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  • 97 Revista Crtilo, 9(2): 97-109, dez. 2016

    Estratgias argumentativas em anncios publicitrios

    Argumentative strategies in advertisements

    Jeniffer Aparecida Pereira da Silva Universidade Federal de Lavras. E-mail: [email protected]

    Helena Maria Ferreira Universidade Federal de Lavras. E-mail: [email protected]

    ______________________________________________________________________________________________

    Resumo: Os avanos tecnolgicos ocorridos na contemporaneidade dinamizaram os processos de interao e trouxeram mudanas substanciais no que concerne estruturao e ao funcionamento dos textos. Essas alteraes acarretaram novas demandas de leitura que foram se constituindo na medida em que os textos foram se modificando e novos conceitos como letramentos e multimodalidade foram surgindo. Assim, a organizao dos textos se configura por meio de diferentes recursos multimodais, entre eles, a linguagem verbal. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa apresentar os resultados de uma anlise de estratgias argumentativas presentes em anncios publicitrios na dimenso verbal. O quadro terico abrange autores como Almeida (2001), Marcuschi (2002), Elias (2006), Dionsio (2005), Koch (2008; 2011), Lara (2010), Machado (2006), Carvalho (1996), entre outros. Em um primeiro momento, foi realizada uma pesquisa terica com os seguintes temas: anncios publicitrios, gnero textual e estratgias argumentativas. Em seguida, foram selecionados quatro anncios publicitrios para anlise. As anlises revelaram muitas estratgias argumentativas, como repetio, seleo lexical, utilizao de operadores argumentativos, entre outros. Palavras-chave: Gnero Textual. Argumentao. Anncio Publicitrio. Abstract: Technological advances that occurred in the contemporaneity have stimulated the processes of interaction and brought substantial changes regarding the structure and operation of the texts. These changes led to new demands of reading which have been constituted as the texts have been modified and new concepts such as literacies and multimodality emerged. The organization of texts is configured through different multi-modal features, including, verbal language. In this sense, the objective of this research is to present the results of an analysis of argumentative strategies present in advertisements on verbal dimension. The theoretical framework includes authors such as Almeida (2001), Marcuschi (2002), Elias (2006), Dionsio (2005), Koch (2008; 2011), Lara (2010), Machado (2006), Carvalho (1996), among other. At first, a theoretical research was conducted with the following topics: advertising, genre and argumentative strategies. Then, four advertisings were selected for analysis. The analysis revealed many argumentative strategies such as repetition, lexical selection, and use of argumentative operators, among others. Keywords: Textual Genre. Argumentation. Advertisement. ______________________________________________________________________________________________

    Revista Crtilo, 9(2): 97-109, dez. 2016 Centro Universitrio de Patos de Minas

    http://cratilo.unipam.edu.br

  • 98 Revista Crtilo, 9(2): 97-109, dez. 2016

    1 Consideraes iniciais

    A contemporaneidade propiciou a ampliao dos usos da linguagem e,

    consequentemente, a diversificao dos gneros textuais, no s no mbito escolar, mas

    tambm em vrios outros contextos sociais. Entre os fatores que contriburam para essa

    diversidade, merecem destaque as tecnologias de informao e comunicao, que, por

    sua vez, desencadearam mudanas significativas nos modos de organizao dos meios

    de comunicao, que tm investido em formas de persuaso e dissuaso dos

    interlocutores. Dessa forma, a anlise de textos que englobam essas estratgias passou

    a ser essencial para a compreenso dos efeitos dos recursos lingustico-discursivos que

    os compem.

    Diante da importncia de se compreender algumas estratgias presentes em

    textos argumentativos, este artigo elege como objeto de estudo a linguagem verbal

    presente em anncio publicitrio. Nesse sentido, objetiva-se analisar as estratgias

    argumentativas presentes nesses textos. A discusso aqui proposta pretende

    estabelecer relaes entre a necessidade de pensamento crtico quando o leitor se v

    diante de uma tentativa de persuaso. Vale salientar que a multimodalidade

    constitutiva do anncio publicitrio, mas que o presente trabalho se ocupar do estudo

    das estratgias argumentativas de cunho verbal, uma vez que a formao do leitor

    demanda uma compreenso da recursividade argumentativa que qualifica esse gnero

    como tal.

    2 Referencial terico

    2.1 A leitura de gneros textuais e a multimodalidade

    A leitura e a escrita, como formas de interao entre os interlocutores, dialogam

    com as formas de ensino na atualidade. Como afirmam Koch e Elias (2006, p. 10-11),

    na concepo interacionista (dialgica) da lngua, os sujeitos so vistos como

    atores/ construtores sociais, sujeitos ativos que dialogicamente - se constroem

    e so construdos no texto, considerado o prprio lugar da interao e da

    constituio dos interlocutores. Desse modo, h lugar, no texto para toda uma

    gama de implcitos, dos mais variados tipos, somente detectveis quando se

    tem como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos participantes da

    interao.

    Essa interao possibilita um dilogo fundamental entre o aluno e o texto.

    Nesse contexto, a compreenso do gnero textual est conectada capacidade de

    analisar criticamente e compreender o texto apresentado.

    O uso do gnero textual/discursivo no ensino da leitura em sala de aula pode

    ser considerado uma das ferramentas que proporciona ao aluno a possibilidade de

    compreenso das especificidades dos mais variados textos que circulam socialmente, o

    que permite a ampliao dos (multi)letramentos. Para tal, necessrio que o

    leitor/escritor saiba codificar/decodificar aspectos lingusticos do texto verbal

    ESTRATGIAS ARGUMENTATIVAS EM ANNCIOS PUBLICITRIOS

  • 99 Revista Crtilo, 9(2): 97-109, dez. 2016

    (estruturas internas), depreender as caractersticas do contexto de produo e recepo

    dos textos e, tambm, interpretar os diferentes recursos constituintes dos diversos

    gneros discursivos que circulam na sociedade da informao.

    Como afirma Marcuschi (2002, p. 21),

    no difcil constatar que nos ltimos dois sculos foram as novas tecnologias,

    em especial as ligadas rea da comunicao, que propiciaram o surgimento de

    novos gneros textuais. Por certo, no so propriamente as tecnologias per se

    que originam os gneros e sim a intensidade dos usos dessas tecnologias e suas

    interferncias nas atividades comunicativas dirias. Assim, os grandes suportes

    tecnolgicos da comunicao tais como o rdio, a televiso, o jornal, a revista, a

    internet, por terem uma presena marcante e grande centralidade nas

    atividades comunicativas da realidade social que ajudam a criar, vo por sua

    vez propiciando e abrigando gneros novos bastante caractersticos. Da surgem

    formas discursivas novas, tais como editoriais, artigos de fundo, notcias,

    telefonemas, telegramas, telemensagens, teleconferncias, videoconferncias,

    reportagens ao vivo, cartas eletrnicas (e-mails), bate-papos virtuais, aulas

    virtuais e assim por diante.

    Com o surgimento das novas propostas curriculares que associaram o ensino ao

    texto e com a revoluo tecnolgica que afeta diretamente o ensino, ao propor uma

    nova perspectiva de leitura, preciso interligar a leitura proposta multimodal. A

    multimodalidade refere-se maneira como as diversas formas de linguagem se

    associam entre si, formando novas possibilidades de comunicao que se aliam s

    necessidades do usurio. Como postula Dionsio (2005, p. 119),

    cada vez mais se observa a combinao de material visual com a escrita;

    vivemos, sem dvida, numa sociedade cada vez mais visual. Representao e

    imagens no so meramente formas de expresso para a divulgao de

    informaes, ou representaes naturais, mo so, acima de tudo, textos

    especialmente construdos que revelam as nossas relaes com a sociedade e

    com o que a sociedade representa.

    A autora ainda afirma que, assim como as aes so fenomnos multimodais, os

    gneros textuais tambm so, pois quando falamos ou escrevemos um texto, estamos

    usando no mnimo dois modos de representao: palavras e gestos, palavras e

    entonaes, palavras e imagens, palavras e tipogrficas, palavras e sorrisos, palavras e

    animaes, etc. (DIONSIO, 2005 p. 121). Dessa forma, possivel, cada vez mais,

    encontrar uma quantidade de gneros que relacionam imagem e texto. Um exemplo

    dessa multimodalidade em sala de aula o gnero textual anncio publicitrio que alia

    a linguagem verbal e no verbal com propostas predefinidas, cabendo ao leitor a tarefa

    de desvendar as estratgias argumentativas presentes no texto.

    JENIFFER APARECIDA & HELENA MARIA FERREIRA

  • 100 Revista Crtilo, 9(2): 97-109, dez. 2016

    2.2 Anncios publicitrios e os recursos argumentativos

    O anncio publicitrio um gnero textual que, notadamente, integra pouco o

    cotidiano escolar dos alunos, embora se faa presente em todas as outras esferas

    sociais. O meio publicitrio possui como ojetivo, particularmente, a venda ou o

    reconhecimento de um produto, de uma marca ou de um servio (MACHADO, 2006).

    A globalizao contribuiu para o desenvolvimento dos meios publicitrios que,

    atualmente, produzem os mais variados tipos de propagandas. importante ressaltar

    que o meio publicitrio evoluiu, acompanhando todo processo da evoluo

    tecnolgica, ou seja, passou de uma linguagem verbal simples para tcnicas elaboradas

    que englobam anlise e pesquisa por parte de seus idealizadores.

    No que concerne rea do ensino e anlise, passou-se a ter mais elementos para

    se pesquisar e decifrar inmeras mensagens subliminares relacionadas com a

    capacidade de argumentao. Koch (2008) aponta para o fato de que medida que o

    leitor influenciado por um determinado discurso, ele exclui outras possibilidades de

    significados. Complementando o exposto, Lara et al. (2010, p.17) afirmam que

    Um anncio bem elaborado deve levar em considerao alguns aspectos, tais

    como: a ateno, o interesse, o desejo, a memorizao e a ao. Esses aspectos

    formam o que os publicitrios nomeiam com a sigla AIDMA. suma

    importncia despertar a ateno, suscitar o interesse, provocar o desejo,

    permitir a memorizao e desencadear a ao.

    Partindo do pressuposto de que os anncios publicitrios tm um objetivo

    principal, que o de convencer o cliente, possvel estabelecer um objetivo para os

    anncios publicitrios como gnero textual no mbito da sala de aula: o de

    proporcionar aos alunos a aprendizagem de um olhar crtico a partir da leitura de um

    gnero multimodal que utiliza diversas estratgias de argumentao para convencer e

    se fazer conhecido. Carvalho (1996, p. 19) aborda que a funo persuasiva [...] consiste

    em tentar mudar a atitude do receptor. Para isso, ao elaborar o texto o publicitrio, [o

    produtor] leva em conta o receptor ideal da mensagem, ou seja, o pblico para o qual a

    mensagem est sendo criada.

    Para convencer, os anncios publicitrios utilizam recursos e tcnicas que,

    conforme Koch (2006), so recursos argumentativos presentes no nvel lingustico

    fundamental. Nesse caso, a opo ser abordar os operadores argumentativos que

    constituem um tpico da retrica. Koch (2002, p. 15) afirma que a linguagem passa a

    ser encarada como forma de ao, ao sobre o mundo dotada de intencionalidade,

    veiculadora de ideologia, caracterizando-se, portanto, pela argumentatividade.

    consensual entre os tericos que se ocupam do estudo dos textos publicitrios

    (GONALVEZ, 2006) a afirmao de que os discursos no so completamente ausentes

    de um posicionamento ideolgico. No entanto, perceber as ideologias veiculadas pelos

    textos nem sempre uma tarefa simples para os alunos, por isso, o trabalho com o

    gnero anncio publicitrio fundamental. Koch (2011, p. 17) considera que

    ESTRATGIAS ARGUMENTATIVAS EM ANNCIOS PUBLICITRIOS

  • 101 Revista Crtilo, 9(2): 97-109, dez. 2016

    por esta razo que se pode afirmar que o ato de argumentar, isto , de orientar

    o discurso no sentido de determinadas concluses, constitui o ato lingustico

    fundamental, pois todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia, na acepo

    mais ampla do termo. A neutralidade apenas um mito: o discurso que se

    pretende neutro, ingnuo, contm tambm uma ideologia a da sua prpria

    objetividade.

    Discorrendo sobre a funo argumentativa do discurso publicitrio e

    complementando as afirmaes de Koch (2011), Gonalvez (2006) considera que o texto

    publicitrio uma interao de signos verbais ou no verbais para formarem uma

    mensagem, com uso de imagem, cores, fotos e outros elementos como complementos

    dos argumentos verbais. Esse texto, de alguma forma, dialoga com os interlocutores

    por meio de um conjunto de recursos multissemiticos. divulgado com a funo de

    informar aos interlocutores sobre um produto e de persuadi-los compra. Ele tambm

    leva ao pblico visado informaes bsicas (selecionadas propositalmente) a respeito

    daquele determinado produto.

    Diante disso, pode-se afirmar que o uso da linguagem, no campo publicitrio,

    inerentemente argumentativo, ou seja, todo discurso possui por base principal um

    objetivo a ser atingido, seja de convencer, seja de contrapor, entre outros. E so os

    operadores argumentativos e discursos no contexto social que vo ter essa funo de

    sinalizarem a argumentao. Para Koch (2011, p. 102),

    a macrossintaxe do discurso ou semntica argumentativa que vai

    recuperar esses elementos, por serem justamente eles que determinam o valor

    argumentativo dos enunciados, constituindo se, pois em marcas lingusticas

    importantes da enunciao.

    Os operadores argumentativos, alm de auxiliarem na coeso entre duas

    oraes, favorecem a fora argumentativa dos enunciados. Segundo Ducrot (apud

    KOCH, 2006, p. 30), portanto, os operadores argumentativos servem para designar

    certos elementos da gramtica de uma lngua, que tem por funo indicar (mostrar) a

    fora argumentativa dos enunciados, a direo (sentido) para o qual apontam. Os

    principais tipos de operadores argumentativos so:

    Operadores que introduzem argumentos que se somam a outro, tendo em vista

    a mesma concluso: e, nem, tambm, no s... mas tambm, alm disso etc.

    Operadores que introduzem enunciados que exprimem concluso ao que foi

    expresso anteriormente: logo, portanto, ento, consequentemente etc.

    Operadores que introduzem argumentos que se contrapem a outros (mudana

    na direo argumentativa), visando a uma concluso contrria: mas, porm,

    todavia, embora, ainda que, apesar de etc.

    Operadores que introduzem argumentos alternativos: ou... ou, quer... quer,

    seja... seja etc.

    Operadores que estabelecem relaes de comparao: mais que, menos que,

    to... quanto, to... como etc.

    Operadores cuja funo introduzir enunciados pressupostos: agora, ainda, j,

    at etc.

    JENIFFER APARECIDA & HELENA MARIA FERREIRA

  • 102 Revista Crtilo, 9(2): 97-109, dez. 2016

    Operadores cuja funo introduzir enunciados, que visa a esclarecer um

    enunciado anterior: isto , ou seja, quer dizer, em outras palavras etc.

    Operadores cuja funo orientar a concluso para uma afirmao ou negao:

    quase, apenas s, somente etc.

    Alm dos operadores argumentativos, muitas outras estratgias argumentativas

    so utilizadas na produo do gnero textual anncio publicitrio. Koch (2011, p. 33)

    apresenta as marcas lingusticas da argumentao:

    1. As pressuposies;

    2. As marcas das intenes, explicitas ou veladas, que o texto veicula;

    3. Os modalizadores que revelam sua atitude perante o enunciado que produz

    (atravs de certos advrbios, dos tempos e modos verbais, de expresses do

    tipo: claro, provvel, certo etc.);

    4. Os operadores argumentativos, responsveis pelo encadeamento dos

    enunciados, estruturando-os em textos e determinando a sua orientao

    discursiva;

    5. As imagens recprocas que se estabelecem entre os interlocutores e as

    mscaras por eles assumidas no jogo de representaes ou, como diz Carlos

    Vogt, nas pequenas cenas dramticas que constituem os atos de fala.

    Uma estratgia que est sempre sendo apresentada em anncios publicitrios

    so as tcnicas de repetio lexical. Segundo Freitas (2013, p. 13),

    como recurso da seleo lexical para sustentar ou defender uma tese, a

    repetio lexical ativa e reativa o signo, que acaba por desencadear, uma rede

    isotpica, ou seja, um recorte temtico capaz de conduzir o leitor ao raciocnio

    interpretativo idealizado pelo produtor do texto.

    A repetio uma ferramenta constante nos anncios publicitrios e possui o

    intuito de reforar uma ideia de vrias formas com a inteno de que o leitor tenha

    aquela ideia em mente. Os anncios publicitrios animados, por exemplo, muitas

    vezes, vm incorporados com msicas que so simples de memorizar, levando o

    consumidor/leitor a decorar e, futuramente, a comprar determinado produto em

    associao com a msica.

    Outro aspecto a seleo lexical, a escolha de palavras que sugerem intimidade

    do anncio publicitrio com o leitor. Como apresenta Gomes (2010, p. 400), no tocante

    seleo lexical, eles se estabelecem a partir de oposies, jogos de palavras, metforas,

    campos associativos etc.. A palavra voc, por exemplo, tem a inteno de direcionar

    o anncio ao leitor, aproximando-o do produto. Carvalho (1996, p. 18) assevera que a

    palavra deixa de ser meramente informativa, e escolhida em funo de sua fora

    persuasiva, clara ou dissimulada. Nesse sentido, o poder do texto no se restringe a,

    simplesmente, vender tal marca ou qual marca, mas integrar o receptor sociedade de

    consumo.

    Desse modo, necessrio estabelecer critrios ao analisar os anncios

    publicitrios, recorrendo a diversos recursos de argumentao, com a finalidade de

    mostrar recursos que so utilizados pelos produtores desse gnero textual.

    ESTRATGIAS ARGUMENTATIVAS EM ANNCIOS PUBLICITRIOS

  • 103 Revista Crtilo, 9(2): 97-109, dez. 2016

    3 Anlise de estratgias argumentativas presentes em anncios publicitrios

    Para uma anlise, foram selecionados quatro anncios publicitrios que

    apresentam recursos argumentativos explcitos. Estes foram retirados de diferentes

    exemplares da revista VEJA. Segue o primeiro anncio publicitrio.

    Anncio Publicitrio 1

    Nesse anncio publicitrio, importante destacar a presena do verbo faltar, no

    singular ou no plural, que, repetido inmeras vezes, causa um efeito no s de

    repetio e de reiterao, que so recursos coesivos, mas tambm de intensificao,

    uma abordagem que, quando direcionada ao interlocutor, refora uma ideia.

    A expresso Todos os dias apresenta a ideia desenvolvida por Koch (2011) ao

    apresentar o hexgono de Blanch. Nesse contexto, a escolha lexical da palavra todos

    que pode passar a ideia ao interlocutor tanto de reiterao de uma ideia frequente e

    DE UM LADO FALTA QUASE TUDO.... DO OUTRO, SOBRA DEDICAO E

    LUTA PELA SUA SADE.

    Todos os dias faltam condies de trabalho e atendimento. Faltam leitos e

    medicamentos. Faltam verbas para a sade e competncia para gerir esses

    recursos. Falta respeito aos mdicos e aos pacientes do SUS e dos planos de sade.

    Mas no tem faltado compromisso, empenho e dedicao dos mdicos que

    trabalham, noite e dia, para que todo brasileiro tenha uma assistncia digna e de

    qualidade. Em 2016, vamos seguir defendendo a valorizao do trabalho mdico

    e continuar lutando para que a sade seja tratada com prioridade e respeito.

    (Conselho Federal de Medicina Revista Veja, 2458)

    JENIFFER APARECIDA & HELENA MARIA FERREIRA

  • 104 Revista Crtilo, 9(2): 97-109, dez. 2016

    imposta, quanto de procurar aceitao do leitor, tambm uma afirmao plena (Koch

    2011). No caso do hexgono de Blanch, todos aparece presente como A, que

    considerado necessrio. Seguem algumas representaes do hexgono de Blanch

    (1969) apresentadas por Koch (2011, p. 73-74):

    Por esta razo, Blanch postula como bsica uma estrutura ternria A-E-Y, ou

    seja, a trade dos contrrios, em que A o necessrio, E o impossvel, e Y o

    termo neutro, que se ope a ambos, por tratar-se de um conceito parcialmente

    afirmativo e parcialmente negativo, que rejeita igualmente a totalidade e a

    nulidade, devendo situar-se, portanto, entre a afirmao total e a negao total.

    Dessa forma, o hexgono apresenta, tambm, estrutura do sistema de

    quantificadores, apresentada por Koch (2011):

    A: Todos, tudo.

    E: Nenhum, nada.

    U: Tudo ou nada.

    I: Ao menos alguns, seno todos (muitos).

    O: No todos, eventualmente alguns (poucos).

    Y: Alguns (alguns poucos e alguns muitos; alguns sim e alguns no; nem todos,

    nenhum).

    Dessa forma, possvel perceber a estratgia utilizada, o que faz com que a

    expresso todos os dias se torne, naturalmente, uma ideia intensificadora para o

    interlocutor da mensagem.

    Alm disso, merece destaque o operador mas, que considerado um operador

    argumentativo por excelncia, conforme Koch (2011). Nesse contexto, o operador

    argumentativo mas possui funo crucial na argumentao do anncio publicitrio,

    pois salienta o compromisso do locutor do anncio em relao ao contexto apresentado

    anteriormente e d sentido claro mensagem em destaque. Vale ressaltar que, sem o

    uso desse operador argumentativo de origem, o sentido lingustico da mensagem teria

    sido prejudicado.

    As escolhas lexicais do texto tambm repercutem na leitura do interlocutor,

    palavras como: compromisso, respeito, dedicao, qualidade, bem como a utilizao da

    expresso vamos seguir tm a funo de atuar como um plano de fundo, uma estratgia

    para atenuar e dar sentido ao texto. Ainda no caso da expresso vamos seguir, possvel

    perceber a ideia de uma continuao, ou seja, j se seguia por essa direo e continuar

    com o caminho.

    A campanha 2, a seguir, foi publicada pela revista Veja.

    ESTRATGIAS ARGUMENTATIVAS EM ANNCIOS PUBLICITRIOS

  • 105 Revista Crtilo, 9(2): 97-109, dez. 2016

    Anncio Publicitrio 2

    Nesse anncio publicitrio, possvel encontrar uma afirmao que, alm de

    resumir tudo o que ser dito posteriormente, garante o foco do leitor: quem tem hero

    garante uma vida digital tranquila e sem surpresas. Essa estratgia de tpico se configura

    como uma estratgia argumentativa, uma vez que j anuncia as vantagens do

    aplicativo.

    O operador argumentativo por exemplo estabelece uma relao de

    exemplificao, a fim de mostrar ao interlocutor as possibilidades que ele ter com o

    produto. O operador argumentativo alm de assume uma caracterstica importante de

    acrscimo em anncios publicitrios, como afirma Almeida (2001, p. 74):

    nos textos da publicidade, os operadores argumentativos alm de e alm disso

    assumem importncia crucial j que os mesmos so responsveis pelo

    acrscimo de mais um argumento que passa a ser decisivo no sentido de

    orientar para uma determinada concluso; sua funo dar o golpe final,

    destina-se a acentuar a fora argumentativa do enunciado.

    A palavra voc tambm desempenha papel importante no que se refere ao

    dilogo com o interlocutor, aproximando-o do anncio e do produto que ser

    apresentado na campanha. O operador menos, nesse caso, menos quem estabelece uma

    Quem tem hero garante uma vida digital tranquila e sem surpresas: como ficar

    sem whatsapp, por exemplo. Essa semana todo o Brasil ficou sem whatsapp, menos

    quem possui hero. Alm de garantir segurana total para a sua vida digital, o hero

    no deixa voc sem o aplicativo de mensagens mais utilizado do momento. (Fast

    Shop Hero Revista Veja 2458)

    JENIFFER APARECIDA & HELENA MARIA FERREIRA

  • 106 Revista Crtilo, 9(2): 97-109, dez. 2016

    comparao entre quem possui e utiliza o produto e quem no possui o produto,

    reiterando a importncia do produto na vida do interlocutor. As expresses segurana

    total e mais utilizado do momento reforam as qualidades do produto apresentado para

    um julgamento positivo por parte do interlocutor da mensagem.

    A campanha 3, apresentada a seguir, tambm foi retirada da revista Veja.

    Anncio Publicitrio 3

    Essa campanha apresenta o uso de vocbulos caracterizadores como novo, mais

    carga, que tm como funo caracterizar as vantagens e as qualidades do produto. A

    expresso mais ou menos assim, que uma expresso popular, tem como funo, alm

    de introduzir a explicao do produto, se aproximar do leitor. O emprego da frase

    nominal Novo leasing operacional man imprime objetividade e agilidade ao texto. A

    oposio provocada pelo um peso a menos e mais carga enfatiza as vantagens do produto.

    Por fim, o emprego do pronome seu busca uma aproximao com o leitor, o que se

    evidencia como uma estratgia discursiva para persuadir o pblico-alvo da campanha.

    A campanha 4, apresentada a seguir, tambm foi retirada da revista Veja.

    Novo leasing operacional man. mais ou menos assim: um peso a menos nas

    costas, mais carga no seu caminho. (MAN Revista Veja, 2463)

    ESTRATGIAS ARGUMENTATIVAS EM ANNCIOS PUBLICITRIOS

  • 107 Revista Crtilo, 9(2): 97-109, dez. 2016

    Anncio Publicitrio 4

    O anncio apresenta o uso do recurso da hashtag que abrange os ambientes

    tecnolgicos para ressaltar toda a tecnologia desenvolvida no produto, bem como o uso

    dos operadores argumentativos como: a) por isso, que introduz um ato de justificativa

    ou explicao ao enunciado anterior (ALMEIDA, 2001, p. 53), b) alm de, que

    responsvel pelo acrscimo de mais um argumento que passa a ser decisivo no

    sentido de orientar para uma determinada concluso (ALMEIDA, 2001, p. 74) e c)

    ainda, que pode servir como marcador de excesso temporal/no temporal ou como

    introdutor de mais um argumento a favor de determinada concluso (ALMEIDA,

    2001, p. 38).

    A escolha lexical de palavras como novo design, conforto, tecnologia, famlia, assim

    como o dilogo com o interlocutor, possui a funo de aproximao e persuaso no

    anncio analisado.

    Soma-se a esses recursos o uso de sua, voc intenta uma aproximao com o

    interlocutor. Os elementos descritores do produto tambm se inserem como estratgias

    de persuaso, pois buscam destacar a importncia do produto: exclusiva tecnologia

    Novo Chevrolet cobalt: O conforto que sua famlia merece com uma tecnologia que

    vai surpreender voc. #HOJEEHASSIM Dar o melhor para a sua famlia no

    significa abrir mo das coisas que voc mais gosta. Por isso, o novo cobalt vem com

    a exclusiva tecnologia OnStar, um boto no retrovisor conectado a uma central 24

    horas que oferece servios de concierge, navegao e muito mais. E, alm do novo

    design, vem ainda com a nova gerao do Mylink, com qual voc conecta o seu

    smartphone ao carro por meio do Apple CarPlay ou do Android Auto. Chevrolet

    Cobalt. Tudo que voc ama. Tudo que sua famlia merece.(Chevrolet - Revista

    Veja, 2462)

    JENIFFER APARECIDA & HELENA MARIA FERREIRA

  • 108 Revista Crtilo, 9(2): 97-109, dez. 2016

    OnStar, um boto no retrovisor conectado a uma central 24 horas que oferece servios

    de concierge, navegao e muito mais, novo design, nova gerao do Mylink, com qual

    voc conecta o seu smartphone ao carro por meio do Apple CarPlay ou do Android

    Auto.

    A repetio tambm se destaca: Chevrolet cobalt, sua famlia merece, sua famlia,

    voc, novo cobalt, que possui a funo de enfatizar a mensagem e de imprimir a

    mensagem na memria do leitor, o que torna a mensagem mais atrativa e eficiente.

    4 Consideraes finais

    A partir do trabalho empreendido, foi possvel identificar os inmeros recursos

    argumentativos presentes no gnero textual anncio publicitrio e os efeitos que essas

    estratgias emprestam nos sentidos que o leitor constri do texto. Em uma concepo

    interacionista entre texto e leitor, possvel perceber que o anncio publicitrio dialoga

    intencionalmente com o receptor, provocando e direcionando significados que

    pretende alcanar.

    Nesse contexto, o dilogo que a propaganda provoca propositalmente revela

    que assim como requisitado do gnero em sua pr-produo, o anncio publicitrio

    cumpre sua funo de forma a tentar persuadir o leitor. Dessa forma, a anlise

    proporcionou uma viso ampliada dos recursos argumentativos presentes no gnero

    textual anncio publicitrio. Nesse sentido, as potencialidades apresentadas por esse

    gnero para o trabalho com a argumentao so, exponencialmente, significativas, pois

    vrios recursos lingusticos se transfiguram em recursos discursivos ao exercerem uma

    funo de valorizar o produto, de buscar a aproximao com o leitor, de articular

    partes, de acrescentar elementos, de convencer o outro.

    Partindo desse pressuposto, possvel perceber que, a partir de inmeros jogos

    com a linguagem e de questes semnticas em unio com recursos multimodais e

    multissemiticos, o anncio publicitrio abrange questes importantes na formao de

    um leitor crtico.

    Referncias

    ALMEIDA, Lucimar. Anlise semntica de operadores argumentativos em textos

    publicitrios, 2001. Tese (Mestrado). Universidade Federal de Uberlndia. UFU/MG.

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  • 109 Revista Crtilo, 9(2): 97-109, dez. 2016

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    JENIFFER APARECIDA & HELENA MARIA FERREIRA