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ESTUDO DA COBERTURA VEGETAL DO SUBDISTRITO DA BELA VISTA (CENTRO DE SÃO PAULO/ SP)
Luciana Buitron (Bióloga - CCBS/UPM – São Paulo/SP – [email protected]) Oriana A. Fávero (Dra em Geografia – CCBS/UPM – São Paulo/SP – [email protected]).
Resumo: A cobertura vegetal é um dos fatores que interferem na qualidade ambiental das cidades, promovendo benefícios ecológicos, psíquicos e sociais para a população, atuando também na saúde e no bem-estar geral. O estudo da cobertura vegetal, sua quantificação e distribuição, são parâmetros amplamente recomendados pela literatura, para analise e planejamento da qualidade ambiental. Quanto menos fragmentada a vegetação maiores serão seus benefícios. Considerando a importância da conservação e recuperação da vegetação para incremento da qualidade ambiental nas áreas urbanas, o presente trabalho objetivou mapear, analisar e quantificar a cobertura vegetal no subdistrito da Bela Vista, localizado no centro da cidade de São Paulo. Foram realizados os seguintes procedimentos: levantamentos bibliográficos; obtenção das fotos aéreas (escala 1:6.000, de 2000, obtidas com a Prefeitura de São Paulo); mapeamento da cobertura vegetal pelo método “overlay” e a quantificação da cobertura vegetal na escala 1:10.000. Da área total da Bela Vista (2,44 Km²), 0,22 Km² (9,02 %) correspondem à cobertura vegetal, sendo que 0,018 Km² (0,81%) são de cobertura vegetal herbácea e 0,203 Km² (8,21%) são de vegetação arbórea. Há diferença na distribuição desta vegetação em manchas distintas: uma parte, mais próxima à região central, apresenta cobertura vegetal fragmentada, quase caracterizando um deserto florístico. Na região noroeste da Bela Vista, há manchas de cobertura vegetal maiores, menos fragmentadas e mais conectadas. Também se verificou, com base em artigos científicos, que na parte próxima ao Centro, com menor índice de cobertura vegetal, as temperaturas médias são mais altas, mostrando que essa é uma região que necessita de uma recuperação emergencial da cobertura vegetal para melhoria da qualidade ambiental.
Palavras-chave: Bela Vista, qualidade ambiental, cobertura vegetal. Abstract: The canopy is one of the factors involved in the environmental quality of cities, promoting ecological benefits, psychological and social to the people, acting also on health and well-being. The study of vegetation cover, its quantification and distribution, parameters are widely recommended in the literature for analysis and planning of environmental quality. The less fragmented the vegetation will be greater benefits. Considering the importance of conservation and restoration of vegetation to increase environmental quality in urban areas, this study aimed to map, quantify and analyze land cover in the subdistrict of Bela Vista, located in the center of São Paulo. Were performed the following procedures: bibliographic; obtaining the aerial photos (scale 1:6.000, 2000, obtained from the Municipality of São Paulo), mapping of vegetation cover by the "overlay" and the quantification of vegetation cover in the scale 1:10.000 . Of the total area of Bella Vista (2.44 km ²), 0.22 km ² (9.02%) correspond to the vegetation cover, with 0.018 km ² (0.81%) are herbaceous vegetation and 0.203 km ² (8.21 %) are trees. There is a difference in the distribution of vegetation in different spots: one part, closer to the central region, has fragmented vegetation cover, featuring an almost desert flora. In the northwestern region of Bela Vista, there are patches of vegetation larger, less fragmented and more connected. There was based on scientific articles, which in part near the center, with lower rate of vegetation cover, the average temperatures are higher, showing that this is a region that needs an emergency recovery of vegetation cover to improve the quality environment.
Key-words: vegetal covering, ambient quality, urban forests, subdistrict Bela Vista
I. INTRODUÇÃO
A evolução da taxa de urbanização no Brasil indica a importância e a velocidade das
transformações. Na década de 1990 constatou-se uma elevação nas taxas de urbanização nas diversas
regiões do País. E de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, a
população brasileira consistia em 170 milhões de habitantes, sendo que desse número, 81,2%
correspondentes a população urbana (GOMES e SOARES, 2004).
O crescente índice de urbanização, segundo Lombardo (1985, apud NUCCI; 2008), é
preocupante, pois as cidades avançam e apresentam um crescimento rápido e sem um planejamento
adequado, fatores que afetam tanto o espaço urbano quanto a qualidade de vida urbana, deteriorando-a,
devido à poluição, congestionamentos, ruídos, à falta de espaços livres públicos e de vegetação.
De acordo com Monteiro (1987, apud NUCCI; 2008) as pressões exercidas pela urbanização,
cujo planejamento não considera a conservação da natureza nas cidades, resultam numa concentração
da população e de atividades geradas pela urbanização e industrialização, acentuando as modificações
do meio ambiente, comprometendo assim a qualidade de vida urbana.
A deterioração do espaço urbano pode ocorrer de diversas formas, isso porque o planejamento
urbano é baseado somente em medidas de ordem tecnológica sem se importar com aspectos do
ambiente em si, resultando, por exemplo, na fragmentação ou redução da cobertura do solo por
vegetação (NUCCI, 2008).
Ainda, segundo Marcus e Detwyler (1972, apud NUCCI et al., 2003), os fatores econômicos
tem sido priorizados na determinação do uso do espaço urbano quase sempre excluindo ou
sobrepujando a importância dos fatores ecológicos na organização do espaço.
Em suma, a urbanização quando ocorre de forma inadequadamente planejada provoca
alterações nos sistemas naturais das cidades, as quais, por vezes, incorrem em problemas ambientais,
tais como: modificações no clima, na atmosfera, no ciclo hidrológico, no relevo, na vegetação e na
fauna (NUCCI e CAVALHEIRO, 1999; NUCCI et al., 2003; BUCCHERI Fo. e NUCCI, 2005;
VENTURA e FÁVERO, 2005; LOPES e FÁVERO, 2006; e NUCCI, 2008)).
Qualidade de vida e qualidade ambiental
Nucci (2008) propõe o estudo da qualidade ambiental, para os centros urbanizados, por meio do
estudo de indicadores (atributos ambientais) como o uso do solo, poluição, espaços livres,
verticalidade das edificações, enchentes, densidade populacional e cobertura vegetal. A análise destes
fatores permite regulamentar o uso do solo e dos recursos ambientais.
Porém, a forma como vem ocorrendo o uso e a ocupação do solo urbano tem gerado, sobretudo
nos sistemas naturais, significativas alterações, pois o descontrole processual em que se dá o uso desse
solo dificulta tecnicamente a implantação de infra-estrutura, produzindo um alto custo de urbanização
e acarretando um desconforto ambiental nos níveis térmico, acústico, visual ou de circulação,
contribuindo dessa forma, segundo Lombardo (1985, apud GOMES e SOARES, 2004), para um
desagradável convívio humano.
Uma forma de melhorar a vida do ser humano nas grandes metrópoles está ligada à qualidade
do ambiente e para se estabelecer esta relação é necessário realizar previamente uma análise ambiental,
levando em consideração elementos como a presença de vegetação no ambiente. Assim, áreas verdes e
condições climáticas favoráveis são de extrema relevância para se ter uma qualidade ambiental e de
vida adequada (AMORIM, 1993, apud CAMARGO e AMORIM, 2005).
Rodrigues e Llardent (1982, apud GOMES e SOARES, 2004) ressaltam a importância da
vegetação nas cidades contemporâneas, principalmente nos grandes centros, em função da composição
atmosférica, equilíbrio solo-clima e poluição sonora. A vegetação purifica o ar por fixação de poeiras e
materiais residuais e pela reciclagem de gases através da fotossíntese; também regula a umidade e,
temperatura do ar; mantém a permeabilidade, fertilidade e umidade do solo e protege-o contra a
erosão, e; reduz os níveis de ruído servindo como amortecedor do barulho das cidades. Ao mesmo
tempo, do ponto de vista psicológico e social, influenciam também sobre o estado de ânimo dos
indivíduos com o transtorno das grandes cidades, além de propiciarem ambiente agradável para a
prática de esportes, exercícios físicos e recreação em geral.
Algumas características da vida nas cidades como a elevada densidade demográfica, a
concentração de áreas construídas, a pavimentação de asfaltos do solo e as áreas industriais podem
provocar alterações no clima local, essencialmente nos valores da temperatura (LOMBARDO, 1985,
apud GOMES e SOARES, 2004).
Freitas e Lombardo (2007) citam um estudo feito por Akbari e Rose (2001) que ressalta que os
diferentes tipos de uso e ocupação do solo induzem a diferentes condições de conforto ambiental,
como por exemplo, constatou-se que áreas predominantemente industriais apresentam temperaturas
bem mais elevadas do que zonas residenciais devido à natureza da superfície dos materiais envoltórios
das edificações.
Lombardo (1985, apud NUCCI, 2008) contribuiu com o desenvolvimento dessa idéia ao
afirmar que “as condições climáticas de uma área urbana extensa e de construção densa são
totalmente distintas daquelas dos espaços abertos circundantes, podendo haver diferenças de
temperatura, de velocidade do vento.”
Cobertura Vegetal e Qualidade Ambiental nas Cidades
O verde urbano é fundamental para amenizar os problemas de caráter ambiental que os
habitantes da cidade enfrentam, pois sua importância envolve aspectos paisagísticos, ecológicos e
psíquicos (LOPES e FÁVERO, 2006).
Segundo Ulrich e Simons (1991, apud MOURA, 2007), pesquisas evidenciaram que a
permanência de pacientes nos hospitais diminui quando há a possibilidade de se observar um ambiente
bem projetado com o uso de vegetação verde, constituída por árvores. Estes autores também afirmam
que a saúde geral e o equilíbrio emocional de crianças podem ser beneficiados se elas passam alguns
momentos do dia em áreas com diversos tipos de vegetação.
A cobertura vegetal urbana, definida por Nucci e Cavalheiro (1999) como qualquer área
provida de vegetação (herbácea, arbustiva e arbórea) dentro do espaço urbano pode estar presente em:
jardins, quintais, praças, parques, e canteiros em vias de circulação, áreas preservadas, dentre outros
locais.
Há, entretanto grande dificuldade para sua caracterização e planejamento que deriva, sobretudo,
segundo Nucci e Cavalheiro (1999), de uma falta de consenso quanto à definição dos termos tanto em
relação à quantificação da vegetação quanto à sua categorização, de tal forma que não há a definição
de critérios objetivos que colaborariam na elaboração de leis para garantia da conservação da
vegetação nas áreas urbanizadas para melhoria de sua qualidade ambiental.
Oke (1973, apud NUCCI, 2008) estimou que um índice de cobertura vegetal na faixa de 30%
da área considerada seria o mínimo recomendável para proporcionar um adequado balanço térmico em
áreas urbanas e que este índice quando se apresenta inferior a 5% determinam a esta vegetação
características semelhantes às de um deserto, designando estas áreas como desertos florísticos.
Além disso, considerando os vários benefícios que a vegetação pode trazer para melhorar a
qualidade ambiental e de vida da população, pode-se concluir que em lugares sem ou com baixa
quantidade de vegetação (abaixo de 5%) esta qualidade seja bem inferior ao desejável (NUCCI, 2008).
Por sua vez, para Sukopp e Werner (1991, apud BUCCHERI Fo. e NUCCI, 2005), a cidade
que apresenta as condições ideais para a conservação da natureza e da paisagem deveria ter 33% do
seu solo, principalmente na região central, permeáveis e não edificados e, ainda, deveriam apresentar
ampla conexão entre a vegetação da zona rural e a das áreas urbanas centrais, diminuindo o grau de
variação entre os usos dos solos destes meios.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU, 2004, apud MOURA,
2007) aqueles que estão na linha de frente do planejamento, ou seja, os responsáveis pela fiscalização,
pelos projetos e formulação de leis, também clamam por estudos que permitam definir metodologias
para o estabelecimento de índices de cobertura vegetal como indicadores de qualidade de vida.
A quantificação da cobertura vegetal, baseada em uma metodologia padrão, permite com os
resultados expressos por números estatísticos (parâmetros), a comparação e indicação da qualidade
ambiental de uma determinada região, evidenciando, por exemplo, problemas de saúde, poluição do ar
e sonora, resultando, portanto, na indicação da qualidade de vida. Além disso, os valores numéricos
deste indicador permitem a comparação entre outros bairros, cidades e regiões (NUCCI et al., 2003).
Conforme vários autores (NUCCI e CAVALHEIRO, 1999; NUCCI et al., 2003; BUCCHERI
Fo. e NUCCI, 2005; VENTURA e FÁVERO, 2005; LOPES e FÁVERO, 2006; e NUCCI, 2008) pode-
se obter o índice de cobertura vegetal (ICV) de uma área quantificando-se a área desta cobertura em
seu mapeamento (em Km² ou m²) e verificando quanto este valor corresponde, em percentual da área
total.
Estudos de Cobertura Vegetal para incremento da Qualidade Ambiental nas Cidades – Conceitos e
Métodos
De acordo com Nucci (2008) a linha metodológica do planejamento da paisagem propõe
aproveitar melhor seu potencial, principalmente os benefícios da cobertura vegetal. É a partir dela que
muitos problemas serão amenizados ou resolvidos e, portanto, a cobertura vegetal, tanto em termos
qualitativos quanto quantitativos, bem como na sua distribuição espacial no ambiente urbano, deve ser
cuidadosamente considerada para a avaliação da qualidade ambiental.
Para tanto, além da quantidade de superfícies recobertas por vegetação é necessário que haja
uma certa distribuição espacial destas superfícies nas áreas urbanas permitindo avaliar as formas e o
grau de conectividade de suas manchas (NUCCI et. al., 2003).
Portanto, o mapeamento e a classificação da cobertura vegetal são fundamentais em seu estudo
e avaliação, pois “a quantidade e a distribuição de suas categorias, ou seja, herbácea, arbustiva ou
arbórea, estão relacionadas com conforto térmico, com a qualidade do ar, escoamento superficial,
etc.” (MOURA e NUCCI, 2005).
Jim (1989) em seu estudo da cobertura vegetal realizado em Hong Kong propôs alguns critérios
para classificar e avaliar o que chamou de “tree-canopy cover” (cobertura da copa das árvores).
Com base na distribuição espacial e no formato das manchas de cobertura vegetal, Jim (1989)
classificou-as em três tipos principais, que se subdividem em mais três categorias, baseadas na
conectividade e contigüidade da cobertura vegetal (Figura 1), que se caracterizam por:
tipo “Isolated”, as árvores apresentam-se isoladas, há pequenos focos de cobertura vegetal,
manchas predominante em locais pavimentados e edificados, como é o caso dos centros urbanos, com
variações, podendo apresentar-se quase que unicamente isoladas (“Dispersed”), ou com pequenas
unidades com dimensões semelhantes (“Clustered”) ou árvores em pequenos grupos podendo muitas
vezes estar misturadas com componentes das edificações (“Clumped”);
tipo “Linear”, ocorre a justaposição de árvores em diferentes graus, tendo como variante
(“Rectilinear”) cuja caracterização é o estreito alinhamento ao longo das calçadas ou na periferia de
lotes (“Curvilínear”) que são cinturões largos e (“Annular”) caso especial de variante curvilínea; as
árvores formam um anel contínuo ao redor de pequenos morros e topos elevados por movimentação de
terra;
tipo “Connected”, que apresenta ampla cobertura vegetal e o maior grau de conectividade e
contigüidade, o subtipo (“Reticulate”) apresenta rede alongada com meandros atravessando estreitos
interstícios de vertentes não urbanizadas entre construções agrupadas; o sub-tipo “Ramified” apresenta
mais de 50% da área com cobertura vegetal e possuem copas entrelaçadas formam uma estrutura
contínua que envolve lotes edificados separadamente; e o subtipo “Continuous” apresenta mais de
75% da área com cobertura vegetal; são por exemplo florestas na periferia com um mínimo de
intrusão da urbanização. A quase contínua cobertura vegetal é pontuada somente ocasionalmente por
pequenas construções isoladas ou ruas estreitas.
Figura 1 – Esquema de classificação da distribuição da cobertura vegetal (Fonte: JIM, 1989: 218).
Segundo Jim (1989), conforme os critérios supra-descritos, a cobertura vegetal de Hong Kong
apresenta distribuição desconexa e fragmentada o que acarreta prejuízo a biodiversidade local e a
qualidade ambiental da cidade.
Utilizando as propostas de avaliação de Jim (1989) alguns estudos têm demonstrado que a
vegetação do Centro de São Paulo também apresenta padrão de distribuição desconexo e fragmentado.
Estudo realizado por Nunes et al. (2008) no subdistrito da Sé, por meio de fotos aéreas, escala
1:6.000, mostrou que a cobertura vegetal dessa área corresponde a 6,97% do total, e apresentou
padrões de distribuição predominante do tipo “Isolated” conforme Jim (1989).
Já o subdistrito da Consolação estudado por Lopes e Fávero (2006), na escala 1:10.000,
apresentou 26,9% da área estudada com cobertura vegetal e teve predominância no padrão de
distribuição no tipo “Isolated” apesar de apresentar muitas manchas do tipo “Clumped”, pois é uma
região em que há muitas praças e área tombada.
Adas e Fávero (2008) estudaram, também na escala 1:10.000, a cobertura vegetal do subdistrito
da República e nesse estudo a cobertura vegetal encontrada foi de 8,76% da área total do subdistrito. O
padrão de distribuição predominante nessa área foi classificado como tipo “Isolated”, apresentando
muitas manchas do tipo “Dispersed”, e três grandes áreas do tipo “Clumped”, devido a presença de
duas grandes praças e do largo do Arouche.
O subdistrito de Santa Cecília foi estudado por Nucci (2008), na escala 1:10.000, e esta área
apresentou 7% de cobertura vegetal, sendo que de toda área pesquisada apenas 2% são espaços livres
públicos.
Outros estudos, em outras áreas de São Paulo e em outros estados, usando também o
mapeamento por meio de aerofotos e, em alguns casos, a classificação da cobertura vegetal proposta
por Jim (1989), mostram que há locais urbanizados, em geral, com melhores condições de conservação
da vegetação que o Centro de São Paulo.
No trabalho de Ventura e Fávero (2005), por exemplo, que analisaram a cobertura vegetal, na
escala de 1:10.000, dos bairros de Alphaville e Tamboré, município de Santana do Parnaíba (na região
Metropolitana de São Paulo), o índice de cobertura vegetal encontrado foi de 66,2% da área, e a área
apresentou duas manchas distintas: uma a Nordeste, ainda pouco ocupada, com 39% da cobertura
vegetal da área estudada, apresentando distribuição do tipo “Connected”; e outra a Sudoeste, onde
estão os condomínios, com 27% da cobertura vegetal da área estudada, sendo predominante nela a
distribuição do tipo “Isolated.
Já em Curitiba (PR), o bairro Centro, estudado na escala 1:8.000, mostrou 12,56% de sua área
com cobertura vegetal (NUCCI et al., 2003) e o bairro Alto do XV, próximo ao centro de Curitiba,
estudado na escala 1:10.000, mostrou 16,85% de cobertura vegetal com distribuição predominante do
tipo “Isolated” (BUCCHERI Fo. e NUCCI, 2005). Mais periférico, em Curitiba, o bairro Santa
felicidade, estudado na escala de 1:8.000, apresentou 42,29% de cobertura vegetal, com predominância
de vegetação arbórea de 30,87%, seguida da arbustiva com 9,58%, e sua distribuição mais evidente é
do tipo “Connected”, revelando-se de forma continua e ramificada (MOURA e NUCCI, 2008).
Além de alterações na qualidade ambiental em geral, da área urbanizada, esta fragmentação da
cobertura vegetal é por vezes relacionada à especulação imobiliária de tal forma que as áreas com
maior e melhor localização de ‘espaços verdes’ são economicamente mais valorizadas (GOMES e
SOARES, 2004).
Luchiari (2001) verificou que em áreas residenciais a cobertura vegetal estava relacionada a
qualidade de vida, nível sócio-econômico e de renda das populações domiciliadas.
E, principalmente no caso de São Paulo, Gomes e Soares (2004) verificaram que as ‘áreas
verdes’ aparecem de forma diferenciada, favorecendo então a minoria mais rica, enquanto a população
carente tem pouco acesso a parques e jardins públicos.
Desta forma, considerando a importância da vegetação para a melhoria da qualidade ambiental
e de vida nas cidades, o presente trabalho objetivou contribuir com o debate sobre a necessidade de
maior incorporação dos elementos naturais, como a vegetação, no planejamento da cidade como um
incremento de suas qualidades ambiental e de vida.
Portanto este trabalho tem como objetivo: mapear, quantificar e classificar [(de acordo com a
proposta de Jim (1989)], a cobertura vegetal do subdistrito da Bela Vista no distrito Centro da cidade
de São Paulo, bem como comparar com outros estudos já realizados em outras áreas urbanizadas, e que
utilizaram métodos e escalas similares, em especial realizados no Centro de São Paulo.
II. MATERIAIS E MÉTODOS
Localização da Área de Estudo
A área estudada nesse trabalho foi o Subdistrito da Bela Vista, localizado no Distrito Central da
cidade de São Paulo. Juntamente com os subdistritos Sé, Bom Retiro, Consolação, Santa Cecília,
Liberdade e Cambuci, formam o Distrito Centro, administrado pela Subprefeitura da Sé (Figura 2).
As vias limítrofes do subdistrito são: rua 13 de maio, rua Martiniano de Carvalho, rua Humaitá,
av. Brigadeiro Luis Antonio, rua Cda. de São Joaquim, rua Jaceguai, rua Manuel Dutra, rua Santo
Antonio, avenida 9 de julho, São Carlos do Pinhal, Avenida Paulista.
De acordo com os dados de Takyia (2002) o subdistrito da Bela Vista apresentava, em 2000,
uma população domiciliada de 63.190 habitantes, distribuídos em uma área de 260 ha e, portanto
apresentava uma densidade demográfica de 243 hab./ha. Estima-se que esta população encontre-se
hoje na faixa de 64.738 habitantes. Apresenta ainda: renda familiar média de R$ 2.400,00
(outubro/97), taxa de crescimento populacional de -2,01 (IBGE, 1991/99), e tem um índice de
porcentagem de população favelada de 0 (IBGE, 1996).
Figura 2 – Croqui de localização do subdistrito da Bela Vista com destaque de ruas e principais
pontos de referência (Fonte: http://infolocal.prefeitura.sp.gov.br/mapa.php, Acesso em 03 de outubro
de 2008; Org: Fávero, 2008).
Breve Histórico do Subdistrito da Bela Vista
A história do que hoje é a Bela Vista é quase tão antiga quanto a de Piratininga (hoje São
Paulo). O bairro só começou a crescer no final do século XIX, quando ocorreu a expansão da
economia cafeeira, e teve início a imigração européia. Com a expansão do comércio e o aumento da
população, os donos das antigas chácaras começaram a abrir em suas terras, avenidas, ruas, alamedas e
largos, com áreas desacampadas sendo loteadas, iniciando assim o traço urbano da cidade
(MARZOLA, 1985).
A partir de 1880, o bairro começa a ser ocupado por imigrantes italianos e classes modestas que
procuravam as oportunidades que a urbanização trazia e se encantavam com os baixos preços dos
terrenos no local, passando a trabalhar como artesões, padeiros, quitandeiros e pequenos comerciantes.
O Bexiga foi o bairro dos italianos que transplantaram para lá toda a tradição cultural que foi marcante
na paisagem local. Os italianos trouxeram consigo as padarias, as cantinas e a Vossa Santa Padroeira
(Nossa Sra de Achiropita) e em 1914 foi levantada a capela dessa santa, onde ocorrem festas anuais
para a devoção da santa padroeira (SACCHETTO, 2001).
Os moradores mais antigos do Bexiga são saudosistas e ressentidos com essa mudança no
cotidiano do bairro, que provoca lentamente o desaparecimento de suas tradições. São moradores que
reagem aos processos urbanos que interferem em seus ambientes, na sua paisagem e no seu cotidiano,
o que explica juntamente com os impróprios formatos dos lotes, a resistência do bairro à especulação
imobiliária (MARZOLA, 1985).
Como em outros bairros paulistanos situados na área central, a Bela Vista encontra-se bastante
deteriorada urbanisticamente, com muitos cortiços, falta de áreas verdes, e de espaço de lazer e
recreação. O bairro se encontra praticamente necessitando de grandes estímulos financeiros da ordem
institucional e privada para promover a sua revitalização (D’ALAMBERT e FERNANDES, 2006).
Além disso, ocorre a pressão por dois grandes centros de expansão, de um lado o centro da
cidade, que para abrigar todas as suas funções tem a necessidade de se expandir e, por outro, a
expansão da Avenida Paulista, que ali se encontra ao seu redor com uma significativa área residencial
de classe alta, ou classe média alta que procura a área por suas facilidades locacionais. Porém, o bairro
não tem condições de atender a demanda de nenhum dos lados, pois sua estrutura não comporta a
demanda nem de prédios de escritórios, nem residenciais, com exceção de alguns lugares já
verticalizados (MARZOLA, 1985).
As contínuas e intensas transformações urbanas, resultantes da dinâmica acelerada da capital
paulista, constituem muitas vezes grandes ameaças ao patrimônio cultural, ambiental e urbano
(D’ALAMBERT e FERNANDES, 2006). Visando a preservação desse patrimônio o bairro da Bela
Vista foi tombado pelo CONPRESP em 10 de dezembro de 2002 por meio da resolução nº 22/02.
Procedimentos
Para a realização do trabalho, foi inicialmente feito um levantamento bibliográfico sobre o tema
proposto utilizando as palavras-chaves: cobertura vegetal, vegetação urbana, qualidade ambiental
urbana.
As bibliotecas onde a pesquisa foi realizada foram as da Universidade de São Paulo (USP),
Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e a Pontifícia Universidade Católica de são Paulo
(PUC).
Também foram utilizadas obras e artigos obtidos de pesquisa em periódicos, Anais (em
CDROM) do XI Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada (2005), e na internet, utilizando as
palavras-chaves: qualidade ambiental urbana, cobertura vegetal, e história da Bela Vista.
O mapeamento da cobertura vegetal da área foi realizado por meio de interpretação de cinco
fotos aéreas coloridas, de maio de 2000, na escala 1:6.000, obtidas na Secretaria de Habitação do
Município de São Paulo (SEHAB).
Primeiramente se analisou as fotos áreas a olho nu, identificando os locais com vegetação de
cada área. Após a identificação foi realizado o mapeamento utilizando para isso o método de “overlay”
sobre as fotos aéreas. Esse método consiste na utilização de um papel como o acetato que possui uma
boa transparência, colocando-o sob a foto procedendo assim o registro dos pontos de cobertura vegetal
identificados na fotografia (usando preferencialmente uma caneta de retroprojeção de ponta fina).
A escolha do método utilizado teve como finalidade a comparação com trabalhos anteriormente
realizados em outras áreas, principalmente do centro de São Paulo, como a Sé, a República,
Consolação, Santa Cecília, e também Alphaville e Tamboré.
Para maior precisão no mapeamento, áreas das aerofotos que apresentaram sombreamento de
edifícios ou dificuldade na visualização da vegetação foram verificadas em campo e/ou por consulta às
respectivas imagens disponíveis no Google Earth.
Por fim, o mapa de cobertura foi reduzido para a escala 1:10.000 e as manchas de vegetação
foram quantificadas com auxílio de papel melimetrado, bem como classificadas de acordo com a
proposta de classificação de Jim (1989).
III. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O mapa da cobertura vegetal do subdistrito da Bela Vista, na escala aproximada 1:10.000,
obtido pelo método de “overlay” sobre fotos aéreas (escala 1:6.000) encontra-se na Figura 3.
Na quantificação do mapa, a área total da Bela Vista correspondeu a 24.480 mm² (2,48 Km²).
Desta área total, 2.210 mm² representam a cobertura vegetal da área, sendo que deste valor, 180 mm²
corresponderam a cobertura vegetal herbácea e 2.030 mm² corresponderam a cobertura vegetal
arbórea. Ou seja, o subdistrito da Bela Vista possui de toda sua área, 9,02% de cobertura vegetal, da
qual 8,14% são de cobertura vegetal herbácea-arbustiva e 91,86% são de cobertura vegetal arbórea
(vide Tabela 1).
Figura 3 – Mapa da Cobertura vegetal do Subdistrito da Bela Vista.
e Herbácea
Tabela 1 – Quantificações da cobertura vegetal do subdistrito da Bela Vista
No mapa (mm2) Na realidade
% (m2) (Km2)
Área de Estudo 24.480 2.448.000 2.448 100
Cobertura Vegetal da Área (CV) 2.210 221.000 0,2210 9,02
Cobertura Vegetal Herbáceo-arbustiva 180 18.000 0,0180 0,81
Cobertura Vegetal Arbórea 2.030 203.000 0,2030 8,21
A porcentagem de cobertura vegetal encontrada no subdistrito da Bela vista foi de 9,02%, valor
bem aquém do índice de 30% de cobertura vegetal que propõe Oke (1973, apud NUCCI, 2008) para se
obter um adequado balanço térmico nas áreas urbanas. Ainda pode-se analisar, observando o mapa da
Figura 3, que o subdistrito da Bela Vista possui um corredor central com um ‘vazio’ de vegetação, que
pode ser considerado um ‘deserto floristico’, cujas características são semelhantes a de um deserto e
desfavorecem significativamente a qualidade ambiental.
Também é possível verificar que o subdistrito da Bela Vista não apresenta as condições ideais
para a conservação da natureza e da paisagem, já que não alcançou o valor recomendado de 33% de
cobertura do solo em condições permeáveis, segundo Sukkop e Werner (1991, apud BUCCHERI Fo. e
NUCCI, 2005).
Analisando o mapa da Figura 3, é possível perceber que o subdistrito da Bela Vista apresenta
uma cobertura vegetal distribuída de forma heterogenia. Utilizando a proposta de classificação da
cobertura vegetal de Jim (1989), baseada nas formas e distribuição espacial de manchas de vegetação
verifica-se a predominância, no subdistrito da Bela Vista, de uma matriz do tipo “isolated” onde os
focos de cobertura vegetal se apresentam de forma fragmentada e descontinua.
Dentro dos subtipos da cobertura vegetal tipo “isolated”, as manchas tipo “clumped” são as que
aparecem com maior freqüência em todo subdistrito caracterizando-se por apresentar manchas de
árvores bem agregadas, típicas de praças, hospitais e propriedades particulares que se observa na
região.
Porém, analisando a porção nordeste da Bela Vista, percebe-se maior freqüência de manchas do
tipo “dispersed”, caracterizada por pequenos agrupamentos vegetados isolados.
A cobertura vegetal fragmentada e descontinua é típica de locais pavimentados e edificados, e
são comuns nos centros urbanos, como é o caso da Bela Vista. E é a cobertura que aparece com mais
freqüência nos estudos já realizados no subdistritos do centro de São Paulo, como o da Sé, da Santa
Cecília, e da Republica.
Nas manchas vegetais tipo “Clumped”, à noroeste da Bela Vista, se observa grupos de árvores
agregadas encontradas nas praças (Dom Orione, Amadeu Amaral, parte da 14 bis (foto da Figura 4),
hospitais e jardins de propriedades particulares.
Figura 4 – Vista superior da praça 14 Bis - foto tirada na Av. 9 de julho (Buitron, 2008).
Nesse tipo de cobertura vegetal ficam evidentes algumas características que contribuem para o
aumento da qualidade de espaços livres, os quais promovem o saudável contato do cidadão com a
natureza, fornecendo também possibilidades de socialização e expressão cultural, concordando com
(NUCCI et al., 2005).
Para Groning (2004, apud NUCCI et al.,2005), no interior das cidades devem existir espaços
livres que possam satisfazer os múltiplos interesses humanos das mais variadas formas.
Estas possibilidades estão presentes, embora em poucos locais, no subdistrito da Bela Vista. Os
hospitais, na Bela Vista estão próximos ou possuem um grande jardim em sua área, que podem
oferecer a seus pacientes períodos do dia em áreas com vegetação, fato que conforme Ulrich e Simons
(1991, apud MOURA, 2007) favorecem as condições de saúde e podem contribuir com os
procedimentos de tratamento das enfermidades.
A parte leste da Bela Vista apresenta-se bem mais pobre de cobertura vegetal, com verdadeiros
‘vazios’ de vegetação, e é próxima aos subdistritos mais centrais da República e Sé, os quais, por sua
vez apresentam 8,76% e 6,97%, respectivamente, de cobertura vegetal (ADAS e FÁVERO, 2008; e
NUNES et al., 2008).
Isto indica que o mesmo processo de urbanização intenso, com um planejamento sem
contemplar preocupações com conservação da vegetação, ocorreu nestas áreas.
Por outro lado, esta área corresponde ao bairro do “Bixiga”, que foi tombado em 2002 com o
objetivo de procurar preservar seu patrimônio histórico-cultural e tentar aumentar a área de cobertura
vegetal, praças e espaços de lazer.
Estudo realizado após o tombamento do Bixiga mostrou que esta ação não foi capaz de reverter
a situação decadente na qual o bairro se encontra, apesar das melhorias nas condições de uso e
ocupação (D’ALAMBERT e FERNANDES, 2006).
Como já comentado anteriormente a parte oeste da Bela Vista apresenta sua cobertura vegetal
menos fragmentada e em melhores condições. Esta região está nas vizinhanças do subdistrito da
Consolação, que conforme o trabalho de Lopes e Fávero (2006) apresenta índice de cobertura vegetal
de 26,4%.
Analisando a cobertura vegetal da Bela Vista e estabelecendo um paralelo com parâmetros
sociais de qualidade de vida, como o nível sócio-econômico, propostos por Luchiari (2001), verifica-se
maior semelhança do subdistrito da Bela Vista com o subdistrito da República, vizinho ao Noroeste,
pois apresentam rendas familiares iguais (vide Tabela 2).
Tabela 2 – Índices de Cobertura Vegetal em relação com Índices de Renda Média Família de 1997
(Org: Buitron, 2008)
Subdistritos centrais de São Paulo Índice de
Cobertura Vegetal (%)
Média de Renda Familiar (Fonte: TAKIYA, 2002)
Sé (NUNES et. al., 2008) 6, 97 % R$ 1000 - 1999
Santa Cecília (NUCCI, 2008) 7 % R$ 2000 - 2999
Republica (ADAS e FÁVERO, 2008) 8, 76 % R$ 2000 - 2999
Bela Vista (Este estudo) 9,02 % R$ 2000 - 2999
Consolação (LOPES e FÁVERO, 2006) 26,9 % R$ 3000 - 3999
Se comparada à cobertura vegetal de outros locais, nos quais realizaram-se estudos com
métodos similares, a Bela Vista, bem como os subdistritos da região central de São Paulo, apresentam
índices bem menores de cobertura vegetal, conforme mostra a Tabela 3.
Destaca-se também, na Tabela 3, Alphaville-Tamboré (VENTURA e FÁVERO, 2005), com
66,2% de ICV, área que apresenta, certamente, uma qualidade ambiental muito melhor que a Bela
Vista e os demais subdistritos do Centro de São Paulo. Esta região, além de estar longe do centro de
São Paulo, tem menos pessoas ali vivendo e circulando e, além disso, é uma área que foi mais
planejada, oferecendo melhores condições para a qualidade de vida.
Tabela 3 – Índices de cobertura vegetal (ICV) de várias localidades (Org: Buitron, 2008)
Referência Localidade Escala Cobertura Vegetal (%)
Este Estudo Subdistrito da Bela Vista (MSP/SP) 1:10.000 9,02
Nunes et al., 2008 Subdistrito da Sé (MSP/SP) 1:10.000 6,97
Nucci (2001) Subdistrito de Santa Cecília (MSP/SP) 1:10.000 7,00
Adas e Fávero (2008) Subdistrito da República (MSP/SP) 1:10.000 8,76
Lopes e Fávero (2006) Subdistrito da Consolação (MSP/SP) 1:10.000 26,90
Ventura e Fávero (2005) Alphaville e Tamboré (Santana do Parnaíba/RMSP) 1:10.000 66,20
Nucci et al. (2003) Centro de Curitiba (PR) 1:8.000 12,56
Buccheri Fo. e Nucci (2005) Bairro Alto do XV (Curitiba/PR) 1:10.000 16,85
Dalbem e Nucci (2007) Bairro São Braz (Curitiba/PR) 1:8.000 50,47
Moura e Nucci (2008) Bairro Santa Felicidade (Curitiba/PR) 1:8.000 42,29
Em comparação com bairros de Curitiba (Centro, São Braz e Santa Felicidade, com valores de
cobertura vegetal 16,85%, 50,47% e 42,29%, respectivamente), a Bela Vista e seus vizinhos no Centro
de São Paulo estão bem piores. A pouca urbanização, a presença de grandes quintais pelas casas e a
distancia do centro da cidade ajudam a explicar os altos valores encontrados em São Braz e Santa
Felicidade. Por sua vez, o centro de Curitiba, apesar de não apresentar um índice significativo de
cobertura vegetal (12,56%), comparado com o centro de São Paulo, apresenta um índice maior, com
exceção do subdistrito da Consolação.
De certa forma, os maiores valores de ICV encontrados para Curitiba corroboram porque esta
cidade é considerada pela mídia brasileira como a “Capital Ecológica” ou “Capital Verde” (DALBEM
e NUCCI, 2006).
A análise da cobertura vegetal do subdistrito da Bela Vista deste trabalho encontrou índice de
cobertura vegetal bem maior do que o divulgado no Atlas Ambiental do Município de São Paulo de
0,3%. Essa diferença provavelmente ocorreu devido as diferenças nas metodologias utilizadas. O
estudo da cobertura vegetal realizado por Takiya (2002) utilizou imagens orbitais do satélite
LANDSAT 7, que generalizam a cobertura do solo oferecendo menor detalhamento para o
mapeamento.
Ainda sobre o método utilizado nesse estudo, as fotos aéreas oferecem maior resolução e/ou
maior detalhamento da cobertura do solo, sendo muito utilizadas para estudos intraurbanos (NUCCI,
2008).
IV. CONCLUSÕES
O índice de cobertura vegetal do Subdistrito da Bela Vista apresenta-se abaixo (9,02%) do
recomendado de 30% (OKE, 1973, apud NUCCI, 2008) e sua cobertura vegetal, com padrão de
distribuição geral no tipo “isolated” (JIM, 1989), apresenta, no detalhe, dois padrões distintos: um a
nordeste com menor cobertura vegetal caracterizado por árvores mais dispersas configurando uma
cobertura fragmentada e descontínua, mais semelhante à dos subdistritos próximos ao centro; e outra
mancha, a mancha noroeste, com uma maior abundancia de árvores e com maior grau de
conectividade, que se encontra mais próxima do subdistrito da Consolação, o qual apresenta índice de
cobertura maior.
Este baixo índice de cobertura vegetal associado a uma distribuição fragmentada desta
cobertura compromete a ação dos benefícios oferecidos pela vegetação no ambiente urbano, causando
danos à biodiversidade deste meio e às condições de qualidade ambiental que, por sua vez, influenciam
na qualidade de vida da população citadinas.
Este ICV agregado ao padrão fragmentado de distribuição da cobertura vegetal arbórea, sugere
que a qualidade ambiental do subdistrito da Bela Vista possa estar bastante comprometida sendo
recomendável para seu planejamento estratégias de recuperação desta cobertura.
V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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