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Estudo da frequência dos sentidos empregados na produção da barra na letra “T” como uma importante ferramenta à grafoscopia Dezembro/2018 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018 Estudo da frequência dos sentidos empregados na produção da barra na letra “T” como uma importante ferramenta à grafoscopia Fabricia Garcia de Freitas [email protected] Perícia Criminal e Ciências Forenses Instituto de Pós-Graduação - IPOG Bento Gonçalves, RS, 01 de junho de 2018 Resumo A grafoscopia tem se voltado à busca por elementos discriminadores da escrita, afirmando-se como um meio de identificação humana. O artigo a seguir, consiste no estudo estatístico da frequência dos sentidos empregados na produção da barra na letra “T”, devido ser observado como método incomum o sentido da direita para esquerda (também no corte do algarismo “7”), buscando verificar o sentido de produção da barra como elemento discriminador da escrita, demonstrando o sentido mais frequentemente empregado e o mais incomum, também de acordo com a lateralidade gráfica dos escritores. Em Bento Gonçalves/RS, 121 participantes voluntários, através de frases, de reproduções do seu nome e de numerais, forneceram grafismos contendo os objetos desse estudo. Para determinar o sentido do traço, seguiram-se os métodos propostos por Silva e Feuerhamel (2014) e Feuerharmel (2016). Os resultados apresentaram alta frequência no sentido esquerda direita, tendo sido unânime nos destros e o sentido inverso confirmou-se como incomum, porém, predominante nos escritores canhotos. E, sobre sentido do corte do algarismo 7, quase todas as amostras mantiveram o sentido empregado na letra “t”, indicando elevado índice de interrelação. Por fim, concluiu-se que os percentuais obtidos, foram considerados satisfatórios para um elemento discriminante, apresentando também os demais critérios. Palavras-chave: Elementos Discriminadores. Hábitos Gráficos. Grafoscopia. 1. Introdução A grafoscopia é uma área da criminalística, que tem os escritos como objeto de estudo e de trabalho (SILVA e FEUERHARMEL, 2014:87). Nos escritos, existe uma infinidade de detalhes informativos, que através dos estudos em Grafoscopia e do uso de metodologias específicas adotados na realização de análises grafoscópicas, se torna possível identificar indíviduos. Desta forma, a Grafoscopia passou a ser considerada como um meio de identificação humana (MELO, 2010:146; SILVA e FEUERHARMEL, 2014). Definida como “sistema para se representar enunciados da língua falada por meio de marcas permanentes e visíveis” (SAMPSON 1996:25 apud SILVA e FEUERHARMEL, 2014:91) a escrita, é considerada um dos marcos do surgimento da civilização, tão importante, que a história da humanidade pode ser dividida, na era antes da escrita e na era depois da escrita (HIGOUNET, 2003 apud GOMES, 2007:2). E, desde os primórdios, o seu objetivo

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Estudo da frequência dos sentidos empregados na produção da barra na letra “T” como uma

importante ferramenta à grafoscopia

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Estudo da frequência dos sentidos empregados na produção da barra

na letra “T” como uma importante ferramenta à grafoscopia

Fabricia Garcia de Freitas – [email protected]

Perícia Criminal e Ciências Forenses

Instituto de Pós-Graduação - IPOG

Bento Gonçalves, RS, 01 de junho de 2018

Resumo

A grafoscopia tem se voltado à busca por elementos discriminadores da escrita, afirmando-se

como um meio de identificação humana. O artigo a seguir, consiste no estudo estatístico da

frequência dos sentidos empregados na produção da barra na letra “T”, devido ser observado

como método incomum o sentido da direita para esquerda (também no corte do algarismo

“7”), buscando verificar o sentido de produção da barra como elemento discriminador da

escrita, demonstrando o sentido mais frequentemente empregado e o mais incomum, também

de acordo com a lateralidade gráfica dos escritores. Em Bento Gonçalves/RS, 121

participantes voluntários, através de frases, de reproduções do seu nome e de numerais,

forneceram grafismos contendo os objetos desse estudo. Para determinar o sentido do traço,

seguiram-se os métodos propostos por Silva e Feuerhamel (2014) e Feuerharmel (2016). Os

resultados apresentaram alta frequência no sentido esquerda – direita, tendo sido unânime nos

destros e o sentido inverso confirmou-se como incomum, porém, predominante nos escritores

canhotos. E, sobre sentido do corte do algarismo “7”, quase todas as amostras mantiveram o

sentido empregado na letra “t”, indicando elevado índice de interrelação. Por fim, concluiu-se

que os percentuais obtidos, foram considerados satisfatórios para um elemento discriminante,

apresentando também os demais critérios.

Palavras-chave: Elementos Discriminadores. Hábitos Gráficos. Grafoscopia.

1. Introdução

A grafoscopia é uma área da criminalística, que tem os escritos como objeto de estudo e de

trabalho (SILVA e FEUERHARMEL, 2014:87).

Nos escritos, existe uma infinidade de detalhes informativos, que através dos estudos em

Grafoscopia e do uso de metodologias específicas adotados na realização de análises

grafoscópicas, se torna possível identificar indíviduos. Desta forma, a Grafoscopia passou a

ser considerada como um meio de identificação humana (MELO, 2010:146; SILVA e

FEUERHARMEL, 2014).

Definida como “sistema para se representar enunciados da língua falada por meio de marcas

permanentes e visíveis” (SAMPSON 1996:25 apud SILVA e FEUERHARMEL, 2014:91) a

escrita, é considerada um dos marcos do surgimento da civilização, tão importante, que a

história da humanidade pode ser dividida, na era antes da escrita e na era depois da escrita

(HIGOUNET, 2003 apud GOMES, 2007:2). E, desde os primórdios, o seu objetivo

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permanece sendo o de “registrar algo, de alguma forma, para determinado grupo, para aquele

momento ou para a posteridade” (GOMES, 2007:1).

Os primeiros indícios de fixação da linguagem surgiram na pré-história e eram de forma

rupestre nas paredes das cavernas (SILVA e FEUERHARMEL, 2014:91), sem apresentar

uma organização sistêmica (COTRIM, 1996 apud SILVA e FEUERHARMEL, 2014:91).

Não há uma certeza de quando surgiu o primeiro método sistêmico da escrita (SILVA e

FEUERHARMEL, 2014:92), mas sabe-se que “os egípcios foram os primeiros a perceber o

valor dos símbolos singulares para representar cada um dos sons da voz humana”

(MOORHOUSE, 1961 apud SILVA e FEUERHARMEL, 2014:102) e que em torno de 1700

a.C., surgia um dos importantes meios criados para sistematizar a escrita: os alfabetos

(PAULUK, 2004:5-6).

O alfabeto, de acordo com Higounet (2003 apud SILVA e FEUERHARMEL, 2014:98),

“pode ser definido como um sistema de sinais que exprimem os sons elementares da

linguagem” e de acordo com Man (2002:16 apud SILVA e FEUERHARMEL, 2014:98), é

um sistema que “serve para a busca da captação dos sons da fala por meio de um conjunto de

duas ou três dúzias de sinais únicos, cada um dos quais correspondendo a um som falado”.

Segundo Silva e Feuerharmel (2014:102-103), existem três alfabetos muito conhecidos e

usados atualmente, sendo o Latino um deles. Ele derivou-se do Grego (ver figura 1), um

importante e conhecido alfabeto, tendo surgido de uma adaptação do Fenício, o qual é

considerado o berço dos alfabetos (GOMES, 2007:9), isto porque muitos se originaram a

partir dele. Ainda assim, o sistema Fenício não foi o primeiro a surgir, mas derivou-se,

juntamente com o sistema Ugarítico, do primeiro sistema segmental de escrita que se tem

notícia: o Proto-canaanita (SILVA e FEUERHARMEL, 2014:102).

Figura 1 - Organograma que ilustra os sistemas que deram origem ao sistema latino

Fonte: Adaptado de Silva e Feuerharmel (2014:102)

Atualmente, o sistema de escrita que exerce dominância nas regiões das Américas e da

Europa, é o sistema segmental alfabético. Em sistemas segmentais, os sinais gráficos recebem

o nome de letras (SILVA e FEUERHARMEL, 2014:98).

De acordo com Pauluk (2004:2-6), quando a escrita alfabética chegou entre os gregos foi

quando se deu uma grande revolução da escrita. Repudiada por uns e acolhida por outros, “o

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domínio da escrita era tido como nenhuma elevação intelectual, mas sim como um artifício

técnico” e, portanto, até a alfabetização começar a se tornar comum, por volta do séc. V a.C.,

a escrita era de domínio de poucos.

Quanto ao modo de escrever, sempre foi habitual, em quase todas as culturas e desde os

tempos pré-históricos, que as pessoas utilizassem a mão direita na realização das atividades

mais hábeis. As pessoas canhotas, que possuem habilidade natural para seu lado esquerdo,

sempre foram vistas com certo preconceito, pois os lados foram estigmatizados como um

sendo o lado bom e o outro o ruim, onde o esquerdo inclusive era tido como contrário a Deus.

Esse estigma, de acordo com a teoria mais aceita atualmente, surgiu entre os povos

neandertais europeus, que ao se orientarem pela Estrela Polar no hemisfério norte, observaram

o nascer do sol em sua mão direita, morrendo na mão esquerda (RANGEL, et al, 2015:1-4).

Não existe consenso sobre a causa do canhotismo, alguns estudos apontam como sendo uma

patologia desenvolvida na gravidez, outros que a causa desse sinistro pode ser devido ao nível

de testosterona, ou questão de genética (RANGEL, et al, 2015:1-4).

Pesquisas apontam que em cinco mil anos, a proporcionalidade do número de canhotos em

relação a destros, quase não sofreu alterações e, que o apreço da sociedade pela

homogeneização ainda exerce certa pressão para que as pessoas sejam destras. Assim, muitos

canhotos se tornam escritores destros por força de familiares ou de educadores e talvez isto

seja um dos motivos para eles serem considerados minoria em nível universal, o que também

dificulta para precisar a real porcentagem deles no mundo (RANGEL, et al, 2015:1-4).

2. Processo de Alfabetização e da Escrita Automatizada

Segundo Feuerharmel (2017:1), a construção da escrita é gerada por meio de complexas ações

que dificultam seu aprendizado. A alfabetização leva em torno de um ano para ser concluída,

mas são necessários anos de prática para se realizar uma escrita devidamente automatizada e

amadurecida, atingindo de fato o processo final de uma alfabetização.

O processo de alfabetização consiste basicamente na automatização de sequências

de movimentos musculares necessários para a produção de símbolos gráficos

(algarismos, letras, palavras e algumas sequências de palavras) o que é obtido por

meio de repetições sistemáticas (FEUERHARMEL, 2017:5).

No Brasil, a alfabetização basicamente começa por meio da observação e do treino dos

modelos do alfabeto, para que assim seja memorizado o formato das letras. E, a fase final só é

atingida quando se torna possível escrever por meio de ditados e elaborar redações livres

(FEUERHARMEL, 2017:1).

[...] uma pessoa plenamente alfabetizada é aquela capaz de executar, com elevado

automatismo e na sequência correta, todos os movimentos necessários para produzir

os símbolos relacionados com o som (palavra, frase) que ela pretende registrar [...]

(FEUERHARMEL, 2017:2).

De acordo com Feuerharmel (2017:9), as assinaturas são os grafismos que as pessoas

produzem com mais frequência, durante a vida inteira. Mas, ainda assim, existem pessoas que

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mesmo sendo alfabetizadas apresentam dificuldades para escrever o nome ou sua assinatura.

Isso significa que passar por um processo de alfabetização, não é sinônimo de possuir

automatismo e domínio com a escrita (FEUERHARMEL, 2017:2).

Em casos como esse, para que essas pessoas consigam realizar seus manuscritos, elas

dependem de um processo iniciado pela decomposição das palavras, seguido da busca em sua

memória por imagens das letras para que assim então comecem a desenhar, lentamente, letra a

letra, indicando que “não chegaram nem perto da fase do automatismo gráfico e não são

capazes de instintivamente traduzir sons em sequências de movimentos com a caneta”

(FEUERHARMEL, 2017:2).

No entanto, o que chamamos de escritas desenhadas (quando basicamente o movimento de

cada letra é pensado) podem ser realizadas também por pessoas que apresentam um elevado

nível de automatismo gráfico, onde com letras diferentes do seu modelo automático,

conseguem produzir inclusive textos. Mas, ainda assim, existem movimentos no método de

construção das letras (e até das ligações entre elas), que por impercepção ou por alguma

distração do escritor, podem não sofrer alterações e acabar sendo empregadas características

da escrita espontânea (FEUERHARMEL, 2017:3).

Dessa forma, sob condições normais, a escrita automatizada ocorre de forma consciente

(sobre o conteúdo da escrita), mas a sua construção (sobre o formato e o estilo), ocorrem de

modo insconsciente, afinal, são gerados por meio de hábitos aquiridos (HUBER E

HEADRICK, 1999 apud FEUERHARMEL, 2017:6; SILVA e FEUERHARMEL, 2014).

3. A Grafoscopia

Consideradas como biometria de caráter comportamental, as assinaturas representam uma

marca ou selo pessoal do indivíduo e são usadas como “recurso comprobatório” de

documentos que, por sua vez são muitíssimo frequentes na vida de todas as pessoas, por suas

diversas utilidades como, por exemplo, na identificação de indivíduos, nas lavraturas de

contratos e em transações financeiras (SANTOS, 2004:1; NOGUEIRA, 2012: 1; GORZIZA,

2017:52).

Devido à importância e a vasta área ocupada, por tamanha diversidade de formatos e razões

em que estes cercam a vida humana, os documentos são constantemente alvos de fraudes e

adulterações (GORZIZA, 2017:52). E, portanto, existe uma área na criminalística, a

Documentoscopia, que estuda e analisa documentos a serviço da justiça (SILVA e

FEUERHARMEL, 2014:85) e, sua finalidade é aferir a autenticidade de um documento, ou

seja, “descobrir se o documento questionado foi, de fato, emitido pela pessoa, órgão ou

entidade que deveria tê-lo produzido” (SILVA e FEUERHARMEL, 2014:7).

Quando existe a necessidade de aferir a autenticidade de um documento ou identificar o autor

dos mesmos, e for sobre especificamente o documento gráfico, com o propósito de resolver

questões judiciais, sejam elas criminais ou cíveis, a área que detém o devido conhecimento

para realizar uma análise pericial, é a grafoscopia. Ela integra, portanto, a documentoscopia, e

é uma área muito solícita dentro das perícias (JUSTINO, 2001:32; BARANOSKI, 2005:543;

SILVA e FEUERHARMEL, 2014:85).

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Segundo autores como Galvão (1936:15 apud SILVA e FEUERHARMEL, 2014:87) e

Perandréa (1991:22 apud MELO, 2010:146), a Grafoscopia foi desenvolvida com o propósito

de elucidar crimes que envolvam manuscritos, baseada em conhecimentos técnicos científicos

que são aplicados nos exames gráficos, os quais consistem, de acordo com Silva e

Feuerharmel (2014:191), “na comparação de hábitos gráficos de uma determinada pessoa com

aqueles observados nos escritos cuja autoria se deseja identificar” e são realizados de forma

minuciosa (FALAT, 2003 apud DOMINGUES e TELLES, 2017:2), buscando identificar a

autenticidade do documento gráfico e suas falsificações, determinando sua autoria.

No Brasil, o profissional que atua na área da Grafoscopia pode ser um Perito Oficial ou Perito

Cível. O primeiro é aprovado em concurso público de peritos para polícia estadual ou polícia

federal e ao ser nomeado realiza um curso de formação. Já o segundo atua como Perito

Nomeado por juízes ou como Assistente Técnico e precisa “ter um Diploma de Nível Superior

em qualquer área de conhecimento e um curso de extensão com conhecimentos em

Grafoscopia” (GORZIZA, 2017:53).

Silva e Feuerharmel (2014:88) observam, que diferente das denominações recebidas aqui no

Brasil, “nos países de língua inglesa é comum denominar somente o indivíduo responsável

pela realização dos exames nos manuscritos, ao invés de definir a área de atuação”. Sendo

assim, nesses referidos lugares, o exame grafoscópico é realizado por um handwriting expert.

Todavia, difícil é não ficar em dúvida quanto à específica área de atuação de um determinado

handwriting expert, afinal, essa terminologia também é usada para outros casos como, por

exemplo, ao profissional que estuda a personalidade das pessoas através da escrita e que no

Brasil não seria função do profissional em grafoscopia, mas de um grafologista.

Deste modo, é possível notar que a realização de estudos e exames em escritos, não ocorre

somente pela Grafoscopia. Áreas como a Grafologia, Grafometria e Grafonomia, também o

fazem, variando os objetivos. Sendo assim, a Grafologia, objetiva a determinação da

personalidade de um indivíduo, a Grafometria, busca estudar os grafismos aplicando unidades

de medida e a Grafonomia, tem como objetivo descrever as características gráficas dos

lançamentos (SILVA e FEUERHARMEL, 2014:88).

4. A Análise Grafoscópica

A análise grafoscópica fundamenta-se na premissa de que a escrita é individual, não

havendo, em todo o mundo, duas pessoas que escrevem exatamente da mesma

maneira. Por essa razão, considera-se possível distinguir as escritas de quaisquer

pessoas, desde que elas tenham uma extensão razoável (SILVA e FEUERHARMEL,

2014:126).

Essa fundamentação é um axioma, ou seja, uma premissa aceita como verdadeira que não foi

preciso comprovação (FERREIRA, 1999 apud SILVA e FEUERHARMEL, 2014:127). Dessa

forma, por mais que essa premissa seja aceita e que a individualidade da escrita esteja sendo

parcialmente testada, em diversas partes do mundo, a referida premissa deve ser interpretada

com cautela na realização de exames, por não ter sido realizado uma análise científica

comparando a escrita com toda a população do planeta.

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O exame grafotécnico, de modo geral, é um trabalho de comparação e estudo entre os padrões

gráficos (autoria conhecida) e os escritos questionados (autoria que se deseja identificar)

(FEUERHARMEL, 2017:6). E, para que seja possível realizar uma análise grafoscópica, é de

crucial importância, analisar se as morfologias dos escritos (questionado e padrões)

apresentam regiões de equivalência entre eles, caso contrário, se torna inviável realizar um

confronto de acordo com a metodologia da grafoscopia (GORZIZA, 2017:53).

[...] um confronto entre manuscritos (que dependem de fatores comportamentais

bastante variáveis – hábitos) não pode ser realizado com os mesmos critérios e

metodologia que os confrontos entre impressões papiloscópicas, que dependem de

fatores anatômicos e invariáveis (FEUERHARMEL, 2017:4).

Silva e Feuerharmel (2014:201) salientam que, para estabelecer uma conclusão de um exame

grafoscópico, é preciso muito mais do que simplesmente “um predomínio de semelhanças e

diferenças entre duas escritas”, porque a escrita está sujeita a apresentar algumas variações,

mesmo que pequenas, por ser o resultado de um processo comportamental, o qual envolve

comandos cerebrais, que através do sistema nervoso geram a movimentação muscular

(MENDES, 2010 apud DOMINGUES e TELLES, 2017:2; GORZIZA, 2017:53;

FEUERHARMEL, 2017:4 e 129).

As variações do grafismo originam-se de causas normais, artificiais e ocasionais. As

primeiras são aquelas que acompanham o próprio desenvolvimento humano, nos

períodos abrangidos pela infância e adolescência, maturidade e velhice. Já as

segundas, são transformações da escrita causadas pelo artificialismo ocorridos nos

casos de falsificações e dissimulações gráficas. As últimas causas originam-se das

moléstias, dos estados emocionais, de lesões na mão e de outros fatores físicos

(JUSTINO, 2001:54).

Dessa forma, para que seja “possível distinguir o que seria efetivamente uma característica

divergente daquilo que poderia ser uma mera variação normal da escrita de uma determinada

pessoa”, a solicitação do fornecimento de muitos exemplares de padrões, é um procedimento

recomendado (MONTEIRO, 2008 apud DOMINGUES e TELLES, 2017:5). Segundo

Gomide (2000, apud DOMINGUES e TELLES, 2017:5), os padrões para a análise, precisam

ser autênticos e adequados, apresentando contemporaneidade e quantidade.

De acordo com Gorziza (2017:2), ao realizar a análise grafoscópica é preciso considerar

algumas importantes características no manuscrito (ver figura 2), que basicamente envolvem

os aspectos morfológicos, a gênese gráfica - também chamada de método de construção - “e

as características que demonstram a qualidade da escrita”.

Figura 2 – Principais características que devem ser consideradas em análise grafoscópicas

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Fonte: Gorziza, 2017

O exame grafotécnico é baseado principalmente na qualidade do traçado e nos elementos

objetivos da escrita, estes últimos são divididos em elementos de ordem geral (objetivos ou

subjetivos) e elementos de natureza genética (DOMINGUES e TELLES, 2017:3-5).

Segundo Gomide e Gomide (1995, apud JUSTINO, 2001:54), os elementos técnicos

aplicados nos exames grafoscópicos que “podem ser enquadrados [...] com convergência ou

divergência (mínima, média, máxima)” e são classificados inicialmente de duas formas:

elementos genéricos (ex.: calibre, espaçamento, proporcionalidade, valores angulares, valores

curvilíneos e inclinação axial) ou elementos genéticos (ex.: pressão, progressão, ataques e

remates) (JUSTINO, 2001:54).

Quanto aos elementos de ordem geral (genéricos), “no Brasil está bastante difundido um

sistema de caracterização da escrita que considera a existência de duas classes de qualidades

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gráficas”: as subjetivas e as objetivas (SILVA e FEUERHARMEL, 2014:152). As

características gráficas subjetivas são “avaliadas e comparadas por meios indiretos” (SILVA e

FEUERHARMEL, 2014:152), pois o examinador consegue percebe-las, mas não consegue

mensurá-las e demonstrá-las de modo concreto. São exemplos de elementos subjetivos

bastante apontados: a velocidade em que foi produzido o traçado, ritmo da escrita, habilidade

do punho e a pressão que foi aplicada pelo instrumento usado para a escrita (MENDES, 2010

apud DOMINGUES e TELLES, 2017:4; SILVA e FEUERHARMEL, 2014:152). Já, as

qualidades gráficas objetivas “podem ser quantificadas, ou, ao menos, demonstradas

diretamente” (SILVA e FEUERHARMEL, 2014:152) e “embora possa revelar hábitos

inconscientes do escritor”, “os elementos objetivos não são identificadores” (MENDES, 2010

apud DOMINGUES e TELLES, 2017:4). São consideradas qualidades gráficas objetivas ou

também chamadas de elementos de ordem geral objetivos do grafismo: o andamento gráfico,

a inclinação, os espaçamentos, os alinhamentos, o calibre e os valores angulares e curvilíneos,

por exemplo.

Quanto aos elementos de natureza genética, de acordo com D’Almeida (2015 apud

DOMINGUES e TELLES, 2017:5), “são formados por aspectos dinâmicos da escrita, e

responsáveis pela forma durante a construção do traço, registrando elementos específicos de

cada punho escritor”. Representados pelos pontos de ataques e de remates, ligações entre

letras, os traços (ornamentais ou de construções de letras), movimentos (curvos ou de vai e

vem reto) e maneirismos gráficos, os elementos de natureza genética, podem estabelecer uma

conclusão pericial, razão pela qual, os tornam muito importantes e, portanto, em uma análise

grafoscópica deve ser demandada especial atenção sobre eles.

5. Hábitos Gráficos e Elementos Discriminadores

Em condições normais, uma pessoa decide quando escrever e o conteúdo de sua

escrita, bem como a velocidade global com que escreverá, mas dificilmente atentará

para a sequência e o formato das letras que serão produzidas, a forma de ligação (ou

sua ausência) entre cada par de letras vizinhas, a pressão aplicada na caneta, as

proporções dimensionais entre os traços produzidos e vários outros detalhes (SILVA

e FEUERHARMEL, 2014 apud FEUERHARMEL, 2017:6).

Um exame grafotécnico “consiste na comparação de hábitos gráficos de uma determinada

pessoa com aqueles observados nos escritos cuja autoria se deseja identificar” (SILVA e

FEUERHARMEL, 2014 apud GORZIZA, 2017:53). Através desse estudo entre os hábitos

gráficos do autor dos padrões e os verificados na escrita questionada que é identificado se são

hábitos iguais ou não, podendo indicar se houve unicidade ou dualidade de punho

(FEUERHARMEL, 2017:7).

No processo de alfabetização, “cada pessoa desenvolve particularidades em suas sequências

de movimentos” que ao ser reproduzidos inúmeras vezes, vão se enraízando na memória e

tornam-se hábitos (comportamentos, usuais e frequentes, adotado por nós, que realizamos de

forma automatizada) (FEUERHARMEL, 2017:5-6). Ainda assim, hábitos gráficos podem

apresentar modificações (FEUERHARMEL, 2017: 5), visto que as pessoas podem produzir

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escritas de quatro diferentes tipos: escritas normais, escritas alteradas, as disfarçadas e as

imitadas (FEUERHARMEL, 2016:14).

As escritas normais, de acordo com Feuerharmel (2016:14), são aquelas realizadas em

condições normais, geradas pela espontaneidade gráfica e elas apresentam algumas

imprecisões consideradas dentro da faixa de variação normal, devido à escrita ser um “gesto

gráfico psicossomático” conforme Mendes (2010 apud DOMINGUES e TELLES, 2017:2).

Segundo Koppenhaver (2007 apud GORZIZA, 2017:2), as imprecisões ou variações naturais

da escrita, com o tempo e exercício intensivo, podem ser bastante reduzidas à medida que

aumenta o grau qualidade e de automatismo dos hábitos gráficos.

Quanto às escritas alteradas, disfarçadas e imitadas, as primeiras podem ser resultado, por

exemplo, do estado nervoso alterado, alguma lesão na mão, a posição do escritor, a superfície

onde escreveu, enfim, situações em que o elevado grau de variação, não foi gerado de forma

proposital. Já as escritas disfarçadas “tendem a apresentar significativas modificações em suas

características, podendo até ser totalmente deformadas” e, as imitadas (resultado de um

processo onde um determinado indivíduo imita a escrita de outro indivíduo), é uma escrita

que, teoricamente, espera-se que apresente “uma mistura de características gráficas do próprio

imitador com características semelhantes às da pessoa cuja grafia foi imitada – a vítima da

imitação” (FEUERHARMEL, 2016:14).

Não por acaso, os documentos mais frequentemente encaminhados para a perícia

grafoscópica são justamente aqueles que contém escritas não normais: alteradas

disfarçadas ou imitadas. Justamente por isso, é necessário que os peritos tenham

condições de trabalhar com razoável segurança em qualquer uma dessas situações

(FEUERHARMEL, 2016:14).

Segundo Feuerharmel (2017:8), os hábitos gráficos de um escritor são detectados a partir do

estudo de suas características morfológicas, porém, “nem todas as características gráficas

observadas em uma escrita se devem a hábitos”.

[...] As características de uma determinada escrita que tenham relação direta com

algum dos hábitos gráficos de seu autor e, portanto, que sejam relativamente

constantes nessa escrita, mas também pouco comuns na população em geral, podem

ser consideradas elementos individualizadores da escrita (FEUERHARMEL,

2017:8).

Os elementos individualizadores, “contribuem para a distinção de escritas produzidas por

diferentes pessoas ou evidenciam as semelhanças entre escritas de mesma autoria” (HUBER e

HEADRICK, 1999 apud FEUERHARMEL, 2017:8), todavia, nem todos possuem um valor

discriminante (FEUERHARMEL, 2017:8), ao contrário dos considerados elementos

discriminativos da escrita, onde todos como o próprio nome diz possuem esse valor

discriminante, por apresentarem “constância na escrita analisada, raridade na população em

geral e imperceptibilidade” sendo as propriedades gráficas que mais contribuem para a

identificação de indivíduos (FEUERHARMEL, 2016:1).

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O primeiro fator implica que a ausência ou a alteração de uma determinada

característica na escrita questionada constitui um bom indício de que ela não tenha

sido produzida pela pessoa a quem se atribui sua autoria (em cuja escrita, tal

característica é constante). A raridade de uma determinada característica implica o

contrário, tornando pouco provável que sua presença na escrita questionada se deva

a mero acaso (características raras, entretanto, podem ser imitadas). A

imperceptibilidade de uma característica discriminadora diminui a probabilidade de

ela ser deliberadamente imitada ou disfarçada (FEUERHARMEL, 2016:1).

Dessa forma, os estudos em grafoscopia têm se voltado à busca por elementos

discriminadores da escrita, que independentemente do tipo de escrita que for produzido

(normal, alterada, disfarçada ou ainda imitada), ele esteja presente.

Encontrar elementos discriminadores, ou seja, elementos que apresentem o conjunto de

características: constância, raridade e imperceptibilidade, são valiosas ferramentas de auxílio

para as análises periciais, elevando o grau de objetividade e confiabilidade de conclusões

obtidas (FEUERHARMEL, 2017:1). E, baseada nessa justificativa, foi estudado, neste

trabalho, o método de construção da barra/corte da letra “T” quanto ao sentido de produção

(esquerda/direita ou direita/esquerda), verificando qual é o mais frequentemente empregado

pelos escritores (destros e canhotos), buscando identificar se apresenta os critérios necessários

para que possa ser empregado como elemento discriminador, analisando a influência da

lateralidade gráfica e a relação entre o sentido empregado no corte da letra “T” com o

empregado no algarismo “7”.

6. Desenvolvimento

A metodologia deste trabalho consistiu na análise grafoscópica dos sentidos de construção

(esquerda/direita ou direita/esquerda) da barra/corte da letra “T” e do algarismo “7”.

A pesquisa é classificada como pesquisa de campo transversal, de finalidade básica, descritiva

e predominantemente quantitativa, pois foi realizada com grupos diferentes de indivíduos,

voltada para o conhecimento científico, interpretando a realidade sem nela interferir, na qual a

análise dos dados foi realizada principalmente por meio de estatística.

O levantamento bibliográfico para o embasamento teórico dessa pesquisa, foi buscado em

livros, artigos encontrados no google acadêmico e a partir de revistas ciêntíficas como, por

exemplo, as revistas da APCF (Associação dos Peritos Criminais Federais).

Foram reunidas 121 amostras de grafismos, produzidos por pessoas da cidade de Bento

Gonçalves no Rio Grande do Sul, coletadas durante o mês de abril de 2018, onde todos os

voluntários receberam uma folha de papel, na qual havia a informação “sem valor” (com o

propósito de tornar a coleta mais segura aos participantes), contendo também um cabeçalho

informativo sobre a finalidade da amostra, seguido das orientações para o fornecimento das

mesmas.

As amostras foram coletadas de modo individual sob constante observação. Foi solicitado

para que o participante escrevesse cinco frases, as quais foram previamente estabelecidas e

mantidas iguais em todas as amostras coletadas, contendo a presença da letra “T”, de forma

frequente (14 ocorrências distribuídas). Depois solicitado para que fosse escrito seu nome

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completo, cinco vezes, em linhas (com a informação “sem valor”, abaixo de cada uma) e por

fim, que fosse escrito os números de um a dez, também cinco vezes e em formato numeral.

A lateralidade gráfica dos participantes foi a única característica pessoal efetivamente

considerada neste trabalho, a qual foi observada e registrada durante a coleta. Desta forma, do

total de 121 amostras coletadas, 73,55% são de participantes destros e 26,44% de canhotos,

conforme tabela 1.

As amostras apresentaram variabilidade quanto à idade, ao gênero, grau de instrução e classe

social. E, apesar de não terem sido critérios considerados nesta pesquisa, foram feitas algumas

considerações sobre eles: 1ª - a faixa etária que compreendeu o maior número de

participantes, foi de 08 a 20 anos (38,84%); 2ª - houve elevado predomínio de participantes

do sexo feminino (66,24%); 3ª – de 121 amostras reunidas, 53% foram obtidas entre duas

instituições de ensino, com participantes de todos os quadros (docente, discente, direção e de

funcionários) e que envolveu os ensinos, fundamental e médio, público e particular.

Tabela 1 - Algumas informações dos participantes deste estudo

Lateralidade Gráfica

DESTROS 89

CANHOTOS 32

Gênero

FEMININO 81

MASCULINO 40

Faixa Etária

8-20 54

21-40 27

41-60 29

61-80 10

81-100 01

Fonte: Próprio autor

Foram seguidos os métodos propostos por Silva e Feuerharmel (2014) e Feuerharmel (2016),

para a determinação do sentido dos traços. Tendo sido possível fazer a definição dos mesmos,

macroscopicamente, na grande maioria das amostras. Dessa forma, o uso de ampliação só foi

necessário em algumas situações específicas (letra pequena, produção no sentido vai e vem),

em que foi utilizado uma Lupa Conta-Fios Profissional com graduação 45x22mm. Entretanto,

em todas as amostras foi possível concluir sobre o sentido do traço as quais foram produzidas

com canetas esferográficas de tinta pastosa, predominantemente na cor azul.

Os métodos de construções empregados foram determinados, a partir da análise do ataque

conforme demonstrado nas figuras 3 e 4.

Figura 3 - Produção da barra/corte da letra “T” e do algarismo “7” em sentido esquerda-direita

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Fonte: Próprio Autor

Figura 4 - Produção da barra/corte da letra “T” e do algarismo “7” em sentido direita-esquerda

Fonte: Próprio Autor

E os resultados obtidos foram estes apresentados na tabela a seguir:

Tabela 2 – Frequências observadas quanto ao método de construção (sentido) da letra “t” e algarismo “7”

SENTIDO DE PRODUÇÃO

BARRA/CORTE DA LETRA “T” BARRA/CORTE DO ALGARISMO “7”

TOTAL DESTROS CANHOTOS TOTAL DESTROS CANHOTOS

ESQUERDA-DIREITA 75% (91) 73,5% (89) 1,6% (02) 77% (93) 73,5% (89) 3,3% (04)

DIREITA-ESQUERDA 20% (24) - 19,8% (24) 23% (28) - 23% (28)

ALTERNADO 5% (06) - 4,9% (06) - - -

Fonte: Próprio autor

Ao analisar esta tabela, pode-se verificar que o sentido de produção da barra/corte da letra “T”

mais frequentemente empregado é o sentido da esquerda para a direita. Este sentido de

produção foi unânime, em todos os oitenta e nove participantes destros, mas, também foi

empregado por um percentual muito pequeno de canhotos, indicando pelo menos nessa

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pesquisa, ser um sentido de produção incomum a eles (bem ao contrário do observado em

escritores destros). No entanto, o sentido de produção da direita para a esquerda, somente foi

encontrado em escritores com a lateralidade canhota e apresentou-se como um sentido de

elevada frequência entre eles.

Quanto às amostras que apresentaram alternância de sentido de produção, com base na tabela,

é possível verificar que em cento e vinte uma (121) amostras reunidas, somente seis (06)

foram assim classificadas, revelando ser um percentual muito pequeno perante o todo, pessoas

que tenham o sentido de produção alternado, considerando ainda, que o mesmo foi

encontrado somente em escritores de lateralidade gráfica canhota.

Em uma análise mais criteriosa das amostras, nas quais o participante canhoto apresentou

variação no sentido de produção, foi percebido que havia um sentido predominante nessas

amostras (tabela 3). E, curiosamente, em cinco (05) delas a variação ocorreu em uma mesma

situação: quando a letra “T” estava no início da palavra.

Tabela 3 – Organização das amostras que apresentaram sentido de produção alternado.

SENTIDO DE PRODUÇÃO

PREDOMINANTE

BARRA/CORTE DA LETRA T

TOTAL

VARIAÇÃO SOBRE O T

EM COMEÇO DE PALAVRA

VARIAÇÃO NO 2º T DA PALAVRA

TRATATIVAS

ESQUERDA-DIREITA 50% (03) 02 01

DIREITA-ESQUERDA 50% (03) 03 -

Fonte: Próprio autor

Quanto ao sentido de produção do corte/barra do algarismo “7” percebeu-se que houve forte

ligação com o sentido de produção do corte/barra da letra “T”, isso porque quase todos os

participantes apresentaram convergência de sentido para a produção de ambos,

correspondendo a 97% das amostras.

As exceções encontradas foram nas amostras de três participantes de lateralidade canhota para

a escrita, classificados como “alternados” que, conforme visto acima, apesar dessa

classificação, apresentaram uma predominância de sentido. Nesses três casos, portanto, houve

divergência com o sentido (predominante) de produção do corte/barra da letra “T”, pois foi

produzido em sentido inverso.

E, conforme é possível observar na tabela 2, não foi encontrado nenhum caso de alternância

de sentido de produção do corte/barra desse algarismo sobre ele mesmo, mas somente com

relação à letra “T” em 3% de todas as amostras, indicando que uma convergência no sentido

de produção do corte é muito comum e frequente entre eles, se comparado a uma divergência,

haja vista, bastante rara e tendo sido apresentada somente por escritores de lateralidade

canhota, considerados também raros na população em geral.

Os percentuais obtidos quanto aos sentidos de produção da barra/corte da letra T, não foram

nem muito equilibrados, que pudessem ser considerados ambos comuns, nem com exorbitante

diferença, o que significaria que a ocorrência de um deles seria de extrema raridade. Portanto,

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esses resultados indicam que é relevante encontrar um sentido ou outro de produção e que se

mostra bastante útil como elemento discriminador da escrita, apresentando os critérios

necessários.

7. Conclusão.

Conclui-se, portanto, que essa pesquisa se mostra bastante útil para a grafoscopia,

encontrando no sentido de produção da barra/corte da letra “T”, um elemento discriminante

da escrita que, de acordo com o estudado, são de elevado grau de importância em análises

grafoscópicas, corroborando muito para sua conclusão.

No entanto, existe a necessidade de ampliar os estudos sobre o assunto aqui tratado e sobre

elementos discriminadores, pois ainda são muito resumidos o numero de pesquisas científicas

específicas nessas áreas. Ainda que a amostra estudada não chegue a um número representativo da população do país,

o sentido de produção da barra se mostra bastante ligado à lateralidade gráfica do escritor e

pesquisas futuras, mais específicas e que observem essa inter-relação, elas muito

provavelmente possam vir a confirmar o resultado aqui obtido. O mesmo pode-se dizer sobre

o algarismo 7, quanto ao seu sentido de produção do corte, o qual revelou resultados

interessantes mostrando estar fortemente relacionado com o da letra “T” e, portanto, também

teve seu sentido incomum revelado, mas como as perícias grafoscópicas incidem mais sobre

assinaturas, o estudo deste nesta pesquisa foi considerado como um estudo colateral, em

caráter de apoio.

Observou-se durante a fase da coleta dos dados, que houve baixo automatismo da escrita nos

participantes mais novos, da faixa etária de 08 a 20 anos, que estão em fase de início do

desenvolvimento da escrita. Estes conduziam a caneta muito lentamente, traduzindo aos

poucos o que precisava ser escrito necessitando de um tempo maior para concluir o

fornecimento da amostra. E, também foi percebido baixo automatismo, na única participante

da faixa etária dos 81 aos 100 anos, que “pescou” as letras na memória para formar as

palavras, algumas não conseguindo escrever corretamente, todavia, produziu de modo

impecável e com agilidade o seu nome completo, revelando automatismo para sua assinatura

que é o grafismo mais produzido por ela e, pela grande maioria das pessoas conforme mostrou

a pesquisa teórica.

Por fim, os percentuais obtidos que comprovaram como sendo raro o sentido de produção da

barra da direita para a esquerda, indicaram um resultado bastante satisfatório dessa pesquisa,

por estarem associados à imperceptibilidade por parte de pessoas leigas no assunto e a

constância que se revelou quanto ao sentido empregado, fornecendo ao final dessa pesquisa

uma ferramenta com embasamento estatístico, que auxiliará os peritos a avaliarem com

razoável segurança, a raridade do sentido que for encontrado e um forte indício da

lateralidade do autor do escrito.

Referências

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