estudo da auto-imagem de pessoas que freqÜentam aulas de...
TRANSCRIPT
1
UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO
Taya Perrone Gaspar Medeiros
ESTUDO DA AUTO-IMAGEM DE PESSOAS QUE
FREQÜENTAM AULAS DE DANÇA
Itatiba
2007
2
UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO
Taya Perrone Gaspar Medeiros/RA: 002200300132
ESTUDO DA AUTO-IMAGEM DE PESSOAS QUE
FREQÜENTAM AULAS DE DANÇA
Itatiba
2007
Trabalho de conclusão de curso, no curso de Psicologia, da Universidade São Francisco, sob a orientação da Profª Ms Katya Luciane de Oliveira, como exigência final para a obtenção do título de psicólogo.
3
Aos meus pais, João Carlos e Cristiane, meus
alicerces e grandes incentivadores;
À Cláudia Parolin, amiga, professora e fonte de
inspiração.
4
AGRADECIMENTOS
A realização desta pesquisa foi possível devido à disciplina, paciência e dedicação da
minha orientadora Professora Mestra Katya Luciane de Oliveira;
Ao amor e ao apoio irrestrito dado por toda a minha família, que cuidou para que nada
me faltasse e para que tudo corresse bem neste período;
Ao meu companheiro, Julio Cezar Gomide, por estar sempre presente, e por ser
compreensivo e tolerante;
A todo o incentivo recebido das amigas-irmãs Aline Gonzalez, Renata Benetti, Sandra
Geromin e Janine Gomes, que me fizeram perceber que o sonho era possível;
Ao amor incondicional que a minha Mestra Cláudia Parolin dedica à dança e às suas
alunas;
À Professora Dra. Maria Eugênia Scattena Radomile, por me mostrar a importância
daquilo em que eu sempre acreditei e a viabilidade do meu trabalho quando tudo dizia o
contrário;
E, por fim, à todas as pessoas, amigos, colegas, profissionais da dança e da psicologia,
que cruzaram meu caminho, com sutis, porém imensas contribuições acerca do tema
desenvolvido.
5
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS.................................................................................................... 06
LISTA DE FIGURAS..................................................................................................... 07
RESUMO....................................................................................................................... 08
APRESENTAÇÃO........................................................................................................ 09
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 10
Auto-imagem: Conceito e história ................................................................................ 10
Dança: História, Contemporaneidade e Auto-imagem ................................................ 13
OBJETIVO DA PESQUISA ........................................................................................ 20
MÉTODO ..................................................................................................................... 21
Local ............................................................................................................................. 21
Participantes ................................................................................................................. 21
Instrumentos ................................................................................................................. 21
Procedimento ................................................................................................................ 21
RESULTADOS............................................................................................................... 22
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO...................................................................................... 29
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 31
CRONOGRAMA............................................................................................................ 32
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 34
ANEXOS ........................................................................................................................ 37
6
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Distribuição dos resultados relativos à impressão presumida causada
a outras pessoas....................................................................................................
19
Tabela 2. Distribuição dos resultados relativos ao sentimento de adequação e
suavidade dos gestos e coordenação....................................................................
21
Tabela 3. Distribuição dos resultados relativos à satisfação com a própria
aparência, a sentir-se seguro de si e interessante..................................................
24
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Distribuição das respostas dos participantes quanto à conhecer bem
seu próprio corpo..................................................................................................
20
Figura 2. Distribuição das respostas dos participantes quanto à considerar-se
fora do peso..........................................................................................................
21
Figura 3. Distribuição das respostas dos participantes quanto à vontade de
mudar algo no próprio corpo................................................................................
23
Figura 4. Distribuição das respostas dos participantes quanto a aceitar o corpo
como ele é.............................................................................................................
23
8
RESUMO
Medeiros, T. P.G. (2007). Estudo da auto-imagem e sua percepção por pessoas que
freqüentam aulas de dança. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Psicologia, da
Universidade São Francisco. Itatiba, 41 p.
A auto-imagem se refere aos sentimentos e conhecimentos que se tem a respeito de si mesmo,
ou seja, a forma como o ser humano se vê e se percebe, influenciada pelas reações
emocionais, idéias a respeito de si próprio e das idéias que os outros têm a seu respeito, tanto
psicológica, quanto fisicamente, englobando, portanto, o auto-conceito e a imagem corporal.
O presente trabalho teve como objetivo levantar a percepção da auto-imagem das pessoas que
freqüentam aulas de dança, e fornecer subsídios a futuros estudos sobre a auto-imagem.
Participaram 20 pessoas, que estavam freqüentando aulas de dança em uma escola localizada
no interior de São Paulo. O gênero feminino representou 95% (n=19) da amostra. A média de
idade foi de 29 anos. O instrumento utilizado foi uma escala com 30 afirmações, criada para
avaliar qual percepção o indivíduo tem da auto-imagem. A participação dos estudantes foi
voluntária e a coleta de dados ocorreu de forma individual, em diversas sessões, na própria
escola de dança, na qual responderam à escala. Os dados apontaram que a maior parte da
amostra (90%, n=18) disse gostar da própria aparência, e também apontou que se considera
bonita. Poucos (5%, n=1) foram aqueles que disseram se incomodar com que os outros
pensam dele. Sugere-se que outros estudos sejam realizados, devido a limitação de amostra.
Palavras-chave: Consciência Corporal; Auto-conceito; Imagem Corporal; Psicologia;
Movimento.
9
APRESENTAÇÃO
As ciências humanas, apesar de, na atualidade, buscarem cada vez mais ter uma visão
holística do homem, ainda estão muito presas a uma visão dicotomizada do corpo e da mente.
Este trabalho busca trazer à luz do conhecimento características psicológicas, mais
precisamente, percepção da auto-imagem, de pessoas que, por variados motivos, e de
diferentes formas, procuraram explorar seus corpos pelo movimento e pelo ritmo
proporcionados pela dança.
Faz-se necessário deixar claro que este campo é vasto e necessita ainda de muitos
estudos e pesquisas. A psicologia tem se desenvolvido em diversos campos, deixando um
pouco esquecidas as áreas que consideram o ser humano como um todo, utilizando, por
exemplo, a arte-terapia, musicoterapia e trabalhos corporais como apoio ao processo
terapêutico, que podem facilitar o acesso às informações do paciente, sendo que a expressão
humana não se dá apenas de forma racional e por meio das palavras.
Este trabalho, portanto, serve como subsídio a futuras pesquisas e busca incentivar
pessoas, profissionais e estudiosos, a que procurem olhar corpos e mentes de maneira
integrada. Também visa entender a psicologia como um campo aberto e de infinitas
possibilidades de atuação, bem como incentivar que olhem a dança por um enfoque menos
técnico e mais interno, vivencial e terapêutico.
10
INTRODUÇÃO Auto-imagem: Conceito e história
Segundo o dicionário Dorsch de Psicologia (2001), o conceito de auto-imagem se refere
aos sentimentos e aos conhecimentos que se tem a respeito de si mesmo, ou seja, à forma
como o ser humano se vê e se percebe, influenciada pelas reações emocionais, idéias próprias
e alheias a respeito de si, tanto psicológica, quanto fisicamente, abrangendo, portanto, auto-
conceito, auto-conhecimento e imagem corporal. No que se refere à auto-imagem, esta nasce
das vivências próprias, bem como, da idéia que se faz da avaliação que os outros têm de si, ou
seja, a imagem que se imagina que os outros tenham de si. Esta imagem surge da percepção a
partir das relações interpessoais e se transfere para uma auto-imagem social comparada com a
própria auto-imagem.
Em primeira instância percebe-se que, ao se falar de auto-imagem, menciona-se tanto
o conceito de si mesmo, como de imagem corporal. Logo, a imagem corporal está ligada não
só às reações fisiológicas e neurológicas, mas também é influenciada pelas reações
emocionais, por exemplo, projetando a imagem que se forma do próprio corpo em outros
corpos (Barros, 2005).
No estudo da imagem corporal é reconhecida a influência de teóricos como Ambroise
Paré e seu conceito de membro fantasma, caracterizado como alucinações nas quais um
membro ausente estaria presente, ou seja, a pessoa continua tendo as sensações referentes a
um membro que já não existe mais, como um braço ou uma perna amputada. Outros teóricos
importantes nessa área são Weir Mitchell, que propôs ser possível haver mudança na imagem
corporal, Henry Head que introduziu a idéia de esquema corporal e demonstrou que fatores
como alterações posturais podem alterar tal esquema. Tal idéia foi desenvolvida por Paul
Schilder que veio a concluir que se pode modificar a percepção da imagem continuamente e
por influência de fatores cotidianos (Barros, 2005).
11
Schilder (1999) considera que os esquemas corporais são resultado da vivência do
corpo, ou seja, aquilo que se experiencia a respeito do corpo como um todo, com base na
realidade percebida, podendo ser chamados de imagem corporal, sendo, portanto, a imagem
tridimensional que todos têm de si mesmos, que existe na concepção de eu, mas não precisa
aparecer na consciência central. De acordo com Barros (2005), Schilder (1999) defende que a
imagem corporal não é, no entanto, apenas composta pela percepção de uma imagem de
corpo, abrangendo também uma carga emocional, considerando-se que a imagem sempre virá
relacionada com outros acontecimentos, dependendo sua formação, portanto, sempre de uma
personalidade que vivencia a situação.
No que se refere aos estudos sobre auto-conceito, foram desenvolvidos, a princípio,
sob um viés fenomenológico, passando por uma fase de lento desenvolvimento com o início
no Behaviorismo, que tinha seu foco em outras áreas do comportamento humano, voltando,
mais tarde, a serem pesquisados, sendo que, atualmente, sua investigação encontra-se em
ritmo de crescimento. Segundo Niedenthal e Beike (citados por Tamayo, 2001), auto-conceito
é a representação que os indivíduos produzem sobre si, na própria mente, da forma como se
definem e do que imaginam ou percebem sobre suas características pessoais, e que acabam
por determinar seu comportamento em meio à sociedade.
De acordo com Barros (2005), existem algumas importantes características da auto-
imagem que podem ser tratadas como principais, sendo elas: o fato de ser influenciada pelas
emoções, mudar constantemente, ser ligada ao autoconceito e influenciada também
socialmente e pela visão do mundo. Nesse sentido, Dalgalarrondo (2000) define imagem
corporal como a representação que cada um faz de seu próprio corpo, concordando com
Barros (2005) em que esta seria determinada ainda por motivos internos e externos, por
representações mentais do corpo adquiridas pela cultura e pela história de cada um, sendo
12
assim, a imagem corporal corresponderia à forma total de como o sujeito se vê e se organiza
psicologicamente.
Nesse sentido, Giós (2004) remete à importância da imagem corporal como um meio
de se aproximar da unidade corpo-mente, expondo que esta se forma não apenas pelas
vivências, sensações, percepções, mas, também, pela forma como se é sentido
emocionalmente, por meio da comunicação entre o consciente e o inconsciente. Vale ressaltar
a influência sofrida pelos padrões de beleza que são determinados pela sociedade na formação
da imagem corporal, que vai mudando com o decorrer do tempo.
No que se refere à imagem corporal, Cash e Pruzinsky (citados por Barros, 2005)
afirmam que esta é determinada socialmente e se refere às percepções, aos pensamentos e aos
sentimentos sobre o corpo e suas experiências, é uma experiência subjetiva. Desse modo, as
imagens corporais são consideradas multifacetadas, sofrendo mudanças em muitas dimensões,
e sendo sempre relacionadas a sentimentos sobre si mesmo, influenciando as relações
interpessoais e a maneira como se percebe o mundo. Segundo Barros (2005) as pessoas se
constroem a partir das atitudes, logo, neste processo também surge a imagem corporal, que
está ligada às emoções, e é destruída e reconstruída em busca constante de uma imagem e de
corpos ideais, que possibilitem o maior grau possível de satisfação.
Em relação à auto-imagem, Feldenkrais (1977) expõe que esta é composta por quatro
elementos, sendo eles o movimento, a sensação, o sentimento e o pensamento, todos presentes
em qualquer ação. A auto-imagem caracteriza o modo de ação, de forma que, para modificar
hábitos e ação é preciso alterar primeiro a imagem própria, trabalhando na mudança das
dinâmicas das reações e nas motivações, o que difere de uma substituição de um modo de
ação por outro.
A partir de uma perspectiva psicopatológica da auto-imagem, Dalgalarrondo (2000)
defende que existe no primeiro ano de vida da criança um momento em que esta consegue
13
fazer uma diferenciação entre o eu e o mundo exterior, diferenciação esta que antes não
existia, sendo que esta noção de eu estaria misturada com a da mãe. Essa percepção de que
algo existe fora do bebê, para Dalgalarrondo (2000), marca o início da consciência do eu, do
próprio corpo, o que seria o início da auto-imagem.
Dança: História, Contemporaneidade e Auto-imagem
Segundo Peto (2000), a dança existe desde os primórdios, quando não havia outras
formas de comunicação, ainda não se utilizava sequer a linguagem. Nessa época, a dança já
servia como instrumento de relacionamento, como ainda vem sendo considerado através dos
tempos. O autor afirma que a dança ajuda a exprimir o mundo interior, a melhorar a
percepção e o entendimento dos movimentos corporais e acaba por formar uma nova maneira
de exteriorizar as experiências do indivíduo, constituindo um modo de comunicação,
inclusive por meio da postura, consigo e com os outros.
As mais antigas atividades de culto foram compostas por movimentos, bem como a
missa de celebração cristã contava com orações dançadas, sendo a dança uma manifestação à
divindade, ligada, portanto, a um aspecto considerado sagrado. A dança clássica, por
exemplo, tem sua origem na antiguidade, quando era cultivada como parte de cerimônias
rituais, guardando, assim, um caráter místico e religioso, vindo, com o passar do tempo a
tomar caráter de arte (Wosien, 2000).
Outro bom exemplo de quão remotas podem ser as origens das danças pode ser
observado em Penna (1993) ao referir-se à criação da dança do ventre originada de rituais
sagrados anteriores a mais antiga civilização reconhecida historicamente, a dos sumérios. Tal
dança estaria ligada aos ritos de fertilização, em função de divindades femininas que
14
protegiam as águas, as terras, as mães e seus filhos, contudo, vale acrescentar que são
escassas as referências a estes rituais de dança em textos clássicos.
Em suas origens, uma das utilizações da dança era pelos sumérios, na reverencia a
Deusa Inana, almejando a prosperidade e a fertilidade representadas mitologicamente por seu
útero, em forma de vaso, no qual floresciam grãos, frutas e legumes. Os rituais eram dirigidos
por sacerdotisas que dançavam de maneira erótica, cantavam e declamavam poesias exaltando
as virtudes da Deusa. Isso ocorria numa época na qual não havia amparo médico, tecnologias
ou medicina preventiva que as preparasse para o parto, a dança fazia parte da vida das jovens
como um preparo para a vida sexual e para o parto (Penna, 1993).
A dança guarda em sua essência características que consideram o ser humano como
um todo. O método clássico da dança e sua disciplina são um caminho para o auto-
conhecimento exprimindo-se por meio de uma linguagem sem palavras, de forma que os
indivíduos podem expressar suas sensações por meio dela. A dança, desde a era palaciana até
a dança moderna, na Alemanha, e nas diferentes modalidades de dança sempre refletem os
fatos históricos e a cultura da época, ou seja, cada época constrói um estilo característico
(Wosien, 2000).
Nesse sentido, é possível citar, também, como exemplo a Dança Butô, criada no Japão
na década de 50. Tal modalidade de dança mistura teatro e dança, incluindo em seus
espetáculos temas como o nascimento, a morte, o inconsciente e o grotesco, fator que
confirma que a cultura e o contexto sociocultural influem na dança, considerando que a época
foi permeada por um contexto marcado pela repressão e agressão ocidentais (Nóbrega &
Tibúrcio, 2004).
Atualmente, baseando-se nas idéias de Almeida (1999) pode-se constatar que a visão
contemporânea da dança é influenciada pela cultura do corpo-vitrine e segue critérios
excessivamente técnicos e cerceados por um rígido padrão de beleza. Assim, as ciências, a
15
psicologia e a educação física ainda privilegiam a cisão corpo/mente, deixando o corpo em
lugar desvantajoso, ignorando a visão holística, ou seja, do ser humano como um todo, o que
acentua este dualismo (Almeida, 1999).
Nessa direção, Penna (1993) alega que a sociedade de consumo e até a indústria
farmacêutica têm trabalhado no sentido de modificar as funções naturais do corpo e da mente,
fabricando protótipos de pessoas que, teoricamente, seriam modelos de saúde, mas que
refletem a imagem de pessoas perfeitas e irreais. Tal fato acaba por criar um padrão que, para
muitos, é inatingível, acabando por gerar um grande desconforto emocional, físico e
psicológico, e, consequentemente, uma percepção negativa da auto-imagem.
Para Wosien (2000), na atualidade se consome música, e, por conseguinte, se pratica a
dança, que, muitas vezes, é produzida para um efeito instantâneo em uma massa de
consumidores, como uma mercadoria. Em tais aplicações da dança se pode reconhecer o que é
pertencente aos nossos dias, com uma forma orgânica distorcida e um ideal burguês de beleza
em ritmos selvagens, buscando compensar os ritmos mecânicos de trabalho e a tensão da
atualidade.
Schilder (1999) considera que o movimento e a dança são meios de modificar a rigidez
de um modelo postural, por utilizar reflexos posturais diferentes daqueles que utiliza-se no dia
a dia. A utilização de movimentos mais rápidos, relaxamentos ou tensões musculares, bem
como outros recursos corporais e rítmicos proporcionados pela dança, facilitam uma
modificação da estrutura corporal, visualmente ou cinestesicamente, alterando a imagem
corporal até mesmo pelo uso de roupas características, e acaba por atuar, também, na
modificação da atitude psíquica.
Penna (1993) expõe sua experiência como psicóloga clínica trabalhando com pacientes
que praticavam, na época, ou já haviam praticado a dança do ventre. A autora passou, então, a
considerar que os movimentos da dança estimulavam o inconsciente dos pacientes,
16
provocando sonhos e insights, e alterando também a percepção corporal das mulheres, tendo
um importante papel para o desenvolvimento somático e psicológico. Segundo Schilder
(1999), as alterações posturais ou qualquer movimento realizado são registrados no cérebro de
maneira que vai se alterando sempre, conforme o córtex cerebral, que fica responsável por
estabelecer uma relação entre movimentos, posturas e sensações, trabalha e novas posturas e
sensações vão sendo vivenciadas, gerando também novas reações psiquicas. O modelo
postural do corpo será a base de atitudes emocionais para com o corpo, estando em constante
auto construção e auto destruição interna.
Para Peto (2000), as vantagens da dança são inúmeras, destacando-se o fato de que
esta é um exercício lúdico que tem o papel de auto-massagear o corpo com os músculos, tanto
no sentido físico, palpável, quanto servindo também como uma massagem no mundo interno
do indivíduo. Aponta-se, também, a importância da postura como um reflexo do mundo
interno da pessoa, e as modificações que a dança provoca na postura.
Sob esse aspecto, Almeida (1999) considera grande a probabilidade de que uma
mudança na vivência corporal e uma apropriação adequada do corpo conduzem às
modificações da imagem corporal e das atitudes. Haveria, portanto, um aumento da
consciência corporal, sendo que o esquema corporal é constantemente modificado por
experiências sensório-motoras durante a vida.
Nesse sentido, diversos autores expõem suas experiências utilizando técnicas de
relaxamento em seus pacientes, partindo do princípio de que este utiliza dinamismos
conscientes e inconscientes, ajudando em processos de contato com seus conteúdos
inconscientes, emergir de sensações e consciência do próprio corpo. Tais relatos reforçam a
idéia de Almeida (1999) mostrando que os trabalhos corporais, incluindo a dança, os
alongamentos e os relaxamentos utilizados em aulas de dança, alteram aspectos psicológicos
dos indivíduos, como a auto-imagem (Sandor, 1982).
17
Segundo Wosien (2000), na atualidade mente e corpo não estão integrados. Foi
construído pelo homem um quadro racional e mensurável baseado nas ciências naturais e
originado também na sociedade industrial e de desempenho, quadro este que possui um
contraponto também pertencente ao ser humano, o incomensurável, no qual as funções do
movimento estão perturbadas haverá conseqüências nos comportamentos de vida, de forma
que a dança possui, então, grande potencial terapêutico, havendo uma interdependência entre
as funções do movimento e as funções psicofísicas.
Nesse sentido, Ávila (1997) defende que, para a psicossomática, não há uma cisão
entre o corpo e a mente, desligando-se, portanto, do conceito de que o corpo seria o exterior
que abriga em seu interior a mente. Considera-se, então, que o corpo e a mente permeiam-se
gerando uma continuidade aos processos humanos, interligando os fenômenos biológicos,
fisio-químicos, psíquicos, sociais e culturais.
Segundo Lowen (1979), o corpo seria o veículo pelo qual os indivíduos percebem a
realidade do mundo, e de acordo com o quão vivo está este corpo a pessoa virá a reagir mais
ou menos ativamente a esta realidade, ou seja, precisa haver sentimento no corpo para que
haja animação e intensidade, havendo claramente uma integração do corpo e da mente. Vale
ressaltar, portanto, a importância da interação entre corpo e meio ambiente, pois, a escassez
de sensações físicas e a falta de estímulos externos ou internos diminuem a auto-percepção
corporal.
Nessa perspectiva, Lowen (1979) afirma que a noção de identidade se origina de uma
sensação de contato com o corpo, da sensação de si próprio, de modo que a perda completa do
contato com o corpo vem a caracterizar o estado esquizofrênico. Para as pessoas sadias, por
sua vez, há um reconhecimento corporal, no qual o ego identifica-se com o corpo, porém a
confusão de identidade ocorre com a maior parte das pessoas desta cultura, quando esta
imagem de ego criada torna-se carente de significado.
18
Dascal (2005) aponta outro ponto importante, de que a dança afeta o corpo de formas
diferentes por meio de um movimento de fora para dentro, e quando se dá um movimento de
dentro para fora, concretiza-se a consciência corporal e o movimento expressivo. Contatos
com diversas formas de trabalhos corporais despertam sensações mais profundas, ampliando a
visão sobre o conteúdo de sua própria anatomia corporal. Sendo assim, o corpo e a mente são
integrados, e assim devem ser considerados no estudo da percepção do corpo e do
conhecimento de si mesmo (Sandor,1982; Almeida, 2005; Dascal, 2005).
A partir do estudo realizado por Peto (2000) acerca dos benefícios causados pela
prática da dança do ventre, se constatou que esta facilita o entendimento de conteúdos e
situações diversas que ocorrem com o corpo e a mente resgatando a auto-estima, modificando
a auto percepção, levando à valorização da vida, melhorando a saúde e a qualidade de vida
das mulheres que a praticam. Tal fato justifica a hipótese de que a dança do ventre, e também
a dança em geral, aplicada da maneira correta, pode levar a mudanças semelhantes incluindo
possíveis mudanças na auto-imagem, que integra o auto-conceito.
Cada modalidade de dança tem uma história e simbolismos próprios, que atuam
também na consciência de quem a pratica. De acordo com o estudo de Abrão e Pedrão (2005),
a dança é extremamente importante como meio de reflexão e possibilita a revisão de conceitos
acerca de si e do outro que podem levar a transformações, sendo então que, praticando a
dança, é possível se adquirir sensibilidade e, conseqüentemente, uma compreensão melhor da
realidade, incluindo a imagem que se constrói do próprio corpo.
Nessa perspectiva, a imagem corporal pode ser atribuída, em parte, às células do
córtex motor, que, por sua vez, ativa diferentes músculos do corpo. A auto-imagem está,
portanto, presente de formas diferentes ao longo da vida, estando, num primeiro momento,
representada por uma forte presença dos lábios e da boca, sendo estas as primeiras partes do
corpo de um bebê a estabelecer contato com o mundo externo. A partir daí vai se tomando
19
consciência de outras partes do corpo a partir de cada nova função exercida e, assim,
modificando-se a auto-imagem (Feldenkrais, 1977).
Segundo Feldenkrais (1977), a auto-imagem determina o modo como cada ser se
comporta e se posiciona em sua vida, a maneira como executa suas ações, inclusive as mais
simples e, para modificar as ações é necessário modificar a imagem própria. Tal mudança
compreende não só a alteração da auto-imagem por si só, mas alterações nas motivações e de
todas as partes do corpo relacionadas, logo, por meio do movimento seria possível, então,
transformar a auto-imagem.
A dança aplicada pedagogicamente da forma correta, propicia o desenvolvimento do
movimento, do espaço de execução do movimento, do ritmo, da ordem, da expressão, da
referência espacial, da referência de si e do outro. Ao dançar o homem arrisca exteriorizar,
exprimir e eliminar, com isto ele tenta relaxar e se organizar, reelaborar, logo, dançando as
pessoas se educam e formam-se a si mesmas (Wosien, 2000).
A dança é, portanto, uma das muitas formas de exprimir o mundo interior e
comunicar-se por meio do corpo, e, assim como as terapias corporais e outros trabalhos que se
utilizam da expressão corporal e dos movimentos de forma geral, opera no indivíduo em sua
totalidade, atuando no desenvolvimento de movimentos, na expressão e, possivelmente, nas
constantes modificações da imagem corporal e da auto-imagem. Dessa forma, é importante
que se busque conhecer mais sobre o indivíduo de maneira total, procurando olhar corpos e
mentes de maneira integrada, ampliando o entendimento sobre o ser humano, bem como as
possibilidades de atuação da psicologia.
20
OBJETIVO
Levantar a percepção da auto-imagem das pessoas que freqüentam aulas de dança, foi
o objetivo deste estudo.
21
MÉTODO
Local
A pesquisa foi realizada em uma escola de dança de uma cidade do interior de São
Paulo. Tratava-se de uma escola com 25 anos de tradição na cidade, porém mantendo moldes
de escola pequena, contando com duas salas de aula e cerca de 80 alunos. A escola oferecia
aulas de sapateado, jazz, balé clássico, hip hop e dança do ventre. Na ocasião da pesquisa o
quadro funcional era composto por seis professoras.
Participantes
Participaram 20 pessoas que freqüentavam aulas de dança em uma escola localizada no
interior de São Paulo. A média de idade foi de 29 anos. O gênero masculino representou 5%
(n=1) da amostra e o feminino 95% (n=19).
Instrumento
Foi utilizada uma escala contendo 30 afirmações acerca da auto-imagem, com respostas
dispostas em escala likert de 4 pontos (concordo totalmente, concordo parcialmente, discordo
parcialmente, discordo totalmente) às quais os participantes assinalaram com um x em apenas
uma alternativa de resposta (ANEXO 1).
Procedimento
Foi aplicada a escala, na sala de recepção da escola, em horário previamente
estabelecido. A coleta foi individual nos alunos que se dispuserem voluntariamente a
participar da pesquisa, expresso por meio do termo de consentimento livre e esclarecido
(ANEXO 2). Cada aplicação teve a duração aproximada de 20 minutos.Esta pesquisa foi
aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco, parecer número
47/07
22
RESULTADOS
Os dados foram organizados em planilha excel e submetidos à estatística descritiva,
conforme o objetivo deste estudo. No que se refere ao tempo de dança, observou-se que 35%
(n=7) freqüentavam aulas de dança há menos de um ano, 5% (n=1) freqüentavam aulas no
período de 1 a 5 anos, 25% (n=5) freqüentavam aulas no período de 6 a 10 anos, 10% (n=2)
freqüentavam aulas no período de 11 a 15 anos, 10% (n=2) freqüentavam aulas no período de
16 a 20 anos, 10% (n=2) freqüentavam aulas no período de 21 a 30 anos, e 5% (n=1)
freqüentavam aulas há mais de 30 anos.
No que se refere à modalidade de dança praticada, constatou-se que 25% (n=5)
freqüentavam somente aulas de jazz, 15 % (n=3) freqüentavam aulas de ballet, sapateado e
jazz, 10 % (n=2) freqüentavam aulas de sapateado e jazz, 15 % (n=3) freqüentavam aulas de
jazz e ballet, 15 % (n=3) freqüentavam somente aulas de dança do ventre, 5% (n=1)
freqüentavam aulas de ballet e sapateado, 5% (n=1) freqüentavam aulas de jazz e dança do
ventre, 5% (n=1) freqüentavam aulas de ballet e 5% (n=1) não responderam sobre que
modalidade de dança freqüentavam.
A primeira afirmação versou sobre gostar da própria aparência. Desse modo, 40%
(n=8) responderam que concordavam totalmente, 50 % (n=10) responderam que concordavam
parcialmente, 5% (n=1) responderam que discordavam parcialmente e 5% (n=1) responderam
que discordavam totalmente.
Questionou-se o fato da pessoa desejar ter uma aparência melhor. Assim, 30% (n=6)
responderam que concordavam totalmente, 25 % (n=5) responderam que concordavam
parcialmente, 30% (n=6) responderam que discordavam totalmente e 15% (n=3)
responderam que discordavam parcialmente.
23
Levantou-se sobre a pessoa gostar das formas do próprio corpo. A maior parte (65%;
n=13) respondeu que concordava totalmente, uma outra parte (20%; n=4) respondeu que
concordava parcialmente, uma outra parte (10%; n=2) respondeu que discordava
parcialmente, e uma pequena parcela (5%; n=1) respondeu que discordava totalmente.
As afirmações 9, 13, 19, 25 e 30 versavam sobre a impressão que os entrevistados
supunham que causavam nas outras pessoas, bem como sobre sua aceitação por parte dos
outros. A Tabela 1 apresenta os dados sobre a impressão presumida causada à outras pessoas.
Tabela 1. Distribuição dos resultados relativos à impressão presumida causada a outras
pessoas.
Afirmações
F e %
Concordo
Totalmente
F e % Concordo
Parcialmente
F e % Discordo
Parcialmente
F e % Discordo
Totalmente
Acho que causo boa impressão às pessoas. 14 70
6 30
0 0
0 0
Acho que a impressão que as pessoas têm
de mim é diferente da que eu tenho.
3 15
8 40
4 20
5 25
Quando em grupo, sinto-me constrangido
quanto ao que possam pensar de mim.
1 5
7 35
3 15
9 45
Gostaria de causar aos outros uma
impressão diferente da que eles têm de
mim.
2 10
6 30
1 5
11 55
Sinto que as pessoas me aceitam
exatamente como eu sou.
12 60
6 30
2 10
0 0
Uma afirmação abordou sobre a pessoa ter consciência do próprio corpo, suas formas e
proporções. Constatou-se que 80% (n=16) responderam que concordavam totalmente, 15 %
(n=3) responderam que concordavam parcialmente e 5% (n=1) responderam que discordavam
parcialmente.
24
Conhecer bem o próprio corpo também foi tema de investigação. A Figura 1 mostra a
distribuição das freqüências e porcentagens das respostas dos participantes.
5 %0 %0 %
35 %
60 %
0
18
36
54
72
CONCORDO
TOTALMENTE
CONCORDO
PARCIALMENTE
DISCORDO
PARCIALMENTE
DISCORDO
TOTALMENTE
NÃO RESPONDEU
20
15
10
5
0
Figura 1. Distribuição das respostas dos participantes quanto à conhecer bem seu próprio
corpo.
Ainda sobre a percepção corporal, levantou-se o aspecto da pessoa perceber com
facilidade dores, prazeres ou incômodos no próprio corpo. A maior parte (90%; n=18)
respondeu que concordava totalmente e uma pequena parcela (10%; n=2) respondeu que
concordava parcialmente.
Investigou-se a percepção da pessoa sobre considerar-se atraente. Desse modo, 55 %
(n=11) responderam que concordavam totalmente, 35 % (n=7) responderam que concordavam
parcialmente, 5% (n=1) responderam que discordavam parcialmente e 5% (n=1) responderam
que discordavam totalmente.
As afirmações 10, 11 e 21 versaram sobre o sentimento de adequação, a suavidade dos
gestos e a coordenação. A Tabela 2 apresenta os dados sobre como as pessoas se sentiam a
respeito de seus gestos e sua coordenação.
25
Tabela 2. Distribuição dos resultados relativos ao sentimento de adequação e suavidade dos
gestos e coordenação.
Afirmações
F e %
Concordo
Totalmente
F e % Concordo
Parcialmente
F e % Discordo
Parcialmente
F e % Discordo
Totalmente
Meus gestos são precisos e suaves. 9 45
7 35
3 15
1 5
Sinto que não tenho boa coordenação.
3 15
5 25
2 10
10 50
Os meus gestos são atrapalhados.
0 0
4 20
7 35
9 45
Averigou-se sobre a pessoa se considerar-se muito alto. Assim sendo, 5% (n=1)
responderam que concordavam totalmente, 10% (n=2) responderam que concordavam
parcialmente, 5% (n=1) responderam que discordavam parcialmente e 80% (n=16)
responderam que discordavam totalmente.
A percepção de se considerar fora do peso também foi abordada. A Figura 2 mostra a
distribuição das freqüências e porcentagens das respostas dos participantes.
55 %
25 %
0 %
20 %
0
15
30
45
60
CONCORDO
TOTALMENTE
CONCORDO
PARCIALMENTE
DISCORDO
PARCIALMENTE
DISCORDO
TOTALMENTE
20
15
10
5
0
Figura 2. Distribuição das respostas dos participantes quanto à considerar-se fora do peso.
26
Também se verificou a percepção sobre considerar-se muito baixo. Observou-se que 15 %
(n=3) responderam que concordavam totalmente, 30 % (n=6) responderam que concordavam
parcialmente, 10% (n=2) responderam que discordavam parcialmente e 45% (n=9)
responderam que discordavam totalmente.
Foi avaliado se a pessoa se considerava uma pessoa agradável. Assim sendo, 70% (n=14)
responderam que concordavam totalmente e 30% (n=6) responderam que concordavam
parcialmente.
Quanto à facilidade de comunicação, a maior parte (60%; n=12) respondeu que
concordava totalmente, uma outra parte (30%; n=6) respondeu que concordava parcialmente.
Apenas uma pequena parcela (10%; n=2) respondeu respectivamente que discordava
parcialmente ou discordava totalmente.
O fato de sentir-se à vontade para interagir em um grupo foi levantado. Observou-se que
60% (n=12) responderam que concordavam totalmente, 30% (n=6) responderam que
concordavam parcialmente e 10% (n=2) responderam que discordavam parcialmente.
Considerar-se capaz de aprender qualquer tipo de dança também foi alvo de investigação.
Evidenciou-se que 65% (n=13) responderam que concordavam totalmente, 25 % (n=5)
responderam que concordavam parcialmente e 10% (n=2) responderam que discordavam
parcialmente.
Foi questionado se a pessoa sentia que a dança operava em seu corpo e expressão. A
maior parte (90%; n=18) respondeu que concordava totalmente e uma pequena parcela (10%;
n=2) respondeu que concordava parcialmente.
A vontade de mudar algo no próprio corpo foi levantada. A Figura 3 mostra a
distribuição das freqüências e porcentagens das respostas dos participantes.
27
5 %
10 %
45 %
40 %
0
15
30
45
60
CONCORDO
TOTALMENTE
CONCORDO
PARCIALMENTE
DISCORDO
PARCIALMENTE
DISCORDO
TOTALMENTE
20
15
10
5
0
Figura 3. Distribuição das respostas dos participantes quanto à vontade de mudar algo no
próprio corpo.
O fato de aceitar o corpo como ele é foi investigado. A Figura 4 mostra a distribuição
das freqüências e porcentagens das respostas dos participantes.
5 %
20 %
65 %
10 %
0
18
36
54
72
CONCORDO
TOTALMENTE
CONCORDO
PARCIALMENTE
DISCORDO
PARCIALMENTE
DISCORDO
TOTALMENTE
20
15
10
5
0
Figura 4. Distribuição das respostas dos participantes quanto a aceitar o corpo como ele é.
28
As afirmativas 23, 27, 28 e 29 versaram sobre satisfação com a própria aparência e
sobre sentir-se seguro de si. A Tabela 3 apresenta os dados sobre como as pessoas se sentem
em relação a aparência, a segurança e a sentir-se interessante.
Tabela 3. Distribuição dos resultados relativos à satisfação com a própria aparência, a sentir-
se seguro de si e interessante.
Afirmações F e %
Concordo
Totalmente
F e % Concordo
Parcialmente
F e % Discordo
Parcialmente
F e % Discordo
Totalmente
Sou seguro de mim mesmo. 10 50
9 45
1 5
0 0
Sou uma pessoa bonita. 11 55
8 40
0 0
1 5
Se eu pudesse seria totalmente diferente do
que sou.
1 5
7 35
3 15
9 45
Considero-me uma pessoa interessante. 13 65
6 30
0 0
1 5
29
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
A auto-imagem compõe-se a partir das vivências próprias de cada indivíduo, bem como
da imagem que se imagina que os outros tenham de si, percebida a partir das relações
interpessoais. De acordo com a definição de auto-imagem do dicionário Dorsch de Psicologia
(2001), fica claro que esta se refere a diversos aspectos, abrangendo características também
inerentes ao auto-conceito, auto-conhecimento, auto-estima e esquema corporal, sendo,
portanto, bastante ampla abarcando os sentimentos a respeito de si, ou seja, a auto-percepção
resultante da construção da própria identidade a partir das vivências, reações emocionais,
idéias alheias presumidas a respeito de si, não só física, mas também psicologicamente, tendo
sido estas as características investigadas neste estudo.
Desse modo, observou-se que a maioria dos participantes relatou ter consciência do
próprio corpo, concordando total ou parcialmente com as afirmativas, relatando, ainda, que
percebe com facilidade as dores, prazeres e incômodos no próprio corpo. Também foi
possível perceber que os sujeitos da pesquisa, em sua maioria, consideram seus gestos e sua
coordenação, em geral, adequados e suaves. A maior parte dos sujeitos disse gostar da própria
aparência, das próprias formas, apesar de uma parcela significativa relatar que desejava ter
uma aparência melhor.
Sobre a imagem corporal e a aparência, grande parte dos sujeitos relatou aceitar seu
corpo da maneira como ele é. Com relação à altura, observou-se que uma pequena parcela da
amostra considera-se muito alta ou muito baixa, entretanto, mais da metade dos sujeitos
considera-se fora do peso. Fica evidente, também, o desejo dos sujeitos de mudarem algo em
seu corpo, apesar de aceita-lo. Segundo Barros (2005), ao falar de auto-imagem, aborda-se
inevitavelmente o conceito de imagem corporal que não está ligada somente às reações
fisiológicas e neurológicas, mas também às vivências e reações emocionais. Nesse sentido,
30
Schilder colabora com a idéia de que os esquemas corporais, que compõem a imagem
corporal, são resultantes da vivência do corpo, abrangendo, portanto, uma carga emocional.
A totalidade da amostra relatou considerar-se agradável, e boa parcela dos sujeitos se
considera segura de si, atraente, bonito e interessante. Ao avaliar a impressão presumida
causada a outras pessoas nota-se que esta é bastante positiva para a maioria dos sujeitos que
participou da pesquisa, de forma que 90% (n=18) relataram sentir-se à vontade para interagir
em grupo, tendo, também, facilidade de comunicação. Nessa direção, Feldenkrais (1977)
aborda que a auto-imagem está ligada diretamente ao modo como cada ser se comporta e se
posiciona em sua vida, inclusive à maneira como executa suas ações, de forma que mudanças
na auto-imagem podem vir a modificar comportamentos e a maneira de se movimentar, da
mesma forma que, a partir do movimento pode-se, então, modificar a auto-imagem.
Grande parte da amostra disse considerar-se capaz de aprender qualquer tipo de dança.
Em sua relação com a dança, os sujeitos revelaram que sentem que esta opera em seu corpo e
expressão. A dança, quando aplicada corretamente, pode proporcionar mudanças em diversos
aspectos de um ser humano, como o desenvolvimento do movimento, do ritmo, da expressão,
da referência de si e do outro, pois, segundo Wosien (2000) ao dançar tenta-se exteriorizar
conteúdos a partir da expressão, tornando-se possível reorganiza-los.
31
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Numa perspectiva nacional observa-se a falta de iniciativas públicas que
permitam uma maior socialização da dança entre a população, como forma não só de
difusão e inclusão cultural, mas também de prevenção em saúde mental. É
imprescindível estabelecer uma política social que venha suprir esta necessidade.
Na atualidade, a psicologia tem demonstrado uma tendência a ampliar suas
aplicações, porém, de acordo com o observado durante o levantamento de referências
para a realização desta pesquisa, foi possível notar uma escassez de material científico
referente à dança, ou ao movimento, relacionados às características psicológicas e ao
trabalho do psicólogo em geral. Percebe-se uma negligencia da importância da conexão
do corpo e da mente, fazendo-se, portanto, necessário ampliar os estudos nesta área,
realizando-se uma investigação minuciosa da dança e de inúmeras outras formas de
expressão corporal.
Outro ponto a se ponderar quanto à realização da pesquisa é a limitação da
amostra, devida à vinculação do estudo a uma instituição específica a fim de garantir sua
confiabilidade. Recomenda-se, portanto, que sejam realizados novos estudos acerca do
tema, porém com maior número de participantes.
Para que a investigação da dança relacionada a processos psicológicos como a
auto-imagem, a auto-estima, o auto-conceito e mesmo a saúde mental de forma geral,
possa contribuir de forma ainda mais abrangente para o desenvolvimento da psicologia,
sugere-se a realização de investigações longitudinais. Há que se investigar
profundamente tais características antes da prática e após determinado tempo de prática
de certos tipos de dança, de forma a levantar uma correlação entre tais formas de trabalho
corporal e o desenvolvimento emocional e psicológico.
32
CRONOGRAMA TOTAL DE EXECUÇÃO DA PESQUISA Etapa I - 8º semestre
ATIVIDADES 2006
AGO SET OUT NOV DEZ
01-15 16-30 01-15 16-31 01-15 16-30 01-15 16-31 01-15 16-30 01
Levantamento Bibliográfico
02 Definição do problema e objetivos
03 Elaboração Método
06 Elaboração termo consentimento
07
Elaboração plano análise de dados
08 Fechamento projeto
09 Envio ao comitê de ética
Etapa II - 9º semestre
ATIVIDADES 2007
JAN/FEV MAR ABR MAI JUN/JUL
01-15 16-30 01-15 16-31 01-15 16-30 01-15 16-31 01-15 16-30 01 continua
Levantamento Bibliográfico
10 Retorno provável da avaliação do comitê
11 Contato com o local onde a pesquisa será realizada
12 Coleta dados
13 Tratamento dos dados
33
Etapa III - 10º semestre
ATIVIDADES 2007
AGO SET OUT NOV DEZ
01-15 16-30 01-15 16-31 01-15 16-30 01-15 16-31 01-15 16-30 14 Elaboração da
discussão e conclusão
15 Elaboração das considerações finais
16 Feeback ao local de coleta
17 Formação da versão final do projeto
18
Apresentação banca
19 Fechamento
34
REFERÊNCIAS
Abrão A. C. P. & Pedrão L. J. (2005). A contribuição da dança do ventre para a educação
corporal, saúde física e mental de mulheres que freqüentam uma academia de ginástica e
dança. Revista Latino-Americana Enfermagem, 13(2),243-248.
Almeida, G. A. N., Santos, J. E. & Pasian , S. R. (2005). Percepção de tamanho e forma
corporal de mulheres: estudo exploratório. Psicologia Estudos, 10(1), 27- 35 [citado em 20 de
Outubro de 2006]. Disponível em World Wide Web<http://www.scielo.br
Almeida, L. H. H. (1999). Psicologia organísmica, a psicologia junguiana e a utilização de
desenhos: Uma reflexão para a educação física. Dissertação de Mestrado - Ciências da
Motricidade – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.
Ávila, L. A. (1997). A alma, o corpo e a psicanálise. Psicologia Ciência e Profissão, 17(3),
35-39.
Barros, D. D. (2005). Imagem corporal: a descoberta de si mesmo. História, Ciências, Saúde
– Manguinhos, 12(2), 547-554. [citado em 20 de Outubro de 2006]. Disponível em World
Wide Web<http://www.scielo.br
Dalgarrondo, P. (2000). Funções psíquicas compostas e suas alterações: consciência e
valoração do eu, esquema corporal e identidade. Em Psicopatologia e semiologia dos
transtornos mentais (pp.150-158) - Porto Alegre: Artes Médicas
35
Dascal, M. (2005). Eutonia “O saber do corpo”. Dissertação de Mestrado – Instituto de Artes
– Universidade Estadual de Campinas, Campinas. [citado em 06 de Novembro de 2006].
Disponível em World Wide Web<http://www.unicamp.br
Dorsch H. H. & Kurt H. S. (2001). Dicionário de Psicologia Dorsch Ries; Petrópolis: Vozes.
Feldenkrais, M. (1977) Consciência pelo Movimento – Novas buscas em psicoterapia (v.5.).
São Paulo: Summus.
Giós, N. M. (2004) Métodos de integração fisiopsíquica aplicados e obesidade.Monografia
para título de especialista em Métodos de Integração Fisiopsíquica Aplicados à Saúde e
Educação – IBEHE, São Paulo.
Lowen, A. (1979). O corpo traído – Novas busca em psicoterapia. São Paulo: Summus
Nóbrega, T. P., Tibúrcio, L. K. O. M. (2004). A experiência do corpo na dança buto:
indicadores para pensar a educação. Educação e pesquisa. São Paulo, 30(3). [citado em 26 de
Novembro de 2006]. Disponível em World Wide Web<http://www.scielo.br
Penna, L. C. (1993) Dance e Recrie o Mundo. São Paulo: Summus.
36
Peto, A. C. (2000). Terapia através da dança com laringectomizados: relato de experiência.
Revista Latino-Americana Enfermagem. Ribeirão Preto, 8(6), 35-39. [citado em 06 de
Novembro de 2006]. Disponível em World Wide Web<http://www.scielo.br
Sandor, P. (Org.). (1982). Técnicas de relaxamento (4 ed.). São Paulo: Vetor. Schilder, P. (1999). A Imagem do Corpo: As Energias Construtivas da Psique (3 ed.). São
Paulo: Martins Fontes.
Tamayo, A. (2001). A influência da atividade física regular sobre o autoconceito. Estudos
psicológicos, Natal, 6(2). [citado em 06 de Novembro de 2006]. Disponível em World Wide
Web<http://www.scielo.br
Wosien, B. (2000). Dança: Um caminho para a totalidade (Edição Maria-Gabriele Wosien).
Tradução Maria Leonor Rodenbach e Raphael de Haro Júnior. São Paulo: TRIOM.
37
ANEXOS
38
ANEXO 1
Esta escala contém afirmações acerca da auto-imagem, você deve respondê-las da forma mais sincera possível, encolhendo as alternativas conforme abaixo: CT - Concordo Totalmente DT - Discordo Totalmente CP - Concordo Parcialmente DP - Discordo Parcialmente
AFIRMAÇÕES
CT
CP
DT
DP
01
Gosto da minha aparência.
02
Considero-me uma pessoa agradável.
03
Gosto das formas do meu corpo.
04
Existem algumas coisas que eu gostaria de mudar no meu corpo.
05
Tenho consciência do meu corpo, suas formas e proporções.
06
Acho que estou fora do peso.
07
Considero-me atraente.
08
Percebo com facilidade dores, prazeres ou incômodos em meu corpo.
09
Acho que causo boa impressão às pessoas.
10
Meus gestos são precisos e suaves.
11
Sinto que não tenho boa coordenação.
12
Acho que sou muito alto.
13
Acho que a impressão que as pessoas têm de mim é diferente da que eu tenho.
14
Acho que sou muito baixo.
15
Tenho facilidade de comunicação.
16
Sinto-me à vontade para interagir com um grupo.
17
Sei que sou capaz de aprender qualquer tipo de dança.
Nome: Sexo: Idade Modalidade de Dança: Dança há
39
AFIRMAÇÕES
CT
CP
DT
DP
18
Acho minha aparência harmoniosa.
19
Quando em grupo, sinto-me constrangido quanto ao que possam pensar de mim.
20
Sinto que a dança opera no meu corpo e na minha expressão.
21
Os meus gestos são atrapalhados
22
Aceito meu corpo do jeito que ele é.
23
Sou seguro de mim mesmo.
24
Conheço bem o meu corpo.
25
Gostaria de causar aos outros uma impressão diferente da que eles têm de mim.
26
Desejo ter uma aparência melhor.
27
Sou uma pessoa bonita.
28
Se eu pudesse seria totalmente diferente do que sou.
29
Considero-me uma pessoa interessante.
30
Sinto que as pessoas me aceitam exatamente como eu sou.
40
ANEXO 2
TERMO DE CONSENTIMENTO ESCLARECIDO (1ª via)
Estudo da auto-imagem e sua percepção por pessoas que freqüentam aulas de dança
Eu _________________________________________________, RG_________________; idade _______;Endereço: ____________________________________________
abaixo assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para participar como voluntário do projeto de pesquisa supra-citado, sob a responsabilidade do(s) pesquisador(es) Katya Luciane de Oliveira e de Taya Perrone Gaspar Medeiros do curso de Psicologia-Itatiba, da Universidade São Francisco.
Assinando este Termo de Consentimento estou ciente de que:
1 - O objetivo da pesquisa é levantar a percepção da auto-imagem das pessoas que freqüentam aulas de dança, e fornecer subsídios a futuros estudos sobre auto-imagem, dança, consciência corporal e relação corpo-mente.
2- Durante o estudo responderei a uma escala sobre auto-imagem;
3 - Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a minha participação na referida pesquisa;
4- A resposta a este (s) instrumento(s)/ procedimento(s) poderão causar constrangimento;
5 - Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na pesquisa;
6 – Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos na pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos acima, incluída sua publicação na literatura científica especializada;
7 - Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco para apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa pelo telefone: 11 - 4534-8040;
8 - Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Katya Luciane de Oliveira , sempre que julgar necessário pelo telefone (11) 4534 8019;
9- Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu poder e outra com o pesquisador responsável.
Itatiba, .....de 200..
Assinatura:
41
TERMO DE CONSENTIMENTO ESCLARECIDO (2ª via)
Estudo da auto-imagem e sua percepção por pessoas que freqüentam aulas de dança
Eu _________________________________________________, RG_________________; idade _______;Endereço: ____________________________________________
abaixo assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para participar como voluntário do projeto de pesquisa supra-citado, sob a responsabilidade do(s) pesquisador(es) Katya Luciane de Oliveira e de Taya Perrone Gaspar Medeiros do curso de Psicologia-Itatiba, da Universidade São Francisco.
Assinando este Termo de Consentimento estou ciente de que:
1 - O objetivo da pesquisa é levantar a percepção da auto-imagem das pessoas que freqüentam aulas de dança, e fornecer subsídios a futuros estudos sobre auto-imagem, dança, consciência corporal e relação corpo-mente.
2- Durante o estudo responderei a uma escala sobre auto-imagem;
3 - Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a minha participação na referida pesquisa;
4- A resposta a este (s) instrumento(s)/ procedimento(s) poderão causar constrangimento;
5 - Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na pesquisa;
6 – Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos na pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos acima, incluída sua publicação na literatura científica especializada;
7 - Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco para apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa pelo telefone: 11 - 4534-8040;
8 - Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Katya Luciane de Oliveira , sempre que julgar necessário pelo telefone (11) 4534 8019;
9- Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu poder e outra com o pesquisador responsável.
Itatiba, .....de 200..
Assinatura: