estudos sobre comunicação e cibercultura no brasil

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06/01/2015 Estudos sobre Comunicação e Cibercultura no Brasil: Conceitos, Tendências e Clusters data:text/html;charset=utf8,%3Cdiv%20align%3D%22right%22%20style%3D%22color%3A%20rgb(0%2C%200%2C%200)%3B%20fontfamily%3A%2… 1/13 Por Denize Correa Número 53 Resumo: Este trabalho é um recorte da pesquisa de PósDoutorado que desenvolvo no momento,com o objetivo de delinear um mapeamento dos estudos em cibercultura no Brasil”cibermapa”, contextualizando perspectivas de pesquisadores da área, tanto no aspecto temático quanto no conceitual. Minha proposta neste trabalho é definir “clusters geográficos”, identificando linhas e grupos de pesquisa, e “clusters temáticos”, agrupando pesquisas convergentes e tendências contemporâneas. Após a primeira década de estudos sobre o tema, acredito que esta tentativa de sistematização possa ser produtiva, sugerindo caminhos ainda pouco explorados. Abstract: This paper is part of the postdoctoral research I develop at the moment, intended to draw a map of the cyberculture studies in Brazila cybermapcontextualizing approaches from researches in the area, either in relation to thematic aspects or to conceptual ones. My proposal here is to define “geographical clusters”, identifying research groups, and “thematic clusters”, grouping researches that converge in their contemporary trends. After the first decade of studies about the theme, I believe that this attempt to systematize can be productive, suggesting paths still under explored. Introdução Este trabalho é um recorte de minha pesquisa atual 1 , que tenciona contextualizar estudos sobre comunicação e cibercultura no Brasil, oferecendo um mapeamento“cibermapa” com as principais tendências e questionamentos, para visualização de convergências e tensões, tanto no aspecto temático quanto no conceitual, mas especialmente no que se refere aos enfoques escolhidos pelos pesquisadores. Apesar do pouco tempo de existência do tema como está sendo considerado no momento atual, já há um grande número de pesquisadores desenvolvendo análises e estudos relevantes na área de cibercultura. Após a primeira década, acredito que esta tentativa de sistematização possa ser produtiva, visto que pode apontar para caminhos ainda inexplorados e demonstrar tendências no cenário da cibercultura. Neste recorte, pretendo privilegiar dois tipos de classificação: “clusters geográficos” e “clusters temáticos”. Em “clusters geográficos”, com enfoque mais informativo, serão identificados programas com linhas e grupos de pesquisa que remetem à cibercultura, enquanto que em “clusters temáticos”, com enfoque mais reflexivo, serão agrupadas as pesquisas em relação às convergências e divergências quanto aos temas escolhidos. Além dos estudos dos doutores nas linhas e grupos de pesquisa de programas filiados à Compós, há outros pesquisadores que têm contribuído com estudos. Há também grupos de pesquisa que agregam estudos de diversas instituições, nacionais e estrangeiras, e pesquisas com tangências e interfaces com a área de Comunicação e Cibercultura. Muitas destas pesquisas têm por base teorias e conceitos europeus e norteamericanos, que não serão analisados em detalhe neste ensaio, considerando que a Estudos sobre Comunicação e Cibercultura no Brasil: Conceitos, Tendências e Clusters

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Este trabalho é um recorte da pesquisa de PósDoutorado que desenvolvo nomomento,com o objetivo de delinear um mapeamento dos estudos em cibercultura no Brasil

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Por Denize Correa Número 53

Resumo: Este trabalho é um recorte da pesquisa de Pós­Doutorado que desenvolvo nomomento,com o objetivo de delinear um mapeamento dos estudos em ciberculturano Brasil­”cibermapa”­, contextualizando perspectivas de pesquisadores da área,tanto no aspecto temático quanto no conceitual. Minha proposta neste trabalho édefinir “clusters geográficos”, identificando linhas e grupos de pesquisa, e “clusterstemáticos”, agrupando pesquisas convergentes e tendências contemporâneas. Após aprimeira década de estudos sobre o tema, acredito que esta tentativa desistematização possa ser produtiva, sugerindo caminhos ainda pouco explorados.

Abstract: This paper is part of the post­doctoral research I develop at the moment, intendedto draw a map of the cyberculture studies in Brazil­a cybermap­contextualizingapproaches from researches in the area, either in relation to thematic aspects or toconceptual ones. My proposal here is to define “geographical clusters”, identifying research groups, and “thematic clusters”, grouping researches that converge in theircontemporary trends. After the first decade of studies about the theme, I believethat this attempt to systematize can be productive, suggesting paths still underexplored.

Introdução Este trabalho é um recorte de minha pesquisa atual1, quetenciona contextualizar estudos sobre comunicação ecibercultura no Brasil, oferecendo ummapeamento­“cibermapa”­ com as principais tendências equestionamentos, para visualização de convergências etensões, tanto no aspecto temático quanto no conceitual, masespecialmente no que se refere aos enfoques escolhidos pelospesquisadores. Apesar do pouco tempo de existência do temacomo está sendo considerado no momento atual, já há umgrande número de pesquisadores desenvolvendo análises eestudos relevantes na área de cibercultura. Após a primeiradécada, acredito que esta tentativa de sistematização possa serprodutiva, visto que pode apontar para caminhos aindainexplorados e demonstrar tendências no cenário dacibercultura.

Neste recorte, pretendo privilegiar dois tipos de classificação:“clusters geográficos” e “clusters temáticos”. Em “clustersgeográficos”, com enfoque mais informativo, serãoidentificados programas com linhas e grupos de pesquisa queremetem à cibercultura, enquanto que em “clusters temáticos”,com enfoque mais reflexivo, serão agrupadas as pesquisas emrelação às convergências e divergências quanto aos temasescolhidos. Além dos estudos dos doutores nas linhas e gruposde pesquisa de programas filiados à Compós, há outrospesquisadores que têm contribuído com estudos. Há tambémgrupos de pesquisa que agregam estudos de diversasinstituições, nacionais e estrangeiras, e pesquisas comtangências e interfaces com a área de Comunicação eCibercultura. Muitas destas pesquisas têm por base teorias econceitos europeus e norte­americanos, que não serãoanalisados em detalhe neste ensaio, considerando que a

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proposta aqui é produzir um recorte sucinto do mapeamento dedoutores brasileiros no que se refere aos clusters geográficos etemáticos. São pertinentes, porém, na segunda fase de minhapesquisa, nos “clusters conceituais”2.

Para Francisco Rüdiger, “a cibercultura é o movimentohistórico, a conexão dialética entre o sujeito humano e suasexpressões tecnológicas, através da qual transformamos omundo e, assim, nosso próprio modo de ser interior e materialem dada direção (cibernética)” (RÜDIGER, 2004, p. 54).

Para André Lemos, um dos pioneiros em pesquisa sobre o temano Brasil, a cibercultura deve ser entendida “como a formasócio­cultural que emerge da relação simbiótica entre asociedade, a cultura e as novas tecnologias de base micro­eletrônica que surgiram com as convergências dastelecomunicações com a informática, na década de 70” (LEMOS,2003, p. 12).

Acredito que as duas definições propostas acima encapsulam asdiversas esferas, origens e atuações da cibercultura. Sendoassim, servirão de embasamento ao recorte que proponho.

Clusters geográficosAtualmente, há dez programas em Comunicação que têm linhasde pesquisa relativas à cibercultura, em três regiões: nordeste,sudeste e sul. Na região nordeste, o programa de Comunicaçãoe Cultura Contemporânea da UFBA se destaca pelaespecificidade da linha de pesquisa, pelas publicações e gruposde pesquisa dedicados ao estudo da cibercultura. O programada UFPE também oferece uma linha de pesquisa. Na regiãosudeste, entretanto, há o maior número de programas comlinhas de pesquisa que contemplam estudos de cibercultura, naUFRJ, UERJ, UFF, PUC­SP e USP. A região sul oferece pesquisasem três programas, o da PUC­RS, o da UFRGS e o da UTP, emCuritiba.

Iniciando pelo último, a linha de pesquisa “Cibermidia e MeiosDigitais”, da UTP, conta com as pesquisas de seis docentes:Adriana Amaral, Claudia Quadros, Décio Pignatari, DenizeAraujo, Diana Domingues e Francisco Menezes Martins. Noprograma da UFRGS, a linha de pesquisa que se intitula“Informação, Tecnologia e Práticas Sociais” agrupa as pesquisasde Alex Primo, Ida Stumpf e Sonia Caregnato. Na PUC­RS, háum grande número de pesquisadores pertencentes à linha“Cultura Midiática e Tecnologias do Imaginário”, mas como alinha agrupa dois núcleos, “cultura midiática” e “tecnologias doimaginário”, nem todos os pesquisadores desenvolvem estudosespecíficos no campo da cibercultura. As pesquisas com maiselementos de cibercultura são as de Francisco Rüdiger eJuremir Machado da Silva.

Na região sudeste, a linha de pesquisa “Tecnologias daComunicação e Estéticas” conta com grande número depesquisadores: André Parente, Beatriz Jaguaribe, Consuelo Lins,Henrique Antoun, Ieda Tucherman, Ivana Bentes, Kátia Maciel eNizia Villaça. Como no caso anterior (PUC­RS), a linha da UFRJcontém dois núcleos, “tecnologias da comunicação” e “estética”,dividindo o corpo docente pertencente à mesma. O título da linha de pesquisa da UERJ é mais específico, “NovasTecnologias e Cultura”, agrupando os estudos de Alessandra

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Aldé, Erick Felinto, Fernando Gonçalves e Vinicius AndradePereira.

Na UFF, há duas linhas de pesquisa que remetem ao tema dociberespaço, “Tecnologias da Comunicação e da Informação” e“Análise da Imagem e do Som”, agregando seis pesquisadores:André Queiroz, Denis de Moraes, Felipe Pena, Luiz Carlos Lopes,Maria Cristina Franco Ferraz e Simone Pereira de Sá.

Na capital paulista, a PUC­SP também reúne seis pesquisadorescom muita produção na área do ciberespaço: Arlindo Machado,Eugenio Trivinho, Giselle Beiguelman, Lucia Santaella, Rogérioda Costa e Sérgio Bairon. Além disso, alguns pesquisadoresdesenvolvem o Centro de Investigação em Mídias Digitais(CIMID), que colabora para a divulgação dos produtos digitais.

Ainda na capital, na ECA­USP, há três pesquisadores na linhaintitulada “Tecnologias da Comunicação e Redes Interativas”:Artur Matuck, Fredric Michael Litto e Massimo di Felice.

Na região nordeste, o programa da UFPE conta com a linha depesquisa “Comunicação Tecnológica e Estudos Culturais”, ondedois pesquisadores se dedicam aos estudos da imagem digital eda hipermídia: André Marques das Neves e Paulo CarneiroCunha Filho, que em 1996 criaram o Virtus­Laboratório deHipermídia da UFPE, tendo a hipermídia (entendida como umconjunto de aplicações tecnológicas e de implicações sócio­culturais das tecnologias digitais) como objeto de estudos. .

O programa da UFBA, com sua linha “Cibercultura”, é um dosque contribui para os estudos mais específicos da área, sendopioneiro nos estudos de cibercultura especialmente por parte dopesquisador André Lemos. A linha reúne sete pesquisadores:André Lemos, Cláudio Cardoso, Elias Machado, Marcos Palácios,Othon Jambeiro, Sonia Serra e Wilson Gomes. Há quatro gruposde pesquisa articulados na produção e divulgação do tema:“Cibercidades”, “Ciberpesquisa”, “Internet e Política” e“Jornalismo Online”.

Apesar da linha “Cibercultura” ser a mais específica, as outraslinhas de pesquisa já citadas abordam aspectos da cibercultura,por vezes em interação com outras esferas, como estéticas,cultura midiática, estudos culturais, processos de criação,práticas sociais, outras vezes enfatizando processoshipermidiáticos, jornalismo online, webpublicity, webdesign.

Genericamente falando, as ementas das linhas, em suamaioria, contemplam o impacto das NTCs e da cibermídia, ouseja, das mídias digitais do ciberespaço, privilegiando asinterfaces entre comunicação, sociedade e novas tecnologias3.

Grupos de pesquisa em ciberculturaHá onze Grupos de Pesquisa em Cibercultura, inscritos no CNPqe certificados pelas instituições4:

1. “Núcleo de Cultura e Tecnologia da Imagem”, criado em1991, liderado por André Parente e Kátia Maciel, da UFRJ,com pesquisas analíticas e criativas unindo experiência e

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teoria: novas configurações do sujeito, estética da arteinterativa e da morfogênese da imagem paraentendimento do virtual, do ciberespaço, do hipertexto,da infografia e da multimídia, compreendendo astecnologias da imagem como formas híbridas de camposdiferenciados que proporcionam a interação de pesquisasmultidisciplinares que redimensionam o campo daComunicação.

2. “Ciberpesquisa”, Centro Internacional de Estudos ePesquisa em Cibercultura, núcleo criado em 1996 porAndré Lemos e Marcos Palácios, da UFBa, que conta comdiversos grupos e projetos: “Cibercidades” (liderado porAndré Lemos, em convenio com Aveiro, Texas e Canadá),“Jornalismo Online” (Marcos Palácios e Elias Machado),“Sistemas Cibernéticos” (Gottfried Stockinger), “Internete Política” (Sonia Serra e Wilson Gomes), “ComunicaçãoOrganizacional e Tecnologias da Informação” (CláudioCardoso), “Política, Telecomunicação e Convergência”(Othon Jambeiro);

3. “Ciberidea”, Núcleo de Pesquisa em Tecnologias daComunicação, Cultura e Subjetividade, criado em 1998 eliderado por Paulo Vaz, que enfatiza pesquisas emtecnologias da comunicação e mudanças culturais por elasincitadas, transformando a subjetividade contemporânea.Agrega os seguintes pesquisadores de Filosofia,Comunicação e Psicologia, de 5 linhas de pesquisa:Comunicação e Complexidade (CBPF­Centro Brasileiro dePesquisas Físicas), Ética, Saberes, Subjetividade eDesenvolvimento (IP­Instituto de Psicologia­UFRJ), Mídiae Mediações Socioculturais (ECO­UFRJ), NovasTecnologias e Cultura (FCS­UERJ) e Tecnologias daComunicação e Estéticas (ECO­UFRJ): Fátima Regis,Fernanda Bruno, Henrique Antoun, Luiz Alberto deOliveira, Paulo Vaz, Rosa Ribeiro Pedro e Vinicius AndradePereira;

4. “Tecnologias do Imaginário”, criado em 2000, liderado porJuremir Machado da Silva, que procura compreender osfenômenos de cristalização de imaginários através detecnologias de sedução e disseminação midiáticas, alémde analisar imaginários revisitados pelas novas mídias etecnologias.

5. “NuPH” ­ Núcleo de Pesquisa em Hipermídia, criado em2001, liderado por Sergio Bairon e Rogério da Costa(PUC­SP), em convênio com as Universidades do Porto,Aberta de Portugal, Complutense (Madrid) e Freie(Berlim). Conta com o apoio dos pesquisadores LuciaSantaella, Massimo Canevacci, James Clifford e EdgardMorin. Com tendência transdisciplinar, analisa e produzpesquisas que interrelacionam a criação e asustentabilidade de comunidades virtuais;

6. “Comunicação, Imagem e Contemporaneidade”, criado em2001, liderado por Denize Araujo, da UTP, com pesquisassobre o estatuto da imagem em contextos midiáticos,com ênfase na imagem digital e nos processos de

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produção digitalizada de imagens. Reúne docentes doMestrado em Comunicação e Linguagens da UTP epesquisadores de outras instituições, como LucianaSilveira (UFTPR) e Maria Lucia Becker (Unibrasil), alémde contar com o Acordo de Cooperação firmado entre aUTP e o Laboratório de Novas Tecnologias da UCS,coordenado por Diana Domingues.

7. “Comunicação e Tecnocultura: meios e imagináriostecnológicos”, criado em 2002, liderado por Erick Felinto,que conta com os seguintes pesquisadores: AlessandraAldé (UERJ), Eugenio Trivinho (PUC­SP), Fátima Regis(UFRJ), Felipe Pena (UFF), Francisco Rudiger (PUC­RS),Vinicius Andrade Pereira (UERJ). O GP investiga questõesde cibercultura e tecnologias digitais com ênfase emaspectos formais e repercussão no imaginário cultural;

8. “Tecnologias da Comunicação e Sociabilidade”, criado em2002, coordenado por Simone Pereira de Sá, agrupandopesquisas que enfocam tecnologias da comunicação eanalisam o computador como ambiente comunicacional. Ogrupo vivencia a estética da música eletrônica articuladaàs dinâmicas identitárias através de comunidadesvirtuais.

9. “CENCIB”­Centro Interdisciplinar de Pesquisas emComunicação e Cibercultura, criado em 2003, liderado porEugenio Trivinho, contando com dois pesquisadores: ErickFelinto e Henrique Antoun. O Centro agrega pesquisasvoltadas para o desenvolvimento da produção avançadada crítica conceitual acerca da cibercultura como marcoepistêmico referencial do contexto sóciohistórico,tecnológico e mediático contemporâneo.

10. “Imagem e Narrativas Digitais”, criado em 2005,coordenado por Paulo Carneiro da Cunha e André MenezesMarques das Neves, da UFPE, procura soluções práticasassociando­se ao Laboratório Kimera, para desenvolverpesquisas científicas e experimentais dirigidas aprotótipos relacionados às novas mídias digitais. Seusobjetos de interesse estão no campo da cibercultura:entretenimento cibernético, inteligência artificial,comunidades virtuais, representações digitais (interfacese simulacros virtuais), games e pós­cinema

11. “Mídias Digitais”, criado em 2005, liderado por SuelyFragoso, da Unisinos, que estuda a comunicação mediadapor computador e objetiva a construção de arcabouçosteórico­metodológicos específicos para cadaproblematização, incentivando discentes a discutir seustemas e ensaios.

Clusters temáticosComo clusters temáticos, entendo as convergências de temas eenfoques de pesquisas desenvolvidas por docentes dosprogramas pertencentes à Compós, prioritariamente, e porpesquisadores de áreas afins/compatíveis/correlatas, deprogramas multidisciplinares que contribuem para ocrescimento e a transversalidade dos estudos de comunicação ecibercultura. André Lemos nos oferece uma descrição sucinta

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sobre a área, incluindo “estudos sobre os novos formatosjornalísticos (jornalismo online, radio online, TV digital, revistasonline e e­books), relações comunicacionais (chats, e­mail,listas e fóruns, weblogs, muds, games, troca de arquivos),práticas sociais e comunicacionais emergentes com a novacultura informática (cyberpunks, ciberativistas, hackers),reconfigurações corporais e comunicacionais (cyborgs),comércio(comércio eletrônico, publicidade e marketing online,gestão da informação), artes eletrônicas (webart, músicaeletrônica, body art), práticas discursivas interativas(hipertextos), questões ligadas à cidade e à esfera pública(cibercidades, cibercidadania), além dos estudos em realidadevirtual como mídia de comunicação”(http://ctjovem.mct.gov.br/index).

Na tentativa de agrupar pesquisas, minha classificação ficaassim categorizada, em cinco clusters temáticos5: 1. Cibercidades e Mobilidades; 2. Imaginários da Cibercultura; 3. Imersão e Interfaces, 4. Jornalismo Digital; 5. Web Sociabilidades/Subjetividades;

Cibercidades e mobilidadesAs pesquisas de André Lemos, no momento, têm se direcionadopara a área das conexões móveis, a era da mobilidade, com aemergência da computação ubíqua e senciente. Suas idéias delinks e cíbridos convergem com alguns conceitos como“coletivos emergentes” (Howard Rheingold) e “inteligênciaconectiva” (Derrick de Kerckhove), que pontuam nossasinterligações na web, no que chamo de “hipertrópole digital”6.

Em “Cibercidade: as cidades na cibercultura”, Lemos organizaensaios sobre o tema, oriundos dos colóquios internacionaissobre redes e cidades, e do acordo de cooperação entre a UFBAe a Universidade de Aveiro, em Portugal. Seu ensaio“Cibercidades: um modelo de inteligência coletiva” visaprovocar uma discussão sobre a possibilidade de implantarpraticamente o conceito de inteligência coletiva de Pierre Lévy,redefinindo espaços públicos e privados. O conceito decibercidadania, para Lemos, emerge a partir do aparecimentoda opinião pública, “com a convergência informática­comunicação, o surgimento de redes telemáticas planetárias ea conseqüente e paulatina liberação do pólo da emissão”(LEMOS, org., 2004, p. 170). Em Curitiba, há duas pesquisasque convergem com o tema de cibercidades e cibercidadania: ado pesquisador Fabio Duarte (PUC­PR), que trata de um novopensamento cartográfico, e a da pesquisadora Maria LuciaBecker (Unibrasil), que busca verificar de que forma a Interneté utilizada pelos usuários da rede pública na periferia deCuritiba e São Paulo, tendo como meta fornecer elementos parauma apropriação criteriosa do uso da Internet no que dizrespeito à promoção do exercício a cidadania.

A pesquisadora Adriana de Souza e Silva, atualmente residindonos Estados Unidos, também desenvolve pesquisa sobre astecnologias móveis, sugerindo que “as tecnologias nômades decomunicação re­inventam espaços urbanos como ambientes demultiusuários” (PARENTE, org., 2004, p. 283).

Vinicius Andrade Pereira desenvolve pesquisa sobre as

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extensões do ser humano, citadas por McLuhan. Partindo doprincípio de que as novas tecnologias nos levam a habitar umoutro mundo, o pesquisador considera que o cérebro humanopode se expandir, assim como nossa memória. Adisponibilidade neural do sistema humano, em contato com osambientes imersivos das realidades virtuais, pode participar deum novo modo de comunicação7.

Imaginários da ciberculturaCom abordagem filosófica, Juremir Machado da Silva, da PUC­RS, discorre sobre as tecnologias do imaginário. Para o autor,“o imaginário é uma rede etérea e movediça de valores e desensações partilhadas concreta ou virtualmente” (JUREMIR,2003, p. 9). Seu caminho passa por Maffesoli, que por sua vezrelê Durand, Jung, Bachelard e Benjamin. Passa também porMarx e Althusser, no que se refere a aspectos ideológicos, porMorin e Sfez, quanto às tecnologias do espírito, por Debray emrelação às tecnologias da crença e por Lévy, que delineiaparâmetros para tecnologias da inteligência. O pesquisador tecereflexões sobre o tema, pontuando certas fases percorridaspelas tecnologias do imaginário: a primitiva, mítica (teatro,contos); a mediada (advento das mídias); a comunicacional(advento das NTCI).

Com divergências, a pesquisa de Erick Felinto remete aomesmo tema, o do imaginário tecnológico, mas enquantoMachado da Silva reflete filosoficamente sobre o tema, osestudos de Felinto são mais pontuais e se referem aoimaginário de ficção científica, na esteira de Donna Haraway,recuperando as imagens do futuro quanto ao pós­humano.Transcendendo as dicotomias radicais, Felinto acredita que, “noplano do imaginário, os opostos se desfazem, pois não existemtensões permanentes... À crítica deverá tão somente caber opapel de despir o objeto tecnológico dos excessosinterpretativos e prepará­lo para ser pensado como partefundamental da cultura...” (FELINTO, 2005, pp. 133­134).

Também dentro do tema do cyborg e da ficção científicasituam­se as pesquisas de Ieda Tucherman, Fátima Régis eAdriana Amaral. Tucherman analisa as narrativas de ficçãocientífica e questiona as fronteiras entre subjetividade etecnociência. Em seus artigos “A juventude como valorcontemporâneo”, “Corpo, fragmentos e ligações” e “Fabricandocorpos: ficção e tecnologia”, a pesquisadora explicita aproximidade da ficção científica aos experimentoscontemporâneos. Régis desenvolve pesquisa sobre asubjetividade cyber, ou seja, as novas formas de interaçãohomem­máquina que diluem as fronteiras entre o orgânico e omaquínico, acreditando, como Tucherman, que muitoselementos do futuro anunciado na ficção científica já fazemparte de nossa realidade.

Amaral apresenta o cyberpunk como uma subcultura híbridaque se encontra no âmago de um imaginário tecnológico, umsubgênero vindo das visões obscuras e distópicas doromantismo gótico e de um passado de contracultura. Emrelação à música eletrônica, a pesquisa de Amaral apresentauma coleção de imagens de sublimidade tecnológica na qualexiste uma apropriação do capital subcultural da músicaeletrônica pelas temáticas cyberpunks da fusão do homem­máquina e do futuro distópico. Essa pesquisa converge em

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alguns pontos com a da pesquisadora Simone Pereira de Sá,que acredita que a música eletrônica encontrou na Internet umespaço importante de comunicação, imbricando tecnologia ecultura de massa. Seu estudo contextualiza apropriações ehibridismos que ocorrem entre mídias diferentes na dinâmicade desenvolvimento dos meios de comunicação, oferecendoprojetos antes restritos às elites.

Imersão e interfacesA este cluster pertencem os pesquisadores que trabalham nocampo da comunicação com interfaces com Arte, Antropologia,Educação, Literatura, Filosofia, Sociologia, Computação, eInformática. Alguns pesquisadores pertencem a grupos depesquisa aplicada, outros são realizadores.

Giselle Beiguelman é um exemplo que caracteriza bem ocontexto deste cluster. Com uma extensa produção em wirelessart e mobilidades, dedica­se também ao ensino e ao exercícioacadêmico. Pertence à linha de pesquisa “Processos criativosem mídias interativas” e ao Grupo de Pesquisa “netart:perspectivas criativas e críticas”. Seus temas são tangenciais ehíbridos, criando links entre arte, mídias, política, ciberculturae comunicação. Seu projeto Imagem/Interface investiga asparticularidades da imagem digital, discutindo a suatransformação em interface de comunicação e pressuposto desua cultura de mídias cíbridas. Parte da premissa do paradigmada estética da transmissão em diálogo com contextosentrópicos e de fluxo contínuo que fazem repensar acomunicação no âmbito da mídia e da dispersão.

Diana Domingues, uma das pioneiras na área, é outro exemplo:artista interativa e pesquisadora da UTP, coordena oLaboratório de Novas Tecnologias UCS/CNPq. Sua pesquisaatual analisa as novas formas de comportamento expandidaspelas tecnologias numéricas, as interfaces, as redes, que fazemrepensar não só a questão antropológica da dimensão do corpocomo os processos de inteligência coletiva e de interaçõescomplexas entre o orgânico e o inorgânico, o real e o virtual eo natural e o artificial. A pesquisadora acredita que “avelocidade dos processadores, a capacidade de armazenarinformações, os sistemas interativos que entendem sinaisnaturais fazem com que as tecnologias numéricas contem comcomputadores cada vez mais biológicos e com interfaces comsensibilidade mais humana, o que aponta para uma vida com astecnologias se naturalizando e o corpo se tecnologizando”(DOMINGUES, org., 2003, pp. 110­111).

Paulo Cunha e André Neves, em suas pesquisas no Laboratóriode Hipermídia da UFPE, Virtus, começaram, já em 1996, apensar e implementar soluções para o ciberespaço: ambientesvirtuais de aprendizagem, galerias de arte digital, experiênciasde interação homem­máquina, bibliotecas virtuais abertas.Também em 1996, publicaram o livro “Onde as ruas não temnomes”, uma das primeiras publicações brasileiras relativas aocampo da cibercultura no Brasil. Os projetos em parceria com ainiciativa privada e com instituições fora da universidade criamum ambiente híbrido onde a produção acadêmica e odesenvolvimento de aplicações de base tecnológica interagem.Atualmente a Unidade Kimera pensa e desenvolve aplicaçõesestritamente no campo das novas imagens (games e pós­cinema).

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Os campos de pesquisa de Arlindo Machado abrangem ouniverso das chamadas imagens técnicas, ou seja, produzidasatravés de diversas tecnologias como cinema, fotografia, videoe, atualmente, mídias digitais. Percorrendo o caminhotransdisciplinar de suas produções e atuações em eventos,palestras e congressos, nota­se que seu interesse se dirige avários temas, como imagens inteligentes, fotografiashipotéticas, games baseados em inteligência artificial,processos de subjetivação, entre muitos outros. Sua inserçãoneste espaço se dá exatamente pelas interfaces abordadas emsuas pesquisas e pela abrangência de seus estudos.

A pesquisa de André Parente, em Comunicação, Arte eTecnologia, também trabalha com interfaces: “Cinema, arte etecnologia: as instalações panorâmicas”, analisando aspectostécnicos e estéticos do cinema panorâmico imersivo, situando­os na história do cinema e da arte e considerando asvirtualidades das novas formas de criação pelas tecnologiasavançadas. Em seus livros, Parente reúne artigos sobre ovirtual, o hipertextual e outros elementos da cibercultura.

Jornalismo digitalA pesquisa de Marcos Palácios, da UFBA, um dos pioneiros nosestudos de cibercultura no Brasil, tem como tema o jornalismoem redes digitais e como objetivo problematizar a Internetenquanto suporte para a prática do jornalismo. Seu estudo atualse dirige ao jornalismo online de terceira geração, isto é,quando a Internet pede que as matérias sejam reconfiguráveis,podendo explorar os recursos multimidiáticos, como texto,áudio, vídeo e gráficos.

Elizabeth Saad Correa desenvolve pesquisa em jornalismo emercado, enfatizando as relações entre informação, público enegócios no campo das mídias a partir do advento dastecnologias digitais de informação e comunicação. Atualmentesua pesquisa enfatiza a narrativa jornalística digital,desenvolvendo uma taxonomia a partir de experiências práticascom usuários e correlação com o campo da Comunicação e daSemiótica.

Também com a preocupação do novo papel do leitor, apesquisa de Claudia Quadros, da UTP, “Jornalismo Público,Internet e Terceiro Entorno”, enfoca a efetiva participação dosleitores/cibernautas. Em pesquisas anteriores, explora aarquitetura da informação na web, com destaque para os sitesjornalísticos que exploram com mais eficiência os recursoshipermidiáticos que a Internet oferece. Enfatiza as rotinasprodutivas e o impacto tecnológico, assim como Zélia LealAdghirni, da UnB. A última defende que há um modeloconsolidado de jornalismo na Internet, mas sua pesquisaquestiona que tipo de jornalista produz para a internet, que tipode trabalho este jornalista realiza e se este é um trabalhojornalístico. Tem interesse em pesquisar as novas tecnologiasem relação à imprensa e ao poder, na área de comunicação,enfatizando a situação das instituições e assessorias deimprensa frente às novas formas de produção de jornalismo.

Em seu projeto “Rede latino­americana para pesquisa demetodologias e software para o ensino de jornalismo em redesde banda larga”, Elias Machado pretende analisar asespecificidades dos modelos de produção de conteúdos nas

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publicações jornalísticas regionais nas redes digitais do Brasil eEstados Unidos. No caso brasileiro, a pesquisa darácontinuidade ao projeto “A estrutura da notícia nas redesdigitais da Bahia”, enfatizando as mudanças nas práticasprofissionais.

Web sociabilidades/subjetividadesFrancisco Rüdiger, da PUC­RS, tem colaborado para odesenvolvimento da epistemologia dos estudos da área, emrelação ao pensamento tecnológico, provocando reflexões sobreas teorias, em abordagem crítica da cibercultura. Analisa osujeito e suas personas e avatares na web, questionando asubjetividade nas novas mídias e resgatando as noções desujeito­objeto. Como sugere o pesquisador: “...chegada a erada cibercultura, ao invés do sujeito, é antes o objeto que tendea ser desconstruído. A subjetividade ilimitada por ela ensejadalonge está de cancelar essa figura, tendendo ao contrário areforçá­la, por mais que se abram caminhos para o livre fluxoda imaginação” (RÜDIGER, 2002, p. 151).

O pesquisador Francisco Menezes Martins, da UTP, desenvolvepesquisa empírica em blogs e fotologs e estudos sobre agenealogia da cibercultura, com análise da subjetividade evisibilidade no ciberespaço. Iniciando com Nietzsche e combases teóricas também em Foucault e seus conceitos desociedades disciplinares e Deleuze, com sociedades de controle,Menezes Martins objetiva refletir sobre os valores humanos nasnovas relações homem­técnica na cibercultura.

Com enfoque filosófico e bases teóricas em Foucault, Nietzschee Bergson, a pesquisa de Maria Cristina Franco Ferraz, da UFF,enfoca a modernização da percepção e os conceitosbergsonianos de imagem, memória e virtualidade, considerandocomo premissa o advento das novas tecnologias. Demonstratambém a preocupação da pesquisadora em relação às novassociabilidades.

Também relacionada ao tema da cibercultura e sociabilidadesestá situada a pesquisa de Décio Pignatari, da UTP, que seintitula “Cibermídia­Cibermassa” e visa estudar a sociedade demassa dentro do universo do ciberespaço. A hipótese/problemado pesquisador é a de que novas mídias trazemnecessariamente novos usuários e, dentre eles, uma massaindiferenciada, que passa das mídias analógicas às digitais semreflexões maiores do que o uso indiscriminado de tecnologiasaparentemente atraentes e pontuais.

Em suas pesquisas mais recentes, Lucia Santaella analisa asnovas mídias e os novos usuários, questionando o tema dasidentidades múltiplas, mais evidenciado após o advento dasnovas tecnologias. Apesar de admitir, como Rüdiger, quepodemos criar personas mais fluidas no ciberespaço do que emoutros contextos, pelo fato de que o ambiente simuladoproporciona mais oportunidades, a pesquisadora conclui que “anovidade do ciberespaço não está na transformação deidentidades previamente unas em identidades múltiplas, pois aidentidade humana é, por natureza, múltipla. A novidade está,isto sim, em tornar essa verdade evidente e na possibilidade deencenar e brincar com essa verdade, jogar com ela até o limiteúltimo da transmutação identitária” (LEÃO, org., p. 53).

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Abordando também o tema da identidade, Fernanda Brunodiscorre sobre dispositivos de visibilidade e produção desubjetividade nas TICs, sugerindo que a modulação daidentidade ocorre a partir do “olhar do outro” e que, se, por umlado, como diz Arlindo Machado, os reality shows, weblogs efotologs provocam o exibicionismo do sujeito, que aceita e querparticipar, por outro, as câmeras (circuitos internos) estãosempre nos vigiando, propondo novas formas de exibição.

Henrique Antoun, da UFRJ, desenvolve pesquisa intitulada“Mediação e mobilidade: comunidades virtuais, dispositivosmóveis de comunicação e o futuro da democracia nacibercultura”. Seu objetivo é analisar as conseqüências damobilidade das redes de parceria para a prática democrática,com ênfase no papel do usuário como produtor e consumidor deconhecimento, no papel democratizador das comunidadesvirtuais e nas novas formas de organização dos movimentossociais na Internet.

Na mesma temática da democratização da Internet se situa apesquisa de Suely Fragoso, que provoca reflexão quanto aoaspecto da “exclusão digital” (“digital divide”), oferecendodados estatísticos sobre a porcentagem de acesso à rede e aalarmante proporção de excluídos, questionando também, emsua pesquisa atual, a relevância e visibilidade dos websitesbrasileiros.

A pesquisa de Eugenio Trivinho, da PUC­SP, também se refereao universo da cibercultura em relação à sociedade:“Comunicação, existência e tempo real: investigação sobre asignificação sócio­histórica do fenômeno glocal na civilizaçãotecnológica avançada”. Seu estudo é voltado aodesenvolvimento de pesquisas teóricas e produção avançada decrítica conceitual acerca da cibercultura como marco epistêmicoreferencial do contexto sócio histórico, tecnológico e mediáticocontemporâneo.

Alex Primo, em seu projeto atual, analisa o processo da escritacoletiva na web, com seus hipertextos e formas de cooperaçãoonline para a construção cooperada do conhecimento, refletindosobre o uso de software social e os conflitos provocados pelamediação do computador. Além disso, preocupa­se com odesenvolvimento de ambientes virtuais de aprendizagem e suasmetodologias didático­pedagógicas para a EAD.

Conclusão parcial e continuidadesPercebe­se que a tendência do momento é analisar o impactodas novas mídias, das tecnologias wireless, e as formasemergentes após o advento das mesmas, seja em enfoquesmais filosóficos ou até metafóricos, seja em pesquisasaplicadas, como instalações interativas e imersivas. Asrepercussões na sociedade são analisadas em e através deblogs, portais, infografias e softwares, entre outros, sempretentando evidenciar aspectos hipermidiáticos característicos dasnovas mídias. Temas ainda não muito explorados são ossoftwares baseados em inteligência artificial, a nova interaçãoemissor­usuário, que está sugerindo teorias da comunicaçãomais adequadas ao contexto contemporâneo, os computadoresinteligentes, e as intranets e portais que facilitam o acesso deusuários da web.

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Após pouco mais de dez anos de estudo, sem considerar quemuitos temas e conceitos já estavam latentes por algum tempo,há muitas pesquisas interessantes e relevantes, tanto emtermos nacionais, desenvolvendo estudos de casos no Brasil,como em termos de adequação de conceitos e teorias paranossa realidade, ou estudos comparativos em parceria comoutros países. Alguns pesquisadores trabalham em fronteiras,produzindo e analisando interfaces da comunicação com áreascorrelatas.

Como Norbert Wiener já prenunciava, o legado da cibernética àcibercultura foi a sugestão de que os seres humanos e asmáquinas não são essencialmente diferentes. Dentro destetema, podem­se notar as teorias de base norteadoras daspesquisas no Brasil, mais evidentemente as de Pierre Lévyquanto às tecnologias da inteligência, as de Castells, emrelação às virtualidades, as de McLuhan relativas aos meioscomo extensões, as de Couchot quanto à simulação, as deAscott em relação às telecomunicações interativas (arte,tecnologia e consciência). No campo filosófico, me parece queDeleuze, Benjamin , Heidegger e Nietzsche e Flusserpermanecem precursores. Enquanto Baudrillard e Viriliosugerem argumentações, Maffesoli resgata encantos e Bergsonreaviva memórias. No cenário das imersões e da virtualidade,Kerckhove sugere novas inteligências enquanto Rheingolddestaca comunidades virtuais e Donna Haraway descrevecyborgs. Também consensuais são os conceitos de Manovich,Durand e Morin.

Minha pesquisa abrange mais três etapas: a contextualização edetalhamento dos “clusters conceituais”, em enfoque maisreflexivo; o levantamento (em enfoque mais informativo) dosperiódicos e livros organizados por pesquisadores em relaçãoao tema da cibercultura, como o caso da Coleção Ciberculturada Editora Sulina, que já conta com 13 livros, da “Ciberlegenda”(Luiz Carlos Lopes), da “Contracampo” (Felipe Pena), ou da e­compós (Francisco Menezes e João Freire); e a inclusão depesquisadores­doutores independentes ou de programas nãofiliados à Compós que contribuem para a área da Comunicação.

Notas:

1 Este trabalho é um recorte da pesquisa de Pós­Doutorado que estou desenvolvendoatualmente.2 No momento, minha pesquisa conta com 50 nomes de pesquisadores doutores deprogramas filiados à Compós Trinta nomes aqui citados estão contextualizados, nosclusters geográficos e nos temáticos. Outros nos clusters conceituais, que pertencemà 2ª. fase da pesquisa, ainda em desenvolvimento. 3 Minha pesquisa inclui descrições detalhadas das ementas das linhas de pesquisareferentes à cibercultura (não incluídas aqui neste recorte), tentando aproximações einterfaces entre os programas.4 Os Grupos de Pesquisa aqui citados estão por ordem de data de criação, de acordocom a Plataforma Lattes ­CNPq5 Os clusters temáticos estão classificados por ordem alfabética de títulos, e ospesquisadores por convergências e analogias, sem qualquer ordem hierárquica.6 Para referência, “Hipertrópole digital”, no livro Imagem (IR) Realidade, EditoraSulina, org. Denize Araujo7 A pesquisa de Vinicius Andrade Pereira está no tema de “cibercidades/mobilidades”pela analogia que fiz das extensões do ser humano (cérebro/memória) com aexpansão das cibercidades.

Referencias:

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ARAUJO, Denize Correa, org. Imagem (IR) Realidade: comunicação e cibermidia.PA: Sulina, 2006. DOMINGUES, Diana, org. Arte e vida no século XXI: tecnologia, ciência ecriatividade. SP: UNESP, 2003.FELINTO, Erick. A Religião das máquinas: ensaio sobre o imaginário dacibercultura.PA: Sulina, 2005 LEÃO, Lucia, org. Derivas: cartografias do ciberespaço. SP: Annablume/Senac,2004.LEMOS, André, org. Cibercidade: as cidades na cibercultura. RJ: E­papers, 2004.________ ; CUNHA, Paulo, orgs. Olhares sobre a cibercultura. PA: Sulina, 2003.MACHADO DA SILVA, Juremir. As tecnologias do imaginário. PA: Sulina, 2003.PARENTE, André, org. Tramas da rede. PA; Sulina, 2004.RÜDIGER, Francisco. Elementos para a crítica da cibercultura. SP: Hacker Editores,2002._________. Introdução às teorias da cibercultura: perspectivas do pensamentotecnológico contemporâneo. PA: Sulina, 2004.(http://ctjovem.mct.gov.br/index.php.action)(http://magnet.com.br/bits/especiais/2003)

Minhas fontes de dados foram: Plataforma Lattes CNPq, sites dos programas,Internet, periódicos Qualis, livros publicados e organizados por pesquisadores daárea, Coleção Cibercultura da Editora Sulina.

Denize Correa AraujoCoordenadora PPGCOM­Universidade Tuiuti do Paraná – UTP, Brasil.