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Estudo do Currículo de Engenharia Civil da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul
Amanda July Gonçalves Rodrigues, Bárbara Griebeler da Motta, Bianca
Morandi da Silva, Eduardo André Kipper, Giulia Tomazi Kny, Juliana Berteli
Nora, Lucas Almeida Gil, Théa Louise Sequeira Pessoa, Victor Plácido Santos
PET Civil – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Av. Osvaldo Aranha,
99 (Sala 609) – Porto Alegre – RS – Brasil
{amandagrodrig, barbara.griebeler, lukgil80, victorev13}@gmail.com, {biianca_morandi, juliana.nora, thea_louise26}@hotmail.com,
Abstract. This work presents the ECEC project – Civil Engineering’s
Curriculum Study, developed by UFRGS' PET (Tutorial Education Program).
The work analyses the courses' curricular structure, formally elaborating the
students' points of view about the curriculum. It also verifies what the course’s
deficit points are and suggests a few changes. The data that support this study
are separated in two important parts: a) Analysis of questionnaires answered
by undergraduate students; b) Analysis of questionnaires answered by the
sector companies, in order to find the engineer's profile needed in the market.
Resumo. O presente trabalho traz a apresentação do projeto ECEC –
Estudo do Currículo da Engenharia Civil, desenvolvido pelo PET (Programa
de Educação Tutorial) do Curso de Engenharia Civil da UFRGS. Este
trabalho faz uma análise da estrutura curricular do Curso, buscando elaborar
formalmente o ponto de vista dos alunos quanto ao currículo, verificar quais
são os pontos de deficiência do Curso e propor algumas mudanças. Quanto à
base de dados que sustentam esse estudo, se divide em duas principais frentes:
a) Análise de questionários aplicados em graduandos; b) Análise de
questionários respondidos por empresas do setor, visando identificar o perfil
de engenheiro que se deseja no mercado de trabalho.
1. Introdução
O Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul foi criado
em 1896 e reconhecido em 08 de dezembro de 1900. Naturalmente, o currículo sofreu
diversas adaptações e reestruturações com o decorrer dos anos, e conforme o vigente
Projeto Pedagógico do Curso, após a formação básica, que compreende conhecimentos
essenciais em matemática, física, química, geometria, informática e desenho técnico,
inicia-se a formação específica, na qual o graduando deve cumprir pelo menos 24
créditos em uma das seguintes áreas de concentração: Construção, Estruturas,
Geotécnica, Recursos Hídricos, Transporte e Produção. Atualmente o curso se encontra
entre os melhores do país, segundo avaliações oficiais.
Desde 1992, o Curso conta com o apoio do Programa de Educação Tutorial
(PET). Esse programa foi criado com o intuito de trazer melhorias para a graduação,
com atuação sistemática no tripé ensino, pesquisa e extensão. Visando atender aos
objetivos do programa, o Grupo idealizou e pôs em prática um projeto que busca fazer
um amplo estudo da organização curricular do Curso, denominado Estudo do Currículo
da Engenharia Civil (ECEC). Um dos seus principais objetivos é analisar o currículo e
seu reflexo no profissional que será formado após sua conclusão, logo, o projeto, em
suas diretrizes, visa à melhoria não só da estrutura curricular, mas também do perfil do
engenheiro civil que se forma a cada ano na Universidade.
Esse projeto surgiu da evidente necessidade de uma discussão sobre a
organização curricular do Curso levando em conta a opinião discente. A discussão entre
os alunos sempre foi estimulada e, a partir de 2014, documentada em um questionário
elaborado para monitorar a satisfação dos alunos com o currículo. Somando-se a isso,
observa-se a necessidade de implantação de um plano pedagógico consistente para o
Curso, fator que, inclusive, foi citado na avaliação do INEP, em 2005. Diante disso, é
crucial que haja um profundo entendimento do currículo, de forma a poder estabelecer
diretrizes que venham a dar origem a um projeto pedagógico para a formação de
profissionais de perfil bem definido, de acordo ao que se propõe o Curso. Outro fator
que contribuiu para a consolidação desse projeto foi a necessidade de adaptação
curricular pelas IES para se enquadrar adequadamente ao que estabelece a resolução
CONFEA nº 1.010/2005, que dita as atribuições profissionais do engenheiro, as
diferentes possibilidades de campo de atuação do mesmo, além de uma série de
condições gerais para que o egresso do Curso de Engenharia faça jus às atribuições
dentro de algum campo.
Com esse estudo, o Grupo PET espera contribuir para que haja uma maior
valorização da opinião dos estudantes quanto ao currículo da nossa Universidade,
ajudando também a introduzir esse assunto em discussões no meio discente, além de
colaborar qualitativamente na discussão dos temas tangentes às modificações
curriculares em questão.
2. Pesquisa de Dados
Os dados coletados e analisados pelo Grupo PET serviram de base para esse documento,
que busca apresentar os resultados obtidos durante um ano de pesquisa sobre o Estudo
do Currículo da Engenharia Civil da Universidade Federal de Rio Grande do Sul. Por
meio de material virtual, foram consultadas e relatadas informações de extrema
importância para a conclusão desse projeto, uma vez que este conta com a opinião tanto
de órgãos federais (MEC) quanto de discentes e empresas do setor da construção civil.
2.1. Materiais
Para a coleta de dados sobre a opinião discente e do setor produtivo se utilizaram
questionários contendo tanto perguntas dissertativas quanto objetivas. As mesmas foram
elaboradas pelo Grupo e pela Professora de Estatística e Doutora em Engenharia Liane
Werner, após uma ampla discussão e análise do que precisamente se gostaria de obter
como informação.
2.2. Métodos
A aplicação dos questionários aos graduandos de 2014 foi desenvolvida de forma
virtual. Por meio do e-mail do PET e demais meios eletrônicos, solicitou-se aos alunos
sorteados o preenchimento dos formulários, os quais se encontravam no servidor de
pesquisas online Survio®. A seleção dos participantes da pesquisa foi feita com base no
número do ordenamento de matrícula da universidade, sorteando de forma aleatória e
homogênea alunos do quinto ao décimo semestre, incluindo os alunos que haviam
obtido diploma no semestre anterior, totalizando quinhentos e setenta e oito (578)
pessoas a serem sorteadas, dentre os novecentos e trinta e cinco (935) matriculados no
curso. A amostra da pesquisa com os discentes contou com sessenta e seis (66)
formulários preenchidos, em um total de oitenta (80) estudantes selecionados.
Na etapa referente ao mercado de trabalho, entrou-se em contato com cento e
dezesseis (116) empresas cadastradas no Sindicato da Indústria da Construção Civil no
Estado do Rio Grande do Sul, o SINDUSCON-RS. Foram feitos contatos via e-mails e
telefonemas a fim de disponibilizar um endereço eletrônico para contato. A partir destes
dados, foram enviados os questionários com o intuito de averiguar o perfil desejado para
um Engenheiro Civil recém-formado, obtendo vinte e três (23) respostas.
3. Desenvolvimento e Discussão
3.1. Análise dos Questionários Aplicados aos Graduandos
Levando em consideração as colocações dos graduandos do Curso de Engenharia Civil
da UFRGS, em especial as daqueles alunos que atuam como estagiários, o Grupo
conseguiu obter dados satisfatórios para apresentar uma formalização do ponto de vista
dos discentes sobre a organização do curso e o preparo para o mercado de trabalho. Isso
se deveu à capacidade de extrair das respostas informações muito relevantes sobre
aspectos de interesse como as principais dificuldades enfrentadas pelos alunos ao longo
da graduação e também no momento de ingresso no mercado de trabalho, as
deficiências e lacunas no currículo que precisam ser supridas por meio de atividades
extracurriculares, bem como a percepção do atendimento ou não das expectativas da
empresa contratante em relação ao profissional que está saindo da Universidade.
Ao longo desse estudo, analisaram-se a fundo principalmente as preocupações e
interesses do aluno, trazendo para esse documento as possíveis falhas e acertos do
currículo, na visão dos futuros engenheiros civis. Os resultados também apontam outros
dados relevantes, como a área de atuação de preferência dos graduandos, a expectativa
de futuro profissional ao concluir o curso e também a avaliação desses alunos à UFRGS
como um todo.
Analisando o perfil dos alunos respondentes, 30,3% são do sexo feminino,
enquanto 69,7% são do sexo masculino, confirmando uma tendência presente nos cursos
de Engenharia Civil em geral. Quanto à idade, constatou-se que não havia nenhum aluno
com menos de 20 anos e apenas três com 30 anos ou mais, sendo a idade média 25 anos
e a mediana 23 anos.
Pode ser verificado também que 25,8% dos respondentes havia ingressado no
Curso anteriormente ao segundo semestre de 2008, sendo a entrada dos demais
distribuída de forma razoavelmente homogênea nos semestres seguintes até o segundo
semestre de 2012, havendo apenas uma redução significativa no primeiro semestre de
2011. Comparando esses dados com a informação do semestre em que o aluno estava
matriculado no momento da pesquisa apresentada no gráfico abaixo, percebe-se
claramente que muitos graduandos não conseguem se formar no tempo previsto de cinco
anos. O elevado grau de dificuldade em certas disciplinas e excesso de carga-horária,
que muitas vezes obriga os alunos que precisam trabalhar a não se matricularem em
todas as disciplinas obrigatórias da etapa, são prováveis fatores para esse atraso. Além
disso, a distribuição das respostas entre os semestres permite inferir que tais
dificuldades ocorrem no mínimo desde o quinto semestre (devido a limitação da
pesquisa), e não em um semestre específico.
Figura 1 - Sobre o semestre em que o respondente estava matriculado
Quando questionados sobre a prática do estágio durante a graduação, 43,9%
afirmaram que começaram a estagiar ainda antes do quinto semestre do curso,
porcentagem que foi diminuindo em direção ao semestre de conclusão. Apesar de 33,3%
dos respondentes ainda não terem atuado como estagiário, percebe-se que a maioria dos
alunos sente a necessidade de buscar uma experiência em uma empresa para suprir a
carência de conhecimentos relacionados à prática da profissão. O elevado número de
estágios nos semestres inicias pode ser devido às aulas extremamente teóricas e
desmotivadoras desse período, o que motiva os alunos a buscarem um contato direto
com a Engenharia Civil fora da universidade. Outro fator pode ser a elevada carga
horária de aula nos semestres finais, sendo, portanto mais fácil encaixar um estágio nos
horários livres nos semestres do começo do curso.
Figura 2 - Sobre o semestre de início do estágio
Dentre aqueles alunos que atuavam como estagiários, a principal dificuldade
enfrentada no início da atividade foi a adaptação à questões burocráticas e a adequação à
normas, conhecimentos esses que não são desenvolvidos nas disciplinas básicas do
curso. Vale ressaltar aqui que o processo para validar o contrato de estágio perante a
Universidade é demasiado lento e burocrático, tomando muito tempo do aluno e
prejudicando inclusive o aproveitamento de certas oportunidades. Percebe-se, a partir
dos relatos dos alunos, que uma das maiores dificuldades é justamente conciliar os
horários das aulas com os estágios, considerando que muitas vezes as disciplinas ficam
distribuídas em diferentes horários ao longo da semana e torna-se impossível reservar
um turno só para o estágio. O fato das aulas acontecerem em dois campi distantes e o
deslocamento que isso implica contribuem ainda mais para essa dificuldade. Nesses
aspectos, os alunos respondentes consideram que a Universidade não atua como uma
facilitadora da prática do estágio, e sim como uma barreira a mais na tentativa de obter
um contato direto com o mercado de trabalho.
Outra dificuldade amplamente citada foi a limitação por parte dos alunos no uso
de softwares, conhecimento que não é desenvolvido profundamente em nenhum
momento ao longo do curso, apesar de ser imprescindível para a prática da Engenharia.
Ainda alguns estagiários afirmaram que tiveram dificuldades em aplicar os
conhecimentos obtidos em sala de aula nas situações práticas propostas pelo estágio,
uma vez que os professores do curso em sua maioria focam apenas no aspecto teórico
do conhecimento. Por fim, houve ainda aqueles que citaram a falta de preparo em
alguma área específica da Engenharia Civil na qual os mesmos estavam estagiando, o
que pode ser justificado pelo fato do Curso abordar principalmente os métodos e
tecnologias tradicionais, não abrangendo todos os que são efetivamente utilizados pelo
mercado.
Uma questão que compunha o questionário permitia a avaliação por parte dos
alunos a respeito de diversos aspectos do Curso, obtendo dessa forma um panorama
geral da visão dos alunos. A partir da análise das respostas, constatou-se que mais da
metade dos alunos entrevistados pela pesquisa consideram a carga horária ruim ou
regular, já que a pouca disponibilidade de cadeiras no período noturno impossibilita o
aluno de estagiar desde cedo, prejudicando-o na obtenção do contato com o mercado de
trabalho e contribuindo para a indecisão do aluno a respeito de que área da engenharia
civil seguir ao deixar a universidade. Outro item que recebeu respostas negativas foi a
infraestrutura da Universidade, devido principalmente a precariedade de alguns prédios
e salas de aula, e fatores como a indisponibilidade de recursos tecnológicos didáticos
como computadores nas aulas e também de ambientes propícios para o estudo dentro da
Universidade. Os professores e laboratórios do Curso foram os itens com melhor
avaliação, mas grande parte dos alunos alertam que, apesar de professores com grande
conhecimento conceitual, o Curso carece de aulas voltadas à aplicação do conhecimento
teórico, à sustentabilidade e à problemas da sociedade.
Figura 3 - Sobre a avaliação dos alunos em relação ao Curso
A análise da questão acerca da preferência dos alunos por área de abrangência do
curso de Engenharia Civil permite confirmar que uma quantidade considerável de
alunos tem como preferência a Construção Civil, seguido por Transportes, Estrutura e
Base, Produção e, por fim, Hidráulica e Saneamento. Comparando esses dados com o
número de créditos obrigatórios do currículo por área, percebe-se que justamente as
áreas de maior preferência dos alunos são aquelas com o menor número de créditos
obrigatórios, enquanto que a área com o menor número de interessados, Hidráulica e
Saneamento, é a que possui maior carga horária obrigatória no curso. Ampliando a
análise às disciplinas eletivas, percebe-se que seguem o mesmo padrão das disciplinas
obrigatórias, deixando um espaço menor para a especialização em áreas como
Construção Civil e Transportes, as quais apresentam muita demanda por parte dos
alunos.
Figura 4 – Sobre o interesse dos alunos em cada área da Engenharia Civil,
sendo 1 pouco interesse e 5 muito interesse
A questão acerca da expectativa de futuro profissional do aluno logo após a
formatura também proporcionou dados interessantes na comparação do desejo dos
alunos versus o que é praticado pelo curso. Na opinião dos alunos, a universidade está
formando pessoas extremamente acadêmicas, portanto com pouco conhecimento de
empreendedorismo e experiência no canteiro de obras. É deficitária a capacidade de
desenvolver novas tecnologias de mercado, pois os graduandos desenvolvem-se
demasiado distantes deste. Também acreditam que a UFRGS prepara para pesquisa e
que, apesar de ser de suma importância para todas as áreas da engenharia civil, poucos
desejam se tornar pesquisadores, não devendo, portanto, ser esse o objetivo principal da
graduação.
Figura 5 – Sobre a expectativa de futuro profissional do aluno logo após a
formatura
Em relação às características mais importantes em um Engenheiro Civil, os
alunos compreendem que não basta ser graduado em uma das melhores universidades,
um profissional de engenharia civil deve saber gerenciar, liderar, comunicar-se,
trabalhar em equipe, enfim, ter aptidões além daquelas normalmente adquiridas na
universidade.
Figura 6 – Sobre as características mais importantes em um profissional de
Engenharia Civil
Quando questionados sobre a Universidade atender ou não as demandas do
mercado, 55,5% afirmaram que sim e 45,5% que não, não havendo um consenso único.
A maioria daqueles que votaram negativamente justificou que o que é ensinado pelos
professores nas aulas é muito focado na teoria e com cunho laboratorial, se distanciando
do que é realmente praticado no mercado de trabalho. A falta de conhecimento acerca
das ferramentas e softwares usados no exercício da profissão também foi muito
lembrada, bem como deficiência do curso em certas áreas como gerenciamento,
empreendedorismo, finanças, entre outros.
3.2. Análise dos Questionários Aplicados às Empresas
O mercado de trabalho na Engenharia Civil é sazonal e depende muito do fomento à
economia do país, porém é indiscutível seu crescimento no Brasil durante a última
década. De acordo com pesquisas recentes, a procura de profissionais formados no
campo da Engenharia Civil está em constante crescimento e a demanda está grande, mas
os profissionais escassos. Isso faz com que aumente a procura do Curso pelos que estão
iniciando sua escolha profissional e traz maior responsabilidade às Universidades que
formam novos engenheiros.
Com a preocupação da instituição acerca do profissional formado e a iniciativa
do Programa de Educação Tutorial com o estudo do currículo da Engenharia Civil, foi
elaborado o estudo do profissional formado esperado pelas principais empresas sul-rio-
grandenses. Nele se destacam as principais qualidades e atributos que estas empresas
procuram em um Engenheiro Civil com formação superior na Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
Os questionários foram elaborados em grupo, visando englobar a maior parte de
quesitos possíveis para amostrar a opinião das empresas frente aos seus estagiários.
Discutiu-se que as perguntas deveriam direcionar a respostas breves, claras e que
atingissem o objetivo da pesquisa. As vinte e três empresas que participaram da
pesquisa foram: Abaco Brasil, Bing Imóveis, Construtora Edisul LTDA, Construtora
Pelotense, Construtora Poletto LTDA, CORTEL Adm de cemit. e cremat. LTDA,
DELPRO LTDA, Edificare Engenharia LTDA, Engenhosul Obras LTDA, Krebs
Engenharia LTDA, Lamb Construções e Engenharia LTDA, Melnick Even, Novatec
Engenharia LTDA, OAP Construções LTDA, PhD Planejamento da Construção LTDA,
Preconcretos Engenharia S.A, R. Correa Engenharia LTDA, SERKI Fundações LTDA,
Squadra Engenharia, Suhma Engenharia Construções LTDA, Urbanizadora Concórdia
S.A., Valpi e Zagonel.
Dentre essas empresas, a maioria está no mercado há mais de 20 anos, conforme
pode ser visualizado na figura abaixo. Isso caracteriza empresas com bastante
experiência, que podem ser consideradas consolidadas e que já apresentam um perfil
bem definido de colaborador. Além disso, as mesmas já realizaram diversos processos
seletivos, escolhendo portanto com mais critério e eficiência seus funcionários, sendo
empresas relevantes para a Engenharia Civil e essa pesquisa. Outra característica
interessante é o fato de mais da metade das empresas entrevistadas apresentam uma
estrutura de organização familiar e mais de 60% serem de porte médio. Além disso,
mais de 65% das empresas afirmaram que contam com algum colaborador oriundo da
UFRGS em seu efetivo.
Figura 7 – Sobre o tempo da empresa no mercado
Figura 8 – Sobre o porte da empresa
Quando questionadas sobre a quantidade de estagiários que a empresa contrata
atualmente, a grande maioria afirmou que esse número encontra-se entre 1 e 5, que é o
habitual para empresas de médio porte, como é grande parte da amostra. A quantidade
de empresas que respondeu que não contrata nenhum estagiário é proporcional ao
número de empresas de pequeno porte, podendo ser esse um dos fatores de influência.
Figura 9 – Sobre a quantidade de estagiários que a empresa contrata
Já a respeito do motivo da contratação de estagiários, a maioria das empresas
afirmou que é a possibilidade de uma futura efetivação, seguido pela relação custo-
benefício do trabalho dos estagiários. Ainda foi significativa a parcela de empresas que
afirmou que o estagiário representa uma mão de obra qualificada. De um modo geral,
quando a empresa contrata esse tipo de colaborador, ela adquire um talento extra que
provavelmente desencadeará uma efetivação. Outro motivo é a oportunidade para
ensinar e também aprender, já que um funcionário ainda na vida acadêmica pode ter
muito a oferecer para a empresa, uma vez que está em contato direto com o
conhecimento produzido pela Universidade. Também é importante ressaltar que o
estagiário tem legislação mais branda e um custo-benefício extremamente vantajoso.
Figura 10 – Sobre o motivo de contratar estagiários
A partir da análise dos questionários aplicados às empresas, também foi possível
determinar aquelas características julgadas como as mais importantes em um
profissional de Engenharia Civil. Um fator indispensável citado pela maioria das
empresas é o conhecimento aplicável, ou seja, a capacidade de abstrair o que é
aprendido em sala de aula para a realidade prática da empresa. É necessário, além disso,
que o graduado tenha responsabilidade, comprometimento e liderança, igualmente
importante para que prazos sejam cumpridos e para que o funcionamento da empresa
ocorra de forma efetiva. A capacidade de trabalho em grupos interdisciplinares também
é uma característica muito valorizada, especialmente ultimamente. Os profissionais
precisam cada vez mais aprender a lidar com opiniões diferentes e conciliá-las para
desenvolver um bom trabalho em equipe.
Figura 11 – Sobre o que a empresa considera mais importante em um
Engenheiro Civil
Quando questionadas sobre as disciplinas básicas do curso de Engenharia Civil
atenderem ou não essas necessidades levantadas pelo mercado, as respostas das
empresas dividiram-se praticamente na metade entre sim e não. Entre aquelas que
acreditam que existem alguns déficits no ensino da graduação, os principais pontos
destacados foram a falta de conexão entre as disciplinas teóricas e a prática, como já foi
citado em análises anteriores, e a falta de disciplinas de gestão de obras e gestão de
incorporações.
Outro objetivo da aplicação desse questionário foi analisar quais são as áreas da
Engenharia Civil, na percepção das empresas do setor, com maior carência de
profissionais capacitados. A área mais apontada, com grande vantagem, foi a de
Gerenciamento, conhecimento que ganha cada vez mais importância no exercício da
profissão de Engenheiro no mundo atual, mas que, no entanto ainda não ganhou o
enfoque necessário nas disciplinas do curso de graduação. Produção e Construção Civil
também foram comentadas como carentes na formação do Engenheiro Civil; são,
porém, as áreas que o mercado de trabalho mais necessita. Mais uma vez cabe aqui
salientar que a grade curricular do curso de Engenharia Civil da UFRGS parece não
estar alinhado às atuais demandas do mercado de trabalho, por apresentar carência de
disciplinas em áreas de grande procura tanto por parte das empresas quanto por parte
dos alunos.
Figura 12 – Sobre as áreas de carência na formação em Engenharia Civil
Em relação à opinião das empresas quanto ao momento certo para o aluno iniciar
um estágio, a grande maioria afirmou ser o quinto semestre ou anteriormente, o que está
em conformidade com o praticado pelos alunos. Isso pode ser justificado pelo fato das
empresas contratarem um estagiário com a expectativa que ele permaneça por um
período razoável de tempo, de preferência os dois anos máximos permitidos. No
entanto, logo após a pesquisa ter sido realizada, a Comissão de Graduação do Curso
alterou a resolução que diz respeito ao requisito para o Estágio Não Obrigatório,
podendo esse ser realizado apenas quando todas as disciplinas obrigatórias do quarto
semestre tiverem sido cursadas e aprovadas. Com isso, os alunos não mais poderão
iniciar a prática do estágio no momento mais recomendado pelas empresas, tendo que
conciliar o estágio com os horários de aula já sobrecarregados dos semestres finais.
Figura 13 – Sobre o semestre que a empresa considera interessante que o
aluno inicie o estágio
Uma última consideração feita a partir do questionário aplicado às empresas foi
a respeito da percepção do mercado quanto à existência de diferenciais entre um
profissional formado pela UFRGS e aquele formado por outra universidade. Dentre
aquelas empresas que afirmaram que existe tal diferencial, a grande maioria citou que
esse se deve à qualidade do conhecimento técnico do aluno formado pela UFRGS.
Figura 14 – Características diferenciais em um Engenheiro Civil graduado pela
UFRGS
4. Considerações Finais
Inicialmente, as expectativas dos alunos que ingressam na instituição são grandes,
esperando ter um contato imediato com a carreira que os espera. Pensando nisso,
buscam a prática além da teoria, optando por atividades extracurriculares como
iniciação científica e estágio, que são vistas como as únicas fontes desse tipo de
experiência tão visada e escassa no curso.
Outra dificuldade é a organização de horários constatada não só pelos
graduandos, mas também pelas empresas que procuram um profissional ainda em
formação. É imprescindível uma revisão do fluxograma, uma vez que as aulas, por
acontecerem em diferentes campi e em horários muito apertados, dificultam a realização
de atividades extracurriculares.
A análise quanto ao mercado de trabalho complementa claramente os objetivos
desses estudos, visto que as maiores necessidades das empresas entrevistadas são
possivelmente causadas pelas carências no ensino da graduação, o que foi constatado
nas demais pesquisas realizadas. A falta de experiência de engenheiros recém-formados
e também de estagiários é fruto da falta de aplicação dos conceitos práticos dentro do
curso. Se o acadêmico não procurar meios extracurriculares para este exercício
dificilmente agregará experiência profissional ao seu currículo.
A multidisciplinaridade também é uma carência do currículo abordada pelos
alunos e pelas empresas. Conforme as respostas comentadas dos alunos que
responderam a pesquisa, é comprovada a falta de disciplinas que desfoquem da
engenharia civil, mas que ainda sim são de extrema importância para esta formação,
como conteúdos de gestão, liderança, comprometimento, legislação e ética,
sustentabilidade e questões de cunho social. Tais conhecimentos, tão almejadas pelo
mercado atual, não são abordadas em nenhuma disciplina ao longo do curso.
Com o Projeto de Estudo do Currículo da Engenharia Civil, o Grupo PET espera
contribuir para a promoção de algumas mudanças que se fazem necessárias no currículo
que vem sendo seguido atualmente. É de nossa responsabilidade, dentro da proposta de
promover melhorias na graduação, encontrar maneiras de trazer aos estudantes maiores
informações sobre o Curso e inseri-los no contexto da universidade e da Engenharia.
Acreditamos que, em conjunto com a Universidade, é possível encontrar
soluções duradouras e satisfatórias para essas questões, colaborando, através dessa
iniciativa, para que o perfil do aluno formado pela UFRGS seja aprimorado e valorizado
frente ao mercado de trabalho e perante a comunidade.
5. Agradecimentos:
Os autores agradecem a todos os egressos que responderam aos questionários, à
SESu/MEC pelo apoio financeiro. Agradecemos em especial ao Professor Doutor Ruy
Carlos Menezes, ex-tutor do grupo PET Engenharia Civil e grande mentor do projeto
ECEC; ao Professor Renato Machado Brito, cujo apoio foi crucial para a implantação do
questionário na Internet e da divulgação do mesmo aos integrantes da AAA (Associação
dos Antigos Alunos); ao Professor Doutor Roberto Domingo Rios, atual tutor do Grupo,
do qual obtivemos total apoio à realização do projeto ECEC, à professora Liane Werner,
doutora em Estatística, que nos ajudou a montar os questionários e analisar os
resultados. Também foram fundamentais para a realização desse projeto os ex-
integrantes: Carlos Henrique Parise, Eduardo André Kipper, Eduardo Henrique
Siqueira, Helena Strieder, Marina Muner Zilio, Otávio Augusto Passaia e William
Wagner Nunes.
6. Referências
[DA SILVA, T. T.] Documentos de Identidade, uma introdução às teorias do currículo.
Belo Horizonte: Ed. Autêntica. 2000.
[MARTINS, I. M.] Educação Tutorial no Ensino Presencial – Uma Análise sobre o
PET. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php>. Acesso em: 15 mai.
2007.
Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA). Resolução nº
1.010, de 22 de agosto de 2005. Dispõe sobre a regulamentação da atribuição de
títulos profissionais, atividades, competências e caracterização do âmbito de atuação
dos profissionais inseridos no Sistema Confea/Crea, para efeito de fiscalização do
exercício profissional. Brasília, DF.
Conselho Nacional de Educação (CNE). Resolução nº 11/2002, de 11 de março de 2002.
Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia.
Brasília, DF.
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
Instrumento de Avaliação de Cursos de Graduação. Brasília, DF. Jun. 2006.
Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais.
Avaliação das Condições de Ensino do Curso de Engenharia Civil da UFRGS: 2005.