$ 183 milhes (54% do total).
Na Regio Metropolitana de Fortaleza, trs municpios so contemplados: Fortaleza,
Caucaia e So Gonalo do Amarante, que juntos, concentram a quantia de R$ 252
milhes (cerca de 74,5% do total), e os demais municipios, todos litorneos do litoral
oeste, Trairi, Paracuru, Paraipaba e Itapipoca, completam com R$ 88 milhes
(25,5% do total).
Os investimentos do PRODETUR I no Cear so: a) a ampliao do
Aeroporto Pinto Martins com R$ 183 milhes (54% do total); b) as vias rodovirias
com R$ 47 milhes (14% do total); c) saneamento bsico com R$ 79,2 milhes
(23,3% do total) e d) proteo e recuperao ambiental com R$ 12,5 milhes (3,67%
do total). Estas principais aes so imprescindveis para o desenvolvimento
turstico em outros municpios no metropolitanos.
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
7/15
2.1.2. PRODETUR II
O PRODETUR II inicia-se oficialmente em 2004, com investimentos de cerca
de US$ 400 milhes. Este programa visa complementar os investimentos e
municpios no contemplados na etapa anterior. O Cear tem participao deste
montante em cerca de US$ 80 milhes (R$ 153 milhes).
Os municpios do PRODETUR II so Fortaleza, Caucaia, So Gonalo do
Amarante, Itapipoca, Paracuru, Paraipaba e Trairi (contemplados pelo PRODETUR
I), Aquiraz (leste da RMF) e os municipios do litoral oeste: Acara, Amontada,
Barroquinha, Camocim, Chaval, Cruz, Granja, Itarema, Jijoca de Jericoacoara e
Viosa do Cear.
Todos os municpios litorneos do litoral Oeste cearense recebem recursos
do PRODETUR II, inclusive os municpios no litorneos de Granja e Viosa do
Cear. A CE -085 (Via Estruturante) recebem recursos para sua ampliao at
Granja, no objetivo de facilitar o fluxo em todo o litoral cearense. Mas existe
diferena das lgicas de investimentos do PRODETUR I para o PRODETUR II?
Grosso modo, o PRODETUR II segue a mesma lgica operacional do
PRODETUR I, pois, 82,60% dos investimentos concentrarem-se na construo e
ampliao de vias rodovirias, temos um direcionamento esfera municipal: a) a
capacitao profissional turstica; b) fortalecimento institucional das secretarias
municipais; c) a implantao de Planos Diretores de Desenvolvimento Urbano
(PDDUs). A elaborao de projetos cartogrficos do litoral cearense e urbanizao
da orla martima de So Gonalo do Amarante so outras aes relevantes neste
programa.
Na lgica operacional do PRODETUR II temos a maior demanda do governo
estadual, que apresentou 37% de todos os recursos contra 19% do PRODETUR I. E
os outros municpios litorneos no contemplados pelo PRODETUR I recebem
grande parte dos investimentos, como o de Amontada com R$ 52,0 milhes, Granja
com R$ 28,3 milhes e Itarema com R$ 21,8 milhes.
Desta forma, o litoral oeste planejado: inicialmente pelo PRODETUR I com
infra-estrutura de transportes e saneamento bsico, e posteriormente, pelo
PRODETUR II com mais vias rodovirias, capacitao profissional e fortalecimento
institucional no intuito de auxiliar o desenvolvimento turstico. O mapa abaixo mostraos municpios que receberam estes recursos provenientes do PRODETUR II.
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
8/15
Mapa 2 Investimentos do PRODETUR II no Cear
Apesar de considerarmos os investimentos uma varivel relevante na
consolidao das atividades tursticas, as polticas pblicas per sidesenvolvem o
turismo? No so necessrios outros agentes e/ou outras articulaes polticas e/ou
socioeconmicas? Compreendemos que os investimentos so responsveis pela
atrao e consolidao dos lugares tursticos, no a explicao de eventuais fluxos.Pois, o turismo cearense j tinha fluxos considerveis, antes das obras do
PRODETUR em 1997, o que prova que o planejamento turstico no se resume
apenas em obras, mas em outras variveis: a mudana de imaginrio social
juntamente com publicidade e propaganda turstica, o zoneamento e loteamento de
reas a serem planejadas como os ncleos pesqueiros e a abertura econmica
atravs de medidas menos burocrticas para atrao de turistas nacionais e
estrangeiros.
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
9/15
Esta conjuntura econmica do Estado explicada por Santos (2006) com os
fixos e fluxos, pois, os fixos so equipamentos fsicos que so essenciais para que
os fluxos sejam consolidados. Em suma, o atual territrio metropolitano constitudo
de redes com mltiplas variveis (econmicas, sociais, culturais) e que o
planejamento acompanha esta lgica capitalista atual. Desta forma, o turismo um
importante vetor estratgico para o desenvolvimento econmico do Cear e da RMF.
2.1.3. PRODETUR NACIONAL
O Prodetur Nacional o ultimo programa de escala federal iniciado em 2009 e
passa por algumas modificaes ao longo do ano de 2010. Finalmente no ano de2011, o Prodetur Nacional passa por reformulaes mais precisas para que os
investimentos sejam efetivados. O programa reserva cerca de US$ 1 bilho para
todos os Estados, Distrito Federal e qualquer cidade acima de 1 milho de
habitantes. Esta ltima caracterstica que diferencia das outras etapas, pois a
esfera municipal ganha maior fora no planejamento turstico.
Em outras palavras, os governos municipais tornam-se atores estratgicos
desta nova poltica pblica turstica, j que anteriormente somente o governoestadual tinha a legitimidade de planejar e distribuir os investimentos nos espaos.
Esta manobra de ampliao de escala (estadual para municipal) tornar os
investimentos e infra-estruturas mais eficazes e/ou melhores? Esta uma resposta
a ser respondida pelas mudanas que iniciaram-se a fazer.
Entre esta escala municipal e estadual, o Estado em si se destaca perante
os outros da Regio Nordeste. O Estado do Cear j tem garantido US$ 350
milhes, sendo US$ 250 milhes para o estado do Cear e US$ 100 milhes
exclusivamente para a cidade de Fortaleza, j que esta uma das sedes da Copa
do Mundo de futebol do ano de 2014.
O atual planejamento turstico modifica-se pela Copa do Mundo, promovendo
outras anlises geogrficas para a compreenso do espao turstico na Regio
Metropolitana de Fortaleza. Ser planejado uma cidade la modelo de Barcelona?
Nossas pesquisas posteriores iro acompanhar tais mudanas significativas nas
polticas pblicas.
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
10/15
O mapa a seguir mostra as previses dos investimentos pblicos do Prodetur
Nacional na Regio Nordeste:
3. UMA NOVA CONFIGURAO TERRITORIAL TURSTICA METROPOLITANA
As polticas pblicas tursticas nos espaos litorneos modificam a
configurao territorial cearense e antes de tudo, a metropolitana. Mas que
modificaes de fato, acontecem? Inicialmente, a cidade de Fortaleza tem o papel
de ser a metrpole, sendo o principal centro receptor e distribuidor de fluxo turstico,
e desta forma, a infra-estrutura urbana e equipamentos concentram-se em seu
tecido urbano. Em outras palavras, o turismo cearense irradia-se a partir da lgica
metropolitana de Fortaleza.
A sociedade atual tem por principal caracterstica a desigualdade econmica
e espacial. A Regio Metropolitana segundo Santos (2005) uma das reas
privilegiadas de investimentos e planejamentos estatais, porm, alerta que isto no
significa que o tecido metropolitano seja homogneo j que a metrpole concentra
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
11/15
grande parte de todos os recursos e outros servios relevantes. Desta forma,
pretendemos compreender os nveis intrametropolitanos tursticos, e assim, o
turismo na RMF e a sua relevncia no contexto cearense.
Neste trabalho preliminar sobre a produo do espao litorneo da RMF,
resolvemos inicialmente analisar trs variveis para compreendermos a dinmica
turstica: a) o numero de turistas dos anos 2002 a 2008; b) a evoluo e a tipologia
hoteleiro-imobiliria no mesmo perodo e c) os investimentos pblicos oriundos dos
programas tursticos supracitados.
3.1. O ESPAO TURSTICO DO LITORAL DA RMF: uma anlise preliminar
O espao metropolitano resultante de muitas variveis econmicas e
sociais, escalas temporais e a interveno estatal. O caso da Regio Metropolitana
de Fortaleza um reflexo desta conjuntura espao-temporal. A metrpole data de
1973, e temos a indstria como o principal vetor econmico de crescimento, e no
final dos anos 1980, o turismo apresenta-se como outro vetor relevante no
desenvolvimento econmico.
Como apresentado anteriormente, as polticas pblicas foram imprescindveis
para a ampliao dos fluxos tursticos. Dos cinco municpios litorneos
metropolitanos, apenas Cascavel (inserido na RMF no ano de 2009) no recebe
investimentos do PRODETUR.
Os investimentos nos municpios litorneos metropolitanos supracitados
explicam por si, os fluxos tursticos metropolitanos? Ou seja, quais nveis que as
polticas pblicas interferem na produo do espao turstico?
O Cear desde os anos 1990 tem um aumento significativo no numero de
turistas. Segundo a SETUR, em 1996 tivemos 773 mil turistas, e no ano de 2002, o
numero chega a 1.629.000, com um acrscimo de 111% em 6 anos. Destes
nmeros, destacamos o litoral da RMF como o principal plo turstico do Cear, pois
em 2002, tivemos 1, 041 milho, ou seja, os cinco municpios litorneos da RMF
foram responsveis por 64% de todo o fluxo cearense, e em 2008, este numero
chegou a 1, 303 milho de turistas, ou seja, 60% de todo o fluxo. Apesar de a
porcentagem ser menor, o aumento de turistas na RMF foi de 26% e o total do
Cear, 33%.
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
12/15
O litoral do Cear apresenta-se como o principal espao turstico com uma
grande influncia metropolitana, excetuando dois plos tursticos que possuem
fluxos relevantes: Aracati ao litoral leste e Jijoca de Jericoacoara ao litoral oeste.
Como se pode provar que a influncia metropolitana existe no turismo? Alm do
numero de turistas concentrarem-se no litoral da RMF, temos outra varivel que nos
d informaes sobre estes fluxos: os meios de hospedagem.
Porque a varivel do setor hoteleiro relevante? O turismo necessita de
infra-estrutura para o seu desenvolvimento, e isto significa as vias rodovirias,
saneamento bsico, e principalmente o setor hoteleiro, responsvel pelos servios
aos turistas, e conjuntamente os empregados que trabalham nesta cadeia turstica.
No ano de 2002, tnhamos a capital Fortaleza como o principal destino
turstico com 804 mil turistas e 173 meios de hospedagem, enquanto Aquiraz,
Caucaia e So Gonalo do Amarante tinham respectivamente 21,19 e 22 meios de
hospedagem com 68.502, 122.084 e 22.382 turistas. Percebe-se uma relevncia da
capital Fortaleza na infra-estrutura turstica e o destaque para Caucaia e Aquiraz,
enquanto So Gonalo do Amarante e Cascavel (em 2002, no era da RMF) tinham
menores fluxos tursticos.
No ano de 2009, temos mudanas significativas no contexto turstico e
metropolitano? Percebemos que Fortaleza apesar da reduo de fluxo turstico (804
mil em 2002 para 756 mil em 756 mil em 2008) em 6%, os meios de hospedagem
ampliam-se de 173 para 206. Mas seria o enfraquecimento da metrpole? De
forma alguma, o que percebemos uma expanso do espao turstico
metropolitano. Caucaia e Aquiraz consolidam o seu fluxo turstico com acrscimos
de 151% e 164%, respectivamente. E os meios de hospedagem dos respectivos
municpios tiveram um acrscimo de 63% e 62%.
Do que podemos compreender atravs destes nmeros? Apesar de termos
um considervel acrscimo em equipamentos hoteleiros, o numero insuficiente
para justificar um grande numero de turistas nos municpios litorneos
metropolitanos. Desta forma, compreendemos que a metrpole Fortaleza o ncleo
turstico da RMF por causa de sua infra-estrutura e outros servios. Em outras
palavras, os turistas fixam-se em Fortaleza, e passeiam as praias metropolitanas,
destacando-se as de Aquiraz e Caucaia. Ento, estas dinmicas de concentrao
turstica em Fortaleza e outros turistas que se hospedam nos prprios municpios,reforam o papel da metrpole no fluxo turstico cearense.
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
13/15
Mapa 4 Turistas e Meios de Hospedagem 2009
Em nossas anlises sobre os municpios litorneos tursticos da RMF,
compreendermos que no existem dinmicas nicas de fluxos tursticos, mas sim
vrias dinmicas: a) a valorizao litornea, por isto, o turismo predominantemente
litorneo; b) a dinmica da metrpole, ou seja, os turistas buscam lugares que
tenham relao com a metrpole, e assim, o cotidiano moderno com infra-estrutura e
seus servios; c) a dinmica intra-metropolitana atravs de sua expanso e fluxos
resultantes, como Aquiraz e Caucaia e d) as polticas pblicas que reforam o papelmetropolitano e concomitantemente, uma descentralizao ao longo dos municpios
litorneos no-metropolitanos.
Desta forma, este trabalho visa compreenso do espao litorneo
metropolitano de Fortaleza em sua amplitude, mas os resultados preliminares
obtidos no cessam a discusso das variveis j estudadas, mas entendermos que
a dinmica metropolitana mutvel e complexa, e por isto, a necessidade de outras
anlises na Regio Metropolitana de Fortaleza.
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
14/15
4. CONSIDERAES FINAIS
O planejamento turstico do Cear visou insero do litoral cearense em
uma nova lgica internacional e a RMF consolida como um plo econmico receptore distribuidor deste fluxo turstico. As polticas pblicas tursticas surgem como
aes definitivas para a implementao do turismo em quase todo o litoral cearense.
O litoral leste recebe investimentos do tesouro estadual e a iniciativa privada,
enquanto o litoral oeste recebe grande parte dos investimentos do PRODETUR.
Discutimos que este planejamento turstico foi alm dos planos e polticas
pblicas e se comportou como uma ideologia necessria para o desenvolvimento
cearense, desde o novo imaginrio social at os investimentos pblicos. As polticas
pblicas tornaram-se aes fsicas para a consolidao dos fixos e fluxos
necessrios para o desenvolvimento turstico, priorizando os municpios com dficit
de infra-estrutura.
De que forma, as polticas pblicas tornaram-se relevantes no fluxo turstico
da RMF? Percebemos que estas foram importantes, porm per sino explicam o
fluxo turstico existente, j que a dinmica intrametropolitana anterior s estas
polticas, e o papel da metrpole reforado pela infraestrutura j existente e
concomitantemente, o processo de ampliao do espao metropolitano ocorre.
Desta forma, a anlise das variveis (polticas pblicas, o numero de turistas
e meios de hospedagem) refora que o papel metropolitano relevante,
conjuntamente com a valorizao litornea em todos seus aspectos, sejam eles
culturais, sociais, econmicos e estratgicos. Em outras palavras, a compreenso
lato sensu do espao metropolitano complexo e dinmico, por isto, torna-se
necessrio o maior numero de variveis e elementos analticos.
Em suma, este trabalho visa iniciar a discusso sobre a produo do espao
litorneo metropolitano de Fortaleza e espera suscitar duvidas e crticas, no intuito
de consolidar uma discusso completa sobre a temtica abordada.
5. BIBLIOGRAFIA
ARAUJO,E.F; Dantas,E.W.C. Cumbuco: Enclave Turstico Em Caucaia-CE. In: 12
Encuentro de Gegrafos De Amrica Latina, 2009, Montevideo. Caminando En
Una Amrica Latina En Transformacin, 2009. V. 1. P. 1-15.
-
8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo
15/15
BANCO DO NORDESTE DO BRASIL. Relatrio final do PRODETUR NE. Braslia,2005.
BENEVIDES, I. P. Turismo e Prodetur: Dimenses e olhares em parceria,Fortaleza: Editora UFC, 1998.
BECKER, B. K. Polticas e planejamento do turismo no Brasil. Caderno Virtual deTurismo. vol 1 n 1. Rio de Janeiro, 2001, p.1-7.
BOYER, M. Histria do turismo de massa. Traduo de Viviane Ribeiro. Bauru SP: EDUSC,2003.
CUNHA, E.P.da; CUNHA, E.S.M. Polticas pblicas sociais. In: CARVALHO, A.
Polticas Pblicas. (orgs) [et al] . Belo Horizonte: UFMG, 2002.
DANTAS,E.W.C. Construo da imagem turstica de Fortaleza/Cear. Mercator.Ano 1 n 01. Fortaleza,2002b p.53-60.
________. Maritimidade nos trpicos: por uma geografia do litoral. Fortaleza:EdUFC,2009.
DANTAS,E.W.C; PEREIRA,A.Q; PANIZZA.A.C. Urbanizao litornea dasmetrpoles brasileiras nordestinas brasileiras: vilegiatura martima na Bahia,Pernambuco,Rio Grande do Norte e Cear,2008.
DE ROSE, A.T. Turismo: planejamento e marketing. So Paulo: Manole, 2002.
GOELDNER, C.R; RITCHIE, J.R.B; MCINTOSH, R.W. Turismo: princpios, prticase filosofias. Traduo de Roberto Cataldo Costa 8 ed Porto Alegre, Bookman,
2002.
MORAES, A.C.R. Contribuies para a gesto da zona costeira do Brasil:elementos para uma geografia do litoral brasileiro. So Paulo: Annablume,2007.
PETROCCHII, Mrio. Turismo: Planejamento e gesto - So Paulo: Futura, 1998
SECRETARIA DE TURISMO DO CEAR. Indicadores Tursticos do Turismo
Cear: 1995-2006. Fortaleza, 2007.
SECRETARIA DE TURISMO DO CEAR. Indicadores tursticos 2008. Fortaleza,2009.