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i MARISOL RIOS SUAREZ ESTRUTURA ESPACIAL E VARIAÇÃO TEMPORAL DA CHUVA DE SEMENTES ORNITOCÓRICAS EM UMA FLORESTA OMBRÓFILA DENSA DE TERRAS BAIXAS. CAMPINAS, 2015

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MARISOL RIOS SUAREZ

ESTRUTURA ESPACIAL E VARIAÇÃO TEMPORAL DA CHUVA DE SEMENTES

ORNITOCÓRICAS EM UMA FLORESTA OMBRÓFILA DENSA DE TERRAS

BAIXAS.

CAMPINAS, 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE BIOLOGIA

MARISOL RIOS SUAREZ

ESTRUTURA ESPACIAL E VARIAÇÃO TEMPORAL DA CHUVA DE SEMENTES

ORNITOCÓRICAS EM UMA FLORESTA OMBRÓFILA DENSA DE TERRAS

BAIXAS.

Dissertação apresentada ao instituto de

Biologia da Universidade Estadual de

Campinas como parte dos requisitos

exigidos para obtenção do titulo de

Mestra em ECOLOGIA

Orientador: Prof. Dr. FLAVIO ANTONIO MAËS DOS SANTOS

Coorientadora: Profra. Dra. VALÉRIA FORNI MARTÍNS

CAMPINAS, 2015

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RESUMO

Nas florestas tropicais, cerca de 90% dos frutos produzidos são consumidos

principalmente por aves, consideradas o principal agente dispersor nos trópicos.

Portanto, aves exercem uma grande influência na dinâmica e estrutura das

populações vegetais. A manutenção das comunidades de aves frugívoras

depende da disponibilidade de recursos, que pode ser avaliada através da chuva

de sementes. A chuva de sementes constitui a comunidade de diásporos (i.e

unidades funcionais de dispersão, como sementes e frutos) que são liberados no

ambiente. Além disso, permite conhecer a quantidade e identidade dos frutos que

são produzidos e utilizados como recurso alimentar por animais frugívoros. Dessa

forma, é possível acompanhar a sazonalidade e disponibilidade de recursos nas

florestas. A produção de frutos pode ser afetada por fatores climáticos, como a

precipitação, e ocasionar uma variação na chuva de sementes e também na

disponibilidade de alimento. Dado que a forma como as aves distribuem as

sementes nas florestas parece ser não indiscriminada, a distribuição das

sementes dispersas também pode ser avaliada por meio da chuva de sementes. A

identificação de locais com alta deposição de sementes permite evidenciar não só

a preferência de habitat que podem apresentar os animais frugívoros, mais

também avaliar o potencial de regeneração das florestas e predizer possíveis

“hotspots” de recrutamento de novos indivíduos para as populações. O objetivo

deste estudo foi avaliar a estrutura espacial e temporal da chuva de sementes

ornitocóricas dispersas por aves e aquelas que caem da planta parental em duas

áreas de Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas no sudeste do Brasil. Foi

utilizada a chuva de sementes coletada por Martins (2011) durante dois anos em

duas parcelas de 1 ha instaladas na Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas

(50m - 100m) no Parque Estadual da Serra do Mar. Em 2013 foram separados e

quantificados todos os diásporos ornitocóricos (consumidos e não consumidos)

em cada coletor. Caracterizamos a chuva de sementes ornitocóricas descrevendo

variações temporais na abundância de sementes, composição e riqueza de

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espécies. Por último, utilizamos técnicas de análise espacial para avaliar o padrão

de distribuição da chuva de sementes. Os padrões de sazonalidade e variação

temporal na chuva de sementes foram similares entre as duas parcelas. O número

de sementes em cada parcela foi maior no período úmido e a riqueza de espécies

não apresentou sazonalidade ao longo do tempo. Porém a composição de

espécies na chuva de sementes foi diferente entre as parcelas. Houve diferenças

no padrão de distribuição das sementes ornitocóricas entre as duas parcelas e ao

longo do tempo. Assim, a chuva de sementes foi majoritariamente agregada e os

locais de chegada das sementes não foram consistentes no tempo.

Este estudo mostra que a disponibilidade de alimento para as aves

frugívoras é constante o ano todo, devido à presença de espécies importantes que

frutificam na época seca tornando-se fundamentais para a manutenção das

comunidades de aves. Nossos resultados também mostram que o padrão de

distribuição das sementes ornitocóricas é dependente de contexto e varia entre

áreas e também ao longo do tempo, o que tem importantes implicações na

previsibilidade de “hotspots” para o recrutamento de novos indivíduos na

comunidade.

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ABSTRACT

In tropical forests, about 90% of fruits produced are mainly consumed by

birds, considered the main dispersal agent in the tropics. Therefore, birds have a

major influence on the dynamics and structure of plant populations. The

maintenance of frugivores bird communities depends on the availability of

resources, which can be assessed by seed rain. The seed rain is the diasporas

community (i.e. functional dispersion units such as seeds and fruits) that is

released into the environment. In addition, allows knowing the amount and identity

of the fruits that are produced and used as a food resource for frugivores animals.

Thus, it is possible to follow the seasonality and availability of resources in the

forests. Fruit production can be affected by climatic factors such as rainfall, and

cause a variation in seed rain and also in food availability. Due to the way that

birds distribute the seeds in forests seems not indiscriminately, the distribution of

the dispersed seeds can also be evaluated by their seed rain. Therefore, the

identification of areas with high seed deposition allows highlight not only the habitat

preferences by the frugivores animals, but also allow to assess the potential for

regeneration of forests and predict potential "hotspots" of recruitment of new

individuals to populations. The objective of this study was to evaluate the spatial

and temporal structure of ornithochorous seed rain dispersed by birds and those

that fall directly from the parent plant in two areas of the Lowlands Atlantic rain

forest in southeastern Brazil. Was used the seed rain collected by Martins (2011)

for two years in two plots of 1 ha installed in the Lowlands dense rain forest (50m -

100m) in the State Park of Serra do Mar. In 2013 were separated and quantified all

ornithochorous diasporas (consumed and not consumed) in each seed-trap. We

characterize the ornithochorous seed rain describing temporal variations in the

abundance of seeds, composition and species richness. Finally, spatial analysis

techniques used to evaluate the distribution pattern of the seed rain. Seasonality

patterns and temporal variation in seed rain were similar between the two plots.

The number of seeds in each plot was higher in the wet season and species

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richness did not show seasonality over time. However, the species composition of

seed rain was different between plots. There were differences in the distribution

pattern of seed rain between the two plots over time. Thus, the seed rain was

mostly aggregated and seed deposition sites were not consistent in time.

This study shows that the availability of food for frugivores birds is constant

throughout the year, due to the presence of important species that fruit in the dry

season making it essential for the maintenance of bird communities. Our results

also show that the pattern of distribution of ornithochorous seed rain is context

dependent and varies between areas, and also over time, which has important

implications for the predictability of "hotspots" for the recruitment of new individuals

in the community.

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CONTEUDO

Introdução geral Página 1

Objetivos e expectativas Página 2

Área de estudo Página 3

Referências bibliográficas Página 6

Capítulo 1: Caracterização e variação temporal da chuva de sementes ornitocóricas em uma Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas no sudeste do Brasil.

Página 10

Capítulo 2: Estrutura espacial da chuva de sementes ornitocóricas em uma Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas no sudeste do Brasil.

Página 41

Considerações finais Página 73

Referências bibliográficas Página 74

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Flavio Antonio Maës dos Santos, pela orientação e disposição de sempre me

ajudar em todas as etapas deste trabalho;

À Profra. Dra Valéria Forni Martíns, pela ajuda, apoio e valiosas sugestões que me

permitiram melhorar cada dia como pesquisadora;

Aos membros da banca de mestrado, Prof. Dr. Wesley Rodriguez Silva e Prof. Dr.

Alexander Vicente Christianini, pelas sugestões e críticas;

Ao Prof. Dr. Jorge Yoshio Tamashiro, pela ajuda na identificação das sementes e no

fornecimento de material suplementar no laboratório de taxonomia vegetal da Unicamp;

Ao Prof. Dr. João Vasconcellos-Neto, por me facilitar um espaço de estudo no seu

laboratório Hympar da Unicamp;

Aos membros do grupo Funtrop, Profra. Dra Simone Aparecida Vieira, Cinthia, Yvonne,

Cristina, Luis, Laura, pelo apoio na presença de varias apresentações que fizeram parte

deste trabalho;

À minha família, Gustavo Rios, Luz Mireya Suarez e Ângela Rios pelo amor incondicional

e paciência durante este tempo de preparação acadêmica. Amo vocês!!!

Ao German Villanueva Bonilla, pelas inumeráveis ajudas, compreensão e conversas ao

longo destes dois anos, obrigada te amo!

À Suzana Diníz, meu agradecimento pela amizade e parceria ao longo destes dois anos de

trabalho;

Aos meus colegas, Caio S, Thais A, Magda C, Ivan D e Mauricio S, pelas sugestões nas

reuniões de grupo;

Aos meus amigos Cristiane Z, Bruna S, Thiago M, Fernanda F, Camila M, pela ajuda nas

correções do português;

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À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior ), pela bolsa de

estudos concedida durante os dois anos de mestrado;

À Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), pela oportunidade de realizar meu

mestrado com uma excelente infraestrutura e ótimo ensinamento.

Por supuesto, agradecer a Dios, que permitió que todo esto sucediera…

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INTRODUÇÃO GERAL

Em florestas tropicais, a maior parte das espécies arbóreas produzem

diásporos atrativos aos animais (Frankie et al. 1974, Howe & Smallwood 1982,

Dowsett-Lemaire 1988) e, em especial, às aves, que são o principal agente

dispersor nos trópicos (Jordano & Schupp 2000, Pedroni 2001, Silva et al. 2002,

Takahashi & Kamitani 2004). As aves dependem da disponibilidade de frutos para

sua manutenção (Jordano & Schupp 2000). No entanto, a disponibilidade de

alimento para os animais frugívoros depende da fenologia das espécies vegetais

(Gomes et al. 2008), que determina a sazonalidade nos períodos de frutificação e

a produção contínua de recursos (Frankie et al. 1974, White 1994). Além disso, os

períodos em que são liberados os diásporos estão relacionados a melhores

condições no ambiente (Rathcke & Lacey 1985, Morellato 2003). Por exemplo,

algumas espécies têm períodos de frutificação contínuos em resposta a fatores

ambientais como a precipitação, que fornece condições adequadas para a

produção de frutos (Morellato, 2003). Dessa forma, mudanças nas condições

ambientais pode afetar a produção contínua de alimento, o que é um fator

importante na manutenção dos animais frugívoros (Frankie et al. 1974, White

1994).

A chuva de sementes constitui a comunidade de diásporos (i.e unidades

funcionais de dispersão, como sementes e frutos) que são liberados e

disseminados no ambiente (Harper 1977). A chuva de sementes permite acessar a

quantidade e a composição dos frutos produzidos ao longo do tempo (Frankie et

al. 1974). Além disso, permite avaliar a distribuição das sementes que caem

diretamente das árvores e aquelas que são dispersas fornecendo informações

sobre a dinâmica e estrutura das populações e comunidades vegetais (Grombone-

Guaratini & Rodrigues 2002).

Dado que aves consomem a maior parte dos frutos produzidos nas florestas

(Takahashi & Kamitani 2004), estes frugívoros movimentam grandes quantidades

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de sementes em diferentes locais (Jordano & Schupp 2000, Takahashi & Kamitani

2004). Com frequência, aves depositam sementes em locais que fornecem

alimento suficiente ou condições adequadas para realizar outras atividades

(Charnov 1976). Por exemplo, uma estrutura heterogênea na vegetação, como as

bordas das clareiras, aumenta a dispersão por aves (Brokaw 1985, Guevara &

Laborde 1993, Debussche & Isenmann 1994), já que muitas espécies frutíferas

têm maior produção de alimento em fragmentos vegetais de estado intermediário

(Howe & Smallwood 1982, Stapanian 1986, Willson et al. 1989, Fleming 1991,

Willson & Traveset 2000). Dessa forma, a densidade de sementes em um local

pode ser influenciada por alguns atributos da vegetação, como altura das árvores

e abundância de plantas frutíferas (Jordano & Schupp 2000, Jordano et al. 2007,

Morales et al. 2012), o que se reflete na chegada de diásporos de forma constante

em alguns locais da floresta (Levey 1988, Hoppes 1988, Ostoja et al. 2013).

Grandes quantidades de sementes em determinados pontos, potenciais

“hotspots”, contribuem de forma importante na regeneração natural dos

ecossistemas quando a chegada de diásporos nesses locais é frequente e ocorre

de forma constante no tempo (Hampe et al. 2008). Portanto, o entendimento dos

padrões de distribuição das sementes dispersas por aves e aquelas que caem

diretamente das árvores é fundamental para identificar locais com alta chegada de

diásporos, que poderiam representar “hotspots” de recrutamento nas populações

vegetais (Houle 1998, Nathan et al. 2000, Hampe et al. 2008).

OBJETIVOS E EXPECTATIVAS

O principal objetivo deste estudo é compreender o padrão de distribuição da

chuva de sementes ornitocóricas dispersas e não dispersas em duas áreas de

Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas no sudeste do Brasil, através dos

seguintes objetivos específicos:

Determinar se a produção de frutos ornitocóricos é constante ao longo do

tempo e também do espaço. Para isso, perguntamos: (1) Existe variação entre e

ao longo dos anos na abundância, na riqueza de espécies e na composição de

diásporos ornitocóricos nas duas áreas? (2) A chuva de sementes é composta

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majoritariamente por espécies autóctones? (3) Existe relação entre a abundância

de diásporos e a precipitação? Devido às diferenças no padrão fenológico entre as

espécies e entre indivíduos da mesma espécie (van Schaik et al. 1993), espera-se

que a composição de espécies na chuva de sementes varie entre e ao longo dos

anos. No entanto, espera-se que a abundância de diásporos ornitocóricos seja

constante ao longo do tempo, sendo majoritariamente composta por espécies

autóctones, uma vez que a maior parte dos eventos de dispersão em florestas

tropicais é local (Levine & Murrell 2003). Dessa forma, evidencia-se que a

comunidade vegetal local fornece recursos suficientes para manter a comunidade

de frugívoros. Como a precipitação é um fator abiótico importante na produção de

frutos (Morellato 2003), espera-se que muitas espécies apresentem picos de

produção após a época chuvosa (outubro a março). No entanto, algumas espécies

devem frutificar em outras épocas, disponibilizando alimento aos frugívoros.

Avaliar a estrutura espacial da chuva de sementes ornitocóricas para

responder: 1) Qual é o padrão espacial da chuva de sementes ornitocóricas? 2) A

densidade de sementes na chuva está relacionada a características do ambiente?

3) Existe variação no padrão espacial da chuva de sementes e nas suas relações

com as características do ambiente entre os anos? Se alguns locais com

determinadas características na estrutura da vegetação podem receber maior

quantidade de sementes, espera-se que não existam variações na estrutura

espacial da chuva de sementes entre locais e entre anos, permitindo assim a

identificação de “hotspots” para o recrutamento das populações de plantas

(Hampe et al. 2008).

ÁREA DE ESTUDO

O Parque Estadual da Serra do Mar (PESM), criado em 1977 através da

Ordem Executiva No 10.251 posteriormente alterada pelo Decreto nº 13.313 de 6

de março de 1979, localiza-se ao longo de toda a costa do estado de São Paulo,

indo desde a parte sul do Rio de Janeiro até Itariri, no sul do estado. O parque tem

cerca de 315.000 ha e representa uma parte da maior porção contínua preservada

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de Mata Atlântica do Brasil (Joly & Martinelli 2010), bioma classificado como

prioridade mundial de conservação (Myers et al. 2000).

Devido ao seu tamanho, o PESM é administrado por núcleos, um dos quais

é o Núcleo Picinguaba (23°31’- 23°34’S e 45°02’- 45°05’W). Esse núcleo

compreende 47,5 mil ha (SMA 1996) e localiza-se no município de Ubatuba, litoral

norte do estado de São Paulo (Joly et al. 2012). As temperaturas médias da região

vão de 25,5ºC em fevereiro a 18,4ºC em julho. A precipitação tem média anual

superior a 2.200 mm e varia entre 376 mm em janeiro e 11 mm em julho

(Sentelhas et al. 2003).

O Núcleo Picinguaba apresenta uma variação atitudinal de 0 m a 1.200 m

(Alves et al. 2010), sendo a única porção do PESM a atingir a orla marítima (SMA

1996). Assim, o núcleo é composto por um mosaico vegetacional que inclui

Formações Pioneiras com Influência Marinha (Dunas), Formações Pioneiras com

Influência Fluvial (Caxetal), Formações Pioneiras com Influência Flúvio-Marinha

(Mangue), Mata de Restinga, Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, Floresta

Ombrófila Densa Submontana e Floresta Ombrófila Densa Montana (Assis 1999).

Por meio de mapas cartográficos e mapas digitais georreferenciados, a

equipe do Projeto Temático “Gradiente Funcional” (Processo Biota/FAPESP

03/12595-7) instalou 10 parcelas permanentes (A-J) nas seguintes fitofisionomias

do Núcleo Picinguaba: Floresta de Restinga, Floresta Ombrófila Densa de Terras

Baixas e Floresta Ombrófila Densa Submontana. Também foram instaladas mais

quatro parcelas (K-M) nas Florestas Ombrófilas Densas Submontana e Montana

do Núcleo Santa Virgínia (Joly et al. 2012) (Figura 1). Cada parcela tem uma área

de 100 m x 100 m (1 ha) e foi delimitada por uma equipe especializada em

topografia, utilizando-se instrumentos de alta precisão, como teodolito e nível

digitais, altímetro e GPS. O limite externo das parcelas foi delimitado colocando-se

estacas de 1,2 m de tubo de PVC ¾ a cada 10 m (subparcelas) (Joly et al. 2012).

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Figura 1. Distribuição das 14 parcelas instaladas nas diferentes fitofisionomias

florestais do Parque Estadual da Serra do Mar pela equipe do Projeto Temático

“Gradiente Funcional” (Processo Biota/FAPESP 03/12595-7). Figura adaptada de

Joly et al. (2012).

Os dados utilizados no presente estudo foram coletados na Floresta

Ombrófila Densa de Terras Baixas, mais especificamente nas parcelas B e E, que

por convenção serão chamadas de TB1 e TB2, respectivamente, neste estudo.

Essa formação florestal ocorre em altitudes que variam de 50 m até 100 m acima

do nível do mar, e tem muitos matacões rochosos e leitos secos de riachos (Joly

et al. 2008). As parcelas B (23°20’13” S, 44°50’08” W) e E (23°20’05” S e 44°49’5”

W) estão localizadas ao longo da Trilha do Corisco, no Sertão da Casa da Farinha.

O solo é classificado como Cambisolo háplico distrófico típico, argiloso, ácido (pH

3,3 a 3,9), com alta diluição de nutrientes e alta saturação de alumínio (Martins

2010).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CAPÍTULO 1

Caracterização e variação temporal da chuva de sementes ornitocóricas em

uma Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas no sudeste do Brasil

Marisol Rios Suarez, Valéria Forni Martins & Flavio Antonio Maës dos Santos

Resumo

Nas florestas tropicais, a manutenção das comunidades de frugívoros

depende da disponibilidade de recursos na floresta. A chuva de sementes permite

conhecer a quantidade e identidade dos frutos que são produzidos e que são

utilizados como recurso alimentar pelos animais frugívoros. No entanto, fatores

climáticos como a precipitação podem influenciar a fenologia das espécies

vegetais e afetar a produção de frutos. Este estudo visa avaliar se a produção de

frutos atrativos às aves é constante ao longo do ano e entre os anos. Para isso

nós responderemos às seguintes questões: (1) existe variação entre e ao longo

dos anos na abundância de sementes, na riqueza de espécies e na composição

de diásporos ornitocóricos em duas parcelas (TB1 e TB2) instaladas na Floresta

Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo Picinguaba, Parque Estadual da

Serra do Mar? (2) A chuva de sementes é composta majoritariamente de espécies

autóctones? (3) Existe relação entre abundância de diásporos e precipitação? A

chuva de sementes foi coletada por Martins (2011) mensalmente durante dois

anos por meio de coletores distribuídos aleatoriamente nas parcelas. Foram

separados e quantificados todos os diásporos ornitocóricos (consumidos e não

consumidos) em cada coletor. Utilizamos ANOVAS fatoriais para comparar a

abundância de sementes e tipos de diásporos entre os anos e entre as parcelas e

PERMANOVA para comparar a composição de espécies. Por outro lado,

aplicamos análise de estatística circular para avaliar a sazonalidade na

abundância de sementes e número de espécies ao longo do ano em cada parcela.

Os padrões de sazonalidade e variação temporal na chuva de sementes foram

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similares entre as duas parcelas. Dessa forma, houve maior quantidade de frutos

no primeiro ano e o número de sementes nas duas parcelas foi maior no período

mais úmido (outubro a março) havendo uma relação positiva entre abundância de

sementes e precipitação. Por outro lado, a composição de espécies na chuva de

sementes foi diferente entre as parcelas. Porém, a riqueza de espécies não

apresentou sazonalidade ao longo do tempo nas parcelas, o que mostra que a

disponibilidade de frutos atrativos às aves é constante ao longo do ano e entre os

anos atraves de espécies ornitocóricas que frutificam o ano todo. Dessa forma, a

existência de espécies importantes na floresta, que fornecem alimento constante

aos frugívoros, é fundamental na manutenção das comunidades de aves

frugívoras e nos processos de conservação dos ecossistemas.

Palavras-chave: Espécies ornitocóricas, diásporos, recursos alimentares,

frugívoros.

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Introdução

Nas florestas tropicais, cerca de 50% a 90% das espécies arbóreas

produzem frutos consumidos por animais (Frankie et al. 1974, Howe & Smallwood

1982, Dowsett-Lemaire 1988, Francisco & Galetti 2002). A maior parte dessas

espécies apresenta diásporos atrativos às aves, que são o principal agente

dispersor nos trópicos (Pedroni 2001, Silva et al. 2002, Takahashi & Kamitani

2004). Assim, a manutenção da comunidade de aves frugívoras depende

fortemente da disponibilidade de frutos ao longo do tempo (Grombone-Guaratini &

Rodrigues 2002, Veech & Jenkins 2005, Ostoja et al. 2013). Portanto, a produção

de frutos pela comunidade vegetal deveria ser contínua, uma vez que existem

espécies vegetais que se reproduzem várias vezes ao ano (Garcia & Stefano

2003, Gomes et al. 2008), uma vez ao ano (Schupp 1990), ou uma vez a cada

alguns anos (Mantovani & Martins 1988).

Os padrões fenológicos são relacionados às características das espécies

(Gomes et al. 2008) e às condições ambientais (Rathcke & Lacey 1985, Morellato

et al 2000), que determinam, no final, o momento mais eficiente para o

crescimento e reprodução dos indivíduos (Van Shaick et al. 1993). Em florestas

tropicais, a frutificação ocorre ao longo do ano e geralmente não apresenta

sazonalidade (Morellato et al 2000). No entanto, como resultado das mudanças

climáticas pode ocorrer variações na duração, época de ocorrência e sincronia das

fenofases nos indivíduos de uma espécie (Engel & Martins 2005). Portanto, a

precipitação pode ser um fator abiótico importante na produção de frutos, e sua

diminuição em épocas mais secas poderia resultar em escassez de recursos nas

florestas (Morellato 2003).

Os padrões de sazonalidade nos períodos de frutificação resultam na

variação temporal da chuva de sementes, afetando a disponibilidade de recursos

para as comunidades de frugívoros (Frankie et al. 1974, White 1994). A

quantidade e a composição dos frutos produzidos ao longo do tempo podem ser

avaliadas por meio da chuva de sementes (Frankie et al. 1974) que constitui a

comunidade de diásporos (i.e as unidades funcionais de dispersão, como

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sementes e frutos) liberados e disseminados no ambiente (Harper 1977). A chuva

de sementes pode estar representada pela entrada de sementes locais (diásporos

autóctones), e daquelas que se movimentam a grandes distancias (diásporos

alóctones) (Martinez-Ramos & Soto-Castro 1993).

Este estudo tem como objetivo caracterizar a chuva de sementes

ornitocóricas dispersas e não dispersas (aquelas que caíram das árvores) em

duas áreas de Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas no litoral norte do

estado de São Paulo para determinar se a produção de frutos ornitocóricos é

constante ao longo do tempo. Para isso, perguntamos: (1) existe variação entre e

ao longo dos anos na abundância de sementes, na riqueza de espécies e na

composição de diásporos nas duas parcelas? (2) A chuva de sementes é

composta majoritariamente de espécies autóctones? (3) Existe relação entre a

abundância de diásporos e a precipitação? Devido às diferenças no padrão de

frutificação intra e interespécifico (van Schaik et al. 1993), espera-se que a

composição de diásporos varie entre e ao longo dos anos. Porém, a abundância

de diásporos ornitocóricos deveria ser constante ao longo do tempo e também do

espaço. Dado que a maior parte dos eventos de dispersão em florestas tropicais é

local (Levine & Murrell 2003), espera-se que a chuva de sementes seja composta

majoritariamente de espécies autóctones, evidenciando que a comunidade vegetal

local fornece recursos suficientes para manter a comunidade de frugívoros. Como

a precipitação é um fator abiótico importante para a produção de frutos (Morellato

2003), espera-se que muitas espécies apresentem picos de produção após a

época chuvosa (outubro a março). No entanto, algumas espécies devem frutificar

em outras épocas, disponibilizando alimento aos frugívoros.

Material e métodos

ÁREA DE ESTUDO

A Mata Atlântica brasileira é um dos biomas considerados como prioridade

mundial para conservação da biodiversidade (Myers et al. 2000). Um dos maiores

remanescentes contínuos que ainda existem é o Parque Estadual da Serra do Mar

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(PESM; 23°34’ - 23°17’ S e 45°02’ - 45°11’ W), que faz parte dos 12,5% restantes

de cobertura original deste bioma (Fundação SOS Mata Atlântica). O PESM tem

cerca de 315.000 ha (SOS Mata Atlântica/INPE/ISA 1998) e recobre a cadeia

montanhosa da Serra do Mar no litoral norte do estado de São Paulo, sudeste do

Brasil (Alves et al. 2010).

O PESM possui altitudes que variam entre o nível do mar e 1.200 m (Alves

et al. 2010). A porção de menor altitude é recoberta pela Floresta Ombrófila Densa

de Terras Baixas (5 m a 100 m de altitude; Veloso et al. 1991), que ocorre em solo

do tipo Cambisolo háplico distrófico, argiloso, ácido (pH 3,3 a 3,9), com alta

diluição de nutrientes e alta saturação de alumínio (Martins 2010). A topografia é

extremamente irregular, existem muitos matacões rochosos (Joly et al. 2012) e

leitos secos de riachos resultam em um solo mais seco em alguns locais (Campos

2008). As temperaturas médias variam entre 18,4o C em julho e 25,5oC em

fevereiro, e a precipitação média varia entre 11 mm em julho e 376 mm em janeiro

(EMBRAPA). Foi considerada como estação chuvosa o período com maior

precipitação (outubro a março) e como estação seca o período com menor

precipitação (abril a agosto). A umidade relativa do ar permanece sempre acima

de 80% e o comprimento do dia varia entre 9,1 h em outubro e 15,5 h em maio

(Joly et al. 2012).

Os dados utilizados no presente estudo foram coletados em duas parcelas

não contíguas de 1 ha cada, localizadas ao longo da trilha do corisco na Floresta

Ombrófila Densa de Terras Baixas do PESM (50m – 100m), chamadas de TB1 e

TB2 a partir daqui. Cada parcela foi subdividida em 100 subparcelas de 10 m x 10

m. Também foram realizados inventários florestais, que mostraram que a

composição florística e a estrutura da comunidade são muito semelhantes nas

duas parcelas, com cerca de 1.200 árvores pertencentes a 145 espécies. Euterpe

edulis Mart. (Arecaceae), Mollinedia schottiana (Spreng.) Perkins (Monimiaceae),

Rustia formosa (Cham. & Schltdl.) Klotzch (Rubiaceae), Coussarea meridionalis

(Vell.) Müll. Arg. var. porophylla (Vell.) M. Gomes (Rubiaceae), Chrysophyllum

flexuosum Mart. (Sapotaceae), Coussarea accedens Müll. Arg (Rubiaceae) e

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Bathysa mendoncaei K. Schum. (Rubiaceae) são as espécies mais abundantes.

Lianas, palmeiras, epífitas, samambaias e bromélias também são frequentes (Joly

et al. 2012).

CHUVA DE SEMENTES

A chuva de sementes foi coletada por Martins (2011) entre 15 de maio de

2007 e 15 de abril de 2009. Em 2007, foram sorteadas sem reposição 30

subparcelas dentro de TB1 e TB2, nas quais um coletor de sementes foi

posicionado o mais próximo possível do centro da subparcela. Após um ano de

coleta, Martins (2011) distribuiu mais 20 coletores em cada parcela seguindo o

mesmo método com fim de aumentar o número de unidades amostrais na área

(Figura 1). Os coletores circulares tinham um raio aproximado de 30 cm e eram

feitos de malha com abertura de 1 mm suspensa em uma moldura redonda a 50

cm do solo. O conteúdo dos coletores foi retirado mensalmente, secado em estufa

a 58°C durante 48 h e colocado dentro de sacos de papel devidamente

identificados (Martins 2011). Em 2013 foram separados todos os diásporos

ornitocóricos a partir da classificação feita por Martins et al. (2014) em drupoides,

bacoides, sementes com apêndice carnoso e sementes sem recompensa

nutricional. Não foram separados diásporos que caíram diretamente da planta

parental (frutos intatos) e diásporos dispersos (sementes limpas), já que juntos

representam frutos que estiveram ou estão disponíveis como recurso alimentar

para os frugívoros. Todos os diásporos foram quantificados e identificados no

menor nível taxonômico possível.

ANÁLISE DOS DADOS

Caracterização da chuva de sementes ornitocóricas

Para compararmos a abundância de sementes entre os anos e entre as

parcelas, realizamos uma ANOVA fatorial uma vez que se tinha a abundância total

de sementes por coletor. A composição de espécies foi comparada entre os anos

e entre as parcelas com análises de PERMANOVA. Também comparamos a

abundância dos diferentes tipos de diásporos ornitocóricos encontrados na chuva

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de sementes entre os anos e entre as parcelas por meio de uma ANOVA fatorial.

O mesmo foi feito para a abundância de sementes autóctones. Para

determinarmos quais espécies eram alóctones e quais eram autóctones, as

espécies obtidas na chuva de sementes foram comparadas à lista de espécies

arbóreas e de palmeiras em TB1 e TB2 disponível em Joly et al. 2012. Todas as

análises estatísticas foram feitas utilizado o software de livre uso “R” (R Core

Team, 2013) com um valor de alfa de 0,05.

Variação temporal da chuva de sementes ornitocóricas

Para avaliarmos a variação na abundância de diásporos e na riqueza de

espécies da chuva de sementes dos dois anos de coleta de dados, usamos a

estatística circular, que é uma estatística descritiva para distribuições circulares

(Herrera 1988). Ela permite a descrição e análise de dados fenológicos testando a

sazonalidade de um determinado evento em um período de tempo (Herrera 1988,

Morellato et al. 2010). Esta estatística realiza inferências através da frequência em

intervalos de medida considerados dentre uma escala circular (i.e. a data de

observação em dias, meses ou anos; Morellato et al. 2010, Zar 2010). A escala

circular precisa ser transformada em ângulo para facilitar sua interpretação através

da seguinte formula matemática: a = 360/K, onde K representa o número de

unidades totais da data de observação escolhida pelo pesquisador (i.e. K = 12

para meses; Morellato et al. 2010, Zar 2010). Os resultados são representados em

histogramas circulares, onde o comprimento das barras representa a frequência

relativa da variável fenológica observada em uma determinada data ou ângulo

(Morellato et al. 2010, Zar 2010).

Para saber se existe sazonalidade na abundância de diásporos e na

riqueza de espécies da chuva de sementes, foi aplicado o teste de Rayleigh,

depois de testada a normalidade circular dos dados. Para avaliar o efeito da

precipitação na abundância de sementes nas duas parcelas, a abundância mensal

das sementes foi correlacionada à precipitação total mensal, obtida de uma

estação meteorológica do PESM-Picinguaba, através da correlação de Spearman

usando análises de defasagens temporais (“time-lag”) com até dois meses de

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atraso. Essa análise permite verificar se os eventos ocorrem ou não de forma

sincronizada e como análise complementar, foi realizado o teste de Watson-

Williams para determinar se os ângulos médios entre abundância de sementes e

precipitação diferem significativamente (Zar 2010).

Resultados

Caracterização da chuva de sementes ornitocóricas

A abundância total de diásporos ornitocóricos nos coletores em TB1 e TB2

não diferiu entre as duas parcelas somando-se os dois anos (p > 0,05), mas a

abundância total de diásporos diferiu entre os anos (F = 7,903; SOQ= 82697; p =

0,005; Figura 2), com maior quantidade de sementes no primeiro ano para as duas

parcelas. Não foi possível identificar 103 sementes coletadas, correspondentes a

12 morfotipos. Dentre as sementes identificadas, encontramos 81 espécies

pertencentes a 34 famílias (Apêndice A), sendo Arecaceae a família mais

abundante com 38% das sementes quantificadas nas duas parcelas, seguida por

Urticaceae com apenas 19,3% de sementes. Essa ordem não corresponde à

abundância de indivíduos por famílias nos inventários florestais, que encontraram

maior quantidade de indivíduos de Myrtaceae, seguida por Arecaceae e

Rubiaceae (Figura 3). Das 34 famílias identificadas na chuva de sementes, 31

ocorreram na parcela TB1 e 27, em TB2. As famílias Aquifoliaceae, Clusiaceae,

Nyctaginaceae, Araceae, Sapotaceae, Verbenaceae e Malpighiaceae foram

exclusivas em TB1. Já a parcela TB2 apresentou três famílias exclusivas:

Commelinaceae, Olacaceae e Rutaceae.

A composição de espécies encontradas na chuva de sementes foi diferente

entre as parcelas TB1 e TB2 no primeiro (F = 2,72; R2 = 0,044; p< 0,001) e no

segundo ano (F = 1,39; R2 = 0,014; p = 0,05) compartilhando apenas 29 espécies

das 81 encontradas na chuva de sementes. De igual forma, a composição de

espécies encontradas em TB1 foi diferente de um ano para outro (F = 1,80; R2 =

0,030; p < 0,01), enquanto que em TB2 não houve diferença (F = 1,39; R2 = 0,024;

p > 0,05).

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Foram encontrados apenas diásporos drupoides e sementes com

apêndices carnosos na chuva de sementes. A ocorrência dos dois tipos de

diásporos não diferiu entre os anos nem entre as parcelas (p < 0,05; Figura 4).

Das espécies identificadas na chuva de sementes em TB1 e TB2 nos dois anos,

87% foram autóctones. Estas espécies contribuíram com 5153 sementes nas duas

parcelas em conjunto (cerca de 70% do total de sementes quantificadas, n = 7888)

e sua abundância total diferiu entre os anos (F = 9,40; SOQ = 25078; p < 0,001;

Figura 5).

Variação temporal da chuva de sementes ornitocóricas

A maior abundância de sementes nas duas parcelas no primeiro ano

mostrou correlação com a maior precipitação em 2007-2008 em relação ao

período de 2008-2009. Nas duas parcelas, o número de sementes na chuva

aumentou do período mais seco para o mais úmido nos dois anos (Figura 6). Na

parcela TB1, houve maior abundância de sementes entre os meses de dezembro

e fevereiro, com pico de abundância médio para os dois anos em janeiro (Rayleigh

p < 0,001, a = 27,369°). Em contraposição, a parcela TB2 apresentou maior

número de sementes entre os meses de janeiro e março (Tabela 1), com pico de

abundância média para os dois anos em fevereiro (Rayleigh p < 0,001; a =

34,364°). A distribuição da abundância das sementes ao longo dos dois anos foi

mais homogênea em TB1 (r = 0,29) do que em TB2 (r = 0,31; Tabela 1). Os picos

de abundância nas duas parcelas coincidem com o pico da precipitação na área

de estudo (Tabela 1). A concentração da precipitação entre novembro e janeiro foi

alta (Rayleigh Z: 779,61) e apresentou baixa uniformidade ao longo dos anos (r =

0,38; Figura 5, Tabela 1). Houve, portanto, uma relação positiva entre abundância

de diásporos e precipitação em TB1 (r2 0,50; p < 0,05) e TB2 (r2 0,55; p < 0,05).

Assim, o vetor médio dos picos foi semelhante na parcela TB1 (F = 1,34; p = 0,25;

g.l = 1), onde a abundância de diásporos e a precipitação ocorreram com até um

mês de defasagem. Porém, em TB2 o vetor médio dos picos foi diferente (F =

6,96; p = 0,01; g.l = 1; Tabela 2).

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A riqueza de espécies ao longo dos dois anos não apresentou um pico

marcado de sazonalidade nas parcelas (p > 0,05 para TB1 e TB2). Dessa forma, a

concentração de espécies na chuva de sementes para um determinado mês foi

baixa e com alta uniformidade ao longo dos anos, tanto em TB1 (Rayleigh Z = 1; r

= 0,049) como em TB2 (Rayleigh Z = 0,124; r = 0; Figura 7, Tabela 1).

Discussão

A caracterização e dinâmica da chuva de sementes ornitocóricas

consumidas e não consumidas, avaliadas neste estudo, apontam dois fatores

principais: (1) a presença de espécies ornitocóricas o ano todo e a contribuição

das espécies autóctones no espectro de dispersão evidenciam uma produção

constante de frutos fornecendo alimento para a comunidade frugívora, inclusive na

estação seca; e (2) a relação positiva entre precipitação e abundância de

sementes sugere que a pluviosidade também afeta a disponibilidade de alimento

aos frugívoros ao se relacionar positivamente à produção de frutos.

Dentre as familias mais abundantes na chuva de sementes, Arecaceae já

tem sido registrada em outros estudos como uma das famílias mais

representativas (Pedroni 2001). No entanto, no inventário florestal do projeto

temático “Gradiente Funcional” a família Myrtaceae foi a mais abundante em

número de indivíduos (Joly et al. 2012). As diferenças encontradas entre a

abundância dos diásporos e a composição da comunidade poderiam ser

atribuídas a que algumas das espécies registradas na chuva de sementes como

Euterpe edulis (Mart) produzem grande quantidade de frutos (Von Allmen et al.

2004). Embora a alta exploração de espécies como Euterpe edulis em Picinguaba

reduza o número de indivíduos adultos na área (Gressler 2010), a alta produção

de frutos por parte dessas espécies ressalta sua importância na manutenção da

fauna (Grombone-Guaratini & Rodrigues 2002).

Apesar da composição florística das parcelas ser muito semelhante, a

composição de espécies encontradas na chuva de sementes foi diferente entre as

parcelas para cada ano. Provavelmente indivíduos da mesma espécie frutificam

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em locais e em anos diferentes (Garcia & Stefano 2003, Engel & Martins 2005), o

que resulta em variações nos períodos de frutificação e na quantidade de

diásporos produzidos (Wright et al. 1999, Garcia & Stefano 2003). No entanto

Morellato e colaboradores (2000) sugeriram que as diferentes formas de vida

como ervas e lianas podem também afetar as variações fenológicas entre

diferentes áreas da floresta atlântica. Além disso, a localização dos coletores deve

ter influenciado a presença de espécies representadas por poucos indivíduos em

cada parcela gerando diferenças na composição entre as parcelas, o que também

poderia ter afetado a diferença encontrada na composição de espécies dentro de

cada parcela ao longo do tempo.

Grande parte das espécies registradas na chuva de sementes são espécies

autóctones com diásporos de tipo drupóide, o que corrobora outros estudos

realizados para a comunidade na área (Martins et al. 2014). Isso sugere que os

recursos alimentares utilizados pelas aves frugívoras são provenientes da

comunidade local de plantas. A presença de espécies autóctones mantém a

diversidade local de plantas já que o fluxo gênico gerado pelos diferentes

indivíduos da mesma espécie aumenta as probabilidades de estabelecimento das

populações vegetais (Garcia & Grivet 2011). Dessa forma, a produção e dispersão

de sementes nessa escala representa o potencial de auto-regeneração das

florestas (Martinez-Ramos & Soto-Castro 1993).

A variação temporal na abundância de diásporos ornitocóricos consumidos

e não consumidos evidencia uma sazonalidade na produção dos frutos pela

comunidade. A produção de frutos aumenta do período mais seco para o mais

úmido, com maior abundância de diásporos ornitocóricos na estação chuvosa

(novembro a março). Este resultado tem sido relatado em outros estudos (Gressler

2010, Athie 2012), indicando que a maior parte das espécies ornitocóricas frutifica

na estação chuvosa entre outubro e março (Foster 1977, Fleming et al. 1987). Isso

confirma a importância da precipitação para os padrões fenológicos das plantas

(Morellato et al. 2000, Morellato 2003).

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A produção de frutos apresenta uma sazonalidade relacionada com a

precipitação. No entanto, este estudo mostra que a disponibilidade de frutos

atrativos às aves é constante ao longo do ano e entre os anos, provavelmente

porque espécies que precisam de mais tempo para os frutos chegar à maturidade

florecem no final de cada estação, padrão que pode explicar a disponibilidade

continua de frutos na floresta (Saggemeier et al. 2010). Portanto, a oferta de

recursos o ano todo pode estar determinado pela fisiologia das espécies que

frutificam de forma não sincronizada com a comunidade (Howe 1984, Saggemeier

et al. 2010), fornecendo alimento durante a época de escassez para frugívoros

especialistas ou generalistas, que podem se alimentar de outros recursos (Howe &

Estabrook 1977).

Diferentemente da abundância, o número de espécies registradas na chuva

de sementes não variou ao longo dos anos, o que sugere que aquelas espécies

que frutificam durante a estação seca como Euterpe edulis, Coussapoa

microcarpa, Hieronyma alchorneoides e Faramea sp representam espécies

importantes no suprimento alimentar de aves frugívoras (Foster 1977), inclusive

daquelas que consomem frutos como recurso alternativo (Howe & Estabrook

1977). O fato de encontrar espécies produzindo frutos em diferentes épocas do

ano pode estar relacionado tanto aos diferentes padrões fenológicos entre

espécies e entre indivíduos da mesma espécie (Van Shaik et al. 1993, Garcia &

Stefano 2003), como também à fisiologia própria das espécies (Saggemeier et al.

2010). A presença de espécies importantes na área, com produção de frutos na

época de escassez, e a contribuição das espécies autóctones no espectro de

dispersão, fatores demonstrados neste estudo, evidenciam não só o fornecimento

constante de alimento às comunidades de frugívoros locais, mas também a

importância dessas espécies na manutenção das populações de frugívoros. Além

disso, a utilização destas espécies nos processos de restauração natural é

fundamental para manter e acrescentar as interações entre as espécies

conservando a comunidade de animais dispersores nesses ecossistemas (Levey

1988).

Page 36: ESTRUTURA ESPACIAL E VARIAÇÃO TEMPORAL DA CHUVA DE ... · deste estudo foi avaliar a estrutura espacial e temporal da chuva de sementes ornitocóricas dispersas por aves e aquelas

22

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27

Figura 1. Distribuição dos coletores de sementes em duas parcelas (TB1 e TB2)

de 1 ha cada instaladas na Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo

Picinguaba, Parque Estadual da Serra do Mar, litoral norte do estado de São

Paulo. (a) TB1 e (b) TB2. Pontos pretos representam os coletores instalados em

2007 e pontos brancos, os coletores instalados em 2008. Figura adaptada de

Martins (2011).

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28

Figura 2. Média da abundância de diásporos ornitocóricos consumidos e não

consumidos encontrados na chuva de sementes ao longo de dois anos (n = 4719

para o ano 1 e n = 3169 para o ano 2) em duas parcelas (TB1 e TB2) de 1 ha

cada instaladas na Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo

Picinguaba, Parque Estadual da Serra do Mar, litoral norte do estado de São

Paulo. As barras verticais representam o erro padrão da média.

0

20

40

60

80

100

120

140

Parcela TB1 Parcela TB2 Parcela TB1 Parcela TB2

Ano 1 Ano 2

dia

da a

bu

nd

ân

cia

de

se

me

nte

s

a

a

b b

F = 7,903; SOQ= 82697; p = 0,005

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29

Figura 3. Abundância relativa de diásporos ornitocóricos consumidos e não

consumidos pertencentes a diferentes famílias encontradas na chuva de sementes

(n = 3316 em TB1 e n = 4467 em TB2) e abundância relativa de indivíduos

arbóreos de diferentes famílias e palmeiras com dispersão ornitocórica (n = 365

em TB1 e n = 398 em TB2) em duas parcelas (TB1 e TB2) de 1 ha cada instaladas

na Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo Picinguaba, Parque

Estadual da Serra do Mar, litoral norte do estado de São Paulo. Famílias

representadas por menos de 3% da abundância total não foram inclusas no

gráfico.

27 21

11 10 8 4 3

47

18 17

3 3

14

17

30

4 10

18

5

0

10

20

30

40

50

60

70

Are

ca

ce

ae

Urt

ica

ce

ae

Ru

bia

ce

ae

Myrt

acea

e

Euph

orb

iaceae

Myrs

ina

ce

ae

Mo

nim

iaceae

Are

ca

ce

ae

Urt

ica

ce

ae

Euph

orb

iaceae

Me

lisp

erm

ace

ae

Ela

eocarp

ace

ae

Sapin

da

ce

ae

Ara

liaceae

TB1 TB2

Ab

un

ncia

(%

)

Diásporos ornitocóricos Individuos ornitocóricos

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30

Figura 4. Ocorrência de diásporos drupoides, sementes com apêndices carnosos

e sementes de espécies não identificadas (NI) coletados na chuva de sementes

ornitocóricas ao longo de dois anos em duas parcelas de 1 ha cada instaladas na

Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo Picinguaba, Parque

Estadual da Serra do Mar, litoral norte do estado de São Paulo.

2829 2185

164 438

456 395

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Ano 1 Ano 2

Oc

orr

ên

cia

(%

)

Diaspóro drupóide Semente com apêndice carnoso NI

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31

Figura 5. Abundância de diásporos ornitocóricos pertencentes a espécies

autóctones encontradas na chuva de sementes ao longo de dois anos (n = 3194

para o ano 1 e n = 1959 para o ano 2) em duas parcelas (TB1 e TB2) de 1 ha

cada instaladas na Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo

Picinguaba, Parque Estadual da Serra do Mar, litoral norte do estado de São

Paulo. As barras verticais representam o erro padrão da média.

0

10

20

30

40

50

60

70

Parcela TB1 Parcela TB2 Parcela TB1 Parcela TB2

Ano 1 Ano 2

dia

do

de s

em

en

tes

a

utó

cto

ne

s

F = 9,40; SOQ = 25078; p < 0,01

a

a

b b

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32

Figura 6. Histograma circular da abundância de diásporos ornitocóricos

consumidos e não consumidos em duas parcelas (TB1 e TB2) de 1 ha cada

instaladas na Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo Picinguaba,

Parque Estadual da Serra do Mar, litoral norte do estado de São Paulo. Abaixo, é

apresentado o histograma circular de precipitação na área de estudo. O vetor linha

indica o ângulo médio ou direção da variável e a linha transversa fora do círculo

indica o intervalo de confiança de 95%.

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33

Figura 7. Histograma circular da riqueza de diásporos ornitocóricos consumidos e

não consumidos em duas parcelas (TB1 e TB2) de 1 ha cada instaladas na

Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas do núcleo Picinguaba, Parque

Estadual da Serra do Mar, litoral norte do estado de São Paulo. O vetor linha

indica o ângulo médio ou direção da variável e a linha transversa fora do círculo

indica o intervalo de confiança de 95%. No histograma de TB2, o intervalo de

confiança não foi calculado devido à baixa concentração dos dados em uma

direção (Rayleigh Z = 0,124).

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Tabela 1. Resultados da análise circular da abundância e da riqueza de diásporos ornitocóricos consumidos e não

consumidos encontrados na chuva de sementes em duas parcelas (TB1 e TB2) de 1 ha cada instaladas na Floresta

Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo Picinguaba, Parque Estadual da Serra do Mar, litoral norte do estado de

São Paulo. Também foi feita análise circular da precipitação na área de estudo. Valores em negrito são significativos (p <

0,05).

Parcela Variável Mês Vetor

Médio (µ) Data média

Intervalo de

confiança de 95% (-/+) para µ

Período de Duração

Comprimento do

Vetor (r)

Teste Rayleigh

(Z)

Teste Rayleigh

(p)

TB1

Abundância Janeiro 27,369° 28 janeiro 22,837°, 31,901°

23 jan-1 fev 0,295 293,439 < 1E-12

Riqueza Janeiro 24,811° 25 janeiro 103,978°, 305,643°

15 abr-6 nov 0,049 1,005 0,366

Precipitação Janeiro 24,865° 25 janeiro 22,129°, 27,601°

22 jan-28 jan 0,38 779,611 < 1E-12

TB2

Abundância Fevereiro 34,364° 4 fevereiro 30,701°, 38,028°

31 jan- 8 fev 0,314 446,205 < 1E-12

Riqueza Dezembro 330,494° 1 dezembro 104,829°, 196,16°

16 abr- 18 jul 0,021 0,124 0,884

Precipitação Janeiro 24,865° 25 janeiro 22,129°, 27,601°

22 jan - 28 jan 0,38 779,611 < 1E-12

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Tabela 2. Correlação de Spearman com defasagem temporal de até dois meses e

teste de Watson-Williams entre a precipitação e a abundância de diásporos

ornitocóricos em duas parcelas de 1 ha cada instaladas na Floresta Ombrófila

Densa de Terras Baixas do Núcleo Picinguaba, Parque Estadual da Serra do Mar,

litoral norte do estado de São Paulo. Valores em negrito são significativos (p <

0,05).

Parcela Correlação

de Spearman Teste

Watson-Williams

Defasagem

(meses) r2 p F p

TB1

T0 0,5 0,009

1,34 0,25 T1 0,48 0,016

T2 0,31 0,145

TB2

T0 0,55 0,003

6,96 0,01 T1 0,35 0,093

T2 0,33 0,119

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Apêndice A. Espécies ornitocóricas encontradas na chuva de sementes ao longo

de dois anos em duas parcelas (TB1 e TB2) de 1 ha cada instaladas na Floresta

Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo Picinguaba, Parque Estadual da

Serra do Mar, litoral norte do estado de São Paulo. Não foram inclusos na tabela

os 12 morfotipos não identificados no estudo.

Família Ano

1

Ano

2

Período de

Frutificação

Tipo de

fruto

Forma

de Vida

Sistema de

Reprodução

Acanthaceae

Nelsonia sp 1 8 --- --- Erva ---

Annonaceae

Guatteria gomeziana A.ST.-Hil 4 1 Nov-Dez Drupa Árvore Homóica

Rollinia serice (R.E.Fr.) R.E.Fr. 14 4 Abr-Mai Drupa Árvore Homóica

Xylopia aromatica (Lam.) Mart. 0 2

Cápsula Árvore

Aquifoliaceae

Ilex sp 25 0 --- Baga Arb-Árv Homóica

Araceae

Philodendron appendiculatum Nadruz

& Mayo 3 0 --- --- Erva ---

Araliaceae

Schefflera calva (Cham.) Frodin &

Fiaschi 8 65 --- Drupa Árvore Homóica

Arecaceae

Euterpe edulis Mart. 408 167 Mai-Set Drupa Erva Monóica

Geonoma sp 1474 940

Drupa Erva

Boraginaceae

Cordia sellowiana Cham. 43 54 --- Drupa Árvore Homóica

Cordia superba Cham. 0 3 --- Drupa Arb-Árv Homóica

Celastraceae

Maytenus sp 46 21 --- Cápsula Arb-Árv Homóica

Clusiaceae

Garcinia gardneriana (Triana &

Planch.) Zappi 0 16 Dez-Mar Baga Arb-Árv Dióica

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37

Apêndice A. Continuação

Família Ano

1

Ano

2

Período de

Frutificação

Tipo de

fruto

Forma

de Vida

Sistema de

Reprodução

Commelinaceae

Dichorisandra thyrsiflora J.C.Mikan 0 1 Mar-Abr Cápsula Erva ---

Dilleniaceae

Davilla latifolia Casar. 13 21 --- --- Liana ---

Davilla rugosa Poir. 0 1 --- --- Liana

Davilla sp1 1 5 --- --- --- ---

Elaeocarpaceae

Sloanea guianensis (Aubl.) Benth. 46 112 Out-Nov Cápsula Árvore Homóica

Sloanea monosperma Vell. 7 9 Fev-Abr Cápsula Árvore Homóica

Euphorbiaceae

Alchornea triplinervia (Spreng.)

Mull. Arg. 28 46 Jan-Fev Cápsula Arb-Árv Dióica

Sapium glandulatum (Vell.)Pax 20 220 --- Cápsula --- Monóica

Euphorbiaceae sp1 0 1 --- --- --- ---

Fabaceae

Copaifera trapezifolia Hayne 1 1 --- Drupa Árvore Homóica

Piptedania sp 6 7 --- Legume --- Homóica

Fabaceae sp1 1 6 --- --- --- ---

Lauraceae

Ocotea sp 17 73 --- Baga Arb-Árv Dióica

Lauraceae sp1 1 0 --- --- --- ---

Malpighiaceae

Byrsonima sp1 0 10 --- Baga --- Homóica

Malvaceae

Malvaceae sp1 2 67 --- --- --- ---

Meliaceae

Cabralea canjerana (Vell.) Mart. 11 16 Jan-Dez Cápsula Árvore Dióica

Menispermaceae

Abuta selloana Eichler 142 14 --- Drupa Liana ---

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38

Apêndice A. Continuação

Família Ano

1

Ano

2

Período de

Frutificação

Tipo de

fruto

Forma

de Vida

Sistema de

Reprodução

Monimiaceae

Mollinedia sp 2 4 --- Drupa --- Dióica

Mollinedia schottiana (Spreng.)

Perkins 54 76 Abr-Mai Drupa Arb-Árv Dióica

Mollinedia Uleana Perkins 4 6 Jun-Jul Drupa Árvore Dióica

Myristicaceae

Virola bcuhyba (Schott) Warb. 3 9 Ago-Nov Cápsula Árvore Dióica

Myrtaceae

Calyptranthes sp 111 90 --- Baga --- Homóica

Calyptranthes sp2 0 2 --- Baga --- ---

Eugenia sp1 7 0 --- Baga --- Homóica

Eugenia sp2 0 6 --- Baga --- ---

Marlierea tomentosa Cambess 39 54 Out-Dez Baga Árvore Homóica

Myrtaceae sp1 0 15 --- --- --- ---

Myrtaceae sp2 0 1 --- --- --- ---

Myrtaceae sp3 0 1 --- --- --- ---

Myrtaceae sp4 2 0 --- --- --- ---

Neomitranthes glomerata (D.

Legrand) D. Legrand 2 1 Nov-Dez Baga Árvore Homóica

Siphoneugena densiflora O.Berg 5 4 --- Baga Árvore ---

Nyctaginaceae

Guapira opposita (Vell.) Reitz 29 15 Mar-Abr Drupa Arb-Árv Dióica

Olacaceae

Heisteria silvianii Schwacke 1 0 Dez-Jan Drupa Árvore Homóica

Passifloraceae

Passiflora sp 6 18 Set-Jan Baga --- ---

Peraceae

Pera glabrata (Schott) Peopp. Ex

Baill. 0 3 Abr-Mai Cápsula Arb-Árv Dióica

Phyllanthacaceae

Hieronyma alchornoides Allemão 279 415 Fev-Abr Drupa Árvore Dióica

Primulaceae

Myrsine lancifolia Mart. 98 58 --- Drupa Arbusto Homóica

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39

Apêndice A. Continuação

Família Ano

1

Ano

2

Periodo de

Frutificação

Tipo de

fruto

Forma

de Vida

Sistema de

Reprodução

Rubiaceae

Faramea sp 95 94 --- Baga --- Homóica

Psychotria nuda (Cham. & Schltde)

Wawra 19 16 Mar Drupa Arbusto Homóica

Psychotria sessilis Vell. 5 0 --- Drupa Arbusto Homóica

Psychotria sp2 2 0 --- Drupa --- Homóica

Psychotria sp3 1 0 --- Drupa --- Homóica

Psychotria suterella Mull.Arg. 1 0 Abr-Mai Drupa Arbusto Homóica

Rubiaceae sp1 122 21 --- --- --- ---

Rubiaceae sp3 20 23 --- --- --- ---

Rubiaceae sp4 1 0 --- --- --- ---

Rutaceae

Rutaceae sp 1 0 --- --- --- ---

Sapindaceae

Allophylus edulis (A.St.-Hil. Et al.)

Hieron. Ex Niederl 0 4

Jan, Abr,

Ago, Out Baga Arb-Árv Monóica

Cupania sp 1 0 --- Cápsula --- Monóica

Cupania oblongifolia Mart. 1 1 Nov Cápsula Árvore Monóica

Matayba elaeagnoides Radlk. 16 26 Nov-Dez Cápsula Arb-Árv Monóica

Sapindaceae sp1 1 3 --- --- --- ---

Sapindaceae sp2 99 1 --- --- --- ---

Sapindaceae sp3 2 1 --- --- --- ---

Sapotaceae

Sapotaceae sp1 5 2 --- Baga --- Homóica

Solanaceae

Solanaceaesp 5 3 --- --- --- Homóica

Solanaceaesp1 4 15 --- --- --- Homóica

Solanaceaesp2 0 2 --- --- --- Homóica

Solanumsp1 0 7 --- --- --- Homóica

Symplocaceae

Symplocos sp1 0 1 --- Drupa --- Homóica

Symploccos pubescens Klotzsch ex

Benth. 0 1 --- Drupa Arb-Árv Homóica

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40

Apêndice A. Continuação

Família Ano

1

Ano

2

Período de

Frutificação

Tipo de

fruto

Forma

de Vida

Sistema de

Reprodução

Urticaceae

Cecropia glaziovii Snethl. 888 111 Jan-Dez Infrutescência Árvore Dióica

Coussapoa microcarpa (Schott)

Rizzini 368 20 Nov-Dez Infrutescência Arb-Árv Dióica

Pourouma guianensisAubl. 58 78 Fev Drupa Arbusto Dióica

Verbenaceae

Verbenaceae sp 0 5 --- --- --- ---

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CAPÍTULO 2

Estrutura espacial da chuva de sementes ornitocóricas em uma Floresta

Ombrófila Densa de Terras Baixas no sudeste do Brasil

Marisol Rios Suarez, Valéria Forni Martins & Flavio Antonio Maës dos Santos.

Resumo

Nas florestas tropicais, a chegada de sementes em locais específicos

permite determinar pontos de recrutamento de indivíduos e avaliar o potencial de

regeneração das florestas. A distribuição das sementes dispersas e de aquelas

que caem das árvores pode ser acessada por meio da chuva de sementes que

constitui a comunidade de diásporos (i.e unidades funcionais de dispersão, como

sementes e frutos), que são liberados e disseminados no ambiente. Dado que

aves são os agentes dispersores mais importantes nessas florestas, os locais

onde são depositadas as sementes por esses frugívoros aumenta a quantidade de

diásporos em um determinado ponto, o que tem importantes implicações na

identificação de “hotspots” de recrutamento. O objetivo deste trabalho é avaliar o

padrão de distribuição da chuva de sementes ornitocóricas consumidas e não

consumidas ao longo de dois anos em duas parcelas de 1 ha instaladas na

Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas no litoral norte de São Paulo (23°34’ -

23°17’ S e 45°02’ - 45°11’ W). Para isso, perguntamos: 1) Qual é o padrão

espacial da chuva de sementes ornitocóricas? 2) A densidade de sementes na

chuva está relacionada a características do ambiente, como abertura do dossel e

atributos da vegetação? 3) Existe variação no padrão espacial da chuva de

sementes e nas suas relações com as características do ambiente entre os anos?

A chuva de sementes foi coletada por Martins (2011) mensalmente durante dois

anos. Os coletores foram distribuídos aleatoriamente nas parcelas. Todas as

sementes ornitocóricas (consumidas e não consumidas) foram separadas e

quantificadas em cada coletor. Utilizarmos a análise espacial por índices de

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42

distância (SADIE) para calcularmos a agregação da chuva de sementes, a

associação das sementes com plantas ornitocóricas e a associação da chuva de

sementes nos dois anos em cada parcela. E foi usado o mapeamento de auto

vetores espaciais (SEVM) para relacionarmos a densidade de sementes às

características do ambiente. Encontramos diferenças no padrão de distribuição

das sementes ornitocóricas entre as duas parcelas e ao longo do tempo. Em uma,

a chuva de sementes foi agregada nos dois anos e não houve associação entre as

sementes e as plantas ornitocóricas. A densidade de sementes nessa parcela não

está relacionada a características do ambiente e os locais de deposição das

sementes não foram consistentes ao longo do tempo. Já na outra parcela, a chuva

de sementes foi agregada apenas no segundo ano, quando também houve

associação entre sementes e plantas ornitocóricas, apresentando relação com

algumas características do ambiente. Porém, os locais de deposição das

sementes não foram consistentes ao longo do tempo. Nossos resultados mostram

que o padrão de distribuição das sementes ornitocóricas é dependente de

contexto, ou seja, varia entre áreas e também ao longo do tempo, o que tem

importantes implicações na previsibilidade de “hotspots” para o recrutamento de

novos indivíduos na comunidade. Além disso, a agregação da chuva de sementes

ornitocóricas não necessariamente ocorre devido à associação entre sementes e

plantas parentais, já que abundância de sementes está mais relacionada com

algumas características do ambiente como densidade de árvores, altura e área

basal. Este estudo sugere que o padrão espacial da chuva de sementes não é

consistente ao longo dos anos ao estar mais relacionado às características do

habitat que mudam e que influenciam a localização espacial de “hotspots” para o

recrutamento de indivíduos nas populações vegetais.

Palavras-Chave: Dispersão, “hotspot” de recrutamento, padrões espaciais.

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43

Introdução

Nas florestas tropicais, a chegada de sementes em determinados locais,

como consequência da dispersão ativa ou da queda dos diásporos da planta

parental, tem importantes implicações no recrutamento e estabelecimento de

novos indivíduos nas populações vegetais e na conservação das florestas

tropicais (Hampe et al. 2008). Portanto, a identificação de locais que recebem uma

grande quantidade de sementes permitiria a determinação de “hotspots” de

recrutamento, importantes nos processos de regeneração natural (Houle 1998,

Nathan & Muller-Landau 2000, Hampe et al. 2008). A distribuição das sementes

na floresta, que permite avaliar locais com grandes quantidades de sementes,

pode ser acessada por meio da chuva de sementes (Frankie et al. 1974) que

constitui a comunidade de diásporos (i.e unidades funcionais de dispersão, como

sementes e frutos) liberados e disseminados no ambiente (Harper 1977).

Dado que a maior parte das populações de plantas se distribui de forma

agregada, como consequência da dispersão local (Hubbell 1979, 1980, Putz 1983,

Sterner et al. 1986, Condit et al. 2000, Manabe et al. 2000). O padrão de

distribuição das sementes deveria evidenciar esses eventos de dispersão local

com mais sementes chegando embaixo ou perto de árvores frutíferas (Janzen

1970, Connell 1971, Howe & Smallwood 1982, Clark et al. 1999, Nathan & Muller-

Landau 2000). Portanto, agregação em plantas parentais deveria levar à

agrupação na chuva de sementes e vice-versa (Peart 1989). Dessa forma, espera-

se que esses agrupamentos se tornem mais fortes quando aumenta a densidade

de plantas frutíferas na floresta (Nathan & Muller-Landau 2000). Além disso, a

maior densidade de árvores com diásporos ornitocóricos deve aumentar a

abundância de sementes nesses locais, já que atrai uma maior quantidade de

aves (Tirado & Pugnaire 2003) ao disponibilizar diversidade de recursos em

quantidades suficientes para o suprimento alimentar dos frugívoros (Levey 1988).

Por outro lado, cerca de 90% das espécies arbóreas nesses ecossistemas

produzem frutos consumidos por animais (Frankie et al. 1974, Howe & Smallwood

1982). A maior parte dessas espécies apresenta diásporos atrativos às aves, que

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44

são o principal agente dispersor nos trópicos (Pedroni 2001, Silva et al. 2002,

Takahashi & Kamitani 2004). Portanto, a dispersão por aves pode exercer grande

influência sobre a estrutura e dinâmica das populações e comunidades, já que

esses animais depositam sementes em diferentes densidades no ambiente

(Debussche & Isenmann 1994, Jordano & Schupp 2000, Takahashi & Kamitani

2004). Dessa forma, também afetam o potencial de regeneração da floresta

(Loiselle et al. 1996, Levine & Murrell 2003). Além disso, a agregação das

sementes pode também ocorrer como consequência da preferência de habitat por

parte das aves (Carlo et al. 2013).

A densidade de sementes na floresta pode ser influenciada por

determinadas características do ambiente (Debussche & Isenmann 1994). Por

exemplo, locais que têm árvores mais altas são mais atrativos para as aves do

que aqueles com árvores menores, já que representam ambientes mais propícios

para o descanso ou realização de outras atividades pelos animais (Herrera &

Jordano 1981, McDonnell & Stiles 1983, Debussche & Isenmann 1985, McDonnell

1986, McClanahan & Wolfe 1993, Jordano & Schupp 2000, Jordano et al. 2007).

Assim, deve existir maior abundância de sementes em locais próximos a árvores

altas. A densidade de sementes também deve ser maior em locais com árvores de

grande área basal, já que indivíduos grandes apresentam maior duração no seu

período de frutificação e podem ser uma fonte de alimento durante a escassez de

recursos na floresta, atraindo as comunidades de frugívoros (Anderson et al.

2005). Alguns estudos mostram que aves frugívoras com frequência concentram

suas atividades nas bordas de clareiras (e.g., Levey 1988, Hoppes, 1988), as

quais fornecem maior variedade de recursos e podem ser aproveitadas como

locais de descanso (Carlo et al. 2013). Portanto, a densidade de sementes poderia

estar relacionada com maior abertura do dossel, já que uma maior disponibilidade

de luz aumenta a produção de frutos pelas árvores localizadas na borda das

clareiras (Levey 1988, Hoppes 1988). Além disso, o comportamento das aves

varia entre forrageio por alimento e outras atividades como demonstrações de

territorialidade ou mesmo atividades reprodutivas, portanto, a probabilidade das

sementes chegarem nesses locais aumenta (Sasal & Morales 2013). Dessa forma,

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45

grandes quantidades de sementes em determinados locais da floresta representa

um conjunto de características que podem ser usadas na predição de locais com

alto potencial de recrutamento de indivíduos (Hampe et al. 2008).

No entanto, a interpretação dos padrões espaciais das sementes tem sido

limitada pela falta de abordagens analíticas que considerem múltiplas escalas

espaciais enquanto controlam a autocorrelação espacial dos dados (Hampe et al.

2008). Neste estudo, utilizamos técnicas de análise espacial para avaliar o padrão

de distribuição da chuva de sementes ornitocóricas consumidas e não consumidas

em duas parcelas instaladas na Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas do

núcleo Picinguaba no Parque Estadual da Serra do Mar, litoral norte do estado de

São Paulo. Em específico, perguntamos: 1) Qual é o padrão espacial da chuva de

sementes ornitocóricas? 2) A densidade de sementes na chuva está relacionada a

características do ambiente, como abertura do dossel e atributos da vegetação? 3)

Existe variação no padrão espacial da chuva de sementes e nas suas relações

com as características do ambiente entre os anos? Espera-se que a chuva de

sementes ornitocóricas tenha um padrão espacial agregado. Também espera-se

que exista relação entre densidade de sementes e características do ambiente,

evidenciando micro-habitats que recebem grandes quantidades de sementes. Se

os locais com maior quantidade de sementes não variam entre anos e entre as

parcelas, poderemos contribuir na identificação de hotspots de recrutamento nas

populações de plantas.

Material e métodos

ÁREA DE ESTUDO

O Parque Estadual da Serra do Mar (PESM; 23°34’ - 23°17’ S e 45°02’ -

45°11’ W) abriga o maior remanescente contínuo de Mata Atlântica, um dos

biomas considerado hotspot mundial para conservação da biodiversidade (Myers

et al. 2000). O PESM possui altitudes que variam entre o nível do mar e 1.200 m

(Alves et al. 2010) e recobre a cadeia montanhosa da Serra do Mar no litoral norte

do estado de São Paulo, sudeste do Brasil (SOS Mata Atlântica/INPE/ISA 1998).

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46

Dentre as diferentes fitofisionomias do PESM, a porção de menor altitude é

recoberta pela Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas (5 m a 100 m de

altitude; Veloso et al. 1991). Ela ocorre em solo ácido (pH 3,3 a 3,9) com alta

diluição de nutrientes e alta saturação de alumínio, de tipo Cambisolo háplico

distrófico típico, argiloso (Martins 2010).O solo é seco em alguns locais devido à

presença de leitos secos de riachos (Campos 2008). Existem varias formações

rochosas fazendo sua topografia extremamente irregular (Joly et al. 2012). As

temperaturas médias variam entre 18,4o C em julho e 25,5o C em fevereiro. Não há

estação seca marcada e a precipitação média varia entre 11 mm em julho e 376

mm em janeiro (EMBRAPA).

Os dados usados no presente estudo foram coletados em duas parcelas

não contíguas de 1 ha chamadas de TB1 e TB2 a partir daqui, localizadas na

Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas do PESM (50m – 100m). Cada parcela

foi subdividida em 100 subparcelas de 10 m x 10 m pela equipe do projeto

temático (Processo Biota/FAPESP 03/12595-7). Também foram realizados

inventários florestais, que mostraram que a composição florística e estrutura da

comunidade são semelhantes, com espécies das famílias Arecaceae,

Monimiaceae e Rubiaceae abundantes (Joly et al. 2012).

CHUVA DE SEMENTES

A chuva de sementes foi coletada por Martins (2011) durante um período de

dois anos (15 de maio de 2007 até 15 de abril de 2009). No primeiro ano, foram

sorteadas sem reposição 30 subparcelas dentro de TB1 e TB2, nas quais um

coletor de sementes foi posicionado o mais próximo possível do centro da

subparcela. Após um ano de coleta, Martins (2011) distribuiu mais 20 coletores em

cada parcela seguindo o mesmo método. A posição de cada coletor foi medida

dentro das parcelas por meio de um sistema cartesiano x, y (Figura 1). Os

coletores tinham área de 0,29 m2 com um raio de 30 cm e eram feitos de malha

com abertura de 1 mm suspensa em uma moldura redonda a 50 cm do solo. O

conteúdo dos coletores foi retirado mensalmente colocado dentro de sacos de

papel devidamente identificados e secos em estufa a 58°C durante 48 h (Martins

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47

2011). Em 2013 foram quantificados e identificados todos os diásporos

ornitocóricos. Não foram separados diásporos que caíram diretamente da planta

parental (frutos intatos) e diásporos dispersos (sementes limpas), já que tanto

frutos caídos da planta parental quanto sementes dispersas podem germinar e

gerar uma plântula. Por outro lado, frutos imaturos foram considerados como

abortados e não foram incluídos na contagem uma vez que não são diásporos

efetivos para aumentar o tamanho da população.

CARACTERÍSTICAS DO AMBIENTE

As características do ambiente que podem influenciar a densidade de

sementes ornitocóricas foram obtidas no inventário florestal previamente realizado

pela equipe do projeto temático (Processo Biota/FAPESP 03/12595-7). Utilizamos

as seguintes variáveis: (1) distância do coletor ao indivíduo com diásporos

ornitocóricos mais próximo; (2) densidade de plantas ornitocóricas na subparcela;

(3) densidade total de plantas na subparcela; (4) altura do indivíduo mais próximo

ao coletor sem considerar se tinha diásporos ornitocóricos; (5) altura do indivíduo

mais alto da subparcela sem considerar se era ornitocórico ou não; (6) área basal

das plantas ornitocóricas na subparcela; (7) área basal de todas as plantas na

subparcela e (8) abertura do dossel; obtida a partir de fotos hemisféricas tiradas

no centro de cada subparcela e analisadas com o software Data Gap Analyzer 2.0

(Frazer et al 1999, Joly & Martinelli 2010). Todos os indivíduos arbóreos incluídos

tinham um DAP > 4,8 cm. As medidas de distância foram calculadas através de

uma função de raios no programa DIVA-GIS v 5.0 (Hijmans et al. 2004).

ANÁLISE DOS DADOS

Estrutura espacial da chuva de sementes ornitocóricas

Para determinarmos a estrutura espacial da chuva de sementes

ornitocóricas, somamos todos os diásporos de todas as espécies ornitocóricas

consumidas e não consumidas que caíram em cada coletor ao longo do primeiro e

do segundo ano de coleta. Assim, obtivemos a densidade de sementes

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ornitocóricas em cada coletor em dois anos consecutivos (Grombone-Guaratini &

Rodrigues 2002). Nós utilizamos a análise espacial por índices de distância

(SADIE; Perry et al. 1999). A SADIE identifica áreas com contagens de densidade

relativamente altas (i.e., manchas ou patches) e áreas com contagens de

densidade relativamente baixas (i.e., vazios ou gaps). Dessa forma, mede a

distância mínima (Dobs) que os indivíduos da população teriam que percorrer até

atingirem uma distribuição completamente regular, onde a abundância seria igual

em todas as unidades amostrais. A agregação da população é quantificada por

meio da divisão do valor de Dobs pelo valor médio de D obtido após muitas

permutações das contagens entre as unidades amostrais. Isso resulta no índice de

agregação Ia. Valores de Ia = 1 indicam contagens distribuídas aleatoriamente na

área de estudo, Ia > 1 indica distribuição agregada das contagens e Ia < 1 indica

distribuição regular (Perry et al. 1999).

Entretanto, Ia é uma medida geral do padrão espacial, a qual não fornece

informações sobre a distribuição de manchas e vazios na área de estudo (Perry et

al. 1999). Isso é quantificado pelos índices i e j. O índice i mede o grau com

que cada unidade amostral contribui para a agregação na área de estudo por meio

da doação de indivíduos (essas unidades amostrais constituem manchas); já j

corresponde ao recebimento de indivíduos pelas unidades amostrais (vazios) e

tem sinal negativo por convenção. Valores de i maiores do que 1,5 indicam que a

unidade amostral é uma mancha; valores de j menores do que -1,5 indicam que a

unidade amostral é um vazio; valores de ambos os índices próximos a 1 indicam

que a contagem de densidade na unidade amostral está dentro dos valores

esperados segundo uma distribuição regular de densidade (Perry et al. 1999).

Para determinarmos as relações espaciais (associação, dissociação ou

ausência de relação) e variações temporais no padrão espacial entre a chuva de

sementes e as plantas ornitocóricas nas duas parcelas e em cada parcela nos

dois anos, utilizarmos a localização espacial dos adultos ornitocóricos obtida nos

inventários florestais do projeto temático “Gradiente Funcional” para se relacionar

com a localização espacial da chuva de sementes. Para isso foi calculada a

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49

medida de associação local (). Ela compara i e j dos dois conjuntos de dados

em cada unidade amostral, o que preserva a estrutura espacial de cada conjunto

de dados e evita relações positivas ou negativas decorrentes de efeitos numéricos

causados pela correlação entre valores de densidade muito distintos. varia de

+1 (associação espacial completa) a -1 (dissociação espacial completa), com 0

indicando ausência de relação entre os conjuntos de dados (Winder et al. 2001).

Todas as análises de estrutura espacial foram calculadas no software SADIE shell

v 2.0 (Conrad 2001).

Relação espacial da chuva de sementes ornitocóricas com atributos da

vegetação

Para determinar como características do ambiente influenciam a

distribuição espacial da chuva de sementes ornitocóricas, nós realizamos uma

regressão múltipla OLS entre as características do ambiente (variáveis

explanatórias) e a densidade de sementes em cada parcela nos dois anos

separadamente (variável resposta). Depois, testamos os resíduos quanto à

presença de autocorrelação espacial e estrutura. Quando encontramos

autocorrelação espacial e/ou estrutura nos resíduos, nós selecionamos filtros

espaciais para reduzir esses efeitos (Diniz-Filho & Bini 2005). Nesse caso, os

filtros foram incluídos como um segundo conjunto de variáveis explanatórias em

regressões parciais, nas quais o primeiro conjunto foram as características

ambientais (Peres-Neto & Legendre 2010).

Antes de fazermos cada regressão múltipla OLS, realizamos uma PCA para

pré-selecionar as variáveis explanatórias a serem inclusas nos modelos. Isso foi

feito porque algumas das variáveis podem ser correlacionadas. Nós selecionamos

aquelas sem colinearidade e que contribuíram mais do que o esperado ao acaso

usando o círculo de equilíbrio do biplot (Legendre & Legendre 1998). Essas

variáveis foram inclusas nas regressões e testadas novamente para presença de

colinearidade usando-se o fator de inflação de variância (VIF). Valores de VIF

acima de 10 indicam colinearidade entre variáveis. Quando houve colinearidade,

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50

as variáveis foram excluídas do modelo uma a uma (Bocard et al. 2011).

Após fazermos as regressões, a autocorrelação espacial dos resíduos foi

avaliada com o índice I de Moran (Legendre & Fortin 1989). O índice varia entre -1

e +1, com valores negativos indicando autocorrelação espacial negativa, valores

positivos indicando autocorrelação espacial positiva e 0 sendo o valor esperado na

ausência de autocorrelação espacial (Cliff & Ord 1981). Quando não há

autocorrelação espacial e/ou estrutura nos resíduos, e o R2 na regressão é alto, e

é possível assumir que a variável resposta não é espacialmente

autocorrelacionada (Beale et al. 2010). Nesse caso, os resultados da regressão

múltipla OLS foram usados para determinar as quais variáveis preditoras a

variável resposta estava relacionada. Já nos casos em que os resíduos da

regressão apresentaram autocorrelação espacial e/ou estrutura, foi necessário

incorporar a estrutura espacial dos dados nos modelos para reduzir a

autocorrelação espacial dos resíduos (Diniz-Filho & Bini 2005). Para isso, foi

utilizado o mapeamento de autovetores espaciais (spatial eigenvector mapping, ou

SEVM), que extraem autovetores (i.e. filtros espaciais) de uma matriz de

conectividade expressando as relações espaciais entre as unidades amostrais

(Borcard & Legendre 2002, Diniz-Filho & Bini 2005, Bini et al. 2009, Beale et al.

2010).

Quando nenhum filtro espacial foi automaticamente selecionado, nós

escolhemos manualmente aqueles que resultaram no maior ajuste do modelo (r2)

aumentando o componente c ao máximo, diminuindo d ao máximo, diminuindo b

ao mínimo e sem modificar o componente a (T.F Rangel, comunicação pessoal).

Esses componentes representam a partição de variância da abundância de

sementes de três formas: (1) variação da abundância de sementes explicada pelo

ambiente independentemente do espaço (a); (2) variação explicada por variáveis

ambientais espacialmente estruturadas (b); (3) variação explicada exclusivamente

pelo espaço (c); e (4) variação da abundância de sementes não explicada no

modelo (Legendre 1993). Os filtros espaciais selecionados foram incorporados

como covariáveis que expressam o espaço em regressões parciais como um

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51

segundo conjunto de variáveis preditoras. Por fim, para todas as regressões o

melhor modelo (modelo mínimo adequado ou MAM) foi selecionado segundo o

critério de informação de Akaike (AIC). O MAM foi o modelo cuja diferença entre

seu valor de AIC e o valor mínimo de AIC de todos os modelos gerados (∆i) foi

menor do que 2 (Diniz-Filho et al. 2008). As regressões múltiplas OLS, índice I de

Moran, SEVM, regressões parciais e seleção de modelos foram feitos no software

SAM versão 4.0 (Rangel et al. 2010) com α = 0,05.

Resultados

Estrutura espacial da chuva de sementes ornitocóricas

O padrão espacial da chuva de sementes ornitocóricas diferiu entre os dois

anos e entre as duas parcelas. No primeiro ano, o padrão foi aleatório em TB1 (Ia

= 0,992; p > 0,05) e agregado em TB2 (Ia = 1,397; p = 0,02). Nesta parcela, a

agregação deu-se pela presença de manchas que doaram indivíduos para áreas

vazias (i = 1,378; p = 0,04). Já no segundo ano, TB1 apresentou padrão

agregado com áreas vazias recebendo indivíduos considerando a chuva de

sementes coletada em 30 (Ia = 1,362; p < 0,05; j = -1,377; p = 0,04) e 50

coletores (Ia = 1,325; p < 0,05; j = -1,390; p = 0,03). Porém, a chuva de sementes

teve padrão aleatório em TB2 considerando-se somente 30 coletores (Ia = 1,189; p

> 0,05), enquanto que a chuva coletada em 50 coletores apresentou padrão

agregado com um balanço entre manchas e áreas vazias (Ia = 1,633; p < 0,05 i >

1,5; p = 0,005; j < -1,5; p = 0,007; Tabela 1, Figura 2).

O padrão espacial da chuva de sementes nas duas parcelas não foi

constante ao longo do tempo. Não houve relação espacial entre a chuva de

sementes entre os anos TB1 (= 0,208; 0,025 < p = 0,151 < 0,975) e TB2 (=

0,1480,025 < p = 0,219 < 0,975; Figura 3). Em TB1, no primeiro ano não houve

relação entre densidade de árvores com frutos atrativos às aves e a chuva de

sementes (= -0,047; 0,025 < p = 0,582 < 0,975). Já no segundo ano houve

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associação entre densidade de árvores com frutos atrativos às aves e a chuva de

sementes considerando-se 30 (= 0,546;p < 0,025), para 50 coletores não houve

relação (= 0,274; 0,025 < p = 0,039 < 0,975). Em TB2, a densidade de árvores

e a chuva de sementes não apresentaram relação espacial nos dois anos (-

0,043; 0,025 < p = 0,568 < 0,975), considerando-se 30 (= 0,185; 0,025 < p=

0,192 < 0,975) ou 50 coletores (= 0,018; 0,025 < p= 0,461 < 0,975) no último

ano (Tabela 2, Figura 4).

Relação espacial da chuva de sementes ornitocóricas com atributos da

vegetação

A densidade de sementes apresentou relação com características do

ambiente em TB1 só no segundo ano (p < 0,001; Tabela 3). Considerando-se

apenas 30 coletores, a densidade de sementes apresentou relação negativa com

a área basal das árvores ornitocóricas (t = -4,27; p < 0,001) e a densidade total de

plantas (t = -2,02; p = 0,05). Apresentou relação positiva com a área basal das

árvores totais (t 7,58; p < 0,001; Tabela 4). Considerando-se 50 coletores, a

densidade de sementes apresentou relação positiva com a altura da árvore mais

alta na subparcela (t = 5,92; p < 0,001) e negativa com a área basal das árvores

ornitocóricas (t = -3,58; p < 0,001). Também apresentou relação com um filtro

espacial (Tabela 5). Não houve relação entre a densidade de sementes com

características do ambiente em TB2 para nenhum dos anos.

Discussão

O padrão de distribuição das sementes no ambiente é importante para a

regeneração natural, uma vez que afeta o recrutamento de novos indivíduos na

comunidade de plantas (Houle 1998, Nathan et al. 2000, Hampe et al. 2008). Este

estudo mostra que a estrutura espacial tanto das sementes dispersas por aves

quanto das sementes que caíram diretamente da planta parental é dependente do

contexto, variando entre diferentes regiões da floresta e ao longo do tempo. No

entanto, a presença de potenciais “hotspots” de recrutamento de sementes é

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evidente na área de estudo apesar da variação temporal na sua localização

espacial. Ao contrário de outros estudos que mostram uma estabilidade temporal

nos locais considerados como potenciais “hotspot” (e.g Hampe et al.2008), nossos

resultados sugerem que a variação na distribuição das sementes na floresta

provavelmente é dada pelo comportamento das aves, que podem selecionar locais

específicos para desenvolver suas atividades. Além disso, as características do

habitat, ou mesmo a produção de frutos nesses locais, podem variar de um ano

para outro (Hampe et al. 2008), fazendo com que aqueles locais com grande

recebimento de sementes não estejam localizados nos mesmos pontos ao longo

do tempo. Portanto, a distribuição das sementes varia no tempo e no espaço como

consequência das mudanças no contexto ecológico dentro do qual ocorrem as

interações entre frugívoros e plantas (Fedriani & Wiegand 2014).

O padrão agregado na chuva de sementes tem sido relatado em outros

estudos (Jordano & Shupp 2000, Schupp et al. 2002, Fedriani et al. 2010, Herrera

et al. 2011, Carlo et al. 2013, Fedriani & Wiegand 2014). Embora, a distribuição

de sementes de forma agregada possa ser resultado do padrão espacial das

plantas adultas (Wang & Smith 2002), associação espacial entre adultos e

sementes foi observada somente para uma das áreas. Por outro lado, aves podem

depositar as sementes em locais afastados da planta parental, o que muda as

relações espaciais entre adultos e diásporos. Este estudo mostra que o padrão

espacial da chuva de sementes ornitocóricas poderia estar mais relacionado às

características da vegetação, que mudam entre diferentes áreas da floresta.

Dessa forma, determinadas características do habitat, como altura das árvores,

densidade de árvores e inclusive diferenças na área basal, podem influenciar o

número de sementes que chegam a um determinado local. A agregação das

sementes como consequência do forrageamento não indiscriminado por parte das

aves é também sugerido em outros estudos (e.g Carlo et al. 2013), sendo que os

principais fatores que influenciam as aves na seleção de determinados tipos de

habitats geralmente apontam a procura de proteção contra predadores e locais

adequados para pousar ou descansar (Carlo et al. 2013).

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A densidade total de árvores presentes na subparcela afetou de forma

negativa a densidade de sementes, já que locais com uma grande quantidade de

árvores sem frutos atrativos às aves diminui a chegada de sementes ornitocóricas

nesses locais (Morales & Carlo 2006, Rodríguez-Pérez et al. 2014). Por outro lado,

a não relação encontrada entre densidade de sementes e densidade total de

árvores ornitocóricas, sugere que a chegada de sementes em determinados

pontos da floresta não necessariamente ocorre em aqueles locais onde as aves

obtém seu alimento, deslocando-se para outros locais, o que corrobora também a

relação negativa encontrada entre densidade de sementes e área basal de plantas

ornitocóricas, uma vez que a duração no período de frutificação não afeta a

chegada de sementes nesses locais. A relação positiva encontrada entre a

abundância de sementes e altura das árvores indica que embora as aves prefiram

árvores altas somente em áreas abertas (Jordano & Schupp 2000, Jordano et al.

2007), esses animais frugívoros provavelmente estão selecionando características

similares em florestas fechadas e como consequência as sementes chegam em

locais com características similares, o que talvez sugere uma preferência das aves

por determinados aspectos da vegetação (Carlo et al. 2013).

Características do ambiente parecem representar locais com alto

recebimento de sementes. No entanto, esses locais não são constantes no tempo

e no espaço, variações que podem ser explicadas pelas diferenças nos padrões

reprodutivos entre as espécies e entre indivíduos da mesma espécie (van Schaik

et al. 1993). Dessa forma, a limitação na produção de frutos pode afetar o padrão

espacial da chuva de sementes (Nathan & Muller-Landau 2000, Rother et al. 2009)

influenciando o recrutamento de novos indivíduos nas comunidades (Jordano &

Godoy 2002, Schupp et al. 2002, Carlo 2005, Hampe et al. 2008). Este estudo

sugere que o recebimento constante de sementes em um determinado local pode

depender das características do ambiente e provavelmente da limitação de

dispersão. No entanto, a atividade que as aves exercem na deposição de

sementes parece ser importante no recrutamento de indivíduos vegetais, aspecto

fundamental na regeneração natural dos ecossistemas (Hampe et al. 2008).

Portanto, este estudo demonstra que a estrutura da vegetação tem importantes

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implicações nos padrões espaciais da chuva de sementes (Hampe et al. 2008),

assim como também ressalta o papel dos frugívoros na determinação dos padrões

espaciais das populações de plantas (Lavabre et al. 2014). Dessa forma, nossos

resultados são consistentes com a hipótese de que aves podem modelar a

estrutura espacial das comunidades de plantas ao interferir na deposição das

sementes durante o processo de dispersão (Hampe et al. 2008).

Avaliando a estrutura espacial da chuva de sementes ornitocóricas

consumidas e não consumidas, nós podemos concluir que a distribuição das

sementes de forma agregada nas florestas poderia estar mais relacionada à

chegada de sementes em determinados locais com características especificas que

podem responder a uma possível preferência das aves. No entanto, esses locais

variam no tempo e no espaço como consequência das mudanças nas interações

dentro do contexto ambiental, o que leva a uma variação espacial nos “hotspots”

de recrutamento de novos indivíduos na população. Este estudo sugere

informações relevantes que podem ser representativas em outras florestas

tropicais ou mesmo em fragmentos de restauração com características similares

às estudadas, onde a dispersão de sementes é também dominada por aves.

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64

Figura 1. Distribuição dos coletores de sementes em duas parcelas (TB1 e TB2)

de 1 ha cada instaladas na Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo

Picinguaba, Parque Estadual da Serra do Mar, litoral norte do estado de São

Paulo. (a) corresponde à parcela TB1 e (b) corresponde à parcela TB2. Pontos

pretos representam os coletores instalados em 2007, pontos brancos os coletores

instalados em 2008. Figura adaptada de Martins (2011).

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Figura 2. Distribuição espacial da chuva de sementes ornitocóricas consumidas e

não consumidas em duas parcelas de 1 ha cada (TB1 e TB2) instaladas na

Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo Picinguaba, Parque

Estadual da Serra do Mar, litoral norte do estado de São Paulo. A primeira linha

representa TB1 e a segunda, TB2. Os dados foram coletados em um período de

dois anos (2007-2009). No primeiro ano, havia 30 coletores. No segundo, foram

instalados mais 20 coletores. Assim, a primeira coluna representa os dados do

primeiro ano para 30 coletores, a segunda coluna representa os dados do

segundo ano para os mesmos 30 coletores e a terceira coluna representa os

dados do segundo ano para 50 coletores. Áreas escuras indicam a ocorrência de

sementes em manchas (i >1,3) e áreas mais claras indicam vazios (j < -1,3). Os

eixos mostram as coordenadas das parcelas em metros.

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Figura 3. Relação espacial entre a chuva de sementes ornitocóricas consumidas e

não consumidas em dois anos consecutivos. As sementes foram coletadas em 30

coletores distribuídos em duas parcelas de 1 ha cada (TB1 e TB2) instaladas na

Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo Picinguaba, Parque

Estadual da Serra do Mar, litoral norte do estado de São Paulo. Áreas escuras

indicam associação espacial e áreas mais claras, dissociação espacial. Os eixos

mostram as coordenadas das parcelas em metros.

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Figura 4. Relação espacial entre a chuva de sementes ornitocóricas consumidas e

não consumidas e a densidade de árvores com frutos atrativos às aves em duas

parcelas de 1 ha cada (TB1 e TB2) instaladas na Floresta Ombrófila Densa de

Terras Baixas do Núcleo Picinguaba, Parque Estadual da Serra do Mar, litoral

norte do estado de São Paulo. A primeira linha representa TB1 e a segunda, TB2.

Os dados foram coletados em um período de dois anos (2007-2009). No primeiro

ano, havia 30 coletores. No segundo, foram instalados mais 20 coletores. Assim, a

primeira coluna representa os dados do primeiro ano para 30 coletores, a segunda

coluna representa os dados do segundo ano para os mesmos 30 coletores e a

terceira coluna representa os dados do segundo ano para 50 coletores. Áreas

escuras indicam associação espacial e áreas mais claras, dissociação espacial.

Os eixos mostram as coordenadas das parcelas em metros.

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Tabela 1. Índices de agregação (Ia, i,j) obtidos a partir da análise espacial por

índices de distância (SADIE) realizada para a chuva de sementes ornitocóricas

consumidas e não consumidas em duas parcelas de 1 ha cada (TB1 e TB2)

instaladas na Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo Picinguaba,

Parque Estadual da Serra do Mar, litoral norte do estado de São Paulo. Os dados

foram coletados em um período de dois anos (2007-2009). No primeiro ano, havia

30 coletores. No segundo, foram instalados mais 20 coletores. Valores em negrito

são significativos (p < 0,05).

Parcela Ano Ia i j

TB1

1 0,992 0,975 -0,941

2 (30 coletores) 1,362 1,334 -1,377

2 (50 coletores) 1,325 1,206 -1,390

TB2

1 1,397 1,378 -1,304

2 (30 coletores) 1,189 1,214 -1,110

2 (50 coletores) 1,633 1,640 -1,614

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Tabela 2. Índice de associação () obtido a partir da análise espacial por índices

de distância (SADIE) realizada entre a chuva de sementes ornitocóricas

consumidas e não consumidas e a densidade de árvores com frutos atrativos às

aves em duas parcelas de 1 ha cada (TB1 e TB2) instaladas na Floresta Ombrófila

Densa de Terras Baixas do Núcleo Picinguaba, Parque Estadual da Serra do Mar,

litoral norte do estado de São Paulo. Os dados foram coletados em um período de

dois anos (2007-2009). No primeiro ano, havia 30 coletores. No segundo, foram

instalados mais 20 coletores. Valores em negrito são significativos (p < 0,025 para

associação espacial ou p > 0,975 para dissociação espacial).

Parcela Ano p

TB1

1 -0,047 0,582

2 (30 coletores) 0,546 0,009

2 (50 coletores) 0,274 0,039

TB2

1 -0,043 0,568

2 (30 coletores) 0,185 0,192

2 (50 coletores) 0,018 0,461

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Tabela 3. Resultados dos modelos de relações entre a densidade de sementes

ornitocóricas consumidas e não consumidas na chuva de sementes e atributos do

ambiente em duas parcelas de 1 ha cada (TB1 e TB2) instaladas na Floresta

Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo Picinguaba, Parque Estadual da

Serra do Mar, litoral norte do estado de São Paulo. A chuva de sementes foi

coletada em um período de dois anos (2007-2009). No primeiro ano, havia 30

coletores. No segundo, foram instalados mais 20 coletores. (A) representa o

conjunto de variáveis ambientais e (B) os filtros espaciais inseridos nos modelos.

Valores em negrito são significativos (p < 0,05).

Parcela Ano A B R2 F p

TB1

1 0,202 0,793 0,601

2 (30 coletores) 0,905 29,88 < 0,001

2 (50 coletores) 0,457 0,099 0,548 6,224 < 0,001

TB2

1 0,111 0,147 0,362 1,261 0,316

2 (30 coletores) 0,084 0,355 0,453 2,172 0,074

2 (50 coletores) 0,119 0,123 0,226 1,296 0,269

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Tabela 4. Resultados da regressão múltipla OLS entre a densidade de sementes

ornitocóricas consumidas e não consumidas na chuva de sementes e atributos do

ambiente em uma parcela de 1 ha (TB1) instalada na Floresta Ombrófila Densa de

Terras Baixas do Núcleo Picinguaba, Parque Estadual da Serra do Mar, litoral

norte do estado de São Paulo. A chuva de sementes foi coletada entre 2008 e

2009 em 30 coletores. Valores em negrito indicam modelos significativos (p <

0,05).

Variável explanatória b t p

Altura da árvore mais próxima -754,371 -1,375 0,184

Altura da árvore mais alta -1464,53 -1,194 0,246

Densidade total de plantas -1349,86 -2,022 0,056

Área basal de plantas ornitocóricas -84786,1 -4,274 <,001

Área basal total 156805,6 7,586 <,001

Distância da planta ornitocórica mais próxima 2484,554 1,144 0,265

Abertura dossel -1184,13 -1,154 0,261

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Tabela 5. Resultados da regressão parcial entre a densidade de sementes

ornitocóricas consumidas e não consumidas na chuva de sementes, atributos do

ambiente e filtros espaciais em uma parcela de 1 ha (TB1) instalada na Floresta

Ombrófila Densa de Terras Baixas do Núcleo Picinguaba, Parque Estadual da

Serra do Mar, litoral norte do estado de São Paulo. A chuva de sementes foi

coletada entre 2008 e 2009 em 50 coletores. Valores em negrito indicam modelos

significativos (p < 0,05).

Variável explanatória b t p

Altura da árvore mais próxima -583,625 -0,89 0,379

Altura da árvore mais alta 4684,88 5,926 <.001

Densidade plantas ornitocóricas 1378,694 0,856 0,397

Densidade total de plantas -895,617 -0,662 0,512

Área basal de plantas ornitocóricas -80275,79 -3,582 <.001

Distância da planta ornitocórica mais próxima -2230,95 -0,892 0,378

Abertura dossel -1626,475 -1,24 0,222

Filtro espacial -49987,6 -2,996 0,005

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo foram utilizadas análises espaciais e de estatística circular

para determinar se a disponibilidade de alimento para as aves frugívoras é

constante ao longo do tempo e também para compreender o padrão de

distribuição das sementes ornitocóricas dispersas e aquelas que caíram da planta

parental. A manutenção da comunidade de aves torna-se um fator importante na

conservação e regeneração das florestas, uma vez que o padrão de distribuição

de sementes afeta o recrutamento de novos indivíduos nas populações de plantas

(Houle 1998, Nathan & Muller-Landau 2000, Hampe et al. 2008). Dessa forma,

este estudo sugere principalmente que:

A presença de espécies importantes, com disponibilidade de frutos na

época de escassez, é fundamental na manutenção das populações de frugívoros,

já que fornecem alimento constante ao longo do ano, inclusive na época seca,

quando a abundância de diásporos diminui. No entanto, o aumento da

pluviosidade também representa um fator importante no aumento da

disponibilidade de recursos (Morellato 2003). A utilização de espécies como

Euterpe edulis, Coussapoa microcarpa, Hieronyma alchornoides ou Faramea sp

nos processos de regeneração poderia manter e acrescentar as interações entre

as espécies conservando a comunidade de animais dispersores nesses

ecossistemas (Levey 1988).

A variação na distribuição de sementes ornitocóricas depende das

características do habitat que podem mudar de um ano para outro (Hampe et al.

2008). Portanto, os locais com alta quantidade de sementes não necessariamente

estão localizados nos mesmos pontos ao longo do tempo, como consequência das

mudanças no contexto ecológico dentro do qual ocorrem as interações entre

frugívoros e plantas (Fedriani & Wiegand 2014). Dessa forma, a distribuição das

sementes varia no tempo e no espaço.

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