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CADERNO 3 ESTRATÉGIAS DE PERMANÊNCIA

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CADERNO 3

ESTRATÉGIAS DE PERMANÊNCIA

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SUMÁRIOINTRODUÇÃO...................................................................................................................4

3.1 MERCADO AUDIOVISUAL.......................................................................................43.1.1 Aspectos históricos do modelo de negócios....................................................5

3.2 CONTINUIDADE E PERMANÊNCIA.........................................................................83.2.1 Patrocínios.......................................................................................................9

a. Patrocínio Direto...........................................................................................9b. Patrocínio Indireto......................................................................................10

3.2.2 Formas complementares de obter receita.....................................................11

3.3 ESTRATÉGIAS PARA A PERMANÊNCIA..............................................................123.3.1 A importância do uso de redes eletrônicas....................................................123.3.2 Produção de material de divulgação e preservação da memória.................133.3.3 Relações com o público.................................................................................15

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INTRODUÇÃO

Os Cadernos Cine Mais Cultura são parte integrante da ação Cine Mais Cultura,

programa do governo federal desenvolvido pelo Ministério da Cultura.

Esses cadernos foram criados com o objetivo de reunir informações básicas

sobre o Cine Mais Cultura e fornecer subsídios para a implantação, operação e

manutenção dos CINES, funcionando como apoio para o treinamento das equipes

responsáveis pela administração dos CINES.

Neste caderno, intitulado ESTRATÉGIAS DE PERMANÊNCIA, abordaremos

questões relacionadas ao mercado audiovisual e, particularmente, à manutenção e

continuidade dos Cines enquanto unidades de exibição sem fins lucrativos.

Propomos transcender o conceito de “sustentabilidade”, introduzindo a noção de

“permanência”, considerando que o reconhecimento da importância dos CINES para as

populações atendidas envolve a mobilização das equipes gestoras no sentido de criar

meios para a difusão e manutenção desse trabalho enquanto algo essencial para a

vida social e cultural local.

3.1 MERCADO AUDIOVISUAL

É fundamental que as equipes de CINES tenham uma noção inicial da estrutura

e do funcionamento do mercado audiovisual para que se situem nesse contexto e

percebam a importância de seu papel nessa atividade que envolve aspectos culturais,

sociais e econômicos.

O audiovisual é um campo muito abrangente e em permanente expansão.

Compreende produtos feitos por produtoras de cinema, de televisão e de vídeo, em

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diferentes formatos, que circulam nos espaços tradicionais de exibição como salas de

cinemas, emissoras de televisão e exibição doméstica. Mais recentemente, foram

desenvolvidas novas mídias, como telefonia móvel e internet, que passaram a veicular

obras de ficção, documentais ou experimentais especialmente elaboradas para esses

suportes.

O Cinema é o elemento pioneiro no campo do audiovisual e consolidou-se como

uma atividade econômica de base industrial compreendendo três segmentos

interdependentes:

1) Produção – é o segmento responsável por todo o processo de realização do

conteúdo, desde a concepção inicial até a finalização do produto que será

exibido. No Brasil, para produzir um filme, o criador tem que se constituir

como pessoa jurídica (empresa) porque a legislação de regulamentação da

atividade, as leis federais de incentivo audiovisual e a rede de distribuição e

exibição não reconhecem a figura do produtor pessoa física.

2) Distribuição – é o segmento responsável pela distribuição do conteúdo. No

caso do cinema comercial, é o agente que disponibiliza os filmes para os

proprietários dos cinemas escolherem o que exibir em suas salas. Seus

ativos são os direitos de comercialização do conteúdo.

3) Exibição – é o segmento que compreende os espaços de exibição, ou seja,

os donos das salas de cinema. No Brasil, o circuito de exibição é

concentrado nos grandes centros urbanos, tendo ocorrido um processo de

diminuição acentuada dos chamados “cinemas de rua” e uma tendência

crescente de aberturas de salas múltiplas ou complexos de salas construídos

dentro de centros comerciais.

3.1.1 Aspectos históricos do modelo de negócios

O nascimento do cinema coincide com a expansão econômica das nações

industrializadas (Imperialismo econômico). Foi a primeira modalidade de tecnologia

cultural a ser difundida em todo o planeta. Contudo, a baixa intervenção das nações na

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regulação interna dessa atividade e na defesa de produtores locais, permitiu a

concentração econômica do setor, notadamente na distribuição e na exibição

controladas por poucas empresas locais ou internacionais.

Como conseqüência, sete empresas norteamericanas controlaram o comércio

mundial de cinema, independente de possuírem salas de exibição em outros países.

Mesmo com o impedimento no território dos Estados Unidos de uma mesma empresa

ser produtora, distribuidora e exibidora de seus filmes (“Paramount Act”-1949), em cada

dez ingressos vendidos no planeta Terra, nove entradas são para assistir a filmes

“made in USA”, à exceção de Índia, França, Coréia e Irã, países que estimulam e

priorizam a produção nacional.

Esse diferencial deve-se também ao gasto adicional em comercialização. Um

grande produtor gasta, em média, o mesmo valor que investiu na produção para lançar

seu filme entre cartazes, anúncios em jornais, trailers em televisão e salas de cinema, o

denominado “P&A” (Print & Advertising) ou em uma tradução livre “Cópias e Anúncios”.

Para o produtor brasileiro estes custos funcionam como barreira à entrada no

mercado ao praticamente impedir o acesso de pequenos produtores às melhores salas

dos circuitos de exibição. Além disso, outro fator que afeta a distribuição dos filmes

produzidos é a falta de salas de exibição.

Por outro lado, o acesso do

produtor nacional ao mercado doméstico

não implica uma lucratividade imediata.

Somente 5 a 10% da produção

conseguem recuperar o investimento.

Agregue-se ainda o padrão de exibição

criado no espaço das salas de cinema que privilegia o formato ficcional de longa-

metragem em detrimento do documentário e do curta-metragem.

A distribuição da renda do filme auxilia na compreensão do que acontece em

nosso mercado nacional. Descontados os impostos, de cada ingresso vendido, metade

fica com o exibidor e a outra metade com o distribuidor e o produtor. Como, em geral, o

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O mercado brasileiro de exibição compreende um volume de pouco mais de 2.000 salas que, frente ao tamanho da população brasileira, evidencia um grande déficit de locais de exibição.

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distribuidor faz um investimento na comercialização da obra (P&A), esse valor é

descontado da receita do produtor até cobrir esses custos (retenção prioritária da

renda). Com isto, o produtor raramente consegue recuperar os custos de produção e,

mesmo subsidiado, obter uma fonte de receita suficiente para bancar novos filmes.

A lógica de mercado vem ao longo do tempo desestimulando as produções de

cunho regional, processo que se acentuou com a introdução da televisão entre os anos

1940 e 1960. No caso brasileiro, o modelo adotado concentrou produção, distribuição e

exibição de conteúdo televisivo em torno de poucos concessionários.

Durante a ditadura militar, a opção pela formação de redes nacionais colaborou

com o distanciamento do cinema brasileiro de nossa televisão e impediu a

regionalização da produção televisiva.

Posteriormente, para fazer frente à concentração dos canais de televisão, à falta

de salas de exibição e ao domínio de produções estrangeiras em mercados nacionais,

foram criados subsídios para a produção local no Brasil e em outros países de relevo

cultural, na forma de editais, leis de incentivo ou fundos de investimento, como forma

de proteger a cultura regional e garantir cerca de 50 empregos diretos e 200 indiretos

por filme concluído.

Hoje, mais de 90% dos lançamentos nacionais obtém recursos através de editais

e leis de incentivo, embora o período médio de captação desses recursos para cada

filme produzido seja superior a 2,5 anos e apenas 15% dos filmes alcancem renda

superior a quatro vezes a captação.

Em contrapartida, desde os anos 1980, com o lançamento do vídeo doméstico

(Vídeo Home em VHS, DVD e Blu-Ray) e da Internet, vivemos um período de transição

das tecnologias de exibição que permitem democratizar o acesso aos conteúdos

audiovisuais. A modificação desse modelo de negócios culmina com o surgimento das

salas de exibição digital, que além de baratearem custos com cópias e lançamentos,

permitem o acesso de segmentos de produção até então excluídos das telas, como o

documentário e o cinema de linguagem experimental, agregando um novo elemento no

cenário que é o transmissor de conteúdo.

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Neste ponto preciso, o programa CINE MAIS CULTURA utiliza desses novos

formatos para revitalizar o circuito de exibição sem fins lucrativos, que decresceu com o

fim dos projetores e cópias para distribuição em 16mm.

Há mais de 80 anos, com o início dos trabalhos no Brasil de entidades sem fins

lucrativos voltadas à exibição cinematográfica, como os cineclubes, cinematecas e

associações culturais, criou-se um setor que, ao contrário do cinema comercial (preso a

um horário rigoroso e sem intervalos), permite discutir e aprofundar aquilo que vem da

tela.

Cada filme nacional lançado é um produto único que revela um modo de olhar

nossa realidade. Descobrir a originalidade de cada uma dessas obras é a tarefa

principal para as exibições sem fins lucrativos, pois cria uma identidade entre o público,

a equipe dos CINES e a produção nacional, contribuindo para a diversidade e a

cidadania cultural.

3.2 CONTINUIDADE E PERMANÊNCIA

O programa Cine Mais Cultura é destinado à exibição sem fins lucrativos. No

entanto, os CINES deverão se responsabilizar pelo custeio de todas as despesas

referentes à manutenção do espaço, dos equipamentos e equipe técnica mínima

necessária à operação/funcionamento do CINE, além da elaboração e realização de

ações de comunicação com a sociedade local.

Por tudo isso a questão da obtenção de recursos e apoios se coloca como um

elemento necessário à continuidade e permanência do CINE. Nessa perspectiva, é

facultado ao CINE arrecadar valor relativo à manutenção e à viabilização de suas

atividades, o que pode ser feito de diferentes formas que não impliquem diretamente

na cobrança de ingresso.

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3.2.1 Patrocínios

Existem formas de patrocínio, externas à estrutura do CINE, que geram receita

para a atividade de exibição. Os patrocínios podem ser obtidos de forma direta ou

indireta.

a. Patrocínio Direto

Pela forma direta, a equipe entra em contato com algum comerciante ou

empresário local que doa uma quantia suficiente para a manutenção dos custos da

atividade. Essa prática deve ser ponderada em termos da autonomia necessária ao

bom andamento do CINE.

O atrelamento do trabalho sem fins lucrativos a uma atividade econômica local

pode gerar uma situação de questionamento do CINE por parte de seu público,

notadamente se essa parceria envolver articulações políticas locais. Pensem, por

exemplo, na conseqüência para um CINE de estar associado a um patrocinador

responsável por um desastre ecológico grave na região.

Por outro lado, se o patrocínio deriva de uma entidade ou pessoa física de

reconhecidos e comprovados méritos públicos, o apoio pode ser oportuno, sem que o

CINE corra risco quanto à associação do seu nome ao do patrocinador.

Outra modalidade de patrocínio direto pode ser obtido por meio de editais nos

âmbitos municipal, estadual e federal. Para participar, a entidade que responde pelo

CINE deve estar em dia com sua documentação legal e deve também estar atenta ao

conteúdo do edital para que não seja inabilitada.

É importante destacar alguém da equipe para monitorar todo dia através de

internet ou da mídia local (rádio, jornal, televisão) todos os editais que surgem para

entidades culturais sem fins lucrativos.

Também é interessante mapear todas organizações filantrópicas internacionais

que atuam no Brasil, capazes de fornecer apoio ao chamado “terceiro setor”.

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b. Patrocínio Indireto

O patrocínio indireto é aquele que diz respeito às leis de incentivo nos três

âmbitos: federais, estaduais e municipais. Ao todo existem mais de 60 leis de incentivo

à cultura no território brasileiro.

Tratam-se de recursos públicos indiretamente transferidos do patrocinador ao

patrocinado (proponente) através do Estado, o que implica em uma sistemática de

prestação de contas de todas as despesas efetuadas mediante a emissão de notas

fiscais ou recibos de pagamento com identificação do beneficiário. Esse procedimento

exige, portanto, organização e cuidado dos proponentes, sobretudo em localidades

onde o grau de informalidade econômica é maior.

A lei de incentivo mais conhecida é a Lei nº 8.313/91, também chamada de Lei

Rouanet, em referência ao então Ministro da Cultura, Sérgio Paulo Rouanet, que

encaminhou o projeto de Lei ao Congresso Nacional. Por este mecanismo, as

empresas ou pessoas físicas que tenham imposto de renda a pagar, podem abater

respectivamente 4% ou 6% desse valor a pagar, sob a forma de patrocínio ou doação,

mediante desembolso em favor de projetos culturais aprovados na Comissão Nacional

de Incentivo à Cultura (CNIC) do Ministério da Cultura. Este princípio norteou as

demais leis de incentivo regionais à Cultura.

Desde sua promulgação, a Lei Rouanet passa por reformulações periódicas,

principalmente por conta das modificações tecnológicas e jurídicas que afetam

diretamente sua execução.

A atual gestão do Ministério da Cultura encaminhou ao Congresso Nacional um

projeto de Lei de Incentivo à Cultura que visa corrigir distorções observadas nos 18

anos de implementação da Lei Rouanet, como o fato de que apenas 20% dos projetos

aprovados conseguem patrocínio das empresas e apenas 3% dos proponentes ficam

com mais da metade do dinheiro aplicado.

Anualmente são apresentados mais de 18 mil projetos no âmbito da lei federal

de incentivo à cultura sendo que, em sua maioria, observa-se a ausência de um projeto

consistente e viável por parte do proponente, que costuma dar mais atenção ao mero

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preenchimento de planilhas com dados do projeto.

Um dos motivos apontados também para o baixo índice de patrocínio efetivo tem

a ver com o fato de que a decisão da concessão de patrocínio fica a critério dos

setores de marketing das empresas. Em algumas leis regionais inclusive essa

vinculação é explicitada, o que resulta em grande quantidade de eventos de divulgação

de marcas mascarados de atividades culturais.

Ao apresentar um projeto associado ao CINE, a equipe deve atentar em formular

claramente o que pretende fazer, de que forma, onde e como, com detalhamento de

todos os custos que envolvem a execução desse projeto.

De qualquer modo, iniciativas de patrocínio direto devem ser ponderadas quanto

aos seus prós e contras, da mesma forma que o patrocínio indireto deve ser pesado

quanto aos aspectos jurídicos envolvidos.

É importante lembrar que o patrocínio é sempre temporário o que implica em

pensar em estratégias de permanência, apoiadas em um processo contínuo de

planejamento para assegurar novas possibilidades de patrocínio para suceder aquelas

que estão próximas de terminar e assim evitar uma descontinuidade que pode

comprometer a atividade do CINE.

3.2.2 Formas complementares de obter receita

Ao longo da história, entidades culturais utilizam de diferentes procedimentos

para levantamento de fundos. O mais conhecido é o tradicional Livro de Ouro que

circulava entre os simpatizantes que assinavam e informavam um valor de doação para

uma determinada instituição ou causa.

Outro meio era a rifa ou tômbola. Em ambos os casos, tanto a arrecadação como

o resultado do prêmio, eram uma incógnita. Mas, havia uma forma que ainda hoje é

largamente utilizada, sem resvalar para qualquer tipo de contestação quanto à sua

lisura. É o almoço de confraternização. Seja Feijoada, Moqueca, Barreado, Rabada,

Churrasco ou o nome que tenha a comida regional, reunir um grupo para comer é

sempre uma atividade que agrega. Somos uma cultura gastronômica privilegiada.

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Portanto, um bom prato de comida pode ajudar naquelas situações de emergência.

A bem da verdade, a pipoca só apareceu no final do cinema mudo, em 1926,

como forma de garantir renda suplementar aos exibidores norteamericanos que

lidavam com produtores independentes. Entre nós, a difusão da pipoca só se acentuou

em final dos anos 1970, porque nossa cultura era a da “bombonière”, espaço de balas

e doces finos.

Esse agregado à exibição responde atualmente por cerca de 25% da receita de

uma sala de exibição. O grupo Nosso Cinema utiliza a dobradinha cachorro quente e

pipoca nas maratonas temáticas que promove (ciclo de autores, gênero, etc). Desta

forma, faz frente às suas pequenas despesas e cria um espaço social para jovens

conhecerem e trocarem experiências a partir do cinema, em um horário alternativo de

exibição, que vai da meia-noite ao café da manhã.

3.3 ESTRATÉGIAS PARA A PERMANÊNCIA

3.3.1 A importância do uso de redes eletrônicas

Outro aspecto fundamental relacionado à permanência dos CINES está

relacionado à memória da atividade que se realiza. O CINE não é apenas um

transmissor de conteúdo como uma sala comercial convencional ou um canal de

televisão. O CINE é também um espaço privilegiado para a produção e circulação de

conhecimento.

Uma nova modalidade que se desenha para agregar valor é a criação de rede

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Uma forma histórica de geração de renda é a venda de produtos alimentícios durante a sessão. Uma das noções mais arraigadas no inconsciente coletivo é a associação entre pipoca e cinema.

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eletrônica de troca de conteúdo entre os CINES e seu público. Embora ainda existam

problemas inerentes a esse tipo de comunicação com o público, dada a exclusão digital

ainda presente, essa tendência será dominante

em um futuro próximo, devido aos baixos

custos que envolvem essa operação de

transmissão de informação.

Nesse ponto chamamos a atenção

também para a importância do CINE integrar-se

em uma rede existente através de lista na

Internet, para acessar informações de seu

interesse nessa e em outras áreas.

3.3.2 Produção de material de divulgação e preservação da memória

Inicialmente, é importante ressaltar que qualquer ação promocional relacionada

aos objetivos do Cine Mais Cultura deve ter necessariamente finalidade institucional,

informativa, impessoal e educativa, e terá que mencionar explicitamente o Programa

Mais Cultura.

Os CINES que produzem e circulam conteúdo, seja através de material de

divulgação (cartazes, folders, flyers, fotos) ou de publicação própria sobre aquilo que

exibem (críticas, resenhas, biografias de realizadores, técnicos e artistas), tornam mais

fácil a tarefa de programar e têm mais chance de tornar essa atividade essencial para

as populações atendidas. Em suma: criar alguma coisa a partir daquilo que é exibido

gera valor e resguarda a memória.

Para esta tarefa, as equipes podem articular-se com outros núcleos de ação

cultural existentes em sua área de atuação, formando parcerias e mutirões para

desenvolvimento desse material de conteúdo próprio.

Por exemplo, uma crítica pode ser resultado direto de um debate sobre o filme,

antes do dia da sessão, feito entre os membros da equipe. Esse mesmo debate pode

ser transmitido a um poeta que transforme esse material em um cordel. A um baixo

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A criação de um endereço eletrônico é o primeiro passo para a formação de uma rede social que integre a equipe do CINE e o público local. Esse endereço favorece não apenas a divulgação dos eventos promovidos pelo CINE, mas contribui para o registro da memória de suas atividades.

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custo, obtém-se um material capaz de circular dentro e fora do raio de ação do CINE,

cuja renda reverterá para as despesas de manutenção da atividade.

Produzir seu próprio material de divulgação também é uma ferramenta

importante para geração de renda complementar. Basta não poluir o visual com

informações sobre vários filmes ao mesmo tempo. Para cada filme corresponde um

cartaz. Mesmo os exibidores de salas múltiplas de cinema respeitam essa máxima: um

cartaz para cada filme exibido.

Essas peças podem ser produzidas pela própria equipe, como nos anos 1970

era usual entre cineclubes e centros culturais. Basta ver antecipadamente o filme em

equipe. É uma oportunidade também de agregar novos elementos, principalmente

adolescentes que podem experimentar alternativas de fazer arte.

A diminuição dos equipamentos audiovisuais e a popularização de recursos

como programas de edição de imagem e som também podem reverter em renda

complementar, documentando as atividades do CINE, servindo como uma espécie de

jornal da tela local. O público costuma reagir de forma simpática a ver-se na tela.

Esse tipo de intervenção na realidade local por meio da produção de conteúdo

próprio caracteriza as experiências bem sucedidas do CECIP (Centro de Criação de

Imagem Popular), do Cinemaneiro e da TV Morrinho, no âmbito do audiovisual de

localidade.

Outro exemplo significativo é o projeto “Vídeo nas Aldeias” (organizado por

Vincent Carelli), que permite a comunidades indígenas de diferentes localidades

conhecerem as realidades de cada aldeia pela troca de vídeos, criando um circuito

próprio, reduzindo gargalos de acesso a conteúdos de exibição e resultando em um

sistema de distribuição. Foi o que ocorreu com a Distribuidora Nacional de Filmes

(DINAFILMES) organizada em 1976 pelo Conselho Nacional de Cineclubes, que

agregou uma centena de filmes em 16mm, permitindo a diversos realizadores

recuperarem o seu custo de produção.

A história do Cinema Brasileiro é repleta de incidentes que afetaram a

permanência de sua memória. Originalmente os filmes eram produzidos em nitrato.

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Esse material de fácil combustão fez perder grande parte da memória de nosso cinema

anterior a 1906, por força de um incêndio no galpão dos Irmãos Segretto existente em

Bonsucesso.

Na época do combate à ditadura militar, muitos cineclubes não guardavam

registro de suas atividades com medo da repressão. Até 1989, o período de

comercialização de uma cópia era de cinco anos, findos os quais virava matéria-prima

para a confecção de vassouras. Por estas e por outras, guardar registro de tudo o que

é feito no âmbito do Cine é fundamental para a permanência desse trabalho.

3.3.3 Relações com o público

Fixar o espaço do Cine como um ambiente que é extensão de nossa casa é

fundamental para a sua sobrevivência, principalmente se levarmos em conta que

inúmeras vezes atraímos público de outras localidades que não a nossa. Saber receber

é fundamental para que o público volte.

Uma experiência interessante neste sentido foi a do Cineclube Santa Tereza que

atraia o público da zona sul do Rio de Janeiro e de Niterói, devido ao anúncio gratuito

que obtinha nos dois principais jornais cariocas (por coincidência, os dois redatores da

sessão de diversão eram moradores do bairro).

Além disso, fazia uma parceria com um casal que tinha um bar localizado abaixo

da sede do cineclube, que vendia refrigerantes, doces e salgados durante a sessão e

depois permitia que o debate se prolongasse noite adentro no seu bar, hoje um dos

principais restaurantes da cidade, consagrado como o Bar do Arnaldo.

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