estudo comparativo da pirólise convencional e catalítica de Óleo de soja refinado com...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA (PEQ-UFS) GICÉLIA RODRIGUES ESTUDO COMPARATIVO DA PIRÓLISE CONVENCIONAL E CATALÍTICA DE ÓLEO DE SOJA REFINADO COM CATALISADORES TIPO HAlMCM-41 Fevereiro - 2010 São Cristóvão Sergipe

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Pirólise de Biomassa

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

    CENTRO DE CINCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

    NCLEO DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA QUMICA (PEQ-UFS)

    GICLIA RODRIGUES

    ESTUDO COMPARATIVO DA PIRLISE CONVENCIONAL E

    CATALTICA DE LEO DE SOJA REFINADO COM CATALISADORES TIPO

    HAlMCM-41

    Fevereiro - 2010

    So Cristvo Sergipe

  • GICLIA RODRIGUES

    ESTUDO COMPARATIVO DA PIRLISE CONVENCIONAL E

    CATALTICA DE LEO DE SOJA REFINADO COM CATALISADORES TIPO

    HAlMCM-41

    Dissertao de Mestrado apresentada ao

    Programa de Ps-Graduao em Engenharia

    Qumica da Universidade Federal de Sergipe,

    como parte dos requisitos exigidos para a

    obteno do ttulo de Mestre em Engenharia

    Qumica.

    Mestranda: Giclia Rodrigues

    Orientador: Prof. Dr. Marcelo Jos Barros de Souza

    Fevereiro - 2010

    So Cristvo Sergipe

  • FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

    R696e

    Rodrigues, Giclia Estudo comparativo da pirlise convencional e cataltica de leo

    de soja refinado com catalisadores tipo HAlMCM-41 / Giclia Rodrigues. So Cristvo, 2010.

    111f.: il.

    Dissertao (Mestrado em Engenharia Qumica) Programa de Ps-Graduao em Engenharia Qumica, Pr-Reitoria de Ps-Graduao e Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe, 2010.

    Orientador: Prof. Dr. Marcelo Jos Barros de Souza

    1. Biocombustveis. 2. Catalisadores. 3. leos vegetais 4. Pirlise cataltica. I. Ttulo.

    CDU 662.767

  • Aos meus pais, que me ensinaram o verdadeiro amor da

    vida, dando-me disciplina e incentivo em tudo que eu fao. A

    minha av (Valdice) que, por muitas vazes sentiu a minha

    ausncia nas reunies familiares, minha razo de viver.

    Agradeo a vocs por quem sou!

    Em memria a minha tia Maria que agora se encontra na

    presena de Deus.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente ao Esprito Santo, que ilumina o meu caminho a cada dia.

    Aos meus pais, que so as pessoas mais importantes da minha vida, pois o amor que a

    me dedicaram o meu maior legado,

    Aos meus irmos que, so meus grandes e verdadeiros amigos.

    Aos meus sobrinhos e sobrinhas, afilhados e afilhadas, cujos sorrisos revelam a

    esperana no futuro e me fortalecem a cada dia.

    A Fernanda, Joo, Renato, Rubervan, Sheylinha, Susana, Mabel e Mrcio, pelos

    momentos de estudos. Foi excelente t-los como coleguinhas de turma durante o mestrado.

    Ao prof. Dr. Marcelo Jos Barros de Souza, pela excelente orientao, disposio e

    pacincia, sem as quais este trabalho no teria se realizado. Muito obrigada, por me aceitar

    com orientanda!

    Ao grupo de Catalise do LabCat do departamento de Engenharia Qumica da UFS,

    pela companhia. Dentre os componentes, gostaria de agradecer especialmente s minhas

    amigas Alexsandra e Consuelo, pelo auxlio nos experimentos.

    Aos professores doutores Marcus Antonio Freitas de Melo DEQ/UFRN (Membro

    externo) e a Jos Jailton Marques DEQ/UFS (Membro interno), meus sinceros

    agradecimentos pela participao nesta banca de mestrado, o que certamente contribuir para

    melhoria na minha vida acadmica.

    Aos professores do Departamento de Engenharia Qumica, pela contribuio em meu

    processo de formao. A Maria Bernadete, secretria do Departamento de Engenharia

    Qumica, pelo seu carinho e gentileza no atendimento aos alunos.

    Ao Laboratrio de Catlise da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela

    realizao das anlises de DRX. Ao Laboratrio de Tecnologia Cermica do Departamento de

    Qumica da UFS, pela utilizao do equipamento de Espectroscopia no Infravermelho e pelas

    realizaes das anlises termogravimtricas.

    coordenao de Aperfeioamento de pessoas de Nvel Superior (Capes), pela bolsa

    de estudos. E a todos que direta ou indiretamente, fizeram parta da minha trajetria.

  • RESUMO

    Um dos principais desafios mundiais est relacionado reduo dos gases causadores

    do efeito estufa, cuja contribuio nas mudanas climticas j foi comprovada. A emisso de

    dixido de carbono proveniente da queima de combustveis fsseis o principal fator que

    contribui para o aumento do aquecimento global. O biodiesel um combustvel biodegradvel

    derivado de fontes renovveis, que pode ser obtido por diferentes processos tais como a

    pirlise, a esterificao ou pela transesterificao. As reaes de pirlise referem-se ruptura

    da ligao carbono-carbono dos hidrocarbonetos mediante a ao de energia trmica. Essa

    reao constitui um processo endotrmico, sendo favorecida termodinamicamente por altas

    temperaturas e baixas presses. O presente trabalho tem como objetivo estudar a pirlise

    convencional e cataltica de leo de soja, utilizando catalisadores heterogneos mesoporosos

    cidos (HAlMCM-41). Foi realizada a sntese e caracterizao do AlMCM-41 e HAlMCM-41

    com diferentes razes de Si/Al. A amostra de AlMCM-41 foi sintetizada pelo mtodo

    hidrotrmico, e em seguida, submetida a um processo de troca inica para gerao da

    forma cida HAlMCM-41. Os catalisadores obtidos foram caracterizados por difrao de

    raios-X (DRX) e espectroscopia na regio do infravermelho (IV). Com base nos resultados

    obtidos na anlise de espectroscopia na regio do infravermelho, foi possvel identificar as

    principais bandas relativas estrutura do AlMCM-41, demonstrando que o mtodo de

    calcinao foi promissor na eliminao do direcionador orgnico. Os resultados das anlises

    de difrao de raios-X mostraram que o AlMCM-41 foi sintetizado com sucesso e com alto

    grau de ordenao hexagonal nas diferentes razes Si/Al. Um estudo comparativo entre a

    pirlise convencional e a cataltica de leo de soja refinado, sobre catalisador HAlMCM-41,

    foi realizado com o objetivo de estudar a influncia desse catalisador nas taxas de converso e

    na energia de ativao das reaes de pirlise. Os resultados mostram que se obteve

    catalisadores mesoporosos e que a razo Si/Al de melhor atividade cataltica foi a de 60.

    Palavras-Chave: biocombustveis, HAlMCM-41, leos vegetais, pirlise, pirlise cataltica.

  • ABSTRACT

    Nowadays, one of the major challenges worldwide is the reduction of greenhouse gas

    emissions, whose contribution to climatic changes was comproved. The emissions of carbon

    dioxide from the burning of fossile fuels are the main factor that increases the global

    warming. Biodiesel is a biodegradable fuel derived from renewable sources that can be

    obtained by different processes such as pyrolysis, esterification or even transesterification.

    The pyrolysis reactions refer to the rupture of carbon-carbon binding in hydrocarbons

    molecules. This reaction is an endothermic process and, therefore, thermodynamically

    favored by high temperatures and low pressures. The present work has as objective to studiy

    the thermal and catalytic pyrolysis of soy oil, using acid mesoporosous heterogeneous

    catalysts (HAlMCM-41). The synthesis and characterization of AlMCM-41 and HAlMCM-41

    was performed with different Si/Al ratios. The sample of AlMCM-41 was synthesized by

    hydrothermal method after that it was submitted to a process of ion exchange to generate the

    acidic form HAlMCM-41. The catalysts were characterized by X-ray diffraction (XRD) and

    infrared spectroscopy (IR). Based on the results obtained by infrared spectroscopy analysis, it

    was possible to indentify the main bands on the structure of AlMCM-41, demonstrating that

    the calcination method was promising in the elimination of the organic activating substituent.

    The results of X-ray diffraction showed that the AlMCM-41 was synthesized successfully and

    with high degree of hexagonal ordination to different Si/Al ratios. A comparative study

    between thermal pyrolysis and catalytic pyrolysis of refined soybean oil, over catalyst

    HAlMCM-41 synthesized with different Si/Al ratios, was carried out aiming to study the

    influence of this catalyst on the conversion rates and in the pyrolysis reactions activation

    energy. The results show that mesoporosos catalysts were obtained and that the Si/Al rate of

    best catalytic activity was equal to 60.

    Keywords: biofuels, HAlMCM-41, vegetable oils, pyrolysis, catalytic pyrolysis,

  • ndice de Figuras

    Figura 2.1: Produo mundial de biodiesel em novembro de 2008. ....................................... 25

    Figura 2.2: Produo mundial de biodiesel em Setembro de 2009. ........................................ 25

    Figura 2.3: Produo mundial de biodiesel em Dezembro de 2009. ...................................... 26

    Figura 2.4: Diesel importado e produo de biodiesel em 2008 . ........................................... 27

    Figura 2.5: Direcionadores de estrutura: a) alquil amnio ..................................................... 39

    Figura 2.6: Materiais mesoporosos da famlia M41S. ........................................................... 40

    Figura 2.7: Possvel mecanismo de formao do MCM-41. (1) ............................................. 44

    Figura 2.8: Esquema representativo para formulao da lei de Bragg.................................... 50

    Figura 2.9: Esquema representativo da estrutura hexagonal do MCM-41. ............................ 52

    Figura 2.10: Curvas tpicas dos principais mtodos termogravimtricos: .............................. 54

    Figura 3.1: Preparo da soluo A para a sntese do AlMCM-41. ........................................... 64

    Figura 3.2: Preparo da soluo A para a sntese do AlMCM-41. Onde:................................. 65

    Figura 3.3: Gel de sntese obtido aps a mistura das solues A e B. .................................... 65

    Figura 3.4: Autoclave utilizada na sntese do AlMCM-41. ................................................... 66

    Figura 3.5: Sistema utilizado para a filtrao e lavagem do AlMCM-41. .............................. 67

    Figura 3.6: a) AlMCM-41 retirado da autoclave; b) aps lavagem ........................................ 67

    Figura 3.7: Mufla utilizada na etapa de calcinao. ................................................................ 68

    Figura 3.8: Amostras de Al MCM-41 aps a calcinao. ....................................................... 69

    Figura 3.9: Fluxograma do Procedimento de sntese da AlMCM-41. .................................... 70

    Figura 3.10: Sistema utilizado para a troca inica. ................................................................. 72

  • Figura 3.11: a) Lavagem com gua destilada; ......................................................................... 72

    Figura 3.12: Amostra do HAlMCM-41 aps a troca inica e calcinao. ............................. 73

    Figura 4.1: Espectro de infravermelho das amostras de AlMCM-41 no calcinada,.............. 76

    Figura 4.2: Espectro de infravermelho das amostras de AlMCM-41 no calcinada,.............. 77

    Figura 4.3: Espectro de infravermelho das amostras de AlMCM-41 no calcinada,............. 77

    Figura 4.4: Difratogramas de raios-X das amostras de AlMCM-41(NC) no calcinada, ....... 80

    Figura 4.5: Difratogramas de raios-X das amostras de AlMCM-41(NC) no calcinada, ....... 81

    Figura 4.6: Difratogramas de raios-X das amostras de AlMCM-41(NC) no calcinada, ....... 81

    Figura 4.7: Curvas TG para o leo de soja puro ..................................................................... 83

    Figura 4.8: Curvas TG a diferentes taxas de aquecimento ...................................................... 84

    Figura 4.9: Curvas TG a diferentes taxas de aquecimento ...................................................... 84

    Figura 4.10: Curvas TG a diferentes taxas de aquecimento .................................................... 85

    Figura 4.11: Curvas DTG para o leo de soja refinado puro a ............................................... 86

    Figura 4.12: Curvas DTG a diferentes taxas de aquecimento da ............................................ 87

    Figura 4.13: Curvas DTG a diferentes taxas de aquecimento da ........................................... 87

    Figura 4.14: Curvas DTG a diferentes taxas de aquecimento da ........................................... 88

    Figura 4.15: Curvas de converso do leo de soja refinado puro ........................................... 90

    Figura 4.16: Curvas de converso a diferentes taxas de aquecimento da .............................. 91

    Figura 4.17: Curvas de converso a diferentes taxas de aquecimento da ............................... 91

    Figura 4.18: Curvas de converso a diferentes taxas de aquecimento da ............................... 92

    Figura 4.19: Curvas cinticas a diferentes taxas de aquecimento da ...................................... 94

  • Figura 4.20: Curva de Energia de ativao aparente em funo do ....................................... 94

    Figura 4.21: Curvas cinticas a diferentes taxas de aquecimento da ..................................... 95

    Figura 4.22: Curva de Energia de ativao aparente em funo do ....................................... 95

    Figura 4.23: Curvas cinticas a diferentes taxas de aquecimento da ..................................... 96

    Figura 4.24: Curva de Energia de ativao aparente em funo do ........................................ 96

    Figura 4.25: Curvas cinticas a diferentes taxas de aquecimento da ..................................... 97

    Figura 4.26: Curva de Energia de ativao aparente em funo do ....................................... 97

    Figura 4.27: Sobreposio das Curvas de Energia de ativao aparente ............................... 98

  • ndice de Tabelas

    Tabela 2.1: Matrias-prima utilizadas na produo de biodiesel em 2008. ............................ 26

    Tabela 2.2: Descrio de alguns tipos de pirlise e seus principais parmetros. .................... 31

    Tabela 2.3: Reaes de pirlise envolvendo triglicerdeos saturados. .................................... 34

    Tabela 2.4: Dimenses de poros de algumas peneiras moleculares. ...................................... 41

    Tabela 2.5: Classificao das principais tcnicas termoanalticas. ......................................... 55

    Tabela 2.6: Principais aplicaes de anlise trmica em catlise ............................................ 56

    Tabela 3.1: Reagentes precursores utilizados para a sntese do AlMCM-41. ......................... 62

    Tabela 3.2: Quantidades em gramas de reagentes para preparao das duas soluo com

    diferentes razo de Si/Al para a sntese do AlMCM-41. .......................................................... 63

    Tabela 3.3: Reagentes e precursores utilizados para a troca inica do AlMCM-41 ............... 71

    Tabela 4.1: Dados referentes s freqncias vibracionais observadas e suas respectivas

    atribuies feitas para os espectros de infravermelho das amostras de AlMCM-41 no

    calcinada, AlMCM-41 calcinada e na forma cida ( HAlMCM-41) com diferentes razo de

    Si/Al .......................................................................................................................................... 79

    Tabela 4.2: Converso do leo de soja mais HAlMCM-41 com diferentes razes de Si/Al =

    (20,40,60) em funo da temperatura. ...................................................................................... 93

    Tabela 4.3: Energia de ativao das amostras de leo de soja refinado puro e da mistura leo

    de soja + HAlMCM-41 com razes de Si/Al=(20,40,60) em funo da converso. ................ 99

  • Sumrio

    1 INTRODUO ..................................................................................................... 17

    1.1 OBJETIVOS ................................................................................................... 18

    1.1.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 18

    1.1.2 Objetivos Especficos .............................................................................. 18

    2 REVISO DA LITERATURA .............................................................................. 19

    2.1 DEFINIES DO BIODIESEL ..................................................................... 19

    2.1.1 Histrico do Biodiesel ............................................................................. 20

    2.1.2 Produo Mundial de Biodiesel ............................................................. 22

    2.1.3 Mtodos para a Produo de Biodiesel ................................................. 28

    2.1.3.1 Transesterificao .............................................................................. 28

    2.1.3.2 Esterificao ....................................................................................... 29

    2.1.3.3 Pirlise Convencional ........................................................................ 30

    2.2 CATLISE ..................................................................................................... 37

    2.2.1 Peneiras Moleculares .............................................................................. 38

    2.2.2 MCM-41 ................................................................................................... 42

    2.2.2.1 Mecanismos de Sntese do MCM-41. ................................................ 44

    2.2.2.2 A Importncia da Acidez Superficial ................................................. 45

    2.3 CARACTERIZAO DOS CATALISADORES MESOPOROSOS ........... 47

    2.3.1 Espectroscopia na Regio do Infravermelho ........................................ 47

    2.3.2 Difrao de Raios-X ................................................................................ 49

    2.3.3 Anlise Trmica ....................................................................................... 53

    2.4 CINTICA DAS REAES CATALTICAS HETEROGNEAS .............. 57

  • 2.4.1 Estudo Cintico da Decomposio Trmica por Analise

    Termogravimtrica (TG) ............................................................................................... 57

    2.4.2 Modelo Cintico ....................................................................................... 59

    3 METODOLOGIA EXPERIMENTAL ................................................................... 62

    3.1 SNTESE HIDROTRMICA DO ALMCM-41 ............................................. 62

    3.1.1 Procedimento para a Sntese da AlMCM-41 ........................................ 63

    3.2 TROCA INICA DO AlMCM-41 ................................................................. 71

    3.3 CARACTERIZAO FSICO-QUMICA DOS CATALISADORES ......... 74

    3.3.1 Espectroscopia na Regio do Infravermelho ........................................ 74

    3.3.2 Difrao de Raios-X ................................................................................ 74

    3.4 ENSAIOS DE PIRLISE DO LEO DE SOJA ........................................... 74

    3.5 TRATAMENTO CINTICO DOS DADOS EXPERIMENTAIS ................. 75

    4 RESULTADOS E DISCUSSO ........................................................................... 76

    4.1 CARACTERIZAES DOS CATALISADORES ....................................... 76

    4.1.1 Espectroscopia na Regio do Infravermelho ........................................ 76

    4.1.2 Difrao de Raios-X (DRX) .................................................................... 80

    4.1.3 Anlises Termogravimtricas ................................................................ 83

    4.1.4 Curvas Termogravimtricas Derivada (DTG) ..................................... 86

    4.1.5 Curvas de Converso .............................................................................. 90

    4.1.6 Curvas Cinticas da Energia de Ativao ............................................. 94

    5 CONCLUSES E SUGESTES PARA FUTUROS TRABALHOS ................. 100

    5.1 CONCLUSES ............................................................................................ 100

    5.2 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS ........................................ 102

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 103

  • 17

    1 INTRODUO

    Investimentos em tecnologia de produo e transformao de recursos renovveis para

    a produo de biocombustveis tm sido feitos com o propsito de diminuir a dependncia de

    combustveis fsseis e reduzir os impactos ambientais que esses combustveis, oriundos de

    petrleo, causam ao meio ambiente (VILLELA et al., 2009).

    Nesse contexto, o uso do biodiesel tem se mostrado uma alternativa favorvel ao meio

    ambiente, e vem contribuindo na reduo dos nveis de poluio ambiental, visto que o

    biodiesel um combustvel biodegradvel derivado de fontes renovveis que pode se usado

    em substituio ao leo diesel. O biodiesel pode ser obtido por diferentes processos tais como

    a pirlise, a esterificao ou pela transesterificao (NASCIMENTO et al., 2009).

    As reaes de pirlise referem-se ruptura da ligao carbono-carbono dos

    hidrocarbonetos, que so termodinamicamente favorecidas a altas temperaturas por serem um

    processo endotrmico. As reaes de pirlise cataltica so feitas frequentemente com

    catalisadores fortemente cidos. As peneiras moleculares constitudas por silicatos apresentam

    em sua superfcie grupos silanis (Si-OH), os quais podem atuar como stios cidos, porm,

    esses grupos apresentam acidez fraca ou moderada. A fim de aumentar a fora cida dos

    stios superficiais, pode-se recorrer substituio isomrfica dos tomos de silcio

    tetravalente por ctions trivalentes, como por exemplo, o alumnio que, consequentemente,

    gerar uma carga negativa na rede. Cada carga negativa neutralizada na superfcie do slido

    por ctions de compensao que geralmente, so elementos alcalinos ou alcalinos terrosos.

    Esses ctions de compensao podem ser substitudos por prtons H+, gerando na superfcie

    stios cidos de Brnsted. Para tanto, recorre-se usualmente a um procedimento de troca

    inica com uma soluo aquosa de cloreto de amnio, seguido de lavagem, para a retirada de

    cloreto residual, e calcinao para remoo de amnia (MORENO et al., 2009).

    Ensaios de pirlise podem ser realizados em micro-escala com o objetivo de se estudar

    o comportamento dos sistemas de produo de bio-leo via pirlise convencional ou

    cataltica. Neste trabalho, avaliou-se o potencial cataltico de materiais mesoporosos cidos

    HAlMCM-41 com diferentes razes Si/Al na pirlise trmica e cataltica de leos vegetais.

  • 18

    1.1 OBJETIVOS

    1.1.1 Objetivo Geral

    Estudar a pirlise convencional e cataltica de leo de soja, utilizando um catalisador

    heterogneo mesoporoso na forma cida HAlMCM-41 com diferentes razes Si/Al, visando

    assim produo de biocombustveis.

    1.1.2 Objetivos Especficos

    a) Sintetizar catalisadores tipo AlMCM-41 com diferentes razes Si/Al;

    b) Obter os catalisadores na forma cida HAlMCM-41, atravs de troca inica;

    c) Caracterizar os catalisadores obtidos por Difrao de Raio-X e Espectroscopia na

    Regio do Infravermelho;

    d) Avaliar as reaes de pirlise convencional e cataltica de leo de soja;

    e) Verificar a influncia da razo Si/Al, tempo e temperatura no processo;

    f) Determinar um mtodo cintico rpido para avaliar tempo e temperatura necessrios

    para alcanar um determinado grau de decomposio trmica e cataltica dos leos vegetais;

    g) Correlacionar os resultados das reaes de pirlise com os resultados obtidos da

    caracterizao dos catalisadores.

  • 19

    2 REVISO DA LITERATURA

    2.1 DEFINIES DO BIODIESEL

    Biodiesel o nome dado aos steres alqulicos de cidos graxos, desde que atendam

    aos parmetros de qualidade, derivado de fontes renovveis. um combustvel biodegradvel

    que possui um desempenho muito prximo ao diesel do petrleo, podendo ser utilizado na

    substituio do diesel sem qualquer modificao nos motores (ANP, Decreto n 5.448, 2005).

    O biodiesel pode ser obtido por meio de diferentes processos, tais como: a pirlise, a

    esterificao ou a transesterificao. Este ltimo, mais utilizado, consiste numa reao

    qumica de leos vegetais ou de gorduras animais com um lcool de cadeia pequena (etanol

    ou metanol), utilizando um catalisador. Desse processo tambm se obtm a glicerina,

    empregada na fabricao de sabonetes, alm de diversos outros cosmticos.

    A definio do biodiesel bastante ampla, inclui diversas opes tecnolgicas como o

    uso de: leos vegetais in natura; misturas binrias leo/diesel, lcool/diesel e steres/diesel;

    micro-emulses; hidrocarbonetos derivados da pirlise de biomassa vegetal como o bagao de

    cana; leos vegetais craqueados (ou derivados do craqueamento termocataltico); e misturas

    ternrias lcool/diesel/co-solventes.

    H dezenas de espcies vegetais no Brasil a partir das quais se pode produzir o

    biodiesel, tais como mamona, dend (palma), girassol, babau, amendoim, pinho manso, soja

    dentre outras (DABDOUB et al., 2009). importante ressaltar que a composio dos leos

    vegetais varia de acordo com a fonte da planta, e necessrio distinguir o perfil do cido ou

    composio cida gordurosa para descrever a natureza especfica do leo, a fim de determinar

    a faixa de temperatura e o catalisador apropriado para empregar na rota escolhida da

    decomposio do leo.

  • 20

    2.1.1 Histrico do Biodiesel

    O efeito estufa um fenmeno natural e necessrio para manter a vida no planeta,

    porm a emisso de grandes quantidades de gases que causam o aquecimento global e

    consequentemente, alteraes climticas tornou-se uma preocupao mundial. O Protocolo de

    Quioto resultado direto de trs dcadas de conscientizao ambiental e de uma agenda de

    negociaes internacionais que resultaram em um compromisso formal dos pases signatrios

    em reduzir suas emisses dos chamados gases de efeito estufa (GOLDENSTEIN et al., 2006).

    Visando atender as exigncias ambientais, investimentos em pesquisas atuam no

    sentido de reduzir as emisses de gases poluentes emitidos pelos veculos. A introduo de

    um combustvel limpo dentro da matriz energtica vem sendo pesquisado e j conhecido

    desde o incio do sculo passado, principalmente na Europa. Segundo registros histricos,

    Rudolf Diesel desenvolveu o motor diesel, em 1895, tendo levado sua inveno mostra

    mundial em Paris, em 1900, usando leo de amendoim como combustvel. Em 1911, teria

    afirmado que o motor diesel pode ser alimentado com leos vegetais e ajudar

    consideravelmente o desenvolvimento da agricultura dos pases que o usaro (PEREIRA et

    al., 2007).

    Nessa poca, os leos vegetais apresentavam dificuldades quanto sua combusto,

    problema atribudo sua elevada viscosidade, que impedia uma adequada injeo nos

    motores. O combustvel de origem vegetal deixava depsitos de carbono nos cilindros e nos

    injetores, requerendo uma manuteno intensiva. Os trabalhos desenvolvidos para resolver

    esses problemas conduziram descoberta da transesterificao, que a quebra da molcula do

    leo, com a separao da glicerina e a recombinao dos cidos graxos com lcool. Este

    tratamento permitiu superar as dificuldades com a combusto. Charles G. Chavanne patenteou

    o processo de produo de biodiesel por transesterificao em 1937 (DABDOUB et al.,

    2009).

    Na dcada de 1930, o governo francs incentivava as experincias com o leo de

    amendoim, visando conquistar a independncia energtica. Durante a II Guerra Mundial, o

    combustvel de origem vegetal foi utilizado extensamente em vrios pases, incluindo a

  • 21

    China, a ndia e a Blgica. Em 1941 e 1942, havia uma linha de nibus entre Bruxelas e

    Louvain, que utilizava combustvel obtido a partir do leo de palma (KNOTHE et al., 2001).

    Nesse perodo, foram cortadas partes das linhas de abastecimento de combustveis, o

    que causou uma grande escassez no mercado, estimulando a busca de fontes alternativas de

    combustveis baseadas em fontes vegetais, surgindo, na Blgica, a ideia de transesterificar

    leos vegetais com etanol para produzir um biocombustvel conhecido hoje como biodiesel

    (SUAREZ et al., 2007). Com o mesmo propsito, pases como a Frana e os Estados Unidos

    desenvolveram pesquisas para a produo de bicombustveis. Outro processo estudado foi o

    craqueamento ou pirlise convencional para a produo de um biocombustvel conhecido

    como bio-leo que uma mistura de compostos da classe, similares aos encontrados no

    petrleo, e tambm compostos oxigenados. Diferentemente da transesterificao, que possui

    relatos apenas de estudos em bancada e testes-piloto em motores, o craqueamento chegou a

    ser usado em larga escala, utilizando o leo de tungue na China no perodo de guerra para a

    obteno de combustvel para substituir a gasolina e o diesel (CHANG et al., 1947).

    A crise do petrleo, juntamente com a crise do acar impulsionou o Pr-lcool, uma

    tecnologia 100% nacional. Em 1975, o governo brasileiro deu incio ao Programa Brasileiro

    de Etanol, Pr-alcool, que consistia em desenvolver o uso do etanol ou do etil lcool como

    combustvel. Ele poderia ser utilizado para substituir o methyl tert-butyl ether (MTBE) da

    gasolina ou utilizado na forma pura como combustvel de veculos automotores (MASEIRO

    et.al ,2008). No mesmo ano, o governo criou, mas no implementou, o Pro-leo Plano de

    Produo de leos Vegetais para Fins Energticos transformando-o em programa no ano de

    1983, quando d incio ao Programa Nacional de leos Vegetais para Produo de Energia,

    tambm chamado de Pro-leo (SUAREZ et al., 2007).

  • 22

    2.1.2 Produo Mundial de Biodiesel

    O desafio da segunda gerao de biodiesel produzir o combustvel a partir de

    matrias-primas com baixo valor de mercado, como resduos agro-industriais que contenham

    gordura, biomassa, entre outras, reduzindo dessa forma, o valor do produto final a ser

    comercializado, que hoje encontra grandes dificuldades na competio com o diesel

    (GALIASSI et al., 2008). Em 2006, a produo mundial de leos vegetais e gorduras, insumos

    para a produo de biodiesel, foi de 147 milhes de toneladas, sendo que deste total, 113,6

    milhes de toneladas foram de leos vegetais e ,em junho de 2008, os estoques de leos

    vegetais totalizaram 9,19 milhes de toneladas (VILLELA et al., 2009).

    A Unio Europia (UE) o maior produtor e consumidor de biodiesel no mundo. O custo

    de produo de biodiesel esteve em torno de 1 euro por litro, apresentando uma queda no

    inicio de 2008. A colza, principal matria-prima, corresponde a 90% dos custos totais do

    produto sado das usinas. A ps passar pelos estgios de refino e distribuio, o produto est

    chegando s bombas com valores superiores aos cobrados pelo diesel (GALIASSI et al.,

    2008).

    Foi estipulado que no corrente ano, 7% do total de combustvel utilizado na Unio

    Europia sero de biocombustveis, com grandes chances de passar para 20% at 2020. O

    biodiesel tambm demonstra ser de grande utilidade para a agricultura europia, visto que as

    matrias-primas necessrias para sua produo devero ser cultivadas em reas improdutivas,

    demonstrando que tal poltica no afetar o setor produtivo de alimentos do continente.

    A poltica de marketing do governo alemo e de instituies como a UFOP (Union for

    support of oilseed and proteinplants) investiram na venda do B100, biodiesel puro, em

    diversos postos do pas, contribuindo para que o novo combustvel conquistasse a confiana

    dos consumidores que passaram a us-lo em diversas propores nos motores de seus

    automveis. A poltica de subsdios que, atravs da iseno total de impostos na cadeia

    produtiva, tornou o biodiesel bastante competitivo frente ao diesel de petrleo, fazendo com

    que, em 2003, seu valor fosse 12% mais barato nas bombas. Com base nesse contexto, as

  • 23

    polticas de marketing e de subsdio contriburam para que a Alemanha liderasse a produo

    mundial de biodiesel.

    Atualmente, o segundo maior produtor europeu de biodiesel a Frana, com uma

    produo de 746 mil toneladas em 2005, passando para 51% da sua produo em 2006. O

    objetivo do governo era a produo de 3,2 milhes de toneladas at 2009.

    O biodiesel italiano pode ser encontrado em misturas que variam de 5% a 30%, cuja

    principal matria-prima para a sua produo a colza que, por sua vez, importada da Frana

    e Alemanha. H tambm uma produo base do leo de soja, que corresponde a

    aproximadamente 20% do volume total produzido (CHIARANDA et al., 2005).

    Assim como em praticamente toda a Europa, a colza a matria-prima que mais se

    adapta s condies de solo e clima no Reino Unido. Alm da colza, outras matrias podem

    ser utilizadas tais como: sebo, leos de frituras, ou mesmo as oleaginosas. Desde 2002, o

    governo concede como subsdio aos produtores uma quantia de 20 pences para cada litro do

    combustvel e, dependendo das condies de produo, ter um aumento para 35 pences por

    litro (DTI, 2007). O biodiesel fabricado no Reino Unido deve seguir a norma EN 14214,

    comum nos pases europeus, e que serve como referncia mundial para regulamentao

    tcnica de biocombustvel.

    Em 2008, o governo portugus isentou os impostos de combustveis provenientes de

    fontes renovveis (ISP). Para ser beneficiado com a iseno do ISP, o produtor deve utilizar o

    percentual mnimo de 50% da matria-prima de origem portuguesa. O objetivo do programa

    reduzir a dependncia de importao de petrleo e diminuir a emisso de gs carbnico. A

    mistura de biodiesel j permite ao pas uma reduo na emisso de 400 mil toneladas de gs

    carbnico por ano, alm de diminuir de 15 a 20% as importaes de diesel. As matrias-

    primas mais usadas so: leo de colza, de soja, de palma, e at mesmo leos de frituras, que

    so recolhidos pelos prprios fabricantes ou por cooperativas de recolhedores que vendem os

    leos utilizados aos grandes produtores. Acredita-se que a produo portuguesa em quatro

    anos dever chegar em 300 mil toneladas (GALIASSI et al., 2008).

  • 24

    O Brasil produz o biodiesel desde 1980, quando foi assinada a primeira patente

    denominada Prodiesel, em Fortaleza, pelo professor Expedito Parente. Em 2003, o governo

    lanou o Programa Nacional de Produo e Uso do Biodiesel e seu uso j foi autorizado a

    partir do ano de 2005 (SILVA et al., 2008). Segundo, Agencia Nacional de Petrleo, Gs

    Natural e Bicombustvel, o Brasil est entre os maiores produtores e consumidores de

    biodiesel do mundo, com uma produo anual, em 2008, de 1,2 bilhes de litros e uma

    capacidade instalada , em janeiro de 2009, para 3,7 bilhes de litros. Em 2008, o uso do

    biodiesel evitou a importao de 1,1 bilhes de litros de diesel de petrleo resultando numa

    economia de cerca de US$ 976 milhes.

    Alm da diminuio da dependncia do diesel importado, o biodiesel traz outros

    efeitos indiretos de sua produo e uso, como o incremento a economia local e regional, tanto

    na etapa agrcola como na indstria de bens e servios. Com a ampliao do mercado do

    biodiesel, milhares de famlias brasileiras sero beneficiadas, principalmente agricultores do

    semi-rido, com o aumento de renda proveniente do cultivo e comercializao das plantas

    oleaginosas utilizadas na produo do biodiesel. A produo de biodiesel j gerou cerca de

    600 mil postos de trabalho no campo, de acordo com dados do Ministrio do

    Desenvolvimento Agrrio.

    As Figuras 2.1, 2.2 e 2.3 mostram os dados fornecidos pela Agncia Nacional de

    Petrleo (ANP) e a Tabela 2.1 mostra os dados fornecidos pelo Ministrio de Minas e Energia

    (MME). Nota-se atravs desses dados que a produo de biodiesel tem uma forte dependncia

    do leo de soja. Poder haver algumas mudanas nesse panorama, j que o setor de biodiesel

    deve estimular a produo de algumas novas matrias-primas.

  • 25

    3.49%

    3.64%

    10.70%82.17%

    leo de Soja

    Sebo

    leo de Algodo

    Outros Materiais Graxos

    2.69%

    6.16%

    16.27%

    74.88%

    leo de soja

    Gordura Bovina

    leo de Algodo

    Outros Materiais Graxos

    Fonte: (Boletim Mensal do Biodiesel, ANP, Dezembro, 2009)

    Figura 2.1: Produo mundial de biodiesel em novembro de 2008.

    .

    Fonte: ((Boletim Mensal do Biodiesel, ANP, Outubro, 2009)

    Figura 2.2: Produo mundial de biodiesel em Setembro de 2009.

  • 26

    0.82%

    2.19%

    5.64%

    19.44%

    71.90%

    leo de Soja

    Gordura Bolvina

    leo de Algodo

    Outros Materiais Graxos

    Outras Matrias-Primas

    Fonte: (Boletim Mensal do Biodiesel, ANP, Janeiro, 2010).

    Figura 2.3: Produo mundial de biodiesel em Dezembro de 2009.

    Tabela 2.1: Matrias-prima utilizadas na produo de biodiesel em 2008.

    Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov

    leo de

    Soja

    78,7

    5

    77,2

    8

    67,4

    4

    77,8

    0

    74,3

    3

    82.9

    3

    80,7

    6

    77,5

    3

    80,2

    0

    80,8

    1

    85,1

    4

    Sebo

    20,5

    0

    21,1

    7

    25,2

    6

    21,4

    4

    24,7

    6

    16,9

    2

    18,0

    0

    19,6

    4

    18,3

    4

    16,5

    7

    11,0

    9

    leo de

    Algodo

    0,29

    1,04

    6,79

    0,54

    0,01

    0,07

    1,13

    2,26

    1,25

    2,61

    3,77

    leo de

    Dend

    0,26

    0,46

    0,43

    0,14

    0,84

    0,00

    0,00

    0,00

    0,00

    0,00

    0,00

    leo de

    Mamon

    a

    0,20

    0,00

    0,00

    0,00

    0,00

    0,00

    0,00

    0,00

    0,00

    0,00

    0,00

    Gordura

    de

    Porco

    0,00

    0,05

    0,08

    0,09

    0,05

    0,06

    0,02

    0,25

    0,00

    0,00

    0,00

    leo de

    Fritura

    Usado

    0,00

    0,00

    0,00

    0,00

    0,00

    0,03

    0,00

    0,01

    0,00

    0,00

    0,00

    Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

    Fonte: BiodieselBR.com, adaptada das informaes fornecidas pela MME.

  • 27

    A Figura 2.4 mostra os dados fornecidos pela Agncia Nacional de Petrleo referente

    importao de diesel e da produo de biodiesel no perodo de janeiro a outubro de 2008. A

    figura mostra que ainda existe uma grande dependncia de importao de diesel.

    FONTE:Agencia Nacional de Pedroleo(ANP), 2008

    Figura 2.4: Diesel importado e produo de biodiesel em 2008 .

  • 28

    2.1.3 Mtodos para a Produo de Biodiesel

    2.1.3.1 Transesterificao

    A transesterificao, tambm chamada alcolise, pode ser descrita de maneira geral

    como sendo uma reao reversvel em que um ster reage com um lcool, na presena de um

    catalisador, e atravs da troca da alcoxila, origina-se um novo ster e um novo lcool, como

    mostra a Reao Qumica 2.1. um processo similar ao da hidrlise, exceto o fato de que no

    se trata de um lcool no lugar da gua. Os alcois que podem ser utilizados so: o metanol,

    etanol, propanol, butanol, sendo que os mais utilizados so o metanol e etanol. Nos estudos

    publicados, o metanol tem sido o mais empregado devido ao seu custo reduzido e grande

    disponibilidade no mercado. O etanol pode tambm ser utilizado, visto que, no Brasil, existe

    grande disponibilidade deste produto a baixo custo (GERIS et al., 2007).

    Reao 2.1: Reao Qumica da Transesterificao.

    Na transesterificao de leos vegetais, um triacilglicerdeo reage com um lcool na

    presena de um catalisador, produzindo uma mistura de steres de cidos graxos e glicerol,

    como mostra a Reao Global 2.2. Para aumentar o rendimento do ster e permitir a separao

    do glicerol necessrio um excesso de lcool, ou seja, para uma transesterificao

    estequiometricamente completa, so necessrios uma proporo molar 3:1 de lcool por

    triacilglicerdeo. A transesterificao tem sido largamente utilizada para diminuio da

    viscosidade dos triglicerdeos, melhorando as propriedades fsicas dos combustveis. Assim,

    steres etlicos ou metlicos de cidos graxos (conhecidos por biodiesel) obtidos por alcolise

    de leos vegetais podem ser usados como combustveis alternativos para os motores a diesel

    (CANDEIA et al., 2008).

  • 29

    Reao 2.2: Reao Global da Transesterificao.

    2.1.3.2 Esterificao

    A reao de esterificao difere da transesterificao por partir de cidos graxos livres,

    ao invs de triglicerdeos, o que a torna mais vantajosa devido possibilidade do uso de

    resduos (borra cida) e a no formao de glicerol. Apenas catalisadores cidos podem ser

    utilizados para a reao de esterificao, uma vez que o uso de catalisadores bsicos levaria

    neutralizao dos mesmos pela acidez da matria-prima, ocorrendo a saponificao

    (GONZALEZ et al., 2008). Destaca-se ainda, que a catlise cida heterognea preferencial,

    pois, alm da atividade cataltica, tambm minimiza os custos de separao e purificao dos

    produtos da reao. A esterificao uma reao qumica reversvel, na qual um cido

    carboxlico reage com um lcool produzindo ster e gua, como mostra a Reao Qumica

    2.3. importante ressaltar que a presena de gua reduz significativamente o rendimento da

    esterificao. Para obter um melhor rendimento reacional deve-se remover a gua da mistura

    assim que formada. Essa reao, em temperatura ambiente, lenta, no entanto, os reagentes

    podem ser aquecidos na presena de um catalisador cido que catalisa tanto a reao direta

    (esterificao), quanto reao inversa (hidrlise) (NASCIMENTO et al., 2009).

  • 30

    Reao 2.3: Reao Qumica da Esterificao.

    Os produtos obtidos pela reao de esterificao, apesar de apresentarem propriedades

    muito prximas s do diesel convencional, no devem ser utilizados diretamente nos motores

    diesel, devido sua elevada viscosidade. Para que no sejam necessrias adaptaes nos

    motores, tm sido utilizadas misturas do biodiesel com o diesel convencional, conhecidas

    como blendas (biodiesel/diesel fssil) (CANDEIA et al., 2008).

    2.1.3.3 Pirlise Convencional

    O processo de pirlise convencional consiste no tratamento trmico da matria-prima

    contendo carbono que se decompe, dando origem a trs estados fsicos da matria: slida, o

    carvo vegetal; gasosa e a lquida, comumente designada de frao pirolenhosa (extrato ou

    bio-leo). As propores relativas das fases variam como funo da temperatura, do processo

    e do tipo de equipamento empregado. A pirlise ou craqueamento trmico pode ser realizada

    em ausncia completa do agente oxidante ou em uma quantidade tal que a gaseificao no

    ocorra extensivamente (MESA et al., 2003).

    Atualmente, pesquisas esto sendo realizadas atravs do processo da pirlise de

    triglicerdeos que consiste na quebra das molculas do leo vegetais e da gordura animal,

    levando formao de uma mistura de compostos qumicos com propriedades muito

    semelhantes s do diesel de petrleo, mistura essa que pode ser usada diretamente em motores

    convencionais do ciclo diesel (SUAREZ et al., 2005). Essa reao realizada a uma

  • 31

    temperatura acima de 350C, na presena ou ausncia de catalisadores obtendo uma mistura

    de hidrocarbonetos, compostos oxigenados e gua. importante destacar que a quantidade de

    carbono contido na matria-prima um fator importante para a determinao do tamanho e do

    grau de insaturao dos produtos orgnicos obtidos.

    A pirlise de leos vegetais foi usada para o fornecimento de combustveis durante a

    Segunda Guerra Mundial. Desde ento, numerosos estudos vm sendo desenvolvidos sobre os

    principais parmetros que determinam a qualidade e o rendimento do produto pirolisado

    (MORCELIN et al., 2007). A definio de parmetros como: tempo de residncia, taxa de

    aquecimento, presso, temperatura e o produto desejado so essenciais na determinao do

    tipo de processo de pirlise a ser realizado. A Tabela 2.2 mostra os tipos de pirlise e seus

    principais parmetros.

    Tabela 2.2: Descrio de alguns tipos de pirlise e seus principais parmetros.

    Tipos de

    Pirlise na

    Ausncia de

    Oxignio.

    Tempo de

    Residncia

    Taxa de

    Aquecimento

    Presso

    (bar)

    Temperatura

    (C)

    Produto

    principal

    Carbonizao

    Horas/dias

    Muito lenta

    1

    400

    Slido

    Clssica

    5-30 min.

    Lenta

    1

    600

    Slido,

    Lquido e gs

    Rpida

    0,5-5 seg.

    Bastante

    elevada

    1

    650

    Lquido

    Flash-lquido

  • 32

    2.1.3.3.1 Pirlise Cataltica

    As reaes de pirlise referem-se ruptura da ligao carbono-carbono dos

    hidrocarbonetos, que so termodinamicamente favorecidas a altas temperaturas por serem um

    processo endotrmico. As reaes de pirlise cataltica so feitas sempre com catalisadores

    cidos e, portanto, pode ser definida como uma reao de baixa especificidade, o que significa

    que existe uma srie enorme de reaes colaterais, tais como a isomerizao, transferncia de

    hidrognio, alquilao de aromticos, ciclizao etc. Os produtos que se obtm so

    hidrocarbonetos de menor massa malar do que os de partida; da o emprego industrial na

    transformao de leo pesado em gasolina. Por outro lado, a formao de compostos de alta

    massa molar, chamados geralmente de coque, ocorre em pequenas quantidades que

    permanecem sobre a superfcie do catalisador, desativando-o (CIOLA et al., 1981

    2.1.3.3.2 Ensaio de Pirlise em Micro Escala

    Ensaios de pirlise podem ser realizados em micro-escala com o objetivo de se estudar

    o comportamento dos sistemas de produo de bio-leo via pirlise trmica e cataltica. O

    equipamento normalmente utilizado para esse fim uma termobalana. Durante ensaios de

    termogravimtrica (TG), a anlise da massa da amostra, em uma atmosfera controlada

    medida como uma funo de temperatura ou de tempo. A TG pode ser usada para monitorar

    qualquer reao que envolve um lquido ou um slido. A massa de amostra pode variar entre

    10 mg ate 10 g dependendo do equipamento utilizado. Os estudos podem ser realizados

    partindo-se de temperaturas ambiente at 1550 C.

    2.1.3.3.3 Mecanismos de Reaes de Pirlise

    Chang e Wan (1947) e Alencar et .al. (1983), estudaram os mecanismos envolvidos no

    craqueamento trmico de triglicerdeos. As reaes de pirlise envolvendo triglicerdeos

    saturados foram propostas por Chang e Wan (1947), as quais incluem 16 tipos de reaes

    como mostra a Tabela 2.3. Acredita-se que a maior parte dos cidos, das acroelinas e cetonas

    formadas na reao (1) so rapidamente decompostos, conforme as reaes (2) e (3). As

    reaes (6) e (11) so as principais responsveis pela formao de hidrocarbonetos que

  • 33

    constituem os combustveis lquidos especialmente na frao da gasolina. Com base no

    esquema proposto por Chang e Wan (1947), foram sugeridos por Alencar et al.(1983) um

    esquema para a quebra dos triglicerdeos saturados, como mostra a reao 2.4, O

    craqueamento dos triglicerdeos produz radicais livres (A) RCOO e (B) RCH2O. Os n-

    alcanos e 1-alcenos so formados pela descarboxilao do radical (A) e depois pela

    subsequente dismutao (transformao de aldedos em compostos de alcois e cidos) e

    eliminao de etileno. Uma mesma srie de alcanos e alcenos produzida pela perda de

    cetenos do radical (B) seguido novamente por dismutao e eliminao de etileno (MAHER

    et al., 2007).

    Em 1988, Schwab e colaboradores, propuseram um mecanismo para explicar a

    formao de alcanos, alcenos, alcadienos, aromticos e cidos carboxlicos da pirlise de

    triglicerdeos insaturados como mostra a Reao 2.5.

    A Reao 2.6, adaptada por Gusmo (1989), mostra a decomposio de triglicerdeos.

    Na equao (i) tem-se a formao de cidos carboxlicos, acrolena e cetenos. Os cetenos e a

    acrolena so facilmente decompostos em steres, cidos carboxlicos e hidrocarbonetos. As

    equaes (ii) e (iii) mostram a decomposio trmica dos cidos carboxlicos que pode

    acontecer por decarbonilio ou decarboxilao. Em (ii) tem-se a formao de gua, CO e

    hidrocarbonetos com uma nova insaturao, enquanto que na equao (iii) tem-se a formao

    de CO2 e um hidrocarboneto saturado (SUAREZ et al., 2007).

    Os estudos destes mecanismos mostram a complexidade dos possveis produtos

    formados nas reaes de pirlise. Convm ressaltar a necessidade do estudo de vrios

    parmetros do processo para a obteno dos produtos desejados.

  • 34

    Tabela 2.3: Reaes de pirlise envolvendo triglicerdeos saturados.

    (1) Decomposio de glicerdeos

    (2) Decomposio de cidos graxos

    (3) Decomposio de cetonas e acroelinas

    (4) Decomposio em elementos (5) Desitrogenao da prafinas (6) Decomposio parcial da parafina (7) Alquilao da parafina inverso de (6)

    (8) Isomerizao da parafina (9) Aromatizao ciclizao da parafina (10) Polimerizao das olefinas

    (11) Despolimerizao de olefinas, Reao reversa de

    (10)

    (12) Decomposio de olefinas para diolefinas

    (13) Decomposio de olefinas aos hidrocarbonetos

    acetilnicos

    (14) Aromatizao ou ciclizao de olefinas

    (15) Hidrogenao das olefina

    (16) Isomerizao das olefinas

    Fonte: Chang and Wan.(1947).

  • 35

    FONTE: Alencar et al, 1983.

    Reao 2.4: Mecanismo de reao da pirlise de triglicerdeos saturados.

    FONTE: Schwab et al.p,1988.

    Reao 2.5: Mecanismo de reao da pirlise de triglicerdeos.

  • 36

    Reao 2.6: Pirlise de triglicerdeos (1), levando a formao de cidos

    carboxlicos (2), cetenos (3), acrolena (4) e hidrocarbonetos com (5) ou sem insaturaes terminais (6).

  • 37

    2.2 CATLISE

    O desenvolvimento da catlise iniciou quando em 1936, Berzelius observou que

    pequenas quantidades de uma substncia externa poderiam afetar o curso das reaes

    qumicas, e atravs dessa observao foi criado o termo catlise. Em 1894, Oswald

    expandiu a explicao de Berzelius, ao afirmar que catalisadores so substncias que

    permitem que as transformaes de matrias-primas num determinado processo qumico

    sejam rpidas, afirmando com base nesse contexto que o catalisador aumenta a velocidade das

    reaes qumicas sem serem consumidos no processo. Desde ento, os catalisadores vem

    desempenhando uma importncia econmica indiscutvel.

    A catlise geralmente pode ser homognea, heterognea ou enzimtica. Na catlise

    homognea, o catalisador e as molculas dos reagentes esto na mesma fase, geralmente na

    fase lquida, o catalisador se dissolve no meio reacional formando um reativo intermedirio

    que se rompe. Pode-se citar como exemplo de catalisadores utilizados na catlise homognea,

    os complexos de metais de transio; os cidos e as bases inorgnicas. Os catalisadores

    homogneos apresentam diversas desvantagens na sua utilizao, tais como: dificuldade na

    separao e recuperao do catalisador, o que consequentemente, ocasiona dificuldades no

    reuso do mesmo em grandes propores; a auto-oxidao, causada pelos choques que ocorrem

    entre as molculas quando esto em soluo; formao de dmeros inativos, que tambm

    diminui o desempenho cataltico dessas espcies em soluo (COSTA et al., 2006).

    Na catlise heterognea, o catalisador e os reagentes esto em fases diferentes. Neste

    caso, o catalisador usualmente um slido e a reao acontece nos stios ativos da superfcie

    do catalisador, ou seja, os gases so adsorvidos na superfcie do catalisador, formando

    ligaes fracas com os tomos metlicos. Como exemplos de catalisadores heterogneos tm

    os xidos de metais de transio; as zelitas e o MCM-41. Os catalisadores heterogneos

    podem ser mssicos ou suportados. Um catalisador mssico constitudo basicamente de fase

    ativa, j um catalisador suportado, alm da fase ativa, contm um suporte. A maioria dos

    catalisadores industriais tem na sua composio constituintes em pequenas concentraes, que

    conferem ao catalisador maior estabilidade trmica, seletividade ou atividade, que so

    chamados de promotores (GUISNET et al., 2004).

  • 38

    O suporte tem como funo mecnica servir de base ou estrutura para o componente

    cataltico, produzir maior rea exposta para o agente ativo, e, portanto, maior atividade

    cataltica, alm de produzir igual rea e atividade com muito menos material. O suporte

    tambm tem a funo de aumentar a estabilidade do catalisador, mantendo os cristais do

    material ativo longe uns dos outros, evitando assim a sua sinterizao, e consequentemente, a

    perda de atividade; o suporte pode complexar quimicamente com a massa ativa, obtendo-se

    maior atividade por unidade de rea. Em alguns casos, o suporte, devido sua grande

    superfcie, adsorve preferencialmente venenos que iriam desativar o constituinte ativo do

    catalisador (CIOLA et al., 1981).

    Para o esclarecimento da catlise enzimtica, necessrio o conhecimento pleno do

    funcionamento das enzimas. A enzima uma protena que acelera ou inibe uma reao

    qumica e so os catalisadores mais especficos da natureza. As reaes enzimticas so

    extremamente rpidas e esteroespecficas, e ocorrem, geralmente, sob condies fisiolgicas

    de pH, temperatura e presso (MARTENDAL et al., 2004).

    2.2.1 Peneiras Moleculares

    O conceito de peneiras moleculares foi criado por McBain, em 1932. Esse conceito

    define as peneiras moleculares como slidos porosos capazes de adsorver seletivamente

    molculas, cujo tamanho permite sua entrada nos canais. A zelita uma peneira molecular

    microporosa, com dimetro de poros de at 8 . A sua estrutura constituda por

    aluminossilicatos cristalinos hidratados de estrutura aberta, constituda por tetraedros de SiO4

    e AlO4 ligados entre si pelos tomos de oxignio. Apesar das zelitas assumirem a posio de

    catalisadores mais importantes na indstria qumica, a necessidade de materiais com

    dimetros maiores e que apresentassem propriedades de peneiras moleculares, levou

    pesquisadores da Mobil Oil Corporation a descobrirem, em 1992, a famlia dos silicatos e

    aluminossilicatos mesoposoros M41S (BECK et al., 1992). Esses materiais apresentam como

    principais caractersticas, o seu sistema particular de poros, sendo estes, excepcionalmente

    largos, da ordem de 2-10 nm.

  • 39

    A tecnologia de sntese de peneiras moleculares da famlia M41S foi ento

    desenvolvida, revolucionando os horizontes no campo de direcionamento de estruturas que,

    at ento, eram concebidas com base em pequenas molculas direcionadoras orgnicas

    (BECK et al., 1992), como, por exemplo, compostos quaternrio de amnio (Figura 2.5a). A

    grande novidade veio quando se teve a idia de usar molculas tensoativas de cadeia longa

    para promover o efeito de direcionamento de formao da estrutura (Figura 2.5b).

    Figura 2.5: Direcionadores de estrutura: a) alquil amnio

    quaternrio para materiais microporosos e b) cetiltrimetil amnio para materiais mesoporosos.

    Podem ser identificados basicamente trs tipos de mesofases para a famlia M41S: a

    fase hexagonal (MCM-41) (BECK et al., 1992), cbica formada por um sistema de poros

    tridimensionais (MCM-48) (VARTULI et al., 1994) e lamelares estabilizada de alto fator de

    empacotamento (MCM-50). Eventualmente, podem ser observadas tambm outras fases

    menos ordenadas e menos estveis como a fase hexagonal desordenada do MCM-41, que

    apresenta sistema particular de poros bem definidos para cada nanotubo, porm, existe uma

    ausncia de regularidade em termos de padro hexagonal e a fase de octmero cbico, que

    constitui uma fase de espcies de slica com carter instvel ((Tensoativo-SiOB2, 5B)B8B). A

    Figura 2.6 mostra materiais mesoporosos tpicos da famlia M41S.

  • 40

    Figura 2.6: Materiais mesoporosos da famlia M41S.

    Uma das diferenas encontradas entre a sntese de zelitas e a de materiais

    mesoporosos o agente direcionador utilizado, que tem a funo de orientar a formao

    preferencial de um determinado tipo de estrutura. A sntese da zelita geralmente envolve a

    cristalizao de um silicato ao redor de uma nica molcula direcionadora, enquanto que na

    sntese do MCM-41 essa cristalizao ocorre ao redor de um grupo de molculas (micelas).

    Diferentes agentes direcionadores podem ser usados na sntese do MCM-41 (BECK et al.,

    1992). Geralmente so ons quaternrios de amnio com ao menos uma cadeia orgnica

    longa.

  • 41

    A Tabela 2.4 apresenta alguns exemplos de peneiras moleculares e suas respectivas

    caractersticas estruturais. Segundo a IUPAC (ROUQUEROL et al., 1994), os materiais

    porosos seguem uma classificao em relao aos dimetros de seus poros:

    a) Microporosos: dp < 2 nm (dp < 20 );

    b) Mesoporosos: 2 < dp < 50 nm (20 < dp < 500 );

    c) Macroporosos: dp > 50 nm (dp > 500 ).

    Tabela 2.4: Dimenses de poros de algumas peneiras moleculares.

    Material Membros no anel Dimetro de poros () Referncia

    CaA 8 4,3 Meier e Olson (1987)

    ZSM-5 10 5,1 5,5 / 5,3 5,6 Argauer e Landolt (1972)

    ZSM-48 10 5,3 5,6 Schlenker et al. (1978)

    NaY 12 7,4 Breck (1964)

    Faujazita 12 7,4 Olson (1970)

    ALPO-5 12 7,3 Bialek et al. (1991)

    ALPO-8 14 7,9 8,7 Dessau et al. (1990)

    VPI-5 18 12,1 Davis et al. (1988)

    Clovelita 20 6,0 13,2 Estermann et al. (1991)

    JDF-20 20 6,2 14,5 Jones et al. (1993)

    MCM-41 - 20-100 Beck et al. (1992)

    Fonte: Roquerol et al.(1994)

  • 42

    2.2.2 MCM-41

    A peneira molecular mesoporosa MCM-41 (Mobil Crystalline Materials) consiste

    numa fase altamente ordenada, possuindo uma matriz hexagonal formada por canais

    uniformes e unidimensionais de dimetros que variam de 2 a 10 nm. Esses canais so

    constitudos por uma matriz de slica. Alm disso, possui uma rea superficial superior a

    700m2g

    -1, alta porosidade e elevada capacidade de adsoro que, aliada alta estabilidade

    hidrotrmica, tornam esses slidos suportes e catalisadores potenciais para vrias aplicaes.

    A incorporao de heterotomos nas paredes da MCM-41 permite o controle de suas

    caractersticas, viabilizando a obteno de materiais com propriedades pr-estabelecidas. Por

    exemplo, a incorporao de ons metlicos multivalentes na estrutura leva formao de

    catalisadores mesoporosos com propriedades redox ou cida-base, em funo da natureza do

    metal. O SiMCM-41 praticamente no apresenta acidez, limitando assim a sua utilizao

    direta em reaes catalticas, no entanto, estes materiais, devido sua elevada rea superficial,

    so excelentes suportes para catalisadores cidos. A gerao da acidez nesses sistemas

    especialmente importante no que se refere s aplicaes catalticas. Dessa forma, diversos

    metais, tais como alumnio, sulfato, glio, ferro, cromo e outros, podem ser incorporados nas

    paredes do MCM-41, de modo a gerar acidez no slido. No presente trabalho, o alumnio foi

    incorporado ao MCM-41 e, atravs do processo de troca inica, foi possvel aumentar a

    acidez dessa peneira molecular, tornando-a potencialmente ativa nas reaes de pirlise.

    Nascimento et al. (2009), impregnou o MCM-41 com diferentes concentraes de

    sulfato, a fim de aumentar a sua acidez e investigaram as reaes de esterificao etlica de

    cido olico sobre os catalisadores mesoporosos tipo MCM-41 na forma calcinada e sulfatada.

    Os catalisadores MCM-41 sulfatados, obtidos via impregnao com solues de diferentes

    concentraes, mostraram-se promissores nas reaes de esterificao de cido olico.

    Bonelli e colaboradores (2002), prepararam uma amostra de AlMCM-41, na razo

    Si/Al = 2 e aps um procedimento de troca inica em meio aquoso, obtiveram amostras de

    Cs+ e K

    + e, apesar das medidas de compensao qumicas indicarem a troca de quase 100%

    do sdio presente por csio ou potssio, experimentos com CO2 no evidenciaram a presena

  • 43

    de stios bsicos. A ausncia de basicidade, neste caso, est relaciona baixa incorporao de

    alumnio na estrutura dessa peneira molecular mesoporosa.

    Fasolo et al. (2006), incorporaram o cido tungstenofosfrico, via impregnao

    mida, sobre amostras do SiMCM-41, a fim de tornar ativo os stios cidos e avali-las na

    reao de craqueamento do cumeno a uma temperatura de 250C. Essas amostras, segundo

    Fasolo (2006), aps sua funcionalizao por impregnao com cido tungstenofosfrico,

    mostraram-se ativas para o craquemento do cumeno temperatura de 250C. O pesquisador

    observou que essa atividade dependia do teor de heteropolicido incorporado e do tamanho

    dos poros da amostra.

    Iliopoulou et al.(2007), sintetizaram amostras de Al-MCM-41 com razes de Si/Al de

    30 e 50 e investigaram o efeito da converso cataltica de produtos de pirlise da biomassa

    atravs desse material, como tambm a estabilidade e acidez do Al-MCM-41. Foi observado

    que houve uma melhoria na qualidade do bio-leo com a utilizao de Al-MCM-41 e dos

    materiais catalticos. Tambm houve um aumento da concentrao de fenis e reduo dos

    cidos indesejveis no bio-leo. Foi observado tambm que baixas razes de Si/Al, ou seja,

    elevado teor de alumnio e consequentemente, um elevado nmero de stios cidos,

    favorecem a converso dos hidrocarbonetos da fase orgnica para fase gasosa. Concluram

    que o SiMCM-41 muito ativo, porm necessrio aumentar a sua acidez para obter uma

    melhor seletividade dos produtos e da qualidade do bio-leo produzido.

  • 44

    2.2.2.1 Mecanismos de Sntese do MCM-41.

    Segundo propostas feitas por cientistas da Mobil, existem duas rotas possveis para

    descrever a formao das peneiras moleculares mesoporosas MCM-41 (BECK et al., 1992).

    Figura 2.7: Possvel mecanismo de formao do MCM-41. (1)

    Pela fase cristalina lquida inicializada e (2) pelo nion silicato inicializada

    No primeiro mecanismo, h inicialmente a presena de uma mesofase cristalina

    lquida que antecede a etapa de adio das espcies silicatos, ou seja, a uma determinada

    CMC (concentrao micelar critica) ocorre a formao de micelas esfricas e com o aumento

    progressivo da concentrao das espcies de tensoativos e das micelas esfricas, formam-se

    micelas cilndricas que se organizam para formar estruturas com empacotamento hexagonal,

    seguida da migrao e polimerizao dos anions silicatos em volta dessa estrutura, resultando

    na formao da estrutura do MCM-41. No segundo mecanismo, h uma auto-organizao das

    estruturas cristalinas lquidas que ocorre por efeito mtuo de interao entre os nions

    silicatos e os grupos catinicos presentes nos seguimentos hidroflicos dos tensoativos em

    solues, ou seja, as espcies silicatos geradas no hidrogel reativo influenciam na formao

    das micelas tensoativas para direcionar a formao da fase cristalina lquida inicializada

    (SOUZA et al., 2005).

  • 45

    2.2.2.2 A Importncia da Acidez Superficial

    A acidez de Brnsted marcante nos mecanismos envolvendo craqueamento ou

    hidrocraqueamento de hidrocarbonetos, dois dos processos mais importantes da indstria de

    refino de petrleo. O grupo doador de prtons usualmente representado de forma

    simplificada como um H+ ligado a um tomo de oxignio (-OH) em superfcies de xidos e

    chamada de stios cidos de Brnsted ou BAS (Brnsted acid site).

    Sabe-se que as peneiras moleculares so constitudas por slicas e a superfcie da slica

    (SiO2) forma com facilidade grupos silanis (Si-OH), os quais so considerados stios cidos

    de Brnsted, porm, esses grupos apresentam acidez fraca ou moderada. Para aumentar a

    estabilidade desse material necessrio aumentar a acidez dos stios de Brnsted que pode ser

    acrescida pela substituio isomrfica dos tomos de silcio tetravalente por ctions

    trivalentes como, por exemplo, o alumnio, que, consequentemente, gerar uma carga

    negativa na rede. Cada carga negativa neutralizada na superfcie do slido por ctions de

    compensao que geralmente so alcalinos ou alcalinos terrosos, onde, posteriormente, sero

    substitudos por prtons atravs do processo de troca inica.

    Alm da acidez de Brnsted, os aluminossilicatos tambm possuem acidez de Lewis,

    associada ao alumnio substitudo isomorficamente pelo silcio. Neste caso, o prprio

    alumnio forma stios cidos de Lewis na superfcie do catalisador, quando submetido

    desidratao. A acidez destes materiais depende essencialmente da localizao e do contedo

    de alumnio na estrutura do silicato, alm do estado de coordenao do alumnio ( MORENO

    et al., 2009).

    A acidez de Lewis comumente est associada aos sistemas no prticos resultante da

    interao com metais, principalmente os metais de transio, atravs de seus orbitais d

    incompletos, capazes de receberem eltrons. Frequentemente, estes metais formam

    catalisadores homogneos ou heterogneos, com a habilidade de processar com eficincia

    diversas reaes qumicas ( MORENO et al., 2009).

    A quantidade de stios cidos est relacionada com a razo Si/Al. Quanto menor a

    razo, mais alumnio est presente na estrutura, e maior ser o nmero de stios cidos de

  • 46

    Brnsted. No entanto, a quantidade de alumnio deve ser moderada devido ao

    desbalanceamento das cargas que so geradas com a formao dos stios cidos, ocasionando

    um menor desbalanceamento da rede e uma menor fora desses stios.

    Os stios bsicos presentes na estrutura do material mesoporoso apresentam quatros

    formas positivas, tais como: basicidade intrnseca, geradas por elementos trivalentes

    pertencentes rede, como, por exemplo, o alumnio (Al), que pode ser controlado atravs de

    procedimento de troca inica; xidos metlicos com alto carter bsico disperso nos canais,

    grupos SiO- terminais de alta basicidade, pertencentes a estrutura presentes na superfcie

    externa ou canais e, compostos orgnicos ligados rede contendo grupo funcionais com

    propriedades bsicas.

    O uso dos materiais mesoporosos em substituio aos catalisadores cidos

    homogneos, tais como H2SO4, HF, AlCl3, se deve, entre outros fatores, baixa ao

    corrosiva, facilidade de separao do produto final, baixa periculosidade, facilidade de

    manejo e possibilidade de regenerao. O MCM-41 contendo alumnio na estrutura exibe

    stios cidos que podem ser comparados aos das zelitas. Entretanto, independentemente da

    quantidade de alumnio contido em sua rede cristalina, materiais como o MCM-41 mostram

    baixa acidez que pode ser comparada com a acidez de aluminossilcatos amorfos. Tais

    materiais so promissores em reaes que requerem acidez superficial para aumentar o seu

    potencial cataltico (SILVA et al., 2007).

  • 47

    2.3 CARACTERIZAO DOS CATALISADORES MESOPOROSOS

    2.3.1 Espectroscopia na Regio do Infravermelho

    A Espectroscopia na Regio do Infravermelho por Transformada de Fourier (FT-IR)

    uma das tcnicas mais comuns de caracterizao existentes, pois permite caracterizar uma

    larga faixa de compostos inorgnicos e orgnicos. Baseia-se fundamentalmente em medir a

    absoro em frequncias de infravermelho de uma amostra posicionada na direo do feixe de

    radiao infravermelha. As radiaes infravermelhas apresentam comprimentos de onda

    tpicos que variam 0,78 a 1000 m e nmeros de onda variando de 13000 a 10 cm-1. O

    nmero de onda pode ser definido como o recproco do comprimento de onda (SETTLE et al.,

    1997).

    A absoro da radiao no infravermelho depende do aumento da energia de vibrao

    ou de rotao associado a uma ligao covalente, desde que esse aumento resulte numa

    variao do momento de dipolo da molcula. Isso significa que quase todas as molculas

    contendo ligaes covalentes mostraro algum grau de absoro seletiva no infravermelho. As

    nicas excees so os elementos diatmicos, como H2, N2, O2, porque apenas nesse caso no

    h nenhum modo de vibrao ou de rotao que produza um momento dipolar. Geralmente,

    os espectros de infravermelho so apresentados em grficos que relacionam a percentagem de

    transmitncia ou absorbncia em funo do comprimento de onda. A transmitncia (T) a

    razo entre a energia radiante transmitida por uma amostra e a energia radiante que nela

    incide e a absorbncia (A) o logaritmo decimal do inverso da transmitncia, de acordo com

    a Equao (2.1):

    A = log(1/T) (2.1)

    Os grficos so preferencialmente obtidos em funo da percentagem de transmitncia

    em vez de absorbncia, para que as bandas de absoro apaream na curva como depresses e

    no como mximos, como comum nos espectros ultravioletas e visveis.

    A radiao infravermelha corresponde aproximadamente parte do espectro

    eletromagntico situada entre as regies do visvel e das microondas. A poro de maior

  • 48

    utilidade para o visvel est entre 4000 cm-1

    e 400 cm-1

    . Embora os espectros de

    infravermelho sejam caractersticos da molcula como um todo, certos grupos de tomos do

    origem a bandas que ocorrem mais ou menos na mesma frequncia, independente da estrutura

    da molcula. justamente a presena dessas bandas caractersticas de grupos que permitem a

    obteno, atravs do exame do espectro e consulta a Tabelas, de informaes estruturais teis.

    Assim, ser atravs desse fato que nos basearemos para fazer a identificao das estruturas.

    As vibraes moleculares podem ser classificadas em deformaes axiais e

    deformaes angulares. Uma vibrao de deformao axial um movimento rtmico ao longo

    do eixo da ligao que faz com que a distncia interatmica aumente e diminua

    alternadamente.

    As vibraes de deformaes angulares correspondem a variaes ritmadas de

    ligaes que tm um tomo em comum ou o movimento de um grupo de tomo em relao ao

    resto da molcula sem que as posies relativas dos tomos do grupo se alterem.

    As principais aplicaes para essa tcnica so:

    a) Identificao da maioria de compostos orgnicos e muitos tipos de compostos

    inorgnicos;

    b) Determinao de grupos funcionais em substncias orgnicas e inorgnicas;

    c) Determinao quantitativa de compostos em misturas;

    d) Identificao de componentes de reao e estudo cintico das reaes.

    Essa tcnica de caracterizao permite analisar amostras slidas, lquidas e gases. Para

    slidos, desejvel trabalhar com cerca de 50 a 200 mg, sendo 10 g o mnimo requerido

    para se diluir de 1-3 % numa matriz transparente (como por exemplo: KBr). Para lquidos,

    usa-se geralmente na faixa de 0,5 L, e gases cerca de 50 ppm so requeridos. Essas

    quantidades so padres que podem variar dependendo do tipo do equipamento (SETTLE et

    al., 1997).

  • 49

    2.3.2 Difrao de Raios-X

    Em 1895, William Rentgen descobriu os raios-X, os quais foram definidos como

    radiaes eletromagnticas cujo comprimento de onda varia de 0,1 a 100 . A tcnica de

    Difrao de raios-X baseia-se no uso dessas radiaes de forma controlada em um

    equipamento para se obter informaes sobre as propriedades de um determinado material.

    Dentre as aplicaes dessa tcnica, pode-se citar:

    a) Determinao da estrutura cristalina e grau de cristalinidade;

    b) Identificao e anlise quantitativa de fases;

    c) Determinao de parmetros da cela unitria;

    d) Determinao da textura e tamanho dos cristalitos.

    O material pode ser analisado na forma de slidos em p, monocristais, matrizes,

    folhas e fibras. As amostras consistem em monocristais de 0,1 a 0,5 mm de lado e ps (da

    ordem de gramas). Apesar de ser bastante empregada em catlise, principalmente na

    determinao da estrutura cristalina de zelitas e peneiras moleculares, essa tcnica tambm

    possui suas limitaes, possvel destacar as seguintes:

    a) O fato de ser usada apenas em materiais cristalinos. Materiais amorfos geralmente

    no reproduzem difrao proveitosa.

    b) Picos sobrepostos podem atrasar a identificao na anlise quantitativa.

    c) Efeitos de matriz: materiais fortemente difratados podem encobrir os fracamente

    difratados.

    d) Amostras fluorescentes podem elevar a linha de difrao ou podem causar

    saturao em certos tipos de detectores.

    A Equao (2.2) e uma equao bsica da difrao (SANTOS et al., 1988) e

    apresentada como:

    n = 2dsin() (2.2)

  • 50

    Onde n a ordem de reflexo (n = {1, 2, 3,...}), o comprimento de onda, d a

    distncia interplanar e o ngulo de incidncia entre os planos reticulados. A equao (2.2)

    pode ser obtida pela anlise matemtica da Figura 2.8, que representa um plano cristalino.

    Figura 2.8: Esquema representativo para formulao da lei de Bragg.

    O princpio de obteno dos raios-X consiste em se excitar tomos ou ons no interior

    de uma fonte selada, mantida sob alto vcuo. Este tubo consiste basicamente de um filamento

    aquecido (ctodo), geralmente de tungstnio, funcionando como fonte de eltrons, e um alvo

    (nodo) que pode ser formado por diversos metais (cobre, molibdnio, cobalto, etc.). A

    aplicao de uma diferena de potencial entre o ctodo e o nodo faz com que os eltrons

    emitidos pelo filamento incandescente sejam acelerados em direo ao nodo. Quando estes

    colidem com metal do nodo ocorre a transformao da energia cintica adquirida pelos

    eltrons em calor e, em menor extenso, em raios-X. Atravs de uma pequena abertura, essa

    radiao primria deixa o tubo e segue em direo ao material a ser analisado (SOUZA et al.,

    2005)

  • 51

    Um mtodo bastante empregado para a anlise de raios-X o mtodo do p (SETTLE

    et al., 1997), o qual aplicado para materiais difceis de preparar a partir de monocristais. O

    mtodo consiste basicamente em uniformizar a amostra de modo a torn-la um p fino e

    homogneo. Quando esse p colocado no porta-amostra do equipamento, um grande

    nmero de pequenos cristalitos orientado em todas as direes possveis. Dessa forma,

    quando um feixe de raios-X atravessa o material, um nmero significante de partculas est

    orientado de tal forma que a condio de Bragg para a reflexo de cada possvel distncia

    interplanar seja obedecida Equao (2.2)

    No caso de materiais mesoporos tipo MCM-41, a identificao da fase ocorre quando

    se observa a obteno de, tipicamente, cinco picos, os quais so referentes aos planos (100),

    (110), (200), (210) e (300). Esses planos, segundo a literatura (BECK et al., 1992), so

    caractersticos de uma estrutura hexagonal, comumente encontrada em materiais do tipo

    MCM-41. Esses picos de difrao so observados em baixo ngulo (2 de 1 a 8). A Figura

    2.9 apresenta um esboo da estrutura hexagonal do MCM-41.

  • 52

    Figura 2.9: Esquema representativo da estrutura hexagonal do MCM-41.

    O parmetro de estrutura mesoporoso (ao) que representa a soma do dimetro mdio

    dos poros (dp) do material e a espessura mdia da parede de slica (wt) pode ser obtido a

    partir do valor da distncia interplanar no plano (100). A Equao (2.3) correlaciona as

    distncias interplanares no plano (100) com o valor do parmetro de estrutura mesoporosa ao

    (Beck et pal., 1992).

    0 =2(100)

    3 (2.3)

  • 53

    2.3.3 Anlise Trmica

    Atualmente, a anlise trmica definida como grupo de tcnicas por meio das quais

    uma propriedade fsica de uma substncia ou de seus produtos de reao medida em funo

    da temperatura ou tempo, enquanto essa substncia submetida a um programa de

    temperatura controlada. Para que uma tcnica trmica seja considerada termoanaltica

    necessrio, segundo a definio, envolver a medio de uma propriedade fsica, que essa seja

    expressa direta ou indiretamente em funo da temperatura, e executada sob um programa

    controlado desta varivel (MACHADO et al., 2004).

    A variao de massa realizada utilizando-se uma termobalana, que consiste na

    combinao de uma microbalana eletrnica adequada com um forno e um sistema de

    temperatura controlada, que permite a passagem contnua de uma amostra em funo da

    temperatura medida que a amostra termodinamicamente aquecida ou resfriada. As

    temperaturas do forno e da amostra so determinadas atravs de um termopar e o sensor deve

    estar localizado aproximadamente 1 a 2 mm prximo da amostra, de modo a minimizar os

    erros referentes a limitaes difusionais na transferncia de calor, neste caso mais presentes

    devido a problemas associados com conveco e conduo de calor (GONZALEZ et pal.,

    2008).

    O porta-amostra geralmente constitudo de alumnio, alumina, platina, nquel,

    quartzo, tungstnio, grafite e cobre e deve ser escolhido de acordo com a amostra a ser

    analisada e com a temperatura mxima de aquecimento aplicada amostra. A massa de

    amostra pode variar entra 10 mg at 10 g, dependendo do equipamento utilizado. A atmosfera

    que circunda a amostra pode ser controlada, possibilitando trabalhar com atmosfera esttica

    ou dinmica presso ambiente, sob presso ou a vcuo. Os gases utilizados podem ser

    inertes (nitrognio, argnio), oxidantes (oxignio) ou corrosivos (DANTAS et al., 2006).

    A utilizao de mtodos de anlise trmica permite realizar a determinao de muitas

    propriedades dos materiais, tais como: estabilidade trmica, percentual de gua fisissorvida e

    quimissorvida, pureza, pontos de ebulio, calores de transio, calores especficos,

    coeficiente de expanso linear, inflamabilidade, reaes metal-gs, caracterizao de

  • 54

    catalisadores, cristalizao, caracterizao de minerais, caracterizao de fibras, controle de

    produtos cermicos, transies do vidro, controle de qualidade de polmeros etc.

    Com todas essas aplicaes, as potencialidades da Anlise Trmica se tornam bastante

    abrangentes, compreendendo diversas tcnicas como, por exemplo: crioscopia, ebuliometria,

    calorimetria, titulaes termomtricas, anlise termoeltrica, anlise termomecnica,

    espectroscopia de refletncia dinmica.

    Os principais mtodos termogravimtricos classificam-se em dinmico, isotrmico e

    quase-isotrmico. No mtodo dinmico, a perda de massa registrada continuamente

    medida que a temperatura aumenta. No mtodo isotrmico, a temperatura medida constante,

    sendo registrada a variao da massa em funo do tempo. J no mtodo quase- isotrmico, a

    partir do momento em que comea incidir a perda de massa da amostra, a temperatura

    medida constantemente, at que a massa se estabilize novamente. Como mostra a Figura 2.10

    (DANTAS et al., 2006).

    Figura 2.10: Curvas tpicas dos principais mtodos termogravimtricos:

    (a) dinmico; (b) isotrmico e (c) quase-isotrmico.

  • 55

    A termogravimetrica tambm permite usar sistemas simultneos, dentre os quais se

    podem destacar: termogravimetria-cromatografia gs (TG-GC); termogravimetria -

    espectroscopia de massa (TG-MS); termograviemetria- cromatografia a gs- espectroscopia

    de massa (TG-GC-MS). A Tabela 2.5 mostra as principais tcnicas termoanalticas.

    Tabela 2.5: Classificao das principais tcnicas termoanalticas.

    Propriedade fsica

    medida

    Tcnica principal Abreviatura

    Massa

    Termogravimetria

    TG

    Deteco de gs desprendido EGA

    Anlise de gs desprendido EGA

    Anlise trmica por emanao ETA

    Temperatura Determinao da curva de aquecimento (*) DTA

    Anlise trmica diferencial DTA

    Entalpia Calorimetria exploratria diferencial (**) DSC

    Dimenses da amostra Termodilatometria TD

    Caractersticas mecnicas Anlise termomecnica TMA

    Anlise termomecnica dinmica DMA

    Caractersticas acsticas Termossonimetria TS

    Caractersticas pticas Termoptometria TO

    Emisso de luz Termoluminescncia TL

    Caractersticas eltricas Termoeletrometria TE

    Caractersticas

    magnticas

    Termomagnetometria TM T

    Fonte: (Silva, 2007).

    (*) Quando o programa de temperatura forno modo resfriamento, a terminologia determinao da curva de

    resfriamento.

    (**) Ocorre confuso sobre esse termo, sendo conveniente a sua separao em duas modalidades: DSC com

    compensao de potncia e DSC com fluxo de calor.

  • 56

    Na rea de catlise as tcnicas termoanalticas mais empregados so: termogravimetria

    (TG), derivada da termogravimetria (DTG), anlise trmica diferencial (DTA) e calorimetria

    exploratria diferencial (DSC). Um resumo das principais aplicaes da anlise trmica na

    rea de catlise e suas respectivas tcnicas mostrado na Tabela 2.6.

    Tabela 2.6: Principais aplicaes de anlise trmica em catlise

    Aplicao Tcnica

    Densidade dos centros cidos TG/DTG

    Estabilidade Trmica DTA

    Determinao das transies de fases no

    estado slido DTA

    Determinao da fora dos centros cidos TG/DSC

    Determinao das purezas de sais precursores

    antes para depois de fases metlicas em

    suporte

    TG/DTG

    Determinao da temperatura tima de

    calcinao para remoo dos direcionadores

    orgnicos

    TG/DTG

    Estudos cinticos de remoo de direcionador

    orgnico, bases e outros adsorbatos

    quimissorvidos.

    TG/DTG/DSC

    Estudo da remoo do coque dos poros dos

    catalisadores TG/DTG

    Fonte: (Souza, 2005).

  • 57

    2.4 CINTICA DAS REAES CATALTICAS HETEROGNEAS

    Para que um reagente gasoso possa ser convertido cataliticamente em produtos, torna-

    se necessrio que o mesmo seja transferido da fase gasosa para a superfcie do catalisador,

    onde adsorvido e reage formando um produto. Este, por sua vez, deve ser desorvido e

    transferido para a fase gasosa. A partir desse contexto, considerando um catalisador poroso, o

    processo cataltico ocorre basicamente da seguinte forma: Primeiramente, o reagente difunde

    tanto na superfcie como no interior dos poros do catalisador, aps a difuso os reagentes so

    adsorvidos nos centros ativos e a reao ocorrer na superfcie entre a espcie adsorvida. Os

    produtos formados sofrero o processo de desoro e, em seguida, so transferidos por

    difuso tanto para o exterior da partcula como para a fase gasosa (FIQUIREDO et.al., 1989).

    O entendimento das etapas do processo cataltico de fundamental importncia para a

    aplicao do modelo cintico.

    2.4.1 Estudo Cintico da Decomposio Trmica por Analise Termogravimtrica (TG)

    Muitos trabalhos em anlise trmica esto direcionados para a correlao entre o

    comportamento trmico da amostra e a cintica. A aplicao da anlise trmica em estudos da

    pirlise de leos vegetais e de combustveis fsseis tem alcanado ampla aceitao entre

    pesquisadores, devido rapidez e ao baixo custo em pequena escala, que caracterizam os

    ensaios em anlises trmicas, quando comparados aos experimentos em prottipos de

    sistemas de combusto em geral.

    Leiva et al.2006, realizaram experimento em TG e DTG com trs amostras de leos

    combustveis diferentes com diferentes razes de aquecimento 2,5; 5,0;10;15; e 20C min-1

    .

    Observaram que cada amostra apresenta um perfil de curvas TG/DTG diferente, contudo, para

    todas elas. Trs regies distintas foram identificadas, a primeira regio denominada

    oxidao baixa temperatura, LTO at 390C. A segunda transio ocorre entre 390 e 490 C

    e denominada depsito de combustvel, FD. A ltima regio encontra-se entre 490 e 600 C

    e chamada de oxidao alta temperatura, HTO. Com a finalidade de comparar os

    resultados da determinao dos parmetros cinticos, foram escolhidos dois modelos. O

    modelo de Fly-Wall e o de Vyazovikin e a regio escolhida para a determinao da energia de

  • 58

    ativao foi a correspondente ao processo de oxidao baixa temperatura (LTO), sendo este

    caracterizado por um evento exotrmico. Observou-se que ambos os mtodos so adequados

    para a determinao da energia de ativao, visto que os valores deste parmetro foram muito

    prximos.

    Sinfronio et.al., (2006), com o objetivo de verificar a estabilidade trmica dos

    polmeros, realizaram ensaios termogravimtricos na faixa de 30 a 900C, em diferentes taxas

    de aquecimentos, sob atmosfera dinmica de nitrognio (N2). O processo de degradao

    ocorreu entre as temperaturas de 387 519 e 398 518 C, para o Polietileno de baixa

    densidade (PEBD) e Polietileno de alta densidade (PEAD), respectivamente, sendo atingida a

    mxima converso nas temperaturas de 490 e 492C. Com o intuito de avaliar com mxima

    preciso a degradao trmica dos polmeros frente aos diversos catalisadores, foi substituda

    a atmosfera dinmica de nitrognio (N2), pela de hlio (He), uma vez que, fragmentos

    poderiam ser ocultos pelo gs de purga. Nos sistemas polmero/catalisador com diferentes

    razes de Si/Al = (26, 119 e 13), eles observaram que as temperaturas iniciais de

    decomposio foram deslocadas em direo a valores menores que aqueles obtidos no

    craqueamento polimrico, passando de 397C para 366C [H-Al-MCM-41(26)], 376C [H-

    Al-MCM-41(119)] e 353C [H-ZSM-5/MCM-41(13)].

    Tal modificao na temperatura de ativao tambm foi observada nas curvas

    termogravimtricas derivadas, nas quais a temperatura de mxima converso do polmero

    puro reduz de 488C para 430, 449, 414C, para a sequncia de catalisadores acima

    mencionada. Com base nos experimentos, Sinfronio conclui que os catalisadores H-ZSM-5,

    H-Al-MCM41 e H-ZSM-5/MCM-41, demonstraram elevado potencial na reduo das

    temperaturas de converso, reduo do tempo de craqueamento e estreitamento da

    distribuio dos produtos gasosos formados, para os PEBD e PEAD. Os modelos cintico

    utilizados para avaliar os parmetros cinticos do PEBD e P