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UMA ROTINA DIÁRIA BÁSICA – ESTRUTURANDO UM PLANO PARA OBTER SUCESSO TOCANDO TUBA E BOMBARDINO Uma das preocupações primárias de todo músico é como praticar. A principal meta a ser alcançada quando se pratica deve ser o aprendizado das músicas que vamos executar em público. Isto é obviamente importante para muitos de nós, pois a qualidade de nossos desempenhos públicos interfere diretamente na qualidade da comida em nossas mesas. Outro objetivo muito importante da prática esta em aumentar nossa proficiência e habilidade no instrumento. A dicotomia entre preparar as músicas que serão tocadas em breve e o desejo de uma melhora global no instrumento é um conflito que muitos músicos tem dificuldade em negociar. A comparação com atletas é bastante viável neste caso. Quando os jogadores de futebol entram em campo para treinar, a rotina deles se inicia com leves exercícios de alongamento e alguns outros exercícios diversos que funcionam como um aquecimento e deixam seus músculos preparados para atividades mais específicas. Isto é geralmente seguido por treino de jogadas ensaiadas, chutes a gol, treinamentos específicos para defesa e ataque entre outros fundamentos básicos do futebol. Foi há muito tempo compreendido que para um time jogar bem, os fundamentos precisam ser não apenas dominados, mas sim praticados diariamente. Tudo deve ser trabalhado diariamente em busca de consistência e perfeição antes do jogador entrar em campo para jogar uma partida. Tudo isto é feito para permitir que o jogador controle as demandas do jogo sem ter de pensar em como ou mesmo se o seu corpo vai responder as exigências que virão. Desta mesma forma deve ser tocar um instrumento de metal. Existem atividades físicas básicas e exigências quando se tocam instrumentos de metal que precisam estar além do reino do pensamento consciente, especialmente fora do modo de questionamento, não pondo dúvidas em mentes sensíveis. É por esta razão que uma rotina diária que passe por todos os aspectos básicos para se tocar, se torna essencial. Da mesma maneira que um atleta não pode se preocupar em como seu corpo vai reagir quando ele estiver jogando, o músico não pode ficar pensando se aquela ligadura de oitava vai sair, se aquela entrada em piano vai acontecer. Estes aspectos básicos de nosso desempenho já deveram ter sido amplamente trabalhados em nossas práticas diárias. Alguns artistas têm uma seqüência estrita de exercícios que eles praticam diariamente antes de começar a prática de música propriamente dita. Outros preferem variar mais seus exercícios, baseados nas necessidades atuais de cada indivíduo e com isto permitindo que cada um escolha sua seqüência baseada nas suas necessidades imediatas, nas suas deficiências atuais e nas músicas que eles estão praticando. Isto permite ao músico estruturar sua rotina diária em porções apropriadas não só reforçando suas forças, mas também confrontando suas fraquezas e modificando a rotina à medida que suas necessidades também se modificarem. Por exemplo, se você esta tocando uma música no registro agudo do instrumento e de forma contínua, é comum que sua capacidade de tocar passagens suaves e sua flexibilidade labial diminuam consideravelmente. Neste caso, o músico que possua uma rotina diária flexível, pode utilizar uma maior parte do seu tempo praticando ligaduras com os lábios e algumas articulações suaves. Em outros casos, você esta tocando muitas notas rápidas, registro muito agudo, é comum que a qualidade do seu

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UMA ROTINA DIÁRIA BÁSICA – ESTRUTURANDO UM PLANO PARA OBTERSUCESSO TOCANDO TUBA E BOMBARDINO

Uma das preocupações primárias de todo músico é como praticar. A principal meta a seralcançada quando se pratica deve ser o aprendizado das músicas que vamos executar empúblico. Isto é obviamente importante para muitos de nós, pois a qualidade de nossosdesempenhos públicos interfere diretamente na qualidade da comida em nossas mesas.Outro objetivo muito importante da prática esta em aumentar nossa proficiência ehabilidade no instrumento. A dicotomia entre preparar as músicas que serão tocadas embreve e o desejo de uma melhora global no instrumento é um conflito que muitos músicostem dificuldade em negociar.

A comparação com atletas é bastante viável neste caso. Quando os jogadores de futebolentram em campo para treinar, a rotina deles se inicia com leves exercícios de alongamentoe alguns outros exercícios diversos que funcionam como um aquecimento e deixam seusmúsculos preparados para atividades mais específicas. Isto é geralmente seguido por treinode jogadas ensaiadas, chutes a gol, treinamentos específicos para defesa e ataque entreoutros fundamentos básicos do futebol. Foi há muito tempo compreendido que para umtime jogar bem, os fundamentos precisam ser não apenas dominados, mas sim praticadosdiariamente. Tudo deve ser trabalhado diariamente em busca de consistência e perfeiçãoantes do jogador entrar em campo para jogar uma partida. Tudo isto é feito para permitirque o jogador controle as demandas do jogo sem ter de pensar em como ou mesmo se o seucorpo vai responder as exigências que virão. Desta mesma forma deve ser tocar uminstrumento de metal.

Existem atividades físicas básicas e exigências quando se tocam instrumentos de metal queprecisam estar além do reino do pensamento consciente, especialmente fora do modo dequestionamento, não pondo dúvidas em mentes sensíveis. É por esta razão que uma rotinadiária que passe por todos os aspectos básicos para se tocar, se torna essencial. Da mesmamaneira que um atleta não pode se preocupar em como seu corpo vai reagir quando eleestiver jogando, o músico não pode ficar pensando se aquela ligadura de oitava vai sair, seaquela entrada em piano vai acontecer. Estes aspectos básicos de nosso desempenho jádeveram ter sido amplamente trabalhados em nossas práticas diárias.

Alguns artistas têm uma seqüência estrita de exercícios que eles praticam diariamente antesde começar a prática de música propriamente dita. Outros preferem variar mais seusexercícios, baseados nas necessidades atuais de cada indivíduo e com isto permitindo quecada um escolha sua seqüência baseada nas suas necessidades imediatas, nas suasdeficiências atuais e nas músicas que eles estão praticando. Isto permite ao músicoestruturar sua rotina diária em porções apropriadas não só reforçando suas forças, mastambém confrontando suas fraquezas e modificando a rotina à medida que suasnecessidades também se modificarem. Por exemplo, se você esta tocando uma música noregistro agudo do instrumento e de forma contínua, é comum que sua capacidade de tocarpassagens suaves e sua flexibilidade labial diminuam consideravelmente. Neste caso, omúsico que possua uma rotina diária flexível, pode utilizar uma maior parte do seu tempopraticando ligaduras com os lábios e algumas articulações suaves. Em outros casos, vocêesta tocando muitas notas rápidas, registro muito agudo, é comum que a qualidade do seu

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som e o seu registro grave venham a sofrer. Neste caso, mais tempo poderia ser gasto com aprática de notas longas, trabalho adicional no registro grave, e exercícios básicos dearticulação e colocação de língua. A vantagem de uma rotina diária básica flexível, é queela permite ao artista um balanço mais equilibrado em sua prática, contornando possíveisproblemas decorrentes do trabalho específico que ele esteja realizando no momento e quepode prejudicar certos aspectos de sua performance. Uma boa coleção de material paraprática diária básica pode ser encontrada no Método Completo para Tuba de William Bell,na parte de aquecimento e rotina diária, publicado por Charles Colin. Este livro contemuma rápida, porem eficiente, seqüência de exercícios que o levarão depressa aos rudimentosde tocar: produção do som, articulação, exercícios rápidos de língua, escalas e arpejos.

Minha rotina básica diária consiste num conjunto de exercícios que, dependendo daquantidade de tempo que eu tenho para trabalhar neles, podem durar de 20 minutos até 2horas de prática. Embora eu tente trabalhar diariamente em cada área, eu divido o tempo detrabalho de cada área, confrontando minhas forças atuais com minhas fraquezas. Existemoito áreas na minha prática que eu tento cobrir a cada dia. Eu acredito que funcione melhorpara eu atravessar estas áreas na ordem em que elas estão listadas, através de exercíciosmusicais específicos para cada uma delas.

1. Respiração Profunda e Produção de Som. Aqui é onde minha prática diária seinicia buscando respirações profundas, relaxadas, abertas constantemente,procurando exalar o ar sem restrições ou fechamento da garganta, e produzindo umsom lindo, consistente e ressonante. Nesta área eu utilizo os exercícios de notaslongas do Método do Max Schlossberg, publicado por M. Baron Company.

2. Resistência, Flexibilidade e Fluxo de Ar Constante. Depois de ter certeza que arespiração e a produção do som estão em seus lugares, eu volto minha atenção paraexercícios simples de ligaduras e manutenção do fluxo de ar constante. Exercíciosde ligaduras de lábio através da série harmônica como os encontrados noSchlossberg e nos exercícios do grande tubista Arnold Jacobs, encontrados no finaldo Método Avançado para Banda, livro de Tuba, da editora Hal Leonard, sãoperfeitos para esta prática.

3. Registro Grave e Amplitude Sonora. Tubistas freqüentemente negligenciam seuregistro grave, enquanto desejam igualar a habilidade pirotécnica e a excitação detocar notas agudas exibidas pelos trompetistas. Isto não quer dizer que tubistas nãodevam desenvolver velocidade de execução e muito menos não devam desenvolverseu registro agudo, mas isto não deve ser feito em detrimento de seu registro grave eda qualidade de seu som, o que faz com que um trabalho diário no registro grave setorne essencial. Exercícios de notas longas no extremo grave são um bom iníciodesta prática, seguido pelos 43 Bel Canto Etudes para Tuba de Marco Bordogni,tocados uma oitava a baixo, publicados por Robert King. Uma publicação um poucomais recente e também excelente para trabalhar esta região são os Low Etudes forTuba de Phil Snedecor, também publicados por Robert King.

4. Consistência da Articulação e Colocação da Língua. É muito importante que ocontrole e correta posição da língua durante a articulação sejam estabelecidos emantidos. Como a formação bucal varia entre cada indivíduo, é importante que cadaum descubra a melhor posição para si. Alguns exercícios básicos de articulaçãodevem ser praticados a cada dia para dar a segurança de que as corretas sílabas de

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articulação estão sendo utilizadas e que a articulação está consistente. Alguns dosmelhores estudos básicos de articulação podem ser encontrados no Método Arban eincluem os exercícios de semínimas, colcheias e semicolcheias, encontrados logo noinício do método. Estes exercícios deveriam ser praticados diariamente.

5. Estabelecimento e controle de um Grande Espectro de Dinâmica. Neste pontode minha rotina diária, é muito importante checar se o controle do fluxo de ar estacompleto, para que ambos, tanto piano quanto fortíssimo, possam ser tocadosfacilmente. Para esta checagem, eu procuro utilizar trechos orquestrais variados,como por exemplo, o ¨Romeu e Julieta¨ de Prokofiev, ou algumas passagens daópera ¨Das Rheingold¨ de Wagner, inclusive a Entrada dos Deuses em Valhalla, osolo do Gigante e o solo do Dragão.

6. Técnica, Destreza dos Dedos e Registro Extremo. Depois que as áreas básicas deexecução, respiração, produção do som, controle de ar e colocação de língua foramtrabalhadas, é hora de dar um pouco de atenção em técnicas mais complexas, commaior velocidade e no registro agudo. Para esta parte eu utilizo pelo menos doisgrupos de escalas e arpejos diariamente que incluem maiores, menores naturais,harmônicas, melódicas, escalas maiores em terças, quartas e escalas de tons inteiros.Escalas são o elemento básico de todas as músicas que nós tocamos e precisam estarsob completo controle. Além do trabalho com escalas específicas, exercíciostécnicos encontrados no Método Arban e no Herbert Clarke Technical Studies,publicados por Carl Fischer, constituem-se num excelente material para seconseguir um refinamento técnico adicional.

7. Expressividade e Melodias. A essência da música é a melodia, e na maior parte dorepertório tocado pelos tubistas, nós não temos grandes oportunidades de tocarmelodias bonitas. A habilidade para executar melodias é indispensável paraqualquer músico e os tubistas devem fazer desta habilidade o foco central de suaprática. Os 43 Bel Canto Etudes de Marco Bordogni constituem-se num excelenteponto de partida. Outra coisa que eu gosto muito de fazer é tocar as melodiasbonitas escritas para outros instrumentos, como por exemplo, o solo do Cisne doCarnaval dos Animais, a Reverie de Schumam e o Largo do Inverno de Vivald.

8. Ultrapassando os Limites. A pessoa tem sempre de se esforçar para obter umcompleto controle técnico do instrumento. Devem desafiar-se com exercícios maisdifíceis, músicas novas e mais complexas entre outras coisas. Outros livros quepodem também ser utilizado são os 70 Estudos do Blazhevich e os 60 SelectedStudies do Kopprash, publicados por Robert King, Bixby-Bobo Studies in Bach,publicados por Western International e os 12 Special Studies de Maenz, publicadopor Hofmeister.

As áreas e exercícios listados acima podem servir de sugestão para o início daformulação de sua própria rotina diária, uma coleção de estudos que podem variar deacordo com o tempo disponível para sua prática e também de acordo com os problemasespecíficos que precisem ser resolvidos a cada dia. Cada músico deveria trabalhar paradesenvolver sua própria rotina, melhorando e se aprimorando a cada dia e procurando tocarcada dia melhor. Lembre-se que nada no universo está parado, tudo está em movimento. Ouvocê esta tocando melhor ou pior a cada dia, nunca da mesma maneira.