estudo da aplicabilidade da vegetaÇÃo À arquitetura

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ESTUDO DA APLICABILIDADE DA VEGETAÇÃO À ARQUITETURA Kamila de Paula Morais [email protected] RESUMO: Este é um estudo direcionado as maneiras de aplicação da vegetação à arquitetura a partir de uma conscientização ambiental. Foram abordados aqui dois tipos mais usuais: o Telhado verde e a Parede verde. A utilização da vegetação em edifícios vem como uma alternativa para a redução dos efeitos climáticos causados principalmente em grandes cidades , onde a massa verde foi drasticamente desmatada para dar espaço às grandes construções. Para tal explicação, este trabalho discorrerá sobre o histórico dessa técnica, bem como quando a consciência ambiental entrou em discussão; quais as formas de aplicação e o processo de montagem, além de plantas adequadas para as construções. Sendo tudo isso exemplificado em projetos já construídos. Palavras-chave: Telhado verde, parede verde, jardim vertical, arquitetura verde 1. INTRODUÇÃO Arquitetura sustentável nunca antes foi tão comentada na história. Após comprovações científicas que o mundo será mais quente, arquitetos, engenheiros, geógrafos, cientistas e políticos estão indo atrás de alternativas pra tentar amenizar os efeitos climáticos gerados por anos de emissão de poluentes na camada atmosférica e destruições de matas por todo o planeta. A cidade já foi a expressão máxima de dominação do homem, hoje ela é a mais afetada pelas novas dinâmicas climáticas. Tornou-se parte do cotidiano das grandes metrópoles a penumbra cinza, causada pelo efeito estufa, geração de microclima urbano, ilhas de calor, inversão térmica, chuvas ácidas. O arquiteto Spangenberg (2008) explica que a impermeabilização do solo feita pela construção desordenada das cidades, do uso de materiais e formas não-adaptadas e o asfalto resultou em um baixíssimo percentual da cobertura vegetal, logo um aquecimento local das superfícies urbanas. Portanto, é por esse viés de integração de vegetação a arquitetura que este projeto de pesquisa de desenvolve. Será investigado duas maneiras de utilização da

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Autor: Kamila de Paula MoraisAno: 2011Artigo apresentado a disciplina de Trabalho de Conclusão de Tecnologia do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás - UEG, Anápolis/GO.

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ESTUDO DA APLICABILIDADE DA VEGETAÇÃO À

ARQUITETURA

Kamila de Paula Morais

[email protected]

RESUMO: Este é um estudo direcionado as maneiras de aplicação da vegetação à

arquitetura a partir de uma conscientização ambiental. Foram abordados aqui dois tipos

mais usuais: o Telhado verde e a Parede verde. A utilização da vegetação em edifícios

vem como uma alternativa para a redução dos efeitos climáticos causados

principalmente em grandes cidades , onde a massa verde foi drasticamente desmatada

para dar espaço às grandes construções. Para tal explicação, este trabalho discorrerá

sobre o histórico dessa técnica, bem como quando a consciência ambiental entrou em

discussão; quais as formas de aplicação e o processo de montagem, além de plantas

adequadas para as construções. Sendo tudo isso exemplificado em projetos já

construídos.

Palavras-chave: Telhado verde, parede verde, jardim vertical, arquitetura verde

1. INTRODUÇÃO

Arquitetura sustentável nunca antes foi tão comentada na história. Após

comprovações científicas que o mundo será mais quente, arquitetos, engenheiros,

geógrafos, cientistas e políticos estão indo atrás de alternativas pra tentar amenizar os

efeitos climáticos gerados por anos de emissão de poluentes na camada atmosférica e

destruições de matas por todo o planeta.

A cidade já foi a expressão máxima de dominação do homem, hoje ela é a mais

afetada pelas novas dinâmicas climáticas. Tornou-se parte do cotidiano das grandes

metrópoles a penumbra cinza, causada pelo efeito estufa, geração de microclima urbano,

ilhas de calor, inversão térmica, chuvas ácidas. O arquiteto Spangenberg (2008) explica

que a impermeabilização do solo feita pela construção desordenada das cidades, do uso

de materiais e formas não-adaptadas e o asfalto resultou em um baixíssimo percentual

da cobertura vegetal, logo um aquecimento local das superfícies urbanas.

Portanto, é por esse viés de integração de vegetação a arquitetura que este

projeto de pesquisa de desenvolve. Será investigado duas maneiras de utilização da

vegetação em favor das soluções ambientais em construções: Telhados verdes e Paredes

verdes. E quando se refere à vegetação em comunhão com arquitetura, algumas

palavras-chave vêm à mente: jardim-vertical, ecoparede, parede verde, terraço-jardim,

telhado verde, ecotelhado, além de arquitetura ecológica, arquitetura verde,

bioarquitetura; as quais serão devidamente conceituadas durante o trabalho.

É importante dizer que o uso da vegetação até pouco tempo atrás não era bem

vista, pois, embora ela seja uma proteção, ela também causa estragos, encobre, gera

custos e sensação de riscos. Hoje ela é vista como “elemento da moda e excelente

argumento de venda” (SPANGENBERG, 2008). Isso porque, estudos comprovam que a

natureza traz relaxamento e renovação espiritual, revertendo às sensações de cansaço e

estresse diário sofrido nas grandes cidades (KREBS, 2005). Além de conseguir absorver

a poluição do ar.

2. HISTÓRICO

Alguns autores consideram que a integração da vegetação à arquitetura possui

uma tradição bastante antiga, datada no século VI a.C.: os Jardins Suspensos da

Babilônia. Possivelmente, essa construção foi a precursora do uso de coberturas vivas,

as quais foram amplamente difundidas pelo Império Romano(KOHLER et. al., 2001

apud KREBS, 2005). Permanece nas arquiteturas vernaculares européias há poucos

séculos, utilizando tradicionalmente a vegetação nas coberturas e nas paredes em

conjunto com a terra como um excelente regulador térmico, conseguindo resultados

satisfatórios tanto em climas quentes como em frios (MINKE, 2004).

A sistematização dessa técnica veio com a arquitetura moderna produzida por Le

Corbusier, quem incentiva o uso de telhados-jardins dentro dos cinco pontos formulados

por ele em 1927 (MACIEL, 2002), trabalhando em favor de um conforto ambiental. A

Alemanha foi a primeira a se dedicar nos estudos da utilização da vegetação na

arquitetura com o objetivo de preservação das águas e da energia, a partir da década de

1950 (PECK, 1999 apud SILVA, 2011). Desde então, arquitetos e estudiosos vem

trabalhando para inserir a vegetação à arquitetura por meio da consciência ecológica.

No Brasil, o edifício pioneiro na utilização de telhados verdes foi obra de Lúcio Costa,

Burle Marx e entre outros importantes: o edifício do Ministério da Educação e Saúde,

no Rio de Janeiro, em 1943 (KREBS, 2005). Destaque a Burle Marx, responsável pelo

paisagismo do terraço-jardim, e idealizador da técnica em verticalizar a vegetação,

construindo paredes verdes, no início do século XX (JARDIM VERTICAL, 2011).

3. PROBLEMAS AMBIENTAIS

A consciência ecológica entrou realmente em discussão a partir da década de

1960, quando o mundo percebeu que a Terra não suportaria a intensidade de agressão

que vinha recebendo. Em 1987, a ONU lança o relatório “Nosso futuro comum”,

trazendo pela primeira vez o conceito de desenvolvimento sustentável. “Uma maneira

de evitar que o crescimento econômico venha agredir violenta e irreparavelmente os

ecossistemas naturais” (LUCCI, 1997). O que, claro, não aconteceu, os problemas

ambientais se tornavam crescentes. Poluição atmosférica, redução drástica das áreas

verdes, produção de calor pelos motores dos veículos e pelas indústrias, grande

verticalização das áreas centrais e enorme concentração de asfalto e concreto, todos

esses fatores contribuíram para vários efeitos climáticos negativos a cidade:

Microclima, efeito estufa, Ilhas de calor, inversão térmica e aquecimento global,

destacadas por Lucci (1997)

A realidade vivenciada pelas grandes zonas urbanas é a poluição. Minke (2004)

cita que a cidade tem até 15% menos de horas insolação direta e de 30 a 100% maior

freqüência de nevoeiros. O cientista inglês James Lovelock (2006 apud

SPANGENBERG, 2008) prevê que em 2040, “a maioria das regiões tropicais, incluindo

praticamente todo território brasileiro, será demasiadamente seca”. Isso porque, grosso

modo, mudamos a superfície do planeta de verde (matas), para cinza (cidade).

Spangenberg (2008) afirma ainda que caso essa previsão aconteça, os primeiros lugares

que serão evacuados são as cidades ocasionado pelo desconforto e o estresse térmico.

O autor levanta uma causa primordial: o planejamento do uso do solo. Sylvia

Rola (2005 apud VILELA, 2005), arquiteta e pesquisadora sobre sistema de telhados

verdes pela UFRJ, afirma que embora a cidade tenha uma quantidade adequada de área

verde por habitante – como acontece no Rio de Janeiro, onde possui uma taxa de 57,4

m²/habitante, muito maior que o percentual mínimo de 12 m²/habitantes –, ainda é

possível observar a presença de ilhas de calor em certos pontos da cidade devido à falta

de vegetação nestes locais. A concentração de áreas verdes, portanto, deve ser

homogênea para que toda a cidade possa sentir os benefícios da vegetação.

3.1. Vantagens da utilização da vegetação nas edificações

Segundo Spangenberg (2008), a tão importante massa verde age como um

regulador climático fundamental, tornando a superfície mais fria através do equilíbrio

hídrico e energético. “A vegetação absorve, filtra, retém e armazena todos os impactos

naturais e também aqueles gerados pelo homem e danosos para nós mesmo”, afirma o

autor.

Para comprovar a eficiência da vegetação, Spangenberg (2008) expõe um

gráfico que faz a medição da temperatura superficial com vários materiais através de um

equipamento de radiação infravermelha, sem contato, feitas por ele no bairro da Luz,

região central de São Paulo, em 2006. O asfalto no sol chega a 50ºC, a pedra portuguesa

no sol chega um pouco mais de 40ºC, enquanto a folha de Ipê no sol chegou a no

máximo a 20ºC. (Fig.1)

Logo, quando são utilizadas em conjunto com as edificações, seja como

cobertura verde ou parede verde, além de influir no melhoramento do clima local,

também ajudam no isolamento térmico, no armazenamento de calor do edifício e

isolamento acústico. E, também, a longo prazo, acabam sendo mais econômicos que os

revestimentos convencionais (MINKE, 2004).

Sobre as vantagens assinaladas por Minke (2004) sobre a utilização da

vegetação, é possível citar: a produção de O2 e absorção de CO2; filtragem das

partículas de poeira e sujeira do ar; evita o superaquecimento das camadas; reduz as

variações de temperatura; eficiente conforto térmico e acústico; absorvem a água e

aliviam as redes pluviais; esteticamente agradáveis influem no bem estar; e entre outras.

Fig 1 – Medição de temperaturas superficiais por equipamento de radiação infravermelha, sem contato, feitas no bairro da Luz, região central de São Paulo (19.12.2006) Fonte: (SPANGENBERG, 2008)

3.1.2. Aspectos psicológicos relacionados ao uso de vegetação

É notável a importância da vegetação tanto na escala urbana quanto

arquitetônica. A proximidade com o verde produz uma ligação com o campo, sensação

de bem estar, o que explica a super valorização dos Condomínios fechados hoje, pois,

contrários aos centros urbanos, seu sucesso está na criação espaços bucólicos e

campestres. Estudiosos conseguem perceber que a vegetação afeta o poder de

concentração, evocam atenção involuntária acionada por algo interessante no ambiente,

interrompe a monotonia das cidades, isso porque há uma mudança na paisagem, e

também com relação às cores, que trazem relaxamento e renovação. São instantes de

serenidade na rotina acelerada dos habitantes (SATTLER, 2003 apud KREBS, 2005).

Caracterizam os espaços da cidade por suas formas, cores e modo de agrupamento; são

elementos de composição e de desenho urbano ao contribuir para organizar, definir e até

delimitar esses espaços (MASCARO, 2002 apud KREBS, 2005).

4. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS: ARQUITETURA VERDE, ARQUITETURA

ECOLÓGICA E BIOARQUITETURA

No que se refere à vegetação integrada a arquitetura, muitos são as

nomenclaturas usadas confusamente: arquitetura ecológica, arquitetura verde,

bioarquitetura. Essas novas derivações surgiram do conceito de arquitetura sustentável,

a qual Mülfarth (2002) define como sendo “uma busca de maior eficiência econômica e

um menor impacto ambiental nas soluções adotadas nas fases de projeto, construção,

utilização, reutilização e reciclagem da edificação, visando à distribuição equitativa da

matéria-prima”.

Portanto, notavelmente, os conceitos de Arquitetura Ecológica e Arquitetura

Verde derivam da mesma semântica de arquitetura sustentável, com maior ênfase a

busca por uma harmonia com o meio ambiente, através de seus elementos sustentáveis,

seja vegetação ou não. Ou seja, todas são arquiteturas sustentáveis, até mesmo a

Bioarquitetura, porém, esta possui suas especificidades.

Gernot Minke, em uma entrevista dada a Santucci (2008), explica que

Bioarquitetura “são construções que utilizam materiais naturais, do local e clima”.

Utiliza-se de técnicas que causam o mínimo impacto ambiental possível. Parte da

análise do ciclo de vida de cada material, para que obter dados sobre os impactos que

causa à natureza e à saúde humana, sendo possível tomar decisões conscientes e

comprometidas com o meio ambiente e com as gerações atuais e futuras. Contudo, não

há uma nomenclatura específica para construções com vegetação, conclui-se que está

técnica faz parte de uma arquitetura dita sustentável, pelas suas vantagens ecológicas.

5. FORMAS DE APLICAÇÃO

5.1. Telhado Verde

Os telhados verdes possuem diferentes nomenclaturas: ecotelhado, terraço-

jardim, cobertura verde, cobertura viva, naturação (VILELA, 2005). Todas elas

referem-se ao uso de vegetação na cobertura das edificações.

Minke (2004) levanta alguns aspectos gerais que devem se analisar para projetar

um telhado verde: a densidade da folha, a inclinação do telhado, tipo de paisagismo, o

peso, altura do telhado e orientação solar, o transporte e colocação do substrato, a

utilidade, e por último, a drenagem. Sobre alguns desses aspectos, ele avalia que quanto

maior a quantidade de superfície de folhagem maior desempenho teria quanto à limpeza

do ar, formação de orvalho e isolamento térmico.

Outra questão é a inclinação do telhado, ela definirá o tipo de vegetação que será

adequada. O mesmo autor aconselha no mínimo 5% de inclinação para que evite água

empoçada que é prejudicial à respiração de certas plantas, e não precise de uma

drenagem especial.

Quanto ao tipo de paisagismo, Krebs (2005) e Minke (2004) classificam em

coberturas intensivas (ou ajardinadas) e extensivas (ou ecológicas). Levando em conta a

espessura da camada de substrato, os tipos de plantas e a necessidade de manutenção. A

diferença é que a cobertura intensiva abriga plantas herbáceas e arbustivas, por isso

requer um substrato superior a 20 cm, cuidados mais específicos e maiores custos. São

lugares para permanência, por isso a cobertura deve ser plana, como o terraço-jardim do

edifício do Ministério da Cultura e Saúde. Já a cobertura extensiva abriga plantas

resistentes e que necessitam de mínimo cuidado: musgos, suculentas, ervas ou grama.

Seu substrato chega ao máximo de 10 cm, e podem ser executadas tanto em coberturas

planas quanto inclinadas (KREBS, 2005; MINKE, 2004). Há também uma variação

entre os dois tipos, denominado cobertura semi-intensiva (SILVA, 2011). (Tab. 1)

Segundo Krebs (2005), as mais utilizadas são as coberturas vivas extensivas,

pois são mais leves, exigem menos manutenção que as outras e possuem baixos custos.

Mas possuem uma estética parecida com mato desordenado. Christel Kappis (s.d. apud

VILELA 2005), especialista do Instituto de Ciências Agrárias e Projetos em Ecologia

Urbana da Universidade Humboldt de Berlim, defende que o objetivo desta técnica está

voltado para o alto potencial na produção de efeitos ecológicos, e não para o uso destes

espaços como jardins. As coberturas vivas não são feitas para as pessoas transitarem,

apenas por motivo de manutenção, caso deseje, é necessário construir um passeio,

conclui Minke ( 2004).

Para telhados planos e inclinados, há diferente composição. Segundo Minke

(2004), nos telhados verdes planos com grama, precisará ter uma capa de drenagem e

duas camadas de substrato: (Fig. 2)

1. A camada superior ou camada de suporte da vegetação possui o solo nutritivo e dá

apoio para as raízes;

2. A camada inferior ou camada de drenagem serve para direcionar e armazenar a água.

Ambas separadas por uma camada de filtro, geralmente feita em feltro,

impedindo que parte do solo se transforme em lama e escorra pela drenagem.

Tab. 1 – Características dos tipos de telhado verde Fonte: SILVA, 2011

Já nos telhados verdes inclinados a partir de 5%, não a necessidade de duas

camadas de substrato, por isso é mais simples e mais barata. A camada de suporte da

vegetação é agregada a partículas de minerais porosos, produzindo um efeito de

drenagem eficiente (MINKE, 2004). (Fig. 2)

Segundo Pereira (2007) apud Silva (2011), quanto aos sistemas de aplicação e

construção, os telhados verdes estão divididos em três tipos básicos: aplicação contínua,

em módulos pré-elaborados e aérea. A aplicação contínua é a mais utilizada, onde o

substrato é aplicado diretamente sobre a base impermeabilizada com todas as outras

diferentes camadas. A aplicação em módulos pré-elaborados, empresas especializadas

desenvolvem pequenos módulos prontos compostos de bandejas rígidas, substrato e

com a vegetação já crescida, aplicada através de um sistema de encaixe. Já a aplicação

aérea há uma separação da vegetação da sua base, ou seja, a vegetação cresce, por

exemplo, sobre uma tela metálica que servirá de base para o seu desenvolvimento. Este

sistema também é adequado para construção de paredes verdes.

5.2. Parede Verde

Parede verde, também, chamada de Jardim vertical, fachada verde ou ecoparede,

é uma técnica um pouco mais independente na parte construtiva, pois não influem tanto

na estrutura da edificação, dependendo da forma como o arquiteto aplica em sua

Fig 2 – À esquerda: construção de um telhado verde plano com substrato de duas camadas. À direita: construção de um telhado verde inclinado com substrato de uma camada. Imagem modificada pelo autor Fonte: MINKE, 2004

arquitetura. Por exemplo, a empresa Ecotelhado (2010) é especialista em “infraestrutura

verde”, a qual desenvolve módulos pré-fabricados para aplicação tanto em coberturas

quanto em paredes. Porém, é possível perceber que os próprios arquitetos estão

desenvolvendo sua própria técnica de aplicação de vegetação às paredes, como no caso

do edifício Harmonia 57, do escritório Triptyque, que será comentado no capítulo 6.

A Ecotelhado (2010) aplica a vegetação em duas formas: Brise vegetal ou

fachada verde (Fig. 3) e Ecoparede, parede verde ou jardim vertical (Fig. 4).

O tipo Brise vegetal ou fachada verde abrigam plantas do tipo trepadeiras

cultivadas em contanieres, que se repetem a cada andar e a partir daí são conduzidas e

interligadas por cabos de aço inoxidáveis. Os cabos condutores ficam espaçados a cerca

de 60 cm do prédio, permitindo a abertura das janelas sem interferência. Não necessita

de intensa manutenção e é indicado para qualquer altura de prédio. Deve estar previsto

em projeto acesso para eventuais podas e outros tratos se necessário (janela ou visita,

quando for parede cega).

Fig. 3 – À esquerda: componentes de um Brise vegetal produzido pela empresa Ecotelhado; À direita: o Brise vegetal Fonte: ECOTELHADO, 2010

Fig. 4 – À esquerda: componentes de um Jardim vertical produzido pela empresa Ecotelhado; À direita: o Jardim Vertical Fonte: ECOTELHADO, 2010

O tipo Ecoparede, parede verde ou ainda jardim vertical utiliza-se de um sistema

modular composto de perfis verticais e horizontais, que sustentam módulos previamente

vegetados. Necessita ser instalado como um sistema de ferti-irrigação. Pode comportar

uma grande variedade de plantas dentre as de pequeno porte. Normalmente, a

Ecoparede exigem um pouco mais de manutenção do que o sistema anterior, sendo

importante prever em projeto a forma de acesso (ECOTELHADO BLOG, 2010).

Este consiste em um sistema de revestimento de parede com vegetação,

suportada por um perfil “U” zincado onde são dispostos os módulos de containers pré-

vegetados. De acordo com Ecotelhado (2010), esses módulos também podem vir como

o modelo de floreira, chamado de canguru, com suporte para plantar a vegetação.

5.3. Telhado verde x Parede verde

Embora as vantagens da utilização da vegetação sejam as mesmas tanto nas

coberturas quanto nas paredes, existem certas funções que só os telhados poderão atuar,

como no caso da captação de águas das chuvas, devido ao seu posicionamento mais

horizontal.

Sobre o conforto térmico, Silveira (2004) apud Krebs (2005), mede o nível de

insolação direta sobre a superfície, denominado de carga térmica. A autora afirma que

as coberturas recebem o dobro de carga térmica que as paredes. São 12 horas em média

referentes à primeira, contra, 5,5 a 6 horas referentes à segunda. Este estudo foi feito em

cidades da região sul do Brasil, logo, pode-se concluir que as coberturas verdes

conseguem ser mais eficientes sobre as questões ambientais do que as paredes verdes.

5.4. Plantas mais utilizadas

Para escolha da vegetação adequada para a construção, Minke (2004) cita alguns

critérios que devem ser levados em conta, como: espessura do substrato, inclinação do

telhado, orientação solar, sombra, quantidade de precipitações na região, resistência ao

clima, altura de crescimento, pontos de floração e entre outros.

Para paredes verdes do tipo Brise vegetal costuma-se utilizar trepadeiras que se

divide entre as que auto-suportam – como a falsa vinha e unha de gato – e as que

Fig. 12 – Casa ecológica “Am Wassertum 1”, Kassel, Alemanha Fonte: MAHLKE, 2007

Fig. 12 – Estrelinha dourada (Sedum acre), Bulbine (Bulbine frutescens), Rosinha de sol (Aptenia cordifólia), Lírio dos ventos (Zephyranthes candida), Capim azul (Festuca glauca) Fonte: SILVA, 2011

necessitam de suporte, como jasmim dos poetas, madressilva, mandevilas e outras.

Podem ser usadas também plantas frutíferas e ortaliças (ECOTELHADO, 2010)

Para telhados verdes, seguem algumas plantas:

6. EXEMPLOS PRÁTICOS

6.1. Gernot Minke – Casa ecológica “Am Wassertum 1”, Kassel, Alemanha

Construída em 1985, com

intenção de trazer para o primeiro

mundo o uso de materiais de baixo

custo, tal como o barro, sem perder a

estética. É um edifício residencial de

casas geminadas, unidas entre si pela

forma octogonal. O telhado verde

chega até o solo em algumas partes e a

fachada possui plantas trepadeiras.

Tem-se a impressão de que o edifício

surgiu de um morro de terra. Apesar da aparência sombreada, Minke conseguiu deixar

os ambientes com uma luminosidade boa e agradável. O que dependeu também dos

materiais utilizados para construir e revestir as paredes – adobe e madeira.

6.1. Gernot Minke – Casa ecológica “Am Wassertum 17”, Kassel, Alemanha

Construída em 1992, no mesmo local da primeira casa, um edifício residencial

feito nos princípios do bairro – adobe, madeira e telhado verde. A forma da casa é feita

por cúpulas de diferentes tamanhos com iluminação zenital no topo de cada uma delas.

Fig 13 – Casa ecológica “Am Wassertum 17”, Kassel, Alemanha Fonte: MAHLKE, 2007

Fig. 14 – ACROS Fukuoka Fonte: GREENPACKS, 2008

Essas cúpulas foram feitas de adobe, as

grandes tem espessura de 20 cm e as

pequenas, 11,5 cm. Em seu exterior, as

elas são protegidas com manta asfáltica,

sobre o qual colocaram uma manta de

isolante térmico de lã mineral e por

último, o telhado verde.

6.1. Emílio Ambasz – Acros Fukuoka,

Fukuoka, Japão

Em 1994, o edifício Acros

Fukuoka foi construído para ser um

prédio multifuncional com programa

que abrangia sala de auditório, salas

comerciais, escritórios, entre outras

funções públicas, localizado no centro

da cidade Fukuoka, pelo arquiteto

Emílio Ambasz. É um prédio de duas

faces. A fachada frontal, voltada para

rua, é toda envidraçada como qualquer

outro prédio comercial. Já a fachada

posterior, voltada para o parque, é escalonada em 16 degraus que sobem até o topo do

prédio, há uma altura de 60 m, todo coberto por vegetação (GREENROOF, 2010)

Na cobertura se desenvolve um enorme terraço-jardim para ser a continuação do

parque Tenjin Cental, o telhado verde do edifício Acros Fukuoka possui uma área de

5400 m², uma das maiores instalações de telhado verde no país. Quando foi construído,

havia 76 variedades de espécies, totalizando 37 mil plantas. Desde então, o número de

variedades de espécies pulou para 120, totalizando 50 mil plantas no jardim, devido às

sementes trazidas por pássaros e ventos naturais, conta no site oficial do prédio. O

telhado verde é aberto ao público, são dois acessos pelo parque, não há acesso pelo

prédio. E é aberto em horários variados dependendo da estação do ano, como consta no

site oficial do prédio.

Fig. 16 – Harmonia 57 – Sistema de Irrigação aparente Fonte: DEZEEN, 2007

6.1. Triptyque – Harmonia 57, São Paulo, Brasil

Construída em 2008, pelo escritório franco-brasileiro Triptyque e localizado na

Vila Madalena em São Paulo. O prédio possui um sistema de drenagem que captam,

tratam e reutilizam as águas das chuvas e do solo para irrigação das plantas. A tubulação

que serve a todo o prédio – assim como as bombas e sistema de tratamento e

reutilização – estão aparentes nas paredes externas (CONCURSO DE PROJETOS,

2009).

Os materiais utilizados para a construção de todo o prédio foi concreto, metal e

vidro. Já para a estruturação das paredes verdes, foi usada parede dupla de concreto

armado, na parte interna, e concreto

orgânico, na parte externa. A parede de

concreto orgânico possui poros preparados

para receber a vegetação que cobrirá todas

as superfícies de fachadas. As plantas

foram escolhidas de acordo com o clima

local e com o intuito de associar

características distintas de diferentes

plantas.

Essa parede dupla coberta de

vegetação e seu sistema de irrigação

garantem o conforto térmico e acústico no

interior do “edifício vivo” (AZEVEDO,

2011). Segundo os arquitetos, o objetivo

desses sistemas não era criar um edifício

ecológico, e sim uma estrutura "viva", que

se transformasse ao longo do tempo.

7. CONCLUSÃO

Hoje como nunca na história, o uso de vegetação na arquitetura vem sendo tão

difundida. Suas vantagens já são comprovadas por vários estudiosos e suas maneiras de

aplicação são cada vez mais eficientes e com menos manutenção, tudo para oferecer à

cidade uma aplicabilidade que não gera transtorno e sujeira. Várias cidades estão

criando leis de incentivo e obrigatoriedade ao uso de telhados e paredes verdes em suas

construções. São Paulo e Cingapura são exemplos disso.

Buscando trabalhar gestão ambiental juntamente às novas construções, alguns

projetos estão buscando atender requisitos do selo LEED, certificado concebido a

edifícios verdes (edifícios sustentáveis). Observando criteriosamente todos os pontos

destacados neste estudo, os telhados e paredes verdes, como sistema construtivo, são

uma opção eficaz para o problema ambiental mundial. E quando estão em conjunto com

outros métodos sustentáveis, a eficiência energética da construção pode elevar-se ainda

mais.

Esta técnica tem consigo uma vantagem da qual nenhuma outra consegue

oferecer: qualidade de vida e bem estar. As cidades se tornam ambientes mais

interessantes e habitáveis, recuperando espaços e trazendo o benefício da convivência

com animais e flores. Nesse sentido, profissionais da construção civil tem o

compromisso com o meio ambiente, indicando e buscando conhecer ações que

potencializem a recuperação e o equilíbrio do meio nos grandes centros. É preciso que

todos estejam em harmonia com a natureza, para que os efeitos climáticos se revertam.

Embora, de início a aplicação da vegetação a arquitetura seja um acréscimo no

custo da obra, a economia de energia gerada após a construção, a retenção e o

aproveitamento das águas de chuva, prevenindo enchentes e os benefícios psicológicos

e sociais justificam o investimento inicial.

7. REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Cristiana. Arquitetura verde: o edifício Harmonia 57 – Admirável verde vivo. 2011.

Disponível em: < http://www.forumdaconstrucao.com.br/ conteudo.php?a=23&Cod=352 > Acessado em:

21.09.2011

CONCURSOS DE PROJETO. Harmonia 57 – 9º Prêmio Jovens Arquitetos – Arquitetura – Obra

concluída. Setembro, 2009. Disponível em: < http://concursosdeprojeto.org/2009/09/09/harmonia-57/ >

Acessado em: 21.09.2011

DEZEEN. Harmonia 57 by Triptyque. 2008. Disponível em: < http://www.

dezeen.com/2008/08/31/harmonia-57-by-triptyque/ > Acessado em: 21.09.2011

ECOTELHADO. Soluções em infraestrutura verde. 2010. Disponível em: <

http://www.ecotelhado.com.br > Acessado em: 23.09.2011.

ECOTELHADO BLOG. Jardim vertical inova cenário de Cingapura. Setembro, 2011. Disponível em: <

http://ecotelhado.blog.br/?p=1431 > Acessado em: 23.09.2011

ECOTELHADO BLOG. Jardim vertical: projetando com parede verde e brise vegetal. Dezembro, 2010.

Disponível em: < http://ecotelhado.blog.br/ ?p=745 > Acessado em: 23.09.2011

GREENPACKS, 2008. ACROS Fukuoka – That’s what we call a Green roof. 2008. Disponível em: <

http://www.greenpacks.org/2008/07/22/acros-fukuoka-thats-what-we-call-a-green-roof/ > Acessado em:

22.09.2011

GREENROOFS, 2010. ACROS Fukuoka Prefectural International Hall. 2010. Disponível em: <

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