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LEI N 4898/65 - Lei de Abuso de Autoridade. LEI N 9455/97 - Lei de Tortura. Roberto DaMatta - A Casa & a rua - Espao, cidadania, mulher e morte no Brasil.Editora Rocco - 5 Edio. GRECO, ROGERIO . Curso de Direito Penal - Volume 1 - Parte Geral - 13 Edio Ed. Impetus. 2011 FOUCAULT, MICHEL - A Verdade e as Formas Jurdicas. 2 Edio - Ed. Trarepa Ltda. SOARES, Lus Eduardo. Juventude e violncia no Brasil contemporneo. In: NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo. Juventude e sociedade: trabalho, educao, cultura e participao. So Paulo: Editora Fundao Perseu Abramo, 2003. VOLPI, MRIO - O Adolescente e o Ato Infracional; Editora Cortez Editora. 1997. ZIMERMAN, David E. Grupos espontneos: as turmas e gangues de adolescentes. In: ZIMERMAN, D. E. e OSORIO, L.C. e colaboradores. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1997RESUMOS DOS LIVROS

A Verdade e as Formas JurdicasMichel Foucault um nome muito conhecido nos cursos superiores de Direito e Sociologia. Foi recentemente citado no filme Tropa de Elite em uma cena de debate acadmico. Foucault conhecido porque polmico. Suas concepes sobre o poder, o saber e o sujeito vo de encontro a alguns dos maiores pensadores da humanidade. Foucault foi professor de Histria dos Sistemas de Pensamento em Paris at 1984, ano em que morreu em decorrncia da AIDS. O livro A verdade e as formas jurdicas traz o teor de cinco conferncias proferidas por Foucault na PUC do Rio de Janeiro em 1973. Nessas conferncias so antecipados os desenvolvimentos contidos no livro Vigiar e Punir (1975) e pode-se observar a demonstrao do vnculo entre os sistemas de verdade. Pode-se dizer que um livro originalmente em portugus de um escritor francs. O livro dele, mas no foi escrito por ele. Primeira conferncia - Foucault utiliza-se de alguns textos de Nietzsche para difereciar o saber e o conhecimento. Segundo ele, origem difere de inveno. E tudo o que foi inventado pelo homem tem como objetivo alguma relao de poder. A dominao de uns sobre os outros. Estas

invenes incluem o conhecimento, a religio, os ideais, etc. Aquilo que revelar mais nitidamente as relaes de poder o que tende a estar mais prximo da verdade. Segundo Foucault, as decises jurdicas penais se encaixam nesta categoria, pois mostram o que uma sociedade considerava como certo e errado em determinada poca. Segunda conferncia - O mito de dipo-Rei analisado sobre uma nova tica, no para interpretar a psiqu humana, mas para demonstrar as formas jurdicas gregas vigentes na poca em que foi escrito. O mito dividido em trs partes de duas metades, onde fica claro como o conhecimento seria interpretado com o tempo: primeiro ele era repassado pelos deuses (orculo de Delfos e advinho Tirsias) que previam o futuro, depois os soberanos (dipo e Jocasta) ditavam o que sabiam, e por ltimo o povo (o pastor e o escravo) testemunhariam sobre fatos que haviam presenciado. Move-se o conhecimento de algo que ainda no ocorrera para algo que j aconteceu, da profecia para o testemunho, dos deuses para os reis e depois para o povo. Terceira conferncia - Na Idade Mdia, o soberano passa de um mero observador de procedimentos nas contendas particulares para representante da vtima. O procurador assume o papel da parte ofendida, a ofensa contra a moral passa a ser crime contra o Estado, e a reparao passa a ser exigida pelo rei. Os litgios privados tornam-se pblicos. Surge o poder judicirio, para assegurar ao rei e classe dominante a continuidade de seu domnio. Quarta conferncia - A reorganizao nos sculos XVIII e XIX do sistema penal no seguiu as teorias dos pensadores da poca, como Beccaria, Bertham e Brissot, mas adotou o que o sistema econmico indicava como mais lucrativo. Os mecanismos penais j no se importam mais com o fato criminoso, mas em controlar a conduta antes e aps o delito. E esses mecanismos de controle passam a ser utilizados na indstria, educao, religio, etc. Quinta conferncia - O controle dos que esto no poder fica sobre a fora produtiva do indivduo. Ele submete seu tempo, sua vida, ao seu patro. O dinheiro que ganha tambm parcialmente controlado pelas caixas econmicas e planos de previdncia obrigatrios. Controla-se assim tambm onde e quando deve-se gastar o seu dinheiro. O controle sobre o tempo, o dinheiro, a vida das massas condicionado pelo controle do conhecimento. Apesar de no concordar com todas as teses de Foucault - como a de que os polticos esto mais prximos da verdade que os filsofos, por exemplo -

tenho de admitir que o que ele escreve altamente estimulante a novas idias e pontos-de-vista. Vale a pena ler mesmo que voc no esteja na faculdade. Quem quiser ler um resumo mais extenso que fiz do livro, baixe ele em pdf clicando aqui .

Rgia Cristina Oliveira Doutoranda em Sociologia pela FFLCH - USP Regina Novaes e Paulo Vannuchi (orgs.), Juventude e sociedade: trabalho, educao, cultura e participao. So Paulo, Fundao Perseu Abramo/Instituto Cidadania, 2004, 304 pp.Juventude e sociedade um livro composto pela reunio de artigos voltados para a compreenso e a ampliao de temas que dizem respeito juventude brasileira. So artigos escritos por importantes estudiosos de diferentes reas do conhecimento - sociologia, antropologia, filosofia, cincia poltica, educao, economia, psicologia e psiquiatria -, com o intuito de discutir questes inscritas nos campos da educao, do trabalho, da famlia, dos direitos humanos, bem como da violncia, da ecologia e das polticas pblicas. Essa reunio de artigos amplia e diversifica o debate sobre os jovens brasileiros, uma vez que diferentes experincias, com pesquisas especficas ou com reflexes que permitem a sua incluso, contribuem para salientar a importncia desses indivduos e das questes que lhes so pertinentes, no cenrio nacional, a partir de suas urgncias, necessidades, modos de ser e de estar no mundo, de suas possibilidades e potencialidades para transform-lo. Nesse sentido, as diferentes especialidades do conhecimento e as distintas abordagens, experincias e reflexes, alm das variadas proposies de caminhos para a incluso pessoal e social dos jovens brasileiros, complementam-se e contribuem para a ampliao de temas referentes questo juvenil e para a possibilidade aberta ao leitor de formular novas questes e reflexes. Nesse conjunto de artigos, h trabalhos que apresentam um teor mais acadmico, enquanto outros so informais em sua apresentao, ainda que persista a capacidade crtica na exposio das idias; alguns so direcionados apresentao de propostas, enquanto outros tm um carter mais investigativo. De qualquer maneira, todos esto orientados para o entendimento da questo da juventude a partir de sua diversidade, em oposio sua homogeneizao, e todos confluem tambm com relao importncia do protagonismo juvenil nas diferentes questes apresentadas.

Outros entes sociais so tambm evocados quando se trata da questo do protagonismo na resoluo dos problemas e urgncias que se fazem presentes, como a famlia, os rgos governamentais e no-governamentais, os movimentos sociais e a prpria sociedade civil. O livro como um todo um convite agradvel leitura e reflexo sobre questes que dizem respeito ao universo juvenil, podendo ser manuseado de acordo com o interesse do leitor em um dado tema especfico, sem que haja necessidade da obedincia a uma determinada ordem. Assim, quando o assunto de interesse for a questo da violncia relacionada juventude, o leitor pode comear sua incurso pelo texto do antroplogo Luiz Eduardo Soares. Com seu foco de ateno nos jovens das camadas populares, o autor mostra-nos que a violncia no Brasil atinge principalmente os jovens pobres e negros, do sexo masculino, na faixa etria entre 15 e 24 anos, por meio do recrutamento para o trfico de drogas e armas. Em um contexto marcado pela invisibilidade desses indivduos na sociedade, o ingresso no crime acaba funcionando como passaporte para o aparecimento do sujeito, dotado agora de auto-estima, em virtude da conquista de certo poder que se impe por meio do temor dos outros, e da possibilidade de consumo de objetos que dizem respeito aos smbolos de certo grupo juvenil. Se o crime oferece vantagens a jovens sem perspectivas, sem esperanas e sem adolescncia, faz-se necessria a criao de condies para que ao menos as mesmas vantagens de recuperao da auto-estima, de sada da invisibilidade e de possibilidade de consumo possam ser oferecidas no lado de c. Esse o desafio apresentado pelo autor, que indica alguns caminhos, a comear pelas polticas de segurana pblica para a populao jovem, que no deve mais se afirmar pelo avesso. Rubem Csar Fernandes, antroplogo, tambm trata da questo da violncia relacionada juventude. Partindo de sua experincia como diretor-executivo do Viva Rio, o autor traa um panorama da situao atual das regies mais vulnerveis violncia no pas - os bairros pobres -, levantando algumas reflexes e apontando possibilidades de sada de uma situao que vitima especialmente os jovens de sexo masculino entre 15 e 24 anos de idade, com quatro a sete anos de estudo. Um dos caminhos apontados pelo autor refere-se ao sistema educacional, mais precisamente necessidade de melhoria da qualidade do ensino pblico, o que resultaria em maior atratividade para os jovens e representaria, ao mesmo tempo, o enfraquecimento das alternativas desviantes e o fortalecimento da populao pobre em seu poder de resistir violncia. Segundo o autor, o segmento mais exposto aos riscos da violncia formado pelos adolescentes e jovens que esto fora da escola. A modificao desse quadro passa por iniciativas que promovam a incluso educacional, a exemplo do que ocorre no Viva Rio, no Sesi e na Fundao Ayrton Senna. O autor tambm aponta alguns desafios com relao aos jovens que j se tornaram protagonistas da violncia, destacando a necessidade do reconhecimento desses indivduos na formulao de polticas pblicas, o estabelecimento de limites, com autoridade, a conscientizao desses indivduos e a abertura de alternativas. Passando para o campo dos direitos humanos, Maria Victoria Benevides ir estabelecer relaes entre poltica, direitos humanos e juventude, no sentido de tambm propor o envolvimento desses indivduos na ao coletiva e de

solidariedade, possvel somente pela recusa da postura do "salve-se quem puder". A autora recupera um pouco da histria das lutas pelos direitos humanos e chega ao reconhecimento, hoje, da dignidade intrnseca de todo ser humano e da abolio das fronteiras nacionais na reivindicao, para todos, do que foi consagrado na Revoluo Francesa: liberdade, igualdade e solidariedade. O texto apresenta os conceitos de democracia, direitos humanos e direitos do cidado a partir de uma abordagem histrica, referida realidade nacional, no intuito de dirigir-se aos jovens brasileiros por meio de referenciais para a ao coletiva, para a presso sobre os poderes pblicos pela garantia dos direitos sociais, bem como para a reflexo a respeito da responsabilidade de todos na construo do bem comum, mediante a ao poltica dos cidados. No campo da poltica, o texto de Renato Janine Ribeiro traz reflexes sobre a perda de prestgio dessa dimenso e, ao mesmo tempo, a valorizao da juventude nos dias atuais. Por meio de um apanhado histrico, o autor reconstri a maneira como a "poltica" foi concebida desde a modernidade at os dias de hoje. Segundo sua anlise, a principal razo da falta de interesse atual pela poltica que, especialmente nos pases mais pobres e nas democracias recentes, os regimes democrticos no obtiveram xito no quesito promoo social, no conseguindo resolver a questo da desigualdade social, deixada pelos regimes ditatoriais, o que repercute em uma imagem negativa da poltica, vista como rea desenergizada, que no consegue cumprir o que prometeu. Para o autor, as fontes de energia capazes de transformar a situao atual vm sobretudo dos movimentos sociais e da indignao tica. Nesse sentido, ganham fora: as organizaes no-governamentais, em virtude da ao voluntria que promovem em benefcio dos mais pobres, fazendo com que obtenham cada vez mais a legitimidade das pessoas; a juventude e, com ela, as possibilidades de surgimento de algo novo; e a ecologia, um dos destaques dessa indignao moral, que est levando redefinio dos direitos humanos. A questo ecolgica tratada por Isabel Cristina Carvalho, que a entende como um campo bastante promissor para a atuao dos jovens na esfera pblica, tanto na poltica como na vida profissional, devido ao aparecimento de novas reas de profissionalizao ambiental, que representam novos espaos de insero para o jovem brasileiro diante do esgotamento das carreiras tradicionais. Como percebe a autora, cada vez mais o campo ambiental vem sendo institudo na esfera pblica como bem comum, alcanando lugar de destaque na discusso a respeito do futuro da comunidade humana, o que faz com que sejam promovidas constantes negociaes entre as esferas pblica e privada, permitindo que, por essa via, os jovens possam adquirir, de forma significativa, experincia poltica. A preocupao com o meio ambiente surge, assim, como novo espao de participao poltica dos jovens brasileiros, com o aparecimento de um sujeito ecolgico. Trata-se de uma transformao no apenas na forma de engajamento poltico, mas tambm na maneira de viver e compreender a "poltica". O contexto de crise poltica e as possibilidades de sada, de participao e de transformao dos e pelos jovens brasileiros concorre com a discusso em torno da percepo de como se d a insero social desses indivduos na sociedade de mercado. Jurandir Freire Costa, psicanalista, desenvolve seu texto fazendo referncia a essa situao, mostrando ao leitor como o comportamento de muitos jovens, marcado pelo consumo desenfreado e aliado indiferena em relao aos demais, expressa a moral contempornea. Trata-se de um novo modo de vida caracterizado pela necessidade de compra contnua de novos produtos, pela

ateno relativa ao sucesso econmico, pelo cuidado com a aparncia fsica e com o prazer das sensaes. A adeso dos jovens a esse comportamento de consumo coercitivo no resultado apenas do apelo publicitrio, mas da crena em certos signos relacionados distino social. Ao mesmo tempo, h um grande aumento no valor dado s sensaes fsicas prazerosas, pensadas como ponto de apoio na constituio das identidades. Juntamente com a moral do prazer, a nova moral do trabalho d origem demanda imaginria por objetos descartveis e, independentemente da renda que o indivduo possua, caracteriza uma nova postura diante da vida, um descompromisso para consigo e para com os outros. A questo do consumismo tambm objeto de ateno da psicanalista Maria Rita Khel. Em seu texto, a autora comea discutindo o conceito de juventude, mostrando, por um lado, sua elasticidade e, por outro, a relao hoje estabelecida entre essa dimenso da vida e o consumo. O jovem, representante de uma importante fatia do mercado, visto como slogan publicitrio, imagem de uma certa elite vitoriosa que atinge tambm os chamados adultos. Independentemente da classe social, os adolescentes identificam-se com o ideal publicitrio do jovem sensual, belo(a) e livre, favorecendo um aumento da violncia entre aqueles que esto excludos da possibilidade de compra. Uma das conseqncias da idealizao da juventude aliada ao consumo, que tambm simboliza um rito de passagem em nossa sociedade, a falta de um referencial alternativo para a ao, o que para muitos significa a entrada no universo das drogas. Nesse contexto, muitos adolescentes de classe mdia identificam-se com os marginalizados - com a cultura hip-hop. Por um lado, isso representa uma tentativa de recusa da cultura do consumismo e uma busca de sentido na esttica dos excludos. Por outro, h sempre o perigo da identificao com a violncia. Outro ponto destacado pela autora diz respeito contradio hoje existente entre a idealizao da adolescncia como fase urea da liberdade e de uma menor responsabilidade e a valorizao entre os jovens da gravidez precoce e da maternidade. Numa sociedade de valores individualistas, a concepo de um filho na adolescncia pode ser entendida como um apelo conservador e sem esperana dos jovens tanto para a famlia como para a sociedade. O tema da famlia objeto de ateno da antroploga Cynthia Andersen Sarti. Em seu artigo, ela comea por demonstrar a dificuldade que envolve a discusso desse assunto, devido tendncia naturalizao das relaes familiares com base na identificao da famlia com as figuras biolgicas - pai, me e filhos. O resultado a abertura de espao para discursos normativos, que definem o "anormal" ou o "patolgico", bases da desqualificao sofrida principalmente pelos jovens e familiares pertencentes aos estratos sociais mais baixos, que no possuem um "lugar ou uma autoridade para falar". Nesse sentido, e buscando afastar-se dessas armadilhas, a autora prope pensar a famlia como uma categoria nativa, ou seja, demarcada simbolicamente por um discurso sobre si prpria. Assim, dentro de cada cultura, cada famlia constri sua prpria histria - criando sua identidade - e incorpora elementos exteriores, ao elaborar os discursos sobre si, construindo-se, ento, dialeticamente. Esse discurso internalizado e ressignificado pelos indivduos que tm, na famlia, o espao privilegiado para elaborao e significao das primeiras experincias vividas. Ao reelaborarem suas experincias, os indivduos "crescem". Esse processo de crescimento ao mesmo tempo biolgico e simblico.

A famlia, um universo de relaes recprocas e complementares, tem no jovem a figura privilegiada que introduz "o outro necessrio", por meio da insero de novos referenciais, representados pelos "vrios grupos de pares" com os quais convive. De qualquer maneira, para os jovens, a famlia uma esfera de suma importncia, em virtude de se firmar como espao de afetividade e tambm de conflitos. Ela representa o "eixo de referncias simblicas". No que diz respeito localizao dos jovens no interior da famlia, a autora desenvolve a idia de que, em nossa sociedade, o adolescente no tem um lugar social definido e, em virtude disso, ocupa socialmente o que seria uma "projeo do mundo adulto", dada pelas expectativas familiares. Outra forma destacada de projeo refere-se tendncia de encontrar nele o "indesejvel na famlia", como no caso da questo das drogas. O problema das drogas satanizado pela mesma lgica que faz com que os valores familiares sejam "sacralizados". A autora ressalta que as projees dos problemas familiares sobre os jovens leva idealizao do mundo familiar, ao mesmo tempo em que torna difcil pensar o conflito como algo inerente s relaes nessa esfera. Focalizando os jovens das camadas populares, Gaudncio Frigotto desenvolve seu texto com a preocupao de levantar a discusso a respeito da vulnerabilidade desses indivduos no que se refere escolarizao e entrada precoce no mundo do trabalho. Ao mesmo tempo, o autor faz referncia aos numerosos jovens que, no campo, trabalham com a famlia e queles que pertencem ao grupo de trabalhadores sem terra. Todos esses jovens vivenciam situaes que os expem vulnerabilidades na relao tanto com a escola como com o trabalho, justificando a preocupao existente no mbito das polticas pblicas. O autor trabalha com dados estatsticos do IBGE para apoiar suas reflexes no que se refere classificao da populao jovem do Brasil por cor e raa, mostrando haver, nos quesitos escola e trabalho, uma ampla dominncia de indivduos negros em situao de desvantagem em relao aos brancos que pertencem mesma faixa etria. Na esfera do trabalho, essa desvantagem refere-se tanto necessidade de insero precoce como qualidade das ocupaes e ao nvel de remunerao oferecidos. No que diz respeito escola, h um maior nmero de jovens negros, em relao aos brancos, que no completaram o ensino mdio, e uma reduzida porcentagem de negros que chegam universidade. Frigotto ressalta que a questo principal no est relacionada ao carter individual, nem, a princpio, ao gnero, cor ou raa, mas classe social, inscrita em uma sociedade de estrutura capitalista, com profundas desigualdades e contradies, com destaque para a realidade brasileira. Sem deixar de considerar as particularidades dos diferentes grupos de jovens, o autor prope a criao de polticas pblicas que sejam capazes de retirar todos os jovens e crianas do mercado de trabalho - formal e informal - at que atinjam a idade legal de concluso do ensino mdio, que deve ser pensado como educao bsica, tendo por eixo central a articulao entre "conhecimento, cultura e trabalho". Para aqueles que j esto empregados, a proposta criar condies que permitam a escolarizao mediante bolsas de estudo. Ao mesmo tempo, o autor defende a instituio de uma renda mnima para aqueles que esto fora do mercado, com o estabelecimento tambm de uma poltica do primeiro emprego. A questo da juventude relacionada ao trabalho tambm objeto de ateno do economista Mrcio Pochmann. Para dar incio s questes que o preocupam, o autor recupera a forma como o trabalho dos jovens vem sendo pensada ao longo do tempo, evidenciando a importncia do avano de polticas pblicas destinadas aofinanciamento da inatividade dos jovens mediante bolsas de estudo, como

medida de elevao da escolaridade e, conseqentemente, das chances de disputa no mercado de trabalho. Nesse artigo, o autor apresenta elementos para a reflexo a respeito das perspectivas da atual condio juvenil em face da complexa passagem para a vida adulta, ressaltando, por um lado, a elevao da expectativa de vida e, por outro, a questo da ausncia de perspectivas em relao ao emprego e mobilidade social, o que tem levado boa parte dos jovens a migrar para o exterior e, aqueles com menor poder aquisitivo, a compor o crescente quadro de violncia que assola o pas. Alm disso, o autor tambm traz informaes sobre outros pases, buscando estabelecer comparaes com a situao brasileira no que diz respeito condio juvenil. Temas como a relevncia da unidade familiar na vida dos jovens diante das dificuldades do desemprego e de independncia econmica; o aumento do tempo de preparao para o ingresso no mercado de trabalho, com destaque para o papel da educao nessa sociedade do conhecimento; e as transformaes e as crises no universo do trabalho contribuem para o desenvolvimento da discusso em torno da importncia da existncia de medidas que assegurem a postergao do ingresso do jovem no mercado de trabalho, no sentido de possibilitar a ampliao da escolarizao e sua melhor preparao. O Programa Bolsa Trabalho citado como uma experincia bem-sucedida nesse sentido, alertando para o fato de que somente o desenvolvimento de um programa nacional de transferncia de renda, financiador da inatividade, pode enfrentar esse desafio, que dever priorizar a educao. O enfrentamento das novas exigncias para o ingresso no mundo do trabalho retomado por Antnio Carlos Gomes Costa, que indica algumas iniciativas destinadas ao estabelecimento de uma nova postura diante desse universo, relacionada com o que denomina de "educao para valores". Entre essas iniciativas, ressalta a abertura de micro e pequenos negcios, o trabalho cooperativo e associativo, o auto-emprego, o desenvolvimento da ocupao rural no-agrcola feito por meio de pequenas propriedades e o trabalho remunerado em organizaes do terceiro setor. O autor prope a "educao para o empreendedorismo" como forma de preparao das novas geraes para o mercado de trabalho, tendo em vista o fato de que o emprego vem deixando de ser a nica forma de ingresso nesse mercado. De seu ponto de vista, a idia de empreendedorismo est relacionada ao desenvolvimento de uma atitude proativa e construtiva diante do trabalho, mas tambm da vida. Nesse sentido, trata-se de pensar em uma abordagem que esteja voltada para trs dimenses do desenvolvimento social do jovem no pas: "pessoal", de formao do jovem autnomo; "social", de formao do jovem solidrio; e "produtiva", de desenvolvimento do jovem competente. Essas dimenses esto circunscritas ao processo de transio do conceito de emprego para o de empregabilidade, que norteia a educao para e no trabalho. Para o entendimento de questes relacionadas especificamente ao tema das polticas pblicas para a juventude, o leitor pode encontrar no artigo da sociloga Mary Garcia Castro informaes atuais sobre iniciativas no apenas dos poderes Executivo e Legislativo, mas tambm da sociedade civil. A autora desenvolve tambm alguns questionamentos em torno das responsabilidades de cada setor envolvido, destacando o papel do Estado na implementao e na administrao de polticas pblicas para a juventude, que estejam acordadas pela sociedade civil. Ao mesmo tempo, ela recupera o debate entre polticas universais e focalizadas,

ressaltando, posteriormente, a questo das juventudes e a importncia de aes afirmativas de raa, gnero e gerao, e advogando a necessidade de que estejam integradas na tarefa de formular propostas. Assim, defende, no basta que existam aes afirmativas. necessrio que as polticas estejam combinadas. A autora tambm est preocupada com a discusso da necessidade de considerar as distintas identidades na construo de aes afirmativas que contemplem as singularidades de cada grupo - de mulheres, negros ou jovens -, todas pautadas na participao dos indivduos. No que se refere aos jovens, ela argumenta que as polticas devem ser desenvolvidas de/para/com as juventudes, o que revela seu posicionamento em relao ao tema, ao considerar esses indivduos como sujeitos e atores dessas polticas e, ento, de seus direitos. Castro tambm destaca a questo da diversidade juvenil - e da necessidade de existncia do reconhecimento, pelo Estado, das diferentes linguagens na implementao e garantia da educao e de um espao de autonomia para os jovens. A equao entre polticas pblicas e juventude tambm discutida no texto da sociloga Amlia Cohn. Ao analisar essa questo, a autora recupera a forma como o pas vem desenhando seu posicionamento em relao s polticas pblicas e mostra a existncia de uma tradio, no Brasil, de contemplao de dois pblicos-alvos: aqueles que pagam e aqueles que no pagam. O segundo subdivide-se em grupos formados por crianas, gestantes, desvalidos e, recentemente, idosos; os jovens ficam fora dessa proteo. A juventude, como um segmento em transio - da infncia para a vida adulta - no tem lugar no sistema de proteo social brasileiro, estruturado com base no trabalho assalariado do mercado formal; seu espao se reduz a programas pontuais, os quais esto geralmente dissociados de uma concepo mais ampla que alicerce um sistema de seguridade social. A autora recupera as caractersticas histricas do sistema de proteo social no Brasil, que se traduz em polticas sociais fragmentadas e que vm atingindo, de forma diferente, distintos grupos sociais, em detrimento de um sistema amplo e igualitrio, independentemente da situao em que cada um possa se encontrar no mercado de trabalho. Tendo em vista que, hoje, as formas de insero social so mltiplas e diversificadas, e no esto totalmente institucionalizadas, Cohn prope o enfrentamento do desafio de construo de polticas pblicas que levem em conta outras formas possveis de insero social alm daquela viabilizada pelo mercado de trabalho - como classicamente concebido -, uma vez que este potencializa a marginalizao da populao jovem. Outro desafio a ser enfrentado diz respeito ao reconhecimento das especificidades das identidades sociais dos diferentes segmentos juvenis sem que isso represente uma segmentao das polticas sociais. Por fim, ser importante buscar a articulao das polticas econmicas com as polticas sociais, tornando-as artfices de uma nova relao entre a sociedade e o Estado. A referncia a esses artigos deixa claro que o livro ora apresentado no s abre espao para a reflexo sobre os diversos temas no campo da juventude, mas tambm demonstra a existncia de possibilidades reais de mudanas das condies juvenis, por meio da participao dos jovens, do governo, dos movimentos sociais e da sociedade civil. Ao mesmo tempo, denota a preocupao dos autores em buscar caminhos que viabilizem esse empreendimento, seja pelo exerccio da pesquisa e da reflexo nas diferentes reas do conhecimento, seja pela experincia compartilhada do envolvimento pessoal de cada autor(a) em projetos e polticas em curso que contemplam o tema da juventude.

ADOLESCENTE AUTOR DE ATO INFRACIONAL E AS MEDIDAS SCIO-EDUCATIVAS: PENALIDADE OU REINTEGRAO SOCIAL? Carolina Bonilha SCARELLI 1 Juliana Santos NESPOLI 2 Juliene Aglio de OLIVEIRA 3RESUMO: O presente artigo tem como finalidade o aprimoramento intelectual no que se refere ao adolescente, o ato infracional e suas garantias e deveres impostos na legislao. fundamental a compreenso desta questo de tamanha abrangncia obscurada atrs da falta de viso critica, tornando a sociedade em geral inconsciente diante dos fatos. O adolescente envolvido em um ato infracional uma realidade e temos que possuir conhecimentos para o enfrentamento desta situao, na perspectiva fazer a tentativa de transformao deste paradoxo. Trataremos toda a visualizao do adolescente vitima e vitimizador, dando grande enfoque percepo de que infrator, conseqentemente vitimizador, tambm vitima das negligncias com relao aos seus direitos. Por sua vez, essas negligncias tornam-se uma das principais razes que leva o adolescente inflao, sem desconsiderar fatores como a mdia, condies desfavorveis no convvio familiar e comunitrio influenciando no desenvolvimento moral e intelectual do individuo. Ademais, apresentado que a sociedade, na mesma medida que contribui para o ato demonstrando sua falta de compromisso com a garantia dos direitos ao adolescente, possui uma viso preconceituosa prejudicando a reintegrao do infrator. Nesse contexto, o adolescente possui um amparo legislativo: o

Estatuto da Criana e do Adolescente que dispe seus direitos e deveres aqui ele discutido coadunado evoluo histrica da lei nesta rea. As medidas scio-educativa dispostas neste Estatuto aplicadas como penalidades so apresentadas e discutidas considerando o trabalho do Servio Social nas mesmas. PALAVRA-CHAVE: Adolescente; ato infracional; ECA. O ADOLESCENTE E O ATO INFRACIONAL imprescindvel visualizar o adolescente na perspectiva do direito, ou seja, possui direitos e deveres. Como direito fundamental, o Estatuto da Criana e 1 Discente do 3ano do Curso de Servio Social das Faculdades Integradas Antnio Eufrsio de Toledo de Presidente Prudente. ([email protected]). 2 Discente do 3ano do Curso de Servio Social das Faculdades Integradas Antnio Eufrsio de Toledo de Presidente Prudente. ([email protected]). 3 Orientador: Docente do curso de Servio Social das Faculdades Integradas Antnio Eufrsio de Toledo de Presidente Prudente. ([email protected]). do Adolescente define em seu artigo 4que dever da famlia, da comunidade, da sociedade, e do Estado, assegurar com absoluta prioridade, a efetivao dos direitos referentes a vida, a educao, a sade, ao esporte, ao lazer, a dignidade, a profissionalizao, a cultura, ao respeito, a liberdade e a convivncia familiar e comunitria. O grande desafio nosso. Crianas para se desenvolverem necessitam-se sentir amadas desde o nascimento (ou at mais), necessitam de apoio de incentivo, de reconhecimento, de carinho, de autoridade sem autoritarismo, de limites bem estabelecidos, de pais seguros e firmes nas suas decises, mas afetuosos ate onde seus prprios limites permitem. De toda forma crianas sempre tero problemas ( e ainda precisaro de leis para garantir at seus direitos de serem diferentes). E os adultos? De repente os pais e a sociedade se do conta que seus filhos cresceram e tm problemas srios e diferentes daqueles que eles conheciam. Mais ser que imaginamos que a vida de um adolescente fruto de toda uma infncia, bem cuidado ou descuidada?

Quase sempre falhamos no trato dos grandes problemas da juventude como toxicomanias, violncia contra a sociedade e contra si prprios problemas psicolgicos e psiquitricos srios (to pouco enfocados nas polticas publicas), porque perdeu-se o trem da historia. Perdeu-se o momento certo de atuar,deixou-se de previnir e de repente nos vemos diante de situaes complexas para as quais no temos solues. (MONTEIRO FILHO,2000, P.1) Podemos ressaltar que atualmente o adolescente encontra-se na condio de vitima, pois perspcuo a negligncia com relao a esse artigo, expondo-o precarizao dos seus direitos. Segundo especificado por Rangel e Cristo (2005, p.1): No basta, de fato, ao ser humano, viver. preciso que viva com dignidade, a salvo de toda forma de presso, e que tenha acesso aos bens da vida que lhe assegurem sade, bem estar e o plieno desenvolvimento de suas potencialidades. Mas, de certa forma, existe o descaso do Estado em relao a execuo desses direitos e da sociedade civil em lutar pela efetivao na integra desses direitos constitucionalmente garantidos. Um dos fatores que tambm contribuem para a no legitimao do artigo acima citado o aumento da desigualdade social que coloca o adolescente a merc da violncia, da m distribuio de renda, educao e sade de m qualidade, a falta de profissionalizao e entre outros fatores que os fazem vitimas da excluso social. O inicio da delinqncia muitas vezes se explica na violncia social, na precarizao das condies mnimas de desenvolvimento e sobrevivncia. RAZES QUE LEVAM O ADOLESCENTE AO ATO INFRACIONAL Os motivos que levam o adolescente a cometer ato infracional vo desde a influncia dos amigos, ao uso de drogas, e ate mesmo a pobreza. Analisa PAULA (1989, p. 146): A famlia foi colocada como a grande orquestradora da marginalidade, eis que os pais ou responsveis so considerados como causadores da situao irregular de seus filhos ou pupilos, seja ela concebida como carncia de meios indispensveis subsistncia, abandono material e ate mesmo a prtica de infrao penal. Podemos enfatizar que alm dessas situaes, existem outros problemas que podem ser averiguados, sendo claro que grande porcentagem dos

adolescentes em conflito com a lei possuem um histrico de vida semelhante, ou seja, encontram-se em ncleos familiares disfuncionais, com pais alcolatras, desempregados, vitimas das injustias sociais. "o desconhecimento do ECA, bem como a resistncia de alguns setores da sociedade brasileira sua implantao, tem levado a uma viso distorcida dos avanos dessa lei no que concerne a proteo integral a criana e adolescentes. Assim, acusa-se o ECA de no prever medidas que caibam a prtica de atos infracionais, estimulando o aumento da delinqncia infanto - juvenil. (Volpi. 1997, pags.62 e 63.) indubitvel que, o adolescente sendo vitimizador tambm vitima da sociedade e no agente de atitudes fruto da sua prpria personalidade.Como cita Volpi(1999,p.7),a pratica do ato infracional no incorporado como inerente a sua identidade, mas vista como uma circunstncia de vida que pode ser modificada,pois o adolescente no nasce infrator, ele se produz infrator e assim sendo, h possibilidade de modificao dessa realidade que construda historicamente, levando em considerao que, quando criana seus direitos foram-lhe abstrados e conforme vai crescendo e tornando-se adolescentes percebe que no sofreu apenas carncias materiais, mais tambm afetivas; falta de amor, carinho, respeito, ateno, que so itens de grande importncia para a formao psicolgica e moral de um individuo e se o ambiente em que vive no for favorvel ao seu desenvolvimento, provavelmente se envolvera com a criminalidade fermentada pela excluso e marginalidade. No dizer de Monteiro Filho (2000,p.1) Geralmente este adolescente rotulado de infratore considerado um perigo para a sociedade, devendo pagar pelo mal que cometera. Isto nos mostra que os deveres e obrigaes deste adolescentes vem logo tona no pensamento das pessoas e seus direitos quase que esquecidos.Por trs de toda inflao existe uma pessoa que sofreu e sofre influncia do meio que vive.

Esse meio pode ser tanto seu convvio familiar com carncias materiais e afetivas, como tambm o meio no qual passa a viver na busca em suprir essas carncias: a rua, tentando adquiri-los por praticas ilcitas. Normalmente quando ele chega rua nem sempre de fato um adolescente autor de ato infracional, entretanto, ao se envolver com aqueles que j se encontram nessa situao de marginalidade, influenciados comeam a cometer delitos. Outra questo intimamente ligada ao ato infracional o uso e a busca das drogas, pois para possu-las e no tendo condies para tal, pratica roubos, furtos para conseguir dinheiro e obtendo sucesso na felicidade do ato passa a comet-lo constantemente. Rendendo-se a essa realidade, ou seja, em um meio divergente aquele em que vivia,adequando-se as regras, limites, valores que a rua lhe impe, distintos ao que seu ncleo familiar o instrua, faz-se dela sua casa, das drogas algo indispensvel para sua subsistncia, dos traficantes e infratores seus familiares, vende seu prprio corpo e faz dele seu meio de sobrevivncia, do ato infracional algo habitual na sua vida. Porm, mesmo sendo um mundo inadequado, torna-se mais que suportvel este ao viver em seu ncleo familiar sem condies bsicas de sobrevivncia. Outro fator que contribui para o ingresso do adolescente no ato infracional de acordo com Queiroz (1984), o acumulo de riquezas caracterstico do sistema capitalista, faz com que o adolescente influenciado pela mdia, tenha a necessidades de fazer parte dessa sociedade de consumo e pertencendo a uma sociedade marginalizada e sem recursos financeiros, a sada encontrada por esse adolescente, muitas vezes o ingresso na criminalidade. Partindo desse pressuposto, a influencia da mdia ao consumo, passa para a sociedade que bons so os produtos caros que ela expe e so inacessveis as populaes menos

favorecidas, o adolescente se confronta com a realidade de que no possui condies para comprar um determinado tnis, uma roupa, ou qualquer objeto de marca que a mdia coloca como sendo o melhor e que est na moda, acaba se vendo na necessidade de obter tal, levando-o a cometer ato infracional buscando satisfazer esses desejos. Dessa forma, mais que uma disfuno, inadequao comportamental ou anomalia, o delito parte viva da sociedade (Volpi, 2001, p.57), fruto de um modo de produo concentrador e, conseqentemente, excludente. Na viso da mdia e da sociedade, h uma associao imediata da pobreza com a criminalidade, como se essas fossem gmeas siamesas e, portanto, inseparveis, configurando-se como a face mais perversa dessa questo. Colocado em um lugar que caracteriza-o como parte (no acesso ao mundo de produo, enfatiza o abalo do sentimento de pertencimento social, em um processo de dessocializao) o adolescente autor de ato infracional comete atos delitivos na expectativa de se mostrar capaz e de afirmar sua identidade, em um comportamento de reao, onde busca devolver a sociedade o que dela recebeu: violncia e desprezo. portanto, a manifestao das relaes desiguais, onde a sociedade que violentou o jovem passa a ser violentada por ele, constituindo-se em um crculo vicioso (Levisky, 1998, p.17). Assim, reconhecer no agressor um cidado parece-nos ser um exerccio difcil e, para alguns, inapropriado (Volpi, 2001, p.14), viso essa originada em perfis e modelos socialmente produzidos. Isso se d pelo fato de que, cotidianamente, os atos infracionais cometidos por adolescentes, apesar de ser produzido socialmente, so apreendidos e interpretados individualmente, descolado dos fatores e processos que o produzem, sustentam e ampliam-no. O ESTATUTO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE E AS MEDIDAS SCIOEDUCATIVAS O ECA em seu artigo 104 define que so penalmente inimputveis os

menores de 18 anos, sendo assim sujeitos as medidas previstas na mesma lei, ou seja, reconhece-os, no possuidores de condies para serem julgados e penalizados fazendo com que, como exposto no artigo 112, verificada a pratica do ato infracional, poder ser aplicado pela autoridade competente as seguintes medidas: advertncia; obrigao de reparar o dano; prestao de servio a comunidade; liberdade assistida; insero de regime de semi-liberdade; internao em estabelecimento educacional; qualquer uma das previstas no artigo 101. "Argumentar que os jovens autores de infrao penal podem ficar at trs anos privados de liberdade, conforme o Estatuto da Criana e do Adolescente, no interessa aos detratores do ECA, que querem jogar fora a criana com a gua do banho. No se sabe o que os incomoda mais: a lei avanada, afinada com os preceitos internacionais de defesa dos direitos e apontando rumos para uma civilizao comprometida com suas crianas e seus jovens, ou o direito ressocializao dos jovens infratores. (Bierrenbacho, Folha de So Paulo.) Essas so medidas scio educativas que, apesar de possuir caractersticas sancionarias e coercitivas, no se trata de pena e sim aes que objetivam punir de forma educativa, com finalidade de reitengrao social. As medidas scio educativas em meio aberto so mais amenas, no restringindo a liberdade e no resultando em institucionalizao, de acordo com o ECA, so elas: Artigo 115: a advertncia, que consiste em um aviso verbal, e ser reduzida a termo e assinada. Artigo 116: quando o ato infracional tiver reflexos patrimoniais, a autoridade poder determinar que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou de outra forma, compense o prejuzo da vitima. Apesar desse dissenso doutrinrio, urge considerar que se trata de uma medida com grande carter pedaggico, pois ensina ao adolescente o respeito por tudo que pertence s outras pessoas, proporcionando o desenvolvimento, como explica Wilson Donizeti Liberati (2002, p. 90), "do senso por responsabilidade daquilo que no seu".

Artigo 117: a prestao de servios comunitrios resume-se a realizao de servios de interesse geral em programas comunitrios ou governamentais, entidades assistenciais, escolas e outros, no excedendo o perodo de seis meses. Artigo 118: a liberdade assistida, que ser adotada para acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. O programa de liberdade assistida exige uma equipe de orientadores sociais, que so designados pelo juiz, sendo que "devero os tcnicos ou as entidades desempenhar sua misso atravs de estudo de caso, de mtodos de abordagem, organizao tcnica da aplicao da medida e designao de agente capaz" (LIBERATI, 2002, p. 93). As medidas em meio no aberto so mais rgidas, com institucionalizao em tempo integral com internao ou em tempo parcial, sendo sempre necessrio o estimulo ao contato familiar e tambm a responsabilidade do Estado o dever de zelar pela integridade fsica e mental dos internos, cabendo por isso adotar medidas adequadas de conteno e segurana, de acordo com o ECA: Artigo 120: regime de semiliberdade que pode ser determinado desde o inicio, ou como forma de transio para meio aberto, possibilitando a realizao de atividade externas independentes de autorizao judicial. Artigo 121: a internao, medida privativa de liberdade, respeitando a condio peculiar de pessoa em desenvolvimento e os princpios da brevidade e excepcionalidade, priva o adolescente de sua liberdade e s poder ser aplicada em caos de flagrante ou aplicada por autoridade judiciria competente por ordem escrita e fundamentada. De acordo com o ECA: Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsvel, o adolescente ser prontamente liberado pela autoridade policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentao ao representante do Ministrio Pblico, no mesmo dia ou, sendo impossvel, no primeiro dia til imediato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercusso social, deva o adolescente permanecer sob internao para

garantia de sua segurana pessoal ou manuteno da ordem pblica. O SERVIO SOCIAL E AS MEDIDAS SCIO-EDUCATIVAS O trabalho do profissional de Servio Social no aplicar a medida scio educativa adequada ao ato infracional cometido, esse trabalho cabe ao poder judicirio. O assistente social tem por responsabilidade acompanhar a execuo dessas medidas, e, em cada caso, fazer um levantamento sobre os fatos que o levou a cometer o ato infracional, assim como a construo de um projeto de vida alternativo. Portanto, faz-se imprescindvel uma viso critica para compreender o adolescente como possuidor de uma histria pessoal, vivenciando processos sociais, afetivos, psicolgicos e morais que, conseqentemente, conduzemno criminalidade. Cabe ao assistente social desenvolver aes de acompanhamento e orientao, possibilitando ao infrator o acesso s condies mnimas para a sua reintegrao social, respeitando o atendimento integral que dispe o ECA: Art. 4 dever da famlia, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Pblico asseguras, com absoluta prioridade, a efetivao dos direitos referentes vida, sade, alimentao, educao, ao esporte, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e a convivncia familiar e comunitria. Partindo desse princpio, torna-se necessrio ao profissional trabalhar procedimentos essenciais para que o adolescente em conflito com a lei tenha acesso a esses, e buscar a articulao e envolvimento com outros setores profissionais para maior assegurar os direitos constitucionalmente garantidos. PROPOSTA DE ATUAO EM RELAO QUESTO EXPOSTA Como proposta de atuao colocamos duas linhas de execuo, a primeira sendo a preveno e a segunda a ao junto ao adolescente em conflito com a lei. A preveno extremamente importante e nico caminho para evitar que o adolescente esteja sujeito a situao de risco. Ela pode trazer resultados mais eficazes do que todas as aes posteriores ao ato, preciso envolver o adolescente,

a famlia e a sociedade em geral. A sociedade precisa entender que o adolescente no apenas vitimizador, mas tambm vitima da realidade social, devido a negligencia do acesso aos direitos garantidos pela lei. Todas as atividades culturais, educativas, artsticas, profissionalizantes e entre outras que garantam a efetivao dos direitos bsicos, podem ser consideradas como aes preventivas. Desta forma indispensvel um trabalho junto com a rede integrada de servios, cabe a ela, a execuo de programas, projetos e aos profissionais nela atuantes, inclusive os da rea de Servio Social, avaliar, averiguar os resultados e estimular a modificao dos que no esto obtendo xito. Tambm importante criar caminhos para a populao obter responsabilidade social, para que conscientizem sobre os problemas e a responsabilidades sobre eles. A ao junto ao adolescente, mesmo submetido as medidas scio educativas com restrio de liberdade, necessita de acesso aos seus direitos, contato familiar e social. Este um trabalho feito em conjunto com a famlia, a comunidade e a instituio. O profissional envolvido nesta atuao, uma das responsabilidades do assistente social, fazer um trabalho scio-educativo na sociedade, buscando que a mesma entenda o adolescente autor de ato infracional e facilite sua reintegrao social e o acesso a legitimao da lei. CONCLUSO O adolescente precisa ser compreendido em seus direitos e deveres, e quando partimos deste principio, damos conta de que seus direitos so tratados com certo descaso, tornando-os vitimas da negligncia e possibilitando que tambm se tornem vitimizadores. Ele no nasce infrator, influenciado por condies encontradas no convvio familiar, social, pela mdia e principalmente, na busca em suprir suas carncias que lhes foram negadas.

A sociedade por sua vez, possui um posicionamento preconceituoso, tornando-se uma barreira para a reintegrao do infrator, sem conscincia de fatores

que possivelmente o levaram ao ato. O Servio Social pode contribuir neste processo com sua viso critica e ao interventiva, possibilitando o acesso aos direitos garantidos por lei, aos adolescentes e direcionando a sociedade em geral a tomar conhecimento de sua responsabilidade social.

Referncias Bibliogrficas BRASIL. Estatuto da Criana e do Adolescente. Lei n 8.069, de jul. de 1990. 10. Ed. Atual e corrigida. So Paulo: Saraiva, 2000. LIBERATI, W. D. O adolescente e o ato infracional: medida scioeducativa pena?. So Paulo: Juarez, 2003. VOLPI, M. (Org.) O adolescente e o ato infracional. 3. Ed. So Paulo: Cortez, 1999. VOLPI, M. Sem liberdade, sem direitos: a experincia de privao de liberdade na percepo do adolescente. So Paulo: Cortez, 2001. QUEIROZ, J. J. O mundo do menor infrator. So Paulo: Autores Associados, 1984. VOLPI, M. O adolescente e o ato infracional. Cortez Editora, 1997, pags.62 e 63. BIERRENBACHO, I. Folha de So Paulo, Tendncias/Debates. PAULA, P. G. Menores, Direito e Justias: Apontamentos para um novo direito das crianas e adolescentes. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1989 LEVISKY. D.L. Adolescncia: pelos caminhos da violncia: psicanlise na prtica social. So Paulo: Casa do Psiclogo, 1998.

A contribuio da dinmica grupal na preveno da violncia na adolescncia e nas comunidades David Zimerman 1Trata-se uma causa perdida ou os responsveis pelo problema da violncia que esto perdidos na causa? consensual entre todos ns que a violncia representa um problema de alta complexidade, de profundas e mltiplas repercusses em todas as reas e dimenses no mbito dos grupos familiares, institucionais, comunitrios e sociais , em todos os nveis regionais, nacionais ou mundiais , provocando altos custos no s de segurana, mas tambm prejuzos econmicos, polticos, etc. e, sobretudo na qualidade de vida dos indivduos e coletividades, que vivem, ou sobrevivem num permanente sobressalto e temerosos pela prpria vida de cada um e de todos. Este problema atinge propores to gigantescas que seria impossvel, aqui, pretender abord-lo em toda sua extenso e profundidade, razo porque nos restringiremos no presente artigo a enfocar mais detidamente a violncia nos adolescentes, tanto quela que sofrem passivamente, quanto a que, ativamente, eles fazem outras pessoas e comunidades sofrerem. Tanto quanto possvel tentaremos analisar de forma sucinta as razes geradoras dos sentimentos de agresso destrutiva e a conseqente conduta violenta, suas mltiplas formas de manifestao e propor algumas possveis medidas profilticas e teraputicas, notadamente aquelas que utilizam os recursos provenientes da dinmica grupal. 1. Mdico Psicanalista Didata da Sociedade Psicanaltica de Porto Alegre.214 ADOLESCNCIA E VIOLNCIA So tantas, to profundas e to abrangentes as causas etiopatognicas responsveis pela ecloso da violncia que, acima de tudo, este problema representa um chamamento responsabilidade e um srio desafio a cada indivduo, s famlias, sociedade como um todo e aos rgos governamentais. A esses ltimos cabe um grande quinho pela responsabilidade, tanto de forma direta no que tange segurana pblica, quanto indiretamente, no que diz respeito eficincia ou fracasso no setor de educao, garantia de trabalho, utilizao da verba pblica, distribuio de renda, modelo de probidade, etc., etc. Uma primeira e indispensvel colocao que os elementos parciais indivduo, famlia, escola, sociedade, governo e influncias globais sempre permanecem numa permanente interao, constituindo uma estrutura, um sistema nico, ou seja, cada um destes fatores influencia e influenciado pelos demais, o que se pode processar tanto de forma sadia quanto patolgica. Logo, o principal enfoque do problema da violncia na adolescncia implica na obrigao de que os estudiosos e responsveis tenham uma viso sistmica global. Creio que at agora estamos perdendo a batalha contra a violncia que medra em escala geomtrica no mundo dos adolescentes, notadamente nas classes mais baixas da escala social, a ponto de muitos estudiosos estarem considerando o problema como uma causa perdida. Se a isso acrescermos a diluio da responsabilidade entre os antes referidos mltiplos elementos que partilham a responsabilizao pelo problema da violncia, fica justificada a epgrafe deste artigo: trata-se de uma causa perdida, ou os responsveis esto perdidos na causa? As formas de manifestao e o grau de intensidade com que a violncia praticada so to variveis, que talvez seja mais apropriado o emprego do termo violncias, no sentido plural, no lugar de simplesmente o singular violncia. Assim, cabe registrar entre as diversas

modalidades, a violncia urbana, sob a forma de furtos, assaltos, agresses fsicas, trnsito mortfero, homicdios, suicdios, seqestros, tropelias e arrastes em distintos locais pblicos, etc., etc. A violncia de natureza scio-poltica-econmica: aquela que, na maioria das vezes, impossibilita um mnimo de dignidade nas condies de moradia, alimentao, vesturio, transporte, trabalho, um acesso aos servios de sade... A violncia moral pela qual toda sorte de humilhaes pode ser imposta ao cidado comum e mais particularmente ao adolescen-A contribuio da dinmica grupal na preveno da violncia... 215 te ainda dependente e despreparado para enfrentar as exigncias e situaes adversas da vida. A violncia sexual praticada por distintas formas de abuso por parte de maiores contra crianas e pberes tanto dentro como fora de casa -pode acarretar na vtima (mesmo nos casos em que houve uma complacncia da criana abusada) futuros srios problemas no s contra o uso sadio da sexualidade genital, como tambm com repercusses na rea da conduta que fica voltada para a vingana por mtodos violentos. A violncia do ensino, ou seja, aquela que praticada nas escolas que, a ttulo de seriedade ao cumprimento do currculo oficial, acirram a disputa narcisista pelas notas mximas e estimulam que os alunos decorem datas, nomes e frmulas, em detrimento da espontaneidade e criatividade. Da mesma forma todos conhecemos a verdadeira violncia que certos professores podem cometer contra alunos, por meio de uma continuada intimidao, ou desqualificao, alm da possibilidade nada rara de praticarem a violncia de verdadeiros deboches e humilhaes perante demais colegas, tirando a alegria do aprendizado e transformando-o num verdadeiro suplcio. Uma outra forma de violncia que cometida no ensino, de uma forma sutil porm muito mais freqente que aparenta ser, consiste naqueles professores que narcisisticamente fazem uma enorme questo de brilhar, a ponto de des-lumbrar (tirar a luz) os alunos, assim cegando-os de modo a atrofiar a capacidade de cada um de contestar e de pensar por si prprio A violncia dentro da famlia, situao nada incomum, em que pais maltratam filhos por meio de privaes essenciais, abandonos ou verdadeiras e cruis agresses fsicas. Nesses casos, a conseqncia mais grave talvez consista no modelo de identificao de atitudes violentas que vai passando de gerao gerao. Uma forma mais sutil de violncia inconsciente praticada por certos pais, mascarada por uma aparncia e uma honesta inteno de amor, consiste na manuteno de uma excessiva e demasiada dependncia e infantilizao do filho, assim atrofiando suas capacidades adultas e deixando-o despreparado para o enfrentamento das inevitveis dificuldades inerentes ao processo de viver. Alm dessas, somam-se outras presses externas, como o caso das exigncias da prpria cultura onde o adolescente est inserido e das mltiplas demandas e expectativas impostas pela mdia, como so as de ordem de beleza esttica, a apologia de uma falsa liberdade, o sutil in-216 ADOLESCNCIA E VIOLNCIA centivo agresso, entre tantas outras mais. No demais consignar que ainda existe um rano na cultura praticada por entidades educacionais religiosas que a ttulo de um amor a Deus e o culto s virtudes, transmitem criana ou adolescentes um clima de temor, quando no de um terror persecutrio. Tambm existe uma forma passiva de violncia, isto , aquela pela qual, por omisso ou negligncia dos responsveis, a criana ou o adolescente no so escutados e ficam abandonados prpria sorte, em cuja situao se vm impelidos a buscar solues prprias, desesperadas, impregnadas com sentimentos de ressentimento, dio e vingana, mantendo-se unidos em bandos com outros iguais, para ganhar mais fora. O exemplo mais tpico dessa contingncia o tristemente conhecido problema do menino de rua, o menor abandonado.

claro que existem outras formas de violncia que so admitidas como necessrias e inclusive so louvadas pela sociedade, como o caso das guerras em que os jovens infantes (da vem infantaria), considerados como sendo heris, matam e morrem em defesa da ptria. Da mesma forma existe a violncia cuja tica altamente discutvel no seio da prpria sociedade (muitos condenam e outros tantos defendem com igual fervor), tal como acontece no problema inerente intensa prtica do aborto, cada vez mais freqente tambm em mocinhas adolescentes. Amplificando ainda mais a complexidade do problema que estamos enfocando necessrio ressaltar que as presses geradoras da violncia tambm podem advir de fatores internos. Assim, todo ser humano nasce com uma carga gentica, com pulses de vida e de morte, de amor e de dio, submetido necessidades vitais, desejos, demandas e angstias de toda ordem que fervilham no seu psiquismo inconsciente. Alm disso, todo sujeito est sujeitado a um permanente estado de dependncia (que pode ser boa ou m; isto , sadia ou patolgica), necessitando construir um sentimento de identidade, preservar ao mximo a sua auto-estima e obter o reconhecimento dos demais como sendo algum que existe, visto, escutado, aceito, respeitado e admirado. Na atualidade, essa presso oriunda do psiquismo interno fica agravada por uma crise muito comum, principalmente entre adolescentes, relativamente ao questionamento sobre a falta de perspectivas e, mais grave ainda, quanto ao prprio sentido da existncia. Este ltimo problema est exacerbando a prtica de uma violncia fatal cometida pelo prprio adolescente contra si mesmo ou seja,A contribuio da dinmica grupal na preveno da violncia... 217 o suicdio tanto de forma direta, quanto de modo indireto nas suas diversas modalidades, como as decorrentes de uma overdose de drogas, ou por meio de uma conduta suicida, isto , jum comportamento altamente masoquista que caracteriza um estilo de vida no qual h uma sucesso de perdas provocadas e um permanente desafio entre a vida e a alta possibilidade de morte por meio de acidentes, convvio com lugares muito perigosos, etc. AS CAUSAS MAIS COMUNS DA VIOLNCIA NA ADOLESCNCIA Antes de prosseguir este trabalho no que se refere s causas mais comuns da violncia na adolescncia, convm tecer algumas consideraes mais especficas que caracterizem, separadamente, a violncia e a adolescncia. VIOLNCIA. til consignar a etimologia da palavra violncia. O timo latino vis (que significa fora) tambm d origem aos vocbulos vigor, vida (de vis, vita) e vitalidade, assim como tambm origina o termo violncia. A transio de um estado m mental de vigor para o de uma violncia a mesma que se processa entre o de uma agressividade sadia para o de uma agresso destrutiva. Para que a diferenciao conceitual entre agressividade e agresso fique mais clara, til lembrar que a agressividade designa um sadio movimento para a frente, tal como comprova a etimologia do verbo agredir, o qual resulta dos timos ad (quer dizer para a frente) e gradior (movimento). Quais so os fatores que influenciam e determinam que uma determinada fora psquica seja utilizada pelo self do sujeito de uma forma construtiva ou destrutiva? Uma primeira tentativa de resposta a esta pergunta a de que, entre muitos outros fatores, como so os heredoconstitucionais e os bio-psicosociais, tambm adquire uma especial importncia a inter-relao entre o estado de desamparo e a conseqente reao de violncia. A angstia mais terrvel a que todo ser humano possa vir a sofrer a do desamparo, ou seja, remonta poca em que o beb sentia-se desamparado, atordoado e abandonado sua sorte diante de um aluvio de excitaes demasiado poderosas para que os processos mentais do seu ego incipiente pudessem manej-las. As crises vitais da existncia humana (entrada na adolescncia, a tomada de responsabilidades na218 ADOLESCNCIA E VIOLNCIA condio de adulto, a velhice, etc.) podem reativar a referida angstia de

desamparo, a qual, por sua vez gera ressentimentos, dio e violncia. Assim, a violncia manifesta na adolescncia nada mais do que uma resultante da desestruturao do psiquismo que data desde o desenvolvimento emocional primitivo, como decorrncia das falhas de maternagem, de abandonos prematuros que a criana sofre por parte do pai, notadamente nas classes mais desfavorecidas, ou ainda por um excesso de estmulos de toda ordem que o ego da criancinha ainda no tem condies de processar. Nessas condies os excessivos estmulos amorosos, sexuais, agressivos ou narcisistas no elaborados se convertem em fontes de angstia e produo de conflitos geralmente calcados no dio acumulado. GANGUES ADOLESCENTES. Por definio, todo adolescente est em busca de uma construo de sua identidade. Isto se manifesta por um estado mental algo confusional, tanto pelo fato dele sentir-se, ao mesmo tempo, uma criana dependente e um adulto independente, como tambm na sua indefinio de sua identidade de gnero sexual, e de sua insero no contexto socioprofissional. Ele est em busca, portanto, de seu sentimento de identidade no seu trplice aspecto: individual, grupal e social. Uma das formas de como todo indivduo organiza a sua identidade e adquire uma conscincia e reafirmao do seu valor, atravs da busca de um reconhecimento por parte dos seus pares e do seu meio social. Pode acontecer que essa nsia de reconhecimento adquira dimenses exageradas hiperblicas e muito ruidosas que possam aparentar como sendo uma expresso de violncia, quando na verdade elas estejam expressando um recurso extremo do adolescente inseguro, de chamar a ateno e o reconhecimento dos outros para o fato de que ele existe e deseja ser visto, escutado, compreendido e atendido. Desta forma, existe uma estreita conexo entre as pautas individuais e as socioculturais, as quais so representadas pelos papis, posies e funes que foram designados a cada um, dentro do contexto da organizao social. Como j foi referido antes, dependendo de uma srie de fatores, o sentimento de identidade pode estruturar-se de forma normal ou patolgica. A verdade que, bem no fundo o adolescente est procurando sobreviver ameaa de um terrvel sentimento de desamparo, o qual devido s mltiplas e, algo sbitas, mudanas, tanto as corporais comoA contribuio da dinmica grupal na preveno da violncia... 219 as afetivas (como o caso do surgimento de paixes) e tambm s mudanas que se referem aos seus valores e projetos de vida, assim como quelas que resultam da transio de Narciso para dipo, ou seja, da pr-genitalidade para a genitalidade adulta. Diante de tantas mudanas, perdas e separaes, o adolescente entra em um estado de crise,de acordo com a etimologia desta palavra (o vocbulo crise deriva do timo latino krinen, o qual quer dizer separao, e da derivam outras palavras como: crivo, critrio, discriminar, etc.) A tendncia do ser humano a um natural agrupamento fica bastante intensificada na adolescncia porquanto o grupo o habitat natural dos pberes e adolescentes. Uma das razes que justificam esta forte tendncia ao agrupamento com outros iguais a ele deve-se ao fato de que, em grupos, os adolescentes sentem-se menos expostos s crticas, discriminam-se dos adultos, confiam mais nos valores de seus pares, diluem a vergonha, a culpa e os sentimentos de inferioridade quando partilham os mesmos problemas entre si e reasseguram a autoestima atravs da imagem que os outros lhe remetem. Alm disso, pode - s e di z e r que o grupo func iona como um obj e to e e spa o transicional (conforme Winnicott), ou seja, ele permite a sadia criao de uma zona imaginria onde se manipula o real, porm ainda com um forte sentimento de iluso e de onipotncia. Esta ltima condio, de acordo com o grau crescente de regressividade do grupo, tanto pode ser realmente transitria, como pode ficar cronificada numa forma

intensa, permanente e patologicamente egossintnica de o grupo funcionar (ou seja, esses indivduos esto sintnicos com a sua doena e nem acreditam que estejam doentes). Desta forma, necessrio que se faa uma distino entre os trs tipos bsicos de grupos que espontaneamente so formados pelos adolescentes: os normais, os drogativos e os delinqentes. Os grupos normais, que habitualmente denominamos como turmas propiciam para o adolescente a formao de uma nova identidade, intermediria entre a famlia e a sociedade, com a assuno de novos papis e a busca de uma libertao do cerceamento imposto pelo superego e ideal do ego. importante estabelecer uma diferena entre drogativos e drogadictos. No segundo caso, a droga usada como uma forma de violncia (contra si prprio, aos pais, sociedade, etc.). Nos drogativos,220 ADOLESCNCIA E VIOLNCIA a droga pode estar significando um modismo, uma espcie de griffe de coragem e de valorizao junto a seus pares. Assim, paradoxalmente, a droga tambm pode representar o fetiche que une, integra e estrutura os adolescentes do grupo, funcionando como uma forma transitria de proteo contra o desamparo. A FORMAO DE GANGUES. Como vimos, o perodo da adolescncia pode ser considerado como um segundo processo de separaoindividuao, com movimentos pendulares centrpetos e centrfugos, entre o desamparo e a violncia, ou seja, tanto buscando os limites como as limitaes, quanto se rebelando contra os mesmos e substituindo-os pela oniscincia (ns eu e o meu grupo sabemos tudo), pela onipotncia (ns podemos tudo) e pela prepotncia (ns somos fortes, tanto que os outros que tremem de medo de ns). A finalidade maior deste movimento por parte do grupo de adolescentes a de uma certa ruptura com os valores vigentes, como uma forma de obter uma diferenciao dos modelos dos pais e da cultura do seu entorno social. Justamente, a maior ou menor predominncia da violncia que acompanha o processo de separao individuao cujo grau mximo de angstia a que acompanha o estado psquico de desamparo , que vai determinar a estruturao mais sadia (como nas turmas e nos drogativos) ou mais patolgica (drogadictos e gangues delinqencias). Neste ltimo caso vai ocorrer a predominncia das pulses agressivodestrutivas, muitas vezes com requintes de perversidade e de crueldade. Assim, as causas determinantes da formao de gangues no so nicas e tampouco simples; pelo contrrio, elas so mltiplas, complexas e variadas, de sorte que a seguir vamos enumerar apenas algumas delas. 1. Uma primeira e bvia razo a de que uma gangue agressiva representa um grito de desespero do adolescente como indivduo e como grupo contra uma sociedade que no s no o entende, como ainda o desampara, humilha e degrada. Vale assinalar que essa forma de busca de libertao resulta em um grande paradoxo porquanto a organizao da gangue segue um to rgido cdigo de fidelidade aos seus valores que ela prpria acaba se constituindo como um novo cativeiro. 2. Como as gangues, em sua maioria, se formam no seio das classes mais humildes, temos uma tendncia em enfatizar a explicao da causa de natureza socioeconmica como sendoA contribuio da dinmica grupal na preveno da violncia... 221 suficiente para entender o porqu da conduta predatria destas gangues contra a sociedade burguesa. No entanto, em classes sociais mais favorecidas este fenmeno pode se processar de forma idntica e isto comprova que o extravasamento dos sentimentos de dio, de inveja e os mpetos de vingana cruel, no exclusividade de pessoas e de classes economicamente privadas. claro que a carncia muito mais srie e profunda do que unicamente a econmica, de sorte que ela tambm diz respeito s privaes de ordem afetiva e

de caos emocional de certas famlias. 3. Uma outra causa explicativa da empfia arrogante que caracteriza cada um dos indivduos que pertencem gangue consiste no fato de que, muito reforado pelo fato de que a unio faz a fora, exacerba-se em todos eles uma sensao de onipotncia. Da mesma forma como um indivduo refugia-se na onipotncia manaca como uma forma de fugir da depresso e do reconhecimento de sua fragilidade e dependncia dos outros, ele pode conseguir esta mesma fuga no seio de um grupo, porquanto a grupalidade favorece a diluio do fardo de responsabilidades e de culpas que caberia a cada um isoladamente, pelos danos causados aos outros. 4. Um importante aspecto a ser levado em conta o fato de que, nas turmas sadias, a supervalorizao do tipo de vesturio, ou de penteado, gosto musical, certos modismos e bizarrias, etc. pode estar sendo o emblema designativo de sua diferenciao com o establishment. Deste modo, nas turmas drogativas o fetiche supervalorizado e diferenciador possa estar sendo representado pela droga, enquanto que nas gangues de delinqentes, a violncia por si mesma, que pode constituir-se como a insgnia principal da diferenciao com o establishment. Assim, o ideal das gangues organiza-se em torno da idealizao da violncia, a qual no s est imune s crticas, como ainda o seu propsito antisocial significado pelos seus pares como sendo uma demonstrao de audcia e valentia, portanto, funciona como um passaporte para a aceitao e admirao dos demais. 5. O fato de a prpria droga funcionar como um fetiche que vende a iluso de liberdade e coragem, forma-se um peri-222 ADOLESCNCIA E VIOLNCIA goso crculo vicioso maligno baseado no fato de que a traficncia de drogas encontrar um campo aberto para o co mrcio ilcito de grupos poderosos que enriquecem s custas da fragilidade emocional de muitos adolescentes que, ento tornam-se presas fceis. A relevncia deste fato reside no bvio fato de que a violncia com requintes de crueldade cresce em intensidade quanto mais o indivduo violento estiver intoxicado, com a mente num estado de obnubilao, com total falta de senso crtico e responsabilidade pelos atos de violncia perversa e cruel. 6. til consignar a importncia da influncia do fator representado pelo modelo das cpulas diretivas corrompidas e perversas, quer seja no mbito familiar (provinda dos pais), ou institucional (diretorias) ou na esfera governamental (lideranas polticas). A relevncia que empresto a esse aspecto reside no fato de que qualquer dessas cpulas funciona como um modelo de identificao que, indiretamente, prega a apologia de que os fins justificam os meios, da lei do menor esforo para conseguir xito, tudo isso com a garantia do mato da impunidade. Dessa maneira tambm cabe destacar a influncia exercida pela mdia na formao das mentes, coraes, espritos e valores (anti) ticos. 7. Talvez por crer que seja o fator mais importante, deixei por ltimo o aspecto de que a dificuldade em se conseguir modificar a expanso numrica e destrutiva das gangues nascidas nas classes pauprrimas prende-se ao fato de que os indivduos nascem e crescem em um ambiente que tem uma cultura prpria, com o cultivo de outros valores que no aqueles que so considerados por ns como sendo os construtivos e saudveis. Eles se organizam em uma sociedade paralela e, por isso, comum que no se reconheam como marginalizados, mas, sim, como orgulhosos portadores de uma cultura diferente, uma contracultura, com um cdigo de valores morais, ticos, estticos e jurdicos inteiramente parte dos nossos valores vigentes.

8. moda de sntese, vale afirmar que a diferena fundamental entre a existncia de uma Turma e de uma Gangue que na primeira, na sadia busca de emancipao predominam osA contribuio da dinmica grupal na preveno da violncia... 223 sentimentos amorosos, ainda que estes estejam encobertos por uma pseudo-agresso. A Turma se dissolve ao natural, porquanto os seus componentes evoluem, tomam caminhos diferentes na vida, porm, de alguma forma, ficam absorvidos de forma natural pelo establishment. 9. diferente nas Gangues: nesses casos existe o predomnio dos sentimentos de dio e vingana, com a ausncia manifesta de sentimentos de responsabilidade, de culpa e de intentos reparatrios, ancorados que esto na idealizao de sua destrutividade. Em caso de dissoluo da gangue, os seus membros seguem a mesma trilha de delinqncia, porquanto a separao de cada um deles no foi atravs de um processo de crescimento; pelo contrrio, qual um foco infeccioso, eles vo inoculando o vrus delinquencial em seus circunstantes e nas geraes vindouras, assim garantindo uma unidade existencial. 10. Por esta razo, dificlimo solucionar o complexo problema de se poder conter a violncia provinda de gangues organizadas em torno de lderes que fazem da crueldade o ideal de sua vida. Mesmo nos pases do primeiro mundo, com todos os recursos econmicos e de tcnicos especializados disposio das autoridades, o desafio do problema delinquencial no est sendo vencido, o que comprova o fato de que, para fugir do desamparo, a tica rompida e abre o caminho para a violncia. ALGUMAS SUGESTES QUE VISAM PREVENO DA VIOLNCIA consensual que, em termos ideais, a melhor medida contra o incremento da violncia a de investir na profilaxia, na sua preveno, embora, como j foi destacado antes, alguns fatores concorrem para obstruir o sucesso dessa tarefa. De qualquer forma, vale apontar que a medida preventiva primria consiste numa educao dos pais, trabalho que pode ser realizado atravs de recursos de tcnicas grupais. Da mesma forma, uma importante medida profiltica seria a possibilidade de equipes de sade terem acesso s comunidades de classe social mais humilde e realizar um trabalho de campo, onde, alm da224 ADOLESCNCIA E VIOLNCIA assistncia orgnica, seria dispensado um cuidado especial de trabalho social, psicolgico e espiritual. Para tanto, devem ser mobilizadas e integradas as foras vivas da comunidade, como as professoras, os representantes da igreja, as lideranas naturais, etc. Tambm a a aplicao da dinmica grupal, realizada com crianas, pberes, adolescentes, gestantes, professores das escolas, etc. tm se mostrado de grande valia. Igualmente necessrio continuar insistindo na tentativa de alcanar os quase que totalmente desassistidos meninos de rua, e prestar lhes uma assistncia que atenda s necessidades bsicas, principalmente levando em conta que todo menor abandonado funciona como um caldo de cultura para a prtica de toda sorte de violncias. Assim, os responsveis pela poltica deveriam discursar menos e agir mais, no sentido de batalharem pela expansiva criao em mltiplos cantos do pas, de centros esportivos e profissionalizantes. No se pede muito das autoridades e polticos em geral, mas, sim, que simplesmente se empenhem em fazer cumprir as determinaes que j existem no excelente Estatuto da Criana e Adolescente (ECA) que protege e confere direitos dignidade de vida do menor, porm que ainda no decolou do papel. Um outro aspecto que deveria ser seriamente encarado pelos responsveis pelo ensino diz respeito ao fato incontestvel de que a escola

primria, um segundo lar (quando no o primeiro) funciona como um verdadeiro cadinho forjador da personalidade e da socializao da criana e aonde o sentimento de identidade vai se definindo e estruturando. No entanto a evaso escolar atinge cifras alarmantes, e em grande parte isso deve a que o ensino no lugar de constituir-se num local prazeroso, sentido pelas crianas como um local de suplcio por no conseguirem acompanhar e atender as exigncias que lhes so impostas. Conquanto as casas prisionais sejam um mal necessrio enquanto as medidas profilticas ideais ainda estejam longe de serem plenamente viveis certo que o sistema repressor na imensa maioria das vezes tem falhado na recuperao do adolescente violento, alm de que ainda se corre o risco de que o menor abandonado ou apenado aprenda, nas instituies onde ele est segregado, novas modalidades e tcnicas de violncia. GRUPOTERAPIAS. Tanto nos micro-grupos (famlia, grupos teraputicos, de reflexo ou de ensinoaprendizagem com um limitado nmero de participantes), ou nos macro-grupos (uma abrangncia sociolgicaA contribuio da dinmica grupal na preveno da violncia... 225 bastante mais ampla, como pode ser uma corporativista ou de toda uma classe social, etc.) as leis grupais (existncia de conflitos narcisistas centrados no poder, distribuio de distintos papis, distrbios da comunicao, etc.) so praticamente as mesmas. O que varia o manejo tcnico que deve adaptar-se s finalidades para as quais um determinado grupo foi criado. Descontando os grupos teraputicos de finalidade psicanaltica que exigem a coordenao de grupoteraputas muito bem preparados com uma especfica formao especial, as demais modalidades da aplicao da tcnica grupal podem ser exercidas por tcnicos ou pessoas em geral que, inicialmente acompanhadas por algum tipo de superviso, demonstrem um gosto por trabalhar com grupos, e um espontneo talento natural que propicie a integrao solidria das pessoas. Em linhas gerais, todo grupo que for organizado com a finalidade de integrar as pessoas e lev-las a pensar, no lugar de agir impulsivamente, pode genericamente ser chamado como grupo de reflexo (porque leva os participantes a refletirem sobre suas necessidades, angstias, relacionamentos com os outros e sua forma de conduta). Alm desse importantssimo aspecto de tentar ensinar as pessoas a pensar adequadamente, a nossa experincia com a prtica grupal ensina que os demais seguintes aspectos essenciais podem ser bem trabalhados: Promover o reconhecimento dos limites de cada um em relao aos demais; assim como tambm o reconhecimento das capacitaes e das inevitveis limitaes; dos direitos e deveres; da semelhana e diferenas com os outros; de uma distino entre o sentimento de liberdade e o de libertinagem; de aceitao de uma necessria hierarquia. Este aspecto referente aceitao da hierarquia tanto no mbito familiar, como institucional ou social remete diretamente ao fundamental aspecto de reconhecimento dos papis que cada sujeito pode desempenhar de forma estereotipada pela vida inteira (por exemplo, o papel de bode expiatrio, de porta-voz da violncia dos demais, de lder, tanto construtivo como destrutivo, etc. etc.). Acompanhando o reconhecimento do desempenho dos papis, a dinmica de um grupo de reflexo tambm auxilia o reconhecimento dos lugares, posies e funes que cabe a cada em qualquer contexto grupal. Da mesma forma um grupo226 ADOLESCNCIA E VIOLNCIA desta natureza permite que se trabalhe com os srios problemas referentes aos transtornos da comunicao entre os pares e que refletem os mesmos distrbios de relacionamento que eles tm na vida cotidiana. Os reiterados assinalamentos desses aludidos aspectos fortalecem o ego de cada um no contexto grupal. Ao lado do fortalecimento do ego de cada um e de todos, o

coordenador do grupo deve ter uma estrutura psquica que lhe permita, de forma autntica e natural, funcionar como um superego bom. Isto quer dizer que o coordenador deve se manter bastante firme e, ao mesmo tempo, ser tolerante, respeitador das falhas e deficincias e que acredite nas capacidades positivas que esto escondidas e subjacentes s manifestaes agressivas praticadas pelos adolescentes. Esse novo modelo de superego deve ocupar o lugar do superego mau, ou seja, aquele que embora possa parecer que esteja ausente (porque aparentemente os membros adolescentes do grupo no sintam a mnima culpa pelas eventuais transgresses que fazem), esse superego age interiormente como um cruel agente ameaador e punitivo. Um grupo de reflexo, ou de integrao, promove uma socializao, onde as pessoas desenvolvem a capacidade de ter considerao e empatia pelos demais, alm de propiciar a oportunidade de uns auxiliarem aos outros, assim construindo uma capacidade para fazer reparaes. Dizendo com outras palavras: um grupo pode funcionar como um excelente instrumento que ajude o adolescente a fazer a passagem de uma posio de narcisismo para uma de socialismo. As reparaes acima referidas so necessrias para amenizar as culpas tendo em vista que o adolescente nem sempre sabe distinguir quando ele pratica uma agressividade sadia e construtiva, ou quando a sua conduta pautada por uma agresso de caractersticas sdico-destrutivas. Um recurso que pode ser utilizado num desses grupos, que eu considero excelente, consiste na projeo de filmes especiais, que propiciem um amplo debate entre todos, direcionado para as mltiplas identificaes que cada um sente com determinados personagens e enredo do filme.

GRAVIDEZ E ATIVIDADE DE NATUREZA GRUPAL COM GESTANTES: algumas consideraes1

Graziele Strada Sartori2 Isabel Cristina Pacheco Van der Sand3 Durante nossa convivncia com pessoas que experienciavam a gestao em suas vidas, pudemos perceber que este um momento peculiar para elas, uma vez que gestar um processo nico e que mobiliza uma srie de sentimentos por parte das pessoas envolvidas. Viosa (1997), ao se referir ao perodo de gravidez, considera que este uma fase do ciclo vital da mulher em que ela no s aprende sobre si mesma, como tambm vivencia ansiedade, desamparo e expectativa. Percebemos que a gravidez um perodo complexo, quando se evidenciam vrias transformaes, tanto fsicas como psicolgicas, exigindo constantes adaptaes. Para Jeneral (2000, p.02) o que se pressupe ser a expresso de um perodo de bem-estar, na realidade constitui-se tambm como um perodo de adaptao e enfrentamento de novas realidades, at agora no vividas. Vale considerar que, ao longo dos anos, a gravidez deixou de ser assunto exclusivo da mulher, pois conforme Jeneral (2000), ela transforma a identidade tanto de homens como de mulheres e influenciada por aspectos afetivos, sociais, psquicos e culturais que abrangem o casal e a famlia, exigindo adaptaes destes a um novo contexto de vida, no mbito pessoal, familiar e sociocultural. Maldonado (1990) considera fundamental a interao de toda a famlia no processo de gestao, pois cada membro dela sofre transformaes significativas sob o impacto da gravidez. Noronha apud Jeneral (2000, p. 12) considera a gravidez com um perodo de crise, uma vez que, conforme dito anteriormente, h uma perda de sua identidade anterior e procura de uma outra que no est bem definida. Os futuros pais podem passar a ter dvidas sobre a forma de agir em seu novo papel. Tendo como base as perspectivas descritas at aqui a respeito da gravidez, estudos apontam que a participao em grupos, por parte das pessoas envolvidas com o processo de gestar, tem se mostrado de grande valia. Consideramos importante, primeiramente, contextualizar que entendemos por grupo uma pluralidade de indivduos, que esto em contato uns com os outros, que se consideram mutuamente e que so conscientes que tm algo significativamente importante em comum (OLMSTED apud CMARA; DAMSIO; MUNARI, 1998, p.195). Em especial, se referindo a grupos de gestantes, estes vm trazer aspectos teraputicos e oferecer suporte a estas pessoas, uma vez que, segundo Munari; Rodrigues (1997, p.14, a) um grupo pode ajudar pessoas durante perodos de ajustamentos a mudanas, no tratamento de crises ou ainda na manuteno ou adaptao a novas situaes. Viosa (1997) contribui referindo que nos grupos de gestantes se cria um espao onde os participantes podem dizer seus problemas e refletir sobre eles. Para Munari; Rodrigues (1997, a), pela possibilidade de pessoas com situaes semelhantes poderem compartilhar experincias comuns que se potencializa, no grupo, sua possibilidade preventiva/teraputica. No que diz respeito a este intercmbio entre os participantes, Wall (2001) descreve a interao humana como uma ao, mediada por um processo comunicativo, onde os grupos aprendem, exploram, dinamizam e compartilham smbolos e significados. Para Duarte; Muxfeldt apud SantAnna e Duarte (1991), os grupos de gestantes devem oferecer condies para que apreendam, aceitem e pratiquem conhecimentos e atitudes relativos gestao, ao parto, ao puerprio e ao recm nascido. Quanto prtica de exerccios corporais, que tambm vm sendo estimulada nos encontros de vrios grupos de gestantes, como no caso do

implementado pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Uniju), Conceio apud SantAnna e Duarte (1991) dizem que a contribuio desses exerccios para compreenso de que a gestao uma situao de adaptao e no uma doena, entendimento este que amplia a oportunidade de uma vida normal. Os grupos destinados participao de gestantes e acompanhantes podem possuir vrias denominaes, porm a mais conhecida delas Grupo de Preparao Psicossomtica para o Parto. Em geral, so grupos fechados, ou seja, os participantes so os mesmos do incio ao fim de cada edio. Esta modalidade grupal pode ser classificada como grupo operativo, que para Pichon-Rivire (2000 , p. 143) aquele centrado na tarefa que tem como finalidade aprender a pensar em termos de resoluo das dificuldades criadas e manifestadas no campo grupal. Cavalcante (1999, p.26) ressalta que a tcnica de grupo operativo alicera a proposta de aprender a pensar em grupo, a partir da vida cotidiana. Nesta perspectiva, nos grupos de gestantes h o incentivo para a troca de experincias comuns entre os integrantes e os coordenadores do grupo, o que gera mobilizaes entre os participantes. Pichon-Rivire (2000, p. 143) aponta que, pela mobilizao das estrutura estereotipadas por causa do montante de ansiedade que desperta a possibilidade de mudana4 , chegamos a captar no aqui-agoracomigo e na tarefa do grupo, um conjunto de experincias, afetos e conhecimentos com os quais os participantes do grupo pensam e atuam, tanto em nvel individual como grupal. Quanto a isso, Fiscmann (1997) corrobora referindo que os grupos centrados em determinada tarefa, trabalhando de forma operativa, podem esclarecer dificuldades individuais, romper esteretipos e identificar obstculos para o desenvolvimento do indivduo, auxiliando a encontrar condies de enfrentamento de seus problemas, sendo ento considerados teraputicos. Desta forma, conhecido que, nos grupos, a aprendizagem, a comunicao, o esclarecimento e a resoluo de tarefas coincidem com a cura (PICHON-RIVIRE, 2000). Este mesmo autor afirma que se tenta obter dos participantes uma adaptao ativa nova realidade, podendo assumir novos papis com responsabilidade e desfazer-se progressivamente dos papis anteriores que no servem para o aqui e agora. Yalon, citado por Munari; Rodrguez (1997, a), aponta os seguintes fatores como curativos, em atividades de natureza grupal: a universalidade, que favorece ao indivduo perceber que outras pessoas tambm enfrentam determinada situao; a instilao de esperana, que age na perspectiva de que a troca de vivncias pessoais pode mostrar que determinadas situaes podem ser diferentes; a reedio corretiva das figuras parentais, baseada na perspectiva de que o campo grupal pode favorecer aos participantes a identificao simblica de figuras parentais, podendo assim elaborar situaes passadas; o altrusmo, que se refere ao compartilhamento de parte de si com os outros participantes. Munari; Zago (1997) afirmam, ainda, que os efeitos teraputicos esto ligados possibilidade de que cada membro do grupo pode expressar suas necessidades, ser respeitado como elemento do mesmo, podendo utilizar este espao para dizer o que pensa, sentir que isso tem valor e aproveitado para o desenvolvimento grupal. A utilizao de grupos com finalidades teraputicas tem relao direta com a rea da sade e, tendo em vista que o enfermeiro se envolve constantemente com atividades grupais em seu cotidiano, esta uma possibilidade amplamente usada por esta categoria profissional. Segundo Munari apud Munari; Zago (1997), os grupos podem ser usados para abordagem de pessoas com problemas diversos, sendo considerado uma estratgia eficiente. Portanto, pode ser usado como importante recurso no campo assistencial, no ensino e na pesquisa. De acordo com Pamplona (1990), para que a mulher possa viver o parto de uma forma positiva, integradora, enriquecedora e feliz, necessrio, entre outros

requisitos, que se fornea conhecimentos sobre o processo de gestao, parto e ps-parto, no levando em considerao apenas os aspectos antomo-fisiolgicos, pois importante que a mulher possua conhecimentos e tire suas dvidas tambm a respeito de rotinas mdicas hospitalares, considerando que o conhecimento gera poder, assim como poder gera conhecimentos. Sob nosso ponto de vista, a mulher e o companheiro/familiar que expressam seus sentimentos acerca deste perodo tornam-se menos ansiosos e o medo frente ao desconhecido tende a diminuir. Nesta perspectiva, atualmente, os grupos de gestantes vm sendo coordenados por equipes interdisciplinares, a fim de prestar apoio de forma completa e satisfatria para a gestante. A necessidade de uma ateno o mais integral possvel, no s na rea da sade da mulher, mas at em outros campos do saber, acompanha o progresso cientfico e o desenvolvimento tecnolgico dos dias atuais, dada a necessidade de estabelecimento de interfaces entre os saberes das disciplinas em que se compartimentalizava o conhecimento humano (OSRIO, 2003, p. 83). Dessa necessidade nasce, segundo Osrio (2003), a multidisciplinaridade, que vem com o objetivo de impedir a fragmentao da prxis oriundas desses novos aportes cognitivos. Porm, observa o autor, somente o agrupamento de profissionais de diferentes disciplinas para que cada um contribusse com sua cota de conhecimento especializado no bastava para diminuir as lacunas da prtica compartimentada. Nasce, assim, o exerccio da interdisciplinaridade, com a inteno de acrscimo de valor a mera soma das partes. Nesse exerccio utilizam-se os feedbacks proporcionados pelas trocas desierarquizadas entre os diferentes saberes, bem como o processamento das mudanas de paradigma inerentes ao contexto da evoluo cientfica (p.83). O autor complementa afirmando que a interdisciplinaridade apia-se no elemento conexo entre as disciplinas e seus postulantes e , portanto, intrinsecamente uma prtica grupal. (...) h necessidade no s do intercmbio de conhecimentos acumulados e em transformao pelas distintas disciplinas, mas de uma atitude interdisciplinar interna, ou seja, da disponibilidade de pensar em leque e no em funil, de predispor-se a ser fertilizado pelas idias alheias, de mediar, em seu prprio aparelho mental, conflitos entre o conhecimento adquirido e o que no se possui, mas que insiste em se fazer presente atravs de saberes contguos (OSRIO, 2003, p. 83-4). , pois assentado neste referencial, que por sua natureza est em contnuo processo de produo, que a Uniju prope uma atividade de extenso universitria que rene gestantes e