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“http://www.sinprfms.com.br/legislacao.php” Estudo sobre Escalas e Jornada de Trabalho - Parte 1 - Por Jefferson Aparecido da Silva 1 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL AOS SERVIDORES POLICIAIS Nas próximas linhas apresentaremos algumas ponderações sobre a jornada de serviço legal, a escala de serviço e a respectiva legislação aplicável aos Policiais Rodoviários Federais. Analisaremos alguns diplomas legais, jurisprudência e doutrina buscando a qualização, dentro da legalidade das escalas de serviço frente aos anseios da Administração e dos PRFs. Este é um estudo que, em muitos pontos, deve ser observado antes de se propor qualquer alteração legislativa referente ao tema. A jornada de trabalho é assunto constitucional, a Carta Magna, em seu art. 7º, incisos XIII e XIV, prescreve: XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva; XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; Sobre a aplicação destes incisos ao servidor público, vejamos o art. 39, § 3º da CF/88: Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas. (...) § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir. (grifei) O texto constitucional exclui a aplicação do inc. XIV do art. 7º da CF/88. É natural, pois no âmbito da Administração Pública não se fala em "acordo ou convenção coletiva", desta forma, o constituinte originário afastou a aplicação do referido inciso aos servidores púbicos de todas as esferas, conforme inteligência do caput do art. 39, CF/88.

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Page 1: Estudo da PRF

“http://www.sinprfms.com.br/legislacao.php”

Estudo sobre Escalas e Jornada de Trabalho - Parte 1 - Por Jefferson Aparecido da Silva 1 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL AOS SERVIDORES POLICIAIS

Nas próximas linhas apresentaremos algumas ponderações sobre a jornada de serviço legal, a escala de serviço e a respectiva legislação aplicável aos Policiais Rodoviários Federais. Analisaremos alguns diplomas legais, jurisprudência e doutrina buscando a qualização, dentro da legalidade das escalas de serviço frente aos anseios da Administração e dos PRFs.

Este é um estudo que, em muitos pontos, deve ser observado antes de se propor qualquer alteração legislativa referente ao tema.

A jornada de trabalho é assunto constitucional, a Carta Magna, em seu art. 7º, incisos XIII e XIV, prescreve: XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;

XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;

XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; Sobre a aplicação destes incisos ao servidor público, vejamos o art. 39, § 3º da CF/88:

Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas.

(...)

§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir. (grifei)

O texto constitucional exclui a aplicação do inc. XIV do art. 7º da CF/88.

É natural, pois no âmbito da Administração Pública não se fala em "acordo ou convenção coletiva", desta forma, o constituinte originário afastou a aplicação do referido inciso aos servidores púbicos de todas as esferas, conforme inteligência do caput do art. 39, CF/88.

Pois bem, quanto à legislação ordinária, iniciemos pela Lei 8.112/90, a jornada de trabalho semanal e diária está regulada no art. 19, vejamos:

Art. 19. Os servidores cumprirão jornada de trabalho fixada em razão das atribuições pertinentes aos respectivos cargos, respeitada a duração máxima do trabalho semanal de quarenta horas e observados os limites mínimo e máximo de seis horas e oito horas diárias, respectivamente.

§ 1º O ocupante de cargo em comissão ou função de confiança submete-se a regime de integral dedicação ao serviço, observado o disposto no art. 120, podendo ser convocado sempre que houver interesse da Administração.

§ 2º O disposto neste artigo não se aplica a duração de trabalho estabelecida em leis especiais.

Page 2: Estudo da PRF

A Lei Nº 9.654/98, que cria a carreira de Policial Rodoviário Federal (PRF), em seu artigo 9º, trata do assunto nos seguintes termos:

Art. 9º É de quarenta horas semanais a jornada de trabalho dos integrantes da carreira de que trata esta Lei.

Como sabemos, aplica-se a Lei 8112/90, que "dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das utarquias e das fundações públicas federais", aos PRFs, pois a Lei que criou esta carreira não afastou a sua aplicação, ou de qualquer legislação aos referidos servidores. Assim, como vemos, o diploma que cria a PRF vem confirmar o prescrito na lei 8.112/90 e com ela não há antinomia.

Neste momento, lembramos do Decreto 1.590/95, que veio no sentido de regulamentar o estatuto dos servidores no que se refere à jornada de trabalho, vejamos o texto, in verbis:

Dispõe sobre a jornada de trabalho dos servidores da Administração Pública Federal direta, das autarquias e das fundações públicas federais, e dá outras providências.

(...)

Art. 1º A jornada de trabalho dos servidores da Administração Pública Federal direta, das autarquias e das fundações públicas federais,

será de oito horas diárias e:

I - carga horária de quarenta horas semanais, exceto nos casos previstos em lei específica, para os ocupantes de cargos de rovimento efetivo;

II - regime de dedicação integral, quando se tratar de servidores ocupantes de cargos em comissão ou função de direção, chefia e assessoramento superiores, cargos de direção, função gratificada e gratificação de representação.

Parágrafo único. Sem prejuízo da jornada a que se encontram sujeitos, os servidores referidos no inciso II poderão, ainda, ser convocados sempre que presente interesse ou necessidade de serviço.

Art. 2º Para os serviços que exigirem atividades contínuas de 24 horas, é facultada a adoção do regime de turno ininterrupto de revezamento.

Art. 3º Quando os serviços exigirem atividades contínuas de regime de turnos ou escalas, em período igual ou superior a doze horas ininterruptas, em função de atendimento ao público ou trabalho no período noturno, é facultado ao dirigente máximo do órgão ou da entidade autorizar os servidores a cumprir jornada de trabalho de seis horas diárias e carga horária de trinta horas semanais, devendo-se, neste caso, dispensar o intervalo para refeições. (Redação dada pelo Decreto nº 4.836, de 9.9.2003)

§ 1º Entende-se por período noturno aquele que ultrapassar às vinte e uma horas. (Redação dada pelo Decreto nº 4.836, de 9.9.2003). (grifei).

Apenas para não restar dúvida sobre a aplicabilidade da norma, devemos observar que o art. 3º e §§, teve suas redações dadas pelo Decreto 4.836/2003, logo foi após a promulgação da Lei Nº 9.654/98.

Pois bem, em que pese exista opiniões discrepantes sobre a aplicabilidade do presente decreto aos PRFs, não vejo antinomia. Alega-se que a PRF é regida por lei especial, porém, a lei que cria a PRF apenas está em acordo com a lei 8.112/90, e também, como podemos perceber, está de acordo com o presente Decreto, pois em seu artigo primeiro, o texto confirma a regra: "a jornada de trabalho dos servidores da Administração Pública Federal direta (...), será de oito horas diárias e carga horária de quarenta horas semanais, exceto nos casos previstos em lei específica, para os ocupantes de cargos de provimento efetivo"; como vemos, não há antinomia entre o Decreto e nenhuma das leis citadas. Estas dizem qual é a regra, e este a confirma.

Page 3: Estudo da PRF

Pois bem, se fosse simplesmente para cumprir a regra, desnecessário seria um Decreto regulamentador para trazer as exceções. E qual é a finalidade da exceção outra senão confirmar a regra. Sobre a possibilidade de se aplicar jornadas superiores a oito horas, que como visto, tanto o art. 19 da Lei 8.112/90 quanto o art. 1º do Decreto 1.590/95 limitaram, temos o entendimento da jurisprudência que o art. 2º deste mesmo Decreto o permite, vejamos o texto da ementa1:

1 EMENTA: ADMINISTRATIVO. REVEZAMENTO. 12 HORAS TRABALHADAS POR 36 HORAS DE DESCANSO. COMPENSAÇÃO. O turno de revezamento ininterrupto caracteriza-se pelo revezamento de grupos de trabalho em diferentes turnos, com alternância de horários, e sem direito de permanência em um determinado turno. Permanecendo em cada turno os mesmos servidores, sem variação de horário, teremos não turnos ininterruptos de revezamento, e sim um sistema de turnos fixos,

mesmo que realizado de forma ininterrupta, para o qual se impõe apenas o limite máximo de 40 horas semanais (Lei nº 8.112). A redução obrigatória da jornada para seis horas diárias é impositiva para os turnos de revezamento, nos quais os empregados se revezam, alternando horários matutino, vespertinos ou noturnos (alternância de horários e folgas semanais), o que se justifica pelos inconvenientes que traz para os mesmos. Demais disso, a limitação imposta pelo art. 7º, XIV, da Constituição Federal, não se aplica aos servidores públicos civis, consoante o disposto no seu art. 39, § 2º (hoje § 3º). O art. 7º, XIII, faculta a compensação de horários, e, à mingua da possibilidade de acordo ou convenção coletiva de trabalho no regime estatutário (inteiramente regrado por lei), supre-o o art. 2º, do Decreto nº 1.590, que, não obstante faça referência a "turno ininterrupto de revezamento", deve ser interpretado em consonância com a norma constitucional que, explicitamente, afastou a restrição contida no inciso XIV, do art. 7º, da Carta Política, do regramento atinente aos servidores públicos em geral. (TRF4, AC 98.04.03983-4, Terceira Turma, Relatora Vivian Josete Pantaleão Caminha, DJ 31/01/2001)

EMENTA: ADMINISTRATIVO. REVEZAMENTO. 12 HORAS TRABALHADAS POR 36 HORAS DE DESCANSO. COMPENSAÇÃO. (omissis).

Demais disso, a limitação imposta pelo art. 7º, XIV, da Constituição Federal, não se aplica aos servidores públicos civis, consoante o disposto no seu art. 39, § 2º (hoje § 3º). O art. 7º, XIII, faculta a compensação de horários, e, à mingua da possibilidade de acordo ou convenção coletiva de trabalho no regime estatutário (inteiramente regrado por lei), supre-o o art. 2º, do Decreto nº 1.590, que, não obstante faça referência a "turno ininterrupto de revezamento", deve ser interpretado em consonância com a norma constitucional que, explicitamente, afastou a restrição contida no inciso XIV, do art. 7º, da Carta Política, do regramento atinente aos servidores públicos em geral. (TRF4, AC 98.04.03983-4, Terceira Turma, Relatora Vivian Josete Pantaleão Caminha, DJ 31/01/2001) (grifei)

Como vemos, conforme este julgado, não é ilegal a jornada diária superior à oito horas, pois está autorizada pelo Decreto 1.590/95. Daqui destacamos o primeiro corolário:

O Decreto 1.590/95 é sim aplicável à carreira de Policial Rodoviário Federal.

Qualquer outro entendimento traria sérios problemas à atual forma de emprego do efetivo, pois não há outra lei ou decreto que autoriza os servidores públicos a trabalharem em turnos superiores à oito horas, mesmo esta, com intervalo intrajornada, de no mínimo uma hora de duração, para refeições ou descanso. Como poderia aplicar as jornadas que hoje são aplicáveis aos policiais que trabalham na atividade fim da PRF? Seriam apenas os que estão em serviços administrativos em consonância com a lei.

Em que pese tal afirmação parecer ser óbvia, há os que sustentam que o Decreto 1.590/95 não é aplicável à carreira da PRF. Afirmação esta sem qualquer fundamentação jurídica, pois como demonstramos acima, não há conflito algum entre a Lei 8.112/90, a Lei 9.654/98 e o referido Decreto. Isto seria o mesmo que afirmar que a Lei 8.112/90 também não seria aplicável à carreira policial, o que evidentemente, é um completo absurdo.

Pois bem, vencida esta etapa, retomemos o julgado citado para que sejam feitos alguns esclarecimentos:

EMENTA: ADMINISTRATIVO. REVEZAMENTO. 12 HORAS TRABALHADAS POR 36 HORAS DE DESCANSO. COMPENSAÇÃO. O turno de revezamento ininterrupto caracteriza-se pelo revezamento de grupos de trabalho em diferentes turnos, com alternância de horários, e sem direito de permanência em um determinado turno. Permanecendo em cada turno os mesmos servidores, sem variação de horário, teremos não turnos ininterruptos de

Page 4: Estudo da PRF

revezamento, e sim um sistema de turnos fixos, mesmo que realizado de forma ininterrupta, para o qual se impõe apenas o limite máximo de 40 horas semanais (Lei nº 8.112). (omissis)

(TRF4, AC 98.04.03983-4, Terceira Turma, Relatora Vivian Josete Pantaleão Caminha, DJ 31/01/2001) (grifei)

É bastante didático este julgado do Egrégio TRF4. Ele nos esclarece o que é considerado "turno de revezamento ininterrupto". Se qualquer dúvida houvesse sobre o tema, restaria esclarecida. O turno de revezamento ininterrupto caracteriza-se pelo revezamento de grupos de trabalho em diferentes turnos, com alternância de horários, e sem direito de permanência em um determinado turno.

Não nos parece difícil encontrar um exemplo que se coadune ao texto acima: a escala que os PRFs cumprem de 12x24 e 12x48 (12 horas trabalhadas por 24 de descanso e de mais doze trabalhada por 48 de descanso), ou mesmo a escala de 12x24 e 12x72 (12 horas

trabalhadas por 24 de descanso e de mais doze trabalhada por 72 de descanso).

Nestas escalas o servidor não permanece em jornadas de turnos fixas, e sim jornadas que se alternam, sendo que o mesmo cumpre uma jornada durante o dia (das 08:00 às 20:00 horas), e já no dia seguinte, cumpre uma jornada durante à noite (das 20:00 às 08:00). Assim, seria aplicável, principalmente ao que se refere à escala de 12x24 e 12x48, o art. 3º do Decreto 1.590/95, pois não há dúvidas que esta jornada traz grandes prejuízos à saúde do servidor, afetando diretamente sua higidez física e mental, além de aumentar sobremaneira o tempo despendido em seus deslocamentos de ida e volta ao serviço (horas itinere). Sobre o tema, assim sumulou o Egrégio Tribunal Superior do Trabalho (TST):

Nº 90 HORAS "IN ITINERE". TEMPO DE SERVIÇO (incorporadas as Súmulas nºs 324 e 325 e as Orientações Jurisprudenciais nºs 50 e 236 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005

I - O tempo despendido pelo empregado, em condução fornecida pelo empregador, até o local de trabalho de difícil acesso, ou não servido por transporte público regular, e para o seu retorno é computável na jornada de trabalho. (ex-Súmula nº 90 - RA 80/1978, DJ 10.11.1978)

II - A incompatibilidade entre os horários de início e término da jornada do empregado e os do transporte público regular é circunstância que também gera o direito às horas "in itinere". (ex-OJ nº 50 da SBDI-1 - inserida em 01.02.1995)

III - A mera insuficiência de transporte público não enseja o pagamento de horas "in itinere". (ex-Súmula nº 324 - Res. 16/1993, DJ 21.12.1993)

IV - Se houver transporte público regular em parte do trajeto percorrido em condução da empresa, as horas "in itinere" remuneradas limitam-se ao trecho não alcançado pelo transporte público. (ex-Súmula nº 325 - Res. 17/1993, DJ 21.12.1993)

V - Considerando que as horas "in itinere" são computáveis na jornada de trabalho, o tempo que extrapola a jornada legal é considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional respectivo. (ex-OJ nº 236 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001)

E ainda:

Nº 320 HORAS "IN ITINERE". OBRIGATORIEDADE DE CÔMPUTO NA JORNADA DE TRABALHO (mantida) - Res. 21/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 O fato de o empregador cobrar, parcialmente ou não, importância pelo transporte fornecido, para local de difícil acesso ou não servido por transporte regular, não afasta o direito à percepção das horas "in intinere".

Como vemos, o fato do policial de deslocar com maior frequência somada ao fato de estar em escala de revezamento, trabalhando em turnos que se alternam, ora de dia, ora à noite, é o suficiente para a aplicação do art. 3º do referido decreto. Algumas vozes contrárias poderiam se insurgir e dizer o Decreto é aplicável apenas às jornadas diárias de seis horas. Pois bem, se é aplicável a estas que são de apenas seis horas, com muito mais razão

Page 5: Estudo da PRF

devem ser aplicadas aos servidores que cumprem jornadas ainda mais elastecidas, superando inclusive, às oito horas legais prescritas tanto no art. 19 da Lei 8.112/90 quanto no Decreto 1.590/95 em seu artigo primeiro.

Assim, vemos mais uma vez, que não há motivos para afastar a aplicação do decreto em estudo aos servidores policiais.

Enfatizamos: o art. 1º, ao enumerar os servidores, inclui os "servidores da Administração Pública direta", e se alguma exceção traz, seria o referido no inc. I do mesmo artigo: "exceto nos casos previstos em lei específica".

Não nos parece que tais exceções se aplicam à carreira policial. É certo que a Administração Pública atua nas mais diversas áreas, principalmente áreas da saúde.

Se o Decreto não contemplasse as exceções, seria inconstitucional. Vejamos, apenas para citar como exemplos, a carreira de médico , art. 14 do Decreto-Lei nº 1.445/762), de dentistas e de técnico em radiologistas (Lei nº 7.394/85, art. 14: jornada de 24 horas3), estas tem sua jornada de serviço semanal regrada em "leis específicas". Ora, observando-se a hierarquia das normas, é sabido que o Decreto não pode ir além dos limites da Lei para alterar ou acrescentar normas. Assim, é natural que o Decreto faça esta ressalva: "exceto nos casos previstos em lei específica, para os ocupantes de cargos de provimento efetivo" (art. 1º, inc. I, Dec. 1.590/95);

Como não há uma Lei, que seja específica sobre a jornada diária, aos PRFs devem ser observado, em estrito cumprimento ao princípio da Legalidade, o Decreto 1.590/95.

Estudo sobre Escalas e Jornada de Trabalho - Parte 2 - Por Jefferson Aparecido da Silva

JORNADA NOTURNA

A Lei 8.112/95, em seu art. 75, regula a jornada noturna do servidor público federal, vejamos o texto legal, in verbis:

Art. 75. O serviço noturno, prestado em horário compreendido entre 22 (vinte e duas) horas de um dia e 5 (cinco) horas do dia seguinte, terá o valor-hora acrescido de 25% (vinte e cinco por cento), computando-se cada hora como cinqüenta e dois minutos e trinta segundos.

Parágrafo único. Em se tratando de serviço extraordinário, o acréscimo de que trata este artigo incidirá sobre a remuneração prevista no art. 73. (grifei)

O Egrégio TST já firmou entendimento que a jornada noturna com hora reduzida é "norma de ordem pública", assim são indisponíveis pela vontade das partes, insuscetíveis de negociação, neste sentido decidiu a Suprema Corte do Trabalho:

ACORDO DE COMPENSAÇÃO. ESCALA 12X36. HORAS EXTRAS. NÃO CONCESSÃO DE INTERVALO INTRAJORNADA. HORA NOTURNA REDUZIDA. INOBSERVÂNCIA. 1. (omissis). 2. Empregado que labora em regime de compensação de jornada, em escala de 12x36 horas, ainda que encetada mediante acordo tácito, faz jus ao intervalo intrajornada e à hora noturna reduzida, por tratar-se de direitos assegurados em normas de ordem pública (arts. 71, § 4º, e 73, § 1º, da CLT) e, portanto, indisponíveis pela vontade das partes, uma vez que tutelares da higiene, saúde e segurança do trabalho. 3. Embargos conhecidos e providos.- (E-ED-RR-1343.1999-002-17-00.5, SBDI-1, Relator Ministro João Oreste Dalazen, DJ 06.10.2006). (grifei)

No mesmo sentido:

EMBARGOS. HORA NOTURNA DE SESSENTA MINUTOS. CLÁUSULA COLETIVA. A norma insculpida no artigo 73, § 1º, da Consolidação das Leis do Trabalho reveste-se de ordem pública, de notório caráter tutelar, visando ao resguardo

Page 6: Estudo da PRF

da saúde do trabalhador, ante as condições adversas resultantes do trabalho noturno. Mesmo em se tratando de trabalho com jornada diferenciada, persistem as condições adversas, o que torna inafastável a observância da jornada reduzida. Não há, assim, como caracterizar, no caso concreto, a alegada ofensa ao artigo 7º, XXVI, da Constituição da República, por se tratar, na hipótese, de aplicação de norma especial, de caráter público e, portanto, cogente. Por fim, a Orientação Jurisprudencial n.º 127 da SBDI-I do TST já assentou que, mesmo após o advento da Constituição Federal de 1988, a redução da hora noturna subsiste.

Embargos conhecidos e providos.- (TST-E-RR-9339/2001-008-09-00, Rel. Min.

LELIO BENTES CORRÊA, pub. DJU de 07/11/2008);

Também decidiu a Colenda corte:

"RECURSO DE EMBARGOS. RECURSO DE REVISTA. ADICIONAL DE TURNO. PARCELA INSTITUÍDA POR CONVENÇÃO COLETIVA EM

SUBSTITUIÇÃO AO ADICIONAL NOTURNO E HORA NOTURNA REDUZIDA.

ILEGALIDADE DA CLÁUSULA. (...) Entretanto, o que não se tem admitido é norma coletiva que vem restringir direitos garantidos por normas de ordem pública, que dizem respeito à segurança e à saúde dos empregados. É precisamente o que ocorre no caso concreto, em que as partes ajustaram, em convenção coletiva de trabalho (...) com a finalidade de abranger o adicional noturno e a hora noturna reduzida. (...) Nesse contexto, correto o acórdão recorrido ao consignar a ilegalidade da cláusula coletiva que veio reduzir direitos já assegurados por lei.

Ressalte-se que o artigo 7º, XXVI, da Constituição Federal, não foi violado em sua literalidade, na medida em que assegura o reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho, mas não permite que cláusulas coletivas venham suprimir ou reduzir direitos mínimos assegurados na legislação trabalhista, ainda mais no caso do adicional noturno e da hora noturna reduzida, que, à toda evidência, têm por escopo onerar o trabalho prestado nesse período não apenas como forma de compensar o desgaste físico, psicológico e social a que está submetido o trabalhador que labora em período noturno, mas também evitar acidentes de trabalho mais propensos durante o tempo em que biologicamente seria destinado ao

descanso do trabalhador. Recurso de embargos conhecido e não provido." (E-EDRR- 454.994/1998, SBDI-I, Relatora Ministra Dora Maria da Costa, DJU de

30/11/2007);

-HORA NOTURNA REDUZIDA TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO. DIFERENÇAS DE HORAS EXTRAS. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 896 DA CLT. NÃO-CONFIGURAÇÃO. A jurisprudência desta Corte

Superior é uníssona no sentido de que a adoção do regime de turnos ininterruptos de revezamento não afasta o direito à redução da hora noturna, porque, no período noturno, labora-se em condições mais adversas, já que necessariamente se despende maior esforço do que durante o dia. Não há incompatibilidade, portanto, entre a aplicação da hora noturna reduzida e o trabalho desenvolvido em turnos ininterruptos de revezamento. Inviável, nesse contexto, reconhecer que o posicionamento do Juízo regional acerca da hora noturna reduzida, mantido pela Turma deste Tribunal Superior, implique violação do artigo 7º, XIV, da Constituição Federal. Incólume, pois, o artigo 896 da CLT. Embargos não conhecidos- (E-EDRR- 715.838/2000, Rel. Min. Dora Maria da Costa, DJ 23/11/2007).

A jurisprudência é uníssona. Não há o que discutir sobre a validade da hora noturna reduzida prevista na Lei 8.112/90. No entanto, conforme o texto da Lei é perfeitamente aplicável ao trabalhador que labora no período noturno e não está em regimes submetidos ao Decreto 1.590/95. Pois este é objetivo quando prescreve: "Art. 3º (...) § 1º Entende-se por período noturno aquele que ultrapassar às vinte e uma horas. (Redação dada pelo Decreto nº 4.836, de 9.9.2003)" (grifei).

A redação do Decreto não deixa margem à interpretações. É objetivo.

Page 7: Estudo da PRF

Ultrapassando às vinte e uma horas, é período noturno. Não faz ressalvas quanto à aplicação da hora noturna reduzida. Assim, é natural que para todos os efeitos, inclusive para contabilização da hora noturna reduzida, devemos considerar este horário para começar a computá-las.

Estudo sobre Escalas e Jornada de Trabalho - Parte 3 - Por Jefferson Aparecido da Silva

DO PROLONGAMENTO DA JORNADA NOTURNA

Vemos que a redação do referido artigo foi dado pelo Decreto 4.836/03. Um

diploma bem mais novo, em consonância com a jurisprudência firmada pelos Egrégios

Tribunais Regionais do Trabalho de todo o país, confirmada pelo Colendo TST. Este

Decreto fixou apenas o início da jornada noturna, observe:

Art. 3º

(...)

§ 1º Entende-se por período noturno aquele que ultrapassar às vinte e uma horas.

(Redação dada pelo Decreto nº 4.836, de 9.9.2003)

Como, o Decreto não fixa o fim da jornada noturna. Para entender a intenção

do Decreto, trazemos à colação neste texto, uma decisão do Colendo Tribunal de

Contas da União (TCU), pois tal é sua didática, que eu não poderia esclarecer o tema

de forma mais clara, além de trazer o entendimento do órgão que cuida das contas da

União, assim, não podemos falar em discrepância com a legislação ou com a

jurisprudência vigente, o texto é longo, mas de fácil entendimento e de leitura

prazerosa, como segue4:

Grupo I - Classe V - Plenário

TC- 007.041/99-3

Natureza: Relatório de Auditoria

Entidade: Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal - TRE-DF

Interessado: Tribunal de Contas da União

Ementa: Auditoria no TRE-DF. Prestação de Serviços adicionais e pagamento de

horas extras durante o período eleitoral. Motivação insatisfatória para a convocação de

serviços extraordinários. Inconsistências no pagamento de horas extras. Não

observância da concessão de intervalo para descanso entre jornadas de trabalho.

Page 8: Estudo da PRF

Considerações sobre os percentuais de acréscimo utilizados para remunerar o

serviço extraordinário prestado no feriado forense e no período noturno. Falhas

formais. Determinações. Juntada deste processo às contas de 1998.

4 TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO; SECRETARIA-GERAL DAS SESSÕES; ATA Nº 46 DE

20 DE OUTUBRO DE 1999; - SESSÃO ORDINÁRIA -; PLENÁRIO; APROVADA EM 27 DE OUTUBRO

DE 1999; PUBLICADA EM 04 DE NOVEMBRO DE 1999; ACÓRDÃOS DE Nºs 189 a 191; DECISÕES

DE Nºs 731 a 746.

(omissis)

6.11 O adicional noturno é tratado no art. 75 da Lei nº 8.112/90 e parágrafo único:

"Art. 75. O serviço noturno, prestado em horário compreendido entre 22 (vinte e

duas horas) de um dia e 5 (cinco) horas do dia seguinte, terá o valor-hora acrescido de

25% (vinte e cinco por cento), computando-se cada hora como cinqüenta e dois

minutos e trinta segundos.

Parágrafo único. Em se tratando de serviço extraordinário, o acréscimo de que

trata este artigo incidirá sobre a remuneração prevista no art. 73."

6.12 Vê-se que o Regime Jurídico do Servidor Público foi omisso quanto ao

tratamento que se deve dispensar às situações em que possa ocorrer um prolongamento

do trabalho considerado noturno. Para preencher essa lacuna que a Lei deixou,

nada impede que se busque, mais uma vez, no Direito do Trabalho, solução

jurídica ideal a ser dispensada aos servidores públicos em relação aos serviços

prestados nos moldes ora apresentados.

6.13 A Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT disciplina a matéria no capítulo

"Do Trabalho Noturno", art. 73, caput, e parágrafos 1º ao 5º. Prevê a remuneração

com acréscimo de 20% e hora computada como de 52 minutos e 30 segundos para o

trabalho executado entre as 22 horas de um dia e as 5 horas do dia seguinte. O § 5º

trata das prorrogações do trabalho noturno desta forma:

"Art. 73...

...

Page 9: Estudo da PRF

§ 5º Às prorrogações do trabalho noturno aplica-se o disposto neste capítulo."

6.14 Em julgado de 20.02.97, em apreciação o Recurso de Revista nº 201.362, o

Tribunal Superior do Trabalho assim entendeu: "...As horas extras que excedem ao

horário normal noturno devem ser consideradas como prolongamento da

jornada noturna, devendo, portanto, ser acrescidas do adicional respectivo,

conforme dispõe o art. 73, § 5º, da CLT".

6.15 E mais, é Orientação Jurisprudencial da Seção Especializada em Dissídios

Individuais - SDI do Tribunal Superior do Trabalho: "Adicional Noturno.

Prorrogação em horário diurno. Cumprida integralmente a jornada no período

noturno e prorrogada esta, devido é também o adicional quanto às horas

prorrogadas. Exegese do art. 73, § 5º, da CLT."

6.16 O legislador previu, em matéria trabalhista, hipótese de prorrogação de

trabalho noturno, para todos os efeitos. As decisões oriundas da Corte Trabalhista vêm

aplicando o disposto na norma a casos concretos. Nada mais justo. Para o

trabalhador que varou todo o período caracterizado como noturno em constante

atividade e teve a conclusão do serviço em horário já considerado como diurno,

mas em continuidade àquele, a dificuldade da sobrecarga de trabalho realizado à

noite não terminou, ao contrário, houve um acréscimo sensível na carga de

trabalho e, por conseguinte, no esforço despendido pelo servidor.

6.17 Se os fundamentos do adicional noturno são, exatamente, uma retribuição

financeira por esforço extraordinário exigido do servidor, por trabalho até às cinco

horas da manhã, onde está a plausibilidade de compensá-lo de maneira tão

compreensiva até esse horário e, a partir daí, reduzir o pagamento? É nítido que, entre

5 e 6 horas da manhã, e daí por diante, não se tem uma primeira hora de trabalho

matutino, mas a nona hora de trabalho noturno ininterrupto. É irrazoável, é raso,

considerar-se o trabalho noturno tendo como referência a ausência de luz solar,

apenas. Para o servidor que vem trabalhando desde às 22h e não cessa a

atividade às 5h, a jornada extraordinária e excepcional prossegue, ainda mais

agravada por estar ele, então, enveredando por jornada até maior do que a

Page 10: Estudo da PRF

legalmente prevista.

6.18 Em razão disso, nada impede que se conclua que os servidores públicos

federais que extrapolaram em serviço a jornada noturna mereçam tratamento

similar, qual seja, ter a hora computada como de 52 minutos e 30 segundos e o

pagamento acrescido do respectivo adicional. (grifei)

Para dirimir qualquer dúvida acerca do assunto, vejamos como votou o Exmo

Ministro-Relator ao decidir esta questão:

9. De fato, conforme argumenta, entre 5:00 h e 6:00 h e daí em diante, não se

estará cuidando da primeira hora de trabalho matutino, mas da nona hora de trabalho

noturno ininterrupto. E mais: "Para o servidor que vem trabalhando desde às 22:00

h e não cessa a atividade às 5:00 h, a jornada extraordinária e excepcional

prossegue, ainda mais agravado por estar ele, então enveredando por jornada até

maior do que a legalmente prevista". Vale ressalvar, porém, que a ocorrência da

situação de que ora se deve ser evitada. A prorrogação excessiva da jornada de

trabalho é indesejável, visto que servidores que a ela se submetem tendem a ter sua

produtividade comprometida.

10.Assim sendo, em síntese, cumpre determinar ao TRE/DF que, em

circunstância de necessidade plenamente justificada, em que não haja possibilidade de

proceder a revezamento entre servidores com intuito de otimizar a utilização da força

de trabalho disponível, seja considerado como horário noturno o prolongamento

da jornada de trabalho noturna sem solução de continuidade.

Como adiantamos, o relatório formulado pelo próprio Colendo TCU é muito

esclarecedor, dispensando qualquer comentário adicional, pois não deixa qualquer

dúvida sobre a aplicabilidade do prolongamento da jornada noturna aos servidores

públicos federais.

Assim, o respectivo adicional deve ser pago a partir das vinte uma horas

(inteligência do art. 3º, § 1º do Decreto 1.590/95) até o efetivo fim da jornada de

trabalho (normalmente às 08:00 horas, ressalva aos dias em que o policial prolonga

Page 11: Estudo da PRF

ainda mais sua jornada, seja por estar em atendimento a acidentes, encaminhando

presos em flagrantes delitos, etc.).

Pois bem, temos ainda a contagem das horas. Veja que o art. 75 determina

que a hora noturna será computada como uma hora a cada cinqüenta e dois minutos e

trinta segundos. Assim, iniciando-se a contagem às vinte e uma horas até às oito horas

do dia seguinte, teremos o total de onze horas, que são o mesmo que 660 minutos

reais, que totalizarão doze horas, trinta e quatro minutos e dezessete segundos.

A conclusão é de que o policial que trabalha em um turno de 24 horas,

contínuas (das 08:00 às 08:00) ou alternadas (das 08:00 às 20:00 e das 20:00 às

08:00), não terá trabalhado 24 horas, e sim 25 horas, trinta e quatro minutos e

dezessete segundos.

Já demonstramos anteriormente a hora ficta é "norma de ordem pública", assim

reconhecido pelo Egrégio TST quando se refere à CLT. Ora, com muito mais razão

deve ser reconhecida em face à Lei 8.112/90, pois a Administração Pública é regida

pelos princípios constitucionais enumerados no art. 37 da Carta Constitucional, em

especial neste ponto, o princípio da Legalidade.

Conforme Maria Sylvia Zanella Di Pietro, se referindo ao Princípio da

Legalidade ensina: "É aqui que melhor se enquadra aquela idéia de que, na relação

administrativa, a vontade da Administração Pública é a que decorre da lei". Continua

anda: "Segundo o princípio da legalidade, a Administração Pública só pode fazer o que

a lei permite". E para concluir: "Em decorrência disso, a Administração Pública não

pode, por simples ato administrativo, conceder direitos de qualquer espécie, criar

obrigações ou impor vedações aos administrados; para tanto, ela depende de lei".

Assim sendo, é cogente a aplicação destas normas aos servidores. Sobre o

prolongamento da jornada ficta, não bastasse o entendimento do Colendo TCU, ainda

resta o próprio art. 3º, § 1º, do Decreto 1.590/95 com redação dada pelo Decreto nº

4.836, de 9.9.2003, não dispõe de um termo final para a jornada noturna.

Assim, com base no exposto, destacamos o segundo corolário:

O Decreto 4.836/03 que alterou o Decreto 1590/95 reconhece o

Page 12: Estudo da PRF

prolongamento da jornada noturna.

Assim, fica demonstrado que a jornada noturna efetiva do policial rodoviário

federal que trabalha no período noturno, até às oito horas da manhã deve ser

acrescida de 01:34:17 horas (uma hora, trinta e quatro minutos e dezessete segundos)

para todos os efeitos legais, quais sejam: pagamento de adicional noturno nos termos

da lei e compensação do excesso de horas ou pagamento das horas extraordinárias.

Quadra transcrever, a propósito, os seguintes arestos:

"ADMINISTRATIVO. LEI Nº 8.112/90. VIGILANTE. HORAS EXTRAS.

CONTAGEM DIFERENCIADA. ADICIONAL NOTURNO. 1. TENDO

OCORRIDO A PRESTAÇÃO DO SERVIÇO EXTRAORDINÁRIO DURANTE

O PERÍODO COMPREENDIDO ENTRE AS VINTE E DUAS HORAS DE UM

DIA E AS CINCO DO OUTRO DIA, O SERVIDOR TERÁ DIREITO À

PERCEPÇÃO DO ACRÉSCIMO DE CINQUENTA POR CENTO SOBRE A

HORA EXTRA TRABALHADA, ALÉM DO PERCENTUAL DE VINTE E

CINCO POR CENTO REFERENTE AO ADICIONAL NOTURNO, AMBOS

PREVISTOS NA LEI Nº 8.112/90 EM SEUS ARTIGOS 73 E 75. III -

SENTENÇA MANTIDA. REMESSA OFICIAL E APELO IMPROVIDOS" (TRF 5ª

REGIÃO, AC nº 180649-PB, 1ª Turma, Rel. Des. Fed. Ivan Lira de Carvalho, j.em

27-2-2003, DJ de 13-5-2003).

"ADMINISTRATIVO. LEI Nº 8.112/90. VIGILANTE. HORAS EXTRAS.

CONTAGEM DIFERENCIADA. ADICIONAL NOTURNO. I - TENDO

OCORRIDO A PRESTAÇÃO DO SERVIÇO EXTRAORDINARIO DURANTE

O PERÍODO COMPREENDIDO ENTRE AS VINTE E DUAS HORAS DE UM

DIA E AS CINCO DO OUTRO DIA, O SERVIDOR TERÁ DIREITO À

PERCEPÇÃO DO ACRÉSCIMO DE CINQUENTA POR CENTO SOBRE A

HORA EXTRA TRABALHADA, ALÉM DO PERCENTUAL DE VINTE E

CINCO POR CENTO REFERENTE AO ADICIONAL NOTURNO, AMBOS

PREVISTOS NA LEI Nº 8.112/90 EM SEUS ARTIGOS 73 E 75. II - SENTENÇA

Page 13: Estudo da PRF

MANTIDA. REMESSA OFICIAL IMPROVIDA. (TRF 5ª REGIÃO, REO nº 194321-

PB, 1ª Turma, Relatora Des. Fed. Margarida Cantarelli, j.em 27-4-2000, DJ de

25-8-2000.)

Poder-se-ia alegar que a decisão do Colendo TCU, tendo sido prolatada em

1999, já teve o entendimento alterado, vejamos abaixo, em julgados recentes nos

pretórios nacionais, qual é o entendimento atual sobre o prolongamento da jornada

noturna:

"A matéria não comporta mais discussão no âmbito desta Corte Superior, estando

pacificada a jurisprudência, segundo a orientação contida na Súmula 60, item II, do

TST:

Cumprida integralmente a jornada no período noturno e prorrogada esta, devido é

também o adicional quanto às horas prorrogadas. Exegese do art. 73, § 5º, da CLT.

(ex-OJ nº 6 Inserida em 25.11.1996.) (PROC. Nº TST-RR-667/2006-007-04-40.3.

Min. Rel. DORA MARIA DA COSTA)

Aproveitando o mesmo julgado colacionado acima, ainda trazemos:

Esta Corte tem decidido pela aplicação da referida súmula mesmo quando se cuide

de jornada mista, porquanto, nessa circunstância, o trabalho se faz pelo horário

integral a que se refere o art. 73, § 2º, da CLT, mesmo que iniciada a jornada em

horário diurno. Com efeito, o adicional noturno decorre de um direito gerado pelo

trabalho efetuado no período da noite, considerando o maior desgaste provocado à

saúde do trabalhador e o aumento do número de horas compreendidas entre as 22h de

um dia e as 5h do dia seguinte. A prestação de serviços após os inegáveis desgastes do

trabalho noturno há que ser compensada, sobretudo em se tratando de jornada que se

estende por doze horas, pois o empregado que, após o trabalho noturno, permanece em

seu posto de trabalho, nenhum alívio sente por já ser dia.

Nesse mesmo sentido, vale destacar os seguintes precedentes:

RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. ADICIONAL NOTURNO.

REGIME DE 12X36. JORNADA DE TRABALHO DAS 19H ÀS 5HS. HORAS

LABORADAS EM PERÍODO SUBSEQÜENTE ÀS 5 HORAS DA MANHÃ. Em

Page 14: Estudo da PRF

havendo elastecimento da jornada noturna, adentrando às horas prestadas em período

diurno, deverão estas ser abarcadas pelo labor noturno. Por silogismo óbvio, é de se

depreender que o cansaço do empregado decorrente do trabalho prestado nas horas

noturnas se estende às horas diurnas. Não há como conceber-se que, a partir das cinco

da manhã, tendo o empregado adentrado a jornada diurna, sinta-se melhor e mais

disposto a trabalhar, simplesmente porque encerrou o trabalho noturno. Se o

empregado iniciou suas atividades às 19hs de um dia e estendeu-as até às 7hs do dia

seguinte, cumprindo jornada de 12 horas, trabalhou um período diurno, um completo

período noturno e outro período diurno, sendo a hipótese dos autos de prorrogação da

jornada noturna. Recurso de revista conhecido e provido. (TST, 2ª T.

RR-126.596/2004-900-04-00.2, Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, DJ de 16/02/07.)

ADICIONAL NOTURNO SOBRE A JORNADA DIURNA. I - A decisão recorrida

encontra-se na contramão da Orientação Jurisprudencial nº 6 da SBDI-1 do TST, que

foi incorporada à Súmula/TST nº 60, pela Resolução 129/2005, cujo item II estabelece

que, cumprida integralmente a jornada no período noturno e prorrogada esta, devido é

também o adicional quanto às horas prorrogadas. Exegese do art. 73, § 5º, da CLT. II

Recurso provido (TST, 4ª T., RR-1.823/2002-482-02-00.5, Rel. Min. Barros

Levenhagen, DJ de 19/12/06.)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. JORNADA 12X36. PROLONGAMENTO DA

JORNADA NOTURNA ALÉM DAS CINCO HORAS DA MANHÃ. ADICIONAL

NOTURNO DEVIDO. No caso, a reclamante trabalhava em jornada de 12 X 36,

laborando no horário das 19h de um dia às 7h do dia seguinte, cingindo-se, pois, a

discussão, se devido o adicional noturno em caso de prolongamento da jornada além

das 5 horas da manhã. Nessa hipótese, há que se aplicar o disposto no Capítulo II da

CLT, que dispõe sobre a Duração do Trabalho, em atenção ao § 5º do artigo 73 da

CLT, que se refere à prorrogação da jornada de trabalho após o período noturno,

embora seja impróprio se falar em prorrogação de horário noturno - que se dá das 22

às 5h -, se este já terminou, mas em serviço prestado após as 5 horas. Incidência da

Page 15: Estudo da PRF

Súmula nº 60, item II, deste Tribunal, não se podendo vislumbrar ofensa ao artigo 73 e

parágrafos da CLT e não aproveitando à agravante o único aresto trazido a confronto,

ante os termos do § 6º do artigo 896 da CLT. Agravo de instrumento a que se nega

provimento. (TST, 1ª T., AIRR-906/2002-007-04-40.1, Relator Juiz Convocado

Estudo sobre Escalas e Jornada de Trabalho - Parte 4 - Por Jefferson Aparecido da SilvaAs horas extraordinárias prestadas pelo servidor público federal são reguladas

também pela Lei 8.112/90, in verbis:

Art. 61. Além do vencimento e das vantagens previstas nesta Lei, serão deferidos

aos servidores as seguintes retribuições, gratificações e adicionais:

(...)

V - adicional pela prestação de serviço extraordinário;

(...)

Art. 73. O serviço extraordinário será remunerado com acréscimo de 50%

(cinqüenta por cento) em relação à hora normal de trabalho.

Art. 74. Somente será permitido serviço extraordinário para atender a situações

excepcionais e temporárias, respeitado o limite máximo de 2 (duas) horas por jornada.

Vamos analisar a jornada do servidor policial para que se tenha um

entendimento do que estamos tratando. Como sabemos os servidores policias prestam

serviço em escalas de turnos contínuos de 24x72, e ultimamente, em algumas

delegacias regionais são escalas de revezamento de 12x24 e 12x48, e outras adotam

escalas, também de revezamento, de 12x24 e 12x72. Aos primeiros é concedida uma

dispensa de oito horas a cada quatro semanas (desde novembro de 2008, apenas),

para estes últimos, a pretexto de não perfazerem às 40 horas semanais, são

submetidos às escalas de reforço, tendo que comparecer ao serviço, algumas vezes

para reporem apenas quatro horas, jornada esta ilegal, pois é expressamente vedada

pela Lei 8.112/90, salvo em casos onde haja legislação específica que limite a jornada

diária a este limite.

Se dividirmos a escala de 24x72, (o mesmo se aplica à escala de 12x24 e

12x48), teremos uma jornada fixa de 6x18, indefinidamente. Ou seja, é como se

servidor trabalhasse sete dias por semana, sem direito à folga semanal, sem direito à

feriado, ou qualquer outra dispensa.

Qualquer outro trabalhador que labore em turnos normais, de segunda à sextafeira,

oito ou seis horas por dia, conforme o caso, não trabalha durante os feriados, aos

sábados e domingos. Além dos "pontos facultativos", que conforme sabemos, é quase

que sinônimo de feriado, pois a grande maioria dos órgãos público não abrem nestes

Page 16: Estudo da PRF

casos.

O servidor policial não faz jus a este benefício, pois sua escala de serviço não

o permite. Assim, enquanto raramente os demais servidores laboram efetivamente as

quarenta, ou trinta horas semanais, conforme o caso, o servidor policial sempre cumpre

na íntegra, e até com excesso sua jornada.

Não haveria problema se a Administração pagasse por este excesso de carga

horária, mas, o servidor para ver seu direito realizado, tem que buscar a justiça. Como

vemos, aqui é apenas mais uma arbitrariedade, pois, em respeito ao já citado Princípio

da Legalidade, deveria pagar suas horas extras sem necessidade da intervenção

judicial.

Não bastasse o excesso de carga horária sem remuneração, o servidor policial,

na maioria dos de feriados prolongados, ou período de festas (Natal, Ano Novo,

Páscoa, etc), é convocado para trabalhar, tradicionalmente sem remuneração. Não

recebe nem mesmo o auxílio transporte ou auxílio alimentação.

Contudo, sabemos que são ilegais estas convocações não remuneradas.

Nestes casos, o que ocorre é que a União está se locupletando ilicitamente à custa do

servidor. O policial tem despesas diversas para estar em seu local de trabalho, não só

o deslocamento, mas também todo o ritual para estar em condições de prestar o

serviço à comunidade, que vão do sabão que lava seu uniforme até o material de

higiene pessoal, como barbeadores, etc. Certo é que o policial não vai comparecer o

serviço, pelo simples fato de ser uma escala de serviço extraordinário, sem fazer o seu

asseio pessoal.

Mais uma vez, buscaremos junto ao Egrégio TCU um entendimento que seja

pacífico, para não incorrermos em impropriedades. Traremos à colação outro trecho da

decisão já apresentada, mais uma vez alerto que o texto é excepcionalmente didático,

de leitura prazerosa, conforme segue5:

2.1 Serviço extraordinário pode ser definido como prolongamento excepcional do

limite legal ou convencionado da duração regular de trabalho. Ressalvados os casos

tratados em lei específica, é a jornada que ultrapassa as 8 horas diárias ou 40 semanais.

Disciplinada na Lei nº 8.112/90, art. 74, a realização do serviço por servidores

públicos fica restrita ao atendimento de situações excepcionais e temporárias e

depende da autorização da autoridade competente.

5 TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO; SECRETARIA-GERAL DAS SESSÕES; ATA Nº 46 DE

20 DE OUTUBRO DE 1999; - SESSÃO ORDINÁRIA -; PLENÁRIO; APROVADA EM 27 DE OUTUBRO

DE 1999; PUBLICADA EM 04 DE NOVEMBRO DE 1999; ACÓRDÃOS DE Nºs 189 a 191; DECISÕES

DE Nºs 731 a 746.

2.2 A remuneração pela hora trabalhada acima da jornada diária normal recebe

tratamento diferenciado. A Constituição Federal estabeleceu um acréscimo de, no

mínimo, cinqüenta por cento para remunerar a hora que excede a jornada de trabalho

(art. 7º, inciso XVI), valor este consignado na Lei nº 8.112/90, art. 73. A Resolução nº

Page 17: Estudo da PRF

20.396-TSE, de 27.10.98 (fls. 166 a 169 do Volume I), estabeleceu os percentuais de

acréscimo da hora exercida em caráter extraordinário: em dias úteis, 50%; aos

domingos e feriados, 100%; aos sábados, 80%. Quanto a este, o TCU, na Decisão

nº 519-Plenário, de 11.08.99, já firmou entendimento de que o percentual cabível

é 50% e não 80%. Por isso, tal matéria não será objeto de exame neste processo.

(grifei)

(...)

5.4.7Embora a Lei nº 8.112/90 seja omissa quanto à remuneração do serviço extra

prestado em dias não úteis, há entendimento consolidado nesta Casa sobre a

matéria.

Em decisão recente, de 14.02.99, Acórdão nº 14/99-TCU-Segunda Câmara, alínea

c.1, foi determinado à Delegacia Regional do Trabalho no Estado do Piauí que: "a

remuneração de horas extras prestadas em sábados deverá ser igual às prestadas em

dias normais de trabalho, ou seja, seu valor deverá ser 50% superior ao da hora

normal de serviço, e em domingos e feriados deverá o valor ser 100% superior ao da

hora normal de serviço;". (grifamos)

Há Decisão anterior no mesmo sentido. A despeito de ter sofrido impetração de

recurso e ainda estar em fase de instrução, a mesma Segunda Câmara, mediante a

Decisão nº 283/98, já determinou ao Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Rio

Grande do Sul que observasse o percentual supracitado quando efetuasse o pagamento

de horas extras a seus servidores.

5.4.8 À luz do disposto no art. 62, inciso I, da Lei nº 5.010/66 e em face das

reiteradas decisões desta Casa, quanto ao percentual de acréscimo cabível para

remunerar o serviço prestado em domingos e feriados, concluímos que o

percentual de acréscimo cabível para remunerar o serviço prestado durante o feriado

forense deve ser de 100% sobre a hora normal de trabalho.

(...)

6.Questões relacionadas à interpretação dos normativos que regulam a prestação

de horas extras

6.1 Com vistas a dar cumprimento ao segundo objetivo imposto pela Decisão nº

305/98, qual seja, garantir uniformidade na interpretação dos normativos que regulam

a prestação de horas extras, cremos oportuna uma breve análise técnico-jurídica dos

arts. 73 a 75 da Lei nº 8.112/90 em relação aos serviços executados após o fim do

período noturno, mas em continuidade a este, e ao adicional aplicado ao trabalho

realizado aos domingos, com invasão do início da segunda-feira.

6.2 Nas datas em que se realizaram as eleições (domingos 4 e 25.10.98), diversos

servidores trabalharam por quase 24 horas seguidas, sem mesmo interromper suas

atividades para usufruir do intervalo legal para descanso. Muitos extrapolaram, ainda

em serviço, as 24 horas do domingo, chegando, em alguns casos, a emendá-lo com a

jornada normal de segunda-feira (fls. 103, 119, 127, 132/133, 134, 136 do Volume I).

6.3 Esses servidores tiveram seus serviços remunerados em dobro até a meia-noite

Page 18: Estudo da PRF

de domingo. A partir da zero hora de segunda-feira, tiveram suas horas extras

acrescidas em 50%. Já o adicional noturno teve aplicação no horário das 22h de

domingo até as 5h do dia seguinte.

6.4 A respeito dos adicionais relativos ao serviço extraordinário e ao trabalho

noturno aplicados em situações atípicas como a que ora se afigura, entendemos

oportuna uma análise técnico-jurídica acerca do repouso semanal remunerado e

adicional noturno e suas extensões.

6.5 Primeiramente, recorreremos aos motivos que levaram este Tribunal a firmar

entendimento sobre os percentuais de acréscimo que deve sofrer a hora de serviço

extraordinário em domingos e feriados.

6.6 Colhe-se do voto do Exmo. Sr. Ministro-Relator Adhemar Ghisi, que originou

a Decisão nº 283/98, a concordância com o entendimento da 10ª Secex/TCU acerca da

matéria, entendimento este transcrito em seu relatório.

6.7 Essencialmente, o titular daquela Secretaria, hoje Ministro-Substituto

Benjamin Zymler, foi buscar na analogia com o Direito do Trabalho a definição do

valor das horas extras prestadas nesses dias, já que esse ramo do Direito "considera as

peculiaridades da prestação de trabalho em dias de repouso remunerado ou em dias a

eles equiparados".

6.8 Percorreu, o ex-Secretário, os caminhos da Lei nº 605/49, que dispõe sobre o

repouso semanal remunerado do empregado, e da Súmula nº 461 do STF:

Lei nº 605/49

"Art. 1º. Todo o empregado tem direito ao repouso semanal remunerado, de 24

(vinte e quatro) horas consecutivas, preferentemente aos domingos e, nos limites das

exigências técnicas das empresas, nos feriados civis, religiosos, de acordo com a

tradição local.

......

Art. 9º. Nas atividades em que não for possível, em virtude das exigências

técnicas das empresas, a suspensão do trabalho, nos dias feriados civis e

religiosos, a remuneração será paga em dobro, salvo se o empregador determinar

outro dia de folga."

Súmula nº 461

"É duplo, e não triplo, o pagamento do salário nos dias destinados a descanso".

6.9 Assim, amparado pelos preceitos normativos e jurisprudenciais supracitados e

pela interpretação analógica, entendeu este Tribunal, naquela assentada, que a

remuneração pelo serviço realizado em domingos e feriados deveria ser dobrada.

6.10 Seguindo o mesmo caminho trilhado pelo atual Ministro-Substituto,

buscamos também no Direito do Trabalho elementos que conduzam à definição do

valor das horas extras prestadas após a meia-noite de domingo e da incidência do

adicional noturno após as 5 horas da manhã, para os servidores da Justiça Eleitoral.

Comecemos por este último.

I - Questão da prática de horas extras após o fim do período noturno, e em

Page 19: Estudo da PRF

continuidade a este.

Para dirimir qualquer dúvida acerca do assunto, vejamos como votou o Exmo

Ministro-Relator ao decidir esta questão:

III.2 - Horas Prestadas em Domingos com Invasão do Início da Segunda-Feira

11.Trata-se, também, nesta hipótese, de situação fática excepcional. Argumentou a

Srª Analista que as horas extras prestadas durante as segundas feiras, em continuidade

ao trabalho iniciado em domingos, devem ser remuneradas como se fossem horas

extras prestadas em dia de repouso semanal remunerado. Asseverou que a hora extra

prestada na madrugada de segunda feira nada mais é do que um prolongamento do

domingo (ou de feriado, quando for o caso). Fazendo prosperar a mesma linha de

raciocínio delineada no subitem anterior, corroboro o entendimento advogado no

Relatório de Auditoria no sentido que devem ser remuneradas com 100% de acréscimo

em relação à hora normal, além do adicional por trabalho noturno.

IV - Serviço Extraordinário Prestado aos Sábados : 50% de Acréscimo

12.O TCU, por meio da Decisão nº 196/99-TCU-Plenário, determinou aos órgãos

da Justiça Eleitoral que a remuneração de horas extras prestadas aos sábados deve ser

de 50% acima da hora normal de trabalho. Recentemente, por meio da Decisão nº

519/99 - TCU - Plenário, o Tribunal decidiu, em caráter normativo, firmar

entendimento no sentido de "que o serviço extraordinários prestado aos sábados

pelo servidor público federal, regido pela Lei nº 8.112/90, deverá ser remunerado

com acréscimo de 50% em relação à hora normal de trabalho". Em que pese haver

o TSE interposto recurso contra tais decisões, é obrigatória a observância desse limite,

tendo em vista, especialmente, que tais decisões apenas revelam a melhor

interpretação do direito positivo posto. E, também, porque não houve interposição de

recurso pelo TRE-DF, contra tal determinação.

Necessário é destacar, tendo em vista algumas opiniões contrárias, que "a

Decisão Decisão nº 519/99 - TCU - Plenário, o Tribunal decidiu, em caráter normativo,

firmar entendimento no sentido de "que o serviço extraordinários prestado aos

sábados pelo servidor público federal, regido pela Lei nº 8.112/90, deverá ser

remunerado com acréscimo de 50% em relação à hora normal de trabalho". É

importante enfatizar, pois esta decisão se refere ao SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL.

Não há no texto qualquer exceção, assim, não há o que se falar que não é aplicável ao

policial rodoviário federal ou a qualquer outro servidor que venha a fazer jus ao

recebimento de horas extras.

Como pudemos observar, a decisão do Egrégio TCU em epígrafe vai além do

reconhecimento do prolongamento da jornada noturna. Reconhece também o

prolongamento do serviço prestado em domingos e feriados que invadem os dias

seguintes para efeitos de pagamento da jornada extraordinária (horas extras) como se

domingo ou feriado fossem. Assim, mesmo que iniciada no domingo, a jornada de

trabalho que invada a segunda-feira deverá ser remunerada com adicional de 100%

sobre o valor da hora normal.

Page 20: Estudo da PRF

Aqui, mais uma vez, não há em falar de exceções. É devido o adicional de

100% a todos os servidores públicos federais que prestarem serviço em horas

adicionais aos domingos e feriados civis, assim reconhecidos por lei6.

Ora, se todos os servidores que prestam serviço em turno ordinário, de

segunda a sexta-feira, quando excedem o horário de trabalho, mesmo que não

cheguem a trabalhar todos os dias da semana em virtude de feriados (municipais,

estaduais e nacionais), fazem jus ao pagamento do adicional de horas extras, sendo

este pago à proporção de 50% para os dias de segunda-feira ao sábado, e de 100%

aos domingos e feriados, porque o servidor policial não deveria receber da mesma

forma.

Ora, justamente quando todos os outros trabalhadores, sejam da iniciativa

privadas ou servidores públicos, estão de folga devido aos períodos de festas ou fins

de semana prolongados, é quando os servidores policiais rodoviários mais trabalham,

chegando a serem convocados em seus horários de folga para cumprirem jornadas

extras, por que estes não deveriam receber por seu serviço conforme o preceito legal?

Como visto, a escala do jeito que o servidor policial cumpre já bastante onerosa

ao servidor, pois, já demonstramos que é como se ele trabalhasse em turnos de 6x18

indefinidamente. Qual outro servidor que cumpre uma jornada como esta? Ou ainda,

qual outro servidor que, mesmo trabalhando em turnos de seis horas ainda são

chamados para cumprirem jornadas extras não remuneradas em seu horário de folga.

Ou ainda: há algum servidor que trabalhe seis horas por dia sete dias por semana?

Qual é o conteúdo do princípio da igualdade? O que exatamente significa

isonomia? Certamente o que foi apresentado acima não seria um exemplo perfeito de

isonomia.

Tal comparação é necessária para que vejamos as coisas de diversos ângulos.

Muitas pessoas que não conhecem a realidade do serviço policial rodoviário federal.

Ouvem apenas o que querem ouvir, neste caso, ouvem apenas quando se fala em 72

horas de folga. Não param para fazer as contas. Muitos trabalham em turnos de 6

horas de serviço, de segunda a sexta-feira, não trabalham em férias federais, estaduais

ou municipais, tudo isto sem contar os "pontos facultativos", que como já dissemos,

pouquíssimos são os que realmente trabalham nestes dias, e até quando ocorre o óbito

de alguma autoridade, é decretado feriado.

6 http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/LEIS/L9093.htm .

É necessário lembrar que o PRF trabalha em qualquer circunstância. Seja qual

for o tipo de feriado, seja qual for a tragédia natural ou não. Ele jamais terá o direito de

descansar simplesmente porque é feriado. Assim, é plenamente justo que os

servidores policiais sejam remunerados, quando prestarem serviço extraordinário com

os adicionais legais, como visto, até mesmo o Tribunal de Contas da União já

reconhece este direito.

Assim sendo, quando o policial rodoviário federal ultrapassar sua jornada

semanal em serviços prestados nos dias de segunda a sábado ele fará jus a ter suas

Page 21: Estudo da PRF

horas integralmente compensadas com dispensas do serviço, ou remuneradas com

50% de adicional. E quando ultrapassar sua jornada semanal em serviços prestados

aos domingos e feriados ele fará jus a ter suas horas compensadas em dobro ou deve

ser remunerado com adicional de 100%.

Penso não haver problemas no reconhecimento destes direitos, principalmente

tendo como amparo decisão proferida pelo Colendo TCU.

Estudo sobre Escalas e Jornada de Trabalho - Parte 5 - Por Jefferson Aparecido da SilvaAssunto relevante é a carga horária semanal aplicável aos policiais rodoviários

federais. Já citamos as Leis aplicáveis aos PRFs no que se refere à jornada semanal.

O art. 19 da Lei 8.112/90, o art. 9º da Lei 9.654/98, e o Decreto 1.590/95 com a

alteração dada pelo Decreto nº 4.836/03.

Ambas as Leis delimitam a jornada de trabalho em quarenta horas semanais. O

decreto regulamentador confirma os ditames legais. Assim, não resta dúvida que a

jornada de trabalho dos servidores públicos da União é de quarenta horas, quanto a

isto não há controvérsia.

Já foi devidamente demonstrado o Decreto 1.590/95 é aplicável aos servidores

PRFs. Qualquer afirmação em contrário torna ilegal qualquer turno de serviço adotado

no âmbito da Polícia Rodoviária Federal que seja superior a oito horas, pois a Lei

8.112/90 é objetiva neste ponto, enquanto a Lei 9.654/98 é omissa, prescrevendo

apenas que a jornada é de quarenta horas.

Pois o Administrador tem seus atos limitados pela Lei. Tendo o Princípio de

Legalidade como base, não poderia haver outro entendimento. Assim é o entendimento

do Egrégio TRF4: "...O art. 7º, XIII, faculta a compensação de horários, e, à mingua da

possibilidade de acordo ou convenção coletiva de trabalho no regime estatutário

(inteiramente regrado por lei), supre-o o art. 2º, do Decreto nº 1.590..." (TRF4, AC

98.04.03983-4, Terceira Turma, Relatora Vivian Josete Pantaleão Caminha, DJ

31/01/2001).

Dois pontos importantes a serem destacados, observe: "inteiramente regrado

por lei", e ainda: "supre-se o art. 2º do Decreto 1.590...".

Page 22: Estudo da PRF

Assim, quem insistir na tese de que o Decreto 1.590/95 não é aplicável à

carreira dos policiais rodoviários federais, forçosamente, vai estar admitindo que estes

servidores são submetidos à jornada de trabalho ilegal, pois não há outro diploma

legal, seja lei ou decreto que permita turnos superiores a oito horas de serviço.

4.1 JORNADA SEMANAL

Quando analisamos as escalas em que os policiais são submetidos, vemos que

historicamente o turno adotado é de 24x72 (vinte e quatro horas trabalhadas por

setenta e duas de descanso), assim foi durante muito tempo. O policial, como se vê,

sempre trabalhou em excesso de carga horária, normalmente, sem nenhuma

compensação.

Para identificarmos o excesso é bem simples: basta lembrarmos que dividida

esta escala, é como se o policia trabalhasse em turnos de 6x18 (seis horas trabalhadas

por dezoito de folga) indefinidamente. Se a semana tem sete dias, o cálculo é simples,

7 x 6 = 42 (sete vezes seis é igual a quarenta e dois).

Como nos últimos tempos a Administração tem sufocado os policiais com

escalas extras em demasia (em todos os períodos de festas), suprimiu o direito do

policial gozar duas férias integralmente nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e

julho, entre outras decisões que causaram insatisfação entre os servidores, muitos

ingressaram com ações na justiça para cobrar o seu direito sagrado de ter o seu

serviço remunerado, pois, apesar de normalmente trabalhar em excesso de horas

semanais, ainda vinham estes serviços extraordinários, os quais não tinham sequer

indenização de auxílio transporte ou de alimentação.

Diante deste quadro, com os policiais tendo seus direitos reconhecidos em

juízo, o Administrador determinou que nenhum policial cumprisse jornada semanal

superior a quarenta horas semanais. Em resposta, os chefes imediatos, começaram a

dispensar os policiais,de forma a compensarem o excesso.

Contudo, o cálculo feito não levou em consideração a jornada noturna, que na

pior das hipóteses seria de uma hora a mais (período das 22:00 às 05:00) por serviço,

tendo em vista à hora noturna reduzida, prevista no art. 75 da Lei 8.112/90. Foram

Page 23: Estudo da PRF

computadas as horas corridas de sessenta minutos, quando, para efeito de

compensação, deveria ser computada a hora noturna reduzida, ou seja, de cinquenta e

dois minutos e trinta segundos. Pois, como já demonstramos, trata-se, segundo

jurisprudência uníssona do Egrégio TST, de norma de ordem pública, assim,

inafastável sua aplicação, mesmo que por acordo ou convenção, sendo estas

inaplicáveis no âmbito do serviço público.

Desta forma, as compensações de horas deverão levar em consideração a

"hora ficta", ou seja, o serviço prestado no período noturno, após às vinte e uma horas

(inteligência do art. 3º, § 1º, do Decreto 1.590/95), deverá ser computada uma hora a

cada cinquenta e dois minutos e trinta segundos (art. 75, da Lei 8.112/95). Embora haja

controvérsias, já demonstramos que em respeito ao Princípio da Legalidade, não há

outra solução à se aplicar ao caso. Se fosse o assunto relacionado ao direito obreiro,

pura e simplesmente, a solução não seria diferente, pois aqui se invocaria o Princípio

da norma mais benéfica, segundo o qual, quando houver conflito entre normas (acordo

coletivo e CLT, por exemplo), será aplicada aquela que forma mais benéfica ao

trabalhador, embora a Lei esteja hierarquicamente acima do acordo.

4.2 JORNADA MÍNIMA

Um outro problema sério que os servidores policiais vem enfrentando são as

convocações para serviço extraordinário, ou dispensa parciais do serviço, que em um e

outro caso, o PRF tem que se deslocar para laborar por apenas quatro horas. Quando

o policial sai par o serviço, seja para trabalhar quatro, doze ou mesmo vinte e quatro

horas, o ritual é o mesmo: se barbear, fazer sua higiene pessoal, vestir um uniforme

limpo e passado, deslocar-se até o serviço com seu veículo (a distância é a mesma), e

ao final do serviço retorna para a sua casa (a distância na volta também é a mesma).

Veja que sua despesa para prestar este serviço de quatro horas é a mesma, o tempo

intinere gasto é o mesmo. Apenas o serviço prestado é que é de quatro horas.

Pois bem, a Lei 8.112/90, art. 19, é taxativa quanto a este respeito, a jornada

mínima de trabalho é de seis horas. Se a jurisprudência entendeu que o art. 2º do

Page 24: Estudo da PRF

Decreto 1.590/95 abriu a possibilidade de se trabalhar em turnos superiores a oito

horas, não vemos onde poderia estar a autorização para que o servidor seja submetido

a uma jornada mínima inferior a seis horas. Para turnos superiores, não há dúvida: traz

benefícios tanto para a Administração quanto ao administrado, e atende ao interesse

público.

Mas o que dizer da jornada inferior à mínima: todos saem prejudicados,

ninguém ganha nada e todos perdem. O policial que tem que se deslocar a mesma

distância, se preparar da mesma forma como quando vai trabalhar vinte e quatro horas,

a Administração que deve pagar o auxílio transporte (embora não esteja pagando,

principalmente quando se trata de serviço extraordinário), vai ter um policial

descontente, que logo após chegar ao serviço já estará retornando para sua casa. E a

sociedade? Tem algum ganho com tudo isto? Penso que não, pois é ela quem paga a

conta.

Mais uma vez, o Princípio da Legalidade foi solenemente ignorado. Se a Lei é

clara e precisa, é objetiva e não deixa margem à interpretações. Porque submeter o

policial a este constrangimento? Sim, isto é um constrangimento, pois é arbitrário.

Lembremos que antes de tudo, este policial é um ser humano. Fazer uma pessoa se

deslocar cem, duzentos, quatrocentos quilômetros (ida e volta) para laborar por quatro

horas, sem que haja uma motivação lógica para isto, é constrangedor.

Sobre o tema, buscamos na jurisprudência do Egrégio TST qual é o

entendimento. Segue abaixo, "ipis litteris" trecho da sentença:

A manifestação de vontade do empregado e a personalidade pública da

empregadora não afastam a tutela ao direito à manutenção da jornada mínima

legal. Impossível pacto entre as partes em sentido diverso, pois violaria o Princípio

Protetivo, basilar do Direito do Trabalho. Os entes públicos também estão

obrigados, quando na condição de empregador, às normas e princípios

trabalhistas. Os termos de opção constantes das fls. 329-31 não prevalecem sobre o

princípio protetivo. Na realidade, houve mera designação para o cargo com alteração

da jornada de trabalho. Não há, assim, violação ao art. 5º, XXXVI, da Constituição

Page 25: Estudo da PRF

Federal e aos arts. 104, 107 e 110 do Código Civil vigente. Nada a reparar, portanto,

no julgado-.

(TST-RR-597/2004-012-04-00.2. Rel. MINISTRO BARROS LEVENHAGEN)

Em que pese o julgado acima ter como ré a Caixa Econômica Federal, que

contrata seus servidores sob às normas da CLT, serve-nos de parâmetro para fazer

uma analogia: se os entes públicos que contratam seus funcionários pelo regime

celetista estão obrigados a cumprir a Lei, com muito mais razão a Administração

Pública que contrata seus servidores pelo regime estatutário. Pois, neste caso, só resta

pura e simplesmente a observância do Princípio da Legalidade.

Page 26: Estudo da PRF

Estudo sobre Escalas e Jornada de Trabalho - Parte 6 - Por Jefferson Aparecido da SilvaPara entendermos o significado destas palavras mais uma vez vamos buscar o

entendimento dos pretórios nacionais. Nos parece o mais acertado por já trazer à colação não só o significado das palavras, como também o entendimento jurisprudencial sobre o tema.

Em princípio apresentamos o entendimento firmado no Egrégio TRT4, vejamos:

Em face desta norma constitucional se formou grande controvérsia doutrinária, buscando entender o que o legislador constituinte pretendera dizer com turnos ininterruptos de revezamento. Regime em turno de revezamento é aquele em que o empregado não tem horário de trabalho fixo, trabalhando em horários variáveis, que se alteram periodicamente. Não há necessidade, para caracterização de turnos de revezamento, que a empresa trabalhe 24 horas ou que exista três turnos ou ainda que a empresa nunca interrompa suas atividades em domingos ou feriados. Realizando uma interpretação gramatical do dispositivo constitucional, deve ser buscado o sentido literal das palavras utilizadas no referido inciso. Segundo o pequeno dicionário da língua portuguesa da editora nacional, por turno deve-se entender cada uma das divisões do horário diário de trabalho. Por ininterrupto, entende-se o que não é interrompido, constante, contínuo.

(TST-RR-81560/2003-900-04-00.0. Min. Rel. MARIA DE ASSIS CALSING)

É assim que entende o Egrégio TST, pois vejamos qual é o entendimento da Corte Constitucional sobre o mesmo tema, em julgamento do Recurso Extraordinário nº 205.815-7, a Suprema Corte esclareceu o que se entende por turnos ininterruptos e de revezamento, trazemos à colação, pois é bastante didática e afasta qualquer outra interpretação diversa, seguindo ipis verbis:

EMENTA: CONSTITUIÇIONAL. TRABALHISTA. TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO (CF, ARTL 7º, XIV).

(1) A expressão "ininterrupto aplica-se a turnos, pois são eles que podem ser "ininterruptos". Intraturno não há interrupção, mas suspensão ou, como nominado pela CLT, intervalo. A ininterrupção do texto constitucional diz com turnos entre si. Nada com as suspensões ou intervalos intraturnos.

(2) São os turnos que devem ser ininterruptos e não o

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Page 27: Estudo da PRF

trabalho da empresa.

Circunscreve-se a expressão "turno" aos segmentos das 24 horas, pelo que se tem como irrelevante a paralisação coletiva do trabalho aos domingos. O trabalhador, por texto constitucional, tem direito ao repouso semanal remunerado. Se a empresa, tendo em vista as condições operacionais de suas máquinas, pode paralisar no domingo, cumpre uma obrigação constitucional.

Preferencialmente no domingo, diz a Constituição.

(3) Consideram-se os intervalos, que são obrigações legais, como irrelevante quanto à obrigação de ser o turno de 6:00 horas, quando (a) forem os turnos ininterruptos entre si, (b) houver revezamento e (c) não houver negociação coletiva da qual decorra situação diversa. Não é a duração do intervalo - se de 0:15 minutos, de uma ou de duas horas - que determina a duração da jornada. É o intervalo: se o de 0:15 minutos, de uma horas ou mais. (4) Recurso não conhecido.

A jurisprudência firmou também o entendimento que para que se caracterize o

"turno de revezamento" não é necessário que a alternância se diária, podendo ocorrer semanalmente ou mesmo mensalmente, neste sentido:

A norma elaborada pela Constituição tem como finalidade precípua a proteção ao

trabalhador que labora alternadamente a cada semana, quinzena ou mês, em turnos diurnos e noturnos. (PROC. Nº TST-RR-576.816/1999.9. Relator: LUIZ CARLOS GOMES GODOI. Juiz Convocado).

Como vemos, não resta qualquer dúvida que quando o policial é submetido às escalas de 12x24 e 12x48 ou de 12x24 e 12x72, caracterizado esta o revezamento.

Com este esclarecimento, voltemos à análise do art. 3º do Decreto 1.590/95 com redação dada pelo Decreto nº 4.836, de 9.9.2003. Conforme sua redação, o Administrador máximo, preenchido os requisitos constantes no texto legal, é facultado ao dirigente máximo do órgão ou da entidade autorizar os servidores a cumprir jornada de trabalho de seis horas diárias e carga horária de trinta horas semanais.

Porque destacamos o aditivo "e"? Simples. A discricionariedade concedida ao Administrador reside em adotar ou não o turno de seis horas. Em adotando-o, obrigatoriamente a jornada deverá ser de trinta horas semanais. Não é apropriado que o Administrador sujeite o servidor à escala de seis horas ininterruptas e ainda assim exija que o mesmo labore por quarenta horas semanais.

Ora, se o quem trabalha seis horas por dia pode, no máximo, laborar por trinta horas semanais, ou seja, comparecer o serviço no máximo cinco, em cada sete dias, não nos parece justo que o servidor policial que esteja submetido à escala de turnos ininterruptos e de revezamento de 12x24, ou mesmo de 12x72, tenha que trabalhar por quarenta horas

Page 28: Estudo da PRF

semanais, pois assim, fere o Princípio da Isonomia. Neste tipo de escala o servidor se reveza, trabalhando um serviço durante o dia e o outro, durante à noite.

Estudo sobre Escalas e Jornada de Trabalho - Parte 7 - Por Jefferson Aparecido da SilvaESCALAS DE 12X24 E 12X48

Entendemos que se for adotada a escala de 12x24 e 12x48, obrigatoriamente a jornada semanal do servidor deverá ser reduzida para trinta horas semanais. Pois, como já o demonstramos, é como se o trabalhador trabalhasse indefinidamente em turnos de 6x18, sem direito a gozar qualquer feriado, o que não ocorre nos demais órgãos da Administração Pública. Pois, mesmo os que têm sua jornada reduzida pela aplicação do dispositivo legal, não laboram aos feriados, ao contrário do servidor policial, que jamais deixará de comparecer ao serviço, seja o dia que for.

ESCALAS DE 12X24 E 12X72

Uma outra alternativa que está sendo adotada pela Administração é a adoção

de escalas de 12x24 e 12x72. Neste regime continua com o problema, pois há o revezamento. Ainda assim o servidor está obrigado a trabalhar um serviço de dia e outro à noite. Pois bem, temos um fator atenuante, que seria a folga elastecida de 72 horas. Contudo, o servidor, conforme o entendimento da Administração, deve comparecer em serviços extraordinários, para compensar as horas que fica "devendo", em face da jornada semanal de 40 horas. De fato, neste regime o servidor não chega a laborar por 40 horas semanais, mas não podemos nos olvidar que o administrador, ao cobrar as horas que devem ser compensadas, não está levando em consideração a "horas fictas", ou seja, a hora noturna reduzida, e tão pouco o prolongamento da jornada noturna, que já o demonstramos acima, tal entendimento tem o aceite do Egrégio TCU.

Há um entendimento nos pretórios nacionais, sempre referentes à escala de 12x36, que esta jornada "trás inegáveis benefícios ao trabalhador", neste sentido:

A jornada de trabalho de 12x36 horas traz inegáveis benefícios ao empregado estando, efetivamente, consagrada pelo uso e costume, mormente em se tratando de atividade hospitalar. Como se sabe, há extrapolação de jornada diária em alguns dias em conseqüente redução em outros, não afrontando o texto constitucional uma vez respeitada a jornada semanal (TST,RR 192.614/95.8, Galba Velloso, Ac.4ª T. 5.159/95). (Nova Jurisprudência em Direito do Trabalho, V. Carrion, Saraiva, 1º semestre/97, p.266, ementa 1.564). (grifei)

É também o entendimento no Colendo TRF4:

EMENTA: ADMINISTRATIVO. FUNCIONAL. SERVIDOR DA UFSM.

SERVIÇO DE VIGILÂNCIA. JORNADA DE SEIS HORAS.

INAPLICABILIDADE. REGIME DOZE POR TRINTA E SEIS. ILEGALIDADE

NÃO RECONHECIDA. VANTAGEM AO SERVIDOR. 1. O art. 7º, XIV, da CF, que estabelece o direito do trabalhador uma jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento não se aplica aos servidores públicos, tal como dispunha o parágrafo 2º do art. 39 da CF (atual § 3º). De qualquer sorte, a jornada de trabalho de doze horas diárias, sem mudança de turno, não caracteriza a hipótese prevista no art. 7º, inc. XIV, da Constituição Federal de 1988. (...) 4. A jornada de trabalho de doze por trinta e seis horas traz inegáveis benefícios ao servidor, estando efetivamente consagrada pelos usos e costumes. Extrapolação de jornada diária em alguns dias e conseqüente redução em outros, não afrontando o texto constitucional, uma vez que respeitada a jornada semanal. (TRF4, AC 97.04.48403-8, Terceira Turma, Relator Paulo Afonso Brum Vaz, DJ 11/07/2001) (grifei)

De fato. Os policiais, como se sabe, laboravam no turno de 24x72, sendo este

Page 29: Estudo da PRF

aceito e preferido pela grande maioria dos policias em todo o território nacional. Mesmo sabendo que estavam laborando em jornada superior às quarenta horas semanais, não havia descontentamento. Lembrando que o fato da Administração ter começado a chamar o policial para serviços extraordinários em demasia, sem remuneração e, muitas vezes, sem lhe dar o direito de compensar estes serviços nos finais de semana, levou estes policiais a irem a juízo, buscarem seus direitos para serem remunerados pelos excesso de horas trabalhadas. Voltando ao tema, a escala de 12x24 e 12x72, nos parece que as 72 horas se encaixam na descrição fática do entendimento jurisprudencial: "traz inegáveis benefícios ao trabalhador". Contudo, a escala é de revezamento, não estando o servidor em turnos fixos. E sobre isto a jurisprudência também já firmou posição, como bem o mostramos, qual seja, em escalas de revezamento afeta "a higidez física e mental do trabalhador".

Em princípio, parece ser insolúvel o problema que se apresenta. Se por um lado o servidor deveria cumprir a jornada de 40 horas por ter uma folga elastecida que lhe "trás inegáveis benefícios", por outro, lhe deveria ser concedido o direito previsto no art. 3º do Decreto 1.590/95 com redação dada pelo Decreto nº 4.836/03. Isto posto devido ao fato da escala ser de revezamento, onde ele obrigatoriamente deverá trabalhar em turnos alternados entre dia e noite, com o agravante de ter que comparecer em outros dias, que não o de sua escala ordinária, para "compensar" as horas não trabalhadas. Como se vê, os "inegáveis benefícios", se é que realmente existem, deixam de existir em face da obrigatoriedade do comparecimento ao serviço em dias que seriam sua folga.

Aqui nos parece apropriado buscar nos princípios do Direito Administrativo e Constitucional uma solução satisfatória. Os Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade já estão consagrados, tanto na doutrina quanto na jurisprudência pátria. Se os limites máximo e mínimo da jornada semanal são de 40 e 30 horas semanais, respectivamente, penso não haver óbice para uma solução intermediária.

Qual seja, em se adotando a escala de 12x24 e12x72, o servidor não necessitará de comparecer para serviços prestar serviços extraordinários, pois estaria entre o limite mínimo e máximo, não extrapolando o comando legal.

Façamos um cálculo para saber qual é a carga horária semanal que o trabalhador será submetido:

Pela soma das horas sabemos que cada ciclo de trabalho (12x24 e 12x72),

totalizam 120 horas, ou seja: cinco dias. Neste interregno o servidor trabalha 24 horas reais. Isto porque, na verdade, já demonstramos que a jornada noturna, em face da "hora ficta" e prolongamento de jornada, é superior em número de horas à da diurna.

Se o Administrador, teimosamente não reconhecer o prolongamento de jornada, o que contraria a jurisprudência consolidada nos pretórios nacionais, não poderia deixar de reconhecer, no mínimo, a jornada noturna tal como prevista no Lei 8.112/90, ou seja, das 22:00 às 05:00 horas, o que acrescenta em uma hora o labor noturno.

Apenas para conhecimento, se for considerada esta tese, a carga horária semanal será, em média, de trinta e cinco horas e quarenta e oito minutos.

Assim, embora sustentemos que a tese adotada seja esta, a jornada noturna após às 21:00 horas (art. 3º, § 1º, Dec. 1.590/95), e o prolongamento da jornada até às 08:00 horas, o que já demonstramos, acrescenta a jornada em uma hora, trinta e quatro minutos e dezessete segundos, para fins meramente didáticos, adotaremos o texto da do art. 75, da Lei 8.112/90, o qual acrescenta a jornada noturna em apenas uma hora (das 22:00 às 05:00, com cinquenta e dois minutos e trinta segundos por hora).

Com isto, a jornada noturna totalizaria não doze, mas, treze horas laboradas.

Assim, como dizíamos o servidor, a cada cinco dias, trabalha 25 horas tendo em vista a escala ora estudada. Se em cinco dias ele trabalha 25 horas, logo, em sete dias, pela média simples será de 35 horas.

Apesar de algumas semanas a jornada seja inferior, em outras será superior, mas a cada cinco semanas o ciclo se renova, não tendo o que se falar em compensação, pois a própria sistemática, fará a compensação ao longo do tempo.

Lembremo-nos que o policial não tem feriado, assim, sempre ele vai cumprir a jornada integral, em jornadas que se "auto-compensam", e ao fim de cada ciclo, não haverá horas a serem compensadas.

Page 30: Estudo da PRF

Concluímos então, defendendo a tese da não convocação do policial, que esteja submetido à escala de 12x24 e 12x72, para cumprirem jornadas extraordinárias.

Pois, muito embora ele não chegue a trabalhar as quarenta horas semanais, também supera em muito as trinta horas. Levando em consideração para tanto, o Princípio da Razoabilidade e da Proporcionalidade, haja visto que tal jornada não ultrapassa os limites impostos pela Lei, neste sentido, não há em que se falar em ferir o Princípio da Legalidade.

ESCALAS DE 24X72

Como nós já frisamos, esta escala é a preferida pela grande maioria dos PRFs.

Em que pese haver entendimentos de que esta escala de serviço "não é produtiva", com a devida vênia, discordamos. São inúmeras as peculiaridades do serviço prestado pela categoria dos policiais rodoviários federais que não estão sendo consideradas.

Citamos como exemplo, o movimento de veículos nas rodovias durante à noite.

Excetuando os grandes centros, como as regiões metropolitanas, as rodovias ficam desertas durante à noite. O movimento de veículo cai para índices que se aproximam de zero. Qual é a finalidade em manter viaturas policias rodando, gastando combustível, se desgastando e incorrendo em riscos de acidentes? Certamente, isto deve ser considerado para que se possa falar em "comprometer a produtividade".

Outro fator a ser considerado é a distância de alguns postos em relação à sede das Delegacias, e da residência do policial. No caso da Delegacia de Cascavel-PR, alguns policiais moram na cidade de Medianeira-PR, que é cortada pela BR 277, km 670, viajam para trabalhar no posto de Laranjeiras do Sul-PR, que se situa no km 452 da mesma rodovia. São quatrocentos e quarenta quilômetros entre ida e volta. Lembre que o policial não recebe horas intinere.

O exemplo que citamos é apenas para ficar na realidade que conhecemos, mas, em outras regionais existem situações ainda piores do que esta. Certo é que o policial deverá estar a postos para a ocorrência de alguma eventualidade, visto que devido à baixa intensidade do tráfego, também são baixos os números dos acidentes neste período, e mais, são pouquíssimos os veículos para serem fiscalizados.

Apenas falar que a escala de 24x72 é improdutiva sem levar em conta estes, e outros aspectos não menos relevantes, é apenas palpite, sem base científica ou empírica, visto que é dado por quem não conhece a realidade do serviço policial. Aqui se incluem alguns PRFs que jamais trabalharam no serviço operacional, em postos policiais fiscalizando veículos, visto que ingressaram na PRF e foram destacados para realizar serviços administrativos e ali permaneceram sem conhecer a realidade do serviço policial.

Assim, defendemos o retorno da escala de 24x72. É claro que por ultrapassar a jornada semanal de 40 horas, deverá haver compensações através de dispensas.

Estas foram adotadas nos meses de novembro e dezembro de 2008, foi dado início às compensações. No primeiro mês, a compensação era semanal. Assim, o policial era dispensado do serviço por oito horas (duas vezes a cada quatro semanas), uma semana não havia dispensa ou escala de reforço por fecharem exatas quarenta horas, e em uma destas quatro semanas, deveria cumprir uma escala extraordinária de reforço, pois nesta, a jornada era de apenas trinta e duas horas.

Fazendo as contas, veremos que o excesso era de oito horas a cada quatro semanas. Tal sistema não traz grandes benefícios ao policial, pois, normalmente, quando está em postos mais afastados, ele viaja em grupos no mesmo carro, que além de fazer bem ao meio ambiente reduzindo a quantidade de monóxido de carbono lançada no ar, ainda resulta em economia financeira, pois apenas um carro é que gasta combustível.

No mês de dezembro, contudo, adotou-se uma melhor solução, que foi a compensação mensal, assim o policial apenas era dispensado uma vez ao mês pelo período de oito horas.

Tal sistemática, como vimos, apesar de ser a melhor adotada até então, ainda não era justa. Neste caso, as horas compensadas eram apenas as horas reais. A hora ficta não foi em nenhuma destas compensações, levada em consideração. Sem considerar o prolongamento de jornada combinada com o § 1º, do Dec 1.590/95, a jornada deve ser acrescida em uma hora por serviço de 24 horas, assim, a quantidade a ser compensada não é apenas de oito horas, e sim de 15 quando o policial trabalhar sete serviços no mês e de 16, quando forem oito serviços no mês. Já não há o que discutir sobre esta regra. A jurisprudência, já o

Page 31: Estudo da PRF

demonstramos, é uníssona: a hora reduzida é norma de ordem pública, sendo indisponível às partes para qualquer negociação. Só resta então, ao Administrador, cumprir a lei.

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