estudo da aplicabilidade da vegetaÇÃo À arquitetura
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Autor: Kamila de Paula MoraisAno: 2011Artigo apresentado a disciplina de Trabalho de Conclusão de Tecnologia do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás - UEG, Anápolis/GO.TRANSCRIPT
ESTUDO DA APLICABILIDADE DA VEGETAÇÃO À
ARQUITETURA
Kamila de Paula Morais
RESUMO: Este é um estudo direcionado as maneiras de aplicação da vegetação à
arquitetura a partir de uma conscientização ambiental. Foram abordados aqui dois tipos
mais usuais: o Telhado verde e a Parede verde. A utilização da vegetação em edifícios
vem como uma alternativa para a redução dos efeitos climáticos causados
principalmente em grandes cidades , onde a massa verde foi drasticamente desmatada
para dar espaço às grandes construções. Para tal explicação, este trabalho discorrerá
sobre o histórico dessa técnica, bem como quando a consciência ambiental entrou em
discussão; quais as formas de aplicação e o processo de montagem, além de plantas
adequadas para as construções. Sendo tudo isso exemplificado em projetos já
construídos.
Palavras-chave: Telhado verde, parede verde, jardim vertical, arquitetura verde
1. INTRODUÇÃO
Arquitetura sustentável nunca antes foi tão comentada na história. Após
comprovações científicas que o mundo será mais quente, arquitetos, engenheiros,
geógrafos, cientistas e políticos estão indo atrás de alternativas pra tentar amenizar os
efeitos climáticos gerados por anos de emissão de poluentes na camada atmosférica e
destruições de matas por todo o planeta.
A cidade já foi a expressão máxima de dominação do homem, hoje ela é a mais
afetada pelas novas dinâmicas climáticas. Tornou-se parte do cotidiano das grandes
metrópoles a penumbra cinza, causada pelo efeito estufa, geração de microclima urbano,
ilhas de calor, inversão térmica, chuvas ácidas. O arquiteto Spangenberg (2008) explica
que a impermeabilização do solo feita pela construção desordenada das cidades, do uso
de materiais e formas não-adaptadas e o asfalto resultou em um baixíssimo percentual
da cobertura vegetal, logo um aquecimento local das superfícies urbanas.
Portanto, é por esse viés de integração de vegetação a arquitetura que este
projeto de pesquisa de desenvolve. Será investigado duas maneiras de utilização da
vegetação em favor das soluções ambientais em construções: Telhados verdes e Paredes
verdes. E quando se refere à vegetação em comunhão com arquitetura, algumas
palavras-chave vêm à mente: jardim-vertical, ecoparede, parede verde, terraço-jardim,
telhado verde, ecotelhado, além de arquitetura ecológica, arquitetura verde,
bioarquitetura; as quais serão devidamente conceituadas durante o trabalho.
É importante dizer que o uso da vegetação até pouco tempo atrás não era bem
vista, pois, embora ela seja uma proteção, ela também causa estragos, encobre, gera
custos e sensação de riscos. Hoje ela é vista como “elemento da moda e excelente
argumento de venda” (SPANGENBERG, 2008). Isso porque, estudos comprovam que a
natureza traz relaxamento e renovação espiritual, revertendo às sensações de cansaço e
estresse diário sofrido nas grandes cidades (KREBS, 2005). Além de conseguir absorver
a poluição do ar.
2. HISTÓRICO
Alguns autores consideram que a integração da vegetação à arquitetura possui
uma tradição bastante antiga, datada no século VI a.C.: os Jardins Suspensos da
Babilônia. Possivelmente, essa construção foi a precursora do uso de coberturas vivas,
as quais foram amplamente difundidas pelo Império Romano(KOHLER et. al., 2001
apud KREBS, 2005). Permanece nas arquiteturas vernaculares européias há poucos
séculos, utilizando tradicionalmente a vegetação nas coberturas e nas paredes em
conjunto com a terra como um excelente regulador térmico, conseguindo resultados
satisfatórios tanto em climas quentes como em frios (MINKE, 2004).
A sistematização dessa técnica veio com a arquitetura moderna produzida por Le
Corbusier, quem incentiva o uso de telhados-jardins dentro dos cinco pontos formulados
por ele em 1927 (MACIEL, 2002), trabalhando em favor de um conforto ambiental. A
Alemanha foi a primeira a se dedicar nos estudos da utilização da vegetação na
arquitetura com o objetivo de preservação das águas e da energia, a partir da década de
1950 (PECK, 1999 apud SILVA, 2011). Desde então, arquitetos e estudiosos vem
trabalhando para inserir a vegetação à arquitetura por meio da consciência ecológica.
No Brasil, o edifício pioneiro na utilização de telhados verdes foi obra de Lúcio Costa,
Burle Marx e entre outros importantes: o edifício do Ministério da Educação e Saúde,
no Rio de Janeiro, em 1943 (KREBS, 2005). Destaque a Burle Marx, responsável pelo
paisagismo do terraço-jardim, e idealizador da técnica em verticalizar a vegetação,
construindo paredes verdes, no início do século XX (JARDIM VERTICAL, 2011).
3. PROBLEMAS AMBIENTAIS
A consciência ecológica entrou realmente em discussão a partir da década de
1960, quando o mundo percebeu que a Terra não suportaria a intensidade de agressão
que vinha recebendo. Em 1987, a ONU lança o relatório “Nosso futuro comum”,
trazendo pela primeira vez o conceito de desenvolvimento sustentável. “Uma maneira
de evitar que o crescimento econômico venha agredir violenta e irreparavelmente os
ecossistemas naturais” (LUCCI, 1997). O que, claro, não aconteceu, os problemas
ambientais se tornavam crescentes. Poluição atmosférica, redução drástica das áreas
verdes, produção de calor pelos motores dos veículos e pelas indústrias, grande
verticalização das áreas centrais e enorme concentração de asfalto e concreto, todos
esses fatores contribuíram para vários efeitos climáticos negativos a cidade:
Microclima, efeito estufa, Ilhas de calor, inversão térmica e aquecimento global,
destacadas por Lucci (1997)
A realidade vivenciada pelas grandes zonas urbanas é a poluição. Minke (2004)
cita que a cidade tem até 15% menos de horas insolação direta e de 30 a 100% maior
freqüência de nevoeiros. O cientista inglês James Lovelock (2006 apud
SPANGENBERG, 2008) prevê que em 2040, “a maioria das regiões tropicais, incluindo
praticamente todo território brasileiro, será demasiadamente seca”. Isso porque, grosso
modo, mudamos a superfície do planeta de verde (matas), para cinza (cidade).
Spangenberg (2008) afirma ainda que caso essa previsão aconteça, os primeiros lugares
que serão evacuados são as cidades ocasionado pelo desconforto e o estresse térmico.
O autor levanta uma causa primordial: o planejamento do uso do solo. Sylvia
Rola (2005 apud VILELA, 2005), arquiteta e pesquisadora sobre sistema de telhados
verdes pela UFRJ, afirma que embora a cidade tenha uma quantidade adequada de área
verde por habitante – como acontece no Rio de Janeiro, onde possui uma taxa de 57,4
m²/habitante, muito maior que o percentual mínimo de 12 m²/habitantes –, ainda é
possível observar a presença de ilhas de calor em certos pontos da cidade devido à falta
de vegetação nestes locais. A concentração de áreas verdes, portanto, deve ser
homogênea para que toda a cidade possa sentir os benefícios da vegetação.
3.1. Vantagens da utilização da vegetação nas edificações
Segundo Spangenberg (2008), a tão importante massa verde age como um
regulador climático fundamental, tornando a superfície mais fria através do equilíbrio
hídrico e energético. “A vegetação absorve, filtra, retém e armazena todos os impactos
naturais e também aqueles gerados pelo homem e danosos para nós mesmo”, afirma o
autor.
Para comprovar a eficiência da vegetação, Spangenberg (2008) expõe um
gráfico que faz a medição da temperatura superficial com vários materiais através de um
equipamento de radiação infravermelha, sem contato, feitas por ele no bairro da Luz,
região central de São Paulo, em 2006. O asfalto no sol chega a 50ºC, a pedra portuguesa
no sol chega um pouco mais de 40ºC, enquanto a folha de Ipê no sol chegou a no
máximo a 20ºC. (Fig.1)
Logo, quando são utilizadas em conjunto com as edificações, seja como
cobertura verde ou parede verde, além de influir no melhoramento do clima local,
também ajudam no isolamento térmico, no armazenamento de calor do edifício e
isolamento acústico. E, também, a longo prazo, acabam sendo mais econômicos que os
revestimentos convencionais (MINKE, 2004).
Sobre as vantagens assinaladas por Minke (2004) sobre a utilização da
vegetação, é possível citar: a produção de O2 e absorção de CO2; filtragem das
partículas de poeira e sujeira do ar; evita o superaquecimento das camadas; reduz as
variações de temperatura; eficiente conforto térmico e acústico; absorvem a água e
aliviam as redes pluviais; esteticamente agradáveis influem no bem estar; e entre outras.
Fig 1 – Medição de temperaturas superficiais por equipamento de radiação infravermelha, sem contato, feitas no bairro da Luz, região central de São Paulo (19.12.2006) Fonte: (SPANGENBERG, 2008)
3.1.2. Aspectos psicológicos relacionados ao uso de vegetação
É notável a importância da vegetação tanto na escala urbana quanto
arquitetônica. A proximidade com o verde produz uma ligação com o campo, sensação
de bem estar, o que explica a super valorização dos Condomínios fechados hoje, pois,
contrários aos centros urbanos, seu sucesso está na criação espaços bucólicos e
campestres. Estudiosos conseguem perceber que a vegetação afeta o poder de
concentração, evocam atenção involuntária acionada por algo interessante no ambiente,
interrompe a monotonia das cidades, isso porque há uma mudança na paisagem, e
também com relação às cores, que trazem relaxamento e renovação. São instantes de
serenidade na rotina acelerada dos habitantes (SATTLER, 2003 apud KREBS, 2005).
Caracterizam os espaços da cidade por suas formas, cores e modo de agrupamento; são
elementos de composição e de desenho urbano ao contribuir para organizar, definir e até
delimitar esses espaços (MASCARO, 2002 apud KREBS, 2005).
4. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS: ARQUITETURA VERDE, ARQUITETURA
ECOLÓGICA E BIOARQUITETURA
No que se refere à vegetação integrada a arquitetura, muitos são as
nomenclaturas usadas confusamente: arquitetura ecológica, arquitetura verde,
bioarquitetura. Essas novas derivações surgiram do conceito de arquitetura sustentável,
a qual Mülfarth (2002) define como sendo “uma busca de maior eficiência econômica e
um menor impacto ambiental nas soluções adotadas nas fases de projeto, construção,
utilização, reutilização e reciclagem da edificação, visando à distribuição equitativa da
matéria-prima”.
Portanto, notavelmente, os conceitos de Arquitetura Ecológica e Arquitetura
Verde derivam da mesma semântica de arquitetura sustentável, com maior ênfase a
busca por uma harmonia com o meio ambiente, através de seus elementos sustentáveis,
seja vegetação ou não. Ou seja, todas são arquiteturas sustentáveis, até mesmo a
Bioarquitetura, porém, esta possui suas especificidades.
Gernot Minke, em uma entrevista dada a Santucci (2008), explica que
Bioarquitetura “são construções que utilizam materiais naturais, do local e clima”.
Utiliza-se de técnicas que causam o mínimo impacto ambiental possível. Parte da
análise do ciclo de vida de cada material, para que obter dados sobre os impactos que
causa à natureza e à saúde humana, sendo possível tomar decisões conscientes e
comprometidas com o meio ambiente e com as gerações atuais e futuras. Contudo, não
há uma nomenclatura específica para construções com vegetação, conclui-se que está
técnica faz parte de uma arquitetura dita sustentável, pelas suas vantagens ecológicas.
5. FORMAS DE APLICAÇÃO
5.1. Telhado Verde
Os telhados verdes possuem diferentes nomenclaturas: ecotelhado, terraço-
jardim, cobertura verde, cobertura viva, naturação (VILELA, 2005). Todas elas
referem-se ao uso de vegetação na cobertura das edificações.
Minke (2004) levanta alguns aspectos gerais que devem se analisar para projetar
um telhado verde: a densidade da folha, a inclinação do telhado, tipo de paisagismo, o
peso, altura do telhado e orientação solar, o transporte e colocação do substrato, a
utilidade, e por último, a drenagem. Sobre alguns desses aspectos, ele avalia que quanto
maior a quantidade de superfície de folhagem maior desempenho teria quanto à limpeza
do ar, formação de orvalho e isolamento térmico.
Outra questão é a inclinação do telhado, ela definirá o tipo de vegetação que será
adequada. O mesmo autor aconselha no mínimo 5% de inclinação para que evite água
empoçada que é prejudicial à respiração de certas plantas, e não precise de uma
drenagem especial.
Quanto ao tipo de paisagismo, Krebs (2005) e Minke (2004) classificam em
coberturas intensivas (ou ajardinadas) e extensivas (ou ecológicas). Levando em conta a
espessura da camada de substrato, os tipos de plantas e a necessidade de manutenção. A
diferença é que a cobertura intensiva abriga plantas herbáceas e arbustivas, por isso
requer um substrato superior a 20 cm, cuidados mais específicos e maiores custos. São
lugares para permanência, por isso a cobertura deve ser plana, como o terraço-jardim do
edifício do Ministério da Cultura e Saúde. Já a cobertura extensiva abriga plantas
resistentes e que necessitam de mínimo cuidado: musgos, suculentas, ervas ou grama.
Seu substrato chega ao máximo de 10 cm, e podem ser executadas tanto em coberturas
planas quanto inclinadas (KREBS, 2005; MINKE, 2004). Há também uma variação
entre os dois tipos, denominado cobertura semi-intensiva (SILVA, 2011). (Tab. 1)
Segundo Krebs (2005), as mais utilizadas são as coberturas vivas extensivas,
pois são mais leves, exigem menos manutenção que as outras e possuem baixos custos.
Mas possuem uma estética parecida com mato desordenado. Christel Kappis (s.d. apud
VILELA 2005), especialista do Instituto de Ciências Agrárias e Projetos em Ecologia
Urbana da Universidade Humboldt de Berlim, defende que o objetivo desta técnica está
voltado para o alto potencial na produção de efeitos ecológicos, e não para o uso destes
espaços como jardins. As coberturas vivas não são feitas para as pessoas transitarem,
apenas por motivo de manutenção, caso deseje, é necessário construir um passeio,
conclui Minke ( 2004).
Para telhados planos e inclinados, há diferente composição. Segundo Minke
(2004), nos telhados verdes planos com grama, precisará ter uma capa de drenagem e
duas camadas de substrato: (Fig. 2)
1. A camada superior ou camada de suporte da vegetação possui o solo nutritivo e dá
apoio para as raízes;
2. A camada inferior ou camada de drenagem serve para direcionar e armazenar a água.
Ambas separadas por uma camada de filtro, geralmente feita em feltro,
impedindo que parte do solo se transforme em lama e escorra pela drenagem.
Tab. 1 – Características dos tipos de telhado verde Fonte: SILVA, 2011
Já nos telhados verdes inclinados a partir de 5%, não a necessidade de duas
camadas de substrato, por isso é mais simples e mais barata. A camada de suporte da
vegetação é agregada a partículas de minerais porosos, produzindo um efeito de
drenagem eficiente (MINKE, 2004). (Fig. 2)
Segundo Pereira (2007) apud Silva (2011), quanto aos sistemas de aplicação e
construção, os telhados verdes estão divididos em três tipos básicos: aplicação contínua,
em módulos pré-elaborados e aérea. A aplicação contínua é a mais utilizada, onde o
substrato é aplicado diretamente sobre a base impermeabilizada com todas as outras
diferentes camadas. A aplicação em módulos pré-elaborados, empresas especializadas
desenvolvem pequenos módulos prontos compostos de bandejas rígidas, substrato e
com a vegetação já crescida, aplicada através de um sistema de encaixe. Já a aplicação
aérea há uma separação da vegetação da sua base, ou seja, a vegetação cresce, por
exemplo, sobre uma tela metálica que servirá de base para o seu desenvolvimento. Este
sistema também é adequado para construção de paredes verdes.
5.2. Parede Verde
Parede verde, também, chamada de Jardim vertical, fachada verde ou ecoparede,
é uma técnica um pouco mais independente na parte construtiva, pois não influem tanto
na estrutura da edificação, dependendo da forma como o arquiteto aplica em sua
Fig 2 – À esquerda: construção de um telhado verde plano com substrato de duas camadas. À direita: construção de um telhado verde inclinado com substrato de uma camada. Imagem modificada pelo autor Fonte: MINKE, 2004
arquitetura. Por exemplo, a empresa Ecotelhado (2010) é especialista em “infraestrutura
verde”, a qual desenvolve módulos pré-fabricados para aplicação tanto em coberturas
quanto em paredes. Porém, é possível perceber que os próprios arquitetos estão
desenvolvendo sua própria técnica de aplicação de vegetação às paredes, como no caso
do edifício Harmonia 57, do escritório Triptyque, que será comentado no capítulo 6.
A Ecotelhado (2010) aplica a vegetação em duas formas: Brise vegetal ou
fachada verde (Fig. 3) e Ecoparede, parede verde ou jardim vertical (Fig. 4).
O tipo Brise vegetal ou fachada verde abrigam plantas do tipo trepadeiras
cultivadas em contanieres, que se repetem a cada andar e a partir daí são conduzidas e
interligadas por cabos de aço inoxidáveis. Os cabos condutores ficam espaçados a cerca
de 60 cm do prédio, permitindo a abertura das janelas sem interferência. Não necessita
de intensa manutenção e é indicado para qualquer altura de prédio. Deve estar previsto
em projeto acesso para eventuais podas e outros tratos se necessário (janela ou visita,
quando for parede cega).
Fig. 3 – À esquerda: componentes de um Brise vegetal produzido pela empresa Ecotelhado; À direita: o Brise vegetal Fonte: ECOTELHADO, 2010
Fig. 4 – À esquerda: componentes de um Jardim vertical produzido pela empresa Ecotelhado; À direita: o Jardim Vertical Fonte: ECOTELHADO, 2010
O tipo Ecoparede, parede verde ou ainda jardim vertical utiliza-se de um sistema
modular composto de perfis verticais e horizontais, que sustentam módulos previamente
vegetados. Necessita ser instalado como um sistema de ferti-irrigação. Pode comportar
uma grande variedade de plantas dentre as de pequeno porte. Normalmente, a
Ecoparede exigem um pouco mais de manutenção do que o sistema anterior, sendo
importante prever em projeto a forma de acesso (ECOTELHADO BLOG, 2010).
Este consiste em um sistema de revestimento de parede com vegetação,
suportada por um perfil “U” zincado onde são dispostos os módulos de containers pré-
vegetados. De acordo com Ecotelhado (2010), esses módulos também podem vir como
o modelo de floreira, chamado de canguru, com suporte para plantar a vegetação.
5.3. Telhado verde x Parede verde
Embora as vantagens da utilização da vegetação sejam as mesmas tanto nas
coberturas quanto nas paredes, existem certas funções que só os telhados poderão atuar,
como no caso da captação de águas das chuvas, devido ao seu posicionamento mais
horizontal.
Sobre o conforto térmico, Silveira (2004) apud Krebs (2005), mede o nível de
insolação direta sobre a superfície, denominado de carga térmica. A autora afirma que
as coberturas recebem o dobro de carga térmica que as paredes. São 12 horas em média
referentes à primeira, contra, 5,5 a 6 horas referentes à segunda. Este estudo foi feito em
cidades da região sul do Brasil, logo, pode-se concluir que as coberturas verdes
conseguem ser mais eficientes sobre as questões ambientais do que as paredes verdes.
5.4. Plantas mais utilizadas
Para escolha da vegetação adequada para a construção, Minke (2004) cita alguns
critérios que devem ser levados em conta, como: espessura do substrato, inclinação do
telhado, orientação solar, sombra, quantidade de precipitações na região, resistência ao
clima, altura de crescimento, pontos de floração e entre outros.
Para paredes verdes do tipo Brise vegetal costuma-se utilizar trepadeiras que se
divide entre as que auto-suportam – como a falsa vinha e unha de gato – e as que
Fig. 12 – Casa ecológica “Am Wassertum 1”, Kassel, Alemanha Fonte: MAHLKE, 2007
Fig. 12 – Estrelinha dourada (Sedum acre), Bulbine (Bulbine frutescens), Rosinha de sol (Aptenia cordifólia), Lírio dos ventos (Zephyranthes candida), Capim azul (Festuca glauca) Fonte: SILVA, 2011
necessitam de suporte, como jasmim dos poetas, madressilva, mandevilas e outras.
Podem ser usadas também plantas frutíferas e ortaliças (ECOTELHADO, 2010)
Para telhados verdes, seguem algumas plantas:
6. EXEMPLOS PRÁTICOS
6.1. Gernot Minke – Casa ecológica “Am Wassertum 1”, Kassel, Alemanha
Construída em 1985, com
intenção de trazer para o primeiro
mundo o uso de materiais de baixo
custo, tal como o barro, sem perder a
estética. É um edifício residencial de
casas geminadas, unidas entre si pela
forma octogonal. O telhado verde
chega até o solo em algumas partes e a
fachada possui plantas trepadeiras.
Tem-se a impressão de que o edifício
surgiu de um morro de terra. Apesar da aparência sombreada, Minke conseguiu deixar
os ambientes com uma luminosidade boa e agradável. O que dependeu também dos
materiais utilizados para construir e revestir as paredes – adobe e madeira.
6.1. Gernot Minke – Casa ecológica “Am Wassertum 17”, Kassel, Alemanha
Construída em 1992, no mesmo local da primeira casa, um edifício residencial
feito nos princípios do bairro – adobe, madeira e telhado verde. A forma da casa é feita
por cúpulas de diferentes tamanhos com iluminação zenital no topo de cada uma delas.
Fig 13 – Casa ecológica “Am Wassertum 17”, Kassel, Alemanha Fonte: MAHLKE, 2007
Fig. 14 – ACROS Fukuoka Fonte: GREENPACKS, 2008
Essas cúpulas foram feitas de adobe, as
grandes tem espessura de 20 cm e as
pequenas, 11,5 cm. Em seu exterior, as
elas são protegidas com manta asfáltica,
sobre o qual colocaram uma manta de
isolante térmico de lã mineral e por
último, o telhado verde.
6.1. Emílio Ambasz – Acros Fukuoka,
Fukuoka, Japão
Em 1994, o edifício Acros
Fukuoka foi construído para ser um
prédio multifuncional com programa
que abrangia sala de auditório, salas
comerciais, escritórios, entre outras
funções públicas, localizado no centro
da cidade Fukuoka, pelo arquiteto
Emílio Ambasz. É um prédio de duas
faces. A fachada frontal, voltada para
rua, é toda envidraçada como qualquer
outro prédio comercial. Já a fachada
posterior, voltada para o parque, é escalonada em 16 degraus que sobem até o topo do
prédio, há uma altura de 60 m, todo coberto por vegetação (GREENROOF, 2010)
Na cobertura se desenvolve um enorme terraço-jardim para ser a continuação do
parque Tenjin Cental, o telhado verde do edifício Acros Fukuoka possui uma área de
5400 m², uma das maiores instalações de telhado verde no país. Quando foi construído,
havia 76 variedades de espécies, totalizando 37 mil plantas. Desde então, o número de
variedades de espécies pulou para 120, totalizando 50 mil plantas no jardim, devido às
sementes trazidas por pássaros e ventos naturais, conta no site oficial do prédio. O
telhado verde é aberto ao público, são dois acessos pelo parque, não há acesso pelo
prédio. E é aberto em horários variados dependendo da estação do ano, como consta no
site oficial do prédio.
Fig. 16 – Harmonia 57 – Sistema de Irrigação aparente Fonte: DEZEEN, 2007
6.1. Triptyque – Harmonia 57, São Paulo, Brasil
Construída em 2008, pelo escritório franco-brasileiro Triptyque e localizado na
Vila Madalena em São Paulo. O prédio possui um sistema de drenagem que captam,
tratam e reutilizam as águas das chuvas e do solo para irrigação das plantas. A tubulação
que serve a todo o prédio – assim como as bombas e sistema de tratamento e
reutilização – estão aparentes nas paredes externas (CONCURSO DE PROJETOS,
2009).
Os materiais utilizados para a construção de todo o prédio foi concreto, metal e
vidro. Já para a estruturação das paredes verdes, foi usada parede dupla de concreto
armado, na parte interna, e concreto
orgânico, na parte externa. A parede de
concreto orgânico possui poros preparados
para receber a vegetação que cobrirá todas
as superfícies de fachadas. As plantas
foram escolhidas de acordo com o clima
local e com o intuito de associar
características distintas de diferentes
plantas.
Essa parede dupla coberta de
vegetação e seu sistema de irrigação
garantem o conforto térmico e acústico no
interior do “edifício vivo” (AZEVEDO,
2011). Segundo os arquitetos, o objetivo
desses sistemas não era criar um edifício
ecológico, e sim uma estrutura "viva", que
se transformasse ao longo do tempo.
7. CONCLUSÃO
Hoje como nunca na história, o uso de vegetação na arquitetura vem sendo tão
difundida. Suas vantagens já são comprovadas por vários estudiosos e suas maneiras de
aplicação são cada vez mais eficientes e com menos manutenção, tudo para oferecer à
cidade uma aplicabilidade que não gera transtorno e sujeira. Várias cidades estão
criando leis de incentivo e obrigatoriedade ao uso de telhados e paredes verdes em suas
construções. São Paulo e Cingapura são exemplos disso.
Buscando trabalhar gestão ambiental juntamente às novas construções, alguns
projetos estão buscando atender requisitos do selo LEED, certificado concebido a
edifícios verdes (edifícios sustentáveis). Observando criteriosamente todos os pontos
destacados neste estudo, os telhados e paredes verdes, como sistema construtivo, são
uma opção eficaz para o problema ambiental mundial. E quando estão em conjunto com
outros métodos sustentáveis, a eficiência energética da construção pode elevar-se ainda
mais.
Esta técnica tem consigo uma vantagem da qual nenhuma outra consegue
oferecer: qualidade de vida e bem estar. As cidades se tornam ambientes mais
interessantes e habitáveis, recuperando espaços e trazendo o benefício da convivência
com animais e flores. Nesse sentido, profissionais da construção civil tem o
compromisso com o meio ambiente, indicando e buscando conhecer ações que
potencializem a recuperação e o equilíbrio do meio nos grandes centros. É preciso que
todos estejam em harmonia com a natureza, para que os efeitos climáticos se revertam.
Embora, de início a aplicação da vegetação a arquitetura seja um acréscimo no
custo da obra, a economia de energia gerada após a construção, a retenção e o
aproveitamento das águas de chuva, prevenindo enchentes e os benefícios psicológicos
e sociais justificam o investimento inicial.
7. REFERÊNCIAS
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