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ESTUDO COMPARATIVO PARA APLICAÇÃO ON-SHORE DE UMA BOMBA DE VÓRTICE PROGRESSIVO João Capello Montillo Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Daniel Onofre de Almeida Cruz Rio de Janeiro Setembro de 2016

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ESTUDO COMPARATIVO PARA APLICAÇÃO ON-SHORE DE

UMA BOMBA DE VÓRTICE PROGRESSIVO

João Capello Montillo

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Daniel Onofre de Almeida Cruz

Rio de Janeiro

Setembro de 2016

ESTUDO COMPARATIVO PARA APLICAÇÃO ON-SHORE DE UMA BOMBA DE

VÓRTICE PROGRESSIVO

João Capello Montillo

PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO

DE ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO MECÂNICO.

Aprovado por:

________________________________________________

Prof. Daniel Onofre de Almeida Cruz, D.Sc. (Orientador)

________________________________________________

Prof. Juliana Braga Rodrigues Loureiro, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Paulo Couto, D.Sc.

________________________________________________

Eng. Luiz Felipe Moreira Lopes

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

SETEMBRO DE 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Engenharia Mecânica

DEM/POLI/UFRJ

iii

Montillo, João Capello

Estudo Comparativo para Aplicação On-shore de uma Bomba

de Vórtice Progressivo/João Capello Montillo. — Rio de Janeiro:

UFRJ/Escola Politécnica, 2016.

XV, 32 p.: il.; 29,7cm.

Orientador: Daniel Onofre de Almeida Cruz

Projeto de Graduação — UFRJ/Escola Politécnica/Curso de

Engenharia Mecânica, 2016.

Referências Bibliográficas: p. 32

1. Elevação Artificial. 2. Bombas de Fundo. 3. Bomba de

Vórtice Progressivo. 4.Parâmetros Adimensionais

I. Onofre de Almeida Cruz, Daniel. II. Universidade Federal do

Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia

Mecânica. III. Título.

iv

Dedico este trabalho a meu

pai, Jorge Montillo (in

memoriam).

v

Agradecimentos

Por todo o apoio, sem o qual não conseguiria concluir esta etapa, agradeço a toda minha

família. Em especial a minha mãe, Claudia Capello, a quem devo tudo que tenho na

vida.

Também primordiais, agradeço aos amigos que encontrei e com quem dividi muitos

momentos desta trajetória.

Aos colegas que muito me ensinaram durante meu período de estágio na Petrobras,

deixo minha gratidão. Em especial para Luiz Felipe Lopes e Flávio Ribeiro, que se

dispuseram a debates incansáveis sobre assuntos diretamente relacionados a este

trabalho.

Pela orientação e paciência, agradeço ao professor Daniel, que se mostrou sempre

solícito. Agradeço ao professor Paulo Couto, à professora Juliana Loureiro e, mais uma

vez, ao meu orientador de estágio Luiz Felipe, por terem aceitado compor a banca

examinadora.

vi

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

ESTUDO COMPARATIVO PARA APLICAÇÃO ON-SHORE DE UMA BOMBA DE

VÓRTICE PROGRESSIVO

João Capello Montillo

Setembro/2016

Orientador: Daniel Onofre de Almeida Cruz

Curso: Engenharia Mecânica

Métodos de elevação artificial são frequentemente utilizados na indústria de óleo e gás.

De forma objetiva, as técnicas empregadas têm a finalidade de viabilizar ou aumentar a

produtividade de um reservatório de petróleo.

Em parceria com a Petrobras, a empresa Higra desenvolve um projeto de uma nova

bomba de fundo para aplicação on-shore. A fim de entender as vantagens e

desvantagens do novo equipamento, este trabalho propõe descrever uma metodologia de

comparação—baseada em parâmetros adimensionais— a ser utilizada de forma geral

em etapas de seleção de bombas. Após estabelecida, a metodologia é aplicada para os

valores obtidos em testes de fábrica, utilizando uma bomba centrífuga submersa,

desenvolvida por outro fabricante junto à Petrobras, como objeto de comparação.

Foram realizados cálculos para uma hipotética versão submersível da Bomba de Vórtice

Progressivo (BVP), utilizando valores obtidos a partir da aplicação das leis de afinidade

nos dados de teste anteriores.

Palavras-chave: Elevação Artificial, Bombas de Fundo, Bomba de Vórtice Progressivo,

Parâmetros Adimensionais.

vii

Abstract of Undergraduated Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

COMPARATIVE STUDY FOR ON-SHORE APPLICATION OF A PROGRESSIVE

VORTEX PUMP

João Capello Montillo

September/2016

Advisor: Daniel Onofre de Almeida Cruz

Department: Mechanical Engineering

Artificial lift methods are often used in the oil and gas industry. Objectively, the utilized

techniques goal is to make viable or to increase petroleum reservoir productivity.

In partnership with Petrobras, the manufacturer Higra develops a project of a new deep

well pump for on-shore application. In order to understand the advantages and

disadvantages of this new equipment, this work proposes to describe a comparison

methodology—based on dimensionless parameters— that can be used on general cases

of pump selection. Once established, the methodology is then applied using the data

obtained from factory tests and an electrical submersible pump (ESP), developed by

another manufacturer in partnership with Petrobras, as the comparison element.

Calculations were made for a hypothetical submersible version of the Progressive

Vortex Pump, using values that result from applying the centrifugal pumps affinity laws

to the previous tests data.

Keywords: Artificial Lift, Deep Well Pumps, Progressive Vortex Pump, Dimensionless

Parameters.

viii

Sumário

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO ..................................................................................... 1

1.1 Motivação ................................................................................................................ 2

1.2 Objetivo .................................................................................................................... 2

CAPÍTULO 2: MÉTODOS DE ELEVAÇÃO ARTIFICIAL ..................................... 4

2.1 Gas-Lift .................................................................................................................... 4

2.2 Bombeamento Centrífugo Submerso ....................................................................... 4

2.3 Bombeamento Mecânico com Hastes ...................................................................... 5

2.4 Bombeamento por Cavidades Progressivas ............................................................. 5

CAPÍTULO 3: CONCEITOS FUNDAMENTAIS ....................................................... 6

3.1 Densidade (d) e grau API (°API) ............................................................................. 6

3.2 Propriedades de escoamento .................................................................................... 6

3.2.1 Número de Reynolds .................................................................................... 7

3.2.2 Equação de Bernoulli .................................................................................... 7

3.2.3 Perda de carga ............................................................................................... 8

3.3 Caracterísitcas gerais das bombas ............................................................................ 9

3.3.1 Bombas centrífugas .................................................................................... 10

CAPÍTULO 4: BOMBA DE VÓRTICE PROGRESSIVO ....................................... 12

4.1 Princípio de funcionamento ................................................................................... 12

4.2 Acionamento .......................................................................................................... 14

4.3 Curvas de desempenho .......................................................................................... 15

CAPÍTULO 5: METODOLOGIA DE COMPARAÇÃO .......................................... 17

5.1 Objeto de comparação (BCS) ................................................................................ 17

5.2 Parâmetros adimensionais ...................................................................................... 19

5.2.1 Razão potência-peso ................................................................................... 19

5.2.2 Parâmetros ΠP e ΠQ .................................................................................... 20

ix

CAPÍTULO 6: ESTUDO COMPARATIVO .............................................................. 24

6.1 Especificações ........................................................................................................ 25

6.2 Cálculo e análise de ΠP e ΠQ ................................................................................ 26

6.3 A BVP com acoplamento direto (motor submerso) ............................................... 27

CAPÍTULO 7: CONCLUSÃO ..................................................................................... 31

7.1 Trabalhos futuros ................................................................................................... 32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 33

x

LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1 Trajetória de escoamento do líquido e as pás de um rotor PPT (pás para

trás).[4] ............................................................................................................................ 10

Figura 4.1 Geometria do difusor. Em vermelho (A) estão os pontos de sucção. Em azul

(B), os pontos de descarga. .............................................................................................. 12

Figura 4.2 Os tubos de sucção e descarga (modelo da versão sumersa da BVP)........... 13

Figura 4.3 Geometrias do estator e difusor garantem o movimento vorticial do fluido.

......................................................................................................................................... 13

Figura 4.4 Detalhe de um centralizador instalado em uma das hastes de bombeio. ...... 14

Figura 4.5 Conexões do eixo da bomba, eixo de acionamento e acoplamento. ............. 15

Figura 4.6 Curvas de desempenho da BVP, operando a 1200 rpm e com água, em teste

de fábrica.[6]. ................................................................................................................... 16

Figura 5.1 Curvas de desempenho da BCS, operando a 2900 rpm e com água, em teste

de fábrica.[7]. ................................................................................................................... 18

Figura 6.1 Comparação entre as curvas de head da BVP e BCS. .................................. 24

Figura 6.2 Curvas de desempenho da BVP operando a 2900 rpm, com dados obtidos a

partir da aplicação das leis de afinidade. ......................................................................... 28

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 Dados obtidos em teste de fábrica da BVP operando com água na potência

nominal. O BEP é mostrado em destaque. . .................................................................... 16

Tabela 5.1 Dados obtidos em teste de fábrica da BCS operando com água na potência

nominal. O BEP é mostrado em destaque. ..................................................................... 18

Tabela 5.2 Análise dimensional no sistema MLT ......................................................... 20

Tabela 6.1 Especificações dos objetos de comparação (*valores não informados) ....... 25

Tabela 6.2 Valores dos principais parâmetros de funcionamento no BEP .................... 26

Tabela 6.3 Valores calculados dos parâmetros adimensionais ...................................... 26

Tabela 6.4 Valores obtidos a partir das leis de afinidade, utilizando os valores de

operação a 1200 rpm como referência. O BEP é mostrado em destaque. ...................... 28

Tabela 6.5 Novos valores dos principais parâmetros de funcionamento no BEP ......... 29

Tabela 6.6 Valores calculados dos novos parâmetros adimensionais ........................... 29

1

Capítulo 1

Introdução

Um reservatório de petróleo é, grosso modo, uma formação rochosa onde estão

impregnados, além de água, os recursos desejados, como óleo e gás. Nessas

rochas, os fluidos estão submetidos a altas pressões. Entretanto, o diferencial de

pressão entre o reservatório e a superfície nem sempre é o suficiente para que o

poço seja surgente, ou seja, os fluidos nem sempre alcançam a superfície

livremente, por elevação natural. A surgência dos poços ocorre, normalmente,

no início da vida produtiva das jazidas.[1]

A elevação artificial é um recurso necessário para trazer os fluidos de um

reservatório à superfície quando a pressão não é alta o suficiente para que isso

ocorra de forma natural. Além disso, também é utilizada nos casos de poços

surgentes em que a vazão com que o fluido escoa até a superfície é menor do

que a desejada.

Diversos métodos de elevação artificial são utilizados, sendo os principais o gas-

lift (contínuo e intermitente), o bombeamento centrífugo submerso, o

bombeamento mecânico por hastes e o bombeamento por cavidades

progressivas.[2]

Quando utilizados, os sistemas de elevação artificial por bombeio mecânico

tornam-se fator importante na produtividade de um poço onshore ou offshore.

Entretanto, o custo de operações de intervenção nos poços incentiva a busca por

projetos eficientes não só energeticamente. No caso de bombas centrífugas

submersas, objeto de comparação usado neste projeto, a geometria do poço

define de forma bastante restritiva características construtivas do equipamento.

Consequentemente, tamanho e peso podem significar a necessidade de utilização

de sondas de diferentes portes para instalação, manutenção ou outro tipo de

2

intervenção.

1.1 Motivação

Em relação a um concorrente, um equipamento que consiga fornecer a

mesma carga (pressão) ao fluido e que apresente menor tamanho e peso pode

gerar economias relevantes em custos operacionais, mesmo com rendimento

energético relativamente baixo. É o caso do objeto de estudo comparativo

deste trabalho, a Bomba de Vórtice Progressivo (BVP). É de grande

interesse do setor de produção de petróleo buscar alternativas que se

apresentem como mais eficientes economicamente, de forma geral.

Portanto, a seleção do equipamento é uma etapa extremamente importante

do projeto, ou seja, é necessário conseguir comparar as opções viáveis de

forma razoavelmente precisa. Embora haja na indústria métodos bastante

consagrados para seleções de bombas, comparar a BVP com outros

equipamentos pode ser peculiar, já que o ponto de destaque é a sua

construção compacta. Em um caso geral, para se determinar a alternativa

mais vantajosa, é importante que os critérios utilizados para a seleção

estejam de acordo com as particularidades de projeto. A proposta deste

trabalho é, antes de tudo, descrever uma metodologia de comparação que

possa ser aplicada em qualquer caso, apesar de quaisquer especificidades.

O desenvolvimento do projeto realizado entre as empresas Higra e Petrobras

(fornecedor e cliente, respectivamente) compreende determinar a

aplicabilidade da proposta inovadora do fabricante. Surge, então, a

motivação para se criar uma metodologia de comparação entre a BVP e

outros equipamentos, além daquilo que já é feito largamente na indústria a

partir de parâmetros como rendimento, vazão, potência, head e suas

respectivas curvas.

1.2 Objetivo

A proposta de estudo a seguir é comparar o desempenho de dois

equipamentos de elevação artificial em uma mesma aplicação – elevação

artificial em poços terrestres (onshore). Utilizando os dados técnicos de cada

3

um dos equipamentos, suas curvas de desempenho e características

construtivas, o esperado é que se conclua em que condições cada opção deve

ser preferida.

Antes disso, porém, é necessário que se faça uma apresentação mais

detalhada sobre a Bomba de Vórtice Progressivo. Apesar de um cenário de

aplicação tradicional, a proposta do projeto é inovadora. O fabricante afirma

conseguir obter heads (pressão entregue ao fluido bombeado) bem mais altos

com a BVP, se comparada a uma bomba centrífuga submersa (BCS) ou a

uma bomba de cavidade progressiva (BCP) de mesmo porte. Em

contrapartida, a BVP opera em uma faixa de rendimento enérgetico bem

inferior.

Também anterior à comparação, será necessário estabelecer e justificar uma

metodologia adequada para fazê-la. É importante neutralizar a diferença de

porte dos objetos que serão comparados. Como dito na seção anterior, é

intenção deste trabalho descrever uma metologia que possa ser utilizada

sempre que houver algum tipo de impasse com relação a seleção de bombas

bastante distintas, com contapontos que não sejam contemplados

tradicionalmente. Os passos para a realização deste trabalho serão:

Apresentação dos métodos de elevação artificial;

Breve conceituação de escoamentos e bombas centrífguas;

Apresentação e estudo do princípio de funcionamento da BVP;

Descrição da metodologia de comparação criada, com a apresentação

das características da bomba centrífuga submersa utilizada como

objeto de comparação;

Estudo comparativo da configuração de acionamento por hastes

(projeto atualmente desenvolvido) e também da configuração de

acionamento por motor submerso (a partir da aplicação das leis de

afinidade);

Conclusões e proposta de trabalhos futuros.

4

Capítulo 2

Métodos de Elevação Artificial

Como dito anteriormente, alguns métodos são mais utilizados que outros para

elevação artificial. Abaixo, estão breves descrições dos mais usados, conforme

descrito na literatura.[1]

2.1 Gas-Lift

O gas-lift contínuo envolve a injeção contínua de gás a alta pressão na

coluna de produção. Assim, o fluido é gaseificado a partir do ponto de

injeção de gás até a superfície. A ideia é aumentar a vazão a partir da

diminuição da pressão de fluxo no fundo, consequência da diminuição do

gradiente médio de pressão.

O gas-lift intermitente, baseado no deslocamento de golfadas de fluido, é

feito com injeção de gás na base das golfadas, com tempos bem definidos e

controlada na superfície por um intermitor de ciclo e uma válvula

controladora.

2.2 Bombeamento Centrífugo Submerso

Esse método de elevação artificial consiste em um conjunto motor-bomba. A

bomba é centrífuga de múltiplos estágios, como a que será estudada adiante

na comparação proposta. Cada estágio é composto por impelidor (rotor),

estator e difusor. O impelidor entrega energia cinética ao fluido, que será

convertida em energia piezométrica por meio da utilização de um difusor.

A montagem do conjunto é feita com o motor acoplado diretamente à

bomba, em nível inferior. Na superfície, estão localizados os equipamentos

de comando elétrico, como o conversor de frequência (VSD – variable speed

drive).

5

2.3 Bombeamento Mecânico com Hastes

O sistema de bombeamento mecânico com hastes é composto por um motor

elétrico, cuja rotação é transformada em movimento alternativo por um

sistema biela-manivela, uma coluna de hastes e uma bomba alternativa. A

partir da coluna de hastes, o movimento alternativo é transferido para a

bomba alternativa, responsável por entregar energia ao fluido.

2.4 Bombeamento por cavidades progressivas

Este método possui uma aspecto semelhante ao anterior: a bomba de

cavidades progressivas é acoplada ao motor elétrico, encontrado na

superfície, por meio de uma coluna de hastes. O equipamento instalado na

cabeça do poço é menor e leve em relação à unidade de bombeamento

mecânico, tornando custos de transporte e operação reduzidos.

A BCP, propriamente dita, é constituída por um rotor helicoidal e uma

camisa. O rotor, em espiral macho, é montado dentro da camisa (ou estator),

que é confeccionada na forma de espiral fêmea. Ao girar, o encontro dos

dois formatos resulta em formação e fechamento de cavidades de forma

progressiva, indo do flange de sucção até a descarga. Assim é feito o

bombeio de fluido de uma extremidade à outra, com fluxo praticamente

constante.

6

Capítulo 3

Conceitos Fundamentais

Neste capítulo, serão vistos alguns conceitos fundamentais de fluidos e

escoamentos, de extrema importância no estudo de bombas hidráulicas.

3.1 Densidade (d) e grau API (°API)

A densidade de uma substância é a razão entre sua massa específica e a

massa específica de uma substância de referência em condições-padrão. No

caso do petróleo, por ser uma substância líquida, a referência é a água.

O grau API é uma escala arbitrária, criada pelo American Petroleum Institute

(API), que mede a densidade de petróleo e derivados. O grau API pode ser

obtido conforme a equação:

°𝐴𝑃𝐼 =141,5

𝑑− 131,5 (3.1)

Onde 𝑑 é a densidade do petróleo. Portanto, quanto maior o grau API de um

petróleo, menor é sua densidade.

Os petróleos podem ser classificados a partir da localização de seu grau API

em faixas determinadas:

°API > 30 Petróleo leve (ou de base parafínica)

22< ºAPI <30 Petróleo médio (ou de base naftênica)

°API < 22 Petróleo pesado (ou de base aromática)

3.2 Propriedades de escoamento

Um escoamento pode ser classificado como compressível ou incompressível,

uniforme ou não uniforme, permanente ou transiente e laminar ou turbulento.

Além disso, podem-se contar as fases presentes no escoamento.

Embora estejam sendo bombeados óleo, gás e sedimentos, a maior parte do

7

fluido é água. Sendo assim, a fim de simplificar a análise, neste trabalho o

escoamento será considerado monofásico, incompressível, uniforme e

permanente.

3.2.1 Número de Reynolds

Para avaliar um escoamento como turbulento ou laminar, utiliza-se o

número de Reynolds, um grupo adimensional de extrema importância

na mecânica dos fluidos. O número de Reynolds (𝑅𝑒) é a razão entre

as forças de inércia e as forças viscosas e, para escoamentos no

interior de um tubo, pode ser escrito como:

𝑅𝑒 =𝐷𝑉𝜌

𝜇 (3.2)

Onde 𝐷 é o diâmetro interno da tubulação, 𝑉 é a velocidade de

escoamento, 𝜌 é a massa específica do fluido e 𝜇 sua viscosidade

absoluta.

3.2.2 Equação de Bernoulli

A equação de Bernoulli é obtida a partir da integração da equação da

quantidade de movimento ou equação de Euler, ao longo de uma

linha de corrente. Essa é uma boa aproximação para um problema de

escoamento em regime permanente:

𝑃

𝜌+

𝑉2

2+ 𝑔𝑧 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 (3.3)

Onde 𝑃 é pressão, 𝜌 é a massa específica do fluido, 𝑉 é a velocidade

de escoamento, 𝑔 é a aceleração da gravidade e 𝑧 é a elevação do

fluido. As restrições para a utilização da equação acima são que o

escoamento ocorra em regime permanente, incompressível (𝜌 =

𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒), sem atrito e ao longo de uma linha de corrente. Para a

utilização com líquidos reais, é importante que seja introduzido um

8

termo referente às perdas de carga do escoamento:

𝑃1

𝛾+

𝑉12

2𝑔+ 𝑧1 =

𝑃2

𝛾+

𝑉22

2𝑔+ 𝑧2 + ℎ𝑓 (3.4)

Portanto, dividindo (3.3) por 𝑔, em (3.4) é descrita a conservação de

energia no escoamento de um fluido partindo do ponto 1 até o ponto

2, considerando a perda de carga ℎ𝑓.

3.2.3 Perda de carga

Em geral, para projetos de engenharia envolvendo seleção de

bombas, a perda de carga se refere à energia por unidade de peso

perdida durante o escoamento no interior da tubulação. Também

compreende as perdas nos acessórios como válvulas, curvas, etc.

É válido salientar que as perdas internas no caso da BVP não têm

relação com a variável citada acima, que é estritamente referente ao

sistema em que está inserida a bomba. A criação de vórtices ao longo

do fluxo na bomba gera perdas internas, e, consequentemente, menor

eficiência.

A expectativa é de que, no flange de descarga, os vórtices já tenham

sido desformados, e a energia cinética neles contida convertida em

energia de pressão.

9

3.3 Características gerais das bombas

As bombas hidráulicas podem ser classificadas da seguinte forma, conforme

a referência bibliográfica [3]:

As bombas envolvidas de alguma forma no projeto de desenvolvimento da

BVP são centrífugas (BCS), alternativas (bombeio mecânico com hastes) ou

rotativas (BCP). No capítulo 2, já foram enunciadas as noções básicas do

princípio de funcionamento desses equipamentos.

A seguir, será descrito mais detalhadamente as características das bombas

centrífugas, pois, como dito anteriormente, são as de natureza mais próxima

da Bomba de Vórtice Progressivo.

Bombas

Dinâmicas ou Turbobombas

Centrífugas

Fluxo misto

Fluxo axial

Periféricas ou regenerativas

Volumétricas ou Deslocamento

Positivo

Alternativas

Rotativas

10

3.3.1 Bombas centrífugas

Para cumprir a função de transferência de energia ao fluido, as

bombas centrífugas dependem de dois elementos essenciais: o rotor,

ou impelidor, são pás que impulsionam o fluido e é comumente

acionado por um motor elétrico; o difusor, peça que constitui o

estator, proporciona aumento na área de escoamento, podendo

aparecer em forma de carcaça em voluta ou como pás difusoras. As

carcaças em voluta são utilizadas, na maioria das vezes, em bombas

de simples estágio. Já as pás difusoras são aplicadas em bombas de

múltiplos estágios.

O volume de fluido proveniente de estágios anteriores (no caso de

equipamentos com múltiplos estágios) ou do próprio flange de

sucção da bomba preenche a região anelar ao eixo com velocidade

axial relativamente baixa, até ser impulsionada pelas pás do rotor. A

energia cinética das pás é transferida ao fluido, que, devido aos

esforços centrífugos, desloca-se radialmente de encontro às periferias

do rotor. A fuga de volume de fluido resulta em uma zona de baixa

Figura 3.1 Trajetória de escoamento

do líquido e as pás de um rotor PPT

(pás para trás).[4]

11

pressão na região central, garantindo a entrada de igual quantidade de

fluido. Dessa forma, é estabelecido um regime permanente. Portanto,

para que o equipamento dê início à operação, é necessário que esteja

mergulhado no líquido que irá bombear.

Submetido aos esforços centrífugos, o fluido sai pela periferia do

rotor em direção ao difusor, onde há o aumento da área de

escoamento. A partir do teorema de Bernouilli, é possível concluir

que o aumento de área causará diminuição da velocidade de

escoamento e, portanto, aumento na pressão do fluido.

Na indústria de óleo e gás, as bombas centrífugas aparecem quase

sempre em duas formas: BCS (bomba centrífuga submersível) e

BCSS (bomba centrífuga submersível submarina). Nos casos em que

a bomba encontra-se instalada em poço on-shore e seu motor é

submersível, denomina-se BCS. Quando o equipamento é instalado

em um poço off-shore, é adicionado o termo “submarina”, formando

a sigla usual BCSS. Efetivamente, todas as bombas centrífugas

submarinas têm acoplamento direto, ou seja, o motor é submersível.

12

Capítulo 4

Bomba de Vórtice Progressivo

Após anos de pesquisa em laboratório, a empresa Higra desenvolveu a

tecnologia de bombeio de vórtice progressivo, visando à diminuição da vibração,

ao aumento do limite da temperatura de trabalho e a uma maior compactação do

equipamento.

Inicialmente, o desenvolvimento foi feito para acionamento com motor de

superfície e hastes de bombeio, tornando-se uma concorrente às bombas

alternativas e helicoidais (bombas de cavidade progressiva).

A expectativa é de que, no futuro, seja desenvolvida uma versão submersível da

BVP, buscando competir com as bombas centrífugas submersas utilizadas na

indústria de óleo e gás atualmente.

4.1 Princípio de funcionamento

Formada por estágios em série constituídos de rotor, estator e difusor, a

bomba de vórtice progressivo apresenta um princípio de funcionamento

similar ao das bombas centrífugas. O conceito da criação de vórtice é

aplicado por meio de difusores e estator com geometrias específicas.

Figura 4.1 Geometria do difusor. Em

vermelho (A) estão os pontos de

sucção. Em azul (B), os pontos de

descarga.[6]

13

Nos flanges de sucção e descarga, o líquido é direcionado por tubos

independentes (figura 4.2), que se encontram afastados do eixo da bomba.

Não existe escoamento anelar ao eixo. O fluido progride de estágio para

estágio pelos pontos de descarga de cada difusor, mostrados na figura 4.1.

Ao ser submetido aos esforços centrífugos, o fluido escapa radialmente,

encontrando concavidades formadas pela geometria do estator somada à

cavidade desenhada no difusor. É essa geometria que gera os vórtices no

escoamento ao longo dos difusores (figura 4.3). Na extremidade final da

cavidade do difusor (descarga), a concavidade garante ao fluido um

movimento em direção ao próximo estágio.

Figura 4.2 Os tubos de sucção e descarga (modelo da versão

submersa da BVP).[6]

Figura 4.3 Geometrias do estator e difusor garantem o

movimento vorticial do fluido.[6]

14

4.2 Acionamento

Nos aspectos físicos de funcionamento, a BVP é, de fato, comparável a uma

BCS. Entretanto, nos cenários de aplicação para os quais foi desenvolvida, a

BVP concorre diretamente com bombas helicoidais de cavidade progressiva

e bombas alternativas, citadas na introdução deste trabalho.

As bombas helicoidais apresentam um inevitável deslocamento radial do

eixo, atenuado pelo uso de um sistema de compensação geralmente feito por

um eixo cardã. Ainda assim, o equipamento opera com vibrações

indesejáveis que limitam a taxa de rotações em torno de 500 rpm. Os

estatores de borracha também restringem as condições de operação, uma vez

que a composição do fluido bombeado e a temperatura de trabalho podem

comprometer a integridade do material polimérico.

A fim de apresentar uma solução ao modo descentralizado de operação, a

Higra desenvolveu centralizadores para as hastes de bombeio.

Figura 4.4 Detalhe de um centralizador

instalado em uma das hastes de bombeio.[6]

15

As hastes, medindo cerca de 3𝑚 com 2 a 3 centralizadores cada, são

rosqueadas entre si e ao acoplamento do eixo de acionamento. Operando de

forma centralizada, a bomba de vórtice progressivo pode operar com taxa de

rotação nominal de 1200 rpm, significativamente maior do que a velocidade

de operação das bombas helicoidais. As bombas centrífugas de motor

submersível, entretanto, operam em faixa de rotação bem superior. O

acionamento por acoplamento direto permite algo em torno de 3000 rpm.

O eixo de acionamento é entalhado e é conectado ao eixo da bomba por meio

de conexão rosqueada. Já a conexão do eixo de acionamento com a haste é

feita por um acoplamento entalhado, com ponta rosqueada.

4.3 Curvas de desempenho

Em teste de fábrica com água, os dados de potência, eficiência e head foram

obtidos e em gráficos em função da vazão:

Figura 4.5 Conexões do eixo da bomba, eixo de acionamento e acoplamento.[6]

16

BVP (1200 rpm)

H (m)/estágio Q (m³/h) Pot (kW) η (%)

21,4 0,00 0,57 0,0%

18,0 1,05 0,53 9,5%

16,0 1,43 0,49 12,3%

14,0 1,76 0,46 14,3%

12,0 2,29 0,42 17,4%

10,0 2,77 0,39 19,2%

8,0 3,39 0,35 20,7%

6,0 3,89 0,31 20,0%

4,0 4,65 0,28 18,0%

2,7 5,14 0,24 15,3%

Tabela 4.1 Dados obtidos em teste de fábrica da BVP operando com água na potência

nominal. O BEP é mostrado em destaque.[6]

Figura 4.6 Curvas de desempenho da BVP, operando a 1200 rpm e com água, em teste

de fábrica.[6]

17

Capítulo 5

Metodologia de Comparação

A bomba de vórtice progressivo é apresentada como uma solução compacta,

com grande capacidade de carga para um equipamento do seu porte. Abrindo

mão de eficiência energética, consegue fornecer valores maiores de head por

estágio, em vazões mais baixas.

5.1 Objeto de comparação (BCS)

Como dito no capítulo anterior, o projeto apresentado pelo fabricante da

bomba de vórtice progressivo procurava, inicialmente, uma alternativa para

as bombas de cavidade progressiva e bombas alternativas. Apenas com uma

adaptação para motor submersível, o cenário de aplicação seria o mesmo das

bombas centrífugas submersas.

Entretanto, buscaremos neste trabalho estabelecer uma forma de comparar os

dois equipamentos, mesmo estando fora do mesmo cenário de aplicação,

uma vez que o princípio de funcionamento é absolutamente comparável.

Para isso, foi escolhida uma BCS de um determinado fabricante, cujo projeto

também foi desenvolvido para aplicação on-shore. Essa bomba possui 85

estágios, para um poço de 5”. O motor submersível acoplado tem potência de

60 kW, e a rotação nominal é de 2900 rpm. A metodologia de comparação

mostrada adiante levará em consideração a diferença no tamanho, peso e

acionador dos equipamentos.

As curvas de desempenho foram geradas a partir dos dados obtidos em teste

de fábrica, com água:

18

BCS (2900 rpm)

H (m)/estágio Q (m³/h) Pot (kW) η (%)

7,9 2,08 0,14 31,7%

7,4 4,34 0,17 49,4%

5,7 6,58 0,18 54,9%

3,3 8,41 0,18 40,9%

1,5 9,34 0,21 19,0%

Tabela 5.1 Dados obtidos em teste de fábrica da BCS operando com água na potência

nominal. O BEP é mostrado em destaque.[7]

Figura 5.1 Curvas de desempenho da BCS, operando a 2900 rpm e com água, em teste

de fábrica.[7]

19

5.2 Parâmetros adimensionais

Como dito anteriormente, o método escolhido prevê a criação de dois

parâmetros adimensionais para cada equipamento. Esses parâmetros serão

comparados para que se chegue a alguma conclusão sobre as diferenças entre

os dois equipamentos.

O primeiro parâmetro criado relaciona a pressão fornecida pela bomba e a

razão potência-peso do equipamento. O segundo parâmetro relaciona a vazão

e a potência absorvida. Dessa forma, é possível comparar os equipametnos

quanto às duas principais variáveis de projeto, vazão e pressão,

separadamente. Para obter esses parâmetros Π, foi utilizado como referência

o passo-a-passo descrito por Fox e McDonald [5], com algumas alterações.

O primeiro passo é listar os parâmetros dimensionais envolvidos. Em

seguida, seleciona-se um conjunto de dimensões fundamentais. No caso, será

adotado o sistema 𝑀𝐿𝑡. O terceiro passo é listar os parâmetros dimensionais

em termos das dimensões primárias escolhidas. Feito isso, devem-se formar

equações dimensionais para que sejam formados os grupos adimensionais.

Por último, é feita uma verificação de que cada grupo obtido é, de fato,

adimensional.

5.2.1 Razão potência-peso

Este parâmetro dimensional é de extrema importância. É o termo que

permite a comparação entre objetos de portes diferentes.

Chamaremos a razão (𝑃𝑜𝑡 × 𝑛) 𝑊⁄ de 𝜔. A potência indicada nas

tabelas e nas curvas é a potência absorvida por estágio. Já que as

análises são feitas utilizando o peso de toda a bomba, é necessário

que se multiplique o valor da potência por estágio pelo número de

estágios, 𝑛. É possível visualizar que a dimensão desse novo

parâmetro será a mesma da velocidade linear (𝐿 𝑡⁄ ), já que estamos

acostumados com a relação 𝑃𝑜𝑡 = 𝐹 × 𝑣.

20

5.2.2 Parâmetros 𝚷𝐏 e 𝚷𝐐

Denominaremos ΠP o primeiro parâmetro descrito no item anterior,

relacionando pressão e 𝜔, e ΠQ o segundo parâmetro descrito,

relacionando vazão volumétrica e 𝜔 . Para selecionar os parâmetros

dimensionais, é preciso analisar o significado de ΠP e ΠQ. Como

relacionam a pressão e a vazão fornecidas com a razão potência-peso,

esses são três dos cinco dimensionais selecionados.

Além disso, as propriedades do fluido bombeado devem estar

representadas nos parâmetros adimensionais. Por isso, são

selecionadas a massa específica 𝜌 e a viscosidade cinemática 𝜈.

Assim, se considerarmos 𝜔, 𝜈 e 𝜌 como parâmetros repetentes,

obtemos:

Π1 = ΠP = 𝑃 × 𝜔𝑎 × 𝜈𝑏 × 𝜌𝑐 (5.1)

Π2 = ΠQ = 𝑄 × 𝜔𝑎 × 𝜈𝑏 × 𝜌𝑐 (5.2)

Adotando o sistema 𝑀𝐿𝑡:

Utilizando a análise dimensional da tabela 5.2 e equacionando os

expoentes para ΠP, obtém-se o seguinte sistema linear:

𝑀: 1 + 𝑐 = 0

𝐿: −1 + 𝑎 + 2𝑏 − 3𝑐 = 0 (5.3)

𝑡: −2 − 𝑎 − 𝑏 = 0

Resolvendo o sistema:

𝑸 𝑷 𝝎𝒂 𝝂𝒃 𝝆𝒄

𝑳𝟑

𝒕

𝑴

𝒕𝟐𝑳 (

𝑳

𝒕)

𝒂

(𝑳𝟐

𝒕)

𝒃

(𝑴

𝑳𝟑)

𝒄

Tabela 5.2 Análise dimensional no sistema MLT

21

𝑎 = −2

𝑏 = 0 (5.4)

𝑐 = −1

Então:

ΠP =𝑃

𝜔2𝜌

(5.5)

O termo 𝑃 no numerador e o 𝜔 no denominador significa que avaliar

comparativamente o parâmetro é possível. Para um valor de 𝑃

qualquer, por exemplo, quanto maior for a razão potência-peso 𝜔,

menor será ΠP. Seria esperado que um equipamento com maior 𝜔

alcançasse um maior valor de pressão. Portanto, o parâmetro

adimensional menor significa pior desempenho nesse quesito.

Repetindo o processo para ΠQ:

𝑀: 𝑐 = 0

𝐿: 3 + 𝑎 + 2𝑏 − 3𝑐 = 0 (5.6)

𝑡: −1 − 𝑎 − 𝑏 = 0

𝑎 = 1

𝑏 = −2 (5.7)

𝑐 = 0

Portanto:

ΠQ =𝑄𝜔

𝜈2

(5.8)

22

No caso de ΠQ, ambos os termos de vazão volumétrica 𝑄 e da razão

potência-peso 𝜔 estão no numerador. Avaliar comparativamente,

portanto, seria inviável. Imaginemos que, para dois equipamentos

com o mesmo valor de vazão 𝑄, um valor maior do parâmetro

adimensional significaria maior razão potência-peso 𝜔. Ou seja, o

equipamento com maior ΠQ seria inferior, já que fornece a mesma

vazão mesmo com maior razão potência-peso.

Agora, fazendo a avaliação para um dos equipamentos com o mesmo

valor de 𝜔, o valor maior do parâmetro adimensional significaria

maior vazão volumétrica. Nesse caso, a bomba com maior ΠQ seria

superior.

Essa inconsistência do parâmetro torna-o obsoleto. É preciso

descartar o parâmetro descrito em (5.8) e encontrar uma expressão

com avalição viável. Para isso, utilizaremos ΠP como referência e

faremos substituições no termo de pressão, a fim de obter o

parâmetro adimensional ΠQ:

𝑃 = 𝜌𝑣2 (5.9)

𝑣 =𝑄

𝐴 (5.10)

Onde 𝑣 é a velocidade de escoamento e 𝐴 é a área da seção

transversal interna do flange de descarga.

Substituindo (5.9) e (5.10) em (5.5) e simplificando os expoentes:

ΠQ =𝑄

𝜔𝐴 (5.11)

23

Agora, do mesmo modo que ΠP, o parâmetro ΠQ pode ser avaliado

de forma consistente. Um valor maior de ΠQ representa melhor

capacidade de vazão volumétrica em relação a 𝜔.

Os parâmetros obtidos e utilizados na comparação são, na verdade,

uma outra forma de avaliar possíveis alternativas no caso de um

projeto de seleção de bombas, dentro de qualquer setor da indústria

que utilize esse tipo de equipamento. Mais além, a metodologia

utilizada pode ser replicada, a fim de obter-se um outro parâmetro

que contemple variáveis específicas do caso estudado.

24

Capítulo 6

Estudo Comparativo

Pode ser feita uma comparação preliminar utilizando as curvas da BCS e da

BVP:

Obervando as duas curvas em um mesmo gráfico, percebe-se que, de fato, os

cenários de aplicação são diferentes. A BVP, mesmo com rotação bem mais

baixa, consegue uma capacidade máxima bem maior do que a BCS. Para casos

em que não é necessária tanta carga, a BCS é claramente a escolha mais

adequada, por apresentar valores maiores de vazão e, portanto, maior

produtividade. É claro que a análise passa a ser bem menos superficial quando

contempladas as diferenças de eficiência e potência absorvida.

Apesar de não haver no gráfico acima uma curva representando alguma bomba

alternativa ou rotativa, ratifica-se a afirmação de que a BVP divide o cenário de

aplicação—situações em que se fazem necessárias cargas mais elevadas, com

baixa vazão—com esses tipos de equipamento.

Figura 6.1 Comparação entre as curvas de head da BVP e BCS.

0

5

10

15

20

25

0 2 4 6 8 10

H (

m)

Q (m³/h)

H x Q (por estágio)

BVP (1200rpm)

BCS (2900rpm)

25

Ainda assim, a fim de quantificar as supostas vantagens da compactação da

bomba de vórtice progressivo, serão comparados os parâmetros adimensionais

da BVP, definidos no capítulo anterior, com os da bomba centrífuga submersa

escolhida e apresentada na seção 5.1.

6.1 Especificações

Antes de calcular os respectivos ΠP e ΠQ, é necessário conhecer algumas

características da BVP e da BCS utilizadas na comparação:

- BVP BCS

Aplicação On-shore On-shore

°API > 15 *

Viscosidade (cP) 150 a 450 *

Tipo de Poço Ø7" Ø5"

Profundidade (m) até 500 até 1000

Flange de descarga (mm) Ø80 Ø60

Nº de estágios 25 85

Rotação Nominal (rpm) 1200 2900

Acionamento Por hastes Direto

Motor Superfície Submersível

Potência do motor (kW) 22 60

Peso total (kgf) 130 250

Além disso, para o cálculo dos parâmetros adimensionais, serão utilizados os

dados dos pontos de melhor eficiência (BEP—best efficiency point) de cada

bomba, além da razão potência-peso 𝜔:

Tabela 6.1 Especificações dos objetos de comparação (*valores não informados)

26

Valores no BEP BVP

(1200rpm)

BCS

(2900rpm)

Head/estágio (m) 8,0 5,7

Potência absorvida/estágio (kW) 0,35 0,18

Q (m³/h) 3,39 6,58

η (%) 20,7 54,9

𝛚 0,0069 0,0062

6.2 Cálculo e análise de 𝚷𝐏 e 𝚷𝐐

Com os dados das tabelas 6.1 e 6.2 é possível calcular os parâmetros

adimensionais:

- BVP (1200rpm) BCS (2900rpm)

𝚷𝐏 × 𝟏𝟎−𝟔 1,65 1,45

𝚷𝐐 0,098 0,375

De acordo com os valores obtidos, percebe-se que, de fato, a BVP possui

uma boa capacidade de fornecer pressão ao fluido. Entretanto, o parâmetro

ΠQ mostra que, de fato, essa bomba não é ideal para poços em que se deseja

alta vazão volumétrica.

A comparação dos dois parâmetros ratifica a ideia de que a bomba de vórtice

progressivo, na configuração de bombeio por hastes, apresenta

características de aplicação similares às bombas alternativas e rotativas.

A vantagem da BVP, porém, no parâmetro ΠP sugere que o mecanismo de

transferência de energia por meio dos vórtices realmente é capaz de fornecer

heads relativamente altos, enquanto garante a compactação do equipamento.

6.3 A BVP com acoplamento direto (motor submerso)

Embora uma versão com acionamento direto ainda não tenha sido construída

Tabela 6.2 Valores dos principais parâmetros de funcionamento no BEP

Tabela 6.3 Valores calculados dos parâmetros adimensionais

27

e testada, é possível fazer uma estimativa das curvas de desempenho

utilizando as leis de afinidade. Mesmo não sendo seguro afirmar que esse

método se aplica com precisão para a BVP, é uma forma simples de obter os

parâmetros de desempenho do equipamento. Além disso, as mudanças de

rotação não chegam a ser tão grandes quanto a que acontece no caso da BVP

com acoplamento direto.

A partir das leis de afinidade, é possível relacionar parâmetros em diferentes

valores de rotação da seguinte forma:

𝑄2 = 𝑄1 (𝑁2

𝑁1)

𝐻2 = 𝐻1 (𝑁2

𝑁1)

2

(6.1)

𝑃𝑜𝑡2 = 𝑃𝑜𝑡1 (𝑁2

𝑁1)

3

A partir dos dados das curvas na seção 4.3 e utilizando as relações (6.1) ,

são obtidos os novos valores e construídas as novas curvas de desempenho,

agora para 2900 rpm:

28

BVP (2900 rpm)

H (m)/estágio Q (m³/h) Pot (kW) η (%)

124,98 0,00 8,01 0,00

105,13 2,54 7,52 9,50

93,44 3,46 6,98 12,30

81,76 4,25 6,48 14,30

70,08 5,53 5,98 17,40

58,40 6,69 5,44 19,20

46,72 8,19 4,94 20,70

35,04 9,40 4,40 20,00

23,36 11,24 3,90 18,00

15,65 12,42 3,40 15,30

Tabela 6.4 Valores obtidos a partir das leis de afinidade, utilizando os valores de

operação a 1200 rpm como referência. O BEP é mostrado em destaque.

Figura 6.2 Curvas de desempenho da BVP operando a 2900 rpm, com dados obtidos a

partir da aplicação das leis de afinidade.

29

Os novos valores dos principais parâmetros de funcionamento no BEP, de

acordo com as novas curvas, são:

Valores no BEP BVP

(2900rpm)

BCS

(2900rpm)

Head/estágio (m) 46,72 5,7

Potência absorvida/estágio (kW) 4,94 0,18

Q (m³/h) 8,19 6,58

η (%) 20,7 54,9

𝛚 0,0968 0,0062

Agora, calculam-se os novos ΠP e ΠQ da BVP:

- BVP (2900rpm) BCS (2900rpm)

𝚷𝐏 × 𝟏𝟎−𝟔 0,05 1,45

𝚷𝐐 0,017 0,375

Fica claro que, com a nova configuração de acionamento, o desempenho da

bomba de vórtice progressivo é extremamente prejudicado. Observando as

leis de afinidade, nota-se que a potência absorvida varia com o cubo da

rotação. Aliado a isso, a baixa eficiência da BVP torna os valores de ΠP e ΠQ

bem inferiores aos da BCS.

Apesar disso, a capacidade de pressão que cada estágio da BVP fornece

operando a 2900 rpm faria com que, para uma determinada carga demandada

pelo sistema, fossem necessários bem menos estágios em relação à

capacidade da BCS. A compactação do equipamento seria bastante

relevante. O fato, porém, de a potência absorvida variar cubicamente pode

acabar determinando que essa diminuição de tamanho e peso não são

suficientes.

Tabela 6.5 Novos valores dos principais parâmetros de funcionamento no BEP

Tabela 6.6 Valores calculados dos novos parâmetros adimensionais

30

Capítulo 7

Conclusão

Este trabalho abordou a proposta da empresa Higra junto à Petrobras de

desenvolvimento de uma nova bomba de fundo. A partir de uma metodologia

baseada na criação de parâmetros adimensionais, foi desenvolvido e aplicado um

procedimento de comparação entre a bomba de vórtice progressivo e uma

bomba centrífuga submersa, ambas em testes para qualificação de fornecimento.

O desenvolvimento de um protótipo funcional da BVP foi um processo

basicamente empírico. O mecanismo de conversão de energia por meio dos

vórtices, portanto, não foi estudado neste trabalho. O intuito foi estabelecer um

meio de avaliação para a aplicação do equipamento, com relação a outras

alternativas tradicionais.

Na criação dos parâmetros adimensionais—posteriormente utilizados no estudo

comparativo—constatou-se que, para ΠQ, era necessário uma alternativa. Em um

primeiro momento, o método sistemático, que utilizou um grupo de parâmetros

dimensionais com parâmetros repetentes, acabou resultando em um parâmetro

adimensional inconsistente. O problema foi solucionado usando ΠP como

referência, que tinha a pressão no numerador e 𝜔 no denominador, e

substituindo o valor de pressão por uma expressão em que o parâmetro de vazão

volumétrica 𝑄 fosse diretamente proporcional à pressão. Dessa forma, foi

possível obter um parâmetro ΠQ consistente.

Por meio desse estudo comparativo, foi investigada a asserção de que a BVP

possuía capacidade de pressão elevada, em relação ao seu tamanho e peso,

apesar de operações com baixa vazão volumétrica e baixa eficiência. De fato,

como analisado na seção 6.2, a energia consumida pela bomba de vórtice

progressivo contribui mais para o fornecimento de pressão do que de vazão. A

BCS apresenta parâmetros mais equilibrados, com menor pressão e maior vazão

no BEP. Mesmo assim, é válido salientar que todos os dados utilizados nos

31

cálculos são provenientes de testes de fábrica, feitos com água. De acordo com a

tabela 6.1, a BVP é projetada para operar com fluidos de viscosidade

relativamente baixa. Isso é comum em poços depletados, já que a baixa presença

de óleo faz com que a mistura seja mais de 90% água e sedimentos básicos

(fator BSW—basic sediments and water). Algumas previsões de poços de teste

em campo, para a BVP, apontavam fator BSW de 98%. Mesmo com a baixa

viscosidade, é possível que a mistura, uma espécie de lama rala, seja um líquido

não-newtoniano. Como os dados disponíveis foram obtidos a partir de testes

com água, o estudo foi feito ignorando as possíveis variações no caso da

utilização dos dados obtidos nos testes de campo.

Foi feita também uma análise a partir de uma possível versão submersível da

bomba de vórtice progressivo. Entretanto, não se pode afirmar com certeza que

as leis de afinidade se aplicam de forma satisfatória nesse caso. Os resultados

apontaram uma imensa queda de desempenho da BVP operando a 2900 rpm. Já

era de se esperar, levando em consideração a variação cúbica da potência em

relação à variação de rotação e a baixa eficiência da BVP.

7.1 Trabalhos Futuros

Como proposta para trabalhos futuros, seria interessante que se fizessem as

análises dos mesmos parâmetros, mas a partir de dados de testes realizados

em rotações mais altas. Ou, idealmente, utilizando os dados de um novo

protótipo, agora com acoplamento direto (motor submerso).

Além disso, seria bastante válido repetir as análises com os dados dos testes

de campo, para que os resultados contemplassem as propriedades da mistura

bombeada.

32

Referências Bibliográficas

[1] THOMAS, J.E. Fundamentos de Engenharia de Petróleo, 2º edição. Rio de

Janeiro: Editora Interciência, 2004.

[2] SANTAREM, C.A. Análise de sistemas de elevação artificial por injeção de

nitrogênio para surgência de poços e produção. Rio de Janeiro: UFRJ, Projeto Final de

Conclusão de Curso de Engenharia do Petróleo, 2009.

[3] DE MATTOS, E.E. e DE FALCO, R. Bombas Industriais, 2ª Edição. Rio de

Janeiro: Interciência, 1998.

[4] FOX, R.W., PRITCHARD, P.J. e MCDONALD, A.T. Introdução à Mecânica

dos Fluidos, 7ª Edição. Rio de Janeiro: LTC, 2010.

[5] TAKACS, G. Electrical Submersible Pumps Manual: Design, Operations, and

Maintenance (Gulf Equipment Guides), 1ª Edição. Gulf Professional Publishing, 2009.

[6] Manual e documentos técnicos apresentados pelo fabricante (Higra) ao cliente

(Petrobras).

[7] Documentos técnicos apresentados pelo fabricante da bomba centrífuga submersa

utilizada como objeto de comparação ao cliente (Petrobras).