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ESTUDO COMPARATIVO DE COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS 2D E 3D COM ENFASE NA VALORIZAÇÃO DE PROJETOS E PROJETISTAS MIKALDO JR, Jorge (1) e SCHEER, Sergio (2) Eng. Civil, Mestrando do PPGCC- UFPR - [email protected] D.Sc., Professor Adjunto da UFPR - [email protected] PPGCC e CESEC / UFPR - Centro Politécnico, CEP 81.531-980, Cx. Postal 19.011, Curitiba, PR. A compatibilização de projetos tem como objetivo pricipal tornar os projetos compatíveis detectando divergências de informações e interferências fisicas. Porém quando se pensa em compatibilizar projetos surgem algumas perguntas, entre elas destacam-se: Qual a melhor forma de compatibilizar projetos – 2D ou 3D? Os projetistas estão aptos para desenvolver o projeto em 3D? Existe no mercado infra-estrutura tecnológica para desenvolvimento de projetos 3D? Como será o fluxo de informações do desenvolvimento dos projetos? Os contratantes valorizarão a “compatibilização”? Quais as vantagens da compatibilização em relação ao custo, desperdício de materiais e retrabalho? Com o objetivo de encontrar respostas para estas perguntas foram desenvolvidos dois estudos de casos, sendo o primeiro uma edificação com aproximadamente 1500 m2 que contou com uma equipe de projetistas capacitados a desenvolver projetos em 2D e a compatibilização foi feita com sobreposição de plantas 2D e check-list. O segundo trata-se de uma edificação com aproxidamente 2000m2 que contou com uma equipe de projetistas capacitados a desenvolver projetos em 3D e a compatibilização foi feita com software de análise de interferências em 3D e check-list. Palavras-chave: compatibilização de projetos, 3D, equipe multidisciplinar 1. INTRODUÇÃO Atualmente conta-se com um cenário projetado para o mundo empresarial com um quadro turbulento e de aguerrida competição estendida a todo o planeta por conta da globalização (PORTER, 1993). As empresas do setor da construção civil não ficam fora deste cenário, e por isso 1/6

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ESTUDO COMPARATIVO DE COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS 2D E 3D COM ENFASE NA VALORIZAÇÃO DE PROJETOS E PROJETISTAS

MIKALDO JR, Jorge (1) e SCHEER, Sergio (2)

Eng. Civil, Mestrando do PPGCC- UFPR - [email protected] D.Sc., Professor Adjunto da UFPR - [email protected]

PPGCC e CESEC / UFPR - Centro Politécnico, CEP 81.531-980, Cx. Postal 19.011, Curitiba, PR.

A compatibilização de projetos tem como objetivo pricipal tornar os projetos compatíveis detectando divergências de informações e interferências fisicas. Porém quando se pensa em compatibilizar projetos surgem algumas perguntas, entre elas destacam-se: Qual a melhor forma de compatibilizar projetos – 2D ou 3D? Os projetistas estão aptos para desenvolver o projeto em 3D? Existe no mercado infra-estrutura tecnológica para desenvolvimento de projetos 3D? Como será o fluxo de informações do desenvolvimento dos projetos? Os contratantes valorizarão a “compatibilização”? Quais as vantagens da compatibilização em relação ao custo, desperdício de materiais e retrabalho? Com o objetivo de encontrar respostas para estas perguntas foram desenvolvidos dois estudos de casos, sendo o primeiro uma edificação com aproximadamente 1500 m2 que contou com uma equipe de projetistas capacitados a desenvolver projetos em 2D e a compatibilização foi feita com sobreposição de plantas 2D e check-list. O segundo trata-se de uma edificação com aproxidamente 2000m2 que contou com uma equipe de projetistas capacitados a desenvolver projetos em 3D e a compatibilização foi feita com software de análise de interferências em 3D e check-list.

Palavras-chave: compatibilização de projetos, 3D, equipe multidisciplinar

1. INTRODUÇÃOAtualmente conta-se com um cenário projetado para o mundo empresarial com um quadro turbulento e de aguerrida competição estendida a todo o planeta por conta da globalização (PORTER, 1993). As empresas do setor da construção civil não ficam fora deste cenário, e por isso

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buscam de todas as formas intervir no campo da economia e tecnologia para se tornar competitiva. De acordo com (PORTER, 1993) as empresas tornam-se competitivas intervindo nos elementos: custo, qualidade, flexibilidade, tempo e inovação. Neste sentido, a fase de projeto nos empreendimentos de Construção Civil certamente é de fundamental importância.

Este trabalho apresenta a compatibilização de projetos como etapa necessária na intervenção dos elementos citados e também disponibiliza dados para comparar os processos de compatibilização 2D e 3D.

Em busca de valorizar os projetos e os projetistas, este trabalho apresenta a opinião dos contratantes em relação às vantagens propiciadas pela compatibilização.

A literatura disponibiliza diversas vantagens em relação a valorização do projeto, com situação como a colocada na Figura 1, que de acordo com (MELHADO, 1994) depreende que um maior investimento na etapa de projeto pode ocasionar a redução do custo do empreendimento.

Figura 1 - Relação entre o tempo de desenvolvimento de um empreendimento e o custo mensal das atividades Fonte: MELHADO, 1994.

2. MÉTODO DE PESQUISAEste trabalho com as características que apresenta, é chamado de estudo de caso (YIN, 1994) e tem como apoio uma revisão bibliográfica.

Os dados foram coletados através de observação direta e medições, acompanhamento via uma ‘extranet’ de projetos chamada SIGEP e desenvolvida na própria UFPR (UFPR,2002)), pesquisa documental (projetos, comaptibilizações, etc), entrevistas e questionários.

A análise foi feita com o cruzamento dos dados x entrevista final com os participantes.

3. COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOSA compatibilidade é definida como atributo do projeto, cujos componentes dos sistemas, ocupam espaços que não conflitam entre si e, além disso, os dados compartilhados tenham consistência e confiabilidade até o final do processo de projeto e obra (GRAZIANO, 2003).

O Projeto é definido como descrição gráfica e escrita das propriedades de um serviço ou obra de Engenharia ou Arquitetura, definindo seus atributos técnicos, econômicos, legais e financeiros (NBR-5674 (1999); uma atividade criativa, intelectual, baseada em conhecimentos (...) mas também em experiência (...) um processo de otimização” (STEMMER, 1988); “... atividade que cria propostas que transformem alguma coisa existente em algo melhor” (MCGINTY, 1984).

Logo, compatibilização de projetos é a atividade que torna os projetos compatíveis proporcionando soluções integradas entre as diversas áreas que tornam um empreendimento real.

4. CASO 1 – COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS 2D

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A edificação empreendida tem uma área de aproximadamente 1200 m2, com uso destinado para fins bancários. A estrutura é de concreto armado, painéis de alvenaria de blocos externamente e internamente em dry-wall. Demais acabamentos seguem padrão de uso corrente.

Os projetos são analisados pelo grupo gestor (Gerente de Projeto, Coordenadores e Compatibilizador), a fim de atender às necessidades da contratante e da contratada. Nesta atividade há um intenso esforço colaborativo, facilitado pela extranet de projeto, que no entendimento de (NITITHAAMY e SKIBNIEWSKI, 2004), constitui-se em instrumento adequado a este fim.

A equipe é constituída por profissionais de diversas áreas e localizações distintas, compondo-se de: 1 Arquiteta, 9 Engenheiros civis, 1 Engenheiro Eletricista, 1 Engenheiro Mecânico, 2 Professores, 1 Acadêmico, 1 empresa contratante e 1 empresa contratada. Totalizando 15 profissionais e 2 empresas. Estes profissionais residem nas cidades de Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Ponta Grossa (PR) e São Paulo (SP) e, também, na Alemanha.

As tarefas foram definidas e adaptadas das diretrizes da Contratante (CEF, 2003), do livro Diretrizes Gerais para Compatibilização de Projetos (SINDUSCON, 1995) e da experiência prática dos coordenadores.

Neste empreendimento houve três etapas de compatibilização, sendo a primeira na fase de estudos preliminares e as demais nas fases de ante-projetos e projetos finais.

Os projetos foram elaborados em 2D e a compatibilização se deu por sobreposição de plantas em software de CAD, conforme a Figura 2, e uso de check-list.

Figura 2 - Exemplo de sobreposição do projeto estrutural com o projeto hidráulico

A compabilização entre os demais projetos ocorreu através de sobreposição de pares de projetos (estrutura x hidráulico, estrutura x elétrico, hidráulico x elétrico e outros). Em cada etapa de compatibilização foram emitidos relatórios de interferências e apresentados aos projetistas para a busca das melhores soluções que viabilizasse os menores custos sem interferir na qualidade do empreendimento.

O check-list foi utilizado para compatibilizar as informações que não eram apresentadas nos projetos, e também serviu de controle de qualidade.

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5. CASO 2 – COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS 3DA edificação empreendida tem uma área de aproximadamente 2000 m2, com uso destinado para fins de Centro Automotivo. A estrutura é de concreto armado, painéis de alvenaria de blocos externamente e internamente em dry-wall. Demais acabamentos seguem padrão de uso corrente.

Da mesma forma que no Caso 1, os projetos são analisados pelo grupo gestor (Gerente de Projeto, Coordenadores e Compatibilizador), a fim de atender às necessidades da contratante e da contratada, e para o fluxo das informações e reposição de arquivo a extranet de projetos mencionada anteriormente (SIGEP) foi a ferramenta adotada.

A equipe é constituída por profissionais de diversas áreas e localizações distintas, compondo-se de:1 Arquiteto, 7 Engenheiros civis, 1 Engenheiro Eletricista, 1 Professor, 1 Acadêmico e 2 representantes da empresa contratante. Totalizando 13 profissionais e 2 empresas. Estes profissionais residem nas cidades de Curitiba (PR), Florianópolis (SC) e São Paulo (SP).

As tarefas foram definidas e adaptadas das diretrizes da Contratante (CEF, 2003), do livro Diretrizes Gerais para Compatibilização de Projetos (SINDUSCON, 1995) e da experiência prática dos coordenadores.

Este empreendimento fez uso do fluxograma de processo de projeto proposto no artigo (SCHEER et al, 2005) e houve apenas 2 etapas de compatibilização, sendo a primeira na fase dos estudos preliminares e segunda na etapa dos projetos finais.

Os projetos foram elaborados em 3D e a compatibilização se deu por uso de Software de Análise de Interferência (SAI), conforme a Figura 3, e uso de check-list.

Figura 3 - Exemplo de compatibilização 3D dos projetos estrutural, hidráulico e elétrico

A compabilização entre os projetos ocorreu de forma simultânea, em função do software de análise de interferências (SAI) possibilitar a leitura dos modelos 3D elaborados nos softwares de dimensionamento, ou seja, a equipe multidisciplinar que atuou neste empreendimento domina os softwares disponíveis no mercado na área de estrutura, elétrica e hidráulica, e a mesma empresa que

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fornece estes softwares é responsável pelo desenvolvimento do SAI que possibilita a interação entre os modelos 3D dos diversos projetos auxiliando também no processo de análise de interferências.

6. RESULTADOSCom o objetivo de fornecer dados para viabilizar as respostas dos quesitos descritos no resumo deste artigo, a Tabela 1 apresenta dados obtidos nos estudos dos casos e entrevistas.

Elementos da Compatibilização Caso 1: Compatibilização 2D Caso 2: Compatibilização 3DCapacidade Técnica em desenvolvimento de projetos auxiliados por computador.

Os projetistas necessitam apenas de conhecimento em softwares de CAD.

Os projetistas necessitam de conhecimento em software de dimensionamento que possa gerar modelo 3D.

Infra-estrutura tecnológica (softwares)

A compatibilização pode se feita através de sobreposição de projetos em qualquer software de CAD.

No Brasil existe apenas 1 empresa que está desenvolvendo um software de interferência que possibilita a compatibilização entre os modelos 3D gerados pelos seus próprios softwares de dimensionamento.Conta-se também com a possibilidade de modelar através de um projeto 2D o modelo 3D no AutoCAD ou similares.

Fluxo de informações Este pode ser viabilizado com o uso de extranet de projetos, que de acordo com os participantes esta ferramenta esta garantindo seu espaço a cada dia.

Este pode ser viabilizado com o uso de extranet de projetos, que de acordo com os participantes esta ferramenta esta garantindo seu espaço a cada dia.

Valorização junto aos contratantes Neste estudo a compatibilização foi vista pelos contratantes como algo necessário.

Neste estudo a compatibilização através do SAI nos modelos 3D, facilitou o entendimento junto aos contratantes que a compatibilização é uma fase importante na elaboração dos projetos, porque a mesma pode reduzir custo e facilitar a logística de execução por propiciar a visualização de um modelo 3D integrado, entre outras vantagens citadas.

Vantagens em relação ao custo, desperdício de materiais e retrabalho.

No entendimento de todos os participantes a compatibilização apresenta diversas vantagens desde que exista a participação de um grupo gestor e a interação entre os diversos projetistas.

No entendimento de todos os participantes a compatibilização apresenta diversas vantagens desde que exista a participação de um grupo gestor e a interação entre os diversos projetistas. Ale do fato que a COMP. 3D, possibilita a integração de mais de 2 projetos ao mesmo tempo e detecta interferências de forma automática.

Tabela 1 - Alguns resultados obtidos no estudo comparativo de compatibilização 2D e 3D

Estes estudos de casos estão sendo utilizados para a elaboração de uma dissertação referente a compatibilização de projetos pelo primeiro autor que tem como orientador o segundo autor.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAISConforme observado na tabela 1 a compatibilização 3D apresenta mais vantagens que a compatibilização 2D, porém necessita de uma infra-estrutura tecnológica melhor e também de profissionais mais capacitados no conhecimento de softwares de dimensionamento e modelamento 3D, além do fato que existe apenas uma empresa no Brasil desenvolvendo softwares de análise de interferências físicas.

O processo de compatibilização de projetos tem como papel principal tornar os projetos compatíveis, portanto além de detectar as interferências físicas entre os projetos o grupo gestor tem que propiciar um ambiente colaborativo necessário à busca das melhores soluções para tornar os projetos compatíveis. Isto pode ser alcançado com o uso de extranet de projetos desde que haja atitudes pró-ativas entre todos os participantes.

Os esforços dedicados à elaboração de projetos integrados são inversamente proporcionais aos esforços dedicados a compatibilização, ou seja, se as empresas de softwares desenvolverem a possibilidade de elaborar projetos integrados em ambientes colaborativos via WEB será viável utilizarmos os conceitos de engenharia simultânea e ignorarmos os fluxogramas que segmentam as etapas dos projetos.

Contudo, a compatibilização pode propiciar uma maior valorização aos projetos e aos projetistas, uma vez que a mesma integra os projetos e detecta incompatibilidades que influenciam na redução do custo e qualidade do empreendimento.

8. REFERÊNCIASASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5674: Manutenção de edificações – Procedimentos. Rio de Janeiro, 1999.CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – CEF. Concorrência Nº 015/2003, Brasília, 2003.Universidade de São Paulo, São Paulo.GRAZIANO, Francisco Paulo. Compatibilização de Projetos. Instituto de Pesquisa Tecnológica –

IPT (Mestrado Profissionalizante), São Paulo, 2003.McGINTY, T. Projeto e processo de projeto. In: Snyder, James C.; Catanese, Anthony J., coord.

Introdução à arquitetura. Rio de Janeiro, Campus, 1984. p.160-194.MELHADO, S.B. Qualidade do projeto na construção de edifícios: aplicação ao caso das

empresas de incorporação e construção. São Paulo, 1994. Tese (Doutorado) – EPUSP.NITITHAMYONG, P. e SKIBNIEWSKI, M. J.; Web-based construction project management

systems: how to make them successful. Automation in Construction, Vol. 13, No 4, p. 491-506, jul 2004.

PORTER, M. A Vantagem Competitiva das Nações. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1993.SCHEER et al, Novas concepções do processo de projeto para gerenciamento em ambientes

colaborativos. In IV SIBRAGEC e I ELAGEC, Porto Alegre – RS, 2005.SINDUSCON, Diretrizes Gerais para compatibilização de projetos. Curitiba: SEBRAE, 1995STEMMER, C.E. A questão do projeto nos cursos de engenharia - texto no 1. In: Fórum

ABENGE. Revista Ensino de Engenharia, v.7, n. 1, 1988. São Paulo, ABENGE, 1988. p.3-6. UFSC.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ.Sistema de Gestão de Projetos–SIGEP, Curitiba, 2002.YIN, Robert K. Case study research: design and methods. Second edition. Applied Social

Research Methods Series, Volume 5, Sage Publications, 1994.

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