estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS PRÓ-REITORIA DE GESTÃO DE PESSOAS Curso de Especialização em “Gestão Pública” Pós-Graduação Lato Sensu ESTRESSE PROFISSIONAL: ESTUDO DE CASO SOBRE OS PRINCIPAIS SINTOMAS APRESENTADOS PELOS SERVIDORES DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA Roseli Aparecida Gonçalves SÃO CARLOS 2011

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Page 1: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS PRÓ-REITORIA DE GESTÃO DE PESSOAS Curso de Especialização em “Gestão Pública”

Pós-Graduação Lato Sensu

ESTRESSE PROFISSIONAL: ESTUDO DE CASO SOBRE OS PRINCIPAIS SINTOMAS

APRESENTADOS PELOS SERVIDORES DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA

Roseli Aparecida Gonçalves

SÃO CARLOS

2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS PRÓ-REITORIA DE GESTÃO DE PESSOAS Curso de Especialização em “Gestão Pública”

Pós-Graduação Lato Sensu

ESTRESSE PROFISSIONAL: ESTUDO DE CASO SOBRE OS PRINCIPAIS SINTOMAS

APRESENTADOS PELOS SERVIDORES DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA

Roseli Aparecida Gonçalves

Monografia Apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato sensu em Gestão Pública da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) como Parte dos Requisitos para Obtenção do Título de Especialista em Gestão Pública.

Orientadora: Ângela Maria Carneiro de Carvalho

SÃO CARLOS 2011

Page 3: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

Gonçalves, Roseli Aparecida.

Estresse Profissional: Estudo de Caso sobre os Principais Sintomas Apresentados pelos Servidores de uma Universidade Pública / Roseli Aparecida Gonçalves - São Carlos: UFSCar, 2011.

97 p.

Monografia - Pós-Graduação Latu Sensu em Gestão Pública - Universidade Federal de São Carlos, 2011.

1. Estresse Profissional. 2. Servidor Público. 3. Doenças Psicossomáticas. I. Título.

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____________________________________________ Orientadora Profa. Dra. Ângela Maria Carneiro de Carvalho

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Na certeza de um reencontro, é de onde eu retiro as forças para sonhar, realizar

quaisquer projetos e seguir adiante... A Fermiana C. Gonçalves (minha mãe) e a Carina Luiza Manolio (minha”eterna”

orientadora), “in memorian”,

Dedico.

Page 6: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

AGRADECIMENTOS

A autora agradece a valiosa colaboração que nos permitiu a realização deste

trabalho:

A DEUS, pois somente devido a tudo o que ele me concede cheguei até aqui:

agradeço pelo início e término desta obra.

Aos meus Pais, Fermiana e Alfredo Gonçalves Junior, base da minha

formação e da minha família.

A Carina Luiza Manolio, pela disposição em me orientar, ainda que por tão

pouco tempo, mas o suficiente para ter a minha admiração...

À minha orientadora de fato Ângela Maria Carneiro de Carvalho, pelo

profissionalismo; pela paciência; pelas críticas; por me ensinar como me conduzir em uma

pesquisa científica e por conseguir me dar o equilíbrio necessário para o desenvolvimento

desta monografia.

Ao Prof. Dr. Lucas Cordeiro Freitas, pela disponibilidade e pela confiança em

mim depositada ao aceitar avaliar este trabalho, pelas sugestões dadas (e acatadas), que nos

possibilitou “enriquecer” ainda mais este estudo.

A Profa. Dra. Odete Rocha, por me auxiliar na tradução do resumo para o

Inglês.

A Dayse de L. Gonçalves, pelas sugestões e por perder muitas das suas

“madrugadas” na leitura deste trabalho para a correção do meu Português, às vezes um tanto

quanto... – ahn, “rebuscado”.

A Maria Elizabeth G. Moreira, pela amizade e pela companhia quando da

realização do curso de Gestão Pública (EAD) e pela ajuda no layout das figuras.

Ao João A. da S. Affonso, pelo encorajamento em determinados momentos de

“crise”, o que de alguma maneira muito me ajudou, para não pensar em desistir do curso.

À Bibliotecária Teresa Luzia Bessi Lopes, pela ajuda e pelas “dicas” preciosas

para referenciar este trabalho.

A Siomara Mello de Almeida Prado e ao Ronildo Santos Prado, meus

grandes companheiros de Curso e de Grupo, amizades que levarei comigo.

Aos Professores e Colegas do Curso de Gestão Pública – EAD/UFSCar, pela

salutar convivência.

Page 7: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

À Universidade Federal de São Carlos e à Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas

(ProGPe), pela oportunidade.

Ao PPGERN, que ao me “acolher” na condição de Servidor Público, permitiu-

me a inscrição e a conclusão deste Curso.

Ao Departamento de Engenharia de Produção – DEP da UFSCar, pelo

suporte.

E a você, de quem me lembrei, embora não tenha citado, mas que tenho a

certeza de que torceu por mim, o meu muito obrigado.

Page 8: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

Um homem se humilha,

Se castram seu sonho, Seu sonho é sua vida,

E vida é trabalho... E sem o seu trabalho,

O homem não tem honra, E sem a sua honra,

Se morre, se mata... (Gonzaguinha)

Page 9: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

RESUMO

A finalidade desta pesquisa é realizar um “Estudo de Caso” sobre os principais sintomas do

estresse profissional apresentados pelos servidores de uma universidade pública. Nesse

sentido, procurou-se obter informações que pudessem demonstrar essa ocorrência, bem como

fazer uma investigação sobre o que é, suas causas e os principais sintomas do estresse, que em

alguns casos, quando não devidamente tratados, podem evoluir para patologias mais graves, a

chamada doença psicossomática, por exemplo. Conhecida como “doença do século”, a doença

psicossomática, ainda é pouco conhecida e compreendida, apesar de se falar muito sobre ela.

Nesta pesquisa empírica, utilizaram-se dados investigados junto a 84 (oitenta e quatro)

servidores públicos, lotados em um Centro de Ciências Biológicas. A base da amostra é de

homens e mulheres com faixa etária entre 20(vinte) e 70(setenta) anos, no sentido de avaliar a

ocorrência ou não de estresse, sintomatologias e doenças psicossomáticas.

Palavras-chaves: estresse profissional, servidor público, doenças psicossomáticas.

Page 10: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

ABSTRACT

The purpose of this research is to conduct a case study on the main symptoms of Professional

stress presented by a public university servers. Accordingly, we tried to obtain information

that could demonstrate this occurrence as well as doing a research to characterize what it is, to

determine the cause and the main symptoms of stress, which in some cases, when not

properly treated can develop into more serious diseases, the so-called psychosomatic

diseases, for example. Known as “disease of the century”, psychosomatic disease is poorly

known and understood, despite much discussion on it. In empirical research we used data

obtained from eighty-four servants, belong to the Center of Life Sciences. The base of the

sample are men and women aged between twenty and seventy years, aiming in to assess

presence or absence of stress of psychosomatic illnesses and symptomatology.

Keywords: professional stress, public servers, psychosomatic illnesses.

Page 11: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

LISTA DE SIGLAS

CLT

EUA

FUNCEP

JK

LER

MARE

NAFTA

OEA

OMS

PDRAE

PQV

RJU

SEDAP

UDN

Consolidação das Leis do Trabalho

Estados Unidos da América

Fundação Centro de Formação do Servidor Público

Juscelino Kubitschek

Lesões por Esforços Repetitivos

Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado

Tratado Norte Americano de Livre Comércio

Organização dos Estados Americanos

Organização Mundial da Saúde

Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado

Programa de Qualidade de Vida

Regime Jurídico Único

Secretaria de Administração Pública da Presidência da República

União Democrática Nacional

Page 12: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Curva do Estresse ..............................................................................................40

Figura 02 - Interação Biopsicossocial ..................................................................................50

Figura 03 - Porcentagem de pessoas que sabem o que é o estresse .....................................68

Figura 04 - Porcentagem de pessoas que sabem o que é o estresse ocupacional .................68

Figura 05 - Porcentagem de pessoas que realizam atividades de trabalho sob influência de

estímulo estressor ................................................................................................................ 69

Figura 06 - Porcentagem de pessoas que se estressam em decorrência do trabalho que

exercem ................................................................................................................................71

Figura 07 - Porcentagem de pessoas que se consideram ansiosas .......................................73

Figura 08 - Porcentagem de pessoas que vivenciam estresse no trabalho ...........................75

Figura 09 - Porcentagem de pessoas que consideram o trabalho motivo de satisfação

pessoal ..................................................................................................................................76

Figura 10 - Porcentagem de pessoas que necessitaram procurar ajuda médica em virtude

do sintoma do estresse .........................................................................................................77

Figura 11 - Porcentagem de pessoas que sabem o que é o “burnout” .................................78

Page 13: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - F40-F48 - Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o "stress" e

transtornos somatoformes – CID 2010 ..............................................................................63

Quadro 02 - Agentes estressores detectados em uma universidade pública e percentual de

servidores públicos que realizam atividades de trabalho sob a influência de agente(s)

estressor(es) .......................................................................................................................70

Quadro 03 - Principais sintomas do estresse apresentados pelos servidores de uma

Universidade Pública..........................................................................................................72

Quadro 04 - Sintomatologias da Ansiedade detectadas em uma universidade pública.....74

Quadro 05 - Principais medidas a serem tomadas para evitar situação de estresse...........75

Page 14: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................

2 PROBLEMA DE PESQUISA .......................................................................................

3 OBJETIVOS ...................................................................................................................

4 JUSTIFICATIVA ...........................................................................................................

5 REFERENCIAL TEÓRICO .........................................................................................

5.1 Breve Histórico Sobre a Regularização do Trabalho no Brasil ..............................

5.1.1 O Governo JK, a Reforma Militar, a Administração Pública na Nova Constituição..

5.1.2 O Governo Collor de Mello (1990) ...........................................................................

5.1.3 A Era Fernando Henrique Cardoso – FHC (1995/2002) ...........................................

5.1.4 O Governo Luiz Inácio Lula da Silva – Lula (2003/2006-2006/2010) ......................

5.2 Conjuntura Mundial ...................................................................................................

5.2.1 Marxismo ...................................................................................................................

5.2.2 Taylorismo/Fordismo .................................................................................................

5.2.3 Neoliberalismo ...........................................................................................................

5.3 O Estresse .....................................................................................................................

5.3.1 Agentes estressores ....................................................................................................

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5.3.2 Principais sintomas do estresse ..................................................................................

5.3.3 Doenças psicossomáticas relacionadas ao estresse ....................................................

5.3.4 O estresse e o trabalho profissional (ocupacionais) ..................................................

6 METODOLOGIA ..........................................................................................................

7 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................

7.1 Sobre a Obtenção dos Dados ......................................................................................

7.2 Delineamento da Pesquisa ..........................................................................................

7.3 Coleta dos Dados .........................................................................................................

7.4 O Fator Político Atuando como Estímulo Estressor ................................................

7.5 Trabalho e Estresse .....................................................................................................

8 RESULTADOS ALCANÇADOS..................................................................................

9 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES....................................................................

10 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................

APÊNDICE A ....................................................................................................................

APÊNDICE B ....................................................................................................................

41

48

51

65

66

66

67

67

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Page 16: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

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1 INTRODUÇÃO

O ser humano desde os mais remotos tempos sempre teve preocupação com a

sobrevivência e na sua luta pela existência, o homem pescava, caçava e recolhia o alimento

que a natureza lhe oferecia. A atividade não era fácil, mas o contato com a natureza, a

sensação de liberdade e o empenho para conseguir a caça e/ou o alimento com o qual iria

prover a sua prole, causava-lhe uma sensação de prazer.

Hoje, de maneiras e formas diferentes, o ser humano ainda “luta” pela

sobrevivência lançando mão de uma atividade denominada trabalho, assim como o mundo

através dos séculos sofreu (e continua a sofrer) transformações de toda ordem, a concepção de

trabalho também sofreu muitas transformações de ordem política, social, religiosa,

econômica, etc.

O paradigma moderno para trabalho é baseado em eficiência, eficácia,

produtividade e na sua relação com custo/benefício. Essa é a exigência da atualidade para as

organizações/empresas e para os homens, sendo que, aquele que não possuir certas

habilidades e “atitudes”, está condenado ao revés do desemprego e/ou, no caso das empresas,

à falência.

A carga de responsabilidade que enfrenta no dia a dia acaba por fazer com que

o homem se sinta fisicamente debilitado, “estressado” e doente, quando não dispõe de

instrumental suficiente para se proteger dos riscos, segundo Lipp (2001). O que ocorre então,

é que, apesar de o estresse não ser considerado uma doença, acaba ocasionando no organismo

um desequilíbrio e desestabilização em potencial, e aí sim, causa doenças.

De acordo com Mcgrath1 apud Ramos (2003, p.141): O estresse no trabalho existe sempre que os indivíduos percepcionam um desequilíbrio substancial entre as exigências impostas pelo trabalho e a sua capacidade de resposta, sendo que a não satisfação dessas exigências pode acarretar consequências desagradáveis.

Ao iniciar esta pesquisa, o propósito da autora desta Monografia era tão

somente estudar sobre o que é o estresse, as suas causas e como o trabalho realizado sem

prazer, sob pressão, poderia estar contribuindo para fazer adoecer os servidores de uma

universidade pública.

1 McGRATH, J.E. Stress and behavior in organization. 1976.

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Os muitos anos de Instituição, a observação de colegas que ao longo dos anos

apresentavam sintomas do estresse, ou até doenças cuja origem desconheciam, fizeram-na

pesquisar sobre o assunto, numa tentativa de reunir dados que pudessem demonstrar em que

situações o estresse, quando não devidamente detectado e tratado, poderia evoluir para um

quadro de doença psicossomática.

O estresse emocional é definido por Selye (1965) como uma “reação do

organismo com reações psicofisiológicas que ocorrem frente a situações que o amedrontam,

excitam ou o façam feliz”, sendo objeto de várias pesquisas na atualidade as quais mostram

um aumento em sua incidência, segundo Sadir & Lipp (2009, p.118). Nesse sentido, a autora

optou por realizar uma estratégia de pesquisa “estudo de caso” sobre as principais

sintomatologias do estresse, percebidos na busca pelos paradigmas apontados, quando da

realização do trabalho desempenhado.

Entendido o estresse como uma reação complexa com componentes físicos e

psicológicos, ao servidor desavisado ficará difícil uma reação positiva frente aos distúrbios

causados. Quando o prolongamento de suas causas e os meios de enfrentamento são escassos,

o estresse pode avançar para um quadro de maior gravidade, tornando-se o corpo vulnerável a

diversas doenças, inclusive as doenças psicossomáticas.

Apesar de bastante comentada e ser conhecida como a “doença do século”, a

maioria das pessoas ainda desconhecem quais sejam as principais doenças psicossomáticas e

como ocorrem; por isso, será também função desta pesquisa, a título de orientação, identificar

de que forma e em quais situações a atividade ocupacional exercida “sob pressão” poderá

levar os servidores públicos a adquirir uma doença psicossomática.

Um dado de grande importância, para o estudo de caso, será avaliar se o

servidor público tem percepção da extensão do estresse (supondo-se que exista essa situação).

Assim sendo, e de onde os trabalhadores tiram estímulos/motivação, para ajudá-los a

prosseguir, realizando as suas atividades durante a fase de adaptação? O que fazem para

tornar o trabalho menos estressante e como conseguem trabalhar e conciliar a vida familiar,

para ter uma boa qualidade de vida?

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2 PROBLEMA DE PESQUISA

As mudanças organizacionais mudam o ambiente e a vida do trabalhador, e, se

para certas pessoas, é visível a facilidade de adaptação ao novo sistema, para algumas delas há

conflito, em razão de realizarem atividades diferentes daquelas até então realizadas (muitas

vezes até por décadas), ou por serem desestimulantes. Somado a isso, compute-se as precárias

condições de trabalho, tanto a nível de ambiente físico como organizacional, para que os

mesmos comecem a apresentar certos sintomas relacionados ao estresse.

A autora deste trabalho, tendo conhecimento de alguns desses sintomas, passou

a observar e perceber na população estudada que os mesmos se repetiam com uma

determinada frequência em diferentes indivíduos. Muitos adoeceram, afastaram-se do trabalho

e/ou se aposentaram, sem sequer saber a verdadeira causa do “mal” que os afetou.

Foi no sentido de prevenir, conscientizar e esclarecer que buscamos realizar

este trabalho, na hipótese de que, realmente, os agravamentos dos sintomas causados pelo

estresse, poderiam levar o trabalhador, no caso, o servidor público, a adquirir uma doença

psicossomática. Daí, então, surgiu o interesse da autora em reunir alguns dados que pudessem

responder ao problema de pesquisa, objeto deste estudo:

QUAIS OS PRINCIPAIS SINTOMAS DO ESTRESSE PERCEPTÍVEIS NO

AMBIENTE DE TRABALHO E QUE PODEM LEVAR O SERVIDOR PÚBLICO A

ADQUIRIR UMA DOENÇA PSICOSSOMÁTICA?

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3 OBJETIVOS

Esta pesquisa teve por objetivo, fazer um estudo junto aos servidores de uma

universidade pública, sobre os principais sintomas de estresse percebidos quando da

realização de suas atividades profissionais.

Através de entrevistas e questionários aplicados, foram detectados o nível de

conhecimento sobre o estresse e seus sintomas e os principais sinais percebidos pela

população estudada.

O objetivo final foi o de esclarecer como a atividade laboral realizada “sob

pressão”, por períodos prolongados e sem tratamento adequado, pode causar o desgaste do

corpo e da mente, culminando nas doenças conhecidas como psicossomáticas.

4 JUSTIFICATIVA

Esta pesquisa justifica-se na medida em que ao analisarmos os conceitos de

estresse, conseguimos perceber sintomas evidentes na população de servidores de uma

universidade pública. Esses sintomas imperceptíveis para o leigo e também desconhecidos por

alguns dos servidores, na medida em que evoluem, agravam-se acabando por culminar nas

doenças profissionais/ocupacionais e nas doenças psicossomáticas.

Através de pesquisa exploratória com aplicação de questionários e entrevistas,

buscaremos ter uma quantificação sobre o grau de conhecimento da população estudada com

relação ao tema abordado: sintomas do estresse e as doenças psicossomáticas, onde será dada

ênfase ao fato de que na literatura, muitas das doenças adquiridas são em função do estresse

produzido em decorrência da atividade de trabalho exercida.

O levantamento dos dados referentes aos principais sintomas apresentados e

daqueles que evoluíram para um quadro mais grave (doenças psicossomáticas), também serão

de primordial importância para o estudo. Um alerta, sobre os prejuízos físicos e psíquicos que

o estresse pode ocasionar pela não adaptação do indivíduo às condições de trabalho, será feito

sob a forma de conscientização.

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5 REFERENCIAL TEÓRICO

5.1 Breve Histórico sobre a Regularização do Trabalho no Brasil

Quando se trata de trabalho, todo ser humano tem a necessidade de sentir-se

protegido e possuidor de certas garantias. Essas condições são essenciais para o seu equilíbrio

físico e mental, no caso de estar empregado, ou na perspectiva de obter um emprego.

No Brasil, podemos dizer que esse fato se concretizou na era Vargas, onde

Getúlio através do Decreto-Lei Nº 5.452 (1 de maio de 1943), aprova a Consolidação das

Leis do Trabalho - CLT, que vem de encontro a alguns anseios há muito almejados.

A CLT em seu Título I - Artigo 1º – versa que a consolidação estatui as normas

que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho, nela previstas.

A carteira de trabalho e previdência social devidamente registrada, a aprovação

do decreto que regulamenta a fixação do salário mínimo e a estipulação da duração normal da

jornada de trabalho, fixada em 8(oito) horas diárias, são alguns dos benefícios que dão ao

trabalhador, agora, a segurança e a tranqüilidade necessária para o exercício da sua atividade

de trabalho (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm).

Com relação às Universidades Públicas Federais e às Autarquias, a partir de

11/12/1990, através da Lei 8.112, foi adotado o Regime Jurídico Único – RJU.

Essa Lei institui o Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos da União,

das Autarquias, e das Fundações Públicas Federais. Para os efeitos dessa Lei, servidor é a

pessoa legalmente investida em cargo público. Cargo público é o conjunto de atribuições e

responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um

servidor (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8112cons.htm).

Portanto, temos no Brasil, os servidores estatutários (vinculados ao RJU) e os

celetistas (obedecem a CLT).

Isso posto, será possível avaliar também, ao final deste estudo, se essas

medidas que foram na época tão festejadas pelos trabalhadores ainda são sinônimo de

tranquilidade e estabilidade profissional, possibilitando que os trabalhadores se mantenham

no nível de eustress, ou seja, apresentando um estresse positivo (sensação de realização

pessoal, bem-estar e satisfação das necessidades), quando o assunto é emprego.

Após Vargas (1930/45), novos governos e novas mudanças administrativas

tiveram grande impacto na vida do trabalhador, dentre eles:

Page 21: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

21

5.1.1 O Governo Juscelino Kubitschek (JK), a Reforma Militar, a Administração

Pública na Nova Constituição

Administração Juscelino Kubitschek – JK (1956/60)

Juscelino Kubitschek iniciou sua carreira política em dezembro de 1933,

atuando como Secretário do Governo de Minas Gerais, a pedido de Benedito Valadares

(nomeado Interventor de Minas Gerais pelo Governo Provisório de Getúlio Vargas).

A partir de então, candidata-se e elege-se a Deputado Federal em 1934 (tomou

posse em 1935); em 1937, teve o seu cargo extinto, em virtude do golpe de estado dado por

Getúlio Vargas (institui-se o Estado Novo); em 1940, é nomeado Prefeito de Belo Horizonte,

novamente a convite de Benedito Valadares; elege-se Deputado Federal pelo PSD em 1945;

em 1950 elege-se Governador de Minas Gerais (toma posse em 31 de janeiro de 1951).

Com a morte do Presidente Getúlio Vargas em 1954 (eleito Presidente em

1950), assume o Vice-Presidente Café Filho, um dos grandes opositores políticos de JK,

futuro candidato à Presidência da República.

Enfrentando uma infinidade de pressões das oposições da época

(principalmente da União Democrática Nacional - UDN), Juscelino Kubitschek é eleito o 20º

Presidente do Brasil (1955), ao lado de João Goulart (o “Jango”) Vice-Presidente. Foi

empossado em 31 de janeiro de 1956 e era sua tarefa agora, controlar as expansões do povo

que sofria com a perda de Vargas, para que não fosse gerado um movimento de desordem.

Dentre essa massa sofrida (povo), destacavam-se as classes trabalhadoras, que

em momento anterior haviam se regozijado com as condições de trabalho proporcionadas por

Getúlio. Era grande a responsabilidade de JK com a herança deixada por Vargas. Sua

proposta de governo incluía trinta metas que objetivavam gerar o progresso e a modernização

do país, sendo que a administração paralela foi um dos artifícios utilizados pelo Governo JK,

no sentido de atingir o seu plano de metas (“50 anos em 5” – 50 anos de progresso em 5 anos

de governo) rumo ao seu projeto desenvolvimentista.

Para Lima Junior (1998), a administração paralela foi uma tendência de se evitar conflitos.

A política econômica desenvolvimentista de Juscelino apresentou pontos positivos e negativos para o nosso país. A entrada de multinacionais gerou empregos, porém, deixou nosso país mais dependente do capital externo. O investimento na industrialização deixou de lado a zona rural, prejudicando o trabalhador do campo e a produção agrícola. O país ganhou uma nova capital, porém a dívida externa contraída para esta obra, aumentou significativamente. A migração e o êxodo rural

Page 22: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

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descontrolados fez aumentar a pobreza, a miséria e a violência nas grandes capitais do sudeste do país (http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/governo_jk.htm).

O Governo JK: se por um lado trouxe a riqueza, o desenvolvimento de grandes centros e criou uma classe média forte, também aumentou a miséria do proletariado e apesar dos vários órgãos criados em face da industrialização, ainda não foi nesse período que o servidor público conseguiu conquistas trabalhistas significativas para a classe.

JK foi ainda: eleito Senador por Goiás em 1961; indicado em 1962 pela Organização dos Estados Americanos (OEA), Coordenador da Aliança para o Progresso. Com a Revolução de 1964, teve o seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos. Parte para o exílio voluntário em 14 de junho de 1964, retornando definitivamente ao Brasil em 1967.

JK morre em 22 de agosto de 1976, vítima de um acidente automobilístico no

Km 165 da via Dutra, Brasil (www.memorialjk.com.br).

Page 23: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

23

A Reforma Militar (Decreto Lei 200/67) – (1967)

Na Ditadura Militar, temos novas transformações. Devem ser ressaltados três

aspectos: a ampliação da função econômica do Estado com a criação de várias empresas

estatais, a facilidade de implantação de políticas (pela autoridade do regime) e o

aprofundamento da divisão da administração pública, através do Decreto Lei 200/67 –

Administração Direta.

Warlich2, apud Lima Junior (1998), destaca cinco princípios norteadores da

reforma administrativa militar: 1) planejamento, descentralização, delegação de autoridade,

coordenação e controle; 2) expansão das empresas estatais, de órgãos independentes

(fundações) e semi-independentes (autarquias); 3) fortalecimento e expansão do sistema de

mérito; 4) diretrizes gerais para um novo plano de classificação de cargos; 5) reagrupamento

de departamentos, divisões e serviços em 16 (dezesseis) ministérios.

Sofreu, o servidor público, com o Regime Militar, onde qualquer expressão

contrária ao governo eram abafada, muitas vezes com o uso da violência. Educadores

passaram a ser perseguidos em virtude de posicionamentos ideológicos e na educação, o

caráter antidemocrático da proposta ideológica do regime militar, culminou na prisão e

demissão de professores; universidades foram invadidas; estudantes foram presos e feridos.

Durante esse governo, o servidor público passou por um período de estresse

violento gerado pelo medo e pela incerteza do amanhã. Contudo, foi nesse período que houve

a grande expansão das universidades no Brasil, e a criação do vestibular classificatório.

Sem desfazer dos méritos advindos das mudanças empreendidas, é fato que a

tão desejada e necessária valorização do servidor público, novamente, não ocorreu, a exemplo

de governos anteriores.

2 WARLICH, B. A reforma administrativa no Brasil: experiência anterior, situação atual e perspectivas. Uma apreciação geral. Revista de Administração Pública, v.18, n.1, jan/mar. 1984.

Page 24: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

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A Administração Pública na Nova Constituição - (1998)

Instituiu regras iguais às que deveriam ser seguidas pela administração pública

indireta. A nova Constituição da República Federativa do Brasil voltou a fortalecer a

administração direta. O Governo Sarney recria o Ministério Extraordinário para Assuntos

Administrativos e também a Comissão Geral do Plano de Reforma Administrativa (1985).

Para o suporte do programa de reformas na área administrativa, tivemos os

seguintes órgãos: a Secretaria de Administração Pública da Presidência da República –

SEDAP; a Fundação Centro de Formação do Servidor Público – FUNCEP; FUNCEP da

Escola Nacional de Administração Pública – ENAP, com o propósito de formar, aperfeiçoar e

profissionalizar o servidor público de nível superior, dentre outros. Algumas medidas tiveram

por objetivo a extinção de estatais e de 37 (trinta e sete) órgãos.

A economia brasileira no Governo Sarney passa por uma crise sem precedentes

na história da república do país. Diversos planos de estabilização inflacionária foram lançados

sem êxito. Em detrimento ao governo anterior, os trabalhadores conseguem agora permanecer

com um nível regular de estresse, mediante algumas conquistas:

- limitação da jornada de trabalho para 44 horas semanais;

- o seguro desemprego;

- a licença maternidade e a licença paternidade.

A Constituição também assegurou aos servidores públicos o direito de se

organizar em sindicatos e utilizar a greve como instrumento de negociação (exceto nos

serviços essenciais).

A reforma pretendida pelo Governo Sarney reforça a preocupação com o

cidadão, idéia essa que surgiu pela primeira vez no programa de desburocratização dos

governos militares.

Page 25: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

25

5.1.2 O Governo Collor de Mello – (1990)

Foi marcado pelo desmonte da máquina pública e sob o slogan de que os

servidores públicos eram verdadeiros marajás.

Segundo Costin (2010), o Governo Collor de forma desastrada, buscou a

redução do aparelho do Estado por meio de demissão de funcionários e eliminação de órgãos,

sem antes assegurar sua legalidade pela reforma da Constituição.

Para as elites políticas e empresariais, foi oferecida a modernização econômica

do país em consonante com a receita do neoliberalismo, bem como a redução da intervenção

estatal. De uma maneira geral, foram bem recebidos por esses, os planos de modernização

econômica e da reforma administrativa.

O Governo Collor tinha como pretensão com a reestruturação administrativa, a

modernização do Estado, privilegiando o ajuste econômico, a desregulamentação, a

desestatização e a abertura da economia.

A reforma redundou na demissão ou dispensa de 112 (cento e doze) mil

servidores (entre celetistas e não-estáveis), além da aposentadoria de 45 (quarenta e cinco) mil

servidores. De acordo com Costin (2004). Aos servidores públicos, coube a responsabilidade

pelos “males do país”.

Na área pessoal, instituiu o RJU (Lei Nº 8.112).

A Reforma Collor, naquilo que se materializou, é vista como desmobilização

de ativos:

Além da desestruturação de setores inteiros da Administração Federal, esta reforma não deixou resultados perenes, quer em termos de cultura reformista, quer em termos metodológicos, técnicos ou processos. Seguir um diagnóstico consistente pode ser elaborado a partir de sua intervenção, pois em nenhum momento o voluntarismo que a marcou permitiu que a abordagem do ambiente administrativo se desse de maneira científica, Santos3 apud Lima Junior (1998, p.17).

Com o impeachment de Collor, assume o Vice-Presidente Itamar Franco.

3 SANTOS, L.A. Reforma administrativa no contexto da democracia. Brasília: DIAP/Arko Advice Ed. 1997.

Page 26: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

26

5.1.3 A Era Fernando Henrique Cardoso – FHC (1995/2002)

A reforma administrativa foi a grande pretensão de FHC, quando da

administração pública brasileira.

A reforma administrativa no contexto da reforma do estado foi implantada pelo

Ministro Luis Carlos Bresser-Pereira à frente do Ministério da Administração Federal e da

Reforma do Estado – MARE.

Foi instrumento da reforma gerencial o Plano Diretor da Reforma do Aparelho

do Estado – PDRAE, cuja função era à reestruturação do aparelho do Estado para combater

entre outros, a cultura burocrática.

Ao MARE foi atribuída à responsabilidade por formular políticas para a

reforma do Estado, reforma administrativa, modernização da gestão e promoção da qualidade

no serviço público.

De acordo com Bresser-Pereira (2005, p.12):

O pressuposto da reforma que foi adotada no Brasil é o de que só um Estado capaz pode garantir e regular um mercado que consiga alocar com eficiência os fatores da produção. A reforma da Gestão pública de 1995-98, avançou na direção de uma administração mais autônoma e mais responsabilizada perante a sociedade, a partir do pressuposto que a melhor forma de lutar contra o clientelismo e outras formas de captura do Estado é dar um passo adiante e tornar o Estado mais eficiente e mais moderno. É preciso lutar contra a corrupção e o desperdício, mas essa luta não alcança êxito se nos limitarmos a travar a administração pública com controles e mais controles.

Na opinião de Lima Junior (1998), o diagnóstico sobre o qual se basearam as

mudanças, são discutíveis por não corresponder à realidade brasileira, isto porque o

diagnóstico, em primeiro lugar, afirma que as fases patrimonialista e burocrática estão

separadas, cabendo agora introduzir no estado a administração gerencial.

O patrimonialismo e o clientelismo político, conforme reconhece e condena o

Governo FHC, têm sido os traços estruturais da administração pública:

O capítulo da administração pública da Constituição de 1988 será o resultado de todas as forças contraditórias. De um lado ela é uma reação ao populismo e ao fisiologismo que recrudescem com o advento da democracia. Por isso a Constituição irá sacramentar os princípios de uma administração pública arcaica, burocrática ao extremo. Uma administração pública altamente centralizada, hierárquica e rígida, em que toda a prioridade será dada à administração direta ao invés da indireta. A

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27

Constituição de 1988 ignorou completamente as novas orientações da administração pública. Pereira4, apud Lima Junior (1998, p.18).

A Reforma da Gestão Pública de 1995/98 valorizou os servidores públicos do

alto escalão, por entender que os mesmos tinham um papel estratégico para o

desenvolvimento do país. Esta foi uma tentativa de substituir a administração pública

burocrática pela administração pública gerencial ou gestão pública como uma maneira de

valorização do alto servidor público.

O servidor seria agora um gestor, mais capacitado para a tomada de decisões e

com autonomia e responsabilização.

Em nome dessa valorização, no Governo FHC deu-se uns dos maiores números

de demissões e aposentadorias do funcionalismo público. Essa situação, somada aos salários

dos servidores congelados por sete anos, provocou um enorme índice de rejeição da classe

trabalhadora.

Apesar do Governo FHC não ter conseguido eliminar o patrimonialismo e a

burocracia, temos que admitir que a cultura gerencial estabeleceu-se no Brasil, a partir da

reforma gerencial de 1995.

4 PEREIRA, L.C.B. Da administração púbica burocrática à gerencial. Revista do Serviço público, Brasília, v.120, n.1, jan/abr. 1996

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28

5.1.4 O Governo Luiz Inácio Lula da Silva - Lula – (2003/2006 – 2006/2010)

A revitalização do Estado, a redução da pobreza e a promoção do

desenvolvimento, redução do déficit institucional, transparência e ética, esses foram alguns

dos pontos-chave do Governo Lula. O projeto social voltado para o combate à fome (“fome

zero”), foi um dos diversos programas sociais que marcaram o seu governo, sendo que o

servidor público se viu mais valorizado com os planos de carreira e as políticas de

qualificação do servidor.

A ação política de Lula conseguiu empreender um desenvolvimento

historicamente reclamado pelos diversos setores sociais, contudo, ainda assim, o crescimento

econômico do Brasil não conseguiu se desvencilhar de práticas econômicas semelhantes às

dos governos anteriores.

Avaliar se o Governo Lula foi vitorioso ou fracassado não está em pauta, mas

fato importante e de grande impacto político foi o exercício da democracia no país, com a

eleição de um Presidente de um partido considerado da esquerda, colocando fim ao

pensamento político que excluía as minorias do poder

(http://www.brasilescola.com/historiab/governo-luis-inacio-lula-da-silva.htm).

Quanto maior a incerteza sobre uma situação, maior será o estresse vivenciado

pelo indivíduo. Essa incerteza, o trabalhador sentiu a cada troca de Governo. O fechamento de

empresas, o medo do desemprego, a instabilidade financeira, dentre outros fatores, atuaram

como agentes estressores e de forma negativa na sua saúde.

De acordo com França & Rodrigues5 apud Pereira Jorge (2004, p.40), os

impactos e tensões vivenciados deixam marcas e modificam o corpo. “No corpo de cada ser

humano estão as marcas de sua história, de seu esforço, de suas perdas e de suas vitórias” E

foi nesse clima de estresse emocional, que alguns servidores vivenciaram as mudanças

políticas, estruturais e culturais patrocinadas pelos Governos do Brasil.

5 FRANÇA, A.C.; RODRIGUES, A.L. Estresse e trabalho: guia básico com abordagem psicossomática. São Paulo: Atlas, 1997.

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29

5.2. Conjuntura Mundial

Num mundo, propenso a crises e mudanças de toda ordem, aquelas ligadas ao

trabalho afetam de maneira inevitável (mesmo que ocorridas no Primeiro Mundo), os

trabalhadores de todas as partes.

O trabalho é uma atividade antiga, e iremos situá-lo desde Karl Marx, para que

possamos sentir a trajetória do trabalhador:

5.2.1 Marxismo

Karl Marx era um crítico radical das sociedades capitalistas e defendia ser o

trabalho uma atividade fundamental da humanidade, sendo a centralidade da atividade

humana. Desenvolvendo-se socialmente, o homem é um ser social, que usa o trabalho como

instrumento para o progresso da comunidade a que pertence.

A teoria de Marx versa que o trabalho gera riqueza, e que o lucro não se dá

pela troca de mercadorias, trocadas geralmente por seu valor, mas sim em sua produção. Daí a

exploração do trabalhador que não recebe o valor correspondente ao seu trabalho, mas

somente o necessário para a sua sobrevivência – conceito da mais-valia.

5.2.2 Taylorismo/Fordismo

No Taylorismo, o que conta é a produção, devendo o indivíduo cumprir a sua

tarefa num tempo record, sendo premiados aqueles que se sobressaírem. O operário precisa

desdobrar-se para cumprir o seu trabalho.

Segundo Antunes (2009, p.38), tudo indica que o taylorismo/fordismo foi:

Expressão dominante do sistema produtivo e de seu respectivo processo de trabalho,

tendo vigorado na grande indústria, ao longo praticamente de todo o século XX ,

sobretudo a partir da segunda década. Baseava-se na produção em massa de

mercadorias, que se estruturava a partir de uma produção mais homogeneizada e

enormemente verticalizada.

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30

Segundo Dejours (1992, p. 47):

A alienação pelo sistema Taylor, onde o comportamento condicionado e o tempo recortado sob as medidas da organização do trabalho, formam uma verdadeira síndrome psicopatológica que o operário, para evitar algo ainda pior, se vê obrigado a reforçar também ele. A injustiça quer que, no fim, o próprio operário torne-se o artesão de seu sofrimento.

Para Henry Ford, o que importava era o consumo. A ele é atribuído o

“fordismo”, onde os operários eram treinados para a execução de sua tarefa na linha de

montagem, para gerar uma produção que pudesse ser consumida em massa. Esse método

produtivo industrial foi adotado quase na sua totalidade pelos países desenvolvidos, tendo

sido importante no século XX para a consolidação da supremacia norte-americana.

Na década de 60 (sessenta) houve uma grande mobilização dos trabalhadores

(operários-massa), os quais haviam perdido a sua identidade cultural (artesanato) e

manufatureira dos ofícios; daí o surgimento de um “novo proletariado”, marcado pela

massificação, servindo como modelo para uma nova identidade e de uma nova forma de

consciência de classe.

Se o operário-massa foi a base social para a expansão do compromisso social-democrático anterior, ele foi também seu principal elemento de transbordamento, ruptura e confrontação, do qual foram forte expressão os movimentos pelo controle social da produção ocorridos no final dos anos 60, Antunes (2009, p.43).

Torna-se importante frisar, que o Taylorismo / Fordismo, destituiu o operário -

massa de qualquer participação na organização do processo de trabalho. Ele apenas efetuava

uma atividade repetitiva e desprovida de sentido, situação essa considerada como forte

estímulo estressor pela literatura especializada na área de psicologia/estresse.

A partir dos anos 70(setenta), o capitalismo começa a dar mostras de declínio

em virtude da queda da taxa de lucro (aumento do preço da força de trabalho); o esgotamento

do padrão de acumulação taylorista/fordista de produção (retração em resposta ao desemprego

estrutural que ora se iniciava); hipertrofia da esfera financeira (passou a ganhar autonomia

frente aos capitais produtivos); maior concentração de capitais frente às fusões entre as

empresas monopolistas e oligopolistas; crise do Welfare State (ou do “Estado do Bem-Estar

Social”) – que acarretou a crise fiscal do Estado capitalista; política de privatizações.

Com a crise estrutural do capitalismo, desmoronavam também os mecanismos

de “regulação” que vigoraram, durante o pós-guerra, em diversos países capitalistas

(incluindo a Europa). Em resposta a isso, começa um processo de reorganização do capital,

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31

bem como de seu sistema ideológico e político de dominação, partindo-se para o advento do

neoliberalismo. A expressão mais forte desse período foi Thatcher – Reagan, sendo também

caracterizado também por uma pressão generalizada do capital e do Estado contra a classe

trabalhadora e contra as condições vigentes durante a fase de apogeu do fordismo.

Devido às dimensões fortes que atingiu, a crise desestruturou grande parte do

terceiro mundo, países do Leste Europeu, afetando também o centro do sistema global de

produção do capital. Na década de 80 (oitenta), os Estados Unidos da América - EUA foram

afetados e a partir dos anos 90 (noventa) também o Japão e os países asiáticos.

No movimento de reposição dos capitais produtivos e financeiros e do padrão

tecnológico, vários países foram excluídos por não conseguirem acompanhar a competição

intercapitalista (formada pela tríade EUA e o Tratado Norte Americano de Livre Comércio –

NAFTA*, a Alemanha à frente da União Européia e Japão liderando os países asiáticos.

O desemprego e a precarização da força humana de trabalhos, são a herança

dos trabalhadores dos países excluídos. Quanto mais aumentam a competitividade e a concorrência intercapitais mais nefastas são suas conseqüências, das quais duas são particularmente graves: a destruição e/ou precarização, sem paralelos em toda a era moderna, da força humana que trabalha e a degradação crescente do meio ambiente, na relação metabólica entre homem, tecnologia e natureza, conduzida pela lógica societal voltada prioritariamente para a produção de mercadorias e para o processo de valorização do capital, Antunes (2009, p. 36).

De acordo com Lazzareschi (2007), apesar do alto preço pago pela classe

operária, o taylorismo/fordismo possibilitou que uma grande parcela de trabalhadores

assalariados, tivesse uma condição de vida melhor.

Esses trabalhadores tiveram acesso ao consumo de bens industrializados, além

de terem gerado milhares de emprego nos E.U.A., tendo assim contribuído em grande parte

para o seu crescimento econômico, fazendo desse país uma grande potência mundial.

Mais especificamente com relação ao fordismo, Ford que diferentemente de Taylor

considerava o trabalhador não apenas um produtor de mercadorias, e sim um

consumidor, implementou as seguintes medidas, segundo Lazzareschi (2007, p.44):

Aumentou os salários de seus trabalhadores, instituiu a jornada de trabalho de oito horas como incentivo ao consumo, distribuiu alguns benefícios, como restaurantes, transporte, hospital e assistência social, por ter compreendido que a produção padronizada em massa, graças à nova organização do processo de trabalho inaugurada em suas fábricas com a construção da linha de montagem com esteira rolante – esteira de produção – requeria consumo de massa.

_________________ * Bloco econômico formado por EUA, Canadá e México.

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32

5.2.3 Neoliberalismo

O Neoliberalismo surgiu na década de 70(setenta), como uma tentativa para

resolver a crise que atingiu a economia mundial em 1973, como consequência do preço

excessivo do petróleo.

Tem como princípios básicos: a pouca intervenção do governo no mercado de

trabalho; abertura da economia para a entrada de multinacionais; privatização de empresas

estatais; posição contrária aos impostos e tributos excessivos; defesa dos princípios

econômicos do capitalismo, dentre outros.

Alguns críticos afirmam que a economia neoliberal somente beneficia as

grandes potencias econômicas, sendo que os países pobres ou em desenvolvimento (Brasil,

por exemplo) sofrem com a política neoliberal (baixos salários, desemprego, diferenças

sociais, dependência de capital externo).

Na Inglaterra de Thatcher, o neoliberalismo teve que se defrontar com grandes

movimentos de oposição (greve dos mineiros de 1982 e a histórica greve ocorrida em 1984/5,

contra a política de fechamento das minas), que apesar do impacto social, político, ideológico

e simbólico, terminou com um desfecho emocional e político, desfavorável para os

trabalhadores.

Na década de 1990, o Neoliberalismo espalhou-se pelo mundo, sendo o Brasil

nessa época governado por Color de Mello, que aderiu a essas idéias.

Segundo Almeida (2002), com relação ao desempenho efetivo do

neoliberalismo nos anos 90(noventa), se foi cumprido o que ele prometia, se foi eficiente no

fornecimento de seus serviços econômicos, políticos e sociais, de maneira geral, concorda que

sim, alegando algumas insuficiências localizadas.

Ainda de acordo com a avaliação de Almeida (2002, p. 7):

Nem todas as mazelas sociais e os problemas econômicos acumulados no Brasil “neoliberal” podem ou devem ser atribuídos ao neoliberalismo, em particular a pobreza generalizada, a corrupção, os baixos níveis educacionais, o não funcionamento da justiça, a esclerose administrativa, a insuficiência dos serviços de saúde e previdenciários, a criminalidade rampante, os surtos de dengue ou a decadência do futebol. Existem problemas seculares, outros criados ao longo de um regime republicano pouco propenso a estimular as virtudes cívicas dos cidadãos, alguns derivados da ditadura e vários outros criados nos anos de populismo constitucional-democrático, a maior parte deles “made in Brazil”, e não importados pela onda globalizante que conviveu com o neoliberalismo nos tormentosos anos 90.

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33

Todas essas teorias tiveram importância para a concepção de trabalho e para a

vida do trabalhador de várias partes do mundo, e, é claro, no Brasil.

A suposta insatisfação do cidadão em relação à política neoliberal, servirá de

base para estarmos avaliando, também, nesta pesquisa, os sintomas de estresse percebidos

pelos servidores de uma universidade pública.

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34

5.3 O Estresse

Quando falamos de estresse, normalmente pensamos em algo que nos deixa

“sob pressão”.

O mundo passa por mudanças expressivas tanto no setor cultural, econômico

político como no social. No setor econômico, as dificuldades financeiras advindas de baixos

salários, desemprego, gastos potenciais com saúde, estudo e alimentação, são estressores

capazes de desencadear o aparecimento de diversas respostas orgânicas, mentais e

psicológicas e/ou comportamentais que acabam por afetar negativamente partes importantes

do nosso organismo.

Inicialmente, essas respostas têm como objetivo a adaptação do indivíduo à

nova situação criada pelo estímulo estressor, denominado de estresse.

De acordo com Everly6 apud Lipp (2001, p.2), “o estresse pode ser definido

como um estado de tensão que causa uma ruptura no equilíbrio interno do organismo, ou seja,

um estado de tensão patogênico do organismo. O desequilíbrio ocorre quando a pessoa

necessita responder a alguma demanda que ultrapassa sua capacidade adaptativa”.

Outros autores definem estresse como: Processo químico do corpo, seja uma manifestação normal de adaptação do corpo às exigências de seu ambiente ou possa ser ele causado por fatores físicos, os mais evidentes são os de origem psíquica, por exemplo, a ansiedade que se manifesta organicamente, Boller7 apud Pereira Jorge (2004, p.24). Uma reação neuro-hormonal, ou seja, diante de uma situação extraordinária, o cérebro recebe a informação sobre o que está acontecendo e descarrega vários hormônios para que a pessoa possa enfrentar aquele momento, Vasconcelos8 apud Pereira Jorge (2004, p.25).

Relacionado ao trabalho, é definido como as situações em que a pessoa percebe o seu ambiente de trabalho como ameaçador de suas necessidades de realização pessoal e profissional e/ou a sua saúde física ou mental, prejudicando a interação desta com o trabalho e com o ambiente de trabalho, à medida que esse ambiente contém demandas excessivas a ela, ou que ela não contém recursos adequados para enfrentar tais situações, França & Rodrigues (2005, p.36).

6 EVERLY, G.S. A clinical guide to the treatment of the human stress response. Plenum Press, New York, 1990. 7 BOLLER, E. O enfrentamento do estresse no trabalho de enfermagem – possibilidades e limites na implementação de estratégias gerenciais. FlorianópolisUFSC, 2002. Dissertação de Mestrado em Assistência de Enfermagem, PPGE. 8 VASCONCELOS, E.G. Extra stress. São Paulo. Boletim da Central Bussiness, 1996.

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35

Tendo em vista os avanços tecnológicos, a globalização, as mudanças

organizacionais implementadas nas instituições/empresas, houve a necessidade do trabalhador

se reciclar para atender a um consumidor cada vez mais exigente.

Isso não se deu de forma diferente nas universidades públicas. De um momento

para o outro, os seus servidores viram-se envolvidos com termos como internet, intranet,

administração de redes, tecnologia de informação – T.I. etc., tendo que se qualificar para

preservar o seu emprego.

Somado a isso, as demissões procedidas pelos governos, a criação de novos

cursos nas universidades e a não contratação de funcionários em número suficiente, foram

algumas das medidas que fizeram com que alguns trabalhadores entrassem em colapso por

não poderem dar conta das suas ocupações.

Esses serão alguns dos estressores que estaremos analisando como possíveis

causas de estresse dos servidores de uma universidade pública (adaptação a novas situações,

realização de trabalho sob pressão, sobrecarga de trabalho, cumprimento de prazos, etc.).

5.3.1 Agentes estressores

Tudo aquilo que afeta o nosso metabolismo, no sentido de despertar reações de

estresse, é chamado de estressor.

Os fatores ou agentes estressantes são de três categorias a saber:

1) fatores do contexto: remuneração inadequada; propaganda enganosa; mercado de

trabalho restrito; previdência social mal planejada; legislação salarial instável e

desajustamento familiar, dentre outras; 2) fatores ou agentes do ambiente de

trabalho: podem referir-se às variáveis – chefia insegura ou incapaz; políticas

governamentais; autoridade mal delegada; bloqueio de carreira; conflito entre

colegas de trabalho; organização deficiente do ambiente de trabalho; salário

inadequado para satisfazer a ambição individual; falta de motivação, dentre outras e

3) fatores de vulnerabilidade: pode-se catalogar as pessoas que necessitam ingerir

drogas com frequência (para suprir problemas laborais), indivíduos com QI acima da

média, portadores de traços neuróticos em sua personalidade, tais como:

impaciência; impetuosidade verbal; dominar a conversa; fazer ou pensar em duas ou

mais coisas ao mesmo tempo; alta competitividade, etc., afirma Vieira9 apud Pereira

Jorge (2004, p.30 ).

9 VIEIRA, S.I. Medicina básica do trabalho. Curitiba: Gênesis, 1996. Volume I, II, III e IV.

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Segundo França & Rodrigues10 apud Sadir &Lipp (2009, p.121):

As condições de trabalho são geradoras de fatores estressantes, quando há deterioração das relações entre funcionários, com ambiente hostil entre as pessoas, trabalho isolado entre os membros, com pouca cooperação, presença de uma inadequada abordagem política, com competição não saudável entre as pessoas. Outras consequências podem ser as greves, atrasos nos prazos, ociosidade, absenteísmo, alta rotatividade, altas taxas de doenças e baixo nível de esforço.

De acordo com Kompier (2003, p.44), “alguns trabalhos são estressantes em si

mesmos e que pode não ser muito realista reduzir ou eliminar todos esses fatores de risco. O

interessante seria ensinar aos empregados a lidar com as condições necessárias ao trabalho.”

O exercício profissional deveria ser motivo de satisfação pessoal.

Com relação ao resultado da pesquisa realizada pela American Management

Association com executivos, as necessidades que essas pessoas procuravam satisfazer no

trabalho seriam: recompensa material; progresso na carreira; reconhecimento; status na

comunidade; satisfação no trabalho; percepção de seu trabalho como significativo; obtenção

de tranquilidade doméstica; preservação de sua saúde; segurança no trabalho.

Esses dados não diferem dos apresentados nas pesquisas com trabalhadores

brasileiros.

No entanto, fatores estressantes no trabalho tais como: liderança do tipo

autoritário; execução de tarefas sob repressão; falta de conhecimento no processo de avaliação

de desempenho e de promoção; carência de autoridade e de orientação; excesso de trabalho;

grau de interferência na vida particular que os trabalhadores podem ter, têm sido motivo de

estresse e objeto de estudo por pesquisadores.

Lidera ainda as pesquisas, como um dos principais fatores de estresse, a

incerteza. É um dos sentimentos mais frequentes na atualidade e fortemente associada ao

trabalho (incerteza da manutenção do emprego, do salário, da família, etc.).

As respostas do indivíduo ao estresse, podem estar ligadas aos aspectos

negativos. Porém, certas situações estressantes podem ser bem agradáveis: casamento,

aprovação no vestibular, vencer uma competição, o nascimento de um filho, ganhar na loteria,

dentre outros.

10 FRANÇA, A.C.L.; RODRIGUES, A.L. Stress e trabalho. Uma abordagem psicossomática. 2ed. São Paulo: Atlas, 1999, 154p.

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37

De acordo com França & Rodrigues (2002), quando a resposta de um indivíduo

diante do estímulo, que é a resposta ou o processo de estresse, for negativa, ou seja,

desencadeia um processo adaptativo inadequado, com o comprometimento da saúde, é

chamado Distress; no entanto, quando o indivíduo reage bem à demanda, chamamos de

Eustress.

O estresse em si, não é bom nem ruim, apesar de suas respostas estarem quase

sempre associadas a aspectos negativos. Pode ser danoso, em excesso, mas ao manter-se um

equilíbrio, aprendendo-se a lidar com ele, poderemos obter um funcionamento adequado do

organismo, uma vez que, a todo instante, fazemos movimentos de adaptação, ou seja,

tentamos ajustar-nos às situações do ambiente externo, ou do mundo interno.

A certas modificações que ocorrem no organismo frente a situações de estresse,

Selye (1965) deu o nome de Síndrome Geral de Adaptação, composta de três fases: Reação de

Alarme, Fase de Resistência e Fase de Exaustão.

Reação de Alarme – Assemelha-se à Reação de Emergência de Cannon.

Walter B. Cannon, responsável pelo desenvolvimento da homeostase* detectou que um

animal ao ser submetido a estímulos que ameaçavam o seu equilíbrio orgânico, se preparava

para a luta ou para a fuga, ao que denominou de reação de Emergência.

Nessa fase, o organismo desencadeia as seguintes reações: aumento da

frequência cardíaca; aumento da pressão arterial; aumento da concentração de glóbulos

vermelhos; aumento da concentração de açúcar no sangue; redistribuição do sangue; aumento

da frequência respiratória; dilatação dos brônquios; dilatação da pupila; aumento da

concentração de glóbulos brancos; ansiedade.

Fase de Resistência – São observadas as seguintes reações: aumento do córtex

da supra-renal; ulcerações no aparelho digestivo; irritabilidade; insônia; mudanças no humor;

diminuição do desejo sexual; atrofia de algumas estruturas relacionadas à produção de células

do sangue.

Fase de Exaustão – Representa na maioria das vezes a falha dos mecanismos

de adaptação. Observam-se as seguintes reações: retorno parcial e breve à reação de alarme;

falha dos mecanismos de adaptação; esgotamento por sobrecarga fisiológica; morte do

organismo.

_________________

* Homeostase: equilíbrio dinâmico do organismo

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38

Somente nas situações mais graves de estresse, é que se atinge a última fase, a

de exaustão, de acordo com França & Rodrigues (2002).

A maioria dos sintomas somáticos e psicossomáticos fica mais evidente nesse

estágio (podendo ser percebida nos outros estágios também). “Nesse momento o indivíduo

fica deprimido e perde a razão. É considerado o mais grave e pode levar o indivíduo à morte”,

Pereira Jorge (2004, p.28).

No ambiente de trabalho vários são os estímulos estressores que proporcionam

desgaste emocional e são importantíssimos no desencadeamento de transtornos relacionados

ao estresse.

Nesse sentido, podemos citar o caso das depressões, ansiedade patológica,

fobias, pânico, doenças psicossomáticas, etc.

Ballone (1999) realizou estudos que comprovam as situações mais comumente

relacionadas ao estresse no trabalho:

Sobrecarga - os principais fatores que contribuem para a demanda excessiva de agentes

estressores seriam: a) urgência de tempo; b) responsabilidade excessiva; c) falta de apoio; d)

expectativas excessivas de nós mesmos e daqueles que nos cercam.

Falta de estímulos – atividades medíocres, destituídas de significação, tarefas altamente

repetitivas ou desinteressantes também podem produzir estresse.

O risco de ataques cardíacos, por exemplo, podem ser observados nos dois

primeiros anos após uma aposentadoria (tédio, sensação de nulidade, de solidão, etc.).

Ruído - do ponto de vista científico, a exposição repetitiva e o ruído excessivo podem causar

estresse pela estimulação do Sistema Nervoso Simpático, ao provocar irritabilidade e

diminuição do poder de concentração.

O ruído pode ter um efeito físico e/ou psicológico capaz de desencadear uma

reação de estresse.

Alterações do sono - o ritmo das atividades sociais e, mesmo os horários prolongados de

trabalho pode levar à insônia e, fatalmente, ao estresse.

Funcionários que trabalham em turnos ou em trabalhos noturnos por exemplo,

têm um sono de má qualidade durante o dia (excesso de ruído diurno). Esse sono de má

qualidade, acabará por produzir aumento de sonolência no período de trabalho (noturno ou

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39

diurno), responsável muitas vezes por acidentes, desinteresse, ansiedade, irritabilidade, perda

da eficiência e estresse.

Falta de perspectivas - a impossibilidade de conquistar uma posição melhor no cargo que se

exerce ou de obter qualquer melhoria de salário, são fatores que ajudam a aumentar as tensões

do dia a dia no trabalho.

Na falta de perspectivas ou na presença de perspectivas pessimistas a pessoa

ficará totalmente à mercê dos efeitos ansiosos do cotidiano e sem esperança de recompensas

agradáveis. Logo sobrevém o estado de esgotamento com efeitos imprevisíveis (estresse).

Mudanças na empresa/instituição - essa mudança pode ser em função de uma nova chefia,

orientação geral da empresa/instituição, etc., o que pode gerar insegurança.

Como associamos o estresse à adaptação, é o que é mais solicitado das pessoas

diante das mudanças. Portanto, é o momento em que acontece o estresse.

Quando a pessoa passa por momentos de ansiedade e estresse por causa de

mudanças, nessa situação é importante não deixar que o lado emocional: mágoa, orgulho,

inveja, rancor, dominem o lado racional.

Mudanças devido às novas tecnologias - a contínua substituição do “velho” pelos sistemas

mais modernos, acaba obrigando as pessoas a se adaptarem emocionalmente ao novo.

No presente caso, teremos uma situação de estresse variável, de acordo com as

disposições pessoais, ou mesmo em função do tipo de tecnologia a ser implantada.

A adaptação ao novo tende a exercer um profundo impacto sobre a ansiedade

(estresse) das pessoas.

Ergonomia - não devemos apenas levar em conta as razões emocionais em relação ao

estresse, por se tratar esse de uma alteração global do organismo e não apenas emocional.

Também deve-se considerar o conforto térmico, acústico, horas trabalhadas (sem interrupção),

a exigência física, postural, etc.

Algumas atividades demandam posições anti-fisiológicas, exercícios

repetitivos e permanência exagerada em atitudes cansativas; são exigências posturais a que as

pessoas são submetidas durante o trabalho.

Page 40: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

40

Um assessoramento técnico da Medicina do Trabalho seria de grande

importância para prevenir estados de esgotamento (estresse).

FIGURA 1 – Curva do Estresse

Fonte: França & Rodrigues (2011)

ESF

OR

ÇO

TEMPO

Área de melhor desempenho e

conforto

Manifestações e sintomas da

doença

Manifestações e sintomas da

doença

Distress Eustress Distress

Monotonia (- esforço)

Sobrecarga (+ esforço)

TIPOS DE STRESS

Page 41: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

41

5.3.2 Principais sintomas do estresse

Sabe-se hoje em dia, que assim como o ambiente está intimamente ligado ao

aparecimento (ou não) de certas doenças, que o estresse tem íntima relação na maioria das

doenças da área da Medicina do Trabalho.

Para Masci11 apud Pereira Jorge (2004), as pessoas mais propensas ao estresse,

possuem as seguintes características em comum: não conseguem relaxar, não são flexíveis em

seu ponto de vista, desejam ser bem sucedidas o tempo todo, procuram sempre preservar a sua

imagem pessoal. Além disso, dão demasiada importância a um único aspecto em sua vida,

necessitam sempre de estímulos externos para sentir-se bem. Acrescente-se ainda a tudo isso

o fato de não se sentirem bem a vontade com as pessoas que as rodeiam, possuem desejo

permanente de ser outra coisa ou outro alguém e levam-se muito a sério.

Diversos são os fatores do ambiente de trabalho considerados estressores, e que

têm tendência a correlacionar níveis altos de pressão arterial e/ou doenças cardiovasculares

em geral, segundo Mendes12 apud Pereira Jorge (2004). Quando o assunto é estresse, a

literatura especializada aponta a existência de diversos sintomas, entre os quais: irritabilidade;

problemas cardíacos (aceleração do ritmo cardíaco) e/ou aumento da tensão (hipertensão);

problemas com o sono (insônia); problemas digestivos; queda de cabelos; desenvolvimento

ou reaparecimento de doenças infecciosas como herpes labial, herpes genital, dores de

garganta, resfriados, ansiedade, fadiga física e mental, tensão muscular, dentre outros.

O estresse patológico, portanto, seria uma consequência direta dos esforços da

pessoa para se adaptar à sua situação existencial e de acordo com estudos realizados, tudo

indica que as pessoas adoecem com mais facilidade quando encontram-se estressadas. No

caso, por exemplo, da perda de um emprego, baixam as defesas imunológicas do indivíduo e

este pode facilmente vir a contrair doenças.

Situações de estresse prolongadas (crônicas) poderão levar a pessoa a ter as

seguintes complicações diante do processo de adaptação biológica natural: pressão alta,

derrame, infarto, enxaqueca, insônia, depressão, etc.

11 MASCI, C. Estresse. WWW.regra.com.br/cyromasci acesso em 28 ago. 2001.

12 MENDES, R. Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995.

Page 42: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

42

Os sintomas, portanto, são um sinal de alerta para que se restabeleça o

equilíbrio mente/corpo diante do estresse (sinais de cansaço, tristeza, dor de cabeça, grande

agitação, constantes crises de tensão e angústia; diminuição da produtividade, isolamento,

mau humor, medo, colite, sudorese intensa, irritação, incapacidade de domínio sobre as

emoções, etc.).

Sendo muitos os sintomas provenientes do estresse descritos na literatura

especializada (Ballone, 2005, 2007, 2008; Franca & Rodrigues, 2011; Pereira Jorge, 2004),

baseados na observação (informal) da população de uma universidade pública, descrevemos

alguns desses sintomas detectados:

Ansiedade - É um termo recorrente entre as pessoas participantes daquilo que se chama vida

moderna, ou seja, um destino comum ao qual todos estamos, de alguma maneira, sujeitos.

Dessa forma, o estresse é o representante emocional da ansiedade, a correspondência psíquica

de toda movimentação causada na pessoa.

A ansiedade pode ser percebida como um sentimento de apreensão, ou uma

sensação de que algo está para acontecer, representando um contínuo estado de alerta e uma

constante pressa em terminar as coisas que ainda nem começamos.

De acordo com Ballone (2008) Com relação à sintomatologia geral da

ansiedade, normalmente são observados pelo menos seis dos dezoito sintomas listados:

01 - tremores ou sensação de fraqueza 02 - tensão ou dor muscular 03 - inquietação 04 - fadiga fácil 05 - falta de ar ou sensação de fôlego curto 06 - palpitações 07 - sudorese, mãos frias e úmidas 08 - boca seca 09 - vertigens e tonturas 10 - náuseas e diarréia 11 - rubor ou calafrios 12 – polaciúria* 13 - bolo na garganta 14 - impaciência 15 - resposta exagerada à surpresa 16 - pouca concentração ou memória prejudicada 17 - dificuldade em conciliar e manter o sono 18 – irritabilidade

__________________ *urinar com frequência, mas em pequenas quantidades

Page 43: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

43

Sistema Imunológico - O estresse diário e presente nas situações mais exaustivas, tensas e

crônicas, acabam por afetar diversos elementos imunológicos. Dentre essas alterações

podemos citar as alterações de Células T, a atividade de Células NK, a resposta de anticorpos,

a função dos macrófagos, a reativação de vírus latentes, como o herpes simples, dentre outras.

As relações entre o estresse e infecções datam de longa data e constatados através de

trabalhos experimentais, que mostram que estresse e imunidade baixa têm estreita relação.

Insônia - A insônia além de ser um sintoma de estresse, constitui-se por si só, num fator

estressante. Alterações do ritmo do sono são normalmente um dos principais sintomas de

estresse a serem percebidos. O estresse patológico está associado aos altos níveis de

hormônio Adrenocorticotrófico – ACTH – circulante, que mantém o corpo desperto

impedindo o sono. Os efeitos da insônia podem se autoperpetuar, diminuindo a resistência ao

estresse.

Estômago - A um comando do cérebro, o estômago produz os ácidos do suco gástrico. O

excesso de acidez, unido à queda de resistência a infecções (estresse), pode provocar úlceras e

gastrite. Muitos pacientes ulcerosos são altamente sensíveis ao estresse, o que pode limitar os

benefícios do tratamento, na medida em que promove a ansiedade que causa secreção ácida

excessiva.

Etilismo - A pressão psicológica vivida pelo trabalhador, a incapacidade de enfrentar o

estresse da vida moderna, fazem com que cada vez mais as pessoas busquem no álcool, o

alívio para a fadiga, a ansiedade e a tensão. Os efeitos iniciais do álcool no metabolismo

corporal, se assemelham aos efeitos do próprio estresse. O uso abusivo de álcool proporciona

inúmeros problemas tais quais: a cirrose hepática, hipertensão, doenças cardíacas, problemas

sexuais, alterações do ritmo do sono e lesões da mucosa de revestimento da parede do

estômago. O indivíduo fica mais acessível ao estresse.

Tabagismo - O cigarro pode comprometer praticamente todos os órgãos do corpo, sendo

responsável por milhares de mortes por ataques cardíacos, úlceras e neoplasias. Apesar de

psicologicamente o cigarro ter um efeito calmante, pois os fumantes acham que ele alivia a

tensão, fisicamente os efeitos da nicotina sublimam a resposta ao estresse.

Page 44: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

44

Tireóide (tiróide) - Glândula responsável pela regulação geral do organismo. Quando da

existência de alterações clínicas dessa glândula, para mais, temos o hipertiroidismo e quando

para menos o hipotiroidismo, que comprometem significativamente o psiquismo. O

envolvimento da tireóide no emocional, se dá em razão do envolvimento do hipotálamo diante

das emoções. Na fase de alarme do estresse é comum o hipertirodismo e no esgotamento o

hipotiroidismo (podendo essas alterações, acontecer também inversamente). Vale comentar a

título de curiosidade, a glândula tireóide e a sua reciprocidade com as emoções; os estados

emocionais mais contundentes e o estresse têm como consequência as alterações da tireóide,

mas as alterações da tireóide também levam a alterações emocionais. Tanto o hiper como o

hipotiroidismo podem causas problemas psiquiátricos, como por exemplo, transtornos do

humor.

Maxilares (“Bruxismo”) - A pessoa “estressada” costuma ranger os dentes, o que pode

desgastá-los e deslocar a mandíbula a ponto de pressionar os nervos da face. Isso produz

zunidos nos ouvidos e até tontura. O Bruxismo também pode causar problemas que envolvam

a articulação da mandíbula (síndrome da articulação têmporo-mandibular – ATM). A tensão

cotidiana (estresse) parece ser uma das causas principais do Bruxismo.

Diabete - Quando em situação de estresse, existe um aumento na secreção de alguns

hormônios, em especial o cortisol, que age contra a insulina ajudando na manifestação do

diabete. O diabete mexe com o equilíbrio hormonal, a ponto de em alguns casos causar um

estado depressivo. Se não for bem controlado, acaba por produzir lesões graves e

potencialmente fatais: infarto do miocárdio, derrame cerebral, cegueira, impotência,

nefropatia, úlcera nas pernas e amputações de membros. Se controlada, as complicações

crônicas podem ser evitadas, podendo o diabético ter uma qualidade de vida normal. A

diabetes mellitus (melitus) é o transtorno mais comum observado, sendo consequência da

alteração da produção de insulina pelo pâncreas (hormônio responsável em transformar o

açúcar, presente na corrente sanguínea, em energia). Os sintomas mais frequentemente

observados são: aumento da sudorese e do apetite; aumento da frequência urinária; fadiga;

náuseas acompanhadas algumas vezes por vômito; perda de peso; visão turva ou borrada; na

mulher, aumento das infecções vaginais; no homem, impotência. Em adultos com mais de

40(quarenta) anos, é mais comum a Diabetes Tipo II (os pacientes não são tão insuficientes na

produção da insulina, decorrendo o problema na dificuldade do organismo em produzir esse

hormônio de forma adequada). Citamos como causas, a obesidade, vida sedentária e claro, o

Page 45: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

45

estresse. Um diagnóstico precoce pode ser a maior arma contra essa doença, para uma pessoa

que apresente: peso acima do normal, para sua altura e idade; antecedentes hereditários de

diabetes na família; 45(quarenta e cinco) anos ou mais; níveis de pressão arterial acima de

140/90 mmhg; níveis de colesterol HDL ao redor de 35 mg/dl ou níveis de triglicérides de

250 mg/dl ou acima; vida sedentária; momento de vida ou atividade estressante; resultado de

uma glicemia, nos limites máximos ou próximos a ele. O descuido com tal doença, pode

resultar em prejuízos tanto a curto como a longo prazo, pois a diabetes é potencialmente uma

doença muito grave, podendo trazer sérias consequências à saúde e qualidade de vida do

indivíduo. Estudos experimentais têm demonstrado que o estresse pode interferir na produção

da insulina pelos pâncreas e, também, nas taxas de açúcar do sangue. De acordo com França

& Rodrigues (2011), a Diabete pode ser ainda citada como uma doença decorrente de forte

carga emocional.

Doenças de Pele - Em situações de estresse, principalmente nas mulheres, o organismo

poderá produzir o hormônio masculino conhecido como testosterona, tendo como

consequências o aparecimento de espinhas, acne e oleosidade. Em casos mais graves, doenças

como herpes labial, vitiligo e psoríase (associados às pessoas ansiosas, deprimidas ou

estressadas). O estresse favorece também, o aparecimento de rugas pelo estímulo dos radicais

livres, responsáveis pelo envelhecimento das pessoas.

Doença Cardiovascular - A noradrenalina, produzida nas supra-renais acelera os batimentos

cardíacos, provocando uma alta pressão arterial. Estudos científicos demonstram estreita

ligação entre doenças cardíacas e fatores estressantes. O estresse ocupacional é considerado

por muitos trabalhadores, como um fator de risco à doença coronariana e infartos cardíacos. O

estresse ainda tem sido evidenciado como agente causador de doenças cardiovasculares,

hipertensão arterial sistêmica, arritmias cardíacas, doenças coronarianas, infarto do miocárdio

e até morte súbita.

Fadiga Física e Mental - Quando motivados e sob níveis adequados de estresse, produzimos

mais, criamos mais, nos comunicamos mais e somos saudáveis. Ao ser ultrapassado o nosso

nível ótimo de desempenho, passaremos para a forma negativa de estresse, levando-nos a

sermos ineficientes, sem criatividade e improdutivos, e ao empobrecimento de nosso

relacionamento interpessoal. Todos esses fatores cumulativos, levam-nos a uma fadiga

mental. Nesse ínterim, impelimos nossos corpos para atingir o nível de desempenho anterior,

Page 46: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

46

enfraquecendo ainda mais os nossos recursos físicos. Os efeitos sinérgicos da fadiga mental e

física acabam por produzir ainda mais estresse, formando um ciclo vicioso. Quando a fadiga

decorre de forte carga emocional, pode levar a um quadro mais preocupante: a síndrome da

fadiga. Suas principais características são: sensação de cansaço, fadiga constante e intensa

após esforço mental; às vezes seguida de exaustão ou de esgotamento e fraqueza, após

pequenos esforços; dores musculares e nas articulações, tonturas, dor de cabeça decorrente de

tensão emocional, diversas perturbações do sono, sonolência excessiva, alterações digestivas,

gânglios sensíveis ou dolorosos (sintomas orgânicos mais comuns); manifestações de

ansiedade, com sintomas principalmente no nível do corpo, tais como: sudorese, aceleração da

frequência do pulso, dos batimentos cardíacos e da respiração; sensação de falta de ar, com

aumento ou não da pressão arterial; palidez ou vermelhidão; diminuição da libido; reações

depressivas leves: diminuição do prazer naquilo que faz, com pouco interesse pela vida;

afastamento de parentes e amigos; sentimento de desmotivação; falta de vontade; desatenção;

irritação ou desânimo fácil e por vezes intenso; menor interesse sexual e/ou menor prazer na

relação sexual; a intensidade dos sintomas é leve podendo a pessoa com algum esforço

continuar realizando as suas atividades de trabalho e sociais, usualmente, preocupado com

seus sintomas; sensação de menor energia e de que está acontecendo muita coisa, mas nota

que tem dificuldade em acompanhar; quando a pressão é intensa, a pessoa tende a introverter-

se; sensação de peso nos ombros; dificuldade em tomar decisões; diminuição da capacidade

de concentração; comprometimento da memória. Algumas doenças físicas podem provocar a

Síndrome da Fadiga (quadros infecciosos como brucelose, mononucleose infecciosa, virose

por Epstein-Baar, etc.; distúrbios endócrinos – glandulares – como hipo ou hipertiroidismo

da tireóide, doença de Addison, pan-hipopituitarismo, doença de Simmond, alterações do

metabolismo (potássio e distúrbios do sono, como apnéia do sono, entre outras). Distúrbios

psiquiátricos também podem provocar a fadiga (hipocondria, depressões e psicose). Nem

sempre manifestações de fadiga são provocadas por essas doenças orgânicas ou psiquiátricas,

sendo que dentro da perspectiva da Psicologia do Trabalho essa síndrome teria como fator

etiológico principal – causas – situações que provocam um estado de tensão crônica,

principalmente em situações em que não existe uma sintonia entre a motivação, o esforço

envolvido na tarefa e as funções orgânicas, principalmente as vegetativas (circulação

sanguínea), respiração, digestão, etc.

Lesões por Esforços Repetitivos – LER (DORT) - Constituem-se hoje em importante

patologia relacionada ao estresse e ao trabalho (ocupacional). Abrange um grupo de

Page 47: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

47

comprometimentos que incide principalmente nos membros superiores (destaque para a

tenossinovite). Foi diagnosticada inicialmente em digitadores, mas no presente momento pode

ser detectada em trabalhadores que realizam trabalhos repetitivos. Provoca dores de

intensidades variáveis, inflamações em articulações (por sua complexidade, a LER vem sendo

abordada dentro da psicossomática). É comum observar-se que as pessoas que sofrem dessa

patologia, submetem-se a tratamentos frequentes, mas com resultados bastante frustrantes, os

quais não trazem o alívio dos sintomas como o esperado. Também é diagnosticada quando o

indivíduo passa por intensa carga emocional.

Tensão Muscular - Sempre que somos submetidos a um estresse patológico, tendemos a

sobrecarregar os nossos músculos. Uma tensão muscular excessiva, tanto pode ser a causa

como uma resposta ao estresse. Uma situação estressante, mesmo que imaginária, além de

produzir uma resposta imediata ao estresse, deixa uma quantidade residual de tensão no

corpo. Sendo o estresse cumulativo, essa tensão tende a aumentar no decorrer do dia,

causando distúrbios como: dor lombar e no pescoço, limitação da flexibilidade e de

movimentos, câimbra, espasmos musculares e nervosos, fadiga, agressividade, insônia,

irritabilidade, dentre outros.

Page 48: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

48

5.3.3 Doenças psicossomáticas relacionadas ao estresse

De acordo com França & Rodrigues (2002, p.73), “o termo psicossomática foi

introduzido na medicina em 1818, pelo psiquiatra alemão Heinroth. Sua finalidade era

designar as doenças do corpo decorrentes de fatores mentais.”

A moderna psicossomática hoje estuda a pessoa como ser histórico e social:

somos hoje, o resultado de nossa interação com o mundo e das nossas experiências do

passado, e de expectativas futuras, ou seja, um sistema único formado por três subsistemas:

mente, corpo e relacionamentos sociais.

A Medicina Psicossomática é recente (cerca de 60 anos) e tem como primeira

meta, a figura do doente e não a doença.

Não é uma especialidade médica ou ramo da psiquiatria. É uma postura, uma atitude do médico ou de qualquer profissional da área de saúde que concebe o ser humano como um ser bio-psico-social, França & Rodrigues (2002, p.72).

A utilização de diferentes e complexas disciplinas permitiu que a

psicossomática se assentasse sobre os conhecimentos da Fisiologia, da Psicologia Social, da

Patologia Geral e das psicologias dinâmicas, em especial da Psicanálise, França & Rodrigues

(2002).

Dentro do enfoque psicossomático, a saúde e a doença são estados que

resultam da harmonia ou da desregulação de três campos: corpo, mente e meio externo. O

estresse varia de pessoa para pessoa, portanto cada qual de adapta ao mesmo à sua maneira.

Dissabores emocionais provocam nas pessoas um aumento não só daquelas

doenças suscetíveis à influência emocional (aumento da pressão sanguínea, úlceras, dores de

cabeça, etc.), mas também o aumento de doenças infecciosas, dores lombares, etc.

Então, quanto mais elevados os níveis de estresse emocional, mais suscetíveis

ficam as pessoas às doenças.

Mediante o estresse crônico, ocorre a supressão do sistema imunológico, o que

ocasiona uma maior suscetibilidade à doença, especialmente o câncer. O estresse emocional

realimenta o desequilíbrio emocional. Esse descontrole (desequilíbrio), pode vir a aumentar a

produção de células anormais, e o corpo nesse momento, incapacitado, não consegue destruí-

las, descreve Cabral, A.P.T. et al (1997).

A abordagem psicossomática tenta evidenciar que o ser humano é um todo,

interligado em profundas e complexas relações, sendo que para a Medicina Psicossomática o

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49

importante é a figura do doente e não a doença em si: “É uma postura, uma atitude do médico

ou de qualquer profissional da área da saúde que concebe o ser humano como um ser bio-

psico-social”, França & Rodrigues (2011, p. 83).

O que se conclui através dos diversos estudos médicos e psicológicos, é que o

ser humano ainda é incapaz de lidar com os estímulos estressores presentes nos ambientes de

sua convivência, apresentando doenças que mostram muito bem o seu jeito de viver.

Para Ballone (1999), o indivíduo estressado está sujeito a manifestar qualquer

tipo de doença psicossomática. Do ponto de vista emocional, o estresse se relaciona à

depressão, à síndrome do pânico, aos transtornos de ansiedade e às fobias. Relata que as

doenças psicossomáticas são desencadeadas ou agravadas pelas emoções e pelos estados

estressantes a longo prazo, atingindo qualquer órgão ou sistema:

• Cardiologia: hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, arritmias, etc;

• Gastroenterologia: polipose, diverticulose, insuficiência hepática, etc;

• Neurologia: enxaqueca, sequelas de AVC, hidrocefalias, epilepsia, etc;

• Otorrino: labirintopatias, síndromes vertiginosas, zumbidos, etc;

• Endocrinologia: diabetes, insuficiência suprarenal, tireóide, etc;

• Clínica Geral: reumatismos, lúpus, doença de Reynauld, imunopatias,

etc;

• Ginecologia: endometriose, esterilidade, insuficiência ovariana, etc;

• Ortopedia: lombalgias, osteoartrose, lesões osteomusculares

(LER/DORT), etc.

De acordo com França & Rodrigues (2011), a lista de doenças poderia até

triplicar, mas segundo alguns autores, nem sempre os pacientes relatam os sintomas mentais,

que por sua vez também não são investigados pelo médico (uma espécie de conluio para

centrar o problema somente no físico).

Atualmente, mudanças estão ocorrendo, e a sociedade e a Medicina estão

deixando de lado os preconceitos que carregaram durante séculos em relação à vida psíquica

do ser humano.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) em relação à depressão por

exemplo, é de que milhões de pessoas no mundo necessitariam de tratamento para essa

manifestação psiquiátrica, mas a maioria desses pacientes nem chegam aos consultórios

Page 50: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

50

médicos. Para aqueles que frequentam um clínico geral e/ou cardiologista, a prescrição dada é

tranquilizantes (remédios para ansiedade). A busca a esses médicos e não aos psiquiatras,

deve-se ao fato de que o seu sofrimento (o “distress”) se manifesta principalmente no nível do

físico.

FIGURA 2 - Interação Biopsicossocial

Fonte: França & Rodrigues (2011)

Page 51: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

51

5.3.4 O estresse e o trabalho profissional (ocupacional)

O trabalho, inicialmente, era considerado pela humanidade como um sinal de

desprezo e de inferioridade. Ele não merecia a atenção de pessoas educadas, abastadas ou

investidas de autoridade (era destinado aos escravos).

Esse conceito modificou-se com o decorrer do tempo e a evolução das

sociedades. O trabalho “escravo”, torturante, deu lugar ao trabalho como fonte de realização

tanto pessoal como social. Um trabalho mais dignificante.

Com as mudanças tecnológicas, sociais, econômicas e culturais, muda também

a relação do indivíduo com o trabalho, tendo o mesmo que adaptar-se à nova situação.

A mão-de-obra tradicional cede lugar aos trabalhadores do conhecimento e

embora essa mudança faça parte do trabalho, alguns trabalhadores resistem a ela, não sentem

confiança.

Nesse ínterim, já não se pode mais trabalhar apenas pela satisfação pessoal, o

mundo clama por adaptação, qualificação. O trabalhador que precisa escolher entre a

evolução e o trabalho “seguro” (formal), vê-se novamente diante de um conflito: o estresse

profissional.

De acordo com Antunes (2009, p.139):

O trabalho entendido em seu sentido mais genérico e abstrato, como produtor de valores de uso, é a expressão de uma relação metabólica entre o ser social e a natureza. No seu sentido primitivo e limitado, por meio do ato laborativo, objetos naturais são transformados em coisas úteis. Mais tarde, nas formas mais desenvolvidas da práxis social, num paralelo a essa relação homem-natureza desenvolvem-se inter-relações com outros seres sociais, também com vistas à produção de valor de uso.

Portanto, para Antunes (2009, p.141), ”trabalho é a forma fundamental, mais

simples e elementar daqueles complexos cuja interação dinâmica constitui-se na

especificidade do ser social.”

Na conjuntura atual, com o crescimento da máquina pública, o mundo se

reorganizou, evoluiu. No universo das universidades, novos cursos foram criados; aumentou-

se a clientela e novas formas de tecnologias tiveram que ser aprendidas e adaptadas pelo

servidor, para exercer o seu trabalho com eficácia/eficiência.

Page 52: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

52

De acordo com Lages (2008), ao servidor é necessário agora, o domínio de um

número cada vez maior de tarefas e o desenvolvimento de competências múltiplas. Isso

significa que o servidor tem que ser polivalente, criativo, flexível e estar sempre disponível.

Deverá se atualizar constantemente, ser participativo, ter espírito de liderança,

valorizar o trabalho em equipe. Esse quadro estressa o trabalhador de forma perversa,

fragiliza-o:

O medo de perder o emprego, de não conseguir um emprego, o medo de não corresponder às expectativas dos novos paradigmas em informação, conhecimento, o medo de não saber fazer, de não saber ser geram comportamentos, sentimentos, emoções que são importantes para a captura da subjetividade do trabalhador, uma vez que, tendo internalizado os valores da empresa – lealdade, fidelidade, sucesso – este passa a se vigiar, tanto para manter seu próprio emprego quanto para denunciar os que resistem às manipulações de tal ideologia, Lages (2008, p. 4).

Essa sobrecarga de trabalho, a preocupação com a sua qualificação, a cobrança

da chefia, o cumprimento de prazos para a entrega de determinados serviços, a necessidade da

utilização de ferramentas e softwares cada vez mais sofisticados, são a base para que alguns

servidores desequilibrem-se psiquicamente. É o medo de não dar conta da demanda.

Ainda de acordo com Lages (2008), essa sobrecarga, sinal de estresse, pode

significar para alguns servidores, sentimentos de importância, de reconhecimento dentro da

instituição (principalmente em ambientes competitivos).

Muitos trabalhadores para preservar o emprego, ou como forma de obter

reconhecimento por parte das Chefias e/ou colegas, ”sacrificam” o seu horário de almoço e/ou

levam tarefas para casa no dia a dia e finais de semana. Desde há muito tempo, o trabalho e a

saúde do trabalhador são discutidos, mas apesar disso percebe-se ser essa uma questão

subjetiva e complexa.

Segundo Balassiano (2011, p.754):

A aptidão de criar e manter um ambiente com presença reduzida de estressores organizacionais é uma exigência crescente e todo administrador deve estar capacitado para gerir e reduzir o próprio estresse e para auxiliar na diminuição das tensões de seus subordinados. Além disto, é necessário admitir que haja estressores inerentes à natureza da atividade, à cultura organizacional e às interações humanas. Ainda assim, a identificação dos estressores é essencial para que se possa adequar o perfil dos cargos à convivência com estes estressores.

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53

Para Willard & Spackman13 apud Pereira Jorge (2004), para se detectar a

doença o indivíduo não pode ser fragmentado, devendo-se sim, analisar os vários aspectos de

sua vida, seu meio social, profissional e familiar. É o que vem buscando a saúde ocupacional

– não dividir o indivíduo, e sim, analisá-lo mediante um viés holístico como um todo, um ser

integrante.

De acordo com Balassiano (2011), ainda existe uma carência de pesquisas

sobre o estresse ocupacional no Brasil, no campo da administração pública.

Mas o que é saúde e o que é doença? Segundo a medicina, saúde é a ausência

de doença, mas deve-se ir além, pois saúde compreende o estado global do indivíduo –

aspecto físico, mental, profissional e social.

Pretende-se nesta pesquisa, saber quais os sintomas de estresse que estão

fazendo os servidores de uma universidade pública adoecer.

Segundo França & Rodrigues (2002), o desenvolvimento de métodos

científicos criou condições para sair-se de uma perspectiva individual e, penetrar na dimensão

coletiva do processo saúde-doença.

Quando se analisa um grupo de trabalhadores, verifica-se como são

influenciados por agentes sociais, ambiente e organização do trabalho. As estruturas sociais

podem ser um dos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças.

Estudos realizados pela Medicina do Trabalho relatam que muitas das

patologias apresentadas pelos trabalhadores têm correlação com o estresse. O ambiente de

trabalho conturbado e as relações desgastantes que o trabalhador se submete no exercício da

profissão, são fatores dos mais significativos na determinação de doenças.

A doença nem sempre é bem vista no trabalho por quem emprega ou por quem

compartilha tarefas. Para o trabalhador que necessita utilizar a sua capacidade física e mental

para o desenvolvimento das suas atividades de trabalho, tendo em vista a preservação do

emprego, a doença ou até mesmo a dor é sinônimo de fragilidade.

Assim sendo, trabalha no limite das suas forças, pois existe suspeita por parte

da empresa/instituição (empregador), de que o trabalhador sempre supervaloriza a dor e

sintomas para não trabalhar ou faltar sem “perder” o dia, segundo França & Rodrigues (2011).

É muito comum atribuir-se a ela (dor), um caráter meramente psicológico. Esse

pensamento é contrário dentro da abordagem psicossomática, uma vez que todos os tipos de

13 WILLARD; SPACKMAN. Tradução de CREPEAU, E.B.; NEISTADT, M.E. Terapia ocupacional. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002.

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54

queixas, dores, sintomas e certas manifestações clínicas, são passíveis de investigação.

As doenças que pesam sobre os trabalhadores, como o pavor da demissão e

consequente precarização da vida, são fatores que, somados à sobrecarga de trabalho vão

afetar a saúde física e mental, relata Dejours (1992).

Além das doenças do trabalho tradicionais, torna-se premente abordar as

doenças psicossomáticas, e a saúde mental, pois nas empresas/instituições, quando surgem

queixas psicossomáticas, fatalmente haverá queda de produção, despesas médicas e

administrativas sem retorno, clima interpessoal negativo, etc.

Apesar do trabalho representar a possibilidade de crescimento, independência

pessoal-profissional, dentre outras coisas, é também motivo de insatisfação, desinteresse,

irritação, apatia. A reação a esses estímulos estressores, é o aparecimento das doenças

ocupacionais, com sintomas ligados às características de trabalho e condições inerentes à

tarefa, de acordo com França & Rodrigues (2011).

Como exemplos de doenças ocupacionais temos as lombalgias (levantamento

inadequado de peso, ou por postura, por atividades intensivas – LER); silicoses,

tendossinovites; pneumocoliose; fadiga crônica e incapacidade laboral (relacionadas ao

trabalho noturno/turnos, temperaturas extremas). Podemos citar ainda aquelas doenças que se

manifestam em virtude de forte carga emocional, e que levam a problemas graves e, com

muita freqüência, até à morte.

Apesar das somatizações* apresentarem sinais importantes para o diagnóstico

da saúde e das doenças, ainda são pouco compreendidas e encontram certas reticências em

alguns ramos da Medicina, relata França & Rodrigues (2011).

É importante frisar no entanto, que muitos clínicos dão especial atenção a esses

somatizadores e, procuram seguir o que foi preconizado por Maimônides**, médico, rabino e

filósofo de vertente aristotélica do século XII: “Uma consulta deve durar uma hora. Durante

dez minutos, ausculte os órgãos do paciente. Nos cinquenta minutos restantes, sonde-lhe a

alma”, Buchalla (2007, p.2). Dessa forma, passaram a tratar o seu padecimento atual,

evitando-se os futuros, ao invés de se apressarem em livrar-se dos “neuróticos”.

Tratamentos inadequados decorrentes de falha no diagnóstico médico, os quais

muitas vezes, interpretam dor como “só psicológica” - (“piti”), de acordo com França &

_____________________ *Somatizações: sensações e distúrbios físicos com forte carga emocional e afetiva

** Moisés Bem Maimônides (Hebr. Mosheh Ben Maimon) (Córdoba, 1138 – Cairo, 1204)

Page 55: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

55

Rodrigues (2011), deixam marcas profundas no trabalhador.

Descrevemos a seguir, algumas manifestações relativas a doenças decorrentes

de forte carga emocional de acordo com França & Rodrigues (2011):

• Distúrbios do Sono

Alguns sintomas a eles relacionados, talvez possam ser considerados os mais

comuns em uma situação de estresse. Esses distúrbios dividem-se em:

- Insônia (vide 5.3.2, p.43).

- Distúrbios de sonolência excessiva: não existe uma média padrão, nem todas as pessoas

necessitam das mesmas horas de sono (fala-se em oito horas para um sono reparador). Uma

das causas de distúrbios de sonolência excessiva são as apnéias do sono (interrupções na

respiração durante o sono, provocando despertares breves para a desobstrução). Quem as

apresenta normalmente tem sonolência durante o dia, chegando às vezes, ao ponto de dormir

no trabalho.

- Distúrbios do padrão sono-vigília: no sono-vigília convencional, o ciclo que as pessoas

apresentam é dormir à noite (oito horas) e permanecer acordado durante o resto do dia. Esses

distúrbios se dão na categoria de pessoas que trabalham em turnos, sendo submetidas a

mudanças constantes, abruptas e involuntárias do padrão de sono e vigília. Com isso, ocorre

um desgaste individual da pessoa em relação ao trabalho, o rendimento fica prejudicado,

surgem dificuldades para conciliar e manter o sono, ficando cansados e sonolentos quando

acordados, o que interfere na vida social e familiar.

- Parasonias: incluem-se distúrbios como sonambulismo, terror noturno, certos tipos de

enxaqueca, bruxismo, etc.

• Workaholics (refere-se às pessoas que são “viciadas”, dependentes do trabalho)

São pessoas que não sabem e não conseguem fazer outra coisa na vida a não

ser trabalhar. Quando ao final de semana, feriado, férias, apresentam dificuldades em

conviver com a família, com o lazer e vida social. Tornam-se irritadiços, estressados,

chegando a desenvolver manifestações depressivas. Para eles, o trabalho é uma válvula de

escape (adaptaram-se ao estresse que o trabalho pode proporcionar).

• Trabalho alienante

Page 56: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

56

Quando o trabalho é desenvolvido de forma coercitiva; as pessoas não

exercitam seus potenciais, principalmente a criatividade; os trabalhadores não têm controle

sobre seu processo de trabalho; as tarefas são tidas como aborrecidas e arbitrariamente

decididas quanto ao seu ritmo, intensidade e duração; as relações de trabalho são

fragmentadas e competitivas – trabalho alienante. Ambientes com esses tipos de

características tornam-se estressantes, sentindo as pessoas falta de poder, sentimentos de

insatisfação, frustração, sensação de viver num mundo invisível e hostil (experiência subjetiva

de alienação).

• Depressão

Caracteriza-se por apresentar vários sintomas de intensidade variável, podendo

comprometer a vida das pessoas que apresentam esse problema.

Os sintomas da depressão podem afetar, por exemplo, o humor (podendo o

indivíduo apresentar graus variáveis de tristeza e até melancolia), a disposição e o estado de

ânimo, a qualidade e as perspectivas de vida, o comportamento e até o funcionamento do

corpo.

Esse estado depressivo, quase sempre compromete o lado profissional, não

conseguindo o trabalhador desenvolver suas atividades adequadamente; por vezes não

consegue nem trabalhar, tem dificuldade de concentração, cansaço excessivo... Por suas

peculiaridades, a depressão requer tratamento médico e psicológico.

Sintomas mais observados: redução do nível de energia; perda do interesse;

dificuldade em iniciar atividades, principalmente no período da manhã; diminuição

significativa do apetite ou aumento da ingestão de alimentos (compulsivamente); hipersonia

durante o dia; preocupação acima do habitual; dificuldade em tomar decisões; sentimento de

desesperança; pessimismo; diminuição do prazer nas atividades em geral; diminuição da

libido; afastamento das atividades sociais; irritabilidade; diminuição da autoestima; idéias

negativas sobre si mesmo; crises de choro; angústia; lentificação do pensamento e/ou dos

movimentos; pensamento de que a morte seria um alívio ou solução; idéias ou planos de

suicídio; incremento da preocupação com a saúde.

Contribui ainda para a depressão, o consumo contínuo de drogas que atuam no

sistema nervoso central, tais como: a maconha, a cocaína, as anfetaminas e o álcool. Os

Page 57: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

57

tratamentos para essa doença dependerão do grau de comprometimento, da história familiar e

pessoal do indivíduo que a apresente.

De acordo com França & Rodrigues (2011, p. 117), A natureza etiológica da LER, é multifatorial. Ela é exemplarmente Psicossomática. E aí parece residir umas das grandes dificuldades da Medicina em lidar com essa patologia. É somática em seus aspectos fisiopatológicos; é psíquica, pois envolve as características de personalidade do trabalhador e é social , porque se relaciona com a organização e a divisão do trabalho.

Para o trabalhador, com a falta de reconhecimento do seu trabalho, pois com “a

automação e a informatização, o reconhecimento pela produção já não é mais creditado a ele,

mas à máquina”, de acordo com França & Rodrigues (2011, p. 119) fica impossível obter

prazer e ter qualquer pretensão de criatividade. A rotina acaba por massacrar qualquer

tentativa de transformação do trabalhador.

Com a sua autoestima diminuída, pois o seu trabalho não é percebido como útil

ou interessante, não existe por parte do trabalhador a sensação de que o seu esforço é

socialmente reconhecido, e não há reforço da sua identidade por meio de sua práxis.

Mediante esses aspectos presentes na organização trabalho x trabalhador, a

consequência não poderia ser outra que, um sentimento de frustração, raiva e sofrimento. Não

podendo-se lidar de forma eficaz com a subjetividade e sua expressão, os mecanismos de

defesa podem mostrar-se ineficazes ou serem utilizados de forma inadequada.

Como resultado, teremos a doença, pois as energias mobilizadas pelo estresse,

resultante dessa situação, não podem ser adequadamente consumidas.

Pela perspectiva da Abordagem Sociopsicossomática, a LER seria uma doença

que remete a um sentido figurado, uma metáfora das relações de trabalho de nossa época,

onde vemos que o culto à máquina se sobrepõe ao trabalho humano (França & Rodrigues,

2011).

• Conceito de Burnout

Não podemos deixar de falar de um dos desdobramentos mais importantes do

estresse profissional neste século: - o conceito de burnout*.

_________________________ * Desenvolvido na década de 1970 por Cristina Maslach - psicóloga social e H.J. Freudenberg - psicanalista

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58

Para Maslach e Freudenberg, “o burnout tem o sentido de preço que o

profissional paga por sua dedicação ao cuidar de outras pessoas ou de sua luta para alcançar

uma grande realização”, segundo Freudenberg & Richelson14 apud França & Rodrigues

(2002, p.50).

Aqueles profissionais cujo objeto de trabalho é o relacionado diretamente com

outras pessoas, seriam exemplos de que o burnout é fruto de situações de trabalho.

Portanto, o burnout na conceituação de Freudenberg & Richelson é a resposta

emocional a situações de estresse crônico, em função dessas situações vivenciadas no

trabalho – com outras pessoas ou do próprio profissional que se autoavalia, em função do seu

desenvolvimento profissional (“cobranças”).

Segundo Carlotto (2008), as emoções deram início às primeiras pesquisas

realizadas sobre burnout. Era necessário achar uma “forma” de lidar com elas. Serviram de

instrumento para a pesquisa, aqueles profissionais que pela natureza do trabalho realizado,

necessitavam manter contato direto, frequente e emocional com a sua clientela (trabalhadores

da área da saúde, serviços sociais e educação). Notava-se nesses profissionais, grande estresse

emocional e a presença de sintomas físicos.

A preocupação com burnout, cresceu em função de três fatores, sendo o

primeiro, as modificações que foram sendo introduzidas no conceito de saúde e o enfoque

dado à melhoria da qualidade de vida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Como

segundo fator, o aumento da demanda e exigências de uma população preocupada com os

serviços sociais, educativos e de saúde. E, como terceiro fator, o trabalho de conscientização

de pesquisadores, órgãos públicos e serviços clínicos com relação ao fenômeno, visando o

aprofundamento dos estudos e a prevenção de sua sintomatologia.

Caracteriza-se o burnout por três aspectos básicos, de acordo com conceituação

de Maslach:

Exaustão Emocional

O contato frequente e intenso com pessoas, inclusive com aquelas que vivem

situações de sofrimento, levam o indivíduo a ter uma carga emocional tão grande, que

pode levá-lo a desenvolver uma exaustão emocional.

14 FREUDENBERG, H.J; RICHELSON, G. The high cost of hight achievement. New York: Ancher Press, 1980.

Page 59: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

59

O desgaste profissional é tão grande que pode levar o indivíduo ao

esgotamento, minando-lhe as energias a ponto de não ter como enfrentar o trabalho no dia

seguinte. Sua impressão é que não terá como recuperar essas energias.

Em função disso, os profissionais tanto no ambiente de trabalho como fora

dele, terão atitudes pouco tolerantes, ficando facilmente irritáveis, “nervosos”, seja com

amigos ou com familiares.

Torna-se pouco generoso, aparentemente insensível e, quase sempre apresenta

um comportamento rígido e adota rotinas inflexíveis, como uma forma de evitar qualquer tipo

de envolvimento com clientes e colegas.

Despersonalização

Com o distanciamento emocional, se exacerba um certo grau de frieza,

indiferença diante das necessidades dos outros, insensibilidade e postura desumanizada.

O profissional que assume atitude desumanizada passa a não perceber os outros

como pessoas semelhantes a ele, com sentimentos, impulsos, pensamentos e processos que ele

também pode ter.

O resultado é que em função do processo de desumanização, o profissional

perde a capacidade de identificação e empatia com as pessoas que buscam neles algum tipo de

ajuda, tratando-as como “coisas”, “objetos”. O contato com as pessoas será apenas tolerado,

sendo a sua atitude em geral, de intolerância, irritabilidade, ansiedade.

Redução da Realização Pessoal e Profissional

Havendo deterioração da qualidade da atividade exercida, a realização pessoal

e a profissional também ficam comprometidas. De acordo com Freudenberg o burnout surge

naquelas áreas, em que as pessoas acreditam ser mais promissoras para suas realizações, nos

profissionais que querem se destacar na comunidade, serem reconhecidos e terem uma

situação econômica confortável.

Mas pelo contrário, após algum tempo, o que desenvolvem são intensos

sentimentos de decepção e frustração. Com o incremento da exaustão emocional e da

despersonalização e todas suas consequências, aflora o sentimento de que falhas têm sido

cometidas, com seus ideais, normas e conceitos.

Page 60: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

60

O indivíduo percebe que não é mais a mesma pessoa, está mais fria e

descuidada. Então, surge queda da autoestima, que poderá levar à depressão.

“O burnout instala-se insidiosamente. É um estado que vai corroendo

progressivamente a relação do sujeito com sua atividade profissional”, França & Rodrigues

(2011, p. 55).

Diferentemente do que foi observado anteriormente, hoje a síndrome de

burnout já se estende a todos os profissionais que interagem de forma ativa com pessoas, que

cuidam e/ou solucionam problemas de outras pessoas, que obedecem técnicas e métodos mais

exigentes, fazendo parte de organizações de trabalho submetidas a avaliações (médicos,

professores, bombeiros, comerciários, atendentes públicos, telemarketing, assistentes sociais,

etc.), segundo Ballone (2009).

Ainda, segundo Ballone (2009), parece existir uma preponderância do

transtorno em função da dupla jornada de trabalho – profissional e a tarefa familiar.

Apesar do burnout ser o resultado do estresse emocional, de acordo com

França & Rodrigues (2011), não se pode generalizar que as reações do estresse são os grandes

vilões da história, pois como já comentado anteriormente, estão presentes em todos os

momentos de nossa vida e não podemos viver sem elas, pois são extremamente importantes

para os movimentos de adaptação de que necessitamos.

A síndrome de burnout tem sido considerada um problema social de grande relevância e vem sendo investigada em diversos países, uma vez que se encontra vinculada a grandes custos organizacionais. Alguns destes custos devem-se a rotatividade de pessoal, absenteísmo, problemas de produtividade e qualidade e também por associar-se a vários tipos de disfunções pessoais, como o surgimento de graves problemas psicológicos e físicos podendo levar o trabalhador à incapacidade total para o trabalho, Carlotto (2008).

Hoje, as leis brasileiras já reconhecem o burnout e amparam o trabalhador. O

burnout vem sendo investigado em diversos países e considerado um problema social,

relevante e digno de ser investigado, pois o seu desconhecimento leva a grandes custos

organizacionais.

No Brasil, o Decreto 6.957 de 9 de setembro de 2009, que trata dos Agentes

Etiológicos ou Fatores de Risco de Natureza Ocupacional, contempla o Bournout em seu Item

XII - Sensação de Estar Acabado ("Síndrome de Burn-Out", "Síndrome do Esgotamento

Profissional") (Z73.0) , classificada junto aos “Transtornos Mentais e do Comportamento

Relacionados com o Trabalho” (Grupo V da CID 10).

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61

Quadro Clínico da Síndrome de Burnout

1. Esgotamento emocional, com diminuição e perda de recursos emocionais.

2. Despersonalização ou desumanização, que consiste no desenvolvimento de atitudes

negativas, de insensibilidade ou de cinismo para com outras pessoas no trabalho ou no

serviço prestado.

3. Sintomas físicos de estresse, tais como cansaço e mal-estar geral.

4. Manifestações emocionais do tipo: falta de realização pessoal, tendências a avaliar o

próprio trabalho de forma negativa, vivências de insuficiência profissional, sentimentos de

vazio, esgotamento, fracasso, impotência, baixa autoestima.

5. É frequente irritabilidade, inquietude, dificuldade para a concentração, baixa tolerância à

frustação, comportamentos paranóides e/ou agressivos para com os clientes, companheiros

e para com a própria família.

6. Manifestações físicas: como qualquer tipo de estresse, a síndrome de burnout pode resultar

em transtornos psicossomáticos. Esses, normalmente se referem à fadiga crônica,

frequentes dores de cabeça, problemas com o sono, úlceras digestivas, hipertensão arterial,

taquiarritimias, e outras desordens gastrointestinais, perda de peso, dores musculares e de

coluna, alergias, etc.

7. Manifestações comportamentais: probabilidade de condutas aditivas e evitativas, consumo

aumentado de café, álcool, fármacos e drogas ilegais, absenteísmo, baixo rendimento

pessoal, distanciamento afetivo dos clientes e companheiros como forma de proteção do

ego, aborrecimento constante, atitude cínica, impaciência e irritabilidade, sentimento de

onipotência, desorientação, incapacidade de concentração, sentimentos depressivos,

frequentes conflitos interpessoais no ambiente de trabalho e dentro da própria família.

Então, entenda-se por saúde profissional (ocupacional), como o caminho

percorrido até a saúde do trabalhador, intermediado pelo fator ambiente, entendido como

sendo o local de trabalho.

Page 62: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

62

As condições de trabalho proporcionadas pelo ambiente físico, e a maneira

como o trabalho é organizado em termos de: 1) divisão, 2) conteúdo da tarefa, 3) sistema

hierárquico, 4) relações de poder, 5) questões de responsabilidade, dentre outras, se

devidamente supervisionadas pelo gestor, permitirão que as atividades de labor possam ser

exercidas dentro de um clima salutar:

Saúde do trabalhador é uma formação discursiva que se estrutura a partir de um conjunto de enunciados oriundos de diversas disciplinas, como: Medicina Social, Saúde Pública, Saúde Coletiva, Clínica Médica, Medicina do Trabalho, Sociologia, Epidemiologia Social, Engenharia, Psicologia, entre outras tantas, aliadas ao saber do trabalhador sobre seu ambiente de trabalho e de suas vivências das situações de desgaste e reprodução da força e trabalho, estabelecem uma nova forma de compreensão das relações entre saúde e trabalho e propõem uma nova prática de atenção à saúde dos trabalhadores e intervenções nos ambientes de trabalho, Nardi15apud Pereira Jorge (2004, p.23).

15 NARDI, H.C. Saúde, trabalho e discurso de médico: a relação médico-paciente e o conflito capital-trabalho. São Leopoldo: Unisinos, 1999.

Page 63: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

63

QUADRO 1 - F40-F48 - Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o "stress" e transtornos somatoformes – CID 2010.

CID Discriminação F40 Transtornos fóbico-ansiosos

F40.0 Agorafobia 00 - Sem transtorno de pânico 01 - Com Transtorno de pânico

F40.1 Fobias sociais F40.2 Fobias específicas (isoladas) F40.8 Outros transtornos fóbico-ansiosos F40.9 Transtorno fóbico-ansioso, não especificado F41 Outros transtornos ansiosos

F41.0 Transtornos de pânico (ansiedade paroxística episódica) F41.1 Transtorno de ansiedade generalizada F41.2- Transtorno misto de ansiedade e depressão. F41.3 Outros transtornos de ansiedade mistos F41.8 Outros transtornos ansiosos especificados F41.9 Transtorno ansioso, não especificado F42 Transtorno obsessivo-compulsivo

F42.0 Com predominância de idéias ou de ruminações obsessivas F42.1 Com predominância de comportamentos compulsivos (rituais

obsessivos) F42.2 Forma mista com idéias obsessivas e comportamentos compulsivos F42.8 Outros transtornos obsessivo-compulsivos F42.9 Transtorno obsessivo-compulsivo, não especificado F43 Reação a estresse grave e transtornos da adaptação

F43.0 Reação aguda ao estresse F43.1 Transtorno de estresse pós-traumático F43.2 Transtornos de adaptação

.20 - Reação depressiva breve .21 - Reação depressiva prolongada .22 - Reação mista, depressiva ansiosa .23 - Com perturbação predominantemente de outras emoções .24 - Com perturbação predominantemente de conduta .25 - Com perturbação mista de emoções e conduta .28 - Com outros sintomas predominantes especificados

F43.8 Outras reações ao estresse grave F43.9 Reação ao estresse grave, não especificada

Page 64: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

64

F44 Transtornos dissociativos (conversivos) F44.0 Amnésia dissociativa F44.1 Fuga dissociativa F44.2 Estupor dissociativo F44.3 Transtornos de transe e possessão

.80 - Síndrome de Ganser .81 - Transtorno de personalidade múltipla .88 - Outros transtornos dissociativos (conversivos), especificados

F44.9 Transtorno dissociativo (conversivo), não especificado F45 Transtornos somatomorfos

F45.0 Transtorno de somatização F45.1 Somatomorfo indiferenciado F45.2 Transtorno hipocondríaco F45.3 Disfunção autonômica somatomorfe

.30 - Coração e sistema cardiovascular .31 - Trato gastrintestinal superior .32 - Trato gastrintestinal inferior .33 - Sistema Respiratório .34 - Sistema geniturinário .38 - Outro órgão ou sistema

F45.4 Transtorno doloroso somatomorfo persistente F45.8 Outros transtornos somatomorfos F48.9 Transtorno neurótico, não especificado

Obs: Dados e nomenclaturas fornecidos pelo Prof. Dr. Dorgival Caetano, tradutor para o Português do livro

Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10 da OMS, Editora Artes Médicas, 1993. (http://www.psiquiatriageral.com.br/cid/f40.htm)

Page 65: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

65

6 METODOLOGIA

Este estudo de caso permite uma maior familiaridade com o problema

abordado – “Principais sintomas do estresse frente à realização da atividade profissional”.

De acordo com Yin (2005), os estudos de caso são cada vez mais utilizados

como ferramentas de pesquisa.

Como estratégia de pesquisa, utiliza-se o estudo de caso em diversas situações

como forma de contribuir com o conhecimento que temos, seja de fenômenos individuais,

organizacionais, sociais, políticos ou de grupos, e/ou outros fenômenos relacionados.

Para este estudo de caso, a estratégia de pesquisa utilizada é a descritiva e

exploratória, sendo que a obtenção de dados foi realizada mediante a aplicação de

questionários estruturados, com um roteiro prévio de perguntas elaboradas a partir dos

objetivos do estudo, observação e pesquisa bibliográfica.

Na maioria dos casos, pesquisas desse tipo envolvem: a) levantamento

bibliográfico; b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema

pesquisado; c) análise de exemplos que “estimulem a compreensão”, de acordo com Selltiz16

apud Gil (1991, p.45).

O método de pesquisa é o quantitativo, que se apropria da análise estatística

para o tratamento dos dados, de acordo com Figueiredo (2004) e a população-alvo escolhida

pela autora para a busca de evidências empíricas, foi constituída por servidores de uma

universidade pública.

16 SELLTIZ, C. et al. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: Herder, 1967.

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66

7. ANÁLISE DOS DADOS

De posse dos resultados obtidos, poderemos ter uma base das situações de

estresse no trabalho que estão levando o servidor público a adoecer física e psiquicamente,

assim como, detectar as principais doenças psicossomáticas adquiridas pela persistência dos

sintomas. Isso nos permitirá fazer um esclarecimento aos servidores de uma maneira geral, e

alertá-los para o fato de que o estresse pode ser sadio, mas que também, pode de alguma

forma, em função dos sintomas nocivos, ter sérias consequências para o organismo como um

todo.

7.1 Sobre a Obtenção dos Dados

Participantes da pesquisa

Foram investigadas 84 (oitenta e quatro) pessoas do sexo feminino e masculino

(não optamos pela definição dos sexos por categoria (F/M)).

A faixa etária dos participantes variou entre: 20 a 30 anos (2% - dois por

cento); 31 a 40 anos (25% - vinte e cinco por cento); 41 a 50 anos (36% - trinta e seis por

cento); 51 a 60 anos (29% - vinte e nove por cento); 61 a 70 anos (8% - oito por cento).

Com relação ao estado civil, tivemos as seguintes porcentagens dentre os

pesquisados: solteiros (17% - dezessete por cento); casados (70% - setenta por cento); outros

(13% - treze por cento).

Foi interessante por parte da autora, constatar, que o maior retorno das

informações deu-se por parte do pessoal de nível superior (docentes), e não do nível médio,

como até então imaginava que aconteceria. Responderam ao questionário 57(cinquenta e sete)

docentes e 27(vinte e sete) técnico-administrativos.

Desse contingente, 77% (setenta e sete por cento) possuía pós-graduação

(especialização, mestrado, doutorado); 11% (onze por cento) curso superior completo; 6%

(seis por cento) curso superior incompleto e 6% (seis por cento) II grau completo.

O presente estudo foi realizado em um Centro de Ciências Biológicas de uma

universidade pública, abrangendo os servidores técnico-administrativos e docentes, no

período de fevereiro a setembro de 2011.

Page 67: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

67

7.2 Delineamento da Pesquisa

Como foi citado nos objetivos, procurou-se, nesta pesquisa exploratória,

levantar dados que pudessem apontar a existência de situações de estresse, as suas causas e os

principais sintomas apresentados pelos servidores de uma universidade pública.

Utilizou-se na pesquisa o levantamento de fontes secundárias: levantamento

bibliográfico obtido através de literatura especializada; método de observação (indireta);

entrevista e bate-papo informal. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um

questionário estruturado, elaborado com respostas de múltiplas alternativas e/ou não, o qual se

encontra anexado ao final deste trabalho (apêndice B).

Em razão dos questionários terem sido encaminhados via e-mail, para uma

melhor compreensão do seu conteúdo, foi elaborada uma pequena introdução, sendo que,

antes de cada questão, foi dada uma breve explicação sobre o que se desejava com a pergunta.

7.3 Coleta dos Dados

Partindo-se da hipótese que norteia esta pesquisa, sobre os principais sintomas

do estresse perceptíveis no ambiente de trabalho e que podem levar o servidor público a

adquirir uma doença psicossomática, verificou-se a existência de evidências que nos

permitem confirmar tal hipótese.

Ainda que o grupo pesquisado afirme que esses sintomas acontecem

ocasionalmente (não sabemos com que frequência), são detectados na grande maioria da

população estudada.

Procurou-se, num primeiro momento, obter por parte dos envolvidos a

informação se os mesmos sabiam o que é estresse, e se já haviam ouvido falar em estresse

ocupacional. De acordo com os dados obtidos comprovou-se que: 100% (cem por cento) da

população pesquisada sabe o que é estresse, conforme demonstrado na figura 3(três).

Page 68: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

68

FIGURA 3 – Porcentagem/número de pessoas que sabem o que é o estresse.

Com relação ao estresse ocupacional, 98% (noventa e oito por cento) da

população, têm conhecimento do que seja, conforme podemos observar na figura 4(quatro).

FIGURA 4 – Porcentagem/número de pessoas que sabem o que é o estresse ocupacional.

Page 69: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

69

Um dado de grande importância para o desenvolvimento do estudo foi a

obtenção da informação frente ao fato de os servidores públicos, objeto desta pesquisa,

considerarem-se ou não, pessoas estressadas.

Um percentual de 65% (sessenta e cinco por cento) declarou serem pessoas

estressadas ocasionalmente.

Em resposta à questão de número 6(seis) que indagava se o estresse era devido

a atividades de trabalho realizadas sob a influência de agentes estressores, 89% (oitenta e

nove por cento) dos servidores responderam que sim, conforme ilustrado na figura 5(cinco).

FIGURA 5 – Porcentagem/número de pessoas que realizam atividades de trabalho sob

influência de estímulo estressor.

Dos estressores apontados por Ballone (1999), como exemplos de situações

mais comumente relacionadas ao estresse no trabalho e detalhados no item 5.3.1, através de

pesquisa realizada em uma universidade pública, comprovou-se situação de estresse, quando

da existência de: sobrecarga, alterações do sono e problemas de ergonomia. Esses dados

encontram-se demonstrados no quadro 2(dois).

Page 70: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

70

QUADRO 2 – Agentes estressores detectados em uma universidade pública e percentual de

servidores públicos que realizam atividades de trabalho sob a influência de

agente(s) estressor(es).

Estímulo estressor Servidores públicos (%)

Sobrecarga 95

Alterações do sono 65

Ergonomia 54

Falta de estímulos 40

Falta de perspectivas 32

Mudanças na empresa/instituição 31

Ruído 24

Mudanças devido a novas tecnologias 21

7.4 O Fator Político Atuando como Estímulo Estressor

Este estudo também teve o intuito de fazer uma análise, visando-se tomar

conhecimento quanto ao fato de a situação política do país ter contribuído ou não, como

estímulo estressor na vida do servidor de uma universidade pública.

Procurou-se a partir do Governo de Getúlio Vargas (1930/45), onde conquistas

importantes foram obtidas pela massa trabalhadora, avaliar se os governos conseguiram

desestabilizar emocionalmente o servidor público.

Ficou comprovado, de acordo com manifestação de 62% (sessenta e dois por

cento) da população pesquisada ao responder a questão de número 7(sete), que os diversos

governos tiveram papel relevante para o desequilíbrio emocional (estresse) do trabalhador.

Dentre as medidas tomadas que afetaram o servidor, foram apontadas: as leis

trabalhistas do Governo Vargas; golpe militar e a reforma universitária; plano Bresser; plano

Collor; falta de planos de carreira; congelamento dos salários; criação de gratificações sem a

incorporação no salário-base; redução do quadro de funcionários; privatizações; falta de

investimento na educação pública; corrupção, entre outras.

Dentre os governos, o Governo FHC foi apontado como o que mais

desestabilizou o servidor público, de acordo com as opiniões postadas.

Page 71: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

71

7.5 Trabalho e Estresse

De acordo com os dados obtidos, 81% (oitenta e um por cento) dos servidores,

alvo desta pesquisa, já se sentiram em situação pessoal de estresse em função da atividade que

desempenham no trabalho, como demonstra a figura 6(seis).

FIGURA 6 – Porcentagem/número de pessoas que se estressam em decorrência do trabalho

que exercem.

Com relação ao estresse, a literatura especializada (Lipp, 2001; França &

Rodrigues, 2011; Ballone, 2005; Boller, 2002, etc) aponta a existência de diversos sintomas,

sendo muitos deles relatados pela população estudada.

Apesar da maioria dos envolvidos admitirem sentir esses sintomas

ocasionalmente (não sabemos com que frequência), para alguns dos sintomas vivenciados,

esse índice é bastante expressivo se somados aos daquelas pessoas que os sentem

frequentemente.

Os sintomas, portanto, já sinalizam como um alerta, para que o equilíbrio da

mente e corpo sejam restabelecidos, e é com base nessa confirmação que no quadro 3(três),

Page 72: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

72

descrevemos as principais sintomatologias apresentadas pelos servidores, bem como a

frequência com que são percebidas:

QUADRO 3 - Principais sintomas do estresse apresentados pelos servidores de uma universidade pública.

Incidência(%) SINTOMAS

nunca Ocasionalmente Frequentemente

Ansiedade 6 56 37

Tensão muscular 11 53 36

Fadiga física e mental 16 58 28

“Bruxismo” 59 17 24

Insônia 22 63 14

Lesões por esforços repetitivos (LER) 58 32 11

Problemas de estômago 41 49 9

Doenças de Pele (espinhas, acne, herpes labial, vitiligo, psoríase) 64 28 8

Problemas com a glândula Tireóide 85 7 8

Sistema Imunológico (baixa imunidade, herpes, por ex.) 36 59 5

Doenças cardiovasculares (hipertensão, arritmias, doenças coronárias 66 31 3

Tabagismo 91 7 3

Etilismo 92 8 0

Page 73: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

73

O estresse é o representante emocional da ansiedade.

A ansiedade interfere na atenção ou na realização de tarefas.

Na questão 9(nove), perguntamos aos servidores se os mesmos se

consideravam pessoas ansiosas. Um total de 71% (setenta e um por cento) deles, respondeu

afirmativamente a essa questão, conforme ilustrado na figura 7(sete).

FIGURA 7 – Porcentagem/número de pessoas que se consideram ansiosas.

Em um estudo apresentado por Ballone (2008), o mesmo afirma que com

relação à sintomatologia geral da ansiedade, de 18 (dezoito) sintomas listados, podem ser

observados pelo menos 6 (seis).

No quadro 4(quatro), se observarmos o índice de servidores que responderam o

questionário afirmando apresentar a sintomatologia da ansiedade, ocasionalmente e/ou

frequentemente, veremos que essa afirmação se comprova:

Page 74: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

74

QUADRO 4 – Sintomatologias da Ansiedade detectadas em uma universidade pública

Incidência dos Sintomas (%) SINTOMAS

Nunca Ocasionalmente Frequentemente

Tensão ou dor muscular 8 62 30*

Impaciência 12 64 23*

Dificuldade em conciliar e manter o sono 26 52 22*

Inquietação 19 60 22*

Fadiga fácil 40 42 18*

Irritabilidade 18 65 18*

Pouca concentração ou memória prejudicada 19 63 18*

Falta de ar ou sensação de fôlego curto 66 25 10

Resposta exagerada à surpresa 44 49 8*

Palpitações 60 33 7

Rubor ou calorias 63 32 6

Polaciúria 84 12 4

“Bolo” na garganta 64 33 3 Tremores ou sensação de fraqueza 68 29 3

Náuseas e diarréias 67 32 1

Vertigens e tonturas 69 30 1

Sudorese (mãos frias e úmidas) 64 30 1

(*) sintomas observados por Ballone (1999)

Segundo França & Rodrigues (2011), cerca de 2(dois) a 4% (quatro por cento)

da população mundial tem problemas de ansiedade, que exigiriam tratamento médico.

Com relação a tratamento, nas últimas décadas a prescrição de tranquilizantes

(remédios para ansiedade) tem se multiplicado; nos últimos três anos cresceu cerca de 65%

(sessenta e cinco por cento).

A presença do estresse no ambiente de trabalho, não é tarefa fácil de se avaliar.

O estresse é um fenômeno complexo, com uma multiplicidade de conceitos que

quando, colocados à prova, ainda demonstram fragilidade de toda ordem.

A questão de número 11(onze) teve por finalidade obter dos servidores de uma

universidade pública, a informação sobre o fato de passarem ou não por situação estressante

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75

no seu trabalho. A grande maioria (76% - setenta e seis por cento) dos entrevistados

respondeu que sim, conforme mostra a figura 8(oito).

FIGURA 8 – Porcentagem/número de pessoas que vivenciam estresse no trabalho.

Para aqueles cujas respostas foram afirmativas, apresentamos algumas medidas que

poderiam estar contribuindo para evitar essa situação de estresse vivenciada (poderia ser

assinalada mais do que uma alternativa). No quadro 5(cinco), podemos observar quais

medidas foram mais significativas para o trabalhador:

QUADRO 5 – Principais medidas a serem tomadas para evitar situação de estresse

Medidas a Serem Tomadas Respostas (%)

Estabelecer prioridades 98

Reconhecer as próprias limitações 97

Enfrentar os problemas na hora em que acontecem de forma racional 94

Procurar tornar o trabalho mais interessante 88

Buscar a ajuda de colegas, amigos ou familiares 80

Evitar situações que levem ao estresse 79

Manter-se ocupado(a) 72

Page 76: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

76

8 RESULTADOS ALCANÇADOS

Esta pesquisa permitiu constatar que embora a população estudada não assuma

a situação de estresse frequentemente, a mesma está presente em algum período de suas vidas,

podendo-se deduzir de acordo com definição de Seyle (1965) com relação à Síndrome Geral

de Adaptação, que os servidores encontram-se na fase de alarme. Apesar do organismo

desencadear várias reações, o mesmo ainda mantêm uma adaptação satisfatória aos sintomas

(situação de Eustress).

De acordo com França & Rodrigues (2011), apesar de algumas condições de

trabalho serem geradoras de fatores estressantes e, no presente estudo, alguns desses

estressores se fazerem presentes, um total de 95% (noventa e cinco por cento) dos servidores

consideram que, ainda assim, o exercício da atividade profissional é motivo de satisfação

pessoal, conforme ilustrado na figura 9(nove).

FIGURA 9 – Porcentagem/número de pessoas que consideram o trabalho motivo de

satisfação pessoal.

Page 77: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

77

O estresse por eles apresentado, não prejudica a vida familiar e/ou profissional,

segundo 68% (sessenta e oito por cento) dos entrevistados ao responder a questão de número

4(quatro).

A pesquisa apontou um baixo índice de afastamento do servidor do trabalho,

em virtude da situação de estresse (apenas 8% - oito por cento).

Quanto à procura por ajuda médica em virtude dos sintomas do estresse

apresentados, o índice é razoável (38% - trinta e oito por cento), tendo-se em vista que a

grande maioria afirmou a presença dessa situação apenas ocasionalmente, ao responder a

pergunta de número 13(treze) do questionário, como ilustrado na figura 10(dez).

FIGURA 10 – Porcentagem/número de pessoas que necessitaram procurar ajuda médica em

virtude dos sintomas do estresse.

Os principais quadros clínicos relatados foram: hipertensão; pericardite;

arritmias; taquicardia; dores no peito; falta de ar; cansaço; alteração da pressão; insônia;

dificuldade de concentração; vertigens; dores musculares; tensão muscular; dores na coluna e

articulações; herpes; dispnéia; doenças de pele; depressão; falta de equilíbrio orgânico (baixa

resistência); problemas gastrointestinais (estômago); ansiedade; bruxismo; dor de cabeça;

Page 78: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

78

fadiga; dores musculares sem explicação física; tristeza; desesperança; baixa auto-estima;

perda de concentração e memória; nervosismo; impaciência; angústia; aumento do apetite;

psoríase; sede excessiva (sintoma de diabete).

Alguns dos sintomas, enquadram-se como doenças psicossomáticas,

confirmando o que foi comprovado por Ballone (1999), de que o indivíduo estressado pode

manifestar qualquer tipo de doença psicossomática.

De acordo com França & Rodrigues (2011), a lista poderia ser mais extensa,

mas nem sempre os pacientes relatam sintomas mentais.

Dos participantes da pesquisa, 96% (noventa e seis por cento) afirmaram saber

o que é doença psicossomática, e a lista daqueles que necessitaram procurar por ajuda médica

em razão da sua manifestação, foi em torno de 17% (dezessete por cento), apresentando o

seguinte quadro clínico: pânico; depressão; doenças cardíacas; diabetes; problemas de

estômago; câncer, dentre outras doenças.

Com relação à doença de “burnout”, 57% (cinquenta e sete por cento) dos

servidores disseram ter conhecimento do que seja, conforme ilustra a figura 11(onze).

FIGURA 11 – Porcentagem/número de pessoas que sabem o que é o “burnout”.

Não nos aprofundamos na exploração dos sintomas percebidos pela população

estudada, recomendando que o assunto possa ter continuidade em pesquisa futura.

Page 79: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

79

9 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

É fato que temos uma situação de estresse em uma universidade pública.

Mesmo que os envolvidos assumam essa “presença” ocasionalmente, temos que pensar que os

estímulos estressores aí residem, e que, se não, “extirpados”, podem fazer com que tenhamos

um quadro não muito agradável com o decorrer do tempo.

Temos no presente momento no país, um governo recém-eleito, ainda

adequando-se às políticas externas e à crise mundial. Os servidores têm que estar preparados

para a não concessão de aumento de salários, falta de contratações e a falta de novos

investimentos nas universidades públicas. Esses fatores, certamente contribuirão para o

aumento da pressão que já vinham sofrendo (sobrecarga, falta de estímulo, estresse

proporcionado pela política, pressão da chefia e da sociedade para o cumprimento de prazos,

etc.). Será que os gestores estão preparados para entender essa situação, e proporcionar ao

servidor um mínimo de equilíbrio para o exercício da profissão?

Algumas instituições já possuem programas de qualidade de vida voltados aos

seus funcionários, no sentido de aliviar as tensões do dia-a-dia. Mas como motivar o servidor

a usufruir desse benefício? São questões que precisariam ser revistas pelos responsáveis,

tendo em vista que a autora já participou de atividades de Programa de Qualidade de Vida –

PQV, tendo constatado que existe mais evasão do que a participação do servidor, em virtude

de compromissos no serviço, ou mesmo obrigações familiares, não os deixarem relaxar.

O lazer não é a cura, deve ser a prevenção. O estresse é um inimigo silencioso

e perigoso, e nem sempre tem a atenção que deveria, seja por parte da chefia e/ou do

trabalhador. Que, em função dos dados levantados, possam os dirigentes ter um olhar mais

aguçado e postura interventiva, quando o assunto for estresse, uma vez que os sintomas

relatados são expressivos, levando-se em consideração o estudo ter sido realizado apenas com

uma pequena população de servidores.

Em uma entrevista informal, com um profissional do Serviço Médico da

Universidade, constatou-se a inexistência de registros e/ou levantamentos que pudessem

comprovar o número de servidores afastados devido aos sintomas do estresse e/ou à doença

psicossomática. O servidor afirma que pelo conhecimento do assunto em pauta, sabe que o

número é grande, mas não se tem como precisar. Esses dados, se levantados e computados,

poderiam ser de primordial importância para a direção de qualquer instituição, pois

permitiriam o acompanhamento e tratamento do trabalhador, logo no início do aparecimento

Page 80: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

80

de doenças e situações de estresse, sendo que essas medidas certamente reduziriam o número

de afastamentos e situações de constrangimento vividas pelo servidor.

Em razão de situação de estresse vivenciada e pela observação de colegas que

passam por essa situação na realização de tarefas diárias, a autora, a exemplo de Pereira Jorge

(2004), recomenda:

- a formação de equipes que possam estar fazendo um trabalho de

conscientização e passando informações sobre saúde do trabalhador;

- tratar da valorização do servidor (enquanto ser humano), promovendo

palestras abordando diversos assuntos;

- motivar o trabalhador, promovendo eventos que contribuam para isso;

- treinar funcionários do setor de saúde para atendimento específico de queixas

relacionadas ao estresse.

Deixa aqui também, a sugestão da continuidade deste estudo, abordando a

doença de burnout; a pesquisa junto a funcionários de outros setores; a criação de uma

cartilha a ser divulgada para os servidores.

Page 81: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

81

10 REFERÊNCIAS

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SEYLE, H. Stress: a tensão da vida. São Paulo: Ibrasa, 1965. 354p.

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84

APÊNDICE A

Page 85: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

85

DEPOIMENTO PESSOAL

O Estresse que eu “Vivi”

Até então, o que pessoalmente sentira como estresse, era o cansaço do dia-

a-dia pelo ritmo desenfreado das atividades realizadas, da responsabilidade diante das tarefas

não inerentes ao seu cargo, da falta de férias, do acúmulo de trabalhos no lar, etc.; mas nada

como um final de semana ou um feriado prolongado para se repor as energias.

Até que um dia (um certo dia), lá estava ela envolta com “milhões” de

atividades, cuja realização já estava programada em sua cabeça (dentro de uma sequência

lógica, é claro), as quais a seu ver, deveriam ser realizadas por pelo menos mais uma pessoa,

tendo-se em vista o volume e a complexidade de algumas das tarefas a serem desenvolvidas.

Nesse ínterim, adentrou ao seu local de trabalho, a Chefe Responsável pelo

Setor, comunicando a necessidade da realização de uma atividade que deveria sobrepor-se às

demais, inclusive com descumprimento de normas e prazos estipulados.

Ao ser interpelada, a autora tentou argumentar sobre as consequências relativas

ao descumprimento dos prazos, que afetariam não somente o setor em que trabalha, mas

aqueles em que o documento a ser expedido deveria ser aprovado, bem como as implicações

com inscrições a serem realizadas, lançamento em bancos de dados, reserva de sala, etc., tudo

dentro de um período de tempo demasiado curto, não sendo esse o procedimento correto.

A Chefia responsável, pelo que lhe pareceu, não gostou de ser contrariada,

dizendo ser essa uma atividade importante e que não seria uma questão de trâmites que

impediriam a sua realização.

Nesse momento, alguns integrantes da Coordenação diretamente ligados à

Chefia, que chegavam para uma reunião, juntaram-se à mesma fazendo “coro”: - um dizendo

que certas burocracias deveriam ser contornadas - contanto que fossemos nós, reles

funcionários, os responsáveis por elas - outros se omitindo, mas em síntese concordando com

a responsável hierárquica.

Argumentou então a autora, que enquanto funcionária do setor, sentia ser

inviável trabalhar nessas condições: com sobrecarga de trabalho, sem critérios e/ou regras,

descumprindo prazos, sem férias, o que já estava começando a afetá-la fisicamente. Até um: –

“Se alguém está doente é bom então se tratar”, ouviu ser dito com um certo sarcasmo.

Naquele momento, ao olhar para aquelas pessoas percebeu com angústia (pode

levar à depressão), o quanto os servidores (nível médio e apoio) ainda são desrespeitados;

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86

como aqueles que detêm o poder, podem sem perceber, destruir em poucos segundos relações

de anos de amizade; e que tanta dedicação, tanto comprometimento (que “sugam”, anos de

suas vidas), muitas vezes tornam-se vãos.

Já na sala para onde se retirara, percebeu que o seu corpo todo tremia, além de

ter as mãos frias e trêmulas e os olhos marejados. Os companheiros de trabalho preocupados,

não sabiam o que fazer para ajudá-la.

Aguardou a saída da Chefe do setor e do pessoal que a acompanhava. Não se

sentia bem. Informou aos seus colegas que procuraria por atendimento médico.

Dirigiu-se a um “Hospital 24 horas”, e ao ser atendida teve uma crise

involuntária de choro, estando sua pressão arterial em 22/11. Ela sabia o diagnóstico: ERA

UMA CRISE DE ESTRESSE.

Apesar de gostar do serviço que realiza, naquele momento desejou não mais

retornar ao trabalho e rever aquelas pessoas. Esse sentimento de distanciamento e frieza, se

não tivesse sido debelado com certeza, poderia ter iniciado um processo futuro de burnout.

Por orientação médica, marcou alguns dias de férias dos que tinha em haver,

sem importar-se com a demanda de tarefas a serem cumpridas posteriormente no trabalho.

Uma coisa ficou-lhe bem clara: que todos nós temos o comando de nossas

vidas em nossas mãos, e controlar as emoções deve ser uma atividade para ser exercitada em

tempo integral.

As suas crenças pessoais e espirituais, o apoio familiar e a compreensão dos

amigos, ajudaram-na a superar a situação de DISTRESS.

A pesquisa realizada foi de grande importância para saber quais os caminhos a

seguir e como portar-se diante da situação enfrentada, não deixando que um sentimento de

raiva mais intensivo pudesse instalar-se em seu organismo, prejudicando-lhe o controle

acertado das emoções.

De acordo com Cabral et al. (1997), de todas as emoções, a raiva é o

sentimento que temos maior dificuldade em controlar. É a mais sedutora das emoções

negativas e energiza e até mesmo exalta. Pode ser controlada, desde que evitemos

“ruminações” e procuremos ver e tratar as coisas pelo lado positivo.

Essa primeira “reação de alarme” vivenciada pela autora, ajudou-a a pensar e

“tentar” encarar a vida com mais leveza - trabalhar sim, escravizar-se não...

Finais de semana foram feitos para relaxar, férias existem para nos permitir

descansar, e o trabalho - “se for necessário um afastamento e houver alguma atividade

Page 87: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

87

importante a ser feita, alguém certamente se incumbirá de realizá-la, pois como dizem:

‘Ninguém é Insubstituível’ – No Stress” (a autora, 2011).

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88

APÊNDICE B

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89

São Carlos, 02 de agosto de 2011.

Prezado(a) Servidor(a)

Meu nome é Roseli A. Gonçalves e sou funcionária desta UFSCar, lotada no Programa de Pós-

Graduação em Ecologia e Recursos Naturais – PPGERN.

No momento, estou concluindo o curso de Pós-Graduação Lato sensu em Gestão Pública, oferecido

pela Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas - ProGPe aos Servidores da UFSCar.

Necessito contar com a sua colaboração para o desenvolvimento da parte prática/experimental da

pesquisa por mim iniciada (referente ao trabalho de Monografia exigido para o curso), respondendo às

perguntas do questionário em anexo, cujo sigilo sobre o responsável pelos dados fornecidos será

devidamente mantido.

O trabalho de monografia intitulado “Estresse Profissional: Estudo de Caso sobre os Principais

Sintomas Apresentados pelos Servidores de uma Universidade Pública” foi a forma que eu encontrei

para contribuir com os servidores públicos, numa tentativa de conscientizá-los sobre as diversas

formas de manifestação do estresse: como identificá-lo, como adaptar-se a ele nas situações que

ocorrem no seu meio ambiente, formas de enfrentamento, etc.

Para melhor avaliarmos como anda a saúde do Servidor, as questões deverão ser respondidas com a

maior fidelidade possível.

Mediante o exposto, conto com o pronto retorno dos dados solicitados, para que possamos dar

sequência à tabulação dos mesmos, e finalizar a pesquisa que futuramente estará à disposição

(Monografia), junto à ProGPe da UFSCar.

Atenciosamente,

Roseli A. Gonçalves

Assistente Administrativo

PPGERN

Prazo para Devolução: 09/09/2011

(enviar uma única vez)

NÃO DEIXAR QUESTÕES SEM ASSINALAR

(Obs.: Caso não consiga visualizar o formulário, favor preenchê-lo pelo endereço online indicado, sem

perigo de vírus)

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90

QUESTIONÁRIO AVALIATIVO – PARTE PRÁTICA DA MONOGRAFIA DO CURSO DE GESTÃO PÚBLICA – EAD – UFSCar

1. VOCÊ SABE O QUE É ESTRESSE ( ) SIM ( ) NÃO

2. VOCÊ SABE O QUE É ESTRESSE OCUPACIONAL? ( ) SIM ( ) NÃO

3. VOCÊ SE CONSIDERA UMA PESSOA ESTRESSADA? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) OCASIONALMENTE

4. O ESTRESSE TEM PREJUDICADO A SUA VIDA FAMILIAR E/OU PROFISSIONAL?

( ) SIM ( ) NÃO

5. PARA VOCÊ O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE PROFISSIONAL É MOTIVO DE SATISFAÇÃO PESSOAL? ( ) SIM ( ) NÃO

6. COM RELAÇÃO AO SEU TRABALHO, VOCÊ JÁ CHEGOU A REALIZAR AS ATIVIDADES DIÁRIAS SOB A INFLUÊNCIA DE ALGUM(S) ESTÍMULO(S) ESTRESSOR(ES) Obs.: (em caso afirmativo responder Sim e assinalar as alternativas abaixo concordando ou

discordando) ( ) SIM ( ) NÃO

6.1. Sobrecarga de Trabalho (urgência de tempo, responsabilidade excessiva, falta de apoio, etc.) ( ) SIM ( ) NÃO

6.2. Falta de estímulos (tarefas repetitivas ou rotineiras, por exemplo) ( ) SIM ( ) NÃO

6.3. Exposição a Ruídos Excessivos

( ) SIM ( ) NÃO

Page 91: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

91

6.4. Alterações do Sono (devido a horários prolongados de trabalho, ritmo das atividades sociais, etc) ( ) SIM ( ) NÃO

6.5. Falta de Perspectivas (ascensão no cargo, melhoria de salário, etc)

( ) SIM ( ) NÃO

6.6. Mudança de Chefia ( ) SIM ( ) NÃO

6.7. Adaptação a Novas Tecnologias ( ) SIM ( ) NÃO

6.8. Ergonomia (falta de conforto térmico, problemas de acústica, mobiliário impróprio, etc.) ( ) SIM ( ) NÃO

No caso de algum estímulo estressor não listado, mais significativo para você, especificar

7. OS GOVERNOS TOMAM DECISÕES QUE MUITAS VEZES INFLUENCIAM

NOSSA VIDA PROFISSIONAL. VOCÊ CONSIDERA QUE EM GOVERNOS ANTERIORES FORAM TOMADAS MEDIDAS QUE INFLUENCIARAM NEGATIVAMENTE A SUA VIDA PROFISSIONAL? (Obs.: em caso afirmativo, assinale nas alternativas abaixo qual(is) Governo(s), e descreva ao final, qual(is) a(s) medida(s): ( ) SIM ( ) NÃO

7.1. Governo Vargas (1930/45)

( ) SIM ( ) NÃO

7.2. Governo Juscelino Kubitschek – JK (1956/60)

( ) SIM ( ) NÃO

7.3. Governo da Reforma Militar (1967)

( ) SIM ( ) NÃO

7.4. Governo José Sarney (1998)

( ) SIM ( ) NÃO

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92

7.5. Governo Color de Melo (1990)

( ) SIM ( ) NÃO

7.6. Governo Fernando Henrique Cardoso (1995/2002)

( ) SIM ( ) NÃO

7.7. Luiz Inácio Lula da Silva (2003/2010)

( ) SIM ( ) NÃO

Qual(is) medida(s) tomada(s) referente(s) ao(s) Governo(s) assinalado(s) ______________________________________________________________________ 8. COM RELAÇÃO À ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DE TRABALHO, VOCÊ

JÁ SE SENTIU EM SITUAÇÃO PESSOAL DE ESTRESSE EM FUNÇÃO DA ATIVIDADE QUE DESEMPENHA? (Obs.: em caso afirmativo, assinalar nas alternativas abaixo quais dos sintomas de estresse já sentiu) ( ) SIM ( ) NÃO

8.1. Ansiedade ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

8.2. Sistema Imunológico (baixa imunidade, herpes, por exemplo) ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

8.3. Insônia

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

8.4. Problemas de Estômago

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

Page 93: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

93

8.5. Etilismo (uso de álcool para alívio da fadiga, ansiedade e tensão) ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

8.6. Tabagismo (uso de cigarro para alívio da tensão) ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

8.7. Problemas com a Glândula tireóide (hiper ou hiptirodismo)

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

8.8. “Bruxismo” (ranger dos dentes)

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

8.9. Doenças de Pele (espinhas, acne, herpes labial, vitiligo psoríase, etc.)

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

8.10. Doenças Cardiovasculares (hipertensão, arritimias doenças coronárias, infarto)

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9. A ANSIEDADE É UM DOS SINTOMAS DO ESTRESSE MAIS COMUMENTE APRESENTADO, INTERFERINDO NA ATENÇÃO OU NA REALIZAÇÃO DE TAREFAS, VOCÊ SE CONSIDERA UMA PESSOA ANSIOSA? (Obs.: em caso afirmativo, assinalar com que frequência apresenta as sintomatologias da ansiedade nas alternativas abaixo): ( ) SIM ( ) NÃO

9.1. Tremores ou Sensações de Fraqueza

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.2. Tensão ou Dor Muscular ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.3. Inquietação ( ) NUNCA

Page 94: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

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( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.4. Fadiga Fácil

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.5. Falta de Ar ou Sensação de Fôlego Curto

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.6. Palpitações ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.7. Sudorese, Mãos Frias e Úmidas

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.8. Vertigens e Tonturas

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.9. Náuseas e Diarréias

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.10. Rubor ou Calorias

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.11. Polaciúria (urinar com frequência mas em pequenas quantidades)

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.12. “Bolo” na Garganta

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

Page 95: estresse profissional: estudo de caso sobre os principais sintomas

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9.13. Impaciência ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.14. Resposta Exagerada à Surpresa

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.15. Pouca Concentração ou Memória Prejudicada

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.16. Dificuldade em Conciliar e Manter o Sono

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

9.17. Irritabilidade

( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE

10. VOCÊ TEM CONHECIMENTO DO QUE SEJA A DOENCA DE “BOURNOUT”? ( ) SIM ( ) NÃO

11. VOCÊ CONSIDERA QUE PASSA POR SITUAÇÃO ESTRESSANTE NO SEU TRABALHO? (Obs.: Em caso afirmativo, indique qual(is) da(s) alternativa(s) abaixo você adotaria e qual(is) não adotaria para evitar essa situação) ( ) SIM ( ) NÃO

11.1. Tentando Evitar Situações que Levem ao Estresse ( ) SIM ( ) NÃO

11.2. Reconhecendo as Próprias Limitações ( ) SIM ( ) NÃO

11.3. Buscando a Ajuda de Colegas, Amigos ou Familiares

( ) SIM ( ) NÃO

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11.4. Enfrentando os Problemas na Hora em que Acontecem de Forma Racional ( ) SIM ( ) NÃO

11.5. Procurando Tornar o Trabalho mais Interessante

( ) SIM ( ) NÃO

11.6. Estabelecendo Prioridades

( ) SIM ( ) NÃO

11.7. Mantendo-se Ocupado(a)

( ) SIM ( ) NÃO

12. O ESTRESSE JÁ LEVOU VOCÊ A SE AFASTAR DO TRABALHO?

( ) SIM ( ) NÃO

13. VOCÊ JÁ NECESSITOU PROCURAR AJUDA MÉDICA DEVIDO A ALGUM

SINTOMA DO ESTRESSE? ( ) SIM ( ) NÃO Quais Sintomas? _____________________________________________________

14. VOCÊ SABE O QUE É DOENÇA PSICOSSOMÁTICA?

( ) SIM ( ) NÃO

15. VOCÊ JÁ NECESSITOU PROCURAR AJUDA MÉDICA EM RAZÃO DE

ALGUMA DOENÇA PSICOSSOMÁTICA? ( ) SIM ( ) NÃO

Quais Doenças? ______________________________________________________

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16. DADOS PESSOAIS (não serão de maneira alguma nominalmente divulgados) CARGO: DEPARTAMENTO/SETOR: TEMPO DE IES: FAIXA ETÁRIA: 20 – 30 anos ( ) 31 – 40 anos ( ) 41 – 50 anos ( ) 51 – 60 anos ( ) 61 – 70 anos ( ) 71 anos ou mais ( ) ESTADO CIVIL: Solteiro(a) ( ) Casado(a) ( ) Outros ( ) ESCOLARIDADE: I Grau Completo ( ) II Grau Completo ( ) Superior Incompleto ( ) Superior Completo ( ) Pós-Graduação (Mestrado, Doutorado) ( )