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30/5/2009 1 Estudos Ecológicos Estudos Ecológicos Oswaldo G. Cruz ([email protected]) Programa de Computação Científica PROCC/FIOCRUZ Desenho de Estudo Plano e estrutura do trabalho de investigação que tem como objetivo responder a uma questão científica Conhecer o modo como o estudo foi realizado, define as características básicas do estudo (unidade de observação, unidade de análise, intervenção, seguimento, resultados, etc) ESTUDOS ECOLÓGICOS É um estudo observacional com a informação obtida e analisada no nível agregado. Unidade de análise: população ou um grupo de pessoas de uma área geográfica definida; pessoas de uma área geográfica definida; Avaliação: contextos social e ambiental x saúde de grupos; Estudos Ecológicos - conceitos Um estudo ecológico ou agregado focaliza a comparação de grupos, ao invés de indivíduos. A razão subjacente para este foco é que dados a nível individual da distribuição conjunta de duas (ou talvez todas) variáveis estão faltando internamente nos grupos; neste sentido um estudo ecológico é um desenho incompleto”. (Morgenstern, cap. Ecologic Studies - in Rothmans, Modern Epidemiology, 2ª Ed., 1998) Estudos Ecológicos - conceitos ... estudar saúde no contexto ambiental. O objetivo é ambicioso: entender como o contexto afeta a saúde de pessoas e grupo através de seleção, distribuição, interação, adaptação, e outras respostas. Medidas de atributos do indivíduo não podem dar conta destes processos [...] Sem medir estes contextos, nem padrão de mortalidade e morbidade, nem o espalhamento epidêmico, nem a transmissão sexual podem ser explicados(Susser, Am.J.Public Health, 1994;84:825-835) Estudos Ecológicos - conceitos Textos de Epidemiologia fazem uma avaliação consistente sobre estudos ecológicos: eles são tentativas cruas de estimar correlações em nível individual. [...] Examinar esta questão de uma perspectiva diferente - como um problema geral de validade - mostrará que a falácia ecológica, conforme freqüentemente usada, encoraja três noções interrelacionadas e falaciosas: (1) que modelos em nível individual são mais perfeitamente especificados que os de nível ecológico, (2)que correlações ecológicas são sempre substitutos para correlações de nível individual, e (3) que variáveis de nível de grupo não causam doença. (Schwartz, Am.J.Public Health, 1994;84:819-824)

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30/5/2009

1

Estudos EcológicosEstudos Ecológicos

Oswaldo G. Cruz ([email protected])

Programa de Computação Científica PROCC/FIOCRUZ

Desenho de Estudo

Plano e estrutura do trabalho de investigação que tem como objetivo responder a uma questão científica

Conhecer o modo como o estudo foi realizado, define as características básicas do estudo(unidade de observação, unidade de análise, intervenção, seguimento, resultados, etc)

ESTUDOS ECOLÓGICOS

É um estudo observacional com a informação obtida e analisada no nível agregado.

Unidade de análise: população ou um grupo de pessoas de uma área geográfica definida;pessoas de uma área geográfica definida;

Avaliação: contextos social e ambiental x saúde de grupos;

Estudos Ecológicos - conceitos “Um estudo ecológico ou agregado focaliza a

comparação de grupos, ao invés de indivíduos. A razão subjacente para este foco é que dados a nível individual da distribuição conjunta de duas (ou talvez todas) variáveis estão faltando internamente nos grupos; neste sentido um estudo ecológico é um desenho incompleto”.

(Morgenstern, cap. Ecologic Studies - in Rothmans, Modern Epidemiology, 2ª Ed., 1998)

Estudos Ecológicos - conceitos “... estudar saúde no contexto ambiental. O

objetivo é ambicioso: entender como o contexto afeta a saúde de pessoas e grupo através de seleção, distribuição, interação, adaptação, e outras respostas. Medidas de atributos do indivíduo não podem dar conta destes processos [...] Sem medir estes contextos, nem padrão de mortalidade e morbidade, nem o espalhamento epidêmico, nem a transmissão sexual podem ser explicados” (Susser, Am.J.Public Health, 1994;84:825-835)

Estudos Ecológicos - conceitos “Textos de Epidemiologia fazem uma avaliação

consistente sobre estudos ecológicos: eles são tentativas cruas de estimar correlações em nível individual. [...]Examinar esta questão de uma perspectiva diferente -como um problema geral de validade - mostrará que a falácia ecológica, conforme freqüentemente usada, f g , f f q ,encoraja três noções interrelacionadas e falaciosas: (1) que modelos em nível individual são mais perfeitamente especificados que os de nível ecológico, (2)que correlações ecológicas são sempre substitutos para correlações de nível individual, e (3) que variáveis de nível de grupo não causam doença. ” (Schwartz, Am.J.Public Health, 1994;84:819-824)

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Estudos Ecológicos - conceitos

“A Epidemiologia é freqüentemente definida em

termos do estudo da determinação da distribuição da

doença; mas não se deve esquecer que quanto mais

espalhada é uma causa particular, menos ela contribui

para explicar a distribuição da doença.”

“...dois tipos de perguntas etiológicas. A primeira

busca as causas dos casos, e a segunda as causas da

incidência.”

(Rose G. Sick individuals and sick populations. Int J Epidemiol. 2001

Jun;30(3):427-32; discussion 433-4.)

Estudos Ecológicos - conceitos

“Aplicada à etiologia, a visão centralizada no indivíduo leva ao uso do risco-relativo como a representação básica da força etiológica: ou seja, o risco em indivíduos expostos relativo aos não-expostos. [...] Esta

d l lh did d fpode ser geralmente a melhor medida de força etiológica, mas não é medida de [...] importância em saúde pública.” (idem)

Estudos Ecológicos - conceitos “É rara a doença cuja taxa de incidência não tenha variado

largamente, seja ao longo do tempo ou entre populações [...] Isto

significa que as causas da incidência, desconhecidas que sejam,

não são inevitáveis. [...] Mas identificar o agente causal pelos

métodos tradicionais de caso-controle e coorte não terá sucesso

se não houver suficientes diferenças na exposição dentro da

população [...] Nestas circunstâncias tudo os que os métodos

tradicionais fazem é encontrar marcadores de susceptibilidade

individual. A chave deve ser buscada nas diferenças entre

populações ou em mudanças nas populações ao longo do tempo.”(idem)

Estudos Ecológicos - conceitos

“ ... torna-se aparente que muitas das explicações convencionais dos determinantes da saúde - porque algumas pessoas são saudáveis e outras não - são, na melhor das hipóteses seriamente incompletas, se não simplesmente erradas. É assim, infelizmente, porque as sociedades modernas dedicam uma parte muito grande desociedades modernas dedicam uma parte muito grande de sua riqueza, esforço e atenção tentando manter ou melhorar a saúde dos indivíduos que compõem suas populações. Estes esforços maciços são primeiramente canalizados para os sistemas de assistência à saúde, presumivelmente refletindo uma crença que receber uma boa assistência é o mais importante determinante de saúde.” (Evans,R.G.”Why are some people healthy and others not”)

Estudos Ecológicos - conceitos “Grande parte da pesquisa atual em epidemiologia está

baseada no individualismo metodológico: a noção que a distribuição da saúde e doença em populações pode ser explicada exclusivamente em termos das características dos indivíduos.” (DIEZ-ROUX AV. Bringing context back into epidemiology: variables and fallacies in multilevel analysis. AJPH,1998;88(2):216-22)

“A idê i d d t f it d i i h úd é A evidência de modestos efeitos de vizinhança na saúde é razoavelmente consistente, apesar da heterogeneidade dos desenhos dos estudos [...] e prováveis erros de medida. Ao chamar a atenção da saúde pública para os riscos associados com a estrutura social e ecológica de vizinhança, enseja-se possíveis intervenções inovadoras no nível da comunidade.” (PICKETT KE, PEARL M. Multilevel analyses of neighbourhood socioeconomic context and health outcomes: a critical review. J Epidemiol Community Health

2001;55(2):111-22)

Epidemiologia social “the branch of epidemiology that studies the social

distribution and social determinants of health.” “social epidemiology embodies a new focus on the community as an entity in itself, an entity more complex than the sum of the individual persons who make it up” (Berkman L. F. & Kawachi I. (Editors). Social Epidemiology. Oxford University Press, 2000)

“Physicians are accustomed to think of the socioeconomic determinants of disease in terms of an individual person's risk factors. [...] It now seems clear that absolute wealth or income is a less important determinant of health than the relative disparity in income or the income gap between the rich and the poor.” (Kawachi I.; Kennedy B.P.; Wilkinson R.G. The Society and Population Health Reader: Income Inequality and Health. New Press, 1999).

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As árvores

ou

a floresta?

As Árvores

810

810

Suponha os dados abaixo, onde a variável “X” representa um efeito de exposição e a variável “Y” um taxa

Ao fazermos uma regressão obtemos uma correlação de apenas 0,1469 entre as duas variáveis.

0 100 200 300 400

24

6

ex

tt

0 100 200 300 400

24

6

ex

tt variável Y um taxa.

Os Bosques

Ao estratificarmos os dados evidencia-se uma estrutura

810

Ao fazer uma d

810

0 100 200 300 400

24

6

ex

tt regressão em cada grupo obtém-se

0 100 200 300 400

24

6

ex

tt

Vermelho r = -0,6760 Amarelo r = -0,7469

Verde r = - 0,6503 Azul r = -0,5487

As Florestas

810

Quatro pontos sob

Tirando-se a média para cada grupo iremos obter

810

810

O coeficiente de correlação obtido e r = 0,9938

0 100 200 300 400

24

6

ex

tt os quais faremos uma regressão

0 100 200 300 400

24

6

ex

tt

0 100 200 300 400

24

6

ex

tt

Problemas práticos

Numerador: subregistro

duplicidade de registros

georreferenciamento: não localização

i f ã i informação incorreta

preenchimento inadequado

mudança na classificação ao longo do tempo

Denominador: espaçamento do censo

migração

mudança de fronteiras (!!!!)

Problemas práticos Exposição:

pode ocorrer em diversos lugares dificilmente mensurável com precisão uso de “proxy” diferentes áreas para medida de exposição e de efeito, e áreas

não compatíveis Informações mais detalhadas (PNAD, amostra do censo) não

extrapoláveis para populações pequenas

Análise: migração multicolinearidade

Fonte: Walter, S.D.Ecological Studies - discussion. In Int. Conf. on the Analysis and Interpretation of Disease Clusters and Ecological Studies,

Londres, 16-17 de dezembro, 1999.

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Principais aplicações

Séries Temporais Análise Espacial Modelos Espaço-Temporais Modelos de Espalhamento de epidemias .

O que é uma Série Temporal?

Conjunto de observações ordenadas no tempo Exemplos

Classificação: discretas:

a unidade de tempo é discreta, usualmente intervalos iguais (dias, semanas epidemiológicas; mês não tem o mesmo tamanho)

Ex. Mortalidade infantil, notificações por DIC

contínuas:

Tipos de ST

a informação é obtida por amostragem (discretizando em intervalos iguais) ou é acumulada por período

Ex. temperatura, pluviosidade, partículas em suspensão.

multidimensional: Ex. Mortalidade infantil das Ufs do Sudeste

multivariada: Ex. Número de homicídios e acidentes no RJ.

Processo estocástico

Um processo estocástico pode ser pensado de duas formas: um conjunto de possíveis trajetórias de um fenômeno físico

que poderiam ser observadas;

um conjunto de variáveis aleatórias uma para cada tempo t

C d l b d d t j tó i é d Cada valor observado de uma trajetória é um dos possíveis valores que poderiam ter sido observado, de acordo com a distribuição de probabilidades da respectiva variável aleatória.

Série temporal é o conjunto de observações disponíveis para análise - uma parte de uma trajetória entre muitas que poderiam ter sido observadas

Exemplo

4050

60Série com a mesma estrutura:cada série é uma possível

0 10 20 30 40 50

1020

30

uma possível realização do mesmo processo estocástico.

Trajetória ou série temporal ou função amostral

Notação e nomenclatura

Utilizando o exemplo óbitos por causa por local: Zt - óbitos no instante t

250

300

350

400

Processo estocástico: conjunto de todas as possíveis realizações;

Z (n)-cada trajetória

0

50

100

150

200

1 13 25 37 49 61 73 85 97 109 121 133 145 157 169 181 193

t

Z(t

)Zt (n)-cada trajetóriaZ6 (1)= 87 Z6 (2)= 52valor da medida de

cada série no instante t=6

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Objetivos: análise de séries temporais

Objetivo Exemplo

Descrição: verificar existência detendência, sazonalidade, ciclos.Histogramas, boxplots, são ferramentasda análise exploratória descritiva

Identificar tendência da AIDS;sazonalidade da dengue visandoestabelecer melhor período deintervenção.

Estabelecimento de causalidade: estudoda relação de causa-efeito

Vacina X sarampo; Mortalidadepor DIC X melhor assistência

Classificação: identificação de padrões A série de leishmaniosetegumentar é “igual” à visceral?

Controle: sistemas dinâmicos,caracterizados por uma entrada Xt, umasérie de saída Zt e uma função detransferência vt

Modelar a resposta a medidasde controle de epidemia

Objetivos: análise de séries temporais

Objetivo Exemplo

Monitoração: Detectar variações no comportamento da ST conforme elas ocorram

Dosagem de Hormônios ou de sinais vitais em CTI

ocorram

Predição Predição de epidemias

Independência

Os métodos usuais de análise de dados têm como pressuposto básico a independência dos eventos (casos). Ou seja, a ocorrência de um caso de doença em uma dada pessoa é independente da ocorrência em outra pessoa.

Na análise da incidência de doenças (ou qq outro Na análise da incidência de doenças (ou qq outro indicador ecológico) ao longo do tempo isso não é verdade: a incidência em um determinado dia/mês ou ano em geral é correlacionada com a ocorrência no dia/mês/ano anterior.

Esta correlação é expressa em uma função denominada função de autocorrelação.

Dependência

Quanto a dependência uma ST pode possuir : Independência (sem dependência serial): série

puramente aleatória ou ruído branco Memória longa: a dependência desaparece

lentamente (os valores de pontos no passado ( p pinfluenciam momentos muito adiante no tempo -exemplo: doenças com grande latência)

Memória curta: dependência desaparece rapidamente (doenças de alta infecciosidade e “explosivas” - exemplo: gripe)

Há muitos e muitos anos atrás...Há muitos e muitos anos atrás...

Snow, John.

Localização dos

casos de cólera e casos de có e a e

bombas d’água.

Londres, 1854

Fonte: Gilbert, E.W. Geographical Journal, 124:172:183

O que é análise espacial

Análise espacial: estudo quantitativo de fenômenos que são localizados no espaço.

Análise de dados espaciais: em oposição a análise de dados em geral, focaliza-se as técnicas onde de considera explicitamente a localização espacial.

Diversas operações realizadas em um SIG são também chamadas análise espacial, mas muitas delas não se valem de estatística.

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Quando usar

Quando o evento em estudo é gerado por fatores ambientais de difícil detecção a nível do indivíduo;

Na delimitação de áreas homogêneas segundo intervenção pretendida;ç p ;

Quando o evento em estudo e os fatores relacionados têm distribuição espacialmente condicionada;

No estudo de trajetórias entre localidades.

análise estatística espacial E o que é afinal análise estatística espacial

Defini-se “análise estatística espacial quando os dados são espacialmente localizados e se considera pexplicitamente a possível importância de seu arranjo espacial na análise ou interpretação dos resultados” (Bailey & Gatrell, 1995).

Dependência espacial Quais as possíveis implicações de não considerar a

localização espacial na modelagem? “todas as coisas são parecidas, mas coisas mais próximas se

parecem mais que coisas mais distantes” (Tobler, 1979)

“Independência é um pressuposto muito conveniente que faz grande parte da teoria estatística matemática tratável Entretantogrande parte da teoria estatística matemática tratável. Entretanto, modelos que envolvem dependência estatística são freqüentemente mais realísticos. [...] dados espaciais, onde a dependência está presente em todas as direções e fica mais fraca a medida em que aumenta a dispersão na localização dos dados.” (Cressie,1991)

Principais Aplicações

Mapeamento de doenças: descrição do processo espacial de distribuição das doenças, visando vigilância, predição de epidemias, etc.

Estudos ecológicos: estudar a relação entre incidência de doenças e potenciais fatores etiológicos, seja no campo da análise exploratória visando definir hipótesesda análise exploratória visando definir hipóteses (formulação clássica), ou apontar medidas preventivas.

Cluster: identificação de focos de doença ou avaliação de aumento de risco ao redor de fonte suspeita de risco ambiental.

Avaliação e monitoramento ambiental: estimativa e monitoramento da distribuição espacial de fatores ambientais relevantes para a saúde.

Mapeamento de doenças O objetivo geral é avaliar a variação geográfica na

ocorrência das doenças visando identificar diferenciais de risco, orientar a alocação de recursos, levantar hipóteses etiológicas.

Os métodos tem como objetivo produzir um mapa “limpo”, sem o “ruído” gerado pela flutuação aleatória dos pequenos se o u do ge do pe u u ç o e ó dos peque osnúmeros, e controlando as diferenças na estrutura demográfica.

São usualmente aplicados aos dados resultantes de contagens de casos em áreas administrativas ou de indicadores (taxas e proporções).

Também são aplicados a dados pontuais, usualmente trabalhados sob forma de superfícies de risco, ou de risco relativo.

Estudos ecológicos

Essencialmente modelos de regressão, onde se busca

explicar a variação na incidência da doença através de

outras variáveis.

O modelo se complica pela necessidade de controlar

simultaneamente o processo espacial.

Classicamente aplica-se a dados agregados em áreas.

Pode-se entretanto considerar também dados pontuais e

misturas de diferentes tipos de dados.

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Aglomerado - Cluster

“Cluster”: qualquer agregado de eventos.

Cluster em estatística multivariada é um resultado de classificação onde se busca definir um grupamento de “semelhantes”.

Cluster espacial é um agregado de eventos no espaço ou a ocorrência de “taxas semelhantes” em área próximas.

O objetivo da detecção de cluster espacial é estabelecer a significância de um sobre-risco em um determinado espaço ou tempo e espaço.

Cluster

Estes cluster podem ser causados por diferentes fatores: agentes infecciosos, contaminação ambiental localizada, efeitos colaterais de tratamentos, etc.

Os estudos podem estar dirigidos a buscar evidência de dê i l à l i ã d i dtendência geral à clusterização, ou a um determinado e

predefinido agregado.

Podem ser usados para pontos ou áreas.

É indispensável controlar para fatores como a distribuição populacional e outras covariáveis que podem criar agregados.

Monitoramento ambiental

Acompanhamento de potenciais fontes ambientais de problemas de saúde: poluentes químicos, insolação (Raios UV), vegetação, clima, etc.

Os modelos estatísticos tem por objetivos fazer a predição espacial ou espaço-temporal. Estes processos em geral tem forte correlação espacial e temporal

O interesse pode estar voltado para predição de valores extremos.

A quantidade e disponibilidade de dados nesta área vem crescendo, com ênfase particular para as imagens de satélite, com resolução e acessibilidade cada vez maior.

Análise espacial - análise exploratóriadescrição dos dados de forma a contribuir para o

desenvolvimento de hipóteses e modelos;caracterizam-se por poucos pressupostos a priori e são

resistentes a valores aberrantes (técnicas robustas);

envolvem, além da visualização, alguma manipulação , ç , g p ç

dos dados, sendo difícil estabelecer a fronteira entre

visualização, análise exploratória e modelagem.gráficos dinâmicos - selecionar no mapa e analisar

estatística, identificar outliers no mapaEx: seleção de sub-regiões, análise de vizinhança.

Metodologias estatísticas

Durante a última década, ocorreu um crescimento rápido no desenvolvimento de metodologias estatísticas aplicadas ao mapeamento de doenças e diversos tipos de modelos espaciais foram propostos para várias situações.

A maior parte destes visava avaliar a variação espacial no padrão de ocorrência de um agravo modelandopadrão de ocorrência de um agravo, modelando determinantes e estrutura espacial simultaneamente.

Recentemente incorpora-se aos modelos, além do lugar, o tempo, permitindo estimar a distribuição conjunta espaço-temporal

Estes métodos permitem o monitoramento dinâmico de padrões de espaciais, temporais e espaço-temporais de agravos que evoluem ao longo do tempo, como as doenças transmissíveis, as relacionadas de problemas ambientais e a violência, por exemplo

Tipos de dados

Dados de casos (eventos) - processos pontuais: usualmente se dispõe da localização pontual (coordenadas) da residência de casos de doença ou de controles da população de risco. Covariáveis do indivíduo podem ser medidas.D d d t t i t tí ti did Dados de amostras pontuais - geoestatística: medidas, em geral de natureza ambiental, tomadas em locais amostrados.

Áreas - pode-se subdividir em dois sub-grupos: Áreas irregulares - em geral contagens de casos ou populações

em divisões administrativas, indicadores socioeconômicos Áreas regulares - medidas em grade regular, como nas

imagens de satélite

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Tipos de dados

Eventualmente misturas de diferentes tipos estão presentes em um mesmo estudo.

Alguns métodos somente são aplicáveis a um tipo de dado, outros a mais de um.

Em algumas situações pode-se converter o dado de iuma para outro tipo.

Ex: Leishmaniose visceral Qual o raio de dispersão do mosquito em torno de seu

habitat?

Qual é o ambiente preferencial de reprodução do mosquito?

Existe relação entre prevalência canina e condiçõessocioeconômicas da população?

Instabilidade em pequenas ÁreasInstabilidade em pequenas Áreas

A taxa bruta é o estimador mais simples e mais usado para mapearmos o risco de um evento.

Um grande problema , é a alta instabilidade que as

30

0

0 h

ab

.

Taxas de mortalidade por Acidentes de Transporte Brasil 2004

taxas possuem para expressar o risco de um evento quando ele é raro e a população é pequena.

25% dos municípios do Brasil tem menos de 5.000 hab.

8 10 12 14 16

01

00

20

0

Log da População

Ta

xa p

/ 10

0.0

0

Instabilidade em pequenas ÁreasInstabilidade em pequenas Áreas

Pode-se observar melhor este fenômeno construindo um boxplot em intervalos da população.

podemos com frequência ser levados a falsas

30

0

ab

.

Boxplot da Taxas de mortalidade por Acidentes de Transporte Brasil - 2004

interpretações pelos mapas de taxas brutas

Existem algumas maneiras de se contornar o problemas uma das mais frequentes a a media trienal.

< 5 5-10 10-50 50-100 100-1.000 > 1.000

01

00

20

0

População X 1.000

Ta

xa p

or

10

0.0

00

h

Instabilidade em pequenas ÁreasInstabilidade em pequenas Áreas

taxa acidentes de transporte por 100.000 hab 2004

taxa acidentes de transporte por 100.000 hab triênio 2003-2005

Instabilidade em pequenas ÁreasInstabilidade em pequenas Áreas

Outras técnicas que podem também ser aplicadas para lidar com problemas de instabilidade em pequenas áreas:

agregação de áreas

media móvel espacial

b í i l b l l l bayes empírico global e local

Conceitos estatísticos fundamentais

Estacionariedade

as propriedades estatísticas da variável independem de sua localização absoluta, ou seja, a média e a variância são constantes em qualquer sub-área e a covariância entre dois pontos quaisquer depende somente de sua p q q plocalização relativa.

Para exemplificar mais facilmente a estacionariedade utilizaremos series temporais

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9

Conceitos estatísticos fundamentais Não estacionariede de 1ª

ordem

Reparem na serie ao lado como a media varia d t tdurante o tempo.

Conceitos estatísticos fundamentais Não estacionariede de 2ª

ordem

Reparem na serie ao lado como a variância muda d t tdurante o tempo.

Conceitos estatísticos fundamentais Serie estacionaria

Reparem na serie ao lado como a media e a variância são constantes d t tdurante o tempo.

Conceitos estatísticos fundamentais

Isotropia

se, além de estacionário, a covariância depende somente da distância entre os pontos e não da direção entre eles.

Conceitos estatísticos fundamentais Um processo é

isotrópicoquando seu comportamento é igual em todas as direções. Ou seja, quando a dependência espacial é igual na direção Norte-Sul ou Leste-Oeste.

Conceitos estatísticos fundamentais Em um processo

anisotrópico A força da dependência espacial decai mais rapidamentemais rapidamente em um eixo do que no outro.

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Conceitos estatísticos fundamentais Autocorrelação espacial que é uma medida da estrutura

de Dependência Espacial. Comparando valores obtidos com esperados no caso de não

haver associação espacial entre as variáveis obtém-se (ou não) evidências de dependência espacial.

C h j idê i d t t i l t l d d Caso haja evidência de estrutura espacial, o postulado de independência das amostras, base da maior parte dos procedimentos de inferência estatística, é inválido.

Nestes casos os modelos inferenciais devem levar em conta explicitamente o espaço em suas formulações

Minas Gerais

Taxa mortalidade por homicídios (Log)Sudeste, 1991

Autocorrelação EspacialAutocorrelação Espacial

São Paulo

Km.

0 100 200

EspíritoSanto

Rio de Janeiro

LEGENDA

classes (n de municípios)

0,95 a 1,906 (28)1,906 a 2,862 (209)

2,862 a 3,818 (460)

3,818 a 4,774 (223)4,774 a 5,73 (64)

0 óbitos (448)

N

L

S

O

Capitais

CARVALHO & CRUZ,1998

CorrelogramaCorrelogramaRJ

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

SP

0 100 200 300 400 500 600

ação

Correlograma da taxa

mortalidade por

homicídios por UF

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

ES

0 100 200 300 400 500 600

MG

distância

auto

-cor

rela

Modelos EspaçoModelos Espaço--TempoTempo

“Senhores, as idéias sobre espaço e tempo que eu gostaria de falar a vocês nasce do solo da física experimental. É daí que provem sua força. A proposta é radical.

D di i ó i óDe agora em diante, espaço por si só e tempo por si só, devem desaparecer nas sombras, enquanto somente a união dos dois preserva sua independência.”

Minkowski, setembro de 1908

http://www-gap.dcs.st-and.ac.uk/~history/Mathematicians/Minkowski.html

Modelos EspaçoModelos Espaço--TempoTempo

O interesse na distribuição espaço-temporal esteve presente desde os primórdios da epidemiologia.

Entretanto só recentemente tem sido utilizadas técnicas que permitem a incorporação das dimensões tempo, espaço e somente muito recentemente a interação espaço-tempo.

Modelos de difusão das doençasModelos de difusão das doenças

Simulação por multi-agentes

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Difusão EspacialDifusão Espacial

Difusão - dispersar a partir de um centro, disseminar, propagar, espalhar.

Em geografia utiliza-se 2 conceitos: Difusão por expansão - quando um material, uma

informação, etc... se espalha de um local p/ o outro, d ( é i ifi d ) iãpermanecendo (ou até mesmo se intensificando) na região

inicial. Ex: doença transmissível.

Difusão por realocação - quando o material difundido deixa a área original e se move p/ novas áreas. Ex: Movimentos migratórios.

Difusão EspacialDifusão Espacial

Difusão por expansão também pode ocorrer através de uma seqüência de classes locais, neste caso é denominado espalhamento hierárquico (ex: moda, bens de consumo), que tendem a passar por classes sociais diferentes e se irradia a partir das

d t ó lgrandes metrópoles.

Difusão em cascata é um caso particular, onde a difusão sempre se dá dos grandes centros p/ os menores.

Difusão EspacialDifusão Espacial

Na geografia houve um grande interesse por modelos de difusão desde do inicio do século, e se intensificou a partir da década de 50 com o trabalho pioneiro de Hägerstrand. Um dos principais interesses dos geógrafos eram os modelos de difusão de inovações t ló itecnológicas.

Na epidemiologia, por outro lado, devido a influência de Ross e Hamer, os modelos compartimentais foram mais utilizados.

Espacializando a difusão das doençasEspacializando a difusão das doenças

O principal desafio é como introduzir as dimensões espaço e tempo na modelagem da difusão das doenças transmissíveis .

Qual o impacto do espaço e da interação espaço-tempo?

Eles são capazes de mudar parâmetros inferidos para a interação das populações envolvidas?

São capazes de trazer novidades na análise e interpretação de resultados?

Quais os possíveis modelos e maneiras de incorporar o espaço e tempo ?

Processo de difusão das doenças

Sob o ponto de vista da Ecologia, mais especificamente da dinâmica de populações uma doença transmissível, é o resultado da interação entre pelo menos 2 espécies (parasita X hospedeiro).

Também na ecologia os modelos de crescimento populacional, interação entre espécies, competição etc... apesar de utilizarem o tempo em suas equações de crescimento (Lotka-Volterra) não incorporam a dimensão espaço.

A introdução do espaço nos modelos, mesmo com uma única espécie, é capaz de alterar a inferência dos parâmetros a respeito da dinâmica desta espécie.

Modelos de difusão de doençasModelos de difusão de doenças

No início do século XX surgiram os primeiros modelos de transmissão de doenças , que consideravam que o curso de uma epidemia deveria depender do número de suscetíveis, das taxas de contato entre os indivíduos infectados e suscetíveis e do número de infectados.

A partir daí, diversos modelos determinísticos foram empregados permitindo inferir parâmetros de epidemias.

À medida em que o interesse se volta para pequenas populações e eventos raros, foram introduzidos modelos estocásticos.

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30/5/2009

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Modelos de difusão das doenças

No entanto, a medida que se adiciona variáveis (por exemplo, estrutura etária, populações de vetor) esses modelos se tornam muito complexos, dificultando ou impossibilitando uma solução analítica.

Neste contexto pode-se empregar métodos numéricos ou simulações na estimação parâmetros. No entanto a inclusão do espaço e tempo dificultam em muito ou mesmo inviabilizam a convergência nessa classe de modelos.

Os avanços recentes na modelagem espaço-temporal empregam modelos bayesianos (MCMC) espaço-temporais.

Analise Exploratória Espaço-temporal

Analise Exploratória Espaço-temporal Modelagem Estatística Espaço-temporal

Diversas estratégias podem ser empregadas para modelar fenômenos espaço-temporais. Sendo que nesta área, diversas famílias de modelos tem sido propostos.

Os mais utilizados são os modelos GLMs com extensões semi-paramétricas que permitem a utilização de funções não lineares que exploram os efeitos, temporais e espaciais alem das covariáveis e efeitos aleatórios.

Modelagem Estatística Espaço-temporal

A primeira etapa consiste na especificação de um modelo.

A inferência para esta classe de modelos, se da através de Analise Bayesiana se adiciona pressupostos, através de prioris para funções e parâmetros.

Utiliza-se então simulação de Monte Carlo em Cadeias de Markov (MCMC) para estimar os parâmetros.

O diagnóstico de convergência e a análise dos resultados são necessários para aceitação do modelo final.

FIM

Oswaldo G. Cruz

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PROCC/FIOCRUZ