estrutura da obrigaÇÃo

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ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO Elementos constitutivos da obrigação 3 elementos essenciais: - os sujeitos (o credor e o devedor); - o objecto (é a prestação debitória) e o - vínculo jurídico (nexo ideal que liga o poder jurídico do credor ao dever do devedor) [Não se inclui o facto jurídico porque o mesmo fica aquém da relação obrigacional, é dela determinante, sim, mas não faz parte da sua estrutura]. Os sujeitos Credor – titular do interesse patrimonial ou ideal, dispondo para isso, de um direito subjectivo, a cuja satisfação se dirige a prestação do devedor; Devedor – é a própria pessoa sobre quem recai o dever de efectuar essa prestação. Obrigações de sujeito activo indeterminado – pode suceder que a pessoa do credor se não encontre determinada no momento da constituição da obrigação, porque a identificação do credor está dependente de um facto futuro e incerto (caso das promessas públicas – art.º 459.º), ou porque é indirecta a ligação entre o sujeito activo e a 1

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Page 1: ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO

ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO

Elementos constitutivos da obrigação

3 elementos essenciais:

- os sujeitos (o credor e o devedor);

- o objecto (é a prestação debitória) e o

- vínculo jurídico (nexo ideal que liga o poder jurídico do credor

ao dever do devedor)

[Não se inclui o facto jurídico porque o mesmo fica aquém da

relação obrigacional, é dela determinante, sim, mas não faz parte da

sua estrutura].

Os sujeitos

Credor – titular do interesse patrimonial ou ideal, dispondo para isso,

de um direito subjectivo, a cuja satisfação se dirige a prestação do

devedor;

Devedor – é a própria pessoa sobre quem recai o dever de efectuar

essa prestação.

Obrigações de sujeito activo indeterminado – pode suceder que a

pessoa do credor se não encontre determinada no momento da

constituição da obrigação, porque a identificação do credor está

dependente de um facto futuro e incerto (caso das promessas

públicas – art.º 459.º), ou porque é indirecta a ligação entre o sujeito

activo e a relação obrigacional (ex: títulos ao portador). Logo, não se

poderá falar de obrigações a que falhe o requisito da determinação

dos respectivos sujeitos.

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Page 2: ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO

Transmissões das Obrigações – pode acontecer que a cada um dos

sujeitos, seja o activo, seja o passivo, se suceda um outro sujeito.

O objecto: a prestação debitória. Objecto imediato e objecto

mediato

O objecto da obrigação é a prestação (o comportamento positivo ou

negativo, a que o devedor se encontra adstrito e que serve à

satisfação dos interesses do credor).

Ex.: se um proprietário deve a fruta que vendeu, pode distinguir-se:

- entrega da fruta (objecto imediato);

- a própria fruta (objecto mediato).

Para a prestação de factos os contornos do referido acima esbatem-

se (tudo é comportamento).

Modalidades da prestação

Temos, assim, que o objecto da obrigação é a prestação. E ficou, por

outro lado posto em relevo que nas obrigações em que é devida uma

coisa é viável fazer a distinção entre objecto imediato “a prestação” e

o objecto mediato “a coisa em si”.

Advirta-se que o objecto da obrigação também nada tem a ver com a

satisfação do interesse que o seu cumprimento visa ou proporciona

ao credor.

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Um exemplo duma prestação de coisa.

Page 3: ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO

Prestação de facto

Positiva e Negativa

Temos, ainda, as prestações de facto de terceiro.

O obrigado tanto se pode comprometer pelo resultado (obrigação de

resultado), como simplesmente a empregar os devidos meios para

conseguir um resultado (obrigação de meios).

Prestação de Coisa

- dar;

- entregar;

- restituir.

A propriedade das coisas transfere-se por força do próprio

contrato (art.º 408.º)

As prestações de coisa são, por regra, prestações de entrega: visam

meras transferências de posse, deixando intocada a titularidade do

domínio ou propriedade sobre a coisa (ex: art.º 1185.º).

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Prestações do técnico, do

assalariado, do empregado, a

prestação do mandatário…

Ainda, o cumprimento do

contrato-promessa.

- Quando o devedor de

compromete a não fazer

algo;

- quando a prestação se

traduz em tolerar um dado

comportamento do credor.

Page 4: ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO

As prestações de dare são a excepção, a regra nas prestações de

coisa é a simples transmissão da posse – um acto de entrega, pois, ou

de restituição.

Prestação de coisa futura

Dispõe-se de coisas que ainda carecem de existência ou de coisas

que, tendo embora existência, sobre elas o disponente não tem ainda

qualquer direito ao tempo da declaração negocial (art.º 211.º).

É admitida a prestação de coisa futura – art.º 399.º

Para que uma dada coisa seja havida como coisa futura torna-se

necessário que haja a suposição ou perspectiva de ela vir a entrar no

património do alienante.

Em que termos responderá o comerciante perante o

comprador se não vier a receber os artigos com que conta?

1.º - deve ter-se em conta as disposições contratuais acordadas (o

comerciante pode ter-se precavido);

2.º - art.º 880.º - o vendedor fica obrigado a exercer as diligências

necessárias para que o comprador adquira os bens vendidos,

segundo o que for estipulado ou resultar das circunstâncias do

contrato. Há que ter em atenção ao art.º 795.º, n.º1 (perda total da

contraprestação) e ao art.º 793.º, n.º1 (redução do preço na parte

correspondente).

3.º - art.º 880.º, n.º 2 (atribuição pelas partes ao contrato de carácter

aleatório) – neste caso é sempre devido o preço, ainda que a

transmissão dos bens não chegue a verificar-se; se se clausular a

venda da própria esperança, o comprador terá que pagar o preço,

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Page 5: ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO

mesmo que a natureza não tenha dado os frutos, ou, assim como os

deu, assim os tenha destruído.

Prestações Instantâneas e prestações duradouras

Prestação instantânea: realiza-se de uma só vez, se faz dum só golpe,

num só momento temporal.

Prestação duradoura: Prolonga-se no tempo, dependendo

precisamente a extensão ou montante delas dos limites temporais

por que duram; podem consistir num comportamento ininterrupto

(prestação de execução continuada) ou prestações singulares que se

sucedem no tempo e, em princípio com uma certa periodicidade

(prestações reiteradas ou periódicas).

Exemplo: quando vemos a relação obrigacional pelo lado do locador,

deparamos com uma prestação de execução continuada; quando a

encaramos pelo lado do locatário, e tendo em vista o pagamento da

renda por este, estamos, atenta precisamente a periodicidade desse

pagamento, perante uma prestação periódica.

As prestações duradouras distinguem-se das prestações fraccionadas.

Quanto às últimas, temos uma prestação fixada de avanço, ou seja,

previamente – embora o seu cumprimento se venha a escalonar por

uma dado período de tempo (assim, aqui o tempo não desempenha

nenhum papel no conteúdo e dimensão da prestação, mas apenas na

sua execução). Ex: venda a prestações (arts.º 781.º e 934.º)

A diferença entre prestações instantâneas e duradouras é muito

relevante! Enquanto nas primeiras, no caso de A vender a B uma

casa, que vem a perecer por facto fortuito, por exemplo, o comprador

terá que fazer a entrega da totalidade do preço, no respeitante às

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Page 6: ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO

segundas, e pegando no exemplo do locatário, este será obrigado só

a pagar a renda correspondente ao tempo já decorrido.

No caso de resolução (art.º 434.º),

se se trata de prestação duradoura … a resolução não abrange

as prestações já efectuadas (porque as rendas já estão pagas!);

se se trata de prestação fraccionada … a resolução vai afectar

todas as fracções da prestação, que devem ser devolvidas.

Prestações fungíveis e não fungíveis

Prestações não fungíveis: são aquelas em que a prestação (repare-se,

o comportamento) não pode, em razão da sua natureza, ou por

vontade das partes, ser realizada por outra pessoa que não o devedor

mesmo.

Prestações fungíveis: a contrario

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