estratégias de predição da leitura: aplicação de um ... de... · ao teclar a última palavra...
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Anabela da Conceio Costa
Coimbra
Universidade de Coimbra
2010
Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao
Universidade de Coimbra
Tese de Mestrado em Cincias da Educao, na rea de
especializao de Superviso Pedaggica e Formao de
Formadores
Estratgias de predio da leitura: aplicao
de um programa de interveno a partir da
biblioteca escolar
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Anabela da Conceio Costa
Coimbra, 2010
Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao
Universidade de Coimbra
Mestrado em Superviso Pedaggica e Formao de Formadores
Estratgias de predio da leitura: aplicao de
um programa de interveno a partir da
biblioteca escolar
Dissertao de Mestrado em Cincias da Educao, na rea de
especializao em Superviso Pedaggica e Formao de
Formadores, apresentada Faculdade de Psicologia e de Cincias
da Educao da Universidade de Coimbra e realizada sob
orientao das Professoras Doutoras Maria Helena Lopes Damio
da Silva e Maria Isabel Ferraz Festas.
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Agradecimentos
Ao teclar a ltima palavra surge o momento em que no posso deixar
de olhar para trs e lembrar todos aqueles que, de algum modo, estiveram
comigo, ao longo desta tarefa aliciante, mas tambm muito rdua. A todos
esses seres especiais chegou a altura do meu agradecimento.
O meu mais profundo agradecimento e reconhecimento s Professoras
Doutoras Maria Helena Lopes Damio da Silva e Maria Isabel Ferraz
Festas, pela excepcional orientao que se dignaram prestar-me, aliando ao
rigor cientfico, uma enorme capacidade de trabalho e uma maravilhosa
vertente humana. Muito obrigada pela pacincia, incentivo e por nunca
terem desistido de mim, nem me terem deixado ficar pelo caminho.
Obrigada Direco do Agrupamento de Escolas de Condeixa-a-
Nova, por me autorizar a realizar este estudo e ao Departamento de Lnguas
por ter compreendido o valor desta investigao. O meu agradecimento aos
professores dos Conselhos de Turma das turmas envolvidas na investigao,
pela imensa disponibilidade revelada e apoio concedido e as todos os
colegas que, de algum modo, me auxiliaram.
A todos os que ouviram pacientemente os meus lamentos e, mesmo
assim, me incentivaram a continuar, muito obrigada.
Aos amores da minha vida: Mariana, Paulo e restante famlia
maravilhosa, obrigada e desculpem por no vos ter dado mais tempo de mim.
Um enorme bem-haja a todos!
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Somos o que lemos. E somos o que a nossa imaginao literria nos acrescentou.
Quem nunca leu ou leu muito pouco, no conhece nem o mundo em que vive nem os mundos
que podemos sonhar.
Quem l, v mais; quem l, sonha mais; quem l, decide melhor; quem l, governa
melhor; quem l, escreve melhor.
Carlos Ceia (2008)
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ndice
Agradecimentos ........................................................................................................................ i
ndice .......................................................................................................................................iii
ndice de Quadros ................................................................................................................... v
Resumo ................................................................................................................................... vii
Abstract .................................................................................................................................viii
Rsum .................................................................................................................................... ix
INTRODUO ....................................................................................................................... 1
PARTE I: ENQUADRAMENTO TERICO ...................................................................... 7
CAPTULO 1. As bibliotecas escolares: "recurso" ao servio da compreenso da
leitura ....................................................................................................................................... 8
1.1.O conceito de Biblioteca ao longo dos tempos ............................................................ 8
1.2. A biblioteca escolar: janela aberta para o universo do conhecimento ...................... 14
1.3. A biblioteca escolar: que papel na escola e na sociedade? ........................................ 25
1.4. A interveno da biblioteca escolar na promoo da compreenso de leitura(s) ...... 32
CAPTULO 2. A Compreenso da Leitura ....................................................................... 50
2.1. Leitura e sua compreenso ........................................................................................ 50
2.2.Modelos de compreenso: ascendentes, descendentes e interactivos......................... 54
2.3.Componentes a considerar na compreenso da leitura ............................................... 59
2.3.1. O texto ................................................................................................................ 60
2.3.2. O contexto .......................................................................................................... 61
2.3.3. O leitor................................................................................................................ 62
2.3.3.1. As estruturas do leitor .................................................................................. 62
2.3.3.2. Processos cognitivos da compreenso da leitura ......................................... 67
2.4. Estratgias de aprendizagem para o ensino da compreenso da leitura .................... 83
2.4.1. Categorizao das estratgias ............................................................................. 88
2.4.1.1.Estratgias de seleco, organizao, integrao e elaborao ..................... 88
2.4.1.2.Estratgias nos diversos momentos de leitura ............................................... 97
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iv
2.4.2. A influncia das variveis cognitivo-motivacionais no uso das estratgias da
leitura ............................................................................................................................ 99
2.5.O ensino da compreenso da leitura ......................................................................... 101
PARTE II: ESTUDO EMPRICO ..................................................................................... 105
CAPTULO 3. Planificao do Estudo .............................................................................. 106
3.1. Justificao do estudo .............................................................................................. 106
3.2.Problema, variveis e especificao de conceito ...................................................... 108
3.3. Objectivos do estudo ............................................................................................... 109
3.4. Metodologia ............................................................................................................ 110
3.4.1. Amostra ............................................................................................................ 110
3.4.2. Instrumentos e materiais utilizados .................................................................. 118
3.4.3. Procedimentos .................................................................................................. 133
3.5. Resultados ............................................................................................................... 135
3.5.1. Discusso dos resultados .................................................................................. 144
CAPTULO 4. Concluso ................................................................................................... 150
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................. 153
ANEXOS .............................................................................................................................. 168
Anexo I Instrumentos de Avaliao: Pr-teste e Ps-teste ...................................... 169
Anexo II Grelhas de Correco (Pr-teste e Ps-teste) ........................................... 182
Anexo III Materiais de Apoio .................................................................................. 185
Anexo IV Pedido de Autorizao do Estudo, dirigido Direco .......................... 232
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ndice de Quadros
Quadro n 1 Exerccios de Predio .................................................................................... 95
Quadro n 2 Caracterizao da Amostra por Sexo ........................................................... 111
Quadro n 3 Caracterizao da Amostra por Idade ........................................................... 112
Quadro n 4 Caracterizao da Amostra por Alunos Retidos em anos lectivos
anteriores .............................................................................................................................. 112
Quadro n 5 Caracterizao da Amostra por Alunos com Necessidades Educativas
Especiais ............................................................................................................................... 112
Quadro n 6 Caracterizao da Amostra por Nveis obtidos a Lngua Portuguesa, no 1
perodo.................................................................................................................................. 113
Quadro n 7 Caracterizao da Amostra por Constituio do Agregado Familiar ............ 115
Quadro n 8 Caracterizao da Amostra de acordo com as Habilitaes Acadmicas
dos Pais e Encarregados de Educao .................................................................................. 116
Quadro n 9 Caracterizao da Amostra por Alunos com Subsdio Escolar (Apoio
Econmico) .......................................................................................................................... 117
Quadro n 10 Caracterizao da Amostra por Nvel Scio-Econmico ............................ 117
Quadro n 11 Competncias Avaliadas pelos Itens e Critrios Especficos de
Avaliao (Pr-teste e Ps-teste) .......................................................................................... 120
Quadro n 12 Pr-teste: Anlise de Contedo da questo 7.a) .......................................... 122
Quadro n 13 Ps-teste: Anlise de Contedo da questo 7.a) .......................................... 123
Quadro n 14 Pr-teste: Anlise de Contedo da questo 7.b) .......................................... 123
Quadro n 15 Ps-teste: Anlise de Contedo da questo 7.b) ......................................... 124
Quadro n 16 Pr-teste: Anlise de Contedo da questo 9, alneas d) e e) ...................... 124
Quadro n 17 Ps-teste: Anlise de Contedo da questo 9, alneas d) e e) ..................... 125
Quadro n 18 Planificao das Sesses do Grupo Experimental ....................................... 127
Quadro n 19 Consistncia Interna do Pr-teste e do Ps-teste ......................................... 136
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vi
Quadro n 20 Mdia, Desvio-Padro, Valor do U Mann-Whitney e Grau de
Significncia dos resultados dos itens, no Pr-teste do Grupo de Controlo e do Grupo
Experimental ........................................................................................................................ 137
Quadro n 21 Mdia, Desvio-Padro, Valor do Teste de Wilcoxon e Grau de
Significncia dos resultados dos itens, no Pr-teste e Ps-teste do Grupo de Controlo ....... 138
Quadro n 22 Mdia, Desvio-Padro, Valor do Teste de Wilcoxon e Grau de
Significncia dos resultados dos itens, no Pr-teste e Ps-teste do Grupo Experimental .... 140
Quadro n 23 Mdia, Desvio-Padro, Valor do U Mann-Whitney e Grau de
Significncia dos resultados dos itens, no Ps-teste do Grupo de Controlo e do Grupo
Experimental ........................................................................................................................ 141
Quadro n 24 Mdia, Desvio-Padro, Valor do U Mann-Whitney e Grau de
Significncia das diferenas entre o Pr-teste e o Ps-teste do Grupo de Controlo e do
Grupo Experimental ............................................................................................................. 143
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vii
Resumo
Nesta sociedade da informao actual, onde conhecimento poder, o sujeito
tem que saber aceder a uma informao vastssima, maioritariamente sob a forma de
registo escrito e que rapidamente se poder tornar desactualizada. Para tal, ter que ser
um leitor competente, capaz de usar, adequada e rotineiramente, estratgias de seleco,
organizao, integrao, armazenamento e recuperao da informao.
A escola no pode estar alheia a esta realidade, devendo adoptar prticas de
ensino que visem o desenvolvimento da competncia da compreenso da leitura,
apetrechando o aluno com estratgias de compreenso, tal como a predio, que
permite, entre outras, motivar o sujeito para a leitura e activar o conhecimento prvio
possibilitando a criao de um quadro de referncia para o assunto a abordar. Estas
estratgias visam no apenas a aquisio da informao para reproduo, mas sobretudo
a capacidade do sujeito as transferir, aplicando-as em novas situaes. Tal nvel de
desenvolvimento, reflectir-se- no s na aprendizagem escolar, mas, de forma mais
ampla, no desempenho e sucesso futuros do sujeito na sociedade.
No alcanar desta meta, a biblioteca escolar poder ser um excelente aliado,
atravs de um trabalho sistmico e colaborativo tambm ao nvel do desenvolvimento
da competncia da compreenso leitora.
neste campo que se enquadra o nosso estudo quasi-experimental. Tendo como
amostra duas turmas de 5 ano de escolaridade, constitumos um Grupo de Controlo e
um Grupo Experimental, no qual aplicmos o programa de interveno de
desenvolvimento da competncia da predio, por ns elaborado. O programa,
desenvolvido nas aulas de Estudo Acompanhado, a partir da Biblioteca Escolar, veio a
revelar-se, estatisticamente, eficaz, tendo em conta os resultados obtidos no ps-teste.
Estes evidenciaram, relativamente ao pr-teste, uma evoluo significativa, por parte do
Grupo Experimental, ao nvel das competncias da predio, comparativamente ao
Grupo de Controlo.
PALAVRAS-CHAVE: compreenso da leitura; estratgias de leitura; predio; biblioteca
escolar.
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Abstract
In nowadays information society, knowledge represents power and the
individual has to know how to accede to a vast amount of information, mainly available
in a written register, which quickly may become obsolete. Consequently, the person has
to be a competent reader, able to use selection, organization, integration and elaboration
strategies, in a pertinent and routinary basis, which will enable the storage and the
recovery of information.
School must be aware of this present reality and adopt teaching practices
centered in the development of reading comprehension competences. To achieve this
objective, comprehension strategies such as prediction, must be taught to students.
These strategies permit, amongst other possibilities, to motivate students to read and to
activate prior knowledge, enabling the creation of a mental reference picture about the
text topics. They aim the development of readers` ability to acquire and reproduce the
text information and especially its transference and application to new situations. Such
level of development, will have positive reflections upon the students` scholar learning,
and consequently, in their future performance and success in society as citizens.
The school library may play an important role in the development of reading
comprehension competence, through a goal centered, sistemic and colaborative work
with other educational agents.
Our quasi-experimental study was conceived bearing in mind the above
premises, and involved two fifth grade classes, one as a Control Group and the other as
an Experimental Group. This group has participated in an intervention program to
develop the students` ability to predict, which was created, organized and applied by us,
through the school library. The program has proved to be statistically efficient,
accordingly to the after-test results in which the Experimental Group, when compared to
the Control Group, evidenced a significant evolution, in prediction competences.
KEY-WORDS: reading comprehension; reading strategies; prediction; school library
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ix
Rsum
Dans la socit de l'information d'aujourd'hui, o la connaissance est le
pouvoir, lindividu doit savoir accder un vaste ensemble d'informations, qui peuvent
devenir rapidement obsoltes. Vu que la majorit des informations apparat travers le
registre crit, lindividu devra tre un lecteur comptent, capable d'utiliser, dune forme
ajuste et routinire, des stratgies de slection, dorganisation, dintgration, de
stockage et de rcupration des informations.
L'cole ne peut pas tre indiffrente cette ralit, devant adopter des pratiques
d'enseignement qui visent le dveloppement de la comptence de la comprhension de
la lecture, quipant l'lve avec des stratgies de comprhension, telle que la prdiction
qui permet, entre autres, la motivation de lindividu vers la lecture et activer la
connaissance pralable en rendant possible la cration d'un cadre de rfrence pour
aborder la question. Ces stratgies visent non seulement l'acquisition des informations
pour la reproduction, mais surtout la capacit de lindividu de les transfrer, en les
appliquant dans de nouvelles situations. Tel niveau de dveloppement, se refltera dans
l'apprentissage scolaire et la performance et le succs futur de lindividu dans la socit.
Pour atteindre cet objectif, la bibliothque scolaire pourra tre un excellent alli,
travers dun travail systmique et collaboratif aussi au niveau du dveloppement de la
comptence de la comprhension lectrice.
C'est dans ce champ daction que notre tude quasi exprimentale s'encadre. En
ayant comme chantillon deux classes de Cours Moyen, 2me anne, nous avons form
un Groupe de Contrle et un Groupe Exprimental, dans lequelle nous avons appliqu le
programme d'intervention de dveloppement de la comptence de la prdiction, partir
de la Bibliothque Scolaire. Le programme sest rvl, statistiquement, efficace, vu les
rsultats du post-test o le Groupe Exprimentale a dmontr une volution
significative, au niveau des comptences de la prdiction, face au Groupe de Contrle.
MOTS CLS: comprhension de la lecture ; stratgies de lecture ; prdiction ; bibliothque
scolaire.
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Introduo
O homem um ser social, que necessita de comunicar, o que poder fazer
atravs das competncias essenciais: saber falar, saber escrever e saber ler.
No entanto, enquanto a linguagem oral uma competncia inata, adquirida de
forma natural no contexto social e familiar em que o sujeito se move, tal no se verifica
em relao escrita e leitura que exigem o ensino explcito e sistematizado de quem
ensina, o professor, e a vontade consciente de aprender por parte do aluno(Sim-Sim,
2007).
Assim, tal como todas as grandes conquistas e descobertas da humanidade,
tambm o domnio e descoberta da linguagem escrita, exigem um grande envolvimento,
esforo pessoal e pacincia por parte do sujeito. No entanto, no final da descoberta, o
este tem o garante de conquistar a chave que lhe permite o acesso a tesouros
magnficos, frutos de sculos de evoluo e de conhecimento da humanidade, a leitura,
e a que lhe possibilitar tornar-se, ele prprio, criador desses tesouros, a escrita.
Centremo-nos, pois numa dessas chaves, na competncia da leitura.
Tal como Ceia (2008) afirma: Quem l, v mais; quem l, sonha mais; quem l,
decide melhor; quem l, governa melhor; quem l, escreve melhor. As diversas premissas
apresentadas pelo autor, so extremamente pertinentes, sobretudo, na sociedade actual
assente na competitividade e na produo e manipulao da informao como fonte de
saber e poder. Hoje mais do que nunca, para que o sujeito singre e seja aceite, tem que
ser um bom leitor, capaz de usar estratgias de compreenso da leitura que lhe permitam
obter, avaliar e usar a informao a que acede atravs dos mais diversos recursos.
A leitura um acto individual de vontade e escolha [e] uma
prtica social que abre o sujeito para uma relao com o mundo
Herdeiro (1980, p. 35)
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A leitura desempenha, portanto, um papel fulcral quer no contexto social, quer
escolar. Por um lado, vista como uma prtica social que abre o sujeito para uma
relao com o mundo (Herdeiro, 1980, p. 35), imprescindvel integrao e sucesso do
indivduo, pelo que se tornou uma prioridade poltica. Por outro, essa prioridade passa a
integrar as da escola, pois torna-se fundamental formar bons leitores, sobretudo porque
se reconhece na leitura a sua importncia para aceder ao conhecimento, em todas as
reas.
No entanto, a leitura, tal como afirmado anteriormente, necessita de ser
conquistada. A primeira etapa ser a aprendizagem da descodificao, porm h que ir
mais longe. H que aprender a extrair sentidos do que se l, ou seja, compreender. Neste
sentido, vrios tm sido os modelos de leitura que surgiram, ao longo dos anos, visando
descrever, de forma completa, os componentes, os processos e as competncias
envolvidos na compreenso da leitura. Porm, consensual que a compreenso da
leitura implica a interaco entre o texto e o leitor (Giasson, 1993; Vaz, 1998), sendo
que alguns autores incluem ainda a influncia do contexto (Irwin, 1986; Giasson, 1993),
pelo que o texto deixa de ter um significado estanque, na medida em que ser
influenciado pelas estruturas do leitor e pelo contexto.
Alm disso, a leitura implica, por parte do leitor, o recurso a processos
cognitivos e metacognitivos que lhe permitiro extrair informao do texto, para que
consiga compreend-lo e reutilizar, posteriormente, em novos contextos, aquela que
considera pertinente (Mayer, 1984, 1999; Irwin, 1986; Giasson, 1993; Festas, 1998,
2007).
No entanto, este processo interactivo que a leitura no estar completo e
poder no se concretizar a sua compreenso e a consequente aprendizagem, caso no
se verifique um outro elemento essencial, ou seja, a motivao do sujeito e o seu
envolvimento activo em todo o processo.
Tal como afirma Sim-Sim (2007), Ensinar a ler , acima de tudo, ensinar
explicitamente a extrair informao contida num texto escrito, ou seja, dar s crianas as
ferramentas de que precisam para estratgica e eficazmente abordarem os textos,
compreenderem o que est escrito e assim se tornarem leitores fluentes (p. 7 - 8).
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Visando contribuir para esta misso de ensinar a ler e apoiando-nos em autores
como Irwin e Baker (1989); Vaz (1998, 2010) e Festas (2007) que referem os reflexos
positivos que o uso das estratgias da predio tem no desenvolvimento da competncia
da compreenso de textos e consequente melhoria da performance dos alunos, a nvel
das aprendizagens, decidimos desenvolver um estudo centrado no ensino explcito e
treino de estratgias de predio da leitura. Predizer implica antecipar, prever factos ou
contedos textuais, visando activar conhecimento que sirva de quadro de referncia ao
assunto; motivar o sujeito para ler; e fornecer uma estrutura organizacional para a
compreenso (Graves, Cooke e LaBerge, 1983, referidos por Vaz, 1998, p. 104).
Face nossa experincia pessoal e reviso da literatura que fizemos, o sucesso
desta misso de desenvolver a competncia da compreenso da leitura, passa tambm
pelo envolvimento de outros elementos dentro do Conselho de Turma, que no apenas o
professor de Lngua Portuguesa, assim como de fora do Conselho de Turma,
recorrendo-se tambm a outros recursos que no os que se encontram confinados sala
de aula. Neste sentido, procurmos igualmente associar a Biblioteca Escolar ao estudo
por ns desenvolvido. Consideramos que o aproveitamento das potencialidades da
Biblioteca Escolar e o seu envolvimento nas actividades pedaggicas a implementar so
de extrema valia para o ensino das mais diversas competncias, o que se reflectir nas
aprendizagens dos alunos, razo pela qual integrmos este recurso no nosso estudo.
Uma vez que este nosso trabalho de investigao se insere no mbito do curso de
mestrado em Superviso Pedaggica e Formao de Formadores, a seleco do tema
advm do nosso ensejo em estudar uma temtica que se inserisse nesta rea de
investigao e que contribusse, se possvel, para uma reflexo sobre a melhoria das
prticas pedaggicas e, consequentemente, do sucesso educativo e social dos nossos
alunos. Foram vrias, portanto, as razes que estiveram na gnese da deciso por ns
tomada.
Em primeiro lugar, pesaram razes de ndole pessoal, pois tal como
caracterstica do ser humano, tambm ns sentimos sede de conhecimento, desejando
saber mais acerca do meio que nos rodeia, neste caso, o educativo. Acreditmos, desde
o incio, que este trabalho nos daria a possibilidade de crescer mais, atravs da
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pesquisa e da consequente reflexo pessoal, promotora de mudanas nem que sejam
apenas a ttulo individual.
A nvel profissional, esta temtica ganhou o nosso especial apreo por conciliar
duas vertentes da nossa prtica docente, ou seja, a coordenao da Biblioteca Escolar e a
docncia em Lngua Portuguesa, domnios em que constatamos, no nosso dia-a-dia, as
limitaes por que um aluno mau leitor passa no s a nvel da rea disciplinar que
leccionamos, mas a todas as outras, dada a transversalidade e importncia que a
compreenso da leitura assume na aprendizagem e no consequente sucesso educativo do
discente. Apercebemo-nos igualmente que, apesar do forte investimento nas Bibliotecas
Escolares e das funes e papel que estas podero assumir no apoio s prticas lectivas
e na promoo de mltiplas aprendizagens, as potencialidades das mesmas ainda no
so, em muitos casos, devidamente aproveitados pelos docentes, num trabalho
colaborativo.
Alm disso, enquanto ligadas superviso e formao sentimos que a rea do
ensino explcito da compreenso da leitura uma das que mais necessita de interveno
urgente, quer ao nvel da actualizao cientfico-pedaggica dos docentes, quer da
transposio deste saber para as respectivas prticas pedaggicas.
Subjacentes escolha desta temtica existem ainda razes de ordem cientfica.
Por um lado, desejvamos contribuir para a pesquisa, desenvolvida em contexto escolar,
em torno do ensino directo e explcito de estratgias de compreenso, visando o
desenvolvimento das competncias da leitura. Alm disso, pretendemos colaborar,
mesmo que modestamente, para a reflexo sobre a necessidade de melhorar a formao
dos docentes, ao nvel da respectiva qualificao na rea das prticas de ensino explcito
de estratgias promotoras da compreenso da leitura.
Tendo em mente todas estas razes, o objectivo central do nosso estudo testar a
eficcia da aplicao de um programa de interveno, a partir da Biblioteca Escolar,
para estimular o desenvolvimento de competncias de predio da leitura, em alunos de
5 ano, do 2 ciclo do ensino bsico.
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Visando implementar este objectivo, comemos por fazer na Parte I deste
trabalho, o enquadramento terico que possibilitou a fundamentao e consecuo do
estudo emprico levado a cabo e apresentado na Parte II do trabalho.
Dada a temtica do estudo e o consequente relevo que a Biblioteca Escolar
assume na sua consecuo, o primeiro captulo, As Bibliotecas Escolares: recurso ao
servio da compreenso da leitura, dedicado s bibliotecas, em geral e s bibliotecas
escolares, em particular. Comeamos por fazer uma rpida viagem diacrnica em
torno da evoluo histrica do conceito de biblioteca, aps o que nos debruamos, com
maior delonga, acerca das vrias mudanas concretizadas em Portugal, ao longo dos
anos, at chegarmos ao contexto actual em que se circunscrevem as bibliotecas
escolares. Abordamos ainda as funes e a importncia que estas passaram a assumir na
escola e na sociedade, bem como o seu contributo para a formao integral dos sujeitos,
preparando-os tambm como leitores fluentes na actual sociedade da informao.
Terminamos o captulo, centrando a nossa ateno na vertente da biblioteca escolar que,
mais directamente, se relaciona com o nosso estudo, ou seja, a explorao de vrias das
possibilidades de interveno deste espao de leitura(s), visando o desenvolvimento do
prazer da leitura e da competncia da sua compreenso.
Todo o Captulo 2, A compreenso da leitura, dedicado explorao da
temtica que lhe confere o ttulo e que assume o papel axial, neste estudo. Assim, no
sentido de tentar definir os conceitos de leitura e sua compreenso comeamos por
abordar, de forma breve, a sua evoluo at s abordagens mais actuais. Falaremos
ainda sobre a interaco entre os componentes texto, contexto e leitor, dado o seu relevo
na compreenso da leitura e descrevemos as vrias estruturas do leitor e os processos
cognitivos e metacognitivos por este utilizados para atingir a compreenso da leitura.
Tendo em conta a extrema importncia da predio para o nosso estudo, alongamo-nos,
especialmente, em torno deste processo cognitivo de elaborao.
Ainda no Captulo 2, desenvolvemos a temtica das estratgias que se podero
usar no acto da leitura, para que o discente consiga desenvolver competncias que lhe
permitam alcanar nveis superiores de compreenso no acto de ler. Seguimos a
categorizao proposta, sobretudo por Mayer (1984, 1999), tendo como finalidade a
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descrio das diversas estratgias, entre as quais damos um especial relevo s de
predio, dada a importncia de que estas se revestem para a compreenso de textos,
segundo autores como Irwin e Baker (1989) e Vaz (1998, 2010), motivo que nos levou a
centrar o nosso programa de interveno no ensino explcito das mesmas. De seguida,
abordamos a influncia que as variveis cognitivo-motivacionais podero assumir no
efectivo e eficaz uso das estratgias.
Seguindo a linha de pensamento de autores como Mayer (1984, 1999); Irwin e
Baker (1989); Kintsh (1994), Festas (1998, 2007) e Vaz (1998, 2010), terminamos o
captulo em questo por reflectir acerca do ensino da compreenso da leitura,
salientando a importncia de se comear, no currculo nacional, a assumir prticas
pedaggicas assentes tambm no ensino explcito das estratgias de compreenso da
leitura. Apresentamos modelos de instruo recproca ou de prtica guiada, propostos
por autores como Pearson e Leys (1985) e Giasson (1993).
Findo o enquadramento terico, no qual se destacam vectores cruciais para o
nosso estudo e, logicamente, para a aprendizagem e formao integral do indivduo, ou
seja, a leitura, a escola e a biblioteca, passamos abordagem do estudo emprico.
Neste sentido, no Captulo 3, Planificao do Estudo, apresentamos a
justificao do estudo, o problema a investigar e especificamos o conceito de predio.
Seguidamente, descrevemos a metodologia usada para viabilizar o programa de
interveno, concebido e aplicado, em alunos de 5 ano de escolaridade, com o
objectivo de contribuir para o desenvolvimento da competncia da compreenso da
leitura, atravs do treino de estratgia cognitiva da predio.
Por fim, expomos os resultados do estudo implementado e apresentamos uma
anlise e discusso dos mesmos.
No ltimo captulo, a Concluso, encetamos uma reflexo final tendo em mente
as ilaes que o estudo desenvolvido permitiu retirar.
Conclumos apresentando a lista de referncias bibliogrficas e os anexos
relevantes para esta investigao.
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PARTE I: Enquadramento Terico
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CAPTULO 1. AS BIBLIOTECAS ESCOLARES: RECURSO AO
SERVIO DA COMPREENSO DA LEITURA ______________________________________________________________________
1.1. O conceito de Biblioteca ao longo dos tempos
Neste breve excerto do poema Mudam-se os tempos, de Lus de Cames
(sculo XVI), est bem patente a realidade do ser humano e do mundo em que este
habita. O tempo deixa marcas, quer positivas quer negativas, mas, a mudana, no
obstante a anttese, uma constante inquestionvel.
Tambm a nvel da cultura, do ensino e do conhecimento, o mundo evoluiu.
Mudaram-se os tempos, as prticas e novas qualidades surgiram.
Alexandria, no Egipto, e Ninve, na Mesopotmia, so apenas alguns dos
exemplos dessa necessidade do Homem transmitir o seu conhecimento ao longo da
Histria e deixar marcas dos avanos ou retrocessos, da busca da mudana e do saber.
Tesouros das memrias do mundo, estas bibliotecas conseguiram transmitir, gerao
aps gerao, os grandiosos acervos informacionais que permitem conservar a memria
e o conhecimento das grandes culturas da Antiguidade. Hoje em dia, em plena
Sociedade da Informao e do Conhecimento, as bibliotecas continuam a desempenhar
estas funes de guardis das memrias do mundo, embora, para alm de conservarem e
propagarem a informao, tenham ainda a funo de promover o desenvolvimento de
competncias e disponibilizar momentos de fruio e prazer.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiana;
Todo o mundo composto de mudana,
Tomando sempre novas qualidades.
Lus Vaz de Cames (sculo XVI)
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9
A epopeia da biblioteca remonta aos longnquos tempos da inveno da escrita e
da consequente necessidade de perpetuar e transmitir a informao. A palavra
bibliothk surge pela primeira vez no sculo IV antes de Cristo e provm,
etimologicamente, das palavras gregas biblos (livro) e thk (cofre, depsito), embora o
suporte usado no acervo documental no tenha sido unicamente o livro, nem a
biblioteca se resuma a um mero depsito estanque. Porm, a definio de Biblioteca
como um depsito foi adequada sua funo em tempos idos, recessos temporais em
que apenas uma minoria privilegiada da populao dominava o cdigo escrito.
Como grandes impulsionadores das Bibliotecas, na Antiguidade, temos os
gregos e os romanos. No sculo IV a.c., Roma detinha vinte e oito bibliotecas, muitas
delas formadas pelos acervos das bibliotecas gregas, desmanteladas aps a conquista da
Grcia pelos Romanos e a as obras gregas e latinas eram colocadas separadamente em
prateleiras ou caixas, e classificadas pelo assunto (Dias e Alarco, 1990, p. 2).
Poderemos verificar que a preocupao com a gesto e organizao do acervo
documental j comeava ento a despontar.
Aps a queda do Imprio Romano do Ocidente e com as invases brbaras,
muitas das bibliotecas edificadas foram destrudas, o que implicou a perda do esplio e
do avano cultural a que se havia assistido.
Na Idade Mdia, verifica-se a valorizao e expanso das bibliotecas
monsticas (nos mosteiros e conventos), tidas como depsitos exmios da cultura da
poca, e ao desenvolvimento da biblioteconomia, considerada ento como a arte de bem
conservar os tesouros das bibliotecas (Pires, 2001, p. 8). As bibliotecas concentraram-
se, nos mosteiros e abadias, principais focos de cultura, mas onde, apesar de existir o
louvvel papel de conservao das obras, as mesmas no estavam acessveis a todos,
pelo que a biblioteca era, de facto, um mero depsito (Dias e Alarco, 1990).
No Renascimento, o conceito de biblioteca evoluiu bastante, fruto da mudana
de mentalidades ante a concepo do Universo, do Homem e do saber. Surgiram as
universidades e as primeiras bibliotecas pblicas, cujos livros, embora protegidos por
gradeamentos e acorrentados s mesas de leitura, podiam ser consultados pelos
professores e alunos. As bibliotecas privadas floresceram igualmente, medida que os
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10
humanistas foram desvendando manuscritos com obras perdidas de autores clssicos,
esquecidas em mosteiros (Pereira, 1988, p. 25).
Esta multiplicao das bibliotecas levou a um aumento da procura do livro, ao
que a inveno da imprensa, em 1445, por Gutenberg, veio dar resposta, tornando-se
responsvel por uma fermentao revolucionria, pelo aumento da produo de
material impresso que passa a estar acessvel a um maior nmero de pessoas (Pires,
2001, p. 8), deixando a Biblioteca e os livros, e portanto a leitura, de ser restritos s a
alguns, para se generalizarem e de certo modo democratizarem, caminhando no sentido
de se tornarem um direito reconhecido a todos (Silva, 2002, p. 187). Verificaram-se,
portanto, importantes mudanas ao nvel do nmero de bibliotecas disponveis, do
ndice de utilizadores, do acesso mais facilitado informao, que agora era cada vez
mais avultada e com temas mais abrangentes e diversificados.
Aps a II Guerra Mundial, verificou-se uma grande intensificao da produo
literria e de outro tipo de documentos, tendo tal acarretado a inevitvel proliferao de
bibliotecas e a uma maior importncia do livro e da leitura. Uma vez que a biblioteca
o espelho dos tempos, tambm as formas dos suportes documentais usados evoluram,
aps a II Guerra Mundial. Do rolo (papiro), do cdice (pergaminho) e do livro, comea-
se a recorrer a suportes mais caractersticos da poca que se vivia, para transmitir a
informao, tais como filmes, transparncias, diapositivos, fotografias, cassetes udio e
vdeo, etc.
Os anos cinquenta trouxeram consigo mais ventos de mudana. Comea-se a
entrar numa sociedade ps-industrial que orbita "em torno da informao e do
conhecimento, para alcanar o controlo social e a direco da inovao e da mudana
(Furtado, 2000, p. 281). Enquanto que, na poca industrial, era a fora muscular e a
resistncia fsica que ditavam os sujeitos mais capazes, na sociedade ps-industrial, o
nfase est no conhecimento, pelo que o domnio da informao passou a ser visto
como uma qualidade imprescindvel para a supremacia e desenvolvimento das
sociedades (Idem). Assim, saber poder.
O mundo actual exige do ser humano uma capacidade de readaptao s novas
realidades e a este mundo globalizado, a que h que procurar dar uma melhor resposta.
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Tal como aponta Sanches (2006), a crescente planetarizao propiciada pelos meios
tecnolgicos de informao e comunicao; a crescente multiculturalidade das
sociedades, resultantes de fluxos migratrios; a crescente importncia do conhecimento
como fonte de produtividade econmica. (p. 232) so os trs principais vectores que,
resultantes da ps-modernidade, fazem sentir a sua influncia tambm nas escolas e,
conclumos ns, tambm nas bibliotecas.
Desde os tempos em que o conhecimento e a informao eram transmitidos
oralmente e depois por escrito, at aos dias de hoje, o mundo pulou e avanou, tal
como afirma Antnio Gedeo no poema Pedra Filosofal, at fase digital. Tem-se
vindo a evoluir, nas ltimas dcadas, para uma Sociedade da Informao1, com a
passagem do tomo ao bit, e assiste-se transformao do homo sapiens em homo
digitalis, tal como afirma Terceiro (1997, p. 31):
A substituio do tomo pelo bit, do fsico pelo digital, a um ritmo
exponencial, vai converter o homo sapiens em homo digitalis. Desde os seus humildes
comeos, faz agora pouco mais de meio sculo, o computador evolui de tal modo que se
aproximou das nossas vidas quotidianas, convertendo-se numa ferramenta de uso
progressivamente generalizado.
Esta ambincia que se vive leva a que sejam essenciais saberes e competncias
diversas, que implicam novas formas de criar, produzir e gerir, novos mecanismos de
entretenimento e estilos de vida, assim como novos mtodos de organizao do
trabalho, fontes de conhecimento e estilos de aprendizagem.
Os avanos tecnolgicos possibilitam ao indivduo utilizar modalidades de busca
de informao e de aprendizagem, extra espaos fsico e tm um papel importante na
implementao de uma educao geral e especializada sendo, acima de tudo, um meio
que contribuir para aumentar os conhecimentos e a compreenso dos estudantes
(Alves, 1999, p. 74). As possibilidades de pesquisa e os equipamentos interactivos e
multimdia permitem um inesgotvel mundo de mensagens e uma vez que a boa
1 Sociedade da Informao um estdio de desenvolvimento social caracterizado pela capacidade dos
seus membros obterem e compartilharem qualquer informao, instantaneamente e de qualquer lugar.
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integrao social do sujeito depende da quantidade de conhecimento que detem torna-se
imprescindvel a cada indivduo ser capaz de processar informao digitalizada, ser
capaz de pesquisar e seleccionar informao e, finalmente, ser capaz de difundir essa
informao (Idem, p. 76).
A capacidade de encorajar a cooperao, a mobilidade, a igualdade de
oportunidades e a inovao na educao em todas as reas educativas so condies
essenciais, assim como o aliar da aprendizagem a um know-how informtico, requisitos
mnimos para a integrao do sujeito no mercado de trabalho e para evitar uma nova
forma de analfabetismo, denominado agora de info-excluso.
Face ao exposto, fcil concluir que o conceito de biblioteca, a par com o de
escola e de sociedade, est a atravessar um momento de grandes alteraes e desafios.
Este mundo da rpida evoluo do conhecimento exige grandes transformaes por
parte, tambm, das bibliotecas que tm vindo a acompanhar os tempos, tornando-se
cada vez mais atractivas e actualizadas. Contudo, por muito diferentes que as
bibliotecas de hoje sejam em relao s de outrora, o mesmo esprito que est
subjacente aos seus objectivos e organizao: recolher, tratar, arrumar e tornar acessvel
todo o conhecimento humano que se vai fixando nessa enorme gama de suportes (Dias
e Alarco, 1990, p. 4).
Os princpios mantm-se, mas, tal como referimos, com as novas tecnologias e
fruto da vontade e da necessidade humanas, as bibliotecas da actualidade tiveram que
evoluir, pois corriam o risco de isolamento funcional. Ganharam uma nova dimenso,
passando a assumir responsabilidades mais alargadas, estendendo-se a todas as reas do
saber, pois novas aquisies tornaram os fundos documentais mais diversificados,
novos suportes audiovisuais atraram novos utilizadores, a criao de condies de
acesso mais rpidas e eficazes de pesquisa da informao revolucionaram de forma
decisiva e irreversvel o conceito de biblioteca, colmatando muitas lacunas dessas
instituies tradicionais (Pires, 2001, p. 11).
Daqui podermos apontar, para a Biblioteca, uma definio mais actual, como
sendo "toda a coleco organizada de livros ou quaisquer outros documentos peridicos
impressos, ou outros documentos, em especial grficos e audiovisuais, assim como os
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servios de pessoal que facilitem aos leitores a utilizao destes documentos com fins
informativos, de investigao, de educao ou recreativos" (Unesco, 1976, p. 9-10).
A definio transcrita no pargrafo anterior reporta-nos para uma realidade
totalmente diferente daquela que se vivenciava no passado em relao s biliotecas. Nos
dias de hoje, no se pode perspectivar a bilbioteca como um mero espao fsico com
uma coleco variada. Perante a necessidade de o homem obter com rapidez e eficincia
a informao que procura, necessrio que a biblioteca disponha de um servio de
organizao da coleco, ou seja, que esta seja cotada, catalogada, classificada e
indexada, intermedirios fundamentais entre os utilizadores e a obteno de informao.
No que concerne as finalidades para as quais foi edificada a biblioteca, referimos
anteriormente a necessidade da humanidade reunir e preservar os saberes e fantasias de
todo um legado cultural e histrico do mundo em que se insere enquanto animal social,
pelo que qualquer bilioteca um tesouro patrimonial, o do conhecimento do ser
humano.
Face ao exposto, seja ela nacional, universitria, especializada, pblica ou
escolar, de acordo com a funo social que desempenha, a biblioteca cumpre, nos dias
de hoje, uma imprescindvel misso, a de funcionar como um recurso privilegiado de
livre acesso informao, (principal impulsionadora do progresso e de integrao social
do sujeito), formao para as literacias, recreao e ao lazer. Este conceito de
biblioteca, como um espao de promoo da educao e do saber, dinmico, aberto e
atractivo era, j no incio do sculo XIX, o sonhado pelo pedagogo John Dewey. Este
via na biblioteca escolar, a par com as oficinas de trabalho, um recurso fulcral ao
servio da misso da escola, pois, na biblioteca, o aluno colhia a teoria que iria aplicar
nas oficinas, apetrechando-se assim de uma melhor preparao para o mundo do
trabalho.
Longe vo os tempos em que a biblioteca era uma falsia do saber,
rigorosamente ordenada, absolutamente impenetrvel, um muro intransponvel,
(Pennac, 1995, p. 133). Aps ter resistido a tantas mudanas de vontades e de
confianas, ao longo dos tempos, adquiriu novas qualidades e cumpre acreditar e
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tudo fazer para que do acesso ao mundo da leitura, ela passe a permitir o acesso leitura
do mundo.
As bibliotecas, perante o novo conceito e misso de que se revestem no podem,
de forma alguma, estar, hoje em dia, num plano distinto do sistema educativo. O mundo
tal exige.
1.2 A biblioteca escolar: janela aberta para o universo do conhecimento
Tal como John Dewey preconizara, no sculo XIX, tambm Lus de Cames, no
sculo XVI, parecia estar consciente da necessidade de mudana e da importncia de se
aliar o saber terico ao saber emprico, quando se afirmou perante El`Rei D. Sebastio
como o resultado dohonesto estudo, /com longa experincia misturado2.
Esta uma realidade a que Portugal no pode estar alheio, pois inserido num
mundo caracterizado pelo livre acesso imensa informao existente, o nosso pas teve
2 Versos constantes da estncia 154, canto X, da epopeia Os Lusadas, de Lus Vaz de Cames (Sc. XVI)
A biblioteca escolar essencial a qualquer tipo de estratgia de
longo prazo no que respeita a competncias, leitura e escrita, educao
e informao e ao desenvolvimento econmico, social e cultural. A
responsabilidade sobre a biblioteca escolar cabe s autoridades locais,
regionais e nacionais, portanto deve essa agncia ser apoiada por poltica e
legislao especficas. Deve tambm contar com fundos apropriados e
substanciais para pessoal treinado, materiais, tecnologias e instalaes. A
BE deve ser gratuita.
Manifesto da Biblioteca Escolar da IFLA/UNESCO (1999)
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de comear a tentar acompanhar os tempos para sair da sua austera, apagada e vil
tristeza3.
Os currculos nacionais tm de reflectir esta ambincia para a qual Portugal
comea a despertar, desenvolvendo estratgias de ensinar explicitamente os nossos
alunos a pesquisar, seleccionar, tratar e utilizar a informao, de forma autnoma.
Sequeira, (2000, p. 60), afirma que as concepes pedaggicas da actualidade
destacam o papel do aluno face ao processo de ensino e aprendizagem. Aprender
significa questionar, procurar, escolher, avaliar, criar um processo que se prolonga
para l da escolaridade e supe um dilogo contnuo com o mundo.
Neste mundo actual, que funciona, todo ele, como uma enorme fonte de
informao que rapidamente se torna desactualizada, reveste-se de toda a relevncia que
os professores se consciencializem da necessidade de iniciar os alunos na pesquisa de
informao, ensinando-os a encontrar e decifrar a informao de que precisam. Assim,
os docentes devem actualizar-se constantemente, quer a nvel cientfico quer ao nvel
das prticas pedaggicas, para melhor responderem s necessidades de formao dos
alunos e de si prprios. O excesso de informao a que se assiste actualmente , muitas
vezes, um factor que poder inibir o desenvolvimento do saber. importante que o
indivduo saiba criar mecanismos que lhe possibilitem coar a informao e
seleccionar desta a que realmente interessa e tem valor.
Perante esta massificao de informao, Skillbeck, (1998, p. 41) alerta para o
perigo de, caso esta no seja filtrada de forma inteligente e consciente pelo sujeito, se
poder criar o favorecimento de uma falsa cultura, que apelida de cultura enlatada.
Perante tal ameaa a nossa resposta deve ser garantir o acesso do estudante a culturas
ricas e diversificadas e a um modelo de relaes sociais forte variado. Estas ltimas
podem ser disponibilizadas ou facilitadas por professores bem formados, em instituies
bem dirigidas.
No entanto, A Sociedade da informao apenas uma dimenso da civilizao
contempornea (Skilbeck, 1998, p. 42). A educao bsica de qualquer indivduo tem
3 Versos constantes da estncia 145, canto X, da epopeia Os Lusadas, de Lus Vaz de Cames (Sc. XVI)
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de ser abrangente, pois a sociedade da informao exige a todos os cidados um vasto
leque de conhecimentos e compreenso (Idem).
Assim, para enfrentar os novos desafios da educao, necessrio que a escola
se reorganize. Neste novo panorama, a figura do bom professor imprescindvel, pois
estes continuam a ser aqueles que melhor observam, compreendem e respondem s
necessidades de aprendizagem individual dos seus alunos (Idem). No obstante tal
factor, se o objectivo educacional e social o desenvolvimento global do sujeito, capaz
de participar na elaborao do seu conhecimento, ento o professor deve diversificar os
contextos de aprendizagem, libertando-se do recurso exclusivo ao ensino tradicional e
ao manual escolar, que, por apresentar apenas uma seleco da informao disponvel,
ser insuficiente para responder aos novos desafios4, no mbito educacional.
pois essencial que as escolas desenvolvam processos de mudana a nvel
individual e da sua organizao, apostando na implementao de novos modos de
participao e relao entre os actores educativos e em novas prticas pedaggicas.
Nesse sentido, a biblioteca escolar e os departamentos devem agregar-se como
parceiros, desenvolvendo um trabalho sistematizado e colaborativo, visando o
desenvolvimento dos currculos e das competncias nas reas da leitura e da literacia da
informao. Se a Sociedade de Informao exige do sujeito autonomia, esprito crtico,
criatividade, capacidade de resoluo de problemas e de aprendizagem ao longo da vida,
ento a biblioteca escolar , sem dvida, o recurso educativo5 mais capacitado para
favorecer um ensino de qualidade. De facto, apresenta ao indivduo a possibilidade de
aceder ao saber, atravs de linguagens e formatos dspares, apresentando uma panplia
de ofertas ao nvel de estratgias, tcnicas, recursos e situaes de aprendizagem.
4 Notamos a relevncia da funo das bibliotecas escolares, ao nvel da promoo da leitura e da
aprendizagem, ao termos em mente, a ttulo exemplificativo, as seguintes Competncias Gerais do
Currculo Nacional do Ensino Bsico: a 5,Adoptar metodologias personalizadas de trabalho e de
aprendizagens adequadas a objectivos visados, a 6, Pesquisar, seleccionar e organizar informao para
a transformar em conhecimento mobilizvel, a 7, Adoptar estratgias adequadas resoluo de
problemas e tomada de decises, a 8, Realizar actividades de forma autnoma, responsvel e
criativa e a 9, Cooperar com outros em tarefas e projectos comuns. (www.dgidc.min-edu.pt) 5 Na Lei de Bases do Sistema Educativo, a biblioteca escolar um dos recursos educativos privilegiados,
a exigirem especial ateno, (LBSE, art.. 41.), surgindo aps os manuais escolares, a encabear a lista
de seis recursos. Para alm disso, no art.. 39. (Edifcios Escolares), a biblioteca escolar no sequer
mencionada, o mesmo acontecendo quanto aos recursos humanos que dela deveriam fazer parte (art
30.). Logo, da conclumos que, face importncia de que a biblioteca escolar se reveste, actualmente, no
nosso sistema educativo, se torna urgente que o documento que o rege seja actualizado.
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Aps este breve prembulo, parece-nos pertinente, encetarmos uma panormica
diacrnica acerca da evoluo das bibliotecas escolares no nosso pas, dado o teor do
nosso trabalho e porque, infelizmente, estas ainda esto, perante muitos dos agentes
educativos, envoltas pela penumbra em que a imagem tradicional as colocaram.
Embora tardiamente, uma vez que a Rede Nacional de Leitura Pblica foi criada
apenas em 1987 e a Rede das Bibliotecas Escolares no ano lectivo de 1996/97, Portugal
tambm parece ter despertado para a importncia que as bibliotecas podero assumir
para o alcanar de melhores resultados a nvel educativo, cultural, econmico, social e
poltico, no mundo em que se integra.
Actualmente, a Rede Concelhia de Bibliotecas 6 deixou de ser uma miragem e
comea a dar os primeiros passos, parecendo adivinhar-se para breve a constituio da
desejada Rede Nacional de Bibliotecas.
Relativamente s Bibliotecas Escolares, tipologia que nos interessa abordar,
apraz-nos dizer que, embora ainda falte percorrer um longo caminho em diversas
situaes, no geral, estas no so, actualmente, os enfeites, os lugares de grande
solenidade, nem os templos da cultura silenciosa (Calixto, 1996, p. 26), de outrora.
Passaram a ser janelas abertas para o universo do conhecimento, recursos ao servio da
escola para Saber para dar a conhecer; conhecer para fazer; saber fazer para ser.7
Porm, durante longo tempo, as Bibliotecas Escolares no foram uma das
prioridades ou sequer das preocupaes dos governantes nacionais. S a partir dos anos
40, do sculo passado, comearam a envidar-se esforos para que as bibliotecas nas
escolas portuguesas comeassem a ser uma realidade. Data de 1948 a legislao que
proclamou a obrigatoriedade de que, nas escolas secundrias, existisse o servio de
biblioteca (Calixto, 1996, p. 25), decorrendo da a necessria definio dos critrios para
a constituio dos seus fundos e para a seleco dos seus responsveis.
6 Rede Concelhia de Bibliotecas - Denomina o desenvolvimento de um trabalho planificado e
desenvolvido em conjunto pelas bibliotecas municipais, escolares ou outras que pertencem a um mesmo
concelho, para que melhor se consiga responder s caractersticas e necessidades da sua populao. Uma
das iniciativas , por exemplo, a constituio de um catlogo e de um portal colectivos, que seja o espelho
do dinamismo e criatividade desenvolvidos. 7 Ttulo de um documento produzido pela Rede de Bibliotecas Escolares. Bibliotecas Escolares: Saber
para dar a conhecer. Conhecer para fazer. Saber fazer para ser
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Todavia, o legado de uma prtica de ensino muito tradicional, que via no manual
escolar obrigatrio como o meio informativo quase exclusivo, a biblioteca da escola no
alcanou a dimenso que deveria. Numa poca, em que se preconizava um ensino muito
tradicional e dirigido, cujos objectivos pouca relao tinham com o desenvolvimento de
um pensamento pessoal e com a participao activa do aluno na aprendizagem, a
informao deveria ser obtida, aps a necessria filtragem por parte do educador,
encarando-se o discente como se fosse um receptculo passivo. Neste cenrio, fcil
adivinhar que a prtica de uma biblioteca, na verdadeira acepo da palavra, resultaria
como agente disfuncional ao permitir o livre e democrtico acesso informao e o
consequente desenvolvimento de um pensamento livre e crtico.
Mas os ventos de mudanacontinuavam a soprar e, em 1986, aquando da
publicao da Lei de Bases do Sistema Educativo, a Lei n 46/86 reconhece, no seu
artigo n 41, as bibliotecas e mediatecas escolares como recursos educativos.
1. Constituem recursos educativos todos os meios materiais utilizados para
realizao da actividade educativa.
2. So recursos educativos privilegiados, a exigirem especial ateno:
a) Os manuais escolares;
b) As bibliotecas e mediatecas.
Na Lei n 19-A/87, de 3 de Junho de 1987, Medidas de emergncia sobre o
ensino-aprendizagem da lngua portuguesa, surge reconhecida a importncia das
bibliotecas escolares, no seu artigo 4:
1. Sero criadas bibliotecas em todos os estabelecimentos de ensino que ainda
as no possuam e implementadas medidas no sentido de assegurar a
permanente actualizao e o enriquecimento bibliogrfico das bibliotecas
escolares.
2. As bibliotecas escolares sero apetrechadas com os livros indispensveis ao
desenvolvimento cultural e ensino-aprendizagem da lngua materna e
adequadas idade dos alunos, cabendo ao ministrio da Educao e Cultura
criar as condies de acesso e de orientao dos alunos relativamente
leitura.
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No ano lectivo 1990/91, as escolas cujas candidaturas foram aprovadas no
mbito do Programa PRODEP8, puderam obter computadores, tendo alguns deles
passado a apetrechar as bibliotecas. Se bem que a nomenclatura fosse a mais dispersa
pelo pas fora, mediateca, centro de recursos ou documental, entre outros, a partir de
ento, o conceito de biblioteca escolar veio a assumir um papel, gradualmente mais
visvel, como recurso capaz de responder s novas necessidades do ensino-
aprendizagem.
Porm, urgia conhecer de facto a realidade do pas, ao nvel deste recurso
educativo, pois, se algumas escolas tinham bibliotecas a funcionar com algum
dinamismo e organizao, noutras, estas eram meros depsitos desorganizados de livros
e de material antigo e noutras ainda nem existiam.
O nosso poder poltico, finalmente ciente deste panorama, envida esforos e,
numa aco articulada entre o Ministrio da Educao e o da Cultura, foi publicado, em
Dezembro de 1995, o Despacho Conjunto n 43/ME/MC/95, onde para alm de se
reconhecer os parcos ou inexistentes hbitos e prticas de leitura da grande maioria da
populao portuguesa, se refere que: Dessa poltica far, necessariamente, parte o
incentivo utilizao do livro nas metodologias de ensino e na organizao de
bibliotecas escolares, integradas numa rede e numa poltica de incentivo da leitura
pblica mais ampla que apoie e amplifique aco da escola e que se mantenha ao longo
da vida (ME/MC, 1995).
A semente estava lanada e, no ano seguinte, surge o Despacho Conjunto n 5
ME/MC/96, que visa a constituio de um grupo de trabalho, no qual se destacam os
nomes de Isabel Veiga Vilar, (cujo nome literrio Isabel Alada), Comissria do Plano
Nacional de Leitura e actual Ministra da Educao, e Teresa Calada, coordenadora do
Programa Rede de Bibliotecas Escolares. Este grupo foi incumbido de analisar a real
situao das escolas do pas, ao nvel das suas bibliotecas e de propor medidas de
melhoria. As concluses resultantes desse trabalho foram publicadas num estudo
intitulado Lanar a Rede de Bibliotecas Escolares e que revela que a grande maioria
das escolas do 1. Ciclo do Ensino Bsico no detinha espao para estantes e que os
8 PRODEP Programa de Desenvolvimento Educativo para Portugal
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livros, quando existiam, se encontravam espalhados pelas salas ou fechados em
armrios no gabinete da direco ou na sala de professores. No caso das escolas dos 2.,
3. Ciclos e Secundrio, o panorama j era diferente, uma vez que os projectos
arquitectnicos da maioria dos edifcios, entretanto construdos ou reconstrudos,
previam espaos para bibliotecas, mesmo que, alguns destes fossem diminutos, tivessem
uma m localizao ou fossem usados, muitas vezes, para desenvolver actividades
lectivas normais.
Dando continuidade ao preconizado no Despacho citado no anterior pargrafo,
surge o Despacho Conjunto n.184/ME/MC/96, onde expresso o desejo ministerial de,
at 2003, dotar os estabelecimentos de ensino dos Ensino Bsico e Secundrio com
bibliotecas, que funcionassem em livre acesso, afirmando-se como catalisador de
iniciativas inseridas na vida da escola, por se reconhecer o seu papel central em
domnios como a aprendizagem da leitura, a literacia, a criao e o desenvolvimento do
gosto pela leitura, as competncias de informao e o aprofundamento da cultura cvica,
tecnolgica e artstica. Cria-se ento o gabinete para a execuo do programa de
instalao da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE).
Numa primeira fase, o gabinete da RBE procedeu instalao de novas
bibliotecas e modernizao das existentes, atravs do lanamento anual de
candidaturas dirigidas s escolas, investindo-se fortemente nas instalaes, nos
equipamentos e nos recursos documentais.
Numa segunda fase, apostou-se na qualificao dos recursos humanos, atravs
da promoo de vrias aces de formao, no mbito das bibliotecas escolares,
destinadas a professores e assistentes operacionais. Em 2002, foi possvel consagrar na
lei a equipa responsvel pela biblioteca escolar e o coordenador da biblioteca, para o
qual era atribudo escola um crdito horrio especfico.
A partir de 2004, verificou-se o reforo e diversificao do apoio s bibliotecas
escolares (BEs), por parte do Gabinete, atravs do destacamento de um conjunto de
professores qualificados na rea das bibliotecas, os Coordenadores Interconcelhios das
Bibliotecas Escolares (CIBEs), com a misso de apoiar in loquo o trabalho a
desenvolver pela equipa da BE. Estes Coordenadores, juntamente com os Servios
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Tcnico-Pedaggicos das Direces Regionais de Educao, com as Bibliotecas
Municipais, com as autarquias, atravs da vereao da Educao/Cultura, desenvolvem
uma cooperao concertada, no sentido de possibilitar a consecuo do trabalho em
rede, expresso no Despacho Conjunto n. 43/ME/MC/95 9 e nos Manifestos da
Biblioteca Pblica 10
(1994) e Escolar11
(1999).
Ainda em 2004, visando promover a qualidade, deu-se incio Candidatura de
Mrito, iniciativa nacional anual que assenta no reconhecimento do bom trabalho
desenvolvido por algumas equipas das BEs. Alm disso, houve a preocupao de
investir na disponibilizao de recursos humanos para as BEs integradas, atravs da
atribuio de crditos horrios, para o cumprimento destas funes e do destacamento
de professores para o 1 CEB. Verificou-se ainda a j mencionada disponibilizao de
apoio-tcnico pedaggico s equipas a partir do Gabinete RBE, dos Coordenadores
Interconcelhios, das Direces Regionais de Educao e dos Servios de Apoio s
Bibliotecas Escolares (SABE), disponibilizados pelas Bibliotecas Municipais, mediante
assinatura de protocolo entre as autarquias e as escolas. Tal como podemos constatar,
face s medidas tomadas, para o crescimento qualitativo das bibliotecas escolares,
aposta-se na constituio de uma rede de partilha de esforos, recursos e de informao,
de esprito de entre-ajuda, de trabalho conjunto, possibilitando a comunicao inter-
bibliotecas escolares e outros sistemas de informao. Prticas como a circulao de
fundos documentais, o emprstimo inter-bibliotecrio, o catlogo colectivo e a
planificao conjunta de actividades surgem como hbitos imprescindveis para que os
objectivos das bibliotecas, escolares ou pblicas, sejam cabalmente cumpridos. No
entanto, frise-se que, apesar de ser esta a filosofia que se pretende seguir, existem, ainda
actualmente, bastantes autarquias e escolas em que esta no se vivencia, na prtica, pois
a relutncia em abraar a mudana e a falta de hbitos de trabalho em parceria, ainda
persistem e falam mais alto.
9 - Dessa poltica far, necessariamente, parte o incentivo e a utilizao do livro nas metodologias de
ensino e na organizao do tempo escolar, e o desenvolvimento de bibliotecas escolares, integradas numa
rede e numa poltica de incentivo da leitura pblica mais ampla que apoie e amplifique a aco da escola
e que se mantenha ao longo da vida. (Despacho Conjunto n.. 43/ME/MC/95). 10
-A rede de bibliotecas pblicas deve ser criada em relao com as bibliotecas nacionais, regionais, de
investigao e especializadas, assim como com as bibliotecas escolares e universitrias. (Manifesto da
Biblioteca Pblica, 1994). 11
- A biblioteca escolar um parceiro essencial das redes local, regional e nacional de bibliotecas e de
informao. (Manifesto da Biblioteca Escolar, 1999).
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Muito e tortuoso caminho se tinha j percorrido. Faltava, no entanto, outra das
metas definidas pela RBE, a disponibilizao de um recurso humano qualificado, um
professor bibliotecrio, dedicado em exclusividade de funes s tarefas da biblioteca.
Consciente de que seria quimrico considerar que a rede funcionaria, sem que, a par de
todas as mudanas, se apostasse na gesto das bibliotecas escolares por um professor
especialista na rea da biblioteconomia, (auxiliado por uma equipa e assistentes
operacionais igualmente formados, nesta rea) o Gabinete, em articulao com o
Ministrio da Educao, conseguiu a concretizao de mais esta meta.
A 14 de Julho de 2009, foi publicada em Dirio da Repblica a Portaria
756/2009 que define o procedimento especfico de seleco e afectao de um professor
bibliotecrio, em servio de exclusividade na BE, assim como da respectiva equipa, que
se aconselha que seja multidisciplinar, com vista a criar um grupo de profissionais
especializados em reas chave da educao, da gesto, da informao e das tecnologias
para efectivamente trabalhar o currculo com metodologias activas, baseadas na
pesquisa em recursos variados de informao, que permitam ao aluno saber procurar a
informao de que necessita e a us-la de forma tica para responder s suas
necessidades pessoais e profissionais e tornar-se igualmente um produtor de informao
capaz e interveniente na sociedade. (Newsletter 04, de 17 de Abril de 2009, RBE, in
http://www.rbe.min-edu.pt/np4/416.html).
Ao professor bibliotecrio, designado por procedimento interno ou atravs de
recrutamento externo, por um perodo de quatro anos, conferida uma importante
misso, a de concretizar, no terreno, os objectivos que subjazem ao Programa RBE e
documentao referente a qualquer biblioteca, seja ela pblica ou escolar. Cabe-lhe, por
conseguinte, liderar o processo que levar a biblioteca escolar a assumir a sua macro
dimenso, no seio escolar e extra-escolar, ao nvel dos quatro domnios que a
caracterizam, mediante o definido no Modelo de Auto-avaliao das Bibliotecas
Escolares (2009). Neste documento, surge, primeiramente, o Domnio A, Apoio ao
Desenvolvimento Curricular, que envolve todas as medidas a implementar pela BE e
que fomentem a sua articulao curricular com as Estruturas de Coordenao
Educativa e Superviso Pedaggica e os Docentes, promovendo igualmente as
literacias da Informao, a Tecnolgica e Digital. O Domnio B prende-se com a
Leitura e Literacia e visa o desenvolvimento de aces concertadas por toda a escola,
lideradas ou coadjuvadas pela BE para atingir melhores resultados nesta rea. No
http://www.rbe.min-edu.pt/np4/416.html
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mbito do domnio C, Projectos, parcerias e actividades livres e de abertura
comunidade, a BE deve apoiar actividades livres, extra-curriculares e de
enriquecimento curricular, criando projectos, atravs do trabalho colaborativo e
estabelecimento de parcerias com outros agentes educativos ou instituies extra espao
escolar. Por fim, o domnio D refere-se rea que envolve a Gesto da BE, e engloba
a Articulao da BE com a Escola/Agrupamento. Acesso e servios prestados pela
BE; as Condies humanas e materiais para a prestao dos servios, bem como a
Gesto da Coleco/da informao.
No servio a prestar, o profissional que , ao mesmo tempo, professor e
bibliotecrio, deve assegurar a equidade, garantindo igualdade de acesso por parte de
toda a comunidade educativa aos servios da biblioteca, e, Para alm das competncias
tcnicas de gesto de recursos fsicos e humanos e de informao, () tem um alargado
conjunto de competncias pedaggicas claramente enunciadas na descrio funcional da
portaria acima citada, para as quais se exige que trabalhe colaborativamente com todas
as estruturas do agrupamento/escola, atravs da participao no conselho pedaggico,
em conselhos de departamento, em conselhos de docentes, em reunies informais... e,
naturalmente, tambm com as famlias e toda comunidade escolar alargada.12
(RBE,
2009).
Tendo em mente o interesse da leitura para o desenvolvimento deste nosso
trabalho, interessa-nos encetar ainda um breve levantamento das funes do professor
bibliotecrio, que lhe so consignadas nas diversas alneas do artigo 3 da Portaria
756/2009. Assim, so funes do professor bibliotecrio, ao nvel da competncia da
leitura:
b) Promover a articulao das actividades da biblioteca com os objectivos do
projecto educativo, do projecto curricular de agrupamento/escola e dos projectos
curriculares de turma;
e) Definir e operacionalizar uma poltica de gesto dos recursos de informao,
promovendo a sua integrao nas prticas de professores e alunos;
12
- Excerto integrante do texto do e-mail, enviado pela Coordenadora do Gabinete RBE, Teresa Calada,
a todos os directores das escolas/agrupamento de escolas, no dia 04 de Agosto de 2009.
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f) Apoiar as actividades curriculares e favorecer o desenvolvimento dos hbitos
e competncias de leitura, da literacia da informao e das competncias digitais,
trabalhando colaborativamente com todas as estruturas do agrupamento ou escola no
agrupada;
g) Apoiar actividades livres, extracurriculares e de enriquecimento curricular
includas no plano de actividades ou projecto educativo do agrupamento ou da escola
no agrupada.
A medida agora cumprida, a prova de que, definitivamente, a projeco das
bibliotecas escolares como estrutura axial no desenvolvimento das aprendizagens, em
trabalho articulado com toda a comunidade escolar, est de facto a evoluir. Surge, cada
vez mais palpvel a desejada mudana, como se aponta no relatrio Lanar a Rede: A
transformao da biblioteca escolar pode ter um efeito indutor na mudana da escola em
geral. Mas essa transformao no pode ser imposta do exterior; ter de corresponder a
uma necessidade da prpria escola, pelo menos dos sectores mais inovadores e
dinmicos, e, em particular, dos seus rgos de gesto. (Veiga et al, 1996, p. 31).
Segundo dados fornecidos pela RBE, no Modelo de Auto-avaliao da
Biblioteca Escolar, o Programa Rede de Bibliotecas Escolares (RBE), iniciado em
1996 com a publicao do relatrio Lanar a rede de bibliotecas escolares, conta no
momento presente com cerca de 2200 escolas integradas (2009, p. 1)
Apesar do investimento a nvel central, das autarquias e das prprias escolas
(idem) e do imenso contributo que a RBE tem dado na evoluo das bibliotecas
escolares, sentimos que ainda existe um longo caminho a percorrer, sobretudo ao nvel
da mudana de mentalidades, dentro do seio da prpria comunidade educativa, que urge
que compreenda que a biblioteca escolar (BE) constitui um contributo essencial para o
sucesso educativo, sendo um recurso fundamental para o ensino e para a aprendizagem
(idem). O sonho s se cumprir com o envolvimento e contributo de todos, desde
direces, a professores, a alunos e pais e encarregados de educao.
O consignado na lei pela vontade poltica e a tarefa herclea, que cabe ao
professor-bibliotecrio e sua equipa, no passaro de aces bem intencionadas, caso
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no se verifique uma real mudana interior da instituio escolar. Se os professores,
pais, alunos etc, continuarem de costas voltadas mudana, de que vale esta, apenas no
plano terico? Urge pois continuar a implementar aces promotoras da alterao do
sentir de toda a comunidade, levando-a a encarar as bibliotecas escolares como espaos
imprescindveis na consecuo de um sucesso educativo real, desenvolvendo nos alunos
diversas competncias, sendo uma delas a da leitura, para que estes se tornem
verdadeiros cidados desta Sociedade do Conhecimento. S desta forma, as
repercusses de uma aco conjunta se faro sentir a nvel do progresso
desenvolvimento cultural, social e econmico da sociedade.
Resta esperar que todos encarem com realismo e seriedade a difcil e crucial
misso que lhes conferida.
1.3. A biblioteca escolar: que papel na escola e na sociedade?
.
Ante o exposto nos tpicos anteriores, convm fazer uma anlise um pouco mais
detalhada acerca do papel que as Bibliotecas Escolares podero desempenhar quer na
escola quer na sociedade, em geral.
Havendo estudos que demonstram que nos pases com tradio no domnio
das bibliotecas escolares e das pblicas que os hbitos de leitura da populao se
encontram mais enraizados, sendo tambm esses pases os que registam nveis mais
A biblioteca escolar proporciona informao e ideias fundamentais para
sermos bem sucedidos na sociedade actual, baseada na informao e no
conhecimento.
A biblioteca escolar desenvolve nos alunos competncias para a
aprendizagem ao longo da vida e estimula a imaginao, permitindo-lhes tornarem-
se cidados responsveis.
Manifesto da Biblioteca Escolar da IFLA/UNESCO (1999)
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elevados de desenvolvimento cultural (Veiga, et al., 1996, p. 32), fcil concluir que,
o bom funcionamento do sistema educativo, a aposta em boas bibliotecas escolares e o
os ndices culturais da sociedade esto correlacionados. O sistema educativo contribui,
tambm a outros nveis, para o progresso e produtividade da sociedade, mas , em
simultneo, espelho dessa mesma sociedade, ou seja, se o sistema no estiver a
funcionar, a prpria sociedade no evoluir.
Relativamente situao vivida em Portugal, estudos nacionais e internacionais
ajudam-nos a compreender alguns dos problemas que foram causados pela massificao
do ensino. Est provado que o nosso pas revela ndices de pouco sucesso, nos planos
da educao e da instruo, em muitas das escolas do Ensino Bsico e, em especial do
Ensino Secundrio, tal reflecte-se na crise que actualmente atravessa o Ensino
Superior, e manifesta-se, de forma inequvoca, na falta de civismo e no baixo nvel
cultural da sociedade portuguesa (Nadal, 2002, p. 1).
As concluses retiradas apontam no sentido de ser essencial que se desenvolvam
competncias de leitura e sua compreenso, na escolarizao e na vida extra-escolar dos
cidados, para que seja possvel evitar a (de)formao de cidados iletrados, pouco
interventivos e pouco crticos, o que, logicamente, condiciona o desenvolvimento social,
cultural e econmico de Portugal.
Perante este prisma, a explorao das potencialidades das BE ao servio do
ensino reveste-se, de facto, de uma extrema importncia no s para o alcanar dos
objectivos do sistema educativo, manifestos no sucesso escolar, mas tambm da
sociedade, uma vez que a noo de sucesso educativo extravasa a do desempenho
escolar do sujeito, para incluir a sua formao integral, acompanhando-o ao longo do
seu percurso vivencial, como cidado responsvel, activo, imaginativo, livre-pensador
informado, que coloca o seu saber e saber fazer ao servio da Sociedade da Informao
em que se integra.
Esta perspectiva holstica do desenvolvimento do indivduo vai ao encontro da
reforma educativa e ope-se ao ensino tradicional, levando a que o conceito de
biblioteca escolar, que agora se perspectiva, defenda no a mera aquisio e reproduo
acrtica dos conhecimentos, mas sim o desenvolvimento das capacidades do sujeito a
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nvel intelectual, perceptivo, reflexivo, moral, emocional e social. Este tornar-se-, desta
forma, um leitor fluente e activo, capaz de, autonomamente, pesquisar, seleccionar e
aplicar os conhecimentos que detm em novas situaes que se lhe apresentem,
estabelecendo inter-relaes, reconstruindo significados atravs do uso da sua opinio
crtica e consciente, para que se torne um produtor de conhecimento.
As bibliotecas so, portanto, um recurso fundamental de apoio aos processos de
ensino-aprendizagem, facultando processos de aprender a aprender e privilegiando-se,
por esta via, os processos e no apenas os produtos de aprendizagem (Rodrigues, 2000,
p. 46), proporcionando aos seus utilizadores a familiaridade com sempre novas e
variadas estruturas do conhecimento (Sousa, et al., 2000, p. 28), uma vez que apoiam a
utilizao de diferentes fontes de informao, em diversas linguagens e suportes,
complementando e enriquecendo os manuais escolares. Os alunos podero, atravs da
utilizao das potencialidades plenas da BE, atingir ndices mais elevados de literacia,
de leitura, de aprendizagem, de resoluo de problemas e competncias no domnio
tambm das tecnologias de informao e comunicao.
Atravs da promoo de momentos de fruio e lazer, levados a cabo num
ambiente descontrado, embora com regras a cumprir, onde se disponibiliza um acervo
vasto e diversificado, a BE permite que os seus utilizadores contactem com os mais
diversos tipos de leitura. Desta forma, podero identificar-se com os que mais lhes
interessam, descobrindo o prazer de desvendar o mundo que o livro encerra, sendo este
o estdio inicial para que se tornem leitores e frequentadores de bibliotecas. Sousa
(2000, p. 44) refere, acerca do assunto em epgrafe: as bibliotecas renem as condies
para se constiturem como o espao aglutinador e estruturante de uma comunidade
(leitora) para quem ler uma actividade inerente ao quotidiano; para quem ler no
significa a posse de uma posio social determinada.
No podemos ignorar as desigualdades sociais e econmicas que grassam pela
nossa sociedade, porm, este recurso educativo permite garantir que todos os alunos tm
a mesma oportunidade de conviver com os livros, inclusive como companheiros nas
horas de cio, desenvolvendo, desta forma hbitos de leitura e trabalho criativo, que
uma vez adquiridos, acompanham o indivduo durante toda a vida, motivando-o para
utilizar os diferentes tipos de bibliotecas (Nunes, 1987, p. 17).
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Calixto (1996, p. 120) alerta que a ausncia de uma biblioteca escolar penaliza
gravosamente os alunos das classes mais desfavorecidas, pois o ambiente familiar no
s no lhes propicia o acesso aos livros e a um ambiente familiar literato como, com o
desenvolvimento de novas tecnologias, no tm acesso a computadores e a todas as
enormes vantagens que da advm em termos de acesso informao. , portanto,
inegvel o enorme contributo que dado para o combate desigualdade de
oportunidades, excluso social, iliteracia e ao analfabetismo.
Todavia, para que a BE consiga efectivar, com qualidade, a ambiciosa misso de
que est incumbida, estudos internacionais apontam a necessidade de se materializem
determinadas condies, tais como, os nveis de colaborao entre o professor
bibliotecrio e os restantes docentes na identificao de recursos e no desenvolvimento
de actividades conjuntas orientadas para o sucesso do aluno; a acessibilidade e a
qualidade dos servios prestados; a adequao da coleco e dos recursos tecnolgicos.
(Modelo de Auto-avaliao da biblioteca escolar, 2009, p. 1). A BE deve estar, portanto,
bem apetrechada, actualizada e adequada s necessidades e interesses dos utilizadores,
ao nvel das tecnologias da informao e do fundo documental, em diferentes suportes.
Alm disso, o espao e sua gesto tm que respeitar as orientaes mais recentes, no
mbito da biblioteconomia, com coleces devidamente organizadas, que permitam o
fcil acesso e rpida identificao e recuperao da informao pretendida. Falta ainda
abordar a condio que nos parece mais difcil de concretizar no terreno, tendo em
mente a nossa experincia pessoal e a literatura que consultmos. O desenvolvimento
contnuo e no apenas pontual de um trabalho planificado e articulado de sustentao
das aprendizagens dos alunos, entre o bibliotecrio e os outros professores, est ainda
longe do desejvel.
Estando provado que quando os bibliotecrios e os professores trabalham em
conjunto, os estudantes alcanam nveis mais elevados de literacia, leitura,
aprendizagem, resoluo de problemas e competncias no domnio das tecnologias de
informao e comunicao, (Manifesto da UNESCO para as Bibliotecas Escolares,
1999), torna-se imprescindvel que a escola passe a investir mais na sua BE, encarando-
a como um recurso capital e fonte inesgotvel de informao e novidade sem a qual a
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vida acadmica e at pessoal tanto de alunos como de professores impensvel
(Sequeira, et al., 2000, p. 16).
Deve-se, portanto, trabalhar sobretudo no cerne das escolas, a nvel da promoo
da imagem e do uso da biblioteca escolar, que levem a uma mudana de mentalidades
por parte dos seus agentes, pois sem o seu empenhamento, apostado na ligao da
Biblioteca Escolar ao Projecto Educativo e ao Plano de Actividades da Escola com
professores apressados que no leiam, no frequentem a Biblioteca, no apelem
fundamentao dos saberes atravs dela, no acompanhem l os seus alunos, no lhes
falem de livros nem os preparem para a leitura... no ser possvel alterar a realidade
que temos (Silva, 2000, p. 75).
Ao no valorizar as bibliotecas escolares e ao no apoiar o recurso s suas
potencialidades, de forma sistmica e natural, o sistema educativo assenta num
processo de ensino cujas estratgias parecem destinar-se a seres incorpreos; as suas
pedagogias no ensinam os alunos a aprender, a estudar e a investigar; espartilhando em
grelhas tericas, o sistema no concede tempo e espao possibilidade de
experimentao, ao exerccio do raciocnio, formulao do pensamento, elaborao e
concretizao de projectos, expresso das ideias, organizao do discurso e prtica
da comunicao (Nadal, 2002, p. 2), o que leva a que os alunos arquivem alguns
conhecimentos mas dificilmente so capazes de os aplicar ou transformar em
realizaes concretas: no conseguem elaborar snteses, no sabem o que fazer, como
fazer, como escrever ou como falar o que corresponde a um passivo que transportam
para a Universidade, para a vida e para o exerccio de futuras profisses (Idem, p. 3).
Para levar melhoria da situao actual, no sistema de ensino portugus, Nadal
(2002, p. 3) frisa a necessidades de que se aposte num novo paradigma (educativo) que
rena as vertentes do ensino e da aprendizagem em permanente interaco, entendendo-
se o ensino como um processo de estimular as apetncias, o estudo e as formas de
aprendizagem, conjugando o pensamento abstracto com o discurso concreto e
harmonizando o Homo Sapiens e o Homo Faber como faces inseparveis da mesma
realidade que a pessoa (Idem). S assim se poder alcanar verdadeiramente um
processo de ensino que forme mentalidades abertas contnua aquisio de saberes,
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experimentao, ao exerccio de competncias operativas auto-suficientes e a uma
sistemtica actualizao da informao em todas as reas da vida pessoal, social e
profissional (Idem, p. 1-2).
A tarefa referida resulta difcil, pois, os prprios professores so produtos de um
sistema tradicional, que no apostava no recurso pesquisa autnoma e reflexiva da
informao, em vrios formatos e suportes, como instrumento de formao, mostrando
o professor e o manual escolar, como os grandes transmissores de informao fidedigna.
Com o desenvolvimento das tecnologias de informao e comunicao e a vivncia na
Sociedade da Informao, tornou-se inconcebvel esta concepo de fontes de
informao. Exige-se o recurso a materiais suplementares de leitura (fontes de
informao) em diferentes formatos e suportes, pelo que crucial que se ensinem novas
competncias, responsabilidade da biblioteca escolar que deve ser desenvolvida em
harmonia com as estratgias pedaggicas adoptadas pelos professores.
Face ao exposto, verifica-se que a reeducao e mudana tem obrigatoriamente
de passar pelo mago da prpria escola, pois h que consciencializar e formar o prprio
professor para a importncia dealentar la bsqueda de investigacin documental, ()
facilitar a los estudiantes los mecanismos y las herramientas para que ellos mismos sean
capaces de acceder a la informacin y puedan dirigirla de un modo creativo y riguroso
hacia su interior de manera que lo aprendido sea asimilado de un modo inteligente,
significativo e duradero (Osoro, 2002, p. 2).
Afigura-se, pois, imprescindvel prestar maior ateno formao inicial e
contnua de pro