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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

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Page 1: ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

ESTUDO DA

DOUTRINA

ESPÍRITA

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I N D Í C E

AULA 01 BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC PG. 1

AULA 02 INTRODUÇÃO AO LIVRO DOS ESPÍRITOS PG. 7

AULA 03 A IDÉIA DE DEUS - VISÃO HISTÓRICA COMPARADA PG. 13

AULA 04 DEUS PG. 17

AULA 05 ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO PG. 23

AULA 06 ESPÍRITO PG. 33

AULA 07 PERISPÍRITO PG. 42

AULA 08 CENTROS DE FORÇA PG. 55

AULA 09 REENCARNAÇÃO PG. 60

AULA 10 DESENCARNAÇÃO - RETORNO DA VIDA CORPORAL PARA VIDA ESPIRITUAL PG. 76

AULA 11 INTERVENÇÃO DOS ESPÍRITOS NO MUNDO CORPORAL PG. 87

AULA 12 LEI DIVINA OU NATURAL PG. 95

AULA 13 LEI DE ADORAÇÃO PG. 100

AULA 14 LEI DE TRABALHO PG. 107

AULA 15 LEI DE REPRODUÇÃO PG. 111

AULA 16 LEI DE CONSERVAÇÃO PG. 118

AULA 17 LEI DE SOCIEDADE PG. 125

AULA 18 LEI DE PROGRESSO PG. 131

AULA 19 PERFEIÇÃO MORAL PG. 140

AULA 20 OBSESSÃO PG. 148

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 01

Biografia de Allan Kardec

Allan Kardec, cujo verdadeiro nome é Hippolyte Leon Denizard Rivail, nasceu na cidade de Lion, França, a 03 de outubro de 1804 no seio de antiga família lionesa, de nobres e dignas tradições.

Foram seus pais Jean-Baptiste Antoine Rivail, magistrado íntegro e Jeanne Louise Duhamel.

Realizou seus primeiros estudos em Lion, sua cidade natal, completando-os em Yverdon, Suíça, no famoso Instituto de Educação Pestalozzi. O Instituto de Yverdon, fundado em 1805, era visitado todos os anos por grande número de estrangeiros, citado, descrito, imitado, era, numa palavra, a escola modelo da Europa.

O menino Denizard Rivail, ao qual os destinos reservariam sublime missão, logo se revelou um dos discípulos mais fervorosos do insigne pedagogista suíço, já dobrado sob setenta anos de lutas, realizações e decepções. Possuidor de inteligência penetrante e alto espírito de observação, e, ainda mais, inclinado naturalmente para a solução dos importantes problemas do ensino e para o estudo das ciências e da filosofia, Rivail cativou a simpatia e a admiração do velho professor, deste se tornando, pouco depois, eficiente colaborador. Os exemplos de amor ao próximo fornecidos por Pestalozzi norteariam para sempre a vida do futuro Codificador do Espiritismo.

Com catorze anos, Rivail já legava à Humanidade bela contribuição: para os seus condiscípulos menos adiantados abriu cursos, nos quais ensinava o que ia aprendendo, nos momentos que lhe eram reservados ao descanso.

Procurando seguir as pegadas do mestre, cujo método permitia ao povo e às crianças em geral uma educação mais adequada, mais racional e mais prática, Rivail meteu mãos à obra e, em 1824 saía a lume o primeiro livro dele, a saber: Cours Pratique Et Théorique D’Arithmétique D’Apres La Méthode de Pestalozzi, Avec Des Modifications.

O eminente Codificador do Espiritismo, em 1824, com apenas dezenove anos já tirava à luz, para o bem de seus irmãos em Humanidade, importante e utilíssimo livro, fruto do seu próprio engenho. Foi esta a primeira obra de cunho pedagógico e a primeira entre todas as demais por ele publicadas.

Obtendo isenção do serviço militar, Rivail deixou a Suíça e rumou para a cosmopolita capital francesa, onde, a princípio, por saber falar e escrever o alemão tão bem quanto o francês, vertia para a Alemanha livros que mais lhe tocavam o coração, dando preferência às obras de Fénelon. Além de continuar seus estudos, dedicou-se à educação, e suas obras alcançaram tal êxito, que logo se tornou uma figura popular, querida e elogiada. Fundou também um Instituto Técnico que obedecia aos moldes do extinto Instituto de Yverdon. Até 1834, essa obra do esforçado e laborioso discípulo de Pestalozzi, agora amparado por sua dedicada esposa Professora Amélia Boudet, abriu novos horizontes à inteligência de um punhado de alunos que ali iam em busca da água lustral. Ao mesmo tempo em que lecionava, prosseguia escrevendo, nas poucas horas que lhe sobravam, páginas e mais páginas relacionadas com as questões educacionais.

Em 1835, o Instituto que ele dirigia com proficiência e alto espírito missionário teve que cerrar suas portas. A quantia que lhe coube da liquidação do referido

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estabelecimento foi confiada a um amigo negociante, que, realizando maus negócios, entrou em falência, deixando o pobre professor sem um níquel.

Rivail, entretanto, demonstrando firme vontade e inquebrantável energia, empregou-se como contabilista de casas comerciais, dedicando as noites à organização de novos trabalhos pedagógicos, à tradução de obras do inglês e do alemão e à preparação de todos os cursos de Levi-Alvarès. Em sua própria residência, ministrou cursos gratuitos de Química, Física, Astronomia, Fisiologia e Anatomia Comparada.

Rivail fora um destes homens, que, como Pestalozzi, regeu sua vida pelo lema: tudo para os outros, nada para si mesmo. Durante toda sua existência procurou educar, educar sempre, intelectual e moralmente, objetivando a construção de um mundo melhor.

Tudo fazia o jovem professor-filantropo para facilitar aos alunos o aprendizado das matérias que geralmente trazem àqueles certo cansaço cerebral. Com engenho e arte, arquitetava, então, métodos e processos especiais, tendo em vista obter maior aproveitamento do aluno, com o menor dispêndio de energias intelectuais por este último.

Através de sua carreira pedagógica, exercitou a paciência, a abnegação, o trabalho, a observação, a força de vontade e o amor às boas causas, a fim de melhor poder desempenhar a gloriosa missão que lhe estava reservada.

Hyppolyte Leon Denizard Rivail, antes que o Espiritismo lhe popularizasse e imortalizasse o pseudônimo de Allan Kardec, já se havia, pois, firmado bem alto no conceito do povo francês, como distinguido mestre da Pedagogia moderna.

Durante a vida inteira regeu suas ações por três virtudes: Trabalho, Solidariedade, Tolerância.

Entre outras matérias, lecionou, como pedagogo de incontestável autoridade: Química, Matemática, Astronomia, Física, Fisiologia, Retórica, Anatomia Comparada e Francês. Era dado a estudos filológicos e de gramática da língua francesa. Conhecia profundamente o alemão, o inglês, o holandês, assim como eram sólidos seus conhecimentos do latim e do grego, do gaulês e de algumas línguas novilatinas.

O Consolador, consubstanciado no Espiritismo, vinha de alvorecer, e um homem extraordinário fora destinado a preparar-lhe o advento e a consolidação. Denizard Rivail foi este homem. Os fatos observados por Rivail em 1855, com diferentes médiuns, foram de tal ordem que o perspicaz e clarividente professor sentiu que algo de momentoso se estaria passando. Observando, comparando e julgando os fatos, sempre com cuidado e perseverança, concluiu que realmente eram os Espíritos daqueles que morreram a causa inteligente dos efeitos inteligentes e deduziu as leis que regem esses fenômenos, extraindo admiráveis conseqüências filosóficas e toda uma doutrina de esperança e consolações.

Freqüentando reuniões inúmeras onde, por meio da cesta, muitas vezes se obtinham comunicações que deixavam fora de toda a dúvida a intervenção de entidades estranhas aos presentes, Rivail começou a levar para as sessões uma série de perguntas sobre problemas diversos, às quais os Espíritos comunicantes respondiam com precisão, profundeza e lógica.

Em 1856, a 30 de abril, em casa do Sr. Roustan, a médium Japhet, utilizando-se da cesta, transmitiu a Rivail a primeira revelação positiva da missão que teria de desempenhar, fato que mais adiante, em circunstâncias diferentes, seria confirmado, e com mais clareza, por outros médiuns.

É uma página emocionante da história da vida de Rivail. Humilde, sem compreender a razão de sua escolha para missionário-chefe de uma doutrina que revolucionaria o pensamento científico, filosófico e religioso, pareceu duvidar. Mas o Espírito de Verdade lhe respondeu: Confirmo o que foi dito, mas recomendo-te discrição, se quiseres sair-te bem. Tomarás mais tarde conhecimento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende. Não esqueças que podes triunfar, como podes falir. Neste último caso, outro te substituiria, porquanto os desígnios de Deus não assentam na cabeça de um homem.

Rivail prosseguiu com devotamento exemplar seus estudos acerca da comunhão entre o mundo dos encarnados e o dos desencarnados. Inicialmente, o professor Rivail esteve a ponto de abandonar as investigações, porquanto não era positivamente um entusiasta das manifestações espíritas. Premido também por preocupações de outra

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ordem, quase deixou de freqüentar as sessões, somente não o fazendo em atenção a pedidos reiterados dos Srs. Carlotti, René Taillandier e Didier.

Pouco a pouco erigia-se a base de um monumento filosófico-religioso. Com o concurso de mais de uma dezena de médiuns, auxiliado direta e indiretamente por uma plêiade de Espíritos Superiores superintendidos pelo Espírito de Verdade, ele desenvolvia, completava e remodelava aqui e ali o seu trabalho. Em 11 de setembro de 1856 recebia na casa do Sr. Baudin a seguinte comunicação mediúnica assinada por “Muitos Espíritos”: Compreendeste bem o objetivo do teu trabalho. O plano está bem concebido. Estamos satisfeitos contigo. Continua; mas lembra-te, sobretudo quando a obra se achar concluída, de que te recomendamos que a mandes imprimir e propagar. É de utilidade geral. Estamos satisfeitos e nunca te abandonaremos. Crê em Deus e avante.

Corre o tempo e, em princípios de 1857, entrava para o prelo da Livraria E. Dentu a obra que seria o clarim do “Consolador” prometido por Jesus.

A 18 de abril de 1857, finalmente era dado à luz “O Livro dos Espíritos”. No momento de publicá-lo, o autor ficou muito embaraçado em resolver como o assinaria, se com o seu nome ou com um pseudônimo. Sendo o seu nome muito conhecido do mundo científico, em virtude dos seus trabalhos anteriores, e podendo originar confusão, talvez mesmo prejudicar o êxito do empreendimento, ele adotou o alvitre de o assinar com o nome de Allan Kardec, nome que, segundo lhe revelara o guia, ele tivera ao tempo dos Druidas.

A 1o de abril de 1858, Kardec fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, a primeira regularmente constituída na França.

Vivia em Barcelona um cidadão que comungava com as idéias de Kardec; o livreiro Maurício Lachâtre, famoso redator e editor conhecido do Dicionário Universal Ilustrado. Ele escrevera ao codificador pedindo-lhe livros espíritas, porquanto desejava fazer propaganda do novo credo, da nova filosofia. Cerca de trezentos livros foram enviados por Kardec a Lachâtre, que pagou os direitos alfandegários comuns, ao governo espanhol. Contudo, graças a um procedimento irregular, que aberra dos princípios éticos, o destinatário não recebeu os livros. É que o bispo de Barcelona, Dr. Antônio Palau y Termens, não podendo levar Kardec à fogueira, considerou as obras perniciosas à fé católica. Fez confiscar os livros pelo Santo Ofício. Kardec reclamou a devolução dos mesmos, infrutiferamente, porque o bispo de Barcelona é quem ditava ordens.

Kardec perdeu os livros; os direitos aduaneiros não foram restituídos pelo fisco espanhol, mas tudo isso favoreceu o Espiritismo. Compreendeu o Codificador que, embora pudesse reaver o perdido, se agitasse por via diplomática, era preferível deixar as coisas como estavam, porquanto a ignomínia constituiria, como constituiu, excelente propaganda do Espiritismo. O bispo de Barcelona fez queimar em praça pública as obras de Kardec.

O episódio de Barcelona parece ter sido uma advertência para a obra que Allan Kardec divulgaria em abril de 1864: O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Por sua doutrina filosófica, seu método científico e sua moral universal, a obra espírita de Kardec penetrou rapidamente em várias partes do Mundo, conquistando milhões de seguidores entre as mais diferentes classes sociais.

Aos 64 anos de idade, Kardec preocupava-se com um projeto de organização do Espiritismo, por meio do qual esperava imprimir maior vigor e mais ação à filosofia de que se fez apóstolo, objetivando desenvolver o lado prático e social da Doutrina. Esse trabalho e muitas outras tarefas o haviam cansado bastante. Desde 1860 vinha realizando magistrais conferências em mais de vinte cidades da França e da Bélgica. Em 31 de março de 1869, estava em preparativos de mudança de residência, quando, repentinamente, tomba fulminado pela ruptura de um aneurisma, na idade de 65 anos incompletos.

O enterro realizou-se, dois dias depois, no Cemitério Montmartre, contando o cortejo mais de mil pessoas. Seus despojos mortais foram, depois, transferidos para o afamado Cemitério do Père-Lahaise, repousando até os dias de hoje.

É o túmulo de Allan Kardec, o único que durante o ano inteiro recebe as flores e as preces do reconhecimento de criaturas vindas de todas as partes, fato este já destacado pela imprensa de várias nações, recomendando-o mesmo como uma das principais atrações turísticas de Paris.

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Nos últimos quinze anos de vida, Kardec se transformou no homem universal. Seus livros doutrinários foram publicados nas línguas tcheca, russa, inglesa, italiana, alemã, norueguesa, holandesa, polonesa, grega moderna, croata, castelhana, portuguesa, esperanto e japonesa e, ainda no alfabeto Braille.

À semelhança de todos os gloriosos reformadores, Allan Kardec brilhará, através dos tempos, como um fulgurante sol na aurora do espiritismo.

Madame Allan Kardec recebeu da França e do estrangeiro numerosas e efusivas manifestações de simpatia e encorajamento, o que lhe trouxe novas forças para o prosseguimento da obra de seu amado esposo.

Amélie Boudet tinha nove anos mais que Kardec, mas tal era a sua jovialidade física e espiritual, que a olhos vistos aparentava a mesma idade do marido, jamais essa diferença constituiu entrave à felicidade de ambos. Kardec foi alvo do ódio, da injúria, da calúnia, da inveja, do ciúme e do despeito de inimigos gratuitos, que a todo custo queriam conservar a luz sob o alqueire. Intrigas, traições, insultos, ingratidões, tudo de mal cercou o ilustre reformador, mas em todos os momentos de provas e dificuldades sempre encontrou, no terno afeto de sua nobre esposa, amparo e consolação. Ante a partida do querido companheiro para a espiritualidade, portou-se como verdadeira espírita, cheia de fé e estoicismo, conquanto, como é natural, abalada no profundo do ser.

Esforçando-se por concretizar os planos expostos por Kardec, ela conseguiu, depois de cuidadosos estudos feitos conjuntamente com alguns dos velhos discípulos de Kardec, fundar a Sociedade Anônima do Espiritismo. Destinada à divulgação do Espiritismo por todos os meios permitidos pelas leis, a referida sociedade tinha, como fito principal, a continuação da Revue Spirite, a publicação das obras de Kardec e bem assim de todos os livros que tratassem de Espiritismo.

Graças, pois, à visão, ao empenho, ao devotamento sem limites de Madame Allan Kardec, o Espiritismo cresceu a passos de gigante, não só na França, como também no Mundo todo.

Muito ainda fez essa extraordinária mulher a prol do Espiritismo e de todos quantos lhe pediam um conselho ou uma palavra de consolo, até que em 21 de janeiro de 1883, às cinco horas da madrugada, docemente, com rara lucidez de espírito, desatou-se dos últimos laços que a prendiam à matéria. A querida velhinha tinha então 87 anos.

De acordo com seus próprios desejos, o enterro de Madame Allan Kardec foi simples e seus despojos enterrados junto ao marido.

A nota mais tocante no ato de seu sepultamento foi dada pelo Sr. Lecoq. Ele leu, para alegria de todos, bela comunicação mediúnica de Antônio de Pádua, recebida em 22 de janeiro, na qual esse iluminado Espírito descrevia a brilhante recepção com que elevados Amigos do Espaço, juntamente com Allan Kardec, acolheram aquele ser bem-aventurado.

Não deixando herdeiros diretos, pois que não teve filhos, por testamento fez sua legatária universal a Sociedade para Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec. Embora uma parente sua, já bem idosa, e os filhos desta intentassem anular essas disposições testamentárias, alegando que ela não estava em perfeito juízo, nada, entretanto, conseguiram, pois as provas em contrário foram esmagadoras.

Em 26 de janeiro de 1883, o conceituado médium parisiense Sr. E. Cordurié recebia espontaneamente uma mensagem assinada pelo Espírito de Madame Allan Kardec, logo seguida de outra, da autoria de seu esposo. Singelas na forma, belas nos conceitos, tinham ainda um sopro de imortalidade e comprovavam que a vida continua.

MESAS GIRANTES

O Fenômeno A Doutrina Espírita teve em seu nascimento uma série progressiva de

fenômenos, sendo o primeiro fato observado o de objetos diversos colocados em movimento, que designaram-se vulgarmente sob o nome de mesas girantes ou dança

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das mesas. Esses fenômenos a princípio levantaram muita incredulidade, mas a multidão das experiências logo não mais permitiu que se duvidasse da realidade.

Veracidade do Fenômeno Se esse fenômeno tivesse sido limitado ao movimento dos objetos materiais,

poderia se explicar por uma causa puramente física. Não haveria, pois, nada de impossível em que a eletricidade modificada por certas circunstâncias, ou outro agente desconhecido, fosse a causa desse movimento.

A reunião de várias pessoas aumentando a força de ação parecia apoiar essa teoria, porque se poderia considerar esse conjunto como uma pilha múltipla da qual a força está na razão do número de elementos.

O movimento circular não tinha nada de extraordinário. Está na natureza, todos os astros se movem circularmente. Mas os movimentos não eram sempre circulares, freqüentemente era brusco, desordenado, o objeto violentamente sacudido, tombado, levado numa direção qualquer e contrariamente à lei da estática, levantado do chão e mantido no ar.

Nada ainda nesses fatos que não se possa explicar pela força de um agente físico invisível. Não vemos a eletricidade derrubar árvores, lançar longe corpos pesados, atraí-los ou repeli-los?

Os ruídos, as pancadas, supondo que não fossem um dos efeitos ordinários da dilatação da madeira, ou de outra causa acidental, poderiam, ainda, muito bem ser produzidos pela acumulação do fluido oculto. A eletricidade produz os mais violentos ruídos.

Até aí, como se vê, tudo pode entrar no domínio dos fatos puramente físicos e fisiológicos. Mas não foi assim, acreditou-se descobrir, não sabemos por qual iniciativa que o impulso dado aos objetos não era somente o produto de uma força mecânica cega, mas que havia nesse movimento a intervenção de uma causa inteligente. Este caminho uma vez aberto era um campo todo novo de observações, era o véu levantado sobre muitos mistérios.

Começaram as indagações se havia com efeito nesses fenômenos uma força inteligente. Se essa força existe, qual sua natureza, sua origem? Está acima da humanidade?

Primeiras Manifestações Inteligentes As primeiras manifestações inteligentes ocorreram por meio de mesas se

levantando e batendo com um pé um número determinado de pancadas e respondendo desse modo por sim e por não, segundo a convenção, a uma questão posta.

Até aqui nada que convencesse seguramente os céticos, porque se poderia ver num efeito do acaso.

Obtiveram-se depois respostas mais desenvolvidas por meio de letras do alfabeto: o objeto móvel batendo um número de pancadas correspondentes ao número de ordem de cada letra, chegara assim a formular palavras e frases que respondiam às questões propostas. A precisão das respostas e sua correlação com a pergunta aumentavam o espanto.

O ser misterioso interrogado sobre sua natureza declarou que era um espírito, se deu um nome e forneceu diversas informações a seu respeito.

Nota: Ninguém imaginou os espíritos como um meio de explicar os fenômenos, foi o próprio fenômeno que revelou a palavra.

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Espiritismo na Europa e no Brasil Na Europa a idéia espiritualista era somente objeto de aberrações e pesquisas

nos laboratórios ou de grandes discussões estéreis no terreno da filosofia. A Europa recebeu a nova revelação sem conseguir aclimá-la, no seu coração

atormentado pelas necessidades mais duras. As próprias sessões mediúnicas são ali geralmente remuneradas, como se esses fenômenos se processassem tão somente pelas disposições estipuladas num contrato de representações.

No Brasil, o espiritismo derramou seus frutos sazonados e doces no coração da coletividade brasileira, em seu seio, nas grandes sociedades e nos lugarejos obscuros, a doutrina consoladora apresentou sempre as mais belas expressões de caridade e de fraternidade.

Jesus com as suas mãos meigas e misericordiosas fez viver no país abençoado os seus ensinamentos, as curas maravilhosas dos tempos apostólicos. Abnegados médiuns curadores desde os primórdios nas terras do Brasil, espalharam, como instrumentos da verdade as mais fartas colheitas de bênçãos do céu. Curando enfermos os novos discípulos do Senhor restabeleciam o espírito geral para a grande tarefa.

O espiritismo penetrou no Brasil com todas as suas características de Cristianismo Redivivo, levantando as almas para uma alvorada de fé.

Todas as suas instituições se alicerçaram no amor e na caridade, as próprias agremiações científicas que, de vez em quando, aparecem para cultivá-lo na sua rotulagem de metapsíquica, são absorvidas, no programa cristão, sob a orientação invisível e indireta dos emissários do Senhor.

Todas as possibilidades e energias são aproveitadas para o bem comum e para a tarefa de todos os trabalhadores, e é por isso que todos os grupos sinceros do Espiritismo, no país, têm as suas águas fluidificadas, a terapêutica do magnetismo espiritual, os elementos da homeopatia, a cura das obsessões, os auxílios gratuitos no serviço de assistência aos necessitados, dentro do mais alto espírito evangélico, dando-se de graça aquilo que se recebeu como esmola do céu.

Não é raro vermos caboclos que engrolam a gramática nas suas confortadoras doutrinações, mas que conhecem o segredo místico de consolar as almas, aliviando os aflitos e os infelizes, ou, então, médiuns da mais obscura condição social e nas mais humildes profissões a se constituírem em instrumentos admiráveis nas mãos piedosas dos mensageiros do Senhor.

Dentro do Brasil, a grande obra tem a sua função relevante no organismo social da Pátria do Cruzeiro, vivificando a seara da educação espiritual. E não tenhamos dúvida, superior às funções dos transitórios organismos políticos, é essa obra abençoada, de educação genuinamente cristã, o ascendente da nação do Evangelho e o elemento que preparará o seu povo para os tempos do porvir.

Bibliografia: O Livro dos Espíritos – Allan Kardec Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho – Chico Xavier.

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 02

Introdução ao Estudo do Livro dos Espíritos

O Livro dos Espíritos na Codificação

Prolegômenos Fenômenos que escapam das leis da Ciência vulgar se manifestam em toda a

parte e revelam, em sua causa, a ação de uma vontade firme e inteligente. A razão diz que um efeito inteligente deve ter por causa uma força inteligente, e

os fatos provaram que essa força pode entrar em comunicação com os homens por meio de sinais materiais.

Essa força, interrogada sobre a sua natureza, declarou pertencer ao mundo dos seres espirituais que se despojaram do envoltório corporal do homem. É assim que foi revelada a Doutrina dos Espíritos.

As comunicações entre o mundo espírita e o mundo corporal estão na natureza das coisas e não constituem nenhum fato sobrenatural. Por isso, delas se encontram vestígios entre todos os povos e em todas as épocas. Hoje, elas são gerais e patentes para todo o mundo.

Os espíritos anunciam que os tempos marcados pela Providência, para uma manifestação universal, são chegados, e que, sendo os ministros de Deus e os agentes de sua vontade, sua missão é instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade.

Este livro é a compilação dos seus ensinamentos. Foi escrito por ordem e sob o ditado dos Espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, livre dos preconceitos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a expressão do seu pensamento e que não tenha se submetido ao seu controle. Somente a ordem e a distribuição metódica das matérias, assim como as notas e a forma de algumas partes da redação são obras daquele que recebeu a missão de o publicar.

Entre os Espíritos que concorreram para a realização desta obra, vários viveram em diversas épocas sobre a Terra, onde pregaram e praticaram a virtude e a sabedoria. Outros não pertencem, pelo seu nome, a nenhum personagem do qual a História tenha guardado a lembrança, mas sua elevação é atestada pela pureza de sua doutrina e sua união com aqueles que trazem um nome venerado.

Eis os termos pelos quais deram por escrito, e por intermédio de vários médiuns, a missão de escrever este livro:

“Ocupa-te com zelo e perseverança do trabalho que empreendeste com o nosso concurso, porque esse trabalho é nosso. Nele pusemos a base do novo edifício que se eleva e deve um dia reunir todos os homens num mesmo sentimento de amor e de caridade; mas antes de o propagar, nós o reveremos em conjunto, a fim de controlar todos os detalhes”.

Estaremos contigo todas as vezes que o pedires e para te ajudar em teus outros trabalhos, porque este não é senão uma parte da missão que te está confiada, e que te já foi revelada por um dos nossos.

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Entre os ensinamentos que te são dados, há os que deves guardar só para ti, até nova ordem. Nós te indicaremos quando o momento de os publicar tenha chegado. Até lá, medite-os, a fim de estar preparado quando o dissermos.

Coloca na cabeça do livro a cepa de vinha que te desenhamos, porque ela é o emblema do trabalho do Criador, todos os princípios materiais que podem melhor representar o corpo e o espírito nela se encontram reunidos: o corpo é a cepa; o espírito é o licor; a alma ou o espírito unido à matéria é o grão. O homem quintessencia o espírito pelo trabalho e tu sabes que não é senão pelo trabalho do corpo que o espírito adquire conhecimentos.

Não te deixes desencorajar pela crítica. Encontrarás contraditores obstinados, sobretudo entre as pessoas interessadas nos abusos. Encontrá-los-ás mesmo entre os Espíritos, porque os que não estão completamente desmaterializados procuram, freqüentemente, semear a dúvida por malícia ou por ignorância. Mas prossegue sempre.

Crê em Deus e caminha com confiança. Aqui estaremos para te sustentar, e está próximo o tempo em que a verdade brilhará por toda parte.

A vaidade de certos homens que crêem tudo saber e querem tudo explicar à sua maneira, fará nascer opiniões dissidentes. Mas todos aqueles que tiverem em vista o grande princípio de Jesus, se confundirão no mesmo sentimento de amor ao bem, e se unirão por um laço fraternal que abrangerá o mundo inteiro. Eles deixarão de lado as miseráveis disputas de palavras para não se ocupar senão das coisas essenciais e a doutrina será sempre a mesma, quanto ao fundo, para todos aqueles que receberão as comunicações dos Espíritos superiores.

É com a perseverança que chegarás a recolher o fruto do teu trabalho. O prazer que experimentarás vendo a doutrina se propagar e ser compreendida te será uma recompensa da qual conhecerás todo o valor, talvez mais no futuro que no presente. Não te inquietes, pois, com as sarças e as pedras que os incrédulos ou os maus semearão sobre teu caminho. Conserva a confiança: com a confiança tu chegarás ao fim, e merecerás ser sempre ajudado.

“Lembra-te de que os bons Espíritos não assistem senão àqueles que servem a Deus com humildade e desinteresse, e repudiam a qualquer que procure, no caminho do céu, um degrau para as coisas da Terra. Eles se distanciam do orgulhoso e do ambicioso. O orgulho e a ambição serão sempre uma barreira entre o homem e Deus; é um véu atirado sobre as claridades celestes, e Deus não pode se servir do cego para fazer compreender a luz”.

São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, O Espírito de Verdade, Sócrates, Platão, Fenélon, Franklin Swendenborg, etc.

A Metodologia de Kardec Kardec aplicou a esta ciência o método experimental, não aceitando teorias

preconcebidas, observava, comparava e deduzia as conseqüências, dos efeitos procurava elevar-se às causas, pela dedução e encadeamento dos fatos, não admitindo por valiosa uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão.

Compreendeu logo a gravidade da tarefa que ia empreender, e entreveu naqueles fenômenos a chave do problema, tão obscuro e tão controvertido, do passado e do futuro da humanidade, cuja solução viveu sempre a procurar, era enfim uma revolução completa nas idéias e nas crenças do mundo.

Cumpria-lhe, pois, proceder com circunspecção e não levianamente, ser positivo e não idealista para não se deixar levar por ilusões.

Um dos primeiros resultados de suas observações foi saber que, sendo os Espíritos as almas dos homens, não possuíam a soberana sabedoria, nem a soberana ciência, e que o seu saber era limitado ao grau de adiantamento, assim como a sua opinião só tinha o valor de opinião pessoal. Esta verdade, reconhecida desde o princípio, preservou-lhe do perigo de acreditar na infalibilidade deles e livrou-lhe de formular teorias prematuras sobre os ditados de um ou de alguns.

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O fato apenas de comunicação com os Espíritos, independente do que eles pudessem dizer, provava a existência do mundo invisível: ponto capital, campo imenso aberto às suas explorações, chave de uma multidão de fenômenos inexplicados.

O segundo ponto não menos importante era conhecer o estado desse mundo e seus costumes. Viu logo que cada espírito, segundo a sua posição e conhecimentos, lhe patenteava uma fase daquele mundo, do mesmo modo como se chega a conhecer o estado de um país, interrogando habitantes de todas as classes e condições, podendo cada um ensinar-nos alguma coisa e nenhum, individualmente, ensinar tudo.

Incumbe ao observador formar o conjunto, coordenando, colecionando e conferindo, uns com os outros, documentos que tenha recolhido. Procedeu com os espíritos como teria feita com os homens, considerou-os, desde o menor até o maior, como elementos de instrução e não como reveladores predestinados.

Tais foram as disposições com que empreendeu e com que sempre seguiu os estudos espíritas: observar, comparar e julgar, essa foi a regra invariável que se impôs.

As sessões na casa do Sr. Baudin nunca tinham tido um fim determinado, procurou, nelas resolver problemas que lhe interessavam: sobre filosofia, psicologia e a natureza do mundo invisível.

Em cada sessão apresentou uma série de perguntas preparadas e metodicamente arranjadas, obtinha sempre respostas precisas, profundas e lógicas. As reuniões então tomaram outro caráter, entre os assistentes achavam-se pessoas sérias que tomaram vivo interesse pelo seu estudo e se lhe acontecia faltar um dia, nenhum trabalho se fazia.

As questões fúteis tinham perdido todo o atrativo, para a maior parte. A princípio não teve em vista senão sua própria instrução, mais tarde, porém, quando viu que formava um núcleo em torno do qual os trabalhos tomavam as proporções de uma doutrina, pensou em torná-los públicos para a instrução de todos. Foram aquelas questões desenvolvidas e completadas, que constituíram a base de O Livro dos Espíritos.

Em 1856, acompanhou também as reuniões espíritas na casa do Sr. Roustan e Srta. Japhet, sonâmbula. Essas reuniões eram sérias e ordeiras. Seu trabalho estava quase acabado e dava para um livro, mas quis revê-lo com outros espíritos, mediante outros médiuns.

Teve o pensamento de fazer dele objeto de estudo para as sessões do Sr. Roustan, mas no fim de algumas sessões os Espíritos disseram que preferiam revê-lo na intimidade e marcaram para este feito certos dias, em que trabalhariam com a Srta. Japhet, a fim de o fazerem com mais calma, e mesmo pra evitar indiscrições e comentários prematuros do público.

Não se contentou com essa verificação que os próprios espíritos lhe recomendaram.

Tendo-se relacionado com outros médiuns, sempre surgiam ocasiões que aproveitava para propor algumas das perguntas, que lhe pareciam mais espinhosas.

Foi assim que mais de dez médiuns prestaram a sua assistência ao trabalho e foi da comparação e da fusão de todas essas respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes remoídas no silêncio da meditação, que formou a primeira edição de O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857.

Características da Doutrina Espírita O Espiritismo é uma filosofia espiritualista. Quando Allan Kardec codificou a Doutrina Espírita, houve por bem criar o

vocábulo Espiritismo, para designar a doutrina propriamente dita, e espírita ou espiritista, pra identificar os adeptos do Espiritismo.

Afirmou, então, o Codificador que, para designar coisas novas, é imprescindível criar termos novos, pois, assim exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos de uma mesma palavra.

Numerosas religiões tradicionais são alicerçadas no espiritualismo, porém, o Espiritismo difere da grande maioria delas porque consagra princípios que elas repelem,

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por conflitarem com os seus dogmas, principalmente a reencarnação e a pluralidade dos mundos habitados.

Quem quer que acredite haver em si algo mais que a matéria, é espiritualista, uma vez que o espiritualismo é o oposto do materialismo.

O Espiritismo é a Ciência, Filosofia e Religião e, como tal, não veio para destruir ou combater as demais religiões, mas sim para ajudá-las na compreensão da imortalidade da alma.

Os princípios básicos da Doutrina Espírita são:

» a existência de Deus; » a pluralidade das existências; » a preexistência e persistência eterna do espírito; » a intercomunicação entre encarnados e desencarnados; » recompensas e penas, como conseqüência natural dos atos praticados; » progresso infinito, comunicação universal entre os seres. Os nomes Espiritismo e espírita têm sido indevidamente usados por outros

agrupamentos espiritualistas, autênticos movimentos paralelos. A Doutrina Espírita é fundamentalmente diferente de qualquer outra ramificação

religiosa, pois, é uma doutrina religiosa sem dogmas propriamente ditos, sem liturgia, sem símbolos, sem sacerdócio organizado.

O Espiritismo evangélico é o Consolador prometido por Jesus, que pela voz dos seres redimidos, espalham as luzes divinas por toda a Terra, restabelecendo a verdade e levantando o véu que cobre os ensinamentos na sua feição de Cristianismo redivivo, a fim de que os homens despertem para a era grandiosa da compreensão espiritual com o Cristo.

A Doutrina Espírita não veio para exterminar outras crenças, parcelas da verdade que a sua doutrina representa, mas sim, trabalhar por transformá-los, elevando-lhes as concepções antigas para o clarão da verdade imortalista, sua missão tem que se verificar junto às almas e não ao lado das glórias efêmeras dos triunfos materiais. Esclarecendo o erro religioso, onde quer que se encontre e revelando a verdadeira luz, pelos atos da fé, representa o operário da regeneração do Templo do Senhor, onde os homens se agrupam em vários departamentos, ante altares diversos, mas onde existe um só mestre que é Jesus Cristo.

O Espiritismo não tem o caráter isolado de uma filosofia, de uma ciência ou de uma religião, porque é, ao mesmo tempo, religião, filosofia e ciência. É simultaneamente revelação divina e obra de cooperação dos espíritos humanos desencarnados e encarnados. Tem a característica singular de ser impessoal, complementar e progressivo; primeiro, por não ser fruto da revelação de um só Espírito, nem o trabalho de um só homem; segundo, por ser a complementação natural, expressa e lógica das duas primeiras grandes revelações divinas (a de Moisés e a do Cristo); terceiro, porque, como bem disse Kardec, ele jamais dirá a última palavra. É ciência, porque investiga, experimenta, comprova, sistematiza e conceitua leis, fatos, forças e fenômenos da vida, da natureza, dos pensamentos e dos sentimentos humanos. É filosofia, porque cogita, induz e deduz idéias e fatos lógicos sobre as causas primeiras e seus efeitos naturais; generaliza e sintetiza, reflete, aprofunda e explica; estuda, discerne e define motivos e conseqüências, comos e porquês de fenômenos relativos à vida e à morte. É religião, porque de suas constatações científicas e de suas conclusões filosóficas resulta o reconhecimento humano da paternidade Divina e da irmandade universal de todos os seres da criação, estabelecendo, desse modo, o culto natural do amor a Deus e ao próximo.

Somente sendo assim como é, poderia o Espiritismo realizar a sua grande missão de transformar a Terra, de mundo de sofrimento, de provas e expiações, em orbe regenerado e pacífico, a caminho de mais altas expressões de glória cósmica. Essa missão de transformar o mundo, o Espiritismo cumprirá; não com palavrório inconseqüente, nem com tricas políticas ou com ações de forças bélicas, mas fazendo a humanidade enxergar e entender a evidência das grandes leis e dos grandes fatos da vida, a imortalidade do espírito, a justiça indefectível, o imperativo do amor.

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Infinitamente superior a todas as ciências limitadas, dispensa laboratório sofisticado, aparelhagens caras e rígidos métodos empíricos. Imensamente mais eficaz do que todas as demais filosofias conhecidas, não se perde em devaneios da inteligência, nem se limita exclusivamente a fenômenos materialmente verificáveis ou deduzíveis por meio de insuficientes raciocínios de lógica matemática. Incomparavelmente mais racional e eficiente do que qualquer outra religião dispensa sacerdócio, altares, rituais e dogmatismo, porque atua diretamente sobre o entendimento e o coração de cada pessoa, fala à alma de cada indivíduo e assenta o seu império na mente de cada ser.

Por isso, o Espiritismo não necessita de exterioridades para empreender a reforma do mundo, porque isso ele realizará através de cada pessoa, de cada grupo de pessoas, de cada sociedade, de cada comunidade humana. Como a Doutrina Espírita tem a natureza de uma revelação progressiva e incessante, sua influência será cada vez mais específica e mais ampla, em todos os setores da atividade humana, inspirando novos rumos e novas motivações suscitando novos pensamentos criativos e promovendo o progresso.

Através da literatura, da música, das artes plásticas, do cinema, do rádio, do teatro, da televisão, as idéias espíritas realizarão um trabalho educacional de altíssimo rendimento, semeando os pensamentos mais altos e enobrecendo sentimentos.

No campo da medicina o Espiritismo está destinado a ajudar a ciência a descobrir e entender que o ser humano é um complexo mento-físico-perispirítico.

Na medicina Psiquiátrica, o Espiritismo está fadado a introduzir profunda inovação de conceitos e de métodos, a partir da aceitação científica, da ascendência do espírito sobre os cérebros perispirituais e físico e sobre todo o cosmo orgânico de cada ser humano. Isso, e mais o conhecimento objetivo dos processos obsessórios e dos desequilíbrios de natureza mediúnica, darão novas dimensões de entendimento e grandeza à psiquiatria, induzindo-a estudar as repercussões mútuas das lesões físicas, espirituais e perispirituais, para reformular todas as suas técnicas de diagnóstico e de tratamento e assim alcançar resultados mais positivos e mais consentâneos com o progresso.

Nas áreas da psicologia e da psicanálise, o Espiritismo introduzirá modificações fundamentais de conceituação e tratamento dos problemas clínicos, começando pela consideração dos ascendentes espirituais e cármicos determinantes de cada situação individual e grupal. Com efeito, como entender-se e tratar-se convenientemente inibições graves sem causa aparente e fobias inatas, inexplicáveis mesmo à luz da hereditariedade, senão através de vivências pretéritas, em passadas encarnações? Por falar nisso, até onde essas transatas vivências são responsáveis por difíceis quadros clínicos no campo da pediatria? E ainda aí, quem seria capaz de medir, por agora, o valor da contribuição espírita para numerosas soluções, teóricas e práticas, ainda não encontradas para dirimir sérios desafios no âmbito da pedagogia. Doenças de natureza cármica, afecções provenientes de choques reencarnatórios e diferenças físico-intelecto-morais de ordem evolutiva são coisas que a ciência oficial por enquanto desconhece, mas que, em porvir não mais remoto, há de incorporar ao rol dos seus saberes.

No terror da filosofia religiosa, a obra libertadora do espiritismo já é mais do que evidente. Reconceituou as antigas noções de céu, inferno, purgatório e limbo, de anjos e de demônios; de bem e de mal; de ressurreição e de penitência; de amor e de trabalho; de riqueza e de cultura; de beleza e de progresso; de liberdade e de justiça. Aos desvalidos e doentes, aos solitários e aos tristes, aos pobres e aos perseguidos, aos injustiçados e aos aflitos, a todos renovou as esperanças num Pai Justo e Bom, num futuro sem fim, numa bem-aventurança eterna e sem limites, mas merecida e conquistada no dever bem cumprido, no trabalho bem feito, na paz da consciência limpa e na fraternidade operosa e desprendida.

Esta é, por sinal, a face mais bela da missão do Espiritismo: - consolar, enxugar lágrimas, semear as flores divinas da esperança. Por isso, o

próprio Cristo, que o prometeu e o enviou, chamou-o Consolador. Ele realmente anima e conforma, ajuda e retempera. Traz-nos de volta redivivos, os nossos mortos queridos; mantém acesos nossos ideais, mesmo quando as nossas condições atuais de existência não nos permitem realizá-los de pronto. Foi por essa razão que o Espiritismo nasceu visceralmente ligado ao Evangelho de Jesus, do qual não se pode nunca

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separar. Se não fosse apostolicamente cristã, a Doutrina Espírita careceria de sentido. Seus fundamentos são o amor e a justiça; sua finalidade é o bem – fonte única de verdadeira felicidade.

Com muito empenho, muita humildade e muita ênfase, advertimos a todos os irmãos em humanidade que jamais se utilizem do Espiritismo para qualquer fim menos nobre; que não se valham dele para a maldade ou para o crime, e nem mesmo para simples satisfação estéril de tolas vaidades pessoais. Saibam todos que é imensamente perigoso abusar dele, porque usar a mediunidade para o mal é abrir sobre a própria cabeça as portas do inferno.

O Espiritismo é a mais poderosa das ciências, porque lida com forças vivas e integradas de dois planos da existência; DIRIGIR INCONSCIENTEMENTE ESSAS FORÇAS PODERÁ SER GENOCÍDIO, MAS SERÁ NECESSARIAMENTE SUICÍDIO DAS MAIS DESOLADORAS CONSEQÜÊNCIAS.

Bibliografia: O Livro dos Espíritos – Allan Kardec Obras Póstumas – Allan Kardec O Consolador – Chico Xavier Universo e Vida – Hernani T. Sant’Anna

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 03

A Idéia de Deus – Visão Histórica Comparada

Concepção de Deus ao Longo da História

As primeiras organizações religiosas da Terra tiveram, sua origem entre os povos primitivos do Oriente, aos quais enviava Jesus, periodicamente, os seus mensageiros e missionários.

Dada a ausência da escrita, naquelas épocas longínquas, todas as tradições se transmitiam de geração a geração através do mecanismo das palavras. Cada raça recebeu os seus instrutores das verdades espirituais e a verdade é que todos os livros e tradições religiosas da antiguidade guardam entre si a mais estreita unidade substancial. As revelações evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento.

Todos se referem ao Deus impersonificável, que é a essência da vida de todo o Universo.

Enquanto a civilização egípcia e os iniciados hindus criavam o politeísmo para a satisfação dos imperativos da época, já o povo de Israel acreditava somente na existência do Deus Todo-Poderoso, por amor do qual aprendia a sofrer todas as injúrias e a tolerar todos os martírios. Quarenta anos no deserto representaram para aquele povo como que um curso de consolidação de sua fé, contagiosa e ardente.

Todas as raças da Terra devem aos Judeus esse benefício sagrado que consiste na revelação do Deus único, Pai de todas as criaturas e Providência de todos os seres.

O grande legislador dos hebreus trouxera a determinação de Jesus, com respeito à simplificação das fórmulas iniciáticas, para compreensão geral do povo.

A missão de Moisés foi tornar acessíveis ao sentimento popular as grandes lições que os demais iniciados eram compelidos a ocultar. E de fato, no seio de todas as grandes figuras da antiguidade, destaca-se o seu vulto como o primeiro a rasgar a cortina que pesa sobre os mais elevados conhecimentos, filtrando a luz da verdade religiosa para a alma simples e generosa do povo.

No reino de Israel sucederam-se as tribos e os enviados do Senhor. Todos os seus caminhos no mundo estão cheios de vozes proféticas e consoladoras, acerca d’Aquele que ao mundo viria para ser glorificado como o Cordeiro de Deus.

Definição de Deus

Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas.

OBS: Não nos é possível uma definição completa de Deus, pois nossa linguagem é insuficiente para definir o que está acima da nossa inteligência e capacidade de compreensão.

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Provas da Existência de Deus

Se não sabemos definir Deus, como podemos ter certeza da sua existência? “Não há efeito sem causa, negando a existência de Deus estaremos negando a

Lei da Causa e Efeito, estaríamos aceitando que o nada pode fazer alguma coisa”.

Exemplo: Se um pássaro que está voando, é atingido por chumbo mortal, julga-se que um hábil atirador o feriu, embora não se veja o atirador.

Não é, pois, sempre necessário ter visto algo para saber que ele existe. Em tudo

é observando-se os efeitos que se chega ao conhecimento das causas. Outro princípio também elementar é que todo efeito, inteligente deve ter uma

causa inteligente. Muitas vezes pensamos que o sentimento íntimo que temos da existência de

Deus está ligado à educação e ao produto das idéias adquiridas. Mas porque os selvagens têm esse mesmo sentimento, se eles não foram educados, chegamos à conclusão que eles não poderiam ter essa certeza.

Julga-se o poder de uma inteligência pela suas obras, se nenhum ser humano pode criar o que produz a natureza, então a causa primeira, pois, é uma inteligência superior a humanidade.

Por isso não temos condições de compreender a natureza de Deus. Teremos condições um dia, quando nosso espírito não estiver mais obscurecido pela matéria e alcançado a perfeição para nos aproximarmos Dele e ao vê-lo, compreende-lo.

Alguns adotam o seguinte raciocínio: As obras ditas da natureza são o produto das forças naturais que agem

mecanicamente, em conseqüência das leis de atração e repulsão; as moléculas dos corpos inertes se agregam e se desagregam sob o império dessas leis. As plantas nascem, brotam, crescem e se multiplicam sempre do mesmo modo, cada uma em sua espécie, em virtude dessas mesmas leis; cada indivíduo é semelhante àquele do qual saiu; o crescimento, a floração, a frutificação, a coloração, estão subordinadas a causas materiais, tais como o calor, a eletricidade, a luz, a umidade, etc. Ocorre o mesmo com os animais. Os astros se formam pela atração molecular, e se movem perpetuamente, em suas órbitas, pelo efeito da gravitação. Essa regularidade mecânica, no emprego das coisas naturais, não acusam uma inteligência livre. O homem movimenta seu braço quando quer, e como quer, mas, aquele que movimentasse no mesmo sentido desde o nascimento até a morte, seria um autômato; ora, as forças orgânicas da natureza são puramente automáticas.

Tudo isso é verdade, mas essas forças são efeitos que devem ter uma causa, e ninguém pretende que elas constituam a divindade. São materiais e mecânicas, não são inteligentes por si mesmas, e isso é, ainda, verdade; mas são postas em ação, distribuídas, apropriadas para as necessidades de cada coisa por uma inteligência que não é a dos homens.

A apropriação útil dessas forças é um efeito inteligente que denota uma causa inteligente.

Um pêndulo se move com regularidade automática, e é essa regularidade que lhe dá o seu mérito. A força que o faz assim agir é toda material e nada inteligente; mas o que seria desse relógio se uma inteligência não houvesse combinado, calculado, distribuído o emprego dessa força para fazê-la caminhar com precisão? Do fato de que a inteligência não está no mecanismo do relógio, e de que ela não é vista, seria racional concluir que não existe? Ela é julgada pelos seus efeitos.

A existência do relógio atesta a existência do relojoeiro, a engenhosidade do mecanismo atesta a inteligência e o saber do relojoeiro. Quando o relógio vos dá no momento próprio, a informação de que tendes necessidade, jamais veio ao pensamento de alguém dizer: eis um relógio bem inteligente.

Ocorre o mesmo com o mecanismo do Universo; Deus não se mostra, mas se afirma pelas suas obras.

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A existência de Deus é, pois, um fato adquirido, não somente pela revelação, mas pela evidência material dos fatos. Os povos selvagens não tiveram revelação e, não obstante, crêem, instintivamente, na existência de um poder sobre-humano; vêm coisas que estão acima do poder humano, e delas concluem que provêm de um ser superior à humanidade. Não são mais lógicos do que aqueles que pretendem que elas se fizeram sozinhas?

Atributos do Criador

Sem o conhecimento dos atributos de Deus seria impossível compreender a obra da criação, é o ponto de partida de todas as crenças religiosas, e foi pela falta de a elas se referirem, como farol que poderia dirigi-las, que a maioria das religiões errou em seus dogmas. As que não atribuíram a Deus a onipotência imaginaram vários deuses. As que não lhe atribuíram a soberana bondade Dele fizeram um deus ciumento, colérico, parcial e vingativo.

Atribuímos a Deus várias qualidades: suprema e soberana inteligência, eterno, imutável, imaterial, único, todo poderoso e soberanamente justo e bom, com isso pensamos ter uma idéia completa dos seus atributos porque cremos tudo abraçar, mas há coisas acima da nossa inteligência e para as quais nossa linguagem é limitada às nossas idéias e sensações, o que nos impossibilita ter a expressão adequada.

A razão nos diz que Deus deve ter essas perfeições no supremo grau porque se o tivesse um só de menos ou não fosse de um grau infinito, Ele não seria superior a tudo, e por conseqüência não seria Deus.

Por estar acima de todas as coisas, Deus não deve suportar nenhuma vicissitude e não ter nenhuma das imperfeições que a imaginação pode conceder.

DEUS é:

Suprema e Soberana Inteligência: a inteligência do homem é limitada, uma vez que não pode fazer e nem compreender tudo que existe, a de Deus abarcando o infinito, deve ser infinita. Se a supuséssemos limitada em um ponto qualquer poder-se-ia conceder um ser ainda mais inteligente, capaz de compreender e de fazer o que um outro não faria; assim, sucessivamente até o infinito.

Eterno: se Ele tivesse tido um começo, teria saído do nada, ou teria sido criado,

Ele mesmo por um ser anterior. Imutável: se estivesse sujeito às mudanças, as leis que regem o Universo não

teriam estabilidade. Imaterial: quer dizer, sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria, de

outro modo Ele não seria imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria. Único: se houvesse vários deuses, não haveria unidade de vistas, nem de poder

no ordenamento do Universo. Todo Poderoso: porque é único. Se não tivesse o soberano poder, haveria

alguma coisa mais poderosa ou tão poderosa quanto Ele; não teria feito todas as coisas, e as que não tivesse feito seriam obras de um outro deus.

Soberanamente Justo e Bom: a sabedoria providencial das Leis Divinas se

revela nas menores coisas, como nas maiores, e essa sabedoria não permite dúvidas da sua justiça, nem da sua bondade.

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Conclusão Deus existe, não podemos duvidar, é o essencial. Não devemos ir além para não nos perdermos num labirinto do qual não

poderemos sair. Isso não nos tornaria melhores, mas talvez um pouco mais orgulhosos, porque

acreditaríamos saber o que na realidade nada sabemos. Deixemos, pois, de lado, todos esses sistemas. Temos muitas coisas que nos

tocam mais diretamente, a começar por nós mesmos. Estudemos as nossas imperfeições, a fim de nos desembaraçarmos delas, isso

nos será mais útil do que querer penetrar o que é impenetrável. Trabalhemos nossa perfeição, em todos os sentidos, que um dia chegaremos a

ela e aí sim teremos adquirido as condições intelectuais e morais para chegarmos até Ele.

Bibliografia: A Gênese – Allan Kardec O Livro dos Espíritos – Allan Kardec A Caminho da Luz – Francisco Cândido Xavier

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 04

Deus

Deus e o Infinito

Deus É a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Infinito É aquilo que não tem começo nem fim; o desconhecido; todo desconhecido é

infinito. Poderíamos dizer que Deus é infinito? Definição incompleta. Pobreza da linguagem dos homens, insuficiente para

definir as coisas que estão além da sua inteligência. Deus é infinito nas suas perfeições, mas o infinito é uma abstração, dizer que

Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa por ela mesma, definir uma coisa, ainda não conhecida, porque também não o é.

A necessidade da idéia de Deus

O primeiro interesse de Kardec foi saber dos Espíritos que era Deus e eles responderam dentro da maior simplicidade, mas com absoluta segurança: Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.

Não poderemos nos sentir seguros onde quer que estejamos, sem pelo menos alimentar a idéia de uma fonte criadora imortal. O estudo sobre o Senhor nos dá um ambiente de fé que corresponde na sua feição mais pura, à vontade de viver. Sentimos alegria ao entrarmos em contato com a natureza, pois ela fala de uma inteligência acima de todas as inteligências humanas, de um amor diferente daquele que sentimos, de uma paz operante nos seus mínimos registros da vida. O Deus que procuramos fora de nós está igualmente no centro da nossa existência, porque Ele está em tudo, nada vive sem a sua benfeitora presença.

O Criador estabeleceu leis na sua casa maior, que cuidam da harmonia na mansão divina, sem jamais esquecer do grande e do pequeno, do meio e dos extremos, para que seja dado, a cada um, segundo as suas necessidades. Não existe injustiça em campo algum da vida, pois cada espírito ou coisa se move no ambiente que a sua evolução comporta; daí resulta o porquê de devermos dar graças por tudo o que nos é colocado no caminho.

É justo, entretanto, que nos lembremos do esforço individual, e mesmo coletivo, de sempre melhorar, como sendo a nossa parte, para alcançarmos o melhor. Aquele que acha que tem fé em Deus, mas que vive envolvido em lugares de dúvida, com companheiros que não corresponde às suas aspirações de esperança, ainda carece da

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verdadeira fé, iluminada pela temperatura do amor. É a confiança que requer reparo. Assim sucede com todas as virtudes conhecidas e, por vezes, vividas por nós.

Estudemos a harmonia do Universo, meditemos sobre ela, pedindo ao Mestre que nos ajude a compreender esse equilíbrio divino, porque se entrarmos em plena ressonância com a Criação, sanar-se-ão todos os problemas, serão desfeitas as dificuldades e todos os infortúnios cessarão. Somente depois disso, pelas vias da sensibilidade e pelo porte espiritual que escolhermos para viver, é que teremos a resposta mais exata sobre que é Deus.

Conhecer e amar são duas metas que não poderemos esquecer em todos os nossos caminhos. Estes dois estados d’alma abrir-nos-ão as portas da felicidade, pelas quais poderemos viver em pleno céu, mesmo estando andando e morando na Terra. A Suprema Inteligência está andando conosco e falando constantemente aos nossos ouvidos, em todas as dimensões do entendimento, porém, nós ainda estamos surdos aos seus apelos e passamos a sofrer as conseqüências da nossa ignorância. Todavia, o intercâmbio entre os dois mundos acelera uma dinâmica sobremodo elevada a respeito das coisas divinas, para melhor compreensão daqueles que dormem; é o Cristo, como guia visível através das mensagens, toca os clarins da eternidade anunciando novo dia de libertação das criaturas, mostrando onde está Deus e que Ele nos espera, filhos do seu coração, de braços abertos como Pai de amor.

A Providência

A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Deus está por toda parte e tudo vê, tudo preside, mesmo as menores coisas, é nisso que consiste a ação providencial.

“Como é que Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, pode se imiscuir em detalhes ínfimos, preocupar-se com os menores atos e os menores pensamentos de cada indivíduo? Tal é a questão que o incrédulo se coloca, donde conclui que, em admitindo a existência de Deus, sua ação não deve se estender senão sobre as leis gerais do Universo; que o Universo funciona de toda a eternidade em virtude dessas leis, às quais cada criatura está submetida em sua esfera de atividade, sem que seja necessário o concurso incessante da Providência”.

Em seu estado atual de inferioridade, os homens não podem, senão dificilmente, compreender Deus infinito, porque o figuram restrito e limitado, igual a eles; representando como um ser circunscrito, e dele fazem uma imagem à sua imagem. Nossos quadros que o pintam sobre traços humanos não contribuem pouco para manter esse erro no espírito das massas, que adoram nele, mais a forma do que o pensamento. Para a maioria é um soberano poderoso, num trono inacessível, perdido na imensidão dos céus; e, porque suas faculdades e suas percepções são limitadas, não compreendem que Deus possa ou se digne intervir, diretamente, nas pequenas coisas.

Na impossibilidade que está o homem de compreender a própria essência da Divindade, não pode dela fazer senão uma idéia aproximada, com a ajuda de comparações, necessariamente, muito imperfeitas, mas, que podem, pelo menos, mostrar-lhe a possibilidade daquilo que, à primeira vista, parece-lhe impossível.

Suponhamos um fluido bastante sutil para penetrar todos os corpos; esse fluido, sendo ininteligente, age mecanicamente, tão só pelas forças materiais; mas, se supusermos esse fluido dotado de inteligência, de faculdades perceptivas e sensitivas, ele agirá, não mais cegamente, mas, com discernimento, com vontade e liberdade; verá, entenderá e sentirá.

As propriedades do fluido perispiritual podem nos dar uma idéia disso. Ele não é inteligente, por si mesmo, uma vez que é matéria, mas é o veículo do pensamento, das sensações e das percepções do Espírito.

O fluido perispiritual, não é o pensamento do espírito, mas o agente e intermediário desse pensamento; como é ele que o transmite, dele está, de certa forma, impregnado, e, na impossibilidade, que estamos, de isolá-lo, parece não formar senão um com o fluido, do mesmo modo que o som parece não formar senão um com o ar, de sorte que podemos, por assim dizer, materializá-lo. Do mesmo modo que dizemos que o

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ar se torna sonoro, poderíamos, tomando o efeito pela causa, dizer que o fluido se torna inteligente.

Que ocorra assim, ou não, com o pensamento de Deus, quer dizer, que ele atue diretamente ou por intermédio de um fluido, para facilidade de nossa inteligência, representemo-lo sob a forma concreta de um fluido inteligente, preenchendo o Universo infinito, penetrando todas as partes da criação: a natureza inteira está mergulhada no fluido divino; ora, em virtude do princípio de que as partes de um todo são da mesma natureza, e tem as mesmas propriedades do todo, cada átomo desse fluido, se pode exprimir-se assim, possuindo o pensamento, quer dizer, os atributos essenciais da Divindade, e esse fluido estando por toda parte, tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude; não há um ser, por ínfimo que se o suponha, que, dele não esteja de algum modo saturado. Estamos, assim, constantemente em presença da Divindade; não há uma única das nossas ações, que possamos subtrair ao Seu olhar; o nosso pensamento está em contato com o Seu pensamento, e é com razão que se diz que Deus lê nas mais profundas dobras do nosso coração. Estamos Nele, como Ele está em nós, segundo a palavra do Cristo.

Para estender sua solicitude sobre todas as criaturas, Deus não tem, pois, necessidade de mergulhar seu olhar do alto da imensidade; as nossas preces, para serem ouvidas por Ele, não têm necessidade de cortarem o espaço, nem de serem ditas, com voz retumbante, porque, incessantemente ao nosso lado, os nossos pensamentos repercutem Nele. Os nossos pensamentos são iguais aos sons de um sino, que fazem vibrar todas as moléculas do ar ambiente. Longe de nós o pensamento de materializar a Divindade; a imagem de um fluido inteligente universal não é, evidentemente, senão uma comparação, mais própria para dar uma idéia mais justa de Deus, do que os quadros que o representam sob figura humana; ela tem por objeto fazer compreender a possibilidade, para Deus, de estar por toda parte e de se ocupar de tudo.

Compreendemos o efeito, já é muito; do efeito remontamos à causa, e julgamos da sua grandeza pela grandeza do efeito; mas a sua essência íntima nos escapa, igual a da causa de uma multidão de fenômenos. Conhecemos os efeitos da eletricidade, do calor, da luz, da gravidade; calculamo-los e, no entanto, ignoramos a natureza íntima do princípio que os produziu. É, pois, mais racional, negar o princípio divino, porque não o compreendemos?

Nada impede admitir, para o princípio de soberana inteligência, um centro de ação, um foco principal irradiando, sem cessar, inundando o Universo com seus fluidos, do mesmo modo que o Sol com a sua luz. Mas onde está esse foco? É o que ninguém pode dizer. É provável que esteja mais fixado em um ponto determinado do que não esteja a sua ação, e que percorra, incessantemente, as regiões do espaço sem limites. Se simples espíritos têm o dom de ubiqüidade, essa faculdade, em Deus, deve ser sem limites. Deus, preenchendo o Universo, poder-se-ia, ainda admitir, a título de hipótese, que esse foco não tem necessidade de se transportar, e que se forma sobre todos os pontos, onde a soberana vontade julgue a propósito produzir-se, de onde se poderia dizer que ele está por toda parte e em parte alguma.

Diante desses problemas insondáveis, a nossa razão deve se humilhar. Deus existe; disso não poderemos duvidar; é infinitamente justo e bom; é a sua essência; a sua solicitude se estende a todos; compreendemo-lo; não pode, pois, querer senão o nosso bem, e é por isso que devemos ter confiança Nele: eis o essencial; quanto ao mais, esperemos que sejamos dignos de compreende-lo.

A Grandeza do Infinito

O infinito, como que desconhecido para todos nós, é a causa de Deus, cujas divisões escapam aos nossos sentidos, mesmo os mais apurados. O Pai Celestial está, por assim dizer, no centro de todas as coisas que existem e, ainda mais, se encontra onde achamos a permanência do nada.

Se acreditamos somente naquilo que vemos e que tocamos, somos os mais infortunados dos seres, pois, desta forma agem também os animais. A razão nos diz, e a ciência confirma pelas inúmeras experiências dos próprios homens, que o desconhecido

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tem maior realidade. O que as almas encarnadas não vêem e não podem tocar definem a existência de força energética, senão inteligência exuberante, capaz de nos mostrar a verdadeira grandeza do infinito em todas as direções do macro e do microcosmo.

Se sentimos dificuldade para definir o que é a vida, certamente não sabemos explicar o que é o infinito, que está configurado na ordem dos mistérios de Deus. Compete a nós outros darmos as mãos em todas as faixas da existência a alistarmo-nos na escola do Senhor sem perda de tempo, sem desprezar o espaço a nós oferecido, por misericórdia do Criador.

Estamos situados em baixa escala, no pentagrama evolutivo. Falta-nos a capacidade de discernir certas leis que regem o Universo, como as leis menores que nos sustentam todos em plena harmonia, como microvidas nos céus da Divindade. Devemos estudar constantemente, cada vez mais, no grande livro da natureza, cujas páginas somente encontraremos abertas, pela visão do amor. Nada errado existe na lavoura universal, o erro está em quem o encontra. Basta pensarmos que o perfeito nada faz sem o timbre da sua perfeição, para crermos que tudo se encontra onde deve estar e onde a vontade do Senhor desejar.

Vivemos em um mundo de duras provas, de reajustes em busca da harmonia. O Cristo é a porta dessa felicidade, nos ensinando a conquistar este estado d’alma com as nossas próprias forças, porque Deus sempre faz primeiro a sua parte em nosso favor, em favor de todos os seus filhos. Ninguém é órfão da Bondade Suprema.

O infinito é infinito para nós; para Deus é o seu Lar, onde vibra o amor e onde o perfume exalante é a alegria na sua pureza singular. É de ordem comum nos planos superiores que devemos começar pelas lições mais elementares, que nos despertam o coração, primeiramente, para a luz do entendimento.

Querer buscar entender o profundamente desconhecido, sem se iniciar nos rudimentos da educação espiritual, é perder tempo e andar nas perigosas e escuras estradas da ignorância. Se queremos conhecer alguma coisa, no que se refere ao infinito, principiemos na auto-educação dos costumes, observando quem já fez este trabalho, e copiemos suas lutas, que os céus da nossa mente abrir-se-ão e as claridades da sabedoria universal nos banharão com o esplendor da conscientização da verdade.

Quem deixa para depois o conhecimento de si mesmo e tenta a sabedoria exterior, desconhece a verdadeira porta da felicidade. Cada Espírito é um mundo, um universo em miniatura, onde mora Deus e vibram todas as suas leis, em ação compatível com o tamanho da individualidade. Assim, para entender o infinito da Criação, necessário se faz começar a entender o infinito da alma.

Materialismo

Bem poucos são aqueles que não cuidam do dia de amanhã. Se inquieta com o que possa vir depois de um dia de vinte e quatro horas, com sobrada razão deve preocupar-se com o que será depois do grande dia da vida, porque não se trata de alguns instantes, mas da eternidade.

Viveremos ou não depois daquele dia? Não há que fugir, é questão de vida ou de morte, é a suprema alternativa!

Se se interroga o senso íntimo da quase universalidade dos homens, todos responderão: “viveremos”.

Esta esperança é para eles uma consolação. Entretanto, esforça-se uma pequena parte, sobretudo depois de algum tempo, por provar que não viveremos. Esta escola faz prosélitos, força a confessá-lo e principalmente no seio daqueles que, temendo a responsabilidade do futuro, acham mais cômodo gozar do presente, sem constrangimento, sem se perturbar com a perspectiva das conseqüências. Não passa, porém isto, de opinião de um pequeno número.

Se vivermos, como havemos de viver? Em que condições viveremos? Aqui os sistemas variam, segundo as crenças religiosas e filosóficas.

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Doutrina Materialista

A inteligência do homem é uma propriedade da matéria, nasce e morre com o organismo. O homem é tão nada antes, como é nada depois da vida corporal.

Não sendo senão matéria, o homem não tem de reais e de invejáveis senão os gozos materiais; as aflições morais são efêmeras, os laços morais, a morte os rompe para sempre; as misérias da vida não têm compensação; o suicídio deve ser o fim racional e lógico da existência, quando não há esperança de melhoria para os sofrimentos. É inútil qualquer constrangimento para vencer ruins inclinações; deve viver para si, o melhor possível, enquanto dura a vida terrestre; é estupidez contrariar-se e sacrificar comodidades e bem-estar por amor a alguém, isto é, por quem há de ser aniquilado também; os deveres sociais ficam sem fundamento, o bem e o mal são coisas inventadas e a contenção social fica reduzida à ação material da lei civil.

O materialismo firmando-se como nunca o fizera em época alguma, dando-se como regulador supremo dos destinos morais da humanidade, assombrou as massas pelas conseqüências inevitáveis das suas doutrinas com relação à ordem social. Por essa razão, provocou, em favor das idéias espiritualistas, uma enérgica reação, que deve dar-lhe a medida do quanto está longe de possuir simpatias tão gerais como supõe, e do quanto se ilude, esperando poder um dia dar leis ao mundo.

É incontestável que as crenças espiritualistas do tempo passado são insuficientes para o atual, não se acham ao nível intelectual da nossa geração e são, em muitos pontos, contraditos pelos dados seguros da ciência, sustentam idéias incompatíveis com as necessidades positivas da sociedade moderna, incorrem, além disso, na grande falta de impor-se pela fé cega e proscrever o livre exame. Daí, sem a menor dúvida, o desenvolvimento da incredulidade na maior parte dos homens.

Naturalmente que se eles fossem criados e educados com idéias mais tarde, confirmadas pela razão, nunca seriam incrédulos. Quantos, aceitando o Espiritismo, nos têm dito: “se nos tivesses sempre apresentado Deus, a alma e a vida futura de maneira racional, nunca teríamos duvidado”. Por se haver em princípio recebido má ou falsa aplicação, é razão para que o rejeitem?

As coisas espirituais são como a legislação e todas as instituições; precisam acomodar-se aos tempos, sob pena de sucumbirem.

Em vez de apresentar algo melhor que o velho espiritualismo, preferiu o materialismo, tudo suprimir, dispensando-se de procurar a verdade, o que parecia mais cômodo àqueles a quem era importuna a idéia de Deus e da vida futura.

Há na atualidade, um determinado partido contra as idéias espiritualistas em geral, dos quais naturalmente participa o Espiritismo. O que procuram, não é um Deus melhor e mais justo, é o deus-matéria, menos modesto, porque ninguém lhe precisa prestar constas.

Ninguém nega a esse partido o direito de opinião e o de discutir as dos outros; mas não se lhe pode autorizar a pretensão, bem singular de homens, que se dão por apóstolos da liberdade, de impedir que os outros creiam a seu modo e discutam as doutrinas de que não compartilham. Intolerância por intolerância, tanto vale a das velhas crenças, como a do moderno materialismo.

Panteísmo

O princípio inteligente, independente da matéria está espalhado por todo o Universo, mas individualiza-se em cada ser durante a vida, e volta, pela morte, à massa comum, como voltam ao oceano as águas da chuva.

Sem individualidade e sem consciência de si mesmo, o ser é como se não existisse. As conseqüências morais dessa doutrina são exatamente as mesmas do materialismo.

OBS: Um determinado número de panteístas admite que a alma, aspirada, ao nascer, do todo universal, conserva a sua individualidade por tempo definido, não voltando à massa geral senão depois de ter alcançado o último grau de perfeição. As conseqüências desta

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variedade de crenças são absolutamente as mesmas que as da doutrina panteísta, propriamente dita, porque é completamente inútil todo trabalho para adquirir conhecimentos, dos quais se perderá a consciência, aniquilando-se a alma depois de um tempo relativamente curto.

Há os que acham que todos os corpos da natureza, todos os seres, todos os globos do Universo seriam parte da Divindade e constituiriam, pelo seu conjunto, a própria Divindade.

Não podendo ser Deus, o homem quer pelo menos ser uma parte de Deus. Essa doutrina faz de Deus um ser material, que embora dotado de inteligência suprema, seria um ponto grande aquilo que somos em ponto pequeno. Ora, a matéria se transformando sem cessar, Deus, nesse caso não teria nenhuma estabilidade e estaria sujeito a todas as vicissitudes e mesmo a todas necessidades da humanidade; faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade. As propriedades da matéria não podem ligar-se a idéia de Deus, sem que o rebaixemos em nosso pensamento, e todas as sutilezas do sofisma não conseguirão resolver o problema da sua natureza íntima. Não sabemos tudo o que Ele é, mas sabemos aquilo que não pode ser, e este sistema está em contradição com as suas propriedades mais essenciais, pois confunde o Criador com a criatura, precisamente como se quiséssemos que uma máquina engenhosa fosse parte do mecânico que a concebeu.

A inteligência de Deus se revela nas suas obras, como a de um pintor em seu quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou.

Bibliografia: Obras Póstumas – Allan Kardec O Livro dos Espíritos - Allan Kardec Filosofia Espírita – João Nunes Maia/Miramez

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 05

Elementos Gerais do Universo

Espírito É o princípio inteligente do Universo. O Livro dos Espíritos: 23. Qual a sua natureza íntima? - Não é fácil analisar o espírito na vossa linguagem. Para vós, ele não é nada, porque não é coisa palpável; mas para nós, é alguma coisa. Ficai sabendo: nenhuma coisa é o nada e o nada não existe. 24. Espírito é sinônimo de inteligência? - A inteligência é um atributo essencial do espírito; mas um e outro se confundem num princípio comum, de maneira que, para nós, são uma e a mesma coisa. 25. O espírito é independente da matéria, ou não é mais do que uma propriedade desta, como as cores são propriedades da luz e o som uma propriedade do ar? - São distintos, mas é necessária a união do espírito e da matéria para dar inteligência a esta.

Para vós essa união é necessária para a manifestação do espírito, porque não

estais organizados para perceber o espírito sem a matéria, vossos sentidos não foram feitos para isso. O espírito pode ser conhecido sem a matéria e esta sem o espírito, pelo pensamento.

Há no Universo dois elementos gerais: a matéria e o espírito, e acima de ambos Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Essas três coisas são o princípio de tudo que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material é necessário ajuntar o fluido universal, que exerce o papel do intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita, demasiado grosseira para que o espírito possa exercer alguma ação sobre ela.

Matéria A matéria é o liame que escraviza o espírito, é o instrumento que ele usa, e

sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce essa ação. Do vosso ponto de vista é definida como aquilo que tem extensão, pode

impressionar os sentidos e é impenetrável porque só falais daquilo que conheceis, mas a matéria existe em estados que não percebeis. Ela pode ser, por exemplo, tão etérea e

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sutil que não produza nenhuma impressão nos vossos sentidos: entretanto, será sempre matéria, embora não o seja para vós.

Propriedades da Matéria

A ponderabilidade é um atributo essencial da matéria como a entendeis, mas não da matéria considerada como fluido universal. A matéria etérea e sutil que forma esse fluido é imponderável para vós, mas nem por isso deixa de ser o princípio da vossa matéria ponderável. A ponderabilidade é uma propriedade relativa. Fora das esferas de atração dos mundos, não há peso, da mesma maneira que não há alto nem baixo.

A matéria é formada de um só elemento primitivo. Os corpos que considerais como corpos simples não são verdadeiros elementos, mas transformações da matéria primitiva.

As diferentes propriedades da matéria provêm das modificações que as moléculas elementares sofrem, ao se unirem, e em determinadas circunstâncias.

De acordo com isso o sabor, o odor, as cores, as qualidades venenosas ou salutares dos corpos não são mais do que modificações de uma única e mesma substância primitiva e só existem pela disposição dos órgãos destinados a percebê-los.

OBS: Esse princípio é demonstrado pelo fato de nem todos perceberem as qualidades dos corpos da mesma maneira: enquanto um acha uma coisa agradável ao gosto, outro a acha má; o que para uns é venenosa, para outros é inofensivo ou salutar.

A mesma matéria elementar é suscetível de passar por todas as modificações e adquirir todas as propriedades, por isso dizemos que tudo está em tudo.

EXEMPLO: Este princípio explica o fenômeno conhecido de todos os magnetizadores, que consiste em dar, pela vontade, a uma substância qualquer, a água por exemplo, as mais diversas propriedades: um gosto determinado, e mesmo as qualidades ativas de outras substâncias.

Uma modificação análoga pode produzir-se pela ação magnética, dirigida pela vontade, assim a água que é formada de uma parte de oxigênio e duas de hidrogênio, torna-se corrosiva, se duplicarmos a proporção do oxigênio.

Fluido Universal

O fluido cósmico é o princípio elementar de todas as coisas, da qual as modificações e transformações constituem a inumerável variedade de corpos da natureza.

Quanto ao princípio elementar universal, ele oferece dois estados distintos: Eterização ou Imponderabilidade, pode se considerar como o estado normal

primitivo, não é uniforme, sem deixar de ser etéreo, ele sofre modificações bastante variadas em seu gênero, mais numerosas talvez que no estado de matéria tangível. Essas modificações constituem os fluidos diferentes, que estão dotados de propriedades especiais e dão lugar aos fenômenos particulares do mundo invisível.

OBS: tudo sendo relativo, esses fluidos têm para os espíritos, que são eles mesmos fluídicos, uma aparência tão material quanto a dos objetos tangíveis para os encarnados e são para eles o que são para nós as substâncias do mundo terrestre. Eles os elaboram, os combinam para produzirem efeitos determinados, como fazem os encarnados com seus materiais, todavia, por procedimentos diferentes. Mas lá como aqui, não é dado senão aos espíritos mais esclarecidos compreenderem o papel dos elementos constituídos de seu mundo. Os ignorantes do mundo invisível são tão capazes de explicar os fenômenos de que são testemunhas quanto os ignorantes da Terra o são para explicarem os efeitos da luz ou da eletricidade.

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Materialização ou Ponderabilidade, não é senão um estado transitório do fluido universal que pode retornar ao seu estado primitivo quando as condições de coesão deixam de existir.

O fluido universal é o elemento de onde eles retiram os materiais sobre os quais operam, é o meio onde se passam os fenômenos especiais, perceptíveis à visão e ao ouvido do espírito, e que escapam aos sentidos carnais, impressionáveis unicamente pela matéria tangível.

É nessa atmosfera que se forma a luz particular ao mundo espiritual, diferente da luz ordinária por suas causas e efeitos, é enfim o veículo do pensamento como o ar é o veículo do som.

Os espíritos agem sobre os fluidos, não os manipulando como os homens manipulam os gases, mas com a ajuda do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são para o espírito o que a mão é para o homem, pelo pensamento eles imprimem a esses fluidos tal ou tal direção, aglomeram-nos, combinam ou dispersam. Formam conjuntos tendo uma aparência, uma forma, uma cor determinada, mudam-lhes as propriedades como o químico muda a dos gases, ou outros corpos, combinando-os segundo certas leis. É a grande oficina ou o laboratório da vida espiritual.

OBS: algumas vezes estas transformações são o resultado de uma intenção, freqüentemente elas são o resultado de um pensamento inconsciente, basta ao espírito pensar em uma coisa para que essa coisa se produza, como basta modular o ar para que este repercuta na atmosfera.

Assim é que, por exemplo, um espírito se apresenta à visão de um encarnado dotado de visão psíquica, sob a aparência que tinha como encarnado, à época que se conheceram, mesmo várias encarnações após. Apresenta-se com a roupa, sinais exteriores, enfermidades, cicatrizes, membros amputados, etc. Um decapitado se apresentará com a cabeça de menos, não para dizer que haja conservado essa aparência, mas porque seu pensamento reportando à época em que era assim faz com que seu perispírito tome imediatamente as aparências da época, e deixa do mesmo modo, instantaneamente, desde que seu pensamento deixe de agir. Se foi uma vez negro e outra vez branco, apresentar-se-á como negro ou como branco, segundo dessas duas encarnações, sob a qual foi evocado e onde reportará seu pensamento.

Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este age sobre os fluidos como o som age sobre o ar, eles nos trazem o pensamento como o ar traz o som, há nesses fluidos ondas e raios de pensamentos que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros.

Princípio Vital ou Fluido Vital

Tem sua fonte no fluido universal, é o que se chama de fluido magnético ou fluido elétrico animalizado.

É o intermediário, o elo entre o espírito e a matéria. O princípio vital é o mesmo para todos os seres, modificado segundo as espécies.

A união do fluido vital com a matéria é que produz a vida. O conjunto dos órgãos constitui uma espécie de mecanismos que recebe

estímulo do princípio vital que existe neles. O princípio vital é a força motriz dos corpos orgânicos. OBS: ao mesmo tempo que o agente vital estimula os órgãos, a ação dos órgãos desenvolve a atividade do agente vital, aproximadamente como se dá com o atrito que desenvolve o calor.

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Vida e Morte

A causa da morte nos seres orgânicos é o esgotamento dos órgãos. Com a morte a matéria inerte se decompõe e toma nova forma e o princípio vital retorna à massa. Morrendo o ser orgânico, os elementos que o compõem experimentam novas combinações que formam novos seres, os quais tiram da fonte universal o princípio da vida e da atividade, o absorvem e assimilam para devolvê-lo à mesma fonte quando deixarem de existir.

Quando os elementos essenciais ao funcionamento dos órgãos estão destruídos ou muito profundamente alterados, o fluido vital é impotente para lhes transmitir o movimento da vida e o ser morre.

Os órgãos reagem, mais ou menos necessariamente, uns sobre os outros, é da harmonia do seu conjunto que resulta a ação recíproca, quando uma causa qualquer destrói essa harmonia, suas funções cessam, como o movimento de um mecanismo cujas peças principais estão estragadas. Exemplo: tal como um relógio que se desgasta com o tempo ou se desconjunta por acidente, no qual a força motriz fica impotente para colocá-lo em movimento.

Quantidade de Fluido Vital por Indivíduo

A quantidade de fluido vital não é absoluta para todos os seres orgânicos, varia segundo as espécies e não é fator constante, seja no mesmo indivíduo, seja nos indivíduos da mesma espécie. Existem alguns que são saturados, enquanto que outros dispõem apenas de uma quantidade suficiente, por isso a vida para uns é mais ativa, mais vibrante e de certo modo superabundante. O fluido vital se transmite de um indivíduo para outro, aquele que tem o bastante pode doá-lo a quem tem pouco e em certos casos restabelecer a vida prestes a se apagar.

Princípio Espiritual ou Fluido Espiritual

O princípio espiritual é o corolário da existência de Deus, sem esse princípio Deus não teria razão de ser. Não se poderia conceber um Deus soberanamente justo e bom, criando seres inteligentes e sensíveis para destiná-los ao nada, depois de alguns dias de sofrimentos sem compensações, repassando sua visão dessa sucessão indefinida de seres que nascem sem ter o pedido, pensam um instante para não conhecerem senão a dor, e se extinguem para sempre depois de uma existência efêmera.

Sem a sobrevivência do ser pensante, os sofrimentos da vida seriam, da parte de Deus, uma crueldade sem objetivo. Eis porque o materialismo e o ateísmo são os corolários um do outro, negando a causa não podem admitir o efeito; negando o efeito não podem admitir a causa. O materialismo, portanto, é conseqüente consigo mesmo, se não o é com a razão.

A idéia da perpetuidade do ser espiritual é inata no homem, nele está no estado de intuição e de aspiração; compreende que só aí está a compensação às misérias da vida. Por isso sempre houve e sempre haverá mais espiritualistas que materialistas e mais deístas do que ateus.

À idéia intuitiva e ao poder do raciocínio, o Espiritismo vem acrescentar a sanção dos fatos, a prova material da existência do ser espiritual, de sua sobrevivência, de sua imortalidade e de sua individualidade. Ele precisa e define o que este pensamento tinha de vago e de abstrato, motiva-nos o ser inteligente agindo fora da matéria, seja depois, seja durante a vida do corpo.

O princípio espiritual e o princípio vital são uma e a mesma coisa? (Gênese - cap. XI nº 5).

Partindo, como sempre, da observação dos fatos, diremos que, se o princípio vital fosse inseparável do princípio inteligente, não haveria aí qualquer razão para confundi-los, mas uma vez se vêem seres que vivem e não pensam, como as plantas; corpos humanos serem ainda animados da vida orgânica quando neles não mais existe

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nenhuma manifestação do pensamento; que se produzem no ser vivo movimentos vitais independentes de todo ato de vontade; que durante o sono a vida orgânica está em toda sua atividade, ao passo que a vida intelectual não se manifesta por nenhum sinal exterior; há lugar para se admitir que a vida orgânica reside num princípio inerente à matéria, independente da vida espiritual que é inerente ao espírito. Desde então, que a matéria tem uma vitalidade independente do Espírito e que o Espírito tem uma vitalidade independente da matéria, torna-se evidente que esta dupla vitalidade repousa sobre dois princípios diferentes.

O princípio espiritual teria sua fonte no elemento cósmico universal? Não seria senão uma transformação, um modo de existência desse elemento como a luz, a eletricidade, o calor, etc? (Gênese - Cap. XI nr. 6).

Se assim fosse, o princípio espiritual sofreria as vicissitudes da matéria, extinguir-se-ia pela desagregação como o princípio vital. O ser inteligente não teria senão uma existência momentânea como o corpo e na morte reentraria no nada, ou, o que vem a ser o mesmo, no todo universal, isto seria, numa palavra, a sanção das doutrinas materialistas.

As propriedades sui generis que são reconhecidas no princípio espiritual provam que ele tem a sua existência própria, independente, uma vez que se tivesse a sua origem na matéria, não teria essas propriedades.

Uma vez que a inteligência e o pensamento não podem ser atributos da matéria, chega-se a esta conclusão, remontando dos efeitos à causa, que o elemento material e o elemento espiritual são os dois princípios constitutivos do Universo. O elemento espiritual individualizado constitui os seres chamados Espíritos, como o elemento material individualizado constitui os diferentes corpos da natureza, orgânicos e inorgânicos.

Sendo admitido o ser espiritual, e sua fonte não podendo estar na matéria, qual é a sua origem, o seu ponto de partida? (Gênese - Cap. XI nr. 7,8 e 9).

O que Deus lhe faz dizer, pelos seus mensageiros, e o que, aliás, o homem poderia deduzir, ele mesmo, do princípio da soberana justiça, que é um dos atributos essenciais da Divindade, é que todos têm um mesmo ponto de partida, que todos são criados simples e ignorantes com uma igual aptidão para progredir pela sua atividade individual, que todos atingirão o grau de perfeição compatível com a criatura pelos seus esforços pessoais, que todos sendo filhos de um mesmo Pai, são objeto de uma igual solicitude, que não há nenhum mais favorecido ou melhor dotado que os outros e dispensado do trabalho que seria imposto aos outros para alcançar o objetivo. Ao mesmo tempo que Deus criou mundos materiais de toda a eternidade, igualmente criou seres espirituais de toda eternidade, sem isso os mundos materiais estariam sem objetivo. Conceber-se-ia, antes os seres espirituais.

São os mundos materiais que devem fornecer aos seres espirituais os elementos da atividade para o desenvolvimento de sua inteligência.

O progresso é condição normal dos seres espirituais e a perfeição relativa o objetivo que devem alcançar; ora, Deus tendo criado de toda a eternidade, e criando sem cessar, de toda eternidade também terá havido os que alcançaram o ponto culminante da escala.

Antes que a Terra existisse, mundos haviam sucedido os mundos, e quando a Terra saiu do caos dos elementos, o espaço estava povoado de seres espirituais, em todos os graus de adiantamento.

Imagens Fluídicas

O pensamento, criando imagens fluídicas, se reflete no envoltório perispiritual como num vidro. Por exemplo, se um homem tem a idéia de matar um outro, por impossível que seja para o seu corpo material, seu corpo fluídico é colocado em ação pelo pensamento do qual reproduz todas as nuanças, ele executa fluidicamente o gesto que tem o desejo de cumprir, o pensamento cria a imagem da vítima e a cena inteira se desenha como num quadro, tal como está em seu espírito. É assim que os movimentos mais secretos da alma repercutem no envoltório fluídico e que uma alma pode ler em outra alma como se lê um livro, e ver o que não é perceptível aos olhos do corpo. Vendo

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a intenção ela pode pressentir o cumprimento do ato que lhe será a seqüência, mas não pode determinar o momento em que se cumprirá, nem precisar-lhe os detalhes, nem mesmo afirmar que ocorrerá, porque circunstâncias ulteriores podem modificar os planos e mudar as disposições.

Não pode ser visto o que não está ainda no pensamento, o que é visto é a preocupação habitual do indivíduo, seus desejos, seus projetos, seus propósitos bons ou maus.

Qualidade dos Fluidos

Os fluidos não têm qualidades próprias, mas as que adquirem no meio onde se elaboram, modificam-se pelos eflúvios desse meio, como o ar pelas exalações, e pelos sais das camadas que atravessa.

Segundo as circunstâncias, essas qualidades são como no ar e na água, temporários ou permanentes, o que os torna mais especialmente próprios à produção de tais ou tais efeitos determinados. OBS: A sua diversidade é tão grande quanto a dos pensamentos.

Os fluidos não têm denominações especiais como os odores, são designados por

suas propriedades, seus efeitos e seu tipo original. Sob o aspecto moral, carregam a marca dos sentimentos: do ódio, da inveja, do

ciúme, do orgulho, do egoísmo, da violência, da hipocrisia, da bondade, da benevolência, do amor, da caridade, da doçura, etc.

Sob o aspecto físico são: excitantes, calmantes, penetrantes, irritantes,

dulcificantes, narcóticos, tóxicos, reparadores, eliminadores, etc.

O quadro dos fluidos seria o de todas as paixões, das virtudes e dos vícios da humanidade e das propriedades da matéria correspondendo aos efeitos que eles produzem.

Transmissão dos Fluidos

O pensamento do espírito encarnado age sobre os fluidos espirituais como o dos espíritos desencarnados, ele se transmite de espírito para espírito pela mesma via e segundo seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos circundantes.

OBS: sendo os fluidos ambientes modificados pela projeção do pensamento do espírito, seu envoltório perispiritual, que é parte constituinte de seu ser e que recebe diretamente e permanentemente a impressão de seus pensamentos, deve mais ainda carregar a marca de suas qualidades, boas ou más. Os fluidos viciados pelas emanações dos maus espíritos podem se depurar pelo distanciamento destes, mas seu perispírito seria sempre o que é, enquanto o próprio espírito não se modificar.

Ação dos Fluidos Sobre o Corpo Físico

O perispírito dos encarnados é de natureza igual a dos fluidos espirituais, por isso assimila-os com facilidade, como uma esponja se embebe de líquido. Esses fluidos têm sobre o perispírito uma ação tanto mais direta que por sua expansão e irradiação se confunde com eles. Os fluidos agindo sobre o perispírito, este, por sua vez, reage sobre o organismo da matéria, com o qual está em contato molecular, se as emanações são de boa natureza, o corpo sente uma impressão salutar, se são maus a impressão é penosa, se permanentes e enérgicos eles podem determinar desordens físicas, certas doenças não têm outra causa, por exemplo, as obsessões implacáveis.

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É possível evitar os homens que se sabe mal intencionados, mas como se evitar

a influência dos maus espíritos que pululam ao redor de nós e penetram por toda parte sem serem vistos?

O meio é muito simples, porque depende da vontade do próprio homem. Os fluidos se unem em razão da semelhança de sua natureza, os opostos se repelem, existe incompatibilidade entre os bons e os maus fluidos, como entre o óleo e a água.

São as imperfeições da alma que atraem os maus espíritos, os espíritos realmente bons, encarnados ou desencarnados, nada têm a temer da influência dos maus espíritos.

Evolução, Interação do Espírito e Matéria

Devendo a matéria ser o objeto de trabalho do Espírito, para o desenvolvimento de suas faculdades, era necessário que pudesse atuar sobre ela, por isso veio habitá-la, como o lenhador habita a floresta. Devendo ser a matéria, ao mesmo tempo, o objetivo e o instrumento de trabalho, Deus, em lugar de unir o Espírito à pedra rígida, criou, para seu uso, corpos organizados; flexíveis, capazes de receber todos os impulsos de sua vontade, e de se prestar a todos os seus movimentos.

O corpo é, pois, ao mesmo tempo, o envoltório e o instrumento do Espírito, e à medida que este adquire novas aptidões, ele reveste um envoltório apropriado ao novo gênero de trabalho que deve realizar, como se dá a um obreiro ferramentas menos grosseiras à medida que ele seja capaz de fazer uma obra mais cuidada.

Para ser mais exato, é necessário dizer que é o próprio Espírito que dá forma ao seu envoltório e o apropria às suas novas necessidades; aperfeiçoa-o, desenvolve-o e completa o organismo à medida que sente a necessidade de manifestar novas faculdades; em uma palavra, ele o coloca na estatura de sua inteligência; Deus lhe fornece os materiais; cabe-lhe empregá-los, assim é que as raças avançadas têm um organismo ou, querendo-se, uma aparelhagem cerebral mais aperfeiçoada que as raças primitivas. Explica-se assim, igualmente, o cunho especial que o caráter do Espírito imprime aos traços da fisionomia e ao comportamento do corpo.

Desde que um espírito nasce na vida espiritual, deve, para o seu adiantamento, fazer uso de suas faculdades, de início, rudimentares; por isso, ele reveste um envoltório corporal apropriado ao seu estado de infância intelectual, envoltório que deixa para revestir um outro à medida que as suas forças aumentam. Ora, como em todos os tempos houve mundos, e que esses mundos deram nascimento a corpos organizados próprios a receberem os espíritos, de todos os tempos os Espíritos encontraram, qualquer que fosse o seu grau de adiantamento, os elementos necessários à sua vida carnal.

Sendo o corpo exclusivamente material, sofre as influências da matéria. Depois de funcionar algum tempo, ele se desorganiza e se decompõe; o princípio vital, não achando mais o elemento de sua atividade, se extingue e o corpo morre. O Espírito, para quem o corpo privado de vida é doravante sem utilidade, deixa-o como se deixa uma casa em ruína ou uma veste fora de serviço.

O corpo não é, pois, senão um envoltório destinado a receber o Espírito; desde então, pouco importam a sua origem e os materiais de que é construído. Que o corpo do homem seja uma criação especial ou não, não deixa de ser formado com os mesmos elementos que o dos animais, animado no mesmo princípio vital, de outro modo dito, aquecido pelo mesmo fogo, como é alumiado pela mesma luz; sujeito às mesmas vicissitudes e às mesmas necessidades: é um ponto sobre o qual não há contestação.

A não considerar senão a matéria, e fazendo abstração do Espírito, o homem não tem, pois, nada que o distingue do animal, mas tudo muda de aspecto fazendo-se uma distinção entra a habitação e o habitante.

Um grande senhor, sob o colmo ou vestido com o burel de um camponês, com isso não se acha menos grande senhor. Ocorre o mesmo com o homem; não é a sua

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vestimenta de carne que eleva acima do animal e dele faz um ser à parte, é o ser espiritual, o seu Espírito.

Ação Dos Espíritos Sobre a Matéria

Excluída a interpretação materialista, ao mesmo tempo rejeitada pela razão e pelos fatos, resta apenas saber se a alma, após a morte, pode manifestar-se aos vivos. Assim reduzida à sua mais simples expressão, torna-se a questão bastante fácil. Poderíamos perguntar, primeiro, por que motivo os seres inteligentes, que de alguma maneira vivem entre nós, embora naturalmente invisíveis, não poderiam demonstrar-nos a sua presença por algum meio. O simples raciocínio mostra que isso nada tem de impossível, o que já é alguma coisa. Essa crença, aliás, tem a seu favor a aceitação de todos os povos, pois a encontramos em toda parte, em todas as épocas. Ora, uma intuição não poderia ser tão generalizada, nem sobreviver através dos tempos, sem ter alguma razão. Ela é ainda sancionada pelo testemunho dos livros sagrados e dos Pais da Igreja, e foi necessário o ceticismo e o materialismo do nosso século para relegá-la ao campo das superstições. Se estamos, pois, em erro, essas autoridades também estão.

Mas estas são apenas considerações lógicas. Uma causa, acima de tudo, contribuiu para fortalecer a dúvida, numa época tão positiva como a nossa, em que tudo quer conhecer, onde se quer saber o porquê e o como de todas as coisas: a ignorância da natureza dos Espíritos e dos meios pelos quais podem manifestar-se. Conquistado esse conhecimento, o fato das manifestações nada apresenta de surpreendente e entra na ordem dos fatos naturais.

A idéia que geralmente se faz dos Espíritos torna, a princípio, incompreensível o

fenômeno das manifestações. Elas não podem ocorrer sem a ação do Espírito sobre a matéria. Por isso, os que consideram o Espírito completamente desprovido de matéria perguntam, com aparente razão, como pode ele agir materialmente. E nisso precisamente está o erro. Porque o Espírito não é uma abstração, mas um ser definido, limitado e circunscrito. O Espírito encarnado é a alma do corpo; quando o deixa pela morte, não sai desprovido de qualquer envoltório. Todos eles nos dizem que conservam a forma humana, e, com efeito, quando nos aparecem, é sob essa forma que os reconhecemos.

Observamo-los atentamente no momento em que acabam de deixar a vida. Acham-se perturbados; tudo para eles é confuso; vêem o próprio corpo perfeito ou mutilado, segundo o gênero de morte; por outro lado vêem a si mesmos e se sentem vivos. Alguma coisa lhes diz que aquele corpo lhes pertencia e não compreendem como possam estar separados. Continuam a se verem numa forma anterior, e essa visão provoca em alguns, durante certo tempo, uma estranha ilusão: julgam-se ainda vivos. Falta-lhes a experiência desse novo estado para se convencerem da realidade dissipando-se esse primeiro momento de perturbação, o corpo lhe aparece como velha roupa de que se despiram e não querem mais. Sentem-se mais leves e como livres de um fardo. Não sofrem mais as dores físicas e são felizes de poderem elevar-se e transporem o espaço, como faziam muitas vezes em vida, nos seus sonhos. Ao mesmo tempo apesar da falta do corpo, constatam a inteireza da personalidade: têm uma forma que não os constrange nem os embaraça e têm a consciência do eu, da individualidade. Que devemos concluir disso? Que a alma não deixa tudo no túmulo, mas leva com ela alguma coisa.

Numerosas observações e fatos irrecusáveis, de que trataremos mais tarde, demonstraram a existência no homem de três componentes:

1º. A alma ou espírito, princípio inteligente em que se encontra o senso moral; 2º. O corpo, invólucro material e grosseiro de que é revestido temporariamente

para o cumprimento de alguns desígnios providenciais; 3º. O perispírito, invólucro fluídico, semi-material, que serve de liame entre a

alma e o corpo.

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A morte é a destruição, ou melhor, a desagregação do envoltório grosseiro que a alma abandona. O outro envoltório desprende-se e vai com a alma, que, dessa maneira, tem sempre um instrumento. Este último, embora fluídico, etéreo, vaporoso, invisível para nós em seu estado normal, é também material, apesar de não termos, até o presente, podido captá-lo e submetê-lo à análise.

Este segundo envoltório da alma ou perispírito existe, portanto, na própria vida corpórea. É o intermediário de todas as sensações que o Espírito percebe, e através do qual o Espírito transmite a sua vontade ao exterior, agindo sobre os órgãos do corpo. Para nos servirmos de uma comparação material, é o fio elétrico condutor que serve para a recepção e a transmissão do pensamento. É, enfim, esse agente misterioso, inapreensível, chamado fluido nervoso, que desempenha tão importante papel na economia orgânica e que ainda não se considera suficientemente nos fenômenos fisiológicos e patológicos. A Medicina, considerando apenas o elemento material ponderável, priva-se do conhecimento de uma causa permanente de ação, na apreciação dos fatos. Mas não é aqui o lugar de examinar essa questão; lembraremos somente que o conhecimento do perispírito é a chave de uma infinidade de problemas até agora inexplicáveis.

O perispírito não é uma dessas hipóteses a que se recorre nas ciências para a explicação de um fato. Sua existência não foi somente revelada pelos Espíritos, pois resulta também de observações, como teremos ocasião de demonstrar. Por agora, nos limitaremos a dizer que, seja durante a sua união com o corpo ou após a separação, a alma jamais se separa do seu perispírito.

Já se disse que o Espírito é uma flama, uma centelha. Isto se aplica ao espírito propriamente dito, como princípio intelectual e moral, ao qual não saberíamos dar uma forma determinada. Mas, em qualquer de seus graus, ele está sempre revestido de um invólucro ou perispírito, cuja natureza se eteriza à medida que ele se purifica e se eleva na hierarquia. Dessa maneira, a idéia de forma é para nós inseparável da idéia de Espírito, a ponto de não concebermos este sem aquela. O perispírito, portanto, faz parte integrante do espírito, como o corpo faz parte integrante do homem. Mas o perispírito sozinho não é o homem, pois o perispírito não pensa. Ele é para o Espírito o que o corpo é para o homem: o agente ou instrumento de sua atividade.

A forma do perispírito é a forma humana e, quando ele nos aparece, é geralmente a mesma sob a qual conhecemos o Espírito na vida física. Poderíamos crer, por isso, que o perispírito, desligado de todas as partes do corpo, se modela de alguma maneira sobre ele e lhe conserva a forma. Mas não parece ser assim. A forma humana, com algumas diferenças de detalhes e as modificações orgânicas exigidas pelo meio em que o ser tem de viver, é a mesma em todos os globos. É, pelo menos, o que dizem os Espíritos. E é também a forma de todos os Espíritos não encarnados que só possuem o perispírito. A mesma sob a qual em todos os tempos foram representados os anjos ou Espíritos puros. De onde devemos concluir que a forma humana é a forma típica de todos os seres humanos, em qualquer grau a que pertençam. Mas a matéria sutil do perispírito não tem a persistência e a rigidez da matéria compacta do corpo. Ela é, se assim podemos dizer, flexível e expansível. Por isso, a forma que ela toma, mesmo que decalcada do corpo, não é absoluta. Ela se molda à vontade do Espírito, que pode lhe dar a aparência que quiser, enquanto o invólucro material lhe ofereceria uma resistência invencível.

Desembaraçado do corpo que o comprimia, o perispírito se distende ou se contrai, se transforma, em uma palavra: se presta a todas as modificações, segundo a vontade que o dirige. É graças a essa propriedade do seu invólucro fluídico que o Espírito pode fazer-se reconhecer, quando necessário, tomando exatamente a aparência que tinha na vida física, e até mesmo com os defeitos que possam servir de sinais para o reconhecimento.

Os Espíritos, portanto, são seres semelhantes a nós, formando ao nosso redor toda uma população que é invisível no seu estado normal. E dizemos no estado normal porque, como veremos, essa invisibilidade não é absoluta.

Voltemos a tratar da natureza do perispírito, que é essencial para a explicação que devemos dar. Dissemos que, embora fluídico, ele se constitui de uma espécie de matéria, e isso resulta dos casos de aparições tangíveis, aos quais voltaremos. Sob a influência de certos médiuns, verificou-se a aparição de mãos, com todas as

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propriedades das mãos vivas, dotadas de calor, podendo ser apalpadas, oferecendo a resistência dos corpos sólidos, pegando as pessoas, e que, de repente, se esvaeciam como sombras. A ação inteligente dessas mãos, que evidentemente obedecem a uma vontade ao executar certos movimentos, até mesmo ao tocar músicas num instrumento, prova que elas são a parte visível de um ser inteligente invisível. Sua tangibilidade, sua temperatura, a impressão sensorial que produzem, chegando mesmo a deixar marcas na pele, a dar pancadas dolorosas, a acariciar delicadamente, provam que são materialmente constituídas. Sua desaparição instantânea prova, entretanto, que essa matéria é extremamente sutil e se comporta como algumas substâncias que podem, alternativamente, passar do estado sólido ao fluídico e vice-versa.

A natureza íntima do Espírito propriamente dito, ou seja, do ser pensante, é para nós inteiramente desconhecida. Ele se revela a nós pelos seus atos, e esses atos só podem tocar os nossos sentidos por um intermediário material. O Espírito precisa, pois, de matéria, para agir sobre a matéria. Seu instrumento direto é o perispírito, como o do homem é o corpo. O perispírito, como acabamos de ver, constitui-se de matéria. Vem a seguir o fluido universal, agente intermediário, espécie de veículo sobre o qual reage, como nós agimos sobre o ar para obter certos efeitos através da dilatação, da compressão, da propulsão ou das vibrações.

Assim considerada, a ação do Espírito sobre a matéria é fácil de admitir-se. Compreende-se, então, que os seus efeitos pertencem à ordem dos fatos naturais e nada têm de maravilhoso. Só pareciam sobrenaturais porque sua causa era desconhecida. Desde que a conhecemos, o maravilhoso desaparece, pois a causa se encontra inteiramente nas propriedades semimateriais do perispírito. Trata-se de uma nova ordem de coisas, que novas leis vêm explicar. Dentro em pouco, ninguém mais se espantará com esses fatos, como ninguém hoje se espanta de poder comunicar-se à distância, em apenas alguns minutos, por meio da eletricidade.

Talvez se pergunte como pode o Espírito, com a ajuda de uma matéria tão sutil, agir sobre corpos pesados e compactos, erguer mesas, etc. certamente não será um homem de ciências que fará essa objeção, porque, sem falar das propriedades desconhecidas que esse novo agente pode ter, não vimos com os próprios olhos exemplos semelhantes? Não é nos gases mais rarefeitos, nos fluidos imponderáveis, que a indústria encontra as mais poderosas forças motrizes? Quando vemos o ar derrubar edifícios, o vapor arrastar massas enormes, a pólvora gaseificada elevar rochedos, a eletricidade espedaçar árvores e perfurar muralhas, que há de estranho em admitir que o Espírito, servindo-se do perispírito, possa erguer uma mesa, sobretudo, quando se sabe que esse perispírito pode tornar-se visível, tangível e comportar-se como um corpo sólido?

Bibliografia: O Livro dos Médiuns – Allan Kardec O Livro dos Espíritos _ Allan Kardec A Gênese – Allan Kardec Fluidologia – João Berbel (pelos espíritos Eurípedes Barsanulfo, Ismael Alonso e Miguel de Alcântara). Evolução em Dois Mundos – Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira (pelo espírito André Luiz)

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 06

Espírito

Origem e Natureza dos Espíritos

Definição de Espírito Podemos definir como espíritos os seres inteligentes da criação, que povoam o

Universo, além do mundo material. Os espíritos são incorpóreos, pois sendo uma criação o espírito deve ser alguma

coisa, é uma matéria quintessenciada, para qual não dispomos de analogia, e tão eterizada que não pode ser percebida pelos nossos sentidos.

OBS: Dizemos que os espíritos são imateriais, porque a sua essência difere de tudo o que conhecemos pelo nome de matéria. Um povo de cegos não teria palavras para exprimir a luz e seus efeitos. O cego de nascença julga ter todas as percepções pelo ouvido, o olfato, o paladar e o tato, não compreende as idéias que lhe seriam dadas pelo sentido que lhe falta. Da mesma maneira, no tocante à essência dos seres super-humanos, somos como cegos. Não podemos defini-los, a não ser por meio de comparações sempre imperfeitas ou por um esforço da imaginação. (Os espíritos revestidos de perispírito são o objeto desta referência, sem o perispírito nada têm de material).

Origem do Espírito Os espíritos são obra de Deus, submetidos à sua vontade. Deus existe de toda a

eternidade, isso é incontestável, mas quando e como criou os espíritos, não sabemos, isso é o mistério.

A criação dos espíritos é permanente, o que quer dizer que Deus jamais cessou de criar.

Natureza do Espírito Uma vez que há dois elementos gerais do Universo: o inteligente e o

material, os espíritos têm sua natureza na individualização do princípio inteligente, a maneira dessa formação é que desconhecemos.

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Preexistência e Sobrevivência do Espírito A ciência vem trabalhando, pelos meios de que dispõe, para encontrar o

espírito. Ela já sentiu a sua presença em muitas das suas pesquisas, e é por essa verdade que o procura. Notamos o grande interesse de todo o mundo científico e filosófico na busca dos mistérios, cujos fenômenos têm beneficiado todos os povos.

O espírito é força, dentro da força maior, Deus, que o alimenta e sustenta em todos os rumos, condicionando valores e desatando luzes em todos os corações. A alma, mesmo presa à matéria, é livre na sua essência. Ela tanto cede aos processos inferiores, quanto se interliga com o bem, dando forma à energia, para trabalhar no campo imenso da expansão das qualidades elevadas, que vibra em tudo, pelo amor que irradia em todas as substâncias.

Pelo pensamento podemos deduzir que somos individualidade separada da matéria, e que a matéria é uma substância separada do espírito, porém, no caso do espírito encarnado, é forçoso compreender a necessidade da alma progredir e fazer com que a matéria avance com o progresso, desfazendo-se da sua própria letargia. Quanto mais estudamos, mais vamos tomando conhecimento dos segredos da natureza, compatíveis aos segredos do espírito, e esses conhecimentos nos trazem certa luz e força, de maneira a nos libertar, ou ajudar a nossa libertação espiritual.

Podemos conhecer o espírito sem a matéria, a experiência do momento pelo qual passamos nos dá meios para este conhecimento, não somente pelas experiências próprias, como pelas anotações e vivência dos outros. Cada trabalhador deste campo dar-nos-á uma parcela de confirmações da existência da alma livre da matéria. Os irmãos que carregam no coração a infelicidade de negar a sua própria existência como espírito livre que sobrevive depois do túmulo, estão mentindo para si mesmos, esforçando-se para apagar a chama da verdade, acesa no coração pela mão divina.

Ninguém consegue contrariar as leis espirituais. A força de Deus as sustenta e dá vida. Negar o próprio Pai é desmantelo da consciência, é desajuste dos próprios sentimentos.

Não existe uma família, uma criatura sequer na Terra, que já não tenha constatado um fenômeno de ordem espiritual. Cada vez que o tempo avança, mais visíveis vão ficando as comunicações dos desencarnados com os que transitam na carne, trocando idéias, estimulando sentimentos e inspirando escritores em todos os campos do saber. Negar os fatos tão comuns entre os homens é torcer uma verdade que está desabrochando como o sol do meio dia.

O espírito é livre e comunica onde quer que seja, fazendo a vontade de Deus na instrução e no amparo a todas as criaturas da Terra. Quem nega o Espírito está recebendo seus benefícios pela água que bebe, pelas vestes que usa, pela comida que o alimenta, pelo ar que respira e pela paz que desfruta, porque os espíritos do Senhor, em falanges do bem, têm ação em todos os reinos da natureza, para que surja a harmonia na criação. Se a própria ciência, nos dias que ocorrem, já nos mostra muitas coisas que estavam antes invisíveis, e, se já desfrutamos destes véus que se suspenderam, como não crer no mais além?

A carne é um dos véus inúmeros na escala infinita dos segredos de Deus. Se estudarmos profundamente os fundamentos filosóficos, encontraremos verdadeiramente o espírito envolvido em outros corpos, que lhe garantem a grande viagem evolutiva para Deus, o seu Criador.

Entretanto, ele não depende do corpo para continuar a sua vida em outra faixa, o corpo é que depende dele para lhe garantir a forma que usa como homem.

Procuremos trabalhar para maior liberdade, que nesse esforço, sendo uma prece, os Céus nos atenderão, fazendo-nos cada vez mais livres.

OBS: A vida do espírito que é eterna, a do corpo é transitória, passageira. Quando o corpo morre, o espírito retorna a vida eterna.

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Ordens e Classes dos Espíritos

Escala Espiritual Os espíritos são de diferentes ordens, que é estabelecida de acordo com o grau

de perfeição que atingiram. À medida que os espíritos se purificam elevam-se na hierarquia.

O número de ordens é ilimitado, pois não existe entre elas uma demarcação, podendo assim se multiplicarem ou se restringirem à vontade as divisões. Considerando os caracteres gerais podemos reduzi-los a três principais:

� TERCEIRA ORDEM - espíritos imperfeitos � SEGUNDA ORDEM - bons espíritos � PRIMEIRA ORDEM - espíritos puros

Terceira Ordem – Espíritos Imperfeitos Neles há uma dominação da matéria sobre o espírito, propensão ao mal,

ignorância, orgulho, egoísmo e todas as más paixões que lhes são conseqüências.

OBS: Têm a intuição de Deus, mas não o compreendem.

Não são todos essencialmente maus, em alguns há mais de irreflexão, de

inconseqüência e de malícia do que verdadeira maldade. Uns não fazem o bem nem o mau, porém só pelo fato de não fazerem o bem, denotam sua inferioridade. Outros ao contrário, se comprazem no mau e ficam satisfeitos quando encontram oportunidade em fazê-lo, eles podem aliar a maldade e a malícia à inteligência, mas qualquer que seja seu desenvolvimento intelectual, suas idéias são pouco elevadas e seus sentimentos mais ou menos inferiores.

O seu caráter se revela pela sua linguagem. Todo o espírito que, em suas comunicações revela um mau pensamento, pode ser classificado na terceira ordem, por conseqüência, todo mau pensamento que nos é sugerido provém de um espírito dessa ordem.

Subdivisão da Terceira Ordem Décima Classe

Espíritos impuros, são inclinados ao mau e fazem dele objeto de suas

ocupações, dão conselhos desleais, fomentam a discórdia, a desconfiança e se mascaram de todas as formas para melhor enganar. Ligam-se aos homens de caráter bastante fraco para cederem as suas sugestões afim de prejudicá-los, retardando assim o seu progresso e fazendo-os sucumbir nas provas porque passam.

Nas suas comunicações com os homens, são reconhecidos pela sua linguagem, na grosseria e trivialidade das expressões. Suas comunicações revelam a baixeza de suas inclinações. Se tentam enganar falando de maneira sensata, não podem sustentar por muito tempo seu papel e acabam sempre por revelar a sua origem.

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Nona Classe Espíritos levianos, são ignorantes, maliciosos, inconseqüentes e zombeteiros.

Envolvem-se em tudo, respondem a tudo sem se preocuparem com a verdade, satisfazem-se em causar pequenos desgostos e pequenas alegrias, atormentando, induzindo maliciosamente ao erro por meio de mistificações e travessuras. A essa classe de espíritos pertencem os vulgarmente designados sob o nome de gnomos, duendes, diabretes, trasgos, estão sob a dependência dos espíritos superiores que, freqüentemente, os empregam como fazemos com nossos servidores.

OBS: Nas suas comunicações com os homens sua linguagem é algumas vezes engraçada, mas quase sempre sem conteúdo. Compreendem os defeitos e o ridículo humanos, por isso costumam satirizar. Se usam nomes supostos, é mais por malícia do que por maldade.

Oitava Classe Espíritos pseudo-sábios, seus conhecimentos são bastante amplos, mas

crêem saber mais do que realmente sabem, por ter progredido em diversos pontos de vista, sua linguagem tem um caráter sério que pode iludir sobre suas capacidades e sua iluminação interior. Fazem uma mistura de algumas verdades ao lado dos erros mais absurdos, nos quais se percebe a presunção, o orgulho, a inveja.

Sétima Classe Espíritos neutros, não são nem muito bons para fazer o bem, nem muito

maus para fazem o mau, inclinando-se tanto para um como para o outro. Estão paralelos à condição vulgar da humanidade, tanto pela moral como pela inteligência, apegam-se às coisas deste mundo.

Sexta Classe Espíritos batedores e perturbadores, estes espíritos não formam

propriamente falando uma classe distinta pelas suas características pessoais, podendo pertencer a todas as classes da terceira ordem. Manifestam sua presença por meio de efeitos sensíveis e físicos, como: pancadas, movimento, e deslocamento anormal de corpos sólidos, agitação do ar. Parecem mais que os outros agarrados à matéria, sendo os agentes principais das perturbações do globo atuando sobre o ar, a água, o fogo, os corpos duros ou nas entranhas da Terra. Reconhece-se que esses fenômenos não são devidos a uma causa fortuita e física, quando têm um caráter intencional e inteligente. OBS: Todos os espíritos podem produzir esses fenômenos, mas os espíritos elevados os deixam geralmente como atribuições dos espíritos subalternos, mais aptos às coisas materiais do que às coisas inteligentes. Quando julgam que as manifestações desse gênero são úteis, servem-se desses espíritos como seus auxiliares.

Segunda Ordem – Bons Espíritos Neles há predominância do espírito sobre a matéria, há o desejo do bem, suas

qualidades e seu poder de fazer o bem estão relacionados com o adiantamento que alcançaram: uns têm a ciência, outros a sabedoria e a bondade. Os mais avançados

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reúnem o saber às qualidades morais. Compreendem Deus e o infinito e já desfrutam da felicidade dos bons.

Não estão ainda completamente desmaterializados, conservam, mais ou menos, segundo sua classe, os traços da existência corpórea, na forma da linguagem, nos hábitos, onde se descobre algumas de suas manias, senão seriam espíritos perfeitos.

OBS: Como espíritos: suscitam bons pensamentos, desviam os homens do caminho do mal, protegem a vida daqueles que se mostram dignos e neutralizam a influência dos espíritos imperfeitos naqueles que não se comprazem em suportá-la. Quando encarnados: são bons e benevolentes para com os semelhantes. Não são movidos pelo orgulho, pelo egoísmo e nem pela ambição. Não possuem ódio, rancor, inveja ou ciúme e fazem o bem pelo bem.

Subdivisão da Segunda Ordem Quinta Classe Espíritos benevolentes, sua qualidade dominante é a bondade, alegram-se

em prestar serviço aos homens e protegê-los, mas seu saber é limitado, seu progresso é mais efetivo no sentido moral do que no sentido intelectual.

Quarta Classe Espíritos sábios, são os que se distinguem, principalmente, pela extensão dos

seus conhecimentos. Preocupam-se menos com as questões morais que com as questões científicas, para as quais têm mais aptidão. Não consideram a ciência senão do ponto de vista de sua utilidade, não a misturam com nenhuma das paixões que são próprias dos espíritos imperfeitos.

Terceira Classe Espíritos de sabedoria, caracterizam-se pelas qualidades morais da natureza

mais elevada. Possuem conhecimentos ilimitados, são dotados de uma capacidade intelectual que lhes possibilite um julgamento sábio sobre homens e coisas.

Segunda Classe Espíritos superiores, reúnem a ciência, a sabedoria e a bondade, sua

linguagem é benevolente, constantemente digna, elevada e sublime. Sua superioridade os torna mais aptos do que os outros para nos darem noções mais justas sobre as coisas do mundo espiritual, nos limites do que é permitido ao homem conhecer. Comunicam-se voluntariamente com aqueles que procuram a verdade de boa fé e que têm a alma desligada dos laços terrenos para compreendê-la. Distanciam-se daqueles que se animam só de curiosidade ou que a influência da matéria afasta a prática do bem. OBS: Quando, por exceção, encarnam sobre a Terra, é para cumprirem missão de progresso, oferecendo-nos o modelo de perfeição a que a humanidade pode aspirar neste mundo.

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Primeira Ordem – Espíritos Puros Não sofrem influência da matéria, possuem superioridade intelectual e moral

absoluta em relação aos espíritos de outras ordens.

Primeira Classe Classe única, percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas

as impurezas da matéria, alcançaram a soma de perfeição que pode adquirir a criatura, não têm mais que suportar provas ou expiações. Não estão mais sujeitos a reencarnações em corpos perecíveis, a vida para eles é eterna, desfrutam-na no seio de Deus. Gozam de inalterável felicidade, por não estarem mais sujeitos às necessidades e as vicissitudes da vida material, mas essa felicidade não é de uma ociosidade monótona, são os mensageiros e ministros de Deus, cujas ordens executam para a manutenção da harmonia universal. Comandam a todos os espíritos que lhe são inferiores, ajudando-os a se aperfeiçoarem e lhes designam as suas missões. Assistir os homens em suas aflições, induzi-los ao bem ou à expiação das faltas que os mantém distanciados da felicidade suprema é, para eles, uma doce ocupação.

OBS: Os homens podem entrar em comunicação com eles, mas bem presunçoso seria aquele que pretendesse tê-los constantemente à sua disposição.

Progresso dos Espíritos Os espíritos não são bons ou maus por natureza, são eles próprios que se

melhoram e melhorando-se passam de uma ordem inferior para uma ordem superior. Deus criou todos os espíritos simples e ignorantes, quer dizer, sem ciência. Deu a cada um determinada missão com o fim de esclarecê-los e fazê-los alcançar, progressivamente, a perfeição (relativa) para o conhecimento da verdade e para aproximá-los dele. A felicidade eterna e pura é para aqueles que alcançam essa perfeição. Os espíritos adquirem esses conhecimentos, passando pelas provas que Deus lhes impõem, alguns aceitam essas provas com submissão e alcançam mais prontamente o fim de sua destinação, outros não as suportam senão murmurando e, por suas faltas, permanecem distanciados da perfeição e da felicidade prometida.

Os espíritos são em sua origem como são as crianças, ignorantes e sem experiência, adquirindo pouco a pouco os conhecimento que lhes faltam ao percorrerem as diferentes fases da vida. A criança rebelde permanece ignorante e imperfeita.

OBS: Todos os espíritos se tornarão perfeitos, alguns mais lentamente e outros mais rapidamente, Deus não seria um Pai justo e misericordioso se banisse eternamente seus filhos. Depende do próprio espírito alcançar o progresso mais ou menos rapidamente, segundo seu desejo e sua submissão à vontade de Deus.

IMPORTANTE: O espírito não piora, à medida que avança, compreende o que o distancia da

perfeição, quando finda uma prova, fica com o conhecimento que não esquece mais. Pode permanecer estacionário, mas não regride.

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ANJOS E DEMÔNIOS Os seres chamados anjos, arcanjos e serafins são espíritos puros, se acham no

mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições. Percorreram todos os graus da escala, alguns aceitaram suas missões sem murmurar e chegaram mais depressa, já outros gastaram um tempo mais ou menos longo para alcançarem a perfeição.

Da palavra demônio deve-se entender espíritos impuros, pois Deus sendo justo e bom não criaria seres eternamente devotados ao mal e infelizes.

Os homens fizeram com os demônios o que fizeram com os anjos, da mesma forma que acreditavam em seres perfeitos de toda a eternidade, tomavam os espíritos imperfeitos por seres perpetuamente maus.

Anjos Guardiões Anjos da guarda tratam-se de espíritos de ordem elevada, que recebem a

incumbência de velar particularmente por determinada pessoa, durante a sua vida terrena e algumas vezes, dilatando essa proteção, ela persiste mesmo após a desencarnação do seu protegido e até abrangendo vidas subseqüentes.

O espírito protetor é obrigado a velar sobre seu protegido porque aceitou essa tarefa, mas pode escolher quem lhe é simpático. Para alguns é um prazer, para outros uma missão ou um dever.

495. O espírito protetor abandona algumas vezes seu protegido quando este é

rebelde aos seus conselhos? (O Livro dos Espíritos) Ele se afasta quando vê seus conselhos inúteis, e que a vontade de sofrer a

influência dos espíritos inferiores é mais forte. Todavia, não o abandona completamente, e se faz sempre ouvir sendo, então, o homem quem fecha os ouvidos. Ele retorna, desde que chamado.

É uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos pelo seu encanto e pela sua doçura; a dos anjos guardiões. Pensar que se tem sempre perto de si seres que vos são superiores, que estão sempre aí para vos aconselhar, vos sustentar, vos ajudar a escalar a áspera montanha do bem, que são os amigos mais seguros e mais devotados do que as mais íntimas ligações que se possa contrair sobre esta Terra, não é uma idéia bem consoladora? Esses seres aí estão por ordem de Deus; ele os colocou junto de vós e aí estão, por seu amor, cumprindo uma bela, mais penosa missão, sim, onde estejais, ele estará convosco: as prisões, os hospitais, os lugares de devassidão, a solidão, nada vos separa desse amigo que não podeis ver, mas do qual vossa alma sente os mais doces estímulos e ouve os sábios conselhos.

Deveríeis conhecer melhor esta verdade! Quantas vezes ela vos ajudaria nos momentos de crise; quantas vezes ela vos salvaria dos maus espíritos! Todavia, no grande dia, este anjo de bondade terá freqüentemente de vos dizer: “Não te disse isto? E não o fizeste; não te mostrei o abismo? E aí te precipitaste; não te fiz ouvir na consciência a voz da verdade? E não seguiste os conselhos da mentira?” Ah! Interrogai vossos anjos guardiões; estabelecei entre eles e vós essa ternura íntima que reina entre os melhores amigos. Não penseis em esconder-lhes nada, porque eles têm os olhos de Deus, e não podeis enganá-los. Sonhai com o futuro; procurai avançar nesta vida e vossas provas serão mais curtas, vossas existências mais felizes. Caminhai! Homens de coragem; atirai para longe de vós, de uma vez por todas, preconceitos e idéias preconcebidas; entrai na nova estrada que se abre diante de vós; marchai! Marchai! Tendes orientadores, segui-os: o objetivo não vos pode faltar, porque esse objetivo é Deus.

Àqueles que pensem ser impossível aos espíritos verdadeiramente elevados, se sujeitarem a uma tarefa tão laboriosa e de todos os instantes, diremos que influenciamos vossas almas estando a vários milhões de léguas de vós. Para nós o espaço não é nada, e vivendo em outro mundo, nossos espíritos conservam sua ligação com o vosso. Gozamos de qualidade que não podeis compreender, mas estejais certos de que Deus não nos impôs uma tarefa acima de nossas forças e que ele não vos abandonou sós

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sobre a Terra, sem amigos e sem apoio. Cada anjo guardião tem seu protegido sobre o qual vela, como um pai vela sobre seu filho, e é feliz quando o vê no bom caminho, e sofre quando seus conselhos são menosprezados.

Não temais em nos fatigar com vossas perguntas; estejais, ao contrário, sempre em relação conosco: sereis mais fortes e mais felizes. São essas comunicações de cada homem com seu espírito familiar que fazem todos os homens médiuns, médiuns hoje ignorados, mas que se manifestarão mais tarde e se espalharão como um oceano sem limites para repelir a incredulidade e a ignorância. Homens instruídos, instruí; homens de talento, elevai vossos irmãos. Não sabeis que obra cumprireis assim: a do Cristo, a que Deus vos impôs para repartir com vossos irmão , para os adiantar no caminho da alegria e da felicidade eterna. (São Luís, Santo Agostinho).

OBS: Não há mais necessidade de anjo guardião quando o espírito alcança um grau de poder conduzir a si mesmo, como chega o momento em que o escolar não tem mais necessidade do mestre; mas isso não ocorre sobre a vossa Terra.

Espíritos Familiares O espírito é antes de tudo o amigo da casa, se ligam a uma determinada família,

cujos membros vivem unidos pela afeição. Eles têm afeição e se unem a essas pessoas por laços mais ou menos duráveis, com o fim de lhes serem úteis, dentro das limitações que tem.

São bons, muitas vezes, porém, pouco adiantados e só atuam por ordem ou permissão dos espíritos protetores.

Demônios Segundo o Espiritismo Segundo o espiritismo, nem os anjos nem os demônios são seres à parte, a

criação dos seres inteligentes é una. Unidos a corpos materiais, eles constituem a humanidade que povoa a Terra e as outras esferas habitadas; separados do corpo, constituem o mundo espiritual ou dos espíritos que povoam os espaços. Deus os criou perfectíveis; deu-lhes por objetivo a perfeição, e a felicidade que dela é conseqüência, mas não lhes deu a perfeição; quis que a devessem ao seu trabalho pessoal, a fim de que lhe tivessem o mérito. Desde o instante de sua formação, progridem, seja no estado de encarnação, seja no estado espiritual; chegados ao apogeu, são puros Espíritos, ou anjos segundo a denominação vulgar; de sorte que, desde o embrião do ser inteligente até o anjo, há uma cadeia ininterrupta da qual cada elo marca um grau no progresso.

Disso resulta que existem Espíritos em todos os graus de adiantamento moral e intelectual, segundo estejam no alto, embaixo, ou no meio da escala. Há Espíritos, por conseqüência, em todos os graus de saber e ignorância, de bondade e de maldade. Nas classes inferiores, há os que estão ainda profundamente inclinados ao mal, e que nele se comprazem. Querendo-se, pode-se chamá-los de demônios, porque são capazes de todas as ações feias atribuídas a estes últimos. Se o Espiritismo não lhes dá esse nome, é porque não se liga à idéia de seres distintos da Humanidade, de uma natureza essencialmente perversa, votados ao mal pela eternidade e incapazes de progredirem no bem.

Segundo a doutrina da Igreja, os demônios foram criados bons, e se tornaram maus pela desobediência: são os anjos decaídos; foram colocados por Deus no alto da escala, e desceram. Segundo o espiritismo, são Espíritos imperfeitos, mas que se melhorarão, estão ainda na base da escala e subirão.

Aqueles que, pela sua indiferença, sua negligência, sua obstinação e sua má vontade permanecem tempo mais longo nas classes inferiores, disso carregam a pena, e o hábito do mal torna-os mais difícil de sair dele; mas chega um tempo em que se

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cansam dessa existência penosa e dos sofrimentos que lhes são a conseqüência; é então que comparando a sua situação com a dos bons Espíritos, compreendem que seu interesse está no bem, e procuram se melhorar, mas o fazem por sua própria vontade e sem serem constrangidos a isso. Eles estão submetidos à lei do progresso por sua aptidão em progredir, mas não progridem apesar disso. Para isso Deus lhes fornece, sem cessar, os meios, mas são livres para aproveitarem ou não. Se o progresso fosse obrigatório, eles não teriam nenhum mérito, e Deus quer que tenham o de suas obras; não coloca nenhum na primeira classe por privilégio, mas a primeira classe está aberta a todos, e a ela não chegam senão por seus esforços. Os mais elevados anjos conquistaram o seu grau como os outros, passando pela rota comum.

Chegados a um certo grau de depuração, os Espíritos têm missões em relação com o seu adiantamento; eles cumprem todas as tarefas que são atribuídas aos anjos das diferentes ordens. Como Deus criou de toda a eternidade, de toda a eternidade se encontram Espíritos para satisfazer a todas as necessidades do governo do Universo. Uma única espécie de seres inteligentes, submetidos à lei do progresso, basta, pois, para tudo. Essa unidade na criação, com o pensamento que todos têm um mesmo ponto de partida, a mesma rota a percorrer, e que se elevam por seu próprio mérito, responde bem melhor à justiça de Deus, que a criação de espécies diferentes, mais ou menos favorecidas de dons naturais que seriam tantos privilégios.

A doutrina vulgar sobre a natureza dos anjos, dos demônios e das almas humanas, não admitindo a lei do progresso, e vendo, contudo, seres em diversos graus, disso concluiu que eram o produto de tantas criações especiais. Ela chega, assim, a fazer de Deus um pai parcial, dando tudo a alguns de seus filhos, ao passo que impõe aos outros os mais rudes trabalhos. Não é de se admirar que, durante muito tempo, os homens não tenham encontrado nada de chocante nessas preferências, então que a as usavam do mesmo modo em relação aos seus filhos, pelos direitos inatos e os privilégios de nascença; poderiam crer fazer mais mal que Deus?

Mas hoje o círculo de idéias se alargou; eles vêem mais claro; têm noções mais limpas da justiça, querem-na para eles, e se não a encontram sempre na Terra, esperam ao menos encontrá-la mais perfeita no céu; e aqui está porque toda doutrina onde a justiça divina não lhes apareça em sua maior pureza, lhes repugna à razão.

Bibliografia:

O Livro dos Espíritos – Allan Kardec

O Céu e o Inferno – Allan Kardec

Filosofia Espírita – João Nunes Maia (pelo espírito Miramez)

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 07

Perispírito

Conceito Envoltório fluídico, leve, imponderável, vaporoso, com flexibilidade, que serve

de intermediário entre o espírito e o corpo carnal, é a sede dos centros de força que transferem energia aos chacras e estes abastecem o corpo físico. O perispírito ou corpo fluídico é um dos produtos mais importantes do fluido cósmico, é a condensação desse fluido ao redor de um foco de inteligência ou alma.

Origem, Natureza e Propriedades Os espíritos haurem seu perispírito no meio onde se encontrem, este envoltório

é formado de fluidos ambientes. Disso resulta que os elementos constitutivos do perispírito devem variar segundo os mundos.

Sendo dado como um mundo muito avançado, comparativamente à Terra, Júpiter, onde a vida corpórea não tem a materialidade da nossa, os envoltórios perispirituais devem ali ser de natureza infinitamente mais quintessenciada do que sobre a Terra. Do mesmo modo que nós não poderíamos existir nesse mundo com nosso corpo carnal, nossos espíritos não poderiam ali penetrar com seu perispírito terrestre. Deixando a Terra, o espírito nela deixa o seu envoltório fluídico, e se reveste de outro apropriado ao mundo onde deve ir.

A natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adiantamento moral do espírito. Os espíritos inferiores não podem mudá-lo à sua vontade, se transportar de um mundo para o outro.

Alguns há cujo envoltório fluídico, se bem que etéreo e imponderável, com relação à matéria tangível, é ainda muito pesado, se assim se pode exprimir, com relação ao mundo espiritual, para permitir-lhe sair de seu meio. É necessário classificar, nesta categoria, aqueles cujo perispírito é bastante grosseiro para que o confundam com o seu corpo carnal, e que, por esta razão, se crêem sempre vivos. Estes espíritos, e o número deles é grande, permanecem na superfície da Terra, como os encarnados, crendo sempre vagar em suas ocupações, outros, pouco mais desmaterializados, não são, entretanto, o bastante para se elevarem acima das regiões terrestres.

Os espíritos superiores, ao contrário, podem vir para os mundos inferiores e mesmo neles se encarnarem. Eles retiram dos elementos constitutivos do mundo onde entram, os materiais do envoltório fluídico, ou carnal, apropriado ao meio onde se encontrem. Fazem como o grande senhor que deixa suas belas vestes para se revestir momentaneamente do burel, sem deixar, por isso, de ser grande senhor. Assim é que, espíritos de ordem mais elevada podem se manifestar aos habitantes da Terra, ou se encarnam em missão entre eles. Estes espíritos carregam consigo, não o seu envoltório, mas a lembrança por intuição, das regiões de onde vêm, e que vêem pelo pensamento. São videntes entre cegos.

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A camada dos fluidos espirituais que envolvem a Terra pode ser comparada com as camadas inferiores da atmosfera, mais pesados, mais compactados, menos puras do que as camadas superiores. Estes fluidos não são homogêneos, são uma mistura de moléculas de diversas qualidades, entre os quais se encontram, necessariamente, as moléculas elementares que lhes formam a base, mas, mais ou menos alteradas. Os efeitos produzidos por estes fluidos estarão em razão da soma das partes puras que encerram.

Exemplo: o álcool retificado ou misturado, em diferentes proporções, com água ou outras substâncias, seu peso específico aumenta com esta mistura, ao mesmo tempo, que sua força e sua inflamabilidade diminuem, se bem que no todo haja álcool puro.

Os espíritos são chamados a viver nesse meio e aí haurem o seu perispírito, mas, segundo o espírito seja mais ou menos depurado, seu perispírito se forma das partes mais puras, ou as mais grosseiras do fluido próprio do mundo onde se encarna.

O espírito aí produz, sempre por comparação e não por assimilação o efeito de um reativo químico que atrai para si as moléculas que se assemelham à sua natureza.

Disto resulta que a constituição íntima do perispírito não é idêntica entre todos os espíritos, encarnados ou desencarnados, que povoam a Terra ou o espaço circundante. Não ocorre o mesmo com o corpo carnal, que, como isso foi demonstrado, está formado dos mesmos elementos, qualquer que seja a superioridade ou a inferioridade do espírito. Também entre todos, os efeitos produzidos pelo corpo são os mesmos, as necessidades semelhantes, ao passo que diferem em tudo o que é inerente ao perispírito.

OBS: Disso resulta que o envoltório perispiritual do mesmo espírito se modifica com o progresso deste, a cada encarnação, mesmo encarnado num mesmo meio. Os espíritos superiores encarnando excepcionalmente, em missão num mundo inferior, têm um perispírito menos grosseiro do que o dos indígenas desse mundo.

O meio está sempre em relação com a natureza dos seres que devem nele

viver; os peixes estão na água; os seres terrestres estão no ar; os seres espirituais estão no fluido espiritual ou etéreo, mesmo sobre a Terra.

O fluido etéreo é para as necessidades do espírito o que a atmosfera é para as necessidades dos encarnados. Do mesmo modo que os peixes não podem viver no ar; que os animais terrestres não podem viver numa atmosfera muito rarefeita para seus pulmões, os espíritos inferiores não podem suportar o brilho e a impressão dos fluidos mais etéreos. Não morrem com isso, porque o espírito não morre, mas uma força instintiva os mantém deles distantes como se distancia de um fogo muito ardente ou de uma luz muito ofuscante. Eis porque eles não podem sair do meio apropriados à sua natureza, que se despojem dos instintos materiais que os retêm nos meios materiais; em uma palavra, que se depurem e se transformem moralmente, então gradualmente eles se identificam com um meio mais depurado, que se torna para eles uma falta, uma necessidade.

OBS: O perispírito possui, por sua natureza, uma propriedade luminosa que se desenvolve sob o império da atividade e das qualidades da alma. Essas qualidades são para o fluido perispiritual o que a fricção é para o fósforo. O brilho da luz está em razão da pureza do espírito, as menores imperfeições morais a obscurecem e a enfraquecem. A luz que irradia de um espírito é, assim, tanto mais viva quanto este seja avançado. O espírito sendo, de alguma sorte, o seu farol, vê mais ou menos segundo a intensidade da luz que produz, de onde resulta que aqueles que nada produzem estão na obscuridade.

Essa teoria é perfeitamente justa quanto à irradiação do fluido luminoso pelos espíritos superiores, o que é confirmado pela elevação, mas aí não parece estar a causa verdadeira, ou pelo menos única do fenômeno do qual se trata, visto:

1º que todos os espíritos inferiores não estão nas trevas; 2º que o mesmo espírito pode se encontrar alternativamente na luz e na

obscuridade; 3º que a luz é um castigo para certos espíritos imperfeitos.

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Se a obscuridade na qual estão mergulhados certos espíritos fosse inerente à sua personalidade, ela seria permanente e geral para todos os maus espíritos, o que não é, uma vez que os espíritos, da maior perversidade, vêem perfeitamente, ao passo que outros, que não se pode qualificar de perversos, estão temporariamente mergulhados nas profundas trevas.

Tudo prova que, além da que lhe é própria, os espíritos recebem uma luz exterior que lhes faz falta segundo as circunstâncias, de onde é preciso concluir que essa obscuridade depende de uma causa ou vontade estranha, e que ela constitui uma punição para casos determinados pela soberana justiça.

Assim, tudo se liga, tudo se encadeia no Universo, tudo está submetido à grande e harmoniosa lei da unidade, desde a materialidade mais compacta até a espiritualidade mais pura. A força Divina brilha em todas as partes deste conjunto grandioso.

Necessidade de um Corpo para o Espírito Sendo o perispírito para o espírito o quanto o corpo é para o homem, este serve

de agente ou instrumento de sua atividade, é o intermediário de todas as sensações que o espírito percebe, e através do qual o espírito transmite a sua vontade ao exterior.

Função do Perispírito Serve de intermediário entre o espírito e o corpo carnal, é a sede dos centros de

força que transferem as energias aos chacras e estes abastecem o corpo físico. Interação entre Espírito, Perispírito e Corpo Físico É através dos centros de força e dos chacras que o espírito controla o corpo

físico, na relação do espírito com o corpo físico os chacras agem como recicladores de energia.

No duplo etérico é que se encontram os chacras. A união da alma, do perispírito e do corpo material constituem o homem. A alma e o perispírito separados do corpo carnal constituem o ser chamado espírito.

A alma é assim um ser simples. O espírito um ser duplo e o homem um ser triplo.

OBS: Seria, pois, mais exato reservar a palavra alma para designar o princípio inteligente e a palavra espírito para o ser semi material formado desse princípio e do corpo fluídico. Mas como não se pode conceber o princípio inteligente isolado de toda matéria, nem o perispírito sem estar animado pelo princípio inteligente, as palavras alma e espírito são usualmente empregadas indiferentemente uma pela outra.

Duplo Etérico Duplo etérico é uma formação etérica que é a reprodução do corpo físico e está

a ele colado. O duplo é composto de matéria fluídica que vem do corpo físico, que o alimenta.

É um elemento plástico fluídico de ligação entre o perispírito e o corpo físico, mas não com duração permanente, dissolvendo-se com a morte deste último. Sua principal função é transmitir para a tela do cérebro as vibrações das emoções e dos impulsos que o perispírito recebe do espírito e vice-versa. É condutor e condensador das energias entre o perispírito e o corpo físico, trabalho que se executa através dos chacras

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que estão localizados no duplo, que são igualmente estações receptoras e transmissoras de energias.

OBS: O duplo etérico é também conhecido por corpo energético, não é parte do perispírito, mas um veículo intermediário entre este e o corpo físico. É o principal responsável pela elaboração de ectoplasma e da coordenação de fluidos nervosos dos médiuns de feitos físicos.

Aura O duplo se projeta para além do corpo e forma uma aura, a aura etérica é uma

emanação leitosa e de aspecto ovalado. Alguns autores, por considerarem o duplo mais ligado ao corpo físico, designam a aura etérica como a “aura da saúde”: um vidente, através de um exame acurado, pode avaliar o estado físico do indivíduo e localizar enfermidades.

A aura perispiritual ou astral, ou simplesmente aura, é a projeção do perispírito para além dos limites físicos e se revela como uma espécie de emanação bem mais brilhante e diáfana que a aura etérica. Através dela um médium estabelece o retrato psíquico-espiritual do indivíduo, uma vez que os pensamentos e emoções se refletem na aura, antes de alcançar o corpo físico.

O Perispírito ou Corpo Espiritual Os materialistas, em sua negação da existência da alma, muitas vezes têm

apelado para a dificuldade de conceberem um ser privado de forma. Os próprios espiritualistas não sabem explicar como a alma imaterial, imponderável, poderia presidir e unir-se estreitamente ao corpo material, de natureza essencialmente diferente. Essas dificuldades encontram solução nas experiências do Espiritismo.

Como precedentemente já o dissemos, a alma está, durante a vida material, assim como depois da morte, revestida constantemente de um envoltório fluídico, mais ou menos sutil e etéreo, que Allan Kardec denominou perispírito ou corpo espiritual. Como participa simultaneamente da alma e do corpo material, o perispírito serve de intermediário a ambos: transmite à alma as impressões dos sentidos e comunica ao corpo as vontades do Espírito. No momento da morte, destaca-se da matéria tangível, abandona o corpo às decomposições do túmulo; porém, inseparável da alma, conserva a forma exterior da personalidade desta. O perispírito é, pois, um organismo fluídico; é a forma preexistente e sobrevivente do ser humano, sobre o qual se modela o envoltório carnal, como uma veste dupla e invisível, constituída de matéria quintessenciada, que atravessa todos os corpos por mais impenetráveis que estes nos pareçam.

A matéria grosseira, incessantemente renovada pela circulação vital, não é a parte estável e permanente do homem. É o perispírito que garante a manutenção da estrutura humana e dos traços fisionômicos, e isto em todas as épocas da vida, desde o nascimento até a morte. Exerce, assim, a ação de uma forma, de um molde contrátil e expansível sobre o qual as moléculas vão incorporar-se.

Esse corpo fluídico não é, entretanto, imutável; depura-se e enobrece-se com a alma; segue-a através das suas inumeráveis encarnações; com ela sobe os degraus da escada hierárquica, torna-se cada vez mais diáfano e brilhante para, em algum dia, resplandecer com essa luz radiante de que falam as Bíblias antigas e os testemunhos da História a respeito de certas aparições. É no cérebro desse corpo espiritual que os conhecimentos se armazenam e se imprimem em linhas fosforescentes, e é sobre essas linhas que, na reencarnação se modela e forma o cérebro da criança. Assim o intelecto e o moral dos espíritos, longe de se perderem, capitalizam-se e se acrescem com as existências deste. Daí as aptidões extraordinárias que trazem, ao nascer, certos seres precoces, particularmente favorecidos.

A elevação dos sentimentos, a pureza da vida, os nobres impulsos para o bem e para o ideal, as provações e os sofrimentos pacientemente suportados, depuram pouco a

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pouco as moléculas perispiríticas, desenvolvem e multiplicam as suas vibrações. Como uma ação química, eles consomem as partículas grosseiras e só deixam subsistir as mais sutis, as mais delicadas.

Por efeito inverso, os apetites materiais, as paixões baixas e vulgares reagem sobre o perispírito e o tornam mais pesado, denso e escuro. A atração dos globos inferiores, como a Terra, exerce-se de modo irresistível sobre esses organismos espirituais, que, em parte, conservam as necessidades do corpo e não podem satisfazê-las. As encarnações dos espíritos que sentem tais necessidades sucedem-se rapidamente, até que o progresso pelo sofrimento venha atenuar suas paixões, subtraí-los às influências terrestres e abrir-lhes o acesso de mundos melhores.

Estreita correlação liga os três elementos constitutivos do ser. Quanto mais elevado é o Espírito, tanto mais sutil, leve e brilhante é o perispírito, tanto mais isento de paixões e moderado em seus apetites ou desejos é o corpo. A nobreza e a dignidade da alma refletem-se sobre o perispírito, tornando-o mais harmonioso nas formas e mais etéreo; revelam-se até sobre o próprio corpo: a face então se ilumina com o reflexo de uma chama interior.

É pelas correntes magnéticas que o perispírito se comunica com a alma. É pelos fluidos nervosos que ele está ligado ao corpo. Esses fluidos, posto que invisíveis, são vínculos poderosos que o prendem à matéria, do nascimento à morte, e mesmo, nos sensuais, assim o conservam, até a dissolução do organismo. A agonia representa a soma de esforços realizados pelo perispírito a fim de se desprender-se dos laços carnais.

O fluido nervoso ou vital, de que o perispírito é a origem, exerce um papel considerável na economia orgânica. Sua existência e seu modo de ação podem explicar bastantes problemas patológicos. Ao mesmo tempo agente de transmissão das sensações externas e das impressões íntimas, ele é comparável ao fio telegráfico, transmissor do pensamento, e que é percorrido por uma dupla corrente.

A existência do perispírito era conhecida dos antigos. Pelas palavras – Ochéma e Férouer, os filósofos gregos e orientais designavam o invólucro da alma “lúcido, etéreo, aromático”. Segundo os persas, assim que chega a hora da reencarnação, o Férouer atrai e condensa em torno de si as moléculas aos materiais que são necessários à constituição do corpo, e, pela morte deste, as restitui aos elementos que, em outros meios, devem formar novos invólucros carnais. O Cristianismo também conserva vestígios dessa crença. Paulo, em sua primeira epístola aos Coríntios, exprime-se nos seguintes termos:

“O homem está na terra em um corpo animal e ressuscitará com um corpo espiritual.

Assim como tem um corpo animal, também possui um corpo espiritual”.

Embora em diversas épocas tenha sido afirmada a existência do perispírito, foi ao Espiritismo que coube determinar o seu papel exato e a sua natureza. Graças às experiências de Crookes e de outros sábios ingleses, sabemos que o perispírito é o instrumento com cujo auxílio se executam todos os fenômenos do Magnetismo e do Espiritismo. Esse organismo espiritual, semelhante ao corpo material, é um verdadeiro reservatório de fluidos, que a alma põe em ação pela sua vontade. É ele que, no sono natural como no sono provocado, se desprende da matéria, transporta-se a distâncias consideráveis e, na escuridão da noite como na claridade do dia, vê, percebe e observa coisas que o corpo não poderia conhecer por si.

O perispírito tem, portanto, sentidos análogos aos do corpo, porém muito mais poderosos e elevados. Ele tudo vê pela luz espiritual, diferente da luz dos astros, e que os sentidos materiais não podem perceber, embora esteja espalhada em todo o Universo.

A permanência do corpo fluídico, antes como depois da morte, explica também o fenômeno das aparições ou materializações de Espíritos. O perispírito, na vida livre do espaço, possui virtualmente todas as forças que constituem o organismo humano, mas nem sempre as põe em ação. Desde que Espírito se acha nas condições requeridas, isto é, desde que pode retirar do médium a matéria fluídica e a força vital necessárias, ele as assimila e reveste, pouco a pouco, as aparências do corpo terrestre. A corrente vital circula, então, e, sob a ação do fluido que recebe, as moléculas físicas coordenam-se segundo o plano do organismo, plano de que o perispírito reproduz os traços principais. Logo que o corpo humano fica reconstituído, o seu organismo entra em funções.

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As fotografias e os moldes obtidos em parafina mostram-nos que esse novo corpo é idêntico ao que o Espírito animava na Terra; mas essa vida só pode ser temporária e passageira, porque é anormal, e os elementos que a produzem, após uma curta condensação, voltam às fontes donde foram emanados.

O Perispírito Cura No processo da encarnação ou reencarnação, a mente espiritual, envolta no seu

soma perispirítico reduzido, miniaturizado, atrai magneticamente as substâncias celulares do ovo materno, ao qual se ajusta desde a sua formação, revestindo-se com ele para de imediato começar a imprimir-lhe as suas próprias características individuais, que vão sendo absorvidas pelo novo organismo carnal, à medida que este se desenvolve e se desdobra segundo as leis genésicas naturais.

Intimamente ligada, desse modo, a cada célula física que se forma segundo o molde da célula perispiritual pré-existente a que se acopla, a mente espiritual assume, de maneira mais ou menos consciente com cada caso, mas sempre vigorosamente efetiva o comando da nova personalidade humana, que assim se constitui de espírito, perispírito e corpo material.

Importa aqui considerar que as características modulares que a mente imprime às células físicas que se formam são por ela transmitidas e fixadas através de uma força determinada, que é a energia mental, veiculada pelas ondas eletromagnéticas do pensamento.

Assim, as ondas eletromagnéticas do pensamento, carregadas das ídeo-emoções do Espírito, constituem o que se denomina fluido magnético, que é plasma fluídico vivo, de elevado poder de ação.

Daí em diante, e pela vida toda, refletem-se na mente espiritual todos os fenômenos da experiência humana do ser, cuja quimiossíntese final nela também se realiza. Justo é que nela se reflitam e se imprimam tais resultados, por ser ela mesma quem comanda o ser, ou, melhor dizendo, por ser ela o próprio ser, que do mais se vale como de instrumentos à sua ação e manifestação, porém não mais do que instrumentos.

É das vibrações da mente espiritual que dependem a harmonia ou a desarmonia orgânicas da personalidade e, portanto, a saúde ou a doença do perispírito e do corpo material.

De acordo com o princípio da repercussão, as células corporais respondem automaticamente às induções hipnóticas espontâneas que lhes são desfechadas pela mente, revigorando-se com elas ou sofrendo-lhes a agressão. Raios mentais desagregadores, de culpabilidade ou remorso, formam zonas mórbidas no cosmo orgânico, impondo distonia às células, que adoecem, provocando a eclosão de males que podem ir desde a toxiquemia até o câncer.

Tanto ou mais do que os prejuízos causados pelos excessos e acidentes físicos, muitas vezes de caráter transitório, as ondas mentais tumultuárias, se insistentemente repetidas, podem provocar lesões de longo curso, a repercutirem, no tempo, até por várias reencarnações recuperadoras.

Além disso, na recapitulação natural e iderrogável das experiências do Espírito, quando se trata de ônus cármicos em aberto, eclodem, com freqüência, em determinadas faixas de idade, e em certas circunstâncias engendradas pelos mecanismos da expiação, forças desarmônicas que afligem a mente, desfiando-lhe a capacidade de autocontrole e auto-superação, sob pena de engolfar-se ela em caos de intensidade e duração imprevisíveis.

Não podemos, tão pouco, esquecer os problemas de sintonia, decorrentes da lei universal das afinidades, que obriga os semelhantes a conviverem uns com os outros e a se influenciarem mutuamente. Como a onda mental opera em regime de circuito, incorpora inelutavelmente todos os princípios ativos que absorve, seja de que natureza forem. Assim, tanto acontecem, entre as almas, maravilhosas fecundações de ideais e sentimentos nobres, como terríveis contágios mentais, algumas vezes até de natureza epidêmica, responsáveis por graves manifestações da patologia mento-física.

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Tudo depende, por conseguinte, do modo como cada Espírito se conduz, no uso do fluido magnético que maneja. Com ele, pode-se ferir e prejudicar os outros, criar distúrbios e zonas de necrose, soezes encantamentos e fascinações escravizantes. Mas pode também manipular medicações balsâmicas, produzir prodígios de amor fecundo e estabelecer, através da prece e do trabalho benemerente, uma sublime ligação com o Céu.

O Perispírito nas Manifestações Mediúnicas em Geral É por meio do perispírito que os Espíritos agem sobre a matéria inerte e

produzem os diferentes fenômenos das manifestações. Não lhes é obstáculo a sua natureza etérea, porque se sabe que os mais poderosos motores são os fluidos mais rarefeitos e os imponderáveis. Não há, pois que admirar ao vermos Espíritos, com o auxílio dessa alavanca, produzirem certos efeitos físicos, como sejam pancadas e ruídos de toda espécie, elevação de objetos pesados, transporte ou projeção deles no espaço. Para explicar esses fenômenos, não é preciso recorrer ao maravilhoso nem aos efeitos supernaturais.

Os Espíritos, agindo sobre a matéria, podem manifestar-se de muitos modos diferentes: por efeitos físicos, como a deslocação de objetos e rumores; por transmissão de pensamentos, pela vista, ouvido, tato, escrita, desenho, música, etc; em relações com os homens.

As manifestações dos Espíritos podem ser espontâneas ou provocadas. As primeiras dão-se inopinadamente, de súbito, e produzem-se muitas vezes

em pessoas alheias a idéias espíritas. Em certos casos e, sob o império de determinadas circunstâncias, as manifestações podem ser provocadas pela vontade, sob a influência de pessoas, para aquele fim dotadas de faculdades especiais.

As manifestações espontâneas dão-se em todas as épocas e em todos os países; o meio de provocá-las foi conhecido na antiguidade, mas era privilégio de algumas castas, que o não revelavam senão a raros iniciados, debaixo de condições vigorosas, ocultando-o ao vulgo, a fim de dominá-lo pelo prestígio de um poder oculto. Ele, porém, perpetuou-se através das idades, até aos nossos dias, em alguns indivíduos, embora desvirtuado pela superstição ou de mistura com práticas ridículas de magia, que contribuem para desacreditá-lo. Eram germens lançados cá e acolá.

A providência tinha reservado à nossa época o conhecimento completo e a vulgarização desses fenômenos a fim de separar-lhes a liga impura e fazê-los concorrer para o aperfeiçoamento da humanidade, apta para compreendê-los e para tirar-lhes as conseqüências.

Manifestações Visuais Por sua natureza, e no estado normal, o perispírito é invisível e por este lado se

confunde com uma multidão de fluidos, que sabemos existir, conquanto não possamos vê-los; entretanto pode, como certos fluidos sofrer modificações que o tornem perceptível à vista quer seja por uma espécie de condensação, quer por uma alteração na composição molecular. Pode até adquirir as propriedades de um corpo sólido e tangível, sem deixar a propriedade de voltar instantaneamente ao seu primitivo estado etéreo e invisível. É comparável esse fenômeno ao do vapor, que passa de invisível, tornando-se líquido ou sólido, e vice-versa.

Esses diferentes estados do perispírito são dependentes da vontade do espírito e não de causa física exterior, como acontece com o vapor. Quando um espírito se mostra, é porque colocou o perispírito no estado necessário para tornar-se visível.

A vontade só nem sempre basta, e é preciso, para que o perispírito passe por aquela modificação, um concurso de circunstâncias independentes dele; é mister, além disso, que o espírito tenha permissão de se tornar visível, o que nem sempre lhe é concedido, ou não o é senão em especiais circunstâncias, por motivos que não podemos apreciar.

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Outra propriedade do perispírito, que procede da sua natureza etérea, é a penetrabilidade; a matéria não lhe opõe obstáculo e ele a atravessa, como a luz atravessa os corpos transparentes. É por isso que não há fechaduras para os espíritos, que visitam os prisioneiros reclusos em um cárcere, com a mesma facilidade com que se aproximam de quem está no campo a céu aberto.

As manifestações visuais mais comuns dão-se durante o sono, em sonhos; são as visões. As aparições propriamente ditas dão-se no estado de vigília, quando se está no pleno uso da liberdade e das faculdades. Realizam-se geralmente sobre a forma vaporosa e diáfana, na maior parte das vezes vaga e indecisa, não passando de uma nuvem esbranquiçada, cujos contornos se desenham lentamente. Noutros casos, as formas são bem acentuadas, distinguindo-se os mínimos traços do rosto, de modo a se poder fazer, com a maior precisão, uma perfeita discrição. Os gestos e o aspecto são semelhantes ao do espírito, quando encarnado.

Podendo tomar todas as aparências, o espírito apresenta-se sob a que melhor pode torná-lo conhecido se este for o seu desejo; e tanto que, apesar do espírito não conservar as enfermidades corpóreas, apresenta-se aleijado, coxo, ferido, com cicatrizes, se tanto for necessário para provar a sua identidade. O mesmo quanto ao traje; o daqueles, que já nada conservam das misérias da Terra, compõe-se, ordinariamente de uma túnica de longas pregas flutuantes e cabeleira ondulante e graciosa.

Muitas vezes os espíritos se apresentam com os predicados característicos da sua elevação, como auréola e asas, que nos fazem considerá-los como anjos de aspecto luminoso e resplandecente; ao passo que outros se apresentam com os característicos das suas ocupações terrestres: assim o guerreiro poderá aparecer com a sua armadura, o sábio com os seus livros, o assassino com um punhal, etc.

Os espíritos superiores apresentam figura bela, nobre e serena; os mais inferiores alguma coisa de feroz e bestial, e algumas vezes ainda apresentam os sinais dos crimes que cometeram e dos castigos que sofreram. Para eles é castigo o acreditar que aquela aparência é realidade, isto é, que são o que mostram.

O espírito que quer ou pode aparecer, reveste algumas vezes forma ainda mais clara; toma as aparências de um corpo sólido, a ponto de produzir perfeita ilusão, fazendo crer que é um ser corpóreo.

Em alguns casos e em dada circunstância, a tangibilidade pode tornar-se real, isto é: podemos tocar-lhes, apalpar-lhes, sentir a mesma resistência e o mesmo calor, como se fosse um corpo vivo, o que não o priva de desfazer-se com a rapidez do relâmpago. Pode, pois acontecer estarmos em presença de um espírito, conversarmos com ele e ficarmos na ilusão de que estamos tratando com um homem.

Qualquer que seja a forma, com que se apresenta um espírito, ainda mesmo a tangível, ele pode por momentos tornar-se visível somente a algumas pessoas.

Em um grupo de homens, pode mostrar-se a muitos ou simplesmente a um; e entre duas pessoas, uma pode vê-lo e tocar-lhe, sem que a outra o veja ou lhe perceba a presença.

O fenômeno da aparição, a um só dentre muitos que se acham juntos, explica-se pela necessidade, para a sua produção, da combinação do fluido perispiritual do espírito com o da pessoa. É preciso, para isso, que haja certa afinidade entre os dois para favorecimento da combinação fluídica.

Se o espírito não encontra aptidão orgânica necessária, o fenômeno da aparição não pode produzir-se; se houver aptidão, é livre de aproveitá-la ou não; donde resulta, se estão juntas duas pessoas dotadas de afinidade, o espírito pode operar a combinação fluídica comum a uma delas somente, a quem deseja mostrar-se, não o fazendo com a outra, que, portanto não o verá. É como se fosse um indivíduo, achando-se diante de dois, que tenha os olhos vendados, só levantasse a venda de um; mas aquém fosse cego, seria inútil tirar-se-lhe a venda, porque nem por isso lhe seria dado à faculdade de ver.

As aparições tangíveis são raríssimas; as vaporosas, porém, são freqüentes, principalmente no momento da morte.

O espírito, logo que deixa o corpo, tem pressa de voar para junto dos parentes e amigos, para dar-lhes ciência de que já deixou a terra e de que continua a viver não obstante. Recorram todos à memória e reconhecerão inúmeros fatos autênticos desse

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gênero, que se têm verificado sem que se pudessem explicar, não somente à noite como também de dia claro, em pleno estado de vigília.

Transfiguração, Invisibilidade O perispírito do homem tem as mesmas propriedades que a do espírito. Como já

dissemos, não fica encerrado no corpo; irradia-se e forma em torno dele uma atmosfera fluídica. Ora, pode acontecer em outros casos e em circunstâncias especiais que lhe sofresse uma transformação análoga a que foi descrita. Nesse caso, a forma material do corpo pode apagar-se sob aquela camada fluídica, se assim nos é permitido dizer, e revestir momentaneamente uma aparência muito diferente da real, a de uma outra pessoa, ou a do espírito, que combina os seus fluidos com o do indivíduo, ou mesmo dar a uma fisionomia feia um belo e radiante aspecto. Tal é o fenômeno designado pelo nome de transfiguração, fenômeno assaz freqüente que se produz principalmente quando determinadas circunstâncias provocam uma expansão mais abundante de fluido.

A transfiguração pode processar-se em condições diversas, segundo o grau de pureza do perispírito, sempre correspondente ao da elevação moral do espírito. Ela pode não passar de uma ligeira modificação da fisionomia, ou chegar ao ponto de dar ao perispírito uma aparência luminosa e esplendorosa.

A forma material pode, por conseguinte, desaparecer sob o fluido perispiritual, sem que precise mudar de aspecto, podendo simplesmente envolver o corpo, inerte ou vivo, e torná-lo visível a um ou a muitos, como se fosse uma camada de vapor.

A ignorância das propriedades do fluido perispiritual é o que pode fazer parecerem extraordinários os fenômenos. Aquele fluido é para nós um corpo novo com propriedades também novas, que se não pode estudar pelos processos ordinários da ciência; nem por isso deixam de ser propriedades naturais, não tendo de maravilhoso senão a novidade.

Emancipação da Alma Durante o sono, só o corpo repousa; o espírito não dorme e até se vale do

repouso do corpo, e dos momentos em que a sua presença é desnecessária para agir separadamente e ir aonde quiser, no gozo de sua liberdade e na plenitude de suas faculdades. Entretanto, e durante toda a vida, nunca se separa completamente do corpo, e, embora ele se distancie, fica sempre preso por um laço fluídico, que o adverte quando a sua presença é necessária, laço que só se rompe com a morte.

O sono liberta, em parte, a alma do corpo. Quando se dorme, entra-se por momentos no estado que é permanente depois da morte. Os espíritos que, por ocasião da morte, se libertam logo da matéria, tiveram durante a vida sonos inteligentes; quando dormem, vão procurar a companhia de outros seres que lhe são superiores, com os quais viajam, conversam e se instruem; trabalham mesmo em obras, que ao morrer já encontram terminadas. Isso deve ensinar-vos uma vez mais que não deveis temer a morte, pois que vós morreis diariamente.

Isto pelo que respeita aos espíritos elevados, pois a grande maioria dos espíritos encarnados, aqueles que, na ocasião da morte, ficam longas horas na perturbação e na incerteza, de que eles próprios vos falam às vezes, esses vão durante o sono, aos mundos inferiores da terra, onde os chamam antigas afeições, ou em busca de prazeres ainda mais baixos do que aqueles que encontram por aqui; vão haurir doutrinas ainda mais vis, mais ignóbeis, mais nocivas do que aquelas que professam entre vós.

A origem da simpatia entre os habitantes da Terra está justamente no fato de, ao despertarem, sentirem-se presos pelo coração àqueles com quem acabam de passar oito ou nove horas de felicidade ou prazer. O que explica também essas simpatias invencíveis entre eles é o saber intimamente que as pessoas, por quem assentem, possuem consciência diversa da sua, e as conhecem mesmo sem nunca as terem visto com os olhos do corpo. É ainda o que explica a indiferença de outros, que não buscam

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fazer novos amigos por saberem que existem criaturas de quem possuem o amor e a dedicação. Em resumo, o sono tem sobre a vida uma influência maior do que supondes.

O sono faculta aos espíritos encarnados o meio de estarem sempre em comunicação com o mundo espiritual e é o que leva os espíritos superiores a consentir sem grande recurso a se encarnarem entre vós. Deus quis que, durante o seu contato com o vício, pudessem ir retemperar-se na fonte do bem, a fim de que aqueles que vêm instruir os outros, não sucumbam também. O sono é a porta que Deus lhes abriu para se comunicarem com os amigos do céu, é o recreio depois do trabalho enquanto esperam a grande libertação final, que deve restituí-los ao seu verdadeiro ambiente.

O sonho é a recordação do que o vosso espírito viu durante o sono, mas notai que nem sempre vos lembrais do que viste, ou de quanto vistes, essa recordação não está na vossa alma em todo o seu desenvolvimento; muitas vezes é apenas a lembrança da perturbação que experimenta à partida e à volta, à qual se junta a lembrança do que haveis feito ou do que vos preocupa no estado de vigília; a não ser assim, como explicaria os sonhos absurdos que todos têm, tanto os homens mais sábios, como os mais simples? Os maus espíritos servem-se também dos sonhos para atormentarem as almas fracas e pusilânimes.

A incoerência de certos sonhos explica-se pela recordação imperfeita e incompleta dos fatos e cenas, que foram presentes em sonho, da mesma forma que seria incoerente uma narração que se trocassem frases visto não darem os fragmentos uma significação racional.

O desprendimento e a emancipação da alma manifestam-se, sobretudo de maneira evidente, no fenômeno do sonambulismo natural e magnético, na catalepsia e na letargia.

A lucidez sonambúlica não é senão a faculdade que a alma possui de ver e sentir sem o auxílio dos órgãos materiais. Essa faculdade é um dos seus atributos, existe em todo o seu ser e os órgãos do corpo são estreitos canais, por onde lhe advém certas impressões. A vista à distância que possuem esses sonâmbulos, provém do desprendimento da alma, que vê o que se passa nos lugares para onde se transporta.

Em suas peregrinações, ela nunca se despe do perispírito, agente das suas sensações, o qual, como o dissemos, não se desprende inteiramente do corpo. O desprendimento da alma produz a inércia do corpo, que, às vezes, parece privado da vida.

O desprendimento pode produzir-se no estado de vigília e em diversos graus, não dispondo o corpo, de maneira completa, da sua atividade normal; há sempre uma absorvência, um desapego mais ou menos completo das coisas terrestres. Ele não dorme; anda, age; mas os olhos ficam sem ver os objetos. Percebe-se bem que a alma não está aí.

Como no sonambulismo, ela vê as coisas distantes, tem percepções e sensações, que nos são desconhecidas e, às vezes, tem a presciência de futuros acontecimentos pelas relações que os prendem às coisas presentes. Penetrando no mundo invisível, vê os espíritos, entretêm-se com eles, e pode transmitir-nos os seus pensamentos. O esquecimento, quando volta ao estado normal, é quase constante; mas às vezes tem uma lembrança mais ou menos vaga, como no sonho.

O desprendimento da alma amortece; às vezes, as sensações físicas até produzir uma verdadeira insensibilidade, podendo então suportar, com indiferença, as mais vivas dores. Essa insensibilidade provém do desprendimento do perispírito, agente transmissor das sensações corpóreas. O espírito ausente não sente os ferimentos do corpo.

A faculdade emancipadora da alma, em a sua mais simples manifestação, produz o que se chama o sonho acordado. Dá também a certas pessoas a presciência, que constitui os pressentimentos. Em mais elevado grau, produz o fenômeno da chamada segunda vista, dupla vista, ou sonambulismo em estado de vigília.

O fenômeno denominado pelo nome de dupla vista dá aos que o possuem a faculdade de ver, ouvir e sentir além dos limites dos nossos sentidos. Eles percebem as coisas ausentes, por toda parte, até onde a alma possa estender a sua ação; vêem, por assim dizer através da vista ordinária, por uma espécie de miragem.

No momento em que se produz o fenômeno da dupla vista o estado físico é sensivelmente modificado: os olhos têm qualquer coisa de vago, olhando sem ver, e toda

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a fisionomia reflete uma espécie de exaltação. Constata-se que os olhos da visão são alheios ao fenômeno, ao verificar-se que a visão persiste, mesmo com os olhos fechados.

Esta faculdade se afigura, aos que a possuem, tão natural quanto a de ver: consideram-na um atributo normal, que não lhes parece constituir exceção. O esquecimento se segue, em geral, a essa lucidez passageira, cuja lembrança se torna cada vez mais vaga, e acaba por desaparecer, como a de um sonho.

O poder da dupla vista vai desde a sensação confusa até a percepção clara e nítida das coisas presentes ou ausentes. No estado rudimentar ela dá a algumas pessoas o tato, a perspicácia, uma espécie de segurança nos seus atos a que se pode chamar a justeza do golpe de vista moral. Mais desenvolvida, desperta os pressentimentos, e ainda mais desenvolvida mostra acontecimentos já realizados ou em vias de realização.

OBS: o sonambulismo natural e artificial, o êxtase e a dupla vista não são mais do que variedades ou modificações de uma mesma causa. Esses fenômenos, da mesma maneira que os sonhos, pertencem à ordem natural. Eis porque existiram desde todos os tempos: a história nos mostra que eles foram conhecidos, e até mesmo explorados, desde a mais alta antiguidade, e nele se encontra a explicação de uma infinidade de fatos que os preconceitos fizeram passar como sobrenaturais.

Êxtase É a emancipação da alma no grau máximo. No sonho e no sonambulismo a alma

erra pelos mundos terrestres; no êxtase, penetra num mundo desconhecido, no mundo dos espíritos etéreos, com os quais entra em comunicação, sem, todavia, poder ultrapassar certos limites, que ela não poderia transpor sem quebrar totalmente os laços que a prendem ao corpo. Cercam-na um brilho resplandecente e desusado fulgor, elevam-na harmonias que na Terra se desconhecem, invade-a indefinido bem estar; dado lhe é gozar antecipadamente da beatitude celeste e bem se pode dizer que põe um pé no limiar da eternidade. No êxtase, é quase completo o aniquilamento do corpo; já não resta, por assim dizer, senão a vida orgânica e percebe-se que a alma ali está presa apenas por um fio, que mais um pequeno esforço faria partir-se. Nesse estado, todos os pensamentos terrestres desaparecem para dar lugar ao sentimento puro que é a própria essência do nosso ser imaterial. Todo entregue a essa contemplação sublime o extático encara a vida como uma parada momentânea, para ele, o bem e o mal, as alegrias grosseiras e as misérias deste mundo não são mais que fúteis incidentes de uma viagem da qual se sente feliz ao ver o termo.

Como em nenhum dos outros graus de emancipação da alma, o êxtase não é isento de erros, pelo que as revelações dos estáticos longe estão de exprimir sempre a verdade absoluta. A razão disso reside na imperfeição do espírito humano; somente quando ele tiver chegado ao cume da escala pode julgar das coisas lucidamente; antes não lhe é dado ver tudo, nem tudo compreender. Se, após o fenômeno da morte, quando o desprendimento é completo, ele nem sempre vê com justeza; se muitos há se conservam imbuídos dos prejuízos da vida, que não compreendem as coisas do mundo visível, onde se encontram, com mais forte razão o mesmo se sucederá com o espírito ainda retido na carne.

Há por vezes, nos extáticos, mais exaltação que verdadeira lucidez, ou, melhor, a exaltação lhes prejudica a lucidez, razão porque suas revelações são com freqüência uma mistura de verdades e erros, de coisas sublimes e outras ridículas. Também espíritos inferiores se aproveitam dessa exaltação, que é sempre uma causa de fraqueza quando não há quem saiba governá-la, para dominar o extático, e, para conseguirem seus fins, assumem aos olhos deste aparência que os aferram a suas idéias e preconceitos, de modo que suas visões e revelações não vêm a ser mais do que reflexos de suas crenças. É um escolho a que só escapam os espíritos de ordem elevada, escolho diante do qual o observador deve manter-se em guarda.

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Bicorporeidade A faculdade emancipadora da alma e seu desprendimento durante a vida,

podem dar ensejos a fenômenos análogos aos que apresentam os espíritos desencarnados. Enquanto o corpo dorme, o espírito aparece fora dele, sob a forma vaporosa, quer em sonho, quer em vigília; pode o mesmo apresentar-se sob a forma tangível, ou com a perfeita aparência, que muita gente afirma verdadeiramente tê-lo visto ao mesmo tempo em dois pontos diversos. Assim é realmente; mas num daqueles pontos só está o corpo e no outro, o espírito somente. Foi esse fenômeno raríssimo que ensejou ocasião a crença nos homens duplos e a que se tem dado o nome de bicorporeidade. Por mais extraordinário que seja, não deixa de pertencer, como tudo, a ordem dos fenômenos naturais, pois que deriva das propriedades do perispírito e de uma lei natural.

Os Médiuns Médium é a pessoa que sente a influência dos espíritos e lhe transmite os

pensamentos. Quem quer que sinta aquela influência em qualquer grau é, por isso mesmo, médium.

Essa faculdade é inerente ao homem, e, por conseguinte não constitui privilégio exclusivo; também poucos são os que não a possuem, ainda que seja em rudimento.

Pode, pois dizer-se que todos os homens são pouco mais ou menos médiuns; essa qualificação, porém, não se aplica usualmente senão àqueles, em que a faculdade mediúnica se manifesta por efeitos ostensivos de certa intensidade.

O agente de todos os fenômenos espíritas é o fluido perispiritual, e aqueles fenômenos não podem operar-se senão pela ação recíproca dos fluidos do médium e do espírito. O desenvolvimento da faculdade mediúnica depende da natureza mais ou menos expansível do perispírito do médium e da assimilação deste mais ou menos fácil com o dos espíritos. Depende, portanto, da organização do indivíduo a faculdade, que pode ser desenvolvida quando existe o princípio, mas não pode ser adquirida quando o princípio não existe.

A predisposição mediúnica não depende de sexos, idades, ou temperamentos; encontram-se médiuns em todas as categorias de indivíduos, desde a mais tenra idade até a mais avançada.

As relações entre médiuns e espíritos estabelecem-se por meio dos seus perispíritos. A facilidade dessas relações depende do grau de afinidade existente entre os dois fluidos. Há uns que facilmente se assimilam e outros que se repelem; daí se conclui que nem todo médium pode se comunicar com todo espírito. Há médiuns que não se comunicam senão com certos espíritos, ou com certas categorias de espíritos ao passo que há outros que não o fazem senão por transmissão do pensamento, sem quaisquer manifestações exteriores.

Pela assimilação dos fluidos perispirituais, o espírito se identifica, por assim dizer, com a pessoa sobre a qual quer influir e não somente lhe transmite os pensamentos, como pode exercer sobre ela uma ação física: fazê-la proceder e falar como lhe aprouver, fazê-la dizer o que lhe parecer, servir-se, em uma palavra, dos órgãos dela como se próprios fossem; enfim, pode paralisar-lhe a ação espiritual e dominar-lhe o livre arbítrio. Os bons espíritos servem-se dessa influência para o bem e os maus para o mal.

Os espíritos podem manifestar-se de maneiras infinitamente diversas, mas não o fazem senão com a condição de terem uma pessoa apta para receber e transmitir esse ou aquele gênero de impressões, segundo a aptidão. Como não há uma pessoa que possua todas as aptidões no mesmo grau, segue-se que umas recebem impressões impossíveis para outras. Desta diversidade de condições individuais, procede a variedade de médiuns.

Nem sempre a vontade do médium é necessária. O espírito que deseja manifestar-se procura um indivíduo apto para receber-lhe as impressões e serve-se dele muita vez sem que esse o perceba. Outras pessoas, ao contrário, conscientes de sua

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faculdade, podem provocar manifestações. Daí duas categorias de médiuns: os inconscientes e os facultativos. Os primeiros agem por iniciativa dos espíritos; os segundos por iniciativa própria.

Os médiuns facultativos são sempre pessoas que conhecem mais ou menos os meios de comunicações com os espíritos, e por isso podem ter vontade de exercer a sua faculdade; os inconscientes, pelo contrário, existem no meio ignorante do Espiritismo e da ação dos espíritos, mesmo entre incrédulos, servindo de instrumento sem o saberem e sem quererem. Todos os gêneros de fenômenos espíritas podem produzir-se por eles, como há exemplo em todos os tempos e em todos os povos. A ignorância e a incredulidade tem-lhes atribuído um poder sobrenatural e segundo os tempos e lugares, têm eles sido considerados santos ou feiticeiros, loucos ou visionários. O Espiritismo descobre neles a simples manifestação de uma faculdade natural.

Das diversas categorias de médiuns distingue-se principalmente: os médiuns de efeitos físicos, os sensitivos ou impressionáveis, os auditivos, os falantes, videntes, intuitivos, sonâmbulos, curadores, escreventes ou psicógrafos, etc.

Bibliografia: Obras Póstumas – Allan Kardec A Gênese – Allan Kardec O Livro dos Espíritos – Allan Kardec Psiquismo e Cromoterapia – Edgard Armond Depois da Morte – Léon Denis Universo e Vida – Hernani T. Sant’Anna (pelo espírito Áureo)

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 08

Centros de Força

Conceito São acumuladores e distribuidores de força espiritual, situados no perispírito,

pelos quais transitam os fluidos energéticos de uns para outros dos envoltórios exteriores do espírito encarnado. No homem comum o centro de força se apresenta como um círculo de mais ou menos cinco centímetros de diâmetro, quase sem brilho; porém no homem espiritual é quase sempre um vórtice luminoso.

Quanto mais ativo ou desenvolvido for o centro de força, maior capacidade de energia ele comporta e, portanto, maiores possibilidades oferece em relação ao emprego dessa mesma energia.

Essa energia é transferida pelos centros de força aos chacras, que estão situados no duplo etérico, e deles são transferidos ao corpo físico através dos plexos, que são conjuntos e aglomerados de nervos e gânglios do sistema vago-simpático que regula a vida vegetativa do corpo humano.

Chacras São os responsáveis pela irrigação de vitalidade ao captarem o prana,

combustível essencial da vida. Sem eles o espírito não poderia exercer o seu controle, a sua atividade sobre o corpo físico, nem tomar conhecimento das sensações vividas pelo mesmo, pois eles transferem à região anatômica correspondente, cada decisão assumida pelo espírito no seu mundo oculto. Os chacras são invisíveis ao olho humano por estarem localizados no duplo etérico.

OBS: O chacra coronário supervisiona os outros chacras que lhe obedecem ao impulso, procedente do Espírito, assim como as peças secundárias de uma usina respondem ao comando da peça motor de que se serve o tirocínio do homem para concatená-las e dirigi-las.

Desses chacras secundários, entrelaçados no psicossoma, e, conseqüentemente, no corpo físico, por redes plexiformes, destacamos o chacra frontal contíguo ao coronário, com influência decisiva sobre os demais, governando o córtice encefálico, na sustentação dos sentidos, marcando a atividade das glândulas endócrinas e administrando o sistema nervoso, em toda a sua organização, coordenação, atividade e mecanismo, desde os neurônios sensitivos até as células efetoras.

Formas de Energia Existem energias de diversos aspectos que circulam, no cosmo, alimentando a

vida de todos os seres, os quais têm várias origens: a Terra, o Sol, o espaço infinito, os

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seres espirituais, etc. Todas elas têm características, vibrações, ondulações e cores diferentes.

Do Sol: são sete e correspondem às cores do espectro solar, que o arco-íris

reflete nas suas deslumbrantes e poéticas apresentações. Da Terra: são primárias, violentas. Vêm do centro do globo e são chamadas de

força primária. Do Espaço Infinito: são inúmeras, dentre elas o prana ou fluido universal, a

eletricidade, os raios cósmicos em geral, o magnetismo, etc. Energias estas que o homem absorve pela alimentação, respiração e pelos centros de força.

OBS: Na alimentação, destacam-se os vegetais, nos quais, além dos sais minerais e das energias solares fixados pela fotossíntese nos carboidratos, existem as vitaminas, que a ciência já conseguiu descobrir e classificar em grande número. Todas essas formas de energia fluem através dos corpos vivos alimentando suas atividades individuais.

Portanto, resumindo, verificamos que o homem encarnado se nutre:

1. de alimentos sólidos e líquidos, que absorve pelo aparelho digestivo; 2. de ar atmosférico, que absorve pelo aparelho respiratório e pela pele; 3. de energias espirituais, fluidos e raios cósmicos, que absorve pelos centros de força. Chacra Básico Localizado no final da espinha dorsal, possui força vitalizadora poderosa. Na sua

manifestação é um dos principais modeladores das formas e dos estímulos da vida orgânica. Quando muito desenvolvido, mas de insuficiente controle, pode levar o homem à loucura, porque sua ação muito forte acicata o desejo sexual, semeando a insatisfação aberrativa. Esse desequilíbrio leva a sérias obsessões e possessões sexuais. Em função normal ele reativa os demais chacras através do fluxo energético que se distribui a altura do plexo sacro. Torna o homem lúcido e dinâmico.

Chacra Umbilical Situado mais ou menos na altura do umbigo, pelo lado direito, absorve

elementos que vitalizam o sistema digestivo, além de controlar o sistema vago simpático. Quando o chacra umbilical é muito desenvolvido, o homem aumenta sua

percepção das sensações alheias, pois adquire uma espécie de tato instintivo ou sensibilidade astral incomum, que o faz aperceber-se das emanações hostis, existentes no ambiente onde atua e também das vibrações afetivas que pairam no ar. Responsável pelas emoções. É nele que refletem as ligações dos espíritos sofredores e obsessores nas reuniões mediúnicas.

Chacra Esplênico Situado na altura do baço, é um dos responsáveis pela vitalização do corpo

físico, pois absorve o prana e o distribui pelo organismo. Funciona ainda como auxiliar do metabolismo da purificação sangüínea, atraindo e incorporando as energias do meio ambiente, como a eletricidade, o magnetismo, os raios cósmicos, as emanações telúricas e as energias projetadas no sol, os quais desintegra e distribui, na forma de átomos saturados de prana, anexando-as às diversas partes do corpo físico, conforme as funções

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vitais de cada órgão ou sistema orgânico, que após circularem se eliminam na pele refletindo-se na aura.

O homem cujo chacra esplênico funciona em plena atividade é alguém cheio de saúde, quanto mais intensa a absorção de energia, mais poderoso o magnetismo individual aplicado à cura.

OBS: As entidades obsessoras, conhecedoras da função do esplênico colocam-se às costas do encarnado para sugarem esta vitalidade. É o processo chamado vampirismo.

Chacra Cardíaco Localizado na altura do coração, governa o sistema circulatório e é o

responsável pelo equilíbrio vital e fisiológico do coração. Comanda os sentidos íntimos das pessoas.

O chacra cardíaco, quando bem desenvolvido, confere ao seu portador o dom de sentir os fatos do mundo astral, isto é, o dom do pressentimento, em que sentimos instintivamente os acontecimentos futuros. É o chacra onde, preferencialmente, atuam os mentores, nos trabalhos de passes e curas.

Chacra Umeral Localizado nas costas, sobre o pulmão é ainda quase desconhecido nas

atividades espíritas. É o chacra do equilíbrio mediúnico, é através dele que recebemos, em primeiro lugar, todos os contatos espirituais referentes a nossa mediunidade. Ressalta-se em importância, justamente por ser através do umeral que nos chegam todas as vibrações espirituais mediúnicas, tanto positivas quanto negativas.

Chacra Laríngeo Localizado na garganta, à altura da tireóide, é o responsável pela emissão da

voz e pelo controle de certas glândulas endócrinas do corpo. É um dos chacras que também influi muitíssimo nos demais centros de força e nos plexos nervosos do organismo humano, isto porque o ato de materialização das idéias, através da fonação, é um fenômeno que concentra todas as forças etéreo-magnéticas do perispírito, atuando em vigorosa sintonia com os demais centros etéricos reguladores das funções orgânicas. Em ligações com este chacra os espíritos podem transmitir mensagens psicofônicas, influir também na audição mediúnica.

Chacra Frontal Localiza-se entre as sobrancelhas, um pouco mais acima e governa o intelecto,

com comando sobre os sentidos. É o chacra responsável pela vidência, audiência e intuição, com predominante participação nos trabalhos de radiação.

Chacra Coronário Situado no alto da cabeça é o responsável pela ligação com os espíritos de

maior evolução. É o centro de força mais importante do ser humano, de maior potencial e radiação, constituindo-se grande parte em elo de união entre a mente perispiritual e o cérebro físico. É o centro responsável pela sede da consciência do espírito, é também o mais brilhante de todos os chacras situados no duplo etérico. A mediunidade intuitiva tem o seu grande desenvolvimento neste chacra.

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Nota: Cada chacra tem um ou mais plexos responsáveis pela parte nervosa do corpo carnal e corresponde perfeitamente, na parte física, ao centro de força que está localizado no perispírito.

Importante:

Na anatomia do corpo humano são as seguintes áreas de ação de cada chacra: Chacra Básico: sistema nervoso. Coluna vertebral e medula, aparelho

reprodutor e aparelho renal. Chacra Umbilical: fígado, intestinos, rins, vesícula biliar, pâncreas, bexiga e

estômago (todos os órgãos do abdômen, com exceção do baço). Chacra Esplênico: baço, medulas vermelhas, corrente sangüínea. Chacra Cardíaco: coração. Chacra Laríngeo: vias respiratórias, garganta, nariz, traquéia e pulmões. Chacra Frontal: olhos e ouvidos. Chacra Coronário: cérebro. Chacra Umeral: receptor de energias espirituais relacionadas com os vários

tipos de mediunidade. Glândula Pineal É um ponto sensível da intervenção espiritual na vida anímica do homem

encarnado, sobretudo no desenvolvimento de suas faculdades psíquicas. A glândula pineal possui uma aura, uma concreção dourada em torno, que

apresenta os sete matizes das cores básicas. Essa aura não existe na criança antes dos sete anos normalmente, nem nas pessoas bastante idosas e nos idiotas, o que prova que essa glândula está ligada à vida mental dos homens. É o órgão principal da espiritualidade e da consciência das coisas, tanto externas como internas.

É a glândula da vida mental. Ela acorda no organismo do homem, na puberdade, as forças criadoras e, em seguida, continua a funcionar, como o mais avançado laboratório de elementos psíquicos da criatura terrestre. O neurologista comum não a conhece bem. O psiquiatra devassar-lhe-á, mais tarde, os segredos. Os psicólogos vulgares ignoram-na. Freud interpretou-lhe o desvio, quando exagerou a influenciação da libido, no estudo da indisciplina congênita da humanidade. Enquanto no período do desenvolvimento infantil, fase de reajustamento desse centro importante do corpo perispiritual preexistente, a epífise parece constituir o freio às manifestações do sexo. Aos quatorze anos, aproximadamente, de posição estacionária, quanto às suas atribuições essenciais, recomeça a funcionar no homem reencarnado. O que representava controle é fonte criadora e válvula de escapamento. A glândula pineal reajusta-se ao concerto orgânico e reabre seus mundos maravilhosos de sensações e impressões na esfera emocional. Entrega-se a criatura à recapitulação da sexualidade, examina o inventário de suas paixões vividas noutra época, que reaparecem sob fortes impulsos.

Ela preside aos fenômenos nervosos da emotividade, como órgão de elevada expressão no corpo etéreo. Desata, de certo modo, os laços divinos da Natureza, os quais ligam as existências umas às outras, na seqüência de lutas, pelo aprimoramento da alma, e deixa entrever a grandeza das faculdades criadoras de que a criatura se acha investida.

A glândula pineal conserva ascendência em todo o sistema endócrino. Ligada à mente, através de princípios eletromagnéticos do campo vital, que a ciência comum ainda não pode identificar, comandas as forças subconscientes sob a determinação direta da vontade. As redes nervosas constituem-lhe os fios telegráficos para ordens imediatas a todos os departamentos celulares, e sob sua direção efetuam-se os suprimentos de energias psíquicas a todos os armazéns autônomos dos órgãos. Manancial criador dos mais importantes, suas atribuições são extensas e fundamentais. Na qualidade de

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controladora do mundo emotivo, sua posição na experiência sexual é básica e absoluta. De modo geral, todos nós, agora ou no pretérito, viciamos esse foco sagrado de forças criadoras, transformando-o num imã relaxado, entre as sensações inferiores de natureza animal. Quantas existências temos despendido na canalização de nossas possibilidades espirituais para os campos mais baixos do prazer materialista? Lamentavelmente divorciados da lei do uso, abraçamos os desregramentos emocionais, e daí, a nossa multimilenária viciação das energias geradoras, carregados de compromissos morais, com todos aqueles a quem ferimos com os nossos desvarios e irreflexões. Do lastimável menosprezo a esse potencial sagrado, decorrem os dolorosos fenômenos da hereditariedade fisiológica, que deveria constituir, invariavelmente, um quadro de aquisições abençoadas e puras. A perversão do nosso plano mental consciente, em qualquer sentido na evolução, determina a perversão de nosso psiquismo inconsciente, encarregado da execução dos desejos e ordenações mais íntimas, na esfera das operações automáticas. A vontade desequilibrada desregula o foco de nossas possibilidades criadoras. Daí procede a necessidade de regras morais para quem, de fato, se interesse pelas aquisições eternas no domínio do Espírito. Renúncia, abnegação, continência sexual e disciplina emotiva não representam meros preceitos de feição religiosa. São providências de teor científico, para enriquecimento efetivo da personalidade. Nunca fugiremos à lei, cujos artigos e parágrafos do Supremo Legislador abrangem o Universo. Ninguém enganará a Natureza. Centros vitais desequilibrados obrigarão a alma à permanência nas situações de desequilíbrio. Não adianta alcançar a morte física, exibindo gestos e palavras convencionais, se o homem não cogitou do burilamento próprio. A Justiça que rege a Vida Eterna jamais se inclinou. É certo que os sentimentos profundos do extremo instante do Espírito encarnado cooperam decisivamente nas atividades de regeneração além do túmulo, mas não representam a realização precisa.

Segregando unidades-força, a epífise, pode ser comparada a poderosa usina, que deve ser aproveitada e controlada, no serviço de iluminação, refinamento e benefício da personalidade e não relaxada em gasto excessivo do suprimento psíquico, nas emoções de baixa classe. Reconciliar-se no charco das sensações inferiores, à maneira dos suínos, é retê-la nas correntes tóxicas dos desvarios de natureza animal, e, na despesa excessiva de energias sutis, muito dificilmente consegue o homem levantar-se do mergulho terrível nas sombras, mergulho que se prolonga, além da morte corporal. Em vista disso, é indispensável cuidar atentamente da economia de forças, em todo serviço honesto de desenvolvimento das faculdades superiores. Os materialistas da razão pura, senhores de vastos patrimônios intelectuais, perceberam de longe semelhantes realidades e, no sentido de preservar a juventude, a plástica e a eugenia, fomentaram a prática do esporte, em todas as suas modalidades. Contra os perigos possíveis, na excessiva acumulação de forças nervosas, como são chamadas as secreções elétricas da epífise, aconselharam aos moços de todos os países o uso do remo, da bola, do salto, da barra, das corridas a pé. Desse modo, preservavam-se os valores orgânicos, legítimos e normais, para as funções da hereditariedade. A medida, embora satisfaça em parte, é, contudo, incompleta e defeituosa. Incontestavelmente, a ginástica e o exercício controlados são fatores valiosos de saúde; a competição esportiva honesta é fundamento precioso de socialização; no entanto, podem circunscrever-se a meras providências, em benefício dos ossos, e, por vezes, degeneram-se em elástico das paixões menos dignas. São muito raros ainda, na Terra, os que reconhecem a necessidade de preservação das energias psíquicas para engrandecimento do Espírito eterno. O homem vive esquecido de que Jesus ensinou a virtude como esporte da alma, e nem sempre se recorda de que, no problema do aprimoramento interior, não se trata de retificar a sombra da substância e sim a substância em si mesma.

Bibliografia: Passes e Radiações – Edgard Armond Entre a Terra e o Céu – Francisco C. Xavier (pelo espírito André Luiz) Cromoterapia – René Nunes Mecanismos da Mediunidade – Francisco C. Xavier (pelo espírito André Luiz).

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 09

Reencarnação Conceito A reencarnação é o retorno da alma, ou espírito, à vida corporal, mas em um

outro corpo novamente formado para ela e que nada tem de comum com o antigo. Reencarnação: um dos princípios básicos do espiritismo O espiritismo demonstra cientificamente a existência da alma e do perispírito.

Este é inseparável do princípio pensante. O perispírito é a idéia diretriz pela qual é construído o corpo humano, ele entretém e repara o organismo, ele não pode ser um produto da matéria, ele leva consigo para o espaço essa faculdade organizadora que lhe seria inútil se não devesse voltar à Terra. Onde pode adquirir essas propriedades? Na Terra evidentemente.

Certas pessoas repelem a idéia da reencarnação pelo único motivo de que ela não lhes convém, dizendo que lhes basta uma existência e não desejam iniciar outra semelhante. Conhecemos pessoas que, à simples idéia de voltar à Terra, ficam enfurecidas. Só temos a lhes perguntar se Deus devia pedir-lhes conselho e consultar os seus gostos, para ordenar o Universo? De duas uma: a reencarnação existe ou não existe. Se existe, é inútil opor-se a ela, pois terão de sofrê-la, sem que Deus lhes peça permissão para isso. Parece-nos ouvir um doente dizer: - Já sofri hoje demais e não quero tornar a sofrer amanhã. Qualquer que seja a sua má vontade, isso não o fará sofrer menos amanhã e nos dias seguintes, até que consiga curar-se. Da mesma maneira, se essas pessoas devem reviver corporalmente, reviverão, tornarão a reencarnar-se; perderão o tempo de protestar, como uma criança que não quer ir à escola ou um condenado à prisão, pois terão de passar por ela. Objeções dessa espécie são demasiadamente pueris para merecerem exame mais sério. Diremos, entretanto, a essas pessoas, para tranqüilizá-las, que a doutrina espírita sobre a reencarnação não é tão terrível como pensam, e que se a estudassem a fundo não teriam do que se assustar. Saberiam que dessa nova existência depende delas mesmas: será feliz ou desgraçada, segundo o que tiverem feito neste plano e podem desde já elevar-se tão alto, que ao mais deverão temer nova queda no lodaçal.

Supomos falar a pessoas que acreditam num futuro qualquer após a morte, e não às que só têm o nada como perspectiva, ou que desejam mergulhar a sua alma no Todo Universal, sem conservar a individualidade, como as gotas de chuva no oceano, o que vem a ser mais ou menos a mesma coisa. Se acreditais num futuro qualquer, por certo não admitireis que ele seja o mesmo para todos, pois qual seria utilidade do bem? Por que reprimir-se, por que não satisfazer a todas as paixões, a todos os desejos, mesmo à custa dos outros, pois que isso não teria conseqüência? Acreditai pelo contrário, que esse futuro será mais ou menos feliz ou desgraçado, segundo o que tivermos feito durante a vida, e tereis o desejo de que seja o mais feliz possível, pois que deverá durar pela eternidade. Teríeis, por acaso, a pretensão de ser uma das criaturas

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mais perfeitas que já passaram pela Terra, tendo assim o direito imediato à felicidade dos eleitos? Não. Admitis, então, que há criaturas que valem mais do que vós e têm direito a uma situação melhor, sem por isso vos considerardes entre os réprobos. Pois bem: colocai-vos por um instante, pelo pensamento, nessa situação intermediária, que será a vossa, como o admitis, e suponde que alguém venha dizer-vos: - Sofreis, não sois tão felizes como poderíeis ser, enquanto tendes diante de vós os que gozam de uma felicidade perfeita; quereis trocar a vossa posição com a deles? – Sem dúvida! Responderíeis. – Mas o que devo fazer? – Quase nada: recomeçar o que fizeste mal e tratar de fazê-lo melhor. Hesitaríeis em aceitar, mesmo que fosse ao preço de muitas existências de provas?

Façamos uma comparação mais prosaica. Se a um homem que, sem estar na miséria extrema, passa pelas privações decorrentes da sua precariedade de recursos, viessem dizer: - Eis uma imensa fortuna, que podereis gozar, sendo porém necessário trabalhar rudemente durante um minuto. Fosse ele o maior preguiçoso da terra, e diria sem hesitar: - trabalhemos um minuto, dois minutos, uma hora, um dia, se for preciso! O que será isso, para acabar a minha vida na abundância? Ora o que é a duração da vida corporal, em relação à da eternidade? Menos que um minuto, menos que um segundo.

Ouvimos algumas vezes este raciocínio: Deus, que é soberanamente bom, não pode impor ao homem o reinício de uma série de misérias e tribulações. Acharão, por acaso, que há mais bondade em condenar o homem a um sofrimento perpétuo, por alguns momentos de erro, do que em lhe conceder os meios de reparar as suas faltas? Dois fabricantes tinham, cada qual, um operário que podia aspirar a se tornar sócio da firma. Ora, aconteceu que esses dois operários empregaram mal, certa vez, o seu dia de trabalho, e mereceram ser despedidos. Um dos fabricantes despediu o seu empregado, apesar de suas súplicas, e este, não mais encontrando emprego, morreu na miséria. O outro disse ao seu: - Perdeste um dia e me deves uma compensação: fizeste mal o trabalho e me deves a reparação; eu te permito recomeçar; trata de fazê-lo bem, e eu te conservarei, e poderás continuar aspirando à posição superior que te prometi. Seria necessário perguntar qual dos dois fabricantes foi mais humano? Deus, que é a própria clemência, seria mais inexorável que um homem? O pensamento de que a nossa sorte está sempre fixada, em alguns anos de prova, ainda mesmo quando nem sempre dependesse de nós atingir a perfeição sobre a Terra, tem qualquer coisa de pungente, enquanto a idéia contrária é eminentemente consoladora, pois não nos tira a esperança. Assim, sem nos pronunciarmos contra a pluralidade das existências, sem admitir uma hipótese mais do que a outra, diremos que, se pudéssemos escolher, ninguém preferiria um julgamento sem apelo. Um filósofo disse que, se Deus não existisse, seria necessário inventá-lo, para a felicidade do gênero humano: o mesmo se poderia dizer da pluralidade das existências. Mas, como dissemos, Deus não pede licença, não consulta as nossas preferências; as coisas são ou não são. Vejamos de que lado estão as probabilidades, e tomemos o problema sob outro ponto de vista, fazendo sempre abstração do ensinamento dos Espíritos e unicamente, portanto, como estudo filosófico.

Se não há reencarnação, não há mais do que uma existência corporal, isso é evidente. Se nossa existência corporal é a única, a alma de cada criatura foi criada por ocasião do nascimento, a menos que admitamos a anterioridade da alma. Mas neste caso perguntaríamos o que era a alma antes do nascimento, e se o seu estado não constituiria uma existência, sob qualquer forma. Não há, pois, meio-termo: ou a alma existia, ou não existia antes do corpo. Se ela existia, qual era a sua situação? Tinha ou não consciência de si mesma? Se não a tinha, era mais ou menos como se não existisse; se tinha, sua individualidade era progressiva ou estacionária? Num e noutro caso qual a sua situação ao chegar ao corpo? Admitindo, de acordo com a crença vulgar, que a alma nasce com o corpo, ou o que dá no mesmo, que antes da encarnação só tinha faculdades negativas, formulamos as seguintes questões:

1. Por que a alma revela aptidões tão diversas e independentes das idéias adquiridas

pela educação? 2. De onde vem a aptidão extranormal de algumas crianças de pouca idade para esta ou

aquela ciência, enquanto outras permanecem inferiores ou medíocres por toda a vida?

3. De onde vêm, para uns, as idéias inatas ou intuitivas, que não existem para outros?

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4. De onde vêm, para certas crianças, os impulsos precoces de vícios ou virtudes, esses sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza, que contrastam com o meio em que nasceram?

5. Por que alguns homens, independentemente da educação, são mais adiantados que outros?

6. Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomarmos uma criança hotentote, de peito, e a educarmos enviando-a depois aos mais renomados liceus, faremos dela um Laplace ou um Newton?

Perguntamos qual a filosofia ou a teosofia que pode resolver esses problemas. Ou as almas são iguais ao nascer, ou não o são: quanto a isso não há dúvida. Se são iguais, porque essas tamanhas diferenças de aptidões? Dirão que dependem do organismo. Mas, nesse caso, teríamos a doutrina mais monstruosa e mais imoral. O homem não seria mais que uma máquina, joguete da matéria; não teria a responsabilidade dos seus atos; tudo poderia atribuir às suas imperfeições físicas. Se as almas são desiguais, foi Deus quem as criou assim. Então, porque essa superioridade inata, conferida a alguns? Essa parcialidade estaria conforme a sua justiça e ao amor que dedica por igual a todas as criaturas?

Admitamos, ao contrário, uma sucessão de existências anteriores e progressivas, e tudo se explicará. Os homens trazem, ao nascer, a intuição do que já haviam adquirido. São mais ou menos adiantados, segundo o número de existências por que passaram ou conforme estejam mais ou menos distanciados do ponto de partida: precisamente como, numa reunião de pessoas de todas as idades, cada uma terá um desenvolvimento de acordo com o número de anos vivido. Para a vida da alma, as existências sucessivas serão o que os anos são para a vida do corpo. Reuni um dia mil indivíduos de um até oitenta anos; suponde que um véu tenha sido lançado sobre todos os dias anteriores, e que, na vossa ignorância, julgais todos eles nascidos no mesmo dia: perguntaríeis, naturalmente, porque uns são grandes e outros pequenos, uns velhos e outros jovens, uns instruídos e outros ainda ignorantes. Mas, se a nuvem que vos oculta o passado for afastada, se compreenderdes que todos viveram por mais ou menos tempo, tudo estará explicado. Deus, na sua justiça, não podia ter criado almas mais perfeitas e outras menos perfeitas, mas, com a pluralidade das existências, a desigualdade que vemos nada tem de contrário à mais rigorosa equidade. É porque só vemos o presente e não o passado, que não o compreendemos. Este raciocínio repousa sobre algum sistema, alguma suposição gratuita? Não, pois partimos de um fato patente, incontestável: a desigualdade de aptidões e do desenvolvimento intelectual e moral. E verificamos que esse fato é inexplicável por todas as teorias correntes, enquanto a explicação é simples, natural, lógica, por uma nova teoria. Seria racional preferirmos aquela que nada explica à outra que tudo explica?

No tocante à sexta pergunta, dirão sem dúvida que o hotentote é uma raça inferior. Então perguntaremos se o hotentote é ou não humano. Se é humano, porque teria Deus, a ele e a toda a sua raça, deserdado dos privilégios concedidos à raça caucásia? Se o não é, porque procurar fazê-lo cristão? A doutrina espírita é mais ampla que tudo isso. Para ela, não há muitas espécies de homens, mas apenas homens, seres humanos cujos espíritos são mais ou menos atrasados, mas sempre suscetíveis de progredir. Isso não está mais conforme a justiça de Deus?

Vimos a alma no seu passado e no seu presente. Se a considerarmos quanto ao futuro, encontraremos as mesmas dificuldades:

1. Se a existência presente deve ser decisiva para a sorte futura, qual é, na vida futura,

respectivamente, a posição do selvagem e a do homem civilizado? Estarão no mesmo nível ou estarão distanciados no tocante à felicidade eterna?

2. O homem que trabalhou toda a vida para melhorar-se estará no mesmo plano daquele que permaneceu inferior, não por sua culpa, mas porque não teve o tempo nem a possibilidade de melhorar?

3. O homem que praticou o mal, por não ter podido esclarecer-se, é culpado por um estado de coisas que dele em nada dependeu?

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4. Trabalha-se para esclarecer os homens, para os moralizar e civilizar. Mas, para um que se esclarece, há milhões que morrem cada dia antes que a luz consiga atingi-los. Qual é a sorte destes? Serão tratados como réprobos? Caso contrário, o que fizeram eles, para merecerem estar no mesmo plano que os outros?

5. Qual é a sorte das crianças que morrem em tenra idade, antes de poderem ter feito o mal ou o bem? Se estiverem entre os eleitos, porque esse favor, sem nada terem feito para o merecer? Porque privilégio foram elas subtraídas às tribulações da vida?

Há uma doutrina que resolva essas questões? Admiti as existências sucessivas, e tudo estará explicado de acordo com a justiça de Deus. Aquilo que não pudermos fazer numa existência, faremos noutra. É assim que ninguém escapa à lei do progresso. Cada um será recompensado segundo o verdadeiro merecimento, e ninguém é excluído da felicidade suprema, a que pode aspirar, sejam quais forem os obstáculos que encontre no caminho.

Essas questões poderiam ser multiplicadas ao infinito, porque os problemas psicológicos e morais que não encontram solução, a não ser na pluralidade das existências, são inumeráveis. Limitamo-nos apenas aos mais gerais. Seja como for, talvez se diga que a doutrina da reencarnação não é admitida na Igreja: isto seria, portanto, a subversão da religião. Nosso objetivo não é, no momento, tratar desta questão, bastando-nos haver demonstrado que ela é eminentemente moral e racional. Ora, o que é moral e racional não pode ser contrário a uma religião que proclame Deus como a bondade e a razão por excelência. O que teria acontecido à religião se, contra a opinião universal e o testemunho da ciência, tivesse resistido à evidência e expulsado de seu seio quem não acreditasse no movimento do sol e nos seis dias da criação? Que crédito mereceria, e que autoridade teria, entre os povos esclarecidos, uma religião baseada nos erros evidentes, oferecidos como artigo de fé? Quando a evidência foi demonstrada, a Igreja sabiamente se alinhou ao seu lado. Se está provado que existem coisas que seriam impossíveis sem a reencarnação, se certos pontos do dogma não podem ser explicados senão por este meio, será necessário admiti-la e reconhecer que o antagonismo entre essa doutrina e os dogmas é apenas aparente. Mais tarde mostraremos que a religião talvez esteja menos afastada desta doutrina do que se pensa, e que ela não sofreria mais, ao admiti-la, do que com a descoberta do movimento da terra e dos períodos geológicos, que a princípio pareciam opor um desmentido aos textos sagrados. O princípio da reencarnação ressalta, aliás, de muitas passagens das Escrituras, e encontrando-se especialmente formulado, de maneira explícita, no Evangelho: “Descendo eles da montanha (após a transfiguração), Jesus lhes preceituou, dizendo: - Não digais a ninguém o que vistes, até que o Filho do Homem seja ressuscitado de entre os mortos. Seus discípulos então o interrogaram, e lhe disseram: - Por que dizem, pois, os escribas, que é necessário que Elias venha primeiro? E Jesus, respondendo, lhes disse: - Em verdade, Elias virá primeiro e restabelecerá todas as coisas. Mas eu vos declaro que Elias já veio, e eles não o conheceram, antes o fizeram sofrer tudo quanto quiseram. Assim também eles farão morrer ao Filho do Homem. Então entenderam os discípulos que era de João Batista que ele lhes havia falado.”(Mateus, cap. XVII).

Ora, se João Batista era Elias, houve então a reencarnação do Espírito ou da alma de Elias no corpo de João Batista.

Nota: A reencarnação passou a ser condenada pela Igreja Católica no ano de 553 D.C no Concílio de Constantinopla, atual Istambul, na Turquia, em decisão política, para atender exigências do Império Bizantino, resolveu abolir tal convicção, cientificamente justificada, substituindo-a pela ressurreição, que contraria todos os princípios da ciência, pois admite a volta do ser, por ocasião de um suposto juízo final, no mesmo corpo já desintegrado em todos os seus elementos constitutivos. O motivo: É que Teodora, esposa do famoso Imperador Justiniano, escravocrata desumana e muito preconceituosa, temia retornar ao mundo, na pele de uma escrava negra e, por isso, desencadeou uma forte pressão sobre o papa da época, Virgílio, que subira ao poder através da criminosa intervenção do General Belisário, para quem os desejos de

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Teodora eram lei. E assim, o Concílio realizado em Constantinopla, no ano de 553 D.C, resolveu rejeitar todo o pensamento de Orígenes de Alexandria, um dos maiores Teólogos que a Humanidade tem conhecimento. As decisões do Concílio condenaram, inclusive, a reencarnação admitida pelo próprio Cristo, em várias passagens do Evangelho, sobretudo quando identificou em João Batista o Espírito do profeta Elias, falecido séculos antes, e que deveria voltar como precursor do Messias (Mateus 11:14 e Malaquias 4:5). Agindo dessa maneira, como se fosse soberana em suas decisões, a assembléia dos bispos, reunidos no Segundo Concílio de Constantinopla, houve por bem afirmar que “reencarnação não existe”.

Seja qual for, de resto, a opinião que se tenha sobre a reencarnação, que a

aceitem ou não, ninguém a ela escapará por causa da crença em contrário. O ponto essencial é que se apóia na imortalidade da alma, nas penas e recompensas futuras, no livre arbítrio do homem, na moral do Cristo, e, portanto não é anti-religioso.

Raciocinamos, como dissemos, fazendo abstração de todo o ensinamento espírita, que, para certas pessoas, não tem autoridade. Se, como tantos outros, adotamos a opinião referente à pluralidade das existências, não é somente porque ela veio dos Espíritos, mas porque nos parece a mais lógica e a única que resolve as questões até então insolúveis. Que ela nos viesse de um simples mortal, e a adotaríamos da mesma maneira, não hesitando em renunciar ás nossas próprias idéias. Do mesmo modo, nós a teríamos repelido, embora viesse dos Espíritos, se nos parecesse contrária à razão, como repelimos tantas outras. Porque sabemos por experiência que não se deve aceitar de olhos fechados tudo o que vem dos espíritos, como aquilo que vem da parte dos homens. Mas ainda tem outro, que é o de ser confirmada pelos fatos: fatos positivos e por assim dizer materiais, que um estudo atento e raciocinado pode revelar a quem se der ao trabalho de observá-los com paciência e perseverança e diante dos quais a dúvida não é mais possível. Quando esses fatos se popularizarem, como os da formação e do movimento da Terra, será necessário reconhecer a evidência, e os seus opositores terão gasto em vão os argumentos contrários.

Reconheçamos, em resumo, que a doutrina da pluralidade das existências é a única a explicar aquilo que, sem ela, é inexplicável. Que é eminentemente consoladora e conforme a justiça mais rigorosa, sendo para o homem a tábua de salvação que Deus lhe concedeu, na sua misericórdia.

As próprias palavras de Jesus não podem deixar dúvida a respeito. Eis o que se lê no Evangelho segundo João, capítulo III:

“Jesus, respondendo a Nicodemos, disse: - Em verdade, em verdade vos digo que se um homem não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.

Nicodemos lhe disse: - Como pode um homem nascer, quando está velho? Pode ele entrar de novo no ventre de sua mãe e nascer uma segunda vez?

Jesus respondeu: - Em verdade, em verdade te digo, que se um homem não nascer da água e do espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do espírito, é espírito. Não te maravilhes de eu te haver dito: necessário vos é nascer de novo”.

Necessidade e Objetivo da Reencarnação Deus lhes impõe a encarnação com o objetivo de fazê-los chegar à perfeição.

Para alguns é uma expiação, para outros é uma missão. Todavia, para alcançarem essa perfeição, devem suportar todas as vicissitudes da existência corporal; nisto é que está a expiação. A encarnação tem também outro objetivo que é o de colocar o espírito em condições de cumprir sua parte na obra da criação. Pra realizá-la é que, em cada mundo, ele toma um aparelho em harmonia com a matéria essencial desse mundo, cumprindo aí, daquele ponto de vista, as ordens de Deus, de tal sorte que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.

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Nota: A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo, mas Deus, em sua sabedoria, quis que, por essa mesma ação, eles encontrassem um meio de progredir e de se aproximarem dele. É assim que, por uma lei admirável de sua providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na natureza.

Obs: Todos foram criados simples e ignorantes; instruíram-se nas lutas e tribulação da vida corporal. Deus, que é justo, não poderia fazer alguns felizes, sem dificuldade e sem trabalho e, por conseguinte, sem mérito.

Importante:

Os espíritos que seguiram o caminho do bem desde o princípio alcançaram mais

depressa o objetivo. Aliás, as dificuldades da vida freqüentemente, são conseqüência da imperfeição do espírito, quanto menos tenha imperfeições, menos tem tormentos.

OBS: Quem não é invejoso, nem ciumento, nem avarento, nem ambicioso, não terá os tormentos que nascem desses defeitos.

Planejamento das Reencarnações Antes de novamente entrar em contato com a matéria e começar nova carreira,

o Espírito tem, dissemos, de escolher o meio onde vai renascer para a vida terrestre; mas, essa escolha é limitada, circunscrita, determinada por causas múltiplas. Os antecedentes do ser, suas dívidas morais, suas aferições, seus méritos e deméritos, o papel que está apto para desempenhar, todos esses elementos intervêm na orientação da vida em preparo; daí a preferência por uma raça, tal nação, tal família. As almas terrestres que havemos amado atraem-nos; os laços do passado reatam-se em filiações, alianças, amizades novas. Os próprios lugares exercem sobre nós a sua misteriosa sedução e é raro que o destino não nos reconduza muitas vezes às regiões onde já vivemos, amamos, sofremos. Os ódios são forças também que nos aproximam dos nossos inimigos de outrora para apagarmos, com melhores relações, inimizades antigas. Assim, tornamos a encontrar em nosso caminho a maior parte daqueles que constituíram nossa alegria ou fizeram nossos tormentos.

Sucede o mesmo com a adoção de uma classe social, com as condições de ambiente e educação, com os privilégios da fortuna ou da saúde, com as misérias da pobreza. Todas estas causas tão variadas, tão complexas, vão combinar para assegurar ao novo encarnado as satisfações, as vantagens ou as provações que convêm ao seu grau de evolução, aos seus méritos ou às suas faltas e às dívidas contraídas por ele.

Pelo que fica dito, compreender-se-á quão difícil é a escolha. Por isso, esta escolha é-nos, as mais das vezes, inspirada pelas Inteligências diretoras, ou, então, em proveito nosso, hão de elas próprias fazê-lo, se não possuirmos o discernimento necessário para adotar com toda a sabedoria e previdência os meios mais eficazes para ativarem a nossa evolução e expurgarem o nosso passado.

Todavia, o interessado tem sempre a liberdade de aceitar ou procrastinar a hora das reparações inelutáveis. No momento de se ligar a um gérmen humano, quando a alma possui ainda toda a sua lucidez, o seu Guia desenrola diante dela o panorama da existência que a espera; mostra-lhe os obstáculos e os males de que será eriçada, faz-lhe compreender a utilidade desses obstáculos e desses males para desenvolver-lhe as virtudes ou expurgá-la dos seus vícios. Se a prova lhe parecer demasiado rude, se não se sentir suficientemente armado para afrontá-la, é lícito ao Espírito diferir-lhe a data e procurar uma vida transitória que lhe aumente as forças morais e a vontade.

Na hora das resoluções supremas, antes de tornar a descer à carne, o Espírito percebe, atinge o sentido geral da vida que vai começar, ela lhe aparece nas suas linhas principais, nos seus fatos culminantes, modificáveis sempre, entretanto, por sua ação pessoal e pelo uso do seu livre arbítrio; porque a alma é senhora dos seus atos; mas, desde que ela se decidiu, desde que o laço se dá e a incorporação se debuxa, tudo se

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apaga, esvai-se tudo. A existência vai desenrolar-se com todas as suas conseqüências previstas, aceitas, desejadas, sem que nenhuma intuição do futuro subsista na consciência normal do ser encarnado. O esquecimento é necessário durante a vida material. O conhecimento antecipado dos males ou das catástrofes que nos esperam paralisariam os nossos esforços, sustariam a nossa marcha para a frente.

Quanto à escolha do sexo, é também a alma que, de antemão, resolve. Pode até variá-lo de uma encarnação para outra por um ato da sua vontade criadora, modificando as condições orgânicas do perispírito. Certos pensadores admitem que a alternação dos sexos é necessária para adquirir virtudes mais especiais, dizem eles, a cada uma das metades do gênero humano; por exemplo, no homem, a vontade, a firmeza, a coragem; na mulher, a ternura, a paciência, a pureza.

Quanto às dores do passado, sabemos que não ficam perdidas. O Espírito que sofreu iniqüidades sociais, colhe por força da lei de equilíbrio e compensação, o resultado das provações porque passou. O espírito feminino, dizem-nos os Guias, ascende com vôo mais rápido para a perfeição.

O papel da mulher é imenso na vida dos povos. Irmã, esposa ou mãe, é a grande consoladora e a carinhosa conselheira. Pelo filho é seu o porvir e prepara o homem futuro. Por isso, as sociedades que a deprimem, deprimem-se a si mesmas. A mulher respeitada, honrada, de entendimento esclarecido, é que faz a família forte e a sociedade grande, moral, unida!

Temíveis são certas atrações para as almas que procuram as condições de um renascimento, por exemplo, as famílias de alcoólicos, de devassos, de dementes. Como conciliar a noção de justiça com a encarnação dos seres em tais meios? Não há aí, em jogo, razões psíquicas profundas e latentes e não são as causas físicas apenas uma aparência? Vimos que a lei de afinidade aproxima os seres similares. Um passado de culpas arrasta a alma atrasada para grupos que apresentam analogias com o seu próprio estado fluídico mental, estado que ela criou com os seus pensamentos e ações.

Não há, nesses problemas nenhum lugar para a arbitrariedade ou para o acaso. É o mau uso prolongado de seu livre arbítrio, a procura constante de resultados egoístas ou maléficos que atrai a alma para genitores semelhantes a si. Eles fornecer-lhe-ão materiais em harmonia com o seu organismo fluídico, impregnados das mesmas tendências grosseiras, próprios para a manifestação dos mesmos apetites, dos mesmos desejos. Abrir-se-á nova existência, novo degrau de queda para o vício e para a criminalidade. É a descida para o abismo.

Senhora do seu destino, a alma tem de sujeitar-se ao estado de coisas que preparou, que escolheu. Todavia, depois de haver feito de sua consciência um antro tenebroso, um covil do mal, terá de transformá-lo em templo de luz. As faltas acumuladas farão nascer sofrimentos mais vivos; suceder-se-ão mais penosas, mais dolorosas as encarnações; o círculo de ferro apertar-se-á até que a alma, triturada pela engrenagem das causas e dos efeitos que houver criado, compreenderá a necessidade de reagir contra suas tendências, de vencer suas ruins paixões e de mudar de caminho. Desde esse momento, por pouco que o arrependimento a sensibilize, sentirá nascer em si forças, impulsões novas que a levarão para meios mais adequados à sua obra de reparação, de renovação, e passo a passo irá fazendo progressos. Raios e eflúvios penetrarão na alma arrependida e enternecida, aspirações desconhecidas, necessidades de ação útil e de dedicação hão de despertar nela. A lei de atração, que a impelia para as últimas camadas sociais, reverterá em seu benefício e tornar-se-á o instrumento da sua regeneração.

Entretanto não será sem custo que ela se levantará; a ascensão não prosseguirá sem dificuldades. As faltas e os erros cometidos repercutem como causas de obstrução nas vias futuras e o esforço terá de ser tanto mais enérgico e prolongado quanto mais pesadas forem as responsabilidades, quanto mais extenso tiver sido o período de resistência e obstinação no mal. Na escabrosa e íngreme subida, o passado dominará por muito tempo o presente, e o seu peso fará vergar mais de uma vez os ombros do caminhante; mas, do Alto, mãos piedosas estender-se-ão para ele e ajudá-lo-ão a transpor as passagens mais escarpadas. “Há mais alegria no Céu por um pecador que se arrepende do que por cem justos que perseveram”.

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O nosso futuro está em nossas mãos e as nossas facilidades para o bem aumentam na razão direta dos nossos esforços para o praticarmos. Toda vida nobre e pura, toda missão superior é o resultado de um passado imenso de lutas, de derrotas sofridas, de vitórias ganhas contra nós mesmos; é o remate de trabalhos longos e pacientes, a acumulação de frutos de ciência e caridade colhidos, um por um, no decurso das idades. Cada faculdade brilhante, cada virtude sólida reclamou existências multíplices de trabalho obscuro, de combates violentos entre o espírito e a carne, a paixão e o dever. Para chegar ao talento, ao gênio, o pensamento teve de amadurecer lentamente através dos séculos. O campo da inteligência, penosamente desbravado, a princípio apenas escassas colheitas; depois, pouco a pouco, vieram as searas cada vez mais ricas e abundantes.

Em cada regresso ao Espaço procede-se ao balanço dos lucros e perdas; avaliam-se e firmam-se os progressos. O ser examina-se e julga-se; perscruta minuciosamente a sua história recente, em si mesmo escrita; passa em revista os frutos de experiência e sabedoria que a sua última vida lhe proporcionou, para mais profundamente assinalar-lhes a substância.

A vida do Espaço é, para o Espírito que evoluiu, o período de exame, de recolhimento, em que as faculdades, depois de se terem gasto no exterior, refletem-se, aplicam-se ao estudo íntimo, ao interrogatório da consciência, ao inventário rigoroso da beleza ou fealdade que há na alma. A vida do Espaço é a forma necessária e simétrica da vida terrestre, vida de equilíbrio, em que as forças se reconstituem, em que as energias se retemperam, em que os entusiasmos se reanimam, em que o ser se prepara para as futuras tarefas; é o descanso depois do trabalho, a bonança depois da tormenta, a concentração tranqüila e serena depois da expansão ativa do conflito ardente.

Segundo a opinião dos teósofos, o regresso da alma à carne efetua-se de mil e quinhentos em mil e quinhentos anos. Esta teoria não é confirmada nem pelos fatos nem pelo testemunho dos espíritos. Estes, interrogados em grande número, em meios muito diversos, responderam que a reencarnação é muito mais rápida; as almas ávidas de progresso demoram-se pouco no Espaço. Pedem o regresso à vida deste mundo para conquistar novos títulos, novos méritos. Possuímos sobre as existências anteriores de certa pessoa indicações recolhidas, em pontos muito afastados uns dos outros, da boca de médiuns que nunca se conheceram, indicações perfeitamente concordes entre si e com as intuições do interessado. Demonstram que apenas vinte, trinta anos quando muito, separaram as suas vidas terrestres. Não há, quanto a isso, regra exata. As encarnações aproximam-se ou se distanciam segundo o estado das almas, seu desejo de trabalho e adiantamento e as ocasiões favoráveis que se lhes oferecem; nos casos de morte precoce, são quase imediatas.

Sabemos que o corpo fluídico materializa-se ou purifica-se conforme a natureza dos pensamentos e das ações do Espírito. As almas viciosas atraem a si, por suas tendências, fluidos impuros, que lhes tornam mais espesso o invólucro e lhes diminuem as radiações. À morte, não podem elevar-se acima das nossas regiões e ficam confinadas na atmosfera ou misturadas com os humanos; se persistem no mal, a atração planetária torna-se tão poderosa que lhes precipita a reencarnação.

Quanto mais material e grosseiro é o Espírito, tanto mais influência tem sobre ele a lei de gravidade; com as sensações do Infinito e que acham nas regiões etéreas meios apropriados à sua natureza e ao seu estado de progressão, produz-se o fenômeno inverso. Chegados a um grau superior, esses Espíritos prolongam cada vez mais a sua estada no Espaço; as vidas planetárias tornam-se, para ele, a exceção, e a vida livre a regra, até que a soma das perfeições realizadas os liberte para sempre da servidão dos renascimentos.

Livre Arbítrio e Determinismo A liberdade é a condição necessária da alma humana que, sem ela, não poderia

construir seu destino. É em vão que os filósofos e os teólogos têm argumentado longamente a respeito desta questão. À porfia têm-na obscurecido com suas teorias e sofismas, voltando a Humanidade à servidão em vez de a guiar para a luz libertadora. A

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noção é simples e clara. Os druidas haviam-na formulado desde os primeiros tempos de nossa História. Está expressa nas “Tríades” por estes termos: Há três unidades primitivas – Deus, a luz e a liberdade.

À primeira vista, a liberdade do homem parece muito limitada no círculo de fatalidades que o encerra: necessidades físicas, condições sociais, interesses ou instintos. Mas, considerando a questão mais de perto, vê-se que esta liberdade é sempre suficiente para permitir que a alma quebre este círculo e escape às forças opressoras.

A liberdade e a responsabilidade são correlativas no ser e aumentam com sua elevação; é a responsabilidade do homem que faz sua dignidade e moralidade. Sem ela, não seria ele mais do que um autômato, um joguete das forças ambientes: a noção de moralidade é inseparável da de liberdade.

A responsabilidade é estabelecida pelo testemunho da consciência, que nos aprova ou censura segundo a natureza de nossos atos. A sensação do remorso é uma prova mais demonstrativa que todos os argumentos filosóficos. Para todo Espírito, por pequeno que seja o seu grau de evolução, a Lei do dever brilha como um farol, vemos todos os dias homens nas posições mais humildes e difíceis preferirem aceitar provações duras a se rebaixarem a cometer atos indignos.

Se a liberdade humana é restrita, está pelo menos em via de perfeito desenvolvimento, porque o progresso não é outra coisa mais do que a extensão do livre arbítrio no indivíduo e na coletividade. A luta entre a matéria e o espírito tem precisamente como objetivo libertar este último cada vez mais do jugo das forças cegas. A inteligência e a vontade chegam, pouco a pouco, a predominar sobre o que a nossos olhos representa a fatalidade. O livre arbítrio é, pois, a expansão da personalidade e da consciência. Para sermos livres é necessário querer sê-lo e fazer esforço para vir a sê-lo, libertando-se da escravidão da ignorância e das paixões baixas, substituindo o império das sensações e dos instintos pelo da razão.

Isto só se pode obter por uma educação e uma preparação prolongada das faculdades humanas: libertação física pela limitação dos apetites; libertação intelectual pela conquista da verdade; libertação moral pela procura da virtude. É esta a obra dos séculos. Mas, em todos os graus de sua ascensão, na repartição dos bens e dos males da vida, ao lado da concatenação das coisas, sem prejuízo dos destinos que nosso passado nos inflige, há sempre lugar para livre vontade do homem.

Como conciliar nosso livre arbítrio com a presciência divina? Perante o conhecimento antecipado que Deus tem de todas as coisas, pode-se verdadeiramente afirmar a liberdade humana? Questão complexa e árdua na aparência que fez correr rios de tinta e cuja solução é, contudo, das mais simples. Mas, o homem não gosta das coisas simples; prefere o obscuro, o complicado, e não aceita a verdade senão depois de ter esgotado todas as formas do erro.

Deus, cuja ciência infinita abrange todas as coisas, conhece a natureza de cada homem e as impulsões, as tendências, de acordo com as quais poderá determinar-se. Nós mesmos, conhecendo o caráter de uma pessoa, poderíamos facilmente prever o sentido em que, numa dada circunstância, ela decidirá, quer segundo o interesse, quer segundo o dever. Uma resolução não pode nascer de nada. Está forçosamente ligada a uma séria de causas e efeitos anteriores de que deriva e que a explica. Deus, conhecendo cada alma em suas menores particularidades, pode, pois, rigorosamente, deduzir, com certeza, do conhecimento que tem dessa alma e das condições em que ela é chamada a agir, as determinações que, livremente, ela tomará.

Notemos que não é a previsão de nossos atos que os provoca. Se Deus não pudesse prever nossas resoluções, não deixariam elas, por isso, de seguir seu livre curso.

É assim que a liberdade humana e a previdência divina conciliam-se e combinam, quando se considera o problema à luz da razão.

O círculo dentro do qual se exerce a vontade do homem, é, de mais a mais, excessivamente restrito e não pode, em caso algum, impedir a ação divina, cujos efeitos se desenrolam na imensidade sem limites. O fraco inseto, perdido num canto do jardim, não pode, desarranjando os poucos átomos ao seu alcance, lançar a perturbação na harmonia do conjunto e pôr obstáculos à obra do Divino Jardineiro.

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A questão do livre arbítrio tem uma importância capital e graves conseqüências para toda a ordem social, por sua ação e repercussão na educação, na moralidade, na justiça, na legislação, etc. determinou duas correntes opostas de opinião, os que negam o livre arbítrio e os que o admitem com restrição.

Os argumentos dos fatalistas e deterministas resumem-se assim: “O homem está submetido aos impulsos de sua natureza, que o dominam e obrigam a querer, a determinar-se num sentido, de preferência a outro; logo, não é livre”.

A escola adversa, que admite a livre vontade do homem, em face desse sistema negativo, exalta a teoria das causas indeterminadas. Os elementos que a revelação neo-espiritualista nos traz, sobre a natureza e o futuro do ser, dão à teoria do livre arbítrio sanção definitiva. Vêm arrancar a consciência moderna à influência deletéria do materialismo e orientar o pensamento para uma concepção do destino, que terá por efeito, recomeçar a vida interior da Civilização.

Até agora, tanto sob o ponto de vista teológico como determinista, a questão tinha ficado insolúvel. Nem de outro modo podia ser, pois que cada um daqueles sistemas partia do dado inexato de que o ser humano tem de percorrer uma única existência. A questão muda, porém, inteiramente de aspecto se alargar o círculo da vida e se considerar o problema à luz que proteja a doutrina dos renascimentos. Assim, cada ser conquista a própria liberdade no decurso da evolução que tem de perfazer.

Suprida, a princípio. Pelo instinto, que pouco a pouco desaparece para dar lugar à razão, nossa liberdade é muito escassa nos graus inferiores e em todo o período de nossa educação primária. Toma extensão considerável, desde que o Espírito adquire a compreensão da lei. E sempre, em todos os graus de sua ascensão, na hora das resoluções importantes, será assistido, guiado, aconselhado por Inteligências superiores, por Espíritos maiores e mais esclarecidos do que ele.

O livre arbítrio, a livre vontade do Espírito exerce-se principalmente na hora da reencarnação. Escolhendo tal família, certo meio social, ele sabe de antemão quais são as provações que o aguardam, mas compreende, igualmente, a necessidade destas provações para desenvolver suas qualidades, curar seus defeitos, despir seus preconceitos e vícios. Estas provações podem ser também conseqüência de um passado nefasto, que é preciso reparar, e ele aceita-as com resignação e confiança, porque sabe que seus grandes irmãos do Espaço não o abandonarão nas horas difíceis.

O futuro aparece-lhe então, não em seus pormenores, mas em seus traços mais salientes, isto é, na medida em que esse futuro é a resultante de atos anteriores. Estes atos representam a parte de fatalidade ou “a predestinação” que certos homens são levados a ver em todas as vidas. São simplesmente, como vimos, efeitos ou reações de causas remotas. Na realidade, nada há de fatal e, qualquer que seja o peso das responsabilidades em que se tenha incorrido, pode-se sempre atenuar, modificar a sorte com obras de dedicação, de bondade, de caridade por um longo sacrifício ao dever.

O problema do livre arbítrio tem grande importância sob o ponto de vista jurídico. Tendo, não obstante, em conta o direito de repressão e preservação social, é muito difícil precisar, em todos os casos que dependem dos tribunais, a extensão das responsabilidades individuais. Não é possível fazê-lo senão estabelecendo o grau de evolução dos criminosos. Muitas vezes o mau, o criminoso não é, na realidade, mais do que um Espírito novo e ignorante em que a razão não teve tempo de amadurecer. É por isso que as penalidades infligidas deveriam ser estabelecidas de modo que obrigassem o condenado a refletir, a instruir-se, a esclarecer-se, a emendar-se. A sociedade deve corrigir com amor e não com ódio, sem o que se torna criminosa.

As almas são equivalentes em seu ponto de partida. São diferentes por seus graus infinitos de adiantamento: umas novas; outras velhas, e, por conseguinte, diversamente desenvolvidas em moralidade e sabedoria, segundo a idade. Seria injusto pedir ao Espírito infantil méritos iguais aos que se pode esperar de um Espírito que viu e aprendeu muito. Daí uma grande diferenciação nas responsabilidades.

O Espírito só está verdadeiramente preparado para a liberdade no dia em que as leis universais, que lhe são externas, se tornem internas e conscientes pelo próprio fato de sua evolução. No dia em que ele se penetrar da lei e fizer dela a norma de suas ações, terá atingido o ponto moral em que o homem se possui, domina e governa a si mesmo.

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Daí em diante já não precisará do constrangimento e da autoridade sociais para corrigir-se. E dá-se com a coletividade o que se dá com o indivíduo. Um povo só é verdadeiramente livre, digno da liberdade, se aprendeu a obedecer a essa lei interna, lei moral, eterna e universal, que não emana nem do poder de uma casta, nem da vontade das multidões, mas de um Poder mais alto. Sem a disciplina moral que cada qual deve impor a si mesmo, as liberdades não passam de um logro; tem-se a aparência, mas não os costumes de um povo livre. A sociedade fica exposta pela violência de suas paixões, e a intensidade de seus apetites, a todas as complicações, a todas as desordens.

Tudo o que se eleva para a luz eleva-se para a liberdade. Esta se expande plena e inteira na vida superior.

A alma sofre tanto mais o peso das fatalidades materiais, quanto mais atrasada e inconsciente é, tanto mais livre se torna quanto mais se eleva e aproxima do divino.

No estado de ignorância, é uma felicidade para ela estar submetida a uma direção. Mas, quando sábia e perfeita, goza da sua liberdade na luz divina.

Em tese geral, todo homem chegado ao estado de razão é livre e responsável na medida do seu adiantamento. Passo em claro os casos em que, sob o domínio de uma causa qualquer, física ou moral, doença ou obsessão, o homem perde o uso de suas faculdades. Não se pode desconhecer que o físico exerce, às vezes, grande influência sobre o moral; todavia, na luta travada entre ambos, as almas fortes triunfam sempre. Sócrates dizia que havia sentido germinar em si os instintos mais perversos e que os domara. Havia neste filósofo duas correntes de forças contrárias, uma orientada para o mal, outra para o bem. Era a última que predominava. Há também causas secretas que muitas vezes atuam sobre nós. Às vezes a intuição vem combater o raciocínio, impulsos partidos da consciência profunda nos determinam num sentido não previsto. Não é a negação do livre arbítrio; é a ação da alma em sua plenitude, intervindo no curso de seus destinos, ou, então, será a influência de nossos Guias invisíveis, que se exerce e nos impele no sentido do plano divino, a intervenção de uma Inteligência que, vindo de mais longe e mais alto, procura arrancar-nos a contingências inferiores e levar-nos para o cume. Em todos estes casos, porém, é só nossa vontade que rejeita ou aceita e decide em última instância.

Em resumo, em vez de negar ou afirmar o livre arbítrio, segundo a escola filosófica a que se pertença, seria mais exato dizer: “O homem é o obreiro de sua libertação”. O estado completo de liberdade atinge-o no cultivo íntimo e na valorização de suas potências ocultas. Os obstáculos acumulados em seu caminho são meramente meios de o obrigar a sair da indiferença e a utilizar suas forças latentes. Todas as dificuldades materiais podem ser vencidas.

Somos todos solidários e a liberdade de cada um liga-se à liberdade dos outros. Libertando-se das paixões e da ignorância, cada homem liberta seus

semelhantes. Tudo o que contribui para dissipar as trevas da inteligência e fazer recuar o mal, torna a Humanidade mais livre, mais consciente de si mesma, de seus deveres e potências.

Elevemo-nos, pois, à consciência do nosso papel e fim, e seremos livres. Asseguraremos com os nossos esforços, ensinamentos e exemplos a vitória da vontade assim como do bem e, em vez de formarmos seres passivos, curvados ao jugo da matéria, expostos à incerteza e inércia, teremos feito almas verdadeiramente livres, soltas das cadeias da fatalidade e pairando acima do mundo pela superioridade das qualidades conquistadas.

Justiça Divina na Reencarnação A alma, depois de residir temporariamente no Espaço, renasce na condição

humana, trazendo consigo a herança, boa ou má, do seu passado; renasce criancinha, reaparece na cena terrestre para representar um novo ato do drama da sua vida, pagar as dívidas que contraiu, conquistar novas capacidades que lhe hão de facilitar a ascensão, acelerar a marcha para a frente.

A lei dos renascimentos explica e completa o princípio da imortalidade. A evolução do ser indica um plano e um fim. Esse fim, que é a perfeição, não pode realizar-

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se em uma existência só, por mais longa que seja. Devemos ver na pluralidade das vidas da alma a condição necessária de sua educação e de seus progressos. É à custa dos próprios esforços, de suas lutas, de seus sofrimentos, que ela se redime de seu estado de ignorância e de inferioridade e se eleva, de degrau em degrau, na Terra primeiramente, e, depois, através das inumeráveis estâncias do céu estrelado.

A reencarnação, afirmada pelas vozes de além-túmulo, é a única forma racional por que se pode admitir a reparação das faltas cometidas e a evolução gradual dos seres. Sem ela, não se vê sanção moral satisfatória e completa; não há possibilidade de conceber a existência de um Ser que governe o Universo com justiça.

Se admitirmos que o homem vive atualmente pela primeira e última vez neste mundo, que uma única existência terrestre é o quinhão de cada um de nós, a incoerência e a parcialidade, forçoso seria reconhecê-lo, presidem a repartição dos bens e dos males, das aptidões e das faculdades, das qualidades nativas e dos vícios originais.

Porque para uns a fortuna, a felicidade constante e para outros a miséria, a desgraça inevitável? Para estes a força, a saúde, a beleza; para aqueles a fraqueza, a doença, a fealdade? Por que a inteligência, o gênio, aqui; e, acolá, a imbecilidade? Como se encontram tantas qualidades morais admiráveis, a par de tantos vícios e defeitos? Por que há raças tão diversas? Umas inferiores a tal ponto que parecem confinar com a animalidade e outras favorecidas com todos os dons que lhes assegurem supremacia? E as enfermidades inatas, a cegueira, a idiotia, as deformidades, todos os infortúnios que enchem os hospitais, os albergues noturnos, as casas de correção? A hereditariedade não explica tudo; na maior parte dos casos, estas aflições não podem ser consideradas como o resultado de causas atuais. Sucede o mesmo com os favores da sorte. Muitíssimas vezes, os justos parecem esmagados pelo peso da prova, ao passo que os egoístas e os maus prosperam!

Por que também as crianças mortas antes de nascer e as que são condenadas a sofrer desde o berço? Certas existências acabam em poucos anos, em poucos dias; outras duram quase um século! De onde vêm também os jovens prodígios, músicos, pintores, poetas, todos aqueles que, desde a meninice, mostram disposições extraordinárias para as artes ou para as ciências, ao passo que tantos outros ficam na mediocridade toda a vida, apesar de um labor insano? E igualmente, de onde vêm os instintos precoces, os sentimentos inatos de dignidade ou baixeza contrastando às vezes tão estranhamente com o meio em que se manifestam?

Se a vida individual começa somente com o nascimento terrestre, se, antes dele, nada existe para cada um de nós, debalde de procurarão explicar estas diversidades pungentes, estas tremendas anomalias e ainda menos poderemos conciliá-las com a existência de um poder sábio, previdente, eqüitativo. Todas as religiões, todos os sistemas filosóficos contemporâneos vieram esbarrar com este problema; nenhum o pôde resolver. Considerado sob seu ponto de vista, que é a unidade de existência para cada ser humano, o destino continua incompreensível, ensombra-se o plano do Universo, a evolução pára, torna-se inexplicável o sofrimento. O homem, levado a crer na ação de forças cegas e fatais, na ausência de toda justiça distributiva, resvala insensivelmente para o ateísmo e o pessimismo. Ao contrário, tudo se explica, se torna claro com a doutrina das vidas sucessivas. A lei de justiça revela-se nas menores particularidades da existência. As desigualdades que nos chocam resultam das diferentes situações ocupadas pelas almas nos seus graus infinitos de evolução. O destino do ser não é mais do que o desenvolvimento, através das idades, da longa série de causas e efeitos gerados por seus atos. Nada se perde; os efeitos do bem e do mal acumulam-se e germinam em nós até o momento favorável de desabrocharem. Às vezes, expandem-se com rapidez; outras, depois de longo lapso de tempo, transmitem-se, repercutem, de uma para outra existência, segundo a sua maturação é ativada ou retardada pelas influências ambientes; mas, nenhum desses efeitos pode desaparecer por si mesmo; só a reparação tem esse poder.

Cada um leva para a outra vida e traz, ao nascer, a semente do passado. Essa semente há de espalhar seus frutos, conforme a sua natureza, na nova vida que começa e até sobre os seguintes, se uma só existência não bastar para desfazer as conseqüências más de nossas vidas passadas. Ao mesmo tempo, os nossos atos cotidianos, fontes de novos efeitos, vêm juntar-se às causas antigas, atenuando-as ou

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agravando-as e formam com elas um encadeamento de bens ou de males que, no seu conjunto, urdirão a teia do nosso destino.

Assim, a sanção moral, tão insuficiente, às vezes tão sem valor, quando é estudada sob o ponto de vista de uma vida única, reconhece-se absoluta e perfeita na sucessão de nossas existências. Há uma íntima correlação entre os nossos atos e o nosso destino. Sofremos em nós mesmos, em nosso ser interior e nos acontecimentos da nossa vida, a repercussão do nosso proceder. A nossa atividade, sob todas as suas formas, cria elementos bons ou maus, efeitos próximos ou remotos, que recaem sobre nós em chuvas, em tempestades ou em alegres claridades. O homem constrói o seu próprio futuro. Até agora, na sua incerteza, na sua ignorância, ele o construiu às apalpadelas e sofreu a sua sorte sem poder explicá-la. Não tardará o momento em que, mais bem instruído, penetrado pela majestade das leis superiores, compreenderá a beleza da vida, que reside no esforço corajoso, e dará à sua obra um impulso mais nobre e elevado.

A variedade infinita das aptidões, das faculdades. Dos caracteres, explica-se facilmente. Nem todas as almas têm a mesma idade, nem todas subiram com o mesmo passo seus estágios evolutivos. Umas percorreram uma carreira imensa e aproximaram-se já do apogeu dos progressos terrestres; outras mal começam o seu ciclo de evolução no seio das humanidades. Estas são as almas jovens, emanadas há menos tempo do Foco Eterno, foco inextinguível que despede sem cessar feixes de Inteligências que descem aos mundos da matéria para animarem as formas rudimentares da vida. Chegadas à Humanidade, tomarão lugar entre os povos selvagens ou entres as raças bárbaras que povoam os continentes atrasados, as regiões deserdadas do Globo. E, quando, afinal, penetram em nossas civilizações, ainda facilmente se deixam reconhecer pela falta de desembaraço, de jeito, pela sua incapacidade para todas as coisas e, principalmente, pelas suas paixões violentas, pelos seus gostos sanguinários, às vezes até pela sua ferocidade; mas, essas almas ainda não desenvolvidas subirão por sua vez, a escala das graduações infinitas por meio de reencarnações inúmeras.

Outro elemento do problema é a liberdade de ação do Espírito. A uns, ela permite que se demorem na via da ascensão, que percam, sem cuidado com o verdadeiro fim da existência, tantas horas preciosas à cata das riquezas e do prazer; a outros, deixa-os se apressarem a trilhar os carreiros escabrosos e alcançar os cimos do pensamento, se, às seduções da matéria, preferem a posse dos bens do espírito e do coração. São desse número os sábios, os gênios e os santos de todos os tempos e de todos os países, os nobres mártires das causas generosas e aqueles que consagram vidas inteiras a acumular no silêncio dos claustros, das bibliotecas, dos laboratórios, os tesouros da ciência e da sabedoria humana.

Todas as correntes do passado se encontram, juntam-se e confundem-se em cada vida. Contribuem para fazer a alma generosa ou mesquinha, luminosa ou escura, poderosa ou miserável.

Assim, no encadeamento das nossas estações terrestres, continua e completa-se a obra grandiosa de nossa educação, o moroso edificar de nossa individualidade, de nossa personalidade moral. É por essa razão que a alma tem de encarnar sucessivamente nos meios mais diversos, em todas as condições sociais; tem de passar alternadamente pelas provações da pobreza e da riqueza, aprendendo a obedecer para depois mandar. Precisa das vidas obscuras, vidas de trabalho, de privações para acostumar-se a renunciar às vaidades materiais, a desapegar-se das coisas frívolas, a ter paciência, a adquirir a disciplina do espírito. São necessárias as existências de estudo, as missões de dedicação, de caridade, por via das quais se ilustra a inteligência e o coração se enriquece com a aquisição de novas qualidades; virão depois as vidas de sacrifício, pela pátria, pela Humanidade. São necessárias também a prova cruel, cadinho onde se fundem o orgulho e o egoísmo, e as situações dolorosas, que são o resgate do passado, a reparação das nossas faltas, a norma porque se cumpre a lei de justiça. O Espírito retempera-se, aperfeiçoa-se, purifica-se na luta e no sofrimento. Volta a expiar no próprio meio onde se tornou culpado. Acontece às vezes que as provações fazem de nossa existência um calvário, mas esse calvário é um monte que nos aproxima dos mundos felizes.

Logo, não há fatalidade. É o homem, por sua própria vontade, quem forja as próprias cadeias, é ele quem tece, fio por fio, dia a dia, do nascimento à morte, a rede de seu destino. A lei de harmonia; determina as conseqüências dos atos que livremente

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praticamos. Não pune nem recompensa, mas preside simplesmente à ordem, ao equilíbrio do mundo moral como ao do mundo físico. Todo dano causado à ordem universal acarreta causas de sofrimento e uma reparação necessária até que, mediante os cuidados do culpado, a harmonia violada seja restabelecida.

O bem e o mal praticados constituem a única regra do destino. Sobre todas as coisas exerce influência uma lei grande e poderosa, em virtude da qual cada ser vivo do universo só pode gozar da situação correspondente a seus méritos. A nossa felicidade, apesar das aparências enganadoras, está sempre em relação direta com a nossa capacidade para o bem; e essa lei acha completa aplicação nas reencarnações da alma. É ela que fixa as condições de cada renascimento e traça as linhas principais dos nossos destinos. Por isso há maus que parecem felizes, ao passo que justos sofrem excessivamente. A hora da reparação soou para estes e, breve, soará para aqueles.

Associarmos os nossos atos ao plano divino, agirmos de acordo com a Natureza, no sentido da harmonia e para o bem de todos, é preparar nossa elevação, nossa felicidade; agir no sentido contrário, fomentar a discórdia, incitar os apetites malsãos, trabalhar para si mesmo em menoscabo dos outros, é semear para o futuro fermentos de dor; é nos colocarmos sob o domínio de influências que retardam o nosso adiantamento e por muito tempo nos acorrentam aos mundos inferiores.

É isso o que é necessário dizer, repetir e fazer penetrar no pensamento, na consciência de todos, a fim de que o homem tenha um único alvo em mira, conquistar as forças morais, sem as quais ficará sempre na impotência de melhorar a sua condição e a da Humanidade!

Fazendo conhecer os efeitos da lei de responsabilidade, demonstrando que as conseqüências de nossos atos recaem sobre nós através dos tempos, como a pedra atirada ao ar torna a cair ao solo, pouco a pouco serão levados os homens a conformar o seu proceder com esta lei, a realizar a ordem, a justiça, a solidariedade no meio social.

O presente tem a sua explicação no passado. Foi preciso uma série de renascimentos terrestres para que o homem conquistasse a posição que atualmente ocupa, e não parece admissível que este ponto de evolução seja definitivo para a nossa esfera. Os seus habitantes não estão todos em estado de transmigrar depois da morte para sociedades mais perfeitas; pelo contrário, tudo indica a imperfeição da sua natureza e a necessidade de novos trabalhos, de outras provas que lhes completem a educação e lhes dêem acesso a um grau superior na escala dos seres.

Em toda parte a Natureza procede com sabedoria e morosidade. Numerosos séculos foram-lhe indispensáveis para fabricar a forma humana; só volvidos longos períodos de barbaria é que nasceu a Civilização. A evolução física e mental e o progresso moral são regidos por leis idênticas; não basta uma única existência para dar-lhes cumprimento. E para que havemos de ir buscar muito longe, a outros mundos, os elementos de novos progressos, quando os encontramos por toda parte em volta de nós? Desde a selvageria até a mais requintada civilização, não nos oferece o nosso planeta vasto campo ao desenvolvimento do Espírito?

Os contrastes, as oposições que aí apresentam, em todas as suas formas, o bem e o mal, o saber e a ignorância, são outros tantos exemplos e ensinamentos, outra tantas causas de emulação. Renascer não é mais extraordinário do que nascer, a alma volta à carne para nela submeter-se às leis da necessidade; as precisões e as lutas da vida material são outros tantos incentivos que a obrigam a trabalhar, aumentam a sua energia, avigoram-lhe o caráter. Tais resultados não poderiam ser obtidos na vida livre do Espaço por espíritos juvenis, cuja vontade é vacilante. Para avançarem, tornam-se precisos o látego da necessidade e as numerosas encarnações, durante as quais a alma vai concentrar-se, recolher-se em si mesma, adquirir a elasticidade, a impulsão indispensável pra descrever mais tarde a sua imensa trajetória no céu.

O fim dessas encarnações é, pois, de alguma sorte, a revelação da alma a si mesma ou, antes, a sua própria valorização pelo desenvolvimento constante das suas forças, dos seus conhecimentos, da sua consciência, da sua vontade. A alma inferior e nova não pode adquirir a consciência de si mesma senão com a condição de estar separada das outras almas, encerrada num corpo material. Ela constituirá, assim, um ser distinto, que vai afirmar a sua personalidade, aumentar a sua experiência, acentuar a

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sua marcha progressiva na razão direta dos esforços que fizer triunfar das dificuldades e dos obstáculos que a vida terrestre lhe semeia debaixo dos pés.

A passagem das almas terrestres para outros mundos só pode ser efetuada sob o regime de certas leis. Os Globos que povoam a extensão diferem entre si por sua natureza e densidade. A adaptação dos invólucros fluídicos das almas e esses meios novos somente é realizável em condições especiais de purificação. É impossível aos Espíritos inferiores, na vida errática, penetrarem nos mundos elevados e lhes descreverem as belezas aos nossos médiuns. Encontra-se a mesma dificuldade, maior ainda, quando se trata da reencarnação nesses mundos. As sociedades que os habitam, por seu estado de superioridade, são inacessíveis à imensa maioria dos Espíritos terrestres, ainda demasiadamente grosseiros, em insuficiente grau de elevação. Os sentimentos psíquicos dos últimos, muito pouco apurados, não lhes permitiriam viver da vida sutil que reina nessas esferas longínquas. Achar-se-iam lá como cegos na claridade ou surdo num concerto. A atração que lhes encadeia os corpos fluídicos do Planeta prende-lhes, do mesmo modo, o pensamento e a consciência às coisas inferiores. Seus desejos, seu apetites, seus ódios, seu amor mesmo fazem-nos voltar a este mundo e ligam-nos ao objeto da sua paixão.

É necessário aprender primeiramente a desatar os laços que nos amarram à Terra, para, depois, levantarmos o vôo para mundos mais elevados. Arrancar as almas terrestres ao seu meio, antes do termo da evolução especial a esse meio, fazê-las transmigrar para esferas superiores, antes de terem realizado os progressos necessários, seria desarrazoado e imprudente. A Natureza não procede assim, sua obra desenrola-se majestosa, harmônica, em todas as suas fases. Os seres, cuja ascensão suas leis dirigem, não deixam o campo de ação senão depois de terem adquirido virtudes e potências capazes de lhes darem entrada num domínio mais elevado da Vida Universal.

A que regras está sujeito o regresso da alma à carne? Às da atração e da afinidade. Quando um Espírito encarna, é atraído para um meio conforme as suas tendências, ao seu caráter e grau de evolução. As almas seguem umas as outras e encarnam por grupos, constituem famílias espirituais, cujos membros são unidos por laços ternos e fortes, contraídos durante existências percorridas em comum. Às vezes esses espíritos são temporariamente afastados uns dos outros e mudam de meio para adquirirem novas aptidões. Assim se explicam, segundo os casos, as analogias ou dessemelhanças que caracterizam os membros de uma mesma família, filhos e pais; mas, sempre aqueles que se amam tornam, cedo ou tarde, a encontrar-se na Terra, como no Espaço.

Acusa-se a doutrina das reencarnações de amesquinhar a idéia de família, de inverter e confundir as situações que ocupam, uns em relação aos outros, os espíritos unidos por laços de parentesco, por exemplo, as relações de mãe para filho, de marido para mulher, etc; o contrário é que é verdade. Na hipótese de uma vida única, os espíritos dispersam-se depois de breve coabitação e, muitas vezes, tornam-se estranhos uns aos outros. Segundo a doutrina católica, as almas permanecem, depois da morte, em lugares diversos, segundo os seus méritos, e os eleitos são para sempre separados dos réprobos. Assim, os laços de família e de amizade, formados por uma vida transitória, afrouxam-se na maior parte dos casos e até se quebram de vez; ao passo que, pelos renascimentos, os espíritos reúnem-se de novo e prosseguem em comum as suas peregrinações através dos mundos, tornando-se, assim, a sua união cada vez mais íntima e profunda.

O Espírito adiantado, cuja liberdade aumenta na razão direta da sua elevação, escolhe o meio onde quer renascer, ao passo que o Espírito inferior é impelido por uma força misteriosa a que obedece instintivamente; mas, todos são protegidos, aconselhados, amparados na passagem da vida do Espaço para a existência terrestre, mais penosa, mais temível que a morte.

A união da alma com o corpo efetua-se por meio do invólucro fluídico, o perispírito, de que muitas vezes temos falado. Sutil por sua natureza, vai ele servir de laço entre o Espírito e a matéria. A alma está presa ao gérmen por este mediado plástico, que vai retrair-se, condensar-se cada vez mais, através das fases progressivas da gestação, e formar o corpo físico. Desde a concepção até o nascimento, a fusão opera-se lentamente, fibra por fibra, molécula por molécula. Pelo afluxo crescente dos elementos materiais e da força vital fornecidos pelos genitores, os movimentos

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vibratórios do perispírito da criança vão diminuir e restringir-se, ao mesmo tempo que as faculdades da alma, a memória, a consciência esvaem-se e aniquilam-se. É a essa redução das vibrações fluídicas do perispírito, à sua oclusão na carne que se deve atribuir a perda da memória das vidas passadas. Um véu cada vez mais espesso envolve a alma e apaga-lhe as radiações interiores. Todas as impressões da sua vida celeste e do seu longo passado volvem às profundezas do inconsciente e a emersão só se realiza nas horas de exteriorização ou por ocasião da morte, quando o Espírito recuperando a plenitude dos seus movimentos vibratórios, evoca o mundo adormecido das suas recordações.

O papel do duplo fluídico é considerável; explica-se, desde o nascimento até a morte, todos os fenômenos vitais. Possuindo em si os vestígios indeléveis de todos os estados do ser, desde a sua origem, comunica-lhe a impressão, as linhas essenciais ao gérmen material. Eis aí a chave dos fenômenos embriogênicos.

O perispírito durante o período de gestação, impregna-se de fluido vital e materializa-se quanto baste para tornar-se o regulador da energia e o suporte dos elementos fornecidos pelos genitores; constitui, assim, uma espécie de esboço, de rede fluídica permanente, através da qual passará a corrente de matéria que destrói e reconstitui sem cessar, durante a vida, o organismo terrestre; será a armação invisível que sustenta interiormente a estátua humana. Graças a ele, a individualidade e a memória conservar-se-ão no plano físico, apesar das vicissitudes da parte mutável e móvel do ser, e assegurará, do mesmo modo, a lembrança dos fatos da existência presente, recordações cujo encadeamento, do berço à cova, fornece-nos a certeza íntima da nossa identidade.

A incorporação da alma não é, pois, subitânea, como o afirmam certas doutrinas; é gradual e só se completa e se torna definitiva à saída da vida uterina. Nesse momento, a matéria encerra completamente o espírito, que deverá vivificá-la pela ação das faculdades adquiridas.

Longo será o período de desenvolvimento durante o qual a alma se ocupará em pôr à sua feição o novo invólucro, em acomodá-lo às suas necessidades, em fazer dele um instrumento capaz de manifestar-lhe as potências íntimas; mas, nessa obra, será coadjuvada por um Espírito preposto à sua guarda, que cuida dela, a inspira e guia em todo o percurso da sua peregrinação terrestre. Todas as noites, durante o sono, muitas vezes até de dia, o Espírito, no período infantil, desprende-se da forma carnal, volve ao Espaço, a haurir forças e alentos para, em seguida, tornar a descer ao invólucro e prosseguir o penoso curso da existência.

Bibliografia: O Livro dos Espíritos – Allan Kardec A Reencarnação – Gabriel Delanne O Problema do Ser, do Destino e da Dor – Leon Denis O Céu e o Inferno – Allan Kardec

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 10

Desencarnação – Retorno da Vida Corporal para a Vida Espiritual Morte e Desencarnação O desencarne ocorre com o rompimento do cordão fluídico, esse rompimento

pode ser de maneira suave quando o espírito cumpriu o tempo de existência previsto aqui na Terra, ou de maneira brusca quando o rompimento se faz antes do período estabelecido. Quando cessa a vida no corpo, o espírito o abandona, pois, se rompem os laços que o uniam ao corpo.

OBS: A vida orgânica pode animar um corpo sem o espírito, mas, o espírito não pode habitar um corpo privado de vida orgânica.

No momento da morte corporal o espírito entra em perturbação, perdendo a

consciência de si, de maneira a não poder testemunhar o último suspiro do corpo. Pouco a pouco, dissipa-se aquela perturbação e ele se reconhece, como quem sai de um sono profundo. A sua primeira sensação é a de estar livre do fardo carnal, depois vem a de estranheza à vista do novo meio em que se acha. O espírito procura o corpo, descobre-o ao seu lado, sabe que é o seu e fica surpreendido de estar dele separado. Pouco a pouco, porém, vai tendo conhecimento da nova situação.

No fenômeno não se operou senão uma mudança da situação material; pois que, moralmente, o espírito é o que era há poucas horas. Nenhuma modificação sofreu, as suas faculdades, ideais, gostos, inclinações, o caráter, são os mesmos, não se operando senão gradualmente, pela influência do novo meio, as mudanças por que deve passar.

Em resumo: só houve morte para o corpo, para o espírito a mudança não passou de um sono.

Separação da Alma do Corpo Durante a vida, o espírito se liga ao corpo por seu envoltório semi-material ou

perispírito. A morte é apenas a destruição do corpo e não desse segundo envoltório que se separa do corpo quando cessa neste a vida orgânica. A observação prova que no instante da morte o desligamento do perispírito não se completa subitamente; ele não opera senão gradualmente e com uma lentidão que varia muito segundo os indivíduos. Para alguns ele é muito rápido, e pode-se dizer que o momento da morte é aquele do desligamento, algumas horas após. Para outros, aqueles, sobretudo, cuja vida foi toda material e sensual, o desligamento é muito menos rápido e dura, algumas vezes, dias, semanas e mesmo meses, o que não implica existir no corpo a menor vitalidade nem a possibilidade de um retorno à vida, mas uma simples afinidade entre o corpo e o espírito, afinidade que está sempre em razão da preponderância que, durante a vida, o espírito deu à matéria. Com efeito, é racional conceber que quanto mais o espírito se identifica

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com a matéria, mais ele sofre ao se separar dela. Ao passo que a atividade intelectual e moral, a elevação dos pensamentos, operam um começo de libertação mesmo durante a vida do corpo e, quando chega a morte, ela é quase instantânea. Tal é o resultado dos estudos feitos sobre todos os indivíduos observados no momento da morte. Essas observações provam ainda que a afinidade persistente entre a alma e o corpo em certos indivíduos, é algumas vezes muito penosa porque o espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso é excepcional e particular a certos gêneros de vida e a certos gêneros de morte; ele se apresenta entre alguns suicidas.

OBS: Ao contrário que muitos pensam a separação da alma e do corpo não é dolorosa, o corpo sofre, freqüentemente, mais durante a vida do que no momento da morte. Os sofrimentos que experimenta, algumas vezes, no momento da morte são um prazer para o espírito, que vê chegar o fim de seu exílio.

Algumas vezes, na agonia, a alma já deixou o corpo e não há mais que a vida orgânica. O homem não tem mais consciência de si mesmo e, entretanto, lhe resta ainda um sopro de vida. O corpo é uma máquina que o coração movimenta; existe enquanto o coração faz circular o sangue nas veias; e para isso não necessita da alma.

Morte Violenta e Acidental Neste caso, quando os órgãos não estão ainda enfraquecidos pela idade ou

pelas doenças a separação da alma e a cessação da vida ocorrem, geralmente, simultaneamente, mas em todos os casos o instante que os separa é muito curto.

Exemplo: Na decapitação o homem freqüentemente, conserva por alguns instantes a consciência dele mesmo até que a vida orgânica esteja completamente extinta. Mas, muitas vezes, a expectativa da morte lhe faz perder esta consciência antes do instante do suplício.

Perturbação do Espírito A alma deixando o corpo não tem consciência imediata de si, ela passa algum

tempo em estado de perturbação. O grau e o tempo dessa perturbação depende da elevação de cada um. Aquele

que já está purificado se reconhece quase imediatamente, visto que já se liberou da matéria durante a vida física. Enquanto que o homem carnal, aquele cuja consciência não é pura, conserva por tempo mais longo a impressão dessa matéria.

A duração da perturbação que se segue à morte do corpo varia muito; pode ser de algumas horas, de muitos meses e mesmo de muitos anos. É menos longa para aqueles que desde sua vida terrena se identificaram com o seu estado futuro, porque, então, compreendem imediatamente a sua posição.

OBS: No momento da morte tudo, a princípio, é confuso. A alma necessita de algum tempo para se reconhecer. Ela se acha como aturdida e no estado de um homem que despertando de um sono profundo procura orientar-se sobre a situação. A lucidez das idéias e a memória do passado lhe voltam, à medida que se apaga a influência da matéria da qual se liberou, e se dissipe a espécie de neblina que obscurece seus pensamentos.

Essa perturbação apresenta circunstâncias particulares, segundo caráter dos indivíduos e, sobretudo de acordo com o gênero de morte, nas mortes violentas, por suicídio, suplício, apoplexia, ferimentos, etc., o espírito é surpreendido, espanta-se, e não acredita que morreu e sustenta essa idéia com obstinação. Entretanto, vê seu corpo, sabe que esse corpo é seu e não compreende porque está separado dele; acerca-se das pessoas a quem estima, fala-lhes e não compreende porque elas não o ouvem. Essa ilusão perdura até a inteira libertação do perispírito e, só então, o espírito se reconhece e

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compreende que não pertence mais ao número dos vivos. Este fenômeno se explica facilmente. Surpreendido de improviso pela morte, o espírito fica atordoado com a brusca mudança que nele se operou. Para ele a morte é ainda sinônimo de destruição, aniquilamento; ora, como ele pensa, vê e escuta, não se considera morto. Sua ilusão é aumentada pelo fato de se ver com um corpo de forma semelhante ao precedente, mas cuja natureza etérea ainda não teve tempo de estudar; ele o crê sólido e compacto como o primeiro e, quando chamam sua atenção para esse ponto, admira-se de não poder apalpá-lo.

Esse fenômeno é análogo ao dos sonâmbulos iniciantes que não acreditam dormir. Para eles o sono é sinônimo de suspensão das faculdades; ora, como pensam e vêem, julgam que não dormem. Certos espíritos apresentam essa particularidade, embora a morte não lhes tenha chegado inesperadamente; todavia, é sempre mais generalizada naqueles que, apesar de doentes, não pensam em morrer. Vê-se, então, o singular espetáculo de um espírito assistindo aos próprios funerais, como se fora um estranho e deles falando como de uma coisa que não lhe dissesse respeito, até o momento em que compreende a verdade.

O conhecimento do espiritismo exerce uma influência muito grande sobre a

duração da perturbação, uma vez que o espírito já compreendia antecipadamente a sua situação. Mas a prática do bem e da pureza da consciência são os que exercem maior influência.

A Justiça Divina na Desencarnação Uma lei tão simples em seus princípios quanto admirável em seus efeitos

preside à classificação das almas no espaço. Quanto mais sutis e rarefeitas são as moléculas constitutivas do perispírito tanto

mais rápida é a desencarnação, tanto mais vastos são os horizontes que se rasgam ao Espírito. Devido ao seu peso fluídico e às suas afinidades, ele se eleva para os grupos espirituais que lhe são similares. Sua natureza e seu grau de depuração determinam-lhe nível e classe no meio que lhe é próprio.

Com alguma exatidão tem-se comparado a situação dos Espíritos no espaço à dos balões cheios de gases de densidades diferentes que, em virtude de seus pesos específicos, se elevam a alturas diversas. Mas, cumpre que nos apressemos em acrescentar que o Espírito é dotado de liberdade e, portanto, não estando imobilizado em nenhum ponto, pode, dentro de certos limites, deslocar-se e percorrer os paramos etéreos.

Pode, em qualquer tempo, modificar suas tendências, transformar-se pelo trabalho ou pela prova, e, conseguintemente, elevar-se à vontade na escala dos seres.

É, pois, uma lei natural, análoga às leis da atração e da gravidade, a que fixa a sorte das almas depois da morte. O Espírito impuro, acabrunhado pela densidade de seus fluidos materiais, confina-se nas camadas inferiores da atmosfera, enquanto a alma virtuosa, de envoltório depurado e sutil, arremessa-se, alegre, rápida como o pensamento, pelo azul infinito.

É também em si mesmo, e não fora de si, é em sua própria consciência que o Espírito encontra sua recompensa ou seu castigo. Ele é o seu próprio juiz. Caído o vestuário de carne, a luz penetra-o e sua alma aparece nua, deixando ver o quadro vivo de seus atos, de suas vontades, de seus desejos. Momento solene, exame cheio de angústia e, muitas vezes, de desilusão. As recordações despertam em tropel e a vida inteira desenrola-se com seu cortejo de faltas, de fraquezas, de misérias. Da infância à morte, tudo, pensamentos, palavras, ações, tudo sai da sombra, reaparece á luz, anima-se e revive. O ser contempla-se a si mesmo, revê, uma a uma, através dos tempos, suas existência passadas, suas quedas, suas ascensões, suas fases inumeráveis. Conta os estágios franqueados, mede o caminho percorrido, compara o bem e o mal realizados. Do fundo do passado obscuro, surge, a seu apelo, como outros tantos fantasmas, as formas que revestiu através das vidas sucessivas, em uma visão clara, sua recordação abraça as longas perspectivas das idades decorridas; evoca as cenas sanguinolentas,

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apaixonadas, dolorosas, as dedicações e os crimes; reconhece a causa dos processos executados, das expiações sofridas, o motivo da sua posição atual. Vê a correlação que existe, unindo suas vidas passadas aos anéis de uma longa cadeia desenrolando-se pelos séculos. Para si, o passado explica o presente e este deixa prever o futuro. Eis para o Espírito a hora da verdadeira tortura moral. Essa evocação do passado traz-lhe a sentença temível, a increpação da sua própria consciência, espécie de julgamento de Deus, por mais lacerante que seja, esse exame é necessário porque pode ser o ponto de partida de resoluções salutares e da reabilitação.

O grau de depuração do Espírito, a posição que ocupa no espaço representam a soma de seus progressos realizados e dão a medida do seu valor moral. É nisto que consiste a sentença infalível que lhe decide a sorte, sem apelo. Harmonia profunda! Simplicidade maravilhosa que as instituições humanas não poderiam reproduzir; o princípio de afinidade regula todas as coisas e fixa a cada qual o seu lugar. Nada de julgamento, nada de tribunal, apenas existe a lei imutável executando-se por si própria, pelo jogo natural das forças espirituais e segundo o emprego que delas faz a alma livre e responsável.

Todo pensamento tem uma forma, e essa forma, criada pela vontade, fotografa-se em nós como em um espelho onde as imagens se gravam por si mesmas. Nosso envoltório fluídico reflete e guarda, como em um registro, todos os fatos da nossa existência. Esse registro está fechado durante a vida, porque a carne é a espessa capa que nos oculta o seu conteúdo. Mas, por ocasião da morte, ele abre-se repentinamente e as sua páginas distendem-se aos nossos olhos.

O Espírito desencarnado traz, portanto, em si, visível para todos, seu céu ou seu inferno. A prova irrecusável da sua elevação ou da sua inferioridade está inscrita em seu corpo fluídico. Testemunhas benévolas ou terríveis, as nossas obras, os nossos desígnios justificam-nos ou acusam-nos, sem que coisa alguma possa fazer calar as suas vozes. Daí o suplício do mal que, acreditando estarem os seus pérfidos desejos, os seus atos culpáveis profundamente ocultos, os vê, então, brotar aos olhos de todos; daí os seus remorsos quando, sem cessar, repassam diante de si os anos ociosos e estéreis, as horas impregnadas no deboche e no crime, assim como as vítimas lacrimosas, sacrificadas a seus instintos brutais. Daí também a felicidade do Espírito elevado, que consagrou toda a sua vida a ajudar e a consolar seus irmãos.

Para distrair-se dos cuidados, das preocupações morais, o homem tem o trabalho, o estudo, o sono. Para o Espírito não há mais esses recursos. Desprendido dos laços corporais, acha-se incessantemente em face do quadro fiel e vivo do seu passado. Assim, aos amargores e pesares contínuos, que então decorrem, despertam-lhe, na maior parte dos casos, o desejo de, em breve, tomar um corpo carnal para combater, sofrer e resgatar esse passado acusador.

Velório e Dia de Finados 328. O Espírito daquele que acaba de morrer assiste às reuniões de seus

herdeiros? (Livro dos Espíritos). Quase sempre. Deus o quer para sua própria instrução e para castigo dos

culpados. É nessa ocasião que vê quanto valiam os protestos que lhe faziam. Todos os sentimentos se tornam patentes, e a decepção que experimenta, vendo a capacidade dos que dividem o seu espólio, o esclarece quanto aos seus propósitos. Mas, a vez deles também chegará.

321. O dia de comemoração dos mortos tem alguma coisa de mais solene para

os Espíritos? (Livro dos Espíritos). Os Espíritos atendem ao chamado do pensamento, nesse dia como nos outros. 321-a. Esse é para eles um dia de reunião junto às sepulturas? (Livro dos

Espíritos). Reúnem-se em maior número nesse dia porque maior é o número de pessoas

que os chamam. Mas cada um só comparece em atenção aos seus amigos e não pela multidão de indiferentes.

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321-b. Sob que forma comparecem, e como seriam vistos se pudessem tornar-

se visíveis?(Livro dos Espíritos). Aquela pela qual eram conhecidos em vida. 323. A visita ao túmulo proporciona mais satisfação ao espírito do que uma

prece feita em sua intenção? (Livro dos Espíritos). A visita ao túmulo é uma maneira de se manifestar que se pensa no Espírito

ausente: é a exteriorização desse fato. Eu já vos disse que é a prece que santifica o ato de lembrar, pouco importa o lugar, se a lembrança é ditada pelo coração.

Perda de Pessoas Amadas 934. A perda de entes queridos não nos causa um sofrimento tanto mais

legítimo quanto é ela irreparável e independente da nossa vontade? (Livro dos Espíritos). Essa causa de sofrimento atinge tanto o rico como o pobre: é uma prova ou

expiação e lei para todos. Mas é uma consolação poderdes comunicar-vos com os vossos amigos pelos meios de que dispondes enquanto esperais o aparecimento de outros mais diretos e mais acessíveis aos vossos sentidos.

935. Que pensar da opinião das pessoas que consideram as comunicações do

além-túmulo como uma profanação? (Livros dos Espíritos). Não pode haver profanação quando há recolhimento e quando a evocação é

feita com respeito e decoro. O que o prova é que os Espíritos que vos são afeiçoados se manifestam com prazer, sentem-se felizes com a vossa lembrança e por conversarem convosco. Profanação haveria se as evocações fossem feitas com leviandade.

A possibilidade de entrar em comunicação é uma bem doce consolação, que nos proporciona o meio de nos entretermos com os parentes e amigos que deixaram a Terra antes de nós. Pela evocação eles se aproximam de nós, permanecem do nosso lado, nos ouvem e nos respondem. Não existe mais, por assim dizer, separação entre nós e eles, que nos ajudam com os seus conselhos, nos dão testemunho da sua afeição e do contentamento que experimentam por nos lembrarmos deles. É para nós uma satisfação sabê-los felizes e aprender através deles os detalhes da sua nova existência, adquirindo a certeza de um dia, por nossa vez, nos juntarmos a eles.

936. Como as dores inconsoláveis dos que ficam na Terra afetam os Espíritos

que partiram? (Livro dos Espíritos). O Espírito é sensível à lembrança e às lamentações daqueles que amou, mas

uma dor incessante e desarrazoada o afeta penosamente, porque ele vê nesse excesso uma falta de fé no futuro e de confiança em Deus, e por conseguinte um obstáculo ao progresso e talvez ao próprio reencontro com os que deixou.

Estando o Espírito mais feliz do que na Terra, lamentar que tenha deixado esta vida é lamentar que ele seja feliz. Dois amigos estão presos na mesma cadeia; ambos devem ter um dia a liberdade, mas um deles a obtém primeiro. Seria caridoso que aquele que continua preso se entristecesse por ter o seu amigo se libertado antes? Não haveria de sua parte mais egoísmo do que afeição, ao querer que o outro partilhasse por mais tempo de seu cativeiro e dos seus sofrimentos? O mesmo acontece entre dois seres que se amam na Terra. O que parte primeiro foi o primeiro a se libertar e devemos felicitá-lo por isso, esperando com paciência o momento em que também nos libertaremos.

Faremos outra comparação. Tendes um amigo que, ao vosso lado, se encontra em situação penosa. Sua saúde ou seu interesse exige que vá para outro país, onde estará melhor sob todos os aspectos. Dessa maneira, ele não estará mais ao vosso lado, durante algum tempo, mas estareis sempre em correspondência com ele. A separação não será mais que material. Ficareis aborrecido com o seu afastamento, que foi para o seu bem?

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A doutrina espírita, pelas provas patentes que nos dá quanto à vida futura, à presença ao nosso redor dos seres aos quais amamos, à continuidade da sua afeição e da sua solicitude, pelas relações que nos permite entreter com eles, nos oferecem uma suprema consolação, numa das causas mais legítimas de dor. Com o Espiritismo não há mais abandono. O mais isolado dos homens tem sempre amigos ao seu redor, com os quais pode comunicar-se.

Suportamos impacientemente as tribulações da vida. Elas nos parecem tão intoleráveis que supomos não as poder suportar, não obstante, se as suportarmos com coragem, se soubermos impor silêncio às nossas lamentações, haveremos de nos felicitar quando estivermos fora desta prisão terrena, como o paciente que sofria se felicita, ao se ver curado, por haver suportado com resignação um tratamento doloroso.

Conseqüências Morais da Reencarnação Código Penal da Vida Futura O Espiritismo não vem, pois, com a sua autoridade particular, formular um

código de fantasia; sua lei, no que diz respeito ao futuro da alma, deduzida da observação tomada sobre os fatos, pode se resumir nos pontos seguintes:

1o. A alma ou Espírito sofre, na vida espiritual, as conseqüências de todas as

imperfeições das quais não se despojou, durante a vida corporal. Seu estado, feliz ou infeliz é inerente ao grau de sua depuração ou de suas imperfeições.

2o. A felicidade perfeita está ligada à perfeição, quer dizer, à depuração

completa do Espírito. Toda imperfeição é, ao mesmo tempo, uma causa de sofrimento e de privação de prazer, do mesmo modo que, toda qualidade adquirida, é uma causa de prazer e de atenuação dos sofrimentos.

3o. Não há uma única imperfeição da alma que não carregue consigo as suas

conseqüências deploráveis, inevitáveis, e uma única boa qualidade que não seja a fonte de um prazer. A soma das penas assim é proporcional à soma das imperfeições, do mesmo modo que a dos gozos está em razão da soma das qualidades. A alma que tem dez imperfeições, por exemplo, sofre mais do que aquela que não as tem senão três ou quatro; quando, dessas dez imperfeições, não lhe restar senão a quarta parte ou a metade, sofrerá menos, e, quando não lhe restar nenhuma delas, não sofrerá mais e será perfeitamente feliz. Tal, sobre a Terra, aquele que tem várias enfermidades sofre mais do que aquele que não tem senão uma, ou que não tem nenhuma, pela mesma razão, a alma que possui dez qualidades goza mais do que aquela que as tem menos.

4o. Em virtude da lei do progresso, tendo, toda alma a possibilidade de adquirir

o bem que lhe falta, e de se desfazer do que ela tem de mau, segundo os seus esforços e a sua vontade, disso resulta que o futuro não está fechado para nenhuma criatura. Deus não repudia nenhum dos seus filhos; recebe-os, em seu seio, à medida que atingem a perfeição deixando, assim, a cada um, o mérito das suas obras.

5o. Estando o sofrimento ligado à imperfeição, do mesmo modo que o prazer

está à perfeição, a alma carrega, consigo mesma, o seu próprio castigo, por toda parte onde se encontre; para isso, não tem necessidade de um lugar circunscrito. O inferno, pois, está por toda parte onde haja almas sofredoras, do mesmo modo que o céu está por toda parte onde haja almas felizes.

6o. O bem e o mal que se faz são o produto das boas e das más qualidades que

se possui. Não fazer o bem que se poderia fazer é, pois, o resultado de uma imperfeição. Se toda imperfeição é uma fonte de sofrimento, o Espírito deve sofrer não apenas por

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todo o mal que fez, mas por todo o bem que poderia fazer, e não fez, durante a sua vida terrena.

7o. O Espírito sofre pelo próprio mal que ele fez, de maneira que, estando a sua

atenção incessantemente centrada sobre as conseqüências desse mal, compreende melhor os seus inconvenientes e está estimulado a dele se corrigir.

8o. Sendo a justiça de Deus infinita, tem uma conta rigorosa do bem e do mal;

se não há uma única ação má, um único mau pensamento que não tenha as suas conseqüências fatais, não há uma única boa ação, um único bom movimento da alma, o mais leve mérito, em uma palavra, que seja perdido, mesmo entre os mais perversos, pois é um começo de progresso.

9o. Toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída que deve

ser paga; se não for numa existência, será na seguinte ou nas seguintes, porque todas as existências são solidárias, umas com as outras. Aquilo que se paga na existência presente não deverá ser pago por segunda vez.

10o. O Espírito sofre a pena das suas imperfeições, seja no mundo espiritual,

seja no mundo corporal. Todas as misérias, todas as vicissitudes que suportamos na vida corporal, são conseqüências de nossas imperfeições, de expiações de faltas cometidas, seja na existência presente, seja nas precedentes. Pela natureza dos sofrimentos e das vicissitudes que se experimentam na vida corporal, pode-se julgar da natureza das faltas cometidas, em uma precedente existência, e das imperfeições que lhes são causa.

11o. A expiação varia segundo a natureza e a gravidade das faltas; a mesma

falta pode, assim, dar lugar a expiações diferentes, segundo as circunstâncias, atenuantes ou agravantes, nas quais foram cometidas.

12o. Não há, sob o aspecto da natureza e da duração do castigo, nenhuma

regra é absoluta e uniforme; a única lei geral é que toda falta recebe a sua punição, e toda boa ação a sua recompensa, segundo o seu valor.

13o. A duração do castigo está subordinada à melhoria do Espírito culpado.

Nenhuma condenação, por tempo determinado, é pronunciada contra ele. O que Deus exige para pôr termo aos seus sofrimentos, é uma melhoria séria, efetiva, e um retorno sincero ao bem. O Espírito é, assim, sempre, o árbitro da sua própria sorte; pode prolongar os seus sofrimentos pelo seu endurecimento no mal, abrandá-los ou abreviá-los por seus esforços para fazer o bem. Uma condenação, por um tempo determinado qualquer, teria o duplo inconveniente ou de continuar a ferir o Espírito que teria se melhorado, ou de cessar quando este ainda estaria no mal. Deus, que é justo, pune o mal quando ele existe; e cessa de punir quando o mal não existe mais; ou, se quer, sendo o mal moral, por si mesmo, uma causa de sofrimento, o sofrimento dura tão longo tempo quanto o mal subsista; a sua intensidade diminui à medida que o mal se enfraquece.

14o. Estando a duração do castigo subordinada ao melhoramento, disso resulta

que o Espírito culpado que não se melhora nunca sofrerá sempre, e que, para ele, a pena seria eterna.

15o. Uma condição inerente à inferioridade dos Espíritos é a de não ver o termo

de sua situação, e de crer que sofrerão sempre. É, para eles, um castigo que lhes parece que será eterno.

16o. O arrependimento é o primeiro passo para a melhoria; mas só ele não

basta, é preciso, ainda, a expiação, a reparação. Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas conseqüências. O arrependimento abranda as dores da expiação, no que traz a esperança e prepara os caminhos da reabilitação; mas unicamente a reparação pode

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anular o efeito, em destruindo a causa; o perdão seria uma graça e não uma anulação.

17o. O arrependimento pode ocorrer em qualquer parte e em qualquer tempo;

se é tardio, o culpado sofre por mais tempo. A expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais, que são a conseqüência da falta cometida, seja desde a vida presente, seja, depois da morte, na vida espiritual, seja em nova existência corporal, até que os traços da falta tenham se apagado. A reparação consiste em fazer o bem àquele a quem se fez o mal. Aquele que não reparar os seus erros nesta vida, por impossibilidade ou má vontade, se reencontrará, numa existência ulterior, em contato com as mesmas pessoas que tiveram do que se lastimar dele, e em condições escolhidas por ele mesmo, de maneira a poder provar-lhes o seu devotamento, e fazer-lhes tanto bem quanto lhes haja feito de mal. Nem todas as faltas acarretam um prejuízo direto e efetivo; nesse caso, a reparação se cumpre: fazendo o que se devia fazer e não se fez, cumprindo os deveres que foram negligenciados ou desconhecidos, as missões em que se faliu; praticando o bem em sentido contrário àquilo que se fez de mal; quer dizer, sendo humilde onde se foi orgulhoso, brando onde se foi duro, caridoso onde se foi egoísta, benevolente se foi malévolo, trabalhador se foi preguiçoso, útil se foi inútil, moderado se foi dissoluto, de bom exemplo se deu maus exemplos, etc. É assim que o espírito progride, aproveitando o seu passado.

18o. Os espíritos imperfeitos estão excluídos dos mundos felizes, onde

perturbariam a harmonia; permanecem nos mundos inferiores, onde espiam as suas faltas pelas tribulações da vida, e se purificam das suas imperfeições, até que mereçam se encarnar nos mundos mais avançados, moral e fisicamente. Se se pode conceber um lugar de castigo circunscrito, é nesses mundos de expiação, porque é ao redor desses mundos que pululam os Espíritos imperfeitos desencarnados, à espera de uma nova existência que, lhes permitindo reparar o mal que fizeram, ajudará o seu adiantamento.

19o. Tendo o Espírito o seu livre arbítrio, seu progresso é, algumas vezes, lento,

e sua obstinação no mal muito tenaz. Pode nisso persistir anos e séculos; mas, chega sempre um momento no qual a sua teimosia, em afrontar a justiça de Deus, se dobra diante do sofrimento, e no qual, malgrado a sua fanfarrice, reconhece a força superior que o domina. Desde que se manifestam nele os primeiros clarões do arrependimento, Deus lhe faz entrever a esperança. Nenhum Espírito está nas condições de não se melhorar nunca; de outro modo, estaria fatalmente destinado a uma eterna inferioridade, e escaparia da lei do progresso que rege, providencialmente, todas as criaturas.

20o. Quaisquer que sejam a inferioridade e a perversidade dos espíritos, Deus

jamais os abandona. Todos têm o seu anjo guardião, que vela sobre eles, espreita os movimentos da sua alma, e se esforça em suscitar, neles, bons pensamentos, o desejo de progredir e de reparar, numa nova existência, o mal que fizeram. Entretanto, o guia protetor age, o mais freqüentemente, de maneira oculta, sem exercer nenhuma pressão. O Espírito deve se melhorar em razão da sua própria vontade, e não em conseqüência de um constrangimento qualquer. Age bem ou mal em virtude do seu livre arbítrio, mas sem estar fatalmente impulsionado num sentido ou no outro. Se fez mal, sofre-lhe as conseqüências por tão longo tempo quanto tenha permanecido no mau caminho; desde que dê um passo em direção do bem, sente-lhe imediatamente os efeitos.

21o. Ninguém é responsável senão pelas suas faltas pessoais; ninguém sofrerá

as penas das faltas dos outros, a menos que lhes haja dado lugar, seja em provocando-as com o seu exemplo, seja em não as impedindo quando tinha esse poder. Assim é que, por exemplo, o suicida é sempre punido; mas aquele que, pela sua dureza, leva um indivíduo ao desespero, e daí a se destruir, sofre uma pena ainda maior.

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22o. Embora a diversidade das penas seja infinita, há as que são inerentes à inferioridade dos Espíritos, e cujas conseqüências, salvo algumas nuanças, são quase idênticas. A punição mais imediata, sobretudo entre aqueles que são apegados à vida material, negligenciando o progresso espiritual, consiste na lentidão da separação da alma e do corpo, nas angústias que acompanham a morte e o despertar na outra vida, na duração da perturbação, que pode persistir por meses e anos. Entre aqueles, ao contrário, cuja consciência é pura, que em sua vida, se identificaram com a vida espiritual e se desligaram das coisas materiais, a separação é rápida, sem abalos, o despertar pacífico e a perturbação quase nenhuma.

23o. Um fenômeno, muito freqüente entre os Espíritos de uma certa

inferioridade moral, consiste em se crerem ainda vivos, e essa ilusão pode se prolongar durante anos, durante os quais sofre todas as necessidades, todos os tormentos e todas as perplexidades da vida.

24o. Para o criminoso, a visão incessante das suas vítimas e das circunstâncias

do crime é um cruel suplício. 25o. Certos Espíritos são mergulhados em espessas trevas; outros estão num

isolamento absoluto, no meio do espaço, atormentados pela ignorância da sua posição e da sua sorte. Os mais culpados sofrem torturas tanto mais pungentes quanto não lhes vêem o fim. Muitos estão privados de verem os seres que lhes são caros. Todos, geralmente, suportam, com relativa intensidade, os males, as dores e as necessidades que fizeram os outros experimentarem, até que o arrependimento e o desejo de reparação, vêm e trazem um abrandamento, fazendo-os entreverem a possibilidade de colocarem, por si mesmos, um fim a essa situação.

26. È um suplício para o orgulhoso ver, acima dele, na glória, cercado de festas,

aqueles que havia desprezado na Terra, ao passo que está relegado às últimas posições; para o hipócrita, se ver trespassado pela luz que põe a nu os seus mais secretos pensamentos, que todo o mundo pode ler; nenhum meio há, para ele, de se esconder e se dissimular; para o sensual, ter todas as tentações sem poder satisfazê-las; para o avaro, ver o seu ouro dilapidado e não poder retê-lo; para o egoísta, ser abandonado por todos e sofrer tudo o que os outros sofreram por ele: terá sede, e ninguém lhe dará de beber; terá fome, e ninguém lhe dará de comer; nenhuma só mão amiga vem apertar a sua, nenhuma voz complacente vem consolá-lo; não pensou senão em si, durante a sua vida, e ninguém pensa nele e o lamenta depois da sua morte.

27o. O meio de se evitar ou atenuar as conseqüências dos defeitos na vida

futura é deles se desfazer, o mais possível, na vida presente; é reparar o mal para não ter que repará-lo mais tarde, de maneira mais terrível. Quanto mais se tarda, em se desfazer dos defeitos, mais as suas conseqüências são penosas, e mais rigorosa deve ser a reparação que se deve cumprir.

28o. A situação do Espírito, desde a sua entrada na vida espiritual, é aquela que

ele se preparou, pela vida corporal. Mais tarde, uma nova encarnação lhe é dada para a expiação e a reparação, por meio de novas provas; mas a aproveita mais ou menos, em virtude do seu livre arbítrio; se não a aproveita, é uma tarefa a recomeçar, cada vez em condições mais penosas; de sorte que aquele que sofre muito na Terra, pode-se dizer que tinha muito a expiar; os que gozam de uma felicidade aparente, malgrado os seus vícios e a sua inutilidade, estejam certo de pagá-la caro numa existência ulterior. Foi nesse sentido que Jesus disse: “Bem aventurados os aflitos, porque serão consolados”.

29o. A misericórdia de Deus, sem dúvida, é infinita, mas não é cega. O culpado

ao qual perdoa, não está exonerado, e, enquanto não tenha satisfeito à justiça, sofre as conseqüências das suas faltas. Por misericórdia infinita, é preciso entender que Deus não é inexorável, e que deixa sempre aberta a porta de retorno ao bem.

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30o. Sendo as penas temporárias, e subordinadas ao arrependimento e à reparação, que dependem da livre vontade do homem, são, ao mesmo tempo, os castigos e os remédios que devem curar as feridas do mal. Os Espíritos em punição estão, pois, não como forçados condenados a determinado tempo, mas, iguais a doentes no hospital, que sofrem da doença que, freqüentemente, decorre das suas faltas, e os meios dolorosos de que necessita, mas, que têm a esperança de sarar, e que saram tanto mais depressa quanto sigam exatamente as prescrições do médico, que vela sobre eles com solicitude. Se prolongam os seus sofrimentos, por suas faltas, o médico nada tem com isso.

31o. Às penas que o Espírito sofre na vida espiritual, vêm se juntar as da vida

corporal, que são a conseqüência das imperfeições do homem, de suas paixões, do mau uso das suas faculdades, e a expiação das faltas presentes e passadas. É na vida corporal que o Espírito repara o mal das suas existências anteriores, que põe em prática as resoluções tomadas na vida espiritual. Assim se explicam essas misérias e essas vicissitudes que, à primeira vista, parecem não tem razão de ser, e são de toda justiça desde que são a quitação do passado e servem para o nosso adiantamento.

32o. Deus, diz-se, não provaria maior amor pela suas criaturas, se as tivesse

criado infalíveis e, conseqüentemente, isentas das vicissitudes relativas à imperfeição? Seria necessário, para isso, que criasse seres perfeitos, nada tendo a adquirir,

nem em conhecimentos e nem em moralidade. Sem nenhuma dúvida, poderia fazê-lo; se não o fez, foi porque, na Sua sabedoria, quis que o progresso fosse a lei geral.

Os homens são imperfeitos, e, como tais, sujeitos às vicissitudes mais ou menos penosas; é um fato que é preciso aceitar, uma vez que existe. Disso inferir que Deus não é bom e nem justo, seria uma revolta contra Ele.

Haveria injustiça se tivesse criado seres privilegiados, uns mais favorecidos do que os outros, gozando, sem trabalho, a felicidade que os outros alcançam com dificuldade, ou não podem jamais alcançá-la. Mas onde a sua justiça brilha é na igualdade absoluta, que preside à criação de todos os Espíritos; todos têm um mesmo ponto de partida; nenhum que seja, na sua formação, é melhor dotado do que os outros; nenhum cuja marcha ascensional seja facilitada por exceção; os que chegaram ao objetivo passaram, como quaisquer outros, pela fieira das provas e da inferioridade.

Isso admitido, o que de mais justo do que a liberdade de ação deixada a cada um? O caminho da felicidade está aberto a todos; o objetivo é o mesmo para todos; as condições, para alcançá-lo, são as mesmas para todos; a lei, gravada em todas as consciências, é ensinada a todos. Deus fez da felicidade o prêmio do trabalho e não do favor, a fim de cada um dela tivesse o mérito; ninguém está livre de trabalhar ou de nada fazer para o seu adiantamento; aquele que trabalha muito, e depressa, disso é mais cedo recompensado; aquele que se extravia do caminho ou perde o seu tempo, retarda a sua chegada, e isso não pode atribuir senão a si mesmo. O bem e o mal são voluntários e facultativos; sendo o homem livre, não é impelido nem para um e nem para o outro.

33o. Malgrado a diversidade dos gêneros e dos graus de sofrimento dos

Espíritos imperfeitos, o código penal da vida futura pode se resumir nestes três princípios:

O sofrimento está ligado à imperfeição. Toda imperfeição e toda falta que lhe é conseqüente carrega consigo o seu

próprio castigo, por suas conseqüências naturais e inevitáveis, como a doença é a conseqüência dos excessos, o tédio a da ociosidade, sem que haja uma condenação especial para cada falta e cada indivíduo.

Todo homem, podendo se desfazer das suas imperfeições, por efeito da sua vontade, pode se poupar dos males que são as suas conseqüências, e assegurar a sua felicidade futura.

Tal é a lei da justiça divina: a cada um segundo as suas obras, no céu como na Terra.

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Bibliografia:

Obras Póstumas – Allan Kardec

O Céu e o Inferno – Allan Kardec

O Livro dos Espíritos – Allan Kardec

Depois da Morte – Léon Dennis

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 11

Intervenção dos Espíritos no Mundo Corporal Médium e Mediunidade Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de

intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo, não constitui um privilégio e são raras as pessoas que não a possuem, pelo menos em estado rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns. Usualmente, porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva.

Deve-se notar ainda, que essa faculdade não se revela em todos da mesma maneira. Os médiuns têm, geralmente, aptidão especial para esta ou aquela ordem de fenômenos, o que os divide em tantas variedades quantas são as espécies de manifestações. As principais são: médiuns de efeitos físicos, médiuns sensitivos ou impressionáveis, auditivos, falantes, videntes, sonâmbulos, curadores, pneumatógrafos, escreventes ou psicógrafos.

A mediunidade é problema complexo no que se refere às suas manifestações e natureza, podendo por isso, ser encarada sob vários pontos de vista.

Quanto a sua razão de ser, afeta somente dois aspectos que são fundamentais e originalmente opostos, a saber: ou é faculdade própria do espírito, conquista sua, quando já adquiriu possibilidades maiores, quando atingiu graus mais elevados na escala evolutiva, ou é capacidade transitória, de emergência, obtida por graça, com o auxílio da qual o espírito pode apressar sua marcha e redimir-se.

No primeiro caso, o espírito, já convenientemente evoluído, é senhor de uma sensibilidade apurada, que lhe permite vibrar normalmente em planos superiores, sendo a faculdade puramente espiritual.

No segundo caso, foi fornecida ao médium uma condição psicossomática especial, não hereditária, que lhe permite servir de instrumento aos Espíritos desencarnados para suas manifestações, bem como demonstrar outras modalidades da vida espiritual.

Conquanto os efeitos sejam, nos dois casos, mais ou menos semelhantes, diferentes são, todavia, as causas e os valores qualitativos das faculdades.

Sistema Mental Todos os seres vivos respiram na onda do psiquismo dinâmico que lhes é

peculiar, dentro das dimensões que lhes são características ou na freqüência que lhes é própria. Esse psiquismo independe dos centros nervosos, de vez que, fluindo na mente, é ele que condiciona todos os fenômenos de vida orgânica em si mesma.

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Examinando, pois, os valores anímicos como faculdades de comunicação entre os Espíritos, qualquer que seja o plano em que se encontrem, não podem perder de vista o mundo mental do agente e do recipiente, porquanto, em qualquer posição mediúnica, a inteligência receptiva está sujeita às possibilidades e à colaboração dos pensamentos em que vive, e a inteligência emissora jaz submetida aos limites e às interpretações dos pensamentos que é capaz de produzir.

É da Lei, que nossas maiores alegrias sejam recolhidas ao contato daqueles que, em nos compreendendo, permutam conosco valores mentais de qualidades idênticas aos nossos, assim como as árvores oferecem maior coeficiente de produção se colocadas entre companheiras da mesma espécie, com as quais trocam seus princípios germinativos.

Em mediunidade, portanto, não podemos olvidar o problema da sintonia.

Atraímos os Espíritos que se afinam conosco, tanto quanto somos por eles atraídos; e se é verdade que cada um de nós somente pode dar conforme o que tem, é indiscutível que cada um recebe de acordo com aquilo que dá.

Achando-se a mente na base de todas as manifestações mediúnicas, quaisquer que sejam as características em que se expressem, é imprescindível enriquecer o pensamento, incorporando-lhe os tesouros morais e culturais, os únicos que nos possibilitam fixar a luz que jorra para nós, das esferas mais altas, através dos gênios da sabedoria e do amor que supervisionam nossas experiências.

Procederam acertadamente aqueles que compararam nosso mundo mental a um espelho, refletimos as imagens que nos cercam e arremessamos na direção dos outros as imagens que criamos e como não podemos fugir ao imperativo da atração, somente retrataremos a claridade e a beleza, se instalarmos a beleza e a claridade no espelho de nossa vida interna.

Cada criatura humana vive no céu ou no inferno que edificou para si mesma, nas reentrâncias do coração e da consciência, independentemente do corpo físico.

OBS: Não existe aperfeiçoamento mediúnico sem acrisolamento da individualidade.

É contraproducente intensificar a movimentação da energia sem disciplinar-lhe

os impulsos. É perigoso possuir sem saber usar. O espelho sepultado na lama não reflete

o esplendor do Sol. Elevemos nosso padrão de conhecimento pelo estudo bem conduzido e

apuremos a qualidade de nossa emoção pelo exercício constante das virtudes superiores, se nos propomos recolher a mensagem das grandes almas.

Mediunidade não basta por si só, é imprescindível saber que tipo de onda mental assimilamos para conhecer a qualidade de nosso trabalho e ajuizar nossa direção.

Principais Tipos de Mediunidade Médiuns de Efeitos Físicos São aptos a produzir fenômenos materiais, como o movimento dos corpos

inertes, os ruídos, etc. Podem ser divididos em: - Médiuns Facultativos têm consciência do seu poder e produzem fenômenos

espíritas pela própria vontade. - Médiuns Involuntários ou Naturais são os que exercem a sua influência

sem querer. Não têm nenhuma consciência do seu poder e quase sempre o que acontece de anormal ao seu redor não lhes parece estranho.

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Médiuns Sensitivos ou Impressionáveis São assim designadas as pessoas capazes de sentir a presença dos Espíritos por

uma vaga impressão, uma espécie de arrepio geral, que elas mesmas são sabem o que seja. Esta variedade não apresenta caráter bem definido. Todos os médiuns são necessariamente impressionáveis, de maneira que a sensibilidade é antes uma qualidade geral do que especial: é a faculdade rudimentar indispensável ao desenvolvimento de todas as outras.

OBS: Um bom espírito produz uma impressão suave e agradável. Um mau Espírito, pelo contrário, produz uma sensação penosa, angustiosa e desagradável, tem como que um cheiro de impureza.

Médiuns Audientes São os que ouvem a voz dos Espíritos, é algumas vezes uma voz interna que se

faz ouvir no foro íntimo. De outras vezes é uma voz externa, clara e distinta como a de uma pessoa viva. Os médiuns audientes podem assim conversar com os Espíritos, quando adquirem o hábito de comunicarem-se com certos espíritos os reconhecem imediatamente pelo timbre da voz.

Médiuns Falantes Os médiuns audientes, que apenas transmitem o que ouvem, não são

propriamente médiuns falantes. Estes, na maioria das vezes, não ouvem nada. Ao servir-se deles, os Espíritos agem sobre os órgãos vocais, como agem sobre as mãos nos médiuns escreventes. O Espírito se serve para a comunicação dos órgãos mais flexíveis que encontra no médium. De um empresta as mãos, de outro as cordas vocais e de um terceiro os ouvidos. O médium falante, em geral, se exprime sem ter consciência do que diz, e quase sempre tratando de assuntos estranhos às suas preocupações habituais, fora de seus conhecimentos e mesmo do alcance de sua inteligência.

Embora esteja perfeitamente desperto e em condições normais, raramente se lembra do que disse. Numa palavra, a voz do médium é apenas um instrumento de que o Espírito se serve e com o qual outra pessoa pode conversar com este, como o faz no caso de médium audiente.

Mas nem sempre a passividade do médium falante é assim completa. Há os que têm intuição do que estão dizendo, no momento em que pronunciam as palavras.

Os médiuns falantes, chamados entre nós médiuns de incorporação, dividem-se assim nas duas classes bem conhecidas: médiuns conscientes e médiuns inconscientes. Aos conscientes é que Kardec dava, acertadamente, a designação de intuitivos. Aliás, essa divisão existe em todas as modalidades mediúnicas.

Processo do Acoplamento Mediúnico A ligação do Espírito manifestante com o médium se dá por uma espécie de

acoplamento dos respectivos perispíritos na faixa da aura, onde, em parte, se interpenetram. Daí a impropriedade do termo incorporação. O Espírito desencarnado não entra, com o seu perispírito, no corpo do médium após desalojar o deste. Não é preciso isso e nem possível. Kardec adverte que o manifestante não se substitui ao espírito do médium. O que ocorre, portanto, é a ligação entre ambos pelas terminais do perispírito de cada um, como o plug de eletricidade se liga numa tomada. É por esse acoplamento que o médium cede espaço para que o manifestante tenha acesso aos seus comandos mentais (cerebrais) e, dessa forma, possa movimentar-lhe os instrumentos necessários à fala, ao gesto, à expressão de suas emoções e idéias.

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A incorporação é tanto mais perfeita quanto maior espaço é cedido pelo astral do médium ao afastar-se do seu corpo físico, deixando lugar para a cúpula com o corpo astral do comunicador. Este, o espírito comunicante, deverá também sofrer um processo semelhante ao desdobramento astral para permitir que sua cúpula e corpo astral possam justapor-se ao espaço livre deixado pelo médium.

A superposição do corpo astral do espírito ao restante equipamento mediúnico implica na justaposição do cérebro astral da entidade comunicadora ao cérebro fisiológico do médium. Embora grande parte da consciência do médium tenha se deslocado juntamente com sua contraparte astral, ele ainda mantém o controle da situação, graças à sua ligação com o corpo físico através do cordão prateado. Por isso, o médium nunca está inteiramente inconsciente durante o processo da incorporação deste tipo. As idéias que lhe afluem ao cérebro por indução do cérebro da entidade podem, no momento, parecer-lhe idéias próprias. Mas, passado o transe, quase sempre ele se esquece exatamente do que acudiu à mente na ocasião.

A entidade comunicante aproxima-se do aparelho mediúnico e as duas auras, a dele e a do instrumento, se unem e, então, a entidade passa a comandar os centros nervosos do aparelho. Esse controle é exercido, obviamente, através do cérebro físico do médium, via perispírito, já que o espírito manifestante não pode comandar diretamente um corpo que não é o seu.

O que acontece, portanto, é que o espírito do médium cede o controle parcial do corpo, ao qual está ligado e pelo qual é responsável, ao comunicante que, através do seu próprio perispírito, assume tais controles, enquanto o perispírito do médium se coloca ao lado.

O perispírito do médium não perde sua autonomia nem sua autoridade e soberania sobre o corpo emprestado à outra individualidade que o manipula. O corpo é de sua inteira responsabilidade e somente através de seu perispírito pode a entidade desencarnada atuar sobre o mesmo. O espírito do médium empresta sua aparelhagem física, mas continua dono dela, vigilante, de olho o tempo todo para certificar-se de que nada lhe aconteça. Tanto é assim que, se julgar necessário, poderá interromper a comunicação a qualquer momento. Não há, a rigor, mediunidade totalmente inconsciente. O espírito está sempre consciente e atento. A diferença está em que a consciência não se expressa pelo cérebro físico (que naquele momento, está sendo manipulado por uma mente estranha), mas sim no perispírito do médium, usualmente desdobrado e presente, à curta distância. Por isso se torna difícil ao médium registrar a comunicação transmitida por intermédio do seu cérebro físico, mas gerada por outra mente que não a sua. Ao retornar ao corpo, ele encontra vagas impressões do que por ali flui, vindo da mente do espírito comunicante.

Coisa semelhante acontece com o sonho, do qual nem sempre podemos nos lembrar, porque as atividades desenvolvidas pelo sonhador não ficaram registradas no cérebro físico, e sim na sua contraparte espiritual. Isso não quer dizer que a pessoa ficou inconsciente enquanto sonhava. Apenas não guardou a lembrança do que aconteceu e pensou.

Médiuns Videntes Os médiuns videntes são dotados da faculdade de ver os Espíritos. Há os que

gozam dessa faculdade em estado normal, perfeitamente acordados, guardando lembrança precisa do que viram. Outros só a possuem em estado sonambúlico ou aproximado do sonambulismo. É raro que esta faculdade seja permanente, sendo quase sempre o resultado de uma crise súbita e passageira.

O médium vidente acredita ver pelos olhos, como os que têm dupla vista, mas na realidade é a alma que vê, e por essa razão eles tanto vêem com os olhos abertos ou fechados. Dessa maneira, um cego pode ver os Espírito como os que têm visão normal.

A faculdade consiste na possibilidade, senão permanente, pelo menos freqüente, de ver os Espíritos que se aproximam, mesmo que estranhos. É essa faculdade que define o médium vidente.

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A vidência propriamente dita independe dos olhos materiais, porque é uma visão anímica, a alma vê fora do corpo. É o que a parapsicologia chama hoje de percepção extra-sensorial.

Médiuns Sonâmbulos O sonambulismo pode ser considerado como uma variedade da faculdade

mediúnica, ou melhor, trata-se de duas ordens de fenômenos que se encontram freqüentemente reunidos. O sonâmbulo age por influência do seu próprio Espírito. É a sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe além dos limites dos sentidos. O que ele diz procede dele mesmo. Em geral, suas idéias são mais justas do que no estado normal, seus conhecimentos são mais amplos porque sua alma está livre. Numa palavra, ele vive por antecipação a vida dos Espíritos.

A faculdade sonambúlica é uma faculdade que depende do organismo e nada tem a ver com a elevação, o adiantamento e a condição moral do sujeito. Um sonâmbulo pode, pois, ser muito lúcido e incapaz de resolver certas questões, se o seu Espírito for pouco adiantado. O sonâmbulo que fala por si mesmo pode dizer, portanto, coisas boas ou más, certas ou falsas, usar de maior ou menor delicadeza e escrúpulo no seu procedimento, segundo o grau de elevação ou de inferioridade do seu próprio Espírito. É neste caso que a assistência de outro Espírito pode suprir as suas deficiências.

Mas um sonâmbulo pode ser assistido por um Espírito mentiroso, leviano, ou até mesmo mau, como acontece com os médiuns. Nisto, sobretudo, é que as qualidades morais têm grande influência, por atraírem os Espíritos bons.

Médiuns Curadores Esse gênero de mediunidade consiste principalmente no dom de curar por

simples toques, pelo olhar ou mesmo por um gesto, sem nenhuma medicação. Certamente dirão que se trata simplesmente de magnetismo. É evidente que o fluido magnético exerce um grande papel no caso. Mas, quando se examina o fenômeno com o devido cuidado, facilmente se reconhece a presença de mais alguma coisa.

Entre os médiuns curadores a faculdade é espontânea, e, às vezes, a possuem sem jamais terem ouvido falar de magnetismo. A intervenção de uma potência oculta, que caracteriza a mediunidade, torna-se evidente em certas circunstâncias.

Médiuns Pneumatógrafos Essa designação corresponde aos médiuns que têm aptidão para obter a escrita

direta, o que não é dado a todos os médiuns escreventes. Essa faculdade é, portanto, muito rara. Provavelmente se desenvolve por exercício. Sua utilidade prática se limita à comprovação evidente da intervenção de uma potência oculta nas manifestações.

Médiuns Escreventes ou Psicógrafos De todas as formas de comunicação, a escrita manual é a mais simples, a mais

cômoda e sobretudo a mais completa. Todos os esforços devem ser feitos para o seu desenvolvimento, porque ela permite estabelecer relação tão permanentes e regulares com os Espíritos, como as que mantemos entre nós. Tanto mais devemos usá-la, quanto é por ela que os Espíritos revelam melhor a sua natureza e o grau de sua perfeição ou de sua inferioridade. Pela facilidade com que podem exprimir-se, dão-nos a conhecer os seus pensamentos e assim nos permitem apreciá-los e julgá-los em seu justo valor. Além disso, para o médium essa faculdade é a mais suscetível de se desenvolver pelo exercício.

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Psicografia Mecânica Quando o espírito age diretamente sobre a mão, dá-lhe uma impulsão

completamente independente da vontade do médium. Ela avança sem interrupção e contra a vontade do médium, enquanto o Espírito tiver alguma coisa a dizer, e pára quanto ele o disser.

O que caracteriza o fenômeno, nesta circunstância, é que o médium não tem a menor consciência do que escreve. A inconsciência absoluta, nesse caso, caracteriza os que chamamos de médiuns passivos ou mecânicos. Esta faculdade é tanto mais valiosa quanto não pode deixar a menor dúvida sobre a independência do pensamento daquele que escreve.

Médiuns Intuitivos A comunicação do pensamento do Espírito pode dar-se também por meio do

Espírito do médium, ou melhor, da sua alma, desde que designamos por essa palavra o Espírito quando encarnado. O Espírito comunicante, nesse caso, não age sobre a mão para fazê-la escrever, não a toma nem a guia, agindo sobre a alma com a qual se identifica. É, então, a alma do médium que, sob essa impulsão, dirige a mão e esta o lápis.

Notemos aqui um fato importante, que se deve conhecer. O Espírito comunicante não substitui a alma do médium, porque não poderia deslocá-la do corpo: domina-a, sem que isso dependa da vontade dela, e lhe imprime a sua vontade própria. Assim, o papel da alma não é absolutamente passivo. É ela que recebe o pensamento do Espírito e o transmite. Nessa situação, o médium tem consciência do que escreve, embora não se trate do seu próprio pensamento. É que se chama médium intuitivo. O papel do médium mecânico é o de uma máquina; o médium intuitivo age como um intérprete. Para transmitir o pensamento, ele precisa compreendê-lo, de certa maneira assimilá-lo, a fim de traduzi-lo fielmente. Esse pensamento, portanto, não é dele: nada mais faz do que passar através do seu cérebro. É exatamente esse o papel do médium intuitivo.

Não há incorporação, mas apenas sintonia ou indução mental. A afirmação de que o Espírito comunicante domina alma do médium parece contradita pela afirmação seguinte de que a alma não é passiva. Basta lembrar que o domínio se refere apenas ao estabelecimento da relação fluídica, pois, se o médium não quiser, não transmite a mensagem, para compreender-se que não há condição. O ato mediúnico é resultante da colaboração.

Médiuns Semimecânicos No médium puramente mecânico, o movimento da mão é independente da

vontade. No médium intuitivo, o movimento é voluntário e facultativo. O médium semimecânico participa das duas condições. Sente a mão impulsionada, sem que seja pela sua vontade, mas ao mesmo tempo tem consciência do que escreve, à medida que as palavras se formam. No primeiro, o pensamento aparece após a escrita; no segundo, antes da escrita; no terceiro, ao mesmo tempo. Estes últimos médiuns são os mais numerosos.

Mediunidade com Jesus “A caridade é um sol que aquece as almas, e quem lhe serve de instrumento se

ilumina com mais intensidade. Queremos falar da caridade do livro, na função coletiva; o livro espírita é uma das modalidades do amor. Quantas vezes observamos a melhoria dos

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homens, quando se apossam do livro nobre! O livro cristão é um toque de luz no coração, que se abre em flores para beijar o sol da verdade”.

A nossa alegria ultrapassa o normal, ao vermos a circulação de um livro que realmente leva a mensagem do Cristo. Se o Brasil tem a forma geográfica do coração, vamos cobri-lo de perfumes que vertem dos conceitos de Nosso Senhor Jesus. Quando um livro fala do Grande Mestre da Galiléia, sentimos a vida pulsar na intimidade dos sentimentos, e o nosso dever é dar as mãos aos companheiros que trabalham na disseminação da Boa Nova na pátria do Cruzeiro. A caridade do livro é muito interessante para todos nós; ela é silenciosa, mas ativa; é branda, mas sincera; é amorosa, mas enérgica. Ela respeita as trevas, mas é luz.

Renunciamos a qualquer glória que nos possa ser ofertada por sentir uma satisfação maior em andar com os homens. Revestimo-nos de todas as características do corpo físico, para descermos mesmo aos antros dos sofredores e fazê-los sentir que existe Deus, e que Jesus se encontra junto dos que padecem, por não ser médico dos sãos.

Estamos empenhados em despertar o interesse dos médiuns para a leitura e para o saber, porque mediunidade sem preparo é ferramenta estragada que somente traz preocupação ao servidor.

Estamos já distantes do advento do Espiritismo, e essa distância marcou o tempo para os medianeiros se instruírem. Quem ainda não o fez, não foi por falta de livros, pois eles fazem cair chuvas de luz em todo o mundo, principalmente nesta nação abençoada pela expansão do Espiritismo. A bandeira de Jesus se encontra desfraldada nos céus da Terra, como que dizendo: “Estou voltando pra vos buscar”, buscar para o entendimento, pelo preparo de dois mil anos, onde a luz fecundante se fixou na consciência em maturidade.

Vivi há pouco no mundo em que habitas, e sei das dificuldades a remover para se alcançar a estabilidade da paz. A espiritualidade superior não pede a violência de uma transformação imediata, mas que a seqüência em busca da melhoria não pare. Enquanto certos homens esmorecem com simples acontecimentos, nós renovamos a nossa fé, pelo muito que já foi feito. O Cristo desce para os corações, atendendo a sua promessa das bem-aventuranças.

Lê de novo o tesouro do Evangelho, que sentirás uma luz de esperança invadir teu mundo interno, e o Mestre se fará presente para sempre.

A mediunidade é um dom, que mesmo tomando variados nomes, de acordo com as variadas crenças, no fundo tem a mesma função divina de mostrar que existe algo Divino que não morre e que somos eternos, dentro da eternidade de Deus. Todas as religiões, filosofias, e mesmo a ciência, logo se darão as mãos em um só objetivo, aquele que une os corações no amor e em que a fraternidade cósmica abraçará toda a humanidade, todos os mundos.

Queremos dizer aos trabalhadores do Evangelho que avancem sem parar, que trabalhem sempre, no campo da sua intimidade, compreendendo que a caridade maior é aquela que promove a nossa libertação da ignorância. Para ser útil aos outros, em primeiro lugar a ação cristã deve alcançar nossos sentimentos. Não pensem os humanos que estamos distantes deles; a nossa presença se registra lado a lado de todos os que desejam edificar, mostrando que Jesus é o caminho, a verdade e a vida”. (Bezerra de Menezes)

Mediunidade e Serviço “...nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que antes promovem

discussões do que o serviço de Deus, na fé.” 1 Timóteo, cap. 1 – v.4 Escrevendo ao jovem Timóteo, Paulo recomendou com insistência que, no

serviço da fé, as discussões sejam postas de lado no melhor aproveitamento do tempo. Quantos são os que enveredam pelos caminhos de infindáveis polêmicas,

anulando a própria capacidade de servir?

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O médium interessado na edificação espiritual de si mesmo não vive na expectativa de inovações de caráter doutrinário, concentrando esforços na vivência cotidiana do Evangelho, nisto reconhecendo a sua necessidade primordial.

As fábulas a que o Apóstolo se refere são as teorias esdrúxulas e fantasiosas que colidem com o bom senso da fé raciocinada, em que apenas começamos a disciplinar o espírito nas tarefas rotineiras do bem.

Onde muito se discute, efetivamente pouco se faz. Que o medianeiro, atento aos deveres do presente, não se preocupe em

vasculhar o passado, nem se creia investido de outro mandato que não seja o de simplesmente servir.

De maneira geral, todos somos espíritos emergindo das sombras do ontem para as luzes do porvir, e o trabalho no campo da mediunidade é a nossa chance de começarmos a quitar os débitos contraídos perante a Lei.

A vaidade e o personalismo desvirtuam o sentido da mediunidade, que, então, invés de instrumento de resgate espiritual para o médium, pode se lhe transformar em causa de queda e fator complicatório do carma.

Os conflitos filosóficos em torno do conhecimento pleno da Verdade estão longe de se extinguirem, todavia a excelência da prática do bem é unanimidade até entre aqueles que não esposam os mesmos princípios religiosos.

Que o candidato ao serviço mediúnico na Doutrina Espírita estude e trabalhe, aprimorando a si no aprimoramento das faculdades de que seja portador.

Consoante a advertência do Apóstolo, o serviço de Deus não comporta atritos no campo da palavra e da sua interpretação, e os médiuns que se arvoram na condição de intelectuais, forçando o prevalecimento de suas opiniões, terminam por olvidar o cultivo dos sentimentos.

É dever do médium dar exemplos de compreensão e de fraterna tolerância entre os companheiros, porquanto ser médium não significa tão somente intercambiar ou produzir fenômenos que satisfação os olhos.

Para quem começa na mediunidade, começar de maneira correta é de suma

importância, de vez que, após seguir por determinado caminho, dificilmente o medianeiro reconsiderará o trecho percorrido, investindo-se de humildade para voltar atrás.

A formação dos médiuns à luz do Evangelho e dos postulados espíritas, sem fanatismo de qualquer natureza, é básica para que a mediunidade renda os melhores frutos doutrinários.

Cada sensitivo conviverá com as entidades espirituais de sua predileção, e vice-

versa. Nem todo médium e nem todo espírito prestam serviço de real valor à Doutrina;

muitos, aliás, se tornam instrumento de cizânia e de perturbação, contribuindo mais para a dúvida do que para a fé.

Sem Jesus e Kardec, não há exercício mediúnico que valha a pena, já que, então, o médium estará à margem dos padrões éticos que o justifiquem.

Bibliografia: O Livro dos Médiuns – Allan Kardec Mediunidade – Edgar Armond Nos Domínios da Mediunidade – Chico Xavier (pelo espírito André Luiz) Diversidade dos Carismas – Hermínio C. Miranda Filosofia da Mediunidade – João Nunes Maia (pelo espírito Miramez) No Mundo da Mediunidade - Carlos A. Baccelli (pelo espírito Odilon Fernandes).

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 12

Lei Divina ou Natural Características da Lei Natural A lei natural é a Lei de Deus. É a única necessária à felicidade do homem, ela

lhe indica o que deve fazer ou não fazer e, ele só se torna infeliz porque dela se afasta. A Lei de Deus é eterna e imutável, como o próprio Deus. Inviolável, constitui o roteiro de felicidade pelo rumo evolutivo, impondo-se,

paulatinamente, à inteligência humana, achando-se estabelecida na base da harmonia perfeita em que se equilibra a criação.

Revelada através dos tempos, a pouco e pouco, não se submete a injunções transitórias das paixões humanas, que sempre desejaram padronizá-la ao próprio talante, submetendo-se às suas torpes determinações.

Inspirada à Humanidade pelas forças vivas da natureza desde os dias do “homem primitivo”, passou a constituir a ética religiosa superior de todos os povos e de todas as nações.

Deus não se engana, os homens é que são obrigados a modificar as suas leis, que são imperfeitas, mas as leis de Deus são perfeitas. A harmonia que regula o universo material e o universo moral se funda nas leis que Deus estabeleceu por toda a eternidade.

Todas as leis da Natureza são leis Divinas, pois Deus é o autor de todas as coisas. O sábio estuda as leis da matéria, o homem de bem as da alma, e as segue.

OBS: Entre as leis Divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: são as leis físicas, seu estudo pertence ao domínio da Ciência. As outras concernem especialmente ao homem e às suas relações com Deus e com seus semelhantes. Compreendem as regras da vida do corpo e as da vida da alma: são as leis morais.

Divisão da Lei Natural A máxima do amor ao próximo, ensinada por Jesus, encerra todos os deveres

dos homens entre si; mas é necessário mostrar-lhes a aplicação, pois do contrário podem negligenciá-la, como já o fazem hoje. Aliás, a Lei Natural compreende todas as circunstâncias da vida e essa máxima se refere a apenas um dos seus aspectos. Os homens necessitam de regras precisas. Os preceitos gerais e muito vagos deixam muitas portas abertas à interpretação.

O desacato, a desobediência aos seus códigos engendram o sofrimento e o desalinho do infrator, que de forma alguma consegue fugir ao reajuste pela rebeldia ou insânia de que se faz portador.

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O Livro dos Espíritos: 648 – Que pensais da divisão da Lei Natural em dez partes compreendendo as

leis sobre adoração, o trabalho, a reprodução, a conservação, a destruição, a sociedade, o progresso, a igualdade, a liberdade, e, por fim, a da justiça, amor e caridade?

R: Essa divisão da Lei de Deus em dez partes é a de Moisés e pode abranger todas as circunstâncias da vida, o que é essencial. Podes segui-la, sem que ela tenha, entretanto nada de absoluto, como não tem os demais sistemas de classificação, que sempre dependem do ponto de vista sob o qual se considera o assunto. A última lei é a mais importante, é por ela que o homem pode avançar mais na vida espiritual, porque ela resume todas as outras.

OBS: Há duas partes distintas na lei mosaica: a lei de Deus promulgada sobre o Monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, estabelecida por Moisés. Uma é invariável, a outra é apropriada aos costumes e ao caráter do povo, e se modifica com o tempo.

Conhecimento da Lei Natural Deus proporcionou a todos os homens os meios de conhecerem a sua lei, mas

nem todos a compreendem, os que a melhor compreendem são os homens de bem e os que desejam pesquisá-la. Não obstante, todos, um dia a compreenderão, porque é necessário que o progresso se realize.

OBS: A justiça da multiplicidade de encarnações do homem decorre deste princípio, pois a cada nova existência sua inteligência se torna mais desenvolvida e ele compreende melhor o que é o bem e o que é o mal. Se tudo tivesse de se realizar numa só existência, qual seria a sorte de tantos milhões de seres que morrem diariamente no embrutecimento da selvageria ou nas trevas da ignorância, sem que deles dependa o próprio esclarecimento?

A lei de Deus está escrita na consciência do homem como a assinatura do artista

na sua obra. Deus outorgou a alguns homens a missão de revelar a sua lei, em todos os

tempos houve homens que receberam essa missão. São espíritos superiores, encarnados com o fim de fazer progredir a humanidade.

OBS: O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. É reconhecido por suas palavras e por suas ações. Deus não se serve da boca do mentiroso para ensinar a verdade.

Jesus foi o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de

guia e de modelo, Ele é para o homem o tipo da perfeição moral a que pode aspirar a Humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque ele estava animado pelo Espírito Divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra.

Vivendo em toda pujança o estatuto das leis morais, deu cumprimento às de ordem humana, submetendo-se, pacificamente, instaurando o período fundamentado na lei de amor, que resume todas as demais e as comanda com inexcedível mestria.

Modelo a ser seguido, ensinou pelo exemplo e pelo sacrifício, selando em testemunho supremo a excelência do seu messianato amoroso, mediante a doação da vida, incitando-nos a incorporar ao dia-a-dia da existência a irrecusável lição do seu auto-ofertório santificante.

Se alguns dos que pretenderam instruir os homens na lei de Deus, algumas vezes os desviaram para falsos princípios, foi por se deixarem dominar por sentimentos demasiado terrenos e por terem confundido as leis que regem as condições da vida da alma com as que regem a vida do corpo. Muitos deles apresentaram como leis Divinas o que eram apenas leis humanas, instruídas para servir às paixões e dominar os homens.

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O Livro dos Espíritos: 627 – Desde que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus qual é a utilidade

do ensinamento dado pelos espíritos? Têm eles mais alguma coisa para nos ensinar? R: O Ensino de Jesus era freqüentemente alegórico e em forma de parábolas,

porque ele falava de acordo com a época e os lugares. Faz-se hoje necessário que a verdade seja inteligível para todos. É preciso, pois, explicar e desenvolver essas leis, tão poucos são os que as compreendem e ainda menos os que as praticam. Nossa missão é a de espertar os olhos e os ouvidos para confundir os orgulhosos e desmascarar os hipócritas: os que afetam exteriormente a virtude e a religião para ocultar as suas torpezas. O ensinamento dos Espíritos deve ser claro e sem equívocos a fim de que ninguém possa pretextar ignorância e cada um possa julgá-lo e apreciá-lo com sua própria razão. Estamos encarregados de preparar o Reino de Deus anunciado por Jesus, e por isso é necessário que ninguém possa interpretar a lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei que é toda amor e caridade.

628 – Por que a verdade não esteve sempre ao alcance de todos? R: È necessário que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: é

preciso que nos habituemos a ela pouco a pouco, pois de outra maneira nos ofuscaria. Jamais houve um tempo em que Deus permitisse ao homem receber comunicações tão completas e tão instrutivas como as que hoje lhe são dadas. Havia na Antiguidade, como sabeis, alguns indivíduos que estavam de posse daquilo que consideravam uma ciência sagrada e da qual faziam mistério para os que consideravam profanos. Deveis compreender, com o que conheceis das leis que regem esses fenômenos, que eles recebiam apenas verdades esparsas no meio de um conjunto equívoco e na maioria das vezes alegórico. Não há, entretanto, para homem de estudo, nenhum antigo sistema filosófico, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque todos encerram os germes de grandes verdades, que embora pareçam contraditórias entre si, espalhadas que se acham entre acessórios sem fundamento, são hoje muito fáceis de coordenar, graças à chave que vos dá o Espiritismo de uma infinidade de coisas que até aqui vos pareciam sem razão, e cuja realidade vos é agora demonstrada de maneira irrecusável. Não deixeis de tirar temas de estudo desses materiais. São eles muito ricos e podem contribuir poderosamente para vossa instrução.

O Bem e o Mal O bem é tudo o que está de acordo com a Lei de Deus, e o mal é tudo o que

dela se afasta. Assim, fazer o bem é se conformar à Lei de Deus, fazer o mal é infringir essa lei. Deus deu ao homem meios para distinguir por si mesmo o bem e o mal, quando ele crê em Deus e quando o quer saber, a inteligência lhe possibilita discernir um ou outro.

O Livro dos Espíritos: 632 – O homem, que é sujeito a errar, não pode enganar-se na apreciação do

bem e do mal e crer que faz o bem quando em realidade faz o mal? R: Jesus vos disse: vede o que quereríeis que vos fizesse ou não; tudo se

resume nisso. Assim não vos enganareis. 633 – A regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade ou de

solidariedade, não pode ser aplicada à conduta pessoal do homem para consigo mesmo. Encontra ele, na lei natural, a regra desta conduta e um guia seguro?

R: Quando comeis demais, isso vos faz mal. Pois bem: é Deus que vos dá a medida do que vos fala. Quando a ultrapassais, sois punidos. O mesmo se dá com tudo o mais. A lei natural traça para o homem o limite das suas necessidades; quando ele o

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ultrapassa é punido pelo sofrimento. Se o homem escutasse, em todas as coisas, essa voz que diz: chega! Evitaria a maior parte dos males de que acusa a Natureza.

634 – Por que o mal se encontra na natureza das coisas? Falo do mal moral.

Deus não poderia criar a Humanidade em melhores condições? R: Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes. Deus deixa

ao homem a escolha do caminho: tanto pior para ele se seguir o mal; sua peregrinação será mais longa. Se não existissem montanhas não poderia o homem compreender que se pode subir e descer, e se não existissem rochas não compreenderia que há corpos duros. É necessário que o Espírito adquira a experiência, e para isso é necessário que ele reconheça o bem e o mal; eis porque existe a união do Espírito e do corpo.

635 – As diferentes condições sociais criam necessidades novas que não são as

mesmas para todos os homens. A lei natural pareceria, assim, não ser uma regra uniforme?

R: Essas diferentes condições existem na Natureza e estão de acordo com a lei do progresso. Isso não impede a unidade da lei natural, que se aplica a tudo. As condições de existência do homem mudam segundo as épocas e os lugares, e disso resultam para ele necessidades diferentes e condições sociais correspondentes a essas necessidades. Desde que essa diversidade está na ordem das coisas é conforme a lei de Deus, e essa lei, por isso, não é menos una em seu princípio. Cabe à razão distinguir as necessidades reais das necessidades fictícias ou convencionais.

636 - O bem e o mal são absolutos para todos os homens? R: A Lei de Deus é a mesma para todos: mas o mal depende, sobretudo, da

vontade que se tenha de fazê-lo. O bem é sempre bem e o mal sempre mal, qualquer que seja a posição do homem; a diferença está no grau de responsabilidade.

637 – O selvagem que cede ao seu instinto, comendo carne humana, é

culpado? R: Eu disse que o mal depende da vontade. Pois bem: o homem é tanto mais

culpado quanto melhor sabe o que faz. As circunstâncias dão ao bem e ao mal uma gravidade relativa. O homem comete, freqüentemente, faltas que, sendo embora decorrentes da posição em que a sociedade o colocou, não são menos repreensíveis; mas a responsabilidade está na razão dos meios que ele tiver para compreender o bem e o mal. É assim que o homem esclarecido que comete uma simples injustiça é mais culpável aos olhos de Deus que o selvagem que se entrega aos instintos.

638 – O mal parece, algumas vezes, ser conseqüente da força das

circunstâncias. Tal é, por exemplo, em certos casos, a necessidade de destruição, até mesmo do nosso semelhante. Pode-se dizer, então, que há infração à Lei de Deus?

R: O mal não é menos mal por ser necessário, mas essa necessidade desaparece à medida que a alma se depura de uma pra outra existência; então se torna mais culpável quando o comete, porque melhor o compreende.

639 - O mal que se comete não resulta freqüentemente da posição em que os

outros nos colocaram, e nesse caso quais são os mais culpáveis? R: O mal recai sobre aquele que o causou. Assim, o homem que levado ao

mal pela posição em que os outros o colocaram é menos culpável que aqueles que o causaram, pois cada um sofrerá a pena não somente do mal que tenha feito, mas também do que houver provocado.

640 – Aquele que não faz o mal, mas aproveita o mal praticado por outro, é

culpável no mesmo grau? R: È como se o cometesse; ao aproveitá-lo, torna-se participante dele. Talvez

tivesse recuado diante da ação; mas, se ao encontrá-la realizada, dela se serve, é porque a aprova e a teria praticado se pudesse ou se tivesse ousado.

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641 – O desejo do mal é tão repreensível quanto o mal? R: Conforme; há virtude em resistir voluntariamente ao mal que se sente desejo

de praticar, sobretudo quando se tem a possibilidade de satisfazer esse desejo; mas se o que faltou foi apenas a ocasião, o homem é culpável.

642 – Será suficiente não se fazer o mal para ser agradável a Deus e assegurar

uma situação futura? R: Não; é preciso fazer o bem no limite das próprias forças, pois cada um

responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer.

643 – Há pessoas que, por sua posição não tenham possibilidade de fazer o bem?

R: Não há ninguém que não possa fazer o bem; somente o egoísta não encontra jamais a ocasião de praticá-lo. É suficiente estar em relação com outros homens para se fazer o bem, e cada dia da vida oferece essa possibilidade a quem não estiver cego pelo egoísmo, porque fazer o bem não é apenas ser caridoso, mas ser útil na medida do possível, sempre que o auxílio se faça necessário.

644 – O meio em que certos homens vivem não é para eles o motivo principal

de muitos vícios e crimes? R: Sim, mas ainda nisso há uma prova escolhida pelo Espírito no estado de

liberdade; ele quis se expor à tentação para ter o mérito da resistência.

645 – Quando o homem está mergulhado na atmosfera do vício o mal não se torna para ele um arrastamento quase irresistível?

R: Arrastamento, sim, irresistível, não: porque no meio dessa atmosfera de vícios podes encontrar grandes virtudes. São Espíritos que tiveram a força de resistir e que tiveram, ao mesmo tempo, a missão de exercer uma boa influência sobre os seus semelhantes.

646 – O mérito do bem que se faz está subordinado a certas condições, ou seja,

há diferentes graus no mérito do bem? R: O mérito do bem está na dificuldade; não há nenhum em fazê-lo sem penas

e quando nada custa. Deus leva mais em conta o pobre que reparte o seu único pedaço de pão que o rico que só dá do seu supérfluo. Jesus já o disse, a propósito do óbolo da viúva.

Bibliografia: O Livro dos Espíritos – Allan Kardec O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec Leis Morais da Vida - Divaldo Franco/Joanna de Angelis

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 13

Lei de Adoração

Finalidade de Adoração É a elevação do pensamento a Deus, pela adoração o homem aproxima sua

alma de Deus, é um sentimento inato, a consciência de sua fraqueza leva o homem a se curvar diante d’Aquele que o pode proteger. Jamais houve povos ateus, todos compreendem que há acima deles um Ser supremo, a adoração faz parte da lei natural, porque é o resultado de um sentimento inato no homem, por isso a encontramos entre todos os povos, embora sob formas diferentes.

A verdadeira adoração é a do coração, em todas nossas ações devemos pensar que o Senhor sempre nos observa. Deus prefere os que o adoram com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que pensam honrá-lo através de cerimônias que não os tornam melhores para os seus semelhantes.

Todos os homens são irmãos e filhos do mesmo Deus, que chama para Ele todos os que seguem as suas leis, qualquer que seja a forma pela qual se exprimam.

Aquele que só tem aparência da piedade é um hipócrita, aquele para quem a adoração é apenas um fingimento e está em contradição com a própria conduta dá um mau exemplo.

Aquele que faz profissão da adoração ao Cristo é que é orgulhoso, invejoso e cimento, que é duro e implacável com os outros ou ambicioso dos bens mundanos, só tem a religião nos lábios e não no coração.

Deus, que tudo vê, dirá: aquele que conhece a verdade é cem vezes mais culpável do mau que faz do que o ignorante e será tratado de maneira conseqüente no dia do juízo.

Se um cego vos derruba ao passar, vós o desculpais e com razão. Não pergunteis, pois, se há uma forma de adoração mais conveniente, porque

isso seria perguntar se é mais agradável a Deus ser adorado numa língua do que em outra. Os cânticos não chegam a Ele senão pela porta do coração.

Os homens que se entregam à vida contemplativa, não fazendo mal e só pensando em Deus não têm mérito algum aos seus olhos, pois se não fazem o mal também não fazem o bem e são inúteis. Não fazer o bem já é um mal. Deus quer que se pense Nele, mas não que se pense apenas Nele, pois deu ao homem deveres a serem cumpridos na Terra. Aquele que se consome na meditação e na contemplação nada faz de meritório aos olhos de Deus, porque sua vida é toda pessoal e inútil para a Humanidade. Deus pedirá contas do bem que não se tenha feito.

Fé Cega e Fé Raciocinada No seu aspecto religioso, a fé é a crença nos dogmas particulares que

constituem as diferentes religiões; e todas elas têm os seus artigos de fé. Nesse sentido, a fé pode ser raciocinada ou cega. A fé cega nada examina, aceitando sem controle o falso e o verdadeiro, e, a cada passo, se choca com a evidência e a razão. Levada ao

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excesso, produz o fanatismo. Quando a fé se firma no erro, cedo ou tarde desmorona. Aquela que tem a verdade por base é a única que tem o futuro assegurado, porque nada deve temer do progresso do conhecimento, já que o verdadeiro na obscuridade também o é a plena luz. Cada religião pretende estar na posse exclusiva da verdade, mas preconizar a fé cega sobre uma questão de crença é confessar sua impotência para demonstrar que se está com a razão.

Vulgarmente se diz que a fé não se prescreve, o que leva muitas pessoas a alegarem que não são culpadas de não terem fé. Não há dúvida de que a fé não pode ser prescrita ou, o que é ainda mais justo, não pode ser imposta. Não, a fé não se prescreve, mas se adquire e não há ninguém que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais fundamentais e não desta ou daquela crença particular. Não é a fé que deve procurar essas pessoas, mas elas que devem procurá-la e, se o fizerem com sinceridade, a encontrarão. Podeis estar certos de que aqueles que dizem: “Não queríamos nada melhor do que crer, mas não o podemos fazer”, apenas o dizem com os lábios e não com o coração, pois, ao mesmo tempo que o dizem fecham os ouvidos. As provas, entretanto, abundam ao seu redor. Por que, pois, se recusam a ver? Nuns, é a indiferença; noutros, o medo de serem forçados a mudar de hábitos; e, na maior parte, o orgulho que se recusa a reconhecer um poder superior, porque teria de inclinar-se diante dele.

Para algumas pessoas, a fé parece de alguma forma inata: basta uma faísca para desenvolvê-la. Essa facilidade para assimilar as verdades espirituais é sinal evidente de progresso anterior. Para outras, ao contrário, é com dificuldade que elas são assimiladas, sinal também evidente de uma natureza em atraso. As primeiras já creram e compreenderam; trazem, ao renascer, a intuição do que sabiam: sua educação já foi realizada. As segundas ainda têm tudo para aprender: sua educação está por fazer. Mas ela se fará e, se não puder terminar nesta existência, terminará numa outra.

A resistência do incrédulo, convenhamos, quase sempre se deve menos a ele do que à maneira pela qual lhe apresentam as coisas. A fé necessita de uma base e essa base é a perfeita compreensão daquilo em que se deve crer. Para crer, não basta ver; é necessário, sobretudo, compreender. A fé cega não é mais deste século. É precisamente o dogma da fé cega que hoje em dia produz o maior número de incrédulos. Porque ela quer impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: a que se constitui do raciocínio e do livre arbítrio. É contra essa fé, sobretudo, que se levanta o incrédulo, o que mostra a verdade de que a fé não se impõe. Não admitindo provas, ela deixa no espírito um vazio, de que nasce a dúvida. A fé raciocinada, que se apóia nos fatos e na lógica, não deixa nenhuma obscuridade: crê-se porque se tem a certeza e só se está certo quando se compreendeu. Eis porque ela não se dobra: porque só é inabalável a fé que pode enfrentar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade.

É esse o resultado que o Espiritismo conduz, triunfando assim da incredulidade, todas as vezes em que não encontrar a oposição sistemática e interessada. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XIX.).

Prece – Ato de Orar A prece é sempre agradável a Deus quando ditada pelo coração, porque a

intenção é tudo para Ele. A prece do coração é preferível à que podes ler, por mais bela que seja, se a leres mais com os lábios do que com o pensamento.

A prece é agradável a Deus quando é proferida com fé, com fervor e sinceridade. Não creais, pois, que Deus seja tocado pelo homem vão, orgulhoso e egoísta, a menos que a sua prece represente um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade.

OBS: Os Espíritos sempre disseram: “A forma não é nada, o pensamento é tudo. Faça cada qual a sua prece de acordo com as suas convicções e da maneira que mais lhe agrade, pois, um bom pensamento vale mais do que numerosas palavras que não tocam o coração”.

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Os Espíritos não prescrevem nenhuma fórmula absoluta de prece e, quando nos

dão alguma, é para orientar as nossas idéias e, sobretudo, para chamar nossa atenção sobre certos princípios da doutrina espírita. Ou ainda com o fim de ajudar as pessoas que sentem dificuldades em exprimir suas idéias, pois estas não consideram haver realmente orado se não formularem bem os pensamentos.

A finalidade da prece é elevar nossa alma a Deus. A diversidade das fórmulas não deve estabelecer nenhuma diferença entre os que Nele crêem e, menos ainda, entre os adeptos do Espiritismo, porque Deus aceita a todos, quando sinceros.

O Espiritismo reconhece como boas as preces de todos os cultos, desde que sejam ditas de coração e não apenas com os lábios. Não impõem nem condena nenhuma. Deus é sumamente grande, segundo o Espiritismo, para repelir a voz que implora ou que lhe canta louvores, somente por não fazer desta ou daquela maneira.

Quem quer que condene as preces que não constem do seu formulário, demonstra desconhecer a grandeza de Deus. Acreditar que Deus se apegue a determinada fórmula, é atribuir-lhe a pequenez e as paixões humanas.

A principal qualidade da prece é a clareza. Ela deve ser simples e concisa, sem fraseologia inútil ou excesso de adjetivação, que não passam de européis. Cada palavra deve ter o seu valor, exprimir uma idéia, tocar uma fibra da alma. Enfim: deve levar à reflexão. Somente assim pode atingir seu objetivo, de outro modo não passa de palavrório inútil.

Caráter Geral da Prece A prece é um ato de adoração. Fazer preces a Deus é pensar Nele, aproximar-se

Dele, pôr-se em comunicação com Ele. Pela prece podemos fazer três coisas: louvar, pedir e agradecer.

A prece torna o homem melhor, porque aquele que faz preces com fervor e confiança se torna mais forte contra as tentações do mal, e Deus lhe envia bons Espíritos para o assistir. É um socorro jamais recusado, quando pedido com sinceridade.

Oração do Lar A transformação do lar em célula viva do Cristianismo operante constitui labor

impostergável. Por mais valiosas se façam as conquistas externas na atividade quotidiana, com

vistas ao progresso e à felicidade, se tais aquisições não encontrarem fundações de segurança no reduto doméstico far-se-ão edificações em constante perigo.

Isto, porque, o lar é a matriz geradora da comunidade ditos, sobre o qual repousam os sustentáculos das nacionalidades progressistas.

Os distúrbios internos em qualquer máquina de serviço provocam prejuízo na rentabilidade, quando não se dá a paralisação do trabalho com danos imprevisíveis.

A família é o fulcro da maior importância para o homem. Não obstante os complexos mecanismos da reencarnação, os criminógenos ou

os estímulos honoráveis encontram no núcleo familiar as condições fomentadoras para o eclodir das paixões insanas como o das sublimes. Obviamente, nesse capítulo, de quando em quando surgem exceções, como atestando que o diamante valioso, apesar de tombado na lama, fulgura, precioso, ou a pedra bruta, embora o engaste nobre e o estojo especial, de forma alguma adquire valor.

Num lar lucilado pela oração em conjunto onde, a par do exemplo salutar dos cônjuges, a palavra do Senhor recebe consideração e apontamentos superiores, ao menos periodicamente, os dramas passionais, as ocorrências infelizes, os temores e as discórdias cedem lugar à compreensão fraternal, à caridade recíproca, à paciência, ao amor.

Ali se caldeiam os complexos fenômenos da evolução e se resolvem em clima de entendimento os problemas urgentes que dizem respeito à recuperação de cada um. Não

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apenas se ajustam e se sustentam afetivamente os nubentes, como se organizam os programas iluminativos, retemperando-se ânimo e ideais sob a inspiração do Cristo sempre presente.

Companheiros sinceros queixam-se quanto aos danos promovidos pelos modernos veículos de comunicação de massa.

Diversos expositores do verbo espírita invectivam contra as permissividades hodiernas.

Mentes lúcidas, considerando a áspera colheita de espinhos da atualidade, reagem com emoção por meio da palavra falada ou escrita.

Muitos oferecem programas complexos de ação, talvez impraticáveis, debatem, acusam, vociferam...

Mas pouco fazem realmente. O trabalho do bem é paulatino, e a reforma moral, para ser autêntica, será

sempre individual, bem laborada, sacrificial. As técnicas ajudam, todavia, só a persuasão honesta, mediante a qual o homem

se conscientiza nas necessidades reais, consegue lograr libertá-lo dos compromissos inditosos, engajando-o nas disposições restauradoras.

De pouca monta o esforço para ajudar a renovação do próximo, se não ensinar fixado ao exemplo da própria modificação íntima pra melhor.

O exercício evangélico na família a pouco e pouco, em clima de cordialidade e simpatia, consegue neutralizar a má propaganda, as investidas violentas do crime de todo porte que se insinuam e irrompem dominadoras.

Ao realizares o Culto Evangélico do lar não te excedas em tempo, a fim de serem evitados a monotonia e o desinteresse.

Não o imponhas aos que te não compartem as idéias ou preferem, por enquanto, outros rumos.

Tenta a argumentação honesta e branda, convincente e autêntica. Insiste junto aos filhinhos para que comunguem contigo do pão do Espírito,

conforme de ti recebem o pão do corpo. Faze, porém, a tua parte. Se sentires a tentação do desânimo, a amargura da decepção, recorda-te do

otimismo dos primeiros cristãos e não desfaleças. Orando em conjunto, recomendavam os invigilantes, os perturbadores e inditosos ao Senhor, haurindo forças na comunhão fraterna para os testemunhos com que ensementaram na Humanidade as excelências da Boa Nova, que ora te alcança o espírito sem as agruras da perseguição externa e das dolorosas injunções da impiedade humana.

Acenda o sol do Evangelho em casa, reúne-te com os teus para orar e jamais triunfarão trevas em teu lar, em tua família, em teu coração.

O Livro dos Espíritos: 660-a. Como se explica que certas pessoas que oram muito sejam, apesar

disso, de muito mau caráter, ciumentas, invejosas, implicantes, faltas de benevolência e de indulgência; que sejam até mesmo viciosas?

R: O essencial não é orar muito, mas orar bem. Essas pessoas julgam que todo o mérito está na extensão da prece e fecham os olhos para os seus próprios defeitos. A prece é para elas uma ocupação, um emprego do tempo, mas não um estudo de si mesmas. Não é o remédio que é ineficaz, neste caso, mas a maneira de aplicá-lo.

661. Pode-se pedir eficazmente a Deus o perdão das faltas? R: Deus sabe discernir o bem e o mal; a prece não oculta as faltas. Aquele que

pede a Deus o perdão de suas faltas não o obtém se não mudar de conduta. As boas ações são a melhor prece, porque os atos valem mais do que as palavras.

662. Pode-se orar utilmente pelos outros? R: O Espírito daquele que ora está agindo pela vontade de fazer o bem. Pela

prece atrai a ele os bons Espíritos que se associam ao bem que deseja fazer. Possuímos em nós mesmos, pelo pensamento e a vontade, um poder de ação que se estende muito

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além dos limites de nossa esfera corpórea. A prece por outros é um ato dessa vontade. Se for ardente e sincera pode chamar os bons Espíritos em auxílio daquele por quem pedimos, a fim de lhe sugerirem bons pensamentos e lhe darem a força necessária para o corpo e a alma. Mas ainda nesse caso a prece do coração é tudo e a dos lábios não é nada.

663. As preces que fazemos por nós mesmos podem modificar a natureza das

nossas provas e desviar-lhe o curso? R: Vossas provas estão nas mãos de Deus e há as que devem ser suportadas

até o fim, mas Deus leva sempre em conta a resignação. A prece atrai a vós os bons Espíritos que vos dão a força de as suportar com coragem. Então elas vos parecem menos duras. Já o dissemos: a prece nunca é inútil, quando bem feita, porque dá força, o que já é um grande resultado. Ajuda-te e o céu te ajudará; tu sabes disso. Aliás, Deus não pode mudar a ordem da Natureza ao sabor de cada um, porque aquilo que é um grande mal do vosso ponto de vista mesquinho, para vossa vida efêmera, muitas vezes é um grande bem na ordem geral do Universo. Além disso, de quantos males o homem é o próprio autor por sua imprevidência ou por suas faltas. Ele é punido no que pecou. Não obstante, os vossos justos pedidos são em geral mais escutados do que julgais. Pensais que Deus não vos ouviu porque não fez um milagre em vosso favor, quando, entretanto vos assiste por meios tão naturais que vos parecem o efeito do acaso ou da força das circunstâncias. Freqüentemente, ou o mais freqüentemente, ele vos suscita o pensamento necessário para sairdes por vós mesmos do embaraço.

664. É inútil orar pelos mortos e pelos espíritos sofredores, e nessa caso como

podem as nossas preces lhes proporcionar consolo e abreviar os sofrimentos? Têm elas o poder de fazer dobrar-se a justiça de Deus?

R: A prece não pode ter o efeito de mudar os desígnios de Deus, mas a alma pela qual se ora experimenta alívio porque é um testemunho de interesse que se lhe dá e porque o infeliz é sempre consolado, quando encontra almas caridosas que compartilham as suas dores. De outro lado, pela prece provoca-se o arrependimento, desperta-se o desejo de fazer o necessário para se tornar feliz. É nesse sentido que se pode abreviar a sua pena, se do seu lado ele contribui com a sua boa vontade. Esse desejo de melhora, excitado pela prece, atrai para Espírito sofredor os espíritos melhores que vêm esclarecê-lo, consolá-lo e dar-lhe esperanças. Jesus orava pelas ovelhas transviadas. Com isso mostrava que sereis culpados se nada fizerdes pelos que mais necessitam.

665. Que pensar da opinião que rejeita a prece pelos mortos, por não estar

prescrita nos evangelhos? R: O Cristo disse aos homens: “Amai-vos uns aos outros”. Essa recomendação

implica a se empregar todos os meios possíveis de testemunhar afeição aos outros, sem entrar, por isso mesmo, em nenhum detalhe sobre a maneira de atingir o objetivo. Se é verdade que nada pode desviar o criador de aplicar a justiça, inerente a ele mesmo, a todas as ações do Espírito, não é menos verdade que a prece que lhes dirigis em favor daquele que vos inspira afeição, é para este um testemunho de recordação que não pode deixar de contribuir para aliviar os seus sofrimento e o consolar. Desde que ele revele o mais leve arrependimento, e somente então, será socorrido; mas isso não o deixará jamais esquecer que uma alma simpática se ocupou dele e lhe dará a doce crença de que a sua intercessão lhe foi útil. Disso resulta necessariamente, de sua parte, um sentimento de afeição por aquele que lhe deu essa prova de interesse e de piedade. Por conseguinte, o amor recomendado aos homens pelo Cristo não fez mais do que aumentar entre eles, e ambos obedeceram à lei de amor e de união de todos os seres, lei divina que deve conduzir à unidade, objetivo e fim do espírito.

Sacrifícios, Mortificações e Promessas

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A prática dos sacrifícios humanos remonta à mais alta antiguidade, o que levou o homem a crer que semelhantes coisas pudessem agradar a Deus foi não compreender Deus como sendo a fonte da bondade. Entre os povos primitivos a matéria sobrepôs-se ao Espírito, eles se entregam aos instintos animais e por isso são geralmente cruéis, pois o senso moral ainda não se encontra desenvolvido. Os homens primitivos deviam crer naturalmente quando uma criatura animalizada teria muito mais valor aos olhos de Deus que um corpo material. Foi isso que os levou a imolar primeiramente animais e mais tarde criaturas humanas, pois segundo sua falsa crença pensavam que o valor do sacrifício estava em relação com a importância da vítima. Na vida material, como geralmente a levais, se ofereceis um presente a alguém, escolheis sempre o de um valor tanto maior, quanto mais amizade e consideração quereis testemunhar à pessoa. O mesmo faziam os homens ignorantes em relação à Deus. Assim os sacrifícios de animais precederam os humanos.

O Livro dos Espíritos: 671. Que devemos pensar das chamadas guerras santas? O sentimento que

leva os povos fanáticos a exterminar o mais possível os que não partilham de suas crenças, com o fim de agradar a Deus, não teria a mesma origem dos que antigamente provocavam os sacrifícios humanos?

R: Esses povos são impulsionados pelos maus espíritos. Fazendo a guerra aos seus semelhantes, vão contra Deus, que manda o homem amar ao próximo como a si mesmo. Todas as religiões, ou antes, todos os povos adoram um mesmo Deus, quer sob este ou aquele nome. Como promover uma guerra de exterminação, porque a religião de um outro é diferente ou não atingiu ainda o progresso religioso dos povos esclarecidos? Os povos são escusáveis por não crerem na palavra daquele que estava animado pelo Espírito de Deus e fora enviado por Ele, sobretudo quando não o viram e não testemunharam os seus atos; e como quereis que eles creiam nessa palavra de paz quando os procurais de espada em punho? Eles devem esclarecer-se e devemos procurar fazê-los conhecer a sua doutrina pela persuasão e a doçura, e não pela força e o sangue. A maioria de vós não acreditais nas nossas comunicações com certos mortais; por que quereis então que os estranhos acreditem nas vossas palavras, quando os vossos atos desmentem a doutrina que pregais?

672. A oferenda dos frutos da terra teria mais mérito aos olhos de Deus que o

sacrifício dos animais? R: Já vos respondi ao dizer que Deus julgaria a intenção, e que o fato em si

teria pouca importância para ele. Seria evidentemente mais agradável a Deus a oferenda de frutos da terra que a de sangue das vítimas. Como vos dissemos e repetimos sempre, a prece dita do fundo do coração é cem vezes mais agradável a Deus que todas as oferendas que lhe pudésseis fazer. Repito que a intenção é tudo e o fato, nada.

Culto a Deus na Doutrina Espírita O Espiritismo é a nova ciência que vem revelar aos homens, por meio de provas

irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e suas relações com o mundo material. Ele nos mostra esse mundo, não mais como sobrenatural, mas pelo contrário, como uma das forças vivas e incessantemente atuantes da natureza, como a fonte de uma infinidade de fenômenos até então incompreendidos, e por essa razão rejeitados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. É a essas razões que o Cristo se refere em muitas circunstâncias, é por isso que muitas coisas que Ele disse ficaram ininteligíveis ou foram falsamente interpretadas. O Espiritismo é a chave que nos ajuda a tudo explicar com facilidade.

A lei do Antigo Testamento está personificada em Moisés; a do Novo testamento, no Cristo. O Espiritismo é a terceira revelação da lei de Deus. Mas não está personificado em ninguém, porque ele é o produto do ensinamento dado, não por um

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homem, mas pelos espíritos, que são as vozes do céu, em todas as parte da Terra e por inumerável multidão de intermediários. Trata-se, de qualquer maneira, de um ser coletivo, compreendendo o conjunto dos seres do mundo espiritual, cada qual trazendo aos homens o tributo de suas luzes, para fazê-los conhecer esse mundo e a sorte que nele os espera.

Da mesma forma que disse o Cristo: “Eu não venho destruir a lei, mas dar-lhe cumprimento”, também diz o Espiritismo: “Eu não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe cumprimento”. Ele nada ensina contrário ao ensinamento do Cristo, mas o desenvolve, completa e explica, em termos claros para todos, o que foi dito sob forma alegórica. Ele vem cumprir, na época predita, o que o cristo anunciou, e preparar o cumprimento das coisas futuras. Ele é, portanto, obra do Cristo que o preside, assim como preside ao que igualmente anunciou: a regeneração que se opera e que prepara o Reino de Deus sobre a Terra.

A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana. Uma revela as leis do mundo material, e a outra as leis do mundo moral. Mas aquelas e estas leis, tendo o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se. Se umas forem as negações das outras, umas estarão necessariamente erradas e as outras, certas, porque Deus não pode querer destruir a sua própria obra. A incompatibilidade, que se acredita existir entre essas duas ordens de idéias, provém de uma falha de observação, e do excesso de exclusivismo de uma e de outra parte. Disso resulta um conflito, que originou a incredulidade e a intolerância.

São chegados os tempos em que os ensinamentos do Cristo devem receber o seu complemento; em que o véu lançado intencionalmente sobre algumas partes dos ensinos deve ser levantado; em que a Ciência, deixando de ser exclusivamente materialista, deve levar em conta o elemento espiritual; e em que a Religião, deixando de desconhecer as leis orgânicas e imutáveis da matéria, essas duas forças, apoiando-se mutuamente e marchando juntas, sirvam uma de apoio para a outra. Então a Religião, não mais desmentida pela Ciência, adquirirá uma potência indestrutível, porque estará de acordo com a razão e não se lhe poderá opor a lógica irresistível dos fatos.

A Ciência e a Religião não puderam entender-se até agora, porque, encarando cada uma as coisas do seu ponto de vista exclusivo, repeliam-se mutuamente. Era necessária alguma coisa para preencher o espaço que as separava, um traço de união que as ligasse. Esse traço está no conhecimento das leis que regem o mundo espiritual e suas relações como o mundo corporal, leis tão imutáveis como as que regulam o movimento dos astros e a existência dos seres. Uma vez constatadas pela experiência essas relações, uma nova luz se fez: a fé se dirigiu à razão, esta nada encontrou de ilógico na fé, e o materialismo foi vencido.

Mas nisto, como em tudo, há os que ficam retardados, até que sejam arrastados pelo movimento geral, que os esmagará, se quiserem resistir em vez de se entregarem. É toda uma revolução moral que se realiza neste momento, sob a ação dos espíritos. Depois de elaborada durante mais de dezoito séculos, ela chega ao momento de eclosão, e marcará uma nova era da humanidade. São fáceis de prever as suas conseqüências: ela deve produzir inevitáveis modificações nas relações sociais, contra o que ninguém poderá opor-se, porque elas estão nos desígnios de Deus e são o resultado da lei do progresso, que é uma lei de Deus.

Bibliografia: O Livro dos Espíritos – Allan Kardec O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec Leis Morais da Vida – Divaldo Franco/Joanna de Angelis

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 14

Lei de Trabalho Necessidade do Trabalho O trabalho é uma lei da natureza e por isso mesmo é uma necessidade. A

civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque aumenta as suas necessidades e os seus prazeres. Não devemos entender por trabalho somente as ocupações materiais, porque o espírito também trabalho como o corpo. Toda ocupação útil é um trabalho.

O trabalho é imposto ao homem por ser uma conseqüência da sua natureza corpórea, é uma expiação e ao mesmo tempo um meio de aperfeiçoar a sua inteligência. Sem o trabalho o homem permaneceria na infância intelectual, eis porque ele deve a sua alimentação, a sua segurança e o seu bem estar ao seu trabalho e à sua atividade. Ao que é de físico franzino, Deus concedeu a inteligência para o compensar, mas há sempre trabalho.

A Benção do Trabalho Sob pretexto algum te permitas a hora vazia. Justificando cansaço ou desengano, irritabilidade ou enfado, desespero íntimo

ou falta de estímulo, evita cair no desânimo que abre claros na ação do bem, favorecendo a intimidade e inspirando as idéias perniciosas.

Se supões que todos se voltam contra os teus propósitos superiores, insiste na atividade, que falará com mais eficiência do que tuas palavras.

Coagido pela estafa, muda de atitude mental e renova a tarefa, surpreendendo-te com motivação nova para o prosseguimento do ideal.

Vitimado por injunções íntimas, perturbadoras, que se enraízam no teu passado espiritual, redobra esforços e atua confiante.

O trabalho é, ao lado da oração, o mais eficiente antídoto contra o mal, porquanto conquista valores incalculáveis com que o espírito corrige as imperfeições e disciplina a vontade.

O momento perigoso para o cristão decidido é o do ócio, não o do sofrimento nem o da luta áspera.

Na ociosidade surge e cresce o mal. Na dor e na tarefa fulguram a luz da oração e a chama da fé.

Maledicências e intrigas, vaidade e presunção, calúnias e boatos, despeito e descrédito, inquietação e medo, pensamentos deprimentes e tentações nascem e se alimentam durante a hora vazia.

Os germes criminógenos de muitos males que pesam negativamente sobre a economia da sociedade desenvolvem-se durante os minutos de desocupação e ociosidade.

Os desocupados jamais dispõem de tempo para o próximo, atarantados pela indolência e pela inutilidade que fomentam o egoísmo e desenvolvem a indiferença.

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O trabalho se alicerça nas leis de Amor que regem o Universo. Trabalha o verme no solo, o homem na Terra e o Pai nas galáxias. A vida é um hino à dinâmica do trabalho. Não há na Natureza o ócio. O aparente repouso das coisas traduz a pobreza dos sentidos humanos. A vida se agita em toda parte. O movimento é lei universal em tudo presente. Não te detenhas a falar sobre o mal. Atua no bem. Não te escuses à glória de trabalhar pelo progresso de todos, do que resultará a

tua própria evolução. Cada momento sabiamente aproveitado adiciona produtividade na tua

sementeira de esperança. O trabalho de boa procedência, em qualquer direção, produz felicidade e paz. Dele jamais te arrependerás. Não esperes recompensa pela sua execução. Produze pela alegria de ser útil e ativo, içando o coração a Jesus, que sem

desfalecimento trabalha por todos nós, como o Pai Celestial que até hoje também trabalha.

O Livro dos Espíritos: 677. Por que a Natureza provê, por si mesma, a todas as necessidades dos

animais? - Tudo trabalha na natureza. Os animais trabalham, como tu, mas o seu

trabalho, com a sua inteligência, é limitado aos cuidados da conservação. Eis porque, entre eles, o trabalho não conduz ao progresso, enquanto entre os homens tem um duplo objetivo: a conservação do corpo e o desenvolvimento do pensamento, que é também uma necessidade e que o eleva acima de si mesmo. Quando digo que o trabalho dos animais é limitado aos cuidados de sua conservação, refiro-me ao fim a que eles se propõem, trabalhando. Mas eles são ainda, sem o saberem, enquanto se entregam inteiramente a prover as suas necessidades materiais, os agentes que colaboram nos desígnios do Criador. Seu trabalho não concorre menos para o objetivo final da natureza, embora muitas vezes não possais ver o seu resultado imediato.

678. Nos mundos mais aperfeiçoados o homem é submetido à mesma

necessidade de trabalho? - A natureza do trabalho é relativa à natureza das necessidades; quanto menos

necessidades materiais, menos material é o trabalho. Mas não julgueis, por isso, que o homem permanece inativo e inútil; a ociosidade seria um suplício, em vez de ser um benefício.

679. O homem que possui bens suficientes para assegurar sua subsistência está

liberto da lei do trabalho? - Do trabalho material, talvez, mas não da obrigação de se tornar útil na

proporção de seus meios, de aperfeiçoar a sua inteligência ou a dos outros, o que é também um trabalho. Se o homem a quem Deus concedeu bens suficientes para assegurar sua subsistência, não está obrigado a comer o pão com o suor da fronte, a obrigação de ser útil a seus semelhantes é tanto maior para ele, quanto a parte que lhe coube por adiantamento lhe der maior lazer para fazer o bem.

680. Não há homens que estão impossibilitados de trabalhar, seja no que for, e

cuja existência é inútil? - Deus é justo e só condena aquele cuja existência for voluntariamente inútil,

porque esse vive na dependência do trabalho alheio. Ele quer que cada um se torne útil na proporção de suas faculdades.

681. A lei da Natureza impõe aos filhos a obrigação de trabalhar para os pais?

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- Certamente, como os pais devem trabalhar para os filhos. Eis porque Deus fez do amor filiar e do amor paterno um sentimento natural, a fim de que, por essa afeição recíproca, os membros de uma mesma família sejam levados a se auxiliarem mutuamente. É o que, com muita freqüência, não se reconhece em vossa atual sociedade.

O Trabalho nos Diferentes Mundos O trabalho é uma lei para as humanidades planetárias, assim como para as

sociedades do espaço. Desde o ser mais rudimentar até os Espíritos angélicos que velam pelos destinos do mundo, cada um executa sua obra, sua parte, no grande concerto universal.

Penoso e grosseiro para os seres inferiores, o trabalho suaviza-se à medida que o Espírito se purifica. Torna-se uma fonte de gozos para o Espírito adiantado, insensível às atrações materiais, exclusivamente ocupado com estudos elevados.

É pelo trabalho que o homem doma as forças cegas da Natureza e preserva-se da miséria; é por ele que as civilizações se formam, que o bem estar e a Ciência se difundem.

Limite do Trabalho - Repouso 682. Sendo o repouso uma necessidade após o trabalho, não é uma lei da

Natureza? - Sem dúvida o repouso serve para reparar as forças do corpo. É também

necessário para deixar um pouco mais de liberdade á inteligência que deve elevar-se acima da matéria.

683. Qual é o limite do trabalho? - O limite das forças; não obstante, Deus dá liberdade ao homem. 684. Que pensar dos que abusam da autoridade para impor aos seus inferiores

um excesso de trabalho? - É uma das piores ações. Todo homem que tem o poder de dirigir é responsável

pelo excesso de trabalho que impõe aos seus inferiores, porque transgride a lei de Deus. 685. O homem tem direito ao repouso na sua velhice? - Sim, pois não está obrigado a nada, senão na proporção de suas forças. 685-a. Mas o que fará o velho que precisa trabalhar para viver e não pode? - O forte deve trabalhar para o fraco; na falta da família, a sociedade deve

ampará-lo: é a lei da caridade. Não basta dizer ao homem que ele deve trabalhar, é necessário também que o

que vive do seu trabalho encontre ocupação, e isso nem sempre acontece. Quando a falta de trabalho se generaliza, toma as proporções de um flagelo, como a escassez. A ciência econômica procura o remédio no equilíbrio entre a produção e o consumo, mas esse equilíbrio, supondo-se que seja possível, sofrerá sempre intermitências e durante essas fases o trabalhador tem necessidade de viver. Há um elemento que não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de teorias: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos.

Quando se pensa na massa de indivíduos diariamente lançados na corrente da população, sem princípios, sem freios, entregues aos próprios instintos, deve-se admirar das conseqüências desastrosas desse fato? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem seguirá no mundo os hábitos de ordem e previdência para si mesmo e para os seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos

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que lhe permitirão atravessar de maneira menos penosa os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que somente uma educação bem compreendida pode curar. Nisso está o ponto de partida, o elemento real do bem estar, a garantia da segurança de todos.

Trabalho de Última Hora A pretexto de cansaço ou necessidade urgente de repouso, não postergues a

ensancha abençoada do trabalho que agora te chega, na Vinha do Senhor. Dínamo gerador do desenvolvimento e estímulo da ordem, o trabalho é

manifestação de sabedoria, desde que o esforço encetado se dirija à execução superior. Sejam quais forem as circunstâncias, reverencia o trabalho como meio e meta

para a harmonia íntima e o equilíbrio externo. Enquanto trabalhas, olvidas problemas e superar limitações, consubstancializas

ideais e incrementas a felicidade. Em retribuição, a atividade ordeira te proporciona esperanças, modificando as paisagens por mais complexas se te apresentem.

Convidado à Seara do Senhor, não examines dificuldades nem recalcitres ante as necessidades urgentes com que depares.

Mediante a operação socorrista na lavoura dos corações, lograrás vantajosas conquistas contra os contumazes verdugos do espírito: egoísmo, paixão, ódio que dormem ou que se agitam nos dédalos da vida mental.

Quase sempre ajudas com a esperança de imediata retribuição e reages porque não recebes em seguida...

Considere as circunstâncias em que os outros atuam e conferes resultados, arbitrando com a visão distorcida do que supões merecer.

A honra do trabalhador, no entanto, se exterioriza pela satisfação do labor executado.

O serviço de Deus é comum para todos, facultando operações incessantes com que se pode desenvolver a felicidade na Terra.

Pouco importa a hora que se haja compreendido a significação do divino chamado.

Assim, não te deixes perturbar ante os que estão à frente, nem lamentes os que seguem à retaguarda.

Importa-te em proceder com dedicação desde hoje, aqui e agora. Descobre uma entre as mil maneiras de atuar edificando e serve, atendendo o

chamado do Senhor, que prossegue aguardando os que desejam trabalhar na Sua vinha. Nenhum olhar para trás, nenhuma medida de distância à frente. Os últimos chamados, qual o que ocorre contigo, receberão a recompensa

prometida, não obstante o pouco tempo de que disponham para trabalhar com Jesus e por Jesus.

Bibliografia: O Livro dos Espíritos – Allan Kardec Depois da Morte – Leon Denis Leis Morais da Vida – Divaldo Franco/Joanna de Angelis

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 15

Lei de Reprodução Reprodução dos Seres Vivos A reprodução dos seres vivos é uma lei natural, sem a reprodução o mundo

corpóreo pereceria. Mesmo que a população da Terra siga a progressão constante que vemos, ela não se tornará excessiva para a Terra, porque Deus a isso prevê e mantém sempre o equilíbrio. Ele nada faz de inútil. O homem, que só vê um ângulo do quadro da Natureza, não pode julgar a harmonia do conjunto.

Há neste momento raças humanas que diminuem, evidentemente chegará um momento em que terão desaparecido da Terra, isso ocorre porque outros lhe tomaram o lugar, como outros tomarão o nosso, um dia.

Os homens de hoje são os mesmos espíritos de antes, que voltaram para se aperfeiçoar em novos corpos, mas que ainda estão longe da perfeição. Assim, a raça humana atual que, por seu crescimento, tende a invadir toda a Terra e substituir as raças que se extinguem, terá também o seu período de decrescimento e extinção. Outras raças mais perfeitas a substituirão, descendendo da raça atual, como os homens civilizados de hoje descendem dos seres brutos e selvagens dos tempos primitivos.

Finalidade do Casamento O Livro dos Espíritos: 695. O casamento, ou seja, a união permanente de dois seres é contrária a lei

da Natureza? - É um progresso na marcha da humanidade. O efeito da abolição do casamento sobre a sociedade humana seria o retorno à

vida dos animais. A união livre e fortuita dos sexos pertence ao estado de natureza. O casamento é um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas porque estabelece a solidariedade fraterna e se encontra entre todos os povos, embora nas mais diversas condições. A abolição do casamento seria, portanto, o retorno à infância da Humanidade e colocaria o homem abaixo mesmo de alguns animais que lhe dão o exemplo das uniões constantes.

Casamento de Provas e Expiações O casamento ou a união permanente de dois seres, como é óbvio, implica o

regime de vivência pelo qual duas criaturas se confiam uma à outra, no campo da assistência mútua.

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Essa união reflete as Leis Divinas que permitem seja dado um esposo para uma esposa, um companheiro para uma companheira, um coração para outro coração ou vice-versa, na criação e desenvolvimento de valores para a vida.

Imperioso, porém, que a ligação se baseie na responsabilidade recíproca, de vez que na comunhão sexual um ser humano se entrega a outro ser humano e, por isso mesmo, não deve haver qualquer desconsideração entre si.

Quando as obrigações mútuas não são respeitadas no ajuste, a comunhão sexual injuriada ou perfidamente interrompida costuma gerar dolorosas repercussões na consciência, estabelecendo problemas cármicos de solução, por vezes, muito difícil, porquanto ninguém fere alguém sem ferir a si mesmo.

Indiscutivelmente, nos Planos Superiores, o liame entre dois seres é espontâneo, composto em vínculos de afinidade inelutável. Na Terra do futuro, as ligações afetivas obedecerão a idêntico princípio e, por antecipação, milhares de criaturas já desfrutam no próprio estágio da encarnação dessas uniões ideais, em que se jungem psiquicamente uma à outra, sem necessidade da permuta sexual, mais profundamente considerada, a fim de se apoiarem mutuamente, na formação de obras preciosas, na esfera do espírito.

Acontece, no entanto, que milhões de almas, detidas na evolução primária, jazem no Planeta, arraigadas a débitos escabrosos, perante a lei de causa e efeito e, inclinadas que ainda são ao desequilíbrio e ao abuso, exigem severos estatutos dos homens para a regulação das trocas sexuais que lhes dizem respeito, de modo a que não se façam salteadores impunes na construção do mundo moral.

Os débitos contraídos por legiões de companheiros da Humanidade, portadores de entendimento verde para os temas do amor, determina a existência de milhões de uniões supostamente infelizes, nas quais a reparação de faltas passadas confere a numerosos ajustes sexuais, sejam eles ou não acobertados pelo beneplácito das leis humanas, o aspecto de ligações francamente expiatórias, com base no sofrimento purificador. De qualquer modo, é forçoso reconhecer que não existem no mundo conjugações afetivas, sejam elas quais forem, sem raízes nos princípios cármicos, nos quais as nossas responsabilidades são esposadas em comum.

Em matéria de afetividade, no curso dos séculos, vezes inúmeras disparamos na direção do narcisismo e, estirados na volúpia do prazer estéril, espezinhamos sentimentos alheios, impelindo criaturas estimáveis e nobres a processos de angústia e criminalidade, depois de prendê-las a nós mesmos com o vínculo de promessas brilhantes, das quais nos descartamos em movimentação imponderada.

Toda vez que determinada pessoa convide outra à comunhão sexual ou aceita de alguém um apelo neste sentido, em bases de afinidade e confiança, estabelece-se entre ambas um circuito de forças, pelo qual a dupla se alimenta psiquicamente de energias espirituais, em regime de reciprocidade. Quando um dos parceiros foge ao compromisso assumido, sem razão justa, lesa o outro na sustentação do equilíbrio emotivo, seja qual for o campo de circunstâncias em que esse compromisso venha a ser efetuado. Criada a ruptura no sistema de permuta das cargas magnéticas de manutenção, de alma para alma, o parceiro prejudicado, se não dispõe de conhecimentos superiores na auto defensiva, entra em pânico, sem que se lhe possa prever o descontrole que, muitas vezes, raia na delinqüência. Tais resultados da imprudência e da invigilância repercutem no agressor, que partilhará das conseqüências desencadeadas por ele próprio, debitando-se-lhe ao caminho a sementeira partilhada de conflitos e frustrações que carreará para o futuro.

Sabemos que a justiça humana comina punições para os atos de pilhagem na esfera das realidades objetivas, considerando a respeitabilidade dos interesses alheios; no entanto, os legisladores terrestres perceberão igualmente, um dia, que a Justiça Divina alcança também os contraventores da Lei do Amor e determina se lhes instale nas consciências os reflexos do saque afetivo que perpetram contra os outros.

Daí procede a clara certeza de que não escaparemos das equações infelizes dos compromissos de ordem sentimental, injustamente menosprezados, que resgataremos em tempo hábil, parcela a parcela, pela contabilidade dos princípios de causa e efeito. Reencarnados que estaremos sempre, nesse sentido, até exonerar o próprio espírito das mutilações e conflitos hauridos no clima da irreflexão, aprenderemos no corpo de nossas

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próprias manifestações ou no ambiente da vivência pessoal, através da penalogia sem cárcere aparente, que nunca lesaremos a outrem sem lesar a nós.

Celibato e Abstinência O Livro dos Espíritos: 698. O celibato voluntário é um estado de perfeição, meritório aos olhos de

Deus? - Não, e os que vivem assim, por egoísmo, desagradam a Deus e enganam a

todos. 699. O celibato não é um sacrifício para algumas pessoas que desejam devotar-

se mais inteiramente ao serviço da Humanidade? - Isso é bem diferente. Eu disse: por egoísmo. Todo sacrifício pessoal é

meritório, quando feito para o bem. Quanto maior o sacrifício maior o mérito.

OBS: Deus não se contradiz, nem considera mau o que ele mesmo fez. Não pode, pois, ver um mérito na violação de sua lei. Mas se o celibato, por si mesmo, não é um estado meritório, já não se dá o mesmo quando constitui, pela renúncia às alegrias da vida familiar, um sacrifício a favor da Humanidade. Todo sacrifício pessoal visando ao bem e sem segunda intenção egoísta eleva o homem acima da sua condição material.

Abstinência, em matéria de sexo e celibato, na vida de relação pressupõe

experiências da criatura em duas faixas essenciais, a daqueles Espíritos que escolhem semelhantes posições voluntariamente para burilamento ou serviço, no curso de determinada reencarnação, e a daqueles outros que se vêem forçados a adotá-las, por força de inibições diversas.

Indubitavelmente, os que consigam abster-se da comunhão afetiva, embora possuindo em ordem todos os recursos instrumentais para se aterem ao conforto de uma existência a dois, com o fim de se fazerem mais úteis ao próximo, decerto que traçam a si mesmos escaladas mais rápidas aos cimos do aperfeiçoamento.

Agindo assim, por amor, doando o corpo a serviço dos semelhantes, e, por esse modo, amparando os irmãos da humanidade, através de variadas maneiras, convertem a existência, sem ligações sexuais, em caminho de acesso à sublimação, ambientando-se em climas diferentes de criatividade, porquanto a energia sexual neles não estancou o próprio fluxo; essa energia simplesmente se canaliza para outros objetivos, os de natureza espiritual. E, em concomitância com os que elegem conscientemente esse tipo de experiência, impondo-se duros regimes de vivência pessoal, encontramos aqueles outros, os que já renasceram no corpo físico induzidos ou obrigados à abstinência sexual, atendendo a inibições irreversíveis ou a processos de inversão pelos quais sanam erros do pretérito ou se recolhem a pesadas disciplinas que lhes facilitem a desincumbência de compromissos determinados, em assuntos do espírito.

Num e noutro caso, identificamos aqueles que se fazem chamar, segundo os ensinamentos evangélicos, como sendo “eunucos por amor ao Reino de Deus”. Esses eunucos, porém, muito ao contrário do que geralmente se afirma, não são criaturas psicologicamente assexuadas, respirando em climas de negação da vida. Conquanto abstêmios da emotividade sexual, voluntária ou involuntariamente, são almas vibrantes, inflamadas de sonhos e desejos, que se omitem, tanto quanto lhes é possível, no terreno das comunhões afetivas, para satisfazerem as obrigações de ordem espiritual a que se impõem. Depreende-se daí a impossibilidade de se doarem a quaisquer tarefas de reparação ou elevação sem tentações, sofrimentos, angústias e lágrimas e, às vezes, até mesmo escorregões e quedas, nos domínios do sentimento, de vez que os impulsos do amor nelas se mantêm com imensa agudeza, predispondo-as à sede incessante de compreensão e de afeto.

Entendendo-se os valores da alma por alimento do espírito, impossível esquecer que a produção do bem e do aprimoramento se realiza à base de atrito e desgaste.

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A semente é segregada no solo para desvencilhar-se dos empeços que a constringem, de modo a formar o pão, e o pão, a rigor, não se completa em forno frio.

A força no carro não surge sem a queima de combustível, a o motor não lhe garante movimento sem aquecer-se em nível adequado.

Abstinência e celibato, seja por decisão súbita do homem ou da mulher, interessados em educação dos próprios impulsos, no curso da reencarnação, ou seja por deliberação assumida, antes do renascimento na esfera física, em obediência a fins específicos, não contam indiferença e nem anestesia do sentimento.

Celibato e abstinência, em qualquer forma de expressão, constituem tentames louváveis do ser, experiências de caráter transitório, nos quais a fome de alimento afetivo se lhes transforma no imo do coração em fogo purificador, acrisolando-lhes as tendências ou transfigurando essas mesmas tendências em clima de produção do bem comum, através do qual, pela doação de uma vida, se efetua o apoio espiritual ou a iluminação de inúmeras outras.

Tais considerações nos impelem a concluir que a vida sexual de cada criatura é terreno sagrado para ela própria, e que, por isso mesmo, abstenção, ligação afetiva, constituição de família, vida celibatária, divórcio e outras ocorrências, no campo do amor, são problemas pertinentes à responsabilidade de cada um, erigindo-se, por essa razão, em assuntos, não de corpo para corpo, mas de coração para coração.

Poligamia O Livro dos Espíritos: 700. A igualdade numérica aproximada entre os sexos é um indício da

proporção em que eles se devem unir? - Sim, pois tudo tem um fim na Natureza.

701. Qual das duas, a poligamia ou a monogamia, é mais conforme à lei

natural? - A poligamia é uma lei humana, cuja abolição marca um progresso social. O

casamento, segundo as vistas de Deus, deve fundar-se na afeição dos seres que se unem. Na poligamia não há verdadeira afeição: não há mais do que sensualidade.

Se a poligamia estivesse de acordo com a lei natural devia ser universal, o que, entretanto, seria materialmente impossível em virtude da igualdade numérica dos sexos.

A poligamia deve ser considerada como um uso ou uma legislação particular apropriada a certos costumes e que o aperfeiçoamento social fará desaparecer pouco a pouco.

Adultério É curioso notar que Jesus, em se tratando de faltas e quedas, nos domínios do

espírito, haja escolhido aquela da mulher, em falhas do sexo, para pronunciar a sua inolvidável sentença: “aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra”.

Dir-se-ia que no rol das defecções, deserções, fraquezas e delitos do mundo, os problemas afetivos se mostram de tal modo encravados no ser humano que pessoa alguma da Terra haja escapado, no cardume das existências consecutivas, aos chamados “erros do amor”.

Penetre cada um de nós os recessos da própria alma, e, se consegue apresentar comportamento irrepreensível, no imediatismo da vida prática, ante os dias que correm, indague-se, com sinceridade, quanto às próprias tendências.

Quem não haja varado transes difíceis, nas áreas do coração, no período da reencarnação em que se encontre, investigue as próprias inclinações e anseios no campo íntimo, e, em sã consciência, verificará que não se acha ausente do emaranhado de conflitos, que remanescem do acervo de lutas sexuais da Humanidade. Desses embates multimilenares, restam, ainda, por feridas sangrentas no organismo da coletividade, o

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adultério que, de futuro, será classificado na patologia das doenças da alma, extinguindo-se, por fim, com remédio adequado, e a prostituição que reúne em si homens e mulheres que se entregam às relações sexuais, mediante paga, estabelecendo mercados afetivos.

Qual ocorre aos flagelos da guerra, da pirataria, da violência homicida e da escravidão que acompanham a comunidade terrestre, há milênios, diluindo-se, muito pouco a pouco, o adultério e a prostituição ainda permanecem, na Terra, por instrumentos de prova e expiação, destinados naturalmente a desaparecer, na equação dos direitos do homem e da mulher, que se harmonizarão pelo mesmo peso, na balança do progresso e da vida.

Note-se que o lenocínio de hoje, conquanto situado fora da lei, é o herdeiro dos bordéis autorizados por regulamentação oficial, em muitas regiões, como sucedia notadamente na Grécia e na Roma antigas, em que os estabelecimentos dessa natureza eram constantemente nutridos por levas de jovens mulheres orientais, direta ou indiretamente adquiridas, à feição de alimárias, para misteres de aluguel.

Tantos foram os desvarios dos Espíritos em evolução no Planeta, Espíritos entre os quais muito raros de nós, os companheiros da Terra, não nos achamos incluídos, que decerto Jesus, personalizando na mulher sofredora a família humana, pronunciou a inesquecível sentença, convocando os homens, supostamente puros em matéria de sexualidade, a lançarem sobre a companheira infeliz a primeira pedra.

Evidentemente, o mundo avança para mais elevadas condições de existência. Fenômenos de transição explodem aqui e ali, comunicando renovação. E, com semelhantes ocorrência, surge para as nações o problema da educação espiritual, para que a educação do sexo não se faça irrisão com palavras brilhantes mascarando a licenciosidade.

Quando cada criatura for respeitada em seu foro íntimo, para que o amor se consagre por vínculo divino, muito mais de alma para alma que de corpo para corpo, com a dignidade do trabalho e do aperfeiçoamento pessoal luzindo na presença de cada uma, então os conceitos de adultério e prostituição se farão distanciados do cotidiano, de vez que a compreensão apaziguará o coração humano e a chamada desventura afetiva não terá razão de ser.

Obstáculos à Reprodução O Livro dos Espíritos: 693. As leis e os costumes humanos que objetivam ou têm por efeito criar

obstáculos à reprodução são contrários à lei natural? - Tudo que entrava a marcha da natureza é contrário à lei geral. 693-a. Não obstante, há espécies de seres vivos, animais e plantas, cuja

reprodução indefinida seria prejudicial às outras espécies e das quais, o próprio homem seria vítima. Seria repreensível deter essa reprodução?

- Deus deu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder que ele deve usar para o bem, mas não abusar. Ele pode regular a reprodução segundo as necessidades, mas não deve entrave-la sem necessidade. A ação inteligente do homem é um contrapeso posto por Deus entre as forças da Natureza para restabelecer-lhes o equilíbrio, e isso, também o distingue dos animais, pois ele o faz com conhecimento de causa. Os animais concorrem, por sua vez, para esse equilíbrio, pois o instinto de conservação que lhes foi dado faz que, ao proverem à própria conservação, detenham o desenvolvimento excessivo e talvez perigoso das espécies animais e vegetais de que se nutrem.

694. Que pensar dos usos que têm por fim deter a reprodução, com vistas à

satisfação da sensualidade? - Isso prova a predominância do corpo sobre a alma e quanto o homem está

imerso na matéria.

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Limitação de Filhos O problema da planificação familiar, antes de maiores cogitações, deve merecer

dos cônjuges mais profundas análises e reflexões. Pela forma simplista como alguns o apresentam, a desordenada utilização de

métodos anticonceptivos interfere negativamente na economia moral da própria família. Na situação atual, os pais dotados de recursos econômicos, menos procriam, em

considerando as disponibilidades que possuem, enquanto dos destituídos de posses aumentam a prole, tornando muito mais complexas e difíceis as engrenagens do mecanismo social.

Os filhos são programados na esfera extrafísica da vida, tendo-se em vista as injunções crédito-débito, defluentes das reencarnações passadas.

Normalmente, antes do mergulho no corpo carnal, o espírito reencarnante estabelece intercâmbio com os futuros genitores, de cujo concurso necessita para o cometimento a empreender.

Os filhos não chegados pela via normal, não obstante, alcançaram a casa dos sentimentos negados, utilizando-se dos sutis recursos da vida, que reaproximam os afins pelo amor ou pela rebeldia quando separados, para as justas reparações.

Chegarão a outros tetos, mas dali sairão atraídos pelas necessidades propelentes ao encontro da família que lhes é própria, nem sempre forrados em objetivos relevantes.

Alguém que te chega, perturbando a paz... Outrem que te rouba pertences e sossego... O ser que te sobrecarrega de dissabores... Aquele que de fora desarmoniza a tua família... O vadio que te adentra o lar... O aliciador que chega de longe e infelicita o filho ou a filha que amas... Todos eles estão vinculados a ti... Quiçá houvessem renascido sob o teu teto e as circunstâncias impediram

dramas maiores. Antes de aderires ao entusiasmo reinante para a limitação da prole, reparte com

o outro cônjuge as tuas preocupações, discute o problema à luz da reencarnação. Evita engajar-te na moda só porque as opiniões gerais são favoráveis à medida. Não o faças simplesmente considerando os fatores econômicos, os da

superpopulação... O Senhor dispõe de recursos inimagináveis. Confia a Ele as tuas dificuldades e entrega-te consciente, devotadamente. Seja qual for a opção que escolhas, ter mais ou menos filhos, os que se

encontram na pauta das tuas necessidades chegar-te-ão, hoje ou mais tarde. Sendo possível, acolhe-os da melhor maneira, porquanto, conforme os

receberes, ser-te-ão amigos generosos ou rudes adversários dos quais não te libertarás facilmente.

Aborto O Livro dos Espíritos: 358. O aborto provocado é um crime, qualquer que seja a época da concepção? - Há sempre crime quando se transgride a lei de Deus. A mãe ou qualquer

pessoa cometerá sempre um crime ao tirar a vida da criança antes do seu nascimento, porque isso é impedir a alma de passar pelas provas de que o corpo devia ser o instrumento.

359. No caso em que a vida da mãe estaria em perigo pelo nascimento da

criança, há crime em sacrificar a criança para salvar a mãe? - É preferível sacrificar o ser que não existe a sacrificar o que existe.

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Falamos naturalmente acerca de relações internacionais, sociais, públicas, comerciais, clareando as obrigações que elas envolvem; no entanto, muito freqüentemente marginalizamos as relações sexuais, aquelas em que se fundamentam quase todas as estruturas da ação comunitária.

Esquece-se, habitualmente, de que o homem e a mulher, via de regra, experimentam instintivo horror à solidão e que, à vista disso, a comunhão sexual reclama segurança e duração para que se mostre assente nas garantias necessárias.

Impraticável, sem dúvida, impor a continuidade da ligação entre duas criaturas, a preço de violência; no entanto, à face das contingências e contratempos pelos quais o carro da união esponsalícia deve passar pelas estradas do mundo, as leis da vida, muito sabiamente, estabelecem nos filhos os elos da comunhão entre os cônjuges, atribuindo-lhes a função de fixadores da organização familiar; com a colaboração deles, os deveres do companheiro e da companheira, no campo da assistência recíproca, se revelam mais claramente perceptíveis e o lar se alteia por escola de aperfeiçoamento e de evolução, em marcha para a aquisição de mais amplos valores do espírito, no Mundo Maior.

De todos os institutos sociais existentes na Terra, a família é o mais importante, do ponto de vista dos alicerces morais que regem a vida.

É pela conjugação sexual entre o homem e a mulher que a Humanidade se perpetua no Planeta; em virtude disso, entre os pais e filhos residem os mecanismos da sobrevivência humana, quanto à forma física, na face do orbe.

Fácil entender que é assim justamente que nós, os espíritos eternos, atendendo aos impositivos do progresso, nos revezamos na arena do mundo, ora envergando a posição de pais, ora desempenhando o papel de filhos, aprendendo, gradativamente, na carteira do corpo carnal, as lições profundas do amor, do amor que nos soerguerá, um dia, em definitivo, da Terra para os Céus.

Com estas notas, o objetivo é destacar a expressão calamitosa do aborto criminoso, praticado exclusivamente pela fuga ao dever.

Habitualmente - nunca sempre - somos nós mesmos quem planifica a formação da família, antes do renascimento terrestre, com o amparo e a supervisão de instrutores beneméritos, à maneira da casa que levantamos no mundo, com o apoio de arquitetos e técnicos distintos.

Comumente chamamos a nós antigos companheiros de aventuras infelizes, programando-lhes a volta em nosso convívio, a prometer-lhes socorro e oportunidade, em que se lhes reedifique a esperança de elevação e resgate, burilamento e melhoria.

Criamos projetos, aventamos sugestões, articulamos providência e externamos votos respeitáveis, englobando-nos com eles em salutares compromissos que, se observados, redundarão em bênçãos substanciais para todo o grupo de corações a que se nos vincula a existência. Se, porém, quando instalados na Terra, anestesiamos a consciência, expulsando-os de nossa companhia, a pretexto de resguardar o próprio conforto, não lhes podemos prever as reações negativas e, então, muitos dos associados de nossos erros de outras épocas, ontem convertidos, no Plano Espiritual, em amigos potenciais, à custa das nossas promessas de compreensão e de auxílio, fazem-se hoje, e isso ocorre bastas vezes, em todas as comunidades da Terra, inimigos recalcados que se nos entranham à vida íntima com tal expressão de desencanto e azedume que, a rigor, nos infundem mais sofrimento e aflição que se estivessem conosco em plena experiência física, na condição de filhos problemas, impondo-nos trabalho e inquietação.

Admitimos seja suficiente breve meditação, em torno do aborto delituoso, para reconhecermos nele um dos grandes fornecedores das moléstias de etiologia obscura e das obsessões catalogáveis na patologia da mente, ocupando vastos departamentos de hospitais e prisões.

Bibliografia: O Livro dos Espíritos – Allan Kardec Vida e Sexo – Chico Xavier (pelo espírito Emmanuel) Leis Morais da Vida – Divaldo Franco (pelo espírito Joanna de Angelis)

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 16

Lei de Conservação Instinto O Livro dos Espíritos: 702. O instinto de conservação é uma lei da Natureza? - Sem dúvida. Todos os seres vivos o possuem, qualquer que seja o seu grau de

inteligência; nuns é puramente mecânico e noutros é racional. 703. Com que fim Deus concedeu a todos os seres vivos o instinto de

conservação? - Porque todos devem colaborar nos desígnios da Providência. Foi por isso que

Deus lhes deu a necessidade de viver. Depois, a vida é necessária ao aperfeiçoamento dos seres; eles o sentem instintivamente, sem disso se aperceberem.

A atuação do instinto é cada vez mais contida, controlada, civilizada, à medida

em que os seres acumulam experiência. Sendo o núcleo primitivo da memória, o conjunto de instintos é a base psíquica do indivíduo e através deles é que fica assegurada a continuidade da vida. Seus automatismos garantem o funcionamento adequado da estrutura biológica do ser, a partir dos dois instintos básicos: nutrição e reprodução. Daí, a incontestável vitalidade e força desse núcleo poderoso. Com o decorrer dos milênios, porém, vai-se tornando cada vez mais longo o caminho que ele tem a percorrer para chegar ao consciente e atuar sobre o meio ambiente. Menos e menos, vai ele atuando com apoio do imediatismo do impulso urgente a satisfazer e, mais e mais, vai se racionalizando e se educando pela influência controladora que sofre ao tentar emergir para manifestar-se.

Segundo o que os instrutores espirituais explicaram a Allan Kardec, “o instinto é uma espécie de inteligência”, “uma inteligência sem raciocínio” e “muitas vezes se confundem”, sendo, no entanto, possível “distinguir os atos que decorrem do instinto dos que são da inteligência”. Informaram ainda, que as faculdades instintivas se reduzem à medida que avultam as de natureza intelectual; “o instinto existe sempre” e nos guia “algumas vezes com mais segurança do que a razão. Nunca se transvia”.

No seu comentário às questões 74 e 75 de O Livro dos Espíritos, Kardec escreve o seguinte: “O instinto é uma inteligência rudimentar, que difere da inteligência propriamente dita, em que suas manifestações são quase espontâneas, ao passo que as de inteligência resultam de uma combinação e de um ato deliberado”.

No capítulo III de A Gênese, o tema passa por um desdobramento mais amplo,

segundo o qual ficam assentados os seguintes princípios: - O instinto é a força oculta que solicita os seres orgânicos a atos espontâneos e involuntários, tendo em vista a conservação deles.

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- A inteligência se revela por atos voluntários, refletidos, premeditados, combinados, de acordo com a oportunidade das circunstâncias.

- Todo ato maquinal é instintivo; o ato que denota reflexão, combinação, deliberação é inteligente. Um é livre, o outro não o é.

- Por ser livre e decidir à base de opções e alternativas, a inteligência pode errar e erra com freqüência. O instinto, ao contrário, já é resultado de uma causa inteligente devidamente testada e incorporada à experiência do indivíduo. É, pois, um programa com impulsos conhecidos e com resultados previstos com nitidez.

Alcançando, portanto, um estágio superior da evolução espiritual, quando a

segurança do instinto passa a operar em perfeita harmonia com os atributos da inteligência, o ser alcança uma zona de equilíbrio mental e emocional, ou seja, a paz interior. Não se trata aqui de eliminação do instinto pela inteligência, ou melhor, pelo consciente, mas interação inteligente, bem conjugada e bem ajustada, que atende às necessidades básicas do ser e trabalha harmoniosamente em favor das suas conquistas e objetivos finais da evolução.

Por outro lado, liberado para sempre da contingência da reencarnação, há de reduzir-se a um mínimo a necessidade crítica do impulso instintivo, pois não haverá mais corpo físico, biológico, a preservar.

Inteligência A inteligência é um acervo de qualidades inerentes à alma, que já passou por

variados processos evolutivos. É uma explosão racional da criatura para analisar a criação. O homem inteligente não tem tempo a perder com ilusões por demais passageiras. Busca a auto educação das forças mentais, corrige os impulsos que não favorecem a função do Evangelho, e não descansa enquanto a disciplina não fizer parte da família dos valores imortais do coração.

OBS: Logicamente, quanto maior o volume de dados no banco da memória, mas vasta e brilhante a inteligência.

Tanto maior será, pois, sua potência, tanto mais amplos seus recursos e

possibilidade e, obviamente, sua capacidade de tomar decisões acertadas e complexas. Pode-se admitir, tranqüilamente, que inteligência é informação armazenada, ou, examinando-a sob outro aspecto, à medida do seu vigor é a amplitude da memória integral. Por isso também, inteligência é coisa diferente de cultura, tanto quanto conhecimento não é o mesmo que sabedoria. O indivíduo pode ser inculto e inteligente, como pode dispor de muito conhecimento e não saber usá-lo com a adequação ética desejável.

Assim como Platão ampliou o conceito do aprendizado, considerando-o função da recordação, a doutrina dos espíritos amplia o conceito bergsoniano da função da inteligência, ou seja, da memória. Ela não se destina apenas a inserir nosso corpo no contexto ambiental em que vivemos. Insistimos no apenas, porque este é o fato de uma de suas tarefas, mas a memória vai muito além de “pensar a matéria”. Por mais importante que seja isso, pensar a matéria é meio, não finalidade; é atividade transitória e não eterna, porque, eventualmente, será capaz o ser humano, nos estágios mais altos da evolução, de viver sem os condicionamentos da matéria. Aliás, mesmo nos intervalos entre uma vida e outra, enquanto se encontra no mundo póstumo, o ser humano segue vivendo sem o seu corpo físico que ficou abandonado à decomposição orgânica na terra. Mesmo aí, porém, o espírito continua ligado a um corpo semimaterial, para o qual Kardec propôs o nome de perispírito. No correr dos milênios, esse segundo corpo também vai se desfazendo dos seus componentes materiais até alcançar um estágio puramente energético, como um campo magnético de elevadíssimo teor vibratório.

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Meios de Conservação Deus dando ao homem a necessidade de viver, sempre lhe forneceu os meios

para isso se ele não os encontra é por falta de compreensão. Deus não podia dar ao homem a necessidade de viver sem lhe dar também os meios, é por isso que faz a terra produzir de maneira a fornecer o necessário a todos os seus habitantes, pois só o necessário é útil, o supérfluo jamais o é.

Se a terra nem sempre produz o bastante para fornecer o necessário ao homem é que o homem a negligencia, no entanto ela é uma excelente mãe.

Freqüentemente ele acusa a Natureza pelas conseqüências da sua imperícia ou da sua imprevidência. A terra produziria sempre o necessário, se o homem soubesse contentar-se. Se ela não supre a todas as necessidades é porque o homem emprega no supérfluo o que se destina ao necessário.

Vede o árabe no deserto como encontra sempre do que viver, porque não cria necessidades fictícias. Mas quando metade dos produtos é desperdiçado na satisfação das fantasias, deve o homem se admirar de nada encontrar no dia seguinte e tem razão de se lastimar por se achar desprevenido quando chega o tempo da escassez? Na verdade não é a Natureza a imprevidente, é o homem que não sabe regular-se.

O Livro dos Espíritos: 706. Como bens da terra devemos entender apenas os produtos do solo? - O solo é a fonte primeira de que decorrem todos os outros recursos, porque

esses recursos, em última instância, são apenas uma transformação dos produtos do solo. É por isso que devemos entender pelos bens da terra tudo quanto o homem pode gozar nesse mundo.

707. Os meios de subsistência faltam freqüentemente a certos indivíduos,

mesmo em meio da abundância que os cerca; a que se deve ligar esse fato? - Ao egoísmo dos homens que nem sempre fazem o que devem; em seguida, e

o mais freqüentemente, a eles mesmos. Buscai e achareis; estas palavras não querem dizer que seja suficiente olhar a terra a fim de encontrar o que se deseja, mas que é necessário procurar com ardor e perseverança, e não com displicência, sem se deixar desanimar pelos obstáculos que muito freqüentemente não passam de meios de pôr à prova a vossa constância, a vossa paciência e a vossa firmeza.

Se a civilização multiplica as necessidades também multiplica as fontes de

trabalho e os meios de vida; mas é preciso convir que nesse sentido ainda muito lhe resta a fazer. Quando ela tiver realizado a sua obra, ninguém poderá dizer que lhe falte o necessário, a menos que o falte por sua própria culpa. O mal, para muitos, é viverem uma vida que não é a que a Natureza lhes traçou; é então que lhes falta a inteligência para vencerem. Há para todos um lugar ao sol, mas com a condição de cada qual tomar o seu e não o dos outros. A Natureza não poderia ser responsável pelos vícios da organização social e pelas conseqüências da ambição e do amor próprio.

Seria preciso ser cego, entretanto, para não se reconhecer o progresso que nesse sentido têm realizado os povos mais adiantados.

Graças aos louváveis esforços que a Filantropia e a Ciência, reunidas, não cessam de fazer para a melhoria da condição material dos homens, e malgrado o crescimento incessante das populações, a insuficiência da produção é atenuada, pelo menos em grande parte, e os anos mais calamitosos nada têm de comparável aos de há bem pouco tempo. A higiene pública, esse elemento tão essencial da energia e da saúde, desconhecido por nossos pais, é objeto de uma solicitude esclarecida; o infortúnio e o sofrimento encontram lugares de refúgio; por toda parte a Ciência é posta em ação, contribuindo para o acréscimo do bem estar. Pode-se dizer que atingimos a perfeição? Oh, certamente que não. Mas o que já se fez dá-nos a medida do que pode ser feito, com perseverança, se o homem for bastante sensato para procurar a sua felicidade nas coisas positivas e sérias e não nas utopias que o fazem recuar em vez de avançar.

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708. Não há situações em que os meios de subsistência não dependem absolutamente da vontade do homem e a privação do necessário, o mais imperioso, é uma conseqüência das circunstâncias?

- É uma prova freqüentemente cruel que o homem deve sofrer e à qual sabia que seria exposto; seu mérito está na submissão à vontade de Deus, se a sua inteligência não lhe fornecer algum meio de sair da dificuldade. Se a morte deve atingi-lo, ele deverá submeter-se sem lamentar, pensando que a hora da verdadeira liberdade chegou e que o desespero do momento final pode fazê-lo perder o fruto de sua resignação.

709. Aqueles que em situações críticas se viram obrigados a sacrificar os

semelhantes para matar a fome, cometeram com isso um crime? Se houve crime, é ele atenuado pela necessidade de viver que o instinto de conservação lhes dá?

- Já respondi, ao dizer que há mais mérito em sofrer todas as provas da vida com abnegação e coragem. Há homicídio e crime de lesa natureza, que deve ser duplamente punido.

710. Nos mundos onde a organização é mais apurada os seres vivos têm

necessidade de alimentação? - Sim, mas os seus alimentos estão em relação com a sua natureza. Esses

alimentos não seriam tão substanciais para os vossos estômagos grosseiros; da mesma maneira, eles não poderiam digerir os vossos.

Necessário e Supérfluo O Livro dos Espíritos: 715. Como pode o homem conhecer o limite do necessário? - O sensato o conhece por intuição e muitos o conhecem à custa de suas

próprias experiências. 716. A Natureza não traçou o limite do necessário em nossa própria

organização? - Sim, mas o homem é insaciável. A Natureza traçou o limite de suas

necessidades na sua organização, mas os vícios alteraram a sua constituição e criaram para ele necessidades artificiais.

717. Que pensar dos que açambarcam os bens da terra para se proporcionarem

o supérfluo, em prejuízo dos que não têm sequer o necessário? - Desconhecem a lei de Deus e terão de responder pelas privações que

ocasionarem. O limite entre o necessário e o supérfluo nada tem de absoluto. A civilização

criou necessidades que não existem no estado de selvageria, e os Espíritos que ditaram esses preceitos não querem que o homem civilizado viva como selvagem. Tudo é relativo e cabe à razão colocar cada coisa em seu lugar. A civilização desenvolve o senso moral e ao mesmo tempo o sentimento de caridade que leva os homens a se apoiarem mutuamente. Os que vivem à custa das privações alheias exploram os benefícios da civilização em proveito próprio, não têm de civilizados mais do que o verniz, como há pessoas que não possuem da religião mais do que a aparência.

Privações Voluntárias A lei de conservação obriga-nos a prover as necessidades do corpo, pois sem a

energia e a saúde, o trabalho é impossível. O bem estar é um desejo natural. Deus só proíbe o abuso, por ser contrário à conservação, e não considera um crime a procura do

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bem estar se este não for conquistado a expensas de alguém e se não enfraquecer as vossas forças morais e nem as vossas forças físicas.

O Livro dos Espíritos: 720-a. Há privações voluntárias que sejam meritórias? - Sim. A privação dos prazeres inúteis, porque liberta o homem da matéria e

eleva sua alma. O meritório é resistir à tentação que vos convida aos excessos e ao gozo das coisas inúteis, é retirar do necessário para dar aos que o não têm. Se a privação nada mais for que um fingimento será apenas uma irrisão.

721. A vida de mortificações no ascetismo tem sido praticada desde toda a

Antiguidade e nos diferentes povos; é ela meritória sob um ponto de vista? - Perguntai a quem ela aproveita e tereis a resposta. Se não serve ao que a

pratica e o impede de fazer o bem, é egoísta, qualquer que seja o pretexto sob o qual se disfarce. Submeter-se a privações no trabalho pelos outros é a verdadeira mortificação, de acordo com a caridade cristã.

722. A abstenção de certos alimentos, prescrita entre os diversos povos, funda-

se na razão? - Tudo aquilo de que o homem se possa alimentar, sem prejuízo para a sua

saúde, é permitido. Mas os legisladores puderam interditar alguns alimentos com uma finalidade útil. E para maior crédito às suas leis apresentaram-nas como provindas de Deus.

723. A alimentação animal, para o homem, é contrária à lei natural? - Na vossa constituição física, a carne nutre a carne, pois do contrário o homem

perece. A lei de conservação impõe ao homem o dever de conservar as suas energias e a sua saúde para poder cumprir a lei do trabalho. Ele deve alimentar-se, portanto, segundo o exige a sua organização.

724. A abstenção de alimentos animais ou outros, como expiação, é meritória? - Sim, se o homem se priva em favor dos outros, pois Deus pode ver

mortificação quando não há privação séria e útil. Eis porque dizemos que os que só se privam em aparência são hipócritas.

725. Que pensar das mutilações praticadas no corpo do homem ou dos

animais? - A que vem semelhante pergunta? Perguntai sempre se uma coisa é útil. O que

é inútil não pode ser agradável a Deus e o que é prejudicial lhe é sempre desagradável. Porque, ficai sabendo, Deus só é sensível aos sentimentos que elevam a alma para Ele, e é praticando as Suas leis, em vez de violá-las, que podereis sacudir o jugo de vossa matéria terrena.

726. Se os sofrimentos deste mundo nos elevam, conforme os suportarmos,

poderemos elevar-nos pelos que criarmos voluntariamente? - Os únicos sofrimentos que elevam são os naturais, porque vêm de Deus. Os

sofrimentos voluntários não servem para nada, quando nada valem para o bem dos outros. Crês que os que abreviam a vida através de rigores sobre humanos, como o fazem os bonzos, os faquires e alguns fanáticos de tantas seitas, avançam na sua senda? Por que não trabalham antes, em favor dos seus semelhantes? Que vistam o indigente, consolem o que chora, trabalhem pelo que está enfermo, sofram privações para o alívio dos infelizes e então sua vida será útil e agradável a Deus. Quando, nos sofrimentos voluntários a que se sujeita, o homem não tem em vista senão a si mesmo, trata-se de egoísmo; quando alguém sofre pelos outros pratica a caridade; são esses os preceitos do Cristo.

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727. Se não devemos criar para nós sofrimentos voluntários que não são de nenhuma utilidade para os outros, devemos, no entanto preservar-nos dos que prevemos ou dos que nos ameaçam?

- O instinto de conservação foi dado a todos os seres contra os perigos e os sofrimentos. Fustigai o vosso Espírito e não o vosso corpo, mortificai vosso orgulho, sufocai o vosso egoísmo que se assemelha a uma serpente a vos devorar o coração e fareis mais pelo vosso adiantamento do que por meio de rigores que não mais pertencem a este século.

Necessidade do Espírito e Cuidados com o Corpo O corpo é um acervo de vidas que se manifesta como um todo, na organização

de um instrumento para o Espírito imortal. Trilhões de células se agregam em sociedade, onde a luz acondiciona elementos

de alto teor energético, acumulando condições para que a alma alcance mais um degrau na escala do despertar espiritual.

O corpo físico é, pois, uma usina humana, com expressão divina, na divina seqüência do progresso. Ele é a máquina mais perfeita, em se falando de coisas materiais, que conheceis. Ainda devereis gastar séculos, na soma de muitos séculos, para descobrir a perfeição do agregado fisiológico e da urdidura da sua missão junto à chama espiritual, que mostra como atributo a inteligência e, como feição valorizada, os dons, nas ramificações do amor, dentro das linhas devidas em que Deus se faz presente.

Quando escrevemos, sentimos alegria, por encontrarmos a misericórdia do intercâmbio entre os dois mundos e a satisfação maior está em transmitir os valores do espírito para aqueles que ainda caminham na carne. Nós somos todos irmãos, carentes das mesmas necessidades, e principalmente, de amar.

Deveis convir conosco que tendes sob o vosso domínio um tesouro sobremaneira excelente: o vosso corpo. Cuidai dele, que ele corresponderá aos vossos esforços, vos doando meios de cumprir a vossa missão nos roteiros do mundo.

O Espírito é um pássaro de luz preso temporariamente na cruz de carne, para afrouxar os laços que seguram os sentimentos. A carne é como uma câmara, onde as virtudes tendem a amadurecer, criando condições cada vez melhores no que tange à verdadeira emancipação. Entretanto, sem conhecer, não poderemos avançar. O conhecimento nos favorece a certeza, que na palavra evangélica é a mesma Fé, tornando-se Caridade, a qual se transmuta em Amor.

Conhecer a si mesmo é passo firme na aquisição da harmonia de todos os corpos que revestem a alma, na grande jornada eterna.

A pessoa que lê passa a ser o que passa a pensar. Na mente, estão muitos segredos esperando o futuro que gradativamente revelar-vos-á as nuances da vida, de conformidade com o degrau da escada em que já pisastes. A vossa felicidade depende de vós mesmos, porque a parte de Deus, Ele já a fez.

Mas lembrai-vos de que não existis sem a existência dos outros. Deixai o vosso amor atingir os corações que vos cercam, como sendo parte de vós mesmos.

O corpo é um Universo em miniatura, regido pelas mesmas leis, compatíveis com o seu tamanho. O espírito é um deus, se o compararmos com as micro vidas em profusão, na formação do fardo físico.

Luzes e mais luzes se intercruzam no universo biológico, pedindo passagem dentre os obstáculos criados pela ignorância que se desfaz no amor vertido pela mente adestrada no bem. Sede aquele que dispensa elogios e nunca exige condições. Começai a respeitar todos os reinos da Natureza, que eles vos abrirão o livro da sabedoria e um processo que talvez desconheçais vos encherá de paz e saúde, de alegria e conhecimento, no que se refere à vossa própria vida.

Nós todos sofremos por não sabermos o valor da saúde e desconhecemos muito sobre a harmonia dos nossos corpos. A razão é um dos pontos básicos para que possamos nortear os nossos destinos, porém, a intuição clareia todos os caminhos por onde deveremos passar com consciência do dever.

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Se a vossa ambição for somente a elevação espiritual, desgastando o físico para ganhar o mais além, podereis errar o roteiro da verdadeira felicidade, pois, todos os instrumentos do espírito devem ser cuidados, com atenção e carinho.

Começai pelo corpo físico, na dedicação peculiar ao sábio, que os outros vos abrirão as portas para que entreis na senda da verdadeira iniciação. Não sejais precipitados. A ponderação é filha do bom senso e este, do equilíbrio. O equilíbrio é filho da justiça e esta, da harmonia.

O primeiro passo é começar a tratar da vossa Usina Humana. Bibliografia: O Livro dos Espíritos – Allan Kardec A Memória e o Tempo – Hermínio C. Miranda Horizontes da Mente – João Nunes Maia (pelo espírito Miramez) Saúde – João Nunes Maia (pelo espírito Miramez)

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 17

Lei de Sociedade Necessidade da Vida Social A vida social é natural. Deus fez o homem para viver em sociedade. Deus não

deu inutilmente ao homem a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação.

O isolamento absoluto é contrário à lei natural, os homens buscam a sociedade por instinto e devem todos concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente.

O homem deve progredir, mas sozinho não o pode fazer porque não possui todas as faculdades, precisa do contato dos outros homens. No isolamento ele se embrutece e se estiola.

OBS: Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos outros para assegurarem o seu próprio bem estar e progredirem. Eis porque, tendo necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e não isolados.

Vida de Isolamento - Voto de Silêncio O Livro dos Espíritos: 769. Concebe-se que, como princípio geral, a vida social esteja nas leis da

Natureza. Mas como todos os gostos são também naturais, porque o do isolamento absoluto seria condenável, se o homem encontra nele satisfação?

- Satisfação egoísta. Há também homens que encontram satisfação na embriaguez; aprovas isso? Deus não pode considerar agradável uma vida em que o homem se condena a não ser útil a ninguém.

770. E que pensar dos homens que vivem em reclusão absoluta para fugirem

ao contato pernicioso do mundo? - Duplo egoísmo. 770-a. Mas se esse retraimento tem por fim uma expiação, com a imposição de

penosa renúncia, não é meritório? - Fazer maior bem do que o mal que se tenha feito, essa é a melhor expiação.

Com esse retraimento, evitando o mal o homem cai em outro, pois esquece a lei de amor e caridade.

771. Que pensar dos que fogem do mundo para se devotarem ao amparo dos

infelizes? - Esses se elevam ao se rebaixarem. Têm o duplo mérito de se colocarem acima

dos prazeres materiais e de fazerem o bem pelo cumprimento da lei do trabalho.

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771-a. E os que procuram no retiro a tranqüilidade necessária a certos

trabalhos? - Esse não é o retiro absoluto do egoísta; eles não se isolam da sociedade, pois

trabalham para ela. 772. Que pensar do voto de silêncio prescrito por algumas seitas desde a mais

alta antiguidade? - Perguntai antes se a palavra é natural e porque Deus a deu. Deus condena o

abuso e não o uso das faculdades por ele concedidas. Não obstante, o silêncio é útil porque no silêncio te recolhes, teu espírito se torna mais livre e pode então entrar em comunicação direta conosco. Mas o voto de silêncio é uma tolice. Sem dúvida, os que consideram essas privações voluntárias como atos de virtude têm boas intenções, mas se enganam por não compreenderem suficientemente as verdadeiras leis de Deus.

O voto de silêncio absoluto, da mesma maneira que o voto de isolamento priva

o homem das relações sociais que lhe podem fornecer as ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso.

O Intercâmbio Social O homem, inquestionavelmente, é um ser gregário, organizado pela emoção

para a vida em sociedade. O seu insulamento, a pretexto de servir a Deus, constitui uma violência à lei

natural, caracterizando-se por uma fuga injustificável às responsabilidades do dia-a-dia. Graças à dinâmica da atualidade, diminuem as antigas incursões ao

isolacionismo, seja nas regiões desérticas para onde o homem fugia a buscar meditação, seja no silêncio das clausuras e monastérios onde pensava perder-se em contemplação.

O Cristianismo possui o extraordinário objetivo de criar uma sociedade equilibrada, na qual todos os seus membros sejam solidários entre si.

O “negar o mundo”, do conceito evangélico, não significa abandoná-lo, antes criar condições novas, a fim de modificar-lhe as estruturas negativas e egoísticas, engendrando recursos que o transformem em reduto de esperança, de paz, perfeito símile do “reino dos céus”, a que se reportava Jesus.

A vivência cristã se caracteriza pelo clima de convivência social em regime de fraternidade, no qual todos se ajudam e se socorrem, dirimindo dificuldades e consertando problemas.

Viver o Cristo é também conviver com o próximo, aceitando-o conforme suas imperfeições, sem constituir-lhe fiscal ou pretender corrigi-lo, antes acompanhando-o com bondade, inspirando-o ao despertamento e à mudança de conduta.

A reforma pessoal de alguém inspira confiança, gera simpatia, modifica o meio e renova os compares com quem cada um se afina.

Isolar-se, portanto, a pretexto de servir ao bem não passa de uma experiência na qual o egoísmo predomina, longe da luta que forja heróis e constrói os santos da abnegação e da caridade.

Criaturas bem intencionadas sonham com comunidades espiritualizadas, perfeitas, onde se possa viver em regime da mais pura santificação.

Assim tocadas, programam colméias, organizam comitês para tal fim, e os ambiciosos laboram por cidades onde o mal não exista e todos se amem.

Em verdade, tal ambição, nobre, por enquanto impraticável, senão totalmente irrealizável, representa uma reminiscência ancestral das antigas comunidades religiosas onde o atavismo criou necessidades de elevação num mundo especial, longe das realidades objetivas entre os homens em evolução.

Jesus, porém, deu-nos o exemplo. Desceu das regiões felizes ao vale das aflições, a fim de ajudar. Não convocou os privilegiados, antes convidou os infelizes, os rebeldes e

rejeitados, suportando suas mazelas e assim mesmo os amando.

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No colégio íntimo, esteve a braços com as sistemáticas dúvidas dos amigos, suas ambições infantis, suas querelas frívolas, suas disputas.

Não se afastou deles, embora suas imperfeições, não se rebelou contra eles. Ajudou-os, incansavelmente, até os momentos extremos, quando, sofrendo, no

Getsêmani, surpreendeu-os, mais de uma vez, a dormir. E retornou ao convívio deles, quando atemorizados, a sustentá-los e animá-los,

a fim de que não deperecessem na fé, nem na dedicação em que se fizeram mais tarde dignos do seu Mestre, em face dos testemunhos libertadores a que entregaram.

Atesta a tua confiança no Senhor e a excelência da tua fé mediante a convivência com os irmãos mais inditosos do que tu mesmo.

Sê-lhes a lâmpada acesa a clarificar-lhes a marcha. Nada esperes dos outros. Sê tu quem ajuda, desculpa, compreende. Se eles te enganam ou te traem, se censuram-te ou exigem-te o que não dão,

ama-os mais, sofre-os mais, porquanto são mais carecentes de socorro e amor do que supões.

Se conseguires conviver pacificamente com os amigos difíceis e fazê-los companheiros, terás logrado êxito, porquanto Jesus em teu coração estará sempre refletido no trato, no intercâmbio social com os que te buscam e com os quais ascendes na direção de Deus.

Vida em Família Entre os animais, pais e filhos, deixam de reconhecer quando os últimos não

precisam mais de cuidados, isso ocorre porque os animais vivem a vida material e não a moral. A ternura da mãe pelos filhos tem por princípio o instinto de conservação aplicado aos seres que deu a luz. Quando esses seres podem cuidar de si mesmos sua tarefa está cumprida e a natureza nada mais lhe exige. É por isso que ela os abandona para se ocupar de outros que chegam.

O homem tem outro destino, que não o dos animais, para ele há outra coisa além das necessidades físicas, há a necessidade do progresso. Os liames sociais são necessários ao progresso e os laços de família resumem os liames sociais: eles constituem uma lei natural. Deus quis que os homens, assim, aprendessem a amar-se como irmãos.

Para a sociedade o relaxamento dos laços de família seria uma recrudescência do egoísmo.

Parentesco Corporal e Espiritual Os laços de sangue não estabelecem necessariamente os laços espirituais. O

corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do espírito, porque este existia antes da formação do corpo. O pai não gera o Espírito do filho: fornece-lhe apenas o envoltório corporal. Mas deve ajudar seu desenvolvimento intelectual e moral, para o fazer progredir.

Os Espíritos que se encarnam numa mesma família, sobretudo como parentes próximos, são o mais freqüentemente Espíritos simpáticos, ligados por relações anteriores, que se traduzem pela afeição durante a vida terrena. Mas pode ainda acontece que esses Espíritos sejam completamente estranhos uns para com os outros, separados por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem também por seu antagonismo na Terra, a fim de lhes servir de prova. Os verdadeiros laços de família não são, portanto, os da consangüinidade, mas os da simpatia e da comunhão de pensamentos, que unem os Espíritos, antes, durante e após a encarnação. Donde se segue que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem, pois, atrair-se, procurar-se, tornar-se amigos, enquanto dois irmãos consangüíneos podem repelir-se, como vemos todos os dias. Problema moral, que só o Espiritismo podia resolver, pela pluralidade das existências.

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Há, portanto, duas espécies de famílias: as famílias por laços espirituais e as famílias por laços corporais. As primeiras, duradouras, fortificam-se pela purificação e se perpetuam no Mundo dos Espíritos, através das diversas migrações da alma. As segundas, frágeis como a própria matéria, extinguem-se com o tempo e quase sempre se dissolvem moralmente desde a vida atual. Foi o que Jesus quis fazer compreender, dizendo aos discípulos: “Eis minha mãe e meus irmãos”, ou seja, a minha família pelos laços espirituais, pois “quem quer que faça a vontade de meu Pai, que está nos Deus, é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

Amizades e Afeições Não apenas a simpatia como ingrediente único para facultar que os afagos da

amizade te adornem e elevem o espírito. Muito fácil ganhar como perder amigos. Quiçá difícil se apresente a tarefa de

sustentar amizades, em vez de somente consegui-las. O magnetismo pessoal é fator importante para promover a aquisição de afetos.

Todavia, se o comportamento pessoal não se padroniza e sustenta em diretrizes de enobrecimento e lealdade, as amizades e afeiçoe não raro se convertem em pesada canga, desagradável parceria que culmina em clima de animosidade, gerando futuros adversários.

Nesse particular, existem pequenos fatores que não podem nem devem ser relegados a plano secundário, a fim de que sejam mantidas as afeições.

A planta não irrigada sucumbe sob a canícula. O grão não sepulto morre. O lume sem combustível se apaga. A máquina sem graxa arrebenta-se. Assim, também, a amizade que sem o sustento da cortesia e da gentileza se

estiola. Se desejas preservar teus amigos não creias consegui-lo mediante um curso de

etiqueta ou de boas maneiras, com que, muitas vezes, a aparência estudada, artificial, substitui ou esconde os sentimentos reais. Os impositivos evangélicos que te apliques ser-te-ão admiráveis técnicas de autenticidade, que funcionam como recurso valioso para a sustentação do bem em qualquer pessoa.

A afabilidade, a doçura, a gentileza de alguém, aparentemente destituído de simpatia conseguem propiciar a presença de amigos, retê-los e torná-los afetos puros para sempre.

Amizades se desagregam ou se desgastam exatamente apor articuladas, no período em que os consórcios fraternos se descuidam de mantê-las.

E isso normalmente ocorre como conseqüência de atitudes que se podem evitar: O olhar agressivo; A palavra ríspida; O atendimento hostil ou negligente; A lamentação constante; A irreverência acompanhada pela frivolidade; A irritação contínua; A queixa contumaz; O pessimismo vinagroso... Os amigos são companheiros que também têm problemas. Por essa razão se

acercam de ti. Usa, no trato com eles, quanto possível, a bondade e a atenção, a fim de que,

um dia, conforme Jesus enunciou: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor; mas, tenho-vos chamado amigos, porque vos revelei tudo quanto ouvi de meu Pai”, tornando-te legítimo amigo de todos, conseqüentemente fruindo as bênçãos da amizade e da afeição puras.

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A Ingratidão dos Filhos - Amor Materno A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo e revolta sempre os

corações virtuosos. Mas a dos filhos para com os pais tem um sentido ainda mais odioso. É desse ponto de vista que a vamos encarar mais especialmente, para analisar-lhe as causas e os efeitos. Nisto, como em tudo, o Espiritismo vem lançar luz sobre um dos problemas do coração humano.

Quando o Espírito deixa a Terra, leva consigo as paixões humanas ou as virtudes inerentes à sua natureza e vai no espaço aperfeiçoar-se ou estacionar, até que deseje esclarecer-se. Alguns, portanto, levam consigo ódios violentos e desejos de vingança. A alguns deles, porém, mais adiantados, é permitido entrever algo da verdade: reconhecem os funestos efeitos de suas paixões e tomam então boas resoluções; compreendem que, para se dirigirem a Deus, só existe uma senha, caridade. Mas não há caridade sem esquecimento das ofensas e das injúrias; não há caridade com ódio no coração e sem perdão.

É então que, por um esforço inaudito, voltam o seu olhar para os que detestaram na Terra. À vista deles, porém, sua animosidade desperta. Revoltam-se à idéia de perdoar e ainda mais a de renunciar a si mesmos, mas sobretudo a de amar aqueles que lhes destruíram talvez a fortuna, a honra, a família. Não obstante, o coração desses infortunados está abalado. Eles hesitam, vacilam, agitados por sentimentos contrários. Se a boa resolução triunfa, eles oram a Deus, imploram aos bons Espíritos que lhes dêem forças no momento mais decisivo da prova.

Enfim, depois de alguns anos de meditação e de preces, o Espírito se aproveita de um corpo que se prepara, na família daquele que ele detestou, e pede, aos Espíritos encarregados de transmitir as ordens supremas, permissão para ir cumprir sobre a Terra os destinos desse corpo que vem se formar. Qual será, então, a sua conduta nessa família? Ela dependerá da maior ou menor persistência das suas boas resoluções. O contato incessante dos seres que ele odiou é uma prova terrível, da qual às vezes sucumbe, se a sua vontade não for bastante forte. Assim, segundo a boa ou má resolução que prevalecer, ele será o amigo ou o inimigo daqueles em cujo meio foi chamado a viver. É assim que se explicam esses ódios, essas repulsas instintivas, que se notam em certas crianças e que nenhum fato exterior parece justificar. Nada, com efeito, nessa existência, poderia provocar essa antipatia. Para encontrar-lhe a causa, é necessário voltar os olhos ao passado.

Oh! Espíritas! Compreendei neste momento o grande papel da Humanidade! Compreendei que, quando gerais um corpo, a alma que se encarna vem do espaço para progredir. Tomai conhecimento dos vossos deveres e ponde todo o vosso amor em aproximar essa alma de Deus: é essa a missão que vos está sendo confiada e da qual recebereis a recompensa, se a cumprirdes fielmente. Vossos cuidados, a educação que lhe derdes auxiliarão o seu aperfeiçoamento e a sua felicidade futura. Lembrai-vos de que a cada pai e a cada mãe Deus perguntará: “Que fizestes da criança confiada à vossa guarda?” Se permaneceu atrasada por vossa culpa, vosso castigo será o de vê-la entre os Espíritos sofredores, quando dependia de vós que fosse feliz. Então vós mesmos, carregados de remorsos, pedireis para reparar a vossa falta; solicitareis uma nova encarnação, para vós e para ela, na qual a cercareis de mais atentos cuidados e ela, cheia de reconhecimento, vos envolverá no seu amor.

Não recuseis, portanto, o filho que no berço repele a mãe, nem aquele que vos paga com a ingratidão: não foi o acaso que o fez assim e que vo-lo enviou. Uma intuição imperfeita do passado se revela e dela podeis deduzir que um ou outro já odiou e foi muito ofendido, que um ou outro veio para perdoar ou para expiar.

Mães! Abraçai, pois, a criança que vos causa aborrecimentos e dizei para vós mesmas: “Uma de nós duas foi culpada”. Merecei as divinas alegrias que Deus concedeu à maternidade, ensinando a essa criança que ela está na Terra para se aperfeiçoar, amar e abençoar. Mas, ah!, muitas dentre vós, em vez de expulsar por meio da educação os maus princípio inatos, provenientes das existências anteriores, entretêm e desenvolvem esses princípios, por descuido ou por uma culposa fraqueza. E, mais tarde, o vosso coração ulcerado pela ingratidão dos filhos, será para vós, desde esta vida, o começo da vossa expiação.

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A tarefa não é tão difícil como podereis pensar. Não exige o saber do mundo: o ignorante e o sábio podem cumpri-la e o espiritismo vem facilitá-la, ao revelar a causa das imperfeições do coração humano.

Desde o berço, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de sua existência anterior. É necessário aplicar-se em estudá-los. Todos os males têm sua origem no egoísmo e no orgulho. Espreitai, pois, os menores sinais que revelam os germes desses vícios e dedicai-vos a combatê-los, sem esperar que eles lancem raízes profundas. Fazei como o bom jardineiro, que arranca os brotos daninhos à medida que os vê aparecerem na árvore. Se deixardes que o egoísmo e o orgulho se desenvolvam, não vos espanteis de ser pagos mais tarde pela ingratidão. Quando os pais tudo fizeram para o adiantamento moral dos filhos, se não conseguem êxito, não têm do que lamentar e sua consciência pode estar tranqüila. Quanto à amargura muito natural que experimentam pelo insucesso de seu esforço, Deus reserva-lhes uma grande, imensa consolação, pela certeza de que é apenas um atraso momentâneo e que lhes será dado acabar em outra existência a obra então começada, e que um dia o filho ingrato os recompensará com o seu amor.

Bibliografia: O Livro dos Espíritos – Allan Kardec O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec Leis Morais da Vida – Divaldo Franco/Joanna de Angelis

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 18

Lei de Progresso Estado Natural e Lei Natural O estado natural é o estado primitivo, a civilização é incompatível com o estado

natural. Enquanto a lei natural contribui para o progresso da Humanidade. O estado natural é a infância da Humanidade e o ponto de partida do seu

desenvolvimento intelectual e moral. O homem, sendo perfectível e trazendo em si o germe de seu melhoramento não destinado a viver perpetuamente no estado natural, como não foi destinado a viver perpetuamente na infância. O estado natural é transitório e o homem o deixa pelo progresso e a civilização.

A lei natural, pelo contrário, rege toda a condição humana e o homem se melhora na medida em que melhor compreenda e melhor pratique essa lei.

O Livro dos Espíritos: 777. No estado natural, tendo menos necessidades, o homem não sofre todas

as atribulações que cria para si mesmo num estado mais adiantado. Que pensar da opinião dos que considerem esse estado como o da mais perfeita felicidade terrena?

- Que queres? É a felicidade do bruto. Há pessoas que não compreendem outra. É ser feliz à maneira dos animais. As crianças também são mais felizes que os adultos.

778. O homem pode retrogradar para o estado natural? - Não, o homem deve progredir sem cessar e não pode voltar ao estado de

infância. Se ele progride, é que Deus assim o quer; pensar que ele pode retrogradar para a sua condição primitiva seria negar a lei do progresso.

Terra – Instituto Educacional Admira-se de haver sobre a Terra tantas maldades e tantas paixões inferiores,

tantas misérias e enfermidades de toda sorte, concluindo-se que miserável coisa é a espécie humana. Esse julgamento decorre de uma visão estreita que dá uma falsa idéia do conjunto. É necessário considerar que toda a humanidade não se encontra na Terra, mas apenas uma pequena fração dela. Porque a espécie humana abrange todos os seres dotados de razão que povoam os inumeráveis mundos do Universo. Ora, o que seria a população da Terra, diante da população total desses mundos? Bem menos que a de um lugarejo em relação a de um grande império. A condição material e moral da humanidade terrena nada tem, pois, de estranho, se levarmos em conta o destino da Terra e a natureza de sua população.

Faríamos uma idéia muito falsa da população de uma grande cidade, se a julgássemos pelos moradores dos bairros mais pobres e sórdidos. Num hospital, só vemos doentes e estropiados; numa galé, vemos todas as torpezas, todos os vícios

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reunidos; nas regiões insalubres, a maior parte dos habitantes são pálidos, fracos e doentes. Pois bem: consideremos a Terra como um hospital, uma penitenciária, um pantanal, porque ela é tudo isso a um só tempo, e compreenderemos por que as suas aflições sobrepujam os prazeres. Porque não se enviam aos hospitais as pessoas sadias, nem às casas de correção os que não praticaram crime, nem os hospitais, nem as casas de correção são lugares de delícias.

Ora, da mesma maneira que, numa cidade, toda a população não se encontra nos hospitais ou nas prisões, assim a humanidade inteira não se encontra na Terra. E como saímos do hospital quando estamos curados, e da prisão quando cumprimos a pena, o homem sai da Terra para mundos mais felizes, quando se acha curado de suas enfermidades morais.

Marcha Do Progresso O Livro dos Espíritos: 779. O homem tira de si mesmo a energia progressiva ou o progresso não é

mais do que o resultado de um ensinamento? - O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente, mas nem todos

progridem ao mesmo tempo e da mesma maneira; é então que os mais adiantados ajudam os outros a progredir, pelo contato social.

780. O progresso moral segue sempre o progresso intelectual? - É a sua conseqüência, mas não o segue sempre imediatamente. 192. Por uma conduta perfeita podemos vencer já nesta vida todos os graus e

nos tornar Espíritos puros, sem passar pelos intermediários? - Não, pois o que o homem julga perfeito está longe da perfeição; há qualidades

que ele desconhece e nem pode compreender. Pode ser tão perfeito quanto a sua natureza o permita, mas esta não é a perfeição absoluta. Da mesma maneira que uma criança, por mais precoce que seja, deve passar pela juventude antes de chegar à maturidade, e um doente deve passar pela convalescença antes de recuperar a saúde. Além disso, o Espírito deve adiantar-se em conhecimento e moralidade, e se ele não progrediu senão num sentido, é necessário que o faça no outro, para chegar no alto da escala. Entretanto, quanto mais o homem se adianta na vida presente, menos longas e penosas serão as provas seguintes.

365. Por que os homens mais inteligentes, que revelam um Espírito superior

neles encarnados, são, às vezes, profundamente viciosos? - É que o Espírito encarnado não é bastante puro, e o homem cede à

influência de outros Espíritos ainda piores. O Espírito progride numa marcha ascendente insensível, mas o progresso não se realiza simultaneamente em todos os sentidos; num período ele pode avançar em Ciência, num outro em moralidade.

780-a. Como o progresso intelectual pode conduzir ao progresso moral? - Dando a compreensão do bem e do mal, pois então o homem pode escolher. O

desenvolvimento do livre arbítrio segue-se ao desenvolvimento da inteligência e aumenta a responsabilidade do homem pelos seus atos.

780-b. Como se explica, então, que os povos mais esclarecidos sejam

freqüentemente os mais pervertidos? - O progresso completo é o alvo a atingir, mas os povos, como os indivíduos,

não chegam a ele senão passo a passo. Até que tenham desenvolvido o senso moral eles podem servir-se da inteligência para fazer o mal. A moral e a inteligência são duas forças que não se equilibram senão com o tempo.

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781. É permitido ao homem deter a marcha do progresso? - Não, mas pode entravá-la algumas vezes. 781-a. Que pensar dos homens que tentam deter a marcha do progresso e

fazer retrogradar a Humanidade? - Pobres seres que Deus castigará; serão arrasados pela torrente que

pretendem deter. 782. Não há homens que entravam o progresso de boa fé, acreditando

favorecê-lo, porque o vêem segundo o seu ponto de vista, e freqüentemente onde ele não existe?

- Pequena pedra posta sob a roda de um grande carro sem impedi-lo de avançar.

783. O aperfeiçoamento da Humanidade segue sempre uma marcha

progressiva e lenta? - Ao progresso regular e lento que resulta da força das coisas; mas quando um

povo não avança bastante rápido, Deus lhe provoca, de tempos em tempos, um abalo físico ou moral que o transforma.

Sendo o progresso uma condição da natureza humana ninguém tem o poder de se opor a ele. É uma força viva que as más leis podem retardar, mas não asfixiar. Quando essas leis se tornam de modo incompatíveis com o progresso, ele as derruba, com todos os que as querem manter, e assim será até que o homem harmonize as suas leis com a justiça divina, que deseja o bem para todos, e não as leis feitas para o forte em prejuízo do fraco.

O homem não pode permanecer perpetuamente na ignorância, porque deve chegar ao fim determinado pela Providência; ele se esclarece pela própria força das circunstâncias. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram pouco a pouco nas idéias, germinam ao longo dos séculos e depois explodem subitamente, fazendo ruir o edifício carcomido do passado, que não se encontra mais de acordo com as necessidades novas e as novas aspirações.

O homem geralmente não percebe, nessas comoções, mais do que a desordem e a confusão momentâneas, que o atingem em seus interesses materiais, mas aquele que eleva o seu pensamento acima dos interesses pessoais, admira os desígnios da Providência que do mal fazem surgir o bem. São a tempestade e o furacão que saneiam a atmosfera, depois de a haverem revolvido.

784. A perversidade do homem é bastante intensa, e não parece que ele está

recuando, em lugar de avançar, pelo menos do ponto de vista moral? - Enganaste. Observa bem o conjunto e verás que ele avança, pois vai

compreendendo melhor o que é o mal, e dia a dia corrige os seus abusos. É preciso que haja excesso do mal, para fazer-lhe compreender as necessidades do bem e das reformas.

785. Qual o maior obstáculo ao progresso? - São o orgulho e o egoísmo. Quero referir-me ao progresso moral, porque o

intelectual avança sempre. Este parece, aliás, à primeira vista, duplicar a intensidade daqueles vícios desenvolvendo a ambição e o amor das riquezas, que por sua vez incitam o homem às pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. É assim que tudo se relaciona no mundo moral como no físico e que do corpo mal pode sair o bem. Mas esse estado de coisas durará apenas algum tempo; modificar-se-á à medida que o homem compreender melhor que além do gozo dos bens terrenos existe uma felicidade infinitamente maior e infinitamente mais durável.

Há duas espécies de progresso que mutuamente se apóiam e, entretanto não marcham juntas. O progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados o primeiro recebe em nosso século todos os estímulos desejáveis e por isso atingiu um grau até hoje desconhecido. Seria necessário que o segundo estivesse no mesmo nível.

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Não obstante, se compararmos os costumes sociais de alguns séculos atrás com os de hoje, teremos de ser cegos para negar que houve progresso moral. Por que, pois, a marcha ascendente da moral deveria interromper-se mais que a da inteligência? Por que não haveria, entre o século décimo nono e o vigésimo quarto, tanta diferença nesse terreno como entre o décimo quarto e o décimo nono? Duvidar disso seria pretender que a Humanidade tivesse atingido o apogeu da perfeição, o que é absurdo, ou que ela não é moralmente perfectível, o que a experiência desmente.

Povos Degenerados O Livro dos Espíritos: 786. A história nos mostra uma multidão de povos que após terem sido

convulsionados recaíram na barbárie. Onde está nesse caso o progresso? - Quando a tua casa ameaça cair, a derrubas para a reconstruir de maneira

mais sólida e mais cômoda; mas até que ela esteja reconstruída haverá desarranjos e confusões na tua morada.

Compreende isto também: és pobre e moras num casebre, mas ficas rico e o

deixas para morar num palácio. Depois um pobre diabo como o eras, vem tomar o teu lugar no casebre e se sente muito contente, pois antes não possuía um abrigo. Pois bem! Compreende então que os Espíritos encarnados neste povo degenerado não são mais os que o constituíam nos tempos de seu esplendor. Aqueles, logo que se tornaram mais adiantados, mudaram-se para habitações mais perfeitas e progrediram, enquanto outros, menos avançados, tomaram seu lugar, que por sua vez também deixarão.

787. Não há raças rebeldes ao progresso por sua própria natureza? - Sim, mas dia a dia elas se aniquilam corporalmente. 787-a. Qual será o destino futuro das almas que animam essas raças? - Chegarão à perfeição, como todas as outras, passando por várias experiências.

Deus não deserda ninguém. 787-b. Então, os homens mais civilizados podem ter sido selvagens e

antropófagos? - Tu mesmo o foste, mais de uma vez, antes de seres o que és. 788. Os povos são individualidades coletivas que passam pela infância, a idade

madura e a decrepitude, como os indivíduos. Essa verdade constatada pela História não nos permite supor que os povos mais adiantados deste século terão o seu declínio e o seu fim, como os da Antiguidade?

- Os povos que só vivem materialmente, cuja grandeza se firma na força e na extensão territorial, crescem e morrem porque a força de um povo se esgota como a de um homem; aqueles cujas leis egoístas atentam contra o progresso das luzes e da caridade morrem porque a luz aniquila as trevas e a caridade mata o egoísmo. Mas há para os povos, como para os indivíduos, a vida da alma, e aqueles cujas leis se harmonizam com as leis eternas do Criador viverão e serão o farol dos outros povos.

789. O progresso reunirá um dia todos os povos da Terra numa só nação? - Não há uma só nação, o que é impossível, pois da diversidade dos climas

nascem costumes e necessidades diferentes, que constituem as nacionalidades. Assim, serão sempre necessárias leis apropriadas a esses costumes e a essas necessidades. Mas a caridade não conhece latitudes e não faz distinção dos homens pela cor. Quando a lei de Deus constituir por toda parte a base de lei humana, os povos praticarão a caridade de um para o outro, como os indivíduos de homem para homem, vivendo felizes e em paz, porque ninguém tentará fazer mal ao vizinho ou viver à suas expensas.

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A humanidade progride através dos indivíduos que se melhoram pouco a pouco e se esclarecem; quando estes se tornam numerosos, tomam a dianteira e arrastam os outros. De tempos em tempos surgem os homens de gênio que lhes dão um impulso, e, depois, homens investidos de autoridade, instrumentos de Deus, que em alguns anos a fazem avançar de muitos séculos.

O progresso dos povos faz ainda ressaltar a justiça da reencarnação. Os homens de bem fazem louváveis esforços para ajudar uma nação avançar moral e intelectualmente; a nação transformada será feliz neste mundo e no outro, compreende-se; mas, durante a sua marcha lenta através dos séculos, milhares de indivíduos morrem diariamente, e qual seria a sorte de todos esses que sucumbem durante o trajeto? Sua inferioridade relativa os priva da felicidade reservada aos que chegam por último? Ou também a sua felicidade é relativa? A justiça divina não poderia consagrar semelhante injustiça. Pela pluralidade das existências, o direito à felicidade é sempre o mesmo para todos, porque ninguém é deserdado pelo progresso. Os que viveram no tempo da barbárie, podendo voltar no tempo da civilização, no mesmo povo ou em outro, é claro que todos se beneficiam da marcha ascendente.

Mas o sistema da unicidade da existência apresenta neste caso outra dificuldade. Com esse sistema, a alma é criada no momento do nascimento, de maneira que um homem é o mais adiantado que outro porque Deus criou para ele uma alma mais adiantada. Por que esse favor? Que mérito tem ele, que não viveu mais do que o outro, e geralmente menos, para ser dotado de uma alma superior? Mas essa não é a principal dificuldade. Uma nação passa, em mil anos, da barbárie à civilização. Se os homens vivessem mil anos poderia conceber-se que, nesse intervalo, tivessem tempo de progredir; mas diariamente morrem criaturas em todas as idades, renovando-se sem cessar, de maneira que dia a dia as vemos aparecerem e desaparecerem. No fim de um milênio não há mais traços dos antigos habitantes; a nação de bárbara que era tornou-se civilizada: mas quem foi que progrediu? Os indivíduos outrora bárbaros? Esses já estão mortos há muito tempo. Os que chegaram por último? Mas se sua alma foi criada no momento do nascimento, essas almas não existiriam no tempo da barbárie e é necessário admitir, então, que os esforços desenvolvidos para civilizar um povo têm o poder, não de melhorar as almas imperfeitas, mas de fazer Deus criar outras almas mais perfeitas.

Comparemos esta teoria do progresso com a que nos foi dada pelos Espíritos. As almas vindas no tempo da civilização tiveram a sua infância, como todas as outras, mas já viveram e chegam adiantadas em conseqüência de um progresso anterior; elas vêm atraídas por um meio que lhes é simpático e que está em relação com o seu estado atual. Dessa maneira, os cuidados dispensados à civilização de um povo não têm por efeito determinar a criação futura de almas mais perfeitas, mas atrair aquelas que já progrediram, sejam as que já viveram nesse mesmo povo em tempos de barbárie, seja as que procedem de outra parte. Aí temos ainda, a chave do progresso de toda a Humanidade. Quando todos os povos estiverem no mesmo nível quanto ao sentimento do bem, a Terra só abrigará bons Espíritos, que viverão em união fraterna. Os maus, tendo sido repelidos e deslocados irão procurar nos mundos inferiores o meio que lhes convém, até que se tornem dignos de voltar ao nosso meio transformado. A teoria vulgar tem ainda esta conseqüência: os trabalhos de melhoramento social só aproveitam às gerações presentes e futuras; seu resultado é nulo para as gerações passadas, que cometeram o erro de chegar muito cedo e só avançaram na medida de suas forças, sob a carga de seus atos de barbárie. Segundo a doutrina dos Espíritos, os progressos ulteriores aproveitam igualmente a essas gerações, que revivem nas condições melhores e podem aperfeiçoar-se no meio da civilização.

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Civilização O Livro dos Espíritos: 790. A civilização é um progresso, ou, segundo alguns filósofos, uma

decadência da Humanidade? - Progresso incompleto, pois o homem não passa subitamente da infância à

maturidade. 790-a. É razoável condenar-se a civilização? - Condenai antes os que abusam dela e não a obra de Deus. 791. A civilização se depurará um dia, fazendo desaparecer os males que tenha

produzido? - Sim, quando a moral estivar tão desenvolvida quanto a inteligência. O fruto

não pode vir antes da flor. 792. Por que a civilização não realiza imediatamente todo o bem que ela

poderia produzir? - Porque os homens ainda não se encontram em condições, nem dispostos a

obter este bem. 792-a. Não seria ainda porque, criando necessidades novas, excita novas

paixões? - Sim, e porque todas as faculdades do espírito não progridem ao mesmo

tempo; é necessário tempo para tudo. Não podeis esperar frutos perfeitos de uma civilização incompleta.

793. Por que sinais se pode reconhecer uma civilização completa? - Vós a reconhecereis pelo desenvolvimento moral. Acreditais estar muito

adiantados por terdes feito grandes descobertas e invenções maravilhosas; porque estais melhor instalados e melhor vestidos que os vossos selvagens; mas só tereis verdadeiramente o direito de vos dizer civilizados quando houverdes banido de vossa sociedade os vícios que desonram e quando passardes a viver como irmãos, praticando a caridade cristã. Até esse momento, não series mais do que povos esclarecidos, só tendo percorrido a primeira fase da civilização.

A civilização tem os seus graus, como todas as coisas. Uma civilização

incompleta é um estado de transição que engendra males especiais, desconhecidos no estado primitivo, mas nem por isso deixa de constituir um progresso natural, necessário, que leva consigo mesmo o remédio para aqueles males. À medida que a civilização se aperfeiçoa, vai fazendo cessar alguns dos males que engendrou, e esses males desaparecerão com o progresso moral.

De dois povos que tenham chegado ao ápice da escala social, só poderá dizer-se o mais civilizado, na verdadeira acepção do termo, aquele em que se encontre menos egoísmo, menos cupidez e menos orgulho; em que os costumes sejam mais intelectuais e morais do que materiais; em que a inteligência possa desenvolver-se com mais liberdade; em que exista mais bondade, boa fé, benevolência e generosidade recíprocas; em que os preconceitos de casta e de nascimento sejam menos enraizados, porque esses prejuízos são incompatíveis com o verdadeiro amor do próximo; em que as leis não consagrem nenhum privilégio e sejam as mesmas para o último como para o primeiro; em que a justiça se exerça com o mínimo de parcialidade; em que o fraco sempre encontre apoio contra o forte; em que a vida do homem, suas crenças e suas opiniões sejam melhor respeitadas; em que haja menos desgraçados; e, por fim, em que todos os homens de boa vontade estejam sempre seguros de não lhes faltar o necessário.

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Progresso das Leis Humanas O Livro dos Espíritos: 794. A sociedade poderia ser regida somente pelas leis naturais, sem o recurso

das leis humanas? - Poderia, se os homens as compreendessem bem e quisessem praticá-las;

então, seriam suficientes. Mas a sociedade tem as suas exigências e precisa de leis particulares.

795. Qual a causa da instabilidade das leis humanas? - Nos tempos de barbárie são os mais forte que fazem as leis, e as fazem em

seu favor. Há necessidade de modificá-las à medida que os homens vão melhor compreendendo a justiça. As leis humanas são mais estáveis à medida que se aproximam da verdadeira justiça, quer dizer, à medida que são feitas para todos e se identificam com a lei natural.

A civilização criou novas necessidades para o homem e essas necessidades são

relativas à posição social de cada qual. Foi necessário regular os direitos e deveres dessas posições através de leis humanas. Mas, sob a influência das suas paixões, o homem criou, muitas vezes, direitos e deveres, imaginários, condenados pela lei natural e que os povos apagam dos seus códigos à proporção que progridem. A lei natural é imutável e sempre a mesma para todos; a lei humana é variável e progressiva: somente ela pode consagrar, na infância da Humanidade, o direito do mais forte.

796. A severidade das leis penais não é uma necessidade no estado atual da

sociedade? - Uma sociedade depravada tem certamente necessidade de leis mais severas;

infelizmente essas leis se destinam antes a punir o mal praticado do que a cortar a raiz do mal. Somente a educação pode reformar os homens, que assim não terão mais necessidade de leis tão rigorosas.

797. Como o homem poderia ser lavado a reformar as suas leis? - Isso acontecerá naturalmente, pela força das circunstâncias e pela influência

das pessoas de bem que o conduzem na senda do progresso. Há muitas que já foram reformadas e muitas outras ainda o serão. Espera!

Influência do Espiritismo no Progresso da Humanidade O Livro dos Espíritos: 798. O Espiritismo se tornará uma crença comum ou será apenas a de algumas

pessoas? - Certamente ele se tornará uma crença comum e marcará uma nova era na

História da Humanidade, porque pertence à Natureza e chegou o tempo em que deve tomar lugar entre os conhecimentos humanos. Haverá, entretanto, grandes lutas a sustentar, mais contra os interesses do que contra a convicção, porque não se pode dissimular que há pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor próprio e outras por motivos puramente materiais. Mas os seus contraditores, ficando cada vez mais isolados, serão finalmente forçados a pensar como todos os outros, sob pena de se tornarem ridículos.

As idéias só se transformam com o tempo e não subitamente; elas se

enfraquecem de geração em geração e acabam por desaparecer com os que as professavam e que são substituídos por outros indivíduos imbuídos de novos princípios, como se verifica com as idéias políticas. Vede o paganismo; não há ninguém,

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certamente, que professe hoje as idéias religiosas daquele tempo; não obstante, muitos séculos depois do advento do Cristianismo ainda haviam deixado traços que somente a completa renovação das raças pode apagar. O mesmo acontecerá com o Espiritismo; ele faz muito progresso, mas haverá ainda, durante duas ou três gerações, um fenômeno de incredulidade que só o tempo fará desaparecer. Contudo, sua marcha será mais rápida que a do Cristianismo, porque é o próprio Cristianismo que lhe abre as vias sobre as quais ele se desenvolverá. O Cristianismo tinha que destruir; o Espiritismo só tem que construir.

799. De que maneira o Espiritismo pode contribuir para o progresso? - Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz os

homens compreenderem onde está o seu verdadeiro interesse. A vida futura não estando mais velada pela dúvida, o homem compreenderá melhor que pode assegurar o seu futuro através do presente. Destruindo os preconceitos de seita, de casta e de cor ele ensina aos homens a grande solidariedade que os deve unir como irmãos.

800. Não é de temer que o Espiritismo não consiga vencer a indiferença dos

homens e o seu apego às coisas materiais? - Seria conhecer bem pouco os homens, pensar que uma causa qualquer

pudesse transformá-los como por encanto. As idéias se modificam pouco a pouco, com os indivíduos, e são necessárias gerações para que se apaguem completamente os traços dos velhos hábitos. A transformação, portanto, não pode operar-se a não ser com o tempo, gradualmente, pouco a pouco. Em cada geração uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo vem rasgá-lo de uma vez; mas mesmo que só tivesse o efeito de corrigir um homem de um só dos seus defeitos, isso seria um passo que o faria dar e por isso um grande bem porque esse primeiro passo lhe tornaria os outros mais fáceis.

801. Por que os Espíritos não ensinaram desde todos os tempos o que ensinam

hoje? - Não ensinais às crianças o que ensinais aos adultos e não dais ao recém-

nascido um alimento que ele não posa digerir. Cada coisa tem o seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam ou desfiguraram, mas que atualmente podem compreender. Pelo seu ensinamento, mesmo incompleto, prepararam o terreno para receber a semente que vai agora frutificar.

802. Desde que o Espiritismo deve marcar um progresso da Humanidade,

porque os Espíritos não apressam esse progresso através de manifestações tão gerais e patentes que pudessem levar a convicção aos mais incrédulos?

- Desejaríeis milagres, mas Deus os semeia a mancheias nos vossos passos e tendes ainda os homens que os negam. O Cristo, ele próprio, convenceu os seus contemporâneos com os prodígios que realizou? Não vedes ainda hoje os homens negarem os fatos mais patentes que se passam aos seus olhos? Não tendes os que não acreditariam, mesmo quando vissem? Não, não é por meio de prodígios que Deus conduzirá os homens. Na sua bondade ele quer deixar-lhes o mérito de se convencerem através da razão.

Diante do Progresso Embora os respeitáveis índices que atestam as valiosas conquistas do progresso

científico, nos múltiplos campos de realizações, não te descures da ação evangélica nos cometimentos evolutivos a que te afervoras.

A Astronáutica sonha por atingir as estrelas e decifrar-lhes a grandeza; o Evangelho permanece cuidando do homem na Terra, elucidando-o quanto aos deveres que lhe cumpre realizar.

A cibernética elabora técnica para lançá-lo com segurança através das distâncias imensuráveis; o Evangelho luta, porém, para equilibrá-lo na sociedade onde cresce espiritualmente.

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139

A ciência em geral tenta resolver os problemas que afligem a criatura, impelindo-a para fora; o Evangelho projeta-lhe claridade íntima, ajudando-a a romper as amarras que a fazem infeliz.

Os métodos científicos atam os seres às conjunturas da sua limitação; o Evangelho libera-os dos impedimentos que os retêm na retaguarda da evolução.

O tecnicismo procura amenizar as asperezas e as constrições que decorrem do mundo moderno; o Evangelho elucida quanto à razão dos sofrimentos e elimina os óbices que impedem o homem de avançar.

Ninguém como Jesus conseguiu, jamais, produzir tão elevados padrões de valorização do homem, sem as complexidades de que hoje utilizam as criaturas, sem que logrem expressivo êxito.

Desfilaram ante Ele os mais diversos biótipos humanos e sociais, recebendo seguras diretrizes.

A todos dispensou a mesma solidariedade fraternal e moral, sem alarde, sem restrição.

Não se utilizando de qualquer tipo de prolixidade, ensinou a metodologia do amor que “cobre a multidão de pecados”, mediante a vivência que se permitiu, amando indistintamente.

Da chamada ralé ergueu protótipos de nobreza, e da nobreza temporal levantou à culminância da dignidade real príncipes e doutos, mediante os mesmos recursos de ternura e sabedoria.

O progresso, para ser legítimo, não pode prescindir da elevação moral dos homens, que se haure no Evangelho, sempre atual.

As conquistas da inteligência, embora valiosas, sem a santificação dos sentimentos conduzem ao desvario e à destruição.

Para serem autênticas as aquisições humanas, devem alicerçar-se nos valores éticos, sem os quais o conhecimento se converte em vapor tóxico que culmina por aniquilar quem o detém.

Estudo, pesquisa, sim, mas amor também. Examinando a problemática da evolução, os Mensageiros encarregados da

Codificação Espírita foram taxativos: “Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.”

Nem o amor sem equilíbrio, arrebatamento que revela paixão e desconcerto interior, nem a instrução intelectual sem o conteúdo de amor, a transformar-se em vapor alucinante de vaidades perniciosas quão destrutivas.

Sem o equilíbrio das duas asas a ave não consegue voar, planando nas alturas. Amor e conhecimento são as asas harmoniosas para o progresso do homem e

dos povos, progresso que, não obstante as paixões nefastas, ainda predominantes na natureza animal do homem, será possível alcançar.

Inexoravelmente o homem avança, e sem apelação crescem as sociedades na direção da felicidade, porque é da Lei que o Espírito jamais retrocede, progredindo sempre, e com ele a sociedade humana, representada pelas nações, evoluindo sem cessar.

Bibliografia: O Livro dos Espíritos – Allan Kardec O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec Leis Morais da Vida – Divaldo Franco (pelo espírito Joanna de Angelis)

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 19

Perfeição Moral Caracteres da Perfeição “Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos, fazei bem ao que vos tem ódio e

orai pelos que vos perseguem e caluniam. Para serdes filhos de vosso Pai, que está nos Céus; o qual faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e vir chuva sobre os justos e injustos. Porque se vós não amais senão os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem os publicanos também o mesmo? E se vós saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis nisso de especial? Não fazem também assim os gentios? Sede vós, logo, perfeitos, como também vosso Pai celestial é perfeito.” (Mateus, V:44 e 46-48).

Desde que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, esta máxima:

“Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito”, tomada ao pé da letra, faria supor a possibilidade de atingirmos a perfeição absoluta. Se fosse dado à criatura ser tão perfeita quando o seu próprio Criador, ela o igualaria, o que é inadmissível. Mas os homens aos quais Jesus se dirigia não teriam compreendido essa questão. Ele se limitou, portanto, a lhes apresentar um modelo e dizer que se esforçassem para atingi-lo.

Devemos, pois, entender, por essas palavras, a perfeição relativa de que a humanidade é suscetível e que mais pode aproximá-la da Divindade. Mas em que consiste essa perfeição? Jesus mesmo o disse: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos têm ódio e orai pelos que vos perseguem e caluniam”. Com isso, mostra que a essência da perfeição é a caridade, na sua mais ampla acepção, porque ela implica a prática de todas as outras virtudes.

Com efeito, se observarmos o resultado de todos os vícios e mesmo dos simples defeitos, reconheceremos que não há nenhum que não altere mais ou menos o sentimento de caridade, porque todos nascem do egoísmo e do orgulho, que são a sua negação. Porque tudo o que excita exageradamente o sentimento da personalidade destrói ou, quando nada, enfraquece os princípios da verdadeira caridade, que são: a benevolência, a indulgência, o sacrifício e o devotamento. O amor do próximo, estendido até o amor dos inimigos, não podendo aliar-se com nenhum defeito contrário à caridade, é sempre, por isso mesmo, o indício de uma superioridade moral maior ou menor. Do que resulta que o grau de perfeição está na razão direta da extensão do amor ao próximo. Eis porque Jesus, depois de haver dado a seus discípulos as regras da caridade, no que ela tem de mais sublime, lhes disse: “Sede, portanto, perfeitos, como também vosso Pai celestial é perfeito”.

Virtude Força moral, disposição para a prática do bem, boa qualidade moral. Todas as

virtudes têm seu mérito, porque todas são sinais de progresso no caminho do bem. Há virtude toda vez que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências. Mas o sublime na virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo,

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141

sem oculta intenção. A mais meritória é aquela que está fundada sobre a mais desinteressada caridade.

Existem pessoas que fazem o bem por um gesto espontâneo, sem que tenham a vencer algum sentimento contrário, isso ocorre porque nelas o progresso está realizado, já lutaram anteriormente e triunfaram, por isso os bons sentimentos não lhe custam nenhum esforço e suas ações parecem todas simples, o bem se tornou para elas um hábito.

OBS: Por estarmos longe da perfeição, esses exemplos nos espantam pelo contraste e os admiramos tanto mais porque são raros. Mas nos mundos mais avançados que o nosso, o que entre nós é uma exceção lá é uma regra. Neles o sentimento do bem é espontâneo em todos porque são habitados só por espíritos bons, uma só intenção má seria uma exceção monstruosa.

Vícios e Defeitos Através deles é que podemos identificar a imperfeição do espírito, que tem

como sinal mais característico o interesse pessoal. As qualidades morais, freqüentemente, são como a douração colocada sobre um objeto de cobre e que não resiste à pedra de toque. Um homem pode possuir qualidades reais que o fazem para todo o mundo um homem de bem. Mas suas qualidades, ainda que sejam um progresso, não suportam sempre certas provas e basta, às vezes, tocar a corda do interesse pessoal para por o fundo a descoberto.

O verdadeiro desinteresse é uma coisa tão rara sobre a Terra que é admirado como um fenômeno, quando ele se apresenta.

O apego às coisas materiais é um sinal notório de inferioridade, porque quanto mais o homem se prende aos bens deste mundo, menos compreende sua destinação. Pelo desinteresse, ao contrário, ele prova que vê o futuro de um ponto de vista elevado.

OBS: A fortuna não é dada mais a alguns para ser jogada ao vento que a outro para ser enterrada num cofre forte. É um depósito do qual terão que prestar contas, porque terão que responder por todo bem que poderiam ter feito e que não fizeram, por todas as lágrimas que poderiam ter enxugado com o dinheiro que deram àqueles que não tinham necessidade.

Paixões Negativas As paixões são como um cavalo que é útil quando está dominado e que é

perigoso quando ele é que domina. Uma paixão torna-se perniciosa a partir do momento em que não podemos dominá-la e que ela tem por resultado um prejuízo qualquer para nós ou para outra pessoa.

As paixões são alavancas que multiplicam as forças do homem e o ajudam na realização dos objetivos da Providência, mas se em lugar de as dirigir o homem se deixa dirigir por elas, cai nos excessos e a própria força que em certas mãos poderia fazer o bem recai sobre ele o esmaga.

OBS: Todas as paixões têm seu princípio num sentimento ou necessidade natural. O princípio das paixões, portanto, não é um mal, já que repousa sobre uma das condições providenciais de nossa existência. A paixão, propriamente dita, é um exagero de uma necessidade ou de um sentimento, ela está no excesso e não na causa, esse excesso torna-se um mal quando tem por conseqüência um mal qualquer.

Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal o distancia da natureza espiritual. Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal, anuncia a predominância do espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição.

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O homem poderia sempre vencer suas más tendências pelos seus esforços, e algumas por fracos esforços, a vontade é que lhe falta, muito poucos é que fazem esforços.

O Egoísmo Dentre os vícios o que se pode considerar mais radical é o egoísmo, dele deriva

todo mal. Estudando todos os vícios veremos que no fundo de todos está o egoísmo. Inutilmente serão combatidos e não extirpados enquanto o mal não for atacado

em sua raiz, enquanto a coisa não for destruída. Todos os esforços devem tender para esse objetivo, porque aí está a verdadeira

chaga da sociedade. Todo aquele que quer se aproximar, desde esta vida, da perfeição moral deverá extirpar de seu coração todo sentimento de egoísmo, porque o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade, ele neutraliza todas as outras qualidades.

O Livro dos Espíritos: 915. Sendo o egoísmo inerente à espécie humana, não será um obstáculo

permanente ao reino do bem absoluto sobre a Terra? - É certo que o egoísmo é o vosso maior mal, mas ele se liga à inferioridade dos

Espíritos encarnados na Terra e não à Humanidade em si mesma. Ora, os Espíritos se purificam nas encarnações sucessivas, perdendo o egoísmo assim como perdem as outras impurezas. Não tendes na Terra algum homem destituído de egoísmo e praticante da caridade? Existem em maior número do que julgais, mas conheceis poucos porque a virtude não se procura fazer notar. E se há um, por que não haveria dez? Se há dez, por que não haveria mil e assim por diante?

916. O egoísmo, longe de diminuir, cresce com a civilização, que parece excitá-

lo e entretê-lo. Como poderá a causa destruir o efeito? - Quanto maior é o mal mais horrível se torna. Era necessário que o egoísmo

produzisse muito mal para fazer compreender a necessidade de sua extirpação. Quando os homens se tiverem despido do egoísmo que os domina viverão como irmãos, não se fazendo o mal e se ajudando reciprocamente pelo sentimento fraterno de solidariedade. Então o forte será o apoio e não o opressor do fraco e não mais se verão homens desprovidos do necessário, porque todos praticarão a lei da justiça. Esse é o reino do bem que os Espíritos estão encarregados de preparar.

917. Qual é o meio de se destruir o egoísmo? - De todas as imperfeições humanas a mais difícil de desenraizar, é o egoísmo,

porque se liga à influência da matéria, da qual o homem, ainda muito próximo da sua origem, não pôde libertar-se. Tudo concorre para entreter essa influência; suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá com a predominância da vida moral sobre a vida material, e, sobretudo com a compreensão que o Espiritismo vos dá quanto ao vosso estado futuro real e não desfigurado pelas ficções alegóricas. O Espiritismo bem compreendido, quando estiver identificado com os costumes e as crenças, transformará os hábitos, as usanças e as relações sociais. O egoísmo se funda na importância da personalidade; ora, o Espiritismo bem compreendido, repito-o, faz ver as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece de alguma forma perante a imensidade. Ao destruir essa importância, ou pelo menos ao fazer ver a personalidade naquilo que de fato ela é, combate necessariamente o egoísmo.

É o contato que o homem experimenta do egoísmo dos outros que o torna

geralmente egoísta, porque sente a necessidade de se pôr na defensiva. Vendo que os outros pensam em si mesmos então ele é levado a se ocupar de si mesmo mais que dos outros. Que o princípio da caridade e da fraternidade seja a base das instituições sociais,

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das relações legais de povo para povo e de homem para homem, e este pensará menos em si mesmo quando vir que os outros o fazem; sofrerá assim a influência moralizadora do exemplo e do contato. Em face do atual desdobramento do egoísmo é necessária uma verdadeira virtude para abdicar da própria personalidade em proveito dos outros que em geral não o reconhecem. É a esses, sobretudo, que possuem essa virtude, que está aberto o reino dos céus; a eles, sobretudo está reservada a felicidade dos eleitos, pois em verdade vos digo que no dia do juízo quem quer que não tenha pensado senão em si mesmo será posto de lado e sofrerá no abandono. (Fénelon)

Conduta Espírita Perante a Própria Doutrina Apagar discussões estéreis, esquivando-se à criação de embaraços que

prejudiquem o desenvolvimento sadio da obra doutrinária. O espírito da verdadeira fraternidade funde todas as divergências. Não restringir a prática doutrinária exclusivamente ao lar, buscando contribuir,

de igual modo, na seara espírita de expressão social, auxiliando ainda a criação e a manutenção de núcleos doutrinários no ambiente rural.

Todos estamos juntos nos débitos coletivos. Orar por aqueles que não souberem ou não puderem respeitar a santidade dos

postulados espíritas, furtando-se de apreciar-lhes a conduta menos feliz, para não favorecer a incursão da sombra.

O comentário em torno do mal, ainda e sempre, é o mal a multiplicar-se. Desapegar-se da crença cega, exercitando o raciocínio nos princípios, para não

se estagnar nas trevas do fanatismo. Discernimento não é simples adorno. Antes de criticar as instituições espíritas que julgue deficientes, contribuir, em

pessoa, para que se ergam a nível mais elevado. Quem ajuda, aprecia com mais segurança. Auxiliar as organizações espiritualistas ou as correntes filosóficas que ainda não

recebem orientação genuinamente espírita, compreendendo, porém, que a sua tarefa pessoal já está definida nas edificações da Doutrina que abraça.

O fruto não amadurece antes do tempo. Recordar a realidade de que o Espiritismo não tem chefes humanos e de que

nenhum dos seareiros do seu campo de multiformes atividades é imprescindível no cenário de suas realizações.

Educação dos Pensamentos O Espiritismo é vida estuante e os corpos são energias cada vez mais

sutis, de conformidade com a sua própria evolução. O centro nevrálgico do comando é a mente, onde proliferam as idéias, onde se processa a emissão da mensagem de nós para os outros e as coisas. O hálito divino adentra todas as formas existentes, sem que haja embaraço na sua viagem, sem que haja resistência em parte alguma, na sua missão de estímulos. No entanto, em se falando do Espírito, essa energia cósmica, ao deslizar no vórtice coronário, perlustra no grande reator mental, que o transforma em matéria favorável e sensibilíssima aos sentimentos, transmutando-o em pensamentos. É como se fossem folhas de papel em branco: os pensamentos, as letras; a vontade, a máquina e a inteligência, a ordenadora para que se possa formar as idéias e transmiti-las por onde a intenção programar.

Já falamos de um sentido que temos, na profundeza do ser, conhecedor do protótipo das idéias, bem antes que elas sejam estruturadas. E a educação mental, com eficiência, deve nascer nesse ambiente, para que a conjunção dos sentimentos tome forma em pensamentos e idéias, nas linhas da dignidade cristã.

Assim como a medicina tem um esquema bastante interessante do esqueleto ósseo, dos órgãos, do sistema nervoso e glandular, do mundo das células e das moléculas, das ações e reações do conjunto orgânico, também a filosofia do futuro haverá de perlustrar os mesmos caminhos, espiritualizando-se, fazendo um esquema

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congênito do raciocínio, da fermentação das idéias, do valor fantástico dos pensamentos, dos roteiros percorridos pelos sentimentos, da ação deles no corpo físico e, de volta, no próprio corpo mental.

O psicólogo vai ser o médico mais interessante do futuro, pois deverá ensinar os enfermos, antes de prescrever qualquer outra coisa, a pensar. O primeiro diagnóstico não visa saber qual a doença e, sim, o que o doente está fazendo, o uso das suas idéias e as reações diante dos outros, quais as tendências do enfermo e o que mais prepondera em seu coração. Essa é também uma medicina preventiva, que arranca, pelas raízes, as causas de todos os desequilíbrios físicos e mentais.

Se queres saber e testar, em ti mesmo, o milagre do pensamento positivo, quando, porventura, estiveres com medo, concentra-se na mesma hora na coragem, sem que o pensamento se desvie em outra direção e, com minutos, verás o resultado. E se fores ajudado pela fé, melhores resultados terás. Assim é na saúde, na dúvida, no ódio, na tristeza, etc. esses são os primeiros passos que o estudante deve trilhar. E a intuição favorecerá, com o tempo, melhores resultados.

Em muitos casos, avolumamos problemas cuja extensão nunca existiu, sacrificando-nos com ilusões que, se persistirmos muito tempo, concretizar-se-ão. A educação da mente é uma escola superior, com a qual somente almas de grandes sentimentos sentirão afinidade.

Nós impregnamos, no ambiente em que vivemos, e em nosso íntimo, magnetismo inferior ou superior que, com o tempo, eclodirá em nosso favor ou prejuízo. As catástrofes coletivas de toda ordem são produtos da má conduta da humanidade, como as doenças individuais são filhas desse magnetismo oriundo do ódio, da inveja, do orgulho, da vingança, e de outras tantas inferioridades que se sucedem às mencionadas.

Portanto, se queremos sofrer menos, ou estruturar uma saúde perfeita, vamos das as mãos na disciplina dos sentimentos, pesquisar a nós mesmos, analisar todas as escolas de educação da mente que, no ambiente da prece sincera, saberemos escolher a que mais nos agrada, e que oferecerá melhores frutos.

Quem educa as idéias está servindo como médico de si mesmo, está tomando medicamentos bem indicados para todos os tipos de males, está vivendo mais, porque começará a sentir a própria felicidade. Inicia a tua transformação.

Reforma Íntima – Auto Conhecimento O Livro dos Espíritos: 919. Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao

arrastamento do mal? - Um sábio da Antiguidade vos disse: “Conhece-te a ti mesmo”. 919-a. Compreendemos toda a sabedoria dessa máxima, mas a dificuldade está

precisamente em se conhecer a si próprio. Qual o meio de chagar a isso? - Fazei o que eu fazia quando vivia na Terra: no fim de cada dia

interrogava a minha consciência, passava em revista o que havia feito e me perguntava a mim mesmo se não tinha faltado ao cumprimento de algum dever, se ninguém teria tido motivo para se queixar de mim. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim, necessitava de reforma. Aquele que todas as noites lembrasse todas as ações do dia e se perguntasse o que fez de bem ou de mal, pedindo a Deus e a seu anjo guardião que o esclarecessem, adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar, porque, acreditai-me, Deus o assistirá. Formulai, portanto, as vossas perguntas, indagai o que fizestes e com que fito agistes em determinada circunstância, se fizestes alguma coisa que a censuraríeis nos outros, se praticastes uma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda isto: Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, ao entrar no mundo dos Espíritos, onde não é oculto, teria eu de temer o olhar de alguém? Examinai o que pudésseis ter feito contra Deus, depois contra o próximo, e por fim contra vós mesmo. As respostas serão motivo de repouso para vossa consciência ou indicarão um mal que deve ser curado.

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O conhecimento de si mesmo é, portanto a chave do melhoramento individual. Mas, direis, como julgar a si mesmo? Não se terá a ilusão do amor-próprio, que atenua as faltas e as tornam desculpáveis? O avaro se julga simplesmente econômico e previdente, o orgulhoso se considera tão somente cheio de dignidade. Tudo isso é muito certo, mas tendes um meio de controle que não vos pode enganar. Quando estais indecisos quando ao valor de vossas ações, perguntai como a qualificareis se tivesse sido praticada por outra pessoa. Se a censurardes em outro, ela não poderia ser mais legítima para vós, porque Deus não usa de duas medidas para a justiça. Procurai também saber o que pensam os outros e não negligencieis a opinião dos vossos inimigos, porque eles não têm nenhum interesse em disfarçar a verdade e realmente Deus os colocou ao vosso lado como um espelho, para vos advertirem com mais franqueza do que o faria um amigo. Que aquele que tem a verdadeira vontade de se melhorar explore, portanto, a sua consciência, a fim de arrancar dali as más tendências como arranca as ervas daninhas do seu jardim: que faça o balanço da sua jornada moral como o negociante o faz dos seus lucros e perdas, e eu vos asseguro que o primeiro será mais proveitoso que o outro. Se ele puder dizer que a sua jornada foi boa, pode dormir em paz e esperar sem temor o despertar na outra vida.

Formulai, portanto, perguntas claras e precisas e não temais multiplicá-las: pode-se muito bem consagrar alguns minutos à conquista da felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias para ajuntar o que vos dê repouso na velhice, esse repouso não é o objeto de todos os vosso desejos, o alvo que vos permite sofrer as fadigas e as privações passageiras? Pois bem: o que é esse repouso de alguns dias, perturbado pelas enfermidades do corpo, ao lado daquilo que aguarda o homem de bem? Isto não vale a pena de alguns esforços? Sei que muitos dizem que o presente é positivo e o futuro incerto. Ora, aí está, precisamente, o pensamento que fomos encarregados de destruir em vossas mentes, pois desejamos fazer-vos compreender esse futuro de maneira a que nenhuma dúvida possa restar em vossa alma. Foi por isso que chamamos primeiro a vossa atenção para os fenômenos da Natureza que vos tocam os sentidos e depois vos demos instruções que cada um de nós tem o dever de difundir. Foi com esse propósito que ditamos “O Livro dos Espíritos”. (Santo Agostinho).

O Homem de Bem O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de

caridade, na sua maior pureza. Se interroga a sua consciência sobre os próprios atos, pergunta se não violou essa lei, se não cometeu o mal, se fez o bem que podia, se não deixou escapar voluntariamente uma ocasião de ser útil, se ninguém tem do que se queixar dele, enfim, se fez aos outros tudo aquilo que queria que os outros fizessem por ele.

Tem fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria; sabe que nada acontece sem a sua permissão e submete-se em todas as coisas à sua vontade.

Tem fé no futuro e, por isso, coloca os bens espirituais acima dos bens temporais. Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções, são provas ou expiações e as aceita sem murmurar. O homem possuído pelo sentimento de caridade e de amor ao próximo faz o bem pelo bem, sem esperar recompensa, paga o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte e sacrifica sempre o seu interesse à justiça.

Encontra sua satisfação nos benefícios que distribui, nos serviços que presta, nas venturas que promove, nas lágrimas que faz secar, nas consolações que leva aos aflitos. Seu primeiro impulso é o de pensar nos outros, antes que em si mesmo, de tratar dos interesses dos outros, antes que dos seus. O egoísta, ao contrário, calcula os proveitos e as perdas de cada ação generosa.

É bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque vê todos os homens como irmãos.

Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança o anátema aos que não pensam como ele.

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Em todas as circunstâncias, a caridade é o seu guia. Considera que aquele que prejudica os outros com palavras maldosas, que fere a suscetibilidade alheia com o seu orgulho e o seu desdém, que não recua à idéia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever do amor ao próximo e não merece a clemência do Senhor.

Não tem ódio, nem rancor, nem desejos de vingança. A exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e não se lembra senão dos benefícios. Porque sabe que será perdoado, conforme houver perdoado.

É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que ele mesmo tem necessidade de indulgência, e se lembra destas palavras do Cristo: “Aquele que está sem pecado atire a primeira pedra “.

Não se compraz em procurar os defeitos dos outros nem a pô-los em evidência. Se a necessidade o obriga a isso, procura sempre o bem que pode atenuar o mal.

Estuda as suas próprias imperfeições e trabalha sem cessar em combatê-las. Todos os seus esforços tendem a permitir-lhe dizer, amanhã, que traz em si alguma coisa melhor do que na véspera.

Não tenta fazer valer nem o seu espírito, nem os seus talentos, à expensas dos outros. Pelo contrário, aproveita todas as ocasiões para fazer ressaltar as vantagens dos outros.

Não se envaidece em nada com a sua sorte nem com os seus predicados pessoais, porque sabe que tudo quanto lhe foi dado pode ser retirado.

Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe tratar-se de um depósito, do qual deverá prestar contas e que o emprego mais prejudicial para si mesmo que poderá lhes dar é pô-los ao serviço da satisfação de suas paixões.

Se nas relações sociais, alguns homens se encontram na sua dependência, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus. Usa sua autoridade para erguer-lhes a moral e não para os esmagar com o seu orgulho e evita tudo quanto poderia tornar mais penosa a sua posição subalterna.

O subordinado, por sua vez, respeita nos seus semelhantes todos os direitos que lhes são assegurados pelas leis da natureza, como desejaria que os seus fossem respeitados.

Esta não é a relação completa das qualidades que distinguem o homem de bem, mas quem quer que se esforce para possuí-las estará no caminho que conduz às demais.

Verdadeiros e Bons Espíritas O Espiritismo bem compreendido, mas, sobretudo bem sentido, conduz

forçosamente aos resultados acima, que caracterizam o verdadeiro espírita como o verdadeiro cristão, pois um e outro são a mesma coisa. O Espiritismo não cria uma nova moral, mas facilita aos homens a compreensão e a prática da moral do Cristo, ao dar uma fé sólida e esclarecida aos que duvidam ou vacilam.

Muitos, porém, dos que crêem na realidade das manifestações não compreendem as suas conseqüências nem o seu alcance moral, ou, se os compreendem, não os aplicam a si mesmos. Por que acontece isso? Será por uma falta de precisão da doutrina? Não, porque ela na contém alegorias nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza é a sua própria essência e é isso que lhe dá força para que atinja diretamente a inteligência. Nada tem de misteriosa e seus iniciados não possuem nenhum segredo que seja oculto ao povo.

Seria necessária, então, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum? Não, pois vêem-se homens de notória capacidade que não a compreendem, enquanto inteligências vulgares, até mesmo de jovens que mal saíram da adolescência, apreendem com admirável justeza as suas mais delicadas nuanças. Isso acontece porque a parte, de qualquer maneira, material da ciência requer mais do que os olhos para ser observada, enquanto a parte essencial exige um certo grau de sensibilidade, que podemos chamar de maturidade do senso moral, maturidade essa independente da idade e do grau de instrução, porque é inerente ao desenvolvimento, num sentido especial, do espírito encarnado.

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Em algumas pessoas, os laços materiais são ainda muito fortes, para que o espírito se desprenda das coisas terrenas. O nevoeiro que as envolve impede-lhes a visão do infinito. Eis porque não conseguem romper facilmente com os seus gostos e os seus hábitos, não compreendendo que possa haver nada melhor do que aquilo que possuem. A crença nos Espíritos é para elas um simples fato, que não modifica pouco ou nada as suas tendências instintivas. Numa palavra, não vêem mais do que um raio de luz, insuficiente para orientá-las e dar-lhes uma aspiração profunda, capaz de modificar-lhes as tendências. Apegam-se mais aos fenômenos do que à moral, que lhes parece banal e monótona. Pedem aos Espíritos que incessantemente as iniciem em novos mistérios, sem indagarem se se tornaram dignas de penetrar os segredos do Criador. São, afinal, os espíritas imperfeitos, alguns dos quais estacionam no caminho ou se distanciam dos seus irmãos de crença, por que recuam ante a obrigação de se reformarem, ou por que preferem a companhia dos que participam das suas fraquezas ou das suas prevenções. Não obstante, a simples aceitação da doutrina em princípio é um primeiro passo, que lhes facilitará o segundo, numa outra existência.

Aquele que podemos, com razão, qualificar de verdadeiro e sincero espírita, encontra-se num grau superior de adiantamento moral. O Espírito já domina mais completamente a matéria e lhe dá uma percepção mais clara do futuro; os princípios da doutrina fazem vibrar-lhe as fibras que nos outros permanecem mudas; numa palavra: foi tocado no coração e, por isso, a sua fé é inabalável. Um é como o músico que se comove com os acordes; o outro apenas ouve os sons. Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações. Enquanto um se compraz no seu horizonte limitado, o outro, que compreende a existência de alguma coisa melhor, esforça-se para se libertar e sempre o consegue, quando dispõe de uma vontade firme.

Bibliografia: O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec O Livro dos Espíritos – Allan Kardec Conduta Espírita – Waldo Vieira (pelo espírito André Luiz) Horizontes da Mente – João Nunes Maia (pelo espírito Miramez)

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ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

Aula 20

Obsessão Pululam em torno da Terra os maus Espíritos, em conseqüência da inferioridade

moral de seus habitantes. A ação malfazeja desses Espíritos é parte integrante dos flagelos com que a Humanidade se vê a braços neste mundo. A obsessão, que é um dos efeitos de semelhante ação, como as enfermidades e todas as atribulações da vida, deve, pois, ser considerada como provação ou expiação e aceita com esse caráter.

Obsessão Obsessão é a ação persistente que um espírito enfermo, infeliz ou mau exerce

sobre uma pessoa. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral, sem

perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais.

A síndrome obsessiva pode ser diagnosticada desde que o mundo é mundo. Nos mais diferentes registros históricos encontramos personagens em situações que revelam desajustes psíquicos com fundo obsessional.

OBS: A morte não nos livra de nossos inimigos, os espíritos vingativos perseguem, freqüentemente, com ódio, além do túmulo, aqueles dos quais tem rancor.

Causas São variáveis e podem ser: � Vingança de um indivíduo de quem guarda rancor de outras existências; � Apenas o desejo de fazer o mal; � Prazer em atormentar e vexar, a impaciência que a vítima demonstra o

estimula; � Vampirismo, a aproximação ocorre por maus hábitos e vibrações afins. Invigilância A invigilância é o modo de viver descuidado, no qual não prestamos atenção no

que pensamos e fazemos, de modo a permitir certas inclinações crescerem a vontade, sem exame crítico. Segundo Emmanuel e Scheila, pela mão de Francisco Xavier, a obsessão torna-se um perigo provável sempre que permitamos que se torne um hábito:

1. a cabeça e as mãos desocupadas; 2. a palavra irreverente;

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3. a boca maledicente; 4. a conversa inútil e fútil, prolongada; 5. a atitude hipócrita; 6. o gesto impaciente; 7. a inclinação pessimista; 8. a conduta agressiva; 9. o apego demasiado a coisas e a pessoas; 10. o comodismo exagerado; 11. a solidariedade ausente; 12. tomar os outros por ingratos ou maus; 13. considerar o nosso trabalho excessivo; 14. o desejo de apreço e reconhecimento; 15. o impulso de exigir mais dos outros do que de nós mesmos; 16. fugir para o álcool ou drogas.

OBS: Convém ressaltar que um minuto ou um instante de medo, revolta, impaciência, etc., não significa necessariamente que a pessoa esteja obsedada. Mas, sim, que uma ocasião destas poderá ser utilizada pelo obsessor como ensejo que ele aguarda para insuflar na vítima as suas idéias conturbadas. Desde que estes estados de invigilância passem a ser constantes, repetindo-se e tornando-se uma atitude habitual, aí obviamente estará configurada a predisposição para o processo obsessivo.

Instalação Da Obsessão Agora mais do que um perigo, a obsessão já estará em desenvolvimento

quando: 1. Surgirem idéias fixas e torturantes que interrompem o curso dos

pensamentos próprios, difíceis de afastar da mente. 2. Sentir a vontade dominada por outra vontade, estranha e invisível. 3. Experimentar inquietação crescente sem causa aparente. 4. Forem excitados desejos fortes além do normal. 5. Emergir em impulsos adormecidos, mais ou menos inconscientes. 6. Aparecerem disposições agressivas contra alguém, sem motivo aparente. Regra Geral “As causas da obsessão variam, de acordo com o caráter do espírito” (Allan

Kardec).

OBS: Baseados nisso temos uma quantidade enorme de fatores, condições e características que a patologia envolve.

Como Funciona Podemos ter inimigos entre os encarnados e os desencarnados. Os inimigos do

mundo invisível manifestam seu ódio pelas obsessões, em seus vários níveis. O elo que possibilita a integração das intenções comuns é a correspondência

vibratória, em um o apelo, o desejo, a vontade. No outro, a resposta, a concessão, o interesse respondido.

Sabemos que no campo moral, no passado escabroso e na sintonia mental, residem as condições propícias para o desenvolvimento das obsessões, ela não é uma ação externa ou uma única via, mas uma mão dupla de dependência e reciprocidade.

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OBS: Paixões significam apego excessivo a pessoas, objetos, instituições e causas. São aberrações mentais e sentimentais, levam à guerra e ao crime. O sujeito apaixonado por uma mulher, pelo poder, pelo ouro, pela bebida, pelo jogo, etc., é capaz de tudo para satisfazer-se. Uma paixão por pessoa ou objeto pode estabelecer uma fixação mental capaz de prender o espírito até por séculos numa posição de desequilíbrio em que seu pensamento revoluteia continuamente entorno dela ou dele. Nada mais lhe interessa, passa o tempo, o mundo transforma-se e ele com a mente ocupada pela idéia fixa referente ao passado distante. A renovação é a própria essência da vida, do espírito, que é forçado a viver no meio de suas criações.

Os vícios como o alcoolismo e a droga, aberrações sexuais e jogo, não diferem muito dos estados passionais. E, afinal, o crime comumente liga-se a tudo isso. É o prejuízo deliberado ao próximo, que procurará vingar-se, criando a cadeia do mal.

Importante: Comumente, o móvel da obsessão é o violento desejo de vingança por antigos

malefícios sofridos: a vítima passa a verdugo. Sintonia “Espíritos desencarnados e encarnados de condição enfermiça sintonizam-se

uns com os outros, criando prejuízos e perturbações naqueles que lhe sofrem a influência vampirizadora, lembrando vegetais nobres que parasitas arrasam, depois de aniquilar-lhes as resistências”.(André Luís)

OBS: O que faz o desencarnado obsedar é a aceitação do encarnado por ter a consciência pesada. Escolher a nossa companhia espiritual é de nossa exclusiva responsabilidade.

Muitos de nós ouvimos a palavra do Cristo e tivemos a oportunidade de optar entre a luz e a sombra. Mas, aturdidos e ensandecidos, preferimos Mamon e Cezar.

Características São diversas, apresentadas como simples influência de ordem moral, indo até a

completa perturbação do organismo e das faculdades mentais.

OBS: O corpo físico pode ser lesado pela longa permanência dos obsessores ou pela transmissão das lesões que eles conduzem no perispírito, em virtude da íntima sintonia com o paciente. Sugestões de estarem doentes, de morrer em breve são vulgares.

Os espíritos interferem também no sonho, para o bem e para o mal. Instrutores

ensinam e amigos advertem. Ao lado disso, inúmeros pesadelos são produzidos pelos discípulos da sombra. Alguém sonha que teve uma entrevista desagradável com um morto a quem ofendera certa feita. Acorda suando frio e tremendo, o coração disparado. Passado o susto atribui sorridente o fato a um jantar indigesto. Na realidade, houve um acerto de contas no baixo mundo espiritual, para onde o sonhador foi atraído e encontrou o outro. Alguém sonha com cenas terrificantes, das quais quer fugir sem conseguir. Lá esteve ele, realmente, sofrendo em espírito uma experiência penosa.

Concluindo, nem tudo quanto pensamos, dizemos ou fazemos, pertence inteiramente a nossa individualidade, o que, contudo, não retira a nossa responsabilidade, isso porque, se outros tem ingerência no processo, foi porque oferecemos as condições necessárias para que tivessem sucesso.

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Tipos de Obsessão � Obsessão simples; � Fascinação; � Subjugação ou possessão. Obsessão Simples É a ação quase que permanente de um espírito estranho, que leva a pessoa por

uma necessidade, de agir desta ou daquela maneira. Fascinação É uma espécie de ilusão produzida, ora pela ação de um espírito estranho, ora

por seus raciocínios caprichosos e esta ilusão produz um logro sobre a moral, falseia o julgamento e leva a tomar o mal pelo bem.

Subjugação Um espírito não pode substituir aquele que está encarnado porque o espírito e o

corpo estão ligados até o tempo marcado para o término da existência material. Na possessão a alma se encontra na dependência absoluta de um outro espírito

imperfeito, sendo que essa dominação não se faz jamais sem a participação daquele que a suporta, seja por fraqueza ou desejo.

Na subjugação o cobrador pode imantar-se à vítima em violenta vampirização de forças de tal modo pertinaz que se justapõe à massa física, numa quase simbiose parasitária, que se instala da seguinte forma:

No homem, inicialmente o hóspede espiritual, movido pela morbidez do ódio ou

do amor insano, ou por outros sentimentos, envolve a casa mental do futuro parceiro, a quem se encontra vinculado por compromissos infelizes de outras vidas, o que lhe confere receptividade por parte deste, mediante a consciência da culpa, o arrependimento desequilibrante, a afinidade em gostos e aspirações, por ser endividado, enviando-lhe mensagens persistentes, em contínuas tentativas telepáticas, até que sejam captadas as primeiras induções, que abrirão o campo a incursões mais ousadas e vigorosas.

A idéia esporádica, mas persistente, vai se fixando no receptor que de início não se dá conta, especialmente se possui predisposição para a morbidez; se dotado de imaturidade psíquica; quando se compraz por cultivar pensamentos pessimistas, derrotistas e viciosos, passando à aceitação e ampliação do pensamento negativo que lhe chega. Nessa fase, já instalado o clima da obsessão que, não encontrando resistência, se expande, porque o invasor vai-se impondo à vítima que o recebe com certa satisfação, convivendo com a onda mental dominadora. Ao largo do tempo, o obsedado se aliena dos demais objetivos da vida, permanecendo em fixação interior do pensamento que o constringe, cedendo-lhe a área da razão, do discernimento e deixando-se desvitalizar. Quando se infiltram as forças do hóspede, na seiva psíquica do anfitrião, o desencarnado igualmente cai na armadilha que preparou, porque passa a viver as sensações e as emoções, experimentando os conflitos do seu subjugado, estabelecendo-se uma interdependência entre as duas Entidades. Nesse estágio, raramente fica a ligação apenas no campo psíquico, porque o invasor assenhoreia-se das forças físicas do paciente, através do perispírito, humanizando-se outra vez, isto é, voltando a vivenciar as conjunturas da realidade carnal. O hospedeiro deperece, enquanto o hóspede se abastece, facultando a instalação de doenças no corpo somático ou a piora delas, caso já se encontre enfermo. A simbiose se transforma, também, numa obsessão física, porque o

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desencarnado adere à câmara orgânica, explorando-lhe a vitalidade e acoplando-se aos fulcros perispirituais da criatura encarnada em doloroso e destruidor conúbio. O afastamento, puro e simples, do agente obsessivo, normalmente produz a desencarnação do paciente que lhe sofre a falta e, porque desfalcado de energias mantenedoras da vida fisiológica, rompem-se-lhe os laços que atam o espírito à matéria, advindo a morte desta. Por sua vez, o indigitado obsessor tomba, carregado do tônus vital que foi usurpado, em um processo parecido a nova desencarnação que o bloqueia temporariamente ou o leva a uma hibernação transitória.

Todo aquele que defrauda a Lei, sofre as conseqüências do ato arbitrário, que, por sua vez, se converte em automático agente punitivo, levando o infrator ao reajuste.

Obsessão nos Médiuns

Kardec distinguia três categorias no processo obsessivo. Obsessão simples,

fascinação e subjugação, termos clássicos que designam graus de intensidade da atuação e domínio, com particular referência aos médiuns em treinamento, como segue:

♦ A obsessão simples é a fase mais leve. O espírito intromete-se nas atividades mediúnicas e impede que outros se comuniquem. Qualquer médium poderá ser enganado por um espírito leviano e até o Chico diz ter sido mais de uma vez.

A obsessão reside na impossibilidade em afastar o desocupado teimoso. Aí o médium sabe que se acha sob tal império e não há dissimulação: o obsessor age abertamente e só consegue atrapalhar.

♦ A fascinação é muito mais séria. O médium acredita piamente no obsessor e zanga-se se lhe disserem que está sendo enganado. Acha-se cego e aceita tudo como obra excelente. Mesmo pessoas cultas caem sob esse tipo de obsessão e não percebem o ridículo de certas atitudes. Na obsessão simples o espírito é um importuno que cansa pela tenacidade, já na fascinação, é um ardiloso hipócrita que se torna perigoso inimigo, tudo faz para isolar seu instrumento, afastando-o dos que lhe poderiam esclarecer a situação.

.

♦ A subjugação é a possessão das escrituras. Caracteriza-se pelo domínio completo do pensamento e da vontade da vítima, que age sob comando de outro. Muitas vezes, o obsedado é forçado a tomar resoluções absurdas, comprometedoras e até contrária aos seus legítimos interesses. O outras vezes, exibe comportamento estranho, realizando atos ridículos e mesmo perigosos.

OBS: Comumente, é difícil manejar para tratamento fascinados e possessos. Os primeiros acreditam que não precisam de nada, conforme lhes sopra o sócio invisível. Os segundos ora caem e machucam-se, ora dormem horas e não podem sair, no dia de comparecer ao centro. Nas duas categorias há muitos os chamados loucos.

A obsessão pode ainda apresentar aspectos físicos no sentido fenomênico. Há pessoas, médiuns de efeitos físicos, em cujo redor se ouvem ruídos e pancadas, por vezes, originam fortes distúrbios no ambiente, como roupas rasgadas, queda de objetos, pedradas, tapas, lâmpadas que se acendem, etc. Tudo cessa depois de esclarecida a bulhenta entidade.

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Como identificar o Espírito comunicante? Os comunicantes definem-se pela linguagem e pelo comportamento. Os bons

espíritos falam o suficiente e dizem muito, seus conceitos são claros e nunca ofendem o amor, a caridade, a humildade, a Deus e a Jesus. Não constrangem ninguém, nada impõem, são calmos e benevolentes.

O sujeito brusco, exigente, falador, que gosta de elogiar e que não admite dúvidas de ninguém, pouco interessado no bem, que evita mencionar Deus e Jesus, é um perigo a observar.

Reconhece-se a Obsessão pelos Caracteres Seguintes: - Insistência de um Espírito em comunicar-se, queira ou não o médium, pela

escrita, pela audição, pela tipologia, etc., opondo-se a que outros espíritos o façam.

- Ilusão que, não obstante a inteligência do médium, o impede de reconhecer a falsidade e o ridículo das comunicações recebidas.

- Crença na infalibilidade e na identidade absoluta dos Espíritos que se comunicam e que, sob nomes respeitáveis e venerados, dizem falsidades ou absurdos.

- Aceitação pelo médium dos elogios que lhe fazem os Espíritos que se comunicam por seu intermédio.

- Disposição para se afastar das pessoas que podem esclarecê-lo. - Levar a mal a crítica das comunicações que recebe. - Necessidade incessante e inoportuna de escrever. - Qualquer forma de constrangimento físico, dominando-lhe a vontade e

forçando-o a agir ou falar sem querer - Ruídos e transtornos contínuos em redor do médium, causados por ele ou

tendo-o por alvo.

Detalhamento dos Tipos de Obsessão 1. Atração por Sintonia com o Plano Inferior

Toda vez que o encarnado se deixa dominar por pensamentos viciados e sentimentos inferiores, a lei de afinidade moral faz com que se estabeleça íntimo relacionamento com entidades dotadas de idêntico padrão vibratório. Sucede que em inúmeros espíritos dedicam-se a manutenção e propagação do mal, não perdendo oportunidade de influenciar os que se harmonizam com eles. Além disso, outro motivo importante é o vampirismo, a operação consistente em absorver forças do hospedeiro terreno. Desse contato resulta que as inclinações e impulsos do encarnado são multiplicadas, mantendo-se ele indefinidamente nas baixas esferas evolutivas.

2. Influência Recíproca de Encarnados e Desencarnados Perturbados

É o que denominamos obsessão bidirecional, isto é, troca de pensamentos,

sentimentos e emoções transviados e desordenados, entre encarnados e desencarnados afins. Vibrações de ódio, ressentimento, mágoa, desânimo, maledicência, etc., unem os espíritos de ambos os planos. Não há intenção maléfica, pois, os desencarnados são geralmente parentes e amigos cuja consciência está embotada e que pertence ao mesmo nível mental.

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OBS: Na contaminação fluídica os espíritos, embora desconhecidos, unem-se aos encarnados pela afinidade ou por ligações cármicas inaparentes. Em tais circunstâncias, considera-se uma obsessão passiva, visto que a entidade não empreende nenhuma ação hostil por vontade própria contra o seu hóspede, prejudica-o passando fluidos deletérios, pastosos e escuros, por osmose.

3. Sugestão Hipnótica Durante o Sono Nesta variedade, o indivíduo, durante o dia, parece ativo e normal, mas tem a

vontade dominada pelas sugestões feitas pelo obsessor durante o sono. Este aproveita as horas livres para exercer sua nefasta influência, considerando a estreita sintonia entre ambos. Durante o dia, as sugestões emergem no consciente sob a forma de impulsos e pensamentos que o obsedado obedece como se fossem seus. O indivíduo é um autômato crendo ser independente.

Vejam a senhora que se indispôs com o marido por questões secundárias, durante a noite entretém-se no umbral com os seus “amigos”, que a aconselham constantemente a abandonar “aquele miserável indigno de suas atenções”. Cada dia, está menos disposta a tolerar as pequenas coisas que lhe desagradam. E o cavalheiro disposto a alto reforma que a noite recebe sugestões menos dignas no sentido de certas inclinações suas, durante o dia encontra grandes dificuldades em manter a conduta dentro dos padrões da dignidade cristã. Só a vontade firme pode superar essa atuação disfarçada.

OBS: Até ações físicas e desastres são produzidas por este mecanismo.

Exemplo: Em Devassando o Invisível, Ivone Pereira, relata curiosa experiência pessoal nesse sentido. Estava em visita a um grupo de espíritos voltados ao mal dos semelhantes, num botequim, em companhia de um guardião elevado. Um desses seres, desagradando-se dela, começou a repetir: “estás com o braço quebrado”, “será atropelada amanhã”, “olha o teu braço, quebrou-se”. E dona Ivone começou a sentir fortes dores no braço (fluídico) que parecia realmente fraturado. Foi preciso que o guardião interviesse.

Agora vejam, se o sujeito comum, sem guardião especial, recebe tais ordens, no dia seguinte acordará predisposto a sofrer o acidente, pois elas estarão agindo no inconsciente. Escapará se cortar a sintonia ou se a lei protegê-lo.

4. Dominação Telepática

Fenômenos telepáticos estão envolvidos na obsessão de maneira muito geral.

Aqui, porém, faz-se referência mais específica à ação telepática de encarnados e desencarnados sobre um outro, quando está em sintonia vibratória com eles. Ele recebe pensamentos, emoções e sensações, padecendo não raro terríveis angústias sem compreender o que se passa. Acontece nos lares, nos escritórios, etc, onde antigos inimigos se reencontram mantendo as aversões e fugindo ao reajuste, envolvendo ódios e vinganças. Basta que o indivíduo emita silenciosas vibrações na direção do outro que se relaciona com ele, pensando e sentindo contra ele. Chega ao ponto de a vítima ver imagens alucinatórias ligadas ao emissor, mesmo vindas de longe. A esposa pode se ver cercada pela imagem da amante do marido, se não despoluiu a mente expulsando a hostilidade e a mágoa, o marido é que está sob dominação telepática, mas a esposa deixa-se atingir pelo pensamento inferior. Só a elevação do padrão vibratório cortaria a ligação com a mente perniciosa, mediante o perdão e a fraternidade operante.

5. Influência Sutil

Temos aqui uma maneira discreta e imanifesta de minar as energias de um

encarnado. O malfeitor, às vezes há bastante tempo, observa a futura vítima aguardando um momento favorável para aproximar-se e influí-la prejudicialmente. Não quer ser acintoso e percebido. Fá-lo quando a invigilância momentânea abre uma entrada nas

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defesas pessoais. Sem causa aparente, o sujeito começa a experimentar depressão mental e dificuldades súbitas: não consegue ficar alegre, está tristonho e cheio de apreensões, enche-se de irritação surda e pensamentos deprimentes, não pode ler assuntos edificantes, nem orar, julga-se vítima, etc. Daí podem surgir desavenças, fracassos e aborrecimentos variados. Tudo passa em seguida, deixando o indivíduo a lastimar-se por suas atitudes “incompreensíveis”... Quando começar a ficar azedo sem motivo patente, cuidado com a obsessão sutil, momentânea.

6. Mediunidade Perturbada

Na obsessão, sempre é possível invocar a mediunidade, mas aqui ela é

específica. Como apreciamos antes, os espíritos imperfeitos “abrem” o canal mediúnico. O aparecimento da mediunidade costuma-se acompanhar de muitas perturbações que permaneceram senão houver medidas adequadas ao desenvolvimento, é preciso disciplinar a mediunidade para que produza trabalho benéfico. Dada a condição inferior da Terra os médiuns incipientes têm sempre espíritos sofredores inconscientes ou vingativos, aderentes ao seu campo magnético. Assim, mediunidade iniciante e obsessão andam unidas pelo menos durante certo tempo e até a vida toda. Além disso, o médium poderá ser iludido ou seduzido, de modo persistente, pelo espírito “superior” que se diz seu “guia”, pelo que, a obsessão pode tornar-se um obstáculo ao exercício produtivo da mediunidade.

7. Imantação pela Cumplicidade ou Conivência

Erros e crimes cometidos em conjunto unem os espíritos na cadeia do mal

(causa e efeito). Quando um dos sócios delibera melhorar-se e reencarna para cumprir o programa de provas e provações necessárias a isso, ou outro ou outros, discordando, entram a perseguí-lo para que não se libertem e ascenda. Querem mantê-lo tão inferior e infeliz quanto eles próprios são. Paixões intensas fazem o mesmo, encadeando espíritos perturbados, se um volta à carne, o outro procura aderir a ele e prejudicá-lo seja como for.

8. Vingança

O desforço pessoal, “fazer justiça pela própria mão”, é grande causa de

obsessão e da pior espécie. Aquele que foi vítima aparentemente frágil e indefesa, uma vez posto em liberdade pela morte do corpo físico, na maioria dos casos empreende severa perseguição contra o antigo carrasco. Pode durar mais de uma vida, criando uma cadeia de erros. O próprio “justiceiro” sofre muito com a situação e o encarniçamento contra seu inimigo não lhe traz a alegria que esperava colher.

9. Obsessão Entre Vivos

Comumente, pessoas ligadas por sentimentos enfermiços ou necessidades

neuróticas, criam laços de dependência que chegam a uma como perseguição de outro. Mães super solícitas, dominadas pelo impulso de domínio, tanto andam atrás de um filho que este acaba não raro quase manietado, de cinco em cinco minutos chamam-no para saber se estar tudo bem. Pessoas dominadoras e pessoas morbidamente dependentes mantêm relações que não diferem daquelas existentes entre obsessores e obsedado, o ciúme compulsivo não foge disso e assim por diante.

10. Obsessão Coletiva

Talvez hoje não haja casos manifestos de uma turba de entidades voltadas ao

mal cair sobre uma pequena comunidade, levando seus membros a cometer desatinos, mas já houve vários exemplos no passado. Citam-se os convulsionários dos antigos conventos europeus, freiras e frades que caíam de repente em contorções, aos grupos.

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Aqui no Brasil, houve um caso típico em Pedra Bonita-MG, entre 1836/1838. Um homem obsedado pregava que havia um reino encantado que, banhado o solo com sangue humano, seria desencantado e ofereceria grandes riquezas. Conseguiu atrair ao local cerca de trezentas pessoas falando-lhes, em tom místico, dos tesouros. A ignorância e a cobiça fizeram o resto, o relator do episódio esclarece que o chefe disso pudera “mergulhar aquela multidão numa espécie de delírio ou embriaguez continuada”, isto é, na obsessão. As pessoas ofereciam os próprios filhos para o sacrifício e algumas se suicidavam, tendo como resultado a morte de 53 pessoas em dois dias e meio. Um dos seduzidos conseguiu escapar e avisou pessoas da redondeza que, indignadas, puseram fim à loucura coletiva pelas armas, salvando ainda uma porção de coitados.

11. Auto-Obsessão O homem não raramente é obsessor de si mesmo.

Alguns estados doentios e certas aberrações que se lançam à conta de uma causa oculta, derivam do espírito do próprio indivíduo.

Tais pessoas estão ao nosso redor. São doentes da alma. Percorrem os consultórios médicos em busca do diagnóstico impossível para a medicina terrena. São obsessores de si mesmos, vivendo um passado do qual não conseguem fugir. No porão de suas recordações estão vivos os fantasmas de suas vítimas, ou se reencontram com os a quem se acumpliciaram e que, quase sempre, os requisitam para a manutenção do conúbio degradante de outrora.

Um médico espírita disse, certa vez, que é incalculável o número de pessoas que comparecem aos consultórios, queixando-se dos mais diversos males, para os quais não existem medicamentos eficazes, e que são tipicamente portadores de auto-obsessão. São cultivadores de moléstias fantasmas. Vivem voltados para si mesmos, preocupando-se em excesso com a própria saúde, ou se descuidando dela, descobrindo sintomas, dramatizando as ocorrências mais corriqueiras do dia-a-dia, sofrendo por antecipação situações que jamais chegarão a se realizar, flagelando-se com o ciúme, a inveja, o egoísmo, o orgulho, o despotismo e transformando-se em doentes imaginários, vítimas de si próprios, atormentados por si mesmos.

Esse estado mental abre campo para os desencarnados menos felizes, que dele se aproveitam para se aproximarem, instalando-se, aí sim, o desequilíbrio por obsessão.

Cura O passe, a prece e a desobsessão por doutrinação verbal, isoladamente ou em

conjunto, são os meios terapêuticos mais usados em nossas instituições espíritas. Muitas pessoas acreditam ser os trabalhos desobsessivos pela Codificação

Kardequiana mais fracos que aqueles efetuados por outros processos. Fica patenteado com essa assertiva o desconhecimento absoluto do que seja realmente desobsessão. Pensam que o trabalho é forte quando os médiuns se deixam jogar ao solo, contorcendo-se e portando-se desatinadamente. Quanto maior a gritaria, a balbúrdia, mais forte consideram a sessão. E, conseqüentemente crêem que os resultados são mais produtivos.

Meditando sobre o assunto, não é difícil verificar-se a fragilidade de tais argumentos. O que se vê em sessões desse tipo são médiuns sem nenhuma educação mediúnica, sem disciplina e, sobretudo, sem estudo, a servirem de instrumento a manifestações de teor primitivo. É inegável que esses trabalhos podem apresentar benefícios na faixa de entendimento em que se situam, inclusive despertando consciências para as verdades da vida além da vida. Mas, afirmar-se que os labores da desobsessão nos moldes kardecistas são mais fracos e ineficientes, carece de qualquer fundamento. Esquecem ou não sabem tais críticos que todo trabalho espírita é essencialmente de renovação interior, visando à cura da alma, não à formulas imediatistas que adiam a solução final. O Espiritismo, indo além dos efeitos, remonta às

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causas do problema, às suas origens, para, no seu cerne, laborar profundamente, corrigindo, medicando e combatendo o mal pela raiz.

Infere-se, pois, que o labor desobsessivo à luz da Terceira Revelação tem por escopo a cura das almas, o reajuste dos seres comprometidos e endividados que se deixam enredar nas malhas da obsessão, e não somente afastar os parceiros, adiando o entendimento e perdão.

Para atingir esse objetivo, não há necessidade de espetáculos, de demonstrações barulhentas, há sim necessidade da diretriz abençoada da Codificação Kardequiana.

Obsessão: é fenômeno de sombra. Desobsessão: é fenômeno de luz.

OBS: A cura das obsessões requer muita paciência, perseverança e devotamento, ela exige também tato e habilidade para conduzir ao bem os espíritos perversos, endurecidos e astuciosos, porque há rebeldes em último grau.

A maldade não é o estado permanente dos homens, se deve a uma imperfeição momentânea, o homem mal conhecerá um dia seus erros. Não devemos usar violência ou ameaça, com isso não obteremos nada, seja qual for o caráter do espírito. Toda influência está na ascendência moral.

Risco A obsessão prolongada pode causar desordens físicas e requer muitas vezes um

tratamento simultâneo, seja magnético ou médico, para restabelecer o organismo. A causa estando destruída resta combater os efeitos.

Agravante As imperfeições morais do obsidiado freqüentemente, são um obstáculo a sua

libertação. Por isso há uma grande necessidade do paciente fazer uma reforma íntima, melhorando suas vibrações, corrigindo suas atitudes.

OBS: Todos os seres humanos, explica André Luiz, tem um desejo central ou tema básico em torno do qual giram os interesses mais íntimos e que se manifesta pelo grande número de pensamentos formados do assunto envolvido no tema central. Tais idéias, que são expelidas pelo cérebro, constituem uma espécie de reflexo da personalidade e por meio delas os espíritos interessados logo diagnosticam o traço dominante do caráter de qualquer indivíduo: se é ambicioso, usurário, dado ao álcool, maledicente, jogador, cruel, sátiro, etc. Sabedores disso eles podem ampliar a natureza pessoal de alguém emitindo pensamentos do mesmo tipo, os quais vão nutrir os já existentes em torno do sujeito. Deste modo, os impulsos que comandam certas práticas sofrem acentuado incremento na freqüência e na intensidade. O que atrai os obsessores é o reflexo peculiar a cada pessoa, mas antes esta já estava perturbada por suas próprias criações mentais. Daí, um impulso sexual, uma violenta cobiça ou uma propensão para a bebida serão acentuados até o abuso ou mesmo o crime.

O que está em jogo resume-se nos quatro PP: posses, prestígio, poder e prazer, que englobam todas as ambições e desejos humanos. Por exemplo, o que é o jogo senão o desejo de vencer o próximo e a busca de emoções intensas? Logo, desejo de poder e prazer, mesmo furtando, lançando a família na miséria e até arriscando a pele. Não será a mesma coisa fornicar com a mulher alheia (conquista e gozo)? Porque correr de carro a centenas de quilômetros por hora e aleijar-se? Juntar muito dinheiro? E por aí vai.

O vampirismo é outro elemento ou motivo agravante. Os desencarnados desequilibrados extraem forças dos encarnados, revitalizando seus perispíritos e minando as energias destes. Absorvem o que André Luiz denomina larvas, isto é, corpúsculos

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magnéticos que pupulam, como bactérias, nos órgãos perturbados em suas funções e que são gerados pela mente enfermiça.

Diz Allan Kardec “Por sua vontade pode sempre o homem sacudir o jugo dos espíritos

imperfeitos, porque em virtude de seu livre arbítrio, há a escolha entre o bem e o mal. Se o constrangimento chegar ao ponto de paralisar a vontade e se a fascinação é tão grande, então a vontade de uma terceira pessoa pode substituí-la.”

Mensagem Final Saber, apenas, não representa recurso de imunização, se aquele que conhece

não se resolve por aplicar, na vivência, as informações que possui. Bibliografia: O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec O Livro dos Espíritos- Allan Kardec O Livro dos Médiuns – Allan Kardec A Gênese – Allan Kardec Obsessão/Desobsessão – Suely Caldas Schubert Nos Bastidores da Obsessão – Divaldo Franco (pelo espírito Manoel P. Miranda). Nos Painéis da Obsessão – Divaldo Franco (pelo espírito Manoel P. Miranda).