estudos bíblicos 15 - eles sofrem por que são maus - prof. antonio de pádua

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ultimato.com.br http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/igreja/eles-sofrem-por-que-sao-maus-uma-reflexao-biblica-sobre-o-sofrimento- humano/ Eles sofrem por que são maus? [uma reflexão bíblica sobre o sofrimento] ELES SOFREM POR QUE SÃO MAUS? — uma reflexão bíblica sobre o sofrimento INTRODUÇÃO A dor da tragedia As consequências do terremoto no Haiti, em 2010, e as milhares de pessoas mortas provocaram um certo desconcerto do mundo inteiro. E, além disso, nos fazem temer pelas pessoas que ficaram vivas. Nos faz doer os mortos e nos preocupam os vivos. À dor da tragédia se soma também a dor das declarações concedidas por alguns líderes cristãos como o do Tele- evangelista Pat Robertson, que afirmou que o terremoto é uma forma de juizo divino pelas práticas satânicas dos haitianos, ou a do Bispo Católico Jose Ignacio Munilla, de San Sebastián, Espanha, que com evidente falta de sensibilidade cristã disse que havia males piores que o que havia sucedido em Haiti. (Também houveram as declarações racistas do cônsul geral do Haiti em São Paulo, George Samuel Antoine que sem saber que estava sendo gravado pela equipe do SBT, disse que a culpa do terremoto que destruiu o Haiti foi do Vodu, religião da origem africana popular naquele país. “Acho que de, tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo… O africano em si tem uma maldição” e afirma que a catástrofe, que vitimou centena de milhares de haitianos, foi boa para o Consulado “A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido”, afirmou o representante do país no Brasil. “Todo lugar que tem africano lá tá …”, completa)[1] . Alguns simples exemplos dos muitos que se poderiam citar sobre como se responde à dor e à tragédia com explicações teológicas e religiosas ausentes da solidariedade cristã. Diante de nossa dor inexplicada e das explicações atrevidas, surge a necessidade de buscar na Bíblia e na teológia cristã respostas que dêem testemunho do caráter amoroso de Deus e seu rosto solidário. Com esse fim, meditaremos no texto de Lucas 13:1-5. Este é um texto que, ainda que não resolva todas nossas dúvidas acerca do porquê do sofrimento humano, nos aproxima de algumas premissas bíblicas para compreender a realidade do mal na existência humana. PARA REFLETIR Texto Básico: Lucas 13:1-5 1. O que nos diz o texto bíblico? a) Naquela mesma ocasião algumas pessoas chegaram e começaram a comentar com Jesus como Pilatos havia mandado matar vários galileus, no momento em que eles ofereciam sacrifícios a Deus. b) Então Jesus disse: – Vocês pensam que, se aqueles galileus foram mortos desse jeito, isso quer dizer que eles pecaram mais do que os outros galileus? c) De modo nenhum! Eu afirmo a vocês que, se não se arrependerem dos seus pecados, todos vocês vão morrer como eles morreram. d) E lembrem daqueles dezoito, do bairro de Siloé, que foram mortos quando a torre caiu em cima deles. Vocês pensam que eles eram piores do que os outros que moravam em Jerusalém?

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Diante de nossa dor inexplicada e das explicações atrevidas, surge a necessidade de buscar na Bíblia e nateológia cristã respostas que dêem testemunho do caráter amoroso de Deus e seu rosto solidário. Com esse fim, meditaremos no texto de Lucas 13:1-5. Este é um texto que, ainda que não resolva todas nossas dúvidas acerca do porquê do sofrimento humano, nos aproxima de algumas premissas bíblicas para compreender a realidade do mal na existência humana.

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  • ultimato.com.brhttp://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/igreja/eles-sofrem-por-que-sao-maus-uma-reflexao-biblica-sobre-o-sofrimento-humano/

    Eles sofrem por que so maus? [uma reflexo bblica sobre osofrimento]ELES SOFREM POR QUE SO MAUS? uma reflexo bblica sobre o sofrimento

    INTRODUO

    A dor da tragedia

    As consequncias do terremoto no Haiti, em 2010, e as milhares de pessoas mortas provocaram um certodesconcerto do mundo inteiro. E, alm disso, nos fazem temer pelas pessoas que ficaram vivas. Nos faz doer osmortos e nos preocupam os vivos.

    dor da tragdia se soma tambm a dor das declaraes concedidas por alguns lderes cristos como o do Tele-evangelista Pat Robertson, que afirmou que o terremoto uma forma de juizo divino pelas prticas satnicas doshaitianos, ou a do Bispo Catlico Jose Ignacio Munilla, de San Sebastin, Espanha, que com evidente falta desensibilidade crist disse que havia males piores que o que havia sucedido em Haiti. (Tambm houveram asdeclaraes racistas do cnsul geral do Haiti em So Paulo, George Samuel Antoine que sem saber que estavasendo gravado pela equipe do SBT, disse que a culpa do terremoto que destruiu o Haiti foi do Vodu, religio daorigem africana popular naquele pas. Acho que de, tanto mexer com macumba, no sei o que aquilo Oafricano em si tem uma maldio e afirma que a catstrofe, que vitimou centena de milhares de haitianos, foiboa para o Consulado A desgraa de l est sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido, afirmou orepresentante do pas no Brasil. Todo lugar que tem africano l t , completa)[1]. Alguns simples exemplosdos muitos que se poderiam citar sobre como se responde dor e tragdia com explicaes teolgicas ereligiosas ausentes da solidariedade crist.

    Diante de nossa dor inexplicada e das explicaes atrevidas, surge a necessidade de buscar na Bblia e nateolgia crist respostas que dem testemunho do carter amoroso de Deus e seu rosto solidrio. Com esse fim,meditaremos no texto de Lucas 13:1-5. Este um texto que, ainda que no resolva todas nossas dvidas acercado porqu do sofrimento humano, nos aproxima de algumas premissas bblicas para compreender a realidade domal na existncia humana.

    PARA REFLETIR

    Texto Bsico: Lucas 13:1-5

    1. O que nos diz o texto bblico?

    a) Naquela mesma ocasio algumas pessoas chegaram e comearam a comentar com Jesus como Pilatoshavia mandado matar vrios galileus, no momento em que eles ofereciam sacrifcios a Deus.

    b) Ento Jesus disse: Vocs pensam que, se aqueles galileus foram mortos desse jeito, isso quer dizer queeles pecaram mais do que os outros galileus?

    c) De modo nenhum! Eu afirmo a vocs que, se no se arrependerem dos seus pecados, todos vocs vomorrer como eles morreram.

    d) E lembrem daqueles dezoito, do bairro de Silo, que foram mortos quando a torre caiu em cima deles. Vocspensam que eles eram piores do que os outros que moravam em Jerusalm?

  • e) De modo nenhum! Eu afirmo a vocs que, se no se arrependerem dos seus pecados, todos vocs vomorrer como eles morreram.

    2. Compreendendo o texto bblico

    O texto menciona dois eventos diferentes: a tragdia sucedida a um grupo de galileus nas mos de Pilatos(evento citado pelos interlocutores de Jesus) e um grupo de 18 pessoas que morreram na cada de uma torre(episodio mencionado por Jesus)

    Os dados sobre estes dois episdios no so precisos. Os historiadores propem algumas conjecturas:

    a) O episdio de Pilatos tem a ver com a construo de um aqueduto com o qual o governante propunhamelhorar o abastecimento de gua. Os Galileus, devido os protestos sociais, alegaram que a construo estavabem, porm reclamaram que se financiara com dinheiro do templo. Pilatos, ento, ordenou a seus soldados quese misturassem com a multido e ao sinal combinado, dispersassem a multido com as armas que levavam. Foifeito assim, porm se aplicou mais violncia do que havia sido combinado e houveram muitas mortes.

    b) Com respeito Torre de Silo, se sugere que eram trabalhadores de Pilatos no odiado aqueduto. Nesse caso,eram pessoas que ganhavam dinheiro proveniente das ofertas do templo (dinheiro de Deus). Quandoaconteceu o acidente da torre, as pessoas interpretaram que era um castigo justo de Deus, devido eles haveremaceitado trabalhar neste projeto.

    O problema de fundo a mentalidade judia predominante naquela poca. Eles criam que existia uma relaodireta entre pecado e sofrimento. Problema que um supe que deveria ter sido resolvido depois com o que estescrito no livro de J. Porm no se resolveu; essa mentalidade se manteve at o tempo de Jesus: quem sofre porque est em pecado? (J 4:7; Joo 9:1-2)

    O versculo 5 aponta para um anncio proftico da destruio de Jerusalm (de fato aconteceu no ano 70D.C.). Jesus sabia que se a situao nacional no melhorasse, todos sofreriam uma catstrofe. Quer dizer,mesmo que o sofrimento no seja causa direta do pecado, a desordem pecaminosa de uma pessoa ou de umanao nos expe a consequncias catastrficas.

    3. Apropriao do texto para os dias atuais

    se vamos falar de gente m, ento devemos incluir a todos. A pressuposio teolgica das pessoas queestavam falando com Jesus que os que sofreram a tragdia ocasionada por Pilatos eram maus. Por causa desuas maldades, receberam o sofrimento. Jesus altera essa lgica e prope outra: eles no sofreram por queeram pecadores. Ele acrescenta que se vamos falar de gente m, ento devemos incluir a todos, os quemorreram e os que no morreram. Em outras palavras, temos aqui a primeira afirmao teolgica derivada dotexto: o sofrimento no um juzo divino originado devido ao pecado dos seres humano. No se pode acusar auma pessoa como m (pecadora e culpvel) porque est sofrendo. Neste sentido, pecadores somos todos ns.

    se que vamos falar da origem do sofrimento, ento vamos s razes. A raiz, j dissemos, no aculpabilidade pecaminosa do que sofre. Jesus aprofunda na raiz e aponta que o sofrimento tem tambm umaorigem humana. Neste caso, Jesus usa a expresso: se no se arrependerem (13:3,5) para demonstrar queexistem tragdias que podemos evitar quando mudamos de atitude e modificamos certos atos. Como podemosnegar que muitas das tragdias mal chamadas de naturais tem uma razo poltica, ou no fundo provm de umainjustia histrica? Nada de graa a aluso Pilatos no inicio do texto. Jesus no sai em defesa do governantepara dizer que ele no culpado. O povo sabia que por mos de Pilatos se haviam produzido muitossofrimentos. O mesmo Jesus estaria nas mos de Pilatos alguns anos depois. De modo que, o elemento polticosurge aqui com muita claridade. Elemento que explica grande parte das tragdias dos povos mais pobres.

    se vamos falar de solues, ento tenhamos em conta que todos podemos participar delas. Muitosmales so possveis de evitar. Certamente, hoje os especialistas na ateno s emergncias fazem a diferenaentre desastres naturais e fenmenos naturais. Os desastres no so naturais, pois so os fenmemos que osproduzem. Em muitos casos, existem fenmenos naturais que no causam tantos desastres quando so feitas as

  • devidas precaues. Em fim, o que se pode afirmar aqui fato que muitas tragedias (no todas) podem serevitadas quando se tomam certas decises a tempo, includas as decises polticas e a prtica da justia social.En nosso texto, Jesus chama a ateno sobre algumas mudanas que poderiam evitar acontecimentos aindamais tristes e lamentaveis. Ele faz um chamado para fazer algo a tempo de evitar piores tragedias.

    se que realmente nos interessa o sofrimento das pessoas, faamos algo por elas . O sofrimentohumano no serve somente para animadas conversas teolgicas ou filosficas. Estas, ainda que tem o seu valor,no so em si a resposta crist. O cristo diante do sofrimento no deve discutir sobre o sofrimento, mas atuarcom solidariedade e compaixo crist.

    As pessoas que vieram a Jesus chegaram com uma grande inquietao conceitual; Jess mudou o tom dasconversas para transforma-la num convite ao e mudana. Quando uma parte da humanidade sofre, ns,como seguidores de Jesus, no somente nos perguntamos porque elas sofrem, mas principalmente atuamos paraaliviar o sofrimento e trabalhar a favor de um mundo mais justo e equitativo onde Pilatos no sacrifique maisgente e onde todos possamos mudar para evitar tragedias futuras.

    PARA PENSAR E ORAR

    Uma orao por Haiti (Irmo Alois, Igreja da Reconciliao, Taiz. Janeiro 2010)

    Deus, nossa esperana,te confiamos as vtimas do terremoto no Haitdesconcertados pelo imcompreensvel sofrimento de inocentes,te pedimos que inspires os coraes daqueles que buscam aportar a ajuda to indispensvel.Conhecemos a f profunda do povo haitiano.Assiste aos que morrem, fortifica aos que esto abatidos,Consola os que choram,Derrama teu Esprito de compaixo sobre este povo to sofrido.

    Autor do estudo bblico: Harold SeguraTraduo: Joo H. Diniz

    [1] o texto em parntesis foi adicionado ao original, no tendo sido escrito pelo Autor.

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    Eles sofrem por que so maus? [uma reflexo bblica sobre o sofrimento]