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  • 8/6/2019 ET-018 Enos Feitosa de Araujo

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    AS POLTICAS PBLICAS E O TURISMO LITORNEO NA REGIOMETROPOLITANA DE FORTALEZA - CEAR

    Enos Feitosa de AraujoMestrando em Geografia UFC

    Universidade Federal do Cear

    [email protected]

    Eustgio Wanderley Correia Dantas

    Professor Associado I

    Universidade Federal do [email protected]

    RESUMO

    Este trabalho resulta de estudos realizados no Laboratrio de Planejamento Urbano

    e Regional no Departamento de Geografia, inserido no Ncleo Fortaleza do projetonacional: Observatrio das Metrpoles: Territrio, Coeso Social e Governana. Alinha de pesquisa que este trabalho se insere o estudo comparativo sobre o papeldas atividades imobilirio-tursticas na transformao do espao social dasmetrpoles nordestinas que objetiva as anlises tursticas na produo dos espaoslitorneos metropolitanos do Nordeste brasileiro pelo vis do mercado imobilirio,investimentos pblicos e privados e polticas pblicas direcionadas ao planejamentoturstico. A Regio Metropolitana de Fortaleza uma destas metrpoles que sedestacam no contexto nordestino quanto s atividades tursticas. A RMF compostapor 15 municpios, dos quais 5 so litorneos e os fluxos tursticos metropolitanosconcentram-se principalmente nos municpios litorneos de Fortaleza, Aquiraz e

    Caucaia, e os outros municpios litorneos de So Gonalo do Amarante e Cascavelpossuem menores fluxos que os primeiros, mas possuem relevncia no contextoturstico. Desta forma, a partir das anlises das polticas pblicas, os agentesimobilirios, os fluxos tursticos e as tipologias dos empreendimentos hoteleiros etursticos buscam-se a compreenso das relaes socioespaciais das atividadestursticas nos espaos litorneos metropolitanos de Fortaleza.

    Palavras-Chave: Polticas pblicas. Regio Metropolitana. Turismo.

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    1. INTRODUO

    O turismo uma das atividades mais importantes no contexto econmico do

    Nordeste brasileiro. De tal forma, que segundo o Ministrio do Turismo (MTUR) a

    Regio Nordeste teve receitas tursticas na ordem de R$ 14,0 bilhes no ano de

    2010 e o estado do Cear destaca-se como um dos Estados com o montante de R$

    3,9 bilhes (32% do total do NE). Este crescimento do fluxo turstico vincula-se aos

    investimentos estatais, uma das foras motrizes do turismo no Nordeste brasileiro.

    As polticas pblicas tursticas investem cerca de R$ 3 bilhes em todo o

    Nordeste brasileiro, objetivando reduzir o dficit de infra-estrutura em quase em

    todos os lugares tursticos geralmente litorneos devido concentrao dosequipamentos urbanos nas principais cidades como capitais estaduais e outras

    cidades tradicionais vinculado ao comrcio, atividade porturia, entre outros.

    Os principal programa o Programa de Desenvolvimento do Turismo na

    Regio Nordeste (PRODETUR/NE) que se constitui em 2 fases, intitulado

    PRODETUR I e PRODETUR II. O PRODETUR NACIONAL, que seria a terceira fase

    do projeto, tem outros objetivos e ampliou sua abrangncia para mbito nacional,

    com nfase do planejamento municipal, no mais com a lgica estadual.Esta nova conjuntura poltica privilegia os municpios litorneos

    metropolitanos, j que a Regies Metropolitanas so plos econmicos

    concentradores de investimentos pblicos e privados e assim, refora-se o papel da

    metrpole na dinmica turstica, e por isto, a termologia de metropolizao

    turstica. Vrios setores econmicos tradicionais vinculam-se a esta lgica, como o

    setor hoteleiro, fundirio, imobilirio, servios, entre outros. Desta forma, o turismo

    vincula-se a produo do espao metropolitano.

    Neste trabalho, buscamos compreender a produo do espao litorneo

    metropolitano e sua vinculao s atividades tursticas. Em primeiro plano,

    discutiremos o planejamento turstico e as polticas pblicas com os respectivos

    programas tursticos e a configurao territorial resultante destas aes e em

    segundo plano, ampliaremos para a discusso das polticas pblicas atuais e

    previstas e os investimentos privados para a compreenso dos agentes produtores

    do espao litorneo metropolitano e em terceiro e ultimo plano, buscaremos

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    compreender os nveis intrametropolitanos tursticos de interao socioespacial dos

    municpios litorneos metropolitanos.

    2. PLANEJAMENTO TURSTICO: AS POLTICAS PBLICAS TURSTICAS NA

    RMF

    O planejamento turstico no Cear configurou-se como um importante vetor

    estratgico para o desenvolvimento da atividade. Os anos 1980-1990 so marcados

    por mudanas significativas no planejamento econmico estadual, e a priorizao do

    turismo como uma das atividades econmicas a terem grandes volumes de

    investimentos. Os principais programas tursticos constitudos so o Programa de

    Desenvolvimento do Turismo no Litoral do Cear (PRODETURIS) e o Programa de

    Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR).

    Mas em que aspectos, o planejamento turstico e as polticas pblicas

    conseguiram ter seus resultados? Os espaos litorneos tornaram-se prioritrios de

    investimentos pelo Estado, em uma lgica mais ampla do que a esfera econmica,

    mas cultural. Dantas (2002) acrescenta o imaginrio social formado a partir do sol

    elemento negativo do perodo anterior que tem como principal elemento positivo

    na atualidade, tanto que Fortaleza intitula-se como a cidade do sol.

    Becker (2001) questiona o modelo de Cancun para o Nordeste brasileiro,j

    que este tinha como principal caracterstica a menor participao estatal, e pelo que

    iremos detalhar no prximo tpico, o Estado o principal agente que se

    responsabiliza pela maior parte dos investimentos tursticos. Ento, temos um

    turismo influenciado pelas polticas pblicas? Antes de detalharmos as polticas

    pblicas, precisamos compreender a distino entre o planejamento turstico e as

    polticas pblicas.

    Desta forma, o planejamento promove um plano econmico e enquanto as

    polticas pblicas promovem as estruturas fsicas em si. Ambas tm por finalidade,

    o desenvolvimento econmico, cabendo ltima ter uma preocupao com a

    insero da sociedade civil nos benefcios econmicos, sociais e ambientais da

    atividade priorizada pelo planejamento.

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    No caso cearense, o planejamento turstico inicia-se no Governo das

    Mudanas, com o pretexto de que esta atividade poderia inserir vrios municpios de

    uma forma sustentvel e justa. O litoral o principal espao a ser relacionado com o

    turismo, j que o sol e praia o principal slogan do turismo internacional. O Cear

    com quase 600 km de litoral, seria facilmente inserido na lgica deste turismo.

    As polticas pblicas (PRODETURIS, PRODETUR) iniciam em 1989, como

    resultantes deste planejamento, porm, somente em 1997 que as obras do

    PRODETUR iniciam-se. Mas com a conjuntura turstica j formada, os municpios

    litorneos j participavam de uma rede de fluxos tursticos, com crescente demanda

    internacional. Com esta distino entre o planejamento turstico e as obras das

    polticas pblicas, como podemos mensurar a influncia dos investimentos na

    construo dos espaos tursticos?

    Desta forma, no prximo tpico detalharemos as polticas pblicas

    direcionadas ao turismo como o PRODETURIS e o PRODETUR, e analisaremos as

    influencias resultantes destes, na dinmica turstica cearense, e prioritamente, a

    metropolitana.

    2.1. AS POLTICAS PBLICAS TURSTICAS: PRODETURIS E PRODETUR

    No Cear, existem basicamente dois programas tursticos: o PRODETURIS

    de origem estadual, o PRODETUR em 2 fases: PRODETUR I e II e atualmente, o

    PRODETUR NACIONAL. Mas qual a principal diferena entre os dois programas?

    O primeiro baseava em relatrios analticos de planejamento, e enquanto o ultimo,

    efetiva as aes de infra-estrutura.

    O PRODETURIS um programa de escala estadual iniciado em 1989 que

    zoneou o litoral cearense em zonas prioritrias de investimentos tursticos. Por falta

    de recursos, o programa no conseguiu suas finalidades, porm, com o advento do

    PRODETUR em 1991 de escala federal com aporte de US$ 800 milhes, os estudos

    realizados pelo programa anterior so utilizados pelo PRODETUR.

    Mas os recursos financeiros do PRODETUR so destinados metrpole de

    Fortaleza e os municpios do Litoral Oeste cearense. Segundo Benevides (1998) aconcentrao de investimentos no oeste cearense se deveu: a) um considervel

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    contingente populacional; b) o maior nmero de localidades litorneas; c) a estrutura

    fundiria formada de mdias e pequenas propriedades; d) a ocupao dispersa, e

    por isto, as reas entre o litoral e a BR-222 poderiam ser utilizadas para reas

    ambientais e expanso econmica.

    Os recursos financeiros oriundos do PRODETUR foram basicamente de infra-

    estrutura bsica (construo e ampliao de aeroportos, construo e/ou ampliao

    de vias rodovirias, recuperao de patrimnio ambiental e histrico, a implantao

    de Planos Diretores Municipais, entre outros eixos) e fortalecimento institucional

    (planos e planejamentos municipais e estaduais). Mas em que nvel, as polticas

    pblicas tursticas intervm no fluxo turstico?

    Mas como as polticas pblicas tursticas influenciam o fluxo turstico na RMF

    e na metrpole Fortaleza? No prximo subtpico, iremos detalhar as polticas

    pblicas direcionadas ao turismo no Estado do Cear e a relao das novas

    dinmicas resultantes, priorizando as anlises na Regio Metropolitana de Fortaleza.

    2.1.1. PRODETUR I

    O PRODETUR I criado em 29 de novembro de 1991, pela portaria conjunta

    1, pela SUDENE e EMBRATUR , sendo resultados dos esforos dos governos

    nordestinos para a prioridade do turismo como principal vetor econmico da regio.

    No caso cearense, o PRODETUR baseia-se nos relatrios e concluses do

    PRODETURIS, um programa de iniciativa estadual criado em 1989. Por isto, a

    primeira etapa do PRODETUR prioriza os investimentos em infra-estrutura, e

    principalmente na cidade de Fortaleza e nos municpios do litoral oeste cearense, ou

    intitulado de Costa de Sol Poente. A concentrao nesta zona deve-se falta de

    infra-estrutura em relao ao turismo, j que o litoral leste por conjugar uma rea de

    expanso urbana de Fortaleza, recebe mais investimentos tanto de origem pblica

    estadual e privada.

    O mapa a seguir mostra os investimentos por municpio do Cear, para

    facilitarmos a compreenso da distribuio.

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    Mapa 1 Investimentos do PRODETUR I no Cear

    O PRODETUR I investe cerca de R$ 340 milhes no estado do Cear, sendo

    que somente em Fortaleza, este volume de quase R$ 183 milhes (54% do total).

    Na Regio Metropolitana de Fortaleza, trs municpios so contemplados: Fortaleza,

    Caucaia e So Gonalo do Amarante, que juntos, concentram a quantia de R$ 252

    milhes (cerca de 74,5% do total), e os demais municipios, todos litorneos do litoral

    oeste, Trairi, Paracuru, Paraipaba e Itapipoca, completam com R$ 88 milhes

    (25,5% do total).

    Os investimentos do PRODETUR I no Cear so: a) a ampliao do

    Aeroporto Pinto Martins com R$ 183 milhes (54% do total); b) as vias rodovirias

    com R$ 47 milhes (14% do total); c) saneamento bsico com R$ 79,2 milhes

    (23,3% do total) e d) proteo e recuperao ambiental com R$ 12,5 milhes (3,67%

    do total). Estas principais aes so imprescindveis para o desenvolvimento

    turstico em outros municpios no metropolitanos.

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    2.1.2. PRODETUR II

    O PRODETUR II inicia-se oficialmente em 2004, com investimentos de cerca

    de US$ 400 milhes. Este programa visa complementar os investimentos e

    municpios no contemplados na etapa anterior. O Cear tem participao deste

    montante em cerca de US$ 80 milhes (R$ 153 milhes).

    Os municpios do PRODETUR II so Fortaleza, Caucaia, So Gonalo do

    Amarante, Itapipoca, Paracuru, Paraipaba e Trairi (contemplados pelo PRODETUR

    I), Aquiraz (leste da RMF) e os municipios do litoral oeste: Acara, Amontada,

    Barroquinha, Camocim, Chaval, Cruz, Granja, Itarema, Jijoca de Jericoacoara e

    Viosa do Cear.

    Todos os municpios litorneos do litoral Oeste cearense recebem recursos

    do PRODETUR II, inclusive os municpios no litorneos de Granja e Viosa do

    Cear. A CE -085 (Via Estruturante) recebem recursos para sua ampliao at

    Granja, no objetivo de facilitar o fluxo em todo o litoral cearense. Mas existe

    diferena das lgicas de investimentos do PRODETUR I para o PRODETUR II?

    Grosso modo, o PRODETUR II segue a mesma lgica operacional do

    PRODETUR I, pois, 82,60% dos investimentos concentrarem-se na construo e

    ampliao de vias rodovirias, temos um direcionamento esfera municipal: a) a

    capacitao profissional turstica; b) fortalecimento institucional das secretarias

    municipais; c) a implantao de Planos Diretores de Desenvolvimento Urbano

    (PDDUs). A elaborao de projetos cartogrficos do litoral cearense e urbanizao

    da orla martima de So Gonalo do Amarante so outras aes relevantes neste

    programa.

    Na lgica operacional do PRODETUR II temos a maior demanda do governo

    estadual, que apresentou 37% de todos os recursos contra 19% do PRODETUR I. E

    os outros municpios litorneos no contemplados pelo PRODETUR I recebem

    grande parte dos investimentos, como o de Amontada com R$ 52,0 milhes, Granja

    com R$ 28,3 milhes e Itarema com R$ 21,8 milhes.

    Desta forma, o litoral oeste planejado: inicialmente pelo PRODETUR I com

    infra-estrutura de transportes e saneamento bsico, e posteriormente, pelo

    PRODETUR II com mais vias rodovirias, capacitao profissional e fortalecimento

    institucional no intuito de auxiliar o desenvolvimento turstico. O mapa abaixo mostraos municpios que receberam estes recursos provenientes do PRODETUR II.

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    Mapa 2 Investimentos do PRODETUR II no Cear

    Apesar de considerarmos os investimentos uma varivel relevante na

    consolidao das atividades tursticas, as polticas pblicas per sidesenvolvem o

    turismo? No so necessrios outros agentes e/ou outras articulaes polticas e/ou

    socioeconmicas? Compreendemos que os investimentos so responsveis pela

    atrao e consolidao dos lugares tursticos, no a explicao de eventuais fluxos.Pois, o turismo cearense j tinha fluxos considerveis, antes das obras do

    PRODETUR em 1997, o que prova que o planejamento turstico no se resume

    apenas em obras, mas em outras variveis: a mudana de imaginrio social

    juntamente com publicidade e propaganda turstica, o zoneamento e loteamento de

    reas a serem planejadas como os ncleos pesqueiros e a abertura econmica

    atravs de medidas menos burocrticas para atrao de turistas nacionais e

    estrangeiros.

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    Esta conjuntura econmica do Estado explicada por Santos (2006) com os

    fixos e fluxos, pois, os fixos so equipamentos fsicos que so essenciais para que

    os fluxos sejam consolidados. Em suma, o atual territrio metropolitano constitudo

    de redes com mltiplas variveis (econmicas, sociais, culturais) e que o

    planejamento acompanha esta lgica capitalista atual. Desta forma, o turismo um

    importante vetor estratgico para o desenvolvimento econmico do Cear e da RMF.

    2.1.3. PRODETUR NACIONAL

    O Prodetur Nacional o ultimo programa de escala federal iniciado em 2009 e

    passa por algumas modificaes ao longo do ano de 2010. Finalmente no ano de2011, o Prodetur Nacional passa por reformulaes mais precisas para que os

    investimentos sejam efetivados. O programa reserva cerca de US$ 1 bilho para

    todos os Estados, Distrito Federal e qualquer cidade acima de 1 milho de

    habitantes. Esta ltima caracterstica que diferencia das outras etapas, pois a

    esfera municipal ganha maior fora no planejamento turstico.

    Em outras palavras, os governos municipais tornam-se atores estratgicos

    desta nova poltica pblica turstica, j que anteriormente somente o governoestadual tinha a legitimidade de planejar e distribuir os investimentos nos espaos.

    Esta manobra de ampliao de escala (estadual para municipal) tornar os

    investimentos e infra-estruturas mais eficazes e/ou melhores? Esta uma resposta

    a ser respondida pelas mudanas que iniciaram-se a fazer.

    Entre esta escala municipal e estadual, o Estado em si se destaca perante

    os outros da Regio Nordeste. O Estado do Cear j tem garantido US$ 350

    milhes, sendo US$ 250 milhes para o estado do Cear e US$ 100 milhes

    exclusivamente para a cidade de Fortaleza, j que esta uma das sedes da Copa

    do Mundo de futebol do ano de 2014.

    O atual planejamento turstico modifica-se pela Copa do Mundo, promovendo

    outras anlises geogrficas para a compreenso do espao turstico na Regio

    Metropolitana de Fortaleza. Ser planejado uma cidade la modelo de Barcelona?

    Nossas pesquisas posteriores iro acompanhar tais mudanas significativas nas

    polticas pblicas.

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    O mapa a seguir mostra as previses dos investimentos pblicos do Prodetur

    Nacional na Regio Nordeste:

    3. UMA NOVA CONFIGURAO TERRITORIAL TURSTICA METROPOLITANA

    As polticas pblicas tursticas nos espaos litorneos modificam a

    configurao territorial cearense e antes de tudo, a metropolitana. Mas que

    modificaes de fato, acontecem? Inicialmente, a cidade de Fortaleza tem o papel

    de ser a metrpole, sendo o principal centro receptor e distribuidor de fluxo turstico,

    e desta forma, a infra-estrutura urbana e equipamentos concentram-se em seu

    tecido urbano. Em outras palavras, o turismo cearense irradia-se a partir da lgica

    metropolitana de Fortaleza.

    A sociedade atual tem por principal caracterstica a desigualdade econmica

    e espacial. A Regio Metropolitana segundo Santos (2005) uma das reas

    privilegiadas de investimentos e planejamentos estatais, porm, alerta que isto no

    significa que o tecido metropolitano seja homogneo j que a metrpole concentra

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    grande parte de todos os recursos e outros servios relevantes. Desta forma,

    pretendemos compreender os nveis intrametropolitanos tursticos, e assim, o

    turismo na RMF e a sua relevncia no contexto cearense.

    Neste trabalho preliminar sobre a produo do espao litorneo da RMF,

    resolvemos inicialmente analisar trs variveis para compreendermos a dinmica

    turstica: a) o numero de turistas dos anos 2002 a 2008; b) a evoluo e a tipologia

    hoteleiro-imobiliria no mesmo perodo e c) os investimentos pblicos oriundos dos

    programas tursticos supracitados.

    3.1. O ESPAO TURSTICO DO LITORAL DA RMF: uma anlise preliminar

    O espao metropolitano resultante de muitas variveis econmicas e

    sociais, escalas temporais e a interveno estatal. O caso da Regio Metropolitana

    de Fortaleza um reflexo desta conjuntura espao-temporal. A metrpole data de

    1973, e temos a indstria como o principal vetor econmico de crescimento, e no

    final dos anos 1980, o turismo apresenta-se como outro vetor relevante no

    desenvolvimento econmico.

    Como apresentado anteriormente, as polticas pblicas foram imprescindveis

    para a ampliao dos fluxos tursticos. Dos cinco municpios litorneos

    metropolitanos, apenas Cascavel (inserido na RMF no ano de 2009) no recebe

    investimentos do PRODETUR.

    Os investimentos nos municpios litorneos metropolitanos supracitados

    explicam por si, os fluxos tursticos metropolitanos? Ou seja, quais nveis que as

    polticas pblicas interferem na produo do espao turstico?

    O Cear desde os anos 1990 tem um aumento significativo no numero de

    turistas. Segundo a SETUR, em 1996 tivemos 773 mil turistas, e no ano de 2002, o

    numero chega a 1.629.000, com um acrscimo de 111% em 6 anos. Destes

    nmeros, destacamos o litoral da RMF como o principal plo turstico do Cear, pois

    em 2002, tivemos 1, 041 milho, ou seja, os cinco municpios litorneos da RMF

    foram responsveis por 64% de todo o fluxo cearense, e em 2008, este numero

    chegou a 1, 303 milho de turistas, ou seja, 60% de todo o fluxo. Apesar de a

    porcentagem ser menor, o aumento de turistas na RMF foi de 26% e o total do

    Cear, 33%.

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    O litoral do Cear apresenta-se como o principal espao turstico com uma

    grande influncia metropolitana, excetuando dois plos tursticos que possuem

    fluxos relevantes: Aracati ao litoral leste e Jijoca de Jericoacoara ao litoral oeste.

    Como se pode provar que a influncia metropolitana existe no turismo? Alm do

    numero de turistas concentrarem-se no litoral da RMF, temos outra varivel que nos

    d informaes sobre estes fluxos: os meios de hospedagem.

    Porque a varivel do setor hoteleiro relevante? O turismo necessita de

    infra-estrutura para o seu desenvolvimento, e isto significa as vias rodovirias,

    saneamento bsico, e principalmente o setor hoteleiro, responsvel pelos servios

    aos turistas, e conjuntamente os empregados que trabalham nesta cadeia turstica.

    No ano de 2002, tnhamos a capital Fortaleza como o principal destino

    turstico com 804 mil turistas e 173 meios de hospedagem, enquanto Aquiraz,

    Caucaia e So Gonalo do Amarante tinham respectivamente 21,19 e 22 meios de

    hospedagem com 68.502, 122.084 e 22.382 turistas. Percebe-se uma relevncia da

    capital Fortaleza na infra-estrutura turstica e o destaque para Caucaia e Aquiraz,

    enquanto So Gonalo do Amarante e Cascavel (em 2002, no era da RMF) tinham

    menores fluxos tursticos.

    No ano de 2009, temos mudanas significativas no contexto turstico e

    metropolitano? Percebemos que Fortaleza apesar da reduo de fluxo turstico (804

    mil em 2002 para 756 mil em 756 mil em 2008) em 6%, os meios de hospedagem

    ampliam-se de 173 para 206. Mas seria o enfraquecimento da metrpole? De

    forma alguma, o que percebemos uma expanso do espao turstico

    metropolitano. Caucaia e Aquiraz consolidam o seu fluxo turstico com acrscimos

    de 151% e 164%, respectivamente. E os meios de hospedagem dos respectivos

    municpios tiveram um acrscimo de 63% e 62%.

    Do que podemos compreender atravs destes nmeros? Apesar de termos

    um considervel acrscimo em equipamentos hoteleiros, o numero insuficiente

    para justificar um grande numero de turistas nos municpios litorneos

    metropolitanos. Desta forma, compreendemos que a metrpole Fortaleza o ncleo

    turstico da RMF por causa de sua infra-estrutura e outros servios. Em outras

    palavras, os turistas fixam-se em Fortaleza, e passeiam as praias metropolitanas,

    destacando-se as de Aquiraz e Caucaia. Ento, estas dinmicas de concentrao

    turstica em Fortaleza e outros turistas que se hospedam nos prprios municpios,reforam o papel da metrpole no fluxo turstico cearense.

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    Mapa 4 Turistas e Meios de Hospedagem 2009

    Em nossas anlises sobre os municpios litorneos tursticos da RMF,

    compreendermos que no existem dinmicas nicas de fluxos tursticos, mas sim

    vrias dinmicas: a) a valorizao litornea, por isto, o turismo predominantemente

    litorneo; b) a dinmica da metrpole, ou seja, os turistas buscam lugares que

    tenham relao com a metrpole, e assim, o cotidiano moderno com infra-estrutura e

    seus servios; c) a dinmica intra-metropolitana atravs de sua expanso e fluxos

    resultantes, como Aquiraz e Caucaia e d) as polticas pblicas que reforam o papelmetropolitano e concomitantemente, uma descentralizao ao longo dos municpios

    litorneos no-metropolitanos.

    Desta forma, este trabalho visa compreenso do espao litorneo

    metropolitano de Fortaleza em sua amplitude, mas os resultados preliminares

    obtidos no cessam a discusso das variveis j estudadas, mas entendermos que

    a dinmica metropolitana mutvel e complexa, e por isto, a necessidade de outras

    anlises na Regio Metropolitana de Fortaleza.

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    4. CONSIDERAES FINAIS

    O planejamento turstico do Cear visou insero do litoral cearense em

    uma nova lgica internacional e a RMF consolida como um plo econmico receptore distribuidor deste fluxo turstico. As polticas pblicas tursticas surgem como

    aes definitivas para a implementao do turismo em quase todo o litoral cearense.

    O litoral leste recebe investimentos do tesouro estadual e a iniciativa privada,

    enquanto o litoral oeste recebe grande parte dos investimentos do PRODETUR.

    Discutimos que este planejamento turstico foi alm dos planos e polticas

    pblicas e se comportou como uma ideologia necessria para o desenvolvimento

    cearense, desde o novo imaginrio social at os investimentos pblicos. As polticas

    pblicas tornaram-se aes fsicas para a consolidao dos fixos e fluxos

    necessrios para o desenvolvimento turstico, priorizando os municpios com dficit

    de infra-estrutura.

    De que forma, as polticas pblicas tornaram-se relevantes no fluxo turstico

    da RMF? Percebemos que estas foram importantes, porm per sino explicam o

    fluxo turstico existente, j que a dinmica intrametropolitana anterior s estas

    polticas, e o papel da metrpole reforado pela infraestrutura j existente e

    concomitantemente, o processo de ampliao do espao metropolitano ocorre.

    Desta forma, a anlise das variveis (polticas pblicas, o numero de turistas

    e meios de hospedagem) refora que o papel metropolitano relevante,

    conjuntamente com a valorizao litornea em todos seus aspectos, sejam eles

    culturais, sociais, econmicos e estratgicos. Em outras palavras, a compreenso

    lato sensu do espao metropolitano complexo e dinmico, por isto, torna-se

    necessrio o maior numero de variveis e elementos analticos.

    Em suma, este trabalho visa iniciar a discusso sobre a produo do espao

    litorneo metropolitano de Fortaleza e espera suscitar duvidas e crticas, no intuito

    de consolidar uma discusso completa sobre a temtica abordada.

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