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ESTUDO E CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DEMOGRÁFICO DO
MUNICÍPIO DE SANTO ANTONIO DO SUDOESTE/PR: ELEMENTOS PARA
ANÁLISE E REFLEXÃO COM ALUNOS DO 2° ANO DO ENSINO MÉDIO DO
COLÉGIO ESTADUAL HUMBERTO DE CAMPOS.
Autor: Luiz Carlos Cogo
Orientadora: Najla Mehanna Mormul
RESUMO Este artigo tem como objetivo analisar as transformações demográficas e socioeconômicas da população do município de Santo Antonio do Sudoeste/PR, no período 2000-2010, a partir de um estudo realizado juntamente com os alunos do 2° Ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual Humberto de Campos, num trabalho que envolveu estudo, pesquisa e investigação na busca de dados e informações junto à população e aos órgãos públicos do município. O trabalho partiu da necessidade de desenvolver uma metodologia de estudo sobre a geografia da população, focalizando o lugar como categoria de análise, com intuito de facilitar a aprendizagem do aluno nos estudos sobre demografia, na tentativa de desvencilhar-se das abordagens dos livros didáticos que, em geral, apresentam um conjunto de dados e informações genéricas, de difícil compreensão e distantes da realidade do aluno. A realização do estudo se deu em diferentes momentos, com questionamentos, estudos de textos, pesquisas, análise de dados e informações, relatos, sistematização e conclusão dos alunos. Esse trabalho representou um importante momento para o estudo e o ensino da Geografia, pois foi uma experiência significativa, tanto para nós professores, como para os alunos que se envolveram na realização desse estudo, no sentido de buscar, socializar e construir conhecimentos. Palavras Chave: População. Geografia. Ensino de Geografia.
ABSTRACT This article has as objective to analyse the Demographic Transformations and Socioeconomic of the population of Santo Antonio do Sudoeste/PR, between 2000-2010, from a study realized together with the students of 2nd year of a secundary school: Humberto de Campos Estadual School, a work that involved study, search and research, looking-for about data and information with the population and government agencies of this municipality. This work arose from the need to develop a study methodology about the Geography of the population focusing the place as category analysis,with a intention of to facilitate the learning of students in the studies about Demographic in a bid a extricate of the didactic books approaches, that, in general, have a group of data and generics information,of difficult understanding and distant of their reality. The realization of this study, happened in different moments,with questions,studies
text, search,analyse of data and information, reports, systematizacion and conclusion of the students. This work represented a important moment for a review and Geography Teaching, because was a significant experience, both us teachers, as for our schoolchildren that get involved in the realization of this study, to seek,to socialize and to build knowledge. Key-words: Population. Geography. Geography Teaching.
1 INTRODUÇÂO
O presente trabalho foi resultado de um estudo realizado junto os alunos
do Colégio Estadual Humberto de Campos, do município de Santo Antonio do
Sudoeste/PR, em cumprimento a inserção ao Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE), desenvolvido pela Secretaria de Educação do Estado do
Paraná (SEED), tendo como temática as transformações demográficas e os
indicadores estatísticos.
As preocupações com a melhoria da qualidade de ensino nos
encorajaram a desenvolver esse trabalho, na perspectiva de facilitar a
aprendizagem e a compreensão dos alunos sobre o estudo da Geografia,
especialmente em relação à temática envolvendo o estudo da população local.
Inicialmente procuramos buscar uma fundamentação reunindo
elementos que pudessem justificar a importância do estudo da população para
os alunos do ensino médio, no sentido de formar uma postura crítica em
relação a essa temática.
O trabalho consistiu no envolvimento dos alunos num estudo sobre a
população do município de Santo Antonio do Sudoeste/PR, com o objetivo de
estudar as transformações demográficas que ocorreram no município, no
período 2000-2010 e analisar a evolução dos indicadores estatísticos
populacionais, nesse período.
Antes de reunir dados e informações sobre os indicadores demográficos
e socioeconômicos do município, realizamos um estudo sobre o histórico da
formação da população do município, envolvendo os alunos em estudos de
textos, pesquisas e investigação, procurando entender os fatos e
acontecimentos que determinaram as características históricas da população
local.
O estudo envolveu os alunos numa dinâmica de grupos, para a
realização de pesquisas, através de entrevistas com familiares e pioneiros do
município, pesquisas bibliográficas, na Internet e em órgãos públicos, na busca
de dados e informações que pudessem expressar o perfil demográfico e
socioeconômico da população do município.
A sistematização de dados e informações sobre a população do
município foi acompanhada de conclusões e relatos para a classe onde os
alunos puderam externar suas conclusões.
Após os estudos e pesquisas procedeu-se a sistematização dos dados e
das informações obtidas, com a elaboração de gráficos, e tabelas, na
perspectiva de entender as transformações que ocorreram em relação ao perfil
demográfico e aos indicadores socioeconômicos do município de Santo
Antonio do Sudoeste, no período 2000-2010.
A análise das informações e dados ocorreu através da exposição dos
resultados obtidos e das conclusões elaboradas pelos diferentes grupos de
alunos, em forma de seminário, com a realização de debates e
questionamentos.
Num primeiro momento, procuramos nos deter em uma fundamentação
teórico-conceitual, destacando a importância do estudo da população para o
ensino da geografia.
Num segundo momento, enfocamos a formação da população do
município de Santo Antonio do Sudoeste, procurando destacar os fatos e
acontecimentos que determinaram as principais características dessa
população, enfatizando a importância do estudo dessa temática partindo da
escala local.
Num terceiro momento, relatamos as metodologias e práticas utilizadas
no desenvolvimento desse estudo e os resultados obtidos com a realização das
atividades, pelos alunos.
2 A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA DO ESPAÇO
A geografia é uma ciência dinâmica que tem como objeto de estudo o
espaço geográfico. Como uma ciência humana, a geografia busca
compreender as relações sociais, políticas e econômicas que se estabelecem
na sociedade, nos processos de apropriação, produção e transformação do
espaço geográfico. Utilizando diferentes categorias de análise, como paisagem
lugar, território, região, sociedade, a geografia procura entender como os
diferentes fatores determinam a organização espacial, em suas diferentes
configurações.
Diferentemente da geografia tradicional1, que se ocupava com a
descrição dos elementos que compunham o espaço, de forma fragmentada, a
nova geografia2 compreende o espaço como um produto social, que resulta do
trabalho humano, em suas relações de conflito.
O estudo da Geografia tem contribuído de maneira significativa no
sentido de compreender as transformações que estão ocorrendo no espaço e
na sociedade, especialmente nas últimas décadas. As transformações
ocasionadas pela sociedade industrial moderna, com os avanços na ciência e
na tecnologia, incorporaram novos elementos e novos objetos no processo de
produção e distribuição de mercadorias e informações, estabelecendo novas
relações sociais e novas configurações espaciais.
A internacionalização da produção e do consumo, estabelecida pela
expansão do capitalismo, transpondo barreiras espaciais, passou a imprimir
novos significados aos lugares e aos objetos, criando novas necessidades, e
novos hábitos de consumo que passam a ser assimilados pelas diferentes
populações.
1 A geografia tradicional caracterizava-se por desenvolver um método de estudo baseado na
observação, descrição e classificação dos fatos ou fenômenos geográficos, sem fazer uma análise das relações políticas e sociais que ocorriam no espaço. Assim, o estudo de geografia estava centrado na memorização de conceitos e dados e na descrição das características físicas das formações espaciais, estabelecendo comparações entre elas.
2 A nova Geografia resulta de um conjunto de mudanças teórica metodológica, em que o
espaço geográfico é concebido como um conjunto de relações sociais que se realizam e se manifestam através de processos e funções. Milton Santos (1986, p. 217) procura explicar que "trata-se de encarar o espaço como ele é, uma estrutura social, como as outras estruturas sociais, dotada de autonomia no interior do todo e participando com as outras de um desenvolvimento independente, combinado e desigual".
Essas transformações têm levado o estudo da geografia a repensar seus
métodos de análise, suas abordagens, seus caminhos, no sentido de redefinir
seu papel no processo de ensino e aprendizagem. Conforme Zelinski (1969, p.
17 e 18)
Para ser analítica, a Geografia deve olhar o caráter inter-relacionado das coisas que variam através do tempo. Ela deve encarar o fluxo geralmente complicado de causa e efeito entre esses aspectos inter-relacionados que dotam cada local de particularidades únicas.
A utilização de novos métodos e recursos de investigação e análise,
para a compreensão dos fenômenos socioespaciais que estão ocorrendo, tem
contribuído significativamente para a formulação de novos conceitos e novas
interpretações sobre o estudo da geografia, tanto no sentido de conceber como
na forma de representar o espaço geográfico. Nessa perspectiva, Cavalcanti
(2005, p. 16), considera que:
Esse enriquecimento das diferentes interpretações na Geografia conduz à necessidade de reformular categorias e conceitos para compreender melhor o movimento da sociedade, para refletir sobre a problemática espacial, à luz das contribuições de uma teoria social crítica.
Porém, o saber geográfico decorre não apenas da formulação de
conceitos e de representações, atribuídos aos diferentes elementos e conjuntos
espaciais, mas da maneira de perceber, interpretar e conceber o espaço, com
suas dinâmicas e suas relações de desigualdades.
O conhecimento geográfico, seja pela formulação dos conceitos básicos
da geografia, seja através da pesquisa científica, permitirá ao aluno
compreender não apenas a amplitude dos fenômenos geográficos que
ocorrem, mas também as causas que dão origem a esses fenômenos. Para
Cavalcanti (2005, p. 11):
[...] o pensar geográfico contribui para a contextualização do próprio aluno como cidadão do mundo, ao contextualizar espacialmente os fenômenos, ao conhecer o mundo em que vive, desde a escala local à regional, nacional e mundial. O conhecimento geográfico é, pois, indispensável à formação de indivíduos participantes da vida social à medida que proporciona o entendimento do espaço geográfico e do papel desse espaço nas práticas sociais.
As sociedades modernas são fortemente influenciadas pela mídia, que
estabelece padrões de consumo tanto para satisfazer as necessidades do
cotidiano das pessoas como para a sua vida social. Criam-se novos modelos
esteticistas e hábitos consumistas, através de imagens e "princípios
inovadores", que se propagam aos mais diferentes lugares, substituindo modos
de vida arraigados nas populações locais, por uma cultura homogeneizada.
As imagens colossais das diferentes paisagens, dos lugares pitorescos,
das manifestações culturais distintas, difundidas pelos meios de comunicação
de massa, impressionam, despertam curiosidade, atraindo grande volume de
pessoas, principalmente turistas, para lugares que até então possuíam pouco
ou nenhum significado.
Assim, as pessoas são condicionadas a perceber os lugares unicamente
como espaços de lazer e de consumo. Nesse sentido, a geografia é concebida,
pela população em geral, como um conjunto de paisagens, compostas por
elementos que se diferenciam apenas em suas formas visíveis. Para Lacoste
(1985, p. 34),
A ideologia do turismo faz da geografia uma forma de consumo de massa: multidões cada vez mais numerosas são tomadas por uma verdadeira vertigem de paisagens, fontes de emoções estéticas, mais ou menos codificadas.
Essa percepção simplista de um espaço contemplativo, e muitas vezes
inspirada por um sentimento ambientalista-preservacionista, retoma a
concepção da geografia tradicional descritiva, privada de uma análise reflexiva
das contradições que se processam no espaço geográfico. Para Lacoste (1985,
p. 35),
[...] a impregnação da cultura social pelas imagens-mensagens geográficas difusas, impostas pelas mass média, é historicamente um fenômeno novo, que nos coloca em posição de passividade, de contemplação estética, e que repele ainda para mais longe a ideia de que alguns podem analisar o espaço segundo certos métodos a fim de estarem em condições de ai desdobrar novas estratégias para enganar o adversário, e vencê-lo.
A formação de uma nova cultura social, imposta pela sociedade
capitalista moderna, caracterizada por um ritmo de vida acelerado, estabelece
uma nova dinâmica social e familiar, por conta da ocupação do tempo
destinado ao trabalho, ao consumo e ao lazer. A partir daí, novos conceitos e
novos valores passam a ser assimilados, especialmente em relação à
composição familiar.
Nos países desenvolvidos, bem como nos países em desenvolvimento,
tem ocorrido uma constante retração nas taxas de fecundidade, nas últimas
décadas, provocando uma considerável redução nas taxas de crescimento
populacional.
A intensificação do comércio e do consumo, com a agilização e
barateamento dos transportes, resultante da globalização da produção,
também ocasionou intensa movimentação de pessoas que viajam a turismo,
trabalho, estudos, negócios, conferências, congressos, etc. Há também um
intenso deslocamento de migrantes em busca de melhores condições de vida,
tanto em escala local e regional como em nível internacional. Esses fenômenos
ocasionam novos arranjos espaciais, com a melhoria da infraestrutura,
principalmente nos grandes centros e nos locais de intensa movimentação de
turistas.
Nessa perspectiva, a Geografia exerce um papel fundamental, uma vez
que integra o estudo sobre demografia, procurando entender os fenômenos
populacionais que ocorrem, em suas diferentes dimensões e intencionalidades.
O estudo sobre o perfil demográfico e os indicadores estatísticos proporciona
oportunidade de analisar e compreender as contradições e desigualdades
sociais e espaciais que se estabelecem tanto a nível local como em escala
maior.
3 O ESTUDO DA POPULAÇÃO ENQUANTO CONTEÚDO DA GEOGRAFIA
ESCOLAR
O estudo da população tem um significado importante para a Geografia,
uma vez que os fenômenos populacionais estão associados às trajetórias
econômicas, políticas, sociais e culturais expressos nos diferentes momentos
históricos. Esses fatores históricos interferem no comportamento das diferentes
populações, em seu lugar, território, região, enfim, de seu espaço, nas
diferentes temporalidades.
O estudo sobre o perfil demográfico e os indicadores estatísticos
proporciona ao aluno a oportunidade de analisar e compreender as
contradições e desigualdades sociais e espaciais que se estabelecem tanto a
nível local como em escala maior. Para Santos (1986, p. 108), "as
características próprias de cada população tem influência sobre a evolução
espacial. Por isso a demografia surge como uma disciplina que tem uma
importante contribuição a dar".
Porém, o estudo da demografia, nos dias atuais, parece estar relegado a
conceitos e a números, com grande ênfase em dados e informações
estatísticas, que servem apenas para fazer comparações entre as diferentes
populações. Essas abordagens são notadamente perceptíveis nos livros
didáticos, que apresentam um conjunto de dados estatísticos, distribuídos em
tabelas e gráficos, estabelecendo comparações simplistas entre populações
que possuem realidades históricas, políticas, socioeconômicas e culturais muito
distintas, sem uma análise mais aprofundada desses fatores.
Nota-se também, que esses livros, quando abordam o estudo da
população, geralmente apresentam um capítulo a parte, do conjunto dos
estudos de geografia.
As próprias Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE), do estado do
Paraná, não têm uma proposta clara e definida sobre o estudo da geografia da
população, deixando uma lacuna em relação às abordagens que poderiam ou
deveriam ser feitas, a cerca dessa temática.
A nosso ver, o estudo da população, enquanto conteúdo de Geografia,
especialmente para o ensino médio, é de suma importância para compreender
a evolução socioeconômica, política e cultural das sociedades, especialmente
nesse momento histórico, onde a cultura de massa, propagada pela mídia de
consumo, tenta incutir nas pessoas novos valores, novos hábitos, novos modos
de se relacionar, de pensar, de satisfazer seus desejos, de traçar rumos, enfim,
de construir sua existência.
As preocupações com o crescimento da população mundial, as
migrações internacionais e as condições de vida da população têm sido
debatidas frequentemente em fóruns internacionais. As discussões vão desde
o combate à pobreza nos países subdesenvolvidos até o envelhecimento da
população nos países desenvolvidos, comprometendo o sistema previdenciário
desses países.
Essas discussões, envolvendo a polêmica sobre o crescimento da
população e suas consequências, vão desde o Século XVIII, com as teorias
malthusianas, que relacionavam o problema da fome e da miséria ao
crescimento desordenado da população, até as correntes de pensamento mais
recentes, do século XX, como as teorias neomalthusianas, considerando que o
crescimento acelerado da população agravaria os problemas relacionados à
pobreza, propondo o controle da população através de uma política de Estado,
e, por outro lado, as correntes reformistas, atribuindo o crescimento acelerado
da população, especialmente nos países subdesenvolvidos, às desigualdades
socioeconômicas, considerando que a redução do crescimento demográfico
dar-se-ia, com a melhoria das condições socioeconômicas da população.
O crescimento populacional, embora ocorra num ritmo diferente em cada
população, em geral é considerado um problema, mesmo quando esse
crescimento apresenta índices negativos, como é o caso de alguns países
europeus, como França e Itália. Para Barreto (1955, p. 4):
Os problemas de população apresentam aspectos próprios que concernem a cada continente, a cada país, dada a variedade de condições geográficas, ecológicas, demográficas e socioeconômicas peculiares, mas sobretudo tomam cada dia mais importância política com o espantoso crescimento do gênero humano.
Os índices de crescimento populacional são influenciados por fatores
que interferem decisivamente nas taxas de natalidade e de mortalidade de
cada país, refletindo as condições socioeconômicas dessa população.
O crescimento da população mundial começou a apresentar queda a
partir de meados do século XX, quando as taxas de natalidade passaram a
diminuir, especialmente nos países subdesenvolvidos. Segundo Almeida e
Regolin (2008, p. 213):
Nesses países, a redução das taxas de mortalidade deveu-se às melhorias médico-sanitário obtidas nos países desenvolvidos e ao uso de inseticidas que combatem agentes transmissores de doenças. A redução das taxas de natalidade ocorreu a partir do processo de urbanização vivenciado por inúmeras nações.
O Brasil apresentou elevado crescimento populacional a partir da
década de 1950, influenciado por vários fatores, como a melhoria das
condições sanitárias, a vacinação em massa, a urbanização ligada à
industrialização, que reduziram significativamente as taxas de mortalidade.
Esse crescimento acelerado ocorreu até a década de 1980, quando as taxas
de fecundidade começaram a apresentar consideráveis quedas. A partir daí, o
crescimento da população brasileira apresentou um ritmo mais lento,
ocasionando mudanças significativas na composição etária da população.
No contexto do crescimento da população brasileira, está a grande
redução das taxas de mortalidade, nas décadas de 80 e 90, onde foi
fundamental a presença do Estado, com a expansão das unidades de saúde
pública (postos de saúde), os programas de atendimento gratuito a população,
a ampliação do acesso aos serviços médico-hospitalares, a expansão das
campanhas de vacinação, os programas de atendimento e orientação às
crianças e às mães gestantes, e, ao mesmo tempo, a redução das taxas de
natalidade, com ampliação do acesso à escolarização, os programas de
orientação para planejamento familiar, a informação quanto ao uso de métodos
anticoncepcionais para evitar à gravidez, com a quebra de antigos tabus, a
distribuição gratuita de preservativos, a esterilização de mulheres, entre outros.
É importante observar que, mesmo com forte redução nas taxas de mortalidade
e natalidade, não houve melhorias significativas nas condições
socioeconômicas da população em geral, nesse período.
Essa expressiva redução das taxas de natalidade e de mortalidade da
população brasileira provocou mudanças significativas na composição
demográfica e nos indicadores estatísticos, especialmente na estrutura etária,
da população brasileira, ocasionando diminuição do número de crianças e
jovens e aumento no número de adultos e idosos, transformando
significativamente a pirâmide etária. Segundo Almeida e Regolin (2008, p. 234)
"em 1980, a idade média da população brasileira (idade que separa os 50%
mais jovens dos 50% mais velhos) era de 20,2 anos; em 2000, eram 24,2 anos.
Em 2050, serão exatos 40 anos".
Estudos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) mostram o acelerado envelhecimento da população. Conforme o IBGE
(2010, p.1), "O Brasil ganhou cabelos brancos em dez anos: sete milhões de
idosos a mais. Eles já são 11% da população. Enquanto isso, a proporção de
crianças e jovens vem diminuindo".
Esse aumento acelerado e progressivo do número de idosos,
estabelecendo um novo perfil na composição etária da população brasileira,
tem suscitado os governos a dedicar uma atenção especial para atender essa
faixa etária da população. A aprovação do Estatuto do Idoso, em 2003,
ampliando as conquistas dos direitos do cidadão com idade acima de 60 anos,
os Centros de Convivência do Idoso, as academias ao ar livre, presentes na
maioria dos municípios brasileiros, inclusive no município de Santo Antonio do
Sudoeste, são algumas das políticas públicas destinadas a atender essa
parcela da população.
O sucessivo crescimento da população brasileira não ocorre de maneira
uniforme em todo o território nacional. Há um crescimento desigual entre os
estados e as regiões brasileiras. Na última década (2000-2010), conforme
dados do IBGE, as regiões Norte e Centro-Oeste foram as que tiveram maior
crescimento populacional, enquanto as regiões Sul, Sudeste e Nordeste
apresentaram menor crescimento, como mostra a tabela abaixo.
Tabela 1 - Crescimento da população brasileira por região – 2000-2010
Regiões População em
2000
População em
2010
Crescimento (%)
2000-2010
Região Norte 12.900.704 15.865.678 22.98
Região Nordeste 47.741.711 53.078.137 11.18
Região Sudeste 72.412.411 80.353.724 10,97
Região Sul 25.107.616 27.384.815 9,07
Região Centro-Oeste 11.636.728 14.050.340 20,74
Brasil 169.799.170 190.732.694 12,33
Fonte: IBGE: Censos demográficos (2000/10)
Essas diferenças se estabelecem também, em relação aos indicadores
estatísticos da população, influenciados por diferentes fatores que incidem na
composição demográfica e nas condições socioeconômicas em cada região.
4 A FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO
No conjunto da dinâmica populacional brasileira insere-se o município de
Santo Antonio do Sudoeste, apresentando diferenças significativas em relação
ao crescimento da população. Conforme os censos do IBGE de 2000 e 2010, a
população do município passou de 17.870, em 2000, para 18.905 habitantes,
em 2010, tendo um crescimento de 5,79%, nesse período, bem inferior ao
crescimento absoluto da população brasileira (12,33%), e a do Estado do
Paraná (9,16%), nesse mesmo período.
Entender a trajetória de formação e mobilização da população do
município será fundamental, sendo que, além de possibilitar a compreensão da
formação socioespacial do lugar, constitui-se numa referência para o estudo da
demografia em escala maior.
A formação da população do município de Santo Antonio do Sudoeste
iniciou-se a partir da década de 1940, com a vinda dos primeiros moradores
que aqui se estabeleceram para ocupar e colonizar a região. As condições
naturais existentes na região (solos férteis, abundância de rios e nascentes de
água, mata rica em madeira de lei, clima subtropical), o baixo preço das terras,
a abertura de estradas, constituíam um atrativo para a vinda de pessoas de
outras regiões, que aqui se estabeleciam, formando vilas e povoados, em
várias localidades do município.
As origens da população que aqui se estabeleceu, insere-se no conjunto
da formação da população que ocupou a região Sudoeste do Estado do
Paraná, oriunda de diferentes estados e regiões. O imenso número de famílias
que migrou para esta região, principalmente durante as décadas de 1940, 1950
e 1960, era formado por grupos de diferentes descendências, e possuíam
culturas e modos de vida característico dos seus locais de origem.
Conforme estudos de Krüger (2004, p. 228), a partir de 1940 começou a
migração de descendentes de italianos, alemães e poloneses, do Rio Grande
do Sul e Santa Catarina, trazendo a sua cultura, usos e costumes peculiares, e
as ferramentas que iriam operar a transformação definitiva da terra.
Em Santo Antonio do Sudoeste, além do elevado número de
descendentes de alemães, italianos e poloneses que se estabeleceram, outros
grupos, como os descendentes de espanhóis, portugueses e afros
descendentes, também marcaram presença. Um dos elementos importantes na
formação da população do município e da região foi presença significativa do
caboclo3, principalmente nas primeiras décadas de ocupação. Segundo
Wachowicz (1987, P. 231), "neste período a população era formada
predominantemente por caboclos de origem paranaense".
3 O caboclo era considerado o elemento que possuía uma mestiçagem, de índio com o branco, de índio com o negro ou do negro com o branco, e geralmente dedicava-se à derrubada da mata para a formação de lavouras.
A forte presença dessas populações que migraram para a região
Sudoeste do Paraná vai ser determinante na composição da população de
cada município da região. Conforme dados sobre a frequência da população
nos municípios da região, por Estado de nascimento, entre 1900-1975,
demonstrado, em tabela por Wachawicz (1987, p. 233), a população do
município de Santo Antonio do Sudoeste era proveniente: do "Paraná 964
(17,8%): de Santa Catarina 816 (15,1%): do Rio Grande do Sul: 3541 (65%);
Indeterminado: 37 (0,7%); Outros: 50 (0,9%)", totalizando 5.408 habitantes,
provenientes de outras regiões, nesse período.
Esses migrantes que aqui se estabeleceram, durante as primeiras
décadas de ocupação, formavam, em sua maioria, famílias numerosas, em
função da necessidade de mão de obra que o trabalho braçal na agricultura
exigia, nessa época. Dessa forma, o aumento da população, no município,
ocorria de duas maneiras: pelo elevado número de nascimentos que ocorria
nas famílias e pela grande quantidade de migrantes que vinham de outras
regiões.
O cruzamento entre as pessoas das diferentes origens dos migrantes
que se estabeleceram no município de Santo Antonio do Sudoeste, formou
uma população com múltiplas características em seus traços físicos e culturais
que, mesmo apresentando diferenças em suas origens, suas crenças, suas
tradições, suas manifestações culturais, convergiram na consolidação de uma
convivência harmoniosa e solidária.
Nas primeiras décadas, após a emancipação do município (1951), a
maior parte da população concentrava-se na zona rural, dada a atividade
econômica basicamente agrícola. As condições de vida da população, nessa
época, eram precárias, com carência de infraestrutura, serviços de saúde,
educação e transporte, e uma forte dependência do comércio local, tanto para
aquisição de gêneros para suprir suas necessidades básicas, como para a
comercialização dos produtos excedentes.
O crescimento acelerado da população do município de Santo Antonio
do Sudoeste ocorreu até o final da década de 1970 e início da década de 1980.
A partir de então, ocorreu um intenso movimento de migração de pessoas,
especialmente em direção às novas frentes de ocupação, nas regiões Centro-
Oeste e Norte do país, ocasionando uma considerável desaceleração no ritmo
de crescimento da população do município.
Conhecer o perfil demográfico e os indicadores estatísticos da
população local será fundamental para que se possa dimensionar o grau de
desenvolvimento em que se encontra essa população. Ao mesmo tempo,
permitirá ao aluno situar-se nesse contexto, fazendo uma leitura crítica sobre
essas informações, encorajando-o a posicionar-se diante de determinadas
situações.
Para entender as mudanças que ocorrem no espaço geográfico, faz-se
necessário analisá-las nas diferentes escalas, considerando as diferentes
configurações que nele se estabelecem. Dessa forma, a pesquisa e o estudo
sobre o perfil demográfico e socioeconômico da população do município de
Santo Antonio do Sudoeste, constituem-se numa tarefa importante e essencial
para entendermos as transformações demográficas que ocorrem em escala
maior.
O estudo da população em escala local torna-se importante à medida
que possibilita ao aluno ir além da interpretação de dados numéricos e
estatísticos, permitindo-lhe entender os fatos e acontecimentos históricos,
culturais, políticos e econômicos que determinaram as características da
população que ocupa esse espaço e, ao mesmo tempo, perceber-se inserido
no contexto das transformações que estão ocorrendo.
O estudo da população a partir de uma prática investigativa permitirá
uma melhor compreensão dessa temática à medida que nos permite
compreender os fenômenos populacionais de uma forma mais clara e
significativa.
Nesse sentido, há necessidade de se utilizar metodologias e práticas
pedagógicas, especialmente no que tange ao estudo da população, que
possam motivar os alunos para o exercício da percepção, reflexão e análise
dos acontecimentos e fenômenos que estão ocorrendo a sua volta,
desvencilhando-se da lógica conteudísta, sem reflexão ou contextualização.
Apesar da renovação e dos significativos avanços que têm ocorrido no
ensino da geografia, tanto no que se refere aos métodos de análise como em
relação às práticas pedagógicas, percebe-se que ainda há muito que se
aprender e o que se fazer, particularmente em relação ao estudo da população,
no sentido de tornar-se uma ação crítica e reflexiva.
Nota-se que ainda persistem métodos e práticas pedagógicas
assentadas em abordagens de um saber sistematizado, constantes nos livros
didáticos, onde as dimensões políticas, sociais e culturais raramente são
abordadas e contextualizadas.
Essas reflexões nos encorajaram a desenvolver um estudo sobre a
população a partir de uma metodologia centrada na pesquisa e na investigação
sobre a população local, proporcionando aos alunos os elementos para formar
conceitos e estabelecer relações entre os conceitos que possuem e os
conceitos científicos sobre as transformações demográficas que estão
ocorrendo.
5 A IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO E OS RESULTADOS OBTIDOS
O trabalho que desenvolvemos teve como objetivo perceber e analisar
as mudanças que ocorreram no perfil demográfico e nos indicadores
estatísticos da população do município de Santo Antonio do Sudoeste/PR, no
período 2000-2010, através de um estudo envolvendo alunos do 2° ano, do
Ensino médio, do Colégio Estadual Humberto de Campos.
O desenvolvimento desse trabalho deu-se a partir da elaboração de um
Projeto de Intervenção Pedagógica, a ser implementado na escola, com o
objetivo de sanar problemas de aprendizagem existentes, em relação ao
estudo de Geografia, sendo um dos compromissos dos professores que
aderiram ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), desenvolvido
pela SEED do estado do Paraná.
A implementação do projeto ocorreu com o desenvolvimento de
atividades envolvendo questionamentos interativos, interpretação de charge e
de textos, pesquisas de campo e na internet, entrevistas, aplicação de
questionários, sistematização e análise dos dados, conclusões e relato dos
resultados obtidos.
Num primeiro momento, procuramos abordar a questão do crescimento
da população, a partir da interpretação de uma charge, com o intuito de fazer
um questionamento interativo com os alunos, sobre a problemática envolvendo
a questão do crescimento da população e suas implicações.
A partir desses questionamentos, passamos a discutir com os alunos as
características da população do município, concluindo com a elaboração de um
texto produzido, na expectativa de perceber que leitura estes tinham sobre a
população do município.
Num segundo momento, partimos para o estudo de um texto sobre a
formação da população do município de Santo Antonio do Sudoeste, com o
objetivo de entender os fatores que influenciaram e interferiram na organização
espacial e na caracterização da população do município.
Após esses estudos iniciais, partimos para a realização de pesquisas,
em que os alunos procuraram obter dados, através de entrevistas, sobre a
composição de suas famílias, nas diferentes gerações, as suas origens e a
vinda de pioneiros para o município.
Num terceiro momento, os alunos realizaram uma atividade em um
mapa do perímetro urbano do município, procurando destacar as áreas de
maior e menor concentração populacional. Ao mesmo tempo, foi solicitado aos
alunos que apontassem outras diferenças existentes (sociais, econômicas,
culturais, de moradia, de infraestrutura) entre os vários lugares da cidade.
Num momento posterior, propusemos aos alunos, em equipe, a
realização de uma pesquisa sobre as migrações que ocorreram na Região
Sudoeste do Paraná, com o objetivo de entender os principais fatores que
motivaram essas migrações.
Outra atividade realizada pelos alunos, em equipes, foi a busca de
dados sobre a migração de famílias e jovens nas comunidades rurais do
município. Com a ajuda de colegas de outras turmas que residem no interior do
município, os alunos pesquisaram o número de famílias e jovens que migraram
das comunidades rurais no período 2000-2010.
A partir daí, propomos aos alunos a realização de pesquisas em órgãos
públicos (Cartório de Registro Civil, Cartório Eleitoral, Prefeitura municipal,
Setor de Educação), com o objetivo de obter dados e informações sobre a
mobilização da população do município, no período 2000-2010. Para isso, os
alunos foram organizados em equipes, onde cada equipe deveria procurar
obter dados e informações junto a um órgão público.
Outra atividade desenvolvida pelos alunos foi a realização de pesquisas
na Internet, com o objetivo de obter dados sobre os indicadores populacionais
e socioeconômicos do município.
Com o objetivo de verificar as perspectivas dos alunos, em relação a sua
permanência ou saída do município, após a conclusão do curso, os alunos
realizaram uma pesquisa, através de um questionário, junto aos alunos
concluintes do ensino médio e profissionalizante, da escola.
Por fim, propomos aos alunos a elaboração de um texto, para fazer uma
avaliação dos estudos realizados e suas conclusões sobre o perfil da
população do município de Santo Antonio do Sudoeste.
Os resultados obtidos com os trabalhos realizados pelos alunos, além
dos dados e informações importantes, sobre aspectos demográficos
socioeconômicos e culturais da população do município de Santo Antonio do
Sudoeste, constituiu-se num significativo aprendizado, à medida que permitiu
aos alunos levantar questionamentos, fazer comparações e tirar conclusões.
No primeiro texto elaborado pelos alunos, foram vários os apontamentos
elencados, revelando a percepção que tinham em relação aos diferentes
aspectos da população do município de Santo Antonio do Sudoeste.
A seguir, destacamos algumas das considerações que os alunos
fizeram sobre a população do município:
Aluno A: "a população de Santo Antonio é pequena em relação a outras
cidades, mas, apesar disso, aqui continua sendo um lugar bom de se viver";
Aluno B: "tem mais idosos e adultos do que crianças";
Aluno C: "há grande circulação na cidade de Santo Antonio devido ser
uma cidade de fronteira com a Argentina e estar muito perto do Paraguai";
Aluno D: "eu acho que Santo Antonio não vai crescer, vai crescer mas
não muito, principalmente porque tem pouca oferta de emprego; é divisa de
fronteira e ruim de abrir certos comércios e também porque tem sempre jovens
saindo para estudar em outras cidades com mais opções de curso";
Aluno E: "as condições de vida da população não são boas e nem ruim.
Enquanto há postos de saúde que funcionam 24 horas, e campanhas de ajuda,
há também crianças abandonadas";
Aluno F: "por ser um município pequeno, as condições de trabalho são
poucas e de estudo menos ainda. Devido a isto, muitos jovens deixam suas
famílias para tentar crescer na vida procurando trabalho em cidades maiores e
uma profissão que garanta um bom cargo no futuro".
Como se pode perceber, os alunos apontaram vários aspectos sobre a
população do município, expressando sua visão em relação as tendências de
composição, crescimento, mobilização, e da situação socioeconômica.
Uma informação importante constatada pelos alunos, com a pesquisa
realizada junto a seus familiares, foi a identificação de sua descendência.
Com relação à sua origem, as conclusões foram as seguintes: 6 alunos
descendem de italianos e alemães; 5 descendem somente de italianos; 1 de
italianos, alemães, espanhóis e portugueses; 2 de italianos, poloneses e
alemães; 1 de alemães e caboclos; 2 de italianos, indígenas, alemães,
espanhóis e caboclos; 1 de árabes, alemães e caboclos; 2 de italianos,
alemães e afro descendentes; 1 de caboclos, portugueses e alemães; 1 de
italianos, caboclos e alemães; 1 de espanhóis, italianos e portugueses; e 1 de
alemães e suíços.
Percebe-se que entre os alunos predomina, segundo a pesquisa, a
descendência de italianos e alemães. Outro aspecto que se revelou foi da
descendência de várias origens, sendo que um dos alunos descende de cinco
origens diferentes.
Essa forte presença de descendentes de italianos e alemães entre os
alunos e, notadamente, entre a população do município de Santo Antonio do
Sudoeste, se revelou na entrevista, realizada pelos alunos, com alguns dos
pioneiros do município. Foram entrevistados oito pioneiros, sendo que, 1
chegou no ano de 1945; 2 chegaram em 1952; 1 em 1955; 2 em 1958; 1 em
1960; e 1 em 1961.
Sobre a origem de destino, os entrevistados revelaram que vieram: 2 de
Frederico Westphalen (RS); 1 de Tenente Portela (RS); 1 de Iraí (RS); 1 de
Lagoa Vermelha (RS); 1 de Soledade (RS); 1 de Jaborá (SC) e 1 de São José
do Cedro (SC).
Nota-se que a maioria dos entrevistados veio de municípios que foram
antigas colônias de alemães (Frederico Westphalen, Iraí e Tenente Portela) e
italianos (Soledade e Lagoa Vermelha), nos estados do Rio Grande do Sul e de
Santa Catarina.
Os pioneiros entrevistados declararam, também, que vinham de famílias
numerosas, composta entre 6 a 14 irmãos.
Um dado importante, constatado nas pesquisas realizadas pelos alunos,
junto aos seus familiares, foi a significativa diminuição do número de membros
das famílias, de diferentes gerações, que revelam uma forte queda na taxa de
fecundidade da população do município.
A pesquisa realizada pelos alunos junto aos seus familiares, sobre o
número de irmãos deles próprios, de seus pais, e de seus avôs e avós,
apresentou o seguinte resultado: média de irmãos, dos avôs e avós maternos e
paternos: 7,6; média de irmãos, pais e mães: 6,1 e média de irmãos, dos
alunos: 1,9. O gráfico a seguir ilustra esta situação.
Gráfico 1 - Número médio de membros das famílias dos alunos, em diferentes
gerações
Fonte: pesquisa realizada pelos alunos do 2° ano do Colégio Estadual Humberto de Campos,
município de Santo Antonio do Sudoeste/PR, novembro de 2011.
Como se pode observar, os dados acima revelam uma tendência de
queda brusca na taxa de fecundidade da população do município, seguindo
uma tendência já constatada entre a população brasileira, apontada pelos
últimos censos realizados pelo IBGE.
A Confecção de um mapa do perímetro urbano do município, realizada
pelos alunos, em equipe, tinha por objetivo perceber e analisar as diferenças
existentes entre a população que habita a cidade, envolvendo vários aspectos.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Média de Irmãos dos Avós
Média de Irmãos dos Pais
Média de Irmãos dos alunos
Colunas1
Colunas2
Colunas3
Figura 1 – Perímetro urbano de Santo Antonio do Sudoeste/PR
Fonte: Prefeitura Municipal de Santo Antonio do Sudoeste
A partir da confecção do mapa, as equipes de alunos, com base nos
conhecimentos que possuíam sobre a população da cidade, apontaram as
seguintes diferenças existentes:
Grupo A: "em nosso município existem muitas diferenças entre os
locais. No centro encontra-se a maior concentração do lucro da cidade, devido
a grande quantidade de lojas. As casas nas comunidades são simples e
pequenas, pois a quantidade do lucro é menor e as pessoas são de mais baixa
renda. Como o município é pequeno, são poucas as opções de lazer. No
entanto, cada lugar, com sua cultura e criatividade, cria jeitos de se divertir e
aproveitar os dias";
Grupo B: "o centro da cidade de Santo Antonio do Sudoeste possui
melhores condições de vida, pois possui rede de esgoto, água encanada,
estradas boas. Em alguns bairros, como a Vila Aurora, Novo Horizonte, Vila
Nova, há muitas pessoas que vivem em condições precárias. Também há
nesses bairros estradas ruins, não possui saneamento básico para todas as
famílias, há muitas pessoas desempregadas, também há moradias precárias".
Grupo C: "tem alguns bairros que tem uma infraestrutura melhor que os
outros bairros. Tem bairros que a moradia, o saneamento básico, o lazer e as
condições de vida, são péssimos. Há poucas opções de lazer, diversão. O
trabalho é escasso em alguns bairros. Tem famílias que têm boas condições de
vida e outras famílias lutam para sobreviver".
Com o objetivo de identificar a mobilização da população do município
de Santo Antonio do Sudoeste, durante o período 2000-2010, os alunos, em
equipes, realizaram uma pesquisa junto ao setor de Documentação Escolar,
onde encontram-se os arquivos das transferências dos alunos, tanto das
escolas da rede municipal como as da rede estadual. Foram pesquisadas 21
escolas, sendo 12 da rede municipal e 9 da rede estadual. Os resultados
obtidos foram os seguintes:
- Número de transferência das escolas municipais entre 2000 e 2010:
2.607.
- Número de transferências das escolas da rede estadual entre 2000 e
2010: 3.214.
- Total de transferências expedidas pelas escolas do município de Santo
Antonio do Sudoeste/PR, no período 2000-2010: 5.821.
Embora não sendo possível constatar se as transferências expedidas
destinavam-se a pessoas que iriam para outros municípios (os relatórios das
escolas não indicam se a transferências expedidas se destinam a escolas do
mesmo município ou destinam-se a outros municípios ou estados), percebe-se
que houve um número elevado de transferências expedidas pelas escolas, o
que indica que ocorreu uma grande mobilização da população do município,
nesse período.
A conclusão geral dos alunos, após análise e discussão dos dados
obtidos, foi a de que "muitas famílias estão saindo do município e estão indo
para outros lugares tentar uma vida melhor".
Com relação às pesquisas realizadas na Internet para encontrar dados e
informações sobre os indicadores populacionais e socioeconômicos do
município, foram os seguintes os resultados pesquisados:
Tabela 2 – Evolução dos indicadores populacionais do município de Santo Antonio do Sudoeste/PR – 2000-2010
INDICADOR \ ANO 2000 2010
População total 17.870 18.905
Total de homens 8.930 9.279
Total de mulheres 8.940 9.626
PEA 8.250 NE
Densidade demográfica 55,02 hab/km² 58,18 hab/km²
População rural 7.056 5.182
População Urbana 10.814 13.711
% de população urbana 65,20% 72,50%
Taxa de fecundidade 2,66 NE
Fonte:http://www.ipardes.gov.br/perfil_municipal/MontaPerfil.php?Municipio=85710&btO –
Acesso: 08/11/2011.
A conclusão do grupo sobre os dados obtidos em relação a mobilização
da população do Município foi a de que "o número de habitantes do município
cresceu pouco entre os anos de 2000 e 2010, e também houve um crescimento
da população urbana e diminuição da população rural". Isso se deve, segundo
os alunos do grupo, "a grande quantidade de pessoas que saem do município
para outros lugares, e a saída dos agricultores que vêm para a cidade"
A pesquisa realizada por uma das equipes de alunos, sobre o
crescimento da população do município de Santo Antonio do Sudoeste, no
período 2000-2010, apresentou os dados constantes na tabela abaixo:
Tabela 3 - População de Santo Antonio do Sudoeste, segundo grupos de idade
Faixa etária/anos
0 a 4 5 a 9 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39
40 a 44
2000 1931 1894 1944 1841 1340 1141 1304 1345 1122
2010 1396 1575 1993 1818 1481 1336 1223 1207 1260
Faixa
etária/anos 45 a 49
50 a 54
55 a 59 60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 a 79 80 a mais
TOTAL
2000 891 758 655 549 503 312 168 172 17. 870
2010 1254 1100 910 721 579 436 341 275 18.905
Fonte: IBGE. Censos demográficos 2000 e 2010
Os dados acima revelam a tendência do crescimento da população do
município na década 2000-2010, tanto em relação ao crescimento absoluto da
população como no que se refere às diferenças por faixa etária. Percebe-se
que houve diminuição da população de crianças e jovens entre 0 a 19 anos,
enquanto a população de adultos e idosos teve um aumento significativo,
nesse mesmo período, o que indica a tendência de envelhecimento da
população do município, acompanhando a tendência da população brasileira.
O grupo de alunos que pesquisou esses dados concluiu que: "está
diminuindo o número de pessoas da faixa entre 0 a 19 anos e aumentando o
número de adultos e idosos, mostrando que a população do município está
envelhecendo".
O grupo de alunos que pesquisou sobre os indicadores socioeconômicos
do município de Santo Antonio do Sudoeste/PR, obteve os seguintes dados:
Tabela 4 - Indicadores socioeconômicos do município de Santo Antonio
do Sudoeste/PR
INFORMAÇÃO FONTE ANO ESTATÍSTICA
Grau de urbanização IBGE 2010 72,53 %
Taxa de Crescimento Geométrico IBGE 2010 O,56 %
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M) PNUD/IPEA 2000 0,715
Índice Ipardes de Desempenho Municipal - IPDM IPARDES 2008 O,6314
PIB Per capita IBGE/IPARDES 2008 7,323 R$ 1,00
Índice de Idosos IBGE/IPARDES 2007 29,27 %
Razão de dependência IBGE/IPARDES 2007 56,06 %
Coeficiente de Mortalidade Infantil SESA 2008 14,18 Mil NV (P)
Fonte: http://www.ipardes.gov.br/perfil_municipal/MontaPerfil.php?Municipio=85710&btO – Acesso:.08/11/2011.
A conclusão geral do grupo que pesquisou dados sobre os indicadores
socioeconômicos do município de Santo Antonio do Sudoeste, foi a de que "a
população do município tem um baixo nível de vida em comparação as
populações de outros municípios ou de outros países mais desenvolvidos que
o Brasil".
Uma das pesquisas realizadas pelos alunos foi com relação as migrações
da população rural do município de Santo Antonio do Sudoeste, no período
2000-2010. A pesquisa tinha como objetivo verificar o êxodo rural nesse
período. Os alunos, divididos em equipes, envolvendo colegas de outras
turmas, organizaram uma entrevista com um morador antigo e líder da
comunidade, para fazer um levantamento do número de famílias que saíram da
comunidade no período 2000-2010, e também de jovens que deixaram as
comunidades, nesse mesmo período, sendo que sua família permaneceu
residindo na comunidade.
A pesquisa foi realizada em 18 comunidades rurais do município,
apresentando os resultados que constam na tabela abaixo:
Tabela 5 - Migrações da população rural de Santo Antonio do Sudoeste /PR – 2000-2010
Nº de famílias que deixaram as
comunidades rurais, tendo como destino a sede do município
Nº de famílias que deixaram as
comunidades rurais tendo como destino outros municípios ou
estados
Nº de jovens que deixaram as
comunidades rurais tendo como destino a sede do município
Nº de jovens que deixaram as
comunidades rurais tendo como destino outros municípios ou
estados
133 92 185 166
Fonte: pesquisa realizada pelos alunos do ensino médio do Colégio estadual Humberto de
Campos, no mês de novembro de 2011.
Após a sistematização e apresentação dos resultados e dos dados
obtidos com a pesquisa, e análise dos dados, os alunos concluíram que: "foi
grande o número de pessoas que deixaram as comunidades rurais, se for
levado em conta o número de pessoas das famílias e de jovens que saíram do
interior do município".
As possíveis causas da saída dessas pessoas do meio rural, apontadas
pelos alunos, foram:
Aluno A: "as pessoas vão procurar um lugar melhor para viver";
Aluno B: "os jovens querem encontrar um emprego para trabalhar e ter
o seu dinheirinho no final do mês";
Aluno C: "as pessoas passam muitas dificuldades no interior e então
vão ver se encontram uma vida melhor na cidade":
Aluno D: "os jovens acham que morar na roça não tem futuro, daí vão
para a cidade para procurar emprego e garantir o seu futuro".
O grupo de alunos que foi incumbido de realizar uma pesquisa
junto aos alunos concluintes do ensino médio e profissionalizante, da escola,
com o objetivo de verificar as perspectivas em relação a permanência ou saída
do município, após a conclusão do curso, aplicou um questionário que foi
respondido por 138 alunos, sendo 59 do período noturno e 79 do período
diurno.
A pesquisa apresentou os seguintes resultados: 76 alunos declararam
que pretendem continuar residindo no município após a conclusão do curso,
sendo 36 do período noturno e 40 do diurno, enquanto 62 declararam que
pretendem sair do município, sendo 23 do noturno e 39 do diurno.
Sobre os motivos de continuar residindo no município, a maioria dos
alunos mencionou razões familiares, como: "pretendo ficar próximo à família";
"pretendo ficar para cuidar de meus pais"; "Quero cuidar dos negócios de meu
pai". Outros mencionaram aspectos do lugar, para continuar residindo no
município, tais como: "aqui é um lugar bom de morar"; "gosto da cidade porque
aqui não tem violência"; "Aqui tenho emprego garantido"; "Este município não
apresenta risco de terremoto e tsunami".
Em relação aos alunos que desejam sair do município após a conclusão
do curso, os principais motivos alegados foram em relação ao estudo e ao
trabalho. "Aqui tem pouca oportunidade de estudar e trabalhar"; "No nosso
município tem pouca oportunidade de trabalho"; "Aqui não tem faculdade para
poder continuar estudando". "Pretendo arrumar um bom trabalho e melhorar de
vida".
Os resultados da pesquisa apontaram para uma forte tendência de
permanência dos jovens no município (66,08% pretendem continuar residindo
no município, enquanto 44,92% pretendem sair do município). No entanto, é
significativo o número de jovens que pretendem sair do município,
considerando-se que muitos dos jovens que continuarão residindo no município
e, certamente, irão fazer curso superior em faculdades e universidades da
região, indo e voltando no mesmo dia, e depois de formados sairão para
trabalhar em outras cidades.
Os textos elaborados pelos alunos, fazendo uma avaliação dos estudos
realizados, trouxeram importantes considerações sobre o aprendizado. A
seguir, destacamos trechos de alguns desses textos.
Aluno: N: "o estudo foi muito bom, porque aprendemos muitas coisas
sobre a população do nosso município, principalmente sobre a quantidade de
filhos que diminuiu muito nas nossas famílias de uns anos para cá".
Aluno F: "valeu a pena fazer esse estudo, principalmente porque
descobrimos muitas coisas sobre a população que vive em nosso município,
como as pessoas adultas e idosas, que aumentaram bastante entre 2000 e
2010, e elas estão vivendo mais tempo".
Aluno G: "o estudo sobre a população do nosso município foi muito
legal. Não imaginava que teria tantas pessoas que estão saindo do nosso
município, principalmente as do interior".
Aluno H: "eu aprendi muito com esse estudo da nossa população, pois,
como deu para ver pelos dados da pesquisa, as condições de vida no nosso
município ainda estão muito baixas".
Aluno I: "deu para perceber que a população do município cresce em
ritmo lento, porque a taxa de nascimento não é alta e também porque os jovens
saem para fora do município em busca de estudo e outros motivos".
As considerações finais dos alunos, sobre os estudos realizados,
demonstram que houve um importante aprendizado sobre diferentes aspectos
da população local, evidenciando que a forma de abordagem e a metodologia
utilizada para o estudo da população foram adequadas e significativas.
As pesquisas de campo realizadas pelos alunos não tiveram os
resultados esperados, uma vez que em alguns órgãos públicos visitados não
foi possível obter dados sobre a população local. A pessoa responsável pelo
Cartório de Registro Civil declarou que os dados sobre nascimento e óbitos no
município são enviados diretamente ao IBGE e não estão autorizados a
disponibilizá-los a terceiros. O responsável pelo Cartório Eleitoral declarou que
não dispõe de dados sobre transferências de títulos eleitorais, uma vez que o
número de cancelamentos e de recebimentos de títulos eleitorais é computado
automaticamente pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de não termos conseguidos realizar todas as atividades
planejadas para reunir os dados e informações que pretendíamos, sobre a
população do município, o trabalho que desenvolvemos nos mostrou que é
possível e, ao mesmo tempo, eficaz, o estudo sobre demografia, a partir da
população local.
O estudo que realizamos, com a participação individual e coletiva dos
alunos, nos proporcionou momentos valiosíssimos de debates, discussões,
análise e conclusões, sobre a realidade local. As constatações e comparações
feitas, a partir das pesquisas que foram realizadas, possibilitaram aos alunos
construir uma visão diferenciada, da que possuíam até então, a cerca da
população do município, como se pode constatar nos depoimentos e em suas
considerações finais sobre o estudo.
Em todos os momentos os alunos estiveram envolvidos e motivados,
tanto na realização dos estudos, pesquisas e investigação, como na
sistematização e análise de dados e informação obtidos. Nesse sentido,
evidenciou-se a importância fundamental do professor como articulador e
mediador no processo de construção do conhecimento, buscando a interação
com os alunos, auxiliando na realização das atividades e contribuindo com a
contextualização e aquisição de conceitos e significados.
Entendemos que o estudo da Geografia da população, a partir do
entendimento do mundo real, vivenciado e experimentado, estabelecendo uma
"ponte" entre o local e o global, facilitará a compreensão do aluno, no sentido
de perceber as singularidades, as contradições e os elementos que muitas
vezes não são perceptíveis, mesmo estando próximos. Temos claro que o
estudo do local, além de imprimir significado aos conteúdos e às temáticas
trabalhadas, desenvolve nos alunos atitudes de curiosidade, questionamento,
lucidez, envolvimento e comprometimento, que os faz tornarem-se sujeitos
diante do mundo que os envolve.
No entanto, não poderíamos deixar de observar que há uma deficiência,
por parte dos órgãos públicos, no sentido de disponibilizarem dados e
informações sobre os vários aspectos da população local, o que, certamente,
implica em dificuldades para planejar e executar ações e programas,
destinados aos diferentes segmentos sociais e as diferentes faixa etárias que
compõem a população do município.
Por fim, podemos considerar que esse trabalho significou uma
experiência inovadora, tanto para nossa prática pedagógica, como para o
estudo da geografia da população, enquanto conteúdo e disciplina curricular.
Esperamos que esta proposta metodológica possa contribuir com os colegas
professores, nos estudos sobre demografia, acrescentando outros elementos
que venham a enriquecer o estudo dessa temática.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Lúcia Marina de; REGOLIN, Tércio Barbosa. Geografia Geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 2008.
BARRETO, Castro. Povoamento e população. In: Boletim Paulista de Geografia, N. 21. Outubro de 1955.
CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, escola e construção do conhecimento. Campinas: Papirus, 2005.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE). Síntese dos indicadores sociais no Brasil. 2010. Disponível em:
http:/gazetaweb.globo.com/v2/noticias/texto-completo.php?c=212793 >> Acesso em 17/09/2010. KRÜGER, Nivaldo. Sudoeste do Paraná: história de trabalho, bravura e fé.
Curitiba: Gráfica e Editora Posigraf S.A., 2004. LACOSTE, Yves. Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas: Papirus, 1988.
SANTOS, Milton. POR UMA GEOGRAFIA NOVA: Da Crítica da Geografia e
uma Geografia Crítica. São Paulo: Hucitec, 1986.
WACHOWICZ, Rui Christovam. Paraná, Sudoeste: ocupação e colonização. Curitiba: Ed. Vicentina, 1987.
ZELINSKI, Wilbur. Introdução à geografia da população. Rio de Janeiro: Zahar, 1962.