estudos de adequação nr10

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1 - ADEQUAÇÃO À NR 10 ESTUDO COMPARATIVO ENTRE UNIDADES ANTIGAS DE PRODUÇÃO E NOVOS PROJETOS Ações que garantam uma maior segurança para o empregado no seu ambiente de trabalho têm se popularizado nos últimos dez anos. Na área de eletricidade, esse processo tem acontecido, sobretudo, após a publicação da segunda versão da Norma Regulamentadora nº 10, em 2004, a NR 10, que dispõe sobre medidas de controle e sistemas preventivos a serem implantados para garantir a segurança e a saúde do trabalhador em instalações e serviços de eletricidade. Considerando a relevância do tema, desde 2003, é organizado no País o Seminário Internacional da Engenharia Elétrica na Segurança do Trabalho (Electrical Safety Workshop), o ESW Brasil, em que são apresentados trabalhos desenvolvidos sobre o assunto por profissionais e pesquisadores da área. Os artigos que compõe esses fascículos de “Segurança do trabalho em eletricidade” foram selecionados dentre os trabalhos apresentados no último ESW, realizado entre os dias 22 e 24 de setembro de 2009 em Blumenau (SC). Nesse contexto, é importante compreender que a publicação da atualização da NR 10 introduziu novas exigências relacionadas à segurança em trabalhos que envolvam eletricidade. Este artigo fala sobre esta revisão, que definiu as diretrizes básicas para a implantação de medidas de controle e sistemas preventivos destinados a garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores. A norma abrange os indivíduos que, direta ou indiretamente, trabalham em instalações elétricas e serviços com eletricidade, além de considerar seus mais diversos usos e aplicações em quaisquer trabalhos realizados nas suas proximidades. A nova revisão da norma elevou o grau de rigidez e inseriu uma inovadora solicitação de quesitos gerenciais de instalações elétricas. O comportamento vanguardista da indústria de petróleo no Brasil, em aspectos de segurança do trabalho, propiciou imediato atendimento à maioria dos novos quesitos, principalmente daqueles relacionados a procedimentos operacionais. As diversas novidades requeridas pela norma revisada constituem atuações em diversas áreas. Essas áreas são caracterizadas pela gestão, pela engenharia e projeto, pelo comissionamento, pela operação e manutenção, e até mesmo pelo acervo técnico. Além disso, o grau de importância de cada quesito foi definido pelo impacto à segurança dos trabalhadores. Dessa forma, a prioridade e a natureza das ações para adequar os sistemas elétricos não são definidos de forma trivial e requerem metodologia para tal. A elaboração de um plano global é uma tarefa difícil, sobretudo em empresas que detém múltiplas plantas industriais com diferentes níveis de gestão e complexidade. A primeira etapa consiste na avaliação das necessidades de cada ativo e depois na análise de abrangência passível de padronização. Essa análise permite alinhar procedimentos operacionais, baseados na padronização do nível de segurança. Basicamente, o plano de ação específico para cada planta industrial determina a prioridade das ações, baseado nas características normativas de impacto na disponibilidade da planta e no nível de impacto à saúde e à segurança dos trabalhadores. Por exemplo, em unidades antigas, as ações foram focadas prioritariamente na sinalização, na atualização de diagramas unifilares e no cadastramento de equipamentos certificados para operação em atmosfera explosiva. Contudo, nos novos projetos em execução, o foco foi direcionado na gestão da documentação legalmente exigida (fabricantes e montadores) e na fiscalização dos desenhos executivos. A análise de abrangência permitiu detectar as ações que eram similares em todas as plantas industriais, como o caso de gestão de recursos humanos e a documentação de treinamento. Considerando os diversos níveis de organização, ferramentas de gestão e idade operacional de cada ativo, as dificuldades encontradas e as soluções implementadas foram variadas. Essas ações foram detalhadas a seguir. Unidade de produção antiga A indústria de petróleo no Brasil teve início em 1919 e, somente a partir de 1973, foi iniciada a produção em território marítimo, denominado offshore. As unidades pioneiras de produção de hidrocarbonetos em território marítimo estão operando há mais de 20 anos. Contudo, com manutenção e operação adequadas, tais plantas chegam a dobrar o período em operação, sofrendo pequenos reparos e atualizações tecnológicas. No caso específico aqui apresentado, avaliamos a adequação de uma plataforma do tipo fixa, com operação iniciada em 1993. O sistema elétrico é constituído por dois grupos de gerações

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1 - ADEQUAO NR 10ESTUDO COMPARATIVO ENTRE UNIDADES ANTIGAS DE PRODUO E NOVOS PROJETOS Aes que garantam uma maior segurana para o empregado no seu ambiente de trabalho tm se popularizado nos ltimos dez anos. Na rea de eletricidade, esse processo tem acontecido, sobretudo, aps a publicao da segunda verso da Norma Regulamentadora n 10, em 2004, a NR 10, que dispe sobre medidas de controle e sistemas preventivos a serem implantados para garantir a segurana e a sade do trabalhador em instalaes e servios de eletricidade. Considerando a relevncia do tema, desde 2003, organizado no Pas o Seminrio Internacional da Engenharia Eltrica na Segurana do Trabalho (Electrical Safety Workshop), o ESW Brasil, em que so apresentados trabalhos desenvolvidos sobre o assunto por profissionais e pesquisadores da rea. Os artigos que compe esses fascculos de Segurana do trabalho em eletricidade foram selecionados dentre os trabalhos apresentados no ltimo ESW, realizado entre os dias 22 e 2 4 de setembro de 2009 em Blumenau (SC). Nesse contexto, importante compreender que a publicao da atualizao da NR 10 introduziu novas exigncias relacionadas segurana em trabalhos que envolvam eletricidade. Este artigo fala sobre esta reviso, que definiu as diretrizes bsicas para a implantao de medidas de controle e sistemas preventivos destinados a garantir a segurana e a sade dos trabalhadores. A norma abrange os indivduos que, direta ou indiretamente, trabalham em instalaes eltricas e s ervios com eletricidade, alm de considerar seus mais diversos usos e aplicaes em quaisquer trabalhos realizados nas suas proximidades. A nova reviso da norma elevou o grau de rigidez e inseriu uma inovadora solicitao de quesitos gerenciais de instalaes eltricas. O comportamento vanguardista da indstria de petrleo no Brasil, em aspectos de segurana do trabalho, propiciou imediato atendimento maioria dos novos quesitos, principalmente daqueles relacionados a procedimentos operacionais. As diversas novidades requeridas pela norma revisada constituem atuaes em diversas reas. Essas reas so caracterizadas pela gesto, pela engenharia e projeto, pelo comissionamento, pela operao e manuteno, e at mesmo pelo acervo tcnico. Alm disso, o grau de importncia de cada quesito foi definido pelo impacto segurana dos trabalhadores. Dessa forma, a prioridade e a natureza das aes para adequar os sistemas eltricos no so definidos de forma trivial e requerem metodologia para tal. A elaborao de um plano global uma tarefa difcil, sobretudo em empresas que detm mltiplas plantas industriais com diferentes nveis de gesto e complexidade. A primeira etapa consiste na avaliao das necessidades de cada ativo e depois na anlise de abrangncia passvel de padronizao. Essa anlise permite alinhar procedimentos operacionais, baseados na padronizao do nvel de segurana. Basicamente, o plano de ao especfico para cada planta industrial determina a prioridade das aes, baseado nas caractersticas normativas de impacto na disponibilidade da planta e no nvel de impacto sade e segurana dos trabalhadores. Por exemplo, em unidades antigas, as aes foram focadas prioritariamente na sinalizao, na atualizao de diagramas unifilares e no cadastramento de equipamentos certificados para operao em atmosfera explosiva. Contudo, nos novos projetos em execuo, o foco foi direcionado na gesto da documentao legalmente exigida (fabricantes e montadores) e na fiscalizao dos desenhos executivos. A anlise de abrangncia permitiu detectar as aes que eram similares em todas as plantas industriais, como o caso de gesto de recursos humanos e a documentao de treinamento. Considerando os diversos nveis de organizao, ferramentas de gesto e idade operacional de cada ativo, as dificuldades encontradas e as solues implementadas foram variadas. Essas aes foram detalhadas a seguir. Unidade de produo antiga A indstria de petrleo no Brasil teve incio em 1919 e, somente a partir de 1973, foi ini ciada a produo em territrio martimo, denominado offshore. As unidades pioneiras de produo de hidrocarbonetos em territrio martimo esto operando h mais de 20 anos. Contudo, com manuteno e operao adequadas, tais plantas chegam a dobrar o perodo em operao, sofrendo pequenos reparos e atualizaes tecnolgicas. No caso especfico aqui apresentado, avaliamos a adequao de uma plataforma do tipo fixa, com operao iniciada em 1993. O sistema eltrico constitudo por dois grupos de geraes pri ncipais formados por motores alternativos a gs e geradores de 480 VAC, com potncia de 600 kW, capazes de operar em paralelo. O sistema de emergncia composto por um grupo de gerao, formado por motor diesel e gerador de 480 VAC, com potncia de 250 kW, entrando em operao somente quando ambas as geraes principais esto inoperantes. A demanda mdia da unidade de 500 kW. Apesar da simplicidade do sistema eltrico, o padro de construo estrangeiro (norte -americano) desafiou a criatividade dos tcni cos para o pleno atendimento da NR 10. As aes elaboradas esto descritas a seguir, apresentadas pelo nvel de prioridade definido pelo gestor e classificadas entre solues tcnicas e de gesto. Solues tcnicas A definio de solues ou aes tcnicas est relacionada s necessidades que dependem do apoio do especialista de engenharia. Atualizao dos diagramas unifilares: Foram detectadas, na planta industrial, modificaes e atualizaes tecnolgicas que no estavam registradas nos seus devidos diagramas eltricos. Alm disso, devido idade da

plataforma, diversos desenhos tcnicos originais de projeto estavam ilegveis ou deteriorados. Dessa forma, a ao prioritria foi levantar no site todas as informaes dos sistemas eltricos de forma detalha da. Essa tarefa teve durao de seis meses e contemplou desde o levantamento de campo, passando pela etapa de execuo dos novos desenhos, at a insero deles no Sistema de Informao e Documentao Tcnica da Empresa. Posteriormente, houve atualizao da lista oficial de desenhos no Pronturio das instalaes eltricas da unidade. A principal dificuldade foi o registro do nmero do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) do executante nos desenhos eltricos e a insero explcita d o tipo de aterramento da instalao eltrica. Apesar do requisito legal, os projetistas ainda no adotaram como prtica inserir o registro do seu nmero do Crea nos desenhos tcnicos. Sistema de Proteo contra Descargas Atmosfrica (SPDA): Houve dificuldades tcnicas para determinar o sistema de SPDA da plataforma devido a caracterstica de construo tipo fixa, ou seja, dotada de jaqueta estrutural acomodada no leito marinho. Por ser uma unidade martima, os critrios do projeto e manuteno diferem de uma unidade onshore. Podemos considerar o sistema solidamente aterrado, interconectado pela estrutura metlica da jaqueta. Logo, torna-se dispensvel qualquer necessidade de medio de malha de aterramento. As descidas do SPDA so realizadas por meio de captores naturais, como antenas, guindastes e a torre do flare. A eficcia da proteo foi verificada por meio do mtodo eletro -geomtrico, tambm conhecido como mtodo das esferas rolantes. Porm, para realizao de tal tarefa, houve a necessidade de realiza o de um treinamento especfico em SPDA, de consulta ao corpo tcnico da companhia e de atendimento aos critrios dispostos na NFPA 780, j que estamos tratando de um assunto pouco abordado em literaturas tcnicas. Esta etapa teve durao de oito meses. Estudo de energia incidente: Esse estudo determina o risco de arco eltrico e energia incidente nos painis da unidade baseado nas normas IEEE 1584-2002 e NFPA 70E. O caminho crtico para execuo dessa atividade foi a dificuldade em levantar os coordenogr amas de proteo dos painis de acionamento de motores em baixa tenso, visto o tempo de operao na unidade. A durao da tarefa foi de dez meses. Por meio desse estudo, pudemos identificar os painis com risco potencial e especificar roupas de proteo adequadas para manuteno neles. Dessa forma, houve a aquisio de roupas com grau de proteo ATPV (Valor Mximo de Energia Incidente, do ingls Arch Thermal Performace Value) categoria IV, para intervenes com abertura de painel. Essa vestimenta inibe a possibilidade de queimaduras de terceiro grau quando exposto a exploso. Para utilizao diria em servios rotineiros de operao e manuteno, sem abertura de painis, foram adquiridas vestimentas com grau de proteo ATPV categoria II. Aterramento temporrio: Devido nova reviso da norma, a adoo do aterramento temporrio tornou-se item obrigatrio em todas as intervenes no sistema eltrico, independente do nvel de tenso. Para painis de 480V e para Centros de Comando de Motores (CCM) com mltipl as gavetas e cubculos, essa medida nem sempre trivial e segura. No caso de uma plataforma de petrleo, a caracterstica bsica possuir equipamentos muito compactos, com espaos reduzidos e de difcil acesso. Dessa forma, a insero de qualquer acessrio ou equipamento que no esteja previsto no projeto original torna -se extremamente difcil. Outro ponto que deve ser considerado o nvel de curto -circuito da instalao eltrica. A soluo proposta pelos fornecedores para aterramento em CCMs implica a c olocao de plugues do tipo concha-bola na parte traseira dos painis. Devido limitao fsica da plataforma, a soluo adotada com o fornecedor foi realizar um estudo para aplicao dos kits de aterramento temporrio usados em alta tenso em painis de CCMs, alterando, principalmente, o tipo de conector. O resultado desse estudo foi que a adoo de aterramento temporrio no possvel devido s caractersticas fsicas dos demarradores dessa instalao industrial, ou seja, bornes de fases distintas prxi mos e dificuldade de acesso aos pontos energizados pra fixao de plugue. A tentativa de utilizao do aterramento temporrio para a plataforma de gs em questo caracteriza aumento de risco de choque eltrico para o trabalhador. Essa tarefa durou 14 meses, devido interao constante com fornecedores e os estudos para aplicabilidade dos produtos disponibilizados. Sinalizao: A sinalizao de segurana determinada pela NR 26 e a plataforma em questo j estava conforme legalmente. Contudo, devido s caractersticas ocultas dos perigos e riscos com eletricidade, houve uma reviso na sinalizao existente. O resultado do trabalho baseado na experincia de segurana foi a criao de um padro interno de sinalizao de sistemas eltricos. Alm disso, foram especificados detalhes de fixao e material de placas e adesivos, de forma a garantir resistncia e durabilidade em ambientes martimos e petroqumicos. Essa ao teve a durao de quatro meses entre a especificao da sinalizao, aquisio e aplicao. Solues de gesto Relacionadas s necessidades de aes de padronizao, organizao e catlogo de documentos associados instalao eltrica e gerenciamento administrativo. 1)Pronturio das instalaes eltricas: Esse considerado pela norma o documento mais importante, pois

integra todas as caractersticas do sistema eltrico, alm de determinar as diretrizes e os procedimentos de segurana, operao e manuteno. Para o caso de gerenciamento de mltiplas instalaes industriais, o primeiro passo p adronizar a elaborao dos pronturios. No caso em estudo, a padronizao ocorreu por meio de procedimento administrativo especfico, determinando a sequncia de elaborao e os documentos necessrios. Considerando que eles devem estar disponveis a qualquer tempo para consulta dos empregados e auditores, conforme determinao da NR 10. O passo seguinte foi elaborar o pronturio propriamente dito, em que a principal dificuldade encontrada foi referente cpia fsica dos treinamentos realizados pelos empreg ados e registros no conselho de classe. Com toda a documentao, o pronturio impresso foi finalizado e encaminhado plataforma. O arquivo digital do pronturio tambm ficou disponvel para consulta dos empregados na rede interna da empresa. Essa atividad e durou seis meses. 2)Memorial descritivo: Esse documento ganhou destaque na reviso da norma e agora deve informar dados tcnicos importantes acerca do sistema, considerando aspectos operacionais e de manuteno. Alm disso, deve identificar e sinalizar riscos vida e equipamentos, alm das respectivas aes mitigatrias. Dados tcnicos do sistema de proteo tambm devem ser registrados nesse documento, de forma a preservar a filosofia aplicada na concepo do sistema eltrico. No caso em estudo, a plataforma no possua um memorial descritivo conforme a NR 10 orienta, visto que o projeto e a operao da unidade so anteriores ltima reviso da norma. Havia somente uma breve descrio do sistema eltrico com instrues operativas, que foi aprimorado pa ra atender em plenitude aos requisitos atuais. Dessa forma, o documento foi elaborado e passou a integrar informaes exigidas pela norma. A principal dificuldade para elaborar esse documento foi a falta de instrues dos fabricantes dos painis eltricos e a avaliao de riscos ao longo de toda instalao. A experincia de operadores e mantenedores garantiu o registro de importantes alertas de segurana, baseados em relatos de desvios comportamentais e operacionais. Essa ao durou dez meses e foi caracterizada pelo trabalho integrado de um grupo interdisciplinar com conhecimentos tcnicos nas reas eltricas, de segurana, qumica, mecnica e cabotagem. 3)Aquisio de ferramentas isoladas: As ferramentas constituem importante fator de risco para intervenes para instalaes eltricas. Quando a utilizao incorreta ou a especificao inadequada, pode causar choque eltrico e exploso devido a curto-circuito. O grau de segurana das ferramentas est diretamente relacionado ao estado de isolao delas. Dessa maneira, devem existir procedimentos administrativos para aquisio, controle e manuteno do estado das ferramentas isoladas. Para a plataforma em questo, foi elaborado um procedimento interno em que esto definidas todas as ferramentas necessrias para compor uma maleta de ferramentas para eletricistas. Esse padro determina quais ferramentas podem ser adquiridas, baseado em critrios de testes das normas NBR 9699 e da DIN 60900. A principal dificuldade nessa etapa foi a seleo de fornecedores que at endiam plenamente s normas vigentes. Essa tarefa teve durao de dois meses. 4)Carteira de autorizao: Na rea industrial nas plataformas de petrleo, por questes de segurana, proibido portar crachs de identificao. Dessa forma, o empregado iden tificado diretamente na sua vestimenta, com nome e tipo sanguneo. A soluo empregada para sinalizar a autorizao referente a trabalhos com eletricidade foi a confeco de uma carteira plastificada, a qual o empregado deve manter no bolso e apresentar quando requisitado. A emisso da carteira est condicionada ao treinamento da NR 10 e ao treinamento para trabalhos em atmosfera explosiva. A sua validade est vinculada ao treinamento da NR 10, devendo ser revalidada a cada dois anos (prazo definido pela NR 10 para os treinamentos de reciclagem). Essa tarefa teve durao de quatro meses. 5)Certificados Ex: Conforme orientao da NR 10, todos os equipamentos destinados utilizao em atmosferas potencialmente explosivas devem ter seus respectivos certificad os anexados ao pronturio da instalao. Entretanto, a Portaria n 83, do Inmetro, define que as unidades martimas fabricadas no exterior e importadas, destinadas lavra de petrleo ou ao transporte de produtos inflamveis para trabalho offshore, sero dispensadas da obrigatoriedade da certificao uma vez que, para elas, so vlidos os critrios para aceitao dos fornecedores e as certificaes adotadas pelas sociedades classificadoras. Dessa forma, para o nosso caso de estudo, a plataforma no necessita de registro de certificao no pronturio. Contudo, apesar da abolio legal, foi definida ao para levantar e registrar todos os equipamentos Ex e os respectivos certificados da instalao eltrica. A principal dificuldade encontrada foi a disponibil izao dos certificados pelos fabricantes e fornecedores. A causa dessa dificuldade amparada na origem estrangeira do projeto, engenharia, montagem e fornecedores, alm da idade da instalao (16 anos). Os certificados existentes foram devidamente anexados ao pronturio das instalaes eltricas. Apesar do esforo da equipe tcnica, no foi possvel encontrar o certificado de uma parcela significativa dos equipamentos eltricos Ex. Entretanto, todos esto mapeados para controle continuado e sero substi tudos paulatinamente por novos equipamentos com certificados disponveis. Essa tarefa teve durao de 14 meses e foi a mais difcil de finalizar. 6)Energizao e desenergizao de circuitos eltricos: Tecnicamente, a definio de energizado e

desenergizado estritamente dada pela ausncia de tenso. Mas essa definio no mitiga riscos operacionais de energizao acidental. Logo, a definio legal, da norma, requer que os procedimentos operacionais das empresas sejam adequados e, por isso, eles foram rev isados. O novo procedimento determina a adoo de permisso de trabalho para qualquer servio em eletricidade e a adoo de bloqueios fsicos para os equipamentos eltricos. Alm disso, houve a conscientizao dos empregados, referente importncia em se efetuar uma desenergizao segura, seguindo todos os critrios estabelecidos. Essa atividade teve durao de oito meses. Novos projetos Do ponto de vista legal, os novos projetos devem ser planejados e elaborados contemplando todos os pontos da NR 10. Entretanto, devido ao ineditismo da norma, existe um importante paradigma a ser quebrado na rea de concepo de novos empreendimentos e desenvolvimento do projeto executivo. Devido s caractersticas prprias de cada servio e necessidade de especialidade tcnica, comum encontrar pontos divergentes entre trabalhadores da rea de engenharia, manuteno e operao. Contudo, a aplicao da nova norma abrange claramente todas as etapas da vida de uma instalao eltrica. Desde sua concepo no projeto bsico, passando pelo detalhamento do projeto executivo, construo e montagem e, finalmente, para a operao e manuteno. Caractersticas tcnicas O aumento do preo do petrleo nos mercados internacionais provocou um desenvolvimento acelerado da indstria de petrleo brasileiro. Diversas jazidas tornaram -se comercializveis e, por isso, passaro a exigir a construo imediata de plantas industriais para atender a essa demanda. Devido maturidade da engenharia em relao s caractersticas das reservas e tecno logias dominadas para extrao de hidrocarbonetos, as novas plantas so dotadas de robustos sistemas eltricos. Atualmente, diversos sistemas de acionamento hidrulico e pneumtico foram substitudos por motores eltricos. Alm disso, o advento da eletrni ca de potncia permitiu o controle fino de motores de grande potncia, com finalidades especficas como acionar bombas de injeo de gua em poos e compressores de gs natural. Portanto, esto se tornando raros os novos empreendimentos com demanda abaixo de 1 MW. Os casos utilizados como experincia neste trabalho tm finalidades distintas. Uma planta de tratamento de gs natural onshore e uma planta de produo de gs natural offshore. Planta de tratamento de gs natural: O sistema de tratamento considera do, nesse exemplo, permite a especificao de 15 milhes de metros cbicos dirios de gs natural. O sistema eltrico do tipo isolado, com gerao em 13,8 kV, e painis de centro de distribuio de cargas (CDC) e CCM com tenses de 13,8 KV, 4,16 kV e 480 V. O sistema de gerao composto por trs turbogeradores com capacidade de 25 MW cada, totalizando uma potncia instalada de 75 MW. Os principais consumidores so cinco compressores de gs de venda, dois compressores de gs de reciclo e trs compressore s de gs propano, totalizando uma demanda de 48 MW. A unidade contar com sistema de gerao de emergncia diesel, com capacidade para 2 MW. Plataforma de produo de gs natural: O sistema de extrao de gs natural nesse exemplo permite a produo de at 10 milhes de metros cbicos de gs natural por dia. O sistema eltrico do tipo isolado, com gerao em 4,16 kV e painis de CDC e CCM com tenses de 4,16 kV e 480 V. O sistema de gerao composto por trs turbogeradores com capacidade de 3,5 MW cad a, acionados por turbinas aeroderivadas, totalizando uma potncia instalada de 10,5 MW. Adicionalmente ao sistema de gerao principal, a plataforma contar com um sistema de gerao auxiliar (1,25MW) e com um sistema de gerao de emergncia (1,25 MW), ambos acionados por motor a combusto interna a diesel. A demanda esperada de 5,5 MW. Atendimento NR 10 Apesar de finalidades e tamanhos distintos, os empreendimentos detalhados requerem aes semelhantes na etapa de projeto, para garantir o pleno atendimento da norma. Os pontos aqui destacados foram identificados por meio de auditorias contnuas durante a execuo do projeto. Essa prtica permitiu a mitigao de desvios em momentos importantes do projeto, principalmente na aquisio dos equipamentos e r ecebimento deles no canteiro de obras. A iniciativa de auditoria contnua foi aplicada em toda a fase do projeto, at a entrega da planta industrial equipe de operao. Responsabilidade tcnica: Atualmente os projetos executivos de instalaes eltricas so desenvolvidos no Brasil. Entretanto, alguns equipamentos e sistemas ainda so elaborados no exterior. Um exemplo disso so os sistemas de gerao eltrica em que os acionadores aeroderivados no so desenvolvidos no Pas. Dessa maneira, surgem dificul dades no momento do registro do responsvel tcnico tanto nos desenhos quanto no memorial descritivo dos sistemas de gerao eltrica. Dado que profissionais estrangeiros no detm registro no Crea, a empresa fornecedora dos equipamentos deve nomear um responsvel tcnico de acordo com os registros legais requeridos pela norma. Essa atitude insere uma queda de paradigma no relacionamento consumidor-fornecedor e dificulta a negociao com empresas estrangeiras fornecedoras de equipamentos e sistemas eltricos. Memorial descritivo: A melhor prtica para elaborao de um memorial descritivo que a equipe que projetou e concebeu o sistema registre os detalhes tcnicos, riscos e filosofia de proteo no documento pertinente. No entanto, antes da reviso da norma, tal prtica no era realizada ou simplesmente eram

registrados os dados tcnicos dos equipamentos. Por exemplo: tenso nominal, frequncia, corrente nominal, entre outros. Em suma, no existia critrio para a elaborao do memorial descritivo. Devido quantidade significativa de novos empreendimentos, foi elaborado um procedimento administrativo interno, detalhando a elaborao do memorial descritivo. Dessa forma, os fornecedores, alm de elaborarem o documento de acordo com os requisitos legais, seguem uma padronizao para utilizao em plantas similares. Essa ao permite que a avaliao dos riscos de plantas novas considere as experincias de outros empreendimentos. A principal dificuldade nessa etapa foi conscientizao de fornecedores estrangeiro s. Dado que a NR 10 requisito legal brasileiro e no norma tcnica com abrangncia internacional, os fornecedores resistem ideia da elaborao de um documento como o memorial descritivo. Alguns fornecedores alegam que esse documento requer informaes tcnicas estratgicas e outros alegam que o produto vai custar mais caro, devido anlise de risco ao trabalhador. Aterramento temporrio: Os equipamentos fabricados no Brasil j contemplam a necessidade do aterramento temporrio. O desenho dos painis foi modificado e foram inseridas diversas facilidades aos trabalhadores, como disjuntores com aterramento automtico. Entretanto, ainda existem dificuldades quando os fornecedores so estrangeiros. As fbricas estrangeiras de equipamentos eltricos no acei tam facilmente as modificaes determinadas pela NR 10. O resultado disso o aumento do custo do equipamento e, em casos mais graves, de modificaes provisrias sem garantia tcnica. Considerando que a indstria do petrleo importa diversos sistemas pron tos por falta de manufatura nacional, a insero obrigatria do aterramento temporrio ainda vai causar muitas dificuldades para aquisies estrangeiras. Certificados Ex: A fase de construo e montagem o momento mais crtico para esses equipamentos especiais, por duas razes. Primeiro, na etapa de recebimento de material quando os importantes certificados so entregues. Segundo, nessa etapa so montados acessrios de instalao que garantem a segurana de todo o sistema eltrico, como seladores, caixa s de passagens, bujes, entre outros. Para o caso de compras de sistemas prontos do exterior, os certificados devem ser exigidos no momento do desembarao alfandegrio, garantindo o cumprimento da NR 10 desde a entrada dos equipamentos no Brasil. A prtica desenvolvida foi o treinamento especfico para os trabalhadores responsveis pela aquisio de materiais e tambm para os almoxarifes. Outro curso voltado para tcnicos de construo e montagem foi desenvolvido para difundir os quesitos especficos dos eq uipamentos Ex. Treinamento: Todos os trabalhadores envolvidos com interveno em instalao eltrica devem estar treinados em NR 10, assim como os da fase de construo da planta industrial. Alm disso, treinamentos especficos para os procedimentos int ernos so desenvolvidos. Nessa etapa, foi identificada a necessidade de formao de instrutores internos para ministrar os cursos. Para os trabalhadores que interagem frequentemente com a instalao eltrica, de suma importncia a apresentao dos riscos expostos e as aes mitigatrias. Portanto, foi verificado que os treinamentos ministrados por trabalhadores experientes da empresa obtiveram maior reteno de conhecimentos em segurana pelos alunos. Uma prtica desenvolvida foi a constante reciclagem dos instrutores em universidades e institutos renomados. Energia incidente: Na etapa do projeto, foi exigida junto ao corpo de engenharia a elaborao do estudo de energia incidente, com aderncia aos estudos de curto -circuito, proteo, coordenao e seletividade. Essa prtica tornou-se parte comum dos estudos eltricos, de tal forma a j serem consideradas medidas de proteo ao trabalhador desde o momento da elaborao da filosofia do sistema eltrico. Como consequncia, os limites de curto -circuito das i nstalaes foram diminudos e as protees readequadas para garantir a segurana dos trabalhadores. Alta tenso: O incremento do sistema eltrico em novos empreendimentos tem como caracterstica a utilizao de alta tenso tanto na gerao de energia quanto na alimentao de grandes cargas. Os projetos aqui considerados detm essa mesma caracterstica. Para a garantia de segurana na realizao de intervenes nos painis de alta tenso, foram verificados com os fabricantes os potenciais fatores de risco. Por meio de medidas construtivas, alguns riscos foram minimizados. Por meio da identificao dos riscos, foi elaborado um treinamento especfico para os trabalhadores. Alm disso, foram determinados os tipos de ferramentas e os equipamentos para proteo i ndividual (EPI) para tarefas em alta tenso. A principal dificuldade nessa etapa foi o planejamento para testes dieltricos nos equipamentos determinados pela norma e a identificao de laboratrios credenciados para tal. Requerimentos gerais O processo de adequao NR 10 tem caractersticas diversas, conforme abordado neste trabalho. Entretanto, a realizao de uma detalhada anlise de abrangncia permite identificar aes comuns para plantas industriais em quaisquer etapas, sejam elas de projeto, construo, montagem, operao e manuteno. Basicamente os pontos que remetem a um procedimento administrativo so passveis de padronizao e replicao corporativa. Treinamento: Cursos de reciclagem NR 10, servios em alta tenso e equipamentos eltricos pa ra atmosferas

potencialmente explosivas so padronizados e ministrados por trabalhadores envolvidos com as instalaes eltricas. Aquisio de materiais: Ferramentas, placas de sinalizao, EPIs e EPCs so devidamente padronizados e controlados conforme procedimento administrativo interno. Pronturio e memorial descritivo: Os documentos legalmente exigidos pela norma e que devem ser elaborados pelo corpo tcnico so padronizados em contedo bsico e a apresentao por meio de procedimento administrativo i nterno. Procedimentos operacionais: Orientaes a cerca de segurana para servios em eletricidade, desenergizao e energizao de circuitos eltricos, permisso para trabalho e manuteno em equipamentos Ex so padronizados por meio de procedimento ad ministrativo interno. Nessa etapa, so elaboradas listas de verificao, de forma a relembrar continuamente o trabalhador da avaliao dos riscos. Na ocorrncia de algum item no conforme durante a verificao, o trabalho no realizado at que o risco se ja mitigado. Concluso O pleno atendimento dos requisitos da reviso da NR 10 no tarefa simples e trivial. A complexidade das plantas industriais, alinhada a quesitos de confiabilidade e vida til, requer metodologia na elaborao de um plano de ao. As necessidades devem ser identificadas como pontuais ou abrangentes. Dessa forma, possvel separar as aes que contm abrangncia corporativa e permite padronizaes e as pontuais que requerem solues personalizadas. O diferente nvel de execuo dos projetos requer diferentes abordagens em relao NR 10. Enquanto unidades antigas buscam a recuperao de documentos tcnicos, novos empreendimentos j consideram a elaborao de estudos especficos no projeto executivo. Alm disso, o acompanhamento cont nuo ao longo da obra permite a entrega da instalao para a operao sem passivo legal. Os requisitos que dependem do sistema de gesto sugerem a importncia da criao de um sistema capaz de gerir com eficincia toda a documentao necessria, provendo tambm uma sistemtica que permita que as atualizaes possam ser realizadas com eficcia. Muitos fornecedores estrangeiros ainda no esto alinhados com a nova legislao, dificultando a aquisio de equipamentos e sistemas em conformidades com a norma. A consolidao da experincia dos trabalhadores fundamental no desenvolvimento de treinamentos e procedimentos relacionados com a segurana operacional. Finalmente, a reviso da NR 10 melhorou a segurana nos servios com eletricidade. Os requisitos da ges to incrementaram a qualidade dos procedimentos operacionais e facilitaram a padronizao dos documentos tcnicos. FONTE - Revista O SETOR ELTRICO - EDIO 51 ABRIL-2010