estratégias de estudo de estudantes de flauta transversal

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Anais do X Simpósio de Cognição e Artes Musicais – 2014 Estratégias de estudo de estudantes de flauta transversal: uma abordagem cognitiva Tilsa Isadora Julia Sánchez Hermoza Instituto de Artes, UNICAMP [email protected] Resumo: Este trabalho apresenta resultados parciais de uma pesquisa em andamento realizada no Curso de Mestrado em Música. Neste artigo foi realizada uma abordagem cognitiva acerca das estratégias de estudo de cinco estudantes de flauta transversal de uma Instituição de Ensino Superior. Os relatos coletados por meio de entrevistas foram analisados segundo o modelo proposto pela análise de conteúdo de Laurence Bardin (2008). Como resultado parcial, foi constatado que a maioria dos participantes adotou no seu estudo diário, estratégias propostas pelo modelo de ensino tecnicista que prioriza o desenvolvimento técnico do intérprete, deixando em segundo plano o pensamento sobre a performance, a qual pode abrir possibilidades para a reflexão acerca da aprendizagem de uma prática eficaz, onde a técnica, a expressividade e a interpretação caminham juntas, o que pode otimizar o tempo e a qualidade de seus estudos e execução das obras estudadas. Palavras-chave: estratégias de estudo, performance flauta transversal. Abstract: This paper presents partial results from a master´s degree research in progress. This research has been realized through a cognitive approach about the strategies of practice of five students of flute from a music college in Brazil. The reports were collected through the semi- structured interview, and were analyzed according to the model of content´s analyze proposed by Laurence Bardin (2008). As partial result, was verified that the most of the participants has adopted in their daily practice strategies that have been proposed by the model of technicist education from the conservatories, what priorities the technical development of the interpreter instead to propose a performance that enables thoughts about an effective practice, it means, those can enable the monitoring of the results of the learning, and an expressive interpretation from the early practice of the instrument. Keywords: study strategies, flute performance. Introdução “Aprender a aprender”, de acordo com Silva & Sá (1993, p. XX), representa um processo fundamental na construção do papel ativo do aluno, o qual é possível por meio do uso de estratégias. Segundo Jorgensen (2004) as estratégias podem definir-se como: “pensamentos e comportamentos utilizados durante a prática musical, as quais influem na maneira como são selecionados, organizados, integrados e ensaiados os novos conhecimentos e habilidades presentes no estudo diário do instrumento”. No entanto, com a adequação do ensino metodizado proposto pelo modelo tecnicista e adotado por grande parte das Instituições de Ensino Superior (IES), as habilidades de decodificação da partitura assim como a excessiva atenção à técnica, tem sido predominantes

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Estratégias de estudo de estudantes de flauta transversal:uma abordagem cognitiva. Tilsa Isadora Julia Sánchez HermozaInstituto de Artes, UNICAMP

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Page 1: Estratégias de Estudo de Estudantes de Flauta Transversal

Anais do X Simpósio de Cognição e Artes Musicais – 2014

Estratégias de estudo de estudantes de flauta transversal: uma abordagem cognitiva !

Tilsa Isadora Julia Sánchez Hermoza Instituto de Artes, UNICAMP

[email protected] !Resumo: Este trabalho apresenta resultados parciais de uma pesquisa em andamento realizada no Curso de Mestrado em Música. Neste artigo foi realizada uma abordagem cognitiva acerca das estratégias de estudo de cinco estudantes de flauta transversal de uma Instituição de Ensino Superior. Os relatos coletados por meio de entrevistas foram analisados segundo o modelo proposto pela análise de conteúdo de Laurence Bardin (2008). Como resultado parcial, foi constatado que a maioria dos participantes adotou no seu estudo diário, estratégias propostas pelo modelo de ensino tecnicista que prioriza o desenvolvimento técnico do intérprete, deixando em segundo plano o pensamento sobre a performance, a qual pode abrir possibilidades para a reflexão acerca da aprendizagem de uma prática eficaz, onde a técnica, a expressividade e a interpretação caminham juntas, o que pode otimizar o tempo e a qualidade de seus estudos e execução das obras estudadas. Palavras-chave: estratégias de estudo, performance flauta transversal. !Abstract: This paper presents partial results from a master´s degree research in progress. This research has been realized through a cognitive approach about the strategies of practice of five students of flute from a music college in Brazil. The reports were collected through the semi-structured interview, and were analyzed according to the model of content´s analyze proposed by Laurence Bardin (2008). As partial result, was verified that the most of the participants has adopted in their daily practice strategies that have been proposed by the model of technicist education from the conservatories, what priorities the technical development of the interpreter instead to propose a performance that enables thoughts about an effective practice, it means, those can enable the monitoring of the results of the learning, and an expressive interpretation from the early practice of the instrument. Keywords: study strategies, flute performance.

Introdução

“Aprender a aprender”, de acordo com Silva & Sá (1993, p. XX), representa um processo

fundamental na construção do papel ativo do aluno, o qual é possível por meio do uso de

estratégias.

Segundo Jorgensen (2004) as estratégias podem definir-se como: “pensamentos e

comportamentos utilizados durante a prática musical, as quais influem na maneira como são

selecionados, organizados, integrados e ensaiados os novos conhecimentos e habilidades

presentes no estudo diário do instrumento”.

No entanto, com a adequação do ensino metodizado proposto pelo modelo tecnicista e

adotado por grande parte das Instituições de Ensino Superior (IES), as habilidades de

decodificação da partitura assim como a excessiva atenção à técnica, tem sido predominantes

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Anais do X Simpósio de Cognição e Artes Musicais – 2014

na realização da interpretação musical, deixando de lado a realização de um estudo reflexivo e

consequentemente a própria concepção de musicalidade do intérprete.

Nesta pesquisa foram observadas as maneiras pelas quais os estudantes de flauta

planejam o seu estudo diário, cientes de que o instrumentista no seu estudo individual utiliza,

consciente e inconscientemente, estratégias para solucionar problemas ocorrentes durante a

execução das obras estudadas.

!Revisão Bibliográfica

Grande parte dos instrumentistas, nas etapas iniciais dos estudos, enfrentam dificuldades no

momento do aprendizado do repertório e, consequentemente, dificuldades também em sua

preparação para a performance. A compreensão musical, afinação e musicalidade muitas

vezes são deixadas de lado para dar maior atenção aos aspectos e dificuldades mecânicas da

performance (Parakilas, 1999; Swanwick, 1994), além dos aspectos rítmicos e

reconhecimento das notas.

De acordo com Santos (2011), com o ensino profissionalizante do modelo tecnicista

proposto pelo conservatório, do qual sucederam transformações profundas no modelo europeu

de pedagogia musical, a formação técnica do instrumento entrou em primeiro plano, fazendo

com que os aspectos “operacionais” “passassem a ser estudados isoladamente com mais

profundidade e também com certo descompromisso em relação a seus propósitos artísticos”.

Esse modelo de ensino atualmente presente em conservatórios e em diversas IES (Fucci

Amato, 2006) tem levantado implicâncias relacionadas ao fato de não contemplar o aluno

como ser atuante, reflexivo e criativo, em detrimento à aquisição de habilidades específicas

restritas ao mero tecnicismo. Sobre isto Esperidião expõe:

Ao professor competia à responsabilidade de transmitir os saberes e conhecimentos

durante o processo de aprendizagem e ao aluno competia adquirir as habilidades necessárias

para a execução instrumental. Com essa intenção, os programas davam primazia à prática

instrumental e os conteúdos eram compartimentados em disciplinas organizadas de modo

linear, em sequências e fragmentos. (Esperidião, 2003)

Autores no campo do aprimoramento da performance ( Barry, Hallam 2002,Williamon,

Jørgensen 2004) vem desenvolvendo pesquisas que buscam auxiliar estudantes

instrumentistas no uso adequado de estratégias de estudo.

Jørgensen (2004) considera a prática individual importante para a formação do

performer, já que com o decorrer da experiência aliada à prática correta, o estudante definirá

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Anais do X Simpósio de Cognição e Artes Musicais – 2014

as suas próprias estratégias de estudo. Da mesma maneira, durante o estudo individual devem

ser determinados objetivos e cumpri-los em função de sustentar um estudo eficaz. “Indivíduos

que planejam o que fazer – e sabem por que eles fazem algo e o que eles desejam realizar –

podem fazer sua seção prática mais eficiente” (Jorgensen, 2004, p. 89).

!Metodologia:

Para a realização deste estudo foram observados cinco estudantes de uma IES, no qual

três deles cursam o de bacharelado em música e dois cursam licenciatura em música. Foi

observado que a média do grupo em estudo de flauta é de 5 anos, sendo que os níveis

relacionados à execução do instrumento variavam entre o quarto e oitavo semestre de cada

curso. 1

A coleta de dados foi realizada por meio de uma entrevista estruturada e buscou

compreender os procedimentos utilizados no estudo diário através da análise do seu discurso.

Inicialmente os candidatos responderam questões referentes à sua formação musical,

com intuito de traçar o perfil do sujeito da pesquisa. Posteriormente, foi realizada a entrevista

estruturada, teve o propósito de observar no discurso do participante relatos acerca das 2

estratégias utilizadas no estudo diário do instrumento.

Assim, para perceber os significados que emergem dos relatos proferidos, foi escolhido

como método a análise qualitativa de conteúdo categorial, temático e frequêncial proposto

pela professora francesa Laurence Bardin (2008) no seu livro “Análise de Conteúdo”.

Resumimos este procedimento como:

(...) um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 2008, p. 44). !

A análise de conteúdo propõe, então, que a informação seja tratada em função de torna-

la acessível e manejável, ao ponto em que possa ser feita representações condensadas e

explicativas.

Este trabalho adotará a sigla S para sujeito, seguido do número correspondente à ordem cronológica da 1

realização das entrevistas. Assim, S1 corresponde ao primeiro participante da pesquisa.

A entrevista estará disponível nos anexos da dissertação de mestrado, a qual será publicada até finais de 2

2014.

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Anais do X Simpósio de Cognição e Artes Musicais – 2014

! Posterior à exploração das entrevistas coletadas, passamos a codificá-las. De acordo

com Bardin (2008), a codificação se refere a transformar o texto bruto por meio de recortes, a

fim de que o material trabalhado atinja um grau de representação do conteúdo. As ferramentas

que tornarão possíveis a identificação e a retirada do texto são as Unidades de Contexto e as

Unidades de Registro.

A Unidade de Registro (UR) são células significativas podendo ser uma palavra, uma

frase ou um tema. Nesse caso, foram extraídas do significado dado às respostas dos

participantes.

A Unidade de Contexto (UC) “serve de unidade de compreensão para codificar à

unidade de registro e corresponde ao segmento da mensagem cujas dimensões são maiores do

que aquelas da unidade de registro” (Ibid., p. 133).

A categorização tem como objetivo principal proporcionar “uma representação

simplificada dos dados brutos” (Ibid., p. 147). De acordo com a autora, “as categorias são

classes que reúnem um grupo de elementos […] sob um título genérico, agrupamento esse

efetuado em razão de caraterísticas comuns desses elementos” (Ibid., p.145).

Por se tratar de um artigo baseado em uma pesquisa de mestrado ainda em andamento,

serão apresentados os resultados parciais correspondentes à análise de conteúdo da categoria

I. “Desafios na Integração dos conhecimentos musicais teóricos e práticos no no estudo de

flauta” e da categoria II. “Considerações sobre o pensamento tecnicista: aspectos sobre o

estudo de mecanismos”.

!CATEGORIA I: Desafios na Integração dos conhecimentos musicais teóricos e práticos

no estudo de flauta

U.C.1 A formação acadêmica: pontos positivos:

ur 1 Disciplinas são fundamentais para o desenvolvimento integral

S5 “Acredito que estas disciplinas sejam indispensáveis e essenciais para o crescimento

como músico em geral, não apenas como intérprete, e nos servem para abrir as nossas mentes

e os nossos ouvidos para o mundo musical que não está constituído apenas de notas”.

S1 “Acredito que tais matérias são essenciais pelo fato de que estão presentes na música

em si”.

S4 “As disciplinas que levamos enriquecem nosso conhecimento de mundo e

consequentemente otimizam a performance musical”.

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!U.C 2 Importância da prática do solfejo:

ur 1 Como precaução/prevenção daquilo que vai acontecer na peça

S5: “Geralmente faço uma leitura mentalmente, olhando rapidamente onde terei mais

problemas de dedilhados, dinâmicas e afins”.

S3: “Solfejo para que antes de tocar já tenha entendido quais as notas que são para ser

tocadas. É muito legal de se fazer, se não solfejar, erro”.

S4: “Realizo solfejo prévio em voz alta a fim de focar a minha atenção para a divisão

rítmica e para as frases”.

ur 2 Como treinamento de passagens onde apresentam dificuldades rítmica ou melódica

S1: “Em alguns trechos solfejo mentalmente, em outros tento cantar. Alguns com

finalidade de ritmo, outros de melodia ou fraseado”.

S2: “Solfejo o ritmo em voz alta. Faço isso para facilitar a leitura, sobretudo se o nível

de dificuldade rítmica for alto”.

!CATEGORIA II: Considerações sobre o pensamento tecnicista: Aspectos sobre o estudo

de mecanismos

U.C.: Estudo de técnica

ur 1: É o sustento para a construção da música.

S4: “Seriam os alicerces de uma construção, o que sustenta, a primeira parte, aquela que

ninguém vê, mas que segura a construção em pé”.

S1: “Acredito que são uma base para aprimoramentos técnicos, melódicos, etc. De

peças que iremos interpretar”.

ur 2: Analogia do estudo de técnica com preparo físico-muscular do esportista.

S5: “Como um atleta precisa aquecer e fazer seus exercícios diários para alcançar certa

resistência e preparo físico para a realização de alguma atividade, acredito que estes

exercícios (os exercícios de técnica), de certa maneira, também contribuem da mesma forma

para nós, músicos”.

ur 3: É uma necessidade.

S5: “(...) mas como nem sempre é possível conseguir tempo para todo o estudo, dou

prioridade para a parte técnica (…) os exercícios diários são necessários para que consigamos

realizar nossas atividades”.

ur 4: Considera muito importante.

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Anais do X Simpósio de Cognição e Artes Musicais – 2014

S2: “(os exercícios de técnica) são importantes porque, em minha opinião, são

completos. Abrangem todos os assuntos técnicos da flauta”.

ur 5: Dificultam a realização de uma performance expressiva.

S5: “Procuro pensar na parte interpretativa desde o começo, mas acredito não conseguir

alcançá-la porque a preocupação com a parte técnica é mais forte”.

S2: “Prefiro deixar por último (a busca da musicalidade). Resolvo os problemas

técnicos primeiro”.

!Resultados Parciais:

Apresentaremos então uma primeira síntese interpretativa das entrevistas, categorizadas a fim

de esclarecer os eixos temáticos abordados por essas duas categorias.

A categoria I formou-se a partir das duas primeiras perguntas feitas aos entrevistados,

nas quais foram abordadas questões a respeito do estudo diário do instrumento e também

aspectos das disciplinas obrigatórias para os estudantes de graduação, como, por exemplo,

análise, solfejo e percepção musical.

Observamos que nos relatos dos participantes existe uma consciência acerca da

importância das disciplinas teóricas obrigatórias da grade curricular do curso de graduação e

licenciatura em música. A necessidade de cursar certas disciplinas foi destacada como um

facilitador da compreensão musical, que pode ser interpretada por aspectos que vão além da

simples decodificação de signos.

As habilidades necessárias para construir uma melhor qualidade na performance podem

ser adquiridas por meio de práticas que estão presentes na formação profissional, por exemplo

nas matérias que exercitam habilidades aurais (como no caso da percepção e o solfejo) e de

análise. Em relação a este posicionamento, de Paula (2004, p.31) afirma “Não há dúvida de

que o fazer musical exige do instrumentista capacitação específica, demandando que, durante

sua formação, sejam adquiridas diversas habilidades que o qualificam para o exercício da

performance”.

Nos relatos dos participantes, a prática do solfejo realizada no estudo diário foi

considerada como uma das estratégias para a leitura à primeira vista sem o instrumento,

necessária para criar uma visão da música como um todo e identificar situações de dificuldade

rítmica e melódica. Reforçando esta postura, Regina Teixeira et al. (2003, p.30) ressalta a

importância da leitura cantada na formação superior: “ (..) no contexto da formação

profissional de musico em nível superior, cabe a leitura musical permitir a interpretação

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qualitativamente distinta da musica expressa através de símbolos em uma partitura, e não

apenas executa-la de maneira mecânica”.

A categoria II “Considerações sobre o pensamento tecnicista: aspectos sobre o estudo de

mecanismos técnicos”, surgiu em função das respostas obtidas por meio da pergunta Os dados

aqui contidos revelaram que para os entrevistados a questão que gera maior preocupação no

desenvolver do seu estudo está relacionada à aquisição e à manutenção da técnica. Por isto, a

maior parte do tempo do estudo individual persiste em manter a tradição do emprego do

estudo mecânico e de aquecimento (escalas, arpejos, sonoridade). 3

Esta priorização ao estudo de técnica pode revelar a maneira com que os estudantes

lidam com padrões normativos vivenciados ao longo de sua formação, sabendo que a metade

dos participantes desta pesquisa iniciaram e adquiriram formação musical pelo sistema de

ensino conservatorial.

Finalmente na unidade de registro 5, a qual surgiu das respostas obtidas às perguntas 4 e

5 da entrevista, foram apresentadas dificuldades numa prática que envolva o exercício da

musicalidade desde etapas iniciais do estudo.

!Discussão

Este artigo procurou compreender a maneira em que estudantes de flauta planejam as suas

sessões de estudo diário. Observamos que uma das estratégias mais citada pelos participantes

revela a adequação ao molde de ensino tecnicista e em relação a isto nos perguntamos, será

esta a principal estratégia para construir um estudo mais eficaz? Susam Hallam (2001) afirma

que para progredir na prática instrumental, primeiramente é necessário desenvolver

habilidades que auxiliem no monitoramento dos resultados da aprendizagem. Do mesmo

modo, Jorgensen (2004) afirma que estudo individual é um momento de autoaprendizagem,

pois com a ausência do professor os estudantes devem monitorar-se constantemente e elaborar

as suas próprias estratégias.

Tendo como norte tais considerações, propomos uma reflexão em busca de tornar mais

abrangente o estudo da técnica instrumental, compreendendo além de aspectos fisiológicos da

execução e realização de movimentos distintos, aspectos expressivos na interpretação

instrumental. Da mesma maneira, o emprego de um processo consciente no estudo diário que

possibilite a definição de metas, monitoramento das atividades e avaliação crítica de

Isto foi afirmado nas falas dos participantes, por exemplo quando o S5 revela que por não dispor muito tempo 3

na sessão de estudo diário, prefere priorizar o estudo de mecanismos técnicos

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resultados durante a performance pode contribuir para manter o instrumentista focado nos

estudos e realizar uma prática que também permita o exercício da musicalidade desde etapas

iniciais do estudo.

!Referências: !BARDIN, L.(2008). Análise de conteúdo (70nd ed.). Lisboa: BARRY, Nancy H; HALLAM, Susan. Practice. In: PARNCUTT, Richard;MCPHERSON,

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HALLAM, Susan. (2001). The development of expertise in young musicians: strategy use, knowledge acquisition and individual diversity, music education research. (v. 03, pp. 7-23).

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JORGENSEN, Harald. (2004). Strategies for individual practice. In: WILLIAMON, A. Musical excellence: strategies and techniques to enhance performance. Oxford: Oxford University Press, 2004. p. 85-103.

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