estudo da fala conectada na regiÃo metropolitana do … · modificações de morfemas e o sândi...
TRANSCRIPT
Por
Jamille Vieira Soares
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal
do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do
Título de Mestre em Linguística
Orientador: Profa. Dra.Tânia Conceição Clemente Souza.
Rio de Janeiro
2014
ESTUDO DA FALA CONECTADA NA REGIÃO
METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Estudo da fala conectada na região metropolitana do Rio de Janeiro
Jamille Vieira Soares
Orientadora: Professora Dra. Tânia Conceição Clemente Souza
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Linguística
da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do título de Mestre em Linguística.
Examinada por:
____________________________________________________________
Presidente, Profª Dra. Tania Conceição Clemente de Souza -PPGL-UFRJ
_____________________________________________________________
Prof. Dr. Gean Nunes Damulakis – DLF- UFRJ
_____________________________________________________________
Profa. Jaqueline dos Santos Peixoto- UFRJ
____________________________________________________________
Prof. Dr. Alessandro Boechat Medeiros , Suplente
_____________________________________________________________
Prof. Dr. Evandro Bonfin, Suplente
Por
Jamille Vieira Soares
Rio de Janeiro
2014
ESTUDO DA FALA CONECTADA NA REGIÃO
METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO
3
SUMÁRIO
1. Introdução....................................................................................8
2. Sobre o termo Sândi....................................................................10
3. Sobre a fala conectada no Português...........................................12
3.1. Sândi vocálico no dialeto carioca.......................................12
4. Sândi e padrões prosódicos..........................................................14
4.1 Retomando as ocorrências do sândi vocálico......................15
4.2 Sândi vocálico: uma abordagem fonética............................20
4.2.1 Descrição do Corpus.....................................................21
4.2.1.1 Seleção dos dados de fala espontânea......................21
4.2.1.2 Frases pré-selecionadas em ambiente de sândi.........21
4.2.1.3 Gravações de programas de televisão.......................23
4.2.1.4 Leitura de texto.........................................................23
4.2.1.5 Os softwares utilizados............................................ 23
4.3 A análise.............................................................................25
4.3.1 O comportamento da vogal /a/.......................................25
4.3.2 O comportamento da vogal /u/.......................................32
4.3.3 O comportamento da vogal /i/........................................42
4.3.4 A ocorrência do Sândi e níveis de altura........................49
4.3.4.1 Vogais /a/ e /u/ em ambientes de [v#v]....................52
4.3.4.2. Vogal /i/ em ambiente de [v#v]...............................57
4.3.4.3. Vogal /a/ e /u/ em ambiente [v#v ]............................58
4.3.4.4. Vogal /i/ em ambiente [v#v ]....................................64
4.4. Papel da velocidade no condicionamento do sândi................67
Conclusão.......................................................................................70
Referências Bibliográficas.............................................................. 72
Bibliografia.....................................................................................75
Anexos.........................................................................................76
4
Agradecimentos
A vida é um ciclo e este é mais um capítulo que se finda em minha vida.
Portanto, cabem umas poucas palavras em agradecimento a todos os que
passaram por ela e contribuíram para que este trabalho fosse concluído.
Gostaria antes de tudo de agradecer a Deus pela oportunidade de estar viva.
Obrigada Tânia Clemente por ter acreditado em mim desde o começo, por ter
sido muitas vezes mais que uma mera orientadora, uma amiga. Quanto a
minha orientadora, quero fazer um agradecimento muito especial. Nosso
primeiro contato foi durante as aulas de História do Pensamento Linguístico,
no curso de especialização em gramática gerativa no Museu Nacional. Algum
tempo depois a escolhi como minha orientadora para concluir o curso de
especialização e para o tão sonhado mestrado. Chego ao final desta etapa com a
certeza de ter feito a melhor escolha.
À estimada Flávia Clemente, agradeço por toda valiosa ajuda no
desenvolvimento das partes conclusivas de meu final de trabalho.
Aos professores Alessandro Boechat e Marília Facó, por minha formação
acadêmica, pelas aulas do Museu Nacional que me propiciaram uma gama
imensa de conhecimentos.
Aos meus amigos David Costa e Evandro Bonfim, agradeço por toda ajuda
acadêmica durante estes anos de “Museu Nacional e Fundão”.
Ao Marcos Barreto, agradeço todas as conversas acadêmicas durante horas e
que por muitas vezes não me fizeram desistir.
Aos meus familiares, que foram pessoas muito importantes na minha formação
como ser humano.
5
À minha avó Geni, que me ajudou na pesquisa e durante toda a minha
formação.
Devo muitos agradecimentos à minha mãe, por me apoiar em muitas escolhas e
por ajudar na criação do meu bem mais precioso, Pedro Henrique.
À Jannine Vieira, minha querida irmã, agradeço por compartilhar cada
momento (sendo eles bons, ou nem sempre tão agradáveis), por se tornar peça
fundamental na minha vida acadêmica e fora dela. Agradeço ainda toda sua
presença, força e companheirismo.
Agradeço ao meu cunhado Rafael Tinoco, por toda a paciência e força que me
deu durante tantos momentos difíceis.
À Rogério Lourenço agradeço toda a amizade, todas as conversas durante
horas na estação do metrô, na Quinta da Boa Vista, na internet, e em tantos
outros lugares, sobre qualquer tipo de assunto. Gostaria também de dizer que
seu incentivo foi fundamental e me fizeram chegar até aqui.
Aos meus amigos: Aline Souza, Katharine Lockerman, Luanna Miranda,
Marco Antônio, agradeço pela compreensão em suportar, muitas vezes sem
cobranças, toda a minha ausência. Por sempre me apoiarem e confortarem com
palavras de motivação.
Às minhas amigas Jeice Cristina, Jaqueline Peixoto e Regina Helena, gostaria
de agradecer por todas as palavras de conforto nos momentos difíceis e por me
motivarem sempre a continuar.
A Lucas Àlvares, agradeço por se tornar alguém especial em minha vida e por
ter compartilhado diversas vezes de momentos aflitos e felizes, sempre com
muita paciência.
6
RESUMO
Esta dissertação tem como tema o estudo da fala conectada na Região Metropolitana
do Rio de Janeiro. Tradicionalmente, este fenômeno é denominado de sândi externo, pois a
ocorrência se dá em fronteira de palavras. Dado o número de trabalhos com esse tema,
achamos oportuno abordar esse assunto por uma outra perspectiva, no caso, uma análise
fonética experimental, a fim de tentar explicar e determinar que fatores estão envolvidos na
realização do fenômeno, ou seja, o sândi vocálico externo.
Como objetivo geral, procurou-se enfocar o fenômeno do Sândi em sua totalidade,
explicitando, assim, sua abrangência no dialeto carioca e constatar se este fenômeno se
apresenta como constante. Dentre nossos objetivos, ainda, está a comprovação da hipótese
de o fenômeno não se limitar apenas à queda de vogais átonas, como foi descrito em outros
trabalhos. Concluímos que o sândi, não só mantém a sua abrangência, como se mantém
constante na língua. Concluímos, ainda, que é no movimento recursivo dos padrões
prosódicos que se institui a juntura, tornando os níveis de velocidade de fala irrelevantes. A
abordagem física do fenômeno mostrou, portanto, que outras explicações, fora do âmbito da
fonologia, podem ser oferecidas, trazendo não só evidências à recursividade prosódica, quanto
colocando em perspectiva um campo fértil de discussões.
Palavras-chave: dialeto carioca, sândi externo vocálico, padrões prosódicos.
7
ABSTRACT
This dissertation has as its theme the study of connected speech in the Metropolitan
Region of Rio de Janeiro, traditionally, this phenomenon is called external sandhi, since the
occurrence occurs in frontier words. Given the number of jobs with this theme, we find it
appropriate to address this issue from another perspective, in this case, an experimental
phonetic analysis in order to explain and try to determine which factors are involved in the
occurrence of the phenomenon, ie, the external vowel sandhi .
As a general goal, we tried to focus on the phenomenon of Sandi in its totality, thus
explaining its scope in the Carioca dialect and see if this phenomenon appears to be constant.
Among our goals, there is, yet, the proof about the hypothesis that the phenomenon is not
limited only to the fall of unstressed vowels, as described in other studies . We conclude that
the sandhi, not only has the same scope, as it is a constant phenomenon in the language . We
also conclude that it is the movement of recursive prosodic patterns that establishing the
boundary, turning out the levels of speed a irrelevant factor. The physical approach to the
phenomenon, therefore, showed that other explanations outside the scope of phonology, can
be offered , bringing not only evidence for prosodic recursion, but also putting into
perspective a rich field for discussion .
Keywords: carioca dialect , vowel external sandhi , prosodic patterns
8
1 Introdução
O estudo descrito nesta dissertação trata da Fala conectada na Região Metropolitana
do Rio de Janeiro. Procurou-se descrever o fenômeno conhecido como sândi vocálico externo,
já que sua ocorrência se dá entre duas vogais em fronteiras de palavras. Durante a dissertação
utilizaremos, para descrever o fenômeno, termos como: fala conectada ou sândi.
Devido ao grande número de trabalhos atuais abordando esse assunto, apresentamos
uma proposta através de uma análise de fonética experimental, dessa forma tentaremos
explicar e determinar os fatores que estão envolvidos na realização do fenômeno.
Como objetivo geral, procurou-se enfocar o fenômeno do Sândi em sua totalidade1,
explicitando, assim, sua abrangência no dialeto carioca e constatar se este fenômeno se
apresenta como constante. É válido observar que, embora estejamos delimitando nosso objeto
como “dialeto carioca”, os dados coletados, por vezes, englobam municípios do entorno do
Rio de Janeiro, abarcando a região, geograficamente, denominada região metropolitana do
Rio.
Dentre nossos objetivos, ainda, pretendemos testar a hipótese de o fenômeno não se
limitar apenas à queda de vogais átonas, como foi descrito em outros trabalhos. Pretende-se,
então, rever não só o fenômeno em si, como os casos problemáticos focalizados por SOUZA
(1978, 1981 e 1983), através de uma perspectiva que leve em conta um tratamento fonético-
acústico dos dados. Para tanto, recorremos a dois programas básicos à análise: Audacit e
Praat. No capítulo da análise, retomaremos nossos objetivos, bem como a justificativa para a
escolha do tratamento dos dados, no caso, a abordagem acústica.
Para que haja uma maior compreensão desta dissertação, ela encontra-se dividida em
capítulos. O primeiro capítulo fará um breve apanhado sobre o termo sândi, bem como
algumas definições. O segundo capítulo tratará a respeito de abordagens mais primárias nos
estudos do Sândi na língua portuguesa do Brasil. O terceiro capítulo apresentará nossas
análises do fenômeno através dos dados coletados e baseados nos estudos de Souza. Por fim,
o quarto capítulo será composto por nossas conclusões, através das perspectivas fonéticas
experimentais.
1 Ao usarmos a expressão “sândi em sua totalidade”, queremos frisar que a nossa abordagem tem como meta recobrir todos os ambientes
previstos para o sândi, ou seja, não ignoramos os casos problemáticos, em geral deixados de lado nas abordagens atuais sobre o fenômeno.
9
Ainda, no sumário desta dissertação consta uma distinção entre bibliografia e
referências bibliográficas. Esta distinção foi feita, já que uma trata de todos os livros e artigos
que serviram para toda a pesquisa e a outra são apenas os textos que aparecem como citação
ou referência durante toda a dissertação, respectivamente.
10
2 Sobre o termo Sândi
Este capítulo aborda, ainda que de uma forma introdutória, algumas considerações a
respeito do termo sândi, que ao decorrer desta dissertação será por muitas vezes mencionado.
Portanto torna-se indispensável um breve apanhado sobre o assunto, bem como algumas
descrições sobre tal fenômeno.
O termo Sândi é originário das gramáticas sânscritas antigas. Esse termo aponta para
algumas alterações. Pode-se dizer que essas alterações se realizam de duas maneiras
ocasionando dois tipos de sândi, o sândi interno que se constitui de um processo de
modificações de morfemas e o sândi externo que seria uma justaposição vocabular, ou seja, o
encontro em fronteira de palavras onde o final de um sintagma se justapõe ao início do
sintagma seguinte.
Em sânscrito, as formas das palavras são associadas às formas das palavras adjacentes,
e muitas palavras com consoantes finais se diferem na fala contínua conforme sua localização
no final de seus grupos ou frases. Essas características diferentes são marcadas não apenas na
fala, como também na escrita e por, este motivo, podemos conhecer hoje este fenômeno
fonético com um nível de detalhamento um pouco mais apurado.
Os antigos gramáticos indianos atribuíram a este tipo de fenômeno o nome de Sandhi,
que após algum tempo, generalizou-se e tornou-se um termo técnico para nomear fenômenos
referentes à juntura.
Com um maior interesse desse fenômeno, contamos com um maior número de
trabalhos e consequentemente novas definições do que seria considerado o fenômeno do
Sândi.
Tema de bastante recorrência, hoje em dia, o fenômeno do sândi não recebeu muita
atenção quando do início dos estudos linguísticos no Brasil. Não se pode citar, à época, uma
análise aprofundada do tema, ficando o sândi restrito a observações generalizadas. Uma das
obras bastante conhecida é a de Mattoso-Câmara (1969, 1970). Seus estudos descrevem de
forma brilhante as sílabas, os vocábulos formais e fonológicos e é considerado um dos
primeiros trabalhos descritivos da fonologia do Português do Brasil.
Segundo Mattoso, Vocábulo Fonológico é aquele que engloba a juntura que acontece
entre a vogal final de um vocábulo com a inicial do vocábulo seguinte no plano fônico.
11
Mattoso considerava apenas este fenômeno no plano fônico, pois acreditava, assim como os
antigos estudiosos deste fenômeno, que o sândi não ocorreria no plano escrito. As junturas
descritas por Mattoso Câmara apresentam alguns ambientes onde haveria uma maior
ocorrência. No ambiente vocálico, as junturas podem ocorrer entre duas vogais iguais em
fronteiras de palavras, ocasionando assim uma única vogal prolongada. Possuímos também as
vogais diferentes que ao se encontrarem em fronteiras de palavras podem formar um ditongo
crescente. Já no plano consonantal ao aparecerem entre consoantes iguais ocasiona a
geminação consonântica, entretanto quando se realizam no caso de C+V ou C+C (diferentes)
não podemos afirmar que desapareça qualquer juntura segmental, pois aparece outro tipo de
juntura a supra-segmental.
Enfim, muitos aspectos do Sândi na Língua Portuguesa foram abordados por Mattoso-
Câmara, principalmente quando ele fala sobre vocábulo fonético e fonológico. Ainda, sobre a
língua portuguesa, o autor apresenta em linhas gerais o que acontece em ambiente de juntura
vocabular quando há encontro de dois vocábulos terminados e iniciados por vogal
respectivamente. Mattoso-Câmara (1954) define o fenômeno de Sândi como :
O termo sandhi significa juntura, ou seja, as pausas vistas
como demarcadoras de grupos fônicos, sintagmas, vocábulos, frases e
é usado na Morfologia e na Sintaxe para indicar modificações
fonológicas de formas gramaticais que ficaram justapostas (Mattoso
Câmara 1954).
Trabalhos mais recentes trazem algumas variações em torno da definição de sândi.
Cagliari (2002), por exemplo, define o fenômeno como:
Já Bisol (2002), numa outra perspectiva assim define o fenômeno do sândi:
O sândi é um fenômeno que ocorre nas fronteiras de
palavras (juntura vocabular). Consiste na
transformação de estruturas silábicas nesse contexto,
causada, em geral, pela queda de vogais ou pela
transformação de ditongos ou mesmo pela ocorrência
peculiar de certos sons. (p.105)
O sândi é referido, de modo geral, como um
fenômeno de fonética sintática que registra alterações
fonéticas ocasionadas por contato de formas livres,
trasformando-as em formas presas.
12
3 Sobre o estudo da fala conectada em português
Atualmente, o estudo do sândi tem recebido certa atenção por vários estudiosos que
enfocam diferentes variedades de português faladas no Brasil. Há algum tempo atrás, porém,
como atesta Souza (1978), os casos de sândi não eram muito explorados. Um traço em
comum entre os trabalhos recentes é a citação a trabalhos de Bisol (1999 e 2002) em torno
desse tema. A referida autora, numa perspectiva variacionista, se detém, com base em
pressupostos da Fonologia Prosódica, a descrever dois processos básicos: a ressilabificação e
a queda da vogal em processo de degeminação e elisão, recorrente no interior de diferentes
constituintes - sílaba, pé métrico, palavra fonológica, grupo clítico, frase fonológica, frase
entonacional e enunciado - definidos por Nespor e Vogel (1986).
Diferente de Bisol, Souza (1978, 1981 e 1983), seguindo princípios de Chomsky e
Halle (1968), argumenta que a ocorrência do sândi atinge, além da degeminação, a elisão de
outras vogais diferentes da vogal /a/ em diferentes contextos, inseridos em diferentes
velocidades de fala e em diferentes tipos de constituintes sintáticos. Souza (idem) atesta, no
dialeto carioca, a queda bastante recorrente das vogais átonas /a/ e /u/, tanto seguidas por
vogais átonas, como seguidas por vogais tônicas. Quanto à vogal /i/, sua queda ocorre em
pouquíssimos ambientes e sempre na junção com outra vogal átona.
Outros trabalhos que vêm estudando a ocorrência do sândi em relação à estrutura
rítmica do português (cf: Abaurre (2002); Cagliari e Abaurre (1986), Tenani (2006, entre
outros) apresentam a descrição do sândi em termos mais amplos do que Bisol. Buscam
correlacionar a ocorrência do sândi (tanto vocálico, quanto consonantal) no âmbito da palavra
fonológica, que se constituiria, no caso das falas espontâneas, em função da manutenção do pé
troqueu, característico da prosódia do português brasileiro, dada uma frequência aproximada
em 73% do corpus estudado.
3.1 O sândi vocálico no dialeto carioca
Ao descrever os diferentes ambientes e diferentes velocidades em que ocorre o sândi
em português, SOUZA (1978) analisa os dados, utilizando como embasamento teórico a
Teoria X- barra. Sua análise baseou-se nos trabalhos de Selkirk (1972) que, em seus estudos
do Sândi em Francês, propõe a inserção de uma fronteira # (baseada na Teoria de Fronteira –
Chomsky e Halle, 1968) no início e no fim de cada sequência que será dominada por uma
13
categoria mais alta, onde o fenômeno do sândi operaria entre categorias lexicais e não-
lexicais. Estas fronteiras serão inseridas nas categorias lexicais (nome, adjetivo, advérbio,
verbo), dominada pela categoria sintagmática, nas categorias sintagmáticas (SN, SAD, SADv,
SV) e na categoria sentencial S (sentença), que dominará a sintagmática.
Para Selkirk (1972), pode haver uma regra de reajustamento onde estas fronteiras
podem ser enfraquecidas e proporcionar um ambiente em que ocorra a liasion, ou pode haver
um fortalecimento destas fronteiras que impedem a ocorrência do mesmo. Este reajuste
proposto por Selkirk (1972) explica o fato da ocorrência do fenômeno acontecer ou não num
mesmo contexto.
Apesar de seus estudos apresentarem diversos avanços e resolver problemas que
estudos anteriores ao seu tratavam como exceção, estes não foram bastante satisfatórios para
explicar o fenômeno do Sândi no dialeto carioca, uma vez que são cíclicas estas regras de
reajuste e consideradas, até certo ponto ad-hoc.
Outro trabalho importante mencionado em SOUZA é o trabalho de Hutchinson
(1974), que procura tratar do sândi como um fenômeno não segmental, ou seja, não são as
regras fonológicas como as do acento, as da queda da vogal ou a transformação dela em glide
que vão proporcionar um ambiente favorável ao sândi. Seus trabalhos aparecem descrevendo
como principal motivo para ocorrência do sândi na língua espanhola a relação ao padrão
silábico ou duração silábica, já que para o espanhol o fator tempo é uma de suas principais
características.
O trabalho de Souza (1978) constituiu-se da seguinte forma para o português. Foram
gravados dados em diversos contextos de fala, sendo elas, fala espontânea, fala controlada
(leitura de frase e textos). Estas gravações foram feitas em duas modalidades diferentes:
andante e allegro2.
Nestas gravações havia vários tipos de ambientes fonológicos que propiciavam a
ocorrência do Sândi. O primeiro ambiente descrito é o encontro de duas vogais átonas em
fronteira de palavras, o segundo ambiente é formado por encontro de duas vogais, sendo a
primeira átona e a segunda tônica, o terceiro ambiente é formado por duas vogais sendo a
primeira tônica e a segunda átona e o último grupo é formado por duas vogais tônicas. Estes
grupos poderiam ainda ser divididos em vogais contíguas idênticas ou vogais contíguas
2 Esses dois tipos de modalidades encontrados descritos nos trabalhos de Souza (1978-1983) foram propostos
por Harris (1969), nos estudos em espanhol.
14
diferentes. Estes grupos foram assim divididos, pois dessa forma foi possível observar o
comportamento de cada uma dessas vogais em ambiente distintos.
4 Sândi e padrões prosódicos
O estudo do sândi realizado por Souza (1978, 1981 e 1983) aponta, dentre vários
aspectos, a ocorrência do fenômeno em ambientes determinados pela configuração sintática
dos constituintes em jogo e pelos graus de acento distribuídos na frase, segundo a proposta de
Chomsky e Halle (1968). Foi verificado que no grupamento fonológico no qual se verifica a
contiguidade de vogais distintas, a elisão da vogal átona final pode ou não ocorrer
dependendo do peso do sintagma em que se insere o grupamento fonológico. Estando este,
seguido de pausa (silêncio), a elisão não se processa, ocorrência contrária ao que se registra
quando o grupamento em causa vem seguido de um ou mais vocábulos. Além desse
contexto, os diferentes níveis de velocidade de fala vão favorecer – caso da velocidade allegro
– ou bloquear a realização do fenômeno. A articulação desses dois fatores prevê que a
ocorrência do sândi está condicionada, sobretudo, pelos padrões prosódicos decorrentes tanto
do peso dos sintagmas, quanto da distribuição dos pés no contexto prosódico da frase.
Como já apontamos acima, Souza (1978, 1981 e 1983) argumenta que a ocorrência do
sândi atinge, além da degeminação, a elisão de outras vogais diferentes da vogal /a/ em
diversos contextos, inseridos em diferentes velocidades de fala e em distintos tipos de
constituintes sintáticos.
O trabalho que pretendemos desenvolver, por enfocar dados de diferente natureza, /a/,
/i/ e /u/ em ambientes átonos e tônicos, busca verificar se a abrangência do sândi no dialeto
carioca se dá como descrito em Souza (idem). Caso essa hipótese se confirme, poderemos,
então, argumentar a favor de uma ocorrência do sândi mais estendida do que dizem as
propostas recentes, no âmbito da Fonologia Prosódica, e atestar ainda a permanência do
fenômeno na língua.
Uma observação pertinente sobre esses trabalhos mais recentes, que operam com
abordagens e conclusões semelhantes, recaem sobre a pouca explicitação sobre os dados
coletados, tais como, os níveis de velocidade de fala e o contexto em que os mesmos são
coletados, como, por exemplo, dados de fala espontânea, fala controlada, etc. Outro traço em
comum entre os trabalhos atuais sobre o sândi é atestar a degeminação de vogais, a queda da
15
vogal /a/ átona em final de palavras e, raríssimas vezes, atestar a queda das vogais /i/ e /u/.
Colocações que diferem das conclusões de Souza (idem), as quais buscaremos confirmar ou
não.
Um outro elo entre esses trabalhos é a análise do fenômeno, na maioria das vezes,
restrita a sintagmas nominais, onde está em jogo apenas a junção de duas categorias nominais.
Esse tipo de abordagem, além de não enfocar o sândi em toda sua abrangência, parece vir ao
encontro da seleção dos dados em consonância ao modelo teórico adotado.
A nosso ver, um tratamento teórico que recubra, com fidelidade, a ocorrência do sândi
esbarra em questões teóricas complexas. Se retomamos, por exemplo, as circunstâncias que
definem o sândi em Souza (idem), temos que levar em conta fatores de ordem segmental,
como os traços que caracterizam as vogais envolvidas nos fenômenos, e fatores de ordem não
segmental, como a velocidade de fala, no caso de juntura de vogais átonas. No caso de juntura
de vogal átona e tônica os dois tipos de condicionamento vão estar em jogo: a natureza dos
traços dos segmentos e a estrutura sintática em que tais vogais estão inseridas e a velocidade
de fala.
Uma abordagem formal que recubra todos esses aspectos, certamente, implicaria um
alto custo teórico. Reside, aí, uma das razões para a nossa proposta de nos basearmos num
estudo fonético dos padrões prosódicos em que se verifica o sândi. Assim, lançamos mão do
programa PRAAT3 a fim de desenvolver nossa proposta, descrita a seguir.
4.1 Retomando as ocorrências do sândi vocálico
Os estudos feitos até o presente momento apontam para o fato de que o fenômeno de
sândi vocálico externo, na abrangência do Rio de Janeiro, prevê que a degeminação e a elisão
3 O software Praat utilizado corresponde à versão 5.3.55. Para chegarmos ao dado bruto para analisar (arquivo
de som), primeiramente fizemos gravações, depois convertemos as mesmas para formato .wav, em canal mono,
em alta qualidade, no software FormatFactory, e por fim, utilizamos o software Audacity para ouvir e
selecionar as sequências curtas de som que foram salvas para uso no Praat. Esse procedimento foi realizado de
acordo com as observações feitas sobre o uso do Praat e as dificuldades do programa em lidar com arquivos de
áudio de mais de 20 minutos, encontradas no manual Using Praat for Linguistic Research, de autoria de Will
Styler, do Boulder Phonetics Lab da Universidade do Colorado, cuja última atualização fora feita em 22 de
março de 2013. Todos os softwares e manuais usados foram baixados da Internet, sendo licenciados para uso
acadêmico gratuito.
16
ocorrem com as vogais átonas /a/, /i/ e /u/, seguidas tanto de vogais átonas, quanto de vogais
tônicas. Entretanto, tal ocorrência está, ainda, condicionada ao ritmo, à velocidade de fala e à
modalidade espontânea.
Nosso trabalho procura colocar em discussão alguns aspectos do sândi vocálico
externo, examinando-se dados de fala controlada (diferentes velocidades de fala) com a leitura
de um pequeno texto ( anexo I) e dados elicitados através de formulários específicos (anexo
II) voltados ao nosso estudo e por nós organizados, e dados de fala espontânea gravados em
entrevistas (anexo III)4. Além desses dados, trabalhamos também com pequenos trechos
extraídos da gravação de dois programas de TV, no caso, Jornal Nacional e Mais você,
produzidos pela Rede Globo de televisão.
A variedade dialetal com a qual trabalhamos, embora denominada de dialeto carioca,
abrange municípios administrativamente englobados na região metropolitana do Rio de
Janeiro. Vale observar que a gravação de trechos dos dois programas televisionados citados
acima se insere na variante dialetal da região do Rio de Janeiro, considerando-se que se trata
de emissora baseada nesta cidade. Além disso, por ser a emissora líder de audiência, que tem
como um de seus slogans o “padrão global”, há, nitidamente, uma uniformização da
pronúncia em seus programas, independente da naturalidade dos profissionais envolvidos.
O objetivo central de nosso trabalho é, em certo alcance, retomar dados semelhantes aos
que Souza (1978 e 1983) trabalhou, a fim de verificar: (1) a constância do sândi no dialeto
carioca e (2) se os fatores de condicionamento do fenômeno se mantêm, ou não, uma vez que
nossa proposta é proceder a uma análise fonético-acústica dos dados aqui apresentados.
Buscaremos, também, explicitar o comportamento diferenciado da vogal /i/,ou seja o fato de
queda desta vogal ser mais restrita que as demais, considerando os traços da sua natureza
acústico-articulatória, bem como o seu funcionamento nas cadeias prosódicas em análise.
O fenômeno de Sândi em português do Brasil tem recebido uma maior atenção desde os
estudos realizados por Souza (1978). Em sua análise, a autora aponta a necessidade de se
prever o sândi na interface sintaxe/fonologia e morfologia/sintaxe, já que, neste caso, registra
4 Essas entrevistas estão disponíveis em http://www.concordancia.letras.ufrj.br (Projeto - O Falar Fluminense:
Perfil Geo-sociolinguístico - o vocalismo pretônico), sob a coordenação da doutora Silvia Brandão. Apesar de
ser um corpus extenso, e voltado para o estudo do sândi, a qualidade das gravações não é favorável a uma análise
acústica. Além de muitos ruídos no ambiente, há falas sobrepostas e vozes de fundo de pessoas no mesmo local.
Desse corpus, utilizamos apenas uma frase para análise, conferir exemplo 19. Do anexo III, aqui citado, consta a
transcrição das entrevistas que realizamos.
17
um caso de homonímia e opacidade (conceito oferecido por Kiparsky) com as formas verbais
do singular no imperativo.
Quanto à abordagem apresentada por Souza, no que se refere à distribuição dos graus
de acento na frase, foi verificado que no grupamento fonológico onde ocorre a contiguidade
de vogais distintas, a elisão da vogal átona final pode ou não ocorrer dependendo do peso do
sintagma em que se insere o grupamento fonológico. Ou seja, o peso do sintagma, na
verdade, pressupõe uma relação entre a queda (ou manutenção) da vogal e a estrutura
sintática do enunciado como um todo, como nos exemplos em Souza (1983):
(1a.) Paulo adora uva onde a vogal /a/ se mantém [v#v]
adorauva
(1b.) Paulo adora uva doce. onde /a/ vogal cai
adoruva
aplicados os graus de tonicidade nos exemplos acima, tem-se:
(2a) Paulo adora uva
1 1 1
2 1
2 3 1
(2b) Paulo adoruva doce
1 1 1 1
2 1
2 3 1
2 3 4 1
O que se verifica nesses exemplos é que quando a vogal se mantém (2a), a tonicidade do
vocábulo no qual a mesma está inserida deve ser igual, ou maior, do que a tonicidade do
vocábulo iniciado por vogal tônica [ 3 ˃1]. Quando a vogal sofre queda (2b), a tonicidade do
18
vocábulo onde a mesma está inserida é menor do que a tonicidade do vocábulo iniciado por
vogal tônica [ 3 ˂ 4].
Além da estruturação sintática5, os diferentes níveis de velocidade de fala vão favorecer
ou bloquear a realização do fenômeno, entretanto, independente dos graus de acento, se, em
estrutura semelhante à de cima (1a), a juntura for a de duas vogais átonas, a elisão ocorre,
como atesta Souza em:
(3) Preciso do cálculoexato. onde a vogal cai [v#v]
cáculexato.
1 1 1
2 1
2 3 1
Nesse exemplo, apesar de o vocábulo ter um grau de tonicidade maior que a do vocábulo
seguinte [ 3 ˃1], cai a vogal, logo, nesse caso, os graus de tonicidade não recobrem todo e
qualquer exemplo.
Esses fatos leva a prever que a ocorrência do sândi estaria condicionada, sobretudo,
pelos padrões prosódicos decorrentes tanto do peso dos sintagmas, associado aos graus de
acento, quanto pelo padrão entonacional resultante da velocidade de fala em (1a) e (1b). Mas
somente a velocidade de fala (no caso, allegro) condicionaria a queda em (3). Ou seja,
dependo do tipo de juntura- encontro de vogais átonas- fica em conflito a relação entre a
realização da juntura em função do peso do sintagma e os níveis de acento e velocidade.
Como dissemos anteriormente, um traço em comum entre os trabalhos recentes sobre o
sândi é o aporte teórico baseado em pressupostos da Fonologia Prosódica, definidos por
Nespor e Vogel (idem) e a ressilabificação do constituinte resultante da juntura.
Os domínios (assim denominados por Nespor e Vogel) constituem uma hierarquia
prosódica, que determinaria a maior ou menor incidência de processos fonológicos e
explicaria a diferença da ocorrência de um mesmo fenômeno em línguas aparentadas, ou em
diferentes variações dialetais de uma mesma língua. A organização dessa hierarquia é baseada
na relação cabeça/complementos entre constituintes sintáticos para a construção de
5 A autora explora a questão da juntura em toda configuração sintática prevista para o português.
19
constituintes prosódicos. Evidências para essa hierarquia prosódica são dadas com base em
regras de sândi externo e regras rítmicas em diversas línguas.
A proposta de Nespor e Vogel tem estado em discussão por dois grupos de teóricos:
aqueles, que, apesar de apontarem problemas com a hierarquia, argumentam a favor da
mesma (Cf: Vigario, 2010, dentre outros), propondo alguns ajustes e outros que defendem um
enfoque na recursividade dos fenômenos, deslocados de uma descrição fonológica estrita (cf:
Ito e Mester, 2009).
Vigario (idem), por exemplo, admite problemas com a hierarquia acima e retoma as
críticas que vêm sendo dirigidas à referida proposta, a partir daí, com base em dados de
diferentes línguas, concentra-se sobre o intervalo na estrutura prosódica entre a palavra
prosódica (PW) e a frase fonológica (φ), propondo a necessidade de inserção de um novo
domínio. Demonstra que em muitas línguas há vários fatos que referendam este domínio
específico, reafirmando, então, o estatuto universal deste nível de hierarquia prosódica.
Argumenta, também, que este é um componente básico da hierarquia prosódica, que em vez
de ser obtida através de recursividade, elimina uma importante fonte de violação da
recursividade.
Ito e Mester (2009), dentre outros, contrários a essa posição6, vêm apontar a necessidade
de se avançar na compreensão da relação entre estrutura sintática e forma fonológica,
colocando em xeque o número exato e/ou o conteúdo de unidades hierárquicas. “Para piorar,
categorias são muitas vezes literalmente definidas em termo dos processos associados em suas
instâncias em línguas específicas, resultando em rótulos como „frase acentual‟, „grupo tonal‟,
etc. Enquanto isso é mnemonicamente útil para a descrição de uma única língua, a falta de
propriedades verdadeiras de interfaces linguísticas válidas e constantes, associadas a essas
unidades, cria obstáculos a mais na identificação de categorias entre línguas e gramáticas.”
Assim reabrem-se as questões: Duas categorias frasais distintas são realmente necessárias?
Um modelo de parsing prosódico descreveria todos os fatos, tanto em japonês como em
outras línguas, com uma única categoria frasal fonológica? [...] Múltiplas categorias criam
problemas.”
6 Os autores põem em xeque outros tipos de hierarquia que fazem pressupor categorias não universais e com um
número demasiado de constituintes.
20
A partir daí, os autores propõem um modelo que chamam de Teoria de Projeção
Prosódica, segundo o qual haveria três únicas categorias universais na interface sintaxe e
fonologia: frase entonacional, frase fonológica e palavra prosódica:
“Cada categoria prosódica define a sua própria rede
de projeções, onde as noções de árvores-estruturais usuais se
aplicam tais como projeção mínima e projeção máxima vs.
cabeça e não-cabeça cabeça mínimo e máximo versus não-
cabeça. Os processos fonológicos e fonéticos fazem parte
da realização dessa estrutura, e assinalam as fronteiras
importantes, selecionando
diferentes subconstituintes como seus domínios. Usando a
terminologia três estrutural padrão, a projeção mais
extensa de uma categoria prosódica ĸ é o 'ĸ máximo', sua
menor projecção é o 'ĸ mínimo, tal como definido em (9).
(9) ĸ max = ĸ não dominado por ĸ
ĸ min = ĸ não dominando ĸ”
(ITO e MESTER, 2009:6)
O ponto nodal que as teorias fonológicas põem em discussão se ancora no fato de tais
abordagens não apresentarem um aparato suficiente para descrever um fenômeno como o
sândi de forma satisfatória em diferentes línguas. Assim alguns fatos nos levaram a optar por
dar um tratamento fonético aos nossos dados: (1) o aparato teórico insuficiente para dar conta
do sândi em toda a sua extensão, ou seja, tanto no interior de um sintagma apenas, quanto no
interior de frases e textos e (2) o fato de uma mesma vogal ora sofrer queda, ora se manter
dados o contexto sintático (o peso do sintagma) e as velocidades de fala em jogo.
4.2 Sândi vocálico: uma abordagem fonética
A opção por um tratamento acústico-fonético vai revelar, na verdade, se são os traços
característicos das vogais que contam no processo de juntura, ou se são outros os fatores que
determinam a possibilidade de juntura dos segmentos. A abordagem que apresentamos a
seguir se divide em dois momentos principais: a análise dos formantes das vogais em causa, a
fim de comprovar a queda de vogal distinta da vogal /a/ e a análise do contorno da frase em
termos de medição do pitch (audibilidade) e dos graus de intensidade.
Para tanto, fizemos um levantamento dos dados através de entrevistas com falantes
nativos de português, mas precisamente na região metropolitana do Rio de Janeiro,
envolvendo dois bairros do perímetro chamado Baixada Fluminense, além dos bairros
21
localizados na cidade do Rio de Janeiro. Embora nosso recorte seja o que se tem denominado
de dialeto carioca, é válido lembrar que esse dialeto não fica circunscrito ao âmbito da capital
fluminense, por isso falamos em “dialeto carioca na abrangência da região metropolitana do
Rio de Janeiro”. Por outro lado, a razão para se trabalhar com consultores nos bairros citados
se deve, por um lado, pela possibilidade de se valer do banco de dados disponibilizado pela
professora Sílvia Brandão e, por outro, pela facilidade de nosso deslocamento pela região da
Baixada Fluminense e de entrosamento com os moradores dessa mesma região.
4.2.1. Descrição do corpus
Contamos com entrevistas, leituras de frases pré-selecionadas, gravações de programas de
televisão.
As gravações das entrevistas e das leituras foram feitas com o auxílio do gravador Sony e,
em outros momentos, com o próprio programa PRAAT. Segue abaixo uma tabela com os
dados, fontes e número de consultores.
Número de
consultores
Faixa
etária
Localidade Escolaridade Tempo de
gravação
Modo de
gravação
Fala
controlada
10 Entre 18 à
50 anos
Nova
Iguaçu e
Zona Sul
do Rio de
Janeiro
Ensino
fundamental
à Pós-
graduação
Aprox. 30
min.
Gravador
Sony e
PRAAT
Fala
espontânea
6 20 à 80
anos
Nova
Iguaçu e
Zona Sul
do Rio de
Janeiro
Ensino
fundamental
à pós-
graduação
Aprox. 2h
e 30 min.
Gravador
e PRAAT
Leitura de
texto7
3 30 à 40
anos
Nova
Iguaçu
Graduação Aprox. 15
min.
PRAAT
7 Para fins desta pesquisa, foi elaborado um pequeno texto que encontra-se em anexo. Este texto diferencia-se
dos dados de fala controlada, pois são trabalhados contextos de enunciados maiores. Diferente da leitura de
frases, esperávamos que o encadeamento e a prospecção da leitura do texto implicassem numa modalidade de
fala mais natural.
22
Contabilizamos assim, o número de 19 consultores de diferenciadas faixas etárias, níveis
de escolaridade e localidade, sendo todos pertencentes à região metropolitana do Rio de
Janeiro.
4.2.1.1 Seleção dos dados de fala espontânea
Para a composição deste corpus contamos com duas entrevistas, de aproximadamente
trinta minutos cada uma, selecionadas do banco de dados “Falar Fluminense” gentilmente
cedido pela profª. Drª. Silvia Brandão. Deste banco, foi utilizada apenas uma frase da
moradora de Nova Iguaçu.
Ainda para este tipo de análise, foram gravadas três entrevistas de fala espontânea com
consultores de diferentes localidades do Rio de Janeiro, um do sexo masculino e outra do sexo
feminino, ambos moradores da Baixada Fluminense, mas especificamente de Nova Iguaçu, e
um do sexo masculino da Zona Sul do Rio de Janeiro, mas precisamente, morador do Leme.
Além de pertencerem a localidades diferenciadas, as faixas etárias também são diferenciadas.
Os moradores de Nova Iguaçu encontram-se com idade entre 70 e 80 anos e o morador do
Leme entre 20 e 30 anos. Possuem, ainda, graus de escolaridade diferenciados, sendo um com
ensino fundamental completo, outro com ensino médio completo e o último com pós-
graduação (mestrado) concluída.
4.2.1.2 Frases pré- selecionadas em ambiente de sândi
Outro tipo de dado utilizado nesta pesquisa foram os dados de frases pré-selecionadas.
Foram elaboradas por volta de 15 a 24 sentenças com contexto de sândi, seguindo o modelo
proposto por SOUZA (1978-1981), quando nossos consultores tinham que ler sentenças em
três modalidades de fala. Sendo elas: andante, allegro e presto. As leituras eram orientadas da
seguinte forma: Primeiramente pedíamos que o consultor fizesse uma leitura de
reconhecimento das frases, e as repetisse, em seguida; era também orientado que este
repetisse as sentenças sem ler, respeitando as velocidades mencionadas acima. Estas frases
foram gravadas em mono e convertidas em WAV, para que pudessem ser analisadas no
programa PRAAT.
23
4.2.1.3 Gravações de programas de televisão
Contou-se ainda com dados gravados de programas transmitidos pela televisão. Foram
utilizadas gravações do programa Mais você, da Ana Maria Braga, e do Jornal Nacional,
mais especificamente da despedida da jornalista Fátima Bernardes do programa. Os trechos
desses programas foram selecionados por se aproximarem muito de fala espontânea.
Estas gravações tinham aproximadamente de vinte a trinta minutos de duração, cada uma.
Foram retiradas algumas sentenças do Jornal Nacional, como: (8) “Pra essa noite
especialíssima”, (17) “Quando isso aconteceu”, ambas produzidas pelo jornalista William
Boner, (15) “Momento especial”, produzida pela jornalista Patrícia Poeta. Do programa Mais
Você, as sentenças foram: (9) “Entra pra uma espécie de clube” e (10) “Você paga um valor”,
enunciadas por Ana Maria Braga.
4.2.1.4 Leitura de Texto
Como uma das formas de recolher dados para a pesquisa e ampliar a nossa proposta,
elaboramos um pequeno texto em que havia vários ambientes propícios à juntura. Pedimos
aos nossos consultores que fizessem a leitura exatamente como estava proposto pelo texto e
em três velocidades de fala diferenciadas.
A análise do corpus aqui descrito foi dividida em seções. A metodologia utilizada para
análise deste corpus foi distribuir as sentenças por grupos: O comportamento da vogal /a/ nos
ambientes [v#v] e [v#v]; o comportamento da vogal /u/ nos mesmos ambientes e o
comportamento da vogal /i/, nos mesmos ambientes.
Para uma análise um pouco mais apurada contou-se com o auxilio de dois softwares,
Audacity e PRAAT, que são usados muitas vezes como editores e ou gravadores de áudios em
geral.
4.2.1.5 Os softwares utilizados
O programa Audacity é um software que pode ser utilizado para gravar e editar
gravações. Utilizamos este programa com a finalidade de recortar as gravações com mais de
vinte minutos de duração, pois o programa PRAAT encontra algumas restrições de qualidade
24
para rodar esses tipos de gravações extensas. O procedimento de utilização do Audacity é
bastante simples, segue uma pequena orientação de como trabalhamos com ele.
Primeiramente foram ouvidas as entrevistas, os programas de televisão e as frases pré-
selecionadas para a pesquisa. Houve, então, uma seleção das sentenças que possuíam
ambiente de sândi em suas mais distintas ocorrências. Estas frases eram colocadas
no programa, que nos possibilitou fazer recortes apenas nos momentos em que o sândi
ocorria, sem alterar ou danificar o áudio. Esta parte recortada era exportada como um arquivo
em WAV, e que mais tarde viria a ser rodado no PRAAT.
O PRAAT, assim como o Audacity, é um software que pode ser utilizado para gravar
áudios e editar gravações. Porém nessa pesquisa a utilização deste programa se fez de extrema
importância, pois possibilitou a análise acústico-fonética dos dados na comprovação das
vogais em situação de queda.
25
4.3 A análise
A análise que pretendemos desenvolver pressupõe algumas etapas. Num primeiro
momento, vamos enfocar exemplos que evidenciam a ocorrência ou não da juntura
envolvendo dados com diferentes vogais e com diferentes modalidades de fala: (1) fala
controlada - aquela em que solicitamos que o dado (escrito) seja lido em duas, ou três,
velocidades distintas e (2) fala espontânea – aquela em que, dentro de uma cadeia espontânea,
selecionamos o dado que atende aos nossos objetivos. Sendo assim, um número de dados
espontâneos é, por consequência, menor que os dados previstos nos formulários. Ainda, sobre
fala espontânea, lembramos que estas são as elocuções obtidas nas entrevistas e nas emissões
de TV.
Vale observar, também, que não nos detemos nos casos de degeminação de vogal, pois
nosso interesse maior é explorar a descrição do sândi no dialeto carioca em toda sua extensão,
quando atestamos fatos - como, por exemplo, o comportamento da vogal /u/- não atestados
em outras análises.
Num outro momento, procederemos à análise acústica dos dados a fim de comprovar
tecnicamente a descrição dos fatos por nós observados.
4.3.1 O comportamento da vogal /a/
Como já observado, é consenso entre os que têm se dedicado do estudo do sândi, a
descrição do comportamento da vogal /a/, que sofre elisão quando seguida de outra vogal.
Com fins à sistematização, elencamos, a seguir, diferentes frases onde em foco está na juntura
envolvendo a vogal /a/ em velocidade controlada e no ambiente [v#v]:
(4) Mara está triste? - Sim, Mara está.
marista maristá
(5) Mara utiliza o e-mail? – Sim, Mara utiliza.
marutilizu marutiliza
onde a vogal /a/ cai diante de /i/ e /u/ átonos.
26
Quando, porém, o ambiente envolve vogal átona seguida de vogal tônica [v # v ], o
comportamento da vogal difere do que acontece no ambiente acima descrito:
(6) Paulo adora uva doce onde a vogal [a] cai
adoruva
(7) Paulo adora uva onde a vogal [a] se mantém
Esse fato – queda e manutenção da vogal [a] seguida de vogal tônica - nos leva, então,
a rever, a elisão da vogal [a]. A comprovação da manutenção e queda da vogal parte da
análise dos valores em hertz do formante1 e do formante2. A tabela8 na qual baseamos nossos
dados é a seguinte:
8 Cf: Siqueira, B.P.S e Faria, J. A. de: Características dos sons das vogais do português falado no Brasil. Texto
obtido on line, em versão pdf, e sem dados de referência, tais como local de publicação e sites específicos.
27
Examinando, abaixo, as 2 pranchas ((6a) e (7a)) de ocorrência dos exemplos acima,
pode-se comprovar a queda em (6) e a manutenção em (7), como atesta a frequência em hertz
dos formantes em jogo.
(6a) Paulo adora uva doce. Onde a vogal [a] cai
adoruva Consultor: sexo feminino
Paulo adora uva doce (fala controlada)
Time (s)
Fo
rm
ant f
req
uency (
Hz)
6.274 7.4790
1000
2000
3000
4000
50006.853728536.87111006
Paulo adora uva doce ( fala controlada)
Formante 1: 517.5 Formante 2: 1226.8
28
(7a) Paulo adora uva onde a vogal [a] se mantém
adorauva Consultor: sexo feminino
Paulo adora uva (fala controlada)
Time (s)
Fo
rm
ant
freq
uency (
Hz)
1.676 2.7560
1000
2000
3000
4000
50002.242240822.25575059
Paula adora uva (fala controlada)
formante1: 731.8 formante 2: 1305.1
Estendemos a análise de queda da vogal [a] a dados de fala espontânea, como nos
exemplos abaixo, retirados da transmissão do Jornal Nacional (8) e do programa Mais você
(9):
29
(8) Pra essa noite especialíssima. Onde a vogal [a] cai
pressa Consultor: sexo masculino
Pra essa noite especialíssima (fala espontânea)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
4.366 5.5710
1000
2000
3000
4000
50004.465868754.55280962
Pra essa noite especialíssima (fala espontânea)
Formante 1: 784.8 Formante 2: 1685.5
30
(9) Entra pra uma espécie de clube. onde a vogal /a/ cai
pruma consultor: sexo feminino
Pra uma espécie de clube (fala espontânea)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
2.555 3.5120
1000
2000
3000
4000
50002.967717772.97507767
Pra uma espécie de clube( fala espontânea)
Formante 1: 479.3 Formante 2: 1255.7
31
(10) Você paga um valor. Onde a vogal [a] cai
pagum Consultor: sexo feminino
Paga um valor (fala espontânea)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
0.8114 1.4490
1000
2000
3000
4000
50001.048887481.06176731
Paga um valor ( fala espontânea)
Formante 1: 482.4 Formante 2: 1348.5
32
Os três exemplos acima ((8), (9) e (10)) reafirmam a queda do /a/ diante de vogal
tônica. Comparando estes com o exemplo (6), verifica-se que o vocábulo em jogo não vem
em final de enunciado. Por essa amostragem, constata-se que a colocação do sintagma onde
ocorre a juntura na frase parece ser, por ora, fator condicionante para a realização do sândi,
embora, quando se tem a juntura com duas vogais átonas (exemplos (4) e (5)), este fator é
irrelevante. Mais adiante, após a análise de outros contextos, envolvendo outras vogais,
vamos buscar uma outra explicação para o sândi como um todo.
4.3.2. O comportamento da vogal [u]
Sobre a vogal [u], temos observado, tanto em fala controlada (exemplos (11) e (13)),
quanto em fala espontânea (exemplos (12), (14) e (15)), que o comportamento dessa vogal se
aproxima bastante do da vogal /a/ nos processos de elisão, como procuramos atestar com os
dados que se seguem. Em ambiente de juntura de duas vogais átonas [v#v], temos as
seguintes ocorrências:
(11) Pato aqui, pato acolá9 onde a vogal [u] cai
patacolá
(12) Roberto adora andar de skate. Onde a vogal [u] cai
robertadora Consultor: sexo feminino
Roberto adora andar de skate (fala espontânea)
Time (s)
Form
ant f
requ
ency
(H
z)
0.4617 1.010
1000
2000
3000
4000
50000.8048994970.86717957
formante 1: 834.6
roberto adora(leitura de texto)
formante 2: 1305.6
9 Este exemplo foi retirado da Canção “O Pato” de Vinicius de Moraes.
33
(13) Preciso do cálculo exato. Onde a vogal [u] sofre queda
calculexato Consultor: sexo masculino
Preciso do cálculo exato (fala espontêa)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
4.687 6.0440
1000
2000
3000
4000
50005.625019615.66287831
Preciso do cálculo exato (fala espontânea)
Formante 1: 523.1 Formante 2: 1209.4
34
(14) As passeatas parecem um ato ensaiado. Onde a vogal [u] cai
ati saiado Consultor : sexo feminino
Um ato ensaiado (leitura de texto)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
0.2807 1.2270
1000
2000
3000
4000
50000.6023679340.664278502
ato ensaiado (leitura de texto)
formante 1: 572.6 formante 2: 1366.3
35
(15) Esse é um momento especial. Onde a vogal [u] cai
momentespecial Consultor: sexo feminino
Momento especial (fala espontânea)
Time (s)
Fo
rmant
freq
uency (
Hz)
5.633 6.4950
1000
2000
3000
4000
50005.957769365.9702109
formante 1: 585.7 formante 2:1803.9
momentespecial ( fala espontânea)
36
Nesses exemplos, atestamos a queda do /u/ diante de /a/, /e/, / i / e /i/, por definição da
escala em hertz dos formantes. Passemos, agora, à análise da vogal /u/ em outro ambiente,
seguido de vogal tônica.
Com exceção dos exemplos (16) e (19) abaixo, os demais exemplos ((17), (18), (20) e
(21)) correspondem à fala espontânea, gravada em entrevistas e nas emissões de TV. Nos
dados de gravação controlada, feita a partir da leitura de frases e textos e em diferentes
velocidades de fala, observamos que na maioria dos casos a vogal /u/ se mantém, sendo
realizado como glide (/w/). Entretanto, na fala espontânea, é bastante recorrente a queda dessa
vogal. Diferente da vogal /a/, a queda do /u/ é mais esparsa, mas quando a mesma ocorre, a
vogal cai nos mesmos ambientes em que cai a vogal /a/, ou seja, atesta-se, aqui, no dialeto em
estudo, um comportamento do /u/ diferente do que se propõe em outros trabalhos sobre o
sândi. A leitura dos formantes nos exemplos a seguir confirma essa previsão:
(16) Roberto acha que vai sair onde a vogal [u] sofre queda
robertacha Consultor: sexo feminino
Roberto acha que vai sair (fala controlada)
Time (s)
Fo
rmant
freq
uency (
Hz)
0.4012 1.6530
1000
2000
3000
4000
50000.6916059050.825228395
Roberto acha que vai sair (fala controlada)
Formante 1:881.7 Formante 2: 1502.2
37
(17) amo esse bairro onde a vogal /u/ sofre queda
amesse
Amo esse (fala espontânea)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
0.01431 0.84790
1000
2000
3000
4000
50000.292534820.320840872
untitled
Amo esse bairro ( fala espontânea)
Formante 1: 456.3 Formante 2: 1848.5
38
(18) quando isso aconteceu onde a vogal [u] sofre queda
quandisso Consultor: sexo masculino
Quando isso aconteceu (fala espontânea)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
9.166 10.270
1000
2000
3000
4000
50009.383604889.47957957
Quando isso aconteceu (fala espontânea)
Formante 1: 550.7 Formante 2: 1835.9
39
(19) quando isso vai terminar? Onde a vogal [u] cai
quandisso Consultor: sexo feminino
Quando isso vai terminar? (leitura de texto)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
0 1.4540
1000
2000
3000
4000
50000.274518440.323472677
Quando isso vai terminar? (leitura de texto)
Formante 1:412.5 Formante 2:1804.4
40
(20) frito ovo todo dia onde a vogal [u] sofre queda
fritovo Consultor: sexo feminino
Frito ovo todo dia (fala espontânea)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
11.8 13.360
1000
2000
3000
4000
500012.346886612.4490581
Frito ovo todo dia (fala espontânea)
Formante 1: 596.2 Formante 2: 1449.1
41
(21) quando ouço Caetano me arrepio. Onde a vogal [u] cai
quandoço Consultor: sexo feminino
Quando ouço Caetano me arrepio (fala espontâena)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
18.73 20.740
1000
2000
3000
4000
500019.13425619.2561455
Quando ouço Caetano me fascino (fala espontânea)
Formante 1: 445.8 Formante 2: 1252.8
42
4.3.3 O comportamento da vogal /i/
A vogal /i/ se diferencia das demais vogais estudadas. Com essa vogal, além da
degeminação, a elisão de /i/ foi constatada quando seguida de vogal átona, em dois exemplos
de fala controlada, com velocidade acima de allegro – presto - e em determinado ambiente, no
caso, antecedida da fricativa velar surda /s/ ou sonora /z/. Os exemplos que ilustram esse fato
são três:
(22) O alce amarelo do jardim botânico me fascina. Onde a vogal [i] cai
Alçamarelo Consultor: sexo feminino
O alce amarelo do Jardim Botânico me fascina. (fala controlada)
Time (s)
Fo
rm
ant f
req
uency (
Hz)
0 3.3070
1000
2000
3000
4000
50000.3762353030.484396523
Alce amarelo (fala controlada)
Formante 1: 765.7 Formante 2: 1525.2
43
(23) A base antiga que Marina passava nas unhas não era boa onde a vogal [i] cai
basãtiga Consultor: sexo feminino
Base antiga (fala controlada)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
0.4685 3.010
1000
2000
3000
4000
50000.7430039230.889712065
Base antiga ( fala controlada)
formante 1: 581.3 formante 2: 1601.7
44
(24) Alface amargo é ruim. Onde a vogal [i] cai
alfaçamargo Consultor: sexo feminino
Alface margo é ruim (fala controlada)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
0.03769 1.1020
1000
2000
3000
4000
50000.3944310250.442350718
Alface amargo é ruim (fala controlada)
Formante 1: 708.3 Formante 2: 1379.6
Quando a vogal /i/ vem seguida das vogais tônicas [e] e [], como atestou Souza
(idem), registra-se a queda da mesma em exemplos como:
45
(25) Teve esses livros na mão. Onde a vogal [i] cai
Tevesses Consultor: sexo feminino
Teve esses livros na mão (fala controlada)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
0 1.5460
1000
2000
3000
4000
50000.250249870.363277906
Teve esses livros na mão ( fala controlada)
Formante 1: 416.8 Formante 2: 1939.4
46
(26) Acho que ele fugiu. Onde a vogal [i] cai
quele Consultor: sexo feminino
Acho que ele fugiu (fala controlada)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
2.963 4.490
1000
2000
3000
4000
50003.508329873.58032785
acho que ele fugiu( fala controlada)
Formante 1: 481.9 Formante 2: 1681.7
47
(27) Denise é minha amiga. Onde a vogal [i] cai
denisé Consultor: sexo feminino
Denise é minha amiga (fala controlada)
Time (s)
Fo
rm
ant freq
uency (H
z)
0 1.5460
1000
2000
3000
4000
50000.4822477120.604197225
Denise é minha amiga( fala controlada)
Formante 1: 679.2 Formante 2: 1874.5
É interessante observar que, embora sejam exemplos conseguidos em uma situação
induzida, como os dados em ambiente [V#V], ou no ambiente [V#V ], isso significa a
48
possibilidade da queda do /i/, mesmo em ambientes restritos. Outro dado interessante ocorre
nas sequências [u#i] e [u#í], quando, ao se atestar a queda do /u/, poderia se pensar na
possibilidade de degeminação do traço [+alto], mas tal não ocorre. O que explicaria o
comportamento diferenciado da vogal /i/?
Souza (1978) buscou uma explicação para o comportamento semelhante entre as
vogais /a/ e /u/, distinto da vogal /i/:
As vogais i e u são classificadas como vogais altas, o i é uma
vogal anterior e a e u são posteriores. O traço comum às vogais a e u é
o traço posterior, porém i e u têm em comum o traço alto, o que
poderia fazer com que também funcionassem do mesmo modo.
Recentemente, estudos, como os de Stevens e House
(1967:35), têm sido realizados sobre a articulação dos sons vocálicos,
levando-se em conta a realização acústica do mecanismo vocal
humano, sendo o trato vocal analisado como um tubo acústico de
dimensões variáveis que se interceptam em determinadas áreas. Essas
áreas de intersecção são controladas principalmente pela posição da
língua e altura da língua, que vão determinar os graus de constrição na
realização das vogais. [...]
As vogais i e u não podem ser classificadas sob um mesmo
critério, porque as características primordiais da cada uma são
diferentes; o u é essencialmente caracterizado pelo arredondamento
dos lábios, enquanto o i é essencialmente caracterizado pela posição
da língua, sendo este insensível às variações da abertura da boca e
insensível à variação da posição e altura da língua, isto é, à área e ao
grau de constrição. A vogal u é produzida através de uma grande
escala de mudanças na área de constrição, mas sua realização depende
principalmente do tipo de abertura da boca.
Os graus de constrição de a e u são relativamente
equivalentes, o grau de constrição na realização do a é bem pequeno,
sendo quase igual ao de u.
Uma outra característica que aproxima a realização das vogais
a e u é em relação aos formantes dessas vogais. O segundo formante é
o mais importante na caracterização das vogais; este formante
aumenta a frequência da vogal se o ponto de constrição avança para
frente da boca e se a abertura da boca fôr cada vez maior. Em relação
a esse segundo formante, temos a seguinte distribuição: -- vogal i, F2=
2 260; vogal a, F2= 1 190 e para a vogal u, F2= 1 100. Como se vê, a
diferença entre o segundo formante das vogais a e u é bem pequena, o
que não ocorre entre i e u.
Conclui-se, então, que as vogais a e u se comportam de
maneira idêntica, porque analisando-se acusticamente as suas
realizações, ambas apresentam traços comuns, como o baixo graus de
constrição do conduto vocal e a pequena diferença existente entre o
segundo formante de ambas as vogais. (Souza, 1978:60-61)
Considerando os valores do formante 2 na tabela proposta para as vogais do português,
chegamos a uma avaliação semelhante à de Souza (idem): F2 masculino, vogal a = 1440,
49
vogal u= 1182 e vogal i= 2456; F2 feminino, vogal a = 1634, vogal u= 1290 e vogal i= 2984.
Talvez seja essa a explicação para o que também atestamos com relação às vogais em foco.
Porém, como ainda vamos estender nossa análise ao contorno prosódico dos enunciados aqui
explorados, tentaremos ver se, além dessa possibilidade, haverá outra razão que justifique o
comportamento diferenciado da vogal i. Nosso próximo passo será, então, proceder à análise
prosódica de alguns exemplos já enfocados acima.
4.3.4 A ocorrência do sândi em níveis de audibilidade (pitch) e intensidade
Dada a complexidade que envolve o funcionamento do sândi em português, quando
entram em jogo diferentes condicionamentos – velocidade, posição do sintagma na frase,
acentuação das vogais, os traços que determinam as mesmas e os valores dos formantes em
hertz – consideramos pertinente entender o fenômeno por um viés fonético, sobretudo,
quando retomamos Souza (idem) e verificamos que a atribuição cíclica de acento aos
constituintes frasais se revelou a solução, à época, mais eficaz para dar conta de toda essa
complexidade.
De forma resumida, os trabalhos que investem na análise de fenômenos prosódicos
têm como argumento básico o fato de que há fenômenos com graus de certa complexidade,
que não são descritos em sua totalidade por teorias fonológicas atuais. Da leitura que fizemos
sobre a descrição do sândi vocálico em português, percebemos que o sândi não vem sendo
tratado em sua abrangência. Há recortes determinados, quando se escolhe por descrever a
juntura vocálica envolvendo vogais átonas, tratar apenas da elisão da vogal /a/ em certos tipos
de sintagmas, ou, ainda, verificar o papel do acento na determinação do sândi. Em termos de
tratamento teórico, a recorrência desses trabalhos recai sobre a Fonologia Prosódica, como
proposta por Nespor e Vogel e a Teoria da Otimalidade, proposta por Prince e Smolensky,
1993 e Macarthy e Prince, 1993.
A leitura de trabalhos recentes, como os de Itô e Mester, dentre outros, que se voltam
para a descrição de certos fenômenos (incluindo o funcionamento do sândi em certas línguas)
no âmbito da prosódia, e nem tanto por regras fonológicas, nos motivou a analisar alguns dos
dados descritos até aqui em função dos níveis de audibilidade (pitch), que determinam o
contorno entonacional dos enunciados gravados em fala espontânea e em fala controlada.
50
O recurso de que lançamos mão foi, mais uma vez, o programa Praat junto com o
programa Audacity. Como as gravações de fala espontânea são, muitas vezes, longas, o
auxílio do Audacity vem ao encontro de recortar os enunciados onde estão contidos os
ambientes a serem analisados. Embora também o recorte possa ser efetuado no Praat, quando
se trata da análise de cadeias melódicas, o ideal é recorrer a um programa próprio para isso,
pois o enunciado muito longo, quando recortado no Praat, carrega os movimentos da
gravação por inteiro, por isso a necessidade de um programa que filtre interferências.
Quanto à noção de pitch, esta se encontra definida em Ladefoged, 1966. Segundo o
autor, há três fatores – sonoridade, pitch e qualidade – que oferecem o melhor método de
diferenciar todos os sons. Por sonoridade, entende-se o volume de som que pode ser ouvido.
Pitch é definido como variação em frequência, que, por sua vez, é definida pela quantidade de
ciclos por segundo (cps). É importante distinguir frequência e amplitude, pois pitch está para
frequência e não para amplitude. A frequência é sempre a mesma, e a vogal terá o mesmo
pitch independente da altura do som.
Quanto à qualidade do som, esta se define pela forma da onda, por exemplo, “a
diferença entre a qualidade de sons de um garfo tinindo e um piano é devida à diferença da
complexidade da forma da onda.” (idem: 24). Este é para nós um ponto importante, pois as
vogais /u/ e /i/ apresentam uma diferença significativa no funcionamento do sândi. Por
exemplo, a diferença em qualidade entre a vogal /u/, como na palavra “who”, em inglês, e a
vogal /i/, como na palavra “see”, também em inglês, pronunciadas com o mesmo pitch, está
na complexidade da forma da onda: a forma da vogal /u/ apresenta só uma onda, enquanto a
da vogal /i/ é formada por duas ondas. O que significa um aumento considerável na
frequência das duas vogais: o /u/ com uma frequência de 200 cps, e o /i/, com uma onda
sobreposta à de 200cps, resulta numa frequência de 3,500 cps. O gráfico abaixo ilustra essa
diferença.
51
Como os formantes não são as únicas diferenças entre vogais, pois estas diferenças
ainda se apresentam na duração e na intensidade, é preciso, então, verificar os níveis de
intensidade. Fry (1979), por exemplo, estabelece a intensidade das vogais /a/ e /u/ em 24dbs,
a da vogal /e/ em 23 dbs, enquanto a da vogal /i/ é 22dbs. Com relação ao comportamento
diferenciado da vogal /i/, talvez a diferença de intensidade, no caso, a da vogal /i/ menor do
que /a/ e /e/, seja uma razão para que aquela vogal caia quando seguida por estas vogais. E a
52
razão para se manter diante de /u/ parece, de fato, ligada ao grau de constrição já apontada em
Souza, como referendamos acima.
A análise que vamos desenvolver a seguir toma como base a medida do pitch
(audibilidade) dos enunciados, ao lado da medida de intensidade. A justificativa para esse
procedimento parte, por um lado, das discussões do que se tem proposto em termo de
recursividade prosódica e, por outro lado, busca-se verificar se os níveis de atribuição de
acento, em âmbito fonológico, como proposto em Souza, encontra alguma equivalência com
os graus de intensidade dos enunciados analisados.
A discussão em torno da recursividade prosódica toma como princípio a hipótese de
que padrões prosódicos são recorrentes em função da segmentação de determinadas estruturas
sintáticas (parsing). Souza (2013, inédito), por exemplo, traz evidências a favor de que as
estruturas parentéticas (aparentes ou não) se destacam, no nível entonacional, a partir da
atribuição de diferentes graus de pitch a essas estruturas, comprovando, assim, a existência de
estruturas prosódicas recursivas.
Assim, nossa análise procede buscando evidências a favor de uma correlação entre os
processos de juntura e os níveis de pitch e intensidade dos enunciados, como um todo, em
comparação com níveis como estes no bojo dos vocábulos fonológicos resultantes da juntura.
Para tanto, retomamos alguns exemplos enfocados anteriormente, acrescidos de outros ainda
não analisados.
4.3.4.1 Vogais /a/ e /u/ em ambiente [V#V]
Como as vogais /a/ e /u/ vêm demonstrando um comportamento próximo,
abordaremos os exemplos com essas vogais ao mesmo tempo. Não exploraremos todos os
ambientes acima, pois o objetivo, aqui, não é comprovar a queda das vogais a partir da
medição dos formantes, mas sim, tentar estabelecer parâmetros para a manutenção ou queda
de vogal. Ainda, a observar, nas pranchas abaixo, os níveis de pitch estão expressos pela
ondulação azul, enquanto os de intensidade pela ondulação verde.
Analisemos os exemplos abaixo.
53
(28) Mara está triste?
maristá
O enunciado como um todo “Mara está triste?” apresenta a seguinte medição10
: Pitch-m: 88.1
e Pitch-M: 209.6 e a Intensidade-m: 59.8 e Intensidade-M: 89.0. Já o vocábulo resultante da
juntura [maristá] tem: Pitch-m: 89.6 e Pitch-M: 209.6 e Intensidade-m: 65.1 e Intensidade-M:
89.0.
10
As letras M e m correspondem respectivamente à abreviação de máximo e mínimo.
54
(29) Roberto adora andar de skate pelas ruas. onde a vogal cai
robertadora
O enunciado como um todo “Roberto adora andar de skate” apresenta a seguinte medição:
Pitch-m: 75.3 e Pitch-M: 205.4 e a Intensidade-m: 62.4 e Intensidade-M: 82.3. Já o vocábulo
resultante da juntura [robretadora] tem: Pitch-m: 75.3 e Pitch-M: 184.1 e Intensidade-m: 68.2
e Intensidade-M: 82.3.
55
Observa-se nesses exemplos o seguinte:
No exemplo (28), o pitch máximo e a intensidade máxima recaem no sintagma onde se deu a
juntura. No exemplo (29), o pitch máximo [205.4] recai sobre a última palavra “skate”, mas o
pico máximo de intensidade [82.3] recai no sintagma onde se deu a juntura. É válido observar
que o pitch na juntura é também bem elevado, 90% do pitch mais alto da sentença.
Com os fatos apontados nesses exemplos, constata-se a retração da força máxima do
acento para o vocábulo fonológico e desloca-se a premissa de que o acento frasal mais
intenso, em português, recai no último vocábulo da palavra11
. Por esses dois exemplos, a
previsão que se tem, por ora, é a de que no encontro de duas vogais átonas [V#V], a vogal
sofre queda quando o pitch máximo da sentença recai no ambiente onde ocorre a juntura,
associado a um grau de intensidade também elevado. Ainda sobre esses exemplos, tem-se que
os mesmos foram gravados com fala controlada, e os vocábulos onde ocorre o sândi não se
encontram no final do enunciado.
O exemplo a seguir foi gravado em fala espontânea e o ambiente em foco fecha o
enunciado.
11
Fato reafirmado em Souza (idem), quando segue o princípio de atribuição cíclica de Comsky e Halle e
reafirmando a mesma colocação em Lemle (1968).
56
(30) Preciso do cálculo exato. onde a vogal [u] cai
calculexato
O enunciado como um todo “Preciso do cálculo exato” apresenta a seguinte medição: Pitch-
m: 74.4 e Pitch-M: 133.9 e a Intensidade-m: 66.1 e Intensidade-M: 87.4. Já o vocábulo
resultante da juntura [calculexato] tem: Pitch-m: 74.4 e Pitch-M: 133.9 e Intensidade-m: 68.2
e Intensidade-M: 82.3. O que se observa, nesse exemplo, é a incidência do pitch máximo no
vocábulo fonológico, associado também à intensidade máxima da sentença como um todo. A
previsão para queda em tal ambiente para as vogais /a/ e /u/, seguidas de vogal átona, parece
ser a de que a intensidade máxima, ou pitch e intensidade máximos recaindo sobre o vocábulo
da juntura condicionam a queda. Vejamos, então, se a previsão nos poucos casos onde a vogal
/i/ cai seria diferente.
57
4.3.4.2 Vogal /i/ em ambiente [V#V]
Lembramos, aqui, que os exemplos de queda da vogal /i/ antes de /a/ foram obtidos em
velocidade bem rápida, e em situação induzida. Diante da vogal /u/, não se registra queda. Ou
seja, no primeiro contexto registra-se, com frequência, um hiato entre as duas vogais, e, no
segundo, a ditongação, a não ser em exemplos como o que se segue:
(31) Alface amargo é ruim.
alfaçamargo
O enunciado como um todo “Alface amargo é ruim.” apresenta a seguinte medição: Pitch-m:
77.0 e Pitch-M: 199.5 e a Intensidade-m: 25.6 e a Intensidade-M: 59.6. Já o vocábulo
resultante da juntura [alfaçamargo] tem: Pitch-m: 102.2 e Pitch-M: 199.5 e Intensidade-m:
30.6 e Intensidade-M: 59.6. Mais uma vez se confirma que, para que a queda da vogal ocorra,
é necessário um nível elevado de pitch e intensidade recaindo sobre o contexto da juntura,
como confirmam os valores Pitch-M: 199.5 e Intensidade-M: 59.6. Apesar de este dado ter
sido trabalhado em situação induzida, pois a vogal /i/ tem um comportamento diferente com
relação à queda, quando esta vogal cai, o mesmo confirma a estrutura prosódica de queda.
58
4.3.4.3 Vogais /a/ e /u/ em ambiente [V#V ]
Os dados que vamos analisar, ilustrando o ambiente [V#V ], são exemplos de fala
espontânea. Elegemos cinco frases, uma retirada de entrevista e as demais retiradas das
gravações de TV. Passemos a analisá-las.
(32) Você paga um valor.
pagum
O enunciado como um todo “Você paga um valor.” apresenta a seguinte medição: Pitch-m:
97.9 e Pitch-M: 185.6 e a Intensidade-m: 58.6 e a Intensidade-M: 82.1. Já o vocábulo
resultante da juntura [pagum] tem: Pitch-m: 135.7 e Pitch-M: 184.0 e Intensidade-m: 67.4 e
Intensidade-M: 82.1. Mais uma vez se confirma que, para que a queda da vogal ocorra, é
necessário um nível elevado de pitch e de intensidade recaindo sobre o contexto da juntura,
como confirmam os valores Pitch-M: 184.0 e Intensidade-M: 82.1. Como em exemplos
anteriores, registra-se, aqui, a retração do acento frasal, com valores de pitch da sentença e do
vocábulo muito próximos.
O mesmo acontece com outros exemplos.
59
(33) Eu amo esse bairro.
amesse
O enunciado como um todo “Amo esse bairro.” apresenta a seguinte medição: Pitch-m: 111.0
e Pitch-M: 204.8 e a Intensidade-m: 64.6 e a Intensidade-M: 86.1. Já o vocábulo resultante da
juntura [amesse] tem: Pitch-m: 122.4 e Pitch-M: 204.8 e Intensidade-m: 66.5 e Intensidade-
M: 86.1. Neste exemplo, a intensidade maior recai sobre a palavra “bairro”, o que é o
esperado, pois tem-se aí uma sílaba pesada, mas o nível de pitch do vocábulo em causa é o
mais alto do enunciado.
60
(34) Entra pra uma espécie de clube.
pruma
O enunciado como um todo “Entra pra uma espécie de clube.” apresenta a seguinte medição:
Pitch-m: 79.3 e Pitch-M: 210.9 e a Intensidade-m: 56.2 e a Intensidade-M: 81.1. Já o
vocábulo resultante da juntura [pruma] tem: Pitch-m: 88.7 e Pitch-M: 210.9 e Intensidade-m:
58.6 e Intensidade-M: 80.3. Neste exemplo, o pitch e a intensidade máximos recaem sobre a
juntura. E o nível do acento frasal é o mesmo do acento do vocábulo fonológico.
61
(35) Pra essa noite especialíssima.
pressa
O enunciado como um todo “Pra essa noite especialíssima.” apresenta a seguinte medição:
Pitch-m: 64.0 e Pitch-M: 146.9 e a Intensidade-m: 64.0 e a Intensidade-M: 86.4. Já o
vocábulo resultante da juntura [pressa] tem: Pitch-m: 123.6 e Pitch-M: 146.9 e Intensidade-m:
75.1 e Intensidade-M: 85.1. Mais uma vez, confirmam-se os valores altos recaindo sobre a
juntura em contexto de queda de vogal.
62
(36) Quando isso aconteceu.
quandisso
O enunciado como um todo “Quando isso aconteceu.” apresenta a seguinte medição: Pitch-m:
85.3 e Pitch-M: 133.0 e a Intensidade-m: 64.5 e a Intensidade-M: 86.1. Já o vocábulo
resultante da juntura [quandisso] tem: Pitch-m: 115.1 e Pitch-M: 133.0 e Intensidade-m: 73.7
e Intensidade-M: 85.5. Mais uma vez, confirmam-se os valores altos recaindo sobre a juntura.
De novo observa-se a coincidência de valores altos de pitch e intensidade.
63
(37) Quando isso vai terminar?
quandisso
O enunciado como um todo “Quando isso vai terminar?” apresenta a seguinte medição: Pitch-
m: 76.0 e Pitch-M: 209.8 e a Intensidade-m: 51.5 e a Intensidade-M: 88.4. Já o vocábulo
resultante da juntura [quandisso] tem: Pitch-m: 76.0 e Pitch-M: 169.1 e Intensidade-m: 68.2 e
Intensidade-M: 88.4. Mais uma vez, confirmam-se os valores altos recaindo sobre a juntura.
De novo observa-se, a coincidência de valores altos de pitch e intensidade. A comparação
deste exemplo, semelhante ao anterior, vem revelar o mesmo padrão de realização, estando
em jogo um exemplo de fala espontânea (36) e um exemplo (37) de fala semi espontânea
(leitura de texto).
64
4.3.4.4 Vogal /i/ em ambiente [V#V ]
Os exemplos com queda de /i/ seguido de vogal /e/ e //, que passamos a enfocar, são
mais frequentes. São três os exemplos coletados em fala controlada.
(38) Teve esses livros na mão.
tevesses
O enunciado como um todo “Teve esses livros na mão.” apresenta a seguinte medição: Pitch-
m: 75.3 e Pitch-M: 207.5 e a Intensidade-m: 42.5 e a Intensidade-M: 75.3. Já o vocábulo
resultante da juntura [tevesses] tem: Pitch-m: 87.1 e Pitch-M: 132.3 e Intensidade-m: 46.2 e
Intensidade-M: 72.6. Aqui, nota-se uma relação diferente sobre a queda do /i/: não há, no
vocábulo da juntura, uma coincidência de valores altos. Só os valores mínimos de pitch e
intensidade são maiores que os valores mínimos no enunciado como um todo. Temos, então,
um padrão diferenciado e não se registra retração do acento frasal.
65
(39) Acho que ele fugiu
queli
O enunciado como um todo “Acho que ele fugiu.” apresenta a seguinte medição: Pitch-m:
88.9 e Pitch-M: 207.6 e a Intensidade-m: 47.4 e a Intensidade-M: 79.4. Já o vocábulo
resultante da juntura [keli] tem: Pitch-m: 112.6 e Pitch-M: 131.7 e Intensidade-m: 53.6 e
Intensidade-M: 76.1. Por esses valores, confirma-se um padrão diferenciado, como atestado
no exemplo (38) acima, entretanto, com outra medição: sobre o vocábulo de juntura recaem,
apenas, os valores mínimos de pitch e intensidade e não se registra retração do acento frasal.
66
(40) Denise é minha amiga.
denise ()
O enunciado como um todo “Denise é minha amiga.” apresenta a seguinte medição: Pitch-m:
89.8 e Pitch-M: 211.7 e a Intensidade-m: 46.0 e a Intensidade-M: 75.3. Já o vocábulo
resultante da juntura [denis] tem: Pitch-m: 94.1 e Pitch-M: 118.2 e Intensidade-m: 58.2
Intensidade-M: 75.3. O mesmo padrão, presente no exemplo (38), se repete: sobre o vocábulo
de juntura recaem, apenas, os valores mínimos de pitch e intensidade, e não se registra
retração do acento frasal.
A análise da queda da vogal /i/ antes das vogais tônicas /e/ e // mostrou um padrão
inverso à queda de vogal em todos os ambientes aqui analisados. Tanto os níveis de pitch,
quanto os níveis de intensidade do vocábulo onde ocorre a juntura são menores do que os dos
67
níveis no enunciado como um todo, e não há retração do acento frasal. Mais uma vez se
registra um comportamento diferenciado da vogal /i/, com relação às demais vogais.
Entretanto, apesar do padrão diferenciado, podemos concluir que é o jogo entre os níveis de
intensidade e pitch o principal fator de condicionamento do fenômeno sândi no dialeto falado
na abrangência do Rio de Janeiro.
Quanto ao comportamento diferenciado da vogal /i/, cujo grau de intensidade é o mais
baixo entre as vogais - /a/ = 24 dbs, /u/ = 24 dbs, /e/ = 23 dbs e /i/= 22 dbs -, sabe-se que sua
forma tem uma onda característica, como apresentada no diagrama acima (Ladefoged, idem).
Talvez esse fator faça com que a vogal resista à queda diante /u/, sem nenhum registro, com
poucos registros diante de /a/ e com mais frequência diante de /e/ e // tônicos.
4.4 Papel da velocidade no condicionamento do sândi
Como afirmamos, acima, a correlação entre os níveis de pitch e intensidade é o fator
determinante no condicionamento do sândi, isto é, quando se registra a elisão de vogal em
juntura vocabular. Tal afirmativa se sustenta, sobretudo, na análise de enunciados proferidos
em fala espontânea. Nesta modalidade de fala, a variação dos níveis de pitch e intensidade, a
nosso ver, está condicionada pelo conteúdo pragmático dos enunciados, no âmbito dos quais a
juntura ocorreria em estruturas com maior carga expressiva. Nesse sentido, nos perguntamos
se os diferentes níveis de velocidade de fala influenciam, de fato, na realização do sândi, ou se
o contorno prosódico, característico de cada falante é que determinaria os fatos de juntura.
Essas colocações advêm do fato constatado durante as gravações de leitura de textos
em diferentes velocidades. Percebemos, aí, que determinados falantes, independente da
velocidade de leitura, não realizam nenhuma juntura, em nenhum ambiente. O texto que
preparamos para essa estratégia, propositalmente, apresentava o encadeamento de vários
enunciados pela previsão de que ali ocorreriam junturas, como se pode verificar:
Ultimamente, o país está tomado de manifestações. O povo abraça várias causas: o
preço alto das passagens, o uso indevido de verbas públicas, o alto investimento em obras
faraônicas, o salário ultrajante dos professores. Roberto adora andar de skate pelas ruas da
cidade, Rose adora andar de bicicleta, mas eles não têm tido ânimo para sair. Pra ela, as
manifestações viraram barulho arruaceiro; pra ele, as passeatas parecem um fato ensaiado.
Enfim, quando isso vai terminar?
68
Aos consultores, era pedido que lessem em voz baixa, depois em voz alta e, por fim,
em velocidade mais rápida do que a primeira. Dessas leituras, pouco aproveitamos, pois, ao
lerem, os consultores pareciam fazer as pausas expressivas sobre o que estavam lendo,
independente dos sinais gráficos de pontuação.
Um consultor, em especial, não realizou nenhuma juntura sequer, nem mesmo nos
ambientes de degeminação de vogal. Decidimos, então, analisar, desse consultor específico, a
leitura da frase “A arara azul é uma ave amiga de nós brasileiros.”, em três velocidades de
frase diferentes, e verificamos que, em nenhuma velocidade houve a degeminação do /a/ em
“arara azul”. Com a leitura de frases, também observamos que vários consultores não
realizam o sândi em contextos previstos para tal. Induzíamos, então, indagando se não era
possível enunciar exemplos como “Acho queli fugiu”, alguns admitiam essa forma, outros
não. Como essas conversas – em forma de entrevistas – eram gravadas, acabávamos por
verificar que, esses mesmos consultores “avessos” à juntura, realizavam o sândi em vários
enunciados, coincidindo estes com ambientes onde, com a leitura de frases, não só a juntura
não se realizara, como também nem sequer admitiam sua realização.
Cremos que, com fatos como esses, pode-se afirmar que a sugestão de leitura com
diferentes velocidades de fala, ou seja, a fala controlada, não só não é uma boa estratégia para
se avaliar a ocorrência do sândi, como evidencia que a velocidade não é fator primordial no
condicionamento do fenômeno. É na fala espontânea, que ocorrerá a modulação dos
enunciados e estão nos exemplos aí capturados os padrões prosódicos recursivos que
procuramos descrever acima. Descarta-se, assim, a velocidade como fator que interferiria
diretamente na realização do sândi.
Vale ainda observar que os trechos de gravação de TV selecionados são de momentos
que simulavam espontaneidade, como no caso da despedida de uma jornalista e da recepção
da que iria substituí-la. Na mesma emissão do jornal, verificamos que o jornalista âncora, ao
enunciar as notícias, adota um registro formal e impactante ou relaxado, dependendo do teor
da notícia, e nesses momentos, não se registram dados como “Pressa noite especial”. Na
gravação do programa matinal (“Mais você”), a condução da apresentadora é, todo o tempo,
como se conversasse tanto com o espectador, parecendo ensaiar uma fala descontraída, quanto
com o personagem “Louro José”, contexto que favorece a ocorrência de enunciados como
“Você pagum valor e entra pruma espécie de clube.”. Enfim, foi a partir de falas assim
69
contextualizadas que foi possível formular os padrões prosódicos de condicionamento do
sândi: a incidência de níveis altos de pitch e intensidade nos vocábulos da juntura.
70
Conclusão
A proposta de nosso trabalho foi a de verificar se a ocorrência do sândi no dialeto
carioca se daria conforme atestado em Souza, trabalhando-se, porém, por um outro caminho
de análise. Enveredamos por uma análise física dos dados coletados, buscando comprovar
tanto a queda dos segmentos, ao analisarmos os formantes em jogo, quanto o fator que estaria
condicionando a queda, ou a manutenção dos segmentos, ao medirmos os níveis de
aldibilidade (pitch) e intensidade do vocábulo fonológico e compararmos com os níveis no
enunciado como um todo.
Embora tenham sido nossas estratégias de análise diferentes, podemos reafirmar, para
a ocorrência do sândi no dialeto em estudo, certos dados: o comportamento semelhante das
vogais /a/ e /u/, oposto ao comportamento diferenciado da vogal /i/. A explicação para esse
fato, dada por Souza, se baseou na proximidade dos valores do segundo formante das vogais
/a/ e /u/, pois dado o fato de os graus de constrição de a e u serem relativamente equivalentes,
já que o grau de constrição na realização do a é bem pequeno, quase igual ao de u, isto seria
acarretado pela proximidade do segundo formante dessas vogais: o segundo formante é o mais
importante na caracterização das vogais; este formante aumenta a frequência da vogal se o
ponto de constrição avança para frente da boca e se a abertura da boca for cada vez maior.
A razão de não colocarmos em jogo o formante1, que assenta em estreita proximidade
as vogais /u/ e /i/, se deve ao fato de o formante 2 corresponder à posição horizontal da língua,
e o formante 1 corresponder à altura. O formante1 aproxima o i do u, mas como vimos, na
análise, a degeminação do traço alto só ocorre quando u é seguido de i. E não ocorre quando o
i é seguido de u. O traço [alto] se mostrou irrelevante no condicionamento do fenômeno. Logo
não é o alçamento da língua fator de condicionamento do sândi, mas sim, como nossa análise
procurou mostrar, os graus de pitch e de intensidade.
Além dessa explicação, mostramos que a proximidade entre essas vogais está também
nos graus de intensidade: as vogais /a/ e /u/ contam com 24dbs, a vogal /e/, com 23dbs e a
vogal /i/, com 22. Talvez esteja nesses valores o fato de a queda da vogal /i/ ser mais
frequente quando é seguida pela vogal /e/. Também sobre a pouca ocorrência de queda da
vogal /i/, verificamos que quando está em contexto de juntura, os níveis de pitch e
intensidade, ao contrário do que se verificou com as outras vogais, são os de menor valor e
não se tem o movimento de retração do acento, como se verifica nos casos de juntura das
71
vogais /a/ e /u/. Fatos que parecem sugerir uma análise acústica mais apurada sobre a
qualidade dessas vogais.
Dessa análise, resultaram padrões prosódicos de condicionamento do fenômeno,
atestando que esses padrões são recursivos no recorte dos vocábulos sob juntura,
evidenciando a interface dos processos morfofonêmicos com a estrutura frasal. Os contornos
entoacionais, sobretudo das falas espontâneas, não agem aleatoriamente: os níveis medidos
revelam, em verdade, que toda uma carga expressiva recai sobre os enunciados, que destacam
o foco do que está sendo dito. A apresentadora da TV, por exemplo, faz uma denúncia sobre o
funcionamento das “pirâmides lucrativas”, que vêm fazendo com que as pessoas que aí se
envolvem acabam tendo grandes prejuízos financeiros, daí uma força expressiva maior em
“você paga um valor”. Esse tipo de carga expressiva – presente em todos os enunciados de
fala espontânea – provoca a retração do acento do enunciado como um todo, fato contrário ao
que, em geral, se propõe, ao se instituírem, aí, os altos índices de pitch e intensidade. Assim, a
força modular da elocução favorece a juntura. Fato que nos permite deslocar, também, a
velocidade de fala como fator determinante do fenômeno.
Por fim, concluímos que o sândi, não só mantém a sua abrangência, atingindo com
processos de degeminação e elisão as vogais /a/, /u/ e /i/, nos ambientes de juntura de duas
vogais átonas, ou de vogal átona seguida de vogal tônica, como se mantém como fenômeno
constante na língua. A abordagem física do fenômeno mostrou, porém, que outras
explicações, fora do âmbito da fonologia, podem ser oferecidas, trazendo não só evidências à
recursividade prosódica, quanto colocando em perspectiva um campo fértil de discussões.
72
Referências Bibliográficas
ABAURRE, M. B. M. Aspectos da organização rítmica em português europeu e brasileiro:
uma análise do acento secundário baseada em hierarquia de restrições. Colóquio do projeto
Padrões rítmicos, fixação de parâmetro e mudança lingüística: Perspectivas e resultado,
IEL/Unicamp,2002.
(http://www.slidefinder.net/a/aburre_galves_mandel_sandalo_the/32015225)
BISOL, L. Os constituintes prosódicos. introdução a estudos de fonologia do português
brasileiro. Porto Alegre, RS: EDIPUCRS, 1999
___ & Brescancini, C. A degeminação e a elisão no VARSUL. In: fonologia e variação:
recortes do português brasileiro. Porto Alegre, RS: EDIPUCRS, 2002
CAGLIARI, Luiz Carlos. Análise fonológica:introdução a teoria e à prática, com especial
destaque para o modelo fonêmico- Campinas,SP: Mercado de letras, 2002
____ ABAURRE, M. B. M. Elementos para uma investigação instrumental das relações entre
padrões rítmicos e processos fonológicos do português brasileiro. Campinas, SP: Editora
Unicamp, Cadernos de Estudos Linguísticos, v,10, 1986
CÂMARA JR, J. Mattoso. Estrutura da Língua portuguesa. 41ª Ed. Petrópolis, RJ, Vozes,
2008.
CHOMSKY, N. HALLE, M. The sound pattern of English. New York: Harper & Row eds,
1968
FRY, D.B. The Physics of Speech. London: Cambridge University Press, 1979.
GONÇALVES, C. A. Encontros vocálicos finais átonos na fala carioca:Abordagem por
Ranking de restrições, R. Let. & Let. Uberlândia-MG v.28 n.1 p.207-231 jan.|jun. 2012
73
ITO, J.e MESTER , A. Recursive prosodic phrasing in Japanese. In T. Borowsky, S.
Kawahara, T. Shinya & M. Sugahara (eds.) Prosody Matters. London: Equinox Press. 2009.
LADEFOGED, Peter. Elements of acoustic Phonetics, Chicago: The University of Chicago
Press, 3.ed., 1966.
LEMLE, M. Phonemic system of the Portuguese of Rio de Janeiro (inédito), Universidade
da Pensilvânia:1968.
LIBERATO, Y. G. Alterações vocálicas em final de palavra e a regra de palatalização.
Cadernos de linguística e a teoria da literatura, Belo Horizonte, (1): 80-95, 1978.
NESPOR, M. & VOGEL, I. Prosodic phonology. Holland: Foris Publications, 1986
SCHANE, Sanford. 1967. “ L‟ Elision et la Liason en Français “. Languages 8,37-59.
_____.1968. French phonology and morphology. Cambridge, MA : MIT Press.
_____.1974. “There is no French truncation rule”. In: Linguistic studies in
Romancelanguages, ed. R Joe Campebell, Mark G. Goldin e Mary Clayton Wang, 89-99.
Washington, DC: Georgetown University Press.
SELKIRK, Elisabeth O (1972) The Phrase Phonology of English and French. PhD
Dissertation, MIT.
SILVA, S. M. Aspectos do sândi vocálico externo no dialeto carioca.Apresentação na JIC,
UFRJ, 2013.
SIMÕES, A. M Some sandhi rules in portuguese. Cadernos de lingüística e teoria da
literatura, Belo Horizonte, (5): 148-164, 1981.
SOARES, Ricardo A. F. (2005) Fala conectada e uma abordagem da interface sintaxe/
fonologia no quadro da Teoria da Otimalidade: o caso do Francês. Dissertação.
74
SOARES, Ricardo A. F. “Pespectivas de analise da „Elision‟ e da „Liason‟ em Francês:
truncamento na Teoria da Otimalidade.” Trabalho apresentado na XXII Jornada de Iniciação
Cientfica. MS.
SOUZA, F, C. Prosódia e orações parentéticas: algumas considerações baseadas no uso (inédito),
UFRJ, 2014.
SOUZA, T. C. C. de. O sândi externo no dialeto carioca. Dissertação de mestrado (inédito).
UFRJ, 1978.
___. Sândi Vocálico em português: homonímia e opacidade. Anais do IV Congresso Nacional
de Linguística, PUCRJ. , v.IV, p.19 - 30, 1981.
___. Das mudanças morfofonêmicas em português. ensaios de linguística 9, 188-207, UFMG,
1983.
TENANI, L. Domínios prosódicos no português Brasileiro: evidências rítmica, entonacional,
segmental. Estudos Linguísticos XXXV, p.118-131, 2006.
VIGARIO, M. Prosodic structure between the prosodic Word and the phonological phrase:
Recursive nodes or na independent domain?, The linguistic Review 27, 2010.
75
Bibliografia
ALENCASTRO, A.P.M. A ELISÃO DA VOGAL MÉDIA /O/ EM PORTO ALEGRE –
RS E CURITIBA – PR, Porto Alegre, 2008
ARAÚJO, F.M. Observações sobre sândi vocálico na região da grande Florianópolis,
Anais do CELSUL 2008
CANGEMI, A.C.F.G.A. Sândi vocálico externo nas Cantigas de Santa Maria:
ditongação, ESTUDOS LINGUÍSTICOS, São Paulo, 40 (2): p. 760-772, mai-ago 2011
COLLISCHONN, G. Sândi vocálico no Português Brasileiro: Como o acento determina sua
realização. R. Let. & Let. Uberlândia-MG v.28 n.1 p.13-27 jan.|jun. 2012
GONÇALVES, G. F. & BRUM-DE-PAULA, M. R. Aquisição da linguagem e Harmonia
vocálica: Uma análise via Teoria da Otimalidade. R. Let. & Let. Uberlândia-MG v.28 n.1
p.347-362 jan.|jun. 2012
LEITE, C. T & COSTA, C.G.B.C . O papel da prosódia na organização dos constituintes
prosódicos e sua importância na realização de sândi vocálico externo na leitura, Belo
Horizonte.
LEITE, Y. O pensamento fonológico de J. Mattoso Jr. Estudos da Linguagem,Vitória da
Conquista, n. 2, p 29-44, Dezembro,2005.
SILVA, V. M. O. LE SANDHI VOCALIQUE EN PORTUGAIS, Université Paris 8
Vincennes – Saint-Denis / 2009.
VELOSO, B. S. O Sândi vocálico externo e os monomorfemas em três variedades de
português (Mestrado). Campinas:SP, 2003.
VIANA, P. Sândi vocálico externo: Processo e a variação na cidade de Florianopólis- SC,
Porto Alegre, 2009.
76
Anexo I
Textos para leitura controlada
Ultimamente, o país está tomado de manifestações. O povo abraça várias causas: o preço alto
das passagens, o uso indevido de verbas públicas, o alto investimento em obras faraônicas, o
salário ultrajante dos professores. Roberto adora andar de skate pelas ruas da cidade, Rose
adora andar de bicicleta, mas eles não têm tido ânimo para sair. Pra ela, as manifestações
viraram barulho arruaceiro; pra ele, as passeatas parecem um fato ensaiado. Enfim, quando
isso vai terminar?
77
Anexo II
Frases pré-selecionadas em contexto de sândi
1. aquele rapaz é um pobre amigo do meu irmão mais novo
2.Carla comprou um pente azul na farmácia perto de casa
3.A arara azul é uma ave amiga de nós brasileiros
4.O verde e amarelo da bandeira do Brasil me encanta
5.Juca e quase amigo de Pedro mais ainda brigam muito
6.A base antiga que marina passava nas unhas não era boa
7.Esta base amarela fortalece as unhas
8.O alce amarelo que vive no jardim botânico me fascina
9.Julio e Camila têm um lance antigo
10.Lance aqui seu lixo eletrônico
11.As atitudes do meu nobre amigo estão sempre me surpreendendo
12.Sabrina ofereceu uma pobre ajuda a sua irmã adoentada
13.Aquele pobre elefante é muito maltratado no circo onde vive
14.Roberto acha
15.Roberto acha que vai sair
16.Todo dia chupo uva
17.Todo dia chupo uva moscatel
18.Chupo uva Itália
19.Chupo uva Itália gelada
20. Paulo adora uva
21. Paulo adora uva doce
22. Preciso do cálculo exato
23. Frito ovo todo dia
24. Quando ouço Caetano me arrepio
78
Anexo III
Dado espontâneo retirado do site Concordância, cedido pela professora Doutora Silvia
Brandão.
- Você gosta desse bairro?
- Ah, eu amo esse bairro, ainda hoje estava falando nele.
79
Anexo IV
Característica dos sons das vogais do português falado no Brasil.
80
Anexo V
Tabela de formantes retirada da internet