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ESTUDO SOBRE A UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À CONSTRUÇÃO ENXUTA CAMILA COSTA CÂMARA DE SOUZA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (MODALIDADE - MONOGRAFIA) NATAL-RN 2016 U F R N

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ESTUDO SOBRE A UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIA DA

INFORMAÇÃO APLICADA À CONSTRUÇÃO ENXUTA

CAMILA COSTA CÂMARA DE SOUZA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

(MODALIDADE - MONOGRAFIA)

NATAL-RN

2016

U F R N

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

CAMILA COSTA CÂMARA DE SOUZA

ESTUDO SOBRE A UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIA DA

INFORMAÇÃO APLICADA À CONSTRUÇÃO ENXUTA

Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade

Monografia, submetido ao Departamento de

Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do Título de

Bacharel em Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Alysson Brilhante

Faheina de Souza

NATAL/RN, 01 DE JUNHO DE 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

ESTUDO SOBRE A UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIA DA

INFORMAÇÃO APLICADA À CONSTRUÇÃO ENXUTA

CAMILA COSTA CÂMARA DE SOUZA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO NA MODALIDADE

MONOGRAFICA, SUBMETIDO AO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA CIVIL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

GRANDE DO NORTE COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE BACHAREL EM

ENGENHARIA CIVIL.

NATAL/RN, 01 DE JUNHO DE 2016

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AGRADECIMENTOS

À DEUS, por me guiar, dar forças, coragem, motivação para superar todas as barreiras, me

proteger por toda trajetória que percorro e por me presentear com os meus maiores bens, ou

seja, minha vida, família e amigos.

Aos meus pais, por todo amor, apoio, incentivo, motivações, lições de vida e trabalho árduo,

para que eu pudesse ser quem eu sou e ter o que eu tenho.

Às minhas irmãs, por todos os momentos de alegria, cuidados, brincadeiras, amor, carinho,

felicidade e paz.

À construtora Colmeia pela grande oportunidade em desenvolver este trabalho, em especial ao

Dr. Otacílio e Eng. Gustavo Medeiros.

À Deborah Moura, por ter sido um grande exemplo e uma verdadeira amiga durante todo esse

tempo.

Aos grandes e verdadeiros amigos da faculdade, em especial à Isabel, Rosa, Anna Christinna,

Luane, Amanda e Luciano, por estarem sempre presentes nos momentos mais felizes e mais

complicados enfrentados ao longo dos dias nas nossas grandes batalhas.

Aos verdadeiros amigos da vida, em especial à Pérola, Eloisa, Clara, Beatriz Ribeiro, Maria

Beatriz, Juliana e Lívia, que contribuíram fortemente nessa longa caminhada para meu

crescimento pessoal e profissional.

A todos os professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por apoio e

excelentíssimo ensino, com o fim de proporcionar conhecimento para poder enfrentar as

diversas situações existentes com total responsabilidade e ciência do que deve ser feito.

Por fim, muito obrigada a todos que de alguma maneira desejaram e me ajudaram, para que eu

pudesse me tornar uma engenheira civil.

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v

RESUMO

O panorama atualmente vivido na indústria da Construção Civil favorece o uso de novas

ferramentas para que se tenha um melhor controle e gerenciamento de obra, além de um

crescimento na produtividade e racionalização de materiais e processos construtivos. Para sanar

tais problemas, uma ferramenta que vem sendo largamente difundida no setor é a construção

enxuta, oriunda do Sistema Toyota de Produção. Concomitantemente a essa necessidade,

percebe-se o rápido desenvolvimento de tecnologias da informação e comunicação (TIC). Deste

modo, com o intuito de diminuir as diversas perdas por espera e superprodução, uma equipe de

engenharia desenvolveu um sistema computacional capaz de controlar as atividades realizadas

no canteiro de obras utilizando os conceitos e ferramentas da construção enxuta. Os próprios

funcionários da obra, através de “Terminais Lean”, verificam suas programações semanais,

acionam o andon quando necessário e solicitam a quantidade e tipo de argamassa e material

que precisam para trabalhar e, por meio de tablets, os operadores das betoneiras e dos guinchos

recebem essa informação e já executam o que foi solicitado, evitando assim ociosidade e espera

por material. Dessa maneira, este trabalho, por meio de um estudo de caso, tem por objetivo

analisar a utilização de um sistema informatizado aplicado aos conceitos de Construção Enxuta,

comparando os dados obtidos desse com os da implementação apenas da mentalidade enxuta,

concluindo-se que a utilização do mesmo foi eficaz pelo fato de gerar relatórios mais confiáveis,

nivelar melhor a produção e obter maior controle dos prazos e ritmo das atividades.

Palavras-chave: Construção enxuta. Tecnologia da informação. Tablet. Canteiro de obras.

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ABSTRACT

The panorama currently lived in Construction industry favors the use of new tools in order

to have better control and project management, as well as an increase in productivity and

rationalization of construction materials and processes. To solve such problems, a tool that has

been widely used in the industry is lean construction, derived from the Toyota Production

System. Concurrently to this need, we can see the fast development of information and

communication technologies (ICT). Thus, in order to reduce the many losses caused by waiting

and overproduction, an engineering team developed a computer system able to control the

activities done at the construction site using the concepts and tools of lean construction. The

work staff through "Lean Terminals” check their weekly schedules, set the andon when

necessary and request the amount and type of mortar and material they need to work and,

through tablets, operators of concrete mixers and winches receive this information and now

perform what was requested, thus avoiding idle and wait for material. Therefore, this paper,

through a case study aims to analyze the use of a computerized system applied to the concepts

of Lean Construction, comparing the data obtained in this with data from the implementation

of lean thinking, concluding that use of it was effective for generating more reliable reporting,

better level the production and gain greater control of the time and pace of activities.

Keywords: Lean Construction. Information Technology .Tablet. Construction site.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Produtividade na Construção Civil versus outras indústrias nos EUA..................... 3

Figura 2 - Casa Toyota de Produção. ........................................................................................ 7

Figura 3 - Modelo de processo na filosofia gerencial tradicional. ............................................ 9

Figura 4 - Categorias de perdas ............................................................................................... 13

Figura 5 - Os níveis hierárquicos do planejamento ................................................................. 15

Figura 6 - Etapas de implantação da construção enxuta na obra em estudo ........................... 18

Figura 7 - Maquete Eletrônica - Implantação. ......................................................................... 20

Figura 8 - Perspectiva artística da Piscina Adulto. .................................................................. 21

Figura 9- Linha de Balanço do Empreendimento.................................................................... 24

Figura 10 - Histograma de funcionários. ................................................................................. 24

Figura 11 - Esquema Linha de Balanço .................................................................................. 25

Figura 12 - Trecho de Planejamento de Médio Prazo em MsExcel. ....................................... 26

Figura 13 - Indicadores do Planejamento de Médio Prazo...................................................... 26

Figura 14 - Planejamento de Curto Prazo em MsExcel. ......................................................... 28

Figura 15 - Indicadores do Planejamento de Curto Prazo ....................................................... 28

Figura 16- Gerenciamento Visual da obra............................................................................... 29

Figura 17 - Quadro de Kanbans. ............................................................................................. 30

Figura 18 - Cartões Kanban. .................................................................................................... 31

Figura 19 - Logística de abastecimento da obra. ..................................................................... 32

Figura 20 - Distribuição dos Paletes no pavimento. ................................................................ 34

Figura 21 - Terminal Lean. ...................................................................................................... 36

Figura 22 - Trecho de Planejamento de Médio Prazo no Sistema Lean. ................................ 36

Figura 23 - Planejamento de Curto Prazo no Sistema Lean. ................................................... 37

Figura 24 - Painel de controle (Dashboad). ............................................................................. 38

Figura 25 - Desvio de ritmo das atividades. ............................................................................ 38

Figura 26 – Consulta de prazos do Sistema Lean. .................................................................. 39

Figura 27 - Gerenciamentos Visuais nas TV's. ....................................................................... 40

Figura 28 - Consulta do Planejamento de Curto prazo nos Terminais Lean. .......................... 40

Figura 29 - Sistema central de PCP. ........................................................................................ 41

Figura 30- Tablets do Guincho e central de argamassa. .......................................................... 42

Figura 31 - Telas dos Tablets da betoneira e guincho. ............................................................ 43

Figura 32 - Tela de composição do traço. ............................................................................... 43

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Figura 33 - Tela inicial do Sistema Lean. ............................................................................... 45

Figura 34- Alerta de ociosidade da betoneira. ......................................................................... 46

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Redução das perdas por deslocamento .................................................................... 33

Tabela 2 - Diminuição da mão de obra de apoio ..................................................................... 33

Tabela 3 - Produtividade diária antes e após aplicação do sistema (m²/dia). .......................... 46

Tabela 4 - Despesas para implantação do Sistema Lean. ........................................................ 47

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Comparativo entre os conceitos da construção enxuta e aplicação da TI. ............ 48

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 2

1.1 Justificativa ........................................................................................................ 3

1.2 Objetivos ............................................................................................................. 4

1.3 Estrutura do trabalho ........................................................................................ 5

2. REVISÃO BIBLIOGRÁGICA ............................................................................... 6

2.1 Conceitos e ferramentas da Produção enxuta ................................................. 6

2.2 Conceitos e ferramentas da Construção enxuta .............................................. 9

2.2.1 Perdas ...................................................................................................... 12

2.2.2 Planejamento e Controle da Produção (PCP) ........................................ 13

2.3 Tecnologia da Informação e Comunicação na Construção Civil ................. 16

3. METODOLOGIA DA PESQUISA....................................................................... 18

3.1 Delineamento da Pesquisa ............................................................................... 18

3.2 A construtora e o empreendimento ................................................................ 19

4. ESTUDO DO EMPREENDIMENTO .................................................................. 21

4.1. Etapas de implantação da construção enxuta na obra em estudo .............. 21

4.2. A filosofia da construção enxuta .................................................................... 22

4.2.1. Planejamento e Controle da Produção .................................................. 25

4.2.2. Sistema Kanban ...................................................................................... 29

4.2.3. Benefícios da Filosofia da Construção Enxuta ...................................... 32

4.3. O Sistema ......................................................................................................... 35

4.3.1. Planejamento e Controle da Produção .................................................. 36

4.3.2. Sistema Kanban ...................................................................................... 41

4.3.3. Benefícios da implantação do sistema .................................................... 44

4.4. Análise final dos dados estudados ................................................................. 47

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 49

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 52

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1. INTRODUÇÃO

A indústria da Construção Civil tem passado por grandes transformações. Muitas empresas

do ramo têm procurado enxugar e racionalizar os seus custos para aumentar ou manter os lucros.

Tais medidas são de grande importância para o crescimento e desenvolvimento do país tanto

do ponto de vista econômico, com participação no Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de

9,3%, segundo dados de 2015 da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), como

do ponto de vista social pela imensa capacidade de absorção de mão de obra.

No atual cenário econômico a busca por espaços no mercado tem ressaltado a

competitividade entre as empresas do setor, portanto este é um ramo que necessita de melhorias

contínuas em seus processos produtivos, não somente na área de custos, mas também em função

do mercado ter elevado o seu padrão construtivo. Ou seja, as construtoras estão sendo

obrigadas, para se diferenciar no mercado, a buscar certificações de qualidade, obter melhorias

nos processos e procurar por sustentabilidade, redução nos resíduos gerados no canteiro, dentre

diversas alternativas que façam a empresa, além de se destacar, melhorar seus recursos de

demanda. Nesse cenário de crescimento e competitividade, não se cogitam processos

ineficientes (COSTA, et al; 2009).

Assim, em concordância com Francischini (2007), destaca-se que a aplicação de novas

ferramentas pelas empresas construtoras pode auxiliar a melhorar a produtividade diminuindo

as perdas no processo produtivo. Ou seja, a ideia é reduzir custos sem necessidade de grandes

investimentos, somente através de uma melhor organização do processo produtivo, eliminando

reservas de mão de obra ociosa e otimizando o uso de cada recurso disponível.

Uma alternativa cada vez mais presente no setor da construção civil é a adoção da filosofia

da construção enxuta, Lean Construction em sua origem. Essa filosofia é baseada no sistema

de produção enxuta que foi adaptada à indústria da construção civil e apresenta princípios para

gestão dos processos construtivos. A produção enxuta desenvolveu-se exatamente em um

período de crise no Japão após a 2ª Grande Guerra Mundial, quando o país foi totalmente

devastado e suas indústrias praticamente aniquiladas, o que mostra a sua eficiência em

aprimorar os processos das empresas, destacando aquelas que a adotam.

Concomitantemente, o rápido desenvolvimento de tecnologias da informação e

comunicação (TIC) móvel, sem fio, e seus dispositivos estão oferecendo novas possibilidades

de portabilidade e acesso a sistemas de informação e ferramentas de comunicação por parte dos

profissionais de gestão da produção (LÖFGREN, 2006). Dessa forma, segundo Sacks e

Gehbauer (2010), os sistemas de TI são introduzidos como parte de iniciativas planejadas da

construção enxuta, e são gerados conscientemente e cuidadosamente para facilitar a

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implementação dessa, portanto tendem a trazer melhorias nos fluxos dos processos diminuindo

perdas, reduzindo a quantidade de retrabalhos e eliminando atividades que não agregam valor.

Ainda de acordo com os mesmos autores, o grau de sucesso nas implementações de TI na

construção está propenso a ser maior quando os sistemas de informação são parte de uma

estratégia consciente orientada ao pensamento enxuto.

Segundo Koskela e Dave (2008), diversas iniciativas de implantação de TIC na indústria da

construção civil não consideraram holisticamente os processos de construção, obtendo assim,

apenas um sucesso parcial. Logo, deve-se sempre pensar primeiramente na mudança dos

processos para poder implementar nova tecnologia.

1.1 Justificativa

A informação é um elemento essencial para as empresas na Infoera, se tornando

indispensável para a produção de documentos, execução de tarefas e geração de novos

conhecimentos. Mas apesar disso, a indústria da construção está estagnada em termos de

tecnologia frente às outras indústrias, como pode ser visto na figura 1.

Figura 1 - Produtividade na Construção Civil versus outras indústrias nos EUA.

Fonte: Adaptado de TEICHOLZ, 2000 apud Nascimento e Santos, 2003.

Mesmo diante desse cenário, é de conhecimento que o uso de tecnologia, em particular dos

sistemas de informação, se destaca como elemento integrador e útil para promover a

reestruturação das organizações. Assim, com os avanços tecnológicos que veem ocorrendo nos

últimos anos, a indústria da construção civil está aderindo de forma gradativa às novas

Tecnologias da Informação (TI), apesar de seu caráter tradicionalmente conservador,

procurando-se obter maior produtividade e qualidade nos empreendimentos.

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Diante dessa conjuntura, existem duas linhas de pensamento, segundo pesquisadores: Love

e Irani, (2005), revelam que as empresas da construção ao implantarem a TI no seus sistemas

construtivos, esbarram numa série de dificuldades para a consolidação, que vão desde cultura

empresarial, muitas vezes resistente às mudanças, até o nível de conhecimento de TI na

empresa, que não está preparada para atuação. Além disso, os mesmos autores defendem que a

deficiência na informação e a falta de integração entre os atores envolvidos no processo

construtivo contribuem para que os sistemas de informações sejam deficientes. Em outro

aspecto, Kazi et. Al., (2007), salienta que a TI tem enorme potencial de aplicação nas empresas

de construção civil, podendo contribuir pata o aumento da produtividade, eficiência e qualidade,

a redução de custos, entre outras variáveis.

Outra linha de raciocínio dada por diversos estudiosos e segunda a qual esta pesquisa

baseia-se, disserta que: Mudança tecnológica sempre catalisa a mudança organizacional (El

Sawy et al, 1999; Halonen, 2004; Melville et al., 2004; Rummler e Brache, 1995, apud

Martikainen e Halonen, 2011);

Asssim, conforme Koskela e Dave (2008), a aplicação dos conceitos de Lean manufacturing

juntamente com a implementação da TI pode aumentar cerca de 20% a produtividade na

construção, enquanto que a implementação isolada de TI traz apenas 2% e boas práticas de

gestão, 8% no aumento da produtividade.

Diante de tudo que foi exposto, percebe-se a necessidade de um estudo que mostre a real

eficácia dessa implantação para que aumente o interesse social e seja verificada a viabilidade

econômica.

1.2 Objetivos

O enfoque deste trabalho consiste em avaliar a influência da implantação da TIC e analisar

como a sua utilização para a gestão empresarial pode influenciar na atividade, administração,

estrutura e estratégia de empresas que aplicam a ferramenta da Construção Enxuta, objetivando

reconhecer os avanços da empresa em estudo com a aplicação apenas da construção enxuta e

ao vincular essa ferramenta à Tecnologia da Informação.

Como objetivos específicos, tem-se:

Mapear a aplicação da ferramenta Lean Construction em construtora de Natal/RN;

Avaliar a produtividade, custo e perdas na obra em questão somente com a aplicação

da Construção Enxuta na fase em estudo;

Avaliar a produtividade, custo e perdas na obra em questão após a introdução da TI na

fase em estudo;

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Analisar as principais dificuldades na implantação da ferramenta e da tecnologia.

1.3 Estrutura do trabalho

Esta monografia encontra-se dividida em seis capítulos principais e outros tópicos

relacionados.

O primeiro capítulo deste trabalho retrata as suas considerações iniciais, mostra o contexto

no qual estão inseridos os problemas, a justificativa e relevância do tema, razões as quais

motivam a sua elaboração e os objetivos almejados.

No segundo capítulo, tem-se a revisão bibliográfica acerca do tema, com embasamento

teórico fundamentado na pesquisa bibliográfica de ferramentas e técnicas da Produção Enxuta

e Construção Enxuta, destacando-se o Planejamento e Controle da Produção e a redução das

perdas, assim como também traz informações acerca da Tecnologia da Informação na

construção civil.

O terceiro e o quarto capítulos apresentam um estudo de caso, onde será exposta toda a

metodologia que foi utilizada para a pesquisa em questão e detalhadas a implantação da

filosofia da construção enxuta e do sistema computacional Lean na obra em estudo, com a

consequente apresentação dos dados coletados e a sua análise.

No quinto capítulo são feitas interpretação e análises críticas dos resultados obtidos em

relação à metodologia utilizada. É realizada também a comparação dos resultados alcançados

com os resultados obtidos pelos autores da revisão bibliográfica.

Por fim, o sexto capítulo apresenta as conclusões finais, correspondentes aos objetivos e

hipóteses formulados.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁGICA

Neste capítulo será apresentada a revisão bibliográfica, composta por temas de fundamental

importância para o desenvolvimento e entendimento desta pesquisa. Os assuntos abordados

serão os conceitos e ferramentas da construção e produção enxuta e a tecnologia da informação

e comunicação na construção civil.

2.1 Conceitos e ferramentas da Produção enxuta

No início do século XX, Henry Ford incorporou na indústria automotiva um novo modelo

de produção, a produção em massa, a qual foi adotada pelas fábricas durante muitos anos para

produzir automóveis em grande quantidade. Porém como essa produção possuía pequena

variabilidade, ou seja, era gerado um grande número de unidades do mesmo automóvel,

suscitando em excesso de materiais estocados, viu-se a necessidade de desenvolver ferramentas

e filosofias que fossem capazes de aumentar a variabilidade dos veículos, reduzir os custos e

tempo de produção, resultando no Sistema Toyota de Produção (STP).

Assim, com a indústria manufatureira como pioneira na preocupação com o problema das

perdas em suas fábricas, a mesma toou como inspiração para as demais indústrias, fulminando

na eliminação das perdas como um dos focos principais para a formulação da Nova Filosofia

de Produção, a Lean Production (Produção enxuta) (KOSKELA, 1992).

Essa filosofia é advinda do Japão, na década de 50, e sua principal aplicação foi no Sistema

Toyota de Produção. Seu modelo conceitual é a síntese e a generalização das filosofias Just in

Time (JIT) e TQC (Total Quality Control) (BULHÕES; FORMOSO, 2000), representada pela

figura 2, conhecida como a Casa Toyota de Produção, a qual define os princípios e filosofias

do STP.

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Figura 2 - Casa Toyota de Produção.

Fonte: Adaptado de Koskela, 1992.

A partir do modelo apresentado acima, tem-se que para atingir o objetivo de melhorar a

qualidade, minimizar os custos e obter um lead time (tempo de resposta) mais curto, é preciso

se ter como base a estabilidade, que visa a redução da variabilidade, ou seja, a atenuação das

mudanças dos produtos finais dos processos de produção, obtida através da diminuição das

incertezas na duração das atividades, do volume de atividades que não agregam valor e das

perdas no processo.

Assim, a estabilidade é responsável por equilibrar as demais bases da casa, onde estão os

princípios do STP, as filosofias Heijunka, Trabalho Padronizado e Kaizen, definidas pelo Lean

Lexicon (2014) como:

Heijunka: é o nivelamento do tipo e quantidade de produção durante um período de

tempo fixo. Isso permite que a produção atenda à demanda do cliente, evitando,

concomitantemente, o excesso de estoque e reduzindo custos, mão-de-obra e lead time

de produção em todo o fluxo de valor.

Trabalho Padronizado: Estabelece procedimentos precisos para o trabalho de cada um

dos operadores em um processo de produção, baseado no tempo Takt, que é a taxa em

que os produtos devem ser produzidos para atender à demanda do cliente, na sequência

exata de trabalho em que um operador realiza suas tarefas dentro do tempo takt e em

um estoque padrão, incluindo os itens nas máquinas, exigido para manter o processo

operando suavemente

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Kaizen: Melhoria contínua de um fluxo completo de valor ou de um processo individual,

a fim de se criar mais valor com menos desperdício. O kaizen é praticado a partir do

ciclo PDCA de planejamento, desenvolvimento, checagem e ação corretiva para então,

replanejar ou melhorar o processo de produção.

Como os pilares de sustentação do STP tem-se o Just In Time e o Jidoka. O primeiro segue

a premissa de produzir e entregar apenas o necessário, quando necessário e na quantidade

necessária, como pode-se perceber na definição de Slack et al. (2002):

“O just-in-time (JIT) é uma abordagem disciplinada, que visa aprimorar a

produtividade global e eliminar os desperdícios. Ele possibilita a produção

eficaz em termos de custo, assim como o fornecimento apenas da quantidade

correta, no momento e locais corretos, utilizando o mínimo de instalações,

equipamentos, materiais e recursos humanos. O JIT é dependente do balanço

entre a flexibilidade do fornecedor e a flexibilidade do usuário. Ele é

alcançado por meio da aplicação de elementos que requerem um

envolvimento total dos funcionários e trabalho em equipe. Uma filosofia-

chave do JIT é a simplificação.”

Portanto, a filosofia Just In Time baseia-se em um sistema de produção puxado, em que os

materiais e serviços serão fornecidos somente quando houver real necessidade de tê-los,

diminuindo assim os estoques e aflorando diversos benefícios como a diminuição de custos

com manutenção de estoque, aumento da transparência, menor ocupação de espaço, entre

outros. Grandes estoques acabam por esconder problemas existentes na produção, são esses:

problemas com fornecedores, problemas na qualidade do produto, programação mal feita,

quebras de máquinas, falhas de comunicação, etc.

O outro pilar da Casa Toyota de Produção é composto por uma filosofia responsável por

Fornecer às máquinas e aos operadores a habilidade de detectar quando uma condição anormal

ocorreu e interromper imediatamente o trabalho, possibilitando que as operações construam a

qualidade do produto em cada etapa do processo e separando os homens das máquinas para um

trabalho mais eficiente. Os sistemas Andon e Poka-Yoke são duas ferramentas designadas para

auxiliar no sentido de parar e notificar quaisquer tipos de anormalidades. Como já bem descrito

por Lean Lexicon (2014):

Andon: Ferramenta de gestão visual que mostra o estado das operações em uma área em

um único local e avisa quando ocorre algo anormal. Um andon pode indicar o status da

produção (por exemplo, quais máquinas estão operando), uma anomalia (por exemplo,

tempo de máquina parada), e ações necessárias, tais como trocas.

Poka-Yoke: Significa “à prova de defeitos”. Método que ajuda os operadores a evitarem

erros em seu trabalho, tais como escolha de peça errada, montagem incorreta de uma

peça, esquecimento de um componente, etc.

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Com a implantação desse novo modelo de gestão, há uma mudança na visão dos processos,

principalmente conceitual. Essas novas filosofias e técnicas da produção enxuta passaram da

indústria automotiva e ganharam versões em outros segmentos produtivos. Um exemplo que

merece destaque é a construção civil com a Construção Enxuta (Lean Construction).

2.2 Conceitos e ferramentas da Construção enxuta

A filosofia da Construção Enxuta surgiu na década de 90 por meio da adaptação dos

princípios, técnicas e ferramentas do Lean Production (Produção Enxuta) para a indústria da

construção civil, marcada pela publicação do trabalho Application of the new production

philosophy in the construction industry por Lauri Koskela (1992) do Technical Research Center

(VTT) da Finlândia.

A diferença básica entre a filosofia gerencial tradicional e a construção enxuta é

principalmente conceitual. A mudança mais importante para a implantação do novo paradigma

é a introdução de uma nova forma de entender os processos.

De acordo com Koskela (1992), na filosofia de produção convencional, a produção é vista

como um processo de conversão atividades, em que há a transformação de insumos (materiais,

informação) em produtos intermediários (por exemplo, alvenaria, estrutura, revestimentos) ou

final (edificação), tal como indicado na figura 3.

Figura 3 - Modelo de processo na filosofia gerencial tradicional.

Fonte: Adaptado de Koskela, 1992.

Este modelo apresenta, tacitamente, as seguintes características:

O processo de produção é a conversão de um insumos em produtos;

O processo de conversão pode ser subdividido em subprocessos;

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10

Custo total do processo pode ser minimizado minimizando-se os custos de cada

subprocesso;

Valor do produto está associado aos custos (ou valor) dos insumos.

Ignora os fluxos físicos entre as conversões

Assim, enxergando as deficiências dessa visão, principalmente no que tange a não

observância dos fluxos físicos entre as atividades de conversão, Koskela (1992) salientou a

necessidade de uma teoria que explicasse convenientemente as práticas da construção civil,

para tanto a mesma deveria possuir algumas características contrárias à visão convencional, tais

como:

A produção é um fluxo de materiais e/ou informações das matérias primas até o produto

final gerando valor para o cliente;

Os materiais são processados, inspecionados, movimentados ou estão em espera;

A melhoria se dá através do aumento de eficiência das atividades de fluxo e de

conversão ou da eliminação das atividades de fluxo.

Diante de tal conjuntura, para facilitar a aplicação dessa nova teoria, Koskela (1992)

sintetizou e abstraiu os conceitos na forma de princípios, propostos para a aplicação da filosofia

Lean Construction, com o objetivo de reduzir as perdas e custos, aumentar qualidade dos

produtos e desenvolver uma melhor gerência dos processos, definidos a seguir:

1. Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor: A eficiência dos processos

pode ser melhorada e as suas perdas reduzidas não só através da melhoria da eficiência das

atividades de conversão e de fluxo, mas também pela eliminação de algumas das atividades de

fluxo. Assim, como qualquer atividade que não altere o valor do produto para o cliente é

considerada desperdício, procura-se eliminar essas atividades durante o processo de produção.

2. Aumentar o valor do produto através da consideração das necessidades dos clientes:

A geração de valor consiste na satisfação das expectativas do cliente, deste modo, o aumento

do valor pode ser conseguido através da identificação das necessidades dos clientes internos e

externos e de sua consideração no projeto do produto e na gestão da produção.

3. Reduzir a variabilidade: Os processos de produção estão sujeitos a diferentes tipos de

variabilidade, como de matéria-prima, do próprio processo ou da procura, o que tende a

aumentar a parcela de atividades que não agregam valor e o tempo necessário para executar um

produto. Dessa forma, deve-se medir a variabilidade, identificar as causas, eliminá-la e

padronizar os processos.

4. Reduzir o tempo de ciclo: O tempo de ciclo é definido como o somatório do tempo de

todas as atividades de um processo produtivo (transporte, espera, processamento e inspeção).

A redução desse tempo nas atividades que não agregam valor permite que o produto seja

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11

entregue de forma mais rápida ao cliente, facilitando também a gestão dos processos pela

redução dos produtos inacabados em estoque.

5. Simplificar através da redução do número de passos ou partes: Quanto maior o

número de etapas de um processo, maior será o número de atividades que não agregam e maior

é a chance de ocorrerem erros.

6. Aumentar a flexibilidade de saída: A necessidade de aumentar a flexibilidade de saída

está conexa com a geração de valor. Refere-se à possibilidade de alterar as características finais

dos produtos tendo em conta os requisitos dos clientes, sem aumentar significativamente os

custos.

7. Aumentar a transparência do processo: O aumento da transparência de processos

melhora a disponibilidade de informações, necessárias para a execução das tarefas, tornando-

as visíveis, facilitando assim o trabalho e tendendo a tornar os erros mais fáceis de serem

identificados no sistema de produção.

8. Focar o controle no processo global: Deve-se ter uma percepção sistemática da

produção, procurar entender o processo como um todo para perceber o efeito de qualquer

modificação pontual no processo global. Portanto, todo o processo deve ser medido, gerado

assim indicadores globais e não apenas locais.

9. Introduzir melhoria contínua no processo: Busca reduzir os desperdícios e aumentar

o valor, atividades interativas e introduzidas continuadamente na organização. Deve-se realizar

o acompanhamento do desenvolvimento e das melhorias e ser promovido o envolvimento das

pessoas na organização.

10. Balancear melhorias nos fluxos e nas conversões: A eficiência dos processos advém

da eficiência das conversões e da maneira como os fluxos são tratados, devendo então ser

mantido o equilíbrio entre as melhorias dos fluxos e das conversões. Fluxos mais eficientes

requerem menos capacidade de conversão. Deve-se procurar a racionalização do processo

avaliando a possibilidade de inovação tecnológica a fim de reduzir as atividades que não

agregam valor, mas deve-se realizar melhorias nos fluxos antes de investir em novas

tecnologias (Ohno 1988).

11. Benchmarking: O Benchmarking consiste num processo e aprendizagem com as

empresas líderes em seus mercados. Deve-se proceder ao levantamento das melhores práticas

utilizadas, compreender os processos (pontos fortes e fracos) e adaptá-los e empregá-los à

realidade da organização.

Segundo Koskela e Dave (2008), a utilização dos princípios da construção enxuta pode

aumentar cerca de 12% a produtividade dentro do canteiro de obras.

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12

2.2.1 Perdas

Perdas são atividades que consomem recursos, mas não criam valor ao cliente, podendo ser

destacados dois tipos: a inevitável às atuais tecnologias e aos recursos de produção, como por

exemplo, as atividades de inspeção para garantir a qualidade e segurança, e a perda que não cria

valor e pode ser eliminada imediatamente, como as atividades de transporte ou movimentação

entre processos, por exemplo (LEI, 2014).

De acordo com Santos et al. (1996), o conceito de perdas é frequentemente associado aos

desperdícios de materiais, todavia, elas estendem-se além deste conceito e devem ser entendidas

como qualquer ineficiência que se reflita no uso de equipamentos, materiais e mão de obra em

quantidades superiores àquelas necessárias à produção da edificação, englobando assim tanto

os desperdícios de materiais quanto a execução de tarefas desnecessárias que geram custos

adicionais e não agregam valor.

Isto posto, constata-se que para que se consiga melhorar a produtividade dos funcionários

e diminuir os custos de produção, durante o processo produtivo, é imperativo avaliar todo o

processo e identificar as falhas e perdas existentes. Analisando sob o ponto de vista da produção

enxuta, no STP, identificam-se sete tipos de perdas (SHINGO, 1996; WOMACK; JONES,

1996; HINES; TAYLOR, 2000; LEI 2014), ilustrados na figura 4:

1. Superprodução: produzir mais, antes ou mais rápido do que necessário ao processo

seguinte ou cliente. Faz referência à perda que ocorre devido à produção em quantidades

superiores às necessárias.

2. Espera: Longos períodos de ociosidade de pessoas, peças e informação, resultando em

um fluxo pobre, bem como em lead times longos.

3. Transporte excessivo: Movimentação excessiva de pessoas, informação ou peças

resultando em gasto além do necessário de capital, tempo e energia.

4. Processos inadequados: Utilização do jogo errado ou desnecessário de ferramentas,

sistemas ou procedimentos, geralmente quando uma abordagem mais simples pode ser mais

efetiva, ou quando o mesmo poderia ser eliminado do processo sem afetar o produto.

5. Estoque desnecessário: Armazenamento excessivo e falta de informação ou produtos,

resultando em custos excessivos e baixa performance do serviço prestado ao cliente.

Normalmente é gerado em função de programação inadequada na entrega dos materiais ou de

erros no orçamento, podendo provocar situações de falta de locais adequados para a deposição

dos mesmos.

6. Movimentação desnecessária: operários fazendo movimentos desnecessários, como

procurando por peças, ferramentas, documentos, entre outros, durante a execução de uma

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operação. Podem ser suscitadas por frentes de trabalho afastadas e de difícil acesso, falta de

estudo de layout do canteiro e do posto de trabalho e falta de equipamentos adequados, por

exemplo.

7. Produtos defeituosos: ocorrem quando são fabricados produtos que não seguem os

requisitos de qualidade especificados. Geralmente, têm origem na ausência de integração entre

o projeto e a execução, nas deficiências do planejamento e controle do processo produtivo, na

utilização de materiais defeituosos e na falta de treinamento dos operários, podendo provocar

retrabalhos ou redução do desempenho do produto final.

Figura 4 - Categorias de perdas

Fonte: http://medword.com.br/os-7-desperdicios-do-lean-manufacturing/

2.2.2 Planejamento e Controle da Produção (PCP)

Os princípios da construção enxuta podem ser introduzidos nas empresas através de

diferentes métodos e ferramentas, sendo um deles o Planejamento e Controle da Produção

(PCP), segundo o qual planejamento pode ser definido como o processo de tomada de decisão

que envolve o estabelecimento de metas e dos procedimentos necessários para atingi-las, sendo

efetivo quando seguido de um controle (ISATTO et al.,2001).

O PCP tem como objetivo designar progressivamente as tarefas para orientar os

trabalhadores e controlar o fluxo produtivo. Consiste, assim, em uma forma de gerir ativamente

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a variabilidade, contrariamente aos modelos convencionais de gestão e controle de produção

que encaram a incerteza como algo que depende das atividades e que estão fora do seu alcance.

Dessa forma, o PCP pode ser compreendido como um mecanismo de transformação que

define o que será feito, segundo um processo de planejamento que melhor fará coincidir o que

deve com o que será feito dentro dos limites do que pode ser feito.

O principal objetivo de um dos componentes do PCP, no que se tange o controle da

produção, é, progressivamente, ajustar melhor o planejamento à realidade produtiva dos

trabalhadores permitindo uma aprendizagem contínua e ação corretiva. Este ponto é crucial na

aplicação do LPS. Desse modo, a correta definição das tarefas a realizar transparece na

qualidade dos planejamentos elaborados que, quando traduzem de melhor forma a realidade,

permitem uma melhor ação corretiva.

Em assim sendo, para um bom planejamento e controle da produção é necessário

primeiramente definir bem a tarefa, ou seja, descrever sucintamente o pretendido e esclarecer

o necessário para a sua conclusão. Em seguida, deve-se elaborar uma sequência adequada para

os processos produtivos, analisando bem a lógica interna do próprio trabalho, metas a atingir,

assim como a própria estratégia de execução definida. Além disso, é necessário selecionar a

correta quantidade de mão-de-obra para realização das tarefas, levando em conta a capacidade

produtiva da própria mão-de-obra, o orçamento disponível e o trabalho específico a realizar.

Por fim, é necessário garantir que todos os pré-requisitos e materiais estejam garantidos

antecedentemente ao início da tarefa.

Devido à complexidade dos projetos de construção e à variabilidade dos processos que os

constituem, existe a necessidade de dividir o planejamento em diferentes níveis hierárquicos.

Tommelein e Ballard (1997) sugerem que o planejamento deve ser efetuado em três níveis:

longo prazo ou plano mestre, médio prazo ou “lookahead” e curto prazo ou plano de

comprometimento, explicitados na figura 5.

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Figura 5 - Os níveis hierárquicos do planejamento

Fonte: Adaptado de Ballard, 2000.

Planejamento de Longo Prazo:

Planejamento realizado antes do início da empreitada, apresentando por isso um baixo nível

de detalhe, devido à incerteza do ambiente produtivo. Nele constam informações relativas aos

prazos das principais etapas da obra, os ritmos dos serviços, os fluxos de caixa e planos de

ataque, servindo como base para o estabelecimento de contratos.

Segundo Laufer e Tucker (1987) apud. Sukster (2005) podem ser utilizadas técnicas como

gráficos Gantt, redes de precedência e linhas de balanço. Os mesmos autores consideram que

embora as redes PERT / CPM tenham sido utilizadas por três décadas, tem seu sucesso limitado.

Em um estudo com pequenas empresas de construção somente 10% tentaram utilizar as redes

CPM (LAUFER; TUCKER, 1987).

Planejamento de Médio Prazo:

O planejamento de Médio prazo faz a vinculação entre os planos de longo e curto prazo.

Neste nível o planejamento tende a ser móvel, de dois a três meses com revisão mensal,

possuindo como objetivo, segundo Ballard (1997): estabelecer uma melhor sequência do fluxo

de trabalho, identificar a carga de trabalho e os recursos requeridos, decompor o plano de longo

prazo em pacotes de trabalho, desenvolver métodos para a execução do trabalho, atualizar e

revisar o plano mestre. Ou seja, esse plano protege a produção contra as incertezas, ao analisar

todas as restrições as quais os serviços estão sujeitos.

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Planejamento de Curto Prazo:

O planejamento de curtos prazo tem o papel de orientar diretamente a execução da obra,

sendo realizado geralmente em ciclos semanais e caracterizado pela atribuição de recursos

físicos às atividades dos planos de médio prazo (restrições removidas). Este plano também é

denominado de plano de comprometimento devido à necessidade do engajamento das equipes

para com as metas estabelecidas.

2.3 Tecnologia da Informação e Comunicação na Construção Civil

A tecnologia da informação (TI) é definida como o corpo de conhecimento que lida com a

produção, distribuição, armazenagem, gravação, e principalmente, a utilização da informação

(RISCHMOLLER; ALARCON, 2005).

A construção civil, apesar de ainda possuir grande atraso tecnológico em relação à outras

indústrias, decorrente principalmente do conservadorismo e da lentidão em que ocorrem as

mudanças nesse setor, tem sido forçada a inovar devido à globalização e à grande

competitividade. Além disso, segundo Toledo et. al. (2000), também agrega-se como obstáculo

à introdução de TI na construção civil o fato de que os riscos em inovações tecnológicas são

grandes comparados com outros setores, principalmente pelo fato que eles são patrocinados

pelo consumidor final, que terá que incentivar e ter um comprometimento com a inovação.

A aplicação da tecnologia da informação se dá pelo fato de que a mesma é responsável por

transformar dados, considerados um conjunto de fatos distintos e objetivos, em informações,

ou seja, dados com significado, relevância e propósito, para poder responder a uma variada

gama de consultas. Assim, como no processo de construção os vários agentes possuem

natureza, visão, conhecimentos e simbologias distintos para representar seus artefatos, há

grande dificuldade em se fazer o controle do fluxo de informações, de forma que todos os dados

recebidos pelos agente possuam significado, caracterizando-se portanto como informação.

Diante dessa conjuntura, sendo a informação um patrimônio, um bem que agrega valor e dá

sentido às atividades que a utilizam, é necessário fazer uso de recursos de TI de maneira

apropriada, ou seja, é preciso utilizar ferramentas, sistemas ou outros meios que façam das

informações um diferencial. Portanto, é necessário buscar soluções que tragam resultados

realmente relevantes, isto é, que permitam transformar as informações em algo com valor

maior, sem deixar de considerar o aspecto do menor custo possível.

Apesar do potencial de utilização da Tecnologia da Informação na indústria da Construção

ser muito grande, dado o tamanho do setor, suas características de uso intensivo de informação

e a atual ineficiência de comunicação e baixa produtividade, conforme Nascimento e Santos

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(2002), os benefícios na integração da TI aos processos do setor seriam enormes, porém existem

barreiras de diversas naturezas que ainda impedem a adoção generalizada destas tecnologias

pela indústria da construção.

De acordo com os mesmos autores, essas barreiras estão ligadas aos profissionais que atuam

na área, aos seus processos longamente estabelecidos, às características do próprio setor e a

deficiências da tecnologia. Com relação aos profissionais da área, as barreiras referem-se à sua

formação e aspectos culturais no tocante à TI ou inovações em geral. Já no que diz respeito aos

processos, pode-se citar as pobres metodologias de gestão das empresas, bem como a falta de

padronização na comunicação e as práticas arraigadas. No tocante à própria tecnologia, as

deficiências estão relacionadas com o custo, segurança, acessibilidade, entre outros.

Apesar das inúmeras barreiras, vislumbra-se que o uso da Tecnologia da Informação na

indústria da construção seja extremamente recompensador e por isso é um objetivo com valor

suficiente para que esforços continuem a ser feitos no sentido de vencê-las (NASCIMENTO;

SANTOS, 2002).

Para Love et. al. (1998) apud. Nascimento e Santos (2003), os impactos da TI na indústria

da Construção Civil, dependendo da estratégia da empresa, pode:

Aumentar a centralização do gerenciamento da empresa porque aumenta a capacidade

do processamento de informações de gerentes, permitido então centralizar mais

decisões;

Aumentar a descentralização porque reduz o custo de comunicação e coordenação,

enquanto permite decisões serem compartilhadas;

Diminuir a hierarquia organizacional da empresa automatizando algumas funções da

empresa e facilitando a comunicação entre os níveis;

Permitir aumentar a profundidade das hierarquias da empresa pela redução das demoras

e distorções proporcionadas pelo fluxo de informações entre os níveis;

Ocasionar grande melhoria na coleta, armazenamento, análise e transmissão da

informação.

Porém, segundo Cruz (1998), é necessário que as empresas repensem seus processos para

adotarem tecnologias da informação. Além disso, consoante o mesmo autor, para não haver

rejeição à nova tecnologia, deve-se conscientizar os agentes de que a adoção total da nova

metodologia propiciará aumento da produtividade de forma racional, agregando valor aos

processos e produtos gerados, melhorando assim a imagem dos agentes perante seus clientes

(externos e internos).

Como exemplo, tem o caso da substituição de um velho carro da família por um helicóptero,

citado por Hayes & Jaikumar (1988). Aqui a ideia é que você só deve investir no novo

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helicóptero se houver uma revisão completa do seu estilo de vida, que também deve ser

sustentável e justificado. Se as alterações não são feitas (ou seja, utilizar o helicóptero para

fazer o mesmo trabalho que o carro velho) uma pequena fortuna é desperdiçada. Assim, de

forma semelhante à crença popular, é mantido que as organizações têm de mudar de forma

significativa, a fim de atender seus novos sistemas de informação.

Diante do exposto, conclui-se a TI não deve ser vista como condutor principal, mas como

um meio para a concepção, controle e melhoria dos processos.

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

Este capítulo apresenta o método de pesquisa adotado para o desenvolvimento deste

trabalho, com as etapas de implantação da construção enxuta na obra em estudo destacadas na

Figura 6. Descreve-se a estratégia escolhida para o desenvolvimento desta pesquisa, bem como

as diversas atividades e etapas para formulação deste trabalho. Aqui também são caracterizados

a empresa e o empreendimento estudado.

Figura 6 - Etapas de implantação da construção enxuta na obra em estudo

Fonte: Autor.

3.1 Delineamento da Pesquisa

A estratégia de pesquisa adotada foi o estudo de caso de um empreendimento residencial

localizado na cidade de Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte, Brasil. O autor da

monografia trabalhou como estagiária e auxiliar técnica na execução do condomínio composto

de três torres, com vinte pavimentos cada, desde o início da sua construção. Durante a realização

da pesquisa a obra se encontrava na fase de execução da fachada e acabamentos internos, porém

foi liberado acesso a dados anteriores a essa fase.

Os dados foram coletados através da observação direta da unidade de análise e coleta das

fontes de evidências: documentos e ferramentas gerados a partir da implantação da filosofia da

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construção enxuta e do sistema eletrônico próprio da construtora. Para responder aos

questionamentos da pesquisa foram entrevistados o engenheiro de obras, mestre, almoxarife e

alguns profissionais envolvidos no sistema de produção (pedreiros, guincheiro e betoneiro).

As ferramentas aplicadas foram analisadas em termos de produtividade, custo, perdas e

qualidade através dos documentos fornecidos pela obra: os planejamentos de curto e médio

prazo, transporte e liberação dos materiais mais utilizados para a produção dos serviços em

execução, plano logístico do canteiro de obra e planilhas de controle da produção, custo e

qualidade, desde a aplicação somente dos conceitos da construção enxuta, até a implementação

da TI.

Para estruturar a avaliação dos dados coletados foram elaboradas planilhas com a

comparação dos elementos citados acima (produtividade, custo, perdas e qualidade) e elaborado

um mapa com as dificuldades na implantação da ferramenta e da tecnologia, obtido através das

entrevistas com os funcionários do empreendimento em questão, com a finalidade de gerar uma

análise qualitativa e quantitativa quanto a aplicabilidade na adoção da TI nesse caso.

3.2 A construtora e o empreendimento

A construtora em estudo, que tem como principal atividade a construção de edifícios

residenciais e comerciais de fino acabamento, começou sua história em 1980, há trinta e cinco

anos, com sede em Fortaleza, onde a matriz está localizada até hoje, possuindo atualmente

filiais nas cidades de Manaus, Campinas e Natal.

A empresa já entregou mais de 120 empreendimentos e possui o Programa de Qualidade

Total desde 1998, após o qual iniciou a implantação do Programa Brasileiro de Qualidade e

Produtividade no Habitat (PBQP-H), buscando melhoria na qualidade dos produtos e serviços.

Obteve, em 2004, as certificações PBQPH- nível “A” e ISO 9001/2000.

Tem como missão empresarial “conceber, comercializar e construir edificações com

conforto e rentabilidade para os clientes” e possui a visão empresarial de tornar-se referência

nacional na atividade imobiliária, sobre os aspectos econômicos, técnicos e de qualidade,

buscando melhorias e aperfeiçoamento contínuo dos colaboradores e processos.

Em 2012 iniciou a jornada de implementação em construção enxuta na empresa. Com

resultados positivos alcançados no primeiro empreendimento tais como, melhorias nos

processos produtivos, redução de perdas e custos. A implementação continuou nas demais obras

da construtora. Atualmente, as filosofias e ferramentas da construção enxuta estão em mais de

10 empreendimentos da empresa.

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O empreendimento que será estudado nesta pesquisa trata-se de uma obra vertical

situada na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, composto de três torres, cada uma com 20

pavimentos tipo e um subsolo, sendo 04 apartamentos por andar, encontrando-se em um terreno

de 14.401,66 m², com 33.248,17 m² de área construída e área privativa de 20.827,2 m², sendo

duas torres com apartamentos 79,42 m², dotados de 01 suíte, dois quarto e varanda gourmet,

em que dessas, apenas uma está em execução, e a outra torre com apartamentos de 101,5 m²,

com os mesmos ambientes, acrescido de um banheiro reversível e quarto de serviço.

Além deste espaço, cada proprietário ainda possui 02 vagas na garagem e uma extensa

área de lazer, como pode-se verificar na Figura 7.

Figura 7 - Maquete Eletrônica - Implantação.

Fonte: Acervo da construtora,2010.

Uma referência ilustrativa das torres e área comum podem ser vistas na Figura 8.

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Figura 8 - Perspectiva artística da Piscina Adulto.

Fonte: Acervo da construtora,2010.

4. ESTUDO DO EMPREENDIMENTO

Este capítulo descreve detalhadamente o estudo realizado para o desenvolvimento deste

trabalho, demonstrando as duas etapas de aplicação da construção enxuta no empreendimento

em questão: primeiramente apenas a adoção dos conceitos da filosofia e a posterior utilização

de um sistema computacional que utiliza como base os preceitos da construção enxuta.

4.1. Etapas de implantação da construção enxuta na obra em estudo

O sistema de construção enxuta da empresa em estudo foi desenvolvido a partir da

tradução dos princípios da produção enxuta para a realidade da construtora. Nesse processo

houve a participação de uma consultoria em filosofias e ferramentas da construção enxuta. A

implantação dessas filosofias e ferramentas dividiu-se em cinco etapas: treinamentos de

Construção Enxuta dados pelos consultores, definição do problema, desenvolvimento do

sistema, testes e melhorias e subsequente implantação do sistema.

A obra em estudo teve início em julho de 2013 e passou pela primeira etapa de

implantação, treinamentos Lean, assim denominado em referência ao termo original do inglês

Lean Construction (construção enxuta), em agosto de 2013. Durante essa etapa toda a equipe

administrativa da obra passou por consultoria especializada acerca dos conceitos das filosofias

e ferramentas da construção enxuta. Para tal, foram ministradas aulas sobre os conceitos de

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kanban, heijunka, andon, Just In Time, fluxos físicos, produção puxada e empurrada, TFV

(Transformação, Fluxo e Valor), perdas, PCP, entre outros.

Na etapa de definição de um problema verificou-se, através da análise do planejamento

das atividades definidas aos operários, que funcionários e máquinas ficavam ociosos por muito

tempo durante o dia. Além disso, foram encontrados diversos tipos de perdas entre todos os

processos produtivos.

Para eliminação dessas perdas, constatou-se a necessidade de implantar as ferramentas

da construção enxuta dentro do canteiro de obras, bem como a posterior informatização das

mesmas. Criou-se, desta forma, um sistema em linguagem Delphi, o qual teve início em uma

obra horizontal em Fortaleza, CE, numa área de 553.545,74 m², no ano de 2012. Para

implantação do sistema no empreendimento em estudo, em agosto de 2014, instalou-se rede

sem fio no canteiro de obras, monitores touch screen e tablets para auxílio ao sistema Lean da

obra. O sistema é capaz de informar aos operários sua programação semanal, por meio dos

monitores e possui o sistema kanban embutido no mesmo, ficando responsável, através dos

tablets, por informar aos operadores das betoneiras e guinchos cremalheiras quais atividades

eles deveriam executar seguindo a demanda dos operários e obedecendo uma ordem de

prioridade.

O sistema de kanban eletrônico para a betoneira foi inicialmente implantado em outubro

de 2014 e durante um mês foram feitos testes e melhorias no sistema para que o mesmo ficasse

da forma mais adaptada possível ao empreendimento, uma vez que a tipologia da obra era

diferente daquela para a qual o mesmo foi criado (empreendimentos horizontal e vertical).

Durante essa fase, perceberam-se outros problemas de logística e o sistema foi aprimorado.

Finalmente, logo após a etapa de testes, a etapa de implantação foi realizada e o sistema

de kanban eletrônico de materiais e betoneira passou a fazer parte das ferramentas do

empreendimento. A utilização do sistema gerou indicadores e resultados que antes não eram

levantados.

4.2. A filosofia da construção enxuta

Em agosto de 2013, a equipe de engenharia da obra em estudo teve seu primeiro contato

com a Construção Enxuta através de treinamento com consultores especializados sobre o

assunto. Com o desejo de alcançar melhores resultados no empreendimento e com a expectativa

do uso de novas ferramentas e formas de controle, toda a equipe sentiu a necessidade de

entender o tema, o qual está sendo disseminado em todos os novos empreendimentos da

construtora.

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23

Os consultores utilizaram um método inicial de implementação de ferramentas,

começando pelo Projeto do Sistema de Produção (PSP) e planejamento de longo prazo do

empreendimento, passando para o planejamento de curto prazo com seu indicador PPC

(Percentual de Pacotes Concluídos), em seguida com o planejamento de médio prazo com o

IRR (Índice de Remoção de Restrições) e, por fim, com o gerenciamento visual dos planos e

indicadores. Estes passos iniciais buscaram alcançar a estabilidade da produção, para a partir

deste ponto, ser possível a implementação de outras ferramentas lean no canteiro.

As demais implementações passaram pelo reconhecimento de um problema real, uma

vez que, baseados nos treinamentos dos conceitos de Construção Enxuta, a equipe de

engenharia estava apta a identificar problemas no sistema de produção e desenvolver possíveis

soluções às suas necessidades mais urgentes, assim como pelo desenvolvimento e

implementação de soluções a partir das necessidades, as quais eram elaboradas, discutidas e

implementadas pela administração da obra.

Quanto à primeira etapa, referente ao PSP e Planejamento de longo prazo, o escopo das

decisões foi a respeito, principalmente, da definição da estratégia de execução, sequência de

execução das atividades nos pavimentos, e estudo dos fluxos de trabalho de acordo com a

capacidade dos recursos de produção.

Para o estudo dos fluxos de trabalho, uma linha de balanço (LOB) foi desenvolvida

com a utilização do programa Microsoft Excel (Figura 9), envolvendo todas as principais etapas

de serviço da obra, desde a escavação até a limpeza, totalizando 31 pacotes de serviço. É nesta

etapa do planejamento que são definidos os pacotes, prazos, ritmos e planos de ataque dos

principais serviços da obra, resultando no total domínio das datas de início e término de cada

serviço assim como as equipes necessárias para tal, gerando a partir dele o histograma de

funcionários da obra, exposto na Figura 10. Para um melhor esclarecimento sobre a

configuração da Linha de Balanço, apresenta-se um esquema da mesma na Figura 11.

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Figura 9- Linha de Balanço do Empreendimento.

Fonte: Fotografado pelo autor.

Figura 10 - Histograma de funcionários.

Fonte: Acervo técnico do empreendimento.

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Figura 11 - Esquema Linha de Balanço

Fonte: Acervo técnico do empreendimento.

4.2.1. Planejamento e Controle da Produção

O Planejamento e Controle da Produção foi implementado ao mesmo tempo em que a

linha de balanço estava sendo desenvolvida. Durante um ano os planejamentos de médio e curto

prazo foram realizados em planilhas eletrônicas em MsExcel.

O planejamento de médio prazo detalha a estratificação da linha de balanço em um

horizonte de três meses, com revisões através de reuniões mensais. Nessa etapa adota-se o

conceito de eliminar restrições, planejando a execução de todas as tarefas que se antecipam aos

serviços. Por exemplo, para iniciar o serviço de alvenaria deve-se ter o projeto de alvenaria e

os complementares a este (paginação, marcação, entre outros), os insumos, o traço da argamassa

definido e mão de obra treinada.

Assim, as reuniões de médio prazo eram acompanhadas por todo o corpo

administrativo da obra (Engenheiro, mestre de obras, encarregado, técnico de segurança,

auxiliar administrativo e estagiários), a fim de relacionar todas as restrições possíveis antes de

iniciar os serviços que estavam previstos para os próximos três meses e revisar o que foi

planejado no mês anterior, extraindo os indicadores (IRR) e elegendo datas máximas e

responsáveis para a remoção das restrições, evitando, dessa forma, a existência de empecilhos

para execução na data planejada. Um exemplo do médio prazo elaborado nessa fase, assim

como o gráfico dos indicadores gerados (Número de restrições removidas dentro e fora do

prazo, percentual dessas, IRR por categoria e IRR por responsável) encontram-se as Figuras 12

e 13, respectivamente.

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26

Figura 12 - Trecho de Planejamento de Médio Prazo em MsExcel.

Fonte: Acervo técnico do empreendimento.

Figura 13 - Indicadores do Planejamento de Médio Prazo.

Fonte: Acervo técnico do empreendimento.

Através das Figuras 12 e 13, percebe-se que para que um funcionário tomasse

conhecimento das suas restrições, era necessário abrir a planilha e procurar pelo seu nome, o

que poderia fazer com que o mesmo não identificasse todas as suas responsabilidades, assim

como não recebia um alerta mais perceptível quando estava se aproximando da data limite para

remoção, apenas havia uma mudança de cor na célula da data, o que gerava um grande índice

de restrições removidas fora do prazo ou não removidas, como pode-se perceber pelos

indicadores (média de 60%). Para tentar contornar esse problema, a equipe de engenharia

incluiu as atividades da administração na programação de curto prazo, o que reduziu esse

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27

percentual de 60% para 30%, evitando assim atraso no início das atividades ou que essas

iniciassem sem todos os insumos necessários.

Para o planejamento de curto prazo são realizadas reuniões semanais na obra em

questão com a presença de todo o corpo administrativo da obra, planejando-se a semana

vindoura e analisando-se a anterior, com decisões do dia a dia da obra. Nesse nível é

programado o que cada equipe deverá executar por dia, com o propósito de manter as metas do

longo prazo. Nas reuniões, primeiramente são analisadas as atividades programadas na semana

anterior, investigando-se o porquê da não realização dos serviços através de uma lista de causas

elaborada pela equipe de engenharia, a partir da qual as principais causas são: mão de obra,

material, máquinas/equipamentos, método, planejamento, projeto, meio ambiente e segurança.

Através do número de atividades não realizadas é gerado um indicador de Percentual

de Pacote Concluído (PPC), averiguando também a qualidade e segurança dos serviços

concluídos (PPCQ e PPCS, respectivamente), assim como gera-se um gráfico das causas de não

cumprimento, todos contemplados na figura 13. Esses indicadores são analisados

semanalmente, evitando que as causas se repitam e que o PPC gerado seja inferior a 70%, uma

vez que implicaria em atrasos na programação de longo prazo.

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28

Figura 14 - Planejamento de Curto Prazo em MsExcel.

Fonte: Acervo técnico do empreendimento.

Figura 15 - Indicadores do Planejamento de Curto Prazo

Fonte: Acervo técnico do empreendimento.

A partir das imagens do Planejamento de curto prazo nessa fase (Figuras 14 e 15),

percebe-se uma pequena falta de informação agregada, como a comparação com a programação

de longo prazo (datas da LOB) para ter uma melhor noção do atraso ou adiantamento dos

serviços, assim como o modo como a informação era passada para os operários, dependentes

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29

do mestre ou encarregado, o que gerava um elevado índice de causas de não cumprimento por

desvio de programação (aproximadamente 40% das causas).

O gerenciamento visual foi implementado a partir da fixação da linha de balanço no

escritório da administração da obra e no refeitório. No escritório também foram expostos os

planos de médio e curto prazo e seus principais indicadores, assim como foi fixado um quadro

com o acompanhamento físico da obra através de fotos tiradas todo mês da mesma posição e o

preenchimento de um esquema do prédio, em que eram marcados os pavimentos onde já foram

executados os serviços. Os produtos desta fase são mostrados na Figura 16, que destaca o

quadro de controle de execução dos serviços e o acompanhamento físico através das fotos da

obra.

Figura 16- Gerenciamento Visual da obra.

Fonte: Fotografado pelo autor.

4.2.2. Sistema Kanban

A fim de melhorar os níveis de controle da obra, pela descentralização e simplificação

dos processos operacionais, reduzir o tempo de duração do processo e obter maior facilidade e

transparência na programação da produção, assim como maior controle dos materiais, foi

implantado nessa fase no empreendimento em estudo o sistema kanban para a produção de

argamassa.

Esse tipo de kanban está diretamente conectado com a central de argamassa da obra. Os

funcionários preenchem o cartão de solicitação de argamassa (Figura 18) no dia anterior

informando o tipo de argamassa que será produzida (cor do cartão), em qual local deverá ser

entregue, em que horário deverá chegar e quem é o responsável por essa solicitação. Esses

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30

cartões ficam organizados em quadros conhecidos como “gerenciador de kanbans” ou

“heijunka box”, exposto na figura 17.

Figura 17 - Quadro de Kanbans.

Fonte: Fotografado pelo autor.

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31

Figura 18 - Cartões Kanban.

Fonte: Fotografado pelo autor.

Deste modo, no dia seguinte, o operador da betoneira executa os pedidos dos operadores

de acordo com os horários e tipos solicitados mantendo o nivelamento da produção, a agilidade

na distribuição do material e evitando a parada da produção por falta de matéria prima. Com

isso, o operador da betoneira produzirá argamassa somente se houver real necessidade.

De acordo com Shingo (1996), o nivelamento da produção é um pilar do STP, ou seja,

qualquer material só será produzido na quantidade necessária e no momento necessário. Para

controlar os materiais utilizados, um aprendiz colhia todos os cartões de produção do dia e

preenchia uma planilha de controle de materiais, a partir da qual era controlado o estoque de

cimento e areia e contabilizada a espessura média dos serviços de contrapiso e reboco, a fim de

obter dados acerca da qualidade dos mesmos e rastrear algum gasto excessivo de materiais.

Analisando as situações ocorridas nessa fase, percebe-se que os cartões kanban físicos

são eficientes e precisos, porém, as informações ficam muito vulneráveis, pois qualquer pessoa

tem acesso para pegá-los e alterá-los. Além disso, havia uma grande demanda pelos primeiros

horários do dia, tornando difícil de controlar o acúmulo dos cartões nesse período, mesmo com

todas as orientações e treinamentos dados aos operários. Cabia ao operador da betoneira

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organizar os cartões acumulados antes de iniciar o trabalho, o que despendia um pouco de seu

tempo e não transparecia a real necessidade de execução.

4.2.3. Benefícios da Filosofia da Construção Enxuta

A partir da adoção dos conceitos da construção enxuta para o canteiro de obras, algumas

mudanças nos processos da construtora foram constatados, com o objetivo de diminuir as

perdas geradas no canteiro.

Primeiramente, pode-se destacar um melhor estudo da logística de abastecimento,

evitando as perdas por deslocamento. Com essa análise, buscou-se deixar a central de produção

de argamassas o mais próximo possível das torres para diminuir o percurso de abastecimento,

assim como dividiu-se a distribuição dos paletes de alvenaria, a fim de melhorar o controle dos

materiais e facilitar o abastecimento dos mesmos (Figura 19).

Figura 19 - Logística de abastecimento da obra.

Fonte: Autor.

Outra medida que visava a redução das perdas por transporte excessivo foi a adoção de

carrinhos de quatro rodas em substituição às jericas, uma vez que os mesmos possuem quatro

vezes o volume da segunda. A adoção dessa medida reduziu o número de deslocamentos por

dia e, consequentemente a mão de obra de apoio, o que pode ser constatado nas Tabelas 01 e

02. Para o cálculo da redução da mão de obra e das perdas por deslocamento, foram

considerados os dados de pico da fachada da obra em estudo e de uma outra obra da construtora

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(Obra A) que possui a mesma tipologia da estudada, mas que não empregou a filosofia da

construção enxuta.

Tabela 1- Redução das perdas por deslocamento

ABASTECIMENTO JERICA CARRINHO

4 RODAS

DESLOCAMENTO/DIA 53 Vezes 13 Vezes

DESLOCAMENTO

TOTAL 1230 Vezes 307 Vezes

Fonte: Autor.

Tabela 2 - Diminuição da mão de obra de apoio

DESCRIÇÃO OBRA A OBRA ESTUDO

PEDREIROS 19 35

SERVENTES 19 7

PROPORÇÃO (PED:SERV) 01:01 05:01

PROPORÇÃO /TOTAL

EFETIVOS 1,3:1 3,2:1

Fonte: Autor.

Também foi implantada, visando a redução da perda por processamento e movimentação,

a paletização e paginação da alvenaria, assim como o mapeamento da distribuição dos paletes

no pavimento, evitando assim a quebra de blocos e a perda de tempo procurando os que melhor

se encaixassem no local de execução. Abaixo está a imagem do mapeamento dos paletes no

pavimento (Figura 20) e um gráfico de comparação dos ganhos de produtividade e custo da

adoção dessa medida (Gráfico 1). Os dados para geração do gráfico foram obtidos a partir de

informações de outras obras da construtora, das quais duas não possuíam a filosofia Lean

implantada (Obras A e B) e duas introduziram essa filosofia (Obra estudo e Obra C).

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Figura 20 - Distribuição dos Paletes no pavimento.

Fonte: Acervo técnico da obra.

Gráfico 1 - Produtividade alvenaria (m²/dia) e Custo (R$/m²).

Fonte: Autor.

Observa-se no gráfico acima (Gráfico 1), uma evolução na produtividade e consequente

redução dos custos do serviço de alvenaria na empresa. Isso se deve à adoção de medidas

simples como o acompanhamento da produtividade, o aproveitamento de equipes treinadas e a

paletização e paginação da alvenaria, assim como uma melhor programação e controle dos

serviços, oriundos da filosofia da construção enxuta. Pode-se dizer assim que a simples

implantação dos conceitos Lean foram capazes de gerar ganhos na produtividade média das

equipes da construtora, maior domínio das informações, com aumento do controle das equipes

e serviços a serem executados e melhor controle dos prazos.

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35

Porém, alguns pontos ainda podiam ser melhorados, como promover um melhor controle

dos cartões kanban e do sistema de produção, assim como o aumento da transparência dos

processos para com a classe operária no que tange a sua programação e uma facilitação na busca

e cadastro das informações de curto e médio prazo. Dessa forma, com o objetivo de sanar essas

carências, a indústria procurou informatizar todas essas informações, utilizando-se de recursos

computacionais capaz de promover maior agilidade e segurança na troca de informações.

4.3. O Sistema

O sistema computadorizado da construtora foi desenvolvido dentro da própria empresa

quando uma equipe de engenheiros enxergou a necessidade de melhorar o controle e

planejamento dos canteiros de obras. O sistema foi programado utilizando o banco de dados

SQL Server 2008 em linguagem Delphi na tentativa de integrar em um banco de dados as

informações dos planos de curto, médio e longo prazo, assim como efetuar a programação das

máquinas (betoneira e guincho cremalheira), para organização do canteiro e aumento da

produtividade das equipes.

Denominado de “LEAN”, como referência aos conceitos nele contidos, para implementação

do sistema foi necessário adquirir 06 monitores touch screen, chamados de “Terminais Lean”

(Figura 21), instalar rede sem fio no canteiro de obras e tablets para auxílio ao sistema Lean da

obra. Os terminais possibilitam que os operários consultem o seu curto prazo, façam sua

programação de pedidos para o guincho e para a betoneira e acionem o Andon, caso seja

necessário paralisar o serviço por problemas com material, segurança, projeto ou mão de obra,

criando um alerta sonoro e visual em uma televisão instalada na sala da administração.

O sistema é responsável, através dos tablets, por informar aos operadores das betoneiras e

dos guinchos cremalheiras quais atividades eles devem executar seguindo a demanda dos

operários e obedecendo uma ordem de prioridade estabelecida pela equipe de engenharia. Se

nenhuma atividade for designada ao operador, um alerta sonoro e visual é emitido na sala da

administração, funcionando como um Andon, o qual avisa a existência de um recurso (máquina)

em espera no canteiro.

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36

Figura 21 - Terminal Lean.

Fonte: Autor.

4.3.1. Planejamento e Controle da Produção

No que tange o Planejamento e controle da produção nessa etapa, as reuniões de curto e

médio prazo foram mantidas da mesma forma, mas agora as programações eram feitas no

Sistema Lean, segundo configuração ilustrada nas Figuras 22 e 23.

Figura 22 - Trecho de Planejamento de Médio Prazo no Sistema Lean.

Fonte: Autor.

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37

Figura 23 - Planejamento de Curto Prazo no Sistema Lean.

Fonte: Autor.

Com a introdução do sistema computacional, não houve uma facilitação no cadastro, porém,

algumas informações foram acrescentadas, como o acompanhamento do curto com a previsão

de longo prazo, mostrando os dias de adiantamento e atraso de cada serviço, o monitoramento

em tempo real dos indicadores pela equipe de engenharia através da tela do painel de controle

(dashboard), o alerta das restrições de médio prazo por mensagens de e-mail para cada

responsável, quando aproximada a data de remoção, e a criação de novos relatórios de

acompanhamento: ociosidade das equipes, desvio de ritmo, cálculo automático de

produtividade, consulta dos prazos por pavimento e atividade, destacando os serviços

finalizados, em execução e em atraso. Os principais relatórios e gráficos encontram-se nas

figuras abaixo (Figura 24 a 26).

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Figura 24 - Painel de controle (Dashboad).

Fonte: Autor.

Figura 25 - Desvio de ritmo das atividades.

Fonte: Autor.

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39

Figura 26 – Consulta de prazos do Sistema Lean.

Fonte: Autor.

Assim, percebe-se uma maior transparência e facilidade de acesso aos dados do

planejamento, uma vez que para obter informações importantes para o controle da obra, como

o acompanhamento dos prazos, antes era necessário consultar a linha de balanço e comparar

com a programação semanal. Também não se tinha noção do acompanhamento do ritmo das

atividades, o que é muito importante para evitar o atraso ou adiantamento da execução perante

o longo prazo, uma vez que uma atividade atrasada pode se tornar um gargalo e prorrogar o

prazo de entrega, ou se adiantada demais, pode topar no serviço antecessor, gerando ociosidade

da equipe por não possuir frente de serviço. Além de se notar uma melhora do gerenciamento

visual, uma vez que agora os gráficos de desempenho (PPC, PPCQ e PPCS) das equipes

próprias e de subcontratados é mostrado em televisores localizados na sala da administração e

no refeitório, para transparência e encorajamento à melhoria contínua, como demonstrado na

Figura 27.

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40

Figura 27 - Gerenciamentos Visuais nas TV's.

Fonte: Fotografado pelo Autor.

Outro problema minimizado com a adoção dos Terminais Lean foi o modo como a

informação era passada para os operários, antes dependentes do mestre ou encarregado, levando

a um elevado índice de causas de não cumprimento por desvio de programação

(aproximadamente 30% das causas), agora presente para consulta nos terminais (figura 28),

como mencionado anteriormente. Inicialmente esse percentual ainda se manteve, devido à

cultura dos operários, mas à medida que os mesmos se adaptaram à utilização dos terminais, o

desvio de programação diminuiu, apesar de se manter como a principal causa de não

cumprimento das atividades.

Figura 28 - Consulta do Planejamento de Curto prazo nos Terminais Lean.

Fonte: Autor.

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41

Além disso, com o alerta de e-mail para as restrições de médio prazo, o percentual de

restrições não removidas e removidas fora do prazo reduziu de 30% para 20%, gerando IRRs

de 80%, o que proporciona o início dos serviços programados com todos os insumos necessários

para sua realização, evitando improvisos que podem gerar retrabalhos e, consequentemente,

custos adicionais.

4.3.2. Sistema Kanban

Em complemento ao Kanban adotado inicialmente, com a implantação do sistema passou-

se a realizar também a programação dos guinchos cremalheiras, responsáveis pelo

abastecimento dos materiais nos pavimentos.

Diariamente, o operário vai a um terminal Lean e realiza o pedido do que ele necessita para

o dia seguinte, para executar a atividade que lhe foi designada, acessando o mesmo com o

número do seu cartão de ponto. Esse pedido vai diretamente para o sistema central de PCP da

construtora mostrando o material, a quantidade, o local e o funcionário que o solicitou, como

pode ser visto na Figura 29.

Figura 29 - Sistema central de PCP.

Fonte: Autor.

Os materiais a serem transportados obedecem uma ordem de prioridade determinada pelos

engenheiros da obra, as quais são utilizadas para estabelecer uma hierarquia no abastecimento,

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42

ou seja, caso fosse solicitado um material de prioridade 4 e outro de prioridade 5, o primeiro

material a ser enviado para o operário seria o de prioridade 4.

A definição da prioridade é modificada conforme a etapa da obra ou atividade

precedente. Como exemplo pode-se citar a estrutura, atividade que impacta em vários serviços

subsequentes, portanto possui prioridade maior e, limpeza, que por ser uma atividade final e

não possuir atividades posteriores a ela, possui prioridade menor.

No que tange a betoneira, tendo em vista que a argamassa é tida como prioridade 1 para

o abastecimento (guincho), a mesma possui um sistema interno de prioridades, estabelecidas

para determinar a ordem de recebimento na betoneira para uma determinada hora.

O sistema também permite o bloqueio de solicitação de apenas um traço por equipe para

a primeira hora do dia, proporcionando que a maioria das equipes possam ser atendidas nesse

horário e evitando a perda por espera. Somado a isso, a quantidade de traços é limitada por hora

e por equipe, a fim de proporcionar um abastecimento homogêneo. Assim, na obra em estudo

foi definido que as equipes de reboco poderiam solicitar até um traço por hora, enquanto as de

regularização de piso possuíam a possibilidade de pedir até dois traços por hora, uma vez que

o consumo e produtividade da segunda argamassa é bem superior à primeira.

Quando os materiais são solicitados e enviados ao sistema de PCP, no dia seguinte, esses

materiais são enviados aos tablets que ficam dentro dos guinchos e na betoneira, como ilustrado

na Figura 30. As betoneiras são as máquinas responsáveis pela produção de argamassa e os

guinchos, as máquinas responsáveis pelo abastecimento dos materiais nos pavimentos.

Figura 30- Tablets do Guincho e central de argamassa.

Fonte: Autor.

As programações do dia são enviadas para os operadores das máquinas através desses

tablets em que os materiais vão aparecendo um a um, seguindo a ordem de prioridades no caso

dos guinchos, para serem enviados ao local solicitado, e os horários de solicitação e ordem de

prioridade por tipo de traço, no caso da betoneira.

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43

Figura 31 - Telas dos Tablets da betoneira e guincho.

Fonte: Autor.

Na tela do tablete do operador da betoneira aparece qual traço deverá executar, que

funcionário fez a solicitação daquele traço, em qual local deverá ser entregue a argamassa

produzida, a quantidade e a hora do pedido. Caso ele apresente dúvida acerca da composição

desse traço, ele pode apertar no botão “Informações sobre o traço” e aparecerão os materiais

necessários para execução, como mostra a Figura 32.

Figura 32 - Tela de composição do traço.

Fonte: Autor.

No tablete do betoneiro, além de aparecer o tipo de traço que ele precisa executar primeiro,

são apresentados ainda os dois próximos traços solicitados, como pode ser visto a Figura 29.

Isso acontece uma vez que a betoneira consegue executar dois traços do mesmo tipo ao mesmo

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tempo, ou seja, caso haja dois pedidos de um mesmo traço, para economizar tempo, evitando a

perda por processamento, o betoneiro fará os dois traços de uma só vez.

Quando o operador da betoneira finaliza a produção do traço ele aperta no botão “terminei”

e automaticamente vai para o próximo traço a ser produzido. Ao informar que o traço foi

concluído, o tablet do operador do guincho é automaticamente acionado mostrando quem

solicitou o traço e em que local o traço deverá ser entregue, como ilustra a Figura 31. Então, o

operador do guincho, após entregar o traço ao funcionário que solicitou, informa ao sistema

que terminou a atividade e aguarda a próxima atividade.

À medida em que os traços vão sendo finalizados pelos operadores das máquinas, os

horários de início e fim de cada produção de argamassa e de cada abastecimento ficam gravados

no sistema central da obra (Figura 30). Dessa forma, pode-se tirar informações de produtividade

da betoneira e do guincho, além das informações das equipes e controlar os tempos de execução

de cada serviço.

4.3.3. Benefícios da implantação do sistema

A implantação do sistema lean tornou possível uma melhora na transparência dos processos,

viabilizando o acesso rápido a informações de suma importância para o controle da obra e

incrementando o controle dos prazos através do alerta na tela principal (Figura 33) e

planejamento de curto prazo, além de gerar relatórios que antes não eram tangíveis de

elaboração, reduzindo a perda de tempo do corpo administrativo na busca por informações.

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45

Figura 33 - Tela inicial do Sistema Lean.

Fonte: Autor.

No que tange a ferramenta kanban, o sistema introduziu o kanban de materiais na obra,

possibilitando que os pavimentos já estivessem abastecidos quando o funcionário entrasse nele

para executar o serviço, reduzindo assim a perda por espera que antes ocorria, a qual gera um

custo para a obra que o cliente final não quer pagar, tendo em vista que essas atividades de

fluxo não agregam valor ao empreendimento.

Além disso, é importante observar que, com a utilização da ferramenta kanban na primeira

etapa (filosofia lean), o empreendimento conseguiu controlar os pedidos que eram feitos na

betoneira e gerou indicadores de produtividade dos funcionários para cada tipo de serviço.

Entretanto, ao utilizar o kanban convencional, torna-se difícil controlar a quantidade de traços

que eram solicitados por hora e enviados aos pavimentos, como mencionado anteriormente, o

que não proporciona um levantamento da produção do betoneiro, necessário para averiguar

possíveis causas de não cumprimento das atividades planejadas.

Assim, com a implantação do sistema e a determinação das prioridades de abastecimento,

foi possível haver uma limitação dos serviços segundo planejamento da obra, não dependendo

dos funcionários para tal, apesar de não averiguar-se uma melhora na produtividade média das

equipes, como pode ser observado na Tabela 3, obtida com os dados de produtividade apurados

na obra.

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Tabela 3 - Produtividade diária antes e após aplicação do sistema (m²/dia).

DESCRIÇÃO KANBAN

CONVENCIONAL

KANBAN

ELETRÔNICO

CONTRAPISO 33,81 27,95

REBOCO INTERNO 20,32 20,92

Fonte: Autor.

Outra ferramenta do sistema que agregou valor à sua implantação foi o alerta de Andon na

sala da administração (Figura 34) quando todos os traços do dia são executados ou quando a

betoneira estiver ociosa em determinado horário, o mesmo valendo para os materiais e

ociosidade do guincho. Nesses casos, o sistema envia um alerta visual e sonoro à sala técnica

para informar que a máquina encontra-se parada, sem produção programada, possibilitando que

a equipe administrativa programe novos serviços para as mesmas e evitando assim o pagamento

de mão de obra parada, a qual também não agrega valor ao empreendimento.

Figura 34- Alerta de ociosidade da betoneira.

Fonte: Autor.

Porém, não pode-se deixar de mencionar também alguns aspectos negativos que foram

observados na utilização do sistema. Primeiramente, foi notada uma pequena incompatibilidade

inicial entre a programação da betoneira e a do guincho, as quais deveriam estar associadas.

Esse problema foi corrigido com três meses de implantação do sistema, todavia essa situação

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gerou uma certa desconfiança do operacional, que passou um tempo sem dar credibilidade ao

mesmo, o que gerou maiores desvios de programação por parte do mestre de obras.

Também é importante citar o fato de que, quando a internet não estava disponível na obra,

era necessário voltar à utilização do kanban convencional e o acesso às informações necessárias

durante o dia, como a programação dos serviços, ficava indisponível.

Outro aspecto a ser mencionado é que para implantação do sistema a obra dispendeu um

total de R$ 22.532,00 (vinte e dois mil, quinhentos e trinta e dois reais), distribuídos nas

despesas com a compra dos seis terminais, cinco tabletes, duas televisões e implantação da rede

de internet para os terminais, discriminados na Tabela 4. Além desses gastos, o

empreendimento possuía um custo fixo de R$ 100,00 por mês (cem reais) com a internet 3G

dos tablets dos guinchos, o que gerou um acúmulo até a data desta pesquisa de R$ 1.000,00

(um mil reais) gastos, totalizando até o momento uma despesa de R$ 23.532,00 (vinte e três

mil, quinhentos e trinta e dois reais).

Tabela 4 - Despesas para implantação do Sistema Lean.

DESCRIÇÃO QUANTIDADE VALOR

TERMINAIS 06 R$ 13.737,00

TABLETS 04 R$ 3.305,00

REDE WI-FI 01 R$ 3.490,00

TELEVISÕES 02 R$ 2.000,00

TOTAL R$ 22.532,00

Fonte: Autor.

4.4. Análise final dos dados estudados

A partir dos dados obtidos acerca dos processos implantados na obra em estudo, se faz

imperativa uma análise mais aprofundada dos mesmos. Abaixo destaca-se um quadro (Quadro

1) em que foi feita uma breve comparação qualitativa entre a implantação apenas da filosofia

da construção enxuta e da mesma agregada à tecnologia da informação (utilização de sistemas).

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Quadro 1 - Comparativo entre os conceitos da construção enxuta e aplicação da TI.

DESCRIÇÃO CONSTRUÇÃO

ENXUTA

CONSTRUÇÃO

ENXUTA COM TI

Capacidade de informação Baixa Altíssima

Custo de implantação Insignificante Acima de R$22.500,00

Padronização dos serviços Boa Boa

Durabilidade Altíssima Depende de manutenções

Ganho de produtividade Alto Insignificante

Redução de custos da obra Alto Insignificante

Controles Bom Altíssimo

Envolvimento dos

funcionários Baixo Alto

Fonte: Autor.

Com base nos dados resumidos no quadro comparativo, pode-se relacionar que os maiores

ganhos com a implantação da filosofia da construção enxuta se deu no que tange o custo de

implantação, uma vez que o mesmo não existe, a durabilidade, tendo em vista que os conceitos

permanecem enraizados naqueles que os praticam, o ganho de produtividade e a redução de

custos, demonstrados no Gráfico 1, a partir do qual percebe-se uma redução de custo unitário

da atividade de alvenaria de até 14%.

No que diz respeito às vantagens da introdução da Tecnologia da informação com a

aplicação do sistema em estudo, nota-se que o destaque se dá para a capacidade de informação,

uma vez que o mesmo aumenta a transparência dos processos e armazena todas as informações

no seu banco de dados, para a melhoria dos controles, pois ele permite gerar relatórios com

informações de suma importância para o acompanhamento da obra, e para o envolvimento dos

funcionários, tendo em vista que os mesmos precisam adquirir uma sensibilidade para a

solicitação de material, agregando responsabilidade a eles.

Assim, como a filosofia já se encontrava bem difundida na obra em questão, percebe-se que

o problema aqui encontrado na adoção da TI está nas deficiências da tecnologia, mencionado

por Nascimento e Santos (2002) como uma das barreiras à adoção da tecnologia da informação.

Essa barreira envolve os custos e segurança dos sistemas, o que recai sobre o pensamento de

que a Tecnologia da Informação não é a solução, mas um meio de incrementar a concepção da

filosofia, o controle e os processos.

Segundo pesquisa de campo, foi constatada grande aceitação, principalmente pelos

operários de produção (guincheiro e betoneiro), em relação ao sistema. Os mesmos

mencionaram que, apesar de alguns problemas encontrados na utilização do sistema, como

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falha no sinal de internet, lentidão no processamento para o próximo pedido, decorrente do

sistema ser acessado remotamente, e algumas falhas que foram detectadas e corrigidas após

longo tempo de requisição por parte da administração da obra, as vantagens eram superiores,

como o nivelamento da produção, uma vez que sem o sistema os operadores possuíam picos de

sobrecarga de atividades e vários momentos de ociosidade, além de evitar falhas de

comunicação com os outros operários, pois no sistema há o registro imutável de todas as

solicitações.

Portanto, tendo em vista que as melhorias com a implantação do sistema superam as

dificuldades e problemas encontrados e que o custo para tal é irrisório quando comparado ao

orçamento da obra (aproximadamente 0,08% do orçamento) e aos ganhos que proporciona,

avalia-se o sistema como recomendável para obras de grande porte, quando a construtora

possuir os princípios da construção enxuta bem difundidos, uma vez que, em conformidade

com Cruz (1998), para que as empresas adotem tecnologias da informação, é necessário que as

empresas repensem seus processos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Melhoria e inovação são indispensáveis para que as empresas se mantenham competitivas.

Para isso, é necessário constante pesquisa em busca de tecnologias e inovações que sejam mais

adaptadas às suas necessidades. Na construção civil, a mentalidade enxuta envolve os diversos

agentes da cadeia de valor da construção e exige ações nos níveis de empreendimento, empresas

e setor.

As ferramentas que a filosofia enxuta nos proporciona são diversas: andon, kanban,

heijunka, just in time, Poka-Yoke e etc. A sua aplicação espalhou-se pela indústria de

transformação e chegou até à construção enxuta após algumas adaptações, trazendo renovação

para esse ramo ainda tão artesanal de produção. Mudanças de processo, nas filosofias já

estabelecidas e que geram resultados apesar do desperdício e retrabalho, não é prática que

ocorra de imediato.

Várias práticas, no entanto, já podem ser visualizadas em sua aplicação e, principalmente,

em seus resultados positivos, muitas das quais discutidas aqui nesse trabalho e percebido que

quando utilizadas em conjunto com a tecnologia da informação fornecem informações e dados

mais precisos e de forma mais rápida.

Neste trabalho foi possível verificar o funcionamento de diferentes níveis de aplicação da

construção enxuta, desde a aplicação apenas da filosofia até a utilização de um sistema

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computacional e as suas interações com os diversos setores da obra, promovendo uma maior

transparência de informações entre os funcionários da administração e do operacional.

Dessa maneira, foi observado que os resultados positivos gerados na implantação da

filosofia da construção enxuta foram: melhorias nos processos, maior domínio das informações,

com aumento do controle das equipes e serviços a serem executados, redução das perdas por

transporte excessivo, movimentação excessiva e espera, melhora na produtividade das equipes

e redução do custo dos serviços.

Já no que se refere à implantação do sistema computacional, pode-se destacar: relatórios

mais confiáveis, maior controle dos prazos e ritmo das atividades, maior confiança dos

funcionários quanto ao recebimento do material no local e dia solicitado e a minimização na

interferência dos encarregados da obra na questão de fornecimento de materiais aos

funcionários. Outro resultado positivo na obra foi que o sistema de kanban eletrônico auxilia

na filosofia just in time que só permite a produção de traço ou entrega de algum material caso

o mesmo tenha sido solicitado pelo próprio funcionário. Evitando, assim, superprodução de

material e aumento no estoque.

A utilização de um processo informatizado garante ainda que nenhuma informação se perca

no meio de um processo. Em obras sem essa informatização existe o risco de cartões kanban e

informações importantes desaparecerem durante o processo e até mesmo podem haver casos do

operador da betoneira afirmar que havia feito um determinado pedido sem ser verdade, por

exemplo. Para não correr o risco de perder informações entre os processos, a utilização de

recursos eletrônicos pode ser uma alternativa considerável.

Também foi possível retirar informações que antes não podiam ser visualizadas, tais como:

produtividade da equipe por traço solicitado, quantidade de traços produzidos por hora e

produtividade da equipe por dia. O planejamento e controle da obra tornaram-se mais

transparentes e verídicos. Através da informatização foi possível diminuir o tempo de máquinas

e operários ociosos, logo, reduziu-se o desperdício dentro do canteiro de obras.

Por outro lado uma das maiores dificuldades encontradas diz respeito à utilização do sistema

kanban eletrônico, pois o mesmo foi inicialmente programado para uma obra horizontal,

necessitando de constantes melhorias. No início houve uma resistência por parte dos que não

aceitavam os constantes erros de compatibilização entre a betoneira e o guincho, porém, após

implantação das melhorias no Lean, os operários foram aceitando e se adaptando a ele.

Entretanto, no tocante à resistência à mudança da filosofia não ocorreu de forma intensa, pois

a equipe já trabalhava com as ferramentas antes das versões eletrônicas, o que também facilitou

a adaptação a essa última.

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Outro aspecto pertinente em relação aos resultados encontrados e trazidos pela filosofia e

pelo sistema, diz respeito ao envolvimento de engenheiros, coordenador e diretor com relação

à sua adoção e uso real pela empresa, aspectos fundamentais como forma de alcançar o sucesso

no uso dessas ferramentas não habituais.

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