estudo crÍtico sobre relacionamentos...
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ESTUDO CRÍTICO SOBRE RELACIONAMENTOS
COLABORATIVOS NA CADEIA DE SUPRIMENTOS E
SEUS IMPACTOS NO PROCESSO DECISÓRIO
LOGÍSTICO
Eduardo Fernandez de Assunção da Costa Muniz
Gabriel Ramos da Cruz
Projeto de Graduação apresentado ao
Curso de Engenharia de Produção da
Escola Politécnica, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título
de Engenheiro.
Orientador: Thais Spiegel
Coorientador: Heitor Mansur Caulliraux
Rio de Janeiro
Março de 2016
i
ESTUDO CRÍTICO SOBRE RELACIONAMENTOS
COLABORATIVOS NA CADEIA DE SUPRIMENTOS E
SEUS IMPACTOS NO PROCESSO DECISÓRIO
LOGÍSTICO
Eduardo Fernandez de Assunção da Costa Muniz
Gabriel Ramos da Cruz
PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO
DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.
Examinado por:
________________________________________________
Prof. Thais Spiegel, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Heitor Mansur Caulliraux, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Vinicius Carvalho Cardoso, D.Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
Março de 2016
ii
Muniz, Eduardo Fernandez de Assunção da Costa
Cruz, Gabriel Ramos da
Estudo crítico sobre relacionamentos colaborativos na
cadeia de suprimentos e seus impactos no processo
decisório logístico / Eduardo Fernandez de Assunção da
Costa Muniz e Gabriel Ramos da Cruz – Rio de Janeiro:
UFRJ/ Escola Politécnica, 2016.
VI, 133 p.: il.; 29,7 cm.
Orientadora: Thais Spiegel
Coorientador: Heitor Mansur Caulliraux
Projeto de Graduação – UFRJ/ POLI/ Curso de
Engenharia de Produção, 2016.
Referências Bibliográficas: p. 101-107.
1. Supply Chain Management. 2. Processos
colaborativos. 3. Decisões logísticas. 4. Colaboração no
Supply Chain. I. Spiegel, Thais II. Universidade Federal
do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de Engenharia de
Produção. III. Estudo crítico sobre relacionamentos
colaborativos na cadeia de suprimentos e seus impactos
no processo decisório logístico.
iii
“Nós vivemos tempos difíceis. É impossível esconder a sensação de
que há espaços na vida em que o mal venceu. Domínios em que não
parecem fazer sentido noções como patriotismo, idealismo ou respeito
ao próximo. Mas a história da humanidade demonstra o contrário. O
processo civilizatório segue o seu curso como um rio subterrâneo,
impulsionado pela energia positiva que vem desde o início dos tempos.
Uma história que nos trouxe de um mundo primitivo de aspereza e
brutalidade à era dos direitos humanos. É o bem que vence no final. Se
não acabou bem, é porque não chegou ao fim. O fato de acontecerem
tantas coisas tristes e erradas não nos dispensa de procurarmos agir
com integridade e correção. Estes não são valores instrumentais, mas
fins em si mesmos. São requisitos para uma vida boa. Portanto,
independentemente do que estiver acontecendo à sua volta, faça o
melhor papel que puder. A virtude não precisa de plateia, de aplauso ou
de reconhecimento. A virtude é a sua própria recompensa. ”
Luís Roberto Barroso
“Crê nos que buscam a verdade. Duvida dos que a encontrem. ”
André Gide
iv
Agradecimentos
Agradecemos aos nossos pais, familiares e aos amigos de vida, que ao longo de nossa
trajetória no Centro de Tecnologia da POLI/UFRJ, sempre estiveram ao nosso lado, provendo
apoio incondicional. Aos familiares e amigos, o nosso maior agradecimento de coração.
A UFRJ, nossa Universidade do Brasil, instituição de maior honra e respeitabilidade,
por todo aprendizado proporcionado, por toda a estrutura usufruída, em especial a todo o
corpo de funcionários, que dia e noite trabalham sem suas condições ideais. Um
agradecimento carinhoso ao corpo docente da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, por ter
nos inspirado e aguçado nossa curiosidade e busca incessante por conhecimento.
Agradecemos nossa orientadora Thaís Spiegel por ter nos conduzido com maestria
através do tema complexo que foi escolhido e ter contribuído com todo seu conhecimento.
Agradecemos também pela infinita paciência durante todo o trabalho. Agradecemos, também,
a banca avaliadora por nos dar a oportunidade de aprofundar um tema, de certo tão relevante
para o futuro das organizações.
Agradecemos aos nossos colegas de faculdade que compartilharam essa trajetória,
vivenciando as dificuldades e alegrias, além de serem fonte constante de motivação para
aprendizado e fonte de conhecimento, crescemos juntos.
Por fim, agradecemos à República Federativa do Brasil, por ter nos dado a
oportunidade de um ensino superior gratuito e de qualidade financiado pelos brasileiros.
Temos uma dívida para com a sociedade brasileira que carregaremos ao longo de nossas
vidas. Temos o dever cívico e a missão de nos comprometermos pela superação das
dificuldades que nosso país enfrenta, buscando sempre o correto e justo, segundo nossos
pontos de observação. Esperamos retribuir a altura à missão a nós confiada.
v
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.
Estudo crítico sobre relacionamentos colaborativos na cadeia de suprimento e seus
impactos no processo decisório logístico.
Eduardo Fernandez de Assunção da Costa Muniz
Gabriel Ramos da Cruz
Março/2016
Orientador: Thais Spiegel
Coorientador: Heitor Mansur Caulliraux
Curso: Engenharia de Produção
Resumo:
A evolução do ambiente de negócios competitivo global fez com que as empresas
fossem obrigadas a centrar a atenção cada vez menos em si mesma e mais em seus
relacionamentos com outras organizações participantes da cadeia de suprimentos. Assim, a
colaboração no Supply Chain surge como uma alternativa para enfrentar as dificuldades neste
novo cenário e criar oportunidades nos novos mercados.
Apesar da colaboração ser um tema bem estabelecido, as empresas encontram
dificuldades para implementá-la em suas operações adequadamente. Desse modo, o
presente trabalho buscou detalhar, através de uma revisão bibliográfica, quais seriam os
fatores que são pré-requisitos, os riscos e benefícios de práticas colaborativas e as dimensões
de decisão associadas a casos de sucesso.
Direcionando ações de colaboração buscou-se avaliar os impactos dos
relacionamentos colaborativos no processo decisório logístico como um todo, através da
estruturação de um modelo conceitual associando as diversas práticas colaborativas
encontradas às categorias de decisões logísticas correlatas, com suas precedências e
dependências.
Palavras-chave: Supply Chain Management, processos colaborativos, decisões logísticas
vi
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Industrial Engineer.
Crtitical study about collaborative relationships in supply chains and their impacts in logistics
decision-making process.
Eduardo Fernandez de Assunção da Costa Muniz
Gabriel Ramos da Cruz
March/2016
Advisor: Thais Spiegel
Co-advisor: Heitor Mansur Caulliraux
Course: Industrial Engineering
Abstract
The evolution of the competitive global business environment forced companies to pay
less attention on itselves and more in their relationships with other participating organizations
in the Supply Chain. Thus, collaboration in Supply Chain emerges as an alternative to address
the difficulties in this new scenario and create opportunities in new markets.
Despite the collaboration being a well-established theme, companies still find it difficult
to implement it in their operations properly. Hence this study sought to detail, through a
literature review, what are the key factors that are prerequisites, risks and benefits of
collaborative practices and decision-dimensions associated with collaborative success cases.
For directing collaborative actions this study sought to evaluate the impact of
collaborative relationships in the logistics decision-making process as a whole, through
developing a conceptual model linking the various collaborative practices related to logistics
decisions categories with their precedence and dependencies.
Keywords: Supply Chain Management, collaborative processes, logistic decisions
vii
Lista de Ilustrações
Figuras
Figura 1: Curva sorriso: valor adicionado ao longo da cadeia global de valor. ........... 2
Figura 2: Sinônimos da palavra Collaboration. ............................................................ 5
Figura 3: Fluxos na Cadeia de Suprimentos. ............................................................ 13
Figura 4: Funções das Cadeias de Suprimentos. ...................................................... 14
Figura 5: Cadeia de Suprimento de combustíveis. .................................................... 16
Figura 6: Esquematização de uma Rede de Suprimentos. ....................................... 19
Figura 7: Competição em Redes de Suprimentos. .................................................... 20
Figura 8: Framework do Supply Chain Management. ............................................... 22
Figura 9: Dimensões de Colaboração ....................................................................... 37
Figura 10: Conexões entre categorias de decisões logísticas. ................................. 65
Figura 11: Fatores e pré-requisitos da revisão bibliográfica. ..................................... 67
Figura 12: Fatores de ambiente de negócios da revisão bibliográfica. ...................... 71
Figura 13: Proximidade de localização entre parceiros de colaboração. .................. 74
Figura 14: Exemplo de caso de market place da Alibaba. ........................................ 82
Figura 15: Aderência da colaboração às categorias de decisão. .............................. 83
Figura 16: Categorias de decisão, considerando a influência do mercado. .............. 86
Figura 17: Hierarquização de decisões no âmbito do planejamento. ........................ 87
Figura 18: Dependência entre categorias de decisões logísticas.............................. 87
Figura 19: Hierarquização das decisões logísticas com colaboração ....................... 88
Figura 20: Modelo de hierarquização de decisões de colaboração. .......................... 89
Figura 21: Avaliação da terceirização na produção ................................................... 91
Figura 22: Hierarquização das decisões logísticas ................................................... 94
Figura 23: Sentido da colaboração nas categorias de decisões logísticas ............... 95
Figura 24: Framework da colaboração na cadeia de suprimentos. ......................... 122
Figura 25: Precedência das decisões logísticas ...................................................... 131
Figura 26: Ligação entre as categorias de decisão logística ................................... 134
viii
Quadros
Quadro 1: Resultados da pesquisa por título e sem restrição de tempo. .................... 6
Quadro 2: Resultado das pesquisas por título e com limite de ano. ............................ 7
Quadro 3: Resultado das pesquisas por título, ano e campo de aplicação. ................ 8
Quadro 4: Novos resultados das pesquisas por título e com limite de ano. ................ 9
Quadro 5: Vantagens e desvantagens do VMI. ......................................................... 32
Quadro 6: Programas de Resposta Rápida............................................................... 35
Quadro 7: Pré-requisitos de um processo colaborativo. ............................................ 44
Quadro 8: Dimensão da intensidade dos relacionamentos colaborativos. ................ 48
Quadro 9: Benefícios esperados da colaboração ...................................................... 50
Quadro 10: Fatores de diagnóstico e seus benefícios. ............................................. 57
Quadro 11: Categorias de decisões logísticas. ......................................................... 61
Quadro 12: Sumário de decisões logísticas. ............................................................. 66
Quadro 13: As 48 decisões logísticas ..................................................................... 132
Gráficos
Gráfico 1: Quantidade de publicações por ano. .......................................................... 7
ix
Lista de Tabelas
Tabela 1: Benefícios do Supply Chain Management ............................................... 128
Tabela 2: Barreiras ao Supply Chain Management. ................................................ 129
Tabela 3: Pontes para o Supply Chain Management. ............................................. 130
Tabela 4: Tabela resumo das decisões logísticas ................................................... 133
x
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 1
1.1 TEMA ....................................................................................................................................................... 1
1.2 MOTIVAÇÃO .............................................................................................................................................. 1
1.3 OBJETO ..................................................................................................................................................... 3
1.4 OBJETIVO .................................................................................................................................................. 3
2 METODOLOGIA ........................................................................................................................................ 4
2.1 METODOLOGIA DA PESQUISA ........................................................................................................................ 4
2.2 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................................. 5
2.3 LIMITES E LIMITAÇÕES DO TRABALHO ............................................................................................................ 10
2.4 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO .................................................................................................................... 10
3 CONTEXTUALIZAÇÃO DOS PROCESSOS COLABORATIVOS NO SUPPLY CHAIN .........................................12
3.1 CONCEITUAÇÃO DO SUPPLY CHAIN ............................................................................................................... 12
3.2 SUPPLY CHAIN MANAGEMENT ..................................................................................................................... 15
3.3 TRANSFORMAÇÕES NO SUPPLY CHAIN ........................................................................................................... 23
3.4 COLABORAÇÃO NA CADEIA DE SUPRIMENTOS ................................................................................................. 25
3.5 PROCESSOS COLABORATIVOS ...................................................................................................................... 28
3.6 INICIATIVAS COLABORATIVAS ....................................................................................................................... 30
4 REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA .................................................................................................36
4.1 DELIMITAÇÃO DO ESCOPO DE REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................... 36
4.2 CONCLUSÕES DA REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................................................... 37
5 DIMENSÕES PARA AVALIAÇÃO DA COLABORAÇÃO NO SUPPLY CHAIN ..................................................39
5.1 PRÉ-REQUISITOS PARA COLABORAÇÃO NO SUPPLY CHAIN ................................................................................. 39
5.2 INTENSIDADE DE RELACIONAMENTOS COLABORATIVOS ..................................................................................... 45
5.3 BENEFÍCIOS DA COLABORAÇÃO .................................................................................................................... 49
5.4 DIMENSÕES DE COLABORAÇÃO .................................................................................................................... 50
5.4.1 Dimensões Táticas ........................................................................................................................... 51
5.4.2 Dimensões Operacionais.................................................................................................................. 54
6 APLICAÇÃO DO MODELO RIOPEL-LANGEVIN DE REDE DE DECISÕES LOGÍSTICAS EM RELAÇÃO À
PRÁTICAS E PROCESSOS COLABORATIVOS ......................................................................................................58
6.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO FRAMEWORK .......................................................................................................... 58
6.2 CARACTERIZAÇÃO DO MODELO DE REDE DE DECISÕES LOGÍSTICAS ..................................................................... 59
xi
6.3 REDE DE DECISÕES LOGÍSTICAS .................................................................................................................... 64
6.4 MODELO RIOPEL-LANGEVIN EM RELAÇÃO À COLABORAÇÃO .............................................................................. 67
6.4.1 Influência do Ambiente de Negócios nas decisões de Colaboração ................................................ 68
6.4.2 Adaptação do Modelo do Processo Decisório Logístico às Iniciativas Colaborativas ...................... 71
6.4.3 Adição de Fatores de Mercado no Modelo Riopel e Langevin ......................................................... 83
6.4.4 Modelo Conceitual de Hierarquização das Decisões Logísticas Relacionadas à Colaboração ........ 86
6.5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA APLICAÇÃO DO MODELO RIOPEL-LANGEVIN........................................................ 90
7 CONCLUSÃO ...........................................................................................................................................96
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ..................................................................................................................... 101
APÊNDICE A .................................................................................................................................................. 108
ANEXO A ....................................................................................................................................................... 128
ANEXO B ....................................................................................................................................................... 131
1
1 INTRODUÇÃO
Inicia-se o presente trabalho com um capítulo introdutório, visando explanar
como o tema foi definido, a motivação para escolher o assunto aqui tratado, a
delimitação do objeto de estudo e, finalmente, os objetivos que pretendem ser
alcançados ao final do estudo.
1.1 Tema
O ambiente competitivo atual, altamente competitivo, faz com que as
organizações busquem alternativas para melhorar seus desempenhos, neste sentido
houve uma evolução das organizações para a importância de uma visão de Supply
Chain Management, evidenciando a dependência, direta ou indireta, de uma empresa
com outras organizações participantes da cadeia. Por conta desta nova visão, a
colaboração entre empresas é tratada como um fator que pode trazer vantagens
competitivas para empresas e para a rede como um todo, em seu trabalho Leew e
Fransoo (2009, apud Mentzer et al., 2000) indicaram que a colaboração é comumente
vista como um poderoso instrumento para alcançar uma gestão eficiente e eficaz da
cadeia de suprimentos.
Sendo assim, pretende-se identificar como a bibliografia descreve um
relacionamento colaborativo na cadeia de suprimentos (Supply Chain Management),
quais ações entre empresas configuram colaboração, o que pode sinalizar os
principais elementos envolvidos nos relacionamentos colaborativos.
1.2 Motivação
A principal motivação para o presente trabalho decorre da percepção de
grandes mudanças no ambiente em que as empresas competem. Em estudo recente
publicado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
2
Econômico) e OMC (Organização Mundial do Comérico) em Genebra em 2013,
identificou-se que as etapas de pré-produção e pós-produção, como a logística, têm
ganhado cada vez mais valor adicionado nas cadeias com o tempo, no que ficou
conhecido como curva sorriso, conforme imagem abaixo:
Figura 1: Curva sorriso: valor adicionado ao longo da cadeia global de valor.
Fonte: BARBOSA et al. 2015, baseado em OCDE e OMC, 2013.
Com o aumento de importância das atividades logísticas, o ambiente mundial
competitivo se transformou, gerando o avanço das cadeias de suprimentos
integradas, e um potencial de terceirização e crescimento da colaboração entre
parceiros de negócios e competidores (CASSIVI, 2006). Assim, há uma demanda para
que as empresas criem relações cada vez mais complexas para mitigar as distorções
de um mercado cada vez mais exigente e a necessidade de fortalecer suas redes para
competir globalmente.
Outro fator motivador do presente trabalho foi a curiosidade dos autores em se
aprofundar na maneira com que as empresas criam relações de negócios por meio da
colaboração em sua rede de atuação, prática que contempla compartilhamento de
dados e melhorias nos fluxos de informação transmitidos entra as mesmas, mesmo
em um ambiente extremamente competitivo e arriscado.
3
Assim, acredita-se ser esse um bom tema a ser desenvolvido como projeto de
final de curso, pois possui relevância no cenário atual nas organizações, sobretudo
para a área de logística e, ademais, também é de interesse dos autores aprimorar o
conhecimento sobre com as redes se configuram para colaborar.
1.3 Objeto
O estudo será desenvolvido identificando diversas práticas de colaboração e o
ambiente de negócios em que elas se inserem. Já que os processos colaborativos
envolvem fluxo de informação, de materiais e de capitais, há diferentes aplicações no
campo da gestão de operações, sendo as principais a logística, estratégia de
operações e projeto de produto. O presente trabalho manterá maior atenção sobre o
campo da logística, pois é mais aderente ao foco proposto.
1.4 Objetivo
O presente estudo pretende avançar sobre a bibliografia referente ao tema
proposto a fim de desvendar o que forma um processo colaborativo efetivo,
evidenciando principais práticas e características do ambiente que o circunda.
(tópico) É uma pesquisa sobre colaboração entre empresas na cadeia de
suprimentos
(questão) Na qual pretende se identificar na literatura (i) os benefícios
empíricos observados nos processos colaborativos; (ii) iniciativas de processo que
agregam valor para suprir a colaboração da cadeia de suprimentos; (iii) fatores que
inibem ou facilitam a colaboração na cadeia; (iv) o impacto de relacionamentos
colaborativos no processo decisório logístico.
(significância) no intuito de aprimorar a compreensão das
inciativas colaborativas nas operações das cadeias de suprimentos.
(potencial) contribuindo para o corpo de conhecimento do
tema.
4
2 Metodologia
Nesse capítulo será explicada as escolhas dos autores para tratar a bibliografia
referente ao tema, identificando a metodologia escolhida e a condução das pesquisas.
2.1 Metodologia da Pesquisa
A metodologia de pesquisa utilizada, para melhor compreensão de como se
desenvolveu o trabalho, pode ser classificada segundo os critérios de Gil (2007):
Objetivos
Procedimentos
Abordagem
Natureza
Quanto aos objetivos, a pesquisa foi exploratória, gerando maior familiaridade
com o tema discutido, com o objetivo de aprimorar as ideias acerca do tema e/ou
descobrir novas intuições e descritiva, com o objetivo principal de conseguir descrever
as características do fenômeno observado, podendo determinar a natureza deste
fenômeno.
Quanto aos procedimentos, a pesquisa foi bibliográfica, já que o trabalho foi
feito a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas e publicadas, sem
haver experimentos nem estudos de campo e de caso.
Quanto à abordagem, a pesquisa pode ser considerada quase inteiramente
como qualitativa, já que não houve preocupação com a representatividade numérica,
quantitativa, dos fatos observados. Preocupou-se apenas no aprofundamento da
compreensão de um determinado tema.
Quanto à natureza, a pesquisa foi básica, já que se buscou aprofundamento no
tema, mas não necessariamente com a missão de gerar conhecimentos com
aplicação prática de imediato. Objetivou-se gerar conhecimentos específicos sobre o
fenômeno observado, mas sem que este seja aplicável a uma realidade em especial.
5
2.2 Pesquisa Bibliográfica
O estudo foi desenvolvido através de uma revisão sistemática da literatura
realizado nas bases de pesquisa: Science Direct, ISI (Web of Knowledge) e Scielo,
sendo essas escolhidas por apresentarem as principais contribuições científicas sobre
o tema. Além disso, os autores tiveram acesso a outros textos, referentes ao tema e,
quando relevantes foram considerados nesse trabalho.
Primeiramente, os autores definiram que palavras chave deveriam ser usadas
a fim de ter um resultado mais proveitoso ao longo das pesquisas. Essa etapa é
fundamental para tornar as buscas mais eficientes e efetivas. Assim, foi utilizado um
site chamado: visuwords.com, que permite achar sinônimos.
Nessa etapa inicial da pesquisa a principal palavra escolhida: collaboration
(colaboração) e, a partir dela, foram definidas outras palavras chave, como indicado
na Figura 1, que permitiriam uma busca mais efetiva. As palavras escolhidas foram:
Collaboration, Coaction e Cooperation.
Figura 2: Sinônimos da palavra Collaboration.
Fonte: www.visuwords.com, acessado em 08/04/15.
6
A partir disso, um outro passo é necessário, que é o de escolher novas palavras
que irão compor as buscas, na tentativa de encontrar uma abordagem focada no
objeto definido no capítulo anterior. Portanto, foram definidas as palavras: Diagnostic
(Diagnóstico) e Method (Método) como alternativas. Vale ressaltar que foi aplicada
uma técnica de busca em que se utiliza o radical da palavra seguida de um asterisco,
para que as pesquisas contemplem derivações dessas palavras chave. Por exemplo,
collaboration foi pesquisada como collaborat*, pois contempla: collaboration,
collaborative, collaborate e etc..
Diante disso, uma primeira busca foi realizada a fim de identificar que tipo de
resultados essas palavras iriam conduzir a pesquisa. Assim, buscou-se por título e
não foi feita qualquer restrição quanto ao horizonte de tempo. Os resultados
encontram-se registrados no quadro 1.
Quadro 1: Resultados da pesquisa por título e sem restrição de tempo.
Palavra 1 Palavra 2 ISI Science direct Palavra 1 Palavra 2 Scielo
Collaborat* Diagnostic* 85 24 Colabora* Diagnóstic* 4
Cooperat* Diagnostic* 91 0 Coopera* Diagnóstic* 1
Coact* Diagnostic* 2 0 Coag* Diagnóstic* 3
Collaborat* Method* 4417 220 Colabora* Método* 12
Cooperat* Method* 4121 8 Coopera* Método* 10
Coact* Method* 32 5 Coag* Método* 7 Total
Total 8748 257 37 9.042
Fonte: Elaboração própria.
Como pode-se perceber foi encontrado um volume muito grande de textos, o
que inviabilizaria a continuação da pesquisa com esses critérios. Porém, o resultado
mostra que existe sim, na literatura, citações sobre esse assunto.
A base ISI disponibiliza gráficos referentes ao ano de publicação dos textos
contidos, como essa corresponde a grande maioria dos textos encontrados, essa
cronologia dos textos foi adotada como critério para criar refinamentos, a fim de
otimizar os resultados encontrados. Logo, decidiu-se refinar as buscas para um novo
horizonte de tempo, coletando as informações dos últimos 20 anos, pois como pode
7
ser visto no gráfico abaixo, as publicações começam a ocorrer em meados da década
de 90.
Gráfico 1: Quantidade de publicações por ano.
Fonte: Web of Knowledge.
Com o refino e adotando os mesmos critérios anteriores, a busca foi realizada
novamente originando os seguintes resultados.
Quadro 2: Resultado das pesquisas por título e com limite de ano.
Palavra 1 Palavra 2 ISI Science direct Palavra 1 Palavra 2 Scielo
Collaborat* Diagnostic* 81 20 Colabora* Diagnóstic* 4
Cooperat* Diagnostic* 76 0 Coopera* Diagnóstic* 1
Coact* Diagnostic* 0 0 Coag* Diagnóstic* 3
Collaborat* Method* 3868 192 Colabora* Método* 12
Cooperat* Method* 3928 5 Coopera* Método* 10
Coact* Method* 29 5 Coag* Método* 7 Total
Total 7982 222 37 8241
Fonte: Elaboração própria.
Houve pouco avanço, pois o tema se concentra nos últimos anos. Com isso, os
autores resolveram entender o porquê de tantos resultados e iniciaram uma leitura
8
superficial dos títulos encontrados. A partir disso, descobriu-se que os textos
encontrados envolviam diversas disciplinas, sobretudo as relativas a saúde/medicina.
Portanto, a decisão para o próximo refino contempla a escolha pelas disciplinas
que fazem parte do escopo desse projeto, sendo elas: Business (administração),
Engineering (Engenharia) e Economics (Economia) e as suas derivações, originando
os seguintes resultados:
Quadro 3: Resultado das pesquisas por título, ano e campo de aplicação.
Palavra 1 Palavra 2 Disciplina ISI Disciplina Science
direct Palavra 1 Palavra 2 Disciplina Scielo
Collaborat* Diagnostic* Engenharia 1 - 0 Colabora* Diagnóstic* 0
Cooperat* Diagnostic*
Engenharia,
PO e
Administração
8 - 0 Coopera* Diagnóstic* 0
Coact* Diagnostic* - 0 - 0 Coag* Diagnóstic* 0
Collaborat* Method*
Engenharia,
Transportes e
Administração
21 engenharia e
administração 46 Colabora* Método*
Engenharia
e gestão 3
Cooperat* Method* Engenharia e
Administração 8
engenharia e
administração 0 Coopera* Método* Engenharia 2
Coact* Method* engenharia e
administração 0 Coag* Método* Engenharia 1
Total
Total 38 46 6 90
Fonte: Elaboração própria.
Diante dos resultados, é notória a redução da quantidade de material, o que
viabiliza uma leitura dos títulos e resumos da bibliografia encontrada. Portanto, essa
base foi examinada e a conclusão que se chegou foi que os textos que resistiram aos
critérios de busca, não contemplavam perfeitamente o escopo do trabalho. Alguns
desses não abordavam assuntos referentes a cadeia de suprimentos, logística, redes
e etc., que seria a abordagem desejada.
Portanto, tomou-se como alternativa a utilização de mais palavras que
direcionassem as pesquisas para o escopo do trabalho almejado e, assim, aumentar
a probabilidade de acesso a bibliografia sobre o objeto definido. O novo critério
adicionado foi realizar as buscas envolvendo as palavras chain e logistics, na
9
esperança de melhores resultados. O quadro 4 abaixo divulga os resultados
encontrados nessa nova busca.
Quadro 4: Novos resultados das pesquisas por título e com limite de ano.
Palavra 1 Palavra 2 Palavra 3 ISI Science direct Palavra 1 Palavra 2 Scielo
Diagno* Collaborat* Chain* 6 2 Colabora* cadeia* 0
Diagno* Cooperat* Chain* 1 0 Coopera* cadeia* 0
Diagno* Coact* Chain* 0 0 Coag* cadeia* 0
Diagno* Collaborat* logistic* 0 0 Colabora* logistic* 0
Diagno* Cooperat* logistic* 0 0 Coopera* logistic* 0
Diagno* Coact* logistic* 0 0 Coag* logistic* 0
Metho* Collaborat* Chain* 117 2 Colabora* cadeia* 2
Metho* Cooperat* Chain* 44 0 Coopera* cadeia* 0
Metho* Coact* Chain* 3 0 Coag* cadeia* 0
Metho* Collaborat* logistic* 24 2 Colabora* logistic* 2
Metho* Cooperat* logistic* 19 0 Coopera* logistic* 0
Metho* Coact* logistic* 0 0 Coag* logistic* 0 Total
Total 214 6 4 224
Fonte: Elaboração própria.
Enfim, os autores ficaram mais seguros com os resultados encontrados e
decidiram definir esse como o resultado final.
Finalizada essa etapa de pesquisas, necessitava-se uma apreciação mais
profunda sobre os textos, mais um filtro, para definir quais, realmente, fazem parte do
escopo do trabalho. Assim, os autores examinaram os títulos encontrados e, sempre
que possuíam dúvidas sobre a aplicabilidade, aprofundavam a leitura, acessando os
resumos.
Sendo assim, os autores acreditam ter chegado a um primeiro resultado do
presente trabalho, que seria encontrar bibliografia disponível referente ao tema e
sentem-se seguros em construir seu trabalho a partir dessas pesquisas, devido à
grande quantidade de filtros definidos ao longo da mesma.
10
2.3 Limites e Limitações do trabalho
Dado que quanto aos procedimentos, a pesquisa foi bibliográfica, não foi
possível avaliar um estudo de campo ou aplicar o presente estudo num caso de
empresas brasileiras, sendo este um limitante do trabalho do ponto de vista de
aplicação.
Do ponto de vista de escopo, houve algumas limitações pré-definidas no
momento de definição de quais artigos encontrados na revisão bibliográfica, havendo
uma seleção apriorística de quais autores e títulos seriam trabalhados, sendo esta
uma limitação previamente imposta ao trabalho.
O trabalho, no entanto, cumpre ao que se propõe, deixando um modelo
conceitual disponível para a literatura para trabalhos posteriores.
2.4 Estruturação do Trabalho
O presente tralho está estruturado em 7 capítulos, cada qual com uma função
especifica para o trabalho como um todo.
No capítulo 1, introduzimos brevemente do tema, explicitando as motivações e
os objetivos do presente trabalho.
No capítulo 2, avançamos na metodologia de pesquisa utilizada, bem como, as
delimitações de escopo preliminares na avaliação bibliográfica.
No capítulo 3, fazemos uma contextualização do tema percorrendo desde as
transformações do comportamento das organizações no tempo até o surgimento do
conceito de práticas colaborativas, terminando com uma definição autoral proposta.
No capítulo 4, há revisão bibliográfica propriamente dita, nela identifica como
os artigos selecionados identificam uma configuração de colaboração, levando a
conclusões preliminares.
No capítulo 5, avaliamos as dimensões da colaboração na cadeia de
suprimentos, tanto em relação aos riscos e benefícios, quanto em relação às práticas
identificadas nos principais autores da literatura.
No capítulo 6, aplicamos a rede de decisões logísticas de Riopel e Langevin
(2005), de modo a criar uma estrutura robusta de avaliação das práticas colaborativas
11
com as categorias de decisões logísticas, com seus precedentes, dependentes e
impactos.
No capítulo 7, externamos as conclusões do trabalho proposto, iluminando os
limites do presente trabalho, e propondo novos estudos sobre o tema.
12
3 Contextualização dos Processos Colaborativos no Supply Chain
3.1 Conceituação do Supply Chain
Antes de se compreender a natureza de processos colaborativos na cadeia de
suprimentos é importante entender o próprio funcionamento da cadeia de
suprimentos, tanto na ótica como uma entidade de um todo o “Supply Chain”, quanto
na ótica de várias empresas e elos individuais atuando por si.
O termo Supply Chain Management, traduzindo para o português como gestão
integrada da cadeia de suprimentos, segundo o CSCMP (Council of Supply Chain
Management Professionals):
Supply chain management encompasses the planning and
management of all activities involved in sourcing, procurement,
conversion and logistics management. It also includes the coordination
and collaboration with channel partners which may be suppliers,
intermediaries, third-party service providers or customers. Supply
chain management integrates supply and demand management within
and across companies. (Council of Supply Chain Management
Professionals - CSCMP)
Portanto, o Supply Chain Management podendo ser compreendido como o
gerenciamento e a coordenação do conjunto de fluxos de informação, financeiros e
de produtos entre diferentes empresas numa mesma cadeia, conforme imagem
abaixo.
13
Figura 3: Fluxos na Cadeia de Suprimentos.
Fonte: Elaboração própria.
Os fluxos de informações podem ser representados pela demanda de bens que
começa na ponta final da cadeia (à direita), pelo consumidor, e permeia todos os elos
anteriores da cadeia até a extração de matéria prima na natureza (à esquerda). É
importante perceber que todas as demandas por consumo que acontecem entre os
elos da cadeia têm sua origem na demanda do consumidor final.
Os fluxos financeiros podem ser representados pelas relações comerciais entre
os elos da cadeia de suprimentos como consequência de um contra fluxo de produtos
no sentido oposto. Em outras palavras, conforme cada elo agrega valor e disponibiliza
o produto para o elo seguinte da cadeia, este elo receptor do produto recompensa
financeiramente o elo anterior pela agregação de valor correlata. No fundo, é como se
o valor monetário que o cliente paga pelo produto final, fosse perpassando toda a
cadeia de volta, no sentido contrário do fluxo de materiais; como se o dinheiro que o
cliente paga pelo produto final fosse passando de mãos entre os diferentes elos, no
sentido contrário, mas, ao passar por cada elo, as empresas retiram a parte da
margem final do produto para si.
Por tratar dos mesmos fluxos, alguns autores, tratam o conceito de “Gestão da
Cadeia de Suprimentos” (SCM, do inglês, Supply Chain Management) como a
evolução da ideia de logística integrada. Logística pode ser definida como:
Fluxo de Informações e Fluxo Financeiro
Fluxo de Materiais
14
That part of the supply chain process that plans, implements, and
controls the efficient, effective forward and reverse flow and storage of
goods, services, and related information between the point of origin
and the point of consumption in order to meet customers’
requirements.
Entretanto, segundo Julianelli (2008), enquanto a Logística é encarada como
uma função empresarial, assim como Marketing, Produção e Suprimentos, o conceito
de SCM está relacionado com a integração funcional cruzada dos processos que
envolvem diferentes áreas de várias empresas, o que abre um novo leque de
oportunidades e desafios, incluindo processos de relacionamento com empresas de
fora.
Para Christopher (2002), a diferença entre os dois conceitos (logística e SCM)
está no fato de que no gerenciamento logístico a empresa preocupa-se em otimizar
os fluxos de produtos e informações dentro de seus próprios domínios. Já o
gerenciamento da cadeia de suprimentos considera a existência de uma forte
integração entre todos os elos participantes da cadeia. Visão esta também é
compartilhada por Ballou (2006), conforme imagem abaixo:
Figura 4: Funções das Cadeias de Suprimentos.
Fonte: Ballou (2006).
15
Para alguns autores, o Supply Chain é uma evolução multi-organizacional da
visão de logística integrada, indicando uma futura dependência deste tipo de
relacionamento na rede de suprimentos. Segundo Spiegel, Vasconcelos, Porto e
Caulliraux (2012):
The evolution of the logistics concept to a view of the supply chain was
based on multi-organizational perception, which gave rise to the idea
that a particular company depends, directly or indirectly, on other
organizations. Such dependency relationship also indicates that
increased competitiveness depends essentially on an integrated
performance.
Assim, podemos concluir que o nascimento do conceito de Supply Chain
ocorreu quando as evoluções tecnológicas e a competição global propiciaram que as
empresas começassem a perceber o potencial benefício e a importância das relações
estratégicas e cooperativas com fornecedores e clientes. Na busca de otimizar os
fluxos internos de atividades, passou-se a analisar as formas de racionalizá-las,
eliminando atividades com repercussões sobre aspectos que não agregavam valor
aos olhos do cliente final, como estoques, custos e prazos. Como sequência natural
deste processo de racionalização, ocorreu o desenvolvimento da função logística nas
organizações, envolvendo a ligação entre as funções internas e, externamente a
estas, com os fornecedores diretos e indiretos. Desta forma, busca-se estender aos
parceiros comerciais a gestão por processos, visando a integração e formação de
parcerias. Para isso, faz-se necessária uma avaliação mais profunda das
complexidades envolvidas no Supply Chain, para se traçar o paralelo para os
relacionamentos colaborativos.
3.2 Supply Chain Management
Definido Supply Chain como a gestão dos fluxos de materiais e informações,
num olhar prosaico, não pareceria haver grandes complexidades no gerenciamento
destes fluxos na cadeia de suprimentos, bastaria somente recebida a demanda do
cliente movimentar toda a cadeia para atendê-lo. A realidade, no entanto, é outra.
16
Nos mercados informatizados, competitivos e globais nascidos na segunda
metade do século XX, a necessidade do cliente para a maior parte dos bens é
imediata, ou seja, o consumidor não está disposto a esperar toda a movimentação da
cadeia para atendê-lo. O consumidor do século XXI espera chegar na loja e encontrar
o produto que ele necessita, no modelo que ele quer, com as personalizações que ele
deseja, em condições financeiras e preços que ele esteja disposto a pagar, ou seja, é
preciso coordenar os fluxos de informações e materiais da cadeia de suprimentos para
atender clientes cada vez mais exigentes, com necessidades particulares em cada
vez menos tempo.
Por exemplo, quando um consumidor vai a um posto de gasolina para
abastecer o carro, não é aceitável que o frentista diga ao cliente que ele deve esperar
dois meses até a gasolina estar pronta, mesmo que o frentista justifique que o petróleo
foi extraído numa plataforma offshore, transportado via duto, refinado e produzido em
outro estado, e depois distribuído em outros vários postos de gasolina. A ordem de
grandeza do tempo necessário para servir o cliente e do tempo disponibilizado pelo
cliente para ser servido são de ordens de grandeza completamente diferentes como
está indicado pela figura abaixo. O cliente simplesmente não está disposto a esperar
tanto.
Figura 5: Cadeia de Suprimento de combustíveis.
Fonte: Elaboração Própria.
TERMINAISPRODUÇÃO
Operação de Alívio
REFINARIAS
Cliente
DOWNSTREAMUPSTREAM MIDSTREAM
• Exploração• Perfuração
• Offloading
DISTRIBUIÇÃO
• Refinaria• Bases primárias e secundárias• Distribuição
Tempo necessário(semanas)
Tempo disponível(minutos)
17
Outro exemplo, quando um casal resolve tomar um vinho em um restaurante
para comemorar o aniversário de casamento, não é admissível que o garçom diga que
demorará meses para que o vinho seja servido, mesmo que se justifique dizendo que
o produto foi produzido artesanalmente na Europa, foi importado, passou por
verificações aduaneiras, ficou armazenado e teve que ser transportado de outro
estado até chegar no restaurante. A comemoração do casamento era naquele dia, e
o casal não pode e não quer esperar mais de alguns minutos para degustar o vinho.
Portanto, como o tempo disponibilizado pelo cliente para ser servido é menor
que o tempo necessário para a movimentação da cadeia, só resta uma alternativa
para as cadeias, a antecipação. Os elos da cadeia têm que se planejar para antecipar
as necessidades dos clientes e, inevitavelmente, formar estoques entre os elos.
Outra conclusão simplista, ao observar que o importante é a disponibilidade de
produtos próximo ao cliente final, bastaria que o varejo, elo mais próximos destes
consumidores, acumulasse todo o estoque da cadeia para garantir que sempre que o
cliente chegasse o produto desejado estivesse disponível. No entanto, na prática isso
não é viável, principalmente porque o varejo, é o elo da cadeia que tem nos custos
variáveis sua maior parcela de custos, decorrentes das compras de matérias primas
que serão vendidas, e uma margem consideravelmente baixa, o que potencializa a
necessidade de giro dos estoques para a rentabilidade. Isso sem falar que o varejo
ocupa as áreas mais nobres e, portanto, a necessidade de espaço para estoque seria
gerada nas áreas mais caras por metro quadrado. Conclui-se então que a natureza
do negócio varejo o obriga a evitar ter capital na forma de estoques, já que toda a
lucratividade de seu negócio é baseada no capital de giro.
Depois de toda a reflexão sobre interação entre os agentes da cadeia, chega-
se à conclusão que além dos elos terem que cooperar para atender o cliente final da
melhor forma possível ainda é necessário ressaltar que estes mesmo elos participam
de uma disputa na cadeia pela margem final do produto vendido ao cliente. O que
envolve uma correlação de forças e de poder na cadeia que tem implicações em como
ela se comporta.
Segundo Julianelli (2008), um aspecto que dificulta o aumento da eficiência nas
cadeias a partir da gestão do fluxo de informações diz respeito ao formato de
relacionamento entre os parceiros comerciais. Como todas as empresas tentam
maximizar seus resultados individualmente, ocorrem diversos atritos na relação entre
18
fornecedores e clientes, que buscam no processo de negociação garantir o maior
resultado possível para seus acionistas (nas transações). O problema é que, ao fazer
isto, as empresas colocam-se como adversárias de seus parceiros comerciais e criam
barreiras para o compartilhamento das informações de demanda, que são utilizadas
para aumentar o poder de barganha no processo de negociação.
Mesmo não intencionalmente, esse tipo de comportamento pode ser
generalizado para o conceito de microeconomia chamado assimetrias de informação,
situação na qual, agentes diferentes na cadeia, possuem informações distintas sobre
uma transação (PINDYCK, 2002), influenciando tanto nos fluxos financeiros e de
informações quanto nos fluxos de materiais. Então, o processo de disputa por
apropriação de margem na cadeia e as assimetrias de informação são fatores que
dificultam processos colaborativos e a coordenação entre os vários fluxos e os vários
elos da cadeia.
Assim, mesmo se o Supply Chain fosse como uma cadeia linear com apenas
um cliente, uma indústria e um fornecedor, já haveria toda essa complexidade
envolvida decorrente dos conflitos de interesses, assimetria de informação e
exigências dos clientes. Entretanto, a assimetria de informação não é o único
complicador da gestão da cadeia de suprimentos, na realidade as cadeias de
suprimentos funcionam como redes de suprimentos, com múltiplos elos, múltiplas
empresas em cada elos e múltiplos concorrentes como indicado na figura 6.
Para Lambert, Cooper e Pagh (1998), a descrição de uma cadeia de
suprimentos é feita a partir de uma empresa-foco, que tem sua cadeia definida através
dos relacionamentos de todas as organizações com as quais a empresa-foco interage,
à montante e à jusante, de um lado os fornecedores e de outro lado seus clientes.
19
Figura 6: Esquematização de uma Rede de Suprimentos.
Fonte: Elaboração Própria, baseado em Lambert, Cooper e Pagh (1998).
E mais até do que uma configuração com agentes em vários elos, estas
empresas têm estratégias diferentes, portes diferentes, portfólios diferentes,
relacionamentos diferentes e podem competir entre si.
Uma empresa pode ter vários fornecedores, estes fornecedores de diferentes
portes e estratégias competem entre si por mais protagonismo no portfólio de
suprimentos da empresa principal. Estes mesmos fornecedores podem até participar
também do suprimento de uma concorrente da empresa principal.
Usando um exemplo de uma Empresa A que fabrica sandálias inserida numa
cadeia no segmento de calçados. Vale separar o exemplo em duas partes:
fornecedores e clientes.
Em relação ao fornecimento, primeiro é necessário saber das matérias primas.
Sabe-se que os insumos principais das sandálias são borrachas e pigmentos de
borracha (em diversas cores). Portanto a Empresa A, que fabrica sandálias, tem tanto
fornecedores de borrachas, que competem entre si para vender o máximo de borracha
possível para a empresa de sandálias, quanto fornecedores de pigmentos, que
também competem entre si para que seus pigmentos sejam majoritários nas
sandálias. Esses mesmos fornecedores de borracha e pigmentos também podem ser
agentes responsáveis por abastecer uma empresa concorrente, a Empresa B, que
Fornecedores
Concorrentes
Clientes
Empresa
20
também fabrica sandálias. Vale a ressalva que isso é possível mesmo que as
estratégias das empresas que fabricam sandálias sejam radicalmente diferentes, por
exemplo, a Empresa A usa apenas a melhor qualidade de borracha e pigmentos
exclusivos, enquanto que a Empresa B usa a borracha de melhor custo benefício e
cores de pigmentos de catálogo, isso depende do portfólio dos fornecedores. Ou seja,
os fornecedores competem entre si e cooperam com o concorrente
Em relação aos clientes, é sabido que a Empresa A tem exclusividade em
algumas lojas de marca em shopping centers, enquanto que a Empresa B tem suas
lojas exclusivas em ruas de movimentação e comércio. Ou seja, elas não competem
entre si nesses dois canais, pelo menos não no sell-in (venda para o elo seguinte),
apenas no sell-out (venda para o consumidor final). Por outro lado, há uma grande
rede de multimarcas que vende tanto sandálias da Empresa A, quanto sandálias da
Empresa B, portanto ambas as empresas competem por Market Share nessa rede
multimarcas, que dará preferência a quem melhor servi-la, respeitando as
necessidades do consumidor final. Conforme esquema abaixo.
Figura 7: Competição em Redes de Suprimentos.
Fonte: Elaboração própria.
Pode se destacar que este fenômeno não acontece apenas dentro de uma só
cadeia, ou seja, a concorrência pode acontecer fora dos elos de uma mesma cadeia,
podendo se estender até para outros segmentos.
Fornecedores Clientes
Empresa A
Empresa B
Pig
me
nto
sB
orr
ach
a
Lojas P
rem
ium
Lojas d
e R
ua
Mu
ltimarca
21
Por exemplo, um fornecedor pode vender borracha tanto para sandálias quanto
para pneus de automóveis, logo, as empresas que fabricam sandálias também
competem com empresas que fabricam pneus por disponibilidade de recursos e nível
de atendimento do fornecedor que vende borracha.
O mesmo acontece quando observamos os lados dos clientes. Considerando
um bar, por exemplo, é evidente que há a competição entre as empresas de bebidas
para conseguir penetrar o portfólio no bar, cada uma com suas diferentes marcas de
cerveja (e uma estratégia para cada marca de cerveja), acontece que nas vendas do
dia-a-dia as empresas de bebidas têm outros concorrentes não triviais pelas compras
do bar. Empresas que vendem cigarro também querem colocar seus produtos para
serem consumidos no bar e, como o dono do bar tem recursos limitados e sua
rentabilidade depende do giro de estoques (dificuldade de manter estoques),
empresas do segmento de bebidas competem pelo capital de giro do bar com
empresas do segmento de fumo e tabaco, assim como os diversos produtos
disponíveis competem pelos recursos no bolso do consumidor.
Isso só evidencia que para além das complexidades decorrente do
encolhimento da janela de atendimento, o tempo disponibilizado pelo cliente para
servir ser menor que o tempo necessário para movimentação da cadeia; da correlação
de forças entre elos, materializada na disputa pela margem da cadeia; a assimetria de
informações, que influenciam as transações; ainda há a dificuldade adicional de haver
múltiplos agentes em múltiplos elos competindo e cooperando entre si.
Assim, as empresas que tiveram que repensar seus métodos de gerenciamento
de operações, nas últimas décadas do século XX, sobretudo na manufatura, para
serem competitivas em âmbito global, não mais conseguirão sustentar as vantagens
competitivas caso não observem toda a dinâmica da cadeia que estão inseridas.
A mentalidade de cada empresa obter o ótimo local para si não mais é
suficiente. Dado que numa cadeia, apesar de terem interesses diversos individuais,
quando cada empresa busca o ótimo local para si, não necessariamente (e muito
provável que não) gera o ótimo global da cadeia como um todo. Assim, a visão
individual de cada empresa deve ser substituída por uma visão de cadeia, na qual o
relacionamento com fornecedores e clientes é chave.
22
No modelo proposto por Fawcett (2008), buscando maior efetividade do Supply
Chain, as pontes propostas estão ancoradas na colaboração na cadeia de
suprimentos, seja colaboração interna ou externa, entre elos ou outras empresas:
Figura 8: Framework do Supply Chain Management.
Fonte: Fawcett, Magnan e McCarter (2008).
Elementos como o alinhamento de incentivos, empoderamento de pessoas,
mensuração de performance e mecanismos de alinhamento são pontes chaves para
entregar uma cadeia de suprimentos mais efetiva, que gera benefícios como melhores
produtos, melhores ciclos de P&D, menores ciclos de atendimento, cadeias mais
responsivas e direcionadas ao cliente. A lista de Fawcett, Magnan e McCarter (2008),
em relação aos benefícios, pontes e barreiras à gestão do Supply Chain, encontra-se
no anexo deste trabalho.
Este modelo de Fawcett, Magnan e McCarter (2008), também explicita forças
que levam as cadeias de suprimento na direção da colaboração. Estas forças serão
explicadas na sessão posterior.
23
3.3 Transformações no Supply Chain
Considerando os pontos enunciados por Fawcett, Magnan e McCarter (2008),
as forças motrizes do Supply Chain Management vem de duas fontes: as pressões
externas e potenciais benefícios de alinhamento estratégico do Supply Chain.
Pressões externas incluem forças como os avanços na tecnologia e aumento
da demanda dos clientes através das fronteiras nacionais Fawcett et. al. (2008 apud
MEHTA, 2004); manter os custos baixos enquanto atende essas novas demandas
diversas, Fawcett et. al. (2008 apud COOK & GARVER, 2002); e intensificação da
competição através de relações entre empresas alinhadas verticalmente, Fawcett et.
al. (2008 apud TOGAR & RAMASWAMI, 2004). Essas pressões começaram a mudar
o foco das firmas individuais que disputam presença no mercado e poder nas cadeias
de fornecimento competindo contra outras cadeias de fornecimento Fawcett et. al.
(2008 apud BHATTACHARYA et al., 1995).
A segunda motriz é em relação aos benefícios estratégicos do Supply Chain,
dentre os quais pode-se destacar o aumento do giro de estoques, aumento de receita
e redução de custos em toda a cadeia como os mais citados Fawcett et. al. (2008
apud DAUGHERTY et al., 2005; ATTARAN, 2004; FERDOWS et al., 2004; LEONARD
& CRONAN, 2002; FINE, 2000). A colaboração não só permite que os parceiros
possam reduzir os custos, mas também que o inventário percorra mais rapidamente
o fluxo até os clientes. O resultado duplo é de aumento das receitas e diminuição dos
custos, que podem gerar um compartilhamento de margem por toda a cadeia.
Todo esse cenário de pressões externas evidencia que mudanças no ambiente
competitivo global, iniciadas das últimas décadas do século XX, propiciaram
transformações na cadeia de suprimentos, gerando diferentes visões das próprias
empresas, tanto como as empresas enxergam seus clientes, como as enxergam a si
mesmo, quanto como as empresas enxergam seus parceiros.
Até a década de 1970, o grande foco das empresas era “porta para dentro”,
otimizar suas operações produtivas internas, compartilhar tecnologia e habilidades
com clientes e fornecedores era considerado muito arriscado. Mas, a partir da década
de 1970, as empresas começaram a perceber o impacto do estoque de produtos em
processo sobre os custos de produção, qualidade, desenvolvimento de novos
produtos e sobre o tempo de entrega (GASPARETTO, 2001). Ou seja, a partir da
24
década de 1970, empresas chegaram à conclusão que apenas olhar para dentro não
seria suficiente para competir dados os novos desafios colocados.
O cenário mundial das últimas décadas do século XX trouxe mudanças
consideráveis no ambiente competitivo mundial. Este contexto continua mudando e,
consigo, trazendo novas complexidades e preocupações na gestão da cadeia de
suprimentos.
Pelo lado dos clientes há uma complexidade crescente, causados por: (i)
Menores ciclos de vida, os clientes passaram a demandar produtos na vanguarda
tecnológica, para continuar perseguindo essa modernidade, os produtos duram cada
vez menos tempo e podem ser facilmente substituídos por outros mais modernos e
atrativos, gerando obsolescência; (ii) Proliferação de produtos, com o objetivo de
diferenciação, as empresas lançam novos produtos com frequência, buscando cada
vez mais uma personalização dos produtos aos clientes; (iii) Maior exigência de
serviços, o consumidor está cada vez mais exigente quanto ao nível de serviço
esperado das empresas, não está disposto a esperar para ter o produto que deseja;
(iv) Pressão sobre preços, a competição global e os avanços tecnológicos, fazem uma
pressão descendente sobre os preços.
Para atender esse novo perfil de demandas dos clientes é necessária
articulação e coordenação de toda cadeia de valor por parte das empresas. No
passado, marcas fortes apoiadas em produtos de alta qualidade, juntamente com um
esforço de marketing e vendas agressivas eram suficientes. Agora, no entanto, as
empresas concorrem cada vez mais por capacitações e competências, na excelência
de produtos e processos.
Do lado dos fornecedores, também foi possível observar mudanças
consideráveis. A competição global e os avanços tecnológicos propiciaram o
nascimento de um maior número de empresas cada vez mais especializadas. O
mesmo fenômeno que ocorreu com a empresa focal em relação a seus clientes
também ocorreu com os fornecedores em relação à empresa focal, afinal é como se
toda a cadeia estivesse sendo deslocada e a empresa focal se tornasse cliente de
seus fornecedores. Em outras palavras, houve o surgimento de empresas com
unidades de negócios cada vez mais especializadas em componentes específicos do
processo produtivo, com um portfólio com um grande número produtos customizadas.
Além disso, como a competitividade do mercado como um todo aumentou, todas as
25
empresas classificadas como fornecedores em potencial competem para oferecer o
melhor produto e nível de serviço ao menor preço possível.
A modernização dos sistemas de informação também contribuiu para uma
otimização dos fluxos de informação da cadeia como um todo, de ponta a ponta, de
modo que as relações com os fornecedores mudaram. Para além disso, mais
recentemente, há uma redução progressiva dos custos transacionais, gerando a
habilitação para as empresas operarem com múltiplos fornecedores e priorizarem
aqueles que oferecem o melhor pacote de custo-benefício nos serviços.
Dada toda a complexidade de gerenciamento da cadeia de suprimentos e as
transformações vividas pelo mundo nas últimas décadas, observamos que a
coordenação no Supply Chain é um elemento chave de vantagem competitiva
(PORTER, 1992). A coordenação da cadeia de suprimentos melhora se todos os
estágios realizarem ações que, em conjunto, aumentem os lucros totais da cadeia de
suprimento (CHOPRA & MEINDL, 2003). Os autores afirmam que esta coordenação
exige que cada estágio considere o impacto que suas ações exercem sobre os demais
estágios e que a falta da coordenação ocorre quando estágios diferentes da cadeia
possuem objetivos conflitantes ou porque as informações que circulam entre os
estágios são distorcidas, gerando ineficiências na cadeia de suprimentos.
Assim, a evolução do ambiente de negócios fez com que o foco da gestão da
cadeia de suprimentos ficasse cada vez maior nas relações, a fim de alcançar um
resultado mais lucrativo para todos os elos da cadeia. Isso gera alguns desafios
relacionais importantes, dado que pode haver momentos que os benefícios individuais
próprios de algumas empresas sejam colocados de lado, em busca de um benefício
maior para a cadeia como um todo.
3.4 Colaboração na Cadeia de Suprimentos
Dado que o relacionamento entre os elos é relevante para a cadeia de
suprimento como um todo, esse capítulo tem como objetivo contextualizar o tema da
colaboração, o principal assunto escolhido para esta dissertação, trazendo alguns dos
principais aspectos discutidos por autores ao longo das últimas décadas, para trazer
luz para como a colaboração faz parte do cotidiano das empresas, que buscam
26
superar a complexidade dos desafios apresentados anteriormente. Além disso, será
apresentado como a bibliografia relativa a colaboração se desenvolveu ao longo dos
anos.
O aumento na competitividade dos mercados e a maior exigência dos
consumidores, decorrentes da segunda metade do século XX, fez com que as
empresas buscassem alternativas para melhorar seus desempenhos. Cao e Zhang
(2011) afirmam que nas últimas décadas, houve a necessidade de as empresas
buscarem fora de suas organizações oportunidades de colaboração com parceiros
para garantir que a cadeia de suprimentos seja efetiva e que responda as
necessidades de um mercado dinâmico. Porém, esse movimento se caracterizou pela
abordagem de aproximação entre as empresas das cadeias, evidenciando a
necessidade de iniciativas. Desse modo, a colaboração nas cadeias de suprimentos
surgiu como uma tentativa de reduzir as distorções nos fluxos de informações,
causados pela necessidade de antecipação do mercado, objetivando melhorias no
desempenho operacional de toda a cadeia.
A colaboração fez a transição de um conceito puramente teórico para se tornar
uma prática da cadeia de suprimentos largamente adotada (WIENGARTEN, F. et al.,
2010). Profissionais e acadêmicos estão cada vez mais interessados na colaboração
na cadeia de suprimentos (WEINGARTEN et al., 2010 apud SIMATUPANG &
SRIDDHARAN, 2005). Ainda nesse ponto, mais autores confirmam a tese de que a
colaboração realizou um caminho da teoria para a prática nas cadeias de suprimentos.
Weingarten et al. (2010), em suas buscas, fez algumas considerações sobre o
estado atual e a evolução da literatura referente a colaboração. De início, sabe-se que
as relações na cadeia de suprimentos e, em particular, a colaboração tem se tornado
um assunto muito ativo e bem estabelecido no domínio da pesquisa (WEINGARTEN
et al., 2010 apud PAGELL, 2004). Um crescente corpo literário sugere que um número
de empresas começa a colher benefícios significativos das suas inciativas de
colaboração (WEINGARTEN, 2010 apud NARASHIMHAN & JAYARAM, 1998, SHIN
et al., 2000, VEREECKE & MUYLLE, 2006). Verifica-se, portanto, que o tema é
composto de uma bibliografia sólida, porém ainda não é considerada uma prática
consolidada das empresas. Assim, essa transição da teoria para a prática não parece
ter acontecido de maneira plena. Existe muita dificuldade na implementação dos
processos colaborativos devido à grande complexidade do assunto.
27
Uma possível explicação para que essa prática não seja largamente utilizada
pelo mercado de maneira plena, pode estar nessa complexidade de implementação e
execução, como já foi dito. Além disso, a necessidade de compartilhamento com
outras instituições inibe as iniciativas ao apresentar riscos associados a exposição das
informações e no desenvolvimento de trabalhos conjuntos. Além disso, ao depender
de outros parceiros as decisões estão fora da região de domínio das empresas, o que
dificulta o controle. Assim, os resultados dependem da organização, iniciativa,
coordenação da cadeia de suprimentos, ou, em uma visão mais contemporânea, da
rede.
Cassivi (2006) em sua descrição do contexto da colaboração cita as
descobertas sobre as relações entre as empresas, afirmando que as relações entre
compradores e fornecedores foi tema de muitas pesquisas no passado. Fatores de
sucesso e de fracasso foram definidos por vários autores para esse tipo de relação.
Concluindo-se que a concepção e o desenvolvimento de parcerias dependeriam de
uma comunicação excelente entre os potenciais parceiros. Alguns estudos chegaram
a importantes pontos e passos críticos para alcançar a colaboração na cadeia,
preocupando-se em definir etapas a serem alcançadas com o objetivo de mitigar os
riscos de fracassos ao longo de sua complexa implementação.
Na última década, há sem dúvida uma evolução do tema através das
tecnologias eletrônicas. Essas propiciaram ferramentas que possibilitam o cálculo de
diversos cenários de operação e uma grande troca de informações em escala global
em um curto período de tempo. Cassivi (2006) destaca que o uso das ferramentas
eletrônicas colaborativas no ambiente produtivo traduz dois principais processos de
inovação: os que promovem visibilidade entre os parceiros e os de suporte a
implementação das estratégias da cadeia de suprimentos. Essas ferramentas
habilitam a troca de informação em tempo real e o desenvolvimento de softwares
auxilia na produção de informação em maior quantidade e qualidade. Sem dúvidas,
essas mudanças alteraram o cenário em que as empresas se relacionam e ajudam a
mitigar a complexidade envolvida no tema.
Os relacionamentos colaborativos diferem-se das relações transacionais não
apenas através dos seus classificadores de intensidade ou dos seus elementos, mas
também por causa dos resultados esperados. Os resultados vêm em forma de
benefícios, como mostram a maior parte dos autores, mas esse tipo de
28
relacionamento também pode trazer riscos devido ao nível de envolvimento e
dependência dos parceiros, como alertam Ellram e Cooper (1990).
A colaboração é apontada como um fator que impacta na competitividade das
companhias em seus ambientes de negócios. Em seus estudos, Leew e Fransoo
(2009) afirmam que o fundamento racional por trás de todos os termos, como: aliança,
relacionamentos, colaboração, parcerias e etc. parece ser que as companhias não
conseguem competir com sucesso por elas próprias e, portanto, buscam o
estabelecimento de acordos com outras entidades na Cadeia de Suprimentos. Singh
e Power (2009) afirmam que há um conjunto de evidências sugerindo que a
colaboração efetiva pode gerar muitos resultados úteis as empresas. O aumento da
competição e a vasta disponibilidade de tecnologia de redes levaram um aumento da
colaboração nas cadeias de suprimentos através de uma grande gama de setores
industriais como o automotivo (WEINGARTEN et al., 2010 apud IRELAND, 2009,
BAGCHI & SKJOTT-LARSEN, 2005).
Portanto, a colaboração se insere como importante ferramenta para encarar a
competição do ambiente de negócios atual.
3.5 Processos Colaborativos
Após essa breve contextualização do tema, busca-se nesse capítulo apresentar
algumas definições de colaboração e a inserção dela nos processos de negócios das
empresas.
Colaboração pode ser simplesmente definida como um processo de tomada de
decisões entre partes interdependentes através de muitos níveis na cadeia de
suprimentos, que envolvem propriedade conjunta das decisões e responsabilidade
coletiva pelos resultados (WIENGARTEN et al., 2010 apud STANK, 2001). Wiengarten
et al. (2010) tenta definir as práticas colaborativas como a extensão em que as
organizações compartilham informação, riscos, custos, benefícios e realização
decisões conjuntas com seus fornecedores chave. Cao e Zhang (2011) afirmam que
a colaboração é definida, basicamente, através de duas contextualizações, uma com
foco em processo e outra com foco em relacionamento. Assim, combinando esses
dois, a colaboração na cadeia de suprimentos pode ser entendida como um processo
29
de parceria onde duas ou mais instituições autônomas trabalham com proximidade
para planejar e executar as operações na cadeia de suprimentos através de objetivos
comuns e benefícios mútuos.
Vieira e Yoshizaki (2007) afirmam que colaboração significa que duas ou mais
empresas trabalham juntas ao longo do tempo (com base em confiança, flexibilidade,
reciprocidade, interdependência, comprometimento, comunicação aberta,
conhecimento do parceiro e longo prazo) por meio de decisões conjuntas,
compartilhando informações logísticas e comerciais, custos e benefícios, objetivando
atender às necessidades dos clientes.
Para Anthony (2000), a colaboração no gerenciamento da cadeia de
suprimentos ocorre quando duas ou mais companhias dividem a responsabilidade em
compartilhar o planejamento, o gerenciamento, a execução e as informações de
indicadores de performance (KPIs). O autor comenta que o termo colaboração é
usado de forma genérica no mercado, abrangendo múltiplas áreas funcionais.
Kanter (1994) afirma que a colaboração ocorre quando as companhias
desenvolvem mecanismos (estrutura, processos e habilidades) para conectar
diferenças organizacionais e interpessoais, alcançando reais benefícios com um
relacionamento de parceria.
Enquanto os potenciais benefícios de desempenho fizeram a colaboração uma
prática popular na cadeia de suprimentos, sua estrutura complexa tem deixado as
companhias lutando com a implementação, condução e medição das inciativas
colaborativas (WEINGRATEN et al., 2010 apud BARRATT, 2004). Wiengarten et al.
(2010) afirma que, recentemente, pesquisadores tem destacado a natureza
multidimensional da colaboração, que vai além da troca de informações, devendo
contemplar a tomada de decisão conjunta e o alinhamento de incentivos.
Leew e Fransoo (2009), em seu estudo, consideram que suas descobertas
clamam por uma abordagem onde resultados de estudos analíticos e empíricos estão
melhor integrados. Historicamente, modelos analíticos têm focado no efeito das
características de mercado, majoritariamente, na incerteza de demanda e
ressuprimento. Os efeitos das características de produto e parceria tem sido o foco
nos domínios empíricos e mais gerenciais. Assim, destaca-se a complexidade desse
assunto e a abordagem técnica da literatura.
30
Pode-se dizer, então, que a colaboração na cadeia de suprimentos geralmente
ocorre quando duas ou mais empresas dividem a responsabilidade, através de
confiança e comprometimento, de trocar informações sobre o planejamento, gestão,
execução e medição de desempenho (PIRES, 2004), sendo um meio pelo qual todas
as empresas desta cadeia estão trabalhando ativamente juntas em prol de objetivos
comuns, compartilhando riscos e benefícios.
Por fim, podemos entender a colaboração no Supply Chain, como um processo
de parceria no qual é desenvolvido uma relação entre duas ou mais empresas que
confiam entre si e decidem por dividir a responsabilidade de compartilhar informações,
promovendo visibilidade de suas operações e de modo a permitir decisões conjuntas,
através de uma coordenação do planejamento e execução de atividades, balanceando
riscos e benefícios mútuos e alinhando incentivos afim de objetivo compartilhados.
3.6 Iniciativas Colaborativas
Nesta sessão exploremos algumas práticas e iniciativas de colaboração
clássicas encontradas na literatura. Segundo Wanke (2004), nas últimas décadas,
diversas empresas, com seus fornecedores e clientes, buscaram redesenhar as
operações de produção e de distribuição, através de um maior compartilhamento de
informações, com relacionamentos colaborativos.
Essas iniciativas são comumente chamadas de programas de resposta rápida
(PRRs) na literatura. Os PRRs são, portanto, diversas formas de prestar os serviços
logísticos alicerçados na cooperação e no compartilhamento das informações da
demanda do cliente com seu fornecedor.
Para Julianelli (2015), os Programas de Resposta Rápida surgiram na esteira
do desenvolvimento e aprimoramento dos mecanismos de troca eletrônica de dados
(EDI), que possibilitam, ao menos em teoria, o acesso da informação do sell out por
parte dos fabricantes, melhorando a acurácia da previsão de vendas e,
consequentemente, reduzindo os custos com estoques de segurança.
Atualmente há várias modalidades de PRRs, cada qual atendendo por uma
sigla diferente: ECR, CRP, VMI, QR e etc; além de possuírem características próprias.
31
Quick Response (QR)
Para Wanke (2004), na estratégia básica de Quick Response, os fornecedores
recebem os dados coletados nos pontos de venda do cliente e utilizam essa
informação para sincronizar suas operações de produção e seus estoques com as
vendas reais do cliente. A decisão da colocação do pedido continua com o cliente de
forma individual, mas os dados do ponto de venda são utilizados pelo fornecedor para
aprimorar sua previsão e sua programação.
Wanke (2004) ainda afirma que o surgimento desse programa se deu no setor
têxtil e de confecções nos EUA e, além da produção, também apresenta impactos nas
operações de distribuição: os produtos não são mais armazenados em centros de
distribuição, mas sim movimentados através de instalações de cross-docking.
Continuous Replenishment Program (CRP)
Wanke (2004) ressalta a estratégia básica de Continuous Replenishment se baseia
no recebimento de dados pelo ponto de venda para preparar carregamentos em
intervalos regulares e assegurar a flutuação do estoque no cliente entre determinados
níveis máximo e mínimo. Esses níveis de estoque podem variar em função de padrões
sazonais de demanda, de promoções e de mudança no gosto do consumidor.
O autor ainda destaca que as empresas como Procter&Gamble e a Wal Mart
foram pioneiras na adoção do CRP para o ressuprimento das fraldas Pampers.
Efficient Customer Response (ECR)
Wanke (2004) assim como no QR, no ECR os produtos não são mais estocados
em centros de distribuição, mas sim movimentados rapidamente por instalações de
cross-docking.
O ECR é um redesenho dos principais processos de reabastecimento da cadeia
varejista e está estruturado em quatro pilares de sustentação: a reposição eficiente
dos produtos, o sortimento dos produtos, a promoção eficiente de produtos e a
introdução de novos produtos.
Uma diferença chave do ECR para o QR, é que através do gerenciamento de
categorias, fornecedores e clientes deixam de utilizar intensivamente estratégias
promocionais. É sabido que essas estratégias provocam movimentos especulativos
32
de antecipação de compras no varejo, criando estoques excessivos na cadeia. Essa
padronização buscaria estabelecer normas e rotinas para a operacionalização do fluxo
de produtos e de informações, através da uniformização dos meios de transporte, dos
procedimentos para liberação e recepção de veículos e da troca eletrônica de dados.
Vendor Managed Inventory (VMI)
O VMI tende a ocorrer quando o poder de barganha dos fornecedores é maior
que o dos seus clientes. No VMI, o fornecedor decide sobre o nível apropriado de
estoque de cada um dos produtos (dentro de limites acordados previamente) e as
políticas apropriadas de estoques para manter estes níveis, funcionando, no fundo,
como uma política de estoques empurrada. Wanke (2004), a ideia é que ao gerenciar
os estoques na cadeia, os fornecedores sejam capazes de programar melhor suas
operações, motivados por elevados custos de oportunidade de manter estoques ou
por que suas operações de produção e de distribuição são intensivas em custos fixos.
No entanto, a consignação pode ocorrer no VMI, caso o poder de barganha do
cliente seja maior que o do fornecedor ou como forma de convencimento dos clientes.
Na consignação, as chances de conflito na relação cliente-fornecedor tendem a ser
minimizadas quando o cliente sinaliza com uma maior previsibilidade de consumo do
produto consignado, quando os custos de oportunidade de manter estoques são
conhecidos e quando existem expectativas de nível de serviço bem definidas.
Pires (2004) organiza num quadro, as vantagens e desvantagens associadas à
prática do VMI:
Quadro 5: Vantagens e desvantagens do VMI.
Fonte: Pires (2004)
33
Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment (CPFR)
Para Arozo (2000), tanto o CRP quanto o VMI buscam, através da
disponibilização de informações a respeito de vendas e estoque, a redução no tempo
de ressuprimento, criando desta maneira uma resposta rápida aos movimentos de
demanda do consumidor final, evitando desta maneira movimentos antecipativos
baseados em previsões de vendas que raramente se confirmam. O ECR, por sua vez,
é um programa mais abrangente que além de resposta rápida, também é voltado para
o gerenciamento de categorias, o aumento da eficiência das promoções e o
lançamento de novos produtos.
Para Arozo (2003) o CPFR nasceu posteriormente a essas iniciativas e não
deve ser considerado um PRR, diferentemente dos programas de resposta rápida
onde os fabricantes reagem rapidamente em função da demanda dos clientes finais,
o CPFR está baseado na elaboração conjunta das previsões de vendas e dos planos
de ressuprimento. Assim, diferente dos PRRs que possuem uma lógica reativa, o
CPFR possui uma postura proativa em relação à demanda do consumidor ou cliente.
O Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment (CPFR), foca
específicamente no planejamento colaborativo entre as empresas participantes da
cadeia de suprimentos. O CPFR também busca uma redução nos níveis de estoque
combinada com uma melhoria nos níveis de serviço.
Enquanto os PRRs buscam este objetivo com base no fluxo de informações
sobre a demanda real do consumidor final, o CPFR se baseia na da elaboração
conjunta de previsões de venda e num planejamento de ressuprimento, levando em
consideração as limitações existentes na cadeia de suprimentos, sejam elas do
fornecedor industrial ou do cliente varejista / distribuidor.
O CPRF difere-se dos demais programas porque atua desde a previsão de
vendas e a definição dos parâmetros de estoque, até o planejamento das operações
e do ressuprimento.
Para Arozo (2000) de forma geral, o CPFR funciona da seguinte maneira:
inicialmente cada empresa parceira desenvolve sua própria previsão de vendas
utilizando os métodos e sistemas padrões para cada uma. Estas previsões são então
compartilhadas e, através de um software de CPFR são comparadas. Caso sejam
identificadas diferenças significativas estas são reavaliadas conjuntamente. Após se
chegar a um consenso com relação às divergências, se obtêm uma previsão conjunta
34
de vendas, que irá servir de input para o plano de ressuprimento, cuja elaboração
possui processo semelhante, ou seja, baseado na comparação dos planos e
discussão em cima das exceções. Vale ressaltar que a elaboração do plano de
ressuprimento leva em conta as restrições do fabricante, tais como capacidade de
produção. Uma vez definido, o plano de ressuprimento passa a atuar como uma
previsão de colocação de ordens por parte do distribuidor/varejista para o fabricante.
Resumo dos Programas Colaborativos
Wanke (2004) destaca que, em linhas gerais, uma das principais vantagens
dos PRRs é o conhecimento que o fornecedor tem da demanda do cliente, que
impacta leva à redução dos tempos de resposta, através do aprimoramento das
previsões e da programação das operações; e pode levar diretamente ao
conhecimento das quantidades de reposição, através da reação rápida à demanda.
Os diversos programas colaborativos têm características diferentes, tanto em
relação à configuração dos relacionamentos entre fornecedores e clientes, quanto em
relação aos benefícios e riscos esperados. Abaixo, há um quadro resumo, baseada
em Wanke (2004), das iniciativas colaborativas e suas características:
35
Quadro 6: Programas de Resposta Rápida.
Programa Decisão de
Reposição
Como decide a
reposição
Propriedade dos
Estoques
Como o fornecedor
utiliza os dados
QR Cliente Previsão de vendas Cliente
Aprimorar previsão de
vendas e
sincronização das
operações
CRP Fornecedor
Com base na posição
de estoque. O nível de
reposição é decidido
em conjunto
Fornecedor/
Cliente
Atualizar posição de
estoque e modificar
nível de reposição em
conjunto com varejo
ECR Fornecedor
Com base na posição
de estoque. O nível de
reposição é decidido
em conjunto
Fornecedor/
Clientes
Atualizar posição de
estoque e modificar
nível de reposição em
conjunto com varejo
VMI Fornecedor
Com base na
necessidade líquida
projetada
Fornecedor/cliente
ou consignado
Gerar previsão de
vendas e projetar
necessidade líquida
CPFR Fornecedor
e Cliente
Com base na posição
de estoque. O nível de
reposição é decido em
conjunto
Fornecedor/
Clientes
Aprimorar previsão de
vendas e
sincronização das
operações com
participação do cliente
Fonte: Elaboração própria.
Mais recentemente, em 2010, houve a proposição de uma nova modalidade de
programa de resposta à demanda, chamada por Paulo Mendes de Demand Driven
Supply Chain (DDSC) ou Demand Driven Supply Network (DDSN). Que pode ser
definida como o “sistema de tecnologias e processos que permitem capturar e reagir,
em tempo real, aos movimentos da demanda através de uma rede de relacionamentos
entre funcionários, clientes e fornecedores”.
36
4 Revisão Sistemática da Literatura
Após a caracterização do objeto de estudo, foram explorados os textos
selecionados com o objetivo de analisar como os autores definem a colaboração,
quais práticas são implementadas e em que contexto elas se inserem.
Devido a amplitude do tema, decidiu-se por resumir textos selecionados
individualmente, para que as conclusões posteriores advindas desta revisão de
literatura estejam devidamente contextualizadas. Assim, serão apresentados resumos
que identificam a linha de pesquisa do autor, seus métodos e resultados no Apêndice
A.
4.1 Delimitação do Escopo de Revisão de Literatura
Numa revisão preliminar da literatura, identificou-se múltiplas dimensões de
avaliação da colaboração na cadeia de suprimentos, com fornecedores, com clientes
com terceiros e etc.. Mas para Barratt (2004) estas diversas dimensões podem ser
condensadas em três, a primeira é decorrente de uma colaboração puramente interna,
a segunda seria uma integração vertical, incluindo as relações de clientes e
fornecedores; a terceira seria referente a colaboração com concorrentes e outras
organizações, conforme imagem abaixo.
37
Figura 9: Dimensões de Colaboração
Fonte: Adaptado de Barrat (2004)
No presente trabalho, apesar de reconhecida a importância da colaboração
interna, que tem o objetivo de integrar as áreas de suprimentos, manufatura, logística
e marketing, garantindo uma eficiência na dimensão intra-empresa e apoiando a
colaboração externa (BARRATT, 2004), a revisão de literatura se limitou a focar em
colaborações externas, não só em relação a fornecedores e clientes, mas também a
outras organizações, como será tratado posteriormente.
4.2 Conclusões da Revisão da Literatura
A revisão da literatura realizada permite a conclusão de que o assunto
escolhido contempla diversas abordagens em agentes de diferentes segmentos. Essa
amplitude do tema exige que seja feito um mapeamento mais abrangente e menos
específico.
Mesmo assim, a literatura analisada permite a identificação de fatores
repetitivos, que admitem-se ser muito importantes no desenvolvimento e gestão de
processos colaborativos.
Colaboração Interna
Colaboração Externa
Horizontal:Outras
empresas
Colaboração Externa
Horizontal:Concorrentes
Colaboração Externa Vertical:
Fornecedores
Colaboração Externa Vertical:Clientes
38
Sendo assim, chega-se à conclusão que a colaboração é um verdadeiro desafio
para as empresas, sua natureza não é, de forma alguma, simplista, pelo contrário, é
de uma complexidade considerável. Assim, deve-se haver uma preocupação em
planejar, de maneira conjunta, o processo colaborativo para que se obtenha os
ganhos desejados, não bastando as boas intenções e ações reativas, mas sim, o
planejamento e a administração científica.
39
5 Dimensões para Avaliação da Colaboração no Supply Chain
Esse capítulo tem como finalidade sintetizar tudo que foi pesquisado na
bibliografia com o intuito de apresentar ao leitor quais são as principais semelhanças
entre as práticas colaborativas, que servirão para elaborar um modelo de diagnóstico.
Sendo assim, esse ponto iniciará com uma apresentação de duas condições
muito citadas em toda a bibliografia. Essas são imprescindíveis para que os processos
colaborativos se desenvolvam e operem com efetividade. Mais à frente, serão
apresentados os benefícios de colaborar e os resultados alcançados, justificando
todos os esforços realizados pelas empresas.
Por último, serão apresentados todos os pontos comumente encontrados na
literatura revisada, que serão considerados como fatores, que deverão ser utilizados
para o diagnóstico, pois possuem representatividade nas práticas colaborativas
estudadas.
5.1 Pré-requisitos para Colaboração no Supply Chain
Devida a complexidade da execução colaboração nas cadeias de suprimentos,
essa etapa apresenta elementos que são considerados sine qua nom para a
existência de práticas colaborativas ou para o bom desempenho das mesmas.
Baseando-se, então, em toda o levantamento bibliográfico, podemos dizer que
a colaboração existe quando todos os seguintes critérios são contemplados:
Compartilhamento de objetivos e metas;
Compartilhamento de informações;
Alinhamento de incentivos;
Confiança e comprometimento entre as partes;
Tecnologia da informação.
Compartilhamento de objetivos e metas
Se não há objetivos em comum entre as organizações que desejam colaborar,
esta forma de colaboração será vazia e apenas uma formalidade. O conceito de
40
objetivos mútuos mede o grau em que os parceiros compartilham objetivos que só
podem ser alcançados com ações conjuntas e com a manutenção do relacionamento.
Esses objetivos mútuos proporcionam uma forte razão para a continuação da relação.
Para Oaks et al. (2004), para atingir os benefícios potenciais da colaboração,
um dos desafios é definir um grupo de objetivos conjuntos entre os parceiros que se
alinhem com os objetivos corporativos próprios e da outra parte. Vereecke e Muylle
(2006) destacam que enquanto a colaboração no nível operacional é guiada por
melhoria de eficiência das transações, a colaboração em um nível estratégico
depende do compartilhamento ou ajuste dos objetivos das empresas e diferente
formas de relacionamentos devem ser encorajadas ao longo da cadeia para que esses
objetivos sejam alcançados. Leew e Fransoo (2009) também apontam esse como um
dos fatores que definem a colaboração estreita entre os agentes.
Min et al. (2005), chegaram à conclusão que um objetivo estratégico claro leva
ao sucesso dos arranjos colaborativos, pois proporciona foco para o relacionamento
e configura as interações para o alcance de recompensas e melhorias entre as
empresas. Segundo os autores, sem um roteiro como esse, resultados ótimos não
podem ser alcançados.
Compartilhamento de informação
Sem dúvidas, esse é o termo mais discutido na literatura referente a
colaboração. Wiengarten et al., (2010) em sua pesquisa percebeu que, sem
surpresas, a colaboração sempre inclui alguma forma de compartilhamento de
informação. “O compartilhamento de informação é a cola que mantém as empresas
juntas” (BOWERSOX, 1990). Segundo Bowersox et al. (1992) esse construto refere-
se a vontade de compartilhar informações particulares, evitando a prática padrão de
acumular informação e só liberar de acordo com a necessidade.
O compartilhamento de informação é o cerne para os processos colaborativos,
não há como construir práticas conjuntas pela rede, sem que a haja troca de
informações. Briscoe e Dainty (2005) identificaram em todas as entrevistas, que o
fluxo de informação efetivo pode ser considerado como pré-requisito para a integração
da cadeira de suprimentos. Ainda nesse ponto, Cassivi (2006) indica que a troca de
informação é sempre um elemento crítico para a manutenção da eficiência nas
cadeias de suprimento.
41
Sendo assim, vale explanar que existem informações de naturezas distintas
como: informações referentes a estoques, ressuprimento, demanda, localização de
instalações, novos projetos e etc.. Essas influenciam a tomada de decisão em
diferentes níveis, auxiliando na construção de fortes relações entre as empresas, a
partir do momento que se tornam parte da estrutura. Cassivi (2006) fala de uma
abordagem estruturada de colaboração que apresenta resultados positivos, quando é
utilizada para o planejamento das atividades da cadeia de suprimentos.
Estas práticas supracitadas criam uma previsibilidade, que permitem as
empresas maior coordenação em suas atividades, as tornando mais efetivas. A
visibilidade antecipa fluxos de informações relevantes reduzindo riscos vinculados a
falta de planejamento.
Porém, não é qualquer tipo de informação que, quando compartilhada, resulta
em melhorias significativas de desempenho, Wiengraten et al. (2010) concluiu em seu
trabalho, que alguns processos de colaboração só se tornam boas influências para a
melhoria de desempenho, quando a informação é de qualidade, que pode ser definida
como sendo precisa, relevante, agregadora de valor e atualizada. Além disso, o autor
concluiu que o compartilhamento de informação sempre traz benefícios, porém os
melhores resultados estão associados a informação de qualidade.
Desse modo, o compartilhamento de informação pode ser considerado como
uma condição sine qua non para a colaboração, mas a qualidade da informação é
responsável pelo aumento significativo do desempenho nas cadeias de suprimentos.
Alinhamento de incentivos
Para duas empresas diferentes colaborarem, é necessário um pacote de
incentivos coerente. Empresas não colaboram por serem apenas boas com as outras,
mas por esperar algum benefício futuro da colaboração. Ambas as partes devem
compartilhar os riscos e benefícios a estes riscos associados. Segundo Huber (2012,
apud LEAHY et al., 1995), o compartilhamento de riscos e benefícios é um programa
de incentivo que envolve a partilha dos benefícios e dos riscos entre o fornecedor e o
cliente em qualquer esforço de cooperação, sendo um dos fatores determinantes no
sucesso do relacionamento. Lambert et al. (1999) afirmam que o fato das partes
estarem dispostas a sofrer um pequeno golpe para o bem do relacionamento é um
componente importante para a força da parceria.
42
Cao e Zhang (2011) reforçam os benefícios da colaboração no que diz respeito
à compartilhamento de riscos e benefícios no planejamento e execução das
operações; na redução dos custos transacionais, que incidem sobre as empresas
envolvidas; e no compartilhamento de recursos complementares
Simatupang e Sridharan (2002) também afirmam que o alinhamento de
incentivo é uma das características essenciais para o sucesso da colaboração, pois
impacta no nível de comprometimento dos membros participativos. Esse regime
motiva os membros a atuarem de forma consistente com os objetivos estratégicos
mútuos. A atitude de compartilhamento do sucesso significa que ambos os parceiros
reconhecem que eles têm mais a ganhar com o sucesso do outro do que buscando
apenas o próprio sucesso ou explorando o parceiro (SLACK & LEWIS, 2009).
Confiança e comprometimento entre as partes
Para se compartilhar as metas e objetivos, riscos e benefícios, é necessário
que haja confiança entre as partes. Além disso, a necessidade de troca com outras
instituições dificulta ao trazer riscos na exposição de informações e no
desenvolvimento de trabalhos conjuntos.
Golicic e Mentzer (2006), destacam a confiança (honestidade e benevolência)
e compromisso (exercer esforço para a continuidade da relação), como fatores pré-
requisito para práticas colaborativos. Nesse ponto, Briscoe e Dainty (2009)
destacaram os acordos de longo prazo baseadas, principalmente, na confiança entre
as partes, desenvolvidos durante anos trabalhando em conjunto, sem a necessidade
de acordos contratuais, formais, de longo prazo.
Os níveis mais profundos de confiança requerem tempo para serem
desenvolvidos. Além disso, não é necessário gerar os custos de transação de
mudanças frequentes de parceria, sempre assumindo que o parceiro se comporta a
fim de ajudar o outro.
Ao compartilhar riscos e benefícios entre si é natural que haja certo grau de
confiança entre as empresas, caso contrário a parceria não poderia ser celebrada.
Tecnologia da informação
As ferramentas de tecnologia da informação têm papel de um importante
suporte às práticas colaborativa, a evolução desta última está relacionada com os
43
avanços nesse campo. Paramatri (2007, apud ECRE, 1997) conclui que a tecnologia
da informação tem um papel de habilitador em muitos, se não em todas as variações
de práticas colaborativas na cadeia de suprimentos, o mercado sempre usa as
palavras “habilitadores” e “integradores” quando se referem a tipos de tecnologia
como: EDI (Eletronic Data Interchange), Internet, etc. Um exemplo disso é revelado
no trabalho de Cassivi (2006) quando afirma que os canais de comunicação como a
Internet têm modificado a maneira como a informação é compartilhada.
Além disso, Cassivi (2006) também cita o papel da TI (tecnologia da
informação) na formação de sistemas integrados, que contribuem para o acesso a
informação as constantes mudanças em projetos de novos produtos, isso tem impacto
no desenvolvimento de recursos referentes ao conhecimento de criação de novos
produtos, auxiliando na construção de cadeias de suprimento mais flexíveis.
Portanto, a TI se insere como uma ofertante de: canais por onde a informação
pode ser disseminada e ferramentas de gestão que auxiliam nas previsões, análises
e comunicação das decisões, exercendo papel fundamental para o desempenho
efetivo da colaboração.
Podemos sintetizar essa etapa através do quadro abaixo que consolida os pré-
requisitos explanados anteriormente e sua relevância na literatura.
44
Quadro 7: Pré-requisitos de um processo colaborativo.
Pré-requisitos Relevância Autores
Compartilhamento de
objetivos e metas
Proporciona foco ao relacionamento;
Maior probabilidade de sucesso nos arranjos colaborativos;
Permite a colaboração em níveis de decisão mais elevados.
Anthony (2000)
Arozo (2003)
Oaks et al. (2004)
Vereecke e Muylle (2006)
Leew e Fransoo (2009)
Min et al. (2005)
Cao e Zhang (2011)
Ramanathan (2011)
Kanter (1994)
Wanke (2004)
Compartilhamento de
informação
Fundamental para os processos colaborativos;
Cria previsibilidade das operações;
Anthony (2000)
Arozo (2003)
Wiengarten et. al., (2010)
Bowersox (1990)
Briscoe e Dainty (2005)
Cassivi (2006)
Cao e Zhang (2011)
Ramanathan (2011)
Vieira e Yoshizaki (2007)
Faé (2007)
Wanke (2004)
Alinhamento de
incentivos
Define a partilha de riscos e benefícios;
Projeta os resultados e desafios do processo colaborativo;
Aumenta a transparência na relação.
Arozo (2003)
Faé (2007)
Huber (2012, apud Leahy
et al., 1995)
Lambert et al. (1999)
Simatupang e Sridharan
(2002)
Slack e Lewis (2009)
Vieira e Yoshizaki (2007)
Wanke (2004)
45
Confiança e
comprometimento entre
as partes
Cria estabilidade para as relações;
Fruto de parceiras de longo prazo.
Arozo (2003)
Golicic e Mentzer (2006)
Briscoe e Dainty (2009)
Zacharia (2011)
Vieira e Yoshizaki (2007)
Pires (2004)
Faé (2007)
Wanke (2004)
Tecnologia da
informação
Produz canais onde a tecnologia é compartilhada;
Possibilita aumento de capacidade de processamento
de informação;
Melhora a comunicação entre os colaboradores.
Paramatri (2007, apud
ECRE, 1997)
Cassivi (2006)
Faé (2007)
Fonte: Elaboração própria.
5.2 Intensidade de Relacionamentos Colaborativos
Para Huber (2012) os relacionamentos colaborativos devem ser avaliados
segundo sua intensidade. A literatura existente propõe diferentes fatores que
influenciam na intensidade do relacionamento. Huber (2012) ainda afirma que
enquanto Lambert et al. (1999) afirmam que o grau de integração depende da
propensão a parceria, para Simatupang e Sridharan (2002) a intensidade da
colaboração depende do horizonte de impacto que o relacionamento possui no
desempenho da cadeia.
Alguns autores relacionam a magnitude do relacionamento aos níveis de
confiança e compromisso, ou seja, quanto mais percebida a presença de confiança e
compromisso, mais forte é o relacionamento. Golicic e Mentzer (2006) acrescentam
dependência (percepção de necessidade de manter o relacionamento para atingir
objetivos desejados).
Na prática, o relacionamento desenvolvido significa interações de longo prazo
construídas sobre confiança mútua e comprometimento (HUBER, 2012 apud MIN,
ROATH, DAUGHERTY & GENCHEV, 2005).
46
Para Huber (2012), podem se dividir as dimensões da intensidade do
relacionamento em três elementos:
Confiança
Compromisso
Dependência
Confiança
Bowersox (1990) afirma que para que uma parceria funcione, é preciso, dentre
outras coisas, construir confiança entre as organizações, determinando objetivos
comuns, estabelecendo regras e funções claras e medir desempenho de forma
precisa. Lambert et al. (1999) diz que em uma parceria forte, há um certo nível de
confiança já implícita, representada quando cada parceiro acredita completamente
que o outro está totalmente comprometido com o sucesso a longo prazo.
A confiança entre parceiros deve ser conquistada, uma vez que ela vem apenas
depois do parceiro provar suas habilidades de oferecer soluções e demonstrar
lealdade. Segundo Slack e Lewis (2009), quanto maior o grau de confiança, maior é a
vontade de tornar-se vulnerável às ações do outro, mesmo que essa vulnerabilidade
não seja tão gravemente sentida por causa da existência de confiança. Se não houver
o risco envolvido em um relacionamento, não haverá a necessidade da confiança, e
sem algum grau de confiança existe pouca justificativa para assumir riscos com um
parceiro.
Compromisso
De acordo com Lambert et al. (1999), confiança não basta para a gestão do
relacionamento, o compromisso também é um componente fundamental.
Comprometimento implica que as partes sejam tolerantes em relação às deficiências
do outro, que cada um coopere e que não ajam de forma oportunista. Segundo Golicic
e Mentzer (2006), compromisso pode ser definido como a vontade de exercer esforço
para continuidade do relacionamento.
Portanto, para Huber (2012) enquanto a confiança diz respeito à crença na
honestidade do outro, o compromisso vai além, requerendo esforço e trabalho em
busca da continuidade da relação.
47
Dependência
Huber (2012 apud, Wilson 1995) afirma que a interdependência e desequilíbrio
de poder são variáveis de relacionamento importantes. O poder do cliente ou do
fornecedor está associado com a interdependência dos parceiros em um
relacionamento. O desequilíbrio de poder ocorre sempre que um parceiro possui a
capacidade de prover ao outro de algo que ele não teria normalmente, ou seja, está
diretamente relacionado com o grau que um parceiro depende do outro.
Simatupang e Sridharan (2002) concordam que a interdependência é um
conceito chave para analisar a colaboração. Baseados na teoria de dependência do
recurso. Seria de se esperar que as relações colaborativas operem em condições de
mútua dependência entre as partes e relações competitivas seriam resultado de
situações de desequilíbrio de poder/dependência.
Golicic e Mentzer (2006) concluem que a dependência é a percepção da
necessidade de manter o relacionamento para atingir os objetivos e está associada à
magnitude da relação.
Apesar disso, alguns autores alertam para mostrando que a dependência de
uma empresa em outra significa que a empresa terá poder sobre o outro, um
relacionamento neste tipo também pode trazer riscos devido ao nível de envolvimento
e dependência dos parceiros, como alertam Ellram e Cooper (1990). Para alguns
autores, as relações de poder são uma das principais barreiras para a confiança, que
é unanimemente o elemento mais importante para a tomada de decisões
colaborativas na cadeia de suprimentos de forma eficaz e eficiente Matopoulos et al.
(2014 apud KUMAR, 1996; DAPIRAN & HOGARTHSCOTT, 2003; BECHTEL, 2004).
Huber (2012) conclui sua análise a respeito da intensidade dos
relacionamentos colaborativos com o seguinte quadro abaixo:
49
5.3 Benefícios da colaboração
As práticas colaborativas são adotadas com intuito de obter benefícios que se
traduzam em vantagens para enfrentar a competição nos mercados. Vereecke e
Muylle (2006) dizem que o conceito convencional é de que profissionais esperam que
companhias se aproveitem de melhoras significativas de desempenho através da
colaboração na cadeia de suprimentos.
Huber (2012) apresenta algumas dimensões de resultados fruto das suas
pesquisas, que serão utilizadas como base para esse trabalho, e os categoriza em
três tipos, são eles: eficiência operacional, desempenho e resultados financeiros.
A eficiência operacional engloba benefícios ligados a melhor utilização de
ativos, economias de escala, devido a melhor especialização dos recursos em cada
elo e redução de custos, com a melhoria na visibilidade das operações.
Já os benefícios de desempenho frutos da colaboração dizem respeito a
capacidade de reduzir os tempos de entrega, capacidade de responder as
necessidades dos clientes, acurácia do cumprimento do pedido, esses estão ligados
a melhoria em nível de serviço prestado ao cliente. Além disso, há ganhos
relacionados a agilidade no desenvolvimento de novos produtos.
Por último, os benefícios relacionados aos resultados financeiros podem ser
explicados pelos resultados em aumento da rentabilidade devido ao melhor retorno
sobre investimento e crescimento das receitas, devido a maior capacidade de atender
outros segmentos. Outro ponto é o aumento na retenção dos clientes, isso representa
menores gastos com prospecções e divulgação de produtos/serviços, fazendo com
que esses clientes representem certa estabilidade e virem promotores dos
produtos/serviços.
Abaixo segue um quadro da revisão feita por Huber (2012) que sintetiza o que
foi descrito acima:
50
Quadro 9: Benefícios esperados da colaboração
Fonte: Huber (2012)
5.4 Dimensões de colaboração
Após a revisão da literatura realizada, os autores possuem alicerce para iniciar
uma construção da síntese quer permitirá a identificação das dimensões e avaliação
de fatores que permitam o diagnóstico da colaboração entre as empresas. Assim,
pretende-se explanar cada fator identificado na bibliografia e estabelecer os efeitos
desses nas relações colaborativas.
A apresentação de cada dimensão será realizada através de categorias
definidas pelos autores para facilitar a compreensão e organizar a construção dos
51
resultados. Realizando uma retrospectiva, o capítulo anterior evidenciou uma série de
práticas colaborativas que ajudam a construir relacionamentos colaborativos. Desse
modo, os autores categorizaram esses fatores segundo suas capacidades de
provocar efeitos diretos em determinado nível de decisão de uma organização,
adotando uma divisão entre Tático e Operacional.
Desse modo, espera-se que os resultados desse trabalho sejam claramente
apresentados, facilitando a compreensão dos fatores diagnosticadores da
colaboração nas cadeias de suprimentos/redes.
5.4.1 Dimensões Táticas
Nesse momento, apresenta-se os fatores que produzem efeitos nos níveis de
planejamento das empresas, auxiliando na coordenação dos diversos interesses e
operacionalização do que foi planejado.
Filosofia de gestão
A compatibilidade de filosofias, modelos e técnicas de gestão são um facilitador
para o processo de colaboração, estabelecendo um forte senso de mutualidade e
simetria entre as partes (VERECKEE & MUYLLE, 2006).
Esse ponto permite que haja maior sinergia entre as empresas, facilitando as
negociações, contribuindo para a clareza de objetivos e dando agilidade nos
processos de tomada de decisões. Como a colaboração pode ser entendida como um
processo que percorre vários agentes, é importante que essas partes tenham
semelhança na maneira que gerem suas atividades. Assim, melhorias de
desempenho podem ser obtidas, através de uma sinergia entre modelos de gestão,
que facilitarão o entendimento dos processos decisórios resultando agilidade e
redução de atritos, que impactarão na qualidade do resultado final.
Relacionamentos de longo prazo
Briscoe e Dainty (2009) encontraram acordos de longo prazo entre os principais
terceirizados, porém essas relações se davam de maneira informal, na confiança que
existia entre os mesmos. Essa era fruto de longos anos realizando projetos juntos
52
usando repetidamente as mesmas empresas. Leew e Fransoo (2009) reforçam esse
ponto, atribuindo um impacto positivo para a colaboração entre as empresas.
A existência de um relacionamento de longo prazo, baseado na continuidade
de acordos informais entre os elos, comprova uma confiança, que é fundamental para
a colaboração. Assim, empresas que mantém a colaboração baseada na sinergia dos
seus negócios compõe relacionamentos de longo prazo. Ao contrário, configurações
formais de longo prazo podem ser práticas colaborativas, porém apresentam alguma
desconfiança que é contornada por contratos/acordos.
Desse modo, pode-se alcançar benefícios em eficiência operacional a medida
que a previsibilidade do relacionamento permite que as empresas destinem seus
recursos financeiros para investimentos e de capacidade para as operações. Nesse
sentido, há uma confiança, oriunda desse tipo de relacionamento, que colabora para
a eficiência da cadeia. Já no âmbito de melhoria de performance, há ganhos no
desempenho das empresas, pois em um cenário de longevidade do relacionamento,
há grande aprendizado de processo entre as empresas facilitando a otimização,
evitando erros e possibilitando investimentos em automação dos processos,
deixando-os mais efetivos.
Co-localização de instalações
Vereecke e Muylle (2006) em seu trabalho, afirmam que a decisão de co-
localização de instalações mostra um tipo de colaboração, que denominam como
sendo colaboração estrutural, mais robusta, envolvendo um sistema complexo de
trabalho entre as empresas.
A localização conjunta de instalações, ou a localização em condomínios
logísticos pode indicar a intenção de empresas colaborarem, pois essas são decisões
de longo prazo, que envolvem muito planejamento. Obviamente, esse fator, por si só
não indica, que empresas, que se localizam próximas e mantém relações, colaboram,
mas pode ser considerado como um fator intensificador a medida que há uma
configuração de colaboração entre esses elos e a escolha pela proximidade teve
grande impacto na decisão final. Claramente, esse fator está ligado a eficiência
operacional ao contribuir para as economias de escala, redução de custos e
planejamento dos investimentos.
53
Planejamento conjunto
Vereecke e Muylle (2006) citam a importância da informação de níveis de
estoque, planejamento de capacidade e acordos de entrega para a redução dos
custos da operação. Leew e Fransoo (2009) concordam, citando esse como um fator
para a colaboração. Weingarten et al.(2010) ressalta que faz parte das práticas
colaborativas a tomada de decisão conjunta com os seus parceiros chave, assim
como o compartilhamento de informações, riscos e benefícios.
Cassivi (2006) concentra parte de seus estudos avaliando o resultado da
intensidade do planejamento colaborativo em relação a inovação em processos e
relacionamentos, chegando à conclusão de que as empresas que possuem um
planejamento de “mão dupla” são mais inovadoras que as de “mão única” e as que
tem um planejamento colaborativo mínimo. Além disso, essas empresas parecem ter
melhor desempenho, com destaque para os ganhos em flexibilidade.
Assim, o planejamento das atividades ao longo de uma cadeia de suprimentos
evidencia o comprometimento dessas empresas em colaborar, compartilhando
informações e definindo critérios e processo de tomadas de decisões. Pelo que foi
analisado, isso gera ganhos de flexibilidade para esses agentes, contribuindo para
melhoria de desempenho nesse aspecto. Assim, é evidente que esse fator resulta em
eficiência operacional ao permitir que as empresas tenham visibilidade e possam
planejar os investimentos e a capacidade das instalações. Esse fator também permite
que as empresas desenvolvam suas operações de maneira mais econômica e
aumentem a sua capacidade de resposta e flexibilidade, pois estão cientes das
previsões em um determinado horizonte de tempo.
Investimentos em conjunto
Para Lambert et al. (1999), investimento financeiro recíproco também está
presente em uma parceria efetiva. Min et al. (2005) realçam que colaborações
sustentáveis precisam estar suportadas por recursos, investimentos financeiros e não
financeiros, como tempo, treinamento, atualização de tecnologia etc. . Investimentos
específicos do prestador sinalizam que o provedor pode ser confiável (HUBER 2012,
apud KNEMEYER & MURPHY, 2005).
Slack e Lewis (2009) confirmam que ativos dedicados fazem parte dos
elementos que contribuem para a proximidade da relação. Para estes autores, uma
54
das formas mais evidentes de demonstrar um compromisso de parceria, e uma das
mais arriscadas, é um parceiro investir em recursos que serão dedicados a um único
cliente. Uma empresa só fará isso se estiver convencida de que a parceria será de
longo prazo, que ambos os parceiros terão vantagens e que o cliente não vai explorar
o investimento a fim de barganhar abaixo do preço que foi originalmente acordado.
Portanto, essa prática quando utilizada, demonstra um grau de
comprometimento entre as empresas em atingir melhores resultados através da
colaboração, já que os investimentos são compartilhados. Essa atitude causa
melhorias na eficiência operacional, pois é fruto de planejamento conjunto e promove
uma melhor utilização dos recursos dos elos envolvidos.
5.4.2 Dimensões Operacionais
Esse tópico se refere a caraterísticas da operação que produzem uma
necessidade por colaboração entre empresas para que haja melhoria de performance.
Promoção de visibilidade
Cassivi (2006) destaca a contribuição das ferramentas eletrônicas na promoção
de visibilidade entre os parceiros na cadeia de suprimentos e afirma que a visibilidade
na cadeia de suprimentos é alcançada através da disponibilização, para todos os
membros da cadeia, de informação precisa para as previsões, cronogramas e
capacidade de produção. Ainda nesse ponto, Briscoe e Dainty (2005) afirmam que a
garantia de que todos as partes da cadeia conhecem os processos de seus clientes e
possuem sistemas capazes de se alinhar a esses clientes fazem parte de um conjunto
de necessidades que ajudam a promover altos padrões de qualidade e agregam mais
valor aos entregáveis. Além disso, os autores em sua pesquisa sobre o setor de
construção civil, afirmam que os terceirizados responsáveis por algumas etapas dos
projetos só começam suas funções depois que recebem toda a informação
necessária, ocasionando problemas de mal planejamento e falta de coordenação,
elevando custos.
Desse modo, essas práticas criam uma previsibilidade, que permitem as
empresas maior coordenação em suas atividades, as tornando mais efetivas. A
visibilidade antecipa fluxos de informações relevantes reduzindo riscos vinculados a
55
falta de planejamento. Esse fator tem grandes ganhos, pois promove um senso de
confiança, fruto de uma previsibilidade, que auxilia nos planejamentos e utilização da
capacidade instalada, visando a economia de escala. No âmbito dos resultados
financeiros esse ponto, certamente, impacta, pois permite que toda cadeia tenha
acesso as previsões e necessidades dos clientes permitindo a entrega de produtos
que atendam as demandas de clientes atuais e futuros, objetivando o aumento de
participação no mercado.
Tomada de decisão conjunta
As práticas colaborativas demandam uma grande quantidade de decisões que
deverão envolver mais de um agente na cadeia, assim, esse ponto deve ser discutido
pelas empresas para evitar atritos e promover o alinhamento entre todos. Em um
âmbito mais formal, Briscoe e Dainty (2005) destacam o estabelecimento de
protocolos, a priori, para tratar efetivamente das principais decisões quando essas
envolverem mais empresas, dizendo ser essa uma decisão essencial para a
exploração dos projetos. Cao e Zhang (2011) definem a tomada de decisão conjunta
como o processo em que parceiros da cadeia orquestram as decisões de
planejamento da cadeia e operações de maneira a otimizar os benefícios para a
cadeia de suprimentos. Em uma visão mais centralizadora, Vereecke e Muylle (2006)
citam a importância de uma figura de boa capacidade de liderança conduzindo o
processo. Na existência dessa figura, as decisões ficam mais ágeis e contornos para
resolução de conflitos são rapidamente tratados.
Portanto, esse fator contribui para dar mais agilidade no processo de tomada
de decisão, tratado preventivamente, antes das atividades começarem a ser
executadas para evitar os riscos de conflitos entre os agentes, contribuindo assim para
bons resultados das cadeias. Esses resultados são traduzidos em melhorias de
desempenho, pois esse fator ajuda a reduzir os riscos de falha de comunicação,
resultando em um processo com menos falhas, mais personalizado, pois sabe-se a
necessidade de cada segmento e a capacidade das empresas participantes.
Criticidade do componente
A criticidade de um item pode ser determinada pela sua complexidade técnica,
inovação tecnológica, frequência de mudanças de projeto e o nível de personalização.
56
Reforçando esse ponto, o autor cita que as empresas tendem a estabelecer
relacionamentos nos casos de maior necessidade de personalização (LEEUW &
FRANSOO, 2009 apud BENSAOU, 1999). Essa hipótese é confirmada na pesquisa
realizada pelo autor com a indústria de semicondutores, que consideram a criticidade
de um item como um fator chave para estabelecer práticas colaborativas. Esse texto
identifica em sua revisão bibliográfica, que outros autores definem esse assunto como
potencial para que empresas colaborem.
Portanto, a criticidade de um item pode ser considerada um fator que contribui
para que empresas busquem um relacionamento mais próximo para reduzir riscos
baseados nas incertezas referentes ao fornecimento. Isso impacta na eficiência
operacional da cadeia, pois quando há uma criticidade de suprimento de determinado
item, deve-se haver um planejamento específico para minimizar os riscos de falta, que
podem acarretar em ociosidades.
Em resumo, os fatores apresentados no capítulo anterior têm conexões com os
benefícios obtidos através da colaboração. A fim de facilitar o entendimento, um
quadro abaixo sintetiza os resultados obtidos até o momento.
57
Quadro 10: Fatores de diagnóstico e seus benefícios.
Fatores Definições Benefícios Autores
Filosofia de gestão Modelos de gestão compatíveis;
Simetria nas tomadas de decisão
Melhorias de desempenho Vereecke e Muylle (2006)
Relacionamentos de longo prazo
Acordos entre empresas por longo tempo;
Fruto de diversas operações conjuntas;
Relacionamentos não contratuais baseado na confiança de continuidade.
Eficiência Operacional Melhorias de desempenho
Arozo (2003) Briscoe e Dainty (2005) Leew e Fransoo (2009)
Co-localização de instalações
Investimento estrutural baseado na proximidade com os colaboradores;
Comprometimento de recursos destinados a colaboração.
Eficiência operacional Vereecke e Muylle (2006)
Planejamento conjunto
Planejar operações baseadas em informações compartilhadas;
Planejamento envolvendo fornecedores e clientes.
Eficiência operacional Melhoria de desempenho
Anthony (2000) Arozo (2003)
Vereecke e Muylle (2006) Leew e Fransoo (2009)
Wiengarten et al. (2010) Cassivi (2006)
Vieira e Yoshizaki (2007) Pires (2004)
Wanke (2004)
Investimento Conjunto
Ativos dedicados a uma operação, que envolverá ganhos para outra empresa;
Dedicação de recursos para atingir resultados compartilhados com outras empresas.
Eficiência Operacional
Lambert et al. (1999) Min et al. (2005)
Knemeyer e Murphy (2005) Slack e Lewis (2009)
Vieira e Yoshizaki (2007) Wanke (2004)
Promoção de visibilidade
Criação de previsibilidade da operação através das informações compartilhadas.
Eficiência operacional Resultados financeiros
Anthony (2000) Arozo (2003) Cassivi (2006)
Briscoe e Dainty (2009) Vieira e Yoshizaki (2007)
Pires (2004) Wanke (2004)
Tomada de decisão conjunta
Decisões executadas envolvendo mais de uma empresa em atividades cotidianas;
Melhorias de desempenho
Anthony (2000) Arozo (2003)
Vereecke e Muylle (2006) Briscoe e Dainty (2005)
Cao e Zhang (2011) Vieira e Yoshizaki (2007)
Pires (2004) Wanke (2004)
Criticidade de componente
Característica de um componente, como: raridade, relevância, complexidade técnica e etc.
Eficiência operacional Leew e Fransoo (2009)
Fonte: Elaboração própria.
58
6 Aplicação do Modelo Riopel-Langevin de Rede de Decisões Logísticas em
Relação à Práticas e Processos Colaborativos
A colaboração não pode ser vista com uma função estanque, estagnada,
estacionária que não interage e não interfere nos demais processo de decisões
logísticas. Por isso, para além da estruturação e avaliação dos riscos, benefícios,
habilitadores, inibidores e características da colaboração, é necessário contextualizá-
la no que se refere às suas interferências no processo decisório logístico.
Portanto, foi buscado na literatura um modelo que retratasse as decisões
logísticas para que possa se avaliar como as práticas de colaboração identificadas na
literatura, interferem no processo de decisões logísticas e, se para tomar decisões
colaborativas há a necessidade de algum tipo de decisão precedente necessária. Isso
facilitará na composição de um diagnóstico da colaboração na cadeia de suprimentos,
e uma avaliação de uma sequência lógica de ações e os impactos de seus efeitos.
O modelo selecionado foi o modelo de Diane Riopel e Andre Langevin que
fornecem um framework do processo de tomada de decisões logísticas com uma
classificação em blocos e destaque as inter-relações entre os blocos. Assim
aplicaremos os conceitos e práticas colaborativas levantados na revisão da literatura
tanto nos blocos (de processos logísticos), quanto nos inter-relacionamentos entre
estes blocos.
Buscamos validar se há ou não hierarquização de decisões para a colaboração
logística, ou seja, para se colaborar em uma área não se deve obrigatoriamente estar
colaborando em outra e se há algum tipo de colaboração para todos os elementos
decisórios logísticos.
6.1 Contextualização do Framework
Segundo os autores, a evolução da logística tem acarretado uma visão cada
vez mais ampla e global, e um escopo de expansão correlato para a tomada de
decisão logística. O ambiente de decisão tornou-se mais complexo, com novas
estratégias de gestão, de modelos de negócios, dos mercados globais e de sourcing,
novas tecnologias de informação e comunicações, além disso, um foco renovado
59
sobre a satisfação do cliente, novas opções de serviços de transporte, e aumento da
conscientização ambiental.
Embora o ambiente da decisão logística esteja em constante mudança com
novos serviços, tecnologias, mercados e operações, as decisões logísticas
fundamentais ainda devem ser feitas como, por exemplo: Qual modal de transporte
deve ser usado? Onde estabelecer um armazém? Qual a cobertura de estoques
ideal? Qual o grau de agregação da informação da previsão de vendas?
Muitos autores classificaram atividades de logística em diferentes funções, e a
maioria dos livros de gestão da cadeia de suprimentos incluem alguma forma de
categorização para atividades ou decisões de logística (apud BALLOU, 2004;
BOWERSOX et al., 2002; CHOPRA & MEINDL, 2004; COYLE et al., 2003; JOHNSON
et al., 1999; SIMCHI-LEVI et al., 2003; LAMBERT, 2001).
Para Riopel e Langevin, seu trabalho difere dos anteriores, porque estes
geralmente enumeram as funções logísticas, e indicam que muitas das decisões são
interdependentes e devem ser feitas simultaneamente. Modelos para a resolução de
vários problemas logísticos como de localização de instalações, roteirização de
veículos, gestão de estoques são apresentados em detalhes, mas a visão do todo se
encontra deficiente, a visão do nível que detalha as relações de precedência entre
todas as decisões está faltando, os modelos detalhados aparecem desconexos de um
modelo maior de decisão logística.
Por isso, Riopel e Langevin propuseram um modelo de rede de decisões
logísticas para delinear claramente as relações de precedência. A partir de uma rede
deste tipo, é possível examinar o posicionamento relativo de várias decisões de
logística para avaliar a sua influência sobre outras decisões.
6.2 Caracterização do Modelo de Rede de Decisões Logísticas
Como já mencionado, as atividades de logística podem ser e já foram diversas
vezes divididas e classificadas por vários autores e de várias formas diferentes. Muitas
das diferenças entre as diversas classificações ocorrem com as atividades que
abrangem as interfaces entre as diferentes áreas funcionais de uma organização, tais
como aquelas atividades que abrangem logística e produção, marketing ou finanças.
60
Riopel e Langevin (2005) reforçam, que embora diversos autores já tenham
adotado diferentes abordagens na definição das atividades logísticas básicas e
desenvolvido diferentes frameworks para apresentar e organizar as várias atividades
de logística, todos eles abordam as mesmas decisões logísticas fundamentais. Estas
decisões de logística variam de decisões estratégicas de longo prazo envolvendo os
níveis de serviço ao cliente e projeto de redes logísticas, para decisões táticas ou
operacionais de curto prazo, tais como a rota diária dos veículos.
Vale lembrar, que o modelo proposto reforça as diferentes decisões logísticas
necessárias em cada atividade, e indica ligações entre essas decisões, com foco
especificamente sobre as decisões de logística, em vez das atividades, reforçando a
interdependência das decisões, bem como as informações adicionais necessárias
como input para essas decisões.
Para Riopel e Langevin (2005), as decisões de logística podem ser divididas ou
agrupadas em várias dimensões com base em vários critérios. O agrupamento comum
em níveis estratégico, tático e operacional (BALLOU, 2004) pode ser baseado em um
ou mais dos seguintes critérios associados às decisões: o horizonte de tempo, as
necessidades de recursos ou o nível de responsabilidade gerencial. Estes critérios
são geralmente inter-relacionados - por exemplo, as decisões estratégicas são
normalmente feitas em alto nível na organização e endereçam questões de longo
prazo com implicações de recursos significativos, e estes são feitos em um alto nível
na organização. Enquanto, na realidade, a gama de decisões podem ser melhor visto
como um continuum em todas as dimensões, para facilitar a exposição e
apresentação destas decisões são geralmente separados em categorias distintas.
O framework proposto apresenta uma hierarquia de decisão em três níveis: um
nível de Planejamento Estratégico, um nível de Planejamento de Rede e um nível de
Operações.
Mais detalhes sobre esse diagrama de inter-relações encontram-se no Anexo
B.
61
Quadro 11: Categorias de decisões logísticas.
Fonte: Riopel e Langevin (2005)
Planejamento Estratégico
O nível de Planejamento Estratégico inclui decisões logísticas de alto nível de
natureza estratégica. Estes tipos de decisões abrangem diversas áreas funcionais
além de logística. As decisões de logística chave a este nível dizem respeito objetivos
de desempenho e o grau de integração vertical e terceirização. Uma decisão
estratégica fundamental é a definição de nível de serviço ao cliente e as métricas
associadas. Isto inclui identificar os elementos de serviço ao cliente que são mais
importantes e mais relevante para a logística, definir exatamente o que será medido e
como ele será medido. Esta decisão requer o conhecimento da missão organizacional
e estratégias, as expectativas dos clientes, o ambiente competitivo, a disponibilidade
de recursos financeiros e do sistema logístico existente.
Planejamento de Rede
O nível de Planejamento de Rede, podem ter suas decisões divididas em dois
grupos: correspondem à rede logística de instalações físicas e à rede de
comunicações e de informação. Estes são geralmente decisões estruturais que de
largo impacto nas organizações e que muitas vezes envolvem investimento
consideráveis.
A decisão fundamental para a rede logísticas é justamente determinar a
estratégia da rede, dependente das decisões anteriores relativas aos objetivos de
62
serviço ao cliente e ao grau de integração vertical e terceirização, juntamente com
informações adicionais sobre a existência de potenciais fornecedores, clientes e
mercados. Uma vez que a estratégia de rede é definida, o projeto da rede logística de
instalações (físicas) pode ser determinado, agregando várias decisões importantes
como: o tipo e número de instalações (por exemplo, fábricas, armazéns, HUBs,
Centros de Distribuição, Cross-Dockings Transit Points e etc.), o tamanho e
localização de cada instalação e as atividades correlatas, sempre considerando toda
a infraestrutura dos locais, como informações sobre capacidade e disponibilidade de
serviços de apoio e mão de obra, disponibilidade de terrenos e de transporte,
incentivos do governo, regulamentação ambiental e imposto.
As decisões da comunicação e da informação (C&I) da rede a criação e
manutenção de um sistema eficaz de comunicação e compartilhamento de
informações em toda a cadeia. Semelhante à concepção da rede de instalações
físicas, o projeto da rede de comunicação e informação se baseia em uma estratégia
de redes para definir a arquitetura da rede, que incluem o grau de centralização na
gestão da informação e processamento de informações, o locus de desenvolvimento
de aplicações, o grau de integração de sistemas, incluindo o uso de ERP. Decisões
estas dependentes das decisões de planejamento estratégico anteriores.
Operações
O nível de operações, envolve decisões de mais curtos intervalos de tempo e
escopos menores do que os níveis anteriores. Riopel e Langevin (2005) dividiram
essas decisões em nove grupos correspondentes atividades logísticas fundamentais
da seguinte forma: Planejamento de Demanda, Gestão de Estoques, Produção,
Gestão de Suprimentos, Transporte, Embalagem de Produto, Manuseio de Materiais,
Armazenagem e Processamento de Pedidos.
Planejamento de Demanda: Previsão de demanda de curto e longo prazo
fornecem a base para o planejamento logístico. As decisões fundamentais de previsão
são a magnitude, tempo, local e produto da demanda futura.
Gestão de Estoques: Gestão de inventário tem o papel da formação garantir
a disponibilidade de matérias primas e produtos acabados em estoque dependendo
das decisões anteriores de nível de serviço ao cliente.
63
Produção: Produção abrange várias decisões de como a produção se
comportará para atender a demanda, do layout das instalações de produção, do
processo produtivo e seus equipamentos, do plano mestre de produção e etc. .
Gestão de Suprimentos: Decisões logísticas fundamentais na aquisição e
gestão de fornecimento envolve a definição dos fornecedores, a aquisição de
matérias-primas, peças, componentes, produtos, suprimentos, equipamentos e etc. ,
e o intervalo e tamanho ótimo dos pedidos.
Transporte: Decisões logísticas que envolvem decisões mais complexas como
o modal de transporte que será utilizado até o dimensionamento da frota, o mix de
veículos, o grau de consolidação da carga, até decisões do dia a dia como a
roteirização e o carregamento dos veículos.
Embalagem de Produto: As decisões embalagem pode influenciar bastante
os aspectos econômicos e ambientais de logística. O nível de proteção a ser fornecido
pela embalagem (dependendo das decisões de transporte), os tipos de equipamentos
de manuseio de materiais e etc. sempre considerando o tipo de produto.
Manuseio de materiais: Manuseamento de materiais está relacionada com a
carga e descarga de veículos, bem como o movimento de mercadorias no interior das
instalações e tem como decisões fundamentais o tamanho da unidade de carga
(dependendo do produto, das embalagens e etc.) e o tipo de equipamento de para
manuseio de materiais a utilizar.
Armazenagem: Envolve decisões como armazenamento de longo prazo
versus cross-docking, o layout do armazém, da localização dos estoques no armazém,
da política de armazenagem, do recebimento de fornecedores, das movimentações
internas e da expedição.
Processamento de pedido: Compõe várias das decisões de entrada dos
pedidos, da transmissão de informações dos pedidos e do acompanhamento de
pedidos.
64
6.3 Rede de Decisões Logísticas
Cada uma das entidades, descritas na sessão anterior, foi detalhada e,
posteriormente, usadas para descrever um modelo de hierarquização das decisões
logísticas, identificando os precedentes e os dependentes de cada uma dessas e seus
tipos correlatos.
Por exemplo, dentro da entidade “Planejamento Estratégico” estão contidas
micro-decisões como, por exemplo: (i) definição do nível de serviço, (ii) definição dos
objetivos de customer service e (iii) grau de integração vertical e terceirização.
As setas direcionais, na figura abaixo, refletem a dependência de uma decisão
em relação à outra que deve ser tomada anteriormente. O número ao lado das setas
direcionais, refletem a quantidade de micro-decisões dentro das entidades anteriores
que devem ser tomadas antes de se prosseguir para outra entidade. Em outras
palavras, para se tomar uma decisão de “Produção” é necessário tomar outras
referente ao “Planejamento Estratégico”, primeiro. Noutro exemplo, para determinar
os tipos de equipamentos utilizados para o “Manuseio de Materiais”, antes é
necessário ter definido o layout do chão de fábrica e do armazém, em “Produção” e
“Armazenagem”.
65
Figura 10: Conexões entre categorias de decisões logísticas.
Fonte: Riopel e Langevin (2005).
Assim, percebemos que há claramente uma relação de dependência e
precedência de algumas decisões em relação às outras no processo decisório
logístico. Essas relações de dependência podem ser resumidas no quadro abaixo:
Plan. Estratégico
Produção
Rede Logística
Rede C&I
Proces. do Pedido
Gestão de Suprimentos Transporte
Planej. da Demanda
Gestão de Estoques
Armazen.
Manuseio de
Materiais
Embalagem de Produtos
66
Quadro 12: Sumário de decisões logísticas.
Fonte: Riopel e Langevin (2005)
No quadro 12 observamos claramente que as decisões de “Planejamento
Estratégico” não precisam de nenhum precedente, e funciona como uma decisão topo
em relação à todas as outras decisões. Algumas categorias quase não precisam de
decisões anteriores como por exemplo, a “Rede Logística” e a “Rede de Comunicação
e Informação”, estes tipos de decisão, porém, servem como base para praticamente
todos as demais categorias.
Assim, é possível concluir que as primeiras decisões que devem ser realizadas
são em relação ao “Planejamento Estratégico” da empresa e, posteriormente, as
decisões de rede, conforme era de se esperar.
Na sessão seguinte, observaremos a aplicação deste modelo de
hierarquização e definição de precedências de decisões logísticas para decisões
colaborativas. O objetivo da aplicação deste modelo para a colaboração é observar,
se quando devem ser tomadas decisões de colaboração há algum tipo de
hierarquização ou dependência de decisões colaborativas anteriores, ou seja, se para
colaborar em alguma dimensão seria necessário ter a tomado outras decisões
colaborativas anteriores.
67
6.4 Modelo Riopel-Langevin em Relação à Colaboração
Esse capítulo tem o objetivo de elencar as descobertas realizadas na revisão
da literatura com o modelo de decisões logísticas escolhido. O intuito é encontrar uma
certa lógica entre as práticas e decisões de colaboração; entre as empresas e
entender o relacionamento entre elas em diversas funções da empresa.
Antes de iniciar a composição do modelo revisado, é saudável que seja
relembrado todas as descobertas feitas pelos autores. Assim, a figura abaixo mostra
as conclusões das etapas percorridas ao longo trabalho, que serão utilizadas para a
construção do modelo revisado, a sigla entre parêntese servirá para facilitar a
identificação da categoria de cada descoberta no modelo revisado.
Figura 11: Fatores e pré-requisitos da revisão bibliográfica.
Fonte: Elaboração própria.
De posse dessas informações, o trabalho agora tentará estabelecer como todas
essas descobertas se aderem ao modelo de decisões e como elas se conectam
através de relações de precedência e consequência.
68
6.4.1 Influência do Ambiente de Negócios nas decisões de Colaboração
Durante a revisão da bibliografia, foram encontradas algumas citações sobre a
influência do ambiente de negócios na colaboração entre as empresas, fato coerente
devido a colaboração ser aplicado no relacionamento entre firmas que participam de
um mesmo mercado. Assim, buscou-se consolidar essas características do ambiente
de negócios para apresentar e explanar seus efeitos nas cadeias.
Para aplicarmos o modelo proposto por Riopel e Langevin nas relações
colaborativas da cadeira de suprimentos é necessário haver algumas considerações,
principalmente para contemplar as particularidades do ambiente de negócios no qual
a empresa está inserida conforme propõe Matopoulos et al. (2014).
Mesmo com as diversas atividades e decisões logísticas já elencadas e
hierarquizadas não haveria suficiência, para analisar a possibilidade ou não de
colaboração na cadeia de suprimentos. Nessa etapa, portanto, serão apresentados
os fatores de mercado que influenciam a maneira que as empresas colaboram, esses
podem ser considerados forças externas que ajudam a retirar as empresas da inércia,
estimulando o desenvolvimento de práticas colaborativas.
Portanto, os autores pretendem contribuir para o modelo referido no sentido de
trazer mais integralidade com a inserção do critério do ambiente de negócios.
Incertezas de mercado
Leew e Fransoo (2009) afirma que a colaboração mais estreita produz
benefícios em situações de incerteza, essa é, particularmente, efetiva em mercados
de grande volatilidade com demanda desconhecida, lançamento de novos produtos e
promoções. O mesmo ocorre pelo lado do fornecedor, quanto maior a incerteza de
suprimento, maior a necessidade de se compartilhar informações. Em sua pesquisa,
todos os entrevistados afirmaram que a incerteza de demanda induz a uma
colaboração mais estreita, atestando a hipótese.
Outra forma de incerteza é trazida pelos fornecedores, a imprevisibilidade de
suprimento, cria a necessidade de uma aproximação com seus parceiros a fim de
mitigar riscos. Esse fato é atestado na pesquisa de Leew e Fransoo (2009), a qual
obteve resposta positiva para todos produtores de semicondutores, justificado pela
alta variação no lead time.
69
Esse ponto é comumente citado na literatura, pois permite maior sincronia entre
os elos da cadeia a medida que reduz o “ruído” entre os mesmos. Isso acarreta em
uma operação com mais visibilidade, reduzindo desperdícios e facilitando o
planejamento.
Mercados demandantes por flexibilidade
Cassivi (2006) conclui em sua pesquisa que o planejamento da colaboração
promove ganhos de performance e parece ser a maneira das empresas se
diferenciarem dos seus competidores promovendo a melhora nos indicadores de
flexibilidade. Sua pesquisa mostra uma diferença significativa nos resultados de
flexibilidade, para as empresas que planejaram as relações de colaboração
envolvendo seus clientes e fornecedores. Reforçando esse ponto, outros autores
citaram que as empresas tendem a estabelecer relacionamentos bilaterais para o
desenvolvimento de produtos especiais e “customizados” (LEEW & FRANSOO, 2009
apud BENSAOU, 1999). Nesse mesmo trabalho, obtiveram resultados, em que todos
seus entrevistados destacaram que possuíam uma colaboração estreita com seus
fornecedores para o desenvolvimento de produtos personalizados. Eles disseram ser
crítico para o contínuo desenvolvimento de técnicas de produção. Do outro lado, os
fornecedores buscam se destacar para participar do desenvolvimento de novos
produtos personalizados.
Desse modo, percebe-se que a colaboração com fornecedores é fundamental
para que as empresas construam cadeias flexíveis, com melhoras nos tempos de
respostas, desenvolvimentos de produtos e desenvolvimento de projetos.
Disponibilidade de recursos para colaboração
Quanto mais os fornecedores descobrem suas habilidades, recursos, possuem
propriedade tecnológica e são ativos em pesquisa, maior é o desejo de estabelecer
relacionamentos (LEEUW & FRANSOO, 2009 apud GOFFIN et al., 2006). Ainda, o
processo de suprimento e o conhecimento sobre o produto são as mais importantes
considerações para a colaboração estreita (LEEUW & FRANSOO, 2009 apud
PETERSEN et al., 2005).
Com isso, para organizações colaborarem devem haver recursos disponíveis
para que um processo ocorra, como: capital intelectual, know-how de processo,
70
conhecimento sobre produto, recursos financeiros, sistemas e etc. . Esse ponto é pré-
requisito, visto que sem essa estrutura a colaboração não passará de boas intenções
ou ideias.
Centralização de poder
Leew e Fransoo (2009) citam em sua pesquisa uma divergência sobre a
distribuição do poder entre as empresas de uma cadeia de suprimentos. Alguns citam
que a descentralização do poder facilita a colaboração entre as empresas. Já autores
mais recentes, afirmam que um desequilíbrio de poder é desejável para que a
colaboração ocorra. Um deles afirma que, frequentemente, a firma mais eficaz tenho
o domínio do processo e enxerga benefícios e força as demais a colaborarem. Após
a pesquisa, o resultado apresentado foi que uma descentralização de poder é
preferível para que se criem/adotem processos colaborativos. O trabalho de Vereecke
e Muylle (2006) reforça essa posição, afirmando que um imperativo estratégico
imposto pelo agente com mais poder tende a conduzir melhor um processo de
colaboração estrutural.
Esse tema é controverso, pois encontra-se na literatura duas abordagens
diferentes. Porém, as mais recentes afirmam que um “desbalanceamento” de poder é
desejável para que uma organização lidere as iniciativas e retire a inércia do processo.
Como a colaboração é um processo complexo e que necessita de clareza entre os
objetivos da cadeia, ter uma cadeia com muito agentes atuantes exige uma grande
sinergia da mesma.
Sendo assim, pode-se considerar as características do ambiente de negócios
como sendo mais uma das descobertas que devem ser consideradas no modelo
construído, como apresentado na figura abaixo.
71
Figura 12: Fatores de ambiente de negócios da revisão bibliográfica.
Fonte: Elaboração própria.
6.4.2 Adaptação do Modelo do Processo Decisório Logístico às Iniciativas
Colaborativas
Essa etapa tem como objetivo aderir tudo que foi encontrado ao longo do
trabalho, fruto da revisão bibliográfica, com o modelo de tomada de decisão logística
apresentado anteriormente, para que se identifique como um conjunto de iniciativas
colaborativas se transformam em um processo colaborativo.
Com isso, há a descoberta de uma lógica por trás das atitudes tomadas que
ajuda a construir um raciocínio de diagnóstico de colaboração na cadeia, entendendo
os fluxos de decisões planejados e executados para se alcançar os objetivos.
Com essa tentativa de adesão ao modelo, o que pode-se perceber é que existe
uma concentração maior de decisões nos níveis de planejamento, devido a
72
caraterística da colaboração de envolver, fortemente, os relacionamentos entre
empresas e o compartilhamento de informação, esse último é condição primordial
para que os planos da empresa tenham acurácia necessária para aumentar sua
efetividade.
Não foram observadas, na revisão de literatura realizada, evidencias empíricas
e conceituais em todas as categorias de decisões logísticas, em outras palavras, para
algumas decisões logísticas listadas no modelo de Riopel-Langevin, não há
oportunidade de colaboração com outras empresas, devido a essas decisões serem
estritamente internas, levando à necessidade de adaptação do modelo de
hierarquização utilizado. Considerando a exclusão de dois elementos abaixo:
• Produção;
• Manuseio de Materiais.
Produção
As decisões de produção não dão oportunidade diretamente para colaboração,
evidentemente, que quando processos colaborativos interferem na previsão de
vendas, na gestão de estoques e na gestão de suprimentos, que por sua vez podem
interferir indiretamente na produção, mas com parceiros de operação não foram
observadas oportunidades de colaborar diretamente no chão de fábrica. Essa
conclusão será aprofundada posteriormente.
Manuseio de Materiais
As decisões de equipamentos para manuseio de materiais estão relacionadas
às especificidades dos produtos e das movimentações e não necessariamente carece
de interação com fornecedores e clientes. Essa conclusão também será mais
discutida posteriormente.
Vale ressaltar, que os níveis de planejamento são afetados pelas decisões de
mercado, fruto das características que o mesmo apresenta, impactando na
configuração das práticas colaborativas entre as empresas.
Nos níveis mais operacionais, a colaboração se limita as decisões conjuntas
entre as empresas, que podem gerar um direcionamento de recursos para atingir
objetivos comuns. Esse nível de decisão carregará as consequências das decisões
previamente tomadas nas camadas de planejamento.
73
Planejamento Estratégico
A formação do planejamento estratégico de uma empresa é uma definição
interna da mesma, porém sofre interferência externa do mercado e seus parceiros.
Cabe nesse aspecto ressaltar, que as exigências de clientes e o posterior
cumprimento das mesmas não definem que as empresas estão colaborando. Porém,
a partir do momento em que as empresas alteram seus planos ou criam programas
para alinhar suas operações para atingir objetivos estratégicos comuns pode-se dizer
que a colaboração está ocorrendo nessas relações. Outro ponto importante é que
,nesse nível estratégico, não há a operacionalização da colaboração, porém há um
alinhamento de intenções que serão operacionalizadas na tradução dos planos.
Sendo assim, o ponto mais fácil de ser identificado é Compartilhamento de
Objetivos (PR), quando uma empresa passa a definir seus objetivos a partir das
definições dos seus parceiros. A decisão de adotar um objetivo comum indica um
alinhamento de intenções entre as instituições.
Outra decisão é referente ao Alinhamento de incentivos (PR), que pode ser
entendido como uma predefinição de como serão distribuídos os benefícios oriundos
da colaboração. No momento em que as empresas realizam essa definição estão
negociando sobre o futuro das operações e seus ganhos, além de compartilharem de
uma visão futura.
Há também a possibilidade de empresas adotarem uma mesma Filosofia de
Gestão (F) para estarem melhor alinhadas. Essas decisões envolvem a construção
de programas, geralmente conduzido pelas empresas de maior relevância na cadeia,
que alocam seus recursos para adequar a gestão de seus parceiros às suas,
evidenciando uma forma colaboração de muito impacto, visto que altera como as
empresas gerenciam “pensam” suas operações.
Por último, as decisões de Investimentos Conjuntos (F), que ocorrem quando
as empresas alocam recursos dos seus orçamentos para atividades, que envolvam
colaboração com outras empresas, essas decisões são reflexos da preparação das
empresas para atingir certo nível de serviço.
74
Rede Logística
Os desenhos das malhas logísticas são decisões de níveis estratégicos e
táticos, quase sempre mais associadas a visões de médio-longo prazo, deste modo,
tomar a decisão de Co-localização de Instalações (F) com um parceiro envolve a
avaliação de diversos fatores já mencionado, como confiança no parceiro e
expectativa de continuidade do relacionamento. Vereecke e Muylle (2006) tratam esse
tipo de relacionamento como sendo colaboração estrutural, mais robusta, envolvendo
um sistema complexo de trabalho entre as empresas.
Apesar disso, vale ressaltar o risco que este tipo relacionamento incorre, que é
o de dependência, uma vez estruturada a instalação em determinada localização a
reversibilidade da decisão é pequena, dado que os investimentos já foram feitos e
buscar novos parceiros se tornaria uma tarefa mais dura e custosa para a
organização.
Um caso da prática da co-localização de instalações que pode ser mencionado
é em relação aos centros de distribuição da Souza Cruz e da FedEx, na Pavuna, no
município do Rio de Janeiro. Os dois centros de distribuição estão a menos de dois
quilômetros de distância, de modo que, caso haja superlotação do estoque de cigarros
no armazém da Souza Cruz, ou seja, que o armazém não disponha de capacidade
disponível para alocar todo o volume transferido das fábricas, é possível alugar
posições pallets no armazém da FedEx logo ao lado, sem grandes custos e
transtornos operacionais de transporte.
Figura 13: Proximidade de localização entre parceiros de colaboração.
Elaboração própria
PAVUNA
75
Trata-se de uma relação ganha-ganha, pois enquanto que a Souza Cruz
consegue se aproveitar da proximidade dos armazéns para dar flexibilidade à
concentração de estoques na Pavuna, a FedEx pode, usando a visibilidade da
demanda da Souza Cruz, ocupar sua ociosidade temporariamente.
Rede C&I
A colaboração na rede de comunicação e informação se mostra num formato
de integração entre sistemas, sendo esta forma de colaboração um canal de
integração responsável pelo fluxo de informações compartilhadas, quando ambos os
parceiros têm visibilidade em tempo real das informações compartilhadas e há
possibilidade de tomada de decisão conjunta sobre alguns aspectos, para isso, é
fundamental que a Tecnologia da Informação (F) das empresas esteja bem planejada
e conectada. Tal integração funciona como um facilitador do compartilhamento de
informações, na medida que já se busca pré-padronizar e integrar os sistemas, o que
comumente é uma barreira para uma colaboração efetiva.
Assim como nas decisões de rede logística há risco implícito em tomar decisão
de compartilhar diretamente informações sensíveis do próprio sistema com os clientes
e fornecedores, uma vez que estes mesmos clientes e fornecedores também podem
interagir com o concorrente e, usar todas essas informações ao seu favor, como por
exemplo diminuir as compras dos produtos de uma empresa devido à visibilidade de
uma promoção do concorrente. Então, diferentemente do risco de dependência, o
risco presente é o de uso indevido da informação compartilhada. Este risco deveria
ser mitigado utilizando-se do pilar da confiança para construção de relacionamentos
colaborativos.
Uma prática de colaboração que frequentemente ocorre neste tipo de decisão
de Rede C&I é, por exemplo, a utilização do EDI (Eletronic Data Interchange) que
funciona como uma troca automatizada e eletrônica de dados, de informações de
negócios estruturadas, entre uma empresa e seus parceiros, de acordo com um
padrão acertado entre as partes e reconhecido internacionalmente.
Diversas empresas de bens de consumo utilizam o EDI ferramenta para
abastecer os principais clientes como, por exemplo, empresas de bebidas com as
principais redes de supermercadistas.
76
Planejamento da Demanda
As decisões de planejamento da demanda e previsão de vendas subsidiam
todo o planejamento logístico, tanto com uma visão de curto prazo com o objetivo de
organizar os recursos existentes quanto com uma visão de médio-longo prazo, de
aquisição dos recursos desejados para atender a demanda futura.
O processo de planejamento da demanda é fundamental para a definição de
uma meta consensual pelos quais os todos os recursos da empresa direcionarão os
seus esforços para atingir. Definindo tanto qual a demanda que será atendida e como,
em relação a nível de serviço, ela deve ser atendida, de modo a respeitar as limitações
dos recursos da empresa.
Várias empresas estão envolvidas na previsão colaborativa de demanda para
alcançar a melhor precisão possível das previsões, para evitar vencimento e
obsolescência (write-off), a ruptura de estoque (stockout) e o efeito chicote (bullwhip
effect). Mesmo com a complexidade envolvida na criação de uma previsão única
consensual combinada de várias previsões com muitos envolvidos nas operações
(Chang et al. 2007, apud Ramanathan, 2011), demonstrou que o planejamento
colaborativo é benéfico para a redução de lead times e aumento da acurácia da
previsão de vendas. Esse ponto foi identificado na literatura como parte do
Planejamento Conjunto (F), que tem interferência em várias etapas da produção.
Um processo clássico de colaboração no planejamento da demanda é o CPFR.
Para Ritter (2003 apud AROZO 2002), o objetivo central do CPFR é obter, através de
um planejamento colaborativo, maior acurácia nas previsões de vendas e nos
ressuprimentos. Assim, há uma diminuição dos estoques ao longo da cadeia de
suprimentos como um todo e elevação dos níveis de serviços.
A Promoção de Visibilidade (F) descoberta em alguns textos pode ser anexada
nessa categoria, pois é fruto de um compartilhamento de informações necessárias
para o planejamento, além do conhecimento dos processos dos parceiros. Assim, a
decisão de compartilhar as informações de demanda faz parte dessa previsibilidade.
Outro ponto que foi encontrado nos textos e faz parte dessa categoria é a
Tomada de decisão conjunta (F), pois, após todo o planejamento colaborativo da
demanda, chega-se a uma definição em que todos devem estar de acordo.
Vale ressaltar, que muitas decisões nas categorias de produção envolverão o
a Tomada de Decisão Conjunta (F), pois as decisões de produção são impactadas
77
pelas definições do planejamento da demanda e as reavaliações realizadas ao longo
dos ciclos de produção.
Gestão de Estoques
As decisões de gestão de estoques buscam garantir a disponibilidade de
produtos nos níveis de serviço desejados, através da realização de políticas de
estoque, com interface com a previsão de vendas, a produção e suprimentos.
Os estoques devem ser construídos de tal sorte que haja o amortecimento da
variabilidade da demanda e do suprimento pelos níveis de inventário, conforme o nível
de serviço. Assim, suprimentos (fornecedor) e demandas (cliente) irregulares dão uma
injeção direta nos estoques de segurança (ES), que funcionam como proteção em
relação às incertezas, conforme expressão abaixo.
Deste modo, é fácil de se compreender que os relacionamentos com o
fornecedor (evitando atrasos) e com o cliente (evitando o efeito chicote) são de suma
importância para as definições de estoque.
As colaborações nas decisões de estoque são recorrentes nos programas
clássicos de colaboração encontrados na literatura. No VMI (PRR), por exemplo, há o
compartilhamento da informação dos volumes de estoque de modo a melhor guiar o
suprimento com o fornecedor, de acordo com parâmetros pré-estabelecidos. Desta
forma, é possível que o fornecedor gerencie o estoque e reduza sua variabilidade de
suprimento (desvio padrão do lead time), tendo impactos positivos na redução do
estoque de segurança.
Um caso recente de colaboração na gestão de estoques através de uma prática
colaborativa similar ao VMI ocorre entre o varejista Droga Raia e a L`Oréal, fabricante
de produtos de HPPC (Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos). Para alguns
produtos de alto giro, a empresa fabricante controla os níveis de estoque nas
farmácias, através de critérios pré-determinadaos, de modo a disparar ordens de
ressuprimento para evitar rupturas.
A Tomada de Decisão Conjunta (F) nessa etapa ocorre com a definição da
localização de estoques na cadeia, se será praticada o modelo de estoque consignado
e seus níveis; as definições de lotes de ressuprimento e intervalos de lead time.
78
Transportes
As colaborações em forma de decisões logísticas de transportes ocorrem
frequentemente nas operações das empresas, tanto na relação de uma empresa com
um operador logístico do nicho dos transportes (como uma frota terceira) ou até
mesmo como com empresas de outros segmentos de mercado.
As Tomada de decisão conjunta (F) na categoria de transporte envolvem
fatores como o dimensionamento da frota e o mix de veículos disponibilizados, que
podem ser definidos conjuntamente entre os funcionários das empresas e seu
operador logístico. Além disso, ao dar visibilidade da necessidade de veículos e do
perfil de materiais a serem transportados, o operador consegue se planejar de modo
a otimizar a disponibilização de veículos, tornando a operação como um todo mais
eficiente: mais barata para a empresa contratante e gerando maior margem para o
operador. Além disso, há o desenvolvimento de programas para evitar perdas de
qualidade, causadas por danos nos transportes, com a customização da frota para
receber, principalmente, cargas mais frágeis, facilitando o carregamento e prevenindo
avarias. Nos processos de seleção de operadores logísticos, como RFI (Request for
Information) e RFQ (Request for Quote), podem se avaliar a pré-disposição daquele
em relacionamentos colaborativos.
Um caso da prática do transporte colaborativo que ocorre é a relação entre a
Souza Cruz e a BIC, duas empresas completamente distintas, com mercados
distintos, mas com uma oportunidade única de sinergia. Após um estudo de mercado
a BIC percebera que havia muita demanda reprimida por isqueiros na região nordeste
do Brasil, onde fósforos eram frequentemente usados. Entretanto, após um estudo de
viabilidade técnica e econômica, a empresa chegou à conclusão que colocar um
centro de distribuição na Região Nordeste, para fazer entrega direta, não seria
rentável. Apesar dos distribuidores que a empresa usava para aquela área, a
efetividade não era a desejada. Assim, surgiu a oportunidade de colaborar com a
Souza Cruz, que tem uma rede logística extremamente pulverizada que percorre todo
o território brasileiro, com entrega direta.
A empresa do ramo de cigarros e tabaco funcionaria como um distribuidor dos
produtos BIC, pelo território brasileiro. Primeiramente, como um piloto, foi lançado um
produto combo de cigarro com isqueiro que foi extremamente bem-sucedido, devido
à sinergia intrínseca aos produtos: não se compra cigarros sem ter como acende-los
79
e aproveitando que seria comprado um cigarro já havia um isqueiro para facilitar o
consumo.
A relação colaborativa foi benéfica para ambos os lados porque, enquanto a
BIC conseguiu conquistar o mercado ao qual não havia viabilidade de atendimento
direto a priori, a Souza Cruz conseguiu aproveitar entregas que ela já faria para
colocar mais produtos e se apropriar de parte do lucro dos produtos de parceria (BIC),
aumentando a margem de cada entrega.
A parceria progrediu de modo que a Souza Cruz passou a vender produtos
exclusivos da BIC, e de outras empresas com as quais viu a oportunidade de
colaborar.
Embalagem de Produtos
Nessa categoria a Tomada de decisão conjunta (F) de embalagem de produtos
são relacionadas a uma etapa do desenvolvimento do produto em si, e impactam
diversas decisões de armazenagem e transporte dos produtos (podendo inclusive
mudar o perfil do veículo), bem como decisões de manuseio de materiais (com
movimentação no armazém, pré-separação e picking).
A colaboração no desenvolvimento de produtos e embalagens de produtos é
presente tanto na literatura quanto na prática cotidiana. Leew e Fransoo (2009), em
sua pesquisa, concluíram que as empresas tendem a estabelecer relacionamentos
bilaterais para o desenvolvimento de produtos “customizados”, chegando à conclusão
que todas as empresas entrevistadas, que se destacaram, possuíam uma
colaboração estreita com seus fornecedores para o desenvolvimento de produtos
personalizados.
O caso Souza Cruz e BIC supracitado também pode ser encarado como um
caso de colaboração nas decisões de embalagem de produtos, dado que houve a
criação de um novo produto e como consequência uma nova embalagem de
movimentação diferenciada para produtos do combo (isqueiro e maço de cigarro),
distinta da embalagem tradicional de cigarros e da embalagem padrão de isqueiros.
80
Armazenagem
A Tomada de decisão conjunta (F) de armazenagem são referentes às políticas
de armazenagem, tanto em relação ao layout, como a forma e a localização dos
estoques no armazém, do recebimento de fornecedores, das movimentações internas
e da expedição. Assim, essa categoria apresenta colaboração nas duas pontas da
cadeia, tanto com os fornecedores, quanto com os transportadores. A colaboração no
processo de armazenagem pode se manifestar na utilização de um operador logístico.
Além disso, podem ser tomadas decisões entre as empresas que podem
colaborar nas suas áreas de expedição e recebimento de mercadorias,
informando/destinando janelas de horário para carga/descarga; compartilhando
informações sobre previsões de embarque/desembarque e adaptando suas
instalações para receber certo tipo de mercadoria.
Um caso que pode ser mencionado é o da Amazon, que tem programas com
os quais é possível “terceirizar” a operação de armazenagem. Funciona do seguinte
modo, a Amazon disponibiliza o espaço online para a promoção e venda dos produtos
no seu site para seu novo fornecedor, de acordo com um compartilhamento de
informações da previsão de vendas do produto e de uma negociação por posições
pallet, a Amazon cede parte de seu armazém para que o novo fornecedor coloque
seus produtos e forme um estoque consignado, de modo que a Amazon não incorra
em custo de oportunidade.
Assim, quando há compras do produto no site, a Amazon fica responsável pelas
operações de armazenagem (movimentação no armazém) e processamento do
pedido do produto que estava em estoque consignado, e o fornecedor fica
responsável pela reposição do estoque, como um VMI, conforme os parâmetros pré-
definidos. Desta forma, a Amazon se apropria de parte da margem do produto com a
venda, e o fornecedor consegue expor seus produtos no site da Amazon.
Essa relação colaborativa com os fornecedores é benéfica, pois a Amazon não
incorre em custos de inventário por causa do estoque consignado, e o fornecedor se
beneficia do espaço de divulgação do site, da armazenagem e do processamento de
pedidos que é especialidade da Amazon, e de toda a tecnologia da informação suporte
detida.
Wanke (2004) alerta que no VMI, caso o poder de barganha do cliente seja
maior que o do fornecedor, a consignação surge como uma opção, esta observação
81
se encaixa perfeitamente no caso citado, dado que a Amazon tem mais força na
cadeia do que seus fornecedores. Esse tipo de relacionamento é uma forma de
minimizar o conflito na relação cliente-fornecedor, pois o cliente sinaliza com uma
maior previsibilidade de consumo do produto consignado, quando os custos de
oportunidade de manter estoques ficam com o próprio fornecedor.
Gestão de Suprimentos
As decisões de gestão de suprimentos e Procurement, envolvem as definições
dos fornecedores, a aquisição de matérias-primas produtos, equipamentos e etc. e o
intervalo e tamanho ótimo dos pedidos
Uma iniciativa colaborativa que pode ser mencionada no campo da gestão de
suprimentos (em conjunto com a gestão de estoques) é o VMI (PRR). Nesse, o
fornecedor e cliente decidem um nível apropriado de estoque dos produtos e a política
apropriada para manter estes níveis, assim, o fornecedor fica responsável pela gestão
do abastecimento de estoques.
Deste modo, ao compartilhar as informações de estoque com os fornecedores
é possível colaborar de modo que o fornecedor faça a gestão do suprimento para
manter esse nível de estoque previamente definido.
Outra questão são as decisões ligadas a Criticidade do componente (F), tanto
em relação a sua relevância para o produto, quanto a dificuldade de fornecimento, que
pode afetar na gestão da informação dos níveis de estoque que devem ser mantidos,
no tamanho do lote pedido acordado com o fornecedor, no intervalo de pedidos
considerando as reais dificuldades do fornecedor e na gestão do relacionamento com
fornecedores. Portanto, essa criticidade faz com que haja colaboração ao se tentar
estabelecer um melhor fluxo de informação para combater as incertezas.
Processamento de Pedidos
As decisões de processamento de pedidos são compostas de informações
referentes à entrada dos pedidos, da transmissão dos dados e acompanhamento. Por
conta dos avanços tecnológicos, o Supply Chain se tornou mais transparente, assim,
a TI cumpre um papel fundamental no exercício do processamento de pedidos e sua
visibilidade para a cadeia. Essa Promoção de Visibilidade (F), nessa categoria, dá
origem a colaboração a partir do momento que as empresas tomam a decisão de
82
adaptar seus processos de processamento de pedidos as necessidades dos seus
parceiros. Essa personalização pode ser interpretada como uma colaboração entre
empresas. Além disso, o fornecimento de informação ao longo do processamento do
pedido e a clareza das etapas a serem cumpridas indicam a intenção da empresa em
colaborar contribuindo com uma maior previsibilidade.
É possível citar o caso do Alibaba, que surgiu como um Marketplace, um
ambiente web que disponibiliza diversos produtos pelo qual o cliente/consumidor
navega buscando os produtos desejados, como um shopping virtual com dois níveis
de acesso, um para consumidores e outra para lojistas. O lojista pode vender seus
produtos através de um Marketplace de terceiros, e o cliente, dentro de um só lugar,
encontra produtos de diversos fornecedores e marcas.
Com a inovação da Alibaba realizar todo o processamento dos pedidos,
sincronizando múltiplos fornecedores e múltiplos clientes. Realizando a gestão dos
fluxos de informações e produtos na cadeia de suprimentos.
Figura 14: Exemplo de caso de market place da Alibaba.
Fonte: Elaboração própria.
Alibaba também criou um novo ambiente chamado Taobao Marketplace, que
funciona como uma plataforma online de comércio C2C (Consumer to Consumer),
assim como a e-Bay, fazendo essa conexão de múltiplos envolvidos de ponta a ponta.
Fornecedores Clientes
n Fornecedores
(...)
n Clientes
(...)
Fornecedores Clientes
n Fornecedores
(...)
n Clientes
(...)
Relação Tradicional Proposta Alibaba
Processamentodo Pedido
83
A Alibaba se transformou na maior empresa de “varejo” do mundo, que opera
com a sincronização dos fluxos de informação e produtos, com múltiplos fornecedores
e clientes, que não possui estoque algum, apenas realizando o processamento dos
pedidos.
Portanto, chega-se a figura abaixo onde pode-se identificar como as
descobertas se dividem pelas categorias de decisões do modelo.
Figura 15: Aderência da colaboração às categorias de decisão.
Fonte: Elaboração própria.
6.4.3 Adição de Fatores de Mercado no Modelo Riopel e Langevin
As descobertas encontradas ao longo da bibliografia, que possuíam relação
com as estruturas de mercado, foram divididas em dois grupos devido ao grau de
semelhança que essas decisões envolvem.
Portanto, há um primeiro grupo que será denominado como Relacionamento
com Parceiros, que engloba as decisões de:
Confiança e comprometimento entre as partes (PR);
Relacionamentos de longo prazo (F);
Planejamento Estratégico• Compartilhamento de objetivo (PR)• Alinhamento de incentivos (PR)• Filosofia de gestão (F)• Planejamento conjunto (F)• Investimento conjunto (F)
Rede logística• Compartilhamento de objetivo (PR)• Alinhamento de incentivos (PR)• Planejamento conjunto (F)• Investimento conjunto (F)• Co-localização de instalações (F)• Tomada de decisão conjunta (F)
Rede C&I• Tecnologia da informação (PR)• Planejamento conjunto (F)• Investimento conjunto (F)• Promoção de visibilidade (F)• Tomada de decisão conjunta (F)
Planejamento de Demanda• Promoção de visibilidade (F)• Planejamento conjunto (F)• Tomada de decisão conjunta (F)• Criticidade do componente (F)
Gestão de estoques• Promoção de visibilidade (F)• Planejamento conjunto (F)• Tomada de decisão conjunta (F)• Criticidade do componente (F)
Gestão de suprimentos• Promoção de visibilidade (F)• Planejamento conjunto (F)• Tomada de decisão conjunta (F)• Criticidade do componente (F)
Transporte• Promoção de visibilidade (F)• Planejamento conjunto(F)• Tomada de decisão conjunta (F)
Embalagem de produto• Promoção de visibilidade(F)• Planejamento conjunto(F)• Tomada de decisão conjunta (F)
Processamento de pedido• Promoção de visibilidade (F)
Armazenagem• Promoção de visibilidade(F)• Tomada de decisão conjunta (F)
Decisões LogísticasEstratégicas e Táticas
Decisões Logísticas Operacionais
84
Disponibilidades de recursos para a colaboração (AN);
Centralização de poder (AN).
Um segundo grupo trata das decisões referentes ao Comercial, que englobam:
Incertezas do mercado (AN);
Mercados demandantes por flexibilidade (AN).
Relacionamentos com parceiros
Essa categoria de decisão envolve algo muito importante na colaboração que
é a profundidade do relacionamento entre as empresas. Assim, a Confiança e o
comprometimento entre as partes (PR) se insere nesse contexto a medida que as
empresas buscam adotar medidas que reforcem a confiança entre os parceiros. Além
disso, a confiança e o comprometimento são pré-requisitos para que a colaboração
ocorra de maneira efetiva. Desse modo, as decisões de escolha de parceiros
confiáveis e as práticas adotadas (comunicação e acompanhamento) para promover
a confiança são decisões que impactam na colaboração.
Com certa semelhança a esse ponto, os Relacionamentos de longo prazo (F)
também podem ser tratados como parte das decisões nessa categoria, pois impactam
a colaboração na medida em que as empresas tomam decisões de estabelecer
acordos de longo prazo, seja por meios legais, seja por meios informais, como a
escolha de um mesmo parceiro por um longo tempo, mesmo sem contratos firmados.
Outro ponto importante dentro das decisões de relacionamentos é que as
empresas buscam por parceiros com recursos disponíveis para colaborar. Sabe-se
que uma empresa não deve colaborar intensamente com todos os seus fornecedores,
parceiros e prestadores de serviço. Portanto, as empresas tendem a buscar parceiros
com Disponibilidades de recursos para a colaboração (AN), que conseguirão realizar
destinar recursos para concretizar os objetivos comuns.
Por último, a Centralização de poder (AN), tema que teve seu impacto revisto
ao longo do tempo, assume um papel de combate a inércia das empresas em
colaborarem. A medida que há uma concentração de poder em uma das instituições
em uma cadeia de suprimentos, essa pode estabelecer metas e objetivos que seus
85
parceiros seguem devido ao seu poder. Assim, essa característica influencia nas
decisões dos parceiros em colaborar em uma cadeia.
Relacionamento Comercial
Essa categoria de decisão diz respeito a características do mercado em que a
empresa se insere, como por exemplo Incertezas de mercado (AN), que fazem com
que as empresas compartilhem mais informações para tentar se proteger do
desconhecido. Assim, as empresas tendem a compartilhar o máximo de informações,
previsões, planos e etc.. Essas decisões ocorrem em um nível muito intenso, nos
mercados que possuem, por exemplo: ciclos de vida do produto e ciclos de
desenvolvimento de produtos muito curto.
Outras características são os Mercados Demandantes por Flexibilidade (AN),
que cada vez mais se torna mandatório para as empresas. As exigências por produtos
mais flexíveis fazem com que as empresas tomem decisões de buscar fornecedores
com capacidade de atender diferentes necessidades, que possuam processos
flexíveis e que estejam dispostos a colaborar no desenvolvimento de novas soluções.
Isso faz com que as empresas busquem parcerias para conseguir atender o maior
número de necessidades de seu mercado.
Portanto, com a adesão das categorias de decisão referentes ao mercado, a
figura abaixo contempla todas as descobertas do trabalho aplicadas nas categorias
do modelo de decisão logístico.
86
Figura 16: Categorias de decisão, considerando a influência do mercado.
Fonte: Elaboração própria.
6.4.4 Modelo Conceitual de Hierarquização das Decisões Logísticas
Relacionadas à Colaboração
Na revisão de literatura realizada, encontramos evidencias empíricas em 10
das categorias de decisões logísticas citadas por Riopel e Langevin (2005), listadas
na sessão anterior.
Com a inserção das categorias de ambiente de negócios, pode-se identificar
que as decisões de colaboração no nível de planejamento, ou seja, Planejamento
Estratégico e Planejamento da Demanda possuem dependência das decisões de
“Relacionamentos” com parceiros e “Comercial”.
Tratando do Planejamento Estratégico, as decisões de compartilhamento de
objetivos e alinhamentos de incentivos, dependerá da avaliação de parceiros
confiáveis e de longo prazo. Em outro ponto, quando se toma a decisão de tentar
adotar filosofias de gestão parecidas, a ocorrência de centralização de poder na
cadeia pode interferir fazendo que a filosofia escolhida seja da empresa mais “forte”.
Por último, as decisões de investimentos conjuntos no Planejamento estratégico,
dependerão da disponibilidade de recursos para colaboração dos outros parceiros.
Considerando o Planejamento da Demanda, esse será muito impactado pelas
incertezas do mercado, pois quanto maiores são as incertezas, maior é o esforço e o
risco para se chegar em um resultado plausível de demanda prevista. Além disso, um
mercado demandante por flexibilidade fará com que a empresa incentive a utilização
Relacionamento com parceiros
• Confiança e compromentimentoentre as partes (PR)
• Disponibilidade de recursos para colaboração (AN)
• Centralização de poder (AN)• Relacionamentos de longo prazo (F)
Comercial
• Incertezas de mercado (AN)• Mercados demandantes por
flexibilidade (AN)
Planejamento Estratégico• Compartilhamento de objetivo (PR)• Alinhamento de incentivos (PR)• Filosofia de gestão (F)• Planejamento conjunto (F)• Investimento conjunto (F)
Rede logística• Compartilhamento de objetivo (PR)• Alinhamento de incentivos (PR)• Planejamento conjunto (F)• Investimento conjunto (F)• Co-localização de instalações (F)• Tomada de decisão conjunta (F)
Rede C&I• Tecnologia da informação (PR)• Planejamento conjunto (F)• Investimento conjunto (F)• Promoção de visibilidade (F)• Tomada de decisão conjunta (F)
Planejamento de Demanda• Promoção de visibilidade (F)• Planejamento conjunto (F)• Tomada de decisão conjunta (F)• Criticidade do componente (F)
Gestão de estoques• Promoção de visibilidade (F)• Planejamento conjunto (F)• Tomada de decisão conjunta (F)• Criticidade do componente (F)
Gestão de suprimentos• Promoção de visibilidade (F)• Planejamento conjunto (F)• Tomada de decisão conjunta (F)• Criticidade do componente (F)
Transporte• Promoção de visibilidade (F)• Planejamento conjunto(F)• Tomada de decisão conjunta (F)
Embalagem de produto• Promoção de visibilidade(F)• Planejamento conjunto(F)• Tomada de decisão conjunta (F)• Criticidade do componente (F)
Processamento de pedido• Promoção de visibilidade (F)
Armazenagem• Promoção de visibilidade(F)• Tomada de decisão conjunta (F)• Criticidade do componente (F)
Decisões LogísticasEstratégicas e Táticas
Decisões Logísticas Operacionais
Influência de Mercado
87
de um largo mix de produtos o que acarretará em mais dificuldades para realizar a
previsão de demanda.
Portanto, pode-se considerar as relações de dependências nesses casos como
indicado abaixo:
Figura 17: Hierarquização de decisões no âmbito do planejamento.
Fonte: Elaboração própria.
Dando seguimento às complementações do modelo de Riopel e Langevin e
usado como base, foi possível construir uma tabela de modo a encadear as relações
de precedência e dependência entre categorias de decisões.
Figura 18: Dependência entre categorias de decisões logísticas.
Fonte: Elaboração própria.
Para
DeRede Logística Rede C&I
Planejamento
da Demanda
Gestão de
Estoques
Embalagem de
ProdutosTransporte Armazenagem
Gestão de
Suprimentos
Processamento
de Pedidos
Rede Logística
Rede C&I
Planejamento
da Demanda
Gestão de
Estoques
Embalagem de
Produtos
Transporte
Armazenagem
Gestão de
Suprimentos
Processamento
de Pedidos
88
Com o trabalho de Riopel e Langevin (2005) materializados nesta tabela, em
relação às colaborações logísticas e os casos estudados, há indícios que haja uma
hierarquização lógica das decisões logísticas e suas categorias.
Por exemplo, para haver a colaboração nos transportes, parece ser necessário
que haja uma pré-definição da previsão de vendas (magnitude da demanda), uma
política adequada de gestão de estoques considerando os objetivos e riscos da
colaboração (garantir a disponibilidade dos produtos) e a embalagem dos produtos a
serem movimentados (perfil de carga), não necessariamente com ações
colaborativas. De modo que cada prática colaborativa nas categorias de decisão
logística gera impactos à montante (categorias anteriores) e à jusante (categorias
subsequentes).
Esse encadeamento e hierarquização das decisões logísticas colaborativas foi
ilustrado no modelo abaixo:
Figura 19: Hierarquização das decisões logísticas com colaboração
Fonte: Elaboração própria, baseado em Riopel e Langevin (2005).
No modelo proposto cabe uma ressalva, foi identificada uma relação biunívoca,
entre gestão de estoques e gestão de suprimentos, de modo que não é possível
encadear perfeitamente as categorias, significa que após definições de suprimentos,
algumas decisões anteriores de gestão de estoques deveriam ser reavaliadas.
O modelo sugere que para se colaborar em determinada área deve-se ir
voltando nas decisões antecedentes, podendo escolher colaborar ou não nelas, de
modo a rearranjar todas as categorias de decisão pré-requisito. Pôde-se validar estas
Decisões Colaborativas Táticas
Rede Logística
Rede C&I
Planejamento da Demanda
Gestão de Estoques
Armazenagem
Gestão de Suprimentos
Embalagem de Produto
Processamento de Pedido
Transporte
2 543 61
Decisões Colaborativas Operacionais
89
conclusões usando casos empíricos de colaboração encontrados na literatura,
vasculhando as decisões logísticas que as empresas precisaram percorrer.
Usando o exemplo da Souza Cruz com os produtos parcerias, que envolve toda
a hierarquia de decisões logísticas. Antes de estabelecer a operação de parceria, é
necessário definir cenários de previsão de vendas (1), para compreender a magnitude
do impacto nas operações, a partir disso, compreendendo a demanda, é possível
definir uma política de estoques (2) que se desencadeará numa política de
suprimentos (3). Depois de definidos os níveis de estoque, as diferentes embalagens
podem ser definidas (3), que impactarão tanto nas estruturas de armazenagem quanto
de transporte (4), que por sua vez tem influência nas decisões de armazenagem de
expedição (5), definindo finalmente o processamento de pedidos (6).
Uma colaboração na forma do VMI, por exemplo, concatena apenas 3 níveis
de hierarquização logística. A partir de uma previsão de vendas compartilhada (1),
são definidos níveis de estoques e pontos de suprimentos (2), de modo que o
fornecedor possa fazer o reabastecimento periódico dos estoques (3).
Sendo assim, o modelo de hierarquização de decisões de colaboração
revisado, considerando as decisões de mercado, pode ser encontrado abaixo.
Figura 20: Modelo de hierarquização de decisões de colaboração.
Fonte: Elaboração própria, baseado em Riopel e Langevin (2005).
90
Assim, após considerarmos as causas da importância relativa do
relacionamento entre elos da cadeia de suprimentos, as condições necessárias para
a configuração da colaboração, os fatores associados à colaboração, os riscos e
benefícios dos relacionamentos colaborativos, foi construído um modelo que avaliou
quais as categorias de decisões propostas por Diane Riopel e Andre Lagevin (2005),
excluindo-se as categorias nas quais não há oportunidade de colaborar (produção e
manuseio de materiais) e incluindo a influência do ambiente de negócios observados
na literatura explicitamente nas categorias (relacionamento e comercial), que são
influenciados em cadeia para relacionamentos colaborativos no Supply Chain.
Os autores caminham na avaliação do impacto das decisões colaborativas,
baseados em observações documentadas na literatura, nas categorias deixando para
a literatura a evolução de um framework pré-concebido nas decisões logísticas, e
adapatado para as práticas de colaboração. O framework desenvolvido explicita uma
sequência de decisões que devem ser planejadas para que a colaboração ocorra.
Esse pode servir como base para empresas que planejam instalar essas práticas nas
suas cadeias, evidenciando relações de precedência que possibilitarão medidas mais
coerentes.
6.5 Discussão dos resultados da aplicação do modelo Riopel-Langevin
Após a revisão sistemática da literatura, tanto in abstracto quanto em casos
concretos e a aplicação do Modelo de Rede de Decisões Logísticas de Riopel e
Langevin (2005), algumas conclusões foram levantadas para discussão posterior em
maior profundidade:
i. Nem todas as decisões logísticas contemplam oportunidades de
colaboração.
Não foram encontradas na literatura, colaborações em decisões de “Manuseio
de Materiais”, não que não seja possível terceirizar o processo de armazenagem e,
por conseguinte, ter outra empresa fazendo toda a operação de manuseio de
materiais. Mas o ponto principal é que mesmo neste caso, não há interface entre as
91
duas empresas, fabricante e operador logístico, no que se refere às tomadas de
decisão em relação à manuseio de materiais, mas uma operação solitária da
terceirizada. No exemplo prático, apesar da empresa BIC, disponibilizar seus produtos
nos centros de distribuição da Souza Cruz, ela não tem ingerência sobre o tipo de
equipamento que a Souza Cruz utilizará para movimentações internas.
Outra decisão na qual não encontramos colaboração foi a “Produção”,
novamente, não porque não seja possível terceirizar parte da produção para um
parceiro, mas por não encontrarmos interface entre as empresas ao repartirem etapas
da produção, avaliamos 4 casos abaixo avaliando as configurações entre a empresa
e o mercado.
Figura 21: Avaliação da terceirização na produção
Fonte: Elaboração própria
Usamos como caso base o fluxograma A, que não tem terceiros, para fins de
comparação, no fluxograma B, temos a operação de distribuição terceirizada, isso é
comum para diversas empresas, fazendo surgir a figura do distribuidor como o
Martins, por exemplo. Neste caso, no entanto não há terceirização da produção.
No fluxograma C, temos um caso de um produto semi-acabado que é levado
para a produção e distribuição de um terceiro, neste caso, no entanto, não se
considera colaboração na produção, dado que o terceiro funciona como um
intermediário entre a empresa e o mercado, sendo fornecedor do mercado e cliente
da empresa, não configurando, portanto, a prática colaborativa de produção.
Empresa MercadoProdução e DistribuiçãoA
Empresa MercadoTerceiro EmpresaProdução DistribuiçãoFornecimentoD
Empresa MercadoTerceiroProdução e DistribuiçãoFornecimentoC
Empresa MercadoTerceiroDistribuiçãoProdução e FornecimentoB
92
No fluxograma D temos o caso que mais se aproximaria da colaboração da
produção, levando a terceirização de parte do processo produtivo. Entretanto, mesmo
que haja a operação de produção com componentes semi-acabados da empresa em
terceiro, não há configuração de interferência colaborativa no processo através de um
compartilhamento de informações ou planejamento conjunto do layout de produção e
das máquinas utilizadas pela empresa, o que há no máximo é compartilhamento de
informações de estoque e previsão de vendas, que podem ter posterior influencia na
produção. Um exemplo é o caso da empresa de sandálias Kenner, que terceiriza parte
de seu processo produtivo para a empresa Veronser, e depois recebe o produto semi-
pronto para distribuição.
ii. As colaborações podem ocorrer simultaneamente em várias
decisões logísticas.
Há diversos casos de colaboração em várias categorias de decisão
simultaneamente. No Quick Response, por exemplo, há colaboração na gestão de
suprimentos, no VMI há colaborações na gestão de estoques e gestão de suprimentos
já no CPFR, observa-se colaboração no planejamento da demanda e previsão de
vendas, na gestão de estoques e na gestão de suprimentos. Assim, portanto,
iniciativas colaborativas podem estar conectadas a diversas categorias de decisão
logística e diversas outras práticas colaborativas.
Num caso prático, pode-se utilizar o exemplo de Souza Cruz e BIC supracitado
para se ter dimensão de uma colaboração que ocorre desde a embalagem de
produtos, até as operações de gestão de estoques, armazenagem e transporte.
iii. Não necessariamente precisa-se colaborar em todas as decisões, é
possível colaborar em decisões específicas e isoladas.
A partir da conclusão anterior, foi necessário avaliar se é possível colaborar
isoladamente em apenas uma categoria de decisão logística especifica. Ocorreu que
observamos diversas práticas colaborativas entre empresas, em alguns casos, há
colaboração generalizada em todas as categorias decisões logísticas praticamente
(caso Souza Cruz e BIC), noutras há colaboração em apenas uma categoria de
93
decisão logística, como é por exemplo o caso do Alibaba, que realiza colaboração
apenas no processamento de pedido, com transação de informações, sem possuir
armazém, estoques, veículos, nem nenhuma estrutura física.
Neste caso, a conclusão foi que é possível colaborar em várias decisões
interconectadas (Souza Cruz e BIC), é possível colaborar em categorias de decisões
isoladas (Souza Cruz e FedEx), e é possível colaborar em apenas uma categoria de
decisão (Alibaba), se for o caso.
iv. A colaboração em categorias decisões logísticas podem gerar
impactos noutras, tanto prospectivamente como retroativamente.
As conclusões anteriores dão conta que pode-se colaborar em várias
categorias de decisão ou em apenas uma, o que houve como conclusão decorrente
foi que mesmo quando não se colabora em uma categoria de decisão logística, esta
mesma categoria pode ser impactada por uma outra.
Um exemplo que pode ser usado novamente para provar esse ponto é o caso
de parceria da Souza Cruz, que se estendeu para além da BIC para outras empresas
como Red Bull, DIAGEO e P&G, nos mesmos moldes da parceria com a BIC, para
aproveitar a sinergia das operações. Colaborando desde o processamento de
pedidos, transporte, armazenagem, a embalagem de produtos, gestão de estoques,
gestão de suprimentos e planejamento da demanda.
Um efeito colateral possível desta ampliação de participação dos volumes de
outras empresas parceiras é uma mudança na estrutura de atendimento da Souza
Cruz, considerando que todas as empresas parceiras têm perfis diferentes, com perfis
de demanda diferentes, tanto em relação ao patamar atual e como quanto uma
tendência evolutiva futura com o agravamento ainda de características regionais
distintas, que haveria podem gerar no futuro modificações no perfil da demanda da
empresa Souza Cruz como um todo.
Assim, a decisão de colaboração nessas várias categorias pode gerar a
necessidade de um estudo de planejamento de redes logísticas, não por necessidade
de uma colaboração de co-localização das instalações com essas empresas, mas sim
para otimizar a malha logística, considerando as melhores localizações de CDs,
Cross-Dockings e Transit Points dada o novo perfil de demanda com sua margem de
94
contribuição bruta e magnitude, questões tributárias e fiscais envolvidas e o
planejamento estratégico.
Deste modo, uma decisão de colaboração em uma categoria de decisão
logística pode gerar impactos completamente diversos em outras, até mesmo, no
extremo, uma necessidade de revisão de decisões já tomadas e pré-estabelecidas em
arranjos passados (retroativamente), assim como gerando influência em decisões
futuras da cadeia (prospectivamente).
v. Aparentemente, uma boa alternativa é começar o processo
colaborativo pelo compartilhamento da demanda, visto que
aumenta acurácia de previsão e não gera impacto em nenhuma das
decisões anteriores, pode ser uma boa prática.
Dado que ao colaborar em uma categoria de decisão logística podem gerar
interferências tanto prospectivamente quanto retroativamente na cadeia de decisões,
conforme visto acima, o ideal seria desenhar as colaborações para que logo de início
não seja necessário reformar decisões outrora já realizadas.
Para melhor avaliação foi remontado o modelo de hierarquização das decisões
logísticas, baseados em Riopel e Langevin (2005), incluindo as decisões de produção
e manuseio de materiais, de modo a se ter todas as decisões logísticas.
Figura 22: Hierarquização das decisões logísticas
Fonte: Elaboração própria, baseado em Riopel e Langevin (2005)
Decisões Colaborativas Táticas
Rede Logística
Rede C&I
Planejamento da Demanda
Gestão de Estoques
Armazenagem
Embalagem de Produto
Processamento de Pedido
Transporte
2 543 61
Decisões Colaborativas Operacionais
Manuseio de Materiais
Produção
Gestão de Suprimentos
95
Observamos, deste modo, que um bom caminho seria começar por
colaborações na categoria de decisão logística de planejamento da demanda, de
modo que nenhuma decisão anterior operacional seria revista, e moldaria uma base
para todas as decisões operacionais, adicionalmente a colaboração na previsão de
vendas gera uma melhor acurácia de previsão (AVIV 2002, RAMANATHAN 2011,
YANG & WANG 2012).
Síntese da discussão proposta
Como síntese, pode-se concluir que a colaboração não necessariamente
ocorre em todas as categorias logísticas, podendo aparecer isoladas em uma
categoria, ou generalizada permeando várias categorias de decisões de logísticas. Ao
colaborar nessas áreas, por sua vez, pode-se gerar impactos em outras categorias de
decisão com decisões já concluídas. Desta forma se faz necessária uma
racionalização do processo de colaboração, de modo que não se precise reformar
decisões e, possivelmente, investimentos já tomados, sendo indicado, portanto, seguir
da esquerda para a direita no modelo referido de hierarquização das decisões
logísticas, conforme a figura abaixo:
Figura 23: Sentido da colaboração nas categorias de decisões logísticas
Fonte: Elaboração própria, baseado em Riopel e Langevin (2005).
Planejamento da Demanda
Gestão de Estoques
Armazenagem
Embalagem de Produto
Processamento de Pedido
Transporte
2 543 61
Decisões Colaborativas Operacionais
Manuseio de Materiais
Produção
Gestão de Suprimentos
Sentido Preferencial
96
7 Conclusão
Historicamente, o padrão de relacionamento entre clientes e fornecedores nas
cadeias de suprimento têm se caracterizado por um comportamento, individualista
conflituoso, como uma disputa por margem da cadeia, onde cada empresa foca a
atenção nas suas próprias atividades, planejando e executando suas operações de
forma isolada (AROZO 2003). Entretanto, o novo ambiente de negócios competitivo
global levou a uma evolução do conceito de logística para uma visão de Supply Chain
foi baseada numa percepção multi-organizacional, dando origem à ideia de que uma
determinada empresa depende, direta ou indiretamente, de outras organizações
(SPIEGEL, VASCONCELOS, PORTO & CAULLIRAUX, 2014), levando as empresas
a reverem suas antigas práticas de relacionamento.
Muitos autores (SINGH & POWER 2009, apud LEWIS, 1990; LAMMING, 1993;
HINES, 1994; GATTORNA & WALTERS, 1996; CHRISTOPHER, 1998;
GUNASEKARAN et al., 2001) destacam a necessidade crescente de colaboração,
salientando-se o estabelecimento de relações de longo prazo e até mesmo parcerias
com fornecedores em vários níveis na cadeia, como uma maneira de construir cadeias
mais eficientes e responsivas, a fim de oferecer um valor excepcional para os clientes
Nas últimas décadas, houve a necessidade das empresas, com o objetivo de
aumentar a eficiência logística da cadeia como um todo, olhar para fora de suas
organizações por oportunidades de colaboração com parceiros de cadeia, para
garantir um Supply Chain mais eficiente e responsivo às dinâmicas de mercado (CAO
& ZHANG 2011). Deste modo, empresas têm se esforçado para colaborar no sentido
de alavancar a utilização de seus recursos e aprimorar o conhecimento tanto sobre
seus fornecedores quanto sobre seus clientes (FAWCETT & MAGNAN, 2004).
Essa nova postura se caracteriza por um comportamento cooperativo e pela
troca intensiva de informações entre os diversos membros da cadeia de suprimentos,
parte do pressuposto de que através de uma maior visibilidade ao longo da cadeia é
possível alcançar, simultaneamente, substanciais reduções de estoque e melhorias
dos níveis de serviço (AROZO 2003).
Min et al. (2005) lembram que os benefícios econômicos também podem ser
alcançados através da alavancagem dos efeitos de potenciais sinergias associadas
como o ganho de economias de escala e/ou aquisição de recursos e capacitações
97
complementares gerando eficiência operacional. De acordo com Ellram e Cooper
(1990), armazéns e transportadoras podem conseguir melhor utilização das
instalações e equipamentos através de parcerias, por exemplo.
Para Huber (2012), relacionamentos de longo prazo também proporcionam um
nível básico de transações esperadas, o que leva a expectativas de continuidade das
relações, permitindo o planejamento de investimentos e comprometimento de recurso
humano com mais confiança. Isso é importante em mercados que requerem altos
níveis de serviço e serviços de maior valor agregado.
Segundo Cao e Zhang (2011), relacionamentos colaborativos ajudam as
organizações a compartilhar riscos, acessar recursos complementares, reduzir o custo
de transações, elevar produtividade e alavancar a lucratividade e vantagens
competitivas no longo prazo.
Assim, um número considerável de pesquisas têm demonstrado que a
colaboração tem impactos positivos na performance financeira das empresas (SINGH
& POWER, 2009 apud VICKERY et al. 2003, WISNER, 2003, JOHNSTON et al.,
2004), além disso, estudos comparativos demonstram que empresas com maiores
níveis de colaboração no Supply Chain tendem a ter vantagens competitivas maiores
frente à outras empresas em ambientes menos colaborativos (SINGER & POWER
2009, apud THEMISTOCLEOUS et al., 2004, MYHR & SPEKMAN, 2005). Um
exemplo disso, é a pesquisa de Braga (2014) evidenciando que algumas empresas
entrevistadas, que atuam no segmento de HPPC (Higiene Pessoal, Perfumaria e
Cosmético), focam somente em redução de custo, apresentando uma estrutura
colaborativa incipiente, já as empresas com maiores investimentos nessa área
possuem um amplo escopo de atividades e esperam resultados significativos através
da colaboração.
Apesar disso, e de toda a popularidade dos benefícios da colaboração no
Supply Chain, muitos relacionamentos ficam aquém das expectativas dos
participantes (CAO & ZHANG, 2011 apud DOZ & HAMEL, 2998, BARRINGER &
HARRISON, 2000). Para Barrat e Oliveira (2001), poucas empresas foram capazes
de capitalizar, verdadeiramente, os potenciais benefícios de um relacionamento
colaborativo. Além disso, reforçam que há de se fazer a distinção entre o desempenho
da colaboração e o impacto de colaborações sobre o desempenho da empresa.
98
Julianelli (2008), reforça que um aspecto restritivo do aumento da eficiência via
colaboração diz respeito ao formato de relacionamento entre os parceiros comerciais,
dado que como cada uma das empresas tentam maximizar seus resultados
individualmente, ocorrem atritos na relação entre fornecedores e clientes, que buscam
alavancar seus ganhos via processo de negociação, buscando garantir a negociação
com melhor resultado possível para seus acionistas (nas transações). Fazendo isto,
as empresas colocam-se como adversárias de seus parceiros comerciais e criam
barreiras para o compartilhamento das informações de demanda, que são utilizadas
para aumentar o poder de barganha no processo de negociação.
Singh e Power (2009), também destacam que há dificuldades práticas
associadas ao ingresso em relacionamentos colaborativos. Um dos primeiros
impasses que as empresas encaram é em relação à forma exata dos acordos
colaborativos que devem ser desenvolvidos, podendo haver divergências (apud
RUDBERG & OLHAGER, 2003, WALTERS, 2004). Divergências estas que se
manifestam, não só dentro das próprias empresas com as diferenças de pensamento
entre as diversas áreas, mas também entre as empresas que estão buscando
colaborar, por cada empresa ter sua visão própria de como a colaboração deve
ocorrer. Também sendo necessário criar mecanismos de prevenção contra ações
predatórias, oportunistas e abusivas de parceiros colaborativos (apud AKKERMANS
et al., 2004, CLAYCOMB & FRANWICK, 2004, WATSON, 2004).
Cao e Zhang (2011), ainda afirmam que apesar do conceito de vantagem
colaborativa ter sido exaustivamente mencionado na literatura, a operacionalização
desta construção não foi adequadamente abordada na literatura existente, de modo
que parece haver grande potencial nestas iniciativas, precisando de mais estudos
futuro para reconhecer seu valor integralmente.
Para os autores, apesar desse aparente paradoxo, de haver um certo consenso
na literatura que práticas colaborativas levam a uma maior vantagem competitiva, mas
as evidências empíricas dos ganhos colaborativos são escassas e esparsas, os
autores tomaram para si a missão de levantar a literatura existente no tema e
organizar, avaliando os riscos e benefícios das práticas colaborativas nas diversas
categorias de decisão logística.
Observamos que, nos últimos anos surgiram várias iniciativas com o intuito de
se obter ganhos de competitividade através de um melhor gerenciamento do fluxo de
99
informação ao longo das cadeias de suprimento, tendo como base o intensivo de
tecnologia de informação, e a adoção do conceito de parceria pelos diversos
participantes das cadeias. Além disso, ao longo das pesquisas ficaram evidentes
alguns casos que se repetiam em contextos diferentes, assim, esses foram
considerados como dimensões que deveriam ser considerados na avaliação de
processos colaborativos.
Ainda nessa abordagem, existem fatores que podem ser considerados pré-
requisitos, que são essenciais para que os processos se desenvolvam. Esses podem
ser encarados como barreiras à ocorrência de colaboração ou como pontes que
possibilitam, que os processos colaborativos se desenvolvam. Por outro lado, também
avaliamos as barreiras a colaboração, que podem ser consideradas como estruturas
que dificultam a aproximação entre as empresas, impossibilitando o alcance dos
resultados esperadas.
Assim, após extensa revisão da literatura pudemos definir a colaboração no
Supply Chain, como uma relação entre duas ou mais empresas que confiam entre si
e decidem por dividir a responsabilidade de compartilhar informações, promovendo
visibilidade de suas operações e de modo a permitir decisões conjuntas, através de
uma coordenação do planejamento e execução de atividades, balanceando riscos e
benefícios mútuos e alinhando incentivos afim de objetivos compartilhados.
Além disso, a avaliação da colaboração na rede de suprimentos, foi
potencializada, pelos autores, através da utilização de um modelo de rede de decisões
logísticas, proposto por Diane Riopel e Andre Langevin (2005), podendo avaliar as
dimensões de colaboração e as práticas colaborativas encontradas nas categorias de
decisões logísticas propriamente.
O modelo de Diane Riopel e Andre Lagevin (2005) serviu perfeitamente aos
objetivos desse trabalho na medida em que apresentou uma relação hierárquica das
decisões logísticas de uma empresa, evidenciando como determinadas atitudes
podem impactar e ser impactadas ao longo do processo decisório. Além disso, serviu
para apresentar uma visão holística do processo logístico e as principais funções
pertencentes a ele, visto como um grande ganho para o trabalho, devido à
complexidade do tema.
De posse do modelo, a adesão dos pré-requisitos e fatores de colaboração
parece estar bem ajustada, mostrando que em diversas funções há possibilidades de
100
haver colaboração e as relações de hierárquicas das decisões logísticas parecem
seguir o mesmo padrão do modelo original.
Destaca-se no modelo revisado, a contribuição dos autores com os fatores
oriundos do mercado, esses, que foram citados em diversas passagens da revisão
bibliográfica. Visto que, a colaboração é um processo que envolve empresas que
atuam em um segmento, é importante que as características do ambiente de negócios
sejam consideradas. Assim, foram acrescentadas ao modelo essa função que
mostrou uma relação de precedência em relação ao planejamento estratégico e o
planejamento da demanda, o que se faz coerente devido ao fato dessas duas funções
estarem nas fronteiras entre a empresa e o mercado, ou seja, por serem facilmente
influenciadas por mudanças no ambiente de negócios.
Portanto, entendendo processo como um conjunto de atividades encadeadas
para se chegar a um objetivo, o novo modelo possibilita que os processos
colaborativos sejam melhor entendidos a partir do momento que se englobam várias
funções logísticas, divididas em uma parte envolvendo o mercado, outra o
planejamento estratégico, definições de redes e, por último, a parte operacional.
Assim, foram incorporadas as partes colaborativas de cada uma e o sequenciamento
entre elas representado para se chegar a um melhor desempenho através da
colaboração. Desse modo, o modelo se completa com as descobertas da revisão
bibliográfica aderidas a estrutura do modelo de Diane Riopel e Andre Lagevin (2005).
O modelo contribui para o tema a partir do momento que trata um assunto
bastante complexo, como é o caso da colaboração entre as empresas, de forma
holística, mostrando suas diversas áreas de atuação e as consequências de cada
atitude na cadeia e seus impactos. Sendo assim, o modelo pode servir como guia para
o planejamento e acompanhamento da colaboração entre empresas. Porém, vale
destacar, que o modelo não foi testado na prática, apesar de ser fruto de uma
compilação de diversas práticas entre empresas, isso não garante que o modelo será
um sucesso.
Sendo assim, cabe, para um futuro trabalho, o teste desse modelo identificando
práticas colaborativas nas cadeias de suprimentos e se existe relação de precedência
e subsequência entre as atividades. Outro ponto importante é avaliar como as
características de mercado podem influenciar nas práticas adotadas e se a ocorrência
delas são a origem para as práticas colaborativas. Devem-se realizar os testes tanto
101
com fornecedores quanto clientes, pois só assim que se pode avaliar os reais ganhos
com a colaboração nas cadeias.
Portanto, o presente trabalho contribui com relevância para o tema e serve o
objetivo do trabalho de entender como se caracterizam os relacionamentos entre as
empresas nos processos decisórios logísticos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ANTHONY, T. Supply chain collaboration: success in the new internet economy.
Achieving Supply Chain Excellence through Technology, Montgomery Research
Inc., San Francisco, CA, 2: 41-4, 2000.
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108
APÊNDICE A
Neste Apêndice estão introduzidos os resumos dos textos selecionados para que
se tome conhecimento da bibliografia.
Drivers of close supply chain collaboration: one size fits all?
A proposta do artigo é investigar os antecedentes da colaboração na Cadeia
de Suprimentos e desenvolver um modelo conceitual de fatores multivariáveis que
conduz a necessidade por colaboração.
Leew e Fransoo (2009) afirmam que o fundamento racional por trás de todos
os termos, como: aliança, relacionamentos, colaboração, parcerias e etc parece ser
que as companhias não conseguem competir com sucesso por elas próprias e
portanto buscam o estabelecimento de acordos com outras entidades na Cadeia de
Suprimentos.
Leew e Fransoo (2009) afirmam que o estilo de relacionamento de parceria é
proximidade, um aspecto que tem sido muito identificado como típico nas cadeias
mais integradas. A definição de proximidade engloba:
• Relacionamentos de negócios de longo prazo entre organizações
independentes;
• Cooperação e colaboração de atividades com proximidade, como:
compartilhamento de informação, planejamento conjunto, gestão da
demanda conjunta e gestão de estoques conjunta;
• Conexão entre grupos distintos intra e entre firmas;
• Objetivos comuns/compartilhados;
• Perspectiva compartilhada dos méritos com os elos mais próximos e;
• Criação de visibilidade.
Leew e Fransoo (2009, apud KRAUSE, 1999) divide os fatores antecedentes
de desenvolvimento de fornecedores em três categorias:
• Fatores ambientais que determinam o potencial da parceria, como
competição e importância dos insumos de uma firma;
109
• Fatores de barreira que incluem o comprometimento dos fornecedores,
comunicação e outros fatores que devem ser encontrados para que seja
efetiva;
• Fatores de atitudes, que envolvem preocupação e perspectivas para os
fornecedores, por exemplo: confiança.
O trabalho dos autores focou nos fatores ambientais e foram divididos em
clusters, segundo as perspectivas de: produto, mercado e parcerias.
Em relação a mercado, uma grande incerteza da demanda aumenta a
necessidade por uma integração vertical (LEEW & FRANSOO, 2009, apud KOUVELIS
e MILNER, 2002). Quanto maior as incertezas associadas a demanda e a lead-time,
mais as empresas se tornam parceiras. Um estudo de caso realizado na Royal Philips
Eletronics chegou à conclusão de que a Colaboração com proximidade é
particularmente mais efetiva em ambientes voláteis (LEEW & FRANSOO, 2009, apud
KOK et al., 2005). Assim, a conclusão que se chega nessa passagem é que as
incertezas do mercado são fatores que forçam as empresas a adotar uma forma de
colaboração mais próxima.
A características de produto que levam a colaboração estão relacionadas a
criticidade do item, que podem originar da importância em termos de valor adicionado,
porcentagem de matérias primas nos custos totais e impacto na lucratividade;
escassez de suprimento, estado da tecnologia e/ou materiais substitutos; barreiras de
entrada, custos ou complexidade logísticas ou condições de monopólio ou oligopólio
(LEEW & FRANSOO, 2009, apud KRALJIC, 1983). Além disso, a necessidade por um
produto customizado, fora de padrão, pode levar as empresas a criarem modelos de
parceiras estratégicas, desde que seja requerido grande porcentagem de capital
imobilizado (LEEW & FRANSOO, 2009, apud DYER et al., 1998).
Já no caso das parcerias, a literatura concorda que a partir do momento que os
fornecedores reconhecem o valor de desenvolver competências e recursos, mais
parcerias estratégicas são estendidas a eles (LEEW & FANSOO, 2009, apud GOFFIN
et al., 2006). Esses recursos podem ser descritos, como: familiaridade da empresa
com a tecnologia, conhecimentos, competências, recursos tecnológicos e de projetos
(LEEW & FRANSOO, 2009, apud CHIESA & MANSINI, 1998). Ainda relacionado a
parcerias, o autor encontra na literatura pontos divergentes em relação a questão do
poder. De um lado, argumentam que a ausência de poder ou a igualdade de poder
110
dificultam a colaboração (LEEW & FANSOO, 2009, apud OLSEN & ELLRAM, 1997;
COX, 2001; JASSAWALA & SASHITTAL, 1998). Por outro lado, há autores que
afirmam que a desigualdade de poder na cadeia combate a inércia e promove a
Colaboração entre os elos (LEEW & FRANSOO, 2009, apud BENTON & MALONI,
2005; ARSHINDER et al.,2008). Destaca-se a diferença dos anos de publicação, as
referências que afirmam que diferenças de poder entre os elos da Cadeia de
Suprimentos são prejudiciais a Colaboração são mais antigas do que as contrárias a
esse pensamento.
Em suas pesquisas Leew e Fransoo (2009) chegaram a alguns resultados que
embasam seu modelo conceitual de características que influenciam a colaboração na
Cadeia de Suprimentos, como segue abaixo. A partir disso, um questionário foi
desenvolvido e aplicado para empresas nos segmentos de Eletrônicos, Moda e Bens
de Consumo Embalados.
As duas questões centrais do mercado pertencem as incertezas de demanda e
suprimento, essas dizem respeito a variação da demanda e as incertezas nas
entregas, principalmente, em relação ao lead-time.
Na perspectiva do produto as empresas tendem a colaborar quando algum item
é crítico e quando há um nível considerável de customização. O primeiro, segundo
Leew e Fransoo (2009) são largamente discutidos na literatura como algo que induz
a colaboração. O segundo foi considerado como um fator de colaboração nos
mercados de eletrônicos e de bens de consumo. Segundo entrevistas de Leew e
Fransoo (2009), como eles já esperavam, a lucratividade das inovações tem crescido
quando há colaboração com proximidade, fornecedores tentam manter fortes relações
com seus clientes para que os mantenham em produtos futuros.
Em relação as parcerias, os recursos dos fornecedores e a dependência dos
parceiros são fatores que induzem a colaboração. No primeiro caso, as competências
e recursos do fornecedor trazem a confiabilidade para que haja colaboração na
cadeia. No segundo, o desequilíbrio de poder combate a inércia da colaboração na
cadeia. Leew e Fransoo (2009) afirmam que em situações onde existe uma clara
entidade dominante, essa parte toma a liderança de desenvolver as inciativas.
Como limitações desse trabalho, o autor cita que a pesquisa foi desenvolvida
com empresas Make-to-stock. Além disso, o modelo criado não foi testado em larga
escala em diferentes indústrias.
111
Performance improvement through supply chain collaboration in Europe
A proposta do artigo é testar empiricamente as relações entre a colaboração
na cadeia de suprimentos e melhorias de performance, para isso, o autor faz uma
busca na bibliografia e identifica algumas práticas de colaboração, que são divididas
em duas categorias, são elas: troca de informação e colaboração estrutural. A partir
disso o autor testa, separadamente, se essas iniciativas têm relação com a melhoria
de desempenho de fornecedores e compradores, utilizando a base da International
Manufacturing Strategy Survey (IMSS) com os dados de 374 companhias da Europa.
A categoria relacionada à troca de informação é definida por Vereecke e Muylle
(2006) se refere às práticas onde a informação é compartilhada em todos os níveis de
planejamento relevantes e processos de controle, como:
• Compartilhamento de informação de níveis de estoque;
• Compartilhamento de informação sobre decisões de planejamento da
produção e previsão da demanda;
• Acordos de frequência de entregas.
Já a colaboração estrutural, segundo Vereecke e Muylee (2006), acontece
quando essas informações estão embutidas em sistemas padronizados, como nos
casos:
• Uso de sistemas Kanban para aquisição de material;
• Localização conjunta de fábricas;
• Gerência e manutenção de estoque de materiais no cliente
Vereecke e Muylee (2006), através das pesquisas na bibliografia existente,
listam dimensões de desempenho das cadeias, são elas: Custo, Flexibilidade,
Entrega, Compras, Qualidade e Inovação. Com isso, avalia-se a relação entre as
iniciativas, tanto as que envolvem fornecedores quanto os clientes, e a melhoria no
desempenho das empresas.
Vereecke e Muylee (2006) concluem que a colaboração tanto com os
fornecedores quanto com os clientes revelou ter as maiores taxas de melhoria,
especialmente no compartilhamento de informação. Além disso, as empresas que
112
obtiveram as maiores melhorias são as empresas com maiores níveis tanto de
compartilhamento de informação, quanto de colaboração estrutural.
Nesse processo de colaboração deve-se definir as lideranças que serão
responsáveis, que devem ter a capacidade de manter as relações e conduzir o
processo com sucesso. Eles devem influenciar o comportamento dos seus
colaboradores e construir competências através, de treinamentos, investimentos,
empoderamento e meritocracia (VEREECKE & MUYLEE, 2006).
Especificamente sobre a Colaboração Estrutural, é aconselhado que o elo mais
forte conduza essas iniciativas, através de uma estratégia imperativa, porém isso por
si só não é garantia de melhorias de desempenho.
Vereecke e Muylee (2006) consideram como importante para a melhoria do
desempenho da cadeia, a coordenação entre as iniciativas. Assim, as iniciativas,
sejam por Compartilhamento de Informação sejam por Colaboração Estrutural devem
ter uma coerência para alcançarem incrementos de performance. Essas atividades
sendo conduzidas e projetadas de forma orientada podem ser um fator preponderante
para o sucesso dos processos de colaboração na cadeia.
Collaboration planning in a Supply Chain
A proposta do texto é analisar como as ferramentas de colaboração da internet
afetam diferentes parceiros ao longo da Cadeia de Suprimentos e categorizar as
empresas pelo seu nível de planejamento colaborativo dentro do ambiente da cadeia
de suprimentos.
O uso das ferramentas de internet no ambiente de manufatura está relacionado
a dois tipos de inovações de processo: as que promovem visibilidade e processos que
suportam a implementação das estratégias da cadeia de suprimentos (CASSIVI,
2006). Além disso, o autor avalia como essas ferramentas impactam o CPFR
(collaborative planning, forecasting and replenishment) e conclui que o ponto mais
afetado é a parte de planejamento. Por outro lado, reconhece que as parcerias de
colaboração na cadeia e o desenvolvimento das ferramentas de e-commerce no
ambiente da cadeia de suprimentos estão, frequentemente, forçando a inovar, ao
invés de competir (CASSIVI, 2006, apud MASON & TOWILL, 1999).
113
Cassivi (2006) desenvolve o assunto realizando um estudo de campo com
empresas, que atuam em uma mesma cadeia de suprimentos a fim de avaliar o uso
de ferramentas eletrônicas de colaboração no setor de equipamentos de
telecomunicações e, a partir disso, elaborar um questionário com os principais
assuntos abordados. Depois, realizou uma pesquisa com outras firmas que atuam
nesse mesmo setor com o mesmo objetivo, sem identificar se as mesmas atuavam
em uma mesma cadeia.
Cassivi (2006) identifica no seu estudo de campo que os principais impactos na
utilização das ferramentas eletrônicas de colaboração tendem a ser encontrados nas
fases de preparação e suporte do relacionamento. Essas duas atividades definem
como as partes planejam colaborar e que ações são necessárias para garantir a
eficiência e qualidade do processo de colaboração. Assim, empresas que planejam
seus processos colaborativos tendem a ter melhores resultados na utilização dessas
ferramentas.
Nesse segmento de equipamentos de telecomunicações, as ferramentas
eletrônicas colaborativas foram importantes para a inovação nos processos das
empresas e nas relações entre elas, sem ser identificado importantes contribuições
para a inovação de produtos (CASSIVI, 2006).
Cassivi (2006) encontra relação entre o Planejamento Colaborativo, quando as
empresas utilizam um perfil de relação de mão dupla na inovação em processos e
relacionamentos, tanto com fornecedores quanto clientes. Além disso, também se
configura um aumento de desempenho nas medidas flexibilidade nesse perfil de
relacionamento, porém não houve melhorias significativas nas medidas de produção
e de recursos. Conclui-se que com o perfil de relacionamento de mão dupla, tanto com
clientes como com fornecedores, cria-se visibilidade na cadeia de suprimentos e isso
é crítico para que essas atinjam a eficiência.
Collaborative Supply Chain practices and performance: exploring the key role of
information quality
O compartilhamento de informação é conceituado como o ato de capturar e
disseminar a informação relevante e no tempo correto para o tomador de decisões a
fim de planejar e controlar as operações da Cadeia de Suprimentos, sincronização de
114
decisão se refere a tomada de decisão conjunta no planejamento e no contexto
operacional; e alinhamento de incentivos refere-se ao grau em que cada membro da
cadeia compartilha custos, riscos e benefícios. (WEINGARTEN, et al. 2010, apud
SIMATUPANG & SRIDHARAN, 2005). Essas iniciativas citadas anteriormente fazem
parte de uma síntese para identificar a colaboração nas Cadeias de Suprimentos.
Quando se fala em colaboração o que mais se cita na literatura é o
compartilhamento de informação, porém a qualidade dessa informação é um assunto
pouco explorado. Alguns estudos falam que quando a qualidade da informação é ruim,
pode-se ter efeitos negativos no desempenho das empresas, além disso, o impacto
específico proveniente da informação de qualidade não é um assunto estabelecido
(WEINGARTEN, et al., 2010).
A qualidade da informação pode ser definida em termo de acuracidade,
conveniência de acesso e confiabilidade (WEINGRATEN, 2010, apud FORSLUND,
2007). Outro estudo fala em acuracidade, oportuna, adequada e credibilidade da
informação como características para boa qualidade da informação (WIEGARTEN,
2010, apud MONZCKA et al., 1998).
Através de um questionário aplicado na indústria automobilística Alemã,
Wiengarten (2010) chegou a um resultado explicitando que o compartilhamento de
informação tem forte impacto, quando a informação é de qualidade. Além disso, os
resultados provaram que quando a informação é de alta qualidade a uma melhoria de
performance maior que quando a informação é ruim.
Wiengarten (2010) sugere, através de suas análises, que as práticas
colaborativas de compartilhamento de informação, tomada de decisão conjunta e
alinhamento de incentivos não melhoram igualmente o desempenho das empresas.
Além disso, só se tornam importantes drivers para melhoria de desempenho quando
a informação é de qualidade. Assim, apesar de a tomada de decisão conjunta e o
alinhamento de incentivos conduzirem melhoria no desempenho, tendo em vista a boa
qualidade da informação, o compartilhamento de informação é o que mais traz
benefícios segundo as pesquisas feitas.
Por fim, Wiengraten (2010) aconselha que: “para ganhar o total potencial dos
benefícios das práticas colaborativas, as empresas precisa, priorizar investimentos
para melhorar a qualidade da informação compartilhada e trocada entre os parceiros
da Cadeia de Suprimentos”.
115
Horizontal collaboration in semiconductor manufacturing industry supply chain:
An evaluation of collaboration intensity index
Bahinipati et al. (2009) define a Colaboração Horizontal, como um acordo entre
companhias de um mesmo nível em uma Cadeia de Suprimentos, que permite
facilidades no trabalho e cooperação a fim de atingir um objetivo comum, podendo
ocorrer através da manipulação, utilização e compartilhamento adequado dos
recursos.
Bahinipati et al. (2009) sugere alguns atributos que são responsáveis pela
intensidade da colaboração na cadeia e os categoriza, como:
Características setoriais:
• Estrutura do segmento: relacionado a perícia na tomada de decisões,
estágio de desenvolvimento, escopo e horizonte de planejamento;
• Estabilidade Financeira: Performance do Negócio, capital requerido ou
disponível com os membros da cadeia;
• Reputação Global: Relação com sustentabilidade e a força das marcas dos
seus produtos na cadeia.
Vantagem Competitiva:
• Orientação de Produto: em termos de qualidade do produtos e serviços,
assim como o tempo de ciclo de vida;
• Vantagem competitiva Geral: tratando da fatia do mercado, orientação para
clientes, nível ou padrões tecnológicos.
Parâmetros Internos:
• Estratégicos: estratégia de terceirização e atitude da alta gestão em relação
a colaboração horizontal;
• Táticos: como tecnologias de comunicação, integração interna, velocidade
de tomada de decisão e planejamento colaborativo;
• Operacionais: como: produtividade, flexibilidade, medidas de controle, lead
time, utilização de capacidade, segurança e giro de estoque.
Parâmetros externos:
116
• Características do produto: elasticidade de preço, variabilidade da demanda
e pressões de competitividade;
• Orientação do segmento: medidas de desempenho financeiro, lucro
potencial, assim como, capacidade de utilização de recursos.
Supply chain collaboration: Impact on collaborative advantage and firm
performance
Cao e Zhang (2011) reforçam que nos últimos anos, tem havido uma
necessidade por parte das empresas de olharem não apenas para dentro de suas
próprias operações, mas também para fora buscando oportunidades de colaborar com
parceiros para garantir que o Supply Chain seja eficiente e consiga responder a tempo
e a hora às necessidades dinâmicas do mercado.
Empresas tem se esforçado para colaborar no sentido de alavancar a utilização
de seus recursos e aprimorar o conhecimento tanto sobre seus fornecedores quanto
sobre seus clientes (CAO & ZHANG, 2011 apud FAWCETT & MAGNAN, 2004).
Cao e Zhang reforçam os benefícios da colaboração no que diz respeito à
compartilhamento de riscos e benefícios no planejamento e execução das operações;
na redução dos custos transacionais, que incidem sobre as empresas envolvidas; e
no compartilhamento de recursos complementares; que promovem uma melhor
vantagem competitiva levando a um aumento da lucratividade das cadeias como um
todo.
Os autores, no entanto, advertem que apesar da popularidade e dos benefícios
da colaboração, muitos relacionamentos colaborativos ficam aquém de satisfazer as
expectativas dos participantes. Para Barrat e Oliveira (2001, apud CAO & ZHANG,
2011), poucas empresas foram capazes de capitalizar, verdadeiramente, os
potenciais benefícios de um relacionamento colaborativo. Além disso, reforçam que
há de se fazer a distinção entre o desempenho da colaboração e o impacto de
colaborações sobre o desempenho da empresa
Segundo Cao e Zhang (2011), apesar do conceito de vantagem colaborativa
ter sido exaustivamente mencionado na literatura, a operacionalização desta
construção não foi adequadamente abordada na literatura existente.
117
Por fim, este estudo define a colaboração da cadeia de suprimentos como sete
componentes comunicantes inter-relacionados: compartilhamento de informações,
congruência de metas, sincronismo de decisões, alinhamento de incentivos,
compartilhamento de recursos, comunicação colaborativa e criação conjunta de
conhecimento. Estas sete dimensões agregam valor para suprir a colaboração da
cadeia, reduzindo custos e tempo de resposta, mobilizando recursos e melhorando a
inovação.
Supply chain collaboration for improved forecast accuracy of promotional sales
Ramanathan (2011), foca suas interpretações da colaboração na cadeia de
suprimentos nos benefícios de ações colaborativas no gerenciamento da demanda. O
objetivo principal do artigo é levantar a hipótese de que a previsão colaborativa
melhora a precisão das previsões de vendas, se todos os parceiros podem se
relacionarem em conjunto para sua demanda com fatores de demanda subjacentes.
O autor diz que nos últimos anos, muitas empresas têm empregado estratégias
de colaboração no abastecimento na cadeia de suprimentos para conseguir
vantagens competitivas. Para Irlanda e Crum (2005 apud RAMANATHAN, 2011), o
compartilhamento de informações transparentes na colaboração do planejamento de
demanda da cadeia de abastecimento é candidato a se tornar um elemento principal
por trás do sucesso de todo o atendimento da cadeia.
Ressalta-se também, o surgimento e a adoção, por grandes players como o
Walmart, do CPFR (Collaborative Planning Forecasting and Replenishment), que é
uma metodologia de colaboração incentiva que todos os participantes da cadeia de
suprimentos a compartilhar suas previsões de demanda com os outros participantes
para chegar que se chegue a um consenso sobre uma previsão comum a ser praticada
na operação.
Na compreensão deste conceito (CPFR), várias empresas estão amplamente
envolvidas na previsão colaborativa para alcançar a melhor precisão possível das
previsões, para evitar o excesso de estoque, a ruptura de estoque e o efeito chicote
(bullwhip effect), segundo Aviv (2007 apud RAMANATHAN, 2011). Em contraponto à
complexidade envolvida na criação de uma previsão única consensual combinada de
várias previsões com muitos envolvidos nas operações (CHANG et al. 2007, apud
RAMANATHAN, 2011); Aviv (2002 apud RAMANATHAN, 2011), demonstrou que o
118
planejamento colaborativo é benéfico para a redução de lead times e aumento da
acurácia da previsão de vendas.
Por fim, Ramanathan (2011), destaca que recentemente, por conta dos
avanços tecnológicos, o Supply Chain se tornou transparente para os parceiros de
cadeia, tanto em relação a processos quanto em relação às informações (apud
HOLWEGETAL, 2005), a magnitude e o nível de maturidade da colaboração entre os
parceiros da cadeia que é substancialmente diferente, devido às diferentes estratégias
das empresas envolvidas na colaboração (RAMANATHAN 2011, apud DANESE,
2007). Estas estratégias, são definidas pela demanda e pelas incertezas de
fornecimento dos itens produzidos, (RAMANATHAN 2011, apud LEE, 2002). Portanto,
a coordenação dos mecanismos entre os membros parceiros no Supply Chain, são
diferentes dependendo da individualidade de cada membro da cadeia, de suas
características e necessidades. Mesmo assim, para alcançar agilidade na cadeia, a
participação ativa de todos os parceiros da cadeia de suprimentos é crítica
(RAMANATHAN 2011, apud LEE, 2002), mesmo que a colaboração da cadeia como
um todo dependa das necessidades e estratégias individuais de cada membro da
cadeia (SMAROS, 2007). Mesmo assim, uma utilização adequada do conhecimento
baseada em recursos e capacidade de combinar informações de várias fontes
aumentar pode aumentar o sucesso da cadeia de suprimentos como um todo.
The nature and effectiveness of collaboration between firms, their customers
and suppliers: a supply chain perspective
O artigo tem como objetivo investigar um modelo de colaboração baseado nas
fortes relações de empresas com seus fornecedores e cliente, através de uma análise
estatística de níveis de relacionamento colaborativo em 418 empresas australianas.
Contribuindo de modo que, mesmo que questões relacionadas com relações de
colaboração entre empresas e parceiros são um dos principais temas abordados na
literatura de Supply Chain Management, há uma falta de clareza nas orientações
sobre a forma como tal capacidade pode ser desenvolvida no dia a dia das empresas.
O interesse recente no tema de colaboração, segundo Singh e Power (2009),
ocorre porque há um corpo de evidencias que sugerem que uma colaboração efetiva
na cadeia de suprimentos pode gerar grandes benefícios para os participantes, como
119
observado em casos de grandes empresas como Dell (MAGRETA & DELL, 1998), HP
(LEE & BIILLINGTON, 1995) e Wal-mart (LANDRY, 2003), que ao aumentarem a
proximidade colaborativa com parceiros tiveram benefícios.
Um número considerável de pesquisas tem demonstrado que a colaboração
tem impactos positivos na performance financeira das empresas (apud VICKERY et
al. 2003, WISNER, 2003, JOHNSTON et al., 2004), além disso, estudos comparativos
demonstram que empresas com maiores níveis de colaboração no Supply Chain
tendem a ter vantagens competitivas maiores frente à outras empresas em ambientes
menos colaborativos (apud THEMISTOCLEOUS et al., 2004, MYHR & SPEKMAN,
2005).
Para os autores, um dos principais motivos para a criação de relacionamentos
colaborativos é, sobretudo, para evitar para mitigar os efeitos negativos do efeito
chicote, reduzindo as incertezas e flutuações de estoque com os parceiros.
Singh e Power (2009), também destacam que há dificuldades práticas
associadas ao ingresso em relacionamentos colaborativos. Um dos primeiros
impasses que as empresas encaram é em relação à forma exata dos acordos
colaborativos que devem ser desenvolvidos, podendo haver divergências (apud
RUDBERG & OLHAGER, 2003, WALTERS, 2004). Divergências estas que se
manifestam, não só dentro das próprias empresas com as diferenças de pensamento
entre as diversas áreas, mas também entre as empresas que estão buscando
colaborar, por cada empresa ter sua visão própria de como a colaboração deve
ocorrer. Também é necessário criar mecanismos de prevenção contra ações
predatórias, oportunistas e abusivas de parceiros colaborativos (apud AKKERMANS
et al., 2004, CLAYCOMB & FRANWICK, 2004, WATSON, 2004).
Por fim, Singh e Power (2009) afirmam que muitas empresas estão
sistematicamente se esforçando para desenvolver relacionamentos colaborativos com
fornecedores e clientes, não como uma iniciativa isolada, mas como uma iniciativa
maior como filosofia para a cadeia como um todo, e que isso é tendência no futuro
próximo. O modelo teórico sugerido pelos autores é baseado na ideia de que
compromissos fortes, profundos, significativos e de longo prazo com clientes e
fornecedores produzem melhorias de desempenho operacional e de resultado, sem a
necessidade de grandes investimentos em recursos e infraestrutura.
120
Capabilities that enhance outcomes of an episodic supply chain collaboration
Segundo Zacharia, Wix e Lusch (2011), as organizações estão cada vez mais
dependentes do conhecimento e experiência de outras empresas para inovar, resolver
problemas e melhorar o desempenho da cadeia de suprimentos, assim,
desenvolveram um artigo visando analisar dois principais recursos que permitem às
empresas colaborar com sucesso combinando conhecimento e experiência. Avalia-
se, dos pontos de vista das empresas, baseados em fatores de conhecimento e
relacionais, os efeitos da capacidade de absorção e competência do processo
colaborativo sobre os resultados de uma iniciativa de colaboração.
Nos últimos anos, a colaboração aumentou em importância com o impulso para
desenvolver as competências essenciais e capacidades estratégicas dentro do core
business da empresa, enquanto há terceirização das demais atividades (apud
GOTTFREDSON et al., 2005). A colaboração com fornecedores, clientes e até mesmo
concorrentes para co-criar soluções para os problemas é cada vez mais importante
para a estratégia de negócios de uma empresa e uma fonte de vantagem competitiva
(apud VARGO & LUSCH, 2004). Tendo isso em mente, os autores, veem a
colaboração como um mecanismo para combinar e implantar conhecimentos e
habilidades externas e internas, ao examinar dois recursos (capacidade de absorção
e de competência processo de colaboração), que influenciam os resultados
operacionais e relacionais de tais colaborações.
Zacharia, Wix e Lusch (2011) colocam uma visão que contrapões à literatura
tradicional, que historicamente, centraram os estudos em colaborações de longo
prazo que são de natureza estratégica. Para Dyer e Singh (1998 apud ZACHARIA et
al., 2011) sugeriram que empresas que investem em relacionamentos de longo prazo
para combinar recursos de maneira única poderia realizar uma vantagem competitiva
e se acumulam "benefícios relacionais”. Paulraj et al. (2008 apud ZACHARIA et al.,
2011) sugeriram uma orientação à relacionamentos de longo prazo como um pré-
requisito para a construção de competências relacionais que melhoram o
desempenho das empresas colaboradoras. No entanto, os autores colocam que,
muitos esforços de colaboração são de natureza episódica, com foco em uma
iniciativa episódica e específica, com começo e fim definidos, ocorrendo em um
período de tempo limitado, e ocorrendo entre organizações ou até mesmo entre
equipes específicas dentro das empresas.
121
No ambiente dinâmico de hoje, as empresas inseridas numa rede "virtual" ou
numa cadeia de suprimentos, as empresas devem colaborar umas com outras para
desenvolverem iniciativas episódicas, mesmo que não haja nenhuma relação formal
de cooperação ou de longo prazo. Segundo os autores, a resolução de um problema
significativo qualidade, redesenho de rede logística, planos de contingência, ou
lançamento de um novo produto são exemplos de iniciativas episódicas que podem
exigir a colaboração sem uma aliança formal ou relação de colaboração de longo
prazo.
Por fim, os resultados do artigo fornecem evidências empíricas da contribuição
de esforços colaborativos episódicos no desempenho em uma variedade de tipos de
colaboração e em vários setores, baseados sempre na capacidade de absorção de
valor e da competência de gestão dos processos colaborativos nas empresas. A
validação empírica dessas relações demonstra a importância da colaboração como
um meio de dar acesso, síntese e implementação das capacitações inter-relacionais
para melhorar o desempenho da cadeia como um todo.
A conceptual framework for supply chain collaboration empirical evidence from
the agrifood industry
O artigo de Matopoulos, Vlachopoulou, Manthou e Thessaloniki (2014) tem
como objetivo analisar o conceito de colaboração da cadeia de suprimentos e para
fornecer um framework conceitual para posterior pesquisa empírica. Também nesse
trabalho eles inserem a ideia de que o tipo de Indústria que se pretende analisar
transforma dramaticamente as formas de colaboração.
Nos últimos anos, a compreensão do Supply Chain se tornou um campo chave
para o sucesso empresarial, em contraste com o foco intra-empresa tradicional. A
colaboração tem sido uma grande mudança e desafio, no modus operandi das
empresas. Em muitos casos, sua capacidade de competir foi diretamente ligada com
a sua capacidade de colaborar com outras empresas. Muitos autores (LEWIS, 1990;
LAMMING, 1993; HINES, 1994; GATTORNA e WALTERS, 1996; CHRISTOPHER,
1998; GUNASEKARAN et al., 2001), a necessidade crescente de colaboração,
salientando-se o estabelecimento de relações de longo prazo e até mesmo parcerias
com fornecedores em vários níveis na cadeia, como uma maneira de construir cadeias
mais eficientes e responsivas, a fim de oferecer um valor excepcional para os clientes.
122
Apesar destes benefícios, a colaboração na cadeia de suprimentos nem
sempre é fácil de conseguir, mesmo quando as restrições de comunicação anteriores,
em relação à intercâmbio eficiente de dados e informações entre os membros da
cadeia de suprimentos, foram superadas pela revolução da informação e tecnologia
de comunicação. Uma série de fatores relacionados ao ambiente de negócios, às
características especificas da indústria e as características particulares da empresa
das empresas, podem levar à deterioração das oportunidades de colaboração.
Para Matopoulos et al. (2014) a colaboração aparece quando empresas
reconhecem casos em que apenas operar por si só não é suficiente para resolver
problemas comuns e atingir os objetivos desejados (apud HUXHAM, 1996;.
CORBETT et al., 1999; BARRATT & OLIVEIRA, 2001; WAGNER et al., 2002). Há a
construção de uma noção que, inevitavelmente, os membros da cadeia, se envolvem
e trabalham ativamente juntos na coordenação das atividades que abrangem as
fronteiras de suas organizações, a fim de e satisfazer as necessidades dos clientes
(BOWERSOX, 1990; MENTZER et al., 2000; MUCHSTADT et al., 2001).
Matopoulos et al. (2014) formula um framework com dois pilares distintos para
a colaboração na cadeia, um que lida com o projeto e a coordenação das atividades
do Supply Chain, e o outro que lida com estabelecimento e a manutenção de relações
entre empresas da cadeia.
Figura 24: Framework da colaboração na cadeia de suprimentos.
Fonte: Matopoulos et al. (2014).
123
O primeiro pilar no quadro está relacionado com a concepção e coordenação
das atividades da cadeia de abastecimento composto por três elementos:
O primeiro elemento é sobre tomar a decisão de selecionar o parceiro
adequado. Empresas no mundo dos negócios estão interagindo com uma série de
fornecedores e clientes, nem todos estes podem se tornar colaboradores “próximos”,
logo uma seleção é necessária, com base nas expectativas, benefícios e
desvantagens.
O segundo elemento envolve selecionar as atividades em que serão
estabelecidas colaboração. A multiplicidade das atividades constitui a "largura" de
colaboração. As empresas precisam de determinar as atividades específicas sobre o
qual eles irão colaborar, uma vez que nem todas as atividades requerem a mesma
quantidade de envolvimento e relacionamento próximo (MATAPOULOS 2012 apud
SAHAY, 2003).
Selecionadas as atividades, o terceiro elemento é identificar em que nível as
empresas irão colaborar. A abordagem a três níveis a saber estratégico, tático,
operacional é bastante essencial, uma vez que as empresas raramente escolher ou
decidir colaborar em todos os níveis de decisão a tomar. Esta distinção sobre
estratégico, tático e operacional, que tem sido muito comum na literatura, constitui a
"profundidade" de colaboração (STEVENS, 1989; CHOPRA & MEINDL, 2001;
FAWCETT & MAGNAN, 2002).
A combinação desses três elementos compreende a intensidade da
colaboração: a profundidade (operacional, tático e estratégico), a amplitude
(atividades simples às mais complexas) e o número de entidades (duas ou mais
entidades, a montante e a jusante). Por fim, um outro fator importante para a
concepção e coordenação das atividades inclui a decisão de selecionar o método e a
tecnologia apropriada para facilitar o compartilhamento de informações. É uma
decisão complexa, já que nem todos os potenciais colaboradores são capazes de
satisfazer as exigências em termos de tecnologia e técnicas.
O segundo pilar diz respeito ao estabelecimento e manutenção de
relacionamentos da cadeia. Ele inclui os elementos menos tangíveis, mas igualmente
importantes, de relacionamentos. Os elementos críticos que foram também citados na
literatura incluem o compartilhamento de benefícios, riscos e recompensas
124
(TRESANDOU et al., 1999; BARRATT & OLIVEIRA, 2001). A relação custo-benefício
é o grande balizador que irá orientar a intensidade da colaboração entre empresas.
Uma interação de outros elementos, tais como confiança, poder e dependência,
também foram identificados por desempenhar um papel importante na decisão das
empresas para colaborar. A dependência de uma empresa em outra significa que a
empresa terá poder sobre o outro. Para alguns autores, as relações de poder são uma
das principais barreiras para a confiança, que é unanimemente o elemento mais
importante para a tomada de decisões colaborativas na cadeia de suprimentos de
forma eficaz e eficiente (KUMAR, 1996; DAPIRAN e HOGARTHSCOTT, 2003;
BECHTEL, 2004).
Por fim, conclui-se que a sofisticação das relações colaborativas está na
identificação de como todos esses elementos interagem uns com os outros e como
eles afetam e determinam a intensidade da colaboração, bem como, a seleção das
adequadas tecnologias de compartilhamento de dados de informação e práticas.
Franchisor franchisee supply chain cooperation Sharing of demand forecast
information in hightech industries
O objetivo do artigo de Yan e Wang (2012) é avaliar e propor um sistema de
franquias para empresas de alta tecnologia, com o objetivo de expandir seus
mercados e melhorar seus desempenhos. A fim de manter as suas vantagens
competitivas no mercado, as empresas de alta tecnologia não podem simplesmente
confiar apenas numa tecnologia superior, devido às rápidas mudanças tecnológicas e
exigências do mercado, evidenciando um ambiente volátil e de difícil previsão.
O estudo demonstra como as empresas podem se beneficiar de
compartilhamento de informações de previsões de demanda dos franquiados, a fim
de melhorar o desempenho de franquia como um todo.
Segundos os autores, pesquisas anteriores sugerem que o compartilhamento
de informações previsão de demanda entre franqueadores e franqueados poderia ser
um possível método pelo qual para melhorar o desempenho do franquiamento (apud
DANT & NASR, 1998).
Acurácia da previsão de demanda é essencial para as empresas (YANG &
WANG 2012 apud LANCIONI, 2000), uma vez que influencia os lucros
substancialmente (YANG & WANG, 2012 apud TAYLOR & XIAO, 2010). Por exemplo,
125
a fim de atender às diversas necessidades dos consumidores, as empresas oferecem
muitos produtos inovadores, ao fornecer vários produtos semelhantes, há
canibalização e uma diminuição da precisão das previsões.
Por causa das mudanças tecnológicas rápidas e inúmeras configurações de
produtos, as demandas das indústrias de alta tecnologia são muito voláteis e difíceis
de prever (YANG & WANG, 2012 apud YELLAND, 2009)
Construction Supply Chain integration: an elusive goal?
Briscoe e Dainty (2005) afirmam que a falta de troca de informações e
requisições dos clientes gera uma desconfiança entre os elos da Cadeia de
Suprimentos. Além disso, considerando que as partes da cadeia têm conhecimento
sobre o processo dos clientes existe uma necessidade de garantir que o alto padrão
de qualidade será mantido e de encorajar a promoção da inovação que pode adicionar
valor ao projeto, caso contrário haverá um desalinhamento, que pode representar
perda de oportunidades.
O estudo é desenvolvido na indústria da construção civil e utiliza de estudos de
caso para avaliar práticas de integração nessas cadeias. Abaixo, encontram-se as
principias práticas encontradas nos estudos.
• Gestão da comunicação
O autor avalia como fundamental a gestão, por parte da grande empreiteira, da
comunicação entre os demais elos (subcontratados). Avalia que deve-se estimular e
controlar as informações passadas e promover o alinhamento dos participantes.
Briscoe e Dainty (2005) citam um caso que através do envolvimento dos
contratadores no estágio de negociações faz com que esse tenha um sentimento de
dono mais profundo e esteja mais envolvido. Em outro caso estudado, os
subcontratados principais também foram envolvidos nas negociações do projeto e
possuía voz ativa e as relações entre contratadores e os principais subcontratados
eram encorajadas pela empreiteira.
• Gestão do fluxo de informação
O autor ressalta que em todos os casos a troca de informação é considerada
como pré-requisito para que a colaboração ocorra. Briscoe e Dainty (2005) relatam
126
que tradicionalmente os contratos costumam começar com pouca informação gerada,
levando a um pobre planejamento, elevação de custos e falta de coordenação.
Como a troca de informação com os subcontratados é, invariavelmente,
dependente do comprometimento do principal contratador em facilitar a troca, o fluxo
de informações é totalmente dependente da escolha do principal contratador
(BRISCOE & DAINTY, 2005). Essa passagem reforça a importância da escolha dos
parceiros para a colaboração nas cadeias e a divisão das atuações de cada envolvido,
sem eximir a responsabilidade que os demais possuem.
• Mecanismos para a resolução de problemas
Briscoe e Dainty (2005) afirmam que o estabelecimento de protocolos para
tratar efetivamente de disputas e problemas foram essencial para o desempenho dos
projetos estudados. Os autores ainda citam que o relacionamento de longo prazo com
os parceiros ajuda nesses momentos controversos, pois esses sabem que decisões
devem tomar, por conta própria, e quando devem notificar o contratante. Ainda, em
outros casos, a empreiteira pode agir mais pró ativamente e destinar responsáveis
para acompanhar e/ou agir junto com os contratados.
• Engenharia de agregação de valor
Brsicoe e Dainty (2005) citam que a agregação de valor aos projetos se dá
através de acordos de longo prazo, onde se consegue um melhor ajuste entre o
contratante e seus fornecedores. Chega a citar o caso de uma das empresas que
estimula seus fornecedores a colaborarem nos projetos e tem um direcionamento,
muito claro, para a agregação de valor. Assim, seus fornecedores têm especialistas
para lidar com essa empresa, que conseguem entender as verdadeiras necessidades
desse cliente. Além disso, esses fornecedores são premiados quando agregam valor,
parte fundamental para estabelecer a confiança entre os elos.
• Alinhamento de sistemas da cadeia de suprimentos
Nessa passagem, Briscoe e Dainty (2005) destacam como cada empreiteira
lida com seus contratados e termina concluindo que o alinhamento de sistemas ajuda
no fluxo de informação, pagamentos e processos no geral.
127
• Alto padrão de qualidade
Os autores citam a importância das empresas maiores em encorajar workshops
de alinhamento ao longo da cadeia para que questões como: qualidade, inovação e
saúde/segurança do trabalho sejam debatidas. Reforçando isso, os subcontratados
revelaram que a comunicação constante foi fator preponderante para a melhoria
da qualidade entre as partes.
• Assegurar comprometimento com o cliente e objetivos do projeto
Relações de longo prazo criam uma confiança com os fornecedores que acaba
se traduzindo em comprometimento. Além disso, devido ao grau de relacionamento
mais forte, os fornecedores conseguem desenvolver equipes, que sabem quais são
as verdadeiras necessidades daquele cliente, promovendo o alinhamento.
• Estabelecer relações de longo prazo na cadeia
São citados casos de utilização repetitiva dos mesmos principais contratadores,
porém sem acordos formais, essa prática cria um sentimento de confiança, que
elimina a necessidade de formalidades e deixa as relações transparentes. Em outros
casos, há uma postura mais ligada a filosofia de compras, exercendo o poder de
compra do elo mais forte, porém sem ofertar oportunidades, ao invés disso, a firma
estudada, procura negociar com seus fornecedores e estabelecer acordos de longo
prazo mais formais.
128
ANEXO A
Abaixo segue o detalhamento do modelo de Fawcett, Magnan e McCarter
(2008).
Tabela 1: Benefícios do Supply Chain Management
Fonte: Fawcett, Magnan e McCarter (2008).
131
ANEXO B
Abaixo segue o detalhamento do modelo de Riopel e Langevin (2005).
Figura 25: Precedência das decisões logísticas
Fonte: Riopel e Langevin (2005)