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ESTUDO PROSPECTIVO DA IMPLANTAÇÃO DA RESERVA LEGAL EM PROPRIEDADES RURAIS FAMILIARES NA REGIÃO DE LONDRINA – PARANÁ SÉRGIO LUIZ CARNEIRO ENGENHEIRO AGRÔNOMO, M. Sc EMATER – UNIDADE REGIONAL DE LONDRINA ELIZA EMILIA REZENDE BERNARDO ROCHA ADMINISTRADORA DE EMPRESA, Drª UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ (in memoriam) Londrina – 2006

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ESTUDO PROSPECTIVO DA IMPLANTAÇÃO

DA RESERVA LEGAL EM PROPRIEDADES

RURAIS FAMILIARES NA REGIÃO DE

LONDRINA – PARANÁ

SÉRGIO LUIZ CARNEIRO

ENGENHEIRO AGRÔNOMO, M. Sc

EMATER – UNIDADE REGIONAL DE LONDRINA

ELIZA EMILIA REZENDE BERNARDO ROCHA

ADMINISTRADORA DE EMPRESA, Drª

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

(in memoriam)

Londrina – 2006

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ESTUDO PROSPECTIVO DA IMPLANTAÇÃO DA RESERVA LEGAL EM

PROPRIEDADES RURAIS FAMILIARES NA REGIÃO DE LONDRINA – PARANÁ

1. INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho, a reserva legal, tem estreita relação com o Artigo 186º da

Constituição Federal de 1988, que trata da função social da propriedade e que busca, em tese,

conciliar interesses aparentemente conflitantes. É um convite à reflexão sobre as contradições

e desafios que envolvem o crescimento econômico, concomitantemente com a conservação do

meio ambiente, a tranqüilidade social e a ordem pública.

A tarefa de promover a integração harmoniosa do crescimento econômico com o meio

ambiente é das mais complexas. Nas palavras de Braga (2004),

[...] se por um lado, a pobreza e a falta de oportunidades reafirmam a necessidade de se promover uma verdadeira corrida contra a estagnação, por outro lado, essa corrida não pode servir de pretexto para se fazer tabula rasa de todo o arcabouço legal construído na perspectiva de legitimar a variável ambiental, pressuposto de uma vida saudável, tanto para as presentes quanto para as futuras gerações.

Na legislação florestal em vigor a reserva legal cumpre finalidades ambientais e

econômicas reconhecidamente sustentáveis. No entanto, verifica-se que são poucos os estudos

apresentando propostas técnicas e econômicas viáveis acerca da implantação da reserva legal

direcionados para a agricultura familiar. Também são escassos os estudos sobre os impactos

advindos dessa obrigatoriedade legal para os produtores rurais. Tem-se a percepção que o

tema está sendo mais debatido no campo do direito jurídico, do que nas áreas técnicas

agronômicas e administrativas.

Na definição legal da função social da propriedade observa-se a exigência de se

cumprir, simultaneamente, atribuições que são de ordens econômica, ambiental e social. Os

ajustes para atender um requisito, não devem inviabilizar o atendimento aos demais

requisitos, sob pena de não se cumprir o que está definido no referido dispositivo legal da

Constituição de 1988 (BRASIL, 1988). Portanto, o proprietário ou posseiro do imóvel rural,

para cumprir o que determina a função social da propriedade, tem que faze-la no todo,

ajustando adequadamente cada componente desse sistema. Nesse contexto, este trabalho é um

estudo de casos de propriedades rurais familiares, utilizando-se o enfoque sistêmico e

multidisciplinar. Pretende-se aqui abstrair quais seriam os principais impactos

socioeconômicos advindos da implantação da reserva legal em quatro propriedades rurais,

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representativas de sistemas de produção de grãos (soja, milho e trigo) na região de Londrina,

estado do Paraná, que por força da lei precisarão recompor a área de reserva legal.

Os caminhos a serem percorridos neste estudo passarão por duas vertentes

metodológicas que se complementam. A primeira se propõe realizar uma análise quantitativa

para estimar principalmente os impactos financeiros da reposição da reserva legal em

propriedades rurais familiares. A segunda utilizará técnicas qualitativas para identificar os

impactos socioeconômicos esperados da implantação da reserva legal, do ponto de vista dos

produtores rurais familiares. O que se pretende é analisar casos concretos de propriedades

rurais, com passivos ambientais provocados pelo não cumprimento da reposição da reserva

legal, as condições financeiras dos referidos casos, a pré-disposição dos produtores rurais no

atendimento às exigências legais e contribuir com informações que possam apontar possíveis

respostas para a redução desses passivos.

Assim, o objetivo geral do presente trabalho é: “prospectar os possíveis impactos

socioeconômicos advindos da implantação da reserva legal em quatro propriedades rurais

familiares, representativas de sistemas de produção de grãos na região de Londrina, PR”.

Para o cumprimento do objetivo geral enunciado será preciso perseguir os seguintes

objetivos específicos:

a) descrever os principais resultados econômicos de quatro propriedades rurais

familiares, representativas do sistema de produção de grãos (soja, milho e trigo), na

região de Londrina, PR;

b) estimar os impactos econômico-financeiros com a implantação da reserva legal nas

quatro propriedades pesquisadas;

c) identificar e compreender como reagem esses agricultores frente à imposição da

reserva legal.

A escolha da reserva legal, como objeto de estudo, justifica-se pela relevância do tema

na atualidade brasileira, pois está intimamente ligado aos graves problemas ambientais e

sociais, em especial na área agrícola, que colocam em questionamento a função social da

propriedade e o modelo agrícola dominante.

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2. METODOLOGIA

Este trabalho constitui um estudo casos múltiplos, realizado em quatro propriedades

rurais familiares produtoras de grãos, na região de Londrina, PR.

A escolha de quatro propriedades foi criteriosa. Eram unidades produtivas monitoradas

há mais de cinco anos, por meio do projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar1

(doravante denominada de Redes) e que representavam sistemas de produção agrícolas

predominantes na referida região. Poder-se-ia trabalhar com mais propriedades, porém

haveria o risco de aumentar a complexidade do trabalho a ponto de se perder a oportunidade

de aprofundar a investigação dos casos, pois, segundo Yin (2001), essa é uma das razões para

se realizar um estudo de caso.

A providência inicial foi realizar um estudo prévio na região, realizada em duas etapas

distintas: a caracterização regional e a tipificação dos sistemas de produção agropecuários. A

primeira etapa visou selecionar as propriedades a serem acompanhadas dentro de uma região

geográfica com características semelhantes, possibilitando comparações. Na segunda etapa

selecionaram-se os sistemas de produção agropecuários predominantes. Para a tipificação dos

sistemas de produção agrícolas duas variáveis foram consideradas: a categoria social dos

agricultores e as atividades agrícolas que contribuem com mais de 30% (o valor é arbitrário)

da renda bruta global da propriedade rural. Utilizaram-se as variáveis classificatórias

apresentadas na Tabela 1 para definir as categorias sociais, adotadas no Projeto Paraná 12

Meses, do governo do Paraná (PARANÁ, 1999).

TABELA 1 – CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DA CATEGORIA SOCIAL DO AGRICULTOR

CAPITAL CATEGORÍA SOCIAL

ÁREA (ha) Benfeitorias

produtivas (R$) Equipamentos agrícolas (R$)

USO DE MÃO-DE-OBRA FAMILIAR (%)

Produtor Simples de Mercadoria 1 (PSM1) < 15 < 12.150,00 < 9.720,00 > 80 Produtor Simples de Mercadoria 2 (PSM2) < 30 < 29.160,00 < 29.160,00 > 50 Produtor Simples de Mercadoria 3 (PSM3) < 50 < 97.200,00 < 87.480,00 > 50 Empresário Familiar (EF) > 50 > 97.200,00 > 87.480,00 > 50 Empresário Rural (ER) > 50 > 97.200,00 > 87.480,00 < 50

Fonte: SEAB / Projeto Paraná 12 Meses (1999).

De posse do estudo prévio, com a participação dos extensionistas municipais da

Emater, escolheram-se as propriedades representantes dos sistemas de produção agrícolas a

serem monitoradas. Os fatores condicionantes observados na escolha dos agricultores foram:

1 Trata-se de um sub-componente do projeto Paraná 12 Meses, coordenado pela Secretaria da Agricultura e do

Abastecimento do Paraná e executado pelo Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural e pelo Instituto Agronômico do Paraná. Mais detalhes sobre as Redes de Referências estão disponíveis no site:

http://www.emater.pr.gov.br

5

assumir o compromisso de fazer os registros de entrada e saída de recursos durante, pelo

menos, cinco anos; estar motivado para colaborar (voluntário); ter disposição para receber

produtores e técnicos em sua propriedade; participar de reuniões de avaliação dos resultados e

possuir um bom relacionamento na comunidade onde mora.

Na seqüência, fez-se um diagnóstico inicial nas primeiras visitas às propriedades

escolhidas. Buscou-se conhecer os principais objetivos e metas dos agricultores e de suas

famílias, identificar e hierarquizar os principais problemas e prognosticar as possíveis

soluções. Além disso, foi a oportunidade de verificar se os agricultores selecionados

responderiam bem aos objetivos do projeto.

Os registros das informações foram feitos pelos agricultores em formulários próprios

fornecidos pelas Redes, por atividade e por safra. Realizou-se de seis a oito visitas por ano aos

agricultores com a finalidade de acompanhar os registros e prestar orientações referentes à

gestão da propriedade. Os formulários foram recolhidos no final de cada safra e processados

na Emater e no Iapar. Utilizou-se o software de administração rural denominado “Sistema de

Acompanhamento de Propriedades –versão 2 – SAP v.2”, produzido pela Organização das

Cooperativas do Paraná – Ocepar. Ocorreram outras ações para melhoria dos sistemas de

produção, por meio de intervenções planejadas pelas Redes, que buscavam discutir com os

agricultores e seus familiares os ajustes possíveis para o curto e o médio prazo, com o

objetivo de aumentar a eficiência econômica das propriedades, de reduzir os riscos, de

melhorar as condições de trabalho e de adequar o uso dos recursos naturais.

Os indicadores econômicos utilizados no projeto Redes são apresentados na Tabela 2.

TABELA 02 – INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS

1.Medidas de dimensionamento 1.1Superfície Agrícola Útil – SAU (ha) Compreende as terras trabalhadas ou exploradas pelo produtor não importando se próprias, arrendadas ou sob qualquer outra condição legal. É calculada subtraindo-se da área total as áreas que não se incluem no conceito conforme segue ao lado.

Área Total - áreas com matas nativas - áreas inaproveitáveis - área com construções e/ou benfeitorias - áreas com estradas e/ou carreadores = Superfície Agrícola Útil

1.2.Equivalente Homem – Eq. H. (unidade) Unidade padrão de mão de obra utilizada para avaliar a disponibilidade e calcular a remuneração do fator trabalho em uma exploração agrícola. Corresponde ao trabalho de um adulto em tempo integral durante um ano, totalizando 300 dias/ano. Considerando-se as diferentes condições de gênero, idade e possibilidade de dedicação da mão de obra disponível tomou-se como referência para uniformização a tabela ao lado, tendo sido considerada entretanto a ocorrência de algumas situações mais específicas de enquadramento.

ESTUDA NÃO ESTUDA

IDADE Masc Fem Masc Fem 7 a 13 0,25 0,25 0,50 0,50 4 a 17 0,33 0,33 0,66 0,66 18 a 24 0,50 0,50 1,00 1,00 255 a 59 - - 1,00 1,00 60 ou mais

- - 0,50 -

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Continuação – Tabela 2 1.3.Capital Total – KT (R$) Expressa a disponibilidade total de capital do produtor segundo as diferentes classificações deste fator, apresentadas em parênteses, após a descrição dos itens ao lado.

Valor atual das instalações, benfeitorias e culturas permanentes (fundiário) + Valor dos animais de trabalho (exploração fixo vivo) + Valor dos reprodutores e matrizes (exploração fixo vivo) + Valor atual das máquinas e equipamentos (exploração fixo inanimado) +Valor do rebanho para engorda e/ou venda (exploração circulante) = Capital Total

2.Custos 2.1.Custos Variáveis Totais – CVT (R$) São aqueles em que o administrador tem controle em determinado ponto no tempo, podendo aumentar ou diminuir, de acordo com sua decisão gerencial. Podem ser definidos também como sendo aqueles que variam quando se altera o nível de produção no período de tempo considerado. 2.2.Custos Fixos Totais – CFT (R$) São aqueles que existem mesmo que os recursos não sejam utilizados, não variando quando muda o nível de produção, não se encontram no curto prazo sob o controle do administrador. Englobam principalmente as depreciações e a mão de obra extrafamiliar permanente. 2.3 Despesas Operacionais Totais – DOT (R$) Correspondem a totalidade dos custos fixos e variáveis, excetuando-se o valor monetário da mão-de-obra familiar e os juros pagos ao capital próprio. 2.4 Custo de Oportunidade da Mão-de-obra Familiar – MOF (R$) Estimou-se o custo de oportunidade da mão-de-obra familiar em 1 salário mínimo mensal por equivalente-homem, calculando-se o valor médio de tal salário no decorrer do ano agrícola. 3. Receitas 3.1.Renda Bruta da Produção – RBP (R$) Corresponde a renda gerada na propriedade pelas atividades de produção vegetal e animal. Engloba o valor das vendas, autoconsumo, cessões internas, produtos usados como pagamento em espécie e diferenças no estoque. 3.2.Outras Rendas – OR (R$) Corresponde a outros ingressos monetários na exploração, como por exemplo, aposentadorias, salários e o valor monetário mão de obra vendida. 3.3.Renda Bruta Total – RBT (R$) RBT = RBP + OR 4. Margem Bruta Total – MBT (R$) Corresponde à diferença entre a Renda Bruta Total e os Custos Variáveis das diferentes atividades.

MBT = RBT-CVT

5. Medida de Desempenho Global 5.1. Renda Líquida Global-RLG (R$) Corresponde à diferença entre a Renda Bruta Total e as Despesas Operacionais Totais, não incluindo portanto a remuneração da mão-de-obra familiar e do capital próprio

RLG = RBT - DOT

5.2. Lucro Corresponde a diferença entre a Renda Líquida Global e o Custo de Oportunidade da Mão-de-obra Familiar. Indica se os fatores de produção utilizados no processo produtivo foram remunerados. Também representa a remuneração efetiva da mão-de-obra familiar 6. Índice de Diversificação (ID) É definido pela expressão ID = 1,0 dividido pela soma de cada fração da renda bruta da produção elevada ao quadrado. 7. Índice Geral de Preço – Disponibilidade Interna (IGP-DI) Para atualização de ativos optou-se pelo uso do IGP-DI, onde de acordo com a Revista Conjuntura Econômica, variaram da seguinte maneira: para julho/1999 = 1,74; para julho/2000 = 1,52; para julho/2001 = 1,37; para julho/2002 = 1,243; para julho/2003 = 1,00. Fonte: Carvalho et al (2001)

Com o objetivo de abstrair os possíveis impactos econômico-financeiros que poderiam

ser provocados pela implantação da reserva legal nas propriedades rurais acompanhadas,

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adotaram-se neste estudo os métodos apresentados por Lapponi (2000) para a construção e

avaliação de fluxo de caixa em projetos de investimento, entre os quais, o Valor Presente

Líquido - VPL e a Taxa Interna de Retorno - TIR.

Optou-se em estimar os impactos econômico-financeiros por meio da simulação de três

opções de implantação da reserva legal, comparando os resultados projetados da TIR e do

VPL, em relação aos resultados sem a reposição florestal. Os fluxos de caixas foram

construídos levando em conta o período de 15 anos (2003 a 2018). Este é o prazo máximo

para os produtores regularizarem as áreas de reserva legal, conforme está estabelecido na

regulamentação do governo do Paraná, por meio do Artigo 7º do Decreto 387/99, publicado

em 03/03/1999. Os produtores podem implantar a reserva legal de forma parcelada, até

completar a área total exigida, sem ultrapassar a data limite. Considerou-se que esse seria um

período crítico para os produtores, pois vão precisar decidir de que maneira pretendem repor a

reserva legal, buscando escolher a opção que deverá causar um menor impacto econômico-

financeiro em seus sistemas de produção agrícolas.

A primeira opção, denominada de Opção 1, simula a implantação da reserva legal de

forma parcelada, cujo início seria em 2003, utilizando exclusivamente espécies nativas, sem

considerar nenhum rendimento econômico até 2018. Como a implantação da reserva legal

seria parcelada, a Opção 1 exigiria pouco capital inicial e a redução da renda dos produtores

proveniente das atividades agrícolas seria gradativa ao longo do prazo de 15 anos (2018).

Como desvantagem, depois de implantada a reserva, haveria de se esperar um longo tempo

para se obter receitas por meio do manejo sustentável da floresta, após as árvores atingirem

certa idade, normalmente acima dos 25 anos, cuja produção anual de madeira nesse regime

ainda é pouco conhecida. Essa seria a opção que mais se aproxima daquilo que se deseja da

reserva legal em seus aspectos ambientais.

A Opção 2 simula a implantação total da reserva legal em 2003, utilizando-se 20% de

espécies nativas e 80% de eucalipto, com a previsão de receitas advindas do desbaste seletivo

de eucalipto no 7º ano, para a produção de lenha, e do corte final no 15º ano com o objetivo

de se obter madeira para serrado. Suprimiu-se nessa análise a realização de um terceiro corte

de eucalipto no 21º ano, pois a partir de 2018 não se permitiria a exploração de madeira com

espécies exóticas na reserva legal em propriedades com mais de 30 hectares. Essa proposta

busca conciliar o aspecto de produção de madeira e a obtenção de renda durante o período de

formação da reserva legal, com a intenção de reverter a falta de interesse dos produtores rurais

em recompor a reserva legal. A base conceitual dessa opção foi extraída do curso básico sobre

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implantação de reserva legal (informação verbal)2, promovido pela EMATER-PR, com a

participação da EMBRAPA-Floresta e do IAP. As informações técnicas e econômicas

complementares foram obtidas com base em Rodigheri e Pinto (2003) e consultas ao

Sindicato da Indústria Moveleira de Arapongas – SIMA (informação verbal)3.

A opção 3 simula a aquisição de uma nova área para ceder a reserva legal, seguindo os

critérios estabelecidos no Paraná, por meio do Decreto nº 3320, de 12 de julho de 2004, ou

seja, a propriedade que vai ceder a reserva legal deve pertencer ao mesmo bioma, à mesma

bacia hidrográfica e deve estar inserida no mesmo agrupamento de municípios da propriedade

que vai receber a reserva. Considerou-se que nessa circunstância seria desejável adquirir área

não mecanizável, cujo preço de mercado em regiões de terra roxa, segundo dados da

SEAB/DERAL (2003), estaria valendo aproximadamente R$ 3,50 mil por hectare (valores

levantados em junho/2003). Nessa simulação, estimou-se a aquisição da quantia exata de área

para atender os 20% da superfície total do imóvel. Também se considerou que a área

adquirida estaria coberta com mato, sem nenhum gasto extra além das despesas cartorárias

com transferência e a averbação da reserva legal nas matrículas dos imóveis. Essa opção teria

a vantagem de não provocar a redução da renda dos produtores devido à diminuição da área

de plantio e nem alteraria o sistema de produção agrícola. No entanto, exigiria a

disponibilidade de capital inicial para adquirir uma nova área que satisfaça as exigências

legais.

Na construção do fluxo de caixa, para cada opção avaliada, foram considerados: os

rendimentos médios constatados durantes os cinco anos de acompanhamento das propriedades

rurais estudadas; o valor de R$ 8.972,54 para um hectare de terra roxa mecanizada (SEAB /

DERAL, 2003); e valor residual de 30% para os maquinários e as benfeitorias produtivas no

período terminal da análise (2018). No cálculo que incluiu o valor da terra considerou-se um

valor residual de 100%, também no período terminal, portanto sem prever valorização ou

desvalorização desse bem. Em todas as opções propostas incluiu-se o orçamento da averbação

da área de reserva legal na escritura do imóvel.

O que se pretendeu não foi fazer nenhuma conjectura sobre possíveis mudanças futuras

no comportamento da produtividade das culturas, do valor da terra, dentre outras. O que se

quis foi fazer uma abstração sobre os impactos econômico-financeiros da reposição da reserva

legal, tendo como base à situação observada nos casos pesquisados. 2 CARPANEZZI, Antônio A. EMBRAPA-Floresta. Informações fornecidas para os extensionistas da

Emater-Paraná, em Campo Mourão (2005). 3 KEMMER, Erickson Melluns. Informações extraídas de relatórios de acompanhamento florestal,

recebidos por e-mail do Sindicato da Indústria Moveleira de Arapongas - SIMA (2005).

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Não se pretendeu neste trabalho prescrever a melhor alternativa para a recomposição da

reserva legal, pois na vida real não existe uma única melhor alternativa para todos os casos.

Cada produtor vai ter que analisar um conjunto de variáveis e de objetivos a serem alcançados

para decidir a melhor estratégia a ser adotada. Inclusive, a combinação de várias opções

poderá se constituir numa alternativa mais adequada, podendo ser adaptada de acordo com os

recursos disponíveis e as necessidades de cada produtor rural. Dessa forma, a síntese da

avaliação dos impactos econômico-financeiro da implantação da reserva legal foi apresentada

com base na média dos resultados obtidos em cada opção analisada.

Há outras formas de se fazer a recomposição da reserva legal, incluindo aquelas com

finalidade de se explorar atividades não-madeireiras. No entanto, optou-se pelas alternativas

mais conhecidas pelos agricultores e com maior disponibilidade de informações técnicas e

econômicas que permitam um mínimo de segurança em alcançar os resultados projetados.

Também poderiam se avaliar outros fatores além do econômico-financeiro direto, por

exemplo, a valoração ambiental e suas implicações no custo de produção das explorações

agrícolas. Todavia, esse seria um outro objeto de estudo com inúmeras possibilidades para

novas pesquisas. A título de exemplo, poderia se avaliar a influência da reserva legal na

população de uma determinada espécie de inseto que ataca a cultura da soja. Será que

aumentaria, diminuiria ou não teria influência? As matas poderiam ser úteis para a reprodução

de inimigos naturais, mas também poderiam servir de abrigo para as pragas que precisam ser

controladas. Ou então, analisar a influência da reserva legal na disseminação de sementes de

ervas invasoras nas áreas exploradas. Enfim, há um enorme campo para pesquisas acadêmicas

e profissionais que poderão ser realizadas em decorrência da obrigatoriedade da reserva legal.

Com a construção e análise dos fluxos de caixas sem e com a reposição da reserva legal,

por meio dos métodos descritos, foi possível concluir a pesquisa quantitativa definida neste

trabalho.

Este estudo também utilizou métodos qualitativos. Segundo Richardson (1999), uma

pesquisa social deve estar orientada à qualidade de vida da grande maioria da população. Na

medida do possível, é necessário integrar pontos de vistas, métodos e técnicas para enfrentar

esse desafio. O aporte do método qualitativo ao quantitativo foi uma opção adotada para

humanizar as conclusões do trabalho, buscando compreender como reagem os agricultores

pesquisados frente aos possíveis impactos socioeconômicos advindos da imposição da reserva

legal em suas propriedades rurais.

10

Richardson (1999, p. 207) afirma que,

[...] a melhor situação para participar na mente de outro ser humano é a interação

face a face, pois tem o caráter, inquestionável, de proximidade entre as pessoas,

que proporciona as melhores possibilidades de penetrar na mente, vida e definição

dos indivíduos.

Utilizou-se a técnica da entrevista para permitir o desenvolvimento de uma estreita

relação entre o extensionista e os produtores, a fim de se obter as informações sobre o

significado da reserva legal para os entrevistados.

Para tanto, foram efetuadas entrevistas semi-estruturadas, com o seguinte roteiro:

a) Quando o sítio foi adquirido existia mata nativa?

b) O que é a reserva legal?

c) Acha importante fazer a reposição florestal em sua propriedade?

d) Quais as maiores dificuldades para se fazer a reposição da reserva legal?

e) Sabe por que estão obrigando os agricultores fazer a reposição da reserva legal?

f) O que pretende fazer para repor a reserva legal?

g) A reserva legal vai mudar a situação do agricultor? De que maneira?

h) Quem vai ganhar com a reposição da reserva legal?

Na entrevista semi-estruturada, em vez de responder as perguntas por meio de diversas

alternativas pré-formuladas e determinar a freqüência de certas ocorrências, se procurou saber

“o que, como e por que algo ocorre” (RICHARDSON, 1999, p. 208). Em outras palavras,

visou obter dos entrevistados quais aspectos eles consideravam mais relevantes sobre o objeto

de estudo. A conversação foi guiada, por meio do roteiro acima apresentado.

Não foram apresentadas aos entrevistados as informações coletadas nas fontes

anteriormente mencionadas. Também não foi analisado se a compreensão dos entrevistados

estava correta ou não, como numa triangulação de dados. Na perspectiva deste estudo

qualitativo, o importante foi identificar o significado da reserva legal do ponto de vista dos

entrevistados. As análises dos dados seguiram o modelo proposto por Pettigrew (1987) citado

e aplicado por Ichikawa (2001). Assim, se buscou nas falas dos sujeitos as questões de

conteúdo (“o que”), de contexto (“por que”) e de processos (“como”), que tornaram possível

interpretar “o que é, quais as razões, como se dará e o que se espera da implantação da reserva

legal, do ponto de vista dos agricultores pesquisados”.

11

3. RESULTADOS

Descreve-se a seguir os resultados dos cinco anos de intervenção e de acompanhamento

das quatro propriedades rurais, representativas do sistema de produção denominado

“Empresário Familiar – Grãos”, com base no estudo apresentado por Carneiro et al. (2004),

realizado na região de Londrina, estado do Paraná, durante os anos agrícolas 1998/1999 a

2002/2003.

3.1 Resultados Econômicos das Propriedades Rurais Monitoradas

As variáveis determinantes da categoria social dos produtores acompanhados neste

estudo estão retratadas na Tabela 3.

TABELA 3 – A CATEGORIA SOCIAL DOS PRODUTORES ACOMPANHADOS – ANOS AGRÍCOLAS

98/99 e 02/03

ÁREA TOTAL

MÃO-DE-OBRA FAMILIAR

CAPITAL (R$) PRODUTOR / ANO

AGRÍCOLA (ha) Eq.H (1) Uso (%)

Benfeitorias produtivas

Máquinas e equipamentos

CATEGORIA SOCIAL

98/99 35,00 2,0 52 60.900,00 88.521,00 EF 1 02/03 35,00 1,0 41 52.500,00 104.550,00 ER 98/99 41,14 3,0 85 50.746,06 131.749,32 EF 2 02/03 41,14 2,0 83 54.266,15 122.860,79 EF 98/99 45,98 4,0 92 44.718,00 138.263,20 EF 3 02/03 45,98 2,0 84 55.246,20 112.612,38 EF 98/99 60,50 2,0 55 37.410,00 64.902,00 EF 4

02/03 60,50 2,0 92 30.302,10 54.868,50 EF Fonte: Carneiro et al. (2004) (1) Equivalente-homem

O produtor 1 mudou de categoria social no período analisado, passando de Empresário

Familiar - EF para Empresário Rural - ER, pois o filho do referido produtor que trabalhava na

propriedade deixou essa ocupação para assumir um emprego na cidade. Assim, o uso da mão-

de-obra familiar ficou inferior a 50% da demanda total, configurando numa atividade

empresarial não familiar.

A tipologia dos sistemas de produção agropecuários está apresentada na Tabela 4, com

base na categoria social dos produtores definida anteriormente e na contribuição das

principais atividades agrícolas na renda bruta da produção.

12

TABELA 4 – TIPOLOGIA DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIOS – ANOS AGRÍCOLAS 98/99 e 02/03

CONTRIBUIÇÃO NA RENDA BRUTA DA PRODUÇÃO (%)

PRODUTOR / ANO

AGRÍCOLA Soja Milho Trigo Frango Café Frutas

TIPOS DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO

98/99 34 - 23 19 23 1 EF – Grãos 1 02/03 44 - 24 12 12 8 ER – Grãos 98/99 52 - 29 19 - - EF – Grãos 2 02/03 47 - 23 15 5 10 EF – Grãos 98/99 51 43 - - - 6 EF – Grãos 3 02/03 64 36 - - - - EF – Grãos 98/99 47 47 - - 3 3 EF – Grãos 4

02/03 52 24 24 - - - EF – Grãos Fonte: Carneiro et al. (2004)

A produção de grãos (soja, milho e trigo) contribuiu com 57% a 100% da renda bruta da

produção, constituindo-se, portanto, na principal atividade econômica dessas propriedades. A

soja contribuiu, em média, com cerca de 50% da renda bruta total. A Tabela 5 retrata os

valores monetários médios, em R$/ano, por propriedade pesquisada, dos indicadores

econômicos discriminados a seguir: renda bruta da produção (RBP); outras rendas (OR);

renda bruta total (RBT); custo variável total (CVT); custo fixo total (CFT); despesa

operacional total (DOT); margem bruta total (MBT); renda líquida global (RLG); custo de

oportunidade da mão-de-obra familiar (MOF) e lucro.

TABELA 5 – VALORES MÉDIOS DOS PRINCIPAIS INDICADORES ECONÔMICOS, POR PROPRIEDADE MONITORADA

INDICADORES ECONÔMICOS (R$/ano) P(1)

RBP OR RBT CVT CFT DOT MBT RLG MOF LUCRO

1 109.082,89 8.448,98 117.531,88 55.816,80 30.223,41 86.040,21 61.715,07 31.491,66 2.630,40 28.861,262 99.421,00 - 99.421,00 47.212,13 18.531,86 65.743,99 52.208,87 33.677,01 4.742,40 28.934,613 115.017,18 - 115.017,18 48.749,60 16.020,76 64.770,36 66.267,58 50.246,82 5.260,80 44.986,024 154.592,15 5.493,00 157.887,95 73.127,15 25.306,67 98.433,82 84.760,80 59.454,13 4.224,00 55.230,13

Média 119.528,31 6.970,99 122.464,50 56.226,42 22.520,68 78.747,10 63.301,89 40.781,21 4.214,40 36.566,81

s(2) 24.243,45 2.090,19 24.937,37 11.873,82 6.461,51 16.382,78 13.692,65 15.178,70 1.137,67 14.448,33Fonte: Carneiro et al. (2004) (1) Propriedade (2) Desvio padrão A mão-de-obra familiar, na média das propriedades pesquisadas, foi de 2,3

equivalentes-homens. Os produtores rurais não são assalariados, portanto eles não possuem

renda fixa mensal. No entanto, para efeito de comparação com os trabalhadores assalariados,

foi possível estimar a renda mensal média das famílias acompanhadas. A remuneração média

da mão-de-obra familiar, com base na renda líquida global, foi de aproximadamente R$ 40

mil, menos o valor médio dos investimentos (melhoria do sistema de produção) de R$ 4 mil

com recursos próprios, ou seja, cerca de R$ 36 mil por ano. Isto equivale a uma renda média

mensal familiar em torno de R$ 3 mil. A renda mensal média, por pessoa que trabalhou na

13

atividade agrícola, foi R$ 1,3 mil. Considerando que o valor do salário mínimo médio no ano

agrícola 02/03 foi de R$ 223,00, a remuneração média mensal foi de 5,98 salários mínimos

por equivalente-homem e de 13,75 salários mínimos para a família.

As propriedades analisadas não apresentaram estabilidade de receitas e de despesas,

pois além das variações climáticas e dos preços pagos e recebidos, os produtores estavam

alterando as atividades agrícolas em busca da melhoria do sistema de produção. Na

propriedade 4, depois do produtor tentar a diversificação com os cultivos de limão e de café

adensado, ele passou a acreditar na especialização em grãos como estratégia para obter uma

vida mais tranqüila, ou seja, o importante para ele não era só ganhar mais dinheiro, mas

também as boas condições de trabalho. Nas propriedades 1 e 2, os produtores investiram na

diversificação (cultivos de banana, de laranja, de café adensado, além da criação de frango de

corte) e ainda não alcançaram a estabilidade de renda desses sistemas de produção, pois cada

investimento leva um tempo para atingir sua maturidade. O problema é que, às vezes, não

amadurece, sendo interrompido antes de proporcionar os resultados esperados. Foi o caso dos

investimentos realizados com recursos próprios para a implantação de áreas com café

adensado, em 1998 e 1999, frustrados pelas severas geadas ocorridas em junho e julho de

2000. A Tabela 6 apresenta o índice de diversificação – ID de cada propriedade e os

resultados econômicos médios, por unidade de superfície agrícola útil - SAU.

TABELA 6 – ÍNDICE DE DIVERSIFICAÇÃO - ID, SUPERFÍCIE AGRÍCOLA ÚTIL – SAU E OS INDICADORES ECONÔMICOS

PROPRIEDADE ID SAU INDICADORES ECONÔMICOS (R$/ha/ano) (ha) RBP / SAU CVT / SAU DOT / SAU MBT / SAU RLG / SAU LUCRO / SAU

1 3,91 33,88 3.219,68 1.647,49 2.539,56 1.821,58 929,51 851,87 2 3,27 37,51 2.650,52 1.258,65 1.752,71 1.391,87 897,81 771,38 3 2,25 44,08 2.609,28 1.105,93 1.469,38 1.503,35 1.139,90 1.020,55 4 2,23 54,70 2.826,18 1.336,88 1.799,52 1.549,56 1.086,91 1.009,69

Média 2,92 42,54 2.826,42 1.337,24 1.890,29 1.566,59 1.013,53 913,37 Desvio Padrão 0,82 9,14 278,54 227,98 456,76 182,43 118,05 122,08 Coef. Variação 28 21 10 17 24 11 8 13 Fonte: Carneiro et al. (2004) As propriedades com menores índices de diversificação obtiveram lucros superiores,

pois os produtores que investiram em novas explorações agrícolas não estavam com suas

rendas estabilizadas, ou seja, os investimentos na diversificação levam certo tempo para

amadurecer e proporcionar o retorno financeiro esperado. Além disso, o bom resultado

apresentado pela atividade soja, nas safras 01/02 e 02/03, que contribuiu em média com mais

de 50% da margem bruta total dos sistemas de produção pesquisados, beneficiou as

propriedades com menores índices de diversificação. Verificou-se que os produtores rurais

estavam revendo a estratégia de diversificação do sistema de produção, com uma tendência de

14

reduzir um pouco as atividades, equilibrar a renda global da propriedade e a demanda de mão-

de-obra. Contudo, o desvio padrão e o coeficiente de variação indicam que não ocorreram

grandes dispersões nos indicadores econômicos, em relação à média.

A partir da descrição realizada acerca da dinâmica interna das quatro propriedades

rurais pesquisadas, prossegue-se no próximo item com o estudo da estimativa dos impactos

econômico-financeiros da reserva legal.

3.2 ESTIMATIVA DOS IMPACTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS DA RESERVA LEGAL

Apresentou-se no item anterior o desempenho econômico-financeiro e a dinâmica

interna das quatro propriedades rurais pesquisadas, cujas informações serviram de base para

estimar os impactos que a implantação da reserva legal deverá provocar nesses sistemas de

produção agrícolas.

Apresenta-se na Tabela 7, a estimativa dos valores da TIR sem e com a implantação da

reserva legal, nas três opções propostas.

TABELA 7 – ESTIMATIVA DOS VALORES DA TIR, NAS OPÇÕES PROJETADAS PARA REPOSIÇÃO DA RESERVA LEGAL, SEM E COM O VALOR DA TERRA

TIR (%) OPÇÕES

VALOR DA TERRA 1 2 3 4

0 – Sem a implantação da reserva legal Sem 10,96 14,85 26,23 60,95 Com 3,09 5,70 9,12 7,92

Sem 6,96 11,93 24,20 56,35 1 – Parcelas anuais com espécies nativas Com 1,75 4,29 8,09 6,85

Sem 6,71 10,68 22,83 40,72 2 – 80% eucalipto + 20% nativas Com 2,37 4,75 8,49 6,84

Sem 8,57 12,14 22,74 43,11 3 – Aquisição de nova área Com 2,60 4,97 8,45 7,28

Fonte: Dados desta Pesquisa

Percebe-se que os valores da TIR foram discrepantes quando não se considerou o valor

da terra, com uma amplitude de até 50% entre as propriedades 1 e 4. Um dos principais

fatores que contribuiu na diferença verificada nos valores da TIR de cada propriedade foi o

valor monetário do capital imobilizado com máquinas, equipamentos e benfeitorias por

unidade de área explorada. Quanto maior essa relação, menor a TIR obtida. Além disso, a

propriedade 1, que obteve TIR de 10,96%, também foi afetada pelo custo da contratação de

um empregado fixo.

15

Nota-se que quando se considerou o valor da terra, essas diferenças ficaram menores. A

propriedade 3, que obteve TIR de 9,12%, era a única com terras arrendadas, como

conseqüência, tinha menos capital investido por unidade de área explorada.

Os valores estimados da TIR nas três simulações indicaram que haveria impactos

negativos na rentabilidade dos sistemas de produção, com as seguintes reduções médias:

6,05% (variando de 3,17% a 14,23%), sem considerar o valor da terra; 0,90% (variando de

0,77% a 1,03%), com o valor da terra.

Se a decisão fosse baseada na rentabilidade relativa do capital investido, ou seja, na

TIR, a Opção 1 seria a mais interessante para as propriedades 3 e 4 e a Opção 3 para as

propriedades 1 e 2. Para verificar qual seria a melhor decisão baseada na menor perda

absoluta de renda, é preciso recorrer aos resultados estimados do VPL. Apresenta-se na

Tabela 8 os VPL das propriedades acompanhadas sem e com a implantação da reserva legal.

TABELA 8 – ESTIMATIVA DO VPL, NAS OPÇÕES PROJETADAS, SEM E COM O VALOR DA TERRA

VPL – 6% (R$) OPÇÔES

VALOR TERRA 1 2 3 4

0 – Sem a implantação da reserva legal Sem 61.006,72 126.243,87 290.224,20 430.223,29 Com -121.994,72 -10.698,51 125.732,05 113.892,23

Sem 10.428,39 77.289,18 246.730,79 365.507,291 – Parcelas anuais com espécies nativas Com -172.573,05 -59.653,53 82.238,64 49.176,23

Sem 11.672,99 85.702,17 278.947,14 370.880,672 – 80% eucalipto + 20% nativas Com -170.144,45 -51.240,54 109.977,00 54.549,61

Sem 35.384,11 98.183,79 267.072,37 395.350,08 3 – Aquisição de nova área Com -147.617,33 -38.758,92 102.580,21 79.019,02

Fonte: Dados desta Pesquisa

Nota-se que o valor da terra teve forte influência nos resultados do VPL. Sem considerá-

lo, todas as propriedades analisadas obtiveram VPL positivos, indicando a viabilidade

econômica dos seus sistemas de produção agrícolas. Ao considerá-lo, as propriedades 1 e 2

apresentaram VPL negativa. A propriedade 1 apresentou menor VPL em função dos motivos

já vistos: elevado valor do custo fixo, ocasionado pelas depreciações dos aviários, dos

maquinários, dos equipamentos e das lavouras permanentes; é o único estabelecimento entre

os quatro analisados que possuía um empregado fixo.

A Opção 1, considerada a mais próxima do que se deseja da reserva legal do ponto de

vista ambiental, apresentaria o maior impacto negativo na renda dos produtores rurais,

perdendo em média cerca de R$ 52 mil. Porém, teria a vantagem de exigir pouco capital para

a sua implantação.

Com relação à Opção 2, a redução média seria de aproximadamente R$ 41 mil. A

principal desvantagem dessa alternativa seria a interrupção abrupta da renda proveniente das

16

atividades agrícolas na área de implantação da reserva legal. Outra desvantagem seria o

desembolso dos investimentos iniciais para a formação do reflorestamento no primeiro ano de

implantação da reserva legal. Contudo, essa opção deverá atrair os produtores que precisam

produzir madeira para o consumo na propriedade.

Constatou-se que a menor redução média no resultado do VPL seria em torno de R$ 28

mil, com a Opção 3. Acredita-se que essa seria uma alternativa bastante atrativa para os

produtores rurais, pois não implicaria em promover mudanças estruturais no sistema de

produção agropecuários, que acarretariam redução de renda. O inconveniente dessa proposta

seria a necessidade de dispor de recursos financeiros para adquirir uma nova área rural.

Contudo, essa opção só seria viável para a aquisição de áreas com valor financeiro baixo, tais

como as não mecanizáveis, e sem as restrições impostas pela legislação ambiental em vigor.

A pesquisa quantitativa aqui apresentada permitiu a avaliação, com enfoque sistêmico,

dos impactos econômico-financeiros para se cumprir a reposição da reserva legal. Notou-se

que, mesmo com o desempenho econômico mais favorável, como é o caso das propriedades 3

e 4, pouca coisa existe de preservação florestal nessas propriedades. Em que pese às restrições

econômicas dos agricultores, verificadas neste estudo, acredita-se que, mesmo em melhores

condições, deve haver outras razões para o não cumprimento dessa exigência legal,

principalmente, a razão de se seguir à lógica do modelo capitalista, ou seja, acumular capital.

Seria ingenuidade acreditar que apenas a melhoria nas condições financeiras fosse suficiente

para garantir a mudança de comportamento dos agricultores, com relação à recomposição da

reserva legal.

Todavia, o principal motivo do não cumprimento dessa imposição, nos casos analisados,

não seria apenas a intenção de acumular capital, mas de se evitar a redução da renda que se

emprega no atendimento das necessidades básicas da família, tais como: plano de saúde;

educação; transporte; boa alimentação; vestuários; e lazer.

Nesse contexto, optou-se por complementar esta pesquisa com o aporte do método

qualitativo, no qual se buscou compreender a reserva legal do ponto de vista dos produtores

rurais. Dessa forma, apresenta-se, a seguir, o que pensam os produtores rurais acerca dessa

imposição.

3.3 RESERVA LEGAL: O PONTO DE VISTA DOS AGRICULTORES PESQUISADOS

Os agricultores pesquisados dependiam quase que exclusivamente da renda agrícola

para o sustento de suas famílias. Seus pais eram agricultores que deixaram o interior do estado

de São Paulo, em busca de novas áreas agrícolas e de um futuro melhor no Paraná. Apresenta-

17

se na Tabela 9 uma breve caracterização desses produtores, com as seguintes informações:

idade, sexo, estado civil, grau de escolaridade e o município onde residiam.

TABELA 9 – CARACTERIZAÇÃO DOS PRODUTORES RURAIS PESQUISADOS

PRODUTORES IDADE (ano)

SEXO ESTADO CIVIL

ESCOLARIDADE MUNICÍPIO (PR)

1 66 Masculino Casado 1º grau Cambé 2 45 Feminino Casada 2º grau Prado Ferreira 3 58 Masculino Casado 1º grau Primeiro de Maio 4 47 Masculino Casado 1º grau Sertanópolis

Fonte: Dados desta Pesquisa

Todos os entrevistados pararam definitivamente de estudar. A administração da

propriedade 2 era totalmente compartilhada entre o produtor e a sua esposa. Devido à

disponibilidade momentânea de tempo do casal, foi ela que concedeu a entrevista. Todos os

entrevistados afirmaram que receberam a propriedade rural sem quase nada de mata nativa,

conforme apresentado na Tabela 10.

TABELA 10 – ANO E CONDIÇÕES DE RECEBIMENTO DA PROPRIEDADE

PRODUTORES ANO QUE RECEBEU A PROPRIEDADE

FORMA DE AQUISIÇÃO EXISTIA MATA NATIVA NA

PROPRIEDADE?

A RESERVA LEGAL ESTÁ AVERBADA?

1 1992 Herança de família Não Sim 2 1980 Herança de família Não Não 3 1969 Herança de família Não Não 4 1984 Herança de família Sim Não

Fonte: Dados desta Pesquisa

O questionamento sobre a existência de mata nativa referiu-se ao momento em que os

pesquisados assumiram o comando de suas propriedades, ficando judicialmente responsáveis

pelos atos cometidos em seus respectivos domínios. O Produtor 4 explicou que a mata nativa

existente na propriedade é de pequena proporção, ocupando 4,4% da área total do imóvel, e

que a mesma está preservada. Apenas o produtor 1 efetuou a averbação da reserva legal, pois

foi uma exigência para se obter a escritura do imóvel no momento da divisão da propriedade

herdada entre os irmãos.

A apresentação do ponto de vista dos produtores rurais entrevistados, com relação à

imposição da reserva legal, foi subdividida em três grupos: conteúdo (o que); contexto (por

que); e processo (como). Todavia, essas subdivisões formam, em seu conjunto, o significado

da reserva legal para os produtores pesquisados.

18

3.3.1 O Conteúdo

Neste subitem, buscou-se captar principalmente o que os entrevistados entendiam por

reserva legal e o que representava para eles essa imposição presente no Código Florestal. Nas

transcrições idênticas das falas dos produtores pesquisados encontraram-se as seguintes

explicações:

“Reserva legal, ela já tem o nome de reserva legal, naturalmente é uma coisa legal. Não sei se vocês chegaram ver a escritura que saiu direto da Companhia Melhoramento, já tava escrito na escritura 20%. E a escritura tinha uma faixa assim, verde-amarela transversal. A reserva legal é pra justificar que uma coisa é legal, por lei, naturalmente ela vem em beneficio do meio ambiente, é lógico, da flora, da fauna, de todas essas coisas aí. Mas todo mundo passou por cima. E não só os culpados disso são os proprietários. Pessoas que seriam incumbidas de manter a lei, e que ninguém se incomodou, derrubava a torto e direito, nunca ninguém falou: - não, isso aqui é reserva legal” (P 1).

“No meu entender reserva legal, eu imagino que seria não ter desfeito aquela que existia. Isso é que eu acho que é legal no meu entender a palavra legal. Porque você não iria mexer realmente na natureza, né? Porque mesmo aquela que já tem alguma coisa, que era daquele tempo, foi mexido. Foi tirado todas as perobas, foi tirado todos os palmitos, então mexeu, mas está lá enfim. Alguns vizinhos que têm. Agora, eu penso que seria isso, uma ajuda para natureza. Uma ajuda pra natureza, só [...] dizer que a gente é contra, não, a gente não é contra. A gente fica realmente apavorada com isso. A gente fica apavorada, sim. É um assunto que, os anos passam e a gente fica preocupada, sim. Eu penso que se essa lei, de repente, se ela for realmente obrigatória e não tiver nem um apoio para pequenos agricultores, nós que já somos poucos e carentes de muita coisa, a gente é mais uma raça que vai se extinguir. Como na libertação dos escravos, libertaram os escravos e quem ganhou com isso? Eles ficaram por ai, até hoje não conseguiram reaver nada, ou pouca coisa. E se essa lei for obrigatória, obrigatória mesmo, eu acho que vai ser uma coisa muito brava, vai ser esquisito. Principalmente numa terra como essa aqui, terra totalmente agricultável, né? Quando você vê essa argila, essa terra roxa, você fala assim: - Deus fez isso daqui para a gente plantar, né? Pra matar a fome do mundo aqui” (P 2).

“Falaram ali, que fora aqueles 30 metros, não sei se é 15 ou 30, então, estão falando mais 70 metros, que era para completar os 100 metros4, né? Aquilo ali eu não concordo, porque quem é que indenizou nóis pra isso? Ninguém, né? Depois, fora disso aí, tão querendo mais 20%, né? Mas isso aí eu também acho errado, porque quando a gente comprou já não tinha mais nada, né? [...] quando foi fechado essa barragem aqui, o senhor vê como que é o erro, na beira d’água tinha umas árvores, tinha umas matas. Entraram com uma esteira, limpou tudo, jogaram tudo dentro d’água. Agora, por que plantar de novo se já tinha? Eu acho que ai tem um erro. Por que derrubou e agora tem que plantar, se já tava plantado? Já tinha bastante, era só aumentar mais, né?” (P 3).

“A reserva legal, segundo o que a gente ouve dizer por aí, é uma quantidade de mato correspondente a 20% da área” (P 4).

4 Essa é a largura mínima da mata ciliar (área de preservação permanente) exigida na Resolução nº

302, de 20 de março de 2002 do CONAMA. A propriedade está localizada a margem da Represa Capivara, no Município de Primeiro de Maio.

19

Diante das apreensões demonstradas pelos entrevistados e de respostas que

indiretamente denotaram a restrição administrativa da reserva legal para fins econômicos,

buscou-se verificar o ponto de vista dos pesquisados sobre a possibilidade de se aproveitar

essa área para tal finalidade. As respostas foram as seguintes:

“É um processo demorado, né? Hoje, qual é o tipo de árvore que você planta e vai ter um retorno econômico a menos de 10 ou 15 anos? Agora, parece que não era permitido plantar eucalipto, essas coisas assim. Já tão pensando essa possibilidade. O eucalipto com 10, 12 anos já dá corte. Depois a brota forma mais rápido ainda” (P 1).

“Não sei se isso valeria a pena. Porque o eucalipto não é daqui, é uma coisa colocada, eu não sei. Essa aí (área com eucalipto) nós já temos, né? Nós já temos um alqueire, um alqueire e pouco de eucalipto. Fica aí uma tantada de anos e você não faz nada com ele. Porque se for derrubar também tem que alguém autorizar, então taí, tái né? Nem pra gente queimar no aviário a gente não pode. Tem que ir lá pedir autorização para cortar uma árvore que você mesmo plantou para fins de sustento, senão não pode. Nós estamos comprando. Você vai lá pra liberar 3 ou 4 árvores? A gente consome 3, 4 árvores em seis meses, dependendo da altura dela, essa (quantia) aí dá. A gente queimaria ai umas 12, talvez 10 árvores por ano no aviário. A gente tá pagando trinta reais o metro cúbico” (P 2).

“Ai eu acho meio difícil eu responder. Porque quem vive de outra coisa, não interessa esse tipo de coisa, né? Pra quem planta soja, milho, não interessa plantá árvore num pedacinho de terra. Ou você planta bastante para vender ou não planta nada, né? A gente não sabe fazer outra coisa. A gente acostumou com aquilo, daí fica difícil” (P 3).

“É, ai precisa ver ainda. Porque, por exemplo, dependendo do que vai ser plantado às vezes tem um comércio bom, né? Você consegue com quatro anos cortar, que é caso do eucalipto, né? Que lenha tá um problema sério já, né? Agora, se vai plantar outro tipo de árvore, às vezes demora 30, 40, 50 anos para formar, então é complicado. Acho que só reflorestamento com eucalipto também não vão querer deixar fazê, né? Porque tem que ser a coisa bem variada, né?” (P 4).

As respostas acima apresentadas demonstram que os produtores pesquisados tinham

uma noção imprecisa sobre o uso econômico da reserva legal. Essas incertezas refletem as

indefinições existentes no ambiente externo aos estabelecimentos rurais. Embora a legislação

que trata desse tema deixe claro que a reserva legal pode ser aproveitada para fins

econômicos, mediante o plano de manejo sustentável da floresta, observou-se a postura

inibidora do órgão estadual de fiscalização ambiental e certo desinteresse dos produtores

rurais entrevistados em regularizar essas pequenas áreas florestais para a exploração

econômica. O depoimento do Produtor 2, que afirmava comprar lenha a trinta reais o metro

cúbico para utilização no aquecimento do aviário, mesmo possuindo na propriedade uma área

cultivada com eucalipto, ilustrou essa observação. Cabe esclarecer que a legislação não

permite o cultivo de eucalipto, por ser uma planta exótica, na área de reserva legal em

propriedades com mais de trinta hectares. No entanto, como foi explicado anteriormente, o

20

Instituto Ambiental do Paraná está estudando a possibilidade de liberar o cultivo de eucalipto

em qualquer categoria de propriedade rural para a formação da reserva legal, como uma

espécie pioneira intercalada com espécies nativas. Nesse caso, o eucalipto deverá ser retirado

da área até 2018.

3.3.2 O Contexto

Descrevem-se, neste subitem, as manifestações relacionadas com o “por que” de se

fazer, ou não, a reposição da reserva legal. Buscou-se captar o ponto de vista dos

entrevistados principalmente com relação as seguintes questões: qual a importância e a

necessidade de se fazer a reposição da reserva legal?; por que a obrigação de se repor a

reserva legal?; quem vai ganhar e quem vai perder com a reposição da reserva legal? Com

relação aos aspectos ambientais os depoimentos expressaram o seguinte:

[...] “nós temos um exemplo aqui no Paraná, eu cheguei até presenciar isso. O Paraná era uma floresta de café, que é uma planta de porte grande. A natureza parece que ela funcionava de uma maneira diferente. Quando era época de chuva, dificilmente dava um veranico meio grande. Depois que a erradicação do café funcionou mesmo, foi violenta, a gente percebeu uma alteração no sistema. Quando chove, chove demais. Aí então o desequilíbrio da natureza também foi meio violento [...] ó o que aconteceu há pouco agora lá na Ásia, lá. Quem é que sabe que aquilo num foi mesmo aquele deslocamento de terra? A natureza tá agredida, né? E a resposta dela é violenta, a resposta dela é isso, ó! Agora, deve não, tem gente com muito mais capacidade do que eu pra dizer porque e qual a necessidade mesmo da reserva legal. Em todo sentido. Até na fauna, porque tem gente aí hoje que nem conhece um bicho do mato. Não tem mato, como é que vai ter bicho? Então, esses animal são predador, eles têm a função deles também, não é? A gente vê esses noticiários, esses documentários da África. Lá começa do maior, um come o outro, ainda até o menor sobra também pra sobreviver. Um alimenta o outro e no fim das contas tá todo mundo vivo lá. Então, acredito que tenha necessidade. [...]Estragando o meio ambiente não tá só a agricultura ou só a exploração da terra. O que é poluente que é jogado no espaço ai por essas grandes indústrias, essas petroquímicas, não sei se agora, hoje eles já estão com sistema de filtragem aí. Mas ó o Estados Unidos! O Estados Unidos, que é o maior poluente do mundo, não quis nem entrar naquele acordo. Então, eu acho que ai tem que vê tudo que está ocasionando esse mal e todo mundo entrá nessa. Se for por causa das mata, talvez nem vai resolver o problema” (P 1).

[...] “muitas vezes a gente senta aqui fora, ou mesmo lá em cima na roça , a gente gosta de ficar olhando. Essa imensidão aí era tudo mato, né? E agora tudo limpo, você imagina, de fato aconteceu um impacto muito forte, né? Aí você vê essas geleiras derretendo, né? Você vê esse sol tão quente, você fala: - seria tão bom se a gente conseguisse repor tudo como era antes e deixar uma pequena área pra mim plantar, como os índios, e sobreviver disso. Mas aí viver como? [...] a gente tem uma consciência ambiental, a gente olha, a gente observa, vê que os tempos já não são iguais. Olha a chuva de hoje, isso aí é um exagero, tá certo que nós estamos no verão, e tal, mas tem um aquecimento até além, a gente sente, a gente sabe disso. [...] acho que não vem da falta de mato, eu acho que não. Esse aquecimento aí não vem só da agricultura, da falta do mato, é lógico, vem das indústrias, dos carros, né? O mundo todo jogando gazes aí, isso aí é que é o aquecimento. Agora, a terra coberta diminui o impacto, mas para resfriar,

21

digamos assim, são necessárias outras medidas. [...] que nem o nosso caso, a gente cuida com o terraço, com curvas de nível, com rotação de cultura, plantio direto, que é tudo pra não degradar, nós fizemos a mata ciliar, a gente protege os mananciais, e tal. Agora, onde está produzindo, principalmente nós aqui, que a gente mora na propriedade, tem essa consciência com agrotóxico, com defensivos, enfim de uma forma geral. [...] tem abuso sim, a gente vê que tem muito abuso, principalmente agora nessa alta mentirosa da soja que aconteceu aí o ano passado, tiveram locais, lugares que foram degradado assim, só mesmo pra angariar dinheiro e por amadores, não tinha nada a ver com agricultores de fato, aqueles que trabalham ali na terra mesmo, que estão trazendo estas divisas, esta riqueza para o país. A gente vê assim, mecânicos, médicos, professores, sei lá, gente que já tem a sua atividade, vem fazer uma exploração de qualquer jeito, e até na beira do rio e derrubam matinhos, e matos e matas até grande, aqui vizinhos mesmo, só para aquela exploração momentânea” (P 2).

No depoimento acima foi mencionado o cuidado do produtor adotando uma série de

medidas para evitar a degradação ambiental, seguido de uma denuncia de abusos por parte de

pessoas oportunistas, que aproveitam uma situação momentânea favorável para se obter

lucros na atividade agrícola. Observou-se, nesse depoimento, que a elevação demasiada dos

preços dos produtos agrícolas pode resultar em maiores impactos ao meio ambiente,

notadamente pela tentativa de se expandir a área cultivada, sem nenhum critério técnico

conservacionista. Por outro lado, os preços dos produtos agrícolas a um nível que não

remunera minimamente os produtores rurais, também podem acarretar a falta de

investimentos em obras agronômicas necessárias para uma exploração adequada dos recursos

naturais.

Embora tenha ficado claro o reconhecimento desses produtores que a atividade agrícola

contribuiu para a degradação ambiental, notou-se nos depoimentos dos entrevistados a visão

de que a dimensão dos problemas ambientais extrapola as influencias das atividades agrícolas.

Nessas reflexões, os entrevistados não acreditavam na reposição florestal como uma medida

isolada para a solução dos problemas mencionados, e sim uma medida paliativa para reduzir

os impactos ambientais. Dessa forma, nos depoimentos dos entrevistados foi possível verificar

o sentimento de injustiça por recair apenas aos agricultores os custos de reposição da reserva

florestal, visto que essa medida iria beneficiar a população de forma geral. Nas palavras dos

entrevistados:

[...] “não é por causa do ar lá, sei lá, eu pelo menos não entendo direito. Então, mas não é só eu que respiro o ar. E o outro da cidade lá, como é que fica? Só nóis que paga? Acho que também não tá certo, né? As indústrias não joga aquele monte de sujeira na água aí também?” (P 3)

[...] “não somos só nóis que polui o planeta, porque só nóis carregá o fardo sozinho?” (P 4).

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Esse sentimento de injustiça veio acompanhado da sensação de serem eles, os

agricultores, considerados a parte mais fraca e que se sujeitariam, sem muita pressão política,

às exigências das autoridades ambientais, o que não aconteceria, segundo eles, com as

indústrias por possuírem mais poder de negociação, conforme se constatou nesses

depoimentos:

[...] “a indústria que tem os seus apoios e aí eles fazem os seus estudos de impacto ambiental e acabam dando um jeito enfiando uma indústria que polui muito num espaço que ninguém vai lá, meio assim por baixo do pano, e acabam por deixar” (P 2).

[...] “eu acho que o governo aí, eu acho que ele pensa que os agricultores é a parte mais humilde, mais fácil dele pressionar e conseguir. Por exemplo, as industrias. Fala assim, ó: - eu (o governo) vou cobrar lá zero virgula não sei que lá de imposto sobre o faturamento (da indústria), eles (os industriais) vão arrepiar de cara” (P 4).

Na opinião dos entrevistados, não seriam os produtores rurais os principais beneficiados

com a reposição da reserva legal, mas toda a população. Dessa forma, verificou-se a

recorrência de citações que expressavam o sentimento de injustiça, pois tal medida iria

beneficiar a população urbana em detrimento dos produtores rurais. Os seguintes depoimentos

revelaram quem ganharia com a reposição da reserva legal:

“Naturalmente, é a população, é a humanidade. Não diz que a floresta é o pulmão do mundo? Na minha maneira de pensar, a única coisa que vão trazê de benefício é uma vida mais saudável pra população. Volta o equilíbrio outra vez da natureza, se bem que voltá como era antes de acontecê tudo isso aqui, acho que vai ser difícil. Mas pelo menos, dá uma dipirona5 pra dá uma melhorada na situação” (P 1).

“Se realmente (a lei) pegasse, eu acho que a natureza ganharia, né? E nós mesmo, todos ganhariam realmente” (P 2).

“Alguém tá ganhando em cima disso aí, né? Alguém tá ganhando com isso aí. Eu não sou, eu tô perdendo. Deve ter muita gente ganhando em cima disso aí. Só pode, né?” (P 3).

“Quem vai ganhar talvez, vamos supor, é o pessoal que tá longe, que nem num vai se empenhar em nada, por exemplo, um dono de uma empresa grande, que ele tá ajudando a poluir o ar, ele vai ser beneficiado, mas do bolso dele não vai sair nada, da renda dele vai diminuir nada” (P 4).

5 A Dipirona é um medicamento receitado para pacientes em estados de dor, febre e espasmos como

analgésico, antipirético e antiespasmódico. Reações adversas: a Dipirona produz intoxicação sobre a série de células brancas do sangue, produzindo agranulocitose que, na maioria das vezes, é precedida de febre, mal-estar, faringite e ulcerações na boca. A contagem dos leucócitos cai para níveis muito baixos. Se cuidados médicos não forem dispensados a estes pacientes, eles marcharão inexoravelmente para a morte. Disponível em: <http://www.lafepe.pe.gov.br/medicamentos/medicamentos/Analgesicos/dipirona.php> Acesso em 23 maio 2005).

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Persistiu nos seguintes depoimentos dos entrevistados a convicção absoluta de que a

imposição da reserva legal, comprometendo 20% da área total da propriedade, deixaria os

pequenos agricultores em dificuldade de garantir renda para a sobrevivência de suas famílias.

Os entrevistados foram enfáticos em afirmar que:

“Para o agricultor o impacto maior vai ser na parte econômica, com certeza. Bom, a menos que em outras propriedades por aí, quem tem propriedade grande aí, pessoas que têm aí 100, 150 arqueire de terra, onde na área tem 20, 30 arqueire que não é agricultável, põe uma mata aí e acabô, né? Ou as veiz, já tem. Pra ele não vai ser nada. Se ele tem 100 arqueire com 20 de pedra, ele vai deixá mata naquele terreno que já não tava sendo explorado. Para ele não tem impacto nenhum. O impacto maior é para propriedade pequena, o pequeno agricultor vai sofrê. Por exemplo, cinco arqueire, 20% não dá um arqueire? E daí? Um arqueire de terra na receita dele vai fazer falta, né?” (P 1).

[...] “é o problema financeiro, você já tem pouca terra, você vai cobrir terra com, com... você não vai poder explorar mais isso, e aí vai, vai dá um impacto muito grande aí, e até inexistência. Eu penso que, no nosso caso, se nós fôssemos fazer a reserva legal dessa propriedade nossa, a gente não teria mais condições de sobreviver do jeito que a gente sobrevive hoje aqui. Com essa quantia de terra, não” (P 2).

[...] “o agricultor só perde. Bom, só perde nesse sentido, acima dos 30 metro (de mata ciliar). Pra quem tem pouca terra, não dá mesmo. É cada vez pior. [...] Meu cunhado tem 5 alqueire lá. Se for plantá 30 metro, mais 70 (de mata ciliar), mais 20% (de reserva legal), não vai sobrar nada pra ele. Não vai sobrar quase nada. O homem tá dez anos na cama, não fala, só come e dorme. Não fala, não anda, igual a uma planta aí, né? E como é que minha irmã vai consegui cuidá desse homem desse jeito? Não tem como, né? Comprá remédio, tratá, como é que faz? E ela vai sobreviver de que?” (P 3).

[...] “o que mais o pessoal se preocupa é que a terra já é pouca e ainda vai tirar mais 20% para plantar mato, vai diminuir mais a renda ainda. Benefício pode ser que traga, que futuramente pode melhorar o clima ou qualquer coisa assim. Mas o aspecto que o pessoal mais está, assim, olhando assustado é com a relação à renda que vai diminuir, esse é o fator principal” (P 4).

Notou-se, na visão dos entrevistados, que o problema da reserva legal não é apenas

ambiental, mas socioeconômico. Em outras palavras, eles interpretaram que a população de

uma forma geral seria beneficiada com a medida, porém os pequenos produtores não

suportariam pagar essa conta com a mesma renda que garante um mínimo de inserção social e

de tranqüilidade para as suas famílias.

3.3.3 O Processo

Buscou-se neste subitem compreender o que pensam os entrevistados com relação ao

processo de reposição da reserva legal, ou seja, pretendeu-se captar principalmente as

propostas que eles teriam em mente para se adequarem a essa exigência. Nas palavras dos

produtores:

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“Uma das coisas que eu já venho pensando há tempo é vender aquilo antes que aconteça mesmo a obrigação de implantar essa reserva. Comprá uma área, nem que seja pior, mas maior, entendeu? Também acredito que vai dá na mesma. Hoje em dia não adianta tamanho e nem quantidade, e sim qualidade. Então, talvez a minha área lá com 36 hectare, mesmo se ela for ocupada com um pouco de reserva legal, as veiz ela vai produzir mais do que uma outra grande, que só vai dar dor de cabeça. A pessoa pensa um pouco, porque é coisa brava isso ai. Eu até tinha pensado em já transferí ela pros filhos. Como são três filhos, não sei qualé que seria o benefício ou prejuízo, mas daí eles teriam mais força, porque, sei lá, 36 hectare dividido pra três, eles vão ter mais força pra lutá, aí diminui mais ainda o tamanho, né? A quantidade de pessoas, então vão ter que sobreviver com aquela área. Mas não sei nem se isso é legal, se justifica” (P 1).

[...] “de imediato eu acho que nós não teríamos muita coisa para fazer, não. Talvez, o que se poderia pensar em fazer, como a gente já investigou por aí, não sei se isso faz parte da coisa, sei lá, a gente compraria noutro lugar, onde ainda tem mato, e averbaria junto à escritura, coisa assim. Mas, não sei se isso seria possível. Aqui continuaria igual” (P 2).

“É muito difícil, né? Porque, como diz o outro, a gente sozinho não resolve nada, né? Não adianta eu ficar falando isso, falando aquilo, porque não vai resolvê nada” (P 3).

Percebeu-se claramente que os entrevistados não estavam seguros e nem preparados

para decidir sobre a melhor opção visando cumprir a exigência do Código Florestal. Eles

ficaram indecisos e preocupados frente aos questionamentos sobre o que pretendem fazer para

repor a reserva legal. Todavia, eles manifestaram algumas expectativas que poderiam ser

consideradas, até certo modo, como facilitadoras, tais como:

[...] “eu não tô querendo dizer que o governo teria que beneficiar o proprietário pequeno, mas acho que ele teria que repensa isso, sei lá, se bem que a lei é para todos, né? Um município como o nosso aqui, ficaria meio sem reserva legal, porque tem muita área pequena” (P 1).

[...] “eu acho que a lei deveria ser personalizada, sei que há oposição a esse termo, teria que ver, fazer um levantamento propriedade por propriedade, agricultor por agricultor, e depois fazer a intervenção... Então, o que devia ter, de fato, é um estudo, uma lei que fizesse valer, mas uma coisa séria, uma coisa certa, de pessoas, não de alguém que fica longe e acha que é por aí e não tem nada a ver” (P 2).

[...] “e se a gente recebe, se é que por acaso a gente for indenizado, alguma coisa ali sobre os 70 metro lá, os 20%, e depois? Com esse pouquinho a gente faz o quê? A gente vai fica com um pedacinho aqui e compra em outro lugá, fica pra lá e pra cá? Não tem nem como. Acaba com a propriedade porque, por exemplo, no meu caso lá, é 13 (alqueires). Se sobrá lá uns 8 alqueires o quê que eu vou fazer com 8 alqueires? Morrer de fome, né? Com o que tenho já não tô vivendo, né? E depois, pra gente comprá, por exemplo, se recebe indenização disso aí, a gente comprá em outro lugar, vai, volta, vai, volta, não vira nada. Acaba em nada. No final de tudo é trabalho de bóia-fria (P 3).

[...] “porque eu acho, por exemplo, lá naquela terra lá, onde que foi inundado na Represa de Itaipu, os município recebe uma indenização lá por ter alagado aquelas terras, né? Então, se agora o agricultor vai plantar mato para beneficiar praticamente o planeta inteiro, então ele vai diminuir a renda dele para trazer um benefício para todo o mundo. Eu acho que em troca desse benefício tinha que gerar alguma renda para o agricultor.

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Não é justo, porque não é só o agricultor que vai ter que resolver essa situação, todo o mundo tinha que abraçar essa causa. Então, vamos supor, o empresário: - se eu tô ajudando a poluir com a minha empresa, quanto que eu vou ter que colaborar, zero virgula não sei lá de imposto? Então, faz um levantamento das propriedades que vai ter que plantar, e essas têm que ser indenizada com uma renda semestral ou anual, qualquer coisa assim [...] Tudo quanto é empresa por aí, por exemplo, tudo que é empresa grande, até os produtos que essas multinacionais fabrica, por exemplo, essas empresas que jogam por aí esse mundo de monóxido de carbono aí, que ajuda poluir, então o governo tinha que arrumar uma maneira de cobrar lá x% de imposto e repassar para quem vai plantar mata, ué!”(P 4).

Os quatros produtores entrevistados apresentaram expectativas diferentes. O primeiro,

embora acreditasse que é necessário um tratamento especial para os pequenos agricultores,

demonstrou-se descrente desta possibilidade. A segunda pessoa entrevistada propôs uma

revisão na lei, sugerindo que seja contemplado um estudo mais detalhado e específico para

cada estabelecimento rural, elaborado supostamente por profissionais com atribuições

adequadas e que estejam próximos à realidade rural por trabalharem rotineiramente no campo.

O terceiro entrevistado tinha dúvida se o poder público iria indenizar os proprietários rurais,

com medida compensatória pela reposição florestal em áreas particulares, porém, mesmo que

isso ocorresse, ele se sentiu ameaçado por se ver forçado a realizar profundas mudanças

estruturais nas suas atuais atividades, que poderiam resultar em fracassos. O quarto produtor

entrevistado manifestou a expectativa de que a sociedade venha a reconhecer a necessidade de

contribuir com recursos financeiros para auxiliar os produtores rurais a efetuarem a reposição

da reserva legal.

Todavia, notou-se que existiu um posicionamento bastante favorável à reposição da

mata ciliar, como foi dito pelos entrevistados:

“Uma das coisas que já tá sendo colocado em prática que pode resolver o problema é as mata ciliar. Essa sim. Não porque aconteceu da minha propriedade lá não ter beira de rio, mas se tivesse, eu acho que isso aí é indispensável. Até já tão demorando pra botá em prática isso” (P 1)

“A margem do rio, a mata ciliar, aquilo ali tá certo de deixá, aquilo tem que ter, né? Eu também acho que aquilo ali não é errado não” (P 3).

Observou-se que a aceitação à implantação da mata ciliar ficaria limitada aos 30 metros

de faixa que ocupariam a propriedade, pois o produtor 3 manifestou-se contrário às exigências

legais que obrigam a reposição em 100 metros de faixa de mata ciliar às margens da Represa

Capivara, o que afetaria sua propriedade.

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4. CONCLUSÕES

Os resultados apresentados sugerem que a implantação da reserva legal, de acordo com

as opções simuladas e os critérios adotados neste estudo, resultaria nas reduções médias da

TIR de: 6,05%, sem considerar o valor da terra, variando de 3,17% a 14,23%; e de 0,9%,

incluindo o valor da terra, com variação de 0,77% a 1,03%. A redução média do VPL (6%),

independente do fator terra, seria de aproximadamente R$ 40 mil na renda global dos sistemas

de produção de grãos estudados, oscilando de R$ 27 mil a R$ 52 mil.

Essa queda de renda, sem considerar o valor da terra, não seria suficiente para

inviabilizar economicamente as quatro propriedades rurais analisadas, ou seja, os sistemas de

produção analisados continuariam apresentando resultados da TIR superiores a 6% e VPL

positivos. Todavia, ocorreria a redução da receita dos agricultores utilizada para atender as

necessidades básicas familiares, tais como: plano de saúde; transporte; educação;

comunicação; vestuários; e de lazer.

Do ponto de vista dos agricultores entrevistados, a reserva legal significa

principalmente: uma ameaça em potencial para a permanência do pequeno agricultor familiar

na atividade agrícola; uma medida paliativa frente aos graves problemas ambientais de

dimensão planetária; uma obrigatoriedade injusta, pois os ônus recaem apenas para os

proprietários rurais, mas o benefício é todos. Eles reivindicam a revisão da legislação florestal

e a ajuda direta de outros setores da economia para a recomposição florestal e a preservação

do patrimônio natural.

O problema da reserva legal não é apenas ambiental, mas também socioeconômico. A

metodologia utilizada nesta pesquisa ajudou a entender que os preços recebidos pelos

agricultores na venda de produtos agrícolas, na maioria das pequenas propriedades rurais,

raramente são suficientes para cobrir todas as despesas necessárias à manutenção adequada do

sistema produtivo, ao atendimento das legislações ambientais e ainda remunerar dignamente o

trabalhador rural. Por outro lado, o aumento dos preços dos produtos agrícolas penaliza a

sociedade, em especial os consumidores de baixa renda, e podem resultar em agressões ainda

maiores ao meio ambiente, pois além do aumento irracional do uso de insumos agrícolas em

busca da maior produtividade possível, entram em cena os oportunistas que, para aproveitar o

momento, derrubam matas e plantam até as margens dos rios. Para equacionar o problema,

com esse nível de complexidade, não apenas cabe ao governo aprimorar os seus instrumentos

de apoio à agricultura familiar, mas também é fundamental a compreensão dos ambientalistas

e dos legisladores acerca do descompasso técnico entre o que se exige dos agricultores no

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Código Florestal e as reais possibilidades de atendimento. Caso contrário, vai ser difícil evitar

que o dispositivo legal que trata da função social da propriedade, uma conquista histórica na

Constituição Federal, se transforme em letra morta.

São essas as conclusões que se extrai deste trabalho, que teve como objetivo estimar os

possíveis impactos econômico-financeiros advindos da reposição da área de reserva legal e

compreender o ponto de vista dos respectivos proprietários de quatro estabelecimentos rurais

familiares, representantes de sistemas de produção de grãos, na região de Londrina, PR.

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