estudos sobre o empoderamento feminino a partir do livro a princesa sabichona · 2019. 5. 20. ·...

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ESTUDOS SOBRE O EMPODERAMENTO FEMININO A PARTIR DO LIVRO A PRINCESA SABICHONA Lucimar da Luz Leite (Universidade Estadual de Maringá) Suelen Soares Barcelo de Miranda (Universidade Estadual de Maringá) Eliane Rose Maio (Universidade Estadual de Maringá) [email protected] Resumo: Ao refletir sobre a conjuntura atual brasileira, em pleno século XXI, questionamos os diversos preconceitos de gênero instaurados, como o machismo, a objetificação da mulher, o sexismo e o poder patriarcal que perpassam as diferentes realidades de socialização. Postula-se, então, a necessidade de pensarmos sobre estas questões, no sentido de compreender o Feminismo, a Educação de Gênero e sexualidade e o empoderamento feminino. Para tanto, este trabalho busca analisar o livro de literatura infantil, A Princesa Sabichona (COLE, 1998), que conta a história de uma princesa que rompe com os padrões sociais e culturais que são construídos historicamente. Partindo dessas considerações, nos propomos a investigar: se e de que forma a literatura infantil pode contribuir para práxis pedagógicas que promovam a igualdade de gênero? O objetivo será analisar as representações de empoderamento reveladas pela personagem Princesa Sabichona. Para isso, buscamos sustentação nos estudos de gênero e feminismo. Palavras-chave: Educação; Feminismo; Gênero; Empoderamento Introdução Neste texto, socializaremos breve análise realizada a partir do livro de literatura A Princesa Sabichona, da autora Babette Cole 1 , publicado em 1998. Na história, a Princesa Sabichona 2 é a personagem principal, a qual rompe padrões que se constituem culturalmente. 1 Babette Cole, escritora britânica, (nasceu em 10 de setembro de 1949) publicou centenas de livros infantis, devido a excelente qualificação de suas obras, ganhou vários prêmios, entre eles estão as obras do Pr[íncipe Cinderelo e Príncesa Sabichona. Disponível em: https://issuu.com/ritala/docs/babette_cole_powerpoint_finalissimo . Acesso em 03 de abril de 2019. 2 A mãe da protagonista exige que ela se case com um Príncipe. A Princesa se recusa a acatar essa exigência e, assim, elabora uma série de testes para seus pretendentes, os quais, maioritariamente falham, com exceção do Príncipe Fanfarrão. Este elabora estratégias que lhe permitiram perpassar todos os obstáculos com êxito. Como todos os contos de fadas, este também apresenta aspectos

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Page 1: ESTUDOS SOBRE O EMPODERAMENTO FEMININO A PARTIR DO LIVRO A PRINCESA SABICHONA · 2019. 5. 20. · literatura A Princesa Sabichona, da autora Babette Cole1, publicado em 1998. Na história,

ESTUDOS SOBRE O EMPODERAMENTO FEMININO A PARTIR DO

LIVRO A PRINCESA SABICHONA

Lucimar da Luz Leite (Universidade Estadual de Maringá) Suelen Soares Barcelo de Miranda (Universidade Estadual de Maringá)

Eliane Rose Maio (Universidade Estadual de Maringá) [email protected]

Resumo: Ao refletir sobre a conjuntura atual brasileira, em pleno século XXI, questionamos os diversos preconceitos de gênero instaurados, como o machismo, a objetificação da mulher, o sexismo e o poder patriarcal que perpassam as diferentes realidades de socialização. Postula-se, então, a necessidade de pensarmos sobre estas questões, no sentido de compreender o Feminismo, a Educação de Gênero e sexualidade e o empoderamento feminino. Para tanto, este trabalho busca analisar o livro de literatura infantil, A Princesa Sabichona (COLE, 1998), que conta a história de uma princesa que rompe com os padrões sociais e culturais que são construídos historicamente. Partindo dessas considerações, nos propomos a investigar: se e de que forma a literatura infantil pode contribuir para práxis pedagógicas que promovam a igualdade de gênero? O objetivo será analisar as representações de empoderamento reveladas pela personagem Princesa Sabichona. Para isso, buscamos sustentação nos estudos de gênero e feminismo. Palavras-chave: Educação; Feminismo; Gênero; Empoderamento Introdução

Neste texto, socializaremos breve análise realizada a partir do livro de

literatura A Princesa Sabichona, da autora Babette Cole1, publicado em 1998. Na

história, a Princesa Sabichona2 é a personagem principal, a qual rompe padrões que

se constituem culturalmente.

1 Babette Cole, escritora britânica, (nasceu em 10 de setembro de 1949) publicou centenas de livros infantis, devido a excelente qualificação de suas obras, ganhou vários prêmios, entre eles estão as obras do Pr[íncipe Cinderelo e Príncesa Sabichona. Disponível em: https://issuu.com/ritala/docs/babette_cole_powerpoint_finalissimo. Acesso em 03 de abril de 2019. 2 A mãe da protagonista exige que ela se case com um Príncipe. A Princesa se recusa a acatar essa exigência e, assim, elabora uma série de testes para seus pretendentes, os quais, maioritariamente falham, com exceção do Príncipe Fanfarrão. Este elabora estratégias que lhe permitiram perpassar todos os obstáculos com êxito. Como todos os contos de fadas, este também apresenta aspectos

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A partir das especificidades apresentadas ao longo do livro, marcado por

aspectos das exigências sociais patriarcais, nosso objetivo se volta em analisar as

representações da personagem Sabichona, com o intuito de verificarmos se e como

o referido livro de literatura pode contribuir com o empoderamento feminino,

questionando padrões determinados socialmente. Para tanto, na análise,

buscaremos respaldo nos estudos de gênero e feminismo. Mediante o exposto,

pondera-se como hipótese que ao trabalhar questões relativas ao empoderamento

feminino e estudos de gênero, busca-se a promoção pela igualdade de gênero.

Breves compreensões de gênero e feminismo

Ao adentrar o campo dos estudos de gênero, especificamente o feminismo,

tem-se a necessidade de repensar a organização estrutural da sociedade. Além

disso, há a carência por atenção para com a educação brasileira, a fim de rever

estratégias acerca do ensino no sentido de se romper com a estrutura patriarcal,

machista, sexista e capitalista que permeia o campo educacional.

Louro (1997) aponta que o feminismo, enquanto movimento social

organizado, tange as lutas ocorridas no Ocidente, originárias de grupos de mulheres,

em meados do século XIX. Esse movimento ficou conhecido como sufragismo,

estando ligado à primeira onda do feminismo, como se compreende com a autora. A

segunda onda do feminismo, por volta da década de 1960, atribuiu ao movimento

político as concepções teóricas que o direcionaram para o âmbito dos debates

acadêmicos, possibilitando assim, a problematização dos conceitos de gênero.

Dessa forma, a fim de contextualizar gênero, destaca-se que de acordo com

Louro (1997), o termo apresenta-se a partir das discussões feministas, como

ferramenta analítica e política, entendido como construção social e histórica. Com

encantados, como anel mágico, animais fantásticos, beijo mágico e final feliz. Cabe destacar que o final feliz, em questão, busca atender às necessidades e desejos da protagonista, contrariando os contos de fada tradicionais. Logo, a personagem permanece solteira, vivendo da maneira que lhe agrada (COLE, 1998).

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Scott (1995), o termo gênero atua como caracterização das relações sociais entre os

sexos, definindo-os socialmente. Isto posto, defende-se aqui com base em Louro

(1997), que os debates acerca de práticas pedagógicas em torno da temática

gênero, bem como o feminismo, visam a desconstrução das relações desiguais

entre os/as sujeitos/as.

Diante dessas preocupações, entende-se com Marcia Tiburi (2018) que o

feminismo se refere a uma postura ético-política, atuando em prol da igualdade,

como mecanismo de luta contra opressões e injustiças mantidas hierarquicamente

na sociedade. Logo, o movimento concentra-se na igualdade de gêneros, buscando

desfazer hierarquias e concentrações de poder, de modo que, “Quando pensamos

em feminismo, somos levados a considerar uma sociedade para além do mérito,

uma sociedade na qual todas (todas e todos também) tenham os mesmos direitos”

(TIBURI, 2018, p. 60).

Considerando que as questões que permeiam a sociedade adentram o

território da escola, o qual não está isento destas interferências, entende-se que

abordar as temáticas de gênero no âmbito escolar tende a contribuir para a

desconstrução de preconceitos de gênero, paradigmas e estereótipos, educando de

modo integral. Mediante a isto, Martin (2017) apresenta que as desigualdades de

gênero e as relações hierárquicas de poder, repercutem também dentro do espaço

escolar, estabelecendo convivências que inferiorizam o público feminino. Com base

na autora, se entende que o poder mantido por grupos hegemônicos tende a

inferiorizar classes que performam o feminino, predominando relações desiguais que

desrespeitam essa minoria política.

Empoderamento e feminismo presentes no livro a Princesa Sabichona

Tendo como material problematizador o livro de literatura da Princesa

Sabichona, analisamos algumas atitudes da personagem que nos ajudam a refletir

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sobre possibilidades de empoderamento feminino e construções para a promoção

de igualdades de gênero no campo da educação.

A figura 1 evidencia que a princesa não queria se casar, e mesmo assim, há a

preocupação da mãe de que a princesa precisa arranjar um marido (figura 2).

Identificamos, nesse trecho, que o casamento é algo socialmente determinado – e

propagado na própria família. Ao ter contato com a obra de Cole (1998), se tem a

crítica perante questões sociais marcadamente patriarcais, especificamente a

necessidade do casamento da protagonista, apesar de sua relutância. Isto posto,

evidencia-se a imposição do machismo sobre a sociedade, sobretudo sobre as

mulheres. Ante a isto, para contextualizar a definição de machismo, Cavasin (2017,

p. 63) exibe que “o machismo é um sistema de crenças em que se aceita a

superioridade dos homens devido à sua masculinidade”. Logo, este sistema

estrutural privilegia uma classe hegemônica detentora de poder, mais

especificamente o homem branco-hetero-cisgênero, subestimando grupos

minoritários e exercendo seu poder sobre estes/as.

Figura 1 – A princesa sabichona não queria se casar. Figura 2- Determinação da mãe da princesa

Fonte: COLE, Babette. A Princesa Sabichona, 1998. Fonte: COLE, Babette. A Princesa Sabichona, 1998.

Na sequência, (as figuras 3 e 4) apresentam inversões que não

correspondem aos contos de fadas tradicionais, que ressaltam poder na figura

masculina, estimulando assim, princípios machistas que caracterizam a sociedade

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patriarcal. Nas figuras referidas, tem-se as ordens e o beijo mágico, que foram

realizadas pela protagonista. Ela continua solteira, questionando/quebrando os

poderes impostos pela sociedade, contribuindo, assim para o empoderamento

feminino. Sobre isso, recorremos a Tiburi (2018), que, ao pautar atitudes feministas

viabiliza-se a quebra da blindagem de poder, por meio de diálogos políticos e

didáticos, a fim de pensar em uma construção conjunta e emancipatória.

Figura 3 - As ordens da princesa Figura 4 - Beijo Mágico Fonte: COLE, Babette. A Princesa Sabichona, 1998. Fonte: COLE, Babette. A Princesa Sabichona, 1998. Considerações finais

A análise do livro A princesa Sabichona permitiu-nos pensar sobre as

possibilidades de trabalho de gênero e empoderamento feminino na educação.

Salientamos que as questões de gênero são questionáveis e possíveis de mudanças

significativas. Compreendendo dessa forma, defendemos a escola em prol da

igualdade de gênero e empoderamento feminino. Referências CAVASIN, Maria de Fatima Soares. O gênero na função do/a agente educacional – uma escola sem um homem é como um peixe sem uma bicicleta. In: MAIO, Eliane Rose (Org.). Educação, gênero e feminismos: resistências bordadas com fios de luta. Curitiba: CRV, 2017, p. 79-92. LOPES, Louro Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis – RJ: Vozes, 1997, p. 14-36.

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MARTIN, Selma Alves de Freitas. Gênero e sexualidade na educação: questão de direito. In: MAIO, Eliane Rose (Org.). Educação, gênero e feminismos: resistências bordadas com fios de luta. Curitiba: CRV, 2017, p. 201 – 214. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação e Realidade. Porto Alegre, v.20, n.2, 1995, p. 71-99. TIBURI, Marcia. Feminismo em comum: para todas, todes e todos. 7. ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.