estratégias de predição da leitura: aplicação de um ... de... · ao teclar a última palavra...

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Anabela da Conceição Costa Coimbra Universidade de Coimbra 2010 Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Universidade de Coimbra Tese de Mestrado em Ciências da Educação, na área de especialização de Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores Estratégias de predição da leitura: aplicação de um programa de intervenção a partir da biblioteca escolar

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  • Anabela da Conceio Costa

    Coimbra

    Universidade de Coimbra

    2010

    Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao

    Universidade de Coimbra

    Tese de Mestrado em Cincias da Educao, na rea de

    especializao de Superviso Pedaggica e Formao de

    Formadores

    Estratgias de predio da leitura: aplicao

    de um programa de interveno a partir da

    biblioteca escolar

  • ii

    Anabela da Conceio Costa

    Coimbra, 2010

    Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao

    Universidade de Coimbra

    Mestrado em Superviso Pedaggica e Formao de Formadores

    Estratgias de predio da leitura: aplicao de

    um programa de interveno a partir da

    biblioteca escolar

    Dissertao de Mestrado em Cincias da Educao, na rea de

    especializao em Superviso Pedaggica e Formao de

    Formadores, apresentada Faculdade de Psicologia e de Cincias

    da Educao da Universidade de Coimbra e realizada sob

    orientao das Professoras Doutoras Maria Helena Lopes Damio

    da Silva e Maria Isabel Ferraz Festas.

  • i

    Agradecimentos

    Ao teclar a ltima palavra surge o momento em que no posso deixar

    de olhar para trs e lembrar todos aqueles que, de algum modo, estiveram

    comigo, ao longo desta tarefa aliciante, mas tambm muito rdua. A todos

    esses seres especiais chegou a altura do meu agradecimento.

    O meu mais profundo agradecimento e reconhecimento s Professoras

    Doutoras Maria Helena Lopes Damio da Silva e Maria Isabel Ferraz

    Festas, pela excepcional orientao que se dignaram prestar-me, aliando ao

    rigor cientfico, uma enorme capacidade de trabalho e uma maravilhosa

    vertente humana. Muito obrigada pela pacincia, incentivo e por nunca

    terem desistido de mim, nem me terem deixado ficar pelo caminho.

    Obrigada Direco do Agrupamento de Escolas de Condeixa-a-

    Nova, por me autorizar a realizar este estudo e ao Departamento de Lnguas

    por ter compreendido o valor desta investigao. O meu agradecimento aos

    professores dos Conselhos de Turma das turmas envolvidas na investigao,

    pela imensa disponibilidade revelada e apoio concedido e as todos os

    colegas que, de algum modo, me auxiliaram.

    A todos os que ouviram pacientemente os meus lamentos e, mesmo

    assim, me incentivaram a continuar, muito obrigada.

    Aos amores da minha vida: Mariana, Paulo e restante famlia

    maravilhosa, obrigada e desculpem por no vos ter dado mais tempo de mim.

    Um enorme bem-haja a todos!

  • ii

    Somos o que lemos. E somos o que a nossa imaginao literria nos acrescentou.

    Quem nunca leu ou leu muito pouco, no conhece nem o mundo em que vive nem os mundos

    que podemos sonhar.

    Quem l, v mais; quem l, sonha mais; quem l, decide melhor; quem l, governa

    melhor; quem l, escreve melhor.

    Carlos Ceia (2008)

  • iii

    ndice

    Agradecimentos ........................................................................................................................ i

    ndice .......................................................................................................................................iii

    ndice de Quadros ................................................................................................................... v

    Resumo ................................................................................................................................... vii

    Abstract .................................................................................................................................viii

    Rsum .................................................................................................................................... ix

    INTRODUO ....................................................................................................................... 1

    PARTE I: ENQUADRAMENTO TERICO ...................................................................... 7

    CAPTULO 1. As bibliotecas escolares: "recurso" ao servio da compreenso da

    leitura ....................................................................................................................................... 8

    1.1.O conceito de Biblioteca ao longo dos tempos ............................................................ 8

    1.2. A biblioteca escolar: janela aberta para o universo do conhecimento ...................... 14

    1.3. A biblioteca escolar: que papel na escola e na sociedade? ........................................ 25

    1.4. A interveno da biblioteca escolar na promoo da compreenso de leitura(s) ...... 32

    CAPTULO 2. A Compreenso da Leitura ....................................................................... 50

    2.1. Leitura e sua compreenso ........................................................................................ 50

    2.2.Modelos de compreenso: ascendentes, descendentes e interactivos......................... 54

    2.3.Componentes a considerar na compreenso da leitura ............................................... 59

    2.3.1. O texto ................................................................................................................ 60

    2.3.2. O contexto .......................................................................................................... 61

    2.3.3. O leitor................................................................................................................ 62

    2.3.3.1. As estruturas do leitor .................................................................................. 62

    2.3.3.2. Processos cognitivos da compreenso da leitura ......................................... 67

    2.4. Estratgias de aprendizagem para o ensino da compreenso da leitura .................... 83

    2.4.1. Categorizao das estratgias ............................................................................. 88

    2.4.1.1.Estratgias de seleco, organizao, integrao e elaborao ..................... 88

    2.4.1.2.Estratgias nos diversos momentos de leitura ............................................... 97

  • iv

    2.4.2. A influncia das variveis cognitivo-motivacionais no uso das estratgias da

    leitura ............................................................................................................................ 99

    2.5.O ensino da compreenso da leitura ......................................................................... 101

    PARTE II: ESTUDO EMPRICO ..................................................................................... 105

    CAPTULO 3. Planificao do Estudo .............................................................................. 106

    3.1. Justificao do estudo .............................................................................................. 106

    3.2.Problema, variveis e especificao de conceito ...................................................... 108

    3.3. Objectivos do estudo ............................................................................................... 109

    3.4. Metodologia ............................................................................................................ 110

    3.4.1. Amostra ............................................................................................................ 110

    3.4.2. Instrumentos e materiais utilizados .................................................................. 118

    3.4.3. Procedimentos .................................................................................................. 133

    3.5. Resultados ............................................................................................................... 135

    3.5.1. Discusso dos resultados .................................................................................. 144

    CAPTULO 4. Concluso ................................................................................................... 150

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................. 153

    ANEXOS .............................................................................................................................. 168

    Anexo I Instrumentos de Avaliao: Pr-teste e Ps-teste ...................................... 169

    Anexo II Grelhas de Correco (Pr-teste e Ps-teste) ........................................... 182

    Anexo III Materiais de Apoio .................................................................................. 185

    Anexo IV Pedido de Autorizao do Estudo, dirigido Direco .......................... 232

  • v

    ndice de Quadros

    Quadro n 1 Exerccios de Predio .................................................................................... 95

    Quadro n 2 Caracterizao da Amostra por Sexo ........................................................... 111

    Quadro n 3 Caracterizao da Amostra por Idade ........................................................... 112

    Quadro n 4 Caracterizao da Amostra por Alunos Retidos em anos lectivos

    anteriores .............................................................................................................................. 112

    Quadro n 5 Caracterizao da Amostra por Alunos com Necessidades Educativas

    Especiais ............................................................................................................................... 112

    Quadro n 6 Caracterizao da Amostra por Nveis obtidos a Lngua Portuguesa, no 1

    perodo.................................................................................................................................. 113

    Quadro n 7 Caracterizao da Amostra por Constituio do Agregado Familiar ............ 115

    Quadro n 8 Caracterizao da Amostra de acordo com as Habilitaes Acadmicas

    dos Pais e Encarregados de Educao .................................................................................. 116

    Quadro n 9 Caracterizao da Amostra por Alunos com Subsdio Escolar (Apoio

    Econmico) .......................................................................................................................... 117

    Quadro n 10 Caracterizao da Amostra por Nvel Scio-Econmico ............................ 117

    Quadro n 11 Competncias Avaliadas pelos Itens e Critrios Especficos de

    Avaliao (Pr-teste e Ps-teste) .......................................................................................... 120

    Quadro n 12 Pr-teste: Anlise de Contedo da questo 7.a) .......................................... 122

    Quadro n 13 Ps-teste: Anlise de Contedo da questo 7.a) .......................................... 123

    Quadro n 14 Pr-teste: Anlise de Contedo da questo 7.b) .......................................... 123

    Quadro n 15 Ps-teste: Anlise de Contedo da questo 7.b) ......................................... 124

    Quadro n 16 Pr-teste: Anlise de Contedo da questo 9, alneas d) e e) ...................... 124

    Quadro n 17 Ps-teste: Anlise de Contedo da questo 9, alneas d) e e) ..................... 125

    Quadro n 18 Planificao das Sesses do Grupo Experimental ....................................... 127

    Quadro n 19 Consistncia Interna do Pr-teste e do Ps-teste ......................................... 136

  • vi

    Quadro n 20 Mdia, Desvio-Padro, Valor do U Mann-Whitney e Grau de

    Significncia dos resultados dos itens, no Pr-teste do Grupo de Controlo e do Grupo

    Experimental ........................................................................................................................ 137

    Quadro n 21 Mdia, Desvio-Padro, Valor do Teste de Wilcoxon e Grau de

    Significncia dos resultados dos itens, no Pr-teste e Ps-teste do Grupo de Controlo ....... 138

    Quadro n 22 Mdia, Desvio-Padro, Valor do Teste de Wilcoxon e Grau de

    Significncia dos resultados dos itens, no Pr-teste e Ps-teste do Grupo Experimental .... 140

    Quadro n 23 Mdia, Desvio-Padro, Valor do U Mann-Whitney e Grau de

    Significncia dos resultados dos itens, no Ps-teste do Grupo de Controlo e do Grupo

    Experimental ........................................................................................................................ 141

    Quadro n 24 Mdia, Desvio-Padro, Valor do U Mann-Whitney e Grau de

    Significncia das diferenas entre o Pr-teste e o Ps-teste do Grupo de Controlo e do

    Grupo Experimental ............................................................................................................. 143

  • vii

    Resumo

    Nesta sociedade da informao actual, onde conhecimento poder, o sujeito

    tem que saber aceder a uma informao vastssima, maioritariamente sob a forma de

    registo escrito e que rapidamente se poder tornar desactualizada. Para tal, ter que ser

    um leitor competente, capaz de usar, adequada e rotineiramente, estratgias de seleco,

    organizao, integrao, armazenamento e recuperao da informao.

    A escola no pode estar alheia a esta realidade, devendo adoptar prticas de

    ensino que visem o desenvolvimento da competncia da compreenso da leitura,

    apetrechando o aluno com estratgias de compreenso, tal como a predio, que

    permite, entre outras, motivar o sujeito para a leitura e activar o conhecimento prvio

    possibilitando a criao de um quadro de referncia para o assunto a abordar. Estas

    estratgias visam no apenas a aquisio da informao para reproduo, mas sobretudo

    a capacidade do sujeito as transferir, aplicando-as em novas situaes. Tal nvel de

    desenvolvimento, reflectir-se- no s na aprendizagem escolar, mas, de forma mais

    ampla, no desempenho e sucesso futuros do sujeito na sociedade.

    No alcanar desta meta, a biblioteca escolar poder ser um excelente aliado,

    atravs de um trabalho sistmico e colaborativo tambm ao nvel do desenvolvimento

    da competncia da compreenso leitora.

    neste campo que se enquadra o nosso estudo quasi-experimental. Tendo como

    amostra duas turmas de 5 ano de escolaridade, constitumos um Grupo de Controlo e

    um Grupo Experimental, no qual aplicmos o programa de interveno de

    desenvolvimento da competncia da predio, por ns elaborado. O programa,

    desenvolvido nas aulas de Estudo Acompanhado, a partir da Biblioteca Escolar, veio a

    revelar-se, estatisticamente, eficaz, tendo em conta os resultados obtidos no ps-teste.

    Estes evidenciaram, relativamente ao pr-teste, uma evoluo significativa, por parte do

    Grupo Experimental, ao nvel das competncias da predio, comparativamente ao

    Grupo de Controlo.

    PALAVRAS-CHAVE: compreenso da leitura; estratgias de leitura; predio; biblioteca

    escolar.

  • viii

    Abstract

    In nowadays information society, knowledge represents power and the

    individual has to know how to accede to a vast amount of information, mainly available

    in a written register, which quickly may become obsolete. Consequently, the person has

    to be a competent reader, able to use selection, organization, integration and elaboration

    strategies, in a pertinent and routinary basis, which will enable the storage and the

    recovery of information.

    School must be aware of this present reality and adopt teaching practices

    centered in the development of reading comprehension competences. To achieve this

    objective, comprehension strategies such as prediction, must be taught to students.

    These strategies permit, amongst other possibilities, to motivate students to read and to

    activate prior knowledge, enabling the creation of a mental reference picture about the

    text topics. They aim the development of readers` ability to acquire and reproduce the

    text information and especially its transference and application to new situations. Such

    level of development, will have positive reflections upon the students` scholar learning,

    and consequently, in their future performance and success in society as citizens.

    The school library may play an important role in the development of reading

    comprehension competence, through a goal centered, sistemic and colaborative work

    with other educational agents.

    Our quasi-experimental study was conceived bearing in mind the above

    premises, and involved two fifth grade classes, one as a Control Group and the other as

    an Experimental Group. This group has participated in an intervention program to

    develop the students` ability to predict, which was created, organized and applied by us,

    through the school library. The program has proved to be statistically efficient,

    accordingly to the after-test results in which the Experimental Group, when compared to

    the Control Group, evidenced a significant evolution, in prediction competences.

    KEY-WORDS: reading comprehension; reading strategies; prediction; school library

  • ix

    Rsum

    Dans la socit de l'information d'aujourd'hui, o la connaissance est le

    pouvoir, lindividu doit savoir accder un vaste ensemble d'informations, qui peuvent

    devenir rapidement obsoltes. Vu que la majorit des informations apparat travers le

    registre crit, lindividu devra tre un lecteur comptent, capable d'utiliser, dune forme

    ajuste et routinire, des stratgies de slection, dorganisation, dintgration, de

    stockage et de rcupration des informations.

    L'cole ne peut pas tre indiffrente cette ralit, devant adopter des pratiques

    d'enseignement qui visent le dveloppement de la comptence de la comprhension de

    la lecture, quipant l'lve avec des stratgies de comprhension, telle que la prdiction

    qui permet, entre autres, la motivation de lindividu vers la lecture et activer la

    connaissance pralable en rendant possible la cration d'un cadre de rfrence pour

    aborder la question. Ces stratgies visent non seulement l'acquisition des informations

    pour la reproduction, mais surtout la capacit de lindividu de les transfrer, en les

    appliquant dans de nouvelles situations. Tel niveau de dveloppement, se refltera dans

    l'apprentissage scolaire et la performance et le succs futur de lindividu dans la socit.

    Pour atteindre cet objectif, la bibliothque scolaire pourra tre un excellent alli,

    travers dun travail systmique et collaboratif aussi au niveau du dveloppement de la

    comptence de la comprhension lectrice.

    C'est dans ce champ daction que notre tude quasi exprimentale s'encadre. En

    ayant comme chantillon deux classes de Cours Moyen, 2me anne, nous avons form

    un Groupe de Contrle et un Groupe Exprimental, dans lequelle nous avons appliqu le

    programme d'intervention de dveloppement de la comptence de la prdiction, partir

    de la Bibliothque Scolaire. Le programme sest rvl, statistiquement, efficace, vu les

    rsultats du post-test o le Groupe Exprimentale a dmontr une volution

    significative, au niveau des comptences de la prdiction, face au Groupe de Contrle.

    MOTS CLS: comprhension de la lecture ; stratgies de lecture ; prdiction ; bibliothque

    scolaire.

  • 1

    Introduo

    O homem um ser social, que necessita de comunicar, o que poder fazer

    atravs das competncias essenciais: saber falar, saber escrever e saber ler.

    No entanto, enquanto a linguagem oral uma competncia inata, adquirida de

    forma natural no contexto social e familiar em que o sujeito se move, tal no se verifica

    em relao escrita e leitura que exigem o ensino explcito e sistematizado de quem

    ensina, o professor, e a vontade consciente de aprender por parte do aluno(Sim-Sim,

    2007).

    Assim, tal como todas as grandes conquistas e descobertas da humanidade,

    tambm o domnio e descoberta da linguagem escrita, exigem um grande envolvimento,

    esforo pessoal e pacincia por parte do sujeito. No entanto, no final da descoberta, o

    este tem o garante de conquistar a chave que lhe permite o acesso a tesouros

    magnficos, frutos de sculos de evoluo e de conhecimento da humanidade, a leitura,

    e a que lhe possibilitar tornar-se, ele prprio, criador desses tesouros, a escrita.

    Centremo-nos, pois numa dessas chaves, na competncia da leitura.

    Tal como Ceia (2008) afirma: Quem l, v mais; quem l, sonha mais; quem l,

    decide melhor; quem l, governa melhor; quem l, escreve melhor. As diversas premissas

    apresentadas pelo autor, so extremamente pertinentes, sobretudo, na sociedade actual

    assente na competitividade e na produo e manipulao da informao como fonte de

    saber e poder. Hoje mais do que nunca, para que o sujeito singre e seja aceite, tem que

    ser um bom leitor, capaz de usar estratgias de compreenso da leitura que lhe permitam

    obter, avaliar e usar a informao a que acede atravs dos mais diversos recursos.

    A leitura um acto individual de vontade e escolha [e] uma

    prtica social que abre o sujeito para uma relao com o mundo

    Herdeiro (1980, p. 35)

  • 2

    A leitura desempenha, portanto, um papel fulcral quer no contexto social, quer

    escolar. Por um lado, vista como uma prtica social que abre o sujeito para uma

    relao com o mundo (Herdeiro, 1980, p. 35), imprescindvel integrao e sucesso do

    indivduo, pelo que se tornou uma prioridade poltica. Por outro, essa prioridade passa a

    integrar as da escola, pois torna-se fundamental formar bons leitores, sobretudo porque

    se reconhece na leitura a sua importncia para aceder ao conhecimento, em todas as

    reas.

    No entanto, a leitura, tal como afirmado anteriormente, necessita de ser

    conquistada. A primeira etapa ser a aprendizagem da descodificao, porm h que ir

    mais longe. H que aprender a extrair sentidos do que se l, ou seja, compreender. Neste

    sentido, vrios tm sido os modelos de leitura que surgiram, ao longo dos anos, visando

    descrever, de forma completa, os componentes, os processos e as competncias

    envolvidos na compreenso da leitura. Porm, consensual que a compreenso da

    leitura implica a interaco entre o texto e o leitor (Giasson, 1993; Vaz, 1998), sendo

    que alguns autores incluem ainda a influncia do contexto (Irwin, 1986; Giasson, 1993),

    pelo que o texto deixa de ter um significado estanque, na medida em que ser

    influenciado pelas estruturas do leitor e pelo contexto.

    Alm disso, a leitura implica, por parte do leitor, o recurso a processos

    cognitivos e metacognitivos que lhe permitiro extrair informao do texto, para que

    consiga compreend-lo e reutilizar, posteriormente, em novos contextos, aquela que

    considera pertinente (Mayer, 1984, 1999; Irwin, 1986; Giasson, 1993; Festas, 1998,

    2007).

    No entanto, este processo interactivo que a leitura no estar completo e

    poder no se concretizar a sua compreenso e a consequente aprendizagem, caso no

    se verifique um outro elemento essencial, ou seja, a motivao do sujeito e o seu

    envolvimento activo em todo o processo.

    Tal como afirma Sim-Sim (2007), Ensinar a ler , acima de tudo, ensinar

    explicitamente a extrair informao contida num texto escrito, ou seja, dar s crianas as

    ferramentas de que precisam para estratgica e eficazmente abordarem os textos,

    compreenderem o que est escrito e assim se tornarem leitores fluentes (p. 7 - 8).

  • 3

    Visando contribuir para esta misso de ensinar a ler e apoiando-nos em autores

    como Irwin e Baker (1989); Vaz (1998, 2010) e Festas (2007) que referem os reflexos

    positivos que o uso das estratgias da predio tem no desenvolvimento da competncia

    da compreenso de textos e consequente melhoria da performance dos alunos, a nvel

    das aprendizagens, decidimos desenvolver um estudo centrado no ensino explcito e

    treino de estratgias de predio da leitura. Predizer implica antecipar, prever factos ou

    contedos textuais, visando activar conhecimento que sirva de quadro de referncia ao

    assunto; motivar o sujeito para ler; e fornecer uma estrutura organizacional para a

    compreenso (Graves, Cooke e LaBerge, 1983, referidos por Vaz, 1998, p. 104).

    Face nossa experincia pessoal e reviso da literatura que fizemos, o sucesso

    desta misso de desenvolver a competncia da compreenso da leitura, passa tambm

    pelo envolvimento de outros elementos dentro do Conselho de Turma, que no apenas o

    professor de Lngua Portuguesa, assim como de fora do Conselho de Turma,

    recorrendo-se tambm a outros recursos que no os que se encontram confinados sala

    de aula. Neste sentido, procurmos igualmente associar a Biblioteca Escolar ao estudo

    por ns desenvolvido. Consideramos que o aproveitamento das potencialidades da

    Biblioteca Escolar e o seu envolvimento nas actividades pedaggicas a implementar so

    de extrema valia para o ensino das mais diversas competncias, o que se reflectir nas

    aprendizagens dos alunos, razo pela qual integrmos este recurso no nosso estudo.

    Uma vez que este nosso trabalho de investigao se insere no mbito do curso de

    mestrado em Superviso Pedaggica e Formao de Formadores, a seleco do tema

    advm do nosso ensejo em estudar uma temtica que se inserisse nesta rea de

    investigao e que contribusse, se possvel, para uma reflexo sobre a melhoria das

    prticas pedaggicas e, consequentemente, do sucesso educativo e social dos nossos

    alunos. Foram vrias, portanto, as razes que estiveram na gnese da deciso por ns

    tomada.

    Em primeiro lugar, pesaram razes de ndole pessoal, pois tal como

    caracterstica do ser humano, tambm ns sentimos sede de conhecimento, desejando

    saber mais acerca do meio que nos rodeia, neste caso, o educativo. Acreditmos, desde

    o incio, que este trabalho nos daria a possibilidade de crescer mais, atravs da

  • 4

    pesquisa e da consequente reflexo pessoal, promotora de mudanas nem que sejam

    apenas a ttulo individual.

    A nvel profissional, esta temtica ganhou o nosso especial apreo por conciliar

    duas vertentes da nossa prtica docente, ou seja, a coordenao da Biblioteca Escolar e a

    docncia em Lngua Portuguesa, domnios em que constatamos, no nosso dia-a-dia, as

    limitaes por que um aluno mau leitor passa no s a nvel da rea disciplinar que

    leccionamos, mas a todas as outras, dada a transversalidade e importncia que a

    compreenso da leitura assume na aprendizagem e no consequente sucesso educativo do

    discente. Apercebemo-nos igualmente que, apesar do forte investimento nas Bibliotecas

    Escolares e das funes e papel que estas podero assumir no apoio s prticas lectivas

    e na promoo de mltiplas aprendizagens, as potencialidades das mesmas ainda no

    so, em muitos casos, devidamente aproveitados pelos docentes, num trabalho

    colaborativo.

    Alm disso, enquanto ligadas superviso e formao sentimos que a rea do

    ensino explcito da compreenso da leitura uma das que mais necessita de interveno

    urgente, quer ao nvel da actualizao cientfico-pedaggica dos docentes, quer da

    transposio deste saber para as respectivas prticas pedaggicas.

    Subjacentes escolha desta temtica existem ainda razes de ordem cientfica.

    Por um lado, desejvamos contribuir para a pesquisa, desenvolvida em contexto escolar,

    em torno do ensino directo e explcito de estratgias de compreenso, visando o

    desenvolvimento das competncias da leitura. Alm disso, pretendemos colaborar,

    mesmo que modestamente, para a reflexo sobre a necessidade de melhorar a formao

    dos docentes, ao nvel da respectiva qualificao na rea das prticas de ensino explcito

    de estratgias promotoras da compreenso da leitura.

    Tendo em mente todas estas razes, o objectivo central do nosso estudo testar a

    eficcia da aplicao de um programa de interveno, a partir da Biblioteca Escolar,

    para estimular o desenvolvimento de competncias de predio da leitura, em alunos de

    5 ano, do 2 ciclo do ensino bsico.

  • 5

    Visando implementar este objectivo, comemos por fazer na Parte I deste

    trabalho, o enquadramento terico que possibilitou a fundamentao e consecuo do

    estudo emprico levado a cabo e apresentado na Parte II do trabalho.

    Dada a temtica do estudo e o consequente relevo que a Biblioteca Escolar

    assume na sua consecuo, o primeiro captulo, As Bibliotecas Escolares: recurso ao

    servio da compreenso da leitura, dedicado s bibliotecas, em geral e s bibliotecas

    escolares, em particular. Comeamos por fazer uma rpida viagem diacrnica em

    torno da evoluo histrica do conceito de biblioteca, aps o que nos debruamos, com

    maior delonga, acerca das vrias mudanas concretizadas em Portugal, ao longo dos

    anos, at chegarmos ao contexto actual em que se circunscrevem as bibliotecas

    escolares. Abordamos ainda as funes e a importncia que estas passaram a assumir na

    escola e na sociedade, bem como o seu contributo para a formao integral dos sujeitos,

    preparando-os tambm como leitores fluentes na actual sociedade da informao.

    Terminamos o captulo, centrando a nossa ateno na vertente da biblioteca escolar que,

    mais directamente, se relaciona com o nosso estudo, ou seja, a explorao de vrias das

    possibilidades de interveno deste espao de leitura(s), visando o desenvolvimento do

    prazer da leitura e da competncia da sua compreenso.

    Todo o Captulo 2, A compreenso da leitura, dedicado explorao da

    temtica que lhe confere o ttulo e que assume o papel axial, neste estudo. Assim, no

    sentido de tentar definir os conceitos de leitura e sua compreenso comeamos por

    abordar, de forma breve, a sua evoluo at s abordagens mais actuais. Falaremos

    ainda sobre a interaco entre os componentes texto, contexto e leitor, dado o seu relevo

    na compreenso da leitura e descrevemos as vrias estruturas do leitor e os processos

    cognitivos e metacognitivos por este utilizados para atingir a compreenso da leitura.

    Tendo em conta a extrema importncia da predio para o nosso estudo, alongamo-nos,

    especialmente, em torno deste processo cognitivo de elaborao.

    Ainda no Captulo 2, desenvolvemos a temtica das estratgias que se podero

    usar no acto da leitura, para que o discente consiga desenvolver competncias que lhe

    permitam alcanar nveis superiores de compreenso no acto de ler. Seguimos a

    categorizao proposta, sobretudo por Mayer (1984, 1999), tendo como finalidade a

  • 6

    descrio das diversas estratgias, entre as quais damos um especial relevo s de

    predio, dada a importncia de que estas se revestem para a compreenso de textos,

    segundo autores como Irwin e Baker (1989) e Vaz (1998, 2010), motivo que nos levou a

    centrar o nosso programa de interveno no ensino explcito das mesmas. De seguida,

    abordamos a influncia que as variveis cognitivo-motivacionais podero assumir no

    efectivo e eficaz uso das estratgias.

    Seguindo a linha de pensamento de autores como Mayer (1984, 1999); Irwin e

    Baker (1989); Kintsh (1994), Festas (1998, 2007) e Vaz (1998, 2010), terminamos o

    captulo em questo por reflectir acerca do ensino da compreenso da leitura,

    salientando a importncia de se comear, no currculo nacional, a assumir prticas

    pedaggicas assentes tambm no ensino explcito das estratgias de compreenso da

    leitura. Apresentamos modelos de instruo recproca ou de prtica guiada, propostos

    por autores como Pearson e Leys (1985) e Giasson (1993).

    Findo o enquadramento terico, no qual se destacam vectores cruciais para o

    nosso estudo e, logicamente, para a aprendizagem e formao integral do indivduo, ou

    seja, a leitura, a escola e a biblioteca, passamos abordagem do estudo emprico.

    Neste sentido, no Captulo 3, Planificao do Estudo, apresentamos a

    justificao do estudo, o problema a investigar e especificamos o conceito de predio.

    Seguidamente, descrevemos a metodologia usada para viabilizar o programa de

    interveno, concebido e aplicado, em alunos de 5 ano de escolaridade, com o

    objectivo de contribuir para o desenvolvimento da competncia da compreenso da

    leitura, atravs do treino de estratgia cognitiva da predio.

    Por fim, expomos os resultados do estudo implementado e apresentamos uma

    anlise e discusso dos mesmos.

    No ltimo captulo, a Concluso, encetamos uma reflexo final tendo em mente

    as ilaes que o estudo desenvolvido permitiu retirar.

    Conclumos apresentando a lista de referncias bibliogrficas e os anexos

    relevantes para esta investigao.

  • 7

    PARTE I: Enquadramento Terico

  • 8

    CAPTULO 1. AS BIBLIOTECAS ESCOLARES: RECURSO AO

    SERVIO DA COMPREENSO DA LEITURA ______________________________________________________________________

    1.1. O conceito de Biblioteca ao longo dos tempos

    Neste breve excerto do poema Mudam-se os tempos, de Lus de Cames

    (sculo XVI), est bem patente a realidade do ser humano e do mundo em que este

    habita. O tempo deixa marcas, quer positivas quer negativas, mas, a mudana, no

    obstante a anttese, uma constante inquestionvel.

    Tambm a nvel da cultura, do ensino e do conhecimento, o mundo evoluiu.

    Mudaram-se os tempos, as prticas e novas qualidades surgiram.

    Alexandria, no Egipto, e Ninve, na Mesopotmia, so apenas alguns dos

    exemplos dessa necessidade do Homem transmitir o seu conhecimento ao longo da

    Histria e deixar marcas dos avanos ou retrocessos, da busca da mudana e do saber.

    Tesouros das memrias do mundo, estas bibliotecas conseguiram transmitir, gerao

    aps gerao, os grandiosos acervos informacionais que permitem conservar a memria

    e o conhecimento das grandes culturas da Antiguidade. Hoje em dia, em plena

    Sociedade da Informao e do Conhecimento, as bibliotecas continuam a desempenhar

    estas funes de guardis das memrias do mundo, embora, para alm de conservarem e

    propagarem a informao, tenham ainda a funo de promover o desenvolvimento de

    competncias e disponibilizar momentos de fruio e prazer.

    Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

    Muda-se o ser, muda-se a confiana;

    Todo o mundo composto de mudana,

    Tomando sempre novas qualidades.

    Lus Vaz de Cames (sculo XVI)

  • 9

    A epopeia da biblioteca remonta aos longnquos tempos da inveno da escrita e

    da consequente necessidade de perpetuar e transmitir a informao. A palavra

    bibliothk surge pela primeira vez no sculo IV antes de Cristo e provm,

    etimologicamente, das palavras gregas biblos (livro) e thk (cofre, depsito), embora o

    suporte usado no acervo documental no tenha sido unicamente o livro, nem a

    biblioteca se resuma a um mero depsito estanque. Porm, a definio de Biblioteca

    como um depsito foi adequada sua funo em tempos idos, recessos temporais em

    que apenas uma minoria privilegiada da populao dominava o cdigo escrito.

    Como grandes impulsionadores das Bibliotecas, na Antiguidade, temos os

    gregos e os romanos. No sculo IV a.c., Roma detinha vinte e oito bibliotecas, muitas

    delas formadas pelos acervos das bibliotecas gregas, desmanteladas aps a conquista da

    Grcia pelos Romanos e a as obras gregas e latinas eram colocadas separadamente em

    prateleiras ou caixas, e classificadas pelo assunto (Dias e Alarco, 1990, p. 2).

    Poderemos verificar que a preocupao com a gesto e organizao do acervo

    documental j comeava ento a despontar.

    Aps a queda do Imprio Romano do Ocidente e com as invases brbaras,

    muitas das bibliotecas edificadas foram destrudas, o que implicou a perda do esplio e

    do avano cultural a que se havia assistido.

    Na Idade Mdia, verifica-se a valorizao e expanso das bibliotecas

    monsticas (nos mosteiros e conventos), tidas como depsitos exmios da cultura da

    poca, e ao desenvolvimento da biblioteconomia, considerada ento como a arte de bem

    conservar os tesouros das bibliotecas (Pires, 2001, p. 8). As bibliotecas concentraram-

    se, nos mosteiros e abadias, principais focos de cultura, mas onde, apesar de existir o

    louvvel papel de conservao das obras, as mesmas no estavam acessveis a todos,

    pelo que a biblioteca era, de facto, um mero depsito (Dias e Alarco, 1990).

    No Renascimento, o conceito de biblioteca evoluiu bastante, fruto da mudana

    de mentalidades ante a concepo do Universo, do Homem e do saber. Surgiram as

    universidades e as primeiras bibliotecas pblicas, cujos livros, embora protegidos por

    gradeamentos e acorrentados s mesas de leitura, podiam ser consultados pelos

    professores e alunos. As bibliotecas privadas floresceram igualmente, medida que os

  • 10

    humanistas foram desvendando manuscritos com obras perdidas de autores clssicos,

    esquecidas em mosteiros (Pereira, 1988, p. 25).

    Esta multiplicao das bibliotecas levou a um aumento da procura do livro, ao

    que a inveno da imprensa, em 1445, por Gutenberg, veio dar resposta, tornando-se

    responsvel por uma fermentao revolucionria, pelo aumento da produo de

    material impresso que passa a estar acessvel a um maior nmero de pessoas (Pires,

    2001, p. 8), deixando a Biblioteca e os livros, e portanto a leitura, de ser restritos s a

    alguns, para se generalizarem e de certo modo democratizarem, caminhando no sentido

    de se tornarem um direito reconhecido a todos (Silva, 2002, p. 187). Verificaram-se,

    portanto, importantes mudanas ao nvel do nmero de bibliotecas disponveis, do

    ndice de utilizadores, do acesso mais facilitado informao, que agora era cada vez

    mais avultada e com temas mais abrangentes e diversificados.

    Aps a II Guerra Mundial, verificou-se uma grande intensificao da produo

    literria e de outro tipo de documentos, tendo tal acarretado a inevitvel proliferao de

    bibliotecas e a uma maior importncia do livro e da leitura. Uma vez que a biblioteca

    o espelho dos tempos, tambm as formas dos suportes documentais usados evoluram,

    aps a II Guerra Mundial. Do rolo (papiro), do cdice (pergaminho) e do livro, comea-

    se a recorrer a suportes mais caractersticos da poca que se vivia, para transmitir a

    informao, tais como filmes, transparncias, diapositivos, fotografias, cassetes udio e

    vdeo, etc.

    Os anos cinquenta trouxeram consigo mais ventos de mudana. Comea-se a

    entrar numa sociedade ps-industrial que orbita "em torno da informao e do

    conhecimento, para alcanar o controlo social e a direco da inovao e da mudana

    (Furtado, 2000, p. 281). Enquanto que, na poca industrial, era a fora muscular e a

    resistncia fsica que ditavam os sujeitos mais capazes, na sociedade ps-industrial, o

    nfase est no conhecimento, pelo que o domnio da informao passou a ser visto

    como uma qualidade imprescindvel para a supremacia e desenvolvimento das

    sociedades (Idem). Assim, saber poder.

    O mundo actual exige do ser humano uma capacidade de readaptao s novas

    realidades e a este mundo globalizado, a que h que procurar dar uma melhor resposta.

  • 11

    Tal como aponta Sanches (2006), a crescente planetarizao propiciada pelos meios

    tecnolgicos de informao e comunicao; a crescente multiculturalidade das

    sociedades, resultantes de fluxos migratrios; a crescente importncia do conhecimento

    como fonte de produtividade econmica. (p. 232) so os trs principais vectores que,

    resultantes da ps-modernidade, fazem sentir a sua influncia tambm nas escolas e,

    conclumos ns, tambm nas bibliotecas.

    Desde os tempos em que o conhecimento e a informao eram transmitidos

    oralmente e depois por escrito, at aos dias de hoje, o mundo pulou e avanou, tal

    como afirma Antnio Gedeo no poema Pedra Filosofal, at fase digital. Tem-se

    vindo a evoluir, nas ltimas dcadas, para uma Sociedade da Informao1, com a

    passagem do tomo ao bit, e assiste-se transformao do homo sapiens em homo

    digitalis, tal como afirma Terceiro (1997, p. 31):

    A substituio do tomo pelo bit, do fsico pelo digital, a um ritmo

    exponencial, vai converter o homo sapiens em homo digitalis. Desde os seus humildes

    comeos, faz agora pouco mais de meio sculo, o computador evolui de tal modo que se

    aproximou das nossas vidas quotidianas, convertendo-se numa ferramenta de uso

    progressivamente generalizado.

    Esta ambincia que se vive leva a que sejam essenciais saberes e competncias

    diversas, que implicam novas formas de criar, produzir e gerir, novos mecanismos de

    entretenimento e estilos de vida, assim como novos mtodos de organizao do

    trabalho, fontes de conhecimento e estilos de aprendizagem.

    Os avanos tecnolgicos possibilitam ao indivduo utilizar modalidades de busca

    de informao e de aprendizagem, extra espaos fsico e tm um papel importante na

    implementao de uma educao geral e especializada sendo, acima de tudo, um meio

    que contribuir para aumentar os conhecimentos e a compreenso dos estudantes

    (Alves, 1999, p. 74). As possibilidades de pesquisa e os equipamentos interactivos e

    multimdia permitem um inesgotvel mundo de mensagens e uma vez que a boa

    1 Sociedade da Informao um estdio de desenvolvimento social caracterizado pela capacidade dos

    seus membros obterem e compartilharem qualquer informao, instantaneamente e de qualquer lugar.

  • 12

    integrao social do sujeito depende da quantidade de conhecimento que detem torna-se

    imprescindvel a cada indivduo ser capaz de processar informao digitalizada, ser

    capaz de pesquisar e seleccionar informao e, finalmente, ser capaz de difundir essa

    informao (Idem, p. 76).

    A capacidade de encorajar a cooperao, a mobilidade, a igualdade de

    oportunidades e a inovao na educao em todas as reas educativas so condies

    essenciais, assim como o aliar da aprendizagem a um know-how informtico, requisitos

    mnimos para a integrao do sujeito no mercado de trabalho e para evitar uma nova

    forma de analfabetismo, denominado agora de info-excluso.

    Face ao exposto, fcil concluir que o conceito de biblioteca, a par com o de

    escola e de sociedade, est a atravessar um momento de grandes alteraes e desafios.

    Este mundo da rpida evoluo do conhecimento exige grandes transformaes por

    parte, tambm, das bibliotecas que tm vindo a acompanhar os tempos, tornando-se

    cada vez mais atractivas e actualizadas. Contudo, por muito diferentes que as

    bibliotecas de hoje sejam em relao s de outrora, o mesmo esprito que est

    subjacente aos seus objectivos e organizao: recolher, tratar, arrumar e tornar acessvel

    todo o conhecimento humano que se vai fixando nessa enorme gama de suportes (Dias

    e Alarco, 1990, p. 4).

    Os princpios mantm-se, mas, tal como referimos, com as novas tecnologias e

    fruto da vontade e da necessidade humanas, as bibliotecas da actualidade tiveram que

    evoluir, pois corriam o risco de isolamento funcional. Ganharam uma nova dimenso,

    passando a assumir responsabilidades mais alargadas, estendendo-se a todas as reas do

    saber, pois novas aquisies tornaram os fundos documentais mais diversificados,

    novos suportes audiovisuais atraram novos utilizadores, a criao de condies de

    acesso mais rpidas e eficazes de pesquisa da informao revolucionaram de forma

    decisiva e irreversvel o conceito de biblioteca, colmatando muitas lacunas dessas

    instituies tradicionais (Pires, 2001, p. 11).

    Daqui podermos apontar, para a Biblioteca, uma definio mais actual, como

    sendo "toda a coleco organizada de livros ou quaisquer outros documentos peridicos

    impressos, ou outros documentos, em especial grficos e audiovisuais, assim como os

  • 13

    servios de pessoal que facilitem aos leitores a utilizao destes documentos com fins

    informativos, de investigao, de educao ou recreativos" (Unesco, 1976, p. 9-10).

    A definio transcrita no pargrafo anterior reporta-nos para uma realidade

    totalmente diferente daquela que se vivenciava no passado em relao s biliotecas. Nos

    dias de hoje, no se pode perspectivar a bilbioteca como um mero espao fsico com

    uma coleco variada. Perante a necessidade de o homem obter com rapidez e eficincia

    a informao que procura, necessrio que a biblioteca disponha de um servio de

    organizao da coleco, ou seja, que esta seja cotada, catalogada, classificada e

    indexada, intermedirios fundamentais entre os utilizadores e a obteno de informao.

    No que concerne as finalidades para as quais foi edificada a biblioteca, referimos

    anteriormente a necessidade da humanidade reunir e preservar os saberes e fantasias de

    todo um legado cultural e histrico do mundo em que se insere enquanto animal social,

    pelo que qualquer bilioteca um tesouro patrimonial, o do conhecimento do ser

    humano.

    Face ao exposto, seja ela nacional, universitria, especializada, pblica ou

    escolar, de acordo com a funo social que desempenha, a biblioteca cumpre, nos dias

    de hoje, uma imprescindvel misso, a de funcionar como um recurso privilegiado de

    livre acesso informao, (principal impulsionadora do progresso e de integrao social

    do sujeito), formao para as literacias, recreao e ao lazer. Este conceito de

    biblioteca, como um espao de promoo da educao e do saber, dinmico, aberto e

    atractivo era, j no incio do sculo XIX, o sonhado pelo pedagogo John Dewey. Este

    via na biblioteca escolar, a par com as oficinas de trabalho, um recurso fulcral ao

    servio da misso da escola, pois, na biblioteca, o aluno colhia a teoria que iria aplicar

    nas oficinas, apetrechando-se assim de uma melhor preparao para o mundo do

    trabalho.

    Longe vo os tempos em que a biblioteca era uma falsia do saber,

    rigorosamente ordenada, absolutamente impenetrvel, um muro intransponvel,

    (Pennac, 1995, p. 133). Aps ter resistido a tantas mudanas de vontades e de

    confianas, ao longo dos tempos, adquiriu novas qualidades e cumpre acreditar e

  • 14

    tudo fazer para que do acesso ao mundo da leitura, ela passe a permitir o acesso leitura

    do mundo.

    As bibliotecas, perante o novo conceito e misso de que se revestem no podem,

    de forma alguma, estar, hoje em dia, num plano distinto do sistema educativo. O mundo

    tal exige.

    1.2 A biblioteca escolar: janela aberta para o universo do conhecimento

    Tal como John Dewey preconizara, no sculo XIX, tambm Lus de Cames, no

    sculo XVI, parecia estar consciente da necessidade de mudana e da importncia de se

    aliar o saber terico ao saber emprico, quando se afirmou perante El`Rei D. Sebastio

    como o resultado dohonesto estudo, /com longa experincia misturado2.

    Esta uma realidade a que Portugal no pode estar alheio, pois inserido num

    mundo caracterizado pelo livre acesso imensa informao existente, o nosso pas teve

    2 Versos constantes da estncia 154, canto X, da epopeia Os Lusadas, de Lus Vaz de Cames (Sc. XVI)

    A biblioteca escolar essencial a qualquer tipo de estratgia de

    longo prazo no que respeita a competncias, leitura e escrita, educao

    e informao e ao desenvolvimento econmico, social e cultural. A

    responsabilidade sobre a biblioteca escolar cabe s autoridades locais,

    regionais e nacionais, portanto deve essa agncia ser apoiada por poltica e

    legislao especficas. Deve tambm contar com fundos apropriados e

    substanciais para pessoal treinado, materiais, tecnologias e instalaes. A

    BE deve ser gratuita.

    Manifesto da Biblioteca Escolar da IFLA/UNESCO (1999)

  • 15

    de comear a tentar acompanhar os tempos para sair da sua austera, apagada e vil

    tristeza3.

    Os currculos nacionais tm de reflectir esta ambincia para a qual Portugal

    comea a despertar, desenvolvendo estratgias de ensinar explicitamente os nossos

    alunos a pesquisar, seleccionar, tratar e utilizar a informao, de forma autnoma.

    Sequeira, (2000, p. 60), afirma que as concepes pedaggicas da actualidade

    destacam o papel do aluno face ao processo de ensino e aprendizagem. Aprender

    significa questionar, procurar, escolher, avaliar, criar um processo que se prolonga

    para l da escolaridade e supe um dilogo contnuo com o mundo.

    Neste mundo actual, que funciona, todo ele, como uma enorme fonte de

    informao que rapidamente se torna desactualizada, reveste-se de toda a relevncia que

    os professores se consciencializem da necessidade de iniciar os alunos na pesquisa de

    informao, ensinando-os a encontrar e decifrar a informao de que precisam. Assim,

    os docentes devem actualizar-se constantemente, quer a nvel cientfico quer ao nvel

    das prticas pedaggicas, para melhor responderem s necessidades de formao dos

    alunos e de si prprios. O excesso de informao a que se assiste actualmente , muitas

    vezes, um factor que poder inibir o desenvolvimento do saber. importante que o

    indivduo saiba criar mecanismos que lhe possibilitem coar a informao e

    seleccionar desta a que realmente interessa e tem valor.

    Perante esta massificao de informao, Skillbeck, (1998, p. 41) alerta para o

    perigo de, caso esta no seja filtrada de forma inteligente e consciente pelo sujeito, se

    poder criar o favorecimento de uma falsa cultura, que apelida de cultura enlatada.

    Perante tal ameaa a nossa resposta deve ser garantir o acesso do estudante a culturas

    ricas e diversificadas e a um modelo de relaes sociais forte variado. Estas ltimas

    podem ser disponibilizadas ou facilitadas por professores bem formados, em instituies

    bem dirigidas.

    No entanto, A Sociedade da informao apenas uma dimenso da civilizao

    contempornea (Skilbeck, 1998, p. 42). A educao bsica de qualquer indivduo tem

    3 Versos constantes da estncia 145, canto X, da epopeia Os Lusadas, de Lus Vaz de Cames (Sc. XVI)

  • 16

    de ser abrangente, pois a sociedade da informao exige a todos os cidados um vasto

    leque de conhecimentos e compreenso (Idem).

    Assim, para enfrentar os novos desafios da educao, necessrio que a escola

    se reorganize. Neste novo panorama, a figura do bom professor imprescindvel, pois

    estes continuam a ser aqueles que melhor observam, compreendem e respondem s

    necessidades de aprendizagem individual dos seus alunos (Idem). No obstante tal

    factor, se o objectivo educacional e social o desenvolvimento global do sujeito, capaz

    de participar na elaborao do seu conhecimento, ento o professor deve diversificar os

    contextos de aprendizagem, libertando-se do recurso exclusivo ao ensino tradicional e

    ao manual escolar, que, por apresentar apenas uma seleco da informao disponvel,

    ser insuficiente para responder aos novos desafios4, no mbito educacional.

    pois essencial que as escolas desenvolvam processos de mudana a nvel

    individual e da sua organizao, apostando na implementao de novos modos de

    participao e relao entre os actores educativos e em novas prticas pedaggicas.

    Nesse sentido, a biblioteca escolar e os departamentos devem agregar-se como

    parceiros, desenvolvendo um trabalho sistematizado e colaborativo, visando o

    desenvolvimento dos currculos e das competncias nas reas da leitura e da literacia da

    informao. Se a Sociedade de Informao exige do sujeito autonomia, esprito crtico,

    criatividade, capacidade de resoluo de problemas e de aprendizagem ao longo da vida,

    ento a biblioteca escolar , sem dvida, o recurso educativo5 mais capacitado para

    favorecer um ensino de qualidade. De facto, apresenta ao indivduo a possibilidade de

    aceder ao saber, atravs de linguagens e formatos dspares, apresentando uma panplia

    de ofertas ao nvel de estratgias, tcnicas, recursos e situaes de aprendizagem.

    4 Notamos a relevncia da funo das bibliotecas escolares, ao nvel da promoo da leitura e da

    aprendizagem, ao termos em mente, a ttulo exemplificativo, as seguintes Competncias Gerais do

    Currculo Nacional do Ensino Bsico: a 5,Adoptar metodologias personalizadas de trabalho e de

    aprendizagens adequadas a objectivos visados, a 6, Pesquisar, seleccionar e organizar informao para

    a transformar em conhecimento mobilizvel, a 7, Adoptar estratgias adequadas resoluo de

    problemas e tomada de decises, a 8, Realizar actividades de forma autnoma, responsvel e

    criativa e a 9, Cooperar com outros em tarefas e projectos comuns. (www.dgidc.min-edu.pt) 5 Na Lei de Bases do Sistema Educativo, a biblioteca escolar um dos recursos educativos privilegiados,

    a exigirem especial ateno, (LBSE, art.. 41.), surgindo aps os manuais escolares, a encabear a lista

    de seis recursos. Para alm disso, no art.. 39. (Edifcios Escolares), a biblioteca escolar no sequer

    mencionada, o mesmo acontecendo quanto aos recursos humanos que dela deveriam fazer parte (art

    30.). Logo, da conclumos que, face importncia de que a biblioteca escolar se reveste, actualmente, no

    nosso sistema educativo, se torna urgente que o documento que o rege seja actualizado.

  • 17

    Aps este breve prembulo, parece-nos pertinente, encetarmos uma panormica

    diacrnica acerca da evoluo das bibliotecas escolares no nosso pas, dado o teor do

    nosso trabalho e porque, infelizmente, estas ainda esto, perante muitos dos agentes

    educativos, envoltas pela penumbra em que a imagem tradicional as colocaram.

    Embora tardiamente, uma vez que a Rede Nacional de Leitura Pblica foi criada

    apenas em 1987 e a Rede das Bibliotecas Escolares no ano lectivo de 1996/97, Portugal

    tambm parece ter despertado para a importncia que as bibliotecas podero assumir

    para o alcanar de melhores resultados a nvel educativo, cultural, econmico, social e

    poltico, no mundo em que se integra.

    Actualmente, a Rede Concelhia de Bibliotecas 6 deixou de ser uma miragem e

    comea a dar os primeiros passos, parecendo adivinhar-se para breve a constituio da

    desejada Rede Nacional de Bibliotecas.

    Relativamente s Bibliotecas Escolares, tipologia que nos interessa abordar,

    apraz-nos dizer que, embora ainda falte percorrer um longo caminho em diversas

    situaes, no geral, estas no so, actualmente, os enfeites, os lugares de grande

    solenidade, nem os templos da cultura silenciosa (Calixto, 1996, p. 26), de outrora.

    Passaram a ser janelas abertas para o universo do conhecimento, recursos ao servio da

    escola para Saber para dar a conhecer; conhecer para fazer; saber fazer para ser.7

    Porm, durante longo tempo, as Bibliotecas Escolares no foram uma das

    prioridades ou sequer das preocupaes dos governantes nacionais. S a partir dos anos

    40, do sculo passado, comearam a envidar-se esforos para que as bibliotecas nas

    escolas portuguesas comeassem a ser uma realidade. Data de 1948 a legislao que

    proclamou a obrigatoriedade de que, nas escolas secundrias, existisse o servio de

    biblioteca (Calixto, 1996, p. 25), decorrendo da a necessria definio dos critrios para

    a constituio dos seus fundos e para a seleco dos seus responsveis.

    6 Rede Concelhia de Bibliotecas - Denomina o desenvolvimento de um trabalho planificado e

    desenvolvido em conjunto pelas bibliotecas municipais, escolares ou outras que pertencem a um mesmo

    concelho, para que melhor se consiga responder s caractersticas e necessidades da sua populao. Uma

    das iniciativas , por exemplo, a constituio de um catlogo e de um portal colectivos, que seja o espelho

    do dinamismo e criatividade desenvolvidos. 7 Ttulo de um documento produzido pela Rede de Bibliotecas Escolares. Bibliotecas Escolares: Saber

    para dar a conhecer. Conhecer para fazer. Saber fazer para ser

  • 18

    Todavia, o legado de uma prtica de ensino muito tradicional, que via no manual

    escolar obrigatrio como o meio informativo quase exclusivo, a biblioteca da escola no

    alcanou a dimenso que deveria. Numa poca, em que se preconizava um ensino muito

    tradicional e dirigido, cujos objectivos pouca relao tinham com o desenvolvimento de

    um pensamento pessoal e com a participao activa do aluno na aprendizagem, a

    informao deveria ser obtida, aps a necessria filtragem por parte do educador,

    encarando-se o discente como se fosse um receptculo passivo. Neste cenrio, fcil

    adivinhar que a prtica de uma biblioteca, na verdadeira acepo da palavra, resultaria

    como agente disfuncional ao permitir o livre e democrtico acesso informao e o

    consequente desenvolvimento de um pensamento livre e crtico.

    Mas os ventos de mudanacontinuavam a soprar e, em 1986, aquando da

    publicao da Lei de Bases do Sistema Educativo, a Lei n 46/86 reconhece, no seu

    artigo n 41, as bibliotecas e mediatecas escolares como recursos educativos.

    1. Constituem recursos educativos todos os meios materiais utilizados para

    realizao da actividade educativa.

    2. So recursos educativos privilegiados, a exigirem especial ateno:

    a) Os manuais escolares;

    b) As bibliotecas e mediatecas.

    Na Lei n 19-A/87, de 3 de Junho de 1987, Medidas de emergncia sobre o

    ensino-aprendizagem da lngua portuguesa, surge reconhecida a importncia das

    bibliotecas escolares, no seu artigo 4:

    1. Sero criadas bibliotecas em todos os estabelecimentos de ensino que ainda

    as no possuam e implementadas medidas no sentido de assegurar a

    permanente actualizao e o enriquecimento bibliogrfico das bibliotecas

    escolares.

    2. As bibliotecas escolares sero apetrechadas com os livros indispensveis ao

    desenvolvimento cultural e ensino-aprendizagem da lngua materna e

    adequadas idade dos alunos, cabendo ao ministrio da Educao e Cultura

    criar as condies de acesso e de orientao dos alunos relativamente

    leitura.

  • 19

    No ano lectivo 1990/91, as escolas cujas candidaturas foram aprovadas no

    mbito do Programa PRODEP8, puderam obter computadores, tendo alguns deles

    passado a apetrechar as bibliotecas. Se bem que a nomenclatura fosse a mais dispersa

    pelo pas fora, mediateca, centro de recursos ou documental, entre outros, a partir de

    ento, o conceito de biblioteca escolar veio a assumir um papel, gradualmente mais

    visvel, como recurso capaz de responder s novas necessidades do ensino-

    aprendizagem.

    Porm, urgia conhecer de facto a realidade do pas, ao nvel deste recurso

    educativo, pois, se algumas escolas tinham bibliotecas a funcionar com algum

    dinamismo e organizao, noutras, estas eram meros depsitos desorganizados de livros

    e de material antigo e noutras ainda nem existiam.

    O nosso poder poltico, finalmente ciente deste panorama, envida esforos e,

    numa aco articulada entre o Ministrio da Educao e o da Cultura, foi publicado, em

    Dezembro de 1995, o Despacho Conjunto n 43/ME/MC/95, onde para alm de se

    reconhecer os parcos ou inexistentes hbitos e prticas de leitura da grande maioria da

    populao portuguesa, se refere que: Dessa poltica far, necessariamente, parte o

    incentivo utilizao do livro nas metodologias de ensino e na organizao de

    bibliotecas escolares, integradas numa rede e numa poltica de incentivo da leitura

    pblica mais ampla que apoie e amplifique aco da escola e que se mantenha ao longo

    da vida (ME/MC, 1995).

    A semente estava lanada e, no ano seguinte, surge o Despacho Conjunto n 5

    ME/MC/96, que visa a constituio de um grupo de trabalho, no qual se destacam os

    nomes de Isabel Veiga Vilar, (cujo nome literrio Isabel Alada), Comissria do Plano

    Nacional de Leitura e actual Ministra da Educao, e Teresa Calada, coordenadora do

    Programa Rede de Bibliotecas Escolares. Este grupo foi incumbido de analisar a real

    situao das escolas do pas, ao nvel das suas bibliotecas e de propor medidas de

    melhoria. As concluses resultantes desse trabalho foram publicadas num estudo

    intitulado Lanar a Rede de Bibliotecas Escolares e que revela que a grande maioria

    das escolas do 1. Ciclo do Ensino Bsico no detinha espao para estantes e que os

    8 PRODEP Programa de Desenvolvimento Educativo para Portugal

  • 20

    livros, quando existiam, se encontravam espalhados pelas salas ou fechados em

    armrios no gabinete da direco ou na sala de professores. No caso das escolas dos 2.,

    3. Ciclos e Secundrio, o panorama j era diferente, uma vez que os projectos

    arquitectnicos da maioria dos edifcios, entretanto construdos ou reconstrudos,

    previam espaos para bibliotecas, mesmo que, alguns destes fossem diminutos, tivessem

    uma m localizao ou fossem usados, muitas vezes, para desenvolver actividades

    lectivas normais.

    Dando continuidade ao preconizado no Despacho citado no anterior pargrafo,

    surge o Despacho Conjunto n.184/ME/MC/96, onde expresso o desejo ministerial de,

    at 2003, dotar os estabelecimentos de ensino dos Ensino Bsico e Secundrio com

    bibliotecas, que funcionassem em livre acesso, afirmando-se como catalisador de

    iniciativas inseridas na vida da escola, por se reconhecer o seu papel central em

    domnios como a aprendizagem da leitura, a literacia, a criao e o desenvolvimento do

    gosto pela leitura, as competncias de informao e o aprofundamento da cultura cvica,

    tecnolgica e artstica. Cria-se ento o gabinete para a execuo do programa de

    instalao da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE).

    Numa primeira fase, o gabinete da RBE procedeu instalao de novas

    bibliotecas e modernizao das existentes, atravs do lanamento anual de

    candidaturas dirigidas s escolas, investindo-se fortemente nas instalaes, nos

    equipamentos e nos recursos documentais.

    Numa segunda fase, apostou-se na qualificao dos recursos humanos, atravs

    da promoo de vrias aces de formao, no mbito das bibliotecas escolares,

    destinadas a professores e assistentes operacionais. Em 2002, foi possvel consagrar na

    lei a equipa responsvel pela biblioteca escolar e o coordenador da biblioteca, para o

    qual era atribudo escola um crdito horrio especfico.

    A partir de 2004, verificou-se o reforo e diversificao do apoio s bibliotecas

    escolares (BEs), por parte do Gabinete, atravs do destacamento de um conjunto de

    professores qualificados na rea das bibliotecas, os Coordenadores Interconcelhios das

    Bibliotecas Escolares (CIBEs), com a misso de apoiar in loquo o trabalho a

    desenvolver pela equipa da BE. Estes Coordenadores, juntamente com os Servios

  • 21

    Tcnico-Pedaggicos das Direces Regionais de Educao, com as Bibliotecas

    Municipais, com as autarquias, atravs da vereao da Educao/Cultura, desenvolvem

    uma cooperao concertada, no sentido de possibilitar a consecuo do trabalho em

    rede, expresso no Despacho Conjunto n. 43/ME/MC/95 9 e nos Manifestos da

    Biblioteca Pblica 10

    (1994) e Escolar11

    (1999).

    Ainda em 2004, visando promover a qualidade, deu-se incio Candidatura de

    Mrito, iniciativa nacional anual que assenta no reconhecimento do bom trabalho

    desenvolvido por algumas equipas das BEs. Alm disso, houve a preocupao de

    investir na disponibilizao de recursos humanos para as BEs integradas, atravs da

    atribuio de crditos horrios, para o cumprimento destas funes e do destacamento

    de professores para o 1 CEB. Verificou-se ainda a j mencionada disponibilizao de

    apoio-tcnico pedaggico s equipas a partir do Gabinete RBE, dos Coordenadores

    Interconcelhios, das Direces Regionais de Educao e dos Servios de Apoio s

    Bibliotecas Escolares (SABE), disponibilizados pelas Bibliotecas Municipais, mediante

    assinatura de protocolo entre as autarquias e as escolas. Tal como podemos constatar,

    face s medidas tomadas, para o crescimento qualitativo das bibliotecas escolares,

    aposta-se na constituio de uma rede de partilha de esforos, recursos e de informao,

    de esprito de entre-ajuda, de trabalho conjunto, possibilitando a comunicao inter-

    bibliotecas escolares e outros sistemas de informao. Prticas como a circulao de

    fundos documentais, o emprstimo inter-bibliotecrio, o catlogo colectivo e a

    planificao conjunta de actividades surgem como hbitos imprescindveis para que os

    objectivos das bibliotecas, escolares ou pblicas, sejam cabalmente cumpridos. No

    entanto, frise-se que, apesar de ser esta a filosofia que se pretende seguir, existem, ainda

    actualmente, bastantes autarquias e escolas em que esta no se vivencia, na prtica, pois

    a relutncia em abraar a mudana e a falta de hbitos de trabalho em parceria, ainda

    persistem e falam mais alto.

    9 - Dessa poltica far, necessariamente, parte o incentivo e a utilizao do livro nas metodologias de

    ensino e na organizao do tempo escolar, e o desenvolvimento de bibliotecas escolares, integradas numa

    rede e numa poltica de incentivo da leitura pblica mais ampla que apoie e amplifique a aco da escola

    e que se mantenha ao longo da vida. (Despacho Conjunto n.. 43/ME/MC/95). 10

    -A rede de bibliotecas pblicas deve ser criada em relao com as bibliotecas nacionais, regionais, de

    investigao e especializadas, assim como com as bibliotecas escolares e universitrias. (Manifesto da

    Biblioteca Pblica, 1994). 11

    - A biblioteca escolar um parceiro essencial das redes local, regional e nacional de bibliotecas e de

    informao. (Manifesto da Biblioteca Escolar, 1999).

  • 22

    Muito e tortuoso caminho se tinha j percorrido. Faltava, no entanto, outra das

    metas definidas pela RBE, a disponibilizao de um recurso humano qualificado, um

    professor bibliotecrio, dedicado em exclusividade de funes s tarefas da biblioteca.

    Consciente de que seria quimrico considerar que a rede funcionaria, sem que, a par de

    todas as mudanas, se apostasse na gesto das bibliotecas escolares por um professor

    especialista na rea da biblioteconomia, (auxiliado por uma equipa e assistentes

    operacionais igualmente formados, nesta rea) o Gabinete, em articulao com o

    Ministrio da Educao, conseguiu a concretizao de mais esta meta.

    A 14 de Julho de 2009, foi publicada em Dirio da Repblica a Portaria

    756/2009 que define o procedimento especfico de seleco e afectao de um professor

    bibliotecrio, em servio de exclusividade na BE, assim como da respectiva equipa, que

    se aconselha que seja multidisciplinar, com vista a criar um grupo de profissionais

    especializados em reas chave da educao, da gesto, da informao e das tecnologias

    para efectivamente trabalhar o currculo com metodologias activas, baseadas na

    pesquisa em recursos variados de informao, que permitam ao aluno saber procurar a

    informao de que necessita e a us-la de forma tica para responder s suas

    necessidades pessoais e profissionais e tornar-se igualmente um produtor de informao

    capaz e interveniente na sociedade. (Newsletter 04, de 17 de Abril de 2009, RBE, in

    http://www.rbe.min-edu.pt/np4/416.html).

    Ao professor bibliotecrio, designado por procedimento interno ou atravs de

    recrutamento externo, por um perodo de quatro anos, conferida uma importante

    misso, a de concretizar, no terreno, os objectivos que subjazem ao Programa RBE e

    documentao referente a qualquer biblioteca, seja ela pblica ou escolar. Cabe-lhe, por

    conseguinte, liderar o processo que levar a biblioteca escolar a assumir a sua macro

    dimenso, no seio escolar e extra-escolar, ao nvel dos quatro domnios que a

    caracterizam, mediante o definido no Modelo de Auto-avaliao das Bibliotecas

    Escolares (2009). Neste documento, surge, primeiramente, o Domnio A, Apoio ao

    Desenvolvimento Curricular, que envolve todas as medidas a implementar pela BE e

    que fomentem a sua articulao curricular com as Estruturas de Coordenao

    Educativa e Superviso Pedaggica e os Docentes, promovendo igualmente as

    literacias da Informao, a Tecnolgica e Digital. O Domnio B prende-se com a

    Leitura e Literacia e visa o desenvolvimento de aces concertadas por toda a escola,

    lideradas ou coadjuvadas pela BE para atingir melhores resultados nesta rea. No

    http://www.rbe.min-edu.pt/np4/416.html

  • 23

    mbito do domnio C, Projectos, parcerias e actividades livres e de abertura

    comunidade, a BE deve apoiar actividades livres, extra-curriculares e de

    enriquecimento curricular, criando projectos, atravs do trabalho colaborativo e

    estabelecimento de parcerias com outros agentes educativos ou instituies extra espao

    escolar. Por fim, o domnio D refere-se rea que envolve a Gesto da BE, e engloba

    a Articulao da BE com a Escola/Agrupamento. Acesso e servios prestados pela

    BE; as Condies humanas e materiais para a prestao dos servios, bem como a

    Gesto da Coleco/da informao.

    No servio a prestar, o profissional que , ao mesmo tempo, professor e

    bibliotecrio, deve assegurar a equidade, garantindo igualdade de acesso por parte de

    toda a comunidade educativa aos servios da biblioteca, e, Para alm das competncias

    tcnicas de gesto de recursos fsicos e humanos e de informao, () tem um alargado

    conjunto de competncias pedaggicas claramente enunciadas na descrio funcional da

    portaria acima citada, para as quais se exige que trabalhe colaborativamente com todas

    as estruturas do agrupamento/escola, atravs da participao no conselho pedaggico,

    em conselhos de departamento, em conselhos de docentes, em reunies informais... e,

    naturalmente, tambm com as famlias e toda comunidade escolar alargada.12

    (RBE,

    2009).

    Tendo em mente o interesse da leitura para o desenvolvimento deste nosso

    trabalho, interessa-nos encetar ainda um breve levantamento das funes do professor

    bibliotecrio, que lhe so consignadas nas diversas alneas do artigo 3 da Portaria

    756/2009. Assim, so funes do professor bibliotecrio, ao nvel da competncia da

    leitura:

    b) Promover a articulao das actividades da biblioteca com os objectivos do

    projecto educativo, do projecto curricular de agrupamento/escola e dos projectos

    curriculares de turma;

    e) Definir e operacionalizar uma poltica de gesto dos recursos de informao,

    promovendo a sua integrao nas prticas de professores e alunos;

    12

    - Excerto integrante do texto do e-mail, enviado pela Coordenadora do Gabinete RBE, Teresa Calada,

    a todos os directores das escolas/agrupamento de escolas, no dia 04 de Agosto de 2009.

  • 24

    f) Apoiar as actividades curriculares e favorecer o desenvolvimento dos hbitos

    e competncias de leitura, da literacia da informao e das competncias digitais,

    trabalhando colaborativamente com todas as estruturas do agrupamento ou escola no

    agrupada;

    g) Apoiar actividades livres, extracurriculares e de enriquecimento curricular

    includas no plano de actividades ou projecto educativo do agrupamento ou da escola

    no agrupada.

    A medida agora cumprida, a prova de que, definitivamente, a projeco das

    bibliotecas escolares como estrutura axial no desenvolvimento das aprendizagens, em

    trabalho articulado com toda a comunidade escolar, est de facto a evoluir. Surge, cada

    vez mais palpvel a desejada mudana, como se aponta no relatrio Lanar a Rede: A

    transformao da biblioteca escolar pode ter um efeito indutor na mudana da escola em

    geral. Mas essa transformao no pode ser imposta do exterior; ter de corresponder a

    uma necessidade da prpria escola, pelo menos dos sectores mais inovadores e

    dinmicos, e, em particular, dos seus rgos de gesto. (Veiga et al, 1996, p. 31).

    Segundo dados fornecidos pela RBE, no Modelo de Auto-avaliao da

    Biblioteca Escolar, o Programa Rede de Bibliotecas Escolares (RBE), iniciado em

    1996 com a publicao do relatrio Lanar a rede de bibliotecas escolares, conta no

    momento presente com cerca de 2200 escolas integradas (2009, p. 1)

    Apesar do investimento a nvel central, das autarquias e das prprias escolas

    (idem) e do imenso contributo que a RBE tem dado na evoluo das bibliotecas

    escolares, sentimos que ainda existe um longo caminho a percorrer, sobretudo ao nvel

    da mudana de mentalidades, dentro do seio da prpria comunidade educativa, que urge

    que compreenda que a biblioteca escolar (BE) constitui um contributo essencial para o

    sucesso educativo, sendo um recurso fundamental para o ensino e para a aprendizagem

    (idem). O sonho s se cumprir com o envolvimento e contributo de todos, desde

    direces, a professores, a alunos e pais e encarregados de educao.

    O consignado na lei pela vontade poltica e a tarefa herclea, que cabe ao

    professor-bibliotecrio e sua equipa, no passaro de aces bem intencionadas, caso

  • 25

    no se verifique uma real mudana interior da instituio escolar. Se os professores,

    pais, alunos etc, continuarem de costas voltadas mudana, de que vale esta, apenas no

    plano terico? Urge pois continuar a implementar aces promotoras da alterao do

    sentir de toda a comunidade, levando-a a encarar as bibliotecas escolares como espaos

    imprescindveis na consecuo de um sucesso educativo real, desenvolvendo nos alunos

    diversas competncias, sendo uma delas a da leitura, para que estes se tornem

    verdadeiros cidados desta Sociedade do Conhecimento. S desta forma, as

    repercusses de uma aco conjunta se faro sentir a nvel do progresso

    desenvolvimento cultural, social e econmico da sociedade.

    Resta esperar que todos encarem com realismo e seriedade a difcil e crucial

    misso que lhes conferida.

    1.3. A biblioteca escolar: que papel na escola e na sociedade?

    .

    Ante o exposto nos tpicos anteriores, convm fazer uma anlise um pouco mais

    detalhada acerca do papel que as Bibliotecas Escolares podero desempenhar quer na

    escola quer na sociedade, em geral.

    Havendo estudos que demonstram que nos pases com tradio no domnio

    das bibliotecas escolares e das pblicas que os hbitos de leitura da populao se

    encontram mais enraizados, sendo tambm esses pases os que registam nveis mais

    A biblioteca escolar proporciona informao e ideias fundamentais para

    sermos bem sucedidos na sociedade actual, baseada na informao e no

    conhecimento.

    A biblioteca escolar desenvolve nos alunos competncias para a

    aprendizagem ao longo da vida e estimula a imaginao, permitindo-lhes tornarem-

    se cidados responsveis.

    Manifesto da Biblioteca Escolar da IFLA/UNESCO (1999)

  • 26

    elevados de desenvolvimento cultural (Veiga, et al., 1996, p. 32), fcil concluir que,

    o bom funcionamento do sistema educativo, a aposta em boas bibliotecas escolares e o

    os ndices culturais da sociedade esto correlacionados. O sistema educativo contribui,

    tambm a outros nveis, para o progresso e produtividade da sociedade, mas , em

    simultneo, espelho dessa mesma sociedade, ou seja, se o sistema no estiver a

    funcionar, a prpria sociedade no evoluir.

    Relativamente situao vivida em Portugal, estudos nacionais e internacionais

    ajudam-nos a compreender alguns dos problemas que foram causados pela massificao

    do ensino. Est provado que o nosso pas revela ndices de pouco sucesso, nos planos

    da educao e da instruo, em muitas das escolas do Ensino Bsico e, em especial do

    Ensino Secundrio, tal reflecte-se na crise que actualmente atravessa o Ensino

    Superior, e manifesta-se, de forma inequvoca, na falta de civismo e no baixo nvel

    cultural da sociedade portuguesa (Nadal, 2002, p. 1).

    As concluses retiradas apontam no sentido de ser essencial que se desenvolvam

    competncias de leitura e sua compreenso, na escolarizao e na vida extra-escolar dos

    cidados, para que seja possvel evitar a (de)formao de cidados iletrados, pouco

    interventivos e pouco crticos, o que, logicamente, condiciona o desenvolvimento social,

    cultural e econmico de Portugal.

    Perante este prisma, a explorao das potencialidades das BE ao servio do

    ensino reveste-se, de facto, de uma extrema importncia no s para o alcanar dos

    objectivos do sistema educativo, manifestos no sucesso escolar, mas tambm da

    sociedade, uma vez que a noo de sucesso educativo extravasa a do desempenho

    escolar do sujeito, para incluir a sua formao integral, acompanhando-o ao longo do

    seu percurso vivencial, como cidado responsvel, activo, imaginativo, livre-pensador

    informado, que coloca o seu saber e saber fazer ao servio da Sociedade da Informao

    em que se integra.

    Esta perspectiva holstica do desenvolvimento do indivduo vai ao encontro da

    reforma educativa e ope-se ao ensino tradicional, levando a que o conceito de

    biblioteca escolar, que agora se perspectiva, defenda no a mera aquisio e reproduo

    acrtica dos conhecimentos, mas sim o desenvolvimento das capacidades do sujeito a

  • 27

    nvel intelectual, perceptivo, reflexivo, moral, emocional e social. Este tornar-se-, desta

    forma, um leitor fluente e activo, capaz de, autonomamente, pesquisar, seleccionar e

    aplicar os conhecimentos que detm em novas situaes que se lhe apresentem,

    estabelecendo inter-relaes, reconstruindo significados atravs do uso da sua opinio

    crtica e consciente, para que se torne um produtor de conhecimento.

    As bibliotecas so, portanto, um recurso fundamental de apoio aos processos de

    ensino-aprendizagem, facultando processos de aprender a aprender e privilegiando-se,

    por esta via, os processos e no apenas os produtos de aprendizagem (Rodrigues, 2000,

    p. 46), proporcionando aos seus utilizadores a familiaridade com sempre novas e

    variadas estruturas do conhecimento (Sousa, et al., 2000, p. 28), uma vez que apoiam a

    utilizao de diferentes fontes de informao, em diversas linguagens e suportes,

    complementando e enriquecendo os manuais escolares. Os alunos podero, atravs da

    utilizao das potencialidades plenas da BE, atingir ndices mais elevados de literacia,

    de leitura, de aprendizagem, de resoluo de problemas e competncias no domnio

    tambm das tecnologias de informao e comunicao.

    Atravs da promoo de momentos de fruio e lazer, levados a cabo num

    ambiente descontrado, embora com regras a cumprir, onde se disponibiliza um acervo

    vasto e diversificado, a BE permite que os seus utilizadores contactem com os mais

    diversos tipos de leitura. Desta forma, podero identificar-se com os que mais lhes

    interessam, descobrindo o prazer de desvendar o mundo que o livro encerra, sendo este

    o estdio inicial para que se tornem leitores e frequentadores de bibliotecas. Sousa

    (2000, p. 44) refere, acerca do assunto em epgrafe: as bibliotecas renem as condies

    para se constiturem como o espao aglutinador e estruturante de uma comunidade

    (leitora) para quem ler uma actividade inerente ao quotidiano; para quem ler no

    significa a posse de uma posio social determinada.

    No podemos ignorar as desigualdades sociais e econmicas que grassam pela

    nossa sociedade, porm, este recurso educativo permite garantir que todos os alunos tm

    a mesma oportunidade de conviver com os livros, inclusive como companheiros nas

    horas de cio, desenvolvendo, desta forma hbitos de leitura e trabalho criativo, que

    uma vez adquiridos, acompanham o indivduo durante toda a vida, motivando-o para

    utilizar os diferentes tipos de bibliotecas (Nunes, 1987, p. 17).

  • 28

    Calixto (1996, p. 120) alerta que a ausncia de uma biblioteca escolar penaliza

    gravosamente os alunos das classes mais desfavorecidas, pois o ambiente familiar no

    s no lhes propicia o acesso aos livros e a um ambiente familiar literato como, com o

    desenvolvimento de novas tecnologias, no tm acesso a computadores e a todas as

    enormes vantagens que da advm em termos de acesso informao. , portanto,

    inegvel o enorme contributo que dado para o combate desigualdade de

    oportunidades, excluso social, iliteracia e ao analfabetismo.

    Todavia, para que a BE consiga efectivar, com qualidade, a ambiciosa misso de

    que est incumbida, estudos internacionais apontam a necessidade de se materializem

    determinadas condies, tais como, os nveis de colaborao entre o professor

    bibliotecrio e os restantes docentes na identificao de recursos e no desenvolvimento

    de actividades conjuntas orientadas para o sucesso do aluno; a acessibilidade e a

    qualidade dos servios prestados; a adequao da coleco e dos recursos tecnolgicos.

    (Modelo de Auto-avaliao da biblioteca escolar, 2009, p. 1). A BE deve estar, portanto,

    bem apetrechada, actualizada e adequada s necessidades e interesses dos utilizadores,

    ao nvel das tecnologias da informao e do fundo documental, em diferentes suportes.

    Alm disso, o espao e sua gesto tm que respeitar as orientaes mais recentes, no

    mbito da biblioteconomia, com coleces devidamente organizadas, que permitam o

    fcil acesso e rpida identificao e recuperao da informao pretendida. Falta ainda

    abordar a condio que nos parece mais difcil de concretizar no terreno, tendo em

    mente a nossa experincia pessoal e a literatura que consultmos. O desenvolvimento

    contnuo e no apenas pontual de um trabalho planificado e articulado de sustentao

    das aprendizagens dos alunos, entre o bibliotecrio e os outros professores, est ainda

    longe do desejvel.

    Estando provado que quando os bibliotecrios e os professores trabalham em

    conjunto, os estudantes alcanam nveis mais elevados de literacia, leitura,

    aprendizagem, resoluo de problemas e competncias no domnio das tecnologias de

    informao e comunicao, (Manifesto da UNESCO para as Bibliotecas Escolares,

    1999), torna-se imprescindvel que a escola passe a investir mais na sua BE, encarando-

    a como um recurso capital e fonte inesgotvel de informao e novidade sem a qual a

  • 29

    vida acadmica e at pessoal tanto de alunos como de professores impensvel

    (Sequeira, et al., 2000, p. 16).

    Deve-se, portanto, trabalhar sobretudo no cerne das escolas, a nvel da promoo

    da imagem e do uso da biblioteca escolar, que levem a uma mudana de mentalidades

    por parte dos seus agentes, pois sem o seu empenhamento, apostado na ligao da

    Biblioteca Escolar ao Projecto Educativo e ao Plano de Actividades da Escola com

    professores apressados que no leiam, no frequentem a Biblioteca, no apelem

    fundamentao dos saberes atravs dela, no acompanhem l os seus alunos, no lhes

    falem de livros nem os preparem para a leitura... no ser possvel alterar a realidade

    que temos (Silva, 2000, p. 75).

    Ao no valorizar as bibliotecas escolares e ao no apoiar o recurso s suas

    potencialidades, de forma sistmica e natural, o sistema educativo assenta num

    processo de ensino cujas estratgias parecem destinar-se a seres incorpreos; as suas

    pedagogias no ensinam os alunos a aprender, a estudar e a investigar; espartilhando em

    grelhas tericas, o sistema no concede tempo e espao possibilidade de

    experimentao, ao exerccio do raciocnio, formulao do pensamento, elaborao e

    concretizao de projectos, expresso das ideias, organizao do discurso e prtica

    da comunicao (Nadal, 2002, p. 2), o que leva a que os alunos arquivem alguns

    conhecimentos mas dificilmente so capazes de os aplicar ou transformar em

    realizaes concretas: no conseguem elaborar snteses, no sabem o que fazer, como

    fazer, como escrever ou como falar o que corresponde a um passivo que transportam

    para a Universidade, para a vida e para o exerccio de futuras profisses (Idem, p. 3).

    Para levar melhoria da situao actual, no sistema de ensino portugus, Nadal

    (2002, p. 3) frisa a necessidades de que se aposte num novo paradigma (educativo) que

    rena as vertentes do ensino e da aprendizagem em permanente interaco, entendendo-

    se o ensino como um processo de estimular as apetncias, o estudo e as formas de

    aprendizagem, conjugando o pensamento abstracto com o discurso concreto e

    harmonizando o Homo Sapiens e o Homo Faber como faces inseparveis da mesma

    realidade que a pessoa (Idem). S assim se poder alcanar verdadeiramente um

    processo de ensino que forme mentalidades abertas contnua aquisio de saberes,

  • 30

    experimentao, ao exerccio de competncias operativas auto-suficientes e a uma

    sistemtica actualizao da informao em todas as reas da vida pessoal, social e

    profissional (Idem, p. 1-2).

    A tarefa referida resulta difcil, pois, os prprios professores so produtos de um

    sistema tradicional, que no apostava no recurso pesquisa autnoma e reflexiva da

    informao, em vrios formatos e suportes, como instrumento de formao, mostrando

    o professor e o manual escolar, como os grandes transmissores de informao fidedigna.

    Com o desenvolvimento das tecnologias de informao e comunicao e a vivncia na

    Sociedade da Informao, tornou-se inconcebvel esta concepo de fontes de

    informao. Exige-se o recurso a materiais suplementares de leitura (fontes de

    informao) em diferentes formatos e suportes, pelo que crucial que se ensinem novas

    competncias, responsabilidade da biblioteca escolar que deve ser desenvolvida em

    harmonia com as estratgias pedaggicas adoptadas pelos professores.

    Face ao exposto, verifica-se que a reeducao e mudana tem obrigatoriamente

    de passar pelo mago da prpria escola, pois h que consciencializar e formar o prprio

    professor para a importncia dealentar la bsqueda de investigacin documental, ()

    facilitar a los estudiantes los mecanismos y las herramientas para que ellos mismos sean

    capaces de acceder a la informacin y puedan dirigirla de un modo creativo y riguroso

    hacia su interior de manera que lo aprendido sea asimilado de un modo inteligente,

    significativo e duradero (Osoro, 2002, p. 2).

    Afigura-se, pois, imprescindvel prestar maior ateno formao inicial e

    contnua de pro